INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CAMPUS PIÚMA CURSO DE ENGENHARIA DE PESCA

LUCIANO PINTO DE ALMEIDA

ASPECTOS DA PESCA E COMERCIALIZAÇÃO DE LAGOSTA NO ESPÍRITO SANTO

PIÚMA 2019

LUCIANO PINTO DE ALMEIDA

ASPECTOS DA PESCA E COMERCIALIZAÇÃO DE LAGOSTA NO ESPÍRITO SANTO

Monografia apresentada à Coordenadoria do Curso de Engenharia de Pesca do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Piúma, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Pesca.

Orientador: Prof. Dr. Jones Santander Neto

PIÚMA 2019

LUCIANO PINTO DE ALMEIDA

ALGUNSASPECTOS DA PESCA E COMERCIALIZAÇÃODE LAGOSTANO EsplR1TO SANTO

Monografia apresenlada à coordenadoria I do Curso de Engenharia de Pesca dOI' Inslilulo Federal do Espíritó Sanlo, Campus Pluma, Cómo requisito parclôl para a l obtenção do titulo de Bac.'1arel em f Engenharia de Pesca, i I '------,--'

Aprovado em O 6 de _~J. d de 2019.

BancaExaminadora:

Prof. Dr. Jones Sanlander Neto

Pref. MSc. Victor Hugo da Silva Valéria

Instituto ederal do Espírito Santo

DiegoCesar Bezerra Crystello Bacharelem Engenhariade Pesca

Plúma,2019

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pois sem ele nada seria possível, a ele entrego meus passos. Aos meus pais, Benigno Rocha de Almeida e Rosena Francisco Pinto de Almeida, por acreditarem em mim e sempre me encorajar, sendo meu suporte de forma incondicional. Aos meus irmãos, Fábio Pinto de Almeida e Fabiana Pinto de Almeida, por não pouparem esforços em me ajudarem a vencer esta etapa. As minhas filhas, Kamilla Correia da Silva Almeida e Yasmin Correia da Silva Almeida, pela compreensão durante os momentos difíceis. A minha esposa, Fabiana Cristina Correia da Silva Almeida, por toda a dedicação e por ser sempre meu porto seguro. A meu professor orientador, Jones Santander Neto, pela paciência, por me passar conhecimento e experiência. Ao professor Juarez Barroso Coelho, que acreditou no projeto e disponibilizou todo o suporte, possibilitando a realização. As minhas parceiras de projeto, Tatiana Cezar de Almeida e Ana Claudia França. Aos membros da banca, Diego Cesar Bezerra Crystello e Victor Hugo da Silva Valério, por estarem dispostos a empregar seu tempo em me avaliar, em um momento tão importante na minha vida. Aos professores, pela entrega e comprometimento em transmitir o saber. Aos funcionários da biblioteca Clarice Lispector, em especial para Ana Muller, pelo carinho e compromisso, estando sempre disposta a ajudar. A todos os Funcionários da instituição, por tornarem um ambiente agradável e familiar. Ao meu amigo Valdenir Almeida Santos, por ser um exemplo de superação e por

estar sempre disposto a colaborar durante toda a pesquisa. A todos meus colegas de turma, mesmo aos que ficaram pelo caminho, pois de uma forma ou outra, pude aprender um pouco, com cada um de vocês. Enfim, um muito obrigado a todos que estiveram presente durante esta jornada.

“[tenho a impressão de ter sido uma criança brincando à beira-mar, divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da verdade continua misterioso diante de meus olhos...]”

Isaac Newton.

RESUMO As lagostas possuem grande importância comercial e gastronômica, em todo o mundo. Três grupos taxonômicos são mais explorados comercialmente: Nephropidae, Palinuridae e Scyllaridae. Apenas as Famílias Palinuridae e Scyllaridae são encontradas na costa brasileira, sendo as espécies mais capturadas a Panulirus laevicauda e Panulirurus argus. Em 2016 Giraldes & Smyth, descrevem a Panulirus argus ocorrente no Brasil, como Panulirus meripurpuratus sp nov. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar a pesca da lagosta no litoral sul capixaba, com ênfase nos municípios de Guarapari e Marataízes e discutir as Implicações comerciais e administrativas causadas pela nomeação da lagosta vermelha como Panulirus argus ou Panulirus meripurpuratus no Brasil. Entre setembro de 2016 a agosto de 2017, foram coletado dados dos aparelhos de pesca em Marataízes e realizados embarques mensais, no município de Guarapari, litoral sul do Espírito Santo. Os pescadores de Marataízes no litoral sul do Espírito Santo desenvolveram um método próprio, que diminui espaços ocupados e reduz custos. As redes possuem nomenclatura e características próprias da região. As espécies capturadas no estado, foram as três principais espécies capturadas no Brasil; Panulirus meripupuratus, P.laevicauda e Scyllarides brasiliensis. Foram capturados 39 peixes de 19 espécies diferentes e 16 famílias distintas. Os valores de CPUE, quando comparado a região nordeste do Brasil. A baixa CPUE pode ter sido determinada por uma série de fatores. A existência de diferentes estoques de lagosta vermelha no Brasil e a ausência de estudos detalhados a respeito das diferentes unidades de estoque, gerou uma extrapolação de legislação relacionada ao tamanho mínimo de captura e período de defeso para locais onde as características biológicas e ecológicas são diferentes.

Palavras-chave: Crustáceos; Apetrecho de pesca; Fauna acompanhante; Pesca artesanal; Guarapari.

ABSTRACT

Lobsters are of great commercial and gastronomic importance worldwide. Three taxonomic groups are most commercially exploited: Nephropidae, Palinuridae and Scyllaridae. Only the Palinuridae and Scyllaridae families are found in the Brazilian coast, being the most captured species Panulirus laevicauda and Panulirurus argus. In 2016 Giraldes & Smyth describe Panulirus argus occurring in Brazil as Panulirus meripurpuratus sp nov. The present work aimed to characterize lobster fishing in the southern coast of Espírito Santo, with emphasis on the municipalities of Guarapari and Marataizes, and to discuss the commercial and administrative implications caused by the naming of red lobster as Panulirus argus or Panulirus meripurpuratus in Brazil. Between September 2016 and August 2017, fishing gear data were collected in Marataizes and monthly shipments were made in the municipality of Guarapari, south coast of Espírito Santo. The fishermen of Marataizes, on the south coast of Espírito Santo, developed their own method, which reduces the occupied spaces and the costs. Networks have nomenclature and characteristics selected from the region. As species caught in the state, they were the three main species caught in Brazil; Panulirus meripupuratus, P.laevicauda and Scyllarides brasiliensis. 39 fish of 19 different species and 16 distinct families were caught. The CPUE values recorded in the period were small when compared to the northeast region of Brazil. The low CPUE may have been determined by a number of factors that contributed to the results. The existence of different stocks of red lobster in Brazil and the lack of detailed studies on the different stock units, has led to an extrapolation of legislation related to minimum catch size and closed period to locations where biological and ecological characteristics are different.

Keywords: ; Fishing gear; By catch; Artisanal fishing; Guarapari.

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 As três espécies de lagosta mais capturadas no mundo……. 15

Figura 02 Lagostas do Gênero Scyllarides capturadas no País...... 17

Figura 03 Configuração do compressor de oxigênio utilizado na pesca 19 de lagosta......

Figura 04 Rede de fundo de nylon monofilamento………………………… 20

Figura 05 Armadilhas utilizadas na pesca de lagosta: a) Manzuá ou covo; b) cangalha……………………………………………………. 21

Figura 06 Caracteres diagnósticos do Gênero Panulirus………………… 24

Figura 07 Dimorfismo sexual que se apresenta nas espécies P. argus e P. laevicauda…………………………………………………………... 25

Figura 08 Distribuição geográfica das espécies da família Palinuridae com importância comercial, presente no brasil……………….... 28

Figura 09 Espécies de lagosta da família Scyllarides que ocorrem na costa brasileira………………………………………………………... 31

Figura 10 Covos (manzuá) utilizado na pesca de lagosta: A) utilizado no Espírito Santo; B) modelo tradicional……………………….... 39

Figura 11 Esquema da rede de espera de fundo, utilizada na pesca artesanal no Espírito Santo…………………………………………. 42

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 Captura de Panulirus laevicauda por tipo de fundo no litoral sul do Espírito Santo……………………………………………….... 45

Gráfico 02 Captura Panulirus laevicauda por mês no litoral do Espírito Santo……………………………………………………………………. 45

Gráfico 03 Quantidade de espécies diferentes, divididas por famílias…... 48

Gráfico 04 Captura de fauna acompanhante por mês………………………. 48

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Medidas e Características do Covo (Manzuá) do litoral sul do Espírito Santo, comparado com o modelo tradicional aplicado na pesca da lagosta…………………………………. 40

Tabela 02 Características e medidas da rede de fundo utilizado no Espírito Santo...... 43

Tabela 03 Espécies que compõem a fauna acompanhante na pesca de lagosta no litoral sul do E.S………………………………... 47

Tabela 04 Cálculos de CPUE por metro de rede no período de setembro de 2016 a agosto de 2017…………………………. 50

LISTA DE ABREVIATURAS

ES Espírito Santo

FAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

IFES Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo

DHN Diretoria de Hidrografia e Navegação

VTO Volume Total Ocupável

CELC Comprimento do Espaço Livre no Convés

LELC Largura do Espaço Livre no Convés

AJC Altura da Janela da Casaria

CC Comprimento do Cefalotórax

PT Peso Total

CPUE Captura por Unidade de Esforço

SUMÁRIO

1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...... 14

1.1 PESCA E COMÉRCIO DE LAGOSTA NO MUNDO...... 14

1.2 PESCA E COMÉRCIO DE LAGOSTA NO BRASIL...... 16

1.2.1 Apetrecho de pesca utilizados no brasil……………………………... 17

1.2.1.1 Mergulho……………………………………………………………………. 18

1.2.1.2 Rede de espera de fundo (caçoeira)…………………………………... 19

1.2.1.3 Armadilhas: Manzuá ou Covo e Cangalha...... 20

1.3 PESCA E COMÉRCIO...... 21

1.4 PESCA E COMÉRCIO DE LAGOSTA NO E.S...... 22

1.5 ASPECTOS POPULACIONAIS DA LAGOSTA NO BRASIL...... 23

1.5.1 Biologia...... 23

1.5.2 Habitat e distribuição geográfica...... 27

1.6 PANULIRUS MERIPURPURATUS SP.NOV……………………………. 32

2 ASPECTOS DA PESCA DE LAGOSTA NO LITORAL SUL DO ES... 32

2.1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………... 32

2.2 MATERIAL E MÉTODOS...... 35

2.2.1 Caracterização dos aparelhos de pesca……………………………... 35

2.2.2 Caracterização da captura de lagosta……………………………….... 37

2.2.3 Caracterização da fauna acompanhante……………………………... 37

2.2.4 Cálculo de Captura Por Unidade de Esforço (CPUE)...... 38

2.2.5 Armadilhas: Manzuá ou Covo…………………………………………. 38

2.2.6 Rede de espera………………………………...... 38

2.3 RESULTADOS…………………………………………………………….... 39

2.3.1 Caracterização dos aparelhos de pesca empregados na pesca de lagosta no E.S...... 39

2.3.1.1 Manzuá ou Covo…………………………………………………………... 39

2.3.1.2 Rede de emalhe………………………………………………………….... 41

2.3.1.3 Espécies capturadas...... 44

2.3.1.4 Fauna acompanhante...... 46

2.3.1.5 CPUE...... 49

2.4 DISCUSSÃO...... 51

2.4.1 Manzuá ou Covo…………………………………………………………... 51

2.4.2 Rede de emalhe………………………………………………………….... 52

2.4.3 Espécies capturadas……………………………………………………... 54

2.4.4 Fauna acompanhante…………………………………………………..... 57

2.4.5 CPUE...... 58

2.5 CONCLUSÃO...... 60

3 COMMERCIAL AND MANAGEMENT IMPLICATIONS BY NAMING SPINY RED LOBSTER OF PANULIRUS ARGUS OR PANULIRUS MERIPURPURATUS IN BRAZIL...... 61

3.1 INTRODUÇÃO...... 61

3.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO...... 63

3.2.1 Qual a espécie de lagosta existente no Brasil?...... 63

3.2.2 Unidade de estoque de lagosta no Brasil……………………………. 64

3.2.3 Consequências……………………………………………………………. 65

3.3 SUGESTÕES...... 66

REFERENCIA...... 68

ANEXO A...... 78

ANEXO B...... 80

14

1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 PESCA E COMÉRCIO DE LAGOSTA NO MUNDO

Em vários países, as lagostas possuem grande importância comercial e gastronômica, tornando-se um recurso pesqueiro muito valorizado (HOLTHUIS, 1991). A partir de 1970 houve um aumento na captura mundial de lagosta, devido ao desenvolvimento de novas tecnologias de refrigeração, armazenamento e transporte, aumentando o consumo em países como os Estados Unidos e Japão (DIAS NETO, 2008). Entre estes organismos, três grupos taxonômicos são mais explorados comercialmente: Nephropidae, Palinuridae e Scyllaridae (JEFFS, 2010).

