Ocorrência de gigantea (Coleoptera: ) em Belo Horizonte, MG

Mívia Rosa de Medeiros Vichiato1*, Marcelo Vichiato2, Dany Sílvio Souza Leite Amaral2, Percílio Wander da Silva2 e Leonardo Pereira de Souza2

1 Bióloga, DSc. em Fitotecnia, Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Belo Horizonte/SMMA/PBH ([email protected]*) 2Eng. Agrôn., Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Belo Horizonte/SMMA/PBH ([email protected], [email protected], [email protected], [email protected])

Resumo - Relatou-se a ocorrência do besouro , em março de 2013, em espécimes de mungubas (Pachira aquatica: Bombacaceae) situados em passeios públicos no município de Belo Horizonte (MG). Formas adultas e larvais do inseto foram observadas em tronco e raízes das árvores. Os danos dessa praga constituem-se na abertura de uma rede de galerias, nos planos transversal e longitudinal, ao longo dos troncos e raízes das árvores, deixando-as ocas. No Brasil, E. gigantea é considerado uma praga de árvores da família Bombacaceae, que pode causar queda das árvores e representar perigo ao patrimônio público e privado, comprometendo a segurança do cidadão.

Palavras-chave: Arborização urbana, Bombacaceae, insetos-praga.

Occurrence of Euchroma gigantea (Coleoptera: Buprestidae) in Belo Horizonte, Minas Gerais

Abstract - In March 2013, the occurrence of Giant Metallic Ceiba Borer Euchroma gigantea L. 1758 (Coleopetera: Buprestidae) was registered in Pachira aquatica (Bombacaceae), specie of tree commonly found in sidewalks of city of Belo Horizonte, Minas Gerais, . Larval and adult forms were observed in the trunk and roots of trees. The attack of emeralds has shown several transversal and longitudinal galleries spread out along trunk and roots. In Brazil, E. gigantea has been considered pest of Bombacacea trees, by causing the risk of falling tree and representing danger to public and private assets.

Keywords: Urban forestry, Bombacaceae, pest-.

Introdução Euchroma gigantea L. 1758 (Coleoptera: Buprestidae), conhecido como besouro metálico ou buprestídeo gigante Belo Horizonte possui importante composição de áreas da América do Sul, devido ao seu tamanho, é um dos verdes, sendo considerada a terceira capital mais artrópodes que atacam as bombacáceas. Os buprestídeos arborizada do país. Ao consideramos a correlação entre têm sido associados ao ataque de espécimes arbóreos, com áreas verdes e população, o município conta com 18 destaque de larvas que provocam túneis nos troncos das metros quadrados de verde por habitante, 50% acima do árvores, podendo assumir o caráter de praga ou provocar mínimo recomendado pela Organização Mundial de uma modificação significativa na arborização urbana em Saúde. consequência da sua alta capacidade de reprodução e A grande diversidade biológica das árvores nas cidades voracidade das larvas. contribui ecológica e esteticamente para tornar o ambiente O gênero Euchroma é constituído por insetos grandes urbano mais agradável, desempenhando um papel de coloração vistosa metálica, com cerca de 8 cm de significativo na melhoria das condições de vida de seus comprimento. A fase larval da espécie E. gigantea possui habitantes. No entanto, a qualidade do conjunto arbóreo hábito xilófago e alimenta-se das raízes e da parte interna pode ser negativamente afetada pelo ataque de insetos em do tronco das árvores, deixando-as ocas (Fonseca, 2010). diversos estágios de desenvolvimento de árvores. Com a destruição do sistema radicular, as árvores ficam Avaliando a arborização das ruas de Curitiba (PR), Milano sem sustentação caindo facilmente pela ação dos ventos (1974) concluiu que 22,5% das árvores amostradas (Pedroso et al., 2008; Fonseca, 2010). O ataque das larvas apresentavam algum tipo se dano provocado por insetos e é denunciado pelo desfolhamento da copa e pelo aspecto 21,5%, por problemas fisiológicos. amarelado das folhas, possibilitando uma segura indicação Dentre as diversas espécies que compõe a arborização de corte ante o iminente perigo que as árvores afetadas no município de Belo Horizonte, a família Bombacaceae é representam para a comunidade (Garcia, 1998). composta praticamente por mungubas (Pachira aquatica) Rodrigues-Neto et al. (2001 e 2003) reportaram a e paineiras (Ceiba speciosa). importância desse besouro como praga, causando prejuízos diretos na própria planta e indiretos, resultantes

Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.8, n.5, p.7-11, dez. 2014 | 7 dos danos causados pela queda de árvores sobre Os insetos e larvas coletados apresentavam as mesmas edificações, veículos, redes elétrica e telefônica e características morfológicas elencadas por Rodrigues-Neto colocando em risco a segurança de pessoas e animais. et al. (2003) - Figuras 1 a 4, e os troncos e raízes das Embora exista o registro de inimigos naturais de plantas infestadas exibiam sinais de injúrias. buprestidae, em ataques de E. gigantae não há Na Rua Três Corações 75% dos espécimes informações sobre a regulação de insetos por meio da ação apresentavam galerias que as larvas perfuram no tronco e, de agentes de controle biológico. Até o presente momento, aparentemente, bom estado vegetativo. Na Rua Safira não há na literatura ou no Ministério da Agricultura, 48,27% dos espécimes apresentavam, aparentemente, bom Pecuária e Abastecimento (MAPA) informações sobre um estado vegetativo. Entretanto, somente oito espécimes inseticida potencialmente eficiente no para o manejo de E. (27,58%) não apresentavam galerias e 27,58% gigantea em áreas urbanas. Atualmente, somente o apresentavam ataques médios a intensos de larvas controle cultural tem sido eficiente para redução de (presença de galerias). populações do inseto-praga. O controle consiste na catação manual dos insetos adultos e não há relatos sobre a ação de agentes de controle natural regulando a população desta praga. Diante da crescente infestação e impactos na arborização, o objetivo deste estudo foi relatar a ocorrência da espécie E. gigantea, atacando espécimes de P. aquatica no município de Belo Horizonte (MG).

Material e Métodos

Em março de 2013, nos passeios públicos das ruas Três Corações e Safira, Bairro Prado, Regional Oeste do município de Belo Horizonte (MG), cuja latitude é 19° 48′ 57″ S, longitude de 43° 57′ 15″ W e altitude de 800 m, foi observada a presença de formas adultas de um coleóptero em árvores da espécie Pachira aquatica. As plantas infestadas - oito espécimes de munguba na Rua Três Corações e vinte e nove na Rua Safira, apresentavam grande porte e estado fitossanitário de médio para ruim, com sinais característicos da presença de ataque nos troncos (presença de galerias, saída de serragem proveniente da atividade larval e grande quantidade de cicatrização resinosa possivelmente originada pelo ataque do inseto). Insetos adultos foram encontrados geralmente sobre o tronco das árvores, na porção média e superior das plantas. Verificou-se, após a incisão do tronco com sinais de ataque, a presença de larva do buprestídeo. As coletas de exemplares adultos e larvais foram realizadas manualmente, sem utilização de armadilhas e os insetos capturados foram acondicionados em vidros e encaminhados à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, para identificação.

Resultados e Discussão

Os insetos foram identificados como Euchroma gigantea (Linnaeus, 1758) (Coleoptera: Buprestidae, Figuras 1 e 2. Exemplares adultos de E. gigantea – faces Chalcophorini), sendo este o primeiro registro desta dorsal e ventral, respectivamente. espécie na arborização urbana de Belo Horizonte. Fonte: SMMA/PBH, 2013.

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(galerias) - Figura 5, saída de serragem proveniente da atividade larval (Figura 6) e grande quantidade de cicatrização resinosa possivelmente originada pelo ataque do inseto (Figura 7). Alguns desses espécimes apresentavam troncos ocos na sua parte basal (Figura 8). No colo e tronco dessas árvores também foi constatada a presença de outros insetos associados à arborização urbanas como cupins (Isoptera), formigas (Hymenoptera: Formicidae), larvas de outros besouros e espécimes adultos de serra-pau (Oncideres spp. - Cerambycidae).

Figura 5. Orifícios (galerias) contatados em tronco de munguba. Fonte: SMMA/PBH, 2013.

Figuras 3 e 4. Fase larval de E. gigantea no interior do tronco de munguba. Fonte: SMMA/PBH, 2013.

Os danos desse inseto constituíram-se na abertura de uma rede de galerias de forma ovalada nos planos transversal e longitudinal ao tronco das árvores. As galerias, além de enfraquecer a sustentação da árvore, podem ser portas de entrada a bactérias e fungos patogênicos. A maioria das arvores analisadas estavam danificadas no tronco, no terço médio e inferior, com várias perfurações realizadas pelo buprestídeo. Figura 6. Saída de serragem proveniente da atividade Nos troncos dos espécimes arbóreos infestados pelo larval de E. gigantea. besouro, foram observados no mínimo dez orifícios Fonte: SMMA/PBH, 2013.

Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.8, n.5, p.7-11, dez. 2014 | 9 Não foi observada a presença de pupas na base ou colo das árvores. Portanto, torna-se necessário descobrir a localização das pupas na árvore. Por ser uma fase de alta susceptibilidade, podem-se determinar medidas de controle que combatem esta fase de desenvolvimento do inseto. Não há na literatura ou registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) informações sobre um inseticida potencialmente eficiente no controle por terapia e/ou proteção ao inseto E. gigantea em áreas urbanas. O controle de buprestídeos consiste na catação manual dos insetos adultos e não há relatos sobre a ação de agentes de controle natural regulando a população desta praga. As medidas de controle dessa praga devem ser integradas, envolvendo: a) monitoramento permanente de mungubas e paineiras do Município para a eliminação do

inseto adulto em tempo hábil e execução de supressões Figura 7. Cicatrização resinosa possivelmente originada e/ou podas de galhos e ramos mortos e com riscos de pelo ataque do inseto. queda, sempre que identificada esta necessidade; b) Fonte: SMMA/PBH, 2013. transporte dos resíduos das podas e de eventuais supressões necessárias em caminhões tamponados, evitando-se a disseminação de formas adultas e larvais do besouro para outros locais da cidade; c) destinação final especial dos resíduos das podas e supressões (incineração ou aterramento), também visando evitar-se a disseminação dos besouros para outros locais da cidade; d) pesquisa e avaliação permanente por tratamentos passíveis de uso em ambientes urbanos para a eliminação das infestações pelo besouro; e) na arborização urbana, evitar novos plantios de bombacáceas, até que obtenha a correta forma de controle da praga; f) gerir a comunicação social no tocante ao assunto, envolvendo os munícipes e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Por se tratarem de insetos de ciclo longo, para o manejo de E. gigantea é fundamental que seja feito o monitoramento periódico das áreas, tanto no inverno como no verão, visando constatar o início e a evolução das infestações e identificar e quantificar árvores atacadas. O monitoramento deve ser feito ao longo de todo o ano. Esses registros sistemáticos em relação aos besouros metálicos e seus danos permitem o mapeamento das

infestações e a elaboração de uma espécie de histórico da Figura 8. Tronco de munguba parcialmente oco na sua área, que facilitará o planejamento da arborização urbana e parte basal. as decisões de manejo. Fonte: SMMA/PBH, 2013. Conclusões Contrariando Garcia (1998), o ataque das larvas nem sempre foi denunciado pelo desfolhamento da copa e pelo 1. Como este é o primeiro registro do buprestídeo E. aspecto amarelado das folhas. A copa da maioria das gigantea na arborização urbana de Belo Horizonte (MG), árvores infestadas apresentava bom estado visual, sem recomenda-se o monitoramento das formas adultas e sinais de debilidade e ausência ou baixa presença de sinais larvais desse inseto, para precaver-se de danos ambientais de deficiência nutricional, entretanto, com danos severos e culturais, além de prejuízos econômicos e sociais. principalmente no tronco e colo.

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2. Novos estudos deverão ser realizados visando obter PEDROSO, E.C.; SILVA, R.J.; VEIGA, A.C.P.; OTUKA, informações adicionais sobre esta praga em bombacáceas A.K.; VIANA, M.A.; HORTO, L.R.H.; BORTOLI, S.A. no Município. Ocorrência de Euchroma gigantea (L., 1758) (Coleoptera, Buprestidae) em Pachira aquatica Aubl. (Bombacacea) Referências em Jaboticabal - SP. Congresso Brasileiro de Entomologia, 22, Uberlândia, MG. 24 a 29 de agosto de FONSECA, A.P.P. Aspectos biológicos de Euchroma 2008. gigantea (Linnaeus, 1758) (Coleoptera: Buprestidae) em Pachira aquatica Aubl. (1775) (Bombacaceae). RODRIGUES NETTO, S.M.; CAMPOS, T.B. DE; IDE, Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Universidade S. Larvas de Euchroma gigantea Linnaeus (Coleoptera, Federal de Alagoas, Maceió, 87 p. 2010. Buprestidae) como causa da queda de paineira no município de Campo Limpo Paulista (SP). In: GARCIA, A.H. Aspectos sobre a biologia de Euchroma CONGRESSO BRASILEIRO DE FLORICULTURA E gigantea (L. 1758) (Coleoptera - Buprestidae) em Paquira PLANTAS ORNAMENTAIS, 13., 2001, São Paulo, SP. aquatica Aublet (Bombacaceae). Pesquisa Agropecuária Resumos. São Paulo: 2001. p.133. Tropical, v.28, n.1, 1998. RODRIGUES-NETTO, S.M.; CAMPOS, T.B.; IDE, S. MILANO, M.S. Avaliação e análise da arborização de Euchroma gigantea (Linnaeus) (Coleoptera, Buprestidae) ruas se Curitiba, Paraná. Dissertação (Mestrado em como causa da queda de Chorisia speciosa St. Hil. Ciências Florestais) - Universidade Federal do Paraná, (Bombacaceae). Revista do Arquivo do Instituto Curitiba, 1984.130p. Biológico, São Paulo, v.70, n.3, p. 381-384, 2003.

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