UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MANUELA DA ROSA JORGE

AS MÍDIAS SOCIAIS E O WALL STREET

Florianópolis, 2013 MANUELA DA ROSA JORGE

AS MÍDIAS SOCIAIS E O

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra, Dr.

Florianópolis, 2013 MANUELA DA ROSA JORGE

AS MÍDIAS SOCIAIS E O OCCUPY WALL STREET

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 24 de Junho de 2013.

______Prof. e orientador José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina

______Prof. João Batista da Silva, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

______Profa. Dâmaris de Oliveira B. da Silva, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

Dedico este trabalho de conclusão de curso aos meus pais, Carolina Henriqueta e Carlos Alberto, os quais em todos os anos de minha vida, e principalmente nos anos da graduação, me apoiaram, me incentivaram a perseguir meus sonhos e a acreditar em mim mesma e me encheram de amor todos os dias, incondicionalmente. AGRADECIMENTOS

Acredito que agradecer a todas as pessoas que diretamente e indiretamente contribuíram para a concretização desta minha caminhada seria um pouco longo, então serei breve e pontual, mas sem deixar de agradecer a todos aqueles que são especiais para mim, de alguma maneira. Um agradecimento não só por este trabalho, mas por todos os dias de minha vida, aos meus maravilhosos pais: Carlos Alberto e Carolina Henriqueta. Cada qual com seu jeito e maneira de viver, mas sempre, incondicionalmente, me apoiando com a maior paciência e sempre escutando, atentos, às minhas ideias, aguentando a minha inquietação diária e me mostrando que sou capaz de realizar todos os meus sonhos - sem esquecer de todo o amor que eles me transmitem e todo o orgulho que tenho em ser filha deles. Amo vocês, incondicionalmente. Serei eternamente grata a toda paciência e atenção com que o Professor Dr. Baltazar Guerra dedicou do seu valioso tempo para me orientar em cada passo deste trabalho, sempre se mostrando interessado pelo meu tema e me incentivando a cada orientação, não esquecendo de deixar aqui registrado a grande admiração e respeito que tenho para com ele. Obrigada, Mestre. Agradeço às minhas irmãs Laíse e Maíra, ao meu cunhado Ricardo, ao meu irmão Emir e a minha cunhada Caroline por me apoiarem, cada um da sua maneira, por participarem das minhas realizações e por me aconselharem com suas experiências de estrada e por sempre visarem o meu bem. Amo vocês. O meu muito obrigada à Professora Fabiana Witt, por sua paciência, atenção e calma durante as aulas de TCC e à bibliotecária Tatiana por sua gentileza, atenção e profissionalismo. O meu agradecimento aos meus amigos se estenderia por longas páginas, caso fosse citar cada um deles e o por que de cada um ter sido diretamente ou indiretamente fundamental para a concretização deste trabalho e desta caminhada, portanto, amigos, sintam-se muito, mas muito agradecidos mesmo, cada um de vocês. Vocês estiveram e estão presentes nos momentos de grandes alegrias mas também nos de tristeza. Dessa forma, agradeço a vocês por me darem força, por vibrem com as minhas conquistas, por me presentearem com amizades como as de vocês e por me escolherem para fazer parte de suas vidas. Obrigada do fundo do meu coração, amo muito vocês. RESUMO

Este trabalho objetivou analisar o uso das mídias sociais nos movimentos sociais decorrentes do ano de 2011: os Indignados na Espanha, a Primavera Árabe no Egito e, com maior ênfase, o Occupy Wall Street nos Estados Unidos, bem como procurou ressaltar os precedentes desses movimentos sociais como a crise econômica de 2008. Através da pesquisa básica, qualitativa, exploratória, bibliográfica e documental foram descritas as influencias das mídias sociais nesses movimentos sociais bem como revisou conceitos de globalização, mídias sociais, crise do sistema econômico e movimentos sociais. A pesquisa contribuiu tanto para a pesquisadora que almeja seguir a carreira jornalística, bem como para a sociedade, estados e academia, uma vez que esses movimentos sociais estão cada vez mais organizados e sem prazo para terminar.

Palavras-chave: Movimentos sociais. Occupy Wall Street. Mídias sociais. ABSTRACT

This study aimed to analyze the use of three types of social media – Facebook, Twitter and YouTube- in social movements arising from the year 2011: the Indignados in Spain, the Arab Spring in Egypt and more emphasis on the Occupy Wall Street in the United States and sought to highlight the unprecedented of these social movements such as the 2008 economic crisis. Through basic research, qualitative, exploratory, literature and documents were described influences of social media in these social movements and also revised concepts of globalization, social media, crisis of the economic system and social movements. The research has contributed much to the researcher who longs to follow journalistic career, as well as to society, academic studies and states, since these social movements are increasingly organized and has no deadline to finish.

Key-words: Social Movements. Occupy Wall Street. Social media.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 9 1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ...... 9 1.2 OBJETIVOS ...... 11 1.2.1 Objetivo geral ...... 11 1.2.2 Objetivos específicos ...... 11 1.3 JUSTIFICATIVA ...... 11 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...... 13 1.4.1 Classificação da pesquisa quanto à natureza ...... 14 1.4.2 Classificação da pesquisa quanto à abordagem ...... 14 1.4.3 Classificação da pesquisa quanto aos objetivos ...... 15 1.4.4 Classificação da pesquisa quanto aos procedimentos ...... 15 1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA ...... 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...... 17 2.1 GLOBALIZAÇÃO ...... 17 2.2 MÍDIAS SOCIAIS ...... 19 2.2.1 Facebook ...... 21 2.2.2 YouTube ...... 22 2.2.3 Twitter ...... 24 2.3 CRISE DO SISTEMA ECONÔMICO ...... 24 2.4 MOVIMENTOS SOCIAIS ...... 27 3 DESENVOLVIMENTO DE ESTUDO ...... 31 3.1 A CRISE ECONÔMICA DE 2008 ...... 31 3.2 A PRIMAVERA ÁRABE NO EGITO E OS INDIGNADOS NA ESPANHA ...... 34 3.2.1 A Primavera Árabe no Egito ...... 34 3.2.2 Os Indignados na Espanha ...... 40 3.3 OCCUPY WALL STREET ...... 45 3.4 AS MÍDIAS SOCIAIS E O OCCUPY WALL STREET ...... 57 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 64 REFERÊNCIAS ...... 66 ANEXO A - PRINCÍPIOS DE SOLIDARIEDADE ...... 75 ANEXO B - AFIRMAÇÃO DE AUTONOMIA ...... 76 ANEXO C - DECLARAÇÃO DA OCUPAÇÃO NA CIDADE DE NOVA YORK ...... 78 9

1 INTRODUÇÃO

Elaborar um trabalho de pesquisa que trate de um tema contemporâneo tem as suas peculiaridades como, por exemplo, o fato de não apresentar, ainda, um resultado final ou que do dia para noite possa surgir uma nova notícia ou uma nova teoria que modifique certo ponto da pesquisa. Todavia, investigar sobre uma temática que não é muito abordada pela academia brasileira, até o presente momento, traz ânimo e motivação à acadêmica, e é isso que a desafiou a desenvolver esta pesquisa sobre o movimento Occupy Wall Street (OWS) – Ocupe Wall Street, em português – e de ter feito deste o tema de Trabalho de Conclusão de Curso. Neste capítulo introdutório, serão apresentadas a exposição do tema e do problema, os objetivos geral e específicos, a justificativa, a metodologia utilizada na pesquisa e a estrutura da pesquisa.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

Seja por motivos políticos ou econômicos, ou os dois juntos, o ano de 2011 foi marcado por grandes protestos e manifestações ao redor do mundo. Em Janeiro de 2011, mais de 50.000 pessoas tomaram a Praça de Tahrir no Egito, marcando o início da revolução egípcia contra o governo de Hosni Muraback. Em Maio do mesmo ano, na Espanha, houve protestos em 58 cidades contra as medidas econômicas adotadas por seu governo. Os protestantes espanhóis se autodenominaram “os Indignados” e, em Madrid, a Praça Puerta Del Sol, a principal da capital espanhola, tornou-se o ponto principal e um símbolo durante os protestos nesse País. Já na Grécia, também em Maio de 2011, protestos tomaram as ruas das principais cidades do país, incluindo a capital Atenas. Os Estados Unidos, mesmo sendo uma potência mundial, também estavam vivenciando uma crise econômica, e em meio a vários protestos e crises internas, em Julho de 2011, um chamado da revista canadense ecológica e anti consumismo Adbusters marcou o nascimento do processo de ação do Occupy Wall Street: “Vocês estão prontos para um momento Tahrir? No dia dezessete de Setembro de 2011 encham o sul de Manhattan, armem tendas, cozinhas, barricadas 10

pacíficas e ocupem Wall Street!” (BAUE et al., p.10). Não foi apenas este chamado que fez surgir o movimento OWS, entretanto, ele foi crucial para o seu nascimento. O Occupy Wall Street é um movimento de pessoas que lutam de uma forma pacífica por um mundo melhor. Lutam devido à falta de empregos em seu país, contra políticos corruptos, grandes corporações e bancos privados, pelo abuso de controle dos mais ricos, pela igualdade social, etc. Segundo Gelder (2011, p.6, tradução nossa):

É fácil perceber quais os motivos de existir do movimento: de uma forma resumida eles querem um mundo que funcione para os 99%. Os cartazes sinalizadores do protesto mostram algumas das preocupações do movimento: dívidas excessivas dos estudantes universitários; bancos que oferecem altos valores em empréstimos aos seus clientes e depois se recusam a ajudar esses mesmos clientes a ficarem com suas casas; cortes nos financiamentos do governo para serviços essenciais; políticas da Reserva Federal; a falta de empregos1.

Para os participantes do movimento, todos são bem vindos, não importa a classe social, cor, raça, idade, nacionalidade, preferência política e gênero. Eles não têm lideres, têm “facilitadores”. Estão abertos a diversas opiniões. Possuem comitês. Utilizam a Internet como seu alicerce principal para a efetivação de suas passeatas, ocupações, acampamentos e assembleias. Possuem diversas plataformas online que contem todos os dados referentes ao movimento e seus próximos eventos, bem como fotos e vídeos feitos pelos próprios participantes. E por ser tão importante, esse jornalismo feito por aqueles que participam do movimento foi denominado de citizen media, “jornalismo cidadão” e, segundo Greenberg (2012, p.265, tradução nossa):

Não importavam quem eles eram: visitantes, participantes ou facilitadores. Eles eram gravados e fotografados e os vídeos assim que feitos, eram colocados no YouTube, e também, no mesmo momento, os canais de rede eram atualizados, deixando os participantes com um senso de importância histórica pessoal2.

1 It is easy to see what the movement is demanding: quite simply, a world for the 99%. The hand lettered protest signs show the range of concerns: excessive student debt; bank that look taxpayer bailouts, then refuse to help homeowners stay in their homes; cuts in government funding for essential services; Federal Reserve; the lack of jobs.

2 No matter who they were: visitors were recorded, photographed, archived, Youtubed, and live-fed on a plethora of global Web channels, imbuing them with a sense of personal historical importance. 11

Todas as questões e fatos abordados acima conduzem à questão central de pesquisa, que direcionou e aprofundou o desenvolvimento deste trabalho: Como as mídias sociais influenciaram o movimento Occupy Wall Street?

1.2 OBJETIVOS

Partindo-se da definição da questão central desta pesquisa, serão apresentados na sequência os objetivos deste trabalho.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso é analisar o Occupy Wall Street destacando a importância das mídias sociais para o movimento.

1.2.2 Objetivos específicos

De forma a atingir e complementar o objetivo geral, apresentam-se alguns objetivos específicos a serem alcançados no decorrer do trabalho: - Caracterizar a crise econômica de 2008; - Apontar a ligação das mídias sociais com dois movimentos sociais que inspiraram o OWS: os Indignados (Espanha) e a Primavera Árabe – caso Egito; - Descrever o movimento Occupy Wall Street; - Descrever a ligação das mídias sociais com o movimento Occupy Wall Street:

1.3 JUSTIFICATIVA

Manifestações da população contra medidas adotadas por um governo ocorrem ao redor do mundo há muitos séculos, sejam elas medidas ligadas diretamente a economia, sejam ligadas a questões sociais. Atualmente, essas manifestações continuam a acontecer, entretanto, com alguns minuciosos detalhes distintos daquelas mais antigas, principalmente na maneira como são organizadas. 12

Hoje, a Internet está diretamente ligada às pessoas, e principalmente os jovens se utilizam dela para buscar respostas e fazer dela uma ferramenta diferenciada de informação. Estudar como as mídias sociais influenciam as relações internacionais no mundo atual, especialmente nas manifestações que golpearam o planeta em 2011, e que foram elaboradas via Internet, como a Primavera Árabe, os Indignados e o Occupy Wall Street, é de suma importância e relevância para a pesquisadora, uma vez que a mesma almeja seguir a carreira de jornalista internacional e tem vasto interesse por movimentos sociais, mídias digitais, relações internacionais e principalmente em quão rápida é a disseminação da informação através dessas mídias. De acordo com Bauer et al. (2011, p.5, tradução nossa):

O Occupy Wall Street é parte de um movimento global que tem alcançado quase todos os continentes no último ano. Embora os protestos tenham tomado diferentes formas e variado em especificidade na sua demanda dependendo do país, todos eles expressaram uma ofensa similar com as desigualdades do irrestrito capitalismo global3.

Além de outras questões, é principalmente a partir desse último ponto ressaltado por Bauer et al (2011), a despeito do capitalismo, que a acadêmica crê que este tema possui alta relevância acadêmica, pois teorias a respeito de uma transformação no sistema econômico também já estão sendo questionadas. Uma das teorias mais respeitadas atualmente é a do sociólogo norte americano, Immanuel Wallerstein, sobre os “sistema mundo” – que na realidade, de acordo com ele, não seria uma teoria e sim um “protesto”. Segundo Wallerstein (2000a, tradução nossa) a respeito dessa teoria:

Eu argumentei que a analise dos sistema mundo não é uma teoria e sim um protesto contra questões negligenciadas e epistemologias enganosas. É um chamado para uma mudança intelectual, de fato “irracional” para as premissas das ciências sociais do século dezenove, como eu disse no título de um de meus livros. O “protesto” é uma tarefa intelectual que é e tem de ser também uma tarefa de cunho político, por que – eu insisto – a procura pela verdade e pelo bom é a mesma busca. Se nós queremos avançar para um mundo que é substantivamente racional, nos termos de Marx Weber, nós não podemos negligenciar nem o desafio intelectual, nem o político. E nós não podemos segmentá-los em dois “containers hermeticamente lacrados”. Nós apenas podemos lutar inquietantes para

3 Occupy Wall Street is a part of a global movement that has reached nearly every continent in the last year. Although the protests in disparate nations have taken place under different forms of government and have varied in the specificity of their demands, all have expressed a similar outrage with the inequities of unfettered global capitalism. 13

continuar seguindo em frente e chegar cada vez mais perto de cada um desses desafios, porém simultaneamente4.

A pesquisadora acredita que este assunto é também de extrema relevância para a sociedade uma vez que o planeta vive hoje crises de cunho político, social e econômico, e são cada vez mais evidentes e decorrentes as manifestações contra governos autoritários e\ou contra medidas de austeridade e governos corruptos, e que não apenas a juventude está envolvida nestes movimentos, mas também cidadãos de outras faixas etárias e profissões. O movimento Occupy Wall Street está ligado diretamente a questões socioeconômicas, e segundo Gelder (2011, p.7, tradução nossa):

O movimento Occupy, como assim é chamado, nomeia a fonte da crise do nosso tempo: os bancos de Wall Street, as grandes corporações, e os outros dentre o 1% estão reivindicando a riqueza do mundo para eles mesmos à custa dos 99% e estão trilhando os seus caminhos com os governantes.5

Por fim, a pesquisadora acredita que estudar as ligações das mídias sociais e os atuais movimentos sociais são também de relevante importância para os Estados. Medidas de austeridade, governos corruptos, governos autoritários, insatisfações sociopolíticas e socioeconômicas, desemprego, etc. são algumas questões interligadas desses movimentos com os governos dos países em questão.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento deste trabalho acadêmico foram utilizadas diferentes abordagens de pesquisa, as quais se diferenciaram por suas características: segundo a sua natureza, abordagem do problema, seus objetivos e seus procedimentos.

4 I have argued that world-systems analysis is not a theory but a protest against neglected issues and deceptive epistemologies. It is a call for intellectual change, indeed for “unthinking” the premises of nineteenth-century social science, as I say in the title of one of my books. It is an intellectual task that is and has to be a political task as well, because – I insist – the search for the true and the search for the good is but a single quest. If we are to move forward to a world that is substantively rational, in Max Weber’s usage of this term, we cannot neglect either the intellectual or the political challenge. And we cannot segment them into two hermetically-sealed containers. We can only struggle uneasily with pushing forward simultaneously to coming closer to each of them.

5 The , as it has come to be called, named the source of the crises of our times: Wall Street Banks, big corporations, and others among the 1% are claiming the world´s wealth for themselves at the expense of the 99% and having their way with our governments. 14

Segundo Andrade (1998, p.101) “pesquisa é o conjunto de procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos”. A seguir, serão apresentadas as classificações específicas da pesquisa.

1.4.1 Classificação da pesquisa quanto à natureza

A forma de pesquisa quanto à sua natureza pode ser classificada como básica, pois visa unicamente gerar conhecimento, sem finalidades práticas imediatas.

A pesquisa pura ou pesquisa básica tem por finalidade o conhecer por conhecer. Está mais em nível de especulação mental a respeito de determinados fatos. É ainda chamada pesquisa teórica. Esse tipo de pesquisa não implica, em um primeiro momento, ação interventiva e transformação da realidade social. (BARROS; LEHFELD, 2004)

Para a pesquisadora, o conhecimento dos movimentos sociais que decorreram no ano de 2011 é imprescindível para compreender o cenário internacional contemporâneo.

1.4.2 Classificação da pesquisa quanto à abordagem

A pesquisa quanto à abordagem classificou-se em qualitativa.

As pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa possuem a facilidade de poder descrever a complexidade de determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões [...] (OLIVEIRA, 1999, p. 117).