Segundo dados de Produção Global de Captura extraídos da Coleção de Estatística Pesqueira da FAO1 as três espécies mais capturadas no mundo em 2017 (Figura 01) foram: Homarus americanus, (H. Milne-Edwards, 1837), (Nephropidae) com 157,8 mil toneladas, Nephrops norvegicus (Linnaeus, 1758), (Nephropidae) 56,6 mil toneladas e a Panulirus argus (Latreille, 1804), (Palinuridae) 37,6 mil toneladas. Destas, Nephrops norvegicus capturada no continente europeu e Homarus americanus e Panulirus argus capturadas no continente Americano.

1 FAO - Fishstat Database Plus. 2019. Fisheries and Aquaculture Department, Food and Agriculture Organization of the United Nations. Rome, www.fao.org/fishery/statistics/software/ fishstat.

15

Figura 01 - As três espécies de lagosta mais capturadas no mundo.

Fonte: Holthuis, 1991

Dessas espécies somente a Panulirus argus é encontrada na costa brasileira (HOLTHUIS, 1991). A lagosta espinhosa do Caribe como é conhecido a espécie Panulirus argus no mundo, sempre fez parte da dieta de povos nativos, tornando- se comercialmente importante a partir da década de 70 no Caribe, quando começaram também as exportações e como consequência a sobrepesca (FAO, 2018).

16

1.2 ASPECTOS DA PESCA DE LAGOSTA NO BRASIL

A lagosta no Brasil era capturada por pescadores e nativos do nordeste do país, com a finalidade de consumo próprio e para isca em outras pescarias (DIAS NETO, 2008). A pesca comercial de lagosta no Brasil teve os primeiros registros no Nordeste no início da década de 60 (DIAS NETO, 2008). As pescarias se restringiam a captura da Panulirus argus e Panulirus laevicauda (Latreille, 1817) , sendo a P. argus a espécie com maior representatividade numérica (PAIVA, 1961).

No Brasil a pesca comercial de lagosta, se estende da costa do Pará região Norte do país, até a costa do Espírito Santo, região Sudeste, abrangendo uma área de pesca de 74.607 km² (FONTELES FILHO, 2007; DIAS NETO, 2008). Nas pescarias atuais, além das espécies de lagostas espinhosas, P. argus e P. laevicauda, ainda podemos citar a Panulirus echinatus (Smith, 1869) e as lagostas sapateiras, Scyllarides brasiliensis (Rathbun, 1906) e Scyllarides delfosi (Holthuis, 1963) (figura 02). As duas últimas são espécies que apresentam expressividade nas capturas, porém, ainda não possuem regulamentação pesqueira específica.

17

Figura 02 - Lagostas do Gênero Scyllarides capturadas no País.

Fonte: Holthuis, 1991

1.2.1 Apetrechos de pesca utilizados no Brasil

No Brasil devido amplas faixas litorâneas são utilizadas diversos métodos para a captura de lagosta, sendo influenciada por condicionantes culturais, econômicos e ambientais (IVO et al, 2012). Atualmente no Brasil a pesca de lagosta opera com 3 principais modalidades: mergulho, Covo ou Manzuá e rede (DIAS NETO, 2008).

18

1.2.1.1 Mergulho

A pesca por mergulho teve início entre, ao final da década de 70 e início da década de 80 no nordeste do Brasil, surgindo como uma alternativa devido à redução dos estoques pesqueiros (IVO et al, 2012). Esta modalidade de pesca utiliza “compressor de oxigênio” (figura 03), um equipamento adaptado que é composto por cabeçote, filtro de ar, botijão de gás (onde o ar é comprimido), válvulas e mangueiras de alta pressão, com a finalidade de levar ar para o mergulhador submerso (IVO et al, 2012; DIAS NETO, 2008). A captura por mergulho seria uma boa opção de captura, pois não agride o substrato do fundo, no entanto os pescadores que utilizam a modalidade de pesca visam apenas o lucro, sem se preocupar com a preservação, ainda existe várias desvantagem, tanto para o mergulhador como para a fauna (DIAS NETO, 2008).

As capturas por essa modalidade acontecem em profundidades próximas aos 30 metros nas “bancadas” ou “cabeços”, onde se encontra a maior concentração de indivíduos juvenis (IVO et al, 2012).

A pesca por mergulho coloca em risco a vida dos mergulhadores que utilizam técnicas inadequadas e aparelhagem improvisada, podendo causar doenças descompressivas. Assim a pesca foi proibida, pela instrução normativa n°138 de 06 de dezembro de 2006. Devido ao risco a vida, esforço de pesca excessivo, atrito com outras modalidades de pesca e captura indiscriminada (DIAS NETO, 2008).

19

Figura 03 - configuração do compressor de oxigênio utilizado na pesca de lagosta

Fonte: IVO et al, 2012; Cadeia produtiva da lagosta nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

1.2.1.2 Redes de espera de Fundo (caçoeira)

As redes de fundo para a pesca de lagosta (figura 04) são confeccionadas por fios de nylon (monofilamento) ou de seda (multifilamento), ficando dispostas no fundo marinho presas por garatéias, podendo ser utilizadas iscas como atrativos para aumentar a captura (SANTOS, 2014). Esta arte de pesca foi proibida na pesca de lagosta em todo o Brasil a partir do ano de 2007 com a publicação da instrução normativa n°138 de 06 de dezembro de 2006. O uso desses dispositivos foi questionado, por aderir ao substrato do fundo oceânico causando danos ao mesmo, e por ser pouco seletivo quanto a tamanho de captura (DIAS NETO, 2008).

20

Figura 04 - Rede de fundo de nylon monofilamento.

Fonte: Autor

1.2.1.3 Armadilhas: Manzuá ou Covo e Cangalha

Os dispositivos utilizados na captura de lagosta no Brasil sofreram mudanças ao longo do tempo, o jereré foi uns dos primeiros dispositivos utilizados para a captura do recurso, caindo em desuso a partir da década de 60 com os avanço da comercialização (FONTELES FILHO, 1994; IVO et al, 2012). O Covo ou Manzuá foi o substituto deste apetrecho, que era inicialmente tecido com bambu e logo sofreu modificações passando a ser utilizadas malhas de arame (DIAS NETO, 2008). Atualmente o modelo mais utilizado (Figura 05a) apresenta estrutura de madeira revestida como malhas de arame galvanizado com apenas uma abertura (SILVA & FONTELES FILHO, 2011). Este dispositivo é considerado a melhor opção para a captura do recurso, pois não agride o substrato do fundo e é seletivo (IVO et al, 2012). O Covo junto com a cangalha são os únicos dispositivos regulamentados para a atividade. A cangalha (figura 05b) é um apetrecho retangular com estrutura

21

de madeira e revestida por malha de nylon, possuindo duas aberturas (SILVA & FONTELES FILHO, 2011).

Figura 05 - Armadilhas utilizadas na pesca de lagosta: a) Manzuá ou covo; b) cangalha.

Fonte: a) O autor; b) Oliveira et al, O uso insustentável de madeira na construção de armadilhas empregadas na pesca artesanal da lagosta na comunidade de redonda, Itapuí, Ceará.

1.3 PESCA E COMERCIALIZAÇÃO

A produção pesqueira de lagosta no Brasil apresenta-se em declínio e como consequência disto, queda nas exportações. Isto poderia ser sanado caso as seguintes medidas tivessem sido cumpridas, como; redução de capturas de lagosta antes da idade de maturação através de implantação de mecanismo de escape nas armadilhas de pesca, proibir a descaracterização das lagostas, evitando assim, que sejam capturadas organismos abaixo do tamanho permitido, respeitar o período de proibição, intensificar as fiscalizações e implantação de posto para receber e manter as lagostas vivas, preservando a qualidade do produto (DIAS NETO, 2017).

No período compreendido entre 1996 e 2009 a pesca da lagosta Panulirus argus apresentou produção estável no país, com produtividade média de 5.000 t/ano e a

22

Panulirus laevicauda foi responsável por cerca de 23% da produção anual com média de 1.700 t/ano (BARROSO, 2012).

As principais formas de comercialização de lagosta no País são: lagosta inteira in natura, lagosta inteira congelada e calda de lagosta congelada, sendo esta última a principal forma de comercialização (SILVA & FONTELES FILHO, 2011).

Para as espécies P. argus e P. laevicauda, a Normativa n° 138 de 06 de dezembro de 2006, proíbe a captura por mergulho e por redes, permitindo apenas a captura por armadilhas tipo Manzuá ou Covo e Cangalha. Estas com malhas quadradas de, no mínimo, 5 centímetros entre nós. Ainda nesta normativa, foi definido que a pesca deverá ser realizada por embarcações com comprimento total superior a 4 metros (BRASIL, 2006).

Devido ao tamanho das embarcações de pesca do Brasil, que são de pequeno e médio porte, o tempo de permanência na pesca que é de 3 a 20 dias e, devido ao sistema tradicional de conservação do pescado por adição de gelo, temos um produto de pouco competitividade no mercado internacional (SILVA & FONTELES FILHO, 2011).

Entre os anos de 2010 a 2015 a queda na exportação foi de 6.9%, devido a fatores como sobrepesca, baixa qualidade da lagosta brasileira e crise mundial (CAVALCANTE et al, 2018).

1.4 PESCA E COMÉRCIO DE LAGOSTA NO ESPÍRITO SANTO

A pesca de lagosta no Espírito Santo possui registro desde 1960, onde pequenas embarcações capturavam estes organismos com redes e sem tradição de pesca com armadilhas. Em 1984, embarcações de Fortaleza começaram a operar no estado expandindo os horizontes da pesca comercial no Brasil (DIAS NETO, 2008).

23

O Estado possui 72 pontos de desembarque, distribuídos em 14 municípios costeiros. Quando observados dados de captura entre 1991 e 2017 a produção se mostra instável (BARROSO, 2012).

Segundo o Boletim estatístico da pesca no Espírito Santo, em 2011 o desembarque de lagosta Panulirus laevicauda atingiu 40.237 Kg e a captura de Panulirus argus foi de 18.686 Kg, com as maiores capturas por espécies nos meses de junho a outubro para P. laevicauda e junho a janeiro para P. argus (UFES, 2013).

A captura de lagosta no litoral sul do Espírito Santo, de acordo com Basílio et al (2015), tem como as principais modalidades de pesca, o mergulho e a rede de espera ou emalhe.

1.5 ASPECTOS POPULACIONAIS DE LAGOSTA NO BRASIL

1.5.1 Biologia

A família Panuliridae está distribuída em oito gêneros: Panulirus, Palinurus, Palinustus, Linuparus, Jasus, Projasus, Justitia e Puerulus (HOLTHUIS, 1991). No Brasil o gênero que possui espécies alvo da pesca, para esta família, é o Panulirus (DIAS NETO, 2008; SILVA & FONTELES FILHO, 2011).

De acordo com Holthuis (1991), as características morfológicas que diferenciam esta dos demais gêneros são: As antênulas longas, sendo estas, mais longo do que os grandes acúleos, (Figura 06).

24

Figura 06 - Caracteres diagnósticos do gênero Panulirus.

Fonte: Modificado de Holthuis, 1991.

As lagostas da espécie P. argus e P. laevicauda apresentam dimorfismo sexual (IZQUIERDO et al., 2011). As fêmeas apresentam as seguintes características: (A) pereópodes duplos, (C) pequena unha ou quela no dáctilo do quinto par de patas e (E) esterno curto e quadrado e apresenta orifício genital na base do terceiro pereiópodos. Já os machos: (B) pereópodes simples, (D) dáctilo simples no quinto par de patas e (F) esterno romboidal e alongado e orifício genital na base do quinto par de pereiópodos (Figura 07).

25

Figura 07 - Dimorfismo sexual que se apresenta nas espécies P. argus e P. laevicauda.

Fonte: Izquierdo et al (2011). Metodologias de amostragem para avaliação das populações de lagosta: plataforma continental do Brasil.

Estas espécies são onívoras e carnívoras oportunistas. Possuem hábitos alimentares noturnos, como uma dieta a base de moluscos gastrópodes, pequenos crustáceos, algas, equinodermos cnidários, anelídeos e briozoários (KANCIRUK, 1980; IVO & PEREIRA, 1996; FONTELES FILHO, 1997).

As lagostas do gênero Panulirus, são ovulíparas com fecundação e desenvolvimento embrionário externo, longa duração de períodos larvais com

26

diversos estágios de desenvolvimento (RUPPERT et al.,2005; GOLDSTEIN et al., 2008).

Na fase larval (Filosoma) são organismos planctônicos que derivam, sendo levados pelas correntes para a zona costeira. Após esta etapa, os puerulus como são chamados às pós-larvas, passam a habitar o ambiente bentônico com até dez metros de profundidade a partir dos 15 meses de idade (IVO et al, 2012). Permanecem nos bentos até atingir a fase juvenil entre 26 e 36 meses de idade. Nesta fase esses organismos se deslocam para zonas de alimentação, com profundidades de até vinte metros. Quando adultas a partir dos 36 meses, realizam processo de migração para zonas com profundidade entre quarenta e cinquenta metros, onde irão tornar-se reprodutores a partir dos 46 meses de idade (DIAS NETO, 2008; IVO et al, 2012).

O comprimento médio das fêmeas na primeira maturação, para a espécie P.argus é de 13 cm de cauda e para a P. laevicauda é de 11 cm de cauda (IVO, 1996). O período de maior ocorrência reprodutiva para a P. laevicauda é de fevereiro a maio, já a P. argus o período acontece de janeiro a abril e setembro a outubro (SOARES & CAVALCANTE, 1985; SOARES, 1998).

