A Convivência Do Velho Com O Novo Alcides Rocha Miranda
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ALCIDES DA ROCHA MIRANDA: A CONVIVÊNCIA FORMAL DO VELHO COM O NOVO ALCIDES ROCHA MIRANDA: THE FORMAL COEXISTENCE OF OLD AND NEW Liege Sieben Puhl Tradução português-inglês: TEXTO 15 TEXTO 15 ARQ ARQ 146 147 UM PROBLEMA E DUAS CLASSIFICAÇÕES1 UM PROBLEMA E DUAS CLASSIFICAÇÕES1 A obra arquitetônica de Alcides da Rocha Miranda, A obra arquitetônica de Alcides da Rocha Miranda, em- TEXTO 15 embora relativamente pequena, é significativa, particu- bora relativamente pequena, é significativa, particularmente TEXTO 15 larmente no trato da convivência formal do velho com o no trato da convivência formal do velho com o novo, ou ARQ ARQ novo, ou seja, do relacionamento, em termos de forma, seja, do relacionamento, em termos de forma, entre bem entre bem patrimonial e intervenção moderna. Esta ques- patrimonial e intervenção moderna. Esta questão é básica tão é básica em três situações. Primeiro, quando o sítio em três situações. Primeiro, quando o sítio da obra nova da obra nova fica junto de edifício ou entorno urbano de fica junto de edifício ou entorno urbano de valor histórico. valor histórico. Segundo, quando se trata de reforma ou Segundo, quando se trata de reforma ou ampliação de edifí- ampliação de edifício de valor histórico. Terceiro, caso cio de valor histórico. Terceiro, caso excepcional, quando o excepcional, quando o programa pede (ou sugere) a in- programa pede (ou sugere) a incorporação de fragmento ar- corporação de fragmento arquitetônico de valor histórico. quitetônico de valor histórico. Esta nota registra e comenta as Esta nota registra e comenta as realizações corresponden- realizações correspondentes, tendo em vista subsidiar estu- tes, tendo em vista subsidiar estudos futuros mais deta- dos futuros mais detalhados quanto à sua documentação, lhados quanto à sua documentação, interpretação e/ou interpretação e/ou conservação. conservação. A primeira situação é a de obra nova perto de edifício A primeira situação é a de obra nova perto de edifício ou entorno urbano de valor histórico. O primeiro caso é de ou entorno urbano de valor histórico. O primeiro caso é obra nova junto de conjunto eclético, a 1ª casa Celso Rocha de obra nova junto de conjunto eclético, a 1ª casa Celso Miranda, projeto de 1944 construído em Petrópolis, perto Rocha Miranda, projeto de 1944 construído em Petrópo- do Rio de Janeiro. O segundo caso é o de obra nova perto lis, perto do Rio de Janeiro. O segundo caso é o de obra de casario colonial urbano, três projetos não construídos nova perto de casario colonial urbano, três projetos não feitos no SPHAN provavelmente entre 1944 e 1947: a casa construídos feitos no SPHAN provavelmente entre 1944 do diretor da Cia. de Telefones de Ouro Preto, a prefeitura e 1947: a casa do diretor da Cia. de Telefones de Ouro de Congonhas do Campo e o grupo escolar do Serro, todos Preto, a prefeitura de Congonhas do Campo e o grupo em Minas Gerais. O terceiro caso é o de obra nova junto escolar do Serro, todos em Minas Gerais. O terceiro caso à ermida colonial também mineira, em Caeté, na Serra da é o de obra nova junto à ermida colonial também mineira, Piedade, o restaurante projetado em 1956 e inaugurado em Caeté, na Serra da Piedade, o restaurante projetado em 1971 e a igreja-abrigo projetada nos 1960 e operante em 1956 e inaugurado em 1971 e a igreja-abrigo pro- desde 1980 (mas em obras até hoje). jetada nos 1960 e operante desde 1980 (mas em obras A segunda situação é a de reforma ou ampliação de até hoje). edifício de valor histórico reconhecido ou não legalmente. A segunda situação é a de reforma ou ampliação de Comporta cinco casos e seis obras construídas. O primeiro edifício de valor histórico reconhecido ou não legalmente. caso, cronologicamente, é o projeto de 1956 para 2ª casa Comporta cinco casos e seis obras construídas. O primei- Celso Rocha Miranda, que incorpora o casa moderna anteri- ro caso, cronologicamente, é o projeto de 1956 para 2ª or. O segundo, em 1976, lida com preexistência neo-gótica; casa Celso Rocha Miranda, que incorpora o casa moder- a antiga casa do Barão de Mesquita no Rio se transforma na anterior. O segundo, em 1976, lida com preexistência em sede da Cia. Internacional de Seguros. O terceiro é a neo-gótica; a antiga casa do Barão de Mesquita no Rio se conversão de prédio neoclássico na Fundação Universitária transforma em sede da Cia. Internacional de Seguros. O da UFRJ, de 1981. Em 1982, Alcides intervém em galpão terceiro é a conversão de prédio neoclássico na Fundação na fazenda de Rodolfo Figueira de Mello para realizar Universitária da UFRJ, de 1981. Em 1982, Alcides inter- uma capela. A este quarto caso, trabalho sobre arquitetura vém em galpão na fazenda de Rodolfo Figueira de Mello vernácula rural, seguem-se duas obras que incidem sobre para realizar uma capela. A este quarto caso, trabalho arquitetura vernácula urbana: o Museu do Folclore do Rio de sobre arquitetura vernácula rural, seguem-se duas obras Janeiro de 1983 ocupa dois sobrados no Catete imperial; que incidem sobre arquitetura vernácula urbana: o Museu a casa para Sylvia Nabuco de 1987-89 amplia construção do Folclore do Rio de Janeiro de 1983 ocupa dois sobra- térrea colonial em Tiradentes, Minas Gerais. dos no Catete imperial; a casa para Sylvia Nabuco de A terceira situação, singular, é obra nova incorporando 1987-89 amplia construção térrea colonial em Tiradentes, fragmento arquitetônico de valor histórico: é a capela de Minas Gerais. 