<<

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ANÁLISE DO POTENCIAL DAS REDES DE INFORMAÇÕES TURÍSTICAS NOS SITES DOS GOVERNOS DO BRASIL E DA BOLÍVIA

AMLI PAULA MARTINS DE MIRANDA

ORIENTADOR: PROF. DR. LUIZ DA ROSA GARCIA NETTO

Cuiabá, MT Dezembro de 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ANÁLISE DO POTENCIAL DAS REDES DE INFORMAÇÕES TURÍSTICAS NOS SITES DOS GOVERNOS DO BRASIL E DA BOLÍVIA

AMLI PAULA MARTINS DE MIRANDA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Geografia.

ORIENTADOR: PROF. DR. LUIZ DA ROSA GARCIA NETTO

Cuiabá, MT Dezembro de 2011

FICHA CATALOGRÁFICA

M672a Miranda, Amli Paula Martins de. Análise do potencial das redes de informações turísticas nos sites dos governos do Brasil e da Bolívia / Amli Paula Martins de Miranda. – 2011. 163 f. : il. color.

Orientador: Prof. Dr. Luiz da Rosa Garcia Netto. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Pós-Graduação em Geografia, 2011.

Bibliografia: f. 155-162. Inclui anexo.

1. Ciberespaço. 2. Geografia do ciberespaço. 3. Rede turística – Brasil- Bolívia. 4. Tecnologia da informação e comunicação. 5. Turismo – Internet. 6. Geografia virtual. I. Título.

CDU – 911.3:007(81:84) Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931

UNVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO: ANÁLISE DO POTENCIAL DAS REDES DE INFORMAÇÕES TURÍSTICAS NOS SITES DOS GOVERNOS DO BRASIL E DA BOLÍVIA

AUTOR (A): AMLI PAULA MARTINS DE MIRANDA

Dissertação defendida e aprovada em 2 de dezembro de 2011, pela comissão julgadora:

______Prof. Dr Luiz da Rosa Garcia Netto – Orientador Universidade Federal de Mato Grosso

______Profª Dra Tereza Cristina Cardoso Higa – Examinador (a) Interno Universidade Federal de Mato Grosso

______Profª Dra. Dora Maria Orth – Examinador (a) Externo Universidade Federal de Santa Catarina

DEDICATÓRIA

A Deus, meu criador, que me ofereceu esta nova chance de evolução espiritual.

À minha mãe Ilma, luz da minha vida e já uma estrela no céu, que me ensinou o amor ao próximo.

Ao meu pai Miguel, por acreditar em mim e no meu sonho.

Aos meus irmãos Marcelo e Leonardo, pelo amor, carinho e amizade.

À minha avó Arlette pelo cuidado e paciência.

Aos meus amigos do plano espiritual pelo amor, pela força, fé, esperança, caridade e inspiração.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Professor Doutor Luiz da Rosa Garcia Netto que aceitou ser meu orientador e acreditou no meu projeto para este trabalho, além de ter se tornado um grande amigo.

A todos os professores que participaram da minha formação acadêmica de mestrado no Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso, especialmente à Professora Doutora Cleusa Aparecida Gonçalves Pereira Zamparoni e à Professora Doutora Tereza Cristina Cardoso Higa pelas inestimáveis contribuições intelectuais.

À Professora Doutora Tereza Cristina Cardoso Higa, do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso e a Professora Doutora Dora Maria Orth da Universidade Federal de Santa Catarina, que aceitaram o convite para fazer parte da Banca de Defesa Pública de Dissertação como Membro Interno e Externo, respectivamente.

À Professora Doutora Patrícia Mirandola do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul pela paciência e carinho nas explicações sobre geotecnologias e dicas sobre mapas.

Ao meu amigo e colega de mestrado Mário Pereira Guitte pelas incríveis conversas, troca de idéias e apoio mútuo durante a pesquisa e elaboração de nossos trabalhos.

Às minhas amigas Catarina Almeida, Nádia Kunze e Josane Guariente por serem irmãs queridas que a vida me deu de presente.

Às minhas amigas e colegas de mestrado Paula Zagui, Natalya Parpinelli e Romilda Gawenda pelas boas risadas, conversas nas viagens de campo e pelas dicas para meu trabalho.

Aos meus amigos da Associação Espírita Paulo de Tarso por me lembrarem da importância do amor, da caridade e da humildade em todos os momentos.

Finalmente, agradeço a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para o desenvolvimento desta atividade acadêmica.

“O meio técnico-científico-informacional é a expressão geográfica da globalização”

Milton Santos no livro “O Brasil: território e sociedade no início do século XXI.”

“O que é real? Como define real? Se você está falando do que pode ser cheirado, provado e visto, então real é simplesmente um sinal elétrico interpretado pelo seu cérebro.”

Morpheus, personagem do filme Matrix

“A internet tem uma geografia própria, uma geografia feita de redes e nós que processam fluxos de informação gerados e administrados a partir de lugares.”

Manuel Castells no livro “A Galáxia da Internet”

"Se as pessoas forem esclarecidas, atuantes e se comunicarem em todo o mundo; se as empresas assumirem sua responsabilidade social; se os meios de comunicação se tornarem mensageiros, e não apenas mensagem; se os atores políticos reagirem contra a descrença e restaurarem a fé na democracia; se a cultura for reconstruída a partir de experiências; se a humanidade sentir a solidariedade da espécie em todo o globo; se consolidarmos a solidariedade inter-regional, vivendo em harmonia com a natureza;se partirmos para exploração de nosso ser interior, tendo feito as pazes com nós mesmos. Se tudo isso for possibilitado por nossa decisão bem informada, consciente compartilhada enquanto ainda há tempo, então talvez, finalmente possamos ser capazes de viver, amar e sermos amados."

Manuel Castells no livro “Fim do Milênio”

RESUMO

As tecnologias de informação e comunicação, por si só, não tem o poder de fazer a revolução em uma sociedade, mas possibilitam mudanças de ordem econômica, política, ética e cultural. A nova configuração global é baseada em uma rede de cooperação e informação, mudando os conceitos anteriormente adotados em um mundo estruturado por fronteiras geográficas tradicionais. Uma das ciências que vêm se adaptando a esta nova configuração é a Geografia que, com a Geografia do Ciberespaço, faz o mapeamento das redes de informação e cooperação e das inter- relações humanas através do mundo digital, procurando compreender como se formam os novos territórios e territorialidades virtuais. O turismo é uma das atividades que buscam acompanhar as mudanças, pois é globalizante pela própria natureza. O ciberespaço turístico também envolve relações de poder e exige reflexões sobre o papel da comunicação para o desenvolvimento da atividade e o equilíbrio entre os atores sociais. A dissertação tem como objetivo mapear e analisar o potencial de formação e alcance das redes de informação dos sites dos governos do Brasil e da Bolívia, buscando compreender como as conexões se formam e se propagam no ciberespaço. Os sites selecionados foram os do Ministério do Turismo do Brasil, Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo de Mato Grosso, Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul, Ministerio de Culturas de , Gobierno Autónomo Municipal de La Paz e do Gobierno Municipal de Copacabana. A pesquisa estuda o potencial da formação das redes virtuais com uso de técnicas do Sistema de Informações Geográficas (SIG) aliadas a informações dos administradores com o uso de ferramentas próprias desenvolvidas pelos órgãos públicos e do Google Analytics, um serviço oferecido pelo Google para o monitoramento de sites, que fornece estatísticas de acesso. A partir da análise e avaliação dos resultados do mapa produzido, com o reconhecimento do potencial das redes de informação turísticas, este trabalho busca incentivar o surgimento de novos métodos para a pesquisa do tema com o enriquecimento dos conceitos vigentes. Compartilhando o conhecimento e divulgando a informação, coloca-se em debate a possível criação de uma rede turística Brasil-Bolívia na internet nos moldes das redes sociais. Será proposta ainda a criação de um grupo de pesquisa sobre a Geografia do Ciberespaço na UFMT, buscando tornar possível a criação de canais de comunicação e um acervo de informações de fácil acesso sobre os territórios virtuais formados na internet com o objetivo de incentivar o desenvolvimento regional.

Palavras chaves: Turismo. Redes. Ciberespaço. Brasil. Bolívia

ABSTRACT

Information technology and communication, by itself, does not have the power to make a revolution in society, but possible changes in the economic, political, ethical and cultural order. The new configuration is based on a global network of cooperation and information, changing concepts used previously in a world structured by traditional geographic boundaries. One of the sciences that have been adapting to this new configuration is the Geography that, with the Geography of Cyberspace, will map the networks of information and cooperation and inter-human relationships through the digital world, seeking to understand how they form the new virtual territories and territorialities. Tourism is one of the activities that seek to track changes because is globalizing by itself. Cyberspace tour also involves relations of power and requires reflections about the role of communication for development of the activity and the balance between social actors. The dissertation aims to map and analyze the potential of formation and range of the information networks of the governments sites of and Bolivia, seeking to understand how connections are formed and propagate in cyberspace. The sites selected were the Ministry of Tourism of Brazil, State Secretary of Tourism Development of Mato Grosso, Tourism Foundation of Mato Grosso do Sul, Ministry of , Autonomous Municipal Government of La Paz and Autonomous Municipal Government of Copacabana. The research studies the potencial of the formation of virtual networks using the techniques of Geographic Information System (GIS) coupled with information of the administrators using its own tools developed by governments and the Google Analytics, a service offered by Google to monitor sites, wich provides access statistics. From the analysis and evaluation of the results of the map produced with the recognition of the potencial tourist information networks, this dissertation seeks to encourage the emergence of new methods for investigating the research topic with the enrichment of current concepts. Sharing knowledge and disseminating information, this research proposes debates the possible creation of a tourism network in the Brazil-Bolivia along the lines of internet social networks. This work will be proposed the creation of a research group about Geography of Cyberspace in UFMT, trying to make it possible to create channels of communication and a collection of easily accessible information about the virtual territories formed on the internet to encourage the regional development.

Keywords: Tourism. Networks. Cyberspace. Brazil. Bolivia.

LISTA DE FIGURAS

INTRODUÇÃO GERAL

Figura 1 Rota Pantanal Pacífico ...... 16

SEÇÃO 1

Figura 1 Elementos do Espaço, segundo Santos (1985) ...... 26 Figura 2 Mapa da internet no mundo ...... 55 Figura 3 The UK Academic Map ...... 57 Figura 4 Topologia MBone ...... 59 Figura 5 Internet Cartographer 2.0...... 60 Figura 6 Cybermap Landmarks ...... 61

SEÇÃO 2

Figura 1 Página inicial da comunidade online Turismo 2.0...... 73 Figura 2 Página inicial do portal ABETA...... 85 Figura 3 Página inicial do portal Virtual Tourist...... 86 Figura 4 Diagrama da ARPAnet – 1969...... 88 Figura 5 Diagrama da ARPAnet – 1971...... 89

SEÇÃO 3

Figura 1 Usina Itaicy – Santo Antônio de Leverger – MT ...... 111 Figura 2 Entrada da Gruta do Lago Azul – Bonito – MS...... 114 Figura 3 Bahía de Copacabana – Bolívia ...... 116 Figura 4 Assinaturas de celulares por 100 hab. nos países desenvolvidos e em desenvolvimento 2000-2010 ...... 119 Figura 5 Usuários da internet por 100 hab. nos países desenvolvidos e em desenvolvimento 2000-2010 ...... 120 Figura 6 Página do Canal Destinos – Ministério do Turismo ...... 128 Figura 7 Página do Canal Guia do Turista – SEDTUR/MT ...... 130 Figura 8 Site da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul ...... 131 Figura 9 Site do Ministerio de Culturas ...... 132 Figura 10 Site do Gobierno Autónomo de La Paz ...... 134 Figura 11 Site do Gobierno Municipal de Copacabana ...... 135 Figura 12 Conexões identificadas de comunicação e informação turística – Brasil e Bolívia ...... 136 LISTA DE QUADROS

SEÇÃO 1

Quadro 1 Elementos do espaço do turismo...... 27 Quadro 2 Segmentos do mercado turístico ...... 35 Quadro 3 Principais tipos de fluxos turísticos ...... 40 Quadro 4 Classificação dos mapas no ciberespaço ...... 58

LISTA DE TABELAS

SEÇÃO 1

Tabela 1 População e percentual de usuários da internet – 2011 ...... 46

SEÇÃO 3 Tabela 1 Chegada de turistas ao Brasil por continentes – 2009 - 2010 ...... 109 Tabela 2 Chegada de turistas da América do Sul ao Brasil – 2009 – 2010 .... 110 Tabela 3 Chegada de turistas da América do Sul ao Brasil via outras unidades da federação - 2009 – 2010 ...... 112 Tabela 4 Chegada de turistas da América do Sul ao Brasil via MS – 2009 – 2010 ...... 115 Tabela 5 Chegada de turistas na Bolívia – 2008 – 2009 ...... 117 Tabela 6 Gasto turístico na Bolívia (em milhares de dólares) – 2008 – 2009 . 117 Tabela 7 Números da população e usuários da internet das Américas – 2011...... 121 Tabela 8 Números da população e usuários da internet da América do Sul e mundo – 2011 ...... 122 Tabela 9 Acessos fixos, celulares e banda larga no Brasil (em milhões) – 2008 – 2010 ...... 123 Tabela10 Acessos fixos, celulares e banda larga na Bolívia (em milhares) – 2008 – 2010 ...... 124 Tabela11 Número de hosts Brasil e Bolívia (em milhões) 2009 – 2011...... 125

LISTA DE SIGLAS

ABETA Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura ADSIB Agência para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação na Bolívia ARPA Advanced Research Projects Agency CAIDA Corporative Association for Internet Data Analysis CASA Centro para Análises Espaciais Avançadas CEPAL Comissão Econômica para América e o Caribe CETIC. br Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação CGI Comitê Gestor da Internet no Brasil EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo FUNDTUR Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INE Instituto Nacional de Estadística IPP Instituto Pantanal Pacífico MIDS Matrix Internet and Directory Services NCSA National Center for Supercomputing Applications NIC. br Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR NIRSA Instituto Nacional de Desenvolvimento Regional e Análise Espacial NSFNET National Science Foundation Network OMT Organização Mundial do Turismo ONG Organização Não Governamental SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEDTUR Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo de Mato Grosso TELECO Teleco Informação e Serviços de Telecomunicações Ltda. UIT União Internacional de Telecomunicações UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL ...... 15

1. GEOGRAFIA: CIBERESPAÇO E TURISMO ...... 20 INTRODUÇÃO ...... 20 1.1 GEOGRAFIA, TURISMO E CIBERESPAÇO: DIVERSAS ABORDAGENS ...... 22 1.1.1 Geografia – Conceitos ...... 25 1.1.1.1 Espaço ...... 25 1.1.1.2 Território ...... 28 1.1.1.3 Fronteira e limite ...... 29 1.1.1.4 Zona de fronteira ...... 31 1.1.2 Turismo – Conceitos ...... 32 1.1.2.1 Mercado turístico ...... 34 1.1.2.2 Atrativo turístico ...... 36 1.1.2.3 Equipamentos e serviços turísticos ...... 37 1.1.2.4 Produto turístico ...... 38 1.1.2.5 Fluxo turístico ...... 39 1.1.3 Ciberespaço e cibercultura ...... 41 1.1.3.1 Ciberespaço do turismo: turismo virtual e imaginação geográfica ...... 46 1.2 A GEOGRAFIA DO CIBERESPAÇO: MAPEAMENTO E ESTUDO DOS ESPAÇOS VIRTUAIS ...... 49 1.2.1 Geografia virtual e a revolução tecnológica ...... 49 1.2.2 Mapas: arte e tecnologia na representação espacial ...... 52 1.2.3 Cibermapas e as cartografias do ciberespaço ...... 54 1.2.3.1 Origem ...... 55 1.2.3.2 Classificação ...... 58 1.2.3.3 Aplicações no estudo do turismo ...... 62 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 63

2. TURISMO NA INTERNET: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DAS REDES DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO ...... 64 INTRODUÇÃO ...... 64 2.1 ABORDAGENS SOBRE REDES, TERRITÓRIOS E PODER ...... 67 2.1.1 Redes ...... 69 2.1.2 Território ...... 74 2.1.3 Poder ...... 77 2.1.4 Territórios e territorialidades do turismo no ciberespaço ...... 80 2.2 A INTERNET ...... 86 2.2.1 História e evolução ...... 88 2.2.2 Portais, sites e blogs ...... 90 2.2.3 Comunicação e informação turística na rede mundial ...... 91 2.2.4 Arquitetura da informação e usabilidade nos sites de turismo...... 95 2.2.5 A WWW na promoção do turismo ...... 97 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 100

3. O POTENCIAL DE SITES DOS GOVERNOS DO BRASIL E DA BOLÍVIA NO PLANEJAMENTO E O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO ...... 102 INTRODUÇÃO ...... 102 3.1 O PANORAMA DO TURISMO NO BRASIL ...... 107 3.1.1 Mato Grosso ...... 111 3.1.2 Mato Grosso do Sul ...... 113 3.2 O PANORAMA DO TURISMO NA BOLÍVIA ...... 115 3.3 O PANORAMA DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO MUNDO ...... 118 3.4 REDES DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO NO BRASIL E NA BOLÍVIA ...... 123 3.4.1 Telefonia fixa, celular e acessos à banda larga ...... 123 3.4.2 Número de hosts ...... 125 3.4.3 Ciberespaços turísticos: os sites dos governos ...... 126 3.4.3.1 Ministério do Turismo do Brasil ...... 127 3.4.3.2 Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo de MT ...... 129 3.4.3.3 Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul ...... 131 3.4.3.4 Ministerio de Culturas de Bolívia ...... 132 3.4.3.5 Gobierno Autónomo Municipal de La Paz ...... 133 3.4.3.6 Gobierno Municipal de Copacabana ...... 134 3.4.3.7 A rede turística em construção ...... 136 3.5 O PLANEJAMENTO DO TURISMO E AS TICs ...... 138 3.6 POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO NO BRASIL E NA BOLÍVIA ...... 141 3.6.1 Desenvolvimento regional através do turismo ...... 142 3.6.2 As políticas do turismo no Brasil e na Bolívia: importância para o desenvolvimento ...... 145 3.6.3 Por onde começar: proposta para o turismo em rede entre Brasil e Bolívia ...... 147 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 148

CONSIDERAÇÕES FINAIS GERAIS ...... 150

REFERÊNCIAS ...... 155

ANEXOS ...... 163

15

INTRODUÇÃO GERAL

A escolha de um tema para a pesquisa e de um objeto de estudo surge a partir do referencial teórico e da vivência pessoal e cotidiana do pesquisador. No caso de um jornalista que se depara com o advento da internet no trabalho diário da comunicação e informação, a paixão pela rede mundial pode incentivar uma escolha como essa. Entender como as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), em especial a internet, mudam as relações entre espaço e tempo de uma forma nunca antes concebida se torna essencial. A rede mundial é um objeto de pesquisa rico e que promete inúmeras descobertas, pois diante de sua fluidez é um trabalho sempre renovado que cria novas linhas e caminhos de pesquisa.

A idéia vai tomando forma quando o jornalista, através da pesquisa e da leitura, conhece uma nova vertente da Geografia: a Geografia do Ciberespaço. Uma forma de entender como se formam as redes de informação e comunicação e ainda tornar possível fazer um mapeamento das conexões entre os fluxos de informação. O jornalista, também apaixonado pela atividade turística, enxerga grandes possibilidades de pesquisa e conhecimento relacionando o turismo, a geografia e comunicação.

O ponto de partida para a escolha do tema desta dissertação de mestrado foi a Rota Pantanal Pacífico1, um projeto de integração turística dos povos e das culturas do continente sul americano, concebido em 2007, pelo Instituto Pantanal Pacífico (IPP). O IPP é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, sediada em Cuiabá, capital de Mato Grosso. A cidade, situada no chamado Centro Geodésico ou o coração da América do Sul no centro-oeste brasileiro, é a porta de entrada para a Rota, como se pode observar pela Figura 1, é formada pelos seguintes países: Brasil, Bolívia, , e . Desde 2008, o projeto evoluiu para uma política pública do governo de Mato Grosso cuja estratégia é a projeção internacional do Pantanal como ecoturismo mundial via Pacífico. A proposta é ir além do chamado turismo sol e praia, que atrai muitos turistas para o litoral do Brasil, e buscar o desenvolvimento integrado entre os cinco países.

1 Disponível em: http://www.rotapantanalpacifico.com.br/ 16

Figura 1 Rota Pantanal-Pacífico

Fonte: IPP, 2008

Ao longo de aproximadamente de 2.500 km de extensão, a Rota Pantanal- Pacífico reúne mais de 20 patrimônios da humanidade ordenados em um complexo turístico como um corredor onde os atrativos estão localizados entre e no entorno dos eixos das rodovias internacionais Interoceânica, Bioceânica e Pan-Americana. Nesse complexo, se concentram recursos naturais e culturais que são a base para propiciar a criação de roteiros turísticos interligados e integrados que ultrapassam as fronteiras geográficas.

A integração entre os países que reúnem tantos potenciais pode ser um incentivo para o desenvolvimento regional baseado em um turismo sustentável. Porém, o maior desafio da Rota, segundo Carvalho (2008), é aos poucos dar fim as barreiras socioculturais existentes entre os países, especialmente em relação ao Brasil o maior país da América Latina e o único de língua portuguesa. Essas barreiras são frutos de mais de 500 anos de histórias de preconceitos e desconhecimento das culturas das nações. A criação da Rota foi mais um passo nesse caminho muitas vezes complicado para um desenvolvimento regional integrado. 17

Na busca desse constante envolvimento entre os atores sociais, a criação de redes de informações turísticas é essencial especialmente para a divulgação dos atrativos e os serviços diferenciais oferecidos aos viajantes. A partir do conhecimento da Rota, foi escolhido o tema para este trabalho que é a análise do potencial das redes de informações turísticas nos sites dos governos do Brasil e da Bolívia. Eles foram escolhidos como objetos de pesquisa diante de sua proximidade geográfica e de seus potenciais turísticos. A criação e conexão das redes de comunicação e informação dos dois países servem de impulso ao turismo de cada local; incentivam o conhecimento sobre as políticas públicas do turismo nas cidades em busca do desenvolvimento regional; propiciam a formação de grupos em comunidades virtuais desses sites, divulgando o turismo nestes locais em todo o planeta através do ciberespaço.

A pesquisa faz parte do trabalho do Grupo de Estudos Estratégicos e de Planejamento Integrados (GEEPI), que é composto por docentes e alunos da pós- graduação em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), cuja proposta envolve o estudo e a viabilização de projetos e o envolvimento com programas de inovação tecnológica orientados para as demandas do sistema produtivo, potencializando as vantagens comparativas da região com a visão de cadeias produtivas e de aproveitamento de suas potencialidades humanas, de seus recursos naturais, visando máxima valorização da qualidade de vida e do ambiente. A diversidade ambiental da região demanda soluções tecnológicas para seu aproveitamento econômico de forma sustentada através de várias atividades como o turismo.

O objetivo desta dissertação é mapear e analisar as potencialidades da formação e alcance das redes de informação dos sites selecionados para a pesquisa, buscando compreender como se formam e se propagam as redes de informações dos sites turísticos. Além disso, confirmar ou não a seguinte hipótese: mesmo com um longo caminho na evolução das tecnologias de informação e comunicação, os sites turísticos dos governos buscam orientar suas ações para a gestão democrática e recorrem às tecnologias para articular suas políticas públicas de turismo entre os atores sociais. 18

A dissertação está assim estruturada: introdução geral, três seções ou artigos e a conclusão geral. Uma pequena rede com três nós onde cada um pode transmitir a mensagem individualmente. Porém, quando os nós se conectam, ou seja, os artigos se apresentam em conjunto, formam este trabalho. Para atender aos objetivos da pesquisa, foram identificados seis sites dos governos do Brasil e da Bolívia, enquanto nós de redes de informações. Os critérios de escolha são apresentados com mais detalhes na metodologia da terceira seção deste trabalho.

Através da observação dos sites, serão verificadas as estratégias de comunicação presentes, suas informações e conteúdo sobre os atrativos turísticos. Buscando visualizar o alcance dos sites em outros países, será feito um mapa mostrando essas conexões, selecionando os países com maior número de acessos aos sites escolhidos. A partir das informações coletadas e resultados do mapeamento, será apresentada uma análise das potencialidades das redes de informação turística. A pesquisa vai procurar evidenciar e enumerar as possíveis contribuições dos estudos das redes de informações e da geografia do ciberespaço para o desenvolvimento regional através do turismo.

A primeira seção aborda os conceitos básicos relativos ao turismo, geografia e ciberespaço, assim como a relação entre eles. Relata o surgimento da Geografia do Ciberespaço e o seu papel no mapeamento e estudo dos espaços virtuais. A segunda seção debate as relações entre redes, territórios e poder para entender com se formam os territórios e as territorialidades no ciberespaço. Analisa a história e a evolução da internet como rede mundial e formadora de redes turísticas a partir da conexão entre os atores sociais da atividade. A terceira e última seção apresenta a pesquisa e análise da formação e consolidação das redes de informação turística no Brasil e na Bolívia a partir da observação de sites e portais de governos dos dois países. Busca analisar e entender como são geridas as políticas públicas de turismo dos dois países e ainda propor o planejamento estratégico do turismo na internet. Deve-se ressaltar que a proposta não é comparar Brasil e Bolívia, mas fazer um levantamento da realidade atual.

Ao final, os resultados dessas pesquisas pretendem mostrar como alguns sites já buscam a maior interatividade possível, porém outros ainda não conseguem mapear suas conexões, mesmo oferecendo todos os serviços e informações 19

disponíveis para todos os públicos. O mapeamento das redes de comunicação e informação permite que os responsáveis pela administração conheçam qual o seu público, quais suas preferências e assim possam saber o que está bom ou o que precisa ser melhorado; através do conhecimento da procedência de quem acessa o site pode-se saber que comunidades estão sendo formadas através do site no ciberespaço.

Assim, este trabalho desperta reflexões sobre o poder e o potencial da internet na formação do turismo em rede e, nesse sentido, também como as tecnologias de informação e comunicação devem ser usadas com muito critério. O planejamento da arquitetura da informação se torna cada vez mais importante nos projetos no ciberespaço, preparando o turismo para criar e difundir suas redes em busca do desenvolvimento das regiões.

20

1 GEOGRAFIA: CIBERESPAÇO E TURISMO

INTRODUÇÃO

A tecnologia, por si só, não tem o poder de fazer a revolução em uma sociedade, mas ela possibilita mudanças de ordem econômica, política, ética e cultural, como também nas formas de administrar tempo e espaço. O poder da informação se torna cada vez maior e as opções para se comunicar mudam a cada segundo. No mundo globalizado, tudo é rápido, ágil, fluido, exigindo uma nova organização do capitalismo e na emergência de uma acumulação mais flexível do capital. A humanidade chega a uma etapa de sua história onde a tecnologia de geração de conhecimentos de processamento de informações e de comunicação se tornam fontes de produtividade.

Com as mudanças, em especial na área tecnológica diante do advento da internet, surgiram os conceitos de ciberespaço e cibercultura, procurando definir e compreender as implicações advindas das relações entre indivíduos através do computador, diminuindo distâncias e redefinindo conceitos. A internet abre inúmeras possibilidades nesse sentido, divulgando vários assuntos, como o turismo, um dos enfoques deste trabalho. Hoje, o internauta pode ler reportagens e artigos sobre algum destino turístico em diversos veículos de comunicação da iniciativa privada ou de órgãos públicos como revistas e jornais, mas também pode acessá-la em sites, fazer comentários, recebê-la na tela do seu celular ou ainda enviá-la para um amigo por e-mail. As tecnologias da informação e comunicação (TICs) revolucionam os negócios que fazem parte das atividades turísticas como agências de viagens, eventos, meios de hospedagem, restaurantes, atrações turísticas e os transportes aéreo, terrestre, marítimo. O turista pode hoje escolher o destino, planejar a viagem, reservar o transporte e o restaurante com apenas um clique nos sites criados para o desenvolvimento da atividade.

Essas novas possibilidades estabeleceram uma abrangência inimaginável. Multiplicar ferramentas de acesso e gerar novos focos de interesse são apenas algumas das novas fronteiras da transmídia, fenômeno que promete mudar o mercado de comunicação do planeta. A tecnologia da informação, que envolve as tecnologias da computação e de comunicação e, em especial a internet, favorece a 21

base material para a expansão das redes de informação turística em toda a estrutura social.

A Geografia do Ciberespaço, uma nova vertente da Geografia, pode ser trabalhada em conjunto com o jornalismo, o marketing e a publicidade para a promoção e o sucesso de planejamentos turísticos, além de estudos sobre as redes sociais formadas no turismo. As expectativas de mudanças que a internet pode proporcionar para todos os segmentos econômicos e sociais que estão se adaptando ao mundo do ciberespaço motivaram este estudo.

O objetivo deste trabalho está longe de centrar debates em páginas intermináveis sobre o universo ciber e seus efeitos no mundo atual. Afinal, existe muita discussão e polêmica sobre esses assuntos em várias ciências e disciplinas, inclusive a Geografia, Comunicação Social e o Turismo. Através da relação entre esses saberes, serão buscados novos caminhos de estudo sobre o planejamento e as relações entre os atores sociais envolvidos com o turismo diante de novos territórios virtuais formados no ciberespaço.

A primeira parte deste trabalho apresenta diversas abordagens dos conceitos de Geografia, Turismo e Ciberespaço. Depois, apresenta algumas definições sobre a Geografia do Ciberespaço, sua história, suas linhas de pesquisa e ainda as definições e possibilidades que surgiram através do mapeamento do espaço virtual com os chamados cibermapas. Todas as informações são trabalhadas no sentido de mostrar como as disciplinas e categorias de análise se relacionam e como tudo isso pode contribuir para novas pesquisas e estudos na Geografia, no Turismo e na Comunicação Social, proporcionando novas alternativas para o desenvolvimento regional.

Durante a apuração de dados e informações para a fundamentação teórica, foi constatado que os conceitos vigentes da Geografia utilizados neste trabalho têm poucas relações diretas com a análise do potencial das redes de informações turísticas na internet, pois ainda existem poucos trabalhos que fazem essas abordagens e relacionam as categorias de análise. Um exemplo é o conceito de fronteiras geográficas e como ele seria utilizado para se entender sobre as fronteiras formadas no ciberespaço. Mesmo assim, optou-se por abordar conceitos básicos da Geografia, pois foi necessário para o conhecimento e compreensão do leitor ou 22

pesquisador sobre os termos utilizados no trabalho. Essa escolha acaba sendo uma espécie de provocação para instigar novos estudos para descobrir metodologias de pesquisa e novas abordagens de conceitos tradicionais.

O método usado para a obtenção dos dados e elaboração deste trabalho, direcionado a apresentar diversas abordagens sobre geografia, o turismo e ciberespaço e construir uma fundamentação teórica para os que buscam estudar essas conexões, foi a técnica de pesquisa documental e bibliográfica. As bases para a pesquisa partiram da leitura de livros e documentos impressos e disponíveis na internet de autores estudiosos do turismo, da geografia e do ciberespaço, abordando conceitos básicos necessários para o entendimento do tema. Foram coletados materiais bibliográficos impressos e digitais (CDs, web sites e revistas eletrônicas).

A pesquisa documental, segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 157), traz a seguinte característica: ”a fonte de coleta de dados está restrita a documentos escritos ou não”. Diante da quantidade e o fluxo de informações, as pesquisas “podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois.” Um dos exemplos são as pesquisas feitas em documentos virtuais, que podem atualizados na internet a cada segundo.

Para Marconi e Lakatos (2010, p. 166), a pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias “abrange toda a bibliografia tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc.” A coleta de dados ajuda a entender os vários enfoques sobre o tema assim como os conceitos abordados, apoiando o pesquisador a chegar a novas conclusões e propor soluções.

1.1 GEOGRAFIA, TURISMO E CIBERESPAÇO: DIVERSAS ABORDAGENS

As pesquisas sobre as relações entre esses saberes contribuem para os estudos sobre a geografia do turismo e podem ajudar na compreensão de como os espaços virtuais se formam. O espaço geográfico é um conceito que permite estudar o ciberespaço, uma projeção da sociedade em rede e que nasce da conexão entre computadores. A interação entre esses conhecimentos está ligada a uma tendência, uma prática, um conceito que ganha força cada vez maior: a interdisciplinaridade. 23

Esse envolvimento é essencial para pesquisas mais sintonizadas com as questões de ordem social, política e econômica de todas as épocas. Afinal, uma disciplina ou uma área do saber não consegue abordar tudo sobre um objeto de estudo. A união entre geografia, turismo e ciberespaço possibilita compreender fenômenos complexos que seriam incompreensíveis com os conhecimentos de apenas uma área. As teorias e conceitos mudam com o passar do tempo. Autores e pesquisadores mudam os pontos de vista de acordo com novas leituras e descobertas. Diferentes teorias se relacionam e podem evoluir em conjunto ou individualmente, sendo utilizadas para a criação de novas teorias e metodologias de pesquisa.

A geografia estuda a organização do espaço geográfico e as pesquisas geradas podem interagir com várias áreas do conhecimento. É uma ciência que busca compreender e estudar as relações entre os fatores físicos, sociais, políticos e econômicos desde uma região até o planeta Terra como um todo. Por este motivo, a relação dela com outras disciplinas é importante para aprofundar as pesquisas que envolvem os fatores já citados. O turismo tem uma antiga parceria com a geografia que ainda pode render pesquisas relevantes. Como destaca Ignarra (2003, p. 10), “de todas as ciências, a geografia é a que mais se interessou pela análise do fenômeno turístico”.

Segundo Teles (2009, p.1 e 2), “o estudo do turismo na geografia tem início a partir da década de 30 e direciona seus estudos ao movimento dos fluxos”. Mas o autor ressalta ainda que

Trabalhar os fundamentos geográficos do turismo a fim de compreender sua dinâmica espacial não se resume apenas a apontar potencialidades, identificar fluxos e quantificar a oferta de localidades. Entender a complexidade das relações que se estabelecem em determinado lugar é tarefa primordial para a compreensão dos aspectos geográficos e também para a área do conhecimento do turismo. Ainda sobre o começo do interesse do fenômeno turístico na Geografia, Rodrigues (1999, p.40) cita que um dos trabalhos mais antigos conhecidos é datado de 1905 e usou a expressão “Geografia do Turismo”. Foi escrito “na cidade austríaca de Graz, por J.Stradner”, que foi um pioneiro na pesquisa alemã especializada no assunto. A autora prossegue destacando os anos 70 como a época em que os estudos do turismo no âmbito da geografia ganham força no mundo diante do 24

crescimento do fluxo turístico relacionado “à prosperidade econômica que marcou o período de pós-guerra nos países centrais do capitalismo”.

Rodrigues (1999) analisa o crescente envolvimento do turismo e a geografia, ressaltando que nos primeiros trabalhos publicados no Brasil, no início dos anos 70, predominavam a grande quantidade de informações carentes de interpretação. Eram pesquisas essencialmente técnicas que buscavam estabelecer apenas modelos e tipologias de espaços turísticos. Com o passar dos anos, a crescente produção e consumo desse espaço fez surgir a preocupação com o impacto ambiental e participação das comunidades locais na avaliação dos impactos sociais causados pelo turismo. A evolução das pesquisas na geografia do turismo proporciona a possibilidade de compreender o papel do turismo como importante fenômeno social que provoca mudanças em aspectos políticos, culturais econômicos em qualquer lugar. Afinal, como coloca Teles (2009, p. 2), “o turismo requer uma compreensão da geografia e isso ocorre devido à transformação que o mesmo pode promover no espaço geográfico.”

Essas transformações no espaço geográfico também acontecem onde as conexões entre povos, empresas e indivíduos crescem sem parar. Nesse sentido, estudiosos e pesquisadores da geografia, comunicação social, turismo e ciências sociais vivem a velocidade das mudanças e a necessidade de as ciências acompanharem as novas tendências. A nova configuração global, baseada em uma rede de cooperação e informação, muda toda a estrutura mundial baseada em fronteiras geográficas bem definidas. A geografia é um das ciências que está se adaptando a isso tudo e se envolve cada vez mais nos estudos do ciberespaço. É uma alternativa para buscar compreender as relações humanas no mundo digital e mapear as redes de cooperação e informação que fazem parte dele.

Os estudos do ciberespaço oferecem uma concepção menos materialista do espaço. Por outro lado, a geografia estuda o espaço mais concreto basicamente em toda a sua história como ciência. Mesmo assim, as visões diversas sobre um mesmo conceito podem resultar em pesquisas relevantes e produtivas. Por isso, voltamos a Rodrigues (1999, p.51), que em seu trabalho defende um maior aprofundamento das bases teórico-metodológicas da geografia do turismo. Segundo ela, “o apoio em linhas teórico-metodológicas diversas não se apresenta conflitante. Muito pelo 25

contrário, podem ser complementares, revelando uma realidade muito mais rica.” Essa análise reforça o que Silva e Tancman (1999, p. 65) avaliam sobre o trabalho da geografia do ciberespaço.

Enfim, apesar de muita desconfiança por parte dos geógrafos em analisar o ciberespaço e de seu caráter altamente de exclusão social para grande parte da população mundial, tudo indica que a sociedade moderna do próximo milênio estará cada vez mais conectada à rede mundial de computadores. Neste sentido, cabe à Geografia problematizar a revolução tecnológica das telecomunicações enquanto impacto e reflexo das mudanças qualitativas do capitalismo, levando-se em conta a emergência de uma ciber-socialidade inserida na cidade eletrônica e a multiplicidade de territórios culturais e empresariais ali localizados, ou melhor, fora de lugar.

1.1.1 Geografia – Conceitos

1.1.1.1 Espaço

O espaço é um dos principais conceitos da ciência geográfica e é objeto de estudos e discussões sobre vários enfoques. Para Corrêa (1982, p.25), mesmo diante das diferenças, “o espaço tem sido o conceito organizador em torno do qual a geografia se desenvolveu”. Ele pode ser um espaço físico, social, psicológico e até ciber. Harvey (apud CORRÊA, 2008, p.19) lembra ainda que “as diferentes práticas humanas estabelecem diferentes conceitos de espaço”, que são empregados em diversas circunstâncias.

