guia de turismo de natureza do Índice Geral Prefácio

2 Introdução Os tesouros naturais (ainda) escondidos do Algarve 5 O Algarve

9 Costa Vicentina O Algarve é naturalmente grande. Ou é grande, naturalmente. Este território de quase cinco 14 Planalto Vicentino mil quilómetros quadrados vai muito além dos areais que concentram a atenção dos turistas 20 Paleodunas no verão. De barlavento a sotavento, há espaços naturais protegidos ocultos ou ainda sem a 23 Reserva Biogenética de Sagres atenção merecida. Todos eles aguardam, pacientemente e em estado selvagem, os olhares e a 28 Estuários e Meio Marinho passagem dos verdadeiros apreciadores da Natureza. Se é um deles, aviso-o de que aqui, nestas 33 Litoral Sul páginas, começa a viagem pelas arribas, pela floresta, pelos corredores ripícolas e pelos sistemas 38 Zonas Húmidas Costeiras estuarinos do Algarve. 40 Ria Formosa 47 Ria de Alvor De facto, são tantas as nossas paisagens e com tamanha importância biológica que escolher 51 Estuário do Arade apenas uma seria tarefa hercúlea. E se não há seleção possível entre os diversos ambientes 54 Pauis, Caniçais e Lagoas Costeiras naturais do Algarve, a solução só poderá ser descobri-los todos. Com vagar e sentidos aguçados. 59 Sistemas Dunares e Pinhais 65 Arribas do Algarve Central Este guia vem então reforçar a diversidade de experiências que o destino oferece a quem 69 Barrocal quer transformar o tempo de descanso em férias genuínas. Não é por acaso que o turismo 76 Fonte da Benémola de natureza surge como um dos produtos “em desenvolvimento” no Algarve no documento 79 Ribeira de Quarteira de proposta de revisão do Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT). Este trabalho de 83 Rocha da Pena ajustamento do PENT inicial será para aplicar no horizonte 2010-2015, o que significa que todos 87 Cerro da Cabeça nós deveremos tentar materializar os objetivos definidos no documento para esse período. Editar 89 Serra este guia – ajudando a estruturar e a divulgar a oferta de Natureza da região – é já um avanço 95 Serra de Monchique nessa direção. 100 Serra do Caldeirão 105 Rio Arade e Ribeira de Odelouca Com cerca de duzentas fotografias e mais de cem páginas, o Guia de Turismo de Natureza do 107 Guadiana Algarve é mais um passo para fortalecer a imagem da região enquanto um dos destinos do país 113 Bacia do Guadiana com desenvolvimento mais sustentável. É com esta convicção que lhe desejo um ótimo passeio 117 Sapais de Castro Marim pelos nossos tesouros naturais e que me atrevo a deixar um conselho: leve máquina fotográfica. 121 Ecossistema Marinho É que há momentos que valem a pena ser recordados a cores vivas e no tempo presente. Estes 127 Pradarias Marinhas serão, certamente, uns deles. 129 Leixão da Gaivota

131 Lista de espécies Desidério Silva 134 Glossário Presidente do Turismo do Algarve 138 Bibliografia 140 Contactos 144 Agradecimentos Ficha Técnica

1 Introdução

O Lugar do Homem na Natureza... Por que motivo, à medida que a Ciência avança, esta questão se torna para nós cada vez mais importante e fascinante? *

Teilhard de Chardin responde a si próprio crescido na Europa a um ritmo médio anual de múltiplos usos a que está sujeito o território. confortável serão sempre acessórios indispen- sugerindo, entre outras razões, que inevitavel- cerca de 7% nos últimos anos, tendo também A cada capítulo associa-se uma cor especí- sáveis em qualquer atividade ao ar livre. mente estarão homem e natureza profun- a oferta de turismo de natureza vindo a au- fica visível na barra superior das páginas e damente ligados. Da visão mecanicista dos mentar em conformidade. No caso específico uma representação cartográfica do território. O contacto direto será a melhor forma de séculos XVII e XVIII até a visão sistémica que a da região algarvia, a diversidade de ambientes Os capítulos iniciam-se por uma descrição descobrir a natureza, colocando os senti- partir do século XIX tomou conta das diversas e a singularidade de valores naturais, a existên- geral de cada subregião, seguindo-se fichas dos ao serviço da curiosidade e registando áreas do conhecimento, da física à ecologia cia de espaços naturais protegidos (quase 40% temáticas aludindo aos ambientes que se interiormente o silêncio e os sons, os cheiros, e à psicologia, uma mudança de paradigma do território algarvio encontra-se de alguma notabilizam e distinguem aquele território. os ritmos naturais, as cores, formas e textu- ocorreu, estando agora interiorizada a per- forma classificado) e as boas acessibilidades, As fichas temáticas podem fazer referência a ras. Os trajetos podem ser explorados ou ceção da ligação e interdependência de todos fazem desta uma região de eleição para o ecossistemas (e.g. um sistema estuarino- contemplados, havendo um sem número de os fenómenos, sendo o mundo visto como turismo de natureza. -lagunar ou os complexos dunares no topo formas de registar a experiência e assim pro- um todo integrado. No caso específico da das arribas vicentinas), a unidades biofísicas longá-la durante mais tempo: usar cadernos ecologia humana (relação homem – natureza), O presente guia é pois um convite à desco- (e.g. o planalto vicentino ou a bacia hidrográ- de campo onde se pode escrever, rabiscar a investigação científica na área da saúde e berta da natureza no Algarve, permitindo fica do Rio Guadiana) e a áreas classificadas no e pintar; utilizar materiais disponíveis (como bem-estar tem vindo a prestar crescente aten- percorrer os diversos ambientes e paisagens âmbito da legislação nacional e comunitária terra e folhas secas) em colagens e com- ção aos benefícios da natureza e da biodiver- do território e aceder, através das atividades (e.g. o geomonumento da Rocha da Pena ou o posições; fazer fotografias ou pequenos filmes, sidade para a saúde humana. Esses benefícios propostas, a experiências genuínas de Leixão da Gaivota). Em cada ficha apresenta-se etc.. Esta atitude será seguramente mais são hoje considerados e valorizados no amplo contacto com a natureza e com manifesta- uma lista de sugestões alusiva às atividades gratificante que a recolha de objetos naturais conjunto de serviços que se entende que os ções culturais que recriam a ancestral gestão que se entendeu poderem proporcionar um como minerais, fósseis ou plantas. Observar ecossistemas prestam à sociedade. humana dos recursos naturais e da paisagem. maior contacto e usufruto dos valores naturais com respeito e sem perturbar deverá ser o A abordagem adotada é de índole temática, e culturais. principio ético por excelência no contacto A maior consciência ecológica da sociedade correspondendo a uma descrição parcelar com a natureza. Pequenas práticas podem de hoje e a procura de experiências baseadas das subregiões naturais que constituem o Dos anexos da publicação consta um índice ser adotadas de modo a evitar perturbação na autenticidade e no contacto com o mundo território algarvio, não esquecendo que as dos nomes comuns das espécies botânicas e desnecessária: seguir sempre pelos trilhos já natural, têm vindo a criar novos nichos no mesmas são indissociáveis entre si, compondo zoológicas citadas e respetiva correspondência marcados e/ou sinalizados, transportar o lixo mercado do turismo, assistindo-se a uma uma unidade mais vasta e integrada. com o nome científico, um glossário referente até local adequado, evitar o ruído, e respeitar crescente preferência por destinos de viagem aos termos técnicos utilizados, uma súmula costumes e bens ao atravessar áreas cultivadas não massificados e com envolvente natural Esta publicação inicia-se com uma breve bibliográfica, e ainda, uma lista de contactos ou povoações. em bom estado de conservação, bem como caracterização ecogeográfica, focando algu- úteis. por férias ativas onde se incluem atividades mas características essenciais do Algarve, a ao ar livre (caminhadas ou contemplação da que se seguem seis capítulos subordinados às Antes de partir para um qualquer itinerário Boa viagem! natureza), a prática de desportos na natureza sub-regiões naturais consideradas para este na natureza recomenda-se a utilização de (canoagem, vela, escalada, espeleologia, etc.) efeito – Costa Vicentina, Litoral sul, Barrocal, um mapa com a rede rodoviária e a consulta e de atividades que requerem conhecimentos Serra, Guadiana e Ecossistema marinho. da previsão meteorológica, sendo de evitar específicos como a observação de aves. Optou-se por privilegiar a descrição dos condições críticas de vento e ondulação no valores naturais e culturais que melhor litoral e temperaturas elevadas durante o verão As viagens motivadas pelo desejo de con- pudessem expressar a singularidade de cada nos locais mais interiores e áridos. Proteção templar, desfrutar e descobrir a natureza têm subregião no contexto regional, bem como os solar, água, comidas energéticas e calçado

* Teilhard de Chardin (1997). 2 3 O Algarve breve caracterização ecogeográfica

“(...) Mas, passado o Caldeirão, é como se me tirassem uma carga dos ombros. Sinto-me livre, aliviado e contente, eu que sou a tristeza em pessoa! A brancura dos corpos e das almas, a limpeza das casas e das ruas, e a harmonia dos seres e da paisagem lavam-me da fuligem que se me agarrou aos ossos e clarificam as courelas encardidas que trago no coração. No fundo, e à semelhança dos nossos primei- ros reis, que se intitulavam senhores de e dos , separando sabiamente nos seus títulos o que era centrípeto do que era centrífugo no todo da Nação, não me vejo verdadeiramente dentro da pátria. Também me não vejo fora dela. Julgo-me numa espécie de limbo da imaginação, onde tudo é fácil, belo e primaveril. A terra não hostiliza os pés, o mar não cansa os ouvidos, o frio não entorpece os membros, e os frutos são doces e sempre à altura da mão. (...) Os caminhos não têm abismos, não há fragas estéreis e agressivas, não se vê outra neve a não ser a das corolas abertas, e as fainas do mar são tão lúdicas como as da terra (...)”

In Portugal. Miguel Torga, 1950.

O Algarve constitui uma unidade geográfica estabelecido contactos regulares com bem individualizada no território português, mercadores fenícios, gregos, tartéssicos e ocupando a faixa mais meridional do país e púnicos. Para Orlando Ribeiro* o Algarve é a exibindo uma delimitação administrativa que última riviera mediterrânica, constituindo uma se adequa às fronteiras naturais: a norte um unidade com a Andaluzia e o Norte de África sistema montanhoso, a oeste e a sul o mar, a (a ocidente do estreito de Gibraltar), a que leste o Guadiana a desenhar a fronteira com chama território pré-mediterrâneo. Espanha. A serra algarvia, difícil de transpor até à construção da estrada IC 1 nos anos 70, Também os cinco séculos de presença árabe, parece ter sido decisiva para o isolamento entre os séculos VIII e XIII, influenciaram da região em relação ao restante território profundamente a região, acentuando a sua nacional. Esta barreira natural não só abriga o ligação às culturas da bacia mediterrânica. A Algarve das influências setentrionais acen- herança árabe no Algarve perdura até hoje, tuando as características mediterrânicas da desde logo pelo seu próprio nome, Al-Gharb região, como favoreceu no decorrer da história - O Ocidente, e é bem visível na arquitetura o desenvolvimento de uma identidade regio- dos monumentos e do casario: nas açoteias nal tão particular quanto rica. Uma identidade que substituem os telhados, no cubismo dos reconhecida pelos sucessivos monarcas do edifícios ou nas chaminés criativas. A cultura reino que mantiveram a designação “Rei de árabe subsiste nas práticas e técnicas agrícolas Portugal e dos Algarves” até à implantação da - engenhos de água como as noras, as levadas República no início do século XX. e os açudes, e os pomares de frutas onde cres- cem espécies introduzidas ou difundidas pelos Historicamente, as ligações do litoral algarvio mouros como a alfarrobeira, a amendoeira e a com o mundo mediterrânico foram quase figueira. sempre preferenciais; o desenho da geografia costeira favoreceu as relações com as popula- No âmbito da ecologia nacional a região algar- ções do Mediterrâneo, bem evidentes a partir via individualiza-se do restante território portu- do primeiro milénio a.C., tendo os portos guês, desde logo pela multiplicidade de micro- de Castro Marim, Tavira, Faro, Silves, Lagos e climas e territórios geológicos, o que se traduz

* Geógrafo e historiador português (1911-1997). 4 5 sopra o vento) torna-se mais ameno, influen- ITÁLIA ciado pela ação reguladora do Atlântico, FRANÇA enquanto que o sotavento (setor oriental do N Golfo da Biscaia Algarve, o local para onde sopra o vento) é mais Roma Golfo de árido e quente. Lião Oceano A complementaridade entre Serra, Barrocal e Atlântico ESPANHA Litoral, três grandes áreas naturais fisionomica- mente distintas que se sucedem de norte para PORTUGAL Madrid Mar sul, contribuíram para identidade e unidade Mediterrâneo da região algarvia. Isoladamente, estas áreas Lisboa exibem caraterísticas geográficas, geomor- Tunis fológicas e biológicas muito expressivas: Argel Litoral – Faixa costeira com altitude máxima Pôr do sol na Costa Vicentina. de 157 m na Costa Vicentina (Torre de Aspa), ARGÉLIA ALGARVE inclui três territórios distintos: a oeste o ter- TUNÍSIA MARROCOS ritório do Planalto Vicentino, essencialmente 0 200 km Rabat silicioso (constituído por areias e xistos) e com clima sub-húmido; o Promontório Vicentino (Península de Sagres) talhado nos calcários em elevada diversidade geomorfológica e O clima no Algarve é marcadamente mediter- rijos do barrocal algarvio, de tendência seca biológica concentrada numa área de modesta rânico, reforçado pela barreira serrana a norte, a semiárida e intensa exposição oceânica, dimensão (pouco mais de 540.000 hectares). havendo porém variabilidade climática em inclui a única reserva biogenética do Algarve; A história biogeográfica deste território função da influência atlântica e da altitude. e a sul o território Algárvico, estreita planície evoca ligações às nebulosas ilhas atlânticas, O território é simultaneamente invadido por sedimentar de tendência seca a sub-húmida, ao quente Maghreb, à luminosa Andaluzia e massas de ar marítimo de sudoeste, protegido que se estende em franja até ao mar incluindo ao interior do continente europeu. Inúmeras dos maiores rigores do vento norte e exposto as arribas calcárias do barlavento e as areias do espécies da flora algarvia testemunham hoje ao Levante (ou Suão), um vento quente e sotavento. esses laços antigos; outros são recriados todos seco que sopra de leste no Mediterrâneo. Os os anos nos movimentos migratórios das aves invernos tendem a ser amenos e húmidos e os Barrocal – Situa-se na região central do e de animais marinhos como as tartarugas ou verãos longos, quentes e secos. O barlavento Algarve, com altitudes até aos 300 m. Assente Amendoeira em flor. Uma das árvores que compôem o pomar tradicional de sequeiro do Barrocal. os atuns. (setor ocidental do Algarve, ou o local de onde sobre um maciço calcário e encaixado entre serra e litoral, tem clima seco a sub-húmido e exibe uma sucessão de colinas que se esten- N dem do cabo de S. Vicente a Castro Marim. A 0 10 km Rio rica e diversificada flora mediterrânica adquire Guadiana aqui a sua melhor expressão, sendo também SERRA comuns os pomares de sequeiro, uma paisa- gem agrícola de inspiração árabe. Costa Vicentina BARROCAL Serra – Trata-se de um sistema montanhoso composto por três relevos fundamentais, Espinhaço de Cão (297 m), Monchique (902 m de altitude na Foia) e Caldeirão (589 m de LITORAL altitude em Pelados), onde se verifica grande variabilidade climática (tendência sub-húmida a húmida no setor ocidental e seca continen- O sub-bosque do sobreiral serrano abriga espécies adapta- Barlavento Sotavento das a espaços mais húmidos e sombrios, como os fetos. 6 7 tal na bacia do Guadiana). A Serra estende-se A fauna é muito variada e bem adaptada às longitudinalmente ao longo da extrema norte condições ambientais e alguns elementos são do Algarve e pertence ao Maciço Antigo, uma particularmente interessantes em resultado da grande unidade estrutural que ocupa o centro localização geográfica e condições ambientais. da Península Ibérica. O território serrano é Aqui encontram-se animais representativos constituído por terrenos xistosos, pobres em da península ibérica como o coelho-bravo, a matéria orgânica e com baixa diversidade flo- pega-azul, ou o lagarto e outros que facil- rística. Em Monchique, o afloramento de sie- mente associamos à atual fauna africana como nitos, a presença de solos ricos e a disponibi- o camaleão, a geneta ou o sacarrabos. lidade de água, são fatores diferenciadores da À semelhança da vegetação, os animais área no contexto regional. apresentam as suas defesas para sobreviver no longo e seco verão. Grande número de aves Outrora o território estaria ocupado por aquáticas voa para maiores latitudes antes da bosques de árvores de pequeno porte e casca época estival. Outros adotam as mais variadas grossa, sobretudo carvalhos: o sobreiro, o estratégias, diminuindo a sua atividade carrasco, a azinheira, e mais raramente o car- diurna, no caso da maioria dos vertebrados valho-português. Os matos são agora o cober- carnívoros, ou até entrando num período de to dominante e incluem arbustos esclerófilos estivação como acontece com os cágados. e plantas aromáticas e melíferas, exibindo Este é também um território com potencial alguns elementos florísticos originais no para voltar a sustentar alguns dos elementos contexto nacional, como a palmeira-anã ou a faunísticos mais notáveis da fauna ibérica os alfarrobeira. Estas são espécies bem adaptadas quais, com o esforço recente de valorização à secura do meio, exibindo folhas espessas e ambiental do território, podem vir a recuperar pequenas, por vezes transformadas em espi- o seu habitat original. É o caso da águia-impe- nhos e agulhas, ou protegidas por pelos, resi- rial, da águia-pesqueira ou do lince-ibérico. nas e óleos aromáticos. A maioria das árvores é de folha persistente, à exceção de algumas espécies associadas às margens dos cursos de água, como o freixo ou o salgueiro.

8 Costa Vicentina

O que mais há na terra, é paisagem. Por muito que do resto lhe falte, a paisagem sempre sobrou, abundância que só por milagre infatigável se explica, porquanto a paisagem é sem dúvida anterior ao homem, e apesar disso, de tanto existir, não se acabou ainda.

José Saramago Costa Vicentina

Praia de Ribeira de Odeceixe Correspondendo à faixa costeira ocidental cários claros e mais recentes do Mesozoico. do Algarve, a Costa Vicentina compreende o N território entre Odeceixe e Vila do Bispo, es- Em alguns locais afloram outras formações tendendo-se ao longo de 60 km. São Vicente, geológicas como os arenitos de Silves de cor santo padroeiro de Lisboa, deu-lhe o nome, já vermelha, ou arenitos dunares originados em que no imaginário cristão se atribui a primeira antigas praias, alaranjados e muito esculpidos, sepultura do santo ao Cabo de S. Vicente, sendo ainda comum a ocorrência de filões em Sagres. Quando da transladação das suas de rochas ígneas associados à instalação do relíquias para Lisboa, em 1173, diz-se que dois maciço subvulcânico da Serra de Monchique. corvos velaram o corpo do santo durante a Rede Natura 2000 Praia de Monte Clérigo derradeira viagem marítima ao longo desta As paisagens que integram esta diversidade Praia da Pipa costa, episódio a que alude o brasão de armas geológica notabilizam-se pelo elevado valor de Lisboa. cénico, exibindo relevos imponentes e sin- Ribeira de Aljezur gulares: é o caso da praias da Murração e da

267 A nebulosa Costa Vicentina é um planalto alto Ponta Ruiva, ou ainda do geomonumento da limitado a oriente pela Serra de Espinhaço Praia do Telheiro. de Cão e cortado na vertente marítima em agrestes alcantilados que alcançam os 156 m Os alcantilados interrompem-se apenas para de altitude na Torre de Aspa (Vila do Bispo). acolher vastas extensões de areia associadas Este imponente litoral é essencialmente à foz das principais ribeiras, Seixe, Aljezur e rochoso; as arribas são talhadas no maciço , que formam estuários de pequena antigo de xistos e grauvaques de cor escura dimensão, diversificando a paisagem e as 268 do Paleozoico, de estrutura muito dobrada e formas de vida. Os restantes cursos de água, fraturada, à exceção da ponta da Carrapateira de escorrência torrencial, escavam barrancos e da península de Sagres, cortadas nos cal- profundos e verdejantes nas paredes rochosas, Ribeira da Bordeira Oceano Praia da Bordeira Atlântico Carrapateira

Praia da Murração

268 Torre de Aspa 125

Praia da Ponta Ruiva

Praia do Telheiro Praia da Salema

Cabo de São Vicente Praia do Martinhal 0 5 km Arribas envoltas em nevoeiro no Pontal (Arrifana). Reserva Biogenética Ponta de Sagres 10 de Sagres 11 Costa Vicentina

Muitos dos habitats e das plantas que aqui uma multitude de passeriformes migram existem são raros ou exclusivos deste litoral e rumo a climas mais quentes a sul. prioritários para a conservação da natureza. É o caso das emblemáticas formações endémi- A Costa Vicentina integra o Parque Natural cas de esteva-de-sagres e de muitas outras do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina espécies cuja designação específica, vicentina, e a Rede Natura 2000 - Sítio de Importância remete para uma distribuição geográfica Comunitária (SIC) Costa Sudoeste e Zona de restrita a pouco mais que os cabos de Sagres Proteção Especial (ZPE) Costa Sudoeste. * e S. Vicente.

A diversidade de paisagens da Costa Vicentina sustenta também uma excecional riqueza faunística. No meio marinho, a abundância de peixes, crustáceos e moluscos, historicamente não sujeitos a exploração piscatória intensiva, conservam um equilíbrio com a pesca arte- sanal e desportiva, baseada em portinhos de pesca abrigados em pequenas enseadas.

Este é também um dos sítios com maior diver- Ponta Ruiva (Vila do Bispo). sidade de aves em Portugal, com mais de duas centenas de espécies registadas. No outono, a desaguando em pequenas praias ou em curio- zona costeira é sobrevoada pelas aves migra- Barco de pesca artesanal. Corvo-marinho-de-faces-brancas, uma das aves aquáticas doras rumo a África. Grandes planadoras como que depende dos ricos recursos piscícolas da Costa sos vales suspensos. Vicentina. as águias, abutres e cegonhas, assim como O ambiente no território costeiro ocidental é marcadamente atlântico, húmido e fresco, mas a Costa Vicentina é lugar de contrastes e en- contros, e nas suas localizações mais meridio- nais a influência mediterrânica, seca e quente, faz-se sentir, dissipando as brumas do atlântico norte. Deste encontro resultam condições ecológicas singulares e uma notável diversi- dade biológica terrestre e marinha, combi- nando-se, num espaço físico restrito, espécies mediterrânicas, atlânticas e maghrebinas.

A notável multiplicidade de paisagens e ambientes deste litoral que se desdobra em escarpas altas mergulhando diretamente no oceano, areais em tons pérola, plataformas elevadas com campos dunares, barrancos pro- fundos e húmidos, e ribeiras delineadas por frondosos bosques ripícolas que desembocam em estuários e sapais, faz da Costa Vicentina um território chave, no contexto nacional e Cabo de São Vicente. europeu, em termos de riqueza e diversidade * Lista Nacional de Sítios e Zonas de Proteção Especial para Aves da Rede Natura 2000, legisladas pelas Diretivas 92/43/CEE de 21 de maio (Diretiva biológica. Vegetação ripícola na Ribeira da Carrapateira. Habitats) e 79/409/CEE de 2 de abril (Diretiva Aves), posteriormente transpostas para o direito português.

12 13 Costa Vicentina

O planalto vicentino é nebuloso, fresco e Com a proximidade ao mar passam a dominar húmido, tipicamente com baixas amplitudes os matagais arborescentes de zimbro, típicos térmicas, o que lhe confere uma amenidade das paleodunas litorais e que correspondem Planalto Vicentino apenas cortada pelos ventos sazonalmente a uma comunidade climácica em ambientes muito fortes que sopram do quadrante áridos. Por vezes as arribas marítimas encon- A faixa costeira entre Odeceixe e Vila do noroeste. As areias dominam este planalto que tram-se apenas cobertas por uma fina capa Bispo integra-se numa unidade geomor- esteve, num passado distante, ocupado por de areias argilosas; nas suas localizações mais fológica mais ampla, o vasto planalto litoral vastos urzais higrófilos e juncais, semelhantes expostas encontram-se plantas bem adapta- do sudoeste, marginado a oriente pelas serras aos que hoje se encontram no Minho. Atual- das à rudeza do meio, algumas endémicas do litorais (São Luís e Espinhaço de Cão) e a sul mente constitui um espaço essencialmente Sudoeste, sobretudo dos géneros Limonium, pelo barrocal calcário que se estende do Plantago e Armeria. Algarve central até ao Cabo de São Vicente. Este planalto constitui uma antiga plataforma Apesar do cariz mediterrânico da vegetação de abrasão, aplanada pela ação erosiva do dominante, alguns locais onde se formam mar, quando há cerca de dois milhões de microclimas, como os barrancos húmidos e anos a linha de costa se encontrava mais para verdejantes, notabilizam-se pela presença o interior e toda esta área estava sujeita ao de espécies serranas típicas de climas mais efeito abrasivo da ondulação e das correntes húmidos, resistindo no limite da sua tolerância marítimas. A posterior regressão marinha na ecológica. É o caso da Centaurea vicentina, sequência das grandes glaciações, expôs todo Cegonha-branca espécie serrana que aqui coloniza tojais e este território que agora medeia os ambientes urzais litorais, ou do samouco, espécie da terrestre e marinho. Os inúmeros e agrestes palheirões da Costa Vicentina são muito procurados por aves para Findo o último período glaciar há cerca de Stauracanthus vicentinus 11 mil anos, a subida do nível do mar e a abrigo e nidificação, destacando-se o caso da cegonha-branca que, apenas no sudoeste por- erosão marinha ditam novamente o recuo da agrícola, exibindo um interessante e bem tuguês, nidifica nestas ilhotas rochosas batidas linha de costa, não sem deixar testemunhos cuidado mosaico de hortas, pomares e cam- pelo mar e pelo vento. do antigo litoral: os leixões, chamados de pos de cereais, embora mantenha também palheirões no sudoeste, são núcleos rochosos extensas áreas naturais, colonizadas por matos mais resistentes à erosão que com o tempo costeiros ou pontuadas por manchas de se destacam da linha de costa, tornando-se pinhal e carvalhal (sobreiro e carvalho-cerqui- rochedos solitários na vastidão do oceano. nho) e por galerias ripícolas.

A vegetação nativa nestes terrenos arenosos diversifica-se de acordo com o pH do solo: mais alcalino onde afloram dunas consoli- dadas colonizadas por vegetação calcícola semelhante à que existe no barrocal algarvio, mais ácido se ocorreu descalcificação no campo dunar. No último caso, surgem urzais entre os sargaçais caraterísticos do território, onde a urze-vermelha, a urze-das-vassouras e a torga se misturam com as estevas, com o mato-branco e com o tojo Stauracanthus vicentinus, endemismo costeiro vicentino. Estas comunidades integram ainda diversas plantas aromáticas. Campo agrícola com plantação de batata-doce. Um dos inúmeros palheirões existentes na Costa Vicentina. Urzal na encosta de um barranco.

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As arribas rochosas são o local de eleição para a nidificação de aves rupícolas como o falcão-peregrino, a gralha-de-bico-vermelho, o corvo-marinho-de-crista ou o pombo-das- -rochas, enquanto que nos campos agrícolas do planalto, pelas suas dimensões e modos de cultivos tradicionais, podem ser observadas espécies estepárias como o sisão, o alcaravão e mesmo a abetarda, normalmente associada a mosaicos de plantações agrícolas extensivas do Alentejo.

Barranco com linha de água efémera. floresta húmida subtropical da Macaronésia Gralha-de-bico-vermelho. Espécie em declínio em Portugal, tem nas arribas costeiras um dos seus habitats favoritos. (laurissilva), uma relíquia de eras distantes que se pensa ter sobrevivido às glaciações do Nos matos costeiros vivem mamíferos como período Pleistocénico em amenas manchas o texugo, a geneta, o sacarrabos ou o coelho. florestais como as que existem na Costa Em grutas e fendas das arribas, refugiam-se Sudoeste. morcegos, podendo algumas colónias ser constituídas por várias centenas de indivíduos, A Limonium ovalifolium coloniza as arribas mais expostas. que se alimentam de insetos junto de arribas, vales encaixados com vegetação rupícola e Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) em zonas florestais e agrícolas, dependendo das áreas preferenciais de alimentação de cada Atualmente extinta como nidificante, a águia-pesqueira Trigueirão, uma das aves típicas de terrenos extensos e espécie. teve nas arribas da Costa Sudoeste o seu último reduto abertos como os campos de cultivo de cereais e pastagens. como reprodutora em Portugal. No início do século XX a sua área de distribuição estendia-se desde o Pinhal de Leiria até à zona de Albufeira, em diversos locais no litoral atlântico. A população nidificante foi reduzindo progressi- vamente até meados dos anos 90. Desde então só está presente durante os períodos de passagem migratória para as áreas de invernada na África ocidental, ou como invernante, sempre em números reduzidos. Alimentam-se e descansam sobretudo nas zonas húmidas costeiras (es- tuários, rios, lagoas, paúis, etc.) embora possam deslocar-se alguns quilómetros para o interior para se alimentar de peixes em barragens. Atualmente alvo de vários projetos de reintrodução na Península Ibérica, acredita-se que esta emblemática ave de rapina possa voltar a procriar em ter- ritório nacional num prazo relativamente curto desde que os fatores causadores da sua extinção, como terão sido a perseguição direta, a perturbação humana ou a poluição, possam ser minimizados.

JP

Estrada ao longo do planalto de Sagres. Zonas abertas e planas com agricultura extensiva são o habitat típico das aves estepárias como o sisão.

16 17 Costa Vicentina

Sendo esta parte do território continental ca- Atividades racterizada por uma insolação muito elevada e Caminhadas temperaturas altas no verão, as zonas húmidas de água doce como as lagoas temporárias Via Algarviana: percurso de longa distância, com e pequenos cursos de água, são habitats cerca de 300 km que liga o Cabo de São Vicente a fundamentais para a sobrevivência de muitas Alcoutim. O traçado desta Grande Rota (GR13), espécies da fauna local. As lagoas temporárias que está devidamente sinalizada, passa em muitos suportam comunidades raras de insetos locais valiosos do ponto de vista natural, atraves- aquáticos, para além de uma grande variedade sando cinco Sítios Natura 2000 e três áreas protegi- de anfíbios como a rela-meridional ou o sapo- das. Para mais informações consultar o website www.viaalgarviana.org -de-unha-negra e são locais de alimentação Juncal para aves como as garças, a cegonha-branca e Maria Vinagre e Rogil: embora sem percursos a narceja. São também o refúgio de crustá- sinalizados, na envolvente da povoação da Esteveira ceos como o camarão-girino, uma espécie (Maria Vinagre) existe uma rede de caminhos agríco- adaptada a este meio e cujos ovos só eclodem las e de pé-posto ao longo da qual é possível obser- quando as condições do meio são adequadas. var o mosaico agrícola da região, os matos dunares com urzais e sargaçais, os barrancos escavados e, junto ao mar, o recorte da costa com as suas escar- pas e palheirões. A sul do Rogil, existe um percurso Marca sinalizadora da Via Algarviana (GR13) em Sagres. formalizado, incluído na Rota Vicentina (rota que liga São Vicente a Santiago de Compostela), com características semelhantes. Para mais informações consultar o website www.rotavicentina.com

Pontal da Carrapateira: o Trilho das Marés é um percurso sinalizado com início no restaurante O A rela-meridional é um dos anfíbios que utiliza as lagoas Sítio do Rio; subindo até ao pontal da Carrapateira temporárias. alcança-se ampla vista sobre a foz da ribeira da Car- rapateira e a praia da Bordeira, sendo também pos- sível observar as comunidades vegetais das arribas. Parte deste trilho circular de 19 km circunda o Medo do Pontal e o Medo das Angras, um sistema dunar com matagais de zimbro. Seguindo este percurso Enseada do portinho de pesca do Forno. para sul, na direcção da praia do Amado, é possível visitar os admiráveis portinhos de pesca artesanal da Zimbreirinha e do Forno (alojados de forma precária Acessos nas paredes verticais das arribas) e um sítio arqueo- lógico com vestígios de um povoado islâmico de As povoações de Maria Vinagre e do Rogil desen- pescadores do século XII. volvem-se ao longo da EN 120, a norte de Aljezur; para aceder aos percursos seguir os acessos no Passeios de burro: disponíveis em toda a Costa sentido do mar, procurando a sinalização da Rota Vi- Vicentina, podendo ser consultada a Associação centina (no Rogil) ou as indicações para a Esteveira Casas Brancas. (em Maria Vinagre).

Parapente: a Torre d’Aspa, antiga atalaia da qual não Pontal da Carrapateira: a partir da EN 268, na restam vestígios, é o ponto mais alto da Costa Vicen- saída norte da povoação da Carrapateira, virar na tina. As suas arribas altas e escarpadas são propícias direção do mar, seguindo a indicação para a praia à prática de parapente. da Bordeira.

Observação de libélulas e libelinhas: península Torre d’Aspa: em Vila do Bispo, tomar o acesso ao de Sagres (outono) e linhas de água (todo o ano). Perímetro Florestal que se inicia junto do Mercado, Os locais de observação podem ser consultados no seguindo as indicações para Torre d’Aspa. Lagoa temporária próxima de Vila do Bispo. website http://nsloureiro.pt/dragonflies/

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a Diplotaxis vicentina ou o tomilho-do-mar. Associadas aos arenitos carbonatados estão espécies únicas e raras como Avenula hackelli, Paleodunas Chaenorrhinum serpyllifolium subsp. lusitanicum e Biscutella vicentina, endemismos do Sudoeste com populações muito sensíveis.

A época mais favorável para observação da vegetação dunar é a da floração, na primavera, momento em que as dunas se revestem de um fabuloso mosaico de cores e em que o perfume das plantas aromáticas se intensifica. Biscutella vicentina

Imponentes campos dunares (medos) em Monte Clérigo.

