Humor No Cristianismo
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É certo que riste: humor no cristianismo. Certainly you laughing: mood in Christianity. RESUMO: O presente artigo pretende analisar o humor presente em algumas das charges feitas por cartunistas cristãos em sites especializados, outras charges publicadas em sites não cristãos, por cartunistas consagrados para entender como o riso está presente no cristianismo on line. PALAVRAS-CHAVES: Riso, cristianismo, charges, vídeos. ABSTRACT: This article aims to analyze the present mood in some of the charges made by cartoonists Christians on specialized sites, other sites cartoons published in non-Christian, for cartoonists dedicated to understanding how laughter is present in Christianity online. KEYWORDS: Laughter, Christianity, cartoons, vídeos. “Então, Sara, receosa, o negou, dizendo: Não me ri. Ele, porém, disse: Não é assim, é certo que riste” Gênesis 18:15 1) Por que Deus é Humor Em verdade em verdade vos digo que eu gostaria de usar como título deste artigo Por Deus é Humor, mas a mentira me condenará (não quero ser chamada de vaca de Basã) e a verdade me libertará, não pude roubar esta genialidade que é o nome do site, cujo domínio pertence ao humorista e Pastor Jasiel Botelho, Missionário da Sepal e Professor de Teologia da FLAM. Sigamos, por que Deus é Humor! To be, or not to be: that is the question, já afirmava Shakespeare num parte de Hamlet. Homo ludens ou homo rides eis outra questão que nos interessa neste momento. A serpente enganou Eva, que enganou a Adão que acusou Eva que acusou a Serpente. Sara riu da promessa de YHVH lhe dar ao filho na sua velhice. Jacó enganou a Isaac, roubou a primogenitura de ser irmão Esaú e se fez passar por ele perante o seu pai. Mais tarde Jacó é enganado por Labão que lhe dá como esposa Lia no lugar da amada Raquel. As matriarcas disputam a atenção sexual do Patriarca colhendo Mandrágoras, uma espécie 1 de Viagra da época. O Patriarca também é enganado por seus filhos, liderados por Judá que vendem José como escravo para mercadores do Egito. José do Egito engana seus irmãos ao não se revelar para eles. Judá engana sua nora Tamar ao não dar seu terceiro filho como esposo para esta, desrespeitando a lei do Levirato. Tamar por sua vez engana a seu sogro e agora viúvo Judá, disfarçando-se por uma meretriz e tendo um filho dele, o que vai lhe garantir sua descendência. Se o Gênesis pudesse ser resumido numa charges, esta seria: Site Resposta Cristã 2. O Riso e os críticos Todos estes enredos rocambolescos no Velho Testamento servem para responder seguinte pergunta: Há humor na Bíblia? Sim, e há muito humor. Robert Alter em A arte da Narrativa Bíblica (2007) aponta as repetições e cenas padrão, ciclo do enganador-enganado presente no Gênesis. Este livro é repleto de ironia e maquinação em seu conteúdo. Um outro excelente estudo sobre o riso, é o capítulo A Diabolização do Riso na Ata Idade Média do livro História do Riso e do Escárnio de Georges Minois (2003). Na introdução do livro o crítico nos alerta que o riso tem um lado revolucionário e subversivo, que é ambivalente, multiforme, ambíguo, que o humor não tem idade nem pátria, que flutua no equívoco e na indeterminação. Segundo o crítico “... o riso está a cavalo sobre uma dupla verdade. Serve ao mesmo tempo para afirmar e subverter.” (2003, p. 16, negrito nosso). Afirma ainda que o riso se encontra na encruzilhada do divino e do diabólico. Cita J. Lederer para quem o riso é uma espécie de soluço invertido, já que rimos porque somos o único animal que sabe que vai morrer. 2 “Se o riso é qualificado às vezes como diabólico, é porque ele pôde passar por um verdadeiro insulto à criação divina, uma espécie de vingança do diabo, uma manifestação de desprezo, de orgulho, de agressividade, de regozijo com o mal.” (2003, p. 19) No capítulo citado, Minois faz um estudo rico e aprofundado do riso do Velho e Novo Testamento. Na primeira parte engana o leitor ao fazer as seguintes afirmações e perguntas: o riso não é natural no Cristianismo, Deus se basta, não é preciso rir de nada, como poderia haver riso na Trindade, imutável, sem corpo e sem sexo, eternamente absorvida em sua autocontemplação? Afirma que o Gênese é solene, que no Éden não havia lugar para riso, que a história santa é seria por excelência, que não se deve brincar com a história da salvação da humanidade, porque o riso não fazia parte do plano divino, nem a Bíblia tem intenção cômica. O único motivo de riso é o homem, criatura decaída: Há de quê: rir do outro, desse fantoche