A diversidade do conceito pode ser verificada em como Dollfus (1991, p.9) destaca as características do espaço geográfico que pode ser “localizável e diferenciado” ou ‘mutável, que se descreve’. Na primeira, o autor mostra que o espaço, como está na superfície terrestre, pode ser definido “por suas coordenadas, por sua altitude e por sua posição” e pode ser mapeado. Ele também é diferenciado porque diante das suas múltiplas localizações na Terra, evolui de maneiras diferentes e seus elementos apresentam fenômenos únicos de cada lugar, que nunca é igual ao outro. É mutável seguindo as próprias mudanças na superfície terrestre. Dollfus (1991, p.11) afirma que “o espaço geográfico se acha impregnado de história”. Afinal, o espaço não se transforma sozinho. As relações sociais, culturais e econômicas têm papel primordial nessas mudanças.

Corrêa (1982, p. 32-34) reforça essa afirmação quando avalia que “é, sobretudo, através da ação humana que o espaço desempenha um papel na sua 26

organização.” E ainda “enquanto espaço morada do homem, acreditamos ser necessário pensá-lo em termos de suas conexões com o tempo, pois tempo e espaço reúnem toda a experiência humana.”

O espaço turístico é um exemplo dessas conexões entre tempo e espaço, incluindo suas relações com a natureza e a sociedade. Na análise da organização da atividade turística, deve-se considerar que nesse espaço podem existir tempos sociais e tecnológicos diferentes, provocando mudanças e efeitos distintos no lugar ou na rede mundial. No estudo do campo do turismo, o trabalho de Milton Santos oferece possibilidades de estudo para o entendimento da formação e organização dos espaços turísticos.

Na obra “Espaço e Método”, Santos (1985, p.6-7) define e discute sobre os principais elementos do espaço - os homens, as firmas, as instituições, o chamado meio ecológico e as infraestruturas, que seriam o trabalho humano materializado. Esses elementos “são intercambiáveis e redutíveis uns aos outros”. Eles agem e interagem entre si, produzindo o espaço na sua totalidade. Pode-se dizer que o próprio espaço turístico é criado e existe através das inter-relações entre esses elementos. Através da Figura 1, Rodrigues (1999, p.66-69) relaciona todos os elementos do espaço de Santos (1985) ao turismo.

Figura 1 Elementos do Espaço, segundo Santos (1985)

1. Homens 2. Firmas 3. Instituições 4. Infra-estruturas 5. Meio ecológico

Fonte: Rodrigues, 1999

27

Rodrigues (1999, p.65) busca comprovar, em sua obra “Turismo e Espaço: rumo a um conhecimento transdisciplinar”, a importância das idéias de Santos na análise do espaço turístico, como está organizado no Quadro 1.

Quadro 1 Elementos do espaço do turismo

Elementos Exemplos no turismo Homens Homens e mulheres; demanda turística; população residente; representantes de firmas e instituições, responsáveis pelo funcionamento de outros elementos. Firmas Serviços de hospedagem; de alimentação; agências e operadoras de viagem; companhias aéreas e outras modalidades de transporte; sistemas de promoção e comercialização de toda natureza, como as empresas de marketing e publicidade. Instituições Organização Mundial do Turismo (OMT); Prodetur; EMBRATUR, Ministério do Turismo; Secretarias Estaduais e Municipais do Turismo. Infraestruturas Redes de transportes; de comunicações; de água; energia; abastecimento; saneamento básico; esgoto; segurança. Meio ecológico Reservas ecológicas; unidades de conservação. Fonte: Rodrigues, 1999 Elaborado por: Miranda, 2011

De acordo com Santos (1985), os homens, no espaço do turismo, deslocam- se de um lugar ao outro, se relacionam com as comunidades locais, formando redes e fluxos turísticos. As firmas, nas concepções do autor, têm a função de produzir “serviços, bens e idéias”. Já as instituições são responsáveis pelas “normas, ordens e legitimações”. Suas ações são direcionadas pelo poder do Estado e pelas forças econômicas, fazendo surgir novas realidades espaciais em diversos tempos através das políticas de turismo. O Estado também pode agir como firmas, produzindo bens e serviços como administradores de centros de convenções e hotéis-escola, por exemplo. O meio ecológico é “o conjunto de complexos territoriais que constituem a base física do trabalho humano”. Ele é composto não apenas de objetos naturais, “é meio modificado e cada vez mais é meio técnico”.

Através do estudo desses elementos, é possível avaliar as transformações espaciais causadas pelo turismo. Nas relações com o ciberespaço, é analisado o comportamento das infraestruturas das redes de comunicações formadas a partir 28

das conexões entre computadores. Teles (2009, p.4) lembra que “o entendimento desses elementos é fundamental para o fazer turístico”.

1.1.1.2 Território

Nas pesquisas na área das ciências sociais, o início da análise sistematizada do território partiu do geógrafo Friederich Ratzel, no século XIX. Ratzel, relacionando o território ao Estado, comparou este último a um organismo vivo que nasce, cresce e inicia um processo de decadência, abordando a concepção que o Estado não existe sem o território. Ratzel (apud TELES, 2009, p.7) em sua obra Politiche Geographie, “registra a importância da coesão na dimensão espacial, fato que desencadeia um discurso sobre o território essencialmente fixado no referencial político do Estado.” Alliès apud (CARVALHO, 2008.p.33) reforça esse papel e ainda enumera que

na época da formação do território, a sua administração tinha por funções: a) organizar a unificação da dinâmica territorial; b) exercer funções sociais diversas; c) estabelecer o consenso coletivo; d) reprimir, dominar e satisfazer as atividades e as necessidades coletivas, bem como e) ser instrumento de adequação entre a capacidade de organização racional do Estado e a sociedade civil. Também possui funções sociais diversas com reprodução do território e de sua coesão como Estado Nacional, apesar de seus campos de força antagônicos. A palavra território é cercada pelo sentido de posse e dominação. Por isso mesmo, se torna um objeto onde, de acordo com a vontade dos atores sociais como o próprio Estado, empresas e a comunidade, é inadmissível a ausência da organização e da ordem. A proposta ao apresentar a conceituação do território não é subestimar a associação dele com a questão do poder, já que os territórios são formados fundamentalmente por relações dessa natureza, como será analisado com mais detalhes na seção 2 deste trabalho onde o território será relacionado ao poder, em especial com a força das redes. A própria questão do poder é por si só abrangente já que nem sempre o Estado-Nação detém o poder. Entretanto, não se pode ignorar que, mesmo sendo um espaço dominado, o território faz parte de um espaço em mudança constante, em especial no mundo globalizado. A velocidade das mudanças em um espaço onde as redes e fluxos de informação fluem com rapidez impressionante, o controle do Estado-Nação pode não ser a única forma de analisar e definir o território. 29

Souza (2008, p.81) apresenta essa opção quando declara que “é imperioso que saibamos despi-lo (o território, grifo meu) do manto de imponência com o qual se encontra, via de regra, adornado.” O autor reconhece que o território costuma estar dentro de uma “escala nacional e em associação com o Estado como o grande gestor”. Por outro lado, ele mesmo reflete que o território “não precisa e nem deve ser reduzido a essa escala ou à associação com a figura do Estado.” Os territórios são “construídos e desconstruídos” em diversas escalas desde um condomínio até a internacional, assim como também em “escalas temporais diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias” e, nesse ritmo, podem ser permanentes ou temporários e cíclicos. A partir dessas reflexões, o território realmente vai alem do “território nacional”. Assim deve-se considerar a conceituação de Santos (1985, p. 72):

O território é formado por frações funcionais diversas. Sua funcionalidade depende de demandas a vários níveis, desde o local até o mundial. A articulação entre diversas frações do território se opera exatamente através dos fluxos que são criados em função das atividades, da população e da herança espacial. O território turístico também se articula nessas diversas frações. A conexão entre elas faz com que o território no mundo globalizado, formado através das atividades turísticas, não seja apenas um simples território reduzido ao papel de um espaço dominado, mas sim um agente de transformação que vai além de ser um suporte para recursos e atividades. Na relação entre as duas conceituações, turismo e território, é necessário considerar que “o território turístico é o espaço geográfico onde está contido e desenvolvem-se todas as ações que o turismo enquanto atividade tem com o meio onde é desenvolvido” (CARVALHO, 2007, p.206). É importante lembrar que a “relação território-natureza-sociedade” sempre se conecta e que “a dinâmica representada pela intervenção realizada pelo homem é capaz de criar e recriar significados no dia-a-dia de uma dada localidade” (TELES, 2009, p. 11).

1.1.1.3 Fronteira e limite

Um território é uma superfície cercada por divisas que podem ser oficiais, mostrando a soberania do Estado-Nação e que podem ser vistas nos mapas. Ou então, as virtuais formadas por redes ou grupos sociais que são delimitadas por questões sociais, econômicas ou culturais. Sobre as divisas que separam os 30

territórios, abordam-se os conceitos de fronteira e limite. Os dois são erroneamente vistos como sinônimos.

Mattos (1975) apud (GARCIA NETTO, 2009, p. 31) relata que o conceito de fronteira surgiu na Europa, no século XIII, quando seis nobres ingleses e seis escoceses se reuniram para buscar um entendimento sobre os limites em seus reinos, mas diante das discordâncias, o grupo não chegou a um denominador comum. O sentido de fronteira também pode ir além de demarcações feitas através de acordos e tratados governamentais. Ele é relacionado às questões de região ou faixa. Uma cadeia de montanhas, o mar, um lago podem ser considerados fronteiras como também uma região inóspita como um deserto. Conforme Mattos (1975) apud (GARCIA NETTO, 2009, p. 31) “podemos afirmar que as fronteiras definem a distribuição de áreas políticas e refletem, na medida de “espaço é poder”, as relações de poder entre os Estados.”

Já o limite está ligado ao sentido de uma linearidade na definição de um terreno. Aponta Golin (2004) apud (GARCIA NETTO, 2009, p. 32) “sendo sua definição, utilizada como linha divisória entre Estados limítrofes, com o intuito de separar”. O surgimento dos limites acontece a partir de uma série de etapas que envolvem um contexto histórico no processo de transformação espacial para o surgimento de um território. As fases mais comuns abrangem os precedentes históricos, delimitação, demarcação e caracterização. Os precedentes históricos envolvem a história cultural, social e política dos povos ocupantes e as transformações ocorridas durante o estabelecimento das fronteiras. A fase de delimitação acontece durante guerras, tratados sobre a região onde serão definidos esses limites. É um processo mais político. Na fase de demarcação, uma etapa mais técnica quando são implantados marcos que definem as linhas de contorno de um território. A caracterização é a fase onde novos marcos são colocados diante da demanda e necessidade a partir das ocupações populacionais ao longo das fronteiras. Esses marcos são colocados através do intercâmbio contínuo entre comissões formadas por técnicos dos países, estados ou municípios limítrofes.

Machado (2005) apud (HIGA, 2008, p. 17) “afirma que a palavra limite, de origem latina, foi criada para designar o fim daquilo que mantém coesa uma unidade 31

político-territorial, ou seja, sua ligação interna”. A autora completa a citação, reforçando a diferença entre fronteira e limite.

A fronteira está orientada ‘para fora’ (forças centrífugas), enquanto os limites estão orientados ‘para dentro’ (forças centrípetas). Enquanto a fronteira é considerada uma fonte de perigo e ameaça porque pode desenvolver interesses distintos aos do governo central, o limite jurídico do estado é criado e mantido pelo governo central, não tendo vida própria e nem mesmo a existência material, é um polígono. No mundo globalizado, a divisão do território toma outros rumos e mostra facetas diferentes sobre a “compartimentação do espaço mundial”(GARCIA NETTO, 2009, p. 32-33).

Por um lado, as fronteiras devem delimitar com clareza o território nacional que consagra à sociedade que nele vive seu abrigo, este é o princípio da soberania internacional, mas por outro lado a economia transnacionalizada opera fluxos financeiros e normativos que atravessam as fronteiras. Promovem um “enfraquecimento” de suas funções destinadas à proteção. A revolução nos transportes e nas comunicações, que facilitam os acessos das pessoas e ilustram esse processo. Possibilitam a unificação técnica do planeta, mas paradoxalmente, desde o seu surgimento, esse fato político- geográfico testemunha sua maior compartimentação. Nesta Era da velocidade, de encurtamento das distâncias, os territórios nacionais padecem, em distintos graus, das influências de um mundo que efetivamente se globaliza. Mas é a partir deles que se efetivam as relações interestatais, é na sua estrutura, que se fundam quadros legais de legitimação do território, do poder e do reconhecimento das soberanias.

As redes de informação e comunicação formadas na internet são exemplos de mudanças de paradigmas em relação ao que sempre se conheceu sobre os conceitos de fronteiras e limites. A constante modernização e revolução técnica das comunicações fortalecem o fenômeno da globalização. Em outro extremo, essa velocidade de fluxos desperta a busca e afirmação das identidades culturais no mundo pós-moderno, contribuindo com o surgimento de novos territórios e territorialidades no espaço global.

1.1.1.4 Zona de fronteira

As facetas e transformações diante da era da velocidade do fluxo de bens, capitais, pessoas e idéias podem ser comprovados quando abordamos também o conceito de zona de fronteira que é definida por faixas territoriais de cada lado do limite territorial (GARCIA NETTO, 2009, p.34). Nessas faixas, são perceptíveis as conexões culturais, econômicas e sociais entre dois paises. Um exemplo é a fronteira entre o município de Porto Murtinho (MS/Brasil) e a república do Paraguai. 32

A influência é tanta que em 2001 foi instituído em Mato Grosso do Sul, o Dia do Povo Paraguaio, comemorado todo 14 de maio, justamente o dia da independência do Paraguai.

Por outro lado, as diferenças também podem ser mais notadas que os pontos em comum. Como é o caso da faixa de fronteira entre Mato Grosso e Bolívia onde os contatos possibilitaram os intercâmbios culturais e comerciais, mas ainda se podem notar divergências nas questões sobre as condições de vida e a organização social. As relações entre essas comunidades, nem sempre cordiais e pacíficas, vêm tomando forma desde o período da presença dos primeiros colonizadores europeus. Nem sempre o fluxo transfronteiriço seja de pessoas ou mercadorias, ocorre diante de um desejo de integração. Na verdade, “o objetivo maior era a expansão territorial e o reconhecimento dos limites estabelecidos que demarcassem a separação entre um ou outro país” (HIGA, 2008, p. 19 e20)

No caso dos estudos da geografia do turismo, em especial na análise do turismo entre países limítrofes, pode-se considerar que divisão territorial vai além das questões políticas já que o turismo envolve as relações com o povo e natureza. A natureza não obedece aos limites traçados pelo homem e o povo situado em regiões de fronteira, muitas vezes absorve cultura, bases econômicas e sociais uns dos outros. Por este motivo, a organização de planos estratégicos de turismo entre os países fronteiriços envolve questões que necessitam de um intercâmbio contínuo entre os atores sociais dos países envolvidos. São relações necessárias no processo de formação dos territórios turísticos, questões que serão tratadas mais profundamente na seção 2 deste trabalho.

1.1.2 Turismo - Conceitos

O espírito de aventura do homem assim como seu instinto de auto- preservação na busca de alimentos, um novo território ou reduto familiar, contribuiu com o surgimento de um dos fenômenos sociais mais antigos do mundo: o turismo. O homem aprendeu a viajar quando teve sua curiosidade despertada sobre outros lugares e povos. Assim, através dos contatos entre povos de diferentes lugares, surgiram os acordos comerciais também tornando as viagens necessárias. Desde os tempos mais remotos, as bases do turismo vão além do simples lazer, envolvendo ainda esportes, cultura, negócios, religião e saúde. 33

A evolução das técnicas na produção de bens e serviços; nas redes de comunicações e infra-estrutura de transportes em todo o mundo ajudou na criação e disseminação de diversas atividades turísticas. No mundo atual, o viajante tem todas as informações e opções disponíveis sobre qualquer destino turístico do planeta.

Schwink (apud ANDRADE, 2000, p. 35) diz que turismo é

o movimento de pessoas que abandonam, temporariamente, o local de sua residência permanente, levadas por algum motivo relacionado com o espírito, o corpo ou a profissão. Para Mathiot (apud ANDRADE, 2000, p. 37) é

o conjunto de princípios que regulam as viagens de prazer ou de utilidade, tanto no que diz respeito à ação pessoal dos viajantes ou turistas como no que se refere à ação daqueles que se ocupam em recebê-los e facilitam seus deslocamentos. Bormann (apud DIAS; AGUIAR, 2002, p.23) define o conceito como

o conjunto de viagens cujo objetivo é o prazer, motivos comerciais, ou profissionais ou outros análogos e durante os quais a ausência da residência habitual é temporária. As viagens realizadas para locomover-se ao local de trabalho não se constituem em turismo. A Organização Mundial do Turismo - OMT (apud IGNARRA, 2003, p.11) relata que a entidade considera que

[...] o turismo engloba as atividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de seu ambiente usual durante não mais do que um ano consecutivo, por prazer, negócios ou outros fins. Já Boullón (2002, p. 37) afirma que “o turismo não é uma ciência nem uma indústria, com ou sem chaminés, ele foi situado como pertencente ao setor terciário”. No contexto da dinâmica das redes, o turismo é movido por elas que se formam a partir dos bens e serviços desenhados para satisfazer as necessidades dos viajantes.

O turismo está relacionado a questões econômicas, culturais, sociais e científicas e faz parte das organizações espaciais. A atividade se relaciona bem com a geografia que estuda a organização e o uso desses espaços, além da formação de territórios nesses espaços. Nesses usos, o turismo provoca alterações profundas nos lugares onde se desenvolve. Ele se mostra de diversas formas dentro de um mesmo território através de suas relações com a iniciativa privada, poder público e 34

até as pequenas comunidades. A velocidade de mudança e reprodução dessas relações é cada vez maior, sem respeitar fronteiras ou limites territoriais.

Espaço e território formam o lugar turístico. Nele, as relações entre os atores sociais disseminadas por toda uma rede de informações afetam suas diversas formas: atrativos turísticos, equipamentos e serviços turísticos (meios de hospedagem, alimentação, agentes receptivos, guias de turismo, locais e instalações para evento) e infra-estrutura de apoio (os próprios serviços e redes de comunicações, transporte e segurança).

1.1.2.1 Mercado turístico

O mercado turístico é formado pela oferta de produtos turísticos e pelos consumidores desses produtos. Garcia Netto (2009, p. 12) define o conceito como

[...] a interação da demanda de produtos relacionados com a execução e operacionalização das atividades que envolvem bens e serviços de viagens e afins. Esse mercado pode ser considerado como uma vasta rede de informações de modo que os agentes econômicos – consumidores e produtores – troquem informações e tomem decisões sobre a compra e a venda dos diferentes bens e serviços a sua disposição. A linguagem ou a forma de comunicação que estes agentes no turismo usam para o entendimento é feita pôr meio dos preços e de seus bens, que se constituem no principal mecanismo de todo o sistema de mercado. O turismo de eventos é à parte do turismo que leva em consideração o critério relacionado ao objetivo da atividade turística, é praticado com interesse profissional através de congressos, convenções, simpósios, feiras, encontros culturais, reuniões internacionais, entre outros, e é uma das atividades econômicas que mais crescem no mundo atual.

Lage e Milone (2001, p.92) ressaltam que o mercado turístico, assim como todos os mercados, nasce de um sistema econômico no qual seres humanos precisam criar “mecanismos para resolver os três problemas econômicos fundamentais: o que, como e para quem produzir.” Os autores definem mercado turístico como “uma rede de informações que permite aos agentes econômicos – consumidores, no caso dos turistas, e produtores, no caso as empresas de turismo – tomarem decisões para resolverem os problemas econômicos fundamentais do setor.”

Na área de marketing, os vários tipos de mercado são pesquisados e estudados para a elaboração das estratégias de venda de produtos e serviços que sejam atrativos para os respectivos públicos-alvo em espaços de grande concorrência. Nesse sentido, Ignarra (2003, p. 116) ressalta que os mercados “são 35

compostos por compradores que diferem entre si em um ou mais aspectos” e “podem diferir em termos de desejos, poder de compra, localização geográfica, atitudes, práticas de compras, etc.” No Quadro 2, o autor apresenta os segmentos do mercado turístico.

Quadro 2 Segmentos do mercado turístico Critérios de Segmentação Segmentos

Nível de Renda Turismo popular Turismo de classe média Turismo de luxo Meio de Transporte Turismo aéreo Turismo rodoviário Turismo ferroviário Turismo marítimo Turismo fluvial/lacustre Duração da Permanência Turismo de curta duração Turismo de média duração Turismo de longa duração Distância do Mercado Consumidor Turismo local Turismo regional Turismo nacional Turismo continental Turismo intercontinental Tipo de Grupo Turismo individual Turismo de casais Turismo de família Turismo de grupos Sentido do Fluxo Turístico Turismo emissivo Turismo receptivo Condição Geográfica da Destinação Turismo de praia Turismo de montanha Turismo de campo Turismo de neve Aspecto Cultural Turismo étnico Turismo religioso Turismo histórico Grau de Urbanização da Destinação Turismo de grandes metrópoles Turismo de pequenas cidades Turismo rural Turismo de áreas naturais Motivação da viagem Turismo de negócios Turismo de eventos Turismo de lazer Turismo de saúde Turismo educacional Turismo esportivo Turismo de pesca Fonte: Ignarra , 2003

Os segmentos do turismo também podem se inter-relacionar criando outros segmentos de acordo com os nichos de mercado. Turistas procuram lugares de praia apenas para surfar ou mergulhar. Outros escolhem os destinos pela 36

gastronomia local ou monumentos históricos. Essa diversidade contribui para o crescimento do mercado turístico.

A matéria divulgada dia 30 de março de 2011 no site do Ministério do Turismo (2011) sob o título “De olho na intenção do turista” retrata essa tendência. O texto, elaborado pela equipe de assessoria de comunicação do órgão, ressalta que “saber o que os consumidores querem é fundamental para expandir negócios”. No material, foi abordada ainda a questão da abertura cada vez maior de nichos de mercado, dando como exemplo os brasileiros vivem fora da sua cidade natal e as novas opções de viagens para consumidores de várias faixas de poder aquisitivo. As pessoas que moram fora de suas cidades natais sempre retornam para visitar parentes e amigos. “Com condições favoráveis de crédito e a estabilidade econômica, que permite o planejamento antecipado, este é um nicho maravilhoso a ser explorado.“

1.1.2.2 Atrativo turístico

A palavra atrativo significa o que tem o poder de atrair. Já atrair envolve exercer atração, seduzir, prender, fascinar. Nesse caso, o atrativo turístico é o cartão de visitas de uma localidade. Como a atratividade varia de turista para turista, o conceito se torna complexo. Os atrativos se relacionam à avaliação do visitante e determinam a motivação das viagens. Quem pratica surf, vai escolher passar as férias nos lugares mais propícios ao esporte como o Havaí, nos Estados Unidos, ou em várias cidades do continente australiano. Santuários religiosos são atrativos segundo os adeptos de cada religião.

A cultura varia em cada lugar. Por isso, os atrativos que fazem sucesso hoje podem ser totalmente ignorados no futuro. Em um mundo globalizado, a tendência é massificar os gostos e preferências do público. (CRUZ, 2003). Diante desse cenário, muitos atrativos turísticos são considerados como tal diante do poder das estratégias de marketing e comunicação. Um exemplo é a cidade de Forks, situada no estado de Washington (EUA), que ficou famosa por ser o cenário dos filmes da trilogia Twilight (Crepúsculo), baseada nos livros de Stephenie Meyer. Com o sucesso dos filmes, a cidade e os habitantes de Forks foram até personagens de um documentário Twilight in Forks, lançado em 2010. 37

Na definição apresentada no glossário da seção Dados e Fatos do site do Ministério do Turismo (2011), atrativo turístico

Constitui o componente principal e mais importante do produto turístico, pois determina a seleção, por parte do turista, do local de destino de uma viagem, ou seja, gera uma corrente turística até a localidade. Os atrativos turísticos podem ser naturais, culturais, manifestações e usos tradicionais e populares, realizações técnicas e científicas contemporâneas e acontecimentos programados.

Os atrativos podem ser naturais como montanhas, litoral, planícies, planaltos, terras insulares e culturais como monumentos; sítios históricos ou científicos; instituições e estabelecimentos de pesquisa e lazer que abrangem museus, bibliotecas e institutos históricos e geográficos; realizações técnicas e científicas contemporâneas como zoológicos, exploração de minérios e exploração agrícola/pastoril; e acontecimentos programados envolvendo congressos , feiras, exposições, realizações desportivas, realizações artísticas/culturais; realizações sociais/assistenciais (IGNARRA,2003 , p.60)

As variáveis em relação aos atrativos são complexas e envolvem várias características e fatores específicos em cada um de seus tipos. Na análise dos atrativos naturais importantes no contexto do ecoturismo e turismo de aventura, por exemplo, eles são segundo Ignarra (2003, p.69): localização; meio de acesso ao atrativo; tempo necessário para conhecer o atrativo; equipamentos e serviços disponíveis no local.

1.1.2.3 Equipamentos e serviços turísticos

Um determinado lugar para oferecer uma infra-estrutura turística de qualidade precisa planejar, construir e disponibilizar equipamentos e serviços turísticos. De acordo com os conceitos básicos da Organização Mundial do Turismo (OMT, 2011), é o conjunto de edificações, instalações e serviços indispensáveis ao desenvolvimento da atividade turística. Compreendem os meios de hospedagem, serviços de alimentação e entretenimento, agenciamento, informações e outros serviços.

A oferta de serviços turísticos pode variar de acordo com o tipo de turismo (férias, cultural, negócios, desportivo, saúde, religioso). Um exemplo; em um local de turismo de aventura existem oportunidades de negócios para empresas 38

especializadas em cursos de alpinismo, trekking, arvorismo para atender o turista. Deve-se ressaltar que, para um local manter a atração turística, é importante a constante manutenção e modernização dos equipamentos e serviços. Andrade (2000, p. 21) alerta que deficiências nesse trabalho

em especial os de hospedagem e alimentação, não só impedem a preservação do patrimônio turístico, como acentuam o egoísmo e as intenções escusas, que acabam por revelar a incapacidade empresarial de atendimento às necessidades da demanda, que por não conseguir tratamento no nível desejado, torna-se desorganizada, assistêmica e predatória. Nesse sentido, podemos citar como exemplo as excursões em ônibus e carros lotados que enchem praia, campo e outros pontos turísticos. Muitas pessoas acabam ocupando indiscriminadamente os espaços turísticos sem aproveitar os serviços e equipamentos do local. As razões, segundo Andrade (2000, p. 22), são porque esses serviços são “insuficientes, caros ou mesmo inacessíveis ao poder de compra de camadas sociais que se empobrecem cada vez mais”. Por outro lado, as empresas justificam os altos preços com o objetivo de oferecer serviços de qualidade. A situação evidencia a necessidade de parcerias entre poder público e iniciativa privada que, com a participação das comunidades locais, podem viabilizar políticas e iniciativas para dinamizar o turismo local.

1.1.2.4 Produto turístico

O produto turístico é a matéria - prima do turismo. Andrade (2000, p.98) o define como um composto de bens e serviços diversificados e essencialmente relacionados entre si, tanto em razão de sua integração com vistas ao atendimento da demanda quanto pelo fator de unir os setores primário, secundário e terciário da produção econômica.

A composição do produto turístico abrange as atividades e serviços ligados aos empreendimentos de hospedagem, alimentação, transportes, além de produtos típicos do local, visitas aos atrativos e a utilização dos equipamentos de lazer e divertimento. A diversidade de produtos oferece inúmeras opções aos consumidores e visitantes. Os meios e os recursos que o turismo utiliza tornam o fenômeno produtivo para vários setores e segmentos da economia. Os elementos que conformam o produto turístico constituem a oferta turística. Esses elementos podem ter poucos ou altos valores e conceitos ou têm qualquer outra utilidade ou até fora 39

dos planos de planejamento turístico, mas quando são agrupados formam o produto turístico.

Lage e Milone (2001, p.50) reúnem esses elementos e os separam em três grupos. Eles avaliam que o produto turístico

deve ser analisado também em termos de suas atrações, facilidades e acessibilidades.

As atrações podem ser definidas como elementos do produto turístico que determinam a escolha do turista para visitar um local específico em vez do outro. São fatores que geram o fluxo de pessoas para determinada região. Por exemplo: as belezas das praias do Rio de Janeiro, as cataratas de Foz do Iguaçu, as dunas do Rio Grande do Norte, a ecologia do Pantanal, etc.

As facilidades são os elementos do produto turístico que não geram normalmente os fluxos do turismo, mas sua ausência pode impedir os turistas de procurar as atrações. Elas complementam-se e podem ser entendidas, por exemplo, como: as acomodações, os restaurantes, os bares, as farmácias, as casas de câmbio, os postos de gasolina, etc.

A acessibilidade, por sua vez, inclui o transporte para as atrações e, principalmente, as vias de comunicação para que o turismo possa ser realizado com maior sociabilidade e integração como: os aeroportos, as auto-estradas, os túneis, as pontes, etc. Os produtos turísticos nascem para atender os desejos e às necessidades humanas dos clientes, os turistas e viajantes, que em mundo globalizado estão cada vez mais exigentes.

1.1.2.5 Fluxo turístico

De acordo com informações contidas no site do Ministério do Turismo (2011), no glossário on line sobre termos utilizados no setor, fluxo turístico é “todo e qualquer deslocamento de um conjunto de turistas que se movimenta de uma direção a outra, unidirecionalmente, num contexto espaço-temporal delimitado, com um ponto comum de emissão e ou um ou vários pontos de recepção.”

O volume do deslocamento dos turistas é variável, mas de acordo com as épocas do ano e os lugares, os atores sociais podem se preparar para as mudanças desses fluxos. Um exemplo é a cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul. Todos os anos, o fluxo de turistas aumenta na época da realização do Festival de Cinema de Gramado. Esse aumento também acontece durante o Festival de Pesca, realizado anualmente na cidade de Cáceres em Mato Grosso. São os chamados Eventos Geradores de Fluxo Turístico que segundo o Ministério do Turismo (2011), 40

são “aqueles que efetivamente contribuem para a promoção turística do destino, interna ou externamente, e/ou a movimentação de fluxos regionais,nacionais ou internacionais de turistas do Brasil.” Por outro lado, um desastre natural pode reduzir o fluxo turístico drasticamente como após as enchentes na região serrana do Rio de Janeiro, ocorridas em janeiro de 2011. Os fluxos, segundo o Quadro 3, também podem ser, de acordo com dados do Ministério do Turismo de estada, emissivo, receptivo e itinerante.

Quadro 3 Principais tipos de fluxos turísticos Tipos Definição De Estada Deslocamento de turistas que se destinam a um ou mais núcleos receptores, aí permanecendo por mais de 24 horas, gerando, portanto, um pernoite ou estada. Emissivo Conjunto de turistas estrangeiros ou nacionais que parte de uma determinada área geográfica emissora para uma ou várias áreas receptoras. Receptivo Conjunto de turistas estrangeiros ou nacionais que aflui a uma determinada área geográfica receptora para ali permanecer por um tempo limitado. Itinerante Deslocamento de turistas que se destinam a um ou mais núcleos receptores, não permanecendo nesses locais por mais de 12 horas, isto é,não gerando a possibilidade de pernoite. Fonte: Ministério do Turismo, 2011 Elaborado por Miranda, 2011

O fluxo de estada pode ser analisado a partir da permanência do turista por mais de 24 horas em um determinado local. O fluxo emissivo pode ser dividido em duas classes: internacional e nacional ou interno. O fluxo receptivo também é dividido da mesma forma. A proposta visa melhor quantificar e caracterizar os dados estatísticos segundo as fontes de origem e destino. Quanto ao itinerante, as pesquisas mostram que a permanência média desse tipo de fluxo não ultrapassa o limite de 6 horas em cada núcleo receptor visitado. Esses turistas, pelo próprio termo de permanência, pouco solicitam os equipamentos e serviços, limitando-se á procura de instalações de alimentação e recreação, e á aquisição de produtos típicos da localidade. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2011). Através das análises do fluxo turístico é possível saber dados como: origem dos viajantes; destino; duração das viagens; distância; meio de transporte utilizado. 41

1.1.3 Ciberespaço e cibercultura

Antes da discussão sobre os conceitos de ciberespaço e cibercultura, é importante fazer uma breve abordagem das definições sobre o real e o virtual, palavras que serão utilizadas em diversos trechos deste trabalho. Os termos se popularizaram diante do desenvolvimento e o crescimento das comunicações via redes. Pode-se dizer que o real é o que existe, é considerado verdadeiro, o que não é imaginário. Outro sentido se refere ao atual ou a presença do objeto em um determinado momento. O que se considera real também está relacionado com o que existe no mundo dos sentidos humanos.

A palavra virtual vem do latim virtualis que, por sua vez, é derivado de virtus, que significa energia, potência. O virtual é algo que não existe na forma física e é mediado ou potencializado pela tecnologia. Lèvy (1996) afirma que o virtual busca facilitar a vida do ser humano, pois através do virtual, que está em suporte material que é o computador, se cria um espaço que torna possível a interação entre várias pessoas, além da pesquisa e obtenção de várias informações. Para o autor, o virtual não se opõe ao real. O virtual tem para a realidade uma tarefa a completar como, por exemplo, a atualização dos sites na internet. Dados que são organizados e apurados pelas pessoas em um mundo “real” e disponibilizados no espaço virtual onde podem ser acessados por todos a qualquer hora e no mundo inteiro.

A interação entre computadores é a principal premissa para o estudo e conceituação do ciberespaço. A formação deste espaço virtual vai além das trocas de simples informações entre os nós, comunidades, iniciativa privada, organizações filantrópicas e governamentais, que formam as redes. Ele é criado ainda através das comunicações que ligam esses agentes, proporcionando a interligação entre seres humanos através de distâncias variáveis e de maneira instantânea. Segundo Batty (2003, p.433) “é o espaço instalado por aqueles que usam computadores para se comunicar”. O ciberespaço surgiu e emergiu nas décadas de 70 e 80, com o advento da internet, cujas origens serão abordadas com detalhes na seção 2 deste trabalho, além de todas as possibilidades de interatividade humana disponibilizadas por ela na rede como e-mails, fóruns, redes sociais, internet banking para citar apenas alguns.

Seguindo esse raciocínio, o ciberespaço, segundo Lèvy (2000, p. 17), o qual ele também chama de rede é 42

o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. O termo ciberespaço foi inventado em 1984 por William Gibson no romance de ficção científica Neuromancer, que serviu de inspiração para o cinema na trilogia Matrix, uma produção cinematográfica norte-americana e australiana de 1999, dos gêneros ação e ficção científica, dirigida pelos irmãos Wachowski e protagonizada por Keanu Reeves e Laurence Fishburne. No livro, o termo define e designa o universo das redes digitais, descrito como campo dos conflitos mundiais, formando novas concepções de fronteiras, que deixam de ser apenas cartográficas e passam a ser virtuais. Segundo Lèvy (2000, p. 92), o ciberespaço do Gibson “torna sensível a geografia móvel da informação, normalmente invisível.” Nessa geografia móvel, surgem novos territórios que vão além dos delimitados por questões políticas, econômicas e culturais. A marca distinta do ciberespaço para o autor são os diversos aspectos da informação que pode ser “plástica, fluida, calculável e tratável em tempo real, hipertextual, interativa e virtual”. Nesse sentido, o processo de digitalização da informação torna o ciberespaço “um poderoso canal de comunicação e suporte da memória da humanidade”.

Como todas as mudanças de paradigmas, a rápida expansão e o desenvolvimento do ciberespaço provocam polêmicas e dividem opiniões. Os “ciberotimistas”, como mostra Sarmento (2004, p. 116), acreditam que “esses novos espaços vão entreter bem como informar”. Além de tudo, “vão educar, promover a democracia e salvar vidas”. O ciberespaço é visto como um cenário para novas relações, discussões, promovendo a democracia sem levar em conta raças, credos, faixa etária e poder aquisitivo, remodelando conceitos de identidade social no mundo virtual. Por outro lado, existem os “ciberpessimistas”, defendendo que o ciberespaço reforça “as oportunidades de vigilância e controle social a medida que as redes vão aumentando desproporcionalmente a força da concentração do poder existente.” Ou seja: o ciberespaço controlador influencia e transforma os internautas numa massa que pensa de forma única sem identidade. Nesse sentido, para auxiliar a compreensão, pode-se fazer uma comparação com os Borgs, uma fictícia raça alienígena, apresentada em dos filmes da saga Jornada nas Estrelas (Star Trek: First Contact), que possuem corpos com partes de implantes cibernéticos. A 43

característica principal desses personagens é ter a individualidade suprimida em favor de uma mente coletiva. Eles têm por objetivo assimilar todas as raças e tecnologias que possuam relevância tecnológica e cultural para alcançarem a perfeição. Um modelo de discussão mais pessimista em relação às novas tecnologias já que o ciberespaço é formado a partir da conexão entre computadores. As pessoas que operam essas máquinas têm pensamentos e idéias independentes. A conexão da diversidade dessas idéias, sem esquecer-se de atentar para a qualidade e procedência de qualquer material postado online, pode ser enriquecedora para a comunicação entre os povos da terra.

Buscando ir além das polêmicas, Crang, Crang e May (1999) apud (SARMENTO, 2004, p. 116) destacam que tanto os pessimistas quanto os otimistas concordam que, “para o bem ou para o mal, as tecnologias da informação têm o poder de mudar a sociedade”. Nesse caso, o ciberespaço “deve ser entendido como facilitador, se não produtor, de uma experiência humana de habitar num mundo diferente e produtor de novas espacialidades.”

Sobre o conceito de cibercultura, Lèvy (2000, p.17) especifica como “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. As técnicas materiais abrangem tecnologias como suportes digitais e programas de computador e as do intelecto envolvem pensamento, reflexão, raciocínio, conhecimento e, principalmente, modos de vida, atitudes, valores. Segundo Lèvy (2000, p.121), “a multiplicidade e o entrelaçamento radical das épocas, dos pontos de vista e as legitimidades, traço distintivo do pós-moderno, encontram-se nitidamente acentuados e encorajados na cibercultura.”

