Sexta-feira 28 Maio 2010 www.ipsilon.pt

Rolling Stones Vikas Swarup Don DeLillo Tony Judt Olga Roriz ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7358 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE EDIÇÃO Nº 7358 DO PÚBLICO, INTEGRANTE DA PARTE FAZ ESTE SUPLEMENTO BETTMANN/CORBIS

Um ditador no seu cinema Marco Bellochio fi lma, em “Vencer”, a ascensão de um jovem chamado Benito Mussolini

A batota de James Murphy em “Dance Apichatpong Weerasethakul, yrself clean” o tailandês de quem se fala Tomou esteróides (com difi culdade) para atingir os agudos... “Algo chocado ainda, foi não poderemos conseguir de certa maneira. É como surreal”, disse Apichatpong isso. Mas é uma ideia que um lamento por uma Weerasethakul, 40 anos, me agrada”. paisagem e por um estilo de falando sobre a quantidade A história de Boonmee foi filme que já ninguém faz – de fotógrafos, sobre a gente contada a Apichatpong estão ambos a

Flash que conheceu em Cannes durante o tempo em que desaparecer”, diz o (como Tim Burton ou o seu passou no nordeste da realizador. Já se estabeleceu herói Abbas Kiarostami), ao Tailândia a trabalhar num ligação entre o filme e a ser apanhado pelo projecto a que chamou actual onda de contestação “Guardian” a partir de “Primitive”. Entre cinema e e sublevação social e James Murphy fez batota e comboio na manhã a seguir instalação, desdobra-se em política na Tailândia. “As admitiu-o. Ok, não é bem batota, é à Palma de Ouro a “Uncle formatos e durações pessoas podem fazer essa até um pormenor muito rock’n’roll, Boonmmee Who can Recall diferentes, à medida do ligação, mas estou a falar de mas admitiu-o na mesma. “Dance His Past Lives”. Nesse dia a perfil do artista que já foi questões mais universais. yrself clean”, a primeira canção do imprensa internacional convidado do Festival Sim, isso inclui a opressão e novo álbum, não tem a voz de Murphy como a ouviríamos dividia-se, entre o êxtase e a Internacional de Cinema de a liberdade de expressão, naturalmente. Esteróides, senhores, admiração perante o gesto Vila do Conde. Apichatpong mas não me estou a referir James Murphy diz ter tomado do júri do festival presidido estava em Nabua, aldeia especificamente a esteróides para atingir os agudos por Burton e o choque, do tailandesa que entre os anos acontecimentos actuais”, Sumário que lhe ouvimos a partir do meio da género: “como é que foram 1960 e 1980 foi oprimida e disse Apichatpong canção. capazes de dar um prémio a brutalizada pelo governo Weeresekhatul – ou, Marco Bellochio 6 Tendo em consideração que o vocalista dos LCD Soundsystem um filme tão aborrecido?”. militar por ser, simplesmente, Joe. De punhos em Itália contou a história na mesma semana Foi um monge budista que supostamente, ninho de em que a imprensa está repleta de contou a Apichatpong a comunistas,, e ininteressou-lheteressou-lhe Apichatpong Weerasethakul FITEI 14 artigos sobre “Exile On Main St”, o história de um homem, filmar umaa memória na edição 2006 do Festival Somos todos espanhóis, na álbum mais “drogado” dos Rolling Boonmee, que jurava que assombrada:da: o retrato de de Vila do Conde 33ª edição do festival Stones, isto dos esteróides parecerá conseguia ver as suas vidas adolescenteses brincadeira de meninos. Mas é a passadas enquanto descendentestes dessedessess prova de que Murphy não olha a A Sagração meios para continuar a oferecer ao meditava – as imagens agricultoress rebeldes da Primavera 16 mundo a música que o mundo passavam-lhe pelos olhos que contestaramaram um Não uma, mas duas, a de precisa de ouvir. como num filme, disse. O regime. Isso cchama-hama- Olga Roriz e a da CNB “Foi a última canção que terminei, e realizador tailandês se “Phantomsms ooff perdi a voz a tentar gravá-la”, imaginou essa história – um Nabua”, estáá explicou ao “New Musical Express”. Gonçalo Gonçalves 22 homem a morrer vê neste momentonto James Murphy tinha decidido que, irromperem da selva os em exposiçãoo Um novo cantor romântico depois de “On repeat”, do homónimo primeiro álbum, não mortos da sua vida e as suas na Southbankk Tony Judt 26 mais gravaria algo num registo tão outras vidas – e inunda o Gallery do transe hipnótico que é British Film Pede aos jovens que se agudo. Mas depois deparou-se com um som de sintetizador irresistível e “Uncle Boonmee...” com Institute, e é irritem com o vazio moral do foi obrigado a quebrar a promessa memórias de infância, dos parte do neoliberalismo que fizera consigo mesmo. filmezinhos de terror que projecto Tentou gravá-la uma e outra vez, cantou até a voz lhe doer. A viu, de shows de televisão multidisciplinar Vikas Swarup 30 em que os monstros de “Primitive”. “Seis Suspeitos” é uma alta salvação chegou, em forma de esteróides: “Tive que cantar numa olhos vermelhos eram Que integra umaa comédia de (maus) costumes voz que estava completamente filmados na escuridão para instalação, um estoirada, mas depois tomei montes não se perceber como o livro, uma curta Ficha Técnica de esteróides.” Ele assume: “É guarda-roupa e a (“A Letter to Unclecle batota, estou a fazer batota! Fiz maquilhagem eram maus. Boonmee”, Directora Bárbara Reis batota para cantar esta canção.” Já Editor Vasco Câmara, Inês Nadais o perdoámos. Exactamente como faz ao exibida no (adjunta) homem-macaco de olhos IndieLisboa) e... a Conselho editorial Isabel vermelhos de “Unclee longa que teve a Coutinho, Óscar Faria, Cristina Vamos alucinar com Boonmee...”. Palma de Ouro e ququee Fernandes, Vítor Belanciano os Animal Collective Já quanto à crença na Portugal vai ver noo Design Mark Porter, Simon reencarnação e nas vidas final do ano. Esterson, Kuchar Swara Se não pensavam que os Animal passadas, diz: “Não diria A história de Unclee Directora de arte Sónia Matos Collective podiam meter medo, Designers Ana Carvalho, ponham os olhos em “Oddsac”, o que acredito a 100 por Boonmee é, então, um Carla Noronha, Mariana Soares filme que a banda fez em cento. Precisamos de memorial à Editor de fotografi a colaboração com o videasta de provas, e na nossa sobrevivência da memória.emória. Miguel Madeira Filadélfia Danny Perez. Vai ser existência provavelmente “É um filme muito anantigo,tigo, E-mail: [email protected] possível pôr os olhos em

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 3 Flash

Dia 2 de Junho, no Auditório da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, estreia de “Oddsac”

“Oddsac” porque a Filho Único repelente. Danny Perez, que já “Guardian”, considera, por vai mostrá-lo na quarta-feira, 2 de realizara os vídeos de “Who could exemplo, que o projecto televisivo Junho, às 22h, no Auditório da win a rabbit” e “Summertime “Twin Peaks”, do início dos anos Faculdade de Belas-Artes da clothes”, explicou ao “Village 90, não era mais do que a Pavilhões de Espanha Universidade de Lisboa (os bilhetes Voice” que um dos objectivos era continuação de “Blue Velvet” custam 6 euros e estão à venda na “subverter as ideias que as pessoas (1986), e que Lynch consegue e Reino Unido em Flur e na Matéria Prima, com a têm dos Animal Collective como expandir os seus paradigmas e não presença do realizador e de Panda uns putos pastorais”. repeti-los, ampliando-os e Xangai venceram Bear, o elemento da banda que vive aprofundando-os, seguindo por em Lisboa. várias direcções ao mesmo tempo. Estreado no Festival de Sundance Será desejável prémios RIBA em Janeiro deste ano, “Oddsac” é a sequela de uma representação visual do Pacino e DeNiro Os pavilhões de Espanha (do que compõem a estrutura. O universo dos Animal Collective – “Mullholland Drive”? em “Sinatra”? atelier EMBT) e do Reino britânico tem a altura de seis banda e realizador definem-no Unido (Thomas Heatherwick andares e é formado por 60 como “um álbum visual”, e Perez Há semanas, a actriz Laura Harring, Al Pacino como Frank Sinatra para Studios) na Expo 2010 de mil finos tubos transparentes explicou numa entrevista a um a enigmática morena, Rita, de o Dean Martin de Robert deNiro? Xangai ficaram entre os doze que saem do corpo principal blogue do “Washington Post” que “Mullholland Drive”, disse ao site São as escolhas de Martin Scorsese vencedores dos prémios da estrutura e ondulam ao não queriam fazer nem uma coisa Movieline que havia fortes para o “biopic” sobre “ol’ blue internacionais do Royal vento. Durante o dia “episódica”, que fosse uma soma de probabilidades de David Lynch eyes”. Pelo menos já tem “cast” na Institute of British Architects funcionam como filamentos de videoclips, nem um longo vídeo realizar um “Mullholland Drive 2”. (RIBA) – uma lista que inclui fibra óptica, trazendo a luz do musical. A imprensa tem invocado A actriz confidenciou estar em também, entre outros, o dia para o interior. o santo nome de David Lynch por contacto próximo com o realizador, Museu Herning de Arte Da lista dos doze vencedores aproximação, mas, a julgar pelo que é alguém que está sempre a Contemporânea, na dos RIBA fazem ainda parte a “teaser” de 30 segundos disponível trabalhar em alguma coisa. Mas Dinamarca (Steven Holl Bras Basah Mass Rapid Transit no YouTube, também podia invocar acrescentou que não pode adiantar Architects), o quartel-general Station, em Singapura o visualismo luxuriante de Dario mais informações. As declarações da Unilever, em Hamburgo (WOHA), The Met, Argento. de Harring, citadas pelo (Behnisch Architects), o Museu Banguecoque (também do Filme experimental, à falta de “Guardian”, levantaram Anchorage, no Alasca (David atelier WOHA), o projecto de melhor termo, uma das reacções burburinho. Mexer num dos filmes Chipperfield) ou a Ópera de habitação social Timberyars mais comuns tem sido dizer que é mais icónicos da década que Winspear, em Dallas, EUA em Dublin (O’Donnell & como estar sob o efeito de drogas: terminou? Ou será que o fluxo (Foster+Partners). Tuomey), a Kroon Hall, uma avalanche de imagens viscerais surrealista do cinema de Lynch O pavilhão espanhol em escola de estudos e psicadélicas e convulsões sonoras. justifica um permanente work-in- Xangai é inspirado nos cestos ambientaisna Universidade de O resultado, diz-se, vai do belo ao progress? Danny Leigh, crítico do de verga tradicionais, usados Yale, nos EUA (Hopkins Frank Sinatra: o cantor tanto no Ocidente como no Architects), o aeroporto ou o homem violento amigo Oriente, modelo que os internacional do Uruguai dos mafi osos? arquitectos usaram para (Rafael Vinoly Architects) e “reinventar uma nova técnica ainda o projecto habitacional cabeça, porque ainda em Março, de construção”, e que serve Villalagos, no Uruguai, lembrava o “Guardian”, o para criar os grandes pátios (Kallosturin). realizador assumia que estava em dificuldades para condensar vida de Francis Albert (1915-1998) num argumento coerente (da autoria de Phil Alden Robinson), sugerindo até O Pavilhão de Espanha (atelier EMBT)... que como a história abrange diferentes períodos da vida do cantor podia ser interpretado por vários actores. Mas agora, e sobre o “cast”, o que Marty disse ao diário iindianondiano TThehe HHinduin foi que estava à Em que pensa senhor Lynch? Em “Mulholland Drive 2”? pprocurarocura ddee actoactoresr e que a sua... ““escolhaescolha é Al PaPacino,c e Robert ddeNiroeNiro ccomoomo DDeane Martin”. Notícias ssurgidasurgidas na impimprensar americana no ffinalinal do ano paspassados sugeriam que o realizador estestavaa em dificuldades ccomom a filha de Frank,Fr Tina Sinatra, produtora execexecutivau do filme, que, sesegundogundo o “Ne“Neww York Post”, gostaria dede verver a vida do pai retratadaretratada cocomm respeitabilidade, com George ClooneyC como ... e do Reino Unido (Thomas Heatherwick Studios) intérpreteintérprete ataté,é e enfoque na música. Já o rrealizadore estaria interessadoini teressado nno papel da violência,violência, ssexoe e álcool na vida de SinatraSinatra. E o que fazer às supostassupostas ligações a figuras dada MMafiaaf como Carlo Gambino,Gam Sam GiancanaGia and Lucky LucianoLu e, simultaneamente,sim tornandoto tudo mais volátil,vo à proximidade comco John F. Kennedy? APRESENTAÇÃO AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO AGENDA CULTURAL FNAC entrada livre entrada livre

AO VIVO BLIND ZERO Luna Park Os Blind Zero estão de volta. A banda convida-o a entrar e a inaugurar o seu novo parque de diversões para adultos. 28.05. 18H30 FNAC NORTESHOPPING 29.05. 19H00 FNAC CHIADO 31.05. 18H00 FNAC STA. CATARINA 09.06. 22H00 FNAC COIMBRA 29.05. 22H00 FNAC CASCAIS 03.06. 17H00 FNAC COLOMBO 10.06. 22H00 FNAC BRAGA 30.05. 19H00 FNAC ALMADA 03.06. 21H30 FNAC LEIRIASHOPPING 13.06. 17H00 FNAC GAIASHOPPING

AO VIVO THE LEGENDARY TIGERMAN Femina Este é um disco de encontros. A Fnac apresenta uma one-man band, com muitas mulheres por companhia.

28.05. 22H30 FNAC NORTESHOPPING 29.05. 21H30 FNAC GAIASHOPPING 29.05. 17H30 FNAC MAR SHOPPING 30.05. 17H00 FNAC COIMBRA

AO VIVO RICARDO RIBEIRO Porta do Coração O novo álbum de Ricardo Ribeiro dá a conhecer fados tradicionais que contam com a participação de nomes sonantes do fado nacional.

30.05. 17H00 FNAC COLOMBO

AO VIVO CONTAROLANDO Música para Crianças Projecto musical de cariz pedagógico e de essência tradicional que associa o conto ao canto num entrosamento musical e poético perfeito.

01.06. 22H00 FNAC COIMBRA

EXPOSIÇÃO BERLIM I Fotografias de Albert Corbí Albert Corbí nasceu na província de Alicante, Espanha, em 1976. Em 2005, foi o vencedor do Novo Talento Fnac Fotografia, organizado pela Fnac Espanha. Desde então, já recebeu outros prémios e tem exposto, de forma individual e colectiva, em vários locais de onde se destaca o Centro Pompidou em Paris.

13.05. - 13.07.2010 FNAC COLOMBO

Consulte todos os eventos da Agenda, assim como outros conteúdos culturais Fnac em

Apoio: Como se faz “Vencer” é um melodrama operático sobre a mulher que M da História. É um fi lme sobre a feitura de um ditador – é M sua transformação em imagem, num tempo em que o c Bellocchio, 70 anos, atinge um novo pico na sua carreira de c democracia, ditadura, idealismo, pragmatismo e c

Contam-se pelos dedos os nomes que pela sua coerência (ou, como definiu e encerrando-a num asilo para que possam invocar, como Marco Belloc- numa entrevista, “integridade”). “O filme passa-se nos ninguém acreditasse nela, conden- chio, uma carreira ininterrupta de Homenageado pela terceira edição anos em que o cinema sando trinta anos de história de Itália quase meio século que atravessou, fiel da Festa do Cinema Italiano com uma (1907-1937) em duas horas de projec- a um mesmo norte, o período áureo pequena retrospectiva na Cinemateca se tornava no ção. Integrando no filme imagens de do cinema italiano e os seus momen- Portuguesa, veio a Portugal apresen- época retrabalhadas, influências do tos mais negros. Contemporâneo de tar o seu mais recente filme, que ser- espectáculo popular movimento artístico futurista, do ci- Bernardo Bertolucci na escola do Cen- viu de abertura ao certame e chega nema mudo e da ópera, invocando o tro Sperimentale de Cinematografia, esta semana às salas. por excelência. Era grande melodrama clássico como ba- Capa “jovem turco” que, logo à primeira E que filme: “Vencer”, estreado no o meio mais poderoso se de tudo, Bellocchio assina com longa (“I Pugni in Tasca”, 1965), esti- Festival de Cannes 2009, tem sido re- “Vencer” um filme sobre o amor, so- lhaçava as convenções do cinema conhecido como um dos momentos de comunicação. E bre a história e sobre o cinema. E, bem-comportado da época, Belloc- maiores da carreira do cineasta. É a também, um filme sobre hoje, porque chio, 70 anos e espírito vivo, foi sem- história verídica de Ida Dalser, a mu- Mussolini usa-o para sentimos aqui algo de Silvio Berlusco- pre figura à parte. Como, aliás, admi- lher que o ditador Benito Mussolini ni, o polémico primeiro-ministro ita- te ao Ípsilon – dizendo, sem proble- quis apagar da sua história, negando afirmar a sua imagem” liano, “avant la lettre”. mas, que sempre se sentiu isolado que alguma vez tivessem sido casados “Vencer” fala ao mesmo tempo

6 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon z um ditador e Mussolini repudiou e quis apagar é Mussolini quem “vence” –, sobre o cinema era todo poderoso. Marco e cineasta. Uma conversa sobre e cinema. Jorge Mourinha

O Mussolini de “Vencer” é o jovem revolucionário (à esquerda, interpretado Filippo Timi), alguém que está a aprender o sentido do espectáculo que o irá transformar no Duce BETTMANN/CORBIS

da história da Itália e do poder to, fazer uma operação cinéfila ou da imagem. analítica. Apenas usei o cinema na sua O filme passa-se nos anos em que o dimensão popular. Mas o cinema é cinema se tornava no espectáculo um protagonista natural, e também popular por excelência. Com o teatro evidente, nesta história. em crise, a ópera em crise, o cinema É impossível ver Mussolini nessa era o meio mais poderoso de comu- óptica sem pensar... nicação. E Mussolini usa-o para afir- ...em Berlusconi [risos]. mar a sua imagem... era essa a novi- Esperava que as pessoas dade italiana absoluta, porque antes levantassem essa pergunta? dele nenhum político tinha dado im- Não, no sentido em que essa intenção portância à imagem. Ele é o primeiro não existia. Nunca quis fazer um filme político que constrói uma imagem sobre Mussolini para falar de Berlus- fotográfica, cinematográfica para es- coni... foi algo que surgiu por si pró- tabelecer uma relação directa com o prio, naturalmente. É interessante povo, uma relação direi quase místi- que aponte isso, porque não acredito ca, religiosa. Não procurei, no entan- num cinema de denúncia direc- HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS HULTON-DEUTSCH

ta;ta; parapap rra iissosso levisão,lev bem mais poderosa que os sãsãoo muitomuiti o mmaisais jornais,jor que são mais críticos. eficazeseficazes a televi-telelevi- A outra diferença reside no poder sãosão e os jornais,jornais, e eu económicoeco de Berlusconi, que quis tenhotenhho umumaa idideiaeiia dda acederaca e ao poder devido às enormes GEORGES GOBET/AFP artearte mmaisais elelaborada,aborada,a vantagensvav n económicas para as suas mais ccomplexa,omplexa, mmaisais empresas,eme enquanto Mussolini era metafórica.metafórica. MasMas devodevo umu ditador feroz mas não procurou dizerdizer quequq e a atençãoatençãç o a eses-- enriquecer-seene pessoalmente. Não é se tópicotóópiico tem vivindoinddo mamaisisi quequq tenha morrido pobre, mas mes- dosdos jornalistasjornalistas esestrangei-trangei- mom tendo entrado a certa altura num rosros do qqueue dosdos iitalianos.talianos. “Existe, de facto, delírioded de omnipotência, Mussolini MasMas é ininevitávelevitável llerer acreditavaaca r naquilo que fazia. Queria aass cocoisasisas desse modomodo,, um paralelismo verdadeiramentever criar uma Itália no- fafacece à oomnipresençamnipresença va,vav , fascista, um homem novo. dada iimagemmagem na ppolíticaolítica [Mussolini italiana. MussoliniM é interpretado por Claro.Claro. Existe, ddee fafacto,cto, uumm e Berlusconi] FilippoF Timi na primeira metade paralelismo.paralelismo. DDigamosigamos queque dod filme, após o que o actor ambosambos intuiramintuiram naturalmen-naturalmen- Digamos que ambos desapareced de cena para ceder o tete a fforçaorça da imimagem,agem, o popoderder intuiram seus lugar a imagens de arquivo do da imageimagem,m, referindo-sereferindo-se a ditador,d “que personalizámos ao meios diferentes pporqueorque as naturalmente a força máximom ampliando, épocas eram diferentes - Mus- desacelerando,d modificando as solinisolini através do cinema, Berlus-Berlus- da imagem, o poder relaçõesr espaciais – são sempre as coniconi atravésatravés ddaa tetelevisão.levisão. HHá,á,á evievi-- mesmasm quatro ou cinco imagens dentemente,dentemente, didiferenças:ferenças: MussolinMussolinii da imagem, ded arquivo que existem”. Mas a eraera um dditador,itador, agagoraora existe uma verdadeirav heroína de “Vencer” é democracia,democracia, mas BeBerlusconirlusconi detém referindo-se a meios IdaI Dalser, interpretada – ou, todotodo o poder ssobreobbre a imaimagem.gem. E nesnes-- diferentes porque antes,a habitada – por Giovanna sese sentido existe o paradoxo de estar- Mezzogiorno,M a mulher que tudo mosmos numanuma democraciademe ocracia oondende nnaa ver- as épocas eram perdeup por amor. O percurso dadedade nnãoão existe uma ddemocraciaemocracia ddaa peripatéticop de Ida justifica a comunicação,comunicação, na medida eemm que Ber- diferentes” afirmaçãoa de Bellocchio de querer lusconi controla todos os meios fazerf uma “ópera tragicómica”, de comunicação e a te-te- ondeo o trágico e o grotesco se cruzam,c construída sobre a raíz do grandeg melodrama italiano. “Vencer”, estreado em Cannes 2009, tem sido reconhecido O filmef opõe o pragmatismo como um dos momentos políticopop de Mussolini ao maiores da carreira de Marco idealismoidei de Ida. Bellochio EmE certo sentido, são espelhos um dod outro. Ida Dalser, quando se apai- xona,xo dá-se totalmente a Mussolini. ElaEla é completamente anulada no seu homem,ho perde tudo. Claro que, quan- dod se vê abandonada, revoltar-se-á contracon esse abandono, destruindo-se a ssi própria e também ao filho. En- quantoquq Mussolini se torna cada vez maismam pragmático e calculista, ela tor- na-senan cada vez mais idealista, não querquq ser esquecida mesmo que tenha quequq pagar o preço com a sua vida, em nomenon de um idealismo heróico e sui- cida.cid Mussolini torna-se cada vez mais o homemh político, ela mantém uma pureza,pup um idealismo absoluto. QuandoQuQ vemos Giovanna MezzogiornoMeM no papel de Ida, pensamospep nas grandes actrizes trágicas.trá Como é que a dirigiu? FizemosFiz ensaios muito precisos. Pe- di-lhedi- para trabalhar sobre os silên- cicioso e o único filme que lhe disse parapap ver foi a “Paixão de Joana d’Arc” ENRIC VIVES-RUBIO de Carl Theodor Dreyer (1928). Pedi- lhelh para observar Maria Falconetti [a actriz de teatro que represen-

8 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon O Mussolini por quem Ida Dalser se apaixonou

Filippo Timi faz o papel do ditador enquanto jovem revolucionário. E também o do fi lho, Benito Albino, que imita, já enlouquecido, os trejeitos ridículos do pai que o rejeitou. Alexandra Prado Coelho