Sobre o planalto da Costa Vicentina, suspen- planalto vicentino e constituem autênticas sos no topo das arribas ou cavalgando as ilhas terrestres, de pH mais alcalino que os Dunas suspensas sobre a arriba na Praia da Pipa. vertentes marítimas, encontram-se notáveis terrenos circundantes, diversificando o elenco campos dunares designados localmente por florístico das areias. Arenitos na Praia da Amoreira medos (pronunciando-se médos). Em alguns locais, os medos crescem muito em altura, A vegetação das paleodunas é rica em Na margem norte da ribeira de Aljezur desen- volve-se um amplo sistema dunar que avança formando imponentes cristas dunares que endemismos botânicos e aos matagais altos vale adentro, colonizado por espécies típicas se sucedem por extensas áreas cobertas por de zimbro associam-se espécies endémicas das dunas móveis como o estorno. Já a vertente matagais arborescentes de zimbro. como a Dorycnium hirsutum subsp. prostratum rochosa da margem sul da ribeira encontra-se re- (abrigada sob as grandes moitas de zimbro), vestida por areias mais estabilizadas onde afloram Nestas formações dunares, podem observar-se notáveis formações rochosas da duna fóssil. afloramentos rochosos da duna fóssil (paleo- duna), entretanto cobertos por areias mais A rocha dura acinzentada que constitui estes recentes. As paleodunas testemunham uma arenitos dunares terá resultado da cimentação do carbonato de cálcio lixiviado das conchas actividade eólica intensa e remota, tendo sido marinhas pela água da chuva. A estrutura formadas há milhares de anos sob condições rendilhada que estas rochas apresentam deve-se de temperatura e precipitação elevadas. à contínua dissolução do carbonato de cálcio da rocha pelas chuvas, sendo possível observar relevos Episódios antigos de carbonatação consolida- resultantes deste processo erosivo de que são exemplo as grutas no topo da encosta voltada a norte. ram os sedimentos dunares, originando uma rocha calcária rija aproveitada até há pouco A comunidade vegetal típica destas dunas consolidadas é semelhante à vegetação do barrocal algarvio tempo para corte de mós usadas na moagem que coloniza terrenos calcários com pH idêntico, sendo comuns plantas como o carrasco, o zambujeiro de cereais. Atualmente, estas rochas surgem ou a aroeira que, aqui, surgem em mosaico com espécies típicas das areias como a camarinha, a armeria ou a perpétua-das-areias. dispersas nos campos dunares ao longo do Tomilho-do-mar

20 21 Costa Vicentina

A fauna destes campos dunares é similar à en- contrada ao longo de toda a Costa Vicentina podendo observar-se alguns dos animais que por aqui encontram refúgio e alimento como Reserva Biogenética de Sagres o coelho ou a raposa.

Uma das espécies ubíquas que pode ser vista nas dunas é o lagarto, o maior lacertídeo existente em Portugal. Alimenta-se de inverte- brados como escaravelhos ou borboletas que por aqui abundam, podendo ainda capturar lagartixas e pequenos mamíferos.

Lagarto

Atividades

Caminhadas

Praia da Amoreira: não existindo percursos assi- nalados, é possível caminhar ao longo do passadiço existente nas dunas da praia e depois pelo areal até à foz da ribeira de Aljezur. Subindo a margem direita da ribeira para montante, observam-se tanto Matos costeiros com zimbro e esparto na Reserva Biogenética de Sagres. as dunas móveis que se estendem para o interior a partir da praia, como a imponente vertente rochosa da margem esquerda da ribeira, revestida por areias A península de Sagres faz parte da Rede Eu- de interesse para a investigação botânica, estabilizadas e bem vegetadas que fossilizam o ropeia de Reservas Biogenéticas desde 1988. considerando-se que reúne condições bioló- antigo sistema dunar. Observando atentamente, Esta é uma região com caraterísticas bio- gicas e ecológicas únicas. A justificar esta descobrem-se pequenas grutas na faixa superior dos geográficas únicas, ponto de encontro entre distinção está a ocorrência de um singular afloramentos rochosos. Arenitos talhados para a extração de mós para moagem. o planalto arenoso do sudoeste e o barrocal conjunto de comunidades vegetais marcadas calcário a sul. pelo cruzamento das influências atlântica, Praia do Monte Clérigo: não existem percursos as- mediterrânica e maghrebina, e que se dispõe sinalados - a) Estacionando no parque de merendas do pinhal da praia do Monte Clérigo, e seguindo a Acessos A influência oceânica é marcante: abruptas em mosaico no restrito espaço geográfico pé na direcção do mar, é possível percorrer o cami- arribas em toda a fácies marinha dos pro- da Reserva: a vegetação rupícola das arribas Praia da Amoreira: a partir do acesso norte a Aljezur montórios de Sagres e São Vicente e ventos fustigadas pelos ventos fortes e salinizados; os nho que segue junto à crista das arribas, tanto para (EN 120), seguindo no sentido da praia da Amoreira. norte (vista sobre o Monte Clérigo) como para sul A entrada para o passadiço sobrelevado das dunas carregados de sal que podem soprar a mais matagais arborescentes e os matos pré-de- (sistema dunar). As arribas altas proporcionam uma situa-se junto ao parque de estacionamento. de 100 km/h, fazem desta uma das áreas mais sérticos sobre solos calcários e terra rossa; e vista panorâmica sobre a linha de costa, permitindo expostas da Europa. as comunidades dos campos paleodunares também observar as formações dunares que se Praia do Monte Clérigo: a partir do acesso sul a suspensos sobre as arribas. desenvolvem no topo destas arribas, as quais se Aljezur (EN 120), seguindo no sentido de Monte Situando-se no extremo sudoeste da Europa, notabilizam na proximidade da Praia da Pipa (troço Clérigo. Após passar pela praia, seguir no sentido * terminal do percurso); b) Partindo do areal da praia e este local designado por Estrabão como Nas vertentes das arribas calcárias e próximo Arrifana - Vale da Telha. Estacionar junto ao pinhal e Promontorium sacrum e assinalado como san- do nível do mar surge uma comunidade caminhando para norte na baixa-mar, é possível, se parque de merendas do Monte Clérigo. as condições de ondulação o permitirem, alcançar tuário de cultos pré-romanos, tem sido alvo de rupícola aerohalina dominada por espécies uma área rebaixada da arriba, onde, para além dos Recomenda-se caminhar e permanecer apenas sobre os pas- peregrinações desde tempos imemoriais, re- de Limonium, Plantago e de Armeria, algumas organismos típicos da faixa entre-marés, se podem sadiços e trilhos marcados, já que o pisoteio das dunas é uma vestindo-se até hoje de misticismo. É também delas endémicas desta costa. São também observar diversas tentativas de corte de mós (para das principais causas da degradação das mesmas. mundialmente conhecido como sítio clássico comuns espécies halonitrófilas, com maior moagem de cereais) nos arenitos dunares. * Historiador e geógrafo grego; autor da Geographia (datada de 23 d.C.), obra relativa à história e descrições de povos e locais do mundo que lhe era conhecido à época. 22 23 Costa Vicentina

exigência de azoto (que aqui provém dos esta comunidade abriga os endemismos dejetos das aves marinhas), como a barrilha, a algarvios Bellevalia hackelli e Serratula monardii salgadeira e o espinhoso Lycium intrincatum. subsp. algarbiensis; nas clareiras destes matos secos podem ser encontradas espécies raras No topo das arribas, uma comunidade de e/ou ameaçadas como a delicada violeta Viola matos rasteiros coloniza o lapiás calcário, arborescens. onde domina a Astragalus vicentinus, espécie endémica desta costa. Mais afastados da influência marinha, surgem os matos pré- -desérticos endémicos com os tojos Ulex erinaceus e Genista algarbiensis e a esteva-de- Astragalus vicentinus -sagres, e os matagais de zimbro e carrasco Esteva-de-sagres sobre calcários compactos. Adaptações curiosas Nos locais onde as areias cobrem o topo do Estas comunidades vegetais integram plantas Vicente, onze espécies estão dadas como plantas planalto, dominam os zimbrais dunares onde bem adaptadas, a nível morfológico e fisiológico, decisivas para a conservação nacional, e mais é possível observar os endemismos Dorycnium à rudeza do meio, em particular às condições de uma dezena encontra-se protegida ao abrigo da prostratum, Diplotaxis vicentina e a Biscutela vento existentes. A adaptação morfológica mais Diretiva Comunitária Habitats. Os habitats defini- evidente é o porte rasteiro dos arbustos, dando dos pelas comunidades das arribas com espécies vicentina. Na orla destes matagais surgem os origem a moitas arredondadas e densas no caso de Limonium spp, pelas friganas de Astragalus matos com camarinha e as formações endémi- dos tojos ou da Astragalus vicentinus. Também vicentinus, pelos matagais de Juniperus spp. e pelos cas do Sudoeste de tojais-tomilhais com arbustos como o zimbro ou a aroeira, podendo matos pré-desérticos de Ulex erinaceus e Cistus Thymus camphoratus e Stauracanthus atingir porte arborescente, desenvolvem aqui for- palhinhae, encontram-se protegidos ao abrigo da vicentinus. mas atapetadas. Outra adaptação é o exuberante Diretiva Habitats. revestimento piloso destas plantas, que as protege Genista algarbiensis Na Península de Sagres, mais para o interior, dos efeitos dessecantes do vento, visível em O delicado equilíbrio que caracteriza esta comu- instala-se a vegetação mediterrânica típica dos plantas como a Asteriscus maritiums ou a Teucrium nidade única determina também a sua vulnerabi- vicentinum. Plantas produtoras de óleos aromáti- lidade. Pequenas alterações introduzidas no meio solos calcários do barrocal do Algarve central. cos e resinas, como o tomilho-do-mar e a podem assumir graves consequências. Algumas Esta comunidade, que aqui integra vários en- esteva-de-sagres, produzem aqui maior quanti- das principais ameaças consistem na abertura de demismos vicentinos, dispõe-se em cabeços dade de óleos essenciais. trilhos, na circulação de veículos motorizados e na calcários que alternam com depressões preen- recolha de espécimes de plantas raras. chidas por terra rossa. A paisagem é marcada Ao todo, e apenas na região de Sagres - São por uma sucessão de colinas claras onde ondula a gramínea Stipa tenacissima, acom- panhada por zimbro, carrasco e palmeira-anã. Nas depressões, onde o solo é mais profundo,

Zimbro

Adaptação da vegetação ao vento em que as moitas adquirem uma forma compacta e arredondada. Ulex erinaceus Palmeira-anã junto ao forte de St.º António de Beliche.

24 25 Costa Vicentina

Esta zona, entre o cabo de São Vicente e Atividades Sagres, é um dos sítios mais interessantes para observar a migração outonal de aves da Caminhadas Europa para África. Muitas espécies aqui se concentram, alimentam e descansam antes de A rede de caminhos de terra batida ou de pé-posto empreenderem o resto da migração, direta- existente na zona permite percorrer os principais mente para África, ou ao longo da costa algar- pontais, quase sempre junto ao mar; junto ao via rumo ao Estreito de Gibraltar. Os meses de Cabo de São Vicente e para norte da EN 268, esses caminhos dão acesso a uma paisagem invulgar no setembro e outubro são particularmente contexto algarvio: campos abertos com culturas ar- generosos para quem gosta de observar aves, venses e pastagens, encaixados entre as formações não sendo raro identificar mais de uma cen- dunares do Pinhal Santo (para o interior) e os matos tena de espécies num só dia. Este é também costeiros das arribas. um dos sítios ideais para ver aves de rapina em Portugal pois nessa época podem ser Praia do Telheiro: situada imediatamente a norte do observadas desde as mais comuns, como a Águia-calçada. Nidificante em zonas florestais é uma pre- cabo de São Vicente, esta praia é um sítio clássico águia-calçada, peneireiro ou a águia-cobreira, sença abundante em Sagres durante a migração outonal. de interesse geológico, marcando a passagem dos calcários claros de Sagres para os xistos negros muitas vezes em números elevados, até as do sudoeste e exibindo um afloramento do Grés raríssimas águia-imperial ou águia-real. vermelho de Silves em discordância angular com os xistos e grauvaques. De assinalar também as diversas Para além das gaivotas, sempre presentes, o plantas aromáticas que colonizam as arribas. topo das arribas é também um local privile- giado para observar algumas aves marinhas Fortaleza de Sagres: existe um percurso circular na Ponta de Sagres, ao qual se acede pela Fortaleza, e que nesta zona passam relativamente perto da Estrada de acesso à Fortaleza de Sagres. costa, como é o caso do ganso-patola, torda- que proporciona amplo panorama sobre a linha de costa, bem como a observação das comunidades -mergulheira, moleiro ou o pato-preto. vegetais típicas das arribas. Observação da migração outonal de aves: o Fes- tival de Observação de Aves de Sagres, que ocorre Um caso interessante é a presença regular Ciclismo: existe uma via ciclável sinalizada que desde 2010 no princípio do outono, é uma boa de gralha-de-nuca-cinzenta no cabo de São percorre toda a Península de Sagres, junto à EN 268. oportunidade para participar em atividades relacio- Vicente. Trata-se de uma espécie que nidifica Este troço ciclável faz parte da Ecovia do Litoral, um nadas com a observação de aves e a conservação em zonas rochosas e construções antigas (e.g. percurso de 214 km que liga o Cabo de São Vicente da natureza. muralhas de castelos) e que utiliza este local a Vila Real de St.º António, atravessando 12 conce- O peneireiro-de-dorso-malhado é uma ave de rapina lhos, ao longo da costa sul do Algarve. para se alimentar e nidificar. residente e comum na Costa Vicentina.

Observação de aves em Sagres.

Acessos Os primeiros quilómetros da Ecovia do Litoral, que se inicia Gaivota-de-patas-amarelas. Ave abundante em todo o litoral Gralha-de-nuca-cinzenta no Cabo de São Vicente, são feitos ao longo da EN 268. Como chegar: pela EN 268 até Sagres. costeiro.

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Estuários e Meio Marinho As principais ribeiras que correm na Costa da foz com tendência para o estabelecimento Vicentina, Seixe, Aljezur e Bordeira, formam na de sistemas lagunares. proximidade da foz sistemas estuarino- -lagunares aos quais se associam extensos A exemplo de outros estuários algarvios, em areais e campos dunares. Estes areais são Seixe e Aljezur podem observar-se teste- formados tanto pela acumulação de sedi- munhos da antiga produção de arroz por mentos de origem continental, transportados canteiros, os quais foram prontamente em regime fluvial, como por sedimentos de colonizados pelos sapais após o abandono da origem marinha resgatados de bancos de areia orizicultura. submarinos pela acção contínua das correntes, da ondulação e dos ventos costeiros. Apesar da sua pequena dimensão, estas zonas húmidas diversificam e amenizam a paisagem Sendo cursos de água já em fim de vida, no agreste da Costa Vicentina, cumprindo, ainda, troço terminal destas ribeiras formam-se importantes funções ecológicas. Dão corpo largas planícies de inundação, resultantes da a ambientes altamente produtivos os quais Aljezur - em Aljezur a ribeira corre num vale muito agricultado, enquadrado a nascente pelas faldas da Serra deposição dos sedimentos fluviais que aí se também depuram a água que chega por via de Monchique e a poente pelo cerro que acolhe o castelo e o casario antigo da povoação. As margens da espraiam por perda de competência das águas fluvial, protegem a orla costeira do avanço ribeira de Aljezur e afluentes, conservam um bosque ripícola denso e frondoso onde medram o amieiro, os salgueiros e o freixo. Após contornar o cerro escarpado que a separa do mar, a ribeira de Aljezur espraia-se em transportá-los até ao mar. Deste modo, a do mar e de inundações, acolhem a desova num vale amplo onde mal se advinha a presença humana; aqui dominam os sapais e, mais perto da foz, os comunicação com o mar pode tornar-se inter- e criação de peixes e moluscos, sendo ainda campos dunares da praia da Amoreira. Diz-se desta ribeira que seria navegável à época da invasão muçul- mitente surgindo episódios de assoreamento fundamentais para a sobrevivência de muitas mana da Península Ibérica e até à reconquista cristã por D. Sancho II no século XIII, constituindo Aljezur um aves aquáticas. importante porto fluvial.

Seixe - a ribeira de Seixe que no seu troço terminal delimita o Alentejo do Algarve, enquadra-se numa Bordeira - a ribeira da Bordeira, das três a que apresenta menor expressão, atravessa zonas de várzea onde paisagem aberta e harmoniosa, serpenteando num verdejante vale aluvionar. A várzea encontra-se bem dominam as culturas arvenses às quais se sucedem as imponentes cristas dunares da Carrapateira e um am- organizada em hortas e pomares, os quais vão sendo progressivamente substituídos por manchas de sapal plo areal. É o curso de água que evidencia maior tendência para a colmatação da barra, formando frequen- na direção da foz. As águas doces da ribeira encontram o mar na praia de Odeceixe, contornando uma ampla temente lagunas junto à praia da Bordeira. língua de areia que permite a formação de áreas lagunares.

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Os sistemas estuarino-lagunares influenciam temperada e a atlântica tropical. a produtividade marinha costeira já que facili- Habitantes das poças de maré tam a entrada de nutrientes vindos de terra. Aqui circulam espécies mediterrânicas, tro- No contexto da Costa Vicentina, as pequenas picais, subtropicais e grandes migradores ribeiras e sistemas lagunares desempenham pelágicos, verificando-se maior riqueza em um papel igualmente fundamental, propor- número de espécies que em localizações mais cionando espaços de proteção, alimentação setentrionais da costa portuguesa, em particu- e reprodução a espécies costeiras, nomeada- lar na família Sparidae. Também a flora marinha mente das famílias Sparidae (sargos e dou- nesta região é digna de registo contando rada), Mugilidae (taínhas), Gobiidae e Blenniidae com mais de metade das algas descritas para (cabozes) e Serranidae (meros). Portugal Continental.

Também a diversidade de fundos marinhos, Apesar do recorte abrupto e aparentemente com áreas de laje e rocha em mosaico com inóspito deste litoral, as pequenas enseadas e fundos de areia e vasa, a par com acidentes baías, grutas marinhas, leixões e plataformas geográficos como baías (Arrifana), cabos (São rochosas na zona intertidal, tornam a vida Vicente) e ilhas (Martinhal), proporcionam um marinha, com toda a sua riqueza e diversi- Caranguejo Caboz conjunto de habitats preciosos para o abrigo, dade biológica, mais próxima e visível a quem alimento, desova e crescimento de juvenis de aprecie mergulhar ou passear na baixa-mar espécies marinhas. pelas rochas.

A vida marinha na Costa Vicentina é excecio- Associados a esta riqueza biológica, mas nalmente rica, não só pela diversidade de dificilmente observáveis da linha da costa, ambientes costeiros e marinhos, mas também estão os mamíferos marinhos (golfinhos e por constituir zona de transição para espécies baleias), répteis como a tartaruga-comum, com afinidades setentrionais e meridionais aves marinhas como os painhos, alcatrazes ou devido à confluência de três massas de pardelas, assim como alguns peixes pelágicos água distintas: a mediterrânica, a atlântica como o tubarão-martelo ou o cação que

Lapa com cracas incrustradas. Anémona-morango

Poças de maré na Praia do Monte Clérigo. Alga verde e alga vermelha. Estrela-do-mar-espinhosa entre ouriços-do-mar.

30 31 muitas vezes se podem avistar à superfície. De entre os mamíferos marinhos, o golfinho- -comum é dos mais abundantes nestas águas e, em ocasiões, pode ser visto em grande número já que se trata de uma espécie com comportamento gregário.

No Sudoeste a população de lontra utiliza o ambiente marinho para se alimentar, sendo este um comportamento raro para a espécie no resto da Europa. Embora dependa de zonas húmidas de água doce adjacentes, como as Golfinho-comum ribeiras e barrancos que lhe servem de refúgio, a utilização do mar como área de pesca é também um indicador da riqueza dos recursos Acessos haliêuticos da Costa Vicentina. Odeceixe: a partir de Odeceixe (EN 120), seguindo na direcção da praia. Atividades Praia da Carreagem: a partir do Rogil (EN 120), Contemplar seguindo no sentido da praia da Carreagem. Miradouros sobre os estuários: acesso sul à praia de Odeceixe, acessos sul e norte à Praia da Amoreira, Amoreira: a partir da entrada sul de Aljezur (EN 120), Pontal da Carrapateira. seguindo no sentido da praia do Monte Clérigo e virando, já perto da praia, para norte, até ao pontal que permite observar a Praia da Amoreira, ou, a partir da entrada norte de Aljezur (EN 120) seguindo na direcção da Praia da Amoreira.

Monte Clérigo: a partir da entrada sul de Aljezur (EN 120), seguir no sentido da praia do Monte Clérigo.

Carrapateira: a partir da EN 268, no acesso norte à povoação da Carrapateira, virar na direcção do mar, seguindo a indicação de praia.

Passadiço no Pontal da Carrapateira. Surf e Bodyboard: várias praias conforme a ex- posição e as condições de vento e ondulação.

Mergulho: Arrifana, Baleeira (Ilhotes do Martinhal).

Observação de vida marinha (cetáceos e aves marinhas): passeios de barco em Sagres, a partir do Porto da Baleeira.

Observação do intertidal: na baixa-mar, em zonas de laje rochosa como as existentes nas praias do Monte Clérigo, da Amoreira e da Carreagem.

Aula de surf.

32 Litoral Sul

Pode ver-se aqui a última riviera mediterrânea e a influência de todas as colonizações marítimas da Antiguidade.

Orlando Ribeiro Litoral Sul

A2

125 A22 A22 Barlavento A22

Ribeira de Alcantarilha 125

Ria de Alvor VILA

Estuário do Arade Foz da Ribeira de Lagoa dos Caniçal de Bensafrim Salgados Vilamoura Praia de Porto Baixinha Paul de Budens de Mós

Praia da Figueira Oceano Atlântico

A22

Pinhal de Praia dos Três Rio Gilão Montegordo Foz do Pauzinhos Sotavento Rio Guadiana

. Ria Formosa 125 Ilha de Cabanas N A22 0 5 km Praia do Barril Lagoa do Almargem 125 Ilha de Tavira Lagoa das Dunas Duradas Rede Natura 2000

Praia do Garrão Quinta do Praia do Ancão Lago Praia da Quinta Oceano do Lago Ludo Ria Formosa Ilha da Armona Atlântico Praia de Faro

Ilha da Culatra Ilha da Barreta 34 (Deserta) 35 Litoral Sul

Dobrando a Ponta de Sagres para sul, o am- corresponde a um litoral de arriba talhado em liga o norte da Europa à África subsariana. Já biente torna-se mais luminoso com a influên- rochas carbonatadas de idade mais jovem, o Rio Guadiana forma um sistema estuarino cia mediterrânica a fazer-se notar e as arribas a Miocénica, onde dominam os tons ocres e típico ao qual se associa um complexo de acolherem praias abrigadas da enérgica ondu- as formas cársicas. Estas rochas brandas e canais, salinas e salgados alagadiços, que lação atlântica e dos ventos fortes de noroeste. intensamente esculpidas pelas águas doces e acolhe grandes concentrações de espécies de A linha de costa tende a atenuar-se para leste salgadas dão origem a um recortado peculiar avifauna nas épocas migratórias. e os relevos vão sendo talhados em formações da linha de costa, sendo frequentes leixões, geológicas progressivamente mais jovens. Os arcos, grutas marinhas e pequenas enseadas. cerca de 160 km de litoral entre São Vicente e As baías de Lagos e de Armação de Pêra, e o Vila Real de Santo António são notavelmente estuário do Rio Arade, lugares onde a linha de diversificados na litologia e em ambientes cos- costa se suaviza, são dominadas por areias e teiros. Também a ocupação humana ao longo sapais, constituindo ambientes de exceção no da costa é desigual: a troços com escassa contexto deste litoral rochoso e acidentado. ocupação sucedem-se centros urbanos liga- dos ao turismo de sol e praia e várzeas com No sotavento algarvio o litoral é baixo e produção agrícola industrializada (sobretudo arenoso, favorável à deposição de sedimentos, pomares de citrinos e estufas). Historicamente, distinguindo-se a paisagem pela presença de o litoral sul foi sendo habitado por populações amenas zonas lagunares e de longos cordões piscatórias de diversos povos: fenícios, gregos, dunares colonizados por matos e pinhais cartagineses, romanos e árabes, atraídos pelas litorais que albergam espécies endémicas, condições favoráveis (baías abrigadas e bons algumas protegidas. portos de desembarque) para as trocas co- merciais e culturais. Este troço de costa notabiliza-se pela presença Arco em arriba calcária do barlavento central. de duas zonas húmidas, a Ria Formosa e o Em Sagres, e até perto da praia da Figueira, estuário do Guadiana, as quais são decisivas as arribas são claras, talhadas em calcários do tanto para a riqueza e diversidade biológica Jurássico e de perfil vertical, dando origem a da região como para a economia local. O relevos imponentes e resistentes à erosão; sistema lagunar da Ria Formosa é a maior zona húmida do sul de Portugal, constituindo um entre a Figueira e Porto de Mós o litoral torna- Dunas na Ria Formosa. -se mais brando e menos escarpado, domi- elo estratégico na rede de zonas húmidas que nando as formações margosas mais recentes do Cretácico. A linha de costa apresenta exígua ocupação humana até às imedições da praia da Luz e a paisagem é aberta, suave- mente modelada pelo recorte dos barrancos que correm para sul e desembocam em pequenas praias de areia e calhau rolado. Nas encostas verdejantes destes barrancos crescem matagais exuberantes de zimbro e carrasco, abrigados do ambiente semi-árido que se faz sentir neste território. A contrastar com a claridade desta faixa costeira, surge a Rocha Negra na Ponta das Ferrarias (Praia da Luz), um enorme maciço eruptivo vulcânico de cor negra e densa, com origem na serra de Monchique.

Rocha Negra na Ponta das Ferrarias. A restante faixa costeira do barlavento algarvio Rocha Baixinha (Albufeira). Na transição do barlavento rochoso para o sotavento arenoso as arribas tornam-se mais brandas, talhadas em arenitos e siltitos mal consolidados, onde a água da chuva vai escavando ravinas e barrancos.

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São vários os serviços prestados por estes am- bientes de elevado valor estético, patrimonial e histórico: depuração das águas fluviais, con- Zonas Húmidas Costeiras trolo de cheias e proteção da linha de costa, regulação bioclimática, refúgio de biodiversi- dade e habitat privilegiado de fauna e flora, produção de recursos, entre outros. Sendo dos sistemas mais produtivos em biomassa do planeta, sobretudo se a comunicação com o mar é regular, asseguram também a desova e a criação de juvenis de diversas espécies de peixes, crustáceos e moluscos, garantindo a manutenção das cadeias alimentares no oceano. O guincho é uma pequena gaivota comum ao longo do São ecossistemas naturalmente complexos e litoral. heterogéneos, onde sobressai a organização em mosaico das suas unidades estruturais: es- paços lagunares, canais de circulação de água, zonas de deposição de sedimento e manchas de vegetação que se diversifica de acordo com a natureza do substrato e a proximidade da água. Esta diversidade estrutural, bem como o efeito de orla resultante do contato en- tre os vários ambientes, gera riqueza biológica e torna-se extraordinariamente atraente para a fauna. O Ludo, integrado no Parque Natural da Ria Formosa, comporta impressionante biodiversidade sendo um dos locais mais interessantes para observar aves aquáticas, em particular no outono e inverno. Uma grande diversidade de ecossistemas aquáticos valorizam a faixa costeira sul do A região algarvia exibe um conjunto de zonas sido excessiva e muitas delas foram drenadas, Algarve; no barlavento os mais expressivos húmidas costeiras de diversas géneses e aterradas e fragmentadas, ou são exploradas serão o Estuário do Arade e a Ria do Alvor, mas fisionomias, cuja riqueza em termos de com- de uma forma que não permite um estado igualmente importantes são o Paul de Budens, plexidade e importância ecológica contrasta de conservação favorável das comunidades o estuário da Ribeira de Bensafrim, o Caniçal com a das zonas húmidas do interior, na sua biológicas. de Vilamoura (na foz da Ribeira de Quarteira) maioria albufeiras e pequenos açudes. O clima e uma série de pequenas lagoas costeiras mediterrânico condiciona fortemente estes O conhecimento adquirido sobre estes das quais se destacam a Lagoa dos Salgados ambientes, ao induzir acentuado défice hídri- ambientes e um esforço crescente de (em Silves), a Lagoa do Almargem e a Lagoa co e um regime hidrológico de caráter torren- esclarecimento e sensibilização por parte da das Dunas Douradas (ambas em Loulé); já a cial, sendo marcante a influência oceânica nas comunidade científica, tem invertido esta sotavento é o sistema estuarino-lagunar da Ria zonas húmidas do litoral. tendência evidenciando o óbvio: os espaços Formosa que marca a paisagem numa exten- A cistanca é uma espécie vistosa que parasita as raízes de de transição entre o meio terrestre e marinho, são de cerca 60 km de linha de costa com as plantas de sapal. A floração ocorre num curto período de tempo no início da primavera. Os terrenos inundáveis no litoral foram his- onde as águas doces e salgadas se combinam, suas lagunas, ilhas barreira, dunas e sapais, e, toricamente tomados por espaços sem valor, constituem ambientes de essencial importân- junto à fronteira, a foz daquele a que chamam áreas insalubres que deveriam ser recuperadas cia biológica e ecológica, desempenhando um o grande rio do Sul, o Guadiana. para outros fins, agrícolas ou urbanos. No papel fundamental no equilíbrio dos ecossiste- Algarve, onde a faixa costeira é muito cobiça- mas contíguos. da, a pressão sobre as zonas húmidas tem

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Ria Formosa

A maior zona húmida do sul de Portugal Dado o regime torrencial do rio e ribeiras, a espraia-se por quase 11.000 hectares ao longo contribuição de água doce para o sistema é de cerca de 60 km de costa, entre o Ancão modesta, sendo a influência oceânica signifi- (Loulé) e a Manta Rota (Vila Real de Santo An- cativa. tónio), formando um sistema estuarino--lagu- nar onde vasta área de sapais, ilhotas e canais Apesar de se verificar moderada concentração é protegida por robustos cordões arenosos, urbana ribeirinha, com Faro, Olhão e Tavira a os quais formam duas penínsulas (Ancão e beneficiarem de localização privilegiada na Cacela) e cinco ilhas barreira (Barreta, Culatra, orla desta zona húmida, a Ria Formosa tem Armona, Tavira e Cabanas). As barras entre as mantido razoável qualidade ambiental. Clas- ilhas permitem a comunicação com o mar, sificada como Reserva Natural nos anos 70 do sendo que cerca de 70 % do volume de água século passado, viu este estatuto de protecção na ria é diariamente renovado em cada ciclo ser elevado a Parque Natural em 1987, por via de maré. A norte, a ria recorta-se em salinas da crescente necessidade de regulação da e tanques, bancos de areia, terra firme e pela pressão turística e urbanística, bem como do foz dos cursos de água que nela desaguam, ordenamento do território envolvente. A morraça é uma espécie-chave nestes ambientes: trata-se de uma planta pioneira a colonizar os bancos de vasa à cota do sendo o mais expressivo o Rio Gilão, em Tavira. nível médio do mar, formando extensos relvados que contribuem para a estabilização dos sedimentos e abrem caminho à instalação das outras espécies do sapal.

Origem da Ria Formosa A Ria Formosa encontra-se também clas- sificada como Zona Húmida de Importância Há 18.000 anos atrás, o mar encontrava-se cerca Internacional (Sítio Ramsar*) e integra o Sítio de 120 m abaixo do nível atual, deixando a de Importância Comunitária Ria Formosa- descoberto larga extensão da plataforma conti- -Castro Marim e a Zona de Proteção Especial nental. Grandes quantidades de areia ter-se-ão (ZPE) Ria Formosa, da Rede Natura 2000. acumulado ao longo da base desta plataforma, formando cordões arenosos. Na sequência do degelo e da subida do nível do mar, os cordões Do mar para o interior sucedem-se praias, du- foram inundados pela vertente continental, nas, bancos de vasa, sapais, canais, bancos de formando as ilhas barreira que posteriormente areia, salinas, e áreas de entrada de água doce. migraram ao longo da plataforma no sentido Esta enorme variedade de habitats, orga- de terra. Em simultâneo, e à medida que foi nizada em mosaico, e a extensão dos mesmos, sendo depositado material aluvionar no espaço permite a diversificação das comunidades lagunar, formaram-se sapais e ilhotas no interior biológicas. Plantas e animais distribuem-se da laguna. A constante deposição de sedimento em função das condicionantes ambientais: aumenta o isolamento em relação ao meio marinho e acelera a colmatação da ria, a qual gradiente de salinidade, tempo de imersão em terá tendência, à medida que envelhece e sem água salgada, proximidade às barras, presença que se intervenha na sua evolução natural, para de focos de poluição, natureza do substrato, adquirir progressivamente caraterísticas mais tipo de coberto vegetal e abundância de próprias de ambientes terrestres. recursos alimentares, ente outros.

A elevada produtividade biológica da Ria Vista sobre a Ria Formosa. * Os Sítios Ramsar resultam de um tratado intergovernamental denominado Convenção sobre Zonas Húmidas, adotado em 2 de Fevereiro de 1971 na cidade iraniana de Ramsar. Este tratado visa a conservação e o uso racional das zonas húmidas a nível global.

