ANÁLISE Nº 13/2015

BRASIL Concentração dos meios de comunicação de massa e o desafi o da democratização da mídia no Brasil

Bruno Marinoni Intervozes NOVEMBRO DE 2015

Embora os mecanismos de combate ao oligopólio midiático se deten- ham praticamente sobre a propriedade direta dos meios, no cenário bra- sileiro as principais formas de controle privado do setor de radiodifusão se dão por meio da arregimentação de empresas afi liadas às redes, estruturas essas que não são observadas pelos órgãos de regulação do Estado.

Apesar de ser um bem público, a natureza do espectro radioelétrico se encontra subordinada à hipertrofi a da lógica privada no setor de radiodi- fusão. Isto se mostra evidente na prática da transferência do controle das outorgas (seja por venda ou por herança), que são aceitas pelos governos como fato consumado, assim como na venda de espaços da programação a terceiros (arrendamentos).

A escolha das empresas que atuam no setor, feita por meio da política de outorgas e de mecanismos indiretos de regulação do setor (emprésti- mos, fi scalização, isenções etc.), imprimiu um perfi l político conservador à conformação da burguesia radiodifusora, não tendo esta, porém, sua origem no seio dos “setores tradicionais” brasileiros.

É preciso desenvolver mecanismos efetivos para a estruturação dos sis- temas público e estatal de comunicação brasileiros, de forma que possam se consolidar e dar suporte ao exercício do direito à comunicação, com maior diversidade e pluralidade de ideias. Boa parte dessa política deve se assentar num esforço para a redistribuição da riqueza, pois, embora não sejam comerciais, tais sistemas demandam condições para manutenção de custos e investimentos.

Sumário

A multidimensionalidade da concentração 6 Concentração da propriedade eapropriação privada de um bem público 8 Concentração e domínio de mercado 11 Concentração e dominação político-ideológica 14

A opção político-econômica pela concentração 17

Conclusão 20

Bibliografia 23

Anexo I - Lista de sócios das entidades que receberam outorga de TV Digital a partir da tabela do Ministério das Comunicações (outubro de 2014 24

Anexo II - Marcas de rádio controladas pelos grupos que controlam as redes nacionais de TV 27 Bruno Marinoni | CONCENTRAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E O DESAFIO DA DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA NO BRASIL

A comunicação é uma dimensão humana direito a apropriação privada característica do fundamental, tendo a humanidade desenvol- capitalismo monopolista. Nessa oposição as- vido, ao longo da sua história, os meios pelos simétrica, os indivíduos só podem ter (quan- quais as sociedades se comunicam. A apro- do têm) acesso, de fato, ao campo aberto dos priação desses meios, porém, se dá de modo debates públicos através da mediação de um desigual e, atualmente, sociedades capitalis- pequeno grupo de empresas privadas, que tas, como a brasileira, são caracterizadas por possuem a prerrogativa de selecionar, filtrar, um alto grau de concentração da mídia, sob editar e obstruir a expressão que passa pelos a forma da propriedade privada de emissoras “seus” canais. Mesmo no caso da Internet de rádio e televisão. O Estado democrático de que, em princípio, proporciona menos inter- direito prevê que para o exercício da demo- ferência das empresas provedoras no conte- cracia, porém, os cidadãos e cidadãs precisam údo produzidos pelos usuários, ainda se en- ter garantidas certas condições, que vão de frenta o desafio de garantir o acesso universal encontro à forma oligopolista comercial que ao serviço, a neutralidade de rede e a proteção tem dominado a comunicação brasileira. contra iniciativas arbitrárias de remoção de conteúdos disponibilizados pelos cidadãos e Algumas das condições mínimas para o exer- cidadãs em geral. cício da democracia, apontadas ao longo da constituição do direito moderno, são a liber- Em um contexto no qual a produção ideo- dade de expressão, o direito à informação e a lógica da sociedade, embora não se encontre participação nas decisões referentes às políti- restrita à indústria cultural, tem nela um lu- cas públicas, incluída a política de comuni- gar privilegiado – especializado atualmente cação. O direito à comunicação, entretanto, em equacionar desejos, representações e prá- não se reduz à soma desses direitos. Ele, sim, ticas, com o objetivo de direcioná-los para o configura um núcleo orientador e integrador consumo ou para algum subproduto da do- daqueles, visando uma inserção positiva na minação capitalista –, a concentração privada dinâmica social de produção, distribuição, da propriedade tem reduzido o papel da co- circulação e consumo de informação e de municação humana em toda a sua potenciali- cultura. Além disso, relaciona-se de forma in- dade. Faz isso na medida em que direciona as terdependente com outros direitos, haja vista forças de produção ideológica para o processo que a condição de poder reivindicá-los ex- autorreferente de acumulação mercantil, de pressamente é fundamental para garanti-los. reafirmação do poder do capital monopolista1 e de reprodução das desigualdades existentes. Porém, nem mesmo em suas acepções mais estritas (como nas noções liberais de “liber- Combater esta lógica caberia ao Estado, for- dade de comunicar ideias e opiniões”, previs- malmente o garantidor dos direitos de todos tas no artigo 11º da Declaração de Direitos e todas, que deveria imprimir no setor uma do Homem e do Cidadão, e de “liberdade dinâmica que favorecesse uma maior plurali- de opinião e expressão”, mencionada no ar- dade e diversidade, por meio de seus disposi- tigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos), o direito à comunicação pode ser 1. A terminologia “capital monopolista” é corrente e de uso genérico para se referir aos agentes do mercado representantes considerado garantido diante do oligopólio das estruturas de hiperconcentração características da fase mo- midiático brasileiro. Por aqui, a esfera pública nopolista do capitalismo. É utilizada mesmo em casos que não tratam de forma estrita de um monopólio (um único agente dos meios de comunicação de massa foi es- dominando o mercado), e sim de um oligopólio (poucos agen- truturada de tal forma que contrapôs a esse tes dominando um mercado), como é o caso deste artigo.

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tivos reguladores, desconcentrando o poder, Os recuos históricos que efetuaremos no mo- descentralizando o controle e favorecendo a mento da análise de dados se justificam pela efetivação do direito à comunicação. Toda- vigência de um modelo de exploração da ra- via, o que apresentamos neste artigo mostra diodifusão que se consolidou há cerca de 30 que, pelo menos no Brasil, não tem sido essa anos, envolvendo grupos que, inclusive, es- a realidade. tão no setor desde os seus primórdios. Com isso, acreditamos favorecer a compreensão do Na próxima sessão, desenhamos um breve cenário em que vivemos hoje, ainda que, no quadro de como tem sido tratado o tema da contexto de certa convergência, este se encon- concentração das comunicações pelas pes- tre desafiado pela emergência de novos cam- quisas do campo, assim como algumas das pos de batalha e competidores externos. debilidades às quais estão relacionados esses tratamentos. Em seguida, discutimos a pro- Cabe destacar que daremos maior centralida- blemática da concentração, relacionando in- de ao meio televisão, pela sua premência no formações levantadas a partir de fontes ofi- cenário da concentração, por seu papel como ciais, como o Ministério das Comunicações principal fonte de receitas dos grupos de mí- e a Anatel, e complementares, como estudos dia (que, em boa parte dos casos, controlam elaborados pelas próprias empresas do setor. também emissoras de rádio) e por ser o veí- Hoje, o Estado brasileiro não disponibiliza culo mais consumido no Brasil. A pesquisa informações sistematizadas sobre a proprie- sobre hábitos publicada pela Secretaria da dade dos meios de comunicação no Brasil Comunicação da Presidência da República - que permitam, por exemplo, uma identifica- Secom, em 2015, revela que 95% da popula- ção dos agentes sociais detentores do controle ção declaram ver TV, sendo 73% diariamen- dos meios e seus vínculos socioeconômicos te, enquanto apenas 55% dizem ouvir rádio (grupo de empresas, redes etc.) e políticos (30% diariamente). (concessionários parlamentares). Tal desafio chegou a ser enfrentado pelo projeto “Donos Por fim, para melhor compreender a pro- da Mídia”. A plataforma se encontra, porém, blemática da concentração, diferenciaremos desatualizada desde 2008. conceitos que, usualmente, têm sido utiliza- dos sem rigor pelo mercado, por acadêmicos, Apesar das limitações enfrentadas por esse por militantes e pelo público em geral. O ter- tipo de pesquisa, acreditamos que levanta- mo “grupos” será usado neste trabalho para mentos de dados, mapeamentos e outros tra- se referir ao controle direto da propriedade, balhos com características proeminentemente casos em que empresas diferentes pertençam descritivas consistem em um passo funda- a uma mesma pessoa, seja ela jurídica ou fí- mental para a compreensão e interpretação sica, ou a um conjunto de pessoas relacio- de fenômenos sociais como o da concentra- nadas economicamente (compartilham um ção, ainda que sejam insuficientes, tomados mesmo capital social). Geralmente possuem isoladamente. Neste sentido, além das fontes o mesmo nome fantasia. Em última instân- sobre a propriedade, utilizaremos outros tipos cia, um “grupo de mídia” é um conjunto de de informações fundamentais para enfrentar empresas pertencentes de forma direta a um o desafio de dar conta do fenômeno da con- mesmo conjunto de pessoas e sob uma mes- centração, como dados sobre o mercado e a ma direção político-administrativa. É no âm- audiência dos veículos. bito da concepção de grupos de mídia, por

