O Nacionalista E Poeta Angolano Que Morreu Em Pequim

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O Nacionalista E Poeta Angolano Que Morreu Em Pequim Figura controversa, nacionalista con- victo, primeiro, mas breve, secretário- geral do Movimento Popular para a Lib- ertação de Angola (MPLA), importante poeta da angolani- dade, de seu nome completo Viriato Francisco Clemente da Cruz nasceu no Kikuvo, Porto Am- boim, no Kuanza Sul, a 19 de Março de 1928, para morrer muito longe em so- frido exílio vivido durante sete anos em Pequim, a 13 de Junho de 1973. Viriato Abandonada pelo pai, a família em que cresceu Viriato da Cruz vivia em situa- ção apertada, mas que não impediu os seus estudos no Liceu Nacional Salva- dor Correia de Sá (de- pois da independên- cia renascido com da Cruz o nome do herói da revolta Bailundo de 1902 Mutu Ya Kevela) inaugurado ainda em 1919 para, depois de 1942, se instalar majestoso em enorme edifício com torre, dois de- morados claustros e uma inconfundível fachada amarela decorada com um grande planisfério. Um renovado liceu que Viriato da Cruz não chegou a con- hecer, estudando com sucesso nas suas velhas instala- ções provisórias da Avenida do Hospital, reunindo centenas de alunos maioritari- amente brancos, alguns mestiços e muito poucos negros. Nunca viria a sa- ber, e talvez mesmo estranhasse, que a Associação dos Antigos Alunos do Liceu Salvador Correia em Portugal lusofonias o nacionalista nº 11 | 02 de Setembro de 2013 Este suplemento é parte integrante e do Jornal Tribuna de Macau e não poeta angolano pode ser vendido separadamente que morreu COORDENAÇÃO: Ivo Carneiro de Sousa em Pequim TEXTOS: • O Movimento dos Novos Intelectuais de Angola • Acção Política: do Partido Comunista de Angola ao MPLA • Contradições, Dissidência e Exílio em Pequim • A Poesia de Viriato da Cruz: a descoberta da Angolanidade • Viriato da Cruz, Poemas Dia 09 de Setembro: A China e Moçambique: uma relação emergente APOIO: vivido durante sete anos em Pequim, a 13 de Junho de 1973. Abandonada pelo pai, a família em que Viriato da Cruz: cresceu Viriato da Cruz vivia em situação apertada, mas que não impediu os seus estudos no Liceu Na- cional Salvador Correia de Sá (depois da indepen- o nacionalista dência renascido com o nome do herói da revolta Bailundo de 1902 Mutu Ya Kevela) inaugurado ainda em 1919 para, depois de 1942, se instalar majes- e poeta angolano toso em enorme edifício com torre, dois demora- dos claustros e uma inconfundível fachada amarela que morreu decorada com um grande planisfério. Um renovado liceu que Viriato da Cruz não chegou a conhecer, estudando com sucesso nas suas velhas instalações em Pequim provisórias da Avenida do Hospital, reunindo cen- tenas de alunos maioritariamente brancos, alguns mestiços e muito poucos negros. Nunca viria a sa- ber, e talvez mesmo estranhasse, que a Associação Ivo Carneiro de Sousa dos Antigos Alunos do Liceu Salvador Correia em Portugal instituiu há poucos anos um prémio lite- rário com o seu nome. Mais do que justo ou não Ô ANTO igura controversa, nacionalista convicto, primei- fosse Viriato da Cruz uma das figuras mais tutela- S S Fro, mas breve, secretário-geral do Movimento res dos caminhos que, desde o final da década de Lá vai o sô Santo... Popular de Libertação de Angola (MPLA), importan- 1940, convidaram a percorrer as raízes culturais de Bengala na mão te poeta da angolanidade, de seu nome completo Angola, depois propondo mesmo uma literatura ge- Grande corrente de ouro, que sai da lapela Viriato Francisco Clemente da Cruz nasceu no Ki- nuinamente angolana que rapidamente alimentou Ao bolso... que não tem um tostão. kuvo, Porto Amboim, no Kuanza Sul, a 19 de Março o protesto político, preparando a demorada luta de Quando sô Santo passa de 1928, para morrer muito longe em sofrido exílio libertação nacional. Gente e mais gente vem à janela: - “Bom dia, padrinho...” - “Olá!...” - “Beçá cumpadre...” - “Como está?...” - “Bom-om di-ia sô Saaanto!...” OVIMENTO DOS OVOS NTELECTUAIS DE NGOLA - “Olá, Povo!...” O M N I A Mas por que é saudado em coro? Porque tem muitos afilhados? Porque tem corrente de ouro ngola entrou na década de dos, conseguiam por vezes editar jovens intelectuais que, principal- A enfeitar sua pobreza?... Aquarenta do século passado um jornal ou boletim em que se mente de Luanda e recém saídos Não me responde, avó Naxa? com um modelo de sistema co- começavam a descobrir alguns dos seus liceus e colégios, viria a - “Sô Santo teve riqueza... lonial que o poder do regime de textos pensando a condição de desaguar turbulenta, em 1948, no Dono de musseques e mais musseques... Salazar queria mais do que es- Angola, as suas culturas, o seu desafio lançado por Viriato da Cruz Padrinho de moleques e mais moleques... tável e duradouro, assentando futuro. Algumas destas associa- “Vamos descobrir Angola” a partir Macho de amantes e mais