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Formosa reflete-se em todos os seus ambien- mosa, faz dela um elo importante na rede de Camão (Porphyrio porphyrio) tes, sendo especialmente visível nas comu- zonas húmidas que se estende desde o norte nidades que habitam os fundos arenosos e da Europa até à África subsariana, sendo um lodosos da ria, as quais podem apresentar ponto chave de paragem para as aves aquáti- populações muito abundantes. É o caso de cas em movimento entre os dois continen- anelídeos como as poliquetas, dos crustáceos, tes. A avifauna é de facto um dos principais dos moluscos gastrópodes (e.g. lapas, búzios e atrativos desta zona húmida, sendo mais de lesmas-do-mar), e ainda dos bivalves, muitos 200 espécies registadas todos os anos, muitas explorados comercialmente como a amêijoa- delas com elevado estatuto de proteção. Esta -boa, o lingueirão ou o berbigão. riqueza biológica resulta da disponibilidade alimentar existente e da extensão e diversi- A presença de peixes na ria é muito signifi- Mariscador. A Ria Formosa é a principal fonte dos bivalves dade dos ambientes que compõem a zona cativa, tendo já sido contabilizadas mais de consumidos em Portugal. húmida. 140 espécies. Muitos destes peixes vêm à ria desovar e criar: é o caso do sargo, do robalo, Durante a época de invernada, o espaço lagu- do linguado, ou do salmonete, espécies com nar e ambientes adjacentes oferecem abrigo elevado valor comercial. Para além de abrigo e alimento a milhares de aves aquáticas como e alimento, a ria oferece também proteção o flamingo, o colhereiro ou os patos, entre aos peixes juvenis, já que a presença dos outras; logo a seguir ao Tejo, é a zona húmida predadores que vivem no litoral adjacente que concentra maior número de limícolas é dificultada pelas condições ambientais na invernantes. Durante as épocas de migração ria (correntes, efeito das marés, constante e invernada estão também presentes aves de alteração dos fundos e dos parâmetros físico- rapina que exploram a abundância de recur- -químicos). sos alimentares. Nos anos 80 do século passado, o Ludo foi o Os peixes que aqui ocorrem podem ser espé- Berbigão A ria constitui também um importante sítio último reduto do camão, um ralídeo adaptado cies que completam o seu ciclo de vida no in- para a nidificação de aves aquáticas. O bor- a zonas palustres com abundante vegetação terior da ria, como é o caso do cavalo-marinho relho-de-coleira-interrompida e a chilreta aquática, em particular tabúa que é um dos seus ou do peixe-rei, podem ser migradores como nidificam no cordão dunar e salinas, enquanto alimentos preferidos. Desde então, tem coloni- zado pequenas zonas húmidas a poente da Ria a enguia, ou ainda, utilizar a ria na fase juvenil que os ambientes de água doce e salobra Formosa, em virtude da adoção de medidas de migrando em adultos para o mar, como o sustentam a criação de anatídeos, garças, mer- proteção e da criação de novas lagoas, algumas sargo ou o robalo. Outros peixes, como a raia, gulhões, e de ralídeos como o camão. No am- inseridas em campos de golfe. O seu estatuto o peixe-aranha ou o carapau, entram ocasio- biente lagunar salgado, entre ilhotas cobertas de proteção mantém-se vulnerável devido à nalmente na ria, restringindo a sua presença à de vegetação de sapal, criam a garça-branca pequena população, à fragmentação do seu proximidade das barras de maré. e o colhereiro. É também nestes sapais que a habitat e às ameaças que subsistem sobre zonas cegonha-branca, uma das espécies ameaça- húmidas sem estatuto de proteção. É o símbolo A estratégica situação geográfica da Ria For- das a nível europeu, se alimenta deslocando- do Parque Natural da Ria Formosa. -se a partir dos seus ninhos, muitos deles construídos em zonas urbanas adjacentes à ria, em Faro, Olhão, ou Tavira. invernantes, podendo observar-se quase todas as espécies de anatídeos invernantes em O Ludo, na extrema poente da ria e onde a Portugal, assim como o flamingo, a galinha- Ribeira de S. Lourenço desagua, concentra -de-água e os mergulhões. O mergulhão-de- extensões significativas de salinas, sapais e -crista, o pato-de-bico-vermelho, o camão e A ria é um importante viveiro natural protegendo alguns esteiros, circundados por campos agrícolas, o zarro são algumas das muitas espécies que peixes nos seus estados larvares e juvenis. pinhal, um campo de golfe, e escassa pertur- aqui nidificam. A boca-cava-terra é uma espécie comum nos bancos bação humana. Este será talvez dos pontos de vasa da ria. Uma das pinças é mais desenvolvida nos com maior abundância de aves aquáticas Dos outros animais que também ocorrem machos.

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na ria destacam-se o toirão e a lontra, dois mamíferos adaptados ao meio aquático e que Aves da Ria Formosa aqui são registados regularmente, ou ainda as duas espécies de cágados da fauna nacional, podendo estes ser facilmente observados na margem de ribeiros ou lagoas com maior influência de água doce, na zona do Ludo. O cágado-de-carapaça-estriada é a espécie mais rara, coexistindo em muitos ambientes aquáti- cos com o cágado-mediterrânico.

Cágado-de-carapaça-estriada Atividades

Passeios turísticos de barco Os embarques fazem-se a partir de Faro (Cais da O vasto espaço lagunar da Ria Formosa pode ser Porta Nova), Olhão, Fuseta, Santa Luzia e Cabanas Garajau Pato-real visitado de barco durante todo o ano, estando de Tavira. disponível considerável oferta de passeios que incluem atividades turísticas variadas desde a visita Desportos náuticos às ilhas barreira, os desportos náuticos ou a pesca A Ria Formosa oferece condições ímpares para a desportiva, até ao turismo de natureza com guias prática de vela, canoagem, ou windsurf, podendo ser especializados, para observação da vegetação, de contactados para o efeito os clubes navais de Faro, aves aquáticas e de golfinhos. Olhão, Fuseta e Tavira.

Os passeios de barco permitem percorrer os canais da ria, onde se oferecem vistas privilegiadas sobre sapais e ilhotes com a típica vegetação de salgados e fauna associada, desembarcar em locais isolados, alcançar as ilhas barreira e visitar as suas barras. Para além dos inúmeros valores naturais a observar, destacam-se a comunidade piscatória da Culatra e a azáfama do seu porto de pesca, os Hangares (as Pilrito-das-praias Gaivota de Audouin ruínas de uma base militar construída na 1.ª Guerra Mundial) e o ponto mais a sul de Portugal Continen- tal - o Cabo de Santa Maria (Ilha da Barreta).

Prática de vela.

Caminhadas

Trilho de São Lourenço: percurso sinalizado de cerca de 4 km (ida e volta) que percorre a zona limítrofe da Quinta do Lago, entre os sapais e o campo de golfe, até à praia. Inclui dois observatórios de aves, um dedicado ao lago de água doce do golfe, outro com vista sobre os esteiros salinos da ria. Este trilho situa-se na zona do Ludo, a qual é possível percorrer caminhando ora sobre os muretes Corvo-marinho-de-faces-brancas Garça-real dos esteiros da ria, ora pelo pinhal, observando larga extensão de laguna, salinas, sapais e a foz da ribeira Porto de pesca da Culatra. de S. Lourenço.

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Atividades

Ilhas barreira: os cordões arenosos das ilhas são Observação de libélulas e libelinhas: O Ludo é atravessados por uma rede de passadiços sobreleva- considerado um hot-spot para observação destes Ria de Alvor dos e caminhos que permitem tomar contacto com insetos. o ambiente dunar e com a praia.

Educação ambiental

A Quinta do Marim, onde funciona a sede do Parque Natural da Ria Formosa, tem um trilho sinali- zado que passa por alguns ambientes caraterísticos desta área protegida (sapal, lagos, salinas, pinhal) e oferece vistas panorâmicas sobre a ria. O circuito in- clui um antigo moinho de maré e ruínas romanas de salga de peixe. No Centro de Educação Ambiental de Marim exibem-se exposições e está disponível informação variada sobre a Ria Formosa. Num outro Acessos edifício da quinta funciona o Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens da Ria Formosa Ludo e Trilho de S. Lourenço: acessos através da (RIAS) dedicado à recuperação de animais selvagens, Quinta do Lago (ponte para a praia), ou a partir da investigação e educação ambiental. Quinta do Eucalipto (estrada de Faro para o aero- porto) seguindo para poente em caminho de terra batida, na direção da Quinta do Lago.

Parque Ribeirinho de Faro: acesso junto à doca de Faro ou na entrada da cidade, junto ao Teatro Municipal.

Praia de Faro: acesso viário a partir da estrada de O mais importante complexo estuarino- A perda de competência dos cursos de água Faro para o aeroporto, seguindo as indicações para -lagunar do barlavento algarvio, a Ria de Alvor, na sequência das obras hidráulicas referidas, a praia. recorta-se na ampla baía arenosa de Lagos. determina a aceleração do assoreamento do Esta zona húmida surge na confluência de corpo lagunar, já que a força dos caudais não Ilha da Barreta (Ilha Deserta): acesso de barco a partir do cais da Porta Nova, em Faro. quatro linhas de água, as ribeiras de Odiáxere é suficiente para arrastar os sedimentos de e Arão a poente, com origem na Serra de Es- origem fluvial até ao mar. Foi neste contexto Moinho de maré da Quinta do Marim. Ilhas do Farol e Culatra: acesso de barco a partir pinhaço de Cão, e as ribeiras do Farelo e Torre que, na década de 90 do século passado, do cais da Porta Nova (em Faro) ou do cais de em- a nascente, que drenam a vertente sul da Serra foram realizadas diversas obras na ria, incluin- Observação de aves barque de Olhão. de Monchique. A área lagunar, com os seus do um projeto de dragagens e a construção lodaçais, bancos de areia e sapais, encontra-se de molhes para fixar a barra. Desastrosamente, Ludo e Quinta do Lago: sítios com espelhos de Quinta do Marim: a partir da EN 125, cerca de 1 km protegida da ação do mar por duas línguas de naquela época os dragados foram deposita- água doce adjacentes aos sapais e esteiros da Ria depois de sair de Olhão em direção a Tavira, virar à areia, a Praia de Alvor a nascente e a Meia- dos sobre dunas e sapais, tendo-se destruído que atraem uma grande diversidade de aves. direita e seguir a indicação do Parque Natural da Ria Formosa -Praia a poente, as quais sustêm robustos o valor ecológico de uma parcela razoável de Salinas das Quatro Águas (Tavira): na estrada de cordões dunares. A comunicação com o mar habitats naquela zona húmida. Nos últimos acesso ao cais de embarque para a Ilha de Tavira Quatro Águas e Arraial Ferreira Neto: em Tavira estabelece-se através de uma barra que se anos os locais afetados têm sido alvo de diver- observam-se salinas ativas nas várias fases de extra- seguir as indicações até à foz do Rio Gilão; na mar- encontra estabilizada por molhes, sendo a sas ações de recuperação e renaturalização, ção do sal marinho. As salinas abandonadas, parcial gem direita deste rio (Quatro Águas) ou na margem influência oceânica significativa, o que se deve com resultados satisfatórios tanto nos sapais ou totalmente colonizadas por vegetação de sapal, esquerda (Arraial Ferreira Neto / Hotel Albacora). não só ao regime de tipo torrencial destas ri- como nas dunas. são um habitat atrativo para aves aquáticas. Outros beiras, mas também à redução dos caudais de locais privilegiados para observar aves são a área Santa Luzia: no troço entre a Luz de Tavira e Tavira água provocada pela construção da barragem Apesar da crescente pressão turística e do Arraial Ferreira Neto (Tavira), a Praia de Faro da EN 125, seguir as indicações para Pedras d’El Rei; (barrinha) e o Parque Ribeirinho de Faro ou ainda junto à ria seguir para nascente durante 1 km. da Bravura e do dique da Penina. urbanística, a envolvente da Ria de Alvor man- Santa Luzia. tém baixa densidade de construção, conser-

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vando as suas potencialidades naturais e uma das à Ria de Alvor, a pesca e o cultivo e apanha boa qualidade de paisagem, a qual é essen- de moluscos (dedicada essencialmente aos cialmente marcada pelas matizes do plano de bivalves: amêijoa, berbigão e lambujinha), água e da mancha verde que percorre sapais, confirmam a elevada produtividade da zona dunas, arribas e campos agrícolas. húmida, bem como o seu interesse sócio- -económico. A salinicultura foi desde o século À semelhança da Ria Formosa, esta zona XVI uma atividade tradicional, embora a sua húmida encontra-se classificada como Zona importância e intensidade de exploração Húmida de Importância Internacional (Sítio tenham variado ao longo do tempo. Hoje em Ramsar, desde 1996), integrando também dia as salinas encontram-se em grande parte a Lista Nacional de Sítios da Rede Natura abandonadas, tendo algumas sido converti- 2000 (Sítio Ria do Alvor). Apesar de ser uma Limoniastrum monopetalum é uma planta mediterrânica das em tanques onde se cultiva a dourada, o Abibe, uma limícola invernante que utiliza os prados e zona relativamente pequena no âmbito da cuja distribuição em Portugal se restringe aos sapais altos robalo e o linguado. campos agrícolas para se alimentar. Rede Natura 2000 em Portugal, o seu valor do Algarve. intrínseco em termos de biodiversidade é con- Sendo um espaço naturalmente propício ao sensual, considerando-se notável a diversidade crescimento de peixe jovem e de larvas de de habitats que se concentra em apenas crustáceos e moluscos, a heterogeneidade do 1.700 hectares, área que compreende planos Sítio proporciona ainda a ocorrência de grande de água, dunas, bancos de vasa, sapais e diversidade de aves, encontrando-se aqui salinas, bem como as penínsulas da Quinta espécies típicas de estuários e sapais, espécies da Rocha e da Abicada com os seus matos, marinhas, e aves associadas ao uso agrícola, as bosques, campos agrícolas e pastagens. quais utilizam as largas extensões (cerca de um terço da área) de culturas hortícolas, pomares Notabilizam-se aqui os diversos habitats de de regadio e citrinos, pomares de sequeiro salgados, com as suas formações típicas de com amendoeiras e figueiras, e pastagens. baixo, médio e alto sapal, juncais halófilos, ve- Borrelho-grande-de-coleira. Comum nos estuários e salinas. getação vivaz anual de sapais secos e salinas, Apesar da sua pequena dimensão, esta zona áreas com condições hipersalinas (onde se húmida exibe um elenco de espécies marinhas verifica ascensão de sais por capilaridade) e e costeiras similar ao da Ria Formosa. A zona áreas de transição para habitats ribeirinhos dunar é o local de nidificação da andorinha- onde a salinidade se atenua. Apesar da vege- -do-mar-anã, do borrelho-de-coleira-inter- tação de sapal ter surgido secundariamente rompida e da cotovia-de-poupa, enquanto ao cultivo de arroz que ocupou outrora largas que na zona lagunar e sapais alimentam-se extensões da zona húmida, as plantas que ou repousam gaivotas, limícolas, flamingos e agora se elencam nos habitats de sapal indi- Juncal de junco-agudo, frequente no litoral em terrenos garças. cam um grau adequado de maturidade das salgados ou salobros. comunidades e atestam a sua capacidade de Nos campos agrícolas e pastos adjacentes à recuperação. zona húmida é comum a presença de bandos de pintassilgos e verdelhões, entre outros Canal e sapal alto na foz da ribeira da Torre, um dos afluen- A vegetação do sapal alto conta ainda com passeriformes. O mocho-galego, a pega-azul tes da Ria de Alvor. uma espécie endémica da península Ibérica, ou o melro estão presentes nestes espaços o Limonium ovalifolium; nos matos litorais humanizados, assim como a garça-boieira mariposas e borboletas e 200 espécies de envolventes podem ser observados dois que se alimenta de insetos transportados ou coleópteros. Esta diversidade de insetos de- endemismos lusitanos de distribuição restrita, afugentados pelos rebanhos de gado que por verá ser um chamariz para alguns morcegos, a delicada Linaria algarviana e o aromático aqui pastam. como é o caso do morcego-de-ferradura- tomilho-do-mar. -pequeno, uma espécie que é frequentemente Este é também um ambiente rico em insetos, vista a caçar sobre espelhos de água. As atividades humanas tradicionalmente liga- tendo-se registado mais de 500 espécies de Sarcocornia fruticosa, planta comum no sapal médio.

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Atividades Educação ambiental A associação “A Rocha” promove ações de educação ambiental ligadas à divulgação dos valores naturais Caminhadas da ria. Demonstração de anilhagem de aves ou ob- Estuário do Arade servação e identificação de aves, plantas, mariposas Existem dois percursos sinalizados na Ria de Alvor: e outros invertebrados, são algumas das atividades Rocha Delicada: inicia-se na Mexilhoeira Grande propostas. e percorre a área genericamente designada por Quinta da Rocha. Para além da observação dos Viagem ao passado no sítio arqueológico Monu- diversos habitats que compõem a zona húmida e mentos Megalíticos de Alcalar; um centro de aco- da fauna a eles associada, é ainda possível visitar lhimento e interpretação permite visitar uma aldeia o Centro de Estudos e Observação da Natureza, do III milénio a.C., a qual terá sido um importante localizado na Cruzinha, criado pela organização não centro urbano de um território que incluiria povoa- governamental de ambiente “A Rocha”. ções desde as margens da Ria do Alvor até às faldas de Monchique. Os vestígios encontrados eviden- ciam a dependência alimentar destas populações em relação aos recursos biológicos do ambiente lagunar.

Desportos náuticos As águas lagunares prestam-se à prática da canoa- gem, remo, vela e windsurf; para o efeito pode ser contactada a Associação Desportiva e Cultural de Portimão ou a Associação Regional de Canoagem do Algarve. Caminho sobre muro de terra no percurso “Rocha Delicada”.

Ao Sabor da Maré: tem início na zona ribeirinha da Acessos vila de Alvor e percorre a península da Praia do Alvor Trata-se de um estuário de modesta dimensão cas do rio e das ribeiras afluentes a ocupação oferecendo aos visitantes vistas panorâmicas, tanto Península da Quinta da Rocha: o acesso faz-se que recebe água do Rio Arade e das ribeiras demográfica é baixa, estando associada ao sobre a praia e linha de costa, como sobre os sapais através da estação de caminho de ferro da Mexi- de Odelouca e de Boina. O Rio Arade, outrora turismo e à agricultura. e restantes ambientes lagunares, sempre com a lhoeira Grande, percorrendo a estrada que daí parte navegável até Silves e historicamente ligado Serra de Monchique em pano de fundo. na direção sul. àquela que foi a capital comercial e cultural do Apesar de todo o estuário estar classificado Algarve durante a presença árabe, é o curso como Zona Húmida de Importância Interna- Praia de Alvor: o acesso faz-se a partir da zona ribei- de água mais importante do Sul depois do cional (Sítio Ramsar), devido ao seu complexo rinha de Alvor, seguindo as indicações para a praia. Guadiana. No entanto, tanto o Rio Arade como de sapais e esteiros de grande importância Península da Abicada: o acesso é feito a partir da as ribeiras afluentes são pouco caudalosos, o ecológica, o SIC Arade-Odelouca (Sítio de Im- EN 125, na proximidade da povoação de Figueira, que se deve sobretudo às condições climáti- portância Comunitária da Rede Natura 2000) seguindo as indicações para a Abicada. cas e hidrológicas da região, mas também à desenvolve-se ao longo dos troços terminais retenção da água pelas barragens do Funcho, do Rio Arade e Ribeira de Odelouca, excluindo Monumentos Megalíticos de Alcalar: acesso na Arade e Odelouca. porém a área da foz onde se concentra a EN 125 a cerca de 5 km da Mexilhoeira Grande, ocupação humana. A classificação deste Sítio tomando a estrada que segue da Penina para a Sr.ª A margem oeste do estuário encontra-se prende-se com a necessidade de reconheci- de Verde. Estrutura em madeira (passadiços e local de estadia) no ocupada pela cidade de Portimão, que vê a mento, proteção e valorização de um conjunto percurso “Ao Sabor da Maré”. sua população duplicar durante o verão. Já no interessante de ambientes que se diversificam interior do estuário existe uma marina, uma es- de montante para jusante, à medida que a Contemplar tação de tratamento de águas residuais e está influência oceânica se vai fazendo notar. A paisagem na península da Abicada, ao mesmo instalado um dos principais portos de pesca tempo que se visitam as ruínas da Vila Romana da da região. A pressão urbana é moderada, con- A montante dominam os vales muito en- Abicada, uma povoação que teria na salga de peixe centrando-se no troço terminal do estuário, caixados revestidos por bosques ribeirinhos a sua principal atividade económica. enquanto que ao longo das bacias hidrográfi- serranos; à medida que os cursos de água

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caminham para sul os vales alargam e ganham alguns flamingos. Os lodaçais adjacentes nor- Os moinhos de maré do Arade Desportos náuticos e passeios fluviais: é possível dimensão, estendendo-se em planícies de malmente concentram gaivotas em grande fazer canoagem, vela e windsurf no Rio Arade, bem inundação pontuadas por lodaçais, sapais, número e algumas limícolas como o borrelho- como subir o rio até Silves; podem ser consultadas prados salgados e bancos de areia, onde se -grande-de-coleira, a tarambola-cinzenta, o para o efeito as associações desportivas em Por- timão e Lagoa, a Associação Regional de Canoagem maçarico-galego ou o maçarico-das-rochas. intercalam zonas agrícolas. No seu troço final, do Algarve, o Clube Náutico do Arade, ou o Clube este estuário forma largas centenas de hecta- Naval de Portimão. res de sapais e salgados alagadiços, rodeados Estão registadas 88 espécies de peixes para a por colinas suaves onde crescem matos foz do Arade. Algumas das mais abundantes Educação Ambiental: o Parque Municipal do Sítio mediterrânicos. são o caboz-da-areia, o peixe-rei, a safia, o das Fontes oferece um leque variado e acessível a caboz-negro, a língua-de-gato, a sardinha e o todas as idades de atividades relacionadas com a Na margem esquerda do rio Arade, as nascen- sargo. Trata-se também de um estuário onde descoberta do meio e dos valores naturais, bem tes de água doce de Estômbar contribuem se capturam peixes com elevado interesse como do património cultural do Rio Arade. para diversificação dos habitats estuarinos, comercial como o salmonete, os linguados, o alternando as manchas de sapal com zonas rodovalho, o robalo, o sargo ou a dourada. As nascentes de água de Estômbar encontram- palustres, linhas de água doce e uma lagoa se hoje inseridas no Parque Municipal do Sítio temporária. Estas nascentes localizam-se no Algumas colónias de espécies de morcegos das Fontes, criado pelo Município de Lagoa com extremo poente do maior aquífero do Algarve, com estatuto de ameaça encontram abrigo os objetivos de promover ações de educação conhecido por aquífero de Querença-Silves, nas grutas abertas em calcários do Jurássico, ambiental e a divulgação do património históri- co-cultural ligado ao rio Arade. Junto às nascen- e constituem a par com as nascentes da situadas na margem nascente do Rio Arade. tes foi recuperado um dos muitos moinhos de Benémola (Querença) uma das saídas mais Estas grutas revelam vestígios arqueológicos maré que existiram outrora entre Portimão e caudalosas desta reserva de água subterrânea. de ocupação humana desde o Paleolítico até à Silves, incluindo a caldeira e a casa do moleiro, época medieval; a de maior dimensão encon- podendo o moinho ser observado a trabalhar. Nos vários complexos de salinas do estuário é tra-se ocupada por um lago pouco profundo Os vestígios de cerca de duas dezenas de possível observar-se o pernilongo e por vezes cujo nível é influenciado pela maré. moinhos de maré que se encontram nas margens do Arade evidenciam a importância que tiveram estes engenhos hidráulicos para a economia local desde tempos remotos, sendo feita referência a um deles no Livro do Almoxari- fado de Silves (século XV). Estes engenhos eram construídos nos estuários dos rios em terrenos baixos, aproveitando áreas abrigadas que permi- Percurso pedestre do Parque Municipal do Sítio das Fontes. tissem represar as águas. As duas marés diárias, uma fonte de energia constante e previsível, garantiam cerca de quatro horas de moagem, Acessos sendo a farinha e restantes matérias-primas normalmente transportadas por via fluvial. Salinas: na Mexilhoeira da Carregação, seguir pela rua das Marinhas até encontrar as salinas.

Parque Municipal do Sítio das Fontes: em Estôm- Atividades bar (Lagoa), seguir pela estrada intermunicipal Estômbar-Silves, na direção de Silves, até que surja a Observação de aves: embora sem percursos sinali- sinalização para o Parque. zados, passear ao longo das salinas da Mexilhoeira da Carregação e do Parchal permite observar aves aquáticas que percorrem os tanques das salinas e os lodaçais a descoberto na maré-baixa em busca de alimento.

Observação de libélulas e libelinhas: o Sítio das Fontes é considerado um hot-spot para observação Braço de rio na proximidade do Sítio das Fontes. destes insetos.

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Paul de Budens Foz da Ribeira de Bensafrim Pauis, Caniçais e Lagoas Costeiras (Vila do Bispo) (Lagos) Perto da foz, na Praia da Boca do Rio, o vale O barlavento meridional encontra-se pontua- Estas pequenas zonas húmidas desenvolvem- onde corre a Ribeira de Budens torna-se do por zonas húmidas de modesta dimensão -se no troço terminal de ribeiras de regime amplo e as águas alagam os solos de aluvião as quais, no seu conjunto, compõem um torrencial, formando planícies inundáveis de revestidos por densa vegetação palustre onde corredor ecológico percorrido sobretudo água doce ou salobra. Consoante o estado de abundam o caniço, a tabúa e diversas espécies pela avifauna. São na verdade essenciais para colmatação das suas barras, a comunicação de ciperáceas e juncáceas. A água no paul é algumas espécies por oferecerem um leque com o mar pode variar entre permanente, essencialmente doce e a paisagem verde- variado de ambientes salgados, salobros e de esporádica ou ausente, dando origem a am- -tenra da planície aluvionar contrasta com água doce. As aves aquáticas, em particular bientes diversos. os tons escuros e densos dos matos xerófilos ralídeos, garças, mergulhões e patos, ou os (adaptados à secura) das encostas envolven- passeriformes migradores, beneficiam muito De entre a dezena de pequenas zonas húmi- tes. O paul está separado do mar por uma destes espaços, bem como a lontra que, das que ocorrem na faixa costeira sul, as que barreira de calhaus a qual impede a entrada embora explore os recursos existentes na Ria se descrevem neste capítulo podem de água salgada durante grande parte do ano. Formosa, na Ria de Alvor ou no sapal de Castro considerar-se as mais expressivas, quer pela Marim, necessita, ainda assim, de planos de sua dimensão relativa, quer pelos valores Outrora chamado de Paul da Lontreira pela Cegonha-branca a alimentar-se no sapal. água doce adjacentes. naturais em presença. presença regular da lontra, este antigo arrozal é ainda pouco conhecido em termos biológi- Esta zona húmida, alimentada pelo caudal sa- cos apesar do seu interesse natural. O Paul zonal da Ribeira de Bensafrim e por nascentes de Budens, que se estende por cerca de 130 de água doce, e inundada periodicamente hectares, acolhe a nidificação de muitas aves pelas marés, abrange uma área de quase 300 aquáticas como o garçote, a garça-vermelha, hectares. A sua hidrologia foi profundamente ou o rouxinol-grande-dos-caniços, sendo tam- intervencionada no século XV tendo em vista bém um local privilegiado para observação o aproveitamento agrícola dos terrenos e a de cágados e libélulas. Algumas parcelas do dessalinização das águas da ribeira. As estru- paul são atualmente drenadas para dar lugar a turas destinadas à drenagem e irrigação dos pastagens de gado bovino, tendo-se aumen- terrenos mantêm-se até hoje. Recentemente, tado por esta via a diversidade estrutural da outros usos foram alterando este sistema zona húmida. estuarino: após o decréscimo da atividade agrí- cola que se limita agora a pequenas hortas e a uma exploração agropecuária, foi construída a Marina de Lagos e um aeródromo surgiu no aterro resultante das terras sobrantes da construção da marina; foi ainda instalada uma estação de tratamento de águas residuais.

Apesar destas alterações, a vegetação de sapal e o complexo de canais que irriga a planície aluvionar atraem inúmeras aves, bem como répteis e insetos (sobretudo borboletas e libé- lulas). O pernilongo e a exótica borboleta- -monarca tornaram-se espécies emblemáticas desta zona húmida. Outras espécies como a O garçote é uma pequena garça que habita em zonas húmidas com abundante vegetação emergente como o caniço e a cegonha ou a garça-branca, que procriam na tabúa. Esta é uma das espécies que inverna em África, regressando no verão para nidificar. Terrenos alagadiços no Paul de Budens. zona de Lagos, alimentam-se nestes sapais durante todo o ano.

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Lagoa dos Salgados Caniçal de Vilamoura (Silves e Albufeira) (Loulé)

Trata-se de uma lagoa costeira, a par das mais palustres, se pudessem estabelecer neste O caniçal de Vilamoura, integrado no Parque nacional de camão, que tem aqui um impor- lagoas do Almargem e das Dunas Douradas local. Ambiental de Vilamoura (PAV) é porventura tante núcleo reprodutor. Até há poucos anos, (em Loulé), e desenvolve-se no troço terminal a maior mancha contínua de caniçal no a garça-vermelha e a águia-sapeira nidificavam das ribeiras de Espiche e de Vale Rabelho, ocu- Classificada como IBA* (área importante para sul de Portugal, com cerca de 29 hectares. no interior do caniçal, enquanto que nos lagos pando uma depressão de cerca de 150 hecta- as aves) pela BirdLife International / SPEA, a Desenvolve-se no troço terminal da ribeira de artificiais (dos golfes e do PAV) nidificam o res. A comunicação com o mar é esporádica Lagoa dos Salgados assume-se no contexto Quarteira, em solos de aluvião que em tempos mergulhão-pequeno, o galeirão, a galinha-de- e estabelece-se em períodos de precipitação algarvio como local privilegiado para observa- foram agricultados. Nos anos 70 do século -água, o rouxinol, o guarda-rios, o pato-real ou intensa, ao romper-se a barreira arenosa que ção da avifauna aquática, ao acolher regular- passado foi construída a Marina de Vilamoura, o garçote. Nestes lagos e na Ribeira de Quar- isola a lagoa do mar. À semelhança do que mente mais de 5.000 aves aquáticas perten- a qual veio ocupar o intertidal desta zona teira podem encontrar-se sobretudo enguias e aconteceu noutras zonas húmidas, parte da centes a mais de 60 espécies. Trata-se de um húmida. Apesar da pressão urbana e turística tainhas, presas muito apreciadas por lontras e planície inundável foi drenada e agricultada dos sítios mais relevantes para nidificação de da área envolvente, o caniçal de Vilamoura garças ou pelo corvo-marinho-de-faces-bran- até meados do século XX. Após abandono camão, de pernilongo ou de garça-vermelha mantém elevado interesse biológico e cas, e ainda pelas ocasionais águias-pesqueiras desses terrenos agrícolas, área considerável da e o único local, a nível nacional, de nidificação ecológico, em parte devido à sua heterogenei- que por aqui passam nas migrações. lagoa foi aterrada, neste caso para construção confirmada de pêrra, um pato que tem o seu dade estrutural: os campos agrícolas rema- de um campo de aviação e, mais tarde, de um local de nidificação mais próximo em Doñana nescentes e os relvados e canais de drenagem campo de golfe. A entrada de água através (Andaluzia). É o local de invernada para o do campo de golfe dispõem-se em mosaico de duas estações de tratamento de água colhereiro, o flamingo e patos e ralídeos, entre na envolvente do sistema aquático, constitu- residual veio alterar profundamente o regime outros. A esta riqueza biológica não será alheia indo áreas suplementares de alimento para a hidrológico da lagoa, ao manter constante a envolvente tranquila da lagoa, ocupada por avifauna. um caudal que, naturalmente, seria sazonal. relvados de um campo de golfe e por vasta Embora tenham surgido problemas de eu- extensão de pomares de sequeiro que se O caniçal e lagos de Vilamoura, juntamente trofização na lagoa, parecem ter sido criadas estendem para ponte até ao sapal da ribeira com a lagoa dos Salgados, os lagos da Quinta condições para que outras espécies de aves, de Alcantarilha. do Lago e o Ludo, formam um conjunto de para além das limícolas e com preferências zonas húmidas essenciais para a população Lago de água doce criado no PAV. * As IBA são zonas com significado internacional para a conservação de aves à escala global e constituem uma rede de áreas classificadas pela BirdLife Internacional. 56 57 Litoral Sul

Atividades Caminhadas Sistemas Dunares e Pinhais Paul de Budens: é possível caminhar ao longo do vale percorrendo um troço da Ecovia do Litoral, e subir depois até ao Forte de Almadena, no topo da encosta da margem nascente da ribeira. Este forte foi construído no século XVII para proteger a armação de atum (almadrava) que existia ao largo da Boca do Rio de ataques de piratas. Gado bovino na várzea da ribeira de Budens. Acessos Lagoa dos Salgados: existe um percurso sinalizado, denominado Percurso de Interpretação da Praia Paul de Budens: acesso através da povoação de Grande que percorre os campos agrícolas e dunares Budens, em Vila do Bispo, seguindo na direção da desde o sapal de Alcantarilha até à Lagoa dos Salga- Praia da Boca do Rio. dos, contornando toda a sua margem sul e dando acesso ao observatório de fauna e flora. Ribeira de Bensafrim: acesso a partir de Lagos seguindo pela EN 120 em direção a Bensafrim; Caniçal de Vilamoura: o Parque Ambiental de atravessar a aldeia de Portelas e virar na primeira via Vilamoura, com uma área de 200 hectares, tem um à direita após sair da povoação. percurso sinalizado que permite ao visitante passar pelos principais pontos de interesse natural deste Lagoa dos Salgados e Praia Grande: acessos através espaço protegido. O percurso utiliza os caminhos das povoações de Pêra (Silves) ou de Vale de Parra agrícolas que passam perto da margem da ribeira (Albufeira), seguindo na direção da Praia Grande ou de Quarteira e em torno dos campos agrícolas e da Praia dos Salgados. do caniçal. Os dois lagos, criados no âmbito deste projeto de valorização ambiental do empreendi- Caniçal de Vilamoura: em Vilamoura, acesso através Duna com cravo-das-areias (florido). mento de Vilamoura, são locais privilegiados para a da Estrada de Albufeira. O PAV fica na proximidade observação da fauna. do Colégio Internacional de Vilamoura. O litoral arenoso está presente de forma As comunidades biológicas destes sistemas pontual no barlavento algarvio, ganhando ex- arenosos apresentam uma sequência típica, Lagoa do Almargem: acesso através da povoação da Fonte Santa (Quarteira), seguindo na direção da pressão nas baías de Lagos e de Armação de devido à rápida variação das condições do Praia do Cavalo Preto ou da foz do Almargem. Pêra. A partir do Ancão (Loulé), a costa baixa meio desde a praia até ao interior das dunas, e arenosa estende-se de forma contínua até à e são comuns à generalidade dos sistemas Lagoa das Dunas Douradas: acesso através da fronteira, na foz do Guadiana, embora desigual dunares da costa portuguesa, à exceção de urbanização turística Dunas Douradas (Vale do Gar- na paisagem e em ambientes. Entre o Ancão algumas particularidades de flora ou fauna, rão, Loulé), seguindo na direção da Praia das Dunas e a Manta Rota, locais de enraizamento dos como é exemplo o tomilho-das-praias, uma Douradas. cordões arenosos da Ria Formosa, as dunas planta aromática e condimentar que cresce desenvolvem-se nas ilhas barreira, contac- nas dunas fixas da Ria Formosa. Com efeito, tando com os sapais do ambiente lagunar as duras condições ambientais das dunas na vertente continental das mesmas. Já para (vento, salinidade e insolação elevadas, secura, Acesso a observatório de aves do Parque Ambiental de nascente da Manta Rota, as dunas enquadram escassez de nutrientes e mobilidade de areias) Vilamoura. extensas praias e propagam-se naturalmente implicam que um elenco reduzido de organis- para o interior, dando origem a habitats mais mos possa colonizar este meio; as espécies du- Observação de aves estabilizados e nalguns casos florestais. O nares revelam notável valor ecológico, sendo Paul de Budens, Ribeira de Bensafrim, Lagoa dos litoral do sotavento tende a acumular sedi- exclusivas destes habitats e apresentando Salgados, Lagoa do Almargem, Lagoa das Dunas mentos e os cordões dunares tornam-se mais extraordinário grau de especialização. Douradas e Caniçal de Vilamoura. Nos Salgados, Lagoa das Dunas Douradas. robustos à medida que se caminha para a foz Dunas Douradas e Vilamoura existem observatórios Praias do Garrão, Ancão e Quinta do Lago: acessos do Guadiana, com relevo para a ampla área de de aves. a partir de Almansil, seguindo as indicações para as pinhal entre Monte Gordo e Vila Real de Santo praias. António.