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exemplo, que se manifesta o fenômeno da cha- Decreto-Lei nº. 236/67, que define o número mada “propriedade cruzada” (cross ownership), máximo de outorgas por entidade e, assim, em que um mesmo ente controla empresas de intenta limitar os processos de concentração diferentes mercados de um mesmo setor (TV e centralização da propriedade. O mesmo aberta, rádio, impresso, TV por assinatura etc.) artigo, em seu parágrafo 7º, prevê e deveria (NOAM, 2009; LIMA, 2004, pp. 95-103). impedir (se cumprido) a perda de autonomia das afiliadas, assegurando algum mecanismo O nome “redes” reservamos na radiodifu- de proteção contra a pressão das cabeças-de- são para nos referir à “verticalização da pro- -rede. Segundo sua redação, “as empresas gramação”, ou seja, à reprodução, por dife- concessionárias ou permissionárias de serviço rentes empresas, do conjunto de conteúdos de radiodifusão não poderão estar subordina- estruturados em uma grade de horários por das a outras entidades que se constituem com outra empresa. Embora a palavra rede tenha a finalidade de estabelecer direção ou orien- uma dimensão ideológica que sugere ou dá tação única, através de cadeias ou associações margem à possibilidade de se pensar em cir- de qualquer espécie”. A palavra “rede” sequer culação de conteúdos entre agentes igualmen- é referida na legislação brasileira que trata te dispostosem um conjunto, o que se tem do tema, embora seja corrente no mercado observado na prática é basicamente um fluxo e na apresentação das empresas de radiodifu- unidirecional, de um único centro produtor são ao público. Nesse contexto, os cadastros para os demais pontos, com algumas poucas de radiodifusão disponibilizados pelo Mi- “contribuições” atuando no contrafluxo. nistério das Comunicações não apresentam dados sobre essas redes e se desconhece os No interior das redes são distribuídos os laços termos nos quais são firmados os contratos assimétricos de “vassalagem”, que diferen- entre cabeças-de-rede e afiliadas. ciam as “cabeças-de-rede” (produtoras, distri- buidoras e direções político-administrativas do A multidimensionalidade da conjunto) e as “afiliadas” (distribuidoras). A concentração essas últimas cabe, com frequência, uma par- cela ínfima da produção, que pode servir para A “concentração” tem sido o foco mais co- “vender” certa diversidade regional aos teles- mum da tradição de pesquisas de comuni- pectadores, comumente estereotipada (tanto cação, já consolidadas, sobre “propriedade” para atender a certa demanda do mercado por (media ownership) (DOWNING, 2011, p. exotismos, quanto para se legitimar através de 141; RICE, 2008, p. 12). Esse debate se dá, uma política que responde com migalhas à de- geralmente, na forma do que Downing cha- manda existente no interior e no exterior das mou de hipóteses do “estrangulamento da de- próprias redes por maior pluralidade). mocracia” (democracy-strangulation) e da “frus- tração do consumidor” (consumer-frustration) É possível inferir disto, de certa forma, que as (2011, p.141)2. Assumindo, já de partida, redes são, grosso modo, uma extensão indi- como dada a concentração dos sistemas mi- reta dos grupos, um “segundo grau” da con- diáticos, o foco de grande parte dos estudos centração da propriedade, mediada por ou- tras propriedades. Uma das justificativas para que o fenômeno se dê de tal forma advém do 2. Rice trabalha com noções similares: “public sphere model” e “market model” (2008, p. 16); e Mastrini também: “a perspec- interesse da burguesia radiodifusora em bur- tiva política e a questão do pluralismo” e “a perspectiva econô- lar as limitações impostas pelo artigo 12 do mica e a questão da eficiência” (2006, p. 4448).

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passa, então, para a análise e interpretação do RA, 2006; MASTRINI; BECERRA, 2009; seu papel e seus efeitos para a dinâmica social, COMPAINE; GOMERY, 2000). Algumas ora enfatizando sua dimensão político-cultu- vezes, são utilizadas diversas dessas aborda- ral, ora econômica. Nesse contexto, em torno gens em conjunto. dessa preocupação vão se reunir diversas áreas de conhecimento, dentre as quais a economia Os resultados dos levantamentos são bastante política, a sociologia e a ciência política. variados. Os níveis de concentração oscilam de acordo com o que se decide que deva ou Os argumentos que embasam as hipóteses não configurar um mercado e com os índi- nomeadas por Downing giram basicamen- ces de mensuração utilizados. Resultam disto te em torno da ideia de que “a razão mais discordâncias críticas entre autores quanto ao fundamental para resistir à concentração da crescimento ou queda dos níveis de concen- propriedade da mídia deriva diretamente das tração em determinados períodos. A esse tipo visões dominantes de democracia” (BAKER, de estudos cabe a pergunta de Baker: “...o que 2007, p.5). A busca pela efetivação da demo- constitui o mercado relevante e que nível de cracia, mesmo quando entendida em um sen- concentração é demasiado [?]. Fatos sozinhos tido mais amplo e vulgarmente econômico de não respondem a nenhuma dessas questões. uma “satisfação de consumidores” ou das “li- Ao contrário, as respostas dependem funda- berdades de compra e venda”, impulsionaria, mentalmente do motivo das perguntas – o de uma forma geral, uma resistência à con- motivo para uma preocupação com a con- centração dos meios de comunicação, haja centração da propriedade de mídia” (2007, vista que esta configuração estrangularia po- p.56). liticamente a sociedade ou frustraria o atendi- Além dos desafios teórico-metodológicos, a mento das necessidades do consumidor. investigação deste tipo sofre de problemas práticos. A concentração da propriedade dos meios de comunicação também tem sido abordada “A pesquisa sobre a estrutura e a concentração por alguns autores com o intuito de tentar infocomunicacional na América Latina não só mensurá-la. O sentido conferido ao conceito, carece de estatísticas oficiais integrais, como neste caso, pode abranger diversos tratamen- também encontra um obstáculo sério na opaci- tos de dados, muitas vezes inter-relacionados, dade e na falta de colaboração para oferecer in- mas, em geral, problemáticos. Oscila-se entre formação de acesso público por parte dos atores a imprecisão, por generalidade, e a mutilação concentrados das indústrias da informação e da da realidade, por recortes realizados no intui- comunicação. Obstáculo singular, tratando-se to de se conferir “precisão operativa” ao con- de atores empresariais cujas atividades consistem ceito, dificultado pelas transformações atuais em produzir, armazenar, editar e distribuir justa- que tornam cada vez mais complexas as re- mente informação sobre diversos setores da so- lações de comunicação, como a digitalização ciedade, da economia, da política e da cultura”. (MASTRINI; BECERRA, 2006, p. 38-39). (MASTRINI, BECERRA, 2009b, p. 25) As metodologias variam entre levantamentos sobre número de veículos possuídos, domí- Os próprios representantes do mercado se la- nio de fatias de mercado, níveis de audiência mentam da “ausência de informações sobre ou de vendas e análise de estrutura de mer- radiodifusão obtidas por processos formais”, cado (NOAM, 2009; MASTRINI; BECER- de que “não existem pesquisas sistematizadas

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sobre as receitas auferidas pelo rádio ou pela Isso porque, embora o levantamento de quem televisão” e de que “atitudes isoladas, com sejam os “donos da mídia” seja importante propósitos diversos, são apresentadas, mas para compreender o fenômeno da concen- sem aderência contábil dos dados, fato que tração, ao analisar a estrutura de mercado, dificulta a comparação entre eles e até mesmo elaborar “uma tipologia que se restrinja tão- entre os meios” (ABERT, 2015). -somente ao número de empresas e à maior ou menor homogeneidade do produto para As informações coletadas nas páginas eletrô- caracterizar o mercado é no mínimo insufi- nicas dos grupos tampouco são confiáveis, ciente, por estática e simplista, devendo fatal- como exemplifica o caso do SBT no interior mente ser abandonada ou totalmente redefi- de Minas Gerais, apontado na lista anexada a nida” (POSSAS, 1990, p.87). Não existe uma este artigo, cuja empresa não consta na lista relação direta, por exemplo, entre o número de filiais do grupo Sílvio Santos disponibili- de empresas que determinado grupo possui zada no site de comemoração dos 50 anos do e seu poder econômico ou político. O grupo grupo. Nesse sentido, qualquer levantamento Globo, primeiro no ranking da concentração, sobre a concentração dos meios precisa, além possui menos empresas que seus concorrentes das fontes oficiais do Estado, se valer de ou- mais próximos (SBT, Record e Bandeiran- tros recursos e realizar o cruzamento de infor- tes). Da mesma forma, o número de sócios mações, para dar conta do cenário de controle diz pouco sobre essa concentração, caso con- da propriedade, mapeando os grupos de mí- trário, empresas como a TV Record de Salva- dia e os vínculos de rede. dor, com seus 1.115 acionistas, e a TV Rádio Clube de Teresina4, com seus 948 acionistas, Na economia da radiodifusão, porém, não só se encontrariam em situações semelhantes no a concentração da propriedade, mas também cenário de oligopólio. a lógica discricionária que orienta a distribui- ção das outorgas para exploração dos merca- Por isto, sem desconsiderar a propriedade di- dos, o fluxo das receitas publicitárias e da au- reta das empresas, também destacamos neste diência, a propriedade cruzada etc., tudo isso artigo a forma dinâmica de organização dos contribui para reproduzir a posição dos agen- agentes entre si no mercado oligopolizado; as tes consolidados dentro do campo (do oligo- estratégias de ação em um ambiente econô- pólio). O quadro que apresentamos anexado mico integrado, caracterizado por barreiras oligopolistas; e os mecanismos sociopolíticos ao fim do artigo, busca listar os sócios mape- históricos que atuaram para que o sistema ados das empresas que controlam a televisão brasileiro de comunicação se configurasse tal no país e que concentram o principal poder qual o conhecemos hoje. na radiodifusão. É um passo importante para a compreensão do fenômeno da concentra- Concentração da propriedade e ção, porém, mais efetivo do ponto de vista da apropriação privada de um bem público identificação dos envolvidos3 e dos vínculos entre eles do que da mensuração dos níveis de A hipertrofia do setor comercial-privado, em concentração em si. detrimento do equilíbrio entre privado, esta- tal e público previsto na Constituição de 1988 3. Casos como o da TV Record em Santos (TV Mar Ltda.), por exemplo, apresentam-se como verdadeiros desafios para a identificação dos vínculos somente por meio dos nomes dos 4. Afiliada da Globo, não consta no quadro que disponibiliza- acionistas. mos neste trabalho.