A cibercultura é vivenciada por milhões de pessoas através de ações práticas com o uso de tecnologias digitais em rede tais como: home banking, cartões inteligentes, celulares, smartphones, tablets, palm tops, voto eletrônico, webcam, imposto de renda via internet. Na parte comunicacional, blogs, e-mail, chats, fóruns, webjornalismo. Mesmo os chamados infoexcluídos estão envolvidos no processo através das câmeras de vigilância em vários locais cujos dados são armazenados nos sistemas de computadores, bancos de dados de instituições públicas e/ou privadas e até o Google Earth, um programa desenvolvido pelo Google, que permite 44

ao utilizador acessar qualquer local na Terra para ver imagens de satélite, mapas, terreno, edifícios em 3D, desde galáxias no espaço até os desfiladeiros dos oceanos. O utilizador poderá explorar conteúdo geográfico complexo, guardar os locais visitados e partilhá-los com outros utilizadores.

A partir dessas considerações, deve-se lembrar e assinalar que a análise e discussão sobre os conceitos de ciberespaço e cibercultura, no contexto das mudanças de paradigmas tecnológicos e culturais e levando em conta os estudos da Geografia, remetem às novas relações entre tempo e espaço. Sobre essa questão Harvey (2010), aborda a questão da “compressão tempo-espaço” que é uma das características do impacto da globalização nas sociedades. A aceleração é tão profunda que se sente que o mundo é menor e as distâncias são mais curtas. Após enumerar as conseqüências da compressão em vários segmentos como a economia, a cultura e a ciência na pós-modernidade, o autor destaca o “processo de aniquilação do espaço por meio do tempo que sempre esteve no centro da dinâmica capitalista”. Nesse contexto Marshall Mcluhan apud (HARVEY, 2010, p. 264-265) vai além e analisa que

Após três mil anos de explosão, por meio de tecnologias fragmentárias e mecânicas, o Mundo Ocidental está implodindo. No decorrer das eras mecânicas, estendemos os nossos corpos no espaço. Hoje, passado mais de um século de tecnologia eletrônica, estendemos o nosso próprio sistema nervoso central num abraço global, abolindo no tocante ao nosso planeta, tanto o espaço como o tempo. A visão de McLuhan escrita nos anos 60 pode ser considerada dramática, mas quando se considera o caráter efêmero e fragmentado do mundo na pós- modernidade, retrata o impacto das mudanças nas concepções sobre a relação entre tempo e espaço para as pessoas. Na verdade, o tempo e o espaço não foram “abolidos”, mas apresentam novas dimensões que exigem novos estudos, em especial os que se relacionam ao ciberespaço e, nesse contexto, também à geografia. Harvey (2010, p. 265) destaca que o domínio do espaço, em um mundo capitalista altamente competitivo, é “uma arma ainda mais poderosa na luta de classes; ele se torna um dos meios de aplicação da aceleração e da redefinição de habilidades a forças de trabalho recalcitrantes”. E quanto à geografia nessa questão, “a mobilidade geográfica e a descentralização” mudam as relações humanas e as formas de controle do trabalho. A “compressão tempo-espaço” aumenta a “nossa 45

sensibilidade” em relação aos conteúdos do espaço que mudam de acordo com a lógica de acumulação das classes dominantes.

A relação do ciberespaço com a geografia pode ser percebida nessa definição de Sarmento (2004, p. 113) sobre o conceito

É um tipo particular de espaço virtual no qual um novo meio de comunicação implica diferentes formas de ver a paisagem e está a transformar a interação das pessoas com os ambientes físicos. É um espaço onde os lugares são representados de formas novas e tradicionais. Tal como qualquer outra inovação, o ciberespaço tem certas particularidades, como seu caráter efêmero, que devem ser entendidas, pois podem implicar novas formas de construir lugares.

Através das inovações tecnológicas nesse espaço globalizado, a “cultura da virtualidade” como cita Castells (1999, p. 553), associada a “um sistema multimídia eletronicamente integrado” confirma a exigência da revisão de todas as relações entre tempo e espaço. Indo por esse caminho, Dias (2008) ressalta que nos estudos sobre as redes, a compressão do espaço não é a redução dele, mas sim da distância. Marietto (2001, p.33) faz essa relação dando um exemplo bem prático: o conceito de distância no ciberespaço baseia-se no número de servidores entre pontos que desejam se comunicar. O tempo, por sua vez, depende da velocidade de conexão, da configuração de proxies, gateways, etc. Assim, países fisicamente vizinhos podem não mais o ser no ciberespaço, continentes são percorridos em segundos, downloads ocorrem com maior ou menor rapidez, dentre outras peculiaridades. Nessa mudança na concepção espaço-tempo, a informação ganha o poder sem limites e as redes de comunicação são objetos de estudo da Geografia do Ciberespaço. Marietto (2001, p.29) destaca que: “[...] as tecnologias de informação vêm ocupando espaços na sociedade a tal ponto de hoje já não ser possível conceber o futuro sem itens como internet, wireless, hipertexto, autovias de informação, que correspondem as redes de banda larga.” São as redes de informação formando novas territorialidades virtuais que detém seu poder além das fronteiras físicas.

Só para se ter uma idéia do potencial das redes de comunicação, de acordo com pesquisas recentes da empresa Miniwatts Marketing Group2 que, através de seu website Internet World Stats, atualiza constantemente as estatísticas de 233

2 Disponível em: http://www.internetworldstats.com 46

países, o número de usuários que acessam a internet no mundo inteiro cresceu 480,4 % do ano 2000 até 2011, de acordo com a Tabela 1.

O crescimento do número de usuários registrado no Brasil supera a proporção no mundo e na América do Sul. O aumento do número de usuários chegou a mais de 1.419,6% no período. A expansão do uso na internet na população brasileira também é significativa, chegou a 37,4%, próxima da média da população da América do Sul, que é de 40,7%.

Tabela 1 População e percentual de usuários da internet - 2011 Regiões População Usuários Expansão do Cresc. nº de (est. 2011) (mar. 2011) uso na usuários população 2000-2011 (%) (%) Mundo 6.930.055.154 2.095.006.005 30,2 480,4

América do 400.067.694 162.779.880 40,7 1.039 Sul

Brasil 203.429.773 75.982.000 37,4 1.419,6 Fonte: Miniwatts Marketing Group, 2011.

Diante das mudanças constantes no ciberespaço, esses números crescem todos os dias e servem para mostrar as possibilidades infinitas na disseminação das informações, inclusive no setor turístico. O ciberespaço turístico, além de disponibilizar opções de produtos e serviços do setor, proporciona novas possibilidades de avaliação dos destinos, fazendo com que o internauta possa conhecer virtualmente qualquer lugar no globo.

1.1.3.1 O ciberespaço do turismo: turismo virtual e imaginação geográfica

O turismo é um dos motivos para as pessoas se deslocarem pelo espaço terrestre. Ele é globalizante pela sua própria natureza. O progresso das técnicas possibilitou que as distâncias nesse espaço ficassem cada vez menores. Viagens que antes demoravam meses podem ser realizadas em horas. O que antes era possível apenas para quem possuía maior poder aquisitivo também ficou acessível para quem tem poucos recursos financeiros. O turismo está cada vez mais popular. Com o progressivo crescimento da internet, fica ainda mais fácil para o turista escolher seu destino. Ao acessar um site ou blog do local escolhido, o turista pode saber sobre a rede de hotéis, a gastronomia tradicional, as opções para se chegar 47

lá, opiniões de quem já visitou o local, os serviços disponíveis, os principais atrativos. Pode ainda fazer reservas de vôos, hotéis e agendamento de passeios. Tudo em um clique.

As novas tecnologias fazem surgir o turismo virtual. Um novo conceito que reúne o turismo e a tecnologia da informação. A aplicabilidade do ciberespaço e da internet ampliam as possibilidades para relações pessoais e profissionais e ajudam na projeção do turismo. O ciberespaço do turismo forma e abriga redes de informação extremamente úteis e ágeis para os turistas, um mercado promissor para as empresas e comunidades locais, além de uma ferramenta para a gestão do poder público. Os turistas podem fazer uma visita virtual nos destinos. As empresas e comunidades locais podem anunciar produtos e serviços nos sites e blogs de turismo. O poder público pode disponibilizar diversos dados importantes sobre o destino como população, economia, projetos, políticas públicas e investimentos locais. O ciberespaço é um veículo para que os atores sociais possam disseminar a informação para o público e a partir da resposta desse público definir novas etapas para o planejamento turístico.

O potencial da World Wide Web ou WWW e do ciberespaço como meio de comunicação e como um espaço de marketing no contexto da indústria do turismo apresenta inúmeras possibilidades. As empresas do setor podem promover-se além das escalas locais e regionais. Várias associações ligadas ao turismo constroem web sites para representar seus interesses. Por isso, segundo Sarmento (2004, p. 404) o entendimento sobre os ciberespaços turísticos

não inclui apenas as representações de paisagens enraizadas nos web sites produzidos por organizações de turismo e por indivíduos, mas também as imaginações geográficas construídas e as práticas de produção que criam essas representações. Estas práticas são uma parte importante no processo de construção de novas formas de ver as regiões, medidas pela WWW. Importa, assim, discernir as formas como os produtores interagem com este novo meio, as suas percepções e atitudes em relação a ele. Após essas considerações pode-se deduzir que pesquisas que relacionem o turismo e a geografia do ciberespaço podem ser úteis no planejamento de projetos e empreendimentos turísticos. A proposta é enriquecer a elaboração de projetos de marketing e comunicação no turismo. Através das linhas de pesquisa disponíveis sobre a geografia do ciberespaço, pode-se saber e mapear o alcance de sites sobre 48

o turismo em todo mundo. É possível estudar ainda as relações entre os atores sociais envolvidos no turismo virtual e citando Trigo (1999, p.26),

entre as inúmeras possibilidades de viagens físicas sugeridas pelas brochuras coloridas, cheias de fotos, mapas e roteiros disponíveis em todas as grandes agências de viagens do planeta e as viagens imaginárias nos cocoons (casulos) domésticos (canais de TV, correio eletrônico, acesso a bancos de dados, vídeo, etc.), o ser humano efetivamente começa a se sentir-se um “cidadão do mundo”. Mas de qual mundo? Um mundo virtual, superficial, etéreo. [...] o “mundo” invade cada espaço particular, seja do indivíduo ou de sua comunidade, e o transforma em um território “aberto”, transfigurado, mercantilizado e integrado em um complexo maior conhecido por nomes como realidade virtual, sistemas online ou globalização. Nessa passagem, Trigo atesta a “superficialidade” do mundo virtual. Diante da quantidade de informações disponíveis da rede e da natureza efêmera da virtualidade, afirmação tem até sua razão de ser, mas não se deve negar o poder de disseminação de informações oferecido pelo mundo conectado através da internet.

A internet traz as representações das paisagens, textos, imagens e sons que podem ser acessados a qualquer momento por qualquer pessoa no globo que tenha acesso a um computador ligado a rede. O turismo virtual desperta a imaginação geográfica ou como discute Sarmento (2004, p.100), “a forma como as pessoas constroem as percepções e compreensões de lugares, paisagens e ambientes”.

Outro aspecto importante é a forma como funcionam os textos na internet. No espaço virtual, eles são chamados de hipertextos. Ao invés da leitura linear e seqüencial, o hipertexto apresenta os links para que o internauta tenha acesso a várias informações interligadas. Em um website sobre turismo, um internauta está lendo uma matéria sobre o destino escolhido e acessa links com vídeos, fotos, entrevistas e até para outros web sites de assuntos afins. As possibilidades são infinitas porque segundo Bordoni (2011, p. 102),

Explicit, intelligent integration of cultural information for searching heterogeneous material (text, image, video, film) will also be permitted, using, among other things, such interactive tools as web cartography and chronology, with possible integration with Google Maps. Diante de tantas opções, os turistas têm imagens e informações cada vez mais variadas dos lugares que visitam ou pretendem visitar. Por isso, estão cada vez mais críticos diante dos conteúdos disponibilizados. Os sites turísticos têm grande potencial tanto na parte comercial quanto na disseminação da cultura dos lugares, 49

sendo um veículo para o crescimento e o desenvolvimento local e regional. Isso desde que os conteúdos sejam disponibilizados de forma idônea e responsável.

1.2 A GEOGRAFIA DO CIBERESPAÇO: MAPEAMENTO E ESTUDO DOS ESPAÇOS VIRTUAIS

1.2.1 Geografia virtual e a revolução tecnológica

Antes das análises do papel da Geografia do Ciberespaço, é necessário abordar sobre a revolução tecnológica que abrange as redes de comunicação e informação, em especial as formadas a partir das conexões entre computadores no ciberespaço em todo o globo. Buscando analisar e compreender essas transformações, Castells (1999, p.108-109) aborda os aspectos centrais do “paradigma da tecnologia da informação”. As novas tecnologias “são feitas para agir sobre a informação”, ou seja, “a informação é a sua matéria-prima”. Sendo a informação, a base das atividades humanas, essas tecnologias propiciam a interatividade e a convergência entre sistemas integrados. Todo esse sistema é flexível, fluido. “O que distingue a configuração do novo paradigma tecnológico é a sua capacidade de reconfiguração”. O autor alerta ainda sobre julgamentos de valores das mudanças sociais e culturais a partir do novo paradigma tecnológico, evitando exageros e conclusões precipitadas sobre essas mudanças.

Sobre os efeitos da crescente evolução tecnológica no mundo globalizado, Hargittai e Centeno (2001, p. 1549 -1551) destacam que os avanços recentes em comunicações internacionais são bons exemplos de como a troca de informação acontece em uma rede verdadeiramente global e entrelaçada. Por outro lado, os autores acreditam que “há uma tendência a exagerar o aspecto inovador da internet e sua capacidade de atravessar grandes distâncias em pouco tempo.” Segundo eles, o telégrafo conseguia essa façanha há mais de um século. O único recurso dessa rede e o que se deve agradecer a internet é que ela permite uma comunicação em rede que “mede o globo de forma entrelaçada”. Avaliam que a internet é apenas um veículo para que o espaço e o tempo posssam convergir entre os nós de uma rede. Discussões a parte, os autores também reconhecem a importância da internet e a relacionam à globalização:

If it is a significant social phenomenon in its own right, involves much more than the intensification of a single form of exchange or even cumulative effect of a series of transformations. It is the possibilty of interaction between 50

a variety of interchanges across the globe, the complexity of these interactions, and the density of the ties between previously distant societies that may be truly consequential. Essas interações feitas através das conexões na internet formam redes entre povos, governos, empresas e indivíduos e ocorrem a cada segundo. Nesse ritmo, a qualidade dessas conexões aumenta também, gerando novas possibilidades na transmissão da informação. Pode-se dizer que a Geografia do Ciberespaço, também denominada de Geografia Global (HARGITTAI e CENTENO, 2001) ou de Geografia Virtual (BATTY, 2003), é fruto da adaptação da Geografia a nova estrutura do que conhecemos como espaço virtual onde se organiza uma rede digital de cooperação e comunicação. Reflete a maneira que o mundo geográfico está sendo modificado pelas redes formadas entre computadores e o surgimento de mundos virtuais com noções próprias de território e espaço, incluindo até as análises relativas ao comércio e transações financeiras como analisa Pires (2009, p. 8), definindo que a cibergeografia [...] constitui um esforço recente que vem se expandindo e se consolidando rapidamente impulsionado principalmente pela necessidade de se estabelecer as bases conceituais que expliquem e elucidem como essa estrutura de rede, através da internet, afeta e é influenciada pela dinâmica territorial produzidas com o crescimento do e-commerce e de atividades eletrônicas.

Voltando a Batty (2003, p.430), a geografia virtual é “o estudo do lugar como o espaço etéreo e seus processos dentro dos computadores e os caminhos nos quais este espaço dentro dos computadores está modificando o lugar material fora dos computadores.” Já para Hargittai e Centeno (2001, p. 1550), a Geografia Global surge diante do crescimento das conexões entre pessoas e locais diferentes, implicando em mudanças na forma e freqüência dos fluxos entre dois pontos. Os autores avaliam ser necessário pensar em um mundo enredado em uma nova geografia e rever as perspectivas desse mundo. Eles defendem a importância em definir padrões de medidas para verificar os efeitos da globalização. Coordenadas de uma nova geografia global que descrevem a posição de um país ou sua representação dentro de uma teia mundial.

Conforme Marietto (2001), a Geografia do Ciberespaço, apresenta duas linhas de pesquisa. Em uma delas faz “o mapeamento das redes de informação e cooperação e das inter-relações humanas por detrás do mundo digital, auxiliando assim na formação da territorialidade da Sociedade da Informação”. Faz a 51

representação cartográfica das conexões dos fluxos de informação e sua estrutura física com os chamados cibermapas. Já na segunda linha de pesquisa, estuda as relações humanas que surgem através das conexões na internet já que o ciberespaço é um local de estruturação e desenvolvimento de comunidades virtuais. Um exemplo são os trabalhos realizados sobre as redes sociais na web como Facebook, Orkut e Twitter. Pode-se afirmar que mapear espaços virtuais ou tentar avaliar as relações sociais no ciberespaço é tentar medir o que nem tem medida ou avaliar comportamentos em um mundo que não é considerado real. É tentar delimitar fronteiras em infinitos espaços virtuais. Por outro lado, deve-se ressaltar o estudo dentro da própria geografia discutido por Christofoletti (2004) onde se afirma a possibilidade de descobrir a ordem sob o caos. É sobre a abordagem das técnicas fractais unindo as perspectivas analíticas e holísticas aplicadas na análise geográfica. Relacionando as idéias do autor com o estudo da Geografia do Ciberespaço, pode-se dizer que a pesquisa da organização espacial virtual que pode ser considerada um sistema não-linear, ou seja, que tem grande diversidade de elementos e seu comportamento tem alto grau de liberdade e totalmente caótico. O autor ainda cita que um dos aspectos dos sistemas não lineares é o surgimento do cálculo da dimensão fractal. Sobre esse tema, Christofoletti (2004, p. 97) fez a seguinte consideração:

Nas décadas de 1960 e 1970, a denominada Geometria Fractal foi elaborada de modo independente da Teoria do Caos [...]. O desenvolvimento da geometria fractal é um dos mais importantes acontecimentos científicos do século XX. Através dessa nova geometria, os cientistas podem descrever formas naturais com o uso simples de equações matemáticas, elaboradas em seus computadores.

O autor cita ainda que um dos estudos mais importantes para a divulgação da Geometria Fractal no meio científico aconteceu no fim dos anos 50 durante uma pesquisa sobre o ruído nas linhas telefônicas usadas para a transmissão de informações de um computador para outro da empresa do próprio criador do termo fractal, o matemático polonês Benoit Mandelbrot. Fractal deriva do latim fractus, que significa quebrar ou fraturar. Nesse sentido, pode-se dizer que o advento da Geografia do Ciberespaço como vertente da Geografia é uma alternativa real que pode ser útil em pesquisas sobre o mundo virtual. 52

O ciberespaço abriga diversas formas de expressão da cultura, da economia, da política. Esses temas podem ser discutidos sem barreiras físicas, possibilitando a mobilização global em torno de qualquer questão ou setor. O turismo também está abrigado no espaço virtual e, como ele, forma territórios e territorialidades A Geografia do Ciberespaço pode ajudar no estudo dessas formações e mudanças, auxiliando no planejamento turístico porque como coloca Lèvy (2000, p.88) “o virtual não substitui o real, ele multiplica as oportunidades para atualizá-lo”.

1.2.2 Mapas: arte e tecnologia na representação espacial

Os mapas nasceram diante da necessidade dos seres humanos de darem uma forma ao espaço onde vivem. É a forma de representação geográfica dos fenômenos sociais e os da natureza. Através da técnica da cartografia, é que os mapas são elaborados e podem ser físicos, representando os seguintes dados: geomorfológicos (relevo), hidrográficos (lagos, rios, mares e bacias hidrográficas), climático (clima), biogeográfico (vegetação). E há também os mapas humanos: político (divisão do espaço entre países, estados, regiões e outras divisões administrativas), econômico (atividades econômicas) e demográfico (distribuição da população).

O que se considera a primeira representação cartográfica do mundo, de acordo com (LENCIONI, 2003), é um mapa dos sumerianos, uma civilização antiga, datado de 2700 anos antes de Cristo. Através de círculos e triângulos, o desenho representa cidades, montanhas. Fora do círculo, uma região escura, mostrando o desconhecimento daquele povo sobre o que existia fora dos limites familiares. Mas, entre os povos da antiguidade, que tinham como referência o mar e se aventuraram nas viagens marítimas, os gregos ainda em 1200 a. C. trouxeram grandes contribuições para a geografia. Sendo eles, os criadores da palavra geo, significa terra e graphia, descrever, eles realmente procuraram descrever os mistérios da terra. Entre os geógrafos gregos, os principais trabalhos são de Hecateu de Mileto que, entre os anos de 550-475 a.C., traçou o que pode ser considerado o primeiro mapa-múndi. Já Heródoto, nascido por volta de 484 a. C., um viajante por excelência, dividiu a terra em quatro regiões: Europa, Ásia, Líbia e Delta do Nilo. Suas observações foram necessárias até para a correção de mapas feitos anteriormente. Ptolomeu (século III d. C) criou a referência da linha do meridiano. A 53

Erastótenes (275-195 a.C.) deve-se o desenvolvimento do cálculo da superfície terrestre e as coordenadas geográficas.

O conhecimento cartográfico foi evoluindo e ganhou novo destaque com Estrabão, nascido na Ásia Menor, em 63 a. C. Ele é responsável pela elaboração de um dos trabalhos mais importantes da ciência geográfica sobre o mundo antigo. Sua obra, segundo Lencioni (2003, p. 45), “denominada Geografia foi escrita em grego fluente, composta de 17 volumes.” O autor “faz uma revisão crítica do pensamento geográfico”; “discute o que poderíamos chamar de Geografia Matemática”; e analisa as áreas favoráveis a ocupação humana (ecúmenos), as dividindo “em regiões, com suas histórias, costumes, economia e instituições”.

Os mapas antigos são extremamente interessantes por duas razões: podem ser considerados como arte, com seu colorido e diversos desenhos, e ainda demonstram a capacidade humana de buscar interpretar o espaço da melhor forma possível. Por outro lado, eram trabalhos extremamente imperfeitos, em especial no que se referia à proporção e escalas. A época das grandes navegações e descobrimentos marítimos, nos séculos XV e XVI a cartografia floresceu, pois as equipes das expedições não ficavam completas sem um especialista em mapas.

Os mapas de hoje são elaborados através das imagens geradas por satélites. Computadores, através de avançados sistemas, disponibilizam resultados mais fiéis a realidade. A cartografia é de grande ajuda na agricultura, no planejamento ambiental e urbano. Em seu relatório de pós- doutorado, Garcia Neto (2009) faz referências ao que há de mais moderno para a elaboração de representações cartográficas, abordando o progresso das geotecnologias. O autor cita o potencial e as inúmeras possibilidades atingidas através de sistemas como o SIG – Sistema de Informações Geográficas e o CAD - Computational Advanced Design – para o gerenciamento e a disponibilização de informações geográficas de forma ágil e fiel. Na página 36 do seu trabalho, em relação ao mapeamento turístico, ele ressalta que

O Setor Turístico utiliza-se de um número imensurável de informações englobando dados geográficos e sócio-econômicos, que precisam estar atualizados e disponíveis à população, para viabilizar a gestão do negócio, seja público ou privado. Há, também, a necessidade de estudos freqüentes sobre as possibilidades de expansão para novas áreas e novos campos de empreendimentos. 54

Pode-se afirmar que as possibilidades de estudo e pesquisa são inúmeras, inclusive no planejamento turístico, o foco deste trabalho. O mapeamento, através do conhecimento dos recursos naturais, ocupação, uso do solo e intervenções humanas nos locais destinados ao turismo, os atores sociais envolvidos no planejamento estratégico para o desenvolvimento de determinada localidade terão mais informações e, como conseqüência, bases para decisões importantes.

1.2.3 Cibermapas e as cartografias do ciberespaço

As pesquisas sobre o ciberespaço trazem novas perspectivas para os estudos espaciais e territoriais. São explorações novas e desconhecidas nunca imaginadas pelos pesquisadores e desbravadores que elaboraram os mapas mais antigos que, na verdade, com suas letras rebuscadas, com as representações de baías, encostas e ilhas cheias de desenhos de sereias e dragões, colocavam no papel toda a sua ânsia de aventura e de conquista do desconhecido. Partindo dessas reflexões, pode- se dizer que mapear o ciberespaço seja a aventura do novo milênio. O ciberespaço abriga um território que passa por mudanças constantes ou como relata Leão (2004, p.9) é “camaleônico, elástico, ubíquo e irreversível”.

Pesquisadores já estudam e debatem há alguns anos sobre as possibilidades e aplicações do mapeamento do espaço virtual. A utilização de mapas ou os chamados cibermapas para estudar a navegação na web é, como relatam Okada e Almeida (2004, p. 109), “mapear não só como meio de orientação, mas também, como um processo de construção de sentidos e significados”. Para acompanhar a evolução e construção desses sentidos, os autores estudam o software Nestor Web Cartographer3, desenvolvido pelo pesquisador francês de origem russa Romain Zeiliger. A primeira versão do software foi desenvolvida em 1996, no Centro de Pesquisa Nacional Científica em Lyon, França. Nos últimos anos a pesquisa continua e no site existe a versão 2009 que pode ser baixada gratuitamente. O Nestor é um browser que permite a navegação na internet e registrar o caminho percorrido pelo utilizador durante a navegação através de mapas. Ele busca facilitar a leitura de dados da internet, a organização de informações, além de possibilitar a aprendizagem colaborativa. A pesquisa com o Nestor é um exemplo nas infinitas

3 Disponível em: http://www.gate.cnrs.fr/~zeiliger/nestor.htm 55

possibilidades de conhecimento que o mapeamento do ciberespaço oferece. Segundo Okada e Almeida (2004, p. 110), “a idéia de mapear a informação, traçar rotas, selecionar e articular o que é relevante seja talvez o modo de caminhar no pântano. Saber trilhar onde não há pegadas é o desafio”.

1.2.3.1 Origem

A representação do ciberespaço é um desafio diante de tantas mudanças que acontecem a cada segundo. Diante disso, as cartografias do ciberespaço buscam capturar esses momentos para estudar como se formam e se articulam esses territórios formados na web. Dodge e Kitchin (2001, p. 26) citam que John Quarterman4 é considerado o primeiro cartógrafo da Internet através da organização Matrix Internet and Directory Services (MIDS). Através de sua empresa Matrix.Net, com sede em Austin, Texas, ele e sua equipe trabalharam para medir, analisar e mapear a geografia da web.

Figura 2 Mapa da internet no mundo

Fonte: Dodge e Kitchin, 2001

Na Figura 2, está um exemplo de mapa desenvolvido através da MIDS no ano 2000. O objetivo foi mapear a extensão geográfica da internet com o volume de

4 Disponível em: http://www.quarterman.org/~jsq/ 56

computadores ligados em rede (hosts), representados por círculos. Com dados de 1999 até janeiro de 2000, o cibermapa mostra a quantidade de hosts no mapa mundi. Cada círculo no mapa representa a quantidade de hosts em cada local. Um host é qualquer máquina ou computador conectado a uma rede. Os hosts variam de computadores pessoais a supercomputadores. Todo o host na internet é representado e pode ser identificado através de um endereço de IP ou Internet Protocol, uma das variáveis para mapear, além da quantidade de computadores com acesso à intrnet e números de usuários de telefone.

Outra fonte de pesquisas sobre o mapeamento do ciberespaço é o Atlas do Ciberespaço, idealizado em 2001, por Martin Dodge, pesquisador do Centro para Análises Espaciais Avançadas (CASA) da University College of London e Rob Kitchin, um professor de Geografia Humana e diretor associado do Instituto Nacional de Desenvolvimento Regional e Análise Espacial (NIRSA) no National University of Ireland, em Maynooth. O atlas apresenta uma extensa coleção de mapas como a Figura 2, além de vários textos sobre o tema. Um site que possui fontes de informação sobre a história da internet e mapas com aspectos de evolução e crescimento da rede é o Computer History5. Ele traz um mapa, chamado Internet History 1962-1992, uma linha do tempo com uma coleção de mapas antigos da net.

Outra fonte para pesquisas de história do mapeamento do ciberespaço é o site Mapping Cyberspace6, que nasceu a partir de um livro do mesmo nome, um trabalho também elaborado por Martin Dodge e Rob Kitchin, em 2000. O site possui links para textos sobre a pesquisa e uma galeria de mapas com os links para os respectivos endereços dos cartógrafos ou empresas responsáveis pelos trabalhos.

O mapa acadêmico do Reino Unido7 (Figura 3) entrou em funcionamento em julho de 1994 e é considerado uma antiguidade na historia da internet. Foi criado para um seminário de chefes da indústria local para mostrar o alcance da internet no meio acadêmico. O mapa foi criado por Peter Burden, um professor da Escola da Computação e Tecnologia da Informação da Universidade de Wolverhampton, no

5 Disponível em: http://www.computerhistory.org/internet_history/

6 Disponível em: http://www.mappingcyberspace.com/

7 Disponível em: http://mappa.mundi.net/maps/maps_017/ 57

Reino Unido. Ele fornece um diretório visual para os sites das universidades e faculdades no Reino Unido com base em sua localização geográfica. Na época, bastava clicar sobre o ponto ou o nome da universidade e o usuário era levado para a página apropriada.

Figura 3 The UK Academic Map

Fonte: Burden, 1994

O mapa atual8 traz todos os detalhes da rede através da tecnologia dos mapas do Google junto com um menu a esquerda no site com uma lista das instituições educacionais. Os exemplos anteriormente citados são apenas alguns no início da Geografia do Ciberespaço.

Para refletir sobre a já prolífica história dessa vertente geográfica voltamos e concluimos com Leão (2002, p. 19)

Podemos concluir que mapa, enquanto construção em constante metamorfose, pertence a esfera do conhecimento adquirido, incorporado na experiência vivida. O mapa, enquanto hiperespaço cognitivo, muito se difere dos esquemas visuais fixos, pois pertence ao universo das transformações e interconexões. O mapa só pode ser apreendido no caminhar e nos movimentos oscilatórios entre ordem local e ordem global, entrar e sair, perceber e racionalizar.

8 Disponível em: http://www.scit.wlv.ac.uk/ukinfo/index.php 58

1.2.3.2 Classificação

A evolução das pesquisas na geografia do ciberespaço já proporciona uma classificação de mapas de acordo com o enfoque de pesquisas. Leão (2002) apresenta uma enumeração organizada e prática dessa classificação cujos links para pesquisa foram acessados para analise das fases de pesquisas, em especial as relativas ao enfoque desse trabalho. Segundo a autora, eles podem ser classificados, de acordo com o Quadro 4, em mapas de: infra-estrutura; rotas de dados; web sites; atividades de navegação (surf maps); visualização da internet como um todo; conceituais ou topográficos.

Quadro 4 Classificação dos mapas do ciberespaço

Classificação Definição

Infra-estrutura Representações de redes estruturais como os mapas de redes de satélites, cabeamento submarino e esquemas de provedores.

Rotas de Dados Exploram rotas e itinerários que os dados seguem. Também chamados de traceroutes.

Web sites Utilizados para sites grandes e complexos. São criados para facilitar a navegação do internauta e ajudar no trabalho dos responsáveis pela administração do site.

Atividade de navegação – Surf Utilizados para o internauta visualizar o percurso de maps navegação e ir direto aos endereços que interessam.

Visualização da internet como um São mapas que utilizam “metáforas geográficas” ou a todo geografia tradicional, como também espaços abstratos para identificar redes interconectadas ou visualização de fluxos de tráfego entre países.

Conceituais ou topográficos Organizam informações em tópicos. São utilizados para orientação do internauta, apresentando graficamente os espaços de dados. Organiza visualmente notícias, documentos e dados por ordem de interesse.

Fonte: Leão, 2002 Elaborado por: Miranda, 2011

A empresa Telegeography9, situada em Washington D.C., nos EUA, mostra exemplos de mapas de infra-estrutura na galeria disponível no próprio site na web. São mapas de cabeamento submarino, a internet no mundo, além do tráfego de informações. Os mapas de rotas de dados evidenciam as relações topológicas para

9 Disponível em: http://www.telegeography.com/telecom-resources/map-gallery/index.html 59

análise de redes e ajudam para a detecção de problemas no tráfego de dados. O Skitter10, um aplicativo em Java da Corporative Association for Internet Data Analysis (CAIDA) do Centro de Supercomputadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, mede e visualiza os caminhos que os dados percorrem. È uma ferramenta utilizada para engenheiros de redes. Outro exemplo de rota de dados apresentado na Figura 4 é o mapa da Topologia MBone11, idealizado em 1996 pelo pesquisador Elan Amir, da Divisão de Ciência da Computação da Universidade de Berkeley na Califórnia. Figura 4 Topologia MBone

Fonte: Amir, 1996 O mapa analisa a backbone ou a espinha dorsal da rede Internet Multicast MBone e suas ligações e conexões. Só para entender o que os pesquisadores buscaram visualizar é que o Multicast é a entrega de informação para múltiplos destinatários ao mesmo tempo. A entrega simples de informação ponto a ponto é chamada Unicast e a entrega para todos os pontos de uma rede é o Broadcast.

10 Disponível em: http://www.caida.org/tools/measurement/skitter/

11Disponível em http://www.visualcomplexity.com/vc/project_details.cfm?index=116&id=116&domain=

60

Os Diagramas Dinâmicos ou Z-diagram são exemplos de mapas de web sites. A empresa Dynamic Diagrams12 criada em 1990 como um estúdio de design acompanhou a evolução da World Wide Web e cria mapas interativos e usam como imagens os arquivos de fichas para melhor visualização. Já os surf maps que ajudam o internauta a visualizar as etapas de navegação tem o seu exemplo no site da companhia Inventix Software com o aplicativo Internet Cartographer13 (Figura 5) na versão 2.0. Ele classifica e mapeia as páginas visitadas e trabalha junto com o browser ou navegador como o Internet Explorer.

Figura 5 Internet Cartographer 2.0

Fonte: Inventix Software, 2011

Os mapas denominados por Leão (2002) de visualização da internet como um todo têm seu exemplo citado no mapa de John Quarterman na Figura 2 deste trabalho. Outro trabalho para quem aprecia a pesquisa da história da internet são os estudos de visualização dos cientistas Donna Cox e Robert Patterson de 1992, do National Science Foundation Network (NSFNET) 14 do National Center for

12 Disponível em: http://www.dynamicdiagrams.com/

13 Disponível em: http://www.inventixsoftware.com/

14 Disponível em: http://www.visualcomplexity.com/vc/project.cfm?id=17 61

Supercomputing Applications (NCSA), nos EUA. São trabalhos gráficos de alta definição que mostram a evolução e o crescimento das redes nos EUA e no mundo.

Os Cybermaps Landmarks15, um projeto desenvolvido pelo pesquisador John December nos anos de 1994-1995 (Figura 6), são exemplos de mapa conceitual ou topográfico. O objetivo deste mapa histórico e conceitual como arte da web é destacar visualmente as informações e as interconexões entre elas.

Figura 6 Cybermap Landmarks

Fonte: December, 1994

Outro trabalho é o do site News Maps16. De acordo com Leão (2002, p. 27), a proposta do site “é reunir e organizar visualmente notícias de diversas fontes ou, apresentar paisagens interativas de informações”. O segredo do News Maps é um sistema que acessa documentos na rede “tanto de agências de notícias como de também grupos de discussão on line e os organiza numa espécie de paisagem de tópicos interligados”. O site mostra a organização visual e topográfica de quais as notícias consideradas relevantes no momento.

15 Disponível em: http://www.mundi.net/maps/maps_010/johndec_map1.html 16 Disponível em: http://newsmap.jp/ 62

1.2.3.3 Aplicações no estudo do turismo

Dentro da premissa de que as redes de informação na internet, ocupando todo o ciberespaço são, segundo Batty (2003, p.435), “como um meio para compartilhar conhecimentos na busca de objetivos comuns ou na resolução de problemas”, o turismo pode ganhar com o uso dos cibermapas. Eles podem ser utilizados para disponibilizar planos de cidades e facilitar a localização de destinos em qualquer lugar do mundo. O turista sai de casa com um mapa único, de acordo com suas preferências, antes de viajar. Um exemplo é um serviço disponível, por enquanto, para consulta apenas de mapas de ruas das maiores cidades . Chamado Animap17, é um mapa virtual que o usuário pode consultar através de dados como o nome da rua, bairro, cidade, além do número do local a ser localizado. O turista pode consultar o mapa em vários ângulos com detalhes. Sobre essa relação entre turismo e tecnologia, Guimarães & Poggi e Borges (2008, p. 10) ressaltam que o

turismo é um grande incorporador de tecnologia, nos seus diversos segmentos, e o seu crescimento sempre depende da capacidade de inovação e do uso da tecnologia para a melhoria da gestão, desenvolvimento de novos produtos, aperfeiçoamento da comunicação, otimização das experiências de viagens e personalização do atendimento. A tecnologia, em especial a de comunicação e informação, pode trazer vantagens para empresas ou órgãos públicos na área do turismo diante do domínio da informação no tempo real e nas relações nascidas na rede. O êxito de projetos turísticos depende da apuração, organização e compartilhamento de informações.

Os cibermapas também podem ser usados para mapear as interconexões entre os atores sociais envolvidos com o turismo. É o caso dos surf maps e os mapas da internet como um todo que ajudam na visualização de acessos aos sites turísticos com o objetivo de avaliar a procedência dos acessos e assim analisar os territórios virtuais formados pelos internautas turistas no ciberespaço. Para afirmar essa possibilidade, Marietto (2001, p. 34) lembra das aplicações da Geografia do Ciberespaço nas pesquisas de relações humanas e sociais porque as “novas formas digitais de comunicação oferecem uma perspectiva mais ampla das interações humanas”, nas quais se incluem as comunidades virtuais formadas através do

17 Disponível em: http://www.animap.com.ar/ 63

turismo. É útil saber por quem e de onde os sites de turismo são acessados para um melhor planejamento turístico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cultura da atualidade está ligada à idéia de interatividade, de interconexão e inter-relação entre os homens. A incorporação das novas tecnologias da informação e comunicação (TICs) no cotidiano cresce rapidamente. Por este motivo, é um dever que as ciências acompanhem essas mudanças, que estudem de maneira mais objetiva a evolução das relações sociais no ciberespaço e como o mundo globalizado forma seus territórios virtuais que vão além das fronteiras físicas.