Neste presente trabalho, a pesquisa qualitativa foi de suma importância uma vez que o movimento Occupy Wall Street é apenas um dos vários movimentos de cunho social que estão acontecendo simultaneamente ao redor do mundo. Pesquisar a fundo sobre sua criação e formação, sobre o processo de mudança pelo qual o planeta está passando foi imprescindível para compreender essa avalanche de movimentos sociais globais e sua ligação direta com as mídias sociais.

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1.4.3 Classificação da pesquisa quanto aos objetivos

A forma de investigação quanto aos objetivos, tratou-se de uma pesquisa de caráter exploratório. Segundo Santos (2001, p. 26) “pesquisa exploratória é quase sempre feita como levantamento bibliográfico, entrevistas com profissionais que estudam\atuam na área, visitas a web sites, etc.”. Para um maior aprofundamento no tema, livros escritos pelos próprios organizadores e colaboradores do movimento Occupy Wall Street foram utilizados, bem como web sites oficiais do movimento. Ainda de acordo com Santos (2001, p. 26):

Explorar é tipicamente a primeira aproximação de um tema e visa criar maior familiaridade em relação a um fato ou fenômeno. Quase sempre se busca essa familiaridade pela prospecção de materiais que possam informar ao pesquisador a real importância do problema [...].

Ou seja, ao aproximar-se do tema a pesquisadora trouxe para si maior conhecimento a respeito do assunto e pôde assim compreender a verdadeira importância e relevância do tema no cenário atual.

1.4.4 Classificação da pesquisa quanto aos procedimentos

Os procedimentos utilizados para realização deste trabalho foram a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e o levantamento de campo. “A pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno” (OLIVEIRA, 1999, p.119). A presente pesquisa fez uso de acervos virtuais, livros e artigos científicos produzidos sobre o tema os quais continham informações relevantes ao conteúdo do objeto de estudo. Já a pesquisa documental foi baseada em vídeos sobre o tema. Segundo Reis (2008, p. 53), “a pesquisa documental utiliza-se, primordialmente de documentos que não foram analisados cientificamente, mas que são fontes valiosas de dados e informações antigas [...]”. Nas plataformas de vídeo na internet, milhares de vídeos foram postados no decorrer dos movimentos pelos próprios participantes, o que facilitou para a pesquisadora na busca por fontes documentais. 16

1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA

Neste primeiro capítulo foram abordadas as noções iniciais para maior compreensão do leitor do que será apresentado na seguinte seção. Dessa forma, no capítulo dois, com o objetivo de verificar como as mídias sociais influenciaram o movimento Occupy Wall Street, a fundamentação teórica aprofundou o conhecimento em temas mais amplos, como: a globalização e suas diversas ramificações; a definição de mídias sociais bem como as três mídias que foram conectadas com o movimento Occupy: o Facebook, o Twitter e o Youtube; a crise no sistema econômico que tomou conta do planeta nos últimos cinco anos e os movimentos sociais. No desenvolvimento que segue essa fundamentação teórica, foram abordados temas de relevância para a compreensão dos objetivos específicos deste trabalho. Foi abordada a crise econômica de 2008: os motivos pelas quais ela se desencadeou e os efeitos da mesma nos Estados Unidos. Foi demonstrado o uso das mídias sociais em movimentos que precederam o OWS: a Primavera Árabe no Egito e os Indignados na Espanha. E também, foram estudados aspectos da criação, formação e das principais características do OWS, bem como verificado o embasamento teórico do movimento e esclarecida a sua ligação com as mídias sociais. Por fim, no capítulo quatro, foram destacadas as considerações finais deste Trabalho de Conclusão de Curso.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo será apresentado o desenvolvimento da fundamentação teórica o qual abordará aspectos relevantes para esta pesquisa como: a globalização, as mídias sociais, a crise do sistema econômico e os movimentos sociais.

2.1 GLOBALIZAÇÃO

A definição de globalização pode ser encontrada de diversas formas dependendo de seu autor. Para Coutinho (2003, p.58) “definir a globalização é uma tarefa simples e complicada. Sempre faltará algo”. Segundo ele, “a globalização não é um conceito, nem um meio, é um fim; é uma palavra arranjada para definir uma conjunção de forças poderosas” e é também um eufemismo para tudo o que “gera ansiedade e é difícil de definir”. A globalização é um resultado das viagens, do comércio, da navegação da expansão da influencia cultural e da disseminação do conhecimento. Ela não é nova e não é algo do ocidente; explodiu nos últimos anos como uma das consequências do desenvolvimento espetacular da tecnologia que é predominante na conjunção de forças poderosas (COUTINHO, 2003 apud AMARTYA SEN, 2001). Já para Soros (2003, p. 43), o termo globalização vem sendo muito utilizado, entretanto com diferentes significados. Uma das analises que, segundo ele, se pode fazer a despeito do termo “globalização” é “a globalização da informação e da cultura; a difusão da televisão, da Internet e de outras formas de comunicação; e o aumento da mobilidade e da comercialização de ideias”, ou seja, a globalização, para ele, não enfatiza apenas os mercados e a economia, mas também a maneira como os cidadãos se comunicam e como as informações são transmitidas. Para Giddens (1990, p.64), “a globalização é a intensificação das relações globais que une localidades distantes de uma forma que acontecimentos locais são relevantes mesmo para localidades a quilômetros de distancia e vice versa”. E, segundo o autor, a globalização afeta as sociedades, as firmas e a vida pessoal das pessoas. Importante frisar que para Giddens a globalização está interconectada em quatro dimensões: os estados nação, a ordem militar global, a economia global e a divisão internacional do trabalho (GEORGANTZAS, 2012, p.6). 18

Outra definição interessante de globalização é a do americano Thomas Friedman em seu livro “O mundo é plano”. Friedman é economista de formação e colunista do jornal The New York Times. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, ele passou os três anos seguintes escrevendo sobre os fatos e eventos pós 11 de setembro (FRIEDMAN, 2005). Entretanto ao viajar para a Ásia, ele percebeu que havia “cochilado” naqueles últimos três anos: o mundo continuou girando enquanto ele prestava atenção em apenas fatos relativos aos atentados terroristas e ao Oriente Médio, a chamada “olive tree” - árvore da oliveira. “O que eu perdi”, ele se perguntou e após algum tempo, descobriu que existiam países emergentes e que o mundo era plano. Para Friedman, a globalização existe desde os tempos das grandes navegações. Entretanto, o termo “globalização” surgiu após a queda do muro de Berlim, evento que para ele, ajudou a deixar o mundo plano. “O muro veio abaixo e o Windows veio à tona” (FRIEDMAN, 2005). Para ele, a globalização pode ser dividida em três tipos: a 1.0 que se refere à época das grandes navegações até 1800; a 2.0 que é de 1800 até os anos 2000; e a 3.0 que é dos anos 2000 até os dias atuais. A 1.0 é a globalização dos países, como se quebraram as fronteiras e se descobriram novos estados. A 2.0 é a globalização das empresas; com a industrialização e as grandes guerras, as empresas se tornaram atores cruciais no cenário mundial. Já a globalização 3.0 é a dos indivíduos; nos dias atuais não mais os países nem as empresas são o foco no cenário globalizado, e sim, os indivíduos (FRIEDMAN, 2005). Já de acordo com Wallerstein (2000b), a década de noventa foi consumida pelo discurso da globalização. As pessoas foram avisadas que estariam vivendo aquele momento chamado de a era da globalização pela primeira vez. Foram avisados também que a globalização havia mudado tudo: a soberania dos estados estava em declínio; as habilidades dos cidadãos em resistir às regras do mercado tinham desaparecido; a possibilidade de uma autonomia cultural havia sido anulada; e a estabilidade das identidades dos cidadãos estava em pauta. Segundo ele, esse estado de globalização foi celebrado por alguns e lamentado por outros. Ainda para Wallerstein (2000b), esse discurso é de fato, um gigante mal entendido da atual realidade: um engano imposto às pessoas pelos poderosos grupos e, ainda pior, um discurso que as próprias pessoas colocaram sobre elas mesmas, muitas vezes por desespero. É um discurso que leva os cidadãos a ignorar 19

os reais problemas que os circundam, e também os leva a equivocar-se sobre a histórica crise, a qual todos se encontram. Essas pessoas estão localizadas em uma era de transição: transição não apenas dos países que necessitam alcançar os mais desenvolvidos, e sim, uma transição no sistema capitalista mundial para algum outro sistema, o qual será transformado nessa era.

2.2 MÍDIAS SOCIAIS

Nos últimos dez anos, o surgimento das mídias sociais modificou a maneira como os seres humanos se relacionam e vivem. Segundo Vizer (2007, p.24):

Como na fábula do Escopo, sobre a capacidade da língua para produzir o melhor e o pior do ser humano, os meios de comunicação na Modernidade nos permitiram dizer que “falamos com uma infinidade de línguas”. Os meios se transformam nos “objetos de desejo” e, por sua vez, no objeto do medo. O desejo de apropriar-se do instrumento material do poder simbólico da língua e das imagens, como o que se apropria de um campo de mentes e de subjetividades para “cultivar-lhe” com as palavras, as ideias e a imagem que a própria fantasia do poder deseja instalar no “Outro”. E, por sua vez, o medo de que esse instrumento de poder seja possuído por esse outro, pondo em evidência pública o que os poderosos desejam ocultar.

Nessa linha de infinitas línguas, é possível definir mídia social como aquela utilizada pelas pessoas por meio de tecnologias e políticas na web com fins de compartilhamento de opiniões, ideias, experiências e perspectivas. São consideradas mídias sociais os textos, imagens, áudio e vídeo em blogs, microblogs, quadro de mensagens, podcasts, wikis, vlogs e afins que permitam a interação entre usuários da rede (TERRA, 2011 apud COUTINHO, 2007). Já para Recuero (2009 apud Wasserman e Faust, 1994; Degenne e Forse, 1999), rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (interações ou laços sociais). John Doerr, um dos maiores investidores de risco do mundo, argumenta que “social representa a “grande terceira onda” de inovação tecnológica, vinda diretamente na esteira da invenção do computador pessoal e da internet” (KEEN, 2012, p.34). Em relação ao social, para Keen (2012, p.17):

Em Oxford eu entendera que o social – tomando como o compartilhamento de nossas informações pessoais, nossa localização, nossas preferências e 20

identidades em redes como Twitter, LinkedIn, Google+ e Facebook – era a coisa mais nova da net. Aprendi que toda a nova plataforma social, todo o serviço social, aplicativo social, pagina social estavam se tornando um pedaço desse novo mundo da mídia social – de jornalismo social a empreendedorismo social, passando por comercio social, produção social, aprendizado social, caridade, social, email social, aposta social, televisão social, consumo social e consumidores sociais no gráfico social, um algoritmo que supostamente mapeia cada uma de nossas redes sociais únicas. Considerando que a internet estava se transformando no tecido conjuntivo da vida no século XXI, o futuro – nosso futuro, o seu, o meu e de todos os outros na rede onipresente – iria ser, sim, você adivinhou, social.

De acordo com Terra (2011) “a mídia social tem como características o formato de conversação e não de monólogo”, e ainda segundo a autora, o planeta está na era da midiatização dos indivíduos, na possibilidade de utilizar as mídias digitais como instrumentos de divulgação, exposição e expressão pessoais. Alguns autores ainda compartilham da ideia de que os seres humanos se tornaram “narcisistas da informação”, ou seja, desinteressados de qualquer outra coisa que não seja eles próprios. Ross Douthat, colunista do jornal norte americano New York Times caracteriza esse fato de “narcisismo adolescente desesperado” e, segundo Neil Strauss, autor de best-sellers, “a cultura das redes sociais medica a necessidade de autoestima oferecendo gratificação para conquistar seguidores” (KEEN, 2012, p.32). Ainda segundo Keen (2012, p.30):

A arquitetura digital é descrita por Clay Shirky, estudioso de mídia social da Universidade de Nova York, como “o tecido conjuntivo da sociedade” e pela ex-secretaria de Estado Hilary Clinton como o novo “sistema nervoso do planeta”. Ela foi projetada para nos transformar em exibicionistas, sempre em exposição em nossos palácios de cristal ligados em rede. E hoje, numa era de comunidades on-line radicalmente transparentes como Twitter e Facebook, o social se tornou o “ambiente padrão” da internet, transformando a tecnologia digital, de ferramenta de uma segunda vida, em parcela cada vez mais nuclear da vida real.

Conectando as redes sociais aos movimentos sociais, o fundador da página da internet Change.org, Bem Rattay, relata que a mídia social é usada para “apoiar e não para implementar estratégias existentes”. Jeremy Heimans, cofundador e CEO da Purpose expõe que a melhor maneira de as pessoas saírem da frente dos computadores e irem para as ruas é pelo próprio computador; segundo ele, não se poderia organizar milhares de cidadãos na cidade de Nova York sem a internet (KANALLEY, 2011). Já para Vizer (2007), o século XXI é demarcado por “novos modos de relação entre militância, novas formas de ativismo social e os 21

meios de comunicação”. Para ele, o ativismo social não deve ser forçosamente organizado, nem requerer “atos de fé” nem formalidades. Pode ser espontâneo e tomar a forma de multidões convocadas por situações criticas, como é o caso do Occupy. Segundo Khonder (2011, tradução nossa):

O significado da globalização da nova mídia apresenta um caso interessante de conectividade horizontal na mobilização social, assim sinalizando uma nova tendência no cruzamento das novas mídias e meios de comunicação convencionais, como televisão, rádio e telefone celular. Uma das contradições da fase atual da globalização é que o Estado, em muitos contextos facilitou a promoção de novos meios de comunicação, devido à compulsão econômica, inadvertidamente, enfrentando as consequências sociais e políticas das novas mídias.6

A seguir serão apresentadas três dessas mídias que são essenciais para a compreensão dessa pesquisa: o Facebook, o Twitter e o YouTube. Este último não é considerado uma mídia social em si, entretanto ele é aqui englobado, pois foi crucial para a disseminação da informação no movimento Occupy Wall Street.

2.2.1 Facebook

O Facebook foi inventado por um estudante de Ciências da Computação de Harvard, Mark Zuckerberg, juntamente com seus colegas Eduardo Saverin (brasileiro), Dustin Moskovitz e Chris Hughes. O primeiro nome da plataforma foi Facemash. O Facemash foi criado para que os estudantes da Universidade de Harvard opinassem a respeito de duas fotos de duas estudantes, lado a lado, e eles deveriam dizer quem era a mais bonita. Para conseguir as fotos das estudantes, Zuckerberg invadiu o sistema de segurança de Harvard e copiou todas as fotos das carteirinhas de estudante das meninas matriculadas em Harvard (BELLIS, 2012b). O Facemash foi ao ar na rede em Outubro de 2003, e fechou alguns dias depois pelos advogados de Harvard. Mark enfrentou queixas de quebra de sigilo, violação de sistema, cópia sem autorização, violação de privacidade, etc. (BELLIS,

6 The significance of the globalization of the new media is highlighted as it presents an interesting case of horizontal connectivity in social mobilization as well signaling a new trend in the intersection of new media and conventional media such as television, radio, and mobile phone. One of the contradictions of the present phase of globalization is that the state in many contexts facilitated the promotion of new media due to economic compulsion, inadvertently facing the social and political consequences of the new media.

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2012b). Um pouco depois, em Fevereiro de 2004, Zuckerberg criou o site “Thefacebook”. Entretanto, seis dias depois, ele enfrentou novamente problemas: três estudantes de Harvard o acusaram de roubar suas ideias ao elaborar a rede social. Segundo eles, a ideia de Mark foi muito similar com a deles, que pretendiam lançar a HarvardConnection. Os três estudantes entraram com um processo contra Zuckerberg que foi parar na corte americana (BELLIS, 2012b). Ainda em 2004, a empresa passou a se chamar apenas “Facebook”, com a ajuda do fundador do Napster, Sean Parker. A partir da mudança de nome, o Facebook se tornou viral e se espalhou mundo a fora. Atualmente, o Facebook possui mais de um bilhão de usuários (SHAUGHNESSY, 2012) e fala-se em “efeito Facebook”, que é um conceito genérico de um gigantesco fenômeno social e tecnológico que está mudando o mundo. “Está transformando os governos, a política, os negócios, os mercados, as identidades, a privacidade, a vida social, e muitas outras áreas” (KIRKPATRICK, 2010). Em uma pesquisa feita com 400 profissionais que utilizam as mídias sociais, 85% responderam que o Facebook é de longe a plataforma mais utilizada por eles, seguida por 10% do Twitter e 2% do Google+ (SHAUGHNESSY, 2012). As histórias que o Facebook é capaz de contar são desde histórias profundas como a doação de rim até histórias ordinárias do dia a dia. Se conectar com amigos, parentes e pessoas que estão a muitos quilômetros de distancia se tornou muito mais acessível com o Facebook. Sempre houve a oportunidade das pessoas conversaram face to face e um tempo depois foi possível fazer ligações via telefone, as quais estão cada vez mais acessíveis às pessoas. Todavia, um sistema que possibilitasse a essas pessoas continuar se comunicando quando quisessem a hora que quisessem, e com mais de uma pessoa ao mesmo tempo não existia (ZUCKERBERG, 2010). O simples fato de querer manter o contato com alguém que conheceu há muito tempo, ou com pessoas que não estão no seu dia a dia faz do Facebook essa enorme plataforma virtual.

2.2.2 YouTube

O YouTube não é uma rede social, mas sim uma rede de compartilhamento de vídeos. Entretanto, para uma parcela dos usuários, o YouTube 23

pode ser considerado sim um site de relacionamento social (BURGESS; GREEN, 2009, p.86). Segundo Burgess e Green (2009, p.86):

Diferente dos sites mais óbvios de relacionamento, como o Facebook, em que as conexões sociais são baseadas em perfis pessoais e em “ser amigo” de alguém, no YouTube é o próprio conteúdo dos vídeos o maior veiculo de comunicação e o principal indicador de agrupamentos sociais.

