LUIZ AQUILA DA ROCHA MIRANDA (Depoimento, 2010)
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. MIRANDA, Luiz Áquila da Rocha. Luiz Áquila da Rocha Miranda, (depoimento, 2010). Rio de Janeiro, CPDOC, 2010. 42 p. LUIZ AQUILA DA ROCHA MIRANDA (depoimento, 2010) Rio de Janeiro 2010 Ficha Técnica tipo de entrevista: temática entrevistador(es): Helena Maria Bousquet Bomeny, Bernardo Buarque de Hollanda, Vanuza Moreira Braga. levantamento de dados: Helena Maria Bousquet Bomeny, Bernardo Buarque de Hollanda, Vanuza Moreira Braga. pesquisa e elaboração do roteiro: Helena Maria Bousquet Bomeny, Bernardo Buarque de Hollanda, Vanuza Moreira Braga. sumário: Mariana Franco Lopes técnico de gravação: Marcela Baptista Teixeira local: Rio de Janeiro - Brasil data: 18/03/2010 duração: 1h 40 min. MiniDV: 2 Arquivo digital – áudio : 2 páginas: 42 Entrevista realizada como parte integrante de um projeto interno do CPDOC intitulado "Dossiê Brasília 50 Anos". Coordenado pela professora Helena Bomeny, este projeto contou com a participação de uma equipe de pesquisadores do Centro para o levantamento de dados acerca da história de Brasília no ano em que esta cidade completa 50 anos (2010). Temas: Anos 1960, arquitetura, arte, artes plásticas, assuntos familiares, Banco Nacional de Desenvolvimento Social, Brasília, Capital da República, Carlos Drummond de Andrade, ensino superior, formação escolar, França, Golpe de 1964, Governos militares, greves, Inglaterra, Lúcio Costa, movimento estudantil, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Portugal, projetos arquitetônicos, repressão política, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, transferência da capital (Brasília), Universidade de Brasília. Luiz Áquila da Rocha Miranda Sumário Arquivo em áudio 1: Origens familiares; comentários sobre o pai - Alcides da Rocha Miranda - e o seu ofício de arquiteto do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional); observações acerca da geração de arquitetos do seu pai: a preocupação com a questão social; a relação de Alcides da Rocha Miranda com Lúcio Costa, Carlos Drummond de Andrade e Rodrigo Melo Franco de Andrade; menção à convivência com artistas plásticos – amigos de seu pai -, que freqüentavam a sua residência; a descoberta do interesse pelas artes plásticas; as referências na adolescência: Osvaldo Goeldi e Aluísio Carvão; formação escolar: os estudos do primário em escolas públicas do Rio de Janeiro; a mudança para Brasília em 1960 e as suas impressões da capital; menção à ida de Alcides a Brasília para conhecer o projeto do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social); a possibilidade da descoberta de um “outro” Brasil a partir de Brasília; a contrariedade em relação à ideia da capital como o “Brasil do futuro”, recorrente entre os arquitetos; breve comentário sobre Brasília nos anos anteriores ao golpe de 64; a volta para o Rio de Janeiro em meados dos anos 60; o relato de como acompanhou as primeiras conversas sobre o projeto de criação da UnB (Universidade de Brasília); o início das obras de construção da universidade: os primeiros prédios projetados por Alcides e a Escola de Arquitetura; breve comentário sobre os primeiros alunos da universidade; o “provincianismo” atual de Brasília, ao contrário das expectativas criadas pelas pessoas envolvidas com a fundação da UnB; observações acerca do Instituto de Artes e à Pós- Graduação da universidade; avaliação das pós-graduações de arte na Inglaterra, atualmente; relato da invasão da UnB pelo Exército em 1º de abril de 1964 e a organização, com demais artistas, de materiais de propaganda da legalidade; referência a demissão coletiva de 1965. ............................................................................................................................................. p.1-26 Arquivo em áudio 2: A relação com o designer Alex Peirano Chacon e as suas criações e invenções na UnB no período pré-1964; comentários sobre os primeiros reitores da UnB pós- golpe; outras observações acerca da demissão coletiva; a ida para a França e o emprego na Cité Internationale des Arts; a mudança de opinião de Alcides com relação a Brasília após 1964; as estadas na Inglaterra e em Portugal durante a década de 60; menção a ida para Paris em maio de 1968; a volta para o Brasil em setembro deste ano e as contestações dos estudantes da UnB: greves, assembléias, grupos de trabalho; a volta à Inglaterra em 1972 e o amadurecimento do seu trabalho; menção às facilidades e vantagens oferecidas pelas universidades inglesas; opinião com relação à mudança dos costumes em Brasília após o golpe; breve referência a violência policial à época da Ditadura Militar e a um processo de “aburguesamento” iniciado na capital; análise de Brasília nos dias de hoje: continuidade com relação à forma física e as suas contradições....................................................................................................................... p. 