Interpretar Mussolini? Depois Ama-o ao ponto de vender o do convite de Bellocchio, Filippo seu salão de beleza para poder “Como é que aquelas Timi gastou muitas centenas de fi nanciar a criação do Il Popolo euros em DVDs com os discursos d’Italia, o jornal com que Mussolini pessoas puderam e a imagem do Duce, e percorreu sonha depois de deixar o Avanti. acreditar num os alfarrabistas e mercados de Mas esta não é a mulher que rua à procura de velhas fotos do convém ao futuro ditador. Timi palhaço daqueles? ditador. Mas, apesar de sentir explica a leitura que Bellochio o peso da responsabilidade de faz da relação: “Mussolini não Mas eu pessoalmente interpretar uma fi gura histórica gostaria de ter ao seu lado uma que “ainda está na memória de mulher emancipada como Ida, que interrogo-me: muitos italianos”, sabia que tinha se tornava incómoda, que estava à alguma sorte. frente do seu tempo, uma mulher e como é possível “A minha sorte foi interpretar o independente, que estivera em que hoje acreditemos jovem Mussolini, antes de ele se Paris, que abrira o primeiro salão tornar a fi gura que conhecemos. de beleza de Milão, que vendera noutros palhaços?” Foi o mais fácil, mas mesmo tudo para o ajudar”. assim complicadíssimo”, confessa O que transforma a história ao Ipsílon numa conversa por numa tragédia é que, depois de telefone a partir de Itália, em rejeitada, depois de perceber Cresce, e como era parecido com o italiano e pontuada pelo seu que Mussolini a trocou por outra Duce e podia ser um perigo, dizem- gaguejar (que desaparece quando mulher (Rachele Guidi, com quem lhe que a mãe morreu, o que era está a representar). casou e de quem teve quatro falso, e fecham-no num manicómio, Mais complicado ainda foi fi lhos), Ida não desiste de lutar. onde morre. Não era louco, mas é perceber que Marco Bellocchio “Não se conforma, faz cenas, levado à loucura.” queria que ele interpretasse não grita em frente à multidão ‘tu és Enquanto isso, o Duce mostra- apenas Mussolini enquanto jovem, o pai do meu fi lho, tens que nos se nas varandas a multidões na altura em que este viveu uma reconhecer’. Tornou-se incómoda, fascinadas. “Havia mulheres que história de amor com Ida Dalser, ela e o fi lho”. Se tivesse optado acreditavam que tinham fi cado como que interpretasse o fi lho pelo silêncio talvez tivesse grávidas só porque ele olhara para de Mussolini e Ida, Benito Albino sobrevivido. Mas até ao fi m ela elas. E a multidão gritava ‘Tu és Mussolini, também na juventude. insiste em repetir que é a “mulher a Itália’”. Timi quis perceber esse “Foi particularmente complicado, de Mussolini e a mãe do seu “extraordinário trabalho físico” do sobretudo a cena em que faço do fi lho primogénito”. Nas últimas ditador, e para isso foi importante fi lho do Mussolini a interpretar cartas que escreve ao Duce, do um texto intitulado “O Corpo do o pai. Foi um salto acrobático de manicómio, avisa-o para que Duce”, que “explica a personagem representação”. tenha cuidado porque “todo o mal” por esse lado físico”. Outro texto Uma coisa fi cou defi nida logo que fez voltar-se-á um dia contra fundamental foi “O Narcisismo”. nas primeiras conversas com ele. Aí que percebeu que “um ditador Bellocchio – este não seria o quando se olha no espelho não Mussolini cheio de trejeitos, muito Os palhaços vê uma pessoa mas a imagem próximo de uma caricatura de A história de Ida Dalser só é daquilo em que se quer tornar”. si próprio, e que o fi lme depois conhecida a partir de 2000 através Quando o verdadeiro Mussolini nos mostra em imagens reais da de uma investigação do jornalista surge no fi lme, a imagem é época. “Era muito claro que devia italiano Marco Zeni, que descobre de um homem ridículo, com procurar interpretar o Mussolini o drama da mulher e do rapaz que trejeitos de criança mimada e privado, o homem por quem Ida Mussolini quis apagar da História a tal gestualidade exagerada – se apaixonou, e não a fi gura que e que acabaram, ambos, internados que o fi lho irá imitar a pedido aparecia em frente das multidões”, em hospitais psiquiátricos – ela dos amigos, e que continuará a explica Timi. morreu em 1937 e ele em 1942, de imitar, já mergulhado na loucura, O actor acredita que esses um estado de debilidade profunda. no manicómio de Milão onde, gestos exagerados foram algo que “Imagine-se”, prossegue Timi, segundo algumas teses, lhe o Duce desenvolveu por sentido do “uma criança a quem a mãe todos dariam injecções de insulina, espectáculo. “Quando aparecia nas os dias recorda que ele é fi lho induzindo-lhe repetidamente o varandas, aquela gestualidade do Duce, que naqueles anos era coma, até à morte. exasperada talvez se justifi casse o homem mais admirado, mais Quando vê essas imagens também pelo facto de o público poderoso,poderoso, era DDeus.eus. antigasantigas ddee mumultidõesltidões renrendidasdidas a estar distante dele. Julgo que foi DepoisDepois a mãe é um homem como MussoliniMussolini,, Timi inteligente, fazia-o para ser legível internada, tambémtambém se esespanta:panta: “Como é qqueue pelo público”. Mas não era por aí ele mmudauda todastodas aquelasaquelas pessoaspessoas puderampuderam que Timi queria ir. Era algo mais três vezes acreditaracreditar num palhapalhaçoço daqueles?”.daqueles?”. subtil – o retrato de um homem de família,família, DepoisDepois dá uma gargalhada.gargalhada. de espírito revolucionário (na torna-torna- “Mas“Mas eu pessoalmentepessoalmente primeira cena aparece a desafi ar se umum interrogo-me:interrogo-me: e como Deus perante uma assembleia desastredesastre é possível que hoje de homens e o olhar apaixonado de identi- acreditemosacreditemos de Ida), e já então fascinado pelo dade. noutros palhaços?palhaços? poder. “É o homem que quando faz E no entanto amor com Ida não a olha nos olhos, acreditamos.”acreditamos.” está já a pensar no momento em que será dono do mundo”. Ida ama-o para lá de tudo. Filipo Timi, o jovem Filipo Timi, que interpreta Mussolini, um Mussollini privao (à es- em Cannes querda, em baixo), acredita que 2009 a gestualidade exagerada foi desenvolvida pelo Duce por sentido de espectáculo (em cima) FRANCOIS GUILLOT/AFP

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 9 De punhos em Itália De praticante apaixonado da agitação e da provocação, Bellocchio foi-se convertendo em analista, com outra frieza e outro silêncio. Luís Miguel Oliveira

“Vencer”, mais do que o 2 de Junho às 21h30) a partir melodrama da mulher de Kleist. Mas, no essencial, repudiada (e apagada), é um entre o seu primeiro fi lme (“I fi lme sobre a feitura de um Pugni in Tasca”, de 1965) e ditador (é Mussolini quem “Vincere” mudou mais a atitude “vence”) e a sua transformação do que o lugar. De praticante em imagem - em imagem de apaixonado da agitação e da cinema, num tempo em que provocação (logo os “Pugni”, o cinema era todo poderoso os “punhos nos bolsos”, fábula (agora, o poder, como se sabe, semi-grotesca que alegremente está na televisão, e aliás demole o coração da Itália Bellocchio disse mais ou menos conservadora, Família + Igreja), isso numa entrevista a propósito Bellocchio foi-se convertendo de “Vencer”, conseguindo não em analista, com outra frieza proferir o nome “Berlusconi”). e outro silêncio. Não deixou de É porventura a primeira fi lmar a família e a Igreja, nem, vez que Bellocchio aborda sobretudo a partir dos anos 80, frontalmente (é o termo: vide a Justiça (em “Salto nel Vuoto”, o plano da varanda, pós- de 1980 que passa dia 30 de “lovemaking”) a fi gura do Duce, Junho, ou no famigerado “O mas a história italiana, a vida Diabo no Corpo”, de 1986), mas a italiana, a política italiana, se perspectiva foi adquirindo outro é que há distinção entre estes tipo de preocupações. Para um três termos, são desde sempre esquerdista que atravessou as uma artéria fundamental do seu militâncias dos anos 70 e ainda cinema. recentemente foi candidato Bellocchio chegou ao cinema a deputado ao parlamento muito novo, tinha vinte e poucos italiano, é evidente que a anos, e foi parceiro, na geração ressaca dos “anos de chumbo” e na precocidade, de Bernardo acabou por se tornar um “tema” Bertolucci (um nasceu em 1939, e um objecto de análise. Isso já outro em 1940). Se a dada altura estava no “Diabo no Corpo”, mas Bertolucci fez um desvio (pela é especialmente evidente num China, no “Último Imperador”) fi lme como “Bom Dia, Noite” (dia a ponto de desde então 7), um dos seus poucos fi lmes ninguém conseguir perceber estreados em Portugal, gelada muito bem onde é que ele está reconstituição do cativeiro exactamente (nem a fazer o de Aldo Moro pelo olhar - e quê), Bellocchio está mais ou sobretudo pela psicologia - menos onde sempre esteve: com dos membros das Brigadas tou o papel no filme] e para, sem “Falo de Dreyer a objectiva apontada a Itália, Vermelhas que o raptaram (e precisar de falar, reproduzir essa dor, presente e passada. Os seus antes, nos anos 90, já rodara um essa intensidade do filme de Dreyer, no sentido da dor devaneios, de resto, são mais documentário, “Sogni Infranti”, esse tipo de desespero e ao mesmo modestos que os de Bertolucci: “Sonhos Perdidos”, sobre o rapto tempo de capacidade de afecto. E ela e da lágrima... Mas adaptações de clássicos da de Moro). A psicologia: sem conseguiu encontrar, e isso é muito literatura, uma “Gaivota” (“Il necessariamente se ter tornado importante para um actor, algo na o cinema mudo Gabbiano”, 1977, é exibido hoje um cineasta “psicologista”, sua própria vida que pudesse alimen- às 21h30 na retrospectiva que a interessa-se hoje um pouco tar a personagem, ou, no caso, algo sempre me fascinou Cinemateca lhe está a dedicar) mais pela maneira como as na vida da sua mãe. Não estou a re- muito, e é um de Chekhov que infelizmente suas personagens pensam (de velar segredo nenhum, ela própria o perde em quase tudo para certo modo, “Vencer” também disse publicamente: a sua mãe [a ac- elemento importante os maravilhosos “Chekhov- é um fi lme sobre a “maneira triz Cecilia Sacchi] apaixonou-se per- fi lms” de Nikita Mikhalkov, um como a Itália pensa”). Do didamente pelo seu pai, [o actor] no filme, em primeiro “Príncipe de Homburgo” (dia registo farsante de alguns dos Vittorio Mezzogiorno, e dedicou-lhe primeiros fi lmes - os “Pugni” ou toda a sua vida, seguiu-o para todo o lugar porque tudo “Nel Nome del Padre”, de 1972 lado, renunciou à sua carreira, acei- - em que as personagens são O Bellochio de tou todas as vicissitudes que a vida se passa ainda nos tipifi cadas a partir de estatutos “I Pugni in lhe atirou, porque ele tinha outra mu- tempos do mudo, mas Não é muito sociais ou por uma espécie de Tasca” (1965), lher, outra filha. Mas ela entregou-se loucura (outro tema importante “Bom dia, a esse sacrifício, e Giovanna utilizou- também porque arriscado dizer: em Bellocchio: “Salto nel Vuoto” Noite” (2003) o para criar Ida Dalser. é hoje melhor ou, já agora, “Vencer” outra vez) e “Vincere”: da É curioso que fale de Dreyer, faz parte da minha sobrou pouco. Não é assim muito provocação à porque há muitas referências ao cineasta do que há arriscado dizer: é hoje melhor análise fria da cinema mudo no filme. própria formação cineasta do que há quarenta sociedade Falo de Dreyer no sentido da dor e da quarenta anos anos. italiana lágrima, basta ver os grandes planos cinematográfica” das lágrimas da Falconetti... Mas o cinema mudo sempre me fascinou muito, e é um elemento importante no filme, em primeiro lugar porque tudo se passa ainda nos tempos do mudo, mas também porque faz parte melodrama – é algo que faz a ponte da minha própria formação cinema- entre um veterano como Bellocchio tográfica. A ideia, no fundo, talvez até e a geração junto à qual ele se um pouco ingénua, foi procurar re- encontra agora, composta por duzir ao máximo as palavras, traba- realizadores como Nanni Moretti, lhar com a imagem, mas não segundo Paolo Sorrentino (“Il Divo”), um princípio demasiado formalista Matteo Garrone (“Gomorra”), ou intelectual. Sempre que posso cor- Daniele Luchetti (“O Meu Irmão É tar palavras na montagem, faço-o. Filho Único”) ou Luca Guadagnino (“Eu Sou o Amor”), que De certo modo, esse “retorno às reconstroem as formas e fórmulas origens” - com o regresso ao cinema clássicas do cinema italiano à luz mudo e também ao grande dos novos tempos. E não deixa de

10 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon Ilda amava-o para além de tudo. Mas não era mulher que convinha ao futuro ditador. E isso transformou a história numa tragédia

Sorrentino [risos], mas não são só eles — “La Bocca del Lupo” [de Pietro Marcello, exibido a concurso no In- dieLisboa 2010] venceu este ano o festival de Turim, e há toda uma série de jovens realizadores... Individual- mente, existem grandes novos reali- zadores, mas não sei se todos juntos arriscam um discurso de geração. Por outro lado, não podemos esquecer que está tudo a mudar. Conheci o ci- nema que se fazia com as câmaras montadas sobre carris, agora faz-se tudo com máquinas cada vez mais pequenas, Godard rodou com uma máquina fotográfica... As televisões comandam num certo sentido. E nes- se sentido, o cinema já mudou: a pos- sibilidade técnica de fazer um filme com meios cada vez mais minimais determinará o estilo e o gosto – e já o faz. E os autores estão-se a tornar um paradoxo. Já ninguém tem uma lira mas os autores multiplicam-se [ri- sos]. Como é que tem conseguido sobreviver? Sempre fiz filmes de custo médio que fizeram bons resultados, mesmo em Itália. Dito isto, “Vencer” foi um filme caro ao nível italiano, custou sete mi- lhões de euros. Mas uma coisa que ajuda muito a equilibrar as contas é que os meus filmes têm sempre difu- são mundial. Não será o sucesso em Portugal que vai pagar as contas [ri- sos], mas se lhe somarmos a Alema- nha, a França, a Holanda, o Luxem- JORGE burgo, a Bélgica, a Inglaterra, os EUA, SALGUEIRO então há claramente uma voz que permite reunir o dinheiro...

Bellocchio refere-se de passagem à 4ª a sáb às 20h3 recente série de trabalhos que o d 0 om às 16h3 devolveu aos holofotes - uma 0 | M/6 sequência de filmes aclamados internacionalmente iniciada com “L’Ora di Religione” (2002), e ser curioso que isso se passe com Belocchio pediu a Giovanna prosseguida por “Bom Dia, Noite” um dos raros cineastas Mezziogiorno que visse “Paixão (2003), “Il Regista di Matrimoni” transalpinos que se tem mantido de Joana d’Arc” de Dreyer, com (2006) e “Vencer”. Uma sequência em actividade constante – mesmo Maria Falconetti invejável para um cineasta de 70 que mais discreta do que muitos anos que continua a ser pouco dos seus contemporâneos – desde a distribuído entre nós — da dezena

sua estreia em 1965. as minhas posições, mas existe uma de filmes que assinou após “A © CLEMENTINA CABRAL aproximação, uma atenção, um con- Condenação”, de 1991, só “Bom Foi sempre uma presença tacto muito mais frequente, mesmo Dia, Noite” e, agora, “Vencer” NOITES BRANCAS incómoda, lateral, no cinema com artistas muito mais jovens. A re- chegaram às salas. Mas, como diz italiano... lação é mais de colaboração. Havia ao Ípsilon antes de se despedir, isso a partir de Noites Brancas de FIÓDOR DOSTOIÉVSKI Isso teve sempre muito a ver com as uma certa distância que já não existe, tem muito mais a ver com as encenação Francisco Salgado produção Procur.arte minhas opções pessoais de não seguir porque a cultura dominante já não é expectativas dos outros do que com sala estúdio até 27 JUN | 4ª a sáb 21h45 | M/12 a cultura dominante. Sempre procu- dominante. o cinema que faz: “O distribuidor rei defender as coisas em que acredi- Sente que o cinema italiano dizia-me ontem que antes HAVIA UM MENINO QUE ERA PESSOA to, um certo modo de fazer cinema mudou muito? chegavam a Portugal muitos filmes que leve muito em conta a imagem. Nos anos 1960 havia de facto um dis- italianos, não só dos grandes Poemas para a Infância de FERNANDO PESSOA Nesse sentido, em Itália e não só tem curso do cinema italiano, um discur- autores mas também dos grandes encenação Lucinda Loureiro | com José Figueiredo Martins havido um declínio da pesquisa for- so colectivo. Mas não havia necessa- mestres da comédia. Mas esse sáb e dom 15h para toda a família | M/6 mal, do estilo, que tem sido comple- riamente uma qualidade que o tor- cinema já não existe...” para escolas durante a semana | sob marcação tamente ignorado. Sempre me senti nasse num movimento. Hoje, falamos um pouco isolado. Continuo a manter sempre de Matteo Garrone e Paolo Ver crítica de filmes págs. 50 e segs

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 11 Tudo o que não quer sobre o mun Porquê fi lmar de perto o sofrimento, rodar a câmara em torno de um corpo doente, de forma a expor a s um fi lme de amor? “Enjoy Poverty”, do holandês Renzo Martens, pode ser visto, e discutido, amanhã e

Uma criança (condenada) a morrer. campo de refugiados: “Fantástico”, soas. E isso é criminoso”, conclui Fá- Meio metro de corpo estendido sem “Reconheço que diz depois de captar a imagem). tima Proença. vida, enrolado num lençol, junto a O problema é a forma como essa Por ser considerado moralista e re- uma mãe que também ela pode mor- o filme tem um grau verdade é exposta e tratada, de forma dutor, o filme foi recusado pelo Do- rer, mas de desgosto. Uma criança de cinismo como indigna e desumana para quem é fil- cLisboa e, na estreia mundial em No- com edemas, feridas na cara e dificul- mado, diz Fátima Proença, directora vembro de 2008, na abertura do Fes- dade em respirar, demasiado fraca também tem um grau da ACEP (Associação para a Coopera- tival Internacional de Documentários para se alimentar, se houvesse como ção entre os Povos), e até ao ano pas- de Amesterdão, foi muito criticado. a alimentar. Outra, franzina, a comer de amor. É uma sado presidente da Plataforma das Os jornais na altura disseram que o um rato. Outra a suplicar, sem forças, organizações não governamentais ministro holandês da Cooperação, apenas com gemidos, que parecem homenagem (ONG) de Portugal. convidado para apresentar e comen- não ter salvação, pela forma como são ao cinismo verdadeiro “O realizador faz um filme para tar o filme, recusou fazê-lo. No pró- filmados. denunciar aqueles que procuram a prio Congo foi considerado ofensivo Cinema “Episode III – Enjoy Poverty” é tudo e ao amor verdadeiro” mobilização da caridade [através da e imoral. E depois acusado de abordar o que não queremos ver ou saber so- exposição da miséria] mas não se “com ignorância” quem actua nestes bre o mundo. O filme pode ser um Renzo Martens, inibe, ele próprio, de explorar o cor- palcos de conflito ou de situações hu- bom objecto para discussão. E por po de crianças em sofrimento, as manitárias extremas – sejam jornalis- isso foi escolhido por Thomas Walgra- realizador imagens de cadáveres ou a ingenui- tas, fotojornalistas ou organizações ve, director do Festival Alkantara. dade dos fotojornalistas locais”, con- não governamentais (ONG), mas tam- Passa no Teatro Maria Matos, em Lis- tinua. “Ele escolhe a ironia para tra- bém agências da ONU, como o Fundo boa, sábado e domingo (às 17 horas) tar um problema muito sério, mas para a Infância (UNICEF) ou o Alto seguido de debate – no domingo. Pa- ao decidir usar os mesmos meios Comissariado das Nações Unidas pa- ra alguns, porém, nenhum objecto de que aqueles que pretende denunciar ra os Refugiados (ACNUR) ou ainda o discussão justificaria tal exposição da acaba por cair num cinismo inacei- Banco Mundial. desgraça humana. tável.” Corpos que jazem no chão, sem O outro problema, para Fátima Pro- Um projecto louco nome, numa guerra eterna numa das ença, é quando o realizador, que se Também foi criticado por ser pater- regiões mais ricas em recursos do mistura com a população local, nesta nalista, cínico e perverso, na forma mundo num dos países mais pobres. viagem, diz que a sua situação de po- de tratar um assunto grave. E tido co- E a inércia de um imenso sistema, de- breza nunca irá mudar. “Com essa mo “um projecto louco de um reali- sigual, viciado e injusto, há demasia- frase, ele remata de forma quase cri- zador louco ao qual não se deve dar do tempo instalado na indiferença, minosa. É uma frase que condena e muita importância”, conta o próprio que roça a ideia de conspiração em alimenta a impotência daquelas pes- Renzo Martens. benefício próprio, ou seja, do mundo ocidental. A contradição está presente, desde logo no título: “Enjoy Poverty”. Pode alguém desfrutar da pobreza? A po- breza pode ser um negócio, sim, para os ricos. Mas as pessoas na pobreza não podem desfrutar dela, como pa- rece sugerir Renzo Martens, que es- creveu e realizou o filme, além de ser o protagonista nesta descida aos in- fernos. Só chocando se pode ir ao fundo do problema, justifica. E Renzo sabe que, com este filme, chocou meio mundo. Mas ao mesmo tempo não espera com ele mudar nada naquilo que denuncia. O filme passa-se no Congo-Kinsha- sa (ex-Zaire), e em particular em Ituri, no Leste, mas não é um retrato do país onde Renzo Martens passou dois anos. Também não é um documen- tário, nem um objecto jornalístico, diz o realizador holandês numa en- trevista ao Ípsilon. “É um objecto de arte, um retrato da relação de poder, e também da relação emocional e psi- cológica, entre as pessoas que são fotografadas e as pessoas que vêem e consomem as fotografias” no mundo ocidental. Conteúdo e forma Tudo o que está contido no filme, é verdade. Muitas vezes é a chocante verdade. (Como a cena em que um repórter fotográfico se deleita com a expressão de desalento de um ho- mem só, sem nada, provavelmente doente, sentado numa tenda de um

12 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon remos saber ndo a sua fragilidade? Filme obsceno ou fi lme cínico? Ou será, antes, ã e depois no Teatro Maria Matos, em Lisboa. Ana Dias Cordeiro

Para o director do Festival Alkan- midade moral para denunciar” essa Nada mudou nem mudará tara que o escolheu, “Enjoy Poverty” verdade. Renzo sabe que chocou pessoas, den- vale “por colocar de forma muito Da mesma maneira que mostra a tro e fora do Congo, com essa mensa- radical uma série de questões cen- fragilidade das crianças, mostra a in- gem. Mas esse choque é parte do seu trais sobre a forma como o nosso genuidade dos adultos, daqueles que objecto de arte, defende-se. Porque olhar é condicionado pelos precon- começam por acreditar que alguma sem ele não se alcançaria a compre- ceitos que temos sobre África”. Con- coisa, neste ciclo de fatalidade, pode ensão profunda e necessária do pro- clui Thomas Walgrave: “O resultado mudar. Como os fotojornalistas con- blema. “O certo é que até agora, apa- é muito provocador, obriga as pes- goleses que ganham 50 cêntimos (de rentemente, não sentimos a urgência soas a tomar posição.” dólar) por cada foto que tiram, e so- de fazer nada para mudar o estado Voltando, então, ao princípio, ou bre uma realidade que não interessa das coisas.” seja, ao título “Enjoy Poverty”, que ao Ocidente, enquanto os fotojorna- Porquê filmar de tão perto o sofri- o realizador já tinha em mente mes- listas estrangeiros vendem por 50 mento? Rodar a câmara em torno de mo antes de viajar para o Congo. dólares as fotos das vítimas da guerra um corpo doente, de forma a expor Partir da ideia de que os pobres po- ou de pessoas a morrer à fome. a sua fragilidade? E assim perpetuar dem desfrutar da pobreza não será O objectivo do realizador é fazer as imagens que alimentam uma rela- condená-los para sempre a essa po- compreender a desigualdade na rela- ção distorcida entre ricos e pobres? breza, reduzi-los a seres necessita- ção de poder entre quem é filmado Para quê se, como diz o próprio rea- dos, sem cultura e sem direitos? Fil- num país pobre, e quem consome lizador, não são estas imagens que vão mar pessoas dentro de t-shirts da essas imagens de pobreza, num país anular a indiferença nos países ricos UNICEF e a viver em tendas com as ocidental. E quando encena a situa- e mudar a vida das pessoas nos países iniciais de UNHCR (ACNUR na sigla ção para concretizar esse objectivo, pobres? em inglês), num universo de grandes Martens sabe à partida que não vai “Não é assim tão explícito. Pode agências e logótipos que só sobrevi- poder ajudar ninguém. parecer explícito, mas isso é porque ve à custa das tragédias humanas, “É importante para mim não lhes os jornalistas não são explícitos. Vin- não será também anular a sua iden- dar falsas promessas ou fazê-los acre- te mil crianças morrem à fome todos tidade dessas pessoas? ditar em mim, apenas lhes digo que os dias. Mostrar uma não é de todo “Ele tem razão no que diz. A pobre- não sou eu quem vai mudar a pobre- explícito”, responde o realizador. za pode ser um negócio. A pobreza za”, justifica-se Renzo. Mas a própria E reage às críticas, com a auto- em África dá emprego a muita gente encenação dá-lhes esperanças. E seria crítica. Porque “Enjoy Poverty”, diz, na Europa”, considera Fátima Proen- necessário dizer de forma tão defini- é antes de mais, um mea-culpa, num ça. Mas pela maneira “indigna” como tiva que a situação das pessoas não mundo desequilibrado e em que to- filma as pessoas, “perde toda a legiti- vai mudar? dos, no Ocidente, somos responsá- veis. “Toda a vida vemos estas fotos “É um retrato da [de pessoas a morrer à fome] nas notícias, mas isso não faz com que relação de poder, mudemos os nossos padrões de con- e também da relação sumo. Não faz com que metade da França deixe de funcionar com o emocional e urânio do Níger, país onde metade da população vive na pobreza extre- psicológica, entre as ma. Também há o petróleo da Nigé- ria, o peixe da Tanzânia, ou o cacau, pessoas fotografadas a borracha e os diamantes, do Con- go, entre outros”, diz Martens que e as pessoas recusa a crítica de que o filme é mo- que consomem ralista porque, segundo ele, não se coloca num nível moral diferente de as fotografias” todos os outros actores, mas admite que pode ser cínico. “Reconheço que no mundo ocidental o filme tem um grau de cinismo co- mo também tem um grau de amor.” E conclui: “É uma homenagem ao cinismo verdadeiro e ao amor ver- dadeiro.”

