ALCIDES DA ROCHA MIRANDA: A CONVIVÊNCIA FORMAL DO VELHO COM O NOVO ALCIDES ROCHA MIRANDA: THE FORMAL COEXISTENCE OF OLD AND NEW Liege Sieben Puhl Tradução português-inglês: ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15

146 147 UM PROBLEMA E DUAS CLASSIFICAÇÕES1 UM PROBLEMA E DUAS CLASSIFICAÇÕES1 A obra arquitetônica de Alcides da Rocha Miranda, A obra arquitetônica de Alcides da Rocha Miranda, em- embora relativamente pequena, é significativa, particu- bora relativamente pequena, é significativa, particularmente larmente no trato da convivência formal do velho com o no trato da convivência formal do velho com o novo, ou ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 novo, ou seja, do relacionamento, em termos de forma, seja, do relacionamento, em termos de forma, entre bem entre bem patrimonial e intervenção moderna. Esta ques- patrimonial e intervenção moderna. Esta questão é básica tão é básica em três situações. Primeiro, quando o sítio em três situações. Primeiro, quando o sítio da obra nova da obra nova fica junto de edifício ou entorno urbano de fica junto de edifício ou entorno urbano de valor histórico. valor histórico. Segundo, quando se trata de reforma ou Segundo, quando se trata de reforma ou ampliação de edifí- ampliação de edifício de valor histórico. Terceiro, caso cio de valor histórico. Terceiro, caso excepcional, quando o excepcional, quando o programa pede (ou sugere) a in- programa pede (ou sugere) a incorporação de fragmento ar- corporação de fragmento arquitetônico de valor histórico. quitetônico de valor histórico. Esta nota registra e comenta as Esta nota registra e comenta as realizações corresponden- realizações correspondentes, tendo em vista subsidiar estu- tes, tendo em vista subsidiar estudos futuros mais deta- dos futuros mais detalhados quanto à sua documentação, lhados quanto à sua documentação, interpretação e/ou interpretação e/ou conservação. conservação. A primeira situação é a de obra nova perto de edifício A primeira situação é a de obra nova perto de edifício ou entorno urbano de valor histórico. O primeiro caso é de ou entorno urbano de valor histórico. O primeiro caso é obra nova junto de conjunto eclético, a 1ª casa Celso Rocha de obra nova junto de conjunto eclético, a 1ª casa Celso Miranda, projeto de 1944 construído em Petrópolis, perto Rocha Miranda, projeto de 1944 construído em Petrópo- do . O segundo caso é o de obra nova perto lis, perto do Rio de Janeiro. O segundo caso é o de obra de casario colonial urbano, três projetos não construídos nova perto de casario colonial urbano, três projetos não feitos no SPHAN provavelmente entre 1944 e 1947: a casa construídos feitos no SPHAN provavelmente entre 1944 do diretor da Cia. de Telefones de Ouro Preto, a prefeitura e 1947: a casa do diretor da Cia. de Telefones de Ouro de Congonhas do Campo e o grupo escolar do Serro, todos Preto, a prefeitura de Congonhas do Campo e o grupo em Minas Gerais. O terceiro caso é o de obra nova junto escolar do Serro, todos em Minas Gerais. O terceiro caso à ermida colonial também mineira, em Caeté, na Serra da é o de obra nova junto à ermida colonial também mineira, Piedade, o restaurante projetado em 1956 e inaugurado em Caeté, na Serra da Piedade, o restaurante projetado em 1971 e a igreja-abrigo projetada nos 1960 e operante em 1956 e inaugurado em 1971 e a igreja-abrigo pro- desde 1980 (mas em obras até hoje). jetada nos 1960 e operante desde 1980 (mas em obras A segunda situação é a de reforma ou ampliação de até hoje). edifício de valor histórico reconhecido ou não legalmente. A segunda situação é a de reforma ou ampliação de Comporta cinco casos e seis obras construídas. O primeiro edifício de valor histórico reconhecido ou não legalmente. caso, cronologicamente, é o projeto de 1956 para 2ª casa Comporta cinco casos e seis obras construídas. O primei- Celso Rocha Miranda, que incorpora o casa moderna anteri- ro caso, cronologicamente, é o projeto de 1956 para 2ª or. O segundo, em 1976, lida com preexistência neo-gótica; casa Celso Rocha Miranda, que incorpora o casa moder- a antiga casa do Barão de Mesquita no Rio se transforma na anterior. O segundo, em 1976, lida com preexistência em sede da Cia. Internacional de Seguros. O terceiro é a neo-gótica; a antiga casa do Barão de Mesquita no Rio se conversão de prédio neoclássico na Fundação Universitária transforma em sede da Cia. Internacional de Seguros. O da UFRJ, de 1981. Em 1982, Alcides intervém em galpão terceiro é a conversão de prédio neoclássico na Fundação na fazenda de Rodolfo Figueira de Mello para realizar Universitária da UFRJ, de 1981. Em 1982, Alcides inter- uma capela. A este quarto caso, trabalho sobre arquitetura vém em galpão na fazenda de Rodolfo Figueira de Mello vernácula rural, seguem-se duas obras que incidem sobre para realizar uma capela. A este quarto caso, trabalho arquitetura vernácula urbana: o Museu do Folclore do Rio de sobre arquitetura vernácula rural, seguem-se duas obras Janeiro de 1983 ocupa dois sobrados no Catete imperial; que incidem sobre arquitetura vernácula urbana: o Museu a casa para Sylvia Nabuco de 1987-89 amplia construção do Folclore do Rio de Janeiro de 1983 ocupa dois sobra- térrea colonial em Tiradentes, Minas Gerais. dos no Catete imperial; a casa para Sylvia Nabuco de A terceira situação, singular, é obra nova incorporando 1987-89 amplia construção térrea colonial em Tiradentes, fragmento arquitetônico de valor histórico: é a capela de Minas Gerais. 1957-58 no terreno da casa de José e Maria do Carmo

146 147 A terceira situação, singular, é obra nova incorporan- Nabuco, no bairro carioca do Humaitá, incorporando porta do fragmento arquitetônico de valor histórico: é a capela e relicário barrocos. de 1957-58 no terreno da casa de José e Maria do Car- Do ponto de vista da periodização, as realizações em mo Nabuco, no bairro carioca do Humaitá, incorporando questão podem ser classificadas em três fases. A primeira se ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 porta e relicário barrocos. desenvolve na década de 1940 e corresponde, segundo. Do ponto de vista da periodização, as realizações em Comas, à fase de emergência e consolidação da escola questão podem ser classificadas em três fases. A primeira carioca de arquitetura moderna brasileira; comporta apenas se desenvolve na década de 1940 e corresponde, segun- trabalhos na primeira situação. A segunda fase, de 1956 a do. Comas, à fase de emergência e consolidação da es- 1964, corresponde, segundo Comas, à fase de mutação cola carioca de arquitetura moderna brasileira; comporta e ocaso da escola carioca, com a afirmação de poéticas apenas trabalhos na primeira situação. A segunda fase, individuais no seu interior seguidas da emergência da arquit- de 1956 a 1964, corresponde, segundo Comas, à fase etura brutalista que se tornará uma escola de base paulista, de mutação e ocaso da escola carioca, com a afirmação tendo como pano de fundo o projeto de Brasília; comporta de poéticas individuais no seu interior seguidas da emer- um trabalho de cada uma das três situações.2 A terceira gência da arquitetura brutalista que se tornará uma escola fase, de 1975 a 1990, corresponde grosso modo ao es- de base paulista, tendo como pano de fundo o projeto de gotamento da escola paulista e à crise geral da arquitetura Brasília; comporta um trabalho de cada uma das três si- moderna no Ocidente, com o aparecimento de tendências tuações.2 A terceira fase, de 1975 a 1990, corresponde auto-proclamadas pós-modernas e de atenção aos problemas grosso modo ao esgotamento da escola paulista e à crise e oportunidades das reciclagens arquitetônicas; comporta a geral da arquitetura moderna no Ocidente, com o apare- construção da igreja na Serra da Piedade e todos os demais cimento de tendências auto-proclamadas pós-modernas e trabalhos da segunda situação, sugerindo a pertinência de de atenção aos problemas e oportunidades das recicla- um paralelo com a obra de Lina Bo Bardi no mesmo período, gens arquitetônicas; comporta a construção da igreja na em São Paulo (1976- 1992) e Salvador (1986-1990). Serra da Piedade e todos os demais trabalhos da segunda situação, sugerindo a pertinência de um paralelo com a A CASA PETROPOLITANA, 1ª EDIÇÃO, 1944 obra de Lina Bo Bardi no mesmo período, em São Paulo A casa para Celso Rocha Miranda, o irmão do arquit- (1976- 1992) e Salvador (1986-1990). eto, ocupa terreno de miolo de quadra em aclive. Acessível desde a avenida fronteira por uma servidão, fora desmemb- A CASA PETROPOLITANA, 1ª EDIÇÃO, 1944 rado da propriedade onde o avô Tavares Guerra edificara A casa para Celso Rocha Miranda, o irmão do ar- em 1884 um palacete e cocheira separados, com jardim quiteto, ocupa terreno de miolo de quadra em aclive. frontal atribuído a Auguste Glaziou. FIG 1- implantação Acessível desde a avenida fronteira por uma servidão, O palacete tem dois andares com porão e fachada prin- fora desmembrado da propriedade onde o avô Tavares cipal paralela à avenida e verticalizada, embora um pouco Guerra edificara em 1884 um palacete e cocheira sepa- mais larga que alta. A escada central externa avança reta rados, com jardim frontal atribuído a Auguste Glaziou. entre dois volumes que sobressaem, por sua vez, da porta FIG 1- implantação de entrada e do balcão acima. Os volumes tem cobertu- O palacete tem dois andares com porão e fachada ras de duas águas empinadas em telha francesa. O galbo principal paralela à avenida e verticalizada, embora um acentuado, os grandes beirais e os lambrequins de madeira pouco mais larga que alta. A escada central externa avan- pintada configuram uma variante do gênero chalé suíço, ça reta entre dois volumes que sobressaem, por sua vez, popular no Rio e arredores nessa época. Simétricos nas di- da porta de entrada e do balcão acima. Os volumes tem mensões gerais, os volumes diferem nas janelas como nos coberturas de duas águas empinadas em telha francesa. balcões e detalhes das coberturas, justificando que o prédio O galbo acentuado, os grandes beirais e os lambrequins se chame de “a casa dos sete erros”. De fato, o jogo de de madeira pintada configuram uma variante do gênero simetria e assimetria é sofisticado. Permite leituras oscilantes chalé suíço, popular no Rio e arredores nessa época. Si- da fachada que incluem o reconhecimento de uma divisão métricos nas dimensões gerais, os volumes diferem nas horizontal entre os dois andares e uma articulação entre o janelas como nos balcões e detalhes das coberturas, justi- balanço superior à esquerda e o avanço da “bay-window” ficando que o prédio se chame de “a casa dos sete erros”. inferior à direita. FIG 2- fachada palac. De fato, o jogo de simetria e assimetria é sofisticado. Per- A cocheira em esquadro, à esquerda, com parte avan-