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é, provavelmente, o aspecto mais fundamen- próxima desse cenário com suas 108 emisso- tal da concentração dos meios de comunica- ras, das quais 12 são próprias. ção no Brasil a se destacar, pois a esmagadora hegemonia dos agentes do mercado define a Já a Rede Bandeirantes de Televisão possui estrutura da comunicação que conhecemos 49 emissoras, 14 próprias, e cobre 3.572 mu- hoje no país. A criação da Empresa Brasil de nicípios, atingindo 181 milhões de habitan- Comunicação - EBC, em 2007, é uma ini- tes (89% da população), semelhante ao que ciativa importante no sentido de favorecer é apresentado pela RedeTV!, 40 emissoras, maior equilíbrio ao quadro, mas se encontra 5 próprias, e pela EBC – Empresa Brasil de longe de garantir o cumprimento do previsto Comunicação5, que envolve 50 emissoras de constitucionalmente, de fazer frente ao cená- TV, sendo 4 próprias. rio comercial e de incorporar o conjunto de demandas que os setores que pressionam pela As redes se revelam, assim, verdadeiras exten- democratização da sociedade têm reivindica- sões do controle por parte das cabeças-de-re- do ao menos desde o processo de abertura de- de, sem incorrerem na ilegalidade do excesso mocrática nas décadas de 70 e 80. de propriedade direta, disfarçando o oligopó- lio nacional por meio dos mediadores locais. Neste cenário, a comparação dos números do Atlas de Cobertura das empresas, do Anuário A formação de redes nacionais no rádio é um de Mídia 2015 e do Donos da Mídia que dis- fenômeno menos significativo do que na te- ponibilizamos anexada a este artigo nos pare- levisão, embora possa ser notado como nos ce bastante reveladora de como a estruturação casos de emissoras como a Jovem Pan, a Tran- das redes tem papel fundamental no sistema samérica ou a CBN. Os principais grupos de de televisão e na concentração, em detrimen- mídia que possuem TV, no geral, controlam to dos dados sobre propriedade direta. também alguma das principais rádios da cida- de em que exploram a televisão, representan- A Rede Globo engloba hoje 123 emisso- do o fenômeno da propriedade cruzada, no ras, em 5.490 municípios (98,56%) e atin- qual a concentração envolve mercados dife- ge 202.716.683 habitantes (99,51%). Des- rentes sob o domínio de mesmos grupos. sas concessões, apenas cinco são próprias do Grupo Globo, sendo que 118 são de outros Não é possível, porém, deduzir diretamente grupos. Enquanto a rede representa 22,6% para o cenário do rádio o mesmo oligopólio (praticamente 1/4) do total de 543 outorgas visto no caso das TV. Grupos que controlam no Brasil, as 5 pertencentes ao Grupo Globo redes nacionais de televisão como o SBT e a representam 0,009% (cerca de 1/100). Rede TV!, por exemplo, não possuem conces- sões de veículos sonoros. Já os Marinho pos- A rede SBT possui no total 114 emissoras de suem o Sistema Globo de Rádio, que abrange televisão, 8 próprias (embora o nome da fa- cinco marcas diferentes (ver anexo II, ao final mília Abravanel conste na lista de sócios de do artigo) e que declara em seu site comercial 9), cobre 97% do território, 190 milhões de possuir mais de 50 afiliadas, atingindo pelo pessoas. Percebe-se como há pouca diferença menos oito milhões de pessoas. entre esses números e os da rede líder, não refletindo a assimetria de poder de mercado 5. Empresa pública de comunicação, criada pela Lei existente. A Rede Record fica também muito 11.652/2008.

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A Igreja Universal, por outro lado, possui a dade da propriedade privada em sociedades ca- Rede Aleluia, composta por mais de 64 emis- pitalistas, como a brasileira, para configurar as soras (entre próprias e afiliadas), presentes em feições “familistas” da burguesia radiodifusora todas as regiões do país, localizadas em 22 es- brasileira. Nesse caso, as gerações se sucedem e tados, com uma área de abrangência que co- comprovam, pela transferência das concessões, bre 75% do território nacional. Seu principal a apropriação privada do bem público, que é a programa é a “Palavra amiga do Bispo Ma- outorga do espectro radioelétrico. cedo”. Todavia, a Rede Record de televisão não se apresenta como vinculada a essa rede O fato de ter sido vedada a participação de de rádio, talvez para manter sua estratégia de pessoas jurídicas no capital social das empresas disputar o público “laico”. de radiodifusão até 2002, com a justificativa de que era necessário identificar com precisão Além da formação das redes, outro artifício seus controladores, pode ter sido um fator que utilizado para burlar os poucos limites impos- tenha incentivado de certa forma o desenvol- tos aos grupos de mídia pela lei6, tem sido a vimento de empresas familiares, em detrimen- participação dos chamados “laranjas” no ca- to de outras formas possíveis de propriedade pital social das empresas, sejam eles membros como, por exemplo, as “sociedades anônimas” da família ou não. Isto tem dificultado sobre- – as concessões acabaram promovendo o nome maneira as tentativas de definir com maior dos concessionários (e de suas famílias) em vez precisão os limites dos grupos de mídia, que de impessoalizar a outorga sob a figura da pes- escondem, sem o registro formal, a proprie- soa jurídica. Todavia, empresas familiares não dade “de fato” de determinados veículos por são exceções na economia industrial brasileira, parte de uma mesma pessoa, fragilizando as- nem mesmo no cenário econômico mundial7, sim a possibilidade de um mapeamento do em boa medida pelos motivos já apresentados fenômeno da concentração e suas consequên- no parágrafo anterior. cias. Esse recurso atende também ao interesse de escamotear o vínculo entre parlamentares Essa relação mercantilizada com as outorgas, e emissoras TV e rádio, seja por motivos elei- na qual se confunde a concessão do bem pú- torais, seja para se precaver em relação a pos- blico com o pleno exercício do poder sobre a síveis punições decorrentes da proibição ex- propriedade privada, pode ser observada ainda pressa no artigo 54 da Constituição Federal. na prática da venda das concessões. Apesar de ser “vedada a transferência direta ou indireta A distribuição da propriedade entre familia- da concessão ou permissão, sem prévia auto- res, estruturada por relações de solidariedade rização do Governo Federal”, de acordo com e dominação no interior das famílias, além de o parágrafo 6º do artigo 12 do Decreto-Lei cumprir o papel de escamoteadora do vínculo n.236/67, o que impera é a política do fato proprietário entre chefes de família e seus veícu- consumado. O caso recente mais representati- los de comunicação, soma-se com a hereditarie- vo dessa prática foi o do canal MTV Brasil (32 UHF de São Paulo), que pertencia ao grupo Abril, vendido ao grupo Spring sem nenhuma 6. De acordo com o Decreto-Lei 236, de 28 de fevereiro de 1967, que complementa e modifica a Lei 4.117/62 (Código comunicação ao Ministério das Comunicações Brasileiro de Telecomunicações), cada entidade só poderá ter concessão ou permissão para executar serviço de radiodifusão dentro do limite de 10 estações radiodifusoras de som e ima- 7. Como exemplo, são consideradas empresas familiares a Fiat gem em todo território nacional, sendo no máximo 5 em VHF (dos Agnellis), a Ford, os Rockefellers, os Guggenheims, os e 2 por Estado (Art.12, 2). Morgans no setor bancário etc.

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(MENDONÇA, 2014). Atualmente, o grupo forma essa investigação. Todavia, a busca por arrenda sua programação para a TV Mundial meio dos nomes é insuficiente. Existe sempre da Igreja Mundial do Poder de Deus. A TV a possibilidade de homônimos e nem sempre Mundial não possui concessão, mas transmite são os nomes da família que compõem o qua- sua programação através de oito emissoras de dro das filiais. televisão aberta, representando outra face da concentração. A lógica da apropriação privada da comuni- cação, porém, que se impôs antes mesmo da Cabe ressaltar que essa compreensão em re- chegada da TV ao Brasil na década de 50, mar- lação à transferência de outorga não foi re- cou o tipo de concentração que conhecemos cepcionada pela Constituição de 1988, que, no país e nos parece, como já dito, ser o seu em seu art. 175, determina que a prestação traço mais relevante. E isto não se deu como de serviços públicos mediante concessão ou única alternativa possível, pois nessa época, na permissão será sempre precedida de licitação. Europa pré-neoliberal, imperava o monopólio Assim, não se pode definir um prestador de estatal da radiodifusão, provando que não exis- serviço público por meio de acordo particular tia um único caminho para o setor. entre empresas. Expressão máxima da concentração da pro- Outro exemplo da lógica da “transferência” priedade no setor de radiodifusão, o patrimô- das outorgas em foro privado, por meio da nio bilionário dos irmãos Marinho (Globo), mudança do controle acionário, é a here- os três filhos de Roberto Marinho, figura com ditariedade das concessões dada como fato destaque no ranking da revista Forbes 2015 de consumado pelo Estado, apesar de se tratar de empresários brasileiros mais ricos. Somadas as suas fortunas (R$ 23,8 bilhões cada), eles fi- um bem público. Grupos como a RBS, por cam atrás apenas dos donos da AB Inbev (R$ exemplo, já se encontram na terceira geração 83,7 bilhões), embora separados ocupem o 5º de proprietários sem que, na história do país, lugar. Edir Macedo (Record), segundo do se- alguma vez tenha sido recolocada para debate tor na lista, tem patrimônio estimado de R$ a transferência da outorga de um pai para os 3,02 bilhões, ocupando a 74ª posição; e Sil- seus filhos ou demais parentes. vio Santos (SBT), R$ 2,01 bilhões, na 100ª posição. O setor de mídia brasileiro é, assim, No quadro produzido, anexado ao final do o 8º mais representativo em um ranking de artigo, é possível observar a composição acio- 13 setores liderado por indústria, bancos e nária dos grupos que são as cabeças-de-rede alimentos8. da televisão brasileira. O cadastro que o Esta- do brasileiro disponibiliza não mostra, como Concentração e domínio de mercado já dito, as conexões econômicas e políticas. Mas é possível perceber, pela lista organiza- Parte desta fortuna e do faturamento do setor da, a repetição de nomes e sobrenomes, o que de comunicação nas últimas décadas resulta constitui indícios de vínculos diretos entre as do fato de a televisão ter se tornado a grande empresas. O fato de boa parte dos principais vedete da indústria cultural brasileira, concen- “donos da mídia” serem descendentes de es- trangeiros e figuras públicas, assim como o 8. Não consideramos o grupo Abril e a família Civita, que fi- da composição acionária ser majoritariamen- gura no 88º lugar do ranking com R$ 2,18 bilhões para cada um dos três membros da família apontados no ranking, por nos te composta por familiares, facilita de certa atermos ao setor de radiodifusão.