As lagosta da família Scyllaridae inclui 7 gêneros, distribuídos em 4 subfamílias: Arctidinae, Ibacinae, Scyllarinae e Theninae (HOLTHUIS, 1991). Estando esta Família diretamente relacionada à família Palinuridae, formando o grupo . Entre outras características o grupo compartilha a presença da larva filosoma, característica que se distingue dos demais decápodes (LAVALLI & SPANIER, 2007). Algumas características que distinguem este grupo é a carapaça sem espinhos, corpo com achatamento dorsoventral, antenas desenvolvidas em forma espatular e rostro muito curto (HOLTHUIS, 1991).

27

Existem poucos estudos sobre dados de reprodução para a Família Scyllaridae presente no Brasil (OLIVEIRA et al., 2008; DUARTE et al, 2016). A espécie Scyllarides deceptor possui dois picos reprodutivos, um de maior intensidade de junho a setembro e outro menos expressivo de janeiro e fevereiro (OLIVEIRA et al., 2008; DUARTE et al., 2010, 2015).

1.5.2 Distribuição Geográfica e Habitat

No Brasil são encontradas seis espécies da família Palinuridae: Palinustus truncatus, Justitia longimanus, Palinurellus gundlachi, Panulirus argus, P. guttatus, P. echinatus e P. laevicauda (HOLTHUIS, 1991; TAVARES, 2003). No caso de P. truncatus e P. guttatus a distribuição está restrita ao Amapá e Pará, região norte do Brasil (TAVARES, 2003). Entre estas espécies, as três que possuem importância comercial são Panulirus argus , P. echinatus e P. laevicauda (Figura 08).

28

Figura 08 - Distribuição geográfica das espécies da família Palinuridae com importância comercial, presente no Brasil.

Fonte: HOLTHUIS, 1991.

As espécies P. argus e P. laevicauda tem ocorrência desde a costa leste dos Estados Unidos até o Rio de Janeiro no sudeste do Brasil, incluindo o golfo do México e o mar do Caribe (HOLTHUIS, 1991).

Panulirus echinatus está distribuída no Brasil desde o Ceará até o Rio de Janeiro, além do arquipélago de Fernando de Noronha, Atol das Rocas, São Pedro e São Paulo, Martim Vaz e Ilhas de Trindade. Ainda há ocorrência no Atlântico Central, nas

29

ilhas de Santa Helena e Ascensão, e no Oriental, nas ilhas Canárias em Cabo Verde (HOLTHUIS, 1991; MELO, 1999; COELHO et al., 2007).

Estas espécies vivem associadas ao substrato de algas calcárias bentônicas (FONTELES FILHO, 1992) e ocupam vasta parte da plataforma continental, podendo sofrer variação de acordo com as condições ambientais (IVO et al, 2012).

As lagostas da família Scyllaridae possuem hábitos parecidos com os do gênero Panulirus presentes no Brasil (DIAS NETO, 2008), entre as espécies desta família temos ocorrência no litoral brasileiro das seguintes espécies (figura 09): S. delfosi, S. deceptor, S. brasiliensis, S. aequinoctialis (Gênero Scyllarides) e Parribacus antarcticus (Gênero Parribacus) (HOLTHUIS, 1991). E para o gênero Scyllarus temos S. americanus, S. chacei, S. depressus e ainda o gênero Bathyarctus B. ramosae (SANTANA et al., 2007).

A espécie S. delfosi encontra-se distribuída na região do Atlântico Ocidental, ocorrendo na costa norte da América do Sul, Venezuela até o Ceará, nordeste do Brasil, com registro no Rio Grande do Sul (HOLTHUIS, 1991; SANTANA et al., 2007).

A área de ocorrência da S. deceptor é no Atlântico Ocidental, do sudeste do Brasil em Estados como o Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina até a argentina (HOLTHUIS, 1991).

Já para a S. brasiliensis, a distribuição ocorre no Atlântico Ocidental, no Nordeste do Brasil do Maranhão a Santa Catarina (HOLTHUIS, 1991; DALL’OCCO et al., 2007; SANTANA et al., 2007).

30

S. aequinoctialis está distribuída no Atlântico Ocidental, do sul da América do norte, na região leste da América Central, até o Estado de São Paulo no Brasil (HOLTHUIS,1991).

Parribacus antarcticus apresenta distribuição no Atlântico Ocidental da Flórida até São Paulo no Brasil (incluindo Atol das Rocas e Fernando de Noronha), incluindo a costa continental do mar do Caribe, Região Indo-Pacífico Oeste o Sudeste da África, Havaí e Polinésia (HOLTHUIS,1991; MELO, 1999).

31

Figura 09 - Espécie de lagosta da família Scyllaridae que ocorrem na costa brasileira.

Fonte: HOLTHUIS, 1991

32

1.6 Panulirus meripurpuratus sp nov.

Giraldes & Smyth (2016) descrevem que houve uma especiação devido barreira geográficas, criada pela pluma do rio Amazonas, descrevendo então a Panulirus argus ocorrente no Brasil, como sendo Panulirus meripurpuratus sp nov , endêmica do país.

O rio Amazonas ao desembocar no mar, cria uma imensa barreira física, com massa de água de baixa salinidade, tornando a maior barreira biográfica do Atlântico ocidental, separando duas ecorregiões tropicais, gerando biodiversidade diversificada, permitindo especiação alopátrica e vicariância. Separando a P. argus e P. meripurpuratus em populações geneticamente diferentes ficando a P. argus ao norte da pluma do rio Amazonas e a P. meripurpuratus ao sul da pluma do rio Amazonas (GIRALDES & SMYTH, 2016).

2 ASPECTOS DA PESCA DE LAGOSTA NO LITORAL SUL DO ES.

2.1 INTRODUÇÃO

Entre os grupos de organismos capturados mundialmente, os crustáceo são os que apresentam maior valor econômico (FAO, 2010). Segundo dados de Produção Global de Captura extraídos da Coleção de Estatística Pesqueira da FAO2 o

2 FAO - Fishstat Database Plus. 2019. Fisheries and Aquaculture Department, Food and Agriculture Organization of the United Nations. Rome, www.fao.org/fishery/statistics/software/ fishstat.

33

montante de captura desses organismos em 2017 foi de 11 603 507 toneladas. As lagostas da família Palinuridae, devido à importância comercial e gastronômica, estão entre os crustáceos que apresentam maior valor de mercado no mundo, gerando milhões de dólares de receita mundial (HOLTHUIS, 1991, FRISCH, 2007; FAO, 2010).

A pesca comercial de lagosta no Brasil teve os primeiros registros no Nordeste no início da década de 60 com a pesca se restringindo a captura de Panulirus argus e Panulirus laevicauda. Atualmente a pesca comercial de lagosta se estende da costa do Pará, região Norte do país, até a costa do Espírito Santo, região Sudeste (PAIVA, 1961; FONTELES FILHO, 2007; DIAS NETO, 2008).

Entre as seis espécies de lagosta capturadas e comercializadas no país estão Panulirus argus, P. laevicauda, P. echinatus, Scyllarides brasiliensis, S. delfosi e S. deceptor. Dentre estas, as que apresentam maior importância comercial são P. argus, P. laevicauda e S. brasiliensis, que juntas representaram o maior volume de captura em 2017, com cerca de 7300 toneladas/ano. (DIAS NETO, 2008; IVO et al, 2012; OLIVEIRA, 2008; FAO-Fishstat Database).

A pesca da lagosta é praticada em toda a extensão do litoral do Espírito Santo há dezenas de anos por pescadores profissionais e artesanais (DIAS NETO, 2008; IVO et al, 2012, UFES, 2013). As espécies mais capturadas são a P. laevicauda e P. argus sendo registrado em 2011, captura de 58,92 Toneladas (UFES, 2013). Para tanto, tradicionalmente utilizavam redes de espera de fundo conhecidas como “caçoeira”, (ZANCHETTA, 2009). A pesca com a rede caçoeira, por não ser

34

considerada uma prática sustentável foi, juntamente com a pesca de mergulho, banida pela Instrução Normativa do IBAMA nº 138, de 6 de dezembro de 2006, sendo legal, a partir de então, somente o uso dos covos para a captura das lagostas (BRASIL, 2006).

Giraldes & Smyth (2016), descrevem a Panulirus argus ocorrente no Brasil, como sendo Panulirus meripurpuratus sp nov. Devido a barreira biográfica do Atlântico ocidental, criada pelo desembocar da calha do Rio Amazonas, houve separação genética de P. argus e P. meripurpuratus em populações diferentes, ficando a P.argus ao norte da pluma do rio Amazonas e a P. meripurpuratus ao sul da pluma do rio Amazonas.

Considerando os diversos aspectos apresentados sobre a pesca de lagosta no Brasil e a escassez de informações voltadas a pesca de lagosta do estado do Espírito Santo, uma avaliação da situação atual do recurso fica prejudicada, comprometendo o processo de ordenamento desta pescaria no estado. Portanto, é imprescindível a realização de projetos contínuos de monitoramento e avaliação da pesca da lagosta no estado, para gerar subsídios que permitam a adoção de medidas para garantir a exploração sustentável do recurso. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo caracterizar a pesca da lagosta no litoral sul capixaba, com ênfase nos municípios de Guarapari e Marataízes.

35

2.2 MATERIAL E MÉTODOS

No período compreendido entre setembro de 2016 a agosto de 2017 foram realizados embarques mensais, na última semana de cada mês, no município de Guarapari, litoral sul do Espírito Santo (20°40’ S e 40°30 W). Os embarques foram realizados em embarcações pesqueiras de lagostas com o objetivo de caracterizar os aparelhos de pesca e a fauna associada.

Foram coletados dados como: coordenadas geográficas, correntes marinhas, profundidades, tipos de fundo e fase lunar (Anexo B). Os dados foram coletados durante os embarques e comparados com sites específicos de informações meteorológicas, de clima e tempo. As previsões das marés foram obtidas através das informações da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN).

Foi utilizada uma câmera fotográfica subaquática full HD para registros das imagens submarinas, computador de mergulho para registro de profundidade e Software livre Boat-NAVI versão 1.7 no smartphone para marcar as localizações dos pontos de coletas.

2.2.1 Caracterização dos aparelhos de pesca

Foram realizadas visitas a comunidade pesqueira de Guarapari e Marataízes E.S, onde foi feita a caracterização dos aparelhos de pesca. Os aparelhos de pesca (redes e covos) foram caracterizados quanto aos comprimentos, malha, materiais utilizados, dentre outros (Anexo A). Com base na média desses dados, foi calculado o volume dos covos utilizados na região, bem como o volume os covos tradicionais utilizados no País.

36

Com base no tamanho das embarcações e da altura das janelas da casaria, foi possível estimar o Volume Total Ocupável (VTO, em m3) a ser destinado ao transporte dos covos por uma embarcação tradicional, através da equação:

VTO = CELC x LELC x AJC

Onde:

VTO = Volume Total Ocupável;

CELC = Comprimento do Espaço Livre no Convés;

LELC = Largura do Espaço Livre no Convés;

AJC = Altura da Janela da Casaria.

A partir do VTO foi estimada a quantidade de covos possível de ser transportada por m³ nas embarcações, levando em consideração o volume calculado dos covos tradicionais e os utilizados no Espírito Santo.

Também foi feita a comparação entre o peso dos covos utilizados na região e covos tradicionais utilizados no País, onde foi estimado o peso por m³ nas embarcações.

37

2.2.2 Caracterização das lagostas

As lagostas foram identificadas através de (HOLTHUIS, 1991; MELO, 1999). Posteriormente foram mensuradas em relação ao Comprimento do Cefalotórax (CC, em cm), registrado o Peso Total (PT, em g) e identificados quanto ao sexo. Todos os organismos foram fotografados a bordo da embarcação durante as atividades pesca.

Para analisar a proporção de indivíduos maturo na captura, foram utilizados os tamanhos de maturidade para as espécies P. argus e P. laevicauda como sendo de 7,5 e 6,5 cm de cefalotórax respectivamente (IVO et al.,1996; PHILLIPS, 2006; BRASIL, 2006).

Neste trabalho consideramos a espécie Panulirus argus presente no Brasil, como Panulirus meripurpuratus. Assim como, a literatura existente para a lagosta vermelha brasileira.

2.2.3 Caracterização da fauna acompanhante

Todos os organismos capturados como fauna acompanhante a pesca de lagosta durante os embarques foram mensurados quanto ao Comprimento Total (CT, em cm), pesados quanto ao PT e fotografados. Posteriormente através de foto identificação, os exemplares foram identificados utilizando-se literatura especializada, (FIGUEIREDO & MENEZES, 1978, 1980, 1985, 2000; CARPENTER, 2002).

38

2.2.4 Cálculo de Captura por Unidade de Esforço (CPUE)

O cálculo da Captura por Unidade de Esforço das lagostas foi realizada para ambos os aparelhos de pesca.

Para o cálculo da CPUE de ambos, foi considerado o tempo médio de imersão do equipamento de 48 horas.