148 149 mite leituras oscilantes da fachada que incluem o reconhe- çada em relação ao palacete, ajuda a delimitar o jardim cimento de uma divisão horizontal entre os dois andares com as árvores do lado oposto. Seus dois andares são mais e uma articulação entre o balanço superior à esquerda e baixos; não há porão. A composição é simétrica e horizon- o avanço da “bay-window” inferior à direita. FIG 2- fa- tal com acentos verticais, o torreão ao centro e as empenas ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 chada palac. nas pontas cuja identidade se reforça com a execução das A cocheira em esquadro, à esquerda, com parte avan- vedações intermediárias em tábuas de madeira pintadas. É çada em relação ao palacete, ajuda a delimitar o jardim uma versão achatada do palacete, com a entrada em arco com as árvores do lado oposto. Seus dois andares são abatido em vez de meio ponto. FIG. 3- fachada cocheira. mais baixos; não há porão. A composição é simétrica e A casa se estende paralela à avenida em dois andares horizontal com acentos verticais, o torreão ao centro e mais porão, coberta por duas águas rasas em telha francesa as empenas nas pontas cuja identidade se reforça com com beirais projetados, em função da vizinhança. Os fundos a execução das vedações intermediárias em tábuas de alinhados com os fundos do palacete e dele separada por madeira pintadas. É uma versão achatada do palacete, maciço de árvores, a casa faz com a cocheira um outro com a entrada em arco abatido em vez de meio ponto. esquadro. Com frente plana e fundo escalonado, o térreo FIG. 3- fachada cocheira. tripartido tem sala entre ala de serviço com menor e ala de A casa se estende paralela à avenida em dois andares quartos com maior profundidade do lado do palacete. A mais porão, coberta por duas águas rasas em telha fran- frente se eleva a partir da cozinha, deixando um terraço de cesa com beirais projetados, em função da vizinhança. serviço coberto na ponta. O andar superior tem três quartos Os fundos alinhados com os fundos do palacete e dele se- de igual largura e profundidades distintas, com janelas guil- parada por maciço de árvores, a casa faz com a cocheira hotina e venezianas banais. O escalonamento se mantém um outro esquadro. Com frente plana e fundo escalonado, atrás; uma varanda parcialmente coberta prolonga o quarto o térreo tripartido tem sala entre ala de serviço com menor maior. O galbo correspondente é outra conexão sutil com o e ala de quartos com maior profundidade do lado do pa- palacete. Uma varanda coberta com meia água se apõe à lacete. A frente se eleva a partir da cozinha, deixando um frente da sala e do quarto térreos e se estende, avançando terraço de serviço coberto na ponta. O andar superior tem lateralmente em esquadro com o volume principal. A base três quartos de igual largura e profundidades distintas, em pedra negocia a topografia, criando um pórtico que é com janelas guilhotina e venezianas banais. O escalona- preciso transpassar para chegar à escada reta de acesso, ao mento se mantém atrás; uma varanda parcialmente cober- longo da empena dos quartos. As superfícies são totalmente ta prolonga o quarto maior. O galbo correspondente é despojadas, planares. As varandas corridas são similares à outra conexão sutil com o palacete. Uma varanda coberta da casa do arquiteto em (1942), delicadas, com com meia água se apõe à frente da sala e do quarto guarda-corpo em listas horizontais de madeira, qual persi- térreos e se estende, avançando lateralmente em esqua- anas, apoiadas em postes esbeltos em sucessão regular. dro com o volume principal. A base em pedra negocia a A fachada principal, à primeira vista estratificada, com- topografia, criando um pórtico que é preciso transpassar porta, no entanto, leitura tripartida com o beiral do terraço para chegar à escada reta de acesso, ao longo da empe- de serviço servindo de contrapeso à varanda, e acentos na na dos quartos. As superfícies são totalmente despojadas, vertical e diagonal se insinuando entre os telhados correspon- planares. As varandas corridas são similares à da casa dentes. Apesar da tônica vernácula e modesta, ela ecoa a do arquiteto em Botafogo (1942), delicadas, com guarda- complexidade da fachada do palacete. Complexidade simi- corpo em listas horizontais de madeira, qual persianas, lar vigora na empena dos quartos, à primeira vista marcada- apoiadas em postes esbeltos em sucessão regular. mente vertical. Oitões de tábuas de madeira pintada fecham A fachada principal, à primeira vista estratificada, lateralmente as meias-águas sobre as duas varandas opostas comporta, no entanto, leitura tripartida com o beiral do em níveis distintos, ecoando as vedações superiores da co- terraço de serviço servindo de contrapeso à varanda, e cheira. A estratégia de relacionamento formal implica uma acentos na vertical e diagonal se insinuando entre os te- ponta de contraste, mas predominam a gradação e a analo- lhados correspondentes. Apesar da tônica vernácula e mo- gia. Assim, em relevo de parede, a casa é o termo último de desta, ela ecoa a complexidade da fachada do palacete. uma progressão simplificadora que parte do palacete pas- Complexidade similar vigora na empena dos quartos, à sando pela cocheira, ou, de outro ângulo, o termo primeiro primeira vista marcadamente vertical. Oitões de tábuas a que se volta depois da corrupção eclética representativa de madeira pintada fecham lateralmente as meias-águas e burguesa, através da mediação purgativa da construção

148 149 sobre as duas varandas opostas em níveis distintos, eco- utilitária e popular. FIGS 4,5,6,7,8 ando as vedações superiores da cocheira. A estratégia de relacionamento formal implica uma ponta de contraste, OS PROJETOS MINEIROS 1940-47 mas predominam a gradação e a analogia. Assim, em A datação dos projetos mineiros não é precisa. Alcides ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 relevo de parede, a casa é o termo último de uma pro- ingressou no SPHAN em 1940, quando se finalizava o gressão simplificadora que parte do palacete passando Museu das Missões de Lucio Costa, 1938-41, e Oscar Ni- pela cocheira, ou, de outro ângulo, o termo primeiro a emeyer desenvolvia o Grand Hotel de Ouro Preto, 1940- que se volta depois da corrupção eclética representativa e 44. O Grupo Escolar do Serro e a Prefeitura de Congonhas burguesa, através da mediação purgativa da construção do Campo foram publicados em novembro de 1947 em utilitária e popular. FIGS 4,5,6,7,8 The Architectural Forum. Tampouco se sabe a localização exata. Apenas se sabe que tanto o terreno da escola como OS PROJETOS MINEIROS 1940-47 o da casa do Diretor da Cia. de Telefones de Ouro Preto A datação dos projetos mineiros não é precisa. Alci- estavam fora dos respectivos conjuntos históricos e que os en- des ingressou no SPHAN em 1940, quando se finalizava tornos são de vegetação densa. Os projetos se enquadram o Museu das Missões de Lucio Costa, 1938-41, e Os- na tendência que Jorge Czajkowski chamou de “nativismo car Niemeyer desenvolvia o Grand Hotel de Ouro Preto, carioca”, implicando a valorização da tradição construtiva 1940-44. O Grupo Escolar do Serro e a Prefeitura de racional vernácula.3 Essa valorização inclui a assimilação Congonhas do Campo foram publicados em novembro do pilotis ao térreo do casario mineiro de pau-a-pique ou de de 1947 em The Architectural Forum. Tampouco se sabe construções utilitárias portuguesas como as casas- sequeiro a localização exata. Apenas se sabe que tanto o terreno do Minho e Trás-os-montes, do pano de vidro e da janela da escola como o da casa do Diretor da Cia. de Telefo- horizontal às janelas corridas fechando balcões no casario nes de Ouro Preto estavam fora dos respectivos conjuntos português e brasileiro, dos brise-soleil aos muxarabis. Há históricos e que os entornos são de vegetação densa. Os contraste físico e analogia conceitual no uso de recursos projetos se enquadram na tendência que Jorge Czajko- disponíveis na região. Os três projetos tem estrutura em es- wski chamou de “nativismo carioca”, implicando a valo- queleto de madeira, com e vigas de seção retangular; rização da tradição construtiva racional vernácula.3 Essa a vedação é de taipa de mão; as coberturas são de telhas valorização inclui a assimilação do pilotis ao térreo do canal, resolvidas com a planeza característica de um ele- casario mineiro de pau-a-pique ou de construções utili- mento de arquitetura moderna: telhado borboleta no grupo tárias portuguesas como as casas- sequeiro do Minho e escolar, uma água na prefeitura, meias águas desencontra- Trás-os-montes, do pano de vidro e da janela horizontal às das na casa. O acesso inclui rampas nos três casos, duas janelas corridas fechando balcões no casario português delas encurvadas. Note-se também a ausência de balanço e brasileiro, dos brise-soleil aos muxarabis. Há contraste e, por conseguinte de fachada (ou planta) livre no sentido físico e analogia conceitual no uso de recursos disponíveis estrito. A seleção de materiais os aparenta à casa de campo na região. Os três projetos tem estrutura em esqueleto de Fábio Carneiro de Mendonça, um dos últimos projetos eclé- madeira, com pilares e vigas de seção retangular; a veda- tico-acadêmicos de Lúcio Costa. 4No entanto, a seletividade ção é de taipa de mão; as coberturas são de telhas canal, relacionada com o pau-a-pique os faz em certo sentido mais resolvidas com a planeza característica de um elemen- modernos, mais próximos do “balloon frame” americano. As to de arquitetura moderna: telhado borboleta no grupo fachadas da casa e da prefeitura propõem leituras oscilantes escolar, uma água na prefeitura, meias águas desencon- em que se reconhecem arranjos duais e ternários, horizontais tradas na casa. O acesso inclui rampas nos três casos, e diagonais. A sofisticação gráfica pode se aproximar dos duas delas encurvadas. Note-se também a ausência de exercícios bi-cromáticos explorando sutis quebras de simetria balanço e, por conseguinte de fachada (ou planta) livre de Milton Dacosta na segunda metade dos 1950. no sentido estrito. A seleção de materiais os aparenta à A foto-montagem remanescente da casa ouro-pretana casa de campo Fábio Carneiro de Mendonça, um dos mostra pavilhão de um andar (a casa propriamente dita) últimos projetos eclético-acadêmicos de Lúcio Costa. 4No sobre base semi-vazada e expandida para os lados. Os entanto, a seletividade relacionada com o pau-a-pique os apoios na borda do primeiro piso avançam à esquerda, faz em certo sentido mais modernos, mais próximos do sustentando a rampa de dois lances retos, articulada com “balloon frame” americano. As fachadas da casa e da o terraço lateral superior. Na outra ponta há um muro “que prefeitura propõem leituras oscilantes em que se reconhe- se perde na topografia acidentada”. A base traz nova