1957-58 no terreno da casa de José e Maria do Carmo 146 147 A terceira situação, singular, é obra nova incorporan- Nabuco, no bairro carioca do Humaitá, incorporando porta do fragmento arquitetônico de valor histórico: é a capela e relicário barrocos. TEXTO 15 de 1957-58 no terreno da casa de José e Maria do Car- Do ponto de vista da periodização, as realizações em TEXTO 15 mo Nabuco, no bairro carioca do Humaitá, incorporando questão podem ser classificadas em três fases. A primeira se ARQ ARQ porta e relicário barrocos. desenvolve na década de 1940 e corresponde, segundo. Do ponto de vista da periodização, as realizações em Comas, à fase de emergência e consolidação da escola questão podem ser classificadas em três fases. A primeira carioca de arquitetura moderna brasileira; comporta apenas se desenvolve na década de 1940 e corresponde, segun- trabalhos na primeira situação. A segunda fase, de 1956 a do. Comas, à fase de emergência e consolidação da es- 1964, corresponde, segundo Comas, à fase de mutação cola carioca de arquitetura moderna brasileira; comporta e ocaso da escola carioca, com a afirmação de poéticas apenas trabalhos na primeira situação. A segunda fase, individuais no seu interior seguidas da emergência da arquit- de 1956 a 1964, corresponde, segundo Comas, à fase etura brutalista que se tornará uma escola de base paulista, de mutação e ocaso da escola carioca, com a afirmação tendo como pano de fundo o projeto de Brasília; comporta de poéticas individuais no seu interior seguidas da emer- um trabalho de cada uma das três situações.2 A terceira gência da arquitetura brutalista que se tornará uma escola fase, de 1975 a 1990, corresponde grosso modo ao es- de base paulista, tendo como pano de fundo o projeto de gotamento da escola paulista e à crise geral da arquitetura Brasília; comporta um trabalho de cada uma das três si- moderna no Ocidente, com o aparecimento de tendências tuações.2 A terceira fase, de 1975 a 1990, corresponde auto-proclamadas pós-modernas e de atenção aos problemas grosso modo ao esgotamento da escola paulista e à crise e oportunidades das reciclagens arquitetônicas; comporta a geral da arquitetura moderna no Ocidente, com o apare- construção da igreja na Serra da Piedade e todos os demais cimento de tendências auto-proclamadas pós-modernas e trabalhos da segunda situação, sugerindo a pertinência de de atenção aos problemas e oportunidades das recicla- um paralelo com a obra de Lina Bo Bardi no mesmo período, gens arquitetônicas; comporta a construção da igreja na em São Paulo (1976- 1992) e Salvador (1986-1990). Serra da Piedade e todos os demais trabalhos da segunda situação, sugerindo a pertinência de um paralelo com a A CASA PETROPOLITANA, 1ª EDIÇÃO, 1944 obra de Lina Bo Bardi no mesmo período, em São Paulo A casa para Celso Rocha Miranda, o irmão do arquit- (1976- 1992) e Salvador (1986-1990). eto, ocupa terreno de miolo de quadra em aclive. Acessível desde a avenida fronteira por uma servidão, fora desmemb- A CASA PETROPOLITANA, 1ª EDIÇÃO, 1944 rado da propriedade onde o avô Tavares Guerra edificara A casa para Celso Rocha Miranda, o irmão do ar- em 1884 um palacete e cocheira separados, com jardim quiteto, ocupa terreno de miolo de quadra em aclive. frontal atribuído a Auguste Glaziou. FIG 1- implantação Acessível desde a avenida fronteira por uma servidão, O palacete tem dois andares com porão e fachada prin- fora desmembrado da propriedade onde o avô Tavares cipal paralela à avenida e verticalizada, embora um pouco Guerra edificara em 1884 um palacete e cocheira sepa- mais larga que alta. A escada central externa avança reta rados, com jardim frontal atribuído a Auguste Glaziou. entre dois volumes que sobressaem, por sua vez, da porta FIG 1- implantação de entrada e do balcão acima. Os volumes tem cobertu- O palacete tem dois andares com porão e fachada ras de duas águas empinadas em telha francesa. O galbo principal paralela à avenida e verticalizada, embora um acentuado, os grandes beirais e os lambrequins de madeira pouco mais larga que alta. A escada central externa avan- pintada configuram uma variante do gênero chalé suíço, ça reta entre dois volumes que sobressaem, por sua vez, popular no Rio e arredores nessa época.