Renzo Martens, o realizador de “Enjoy Poverty”, defende que só chocando se pode ir ao fundo dos problemas

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 13 As Espanhas vão ao FITEI Não sabemos bem como se diz, “Hnuy Illa”, mas é o espectáculo que abre, hoje, e em basco, a 33ª edição do FITEI. Aqui há exílio e vontade de voltar à terra, nas costas largas de um escritor que foi da ETA e fugiu da prisão, Joseba Sarrionandia. Até 10 de Junho, há esta e outras histórias espanholas no festival - em várias línguas. Inês Nadais

Passou-se este tempo todo desde 1977, Somos sempre exilados conhecido para os bailarinos”, expli- e portanto este é o ano em que o FITEI Mas o que é que há aqui dentro, além ca o coreógrafo Jon Maya. É uma es- – Festival Internacional de Teatro de dos poemas de Joseba Sarrionandia? crita quase totalitária, a dele: “Conti- Expressão Ibérica diz 33. Era fácil, se Há toda uma reconstrução da dança nuei a escrever na prisão, era fosse só em português: mas também tradicional basca a partir das figuras presidiário de profissão e escrevia é em castelhano (com e sem sotaque mais fundamentais do seu repertório para esquecer um pouco aquela con- do Chile), e nas outras línguas de Es- (mas violando as regras, e indo a sítios dição. E depois, de novo livre, de cer- panha, o galego, o catalão e o basco que a dança tradicional basca nunca ta maneira livre, não tive mais remé- (não é assim que se diz, corrigem eles: poderia ir, porque as regras mandam dio do que ser fugitivo de profissão, é “euskara”). Vamos começar a falar que as pessoas nunca se toquem), da e nada mais esteve nem está presen- basco já hoje, na abertura, com “Hnuy banda sonora proposta por Iñaki Sal- te na minha vida do que a escrita”,

Teatro Illa”, terceiro encontro entre a Kukai vador e, claro, de um texto que ressoa escreveu, lá desde o exílio desconhe- – Dantza Kompainia e o Tanttaka Te- profundamente no imaginário colec- cido onde vive, em 2002. É essa, a atroa (até aqui está a ser fácil), que tivo das duas companhias. “O Joseba parte do exílio, que mais interessa às sobe ao palco do Teatro Nacional S. Sarrionandia é um dos mais impor- duas companhias (mas do ponto de João, no Porto, hoje e amanhã. Não tantes, talvez o mais importante, au- vista emocional e não, repetimos, do sabemos exactamente como se diz, tores contemporâneos bascos. É mui- ponto de vista político): “A vida de “Hnuy Illa”. Mas sabemos o que quer to lido, muito cantado também. Os Sarrionandia parece dizer-nos que dizer (e também sabemos que há uma poemas dele não eram território des- seremos sempre exilados, que o re- parte em que eles, os bascos, falam gresso a casa é totalmente impossível, português). porque a casa, a pátria, tal como as Antes disso, antes de a cantora bas- conhecemos e tal como as desejamos, ca María Berasarte dizer as coisas de- não existem”, sublinha Mireia. les na nossa língua (e na nossa músi- Não é, para ela, a primeira viagem ca, o fado), houve outras duas peças, com Sarrionandia: já tinha feito um “1937, por las sendas del recuerdo” espectáculo com poemas dele mas (2002) e “Otehitzari Biraka” (2005), quis voltar àquela escrita com a Kukai, que a Kukai e o Tanttaka fizeram jun- desta vez para fazer “um mapa emo- tos porque tratavam de assuntos que cional do escritor”. Depararam-se tinham em comum: as crianças bascas com tanta coisa que o mais difícil foi que se contam nesta 33ª edição deste As formas (aos milhares, aos muitos milhares) escolher aquilo de que não iam falar. festival (ver caixas). Onde há um es- corais da que, em Maio de 1937, foram forçadas No final, ficaram poemas inteiros e critor que foi da ETA e fugiu da prisão, dança a caminhar para o exílio, e o escultor bocados de poemas, ditos, cantados um Tchékhov com personagens “tre- tradicional Jorge Oteiza (1908-2003). Agora têm ou apenas vistos. Quase sempre em mendamente espanholas” (mas espa- basca são em comum isto: uma série de poemas basco, mas também em português: nholas de hoje, pós-Zapatero e crise retomadas, retirados da antologia “hnuy illa nyha “O Sarrionandia é um grande admi- do “subprime”, não espanholas do mas também majah yahoo” (à letra: “cuida sempre “A vida de rador de Pessoa, e por isso tem vários início do século XX), ou uma missa desmontadas de ti, meu querido yahoo”), do poeta poemas escritos em português, mui- pela má consciência dessa mesma e reconver- e filólogo basco Joseba Sarrionandia, Sarrionandia parece to bonitos aliás. Pedimos à María Be- Igreja Católica que durante tantos tidas, em que vive em paradeiro incerto desde rasarte, uma basca que canta fados anos foi (ou agiu como se fosse) o ci- “Hnuy Illa” 1985, o ano em que fugiu, dentro de dizer-nos que seremos [acaba de gravar com o projecto mento social de Espanha. E, ainda, um amplificador, da prisão de Martu- sempre exilados, Aduf], que dissesse um deles”, conta uma espécie de “road trip” vínica vin- rene, onde se tudo tivesse corrido Jon Maya. da de Castela (“In Vino Veritas”, de conforme o previsto teria cumprido que o regresso a casa Ele, que também está em palco, Alicia Soto, a 30 de Maio no Mosteiro uma pena de 22 anos por pertencer continua aqui o seu trabalho de reno- de São Bento da Vitória), mais bascos à ETA. Não é, apesar de parecer, um é totalmente vação de um folclore microscópico, (“Emotikon”, pelo Ados Teatroa, a 2 espectáculo político: “É um espectá- mas nem por isso perdido. Como se e 3 de Junho na Praça dos Leões), a culo sobre o amor e o desamor, a luz impossível, porque saísse de casa, mas continuasse a es- dança a cruzar-se com a música da e a escuridão, o apego à terra e o exí- crever à família, à maneira do próprio galega Mercedes Peón (“Concerto lio, o ir e o vir, o não estar em lado a casa, a pátria, Sarrionandia. Desconcerto”, pela Entremans – Com- nenhum”, explica Mireia Gabilondo, tal como as pañia de Danza, dia 2 de Junho no do Tanttaka, que fez a dramaturgia Todas as Espanhas Palácio da Bolsa) e os óvnis de “A-TA- de “Hnuy Illa”. Parece tudo muito conhecemos e tal Que esta aventura tenha metido a Au- KA!” (Cal y Canto Teatro, dia 4 de Ju- basco, e é: por isso mesmo é que é tão diência Nacional, por causa de uma nho na Rua de Santa Catarina e nos universal. “Creio que é por vir de um como as desejamos, queixa improcedente de uma asso- dois dias seguintes no Serralves em sítio muito concreto que o espectácu- ciação galega (Sarrionandia é um fo- Festa). lo funcionou em todos os lugares aon- não existem” ragido, sim, mas lê-lo e publicá-lo não de já o levámos. O pequeno pode ser é proibido), é apenas uma pequena Ver agenda de espectáculos na pág. 48 enorme”, continua Mireia. Mireia Gabilondo história espanhola a juntar às outras e segs.

14 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon Tchékhov e o “subprime” Chamada para a morte O Inferno é um filme de Fellini Não havia imagens televisivas de agentes policiais Em 2007, quando o Titzina chegou ao FITEI para nos Não há nenhum movimento, nem sequer do dedo armados até aos dentes a confi scarem as pequenas casas enfi ar num comboio em direcção às duas Espanhas mindinho, que seja gratuito em Marta Carrasco, diz ela, e próprias dos “middle americans” que não puderam pagar (parecia do passado, mas era de agora: aqui ao lado, na portanto não há que ter medo: “Dies Irae, en el Réquiem a crise (não havia sequer televisão), no ano distante nossa cama, dorme um país partido ao meio pela Guerra de Mozart”, a peça que traz ao FITEI dia 7 de Junho, não (1904) em que Tchékhov escreveu “O Cerejal”. Mas Civil), escrevemos que talvez Diego Lorca e Pako Merino é um ataque gratuito (mas é um ataque violento, e muito havia uma aristocrata arruinada a ter de desfazer-se não saíssem vivos do terceiro espectáculo, depois de se felliniano) à Igreja (eventualmente a sua própria missa do seu jardim, e outras “coincidências relevantes” com terem internado num manicómio no primeiro, “Folies fúnebre, minutos antes de descer ao Inferno). Explicações a actualidade. Foi com a cabeça nisso que a Rayuela à Deux”, e de terem ido para a guerra no segundo, ao “El País”: “Com Deus não me meto, nem com a fé. Mas remontou “ECJ # El Jardin de los Cerezos” num palacete “Entrañas”. É verdade, agora eles morrem: “Exitus” na Igreja encontro motivos sufi cientes para me rir, que é abandonado com uma cerejeira de néon, música klezmer é a morte em vida de quatro personagens (um agente o que mais gosto de fazer. Pergunto-me se as senhoras de e algumas overdoses. O adeus à velha vida agora é em funerário, um desempregado, um farmacêutico em estado Madrid me irão insultar”. As de Madrid não sabemos, mas burlesco, como se Tchékhov fosse Almodóvar. terminal e um advogado especializado em testamentos). pelas do Porto não pomos a mão no fogo.

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 15 “Mesmo quem nunca viu acha que sabe o que é ‘A Sagração da Primave- ra’”, diz Olga Roriz, 55 anos, depois

de um ensaio da sua releitura dessa CUNHA PEDRO peça fundamental do repertório clás- sico, que se estreia amanhã no Gran- de Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. “Mas sobre o que é esta peça?”, pergunta-nos, para lo- go a seguir responder que é sobre “uma guerra entre dois sexos”. “Os Dança homens decidem, ou às vezes não decidem nada, e nós esperamos que eles achem que sim para que fiquem contentes”, ri-se a coreógrafa. Dias depois, no Teatro Camões, fa- remos essa mesma pergunta a Caye- tano Soto, 35 anos. Veio de Espanha para trabalhar com a Companhia Na- cional de Bailado (CNB) numa outra releitura (mais uma, é uma peça ines- gotável) da coreografia que Vaslav Nijinsky criou para a revolucionária partitura de Igor Stravinsky, com es- treia já hoje no Teatro Municipal de Faro, como parte de um tríptico de homenagem aos Ballets Russes que inclui ainda “As Bodas” e “Fauno”: “Há tantas opiniões que eu deixo em aberto. Mas todos acham que têm di- reito a tudo, ainda hoje”. Com um dia de diferença, vamos poder assistir a duas versões radical- mente diferentes da “Sagração”, as- sinalando, não por coincidência, os 97 anos que passam sobre a estreia da peça original, em Paris, a 28 de Maio de 1913. Não é uma peça qual- quer: tornou-se muito rapidamente o ex-libris dos Ballets Russes, a com- panhia dirigida por Diaghliev que mu- dou, para sempre, a história da dança. No centro, uma eleita, oferecida aos deuses por adoradores em estado de delírio; símbolo do sacrifício, mas também de resistência, de entrega e de abnegação. Quando se estreou, panhia Olga Roriz, na Rua da Prata, “Limitei-me, no bom da o que queria fazer”, diz Soto, que Cayetano Soto com o subtítulo “Quadros de uma em Lisboa, recentemente inaugurado foi bailarino de Nacho Duato e inte- fez uma Rússia Pagã”, “A Sagração da Prima- nas antigas instalações da seguradora sentido, a passar grou o elenco do Balleteatro de Mu- releitura da vera” marcou uma ruptura na noção Tranquilidade, é mais pequeno do nique, onde fez grande parte da sua peça de de movimento. Os corpos revolviam- que o palco do Grande Auditório do por estes corpos com formação, antes de começar a coreo- Nijinsky a se, viravam-se de costas para os es- Centro Cultural de Belém, mas os 20 grafar. Nadja Kadel, a dramaturgista, convite da pectadores, os pés metidos para den- bailarinos que compõem o elenco de a minha dinâmica, escreve no programa que “hoje em Companhia tro, a bacia exposta, os braços apa- “A Sagração da Primavera” parecem a minha história, dia, quase qualquer pessoa se pode Nacional de O movimento rentemente sem ligação ao tronco. não dar disso conta. tornar numa vítima e os contextos Bailado, para é Nijinsky inaugurava ali uma violência Jácomo Filipe, o “Sábio”, atravessa- e a deixá-los respirar. sociais do sacrifício são infinitos – fa- um programa praticamente física que deixava os corpos exan- o com os seus braços gigantes e domi- mília, trabalho, igreja, política, guer- de tudo na gues, e cujas influências chegaram a na o espaço dando o corpo e o tom à É um trabalho físico ras, etc. – e, mesmo assim, já não exis- homenagem “Sagração” de praticamente todos os coreógrafos, coreografia. É ele quem inicia este ri- tem certezas acerca da absolvição.” aos Ballets Olga Roriz: de Martha Graham a Pina Bausch, de tual. Silêncio. Depois entram os ou- antes de ser É uma versão carregada de signifi- Russes “Eu queria Maurice Béjart a Mats Ek, de Raimund tros, em massa, eles vestidos ainda cado, mesmo que esse significado trabalhar sem Hoghe a Jérôme Bel. E, agora, de Olga com roupas provisórias, algumas delas de memorização” seja altamente metafórico. Contrasta floreados nem Roriz a Cayetano Soto. já com os fatos de cena. Os bailarinos Olga Roriz grandemente com a visão de Olga metáforas”, Com e sem metáforas vão tomando conta do palco, vemos Roriz: “Há algo sobre os pequenos diz a Aquilo que vimos nos estúdios das uma companhia de dança a dançar, a sacrifícios que todos nós fazemos pa- coreógrafa duas companhias, a semana e meia esgotar-se nessa dança, a mover-se por põem numa fila vertical, envoltos nu- ra satisfazer outros desejos, mas o dada estreia, não podiapodia ser blocos, indiferenteindi às regras tribais; a ma malha crua que lhes retira as for- que eu queria, no fundo, e sem flore- menos próximo. fazer sua a ppartitura de Igor Stravinsky, mas. Fixam o lado oposto da cena e, ados nem metáforas, era trabalhar O estúdiestúdioo libertando-alibertando-a da matemática musical, compassadamente e em silêncio, ao nível do movimento. Como é que, da Com-Com- criandocriando a suasu própria lógica. É a core- atravessam-no sem grande emoção. coreograficamente, podia colocar ografiaografia que se impõe ao resto. O estú- Sobre as suas cabeças pende uma re- ‘aquilo’ de forma minimamente clara dio está vazvazio,i tal como estará o palco. de com pedras cenografadas. A aridez em palco?”. Ainda há tempote até à estreia, mas a do movimento, a sua quase ausência, Os bailarinos de Roriz entram com peçapeça está pronta.pr marca o prólogo da “Sagração”. Mui- espigas, os de Soto trazem pedras. As No TeatrTeatroo Camões, a história é ou- tas coisas continuam por acertar, final espigas serão abandonadas no palco. tra. O ppalcoalco parece ainda maior quan- incluído. As pedras serão atiradas com raiva do os bailbailarinosa da CNB, dirigidos “A história que existe [para trás], e contra o palco. Os primeiros darão pelopelo espanholespanh Cayetano Soto, se dis- o seu peso, não influenciaram em na- forma, através do movimento, a uma Duas sagraçõ para a mesma Primave Apenas com um diad de diferença, a coreógrafa Olga Roriz (amanhã, no Centro Cultural CompanhiaCompanhia NacionalNa de Bailado (hoje, no Teatro Municipal de Faro) estreiam duas r ffundamentalu do repertório clássico. Descobrimos as diferenças. Tiago B

16 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL BILHETEIRA DAS 13H ÀS 20H RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA T: 213 257 650; [email protected] Uma polémica nos bastidores [email protected] / T: 213 257 640 BILHETES À VENDA NA TICKETLINE E NOS LOCAIS HABITUAIS

Num país com fraca tradição na decidido, não havia hipótese montagem de “A Sagração da de integração.” Roriz acha a SÃO Primavera” (Carlos Trincheiras, duplicação “um disparate”: “É CNB, 1984; Millicent Hodson mau para todos, até para o país, LUIZ e Jeff rey Harchey, CNB, 1994 e em termos de gastos.” MAI/JUN ~1O 2006; Marie Chouinard, Ballet Entretanto, Wellenkamp Gulbenkian, 2003), é curioso que propôs ao espanhol Cayetano se assista agora, num mesmo Soto, depois de assistir a uma fi m de semana, a duas estreiam peça do coreógrafo em São que estiveram para ser uma. Paulo, que viesse conhecer a De 21 de Maio Brasil Olga Roriz e Vasco Wellenkamp, CNB e que pensasse em algo 28 E 29 MAI director da CNB, acusam o para integrar o programa a 9 de Junho, H3 toque. dedicado aos Ballets Russes. BRUNO BELTRÃO Roriz: “Não acho que seja Roriz: “A minha peça não o alkantara um direito natural, mas tem futuro aqui. Foi um esforço / GRUPO DE RUA considerando o meu percurso festival, na DE NITERÓI com a CNB, era lógico fazer SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00 Num mesmo SALA PRINCIPAL M/6 isto com eles. Propus ao Vasco sua 3ª edição, [fi nal de 2007], que me disse não fim-de-semana, Beltrão continua a haver dinheiro e me falou-me acolhe cerca de na ‘Sagração’ da Pina Bausch. estreiam duas versões desenvolver o seu próprio O que não fazia muito sentido, 30 performances vocabulário, no desafio entre porque devia ser muito caro que estiveram para a coreografia contemporânea trazê-la”. de dança, de e as várias formas Wellenkamp: “Não acho ser uma que exista melhor versão da teatro e de de street dance. ‘Sagração’ do que a da Pina. fi nanceiro enorme e as datas Está lá tudo. Andei um ano a previstas não pagam os meses tudo o que se EUA tentar convencê-la a dá-la à de espera. A minha esperança é 4 A 6 JUN companhia, sermos nós a fazê- que, num futuro, a CNB compre encontra entre la. Ela não disse logo que não. a peça”. Pode acontecer, admite BARE Mas depois recusou.” Wellenkamp: “Se eu continuar eles, de artistas SOUNDZ Não houve a “Sagração” na CNB, e a Olga estiver disposta SAVION GLOVER de Pina Bausch. E às tantas a isso, admito a hipótese de oriundos de mais SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00 Wellenkamp soube que falarmos na integração DOMINGO ÀS 17H00 Olga Roriz ia fazer a peça no da peça no repertório da de 20 países. SALA PRINCIPAL M/6 CCB: “O programa já estava companhia”. T.B.C. Mais uma vez, O bailarino de sapateado o São Luiz que emprestou os seus pés a Mumble, o pinguim paisagem limpa de metáforas. Os se- A coreógrafa assume que esta peça na, com um saco na cabeça, recorda é o principal de Happy Feet, é hoje gundos cumprirão uma ideia prévia, é “quase uma lição” sobre o seu mo- as agressões em Abu Grahib. “É a ima- visto como um dos procurando que o movimento respon- vimento. No modo como eles e elas gem da vitimização do século XXI”, co-produtor. da a essa ideia. Soto carrega na inten- se organizam numa massa, evoca ou- diz a dramaturga da peça, “mas não grandes revolucionários ção, Roriz liberta o movimento. Com tras peças (“As Troianas”, “Isolda”, queríamos fazer uma peça política”. deste género. ela, os corpos descobrem um prazer “Pedro e Inês”)”: “Revejo um pouco Olga Roriz não andou à procura que não é apenas intuitivo, mas so- tudo o que está para trás. Limitei-me, de significados novos. “Foi-me sufi- Portugal bretudo orgânico. Com Soto, os cor- no bom sentido, a passar por estes ciente aquilo que lá está. Não por 31 MAI pos são afectados (e limitados, talvez corpos com a minha dinâmica, a mi- receio de criar algo diferente. Se qui- 1, 7, 8 E 9 JUN até diminuídos) pela densidade psi- nha história, e a deixá-los respirar. É sermos, tem tudo a ver com os nos-

cológica da dramaturgia. um trabalho físico antes de ser de me- sos dias, mas isto ou estava dentro WWW.TEATROSAOLUIZ.PT AMIGOS morização.orização. De saber de onde vemv de mim ou não estava. Quando che- COLORIDOS Jogos de forças aqueleuele movimento. Parece um espa- guei ao estúdio, ccom tudo escrito UM PROJECTO A amargura de Soto contrasta com a nejarejar de braços, mas vem das costas, para cada uma das cenas e com aqui- esperança de Roriz. E isso tem tudo a vemem de dentro”, diz. lo a que queria dar mais ênfase em ALKANTARA ver com o modo como se olha para o Soto coreografa, à maneira alemã, cada uma delas já na minha FESTIVAL E PRADO legado da “Sagração”. Soto: “Interes- emm cima de uma dramaturgiadramaturgia pprévia.révia. cabeça,cabeça, só ppreciseirecisei de três ÀS 23H00 JARDIM DE INVERNO M/12 sa-me o significado da ‘Sagração’ nos “ParaPara mim, a ‘Sagração’ é a natureza semanas para ter a peça. dias de hoje. Tentei esquecer a músi- humana. Até os piores assassinos têm Foi um jogo de forças, uma ca, por ser tão complexa. Trabalhei uma luz interior, eu quis trazer essa coisa muito física”. Rendez-vous amorosos muitas vezes a favor da música e ou- luzuz para fora, mostrá-la. Quería- para os artistas e blind tras vezes contra ela. Por vezes acho mos uma versão qqueue estivesse Ver agendaagenda de esespectáculospectáculos dates para o público. que esta música não precisa de uma ligada aos dias de hoje. Acho pág. 48 e segs.segs. Um espaço/tempo para coreografia.” Roriz: “A minha musi- importante regressar aos encontros (im)possíveis, calidade não é muito óbvia. Às vezes clássicos e adaptá-los”. acentuo antes do acento, outras vezes É justamente por isso, intensos e apaixonados. para além do acento, ou em cima do que,que, entre os ququa-a- Serão todos encontros acento.” Cesário Costa, o maestro que dros “Adoração da irrepetíveis. dirige a OrchestrUtopica e a Metropo- Terra” e “Sacrífi- litana nesta versão, sublinha que as cio”, surge umauma respirações criadas por Roriz dão ain- bailarina prostra- da mais corpo à partitura. da à boca de ce- ções vera l de Belém, Lisboa) e a s releituras de uma peçaça o Bartolomeu Costa