amantes, economicamente nas produções ções e clubes tinham sobretudo da sua mobilizadora presença na Beça-nganas bonitas Que cantam pelas rebitas: do café e do algodão que, mobi- em Luanda os seus próprios sa- Anangola (em kimbundu, filhos de “Muari-ngana Santo dim-dom lizando abundante mão-de-obra lões que, juntamente com outros Ana Angola, mas formalizada pru- ualó banda ó calaçala dim-dom angolana, quase servil e pro- espaços populares ou simples- dentemente como Associação dos chaluto mu muzumbo dim-dom...” fundamente explorada, tinham mente quintais, foram sendo fes- Naturais de Angola). Dois anos de- Sô Santo... reordenado os espaços políticos tivamente agitados desde 1947 pois, bem mais organizadamente, Banquetes p´ra gentes desconhecidas e administrativos em favor da pela música singular dos N’Gola os jovens Viriato da Cruz, António Noivado da filha durando semanas urbanização das grande cidades Ritmos. Criado naquele ano pelo Jacinto, Mário António e vários ou- Kitoto e batuque pró povo cá fora Champanha, ngaieta tocando lá dentro... portuárias e encruzilhadas nas grande Liceu Vieira Dias, Domin- tros, congraçados por uma mesma Garganta cansado: principais redes viárias e ferro- gos Van-Dúnem, Mário da Silva necessidade de renovação cultural “coma e arrebenta viárias que asseguravam o escoa- Araújo, Manuel dos Passos e Nino e literária, fundaram o Movimento e o que sobra vai no mar...” mento da crescente colonização Ndongo, o grupo juntava as violas dos Novos Intelectuais de Angola Hum-hum e produção agrícolas. O interior às percussões para cantar música que, logo em 1950, publica a Anto- Mas deixa... do país tenderia a fechar-se, a kimbundu inspirada tanto nos la- logia dos Novos Poetas de Angola. Quando Sô Santo morrer, isolar-se e a permitir o controlo mentos fúnebres das bessanganas A seguir, o movimento foi respon- Vamos chamar um Kimbanda Para ngombo nos dizer quase total de enormes explo- quanto nos ritmos da semba que sável pela publicação da revista Se a sua grande desgraça rações rurais por companhias e se dança com esse quase erótico Mensagem, cujo primeiro número, Foi desamparo de Sandu proprietários privados. As cida- choque de barrigas. Anunciando em 1951, reuniu textos e poemas Ou se é já própria da Raça...” des viam-se obrigadas a ganhar o que haveria de vir depois, qua- de Mário António, Agostinho Neto, Lá vai... progressivamente mais burocra- se todos os músicos dos N’Gola Viriato da Cruz, Alda Lara, Antó- descendo a calçada cia, administrações e funcioná- Ritmos eram militantes naciona- nio Jacinto e Mário Pinto de Andra- A mesma calçada que outrora subias rios. Não se podendo recrutar listas, pelo que Liceu e Amadeu de. Em 1952, ainda foi publicado Cigarro apagado Bengala na mão... completamente entre os colonos foram presos em 1959 e enviados um grosso volume associando os ... Se ele é o símbolo da Raça vindos da metrópole, geralmen- para o campo do Tarrafal, em números 2 a 4, mas o governo- Ou a vingança de Sandu... te camponeses pouco alfabeti- Cabo Verde. -geral colonial de Angola rapida- zados transformados em Angola A palavra que circulava em mente proibiu a nova mensagem. em ricos proprietários fundiários festas, músicas, danças, escassas Na revista foram publicados al- VEJA NO YOUTUBE: ou zelosos capatazes, a adminis- conferências e ainda menos au- guns dos mais conhecidos poemas • FAUSTO tração colonial foi recorrendo a torizados debates foi discutindo de Viriato da Cruz, como Makèzú http://www.youtube.com/watch?v=0bakjzhUqfA escassos candidatos locais, o que cada vez mais temas que se que- ou Mamã Negra. O movimento foi gerando mais algumas esco- riam verdadeiramente angolanos, ainda enviou uma carta formal às • SÉRGIO GODINHO http://www.youtube.com/watch?v=ohtCKeNuiI8 las e oportunidades de educação buscando uma renovação cultural Nações Unidas reivindicando para formal entre os jovens urbanos e social que se encontra já, exem- Angola o estatuto de protectora- • RUI MINGAS da maioria negra e das minorias plarmente, em escritos como o do sob supervisão do organismo http://www.youtube.com/Watch?v=rhVwhAQeowk mestiças. Foram também surgin- texto de opinião que, intitulado internacional, mas ninguém ligou. • TERESA SALGUEIRO do algumas associações, clubes “Marcha para o Exterior”, Agosti- Mais escutadas foram em Lisboa as http://www.youtube.com/watch?v=lTWbw7Fn6jo recreativos e espaços de convívio nho Neto publicou no jornal O Fa- cartas com informações do novo que, mais ou menos formaliza- rolim, em 1946. Uma agitação de Movimento enviadas por Viriato da LUSOFONIAS - SUPLEMENTO DE CULTURA E REFLEXÃO Propriedade Tribuna de Macau, Empresa Jor na lística e Editorial, S.A.R.L. | Administração e Director José Rocha Dinis | Director Executivo Editorial Sérgio Terra | Coordenação Ivo Carneiro de Sousa | Grafismo Suzana Tôrres | Serviços
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