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trando a maior parte do bolo publicitário. De De acordo com o levantamento publicado acordo com a pesquisa InterMeios, enquanto a no blog do jornalista Fernando Rodrigues, TV brasileira concentrou 67,5% da verba de o governo federal gastou, em 2013, R$ 625 mídia e o rádio, 4%, em 2012, nos EUA esses milhões somente com publicidade veicu- números foram respectivamente 38% e 10,6% lada pela Globo (39% do total gasto com (ABERT, 2015). Tem crescido a concorrência TV), enquanto a Record recebeu R$ 243,5 da TV paga e da internet, mas a televisão con- milhões (15%) e o SBT, R$ 182,3 milhões tinua com índices acentuados de crescimento (11%). Considerando que o lucro líquido e lidera isolada o mercado, em comparação da Globo, em 2013, foi de R$ 2,5 bilhões com outros veículos. Sua participação no to- (POSSEBON, 2015), o total do injetado tal das verbas publicitárias avançou de 64,7% pelo governo apenas na TV equivale a 25% em 2012 para 66,5% em 2013, atingindo R$ desse lucro. 21,4 bilhões, um valor 9,8% maior do que no ano anterior. O meio rádio cresceu 10,4% Somente os governos petistas (2003-2014) em 2013, tendo arrecadado R$ 1,31 bilhão9 e injetaram um total de R$ 6,24 bilhões na mantido sua participação no share publicitário Globo, R$ 2 bilhões na Record e R$ 1,6 bi- na casa dos 4%10. lhões no SBT. O montante do gasto com a TV Globo quase dobrou em 2013 se com- Em 2013, o bolo publicitário brasileiro in- parado com os últimos anos FHC, mas se vestido em mídia, descontada a inflação de em 2002 a emissora abocanhou um total de 5,9% auferida pelo IPCA, cresceu 0,5%. 52% do que foi gasto com TV, no fim do Desde 2003, porém, o mercado de publici- primeiro mandato Dilma (2014) esse total dade cresceu 193%, o que, podemos deduzir, foi reduzido para 36%. O ponto máximo fortaleceu o processo de concentração no se- dessa política concentradora se deu no pri- tor, haja vista que a distribuição dessa verba é meiro ano do governo Lula, quando esse nú- extremamente desigual. mero chegou a 59%.

Nos últimos anos, ao invés de aplicar os fun- Os principais agentes federais responsáveis dos públicos em políticas que visem à distri- por essa política de fortalecimento do oligo- buição equilibrada dos recursos e que promo- pólio via mercado têm sido as empresas esta- vam a diversidade e pluralidade, os sucessivos tais, que possuem relativa autonomia frente governos – responsáveis pela maior parte do ao poder exercido diretamente pelo Executi- volume de anúncios em circulação – injetam vo. Em 2013, por exemplo, representou cerca a maior parte da verba de publicidade ofi- de 77% do total da verba publicitária federal cial nos veículos do oligopólio que domina investida em TV. o mercado. Assim, o Estado alimenta, não só politica, mas também economicamente a Esses valores explicitam uma faceta da relação concentração. entre Estado e o oligopólio, que praticamen- te faz sumirem as afiliadas e aquelas que não 9. A pesquisa considera apenas uma média de 150 rádios, em- participam de uma rede. Os cinco maiores bora o número de emissoras comerciais exceda 4,5 mil. Estima- se, porém, que esse pequeno número represente ao menos um grupos absorvem, em média, 82% da ver- terço do bolo publicitário. ba oficial de publicidade de TV. A forma 10. Os números do Anuário de Mídia 2015 são aproximados de redistribuição do montante no interior daqueles apresentados pela pesquisa InterMeios citada pela ABERT. das redes (se existe) é feita de forma indireta,

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sem transparência11. Os números são revela- Ainda de acordo com a pesquisa da ABERT, dores do papel que os governos federais de- 15,9% das rádios declaram receber mensal- sempenham na reprodução da concentração mente verba publicitária dos governos estadu- e da disparidade entre o poder das cabeças- ais, 12,2% afirmam receber de 3 em 3 meses -de-rede e das afiliadas, ainda que estas sejam e 59,7% dizem que raramente recebem. Em parte fundamental da estratégia de mercado relação à verba federal, esses números são res- daquelas. Revelam, também, que embora não pectivamente 3,6%, 9,6% e 73,6%. Embo- exista um reconhecimento legal, jurídico ou ra a associação de empresários deduza desses oficial da existência das redes, existe um re- números que o ramo do rádio se mostra in- conhecimento prático por parte do Estado dependente da distribuição política do fundo brasileiro, que negocia principalmente com público, pode-se inferir disso, em outra cha- as cabeças-de-rede. ve de análise, que os governos e o oligopólio das grandes rádios se beneficiam mutuamen- Os governos estaduais também influem nes- te, em detrimento de critérios transparentes se quadro. Embora os dados da distribuição e democráticos de distribuição. Mesmo que por veículo não se encontrem sistematizados, não haja no rádio o grau de integração, cen- o gasto geral nos dá alguma noção de como tralização e concentração observado na TV, o setor é influenciado pelos governos locais, percebe-se no mercado uma política de favo- principalmente em períodos de campanha recimento de características oligopolistas. eleitoral. Somente o governo Geraldo Alck- min, em São Paulo, por exemplo, reservou A pesquisa realizada pela ABERT revela tam- um orçamento de R$ 226 milhões para gastos bém que as rádios, em média, dependem em gerais com publicidade, em 2013. Seu ante- 81,17% das verbas locais, sendo que 62% cessor, José Serra, gastou R$ 311,7 milhões nunca recebem nenhuma verba nacional. O em 2009 (BOGHOSSIAN, 2013). rádio tem apenas 3,93% das verbas publicitá- rias no Brasil, enquanto nos Estados Unidos, Os números do setor rádio não são preci- por exemplo, chega a 10,6% (ABERT, 2015). sos, mas a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão - ABERT - estima que, Os índices de audiência também revelam a “das 4.645 rádios comerciais existentes no assimetria da concentração no interior do oli- Brasil em abril de 2013, ponderando dados gopólio de televisão. De acordo com os nú- de uma pesquisa realizada pela Fundação Ge- meros do Anuário de Mídia 2015, enquanto túlio Vargas em 2008, quase 76% tem fatu- a novela da Rede Globo com maior média ramento menor que R$ 50 mil reais por mês, de audiência em 2013, “Amor à Vida”, atin- sendo que 41% delas têm receita de até R$ giu 37,96% dos domicílios, os programas de 20 mil por mês”. Apenas 272 emissoras (6%) maior sucesso dos concorrentes atingiram uma faturam acima de R$ 200 mil. Além disso, média de 11,47% (Record), 10,12% (SBT), um terço do bolo publicitário estaria sob o 6,9% (Band) e 2,11% (Rede TV!). Parte des- controle de apenas 150 emissoras. te resultado é fruto de um processo de longo prazo, que ampliou, significativamente, as bar- reiras à entrada de novos concorrentes no mer- 11. As emissoras que não são cabeça-de-rede também recebem essa verba diretamente, o que faz com que o grau de concen- cado brasileiro de radiodifusão. tração da rede seja provavelmente bem maior. Por exemplo, somente a RBS, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul O que se convencionou chamar de “barreiras e Santa Catarina, recebeu R$ 63,7 milhões em verba de publi- cidade federal entre 2003 e 2014. à entrada” são características socioeconômicas

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de “poder dissuasório das firmas estabeleci- soras de televisão fora do eixo São Paulo-Rio das frente às entrantes potenciais” (POSSAS, de Janeiro disponibilizavam seus pequenos 1990, p. 97), que configuram um oligopólio. mercados de anunciantes e seus telespectado- Em estudo clássico sobre o mercado de tele- res. Formava-se, assim, um mercado caracte- visão aberta, César Bolaño definiu essas bar- rizado por uma alta concentração horizontal reiras em termos de um “padrão tecnoestéti- (domínio por um agente) e pela integração co”, conhecido popularmente como “Padrão vertical (controle dos diferentes momentos de Globo de Qualidade”. uma mesma cadeia produtiva por um agente).

Enquanto na fase anterior da TV havia maior Desde então, para entrar neste mercado, uma mobilidade no mercado, pois as barreiras à en- nova emissora tem que se integrar a uma ca- trada “limitavam-se à possibilidade de se con- deia existente ou investir para atingir os níveis seguir ou não uma concessão para a instalação tecnoestéticos exigidos pelo oligopólio (além da emissora”, o quadro muda “no início da de enfrentar no plano sociopolítico os inte- década de 1970 quando, já tendo o domínio resses de uma classe já organizada em associa- inconteste do mercado, a Rede Globo passa a ção). Ambos caminhos exigem investimentos moldar o padrão competitivo de acordo com vultosos, mas a opção de não partir para a seus interesses de empresa líder, construindo competição aberta se mostra sedutoramente fortes barreiras limitativas da concorrência in- menos dispendiosa. terna e da concorrência potencial, consolidan- do o seu poderio e ditando os termos da con- Tal cenário também viola o Artigo 221 da corrência no setor” (BOLAÑO, 1988, p. 76). Constituição, que prevê a regionalização da produção de conteúdos, resultando em outro A constituição de uma configuração de rede aspecto da radiodifusão brasileira: a concen- nacional a partir da infraestrutura erigida pela tração regional da produção audiovisual. Ditadura, da racionalização administrativa da Enquanto a televisão faturou R$ 5,86 bilhões emissora e da injeção do capital estrangeiro na Grande São Paulo e R$ 2,56 bilhões no advindo da americana Time-Life privilegiou , o Nordeste faturou R$ 2,9 o Grupo Globo e propiciou as condições em bilhões; o Sul, R$ 3,03 bilhões; o Centro- que se estabeleceram as barreiras à entrada no -Oeste, R$ 1,78 bilhões e o Norte, R$ 850 setor de radiodifusão. O novo padrão, refe- milhões. O interior de São Paulo sozinho fa- rência para as concorrentes que também con- turou R$ 2,53 bilhões e o Sudeste, sem Rio seguiram se estabelecer, estava afinado com a de Janeiro e São Paulo, R$ 1,9 bilhões. Dian- consolidação do capitalismo monopolista no te das disparidades entre mercados regionais, Brasil, que integrou os mercados regionais as redes de televisão reafirmam a assimetria sob o jugo do eixo São Paulo-Rio de Janeiro. da economia brasileira, concentrando-se o financiamento das campanhas nacionais nas Os parques produtivos locais foram reduzidos cabeças-de-rede. nas décadas de 70 e 80, enxugando os cus- tos das emissoras que se tornaram, a partir de Concentração e dominação político- então, afiliadas, perdendo parte considerável ideológica da sua autonomia, especialmente no que diz respeito à definição dos conteúdos veicula- O padrão privado, comercial e oligopolista dos. As cabeças-de-rede passaram a prover de radiodifusão se estabeleceu de forma inte- praticamente toda a programação e as emis- grada ao capitalismo monopolista brasileiro,