Ele foi fundado por Steve Chen, Chad Hurley e Jawed Karim em uma garagem, em 2005 nos Estados Unidos. Eles se conheceram enquanto trabalhavam na empresa americana PayPal. A ideia de criar o YouTube surgiu da dificuldade que eles tiveram após uma festa: queriam compartilhar os vídeos com os amigos e não conseguiam pois eram muito pesados para download. (BELLIS, 2012c). De acordo com o canal YouTube (2012), a plataforma possibilita que milhões de pessoas “descubram, vejam e partilhem vídeos originais”. Ele proporciona um fórum para que as pessoas do mundo todo possam se informar e se inspirar com os milhares de vídeos que ali são postados, bem como auxiliar a criadores independentes ou não a divulgarem os seus produtos. No YouTube é possível criar uma conta pessoal e carregar vídeos próprios que ficam disponíveis para o mundo inteiro. Caso o indivíduo não tenha uma conta, ele pode acessar os vídeos da mesma maneira só não pode carregar seus próprios vídeos. Em 2006 os três inventores ficaram bilionários quando venderam a sua invenção para o Google (BELLIS, 2012c). Segundo Mota e Pedrinho (2009, p.13):

Quer você o ame, quer você o odeie, o YouTube agora faz parte do cenário da mídia de massa e é uma força a ser levada em consideração no contexto da cultura popular contemporânea. Embora não seja o único site de compartilhamento de vídeos da internet, a rápida ascensão do YouTube, sua ampla variedade de conteúdo e sua projeção publica no Ocidente entre os falantes da língua inglesa o tornam bastante útil para a compreensão das relações ainda em evolução entre as novas tecnologias de mídia, as industrias criativas e as políticas da cultura popular.

De acordo com Mota e Pedrinho (2009, p.9), o YouTube, juntamente com outras plataformas de vídeos online, transformaram a maneira como os cidadãos absorvem os conteúdos e, segundos os autores, com o YouTube e as mídias sociais como Facebook e Twitter, é necessário que as pessoas pensem quais serão os próximos passos dessas plataformas, o que pode ser modificado e aprimorado, não 24

quais virão após elas pois as pessoas já se acostumaram a manejar e a utilizar essas mídias, que não é necessário a criação de outras que as substituam.

2.2.3 Twitter

O Twitter surgiu da vontade do seu criador, Jack Dorsey, em poder mandar uma única mensagem de texto para vários amigos de uma vez só, e que funcionasse não apenas no telefone celular, mas também no computador. Para isso, em 2006, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, ele elaborou um projeto e mostrou para o seu chefe na época, Noah Glass, na empresa em que trabalhava: ODEO (BELLIS, 2012a). Primeiramente foi chamado de Twttr, e após a separação do Twttr da companhia ODEO, em 2007, que ele modificou o seu nome para Twitter (BELLIS, 2012a). O Twitter é um microblog, e como o nome sugere, é realmente como um blog, entretanto com mensagens mais curtas. Como um blog, o Twitter é um sistema de disseminação de informação: uma pessoa posta uma mensagem que outros milhares irão ler (WATERS, 2012). De acordo com a página oficial do Twitter (2012):

O Twitter é uma rede de informação em tempo real que conecta você às últimas histórias, ideias, opiniões e notícias sobre o que há de mais interessante. Basta encontrar as contas que você mais se identifica e seguir as conversas. O Twitter é composto por pequenas explosões de informações chamadas Tweets. Cada Tweet tem até 140 caracteres, mas não se deixe enganar pelo tamanho da mensagem; você pode descobrir muita coisa em pouco espaço. Você pode ver fotos, vídeos e conversar diretamente nos Tweets e acompanhar toda a história num piscar de olhos, tudo em um único lugar (http://twitter.com/about).

Segundo Jeff Bercovicci (2012), jornalista de tecnologia da revista Forbes, nos Estados Unidos, em Março deste ano, o Twitter atingiu a marca de 140 milhões de usuários ativos, ou seja, que diariamente escrevem no microblog, e em Julho de 2012, atingiu mais de 500 milhões de usuários.

2.3 CRISE DO SISTEMA ECONÔMICO

Há anos que se discute, entre lideres globais e especialistas, sobre as deficiências na arquitetura do sistema financeiro internacional e sobre o desequilíbrio da economia mundial. Até hoje nada foi feito (Stiglitz, 2008a). Segundo Stiglitz 25

(2008a), o mundo está pagando o preço pelo fracasso da não solução. Há dez anos o medo era de que um “tornado financeiro” chegasse aos países industrializados. Hoje, a crise afeta o mundo, não apenas os países industrializados. E se existe uma maneira de prevenir a ocorrência de outra crise, a solução é a reforma e a reconfiguração do sistema financeiro (STIGLITZ, 2008a). Uma das análises feitas para reconfigurar o sistema é a dos “sistema m mundo”, que argumenta que o planeta está vivendo não apenas uma crise econômica, mas uma crise estrutural, que o sistema não conseguirá sobreviver e que o mundo está em uma situação caótica, a qual irá piorar entre os próximos vinte a quarenta anos (WALLERSTEIN, 2008). Para Wallerstein, o sistema está bifurcando: existem duas maneiras de se sair da atual crise econômica, na tentativa de criar um novo sistema. Basicamente terá pessoas tentando criar um novo tipo de sistema-mundo ao qual repetirá algumas premissas do atual sistema, como um sistema hierárquico e exploratório, mas não será capitalismo, será diferente. A outra direção será criar um sistema alternativo que seria relativamente democrático e relativamente igualitário. É quase impossível prever qual será o resultado dessa bifurcação; a única coisa que se pode ter certeza é que o atual sistema não sobreviverá e que as consequências desse sistema já estão aparecendo (WALLERSTEIN, 2008). Para Wallerstein, o sistema capitalista não durará para sempre, pois nenhum sistema dura - “nem sistemas químicos, físicos ou biológicos”. Todos eles têm um ciclo de vida: eles nascem, crescem até certo ponto, sobrevivem de acordo com certas regras, e depois caem no desequilíbrio e não conseguem mais sobreviver. O sistema capitalista já se desequilibrou faz tempo. Hoje ninguém mais consegue controlá-lo. Então o processo desse sistema que dura cinco séculos, não consegue mais se mover em equilíbrio, e isso é uma das razões para a crise estrutural que o mundo vive hoje. O sistema capitalista não irá muito longe, nem mesmo mais quarenta ou cinquenta anos, e acredita que esses anos que estão por vir serão difíceis (WALLERSTEIN, 2008). Para o autor, os próprios capitalistas não estarão mais interessados no capitalismo uma vez que esse sistema não funciona mais para eles. Eles estão a procura de alternativas, de outros sistemas, os quais ele possam continuar a ter suas posições privilegiadas (WALLERSTEIN, 2008). A atual crise do sistema capitalista pode trazer também à tona a volta do socialismo (GREENSPAN,2008). As discussões sobre globalização e capitalismo 26

tem se intensificado com a crise de 2008. A solução para esta crise irá determinar o futuro do mercado e a maneira como os seres humanos vivem (GREENSPAN, 2008). A globalização, a competitividade do mercado e o capitalismo não poderão ser mais sustentados sem o apoio da grande massa da sociedade mundial. O mundo não via uma crise assim desde os anos trinta. O problema da crise não é apenas o capitalismo, mas também o problema da confiança: não apenas de cidadãos comuns, mas de bancos, das grandes corporações que não confiam uns nos outros (REICH, 2012). Nunca houve um mercado livre, sempre foram necessárias instituições, regulamentações e governos. O que está em pauta é o balanço entre o poder do mercado e o poder do governo. Não se sabe o que virá a seguir. Há muitos críticos relatando o que há de errado com o sistema, entretanto sem apresentar soluções (THIRLWELL, 2008). Para Stiglitz (2008b), o capitalismo é o melhor sistema que o homem já inventou, entretanto não é por que é considerado o melhor que gerou estabilidade. De fato, segundo o autor, nos últimos trinta anos o mundo enfrentou mais de cem crises financeiras, e é por isso que a regulamentação governamental é uma parte essencial no funcionamento do mercado: o mercado por si só não funciona sozinho, necessita do governo participando junto. O mercado financeiro está carregando o mundo na direção de uma Segunda Grande Depressão. As autoridades perderam o controle da situação, principalmente na zona da União Europeia. Entretanto, eles precisam reaver o controle o mais rápido possível, do contrário, algo pior pode vir à tona (SOROS, 2011). Segundo Soros (2009a), o mercado deveria ser guiado por uma mão invisível, e é por isso que ele deveria ser tão eficiente. Os compradores, vendedores e negociadores em geral, não deveriam sobrepor seus julgamentos morais nas suas decisões de compra e venda, pois suas atitudes não deveriam afetar a invisibilidade dos preços do mercado. Todavia, na verdade, as regras que rondam o mercado financeiro são feitas pela mão visível dos políticos, e em uma sociedade democrata, os políticos enfrentam uma grande barreira com os agentes que os representam, pois muitas vezes eles estão representando a si mesmos ao invés de cumprir com o seu trabalho. Ainda segundo Soros (2009a), esses políticos se utilizam de suas eleições democráticas para buscar os seus próprios interesses, em detrimento dos interesses da população, e pela representação dos agentes tornam os seus interesses possíveis: há um enorme conflito entre os valores do mercado e os 27

valores da sociedade. Os valores dos agentes do mercado são distintos dos valores da sociedade comum: o interesse está explicito para os agentes Por traz da mão invisível do livre mercado, está a mão visível do ser humano, especificamente dos agentes de mercado e dos políticos que ditam as regras.

2.4 MOVIMENTOS SOCIAIS

O ano de 2011 foi marcado por uma onda “contagiosa e simultânea” de movimentos sociais de protestos ao redor do mundo, cada qual com suas revindicações, mas “com formas de luta muito assemelhadas e consciência de solidariedade mútua”, podendo caracterizá-los como movimentos sociais globais (CARNEIRO, 2011, p.8). Para Souza (2008, p.9) “movimento social refere-se a uma organização sociopolítica, cuja expressão empírica é dada pela manifestação conjunta de pessoas, movidas por determinados interesses e/ou carências”. Ainda segundo Souza (2008, p.9), o termo “movimentos sociais” apareceu no meio acadêmico no século XIX com a Revolução Industrial e, segundo ela, naquela época “movimento social era sinônimo de desordem”. Já para Gohn (2011, p. 335), os movimentos sociais são caracterizamos como “ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas de a população se organizar e expressar suas demandas”. Para Ferreira e Vizer (2007, p.45):

Os movimentos sociais representam em principio a expressão dialética e manifesta da complexidade, a diversidade e a agitação social. Uma forma de ação social que pretende justamente transformar as condições objetivas de seu “ambiente”. Mais que reconstruí-lo por meio do trabalho condicionado ao “sistema” ou às limitações de seu mundo da vida, procura formas de ação coletiva para modificar a ambos. Como se pode apreciar, os movimentos sociais têm como característica fundamental: Desenvolver (práticas e dispositivos instrumentais de ação); Com o fim de transformar (as relações e as praticas de poder instituídas: por exemplo, no governo, o sistema legal, as formas de propriedade etc.); Por meio da mobilização (ações de resistência instituintes); Apropriando-se conflitivamente ( de tempos e espaços) públicos (cortes de rotas, tomada de edifícios e empresas fechadas etc.); Motivados para cultivar (vínculos, instituições de agrupamento e contenção); Motivados e inspirados criativamente (o enorme universo da cultura, a comunicação e as formas simbólicas). 28

De acordo com Goulart (2012, p.207):

Após a derrota do totalitarismo na segunda guerra mundial, a queda de muitas ditaduras e o fim do socialismo já há aproximadamente vinte anos atrás, o mundo parecia estar caminhando para o lugar certo. Talvez por isso os jovens daquela época caíram no erro de achar que não era mais necessária a participação popular nas grandes decisões do planeta. Tal geração se entregou à corrupção, à especulação imobiliária, à indústria cultural, aos abusos financeiros ao endividamento desenfreado, ao conceito de “viver bem” e acabaram por se esquecer de que não há vida boa sem calor humano, justiça, sustentabilidade ambiental e equidade social.

Ainda segundo Goulart (2012, p.208), essa geração pós ditaduras e segunda guerra mundial, de uma maneira geral, acreditava que estava “caminhando para o lugar certo e os mais jovens já sabem que isso é uma grande mentira, nós somos os filhos do meio da história”. Ou seja, os filhos da geração pós ditaduras são aqueles mais afetados, os chamados “indignados”. Para Goulart (2012, p.208), essa nova geração tem o “direito de querer mudar o mundo” e é isso que está sendo visto nas ruas desde o ano de 2011 ao redor do planeta. É possível verificar que após o início das manifestações da chamada Primavera Árabe no norte da África, especificamente na Tunísia e no Egito, os protestos tomaram o continente europeu: os Indignados na Espanha, a Geração à Rasca em Portugal e a ocupação da Praça Syntagma na Grécia. “Em todos os países houve uma mesma forma de ação: ocupações de praças, uso de redes de comunicação alternativas e articulações políticas que recusavam o espaço institucional tradicional” (CARNEIRO, 2011, p.9). Esses movimentos europeus possuíam um cunho social, econômico e financeiro, os quais sofriam as consequências da crise financeira de 2008, como o aumento dos preços dos alimentos e o aumento do desemprego (CARNEIRO, 2011, p.9). Segundo Alves (2011), esses três movimentos europeus “são reverberações radicais do capitalismo financeiro senil”, uma vez que ocorreram em países capitalistas democráticos. Já o movimento global denominado de “ocupas” pode ser caracterizado como “acampamentos de estudantes e trabalhadores em áreas públicas de centenas de cidades em todo o mundo” (PESCHANKI, 2011, p.27). Em 2011, esses ocupas vieram à tona criticando principalmente a desigualdade econômica de seus países e em particular os participantes do Occupy Wall Street, em Nova York, intitularam-se como aqueles que representavam os 99% da população, parcela que, segundo eles, é afetada diretamente pela desigualdade econômica. Aqueles que 29

participam dos ocupas pelo mundo discutem principalmente alternativas aos regimes econômicos desiguais e a “experimentação do igualitarismo democrático radical” (PESCHANKY, 2011, p.27). Tanto o OWS como os Indignados, expuseram a insatisfação com o sistema democrático capitalista de seus estados: “a luta social anticapitalista hoje é a luta para dar visibilidade às suas contradições candentes” (ALVES, 2011). Segundo Alves (2011):

No plano contingente, os manifestantes fazem uma critica radical do capitalismo como modo de produção da vida social. Mas não podemos considerá-los, a rigor, movimentos sociais anticapitalistas. Na verdade, o que predomina entre os manifestantes é um modo de consciência contingente capaz de expor, com indignação moral, as misérias do sistema sociometabólico do capital, mas sem identificar suas causalidades histórico- estruturais (o que não significa que não haja os mais diversos espectros de ativistas anticapitalistas).

Para Postill (2011), os movimentos globais apresentam algumas características próprias: são propagados e compartilhados via mídias sociais por cidadãos de todos os tipos, sejam eles jornalistas ou não. São abraçados principalmente pela classe média, a qual conta com estudantes, professores, artistas, assistentes sociais e outros “trabalhadores culturais” e foram inspirados e sustentados pela ocupação dos espaços públicos das manifestações no Egito, que “reavivou ideias vernáculas de horizontalidade e comunitarismo”. Alves (2011), denota algumas outras características para os movimentos sociais do Occupy Wall Street e para os Indignados: esses dois movimentos possuem uma “densa e complexa diversidade social, exprimindo a universalização da condição de “proletariedade” (os 99%)” e possuem também uma “profunda consciência moral e senso de justiça social”, recusando-se a adotar táticas violentas , evitando, desse modo, a criminalização. Nesses movimentos globais do século XXI, as redes sociais tiveram e têm um papel fundamental na maneira em como eles são organizados, principalmente o Facebook e o Twitter (ALVES, 2011). Os manifestantes utilizaram-se das redes sociais para ampliar “a sua área de intervenção territorial e mobilização social. Produziram sinergias em rede, tecendo estratégias de luta territorial num cenário de crise social ampliada” (ALVES, 2011). De acordo com Carneiro (2011, p.10):

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Houve algo de dionisíaco nos acontecimentos de 2011: uma onda de catarse política protagonizada especialmente pela nova geração, que sentiu esse processo como um despertar coletivo propagado não só pela mídia tradicional da TV ou radio, mas por uma difusão nova, nas redes sociais da internet, em particular o Twitter, tomando uma forma de disseminação viral, um boca a boca eletrônico com mensagens replicadas a milhares de outros emissores.

Após abordados os temas de globalização, mídias sociais, crise do sistema financeiro e movimentos sociais, o próximo capítulo se aprofundará em temas mais específicos como: a crise financeira de 2008, os movimentos dos Indignados, da Primavera Árabe e do Occupy Wall Street e, por fim, a ligação deste último movimento com as mídias sociais. 31

3 DESENVOLVIMENTO DE ESTUDO

A ligação das mídias sociais com o Occupy Wall Street é muito densa, sendo assim, para compreender o movimento e sua ligação com essas mídias, se faz necessário a exposição de um motivo que foi crucial para o surgimento do OWS: a crise econômica de 2008. Bem como dos dois movimentos que o inspiraram: os Indignados na Espanha e a Primavera Árabe no Egito.

3.1 A CRISE ECONÔMICA DE 2008

Com o fim do comunismo, a globalização acelerada removeu muitas barreiras da competição econômica. Essa mesma globalização “viria a ser uma benção” para a estabilidade internacional e para o crescimento global. Entretanto, ela permitiu que tantos outros “novos americanos” competissem por uma vaga de trabalho com os próprios americanos, o que significava para esses uma corrida contra o tempo para conseguir uma colocação laboral (FRIEDMAN; MANDELBAUM, 2011, p.16). De acordo com Friedman e Mandelbaum (2011, p.15, tradução nossa):

Ao ajudar a destruir o comunismo, nós ajudamos a abrir o caminho para mais dois bilhões de cidadãos para começarem a viver como nós (americanos): dois bilhões a mais de pessoas com as suas próprias versões do sonho americano, dois bilhões de pessoas a mais praticando o capitalismo, dois bilhões de pessoas a mais com meio século de repressão passam a viver como americanos e trabalhar como americanos e dirigir como americanos e consumir como americanos. O resto do mundo olhou para os vitoriosos da Guerra Fria e falaram “ Nós queremos viver como eles vivem.”. Nesse sentido, o mundo em que nós vivemos hoje é o mundo que nós criamos.7

Segundo Bordo (2008, tradução nossa), “muitas instituições e instrumentos financeiros apanhados na crise são parte do secular e velho fenômeno da inovação financeira”. A crise econômica teve seu inicio nos Estados Unidos no início de 2007 com o colapso do mercado das hipotecas e com o fim do boom imobiliário. Muitas das causas dessa crise podem ser descritas por: baixa

7 By helping to destroy communism, we helped open the way for two billion more people to live like us: two billion more people with their own versions of the American dream, two billion more people practicing capitalism, two billion more people with half a century of pent-up aspirations to live like Americans and work like Americans and drive like Americans and consume like Americans. The rest of the world looked at the victors in the Cold War and said, “We want to live the way they do.” In this sense, the world we are now living in is a world that we invented.