2.2.5 Armadilhas: Manzuá ou Covo

Para as armadilhas utilizadas na captura das lagostas foi realizado o cálculo da CPUE considerando-se o peso da lagosta (em g), e para o esforço de pesca o número de covos lançados e o tempo de imersão em horas, através da seguinte expressão:

CPUE = C (g) / f (covo x horas)

2.2.6 Redes de Espera

Para as redes de espera de fundo do tipo “caçoeira”, utilizadas na captura das lagostas foi realizado o cálculo da CPUE considerando-se o peso da lagosta (em g), e para o esforço de pesca, o comprimento da rede e o tempo de imersão em dias, através da seguinte expressão:

CPUE = C (g) / f (comprimento da rede x horas).

39

2.3 RESULTADOS

2.3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS APARELHOS DE PESCA DE LAGOSTA NO ESPÍRITO SANTO

2.3.1.1 Manzuá ou Covo

As características dos manzuás utilizados no Espírito Santo (Fig. 10a) foram coletadas de 4 covos, na comunidade pesqueira tradicional de Marataízes, litoral sul do Espírito Santo e comparado com o modelo tradicional de manzuá usado no Brasil (Fig.10b).

Figura 10 - Covos (manzuá) utilizados na pesca de lagosta: A) utilizado no Espírito Santo; B) modelo tradicional.

Fonte: O autor

40

Na tabela abaixo (Tabela 01) podemos observar as principais características dos modelos de covos utilizados na pesca de lagosta.

Tabela 01 – Medidas e Características do covo (manzuá) do Litoral sul do Espírito Santo, comparando com o modelo tradicional aplicado na pesca da lagosta.

Segmentos Covo tradicional (*) Covo litoral sul do E.S

Comprimento médio 74 a 75 cm 62,5 ± 0,0816 cm

Frente 78 a 80 cm 52,5 ± 0,1258 cm

Altura 32 cm 32 ± 0,5 cm

Entrada 35 cm 52,5 ± 0,5774 cm

Popa 56 a 58 cm 52,5 ± 0,5774 cm

Diâmetro da boca 15 cm 17 ± 0,957 cm

Peso estimado 5,95 kg 2,095 ± 0,0780 kg

Volume aproximado 0,178 m³ 0,105 m³

Material da armação Madeira Aço

Material da malha Poliamida Polietileno

Fonte: Autor; * Marinho e Madrid, (2007).

Os materiais utilizados para a construção do covo utilizado no litoral sul do Espírito Santo são arrame nº 18, vergalhão ¼ de polegada (bitola de 6,30 mm), tela de

41

polietileno com comprimento de malha 7 cm e fios de poliamida N° 210/36 (para a construção do pano de entrada até a boca).

Quando comparado à quantidade de covos armazenados por m³, para o modelo tradicional obtivemos 5,618 unidade de covos/m³ e para o modelo do litoral sul do Espírito Santo 9,524 unidade de covo/m³.

Para o lançamento dos covos adotados no Espírito Santo, são utilizadas duas âncoras ou garatéias (como é chamado pelos pescadores), que são utilizadas para a fixação ao fundo, uma em cada ponta do cabo principal. São colocados 6 a 9 covos entre as garatéias. Os aparelhos de pesca são colocados sempre com a parte da popa contra a corrente para evitar o acúmulo de algas na boca do aparelho de pesca. A permanência do covo desde o lançamento até o recolhimento dura aproximadamente 48 horas. As iscas utilizadas são: peixe, frango e toucinho, geralmente em adiantado estado de decomposição.

2.3.1.2 Rede de emalhe

As medidas analisadas foram coletadas de 6 redes de espera de fundo, de três pescadores diferentes.

Na região este tipo de rede é utilizado de forma que, uma rede é amarrada a outra. Existe uma nomenclatura própria entre os pescadores para esta forma de amarração onde uma única rede é chamada de “caça” e as duas redes juntas são chamadas de “padrão”, como demonstrado na figura 11. Normalmente as redes ficam cerca de 48 horas no mar, até serem recolhidas para retirada dos organismos capturados.

42

Figura 11 - Esquema da rede de espera de fundo, utilizada na pesca artesanal no Espírito Santo.

Fonte: Desenhado por Tharllei Camargo Moutinho.

As boias são predominantemente de isopor, mas foram observados outros tipos de materiais como poliuretano e PVC. Uma característica observada em todas as redes de espera de fundo medidas foi que a parte inferior sempre era maior que a parte superior. E a proporção era de 3 a 4 chumbos por boia.

Os apetrechos de pesca caracterizados possuem abertura de malha de 12 cm, os comprimentos das arcalas são de aproximadamente 16 cm. A altura da panagem esticada é de aproximadamente 180 cm e sem esticar de 70 a 80 cm. Estas redes apresentam de forma aproximada as características abaixo (tabela 02).

43

Tabela 02 - Características e medidas da rede de fundo utilizado no Espírito Santo.

Componentes Medidas

Cabo de boias 54,4 ± 1,9681 m

Diâmetro do cabo de boia 6 mm

Cabo de chumbo 56,1 ± 2,5655 m

Diâmetro do cabo de chumbo 6 mm

Número de boias 23 ± 1,0328

Comprimento da boia 5 cm

Largura das boias 3cm

Número de chumbos 88 ± 1,7512

Peso médio total de chumbos 3,6 ± 0,1751 Kg

Malhas de altura 15 ± 0,5164

Número de malhas por comprimento 696 ± 7,7632

Arcalas entre boias 15

Arcalas entre chumbos 4 ± 0,5164

Número de malhas por arcalas 2

Fonte: Autor

44

2.3.1.3 LAGOSTAS CAPTURADAS

No decorrer da pesquisa foram capturadas três espécies de lagosta: lagosta vermelha (Panulirus meripurpuratus); lagosta verde (Panulirus laevicauda) e; lagosta sapata (Scyllarides brasiliensis).

Para a Panulirus meripurpuratus foram capturados 4 indivíduos em profundidade média de 37,3 metros, maré variando na posição de norte a sul e em fundo misto de lama e cascalho. Ocorreu captura nos meses de abril, maio e setembro, com a maior incidência no mês de maio. As lagostas tiveram comprimento de carapaça (CC) entre 7,18 e 9,3 cm com média de 7,98 ± 0,8389 cm, peso entre 370g e 545g com média de 380 ± 80,2427 g. Dentre estes, 3 indivíduos eram fêmeas e 1 com sexo não identificado (apresentava somente a carapaça). Dos indivíduos capturados, 75% estavam dentro dos padrões de tamanho permitido para captura.

Foram registrados 22 indivíduos de Panulirus laevicauda, em profundidade média de 35,3 metros. O sentido da maré onde houve maior índice de captura foi de norte para sul com 54,5% dos indivíduos. O tipo de fundo que apresentou maior sucesso para a espécie foi o fundo misto de cascalho e lama (gráfico 01). Os meses que apresentaram captura foram março, abril, maio, junho, outubro, novembro e dezembro (gráfico 02), ocorrendo maiores índices nos meses de março e abril. As lagostas capturadas tinham CC entre 4,9 e 8,49 cm, com média de 6,6 ± 0,91 cm e peso variando entre 100 e 590 g com média de 320,9 ± 117,15 g. A proporção sexual encontrada foi de 1♀:2♂, sendo um indivíduo não identificado. Dentre os indivíduos capturados, 70% estavam dentro dos padrões de tamanho permitido para a captura.

45

Gráfico 01 - Captura de Panulirus laevicauda por tipo de fundo no litoral sul do Espírito Santo.

Fonte: autor

Gráfico 02 - Captura Panulirus laevicauda por mês no litoral do Espírito Santo.

Fonte: autor

46

Para a espécie P. laevicauda a análise entre CC e PT, gerou a equação PT = 1,8533 CC2,6428 (R2=0,8233; n=21).

Foram capturados 6 lagostas da espécie Scyllarides brasiliensis, em profundidade média de 37,3 metros. Não foi possível observar padrões para posição de maré. O tipo de fundo como maior ocorrência de captura foi cascalho ou lama. Os meses de ocorrência da espécie foram; março, Junho, Julho, Novembro e Dezembro.

A proporção sexual encontrada foi de 1♀:5♂, sendo registrados comprimentos entre 6,44 e 8,74 cm com média de 8,07 ± 0,89 cm e peso entre 160 e 410 g com média de 265 ± 94,07 g. A captura de todas as espécies de lagosta aconteceram no período de baixa intensidade de iluminação lunar, com iluminação inferior a 41%.

2.3.1.4 FAUNA ACOMPANHANTE

Foram capturados 39 peixes de 19 espécies diferentes (tabela 03) e 16 famílias distintas. Dentre essas espécies, as famílias com maior número de indivíduos capturados foram Sciaenidae e Triglidae (Gráfico 03).

47

Tabela 03 - Espécies que compõem a fauna acompanhante na pesca de lagosta no litoral sul do Espírito Santo

Espécies N° de indivíduos Comprimento Peso (Kg) (cm)

Narcine brasiliensis 2 32 *

Conodon nobilis 2 * *

Larimus breviceps 2 24.6 ± 5.5154 180.4 ± 179.6

Prionotus punctatus 8 33.15 ± 5.4457 625 ± 291.5476

Scorpaena Isthmensis 1 25.5 310

Scorpaena sp. 2 23 ± 1. 4142 205 ± 7.0711

Paralichthys sp. 1 34.5 390

Pagrus pagrus 1 28.5 350

Genidens sp. 3 47 ± 10.4083 950 ± 176.1628

Aluterus monocerus 1 32 870

Cynoscion sp. 1 37 *

Acanthurus coeruleus 1 32 850

Cyclichthys spinosus 1 * *

Acanthostracion quadricornis 1 * *

Isopisthus parvipinnis 1 26.5 240

Pseudobatos sp 1 45 *

Dactylopterus volitans 3 41 ± 12.7279 *

Chaetodipterus faber 1 18 *

Micropogonias furnieri 5 38.2 ± 81.1770 675 ± 35.3573

Nota: * Não foi possível coletar as informações, devido a predação ou descarte durante a pescaria. Fonte: Autor

48

Gráfico 03 - Quantidade de espécies diferentes, divididas por famílias.

Fonte: Autor

Os meses que apresentaram captura de fauna acompanhante foram; janeiro, março, maio, setembro, outubro, novembro e dezembro totalizando 7 meses, com maior captura nos meses de março, maio e setembro (Gráfico 04).

Gráfico 04 - Captura de fauna acompanhante por mês.

Fonte: Autor

49

Entre os organismos capturados 82,1% das capturas aconteceram com luminosidade lunar menor que 27% e o restante das capturas aconteceram com intensidade lunar maior que 50%.

A posição da maré em que aconteceu a maioria das capturas foi com direção de norte para Sul (ao Sul), com 57,1%. Já a maré de direção de Sul para norte (ao Norte) apresentou captura de 14,3%. Para o restante da captura (28,6%), não foi possível determinar a direção da maré em que foram capturados devido a alternância de direção da maré entre o lançamento e recolhimento do aparelho de pesca.

2.3.1.5 CPUE

A CPUE da lagosta variou de 0 a 0,3333 com maiores capturas nos meses de abril e março (Tabela 4).

50

Tabela 04 – Produção e CPUE (captura por unidade de esforço) de lagostas no período compreendido entre setembro de 2016 e agosto de 2017.

Meses Produção (g) CPUE (metros rede x horas)

Setembro 0 0

Outubro 290 0,0274

Novembro 475 0,0450

Dezembro 510 0,0483

Janeiro 0 0

Fevereiro 0 0

Março 1870 0,1771

Abril 3520 0,3333

Maio 1525 0,1444

Junho 1375 0,1302

Julho 160 0,0152

Agosto 0 0

Nota: Os dados coletados foram de apenas quatro redes por mês que juntas somaram 220 metros, cada permaneceu por 48 horas submersas.

Fonte: autor

51

A captura através da rede foi nula, nos meses de janeiro, fevereiro, agosto e setembro e os meses com maiores valores de CPUE foram março, abril, maio e junho.

Para os Covos não houve nenhuma captura, portanto o CPUE para esta modalidade de pesca foi nula.

2.4 DISCUSSÃO

Apesar de lagostas apresentarem um elevado interesse econômico em todo o país, incluindo o Espírito Santo, pouco se sabe sobre os diversos aspectos relacionados a pesca deste recurso pesqueiro no estado. Este trabalho traz uma caracterização dos aparelhos de pesca, bem como da captura deste importante recurso pesqueiro no litoral sul capixaba.

2.4.1 Manzuá ou covo

O marmeleiro (Croton hemiargyreus) é a madeira mais utilizada para construção da armação dos covos tradicionais (MARINHO & MADRID, 2007), mas os pescadores da região sul do Espírito Santo relatam a dificuldade de obter este tipo de madeira para a construção deste aparelho de pesca. Devido a esta dificuldade, os pescadores de Marataízes no litoral sul do Espírito Santo desenvolveram um método próprio para a construção dos covos como demonstrado (figura 10a). Este método pode reduzir os custo e aumentar a quantidade de manzuás transportados nas embarcações, reduzindo o peso o que pode resultar em diminuição do atrito e menor consumo de combustível (SOUSA; MARTINS, 2014).

Este formato sem curvas e em forma de paralelepípedo facilitou o acondicionamento dos apetrechos no convés das embarcações do litoral sul do Espírito Santo

52

reduzindo os espaços ocupados em aproximadamente 59 %. Além disso, houve uma redução média de peso de 35,2%.