No caso do enfoque dado a este trabalho, geógrafos, jornalistas e turismólogos, apoiados em bom referencial teórico e experiência prática, possam também realizar projetos de forma mais ágil como a atualidade exige. A interdisciplinaridade pode ser a chave de novos saberes, um modo de fazer a diferença e fazer com que os projetos saiam do campo das idéias.

A aplicação da Geografia do Ciberespaço, no estudo das redes sociais e no mapeamento das redes de cooperação e informação no turismo, torna possível a criação de canais de comunicação entre pessoas e grupos; favorecer uma maior identificação dos moradores e visitantes com o local de referência e criar um acervo de informações e de fácil acesso sobre o destino turístico. Nesse sentido, as cartografias do ciberespaço também podem ser incluídas entre as ferramentas para quantificar fluxos, ligações, relações e influências nas relações estabelecidas via rede.

64

2 TURISMO NA INTERNET: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DAS REDES DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO

INTRODUÇÃO

Diante de um mundo globalizado e cada vez mais competitivo, empresas privadas, governos e sociedade em geral procuram estar sempre conectados entre si para se manterem atualizados, buscando novas oportunidades de negócios e parcerias. A internet, através da conexão de computadores em todo o mundo, reduz as distâncias e o tempo nas comunicações, proporcionando várias possibilidades de interação entre internautas totalmente dispersos geograficamente, contribuindo para o surgimento de novos territórios e territorialidades no ciberespaço em um cenário totalmente diverso das cartografias tradicionais.

É importante que o turismo procure acompanhar as mudanças proporcionadas pela internet porque a rede ajuda a criar as ligações necessárias para dinamizar negócios. Como setor da economia, ciência ou atividade, o turismo se manifesta de várias formas em um mesmo território, está sempre relacionado ao movimento e deslocamento de pessoas e informações e subordinado às ações do poder público, iniciativa privada e comunidades. A rede turística é alimentada através dos avanços tecnológicos. O chamado “meio técnico científico informacional”, termo criado pelo geógrafo e pensador Milton Santos em várias de suas obras, e suas redes técnicas e sociais são de fundamental importância na promoção do turismo. Essas redes são interceptadas por nós e sustentam diversos fluxos, criando conexões entre organizações turísticas dos governos, comunidades virtuais, agências de viagens, empresas aéreas, empresas de receptivos e outros negócios e serviços ligados ao turismo a diversos lugares até a residência ou local de trabalho dos que pretendem viajar para qualquer lugar do mundo.

A escolha do destino parece ser uma opção individual do viajante, mas na verdade a decisão pode ter sido tomada através de todo um esquema de cooperação entre os nós de uma rede turística que se apresenta. É verdade que a influência de determinados atores sociais como o governo e a iniciativa privada podem afetar o poder de decisão sobre os destinos turísticos, mas o turista ainda tem a palavra final. Dessa forma, uma rede de informação bem estruturada pode 65

ser de grande ajuda, como componente importante no desenvolvimento de uma região turística.

Após essas considerações procura-se deduzir, por este trabalho, que os estudos do turismo acabam envolvendo as redes e o território com relação aos seus usos e ordenação. Através dessa relação é possível pesquisar as causas e conseqüências da atividade turística em um dado território já que essas atividades provocam alterações profundas nos lugares onde se desenvolvem. Elas se mostram de diversas formas dentro de um mesmo território através de suas relações com a iniciativa privada, principalmente, poder público e até as pequenas comunidades. No mundo globalizado, a velocidade de mudança e reprodução dessas relações é cada vez maior, sem respeitar fronteiras ou limites territoriais. Condição que revela um novo espaço de relações, ligado aos avanços tecnológicos e informacionais, o que acaba reforçando essa corrente rede-território e turismo.

Ao analisar esse novo espaço de relações, se observa que as novas tecnologias afetam todo o contexto da atividade turística, desde a busca pelo atrativo natural, equipamentos e serviços turísticos (meios de hospedagem, alimentação, agentes receptivos, guias de turismo, locais e instalações para evento) e infraestrutura de apoio (os próprios serviços e redes de comunicações, transporte e segurança) até o marketing do produto turístico. Com todo esse aparato, o turismo se apropria dos espaços, produzindo territórios e territorialidades através das redes sociais. Nesse cenário, quem tem informação, tem mais poder.

No espaço cibernético, as relações de poder mudaram radicalmente. O poder é, logicamente, ainda ligado ao sistema político de Estado-Nação, mas essa concepção passa por mudanças, em especial no ciberespaço. O controle dos poderes hegemônicos, formado pelas grandes corporações e os governos, ainda existe e está cada vez mais forte, incentivando a formação dos territórios e territorialidades virtuais. O poder sempre vigia a internet, mas o controle já não é absoluto. A sociedade em geral também tem o poder sobre a rede mundial e também pode vigiar. Com uma câmera digital ou um celular, qualquer um pode transmitir mensagens e fotos sobre tudo e todos.

O objetivo deste trabalho é refletir sobre o poder e o potencial da internet na formação do turismo em rede e, nesse sentido, também como as tecnologias de 66

informação e comunicação devem ser usadas com muito critério. O planejamento da arquitetura da informação se torna cada vez mais importante nos projetos para o ciberespaço, preparando o turismo para criar e difundir suas redes em busca do desenvolvimento das regiões.

A primeira parte do trabalho mostra as abordagens sobre os conceitos de rede, território e poder, além de como se formam as novas territorialidades do turismo no ciberespaço. Em seguida, se apresenta a história e a evolução da internet no sentido de conhecer como foi concebida a rede até a atualidade, mostrando ainda a definição de portais, sites e blogs. Os conceitos de comunicação e informação também são abordados para a compreensão de que, muitas vezes, pode existir comunicação sem informação e o oposto, enfatizando as mensagens turísticas na rede. São analisados também os conceitos de arquitetura da informação e usabilidade que são importantes para a criação de conteúdos para a internet no processo de promoção do turismo na WWW.

O método usado para a realização do trabalho é apresentado a seguir. As reflexões sobre o turismo na internet, em especial quanto às análises sobre as redes de comunicação e informação, exigiram a relação entre vários conceitos. O ponto de partida foi mostrar as várias definições sobre redes, território e poder, relacionando os três para explicar o papel das redes na formação dos territórios e territorialidades na internet. A conceituação de território já foi discutida na seção 1, mas como foi justificado antes, diante da temática da seção 2, o conceito é abordado com enfoque em discussões sobre as relações de poder.

Apresentar as origens da internet e seu processo de evolução, assim como as definições de conceitos de sites, blogs e portais são essenciais para a compreensão dos processos de criação e evolução dos ciberespaços turísticos. Como este trabalho direciona a discussão para as redes de comunicação e informação, as mais poderosas e influentes na sociedade atual, foram estudados os conceitos de comunicação e informação e as relações entre eles. O objetivo é mostrar como os conceitos são ligados, mas quem nem sempre existe informação na comunicação difundida. Muitos públicos não conseguem ter acesso à informação diante da falta de compreensão e entendimento sobre o que é disponibilizado na rede, o que torna a comunicação sem sentido. Essa discussão é pertinente, pois essas redes são de 67

grande influência na formação e ordenação de territórios turísticos, sejam eles físicos ou virtuais, além de administração das territorialidades que surgem através da conexão e divulgação das informações turísticas.

A escolha dos sites usados como exemplo no desenvolvimento dos textos e o relacionamento entre os autores abordados foi baseada nas considerações de Siegel (1997 apud PINHO, 2003, p. 129) sobre arquitetura da informação e usabilidade e nas observações de Egler (2007, p. 35) já que “finalmente, os programas de ação, os projetos desenvolvidos e a missão enunciada nos sítios nos permitiram reconhecer se, de fato, essas redes tinham sua ação voltada para a gestão democrática da cidade. Neste enorme universo disponível de múltiplas organizações existentes, era necessário identificar apenas aquelas instituições que, realmente, orientam suas ações para a gestão democrática da cidade e recorrem às tecnologias para articular suas ações.” A autora direcionou suas ações para as redes no governo da cidade, mas estas avaliações podem ser aplicadas na identificação de sites turísticos sejam dos governos ou iniciativa privada que buscam utilizar as novas tecnologias de forma responsável e realmente informativa na divulgação do turismo e na gestão do segmento, equilibrando as relações entre os atores envolvidos no processo de formação de territórios e territorialidades no ciberespaço do turismo.

Para a discussão de redes de turismo na internet, também se optou por abordar conceitos básicos e complementares de redes sociais, segundo (RECUERO, 2009). Afinal, o turismo na internet é formado por uma rede social cujos nós são a iniciativa privada, governos, comunidades e os turistas. As ações da rede envolvem a necessidade de processos de colaboração e participação de todos esses atores sociais. Esse intercâmbio deve ser baseado em produção, apropriação e compartilhamento de informação e conhecimento.

2.1 ABORDAGENS SOBRE REDES, TERRITÓRIO E PODER

Quando se iniciam discussões sobre redes e território, deve-se lembrar que, como destaca Cruz (2007, p. 29), “uma premissa fundamental no uso do conceito de rede é o reconhecimento de seu estreito vínculo com o território”. O estudo das redes envolve a compreensão de suas ações e de como elas são desenhadas, 68

reguladas e modeladas pelos atores sociais, além de como os territórios são formados a partir dessas relações. Mesmo partindo de duas lógicas distintas, redes e territórios estão sempre relacionados, pois toda a rede através da organização e entrelaçamento de seus nós e velocidade de seus fluxos, acaba transformando territórios e criando outros. O território também pode ser analisado através de diversas abordagens e seu conceito desperta a importância de se discutir o uso e a organização territorial de forma a atender todos os atores sociais com suas atividades e ações para que sejam postos em prática projetos de integração entre todos. Sobre a questão do estudo da lógica territorial, Dias (2007, p.20-21) aborda que

[...] também deve ser desvendada como resultado de mecanismos endógenos – relações que acontecem nos lugares entre agentes conectados por laços de proximidade espacial – e mecanismos exógenos – que fazem que um mesmo lugar participe de várias escalas de organização espacial. Isto quer dizer que à tradicional combinação das escalas de organização espacial, segundo o modelo da boneca russa – do apartamento ao prédio, do prédio ao quarteirão, do quarteirão ao bairro, do bairro à cidade, da cidade à região e da região à nação – somam-se os novos arranjos institucionais e espaciais que nos desafiam a redefinir as categorias analíticas que utilizamos para representar o mundo. Essa afirmação mostra como as referências sobre as relações espaciais mudam além das escalas, como também diante das redefinições dos papéis dos atores sociais. Antes o mundo era de espaços reais ou até possíveis com as possibilidades de descobertas de novos lugares quando o mundo ainda possuía muitos territórios a serem conquistados. A busca e dominação de novos territórios continuam pelos mesmos motivos de sempre: políticos, econômicos, culturais, religiosos e sociais. Só que agora os espaços virtuais também fazem parte desta nova organização na relação território-rede e o fato instiga novos estudos e pesquisas.

O poder entra na discussão porque é determinante na criação e delimitação de territórios assim como na organização e alcance das redes em qualquer lugar. Ele é volátil, muda de “mãos”, vai se moldando no tempo e no espaço de acordo com as possibilidades e oportunidades em cada momento histórico da humanidade. Com as novas técnicas disponíveis na Sociedade da Informação, o poder recria suas formas de controle.

69

2.1.1 Redes

A história das redes tem suas origens e desenvolvimento durante as mudanças sociais e técnicas da humanidade. O conceito pode ser aplicado no estudo de diversos fluxos: financeiro, migratório, mercadorias, serviços e informações, este último o foco deste trabalho. Dias18 (2007, p.14), relembra que “a palavra rede provém do latim retis e aparece no século XII para designar o conjunto de fios entrelaçados, linha e nós”. No mundo antigo, tanto a palavra e, muito menos o conceito, não existiam, a rede era associada basicamente a técnicas de tecelagem. Nos séculos XVII e XVIII, os estudos sobre a rede a associavam ao funcionamento do corpo humano como, por exemplo, em relação ao sistema circulatório. Na segunda metade do século XVIII, essa relação vai além das dimensões orgânicas e forma bases técnicas com o advento das grandes invenções. Haesbaert (2002) e Dias (2008) relatam que a história das redes nessas bases começa com o capitalismo e se desenvolve em paralelo com a evolução das técnicas em toda a história da humanidade. O conceito nasceu para estudar e explicar os efeitos da circulação de tecnologia, capitais e matérias-primas, assim como das redes de infra-estrutura: sistemas de transportes, água, esgoto e cabeamento, nas mudanças territoriais e nas transformações causadas em um determinado espaço.

Pode-se dizer que a noção incipiente de redes técnicas e sociais foi sendo desenvolvida a partir de estudos e debates no século XIX, com Saint-Simon e seus seguidores como August Comte (fundador do positivismo e secretário de Saint- Simon), Barthélemy Enfantin (engenheiro fundador da revista Producteur e da Sociedade de Estudos do Canal de Suez) e Michel Chevalier (economista político), até a noção contemporânea que revive a relação entre o funcionamento do cérebro e estrutura em rede com as novas tecnologias da informação com a invenção e o desenvolvimento do computador e o surgimento da internet. A tese de Musso (2001,

18 Neste trabalho, existem duas referências de obras de Leila Cristina Dias nos anos de 2007 e 2008, porém, elas não correspondem à verdadeira seqüência temporal das análises da autora sobre o estudo das redes. Na verdade, a referência de 2008 é da 11ª edição do livro “Geografia: conceitos e temas”, cuja 1ª edição é de 1995. Ou seja: a referência de 2007 apresenta opiniões e análises mais atuais da autora sobre as redes, abordando também o histórico do tema e trazendo novas discussões sobre o debate contemporâneo do termo. 70

2003) apud (DIAS, 2007, p. 17) aborda as “diferenças entre Saint-Simon e seus seguidores”, quanto ao conceito.

Seu argumento central é que Saint-Simon teria forjado o conceito de rede para pensar a mudança social e, nesse contexto, as redes de comunicação eram percebidas como mediadores técnicos de tal mudança. Seus discípulos, ao contrário, teriam feito o caminho inverso ao do mestre e para eles as redes tornaram-se as próprias produtoras de relações sociais, até mesmo de uma revolução social. Segundo esse autor, as frases fundadoras da contemporânea ideologia da comunicação não se encontrariam na obra de Saint-Simon, mas na de seus seguidores.

Essa premissa pode ser considerada uma prévia que surgiu no século XIX para discussões sobre evolução das redes técnicas e sociais, sejam elas mediadoras ou produtoras de mudanças sociais, até o século XXI. Saint-Simon e seus seguidores nunca poderiam imaginar um mundo ligado através do ciberespaço, onde a técnica é a base na construção das relações em redes sociais, produzindo, sim, uma revolução social. Essas questões também fazem parte dos textos de Santos (2004) que divide a rede em duas vertentes: material ou técnica e social. A primeira se encaixa nos estudos de infra-estruturas de circulação, que permitem o transporte de matéria, energia e informação, e a segunda se enquadra em análises de questões políticas, sociais e culturais que surgem a partir da ligação entre os nós ou pontos da rede.

Com início no fim da Segunda Guerra Mundial, o período tecnológico da humanidade chegou com o advento das grandes indústrias e o capitalismo das grandes corporações, que atuam com o apoio dos serviços dos meios de comunicação extremamente difundidos e rápidos. Santos (1985, p.27) mostra que “a tecnologia da comunicação permite inovações que aparecem, não apenas juntas e associadas, mas também para serem propagadas em conjunto”. Em pleno auge do “meio técnico-científico-informacional”, termo criado pelo autor, as redes crescem, diminuem distâncias, dinamizam a transmissão de informações e fazem a humanidade rever os paradigmas da comunicação no mundo globalizado. A diversidade de usos do conceito que vão além da visão geográfica admite a ressignificação da noção durante o tempo. O fato serve para mostrar a transformação de uma sociedade mais tradicional, introvertida, rígida e enraizada, em uma sociedade moderna mais dinâmica e globalizada. Ou seja, quando abordamos essas mudanças, o estudo das redes é pertinente já que elas viabilizam 71

a circulação e comunicação, fontes de sobrevivência dos poderes hegemônicos e meios para ação e troca de idéias entre as comunidades.

Castells (1999, p.566) define que a rede “é um conjunto de nós interconectados e nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta. Concretamente, o que um nó é depende do tipo de redes concretas de que falamos.” As redes podem ser reais, como rodovias, ferrovias, ou as chamadas de virtuais, como a internet. Os nós das redes podem ser representados por vários elementos do espaço como os centros urbanos, bolsas de valores, bancos e a imprensa, que abrange rádio, revistas, jornais, sistemas de televisão, blogs e sites de notícias. Através desses nós, se estabelece uma ligação de fluxos de pessoas, mercadorias e serviços. No caso das redes de comunicação, o produto é a informação que na era da internet chega à velocidade de um clique no mouse do computador. Essa flexibilidade da rede oferece uma ferramenta de grande ajuda para a compreensão das sociedades contemporâneas que são movidas pela velocidade e fluidez. Castells (1999, p.566), reforça o conceito, acrescentando que

redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de desempenho). Uma estrutura social com base em redes é um sistema aberto altamente dinâmico suscetível de inovação sem ameaças ao seu equilíbrio.

Quando se analisa o crescimento e a agilidade das redes, pode-se constatar que, diante da diminuição das distâncias, elas contribuem para o surgimento de novos territórios que vão além dos delimitados por questões políticas, econômicas e culturais. Cruz (2007, p.27), quando discute a relação entre território, turismo e rede, enfatiza que, entre as avaliações e pesquisas de estudiosos sobre esta última, “redes pressupõem fluxo e fluxos podem ser tanto materiais quanto imateriais”. Ou também como propõe Rodrigues (2001, p. 23) os “fluxos visíveis ou não-visíveis”, como os fluxos de capitais e da informação. “Esses fluxos, quando mapeados, fornecem importantes fontes de dados para o estudo das conexões, em qualquer escala geográfica que se quer enfocar.” Os fluxos costumam ser mantidos por atores sociais nas estruturas econômicas, política e simbólica da sociedade.

As redes também apresentam uma hierarquia diante da concentração localizada da informação, que costuma estar nos grandes centros mundiais nos 72

quais os poderes hegemônicos tomam suas decisões. Por outro lado, diante de um mercado globalizado em constantes mudanças e as transformações da técnica, a hierarquia da rede nunca é estável. Nessa realidade marcada por instabilidades econômicas e sociais, os poderes hegemônicos dentro de sua lógica de acumulação, um lugar que é um centro de decisões pode se tornar secundário. O fato implica em novas organizações territoriais ou até na formação e fim de territórios.

A inconstância e a mobilidade das redes são bem caracterizadas por Haesbaert (2002, p.123) dessa forma: “elas formam apenas linhas (fluxos) que ligam pontos (pólos), jamais preenchendo o espaço no seu conjunto, muitos são os interstícios que se oferecem para outras formas de organização do espaço”. Ou seja: nesses “interstícios” aparecem outras redes, outras relações que possibilitam novas alternativas de conexões. Raffestin (1993, p.204) também analisa a rapidez das redes e o papel das estratégias de circulação e comunicação e define que

A rede aparece, desde então, como fios seguros de uma rede flexível que pode se moldar conforme as situações concretas e, por isso mesmo, se deformar para melhor reter. A rede é proteiforme, móvel, inacabada, e é dessa falta de acabamento que ela tira sua força no espaço e no tempo: se adapta às variações do espaço e às mudanças que advém no tempo. A rede faz e desfaz as prisões do espaço, tornado território: tanto libera como aprisiona. É o porquê de ela ser o “instrumento” por excelência do poder.

A rede é um instrumento, mas também pode ser o foco principal do poder, a mola propulsora que gera essas mudanças no espaço. Voltando aos antigos debates de Saint-Simon e seus seguidores e parafraseando-os, a mobilidade fortalece as redes. Através da interconectividade, as redes são extremamente úteis aos poderes hegemônicos, mas também tem a propriedade de despertar consciências, iniciar debates. Elas são ferramentas para compartilhar experiências, informações e criar conhecimento.

Os sites de turismo, com seu papel no planejamento turístico e no desenvolvimento regional, podem ser considerados redes sociais. A própria definição do conceito reflete o cenário do turismo no ciberespaço, pois como definem Garton, Haytornthwaite e Wellman (apud RECUERO, 2009, p.15) “quando uma rede de computadores conecta uma rede de pessoas e organizações, é uma 73

rede social.” Governos, empresas, comunidades e turistas constroem portais, sites, blogs que divulgam informações, idéias, dicas, formando comunidades virtuais.

A internet traz inúmeras possibilidades de comunicação e as novas tecnologias deixam indícios na rede através de diversos padrões de conexões. Isso possibilita a análise de como e de que forma as interconexões acontecem no ciberespaço. Segundo Recuero (2009, p. 22) “estudar redes sociais, portanto, é estudar os padrões de conexões expressos no ciberespaço.”

Os elementos que formam uma rede social são os atores e as conexões. Os atores são os nós ou nodos que formam uma rede, ou seja, as pessoas. No caso do turismo, são turistas, pesquisadores do segmento, empresários, representantes de governos e membros das comunidades locais. Diante do distanciamento nas relações mediadas pelo computador, os atores possuem identidades obtidas no ciberespaço. Essas identidades podem ser perfis ou fotologs 19 em sites de redes sociais de turismo.

Figura 1 Página inicial da comunidade online Turismo 2.0

Fonte: www.turismo20.com

19 São blogs fotográficos, baseados em fotografias. Em vez de as pessoas postarem textos ilustrados com imagens, como nos blogs comuns, elas postam imagens legendadas. 74

Um exemplo de interação dessas identidades é a comunidade online Turismo 2.020 (Figura 1) que, até a conclusão deste trabalho, contava com 10.447 membros, 18.657 fotos postadas, 1.211 vídeos, 1.870 discussões, 4.378 entradas de blog. As discussões vão desde a divulgação de pacotes turísticos até debates sobre gestão turística e trabalhos acadêmicos e científicos sobre turismo. Os contatos são feitos através do chat, e-mails e comentários na página de perfil.

Os atores representam os nós e as conexões são o outro elemento que dá forma as redes sociais. Através das conexões existem os laços sociais, a relação e as interações entre os atores. A interação é “aquela ação que tem um reflexo comunicativo entre o indivíduo e seus pares, como reflexo social” (RECUERO, 2009, p. 31), assim ela mostra a natureza nas relações estabelecidas no espaço virtual.

Os sites de turismo são veículos onde podem ser formar essas relações sociais, que podem envolver negócios, pesquisas acadêmicas e os próprios turistas sobre os destinos escolhidos. Através da identificação das conexões ou procedência de acessos, pode-se mapear como estão as relações sociais no segmento turístico via rede e como se formam os territórios nesse espaço virtual.

2.1.2 Território

O território, assim como as redes, também é um conceito que desperta ampla discussão. Sobre sua história, Saquet (2010, p. 27-28) relata que, para o autor Jean Gottmann, a idéia já existia no século XV, mas era mais ligada as questões de posse de terras entre cidades medievais na Itália como Florença, Gênova e Veneza. Os feudos, através de seus senhores, determinavam essa divisão. Já no século XVI, começa a ser difundida a noção de território ligada a soberania dos Estados a partir de doutrinas políticas. O autor ainda cita a obra “O Príncipe” de Maquiavel, cujas idéias são um marco no processo de conquista e formação dos Estados. É o momento histórico no qual ocorre “o rompimento, com a tradição cristalizada até o Renascimento, da ordem de ligação do poder com a força e a vontade divina”. No século XVIII, através das idéias a partir das revoluções americana e francesa, começa a relação entre soberania do Estado e a noção de população nacional. Esse movimento prossegue e evolui até o século XXI.

20 Disponível em: http://www.turismo20.com/ 75

Autores como Haesbaert (2002, 2005, 2006, 2008), Raffestin (1993) e Souza (2008) debatem as confusões sobre o conceito de território, demonstrando que, muitas vezes, não se encontram definições claras sobre ele. Isto porque o território passa por diversas vertentes do conhecimento como a política, nas relações de poder e concepção de Estado; a economia, quando se aborda bases de produção; e a cultural, que abrange os estudos de antropologia (territórios simbólicos, tribalismo), sociologia (relações sociais) e até a psicologia (identidade pessoal, o indivíduo). Mesmo assim, na verdade, toda a formação territorial acontece pelo poder ou pela busca dele. Nesse sentido, Santos (2006, p. 19) é enfático: “o território é um nome político para o espaço de um país”. Ele destaca ainda que “é praticamente impossível nos referirmos a um Estado sem território”. Para Souza (2008, p. 78), o “território é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder.” A busca por esse poder pode ser por questões políticas ou afetivas entre um indivíduo ou grupo social e seu espaço. Refletindo sobre essas relações variáveis, que levam em conta “classes sociais, os grupos culturais e as escalas geográficas”, Haesbaert (2002, p.121) define território como o

produto de uma relação desigual de forças, envolvendo o domínio ou controle político-econômico do espaço e sua apropriação simbólica, ora conjugados e mutuamente reforçados, ora desconectados e contraditoriamente articulados.

A definição acima, além de afirmar a relação do território com a política e a economia, aponta para a questão que esse controle é instável. Afinal, os usos do território criam hierarquias de lugares e grupos sociais, o que acaba por redefinir a forma de agir das pessoas, empresas e instituições diante de um mundo globalizado altamente competitivo, onde a concepção de quem detém o controle é relativa. As fronteiras são enfraquecidas e os Estados buscam novas formas de regulação e controle do território, um espaço delimitado por limites e administrado por contratos políticos.

Sobre esse controle, Santos (2009, p. 84) discute a rapidez e a fluidez no mundo dentro do processo conjunto das inovações técnicas e as questões políticas atuais empreendidas tanto pelas instituições públicas quanto pela iniciativa privada. A proposta disseminada é a de integração de ações, porém, de acordo com os tempos sociais e os interesses de cada um, alguns espaços são induzidos a seguir 76

um padrão de acordo com os poderes hegemônicos ou são colocados de lado. Segundo o autor, as atuais compartimentações dos territórios ganham esse novo ingrediente. Criam-se, paralelamente, incompatibilidades entre velocidades diversas; e os portadores das velocidades extremas buscam induzir os demais atores a acompanhá-los, procurando disseminar as infra-estruturas necessárias à desejada fluidez nos lugares que consideram necessários para sua atividade. Há, todavia, sempre, uma seletividade nessa difusão, separando os espaços da pressa daqueles outros propícios à lentidão [...]. O fenômeno é geral, já que, conforme vimos antes, tudo hoje está compartimentado; incluindo toda a superfície do planeta.

O Estado tem o papel de prover o território de infra-estrutura e sistemas técnicos para o crescimento e o desenvolvimento em todos os espaços do território pelo qual são responsáveis politicamente a partir da escolha feita pelo próprio povo através das eleições de suas lideranças. São os investimentos em saúde, segurança, educação e tecnologia, por exemplo. Já as empresas estabelecem seus limites, segundo os seus interesses econômicos. Uma empresa se instala e realiza melhorias de infra-estrutura e gera empregos em um determinado local, mediante a contrapartida de grandes lucros. Estes são os agentes sociais detentores da velocidade dos chamados tempos rápidos. Essa nova organização territorial é incentivada pelo progresso tecnológico, através dos meios de comunicação e novas tecnologias de informação. Na avaliação de Saquet (2010), essa mudança acaba contribuindo para o enfraquecimento do território ligado a soberania nacional. Nem o Estado e muito menos o território desaparecem, apenas eles se relacionam globalmente no nível internacional.

Raffestin (1993) trouxe reflexões inovadoras sobre o conceito de território, indo além das análises da geografia política clássica do cientista alemão Ratzel, já abordadas na 1ª seção deste trabalho. Para Ratzel, o território é formado pela relação povo-solo e tendo como base questões morais e legais do Estado, que seria o único detentor do poder. Por outro lado, Raffestin avalia que a atuação do Estado não detém poder absoluto e se relaciona com poderes de outras dimensões ligadas a vários atores sociais. Na visão de Raffestin (1993, p. 60), o território é “um trunfo particular, recurso e entrave, continente e conteúdo, tudo ao mesmo tempo. O território é o espaço político por excelência, o campo da ação do poder”. E também é (idem, p. 144),

Uma produção a partir do espaço. Ora, a produção por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo do poder. Produzir uma 77

representação do espaço já é uma apropriação, uma empresa, um controle, portanto, mesmo se isso permanece nos limites do conhecimento.

O território não é apenas fruto do poder do Estado, mas envolve diversas ligações através dos nós de uma rede em um mundo de novas tecnologias da comunicação e informação. Sendo assim, o território é um produto de diversidades, desigualdades, conectividades que mudam com o tempo.

2.1.3 Poder

No dicionário Michaelis Online21, o significado de poder envolve sempre os verbos ter, ser ou estar. Abrange ter a faculdade ou possibilidade de; ter autoridade, domínio ou influência para; ter permissão ou autorização para; ter calma, energia e paciência para; ter ocasião ou oportunidade de; ter força para. Significa ainda achar- se em estado de ou até estar arriscado ou exposto a. Todas essas noções e significados acabam por despertar reflexões sobre como um poder pode ser forte ou fraco; perene e fugaz; controlado ou desequilibrado; merecido ou imposto.

Seguindo essa premissa, pode-se constatar que o poder assume várias facetas para tomar e manter a posição privilegiada. Nessa análise, Claude Raffestin é um autor que vai além do ter. Em sua obra Por uma geografia de poder, mostra as diversas concepções de relações de poder como com os territórios, raças, línguas e recursos. Para Raffestin (1993, p. 7), “o poder é a chave – em toda relação circula o poder que não é nem possuído nem adquirido, mas simplesmente exercido”.

Foucault (apud CASTRO, 2005, p. 98-99) confirma essas idéias e lança o debate sobre a manifestação do poder através de “situações relacionais assimétricas”. Segundo o autor, “as relações de poder não se encontram em posição de exterioridade a outras relações - como econômicas ou de conhecimento -, são efeitos imediatos de partilhas, desigualdade e desequilíbrios que se produzem nas relações entre desiguais”. Essa desigualdade de relações continua e toma força no mundo globalizado através das tecnologias da informação.

Arendt (1985, p.24) apud (SOUZA, 2008, p. 79-80) discorre sobre os meios utilizados para o domínio e influência de determinado espaço e coloca que os “conceitos de poder, força, autoridade e violência nada mais são do que palavras a indicar os meios pelos quais o homem governa o homem, são elas consideradas

21 Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/ 78

sinônimos por terem a mesma função”. Segundo ela, o poder é o reflexo da habilidade humana em agir de comum acordo desde que as condições apresentadas por um grupo para se manter em condições privilegiadas sejam vantajosas para todos. Porém, no momento em que alguns indivíduos ficam insatisfeitos, essa autoridade é contestada e o poder fica em vias de desaparecer. Deve-se ressaltar que o poder nem sempre está ligado à violência, mesmo mantendo sua autoridade e influência, o que é um reflexo da mudança de paradigmas nas relações entre os grupos humanos no mundo globalizado.

Nesses tempos de mudanças, o poder está saindo do círculo dos estrategistas militares e faz parte de discussões interdisciplinares. No campo dos estudos e pesquisas, a geopolítica, que envolve as relações de forças além do poderio militar e inclui as questões sociais, culturais, econômicas e tecnológicas, é um tema base em diversos grupos e institutos. Diversos cientistas sociais avaliam a ação dos atores sociais em vários países, analisando e debatendo os resultados dessas relações na organização do espaço mundial no século XXI.

Luttwak (apud VESENTINI, 2011, p. 32-33) faz uma pergunta básica: “quem vai dominar o mundo no século XXI?” O poder militar logicamente permanece, porém o poder mundial envolve outros agentes como “empresas transnacionais, novas tecnologias como a Internet, organizações globais mais fortes”. Nos últimos anos, o cenário vem apontando que as questões econômicas enfraquecem as questões políticas, lembrando as discussões anteriores sobre o conceito de território e sua nova organização, incentivada pelas novas tecnologias de informação e comunicação que contribuem para o enfraquecimento do território ligado a soberania nacional. Afinal, os Estados globalizados não são mais isolados e existe a crescente interdependência de economias. A solução “é concorrer e ao mesmo tempo se associar, crescer conjuntamente, pois a crise num desses lugares afeta os demais e, inversamente, a expansão numa área tem um efeito positivo sobre as outras”. Por isso, segundo o autor,

A disputa atual não mais consistiria em produzir maior quantidade de armamentos ou anexar novos territórios (seja militar ou ideologicamente como na época da guerra fria), e sim em produzir mais e melhores bens ou serviços, ampliando a produtividade, o nível tecnológico e educacional, o padrão de consumo da população e consumo enfim. Sobre isso, deve-se ressaltar que o discurso da cooperação com as propostas colocadas acima vai até quando os interesses econômicos continuam em comum. A 79

definição de Taylor e Thrift (apud SANTOS, 2004, p. 271) mostram o poder mais ambientado ao fenômeno da globalização. Para eles, é “a capacidade de uma organização para controlar os recursos necessários ao funcionamento de uma outra organização”. Seus sistemas “inerentes à ação das grandes organizações têm um papel importante na construção das estruturas organizacionais”. As tecnologias da informação são instrumentos eficazes nesse sentido e possuem influência de mão- dupla, sendo conservadora e progressista de acordo com a situação. Alguns Estados buscam controlar os fluxos da web como a China, que várias vezes tirou o Google da rede e os Estados Unidos, que utiliza sofisticados sistemas via satélite, procurando rastrear atividades no ciberespaço da informação.

São exemplos que ilustram as reflexões de Raffestin (1993, p.201-202). Segundo ele, “o ideal do poder é agir em tempo real”. O tempo real permite que instruções e informações sejam elaboradas e repassadas de forma instantânea para todos os lugares, uma parte ou um lugar em particular, como também em horas adequadas por quem é detentor do poder. É a possibilidade dos atores sociais agirem aqui e agora, seja o Estado, a iniciativa privada e até as comunidades, que também buscam formas de exercer o poder.

Uma das discutidas faces da globalização, um fenômeno que revoluciona as relações de poder o tempo todo, além do crescente consumismo e a busca incessante por dinheiro, beleza, é a forma como a informação é oferecida à humanidade. O ato de comunicar, através da manipulação das técnicas da informação por atores sociais em busca da satisfação de suas ambições de poder, se torna uma violência, pois nem todos têm acesso ao conhecimento (SANTOS, 2009).

Castro (2005) analisa três formas elementares de poder: o despótico; o que é fundado na autoridade; e o político. O despótico é a manutenção do poder pela força e pela violência. O segundo é um poder exercido e reconhecido de forma legítima pelos que se submetem. O político se manifesta através de instituições que representam a autoridade moral e ética como a família e o Estado. Quando se fazem reflexões sobre a sociedade da informação, o poder se manifesta em uma mistura das três formas, pois a influência da informação em uma sociedade conectada em rede é variável e, nesse cenário, o poder pode ser inconstante, porém deve se manter alerta e sólido em seus propósitos de controle. 80

2.1.4 Territórios e territorialidades do turismo no ciberespaço

A discussão sobre territórios e poder desperta para a questão da territorialidade pode ser objeto de análise de estudiosos e pesquisadores das ciências sociais como a Comunicação Social e a Geografia por ser baseada nas relações sociais entre os membros de uma coletividade ou o viver territorial de um grupo. Essa análise é embasada por Raffestin (1993, p. 160) que afirma que a territorialidade “procede de uma problemática relacional”. Portanto, “pode ser definida como um conjunto de relações que se originam num sistema tridimensional sociedade-tempo-espaço em vias de atingir a maior autonomia possível, compatível com os recursos do sistema.” Os sistemas políticos, culturais e institucionais interagem em uma territorialidade dinâmica, que sofre mudanças ao longo do tempo, durante processos de troca e comunicação.

Haesbaert (2002, 2005, 2006, 2008) traz importantes contribuições para o entendimento dessas dinâmicas territoriais, analisando os processos de construção e desconstrução de territórios assim como das territorialidades. No turismo, essa dinâmica ainda é mais instável devido às mudanças que a atividade provoca em um território através das relações entre os sistemas. Para reforçar a questão da territorialidade, Sack (1986) apud (HAESBAERT, 2005, p. 105) a define como “a tentativa, por indivíduo ou grupo, de atingir/afetar, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e relacionamentos, pela delimitação e afirmação do controle sobre uma área geográfica”. Haesbaert enfatiza que esses processos nem sempre possuem aspectos negativos, mas trazem possibilidades de renovações e novas descobertas para os atores sociais.

A produção acadêmica e científica de Robert David Sack sobre territórios e territorialidades traz contribuições sobre o estudo das redes de informações turísticas no ciberespaço. As concepções de Sack envolvem o entendimento de territórios e territorialidades em várias escalas. Afinal, esses conceitos possuem diversos enfoques de acordo com as transformações sociais, econômicas e culturais da sociedade. Pode-se afirmar que o surgimento e desenvolvimento dos territórios e territorialidades nascidos das conexões entre computadores estão entre as maiores transformações na humanidade nos últimos tempos. Uma das definições de Sack (apud PLEIN et all 2009, p.53) sobre territorialidade é que ela que “é uma estratégia 81

para estabelecer graus diferentes de acesso às pessoas, coisas e relações” e pode ser relacionada com a influência da internet porque para o autor

Territorialidades são uma estratégia potente para controlar as pessoas e as coisas, pelo controle da área. É o poder de um indivíduo e um grupo social de influenciar, controlar pessoas, fenômenos, delimitando e efetivando o controle de uma área. As territorialidades podem envolver vários grupos através de redes, nós, que se intercalam e sobrepõem um sobre o outro, formando uma grande cadeia processual do território. As territorialidades assim como território acontecem tanto em situações complexas ou cotidianas, ocorrem em inúmeros contextos sociais, situações e relações.

Um exemplo dessa definição de Sack em relação às estratégias de controle é como os Estados Unidos apresentam na internet um retrato curioso do exercício de seu poder como nação: o site da Central Intelligence Agency22 (CIA). Em uma das páginas do site, sob o título Worlds Factbook, são fornecidas informações sobre as histórias de pessoas, governo, economia, geografia, comunicação, transporte, exércitos e questões transnacionais de 266 entidades em todos os países do mundo. O chamado pela CIA de “guia de referência” para o internauta inclui mapas físicos e políticos de grandes regiões do mundo. A consulta dos dados sobre cada país é livre, mostrando o amplo conhecimento da Agência norte-americana sobre os países do mundo. Por outro lado, pode ser uma forma de transmitir o seguinte recado: sabemos tudo sobre todos.