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consolidado pela Ditadura Civil-Militar, que rado em rede foi o Jornal Nacional, em 1969, promoveu a indústria de bens de consumo quatro anos após a inauguração da TV Globo duráveis e semiduráveis, mantendo um siste- e transmitido via Embratel. ma político-econômico conservador e social- mente excludente de amplos setores de baixa Embora a dominação esteja diretamente re- renda. Estabeleceu-se, entre os anos 60 e 80, lacionada à concentração de recursos econô- um tipo de dominação marcado pela estética micos – e, no caso do mercado de televisão, da mercadoria, baseado na promoção do con- os altos investimentos exigidos reforcem essa sumo concentrado nos estratos de renda mais relação –, ela não pode ser interpretada como altos, na hipertrofia do espaço reservado ao seu mero reflexo. A seleção direta de um gru- entretenimento, na reprodução dos discursos po restrito pelos sucessivos governos, por oficiais e com pouco espaço para a expressão meio da política de outorgas e de mecanismos da diversidade social e de pontos de vista. indiretos de regulação do setor (empréstimos, fiscalização, isenções etc.), imprime um perfil O projeto de modernização conservadora im- político discricionário à conformação do sis- plementado pelas elites brasileiras operou um tema brasileiro de comunicação, jamais rom- “filtro ideológico” (CAPPARELLI, 1982, pido ou contrariado, embora com frequência p. 165), que selecionou os indivíduos e gru- venha a ser justificado a partir do discurso pos mais afinados com o projeto desenvol- tecnocrático da adequação técnica eficiente. vimentista autoritário e expeliu dissidentes, como aconteceu, por exemplo, com o grupo Além da Globo, os poucos indivíduos e gru- janguista da TV Excelsior, e agentes menos pos selecionados pela Ditadura, ou que já confiáveis aos olhos da aliança de classes no existiam e passaram pelo filtro da ideologia poder, como foi o caso do Condomínio As- da Segurança Nacional, conformaram basi- sociado. Prova disto, a Ditadura favoreceu o camente a burguesia radiodifusora que do- grupo Globo ao não puni-lo por ter contra- mina o setor até hoje. Esse grupo só vai se riado a Constituição e se associado ao capital ver desafiado, recentemente, pela invasão do estrangeiro do grupo Time-Life,12 enquanto capital estrangeiro no setor de TV paga e de seus concorrentes menos alinhados se afunda- internet, dada a convergência dos mercados, vam em dívidas. e pelo fortalecimento das igrejas cristãs na ra- diodifusão. As redes nacionais se mostraram adequadas ao projeto de integração definido pela ide- Além do processo de distribuição de outorgas ologia política de Segurança Nacional perpe- fundado em um projeto de desenvolvimento trada pela Ditadura. Formaram-se, pratica- conservador, o sistema brasileiro é marcado mente, na década de 70, com a construção também pelo patrimonialismo. José Sarney da infraestrutura de telecomunicações pelo (MA), Antônio Carlos Magalhães (BA) e governo brasileiro. O primeiro programa ge- Tasso Jereissati (CE) são considerados, com frequência, exemplos extremos de como, em 12. Disposições sobre a proibição da propriedade estrangeira alguns casos, a posição no interior do Estado em empresas jornalísticas e de radiodifusão constam nas Cons- tituições Brasileiras de 1934 (artigo 131), 1946 (artigo 160), (política) foi decisiva para a inserção no sis- 1967 (artigo 166), 1969 (artigo 174) e 1989 (artigo 222). Em tema nacional de comunicação. Posicionados 2002, a emenda constitucional nº. 36 alterou o artigo 222 da privilegiadamente, presidente, ministro e go- Constituição de 1989 para permitir até 30% de capital estran- geiro nessas empresas. (MIZUKAMI; REIA; VARON, 2014, vernador se valeram de seus cargos para dis- p. 112). tribuir (e receber) outorgas entre correligio-

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nários e negociar acordos com os grupos de cional ou detentores de títulos nobiliárquicos. comunicação mais poderosos do país, além São, em boa medida, a segunda ou terceira deles mesmos receberem outorgas. Em 1991, geração de uma classe média brasileira emer- a TV Mirante (MA) tomou da sua concorren- gente que viu no processo de industrialização te, a TV Difusora, o lugar de afiliada à Rede do país, no século XX, e nas alianças políticas Globo. O mesmo aconteceu, em 1987, com com setores tradicionais da elite uma opor- a TV Bahia, para o desgosto dos proprietários tunidade de ascensão socioeconômica. Boa da TV Aratu. Em 1991, foi inaugurada a TV parte deles é, inclusive, descendente direto de Jangadeiro, afiliada ao SBT no Ceará. imigrantes dotados de pouco capital (Abra- vanel, Saad, Bloch, Sirotsky, Daou, Zahran, O vínculo entre a concentração do poder polí- Jereissati etc.). tico direto e dos meios de produção ideológica pelos mesmos indivíduos não é um fenômeno Além disso, as oligarquias locais se encontram da história passada. Apesar da proibição ex- subordinadas ao modelo de negócio das redes pressa no Artigo 54 da Constituição, 44 dos nacionais, que se estruturaram como sistemas 594 congressistas (senadores e deputados fede- de empresas integradas sob a direção de uma rais) da atual legislatura possuem outorgas de cabeça-de-rede. Mesmo que se tenha valido radiodifusão em seu nome. Esses são apenas de filtro ideológico e, em alguns casos, da os documentados, não englobando os que se distribuição fisiológica de outorgas, o padrão utilizam de laranjas. Esse número aumentaria de exploração de radiodifusão foi capaz de bastante se o levantamento abrangesse tam- estabelecer uma configuração para o sistema bém as casas legislativas estaduais e munici- nacional de comunicação, vigente até hoje, pais, assim como os Poderes Executivos. afeita aos modernos padrões de racionaliza- ção da gestão empresarial, em que o “capitão A ideia de que o filtro ideológico favoreceu de indústria” foi substituído pelo “manager” alianças nacionais com algumas oligarquias (CARDOSO, 1972). Fala-se, por exemplo, locais é correta, mas se deve tomar cuidado de Roberto Marinho como um verdadeiro a burgue- com as conclusões a se inferir sobre absenteísta na TV Globo (estava mais interes- sia radiodifusora em geral com relação a este sado no impresso O Globo) e a emissora con- fato13. Os concessionários de radiodifusão, no seguiu se tornar uma das maiores do mundo geral, ainda que alguns tenham se tornado no setor de televisão aberta, exportando para chefes políticos locais, não pertencem a famí- quase todo o planeta a telenovela, seu princi- lias tradicionais, barões do café, usineiros da pal produto. O fato de o produto da indústria cana-de-açúcar, ex-membros da Guarda Na- cultural ser, de certa forma, a própria ideolo- gia favorece, porém, que contratos comerciais 13. A chegada de alguns políticos aos governos foi inclusive celebrada como uma vitória contra as oligarquias tradicionais, e alianças político-ideológicas se confundam. como no caso de José Sarney no Maranhão, em 1966 (represen- tando a oposição ao chamado coronelismo de Vitorino Freire) Essa fração da burguesia nacional, que atua e Tasso Jereissati no Ceará, em 1987 (representando a opo- sição ao chamado coronelismo de Virgílio Távora, César Cals diretamente no ramo da radiodifusão, já se e Adauto Bezerra). Mesmo com a reacomodação de interesses reconhece como classe desde antes da con- oligárquicos na trajetória desses indivíduos e o estabelecimento formação das atuais redes de televisão. A As- de novos longos períodos de dominação política por parte de seus grupos, não parece apropriado apontá-los como exempla- sociação Brasileira de Emissoras de Rádio e res da perpetuação de famílias tradicionais ou de coronelismo, Televisão (ABERT) foi criada, em 1962, com haja vista que não se encaixam adequadamente no conceito de tradição. o objetivo imediato de derrubar os 52 vetos

