Hemiptera: Miridae) Com Plantas No Brasil
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DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DOI 10.31368/1980-6221v81a10012 ASSOCIAÇÕES DE PERCEVEJOS MIRÍDEOS (HEMIPTERA: MIRIDAE) COM PLANTAS NO BRASIL Bárbara Cristina Félix Nogueira1*, Lívia Aguiar Coelho2, David dos Santos Martins2, Bárbara Duarte Barcellos1, Sirlene Rodrigues Sartori1, Paulo Sérgio Fiuza Ferreira1,2. 1Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. 2Departamento de Entomologia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. * [email protected] RESUMO Os mirídeos têm papel importante sobre a economia brasileira devido à sua influência sobre diversas culturas agrícolas. Devido a isso, este artigo foi desenvolvido visando apresentar as espécies de Miridae que possuem associações ou potenciais associações com plantas no Brasil. Para isso, foram realizadas consultas de artigos, livros e coleções de museus. Ao todo, foram encontradas 168 espécies de mirídeos associadas a plantas; estes dados foram manipulados para a elaboração de gráficos representando as interações entre as espécies de percevejos e as plantas hospedeiras no Brasil. As famílias botânicas Poaceae, Asteraceae, Fabaceae e Solanaceae apresentaram mais espécies de mirídeos associadas e incluem importantes culturas para a economia do país. Com base nestas associações, é possível contribuir para ampliar o conhecimento sobre a biologia e o comportamento alimentar de mirídeos, além de fornecer informações sobre o impacto que podem gerar nos sistemas de produção agrícola no Brasil. Palavras-chave: Insecta, planta hospedeira, fitófagos. Biológico, v.81, 1-30, 2019 1 Bárbara Cristina Félix Nogueira, Lívia Aguiar Coelho, David dos Santos Martins, Bárbara Duarte Barcellos, Sirlene Rodrigues Sartori, Paulo Sérgio Fiuza Ferreira. ABSTRACT ASSOCIATIONS OF PLANT BUGS (HEMIPTERA: MIRIDAE) WITH PLANTS IN BRAZIL. The plant bugs play an important role in the Brazilian economy due to their influen- ce on several agricultural crops. Due to this, this article was developed in order to pre- sent the species of Miridae that have associations or potential associations with plants in Brazil. For this, we consulted articles, books and collections of museums. In all, 168 species of plant bugs associated to plants were found; these data were manipulated to the elaboration of graphs representing the interactions between the plant bug species and the host plants in Brazil. The botanical families Poaceae, Asteraceae, Fabaceae and Solanaceae presented more species of associated plant bugs and include impor- tant crops for the economy of the country. Based on these associations, it is possible to contribute to broadening the knowledge about biology and the feeding behavior of plant bugs, as well as providing information on the impact they can generate in Brazi- lian agricultural production systems. Key words: Insecta, host plant, phytophagous insect. Introdução A família Miridae corresponde a 25% mais de dois hospedeiros (CASSIS; dos Heteroptera (HENRY, 2009), com SCHUH, 2012). O elevado número de aproximadamente 11.139 espécies des- associações de mirídeos e plantas pode critas (SCHUH, 2002-2013). A biologia ser justificado por mudanças nas práti- cas agrícolas e introdução de espécies dessa família é praticamente desconhe- de plantas exóticas (WHEELER, 2001), cida na região neotropical e a maioria o que pode ser preocupante visto que, dos estudos abordam os mirídeos que embora os heteroptera não tenham im- apresentam importância econômica portância significativa na transmissão de (FERREIRA, 1999). No Brasil existem doenças para plantas, seu modo de ali- 1.084 espécies de Miridae (FERREIRA mentação e tecido alvo permite a trans- et al., 2018), sendo que as regiões Nor- missão de vetores de patógenos (CAR- te e Nordeste são as mais carentes de TER, 1973). informações acerca desta família (FER- Deste modo, o objetivo deste estudo REIRA, 1999). foi ampliar o conhecimento das associa- No geral, entre os mirídeos com re- ções de mirídeos com plantas no Bra- gistro de ocorrência em plantas, 60% sil, enfatizando famílias de importância ocorrem em determinada espécie e me- econômica seja na agricultura, medicina nos de 20% possuem associações com ou ornamentação. Biológico, v.81, 1-30, 2019 2 Associações de percevejos mirídeos (Hemiptera: Miridae) com plantas no Brasil Materiais e métodos mirídeo e planta envolvidas na associa- ção. A nomenclatura botânica seguiu a Os dados de associações de Miri- plataforma Catalogue of Life (2017). dae no Brasil foram obtidos por meio dos catálogos: On-line Systematic Catalog Os dados foram organizados em of Plant Bugs (Insecta: Heteroptera: Mi- uma matriz básica para análise utilizan- ridae) (SCHUH 20022013) e Catálogo do o software Microsoft Excel para