150 151 cem arranjos duais e ternários, horizontais e diagonais. A versão de um vazio entre dois sólidos, esquema recorrente sofisticação gráfica pode se aproximar dos exercícios bi- na produção carioca. O volume acima joga com empenas cromáticos explorando sutis quebras de simetria de Milton cegas e plano frontal dividido em retângulos achatados de Dacosta na segunda metade dos 1950. largura e textura diversas. A faixa superior cega remata duas ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 A foto-montagem remanescente da casa ouro-pretana esquadrias de igual altura, divididas por topo de parede. A mostra pavilhão de um andar (a casa propriamente dita) primeira se estende por dois vãos estruturais, fica junto do ter- sobre base semi-vazada e expandida para os lados. Os raço de um vão de largura e se compõe de placas verticais. apoios na borda do primeiro piso avançam à esquerda, A segunda, aparentemente envidraçada e comprida de três sustentando a rampa de dois lances retos, articulada com vãos, tem acima esquadria mais estreita rente ao telhado, en- o terraço lateral superior. Na outra ponta há um muro dentando a faixa superior com largura de dois vãos a partir “que se perde na topografia acidentada”. A base traz do topo de parede divisório. A estratificação horizontal se nova versão de um vazio entre dois sólidos, esquema re- acompanha novamente de tensões em diagonal aportadas corrente na produção carioca. O volume acima joga com pela articulação entre rampas, terraço, esquadria estreita e empenas cegas e plano frontal dividido em retângulos muro. Igualmente notável é a quase-simetria, ancorada no achatados de largura e textura diversas. A faixa superior topo de parede que divide a borda do primeiro piso em dois cega remata duas esquadrias de igual altura, divididas segmentos iguais. por topo de parede. A primeira se estende por dois vãos A planta do andar superior, o corte e as fotos da ma- estruturais, fica junto do terraço de um vão de largura e quete do projeto para a prefeitura de Congonhas mostram se compõe de placas verticais. A segunda, aparentemente um corpo de cinco vãos a cuja frente se dispõem galerias envidraçada e comprida de três vãos, tem acima esqua- superpostas de seis vãos, constituindo um volume em L como dria mais estreita rente ao telhado, endentando a faixa na 1ª casa Celso, mas de dois andares e telhado único, com superior com largura de dois vãos a partir do topo de pa- empenas cegas, paredes estruturais e esquadrias da galeria rede divisório. A estratificação horizontal se acompanha absorvendo os apoios estruturais. A exceção é a sucessão novamente de tensões em diagonal aportadas pela arti- de postes colossais à frente, de seção retangular, emblema culação entre rampas, terraço, esquadria estreita e muro. de monumentalidade desde 19365. A ponta solta da gal- Igualmente notável é a quase-simetria, ancorada no topo eria superior, vazada de frente a fundos, ganha ar de pa- de parede que divide a borda do primeiro piso em dois lanque frente a um largo ocupado por rampa diagonal que segmentos iguais. se encurva e encaixa nos guarda-corpos da ponta oposta. A A planta do andar superior, o corte e as fotos da ma- referência é a rampa destacada do Pavilhão Brasileiro, de quete do projeto para a prefeitura de Congonhas mostram figuralidade singular, discreta. O fechamento dos dois últi- um corpo de cinco vãos a cuja frente se dispõem galerias mos vãos da galeria inferior destaca a rampa e corresponde superpostas de seis vãos, constituindo um volume em L às portas sanfona dos dois últimos vãos superiores do corpo como na 1ª casa Celso, mas de dois andares e telhado principal, distintas da vedação dos três vãos adjacentes. único, com empenas cegas, paredes estruturais e esqua- Como na casa de Ouro Preto, a composição trabalha a drias da galeria absorvendo os apoios estruturais. A ex- justaposição de duas faixas de igual altura e tratamento difer- ceção é a sucessão de postes colossais à frente, de seção ente, incluindo tensões diagonais que implicam agora um retangular, emblema de monumentalidade desde 19365. efeito de xadrez, notado pela revista americana. A ponta solta da galeria superior, vazada de frente a fun- Desenhos e fotos do projeto do grupo escolar mostram a dos, ganha ar de palanque frente a um largo ocupado planta trapezoidal retangular. Desenvolvida em três níveis, por rampa diagonal que se encurva e encaixa nos guar- acompanha a topografia do terreno com faixas longitudinais da-corpos da ponta oposta. A referência é a rampa des- em que se intercalam salas de aula e corredores. A circula- tacada do Pavilhão Brasileiro, de figuralidade singular, ção principal em L compreende galeria frontal reta 4m acima discreta. O fechamento dos dois últimos vãos da galeria da calçada e rampa lateral oblíqua. O acesso se dá por inferior destaca a rampa e corresponde às portas sanfona rampa solta ligeiramente curva e quase paralela à aquela dos dois últimos vãos superiores do corpo principal, distin- galeria. Na ponta oposta, o auditório trapezoidal com ab- tas da vedação dos três vãos adjacentes. Como na casa side curva lembra o do Ministério da Educação, embora de Ouro Preto, a composição trabalha a justaposição de coberto por meia água de telha canal. Rampa e auditório duas faixas de igual altura e tratamento diferente, incluin- são dois volumes sobressalentes a que se chega lateralmente do tensões diagonais que implicam agora um efeito de por um vazio central, tendo como pano de fundo as gal-

150 151 xadrez, notado pela revista americana. erias superpostas com as fileiras de apoios na borda da Desenhos e fotos do projeto do grupo escolar mostram laje. A cobertura principal é um enorme telhado borboleta a planta trapezoidal retangular. Desenvolvida em três ní- com água furtada intermediária possibilitando a entrada de veis, acompanha a topografia do terreno com faixas longi- luz natural nas salas de aula intermediárias. A proposta faz ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 tudinais em que se intercalam salas de aula e corredores. uso institucional provocativo desse tipo de telhado, até então A circulação principal em L compreende galeria frontal uma solução doméstica para Gaudi, Le Corbusier e Niemey- reta 4m acima da calçada e rampa lateral oblíqua. O er. Igualmente provocativa é a continuidade das rampas e acesso se dá por rampa solta ligeiramente curva e quase piso da galeria superior, que leva adiante a continuidade de paralela à aquela galeria. Na ponta oposta, o auditório escada e piso no Cassino da Pampulha (1942-43).6 trapezoidal com abside curva lembra o do Ministério da Educação, embora coberto por meia água de telha ca- O CASO CAETÉ 1956-1980 nal. Rampa e auditório são dois volumes sobressalentes A ermida de Nossa Senhora da Piedade, padroeira de a que se chega lateralmente por um vazio central, tendo Minas Gerais, fica no município de Caeté, a 50 km de Belo como pano de fundo as galerias superpostas com as filei- Horizonte e uns 1700 metros de altura. Construída por volta ras de apoios na borda da laje. A cobertura principal é de 1767, é destino de romarias invernais que se sucedem um enorme telhado borboleta com água furtada interme- há dois séculos, tombado com o entorno na década de diária possibilitando a entrada de luz natural nas salas 1940. Como não comportasse a quantidade de romeiros, de aula intermediárias. A proposta faz uso institucional frei Rosário Joffily pediu ao arquiteto o projeto de uma igre- provocativo desse tipo de telhado, até então uma solução ja-abrigo para três mil pessoas e de um restaurante. Vários doméstica para Gaudi, Le Corbusier e Niemeyer. Igual- lugares de apoio foram confiados a outro arquiteto: um es- mente provocativa é a continuidade das rampas e piso paço cultural, a casa dos romeiros, a cripta de São José, um da galeria superior, que leva adiante a continuidade de observatório astronômico e o reservatório de água para o escada e piso no Cassino da Pampulha (1942-43).6 complexo. Estes lugares foram corretamente enterrados ou semi-enterrados tirando partido dos desníveis naturais e am- O CASO CAETÉ 1956-1980 pliando a sul o adro da ermida. A ermida de Nossa Senhora da Piedade, padroeira Contudo, a natureza do programa desaconselhava parti- de Minas Gerais, fica no município de Caeté, a 50 km de do similar para o restaurante e a igreja-abrigo, embora pro- Belo Horizonte e uns 1700 metros de altura. Construída jetados igualmente em concreto armado. Assim, o relaciona- por volta de 1767, é destino de romarias invernais que mento destes edifícios com a ermida é problema que se pode se sucedem há dois séculos, tombado com o entorno na aproximar de vários casos pregressos e um contemporâneo. década de 1940. Como não comportasse a quantidade Os primeiros, ilustrados pelo Ministério da Educação frente de romeiros, frei Rosário Joffily pediu ao arquiteto o pro- à Igreja de Santa Luzia, vão de 1936 a 1945 7; o caso jeto de uma igreja-abrigo para três mil pessoas e de um contemporâneo é o das rampas do Outeiro da Glória, de restaurante. Vários lugares de apoio foram confiados a Lucio Costa, que se arrasta de 1943 a 1965. outro arquiteto: um espaço cultural, a casa dos romeiros, A ermida tem a fachada principal orientada para oeste- a cripta de São José, um observatório astronômico e o noroeste, defrontando uma formação rochosa imponente reservatório de água para o complexo. Estes lugares fo- de contorno aproximadamente retangular. O adro perfaz ram corretamente enterrados ou semi-enterrados tirando 70x50m com a ampliação e se estende entre a ermida e a partido dos desníveis naturais e ampliando a sul o adro rocha, entre precipício e precipício. Um crucifixo figurativo da ermida. se dispõe junto à rocha em frente à ermida- e certamente não Contudo, a natureza do programa desaconselhava é especificação do arquiteto. A chegada ao adro se dá pelo partido similar para o restaurante e a igreja-abrigo, embo- lado norte-nordeste, após subir por estrada reta leste-oeste, ra projetados igualmente em concreto armado. Assim, o negociar uma curva que é quase um semi-círculo, cruzar um relacionamento destes edifícios com a ermida é problema pequeno largo elíptico elevado em relação ao terreno natu- que se pode aproximar de vários casos pregressos e um ral e vencer uma rampa reta paralela à formação rochosa. contemporâneo. Os primeiros, ilustrados pelo Ministério O restaurante é uma barra retangular virtual com serviços da Educação frente à Igreja de Santa Luzia, vão de 1936 abaixo e salão acima, que se insere na encosta entre a es- a 1945 7; o caso contemporâneo é o das rampas do Ou- trada e a rampa; a cobertura plana fica em nível com o teiro da Glória, de Lucio Costa, que se arrasta de 1943 fim do largo e começo da rampa, paralela ao lado norte