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do Presidente João Goulart ao Código Bra- gramas e gêneros de TV é de formatos im- sileiro de Telecomunicações. Seu êxito nessa portados. A diversidade regional, apesar de empreitada demonstrou a força desse setor, ser um princípio constitucional, não possui que conseguiu, às vésperas da votação no mecanismos que a garantam16. Além disso, a Congresso, reunir representantes de 213 em- manutenção da propriedade nas mãos de uma presas de radiodifusão. Na virada do milênio, mesma fração de classe social restringe, em úl- por divergências relacionadas à competição tima instância, a livre expressão aos interesses oligopolista14, a representação se dividiu, com diretos e indiretos dessa mesma classe. a criação da Associação Brasileira de Radiodi- fusores (ABRA), em 2005, coordenada pelos A opção político-econômica pela Saad, e da Associação Brasileira de Rádio e concentração Televisão (ABRATEL), em 1999, comandada pela Igreja Universal do Reino de Deus. A Retomando o que foi exposto, podemos in- ABRA se unifica em 2015 com a ABERT, sob ferir que, na conformação do oligopólio, o a presidência do diretor-geral do SBT, Daniel papel desempenhado pela configuração das Pimentel Slaviero. redes se sobrepõe ao da posse direta de ou- torgas. Obviamente que esta não deve ser O problema da concentração em seu aspec- desconsiderada, pois trata-se de uma condi- to político-ideológico ficaria mais evidente ção mínima para participação no mercado se pudéssemos dar conta ainda do “discurso (exceção feita à prática do arrendamento17). único” da mídia, um sistema de reprodução Todavia, a integração de diferentes grupos de informações e pontos de vista que com- em uma “network” é mais fundamental para partilha as mesmas fontes, agenda os mesmos o fortalecimento da empresa líder de merca- temas e legitima os mesmos pontos de vista, do do que a administração direta. Representa no geral, com informações e declarações he- um incremento na capacidade de circulação gemonizadas pelas classes dominantes. Os dos seus produtos, uma ampliação da capa- programas jornalísticos se alimentam de in- cidade de acesso a determinados mercados e formações das agências de notícias que oligo- o exercício da direção político-ideológica do polizam o mercado mundial15 e nacional, das conjunto de empresas que constituem a rede. grandes empresas de assessoria de imprensa e das assessorias do Estado. Boa parte dos pro- Sendo o conteúdo cultural a própria natureza do produto dos meios de comunicação, a inte- 14. Alguns dos principais temas dessas divergências envolvem gração vertical da televisão faz com que as ca- as discussões em torno de um possível financiamento do BN- beças-de-rede definam praticamente sozinhas DES, entre 2002 e 2004, para o setor de comunicação em crise (as perdas do setor em 2002 foram estimadas em R$ 7 bilhões, as ideias, representações, opiniões, ideologias e enquanto o grupo Globo possuía uma dívida declarada de U$ perspectivas que serão veiculadas. O processo 1,7 bilhão) (MEMÓRIA GLOBO, 2015) e a autorização do uso da multiprogramação na padronização da TV digital a par- de seleção e de produção do que será “livre- tir de 2006. mente expresso”, embora incorpore a partici- 15. O fluxo praticamente unidirecional e a concentração do pação dos grupos “afiliados”, acaba se restrin- mercado por parte dessas agências são criticados pelo menos desde a década de 1970, quando ganhou notoriedade o debate internacional sobre uma Nova Ordem Mundial da Informação 16. O Projeto de Lei n. 256/91, de autoria da deputada Jandira e da Comunicação (NOMIC). Pesquisas recentes apontam Feghali (PCdoB/RJ), tramita há 24 anos no Congresso e desde que, mesmo com o advento da internet comercial, a concen- 2003 aguarda a votação dos senadores. tração do mercado nas mãos de agência de alcance global, hoje, 17. A venda de horários na programação para terceiros apresen- é maior do que quando foi denunciada nas décadas de 70 e 80 tarem programas e que, no geral, extrapola os limites reserva- (AGUIAR, 2010). dos ao horário comercial.

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gindo à cabeça-de-rede, assim como acontece lado pela rede e pelo seu “padrão de qualida- com a definição das estratégias da rede. de”. Em contrapartida, garantem o acesso da rede a um mercado determinado, ampliando Obviamente, há rupturas muito pontuais na a cobertura e favorecendo o conjunto do ne- composição dessas redes, quando emissoras gócio. rompem com uma, geralmente, para se in- corporar a outra. No entanto, isso não vai Como dito anteriormente, o ethos desses além de uma reacomodação no campo, sem grupos consiste na redução da comunicação impactos estruturais que comprometam o à dimensão comercial-privada, com destaque modelo de negócio oligopolista. As barreiras para a hereditariedade das empresas (e das à entrada se fazem sentir e, em certos casos, outorgas), a transferência da propriedade de até mesmo a coerção das cabeças-de-rede às acordo com interesses particulares e o arren- iniciativas dos grupos afiliados que possam se damento das outorgas por meio do loteamen- chocar com interesses particulares18. Não é a to dos horários na grade de programação. toa que, há cerca de quatro décadas, o Bra- sil assiste apenas às mesmas poucas redes de As igrejas evangélicas se destacam no caso televisão aberta, com algumas substituições dos arrendamentos, injetando recursos nas – excetuando-se, talvez, pelo desempenho da empresas de televisão, que estas são incapa- Rede Record a partir da virada do milênio. zes de garantir com produção própria. A TV Mundial, por exemplo, vale-se dessa caracte- Existem, porém, assimetrias no interior das rística mercantilizante hipertrofiada no setor, redes que expressam outro aspecto importan- da apropriação privada do bem público e da te da concentração. Os grupos de mídia se re- incapacidade de certos grupos de incremen- lacionam com as barreiras à entrada estabele- tarem os lucros com produção própria para cidas no processo de consolidação do modelo constituir outro tipo de “rede”, sem possuir, de negócio. Alguns, privilegiados política e todavia, nenhuma outorga – mas cumprindo economicamente, posicionaram-se de modo um papel representativo no quadro geral, in- estratégico no mercado simultaneamente ao clusive ocupando “transversalmente” espaços desenvolvimento de um padrão tecnoestético de redes concorrentes com menor poder den- que definiu as “regras do jogo” para o setor. tro do oligopólio nacional. Algumas emisso- Aqueles localizados fora do centro ou entran- ras de TV chegam a arrendar até 22 horas da tes, a partir de então, foram empurrados para sua programação, caso da Rede 21 (do gru- a submissão no interior das redes, para ad- quirir vantagens competitivas vitais no setor. po Bandeirantes), e no rádio, a programação Como resultado prático, esses atores enxugam completa, caso da Rádio Vida FM, do inte- seus custos (dispensam investimento em pro- rior de São Paulo. dução), recebem suporte técnico (know-how) e se beneficiam do “capital simbólico” acumu- As redes concentram praticamente toda a au- diência de televisão do país e a Rede Globo lidera em absoluto, com tendência monopo- 18. A TV Diário, emissora do grupo Edson Queiroz, desfez-se lista no interior do oligopólio. O Grupo Glo- da rede de televisão aberta que vinha construindo após sofrer pressão do Grupo Globo, permanecendo um canal “indepen- bo concentra também, com folga, as verbas dente”. Os Queiroz detém a concessão da TV Verdes Mares, publicitárias, incluindo as provenientes da afiliada à Rede Globo, e foram repreendidos por tentarem or- propaganda do Estado. A distribuição, em- ganizar uma rede paralela que crescia principalmente no Norte- Nordeste do país e por transmitir a TV Diário por satélite. bora relacionada com os índices de audiência

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da rede, um efeito do conjunto de emissoras consumo da população, não decorre daí que que a compõem, depara-se com o filtro da o investimento por parte do Estado devesse cabeça-de-rede na entrada das receitas, incre- ser concentrado nas cabeças-de-rede. mentando assim o seu poder. Salta aos olhos, portanto, o papel que o Es- O crescimento observado no mercado de tado brasileiro desempenha no processo de TV aberta e rádio, apesar do aumento da concentração na radiodifusão. Embora exis- concorrência da internet e da TV paga, pode ta uma série de princípios constitucionais e ser relacionado também com a ascensão eco- alguns mecanismos legais, que apontam para nômica da classe C, seu público principal. a necessidade de impedir a formação de oli- Hoje, a TV aberta tem seu maior grau de pe- gopólio e de favorecer a diversidade, os go- netração (pessoas que consomem o veículo vernos se abstêm de cumprir o seu papel de ao menos uma vez por semana) na classe C, reguladores e de garantidores dos direitos da 48%, enquanto os outros estratos são respon- população. Ao invés disto, as políticas de ra- sáveis pelos seguintes percentuais: A – 6%, B diodifusão têm tido como foco a busca da – 34%, D – 11% e E – 1%. Esses percentuais manutenção do poder, por meio da propa- revelam que o setor da sociedade destacado ganda oficial, da cooptação da burguesia ra- pela propaganda oficial do governo federal diodifusora oligopolista por meio da injeção como maior beneficiado nesses 12 anos de de dinheiro público nas empresas cabeças-de- gestões petistas19, por sua ascensão econômica -rede, da gestão da distribuição das outorgas dada à política de formalização do emprego e e da negociação de cargos públicos nos órgãos de renda mínima, é o principal público de ra- administrativos do setor. diodifusão hoje, o que tem um impacto dire- to nesse mercado. Isso pode ser observado nas Nem mesmo a digitalização da televisão mudanças que vem ocorrendo na linguagem aberta resultou em uma ampliação e redistri- estética dos programas e na construção das buição das outorgas do espectro radioelétrico. grades de programação, que buscam atender O novo padrão tecnológico permite a melhor a um consumidor com esse perfil socioeco- exploração do sinal, sem a necessidade de ma- nômico. nutenção de canais vazios (o que acontecia com a TV analógica), além de multiplicar o O fortalecimento do poder de consumo des- número de faixas de programação no interior se estrato social (em detrimento de políticas de um mesmo canal, o que se convencionou sociais universalizantes) impacta diretamente chamar “multiprogramação”. No entanto, o mercado publicitário, catalisador da aqui- sob pressão do empresariado, o governo Lula sição de bens de consumo. Não à toa, este decretou, em junho de 2006, o Sistema Bra- praticamente triplicou ao longo dos anos das sileiro de TV Digital Terrestre - SBTVD-T gestões petistas. A esse crescimento, porém, (Decreto nº 5.820/2006), no qual optou por não correspondeu uma possível desconcen- manter o espectro nas mãos dos mesmos con- tração. O próprio Estado, como se viu, atuou cessionários anteriores à digitalização, perpe- diretamente para o crescimento do setor e o tuando o padrão de concentração existente. fortalecimento do oligopólio. Mesmo que isso encontre uma justificativa nos hábitos de Experiências como a da Conferência Nacio- nal de Comunicação - Confecom, realizada 19. Contra o mito da “nova classe média” ver a noção de “classe em 2009, comprovam como o Estado brasi- trabalhadora expandida” tratada por Pochmann (2012). leiro não tem demonstrado nenhuma disposi-

