O Jornalismo Luso-Brasileiro Em Londres (1808-1822)
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Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-Graduação em História Luís Francisco Munaro O jornalismo luso-brasileiro em Londres (1808-1822). Niterói 2013 Luís Francisco Munaro O jornalismo luso-brasileiro em Londres (1808-1822). Tese apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, para obtenção do grau de Doutor em História. Linha de Pesquisa: História Moderna Orientador: Prof. Guilherme Pereira das Neves. Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-Graduação em História Niterói, 2013 ii Termo de aprovação LUÍS FRANCISCO MUNARO O JORNALISMO LUSO-BRASILEIRO EM LONDRES (1808-1822): Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em História no Curso de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense, à seguinte banca examinadora: ________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Mansur Barata ________________________________________ Prof. Dra. Lúcia Maria Bastos Pereira Neves ________________________________________ Prof. Dr. Carlos Gabriel Guimarães ________________________________________ Prof. Dr. Jean Marcel Carvalho e França ________________________________________ Prof. Dr Guilherme Pereira Neves iii Agradecimentos Uma boa forma de agradecer é reservar um espaço na bibliografia. Se os textos foram lidos e incluídos nesta tese na forma de citação é porque tiveram um apreço especial no número sempre limitado de leituras do sujeito que formulou a tese. Portanto, segue cada referência um agradecimento e também a certeza de que tudo o que se constrói é, de alguma forma, um esforço conjunto. Nessa medida, esta produção é, assim julgou a banca de avaliação, um aperfeiçoamento daquilo que se tem pensado sobre o jornalismo e uma contribuição para se compreender as luzes luso-brasileiras. Agradeço, em seguida, à dedicação de meu orientador. Para além de uma reunião almejando o engrandecimento curricular, foi para mim um lugar em que pude compartilhar várias perplexidades intelectuais nem sempre cingidas ao esforço da tese. Encontrei em meu orientador, portanto, uma curiosidade e erudição que me foram fundamentais para formar meu espírito científico. Agradeço também ao esforço do Guilherme das Neves para conseguir comigo um acesso às fontes primárias, in loco, em Portugal, promessa feita e cumprida que tenho anotada num autógrafo nas páginas iniciais de um exemplar de História, teoria e variações. Fui eu quem, por preocupações profissionais, decidi abandonar o barco que, possivelmente, nos levaria muito mais longe. Agradeço assim pela liberdade, simpatia e franqueza. E, principalmente, por enxergar na tese a oportunidade de reunir esforços para construir algo maior. Agradeço aos professores membros da banca, Profa. Lúcia Bastos, Prof. Carlos Gabriel, Prof. Alexandre Mansur Barata e Prof. Jean Marcel Carvalho França. Sua vontade de me ajudar, além do acréscimo substantivo de elementos para perceber o meu objeto de estudos, me levou a crer que uma banca pode ser entendida também como uma reunião em que os indivíduos compartilham questionamentos e almejam o avanço daquele que postula ser um par. E aos professores que me colocaram no caminho da ciência, sobretudo à Profa. Márcia Tembil, ainda na graduação, e à Profa. Daisi Vogel, já no mestrado. Agradeço ainda à Sheila Lima, que me ajudou dedicadamente com a burocracia junto ao Consulado Português para conseguir o visto de permanência, ao Prof. Tiago dos Reis Miranda, que acatou o meu projeto de estágio no exterior e enviou sugestões bibliográficas, e à secretaria do PPGHIS-UFF, sobretudo na pessoa da Silvana Damasceno, sempre paciente no esclarecimento de dúvidas burocráticas. iv Agradeço, por fim, ao programa Reuni, pela bolsa de pesquisa concedida ao largo de um ano e à minha família, pelo suporte financeiro nos difíceis anos iniciais de sobrevivência no Rio de Janeiro. Sobretudo à Dona Edite que, dispondo de um pouco mais de cacife financeiro, se prontificou em imprimir os tijolos e entregá-los junto ao Correio e à Alana que, a despeito das dores do parto, foi paciente comigo nesse período de pregnância intelectual. v Resumo: Através de seis janelas de leitura identificadas com conceitos, esta tese investigará a emergência do jornalismo e da dispersão regular e periódica de ideias políticas em língua portuguesa. Isso implica se debruçar sobre a situação específica da imprensa luso-brasileira em Londres entre 1808 e 1822, i. é, desde o pioneirismo do brasileiro Hipólito da Costa até o avanço das Cortes de Lisboa e o crescimento na demanda de jornais. No seio da comunidade portuguesa emigrada em Londres e profundamente influenciados pelos ideais de sociabilidade londrinos, os portugueses buscaram argumentos e ideias para salvar o