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De modo semelhante em todos os sistemas encontram-se áreas consideráveis de pinhal dunares do Algarve, a colonização das areias litoral, em Faro de pinheiro-manso, a oriente inicia-se junto à linha da preia-mar, onde a de pinheiro-bravo. Tal como acontece com maré deposita matéria orgânica essencial para a generalidade da mancha florestal do país, o crescimento de plantas pioneiras como a estas áreas foram abrangidas pelo esforço de eruca-marítima e a barrilha-espinhosa. Logo florestação realizado na viragem do século atrás surge o feno-do-mar, planta que forma XX, após se ter atingido um assustador valor pradarias onde a areia fica retida. Após algum mínimo de arborização no território nacional tempo surgem plantas como a cordeirinho- em meados do século XIX. Tradicionalmente -das-praias e a couve-marinha, e a duna vai utilizados na estabilização de sistemas crescendo até formar cristas dunares (dunas costeiros, em particular das areias, os pinhais PG primárias) colonizadas pelo estorno, cujas Estorno cumprem uma outra importante função, so- Alcar-dos-algarves, uma das mais raras espécies do sotaven- longas raízes conferem estrutura à duna e bretudo no contexto do elevado grau de ocu- to algarvio, considerada em perigo de extinção. O pinhal do Ludo é a área mais importante de ocorrência desta espécie, permitem o seu crescimento em altura. Estas pação humana do litoral algarvio, constituindo albergando cerca de 90% da sua população. cristas estão ainda sujeitas à influência oceâni- o único ambiente terrestre capaz de funcionar ca e formam cordões de grande mobilidade, eficazmente como ilha ecológica, na qual se paralelos à linha de costa. Na duna secundária, refugiam espécies de fauna e flora, como a que se desenvolve a partir da vertente conti- alcar-dos-algarves, o tomilho-cabeçudo ou o nental da crista dunar, há mais humidade e a camaleão. influência marinha atenua-se, surgindo plantas como a luzerna, a granza-marítima ou a perpé- Em Faro, os pinhais do Montenegro e do Ludo tua-das-areias que perfuma as dunas com um possuem grande heterogeneidade ambien- intenso cheiro a caril. tal, ocupando um enclave bioclimático mais Couve-marinha húmido e de solos ácidos, onde domina o Nas penínsulas do Alvor, Ancão e Manta Rota, pinheiro-manso acompanhado de espécies e nas ilhas-barreira, a sucessão da vegeta- de exceção na costa sul como o sobreiro ou ção na duna secundária regressa às plantas o medronheiro, e ainda de pinheiro-bravo. O pioneiras nitrófilas (como a eruca-marítima), já que o contacto se faz com o ambiente de sapal onde existe grande disponibilidade de matéria orgânica, evoluindo depois para a normal vegetação de salgados. Noutros locais, as dunas vão evoluindo para habitats mais estáveis, como é o caso do retamal seguido de pinhal em Vila Real de Santo António.

Sendo habitats de transição, as dunas prestam Cordeirinho-das-praias vários serviços em termos de proteção ao Após fogo florestal no pinhal de Montenegro, sobrevivem litoral: funcionam como reservas de areia os sobreiros, protegidos pelo sobro que reveste o tronco. para a alimentação de praias e em épocas de sub-coberto destes bosques encontra-se bem tempestade dificultam a progressão do mar e conservado em muitos locais. Esta mancha flo- das areias para o interior. Nos sistemas estua- restal proporciona proteção à extrema poente rino-lagunares, são os cordões arenosos bem da Ria Formosa, resguardando-a da ocupação conservados que asseguram a manutenção do humana da periferia de Faro, constituindo espaço lagunar. ainda área de repouso e abrigo para algumas aves, sobretudo rapinas, na época da migra- Entre Quarteira e Faro e em Vila Real de Santo O açafrão-bravo, planta efémera e delicada, é uma das ção. Os pinhais são utilizados por aves típicas António, sobre solos arenosos ou margosos, muitas bulbosas que crescem nas clareiras do pinhal. de bosque, como a trepadeira, os pica-paus Tomilho-das-praias

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e os chapins, assim como por espécies mais pinheiro-bravo surge no prolongamento da stroem os seus ninhos e pelo indumento urti- ubíquas como a pega-azul, a rola-brava ou a duna secundária, observando-se atualmente cante que provoca alergias cutâneas, oculares rola-turca. que o sub-bosque do pinhal consiste numa e respiratórias. Na verdade, esta lagarta é uma comunidade bem estruturada e estabilizada das fases de desenvolvimento da borboleta Perto da foz do Guadiana, a Mata Nacional das onde dominam a retama, a camarinha e o Thaumetopoea pityocampa, e é na primavera Dunas de Vila Real de Santo António foi flo- zimbro. que as lagartas saem dos ninhos em procissão restada em inícios do século XX com árvores para o solo (daí o seu nome). Os principais trazidas do Pinhal de Leiria e com a finalidade Uma das espécies mais interessantes da fauna predadores naturais desta lagarta são os de proteger Vila Real de Santo António da algarvia é o camaleão. Este réptil foi mencio- chapins, como o chapim-real ou o chapim- invasão das areias. Esta ampla mancha de nado pela primeira vez como existente na -azul, duas espécies que utilizam cavidades Península Ibérica por Lineu* no século XVIII. em pinheiros velhos para construir os seus A população ibérica de camaleão terá tido ninhos. origem nas populações de Marrocos, resul- Lagarta-do-pinheiro tando de colonização natural ou mediada pelo homem nos últimos séculos. A Mata Nacional de Vila Real de Santo António parece ser a zona com maior densidade de indivíduos e onde as capacidades de mimetismo o tornam difícil de observar, em particular nas ramagens de arbustos como a retama, à qual o camaleão preferencialmente se associa. Este arbusto cobre parte significativa das areias deste local, sendo também uma das plantas mais típicas dos solos arenosos da costa norte-africana, habitat original do camaleão.

De entre os variados insetos que habitam os pinhais, a processionária ou lagarta-do-pin- heiro é das mais conhecidas e temidas, pelos danos causados aos pinheiros onde con-

Palmeira-anã, uma das plantas arbustivas típicas do sub-bosque dos pinhais litorais.

A invasão do chorão (Carpobrotus edullis) Pinheiros-bravos no pinhal de Monte Gordo. Espécie exótica, originária da África do Sul. Tolera solos moderadamente salgados e de- senvolve-se bem quer em zonas secas quer húmidas. Plantada originalmente para fins ornamentais e com o objetivo de fixar dunas e taludes, esta herbácea tem um crescimen- to vigoroso o que leva à formação de tapetes monoespecíficos que impedem o enraiza- mento da vegetação nativa. Por esse motivo, tornou-se um importante fator na redução da biodiversidade, em particular no litoral. O seu controlo é possível e desejável como demonstram alguns projetos de erradicação executados na Península Ibérica. Camaleão Retama Invasão de chorão no pinhal da Quinta do Lago. * Carl von Linné (Carlos Lineu como é referido em português), foi um botânico, zoólogo e médico sueco que, entre outras obras científicas e literárias, concebeu um sistema de classificação das espécies que foi precursor da atual nomenclatura binomial, habitualmente designado como 62 o nome científico (ver lista das espécies citadas). 63 Litoral Sul

Atividades Nas restantes praias é necessário fazer a travessia de barco do espaço lagunar para alcançar os cordões arenosos das ilhas-barreira. Destaca-se a Ilha Deserta Caminhadas pela quase ausência de edificação na ilha, escassa Nos locais que se listam, uma rede de caminhos e Arribas do Algarve Central presença humana e bom estado de conservação das passadiços sobrelevados permite observar a riqueza comunidades biológicas. biológica das dunas, a transição da vegetação para o ambiente de sapal (no caso das rias) ou para os Mata Nacional de Vila Real de Santo António: o matos e pinhais costeiros (Garrão-Ancão, Monte acesso à frente de mar (Praia dos Três Pauzinhos) faz- Gordo e Vila Real de St.º António): -se através de um caminho pedonal e ciclável com cerca de 1.500 m, onde também pode circular um Ria de Alvor: caminho de acesso ao molhe poente comboio turístico na época de veraneio. da Ria; ao longo deste percurso de cerca de 1.300 m que percorre a retaguarda do sistema dunar, Trilho do Camaleão: percurso de 5 km, sinalizado, oferece-se a paisagem aberta do sistema lagunar que percorre transversalmente a Mata Nacional. enquadrada pela serra de Monchique a norte e pela Interessante local para observar passeriformes península da Rocha a nascente. florestais e o camaleão. Na praia do Alvor os visitantes têm acesso a um circuito de caminhos e passadiços sobrelevados a longo do amplo sistema dunar. Acessos Praia Grande: o acesso para a Praia Grande faz-se por um passadiço sobrelevado que atravessa cerca Ria de Alvor (molhe poente): a partir da Meia Praia de 300 m de cordão dunar. Aqui observa-se interes- ou de Odiáxere, seguindo na direção do Campo sante afloramento de eolianitos (rocha formada de Golfe Palmares. Um caminho de terra batida dá por areias transportadas pelo vento e agregadas acesso a um dique sobre a laguna e ao molhe. por cimento carbonatado); trata-se de uma duna fóssil com cerca de 4.000 anos que aflora de forma Praia do Alvor: seguir as indicações para a praia na dispersa no campo dunar. localidade do Alvor.

Ria Formosa: passadiços de acesso às praias do Praia Grande: a partir da povoação de Pêra, seguir Garrão e do Ancão sobre dunas (percurso com cerca na direção sudeste até à rotunda onde a praia está de 200 m). sinalizada. Formas cársicas - leixões, arcos e grutas - na praia da Marinha. Passadiços que ligam a Quinta do Lago (Loulé) e a urbanização Pedras d’El Rei (Tavira) às respetivas Praias do Garrão, Ancão e Quinta do Lago: acessos a partir de Almancil, seguindo as indicações para as O litoral rochoso entre Porto de Mós e Olhos dando origem a uma complexa rede de poços praias, atravessando área lagunar e dunas: percurso de Água exibe uma linha irregular de arribas e galerias por onde circulam cursos de água com 500 m na Quinta do Lago e percurso com praias. talhadas em rochas carbonatadas, com idade subterrâneos no seu caminho até ao mar. 1.500 m no Barril. Ilha Deserta: acesso de barco a partir do Cais da estimada entre os 24 e os 16 milhões de Porta Nova, em Faro. anos (Miocénico Inferior). São cerca de 50 km A conjugação entre a carsificação e a erosão de linha de costa que constituem o cartaz marinha resulta na modelação de diversas Praia do Barril: no troço entre a Luz de Tavira e Tavira turístico mais divulgado das praias algarvias: formações rochosas e do típico perfil rendi- da EN 125, seguir as indicações para Pedras d’El Rei. pequenas enseadas encaixadas entre arribas lhado deste litoral, sendo comuns os algares Praia dos Três Pauzinhos: na EN 125, junto ao com- muito recortadas e de cores quentes. (poços naturais), os arcos e as grutas, e ainda plexo desportivo de Vila Real de St.º António, seguir os leixões (ilhotas), núcleos rochosos mais as indicações para a praia. As rochas carbonatadas destas arribas são vul- resistentes à erosão que com o tempo se neráveis ao contacto com a água doce e facil- destacam da linha de costa. O resultado é Trilho do Camaleão: acesso pela EN 125. Percurso mente esculpidas por esta, dando origem ao uma paisagem sinuosa e fascinante, onde a linear com pontos de partida no parque de estacio- que se designa por paisagem cársica. O termo cada passo se descobrem relevos curiosos namento da Aldeia Nova ou no Centro do Camaleão. carso alude ao relevo resultante da dissolução e miradouros de grande interesse cénico. A da rocha calcária pelas águas superficiais e diversidade de geoformas deste litoral pode Comboio turístico de acesso à praia do Barril. Nota: recomenda-se caminhar apenas sobre os passadiços e subterrâneas; com o progressivo desgaste ser apreciada através de caminhadas ao longo trilhos existentes, evitando o pisoteio e degradação da dunas. da rocha, fendas e cavidades acentuam-se do topo das arribas, sobretudo nos concelhos

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de Lagoa e Lagos. A via marítima (passeios de retaguarda do zimbral pode surgir o pinheiro- barco) é uma forma privilegiada de obser- -de-alepo, um dos pinheiros mais resistentes var o rendilhado das paredes rochosas e de à secura e que consegue colonizar os solos conhecer grutas marinhas onde são comuns pedregosos das arribas calcáreas. efeitos dramáticos de luz e cor. As arribas, intensamente fissuradas e inaces- As arribas são ambientes de fronteira, onde síveis a predadores, apresentam caraterísticas se cruza a influência terrestre e a influência ótimas para a nidificação de aves. Na costa marítima. As condições do meio são muito algarvia, o peneireiro e o falcão-peregrino são agrestes e os organismos que aqui vivem duas espécies que exploram as cavidades na estão bem adaptados ao ambiente seco, rocha, assim como uma das principais presas ventoso e salgado. do falcão-peregrino: o pombo-das-rochas. Esta espécie é uma variedade selvagem dos A vegetação das arribas é condicionada pela pombos encontrados nos jardins urbanos (va- proximidade ao mar, diferenciando-se em riedade doméstica) sendo muito semelhante função do grau de exposição aos ventos a estes. A variedade selvagem ocupa zonas marítimos. Mais exposto, o rebordo das arri- rupícolas com pouca perturbação humana, ali- bas é normalmente colonizado por espécies mentando-se em terrenos agrícolas e campos rasteiras, modeladas pelos ventos fortes abertos próximos. carregados de sal. São exemplo plantas que Matagal de zimbro e carrasco, comunidade vegetal endémica de Portugal que coloniza arribas calcárias a sul do Cabo Mon- também se encontram nos sapais, como a Outras aves, marcadamente marinhas ou dego. Trata-se de uma comunidade relíquia, remontando aos períodos secos e frios do Quaternário. salgadeira. Mais resguardada da influência costeiras, também utilizam as arribas como marítima sucede-se, nas arribas deste troço é o caso de várias espécies de gaivotas com costeiro, uma comunidade arbustiva (zimbral) destaque para a abundância da gaivota-de-pa- A linha de costa em transformação em que dominam o zimbro e o carrasco, tas-amarelas, ou ainda a presença do corvo- acompanhada por plantas típicas do barrocal -marinho-de-crista que aqui nidifica em grutas As arribas, vertentes rochosas expostas algarvio como a palmeira-anã e a aroeira. Na e fendas. à ação da ondulação marítima, são por definição formas em erosão, logo em permanente evolução. A beleza das arribas resulta em grande parte desta condição de mutabilidade, condição essa que determina também o recuo do litoral e a perda de território para o mar. A proteção do património natural e paisagístico das arribas é indissociável da salvaguarda da sua génese e evolução natural, ou seja, da erosão.

O processo de erosão das arribas dá-se através da ocorrência de desmorona- mentos pontuais. Os blocos e detritos provenientes dos desmoronamentos acumulam-se na base das arribas, fornecendo temporariamente proteção relativamente às investidas do mar. Os detritos resultantes constituem ainda uma fonte potencial de sedimentos para alimentar as praias. Os desmoronamentos tendem a concentrar-se durante o inverno, quando as condições de ondulação e precipitação são mais severas. Algar e arco na foz de uma linha de água que desemboca acima do nível do mar. Trata-se de um dos inúmeros vales suspen- sos deste litoral, formado através do recuo rápido da linha de costa não acompanhado pelo entalhe da linha de água.

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Lagos, é possível percorrer a faixa costeira de barco e observar do mar as imponentes e muito trabalhadas paredes rochosas das arribas, bem como as grutas marinhas típicas deste litoral.

Vista de uma zona de estadia do Percurso dos Sete Vales Suspensos: bosque de pinheiro-de-alepo sobre a arriba calcária.

Caminhadas Uma rede de caminhos pedonais no topo das Antigos barcos de pesca são utilizados como transporte arribas permite percorrer dois troços de grande turístico em zonas próximas da costa. interesse cénico. Ponta da Piedade (Lagos): partindo do Farol da Acessos Ponta da Piedade em direção tanto a Lagos (sentido norte), como a Porto de Mós (sentido noroeste), Farol de Lagos: em Lagos, seguir as indicações para percorrem-se em ambos os sentidos cerca de 3 km as praias D. Ana e Camilo. Uma vez na estrada da de trilhos que dão acesso a vistas panorâmicas sobre Ponta da Piedade, seguir para sul até ao farol. a linha de costa. Praia de Vale de Centianes: a partir da zona baixa Percurso dos Sete Vales Suspensos (Lagoa): per- do Carvoeiro (acesso a partir de Lagoa, seguindo a curso de cerca de 10 km (ida e volta) sinalizado, com sinalização), seguir para leste até que surjam indica- painéis informativos e pontos de estadia, entre a ções para a praia. praia da Marinha e a praia de Vale de Centianes. Praias da Marinha e : na EN 125, junto à Contemplar Escola Internacional do Algarve, seguir as indicações Pontos de estadia do Percurso dos Sete Vales Sus- para as praias. pensos (Lagoa), os quais dão acesso a vistas únicas sobre os promontórios rochosos e geoformas diver- Praia da Sr.ª da Rocha: na EN 125 virar em Porches sas, permitindo ainda observar os matos mediter- para sul, seguindo as indicações para a praia. rânicos e a rica avifauna desta região costeira. Praias Manuel Lourenço e Evaristo: na estrada que Mergulho: praias dos concelhos de Lagos, Lagoa e liga a povoação da Guia à praia da Galé, seguir a Albufeira. Existe um percurso subaquático sinalizado sinalização para as praias. na Praia da Marinha, acessível a mergulho por apneia. O guia deste roteiro subaquático pode ser Arrifes: acesso a partir do Aldeamento de S. Rafael obtido nos websites do Município de Lagoa e da (Caminho das Sesmarias). CCDR do Algarve. Olhos d’Água: acesso a partir de Albufeira, seguindo Observação do intertidal: na baixa-mar, em as indicações. zonas de laje rochosa como as existentes nas praias Manuel Lourenço, Evaristo, Arrifes, e Olhos d’Água. Nota: recomenda-se precaução ao percorrer as arribas, devendo ser respeitada uma distância de segurança ao rebordo Passeios turísticos de barco: partindo de Ferra- das arribas e algares, e evitando condições críticas de vento e gudo, da Sr.ª da Rocha, de Benagil, do Carvoeiro e de chuva.

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A terra de um povo já não é um simples dado da natureza, mas uma porção de espaço afeiçoado pelas gerações, onde se imprimiram, no decurso do tempo, os cunhos das mais variadas influências. Uma combina- ção original e fecunda, de dois elementos: território e civilização.

Orlando Ribeiro Barrocal

Rio Guadiana SERRA Costa Vicentina BARROCAL

LITORAL

Rede Natura 2000

Rocha da Pena

124 N Fonte da Benémola Ribeira da N2 0 5 km Menalva Nave do Barão Delimitação do Barrocal

Ribeira de Algibre Malhada Velha 396 N2

A22 Ribeira de Quarteira 270 (Sítio Rede Natura 2000) 270 398

125 Cerro da Cabeça (Sítio Rede Natura 2000) Ribeira de Quarteira A22 A22

398

125

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O Barrocal designa uma região algarvia as- será talvez o território algarvio onde se tornam Na região assinalam-se os modelados cársicos sente no maciço calcário que ocupa o Algarve mais evidentes as características mediter- na Varejota / Malhada Velha e na Nave do central, encaixado entre a serra e as planícies rânicas: temperaturas amenas no inverno, Barão. No primeiro caso trata-se de campos litorais. A paisagem exibe um relevo ondulado baixa amplitude térmica e acentuada secura de megalapiás onde são abundantes relevos típico composto por uma sucessão de colinas estival. Com clima seco a sub-húmido e com como agulhas, torres e arcos, dando forma a moldadas no calcário rijo do Jurássico que condições edáficas propícias, o Barrocal penedos que podem alcançar os 8 m de al- se desenvolvem de poente para nascente, alberga comunidades vegetais mediterrânicas tura, irrompendo dos solos avermelhados. Os ligando o Cabo de S. Vicente a Castro Marim. ricas, algumas exclusivas desta região. Penedos do Castelão (Varejota) e os do Frade Os relevos calcários não chegam a atingir os (Malhada Velha) assumem formas fantasiosas 500 m e são suaves e arredondados com As florestas originais de azinheira, carvalho- que desafiam a imaginação e foram batizados exceção dos locais onde a força abrasiva das -cerquinho, zambujeiro e freixo, transformadas com nomes de animais e criaturas fantásticas torrentes na época das chuvas esculpiu escar- pelo uso que povos sucessivos fizeram delas, (elefante, águia, esfinge, entre outros), estando pas ou escavou barrancos fundos. subsistem ainda em núcleos bem conservados associados a velhas superstições. nos vales mais estreitos e encostas íngremes. Nas depressões entre os cerros, os solos aver- São os matagais de aroeira, carrasco, murta, A Nave do Barão corresponde a um polje, uma melhados contrastam com os afloramentos medronheiro e lentisco-bastardo, os quais depressão cársica encaixada entre vertentes claros das formações calcárias e com o verde acompanhavam as antigas florestas, que bem definidas, com drenagem subter- da vegetação. Historicamente ocupados por dominam agora a paisagem. Em alguns locais rânea. Este relevo, que faz de facto lembrar culturas de sequeiro, são sobretudo solos bem conservados desenvolvem-se ainda uma enorme “nave”, alonga-se por 4 km de de terra rossa que se formaram a partir da zimbrais e a associação mediterrânica da Oleo- comprimento e tem 500 a 1.000 m de largura; alteração das rochas carbonatadas (calcários, -ceratonion, onde dominam a alfarrobeira, o o fundo aplanado está preenchido por terra dolomias e margas). Com a serra a proteger zambujeiro e a palmeira-anã. rossa onde crescem pomares de sequeiro, da passagem dos ventos frios de norte, este Megalapiás na Malhada Velha (Loulé). Nas áreas mais profundamente alteradas o re- vestimento vegetal consiste em estevais, tojais e tomilhais, onde abundam plantas aromáticas e melíferas. Estas comunidades confinam muitas vezes com campos de sequeiro, onde são cultivadas a alfarrobeira, a figueira, a amendoeira e a oliveira, embora em alguns vales estas culturas tenham cedido o lugar a culturas de regadio.

Um dos aspetos mais caraterísticos do Barrocal é a existência de formas cársicas. Este território de rochas carbonatadas facilmente esculpidas pela água das chuvas exibe uma paisagem modelada pela erosão, da qual resultam relevos caprichosos. Embora a paisagem cársica não se apresente aqui tão desenvolvida como noutros pontos do país, podem ainda assim observar-se diversas e curiosas geofor- mas sobretudo no território cársico a norte de Loulé: campos de megalapiás (Varejota e Malhada Velha), algares e grutas (Monte Figo e Rocha da Pena), dolinas (Rocha da Pena) e polja (Nave do Barão e Nave dos Cordeiros), Trilho no topo da Rocha da Pena onde é visível o solo de entre outras. Polje da Nave do Barão (Loulé). Depressão com cerca de 4 km de comprimento onde se forma a Lagoa da Nave durante a terra rossa resultante da meteorização dos calcários. época das chuvas.

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sobretudo de amendoeiras que vale a pena no Sítio de Importância Comunitária Barro- visitar em plena floração, no mês de fevereiro. cal, o qual integra a Lista Nacional de Sítios Considera-se esta estrutura um vale cego da Rede Natura 2000, sendo reconhecida a onde não existe saída superficial de água e em singularidade e bom estado de conservação que a água de escorrência das chuvas origina de habitats muito particulares como as co- pequenas lagoas no setor leste da nave. munidades rupícolas calcícolas e a existência Nestes charcos efémeros, algumas comuni- dos bosques relíquia de carvalhais de Quercus dades anfíbias têm a sua melhor expressão em broteroi, de zimbrais, e de bosques dominados JP Portugal. por alfarrobeiras. Notabiliza-se ainda por suster populações razoáveis dos endemismos lusita- O Barrocal é ainda hoje uma região marcada- nos Plantago algarbiensis e Narcissus calcicola, Morcego-rato-pequeno mente rural, onde se conservam costumes bem como do endemismo do sotavento ligados aos ritmos naturais da terra. A paisa- algarvio tomilho-cabeçudo. gem traduz grande riqueza natural e cultural, com um interessante mosaico de pequenas Este Sítio inclui ainda um complexo de quatro Pego do Inferno povoações ligadas entre si por caminhos grutas que albergam uma importante parte da rurais, vales com campos de sequeiro e outras população de morcegos no Algarve, e que se culturas, encostas revestidas por matos densos destacam como locais de hibernação e criação e verdejantes, e, aqui e ali, os afloramentos para cerca de metade da população nacional claros e caprichosos do maciço calcário. de morcego-rato-pequeno.

A faixa do barrocal compreendida entre o lito- ral e a Serra do Caldeirão encontra-se incluída Afloramentos de maciço calcário irrompem dos matagais mediterrânicos.

Paisagem cársica

A água das chuvas, ligeiramente ácida devido ao teor em dióxido de carbono, dissolve lentamente os cal- cários e dolomias (essencialmente constituídos por carbonato de cálcio) dando origem a um modelado típico designado por cársico. A água infiltra-se através de fissuras na rocha, ampliando-as com o tempo e formando torrentes subterrâneas. As fendas e cavidades da rocha acentuam-se com a escorrência das águas superficiais e subterrâneas, dando origem a uma intrincada rede de poços naturais (algares), galerias e grutas. À superfície são comuns relevos como os campos de lapiás, onde a rocha surge muito esculpida. Um dos traços mais visíveis nestas paisagens é a aridez dos terrenos à superfície, a qual con- trasta com os abundantes recursos hídricos do subsolo que apenas se deixam adivinhar em ocasionais nascentes de água como as que surgem na Fonte da Benémola e em Paderne.

O Pego do Inferno (Tavira) é um local onde se po- dem observar as várias quedas de água da Ribeira da Asseca. A última e mais espetacular cascata, com cerca de 3 m de altura, forma uma lagoa que reflete os tons verdes da envolvente. Apesar das lendas que afirmam comunicar esta lagoa com o mar, verifica-se que o seu ponto mais profundo Murete a delimitar campo de sequeiro. Plantas dos matos tem 7 m. A cascata está talhada em espesso tufo nativos, como a aroeira, crescem associadas a estes muros calcário do Quaternário, cuja deposição é favo- rústicos. recida pelo impacto da água a cair, libertando o dióxido de carbono dissolvido e provocando a precipitação do carbonato de cálcio arrastado Algar; trata-se de uma gruta de desenvolvimento vertical. Campo de lapiás. pelas águas ao longo do percurso da ribeira em terreno calcário.

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Fonte da Benémola

Protegida Local da Fonte Benémola, a qual abrange uma área com cerca de 390 hectares que se estende pelas Freguesias de Querença e da Tôr.

A Paisagem Protegida é atravessada pela Ri- beira da Menalva, integrada na bacia hidrográ- fica da Ribeira de Quarteira. Abastecida por nascentes como o Olho e a Fonte da Bené- mola, das mais caudalosas do sistema aquífero Querença-Silves, esta linha de água mantém o caudal em cerca de 60% mesmo durante a Vale da Ribeira da Menalva. Freixos, salgueiros, tamargueiras, folhados e loendros são algumas das espécies que formam a época estival. densa galeria ripícola desta área protegida.

Vestígios de infraestruturas rurais testemu- o loendro e a tamargueira, formam um cor- A Fonte da Benémola é também um local nham o complexo sistema hidráulico que redor frondoso com alguns trechos verdadei- muito interessante para a observação de aves, outrora tornou possível a gestão comunitária ramente impenetráveis. desde logo pela permanência de água na da água e o seu transporte pelas levadas até ribeira durante todo o ano, mas também pela aos campos de regadio. As várias parcelas de O vale fluvial onde corre a ribeira da Menalva é diversidade de uso do solo na área envolvente terreno eram regadas de forma rotativa, sendo estreito, cortado nos calcários claros e rijos do onde se desenha um mosaico de pequenos da responsabilidade dos proprietários abrir e Jurássico, com encostas abruptas que podem campos agrícolas e áreas de matos e bosque. alcançar 100 m de desnível entre o leito da Junto às margens ribeirinhas nidificam o Ribeira da Menalva no outono. fechar as comportas das levadas consoante as necessidades de rega de cada um. ribeira e o topo dos relevos envolventes. A guarda-rios, o rouxinol e a alvéola-cinzenta, vegetação densa que reveste as vertentes ro- espécies que beneficiam da presença de água. O vale fluvial da ribeira da Menalva, onde a Encontram-se agora reparados velhos açudes chosas esconde o acesso a grutas em posição A água atrai também uma grande variedade vegetação ribeirinha conserva o verde e exu- que permitem a formação de espelhos de sobranceira (grutas da Salustreira). de outras aves como felosas, toutinegras, berância durante o estio e se ouve água correr água ao longo da ribeira; são também visíveis pardais, pica-paus, o gaio e o abelharuco. O durante todo o ano, constitui um ambiente de azenhas e noras, algumas ainda com os seus Alguns trilhos percorrem as encostas e vale encaixado propicia a presença de rapinas, exceção no barrocal algarvio contrariando a alcatruzes, e as ruínas de um moinho de permitem observar a rica vegetação mediter- águias e mochos, os quais são avistados normal escassez de água superficial e secura água que serviu as populações vizinhas na rânica do barrocal, onde dominam a aroeira, regularmente. do meio. A existência de inúmeras nascentes moagem dos cereais. Nesta área existem ainda o zambujeiro, o carrasco e o medronheiro, cársicas, também designadas por olhos de vestígios de antigos fornos de cal, onde se acompanhados por plantas aromáticas como Na ribeira e nas suas margens, rãs, cágados, água, garante um caudal permanente de água produzia a pedra cal através da cozedura dos o alecrim, o rosmaninho, tomilhos vários ou tritões, sapos, pequenos peixes e diversos inse- e favorece a manutenção de um ambiente calcários. o funcho. Na beira dos caminhos de pé posto tos aquáticos, integram um ecossistema muito húmido e fresco mesmo na época estival. com atenção descobrem-se orquídeas e lírios, diversificado. Assinala-se ainda a presença de Nas margens da ribeira desenvolve-se densa plantas de porte humilde mas que surpreen- duas espécies de morcego (morcego-rato- A qualidade da paisagem neste local, o inte- galeria ripícola onde crescem árvores e arbus- dem pela sofisticação e exuberância de forma -pequeno e morcego-de-peluche) que uti- resse histórico e patrimonial ligado à ancestral tos ribeirinhos pouco comuns noutros cursos e cor. Os cerros a sul e sudoeste, na extrema lizam as grutas existentes nesta área protegida, gestão da água, e a existência de ambientes de água do Algarve, já que a expansão da da Paisagem Protegida, são talhados nos beneficiando da abundância de insetos. A relevantes para a conservação da natureza, de- exótica cana tem impedido o crescimento das terrenos xistosos mais antigos do Carbónico presença regular de sinais de lontra é também terminou nos anos noventa a classificação da espécies nativas em muitos locais. Salgueiros, e encontram-se revestidos por bosques de so- um dado interessante que atesta o elevado Fonte da Benémola como Sítio Classificado do freixos, choupos, folhados e ocasionalmente breiro e azinheira, sendo interessante observar interesse biológico da ribeira da Menalva. Munícipio de Loulé. Mais recentemente, em alfarrobeiras, acompanhados por silvados e a transição destes ambientes para os matos de 2008, o local mereceu o estatuto de Paisagem pelos arbustos típicos destes ambientes no sul, barrocal.

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O aquífero Querença-Silves

Este sistema aquífero é o maior reservatório subterrâneo de água do Algarve, ocupando área Ribeira de Quarteira aproximada de 317 km2 em pleno Barrocal. De- senvolve-se em dolomitos e calcários do Jurássico inferior e médio, através dos quais a água se infil- tra facilmente acumulando-se num vasto lençol subterrâneo, limitado a norte pela formação Grés de Silves e a sul pelos menos permeáveis calcários margosos do Jurássico superior.