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ção para implementar uma política de comu- Conclusão nicação que vá além do dito anteriormente. Das 672 propostas aprovadas, caminhos di- A estrutura de oligopólio na televisão brasileira ferentes para a implementação das políticas consolidou-se nos anos 80 e pouco variou até de comunicação, praticamente nenhuma foi os dias de hoje, sendo marcada basicamente adotada. Representantes dos primeiros esca- pelo estabelecimento de um sistema central lões do Ministério das Comunicações decla- (GÖRGEN, 2009) de poucas redes nacionais ram publicamente, como aconteceu em uma privadas (Globo, SBT, Bandeirantes e Man- audiência na Câmara de Vereadores do Rio de chete, depois substituída pela RedeTV!) e ten- Janeiro em 2015, que desconhecem o cader- do tido apenas a chegada da Record e da EBC no de resoluções da Confecom. como mudança representativa. Tal estrutura incorporou os grupos regionais, que até então As igrejas cristãs trazem certa novidade para tinham produção própria, embora veiculassem o quadro de oligopólio, ao crescerem em par- programas também de outras praças (com des- ticipação nos últimos anos, mas, no geral, taque para as emissoras ligadas aos Diários e reproduzem o padrão tecnoestético (Rede Emissoras Associados), centralizando a produ- Record) ou configuram o crescimento do ção e a programação da televisão brasileira, o tele-evangelismo, de caráter proselitista-con- que redundou inclusive em demissões e redu- servador, “deslaicizando” o bem público que ção do número de postos de trabalho. é o espectro radioelétrico. Não modificam a estrutura e, no geral, praticam arrendamento Deste cenário de concentração apresentado, ou a concentração direta da propriedade. podemos concluir que um passo fundamen- tal para a democratização da comunicação A TV Brasil, gerida pela EBC, embora repre- seria dado caso o Estado assumisse seu papel sente uma iniciativa importante, é insignifi- de regulador e garantidor de direitos. Existem cante se comparada ao poder do oligopólio. leis e propostas que apontam no sentido da Além disso, tem enfrentado, nem sempre desconcentração, como a da regionalização da com sucesso, o duplo desafio de encontrar produção e do funcionamento efetivo de um um caminho diferenciado da lógica comercial Conselho Nacional de Comunicação, como e manter sua autonomia diante dos interesses lócus privilegiado de diálogo com os diferen- diretos do governo federal. A emissora dificil- tes grupos sociais. Tais medidas, entretanto, mente atinge um ponto na aferição de audi- não têm sido colocadas em prática. Pelo con- ência e a lógica de distribuição de cargos de trário, em alguns casos, observa-se a obstru- chefia ao gosto do governo se impõe em detri- ção da regulamentação de mecanismos que mento de mecanismos impessoais de ascensão garantiriam sua efetividade. na carreira ou de eleição democrática para as posições de direção. As leis que se opõem ao oligopólio da radio- difusão, em grande medida, não vão além das A política oficial tem favorecido, assim, o de- cartas de intenção, como é o caso do Artigo senvolvimento e a manutenção de um modelo 220 da Constituição. Além disso, quando econômico oligopolista, controlado por uma possuem alguma efetividade, o empresariado classe que ascendeu pactuando com os setores tem logrado contorná-las, como no caso da tradicionais e com uma ideologia conservado- estruturação das redes e da distribuição da ra de integração autoritária baseada na Segu- participação acionária entre familiares e pes- rança Nacional e na promoção do consumo. soas de confiança.

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Acreditamos que, se o Estado apenas obser- po que conta com a participação da sociedade vasse o marco legal em vigor, já seria o su- civil organizada e de instituições de pesquisa ficiente para termos um cenário mais demo- acadêmica, sob coordenação do Ministério crático do que o existente e diferenciado do Público Federal, podem ser interessantes para oligopólio que conhecemos hoje. Todavia, cobrar do Estado o cumprimento das leis, é preciso frisar que, com exceção de alguns além de servir como espaço de debate e apro- princípios constitucionais relacionados à co- fundamento de alguns temas. municação social, a legislação aplicável ao setor nunca teve entre suas maiores preocupa- À sociedade civil, por fim, cabe não apenas ções a promoção da pluralidade e da diversi- pressionar o Estado no sentido da sua demo- dade no rádio e na televisão. Para completar, cratização, mas também, o desenvolvimento a base do marco legal da radiodifusão, o Có- de meios próprios de expressão, capazes de, digo Brasileiro de Telecomunicações - CBT, entre outras coisas, fazer o debate público já tem mais de 50 anos (anterior ao uso do sobre a própria natureza do Estado e a ob- satélite por redes de televisão). servância dos direitos.

Tais aspectos alertam para a necessidade de O que foi exposto nesse trabalho permite- atualização dessa legislação, o que vem sendo -nos afirmar que é imprescindível para a apontado pelo movimento pela democrati- democratização dos meios de comunicação zação da comunicação há alguns anos e que uma política pública que reconheça oficial- culminou no Projeto de Lei de Iniciativa Po- mente a existência e a natureza das redes de pular da Mídia Democrática20, capitaneado radiodifusão, buscando regular a sua dinâ- pelo Fórum Nacional pela Democratização mica e organizar as informações do setor. da Comunicação - FNDC. Compreender que a circulação dos produtos do audiovisual pode ser algo positivo para A nova lei, entretanto, será estéril se não for o sistema de comunicação do país não sig- possível conquistar também uma mudança nifica se abster de regular a concentração na postura do Estado em prol da garantia de poder representada pelos contratos entre do que está legislado. Para isso, a sociedade empresas do setor. É preciso legislar sobre li- precisa pressioná-lo, exigir sua refundação em mites nesse âmbito, assim como já existem novas bases, somada ao controle social parti- os números máximos de concessões, permis- cipativo. Ironicamente, sem uma diversidade sões e autorizações. Não é admissível que, de meios suficiente para garantir a expressão após outorgado, o espectro radioelétrico seja dos setores que reivindicam a democratização tratado como uma questão circunscrita à es- do Estado, a tarefa torna-se enormemente fera privada e comercial. mais difícil. O direito à comunicação mostra, assim, uma face dialética: a que reivindica do Cabe ao Estado, em diálogo com a sociedade Estado a sua garantia e, na medida em que é civil (e não só com o empresariado), estabe- efetivado, transforma esse mesmo Estado na lecer projetos de democratização para o setor direção de sua democratização. de comunicação, orientando os radiodifuso- res no sentido de sua adequação, legislando Iniciativas como a do Fórum Interinstitucio- sobre a regulação das redes, definindo indi- nal pelo Direito à Comunicação - Findac, gru- cadores precisos de limites à concentração 20. Para conhecer a íntegra do projeto: http://www.paraexpres- econômica, resguardando os veículos contra saraliberdade.org.br os usos de natureza proselitista e incidindo

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no setor por meios diretos e indiretos, como a tização, da redistribuição ou mesmo da mera fiscalização, a verba publicitária oficial, o orça- regulação no setor de radiodifusão enfrentará mento das empresas públicas e a elaboração de muita resistência. Ao longo de sua história, planos estratégicos para o médio e longo prazo. a burguesia radiodifusora deixou claro que é conservadora e tem bastante poder para A tarefa exige transparência em tudo o que incidir no plano político institucional, no diz respeito às empresas de radiodifusão. É ideológico, além de representar um setor eco- imprescindível que sejam prestadas contas nomicamente significativo. O desafio não é à sociedade por parte do empresariado. Os pequeno, mas sem enfrentamento nunca se- contratos entre os integrantes das redes e ba- rão superadas as condições que obstruem o lanços financeiros são elementares para qual- pleno gozo da liberdade de expressão e do di- quer avaliação séria do setor, assim como um reito à comunicação no Brasil. E um passo mapeamento exaustivo das relações entre gru- importante para o cumprimento dessa tarefa é pos de mídia. conhecer bem o sistema de comunicação que temos, os agentes que o controlam e de quais Os arrendamentos precisam ser combatidos, estratégias têm se utilizado para controlá-lo. limitando a comercialização às cotas de tem- po para anúncios comerciais. As transferên- cias de outorga precisam ser objeto de debates públicos, assim como a sua hereditariedade, garantindo o caráter de bem público do es- pectro radioelétrico.

É preciso desenvolver, também, mecanismos efetivos para a estruturação dos sistemas pú- blico e estatal de comunicação, de forma que possam se consolidar e dar suporte ao exer- cício do direito à comunicação, com maior diversidade e pluralidade de ideias. Boa parte dessa política se assenta na redistribuição da riqueza, pois, embora não sejam comerciais, tais sistemas demandam condições para ma- nutenção de custos e investimentos. Cotas e fundos públicos que os têm como objeto, em- bora tímidos, já existem, mas são implemen- tados de forma insuficiente pelos governos.

É preciso regulamentar os dispositivos cons- titucionais, como aqueles que preveem a pro- dução regional, e incorporar nesse propósito debates contemporâneos sobre a representação de gênero, racial, étnica e de orientação sexual.

Sabemos que qualquer projeto de mudança no sentido da desconcentração, da democra-

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Anexo I – Lista de sócios das Jose Roberto dos Santos Maciel entidades que receberam outorga Luiz Sebastião Sandoval de TV Digital a partir da tabela Nilson de Andrade do Ministério das Comunicações Roberto Dias Lima Franco (outubro de 2014)21 Brasília (TV Studios de Brasília Ltda) Senor Abravanel (Sílvio Santos) Globo Guilherme Stoliar Luiz Sebastião Sandoval (Globo Comunicação e SBC – Sistema Brasileiro de Comunicação Participações S. A. - Globopar) Ltda Organizações Globo Participações S.A. Rio de Janeiro (TVSBT Canal 11 do Rio Brasília (Globo Comunicação e de Janeiro Ltda) Participações S. A. - Globopar) Senor Abravanel (Sílvio Santos) Organizações Globo Participações S.A. Guilherme Stoliar (Globo Comunicação e Henrique Abravanel Participações S. A. - Globopar) Jose Roberto dos Santos Maciel Organizações Globo Participações S.A. Luiz Sebastião Sandoval Rio de Janeiro (Globo Comunicação e Roberto Dias Lima Franco Participações S. A. - Globopar) Rodrigo Navarro Marti Organizações Globo Participações S.A. Sara Benvinda Soares João Roberto Marinho Jaú – SP (TV Studios de Jaú S/A) José Roberto Marinho Carmen Torres Abravanel Roberto Irineu Marinho Cicero Legname Marques Erlemilson Silva Miguel* Cintia Abravanel São Paulo (Globo Comunicação e Henrique Casciato Participações S. A. - Globopar) Joao Pedro Fassina Organizações Globo Participações S.A. Leon Abravanel Junior *Consta no cadastro do governo, mas deve estar Ricardo Tadeu Kaviski errado Sandra Regina Medeiros Braga Vilmar Bernardes da Costa SBT Nova Friburgo – RJ (TVSBT Canal 3 de Nova Friburgo Ltda) Belém (TVSBT Canal 5 de Belem S/A) Carmen Torres Abravanel Carmen Torres Abravanel Cintia Abravanel Cintia Abravanel Henrique Abravanel Guilherme Stoliar Joao Pedro Fassina Henrique Abravanel Leon Abravanel Junior Roberto Dias Lima Franco Sandra Regina Medeiros Braga 21. A tabela do Ministério das Comunicações não identifica o grupo econômico ao qual as empresas pertencem. O agru- Sara Benvinda Soares pamento foi feito pelo autor. Esse trabalho parte primeira- Porto Alegre (TVSBT Canal 5 de Porto mente dos 4.166 acionistas de TV digital listados e cresce para Alegre S/A) 135.095 quando passa a envolver também os sócios das rádios, das TV analógicas (que são, em sua quase totalidade, a duplici- Carmen Torres Abravanel dade dos que estão agora na TV digital) e das retransmissoras. Cintia Abravanel Representam um total de 543 TVs geradoras e 5.130 emissoras Guilherme Stoliar de rádios (sem contar as 4.641 comunitárias).