Na Região são utilizadas iscas em adiantado estado de decomposição pois, segundo os pescadores, fica mais atraente para as lagostas. As iscas e o formato da armadilha oferecem fonte de alimento e abrigo (IVO et al, 2012). Quanto maior for o tempo de permanência, a armadilha se incorpora ao meio, tornando-se atrativa para os organismos que habitam o fundo, justificando assim, o tempo de permanência da arte de pesca, pois as lagostas são espécies oportunistas com hábitos noturnos (KANCIRUK, 1980; FONTELES FILHO, 2005; IVO et al, 2012 ).

A quantidade de covos por fieira (termo utilizado no para designar o cabo principal ao qual são aderidos os covos) utilizados no Nordeste do País é superior a utilizada no estado. Enquanto no Espírito Santo se utiliza 6 a 9 covos, no Nordeste são utilizados de 15 a 25 covos, o que pode estar relacionado a falta de tradição da pesca com covos no estado (DIAS NETO, 2008; IVO et al, 2012).

2.4.2 Rede de emalhe

A Instrução Normativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) nº 138, de 6 de dezembro de 2006, proibiu, a partir de 1º de janeiro de 2007, a captura de lagostas das espécies Panulirus argus (lagosta vermelha) e Panulirus laevicauda (lagosta cabo verde), com o emprego de redes de espera de fundo (BRASIL, 2006). Porém, essas redes ainda são utilizadas na pesca das lagostas espinhosas em todo o Brasil por falta de uma fiscalização eficiente e estas são responsáveis por grande parte da produção das embarcações.

No Litoral Sul do Espírito Santo as redes possuem nomenclatura própria, e a quantidade de rede por “fieira” é inferior ao utilizado no Nordeste. Enquanto no

53

estado se utiliza duas redes presas uma a outra, no Nordeste são utilizadas até dez redes por fieira. O comprimento da rede também é inferior ao encontrado no Nordeste (~70 m; PAIVA et al, 1973; DIAS NETO, 2008; IVO et al, 2012). Este tipo de rede confeccionada com nylon monofilamento, são leves e ocupam pouco espaço, o que proporciona fácil manuseio em qualquer tamanho de embarcação (IVO et al, 2012). Isto significa que a disposição em que as redes são amarradas e o tamanho empregado são impostos pela tradição de cada região. Este fato foi observado durante as medições, onde cada pescador possui sua própria medida (um gabarito feito com uma vareta de bambu) que foi passado muitas vezes de pai para filho, ou foi ajustado o tamanho do gabarito de acordo com a experiência do pescador. Na maioria das vezes, cada pescador faz a fixação do pano da própria rede aos cabos de chumbo e boias, havendo certa superstição pela quantidade de captura relacionada às formas de amarração.

A diversificação do material das boias se dá devido ao fato dos pescadores utilizarem os materiais disponíveis, reaproveitando de outras pescarias, sendo as de isopor, as preferidas. A proporção de boias para chumbo no litoral sul do Espírito Santo é de ±4/1, enquanto o trabalho de Paiva et al (1973), indica para o nordeste do Brasil, a proporção de boias para chumbo de 1/1, dito isso, há um indicativo que a flutuação da rede no Espírito Santo e menor que a do nordeste do Brasil.

Nas redes utilizadas na pesca no Espírito Santo a quantidade de chumbo por metro de rede é superior ao observado no Nordeste (PAIVA et al., 1973) o que pode indicar menor movimentação sobre o substrato. Esta menor movimentação pode ser um dos motivos para a menor captura de lagostas nas redes do estado se comparado com o Nordeste.

As lagostas costumam se abrigar em bancos de algas calcárias, onde encontram abrigo durante o dia e vagueiam durante a noite (PAIVA et al, 1973). Os relatos dos

54

pescadores indicam que as redes estão instaladas próximo ou no banco de algas, onde habitam as lagostas. Outro relato dos pescadores sobre as redes é que o intervalo que se forma entre as redes funciona como uma área de escape para diminuir o peso, quando tem muita corrente ou quando há acúmulo de algas.

2.4.3 Lagostas capturadas

No presente trabalho as 3 espécies de lagostas registradas foram P. meripurpuratus, P. laevicauda e S. brasiliensis corroborando trabalhos pretéritos (FONTELES FILHO, 2005; DIAS NETO, 2008; IVO et al, 2012; SANTANA et al, 2016) que indicam estas com sendo as espécies com maior incidência de captura na costa brasileira.

A profundidade de captura para ambas as espécies esteve próximo aos 37 metros, o que pode ser caracterizado como zonas de migração de lagostas adultas (FONTELES-FILHO & IVO, 1980; DIAS NETO, 2008; IVO et al, 2012), que pode variar de 30 a 50 metros de profundidade.

Durante o período dos estudos, o maior índice de captura foi registrado com a direção da corrente sentido norte para sul. As correntes marinhas são responsáveis pela dinâmica de circulação de nutrientes no ambiente marinho, sendo responsáveis por alterações morfológicas, influenciando na ecologia e biologia de determinada região (AN & MCDONALD, 2005; MARÍN & DELGADO, 2007; KACZMAREK et al. 2004; GEYER et al. 2004). Dito isto, a dinâmica da pesca de lagosta, pode estar diretamente relacionada à direção das correntes. Para as lagostas da espécie Scyllarides brasiliensis não foi observado nenhum padrão de captura relacionado às correntes, pois houve variação de posição durante o período de permanência de rede na pesca.

55

O tipo de fundo composto por cascalhos e lama foi o que apresentou maior sucesso de captura, diferindo do comportamento das lagostas do gênero Panulirus, que costumam habitar fundos compostos por algas calcárias da família Rhodophyceae, rochas, recifes, bancos de algas ou qualquer ambiente que possa fornecer abrigo (HOLTHUIS, 1991; FONTELES FILHO, 1992). Foi também registrado captura das lagostas do gênero em fundos lamosos, podendo ser explicado pelo fato destes organismos migrarem próximo ao banco de algas onde estão instalados (PAIVA et al, 1973). Isto indica que o local de pesca, possui pequenos bancos onde ocorrem as lagostas. Já as lagostas do gênero Scyllarides são encontradas, em substratos de algas calcárias, cascalho e fundos arenosos (MELO, 1999; DUARTE et al., 2010, 2015), coincidindo com o encontrado no presente trabalho.

Os meses que apresentaram captura para a espécie P. meripurpuratus foram, abril, maio e setembro, que ocorreram após o período de maior ocorrência reprodutiva, que acontece de janeiro a abril (SOARES & CAVALCANTE, 1985; SOARES, 1998).

Para P. laevicauda os meses que apresentaram maior índice de captura foram, março e abril. As captura para a espécie, ocorreram dentro do período de ocorrência reprodutiva que acontece de janeiro a abril e setembro a outubro (SOARES & CAVALCANTE, 1985; SOARES, 1998).

Os meses que apresentaram captura para a espécie Scyllarides brasiliensis foram março, Junho, Julho, Novembro e Dezembro. Não possuindo trabalhos semelhantes para a espécie S. brasiliensis, considerando assim o gênero Scyllarides como base. Indica que 50% das capturas ocorreram dentro do período reprodutivo, que quando comparado com trabalho realizado com a espécie Scyllarides deceptor, possui dois picos reprodutivos, um de maior intensidade de junho a setembro e outro menos expressivo de janeiro e fevereiro (SOARES &

56

CAVALCANTE, 1985; SOARES, 1998; OLIVEIRA et al., 2008; DUARTE et al., 2010, 2015).

O tamanho de maturidade das fêmeas de Panulirus meripurpuratus é de 6,9 cm de comprimento de cefalotórax e da Panulirus laevicauda 6,2 cm de comprimento de cefalotórax. Sendo que para a maioria das espécies de lagostas estudadas, os machos tendem a maturar com comprimento de cefalotórax 10,4% maior em relação ao comprimento de cefalotórax das fêmeas (IVO & PEREIRA, 1996; PHILLIPS, 2006; OLIVEIRA, 2008). Logo, se conjectura que esse comprimento para os machos de Panulirus meripurpuratus é de 7,6 cm e para os machos de Panulirus laevicauda é de 6,8 cm. Diante do exposto acima, se pode considerar que 100% das fêmeas de Panulirus meripurpuratus estavam acima do comprimento de maturação. Para a Panulirus laevicauda 75% das fêmeas, estavam acima do comprimento de maturidade, e para os machos da mesma espécie 57% estavam acima do comprimento de maturação.

Não existe regulamentação para captura da espécie Scyllarides brasiliensis visto a ausência de estudo que tenha determinado seu tamanho de maturação. Se considerar aspectos populacionais de sua congênere no Brasil, Scyllarides deceptor, o tamanho de maturidade (CC, em cm) de 8,8 cm para machos e 7,7 cm para fêmeas (OLIVEIRA, 2008), indicam que 16,7% das lagostas do gênero capturadas encontravam-se maturas. Apenas a fêmea, capturada estavam acima do comprimento de maturação.

A lua é um ponto de referência para muitas espécies, ditando comportamento reprodutivo e migratório. Para os crustáceos a abundância larval e movimentação estão diretamente relacionado, com os ciclos lunar mais escuro (KINGSFORD et al. 2002, CRIALES et al. 2006). Para algumas espécies de lagosta como a P. cygnus da Austrália (SRISURICHAN et al., 2005) e a P. japonicus do Japão (YAMAKAWA

57

et al., 1994) foi observado um relacionamento positivo entre a intensidade de captura e ciclo lunar, com maiores índices de capturas nos períodos lunares de menor luminosidade. Estes resultados corroboram o encontrado no presente trabalho, onde toda a captura foi com menores índices de luminosidade. Contudo, no trabalho de Lopeztegui et al, (2011) no Golfo de Batabanó, Cuba, com a espécie P. argus, não foi observado nenhuma correlação significativa. Dito isso, observa-se que o período lunar de baixa luminosidade, pode influenciar positivamente na pesca de determinadas espécies de lagosta no mundo, é preciso uma análise profunda para entender qual a real influência lunar, nas espécies de lagosta do Brasil.

2.4.4 Fauna acompanhante

Entre as espécies registradas no trabalho, 30,8% apresentou algum tipo de predação ou foram descartados antes de serem coletados todos os dados, devido à dinâmica da pescaria na embarcação.

A pesca com redes, além de captura da espécie alvo, também gera a captura de organismos que são capturados incidentalmente. A maior parte deste pescado é descartada no mar e uma pequena parcela destes, é utilizada como um subproduto da captura da espécie alvo (SAILA, 1983; KELLEHER, 2005). As espécies de peixes capturadas não possuem tamanho e/ou valor comercial. Os peixes que não foram descartados eram utilizados pelos pescadores locais, como fonte de alimento.

As famílias que apresentaram maior incidência de captura foram; Sciaenidae e Triglidae. A família Sciaenidae caracteriza-se por serem peixes costeiros, encontrados em águas rasas da plataforma continental, sobre fundos de areia ou lama. Estes constituem uma importante parcela das capturas comerciais efetuadas no sudeste do Brasil (FIGUEIREDO & MENEZES, 1980). A família Triglidae também é encontrada em fundos de areia ou lama e não possuem importância comercial

58

(FIGUEIREDO & MENEZES, 1980).

Das 19 espécies capturadas 63,2 %, habitam fundos de lama ou areia e 36,8% fundo de pedra, confirmando o posicionamento das redes próximo ou sobre bancos onde as lagostas habitam. Corroborando que o local de pesca, possui pequenos bancos onde ocorrem as lagostas.

Os pescadores relatam que a intensidade lunar influencia na pescaria, pois os peixes “enxergam a rede”, proporcionando baixa captura, nas luas com maior intensidade de iluminação.

2.4.5 CPUE

Para as análises de CPUE no estado foram utilizados, como esforço, metros de rede/hora. Esta decisão de utilizar metros em detrimento de metros quadrados, se deu pelo fato de que as lagostas são organismos bentônicos que vivem agregados ao substrato do fundo (PAIVA et al, 1973; HOLTHUIS, 1991; FONTELES FILHO, 1992; MELO, 1999; DUARTE et al., 2010, 2015).

No Nordeste do país os valores médios de CPUE são de 0,603 Kg/ metro de rede- dia (IVO CORRÊA, et al, 2012). No Ceará em 2004, o CPUE médio para as armadilhas foi de 0,0683 Kg/covo-dia, tornando viável a utilização (DIAS NETO, 2008). Todos os valores se mostraram superior ao encontrado no Espírito Santo. Precisando assim, análise profunda e ampla na pesca do Estado. Estes valores podem não representar a realidade, pois durante o presente trabalho, as coletas foram feitas em dias definidos de cada mês, o que pode ter levado a operação de pesca acontecer em dias em que a captura da lagosta não seria satisfatória devido às condições ambientais e oceanográficas. Outro fator que possivelmente possa ter influenciado, foi à dificuldade de embarque, levando em consideração de que parte

59

da pesca ainda acontece de forma ilegal e pesquisadores não possuem uma boa aceitação na atividade.

A Produtividade dos covos foi analisada apenas para as armadilhas tradicionais, devido a indisponibilidade de utilização de covos confeccionados no litoral sul do Espírito Santo. A baixa produtividade pode ser explicada em parte pelos mesmos fatores pontuados para a produtividade das redes.