No ciberespaço, onde os tempos são rápidos, as territorialidades mudam constantemente. Raffestin (1993, p.162) avalia que “a análise da territorialidade só é possível pela apreensão das relações reais recolocadas no seu contexto sócio- histórico e espaço-temporal.” Baseados na colocação do autor sobre as relações chamadas reais, alguns poderiam refutar a formação de territorialidades na web, mas deve-se lembrar que o espaço é virtual, mas as relações são reais. Os sistemas de informática são idealizados por seres humanos e as comunicações feitas entre eles de vários lugares do planeta. Como negar que existam territorialidades em ambientes das redes sociais com o Orkut, Facebook ou Twitter ou também nos sites turísticos onde os usuários formam comunidades virtuais onde discutem os destinos de sua preferência? Ou na forma como os sites instituições governamentais e empresas divulgam os atrativos de seus países de origem, estados e cidades,

22 Disponível em: https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/ 82

disponibilizando chats de discussão e também comunidades virtuais para a discussão sobre desde as belezas do lugar, os serviços oferecidos e até as políticas para o turismo? As convergências e divergências entre os atores sociais quanto à forma de ocupação de um território turístico seja real ou virtual podem ser consideradas territorialidades.

O turismo forma territórios e territorialidades que se mantém ligados às relações de poder que nem sempre são simples de resolver. Essas relações podem ser percebidas nas tentativas de construir territórios, que podem ser reais ou virtuais, como no ciberespaço, mas com fronteiras bem delimitadas, que são formadas através de um campo de forças em um determinado território. Esses campos de forças são formados por redes de relações sociais nas quais podem ser incluídos governo, organizações não governamentais, iniciativa privada e comunidades. Badie (apud GARCIA NETTO, 2009, p.23), confirma como as relações de poder entre os atores sociais, dinamizadas pelas inovações tecnológicas podem ser determinantes na formação de territórios turísticos no mundo globalizado.

O território perde a sua importância à medida que as autoridades políticas percebem que perdem o controle sobre os consumidores [...]. É fundamental notar que existe cada vez menos dependência do solo e do subsolo, tendo em vista que a riqueza crescentemente está ligada a mobilidade, às trocas, e à inovação tecnológica.

Nesse campo de forças, empresas e governos mostram seus atrativos na rede, buscando atrair investidores e turistas. Por outro lado, a comunidade, em determinadas circunstâncias, tem restrições ao turista que pode trazer com ele vários descompassos sociais como a violência, poluição e descaso com a cultura local, mas reconhece que é ele que traz o capital necessário para a sobrevivência da população. Esse tipo de conflito pode ser exemplificado nas praias entre as comunidades pesqueiras e artesanais e os turistas, que após escolherem seu destino no espaço virtual onde também faz a compra da passagem, aluga o carro e reserva o hotel, trazem seus hábitos e costumes. Isso acontece também no campo entre as comunidades onde estão localizados empreendimentos ecoturísticos. Nestes locais, o governo ou a iniciativa privada fazem as chamadas melhorias para receber turistas e, em alguns casos, acabam alterando o ambiente natural por mais que busquem a preservação. Assim, a comunidade local sente a sensação da invasão, mas, por outro lado, tolera essa situação diante dos benefícios financeiros. 83

Nesses casos, as territorialidades nascidas no espaço virtual tomam novas formas no real.

Sobre estas complexas relações, Knafou (2001, p.64), um dos estudiosos do turismo, enfatiza o conflito de territorialidades entre nômades e sedentários, os quais ele denomina de “territorialidade nômade” dos que passam pelo local, mas acabam se apropriando dos territórios locais e a “territorialidade sedentária” dos que vivem em um determinado local de forma permanente. Segundo ele, “um bom número de conflitos nos lugares turísticos são oriundos das diferenças de territorialidade”. O chamado turismo de massa, que é definido pela alta concentração de turistas em espaços limitados pode ser um cenário ideal para esses conflitos. Existem algumas estratégicas para a desmassificação do mercado, mas o chamado por Rodrigues (2006, p.298) de “lazer alienado” do mundo dos “parques temáticos” e dos “pacotes estandartizados” ainda perdura e também é promovido e “vendido” pela internet em diversos sites.

Knafou (2001, p.71-73) também mostra três tipos de relação entre turismo e território: a) pode existir território sem turismo; b) pode existir turismo sem território, que “é o que se contenta com sítios e lugares equipados, é o turismo “fora do solo”, quase completamente indiferente à região que o acolhe”, que podem ser exemplificados através dos parques temáticos construídos em um determinado local, escolhidos por sua fácil acessibilidade; c) podem, enfim, existir territórios turísticos, estes são os territórios “inventados e produzidos pelos turistas, mais ou menos retomados pelos operadores turísticos e pelos planejadores”.

Por outro lado, existem novas estratégias para a promoção do turismo contemporâneo que incluem as parcerias para suprir bens e serviços entre pequenas e médias empresas; maior comprometimento com a conservação ambiental e com as comunidades locais. Segundo coloca Rodrigues (2006, p. 309), seria uma

[...] proposta humanista que é concebida, implantada e gestionada pelos vários segmentos que compõem a população local, mobilizando recursos endógenos, expressando o que Milton Santos denomina de exercício das horizontalidades, ou seja, o fortalecimento de uma integração solidária local. Mesmo que poucas iniciativas realmente atendam os interesses do social, o ciberespaço do turismo formado através da interconexão de computadores, nesse 84

caso, com a criação e acesso de sites, blogs e redes sociais turísticas na internet, é um campo de infinitas possibilidades para promover o turismo de forma a recriar e equilibrar as territorialidades, promovendo a integração entre os atores sociais. Podemos relacionar a importância das conexões no ciberespaço com a formação dos territórios e territorialidades turísticas com a afirmação de Rodrigues (2006, p. 300-301)

os sujeitos que fazem turismo e de outro lado pela comunidade receptora, os sujeitos que, no território de destino, ao mesmo tempo em que dão o suporte para o turismo acontecer, são envolvidos em relações sociais complexas que modificam de forma dialética o território que se transforma no seu todo ou em partes, o que igualmente irá produzir a transformação do todo. O resultado é que nada será como antes, considerando-se que a dinâmica territorial é sempre criação e recriação de territorialidades.

Agren (apud MARIETTO, 2001, p. 34) mostra três formas “de formular fronteiras em comunidades virtuais” que podem explicar a formação das territorialidades nas análises feitas até agora em relação ao conceito.

- Geográfica: a região em que as pessoas vivem corresponde à fronteira para a comunidade;

- Grupos de interesse: uma rede social com pessoas do mesmo interesse, formando assim uma comunidade. Dessa forma, as fronteiras são estabelecidas por interesses comuns

- Interesses individuais: a rede social é criada tendo como bases interesses individuais, formando uma comunidade. Neste caso, a fronteira é estabelecida por interesses de um indivíduo ou organização.

Exemplos interessantes de iniciativas dessas formas de formulação de “fronteiras em comunidades virtuais” para manter as relações sociais em equilíbrio e intercâmbio contínuo de idéias já podem ser verificados em inúmeros sites turísticos na internet. O portal da Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura 23 - ABETA- pode ser considerado um caso de territorialidade na internet, que busca reforçar o potencial do Brasil para as atividades de aventura. O portal (Figura 2) surgiu a partir de uma lista de discussão na internet, criada em julho de 2003, para intercâmbio entre turistas amantes da aventura, empresários do setor e parcerias com governos. Até a conclusão deste trabalho, a ABETA já contava com 305 associados presentes em 22 estados brasileiros e 22 comissões regionais formalizadas. É um reflexo da mobilização para fortalecer esse tipo de turismo no

23 Disponível em: http://www.abeta.com.br/ 85

Brasil, tendo como base o associativismo e a oferta segura e responsável das atividades. As comissões já estão formalizadas no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Ceará, Chapada Diamantina, Lençóis Maranhenses, Alagoas, Fernando de Noronha, Amazonas, Roraima, Mato Grosso do Sul, Bahia, Minas Gerais, Acre, Socorro, Mato Grosso, Vale do Paraíba, Brotas e Pernambuco.

Figura 2 Página inicial do portal da ABETA

Fonte: www.abeta.com.br

A ABETA em parceria com o Ministério do Turismo e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE - criou o Programa Aventura Segura para qualificação e certificação do turismo de aventura que também tem uma página no portal da associação. Através do portal, a página do Programa divulga eventos, cursos, serviços, notícias sobre as atividades do segmento no Brasil. O internauta pode baixar vídeos e informativos.

Outro caso que se pode descrever como uma formação de territórios ou territorialidades do ciberespaço é o advento do chamado Turismo 2.0, uma adesão do segmento ao conceito da Web 2.0 descrito como a segunda geração da World Wide Web – WWW. Esse conceito reforça a troca de informações e colaboração dos 86

internautas com sites e serviços virtuais. O objetivo é tornar o ambiente online mais ágil e dinâmico e que os usuários sempre colaborem com novos conteúdos. O portal Virtual Tourist 24 (Figura 3) é um exemplo do conceito na prática. Possui mais de um milhão de membros e todo o conteúdo é construído a partir da colaboração de usuários de todo o planeta.

Figura 3 Página inicial do portal Virtual Tourist

Fonte: www.virtualtourist.com

O conteúdo abrange dicas sobre hotéis, restaurantes, dicas de segurança, lugares para ir ou evitar, fotos e vídeos compartilhados. Oferece a possibilidade de contatos com outros usuários. É uma rede social onde todos possuem perfis interativos com mapas dos lugares visitados ou que pretende visitar. A página pessoal do usuário funciona como uma rede social tradicional (Orkut, Facebook, Myspace) com possibilidades de fazer amigos e uploads de vídeos e fotos. É um ambiente virtual que continua crescendo na rede, trazendo inúmeras possibilidades de conexões e o desenvolvimento do turismo em várias localidades.

2.2 A INTERNET

O cenário principal deste trabalho nas reflexões sobre o turismo em rede e seu potencial mercadológico e informacional é a internet. Afinal, como bem coloca

24 Disponível em: http://www.virtualtourist.com/ 87

Sposito (2008, p.50), ela é “a principal concretização da rede”. O termo foi baseado na expressão inglesa INTERaction or INTERconnection between computer NETworks, que pode ser traduzido como Interação ou Interconcecção entre Redes de Computadores. A internet é formada a partir do conjunto de redes de computadores formadas em todo o mundo que compartilham informações e recursos tecnológicos. Pode-se imaginar a internet como uma estrada de informações que conduz dados através de um caminho de milhões de computadores interligados.

Sobre a história e a evolução da internet, que serão relembradas neste trabalho, Castells (2003) desperta a reflexão sobre algo muito peculiar no surgimento e desenvolvimento da internet. A partir das suas origens para a pesquisa militar, a internet se tornou realidade graças à iniciativa e ao espírito de união de várias pessoas entre cientistas e estudiosos que optaram por tornar o conhecimento disponível para todos. Isso foi de primordial importância porque, se a internet tem um incrível poder de alcance, o fato se deve a essa cooperação e parceria na difusão do saber.

Mesmo despertando opiniões opostas e polêmicas, uma coisa pode se afirmar sobre a internet: ela muda o modo como as pessoas se comunicam, afetando a vida de todos e mudando a sociedade. O efeito dessas mudanças é imprevisível porque segundo Castells (2003, p. 10) “a internet é uma tecnologia particularmente maleável, suscetível de ser profundamente alterada por sua prática social, e conducente a toda a série de resultados sociais potenciais a serem descobertos por experiência, não proclamados de antemão”.

De fato, prever o futuro da internet é uma tarefa delicada. Uma dessas previsões, em relação à geografia da internet, comprova o risco das especulações diante das transformações no espaço virtual já que a “era da internet foi aclamada como o fim da geografia” (CASTELLS, 2003, p. 170). Diante de suas características, a internet tem uma geografia muito particular. Ela é formada através de redes e nós que processam e transmitem informações, mas essas mesmas informações são elaboradas por pessoas a partir de lugares específicos. O ciberespaço é uma nova forma de espaço, mas não significa que os lugares possam desaparecer. Afinal, as conexões são realizadas a partir de lugares onde existem pessoas e redes de computadores. A internet cobre distâncias em menos tempo, possui territórios e 88

fronteiras formados a partir de uma rede de usuários com interesses diversos. Na verdade, com a internet a geografia não desaparece, ela é redefinida e traz inúmeras possibilidades de conhecimento. (CASTELLS, 2003).

2.2.1 História e evolução

O primórdio da internet é uma rede de computadores chamada de Arpanet formada e desenvolvida pela Advanced Research Projects Agency (ARPA), em setembro de 1969. A ARPA foi criada em 1958 pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos com o objetivo de utilizar recursos de pesquisa e unir os melhores estudantes e cientistas de computação da época para alcançar superioridade militar em relação à antiga Rússia em plena Guerra Fria. A rede que formou a internet começou com quatro hosts ou quatro nós: Universidade da Califórnia (UCLA), do Stanford Research Institute (SRI), da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (UCSB) e da Universidade de Utah, como pode ser visto na Figura 4, exibida no site Computer History25 que, como um museu online, conta a história da internet através de fotos e diagramas em uma linha do tempo no período de 1962 a 1992.

Figura 4 Diagrama da ARPAnet - 1969

Fonte: www.computerhistory.org/

25 Disponível: http://www.computerhistory.org/

89

Em 1971, como está ilustrado na Figura 5, o número de nós aumentou para 15, formado por centros universitários de pesquisa. Nos anos seguintes, até a sua extinção em 1990, a Arpanet foi se conectando com várias redes de computadores.

Figura 5 Diagrama da ARPAnet - 1971

Fonte: www.computerhistory.org/

O início da década de 1990 foi o marco para o desligamento da internet de seu ambiente militar e para o início dos serviços de provedores de internet que montam suas próprias redes, quando essa tecnologia começa a ser comercializada. Segundo Castells (2003, p.15), o que incentivou o crescimento da internet como rede global de redes de computadores foi

o projeto original da Arpanet, baseado em arquitetura de múltiplas camadas, descentralizada, e protocolos de comunicação abertos. Nessas condições a Net pôde se expandir pela adição de novos nós e a reconfiguração infinita da rede para acomodar necessidades de comunicação.

Além da formação crescente de redes de comunicação e as características de “flexibilidade, ausência de um centro de comando e autonomia máxima de cada nó” (CASTELLS, 2003, p.20), um fato marcante para o desenvolvimento da internet no mundo foi o desenvolvimento da World Wide Web ou WWW, em 1991. Segundo Castells (2003, p. 17), “esta é uma aplicação de compartilhamento de informação, 90

desenvolvida em 1990, por um programador inglês, Tim Berners-Lee, que trabalhava no CERN, Laboratório Europeu para a Física de Partículas baseado em Genebra”.

A WWW é uma forma de organização da informação e dos arquivos da rede e é baseada em três pilares: o protocolo de comunicação HTTP, a linguagem para a construção de páginas na internet HTML e a identificação dos recursos, o URL. O chamado Hypertext Transport Protocol (HTTP) é o protocolo que define como programas/servidores devem interagir para a transferência de comandos e informações. O Hypertext Makup Language (HTML) é a linguagem padrão para elaborar e escrever páginas na web através de informações de vários formatos como sons, imagens, textos e animação. Os programas de edição em HTML estão cada vez mais simples e interativos, tornando mais ágil a construção de novas páginas na rede. O Uniform Resource Locator (URL) é o localizador para identificar a acessar um serviço na web. É formado por quatro partes: o protocolo, servidor ou domínio, caminho e nome do arquivo a ser acessado. É a base para acessar qualquer serviço através do navegador. Todas as criações que formam a base da WWW contribuíram para a criação de inúmeras opções de acesso à rede e isso se reflete nas estatísticas.

Segundo dados já abordados com mais detalhes na Tabela 4 na seção 1 deste trabalho, o número de usuários que acessam a internet no mundo inteiro cresceu 480,4 % do ano 2000 até 2011 (MINIWATTS MARKETING GROUP, 2011). Os números crescem sem parar. O alcance da World Wide Web mostra que o que começou com o ideal acadêmico de cooperação e transformação do mundo através da comunicação é uma rede com um futuro que desafia qualquer previsão econômica, social ou cultural.

2.2.2 Portais, sites e blogs

Quando a World Wide Web ou WWW surgiu em 1991 como a parte multimídia da internet, poucos imaginaram o impacto que iria causar na comunicação diante das várias opções de formatos disponíveis para acesso. A WWW é formada por sites, portais e blogs que ocupam o ciberespaço com várias finalidades.

Segundo Pinho (2003), o site ou sítio “no mundo virtual, é um endereço cuja porta de entrada é sempre sua home page” ou também “um nó na internet”. Os sites 91

marcam presença como nós na rede por onde passam inúmeros fluxos de informações. Eles têm várias facetas. Podem ser mais institucionais como para empresas ou órgãos públicos ou mais informais como os sites pessoais. A forma e o estilo do texto dependem do público que se quer atingir. Os chamados portais são nós para acessos à vários serviços e informações em um mesmo local como webmail, notícias, entretenimento, esportes, sites de humor, jogos, chats, bibliotecas virtuais e lojas virtuais, além de hospedar blogs e fotologs.

Já os blogs ou weblogs, união dos termos ingleses web = teia e log = relatório ou registro, nasceram como diários virtuais ou online para que qualquer pessoa possa expor seus pensamentos e idéias na rede. Os fotologs são os blogs de fotos e imagens. Hewitt (2007) relata que o primeiro blog surgiu em 1999. Com o passar do tempo, eles começaram a chamar atenção quando invadiram a área da política e do jornalismo. Para empresas, órgãos públicos ou simples blogs pessoais, a linguagem é mais informal que a do site. Os blogs também permitem que os leitores deixem comentários sobre os posts, os textos escritos pelos blogueiros. Isso permite maior interação entre os internautas. Hewitt (2007) divide os blogs em duas categorias: “simples agregadores, que apenas indicam aos leitores os links fundamentais, e analistas, que escrevem seus pontos de vista sobre temas ou acontecimentos importantes.” Os blogs sobre turismo podem ser dos dois tipos.

Diante da praticidade e do grande número de informações, a internet se tornou ferramenta fundamental para que o turista possa planejar suas viagens. Existem inúmeras opções de sites e blogs que reúnem comunidades e fóruns onde os internautas podem coletar ou trocar informações sobre a próxima viagem. O lazer e a WWW estão ligados. A internet assume importância na imaginação geográfica do turista em potencial. Além de possibilitar inúmeras conexões para vários lugares ao mesmo tempo, o mundo virtual desperta a vontade do turista em conhecer tudo “ao vivo”.

2.2.3 Comunicação e informação turística na rede mundial

Antes da abordagem sobre as redes de informação na internet, é necessário conceituar comunicação. Existem vários sentidos e usos do termo e existem inúmeras acepções. A palavra comunicação é derivada do termo em latim communicare que significa tornar comum ou associar. Assim, como define Vilalba 92

(2006, p.5-6) comunicação é a “ação social de tornar comum”. O sentido é essencial para tornar ou não essa ação comum, ou seja, informando ou desinformando. Segundo o autor, o sentido é

uma resposta mental a um estímulo percebido pelo corpo e que, na mente, torna-se informação. Por sua vez, essa informação, aplicada de maneira eficaz, transforma-se em conhecimento. Tudo isso acontece por meio do processo de comunicação, em que o sentido é formado, apresentado e negociado. O sentido da comunicação implica em romper isolamentos e a idéia de realizar algo em comum. O estabelecimento de relações acaba provocando o compartilhar de consciências que buscam uma ação em comum, intercâmbio de idéias ou até a discussão entre diferentes pontos de vista sobre um determinado objeto. Agora, classificar uma comunicação de informação exige outra análise porque se pode comunicar sem informar. Martino (2007, p. 17) define que informação é

uma comunicação que pode ser ativada a qualquer momento, desde que outra consciência (ou aquela mesma que codificou a mensagem) venha resgatar, quer dizer ler, ouvir, assistir... enfim decodificar ou interpretar aqueles traços materiais de forma a reconstituir a mensagem. Em outras palavras, a informação é o rastro que uma consciência deixa sobre um suporte material de modo que outra consciência pode resgatar, recuperar, então simular, o estado em que se encontrava a primeira consciência. O termo informação se refere à parte propriamente material, ou melhor, se refere à organização dos traços materiais por uma consciência, enquanto que o termo comunicação exprime a totalidade do processo que coloca em relação duas (ou mais) consciências. Em seu sentido etimológico, “informar” significa dar forma a. A partir dessa afirmação pode-se dizer que a comunicação pode existir, mas só há a informação quando quem recebe a mensagem consegue absorver o sentido. Uma página de um livro é informação para um ser humano, mas não para um cão. Por outro lado, a mesma página de um livro também pode ser totalmente sem sentido para um analfabeto, pois ele não consegue absorver o conteúdo da mensagem. As nuances entre informação e comunicação também são sentidas e fazem parte do ciberespaço. Entre os nós das redes pode existir relação entre consciências ou não. Afinal, com tantos sites e blogs, a comunicação pela internet traz inúmeras mensagens através de arquivos de áudio, vídeos, fotos e textos. Essas opções podem ser informações valiosas para uns e completamente sem importância ou sentido para todos. Mas a internet trouxe com ela uma nova forma 93

para trabalhar a comunicação e a informação: o advento do hipertexto e do hiperlink e o conceito da não-linearidade.

O hipertexto é o texto feito para a internet com um formato que possibilita ao internauta ou usuário o acesso instantâneo, através dos hiperlinks ou links, a outro hipertexto ou arquivos de áudio e vídeo. Quando uma palavra é destacada em cor diferente em um hipertexto é um link que se transforma em um portal para outra fonte de informação. O texto para a internet permite conexões infinitas e aí se descobre a não-linearidade. Na informação não-linear, de acordo com Pinho (2003,p.50),

o hipertexto permite que o usuário se movimente mediante as estruturas de informação do site sem uma seqüência predeterminada, mas sim saltando entre os vários tipos dede dados de que necessita. A principal característica do hipertexto é a sua maneira natural de processar informação, funcionando de uma maneira parecida com a mente humana, que trabalha por associações de idéias e não recebe a informação linearmente. Nesse sentido, as narrativas mudam com as novas tecnologias da informação. Kujawski (2004, p.99) aborda essa transformação, comparando o hipertexto, que ele também chama de cibertexto, aos labirintos. “O cibertexto é como um jardim com vários caminhos que se bifurcam, como as ficções de hipertexto. Nelas, os leitores se comportam como se estivessem num labirinto sem saídas, sem pontos de referência ou um centro delimitado.” De acordo com Leão (2004), essa questão redefine as cronologias das narrativas, que seguem novas seqüências. Através da não-linearidade, o internauta deixa de ser um leitor passivo e passa a participar de todo o processo informativo e da absorção da mensagem, inclusive descobrindo sentidos infinitos durante a navegação no ciberespaço.

A humanidade na idade antiga, lidando com as mensagens na pedra ou em terracota, nunca poderia imaginar o alcance que a comunicação e a informação atingiram e ainda de deverão conquistar através de um caminho longo na história. Mesmo sendo dependentes de energia para se manter, o oposto das formas antigas de transmissão de mensagens, os meios técnicos criam novos materiais e tornam a circulação da informação mais fácil e rápida através das novas tecnologias, atingindo distâncias além da imaginação. Como diz Santos (2004, p. 221), ”nunca na história do mundo houve um subsistema de técnicas tão invasor. Nos períodos 94

anteriores, nenhum deles se apresentou com tal força de difusão e tal capacidade de se impor e espalhar quanto agora.”

O turismo é uma atividade que tem muita possibilidade de consolidação e fortalecimento, pela peculiaridade que envolve enquanto contribuinte da economia local, se tiver a competência de utilizar a seu favor as novas tecnologias de informação e comunicação e do surgimento das redes de computadores em escala mundial que transformam as relações das pessoas com o espaço na vida social. Conhecimento e informação são ferramentas que podem determinar o futuro das organizações tornando-as mais competitivas ou não em várias atividades inclusive o turismo (VARUM; et al., 2011).

O chamado e-turismo já uma realidade no segmento. Através das novas tecnologias, o turista pode visitar um atrativo turístico e, caminhando com fones de ouvido, um tablet, um smartphone com acesso à internet, seu olhar percorre pelo espaço real, mas através do espaço virtual pode saber todas as informações sobre um lugar, tendo várias percepções. Por exemplo, durante uma caminhada pelo centro antigo de Cuiabá, em Mato Grosso, o turista assimila o espaço na atualidade, mas pode perceber mais através do ciberespaço, vendo fotos, filmes e documentos antigos através do celular ou computador. Na sua mente, pode imaginar os sons e os cheiros da época, como as pessoas viviam, tornando o passeio mais interessante. Guimarães & Poggi e Borges (2008, p. 29) apresentam os principais motivos pelos quais a atividade turística é tão adequada para funcionar na internet.

Há uma grande dependência e um uso intensivo de informações; as informações em tempo real são muito importantes para o planejamento do turista; a disponibilidade da rede durante 24 horas por dia, todos os dias, atende aos requisitos de convivência com os turistas; a internet trouxe grande facilidade de tradução de páginas para outros idiomas. O turista tem uma ansiedade natural em saber mais sobre o lugar escolhido para suas férias ou encontros de negócios e participação em eventos. Nesse sentido, a internet é de grande ajuda. Logicamente que, em alguns casos, a comunicação apresenta a desinformação ou informações desencontradas, o que dificulta a percepção do turista. Mesmo assim, o setor turístico é um grande assimilador de novas tecnologias diante da necessidade de transmitir fluxos de informações de forma ágil e organizada, em especial no setor empresarial na parte de agências de viagens e empresas aéreas, que foram as pioneiras em oferecer 95

vendas de passagens online, reservas de hotéis e aluguel de veículos. A web apresenta vantagens em relação aos outros canais porque permite a visualização das informações de maneira mais seletiva e através dos hiperlinks o turista define o que quer fazer para que a experiência da viagem atenda a todas as expectativas.

2.2.4 Arquitetura da informação e usabilidade nos sites de turismo

Os projetos e a elaboração de sites ou blogs de turismo necessitam de estratégias que nasceram com o aparecimento e crescimento de novas tecnologias da comunicação e informação. As principais estratégias são a arquitetura da informação e a usabilidade. O ciberespaço tem um número infinito de sites, blogs, portais e fotologs, mas para que eles possam cumprir com seu papel informativo, oferecendo serviços ágeis e de qualidade precisam apresentar vantagens e serem interativos com seus usuários.

As considerações de Siegel (1997 apud PINHO, 2003, p. 129) sobre as estratégias e táticas na construção de um site de sucesso mostram a importância do equilíbrio entre quatro valores estratégicos e quatro valores táticos. Segundo o autor, os valores estratégicos são: identidade (construção da marca), impacto, audiência e competitividade. Já os valores táticos são os imediatamente visíveis, como design, conteúdo, produção, utilidade. A identidade é composta de elementos que ajudem o internauta saber que está um determinado site a partir de qualquer página acessada. O impacto é atingido quando o site está sempre colocando a disposição várias novidades que possam gerar comentários e mais acessos. A audiência é o resultado do quanto o site é capaz de satisfazer os internautas. Através de características e serviços oferecidos que sempre colocam o site a frente dos outros, ele atinge um alto grau de competitividade.

Quanto aos valores táticos, o design é a embalagem do site, o visual oferecido para atrair o internauta. O conteúdo é o produto dos redatores e editores de material, que sempre deve estar atualizado. Uma boa produção corresponde ao bom uso da linguagem HTML. A utilidade corresponde aos serviços oferecidos ao internauta como enquetes, preenchimento de fichas, formulários, download de documentos e imagens.

A arquitetura da informação ajuda a colocar em prática esses valores. Pinho (2003, p. 134) a define como a “estrutura de um site em termos de navegação, 96

hierarquia de conteúdo e disposição de elementos interativos”. O objetivo é tornar a navegação mais ágil e interativa para que o internauta encontre o que quer rápido sem muitos cliques. Bicudo (2004, p. 102) diz o que se espera da arquitetura da informação na era digital:

viabilizar a fruição do conteúdo (sintetizado, mediado), estruturando, de modo semioticamente adequado, texto, som (voz, ambiente, música, ruído), imagem (estática, dinâmica), gerados dinamicamente (ponto a ponto, banco de dados, inteligência artificial, comunidade virtual) em tempo real (ou offline), numa estrutura não-linear e interativa, fazendo uma metáfora com o processo cognitivo do ser humano. Pinho (2003, p. 136) ainda ressalta que “a combinação adequada entre a arquitetura da informação (a estrutura lógica) e a interface (significado visual) é determinante para a usabilidade (usability) do site. O objetivo é fazer com que o usuário possa “navegar” pelo site de forma ágil, fácil e agradável”. Para manter os padrões de navegabilidade de um site, se deve atentar para a “utilidade, facilidade de uso e facilidade de aprendizagem e apreciação.” Estas são questões básicas para que um site tenha “usabilidade” na execução de tarefas e seja simples para o internauta.

O site Usabilidoido26, criado no Paraná, estado do Sul do Brasil, pelo professor, pesquisador e consultor em Design de Interação e um dos fundadores do Instituto Faber-Ludens de Design de Interação, Frederick Van Amstel, mostra diversos textos e dicas sobre o assunto. Uma delas está página do site sob o título de “Conscientização sobre Usabilidade”. Segundo o autor,

a primeira lição sobre usabilidade que todo o profissional que lida com internet, independente se é programador, designer ou gestor é a seguinte: Eu não sou o usuário. Ou seja: compreender que cada pessoa navega diferente na internet é o primeiro passo para lidar seriamente com a usabilidade. Cada internauta tem suas preferências na hora de navegar por um site. No caso dos sites turísticos, alguns preferem ver as fotos e os vídeos, outros buscam os preços dos pacotes para escolher seus destinos. Outro grupo prefere acessar a comunidade virtual para saber a opinião de outros internautas sobre o lugar que vai visitar. Nesse sentido, os administradores do site devem sempre monitorar os acessos, a procedência deles e acompanhar de perto as preferências do público- alvo, nesse caso os turistas e outros atores sociais envolvidos na atividade.

26 Disponível em: http://usabilidoido.com.br/ 97

2.2.5 A WWW na promoção do turismo

Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), com dados atualizados até a conclusão deste trabalho, a indústria turística mundial fechou o ano de 2010 com 935 milhões de turistas, 6,7% a mais do que em 2009, compensando a queda de 4% sofrida há um ano, e superando em 2,5% o nível máximo anterior à crise. Este número representa 58 milhões de turistas a mais do que em 2009 e 22 milhões a mais do que em 2008, ano no qual foram registrados 913 milhões de deslocamentos, o nível máximo alcançado até então. Nesse cenário de crescimento, as novas tecnologias de informação e comunicação trazem uma série de opções para o planejamento e divulgação turística via internet. As mudanças geradas a partir do advento da web criaram novos ambientes para promover o turismo para que empresas e governos possam interagir com os clientes e a população. Afinal, a WWW é muito ligada às atividades de lazer e provoca a imaginação do turista, despertando a curiosidade através do visual e das possibilidades de conhecer novas culturas. Segundo Sarmento (2004, p. 124), “a WWW, devido as suas características multimídia e ao associado domínio do visual, pode assumir uma importância notável na modelação das imaginações geográficas de potenciais turistas”.

Um exemplo é a pesquisa de Bordoni (2011) que busca comprovar que as TICs são válidas e importantes para a criação de uma infraestrutura para promover, desenvolver e explorar o turismo cultural no território Lácio na região da Itália central, onde está situada a capital Roma. É o lançamento de um debate sobre a questão da estruturação integrada para a partilha e reutilização da informação cultural e do conhecimento que já vem sendo objeto de pesquisas na Europa há vários anos. A proposta destas pesquisas é integrar o acesso às bases de dados de diversos setores da cultura para a criação de bibliotecas digitais europeias. Segundo ela (p.101),

These experiences demonstrate the new technologies importance in creating spaces that also allow tourists to be accompanied along a path of orientation which becomes all the more important, the more differentiated, and varied the cultural background of origin. The challenge lies in communicating to a mass market without trivializing the content of the cultural assets that our area boasts. Os sites turísticos podem funcionar com vários focos de trabalho como ambientes de negócios, lojas e comunidades virtuais e disseminadores de políticas 98

públicas do turismo pelos governos. A interatividade possibilita contatos com vários públicos, mas o planejamento é essencial para organizar e atualizar os serviços e informações que estarão disponíveis; criar padrões de navegabilidade; criar conteúdos para públicos específicos; além de criar e organizar o design e definir os objetivos do site. Limeira (apud GUIMARÃES E POGGI E BORGES, 2008, p. 110- 11) cita alguns critérios para os negócios turísticos na internet, mas que também acabam sendo essenciais para o sucesso de sites de governos, comunidades virtuais e blogs.

- Acessabilidade: aspecto que reúne elementos que permitem o primeiro contato com o usuário como, por exemplo, a presença dos sites de busca (Google, Yahoo Brasil, MSN, entre outros). A associação do site com determinadas palavras-chave é fundamental para que os turistas encontrem os sites dos destinos ou dos serviços os quais estão procurando.

- Navegabilidade: aspecto relacionado aos possíveis percursos do usuário nas páginas, definindo os caminhos pelos quais deseja navegar.

- Interatividade: facilidade que permite ao usuário interagir com o conteúdo, além da possibilidade de deixar opiniões.

- Multiplicidade: disponibilização de vários elementos estimuladores para a transmissão da informação, tais como textos, sons, vídeos, imagens, etc.

- Conectividade: apresentação de links com portas que possibilitam novas narrativas sobre o assunto apresentado. Em portais de destinos turísticos, por exemplo, é interessante dispor de links de fornecedores turísticos, como hotéis, atrações, etc.

-Tratamento de erros: instrumentos para sanar problemas funcionais da home page e garantir uma utilização adequada pelo usuário. O segredo é utilizar todas as possibilidades tecnológicas possíveis, atraindo o público. Nesse sentido, lembrando novamente o potencial do uso da internet no turismo, pode-se citar Rodrigues (2006, p.301) que ressalta o seguinte:

Propor uma análise sobre o “fazer turismo” deve iniciar com a tentativa de desvelar as representações sociais que povoam o imaginário do turista, de modo a motivá-lo de forma poderosa a perseguir a fantasia de experimentar algo diferente do seu modo de vida cotidiano, para isto investindo principalmente tempo e dinheiro. Nesse cenário, a informação disseminada de forma responsável e consciente através das novas estratégias de marketing e comunicação que, aliadas às novas tecnologias, podem ser utilizadas além da captação da clientela e dinamização da estrutura de apoio de bens e serviços. Podem ser essenciais também na proteção ao meio ambiente; ao incentivo ao turismo cultural e rural, importantes no mercado 99

atual; no apoio ao turismo social através da assistência aos trabalhadores, deficientes físicos, aos representantes da terceira idade e jovens.

Para se ter uma idéia do potencial da internet, o Ministério do Turismo 27 realizou em 2009 uma pesquisa sobre os Hábitos de Consumo do Turismo. O levantamento foi realizado pelo Instituto Vox Populi a pedido do Ministério através de pesquisa por telefone com 2.514 entrevistados de 11 capitais do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Recife, Fortaleza, Brasília e Goiânia. Os entrevistados, de acordo com a metodologia da pesquisa, “foram divididos em três grupos: clientes atuais (que fizeram algum tipo de viagem nos últimos dois anos); clientes potenciais (que não viajaram nos últimos dois anos, mas pretendem fazê-lo nos próximos dois) e os não clientes (que não viajaram e não pretendem viajar nos próximos dois anos).” Segundo o estudo, os amigos e a internet são as principais fontes de informação sobre as viagens para 80,6% dos clientes atuais e 78,6% dos clientes potenciais.

A internet é um espaço propício para incentivar e divulgar os pontos mais positivos nas novas tendências do turismo contemporâneo. Rodrigues (2006, p. 299) enumera algumas que envolvem “as estratégias de cooperação, alianças e parcerias nas destinações para suprir bens e serviços que estariam a cargo de pequenas e médias empresas”, que nesse caso podem sempre dar prioridade as locais. Outro ponto importante é o “maior comprometimento com a conservação ambiental e com as comunidades locais”, através de uma gestão mais participativa. “A adoção de códigos de certificação, de ética e da criação de incentivos à fidelização, com acompanhamento pós-viagem” também fazem parte de boas iniciativas que podem ser disseminadas na rede. Peres, Correia e Moital (2011, p.134) são autores que confirmam a importância da tecnologia para tornar a experiência do turista mais rica, criativa e inovadora porque,

ultimately, developing a high-quality mobile technology experience will not only improve the tourist’s knowledge and experience of the destination, but also enhance its innovative and creative image among potential and actual tourists. As tendências e perspectivas do e-turismo mostram um cenário que oferece oportunidades e desafios para as organizações que atuam no segmento. As novas

27 Disponível em: http://www.turismo.gov.br 100

tecnologias de comunicação e informação evoluem em uma rede com incontáveis nós. Com as TICs, o turismo contemporâneo ganha um diferencial onde cada turista conectado tem acesso aos seus sites preferidos e “deve ser considerado único, a partir de sua vivência, suas experiências, motivações e desejos” (GUIMARÃES E POGGI E BORGES, 2008, p.119).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As novas tecnologias da comunicação e informação (TICs) oferecem alternativas para a promoção do turismo na internet, que envolvem tanto a técnica quanto o conhecimento cultural, social, político e econômico de cada localidade. Esse conhecimento é essencial para tornar a comunicação entre as redes mais ágil e eficaz. Ou seja: a comunicação que realmente informa e seja clara para o receptor da mensagem. Os acessos ao conhecimento e à informação são relevantes para a atração de capitais, mas de forma que todos os atores sociais possam participar do processo sem trazer prejuízos uns aos outros e, principalmente, ao meio ambiente que é o principal responsável por atrair os turistas e trazer os recursos necessários para o crescimento e o desenvolvimento sustentável em qualquer região.

Na formação de um território e na administração das territorialidades, informação é poder. As relações de poder em um mundo tomado pela técnica mudam. O poder vigia e age em tempo real, porém também é vigiado nos nós formados pelos atores sociais nas redes. A partir das discussões teóricas neste trabalho, os planos de comunicação e marketing podem contribuir para tornar o planejamento turístico mais eficaz que vai além de estimular o processo fantasioso do turismo imaginário, no qual o turista apenas consome o produto vendido sem critério, deixando de levar em conta os que vivem no local. Apesar das críticas que possam advir, pode-se afirmar que não é possível obter desenvolvimento, no sentido mais amplo do entendimento do que possa ser, sem o fortalecimento e/ou consolidação de uma economia sustentável.