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fiscalização monetária, mudanças na regulamentação e por longos períodos de taxas baixas de juros. As inadimplências relacionadas às hipotecas se alastraram para os bancos de investimento e para os bancos comerciais dos Estados Unidos. Todos essas causas e fatos levaram ao congelamento do mercado de crédito interbancário e dos empréstimos cedidos aos bancos no segundo semestre de 2007: a crise se agravou a partir de março de 2008 (BORDO, 2008). De acordo com Ali (2011, p.67):

Para muitos economistas foi obvio que Wall Street planejou deliberadamente a bolha imobiliária, gastando bilhões em campanhas publicitárias com o intuito de encorajar as pessoas a fazer uma segunda hipoteca e incrementar as dividas pessoais para consumir cegamente. A bolha tinha que estourar e, quando isso aconteceu, o sistema cambaleou até o Estado resgatar os bancos do colapso total.

Segundo Soros (2009b, p.327), “reconheci que a crise era mais grave do que muitos estavam dispostos a aceitar, mas nem sequer eu esperava que o sistema financeiro falhasse de fato”. Nas crises financeiras anteriores a de 2008, as autoridades financeiras entravam em ação logo que avistassem um colapso financeiro: não foi o que ocorreu em 2008. Foi deixado que o banco Lehman Brothers entrasse em falência e por conta disso, adveio um “efeito dominó”, onde todo o sistema financeiro “sofreu uma parada cardíaca e teve de ser ligado à máquina para continuar vivo” (SOROS, 2009b, p.237). “A falência do Lehman Brothers na segunda-feira, 15 de Setembro de 2008, foi um acontecimento que alterou tudo.” (SOROS, 2009b, p.242). Para Soros (2009b, p.244):

A Reserva Federal teve de oferecer ajuda atrás de ajuda e foi nesta atmosfera que o Fundo Monetário Internacional (FMI) efetuou a sua reunião anual, em Washington, em 11 de Outubro de 2008. Os líderes europeus saíram mais cedo e encontraram-se em Paris, no domingo, 12 de Outubro, e, nessa reunião, decidiram garantir que nenhuma grande instituição financeira europeia entrasse em falência. Não conseguiram no entanto, chegar a um acordo generalizado, de todos os países europeus, sobre como fazê-lo, por isso, cada Nação definiu as suas próprias regras. Os Estados Unidos, pouco depois, seguiram o exemplo. Estas decisões tiveram um efeito secundário, não intencional: causaram uma pressão adicional sobre os países que não podiam oferecer garantias credíveis semelhantes às suas instituições financeiras. A Islândia estava em colapso, o maior banco da Hungria sofreu uma puxada para baixo, e as moedas e o mercado de dívida pública da Hungria, e de outros países do leste europeu, caíram a pique. O mesmo aconteceu no Brasil, no México, nos tigres asiáticos e em menor grau na Turquia, na África do Sul, na China, na Índia, na Austrália e na Nova Zelândia. Todos esses movimentos juntos tiveram um impacto 33

tremendo no comportamento e nas atitudes dos consumidores, das empresas e instituições financeiras, em todo o mundo.

A quebra do Lehman Brothers pode ser comparada às grandes falências bancárias que ocorreram nos anos 30. Para Soros (2009b, p.242), a responsabilidade era das autoridades financeiras, que alegaram, na época, não terem os poderes necessários para salvar a economia. Soros afirma que essa foi uma “desculpa pobre” e que em outras ocasiões conseguiram evitar um colapso semelhante ao de 2008. Segundo Roubini (2009):

Houve muita ganância e, em Wall Street, houve uma tolerância exagerada com o risco, tanto entre bancos e operadores quanto entre investidores. Os investidores finais também têm sua parcela de culpa, porque não fizeram a lição de casa. Além disso, as autoridades reguladoras americanas ajudaram a girar a roda. Tinham a ideologia do laissez-faire, do mercado livre, da auto regulação – ou seja, de não regulação. Confiavam apenas nos controles internos dos bancos e esqueciam que, quando a música está tocando e todo mundo está dançando, ninguém presta atenção nisso. Deixaram o monstro da inovação financeira crescer sem supervisão adequada. Em cima disso, é preciso levar em conta que as agências de classificação de risco deram notas altas aos bancos envolvidos com operações arriscadas no mercado imobiliário, mas eram pagas pelos mesmos clientes que tinham de avaliar.

O ano de 2011 foi bom para a esquerda mundial, quaisquer que fosse a definição de esquerda (WALLERSTEIN 2011, p.72). Segundo Wallerstein (2011, p.72), a razão para esse fato foi que a condição econômica negativa atingia a maior parte do planeta, tendo o desemprego como um dos maiores implicativos negativos. “A maioria dos governos teve de enfrentar grandes dividas e receita reduzida e como resposta tentaram impor medidas de austeridade contra suas populações, ao mesmo tempo em que tentavam proteger os bancos” (WALLERSTEIN, 2011, p.72). Segundo Sader (2011, p. 83), a maior consequência do ano de 2011 foi a prolongada recessão do capitalismo, que, segundo ele, será o cenário da segunda metade do século. Segundo Ali (2011, p.69):

Os políticos se negaram a aceitar que a crise de 2008 tinha a ver com as políticas neoliberais que vinham perseguindo desde a década de 1980. Presumiram que poderiam seguir como se nada tivesse acontecido, mas os movimentos de baixo desafiaram tal suposição. As ocupações e manifestações de rua contra o capitalismo são de alguma maneira análogas às Jacqueries (revoltas) camponesas dos séculos anteriores. A energia dos jovens é admirável. Há muito tempo que a primavera havia fugido do coração político dos Estados Unidos. Os invernos gelados dos anos Reagan 34

e Bush não se derreteram com Clinton ou Obama: homens ocos que governam um sistema oco em que o dinheiro domina tudo e o Estado difamado serve principalmente para preservar o status quo financeiro e custear as guerras do século XXI.

Já para Sader (2011, p. 82):

O cenário geral que englobou todo o ano de 2011 foi o novo ciclo da crise geral do capitalismo, iniciado em 2008. Ao salvar os bancos – ação que detonou a crise e foi seu epicentro -, os governos acreditavam que salvariam as economias e os países. Os bancos se recuperaram, mas as economias e os países ficaram abandonados. Por isso, a crise voltou como um bumerangue, tendo agora diretamente os governos como epicentro, pressionados pelo sistema bancário e pelos organismos que expressam seus interesses: FMI e Banco Central Europeu.

Segundo Roubini (2011, p.150), mesmo que os movimentos de 2011 sejam todos diferentes entre si, eles expressam, de maneira distinta, as preocupações da classe media e da classe de trabalhadores em relação ao futuro econômico, aos desafios ao acesso às oportunidades econômicas e à concentração de poder entre as elites políticas, financeiras e econômicas. Para Sader (2011, p.84), em 2008 quando houve o boom da crise econômica, não houve grandes mobilizações populares, ao contrario de 2011, onde novos protagonistas surgiram como os Indignados e os ocupas.

3.2 A PRIMAVERA ÁRABE NO EGITO E OS INDIGNADOS NA ESPANHA

A onda de manifestações que atingiu o planeta em 2011 gerou grandes debates a respeito da conexão da “novidade histórica (ou não) dos protestos e o papel desempenhado pelos meios de comunicação social como o Facebook ou Twitter” (POSTILL, 2012a). A seguir serão apresentadas as ligações das mídias sociais com duas dessas grandes manifestações que ocorreram antes do Occupy Wall Street em 2011 e que serviram de inspiração para o movimento: a Primavera Árabe, no Egito e os Indignados, na Espanha.

3.2.1 A Primavera Árabe no Egito

No Egito, o dia 25 de Janeiro é considerado feriado, pois ele marca o aniversário do incidente de 1952 “quando a polícia egípcia ficou lado a lado com o 35

povo em resistência à ocupação britânica” (AL HUSSAINI, 2011). Foi exatamente nesse dia que se deu inicio a Primavera Árabe no Egito, em 2011. Segundo Khondker (2011), quando o vendedor de frutas, Mohamed Bouazizi recorreu à autoimolação para protestar contra o aumento dos preços e a repressão política na Tunísia, o fato logo se tornou uma notícia nacional e um pouco depois, graças à combinação da mídia convencional e das mídias socais, tornou-se uma noticia internacional. A rede de televisão Al Jazeera e o Facebook tiveram um importante papel na disseminação dessa informação e na mobilização dos milhares de manifestantes na Tunísia: “revolucionários virtuais e reais, ambos, saíram em massa para protestar”. Os egípcios se inspiraram justamente nos tunisianos, os quais por meio de manifestações conseguiram a retirada do presidente Ben Ali do poder (AL HUSSAINI, 2011). Segundo o blogueiro marroquino Hisham (AMR, 2011):

O papel da internet e da mídia social em destacar a revolta da Tunísia, que levou à primeira revolução popular árabe para derrubar um ditador árabe, foi fundamental. Eu não estou dizendo que foi uma Revolução do Twitter, eu estou dizendo que o Twitter e as mídias sociais foram uma arma eficaz de disseminação em massa. Elas [as mídias sociais] foram o catalisador que ajudou o movimento a atingir a massa crítica que varreu o país, de Sidi Bouzid até a capital Tunis, e de forma muito rápida.

A população egípcia se organizou para “exigir uma reforma econômica e o fim do mandato de trinta anos do presidente Hosni Murabak” (AL HUSSAINI, 2011). “Trabalhadores uniram-se em sua oposição e –significativamente- utilizaram telefones celulares, mensagens de texto, aplicações de mídia social e a internet para chamar o povo às ruas para protestar.” (PUDDEPHATT, 2011, p.20). A grande faísca para o inicio da revolução egípcia foi um vídeo gravado e postado no Facebook no dia 18 de Janeiro de 2011 por uma jovem ativista egípcia, na época com 26 anos, chamada Asmaa Mahfouz . No vídeo, Asmaa convoca a população egípcia para ir à Praça Tahrir, no Cairo, no dia vinte e cinco de Janeiro de 2011 para protestar contra o governo de Murabak. (GOODMAN, 2011). De acordo com Asmaa (GOODMAN, 2011, tradução nossa):

Quatro egípcios colocaram fogo em si mesmos para protestar contra a humilhação, a fome, a pobreza e a degradação que eles tiveram que viver durante 30 anos. Quatro egípcios atearam fogo em seus próprios corpos, pensando que talvez eles pudessem ter uma revolução como na Tunísia, talvez pudessem ter a liberdade, a justiça, a honra e a dignidade humana. 36

Hoje, um destes quatro já morreu, e eu vi as pessoas comentando: "Que Deus o perdoe. Ele cometeu um pecado e se matou para nada." Pessoas, tenham algum respeito. Eu postei que “eu, uma menina, vou para a Praça Tahrir, e vou ficar sozinha. E eu vou segurar uma bandeira. Talvez, algumas pessoas possam aparecer com alguma honra.” Ninguém veio, exceto três rapazes - três rapazes e três carros blindados da polícia. E dezenas de mercenários e oficiais vieram para nos aterrorizar. Eles nos empurraram para cima das pessoas. Entretanto, assim que ficamos sozinhos com eles, eles começaram a falar conosco: "Basta! Esses caras que se queimaram eram psicopatas." É claro que, em toda a mídia nacional, quem morre em protesto é um psicopata. Se eles eram psicopatas, por que eles se queimaram no edifício do parlamento? Eu estou fazendo este vídeo para passar uma mensagem simples: queremos ir à Praça Tahrir em 25 de janeiro. Se ainda temos honra e queremos viver com dignidade nesta terra, temos que ir para baixo em 25 de janeiro. Vamos descer e exigir nossos direitos, nossos direitos humanos fundamentais.8

Para Bradley (2012, p. xi, tradução nossa):

Quando as massas egípcias tomaram as ruas, eles sabiam, como eu, que o país mais populoso do mundo árabe e o aliado crucial de Washington na região, estava prestes a explodir. No final, os egípcios não tinham nada a perder; o regime havia roubado eles, não apenas os recursos do país, mas também a dignidade pessoal de cada um. O regime de Murabak estava completamente consumido por ele mesmo; já estava incapaz de decretar medidas, por menores que fossem, as quais poderiam atender aos pedidos da população. Em outras palavras, no final, o regime estava ali apenas para perpetuar sua própria corrupção, a lei da brutalidade. Isso acabou por ser um suicídio político9.

8 Four Egyptians have set themselves on fire to protest humiliation and hunger and poverty and degradation they had to live with for 30 years. Four Egyptians have set themselves on fire thinking maybe we can have a revolution like Tunisia, maybe we can have freedom, justice, honor and human dignity. Today, one of these four has died, and I saw people commenting and saying, "May God forgive him. He committed a sin and killed himself for nothing." People, have some shame. I posted that I, a girl, am going down to Tahrir Square, and I will stand alone. And I’ll hold up a banner. Perhaps people will show some honor. I even wrote my number so maybe people will come down with me. No one came except three guys — three guys and three armored cars of riot police. And tens of hired thugs and officers came to terrorize us. They shoved us roughly away from the people. But as soon as we were alone with them, they started to talk to us. They said, "Enough! These guys who burned themselves were psychopaths." Of course, on all national media, whoever dies in protest is a psychopath. If they were psychopaths, why did they burn themselves at the parliament building? I’m making this video to give you one simple message: we want to go down to Tahrir Square on January 25th. If we still have honor and want to live in dignity on this land, we have to go down on January 25th. We’ll go down and demand our rights, our fundamental human rights.

9 When the Egyptian masses took to the streets they had, like me, long known that the Arab world’s most populous country, and Washington’s most crucial regional ally, was about to explode. In the end, the Egyptian people had nothing to lose; the regime having robbed them – as I had been told over and over- not only of their country’s vast resources, but also of their personal dignity. The Murabak regime had so completely consumed itself that it was incapable of enacting even minor reforms that addressed the people’s demands for meaningful and radical change. In other words, in the end it existed only to perpetuate its own corrupt, brutal rule. That turned out to be political suicide.

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De acordo com Harb (2012), a revolução de 25 de janeiro “pegou o regime de surpresa”, e em resposta, o presidente Hosni Murabak lançou declarações como “O Egito não é a Tunísia” para frear os manifestantes, entretanto, a juventude egípcia estava disposta a “provar que ele estava errado”. Como os civis não recuaram, a primeira ação de Murabak foi bloquear as redes sociais: o Twitter e o Facebook, assim como cortar a rede da telefonia celular para que os manifestantes não pudessem mandar mensagens de texto. Entretanto, mais uma vez, não adiantou; os manifestantes continuaram indo às ruas. Dessa maneira, na madrugada do dia vinte e sete de Janeiro para o dia vinte e oito, o governo cortou o acesso a internet por completo. Na figura 1 é possível observar o uso da internet ainda quando não havia sido cortada, e no dia seguinte ao corte.

Figura 1 - uso da internet no dia 27 de Janeiro e no dia 28 de Janeiro de 2011.

Fonte: KESSLER, Sarah.Visualizing Egypt’s Internet blackout. Disponível em: . Acesso em: 17 abr. 2013.

Segundo Andrew Puddephatt (2011, p.19) diretor da Global Partners, mesmo o governo egípcio tentando controlar, logo no inicio, a revolução com o bloqueio à internet (há muito tempo os meios de comunicação no mundo árabe estão sob controle estatal) e prisões em massa, não houve eficácia nem resultado, pois o exército egípcio não interviu juntamente ao governo, como Murabak esperava, fazendo com que a juventude encontrasse outros meios para disseminar a informação. 38

De acordo com Saleh (2012, tradução nossa):

A juventude egípcia foi a primeira no mundo árabe a utilizar a internet como uma plataforma política e como uma ferramenta de mobilização de pessoas em busca de mudanças. Os egípcios tem a maior e mais ativa rede de blogs do mundo árabe. Esses blogs egípcios foram os primeiros a revelar a corrupção política e a fazer chamados para mudanças desde 200710.

Dentre essas ferramentas online, o Facebook foi escolhido pelos ativistas no Egito para disseminar as informações: atualmente existem mais de cinco milhões de usuários egípcios no Facebook, o maior número dentre todos os países do Oriente Médio e do norte da África. Nos últimos dois anos, os movimentos também se voltaram para o Twitter e para o YouTube, este último é o terceiro site mais visitado do Egito, perdendo apenas para o Google e Facebook. O YouTube é utilizado para mostrar as torturas e abusos da policia egípcia e, ao longo das manifestações, evoluiu como uma poderosa ferramenta de mídia social no Egito; quanto mais as pessoas gravavam vídeos com os seus celulares durante os protestos, mais o YouTube era utilizado e mais pessoas tinham acesso ao que estava acontecendo (PRESTON, 2011). A revolução feita pelo povo egípcio contou com todas as classes sociais: “ao contrário das mídias tradicionais, as mídias digitais facilitam uma comunicação coletiva e não hierárquica” (PUDDEPHATT, 2011, p.21). Ou seja, as novas mídias por mais que possam ser elitistas, pois só podem ser utilizadas digitalmente, foram empregadas, na primavera árabe, de uma maneira que todos obtivessem as informações dos acontecimentos: as páginas do Facebook contendo os dados do local, data e hora das manifestações eram impressas e distribuídas nas ruas de mão em mão para aqueles sem internet. Tanto o Facebook como o Twitter permitiram à população um alto nível de organização política, pois ajudaram a agrupar grandes grupos de pessoas em pouco tempo. Não apenas entre os compatriotas as notícias eram repassadas, mas também com os países vizinhos e para o restante do planeta. Eles ficavam sabendo uns dos outros via mídias digitais e não pela mídia tradicional, a televisão ou rádio, pois estes estavam sob controle do governo (PUDDEPHAT, 2011, p.21).