As lagostas formam grandes grupos que realizam movimentos aleatórios e diários, de curta distância, e movimentos estacionais, de longa distância, em busca de zonas de reprodução (FONTELES-FILHO & IVO, 1980). Isso significa que o índice de captura deste tipo de armadilha, estará diretamente relacionado à densidade populacional da zona de migração (IVO et al, 2012). Assim, o posicionamento da armadilha pode influenciar na captura, pois se a entrada estiver virada para o lado oposta do movimento migratório, poderá dificultar o acesso ao interior da armadilha. Dito isto, é possível que a baixa captura de lagostas, utilizando covos na região também tenha correlação com a densidade populacional, bem como com a disposição do lançamento dos covos, com a corrente não atingindo a boca.

A exploração de novas áreas vem crescendo gradativamente no Norte, Nordeste e chegando ao Sudeste até o Espírito Santo. Assim, a generalização dos dados de captura, tem dificultado a visualização do nível de sobreexploração do recurso pelo esforço de pesca (IVO CORRÊA et al, 2012). Diante do exposto, a baixa CPUE encontrada no presente trabalho, foi determinada por uma série de fatores que contribuíram para os resultados, o que indica a necessidade de novas pesquisas voltadas para a pesca de lagosta na região.

60

2.5 CONCLUSÃO

As formas de captura de lagosta no Espírito Santo se diferenciam do nordeste do Brasil. O formato do covo desenvolvido no estado facilitou o acondicionamento dos apetrechos no convés das embarcações, reduziu espaços e custos de operação. A quantidade de covo utilizada pode estar relacionada à falta de tradição da pesca com covos no estado.

Na pesca com rede, quando comparado com o nordeste do Brasil, as diferenças se apresentam na quantidade de redes por fieira, na forma de amarração do pano da rede aos cabos de chumbos e boais e na nomenclatura e, estas modificações possuem influência tradicional.

No Estado as espécies de lagosta que apresentaram maiores índices de captura, foram às mesmas apontadas no restante do país. Com maioria adulta para as espécies, P. meripurpuratus e P. laevicauda e maioria juvenil para S. brasiliensis. Foram capturadas no mesmo tipo de substrato bentônico, mas também em fundos de lama.

Não foi possível comprovar influência lunar na pesca de lagosta devido a uma baixa captura, contudo as maiorias das capturas ocorreram com baixa intensidade lunar, o que pode ser um indicativo de padrão.

A baixa CPUE pode ter sido provocada por uma série de fatores, tais como:

As coletas foram feitas em dias definidos de cada mês, a dificuldade de embarque, pequenos bancos de pesca no local da pesquisa, o posicionado das armadilhas no fundo.

61

3 IMPLICAÇÕES COMERCIAIS E ADMINISTRATIVAS CAUSADAS PELA NOMEAÇÃO DA LAGOSTA VERMELHA COMO PANULIRUS ARGUS OU PANULIRUS MERIPURPURATUS NO BRASIL

A família Palinuridae tem um importante papel comercial no Brasil e no mundo, tendo se observado no Brasil uma tendência de queda na produção, causada pela sobrepesca, o que poderia ser evitado, se houvesse manejo correto dos estoques pesqueiros existentes no país, onde diversos estudos apontam, para a diferenciação da Panulirus meripurpuratus sendo esta endêmica, assim, adotar esta nomenclatura seria essencial para a conservação e valorização da espécie.

3.1 INTRODUÇÃO

A Família Palinuridae, possui 49 espécies, que apresentam características morfológicas bem distintas como; antenas longas e presença de numerosos espinhos na carapaça (SPANIER & LAVALLI, 2006). As lagostas desta família estão entre os crustáceos que apresentam maior valor de mercado no mundo, gerando milhões de dólares de receita mundial (FRISCH, 2007; FAO, 2010). No Brasil, as lagostas que apresentam maior interesse comercial são espinhosas, conhecidas popularmente como “lagostas verdadeira ou vermelha” e “lagosta verde” (IBAMA, 1997), sendo as espécies Panulirus argus e Panulirus laevicauda, respectivamente (IVO e PEREIRA, 1996; COELHO et al., 1996; IBAMA, 1997; IBAMA/CEPERG, 2007; MMA, 2008).

A distribuição geográfica dessas espécies está diretamente relacionada com o tipo de substrato que compõe o fundo oceânico, com preferência para fundos sedimentados de algas calcárias bentônicas (DIAS-NETO, 2008; IVO et al., 2012). As lagostas do gênero Panulirus apresentam fecundação externa com

62

desenvolvimento embrionário externo e período de incubação de 4 a 6 semanas, atingindo a fase juvenil entre 24 a 36 meses após a eclosão (RUPPERT et al., 2005; DIAS-NETO, 2008; IVO et al., 2012). A abundância dessas espécies apresenta tendência crescente de forma perpendicular à costa, com maiores abundâncias entre profundidades de 31-40 m para P. laevicauda e de 41-50 m para P. argus (SOUZA, 1987 apud SILVA & FONTELES-FILHO, 2011).

No Brasil a pesca da lagosta tem importante papel comercial em quase toda a faixa litorânea do país, sendo fonte de renda de milhares de pessoas. O produto desta atividade é destinado predominantemente para o mercado externo (ARAGÃO, 2013). Contudo, tem se observado uma tendência de queda na produção causada pela sobrepesca, tornando os níveis de produção desta pescaria instáveis (DIAS- NETO, 2010; ARAGÃO, 2013; CeDePesca, 2014). Outro problema para a comercialização observado é a diminuição do peso médio do produto que também pode estar causando desvalorização no mercado internacional (CeDePesca, 2014), devido ao menor valor de venda para lagostas com comprimento de cauda menor (IVO et al., 2012).

A comercialização da lagosta no Brasil é realizada mais comumente de três maneiras: cauda de lagosta congelada, lagosta inteira congelada e lagosta viva, sendo a cauda de lagosta congelada o produto mais exportado (SILVA & FONTENELES-FILHO, 2011). A exportação de lagosta congelada no Brasil no ano de 2018 foi de aproximadamente 2.314,48 toneladas, faturamento de US$ 69.320.000 e preço médio de US$ 29,95/kg (COMEX VIS/MDIC, 2019).

A lagosta viva tem se mostrado uma das alternativas essenciais de comercialização para a recuperação econômica do setor lagosteiro, devido à alta valorização do produto no mercado internacional, e que, consequentemente, tendem a garantir

63

maior sustentabilidade das pescarias, em razão da seletividade na captura (SILVA & FONTELES-FILHO, 2011).

No Brasil o período de defeso da lagosta Panulirus argus ocorre no período de compreendido entre 1º de dezembro a 31 de maio (Brasil, 2008) e o tamanho mínimo da captura de 13 cm de comprimento de cauda (7,5 cm de comprimento de cefalotórax) (Brasil, 2006). Já nos Estados Unidos, um dos países destino da exportação de lagostas do Brasil, o período de liberação da pesca vai de 06 de agosto a 31 de março com o limite mínimo de captura 13,97 cm de comprimento de cauda (7,62 cm de comprimento de cefalotórax) de carapaça para a P. argus. Sendo o período de defeso, portanto de 1 abril a 05 de agosto (CCFFW, 2019).

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma discussão sobre a divergência acerca da espécie de lagosta vermelha existente no Brasil e os possíveis múltiplos estoques ao longo da costa fazendo considerações sobre as consequências para a comercialização do recurso no país.

3.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.2.1 Qual a espécie de lagosta vermelha existente no Brasil?

No final da década de 90, um estudo utilizando sequenciamento de DNA mitocondrial de lagostas do Caribe e Brasil foi capaz de identificar altos índices de divergências (20% para COI e 8% para 16S) entre os espécimes das duas localidades e sugeriu o reconhecimento provisório de duas subespécies para a lagosta vermelha (SARVER et al., 1998). Uma delas foi indicada como Panulirus argus westonii representando populações do Brasil e a outra P. argus argus representando populações do Caribe. Mais tarde, uma alta divergência entre as populações de lagosta do Atlântico Sudoeste e do Caribe utilizando sequências da

64

região controle do DNA mitocondrial também foi observada para P. argus (DINIZ et al., 2005). Entretanto, nenhuma conclusão taxonômica foi realizada.

Segundo o Plano de gestão para o uso sustentável de lagostas no Brasil (DIAS- NETO, 2008), baseando-se em diversos trabalhos (OGAWA et al., 1991; SILBERMAN; WALSH, 1994; DINIZ et al., 2005), a lagosta P. argus da costa Brasileira e a do mar do Caribe, devem ser consideradas como unidades ecológicas e genéticas distintas.

Recentemente, um estudo baseado em morfologia identificou diferenças entre a lagosta do Caribe e a do Brasil, descrevendo a espécie Panulirus meripurpuratus como sendo a lagosta vermelha de ocorrência na costa brasileira (GIRALDES & SMYTH, 2016). A sustentação da especiação entre as lagostas do hemisfério norte e sul foi devido à condição geomorfológica da costa brasileira e a influência da calha do rio Amazonas.

Após o reconhecimento da espécie Panulirus meripurpuratus por GIRALDES & SMYTH (2016), diversos trabalhos desconsideram a nova nomenclatura (BEVILACQUA, 2017; CINTRA et al., 2018; CAVALCANTE et al., 2018; OLIVEIRA, 2018; ARAGÃO ; CINTRA, 2018), inclusive a “Avaliação do Plano de Gestão para o Uso Sustentável de Lagostas no Brasil (DIAS-NETO, 2017). Contudo alguns autores já identificaram a espécie com o novo nome atribuído (ANDRADE, 2018; D’OLIVEIRA, 2017; RIBEIRO, 2017; SANTANA et al., 2016). A partir daqui trataremos a espécie Panulirus argus do Brasil como Panulirus meripurpuratus.

3.2.2 Unidades de estoque da lagosta vermelha no Brasil.

No Brasil, um estudo utilizando marcadores PCR (RAPDs) sugeriu a existência de duas populações de P. meripurpuratus, sendo uma na área ocupada por uma população distribuída entre o Ceará e o Pará e a outra de Pernambuco à Bahia

65

(CARREIRO, 2001). Ainda, devido à extensão territorial e influência das diferentes correntes marinhas que se apresentam na costa brasileira, é provável que tenha vários estoques diferentes de lagosta vermelha no Brasil (DINIZ, 2010). Além disso, nas análises pretéritas que suspeitaram diferentes unidades de estoques, apenas as costas Norte e Nordeste foram consideradas impedindo a comparação com as lagostas da região Sudeste.

Para gerir um recurso pesqueiro importante economicamente ao longo de toda sua distribuição, como é o caso da lagosta de vermelha, de forma a abranger todas as particularidades ambientais e ecológicas, é necessário investigar como estão estruturadas as unidades de estoque populacionais. Além disso, realizar estudos biológicos em cada estoque é fundamental para caracterizar aspectos necessários para a avaliação destes estoques, tais como: recrutamento, alimentação, reprodução, idade e crescimento, mortalidade, dentre outros (POLLOCK, 1993; FONTELES-FILHO, 1994, DIAS-NETO, 2010).

3.2.3 Consequências.

Até o momento, as populações de lagosta vermelha do Brasil e Caribe foram tratadas como uma única espécie por todos os governos e organizações internacionais (DIAS-NETO, 2008; BUTLER et al., 2011). Como desdobramento direto disto, têm-se que o período de defeso vigente no Brasil (1° de dezembro a 31 de maio) e o dos Estados Unidos (1° de abril a 5 de agosto) ocorrem em períodos distintos com uma interseção de dois meses. De forma prática, o Brasil fica impedido de exportar a lagosta para este país, durante o período que compreende o defeso nos dois países, restando apenas cerca de quatro meses livre para este comércio. Isto se deve ao fato de que comerciantes de lagosta nos Estados Unidos têm alegado receio de multa por tratar-se da mesma espécie, embora os períodos de defeso sejam diferentes nos dois países. Vale ressaltar que no passado os Estados

66

Unidos foram um dos nossos principais compradores (DIAS-NETO & DORNELLES, 1996), e que ao deixar de exportar o produto dois meses ao ano gerou um déficit de aproximadamente US$ 24.905.857,00 em 2010 (SILVA & FONTELES-FILHO, 2011).

A existência de diferentes estoques de lagosta vermelha no Brasil e a ausência de estudos detalhados a respeito das diferentes unidades de estoque gerou uma extrapolação de legislação, relacionada ao tamanho mínimo de captura e período de defeso para locais, onde as características biológicas e ecológicas são diferentes. A possível consequência direta é o manejo inadequado dos estoques, uma vez que a gestão do recurso pode estar sendo feita sem considerar as características biológicas de cada estoque pesqueiro.

Segundo os pescadores do sul da Bahia e Espírito Santo, o período de defeso implementado na região (baseado nos parâmetros populacionais estimados no Ceará) não condiz com o verdadeiro período de defeso da lagosta vermelha na região. Este período de defeso possivelmente equivocado em algumas localidades ao longo da distribuição desta lagosta no Brasil tem acarretado na captura de fêmeas reprodutoras em período fundamental para a manutenção do equilíbrio do estoque.

3.3 SUGESTÕES

Adoção imediata da nova nomenclatura Panulirus meripurpuratus para a lagosta vermelha no Brasil através de publicação de um ato legislativo que reconheça os documentos pretéritos que citam Panulirus argus no Brasil, como sendo a nova espécie descrita e endêmica de nossa fauna.

67

Divulgar o documento de reconhecimento a todos os setores de interesse na utilização da lagosta vermelha endêmica do Brasil como recurso, facilitando assim a comercialização e valorização no mercado exterior.