152 153 a 1965. da formação rochosa. A igreja é uma construção térrea co- A ermida tem a fachada principal orientada para berta por pirâmide pentagonal com abas, disposta do outro oeste-noroeste, defrontando uma formação rochosa impo- lado do largo, em cruz com o restaurante, aninhada entre nente de contorno aproximadamente retangular. O adro a formação rochosa, outra formação menor oposta e o ar- ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 perfaz 70x50m com a ampliação e se estende entre a er- rimo externo da curva e do largo. Alcides usa os elementos mida e a rocha, entre precipício e precipício. Um crucifixo da paisagem como parte da estratégia de relacionamento, figurativo se dispõe junto à rocha em frente à ermida- e ou, mais acuradamente, de não-relacionamento deliberado. certamente não é especificação do arquiteto. A chegada O uso judicioso dos desníveis e das pedras como barreiras ao adro se dá pelo lado norte-nordeste, após subir por evita a triangulação de vistas, análogo ao uso da vegetação estrada reta leste-oeste, negociar uma curva que é quase no sítio petropolitano. Permite, ao mesmo tempo, que a di- um semi-círculo, cruzar um pequeno largo elíptico elevado mensão muito maior da nova igreja-abrigo não esmague o em relação ao terreno natural e vencer uma rampa reta monumento mais antigo. paralela à formação rochosa. O restaurante é uma barra O restaurante é plenamente visível antes da curva. Suce- retangular virtual com serviços abaixo e salão acima, que dendo a uma primeira impressão da ermida, lembra um pou- se insere na encosta entre a estrada e a rampa; a cober- co a prefeitura de Congonhas, embora robusto e rude, preco- tura plana fica em nível com o fim do largo e começo da cemente brutalista, monótono, e, em função da vastidão do rampa, paralela ao lado norte da formação rochosa. A contexto, linear e delicado. Sua estrutura é um exoesqueleto igreja é uma construção térrea coberta por pirâmide pen- independente, formado por cinco pórticos de seção retangu- tagonal com abas, disposta do outro lado do largo, em lar espaçados de 10m, com vigas intermediárias sustentan- cruz com o restaurante, aninhada entre a formação rocho- do a laje do segundo andar. A seção é escalonada nas três sa, outra formação menor oposta e o arrimo externo da fachadas, com as esquadrias metálicas superiores tratadas curva e do largo. Alcides usa os elementos da paisagem como parede cortina em que se alternam quadros fixos e como parte da estratégia de relacionamento, ou, mais basculantes, entre montantes salientes que estriam e facetam acuradamente, de não-relacionamento deliberado. O uso a fachada, contrastando com a horizontalidade do volume. judicioso dos desníveis e das pedras como barreiras evita Na fachada norte, os pilares configuram uma estacada co- a triangulação de vistas, análogo ao uso da vegetação lossal: o segundo andar recua 1m em relação à laje da no sítio petropolitano. Permite, ao mesmo tempo, que a di- cobertura, o andar térreo recua 2m em relação à laje do mensão muito maior da nova igreja-abrigo não esmague segundo andar. Na fachada leste, a esquadria superior é co- o monumento mais antigo. planar com o pórtico, o térreo recua. Na fachada oeste, a O restaurante é plenamente visível antes da curva. Su- esquadria superior é idêntica, mas a laje do segundo andar cedendo a uma primeira impressão da ermida, lembra avança em grande balanço, abraçando a esquina e consti- um pouco a prefeitura de Congonhas, embora robusto e tuindo tanto sacada e mirante quanto patamar de entrada. rude, precocemente brutalista, monótono, e, em função O acesso se dá por braço da estrada ou por escada que da vastidão do contexto, linear e delicado. Sua estrutura desce do largo entre duas pedras. Se o exterior pode e deve é um exoesqueleto independente, formado por cinco pór- ser cotejado com o Palácio do Planalto de data similar, o ticos de seção retangular espaçados de 10m, com vigas salão aparece como um espaço universal, contemporâneo intermediárias sustentando a laje do segundo andar. A do esvaziamento dos interiores do Solar do Unhão por Lina seção é escalonada nas três fachadas, com as esquadrias Bo Bardi (1959-63). metálicas superiores tratadas como parede cortina em que O relacionamento do restaurante com a ermida envolve se alternam quadros fixos e basculantes, entre montantes contraste de forma e material, vidro e concreto aparente ao salientes que estriam e facetam a fachada, contrastando invés de massa caiada, telha de barro e madeira lavrada, com a horizontalidade do volume. Na fachada norte, os horizontalidade sem acento vertical. Mas há analogia tam- pilares configuram uma estacada colossal: o segundo an- bém: os pórticos marcam as empenas como as pilastras e o dar recua 1m em relação à laje da cobertura, o andar entablamento marcam a ermida. De outro lado, a partir da térreo recua 2m em relação à laje do segundo andar. curva, o restaurante fica reduzido a quatro espelhos d’água Na fachada leste, a esquadria superior é co-planar com contidos pelas vigas de borda e pelas travessas dos pórticos, o pórtico, o térreo recua. Na fachada oeste, a esquadria elementos da paisagem refletindo o céu. A igreja- abrigo, superior é idêntica, mas a laje do segundo andar avança auditório eventual, é ainda mais misteriosa, denunciada ap- em grande balanço, abraçando a esquina e constituindo enas pelo braço de estrada que leva a um amplo adro.