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 17 O que é que a música escan

Há uma década, quando se pensava em cultura pop ou rock, éramos de imediato transportados para os Esta- SLARAFFENL dos Unidos ou para Inglaterra. À vol- Um dos concertos mais ta não era o deserto, mas quase. Nos últimos dez anos o mercado inglês e entusiasmantes do Festival americano continuam a servir de fa- Spot foi da sua autoria, rol, mas a hegemonia foi-se. Hoje a realidade é fragmentada. Novos cen- misto de vibração rock, tros irromperam. Países que não ti- sentido lúdico pop e nham visibilidade no cenário interna- improvisação jazzística cional afirmaram-se de forma consis- tente. Entre eles a França, Canadá e países nórdicos como a Dinamarca, a Suécia ou a Noruega. Em comum, o facto de terem organismos estatais de apoio à música pop-rock. Na França dos Air, Daft Punk ou Camille há um gabinete estatal que promove a ex- portação da música francesa. No Ca- nadá dos Arcade Fire, Broken Social Scene ou Final Fantasy, a organização Factor reúne dinheiros públicos e também provenientes de rádios pri- vadas. Mas é na Escandinávia que a ligação entre Estado e música mais resultados surpreendentes tem gera- do. “De um ponto de vista internacio- nal há dez anos a cena musical na Di- namarca era inexistente”, diz-nos Henrik Friis, jornalista e um dos res- ponsáveis pela ROSA, organização chapéu-de-chuva de outras estruturas dinamarquesas – entre elas a MXD (Music Export Denmark), sob alçada do Ministério da Cultura – que tem por finalidade suportar a música pop, rock ou de dança, e actualizar rela-

Na Dinamarca a Música RAVEONETTES O duo dinamarquês foi um situação modificou-se dos primeiros a beneficiar a partir da altura em da política de exportação que se percebeu que do governo central, “rock e a pop tinham alcançando projecção internacional na primeira valor económico metade dos anos zero e serviam para ções com autoridades cional, em torno de concertos de gru- próprios levar-se a sério”, afirma. chamar a atenção políticas e culturais. pos nórdicos – 130 – e conferências As condições foram criadas na se- Um dos projectos da com especialistas vindos de todo o gunda metade dos anos 90, quando sobre o país de forma organização é o Festival mundo. agentes da música, como Gunnar Ma- Spot que aconteceu este ano en- dsen, responsável máximo pelo fes- mais eficiente do que tre 21 e 23 de Maio. Realiza- Mais efi ciente tival e também director do ROSA, se há dezasseis anos, do que o marketing mostraram que o campo pop-rock qualquer operação misturando na “A mudança começou a operar-se na também era político. “Quando come- de marketing” segunda cidade viragem do milénio” reflecte Henrik cei havia desconfiança, uma atitude da Dinamarca, Friis. Como acontece em muitos pa- paternalista. Ainda é predominante Aarhus, pro- íses, até aí os dinheiros públicos eram nos departamentos de cultura oficiais fissionais canalizados essencialmente para as da Europa, mas vai mudar aos pou- (cerca de artes performativas, cinema, artes cos”, diz. 1000 este plásticas ou música clássica. “Foram Na Dinamarca a situação modifi- ano) e os próprios agentes da música que cou-se a partir da altura em que se público começaram a compreender que para percebeu que “rock e a pop tinham conven- serem levados a sério, teriam que eles valor económico e serviam para cha- NABIAHA As origens familiares são africanas, mas é de Copenhaga uma das cantoras mais conhecidas do momento na Não é por acaso: nos últimos anos os países nórdicos t Dinamarca. Acabou de no pop-rock. No Festival Spot, em Aarhus, Dinamarca, p lançar o álbum “Cracks” impulsionadores dessa nova realidade. Vítor B

18 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon tem? VIVA A SARDINHA! andinava 14 MAIO / 15 JULHO

jada pelos organismos especializados na exportação. “A estratégia inicial EFTERKLANGB foi entrar na Alemanha e, depois do O seu último álbum, “Magic sucesso quase instantâneo, fomos entrando progressivamente na Bélgi- Chairs”, acabou de ser ca, França ou Holanda”, revela Chris- lançado pela editora tian Hald Buhl, director estratégico inglesa 4 AD. São dos do MXD – Music Export Denmark – FESTA DO FADO outro dos organismos que na Dina- grupos dinamarqueses marca lidam directamente com o 3 A 27 JUNHO mais entusiasmantes pop-rock, ao lado do ROSA, Ministé- rio da Cultura, Fundação das Artes e do momento Concílio das Artes. “É um processo PÔR-DO-FADO moroso, qualquer coisa que os polí- 3, 10, 17, E 24 JUNHO ticos nem sempre percebem, mas QUINTAS, 19H gera resultados – para um país peque- MUSEU DO FADO no é óptimo termos a capacidade de 3 JOSÉ MANUEL NETO CONVIDA CAMANÉ realizar 3000 concertos, anualmente, M/3 fora de portas.” Através do MXD são suportadas diversas iniciativas de exportação. FADO NO CASTELO 4, 5, 11, 18, 19, 25 E 26 JUNHO “Há apoios directos a digressões de SEXTAS E SÁBADOS, 22H bandas, criação de parcerias interna- CASTELO DE SÃO JORGE cionais e presença em acontecimen- tos e festivais”, revela Christian Hald 4 CRISTINA BRANCO CONVIDA Buhl acerca de algumas das diligên- JOÃO PAULO ESTEVES DA SILVA E CARLOS BICA cias do MXD. 5 A NAIFA CONVIDA CELESTE RODRIGUES 12,5Ô M/3 Festival para gente curiosa É neste contexto que o Spot foi cres- NOITES DE FADO cendo. Não para os lados – “não que- 5, 12, 19 E 26 JUNHO remos ser o maior festival e o que tem SÁBADOS, 22H mais zonas VIPs, mas o melhor a criar FÁBRICA BRAÇO DE PRATA um ambiente de comunicação entre todos”, verbaliza Gunnar Madsen. A HÉLDER MOUTINHO, RICARDO PARREIRA, primeira qualidade do festival “é MARCO OLIVEIRA E YAMI atrair a atenção sobre a Dinamarca e 8 Ô M/16 em particular a sua música”, acres- centa. NO ADRO DA IGREJA É uma plataforma que ajuda à co- RODRIGO municação entre os diversos agentes 6, 20, 27 JUNHO no sentido de partilharem uma visão MIRADOURO DE SANTO ESTÊVÃO comum. “É importante mantermo- nos juntos se queremos ter alguma FERNANDO SILVA, JAIME SANTOS influência junto dos políticos” diz, E ANTÓNIO MOLIÇAS referindo-se ao contexto europeu em M/3 geral – o Spot integra uma federação de 18 festivais, franceses, belgas, ale- FADO CELESTE mães, húngaros e canadianos – e em 7 JUNHO particular à Dinamarca, pelo facto de SEGUNDA, 22H ainda existir uma grande diferença CINEMA SÃO JORGE entre o apoio estatal dado à música DOCUMENTÁRIO DE DIOGO VARELA SILVA mar a atenção sobre o país, de uma co” reflecte Friis. “É natural, se pen- clássica e ao pop-rock. M/12 forma mais eficiente do que qualquer sarmos que 45 por cento da música “Todos os anos se discute qual será operação de marketing.” adquirida na Dinamarca é de produ- a forma mais eficiente dos impostos NOITES DE FADO Na actualidade inúmeros músicos ção local. Mas as mudanças do mer- serem utilizados, na relação entre 8, 15 E 22 JUNHO dinamarqueses tocam em salas euro- cado, a queda na venda de CDs, o clássica e pop”, realça Gunnar. “Qua- TERÇAS, 23H peias, circulam pelos festivais de todo esgotamento das grandes editoras e se 90 por cento dos dinheiros públi- CHAPITÔ M/16 o mundo e são alvo da atenção da im- todas as outras transformações, fize- cos disponíveis ainda vão para a clás- prensa internacional. A educação ram-nos ver que o mercado dinamar- sica, embora 90 por cento do público RICARDO ROCHA, MARCO OLIVEIRA E JOÃO PENEDO musical obrigatória desde a escola quês [5, 5 milhões de habitantes] seria prefira espectáculos de pop, rock ou primária, os diversos apoios estatais sempre pequeno. Era necessário pe- electrónica. Ainda não existe equilí- O FADO E A REPÚBLICA e as novas formas de produção e dis- netrar noutros mercados internacio- brio. Mas isso vai mudar”, afiança. JUNHO E JULHO tribuição digital foram importantes, nais.” Foi isso que foram fazendo Esta confiança tem razão de ser. “Já TERÇA A DOMINGO, 10H ÀS 18H mas outro factor conduziu à aposta grupos como os Mew, The Raveonet- passei os cinquenta e muitos políticos MUSEU DO FADO decisiva na exportação. tes, WhoMadeWho, Efterklang, Kis- que, como eu, cresceram a ouvir rock SEGUNDA A SÁBADO, 14H ÀS 20H “Há dez anos a maior parte dos mú- saway Trail, Future 3, Slaraffenland também. Eles terão uma sensibilida- SOCIEDADE NACIONAL DE BELAS ARTES sicos, editoras e outros agentes ape- ou Trentemoller. de diferente para o assunto, em rela- EXPOSIÇÃO nas pensavam no mercado domésti- Uma atitude que foi sendo encora- ção às gerações mais velhas.” PARA TODAS AS IDADES TODA A PROGRAMAÇÃO EM WWW.FESTASDELISBOA.COM

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s têm tentado contrariar a hegemonia anglo-saxónica G?>C;J;LNH?LM DILH;FI@C=C;F N?F?PCMÅII@C=C;F

, percebe-se que o investimento do Estado foi um dos silva!designers r Belanciano, em Aarhus, Dinamarca

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 19 Os dinamarqueses Kiss Kiss Kiss, num rock electrónico de dinamismo dançante

O público do festival parece com- partir de uma série de critérios”, afir- provar o que diz. Ao contrário do que ma Friis. “No caso das digressões in- acontece, por exemplo, em Portugal, ternacionais, percebendo quantas parte considerável está na casa dos datas são, as salas, os contactos que 40 ou 50 anos. “Criámos um festival serão efectuados com a imprensa, para gente curiosa. Gostam de saber etc.” o que se anda a fazer. Há cada vez Não é só na Dinamarca que esta mais gente a criar música e o público, política tem dado resultados. Ao lado, de todas as idades, tenta acompanhar na Suécia dos The Knife, El Perro Del esse movimento.” Mar, Jens Lekman, Likke Li, JJ, Frida Os Slaraffenland foram um dos pro- Hyvonen, Peter Bjorn & John, Studio jectos dinamarqueses a beneficiar do e I’m From Barcelona ou na Noruega investimento estatal. Um dos mem- dos Kings Of Convenience, Annie, bros do grupo, Niklas Antonson, re- Sondre Lorche, Lindstrom, Jaga Ja- conhece a importância do incentivo, zzist ou Hanne Hukkelberg, o pano- principalmente no início do percurso. rama é semelhante. Todos os anos “Recebemos dinheiro para a gravação milhões em dinheiros públicos são dos primeiros discos e também para gastos em promoção, vídeos, digres- Festival Spot digressões”, conta, ressalvando que sões ou festivais. “Um dos aspectos a sua geração já cresceu com o siste- positivos é que nos podemos concen- ma firmado. “É qualquer coisa que trar nos aspectos criativos”, diz An- todos os contribuintes aqui aceitam tonson, sublinhando que a “naciona- a montra nórdica e fazem questão de assegurar.” lidade não é importante, mas é im- É uma comissão de peritos que de- portante a forma como tratamos a É muito mais do que um simples festival. É uma vitrina para a música dinamarquesa e cide quem e como deve ser apoiado música”, referindo-se ao facto de na outros países nórdicos como a Suécia, Noruega, Finlândia ou Islândia. Vítor Belanciano o que gera sempre insatisfação junto Dinamarca a aprendizagem ser reali- de quem é preterido. “Decidimos a zada desde muito cedo. “Andei em várias escolas desde pu- to”, explica, “e isso é o mais impor- Ao longo de três dias são tenta revelar uma realidade Jenssen, esta em versão mais “Quando se é de tante”. Acrescenta que “quando se é 130 concertos, divididos por complexa de forma simples.” cabaret. de um país pequeno tem que existir sete espaços a funcionar E de afi rmação internacional. O que há imenso são projectos um país pequeno um esforço extra para nos darmos a em simultâneo, na Casa da “Convidamos gente de todo o do universo da neo-folk. Em conhecer.” O que o músico dos Slara- Música de Aarhus – edifício mundo, porque essa é a melhor evidência o duo Murder, tem que existir um ffenland quer dizer é que ingleses e institucional que parece o forma de mostrar a nossa praticantes de folk sóbria esforço extra para nos americanos obtêm atenção de forma Centro Cultural de Belém – e música.” mas intensa; as também quase natural. Países como a Dina- alguns locais adjacentes. E o que andam a criar dinamarquesas The Sad Lovers, darmos a conhecer” marca, a Suécia ou a Noruega têm de O que espanta, em primeiro os nórdicos? Alguns dos com folk melancólica; ou The lutar por ela. E estão a fazê-lo. lugar, é a organização. A maior grupos mais conhecidos Rumour Said Fire, obreiros de Niklas Antonson, parte das salas interiores internacionalmente que folk-pop fulgurante, como os O Ípsilon viajou a convite da Embaixa- esgota, mas há tranquilidade, passaram pelo festival, como os americanos Fleet Foxes. Slaraffenland da da Dinamarca mesmo quando já não é possível dinamarqueses The Blue Van Dois dos concertos mais entrar. ou os Thee Attacks, apostam arrebatadores foram Depois surpreende a quase num rock directo e áspero que proporcionados por duas ausência de ostentação tem seguidores. Outros, como formações que praticam publicitária, e a média etária dos os dinamarqueses Kiss Kiss uma música electrónica pop espectadores, imensa gente na Kiss, num rock electrónico de com laivos de soul e R&B. casa dos 40 ou 50, ouvindo o que dinamismo dançante, enquanto Os dinamarqueses Quadron de mais recente e alternativo se os Kissway Trail se destacam puseram toda a gente a cantar e faz hoje nos países nórdicos. pela forma como digerem a mover-se à Prince, enquanto os Para além dos propósitos elementos dos Arcade Fire ou Vinnie Who conquistaram com artísticos, existem os políticos: dos Sonic Youth, tendo criado uma pop electrónica inspirada “é necessário saber comunicar alguns dos momentos mais no “disco” e no funk, quase com os políticos”, diz o director entusiasmantes dos três dias. sempre à beira da euforia. Gunnar Madsen, “e este No campo das linguagens Evidentemente que não há festival é essa ferramenta que mais difíceis de catalogar, nenhuma unidade de ponto de destaque para o espectáculo vista estético. Mas nota-se em conjunto dos Efterklang com quase todos os projectos uma os Slaraff enland (o projecto apetência pelos extremos – as Slaraff enklang), e para canções pop são assumidamente respectivos concertos solitários joviais ou totalmente ingénuas, Surpreende de ambos os grupos. os momentos de rock são Qualquer das formações é sentidos com veemência e a ausência capaz de resgatar elementos os movimentos de dança são de rock oblíquo, jazz ou pop de vividos à beira da exaltação. de ostentação câmara e fazê-los coincidir num O Spot é um acontecimento. corpo sónico singular, com a Aarhus vive-o como tal. Os publicitária, mais-valia de afi rmarem uma hotéis esgotam. As ruas e a média etária personalidade vibrante em animam-se. Há festa. O sucesso TRENTEMOLLE concerto. do festival mede-se por isso, dos espectadores, A electrónica falsamente mas também pela forma como Nos últimos anos também ingénua, de contornos coexiste num ambiente global a música electrónica de com imensa gente pop, esteve em evidência que permite que tal aconteça: no excelente concerto dos um sistema de educação onde dança feita na Dinamarca na casa dos 40 ou 50, islandeses FM Belfast ou a música importa; um circuito galgou fronteiras. Um dos ouvindo o que do sueco Per England. Pop de salas coeso; revistas e melhores exemplos é assumidamente festiva, na jornais que parecem contrariar de mais recente esteira da inglesa Lily Allen, foi a crise da imprensa; um Anders Trentemoller o que se ouviu no espectáculo público curioso; o poder local e alternativo se faz da dinamarquesa Nabiha, uma empenhado; e um poder central das cantoras de maior sucesso que percebe o alcance do que nos países nórdicos no país, ou da sueca Amanda está a ser construído.

20 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon Ana Laíns Em nome do pai Ao segundo disco, Ana Laíns escolheu “Quatro Caminhos” para pôr uma vida lá dentro, a sua. Ligada ao fado, mas não só: há aqui outras músicas, à mistura com emoções pessoais. Nuno Pacheco

Não é fácil resumir uma vida, mas a de Ana Laíns pode sintetizar-se assim: canhar de Aquiles. É uma relação de bada, que acha que a filha é a melhor o meu primeiro disco, tivemos uma nasceu em Tomar, em 1979, cantou o amor-ódio.” do mundo.” O pai, “militar de carrei- discussão brutal. Eu estava em casa fado pela primeira vez em público em Fora dessa relação está a sua parti- ra, [que] nunca passou de sargento”, a ouvir os temas em bruto, aquilo es- 1995 (tinha 16 anos), foi vencedora da cipação no tema “Amazing Grace”, teve uma atitude que a marcou muito. tava ainda muito mau, o meu pai Grande Noite do Fado em 1999, lançou de Boy George, a convite deste, no “Era o ser humano mais completo que abriu a porta muito desgostoso e dis- o primeiro disco em 2006 (“Sentidos”) verão de 2009, “uma experiência bas- eu conheci. Quando eu, com 17 anos, se: ‘Então é essa porcaria que tu vais e aparece com o segundo agora, em tante enriquecedora”. Ana canta logo acabei o 12º ano e lhe disse que não gravar?’ Chorei tanto, de nervos, que 2010 (“Quatro Caminhos”). Desta vez, no início, e em português “Fui eu que estava certa de continuar a estudar disse para mim que ele não ia ouvir Ana também quis resumir uma vida, fiz aquele bocadinho da letra, depois porque gostava mesmo era de cantar, mais nada até ter o resultado final. E a sua. E pôr no disco muito do que lhe de ouvir a música até à exaustão.” ele engoliu em seco, ficou com a lágri- ele já não pôde ouvir.” Teve um AVC, diz respeito. Teve, tal como no primei- (está no YouTube, em “Amazing Gra- ma no olho, mas disse que se era isso aos 52 anos. Uns escassos dez segun- ro, a ajuda do guitarrista Diogo Cle- ce, original mix”). que eu queria, ele ajudava-me. Dois dos. Ela estava na Madeira. mente, mas também de Amélia Muge, ou três dias depois viemos para Lisboa “A ‘Parolagem da vida’ [de Drum- que assina três canções em 13. Vitória pessoal procurar um quarto para eu começar mond de Andrade] é o tema que eu “Foi uma aposta que podia ter cor- Mas “Quatro Caminhos” tem outras a bater às portas”. dedico ao meu pai. Não o escrevi na rido mal”, diz Ana, “porque eles não justificações: “O facto de o meu pai E as portas foram-se abrindo, em dedicatória, porque chega-me a mim se conheciam. Mas acabou por fun- ter falecido sem conhecer o meu pri- Portugal e no estrangeiro. Cá, nos úl- saber, de mim para ele. Com todas as cionar e o resultado final acaba por meiro disco, e de eu já não ter a pos- timos dez anos, ficou muito ligada ao limitações que encontrei por não ter ter uma grande percentagem de ‘cul- sibilidade de lhe dedicar toda a minha Casino da Figueira, a que chama casa. um caminho muito ortodoxo, há mo- Ana Laíns pa’ quer da Amélia quer do Diogo. E emoção, pesou muitíssimo. Depois, Foi lá que conheceu o marido, o pia- mentos em que me questiono se isto dedica foram os dois ao encontro daquilo todas estas ambiguidades em relação nista Paulo Loureiro, e que estreou os vale a pena. O que me mantém é sen- “Quatro que era essencial para mim, que era ao fado tinham de estar patentes.” Dos seus discos, antes de os levar a outros tir que ia defraudar a confiança do Caminhos” eu rever-me a cem por cento neste pais, Ana teve sempre apoio. A mãe palcos (“Quatro Caminhos” foi lança- meu pai. Este disco tem também esse ao pai, que disco.” Não foi fácil: “Foi complicado também cantava quando era nova, do no Instituto Franco-Português). lado de vitória pessoal.” morreu antes e estimulante. Complicado, porque como amadora, num coro em Ourém, Mas o pai não chegou a ouvi-la can- de ela lançar o superei todos os meus limites como e Ana diz que ela “é a típica mãe ba- tar. “Da última vez que falámos sobre Ver crítica de discos págs. 44 e segs. primeiro disco intérprete. Tive alguma dificuldade em conseguir ser cinco ou seis pesso- as num só dia, quase em simultâneo, porque os temas pediam interpreta- ções diferentes, num apelo ao eclec- tismo que é talvez a minha grande mais-valia. Mas foi também estimu- lante, pela capacidade de me superar e tornar este disco tão meu, por todos os aspectos em que eu estive envolvi- da, o que não aconteceu no primeiro disco.”