Investir na pesquisa de dados populacionais e biológicos das espécies de lagosta do Brasil, com intuito de embasar legislações acerca de tamanhos mínimos de captura e períodos de defeso que levem em consideração as diferenças regionais dos estoques.

68

REFERÊNCIAS

AN, B.W.; MCDONALD, N.R. Coastal currents and their interaction with topography. Dynamics of Atmospheres and Oceans, v.40, p.237-253, 2005.

ANDRADE, Humber Agrelli, et al. Variações nas capturas das lagostas vermelha (Panulirus meripurpuratus), verde (Panulirus laevicauda Latreille, 1817) e sapata (Scyllarides brasiliensis Rathbun, 1906) na costa de Pernambuco. Boletim do Instituto de Pesca, p.194-206, 2018.

ARAGÃO, J. A. N. Pesca de lagostas no brasil: monitorar para ordenar; Bol. Téc. Cient. CEPENE, Tamandaré - PE - v. 19, n. 1, p. 103-106, 2013; Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/cepene/images/stories/publicacoes/btc/vol19/art08- v19.pdf. Acesso em: 8 out. 2018.

ARAGÃO, José Augusto Negreiros; CINTRA, Israel Hidenburgo Aniceto. AVALIAÇÃO DO ESTOQUE DE LAGOSTA VERMELHA Panulirus argus NA COSTA BRASILEIRA. Arquivos de Ciências do Mar, v. 51, n. 2, p. 7-26, 2018. Disponívem em: http://www.periodicos.ufc.br/arquivosdecienciadomar/article/view/30919. Acesso em: 20 set. 2019.

ARAGÃO, José Augusto Negreiro; DIAS-NETO, José. Considerações sobre ordenamento pesqueiro e sua aplicação no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PESCA. Fortaleza: AEP/CE. Anais, p. 396- 418, 1988.

BARROSO, Joarez Coelho. Avaliação da pesca da lagosta vermelha (Panulirus argus) e da lagosta verde (Panulirus laevicauda) na plataforma continental do Brasil. (Mestrado em Engenharia de Pesca) – Departamento de Engenharia de Pesca, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2012.

BASILIO, Thiago Holanda et al. Sustentabilidade das atividades pesqueiras do município de Piúma, litoral sul do Espírito Santo, Brasil. Arquivos de Ciências do Mar, v. 48, n. 1, p. 69-86, 2015.

BRASIL. Instrução Normativa nº 138, de 06 de dezembro de 2006. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, DOU de 07/12/2006 (nº 234, Seção 1, p. 121), 2006.

69

BRASIL. Instrução Normativa nº 206, de 14 de novembro de 2008. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, nº 223, 17 de novembro de 2008, p. 134, 2008.

BRASIL. Lei nº 11959, de 29 de junho de 2009. Dispõe sobre Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca. Lex. Brasília, 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2009/Lei/L11959.htm. Acesso em: 5 set. 2018.

BEVILACQUA, Ana Helena Varella. Entendendo a pesca de pequena escala: uma abordagem ecológica, social e econômica. 164f. Tese (Doutorado em Ecologia) - Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.

BUTLER, M., COCKCROFT, A., MACDIARMID, A. & WAHLE, R. Panulirus argus. The IUCN Red List of Threatened Species, 2011. Disponivel em: http://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2011-1.RLTS.T169976A6697254. Acesso em: 23 Out. 2018.

CARREIRO, C. R. P. Identificação de populações da lagosta vermelha Panulirus argus do Norte e Nordeste do Brasil, usando marcadores moleculares. PhD Thesis. Dissertação Mestrado, Departamento de Engenharia de Pesca, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. p.65. 2001.

CAVALCANTE, Mayara Falcão, et al. FONTES DE VARIAÇÃO NO VALOR DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE LAGOSTA: UMA APLICAÇÃO DO MÉTODO SHIFT-SHARE. Revista Ciências Sociais em Perspectiva, v.18, n.34, p.32-55. 2018.

CAVALCANTE, Paulo Parente Lira. Ordenamento da Pesca de Lagosta Panulirus argus e Panulirus laevicauda e a Recuperação da Sustentabilidade das Pescarias no Litoral do Brasil: uma proposta inovadora do ordenamento pesqueiro. Tese, 257. 2013. Disponivel em: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/15849/1/2014_tese_pplcavalcante.pdf. Acesso em: 2 ago. 2019.

CeDePesca – Brasil. (Centro Desenvolvimento e Pesca Sustentável Filial Fortaleza-Brasil); Análises dos dados de exportação fornecidos pelo Sindifrio. Conclusões preliminares para contribuir com a gestão sustentável da pescaria de lagosta. CeDePesca – Brasil, Filial Fortaleza, p. 12, 2014.

CINTRA, Israel Hidenburgo Aniceto, et al. Carcinofauna acompanhante do camarão-rosa em pescarias industriais na plataforma continental amazônica. Acta

70 of Fisheries and Aquatic Resources, v.5, n.2, p.69-70, 2018.

COELHO, Petronio Alves, et al. An updated checklist of decapod crustaceans (infraorders Astacidea, Thalassinidea, Polychelida, Palinura, and Anomura) from the northern and northeastern Brazilian coast. Zootaxa, v.1519, n.1, p.1-16, 2007.

COELHO, P. A., DIAS, A. F., OLIVEIRA, G. M., & PONTES, A. C. P. Estudo comparativo da pesca de lagostas com covos, redes de espera e mergulho no estado de Pernambuco. Boletim Técnico Científico do CEPENE, v.4, n.1, p.173- 196, 1996.

CRIALES, Maria M., et al. Variability in supply and cross-shelf transport of pink shrimp (Farfantepenaeus duorarum) postlarvae into western Florida Bay. Fishery Bulletin, v.104, n.1, p.60-74, 2006.

DALL’OCCO, Paola Lupianhes; BENTO, Rodrigo Tadeu; MELO, Gustavo Augusto Schmidt de. Range extensions for lobsters off the Brazilian coast (Crustacea, , Palinura, Astacidea). Biociências, v.15, n.1, p.47-52, 2007.

DIAS NETO, José. Plano de gestão para o uso sustentável de Lagostas no Brasil: Panulirus argus (Latreille, 1804) e Panulirus laevicauda (Latreille, 1817). Brasília: Ibama, 2008.

DIAS NETO, Jose. Gestão do uso dos recursos pesqueiros marinhos no Brasil/José Dias Neto. – Brasília: Ibama, 2010.

DIAS NETO, Jose. Avaliação da execução do plano de gestão para o uso sustentável de lagostas no Brasil. Brasília: IBAMA, 2017.

DINIZ, F. M., MACLEAN, N., PATERSON, I. G., & BENTZEN, P. Polymorphic tetranucleotide microsatellite markers in the Caribbean , Panulirus argus. Molecular Ecology Notes, v.4, p.327-329, 2004.

DINIZ, F. M., MACLEAN, N., OGAWA, M., CINTRA, I. H., & BENTZEN, P. The hypervariable domain of the mitochondrial control region in Atlantic spiny lobsters and its potential as a marker for investigating phylogeographic structuring. Marine Biotechnology, v.7, p.462-473, 2005.

DINIZ, F. M., OGAWA, M., CINTRA, I. H. A., MACLEAN, N., & BENTZEN, P. Genetic identification of fishing stocks: new tools for population studies of the spiny lobster Panulirus argus (Latreille, 1804). Bol. Téc. Cient. Cepnor, v.10, n.1, p. 95- 111, 2010.

DHN. Diretoria de Hidrografia e Navegação. Centro de Hidrografia Marinha (CHM).

71

Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO). Previsões de Marés (Máximas e Mínimas diárias), 2016. Disponível em: http://www.mar.mil.br/dhn/chm/box- previsao-mare/tabuas. Acesso em: 21 dez. 2016.

D'OLIVEIRA, Rosângela Gondim. A pesca e o pescador de lagosta em setor do litoral oriental do Nordeste do Brasil. 2017. Disponivel em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/23365. Acesso em: 22 ago.2017.

DUARTE, Luis Felipe A; SEVERINO-RODRIGUES, Evandro; GASALLA, Maria A. Slipper lobster (Crustacea, Decapoda, Scyllaridae) fisheries off the southeastern coast of Brazil: I. Exploitation patterns between 23° 00′ and 29° 65′ S. Fisheries Research, v.102, p.141-151, 2010.

DUARTE, Luis Felipe A, et al. Avaliação das Lagostas-Sapateiras (Crustacea: Decapoda), In: Pinheiro, M.A.A. & Boos, H. (Org.). Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014. Porto Alegre, RS: Sociedade Brasileira de Carcinologia – SBC, Cap. 28, p. 377-389. 2015.

DUARTE, Luis Felipe A, et al . Slipper lobsters (Scyllaridae) off the southeastern coast of Brazil: relative growth, population structure, and reproductive biology. Fishery Bulletin, 113: 55-68. FAO. Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. Pesca e Aqüicultura, 2016. Disponível em: www.fao.org.2015. Acesso em: 3 mar. 2018.

CARPENTER, K. E. FAO Species Identification Guide for Fishery Purposes and American Society of Ichthyologists and Herpetologists Special Publication No. 5. The living marine resources of the Western Central Atlantic. Volume 1: Introduction, molluscs, crustaceans, hagfishes, sharks, batoid fishes, and chimaeras. Rome, FAO, p. 1375-2127, 2002.

FAO. Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. Pesca e Aquicultura, 2010. Disponível em: http://www.fao.org/fishery/species/3445/en. Acesso em: 4 set 2016.

FAO. The State of World Fisheries and Aquaculture 2018 - Meeting the sustainable development goals. 2018. Disponível em: http://www.fao.org/state-of- fisheries-aquaculture. Acesso em: 5 dez. 2017.

FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Fishery Statistical Collections. Global Capture Production. 2019. Disponível em: http://www.fao.org/fishery/statistics/seatl-capture-production/query/en. Acesso em: 6 set. 2018.

72

FAO - Fishstat Database Plus. Fisheries and Aquaculture Department, Food and Agriculture Organization of the United Nations. Rome, 2019. Disponivel em: www.fao.org/fishery/statistics/software/ fishstat. Acesso em: 6 jul 2018.

FIGUEIREDO J.L & MENEZES, N.A,. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. II: Teleostei. MZUSP, São Paulo, v.1,1978.

FIGUEIREDO, J.L & MENEZES, N. A. NA. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil: III. Teleostei, MZUSP, São Paulo, v.2, p.90, 1980.

FIGUEIREDO, J.L & MENEZES, N. A. NA. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil: IV. Teleostei, MZUSP, São Paulo, v.3, p.90, 1980.

FIGUEIREDO, J.L &; MENEZES, N. A. Manual de peixes marinhos do Sudeste do Brasil v teleostei, MZUSP, São Paulo, v.4, 1985.

FIGUEIREDO, J.L & MENEZES, N. A. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. VI. Teleostei, MZUSP, São Paulo, v.5, 2000.

FRISCH, Ashley J. Growth and reproduction of the painted spiny lobster (Panulirus versicolor) on the Great Barrier Reef (Australia). Fisheries Research, v. 85, p. 61- 67, 2007.

FONTELES FILHO, A. A. Population dynamics of spiny lobsters (Crustacea: Palinuridae) in notheast Brazil. Ciência e Cultura, v. 44, n. 2, p. 192-196, 1992.

FONTELES FILHO, Antônio Adalto. State of the lobster fishery in North-east Brazil. In: PHILLIPS, B. F.; COBB, J. S.; KITTAKA, J. (Ed.). Spiny lobster management. Oxford, Fishing News Books, v.550, p.108-118, 1994.

FONTELES FILHO, Antônio Adauto. Spatial distribution of the lobster species Panulirus argus and Panulirus laevicauda in northern and northeastern Brazil in relation to the distribution of fishing effort. Ciência e Cultura, São Paulo, v.49, n.3, p.172-176, 1997.

FONTELESFILHO, Antônio Adauto; XIMENES, Maria Odete Carneiro; MONTEIRO, Pedro Hamilton Moura. Sinopse de informações sobre as lagostas Panulirus argus (latreille) e Panulirus laevicauda (latreille)(crustacea: palinuridae). No nordeste do brasil. Arquivos de Ciências do Mar, v. 27, p.11-19, 1988.

FONTELES FILHO, Antônio Adalto. Síntese sobre distribuição, abundância, potencial pesqueiro e biologia da lagosta-vermelha Panulirus argus (Latreille) e a lagosta verde Panulirus laevicauda (Latreille) do nordeste do Brasil. Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva MMA –

73

REVIZEE, p.23, 2005.

FONTELES FILHO, Antônio Adalto. Síntese sobre a lagosta-vermelha (Panulirus argus) e a lagosta-verdade (Panulirus laevicauda) do Nordeste do Brasil. In: HAIMOVICI, M. (org.). A prospecção pesqueira e abundância de estoques marinhos no Brasil nas décadas de 1960 a 1990: levantamento de dados e avaliação crítica. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, p. 257-265, 2007.

GEYER, W. R.; HILL, P. S.; KINEKE, G. C. The transport, transformation and dispersal of sediment by buoyant coastal flows. Continental Shelf Research, v. 24, n.7-8, p. 927-949, 2004.

GIRALDES, Bruno Welter; SMYTH, David Mark. Recognizing Panulirus meripurpuratus sp. nov.(Decapoda: Palinuridae) in Brazil—Systematic and biogeographic overview of Panulirus species in the Atlantic Ocean. Zootaxa, v. 4107, n. 3, p. 353-366, 2016.