152 153 tanto sacada e mirante quanto patamar de entrada. O O outro acesso é igualmente dissimulado, através de uma acesso se dá por braço da estrada ou por escada que des- escadaria que corta a formação rochosa, oposto ao acesso ce do largo entre duas pedras. Se o exterior pode e deve do restaurante ser cotejado com o Palácio do Planalto de data similar, o Ao descer a estrada, a cobertura da igreja-abrigo se ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 salão aparece como um espaço universal, contemporâneo mostra como tenda ou como monte em origami; a clar- do esvaziamento dos interiores do Solar do Unhão por abóia alta e triangular deixa entrar dentro o sol da tarde e Lina Bo Bardi (1959-63). acrescenta ao volume um ar de pássaro. O contraste com O relacionamento do restaurante com a ermida envol- o restaurante não podia ser mais forte, a estrutura repetitiva ve contraste de forma e material, vidro e concreto apa- do programa prosaico oposta à estrutura especial do pro- rente ao invés de massa caiada, telha de barro e madei- grama religioso. Em compensação, incorpora algum eco ra lavrada, horizontalidade sem acento vertical. Mas há das duas águas da ermida, rasas e com galbo. Contudo, a analogia também: os pórticos marcam as empenas como analogia mais forte se faz com a paisagem- a sugestão de as pilastras e o entablamento marcam a ermida. De outro impermanência dialogando com o cenário impressionante. lado, a partir da curva, o restaurante fica reduzido a qua- A correspondência da cobertura com o interior é direta: a tro espelhos d’água contidos pelas vigas de borda e pelas pirâmide define a nave pentagonal, as alas ligeiramente travessas dos pórticos, elementos da paisagem refletindo distintas demarcam dois salões de múltiplo uso. A parede o céu. A igreja- abrigo, auditório eventual, é ainda mais traseira avança para além da cobertura e empunha uma misteriosa, denunciada apenas pelo braço de estrada que outra cruz metálica assinalando a chegada ao adro, desta leva a um amplo adro. O outro acesso é igualmente dissi- feita da lavra de Alcides. Os panos de vedação em vidro mulado, através de uma escadaria que corta a formação temperado reforçam a idéia de continuidade entre exterior e rochosa, oposto ao acesso do restaurante interior, assim como o desnível mínimo entre ambos. Dentro, Ao descer a estrada, a cobertura da igreja-abrigo se os planos da laje inclinada nervurada se apóiam em vigas mostra como tenda ou como monte em origami; a clara- que partem de pilares periféricos e se unem no pilar central bóia alta e triangular deixa entrar dentro o sol da tarde mais alto, atrás do altar onde cai a luz da clarabóia. Além e acrescenta ao volume um ar de pássaro. O contraste da luz que entra pelos panos de vidro nas fachadas, uma com o restaurante não podia ser mais forte, a estrutura réstia se infiltra pelas paredes do fundo ou pelas paredes em repetitiva do programa prosaico oposta à estrutura espe- forma de “I” ou “C” ladeando os pilares do nártex: nenhuma cial do programa religioso. Em compensação, incorpora toca a cobertura. A tentação de comparar a igreja-abrigo às algum eco das duas águas da ermida, rasas e com galbo. obras de Felix Candela é grande, dada a contemporanei- Contudo, a analogia mais forte se faz com a paisagem- a dade da igreja de Nossa Senhora da Medalha Mllagrosa sugestão de impermanência dialogando com o cenário (1953) ou da Capela de Lomas de Cuernavaca (1957-58), impressionante. A correspondência da cobertura com o mas o feito de engenharia não é o fundamental no caso de interior é direta: a pirâmide define a nave pentagonal, as Alcides. A propósito, a igreja-abrigo tem descendência, os alas ligeiramente distintas demarcam dois salões de múlti- planos facetados e irregulares de concreto da casa de praia plo uso. A parede traseira avança para além da cobertura do Mar Casado (1964), de Eduardo Longo. e empunha uma outra cruz metálica assinalando a chega- da ao adro, desta feita da lavra de Alcides. Os panos de A CASA PETROPOLITANA, 2ª EDIÇÃO 1956-59 vedação em vidro temperado reforçam a idéia de conti- A edição revista e ampliada da casa Celso da Rocha nuidade entre exterior e interior, assim como o desnível Miranda é feita por Alcides com Elvin MacKay Dubugras mínimo entre ambos. Dentro, os planos da laje inclinada e Fernando Cabral Pinto. Comprado o terreno em frente, nervurada se apóiam em vigas que partem de pilares pe- duas operações se seguem. Primeiro, a transformação da riféricos e se unem no pilar central mais alto, atrás do altar construção existente em uma caixa praticamente retangular, onde cai a luz da clarabóia. Além da luz que entra pelos após demolição da varanda antiga e eliminação dos bei- panos de vidro nas fachadas, uma réstia se infiltra pelas rais. Segundo, o acréscimo de dois novos volumes de dois paredes do fundo ou pelas paredes em forma de “I” ou andares, em forma de T, com o térreo anterior no nível do “C” ladeando os pilares do nártex: nenhuma toca a cober- segundo andar novo. A área total triplica. A organização re- tura. A tentação de comparar a igreja-abrigo às obras de sultante mostra o setor social à frente e o íntimo atrás, ligados Felix Candela é grande, dada a contemporaneidade da por ala de circulação e serviço. A estrutura é mista - paredes igreja de Nossa Senhora da Medalha Mllagrosa (1953) portantes e trechos com estrutura independente, com colunas

154 155 ou da Capela de Lomas de Cuernavaca (1957-58), mas de aço em regra integradas à caixilharia, além de pilares o feito de engenharia não é o fundamental no caso de de seção retangular. Como de costume, a independência Alcides. A propósito, a igreja-abrigo tem descendência, entre estrutura e vedação é episódica. Só aparece no térreo, os planos facetados e irregulares de concreto da casa de onde as esquadrias correm por trás das colunas ao longo ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 praia do Mar Casado (1964), de Eduardo Longo. da rampa de inclinação suave que é a conexão entre o vestíbulo térreo e as salas de estar e jantar acima. O telhado A CASA PETROPOLITANA, 2ª EDIÇÃO 1956-59 da ala de conexão fica escondido. A cobertura inclinada A edição revista e ampliada da casa Celso da Rocha e arredondada na face inferior que lembra o perfil de uma Miranda é feita por Alcides com Elvin MacKay Dubugras bacia de proteção de andaimes tem precedente no MAM e Fernando Cabral Pinto. Comprado o terreno em frente, de Reidy (1953)- possivelmente inspirado pela capela de duas operações se seguem. Primeiro, a transformação da Ronchamp de Le Corbusier (1950-55); seu uso no Palácio construção existente em uma caixa praticamente retangu- da Alvorada de Niemeyer é contemporâneo (1957). Con- lar, após demolição da varanda antiga e eliminação dos tudo, o teto de madeira e o telhado de cimento amianto lhe beirais. Segundo, o acréscimo de dois novos volumes dão uma materialidade singular. A continuidade do teto se de dois andares, em forma de T, com o térreo anterior consegue com as bandeiras corridas transparentes ao longo no nível do segundo andar novo. A área total triplica. A da fachada principal e o trato das paredes internas do setor organização resultante mostra o setor social à frente e o social como divisórias de meia altura. íntimo atrás, ligados por ala de circulação e serviço. A es- A delicadeza dos projetos residenciais anteriores per- trutura é mista - paredes portantes e trechos com estrutura siste. Acentuada pelo balanço da laje do primeiro andar, a independente, com colunas de aço em regra integradas à horizontalidade da fachada principal é agora absoluta, ani- caixilharia, além de pilares de seção retangular. Como de mada pela endentação da esquadria superior e a correspon- costume, a independência entre estrutura e vedação é epi- dente divisão do balanço pérgula no lado direito de quem sódica. Só aparece no térreo, onde as esquadrias correm entra e terraço no lado oposto, contíguo ao abrigo de carros por trás das colunas ao longo da rampa de inclinação junto à divisa com a cocheira. O jogo entre dualismo e ar- suave que é a conexão entre o vestíbulo térreo e as salas ranjos ternários se repete, assim como o jogo entre contraste de estar e jantar acima. O telhado da ala de conexão fica e analogia. O vidro da casa moderna proporciona a visual- escondido. A cobertura inclinada e arredondada na face ização seletiva do palacete eclético emergindo na subida da inferior que lembra o perfil de uma bacia de proteção rampa que dilata o percurso de entrada. A curva da cober- de andaimes tem precedente no MAM de Reidy (1953)- tura sintoniza com o perfil quebrado do torreão da cocheira. possivelmente inspirado pela capela de Ronchamp de Le O paisagismo reitera a analogia e separa. Entretanto, em Corbusier (1950-55); seu uso no Palácio da Alvorada de função da topografia, a cobertura inclinada aparece por trás Niemeyer é contemporâneo (1957). Contudo, o teto de da cocheira no jardim de Glaziou, e incomoda. Por outro madeira e o telhado de cimento amianto lhe dão uma lado, como observa Ana Luiza Nobre, a conexão abrupta materialidade singular. A continuidade do teto se conse- entre as três alas choca- até o momento em que se reconhece gue com as bandeiras corridas transparentes ao longo da aí uma narrativa temporal no sentido inverso ao da casa de fachada principal e o trato das paredes internas do setor 1944. Enquanto esta se propunha como simplificação frente social como divisórias de meia altura. ao conjunto eclético, a nova ala social assinala uma sofisti- A delicadeza dos projetos residenciais anteriores per- cação moderna que floresce plenamente aburguesada. siste. Acentuada pelo balanço da laje do primeiro andar, O uso da rampa não é propriamente novidade, como a horizontalidade da fachada principal é agora absoluta, se pode ver nas casas próprias de Niemeyer (1942) e Vi- animada pela endentação da esquadria superior e a cor- lanova Artigas (1949), embora o custo em área construída respondente divisão do balanço pérgula no lado direito dificulte sua banalização. Significativamente, algumas obras de quem entra e terraço no lado oposto, contíguo ao abri- de Joaquim Guedes consideradas exemplares do brutalismo go de carros junto à divisa com a cocheira. O jogo en- paulista tem coberturas similares na geometria à cobertura tre dualismo e arranjos ternários se repete, assim como o da casa petropolitana, o Fórum de Itapira (1959) e as casas jogo entre contraste e analogia. O vidro da casa moderna Costa Neto (1961) e J. Breyton (1965). Os vínculos entre proporciona a visualização seletiva do palacete eclético Alcides e São Paulo não são nada desprezíveis. emergindo na subida da rampa que dilata o percurso de entrada. A curva da cobertura sintoniza com o perfil que- A CAPELA RESIDENCIAL 1957-58