26-42 Luiz Áquila da Rocha Miranda 1 Fundação Getulio Vargas Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) Projeto: Dossiê Brasília 50 anos Entrevistado: Luiz Aquila da Rocha Miranda Local: Rio de Janeiro – RJ Entrevistadores: Helena Bomeny, Bernardo Buarque de Hollanda e Vanuza Braga Transcrição: Maria Izabel Cruz Bitar Data da transcrição: 25 de março de 2010 Conferência de fidelidade: Mariana Franco Lopes Data da conferência de fidelidade: 14 de abril de 2010 Entrevista : 18 de março de 2010 H.B. – Bom dia, Aquila. É um prazer enorme receber você aqui. Antes de tudo, em nome da equipe, quero agradecer a sua disponibilidade. Nós sabemos inclusive que você tem viagem marcada agora e fez uma cambalhota para nos atender. E nós podíamos começar esse seu depoimento com o começo mesmo: da sua lembrança de família, o lugar onde você nasceu. L.A. – Eu nasci no Rio, em Copacabana, na Casa de Saúde Arnaldo de Moraes, e me criei parte em Botafogo, numa rua que não existe mais. Era uma casa, um projeto de meu pai, numa rua que não existe mais – chamava... eu esqueci o nome da rua –, porque essa rua foi uma dessas ruas que desapareceram com a obra do metrô. Depois minha família foi para São Paulo – meu pai foi dar aula na FAU 1 de São Paulo, em 1950. Passamos um ano lá, depois voltamos para o Rio e fomos morar em Santa Teresa, onde ficamos morando muito tempo. Eu tive três irmãos: um irmão caçula, o Luiz Fernando; minha irmã Maria, que é antropóloga; e minha irmã Madalena, que faleceu jovem, que era arquiteta. Meus pais eram primos. Minha mãe chamava- se Maria Helena Miranda da Rocha Miranda, porque eles eram primos. H.B. – Ah, ficou Miranda da Rocha Miranda? 1 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo). Luiz Áquila da Rocha Miranda 2 L.A. – Miranda da Rocha Miranda. H.B. – Interessante. L.A. – Porque minha mãe era do ramo paulista, que só usava o Miranda. Porque meu bisavô e o avô, também, eles eram políticos, então, eles tiram um dos sobrenomes. Eles eram carcomidos do Partido Republicano. [riso] H.B. – O PRP. L.A. – O PRP. Bom, em seguida... H.B. – E seu pai é Alcides da Rocha Miranda. L.A. – Meu pai é Alcides da Rocha Miranda, arquiteto, arquiteto moderno, como eram em geral os arquitetos do Patrimônio Histórico. Meu pai foi logo da primeira geração do Patrimônio Histórico. Era uma pessoa muito ligada ao futuro e à arquitetura moderna e ao mesmo tempo, muito ligado ao século XVIII e muito interessado no século XVIII, que essa geração estava descobrindo, porque era uma maneira também de negar o ecletismo e negar o academismo do século XIX. E então ele passava grande parte do mês viajando, trabalhando pelo Patrimônio, tombando e dando pareceres. E também uma coisa muito interessante que essa geração de arquitetos do Patrimônio tinha, que foi a primeira: a preocupação de viabilizar o tombamento. Então, quando meu pai voltava das viagens, primeiro, era muito interessante, porque ele voltava falando coisas... Porque a gente não conhecia o interior, não é? Ninguém conhecia o interior. Então, eu não sabia nada. E aí meu pai voltava falando do rio das Mortes 2 e do rio das Velhas 3, o que me impressionava muito, os riscos que meu pai passava de passar pelo rio das Mortes e o rio das Velhas. E depois, aí ele ia para a prancheta e começava a projetar banheiro para as casas. Porque essas casas não tinham banheiro. Em geral, tinham uma casinha no quintal. Então, ele vinha com a prancheta... Ele já vinha com um croqui e o levantamento que ele fazia das casas e 2 Rio que banha o estado de Minas Gerais. Retirado de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_das_Mortes_(Minas_Gerais) , acessado em 13 de abril de 2010. 3 Maior afluente em extensão da bacia do São Francisco. Suas nascentes estão localizadas em Ouro Preto (MG) e deságua em Várzea da Palma (MG). Retirado de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_das_Velhas , acessado em 13 de abril de 2010. Luiz Áquila da Rocha Miranda 3 começava então a fazer um banheiro, que era o primeiro passo para uma adequação e para uma vida com um conforto moderno. E isso eles faziam com a maior naturalidade. Não era nenhuma façanha, [não se sentiam]4 heróis, nada disso. Eu acho isso muito interessante, de pensar na preservação, mas primeiro criar condições favoráveis ao indivíduo, ao ser humano que vai morar lá dentro. Então, meu pai, como outros arquitetos dessa geração, é uma pessoa preocupada com o outro e com a questão social e como é que essa história de arquitetura moderna poderia ser útil numa sociedade mais igualitária, porque havia essa preocupação, e também como o século XVIII servia de modelo de planta, ou modelo de adequação de espaço para a arquitetura moderna. Porque a arquitetura colonial brasileira tem vãos livres, tem as paredes soltas – não são paredes construtivas –, que era uma coisa que fascinava eles, essa..