ridículo, nu, que tem um sexo, que peida e arrota, que defeca, que se fere, que cai, que se engana, que se prejudica, que se torna feio, que envelhece e que morre – um ser humano, bolas! Uma criatura decaída. O riso vai se insinuar por todas as imperfeições humanas. É uma constatação de decadência e, ao mesmo tempo, um consolo, uma conduta de compensação, para escapar ao desespero e à angústia: rir para não chorar. (...) Vemos nosso nada e rimos dele; um riso diabólico. (2003, p. 112, negrito nosso) O riso estaria ligado à imperfeição humana. Afirmei acima que o crítico engana o leitor. Na segunda parte deste capítulo ele afirma “É claro que há riso na Bíblia” (2003, p. 115). E isto ocorre justamente pela “extraordinária flexibilidade da Bíblia, com a qual se pode fazer qualquer coisa” (2003, p. 115). A partir daí desenvolve o que denomina de Evolução do cômico na Bíblia, passando pelo estilo dos autores bíblicos que contrapõem o sublime com o trivial, o cômico com o trágico, aponta Jacó como um anti-herói imoral e sua vida como uma comédia picaresca, passa pelo episódio de Elias contra os 450 profetas de Baal até chegar à questão muito discutida pelos pais da Igreja pelos pais do Deserto se Jesus riu ou não riu? Para Minois no Velho Testamento o tom é mais grave. Todo ele é mais severo com relação ao riso: Paulo e Tiago condenam o riso. No geral, o 3 Novo Testamento condena o riso. Como não se fala que Jesus riu, os cristãos deveriam imitar seu exemplo. Quantas consequências negativas advirão desta constatação! O riso é mais negativo no Novo Testamento que no Velho Testamento. No Novo Testamento dos cristãos, o riso aparece como escarnecimento da vontade de Deus. O Judaísmo manteve o humor do Velho Testamento, já o Cristianismo não recebeu esta herança. Segundo o crítico, a encarnação e a redenção desafiam toda e qualquer lógica humana racional, por isto não há riso ali. O gênero por excelência do Cristianismo é o drama, não sobre espaço para o riso. Já nos Apócrifos tanto Deus como Jesus riem. Depois analisa o humor entre os pais da Igreja e os pais do Deserto. Termina este capítulo com a seguinte afirmação: Mas o homem se salva pelo amor ou pelo humor? As duas noções são tão estranhas uma à outra? O fiel de base que parodia o culto a Bíblia, que treme e que ri de Deus e do diabo, não estará, inconscientemente, mais perto da verdade - ou da ausência da verdade? (2003, p. 154) Henri Bergson em seu livro O Riso: ensaio sobre a significação do Cômico afirma que não há comicidade fora do humano, porque se o homem já foi definido como o único animal que ri, ele também é o único que faz rir, já que precisamos de um grupo para rir de nossas piadas. Segundo o autor não há comicidade na solidão, neste ponto o riso possui um função social. Aponta ainda que o cômico dirige-se sempre para a inteligência pura e não há compatibilidade entre o riso e a emoção. Em seu livro Ironia e Humor na Literatura, Lélia Parreira Duarte reafirma a noção antiga de que o homem é o único animal que ri e ri porque sabe que é mortal. Segunda ela o riso possui o paradoxo intrínseco de ao mesmo tempo revelar alegria e tristeza. Para a crítica o riso ajuda a suportar o trágico da existência humana, já que o homem sabe que é um ser para a morte. Por mais que o riso dure um instante, naquele breve momento o homem é superior ao humano, tem a impressão de ser imortal, torna-se igual aos deuses, ri de si e dos outros, afirmando seu poder sobre o outro. O ser humano ri porque não se conforma com a descontinuidade da vida, porque é inconformado, e rindo, esquece que é mortal. O ser precário e mortal, torna-se 4 quase um Deus quando ri, esquecendo-se que caminha para a morte. Segundo Duarte: O riso revela-se útil, assim, para a manutenção da espécie: experiência do não-saber, livra do desespero do pensamento aprisionado nos limites do sério. Nesse sentido, saber rir é momentaneamente tornar-se “Deus”, experimentar o impensável, sair da finitude da existência (...) Dada a relação entre o riso e a morte, o autor literário cômico será portanto um autor funéreo. (2006, p.53-54, negrito nosso) A autora afirma também que talvez a única salvação possível e utópica para o homem seja o riso, porque quando ri, o homem jubila e se regozija perante o absurdo que é a morte. Já Concetta d’Angeli e Guido Paduano em sua obra O Cômico enfatizam o caráter moralizante do cômico: Castigat ridendo mores. É por meio do riso que de denunciamos os vícios e se preparamos sua repreensão e correção. Para estes estudiosos o cômico recupera o prazer pedido na infância.