O aquífero estende-se desde Querença até Estômbar, abrangendo os concelhos de Loulé, Albufeira, Lagoa e Silves, estando identificado um conjunto significativo de pontos de recarga do Nascente na Fonte Benémola. aquífero (sumidouros) e de nascentes (surgên- cias). Estes pontos são de extrema importância rânea emerge naturalmente à superfície. Estes para a salvaguarda das reservas hídricas do pontos representam descargas naturais dos Algarve tanto em termos de volume como da aquíferos, alimentando os cursos de água qualidade dessa água. (nascentes da Benémola) ou sendo intercetados para utilização humana. As nascentes são os locais onde a água subter-

Atividades

Caminhadas trabalha a cana produzindo artefactos utilizados em tarefas domésticas e agrícolas. Percurso pedestre da Fonte da Benémola: percurso O traçado deste percurso coincide com um troço do Vista do vale e da Ribeira de Quarteira a partir do Castelo de Paderne. sinalizado que acompanha o curso da ribeira ao percurso pedestre homologado das 7 Fontes (Mu- longo de 4,5 km de extensão, incluindo um local de nicípio de Loulé). Também a Via Algarviana passa A ribeira de Quarteira desagua a sul, na dando-se agora atenção ao troço que integra estadia para merendas. A nascente do Olho, a Fonte junto ao limite da Paisagem Protegida. zona central do Algarve, desenhando no a lista nacional de sítios da Rede Natura 2000, da Benémola, os açudes e a levada, são os pontos de seu troço final a fronteira entre sotavento com a designação Sítio Ribeira de Quarteira, maior interesse do percurso, que permite também a Observação de libélulas e libelinhas: A Fonte da e barlavento. A sua bacia hidrográfica, que nas proximidades de Paderne. visita a uma oficina de artesanato onde um cesteiro Benémola é considerado um hot-spot para observa- engloba a montante a ribeira e nascentes ção destes insetos. da Benémola e Paderne, atravessa as três Na envolvente de Paderne a ribeira percorre regiões biofísicas do Algarve, serra, barrocal ampla planície aluvionar, uma várzea fértil Acessos e litoral, mas é a montante de Paderne, que exibe um mosaico de pequenas hortas em pleno barrocal, que da confluência das familiares e parcelas agrícolas onde se cultiva Em Loulé, segue-se pela EN 396 na direção do ribeiras de Alte e do Algibre nasce a Ribeira a fruticultura de regadio, a vinha e o olival. As Barranco do Velho, tomando-se depois o desvio de Quarteira. Com um comprimento de encostas suaves estão ocupadas pelo pomar para a Querença e Salir, e depois para Salir / Tôr. No cruzamento de acesso à aldeia da Tôr, virar à direita, curso de cerca de 35 km, e percorrendo tradicional de sequeiro, sobretudo alfarrobeiral seguindo as indicações para a Benémola. O caminho áreas de razoável ocupação humana, e amendoal, este último mostrando alguns de terra batida até à Fonte da Benémola pode ser alguns dos seus troços conservam um raro sinais de abandono. percorrido a pé ou de bicicleta, numa extensão de equilíbrio e qualidade ambiental. cerca de 2 km; em caso de necessidade esta dis- O pomar de sequeiro, ou mata de frutos, é tância poderá ser feita de carro, tendo em atenção Caminho de acesso à margem da ribeira por entre pomares A foz da ribeira, ao longo da qual se desen- um legado da presença árabe no território que a circulação é condicionada nas proximidades de sequeiro. volve o caniçal de Vilamoura, foi já referida algarvio, apresentando uma estrutura que da fonte e que não se encontra formalizado espaço na ficha “Pauis, caniçais e lagoas costeiras”, se assemelha ao montado e onde o estrato para estacionamento.

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arbustivo está ausente, sendo o subcoberto palmeira-anã. Nestes habitats encontram-se árabe, estaria em posição privilegiada relativa- normalmente constituído por culturas de espécies muito particulares como os endemis- mente ao antigo caminho romano que con- cereais e leguminosas ou por pastagens. O cul- mos algarvios Genista algarviensis, Centaurea torna o cerro e atravessa a ribeira a sudoeste. tivo dos pomares de alfarrobeira, amendoeira, occasus ou o tomilho-cabeçudo. figueira e oliveira foi possível após a remoção Durante a época estival, nascentes como a da de enormes quantidades de pedra calcária Erguendo-se dos matos e em posição alta- Amoreira ou da Fonte de Paderne possibilitam do solo, agora visíveis nos típicos muretes neira sobre a Ribeira de Quarteira, o Castelo de a escorrência superficial da água em pequenos de cor clara que delimitam os terrenos no Paderne é um dos sete castelos representados troços e a formação de pegos onde se abrigam barrocal. Junto a estes pequenos muros sub- na bandeira de Portugal. Trata-se de uma as espécies mais dependentes da água e humi- sistem espécimes dos matos originais, como construção em taipa dos Almoádas (séculos XI dade no meio. Também os açudes podem o carrasco e cistáceas várias. Atraídos pela a XII) e as suas ruínas de cor ocre constituem manter reservas de água durante o estio, tendo disponibilidade de alimentos, diversos animais Rã-verde, um dos anfíbios mais comuns em Portugal. um dos exemplos mais significativos da sido recuperados recentemente o Açude da procuram os pomares de sequeiro, sobretudo arquitetura militar árabe na Península Ibérica. Estacada (a montante de Paderne) e o Açude aves como o papa-figos, o mocho-galego, o Construído durante a última fase da ocupação da Azenha do Castelo. A azenha associada a chapim-real ou a toutinegra-de-cabeça-preta, mas também mamíferos como a raposa, e, nos pomares abandonados onde voltaram a A cana (Arundo donax) crescer os arbustos nativos, o coelho-bravo, a fuinha e o texugo. A cana é a maior herbácea existente em território português. Originária da Europa oriental e da Ásia Mais a sul, a ribeira serpenteia encaixando-se temperada e tropical, é considerada uma espécie exótica em Portugal e referenciada como uma num vale apertado e profundo cortado no das cem mais perigosas plantas invasoras à escala maciço calcário. As encostas exibem decli- mundial, pela elevada capacidade de se substituir ves acentuados e são revestidas por densa à vegetação nativa, ocupando o habitat das espé- vegetação mediterrânica, exibindo matagais Pegada de texugo na margem da ribeira. cies ribeirinhas típicas dos climas mediterrânicos. exuberantes nas vertentes voltadas a norte, Tendo sido introduzida como material de cons- húmidas e sombrias. trução, para fixação de taludes e para constituição de sebes nos terrenos agrícolas, encontra-se Neste troço da ribeira, o canavial cerrado que agora disseminada por todo o país. tende ocupar as margens cede lugar à vegeta- A cana é provavelmente a espécie com maior ção natural destes ambientes, desenvolvendo- dispersão nas ribeiras do Algarve, o que se traduz -se uma galeria ribeirinha com os tamargais, em graves problemas ambientais, em particular loendrais e freixiais característicos dos cursos no agravamento das situações de seca e cheias, de água do sul. Em leito de cheia surge a única na dispersão de fogos florestais, na deterioração população conhecida no mundo da delicada da qualidade da água e em impactes sobre a Narcissus willkommii, cobrindo de amarelo biodiversidade. as margens da ribeira na época da floração. No âmbito do controlo da expansão desta Este narciso é uma espécie rara e endémica exótica, vários projetos-piloto têm sido realizados da Península Ibérica, referida para o sul de com resultados positivos. O projeto recente Valori- Portugal e de Espanha, tendo sido em tempos zação da Ribeira de Quarteira e Várzea de Paderne dada como extinta. A Ribeira de Quarteira é consistiu na utilização experimental de diferentes atualmente o único local onde se regista a sua técnicas de controlo de cana e na plantação de ocorrência. vegetação autóctone, para além de trabalhos de reabilitação e valorização do património várzea de Paderne. As aprendizagens resultantes destes projetos e de outros que decorrem em Nas encostas íngremes crescem matos exclu- hidráulico (reperfilamento do leito da ribeira, recuperação dos açudes da Estacada e da Azenha países com clima mediterrânico deverão fornecer sivos do Barrocal, como os tomilhais/tojais cal- do Castelo e da passagem a vau na Amoreira), informações adequadas que permitam mitigar os cícolas (matos baixos onde abundam plantas Orquídea-piramidal, uma das muitas espécies de orquídea danos da disseminação da cana. que ocorre no Algarve calcário. A primavera é a época mais e criação de um percurso rural interpretativo na aromáticas) ou os carrascais termófilos com propícia à observação destas espécies.

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este último açude situa-se perto do Castelo de bordalo, duas espécies endémicas da Penín- Paderne, tratando-se de um engenho tradicio- sula Ibérica que beneficiam da existência de nal de moagem movido pelo caudal da água abundante vegetação aquática. da ribeira, possivelmente de origem árabe. Rocha da Pena Os açudes, a azenha, e a levada construída no sítio da Fonte de Paderne, fazem parte do património local de estruturas hidráulicas liga- das ao uso e gestão tradicional da água.

À semelhança do que acontece noutros cursos de água do Algarve, muitos animais dependem da qualidade ecológica da ribeira para sobreviver e como corredor através do qual se podem deslocar entre territórios. A existência de sinais da presença de lontra indicia que este Sítio poderá ser importante para a população deste mamífero do Algarve, não só pela disponibilidade de alimento e vegetação marginal adequada, mas também como ligação dentro da mesma bacia hidro- gráfica, entre ambientes mais costeiros, como o Parque Ambiental de Vilamoura, e locais no interior como a Fonte Benémola.

A Ribeira de Quarteira apresenta também uma interessante fauna piscícola, assinalando-se a ocorrência da boga-de-boca-arqueada e do Tamargueiras e loendros na margem da ribeira. Cornija da Rocha da Pena, vertente sul. Atividades O maciço calcário da Rocha da Pena é um rece-se um panorama notável, a sul avistam-se afloramento rochoso notável do barrocal al- os contornos suaves do barrocal até ao mar, a Castelo de Paderne. No cerro de S. Vicente, na proxi- garvio, alcançando no seu ponto mais alto os norte o ondulado da Serra do Caldeirão. Caminhadas midade do moinho de vento, os trilhos dão acesso 480 m de altitude. Trata-se de um planalto a uma vista privilegiada sobre a várzea, podendo Percurso do Castelo de Paderne: Este percurso ainda observar-se os ricos matos mediterrânicos e os com cerca de 2 km de extensão que deve A par com a singularidade paisagística e sinalizado com cerca de 4,5 km desenvolve-se ao típicos pomares de sequeiro do barrocal. a sua forma inconfundível à cornija que o interesse geomorfológico, a Rocha da Pena longo das duas margens da ribeira, passando pelo coroa e à vertente sul cortada em escarpas destaca-se pelos seus matos mediterrânicos Açude da Azenha do Castelo e pela ponte romana BTT íngremes. Este geomonumento impõe-se bem preservados, onde se podem observar (constituída por um tabuleiro retilíneo sustentado Existem três percursos sinalizados de BTT com início na paisagem individualizando-se dos relevos por três arcos perfeitos), dando também acesso ao no parque de estacionamento do estádio João Cam- castelo. Permite a observação da exuberante vegeta- próximos por vales amplos a norte e a sul, pos em Paderne. Alguns troços destes percursos tendo já sido considerado o único relevo ção ribeirinha e dos matos calcícolas das encostas, sobrepõem-se aos percursos pedonais referidos. sendo interessante observar como a vegetação verdadeiramente vigoroso da orla meridional se diversifica das encostas soalheiras para as mais algarvia. * sombrias. Acessos Em Paderne, chegando pela A 22 (saindo em Situa-se na transição entre a Serra e o Barrocal Existem outros dois percursos sinalizados na Albufeira e seguindo na direção das Ferreiras) ou traçando a fronteira entre estas duas regiões, envolvência de Paderne, bem como uma rede de pela N 270 (sair da EN 125 em direção a Boliqueime), caminhos de pé posto, que permitem percorrer a e em conjunto com a Rocha dos Soídos e a seguir as indicações para o castelo na saída poente Rocha de Messines (situados a oeste da Rocha várzea de Paderne desde o Açude da Estacada na da povoação. É possível estacionar junto do castelo Ribeira do Algibre a norte de Paderne, até ao cerro e nas proximidades do Açude da Azenha do Castelo, da Pena) constitui o alinhamento poente- de S. Vicente, a poente de Paderne, ou até ao castelo debaixo do viaduto da A 22. -nascente mais setentrional de relevos carbo- e ponte romana, sobrepondo-se ao Percurso do natados do Barrocal. Do topo do planalto ofe- Rocha da Pena vista a partir de Salir.

82 * Feio (1951). 83 Barrocal

espécies emblemáticas da flora algarvia, bem artesanato. Na beira dos caminhos e, sobre- como pela abundância e diversidade da fauna, tudo nas clareiras, crescem plantas aromáticas sobretudo no que diz respeito às aves e a como o rosmaninho, o alecrim, o funcho, o mamíferos como os morcegos. teucrium e tomilhos vários. Estão descritas cerca de 500 espécies de flora nesta Paisagem O reconhecido interesse da Rocha da Pena, Protegida, algumas das quais são endémicas, face aos valores naturais em presença e à sendo por exemplo a Rocha da Pena o único sua importância paisagística, determinou a local conhecido do endemismo lusitano criação do Sítio Classificado da Rocha da Pena Doronicum tournefortii que vive nos bosques em 1991, e mais recentemente, em 2008, de azinheira. da Paisagem Protegida Local, tendo como objetivos proteger e conservar os valores Sanguinho-das-sebes, espécie comum nestes matos. No topo do planalto os matos calcícolas abri- físicos, estéticos, paisagísticos e biológicos do gam muitas espécies de orquídeas, dos géne- Barrocal, fomentando de forma equilibrada o ros Orchis e Ophys. As plantas mais evoluídas desenvolvimento económico, social e cultural do reino vegetal apresentam-se com porte da região. delicado e ao mesmo tempo deslumbrantes ao olho humano, pela sofisticação de forma Águia-de-asa-redonda Sendo a Rocha da Pena esculpida em rochas e cor. Com clima mediterrânico e baixas alti- carbonatadas, são visíveis diversos relevos tudes, o Barrocal é um local privilegiado para falcão-peregrino, são aves de rapina que aqui cársicos, sobretudo geoformas como lapiás, a conservação de algumas orquídeas que já nidificam ou são visitantes regulares. Na época dolinas, algares e grutas, embora assumam se vão tornando raras no resto da Europa. Para da migração, é possível avistarem-se outras dimensões mais modestas que noutros locais além do seu valor estético, as orquídeas po- rapinas, como a águia-calçada, a águia-co- do Barrocal. Exibem-se assim campos de lapiás dem ser utilizadas como indicadores da quali- breira, o gavião e até o grifo que pode surgir (rochas que emergem do solo de terra rossa, dade de um habitat, já que ocorrem apenas em grandes bandos. muito esculpidas pela água da chuva e apre- em locais que reúnem condições específicas, sentando várias formas de corrosão), dolinas entre as quais a ausência de poluição. Nas zonas pedregosas, com sorte, poderão (grandes depressões fechadas de contorno observar-se dois animais tímidos da nossa aproximadamente circular), e carso subter- O mosaico de vegetação e a orografia da fauna: o melro-azul que nidifica nas vertentes râneo na forma de grutas tipo algar (galerias Rocha da Pena possibilitam a existência de rochosas e o leirão, um pequeno mamífero que se desenvolvem verticalmente, podendo uma grande variedade de animais. Das cerca roedor. comunicar com outras cavidades). De acordo de 120 aves inventariadas para este sítio, com uma lenda local, a gruta do Algar dos destacam-se as aves florestais e as aves de As grutas e algares deste sítio albergam Mouros terá sido um local de refúgio dos rapina. Espécies como a águia-de-bonelli, importantes colónias de morcegos como o mouros após a conquista de Salir por D. Paio Erva-abelha, uma das várias espécies de orquídeas exis- a águia-de--asa-redonda, o peneireiro ou o morcego-de-peluche, uma espécie predomi- Peres Correia. tentes na Rocha da Pena. nantemente tropical que vem diminuindo o seu efetivo no sul da Europa, e o morcego- As vertentes do maciço calcário encontram- -rato-pequeno, um dos mais raros morcegos -se bem revestidas por bosques mistos de de Portugal. Poderão observar-se ocasional- alfarrobeira, zambujeiro e azinheira, e também mente coelhos e ouriços-cacheiros que por de carvalho-cerquinho na vertente norte. No aqui vivem, mas quanto a outros, como o planalto calcário dominam os exuberantes javali ou os carnívoros gineta e raposa, o mais matagais rupícolas de zimbro e carrasco, onde certo é que apenas indícios como pegadas ou crescem espécies raras e endémicas como a dejetos denunciem a sua presença, pois são Narcissus calcicola e a Bellevalia hackelii. Uma mais ativas durante o período noturno. das espécies mais abundantes e típicas destes matos mediterrânicos é a palmeira-anã ou Devido à sua localização e configuração, a Ro- palmeira-das-vassouras, a única palmeira cha da Pena constituiria certamente um local espontânea da Europa, utilizada no fabrico de Vagens de alfarroba; usadas na indústria alimentar, Abelha Andrena flavipes sobre flor de roselha-grande. estratégico na região. No topo deste maciço farmacêutica, têxtil e cosmética.

84 85 Barrocal

Salir foi tomado por D. Paio Peres Correia. Atividades Cerro da Cabeça

Caminhadas Na Rocha da Pena existe um percurso pedestre sinalizado, consistindo em caminhos pedregosos e carreiros, que permite ao visitante conhecer alguns aspetos importantes da flora, fauna, geologia e património, assim como desfrutar de uma paisagem deslumbrante. O percurso é circular e com extensão de 6,4 km.

Escalada Encontram-se definidos cerca de treze setores de escalada na Rocha da Pena, sendo esta, porém, uma atividade desaconselhada na época de nidificação das aves. A AMEA - Associação de Montanhismo e Escalada do Algarve pode ser consultada para mais informações.

Acessos

Rosa-albardeira na Rocha da Pena. Esta espécie vistosa A partir de Loulé: seguir na direção de Salir e tomar ocorre em locais pedregosos e sombrios do barrocal e em a EN 124 em direção a Alte. Deixando-se Salir à Monchique. esquerda, seguem-se as indicações para a Rocha da Pena / Sítio classificado. Os veículos motorizados Os afloramentos calcários no Cerro da Cabeça exibem plantas calcícolas que crescem nas fendas da rocha. Os impenetráveis matos mediterrânicos são dominados pelo carrasco, um carvalho de porte arbustivo adaptado a ambientes secos e quentes. existem dois amuralhamentos em pedra, os estacionam ao final da estrada de alcatrão, num quais fariam parte de um sistema defensivo largo com um chafariz. A estrada em terra batida que segue em frente dirige-se à aldeia da Penina. possivelmente datado da Idade do Ferro. Estas O Cerro da Cabeça é relevo mais oriental da Grande extensão dos afloramentos rochosos estruturas foram mais tarde utilizadas pelos Serra de Monte Figo, um alinhamento de co- deste cerro organiza-se estruturalmente em mouros que se refugiaram no planalto da linas com orientação paralela à linha de costa lajes calcárias tendencialmente horizontais, Rocha, durante a reconquista de Portugal pelo e que se estende ao longo dos concelhos de onde a água das chuvas esculpiu um com- Rei Cristão D. Afonso III, quando o Castelo de Olhão, Faro, Loulé e São Brás de Alportel. O plexo reticulado de fendas. Nestas fissuras ponto mais elevado da Serra de Monte Figo é rochosas cresce vegetação rupícola exclusiva o Cerro de São Miguel, com 410 m de altitude de terrenos calcários, incluindo plantas muito e do topo do qual, em dias de atmosfera raras como um delicado feto mediterrânico limpa, se oferece a vista aberta sobre a linha (Asplenium petrarchae) ou o narciso endémico de costa desde o Guadiana a Sagres e das ilhas da Península Ibéria Narcissus calcicola. O ambi- barreira da Ria Formosa até à serra algarvia. ente rochoso de calcários cársicos abriga tam- bém importantes populações de orquídeas. Menos imponente que o Cerro de S. Miguel mas formado exclusivamente por rochas car- Na envolvente dos afloramentos, a vegetação bonatadas do Jurássico Superior fortemente é dominada por carrascais termófilos onde carsificadas, o Cerro da Cabeça destaca-se abunda a palmeira-anã, observando-se em como geomonumento do barrocal devido à alguns locais pequenas bolsas dos bosques de extensão e importância das suas formações azinhais que outrora cobririam este território. cársicas, constituindo o campo de megalapiás No leito dos pequenos cursos de água tor- mais conhecido do Algarve. renciais que drenam o cerro crescem galerias Amuralhamento no topo da Rocha da Pena, ladeado por densos carrascais e zimbrais. baixas de loendro e tamargueira. 86 87 Não obstante a sua dimensão modesta (5 km seria um algar profundo, que se acreditava ser de extensão por quase 13 km de largura), este mais que uma caverna mas o próprio inferno, relevo calcário considera-se um local com alto e acerca do qual se diz comunicar com o valor ecológico, dotado de potencial florístico Castelo de Tavira. e vegetal considerável, tendo sido integrado na Lista Nacional de Sítios da Rede Natura 2000, com a designação Cerro da Cabeça. Atividades

À superfície do cerro observam-se formas de Caminhadas Existe uma rede de caminhos e trilhos em redor do megalapiás que se elevam por entre os densos cerro, sendo fácil contornar as vertentes leste e norte matos mediterrânicos: arcos, blocos, torres e a cerca de meia encosta. Um caminho circular de pias escavadas, entre outros. O mundo subter- cerca de 2,5 km pode ser feito na encosta leste do râneo do Cerro da Cabeça assemelha-se igual- cerro, subindo a sudeste do sopé até ao miradouro mente deslumbrante, estando inventariadas e voltando a descer pela encosta a nordeste. Cerca mais de trinta cavernas e algares neste local, de 100 m deste caminho são percorridos numa sendo as mais conhecidas a gruta da Senhora, escadaria. Podem observar-se antigos fornos de cal a gruta dos Mouros e as grutas da Ladroeira e, a partir de pontos elevados, avistar os cordões arenosos da Ria Formosa, a baixa planície litoral que Grande e Ladroeira Pequena. Alguns dos se estende para oriente até Espanha, e os relevos algares serão dos mais profundos do Algarve, carbonatados que se desenvolvem para norte. nomeadamente o algar da Maxila (com mais de 95 m), o algar da Medusa, o algar do João e o algar do Próximo.

A paisagem cársica do Cerro da Cabeça apresenta ótimas condições para refúgio de morcegos havendo registos da presença de duas espécies do género Rhinolophus: o morcego-de-ferradura-mourisco e o morcego- -de-ferradura-pequeno, que se alimentam de insetos voadores como borboletas noturnas, embora se possam alimentar também no solo. Nos anfíbios destaque para o sapo-corredor, uma espécie que ocupa diferentes habitats, in- Antigo forno de cal. cluindo maquiais, reproduzindo-se em charcos temporários. Espeleologia As inúmeras grutas do cerro são apenas acessíveis Do património etnográfico da região fazem no âmbito de atividades de espeleologia, devendo parte várias lendas que associam as grutas para o efeito ser contactado o Centro de Estudos deste cerro a mouros e mouras encantadas e Espeleológicos e Arqueológicos do Algarve (CEEAA). a passagens secretas, algumas referidas por Ataíde de Oliveira.* Refere este autor acerca Acessos das grutas deste local: “(...) Também a voz A partir de Olhão e seguindo pela EN 398 na direção vaga afirma que nestas estão encantados de Quelfes e Moncarapacho. Em Moncarapacho, alguns mouros, fugidos do Castelo de Tavira, sair da localidade por leste, seguindo pela rua João quando este foi tomado pelo grande D. Paio; Feliciano Galvão e virando à esquerda em direção assim como também se diz que estas duas ao cerro que se avista a nordeste da povoação. cavernas se comunicam subterraneamente Após cerca de 2 km, virar à esquerda, sendo possível com a grande caverna do Abismo.” O Abismo iniciar a subida do cerro a pé a partir desse local.

* D’Athaide Oliveira (1898). 88 Serra

Opalescera já, o ar. O vento, Correndo atrás da sombra, murmurou... Sentiu-se um fechar de asas. Num momento, A floresta, cantou.

João Lúcio Serra

N 0 5 km

Ribeira do Vascão

Rio Guadiana 124 Ribeira da Foupana Ribeira de Seixe Oceano IC1 Atlântico Serra de 124 Barragem de Odeleite 267 Serra do Ribeira de Odeleite Ribeira da Monchique A2 Malhão Pelados Cerca Caldeirão 122 397 267 Barragem do SERRA Costa Funcho IC1 Picota Barragem de Fóia N2 Ribeira do Beliche Vicentina Odelouca 124 IC27 Barragem do Serra de Ribeira de Barragem do Beliche Odelouca Arade

124 Barragem da 266 Espinhaço Bravura Rio Arade 397 de Cão A2 N2 A22 BARROCAL A22 A22 125 A22

LITORAL 125 Rede Natura 2000

Oceano Atlântico

Delimitação do Barrocal

90 91 Serra

que se estende de Aljezur à Bordeira. As cristas atingem pouco mais de 300 m de altitude e pertencem ao Maciço Antigo do Paleozoico constituído por xistos e grauvaques. Este maciço atravessa a extrema norte do território algarvio de oeste a leste, apenas interrompido pelo afloramento eruptivo de Monchique, retomando a oriente deste como Serra do Caldeirão.

A serra, de vocação essencialmente florestal, é um território agreste de grandes declives, vales profundos e acessos sinuosos, onde crescem bosques de sobro e azinho, medronhais e estevais. Apesar da razoável precipitação mé- dia anual (entre os 700 e 1200 mm, podendo O burro, assim como o cruzamento deste com o cavalo, um híbrido designado em Portugal como “macho” (macho) ou “mula” (fêmea), é usado como animal de trabalho na agricultura tradicional. As mudanças agrícolas das últimas décadas ameaçam a atingir os 1400 mm em Monchique), a capaci- sobrevivência destes animais domesticados pelo homem desde a pré-história. dade de armazenamento subterrâneo de água nos maciços de xistos e grauvaques é baixa, pois o terreno é pouco permeável e a água nas encostas mais declivosas e com deficiente bem conservados das galerias ripícolas, que infiltra-se com dificuldade. A serra de xisto coberto vegetal. Com maior disponibilidade se encontram ainda bolsas de vegetação não é especialmente produtiva, os solos que de água e solos férteis resultantes das rochas similares ao que terão sido as florestas nativas Encosta na umbria com bosque de carvalhos (Espinhaço resultam daquela litologia são finos, pouco eruptivas, o maciço vulcânico de Monchique destes ambientes serranos. Nesses locais, em de Cão) férteis e muito vulneráveis à erosão sobretudo assume um caráter de exceção no contexto da alguns casos luxuriantes, pode observar-se a restante serra algarvia. complexa estrutura destas comunidades A cadeia montanhosa que forma a serra vegetais, estando presente o estrato arbóreo algarvia desenvolve-se paralelamente à costa Naturalmente propenso a um certo isola- por vezes com espécimes monumentais, e meridional, constituindo uma fronteira natural mento, o território serrano encontra-se hoje denso subcoberto arbustivo e herbáceo. entre o Algarve e as planícies do Baixo Alen- despovoado e envelhecido em resultado do tejo. Composta por três relevos principais, êxodo das populações para o litoral. Largas Na Serra do Espinhaço de Cão, húmida e fresca Espinhaço de Cão na orla ocidental, Mon- extensões de paisagem serrana apresentam- sob influência do Atlântico, encontram-se chique e Caldeirão na zona central, a serra -se igualmente despidas, estando o coberto plantas que dificilmente ocorrem no interior abriga as terras mais baixas do barrocal e vegetal reduzido a matos rasteiros e rarefeitos, do Algarve, e, apesar dos solos esqueléticos litoral do ambiente atlântico e das influências sobretudo nos territórios mais orientais. Para e de grande parte da serra se encontrar setentrionais. O terreno montanhoso, elevado esta situação contribuem fatores naturais, ocupada por eucaliptal, algumas das encostas e acidentado, atenua-se progressivamente como o tipo de solos, a orografia ou o clima, mais húmidas dos cerros exibem exuberantes para sul como que formando um grande anfi- os quais influenciam a vulnerabilidade dos bosques onde crescem carvalhos, o medro- teatro aberto sobre o mar. No território serrano ecossistemas face à perturbação do seu equilí- nheiro, o folhado, o samouco (uma relíquia da sobressaem os grandes panoramas, os relevos brio ecológico, mas também a intervenção laurissilva), urzes, lianas e fetos. vigorosos e a luz, mais difusa pela névoa que humana ao longo dos tempos no sentido da esbate os contornos à distância e suaviza as desarborização e desmatação, em particular A leste do Espinhaço de Cão sucede-se o cores quentes da vegetação mediterrânica. ações como as campanhas de cereais de enorme maciço de Monchique que durante meados do século XX ou as mais recentes a ocupação árabe foi considerado montanha Os relevos serranos parecem enraizar na plantações de matas de produção, sobretudo sagrada (Munt Sàquir). A Serra de Monchique costa ocidental a norte do Cabo de S. Vicente, povoamentos estremes de eucalipto. interrompe a linha de relevos talhados no erguendo-se do oceano em altas arribas que Maciço Antigo que se estende de Aljezur ao se podem imaginar contrafortes da Serra do É no sopé das encostas mais declivosas, em Guadiana, correspondendo a um afloramento Espinhaço de Cão, um estreito alinhamento alguns vales de difícil acesso, e nos troços eruptivo de rochas alcalinas (essencialmente de cerros com orientação nordeste-sudoeste Fóia, o ponto mais alto da Serra de Monchique.

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sienitos como a foiaíte e a monchiquite). A aguardente ou o queijo, e a criação de gado designação foiaíte deriva de Fóia, o pico mais caprino, bovino e ovino, tendo sido apuradas elevado desta serra e do Algarve, com 902 m ao longo dos tempos raças autóctones, como de altitude. Perto do cume a vegetação adota a vaca algarvia ou a cabra algarvia, que hoje Serra de Monchique correm sério risco de extinção. um porte humilde e dominam os grandes ficas, sobretudo no núcleo central da serra blocos rochosos de origem vulcânica. onde se instalaram habitats muito particu- lares, conferem caráter de excecionalidade Após amplo vale onde corre a ribeira de Lince-ibérico (Lynx pardinus) à Serra de Monchique no contexto algarvio. Odelouca ergue-se a Serra de Mú ou do Cal- A paisagem exibe cumes altos, vales bem deirão, a mais extensa área serrana do Algarve. marcados com solos férteis provenientes da O Caldeirão estende-se para oriente até ao desagregação das rochas eruptivas, inúmeras vale do Guadiana, atenuando-se em planaltos nascentes naturais e vegetação exuberante agrestes no nordeste algarvio; na zona central onde se observam comunidades raras a nível do Algarve, a norte de São Bartolomeu de regional e nacional, senão mesmo exclusivas Messines, a serra alonga-se Alentejo dentro de Monchique. até Almodôvar. O pico mais elevado situa-se no Algarve (Pelados 589 m, Loulé), sendo Mú, As caraterísticas muito próprias e os valores já em Almodôvar, o segundo ponto mais alto naturais do conjunto montanhoso da Serra com 577 m. JP de Monchique determinaram a inclusão de grande parte do concelho de Monchique na Embora a gestão florestal se apresente difícil, Lista Nacional de Sítios da Rede Natura 2000, numa região onde a propriedade tende a Outrora um importante reduto de lince-ibérico, a serra algarvia oferecia até meados do século com a designação Sítio Monchique, estando ser pequena e a mão de obra pouca e cara, passado uma extensa área com condições privi- também esta área classificada como ZPE. a extração de cortiça é ainda uma atividade legiadas para este felino. Décadas de plantações fundamental para a economia das populações de espécies exóticas, em particular de eucalipto, serranas, sobretudo no Caldeirão. Grande uma maior frequência de fogos florestais e a parte da serra algarvia apresenta excelentes escassez de coelho-bravo (a principal presa do lince-ibérico), tornaram o habitat do lince nestas Coberto florestal da serra de Monchique. A paisagem condições naturais para o crescimento do so- tradicional de carvalhos e castanheiros contrasta com as breiro, sendo comparável em potencialidade serranias demasiado fragmentado e desadequa- plantações florestais de eucalipto (em segundo plano). às Serras de Grândola e do Cercal. Noutras do para sustentar uma população viável. Atual- mente extinta como reprodutora em Portugal, a Monchique, a mais nebulosa das serras algar- áreas serranas, como em Monchique, é mais espécie é vista esporadicamente na proximidade notória a produção silvícola dedicada aos das zonas fronteiriças com Espanha, onde sub- vias, é um maciço de origem vulcânica que pinheiros e ao eucalipto. Na serra pratica- sistem populações residuais reprodutoras. emergiu há cerca de 72 milhões de anos em -se também a agricultura de subsistência, a território marinho, possivelmente associado transformação de produtos como o mel, a Considerada em grave perigo de extinção, foi de- à abertura do Atlântico norte no período senvolvido um programa de salvação desta espé- Cretácico. A par com os maciços sieníticos de cie emblemática, o qual consiste na reprodução Sines e Sintra, trata-se de uma das intrusões em cativeiro e na recuperação do habitat, tendo ígneas alcalinas mais importantes da Europa. em vista a reintrodução de linces na natureza. Este afloramento de sienitos, cuja designação O plano de ação para a conservação do lince contemplou a criação do Centro Nacional de monchiquite e foiaíte remete para a toponímia Reprodução do Lince-ibérico, perto da barragem local, exibe dois picos de vertentes abruptas, de Odelouca em Silves, onde os espécimes a Fóia com uma altitude de 902 m e a Picota a adultos trazidos de Espanha têm-se reproduzido 774 m, separados por largo desfiladeiro onde com sucesso nos últimos anos. Espera-se que a se edificou a vila de Monchique. Do cume da reprodução em cativeiro e as medidas florestais Fóia, o miradouro mais alto do Algarve, a vista e cinegéticas possam permitir o regresso à serra alonga-se até ao litoral alentejano. de um dos felinos mais ameaçados de extinção a nível mundial. A cabra algarvia está distribuída em rebanhos no sul de Condições bioclimáticas e geológicas especí- Exemplar monumental de carvalho-de-monchique. Portugal, com predomínio no nordeste algarvio.