154 155 brado do torreão da cocheira. O paisagismo reitera a Escondida por densa vegetação, a capela é térrea e muito analogia e separa. Entretanto, em função da topografia, pequena. Tem varanda servindo de batistério e campanário, a cobertura inclinada aparece por trás da cocheira no jar- com portas de vidro comunicando com a nave e a janela de dim de Glaziou, e incomoda. Por outro lado, como obser- vidro oposta, sobre a combinação de mesa e parapeito de ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 va Ana Luiza Nobre, a conexão abrupta entre as três alas granito que constitui o altar. Tem parede branca aos fundos choca- até o momento em que se reconhece aí uma nar- e fachada frontal suportada por discretos pilares de concreto rativa temporal no sentido inverso ao da casa de 1944. aparente e seção retangular, emoldurando parede branca Enquanto esta se propunha como simplificação frente ao que não chega até o teto e a porta restaurada do século conjunto eclético, a nova ala social assinala uma sofistica- XVIII, nova versão das justaposições de superfícies distintas. ção moderna que floresce plenamente aburguesada. No limite da varanda há um elemento vertical de concreto O uso da rampa não é propriamente novidade, como aparente, alinhado aos pilares, ultrapassando o telhado com se pode ver nas casas próprias de Niemeyer (1942) e cruz do mesmo material na ponta. A cobertura não tem mais Vilanova Artigas (1949), embora o custo em área constru- a planeza anterior, reiterando, de outra forma, a cobertura ída dificulte sua banalização. Significativamente, algumas do restaurante da Piedade; a água de cimento-amianto re- obras de Joaquim Guedes consideradas exemplares do pousa sobre vigas e forro de madeira de perfil quebrado, brutalismo paulista tem coberturas similares na geometria com a inclinação mais forte no beiral. A inspiração, segundo à cobertura da casa petropolitana, o Fórum de Itapira o arquiteto, vem das bacias de proteção dos andaimes de (1959) e as casas Costa Neto (1961) e J. Breyton (1965). madeira das obras de edifícios. Os vínculos entre Alcides e São Paulo não são nada des- A porta antiga na obra nova é o inverso da escada nova prezíveis. de Lina no museu do Unhão e se aparenta, sem pretensão de anastilose, aos despojos que Lucio usa no Museu das A CAPELA RESIDENCIAL 1957-58 Missões. O sino e a pia batismal também setecentistas reit- Escondida por densa vegetação, a capela é térrea e eram o interesse na mistura. O relicário dourado e barroco muito pequena. Tem varanda servindo de batistério e cam- sobre o altar se destaca sobre o verde do jardim por trás panário, com portas de vidro comunicando com a nave do vidro, lembrando o ecletismo do mobiliário proposto por e a janela de vidro oposta, sobre a combinação de mesa Lucio na versão moderna da casa Fontes (1930) e no Hotel e parapeito de granito que constitui o altar. Tem parede do Parque São Clemente (1945) ou por Lina na sua Casa de branca aos fundos e fachada frontal suportada por dis- Vidro (1951). Em qualquer modalidade, a mistura se tornará cretos pilares de concreto aparente e seção retangular, corrente nos 1960, quer ilustrada pelas casas na Joatinga de emoldurando parede branca que não chega até o teto e Zanine, ex-colaborador de Alcides - ou pelos interiores que a porta restaurada do século XVIII, nova versão das jus- Fernando Milan agencia na casa que lhe fez Paulo Mendes taposições de superfícies distintas. No limite da varanda da Rocha (1971). há um elemento vertical de concreto aparente, alinhado aos pilares, ultrapassando o telhado com cruz do mesmo DOIS ESCRITÓRIOS E UM MUSEU 1976-1983 material na ponta. A cobertura não tem mais a planeza A conversão do casarão neo-gótico da na sede da anterior, reiterando, de outra forma, a cobertura do res- Companhia Internacional de Seguros é feita com Lucia Ron- taurante da Piedade; a água de cimento-amianto repousa don no mesmo ano em que Lina inicia o trabalho para o cen- sobre vigas e forro de madeira de perfil quebrado, com a tro de lazer do SESC-Pompéia. A intervenção na construção inclinação mais forte no beiral. A inspiração, segundo o de pavimento único com porão alto restaura seletivamente, arquiteto, vem das bacias de proteção dos andaimes de não se tratando de bem tombado. Mantém as características madeira das obras de edifícios. da época nas principais salas e nas áreas externas, mas A porta antiga na obra nova é o inverso da escada privilegia a exposição do sistema construtivo, além de efetu- nova de Lina no museu do Unhão e se aparenta, sem pre- ar algumas trocas de pisos e esquadrias muito deteriorados. tensão de anastilose, aos despojos que Lucio usa no Museu A remoção do reboco das paredes externas torna visíveis as das Missões. O sino e a pia batismal também setecentistas paredes-mestras em pedra barreada com arcadas e guias reiteram o interesse na mistura. O relicário dourado e bar- em tijolos. O resultado minimiza o contraste cromático e tex- roco sobre o altar se destaca sobre o verde do jardim por tural entre as paredes e as guarnições de pedra das janelas trás do vidro, lembrando o ecletismo do mobiliário pro- ogivais. A remoção da pintura do forro no piso nobre deixa posto por Lucio na versão moderna da casa Fontes (1930) aparecer os veios das madeiras empregadas. A remoção da

156 157 e no Hotel do Parque São Clemente (1945) ou por Lina na pintura das grades externas evidencia o bronze de que são sua Casa de Vidro (1951). Em qualquer modalidade, a feitas, formando-se uma pátina esverdeada depois de um mistura se tornará corrente nos 1960, quer ilustrada pelas período de exposição; para harmonizar, os outros elementos casas na Joatinga de Zanine, ex-colaborador de Alcides de ferro do casarão se pintam logo com uma mistura de tinta ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 - ou pelos interiores que Fernando Milan agencia na casa com cobre. A tônica brutalista dessas operações é óbvia. que lhe fez Paulo Mendes da Rocha (1971). A convocação do brilho do vidro a corrobora, seguindo o padrão estabelecido por Le Corbusier na Unidade de Habi- DOIS ESCRITÓRIOS E UM MUSEU 1976-1983 tação de Marselha (1946-51). Fazem-se alguns fechamen- A conversão do casarão neo-gótico da Tijuca na sede tos com placas temperadas sem montantes em aberturas no da Companhia Internacional de Seguros é feita com Lu- piso nobre e no porão; as placas que isolam o refeitório se cia Rondon no mesmo ano em que Lina inicia o trabalho encaixam em trilhos no teto e no piso do porão, deixando para o centro de lazer do SESC-Pompéia. A intervenção isolado um apoio de ferro e valorizando o mobiliário com na construção de pavimento único com porão alto res- clássicos modernos, como a cadeira Cesca de Breuer. O taura seletivamente, não se tratando de bem tombado. contraste é máximo entre o material industrial refinado e o Mantém as características da época nas principais salas artesanato tradicional. A oposição exacerbada entre o rús- e nas áreas externas, mas privilegia a exposição do siste- tico e o polido, fonte de prazer estético de ponta desde o ma construtivo, além de efetuar algumas trocas de pisos final dos 1950, ganha o atrativo da antiguidade autêntica e esquadrias muito deteriorados. A remoção do reboco num empreendimento de reciclagem pioneiro. As teses de das paredes externas torna visíveis as paredes-mestras Camillo Boito e Gustavo Giovannoni sobre a conveniência em pedra barreada com arcadas e guias em tijolos. O de distinguir entre a intervenção nova e a matéria restaurada resultado minimiza o contraste cromático e textural entre se interpretam de maneira provocativa. as paredes e as guarnições de pedra das janelas ogi- O projeto para a sede da Fundação Universitária José vais. A remoção da pintura do forro no piso nobre deixa Bonifácio foi realizado com a colaboração de Ana Luisa aparecer os veios das madeiras empregadas. A remoção Dias Leite e Priscilla Azevedo. O pavilhão a reciclar abri- da pintura das grades externas evidencia o bronze de gara antes uma antiga gráfica. É um prisma retangular de que são feitas, formando-se uma pátina esverdeada de- 18 x 55m e 13m de altura ocupando terreno de esquina. pois de um período de exposição; para harmonizar, os A fachada estreita, nordeste, voltada para a Rua Pasteur, é outros elementos de ferro do casarão se pintam logo com precedida por um pequeno jardim. Há um alpendre contíguo uma mistura de tinta com cobre. A tônica brutalista dessas à fachada lateral, noroeste, onde está o acesso principal, operações é óbvia. A convocação do brilho do vidro a defrontando a fachada lateral do Palácio Universitário do Rio corrobora, seguindo o padrão estabelecido por Le Cor- de Janeiro, antigo Hospício Pedro II, iniciado em 1842 pelo busier na Unidade de Habitação de Marselha (1946-51). coronel Domingos Monteiro e desenvolvido no ano seguinte, Fazem-se alguns fechamentos com placas temperadas sem por Cândido Guilhobel e José Maria Jacinto Rebello, dis- montantes em aberturas no piso nobre e no porão; as pla- cípulos de Grandjean de Montigny. Alcides afirma que as cas que isolam o refeitório se encaixam em trilhos no teto proporções do pavilhão são estranhas, destoando da obra e no piso do porão, deixando isolado um apoio de ferro prima do neo-clássico brasileiro à sua frente. e valorizando o mobiliário com clássicos modernos, como A intervenção procura destacar o que a edificação tem de a cadeira Cesca de Breuer. O contraste é máximo entre o relevante, como a estrutura do telhado, formada por peças material industrial refinado e o artesanato tradicional. A de madeira, ferro e chapas de metal. As telhas faltantes se oposição exacerbada entre o rústico e o polido, fonte de substituem por telhas de vidro. A remoção do reboco interno prazer estético de ponta desde o final dos 1950, ganha da parede que constitui a fachada lateral evidencia a alve- o atrativo da antiguidade autêntica num empreendimento naria de pedra. A simetria bilateral se minimiza, com a ma- de reciclagem pioneiro. As teses de Camillo Boito e Gus- nutenção do reboco na parede oposta. Alguns caixilhos de tavo Giovannoni sobre a conveniência de distinguir entre madeira se trocam por vidro temperado. O ferro das grades a intervenção nova e a matéria restaurada se interpretam fica aparente, protegido só por verniz fosco incolor. Para de maneira provocativa. atender a demanda de salas isoladas, jiraus de estrutura me- O projeto para a sede da Fundação Universitária José tálica se dispõem em simetria cruzada nas duas pontas do Bonifácio foi realizado com a colaboração de Ana Lui- salão, com os sanitários, copa e as áreas de apoio abaixo. sa Dias Leite e Priscilla Azevedo. O pavilhão a reciclar As divisórias dos mezaninos se interrompem antes da parede