10 Egyptians were the first Arab youth to have used the Internet as a political platform and tool to mobilize people for change. Egypt has the largest and most active blogosphere in the Arab world. The Egyptian bloggers were the first to reveal corruption and initiated calls for change as early as 2007.

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De acordo com Puddephatt (2011, p.20):

As mídias sociais, por si sós, não produziram a revolução árabe, mas ao oferecer constantemente novos conteúdos e comentários às mídias tradicionais, funcionaram como catalisadores das mudanças. Foi a combinação entre mídias digitais e tradicionais que se mostrou tão letal para esses regimes. Assim, as mídias digitais ofereciam uma saída para a livre expressão que as mídias tradicionais, monitoradas e controladas pelo governo, não podiam oferecer.

Para Stepanova (2011, p.1), os protestos da Primavera Árabe conjuntamente com as mídias sociais tiveram um importante papel na desintegração de pelo menos dois regimes: Tunísia e Egito. As manifestações nesses dois países provaram que a informação e a comunicação podem servir como poderosas armas de aceleração da transformação social: “nenhuma região, estado ou forma de governo está imune ao impacto da nova era da informação e da comunicação quando se trata de movimentos sociais e políticos” (STEPANOVA, 2011, p.1). Segundo Puddephat (2011, p.21):

A importância dos acontecimentos no Oriente Médio iluminou o fato de que as comunicações digitais oferecem uma nova plataforma para a liberdade de expressão a nível global. Há muito tempo a liberdade de expressão é considerada um direito fundamental, importante em si mesmo e também por ajudar a defender outros direitos e liberdades.

Após a vitória popular sobre o ditador Hosni Mubarak, já a 40 anos no poder, manifestações começaram em outros países vizinhos como Iêmen, Bahrein, Líbia, Jordânia e Síria. Manifestações populares como essas que ocorreram tanto na Tunísia como no Egito, esta última mais conhecida pela mídia internacional, inspiraram os ativistas democráticos e também aqueles que lutam pelos direitos humanos vendo uma esperança para países a tanto tempo sem democracia e direitos para seus cidadãos. Nesse cenário, pode-se dizer que a derrubada do ditador Mubarak no Egito foi uma grande vitória popular. Todavia, o Egito pós- ditadura vive momentos de conflito entre os seus militares e islamitas fundamentalistas. Ou seja, a grande vitória dos egípcios se transformou em uma disputa entre dois poderes sem data para terminar (PUDDEPHATT, 2011, p.19).

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3.2.2 Os Indignados na Espanha

Na Primavera de 2011, com a crise econômica se alastrando pelo continente europeu, a população espanhola foi às ruas em busca de respostas e soluções. Um grupo de ativistas organizados e intitulados “Democracia Real Ya!” (DRY) –Democracia Real Agora- uniram todos os cantos do país para que, juntos, começassem uma revolução no dia 15 de Maio de 2011. De acordo com Puig (2011, p.210, tradução nossa):

Em 2007 a palavra “crise” começou a dar os seus primeiros sinais de que iria aparecer, destruindo o “milagre Espanhol” de uma vez só. Em 2011, a economia baixou, orçamentos e salários foram cortados, o desemprego atingiu a marca de 22%, segundo a Organização para a Cooperação Econômica e dados do Desenvolvimento, e o emprego dos jovens atingiu uma marca de 47%. É claro que a Espanha não foi um caso isolado. Islândia, Irlanda, Grécia e Portugal também sofreram os efeitos da crise, e os seus cidadãos tomaram as ruas. Em Lisboa, no dia 12 de Março de 2011, trezentos mil jovens protestaram, utilizando o slogan “Geração à Rasca” – geração desesperada portuguesa11.

Segundo Castañeda (2012), o movimento espanhol mostrou que não apenas as pessoas no Norte da África tinham razões para tomar as ruas e fazer ações diretas, mas que muitos cidadãos nos países desenvolvidos tinham também suas razões para lutar e tomar as principais praças das cidades mostrando as suas insatisfações contra a economia e contra o status quo político. Para Postill (apud LÓPEZ; RODRÍGUEZ, 2011b, tradução nossa):

Ativistas espanhóis e observadores igualmente concordam que os protestos de 15 de maio começaram com um grande atraso. O colapso do mercado imobiliário em 2008 havia deixado a economia espanhola em estado débil, com uma taxa de desemprego de cerca de 20% e um número impressionante de 45% entre os jovens, com milhões tendo que sobreviver com baixos salários ou empregos sazonais. A combinação de uma classe política desacreditada por uma série de casos de corrupção, uma lei eleitoral que perpetuava um sistema bipartidário, e o precedente de levantes

11 In 2007 the Word “crisis” began to appear, destroying the “Spanish miracle” in one fell swoop. In 2011, the economy ground to a halt, budgets and salaries were cut, unemployment (according to Organization for Economic Co-operation and Development data) reached 22 percent, and youth unemployment rose over 47 percent. Of course, Spain was not an isolated case. Iceland, Ireland, Greece, and Portugal had suffered the effects of the crisis, and their citizens had taken to the streets. In Lisbon, on March 12, 2011, three hundred thousand young people protested, using the slogan Geração à Rasca – Portugal’s desperate generation.

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pró-democracia na Tunísia e no Egito, resultaram em um cenário ideal para a primavera de descontentamento na Espanha.12

Dessa maneira, seguindo os vizinhos portugueses e os países do norte da África, os espanhóis decidiram tomar as ruas da capital Madrid em 15 de Maio de 2011. Esse dia ficou conhecido como “15M”, levando o título daqueles que estavam nas ruas de “os indignados”. A marca para o inicio dos protestos foi a apenas uma semana das eleições locais, mudando todo o curso daquilo que já era esperado: “com cinco meses de movimento, o jornal Guardian chamou o movimento 15M de o desenvolvimento político mais interessante desde a morte de Franco em 1975” (PUIG, 2011, p.211). Para alguns estudiosos, as razões que levaram os manifestantes às ruas das principais cidades espanholas eram: “raiva dos bancos, corrupção, o sistema eleitoral corrupto e a frustração e desgosto com a mídia” (PUIG, 2011, p.213). Alguns dos grandes slogans que os manifestantes levaram por vários dias pelas ruas de Madrid eram (PUIG, 2011, p. 213, tradução nossa):

“Não tem mais pães suficientes para todo o nosso chorizo”. “Eles chamam isso de democracia, mas não é”. “Eu acho que vou ficar no seu caminho”. “O problema não é o dinheiro, e sim os ladrões.” “Se vocês não nos deixarem sonhar, nós não deixaremos vocês dormirem.” “A França e a Grécia brigam, a Espanha vence no futebol”. ‘Políticos e banqueiros, acordem!” “Eles estão focados em roubar você”. “Eu penso na Islândia.” “Sim, nós acampamos”13.

O movimento rapidamente se espalhou pelo País. As principais cidades que participaram do movimento foram: A Corunã, Albacete, Alcaá, Alicante, Almeria, Ávila, Avilés, Badajoz, Barcelona, Bernicarló, Bilbão, Burgos, Cáceres, Cádiz, Castellón, Chiclana, Cidade Real, Córdoba, Cuenca, Donostia, Elche, Gasteiz, Gijón, Girona, Granada, Guadalajara, Hellín, Huelva, Huesca, Ibiza, Jaén, Jerez, A

12 Spanish activists and observers alike are agreed that the 15 May protests were long overdue. The collapse of the housing market in 2008 had left the Spanish economy in a feeble state, with an overall unemployment rate of around 20% and a staggering figure of 45% among young people, with millions more having to survive on low-paid or seasonal jobs. The combination of a political class discredited by a string of corruption cases, an electoral law that perpetuates a two-party system, and the precedent of pro-democracy uprisings in Tunisia and Egypt, set the scene for a spring of discontent in Spain.

13 The principal motives of the protests were: anger at the banks, corruption, and the election system, and frustration and disgust with the press. There’s not enough Bread for all this chorizo. They call it democracy, but it isn’t. I think, therefore I get in the way. Money’s not the problem, it’s the thieves. If you don’t let us dream, we won’t let you sleep. France and Greece fight, Spain wins at football. Politicians and bankers, wake up! Focused on robbing you. I think of Iceland. Yes We Campo. 42

gomera, As Palmas, León, Lleida, Logronõ, Lugo, Madrid, Málaga, Manacor, Menorca, Mérida, Miranda Del Ebro, Murcia, Ourense, Oviedo, Palência, Palma de Mallorca, Pamplona, Ponteareas, Pontevedra, Ronda, Salamanca, Santander, Santiago, Segovia, Sevilla, Soria, Tarragona, Tenerife, Tenerife Norte, Tenerife Sul, Terrasa, Teruel, Toledo, Tui, Valencia, Valladolid, Vigo, Vilagarcía de Arousa, Zamora, Zaragoza. (TOMALAPLAZA, 2013). Na figura 2 é possível visualizar as ações no país Espanhol, bem como em Portugal.

Figura 2 – Mapa das ações na Espanha e em Portugal.

Fonte: SQUARE Debate. Squares database. Disponível em: < https://squaresdatabase.crowdmap.com/ > Acesso em: 27 maio 2013.

Miguel Yarza, um dos ativistas e organizadores da Democracia Real Ya, relata que o chamado para uma ação veio da DRY, entretanto os acampamentos que foram montados na Puerta del Sol, principal praça de Madrid, onde os manifestantes se reuniram, não foi uma iniciativa deles, e sim, um ato espontâneo das milhares de pessoas ali presentes (YARZA, 2011). Além desses acampamentos, 43

os manifestantes se organizaram em grupos de trabalho e formaram Assembleias Gerais para tomar decisões baseadas em consenso: estratégia que foi adotada pelo OWS alguns meses depois (BAUER et al, 2011, p.07). Com princípios descentralizados e sem lideres, cada cidade possuía suas próprias prioridades e demandas (PUIG, 2011, p.214). Para Postill (APUD CARLES FEIXA ET AL, 2012b, tradução nossa):

O acampamento foi configurado como uma pequena cidade. Desde o início ruas foram estabelecidas, onde as pessoas podiam andar. Diferentes áreas foram marcadas por fitas coloridas, incluindo espaços para caminhar, dormir, comer, e lazer. Diversas comissões foram criadas para organizar o acampamento. No canto do amor você poderia conversar sobre assuntos metafóricos e meditar; havia lugares onde você podia obter uma massagem depois de um dia cansativo no campo, e havia até uma biblioteca infantil com um pequeno viveiro. Todo mundo estava vivendo para o movimento, por sua crença de que tudo iria dar certo. Tem sido dito muitas vezes que somos a geração Erasmus: tivemos contatos com outras culturas, a nossa formação nos permitiu assumir papéis mais complexos e arquiteturas. Mas nós não éramos apenas um movimento de jovens: pessoas da área e os sem-teto também nos ajudaram. Eles empreenderam tarefas logísticas, fizeram mesas e cadeiras para nós, e colocaram lonas quando chovia. Foi um movimento muito heterogêneo, você poderia encontrar qualquer um: estudantes, trabalhadores precários, trabalhadores regulares. Havia muitas pessoas de muitos lugares. Era como um pequeno mundo dentro de um mundo, mas fantástico. Tão espontâneo e tão bem organizado.14

Segundo Willie Osterweil, ativista envolvido no planejamento do Occupy Wall Street (BAUER et al, 2011, p.07), “os acampamentos se tornaram centros de informação, protesto e de vida revolucionária”. Além de montar cozinhas, eles distribuíam as comidas de forma gratuita, faziam sessões de terapia, reuniões com diferentes tópicos, workshops e discussões publicas. Era uma “democracia diferente”: trabalho, recursos e decisões eram todos compartilhados e para proteger

14 The camp was configured like a small city. From the beginning streets were established where people could walk. Different areas were marked by colored tape, including spaces for walking, sleeping, eating, and leisure. Diverse commissions were created to organize the camp. In the corner of love you could chat about metaphorical matters and meditate; there were places where you could get a massage after a tiring day at the camp; and there was even a children’s library with a small nursery. Everyone was living for the movement, for their belief that it would all work out. It has been said many times that we are the Erasmus generation: we had contacts with other cultures, our training enabled us to assume more complex roles and architectures. But we were not just a youth movement—the people from the area and the homeless also helped. They undertook logistical tasks, they made tables and chairs for us, and put up canvases when it rained. It was a very heterogeneous movement, you could find anyone: students, precarious workers, regular workers. There were many people from many places. It was like a small world inside a world, but fantastic. So spontaneous, and yet so well organized.

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os acampamentos, eles utilizam cartazes os quais exibiam slogans revolucionários (BAUER et al, 2011, p.07). Como na Primavera Árabe, a disseminação das informações dos acampamentos e manifestações era repassada via internet pelo Facebook, Twitter e YouTube. A maioria dos participantes eram estudantes universitários, chamados de “nativos digitais”. Pesquisas mostraram que 65.3% dos participantes souberam dos protestos via Facebook e 9.9% via Twitter (PUIG, 2011, p.214). Segundo Postill, (2011a) os participantes do 15M rejeitavam qualquer separação entre o online e off- line ou entre o digital e o analógico. Os manifestantes viam essas duas esferas como “mutuamente construtivas e enfatizavam o caráter “horizontal” dos fluxos de comunicação através da internet e dos espaços presentes”. Os manifestantes mostravam a importância do Twitter na participação democrática através de “um terreno midiático achatado em que a polarização é onipresente” (POSTILL, 2011a). No dia dezessete de Maio de 2011 o site da Democracia Real Ya! não estava disponível devido ao grande número de acessos, fazendo com que os manifestantes encontrassem outras maneiras de se organizarem, usando para isso o Facebook, Twitter e YouTube (REGO, 2011c). Segundo Rego (2011c), “alguns usuários têm chamado o movimento de a “revolução espanhola”, em referencia à Primavera Árabe”. No Twitter, hashtags como #worlrevolution (revolução mundial) e #globalcamp (acampamento global) eram dois dos mais procurados entre aqueles dias de Maio e outros como #15m, #15mani e #democraciarealya eram também muito utilizados pelos usuários para compartilharem vídeos e fotos dos protestos nas mais diversas cidades do país espanhol (REGO, 2011c). De acordo com Rego (2011c), uma das mensagens mais repassadas no dia dezesseis de Maio foi: “primeiro eles te ignoram. Depois, eles riem de você. Aí eles te atacam. E então você ganha > Gandhi #acampadasol #spanishrevolution”. Com a rápida disseminação das informações via mídias sociais, quando os usuários souberam que a polícia espanhola viria para tirar os manifestantes das praças e acabar com os protestos, a solidariedade de países vizinhos e do restante do país se mostrou maior do que qualquer um poderia imaginar (REGO, 2011b). Na figura 3 é possível verificar mais de 600 “Revoluções Mundiais” em apoio aos Indignados. todas organizadas via mídias sociais.

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Figura 3 - Revoluções Mundiais em apoio aos Indignados pelo mundo.

Fonte: REGO, Leila Nachawati. Global Voices: da revolução espanhola à revolução mundial. 2011 . Disponível em: . Acesso em: 08 abr. 2013.

Segundo Rego (2011a), líderes políticos e alguns meios de comunicação “acusaram o movimento de uma falta de estrutura definida”. Entretanto, os manifestantes alegavam que ocupar espaços públicos, ruas e a internet era uma forma inovadora e diferente de protestar, e que iriam continuar “tirando partido de ferramentas digitais para organizarem, partilharem e construírem suas próprias histórias”. Já para Postill (2011a), “os ativistas do 15M habitavam uma mídia dinâmica em que os seus caminhos digitais, frequentemente atravessavam os caminhos de jornalistas, políticos e intelectuais através do Facebook ou Twitter”. Atualmente, a situação na Espanha continua a mesma: altos níveis de desemprego e cidadãos migrando para outros países na tentativa de recomeçar a vida com melhores condições. Os protestos continuam.

3.3 OCCUPY WALL STREET

Crise econômica, crise social, desemprego, hipotecas, dívidas estudantis, insatisfação popular. Esses são alguns dos vários motivos que levaram estudantes, desempregados, pessoas de cor, pessoas de idade, etc. a se reunirem na cidade de Nova York no outono de 2011 com um mesmo objetivo: lutar pelos seus direitos. 46

A inspiração para o surgimento do movimento Occupy Wall Street veio do outro lado do oceano: da Primavera Árabe no Egito e dos Indignados na Espanha (KROLL, 2011, p.16). Ambos os movimentos, mesmo de formas diferentes, lutaram por ideais socioeconômicos e por meio das redes sociais fizeram com que as suas respectivas ideias se espalhassem de forma viral pela rede e dessa maneira conseguiram reunir nas principais praças das capitais Madrid e Cairo milhares de pessoas para protestar (KROLL, 2011, p.16). Já a origem do movimento pode ser encontrada em diversas fontes. A mais propensa é a de que o movimento começou quando ativistas da revista canadense Adbusters chamaram a população norte americana para uma ação direta. O chamado começou a se disseminar via email das pessoas as quais possuíam assinatura da revista, com o título “Agora mais do que nunca, a América precisa da sua própria Tahrir [...]”. Rapidamente essa mensagem foi espalhada por mídias independentes, fóruns online no Twitter e Facebook e por ativistas virtuais (BLUME, 2012, p.13). Após o chamado da revista Adbusters, as pessoas participantes da New Yorkers Against Budget Cuts (NYABC) – nova iorquinos contra cortes nos salários – promoveram um primeiro encontro em um ícone da cidade de Nova York: no Charging Bull15. As reuniões iniciaram em Agosto de 2011 e tinham o intuito de organizar a grande ocupação da cidade de Nova York que seria iniciada em Setembro do mesmo ano. Com o propósito de organizar as pessoas de forma democrática antes de partirem para Wall Street – coração financeiro dos Estados Unidos-, os organizadores formaram comissões: desde comissão da comida, comissão dos estudantes até uma comissão tática (BAUER et al, 2011, p.11). Este último, o comitê tático, possuía a tarefa de determinar o local e horário da primeira ocupação de Wall Street. Eles, primeiramente, tentaram ocupar um parque, entretanto a polícia rapidamente os expulsou. Em seguida, eles fizeram uma lista com oito locais públicos entre praças e parques no sul da ilha de Manhattan e chegaram a conclusão de que o , também chamado de Liberty Plaza, seria a melhor alternativa (BAUER et al, 2011, p.12).