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O manancial de água na região é abundante floresta laurissilva do Terciário), e de árvores e constante, sendo frequentes fontes e fonta- raras a Sul como o castanheiro. É ainda de nários. Algumas nascentes de água quente assinalar a ocorrência do endemismo lusitano com propriedades minero-medicinais, sendo Centaurea vicentina, planta serrana que se a principal a da Fóia, abastecem o importante distribui por tojais e urzais baixos até às zonas complexo termal das Caldas de Monchique, litorais a sudoeste, e do endemismo local antigo balneário romano. Várias ribeiras, Seixe, Euphorbia monchiquensis. Cerca, Odiáxere, Monchique e Boina, entre outras, drenam a Serra de Monchique, e graças Condições excecionais favorecem a ocorrência às nascentes algumas mantêm água a correr em Monchique de exemplares monumentais durante todo o ano. de espécies nativas como o sobreiro e o carva- lho-de-monchique, e de árvores ornamentais A altitude e a proximidade do oceano confe- como o plátano-oriental, a magnólia-sempre- rem a Monchique um clima subtropical húmi- -verde e araucária-de-norfolk. Surpreende ver do, registando-se aqui o mais elevado índice tão a sul, onde Miguel Torga dizia estarem os de precipitação do Algarve e em simultâneo frutos ao alcance da mão, estas árvores robus- temperaturas amenas no inverno e alguma tas e imponentes. Alguns destes espécimes frescura estival. Ocasionalmente nos meses foram classificados como árvores de interesse mais frios verifica-se queda de granizo e, mais público pela Autoridade Nacional Florestal, raramente, de neve nos picos mais altos. Estas destacando-se o sobreiro da Corte Grande condições particulares permitem a ocorrência com altura de 19 m e 37 m de diâmetro de de comunidades vegetais singulares, sendo copa, o carvalho-de-monchique na estrada de nestas encostas que alguns elementos da flora Cascata do Barbelote, vertente norte da serra. Alferce com 24 m de altura e 12 m de diâme- O amieiro forma densos bosques ripícolas nas ribeiras de atlântica encontram o seu reduto mais meri- tro de copa, a araucária da Quinta do Aviador caudal mais constante. dional, embora inseridos em comunidades que atinge os 40 m de altura, e uma alameda com franca expressão mediterrânica. Carvalho-de-monchique (Quercus canariensis) As comunidades serranas distribuem-se de acordo com a interação entre orografia, proximidade do mar, tipo de solo, regime de ventos, temperatura e humidade. A baixa e média altitude, especialmente em locais mais expostos e secos, domina a flora mediterrâni- ca, sendo de assinalar os zimbrais silicícolas de Juniperus turbinata que só voltam a ocorrer no nordeste algarvio; a cotas mais elevadas as co- Adelfeira em flor. munidades incluem elementos subatlânticos e mediterrâneo-atlânticos, sobretudo no sopé das encostas, acantonados em locais onde se formam microclimas mais húmidos.

A vegetação nestes locais pode tornar-se luxu- PG riante exibindo matagais altos da rara adelfeira, medronhais e urzais pré-florestais, e bosques Relativamente abundante nas montanhas do Maghreb, a sua distribuição em Portugal de carvalhos. É assim possível a ocorrência restringe-se à Serra de Monchique e a exemplares isolados no sudoeste alentejano. Forma de espécies de distribuição muito restrita em bosques mistos com sobreiros e outros carvalhos, em encostas abrigadas, sombrias e húmidas, Portugal como o carvalho-de-monchique, a frequentemente na proximidade de cursos de água. Na Serra de Monchique estes bosques encontram-se bastante reduzidos e fragmentados na sequência de ações de desflorestação e adelfeira ou o samouco (ambas relíquias da dos fogos florestais. Flores e frutos do medronheiro.

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mosaico de culturas hortícolas e arvenses e Comer ao ar livre pomares de fruta, são facilmente irrigáveis no Os parques de merendas formalizados em locais estio com água das nascentes; as explorações emblemáticos de Monchique permitem usufruir agrárias são sobretudo de caráter familiar e do ambiente sombrio e fresco proporcionado por árvores frondosas, por vezes seculares: Parque de desempenham importante papel na autos- Merendas do Alferce, Parques de Merendas em suficiência das famílias. Parte considerável dos , Parque de Merendas do Barranco solos agrícolas estão ocupados por pastagens dos Pisões, Parque de Merendas das Caldas de para gado bovino e ovino. A produção de mel Monchique. e de medronho para aguardente têm também um peso significativo na economia local. Relaxar e desfrutar das propriedades das águas me- dicinais da Serra de Monchique com os tratamentos Mesmo assente em explorações de pequena A zona da Fóia apresenta uma paisagem aberta com aflo- termais e programas de bem-estar no complexo termal situado nas Caldas de Monchique. dimensão, é a produção silvícola que domina ramentos rochosos o que proporciona condições ótimas para a nidificação da cia. a economia da serra. A área ocupada por flo- resta é muito significativa, embora as outrora extensas manchas de castanheiros e sobreiros Atividades tenham vindo a ser largamente substituídas por povoamentos estremes de eucalipto ou Caminhadas de pinheiro-bravo. As matas de produção Existem percursos pedestres sinalizados e outros em processo de formalização na zona de Monchique: de eucalipto e pinheiro apresentam elevada Rela-meridional. Ocorre em zonas húmidas com abundante o Trilho da Fóia (7 km) é um percurso sinalizado e vegetação marginal, normalmente próximo de água. rentabilidade relativamente à exploração do circular que se desenvolve em torno do miradouro castanheiro e do sobro, mas, sobretudo no da Fóia; o Caminho das Caldas – Picota (9 km), com de plátanos em Monchique com vários exem- caso do eucaliptal de produção, têm sido início nas Caldas de Monchique, permite visitar o plares a rondarem os 30 m de altura. documentadas perdas significativas em Miradouro das Caldas e subir até ao segundo cume termos de qualidade ecológica do meio e dos mais elevado de Monchique, a Picota; o Trilho dos índices de biodiversidade. Moinhos (5 km) pode ser iniciado no parque de À semelhança do que acontece com a vegeta- merendas do Barranco dos Pisões e percorre um ção, a orografia e o clima da serra favorecem troço da ribeira de Seixe onde são frequentes os É na zona de Alferce, sobretudo nas densa- também a presença de fauna diferenciada moinhos de água; o Percurso das Árvores Monu- da do restante território algarvio. Uma delas mente arborizadas encostas do nordeste da mentais (6,6 km), com início no Largo dos Chorões é o lagarto-de-água, espécie que ocorre nas serra, que subsistem bosques bem conser- em Monchique, é um percurso circular que permite linhas de água, associado a plantas como a vados de sobreiro e outros carvalhos. Estas conhecer algumas das árvores notáveis da serra. Parque de Merendas do Barranco dos Pisões. adelfeira. A dependência da água faz com que exuberantes manchas florestais com denso É possível contactar o Município de Monchique e os a população deste lagarto esteja isolada no coberto arbustivo e herbáceo são local de operadores de turismo de natureza da região para realização destes e de outros percursos alternativos. Acessos sul de Portugal (entre Monchique e a Serra nidificação da águia-de-bonelli e da águia- -cobreira, e permitem imaginar como que do Cercal no Alentejo), ocorrendo somente BTT Miradouro da Fóia: a partir do centro de Mon- terá sido em tempos a paisagem serrana em num outro maciço montanhoso a Sul, a Serra O clube BTTMonchique é uma associação de chique, tomar a EN 266-3 seguindo as indicações de São Mamede. Outro interessante réptil da Monchique. ciclismo especializada em organizar eventos de para o miradouro. Serra de Monchique é a cobra-de-pernas-pen- cicloturismo e BTT e pode ser contactada para a tadátila, um endemismo ibérico muito difícil Na zona da Fóia, onde a altitude condiciona a realização de percursos de bicicleta em montanha. Caldas de Monchique: Situa-se na vertente sul de observar devido ao seu comportamento paisagem aos matagais, pequenos bosquetes da serra, a 6 km da vila de Monchique, na EN 266 esquivo. A maior humidade do ambiente ser- e campos abertos, é mais fácil observar as Contemplar (estrada que liga Portimão à vila de Monchique). Diversos miradouros em Alferce (Barreiras Brancas, rano favorece também a presença de algumas espécies de passeriformes comuns da serra algarvia como a cia ou o tentilhão. Também Monte Velho, Barranco do Demo, Altura da Choça, Alferce: Situa-se na vertente nordeste da serra, a espécies de anfíbios como a rela, o sapo- Altura da Benafátima), Marmelete (Cerro dos Picos) cerca de 10 km da vila de Monchique, no troço da a borboleta Euphydryas desfontainii pode ser parteiro-ibérico e a rã-de-focinho-ponteagudo. e Monchique (São Sebastião, Fóia, Picota, Fonte EN 267 que faz a ligação entre S. Marcos da Serra e encontrada na Serra de Monchique. Trata- Santa, Caldas) permitem desfrutar das amplas Monchique. A vocação agrícola e florestal deste território -se de uma raridade em Portugal tendo sido vistas que se oferecem nos cumes deste sistema está bem patente na paisagem. Nos vales os registada apenas no Algarve, sobretudo montanhoso. Marmelete: Situa-se a cerca de 16 km a oeste da vila solos espessos e férteis, ocupados por um nas margens das ribeiras até aos 300 m de de Monchique, no troço da EN 267 que faz a ligação altitude. entre Aljezur e Monchique. 98 99 Serra

histórico resultante da orografia da serra, diz medicinais e resinosas - apresentam elevado Pessoa* que no Caldeirão as populações são potencial de rentabilidade, sobretudo conside- “(...) sobretudo serranas, no que isso tem de rando alguma sinergia com o turismo rural e Serra do Caldeirão luta contra a agressividade do meio, contra de natureza. a rudeza dos solos e clima”. Naquele que é o território mais despovoado e frágil do Algarve, Uma área aproximada de 50.000 hectares na coexistem as grandes extensões de bosques parte ocidental da Serra do Caldeirão integra mais ou menos abertos de sobro e de azinho, o SIC Caldeirão e está classificada como ZPE as matas de pinhal e eucalipto, os campos (no âmbito da Rede Natura 2000), incluindo os de cereais, os matos baixos de esteva, mas ambientes em melhor estado de conservação também vastas áreas de coberto vegetal tão do território serrano, onde as comunidades rarefeito que os solos finos e pobres se encon- vegetais revelam estrutura e densidade tram expostos, extremamente vulneráveis à ótimas. Trata-se de uma área revestida por erosão. extensos sobreirais, os quais se apresentam nas encostas mais sombrias e isoladas como O povoamento organiza-se em pequenos bosques e pré-bosques de sobreiro e aglomerados rurais, os montes, possivelmente carvalho-cerquinho, acompanhados por por influência árabe. A atividade agrícola é matagais impenetráveis onde dominam o essencialmente de subsistência e concen- medronheiro e as urzes. Nas encostas mais tra-se junto às linhas de água e no sopé dos soalheiras são os matos mais baixos, sobretu- montes, dominando a hortofruticultura, o do estevais, que acompanham estes bosques. pomar tradicional de sequeiro (sobretudo oli- val), as pastagens e a suinicultura em regime A dimensão de alguns destes bosques, o extensivo, normalmente na proximidade das equilíbrio entre os vários estratos da vegeta- pequenas aldeias.

O território adequa-se à exploração florestal, a qual tem por base o sobreiro para explora- Relevo montanhoso da Serra do Caldeirão. ção da cortiça, espécie que no setor central e ocidental do Caldeirão usufrui de condições A Serra do Caldeirão ou de Mú ocupa larga assemelham a enormes “caldeirões”, cercados ótimas de humidade, temperatura e altitude extensão da região algarvia, estendendo-se por longas cordilheiras de montes. para o seu crescimento. É frequente nas desde o vale da Ribeira de Odelouca, em explorações de sobro conjugar-se o aproveita- Silves, até à zona fronteiriça onde se suaviza A maioria das linhas de água tem caráter mento da cortiça com o cultivo extensivo de em planaltos baixos na proximidade do vale sazonal, secando no estio e correndo em cereais ou de forragens, dando origem a uma do Guadiana. Os relevos são relativamente torrentes impetuosas na época das chuvas. paisagem do tipo montado que na primavera modestos, não atingindo os 600 m de altitude, A precipitação média anual é razoável nas se cobre de tapetes coloridos. Em alguns mas grande parte da serra encontra-se acima zonas mais altas do concelho de Loulé (ul- locais, por abandono da atividade agropas- dos 400 m exibindo uma paisagem acidentada trapassando os 800 mm), mas decresce para toril, estas áreas evoluíram para sobreirais de cerros arredondados e vales escavados oriente, podendo ser inferior a 500 mm no relativamente densos, onde já crescem os pelos cursos de água que aqui nascem e nordeste algarvio. A disponibilidade de água matos nativos. percorrem as serranias em direções várias: o é francamente baixa, já que os solos de xistos rio Mira para o baixo Alentejo, as ribeiras do e grauvaques do Maciço Antigo são pouco Apesar da dinâmica de despovoamento da Vascão, Oeiras, Foupana, Odeleite e Beliche permeáveis, dificultando a infiltração e o arma- serra que se instalou em meados do século para o Guadiana, o rio Arade e a ribeira de zenamento subterrâneo de água. passado, as atividades tradicionais ligadas Odelouca para oeste, desaguando no litoral às matérias primas da serra - a cortiça, os do barlavento algarvio. São caraterísticos desta Com reduzida disponibilidade de água, solos cogumelos de valor económico, o medronho, paisagem serrana os vales amplos que se esqueléticos pouco férteis e um isolamento o mel, o queijo e as plantas aromáticas, Sobreiral com subcoberto de matos baixos.

100 * Pessoa (1999). 101 Serra

ção, e a tranquilidade das serranias interiores -de-bonelli ou o bufo-real, assim como uma A ocupação do território serrano remonta ao permite que nelas se abrigue uma rica e grande variedade de passeriformes nidificam Neolítico, como atesta a grande quantidade diversificada comunidade de fauna, na qual nos diversos ambientes serranos. Das espé- de vestígios arqueológicos - antas, tholoi e se destacam as aves e os mamíferos. Foram já cies migradoras destacam-se os coloridos ruínas de povoações - de que são exemplo a identificadas mais de 150 espécies de aves no abelharucos e papa-figos que aqui chegam Anta das Pedras Altas e a Anta da Masmorra Caldeirão, a maioria associadas à área florestal. na primavera, vindos de África, para nidificar. na zona do Cachopo (Tavira), monumentos Entre os mamíferos, são comuns o sacarrabos, megalíticos do período Neolítico Final. A As grandes aves de rapina, como a águia- a geneta e o javali. região interior do concelho de Tavira é extraordinariamente rica em património Importância ecológica e usos do sobreiro (Quercus suber) arqueológico e histórico, sendo possível observar exemplos da arquitetura serrana e do Abelharuco ancestral modo de vida das populações: casas em xisto ou caiadas, fornos comunitários, eiras, azenhas, moinhos de vento e os tradicionais palheiros (construções circulares de origem pré-histórica feitas em pedra e terra, com telhados de colmo ou de junco da ribeira).

O sobreiro é uma árvore imponente e frondosa, podendo atingir 25 m de altura e chegando a viver até Pega-azul Anta da Masmorra (Tavira). aos 300 anos. Distribui-se pela zona ocidental da região mediterrânica, onde se faz sentir alguma in- fluência atlântica, encontrando o seu ótimo ecológico em território continental nacional, com exceção das zonas em altitude (com temperaturas muito baixas) e dos terrenos calcários.

É uma espécie de carvalho bem adaptada ao clima mediterrânico: o tronco produz uma casca espessa e suberosa, a cortiça, cuja principal função é proteger a árvore do fogo. A cortiça é uma matéria-prima nobre, com constituição celular leve e de grande compressibilidade, que tem atualmente utilização em setores tão exigentes como a indústria espacial, automóvel, de construção civil e da confeção. Portugal é responsável por cerca de 55% da produção mundial de cortiça.

A capacidade de produzir abundante cortiça e de resistir à sua extração, permite a subericultura e a constituição dos sistemas agrosilvopastoris conhecidos por “montados”, uma forma incomparável de gestão florestal. Os montados desempenham funções ecológicas importantes, constituindo ecossiste- mas singulares aos quais se associam elevados índices de biodiversidade. Perdiz-comum Palheiro na Mealha (Tavira). O Sobreiro é uma espécie florestal protegida por legislação nacional desde a Idade Média.

102 103 Serra

Atividades

Caminhadas BTT Na freguesia de Cachopo (Tavira), os Centros de Encontram-se formalizados três percursos de BTT, Rio Arade e Ribeira de Odelouca Descoberta do Mundo Rural de Casas Baixas, da ordem dos 20 km de extensão, com pontos de Feiteira e Mealha são locais a partir dos quais se partida no Ameixial, em Salir e na Cortelha. O guia pode percorrer mais de uma dezena de percursos de percursos encontra-se disponível no website do formalizados em território serrano e onde se dá a Município de Loulé conhecer o modo de vida das populações locais e o rico património natural e histórico da região. Para Itinerários temáticos obter informação sobre estes trilhos, e sobre outros A Rota da Cortiça é um produto turístico com itine- seis percursos na envolvente de Santa Catarina rários definidos e atividades organizadas, tendo em da Fonte do Bispo, é possível consultar a Associa- vista a divulgação da exploração da cortiça, desde o ção In Loco, sediada em São Brás de Alportel, ou sobreiral até à fábrica. Encontra-se estruturada em descarregar os guias dos percursos no website da seis temas: património, natureza, vida rural, tradição, associação. inovação e conhecimento, e pretende facilitar a sensibilização dos visitantes para a salvaguarda e valorização do sobreiral. O itinerário contempla a passagem por aldeias, paisagens rurais e florestais, e museus e fábricas do concelho de São Brás de Al- portel. Mais informação pode ser obtida no website da Rota da Cortiça, ou no Município de São Brás de Galeria ripícola na Ribeira de Odelouca com salgueiros e freixo. Alportel. É na serra algarvia que nascem os principais tudo em vales moderadamente encaixados cursos de água da região, sistemas fluviais de onde não se proporciona o aproveitamento cariz tipicamente mediterrânico em que os agrícola das margens ribeirinhas, uma galeria caudais correm em fortes torrentes na época densa e frondosa de bosques ribeirinhos Roselha-grande das chuvas e tendem a secar na época estival. ladeia as ribeiras serranas. Nestes bosques são frequentes o freixo, os salgueiros, os choupos, O Município de Loulé disponibiliza informação sobre O Arade é o rio mais caudaloso depois do e nos troços mais húmidos o amieiro; se a seis percursos formalizados na área do concelho, destacando-se o Percurso do Pé do Coelho, em Guadiana, sendo, a par com a ribeira de Ode- disponibilidade de água é baixa ou marcada- Salir, que permite subir ao topo do cerro do Malhão, louca, um dos mais longos do Algarve. O rio mente sazonal, as margens exibem bosques um dos pontos mais altos da Serra do Caldeirão. Arade e a ribeira de Odelouca nascem na Serra ribeirinhos baixos dominados pelas espécies Neste local, escolhido para edificação de um templo do Caldeirão e confluem perto de Silves, num típicas dos ambientes mais meridionais, o budista, a vista abre-se em todas as direções, local onde existe uma elevação sobranceira loendro e a tamargueira. oferecendo-se amplo panorama sobre o ondulado ao rio, o cerro da Atalaia ou Atalaia de Silves, serrano e o contorno dos cumes de Monchique a a qual conserva vestígios de uma construção Estas complexas galerias ripícolas revestem- oeste, até às planícies litorais e ao oceano. O guia defensiva. Deste local elevado observa-se -se de significativa importância ecológica, de percursos encontra-se disponível no website do município. Silves, tendo sido um ponto estratégico na desempenhando um papel fundamental na A rolha de cortiça é o produto mais famoso proveniente da época em que o Arade era navegável até qualidade da água, no controle da erosão Via Algarviana: trata-se de uma Grande Rota Pedes- indústria corticeira e o que gera maior receita. montante daquela cidade e a principal via de hídrica e de cheias, e proporcionando abrigo a tre (GR13) que liga Alcoutim ao Cabo de S. Vicente, entrada no barlavento algarvio. diversas espécies de fauna e flora. inspirada no Trilho Moçarabe (percurso utilizado por Acessos peregrinos religiosos entre Mértola e o Cabo de São A bacia hidrográfica de Odelouca é uma Os cursos de água que integram a bacia Vicente). A extensão desta grande rota ronda os Os pontos de partida para os itinerários e percursos sub-bacia do Arade, constituindo um dos seus hidrográfica do Arade e Odelouca são habitat 300 km, na sua maioria percorridos na serra referidos encontram-se em localidades acessíveis principais afluentes; o vale amplo desta ribeira de uma comunidade piscícola notável sendo algarvia. Existem pontos de entrada para a Via nas através da rede viária da região. Aconselha-se a seguintes localidades serranas: Alcoutim, Balurcos, marca a fronteira entre os sistemas montanho- cruciais na conservação da diversidade gené- prévia preparação dos percursos mais longos, sobre- Furnazinhas, Vaqueiros, Cachopo, Barranco do Velho sos de Monchique e do Caldeirão. tica de ciprinídeos como a boga-do-sudoeste, tudo das Grandes Rotas, através da consulta atenta e Salir. Mais informação pode ser consultada no exclusiva das bacias do Mira e do Arade, o da informação disponível e da impressão dos mapas website www.viaalgarviana.org dos traçados. Nos locais de fraca influência humana, sobre- escalo-do-arade (endémico das bacias do

104 105 sudoeste), e a boga-de-boca-arqueada, ende- esquerda de Odelouca com o objetivo de mismo ibérico. beneficiar populações futuras de lince-ibérico e de águia-de-bonelli, a construção do Centro Considerando-se prioritária a conservação Nacional de Reprodução em Cativeiro do destas linhas de água e dos organismos Lince Ibérico, e a reabilitação de galerias ribei- que dependem do meio aquático, os troços rinhas e corredores fluviais em alguns troços terminais do Arade e de Odelouca, excluindo da bacia hidrográfica do Rio Arade. a foz do Arade, encontram-se classificados ao abrigo da Rede Natura 2000, constituindo o Sítio de Interesse Comunitário Arade / Ode- Atividades louca, o qual faz fronteira com o limite sul do Sítio Monchique. Caminhadas A montante da albufeira da barragem de Odelouca, Até à construção da Barragem de Odelouca, a sul de São Marcos da Serra, é possível seguir um o troço da ribeira de Odelouca nas faldas de pequeno troço da ribeira com galeria ripícola bem Monchique exibia um dos mais exuberantes conservada, enquadrada por encostas revestidas por densos sobreirais. A jusante da barragem, nas e bem conservados bosques ribeirinhos ser- imediações da localidade de Odelouca, alguns ranos da região, incluindo o maior corredor caminhos rurais permitem percorrer a margem de ameal do Algarve, agora submerso pelas direita da ribeira, onde é possível admirar o mosaico águas do enorme lago artificial. Estes bosques de hortas e pomares da várzea e as encostas das de grande complexidade estrutural, raros na serranias revestidas por matagal denso. região pela sua vulnerabilidade a alterações na margem das ribeiras e por integrarem árvores Pesca desportiva como o amieiro que suportam mal a seca, Nas albufeiras do Funcho e Arade (alimentadas pelo Rio Arade) e de Odelouca. resistem agora apenas em pequenas bolsas nos vales afluentes à ribeira de Odelouca, Passeios fluviais e desportos náuticos sobretudo em Corte Mourão e em Benafátima Passeios turísticos e a prática de remo e canoagem (Silves), e ainda noutras ribeiras que correm podem ser realizados ao longo do Rio Arade e da nas vertentes norte e oeste de Monchique. ribeira de Odelouca, bem como nas albufeiras. O Município de Portimão aconselha um itinerário Na sequência das perdas ecológicas decor- fluvial com início em Portimão, subindo o rio até rentes da construção da barragem foram Odelouca (24 km ida e volta). Mais informação sobre o percurso fluvial e outros percursos pode ser des- definidas medidas compensatórias que carregada do website do Munícipio de Portimão. incluíram a recuperação de habitats em cerca de 450 hectares de mata nacional na margem Acessos

Ribeira de Odelouca em São Marcos da Serra: tomando a estrada M 542 para Alferce (Monchique) o acesso à ribeira surge a cerca de 700 m após a passagem de nível.

Odelouca: em Odelouca sair pela EN 124 no sentido oeste (Monchique); após passar a ponte sobre a ribeira, virar à esquerda para o caminho de terra que dá acesso à margem direita da ribeira.

Albufeiras: o Funcho e Arade são acessíveis a partir do troço da EN 124 que liga São Bartolomeu de Albufeira da barragem de Odelouca. Messines a Silves; Odelouca é acessível a partir da EN 266 entre Portimão e Monchique.

106 Guadiana

Até a nascente do rio acredita no oceano.

William Stafford Guadiana

Na proximidade do vale do Guadiana, os Praia fluvial do Pego Fundo relevos da Serra do Caldeirão suavizam-se Ribeira do Vascão dando forma a uma vasta região de planal- N tos de cor quente e cheiro intenso a mato. 0 5 km Acompanhando a progressiva escassez de chuva, a azinheira vai substituindo o sobreiro à Rio medida que se caminha para leste; a paisagem aberta exibe tons secos e uma certa aridez nos 124 Guadiana montados de azinho, nos campos de cereais IC27 e nos estevais, apenas cortada pelo correr da água daquele a que chamam o grande rio do Ribeira da Foupana 122 Sul e das ribeiras que a ele afluem, locais onde os verdes se avivam e a vida se adensa.

Guerreiros do Rio O Rio Guadiana nasce a 1.700 m de altitude nas lagoas Ruidera da região espanhola Castela-La Mancha, a pouco mais de 800 km da foz na costa sul da Península Ibérica. No Barragem seu troço terminal desenha a fronteira entre Serra do de Odeleite Portugal e Espanha e forma um delta que desagua diretamente no oceano, caso único Ribeira de Odeleite 507 em Portugal. Historicamente são referidos dois Caldeirão largos braços de rio, um entre Castro Marim e 397 Ayamonte, e outro a nascente de Ayamonte IC27 que foi assoreando progressivamente. 124 Ainda no Alentejo, perto de Mértola, o Gua- diana corre entre fragas em vales estreitos e Ribeira do Beliche 122 escarpados, escavando os xistos e grauvaques Barragem do Sapais de Castro Beliche Marim do Maciço Antigo. A partir de Mértola, e depois por terras algarvias, o canal do rio vai alargando progressivamente até à zona estua- rina, variando entre os 100 m e os 800 m de largura já na foz. Condicionado pelo substrato A22 geológico, o estuário do Guadiana é relativa- Rede Natura 2000 397 mente estreito em comparação com outros ambientes estuarinos que se desenvolvem em 125 sedimentos mais brandos. É a sul de Castro Marim, apenas a 6 km da foz, que o plano de água se espraia, alongando-se em meandros entre bancos de sapal.

Foz do Rio Guadiana O Baixo Guadiana, com cerca de 70 km nave- A22 gáveis entre a foz e Mértola, foi a via natural de entrada de sucessivos povos no sudoeste da Península Ibérica e fundamental na estrutura- 125 Oceano Atlântico ção do território peninsular. Constituindo uma via fluvial estratégica, viabilizou o escoamento

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dos minérios explorados pelos Romanos nas comunidades vegetais, sobretudo os bosques minas de S. Domingos e integrou as rotas ribeirinhos e os matagais arborescentes de comerciais mediterrâneo-atlânticas durante a zimbro que crescem nas escarpas siliciosas, ocupação árabe. Após a reconquista cristã do desenvolvam grande complexidade estrutural Algarve e da Andaluzia, o Guadiana consoli- e maturidade ecológica. Nos vales afluentes dou-se como fronteira natural entre os Reinos do Guadiana o solo ganha espessura e for- de Portugal e Espanha. Os territórios raianos mam-se microclimas singulares que permitem eram defendidos por ordens religioso-militares a conservação de bosques de azinheira nas que geriam praças fronteiriças ao longo do rio encostas e usos agrícolas mais proveitosos nas (Castro Marim, Alcoutim e Mértola). várzeas.

Designado até ao século XIII por Rio Ana, os Tendo em vista a proteção destes valores Plantação de pinheiro-manso. árabes mantiveram o nome acrescentando-lhe naturais, as áreas ribeirinhas do Rio Guadiana o vocábulo uádi que significa rio, resultando e da Ribeira do Vascão e a confluência das com produções retiradas a custo dos solos em Odiana à semelhança de outros cursos O Guadiana em Guerreiros do Rio. ribeiras Odeleite e Foupana, seus afluentes em finos e pobres. Mais recentemente grandes de água do Sul como Odeleite, Odemira ou território algarvio, foram integrados no Sítio extensões de território têm vindo a ser Odeceixe. A língua castelhana transformou de Importância Comunitária Guadiana (Lista reflorestadas com pinhal, numa tentativa de o uádi em guadi e a designação Guadiana foi de Sítios da Rede Natura 2000) que se alonga inverter o ciclo de degradação e baixa produ- também adotada pelos portugueses do terri- depois pelo Alentejo até à região de Serpa. tividade do solo que se parece ter instalado, tório raiano a partir do século XVI, em virtude sobretudo nas encostas mais declivosas. da influência castelhana. Um mosaico desenha-se nas encostas suaves que envolvem o vale do Guadiana, são sobre- A atividade cinegética é praticada numa ex- O mesmo termo árabe designa os uedes dos tudo manchas de esteval que se intercalam tensão significativa do território, nas Reservas territórios semiáridos do Maghreb, os vales com montados de azinho, campos de cereais de Caça associativas e turísticas. As principais secos onde correm os rios torrenciais na época e olivais e alfarrobais tradicionais. A explora- espécies cinegéticas são o coelho-bravo, a das chuvas. De forma similar, uma das carac- ção agrícola é extensiva, de caráter tradicional, lebre, a perdiz e o javali. Num ambiente domi- terísticas mais marcantes do Guadiana e dos seus afluentes é a irregularidade dos caudais; o regime fluvial é marcadamente sazonal e sujeito a significativa variabilidade interanual, sendo típicas situações de sucessivos anos A foz vista do castelo de Castro Marim. secos a par com episódios catastróficos de cheias. As comunidades biológicas estão bem adaptadas ao regime torrencial dos caudais, tendo desenvolvido estratégias engenhosas para resistir na época em que a água escasseia.

A aridez da paisagem contrasta com a vida que as águas do Guadiana e dos seus afluen- tes sustentam, constituindo estes cursos de água importantes corredores ecológicos para muitas espécies terrestres e aquáticas. Assi- nala-se, entre outros valores, a notável diver- sidade de peixes dulçaquícolas e migradores de águas interiores da bacia do Guadiana. A Zimbro com porte arbóreo na margem da Ribeira da dureza deste território inóspito contribui para Foupana. que a presença humana pouco se faça sentir, sendo possível encontrar locais em que as Paisagem arborizada com azinhal e pinhal caraterística da bacia hidrográfica da Ribeira do Beliche.