Esse eclectismo de que Ana Laíns Música fala já lhe trouxe dissabores. Certa noite, saiu de uma casa de fados des- gostosa pela forma como a tinham tratado. E escreveu de um fôlego a letra de “Não sou nascida do fado” (que está neste disco): “E se eu não nasci do Fado/ Nem da Saudade de alguém/ Se o fado me foi negado/ Eu não nasci de ninguém.” Mas isso não a fez deixar as casas de fados. “Canto em várias, depende de quando é ne- cessária a minha prestação de servi- ços.” E há alturas em que é ela própria que sente necessidade dessa entrega. “O fado é e será, ao longo da minha vida, a minha maior questão pessoal. Porque se eu me identifico com o fa- do, com o que ele diz sobre nós, com a forma musical e poética que ele tem, ao mesmo tempo tem sido o meu cal-

“O fado é a minha maior questão pessoal. Identifico -me (...) com o que diz sobre nós (...), mas ao mesmo tempo tem sido o meu calcanhar de Aquiles. É uma relação de amor-ódio”

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 21 PAULO CASTANHEIRA PAULO

Duas vocalistas, Telma e Helena, mond, com violino enrolado nos co- Nós estamos certos que se trata da estão no quarto transformado em ros luxuriantes e a guitarra picada mesma pessoa. Ele garante-nos que “Muita gentente nosnos estúdio a aperfeiçoar harmonias vo- sobre o ritmo: um Gainsbourg sem não. “Não existem. No mundo do cais. Vemo-las da sala, através da cinismo, a atirar-se a um bolero de Gonçalves, Gonçalo Tocha e os Tocha meus espectáculosctáculos porta envidraçada. Na sala estão o solidão. E o Gonçalo Gonçalves que & Pestana não existem.” sai à primeiraeira produtor Rocha Alves, a conduzir promete destruir o mundo (se pudes- Temos então Gonçalo Gonçalves e tecnicamente as operações, e Gon- se, ai se ele pudesse) “só para te ouvir a sua história. Tudo começou, como música. Gostoosto dissodisso.. çalo Gonçalves, o autor da canção. respirar.” Gonçalo Gonçalves, o can- não podia deixar de ser, com uma Gonçalves vai orquestrando a ses- tor romântico que só podia ser aban- tragédia e um desejo de fuga. “Há uns É mais sincero.cero. SSee são. Pede mais “sumo” nas vozes das donado – “há um lado de falhanço 15 anos, aceitei um trabalho em cru- cantoras. Insurge-se quando Telma total no meio de tudo isto”, dirá -, o zeiros por causa de uma situação faço isto, tenhoennho ququee lhe mostra o que pensou cantar: “eu jovem cantor romântico de uma épo- amorosa meio trágica. Tive que fugir, mato-te se fizeres bossa nova!” – não ca em que “esses cantores desapare- fugir de tudo.” aceitar quee qquemuem é ameaça de ditador, o tom é amis- ceram, em que essa ideia de cantor Viajou pelo Mediterrâneo, pelas está do outrotro ladladoo toso. Depois de alguns takes consi- acabou.” Anacronismo, isto de recu- Caraíbas. Viu os palcos que todos os derados pouco satisfatórios, o pro- perar canções e cantores raramente cruzeiros tinham e os artistas que por pode não qquereruerer dutor sugere que talvez Gonçalves considerados pelo bom gosto? Uma lá passavam. Fascinavam-no esses devesse juntar a sua voz às de Telma intervenção de exotismo kitsch, qual cantores, a postura dessa “classe qua- ouvir” e Helena. Impossível. “O artista não pós-modernismo para urbano bem se extinta”. Observou. faz coros. O cantor romântico não pensante apreciar? Gonçalves não Até que, depois de atracar em Ham- tem duas vozes”. Neste ponto, é ir- sabe: “não faço ideia se estes cantores burgo, depois de descer até Bruxelas, redutível. Gonçalo Gonçalves? Ele [os que lhe vemos dispostos pela pa- deu-se a descoberta que o conduziria mesmo, o auto-intitulado “Cantor rede e na colecção de vinil] eram con- até aqui. Mais de cem vinis numa ma- Romântico Abandonado”. Deixemo- siderados ‘kitsch’ ou de mau gosto nos la. Cantores belgas e franceses, os sons lo revelar-se. anos 1970.” Não quer saber: “Quando dos órgãos e das guitarras, as grandes “Vivo aqui há pouco tempo”, con- os descobri, aqueles artistas não eram capas e os grandes olhares: “Foi todo ta-nos num intervalo das gravações um passado. Eram o meu presente, um imaginário que se revelou”. E que do seu single de apresentação, “Ho- eram uma descoberta.” não parou de crescer e de se diversi- ney / Sei Que Não Apareço Nos Jor- Eram o início daquilo que, depois ficar. “Coleccionador fervoroso”, nais” (edição a 29 de Maio, em vinil), dos concertos esporádicos ou das ses- mostra-nos o seu primeiro álbum de quando corria o mês de Abril. “Ain- sões de DJ que mantém desde 2007, Julio Iglesias (“tem uma versão do da bem”, explica, “assim, transfor- se revelará agora declaradamente. Dia ‘Abril em Portugal’”), fala-nos do me- mou-se na casa do Gonçalves, no 29 de Maio, no Espaço Âncora, na Rua xicano José José, disserta sobre a meu museu privado”. Garrett, em Lisboa, Gonçalo Gonçal- “schlage musik” alemã, onde des- Nele instalados, prepara-se para ves apresentará o seu primeiro single, taca nomes como Udo Jürgens, nos mostrar uma versão inacabada num acontecimento integrado na pro- Michael Holm ou Peter Alexan- de “Sei que não apareço nos jornais”. gramação do Chiado After Work. Um der. Gonçalves, estudioso da “Esta merece outro cenário.” Carre- cocktail, a projecção do documentá- canção romântica, é de uma ÇALO ga no interruptor e acende-se a gam- rio de Miguel Cabral, “Gonçalo Gon- precisão clínica: “‘Honey’ é GON biarra que ali fica, tremeluzente. çalves: O Meu Passado é o Futuro”, inspirado pelo Hammond do ES LV , Carrega noutro e a bailarina de “bél- depois o concerto e a sessão de autó- álbum do Roberto Carlos, NÇA Tocha GO onçalo le époque”, num bibelot que é fonte grafos para que o cantor abandonado ‘Em Ritmo de Aventura’, e, u não G e ser o iado no iluminada, começa a dançar. Obser- se sinta mais acompanhado. na parte mais eléctrica, na pod r prem ” alizado Balaou vamos as paredes da sala, decoradas canção ‘Tropece con la mis- re 7 com “ oa 200 duo com LPs: Sidney Magal e sua cabe- A mala dos cem discos ma piedra’, de Julio Iglé- dieLisb bro do In o mem leira cigana, Julio Iglesias e seu bron- Gonçalo Gonçalves pode ser ou não sias.” e, com a Marc e qu a, cruz ze latino, Elvis e seu fato Las Vegas. Gonçalo Tocha, realizador premiado No vídeo de “Ai, se eu te Pestan l Tocha arraia Atrás do gira-discos, o interior da ca- no Indie 2007 com “Balaou” (melhor amara”, o primeiro de Gonça- lan com pa de um disco de Roberto Carlos e filme e melhor fotografia) e que, como lo Gonçalves, vemo-lo atraves- Bo ro de bair o Rei ele mesmo, quando era jovem membro do duo TochaPestana, cruza sar uma cortina dourada e surgir e menos católico, montado em mota Marc Bolan com arraial de bairro e de caracóis penteados e bigode de saída de um “Easy Rider” carioca. cria um glam popular tão à vontade Errol Flynn bem aparado. Aproxima- Começa a canção. Uma pequena nos santos populares lisboetas quan- se do microfone, fio ao pescoço e fato

maravilha de piano e órgão Ham- Música to em clube sofisticado berlinense. azul-marinho, e canta. Canta até nada Um cruzeiro, uma mala, um novo cantor ro É um cantor romântico em tempos pouco dados ao romantismo. Inspirado por Julio Iglesias, Roberto Carlos e de mil outros resgatados ao esquecimento, dedica-se à arte de chegar “à verdade através do artifício.” O “Cantor Romântico Abandonado” edita o primeiro single a 29 de Maio. Em vinil, claro. Vermelho. Mário Lopes

22 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon direcção artística Cesário Costa METROPOLITANA

TEMPORADA 2009|2010

restarrestar senãosenão um verso,verso, “te“ Que é então Gonçalo Gonçalves? METROPOLITANA 18 ANOS | IDADE MAIOR quiero”.quuiero”. Repete-o,Repete-o, mmaisa “Uma pequena revolta pessoal” e súplicasúplica que sedusedução,çã uma forma de activismo dissimula- Concerto Comemorativo do 18.º Aniversário da Metropolitana atéaté que a situação sse da: “Isto que estás a ver aqui [apon- torna cómica,cómica, atéat ta para a capa do seu disco] é uma que agarra o cora-cor imagem que projecta qualquer coi- ORQUESTRA METROPOLITANA DE LISBOA çãoção ddaquiloaquilo qqueu sa, como acontecia com todos os tantotanto lhe agradaagrad cantores românticos. O que vemos JOANA CARNEIRO direcção musical nestanesta música:música: “A“ actualmente é que esses cantores cançãocanção tem dde desapareceram e essa ideia de can- ser dramatiza-dramatiz tor desapareceu. Existe agora um da,da, é isso qqueue a outro tipo de imagem, vivida com Antonín Dvořák (1841-1904) tornatorna fortforte.e muitos efeitos à volta da pessoa. A Sinfonia do novo mundo Mas tem quque pessoa está lá no meio, mas perde- haverhaver alalgumgum mo-la.” Por isso, Gonçalves prefere nívelnível de ccren-ren expor-se, enquanto corpo de cantor ça, ttiveive qqueu de exuberância castiça, e cantar ro- Quinta-Feira, 10 Junho, 21h00 sentir na pepele mantismos a contracorrente do tem- Centro Cultural de Belém | Grande Auditório o queque canto.”canto po. “Muita gente nos meus espectá- Para GonGonçaloçal culos sai à primeira música. Gosto Gonçalves,Gonçalves, a disso. É mais sincero. Se faço isto, cançãocanção romromân-ân tenho que aceitar que quem está do ticatica é isto: “A cca- outro lado pode não querer ouvir, pacidadepacidade de cche-h pode não querer saber, pode não gargar à verdade ppeloe querer receber uma coisa destas.” artifício”.artifício”. Mas persiste. Persiste no artifício Inscrições abertas nas Escolas da Metropolitana Claro que nada ddis-i para chegar à verdade. + info em www.metropolitana.pt toto é ppacífico.acífico. O mais ffá- Ao vivo, toca canções acompa- cil e olhá-lo e só ver artifício.artifício. Ora,Or nhado de viola e órgão infantil, can- o mais inteinteressanteressante em GonGonçal-ça ta outras sobre o suporte musical ves é a formaforma como dá a volta aoa registado em CD – está a pensar gra- texto.texto. var os instrumentais no vinil e levar No documentáriodocumentário “O passadopassad um gira-discos para o concerto. O é o meu futuro”,fuuturo”, é filmadofilmado papas- “Cantor Romântico Abandonado” seandoseando pelapele a praiapraia em diadia invinver-e não pode partilhar a sua solidão. noso,noso, entreentre espumaespuma de polui-polu Gonçalo Gonçalves destaca Tony ção, não eemm cenário idílico nasna de Matos como o grande romântico Bahamas.Bahamas. NNosos vídeosvídeos e nono dis-di português. Um resistente. “É inte- co, as mmulheresulhu eres a quem dirigedirig ressante que ao chegar aos anos as cancançõesçõees sãosão corpo ausente,ausent 1980, quando cantou o ‘Sou Român- são o destinatáriodestinatário a quemquem a tico’ e o ‘Cantor Latino’, ele assume vozvoz não chegará.chegará. Por alalgumagum ainda mais a postura do cantor ro- razãorazão GGonçalvesonçalves nos disdisses mântico”. Entusiasmado, descreve- antes,antes, “há“há um lado de ffalhan-alha nos então “Nó de laçada”, canção é ço totatotall no meio ddisto.”isto.” RRe- vídeo correspondente. Só isto: “Um cuperamoscuperamos a iideia.deia. “Se ccor-o bar de hotel vazio, um whiskey e um resse tudotudo bem não haviahav cigarro.” Uma voz que canta na so- cançõescanções para escrever. MasMa lidão são falhançosfalhanços que tentotent Gonçalo Gonçalves, vinte anos exorcizar.exorcizaz r. UmaUma comédiacomédia trá-tr depois, só podia olhá-lo e ouvi-lo gica, mmasas essa é a únicaúnica so-s com admiração. É o “Cantor Român- luçãolução queque existe. Claro qqueu tico Abandonado” e encena comé- nada ssalva.alva. Nenhuma arteart dias trágicas em tempos pouco da- salva.salva. MaMMass exexorciza.”orciza.” dos ao romantismo. romântico

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 23 “Voyage of the Beagle”, de Rachel Harrison, cita o livro de Charles Darwin e mostra um conjunto de retratos avesso à qualquer teoria da evolução

Já aconteceu. Um dia, movidos por Crowner, Mariana Castillo Deball, Eric uma curiosidade teimosa, vimos, le- Duyckaerts, Ay e Erkmen, Hans-Peter mos, olhámos qualquer coisa que não Feldmann, Peter Fischli & David compreendemos. Ou que nos inco- Weiss, Rachel Harrison, Giorgio Mo- modou. “Les Carabiniers” (1963), de randi, Matt Mullican, Bruno Munari, Jean-Luc Godard, um quadro de Joa- Nashashibi/Skaer, Falke Pisano, quim Rodrigo, um desenho de André Jimmy Raskin, Frances Stark, Rose- Masson ou um livro de William Faulk- marie Trockel, Patrick van Caecken- ner. Mas não lhe chegámos a virar as bergh e David William. costas. Deixámo-los pendurados na memória. À espera de novo reencon- O consenso é o pior inimigo tro por vezes, até, noutras obras. O conceito da curadoria reenvia-nos, A arte contemporânea (como o me- na posição de espectadores, para o lhor cinema) é generosa neste tipo de primeiro parágrafo: trata-se aqui de situações. Brinca com a nossa curio- saudar (e recordar) a dimensão espe- sidade, anima a nossa percepção e o culativa do conhecimento e sublinhar nhecimento pode conter a arte?” “‘Para o cego no interroga o primeiro sobre a qualida- nosso conhecimento, exaspera-nos, a necessidade da curiosidade em de- A pergunta feita pela arte à arte não de de uma pintura e obtém a inevitá- confunde-nos. E “Para o cego no trimento da compreensão. Detenha- esquece, claro, o espectador. Pelo quarto escuro…’ tenta vel resposta: miau. “Interview with quarto escuro à procura do gato pre- mo-nos no título. O que significa afinal contrário: “Não é apenas a natureza a Cat” (1970) é uma peça sonora de to que não está lá”, colectiva que inau- “Para o cego no quarto escuro à pro- da obra que está aqui em causa, mas tornar a experiência Marcel Broodthaers e, para Anthony gura hoje, na Culturgest organiza-se cura do gato preto que não está lá”? também o conhecimento e a compre- Huberman, uma das obras que me- como um palco possível desse jogo. Esclarece o curador: “É uma frase atri- ensão de quem vê. ‘Para o cego no da obra de arte uma lhor denota a exposição. “Parece ha- Com a curadoria de Anthony Huber- buída ao Darwin em que ele troça da quarto escuro…’ tenta tornar a expe- ver a urgência em explicar, mas no man chega a Lisboa depois de passa- incapacidade dos matemáticos em riência da obra de arte uma situação situação agradável fim não há explicação. Apenas a obra. gens, em diferentes versões, pelo descreverem e explicarem a natureza. agradável em vez de uma fonte de an- em vez de fonte de Esse foi o critério da selecção dos tra- Museum of Contemporary Art de De- Entretinham-se em especulações abs- siedade provocada pela incompreen- balhos. A maioria partilha a vontade troit, o Institut of Contemporary Art tractas, em vez de buscarem classifi- são. Um motivo de prazer, diverti- ansiedade provocada de explicar algo. Pode ser através da de Londres e o centro de arte De cações e dados científicos, como ele mento, aventura, como o próprio entrevista, como faz Broodthaers, de Appel em Amesterdão. A lista de ar- fazia. Ora, esta exposição está exacta- pensamento especulativo. A ideia de pela incompreensão” uma ideia de diagrama, como sugere tistas é superlativa e diversa, juntando mente do lado do matemático, do ce- jogo é central”. Matt Mullican, de uma visita ao Me- nomes de épocas e movimentos dis- go. Favorece outro tipo de conheci- Entretanto, escutam-se algures um Anthony Huberman, tropolitan Museum of Art ou do re- tintos e distantes. Senão vejamos: há mento, que não existe de acordo com gato e a voz de um homem. Um pou- sultado de uma pesquisa. Existe um um autor anónimo e Dave Hullfish o que é verdadeiro ou falso. Faz antes co mais de silêncio e atenção e per- comissário ‘fala’ mas sem explicação ou inter- Bailey, Marcel Broodthaers, Sarah a seguinte pergunta: que tipo de co- cebe-se uma conversa. O segundo pretação”. Resta, então, a curiosida- FOTOGRAFIAS DE NUNO FERREIRA SANTOS FOTOGRAFIAS Nesta exposição a curiosidade não matou o gato “Para o cego no quarto escuro à procura do gato preto que não está lá” mostra obras de artistas fundamentais da arte moderna e contemporânea e desafi a o espectador a fazer uso da curiosidade. A favor da experiência, do jogo, do desconforto perante aquilo que, não sendo compreensível, pode mudar a percepção do mundo: a obra de arte. Na Culturgest, em Lisboa. José Marmeleira

24 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon “Chapeau! (Hats Off)” é uma escultura que conta a história de um homem que transporta as suas histórias dentro das inúmeras gavetas que forram o seu chapéu de, o repto ao jogo da curiosidade, de outro de modo: não corremos de tendida a desconfiança que comissá- oportunamente assinalado num livro risco de pregarmos apenas para os rio continua a manifestar perante o que mostra uma ilustração, datada convertidos? “Com efeito, é preciso excesso de informação [articulada de 1672, do “Wunderkammer,” o ga- alguma informação para termos no artigo “I (not love) information”, binete de curiosidades onde se mos- curiosidade sobre algo, mas também publicado em 2007 na revista Afte- travam objectos, animais, plantas, é necessário perceber quando deve- rall]. “Não digo que haja demasiadas pinturas originários de lugares exó- mos interromper esse fluxo. Daí a exposições, artigos, ensaios ou livros. ticos e distantes; um lugar que nos ideia de jogo, de história, que se con- É fantástico que haja tanta a gente a séculos XVI e XVII podia ser habitado ta, com humor e espírito lúdico, na pensar a escrever. O que me desagra- sem ser compreendido. O antepassa- Culturgest. Mas o que está a dizer é da é que as pessoas privilegiem a in- do do museu de arte. importante: existem pessoas que se formação em detrimento da experi- “Em vez de procurarmos perceber sentem desconfortáveis ou estão pou- ência. Se existe uma batalha, então ou descodificar a arte, é mais interes- co interessadas em lidar com algo que essa é a batalha que me interessa. E sante deixar que a curiosidade surja não conhecem”. esse é um grande problema não ape- diante do objecto artístico”, conside- A história que Anthony Huberman nas da arte, como de toda a civiliza- ra. “Creio mesmo que a arte nunca é refere tem outro lugar para além da ção.” totalmente compreendida e que o exposição. Encontra-se no fascinan- E no citado artigo, uma frase so- consenso é um dos seus piores inimi- te livro/catálogo homónimo (com bressai: “A não compreensão, o não gos. Quem pode afirmar que compre- direito a menção laudatória ao gra- entendimento [da obra de arte] pode ende totalmente a ‘Mona Lisa’? Eu fismo e edição de Will Holder) que tico que parece tentar compreender contribuir para a transformações po- não. Por isso, costumo dizer que se revela um ensaio sobre a resistência e explicar o mundo; o maravilhoso e lítica do mundo”. Como? “Torna-nos as pessoas saírem desta exposição da arte à explicação, o conhecimento bizarro chapéu de Patrick van Cae- mais curiosos. Inclusive pelas coisas mais curiosas sobre o mundo do que especulativo do mundo através do ckenbergh inspirado na história de que pensamos conhecer. Ajuda-nos quando chegaram, então foi um su- objecto artístico, as vantagens da con- um homem que não conseguia es- permanecermos abertos às possibi- cesso”. fusão, o combate à interpretação, o quecer ou o filme “Der rechte weg lidades de compreender as coisas de prazer de não compreender. É toda (The right way” (1983), de Peter Fis- forma diferente. A duvidar de con- O poder da curiosidade uma narrativa construída com os con- chli & David Weiss, que descreve a clusões e definições”. À saída a pre- Certas questões, porém, emergem tributos de, entre outros, Sócrates, viagem livre de um rato e de um urso sença de uma pintura de Giorgio Mo- discretas e daninhas. Não pressupõe Duchamp, Diderot, Charlie Chaplin, Anthony Huberman e uma obra à procura da forma ou do caminho randi fecha a conversa e “Para o cego a relação entre a misteriosa autono- Bataille, John Dewey, Susan Sontag de Matt Mullican: desenhos, correctos. “Considero-os a mascote no quarto escuro à procura do gato mia da arte e a curiosidade do espec- ou Robert Filliou. bandeiras, fotografias, decalques, da exposição”, adianta Huberman preto que não está lá”: “Nos anos 50, tador uma série de condições pré- Mas voltemos à galeria. E lá que signos – uma representação do sobre a dupla suíça. “Lembro-me de depois do Picasso, do Pollock e ou- vias? Um certo capital cultural, uma estão desenhos e símbolos de Matt mundo ou apenas pensamento um frase que alguém sobre eles es- tros, dizia-se que pouco mais havia educação, uma familiaridade? Dito Mullican, quais fórmulas de matemá- de um artista em acção? creveu: ‘conseguem ser sérios de para investigar acerca da natureza- forma leve, e leves de forma séria’. morta, que a pintura tinha sido vira- Foi isso que tentei fazer aqui: divertir da do avesso, descontruída. Ele disse as pessoas com ideias desconfortá- que não, ou não se importou com o veis. Como acontece na peça do Bru- que diziam, e continuou a demons- no Munari. Ele procura outras posi- trar curiosidade pelos objectos e por ções para estar sentado numa cadei- um dos motivos mais antigos da his- ra. Busca conforto numa posição tória da pintura”. Foi um cego no desconfortável”. quarto escuro à procura do gato pre- É neste contexto que deve ser en- to que não estava lá. Ou estava?