GULLAND, J. A. The management of marine fisheries. Bristol: Scientechinica (polishers) Limited, 1974.

HANCOCK, D. A. Administração da pesca: considerações de ordem biológica. Programa de pesquisa e desenvolvimento pesqueiro do Brasil. Documentos Traduzidos. Rio de Janeiro, v. 3, p.1-7, 1973.

HOLTHUIS. Lipke Bijdeley, et al. FAO SPECIES CATALOGUE An Annotated and illustrated Catalogue of Species of Interest to Fisheries Known to Date. Fao Fisheries Synopsis, v. 13, n.125, 1991.

IBAMA. Boletim Estatístico da Pesca Marítima do Estado do Ceará no ano de 1996. Fortaleza, p. 65, 1997. . IBAMA/CEPERG. Desembarque de pescado no Rio Grande do Sul: 2006. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; Centro de Pesquisa e Gestão dos Recursos Pesqueiros Lagunares e Estuarinos; Projeto Estatística Pesqueira. Rio Grande: IBAMA/CEPERG. p.44, 2007.

IVO, Carlos Tassito Corrêa. & PEREIRA, José A. Sinopse das principais observações sobre as lagostas Panulirus argus (Latreille) e Panulirus laevicauda (Latreille), capturadas em águas costeiras do Brasil, entre os estados do Amapá e do Espírito Santo. Boletim Técnico Científico do CEPENE, v. 4, p.7-94, 1996.

IVO, Carlos Tassito Corrêa. & PEREIRA, José A. Crescimento e idade das lagostas Panulirus argus (Latreille) e Panulirus laevicauda (Latreille), do Norte e Nordeste do Brasil. Arquivo de Ciência do Mar, v. 30, n.1/2, p.33-39, 1996.

74

IVO, Carlos Tassito Corrêa, FONTELES-FILHO, Antônio Adalto., SILVA, Alessandra Cristina, & VIEIRA, Regine Helena Silva dos Fernandes. Cadeia produtiva da lagosta nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Fortaleza: RDS Grafica e Editora, 2012.

IZQUIERDO, Raúl C, et al. Metodologias de amostragem para avaliação das populações de lagosta: plataforma continental do Brasil. Fortaleza: UFC, 2011.

JEFFS, A. Status and challenges for advancing lobster aquaculture. Journal of Marine Biology Assesment India, v.52, n.2, p.320–326, 2010.

KACZMAREK, Leszek M.; BIEGOWSKI, Jarosław; OSTROWSKI, Rafał. Modelling cross-shore intensive sand transport and changes of bed grain size distribution versus field data. Coastal Engineering, v.51, n.5-6, p.501-529, 2004.

KANCIRUK, P. Ecology of juvenile and adult Palinuridae (spiny lobsters). In: COBB, J. S.; PHILLIPS, B. F. (Eds.). The biology and management of lobsters: v. 2: ecology and management. New York: Academic Press,1980. p. 59-96.

KELLEHER, Kieran. Discards in the world's marine fisheries: an update. FAO Fisheries Technical Paper, n. 470, Rome: FAO, 2005.

KINGSFORD, Michael J., et al. Sensory environments, larval abilities and local self-recruitment. Bulletin of Marine Science, v.70, n.1, p.309-340, 2002.

LAVALLI, Kari L.; SPANIER, Ehud. (Ed.). Introduction to the biology and fisheries of slipper lobsters. In: LAVALLI, Kari L.; SPANIER, Ehud. (Ed.). The biology and fisheries of the slipper lobster. Boca Raton: CRC Press, 2007. p. 17-36.

LOPEZTEGUI, Alexander; BAISRE, Julio A.; CAPETILLO, Norberto. Influencia del ciclo lunar en la captura de langosta espinosa Panulirus argus (Decapoda: Palinuridae) en el Golfo de Batabanó, Cuba. Revista de Biología Tropical, v.59, n.1, p.207-216, 2011.

MARINHO, Reynaldo Amorim.; MADRID, Raúl Mario Malvino. Manual para a fabricação de manzuás utilizados na pesca de lagosta. Fortaleza: ACEG/LABOMAR/SEAP-PR, 2007.

MARÍN, Víctor H.; DELGADO, Luisa E. Lagrangian observations of surface coastal flows North of 30∘ S in the Humboldt Current system. Continental Shelf Research, v.27, n.6, p.731-743, 2007.

75

MELO, Gustavo Augusto Schmidt. Manual de identificaçao dos crustácea decapoda do litoral brasileiro: Anomura, Thalassinidea, Palinuridea, Astacidea. São Paulo: Plêiade, 1999.

OGAWA, Aline Nunes, et al. Genetic variations in three species of genus of spiny lobster, Panulirus laevicauda, Panulirus argus and P. japonicus. Revist. Invést. Pesq, v. 12, n. 1/3, p. 39-44, 1991.

OLIVEIRA, Gabriela A. et al. Occurrence and population structure of the slipper lobster Scyllarides deceptor Holthuis, 1963 (Decapoda:Scyllaridae) in the subtropical southern brazilian coast. In: Brazilian 3rd Brazilian Congress, 3. & The Crustacean Society Meeting – Program and Abstracts. Florianópolis, 2004.

OLIVEIRA, Gabriela A. Pesca da lagosta sapateira Scyllarides deceptor Holthuis, 1963 (crustacea: decapoda:scyllaridae) no sul do Brasil: subsídios ao conhecimento da biologia reprodutiva e à conservação da espécie. 2008. 62 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências Biológicas, – área de Concentração Zoologia. Programa de Pós-graduação em Zoologia, Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008. Disponível em: http://www.acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/14707/GABRIELADEOLIVEI RA_DISS.PDF?s equence=1. Acesso em: 28 jul. 2017

OLIVEIRA, Patricia Aguiar. Gestão da pesca de lagostas do gênero Panulirus no Litoral da Paraíba, Brasil, tese (Doutorado) UFPB CCEN; Paraíba, 2018. PAIVA, Melquíades Pinto. Recursos básicos da pesca marítima no nordeste brasileiro. Boletim Estatístico Biologia Marinha. Univ. Fed. Ceará, Fortaleza, v. 3, p. 1-10, 1961.

PAIVA, Melquíades Pinto, et al. Pescarias experimentais de lagostas com redes de espera, no Estado do Ceará (Brasil). Arquivos de Ciências do Mar, v.13, n.2, p.121-134, 1973.

PHILLIPS, Bruce F. Lobsters: biology, management, aquaculture and fisheries. Oxford: Blackwell Publishing, 2006.

POLLOCK, David E. Recruitment overfishing and resilience in spiny lobster populations. ICES, Journal of Marine Science, v.50, n.1, p.9-14, 1993.

RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D.; FOX, Richard S. Zoologia dos invertebrados: uma abordagem funcional-evolutiva. 7. ed. São Paulo: Roca, 2005.

76

RIBEIRO, S. S. Conectividade ecológica no oceano Atlântico tropical por meio de modelagem numérica. 2017. 65 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Marinhas Tropicais) - Instituto de Ciências do Mar, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2017. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/23910/1/2017_dis_ssribeiro.pdf. Acesso em: 17 mar. 2017.

SAILA, Saul B. Importance and assessment of discards in commercial fisheries. Food and Agriculture Organization of the United Nations, 1983.

SANTANA, W.; PINHEIRO, A. P.; OLIVEIRA, J. E. L. Additional records of three Scyllarides species (Palinura: Scyllaridae) from Brazil, with the description of the fourth larval stage of Scyllarides aequinoctialis. Nauplius, v.15, p.1-6, 2007.

SANTANA, William, et al. Avaliação das lagostas-de-espinho (Decapoda:Palinuridae). In: PINHEIRO, Marcelo; BOOS, Harry (org.). Livro vermelho dos crustáceos do Brasil: avaliação 2010-2014. 1. ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC, 2016. cap. 21, p. 268-283.

SANTOS, Claudevanda ; SANTOS, Raimundo Henrique. A pesca no mar de Almofala e no rio Aracatimirim: histórias dos pescadores Tremembé. Fortaleza : Imprensa Universitária, 2014.

SARVER, Shane K.; SILBERMAN, Jeffrey D.; WALSH, Patrick J. Mitochondrial DNA sequence evidence supporting the recognition of two subspecies or species of the Florida spiny lobster Panulirus argus. Journal of Crustacean Biology, v.18,n.1, p.177-186, 1998.

SILBERMAN, J. D.; WALSH, P. J. Population genetics of the spiny lobster, Panulirus argus. Bulletin of Marine Science-Miami, v.54, p.1084-1084, 1994.

SILVA, Alessandra Cristina da; FONTELES-FILHO, Antônio Adauto. Avaliação do defeso aplicado à pesca da lagosta no nordeste do Brasil. Editora Expressão Gráfica, Fortaleza, 2011.

77

SPANIER, E.; LAVALLI, K. Scyllarides species. In: PHILLIPS, B.F (ed.) Lobsters: biology, management, aquaculture and fisheries. London: Blackwell Publishing, 2006. p. 462-489.

SRISURICHAN, Sukanlaya; CAPUTI, Nick; CROSS, Jim. Impact of lunar cycle and swell on the daily catch rate of western rock lobster (Panulirus cygnus) using time series modelling. New Zealand Journal of Marine and Freshwater Research, v.39, n.3, p.749-764, 2005.

SOARES, C. N. C., et al. Caribbean spiny lobster (Panulirus argus) and smoothtail spiny lobster (Panulirus laevicauda) reproductive dynamics on the Brazilian northeastern coast. 1985.

SOARES, Cira Nina Cavalcante., et al. Reproductive dynamics of the spiny lobster Panulirus argus (Latreille,1804) off Northeastern Brazil (Crustacea: Palinuridae). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v.58, n.2, p.181-191, 1998.

SOUSA, Jorge Antonio de. Eficiência energética na operação de navios especiais de manutenção e inspeção submarina na produção offshore de petróleo. 2014. 46 f. (Monografia de Conclusão de Pós-Graduação). Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Rio Grande do Sul, 2014. Disponível em: http://repositorio.ufsm.br/handle/1/1315. Acesso em: 22 ago. 2016.

TAVARES, Marcos. Espécies exóticas aquáticas e saúde ambiental. Mundo saúde (Impr.), v.27, n.4 p.530-537, 2003.

UFES. Universidade Federal do Espírito Santo & MPA. Ministério da Pesca e Aquicultura. Boletim Estatístico da Pesa do Espírito Santo, Ano 2011. Programa de estatística pesqueira do Espírito Santo. Silva. SOARES, M. (Ed). Vitória: Espírito Santo, UFES, n.2, p.94, 2013.

YAMAKAWA, Takashi, et al. Expanded DeLury's method with variable catchability and its application to catch-effort data from spiny lobster gillnet fishery. Fisheries science, v.60,p.1, p.59-63, 1994.

ZANCHETTA, R. S. Estudo de caso do ordenamento pesqueiro aplicado à pesca da lagosta no estado do Espírito Santo. 2009. 98 f. Monografia (Graduação em Oceanografia) - Centro de Ciências Humanas e Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2009.

78

ANEXO A – CARACTERIZAÇÃO DOS DIAS DE COLETA

DATA DE LANÇAMENTO:

LUA:

POSIÇÃO DA MARÉ:

PROFUNDIDADE (REDE):

PROFUNDIDADE (COVO):

ALTURA DA MARÉ:

VENTO:

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS:

TIPO DE FUNDO DO PONTO DE COLETA E COORDENADAS:

UTENSÍLIO USADO TIPO DE FUNDO LATITUDE LONGITUDE PARA COLETA DO PONTO DE COLETA

P¹ REDE

P² REDE

79

P³ COVO

P4 COVO

______

2° DIA:

LUA:

POSIÇÃO DA MARÉ:

VENTO:

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS:

DATA DA COLETA:

LUA:

POSIÇÃO DA MARÉ:

PROFUNDIDADE (REDE):

PROFUNDIDADE (COVO):

ALTURA DA MARÉ:

VENTO:

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS:

80

ANEXO B – MEDIDAS DA REDE DE EMALHE

REDE DE EMALHE (materiais necessários: trena, régua ou paquímetro)

Nome da rede:

Espécies capturadas:

Embarcação:

Localidade:

Dados da rede

1 - Comprimento do cabo de boia: (m)

2 - Diâmetro do cabo de boia: (mm)

3 - Comprimento do cabo de chumbo: (m)

4 - Diâmetro do cabo de chumbo: (mm)

5 - Material da boia: ex. isopor, poliuretano, pvc ...

6 - Altura, largura e ou perímetro da boia:

7 - Comprimento da arcala (distância entre dois nó de entralhe nos cabos de boias e chumbo): cm

8 - Número de malhas por arcala:

9 - Número de arcalas entre boias:

10 - Números de chumbo e peso estimado:

81

11 - Número de arcalas entre chumbos:

12 - Número de malhas da panagem na largura: Pode contar o número de arcalas e multiplicar pelo numero de malhas da arcala.

13 - Número de malhas na altura:

14 - Abertura da malha (distância entre nós opostos):

15 - Material do fio da malha: ex. mono ou multifilamento

16 - Diâmetro do fio da malha: mm

17 - Material do fio de entralhe:

18 - Diâmetro do fio de entralhe: mm