O que a internet irá se tornar ainda é um mistério já que as mudanças são tão rápidas que é um risco fazer previsões sobre qualquer coisa relativa à rede. Por outro lado, pode-se considerar que as ferramentas oferecidas pela internet, se bem utilizadas, podem ser de fundamental importância para criar um turismo muito além do que conhecemos atualmente, onde o turista terá a sua disposição informações e 101

serviços que farão de sua viagem um momento inesquecível na relação entre o espaço real e o ciberespaço. Os dois se completam e podem proporcionar ao turista uma viagem mais completa e cheia de sentido.

102

3. O POTENCIAL DOS SITES DOS GOVERNOS DO BRASIL E DA BOLÍVIA NO PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

INTRODUÇÃO

A internet é uma ferramenta poderosa para a formação e disseminação de redes turísticas conectadas através das tecnologias de informação e comunicação (TICs). Afinal, o turismo é uma atividade totalmente relacionada com os processos comunicacionais porque depende de divulgação e promoção de forma planejada e responsável para crescer. Empresas ligadas as atividades turísticas nas áreas de hospedagens, transportes, gastronomia, por exemplo, utilizam a rede para a promoção da atividade. Os governos também utilizam a internet para divulgar os atrativos turísticos em suas localidades, assim como as políticas públicas do turismo.

Este trabalho busca detectar e analisar as potencialidades da rede de informações turísticas nos sites dos governos do Brasil e da Bolívia na internet. Através dos sites dos governos são formadas redes de turistas, empresários e representantes do poder público que divulgam suas ações que são aplicadas nesses países como instrumentos de desenvolvimento regional. Para isso, é necessário estudar o panorama das redes de comunicação e informação desses países de culturas e economias diversas.

A ideia para esta pesquisa partiu da concepção da Rota Pantanal-Pacífico. É um projeto de integração turística, concebido em 2007, pelo Instituto Pantanal Pacífico (IPP). O IPP é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, sediada em Cuiabá, capital de Mato Grosso. A proposta busca tornar possível a integração sul-americana através do turismo. Nesse sentido, este trabalho para a análise das potencialidades das redes turísticas do Brasil e da Bolívia pode ser um ponto de partida para viabilizar a integração entre os países da Rota.

Os sites selecionados foram os do Ministério do Turismo do Brasil, Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo de Mato Grosso, Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul, Ministerio de Culturas de Bolivia, Gobierno Autónomo Municipal de La Paz e do Gobierno Municipal de Copacabana. Esta pesquisa, através da observação de conteúdo dos sites dos governos e do monitoramento dos acessos, analisa esses dados, buscando entender como as redes estão se 103

formando e o papel delas na promoção do turismo e no desenvolvimento das regiões.

A primeira parte do trabalho apresenta a metodologia para a escolha das fontes de dados para a pesquisa e dos sites pesquisados. São apresentadas as principais potencialidades do Brasil e da Bolívia com suas belezas naturais e atrativos turísticos, sendo alguns já considerados patrimônios da humanidade. Em seguida, é apresentado um panorama das TICs nas Américas como um todo, na América do Sul e no mundo, mostrando o crescimento do uso dessas tecnologias. Após esse panorama, o trabalho apresenta e analisa os números relativos às redes de comunicação e informação especificamente no Brasil e na Bolívia, buscando entender e dimensionar o potencial dessas redes nos ciberespaços turísticos, em especial nos sites dos governos. Na apresentação dos números de cada país, o objetivo não é comparar os dois, mas fazer um levantamento da realidade atual de cada um em relação à internet e as TICs.

Os ciberespaços turísticos dos governos são analisados a partir dos seis sites escolhidos para este trabalho. Através da observação desses sites, foram analisados a arquitetura da informação, a usabilidade e a procedência dos acessos para avaliar o alcance das redes dos governos onde se formam espaços, territórios e territorialidades virtuais, mas que são locais de relações reais entre os atores sociais.

As abordagens de conceitos e ideias sobre o planejamento do turismo também fazem parte deste trabalho para mostrar como ele é importante na elaboração e aplicação das políticas públicas de turismo no Brasil e na Bolívia. Nesse sentido, também se destaca a estratégia de comunicação na internet. É o momento em que se reconhece que é preciso estudar essas novas dimensões que mudam a forma dos governos divulgarem o turismo.

O método utilizado neste trabalho foca suas pesquisas nas redes de informação turística no Brasil e na Bolívia através de sites e portais na internet. Para ilustrar as análises sobre o ciberespaço do turismo nos dois países, o potencial de conexão e do alcance das redes, foram escolhidos como exemplos seis sites e portais dos governos. A metodologia utilizada foi a observação informal de alguns critérios de organização dos sites. Para avaliação desses critérios foram levadas em 104

conta as considerações de Siegel (1997 apud PINHO, 2003, p. 129) sobre as estratégias e táticas na construção de um site de sucesso, envolvendo arquitetura da informação e usabilidade, conceitos já definidos na seção 2 deste trabalho.

A seleção dos sites também foi baseada nos fatores abordados por Egler (2007, p. 35) na avaliação de sites com ações voltadas para a gestão democrática das cidades. A análise da autora se encaixa com a avaliação dos sites turísticos apresentados neste trabalho já que “finalmente, os programas de ação, os projetos desenvolvidos e a missão enunciada nos sítios nos permitiram reconhecer se, de fato, essas redes tinham sua ação voltada para a gestão democrática da cidade. Neste enorme universo disponível de múltiplas organizações existentes, era necessário identificar apenas aquelas instituições que, realmente, orientam suas ações para a gestão democrática da cidade e recorrem às tecnologias para articular suas ações.”

Os sites turísticos dos governos no Brasil e da Bolívia foram escolhidos diante de sua importância no planejamento estratégico do turismo e do potencial em atender a todos os públicos, buscando conexões e parcerias entre vários atores sociais para o desenvolvimento regional das localidades em seus respectivos países. Foram selecionados: os sites dos governos federais como Ministério do Turismo do Brasil e do Ministerio das Culturas de Bolivia que, em seu organograma, abrange as unidades de gestão do turismo nesse país; os sites dos governos estaduais em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Brasil, por serem estados que são portas de entrada para a Bolívia, além do site da cidade de Copacabana, situada em território boliviano. A proposta não é fazer uma comparação entre os dois países, mas realizar um levantamento da realidade atual.

As fontes para os dados estatísticos sobre fluxos turísticos e tecnologias de informação e comunicação foram os sites: Ministério do Turismo e Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil; Instituto Nacional de Estadística (INE), na Bolívia; Miniwatts Marketing Group, uma empresa de consultoria que atualiza constantemente as estatísticas sobre a internet de 233 países; Teleco Informação e Serviços de Telecomunicações Ltda.(TELECO), consultoria em telecomunicações de São Paulo que publica relatórios sempre atualizados sobre o setor no Brasil e no mundo; Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação 105

(CETIC.br), um departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), responsável pela coordenação e publicação de pesquisas sobre a disponibilidade e uso da Internet no Brasil. Esses estudos são referência para a elaboração de políticas públicas que garantam o acesso da população às Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), assim como para monitorar e avaliar o impacto socioeconômico dessas tecnologias.

O NIC.br é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil. A variedade de fontes proporcionou um volume de material rico para análise e auxiliou, principalmente na apuração de informações da Bolívia, pois os dados no INE e outros sites do governo, estavam desatualizados. As últimas informações disponíveis na rede sobre os acessos a internet na Bolívia eram do ano de 2007.

O site da União Internacional de Telecomunicações (UIT), organização das Nações Unidas para tecnologias de informação e comunicação, também foi uma fonte utilizada sobre a evolução do uso das TICs. Uma particularidade sobre os dados disponíveis da instituição é que o método utilizado divide os países pesquisados em duas designações: desenvolvidos e em desenvolvimento. De acordo com a UIT, essas designações destinam-se a “conveniência estatística e não implica qualquer suposição sobre filiação política ou outras de países e territórios pelas Nações Unidas” e ainda “não expressam necessariamente um juízo sobre o estágio avançado por um determinado país ou região no processo de desenvolvimento.” As diferenças entre países desenvolvidos e em desenvolvimento envolvem características sociais e econômicas, que costumam ser analisadas por medidas estatísticas como o nível de industrialização, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é determinado através da taxa de analfabetismo, expectativa de vida e qualidade de vida (PIB per capita) e a pirâmide etária, que mostra a distribuição da população de acordo com sua respectiva faixa etária.

Para a elaboração do mapa das redes formadas através das conexões de informações turísticas dos governos foram utilizadas variáveis como número de visualizações em cada site e a procedência dos acessos para avaliar quais os países que acessaram o determinado site em um período de tempo. O tipo de mapa apresentado neste trabalho foi escolhido entre uma classificação dos mapas do 106

ciberespaço apresentados por Leão (2002, p. 21-22). A opção foi pelos mapas de visualização da internet como um todo que apresentam os nós e as conexões entre as redes, aplicando esses dados através de uma representação cartográfica tradicional. O objetivo é tornar o mapa mais simples de ser visualizado e analisado por leitores e pesquisadores.

As informações sobre as redes de informação formadas através da procedência de acessos aos sites foram baseadas nos dados coletados pelos administradores que cadastraram os sites no Google Analytics28, um serviço oferecido pelo Google para o monitoramento de sites e portais, que fornece informações e estatísticas como por qual navegador um usuário visitou o site, quanto tempo ele navegou, em qual país ele se encontra. Fornece ainda recursos que podem mostrar quais os pontos mais acessados do site e em qual nó da rede se apresentou mais desistência de acessos. É usado para os administradores avaliarem e mensurarem resultados e fazerem ajustes para melhorar o desempenho do site. Para a confecção do mapa, foram incluídos os países que lideravam a lista com mais de 90% de acessos em relação ao número de visitas, pois, segundo os administradores eles aparecem porque registram visitas mais constantes aos sites. Além dessa ferramenta do Google, foi utilizado o Sistema de Informação Geográfica (SIG) que, a partir dos dados do monitoramento dos sites, mostra como as redes de informação turística estão distribuídas no mapa mundi que é o resultado visual deste trabalho.

Os períodos de tempo disponíveis das visitas e procedência de acessos variam de site para site porque cada administrador do sistema começou o mapeamento em épocas diferentes ou por problemas técnicos nos servidores perderam os dados necessários para o mapeamento. A entrevista, despadronizada ou não estruturada (MARCONI E LAKATOS, 2010), foi um instrumento de pesquisa para saber os motivos dessa variação. Através da conversação informal, via canais de conversa como Skype, Google Talk ou Messenger, os administradores dos sites falaram sobre o assunto e enviaram as informações solicitadas. Mesmo assim, essa variação possibilitou o surgimento de novos questionamentos que contribuíram para enriquecer as recomendações e considerações finais do trabalho.

28 Disponível em: http://www.google.com.br/ 107

As maiores dificuldades para o mapeamento partiram de dois sites. Os administradores e o departamento de comunicação, responsáveis pela atualização do conteúdo do site da Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul, admitiram não utilizar sistemas de monitoramento, mas que estão construindo um sistema próprio, forneceram dados de apenas um mês: março de 2011. No segundo, o do Ministerio de Culturas de Bolivia, os administradores nem responderam à solicitação de dados após várias tentativas de contato. Os dois casos mostram que, como Manuel Castells aborda em seu livro “A Galáxia da Internet”, com o texto sob o título “A rede é a mensagem”, apesar da flexibilidade da rede, ela traz algumas dificuldades “em coordenar funções, em concentrar recursos em metas específicas e em realizar uma dada tarefa, dependendo do tamanho e da complexidade da rede.”

O desencontro de períodos de tempo entre os dados fornecidos pelos administradores dos sites foi um dado novo que também serviu de base para análises sobre a importância e a necessidade da elaboração e prática de novas formas de gestão dos sites nas redes dos governos. Os obstáculos encontrados comprovam que, como justifica Sposito (2008, p. 83),

a fugacidade da informação em meio virtual torna difícil cruzar os dados da geografia da internet. [...] Por um lado, temos a formação de redes que se consolidam e são fundamentais para a circulação da informação, e, por outro, o volume de informações e seu fluxo são tão grandes que a efemeridade é uma característica dessa mesma geografia.

Diante dessa realidade, o desafio dos estudiosos e pesquisadores da geografia da internet é criar e adaptar metodologias de trabalho, acompanhando o processo evolutivo da Geografia do Ciberespaço, essa nova vertente da Geografia. A partir de conhecimentos de métodos científicos já reconhecidos, é essencial buscar alternativas para estudar essa área tão rica para a pesquisa das redes.

3.1 O PANORAMA DO TURISMO NO BRASIL

Diante do enfoque deste trabalho, as abordagens sobre as potencialidades turísticas do Brasil estão centradas nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A escolha se baseou na proximidade geográfica que proporciona, apesar das diferenças culturais e sociais entre Brasil e Bolívia, possibilidades de intercâmbios em projetos de turismo integrado, visando o desenvolvimento regional. Um exemplo é o Frontur, um programa de Turismo de Fronteiras do Ministério do Turismo, cuja 108

portaria de criação foi publicada dia 29 de agosto de 2011. O Frontur começou suas atividades em 2003 como um seminário itinerante anual. Visa melhorar a integração entre os países do MERCOSUL e trabalha, sobretudo, para o incremento do debate e das ações públicas em torno do fluxo de pessoas nas fronteiras brasileiras. Busca promover avanços para a consolidação do turismo no ambiente de fronteiras.

De acordo com o programa, o Frontur tem como objetivo também auxiliar na preparação dos espaços fronteiriços para os megaeventos de 2014 e 2016 a exemplo da Copa do Mundo e Olimpíadas, além de servir como base para a criação de levantamentos sobre o fluxo de estrangeiros nos estados, destinos e objeto da viagem, oferta turística em termo de destino, roteiro, segmento, entretenimento, lazer e outros. Essa cooperação pode ser disseminada através de redes de informações turísticas diante de inúmeras possibilidades que podem ser viabilizadas com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).

Os pontos de partida no Brasil para a formação de redes de informação com a Bolívia estão no chamado Centro Geodésico do Continente Sul Americano, que envolve os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Esses territórios fazem parte da região Centro-Oeste e correspondem à área geográfica dos Cerrados com o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães e o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, o município de Bonito e o Parque Nacional do Pantanal Mato- grossense, reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como patrimônio natural da humanidade e área integrante da Reserva da Biosfera.

O Brasil é um potencial turístico diante da sua diversidade em atrativos naturais e culturais. De acordo com dados do Anuário Estatístico do Ministério do Turismo do Brasil (2011), tendo como ano base 2010, a receita cambial gerada por turistas estrangeiros em todo o mundo subiu de US$ 852.400 milhões em 2009 para US$ 919 milhões em 2010. No Brasil, esses números chegaram a US$ 5.304,6 milhões e US$ 5.918,8, respectivamente. Nesse sentido, pesquisas sobre novas alternativas para incrementar o planejamento estratégico do turismo para atrair mais turistas são essenciais para incrementar esses números. 109

O Anuário do Ministério registra o volume de turistas do mundo inteiro que vieram ao Brasil nos anos de 2009 e 2010 com base em dados do órgão e do departamento da Polícia Federal. Na Tabela 1, está o registro da entrada de turistas por continentes.

Tabela 1 Chegada de turistas ao Brasil por continentes – 2009 - 2010 Continentes 2009 2010 Variação América Central e Caribe 31.821 38.933 22,3% América do Norte 734.998 773.181 5,2% América do Sul 2.095.352 2.384.186 13,8% África 78.110 83.688 7,1% Ásia 200.850 220.085 9,6% Europa 1.612.665 1.614.864 0,1% Oceania 48.295 46.302 - 4,1% Países não especificados 126 140 11,1% Total 4.802.217 5.161.379 7,5% Fonte: Anuário Estatístico 2011 – Ministério do Turismo

De acordo com os números na tabela, a América do Sul, que abriga o Brasil e a Bolívia em seu território, é o continente que está em primeiro lugar como emissor de turistas para o Brasil, registrando mais de 2, 38 milhões de visitantes em 2010, o que representa aumento de 13,8% em relação ao ano anterior. A proximidade geográfica está entre os principais fatores para este resultado. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), 80% do turismo internacional é realizado entre os países próximos ou que compartilham limites geográficos. No Brasil, a entrada de turistas por meio de fronteiras representa 39% do movimento turístico. Todos os continentes registram aumento no número de visitantes no período da pesquisa. Entre eles, apenas a Oceania registrou queda, 4,1%.

O aumento e a queda no número de visitantes também dependem do alcance do marketing turístico brasileiro em relação ao dos outros países, além de questões econômicas e culturais particulares de cada país em todo o mundo. Os visitantes escolhem seus destinos por vários motivos que incluem a situação econômica de cada um, ou seja, se eles têm recursos financeiros para determinadas viagens. A variação dos números em relação aos outros continentes pode ser avaliada diante dos trabalhos de cooperação e divulgação do turismo entre esses países. No caso do Ministério do Turismo e o Instituto Brasileiro do Turismo (EMBRATUR), existem as ações promocionais em feiras e exposições internacionais, que sempre reúnem os expositores, viajantes e compradores do mercado apresentando uma gama de 110

produtos, bens e serviços de viagem de diversos segmentos, além do programa Frontur já citado anteriormente para a promoção do turismo entre países fronteiriços.

Na Tabela 2, está contabilizado o número de turistas dos países da América do Sul que visitaram o Brasil nos dois anos da pesquisa.

Tabela 2 Chegada de turistas da América do Sul ao Brasil - 2009 - 2010 Países 2009 2010 Variação Argentina 1.211.159 1.399.592 15,56% Bolívia 83.454 99.359 19,06% Chile 170.491 200.724 17,73% Colômbia 78.010 85.567 9,69% Equador 26.220 23.095 -11,92% Guiana Francesa 15.152 12.592 -16,90% Paraguai 180.373 194.340 7,74% Peru 78.975 81.020 2,59% Guiana 4.594 5.236 13,97% Suriname 3.626 2.930 -19,19% Uruguai 189.412 228.545 20,66% Venezuela 53.886 51.186 -5,01% Total América do Sul 2.095.352 2.384.186 13,78% Fonte: Anuário Estatístico 2011 – Ministério do Turismo

A Argentina é o maior emissor de turistas para o Brasil com o total de mais de 1,39 milhões de visitantes em 2010, um aumento de 15,56% em relação a 2009. Em segundo lugar, está o Uruguai com mais de 228 mil turistas seguido pelo Chile com mais 200 mil visitantes. O Paraguai vem logo depois com mais de 194 mil, seguido pela Bolívia com mais de 99 mil visitantes que se sentem atraídos para conhecer o Brasil. Entre os países da América do Sul, quatro países registraram queda no número de turistas em 2010, comparando com o ano anterior: Equador (-11,92%), Guiana Francesa (-16,90%), Suriname (-19,19%) e Venezuela (-5,01%). A variação dos números entre os países também pode ser avaliada, assim como em relação à tabela anterior, diante dos trabalhos de cooperação e divulgação do turismo entre esses países.

Quando o assunto é o turismo na América do Sul, o Ministério destaca suas ações na criação de Escritórios Brasileiros de Turismo (EBTs) que é uma espécie de “braço” da atuação da EMBRATUR nos mercados. O trabalho dos EBTs é estratégico e busca auxiliar na identificação de novas demandas turísticas e no estreitamento do contato com os agentes locais do turismo, proporcionando maior concentração dos destinos brasileiros. Porém, dentro da proposta de integração cultural e turística entre Brasil e Bolívia, esses “braços” de atuação devem ser 111

interconectados entre todos os países ou nós da rede turística no sentido de elaborar uma promoção conjunta de todos os países da América Sul, vencendo fronteiras geográficas. A informação é um elemento fundamental para direcionar os investimentos públicos e privados na cadeia produtiva do turismo. A rede de informações e conhecimentos na internet contribui para o sucesso destas ações.

3.1.1 Mato Grosso

O Estado de Mato Grosso, localizado na região Centro-Oeste do Brasil, tem uma área de 903.386,10 km2, 141 municípios instalados, entre eles a capital Cuiabá, e uma população residente de aproximadamente 3 milhões de habitantes, segundo dados preliminares do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística29 (IBGE). O Estado faz divisa com os estados do Amazonas, Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rondônia, além da fronteira com a Bolívia a oeste. A economia do MT é baseada no agronegócio, em especial no cultivo da soja e do algodão e ainda possui um dos maiores rebanhos bovinos do Brasil. Figura 1 Usina Itaicy – Antônio de Leverger – MT

Fonte: SEDTUR-MT

O turismo da região tem grande potencial, pois o Estado possui em seu território três dos mais importantes ecossistemas brasileiros: o Cerrado, a Floresta

29 Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ 112

Amazônica e o Pantanal. A diversidade dos recursos naturais, além de suas manifestações culturais e folclóricas, torna o Mato Grosso um destino ideal para o ecoturismo ou o turismo de aventura. A vocação turística de Mato Grosso também é fundamentada pelo patrimônio histórico da região, que abrange sítios arqueológicos, museus, fazendas antigas, igrejas, construções e arquitetura do tempo do império. Um exemplo de fazenda antiga é a Usina Itaicy (Figura 1), tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual, localizada no município de Santo Antônio de Leverger, a 34km de Cuiabá.

Os principais pólos turísticos do Estado são: cerrados da Baixada Cuiabana e os recortes dos “paredões”, que o limitam com os planaltos do entorno; Pantanal de Mato Grosso; Parque Nacional da Chapada dos Guimarães; Vale do Guaporé; Região centro-leste e centro-sul Mato-grossense com cachoeiras e termas de águas quentes; Vale do Araguaia de Mato Grosso; florestas tropicais da Amazônia de Mato Grosso (SEDTUR, 2003).

Mesmo tendo pontos positivos em atrativos, ainda existem dificuldades para se avaliar o intercâmbio turístico do Mato Grosso com os países da América do Sul, pois o Anuário Estatístico do Ministério do Turismo (2011) tem disponíveis os dados de chegada de turistas dos estados do Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.

Tabela 3 Chegada de turistas da América do Sul ao Brasil via outras unidades da federação - 2009 - 2010 Países 2009 2010 Variação Argentina 1.906 1.247 -34,58% Bolívia 13.632 17.766 30,33% Chile 159 1.370 761,64% Colômbia 416 121 -70,91% Equador 57 25 -56,14% Guiana Francesa 9.884 11.439 15,73% Paraguai 108 43 -60,19% Peru 11.028 3.607 -67,29% Guiana 1.939 324 -83,29% Suriname 34 63 85,29% Uruguai 48 70 45,83% Venezuela 6.050 115 -98,10% Total América do Sul 45.261 36.190 -20,04% Fonte: Anuário Estatístico 2011 – Ministério do Turismo 113

Os dados dos outros estados estão reunidos como “outras unidades da federação”, nos quais Mato Grosso está incluído. A Tabela 3 apresenta a contabilização desses números nos anos de 2009 e 2010. Entre os países da América do Sul, emissores de turistas através de “outras unidades da federação”, a Bolívia é o maior emissor de turistas para o Brasil com a chegada de 17.766 viajantes em 2010 com aumento de 30,33%. Nesse caso, Mato Grosso pode ter uma boa participação por ter fronteira com a Bolívia. Em seguida, a maior emissão é da Guiana Francesa com a chegada de 11.439 turistas em 2010 com aumento de 15,73%. O Peru é o terceiro emissor com o total de 3.607 turistas, mesmo registrando queda de 67,29% em relação a 2009. As variações entre os números de turistas dos países existem diante fluxos do turismo que mudam de acordo com as épocas do ano e também no trabalho de divulgação do turismo brasileiro nesses países.

3.1.2 Mato Grosso do Sul

Mato Grosso do Sul30, cuja capital é Campo Grande, nasceu da divisão de Mato Grosso em 11 de outubro de 1977. O Estado, que também é reconhecido pelos recursos naturais, tem 357.145,84 km2, 78 municípios e cerca de 2,5 milhões de habitantes, segundo dados preliminares do Censo 2010 do IBGE. Localizado na região Centro-Oeste do Brasil com os estados de Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal, faz divisa com outros cinco estados brasileiros: Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Goiás, Mato Grosso e fronteira ao sul com o Paraguai e a Bolívia sendo banhado pelo sistema dos rios Paraná e Paraguai e seus afluentes. De tradição agropecuária, o Estado também possui muito da cultura e tradição indígena, que se refletem em seus costumes e a gastronomia.

O Pantanal, uma das maiores planícies de sedimentação do mundo, aproximadamente 140 mil km², com 65% do seu território no Estado de Mato Grosso do Sul apresenta fauna e flora de rara beleza e abundância com quatro grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Chaco e de Mata Atlântica que se estende até a Região da Serra da Bodoquena. O Pantanal foi reconhecido pela UNESCO, no ano 2000, como Reserva da Biosfera, por ser uma das mais exuberantes e diversificadas reservas naturais da Terra. Além do Pantanal, as regiões turísticas do Estado

30 Disponível em: http://www.turismo.ms.gov.br/ 114

abrangem a chamada Costa Leste, Rota Norte,Nova Andradina e Região, Caminhos da Fronteira, Campo Grande e Região, e Bonito - Serra da Bodoquena, um dos mais importantes centros de turismo ecológico do Brasil com fazendas turísticas, lagos, rios, grutas e serras. (FUNDTUR, 2011)

Figura 2 Entrada da Gruta do Lago Azul - Bonito - MS

Foto: Miranda, 2010

O Mato Grosso do Sul está entre os estados que apresenta a contabilização da chegada de turistas ao Brasil diante do trabalho de divulgação das rotas turísticas que fazem parte da região da cidade de Bonito, amplamente divulgadas na mídia e através de eventos turísticos com a promoção de parcerias com a EMBRATUR. Segundo o Anuário Estatístico do Ministério do Turismo (2011), de acordo com a Tabela 4, a Bolívia também é a maior emissora de turistas entre os países América do Sul para o Brasil quando o caminho é via Mato Grosso do Sul com a entrada de 37.376 visitantes em 2010 com aumento de 17,03% em relação ao ano anterior.

O motivo principal, assim como Mato Grosso, é a fronteira do estado com a Bolívia, incrementando esse fluxo. Depois, vem o Paraguai com a chegada de 23.169 turistas; o Peru com 4.136 turistas; e a Argentina com 329. Pela pesquisa do Ministério, a maioria dos visitantes deste último, escolhe os estados do litoral brasileiro como destinos. 115

Tabela 4 Chegada de turistas da América do Sul ao Brasil via MS - 2009 - 2010 Países 2009 2010 Variação Argentina 262 329 25,57% Bolívia 31.938 37.376 17,03% Chile 151 214 41,72% Colômbia 97 197 103,09% Equador 38 70 84,21% Guiana Francesa 5 - - Paraguai 21.411 23.169 8,21% Peru 3.413 4.136 21,18% Guiana - 6 - Suriname - - - Uruguai 25 53 112,00% Venezuela 27 47 74,07% Total América do Sul 57.367 65.597 14,35% Fonte: Anuário Estatístico 2011 – Ministério do Turismo

Os resultados mostram a necessidade de reforçar as redes de informação de Mato Grosso do Sul, assim como de Mato Grosso, para atrair turistas para região.

3.2 O PANORAMA DO TURISMO NA BOLÍVIA

A Bolívia, com uma extensão territorial de 1.098.581 km2 e cerca de 10 milhões de habitantes, cuja capital política é La Paz, é considerado um país importante no contexto de redes de informações turísticas, pois é uma porta de entrada para os outros países da América do Sul no caminho até o Pacífico. Faz fronteiras com o Brasil, Chile, Argentina, Peru e Paraguai. Segundo dados do Instituto Nacional de Estadística31 (INE), o país subdivide-se em nove departamentos que são Beni, Chuquisaca, Cochabamba, La Paz, Oruro, Pando, Potosi, Santa Cruz e Tarija; em 112 províncias e 327 municípios.

Rica em recursos naturais com regiões de bosques, selvas, vales, montanhas, altiplano, salinas e lagos, a Bolívia abriga importantes atrativos considerados patrimônios da humanidade como: a cidade histórica de Potosí, as ruínas arqueológicas de , um dos berços da civilização humana e a cultura Kallawaya, em La Paz; as missões jesuíticas, o Parque Nacional de Noel Kempf Mercado e o Forte de Samaipata, um antigo forte dos incas, em Santa Cruz; além do e a cidade histórica de Sucre.

31 Disponível em: http://www.ine.gob.bo/ 116

Figura 3 Bahía de Copacabana - Bolívia

Fonte: www.visitacopacabana.com

Diante de sua diversidade cultural e histórica, a Bolívia também possui atrativos como o Salar de Uyuni, a maior planície de sal do planeta, situada nos departamentos de Potosí e Oruro; o lago Titicaca, com cerca de 8.300 km2 , o lago navegável mais alto do mundo, em 3821 metros acima do nível do mar, situado no departamento de La Paz, na fronteira da Bolívia, tendo como principal entorno a cidade de Copacabana (Figura 3). A cordilheira dos Andes, a mais larga do mundo, também está entre os atrativos principais; assim como o Nevado Sajama, a montanha mais alta com o bosque mais alto do mundo, e o Salar de Coipasa no altiplano andino, no departamento de Oruro; as lagoas de cores como a Laguna Verde, em Potosí, junto com um dos vulcões mais ativos e altos do mundo o Licancabur.

Segundo Carvalho (2008, p.23), mesmo apontado como sendo “o país mais pobre da América do Sul pela ótica capitalista”, a Bolívia é o mais privilegiado dentro da visão futura de um turismo integrado na América do Sul. Tal fato faz da Bolívia um nó importante nas redes de informação e comunicação tanto no espaço real como no ciberespaço, trazendo inúmeras possibilidades de desenvolvimento regional através dos sites e blogs turísticos do governo. 117

De acordo com informações do Instituto Nacional de Estadística (INE) da Bolívia, em novembro de 2010 foi iniciada uma pesquisa nacional em parceria com o Viceministerio de Turismo sobre as atividades hospedagem, agências de viagem, operadoras de turismo e transporte de passageiros. Até 2011 o material ainda não havia sido divulgado no site do órgão. Os últimos dados disponíveis sobre a contabilização da chegada de turistas na Bolívia são informações preliminares relativas aos anos de 2008 e 2009. Tabela 5 Chegada de turistas na Bolívia 2008-2009 Descrição 2008 (p) 2009 (p) TOTAL 1.042.577 1.191.292 Nacionais 448.850 520.065 Estrangeiros 593.727 671.227 Fonte: Instituto Nacional de Estadística - Bolívia, 2011 Nota: (p) preliminar

Segundo a Tabela 5, a variação entre os números de turistas nacionais e estrangeiros é pouca. O total “preliminar” de turistas estrangeiros em 2008 seria de 593.727 em 2008 e 671.227 no ano seguinte. A falta de dados atualizados sobre o volume de turistas prejudica a análise da realidade da atividade turística em um país tão importante no contexto da formação de uma rede de informações turísticas com o Brasil. Na Tabela 6, os números relativos aos gastos turísticos também são “preliminares” para os anos de 2008 e 2009.

Tabela 6 Gasto turístico na Bolívia (em milhares de dólares) – 2008- 2009 Descrição 2008 (p) 2009(p) TOTAL 314.474,00 335.715,00 Alojamento 75.609,00 83.124,00 Compra de Bens (2) 62.240,00 67.345,00 Outros gastos em serviços (3) 176.625,00 185.246,00 Fonte: Instituto Nacional de Estadística – Bolívia, 2011 Notas: (p) Preliminar (2) Referente à compra de souvenirs, artesanato e presentes (3) Gastos com transportes, alimentação e entretenimento

De acordo com os dados do INE, as projeções para os gastos turísticos para aqueles anos eram bem otimistas e dentro do planejamento de divulgação dos destinos e dos acordos de cooperações turísticas, realizados através do Ministerio 118

de Culturas, órgão do governo boliviano ligado ao Viceministerio de Turismo para o incentivo e promoção das atividades culturais e turísticas. Mas o único acordo disponível no site do Ministerio de Culturas é um acordo multilateral de cooperação com a Venezuela, firmado em abril de 2010, para promover a cooperação entre os países e desenvolver produtos turísticos através de programas destinados ao desenvolvimento do turismo comunitário e social. Porém, como foi abordado antes, a falta de dados mais atuais torna complicada a análise.

3.3 O PANORAMA DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO MUNDO

A internet é o foco deste trabalho, mas antes do aprofundamento das análises em relação ao Brasil e Bolívia, é necessário apresentar alguns dados estatísticos relativos às novas tecnologias da informação como a telefonia celular no mundo e um panorama da internet nos países da América do Sul, nas Américas e também em todo o mundo. A web, sendo uma rede formada por computadores interligados em todo o planeta, compartilha e disponibiliza várias tecnologias de informação e comunicação através de arquivos de áudio, vídeos, fotos e textos. Esses arquivos também são disponibilizados em telefones celulares, tablets e smartphones, evidenciando a evolução de ferramentas para dinamizar a comunicação entre os povos.

A União Internacional de Telecomunicações 32 (UIT), organização das Nações Unidas para tecnologias de informação e comunicação, é considerada o ponto focal e global para os governos e o setor privado no desenvolvimento de redes e serviços e disponibiliza em seu site uma série de informações. Entre elas, a evolução do volume de assinaturas de linhas de telefones celulares e usuários da internet em todo o mundo e separados por duas categorias: países desenvolvidos e em desenvolvimento, que já foram esclarecidas nas explicações sobre a metodologia utilizada para este trabalho. Quanto ao número de assinaturas de linhas de telefones celulares, pode-se perceber pela análise da Figura 4, que o crescimento foi notável no período estudado pela UIT.

32 Disponível em: http://www.itu.int/ 119

Figura 4 Assinaturas de celulares por 100 habitantes nos países desenvolvidos e em desenvolvimento 2000-2010

Fonte: UIT, 2011 Elaborado por: Miranda, 2011

O número de assinaturas de celulares nos países em desenvolvimento subiu de 5,5 milhões para 70,1 milhões do ano 2000 a 2010. Já nos países desenvolvidos, a proporção de crescimento de assinantes também é maior como nos números da internet, de 39,2 milhões para 114,2 milhões de usuários. Os resultados analisados pela UIT sobre o número de assinantes também apontam para maior proporção de crescimento entre os países em desenvolvimento pelos mesmos motivos apontados anteriormente em relação ao barateamento e aumento de opções de tipos de aparelhos celulares segundo as preferências de vários tipos de públicos. Fragoso e Maldonado (2009, p. 19) destacam ainda que

a telefonia móvel tem sido apontada como uma importante solução para ultrapassar a falta de infraestrutura básica de telecomunicações na América Latina. O total de conexões móveis já é bem maior que o de linhas fixas, inclusive nos países mais pobres, mas a penetração da telefonia móvel no subcontinente latino-americano ainda é muito inferior à atingida na América do Norte, Europa e Ásia.

Essas diferenças ainda devem demorar a desaparecer, pois envolvem problemas de desenvolvimento e crescimento em cada país, mas os índices relativos às tecnologias da informação e comunicação continuam subindo. De acordo com a Figura 5 o número de usuários da rede nos países em desenvolvimento, subiu de 2 milhões para 21,1 milhões do ano 2000 a 2010. Já nos 120

países desenvolvidos, os números também são sempre maiores, de 24,6 milhões para 68,8 milhões de usuários no período pesquisado pela UIT.

Figura 5 Usuários da internet por 100 habitantes nos países desenvolvidos e em desenvolvimento 2000-2010

Fonte: UIT, 2011 Elaborado por: Miranda, 2011

Através da pesquisa, a UIT também constata que, apesar dos números de usuários dos países desenvolvidos sempre ser mais alto, a proporção do crescimento de usuários nos países em desenvolvimento é maior. Uma das causas apontadas é a crescente popularização das novas tecnologias entre a população com o barateamento dos custos dos equipamentos e a evolução da comunicação via internet que se tornou parte do cotidiano da sociedade cada vez mais com o passar dos anos.

Os números da empresa Miniwatts Marketing Group33, através do site Internet World Stats, mostram o crescimento da internet em todo o mundo, usando como fontes vários órgãos de pesquisa de cada país. Os dados são reveladores quanto à evolução da rede no planeta. A Tabela 7 mostra a relação entre os números da população e usuários da internet das Américas.

33 Disponível em: http://www.internetworldstats.com/ 121

Tabela 7 Números da população e usuários da internet das Américas – 2011

Regiões População Usuários Expansão do Cresc. nº de (est.2011) (mar.2011) uso na usuários (%) população (%) 2000-2011 América do Norte 347.394.870 272.066.000 78,3 151,7 América do Sul 400.067.694 162.779.880 40,7 1.039 América Central 155.788.467 42.733.400 27,4 1.228 Caribe 41.427.004 10.426.120 25,2 1763,7 Total 944.678.035 488.005.400 51,7 286,8 Fonte: Miniwatts Marketing Group, 2011

América do Sul, Central e Caribe mostram altos índices de crescimento no número de usuários da internet a partir do ano 2000 até 2011. Mesmo assim, não superam a expansão do uso da rede no total da população como acontece na América do Norte que supera as outras Américas com 78,3% de expansão que reflete as diferenças econômicas e culturais entre essas nações. Sobre o panorama da internet na América Latina, Fragoso e Maldonado (2009) destacam que as disparidades internas de cada país refletem as diferenças entre regiões bem ricas e com boa estrutura de telecomunicações e outros serviços básicos e outras que convivem com a miséria e padrões arcaicos de serviços.

No estudo dessa evolução da rede, não cabem comparações entre um país e outro e sim realizar um levantamento da realidade de cada um. É necessário respeitar as peculiaridades de cada país sem perder de vista o quadro geral da rede globalizada. Nessa avaliação, Fragoso e Maldonado (2009) dividem os países em três perfis. O primeiro, onde se encaixa Bolívia, abrange os países que registram cerca de 10% ou menos da população com acesso doméstico à internet e onde a infraestrutura de telecomunicações costuma se concentrar nas principais cidades. O segundo perfil, também chamado intermediário, abrange os países com penetração doméstica da internet entre 20 e 25% e que também enfrentam carências na infraestrutura de telecomunicações, mesmo com o crescimento no número de acessos à rede. O terceiro perfil, onde se inclui Argentina, Brasil, Chile e Peru, compreende países sul-americanos com cerca de 30% ou mais de acessos à rede. São países onde geralmente as condições de acesso variam bastante nas diversas regiões, mas para reverter o quadro buscam investir em projetos de inclusão digital.