156 157 abrigara antes uma antiga gráfica. É um prisma retan- de pedra e os vãos se completam com faixas temperado, ga- gular de 18 x 55m e 13m de altura ocupando terreno rantindo a continuidade visual da textura bruta. Ao longo do de esquina. A fachada estreita, nordeste, voltada para a pavilhão se colocam divisórias baixas coloridas alternadas Rua Pasteur, é precedida por um pequeno jardim. Há um com armários., delimitando as salas de trabalho sem obstruir ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 alpendre contíguo à fachada lateral, noroeste, onde está a vista da estrutura do telhado. As tubulações aparentes de o acesso principal, defrontando a fachada lateral do Palá- ar condicionado contribuem para o clima de franqueza con- cio Universitário do Rio de Janeiro, antigo Hospício Pedro strutiva. II, iniciado em 1842 pelo coronel Domingos Monteiro e O Museu do Folclore é um dos espaços que integram o desenvolvido no ano seguinte, por Cândido Guilhobel e Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, que ocupa José Maria Jacinto Rebello, discípulos de Grandjean de dois sobrados em área contígua ao Palácio do Catete. Com Montigny. Alcides afirma que as proporções do pavilhão a colaboração da equipe interdisciplinar do Instituto Nacio- são estranhas, destoando da obra prima do neo-clássico nal do Folclore, Alcides adapta um dos sobrados ao pro- brasileiro à sua frente. grama elaborado por Lélia Coelho Frota, diretora do Instituto A intervenção procura destacar o que a edificação Nacional do Folclore entre 1982-84. O sobrado tinha sido tem de relevante, como a estrutura do telhado, formada construído por um mestre-de-obras “de gosto popular e, com por peças de madeira, ferro e chapas de metal. As telhas seus painéis de azulejos e grades de ferro rendado na facha- faltantes se substituem por telhas de vidro. A remoção do da entalada, fugia do estilo neoclássico trazido pela Missão reboco interno da parede que constitui a fachada late- Francesa em 1816 e em voga na época de sua construção”. ral evidencia a alvenaria de pedra. A simetria bilateral Paredes externas de pedra e internas de pau-a-pique consti- se minimiza, com a manutenção do reboco na parede tuíam combinação comum no Rio até a metade do século oposta. Alguns caixilhos de madeira se trocam por vidro XIX, chamada por Alcides de “neoclássico popular”.8 O so- temperado. O ferro das grades fica aparente, protegido brado estava em péssimo estado de conservação, com ap- só por verniz fosco incolor. Para atender a demanda de enas duas paredes e a fachada aproveitáveis. A equipe as salas isoladas, jiraus de estrutura metálica se dispõem em recupera buscando sua configuração original. Demolidos os simetria cruzada nas duas pontas do salão, com os sa- acréscimos posteriores, que ocupavam um terço do terreno, nitários, copa e as áreas de apoio abaixo. As divisórias constrói-se um novo anexo, resultando em dois andares de 5 dos mezaninos se interrompem antes da parede de pedra x 65m cada. O Museu é composto basicamente por objetos e os vãos se completam com faixas temperado, garan- que representam a religião e as festas brasileiras. Alcides tindo a continuidade visual da textura bruta. Ao longo conta como foi o processo de projeto museológico: do pavilhão se colocam divisórias baixas coloridas alter- Tomamos primeiro conhecimento de todo o acervo, e do nadas com armários., delimitando as salas de trabalho significado das séries de objetos para os grupos que os gera- sem obstruir a vista da estrutura do telhado. As tubulações ram. Dentro dessas séries fui grupando os objetos como me aparentes de ar condicionado contribuem para o clima de parecia mais coerente visualmente, vendo a relação entre franqueza construtiva. eles. Distribuí os objetos e depois fui estudando as bases. Só O Museu do Folclore é um dos espaços que integram o então comecei a delimitar as áreas que seriam suspensas do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, que ocupa chão. Para as paredes, desenhei prateleiras de vidro, a fim dois sobrados em área contígua ao Palácio do Catete. de que não contassem na estrutura do prédio e na própria Com a colaboração da equipe interdisciplinar do Instituto respiração da mostra.9 Nacional do Folclore, Alcides adapta um dos sobrados ao A iluminação foi bem explorada. Logo ao entrar, parece programa elaborado por Lélia Coelho Frota, diretora do tudo muito escuro, até os olhos se acostumarem à penumbra. Instituto Nacional do Folclore entre 1982-84. O sobrado Entretanto, neste processo o visitante vai se concentrando tinha sido construído por um mestre-de-obras “de gosto e atentando às primeiras peças expostas, para onde a – popular e, com seus painéis de azulejos e grades de ferro pouca - luz existente está voltada. No decorrer do percurso, rendado na fachada entalada, fugia do estilo neoclássico a iluminação varia conforme o que os ambientes exigem. trazido pela Missão Francesa em 1816 e em voga na época de sua construção”. Paredes externas de pedra e CAPELA E CASA 1982-89 internas de pau-a-pique constituíam combinação comum A capela da Fazenda Maisa e Rodolfo Figueira de Mello no Rio até a metade do século XIX, chamada por Alcides é uma intervenção mínima e brilhante baseada no contraste de “neoclássico popular”.8 O sobrado estava em péssimo entre o gesto novo e a construção rural vernácula. O ar-

158 159 estado de conservação, com apenas duas paredes e a quiteto retira a taipa da parede de um galpão e a substitui fachada aproveitáveis. A equipe as recupera buscando por lâmina de vidro temperado verde-claro que destaca a sua configuração original. Demolidos os acréscimos pos- estrutura de madeira em forma de cruz e “marca sutilmente teriores, que ocupavam um terço do terreno, constrói-se a intervenção humana entre o espaço sagrado interno e a ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 um novo anexo, resultando em dois andares de 5 x 65m natureza que se sacraliza no exterior, como retábulo”, do cada. O Museu é composto basicamente por objetos que mesmo jeito que na capela dos Nabuco. representam a religião e as festas brasileiras. Alcides con- A última intervenção da série é justamente a casa de ta como foi o processo de projeto museológico: Sylvia Nabuco, filha de Maria do Carmo e José- contem- Tomamos primeiro conhecimento de todo o acervo, e porânea com as intervenções de Lina em Salvador, que se do significado das séries de objetos para os grupos que estendem de 1986 a 1990, incluindo as casas da Ladeira os geraram. Dentro dessas séries fui grupando os objetos da Memória, a Casa do Benin e a Casa do Olodum. Em como me parecia mais coerente visualmente, vendo a rela- uma rua no centro histórico da cidade de Tiradentes, for- ção entre eles. Distribuí os objetos e depois fui estudando mada por um conjunto de casas do século XVIII tombado as bases. Só então comecei a delimitar as áreas que se- pelo IPHAN, Alcides projeta e constrói, com a colaboração riam suspensas do chão. Para as paredes, desenhei pra- de Ana Luisa Dias Leite, uma casa moderna, incorporando a teleiras de vidro, a fim de que não contassem na estrutura fachada e parte da cobertura de casa antiga. A construção do prédio e na própria respiração da mostra.9 nova acompanha a declividade do terreno e o passante na A iluminação foi bem explorada. Logo ao entrar, pa- rua não a vê. Ela não se nota nem do acesso à Matriz de rece tudo muito escuro, até os olhos se acostumarem à Santo Antônio próxima, 2 m acima do nível da rua. É um penumbra. Entretanto, neste processo o visitante vai se exercício bem sucedido de gradação e analogia entre o concentrando e atentando às primeiras peças expostas, novo e o antigo. para onde a – pouca - luz existente está voltada. No de- A estrutura mistura ora pilares de madeira – esbeltos e correr do percurso, a iluminação varia conforme o que os de seção quadrada - ora paredes portantes. A iluminação ambientes exigem. e a ventilação se resolvem com pátios internos. Alguns têm árvores que ultrapassam a altura da residência. A iluminação CAPELA E CASA 1982-89 obtida através destes pátios é surpreendente, assim como A capela da Fazenda Maisa e Rodolfo Figueira de os efeitos resultantes da entrada de luz nas esquadrias que Mello é uma intervenção mínima e brilhante baseada no possuem elementos verticais de madeira, funcionando como contraste entre o gesto novo e a construção rural vernácu- filtros. Todos os ambientes se voltam para algum dos pátios la. O arquiteto retira a taipa da parede de um galpão e internos, inclusive os quatro banheiros das suítes. Entre o pá- a substitui por lâmina de vidro temperado verde-claro que tio e a esquadria de dois destes banheiros há ainda uma destaca a estrutura de madeira em forma de cruz e “mar- floreira e brises verticais de madeira, que também servem ca sutilmente a intervenção humana entre o espaço sagra- para dar privacidade aos banheiros. do interno e a natureza que se sacraliza no exterior, como A planta é um C, bi-nuclear: núcleo social e de serviço, à retábulo”, do mesmo jeito que na capela dos Nabuco. frente; núcleo íntimo, aos fundos. Entre eles há um pátio, um A última intervenção da série é justamente a casa de alpendre e a circulação, que liga os núcleos internamente. A Sylvia Nabuco, filha de Maria do Carmo e José- contem- sala de entrada e o cômodo ao seu lado tiveram mantidas porânea com as intervenções de Lina em Salvador, que se as suas dimensões originais, a primeira mantém a função e estendem de 1986 a 1990, incluindo as casas da Ladeira o segundo transforma-se em cozinha. Como acontecia nas da Memória, a Casa do Benin e a Casa do Olodum. Em casas coloniais, Alcides propõe essa integração maior com uma rua no centro histórico da cidade de Tiradentes, for- o exterior nos cômodos da frente e, à medida que se vai mada por um conjunto de casas do século XVIII tombado adentrando a residência, os ambientes vão tendo o caráter pelo IPHAN, Alcides projeta e constrói, com a colabora- mais íntimo até chegar aos dormitórios. Todos os ambientes ção de Ana Luisa Dias Leite, uma casa moderna, incorpo- têm suas dimensões bem controladas. Não sobra nem falta rando a fachada e parte da cobertura de casa antiga. A área. Nos fundos do lote, uma casa menor destinada a construção nova acompanha a declividade do terreno e o serviços segue o partido de micro-pátios da primeira. Ambas passante na rua não a vê. Ela não se nota nem do acesso possuem coberturas vegetais que se misturam com a paisa- à Matriz de Santo Antônio próxima, 2 m acima do nível gem circundante, como os espelhos d’água no restaurante da rua. É um exercício bem sucedido de gradação e ana- da Serra da Piedade.