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Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 25 MAURICIO LIMA/AFP MAURICIO

A social-democracia é o novo radicalismo TonyTony JuJudt,dt, um ddosos maiores especialistasespe do século XX europeu, escreveu um apaixonaapaixonadod apelo aos jovens “dos ddoisois lados do Atlântico”Atlântico”,, “Ill FaFaresr the Land”. Pede-lhes qqueue se irritem com o vazio moralmo do neoliberalismo e ppropõe-lhesropõe-lhes o regresso a um lugarlu conhecido: o Estado- providência. ManuelMan Carvalho

O mais recente livro dede Tony Judt, vro de ciência política. Preso no seu publicadopublicado jjáá esta PrimaPrimaverav em Nova corpo (sofre da doença de Lou Iorque e Londres, e comco chegada Gehring, que vai degradando o siste- previstaprevista a PortugaPortugall no úúltimol trimes- ma nervoso até à paralisia total dos tretre destedeste ano, via EEdiçõesdiçõ 70, não é movimentos, embora mantenha in- um livro de História a acrescentara à tactas as faculdades intelectuais), ssuaua extensa e brilhantebrilhante carreira de Judt não esconde aqui a preocupação especialista do século XXX europeu. principal dos intelectuais “engagés”: “Ill“Ill Fares thethe Land”Land” (numa(n tradu- mudar o mundo. E é assim que a obra çãoção possívepossível,l, quaqualquerlque coisa como do historiador, talvez a sua última “o“o mal ameaameaçaça a terra”)terr está tam- obra, se transforma num manifesto Livros bémbém longelonge de ser apenasap um li- apaixonado pela defesa de um pro- jecto de sociedade que tão profun- damente investigou e tão de perto “Ill FaresFares thethe Land”L é o viveu desde o nascimento, numa testamento políticop de Londres ainda arrasada pelos bom- TonyTony Judt, queq sofre bardeamentos da Segunda Guerra dada doençadoença Mundial. degenerativadegenerat de Lou Em “Ill Fares the Land”, Tony Judt

JAMES LEYNSE/CORBIS JAMES GehringGehring propõe-se firmar uma tese e construir O desespero na Bolsa de São Paulo durante o crash de “Muito do que hoje Setembro de 2008, que não nos parece ser poupou sequer a florescente economia brasileira: o ‘natural’ data dos capitalismo desregulado, diz Judt, “é o seu próprio pior anos 80: a obsessão inimigo” com a criação de riqueza, o culto da privatização e do sector privado, um projecto de acção política. A tese dades entre ricos e pobres. E, acima as crescentes Sem segurança, sem confiança, as guiram a 1945? A resposta curta é, em é que a social-democracia e o Estado- de tudo, a retórica que as acompanha: sociedades ocidentais ameaçam ruir, vários graus, segurança, prosperida- providência são os melhores modelos a admiração acrítica dos mercados disparidades entre avisa Judt. “A insegurança alimenta o de, serviços sociais e uma maior igual- de governação pública, de consenso livres, o desdém pelo sector público, medo. E o medo – medo da mudança, dade”. Mas as vantagens não foram comunitário e de sustentação de so- a ilusão do crescimento eterno”. Ora, ricos e pobres” medo do declínio, medo dos desco- apenas sociais: também se sentiram ciedades mais igualitárias e equilibra- acrescenta, o materialismo nem se- nhecidos e do mundo não familiar - ao nível da economia. Muitas das crí- das, sem prejuízo da tolerância demo- quer garante um modelo económico está a corroer a confiança e a inde- ticas à ineficiência económica, à insu- crática e da liberdade individual. A mais eficiente: “O pequeno crash de pendência nas quais se sustentam as ficiente inovação ou ao marasmo em- acção política que reclama começa 2008 foi uma lembrança de que o ca- sociedades civis” do Ocidente. Para presarial das social-democracias “são com uma nova forma de pensar a es- pitalismo desregulado é o seu próprio Judt, uma das conquistas das social- comprovadamente falsas”. “Poucos querda, reescrevendo os discursos pior inimigo”. democracias europeias foi uma rede ousariam dizer que os EUA tiveram sobre o Estado e os serviços sociais no O maior perigo da actual submissão de protecção contra essa insegurança. falta de iniciativa ou empreendedoris- reconhecimento de que o modelo ne- ao livre mercado e do recuo do Esta- “Restaurar o orgulho e a auto-estima mo nesses anos”, acrescenta. oliberal é insustentável a prazo pela do na esfera social está, porém, no dos perdedores da sociedade foi uma desigualdade que gera e pelas tensões crescimento das desigualdades. “Do plataforma central das reformas que Do Maio de 68 a Thatcher sociais que provoca. Os destinatários final do século XIX até aos anos 70, marcaram o progresso do século XX. Mas se tudo era assim tão quase per- deste programa são os cidadãos dos as sociedades avançadas do Ocidente Hoje, voltamos a virar-lhes as costas. feito, o que falhou? Judt assume aqui países ocidentais, principalmente os tornaram-se todas menos desiguais. Ser beneficiário de ajuda pública, se- mais do que nunca o ofício do histo- “jovens dos dois lados do Atlântico”. Graças aos impostos progressivos, aos ja sob a forma de apoios à infância, riador para analisar o recuo do Estado Não apenas porque “a última vez que subsídios do Governo aos mais pobres alimentos ou subsídios de desempre- providencial e o triunfo do capitalis- uma geração expressou comparável e à provisão de serviços sociais e ga- go, é uma marca de Caim: um símbo- mo libertário. Entre as causas que frustração pelo vazio e a desinspira- rantias contra as desgraças imprevis- lo de falhanço pessoal”, lamenta. assinala, estão a fragmentação do pro- dora falta de sentido do mundo foi nos tas, as modernas democracias foram É urgente, diz, reclamar que o Es- letariado de colarinho azul no decor- anos 20”; também porque “a diver- apagando os extremos da riqueza e tado reocupe a posição central da vida rer da década de 50 e os impactes de gência e a dissidência são fundamen- da pobreza”. Mas, afirma Judt, “nos colectiva. Não o Estado totalitário dos uma transformação baseada na auto- talmente trabalho dos jovens”. últimos 30 anos deitámos tudo isso extremismos do século XX, mas o Es- nomia individual. Mas é curioso veri- Judt não cai no erro de se fechar nu- fora”. A cada ano que passa, acres- tado democrático e activista que con- ficar que, para Judt, a principal ori- ma fórmula maniqueísta. A social- centa, as distâncias entre a pobreza figurou o “New Deal” e a “Great Socie- gem do fracasso do projecto da es- democracia nórdica, recorda, foi por e a riqueza acentuam-se. Os casos que ty” nos Estados Unidos, ou o mercado querda moderada está numa atitude exemplo responsável por projectos de cita da General Motors (GM) e da ca- social alemão. “O que é que a confian- de contestação que ainda hoje ela eugenia impensáveis; governos social- deia de distribuição Wal-Mart são a ça, a taxação progressiva e o estado própria celebra com nostalgia: as re- democratas estiveram por trás do este propósito esclarecedores: “Em intervencionista legaram às socieda- voltas estudantis dos anos 60, Maio “pior planeamento urbano dos tem- 1968, o CEO (presidente do Conselho des ocidentais nas décadas que se se- de 68 incluído, e a cultura pop. pos modernos”; o sentimento de falta de Administração) da General Motors de resposta por parte dos que mais levava para casa, em salário e pré- precisam do Estado social agravou-se; mios, cerca de 66 vezes o valor pago a rejeição à dependência da burocra- a um operário típico da GM. Hoje, o cia estatal aumentou. E o que em mui- CEO da Wal-Mart ganha 900 vezes o tos casos era um direito tornou-se um salário médio de um dos seus funcio- abuso. Como o da idade da reforma nários. De facto, a riqueza dos funda- dos ferroviários franceses, fixada aos dores da Wal-Mart nesse ano equiva- 55 anos numa era em que muitos co- lia ao rendimento da camada de 40 meçavam a colocar carvão nas forna- por cento da população mais pobre lhas aos 13, mas que se manteve até dos EUA: 120 milhões de pessoas”. esta época em que a profissão se exer- Ora, argumenta Judt, a desigualda- ce nas sofisticadas cabinas dos TGV. de é um vírus que contamina todas O que está então em causa é uma as classes sociais. O historiador não JUNHO comparação racional. “A social-de- cita, mas poderia citar, o facto de a mocracia não representa o futuro mensagem de Lula na sua primeira 05 SÁBADO 22:30 ideal; nem sequer representa o pas- eleição ter tido grande aceitação jun- sado ideal. Mas, entre as opções hoje to dos jovens das classes altas, que disponíveis para nós, é melhor do que acabaram por constatar que, apesar anbb Alva Noto & Blixa Bargeld qualquer outra coisa ao nosso alcan- da sua riqueza, não podiam viver nu- ce”, escreve. Expostos os perigos dos ma sociedade infectada com o vírus extremos à esquerda e à direita, o da exclusão e da violência. Beak (Geoff Barrow, Portishead) exemplo que nos resta analisar e, de- “Somos muitas vezes cegos a isto”, fende, desenvolver é o consenso so- lamenta o historiador: “Os nossos cial do pós-guerra que mobilizou a sentimentos morais foram, de facto, Orquestra Nacional do Porto democracia cristã, o conservadoris- corrompidos. Tornámo-nos insensí- mo britânico e alemão ou a social- veis aos custos humanos de políticas ome Hoof Todd Terje democracia nórdica. Como escreveu sociais aparentemente racionais”. Magnus Lindberg Moderat Cluster + Chr Ralph Dahrendorf, esse modelo “sig- É com base neste retrato que Judt nifica o maior progresso a que a His- invectiva os jovens a “zangarem-se”. Mystery Jets DJsMikado LabFadi Dorninger tória já assistiu. Nunca tantos tinham Não porque tenham o dever de con- antes experimentado tantas oportu- duzir um projecto revolucionário e Álvaro Costa Pfadfinderei nidades de vida”. transformador das bases actuais da sociedade livre, da democracia par- Mais desiguais lamentar ou do capitalismo. Mas por- Há nas 237 páginas do livro um suces- que, citando o “papa” da economia sivo cruzamento de nostalgias e de clássica, Adam Smith “nenhuma so- paixões próprias de um cidadão que ciedade será verdadeiramente flores- foi beneficiário das conquistas do cente e feliz se uma grande parte dos TODOS OS ESPAÇOS | € 18 OUTROS ESPAÇOS (EXCEPTO anbb E BEAK) | € 7,5 Estado-providência. Mas também um seus cidadãos for pobre e miserável”. ENTRADA LIMITADA À LOTAÇÃO DE CADA ESPAÇO sistemático recurso à memória histó- Mesmo que a noção de pobreza seja rica para nos confrontar com a sen- discutível, Judt insurge-se contra os PATROCÍNIO MECENAS ORQUESTRA MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA sação de que tudo é transitório na “sintomas do empobrecimento colec- NACIONAL DO PORTO economia, na política ou nas relações tivo” que diz estarem “em toda a par- internacionais. “Muito do que hoje te”. “Auto-estradas degradadas, cida- nos parece ser ‘natural’ data dos anos des na bancarrota, pontes perto do 80: a obsessão com a criação de ri- colapso, escolas falhadas, os desem- SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO queza, o culto da privatização e do pregados, os mal pagos, os que não PARA O CLUBBING (EXCEPTO anbb E BEAK). OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES. sector privado, as crescentes dispari- têm seguro...”

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 27 O programa de obras públicas do “New Deal” (à direita), que colocou o Estado no centro da vida colectiva, e o Maio de 68 (à esquerda), cujo narcisismo encorajou o seu desmantelamento

“O que uniu a geração de 60 não democrático. “Como devem as mas- foi o interesse de todos, mas as neces- “Restaurar o orgulho sas trabalhadoras ser trazidas para a sidades e direitos de cada um”, apon- e a auto-estima comunidade – como eleitores, como ta Judt. Até então, “o centro da gravi- cidadãos, como participantes – sem dade da argumentação política não dos perdedores sublevação, protesto ou mesmo re- estava entre a direita e a esquerda, volução?”. As respostas da social- mas na própria esquerda”. Excep- da sociedade foi uma democracia “mostraram-se especta- ções, como as de Raymond Aron ou cularmente bem-sucedidas: não só Isaiah Berlin, eram raras. A geração plataforma central se evitou a revolução como as massas de 60 e a esquerda que a estimulou trabalhadoras foram integradas num perderam “todo o sentido da partilha das reformas admirável grau”, o que aliás Marx de propostas” e esvaziaram “o con- que marcaram nunca julgou que fosse possível. senso implícito das décadas do pós- No seu apelo, Judt vê no Estado a guerra”, abrindo portas à emergência nos mandatos de Thatcher, Reagan e, em favor do recuo do Estado e da ex- o progresso do século ferramenta essencial para as mudan- de um novo consenso baseado “na noutra escala, Valéry Giscard pansão dos negócios privados insta- ças. “Temos agora de nos libertar da primazia do interesse privado”. O d´Estaing, “os primeiros políticos do lou-se, iniciando a tal fase de 30 anos XX. Hoje (...) ser noção [de que] o Estado é a pior op- “narcisismo dos movimentos estu- centro-direita a ameaçar o consenso que Judt defende agora ser urgente ção disponível”. Para esse passo ser dantis, dos novos ideólogos da es- do pós-guerra”. De seguida emergi- inverter. Além da economia, também beneficiário de ajuda dado, as novas gerações têm de querda e da cultura popular dos anos ram os pensadores do capitalismo os direitos, liberdades e garantias da aprender as lições dos perigos de 60” mudou tudo, e as suas influências libertário, “homens como Hayek ou democracia liberal ficaram ameaça- pública (...) é uma “um Estado activista”, mas precisam chegam aos dias de hoje: “Os homens von Mises”, que “pareciam condena- dos: “A redução da sociedade a uma marca de Caim: um também de “aprender a pensar o Es- e mulheres que dominam a política dos à marginalidade cultural e profis- fina membrana de interacções entre tado de novo”. No balanço dos prós hoje são inquestionavelmente produ- sional”, mas que, “quando os Estados- indivíduos é hoje apresentada como símbolo de falhanço e contras, Judt rejeita as experiências tos – ou, no caso de Nicolas Sarkozy, providência, cujo fracasso tão diligen- a ambição de libertários e de livre- do Estado soviético e totalitário, mas subprodutos - dos anos 60”. temente profetizaram, começaram a cambistas. Mas não nos podemos es- pessoal” recusa-se a “retirar a palavra socia- Esses novos valores da esfera pri- sentir dificuldades, tiveram audiência quecer que esse foi o primeiro e prin- lismo da história”. Com um mas: o vada e do utilitarismo individualista, para as suas opiniões”. cipal sonho de jacobinos, bolchevi- socialismo falhou, enquanto a social- na opinião de Judt, cristalizaram-se Uma vez no poder, o pensamento ques e nazis: se não há nada que nos democracia não só chegou ao poder una como comunidade, então estare- em muitos países, “como superou os mos profundamente dependentes do sonhos mais ambiciosos dos seus fun- Estado. Uma vez que tenhamos cedi- dadores”. do o valor do público ao privado, se- Na fórmula que Judt agora propõe, guramente virá o tempo em haverá há tanta lucidez como emoção. Mas, dificuldades em valorizar a lei (o bem para o exercício ser completo, falta público por excelência) em vez da acrescentar as críticas dos pensadores força”. da Terceira Via, com destaque para Giddens; falta verificar as condições O Estado reabilitado demográficas que favoreciam a soli- É tempo, diz Judt, de “começar de dariedade fiscal entre as gerações há novo”. Por onde? Pelo que se conhe- meio século e que agora a complicam; ce e já foi testado. Mesmo que “o pas- falta enquadrar na teia das relações sado” seja “outro país”, impossível de internacionais o sucesso chinês; falta alcançar, há um diagnóstico que Judt analisar não apenas os erros das pri- propõe como ponto de partida: “Te- vatizações, mas também o sucesso da mos de aprender de novo a criticar entrega a privados de serviços públi- quem nos governa”. O discurso de cos, como é o caso da experiência Judt sai então da terminologia do con- sueca com escolas que dura há 20 senso e envereda pelos trilhos do ja- anos. Falta, talvez, um pouco menos cobinismo. “Não podemos ter de utopia e um pouco mais de realis- esperança na reconstrução mo. Mas haver nestes tempos som- do nosso dilapidado discurso brios quem tenha sonhos de transfor- público a menos que nos irri- mação e os defenda com o talento, o temos com a presente condi-- saber e a paixão de Judt é boa notícia. ção”, escreve. O seu livro, por muito que se discorde Reinventado o discurso, o dada mensagem, vavalel por ser uma pre- que é imperativo para que “o ciosa defesadefesa de que a vontade mal” abandone a terra e paraa colectiva ffaza mexer o mundo. que a política deixe de ser fei-- ComoComo escreveuescre Alexis de Toc- ta por “pigmeus” e uma massaa queville, insuspeitoin de ser re- anódina de votantes despidoss volucionário:volucionári “Não posso dei- de aspirações à cidadania? O xar ddee recerecear que os homens programa é vastíssimo: novas leis,eis, cheguemchegue a um ponto em regimes eleitorais diferentes, resres-- quequ olhem para cada trições ao “lobbying” e ao financia-ancia- novano teoria como um mento dos partidos. E o reconheci-nheci- perigop (...), cada mento da tensão e do conflitoito de avançoa social como interesses, contrário à tese de AdamAdam um primeiro passo Smith segundo a qual o enriqueci-ueci- para revolução”. mento de alguns promove o bem-em- estar de todos. “Tem sido lugar-gar- comum afirmar que todos quere-ere- Thatcher e mos as mesmas coisas. Istoto é Reagan: os simplesmente falso. O rico nãonão primeiros quer o mesmo que o pobre”.”. A políticos a questão social é, sustenta o hhis-is- ameaçar o toriador, uma questão eterna ddasas consenso social agendas políticas do Ocidentente do pós-guerra

28 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 29 Vikas Swarup esteve em Lisboa para promover “Seis Suspeitos” (Asa), o livro que escreveu depois de se ter ADITYA SWARUP ADITYA transformado numa “star mundial”, por causa do extraordinário sucesso da adaptação cinematográfica de “Quem Quer Ser Bilionário?”. Escritor em trânsito, por causa da sua carreira O sonho indiano paralela como diplomata, continua “um indiano da Índia”. E é como in- diano da Índia que observa a irresis- segundo Vikas Swarup tível ascensão do seu país. Como é que se tornou romancista? Depois de ter escrito “Quem Quer Ser Bilionário?”, e de o ter visto t Nunca tive uma educação formal em Inglês e nunca frequentei “workshops” Vikas Swarup publica agora “Seis Suspeitos”, uma alta comédia de (maus) nem cursos de escrita criativa, de for- ma que abordei a escrita como leitor. Parti do zero, o que é uma vantagem, porque escrevo com uma certa liber- dade, sem limitações de estilo ou de outras imposições normativas. Nabokov dizia que não poderia haver bons escritores que não fossem bons leitores… Hoje em dia, há muitas outras formas de informação. Há certamente escri- tores que vêem televisão e vão à In- ternet. Esse imediatismo da informa- ção é importante. Pode haver escri- tores que, ao contrário de mim – que venho do espaço da leitura –, venham do espaço do olhar (risos) No entanto, “Quem Quer Ser Bilionário “ é extremamente visual, aliás como “Seis Suspeitos”… Sim, porque escrevo a partir de uma ideia bem nítida, na minha cabeça. A diferença entre os meus livros e os de alguns escritores é que eles se ba- seiam em experiências pessoais, o que pode ser muito esgotante. Os meus livros nada têm de autobiográ- fico; escrevo sobre coisas que nunca experimentei, sobre lugares onde nunca estive. A sua experiência como “A Índia está numa diplomata deu-lhe uma distância a partir da qual pode ter uma grande mudança. Tal como o anterior visão mais abrangente do seu “Quem Quer Ser Bilionário?”, próprio país, a Índia? Ainda há muita gente o novo “Seis Suspeitos” Há uma corrente muito forte de escri- baseia-se num jogo ta da diáspora indiana, de escritores que apenas sobrevive, de perguntas que têm passaportes ingleses, ameri- canos, até dinamarqueses, e que dei- mas todos estão xaram a Índia nos anos 70 e 80. Creio decididos a mudar que existe neles a preocupação de perspectivarem a Índia de uma forma para melhor (...). mais alargada. E muitas vezes, quando escrevem sobre a Índia, fazem-no com Fui à minha terra uma certa nostalgia. Refere-se a V.S. Naipaul, por logo a seguir ao exemplo, que na verdade não nasceu na Índia, mas que, apesar sucesso de ‘Quem de indiano, escreve sobre o país Quer Ser Bilionário?’ como se fosse uma terra exótica, “estrangeira”? e duas jovems Sim. No meu caso, apesar de viver muito tempo fora, escrevo como um disseram-me que indiano da Índia, como alguém “de dentro”. O meu passaporte é indiano queriam cantar e sinto-me muito ligado ao país. Ago- ra, se quiser, estou sempre perto, 24 no próximo filme horas por dia, sete dias por semana. de Danny Boyle. Cada vez mais, uma vez que tenho tudo – os meus pais, a minha família Elas queriam saltar – à distância de um clique. Costumava esperar pacientemente pela mala di- directamente plomática que me trazia, uma vez por semana, os jornais indianos, as cartas da sua aldeia da minha mãe e tudo o que me man- tinha ligado à minha terra. No entan- para Hollywood”

30 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon psicopata tão mau como ele, uma vez disseram-me que tinham vindo de que não é assim que se resolvem as uma aldeia e queriam cantar no pró- questões numa sociedade civilizada? ximo filme de Danny Boyle. Quis sa- O que fazer numa sociedade que não ber qual era a preparação delas, se é inteiramente justa? Existe aqui um tinham experiência, estudos, etc. dilema e eu pretendo que o leitor to- “Não”, disseram-me, “não queremos me partido: pró ou contra o assassino passar por concursos televisivos, que- o de Vicky Rai. remos ir directamente ter com Danny Neste livro, as personagens Boyle e cantar para ele.” Elas queriam mudam de personalidade. Essas saltar directamente sem entraves da transformações têm a ver com sua aldeia para Hollywood. a vitalidade de um país que Escreveu algures, depois dos está num momento crucial, de ataques bombistas em Mumbai, transformar-se em “blockbuster” com oito Oscars em cima, grande crescimento? em 2008, que o espírito da A questão da identidade atravessa cidade se mantinha “forte, costumes, à maneira de Dickens. Helena Vasconcelos toda a história. Sim, a Índia está numa resistente e indomável”. São grande mudança e essa situação é estes adjectivos que aplica ao to, é verdade que vivo fora, num ca- que são americanos. Divirto-me a emblemática. Ainda há muita gente seu país? sulo que, de certa forma, me isola das criar esta “inversão” de situações. que apenas sobrevive, lutando cada Sim, é essa forma de estar que carac- paixões a quente. Estou presente mas Colocar um americano a trabalhar na dia, mas todos estão decididos a mu- teriza a Índia e que a mantém como numa zona de conforto tangencial Índia é uma espécie de perversão da dar para melhor: o miúdo no bairro país. Repare-se nas invasões que já que me ajuda a ser mais objectivo. globalização. da lata quer sair de lá, as pessoas das suportámos: mongóis, Alexandre o “Quem Quer Ser Bilionário” Mais do que um arquétipo, ele é classes baixas querem ascender à Grande, portugueses, ingleses, fran- baseia-se num “reality show”, uma caricatura? classe média, a classe média quer ceses. Temos absorvido algo de todas com perguntas e respostas. “Seis É uma personagem de banda-dese- atingir os patamares de conforto das elas e mesmo assim mantemos a nos- Suspeitos” também parte de nhada. Quando é raptado pela Al- classes mais elevadas. A religião hin- sa cultura. Mahatma Gandhi disse questões, a principal das quais é Qaeda – porque tem o mesmo nome du ensina-nos duas coisas: a primeira uma coisa maravilhosa: “Não desejo “quem é o assassino?”. Este tipo do criador do Google – e lhe exigem é que devemos aceitar com serenida- que as minhas portas estejam tranca- de “suspense” é um ingrediente um resgate, ele pergunta se aceitam de o destino, que se baseia nas nossas das nem que as minhas janelas te- indispensável para contar uma Visa. Eu sei que não se pode fazer is- vidas passadas; a segunda é que se nham barras, quero que os ventos de boa história? to com uma personagem “real”. fizermos boas acções nesta vida po- todos os quadrantes possam entrar Absolutamente. Aliás, vejo-me menos Afirmou que até no assassínio demos ter uma muito melhor, quando tão livremente quanto possível. Mas como um romancista do que como há um sistema de castas. Vicky cá voltarmos. recuso-me a ser arrebatado por um contador de histórias. Interessa- Rai consegue escapar à justiça As suas personagens alimentam eles.” me agarrar imediatamente o leitor e durante muito tempo. O facto de grandes sonhos que têm a Qual é a sua “receita” para mantê-lo preso à narrativa, ansioso ele ser, por sua vez, assassinado ver, principalmente, com os equilibrar tão destramente a pelo desenlace. Quando escrevi “Seis é uma crítica ao sistema judicial? actores de Bollywood, muitas tragédia com a comédia? Suspeitos”, queria contar uma histó- É uma pergunta interessante. O uni- vezes oriundos de meios pouco Não me levo demasiado a sério e não ria polifónica – com vários instrumen- verso do meu primeiro livro era a privilegiados mas que de escrevo para passar mensagens. De- tos que não soassem como vozes dis- preto e branco, sabia-se quem eram repente passam a ser tratados sejo que o leitor ria, chore, se espan- cordantes, mas sim como parte de os bons e os maus. Este livro é mais como deuses... te e pense comigo. O riso, as lágrimas, uma orquestra. Pensei que, com um subtil, uma vez que nenhuma das per- Absolutamente. Vou dar um exemplo a inveja, o ciúme, o amor, a ganância crime como ponto de partida, pode- sonagens é especialmente simpática. muito pessoal. Fui à minha terra, são inerentes ao ser humano e eu que- ria “jogar” com a complexidade da No entanto, quis torná-las suficiente- Allahabad, logo a seguir ao sucesso ro que os meus livros estejam tão pró- investigação. Não quis escrever um mente interessantes para que se de- de “Quem Quer Ser Bilionário?”, e fui ximos da vida quanto possível. O tru- “policial” tradicional. Os meus leito- sejasse saber o que lhes acontece. recebido em triunfo. Reparei em du- que é não tentar demasiado. res têm-me dito que não estão verda- Quanto a Vicky Rai, quem o mata se- as jovens de 18, 19 anos. Perguntei- deiramente interessados na identida- rá alguém “com uma missão” ou um lhes o que poderia fazer por elas e Ver crítica de livros págs. 34 e segs. de do assassino, o que quer dizer que alcancei os meus objectivos: tornar a viagem mais empolgante do que o destino. A sua escolha de suspeitos – todos tão diferentes – está ligada ao desejo de representar figuras- tipo da sociedade indiana? Sim e não. A Índia é um país tão vasto que não é possível reduzir a sua po- pulação a estes ou outros arquétipos. Mas é verdade que desejava dar uma imagem do lado “político” da Índia, da sua burocracia, do seu aspecto gla- moroso e, também, a Índia das classes desfavorecidas. Bem como transmitir a percepção de um estrangeiro, de alguém que chega à Índia com estre- linhas nos olhos e descobre uma dura realidade. Na verdade, creio que as viagens de Eketi e de Larry Page são muito semelhantes: ambos chegam à Índia com expectativas muito altas. Mas enquanto que o indiano primitivo fica encantado, o americano tem uma experiência terrível. (Risos) O que me agradou mais ao compor a figura de Page é que ele aca- ba por trabalhar num “call center”, Quando ligam dos EUA e ele diz que é americano, ninguém acredita, por- que toda a gente sabe que os “call centers” estão na Índia e as pessoas são atendidas por indianos a fingir Livros