reino luso-brasileiro da iminente crise política, social e econômica, propondo planos de reorganização nacional ao mesmo tempo em que formas tradicionais de mito e utopia política. Os jornalistas lusófonos que se ambientaram nessa comunidade inauguraram modelos comunicativos importantes para o delineamento de sua prática profissional. Eles ajudaram a compor a vanguarda intelectual da sociedade luso-brasileira na modernidade e, por estarem livres da censura, manifestaram-se com relativa autonomia sobre temas considerados caros ao futuro do reino que ia se tornando nação. Os principais destes jornalistas são Hipólito José da Costa, responsável pelo Correio Braziliense (1808-1822); José Liberato, pelo Investigador (1813-1819) e Campeão (1819-1821), João Bernardo da Rocha Loureiro, pelo Espelho (1813- 1814)e Português (1814-1822), Joaquim Ferreira de Freitas, pelo Padre Amaro(1820-1826) e, por fim, Francisco Alpoim de Meneses, autor do O Microscópio de Verdades (1814), e José Anselmo Correia Henriques, d’O Argus (1809) e O Zurrague (1821). Para operacionalizar esta investigação, dividimos a tese em linhas de análise identificadas com conceitos considerados importantes: cidade, indivíduo, nação, utopia, comunicação e jornalismo. Trata-se de buscar lançar um ouvido mais aguçado ao passado histórico através de uma proposta de análise em que o documento histórico e o estudioso se interpenetram para melhor compreender a realidade da história. Ao fim e ao cabo, será possível perceber que, longe de uma construção ontológica que remete à Antiguidade, as práticas jornalísticas são uma dádiva do pensamento moderno, ajudando a textualizá-lo e a instrumentalizar a esfera pública. Palavras-chave: Ilustração luso-brasileira, história do jornalismo, nação, utopia, epistemologia da comunicação. vi Abstract: Through six reading windows identified with concepts, this thesis will investigate the emergence of journalism and regular and periodical dispersion of political ideas in Portuguese. This implies study the specific situation of the Luso – Brazilian press in London between 1808 and 1822, from the Brazilian pioneer Hipólito da Costa to the advancement of the Cortes of Lisbon and the growth in demand for newspapers. Within the Portuguese immigrant community in London and profoundly influenced by the ilustrated ideals of sociability, the Portuguese sought arguments and ideas to save the Luso-Brazilian Kingdom of impending political, social and economic crisis, proposing plans of national reorganization and forms of traditional myth and political utopia. Portuguese-speaking journalists who acclimatedin this community inaugurated important communicative models for the design of their professional journalistic practice. They helped to form an intellectual vanguard of Luso-Brazilian society in modernity, and being free from censorship, expressed with relative autonomy over issues considered expensive to the future of the kingdom. The main journalists were: Hipólito José da Costa, accountable for Correio Braziliense (1808-1822); José Liberato, for Investigador (1813-1819) and Campeão (1819-1821), João Bernardo da Rocha Loureiro, for Espelho (1813-1814)and Português (1814-1822), Joaquim Ferreira de Freitas, for Padre Amaro (1820-1826) and, by the end, Francisco Alpoim de Meneses, author of O Microscópio de Verdades (1814), and José Anselmo Correia Henriques, of O Argus (1809) and O Zurrague (1821). To operationalize this research, we divided the thesis into lines of analysis identified with concepts considered important: city, individual, nation, utopia, communication and journalism. What we tried to do was launch a keener ear to the historical past through a proposal for a hermeneutic analysis, since the historical subject and scholar intertwine to better understand reality. After all, that far from an ontological construct that refers to the Antiquity, journalistic practices are perceived as a gift of modern thought, helping textualize it and even being crucial to the manipulation of the public sphere. Key-words: Luso-Brazilian Enlightenment, History of Journalism, Nation, Utopia, Epistemology of Communication. vii Índice Preâmbulo: teoria e construção 1 Introdução: texto e contexto 12 1. Cidade 26 1.1 Desvendando a cidade moderna 31 1.2 Os espaços ilustrados 38 1.3 A imprensa em Londres e a organização da urbanidade 67 1.4 Fleet Street 79 2. Indivíduo 90 2.1 Jornalistas e agentes da monarquia 93 2.2 Quatro nomes 107 2.3 Redes de poder 121 3. Nação 139 3.1 A nação dos portugueses 144 3.2 As formas da política 162 3.3 A tradição inventada 174 4. Utopia 190 4.1 Utopia ou mitologia política? 195 4.2 Aquela terra longínqua e sossegada 200 4.3 A Lusitana Antiga Liberdade 205 4.4 A Lanterna Mágica 213 4.5 Utopia e ideologia 220 5. Comunicação 226 5.1 Fofocas,