15 Estátua de um touro. Esta imponente estátua retrata um comportamento ousado e orgulhoso, como se o touro estivesse preparado para correr pelas ruas desta capital financeira. O Artista Arturo Di Modica criou esta espetacular escultura e entregou-a como presente às pessoas da cidade de Nova York após a queda do mercado financeiro de 1987. Arturo tinha esperança de que a economia mudaria e ofereceu esta prenda como uma representação da força e poder do povo Americano.

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O Zuccotti Park fica no coração do sul da ilha de Manhattan, entre Wall Street e o Marco Zero (local onde ficavam as torres gêmeas antes dos atentados do 11 de setembro) e sua vizinhança é cercada por turistas, bem como por muitos trabalhadores do setor financeiro. A praça é considerada um espaço público, mas na verdade é privada: pertence à corporação Brookfield Properties16. Entretanto, mesmo pertencendo ao setor privado os membros do comitê tático não encontraram nenhum registro que impedisse os manifestantes de ocuparem aquele local (BAUER et al, 2011, p.16). O Occupy Wall Street começou fundamentalmente como um desafio ao status quo das corporações que controlam o sistema político norte americano. Comparado com o discurso do verão de 2011 nos Estados Unidos, o qual se tratava da redução de déficits, o OWS trouxe à tona uma conversa voltada para a desigualdade econômica e a falta de empregos. O colunista do jornal New York Times e vencedor do Nobel laureate, Paul Krugman, frisou após as primeiras semanas do movimento que “a desigualdade está de volta às noticias graças ao OWS” (DE LUCA; LAWSON; SUN, 2012). De acordo com Gelder (2011, p. 2, tradução nossa):

O Occupy Wall Street é um movimento que não está apenas exigindo mudança. Ele está também transformando a maneira como nós, os 99%, nos enxergamos. A vergonha que muitos de nós sentimos quando não conseguimos encontrar um emprego, pagar nossas dividas ou apenas manter a nossa casa está sendo substituída por um despertar político. Milhões agora reconhecem que nós não somos os culpados por uma economia fraca, pelo colapso das hipotecas e nem por um sistema de impostos que favorece os mais ricos. Nós, os 99% estamos vindo para mostrar que somos o efeito colateral dos ricos que querem ficar ainda mais ricos. Nós somos a maioria da população e, uma vez que entrarmos em ação, não poderemos ser ignorados. Nossos lideres não irão consertar as coisas para nós; nós teremos que consertar por conta própria. Nomeando a questão, o movimento mudou o discurso político. Os interesses dos 99% não poderão mais ser ignorados. O OWS desencadeou o poder político de milhões e emitiu um convite aberto a todos aqueles que desejam fazer parte da criação de um novo mundo17.

16 Brookfield Properties é uma gestora de ativos alternativos globais com mais de 175.000 milhões dólares americanos em ativos sob gestão. Tem uma história há mais de 100 anos e possui e opera ativos com foco na propriedade, energia renovável e infraestrutura.

17 The OWS movement is not just demanding change. It is also transforming how we, the 99%, see ourselves. The shame many of us felt when we couldn’t find a job, pay down our debts, or keep our home is being replaced by a political awakening. Millions now recognize that we are not to blame for a weak economy, for a subprime mortgage meltdown, or for a tax system that favors the wealthy but bankrupts the government. The 99% are coming to see that we are collateral damage in an all-out effort by the super-rich to get even richer. We are the vast majority of the population, and, once we get active, we cannot be ignored. Our leaders will not fix things for us; we will have to do that ourselves. 48

Inspirados nos Indignados, o Occupy Wall Street adotou assembleias gerais como meio de tomadas de decisões. Elas rapidamente se transformaram em uma das experiências mais marcantes do OWS; era impossível não se impressionar com a magnitude daquele acontecimento. Ela pode ser descrita como um grupo sem líderes que se reúnem para discutir sobre tópicos e tomar decisões por consenso (KROLL, 2011, p. 17). Formalmente, serviu com a função de decidir as ações do movimento e de ser o fórum o qual os organizadores tinham a certeza de que os outros participantes seriam ouvidos: desde queixas, decisão de ações diretas e até as estratégias do movimento eram decididas nas assembleias gerais (BAUER et al, 2011, p.27). O movimento é composto por três documentos fundamentais que foram decididos em Assembleia Geral, por consenso dos participantes: os princípios de solidariedade, a afirmação de autonomia e a declaração de ocupação da cidade de Nova York. O Princípio de Solidariedade foi elaborado para unificar os manifestantes presentes no parque Zuccotti, tendo como alguns deles: “praticar uma democracia direta, transparente e participativa” e “reconhecer o valor inerente de cada individuo e a influencia que ele tem em todas as suas interações”, conforme Anexo A. Já a Afirmação de Autonomia, segundo o Anexo B, retrata o movimento, especificando o que é e do que se trata: “nós gostaríamos de esclarecer que o Occupy Wall Street não é e nunca foi afiliado com nenhum partido político, candidato ou organização. Nossa única afiliação é com as pessoas”. A Declaração de Nova York retrata o que os manifestantes consideram injustiças socioeconômicas e que são essas injustiças alguns dos motivos da ocupação da cidade de Nova York, conforme o Anexo C. Segundo Zizek (2011, p. 18) sobre os manifestantes: “eles não são sonhadores, são o despertar de um sonho que está se transformando em pesadelo. Não estão destruindo nada, estão reagindo ao modo como o sistema gradualmente destrói a si próprio”. Entre os participantes do movimento, segundo Alves (2011):

No OWS participaram do movimento veteranos de guerra, sindicalistas, pobres, profissionais liberais, anarquistas, hippies, juventude desencantada, trabalhadores, etc. Entre milhares de pessoas, encontraram-se, lado a lado, por exemplo, jovens anticapitalistas e enfermeira sem defesa do sistema de saúde. Há cartazes de protesto contra o racismo, o presidente Obama, os

By naming the issue, the movement has changed the political discourse. No longer can the interests of the 99% be ignored. The movement has unleashed the political power of millions and issued an open invitation to everyone to be part of creating a new world.

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republicanos, os democratas, a fome, as guerras no Iraque e Afeganistão. Em contrapartida, defendem-se os direitos dos trabalhadores, os dos prisioneiros em greve de fome, mais impostos para os milionários e a reestruturação do sistema financeiro.

De acordo com Davis (2011, p.42):

Até o momento, a genialidade do Occupy Wall Street é o fato de ter libertado alguns dos imóveis mais caros do mundo e transformado uma praça privada em um magnético e catalisador espaço publico de protestos. As mídias sociais são importantes, é claro, mas não onipotentes. O sucesso da auto-organização dos ativistas – a cristalização da vontade política a partir do livre debate – continua sendo melhor nos fóruns urbanos da realidade. As ocupações também são para raios, acima de tudo, para as menosprezadas e alienadas tropas dos democratas, mas, alem disso, elas parecem estar derrubando barreiras de geração, proporcionando as bases comuns, por exemplo, para que os ameaçados professores de meia idade que trabalham a educação básica troquem ideias com jovens graduados empobrecidos.

O poder presente no Occupy era chamado de “poder horizontal”, que foi assim designado por não haver hierarquia nas decisões do movimento (KROLL, 2011, p.17). “As pessoas que optavam por fazer parte do movimento eram as mesmas que debatiam os tópicos, determinavam estratégias e lideravam o trabalho” (GELDER, 2011, p.7). Como o movimento não possuía líderes, as pessoas que coordenavam e organizavam os grupos de trabalho eram denominadas de facilitadores: elas também eram participantes do movimento as quais se identificavam apenas pelo primeiro nome e se esforçavam para não parecerem lideres (BAUER et al, 2011, p.26). Nas Assembleias Gerais, eram eles que organizavam as listas de fala e que mantinham a ordem para que todos fossem ouvidos (GELDER, 2011, p.8). Além dos facilitadores, para manter a organização de milhares de pessoas, foram formados grupos de trabalho que totalizavam 109 grupos distintos, os quais cuidavam de áreas como: comida, higiene, facilitação dos encontros, artes e cultura, tática de debates, demandas e problemas em geral (WINANS, 2012, p.45). Na figura 4 é possível verificar um mapa do Parque Zuccotti durante a ocupação. Ele foi organizado em setores pelos manifestantes: é possível observar a cozinha, a área médica, a área do conforto, a área social, a do cyber café, a da mídia, a da assembleia geral, a de informações, a jurídica, a de boas vindas e a de cultura.

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Figura 4 – a organização do Zuccotti Park.

Fonte: BAUER, A. J. et al. Occupying Wall Street: The inside story of na action that changed America. Haymarket Books. Chicago, 2011.

Como eram milhares de pessoas participando do movimento, os facilitadores precisaram encontrar uma ideia de como fazer com as informações chegassem instantaneamente a todos além da internet, então, eles utilizaram uma ferramenta que pode ser chamada de “microfone humano”. De acordo com Blume (2012, p.18, tradução nossa):

Outro aspecto da tecnologia usado no movimento envolvia um aproveitamento do poder dos grupos de pessoas, as quais falavam juntas em unissonância. O “microfone humano”, como essa tecnologia foi apelidada, funcionava como um sistema de amplificador acústico. É importante destacar que o microfone humano é rotulado de tecnologia uma vez que ele auxilia na disseminação da informação. A função específica desse microfone possibilitava que um individuo pudesse discursar para um grupo de qualquer tamanho em qualquer lugar. Assim é como funcionava: primeiro, a atenção do grupo é chamada verbalmente usando o “chame e responde”. Alguém vai proclamar a expressão “mic check”, e aqueles que estão mais próximos vão repetir essas mesmas palavras. Em seguida, a mesma pessoa que proclamou “mic check” irá começar a fazê-la e as pessoas mais próximas começarão a responder. A ideia é que o número de pessoas que fazem parte do microfone humano vá aumentando a medida que a chamada para o “mic check” vá se espalhando. Uma vez que um número considerável de pessoas está prestando atenção, um único locutor começará a transmitir a mensagem verbalmente. Como fonte dessa mensagem, o locutor automaticamente se torna o epicentro do microfone humano. A mensagem será transmitida devagar e claramente, usando poucas palavras de cada vez. Cada frase falada pelo locutor, irá ecoar pelo grupo todo. O locutor irá proclamar as próximas frases somente depois que frase anterior tenha sido ecoada para cada pessoa do grupo. A tecnologia do microfone humano tem sido aplicada no OWS de diferentes maneiras. A mais comum, é quando o microfone é utilizado para organizar táticas para 51

transmitir informações de logística para aqueles que irão participar das ações diretas18.

Essa tecnologia encorajava a decisão baseada no consenso, uma vez que, escutando uns aos outros repetir um ponto de vista que é diferente do que um pensa, é uma maneira de abrir a mente para novas ideias (GELDER, 2011, p.8). Na figura 5 é possível visualizar os gestos utilizados nas Assembleias Gerais juntamente com o microfone humano para votar por consenso.

Figura 5 – Gestos utilizados nas Assembleias Gerais.

Fonte: OCCUPY Wall Street. General Assembly Guide. Disponível em: Acesso em: 29 mar. 2013.

18 Another aspect of the technology used by the OWS movement involved harnessing the power of groups of people speaking together in unison. The , as this technology has been dubbed, functions as an acoustic amplification system. It is an important distinction that the human microphone is labeled as technology because it facilitates the processing of information. The specific function of the human microphone enables an individual to address a group of any size in any space. Here’s how it works: First, the attention of a group is channeled using a verbal call-and-response. Someone will begin by proclaiming the words “Mic Check,” and those within closest proximity will echo these same words. Then, the same person will repeat the call of “Mic Check” and more people in a wider proximity will respond. The idea is that an increasing number of people will become part of the human microphone with each successive calling of “Mic Check.” Once an appropriate degree of collective attention has been channeled, a single speaker will begin to transmit a verbal message. As the source of this message, the speaker becomes the epicenter of the human microphone. The message will be spoken slowly and clearly, using only a few words at a time. Each phrase uttered by the speaker will then be echoed by the surrounding members of the group. The speaker will utter the next phrase only after the previous phrase has been echoed such that it has clearly reached every person in the group. The technology of the human microphone has been employed by the OWS movement in a number of different ways. Most commonly, the human microphone has been used as an organizational tactic to convey logistical information to those participating in direct action events.

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“Agree” em português significa “concordo”. Esse gesto significava que os manifestantes estavam de acordo com a proposta colocada. O “disagree” em português significa “não concordo” e servia para se colocar contra uma proposta ou para dizer que não gostava do que estava ouvindo. O gesto “block” em português é “bloquear” e significava que caso a proposta fosse votada pela maioria o participante deixaria o grupo, pois possuía razões morais e éticas para não concordar. O “process” significa “processo” e o gesto denotava que o processo pelo qual as discussões estavam prosseguindo não condizia com o colocado. “Information” significa “informação” em português e significava que o manifestante tinha informações pertinentes à discussão do momento. Já o “neutral” significava que o participante estava “neutro” à proposta colocada pelos facilitadores. Por fim, o gesto “clarification” denota “esclarecimento” e significava que o manifestante necessitava de mais informações sobre aquela proposta.19 O OWS pregava a não violência. Entretanto, os participantes podiam adotar uma “diversidade de táticas”, ou seja, caso quisessem, individualmente adotar atos de violência podiam, mas deveriam pensar no grupo como um todo (SCHNEIDER, 2011a, p.39). Segundo Klein (2011, p.46, tradução nossa):

Há uma outra coisa que vocês estão fazendo certo neste movimento: vocês se comprometeram a não violência. Vocês se recusaram a dar à mídia as imagens de janelas quebradas e brigas de rua. E essa tremenda disciplina significa que, mais e mais, a historia que é mostrada é a vergonhosa e não provocada brutalidade policial. Nesse meio tempo, o apoio ao movimento só cresce. Isso é sabedoria 20.

De acordo com o Comitê de Ação Direta do OWS, dois pontos eram de fundamental importância: “não instigar violência física com policiais e pedestres” e “nós respeitamos a diversidade de táticas, mas consideramos que qualquer ação

19 You agree with the proposal or like what you are hearing. You disagree with the proposal or dislike what you are hearing. You’re taking a neutral stance on the proposal. You either have or need clarifying information. You have information pertinent to the discussion (not for opinions). Telling the group the process by which discussions are held is not being followed. You have very strong moral or ethical reservations about the proposal and will consider leaving the group if it passes.

20 Something else this movement is doing right: You have committed yourselves to nonviolence. You have refused to give the media images of broken windows and street fights it craves so desperately. And that tremendous discipline has meant that, again and again, the story has been the disgraceful and unprovoked police brutality… Meanwhile, support for this movement grows and grows. More wisdom.

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pode afetar o grupo inteiro”. Na prática, os manifestantes mantiveram a disciplina da não violência. A defesa pessoal dos participantes contra os policiais foi basicamente com câmeras, e não com a força física (SCHNEIDER, 2011b, p.39). De acordo com Schneider (2011, p.42, tradução nossa):

A “diversidade de táticas” é uma forma de desobediência política par excellence, uma vez que sua ênfase em autonomia ao invés de autoridade representa uma contradição direta àquela ordem política que políticos ordinários pressupõem. “Não confundam a COMPLEXIDADE deste movimento com CAOS”, dizia uma das placas feitas pelos manifestantes no meio da multidão.

O processo democrático adotado no Occupy Wall Street possuía raízes anarquistas. A democracia baseada em consenso estava diretamente ligada a essa teoria uma vez que um dos princípios fundamentais do anarquismo diz que: do mesmo modo que quando os seres humanos são tratados como crianças, eles tendem a agir como crianças, o modo pelo qual se encoraja um ser humano a agir com maturidade e responsabilidade é tratá-los como se todos eles fossem maduros e responsáveis, mesmo quando não o são (GRAEBER, 2011, p. 23). De acordo com a página oficial do movimento:

O Occupy Wall Street é estruturado com base em princípios anarquistas. Isso significa que não existem lideres formais e nem uma hierarquia formal. Entretanto, o movimento está cheio de pessoas que lideram por serem exemplares. Nós somos lideres integrais, e é isso que nós torna fortes. Ao invés de escolhermos lideres aos quais você teria que seguir, os lideres aqui surgem organicamente. Essas pessoas se tornam lideres por que outras pessoas decidiam segui-las. A qualquer momento você pode escolher qualquer um para seguir. Você pode seguir mais de uma pessoa. Se as pessoas gostarem das suas ideias, elas podem escolher seguir você. Qualquer um pode vir a ser um líder21. (OCCUPY..., 2013, tradução nossa).

Os anarquistas presentes no OWS tinham uma ideia que naquele momento parecia completamente ambiciosa: tomar decisões por consenso entre milhares de pessoas. Entretanto, meses depois, as decisões eram tomadas democraticamente, sem voto, por concordância geral (GRAEBER, 2011, p.22).

21 Occupy Wall Street is structured on anarchist organizing principles. This means there are no formal leaders and no formal hierarchy. Rather, the movement is full of people who lead by example. We are leader-full, and this makes us strong. Instead of picking leaders, which you would then have to follow, leaders emerge organically. These people become leaders because others choose to follow them. At anytime you can choose to follow someone else. You can follow more than one person. If people like your ideas, they may choose to follow you. Anyone can become a leader.

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Segundo Graeber (2011, p.22), de acordo com a sabedoria convencional isso não seria possível, mas estava realmente acontecendo – “assim como outros fenômenos inexplicáveis acontecem como o amor, a revolução ou a vida por si só”. De acordo com Graeber (2011, p.23, tradução nossa):

Talvez nós nunca iremos ser capazes de provar através da lógica que a democracia direta, a liberdade e a sociedade baseada em princípios da solidariedade humana sejam possíveis. Nós podemos apenas demonstrar isso através de ações. Em parques e praças de lado a lado dos Estados Unidos, pessoas já começaram a testemunhar essas ações, assim como essas mesmas pessoas começaram a fazer parte delas. Os americanos cresceram sendo educados de que liberdade e democracia são princípios irrevogáveis, e que o nosso amor pela liberdade e pela democracia é o que nos define como pessoas – mesmo que sutilmente, nós sejamos ensinados que a liberdade genuína e a democracia não poderão jamais existir.