ela- Taxônomico da Fauna do Brasil, assim boração dos gráficos que representam como em artigos publicados em revistas as diferentes relações entre espécies de mirídeos com suas plantas associadas. científicas, livros, dados de rótulos de es- pécimes depositados no Museu Regional Resultados e Discussão de Entomologia da Universidade Federal Foram encontradas 168 espécies de de Viçosa (UFVB), Viçosa, MG, no Mu- Miridae, distribuídas em 15 tribos, com seu Nacional da Universidade Federal do associação com plantas. Aproximada- Rio de Janeiro (MNRJ), Rio de Janeiro, mente 48% das espécies de Miridae RJ, e de exemplares enviados ao Museu apresentaram associação com apenas Regional de Entomologia da Universida- uma planta (Fig.1). Algumas espécies de de Federal de Viçosa para identificação, mirídeos apresentaram mais que trinta provenientes de várias localidades do associações, como Taylorilygus apicalis país. As associações com ocorrência em (Fieber) com 88 associações pertencen- outros países foram consideradas como tes a 20 famílias; Microtechnites bracta- potenciais associações quando observa- tus (Say) com 45 associações em 17 fa- do a possibilidade de ocorrência no Bra- mílias e Collaria oleosa (Distant) com 36 sil, devido ao país abrigar as espécies de associações em seis famílias de plantas. Figura 1. Histograma da porcentagem de espécies de Miridae pelo número de plantas associadas. Biológico, v.81, 1-30, 2019 3 Bárbara Cristina Félix Nogueira, Lívia Aguiar Coelho, David dos Santos Martins, Bárbara Duarte Barcellos, Sirlene Rodrigues Sartori, Paulo Sérgio Fiuza Ferreira. As famílias Poaceae, Asteraceae, b9ém correspondem as famílias onde Fabaceae e Solanaceae foram as que estão inseridas a maioria das culturas apresentaram maior número de asso- importantes economicamente para o ciações com espécies de Miridae e tam- país (Fig. 2). Figura 2. Histograma do número de espécies de Miridae pela família das plantas associadas. Somente foram incluídas famílias de plantas com 2 ou mais espécies de Miridae associados. Biológico, v.81, 1-30, 2019 4 Associações de percevejos mirídeos (Hemiptera: Miridae) com plantas no Brasil A família Poaceae se destacou por Records and distribution apresentar grande número de associa- Briocorinae ções com mirídeos (Fig. 2) e é extrema- mente importante para a economia brasi- Bryocorini leira pois engloba pastagens importantes Monalocoris carioca Carvalho & Go- para o setor pecuário. Neste contexto, é mes, 1971: Solanaceae: Ipomoea bata- importante ressaltar a existência de re- tas (L.) Lam. (BR: MG) (UFVB; Ferreira; levantes estudos sobre espécies do gê- Rossi, 1979). nero Collaria da tribo Stenodemini atuan- Campyloneuropsis cincticornis (Stal, do sobre espécies de plantas da família 1860): Fabaceae: Phaseolus vulgaris Poaceae (COSTA, 1958; KALVELAGE, L. (NI) (Maes; Carvalho, 1989); Solana- 1988; GASSEN, 1996). Além disso, es- ceae: Nicotiana tabacum L. (BR: BA) (Sil- pécies de mirídeos deste gênero são am- va et al., 1968). plamente distribuídos pela América e são consideradas pragas economicamente Campyloneuropsis infumatus (Car- importantes devido a associação com valho, 1947): Asteraceae: Calendula espécies forrageiras (MELO et al., 2004). officinalis L. (BR; CU) (Martínez et al., 2014); Poaceae: Brachiaria decumbens Dentre as famílias de plantas mais Stapf. (BR: ES) (Ruiz, 2014); Solana- utilizadas na medicina alternativa, as ceae: Nicotiana tabacum L. (BR: MG, mais comuns são Asteraceae, Faba- SC) (UFVB; Silva et al., 1968; Ferreira; ceae, Solanaceae e Lamiaceae, que es- Rossi 1979; Ferreira et al., 2001), Petu- tão entre as famílias com maior número nia sp. (BR: MG) (Ferreira et al., 2001), de espécies de insetos (GRANDI et al., Solanum lycopersicum L. (BR) (Martínez 1989). Além disso, no âmbito do aspec- et al., 2014). to ornamental, os gêneros Tenthecoris e Fulvius, chamaram a atenção por apre- Campyloneuropsis nigroculatus (Car- sentarem a maioria dos registros com valho, 1947): Fabaceae: Senna alexan- Orchidaceae. drina Mill. (BR: MG) (Silva et al., 1968; Em geral, o conhecimento destas re- Ferreira et al., 2001). lações pode servir de base para novos Engytatus aristidesi (Carvalho, 1975): estudos, contribui para o conhecimento Cleomaceae: Tarenaya spinosa (Jacq.) da biologia, associações, comportamen- Rafin. (BR: PE) (Carvalho, 1975). to alimentar de mirídeos e fornecem in- Engytatus modestus (Distant, 1893): formações sobre possíveis impactos no Amaranthaceae: Amaranthus sp. (PR) sistema de produção brasileiro. (Capriles, 1969); Apiaceae: Daucus ca- rota L. (BR: BA) (Silva et al., 1968); As- teraceae: Chrysantemum sp. (Wheeler, 2001), Mikania congesta DC. (PR) (Ca- Biológico, v.81, 1-30, 2019 5 Bárbara Cristina Félix Nogueira, Lívia Aguiar Coelho, David dos Santos Martins, Bárbara Duarte Barcellos, Sirlene Rodrigues