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Os estevais e azinheira nativos da Europa meridional por matos. A campanha dos cereais de meados do Bacia do Guadiana século XX alterou profundamente o mosaico de bosque e matos existente, pois mesmo as encostas mais declivosas da serra algarvia foram arroteadas. Após o abandono das culturas que proporcionaram produções exíguas, o solo esgotado ficou à mercê da erosão. O coberto vegetal tem recuperado lentamente, sobretudo no setor oriental do Caldei-rão, estando largas ex- tensões serranas cobertas por um monocromático manto de esteval. A esteva, Cistus ladanifer, é das Desde o Neolítico que o homem tem vindo a poucas espécies que se consegue instalar nestas alterar a paisagem serrana, convertendo área de condições adversas, sendo pioneira na coloniza- floresta em terrenos agrícolas e pastagens. ção de solos pobres. Com o passar do tempo, e Intervenções seculares como o arroteamento, as havendo alguma recuperação do solo, os estevais queimadas e o pastoreio, resultaram na substitui- serranos tenderão a evoluir para matos mais com- ção de parte significativa dos bosques de sobreiro plexos, embora de fisionomia condicionada pela escassez de água na região.

nado por estevais e matos baixos os abrigos atividades bem adaptadas às condições são escassos, em particular para animais de biofísicas da região. Os inúmeros monumentos maior porte como o javali que se refugia nos megalíticos hoje visíveis no vale do Guadiana Tamujal no troço médio da Ribeira da Foupana. barrancos arborizados, saindo para se alimen- cumpririam importantes funções, em termos tar durante a noite. de ordenamento físico e psíquico do espaço, A bacia hidrográfica do Guadiana é a quarta Nos cursos de água da bacia desenvolve-se nessas comunidades. Em Alcoutim encon- maior da Península Ibérica, depois das bacias vegetação ripícola diversificada, bem adap- Embora o nordeste algarvio se encontre agora tram-se ainda vestígios arqueo-metalúrgicos do Douro, Ebro e Tejo, drenando um território tada ao regime irregular dos caudais: são bastante despovoado, o vale do Guadiana é que documentam a existência de atividades de 66.800 km2. Cerca de 17% da área da bacia, galerias baixas (arbustivas ou subarbóreas) que um território com presença humana muito extrativas e metalúrgicas desde tempos pré- 11.580 m2, situa-se em Portugal e apresenta crescem nos leitos de estiagem, dominadas antiga, remontando às comunidades nómadas -históricos. densa rede hidrográfica de vales estreitos pelas espécies típicas dos ambientes ribeiri- do Neolítico que praticavam uma agricultura escavados nas rochas duras do Maciço Antigo, nhos meridionais, o loendro, a tamargueira e e pastorícia itinerantes de transumância, correndo de norte para sul e estendendo-se o tamujo. Nos locais que tendem a acumular até aos terrenos geologicamente mais jovens água formam-se pontualmente galerias altas e e brandos da orla sedimentar meridional frondosas com bosques ribeirinhos onde são algarvia. O Guadiana recolhe os caudais dos frequentes o freixo, os salgueiros e os choupos. cursos de água do Alentejo oriental e território A altamente especializada vegetação ribeiri- espanhol contíguo, e, já no Algarve, drena a nha dos cursos de água intermitentes integra vertente nordeste da Serra do Caldeirão. o conjunto de valores naturais que determi- naram a classificação do Sítio Guadiana (Rede Este grande rio do sudoeste da Península Natura 2000). Ibérica atravessa um território onde se faz sentir marcada influência mediterrânica com Estas galerias ripícolas asseguram funções verãos quentes e secos e insolação elevada; importantes ao nível da manutenção da os invernos, relativamente rigorosos no Alto qualidade da água e no controle da erosão e Médio Guadiana, suavizam-se progressiva- hídrica e das cheias. Sobretudo se os bosques mente para jusante, nas terras baixas e com a ribeirinhos permanecem em bom estado de aproximação à linha de costa. conservação, a complexa rede hídrica fun- Rebanho de ovelhas. O pastoreio é ainda uma das atividades tradicionais presente por todo o Baixo Guadiana. ciona também como corredor ecológico para

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os organismos, permitindo a deslocação de desovava em zonas de gravilha. também insetos interessantes, em particular espécies animais e a disseminação de espécies libélulas, sendo dos poucos sítios de ocor- vegetais entre habitats fragmentados e pontos As ribeiras do nordeste algarvio concentram rência de Coenagrion mercuriale e Oxygastra distantes do território. populações significativas de espécies endémi- curtisii. cas da bacia do Guadiana, como o saramugo, O Vascão e a Foupana, os dois principais a boga-do-Guadiana e o barbo-de-cabeça- afluentes do Guadiana no Algarve, proporcio- -pequena, e da boga-de-boca-arqueada, um nam abrigo a muitos animais, tanto aquáticos endemismo ibérico. Estes peixes apresentam como terrestres. Na época estival a água que uma notável capacidade de resistir às grandes permanece nos pegos destas ribeiras repre- flutuações de caudal das ribeiras, sobreviven- senta autênticos oásis para mamíferos e aves e do em pequeníssimos pegos até à época das refúgio de peixes, anfíbios e alguns répteis. Ribeira do Vascão chuvas. Algumas destas espécies endémi- cas encontram-se atualmente em situação O Baixo Guadiana é habitat de uma diversi- muito vulnerável e com as populações muito dade piscícola notável; a pesca, sobretudo a fragmentadas. A alteração do regime natural Libélula-escarlate na margem da Ribeira da Foupana. Esta espécie tem expandido a sua área de distribuição em resul- artesanal e até meados do século passado, de caudais, a construção das barragens e a tado das mudanças climáticas. representava um importante peso económico introdução de espécies exóticas, têm sido as e social nesta região. Espécies de grande valor principais razões do seu declínio. Lontra (Lutra lutra) comercial eram então pescadas com elevado rendimento, sobretudo os peixes migradores Os anfíbios mais comuns são a rã-verde, o anádromos que se deslocam para os rios na sapo-parteiro-ibérico, o sapo-comum e a altura da reprodução (como o sável, a saboga, rã-de-focinho-pontiagudo, enquanto que e a lampreia-marinha), e a enguia que faz o nos répteis são frequentes o cágado-mediter- rânico e a cobra-de-água-de-colar, uma das caminho inverso quando atinge a idade de Loendral nas margens da Ribeira de Odeleite. reprodução (migrador catádromo). Outrora duas espécies de cobras de água que ocorrem JP a lampreia-marinha subia estas ribeiras em em território português. direção aos sítios de desova em quantidades A lontra, também conhecida como lontra- tais que podia ser capturada à mão pelos pes- Na margem das ribeiras é fácil constatar a -europeia, é um dos mamíferos do Paleártico com maior distribuição territorial. Segundo presença de javali pelos fossados que deixam cadores nas zonas de baixa profundidade. a União Internacional para a Conservação da no solo húmido onde procuram tubérculos Natureza (IUCN) a espécie tem o estatuto de Dos peixes que aqui permanecem todo o ou raízes; nos matos mediterrânicos que “Quase Ameaçado” em grande parte do território. ciclo de vida destacam-se os barbos, bogas, revestem as encostas dos barrancos são Portugal é dos poucos países da Europa onde a tainhas ou espécies exóticas como o achigã e comuns o gato-bravo, a raposa, o coelho e a lontra utiliza grande parte dos cursos de água e a perca-sol. Atualmente extinto em Portugal, o fuinha. Já no campo aberto dos planaltos que tem mantido uma população estável, estando a esturjão (também conhecido por solho) é um enquadram o vale do Guadiana, é a lebre que sua área de distribuição alargada a todo o país. peixe de aparência arcaica que migrava para marca presença habitual. Este mustelídeo (família de que fazem parte, por Cobra-de-água-de-colar exemplo, a fuinha e o texugo) utiliza inclusive o o Guadiana na época de reprodução, onde meio marinho ao longo da Costa Sudoeste o que As galerias ribeirinhas abrigam aves tipica- é uma raridade para a espécie, até pela pouca Esturjão (Acipenser sturio) mente mediterrânicas como a toutinegra- disponibilidade de espaço adequado a nível -de-cabeça-preta, a águia-de-asa-redonda, o Pode atingir os 3,5 m de comprimento nacional e também mundial, face à sistemática e pesar 280 kg, estimando-se que se peneireiro, a perdiz, o gaio ou a pega-azul. Por ocupação humana do litoral. Sendo uma reproduzam apenas a partir dos 25 anos aqui nidificam duas migradoras que muito espécies essencialmente piscívora, alimenta-se de idade. Nas regiões em que o esturjão é contribuem para o controlo de insetos, o também de outros animais disponíveis como abundante criou-se uma indústria baseada noitibó-de-nuca-vermelha e o abelharuco, anfíbios ou crustáceos como o exótico lagostim- -vermelho-da-louisiana, espécie que se tem nos seus ovos, o famoso caviar. As altera- aves insetívoras, a primeira de hábitos crepus- expandido nos rios e ribeiras. No Algarve, esta JP ções do caudal, poluição e a sobrepesca culares e noturnos e a segunda de hábitos são algumas das causas do seu desapare- preferência por peixe permite observar a lontra JP diurnos. cimento como reprodutor no grande rio em locais inesperados como esteiros das rias e do Sul. até em portos e marinas onde encontra alimento Nas margens destas ribeiras observam-se abundante. 114 115 Guadiana

Atividades

Caminhadas e trilhos de BTT Desportos náuticos A Associação Odiana e o Município de Alcoutim for- Sapais de Castro Marim malizaram um conjunto de rotas no Baixo Guadiana No Rio Guadiana, podendo ser consultada para o numa extensão de cerca de 135 km. Destaca-se mais efeito a Associação Naval do Guadiana. São ainda considerados os rins da terra ao de uma dezena de percursos pedestres e cicláveis reterem a água que aflui ao sapal, filtrando os sinalizados que percorrem as serranias do vale do Comer ao ar livre: nos Parques de Merendas da Bar- poluentes e reciclando os nutrientes. Guadiana e as aldeias típicas da região, atravessando ragem de Vaqueiros, dos Bentos (Aldeia de Bentos, cursos de água onde são visíveis os vestígios de Vaqueiros) e do Montinho das Laranjeiras (Alcoutim). Uma vasta área baixa de terrenos salgados antigas estruturas hidráulicas, azenhas, levadas e e alagadiços estende-se em torno do cerro açudes, muitas delas agora recuperadas. A informa- onde foi edificado o Castelo de Castro Marim ção sobre estes percursos pode ser descarregada no sobre ruínas de antiga fortaleza árabe, um website Património do Baixo Guadiana (http://www. baixoguadiana.com) e nos websites do Município de miradouro natural que domina sobre a Alcoutim e da Associação Odiana. planície litoral e que em tempos recuados terá constituído uma ilha isolada em pleno estuário Passeios temáticos do Guadiana. Seis percursos turísticos temáticos concebidos pela Associação Odiana no âmbito da publicação “Roteiro Parte significativa destes terrenos foi converti- Turístico do Baixo Guadiana” permitem conhecer os da em salinas, tanques de piscicultura e zonas mais significativos ambientes naturais e humaniza- de pastagens. Alguns sapais encontram-se dos do território, nas vertentes cultural, patrimonial, Sinalética que marca o “caminho certo” nas pequenas rotas. agora ocupados por sapal secundário, sobre- ecológica e recreativa. Um dos percursos inclui a Acessos visita ao Museu do Rio na localidade de Guerreiros tudo nos locais drenados pelos diques de do Rio, onde se dá conhecer a história do Guadiana proteção do Guadiana construidos durante a Porto de Recreio do Guadiana: na Av. da República e das suas gentes (a ligação ao minério, à pesca arte- em Vila Real de Santo António, acesso através da sanal e ao contrabando) e ainda observar ao vivo a EN 125 (que liga Vila Real a Faro) ou pela EN 122 labuta dos artesãos. A informação sobre este roteiro (que liga Vila Real a Castro Marim). encontra-se disponível no website da associação. Sapal de Venta Moinhos. Praia Fluvial do Pego Fundo: Acesso a partir de Al- Observação de libélulas e libelinhas nas linhas de coutim, atravessando a ponte da Ribeira de Cadavais água; as informações sobre os locais de observação em direção à sua margem esquerda e seguindo A sul de Castro Marim, já em pleno ambiente podem ser consultadas no website durante cerca de 500 m. estuarino, o Guadiana espraia-se entre sapais, http://nsloureiro.pt/dragonflies/ prados salgados e esteiros. Nesta planície Museu do Rio em Guerreiros do Rio: acesso a partir aluvionar inundada pelas cheias na época das Passeios fluviais do IC 27; chegando de sul, seguir na direção da Foz É possível subir o rio de barco e admirar as encostas chuvas e diariamente pelas marés, acumulam- de Odeleite após a barragem de Odeleite. Na Foz de do vale do Guadiana e as aldeias raianas dispostas -se os sedimentos transportados pelo rio ao Odeleite seguir para norte pela estrada municipal em anfiteatro sobre o rio; os cruzeiros turísticos longo do seu curso. que acompanha a margem portuguesa do Guadia- partem do Porto de Recreio do Guadiana. na até Alcoutim. A subida do nível do mar dos últimos 8.000 Ir a banhos anos tem favorecido a colmatação dos Em Alcoutim, na praia fluvial do Pego Fundo formali- estuários, ao dificultar o escoamento para o zada na ribeira de Cadavais, afluente do Guadiana. oceano da carga sedimentar transportada Também nos açudes das ribeiras do Vascão e Fou- pana; para mais informações consultar o mapa de pelos rios, dando origem a planícies onde se atividades de lazer no website da Associação Odiana. depositam camadas sucessivas de sedimentos finos posteriormente colonizados por Pesca desportiva no Rio Guadiana, podendo ser vegetação halófita - os sapais. Estes são consultados os operadores turísticos que realizam ambientes produtivos e valiosos cruzeiros no rio. desempenhando importantes funções no As salinas de Castro Marim produzem sal de excelente controlo da erosão e de inundações no litoral. qualidade. Um dos produtos mais requintados, a flor-de-sal, Museu do Rio corresponde à primeira extração de sal.

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campanha dos cereais de meados do século da chilreta, do pernilongo e do alfaiate, este passado. Após o abandono das culturas de último com uma percentagem significativa do trigo, cevada e aveia, a vegetação halófita total da população nacional. voltou a colonizar os terrenos mantendo porém menor densidade e diversidade Muito interessante é também a presença florística, possivelmente por serem ainda hoje persistente de flamingos sobretudo no áreas utilizadas para pastagem de gado. período pós-reprodutor. O flamingo permane- ce durante quase todo o ano, por vezes em A especial riqueza biológica desta área estua- bandos numerosos, sugerindo a possibilidade rina, a ancestral gestão dos recursos pelas suas de poder vir a nidificar na região, caso as gentes materializada na salinicultura tradicio- condições do meio se mantenham favoráveis. nal e na pesca artesanal, e o valor arqueo- lógico do povoado de Castro Marim, levaram Nos sapais secos nidifica a calhandrinha-das- à criação da primeira reserva natural em Por- -marismas, sendo este o único núcleo conhe- tugal Continental, em 1975 - a Reserva Natural cido desta espécie em Portugal. Nas zonas do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo agrícolas envolventes é comum observar a António, com cerca de 2.300 hectares. perdiz, o mocho-galego ou o picanço-real, entre muitas outras como o sisão ou a calhan- Os sapais do troço final do estuário do Guadia- dra-real que usam as charnecas secas. na encontram-se também classificados como Zona Húmida de Importância Internacional (Sítio Ramsar), integram o SIC Ria Formosa- Pastoreio de gado e produção de alfarroba como fontes de Castro Marim e a ZPE Castro Marim (Rede Flamingo rendimento em Castro Marim. Natura 2000), constituindo uma das mais im- portantes zonas húmidas do país. Exibindo um mosaico de sapais, prados salgados, salinas, Plantas salgadas esteiros, lagoas salobras e campos agrícolas, O sapal é inundado periodicamente pelas marés, de acordo com os ciclos solares e lunares: as áreas mais alberga espécies únicas da flora ibérica e é elevadas ficam submersas apenas na enchente de águas-vivas, já as áreas a cotas mais baixas podem ser viveiro natural de diversas espécies de peixes, inundadas todas as preia-mar. As plantas do sapal estão bem adaptadas ao teor de salinidade na água moluscos e crustáceos. As vinte e duas espé- e no solo e distribuem-se de acordo com a sua tolerância à imersão. A morraça ocupa a primeira linha cies piscícolas aqui registadas estão associadas de sapal, junto à água salgada. Progressivamente, a cotas mais altas e menos sujeitas à inundação pelas marés, desenvolvem-se espécies dos géneros Sarcocornia e Arthrocnemum. Nas salinas é frequente a aos meios estuarinos e marinhos; espécies erva-de-orvalho, uma delicada planta suculenta que tinge de vermelho o topo dos taludes. Algumas de elevado valor económico como o sargo, a destas espécies salgadas, como a gramata-branca e salicornia, são muito apreciadas na gastronomia dos dourada ou o robalo, usam os esteiros do sapal países da bacia mediterrânica. como zonas de refúgio e criação.

Mas é enquanto habitat para a avifauna que Castro Marim se notabiliza, sendo fundamen- tal para milhares de aves aquáticas que aqui encontram boas condições de nidificação e invernada e um local estratégico de repouso nas longas migrações entre Europa e África. As limícolas, garças e gaivotas são das aves mais representadas, bem como os patos e galeirões que utilizam os esteiros do sapal. As salinas, um dos habitats mais apreciados pelas aves aquáticas nesta reserva, são local de nidi- Pernilongo, símbolo da Reserva Natural. Erva-de-orvalho Gramata-branca ficação do borrelho-de-coleira-interrompida,

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Percursos em BTT Os percursos Cerro do Bufo e Sapal de Venta Moi- nhos são cicláveis.

Observação de aves Ao longo dos percursos na Reserva Natural.

No Esteiro da Carrasqueira, a norte de Vila Real de Santo António. As aves podem ser observadas a partir da EN 122, que liga Castro Marim a Vila Real.

O Castelo de Castro Marim oferece amplo panorama sobre os planos de água e salinas do setor oriental da Reserva Natural.

Início do circuito interpretado, junto à sede da Reserva Observação de libélulas e libelinhas: o sapal de Natural. Castro Marim é considerado um hot-spot para obser- vação deste insetos. Caminhadas Na Reserva Natural de Castro Marim e Vila Real de Educação ambiental Santo António encontram-se formalizados três per- O Centro de Interpretação na Sede da Reserva cursos pedestres: Percurso do Cerro do Bufo, trilho Natural de Castro Marim e Vila Real de Santo An- circular com 10,5 km de extensão; Percurso das Sa- tónio disponibiliza informação técnica, publicações linas Tradicionais, trilho circular com 2 km; Percurso e exposições sobre os sapais, as salinas, a avifauna do Sapal de Venta Moinhos, trilho linear com 6 km. e o Rio Guadiana. Na área da reserva existe ainda Os mapas dos percursos podem ser descarregados um local de merenda e pontos de observação da no website do Instituto da Conservação da Natureza natureza. e das Florestas.

Castelo de Castro Marim.

Acessos

A partir da Via do Infante (A 22), da EN 122 ou da EN 125, seguindo na direção de Castro Marim (vila e Reserva Natural) ou de Vila Real de Santo António (Esteiro da Carrasqueira). Sapal no Cerro do Bufo.

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Mar Metade da minha alma é feita de maresia.

Sophia de Mello Breyner Ecossistema Marinho

e rareiam certas espécies outrora abundantes Rede Natura 2000 em águas algarvias, sobretudo cetáceos e grandes peixes; ao mesmo tempo emergem N Reserva Ecológica Nacional recursos a explorar como o agar-agar produ- Submarina zido a partir de algas-vermelhas ou o ómega 0 5 km 3 proveniente de alguns peixes. Também os desportos náuticos, como a pesca desportiva, a caça submarina, o mergulho recreativo e o surf, atraem cada vez mais praticantes.

A biodiversidade marinha na costa algar- Nudibrânquio (lesmas do mar) conhecido por Vaquinha- via é assinalável, o que estará relacionado -suiça. com a sua situação geográfica privilegiada, debruçada para a bacia do Atlântico no local trocar as grutas em que se protegia do clima onde confluem as massas de água mediter- rigoroso pelos estuários e praias marinhas, rânica, atlântica temperada e atlântica tropical. onde deixou inúmeros testemunhos da Neste espaço marítimo reúnem-se organis- sua dependência dos recursos marinhos mos marinhos com afinidades setentrionais - os concheiros mesolíticos. Os concheiros e meridionais, alguns dos quais no limite da (depósitos de conchas, ossadas e despojos Oceano sua tolerância ecológica, e que beneficiam da fúnebres) documentam a importância da Atlântico elevada produtividade das águas favorecida apanha de moluscos e da pesca para aquelas pelos fenómenos de afloramento, sobretudo comunidades, revelando valiosos dados sobre no barlavento algarvio e com maior inten- as espécies marinhas existentes na altura. Mais tarde, na época romana, a relação do homem com os recursos marinhos sofisti- Tantas vezes esquecido, o meio marinho cons- cou-se, desenvolvendo-se a transformação titui parte significativa e incontornável do industrial do pescado com a produção de território português e do imaginário poético conservas de peixe e do garum tão apreciado das suas gentes. A Zona Económica Exclusiva pelos romanos. Ao longo do litoral algarvio de Portugal, zona marítima sobre a qual o país são diversas as localidades onde se encontram detém os direitos de exploração e conserva- vestígios dos antigos tanques de salga: Sagres, ção dos recursos, é dezoito vezes superior à Salema, Boca do Rio, Lagos, Alvor, Ferragudo, área terrestre somada pelo continente e ilhas. Armação de Pera, Vilamoura, Vale do Lobo, São A biodiversidade marinha, para muitas pes- Lourenço, Marim, Cacela, entre outras. Outros soas visível apenas em documentários ou nos vestígios interessantes datam da Idade Média mercados de peixe, é notável, acreditando-se e documentam a complexa atividade ligada às que mais de metade das espécies do planeta almadravas, armações de pesca que se monta- viverão nos oceanos, incluindo formas de vida vam anualmente em mar aberto para captura das mais arcaicas às mais sofisticadas; afinal de atum, aproveitando as rotas migratórias foi no mar que, há cerca de 3,5 mil milhões Os cabozes são espécies sedentárias e territoriais que nidifi- deste magnífico peixe até desovar no Mediter- de anos, a vida surgiu no planeta. Dos trinta e cam em pequenas reentrâncias rochosas. râneo. Em terra, ergueram-se fortificações para quatro filos (grupos de organismos) existentes proteger as almadravas, constantemente as- saltadas pela pirataria moura. Vestígios destas na Terra, treze são exclusivamente marinhos, Desde cedo que os mais de 800 km de litoral como os equinodermes (e.g. estrelas-do-mar) fortificações são ainda visíveis na Arrifana ou do território continental atraíram as popu- na Boca do Rio. e os cnidários (e.g. alforrecas), e apenas dois lações para o marisqueio e a pesca; findo dizem respeito unicamente a formas de vida o último período glaciar, na passagem do terrestres. Nos dias de hoje, as artes de pesca artesanal Paleolítico para o Neolítico, o homem pôde Coral-laranja, uma das espécies mais vistosas da costa mantêm-se essencialmente na costa vicentina algarvia.

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sidade na costa vicentina. A variedade de bancos submarinos de maerl (algas calcárias), com areias finas e vasosas, como são exemplo fundos (rochosos, arenosos e vasosos) e os aci- ou para a existência do coral vermelho, espé- os bancos de ofiúros negros de Albufeira. Para dentes geográficos como leixões, baías, cabos, cie explorada intensivamente no Algarve no além da reduzida variedade de nichos ecológi- sistemas lagunares e estuários, proporcionam séc. XV que apresenta agora populações muito cos proporcionados pelas areias e vasas, a habitats adequados para o abrigo, alimenta- reduzidas. menor biodiversidade destas áreas pode tam- ção, reprodução e crescimento de muitas e bém ser explicada pela elevada perturbação diversas espécies marinhas. As zonas francamente rochosas constituem a que está sujeita, já que o esforço de pesca verdadeiros oásis de vida e é aqui que se é exercido essencialmente sobre este tipo de Os fundos da costa vicentina são rochosos, podem encontrar os maiores índices de bio- substratos. com pontos notáveis como a Ponta da Atalaia, diversidade e densidade de organismos. São a Ponta Ruiva ou os ilhotes do Martinhal; espécies estruturantes dessas comunidades as Os cetáceos são o grupo de mamíferos na costa sul dominam os fundos arenosos Ilhéu do Marinhal visto da praia. algas castanhas, as algas vermelhas calcárias, marinhos que se podem observar nas águas embora o vasto complexo rochoso ao largo de as anémonas, os briozoários, equinodermes costeiras do Algarve. Embora o golfinho-co- Albufeira marque de certa forma a separação O ecossistema marinho é ainda relativamente como o ouriço-do-mar e o pepino-do-mar, mum seja o mais facilmente observável, os entre um barlavento mais rochoso e um so- desconhecido, mesmo a área submarina os gastrópodes e as esponjas. Destes habitats registos de avistamento incluem o boto (o tavento essencialmente arenoso, onde apenas contígua à linha de costa, a qual constitui dependem muitos peixes marinhos: espécies mais pequeno cetáceo do Atlântico), a orca, se destacam alguns núcleos rochosos isolados Reserva Ecológica Nacional (REN) até aos 30 m bentónicas e crípticas como os cabozes, ou a baleia-piloto e o golfinho-riscado, entre (como as Barrocas, a Pedra da Greta ou a Pedra de profundidade. Esta área constitui uma faixa demersais com valor comercial como a safia. outros. Estes mamíferos marinhos alimentam- do Barril). marítima de proteção costeira, onde são inter- -se sobretudo de peixes e lulas, embora com ditos usos que possam alterar o equilíbrio do Nos fundos arenosos subsistem sobretudo preferências específicas. As orcas, por exemplo, sistema biofísico e a dinâmica costeira. Ainda peixes como a solha ou o linguado, peixes seguem a migração dos atuns em direção ao no âmbito da legislação nacional, o território planos bem adaptados aos fundos móveis Mediterrâneo enquanto que o golfinho-co- do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e onde vivem. Assinalam-se porém algumas mum se alimenta sobretudo de sardinha. Costa Vicentina abrange uma faixa marinha áreas de riqueza ecológica elevada, sobretudo de 2 km a partir da linha de costa, em toda a em zonas de interface de substrato rochoso Nas águas portuguesas estão citadas cinco sua extensão, estando condicionados alguns usos em locais considerados essenciais para a biodiversidade marinha.

Esforços pioneiros de caracterização realizados até ao momento na REN submarina têm reve- lado aspetos interessantes das comunidades marinhas e chamado a atenção para paisagens submarinas deslumbrantes como os coloridos Ouriço-de-espinhos-curtos jardins de gorgónias dos recifes rochosos, os

Águas ricas

Decisivos para a riqueza biológica destas águas costeiras são os fenó- menos de afloramento de águas profundas, particularmente intensos em torno do Cabo de São Vicente. O efeito combinado do vento a soprar paralelo à linha de costa e do movimento de rotação da terra, resulta na deslocação das camadas superficiais da água costeira para mar aberto, favorecendo a emersão das águas profundas, frias e ricas em nutrientes, que alimentam a base da cadeia alimentar, as microal- gas. A partir do crescimento do fitoplâncton desenvolve-se a restante cadeia alimentar, desde o zooplâncton até aos peixes e outras espé- cies marinhas que se alimentam do plâncton ou de peixe. Golfinho-comum ao largo de Sagres. Nadadores rápidos, deixam-se aproximar dos barcos, muitas vezes acompanhando-os. PG Podem ser vistos em frenesins alimentares juntamente com outros mamíferos marinhos e aves, em locais com abundância de alimento.

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espécies de tartarugas marinhas; as mais comuns, a tartaruga-de-couro e a tartaruga- -comum, podem ser observadas nas águas oceânicas do Algarve. A tartaruga-de-couro, Pradarias Marinhas que frequenta estas latitudes no verão e outono, é a maior de todas as tartarugas e um dos maiores répteis, podendo atingir os 2,5 m de comprimento e 910 kg de peso. Todas as tartarugas marinhas avistadas na costa portu- guesa nidificam em águas tropicais e sub- -tropicais, sendo que a tartaruga-comum tem praias de nidificação relativamente próximas, A moreia é um peixe de hábitos solitários e nocturnos que em Cabo Verde. vive em cavidades rochosas.

De entre os peixes que se encontram em costa, o ganso-patola e a pardela-de-bico- águas algarvias, muitos apresentam elevado -amarelo são das espécies mais abundantes, valor económico como a sardinha, o robalo, podendo ainda observar-se mais de uma o pargo, o sargo e a dourada, o atum-rabilho vintena de outras aves entre pardelas, painhos, ou o tamboril. Algumas espécies formam moleiros, andorinhas-do-mar, ou até os raros cardumes móveis, por vezes de milhares de papagaio-do-mar e torda-mergulheira. Pradaria de Cymodocea nodosa. indivíduos, como é o caso da sardinha ou do biqueirão, enquanto outros são territoriais Em torno de alguns grupos de animais muito Considerado por alguns especialistas como o tosas que terão evoluído a partir de ancestrais como o mero ou o congro, espécies solitárias apreciados na gastronomia como os crustá- ecossistema mais vulnerável da costa portu- terrestres, há mais de 100 milhões de anos. que não se afastam muito das cavidades ceos (e.g. caranguejos, percebes, camarões, guesa, as pradarias marinhas são povoamen- Têm raízes, caule, folhas e produzem flor, fruto rochosas onde vivem. lagosta) ou os moluscos (e.g. mexilhões, amêi- tos submarinos de ervas marinhas que podem e semente, pertencendo ao grupo das Angios- joas, ostras, lulas, polvos), desenvolveram-se ocupar vastas áreas em fundos de areia ou pérmicas (plantas com flor), distinguindo-se Termos como “pelágico”, “demersal”, “costeiro”, artes de captura e modos de vida peculiares vasa, até aos 70 m de profundidade. Sendo portanto das algas, seres igualmente autotrófi- “oceânico”, “bentónico” e “migrador”, são que marcaram a identidade das comunidades seres fotossintéticos, necessitam de condições cos mas mais simples que as plantas. aplicáveis na caraterização dos organismos locais; é o caso da apanha de percebes na adequadas que permitam a penetração da luz marinhos, nomeadamente o lugar que ocu- Costa Vicentina por homens que já foram na coluna de água, sendo muito sensíveis a As pradarias marinhas prestam inúmeros pam habitualmente na coluna de água, a chamados de guerreiros do mar, dos alcatruzes alterações na transparência da água. serviços na zona costeira destacando-se, entre proximidade à costa, a dependência do de barro para polvo nas comunidades do outros, a estabilização dos fundos arenosos, a substrato, e os seus hábitos. sotavento algarvio, ou dos viveiros de amêijoa São hoje mais comuns nas águas abrigadas dissipação da energia das ondas e das corren- e ostra das rias do sul. dos estuários, rias e lagoas costeiras, sendo tes, e a prevenção de fenómenos de eutrofiza- Na avifauna marinha avistada ao longo da conhecidos apenas quatro pequenos povoa- ção nos estuários e praias, funcionando como mentos em águas costeiras algarvias, ao largo filtros biológicos que absorvem os nutrientes de Albufeira e Lagoa. Pensa-se que outrora da água. São dos sistemas mais produtivos estas plantas terão formado extensos campos da biosfera e detêm elevado valor ecológico, submarinos na zona costeira sobretudo a sul albergando alta diversidade de invertebra- do Tejo, os quais terão vindo a desaparecer dos marinhos e proporcionando um habitat devido à intensificação da pesca com gan- ideal (enquanto maternidade e viveiro) para chorra, uma arte de arrasto para captura de inúmeras espécies de peixes. Nestes campos bivalves particularmente lesiva para as comu- ondulantes abrigam-se as larvas e os juvenis nidades que vivem nos fundos marinhos. de sargos, safias, raias, ratões e tremelgas, entre outros. As longas folhas das ervas marinhas Em Portugal as pradarias são formadas por três servem de suporte à postura do choco e de espécies, Zostera marina, Zostera noltii e búzios, e são usadas como locais de escon- Cymodocea nodosa, plantas aquáticas rizoma- derijo e emboscada por grandes predadores Ganso-patola Torda-mergulheira

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invertebrados como o polvo. Deste ecos- sistema dependem também as populações em águas costeiras de espécies emblemáticas como os cavalos-marinhos e as marinhas. Leixão da Gaivota

Apesar da proteção legal conferida aos povoa- mentos infralitorais de Cymodocea nodosa ao abrigo da Diretiva Habitats (Rede Natura 2000), assiste-se a uma regressão das áreas de distribuição daquelas pradarias sendo as ameaças mais comuns a poluição da água, as dragagens, as artes de pesca de arrasto para bivalves, a ancoragem desordenada de embar- cações e o marisqueio nos povoamentos das áreas lagunares.

Atividades

Observação de flora e fauna marinha

JP As pradarias de Zostera noltii (a sebarrinha, espécie que forma povoamentos a menor profundidade, na zona intertidal) podem ser observadas na Ria de Cavalo-marinho. Estes pequenos peixes são ovovivíperos e têm a particularidade de ser o macho que incuba os ovos Vista do leixão a partir da Praia dos Caneiros. Alvor e na Ria Formosa na baixa-mar. Recomenda-se depositados pela fêmea numa bolsa na base da cauda. evitar o pisoteio das pradarias, alertando-se para A partir do farol da Ponta do Altar (junto à foz colónia nidificante de garça-branca e de garça- o facto de que o arranque das ervas marinhas e o do Rio Arade) ou da praia dos Caneiros, avista- -boieira, a qual, no topo do leixão, não sofre marisqueio causam graves danos nestes povoamen- tos. No website http://www.pradariasmarinhas.com -se uma ilhota rochosa que emerge do mar a perturbação humana significativa. é possível encontrar informação geográfica sobre não mais de 200 m do areal da praia. Trata- algumas destas pradarias. -se do Leixão da Gaivota, um dos inúmeros Esta colónia de garças, que chegou a albergar rochedos destacados da linha de costa no cerca de 5% da população de garça-branca Na Praia da Marinha (Lagoa), no setor central da litoral rochoso e recortado de Lagoa. Os na época reprodutora (uma espécie que se praia, existe um percurso subaquático que permite leixões são núcleos rochosos mais resistentes encontra ameaçada em grande parte da sua a visita em mergulho de apneia a um dos raros à erosão marinha que não acompanharam campos de ervas marinhas (Cymodocea nodosa) em o recuo generalizado deste litoral de arribas águas costeiras algarvias. O percurso tem duração média de 30 minutos, nos quais se percorrem cerca carsificadas. de 150 m, e a profundidade máxima atingida é de 3 m. O guia deste roteiro subaquático pode ser O Leixão da Gaivota, talhado nas rochas carbo- obtido no website do Munícipio de Lagoa ou da natadas de cores quentes do Miocénico, exibe CCDR do Algarve. vertentes escarpadas com 23 m de altura no ponto mais elevado e topo aplanado com Adotar uma pradaria marinha: colaborar neste área humilde, não atingindo os 50 m na sua inovador programa da iniciativa do Centro de Ria Formosa. Nas águas pouco profundas podem-se vislum- largura máxima. Apesar da modesta dimensão, Ciências do Mar da Universidade do Algarve, cujo brar as manchas das pradarias de Zoostera noltii. objetivo é criar oportunidades de envolvimento este rochedo marítimo é local de descanso e dos cidadãos na monitorização e na proteção das abrigo para gaivotas, corvos-marinhos e pom- pradarias marinhas. Para mais informação consultar Acessos bos-das-rochas. É também considerado como o website http://www.pradariasmarinhas.com uma das áreas de criação mais importantes para garças no Algarve, sustentando uma Praia da Marinha: na EN 125, junto à Escola Interna- Garça-branca cional do Algarve, seguir as indicações para a praia.

128 129 área de distribuição europeia), motivou a clas- sificação do Leixão da Gaivota como Zona IBA (área importante para as aves) e como Zona de Proteção Especial (ZPE) ao abrigo da Diretiva Aves da Rede Natura 2000. O Leixão da Gaivota constitui a mais pequena área classificada como IBA e como ZPE de Portugal.

As garças desta colónia encontram-se apesar PG de tudo vulneráveis a alterações nas suas zo- nas de alimentação, sobretudo a garça-branca Sargo que se alimenta no estuário do Rio Arade, nas margens do rio e sapais. Zonas húmidas Atividades como o estuário do Arade ou a Ria do Alvor têm perdido áreas de alimentação para as aves Caminhadas aquáticas em consequência do desenvolvi- Existe uma rede de trilhos no topo das arribas entre mento urbanístico e turístico na costa algarvia. a Ponta do Altar e a Praia da Afurada (um extenso A garça-boieira alimenta-se nos campos agrí- areal imediatamente a nascente da Praia dos Ca- colas e pastagens da área envolvente. neiros, apenas acessível por via marítima), podendo ser realizado um percurso de cerca de 3,5 km (ida e volta) entre esses dois locais. Este percurso permite aceder a locais de elevado interesse cénico, com vistas privilegiadas sobre o Leixão do Gaivota e sobre as paredes rochosas das arribas onde se exibe o con- tínuo trabalho da erosão marinha. Entre as curiosas geoformas típicas destes ambientes cársicos podem observar-se neste local grutas marinhas, arcos, algares, e claro, leixões. Recomenda-se precaução ao percorrer estes trilhos, devendo ser respeitada uma distância de segurança ao rebordo das arribas e dos algares, e evitando condições críticas de vento e chuva.

Observação de aves: a partir do topo das arribas na Ponta do Altar ou na praia dos Caneiros.