De acordo com Gelder (2011, p.2), mesmo sem escritórios, sem salários e sem uma conta bancária, o OWS rapidamente se espalhou pela ilha de Manhattan. As pessoas presentes não eram apenas de Nova York; vieram de Boston, Chicago, Los Angeles, Portland, Atlanta, São Diego e tantas outras cidades ao redor dos Estados Unidos para protestar todos juntos em uma só voz as injustiças socioeconômicas do seu País com os “99%”. Em questão de semanas, o movimento Occupy se espalhou pelo mundo: de Madrid a Hong Kong e de Buenos Aires a Cape Town. As principais ocupações espalhadas pelo planeta foram: Amsterdam, Atenas, Atlanta, Austin, Acampada Barcelona, Boston, Bruxelas, Chicago, Dataran, Washington DC, Detroit, Dublin, Filadélfia, Frankfurt, Londres, Los Angeles, Acampada Madrid, Minneapolis, Montreal, Oakland, Paris, Portland, Rio de Janeiro, São Francisco, Seattle, Sidney e Toronto (OCCUPYWALLST, 2013). Na figura 6 é possível verificar a disseminação do movimento ao redor do mundo e na figura 7 é possível observar a explosão do OWS nos Estados Unidos e no continente europeu com mais nitidez.

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Figura 6 – disseminação do movimento OWS pelo mundo.

Fonte: OCCUPY. – Occupy Directory: 1505 occupations. Disponível em: Acesso em: 25 abr. 2013.

Figura 7 – Occupy Wall Street nos Estados Unidos e no continente Europeu.

Fonte: OCCUPY Wall Street: the revolution continues worldwide – user map. Disponível em: < http://occupywallst.org/attendees/ > Acesso em: 25 Abr. 2013.

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Após um mês de ocupação da praça, a Brookfield Properties ordenou aos manifestantes que se retirassem para a limpeza do local, alegando questões de saúde pública. No dia 13 de outubro de 2011 a companhia avisou a todos que iria começar a limpar a praça e a retirar todas as tendas ali presentes por um período de quatro horas e, posteriormente, os manifestantes poderiam regressar à praça, entretanto estariam proibidos de remontar as tendas e de dormir no local (WINANS, 2012, p.47) Para evitar a retirada das tendas, os facilitadores organizaram anúncios e chamados via Twitter para que mais pessoas se juntassem a eles e ocupassem a praça, impedindo assim a limpeza do local. Com um número maior de pessoas, a Brookfield decidiu prorrogar o prazo para o inicio da limpeza na praça – até que a companhia tivesse suporte policial, o que aconteceu em meados de novembro (WINANS, 2012, p.47). A partir da ação conjunta com a polícia, a companhia planejou a retirada das tendas e das pessoas da Liberty Plaza: “mais tarde foi descoberto que a polícia já estava treinando a invasão na praça e a retirada das pessoas há mais de duas semanas da data marcada” (BAKER; GOLDSTEIN, 2011 apud WINANS, 2012, p.49). A polícia invadiu a praça no meio da madrugada e deu aos manifestantes um tempo limite para que todos juntassem suas coisas e deixassem o local; muitos deles não conseguiram juntar tudo e alguns tiveram seus equipamentos eletrônicos entre outros pertences destruídos (WINANS, 2012, p.50). O motivo pelo qual a policia, juntamente com a Brookfield Properties, invadiu a praça era basicamente para zelar pela saúde dos manifestantes: segundo os policiais, após a invasão na praça, as pessoas poderiam retornar ao local, porém sem sacos de dormir e tendas (PAVIA, 2011 apud WINANS, 2012, p.50). Os policiais prenderam muitos manifestantes que se recusaram a sair dos acampamentos e afastou a imprensa do local, alegando que isso seria para a segurança dos jornalistas (BAKER; GOLSTEN, 2011 apud WINANS, 2012, p.51). Após a invasão e as prisões, os manifestantes não puderam mais dormir na praça, fato que diminuiu o número de manifestantes em Nova York, visto que, muitos deles não moravam na cidade e não possuíam lugar para dormir que não fossem os acampamentos (WINANS, 2012, p.52). Segundo os manifestantes, esse cenário rompeu com o clima que havia se instaurando entre as pessoas e o movimento, 57

todavia, mesmo com menos manifestantes, a praça Zuccotti fechou o ano de 2011 ocupada, ainda que apenas diariamente (WINANS, 2012, p.52).

3.4 AS MÍDIAS SOCIAIS E O OCCUPY WALL STREET

Nos últimos anos, o número de cidadãos de todas as idades, especialmente os jovens, que rejeitam estruturas políticas convencionais como partidos e sindicatos aumentou: eles preferem estruturas menos hierárquicas e um sistema participativo voltado de diferentes maneiras para a cultura da Internet (KULISH, 2011). De acordo com Yochai Benkle, diretor do Centro Internacional de Internet e Sociedade Berkman da Universidade de Harvard, “a sociedade está vendo uma geração de jovens entre vinte e trinta anos que estão acostumados a se auto organizarem”. Segundo Benkle, esses jovens acreditam que a vida pode ser mais participativa, mais descentralizada e menos dependente dos modelos tradicionais de organização, tanto na esfera pública quanto na privada: esses meios eram utilizados na economia industrial e já não servem mais para os dias de hoje (KULISH, 2011). No início do século XXI, a internet, a telefonia celular integrada e a convergência digital representaram plataformas propícias para que houvesse condições de democracia, organização e articulação na sociedade da comunicação (VIZER, 2007). Ferramentas simples como o Facebook e o Twitter, construíram redes de indivíduos que levaram as suas ideias para as ruas: aconteceu no Egito, na Espanha, na Grécia e também nos Estados Unidos. Foi pelo conteúdo dessas mídias sociais que a mainstream media se interessou pelos movimentos. Muitos cidadãos reunindo-se em redes sociais conseguiram a atenção dessas grandes mídias, tendo assim, grande potencial para uma possível mudança (KANALLEY, 2011). A conexão do OWS com as mídias sociais é muito forte. Elas se tornaram as principais plataformas de disseminação de informação do movimento; com uma simples conta em uma rede social, qualquer usuário em qualquer lugar do planeta era capaz de se conectar rapidamente com os acontecimentos e fatos do dia (BLUME, 2011, p.13). Segundo Sandivk (2012) “o movimento é um exemplo de como essas mídias, com o seu poder de democracia e comunicação, são capazes de protestar contra o poder financeiro do mundo e contra o seu papel na crise financeira global”. Entretanto, para Sandivk (2012), é ingênuo pensar que as mídias 58

sociais em si provocam mudanças: elas facilitam os movimentos sociais e políticos uma vez que aplicam a colaboração, a participação e a criação conjunta que são algumas das vantagens da comunicação via mídia social, todavia não mudam o sistema por si sós. Para auxiliar na dispersão das informações, os manifestantes criaram um jornal da ocupação online, chamado de The Occupied Wall Street Journal. De acordo com a página do The Occupied Wall Street Journal:

The Occupied Wall Street Journal, membro do grupo de afinidade do OWS, é um dos muitos projetos de mídia que participam no movimento Occupy. The Occupied Wall Street Journal é possível graças a dezenas de pessoas brilhantes e talentosas que se ofereceram para trabalhar. O jornal saiu do papel graças às 1.600 generosas doações para uma festa beneficente. O OWSJ não representa ninguém, exceto seus participantes. As opiniões dos autores são deles próprios (THE OCCUPIED WALL STREET JOURNAL, 2013, tradução nossa)22.

Além do The Occupied Wall Street Journal há outras publicações com o mesmo viés do OWSJ, são elas: The Boston Occupier, The Occupy Harvard Crimson, The Occupied Times of London, Occupied Los Angeles Times, Occupy Pittsbugh Now e The Occupied Washington Post (THE OCCUPIED, 2013) Na figura 8 é possível observar a conexão entre o movimento e a internet: quando os dois diagramas se juntam é possível verificar palavras como: livestream, mídia, grupos de trabalho, grupos de afinidades, occupy wall street journal, etc.

22 The Occupied Wall Street Journal, an OWS affinity group, is one of many media projects participating in the Occupy movement. The Occupied Wall Street Journal is made possible by dozens of bright and talented people who have volunteered their work. The paper got off the ground thanks to over 1,600 generous donations to a kickstarter.com fundraiser. The OWSJ does not (and could not) represent anyone except its participants. The views of the authors are their own.

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Figura 8 – a conexão entre o OWS e a internet.

Fonte: MURIENTE, Sofia Gallisa. Ampliando la conversación, 2012. Disponível em: < http://www.indig-nacion.org/ampliando-la-conversacion/ > Acesso em: 18 abr. 2013.

De acordo com Chayka (2011, tradução nossa):

Mais do que a habilidade de compartilhar fotos com amigos, ou de manter todos informados de seus hábitos alimentares, os protestos e o resultado da mudança política na Primavera Árabe trouxeram a tona o fato de que a mídia social está definindo a realidade da nossa era [...].23 Os manifestantes do OWS criaram uma central de mídia no centro do parque – não para encontrar a imprensa, mas para oferecer uma infraestrutura em que os manifestantes pudessem difundir as suas motivações, criticas e causas. O protesto está ocorrendo em um espaço digital e físico simultaneamente, assim como os que aconteceram no Egito, Líbia e Inglaterra, e em outras manifestações ao redor do mundo como na Espanha, Índia, Grécia e Israel – essa é a revolução 2.0.24

A estrutura on-line do Twitter e do Facebook facilitou a disseminação dessas informações entre os manifestantes. Os protestos eram continuamente documentados pelos próprios participantes: era difícil identificar quem eram os manifestantes, quem eram os repórteres e quem eram os turistas (CHAYKA, 2011).

23 More than the ability to share photos with friends or keep everyone posted on your eating habits, the massive protests and resulting political change of the Arab Spring has driven home the point that online social media is the defining reality of our era.

24 Protesters have created a media hub in the park's center — not to meet with press, but to provide the infrastructure for protesters to broadcast their own motivations, critiques, and causes. The protest is occurring in digital and physical space simultaneously, as it has in Egypt, Libya, and Britain, as well as in youth-driven protests currently in progress all around the world, in Spain, in India, in Greece, and in Israel — this is revolution 2.0. 60

Eles se fizeram conhecer on-line criando essa grande presença nas tradicionais mídias sociais. Uma conta no Twitter chamada @occupywallst, em Setembro de 2011, mês do inicio do movimento, já tinha 18.133 seguidores, enquanto o hashtag #occupywallstreet forneceu um foro ativo para que pessoas dentro e fora de Nova York pudessem participar dos protestos (na época, o twitter foi acusado de censurar os principais tópicos do hashtag #occupywallstreet) (CHAYKA, 2011). Já no Facebook, mais de 450 mil usuários aderiram a pagina do OWS nos meses de Setembro e Outubro de 2011 (KANALLEY, 2011). Nas duas primeiras semanas de manifestação, utilizando imagens de encorajamento, frases inspiradoras e vídeos das coberturas da imprensa, outra página do OWS no Facebook tinha 29,563 membros (CHAYKA, 2011). O Twitter foi útil para disseminar informações a respeito das assembleias gerais, das ações diretas e de ações de confronto não planejadas com a policia. Além dessas informações, o Twitter possuiu uma grande importância na transmissão ao vivo dos acontecimentos. Essa plataforma foi uma importante ferramenta de auxilio para garantir justiça e responsabilidade em face de irregularidades, como os confrontos com a policia (BLUME, 2012, p.17). Na figura 8 é possível verificar a utilização das mídias sociais com postagens a respeito do Occupy Wall Street entre os dias de 17 de Setembro de 2011 e 17 de Outubro de 2011 nos Estados Unidos.

Figura 9 – Utilização das mídias sociais entre Setembro e Outubro de 2011 – EUA.

Fonte: POSITION. Social Media Helps Spur #OccupyWallStreet Protests. Disponível em: < http://blogs.position2.com/social-media-helps-spur-occupywallstreet-protests> Acesso em: 27 maio 2013.

Segundo Chayka (2011), placas feitas em casa pelos próprios manifestantes com fotos e sinais forneceram às pessoas uma plataforma direta. Alguns manifestantes escreveram “Graças a Deus que o YouTube existe, por que a 61

minha mãe não tem dinheiro para pagar uma boa universidade”, “Essa rua é a nossa rua” e também “Parece que eu gosto das corporações?”. Outros manifestantes utilizaram a famosa mascara do filme V de Vingança e levavam placas que diziam “OCUPEM OS RICOS”. Vídeos no YouTube eram carregados e documentados diariamente, assim como imagens e pôsteres. Esses vídeos e imagens eram um dos veículos que possibilitava que as informações se disseminem entre as pessoas, muito mais do que a mainstream media (CHAYKA, 2011). As mídias digitais, em especial as mídias sociais vem sendo apontadas como mídias capazes de mudar sociedades e de enriquecer movimentos democráticos. (SANDIVK, 2012). O aumento das mídias sociais vem mudando o discurso político ao redor do mundo estendendo o potencial para outras vozes e criando oportunidades para coordenação de grandes grupos e ações. Movimentos da Primavera Árabe demonstraram o inicio do poder político dessas novas mídias (Chang; Pimentel; Svistunov). De acordo com Griffith (2012, tradução nossa):

Uma força notável do movimento Occupy Wall Street é o uso de tecnologias modernas e correntes populares para disseminar informações. O movimento se disseminou via Twitter hashtags, grupos no Facebook, fluxos de foto do Flickr e outros canais de mídia de massa. O Christian Science Monitor explicou em 12 de Outubro de 2011 que “todos os dias, milhões de tweets, posts e textos intensificam a conversa global em torno do assunto principal, criando, na sua essência, um banco de dados envolvente e vivo de informações sobre os protestos, o movimento e sobre seus possíveis objetivos”.25

As organizações de mídia de massa responderam ao OWS com “uma malévola negligencia”: o movimento que começou no dia dezessete de setembro, foi notado apenas oito dias depois, antes disso foi um completo “blecaute” das mídias tradicionais. A invisibilidade do movimento também foi sentida nas principais redes televisivas do país: somente dez dias depois do seu inicio é que o OWS virou manchete das grandes mídias (DE LUCA et al, 2012). O movimento ganhou apenas pequenas menções nos grandes jornais somente quando os manifestantes

25 One noteworthy strength of the Occupy Wall Street movement is its use of modern day technology and popular currents for spreading information. Awareness of the movement spread via Twitter hashtags,Facebook groups, Flickr photo streams, and other channels of mass media. The Christian Science Monitor explained on October 12, 2011, “Every day, millions of tweets, posts, and texts swell the global chat around the topic, creating, in essence, a living and evolving database of raw information about the protest movement, its supporters, and its possible goals.

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estavam transportando tendas para Zuccotti Park e quando deram início ao acampamento. Câmeras e vans de notícias não eram comuns nas primeiras semanas do OWS: em vez disso, a notícia da ocupação se espalhou pela blogosfera, “de boca em boca” (BAUER et al, 2011, p.168). O fato de não haver cobertura televisiva no local dos protestos irritou não apenas os ativistas, mas também a população de um modo geral, que havia descoberto o movimento a partir de fontes não convencionais, como a internet. Dessa maneira, os hashtags #OWS e #occupywallst proliferaram no Twitter, criticando a falta de cobertura, com queixas de que as mídias convencionais estavam ignorando a ocupação: o fato da mainstream mídia não estar presente no OWS tornou-se uma história por si só (BAUER et al, 2011, p.168) De acordo com De Luca et al (2012, tradução nossa):

Ainda que o poder das mídias tenha mudado com o crescimento da internet e das mídias sociais, as mídias tradicionais continuam cruciais para determinar a presença e a percepção de grupos ativistas. Não é de surpreender, eles têm um grande interesse em preservar o mundo como ele é, perpetuando o status quo. Como resultado, grupos ativistas buscando por mudanças sociais têm estremecido suas relações com as tradicionais mainstream mídias. Essas mídias se utilizam de duas estratégias predominantes para marginalizar esses grupos ativistas. A primeira é ignorando eles, condenando-os a invisibilidade e não existência. Já a segunda, é conceituar esses grupos negativamente. Essas duas estratégias foram implantadas no primeiro mês de existência do Occupy Wall Street.26

Após o inicial blecaute, veio uma grande confusão nos canais da mainstream mídia norte americana: com sensacionalismo, cada canal rotulou o OWS de maneira distinta, dificultando assim aos telespectadores a compreensão a respeito do movimento (BAUER et al, 2011, p.167). Segundo BAUER et al (2011, p.167, tradução nossa):

A maioria das mídias se esforçou para encontrar uma narrativa clara para construir em torno de OWS, enquanto programas da televisão a cabo, conservadores e especialistas de rádio não perderam tempo atacando o movimento.Repórteres foram rotineiramente espancados, presos ou

26 Although media power dynamics have changed with the emergence of the Internet and social media, traditional mass media organizations remain consequential in determining the presence and the reception of activist groups. Not surprisingly, they have a vested interest in preserving the world as it is, in perpetuating the status quo. As a result, activist groups advocating social change have strained relations with traditional mainstream mass media. Such organizations use two predominant strategies to marginalize activist groups. The first is ignoring them, dooming them to invisibility and nonexistence. The second is to frame them negatively. Both strategies were widely deployed in the first month of OWS’s existence.

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impedidos de fazer o seu trabalho e um número expressivo de jornalistas perderam os seus empregos no processo, evidentemente, por que estavam muito perto do ativismo para o gosto de seus empregadores. Em outras palavras, o movimento tem feito nada menos do que testar os padrões de como o jornalismo objetivo deve ser em uma sociedade livre moderna27.