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 31 “Hoje já não

JOÃO GASPAR JOÃO há heróis. O futuro acabou há 40 anos. Até aí vivíamos um tempo de promessas, agora vivemos um tempo de paixões tristes”

goberto Babilónio, e enquanto cami- napolitana, está na impossibilidade nhava pelas ruas solitárias de Amatraz de um homem observar a sua amada o coração batia-lhe sereno e a mente adormecida e não se atrever tocar-lhe mantinha-se liberta.” (p. 14). para não conspurcar um amor casto. Na primeira parte do romance, o A realidade é que o homem sente ci- ritmo é avassalador. O tempo é 1936. úmes e tem medo de que no sonho Dagoberto desembarca em Lisboa, ela o traia com outro. atravessa o Sul de Portugal, entra em Dagoberto atravessa guerras, so- Espanha onde combate com Viriato, nhos e, na hora do descanso do guer- um português, na guerra civil daque- reiro, encontramo-lo na Nápoles das le país. “Tudo aqui é verdadeiro. Fac- suas raízes apenas em busca de espa- Livros to após facto, batalha após batalha, ço para continuar a reflectir na vida. apliquei os conhecimentos da pesqui- “Este meu herói não pensa em voltar. sa sobre a vida na Europa, e em Espa- A sua aspiração é ficar a ver o tempo nha, nesses terríveis anos 30. Já quan- a passar numa rua de Nápoles, a terra to aos encontros que Dagoberto vai da sua mãe. Já aprendeu a ler, a gran- tendo, aí entramos no reino da fanta- de vitória da sua vida. A partir daí sia. É bom não esquecer que no início todas as surpresas da vida são bem- a literatura nos cativava e enfeitiçava vindas.” Dagoberto caminha pela vida porque sonhávamos ao nível do fan- porque aprendeu a recepcionar os tástico. A ‘Divina Comédia’ e ‘Orlando sonhos: “Levava uma manhã inteira Furioso’ sobreviveram no nosso ima- de caminho para chegar à aldeia e, ginário por causa disso”, sublinha a por vezes, nem via à estrada, tão ab- escritora. sorvido ia em visões, naquele seu mo- do de fazer da realidade apenas ima- O futuro acabou ginação. Outras vezes dava-se todo ao Mas a verdade é que os tempos já não percurso, divertia-se a recordá-lo de estão para inventar heroísmos. Por cor, com os olhos semicerrados e, isso, Romana Petri desenhou Dago- quando os abria, dizia: vou ver a ár- berto com o ar do tempo que nos cou- vore do tronco cortado; vou ver a se- be viver: “Hoje já não há heróis. So- be de giestas; vou ver a pedra grande mos gente sem futuro, o futuro aca- partida; e na verdade via-os sempre. bou há 40 anos. Até aí vivíamos um Se tivesse de falar da estranha vida tempo de promessas, agora vivemos que levava, tomaria como cautela a um tempo de paixões tristes. Onde indiferença para explicá-la.” (p. está a cura do cancro, onde está a ma- 175). “O Fabuloso Dagoberto Babilónio é um nome ines- conta do romance de forma avassala- ravilha em que o mundo se iria trans- Se estoicamente se constrói um ca- Destino de quecível. Por si só, é já toda uma fic- dora, desarrumando-o, moldando-o. formar com o início do novo milé- minho de indiferença, sem fronteiras Dagoberto ção. Quase que seria dispensável fri- Este é o livro do meu desassossego. nio?” entre o sonho e a realidade, então o Babilónio” é, sar que um homem com este nome Por isso, apesar da carga de fantasia, Dagoberto vai ser salvo pela litera- destino, mesmo o trágico, não tem estranhamente, teve um destino fabuloso. é por estranho que pareça o mais au- tura. Sobretudo pela osmose com o afinal surpresas. Babilónio foi soman- o mais Mas nem sempre foi assim. Estava tobiográfico dos meus romances”. livro de cabeceira de Romana Petri, do ajudantes nesta aventura: Viriato, autobiográfico Romana Petri entretida com o seu A castração foi o pretexto para que o “Dom Quixote” de Cervantes. E pe- o português companheiro de guerra; dos romances “Corriere della Sera” quando a torra- Romana Petri chegasse a este homem, lo seu código genético: é um homem o alcaide espanhol que lhe apresentou de Romana da ficou suspensa na boca. Um “fait- mas a partir daí começamos do zero. que acredita. É por isso que, para ele, os livros; Salvatore Esposito, o ho- Petri divers” de fim de página relatava que, E o zero foi inventar um herói, que o escritor Unamuno se pode disfarçar mem que o deposita junto das suas no Panamá, um homem de seu nome um dia sente que deve partir e aban- de cientista e apanhar o mesmo com- origens. Anestesias doces que o pre- Dagoberto Babilónio tinha morrido donar a mulher, cumprindo um cha- boio em Portugal sem que o nosso param para tudo. Até que chega ao ao ser castrado pela mulher. mamento que se repetia: “A segunda herói estranhe, tão absorvido está a outro lado: “Sai de casa e de repente Estava encontrado o herói daquele vez que se sentira aquela dor lanci- acreditar no que ouviu. não está em Nápoles. À sua frente que se tornaria o romance da vida da nante fora durante a noite insone pas- O engenho de Romana Petri está aí: prepara-se um almoço que é igual ao escritora italiana. Os destinos fabulo- sada ao lado de Raimunda, quando a criar dois patamares num só livro. jantar das suas núpcias. Cozinha-o sos são, afinal, coisa da literatura. acordara para lhe dizer que tinha de Dagoberto acredita em experiências alguém que o veio buscar. Porque ele Oito anos depois, com a edição por- partir. No decurso da vida tinha havi- de vida, o leitor vai acreditando no se esqueceu de regressar”. tuguesa de “O Fabuloso Destino de do outras, mas tinham sido pontadas poder de ser iludido. Dagoberto desaparece. Farto e “em Dagoberto Babilónio” (Bertrand) à muito ligeiras e ele deixara que pas- Talvez por isso, Babilónio acredita, estado de felicidade pura”, conclui frente, Romana Petri confirma: “Este sassem, como se faz com certos pen- quando a mãe lhe explica que o sig- Romana Petri. é o livro da minha vida, onde a poesia samentos sombrios. Não se sentia nificado de “I`te vurria vasa” (eu que- Moral da história: ainda não apren- que existe na minha escrita tomou tomado por qualquer comoção, Da- ria beijar-te), um clássico da canção demos a perdoar heróis sem guião. Este é o livro do desassossego de Romana Petri A autora de “A Senhora dos Açores” regressa com um livro em que um homem com nome de herói, Dagoberto Babilónio, sobrevive intacto às surpresas da vida. Rui Lagartinho

32 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon Don DeLillo CORBIS/VMI Escreveu “o grande romance americano”? “Submundo” é, pelo menos, “o grande romance americano” da segunda metade do século XX. Um colosso sobre o que manteve o mundo coeso durante a Guerra Fria: perigo, terror e esperança. Pág. 34

Hong Sangsoo Com “Noite e Dia” chega ao circuito comercial português um grande cineasta - coreano Pág. 50

Health “Get Color” ao vivo, em Lisboa e Porto. Pág. 40

Rolling Stonestones Outrora um álbumm mamall amaamado,do, “Exile On Main Street”reet” ((1972)1972) foi sendo reavaliadoado ccomoomo umumaa das obras maioress ddosos Stones. A reedição confirma-o.ma-o. PPág.ág. 44

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 33 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Ficção Na sua já vasta obra romanesca, J. Edgar Hoover”, o lendário director grandeza, perigo, terror, todas estas Don DeLillo tem tomado nota dos do FBI, um homem que “gosta de coisas. (…) Talvez mantivesse o mais ímpares distúrbios da vida conviver com ídolos do cinema e mundo coeso. Podíamos medir as Isto anda colectiva norte-americana – desportistas célebres, com mestres coisas”. Mas o que de facto mais escrevendo sobre política e poder, da bisbilhotice (…), que deseja ser impressiona neste monumento terrorismo, espectáculo e fama, ou para eles o amigo dedicado, o literário é o rigor da linguagem (uma tudo ligado seja sobre os principais companheiro de todas as ocasiões, nota para a primorosa tradução) e a acontecimentos da história contando que o lado oculto das suas intensidade da percepção de DeLillo DeLillo escreveu um contemporânea –, fazendo como vidas conste dos seus ficheiros na descrição de um mundo de que uma espécie de estudo privados, todos os boatos coligidos e códigos e de sombras. Inesquecível. monumento literário sobre anatómico pós-moderno das suas catalogados, os factos na sombra a memória da memória da obsessões, dissecando uma mistura dotados de existência genuína.” segunda metade do século estranha de medos primevos (nas O jogo termina de forma épica Autofagia XX. José Riço Direitinho suas variantes mais neuróticas) e de com um “home run” que leva a bola paranóias por vezes delirantes. Em para as bancadas. Cotter, um jovem Submundo “Submundo”, parece ambicionar negro, é o primeiro e feliz portador Nove fábulas sobre a doença Don DeLillo revelar uma espécie de “matriz dessa bola histórica, que mais tarde e a mortalidade, e uma escondida” (mas não à laia de teoria o pai venderá por poucas dezenas de (Trad. Paulo Faria) alegoria monstruosa. Sextante Editora da conspiração) ligando múltiplos dólares. pontos que influenciam a vida A primeira parte deste romance Pedro Mexia

Livros mmmmm individual. São ligações de pessoas a monumental tem lugar em 1992. objectos, de pessoas a Nick Shay é a personagem que se vai O Porco de Erimanto Afinal, o “grande acontecimentos de dimensão revelando também ao longo das A.M. Pires Cabral romance planetária, de acontecimentos a restantes partes, desde a sua Cotovia americano” já foi sentimentos, e tudo numa espécie infância pobre no Bronx ao escrito em 1997. Ou de jogo secreto de causa-efeito, desaparecimento do pai (que ele mmmmn melhor, pelo menos como numa carambola do bilhar, de fantasia ter sido assassinado pela SOPHIE BASSOULS/SYGMA/CORBIS já o foi um dos seus onde não se consegue fugir para Máfia), à morte acidental de um Um autodidacta volumes. nenhum lado. O indivíduo está preso amigo, aos três anos que passou torna-se historiador “Submundo”, o 11º num labirinto de ligações que detido numa instituição correccional emérito. Mas a romance de Don desconhece, uma teia que mais não e ao “affair” com uma mulher História é um DeLillo (n. 1936) – autor é do que o subconsciente casada, Klara Sax, que ele vai domínio demasiado que, com Thomas (submundo?) colectivo da sociedade. reencontrar dezenas de anos depois, vasto. Especializa-se Pynchon, Philip Roth e E todos nós surgimos como algures no deserto, a pintar então na História da Cormac McCarthy, “portadores de um fragmento bombardeiros B-52 desactivados civilização grega. forma, na opinião de solene da história”. Assim, e como com o fim da Guerra-Fria. Nick é Depois, em Harold Bloom, o só um grande e talentoso romancista uma espécie de bafejado pelo mitologia grega. Depois, mais quadrunvirato dos mais conseguiria fazer, DeLillo leva-nos a “sonho americano”, pois, depois de especificamente, nos trabalhos de importantes escritores percorrer a memória escondida de todas as tragédias da infância, como Hércules. E destes, especializa-se na americanos meio século da vida americana, se o seu destino estivesse condenado questão do javali de Erimanto. Tem contemporâneos –, é uma acompanhando a viagem de uma à partida, ele vai estudar, arranja um uma sede de conhecimento obra-prima colossal sobre bola de beisebol que vai passando de emprego, torna-se executivo da insaciável, uma febre da o que resta da memória mão em mão, de geração em indústria da reciclagem, casa e tem especialização indomável. Em americana da geração. A história dos povos como filhos. consequência disso, o homem que segunda metade um fôlego narrativo, “uma roda Do meio desta estrutura sabe tudo sobre o javali de Erimanto do século mecânica movida por sangue arquitectada como se fosse filigrana, vai-se tornando num javali. O XX. humano”. surge a voz de DeLillo lembrando- processo de O prólogo, intitulado “O triunfo da nos que “o poder significava muita “suinificação”, com morte” (numa alusão à obra coisa há trinta, quarenta anos. Era todos os horrores de homónima do pintor flamengo do uma coisa estável, concentrada, uma metamorfose, século XVI Pieter Bruegel), dá o palpável. Era é a apoteose do mote (em grande estilo) das mais de 800 páginas que se seguem. Tudo começa no dia 3 de Outubro de 1951, num jogo de beisebol entre os Giants e os Dodgers, ao mesmo tempo que a União Soviética leva a cabo o ensaio da sua segunda A escrita impecável de A.M. Pires Cabral explosão atómica num volume que vai do cómico algures no ao verdadeiramente trágico Cazaquistão. Na plateia estão, entre outras figuras e figurões, Frank Sinatra, Jackie Gleason e “um homem bem vestido O “grande romance americano” da segunda com metade do século XX segue o rasto de uma bola carantonha de de beisebol: inesquecível, este Don DeLillo buldogue, um tal conhecimento. Transforma-se o amador na coisa amada, e o Ciberescritas espectáculo é deprimente. Esta é a mais sintética fábula de “O Quando a literatura Porco de Erimanto”, colectânea de dez contos de A.M. Pires Cabral. é boa... Autor prolífico, a sua actividade de contista foi mais produtiva em ão há como escapar. Decorreu até ontem em meados dos anos 80, com “O Diabo Nova Iorque a Book Expo America, a maior Veio ao Enterro”, “Memórias de feira do sector nos EUA. E ontem, deste lado Caça” e “O Homem que Vendeu a Ndo Atlântico, começou o famoso Hay Festival, Cabeça”; “O Porco de Erimanto” é que costuma dar o pontapé de saída para os uma versão revista e aumentada festivais literários de Verão por esse mundo fora. Não é deste último título. São dez as de todo descabido colocar lado a lado estes dois eventos. fábulas, geralmente de cunho Tanto um como o outro têm a particularidade de fantástico, algumas divertidas, Isabel aproximar as pessoas dos livros, nem que para isso seja outras francamente assustadoras. Coutinho necessário associar a leitura ao espectáculo ou fazer Há um funcionário com fumos de concursos no Twitter. poeta, alojado numa pensão Lembram-se de Barbra Streisand? A cantora e actriz estadonovista, que vê a sua sanidade foi a autora escolhida para a sessão de abertura da Book mental em perigo por causa de um Expo America deste ano. Há uma razão para isso: é ela a misterioso buraco na parede. Um autora do livro “My Passion for Design”, que será editado homem que vende a cabeça à pela Viking nos EUA, a 16 de Novembro. Isto é comum ciência. Outro que luta com a sua na Book Expo America. Já passaram por lá cantores, sombra. Um desgraçado que actores, comediantes e apresentadores de televisão; ultrapassa um desgosto amoroso leitores, bibliotecários, com ataques de incontinência Não sei se teríamos agentes e editores compraram urinária. Pires Cabral confunde de bilhetes para tomar o propósito a fisiologia e a psicologia, capacidade de fazer pequeno-almoço ou almoçar de modo que nunca sabemos o que é umas sanduíches a ouvir o natural ou patológico, o que é um festival com as que estas pessoas tinham absurdo ou lógico. Alguns destes para dizer. Nunca é dinheiro sujeitos são vítimas de partidas, características dos que deitado à rua: o espectáculo outros nasceram sob estrela funesta, acontecem lá fora, com vale sempre a pena, nem que mas todos vivem em constante seja para se poder dizer que angústia. multidões a pagarem se esteve muito perto de uma Duas ou três histórias têm um “star”. cunho mais divertido, como aquela bilhete para assistir a Em Hay-on-Wye, no País de em que o director de uma escola se Gales, onde durante dez dias arroga o direito de inspecções uma hora de conversa decorre o festival literário que sanitárias intrusivas, numa sátira à serviu de inspiração para o de ditadura e aos legalismos com um escritor Paraty, no Brasil, a animação burocráticos em geral. Mas outros famoso é de outro género. Mas o seu momentos são de puro terror. Não director, Peter Florence, não deve haver em português nenhum se tem cansado de repetir o que é necessário fazer para texto sobre o cancro tão que um festival funcione, e até já exportou o conceito perturbador como “Desidério”. para outras cidades como Cartagena, na Colômbia. Tudo começa com a descoberta de Numa entrevista ao “El Espectador”, contou que foi um quisto nas costas do uma partida de póquer que lhe trouxe o dinheiro para protagonista. Mas aquele sinal, uma arrancar com um festival literário na sua cidade natal. excrescência que podia ser Na edição que está a decorrer esta semana, lembrou-se rapidamente removida, vai ficando, de convidar o actor e escritor inglês Stephen Fry, que é vai dominando a vida do seu seguido por mais de 1,5 milhões de pessoas no Twitter, portador, que com ele cria uma para ser júri de um concurso onde se vai eleger “a frase relação íntima, umbilical, quase de mais bonita do Twitter”. As inscrições para o concurso ternura. Pires Cabral chama ao começaram na segunda-feira e vão continuar até 4 de cancro uma “autofagia”, porque é Junho. A frase vencedora será anunciada dia 6. Para MANUEL ROBERTO uma doença que nos participar, basta enviar um “tweet” (uma mensagem de consome por dentro. E 140 caracteres) em inglês para o perfi l que o Hay Festival depois descreve em tem nesta rede social (@hayfestival). Peter Florence detalhe esses medos e diz que “o mais bonito ‘tweet’” pode ser “a frase mais devastações. Não são Hay Festival eloquente ou a mais ardente, o melhor trocadilho ou a páginas sentimentais. É http://www. melhor metáfora”. uma monstruosa hayfestival.com Por cá vamos tendo os nossos festivais literários, alegoria que lembra como os da Póvoa de Varzim e de Matosinhos, mas Ballard: “É então Book Expo são gratuitos. Não sei se teríamos capacidade de fabricada uma America fazer um festival literário com as características dos réplica exacta http://www. que acontecem lá fora, com multidões a pagarem de cada bookexpoameri- bilhete para assistir a uma hora de conversa com um autófago, de ca.com escritor famoso. Há uns anos, Miguel Sousa Tavares, material entusiasmado pelos bons momentos que passou em sintético, que Twitter Paraty, tentou trazer o modelo para Portugal. Desistiu da não só é http://www. ideia. Não há por aí alguém que volte a pegar nela? perfeitamente twitter.com/ste- comestível como phenfry [email protected] reproduz o http://www. sabor da carne twitter.com/ (Ciberescritas já é um blogue http://blogs.publico.pt/ humana hayfestival ciberescritas)

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 35 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Já está nas livrarias “A Melo Rita, a afi lhada do Salazar até à morte dele. Governanta – D. Maria, ditador, Joaquim Vieira Nunca casou nem teve Lança-Lança ComCompanheira de escreve agora sobre a fi lhos. Foi, para Salazar, Livros mentomento SSalazar”, de pessoa que mais tempo governanta, secretária JoaquimJ Vieira. conviveu de perto com e até enfermeira – e Depois de “Os Salazar. Maria de Jesus Joaquim Vieira questiona Meus 35 Anos Caetano Freire nasceu até que ponto infl uenciou com Salazar”, numa família pobre, numa algumas das suas opções sobres Maria da aldeia de Coimbra. Aos governativas. ConceiçãoC de 31 anos, começou a servir