122

A Tabela 8 mostra os números da população e usuários da internet nos países da América do Sul e no mundo. Tabela 8 Números da população e usuários da internet nos países da América do Sul e mundo – 2011

Países População Usuários Expansão do Cresc. nº de (est.2011) (mar.2011) uso na usuários população (%) 2000-2011 Argentina 41.769.726 27.568.000 66 1.002,7 Bolívia 10.118.683 1.102.500 10,9 818,8 Brasil 203.429.773 75.982.000 37,4 1.419,6 Chile 16.888.760 9.254.423 54,8 426,6 Colômbia 44.725.543 22.538.000 50,4 2.467 Equador 15.007.343 3.352.000 22,3 1.762,2 Ilhas Falklands 3.140 2.900 92,4 0,0 Guiana Francesa 235.690 58.000 24,6 2.800 Guiana 744.768 220.000 29,5 7.233,3 Paraguai 6.459.058 1.104.700 17,1 5.423.5 Peru 29.248.943 9.157.800 31,3 266,3 Suriname 491.989 163.000 33,1 1.293,2 Uruguai 3.308.535 1.855.000 56,1 401,4 Venezuela 27.635.743 10.421.557 37,7 997.0 Total América 400.067.694 162.779.880 40,7 1.039 do Sul Total mundial 6.930.055,154 2.095.006.005 30,2 480,4 Fonte: Miniwatts Marketing Group, 2011

O maior índice de crescimento no número de usuários da Internet é o da Guiana com 7.233,3% de 2000 a 2011, seguida pelo Paraguai (5.423,5%) e Equador (1762,2%). O Brasil, o que se deve à numerosa população, vem logo depois, registrando crescimento de 1.419,6%, superando os números de vários outros países assim como o total da América do Sul e do mundo. De acordo com os dados disponibilizados pelo Miniwatts Marketing Group, a expansão do uso da internet chega a 37,4% do total da população brasileira estimada para 2011, maior que a Bolívia com 10,9% e o mundo com 30,2%. Fragoso e Maldonado (2009) analisam as diferenças entre vários países da América do Sul como a Bolívia e Brasil, por exemplo, da seguinte forma: a disparidade entre a expansão de uso e crescimento do número de usuários se deve aos chamados telecentros que, ao contrário dos cibercafés que se concentram nas regiões mais favorecidas da área urbana, chegam aos locais mais carentes sem acesso à internet e se tornam alternativa para quem não tem acesso doméstico.

123

3.4 REDES DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO BRASIL E NA BOLÍVIA

Os números relativos às tecnologias de informação e comunicação (TICs) na Bolívia e no Brasil ajudam na análise do potencial das redes de informação turística nos dois países. Mostram que as duas nações, mesmo diante das dificuldades políticas, econômicas, sociais e culturais, podem ampliar o conhecimento sobre a realidade latino-americana em geral no sentido de criar conexões necessárias para o desenvolvimento do turismo em rede entre os países. As TICs são alternativas que podem ajudar na superação do distanciamento cultural entre essas nações. Para este trabalho, serão analisados os números da telefonia fixa e celular, além dos acessos à banda larga, que são sistemas que apresentam altas taxas de transmissão. É uma conexão à internet com velocidade superior ao padrão das linhas telefônicas convencionais, o que permite transmitir dados com mais rapidez e manter o usuário permanentemente conectado à web.

3.4.1 Telefonia fixa, celular e acessos à banda larga

A evolução dos acessos fixos, celulares, assim como as conexões de banda larga no Brasil de 2008 a 2010 estão na Tabela 9. Em todo o Brasil, entre as três tecnologias, os celulares estão em primeiro lugar. Segundo informações da consultoria Teleco e da União Internacional de Telecomunicações (UIT), o número de celulares em operação no país subiu de 150,6 milhões em 2008 para 202,9 milhões de celulares em 2010. O número de linhas fixas era de 41,3 milhões e subiu muito pouco para 42 milhões no mesmo período. Os acessos à banda larga cresceram de 10 milhões para 13,8 milhões.

Tabela 9 Acessos fixos, celulares e banda larga no Brasil (em milhões) 2008-2010 Tecnologias 2008 2009 2010

Telefonia Fixa 41,3 41,5 42,0

Celulares 150,6 174,0 202,9

Banda Larga 10,0 11,4 13,8

Fonte: Teleco/UIT, 2011

Os números são um reflexo da popularização cada vez maior do uso dos celulares nos últimos anos com as operadoras oferecendo uma série de vantagens 124

para os usuários. Por isso, muitos desistiram de pagar uma assinatura básica de uma linha fixa e optaram por ter apenas a assinatura de uma linha pós ou pré-paga de celular. O crescimento do número de usuários de telefones celulares assim como da banda larga, mesmo com os altos preços oferecidos no mercado, também representa maior acesso aos pacotes de internet e mais possibilidades de conexão na rede de informações no ciberespaço.

Quanto à Bolívia, os dados da Tabela 10 também mostram que o número de celulares em operação no país está em primeiro lugar com crescimento de 4,8 milhões em 2008 para 7,1 milhões em 2010. O número de linhas fixas subiu de 678 mil para 848 mil no mesmo período, segundo os dados disponíveis no site da consultoria TELECO.

Tabela 10 Acessos fixos, celulares e banda larga na Bolívia (em milhares) 2008-2010 Tecnologias 2008 2009 2010

Telefonia Fixa 678 810 848

Celulares 4.830 7.148 7.179

Banda Larga 65,6 282,4 96

Fonte: Teleco/UIT, 2011

A evolução dos acessos à banda larga na Bolívia apresentou uma peculiaridade nos dados apurados para este trabalho. Em 2008, foram registrados 65,6 mil acessos ao sistema. No ano seguinte 2009, os números chegaram a 282, 4 mil e sofreram redução para 96 mil em 2010. A causa foi os altos preços do serviço no país e motivo de reportagem da versão online do jornal La Razón (2011), disponível na rede desde maio com o título: “Bolívia tem a banda larga mais lenta e cara da América Latina”. No texto, o jornal compara informações divulgadas pela Comissão Econômica para América e o Caribe (CEPAL). Nesse estudo, a CEPAL revela que “a média de preços do serviço na América Latina é de 72,8 dólares o megabyte por segundo (Mbps). Na Bolívia, o valor chega a 300 dólares.” Quanto maior a velocidade, mais caro o serviço. A reportagem alerta para a necessidade do “desenvolvimento de políticas públicas orientadas para a universalização da banda larga” diante do potencial de ser “um eixo básico de integração regional”.

125

3.4.2 Número de hosts

Um host da internet é um computador conectado diretamente à rede mundial. O número de hosts é um indicador do grau de conectividade com a internet. As estatísticas sobre o crescimento da internet no Brasil, mantidas pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), disponíveis através do site do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC. Br) e reunidos na Tabela 11 mostram que a internet brasileira cresceu entre os anos de 2009 e 2011, passando de 14.678.982 para 21.121.168 hosts. O aumento dos números reflete, segundo o CGI, o aumento nos investimentos em novas tecnologias e a disseminação dessas tecnologias, mas as maiores barreiras continuam associadas aos problemas de custos e de infraestrutura da rede.

Tabela 11 Número de hosts Brasil e Bolívia (em milhões) 2009-2011 Países Jan. 2009 Jan. 2010 Jan. 2011

Brasil (.br) 14.678.982 17.786.552 21.121.168

Bolívia (.bo) 86.310 116.975 154.371

Fonte: Cetic, 2011

A internet boliviana cresceu de 86.310 hosts para 154.371 hosts no mesmo período. Segundo Mora (2010), no caso da Bolívia, a internet está disponível nas maiores cidades do país e os operadores de telefonia celular incluem o serviço em sua carteira de produtos, ampliando a oferta de conectividade para o usuário final. Mesmo assim, o país possui “brechas digitais” que mostram evidentes desigualdades de possibilidades de acesso à informação, ao conhecimento e à educação. Fatores sócio-econômicos aliados a falta de tecnologias disponíveis em locais afastados dos centros urbanos trazem limitações ao desenvolvimento dessas regiões. De acordo com o autor, a Agência para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação na Bolívia (ADSIB) criada, através de decreto governamental em março de 2002, com o objetivo de propôr políticas e coordenar estratégias e ações para reduzir essa “brecha digital” e dar impulso para as TICs em todos os seus âmbitos continua apresentando poucas informações e resultados que demonstrem o alcance dos objetivos propostos.

126

3.4.3 Ciberespaços turísticos: os sites dos governos

Com o crescimento da internet, cada vez mais governos passaram a usar as tecnologias da informação (TICs), buscando maior contato com outros governos, iniciativa privada, organizações não governamentais e a população. É o chamado governo eletrônico ou e-gov (electronic government), uma tendência que busca reduzir as distâncias para agilizar os serviços prestados. A aproximação entre os atores sociais é feita através de ferramentas como fóruns, exposição de bancos de dados, aplicativos para telefonia móvel e telefones de serviços e portais na internet. Abramson (apud PORTAL DO GOVERNO ELETRÔNICO DO BRASIL34, 2011) explica que o conceito do e-gov, “não se restringe a simples automação dos processos e disponibilização de serviços públicos através de serviços online na internet, mas sim na transformação da maneira com que o governo, através da TIC, atinge seus objetivos para o cumprimento do papel do estado”.

Já Fernandes (apud PORTAL DO GOVERNO ELETRÔNICO DO BRASIL, 2011) divide a comunicação do governo em três tipos:

-G2G (Government to Government) – corresponde à comunicação interna do governo e com outras esferas do poder.

-G2C (Government to Citizen) – corresponde à comunicação do governo com o cidadão. São ações de prestação de serviços por meios eletrônicos e de inclusão digital.

-G2B (Government to Business) – corresponde à comunicação do governo com as empresas.

Seguindo essa tendência, os sites dos governos e dos órgãos responsáveis pela gestão do turismo no Brasil e na Bolívia divulgam a proposta de uma comunicação mais ágil entre os atores envolvidos no segmento. Os portais e sites governamentais têm como objetivo divulgar e dinamizar a informação pública, incluindo o turismo com a proposta de atender os turistas, profissionais e empresários da atividade e administradores públicos. Todos são criados com a proposta de disponibilizar informações e ofertas de produtos turísticos voltados para o público nacional e internacional.

34 Disponível em: http://www.governoeletronico.com.br/ 127

Para atingir esse objetivo, administradores e webdesigners de sites e portais turísticos dos governos devem estar atentos a questões como a arquitetura da informação e usabilidade, fatores definidos e discutidos na seção 2 deste trabalho, além de algumas dificuldades comuns como a responsabilidade pelos dados disponíveis, a definição de critérios para incluir destinos turísticos, manter e atualizar informações, além de criar novas ferramentas de acesso para atrair e manter visitantes online. Todos os sites selecionados para este trabalho, cada um com suas propostas e objetivos, enfrentam o desafio em manter uma rede em constante e perfeito funcionamento.

Quanto ao monitoramento do número e procedência de acessos, segundo informações dos administradores e pesquisas de conteúdo disponível online, os motivos mais comuns para determinados países registrarem alto número de visitas são os convênios de cooperação turística; a divulgação em vários eventos e ainda a propaganda feita pelo próprio turista, incluindo os turistas locais, ou seja, naturais dos próprios países. Nesse sentido, se pode ressaltar a importante da construção de redes sólidas de comunicação no sentido de trabalhar a informação através dos sites dos governos entre os países que pouco acessam os conteúdos disponíveis.

3.4.3.1 Ministério do Turismo do Brasil

Quando foi lançado em janeiro de 2003 na internet, o Portal Institucional do Ministério do Turismo do Brasil35 não contava com um canal de informações turísticas das localidades. A partir de novembro de 2008 foi inaugurado um novo portal construído com vários recursos audiovisuais e design gráfico, cores fortes e fotos de impacto visual. O portal é dividido em áreas de navegação para vários públicos que reúnem dados institucionais com informações sobre o ministério; dados para pesquisas; eventos e uma parte especial para a Copa de 2014; páginas de notícias e para os profissionais da imprensa, além de um canal voltado para os turistas.

A área institucional reúne informações sobre os conselhos e secretarias, os planos e ações do órgão, convênios, legislação, editais de licitação e concursos. A área Dados e Fatos reúne pesquisas, relatórios, teses e artigos para leitura e

35 Disponível em: 128

consulta. A área de Eventos divulga a programação de congressos, encontros, seminários e exposições em todo o Brasil. Na parte destinada à imprensa, os jornalistas têm acesso a materiais de apoio como artigos e discursos; os contatos da assessoria e ainda podem ser cadastrar para receber informações atualizadas por email. O portal possui links para todas as redes sociais Orkut, Twitter, Facebook e o You Tube, além de uma área multimídia com galerias de fotos e vídeos; campanhas publicitárias e a Rádio Turismo.

Figura 6 Página do Canal Destinos – Ministério do Turismo

Fonte: http://www.turismo.gov.br

O canal Destinos, representado na Figura 6, é o canal para os turistas se manterem conectados sobre os destinos turísticos do Brasil. Disponibiliza reportagens especiais e a Comunidade do Viajante onde os usuários podem postar dicas de viagens e fotos. Links sobre os diversos segmentos do turismo como o religioso, de aventura, de eventos e o ecoturismo podem ser consultados para informação sobre os destinos em cada um.

O portal do Ministério do Turismo divulga a sua inovação das tecnologias e serviços oferecidos ao internauta para facilitar e agilizar o processo de divulgação das informações turísticas. Segundo os administradores do portal, através do monitoramento com o serviço Google Analytics, no período de novembro de 2009 129

até maio de 2011, foram registradas 278.263 visitas de usuários de 195 países e territórios. Os primeiros da lista com a grande maioria dos acessos são: Brasil, Argentina, Portugal, Estados Unidos, Espanha, Itália, Paraguai, França, Alemanha, Chile, Canadá, México e Colômbia.

3.4.3.2 Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo de Mato Grosso

Mato Grosso, assim como Mato Grosso do Sul, é a porta de entrada para o corredor turístico formado pela Rota Pantanal-Pacífico. Nesse sentido, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo36 construiu um novo site no ano de 2011 com a proposta de oferecer conteúdo atualizado sobre os atrativos turísticos e as possibilidades de investimentos no Estado. Com moderno design gráfico, fotos de impacto e cores fortes, o site traz uma série de opções no menu da página principal como os dados institucionais da SEDTUR; a legislação vigente; os segmentos do turismo; notícias; eventos; Cadastur; canal multimídia; e sugestões de links relacionados à atividade turística.

A área institucional disponibiliza um link do blog do órgão onde o usuário pode acessar notícias e artigos com a opção de deixar comentários na página. Tem ainda as opções de informações sobre o Campeonato Estadual de Pesca; contatos da Secretaria; dados sobre o Fórum Estadual do Turismo e a Gestão do Turismo do MT. A opção segmentos traz informações básicas sobre o turismo de contemplação; cultural; ecoturismo; esportes de aventura; indígena, LGBT (gays, lésbicas e simpatizantes), melhor idade, místico, negócios, pesca e rural. A área de investimentos mostra o potencial do agronegócio e turismo no Estado, além de um manual do investidor apresentando várias opções de linhas de crédito e programas especiais para os investidores em potencial.

A área do Cadastur é um sistema de cadastro destinado aos estudantes, pesquisadores, profissionais e empresários da atividade turística, executado pelo Ministério do Turismo nos 26 estados do Brasil e Distrito Federal. Até a conclusão deste trabalho, contava com mais de 30 mil cadastros no Brasil, permitindo o acesso a dados e relatórios gerados pelos sistemas de informação do Ministério. Os benefícios divulgados para quem está cadastrado abrangem: acesso à

36 Disponível em 130

financiamento em bancos oficiais; participação em programas de qualificação; apoio em promoção e participação em feiras e eventos.

Figura 7 Página do Canal Guia do Turista – SEDTUR- MT

Fonte: http://www.sedtur.mt.gov.br

O Canal Multimídia disponibiliza banco de vídeos e fotos, além das logomarcas do turismo de MT. O site também oferece o Guia do Turista, representado na Figura 7, onde é só clicar na cidade escolhida para saber sobre ao melhores acessos para se chegar; transportes; onde se hospedar; a gastronomia local e as ONGs e associações locais. O sistema de informações turísticas Ecobooking busca manter atualizados para consulta dados sobre o número e procedência de visitantes agrupados por gênero, faixa etária, estados e países. Os administradores do site fazem o monitoramento de acessos através do Google Analytics. Os dados disponibilizados abrangem o período de janeiro de 2010, quando ainda estava online o site mais antigo, até julho de 2011. Nesse espaço de tempo, foi registrado o número de 57.937 visitas de usuários de 120 países e territórios. Os primeiros da lista com a maioria ou quase 90% dos acessos são: Brasil, Estados Unidos, Portugal, Argentina, França, Reino Unido, Itália, Espanha, Alemanha, Suíça, Peru e Holanda. 131

3.4.3.3 Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul

A Fundação de Turismo é o órgão oficial do estado responsável por promover e divulgar o destino Mato Grosso do Sul. Representado na Figura 8, o site da FUNDTUR 37, criado em outubro de 2007, possui em seu menu principal link para a área institucional que inclui informações sobre parceiros de investimentos e acordos de cooperação; relatórios de gestão; a cronologia do turismo do MS com o histórico de todas os atos de gestão pública relativos ao ordenamento e desenvolvimento da atividade a partir de 1979; fóruns e conselhos; e indicadores turísticos até o ano de 2008.

Figura 8 Site da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul

Fonte: http://www.turismo.ms.gov.br

O link Conheça MS disponibiliza dados sobre o Estado; gastronomia; regiões turísticas; mapas; meio ambiente e recursos hídricos; pesca; e calendário de eventos. Na área do Turista, o visitante pode obter informações turísticas; dicas; listas de prestadores de serviços e um link para o site do Grupo de Operadores do Turismo de Mato Grosso do Sul. Na opção Roteiros, está a Rota Pantanal-Bonito; lista de eventos e o Trem do Pantanal, um projeto de governo com a proposta de

37 Disponível em: 132

revitalizar a história do MS e incentivar o desenvolvimento das comunidades na região do entorno da estrada de ferro Noroeste do Brasil.

Os dados do monitoramento do site do FUNDTUR são os de um sistema próprio que, até a conclusão deste trabalho, estava em processo de desenvolvimento pelos administradores do site. Os dados mais antigos foram perdidos por problemas no servidor. O material disponível é do mês de março de 2011, com o registro de 1.307 visitas do Brasil, Portugal, Espanha, Estados Unidos, China, Japão, Itália, Alemanha, Colômbia.

3.4.3.4 Ministerio de Culturas de Bolivia

O caminho para saber sobre as políticas públicas do turismo está no site do Ministerio de Culturas38, representado na Figura 9, que inclui em seu organograma online o Viceministerio de Turismo.

Figura 9 Site do Ministerio de Culturas

Fonte: http://www.minculturas.gob.bo

O site do Ministerio na internet foi criado em 2011 e lá o usuário encontra artigos sobre a cultura e o turismo, além de um link que direciona o acesso ao seu endereço no Facebook. É um site mais voltado ao lado institucional, divulgando as

38 Disponível em: 133

ações de políticas públicas da cultura e do turismo boliviano. A maioria do conteúdo disponível no menu principal é sobre missão e valores; legislação; organograma; objetivos estratégicos; documentos do órgão; convênios internacionais.

Os administradores do site do Ministerio foram os únicos que não disponibilizaram os dados de visitas e procedência de acessos entre os sites selecionados para este trabalho, apesar de terem sido receptivos no primeiro contato para a pesquisa. Além de não terem disponibilizado os dados não explicaram os motivos.

A decisão em manter o site entre os selecionados foi, a partir da leitura do conteúdo, a constatação da busca do órgão em divulgar propostas de unir a política pública do turismo com a preservação da cultura boliviana. Os administradores divulgam informações sobre reuniões e ações de cooperação propostas pelo chamado Comitê de Integração Fronteiriça entre Brasil e Bolívia com o objetivo de intercâmbio para promoção turística aliada a preservação das culturas dos dois países. O Comitê busca a promoção internacional, porém enfatiza a importância do turismo comunitário. As reuniões ocorrem em cidades selecionadas nos dois países.

3.4.3.5 Gobierno Autónomo Municipal de La Paz

O portal Lapaz.bo39 foi escolhido diante de sua organização e opções de consulta sobre La Paz, capital principal da Bolívia, localizada no departamento de La Paz que se subdivide em 20 províncias. O departamento conta com uma localização privilegiada, uma vez que é a rota obrigatória de trânsito entre países sul- americanos, sendo um nó chave para a formação do turismo em rede até o Pacífico e por isso busca melhorar o seu equipamento turístico.

Trazendo uma infinidade de informações sobre o conselho municipal e os projetos de planejamento urbano e regional da cidade de La Paz, o portal, representado na Figura 10, oferece a área de turismo na opção por temas. Nesse link, o turista tem acesso a informações organizadas e belas fotos para conhecer a cidade com sugestões de entretenimento e lazer, além de telefones de centros de atendimento ao turista, consulados e embaixadas. As últimas informações estatísticas sobre o turismo local são do primeiro semestre de 2010.

39 Disponível em: 134

Figura 10 Site do Gobierno Autónomo de La Paz

Fonte: http://www.lapaz.bo

Os dados disponibilizados pelos administradores foram de janeiro de 2009 até dezembro de 2009 e de dezembro de 2010 a junho de 2011. Os números relativos a 2010 foram perdidos por problemas nos servidores. No período verificado, foram registradas 326.000 visitas. Mais de 90% de usuários são da Bolívia, Estados Unidos, Argentina, Espanha, México, Peru, Chile, Colômbia, Brasil, Alemanha e Venezuela.

3.4.3.6 Gobierno Municipal de Copacabana

O site de Copacabana40, representado pela Figura 11, capital da província de Manco Kapac, na Bolívia, foi escolhido por ser o único idealizado através de parcerias entre iniciativas privadas, governos e organizações não governamentais. Uma delas é a Fundação CODESPA, situada em Madri, Espanha, que oferece apoio para fomentar o turismo comunitário em países como Equador, Peru e Bolívia para melhorar as condições de vida das comunidades indígenas. O projeto Turismo Comunitário é financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. A Junta de Andalucía, que oferece diversos serviços de apoio à população andaluza cuja

40 Disponível em: 135

capital é Sevilha, é a outra parceira nos projetos turísticos e na criação do site de Copacabana, consolidando a cooperação técnica entre as duas regiões com grandes potencialidades na atividade turística.

Além dessas parcerias, a Diretoria de Turismo de Copacabana criou o projeto APTHAPI que também promove o turismo comunitário da região. A palavra significa um costume entre os indígenas nativos do oeste da Bolívia de compartilhar alimentos entre os membros da comunidade, amigos e família. Assim nasceu a rede APTHAPI, uma associação de 27 empreendimentos dos índios aymara que se dedicam à atividade turística na área do lago Titicaca.

Figura 11 Site do Gobierno Municipal de Copacabana

Fonte: http://www.visitacopacabana.com

Criado em outubro de 2010, o site tem um design leve de fácil navegação e possui quatro áreas principais para acesso no menu principal. A primeira traz informações sobre a Bolívia e a cidade de Copacabana, além de dicas úteis sobre o que vestir em cada época do ano e quanto dinheiro levar para as despesas de acordo com sua programação. A área também tem informações e fotos sobre todas as festividades que acontecem durante o ano. A segunda área descreve os principais atrativos como o lago Titicaca, a Basílica de Copacabana; e os principais sítios arqueológicos da região. A quarta opção do menu indica os serviços de 136

acomodação, transportes, gastronomia e entretenimento. A última é a área multimídia com galeria de fotos, vídeos e mapas disponíveis para download.

Através do monitoramento do Google Analytics disponível no período de outubro de 2010 a abril de 2011, foram registradas 22.687 visitas com a maioria dos acessos da França, Bolívia, Argentina, Peru, Equador, Estados Unidos, Colombia, Chile, Brasil e El Salvador. Segundo os administradores de conteúdo, o caso da França foi considerado uma surpresa porque não houve promoções sobre o site neste país. As outras visitas, assim como nos outros sites selecionados para este trabalho, foram atribuídas a divulgação em eventos de turismo e provenientes de pesquisas em sites de busca como o Google.

3.4.3.7 A rede turística em construção

A partir dos dados de monitoramento dos sites escolhidos no período total de janeiro de 2009 até julho de 2011, o produto é a Figura 12, que pode ser analisada em mais detalhes no Anexo deste trabalho.

Figura 12 Conexões identificadas de comunicação e informação turística – Brasil e Bolívia

Fonte: Administradores dos sites selecionados e Google Analytics, 2011 137

Através da observação do mapa, as ligações entre os nós das redes formadas pelas conexões identificadas através do sistema Google Analytics que estão em verde mostram os países na rede de informações turísticas através dos sites selecionados com a Bolívia. As ligações azuis são as conexões com sites no Brasil. Sabe-se que existem mais nós nessa rede, porém para se elaborar o mapa foram priorizadas as conexões com os países que registraram grande maioria entre o número de visitas aos sites pesquisados. Os países que acessaram os sites são da cor rosa.

Nas conexões com os sites brasileiros, pode-se notar que existem acessos de países da América Latina, além de países da Europa, Península Ibérica e no Oriente como Japão e China. Na América do Norte, apenas dos Estados Unidos. Quanto aos sites bolivianos, as redes abrangem quase todos os países da América Latina. Na América do Norte, além dos Estados Unidos, também está conectada com o México e El Salvador. Na Europa, a rede chega a apenas três países Portugal, França e Alemanha.

A formação das redes do Brasil e da Bolívia mostra que a rede brasileira se expande mais para fora da América Latina e do Norte. Esse desenho alerta para a necessidade de maior cooperação e comunicação do Brasil com os outros países sul-americanos dentro da proposta de integração regional para o incentivo ao turismo. A rede boliviana é mais conectada com os países da América Latina e do Norte, em especial o México e El Salvador. No caso da Bolívia, ainda existe a necessidade de maior conexão e promoção da rede nos países europeus e orientais para a própria promoção do turismo integrado do Pantanal até o Pacífico nesses locais.

O mapa mostra o potencial de crescimento dessa rede em todo o mundo, pois vemos grandes espaços em branco que poderiam fazer parte das redes de informações turísticas da Brasil e da Bolívia, assim como de todos os países da América do Sul. Os espaços em branco no continente africano, Oceania e Ásia, são considerados brechas virtuais que poderiam ser trabalhadas para a inclusão na rede. Os governos dos países podem usar mais mapas como esse para melhor observar as áreas fortes e fracas no sentido da disseminação com mais eficácia a informação turística. Atentar para como se formam as redes de comunicação e 138

informação na internet deve ser um dos papéis dos governos nas políticas públicas do turismo.

3.5 O PLANEJAMENTO DO TURISMO E AS TICs

O planejamento turístico pode envolver localidades, regiões, países e continentes. Dentro dessas diferentes escalas, as organizações públicas devem ser responsáveis pelo planejamento com o objetivo de proporcionar a infraestrutura básica para o bem-estar da população local e os turistas, sem esquecer de proteger e conservar o patrimônio ambiental. Ressaltando essa responsabilidade, Estol e Albuquerque apud (RUSCMANN, 2006, p. 84) entendem o planejamento como

um processo que consiste em determinar os objetivos de trabalho, ordenar os recursos materiais e humanos disponíveis, determinar os métodos e as técnicas aplicáveis, estabelecer as formas de organização e expor com precisão todas as especificações necessárias para que a conduta da pessoa ou do grupo de pessoas que atuarão na execução dos trabalhos seja racionalmente direcionada para alcançar os resultados pretendidos.

A autora (RUSCHMANN, 2006, p.84) reforça essa afirmação relatando que

No turismo, o plano de desenvolvimento constitui o instrumento fundamental na determinação e seleção das prioridades para a evolução harmoniosa da atividade, determinando suas dimensões ideais, para que, a partir daí, possa-se estimular, regular ou restringir sua evolução.

O planejamento busca a racionalização de idéias com o objetivo de modernizar a vida social para crescer e desenvolver. A criação de determinadas regras e ações para os atores sociais envolvidos são baseadas nos princípios do planejamento. O conceito surgiu, incentivando o estabelecimento de condições para alcançar objetivos propostos, além de desenvolver alternativas para que os desejos dos atores sociais se tornem reais. Petrocchi (1998, p.19) destaca que o planejamento

é a definição de um futuro desejado e de todas as providências necessárias à sua materialização e planejar é pré-determinar um curso de ação para o futuro; conjunto de decisões interdependentes; processo contínuo que visa produzir um estado futuro desejado, que somente acontecerá se determinadas ações forem executadas; é atitude anterior à tomada de decisão.

É elaborado em diversas esferas governamentais: nacional, regional, estadual e municipal. No caso do segundo, Cabo (1997, p. 27) define que 139

o planejamento regional tem como ponto de partida a disponibilidade de recursos da região; as possibilidades produtivas; o estado da técnica e da estrutura institucional do sistema; e as possibilidades sociais: eleições individuais, decisões governamentais e distribuição espacial.

Entre os princípios básicos do planejamento regional, Cabo (1997) cita o uso racional dos recursos naturais das localidades. Diante disso, o autor alerta para a necessidade em estabelecer regras para o uso racional e sustentável desses recursos. O planejamento abrange ainda o estudo da estrutura físico-geográfica, condições sociais, fatores econômicos, políticos e históricos da área. A participação das comunidades através de discussões públicas é abordada.

Existem diferentes níveis ou etapas do planejamento que podem ser direcionados para qualquer atividade, inclusive o turismo. Petrocchi (1998) apresenta três níveis: operacional, tático e estratégico. O primeiro envolve tarefas em curto prazo com definição de ações. O segundo define estratégias através de programas e projetos. Costuma ser definido e concluído em médio prazo. Já o estratégico define diretrizes que envolvem uma organização por inteiro com decisões da alta administração e sua atuação é em longo prazo.

Borja e Castells (apud DALLABRIDA, 2010, p. 140) “defendem o planejamento estratégico das cidades ou regiões, entendido como uma grande operação comunicacional, ou seja, um intenso processo de mobilização, quase situando cidades e regiões como uma mercadoria que é vendida através de campanhas de marketing.” Por outro lado, existem processos que podem ser eficazes no sentido de possibilitar caminhos para o desenvolvimento regional. Os planos que costumam ser criados para a atividade turística são produtos de um processo de planejamento.

Os territórios nos espaços turísticos devem ser ordenados para a promoção do desenvolvimento local ou regional. O planejamento é a forma de intervenção no território turístico que abriga várias territorialidades surgidas a partir de interesses (conflitantes entre si ou não) dos atores sociais. Por esse motivo, sem o planejamento turístico fica ainda mais complicada a ordenação territorial. Todo o trabalho combina considerações sobre economia, meio ambiente e questões sociais. Quanto ao social, segundo Rodrigues (2001, p.25)

O planejamento do turismo é, em princípio, complicado porque tem de conciliar os interesses de uma população que busca o prazer em um local 140

onde as pessoas vivem e trabalham. Satisfazer a ambas não é tarefa fácil. Neste embate há conflitos freqüentes e inevitáveis, eivados de sentimentos xenofóbicos pelas comunidades anfitriãs.

Com o objetivo de minimizar conflitos, é necessário elaborar um plano dentro da realidade de cada local. Afinal, um local se desenvolve de forma positiva quando todos os envolvidos estão satisfeitos na medida do possível. Para planejar bem, é necessário saber muito sobre o que, onde e como se vai trabalhar. Nesse contexto, o fluxo de informação é importante para a agilidade e eficácia de qualquer projeto turístico. Para reforçar essa afirmação citamos Raffestin (1993, p.200), lembrando que a circulação e a comunicação são as duas faces da mobilidade. Por serem complementares, estão presentes em todas as estratégias que os atores desencadeiam para dominar as superfícies e os pontos por meio da gestão e do controle das distâncias.

Quando se aborda a questão do planejamento, tem de se levar em conta que a estrutura do turismo em qualquer localidade é determinada pela posição que os atrativos turísticos ocupam em um espaço; pelos critérios para a distribuição territorial da oferta turística e para a localização dos equipamentos turísticos. O produto turístico, além dos atrativos, é composto pelos serviços. Estão entre eles, os serviços de informação turística e comunicações como os guias, mapas, centros de informação ao turista, jornais e revistas especializadas, postos telefônicos, rádio e televisão e disponibilidade de fax e internet.

Nesse contexto, a organização e a interação entre esses serviços, que fazem parte das redes turísticas, devem estar em um dos lugares de destaque no planejamento. De acordo com Rodrigues (2001, p.22), “a demanda turística se desloca através dos fluxos aéreos, terrestres, fluviais, marinhos e oceânicos, que incidem concretamente no território”, mas para a organização desses fluxos e dinamização do turismo, os fluxos de informação são essenciais.

A organização de redes e fluxos, em especial os de informações pode ajudar no planejamento das atividades turísticas. O comentário de Dias (2008, p. 157) reforça essa importância. Segundo a autora, a “integração dos pontos do território pelas novas redes de telecomunicações, sem consideração de distância, só se materializa em função de decisões e estratégias”.

Essas estratégias trabalham a imagem turística de qualquer local para criar uma forte identidade para os atrativos turísticos. O objetivo é incentivar a demanda e 141

comercialização dos produtos turísticos de forma que todos os atores sociais cooperem. O planejamento aliado à comunicação traz orientações sobre as estratégias a adotar.

Para o aproveitamento de todo o potencial de uma rede de informações turísticas em sites de organizações públicas, no caso deste trabalho os sites dos governos selecionados para a análise, é necessário que o conhecimento sobre as tecnologias de informação e comunicação seja cada vez mais amplo. É importante que as possibilidades de uso das TICs sejam levadas em conta na definição das diretrizes, estratégias e ações para o planejamento do turismo pelos órgãos públicos em qualquer localidade. Recomenda-se mais atenção ao desenvolvimento tecnológico, pois as TICs oferecem meios para gerir, armazenar, processar e distribuir informação.

No caso das redes de comunicação e informação pela internet, diante de tantas mudanças e transformações, é interessante investir e trabalhar com os três níveis de planejamento para definir diretrizes, estratégias e ações necessárias para potencializar o alcance das redes de informação entre o Brasil e a Bolívia e mais adiante com outros países sul-americanos.

3.6 POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO NO BRASIL E NA BOLÍVIA

Quando se pensa em políticas públicas, as relacionamos apenas com as funções sociais do Estado em relação aos serviços básicos como saúde, segurança, educação, moradia e saneamento básico. Para que essa função seja cumprida a contento é necessário planejamento e gestão participativos onde cada ator social conheça e compreenda a estrutura institucional do Estado. Esse entendimento é a base do sentido verdadeiro do conceito de política pública, pois seu desenvolvimento envolve a compreensão da complexidade relacional entre os atores sociais. O SEBRAE/MG (2008, p.5) define política pública como “um conjunto de ações e decisões do governo, voltadas para a solução (ou não) de problemas da sociedade” ou também

São a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais e municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público. É certo que as ações que os dirigentes públicos (os governantes ou os tomadores de decisões) selecionam (suas prioridades) são aquelas que eles entendem serem as demandas ou expectativas da sociedade. Ou seja, o bem-estar da sociedade é sempre definido pelo 142

governo e não pela sociedade. Isto ocorre porque a sociedade não consegue se expressar de forma integral [...]. Para o SEBRAE/MG, as políticas públicas são definidas mesmo diante de um desequilíbrio de forças entre governos e sociedade quando os interesses do primeiro são considerados mais importantes. Na verdade, a política pública deve ser um acordo entre os dois lados; ter como base os princípios constitucionais e ser expressa na forma de diretrizes que estão nos planos, os produtos do processo de planejamento.

Por isso, as políticas públicas devem nascer a partir de construção compartilhada de saberes e informação de forma contínua e não somente em épocas ou períodos específicos de tempo. As políticas públicas de turismo vêm recebendo atenção do poder público assim como as direcionadas à educação e saúde diante do crescimento e potencial de investimentos da atividade. Elas devem levar em conta os anseios dos atores sociais locais, evitando imposições de modelos econômicos padronizados de turismo em massa que tem inviabilizado o desenvolvimento regional de forma sustentável.

3.6.1 Desenvolvimento regional através do turismo

Os conceitos de desenvolvimento e crescimento são trabalhados habitualmente nos meios acadêmicos em várias disciplinas e costumam gerar confusão e até falta de consenso entre estudiosos. Para o melhor entendimento, os textos de Andrade (1987) analisam os desníveis regionais, além de características dos pólos de desenvolvimento e crescimento, que foram apresentadas através da teoria de François Perroux, elaborada em 1955. Mesmo escritos há décadas, estes textos abordam teorias que podem ser consideradas ainda válidas também quando estudamos o desenvolvimento através do turismo nas Américas. Perroux, que define esses conceitos, destaca os estudos sobre as diferenças no desenvolvimento entre as regiões, além de citar disciplinas e políticas que oferecem conhecimentos e bases técnicas para a elaboração de diagnósticos com a proposta de corrigir os desequilíbrios. Nesse contexto, Andrade (1987, p. 54-55) relata o

[...] surgimento na Inglaterra, logo após a conclusão da Segunda Guerra Mundial, da política intitulada “Town and Country Planning” e, na França, da política de “Aménagement du Territoire”. Disciplinas e políticas que utilizam conhecimentos anteriores de Geografia Regional, de Geografia Aplicada, de Sociologia Urbana e Rural, de Urbanismo, de Economia Geográfica, de Economia Regional e de Economia Humana. 143

O ponto de partida da política de Aménagement du Territoire é o chamado “diagnóstico geo-sócio-econômico” necessário para a criação de planos de incentivo ao crescimento e desenvolvimento regional. Através dele, é possível descobrir as distorções que impedem ou atrasam esse desenvolvimento. A etapa seguinte ao diagnóstico é o incentivo à participação da população com a proposta de agilizar as ações do poder público. O intercâmbio de idéias é essencial no desenvolvimento de todo o trabalho para a elaboração das políticas públicas necessárias para melhorar a qualidade de vida da população, um dos agentes sociais envolvidos na atividade turística, que precisa compreender e absorver todas as etapas do projeto. Nesse contexto, o poder do conhecimento e da informação está profundamente relacionado com o conceito de desenvolvimento, que pode ser definido como o processo de ampliação da capacidade de os indivíduos terem opções, fazerem escolhas. Assim, as comunidades podem compreender os fatores materiais e os indicadores econômicos que também abrangem os projetos. Ou seja, a ampliação do horizonte social e cultural da vida das pessoas aliadas à cooperação e solidariedade entre os membros da sociedade são cruciais para o desenvolvimento ocorrer. Desenvolvimento envolve o saber, a educação de um povo. Já quando se aborda o conceito de crescimento, ele seria um meio e um fim para atingir o desenvolvimento. Crescimento é associado ao poder econômico. A discussão engloba questões, entre outras da área econômica, como hábitos de consumo e renda per capita. Mesmo assim, crescimento não é condição única para promover o desenvolvimento, mas é necessário para as políticas públicas de superação da pobreza e geração de emprego e renda. O crescimento econômico não pode ser associado automaticamente ao desenvolvimento social e cultural.