Algumas celebridades como o cineasta Michel Moore visitaram o Zuccotti Park para apoiar os manifestantes, entretanto, não foi esse fato que finalmente chamou a atenção da mainstream mídia: foi a brutalidade policial. A notícia de que 80 manifestantes haviam sido detidos em uma marcha pacífica para a Union Square e um vídeo chocante de quatro jovens mulheres que foram casualmente e atingidas por sprays de pimenta enquanto eram encurraladas pela polícia foi o que, finalmente, empurrou Occupy Wall Street para o ciclo de notícias nacionais (BAUER et al, 2011, p.169). Segundo Cissel (2012), pode-se fazer duas analises a respeito da disseminação da informação do OWS. Enquanto a mídia tradicional fazia uso de informações confusas a respeito do movimento, as mídias alternativas, como o Facebook e o Twitter, focavam naquilo que os manifestantes realmente estavam tentando alcançar. Para Cissel (2012), os dois tipos de fontes destacaram os diversos conflitos em torno do OWS, todavia o fizeram também de maneira diferente. A mídia tradicional colocou os manifestantes em uma posição de violência, já as mídias alternativas focaram na brutalidade dos policiais contra os manifestantes pacíficos. Segundo Stafle (2011, p.50):

Atualmente, boa parte da imprensa mundial gosta de transforma-los (os manifestantes) em caricaturas, em sonhadores vazios sem dimensão concreta dos problemas. Como se esses arautos da ordem tivessem alguma ideia realmente sensata de como sair da crise atual.

Para Cissel (2012), o Occupy Wall Street conseguiu demonstrar a diferença das abordagens nos dois tipos de mídia. Por um lado, a mídia reportou o OWS como um movimento sem direção e confuso. Já as mídias alternativas focaram em como a policia, as corporações, o governo e a mídia os reprimiram por querer ter uma voz.

27 Most outlets struggled to find a clear narrative to build around OWS, while conservative cable shows and radio pundits wasted no time attacking it. Reporters were routinely roughed up, arrested, or barred from doing their jobs, and a number have lost those jobs in the process, evidently skewing too close to activism for their employers’ tastes. In other words, the Occupy movement has done nothing less than test the very standards of what objective journalism should look like in a modern, free society. 64

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade de pesquisar sobre a ligação das mídias sociais com os movimentos sociais que decorreram no ano de 2011 se faz imperativa uma vez que esses movimentos juntamente com o uso das mídias sociais modificaram o curso da história presente: no Egito, após a Primavera Árabe de Janeiro de 2011, o ditador Husni Murabak caiu; na Espanha, um movimento que começou primordialmente na capital Madrid se espalhou pelo país espanhol e pelo continente europeu e em seguida inspirou os americanos a darem inicio ao Occupy Wall Street. A importância dessas mídias sociais na atualidade é mister, uma vez que é possível verificar a ameaça que elas são para os governos: no Egito os sites das mídias sociais foram bloqueados, e mais tarde a internet foi cortada. E também a possibilidade de utilizá-las não apenas para entretenimento e network, mas para reunir um grande número de pessoas, disseminar informações e fazer protestos pacíficos. A presente pesquisa serviu para analisar o uso das mídias sociais no movimento norte americano Occupy Wall Street, mostrando o quão relevante essas mídias foram para disseminar as informações do movimento e apontando também a importância do OWS para o cenário mundial atual. Objetivando caracterizar a crise econômica de 2008, que foi uma das grandes causas de existir do Occupy, foram explanadas as suas principais causas e consequências, como a bolha imobiliária e a quebra do banco Lehman Brothers e em decorrência desses fatos, o inicio dos protestos nos Estados Unidos. Com a finalidade de apontar a ligação das mídias sociais com dois movimentos sociais que decorreram em 2011 os quais inspiraram o Occupy Wall Street, a Primavera Árabe no Egito e os Indignados na Espanha, foram explicados a formação desses dois movimentos e suas causas mostrando por fim o uso das mídias sociais na disseminação das informações, tanto no Egito como na Espanha. Para compreender o movimento Occupy Wall Street, foi necessário descrevê-lo desde sua origem e inspiração. Originalmente formado para combater o status quo das grandes corporações norte americanas, o OWS se tornou um símbolo da revolução contemporânea nos Estados Unidos. Utilizando-se de práticas anarquistas, sem líderes e inspirados tanto nos Indignados como na Primavera Árabe no Egito, os manifestantes conseguiram reunir no coração financeiro de 65

Manhattan em Setembro de 2011 milhares de pessoas vindas de todos os cantos do País, quiçá do mundo todo. Por fim, foi descrita a ligação das mídias sociais com o movimento Occupy Wall Street, respondendo assim a pergunta de pesquisa. Foi mostrado que a mainstream mídia só começou a cobrir o movimento mais de uma semana após o inicio dos acampamentos no Zuccotti Park e que o uso do Facebook, do Twitter e do YouTube foram imprescindíveis para a realização e concretização do OWS: sem essas plataformas online o movimento não teria conseguido atingir tamanha proporção e tamanha organização. Dessa forma, cumprem-se os objetivos específicos pré-estabelecidos e consequentemente o objetivo geral deste trabalho. A realização desta pesquisa foi de suma relevância para a pesquisadora, uma vez que entender a complexidade desses movimentos sociais e suas ligações com as mídias sociais é importantíssimo de modo que todos os três movimentos estudados neste trabalho ainda não terminaram bem como a crise econômica que teve seu início de 2007 para 2008 ainda assombra os países europeus e os Estados Unidos. A pesquisadora espera que este trabalho desafie outros acadêmicos a analisarem a complexidade do atual cenário internacional, em especial das mudanças que advém com a tecnologia e que estão mudando o dia a dia das pessoas por todo o mundo e dos movimentos sociais que estão se alastrando pelo planeta nas suas mais diferentes formas e origens. E que este material sirva como fonte para estudiosos e admiradores das Relações Internacionais contemporâneas e para aquelas pessoas interessadas em compreenderem o Occupy Wall Street bem como o seu principal motivo de existir e seus dois principais movimentos de inspiração. 66

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WALLERSTEIN, Immanuel. Globalization or the Age of Transition?: a long term view of the trajectory of the World System. Jun 2000b. Disponível em < http://www.iwallerstein.com/wp-content/uploads/docs/TRAJWS1.PDF> Acesso em: 18 out. 2012.

WALLERSTEIN, Immanuel. Itinerário Intelectual. 2000a. Disponível em: . Acesso em: 02 out. 2012.

WALLERSTEIN, Immanuel. Theory Talk #13: Immanuel Wallerstein on world- systems, the imminent enf of capitalism and unifying social science. Ago 2008. Disponível em < http://www.iwallerstein.com/wp- content/uploads/docs/THYTLK13.PDF > Acesso em: 18 out. 2012.

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74

YARZA, Miguel. Spain's "Indignados" and the Globalization of Dissent. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=np9-Et8IbTE> Acesso em: 22 abr. 2013.

YOUTUBE. Sobre o YouTube. Disponível em: < http://www.youtube.com/t/about_youtube > Acesso em: 22 out. 2012.

ZIZEK, Slavoj. O violento silencio de um novo começo. In: ALI, Tariq et al. Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas. São Paulo. Editora Boitempo, 2012.

ZUCKERBERG, Mark. The Facebook Effect with Mark Zuckerberg. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=_TuFkupUn7k > Acesso em: 22 out. 2012. 75

ANEXO A - Princípios de Solidariedade

Praticar uma democracia direta, transparente e participativa; Exercitar responsabilidade pessoal e coletiva; Reconhecer o valor inerente de cada individuo e a influencia que ele tem em todas as suas interações; Fortalecer-se coletivamente para acabar com todas as formas de opressão; Redefinir a forma de como o trabalho é avaliado; A inviolabilidade da privacidade dos indivíduos; Acreditar que a educação é um direito humano; A criação de tecnologias, conhecimentos e cultura para todos; com acesso livre para criar, modificar e distribuir28.

28 Engaging in direct and transparent participatory democracy; Exercising personal and collective responsibility; Recognizing individuals’ inherent privilege and the influence it has on all interactions; Empowering one another against all forms of oppression; Redefining how labor is valued; The sanctity of individual privacy; The belief that education is human right; and Making technologies, knowledge, and culture open to all to freely access, create, modify, and distribute. 76

ANEXO B - Afirmação de Autonomia

O Occupy Wall Street é um movimento de pessoas. Não tem partido político, não tem lideres, é feito pelas pessoas e para as pessoas. Não é um negócio, não é um partido político, nem uma campanha publicitária ou uma marca. Não está a venda. Saudamos a todos que, de boa fé, querem uma petição para reparação de injustiças através da não violência. Nós fornecemos um fórum para assembleias pacificas de indivíduos engajados na democracia participativa. Todos são bem vindos. Qualquer afirmação ou declaração não liberadas através da Assembleia Geral e que em seguida é publicada online no site www.nycga.net deve ser considerada independente do OWS.

Nós gostaríamos de esclarecer que o Occupy Wall Street não é e nunca foi afiliado com nenhum partido político, candidato ou organização. Nossa única afiliação é com as pessoas.

As pessoas que estão trabalhando juntas para criar este movimento são suas únicas cuidadosas. Se você escolheu dedicar seus recursos para construir este movimento, especialmente seu tempo e trabalho, então ele também é seu.

Qualquer organização é bem-vinda para nos ajudar com o conhecimento de que isso vai significar a questionar seus próprios quadros institucionais de trabalho e de hierarquia e integração de nossos princípios em seus modos de ação.

FALE CONOSCO, E NÃO POR NÓS.

Ocupar Wall Street valoriza recursos coletivos, dignidade, integridade e autonomia acima do dinheiro. Não fizemos endossos. Todas as doações são aceitas de forma anônima e são alocadas de forma transparente através de consenso pela Assembleia Geral ou o Conselho Spokes Operacional.

Reconhecemos a existência de ativistas profissionais que trabalham para fazer do nosso mundo um lugar melhor. Se você está representando, ou deseja ser compensado por uma fonte independente durante a participação no nosso processo, 77

por favor, divulgar a sua filiação no início. Aqueles que procuram capitalizar sobre este movimento ou miná-lo, apropriando sua mensagem ou símbolos não são uma parte do Occupy Wall Street.

Estamos em solidariedade. Nós somos o Occupy Wall Street29.

29 Occupy Wall Street is a people’s movement. It is party-less, leaderless, by the people and for the people. It is not a business, a political party, an advertising campaign or a brand. It is not for sale.

We welcome all, who, in good faith, petition for a redress of grievances through non-violence. We provide a forum for peaceful assembly of individuals to engage in participatory democracy. We welcome dissent. Any statement or declaration not released through the General Assembly and made public online at www.nycga.net should be considered independent of Occupy Wall Street.

We wish to clarify that Occupy Wall Street is not and never has been affiliated with any established political party, candidate or organization. Our only affiliation is with the people.

The people who are working together to create this movement are its sole and mutual caretakers. If you have chosen to devote resources to building this movement, especially your time and labor, then it is yours.

Any organization is welcome to support us with the knowledge that doing so will mean questioning your own institutional frameworks of work and hierarchy and integrating our principles into your modes of action.

SPEAK WITH US, NOT FOR US.

Occupy Wall Street values collective resources, dignity, integrity and autonomy above money. We have not made endorsements. All donations are accepted anonymously and are transparently allocated via consensus by the General Assembly or the Operational Spokes Council.

We acknowledge the existence of professional activists who work to make our world a better place. If you are representing, or being compensated by an independent source while participating in our process, please disclose your affiliation at the outset. Those seeking to capitalize on this movement or undermine it by appropriating its message or symbols are not a part of Occupy Wall Street.

We stand in solidarity. We are Occupy Wall Street.

78

ANEXO C - Declaração da ocupação na cidade de Nova York

Ao nos reunirmos em solidariedade para expressar nosso sentimento conjunto de injustiça, nós devemos manter o foco àquilo que nos trouxe até aqui. Nós escreveremos esta declaração para que todas as pessoas que se sintam injustiçadas pelas forças das grandes corporações saibam que nós somos seus aliados. Unidos como povo, nós reconhecemos a realidade: que o futuro da raça humana requer a cooperação de seus membros; que o seu sistema deve proteger os seus direitos e que, após a corrupção desse sistema, resta aos indivíduos proteger os seus próprios direitos e de seus vizinhos; que um governo democrático seja justo e que o poder venha dos cidadãos, entretanto as corporações não pedem permissão para extrair a riqueza das pessoas e nem do planeta Terra; e que nenhuma democracia é possível quando o processo é determinado pelo poder econômico. Nós viemos até você em uma era em que as corporações, as quais visam o lucro ao invés de pessoas, interesse próprio no lugar de justiça, e opressão ao invés de igualdade, são a face dos nossos governantes. Nós, pacificamente, nos reunimos aqui, como é de nosso direito, para deixar clara a natureza dos fatos. Eles – as corporações – tomaram nossas casas mediante encerramento ilegal dos processos, apesar de não terem a hipoteca original; Eles tomaram fundos dos contribuintes com impunidade, e continuaram a dar aos executivos bônus exorbitantes; Eles perpetuaram a desigualdade e a discriminação nos locais de trabalho com base na idade, na cor da pele, no sexo, na preferência sexual e na identidade de gênero; Eles envenenaram o fornecimento de alimentos mediante negligencia e minaram o sistema de cultivo através do monopólio; Eles lucraram em cima da tortura, confinamento e tratamento cruel de milhares de animais e esconderam essas praticas; Eles continuaram a deter o direito dos empregados de negociar por um salário melhor e por melhores condições de trabalho; Eles mantiverem estudantes como reféns com as centenas de milhares de dólares em divida em educação, a qual é um direito humano; 79

Eles têm consistentemente terceirizado a mão de obra e usado essa terceirização para cortar os planos de saúde dos trabalhadores e assim deixar de pagá-los; Eles influenciaram os tribunais a atingirem os mesmos direitos dos cidadãos, com nenhuma culpa e nenhuma responsabilidade; Eles gastaram milhões de dólares em equipes jurídicas que trabalharam para tirá-los dos contratos que dizem respeito ao seguro saúde; Eles venderam nossa privacidade como mercadoria; Eles usaram a força militar e policial para prevenir a liberdade de imprensa; Eles têm deliberadamente recusado o recall de produtos defeituosos, pondo em risco a vidas, em troca do lucro; Eles determinaram a política econômica, apesar das catástrofes e falhas que as suas políticas econômicas têm produzido e continuam a produzir; Eles doaram milhões de dólares aos políticos, os quais são os responsáveis por regulá-los; Eles continuam bloqueando formas alternativas de energia para que assim nós continuemos dependentes do petróleo; Eles continuam bloqueando medicamentos genéricos que podem salvar a vida de milhares de pessoas a fim de proteger investimentos que se transformou em substancial lucro; Eles têm propositalmente coberto derramamento de petróleo, acidentes, etc., em busca de lucro; Eles propositalmente mantém as pessoal mal informadas e assustadas com o controle da mídia; Eles aceitaram contratos privados para assassinar prisioneiros mesmo quando eles apresentavam serias duvidas a respeito de sua culpabilidade; Eles perpetuaram o colonialismo dentro e fora do país; Eles participaram da tortura e da morte de civis fora dos EUA; Eles continuam a criar armas de destruição em massa em troca do recebimento de contratos governamentais.

Para as pessoas do mundo, Nós, a Assembleia Geral de Nova York que ocupa Wall Street Praça da Liberdade, insiste a você que declare o seu poder. 80

Exercite seu direito de se reunir pacificamente, ocupe lugares públicos, crie soluções accessíveis a todos. A todas as comunidades que estão fazendo ações e formando grupos no espírito direto da democracia, nós oferecemos suporte, documentação e todos os recursos que estiverem ao nosso alcance. Junte-se a nós e faça com que as nossas vozes sejam ouvidas30!

30 As we gather together in solidarity to express a feeling of mass injustice, we must not lose sight of what brought us together. We write so that all people who feel wronged by the corporate forces of the world can know that we are your allies.

As one people, united, we acknowledge the reality: that the future of the human race requires the cooperation of its members; that our system must protect our rights, and upon corruption of that system, it is up to the individuals to protect their own rights, and those of their neighbors; that a democratic government derives its just power from the people, but corporations do not seek consent to extract wealth from the people and the Earth; and that no true democracy is attainable when the process is determined by economic power. We come to you at a time when corporations, which place profit over people, self-interest over justice, and oppression over equality, run our governments. We have peaceably assembled here, as is our right, to let these facts be known.

They have taken our houses through an illegal foreclosure process, despite not having the original mortgage. They have taken bailouts from taxpayers with impunity, and continue to give Executives exorbitant bonuses. They have perpetuated inequality and discrimination in the workplace based on age, the color of one’s skin, sex, gender identity and sexual orientation. They have poisoned the food supply through negligence, and undermined the farming system through monopolization. They have profited off of the torture, confinement, and cruel treatment of countless animals, and actively hide these practices. They have continuously sought to strip employees of the right to negotiate for better pay and safer working conditions. They have held students hostage with tens of thousands of dollars of debt on education, which is itself a human right. They have consistently outsourced labor and used that outsourcing as leverage to cut workers’ healthcare and pay. They have influenced the courts to achieve the same rights as people, with none of the culpability or responsibility. They have spent millions of dollars on legal teams that look for ways to get them out of contracts in regards to health insurance. They have sold our privacy as a commodity. They have used the military and police force to prevent freedom of the press. They have deliberately declined to recall faulty products endangering lives in pursuit of profit. They determine economic policy, despite the catastrophic failures their policies have produced and continue to produce. They have donated large sums of money to politicians, who are responsible for regulating them. They continue to block alternate forms of energy to keep us dependent on oil. They continue to block generic forms of medicine that could save people’s lives or provide relief in order to protect investments that have already turned a substantial profit. They have purposely covered up oil spills, accidents, faulty bookkeeping, and inactive ingredients in pursuit of profit. They purposefully keep people misinformed and fearful through their control of the media. 81

They have accepted private contracts to murder prisoners even when presented with serious doubts about their guilt. They have perpetuated colonialism at home and abroad. They have participated in the torture and murder of innocent civilians overseas. They continue to create weapons of mass destruction in order to receive government contracts.*

To the people of the world,

We, the New York City General Assembly occupying Wall Street in Liberty Square, urge you to assert your power.

Exercise your right to peaceably assemble; occupy public space; create a process to address the problems we face, and generate solutions accessible to everyone.

To all communities that take action and form groups in the spirit of direct democracy, we offer support, documentation, and all of the resources at our disposal.

Join us and make your voices heard!