Garça-boieira Mergulho em apneia: em torno do leixão, a partir da praia dos Caneiros. Percorrem-se cerca de 550 m As paredes rochosas dos leixões constituem entre alcançar e contornar o leixão e voltar à praia, também importantes habitats para organis- estimando-se uma duração média de 1 hora para mos marinhos do intertidal e subtidal, tais o mergulho. É aconselhável mergulhar apenas em como cracas, lapas, mexilhões, camarões, situação de ausência de ondulação; recomenda-se caranguejos e muitas espécies de colori- ainda evitar a subida para as lajes do leixão durante a época de nidificação das aves, entre maio e julho. dos cabozes. No Leixão da Gaivota, a zona de plataforma baixa e as paredes verticais imersas exibem comunidades marinhas muito Acessos diversificadas. Com sorte, um mergulho em apneia em torno deste leixão poderá permitir Leixão da Gaivota: Acesso a partir de Ferragudo seguindo pela M 530 para sul até à Ponta do Altar, observar cardumes de peixe-rei e esparídeos ou até à praia dos Caneiros seguindo as indicações como a safia, a mucharra ou o sargo. para a praia.

130 Lista de espécies Flora murta - Myrtus communis narciso-das-areias - Pancratium maritimum açafrão-bravo - Crocus serotinus oliveira - Olea europaea var. europaea adelfeira - Rhododendron ponticum orquídea-piramidal - Anacamptis pyramidalis alcar-dos-algarves - Tuberaria major palmeira-anã - Chamaerops humilis alecrim - Rosmarinus officinalis perpétua-das-areias - Helicrhysum italicum alfarrobeira - Ceratonia siliqua pinheiro-bravo - Pinus pinaster amendoeira - Prunus dulcis pinheiro-do-alepo - Pinus halepensis amieiro - Alnus glutinosa pinheiro-manso - Pinus pinea araucária-de-norfolk - Araucaria heterophylla plátano-oriental - Platanus orientalis aroeira - Pistacia lentiscus retama - Retama monosperma azinheira - Quercus rotundifolia rosa-albardeira - Paeonia broteroi barrilha - Salsola vermiculata roselha-grande - Cistus albidus barrilha-espinhosa - Salsola kali rosmaninhos - Lavandula spp. camarinha - Corema album salgadeira - Atriplex halimus cana - Arundo donax caniço - Phragmites australis carrasco - Quercus coccifera carvalho-cerquinho - Quercus faginea carvalho-de-monchique - Quercus canariensis castanheiro - Castanea sativa PG chorão - Carpobrotus edulis choupos - Populus spp. cistanca - Cistanche phelypaea cordeirinho-das-praias - Otanthus maritimus couve-marinha - Calystegia soldanella cravo-das-areias - Armeria pungens salgueiros - Salix spp. eruca-marítima - Cackile maritima salicornia - Salicornia spp. erva-do-orvalho - Mesembryanthemum nodiflorum samouco - Myrica faya esparto - Stipa tenacissima sanguinho-das-sebes - Rhamnus alaternus esteva - Cistus ladanifer sebarrinha - Zoostera noltii esteva-de-sagres - Cistus palhinhae silva - Rubus ulmifolius estorno - Ammophila arenaria sobreiro - Quercus suber eucalipto - Eucalyptus globulus tabúa - Typha spp. feno-das-areias - Elymus farctus tamargueira - Tamarix africana figueira - Ficus carica tamujo - Fluggea tinctoria folhado - Viburnum tinus tomilho-cabeçudo - Thymus lotocephalus freixo - Fraxinus angustifolia tomilho-das-praias - Thymus carnosus funcho - Foeniculum vulgare tomilho-do-mar - Thymus camphoratus granza-marítima - Crucianella maritima torga - Calluna vulgaris gramata-branca - Atriplex portulacoides urze-das-vassouras - Erica scoparia junco-agudo - Juncus acutus urze-vermelha - Erica australis lentisco-bastardo - Phillyrea angustifolia zambujeiro - Olea europaea var. sylvestris loendro - Nerium oleander zimbro - Juniperus turbinata luzerna-das-praias - Medicago marina magnólia-sempre-verde - Magnolia grandiflora Fauna mato-branco - Halimium halimifolium medronheiro - Arbutus unedo abelharuco - Merops apiaster morraça - Spartina maritima abetarda - Otis tarda

131 abibe - Vanellus vanellus congro - Conger conger lagarto - Lacerta lepida pepino-do-mar - Holothuria spp. achigã - Micropterus salmoides coral-falso - Alcyonium coralloides lagarto-de-água - Lacerta schreiberi perca-sol - Lepomis gibbosus águia-calçada - Hieraaetus pennatus coral-laranja - Dendrophyllia ramea lagosta - Palinurus elephas perceve - Pollicipes pollicipes águia-cobreira - Circaetus gallicus corvo-marinho-de-crista - Phalacrocorax aristotelis lagostim-vermelho-da-louisiana - Procambarus perdiz - Alectoris rufa águia-de-asa-redonda - Buteo buteo clarkii pernilongo - Himantopus himantopus águia-de-Bonelli - Hieraaetus fasciatus lambujinha - Scrobicularia plana pêrra - Aythya nyroca águia-imperial - Aquila adalberti lampreia-marinha - Petromyzon marinus picanço-real - Lanius meridionalis águia-pesqueira - Pandion haliaetus lapa - Patella spp. pilrito-das-praias - Calidris alba águia-real - Aquila chrysaetus lebre - Lepus granatensis pintassilgo - Carduelis carduelis águia-sapeira - Circus aeruginosus leirão - Eliomys quercinus polvo - Octopus vulgaris alcaravão - Burhinus oedicnemus libélula-escarlate - Crocothemis erythraea pombo-das-rochas - Columbia livia alfaiate - Recurvirostra avosetta lince-ibérico - Lynx pardinus poupa - Upupa epops alvéola-cinzenta - Motacilla cinerea língua-de-gato - Buglossidium luteum rã-de-focinho-ponteagudo - Discoglossus galganoi ameijoa-boa - Ruditapes decussatus linguado - Solea senegalensis raia - Raja spp. anémona-morango - Actinia equina lingueirão - Solen marginatus raposa - Vulpes vulpes atum-rabilho - Thunnus thynnus lontra - Lutra lutra ratinho-ruivo - Mus spretus baleia-piloto - Globicephala melas maçarico-das-rochas - Actitis hypoleucos rã-verde - Rana perezi barbo-de-cabeça-pequena - Barbus microcephalus maçarico-galego - Numenius phaeopus rela - Hyla meridionalis berbigão - Acanthocardia tuberculata JP marinha - Syngnathus acus robalo - Dicentrarchus labrax biqueirão - Engraulis encrasicolus melro - Turdus merula rodovalho - Scophthalmus rhombus boga-de-boca-arqueada - Chondrostoma lemmingii corvo-marinho-de-faces-brancas - Phalacrocorax melro-azul - Monticula solitarius rola-brava - Streptopelia turtur boga-do-Guadiana - Chondrostoma willkommii carbo mergulhão-de-crista - Podiceps cristatus rola-turca - Streptopelia decaocto boga-do-Sudoeste - Chondrostoma almacai cotovia-de-poupa - Galerida cristata mero - Epinephelus marginatus rouxinol - Cettia cetti boga-portuguesa - Chondrostoma lusitanicum craca - Chthamalus spp. mexilhão - Mytilus galloprovincialis rouxinol-grande-dos-caniços - Acrocephalus borboleta-monarca - Danaus plexippus dourada - Sparus aurata mocho-galego - Athene noctua arundinaceus bordalo - Squalidus alburnoides enguia - Anguilla anguilla moleiro - Stercorarius skua saboga - Alosa fallax borrelho-de-coleira-interrompida - Charadrius escalo-do-Arade - Squalius aradensis morcego-de-ferradura-mourisco - Rhinolophus sacarrabos - Herpestes ichneumon alexandrinus estrela-do-mar-de-espinhos - Marthasterias glacialis mehelyi safia- Diplodus vulgaris borrelho-grande-de-coleira - Charadrius hiaticula esturjão - Acipenser sturio morcego-de-ferradura-pequeno - Rhinolophus salmonete - Mullus surmuletus boto - Phocoena phocoena falcão-peregrino - Falco peregrinus ferrumequinum sapo-comum - Bufo bufo bufo-real - Bubo bubo flamingo - Phoenicopterus ruber morcego-de-peluche - Miniopterus schreibersii sapo-corredor - Bufo calamita caboz-da-areia - Pomatoschistus pictus fuinha - Martes foina morcego-rato-pequeno - Myotis blythii sapo-de-unha-negra - Pelobates cultripes caboz-negro - Gobius niger gaio - Garrulus glandarius mucharra - Diplodus annularis sapo-parteiro-ibérico - Alytes obstreticans cação - Mustelus mustelus gaivota de Audouin - Larus audouinii musaranho-de-dentes-brancos - Crocidura russula saramugo - Anaecypris hispanica cágado-de-carapaça-estriada - Emys orbicularis gaivota-de-patas-amarelas - Larus cachinnans narceja - Gallinago gallinago sardinha - Sardina pilchardus cágado-mediterrânico - Mauremys leprosa galeirão - Fulica atra noitibó-de-nuca-vermelha - Caprimulgus ruficollis sargo - Diplodus sargus calhandra-real - Melanocorypha calandra galinha-de-água - Gallinula chloropus orca - Orcinus orca sável - Alosa alosa calhandrinha-das-marismas - Calandrella rufescens ganso-patola - Morus bassanus ouriço-cacheiro - Erinaceus europaeus sisão - Tetrax tetrax camaleão - Chamaeleo chamaeleon garça-boieira - Bubulcus ibis ouriço-das-poças - Paracentrotus lividus tamboril-preto - Lophius budegassa camão - Porphyrio porphyrio garça-branca - Egretta garzetta ouriço-de-espinhos-curtos - Sphaerechinus tarambola-cinzenta - Pluvialis squatarola camarão-girino - Triops cancriformis garça-real - Ardea cinerea granularis tartaruga-comum - Caretta caretta carapau - Trachurus trachurus garça-vermelha - Ardea purpurea papa-figos- Oriolus oriolus tartaruga-de-couro - Dermochelys coriacea cavalo-marinho - Hippocampus guttulatus garçote - Ixobrychus minutus papagaio-do-mar - Fratercula artica tentilhão - Fringilla coelebs cegonha-branca - Ciconia ciconia gavião - Accpiter nisus pardal - Passer domesticus texugo - Meles meles chapim-azul - Parus caeruleus gineta - Genetta genetta pardela-de-bico-amarelo - Calonectris diomedea toirão - Mustela putorius chapim-real - Parus major golfinho-comum- Delphinus delphis pargo - Pagrus pagrus torcicolo - Jynx torquilla chilreta - Sterna albifrons gralha-de-bico-vermelho - Pyrrhocorax pyrrhocorax pato-de-bico-vermelho - Netta rufina torda-mergulheira - Alca torda choco - Sepia officinalis gralha-de-nuca-cinzenta - Corvus monedula pato-preto - Melanitta nigra toupeira - Talpa occidentalis cia - Emberiza cia guarda-rios - Alcedo atthis pato-real - Anas platyrhynchos toutinegra-de-cabeça-preta - Sylvia melanocephala cobra-de-água-de-colar - Natrix natrix guincho - Larus ridibundus pega-azul - Cyanopica cyana trepadeira - Sitta europaea cobra-de-escada - Elaphe scalaris ibis-preto - Plegadis falcinellus peixe-aranha - Echiichthys vipera tubarão-martelo - Sphyma spp. cobra-de-pernas-pentadáctila - Chalcides bedriagai javali - Sus scrofa peixe-espada-branco - Lepidopus caudatus vaquinha-suiça - Discodoris atromaculata coelho-bravo - Oryctolagus cuniculus lagarta-do-pinheiro - Thaumetopoea pityocampa peixe-rei - Atherina boyeri verdilhão - Carduelis chloris colhereiro - Platalea leucorodia lagartixa-do-mato - Psammodromus algirus peneireiro - Falco tinnunculus zarro - Aythya ferina

132 133 Glossário

Aerohalina (vegetação) - plantas adaptadas a ventos calcárias, produzido pelo trabalho de dissolução das Esparídeo - família de peixes ósseos bem repre- Jusante - para o lado da foz de um curso de água. salinizados. águas superficiais e subterrâneas. sentada na fauna marinha portuguesa (e.g. bogas, sargos, douradas, pargos). Lacertídeo - que faz parte da família de répteis Algar - poço natural que se forma em regiões Catádromo - animal que se desenvolve até à fase sáurios a que pertencem, por exemplo, o lagarto e calcárias, estabelecendo a comunicação entre a adulta nos rios e que se reproduz no mar. Espécie pioneira - espécie que coloniza inicialmente a lagartixa. superfície e as galerias subterrâneas. uma área nova não ocupada por outras espécies, Charco temporário - charcos característicos de geralmente iniciando o processo de sucessão Lapiás - forma de relevo calcário que se apresenta Aluvião - relativo ao material sedimentar arrastado zonas em que existe uma alternância anual entre a ecológica. intensamente desgastado e esculpido devido à pela corrente dos cursos de água e depositado nas fase seca (meses áridos) e fase inundada (época das acção erosiva da água. O termo megalapiás designa margens e várzeas (planícies aluvionares). chuvas). Estio - estação do ano quente e seca. formas de relevo com dimensões consideráveis.

Anádromo - animal que vive no mar e sobe os rios Cistáceas - refere-se a uma família de plantas na sua Eutrofização - processo que consiste no aumento Laurissilva - floresta húmida subtropical própria da na época da reprodução. maioria arbustivas, onde se incluem as estevas e os da quantidade de nutrientes na água, em especial Macaronésia. sargaços. o azoto e o fósforo, com efeitos negativos para o Aquífero subterrâneo - depósito subterrâneo de ecossistema e para a qualidade da água. Limícolas - nome genérico de aves pertencentes à água de origem natural. Comunidade climácica - comunidade de seres vivos, sub-ordem Charadrii, normalmente associadas a zo- no estádio final da sucessão ecológica, que se con- Exótico - diz-se de algo que vem de fora, ou seja, nas húmidas como os pilritos, maçaricos, borrelhos, Arenito - rocha sedimentar constituída por areias sidera estar em perfeito equilíbrio com o meio. não é originário dessa região. tarambolas, etc.. agregadas por cimento calcário. Críptico - organismo que exibe comportamento Garum - molho feito à base de peixe, sal e ervas Macaronésia - região biogeográfica que engloba Arroteamento - desmatação de parcelas de terreno territorial e capacidade de camuflagem, passando aromáticas e usado como um condimento de luxo os arquipélagos vulcânicos dos Açores, Cabo Verde, para fins agrícolas. grande parte do tempo escondido, sobretudo em durante o Império Romano. Canárias e Madeira. cavidades rochosas. Arvenses, culturas - culturas anuais como o trigo, a Geoforma - relevo rochoso resultante da erosão por Maciço Antigo - unidade geomorfológica que cevada, o milho, o centeio, o girassol ou as ervilhas. Demersal - organismo que vive na coluna de água, agentes físicos (vento, chuva) e biológicos (seres ocupa a parte central e ocidental da Península mais próximo do fundo do mar. vivos). Ibérica, constituida essencialmente por granitos, Autóctone - organismo que se encontra na sua área xistos e cristas quartzíticas, cuja origem remonta ao natural. Discordância angular (geologia) - ausência de Grauvaque - rocha sedimentar detrítica de matriz Paleozoico. paralelismo entre camadas geológicas adjacentes, siliciosa. Autotrófico - ser vivo capaz de produzir compostos resultante de fenómenos tectónicos que dobraram Maghreb – região noroeste do continente africano. orgânicos a partir de substâncias minerais, utilizando e enrugaram rochas mais antigas que as rochas que Grés de Silves - rochas detríticas (arenitos e argilas uma fonte de energia externa. se lhes sobrepõem. de cor avermelhada) do Triássico; trata-se de uma Maquial - associação vegetal, com a forma de mata- formação que aflora entre o barrocal calcário e os gal denso, comum das zonas mediterrânicas. Bentónico - diz-se dos organismos marinhos que vi- Dolina - depressão cársica de contorno arredon- xistos do território serrano. vem associados ao substrato, em estreita dependên- dado, mais larga que profunda. Margosa, formação - referente a marga, rocha cia do mesmo. Haliêutico, recurso - referente às águas marinhas. sedimentar composta por uma mistura de argila e Dolomia - rocha sedimentar constituída por carbo- calcário. Calcário - rocha sedimentar essencialmente consti- nato de cálcio e magnésio. Halófila - planta adaptada a ambientes salgados. tuída por carbonato de cálcio. Mergulho de apneia - mergulho executado sem Endémico - ser vivo exclusivo de uma determinada Higrófilo - ser vivo que vive em meios húmidos. o auxílio de aparelhos de respiração subaquática. Calcícola - planta que cresce em solos calcários. região; emprega-se no sentido mais restrito que Também denominado mergulho livre. nativo. Idade do Ferro - terceira e última fase da Idade dos Carbonatadas, rochas - rochas básicas (pH >7) Metais (Pré-história) em que o bronze é substituído Mesolítico - período da Pré-história relativo à tran- constituidas essencialmente por carbonatos; são Erosão - fenómeno de alteração e modelação do pelo ferro no fabrico de utensílios; começou aproxi- sição do Paleolítico para o Neolítico. muito vulneráveis ao contacto com a água da chuva relevo terrestre, resultante da atividade dos agentes madamente em 1.200 a.C.. que tende a provocar a dissolução e corrosão da físicos (vento, água, gelo) e biológicos (seres vivos). Mimetismo - capacidade de alguns animais toma- rocha. Intertidal - faixa costeira abrangida pela amplitude rem a cor do meio em que vivem. Esclerófila - planta adaptada à secura do meio que das marés, entre a preia-mar e a baixa-mar das Cársico - diz-se do relevo originado em regiões exibe folhas pequenas e coriáceas. águas vivas equinociais.

134 135 Montado - terreno povoado por sobreiros ou zonas húmidas como por exemplo o galeirão ou a azinheiras com utilização simultânea de agricultura galinha-de-água. Figuras legais de proteção da natureza ou pastoreio no sub-bosque. Regressão marinha - recuo do mar em relação aos REN (Reserva Ecológica Nacional) - área geográfica nacional determinada pelo Estado que constitui um Montante - para o lado da nascente de um curso continentes e diminuição do nível médio das águas instrumento de ordenamento do território, visando possibilitar a exploração dos recursos e a utilização do de água. do mar. Pode ocorrer numa glaciação ou através território salvaguardando o equilíbrio ecológico e a estrutura biofísica das regiões. de uma elevação dos terrenos. Em oposição, a Neolítico - período da Pré-história caracterizado transgressão marinha é o avanço do mar sobre os Reserva Biogenética - área protegida, beneficiando de um estatuto jurídico e caracterizada por um ou por profundas alterações na sociedade humana continentes na sequência do derretimento das calo- vários habitats, biocenoses ou ecossistemas típicos, únicos, em perigo ou raros. A Rede Europeia de Reservas (agricultura e pastorícia). Decorre aproximadamente tes polares ou devido ao abatimento de algumas Biogenéticas foi instituída em 1976 pelo Conselho da Europa, com base na Convenção de Berna. entre 5.000 e 2.000 a.C.. regiões. Rede Natura 2000 - rede ecológica europeia formada pelos SIC ou Zonas Especiais de Conservação (Diretiva Nidificação - relativo ao período reprodutor de Ripícola - ser vivo próprio de cursos de água. Habitats) e pelas Zonas de Proteção Especial (Diretiva Aves), que tem como objetivo a proteção da biodiver- certos animais como as aves, envolvendo a ação de sidade no território da União Europeia e na qual são aplicadas medidas para a manutenção ou recuperação construir o ninho. Rocha eruptiva (=magmática; ígnea) - rocha vul- de habitats ou espécies, incluindo o restabelecimento das populações de aves selvagens. cânica formada por arrefecimento do magma. Nitrófila - planta que cresce em solos com elevado ZPE (Zona de Proteção Especial para as Aves) - área protegida que integra a Rede Natura 2000, definida de teor de matéria orgânica (azoto). Rupícola - ser vivo próprio de terrenos rochosos. acordo com a Diretiva Aves.

Paleártico - região zoogeográfica que inclui a Eu- Sapal - terreno aluvionar periodicamente inundado SIC (Sítio de Interesse Comunitário) - área protegida que integra a Rede Natura 2000, considerada relevante ropa, Norte de África, grande parte da Arábia e a Ásia pelas marés e colonizado por vegetação halófila. para a preservação de habitats e espécies característicos de uma zona biogeográfica europeia, de acordo a norte dos Himalaias (setor norte do Velho Mundo). Estas comunidades vegetais distribuem-se de com a Diretiva Habitats. acordo com o tempo diário de inundação pelas Paleoduna (= duna fóssil) - duna formada com areias marés, podendo diferenciar-se em sapal baixo, sapal Parque Natural - área protegida que integra predominantemente ecossistemas naturais ou seminaturais, consolidadas testemunhando a ação marinha em médio e sapal alto. onde a preservação da biodiversidade a longo prazo possa depender de atividade humana, assegurando um épocas geológicas recuadas. fluxo sustentável de produtos naturais e de serviços. Sequeiro - culturas que não necessitam de rega. Paleolítico - período da Pré-história situado até Reserva Natural - área protegida que contém características ecológicas, geológicas e fisiográficas, ou outro 10.000 a.C.. Sienito - rocha ígnea formada a partir da cristaliza- tipo de atributos com valor científico, ecológico ou educativo, e que não se encontre habitada de forma ção do magma. permanente ou significativa. Palustre - relativo a locais de água parada (sem cor- rente) como pauis, pântanos e turfeiras. Sub-bosque (=subcoberto) - formações vegetais Paisagem Protegida - área protegida que integra paisagens resultantes da interação harmoniosa do ser que ocorrem nos estratos inferiores da copa das humano e da natureza, e que evidenciem grande valor estético, ecológico ou cultural. Passeriforme - ave normalmente de dimensões re- árvores num bosque ou floresta. duzidas que compreende as espécies mais comuns Áreas Protegidas de âmbito regional/local - são áreas protegidas criadas e geridas pelas associações de como o pardal, melro, etc.. Subtidal - faixa costeira abaixo do limite da baixa- municípios ou municípios. -mar de águas vivas equinociais; permanece sempre Pelágico - organismo que vive e se alimenta exclusi- coberta pela água do mar. vamente na coluna de água. Escala geológica Sul - refere-se ao Portugal meridional. Plataforma continental - plataforma submarina pouco profunda localizada nas margens de um Terra rossa - solo residual nas zonas calcárias e continente. dolomíticas, de cor vermelho-acastanhado.

Polje - palavra de origem servo-croata que designa Ubíquo - ser vivo presente em todo o território. uma depressão cársica de grande dimensão, de fundo aplanado, e que pode criar um lago tem- Vasa - terreno lodoso. porário na época das chuvas. Vivaz - planta cujas estruturas aéreas são renovadas Povoamento estreme - diz-se de um povoamento anualmente, mantendo-se a estrutura subterrânea. puro, de uma só espécie vegetal. Xisto - rocha metamórfica que se dispõe em cama- Ralídeo - ave pertencente à família Rallidae que das, resultando num aspeto laminado. compreende um conjunto de espécies associadas a PG

136 137 Bibliografia

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138 139 Almargem - Associação de Instituto da Conservação da RIAS - Centro de Recuperação defesa do património cultural e Natureza e das Florestas (ICNF) e Investigação de Animais ambiental do Algarve Rua de Santa Marta, 55 Selvagens Contactos Rua de São Domingos, nº 65, 1169-230 Lisboa Centro de Educação Ambiental Apartado 251 Tel.: 21 3507900 de Marim - Quelfes autarquias 8100 Loulé Fax: 21 3507984 8700-201 Olhão Tel.: 289 412 959 E-mail: [email protected] Tel.: 927 659 313 Albufeira Lagos Silves Fax: 289 414 104 www.icnf.pt E-mail: [email protected] Rua do Município Praça Gil Eanes Paços do Município E-mail: [email protected] 8200-863 Albufeira 8600-668 Lagos 8300-117 Silves www.almargem.org Odiana - Associação para o Tel.: 289 599 500 Tel.: 282 771 700 Tel.: 282 440 800 desenvolvimento do baixo SPEA - Sociedade Portuguesa Fax: 289 599 511 Fax: 282 769 317 Fax: 282 440 854 Associação Casas Brancas Guadiana para o Estudo das Aves [email protected] [email protected] [email protected] Travessa do Botequim, nº 6 Rua 25 de Abril, nº 1, Apartado 21 Av. João Crisóstomo, n.º 18, 4.º www.cm-albufeira.pt www.cm-lagos.pt www.cm-silves.pt 7630-185 Odemira 8950-909 Castro Marim Dto. Tel/Fax: 283 327 669 Tel.: 281 531 171 1000-179 Lisboa Alcoutim Loulé Tavira www.casasbrancas.pt Fax: 281 531 080 Tel.: 213 220 430 Rua do Município, 12 Praça da República Praça da República E-mail: [email protected] Fax: 213 220 439 89700-066 Alcoutim 8100-951 Loulé 8800-951 Tavira Associação IN LOCO www.odiana.pt E-mail:[email protected] Tel.: 281 540 500 Tel.: 289 400 600 Tel.: 281 320 500 Sítio da Campina / Av. da www.spea.pt Fax: 281 546 363 Fax: 289 415 557 Fax: 281 322 888 Liberdade - Apartado 101 Parque Natural da Ria Formosa [email protected] [email protected][email protected] 8150-101 S. Brás de Alportel Centro de Educação Ambiental Vicentina - Associação para o www.cm-alcoutim.pt www.cm-loule.pt www.cm-tavira.pt Tel.: 289 840 860 de Marim – Quelfes Desenvolvimento do Sudoeste Fax: 289 840 879 /78 8700-201 Olhão Rua Direita, n.º 13 Aljezur Monchique Vila do Bispo E-mail: [email protected] Tel.: 289 700 210 8600-069 Bensafrim Rua Capitão Salgueiro Maia Travessa da Portela, 2 Largo do Município www.in-loco.pt Fax: 289 700 219 Tel.: 282 680 120 8670-005 Aljezur 8550-470 Monchique 8650-407 Vila do Bispo E-mail: [email protected] Fax: 282 680 129 Tel.: 282 990 010 Tel.: 282 910 200 Tel.: 282 630 600 A ROCHA – Centro de estudos www.icnf.pt E-mail: [email protected] Fax: 282 990 011 Fax: 282 910 299 Fax: 282 639 208 “Cruzinha” www.vicentina.org [email protected] [email protected] [email protected] Quinta da Rocha - Apartado 41 Parque Natural do Sudoeste www.cm-aljezur.pt www.cm-monchique.pt www.cm-viladobispo.pt 8501-903 Mexilhoeira Grande Alentejano e Costa Vicentina Tel.: / Fax: 282 968 380 Sede: Rua Serpa Pinto, 327630 postos Castro Marim Olhão Vila Real de Santo António E-mail: [email protected] -174 Odemira Rua Dr. José Alves Moreira, 10 Largo Sebastião Martins Mestre Praça Marquês de Pombal www.arocha.org Tel.: 283 322 735 de informação 8950-138 Castro Marim 8700-349 Olhão 8900-231 Vila Real de Santo Fax: 283 322 830 Tel.: 281 510 740 Tel.: 289 700 100 António Comissão de Coordenação e E-mail: [email protected] turística Fax: 281 510 743 Fax: 289 700 111 Tel.: 281 510 001/2 Desenvolvimento Regional do www.icnf.pt [email protected] [email protected] Fax: 281 510 003 Algarve Delegação: Rua João Mendes Aeroporto Internacional de www.cm-castromarim.pt www.cm-olhao.pt [email protected] Sede: Praça da Liberdade, 2 Dias, 46-A Faro www.cm-vrsa.pt 8000-164 Faro 8670-086 Aljezur Aeroporto Internacional de Faro Faro Portimão Tel.: 289 895 200 Tel.: 282 998 673 8001-701 Faro Rua do Município, 13 Praça 1.º de Maio Fax. 289 807 623 Fax: 282 998 531 Tel.: 289 818 582 8000-398 Faro 8500-962 Portimão E-mail: [email protected] [email protected] Tel.: 289 870 870 Tel.: 282 470 700 www.ccrd-alg.pt Reserva Natural do Sapal de Fax: 289 802 326 Fax: 282 470 792 outras entidades Castro Marim e Vila Real de Albufeira [email protected] [email protected] Departamento da Conservação Santo António Rua 5 de Outubro www.cm-faro.pt www.cm-portimao.pt Agência Portuguesa de da Natureza e Florestas do Sede: Sapal de Venta Moinhos, 8200-109 Albufeira Ambiente, IP - ARH do Algarve Algarve Apartado 7 Tel.: 289 585 279 Lagoa São Brás de Alportel Rua do Alportel, nº 10 – 2º Braciais – Patacão – Apartado 282 8950-138 Castro Marim [email protected] Largo do Município Rua Gago Coutinho 8000-293 Faro 8001-904 Faro Tel.: 281 510 680 8401-851 Lagoa 8150-151 São Brás de Alportel Tel.: 289 889 000 Tel.: 289 870 718 Fax: 281 531 257 Alcoutim Tel.: 282 380 400 Tel.: 289 840 000 Fax: 289 889 099 Fax. 289 822 284 E-mail: [email protected] Rua 1.º de Maio Fax: 282 380 444 Fax: 289 842 455 [email protected] www.icnf.pt www.icnf.pt 8970-059 Alcoutim [email protected] [email protected] www.apambiente.pt Tel.: 281 546 179 www.cm-lagoa.pt www.cm-sbras.pt [email protected]

140 141 Aljezur Monte Gordo postos municipais Rua 25 de Abril, n.º 62 Avenida Marginal 8670-054 Aljezur 8900 Monte Gordo de informação Tel.: 282 998 229 Tel.: 281 544 495 Notas [email protected] [email protected] turística

Alvor Olhão Albufeira Rua Dr. Afonso Costa, n.º 51 Largo Sebastião Martins Mestre, Estrada de Santa Eulália 8500-016 Alvor n.º 8 A 8200 Albufeira Tel.: 282 457 540 8700-349 Olhão Tel.: 289 515 973 [email protected] [email protected] Tel.: 289 713 936 [email protected] Armação de Pêra Estrada Nacional 395 (entrada da Avenida Marginal Ponte Internacional do cidade) 8365 Armação de Pêra Guadiana 8200 Albufeira Tel.: 282 312 145 A22 – Monte Francisco Tel.: 289 599 502 turismo.armacaodepera@turismodoalgarve. 8950-206 Castro Marim [email protected] pt Tel.: 281 531 800 [email protected] Almancil Carvoeiro Rua de Vale Formoso Praia do Carvoeiro Praia da Rocha 8135 Almancil 8400-517 Lagoa Avenida Tomás Cabreira Tel.: 289 392 659 Tel.: 282 357 728 8500-802 Praia da Rocha [email protected] Tel.: 282 419 132 Alte [email protected] Estrada da Ponte, n.º 17 Castro Marim 8100 Alte Rua José Alves Moreira n.º 2 – 4 Quarteira Tel.: 289 478 666 8950-138 Castro Marim Praça do Mar Tel.: 281 531 232 8125 Quarteira Portimão [email protected] Tel.: 289 389 209 Rua 5 de Outubro, n.º 10, 1.º [email protected] 8500-581 Portimão Faro Tel.: 282 430 110 Rua da Misericórdia, n.º 8 – 11 Sagres Fax: 282 430 115 8000-269 Faro Rua Comandante Matoso [email protected] Tel.: 289 803 604 8650-357 Sagres [email protected] Tel.: 282 624 873 Querença [email protected] Largo da Igreja Lagos 8100 - 495 Querença Praça Gil Eanes (Antigos Paços do São Brás de Alportel Tel.: 289 422 495 Concelho) Largo de São Sebastião, n.º 23 8600 Lagos 8150-107 São Brás de Alportel Salir Tel.: 282 763 031 Tel.: 289 843 165 Centro Interpretativo de Arqueo- [email protected] [email protected] logia 8100-202 Salir Loulé Silves Tel.: 289 489 137 Avenida 25 de Abril, n.º 9 E. N. 124 (Parque das Merendas) 8100-506 Loulé 8300 Silves Tel.: 289 463 900 Tel.: 289 098 927 [email protected] [email protected]

Monchique Tavira Largo S. Sebastião Praça da República, n.º 5 8550 Monchique 8800 Tavira Tel.: 282 911 189 Tel.: 281 322 511 [email protected] [email protected] 142 143 Agradecimentos Ficha Técnica

Os autores expressam o seu reconhecido agradecimento a: Edição e Propriedade Turismo do Algarve Miguel Alegria Alves pelas boas sugestões e exaustiva revisão técnica dos [email protected] textos; Álvaro Baptista pela colaboração na caracterização ecogeográfica do www.turismodoalgarve.pt Algarve e pela leitura atenta e correção de base dos textos; a Edite Reis pela www.visitalgarve.pt colaboração prestada na área da geologia dos textos da Costa Vicentina e Barrocal; a Jorge Gonçalves pela colaboração e revisão dos textos relativos Sede: Av. 5 de Outubro, 18 ao Ecossistema Marinho; a Sandra Correia pelo apoio na elaboração de 8000-076 Faro, Algarve, Portugal cartografia; e a Maria José Pitta-Grós e Nuno Magalhães pelas palavras Telefone: 289 800 400 oportunas e sugestões preciosas para a concretização deste trabalho. Fax: 289 800 489

Especiais agradecimentos ainda ao Jorge Gonçalves e restante equipa do Coordenação projeto RENSub (CCMAR, Universidade do Algarve) pela gentil cedência das Departamento de Marketing fotografias subaquáticas do ecossistema marinho. Equipa de Comunicação e Imagem Turismo do Algarve [email protected]

Textos Paula Gaspar João Eduardo Pinto (fauna)

Fotografias João Eduardo Pinto Paula Gaspar - pág. 15 topo, pág. 21 topo, pág. 24 Genista sp. e Ulex sp. Jorge Gonçalves (CCMAR, Universidade do Algarve) - págs. 121, 122, 123, 127; pág. 124 meio; pág. 126 topo

Ilustrações João Eduardo Pinto (JP) Paula Gaspar (PG)

Conceção Gráfica e Paginação João Eduardo Pinto

Capa Duna com cravo-das-areias (Armeria pugens) e narciso-das-areias (Pancratium maritimum)

Impressão Gráfica Comercial, Loulé

Tiragem 3 000 exemplares

Distribuição gratuita

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