Para destacar as diferenças entre crescimento e desenvolvimento, a Teoria de Perroux, uma das mais utilizadas e estudadas no meio acadêmico, enfatiza a força motriz capaz de influenciar as mudanças econômicas. Perroux desenvolve a Teoria dos Pólos de Crescimento, mostrando que a força motriz, por exemplo, uma indústria dentro de um sistema regional, é o pólo propulsor do desenvolvimento. Ela é uma das teorias que servem de base para as políticas econômicas e sociais vigentes. Foi elaborada em 1955 quando François Perroux estudou a concentração 144

industrial na França, em torno de Paris, e na Alemanha, ao longo do Vale do Ruhr. Segundo o autor, o desenvolvimento regional está sempre ligado ao pólo que detém essa força propulsora. Para reforçar as reflexões teóricas sobre esses conceitos, segundo Perroux apud Andrade (1987, p. 59-60), comparando o significado dos termos relata que [...] o pólo de desenvolvimento não se identifica com o de crescimento. [...] o desenvolvimento é a combinação de mudanças sociais e mentais de uma população que a tornam apta a fazer crescer, cumulativamente e de forma durável seu produto real, global. [...] O crescimento, porém, existe quando há aumento do produto global e, consequentemente, da renda per capita.

Já o desenvolvimento regional deve ser entendido como uma especificação do conceito de desenvolvimento. Lembra a necessidade do planejamento para o equilíbrio racional na utilização e dinamização de um território. Os objetivos fundamentais do desenvolvimento regional se traduzem no combate aos desníveis regionais; aproveitamento dos recursos e potencialidades das regiões; promoção do ordenamento do território; e, finalmente, a garantia da participação dos cidadãos na resolução dos problemas regionais. Como ressalta a tese de doutorado de Almeida (2005, p. 209), “o desenvolvimento regional proposto pelo plano regional dever ser o resultado da capacidade de organização dos atores sociais, em torno de um projeto coletivo”.

Relacionar e equilibrar objetivos de todos os atores sociais é um dos maiores obstáculos para a concretização de mudanças que possam, pelo menos, minimizar os desníveis regionais e incentivar a igualdade social. Os atores sociais, chamados também de agentes sociais, segundo Corrêa (2005, p.12), “fazem e refazem a cidade através de estratégias e ações concretas” que procuram atender aos interesses de cada um. São eles: os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários; o Estado; e os grupos sociais excluídos. Esse jogo de interesses torna complicada a elaboração das políticas de desenvolvimento implementadas pelos órgãos de gestão turística nas esferas federal, estadual e municipal. Como sugestão para reverter esse jogo, Wittmann, Dotto e Boff (2008, p. 320) adotam o termo “coopetitividade”, que significa “a busca da competitividade através da cooperação”, que pode ser uma alternativa para se trabalhar o planejamento integrado do turismo como “possibilidades Integrativas de processos regionais de desenvolvimento”. 145

Entre as alternativas para incentivar esse processo de planejamento integrado podem ser encaixar as novas tecnologias da informação e comunicação (TICs). Estas são resultados do processo do fim de um modelo de desenvolvimento econômico baseado em mercados fechados, como era o Brasil até os anos 80, por um modelo baseado na competitividade, informatização e globalização. Através delas, os governos buscam maior interação com os outros atores sociais como a comunidade e a iniciativa privada. No caso das políticas públicas do turismo, as alianças estratégicas através dessas tecnologias são ferramentas para compartilhar informações, riscos e oportunidades. Para dar certo, são necessárias cooperação e vontade política. Afinal, o desenvolvimento das TICs traz novos modelos de planejamento e gestão do turismo, incentivando ao invés da competição, a colaboração no sentido de formar redes interligadas. Afinal, de acordo com Wittmann, Dotto e Boff (2008, p. 326), “hoje o desenvolvimento amplia-se com a perspectiva de aplicação do conhecimento, tecnologia e inovação”.

3.6.2 As políticas do turismo no Brasil e na Bolívia: importância para o desenvolvimento

No Brasil, as políticas públicas do Turismo são elaboradas a partir das diretrizes da Lei Geral do Turismo, nº 11.771, sancionada em setembro de 2008. Essa lei define atribuições do Governo Federal no planejamento, desenvolvimento e estímulo ao setor turístico. Busca garantir apoio técnico, logístico e financeiro na consolidação do turismo para o desenvolvimento sustentável, geração de emprego e renda, conservação do patrimônio natural, cultural e turístico. A Lei Geral do Turismo institui a Política Nacional do Turismo, regida por leis e normas para planejamento do setor através de diretrizes e metas definidos no Plano Nacional do Turismo (PNT), estabelecido pelo Governo Federal. As bases do Plano envolvem proposta descentralizadora de gestão e estabelecimento de metas para o desenvolvimento.

A Secretaria Nacional de Políticas do Turismo no Brasil que, segundo informações contidas no portal do Ministério do Turismo, auxilia na execução da Política Nacional de Turismo, de acordo com as diretrizes propostas e os subsídios fornecidos pelo Conselho Nacional de Turismo. Além de monitorar a execução dessa política, implementa o modelo de gestão descentralizada do turismo nas suas dimensões gerencial e territorial, alinhando as ações do Ministério do Turismo (Mtur) com o Conselho Nacional de Turismo (CNT), o Fórum Nacional dos Secretários e 146

Dirigentes Estaduais de Turismo (FORNATUR) e os Fóruns/ Conselhos Estaduais de Turismo nas 27 Unidades da Federação brasileira. O trabalho da Secretaria, de acordo com informações contidas no site, é dividido entre os seguintes departamentos: Estudos e Pesquisas; Planejamento e Avaliação do Turismo; Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico; Relações Internacionais do Turismo; Promoção de Marketing Internacional. Sobre a importância das TICs, o Plano Nacional do Turismo no Brasil propõe consolidar um sistema de informações para o monitoramento dos impactos sociais, econômicos e ambientais da atividade. A proposta é promover a utilização das TICs como indutoras de competitividade.

A Bolívia direciona suas políticas de turismo a partir da Lei nº 2.074, de Promoção e Desenvolvimento da Atividade Turística, sancionada pela presidência em abril de 2000. A legislação boliviana sobre a atividade sempre relaciona turismo e cultura, ou seja, eles estão juntos para o incentivo ao desenvolvimento. A preservação cultural é considerada a chave para manter a identidade regional e gerar divisas para o país. Os principais objetivos da política estatal na atividade turística boliviana, que também envolvem proposta de uma gestão descentralizadora, são: garantir que o Estado, em todos os níveis de governo nacional, estadual e municipal, assegure condições necessárias para o desenvolvimento do turismo; garantir a preservação dos recursos naturais, históricos e arqueológicos; proteger o turista e fomentar a consciência turística; promover a capacitação entre profissionais do setor através de uma política de geração de emprego e renda, em especial entre as comunidades mais carentes.

A lei boliviana também cria o Conselho Nacional de Turismo para promover a cooperação entre o poder público e o setor privado para promover e desenvolver o turismo. Mesmo enfatizando questões de promoção, em nenhum dos seus artigos, a lei propõe diretrizes de uso das TICs para a divulgação das informações turísticas.

Sabe-se que as leis foram criadas para incentivar e consolidar o desenvolvimento através do turismo. Também se reconhece que os recursos para atender as demandas da sociedade em relação ao turismo são escassos, em especial nos países em desenvolvimento onde nem todas as reivindicações dos atores sociais do turismo são atendidas. No caso dos países que possam integrar uma futura Rede Pantanal-Pacífico de Turismo que vai reunir indivíduos de culturas diversas, é necessário um plano estratégico de uso das TICs. Afinal, segundo 147

Dallabrida (2010, p.139), “os espaços/ territórios tornam-se emergentes pelo seu padrão de competitividade global e pela capacidade de cada âmbito em conectar-se aos principais fluxos e inserir-se nas redes”.

3.6.3 Por onde começar: proposta para o turismo em rede entre Brasil e Bolívia

A criação e o fortalecimento de uma eficaz rede turística entre os sites dos governos do Brasil e da Bolívia se consolida através de parcerias com a vontade política de investir na atividade e deve envolver as seguintes esferas: nacional, regional, estadual e municipal. Fazendo parte do planejamento da atividade turística nestes países, o planejamento de sites turísticos deve ser incluído na definição de diretrizes, estratégias e ações de comunicação para a promoção de sua cultura e seus atrativos na rede. Guimarães & Poggi e Borges (2008) apresentam sugestões para o planejamento na internet que podem ser aplicadas na proposta para as redes turísticas dos sites dos governos dos dois países.

O primeiro passo é ter em mente que a internet alcança espaços virtuais em todo o planeta e que as políticas públicas de turismo devem levar em conta esse potencial para o desenvolvimento da atividade. O trabalho requer a análise de um panorama socioeconômico e cultural dos países envolvidos, assim como o da utilização das tecnologias de informação e comunicação (TICs). A partir do estudo desses panoramas, observar as oportunidades e ameaças ao planejamento para a definição dos objetivos e estratégias, de planos operacionais, de conteúdo e divulgação de sites.

Voltando ao mapa apresentado e comentado no item 3.4.3.7 deste trabalho, que apresenta as principais conexões identificadas de comunicação e informação turística, os governos devem estar atentos à brechas digitais, ou seja, quais os países que pouco se conectam com o Brasil e a Bolívia para que sejam definidas novas estratégias de divulgação e disseminação da informação.

Cada país deve levar em conta suas próprias questões sociais e culturais, porém dentro do planejamento de um turismo em rede, saber que as ações envolvem o desenvolvimento integrado do turismo. Para incentivar essa cooperação, é necessária a criação de uma comunidade que seria chamada de Rede Pantanal Pacífico de Turismo e poderia ser organizada nos moldes de redes sociais como o 148

Facebook e o Orkut, porém integrando em seu conteúdo materiais específicos para turistas, empresários e governos. Essa comunidade virtual teria conexões entre todos os sites dos governos de países sul-americanos. Todos os integrantes dessa rede poderiam contribuir com mais conteúdo. A gestão e administração desse material podem ser de responsabilidade de uma equipe formada entre os principais profissionais e pesquisadores das TICs de cada um dos países membros. A disseminação e o aperfeiçoamento dessa rede devem ser incluídos no planejamento estratégico dos governos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso das tecnologias da informação e comunicação para o desenvolvimento do turismo é um caminho natural em um mundo globalizado, mas ainda é complicado prever o futuro nesse sentido. A internet é uma rede em mutação constante. A cada minuto aparecem novas tecnologias, tornando outras obsoletas. O desafio dos governos é a adaptação contínua diante das mudanças para a utilização dessas tecnologias de forma consciente e produtiva na divulgação da informação turística.

Em muitos aspectos, os sites dos governos do Brasil e da Bolívia buscam criar novas opções de interatividade com os usuários, mas ainda existem alguns problemas de arquitetura de informação e usabilidade como: conteúdo insuficiente ou confuso; disposição desorganizada dos elementos interativos; problemas de navegação; interface e design que não correspondem aos objetivos, missão e visão do site em relação ao público alvo. Todos são desafios que podem ser resolvidos com trabalho constante e vontade política. O potencial dessas redes, em muitos casos, deixa de ser utilizado como poderia. Elas poderiam ter um maior alcance para criar ainda mais redes para a integração turística sul-americana.

A implantação de políticas públicas que levem em conta ações que atendam aos anseios dos atores sociais envolvidos com a atividade turística é um trabalho ainda complicado. Por isso, compartilhar o conhecimento e divulgar a informação sobre o verdadeiro sentido das políticas públicas de turismo, além das questões burocráticas e institucionais, deve ser o objetivo principal das redes de informação dos governos. 149

A criação da uma rede turística Brasil-Bolívia na internet, inicialmente nos moldes de redes sociais como Orkut e Facebook, é uma proposta para essa integração no ciberespaço, além da proximidade geográfica já existente. A partir desta primeira rede, o próximo passo envolveria a elaboração da que seria a Rede Pantanal-Pacífico de Turismo para integração sul-americana de desenvolvimento do turismo, usando as novas tecnologias para incentivar o desenvolvimento regional e sustentável.

150

CONSIDERAÇÕES FINAIS GERAIS

O potencial das redes de informação formadas pela internet é infinito. Ainda não se sabe o que está por vir quando o assunto é a rede e as tecnologias de informação e comunicação (TICs). Por outro lado, há muito tempo se pode perceber o quanto já foi descoberto, quantas possibilidades existem para o desenvolvimento da rede mundial. Inúmeras conexões já existem e mais virão através dos contatos no ciberespaço. Nesse sentido, é essencial que as ciências estejam também conectadas entre si para o acompanhamento dessas mudanças.

No caso deste trabalho, se faz a abordagem da Geografia, Comunicação e do Turismo que juntos podem contribuir para a evolução das relações sociais no mundo virtual que formam territórios que vão além das fronteiras físicas. Quem poderia imaginar que um dia existiriam territórios e territorialidades tão efêmeras, mas ao mesmo tempo tão fortes e presentes e, que são capazes de provocar tantas mudanças de paradigmas quando o assunto são as redes de informações turísticas na internet?

O ciberespaço, nascido e compartilhado através das conexões entre computadores, deve ser estudado em profundidade. É verdade que esse espaço pode ser efêmero e pode ser complicado tentar entender as relações sociais e representar através de mapa essa rede no mundo virtual. Porém, se sabe que muitos estudos que pareciam vagos ou impossíveis tiveram de começar em algum ponto. É quando se percebe que é o momento de aperfeiçoar metodologias, criar núcleos de pesquisa capazes de entender as transformações nesse mundo globalizado.

As abordagens dos autores citados neste trabalho mostram a progressiva necessidade de entendimento e debate sobre o mundo afetado e transformado pela internet. Na seção 1 deste trabalho, o uso das abordagens de autores como Andrade (2000), Boullón (2002), Carvalho (2007,2008), Castells (1999), Christofoletti (2004), Corrêa (1982, 2008), Cruz (2003), Dias (2008), Dias e Aguiar (2002), Dollfus (1991), Ignarra (2003), Garcia Netto (2009), Guimarães & Poggi e Borges (2008), Hargittai e Centeno (2001), Harvey (2010), Higa (2008), Leão (2002, 2004), Lévy (1996, 2000), Marietto (2001), Raffestin (1993), Recuero (2009), Santos (1985, 2004, 2006, 2009), Silva e Tancman (1999), Souza (2008) foram essenciais na 151

fundamentação teórica necessária para entender a geografia, o turismo e o ciberespaço assim com seus conceitos principais e as relações entre eles.

Na seção 2, autores como Bicudo (2004), Bordoni (2011), Castro (2005), Cruz (2007), Dias (2007, 2008), Egler (2007), Haesbaert (2002, 2005, 2006, 2008), Knafou (2001), Martino (2007), Peres, Correia e Moital (2011), Pinho (2003), Raffestin (1993), Rodrigues (1999, 2001, 2006), Sarmento (2004) e Sposito (2008), entre outros, ajudaram com suas reflexões sobre o papel das redes de comunicação e informação na promoção do turismo na internet.

Para a compreensão e análise dos dados apurados sobre as realidades do Brasil e da Bolívia assim como dos sites escolhidos em relação ao turismo e as TICs, foram consultados autores como Andrade (1987), Cabo (1997), Dallabrida (2000, 2010), Fragoso e Maldonado (2009), Wittmann, Dotto e Boff (2008) e reportagens divulgadas na internet sobre o assunto.

O estudo da Geografia do Ciberespaço para mapear as redes de informação e comunicação, em especial nos sites turísticos dos governos que foram objetos de análise nessa pesquisa, demonstra novas alternativas para quantificar os fluxos e visualizar o alcance dessas redes. Pesquisadores nessa linha, em todo o mundo, continuam a desenvolver inúmeras formas de mapeamento. Como já foi dito anteriormente, as possibilidades são infinitas.

A internet, através das novas TICs, traz alternativas para a promoção do turismo na internet divulgando informações culturais, sociais, políticas e econômicas de cada localidade. O conhecimento aliado à técnica é essencial para a comunicação se tornar mais ágil e eficaz. Afinal, comunicação sem informação é o que muito se observa em vários sites na rede turística. É a comunicação com algum sentido para poucos ou até sem sentido para muitos. Diante dessa realidade é um momento em que os atores sociais que participam das atividades turísticas estejam atentos às mudanças e que sejam capazes de entender que a internet veio mesmo para ficar. Mas, ainda existem muitas dúvidas entre os atores sobre como utilizar forma mais eficiente essa ferramenta para a promoção do turismo e do desenvolvimento regional.

Através da pesquisa na rede, pode se encontrar vários exemplos de iniciativas de criatividade e profissionalismo para a promoção de países através de 152

seus atrativos turísticos, produtos e serviços. Alguns deles, estão nos sites apresentados neste trabalho. O site bem construido abriga varias maneiras de despertar a imaginação geográfica do turista. Através das informações, ele sai do seu ponto de origem e chega ao destino escolhido com mais certeza de que sua viagem será como o imaginado. O turista satisfeito é um nó essencial para o crescimento da rede, atraindo capital e recursos necessários para o crescimento e o desenvolvimento sustentável em qualquer região.

A informação é poder no processo de formação de territórios e territorialidades do turismo. E, com a internet é necessário rever os conceitos de poder e das relações formadas a partir dela em um mundo de constantes mudanças e revoluções técnicas. Como já foi abordado durante este trabalho, o poder continua tendo inúmeras formas para vigiar e controlar, em especial na internet. Por outro lado, a mesma rede que dá tanto poder pode enfraquecer essa autoridade. Na internet, quem vigia pode ser vigiado, criticado ou elogiado. O poder está além das relações de Estado-Nação.

A discussão sobre o poder nesse trabalho afirmou como a velocidade das mudanças proporcionadas pelas novas TICs traz novos paradigmas que trazem a necessidade de discussões e reflexões sobre o que é autoridade, dominação e influência. Diante dessa realidade, o poder é cada vez mais volátil, se molda e recria novas possibilidades e oportunidades de controle. Como disse Raffestin (1993, p.201-202), “o ideal do poder é agir em tempo real”. Quem domina o mundo a partir do século XXI? Através das leituras e pesquisas para esse trabalho, sabe-se que o poder militar continuará, mas o poder em si é reforçado pelas empresas e organizações globais e a tecnologia da internet através da disseminação de informações e idéias que podem ser consideradas nocivas ou não. O julgamento de valores envolve questões culturais, éticas, econômicas, políticas e sociais.

A reflexão acima confirma que a criação de planos mais eficazes de comunicação e marketing para o planejamento do turismo é de inestimável ajuda para obter desenvolvimento através do fortalecimento e consolidação de uma economia sustentável. A internet com o uso das novas tecnologias de informação e comunicação pode ajudar a promover um turismo além do que conhecemos 153

atualmente com amplas possibilidades de conhecimento e momentos inesquecíveis para o viajante.

Quando o assunto é a rede de informações turísticas, entre os atores sociais, os governos buscam, além de promover seus países, divulgar suas políticas públicas para a atividade. Para este trabalho, foram pesquisados e analisados sites dos governos do Brasil e da Bolívia. As pesquisas na internet e os contatos com os administradores dos sites através de entrevistas informações nas redes sociais foram produtivas. Porém, durante a apuração de dados sobre o monitoramento de acessos de outros países nos sites estudados aconteceu a surpresa para quem esperava comparar dados em tempos pré-definidos como é feito em inúmeros estudos acadêmicos.

A velocidade das mudanças e dos processos de formação das redes que a tornam tão ágil em transmissão e armazenamento de dados também são a causa de problemas para a sua apuração. A efemeridade da internet impossibilitou a comparação de dados entre os sites em um mesmo período de tempo. Muitas informações não conseguiram ser apuradas por problemas técnicos apresentados pelos administradores dos sites escolhidos para a pesquisa. Mas, esse fato não mudou o rumo do trabalho ou “matou” a pesquisa. Mostrou que é necessário buscar novas metodologias para se possam realizar análises de acordo com uma nova relação tempo e espaço e, as novas TICs.

O fato, na verdade até enriqueceu o produto das análises e ajudou na confirmação da hipótese lançada no projeto da pesquisa: os sites turísticos dos governos, pelo menos os que foram analisados para este trabalho, buscam orientar suas ações para a gestão democrática da informação através da tecnologia. A articulação das políticas públicas do turismo entre os atores sociais pode ser cada vez melhor através do uso das tecnologias.

Mesmo assim, sabe-se que existe muito a ser feito e melhorado para se atingir a plenitude da gestão democrática da informação das políticas públicas, mas é fato que o uso das TICs para a promoção e desenvolvimento do turismo é cada vez mais real. O desafio, no caso dos governos, é a vontade política para a promoção de planos de integração turística nos próprios territórios e também com 154

outros países. Outro desafio é a adaptação contínua diante das mudanças para a utilização dessas tecnologias de forma consciente e produtiva na divulgação da informação turística.

Os sites dos governos do Brasil e da Bolívia buscam criar novas opções de conexão com os usuários, mas ainda existem alguns problemas de arquitetura de informação e usabilidade que podem ser resolvidos com criatividade, profissionalismo e observação constantes. É possível a criação de redes para uma futura integração turística sul-americana. É necessário que as políticas públicas incluam em suas ações o investimento nas TICs para a promoção do turismo na busca do desenvolvimento regional.

Esta pesquisa analisa uma série de dados sobre o papel das redes de informações nos sites dos governos do Brasil e da Bolívia. E, pode-se concluir que quanto mais pesquisas e conhecimento nessa linha, será mais fácil a elaboração de sugestões para o melhor uso das tecnologias de informação e comunicação. Afinal, elas são aceitas por todas as sociedades, cresce e se moderniza a cada segundo. A partir das análises, pode-se destacar que os atores sociais envolvidos com o turismo têm o dever de incentivar e promover o intercâmbio de conhecimentos sobre a importância do turismo como vetor do desenvolvimento regional. É hora de criar novas alternativas para o estudo do espaço e de desenvolvimento das regiões.

155

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Márcia Ajala. Política de Desenvolvimento e Estruturação do Espaço Regional da Área da Bodoquena em Mato Grosso do Sul. 2005. 393f. Tese (Doutorado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2005.

ANDRADE, José Vicente de. Turismo: fundamentos e dimensões. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000.

ANDRADE, Manoel Correia de. Espaço, polarização e desenvolvimento: uma introdução à economia regional. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1987.

ARAÚJO, Tereza Cristina Malveira de; ROSSI, Ângela Maria Gabriela. O real, o virtual e a internet na era da informação. Disponível em: < http://cumincades.scix.net/data/works/att/43bb. content.pdf> . Acesso em: 17 abr. 2011.

BATTY, Michael. Geografia Virtual. Traduzido por Márcia Siqueira de Carvalho e Daiana Bragueto Martins. Geografia, Londrina, v. 12, n.1, p. 427-440, jan.-jun., 2003. Disponível em: . Acesso em: 7 abr. 2011. BICUDO, Sérgio. Cultura digital e arquitetura da informação. In: LEÃO, Lúcia (org.). Derivas: cartografias do ciberespaço. São Paulo: Annablume, 2004. p. 101-108 BOLIVIA tiene la banda ancha más lenta y cara de Latinoamérica. La Razón. La Paz, 27 mai. 2011. Disponível em:< http://www.la- razon.com/version.php?ArticleId=131123&EditionId=2606&a=1> Acesso em: 30 jul. 2011. BORDONI, Luciana. Technologies to support cultural tourism for Latin Latium. Journal of Hospitality and Tourism Technology, United States, v.2, n.2, p.96-104, 2011. Disponível em: . Acesso em: 29. out. 2011

BOULLÓN, Roberto C.. Planejamento do Espaço Turístico. Bauru, SP: EDUSC, 2002.

CABO, Arturo Rua de. Planejamento Regional: conceitos e modelos do ordenamento territorial. In: CAVALCANTI, Agostinho Paula Brito. et al. (org.). Desenvolvimento Sustentável e Planejamento: bases teóricas e conceituais. Fortaleza: UFC – Empresa Universitária, 1997. p. 27-35.

CARVALHO, Vanilde Alves de. et al. Geografia, Turismo e a desterritorialidade dos atrativos. Revista Mato-grossense de Geografia, Cuiabá, Ano 12, n.11. p. 203- 217. ago./dez. 2007. 156

______. Análise da Viabilidade de Implantação da Rota Pantanal-Pacífico (Brasil, Bolívia, Peru, Chile e Argentina). 2008. 156f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2008. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 12. reimp. (A Era da Informação, Economia, Sociedade e Cultura, 1) ______. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. CASTRO, Iná Elias de. Geografia e Política: Território, escalas de ação e instituições. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. CENTRO DE ESTUDOS SOBRE AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO. Disponível em: Acesso em: 10 de ago. 2011. CHRISTOFOLETTI, Anderson Luís Hebling. Sistemas Dinâmicos: as abordagens da Teoria do Caos e da Geometria Fractal em Geografia. In: VITTE, Antônio Carlos; GUERRA, Antônio José Teixeira. Reflexões sobre a Geografia Física no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Geográfico: Algumas Considerações. In: SANTOS, Milton (org.). Novos Rumos da Geografia Brasileira. São Paulo: Hucitec, 1982. p. 25-34. ______. O Espaço Urbano. 4. ed. São Paulo: Editora Ática, 2005.

______. Espaço: um conceito-chave da Geografia . In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (org.). Geografia: conceitos e Temas. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 15-47

CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Introdução à Geografia do Turismo. 2.ed. São Paulo: Roca, 2003.

______. As redes, o território e o turismo. In: CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Geografias do Turismo: de Lugares a Pseudo-Lugares. São Paulo: Roca, 2007. p. 27-34 DALLABRIDA, Valdir Roque. O desenvolvimento regional: a necessidade de novos paradigmas. Ijuí: Ed. Ijuí, 2000.

______. Desenvolvimento regional: por que algumas regiões se desenvolvem e outras não? . Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2010.

DIAS, Leila Christina. Os sentidos da rede: notas para discussão. In: DIAS, Leila Christina; SILVEIRA, Rogério Leandro Lima da (org.). Redes, sociedades e territórios. 2.ed. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2007. p.11-28

______. Redes: Emergência e Organização. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (org.). Geografia: conceitos e Temas. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 141-162 157

DIAS, Reinaldo; AGUIAR, Marina Rodrigues de. Fundamentos do Turismo: conceitos, normas e definições. Campinas, SP: Editora Alinea, 2002. DOLLFUS, Olivier. O Espaço Geográfico. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. EGLER, Tamara Tania Cohen (org.). Ciberpólis: redes no governo da cidade. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007. FRAGOSO, Sueli; MALDONADO, Alberto Efendy. Panorama da Internet na América Latina. In: FRAGOSO, Sueli; MALDONADO, Alberto Efendy (orgs.). A Internet na América Latina. Porto Alegre: Sulina, 2009. p. 13-39. FUNDAÇÃO DE TURISMO DE MATO GROSSO DO SUL. Governo do Estado de Mato Grosso do Sul. Disponível em: http://www.turismo.ms.gov.br. Acesso em: 1 de ago. 2011. GARCIA NETTO, Luiz da Rosa. Estudo das Potencialidades Turísticas, Ambientais e Sócio-Econômicas com vista à melhor integração entre Brasil, Bolívia, Peru e Chile, através do turismo. Relatório (Pós-Doutorado Júnior em Geografia). 2008. 98 f. Grupo de Estudos Estratégicos e de Planejamento Integrados. Universidade Federal de Mato Grosso. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2009. GIBSON, William. Neuromancer.São Paulo: Aleph, 1991. GOBIERNO AUTÓNOMO MUNICIPAL DE LA PAZ. Disponível em:< http://www.lapaz.bo/. Acesso em: 14 ago. 2011 GUIMARÃES, André Sathler; POGGI E BORGES, Marta. E-turismo: internet e negócios do turismo. São Paulo:Cengage Learning, 2008.

HAESBAERT, Rogério. Territórios Alternativos. Niterói: EdUFF, São Paulo: Contexto, 2002. ______. Des-caminhos e perspectivas do território. In: RIBAS, Alexandre D.; SPOSITO, Eliseu S.; SAQUET, Marcos Aurélio. (org.) Território e desenvolvimento: diferentes abordagens. 3.ed. Francisco Beltrão: Unioeste, 2005. p 87-119. ______. O Mito da Desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

______. Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (org.). Geografia: conceitos e Temas. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.p. 165-205 HARGITTAI, Eszter; CENTENO, Miguel Angel. Defining a Global Geography. American Behavioral Scientist, Thousand Oaks (CA), v. 44, n.10, p. 1545-1560, jun. 2001. Disponível em: http://abs.sagepub.com/content/44/10/1545. Acesso em: 7 abr. 2011. HARVEY, David. Condição Pós-Moderna.19.ed.São Paulo: Loyola, 2010. 158

HEWITT, Hugh. Blog: entenda a revolução que vai mudar seu mundo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2007. HIGA, Tereza Cristina Cardoso de Souza. Diversidade territorial na área fronteiriça de Mato Grosso e Bolívia. In: HIGA, Tereza Cristina Cardoso de Souza (org.). Estudos Regionais Sul-Americanos: sociocultura, economia e dinâmica territorial na área central do continente. Cuiabá: EdUFMT, 2008. IGNARRA, Luiz Renato. Fundamentos do Turismo. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em:< http://www.ibge.com.br/home/. Acesso em: 1 ago. 2011. INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICA. Disponível em:

LÉVY, Pierre. O que é o virtual?. São Paulo: Ed. 34, 1996.

______. Cibercultura. 2.ed. São Paulo: Ed. 34, 2000.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MARIETTO, Maria das Graças Bruno. Sociedade da Informação e Geografia do Ciberespaço. Interações: Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Campo Grande , Ano 2, v.2, n.3, p.29-36, set. 2001. Disponível em: < 159

http://www3.ucdb.br/mestrados/RevistaInteracoes/n3_maria_das_gracas.pdf> Acesso em: 1 ago.2010 MARTINO, Luiz C. De qual comunicação estamos falando? In: HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. p. 11-25 MATRIX. Direção: Andy e Larry Wachowski. Produção: Joel Silver Roteiro: Andy e Larry Wachowski. Elenco principal: Keanu Reeves; Laurence Fishbourne; Carrie - Ane Moss; Hugo Weaving. Estados Unidos e Austrália: Village Road Show; Warner Brothers, 1999. 1 filme (136min.), som, color. 35mm

MINISTÉRIO DO TURISMO. Disponível em: . Acesso em: 9 mar 2011.

______. De olho na intenção do turista. Disponível em: < ttp://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20110330-1.html>. Acesso em: 30 mar 2011. ______. Hábitos de Consumo do Turismo Brasileiro 2009. Disponível em: < http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/noticias/todas_noticias/Noticias _download/13.11.09_Pesquisa_Hxbitos_2009.pdf>. Acesso em 18 jul. 2011 ______. As mídias sociais e o turismo. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20110716-6.html. Acesso em: 29 jul. 2011. ______. Anuário Estatístico do Turismo 2011. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas de Turismo. v. 38. Ano base 2010, 2011 MINIWATTS MARKETING GROUP. Internet World Stats: usage and population statistics. Disponível em: . Acesso em: 17 ago. 2011. MORA, Ramiro. El Internet en Bolivia. La Paz, 15 jan, 2010. Disponível em:< http://www.ramiromora.com/me/publicaciones/49-el-internet-en-bolivia->. Acesso em 31 jul. 2011. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Disponível em: . Acesso em: 30 mar. 2011. OKADA, Alexandra; ALMEIDA, Fernando. Navegar sem mapa? In: LEÃO, Lúcia (org.). Derivas: cartografias do ciberespaço. São Paulo: Annablume, 2004. PERES, Rita; CORREIA, Antonia; MOITAL, Miguel. The indicators of intention to adopt mobile electronic tourist guides. Journal of Hospitality and Tourism Technology, United States, v.2, n.2, p.120-138, 2011. Disponível em: . Acesso em: 30. out. 2011

PETROCCHI, Mario. Turismo: planejamento e gestão. São Paulo: Futura, 1998. PINHO, J.B. Jornalismo na Internet: planejamento e produção da informação online. São Paulo: Summus, 2003. 160

PIRES, Hindenburgo Francisco. Reflexões sobre o advento da Cibergeografia ou o surgimento da Geografia Política do Ciberespaço: contribuição a crítica à Geografia Crítica. In: Encontro Nacional de História do Pensamento Geográfico,2, 2009. Anais. São Paulo: ENHPG, 2009. Disponível em: http://enhpgii.files.wordpress.com/2009/10/hindenburgo-pires.pdf. Acesso em: 21 set. 2010. PLEIN, Ivonete Terezinha Tremea. et al. Território e territorialidade na perspectiva de Robert David Sack. In: SAQUET, Marcos Aurélio; SOUZA, Edson Belo Clemente de, (orgs.). Leituras do conceito de território e de processos espaciais. São Paulo: Expressão Popular, 2009. p. 47-66 PORTAL DO GOVERNO ELETRÔNICO. Disponível em: < http://www.governoeletronico.com.br/> Acesso em: 19 ago. 2011.

RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. RODRIGUES, Adyr Balastreri.Turismo e Espaço: rumo a um conhecimento transdisciplinar. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.

______. Desafios para os estudiosos do turismo. In: RODRIGUES, Adyr Balastreri. (org.). Turismo e Geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2001. p.17-32 ______. Turismo e territorialidades plurais – lógicas excludentes ou solidariedade organizacional. In: LEMOS, Amalia Inés de; ARROYO, Mônica; SILVEIRA, Maria Laura. América Latina: cidade, campo e turismo, San Pablo, p. 297-315, deciembre. 2006. Disponível em < http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/edicion/lemos/17rodrigu.pdf> Acesso em: 6 ago. 2010.

ROTA PANTANAL PACÍFICO: a maior aventura das Américas. Disponível em: Acesso em: 27 jul. 2011 RUSCHMANN, Doris. Turismo e planejamento sustentável. 13.ed. São Paulo: Papirus, 2006. SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985. 1.reimp. ______. A Natureza do Espaço: técnica e tempo; razão e emoção. 4.ed. São Paulo: Edusp, 2004. 1. reimp.

______; SILVEIRA, Maria L. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006. ______. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 18.ed. Rio de Janeiro: Record, 2009.

SAQUET, Marcos Aurélio. Abordagens e concepções de território. 2.ed. São Paulo: Expressão Popular , 2010. 161

SARMENTO, João Carlos Vicente. Representação, Imaginação e Espaço Virtual: Geografias de Paisagens Turísticas em West Cork e nos Açores. Coimbra: Fundação Calouste Gulbekian, 2004. SECRETARIA DE ESTADO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE MATO GROSSO. Disponível em: < http://www.sedtur.mt.gov.br/>. Acesso em: 14 ago. 2011 SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Políticas públicas: conceitos e práticas. Belo Horizonte, 2008. Série Políticas Públicas. v.7. SILVA, Carlos Alberto F da; TANCMAN, Michéle. A Dimensão Socioespacial do Ciberespaço: Uma Nota. GEOgrafhia, Niterói, Ano 1, v.1, n. 2. p. 55-66, 1999. Semestral. Disponível em: http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/view/18/16. Acesso em: 18 fev. 2011. SOUZA, Marcelo Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (org.). Geografia: conceitos e Temas. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.p. 77-116 SPOSITO, Eliseu Savério. Redes e Cidades. São Paulo: Editora UNESP, 2008. STAR TREK: FIRST CONTACT. Direção: Jonathan Frakes. Produção: Rick Berman. Roteiro: Brannon Braga; Ronald D. Moore. Elenco principal: Patrick Stewart; Jonathan Frakes; Alice Krige. Estados Unidos: Paramount Pictures, 1996. 1 filme (111 min.), som, color. 35mm TELECO. Disponível em: < http://www.teleco.com.br/> Acesso em: 29 jul. 2011. TELES, Reinaldo Miranda de Sá. Fundamentos Geográficos do Turismo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. O turismo no espaço globalizado. In: RODRIGUES, Adyr Balastreri (org.). Turismo, Modernidade e Globalização. 2.ed. São Paulo: Hucitec, 1999.

TWILIGHT IN FORKS. Direção: Jason Brown. Produção: York Baur e Jason Brown. Estados Unidos: Summit Entertainment; Heckelsville Media; Paris Filmes, 2009. 1 filme documentário (89 min.), som, color. 35mm

UNIÃO INTERNACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES. Disponível em: < http://www.itu.int/> Acesso em: 2 ago. 2011. VARUM, Celeste Amorim. et al. Scenarios and possible future for hospitality and tourism. Foresight, United Kingdom, v.13, n.1, p. 19-35, agosto 2011. Disponível em: . Acesso em: 14. nov. 2011.

VESENTINI, José William. Novas Geopolíticas: as representações do século XXI. São Paulo: Contexto, 2011. VILALBA, Rodrigo. Teoria da comunicação: conceitos básicos. São Paulo: Ática, 2006. 162

VISITA COPACABANA. Disponível em:. Acesso em: 14 ago. 2011 WITTMANN, Milton Luiz; DOTTO, Dalva Regina; BOFF, Vilmar Antônio. Desenvolvimento regional: análise de processos organizacionais de desenvolvimento integrado. In: BECKER, Dinizar F.; Wittmann Milton Luiz. (orgs.) Desenvolvimento regional: abordagens interdisciplinares. 2. ed. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2008. p. 319-339.

163

ANEXO