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Henrique Abravanel Belo Horizonte (Televisão Sociedade Joao Roberto Brito Limitada) Jose Roberto dos Santos Maciel Radio e Televisao Record S.A. Luiz Sebastião Sandoval Alexandre Faria Raposo Roberto Dias Lima Franco Delmar Andrade de Macedo Rodrigo Navarro Marti Marcus Vinicius da Silva Vieira Ribeirão Preto – SP (TV Studios de Reinaldo Gille Costa da Silva Ribeirão Preto Ltda) – SP (TV Record de Franca S/A) SBC – Sistema Brasileiro de Comunicação Clodomir dos Santos Matos Ltda Darlan de Avila Lima Henrique Abravanel Delmar Andrade de Macedo Jose Roberto dos Santos Maciel Radio 98,1 Fm Ltda Leon Abravanel Junior Goiânia (Televisão Goya Ltda) São Paulo (TVSBT Canal 4 de São Paulo Clodomir dos Santos Matos S/A) Darlan de Avila Lima Senor Abravanel (Sílvio Santos) Domingos Barbosa de Siqueira Guilherme Stoliar Wagner Negrao Garcia Henrique Abravanel Itabuna – BA (Televisão Cabrália Ltda) Joao Pedro Fassina Alexandre Faria Raposo Jose Roberto Dos Santos Maciel Joao Luis Dutra Leite Luiz Sebastião Sandoval Jose Celio Lopes Roberto Dias Lima Franco Julio Cesar Lima De Freitas SBC – Sistema Brasileiro de Comunicação Osvaldo Roberto Ceola Ltda Paulo Eneas Martho Droppa Munhuaçu MG (TV Studios de Teófilo Renato Costa Cardoso Otoni S/C Ltda)** Porto Alegre (Televisao Guaíba Ltda) Daniela Abravanel Beyrute TV Record de Ltda Edward da Silva Televisao Itapoan Sociedade Anônima Silvio Vartan Kouyomdjian Aluizio Merlin Ribeiro **Não consta na lista de empresas do Renato Bastos Ribeiro Grupo Sílvio Santos disponível no site de Rogerio Merlin Ribeiro comemoração dos 50 anos do grupo. Rio de Janeiro (Televisao Record do Rio de Janeiro Ltda) Record Radio e Televisão Record S.A. Honorilton Goncalves da Costa Bauru – SP (TV Record de Bauru Ltda) Salvador (Televisão Itapoan Sociedade Clodomir dos Santos Matos Anônima) – 1.115 sócios Jadson Santos Edington TV Record de Bauru Ltda Jose Roberto Mauzer Deraldo Motta Marcelo da Silva Gileno Amado Wagner Negrão Garcia Odorico M. T. Da Silva Belém (Rádio e Televisão Marajoara Ltda) Virginia L C Fonseca Gerson da Silva Cardozo Abdon Silveira Dorea Paulo Roberto Vieira Guimarães Abel Mendes Da Silva Sidnei Marques Abelardo Medeiros Carneiro

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Abelin Maria Cunha João Jorge Saad Abilio Marques Da Silva João Carlos Saad Acioli Vieira De Andrade – SP (Rádio e TV Bandeirantes Adacilio Coelho Nogueira de Campinas Ltda) Adail Oliveira Silva Pinto João Carlos Saad (... e mais) Rodrigo Valentim Plese de Oliveira Neves Santos (TV Mar Ltda) (Televisão Bandeirantes do Darlan de Avila Lima Paraná Ltda) Ediminas S/A Editora Grafica de Minas João Carlos Saad Gerais Joel Malucelli Marcelo da Silva (Rádio e Televisão Rio Negro Mauricio Albuquerque E Silva Ltda) Rede Mulher de Televisao Ltda Francisco Garcia Rodrigues São José do Rio Preto – SP (TV Record de Francisco Garcia Rodrigues Filho Rio Preto S/A) Marisa de Barros Saad Rádio e Televisão Record S.A. Natal (Televisão Novos Tempos Ltda) Adilson Higino Da Silva Ranylson da Fonseca Machado Edir Macedo Bezerra Gustavo Camara Ferreira De Melo Emerson Carlos De Oliveira Pedro Ferreira de Melo Neto Ester Eunice Rangel Bezerra Presidente Prudente – SP (Televisão São Paulo (Rádio e Televisão Record S.A.) Bandeirantes de Presidente Prudente Ltda) Alexandre Faria Raposo Maria Leonor Barros Saad Delmar Andrade de Macedo Paulo Saad Jafet Dermeval Gonçalves Rio de Janeiro (Rádio e Televisão Douglas Tavolaro de Oliveira Bandeirantes do Rio de Janeiro Ltda) Edir Macedo Bezerra Maria Helena Mendes De Barros Saad Ester Eunice Rangel Bezerra João Jorge Saad Fabiano Rogerio De Freitas João Carlos Saad Honorilton Goncalves Da Costa Porto Alegre (Rádio e TV Portovisão Ltda) Mafran Silva Dutra Jose Carlos Anguita Leonardo Meneghetti Pinto da Silva Bandeirantes Ricardo de Barros Saad Salvador (Rádio e Televisão Bandeirantes Barra Mansa – RJ (Sociedade de Televisao da Bahia Ltda) Sul Fluminense Ltda) João Jorge Saad Carlos Domingo Alzugaray Maria Leonor Barros Saad Domingo Cecílio Alzugaray Maria Helena Mendes De Barros Saad Belo Horizonte (Rádio e Televisão Renato Vas Reboucas Bandeirantes de Minas Gerais Ltda) São Paulo (Rádio e Televisão Bandeirantes Maria Helena Mendes de Barros Saad Ltda) João Jorge Saad Maria Helena Mendes de Barros Saad Maria Leonor Barros Saad João Jorge Saad Brasília (Rádio e Televisão Bandeirantes João Carlos Saad Ltda) Taubaté – SP (Rádio e Televisão Taubate Maria Helena Mendes de Barros Saad Ltda)

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Marcia de Barros Saad Anexo II Ricardo de Barros Saad Marcas de rádio controladas pelos – MG (Regional Centro Sul de grupos que controlam as redes Comunicações S/A) nacionais de TV Alvaro Barra Pontes Geraldo Barbosa Dos Santos Globo (Sistema Globo de Rádio SGR) Joao Laterza Rádio Globo Jose Thomaz Da Silva Sobrinho CBN Luiz Gonzaga De Oliveira RADIOBEAT, Ney Martins Junqueira Sound! Ranulfo Borges Do Nascimento BHFM Adelmar Silveira Sabino Bandeirantes Band FM Rede TV! Band Vale Bradesco Esportes FM Belo Horizonte (TV Omega Ltda) BandNews FM Amilcare Dallevo Junior Educadora FM Marcelo de Carvalho Fragali Ipanema FM (TV Omega Ltda) MPB Brasil Amilcare Dallevo Junior Nativa Marcelo de Carvalho Fragali Rádio Bandeirantes Recife (TV Omega Ltda) SulAmerica Trânsito Amilcare Dallevo Junior StereoVale Marcelo de Carvalho Fragali Rede Aleluia Rio de Janeiro (TV Omega Ltda) Rede com 64 emissoras ligadas à Igreja Amilcare Dallevo Junior Universal, mas que não aparece na Marcelo de Carvalho Fragali apresentação da TV Record como parte de São Paulo (TV Omega Ltda) um mesmo grupo de mídia. Amilcare Dallevo Junior * SBT e Rede TV! não possuem emissoras de Marcelo de Carvalho Fragali rádio.

27 Autor Responsável

Bruno Marinoni é doutor em Sociologia e mestre Friedrich-Ebert-Stiftung (FES) Brasil em Comunicação pela Universidade Federal de Per- Av. Paulista, 2001 - 13° andar, conj. 1313 nambuco, integrante do Intervozes – Coletivo Brasil 01311-931 I São Paulo I SP I Brasil de Comunicação Social. www.fes.org.br

Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação So- cial é uma organização que trabalha pela efetivação do direito humano à comunicação no Brasil. Para o Intervozes, o direito à comunicação é indissociável do pleno exercício da cidadania e da democracia: uma sociedade só pode ser chamada de democráti- ca quando as diversas vozes, opiniões, culturas e et- nias que a compõem têm espaço para se manifestar. O coletivo foi criado em 2003 e é formado por ativis- tas e profissionais distribuídos em 15 estados bra- sileiros, com ações voltadas à democratização dos meios de comunicação, universalização do acesso à Internet e proteção dos direitos humanos nas diferen- tes tecnologias de informação e comunicação. Saiba mais em: http://intervozes.org.br/

Friedrich-Ebert-Stiftung (FES) A Fundação Friedrich Ebert é uma instituição alemã sem fins lucrativos, fundada em 1925. Leva o nome de Friedrich Ebert, primeiro presidente democraticamente eleito da Alemanha, e está comprometida com o ideário da Democracia Social. Realiza atividades na Alemanha e no exte- rior, através de programas de formação política e de cooperação internacional. A FES conta com 18 escritórios na América Latina e organiza atividades em Cuba, Haiti e Paraguai, implementa- das pelos escritórios dos países vizinhos.

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