158 159 logia entre o novo e o antigo. O arranque da escada que leva aos dormitórios se inspira A estrutura mistura ora pilares de madeira – esbeltos e no da casa setecentista do Padre Toledo em Tiradentes. Out- de seção quadrada - ora paredes portantes. A iluminação ros elementos remetem também ao repertório arquitetônico e a ventilação se resolvem com pátios internos. Alguns colonial luso brasileiro: o alpendre, as treliças, as almofadas ARQ TEXTO 15 ARQ TEXTO 15 têm árvores que ultrapassam a altura da residência. A de portas. O forro da circulação entre os núcleos é de palha iluminação obtida através destes pátios é surpreendente, tramada, recurso comum nas casas da cidade, usado ainda assim como os efeitos resultantes da entrada de luz nas como painel de portas e bandeiras de portas. As cores são esquadrias que possuem elementos verticais de madeira, as próprias dos materiais usados, o branco do cal, o ver- funcionando como filtros. Todos os ambientes se voltam melho da telha sem o forro, as cores naturais da madeiras para algum dos pátios internos, inclusive os quatro ba- ipê, no piso da sala de entrada, e mogno, nas portas, a cor nheiros das suítes. Entre o pátio e a esquadria de dois de ferrugem das colunas da sala e o alaranjado das lajotas destes banheiros há ainda uma floreira e brises verticais cerâmicas. de madeira, que também servem para dar privacidade aos banheiros. A planta é um C, bi-nuclear: núcleo social e de servi- ço, à frente; núcleo íntimo, aos fundos. Entre eles há um pátio, um alpendre e a circulação, que liga os núcleos internamente. A sala de entrada e o cômodo ao seu lado tiveram mantidas as suas dimensões originais, a primeira mantém a função e o segundo transforma-se em cozinha. Como acontecia nas casas coloniais, Alcides propõe essa integração maior com o exterior nos cômodos da frente e, à medida que se vai adentrando a residência, os am- bientes vão tendo o caráter mais íntimo até chegar aos dormitórios. Todos os ambientes têm suas dimensões bem controladas. Não sobra nem falta área. Nos fundos do lote, uma casa menor destinada a serviços segue o parti- do de micro-pátios da primeira. Ambas possuem cobertu- ras vegetais que se misturam com a paisagem circundan- te, como os espelhos d’água no restaurante da Serra da Piedade. O arranque da escada que leva aos dormitórios se ins- pira no da casa setecentista do Padre Toledo em Tiraden- tes. Outros elementos remetem também ao repertório ar- quitetônico colonial luso brasileiro: o alpendre, as treliças, as almofadas de portas. O forro da circulação entre os núcleos é de palha tramada, recurso comum nas casas da cidade, usado ainda como painel de portas e bandeiras de portas. As cores são as próprias dos materiais usados, o branco do cal, o vermelho da telha sem o forro, as cores naturais da madeiras ipê, no piso da sala de entrada, e mogno, nas portas, a cor de ferrugem das colunas da sala e o alaranjado das lajotas cerâmicas.

160 161 NOTAS NOTES

1 O presente trabalho se vincula à minha dissertação de mestrado 1 O presente trabalho se vincula à minha dissertação de mestrado no PROPAR-UFRGS, Alcides Rocha Miranda. Projetos e Obras no PROPAR-UFRGS, Alcides Rocha Miranda. Projetos e Obras 1934-1997, sob a orientação do prof.. Carlos Eduardo Comas. 1934-1997, sob a orientação do prof.. Carlos Eduardo Comas. ARQ TEXTO 15 Quero agradecer ao mesmo o trabalho de edição para que esta Quero agradecer ao mesmo o trabalho de edição para que esta ARQ TEXTO 15 publicação fosse levada a cabo. O arquiteto é ainda pouco publicação fosse levada a cabo. O arquiteto é ainda pouco conhecido. A bibliografia pertinente inclui Lelia Coelho Frota, conhecido. A bibliografia pertinente inclui Lelia Coelho Frota, Alcides Rocha Miranda: caminho de um arquiteto ( Rio: Editora Alcides Rocha Miranda: caminho de um arquiteto ( Rio: Editora UFRJ. 1993); a dissertação de mestrado de Ana Luiza Nobre. O UFRJ. 1993); a dissertação de mestrado de Ana Luiza Nobre. O Passado pela Frente: a modernidade de Alcides Rocha Miranda Passado pela Frente: a modernidade de Alcides Rocha Miranda (Rio: PUC-Rio, 1997); Lauro Cavalcanti (org), Quando o Brasil (Rio: PUC-Rio, 1997); Lauro Cavalcanti (org), Quando o Brasil era moderno (Rio: Aeroplano, 2001; a tradução em português era moderno (Rio: Aeroplano, 2001; a tradução em português da tese de doutorado de Comas, Precisões brasileiras sobre um da tese de doutorado de Comas, Precisões brasileiras sobre um estado passado da arquitetura e do urbanismo modernos, 1936- estado passado da arquitetura e do urbanismo modernos, 1936- 45 (Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2002) e a tese de doutorado 45 (Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2002) e a tese de doutorado de Ruth Verde Zein, A arquitetura da escola paulista brutalista de Ruth Verde Zein, A arquitetura da escola paulista brutalista (Porto (Porto Alegre: PROPAR-UFRGS, 2005). Alegre: PROPAR-UFRGS, 2005). 2 Ver Carlos Eduardo Comas, “Moderna 30-60” in Roberto 2 Ver Carlos Eduardo Comas, “Moderna 30-60” in Roberto Montezuma (org), Arquitetura Brasil 500 anos vol. 1 (Recife: Montezuma (org), Arquitetura Brasil 500 anos vol. 1 (Recife: UFPe, UFPe, 2002). 3 2002). Jorge Czajkowski, “Breve notícia sobre pesquisa. O nativismo 3 Jorge Czajkowski, “Breve notícia sobre pesquisa. O nativismo carioca: uma arquitetura entre a tradição e a modernidade”. carioca: uma arquitetura entre a tradição e a modernidade”. Gávea Gávea 6 (Rio: dez. 1988), p. 141. 4 6 (Rio: dez. 1988), p. 141. Os exemplares da arquitetura moderna brasileira que usam 4 Os exemplares da arquitetura moderna brasileira que usam estrutura em madeira incluem o Park Hotel de Lucio Costa, a casa estrutura em madeira incluem o Park Hotel de Lucio Costa, a casa de campo de Carlos Frederico Ferreira, o Pavilhão de Praia de de campo de Carlos Frederico Ferreira, o Pavilhão de Praia de Warchavchik, alguns projetos de Vital Brazil e Oswaldo Bratke Warchavchik, alguns projetos de Vital Brazil e Oswaldo Bratke na na Amazônia, a casa Valéria Cirell e as igrejas de Lina Bo Bardi, Amazônia, a casa Valéria Cirell e as igrejas de Lina Bo Bardi, além das casas de Zanine Caldas. Outros exemplos arquitetônicos além das casas de Zanine Caldas. Outros exemplos arquitetônicos com programa residencial que associam repertório vernáculo ou com programa residencial que associam repertório vernáculo ou colonial português à arquitetura moderna são a versão moderna colonial português à arquitetura moderna são a versão moderna da da Casa Fontes (1930), as Casas sem dono (1931-35), as casas Casa Fontes (1930), as Casas sem dono (1931-35), as casas da da Chácara Coelho Duarte (1932), a vila Monlevade (1934), a Casa Barão de Saavedra (1941-42), o Parque Guinle (1943- Chácara Coelho Duarte (1932), a vila Monlevade (1934), a Casa 53), todos de Lucio Costa, o Edifício Antônio Ceppas (1953) de Barão de Saavedra (1941-42), o Parque Guinle (1943-53), todos Jorge Moreira e a Casa Henrique Xavier (1936) de Niemeyer. de Lucio Costa, o Edifício Antônio Ceppas (1953) de Jorge Moreira 5 e a Casa Henrique Xavier (1936) de Niemeyer. AA ABI dos irmãos Roberto ou o Ministério de Educação de 5 Lucio, Niemeyer, Reidy, Moreira, Leão e Vasconcellos, o Pavilhão AA ABI dos irmãos Roberto ou o Ministério de Educação de Brasileiro da Feira de Nova York de 1939, de Lucio e Niemeyer, Lucio, Niemeyer, Reidy, Moreira, Leão e Vasconcellos, o Pavilhão ou o já mencionado Hotel de Ouro Preto. Ver Comas 2002 (ver Brasileiro da Feira de Nova York de 1939, de Lucio e Niemeyer, nota 1) ou o já mencionado Hotel de Ouro Preto. Ver Comas 2002 (ver 6 A casa Vincens de Gaudi, a casa Errázuris de Le Corbusier e nota 1) 6 a casa Passos de Niemeyer. A casa Vincens de Gaudi, a casa Errázuris de Le Corbusier e a 7 Como o relacionamento da ABI com a Biblioteca Nacional, casa Passos de Niemeyer. 7 do Ministério da Educação com a Igreja de Santa Luzia, do Como o relacionamento da ABI com a Biblioteca Nacional, do Museu das Missões com a catedral de São Miguel, do Grand Ministério da Educação com a Igreja de Santa Luzia, do Museu Hotel com o contexto de Ouro Preto, do Park Hotel com o chalé das Missões com a catedral de São Miguel, do Grand Hotel com de Wænheldt para o Barão de São Clemente, da Caixa d’água o contexto de Ouro Preto, do Park Hotel com o chalé de Wænheldt de Olinda com a Sé, do Laboratório de Anatomia Patológica de para o Barão de São Clemente, da Caixa d’água de Olinda Recife com o Hospital Universitário. Ver Carlos Eduardo Comas, com a Sé, do Laboratório de Anatomia Patológica de Recife com “Rio, São Paulo, Pernambuco e Minas. Heteromorfismo e o Hospital Universitário. Ver Carlos Eduardo Comas, “Rio, São Contextualismo na Arquitetura Moderna Brasileira” in Fernando Paulo, Pernambuco e Minas. Heteromorfismo e Contextualismo na Diniz Moreira (Org.), Arquitetura Moderna no Norte e Nordeste Arquitetura Moderna Brasileira” in Fernando Diniz Moreira (Org.), do Brasil : Universalidade e Diversidade (Recife: CECI/UNICAP, Arquitetura Moderna no Norte e Nordeste do Brasil : Universalidade 2007) e Comas 2002 (ver nota 1). . e Diversidade (Recife: CECI/UNICAP, 2007) e Comas 2002 (ver 8 Frota 1994 (ver nota 1), p. 70. nota 1). . 9 Idem, p. 204. 8 Frota 1994 (ver nota 1), p. 70. 9 Idem, p. 204.

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