e contém um alto teor proteínico. é só a escrita impecável que nos Mohammad Thomas, um habitante personagens, seguindo-se os seus político corrupto e sádico que por Tais réplicas são colocadas à agarra nestas fábulas: é não de Dharavi, o mais populoso bairro (possíveis) motivos para liquidarem sinal é pai da vítima –, converge para disposição de cada doente, nos seus podermos fingir que não é nada da lata da Ásia, que passa de Vicky Rai, as provas recolhidas pela a noite do assassínio de Vicky Rai. aposentos. E então os doentes vão- connosco. indigente a bilionário graças a um polícia e, finalmente, a solução do O final surpreendente do livro é o nas consumindo à medida dos seus concurso televisivo. As suas mistério, com uma confissão a remate perfeito para esta história impulsos”. E continua: “Fala-se de aventuras, as pessoas que encontra, fechar o enredo. Esta estrutura frenética, imensamente cómica e certos efeitos secundários Anatomia a forma como, através delas, vai tradicional serve ao autor como trágica até ao absurdo, com traços desagradáveis, entre os quais a aprendendo as respostas às questões pretexto para traçar um retrato da da ironia dickenseana e muita da tendência para uma progressiva que lhe são colocadas no concurso, Índia contemporânea – cosmopolita, vitalidade da escrita de, por transformação da autofagia em de um crime constituem o grosso da narrativa. efervescente e surpreendente – e das exemplo, Aravind Adiga, o autor de antropofagia. Mas nada se provou “Quem Quer Ser Bilionário?” é uma estranhas personagens que a “Entre os Assassinatos” e “O Tigre ainda. E os autófagos ricos podem Um “thriller” frenético que é história ao jeito da de Cinderela, habitam. Mohan Kumar, o burocrata Branco”, vencedor do Booker Prize. devorar-se em efígie (…)” (p. 196). com um rapaz pobre que ganha habituado a manipular pessoas, “Seis Suspeitos” poderá parecer Em todos estes contos há ao mesmo tempo um retrato biliões mas é perseguido e assediado descrente de todas as manifestações uma história demasiado intimações de mortalidade, vistas da Índia, a verdadeira terra pela polícia que o tem na conta de de transcendência, é possuído pelo esquemática, ancorada em com uma frieza sarcástica mas não das oportunidades. um vigarista. Ram é uma espírito de Gandhi e passa a ter uma personagens saídas de uma revista despojada de humanidade; mas, personagem viva, sensível, atraente, personalidade dividida entre o seu social ou de um jornal de escândalos com “Desidério”, A.M. Pires Cabral Helena Vasconcelos que desperta simpatia e empatia nos próprio “eu” adúltero, alcoólico e – o mau muito mau, a estrela de escreveu uma aterradora Seis Suspeitos leitores; porém, para as autoridades, colérico e o do pacifista conciliador cinema caprichosa, o indígena transposição da mais inominável Vikas Swarup é inconcebível que alguém como ele, e ascético; Shabnam Saxena, uma crédulo e inocente, o ladrão de meia das doenças contemporâneas, a (Trad. Isabel Alves) um deserdado da vida, totalmente estrela de Bollywood que lê Sartre e tigela, etc. – mas, na realidade, o mais activa forma actual da nossa Asa indefeso, possa tornar-se poderoso se guia pelos ensinamentos de autor consegue aguentar a narrativa finitude. O caranguejo trespassado graças ao dinheiro, ganho tão Nietzsche, tem uma tal obsessão com uma agilidade surpreendente e por uma lança é a imagem que abre mmmmn facilmente. pela sua imagem que se sente muito sentido de humor. Na as portas ao delírio imaginativo, à Em “Seis Suspeitos”, com o seu ameaçada quando surge uma jovem verdade, esta é a Índia que enche fábula pavorosa, à doença como Quando era miúdo título reminiscente de Agatha do campo que pode passar por sua por completo a imaginação, um condição humana essencial: “Cada em Allahabad, na Christie, Vikas Swarup cria uma irmã gémea; Larry Page, o turista lugar de extremos e de incalculáveis qual deve acalentar dentro de si Índia, Vikas Swarup, estrutura semelhante embora parta americano idiota, desembarca na segredos e mistérios, por vezes uma doença. Mens sana in corpore proveniente de uma de pressupostos diferentes: Vicky Índia convencido de que vai casar “kitsch” e absurda, onde tudo – sano – para quê?!... Devemos é ter família abastada de Rai, filho de um ministro do estado com a rapariga dos seus sonhos – absolutamente tudo – é possível. Em dentro de nós um relógio que nos juristas, ganhava de Uttar Pradesh, um delinquente que conheceu pela Internet –, tempos existiu um mito a que se lembre periodicamente quia todos os concursos muito rico, muito mau e muito descobrindo que foi enganado e que chamou “o sonho americano”. pluvius sumus, que temos tributos a de pergunta- poderoso, é assassinado durante não há noiva nenhuma à sua espera. Agora, com a economia em pagar à mecânica da carne. E que resposta, muito uma festa sumptuosa em que se Page, que vive a pensar que o hino expansão, a capacidade invejável cada um pague na moeda de que populares no seu país. Anos mais comemora o facto de ele ter sido nacional americano foi composto para uma “constante e genial dispuser. (…) Por isso eu digo: a tarde, esta sua experiência ajudou-o ilibado de mais um crime, a morte por Stevie Wonder, partilha o nome reciclagem das suas contradições” – cada um sua moléstia” (p. 178). Não a criar a personagem de Ram de Ruby Gill, uma empregada com um dos fundadores do Google e nas palavras de Swarup –, um estudante que recusou servir-lhe é, por causa desse erro de património cultural invejável e um uma bebida quando o bar já estava identidade, raptado por terroristas passado milenar, a Índia é a encerrado, num restaurante da que esperam receber um resgate miragem para todos aqueles que moda, em Nova Deli. Depois de chorudo. Quanto a Eketi, um nativo procuram não um sentido para a todos os convidados terem sido de uma tribo, os Onge, habitantes de vida, mas sim uma forma de estar e interrogados, a polícia elege seis uma ilha, é tratado como um escravo de olhar o mundo, sem preconceitos suspeitos, todos eles na posse de e levado para o continente numa nem constrangimentos. armas: o Burocrata, a Actriz, o missão de resgate de um Indígena, o Ladrão, o objecto sagrado, de athol fugard Político e o sofrendo maus Ensaio Americano. tratos e passando A trama por inúmeras desenrola-se peripécias até Novos a partir de encontrar o um seu olhares sobre esquema destino muito que, tal António simples: como o Swarup de todos começa os outros Fragoso por dar – conta das incluindo o Um notável avanço sobre vidas do ladrão destas de o conhecimento da obra e telemóveis, da época de um pianista e apanhado compositor de culto. numa teia Cristina Fernandes que ele já De 6 de Maio a 6 de Junho não António Fragoso e o Seu Tempo consegue Paulo Ferreira de Castro (direcção) Tradução: Jaime Salazar Sampaio; Encenação: Beatriz Batarda; Cenário e figurinos: controlar, Cristina Reis; Desenho de luz: José Nuno Lima; Sonoplastia: Sérgio Milhano. CESEM/Associação António Fragoso e o do Interpretação: Catarina Lacerda e Dinarte Branco. mmmmn Co-produção Apoios Falecido em 1918 com apenas 21 De 3ª a Sábado às 21.00h. Domingo às 16.00h TEATRO DO BAIRRO ALTO anos, na sequência da epidemia de R.Tenente Raul Cascais, 1A. 1250 Lisboa Telef: 213961515 / Fax 213954508 gripe pneumónica, o compositor e e-mail: [email protected] http://www.teatro-cornucopia.pt Swarup tem o “whodunnit?” talentoso de uma Agatha Christie, pianista António Fragoso a ironia britânica de um Charles Dickens e a vitalidade de um converteu-se ao longo do último Estrutura financiada pelo M/12 Aravind Adiga e coloca essas qualidades ao serviço da construção 2010 século numa “figura de culto da de um novo imaginário indiano música portuguesa”, conforme o

36 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon As relações uma socialista soviético (“esquizofrénicas”, travessia depois de 1945 (chegou, Exposi- escreve o “Le da história aliás, a ser a consciência Monde”) do escritor da arte do Partido Comunista ção Louis Aragon (1897- moderna: Francês). É justamente 1982) com as artes deram tornou-se membro esse percurso que esta uma exposição, “Aragon et do grupo Dada de Paris exposição agora sublinha, l’Art Moderne”, que pode logo no fi nal da Primeira enfatizando, sala após ser vista no Musée de la Guerra Mundial, foi sala, as colisões estéticas Poste, em Paris, até 19 de um dos fundadores que terão tido lugar na Setembro. A sua travessia dos surrealistas em cabeça de Aragon. do século XX é também 1924, apoiou o realismo

musicólogo Paulo Ferreira de Castro assinala no livro “António Fragoso e o seu tempo”, recentemente publicado pelo CESEM (Centro de Estudos de Estética e Sociologia da Música da Universidade Nova de Lisboa) e pela Associação António Fragoso. É natural que assim tivesse sucedido, pois, apesar da sua curta vida, este jovem músico nascido na aldeia da Pocariça (próximo de Cantanhede) em 1897 demonstrou um inegável talento criativo e uma intensa curiosidade pelas correntes estéticas europeias do seu tempo, sobretudo de influência francesa. O fascínio que as poucas obras musicais que nos deixou despertam no ouvinte e no intérprete, associado à história do seu trágico e prematuro desaparecimento, contribuíram para alimentar o mito. Fragoso foi autor de páginas pianísticas admiráveis como a A vida de António Fragoso, mas também o tempo “Petite Suite”, de refinadíssimas em que o compositor viveu, dissecados numa publicação canções (com destaque para as que fi nalmente retoma a pesquisa sobre um percurso singular “Canções do Sol Poente” e para o os na história da música erudita portuguesa “Poèmes Saturniens”, a partir de modernidade, culto platónico do Martins Soares e José Campos), o Paul Verlaine), e de interessantes absoluto musical e consciência da impacto sócio-cultual da gripe obras de câmara. Infelizmente, não historicidade da arte —, mas também pneumónica de 1918-19, que tirou a teve tempo de amadurecer a sua a de um espírito ávido de cultura e vida a mais de 40 milhões de linguagem, o que intensificou a particularmente inclinado à pessoas (Daniel Melo), o percurso nostalgia (ou melhor, a típica reflexão, pouco vulgar entre os académico-musical de Fragoso “saudade” portuguesa) de um músicos portugueses da sua geração ( Joaquim Rosa), a sua vertente de suposto génio que poderia ter dado e sugestivo de uma precoce intérprete (Miguel Henriques), a novos rumos à linguagem musical. maturidade intelectual” (p. 84). relação com a música portuguesa “Se para alguns a música de Fragoso Sendo esta a primeira publicação ( José Maria Pedrosa Cardoso), a se identifica com o Romantismo que sobre Fragoso depois da reflexão sobre as aptidões musicais e não chegáramos a ter (tornando-a monografia pioneira de Leonardo o talento (Helena Rodrigues), a por isso mesmo vulnerável à Jorge (1968), “António Fragoso e o recepção dos concertos sinfónicos suspeita de um relativo seu tempo” destaca-se pela em Lisboa (Sílvia Sequeira) e a crítica anacronismo), outros haveriam de qualidade da maior parte dos musical da época (Maria José reivindicar a sua obra como estudos, cujo alcance se estende à Artiaga). A música de câmara e emblema de uma ânsia de vida musical, artística e cultural da I grande parte da obra para canto e actualização das referências técnicas República Portuguesa. O conteúdo piano são apenas abordadas por via e estéticas no domínio da é heterogéneo nas temáticas e na indirecta, pelo que estas são composição no limiar do século XX” abordagem, combinando temáticas a merecer maior atenção (p. 82), escreve Paulo Ferreira de perspectivas mais especializadas no futuro. Castro, coordenador da obra e do (incluindo análise técnico-musical) O livro é acompanhado pelo DVD colóquio interdisciplinar que lhe deu com outras susceptíveis de “António Fragoso – Uma Antologia” origem e que teve lugar em 2008, na interessar a um público mais (coordenado pela jornalista Manuela Culturgest. alargado. No seu conjunto, permite Paraíso), permitindo assim o acesso Um dos aspectos mais relevantes um avanço notável em relação ao a uma selecção de obras musicais e a do encontro e do livro que este conhecimento anterior e lança depoimentos de intérpretes, suscitou prende-se com a sua luta novas pistas de pesquisa. Questiona nomeadamente dos pianistas Miguel declarada contra a “especulação ideias feitas como as influências de Henriques, João Paulo Santos e ociosa do que poderia ter sido” Fauré e Debussy na produção do Paulo Pacheco e do maestro Martin através de uma reflexão mais compositor, às quais Carlo André. Na interpretação das peças distanciada sobre a figura e a obra Caballero adiciona outras participam ainda a soprano Ana de Fragoso, obtida através de referências pertinentes (César Ester Neves, a violinista Ana Pereira, estudos detalhados, devidamente Franck, Ravel e outros), e mergulha o violoncelista Marco Pereira e a contextualizados, e do recurso a a fundo na linguagem harmónica e Orquestra da Escola Superior de uma considerável quantidade de melódica das suas obras (através do Música de Lisboa. Estabelece-se documentação inédita. Alguns dos trabalho de Christopher assim uma frutuosa ponte entre a lugares comuns e das análises Bochmann), na música para piano reflexão, a pesquisa e a divulgação superficiais que subsistiam deram (Ana Telles) ou num iluminador da obra musical propriamente dita [email protected] assim lugar, na opinião de Ferreira estudo inter-artes que evidencia a deste fascinante compositor que, de Castro, a uma visão mais relação íntima da música com a nos poucos anos em que viveu, não complexa sobre uma “uma poesia de Verlaine (Barbara fazia mais do que “estudar música, personalidade dividida entre Aniello). falar de música, comer música, dicotomias múltiplas e pulsões A obra contempla ainda uma dormir música e pensar em música” contraditórias — nacionalismo e cronologia detalhada, recordações (carta de António Fragoso à irmã, cosmopolitismo, melancolia e de família (por Eduardo Fragoso datada de 27 de Janeiro de 1915).

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 37 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Quantos Uma instalação de vasos de barro pintados de branco de onde sai um murmúrio... refl exos o refl exo tem

Catarina Saraiva e a impossibilidade da representação. Luísa Soares de Oliveira

Catarina Saraiva Espelho (meu)

LISBOA. Módulo Centro Difusor de Arte. Calçada dos Mestres, 34 A. De 3ª a sábado, das 15h às 20h. Até 5 de Junho. mmmmn

Já com um percurso sólido em Portugal, Catarina Saraiva (n. 1973) apresenta nesta exposição um conjunto de objectos que se constroem sobre a questão do reflexo especular. Logo à entrada somos surpreendidos por dois objectos em forma de espelho, sem trabalho socialmente feminino de é um tema que a artista tem vindo a principal da arte, sem superfície reflectora, que foram coser e resguardar o corpo, tal como explorar obsessivamente no seu intermediários. forrados com o material acolchoado o quadro com a frase já mencionada trabalho, onde objectos comuns se Talvez paradoxalmente característico da prática da artista. estabelece analogias com os revestem por vezes de excrescências encontramos nesta obra afinidades Um pouco adiante, um quadro quadrinhos que saudam os visitantes que, como dedos, invadem o espaço. com o trabalho de Helena Almeida – ostenta palavras do mesmo material, nas casas pequeno-burguesas: um Ao tornar impossível a capacidade sobretudo pela via desta negação dizendo, sem qualquer pontuação, lavor bem diferente da arte, que de reflexão, Catarina Saraiva está a constante e deste convocar do corpo que “o reflexo perguntou ao reflexo marca a transformação da casa em colocar a questão, em primeiro que aqui, no caso de Catarina quantos reflexos o reflexo tem e o lar, ou a transformação da casa em lugar, dos próprios fundamentos da Saraiva, nunca se torna visível. Em reflexo respondeu ao reflexo que o prolongamento da imagem da história da arte, que é quase ambos os casos, as artistas trabalham reflexo tem tantos reflexos quantos mulher. sistematicamente escrita como questões subjacentes à pintura como reflexos o reflexo tem”. Tudo nesta exposição se pode ver história da representação (ou seja, disciplina, embora raramente a Na sala principal há mais espelhos como extensão do corpo na obra da imagem de uma realidade tradição de pegar no pincel e tornar cegos, uma instalação de vasos de artística, ou melhor, como exterior) ou da negação dessa as formas visíveis por meio da tinta se barro pintados de branco de onde sai questionamento desta afirmação, mesma representação (isto é, da manifeste em qualquer das obras. um murmúrio, e um vídeo que que está aliás na raiz da definição de imagem da própria pintura ou Não nos espantaria se o seguimento mostra o processo de pintura a negro artista. Como os seres humanos, os escultura). A artista não nos da sua pesquisa pessoal trouxesse, da superfície reflectora de um desses vasos de barro falam, embora seja apresenta nem uma, nem outra em algum momento, esse corpo que espelhos. Outras peças de parede difícil distinguir o que dizem. E os opção. A sua acção metódica de mantém oculto para um foram construídas com a referida espelhos, que preenchem grande apagamento da superfície espelhada protagonismo maior e mais evidente. técnica de acolchoado. Possuem uma parte do espaço disponível, deviam parece provir de uma negação da No fundo, reflectir é também pensar, organicidade que a escultura reflectir, embora a sua superfície própria existência da imagem, de e isso não é trabalho a que Catarina Exposições normalmente exclui, e invocam o espelhada tenha sido apagada. Este um chamar do corpo para a cena Saraiva se furte.

Agenda Inauguram Munari, Nashashibi/Skaer, Falke Pintura. Inaugura 28/5 às 18h30. 217917000. De 29/05 a 15/06. 2ª a Dom. das 14h às Pisano, Jimmy Raskin, entre outros 20h. Lisboa. Culturgest. Rua Arco do Cego - Edifício da Por Paris Pintura, Instalação, Outros. Para o Cego no Quarto Escuro CGD. Tel.: 217905155. Até 29/08. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das De Vieira da Silva, Júlio Pomar, René à Procura do Gato Preto Que 11h às 19h (última admissão às 18h30). Sáb., Dom. e Bértholo, Lourdes Castro, José German Faces - Collier Schorr Não Está Lá Feriados das 14h às 20h (última admissão às 19h30). Escada, Sónia Delaunay, Arpad Szene, Photoespaña 2010 Inaugura 28/5 às 22h. Vasarely, Arman, Christo, Niki Saint De Collier Schorr. Fotografia, Outros. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Praça do Império Phalle, Ian Voss, entre outros. - Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Até Ver texto págs. 24 e segs Algés. Centro de Arte Manuel de Brito - Palácio dos 15/08. Sáb. das 10h às 22h (última entrada às Anjos. Alameda Hermano Patrone. Tel.: 214111400. 21h30). 2ª a 6ª e Dom. das 10h00 às 19h00 (última Nasreen Mohamedi: Até 19/09. 3ª a Dom. das 11h às 18h (última 6a do mês entrada às 18h30). Inaugura 31/5 às 19h30. encerra às 00h). Pintura, Outros. Notas - Refl exões Sobre Fotografia. o Modernismo Indiano NUNO FERREIRA SANTOS Arte Ocupa Lisboa Paris... De Nasreen Mohamedi. e Também Hamburgo Algumas Obras a Ler Lisboa. Culturgest. Rua Arco do Cego - Edifício da - Colecção Eric Fabre CGD. Tel.: 217905155. Até 29/08. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das De Carlos Henrich, Ivo Moreira, Mumtaz, Nelson Cardoso, Pedro De Joseph Kosuth, Isidore Isou, 11h às 19h (última admissão às 18h30). Sáb., Dom. e Joseph Wolman, Laurence Winner, Feriados das 14h às 20h (última admissão às 19h30). Gomes, O Paciente, Francesco 10, De Dave Hullfish Bailey, Marcel Inaugura 28/5 às 22h. Aliocha, Gaspard Delanoë, Jean- Victor Burgin, Raymond Hains, Broodthaers, Sarah Crowner, Pintura, Fotografia. Jaques Lebel, Kit Brown, Le Suisse entre outros. Mariana Castillo Deball, Eric LISBOA. Museu Colecção Berardo. Praça do Marocain, Victor-Victor, Christine Império - Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Duyckaerts, Ayºe Erkmen, Hans- Graça Morais Algés. Centro de Arte Manuel de Brito - Palácio dos Ebeling, Judith Haman, Marion Até 15/08. Sáb. das 10h às 22h (última entrada às Peter Feldmann, Peter Fischli, David Anjos. Alameda Hermano Patrone. Tel.: 214111400. Walter, Mark Matthes, Simone Brühl, 21h30). 2ª a 6ª e Dom. das 10h00 às 19h00 (última Weiss, Rachel Harrison, Giorgio Até 19/09. 3ª a Dom. das 11h às 18h (última 6a do mês entre outros. entrada às 18h30). Inaugura 31/5 às 19h30. Morandi, Matt Mullican, Bruno encerra às 00h). Lisboa. Pavilhão 28. Av. do Brasil, 53. Tel.: Desenho, Outros.

38 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon VIVA A SARDINHA! 14 MAIO / 15 JULHO

MICRO BAILES 16 E 29 MAIO 4 E 30 JUNHO MARTIM MONIZ, ESCADINHAS DE SÃO CRISTÓVÃO, MIRADOURO DA GRAÇA E LARGO DAS OLARIAS ENTRADA LIVRE / PARA TODAS AS IDADES ANDAR EM FESTA AS FESTAS DE LISBOA NOS TRANSPORTES PÚBLICOS OMNIBUS VENDA IMPLACÁVEL 26 A 30 MAIO QUARTA A DOMINGO, 16H E 19H AUTOCARROS 35, 60, 718, 727, 758 ACESSO NORMAL PARA A VIAGEM DE AUTOCARRO / PARA TODAS AS IDADES FADO NOS ELÉCTRICOS 2 A 6, 9 A 11, 13, 16 A 20 JUNHO 16H E 19H ELÉCTRICO 28 ACESSO NORMAL PARA A VIAGEM DE ELÉCTRICO / PARA TODAS AS IDADES LOUNGE CINEMA SÃO JORGE 28 MAIO SEXTA, 23H30 UNI FORM 4 JUNHO SEXTA, 23H30 DEAD COMBO 5 JUNHO SÁBADO, 23H30 DJ NERY ENTRADA LIVRE / M/16 CASAS REGIONAIS EM LISBOA 28 A 30 MAIO PRAÇA DO ROSSIO ENTRADA LIVRE / PARA TODAS AS IDADES ARRAIAIS POPULARES JUNHO ENTRADA LIVRE / PARA TODAS AS IDADES

TODA A PROGRAMAÇÃO EM WWW.FESTASDELISBOA.COM

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“Tarab”, a viagem mental dos Danças Ocultas, cruza as concertinas com os padrões rítmicos africanos

Pop possível”, explicou ao Ípsilon, no ano passado, o baixista John Famiglietti. Ou, como refere o

Prazer, dor, Allmusic, este é um disco “que GULLICK STEVE caminha na linha fina entre o prazer e a dor”. rock’n’roll Quando vieram a Portugal, há dois anos, tocaram no Museu de Olaria Um ovni noise faz a sua de Barcelos e houve quem temesse Viagem com que algumas peças se partissem aterragem na pop e vamos devido à chinfrineira. Desta vez concertinas poder assistir, em Lisboa (terça, no Santiago Alquimista, em e no Porto. Pedro Rios Lisboa, e quarta, na Casa da Música, no Porto, com o rock entusiasmante O êxtase pela repetição, Health + Paus dos portugueses Paus nas primeiras versão Danças Ocultas, no partes), a julgar por “Get Color”, a Lisboa. Café Teatro Santiago Alquimista. R. feiura, a bruteza e o perigo (a Franco-Português. Santiago, 19. 3ª, 1, às 22h. Tel.: 218884503. 15€. santíssima trindade do rock) Nuno Pacheco Porto. Casa da Música - Sala 2. Pç. Mouzinho de mostrar-se-ão em vestes de veludo. Albuquerque. 4ª, 2, às 22h. Tel.: 220120220. 15€. Scout Niblett na segunda noite do novo festival Danças Ocultas “Get Color”, o segundo disco dos Com Filipe Ricardo (acordeão), Health, aterrou em 2009 como um Scout Niblett pretende assumir-se como “festival Artur Fernandes (acordeão), Filipe OVNI. E assim permanece: ainda de culto alargado a todo o país”. Em Cal (acordeão), Francisco Miguel estamos a absorver a forma como a teoria, a programação da primeira (acordeão). pandilha de Los Angeles pôs o noise e Warpaint edição tem tudo para cumprir os Lisboa. Instituto Franco-Português. Av. Luís Bívar, ao serviço de canções vagamente objectivos. Com Scout Niblett e os 91. Dom., 30, às 21h. Tel.: 213111400. 15€. pop. no Curvo Warpaint, nova revelação indie, Não são os primeiros a fazê-lo (os como cabeças de cartaz; com o velho Quem já assistiu a um espectáculo My Bloody Valentine faziam-no, conhecido Matt Elliott e os óptimos, do grupo Danças Ocultas tem ideia melodias pueris engolidas pelo Em Aveiro, arranca hoje novíssimos, Here We Go Magic; com de um certo fascínio místico que se barulho, os Liars dos últimos discos a primeira edição de um Rita Braga e Mariana Ricardo, o desenvolve à medida que o som das não têm feito outra coisa), mas tudo “festival de culto alargado a Curvo revela personalidade e sentido quatro concertinas se vai nos Health é mais sensorial, directo de programação. entranhando na pele e nos sentidos. (só uma canção ultrapassa os cinco todo o país”. Mário Lopes Esta noite, teremos os Warpaint, “Danças Ocultas” (1996), “Ar” (1998) minutos) e brilhantemente Curvo - Festival Incerto banda guiada por vozes femininas à e “Pulsar” (2004) marcaram um matemático. de Música Urbana solta num universo negro e caminho onde os processos Bateria marcial-maquinal, uma Hoje encantatório, como se as Electralane harmónicos e rítmicos se tornavam guitarra saturadíssima, acumulação Warpaint + Matt Elliott + Rita Braga serenassem perante o turbilhão dos cada vez mais complexos. Mas de energia a rebentar em gritos de Amanhã Calla. Antes deles, Matt Elliot, o ex- “Tarab”, o novo disco, sem quebrar distorção, sintetizadores, e uma voz Scout Niblett + Here We Go Magic Third Eye Foundation que se a coerência dessa via, trouxe em estupidamente doce, qual Kevin + Mariana Ricardo transformou a solo num 2009 outro conceito, como explica Shields da geração pós-Wolf Eyes e impressionante cantor dos Artur Fernandes: “O uso de ritmos Aveiro. Teatro Aveirense - Sala Principal. Pç. pós-Lightning Bolt: eis os novos República. Hoje e amanhã, às 21h45. Tel.: fantasmas que assolam o espírito obsessivos e harmonias repetitivas. Health, mais pensados (até ao ínfimo 234400922. 15€ (dia) a. 25€ (passe). humano – tudo exposto na trilogia Testámos vários temas ao vivo e

Concertos detalhe) e mais interessados em “Drinking Songs”, “Failing Songs” e vimos que com eles conseguíamos fazer canções do que em 2007, ano O Curvo, que arrancou ontem no “Howling Songs”. A iniciar a noite, atingir mais facilmente uma do primeiro disco. Teatro Aveirense com a projecção de um segredo por descobrir chamado comunhão espiritual com o público. “Temos uma tensão entre querer “All Tomorrow’s Parties”, de Rita Braga, multi-instrumentista que “Chamaram-lhe “Tarab” porque um fazer a nossa música acessível e Jonathan Caouette, tem por subtítulo combina ukelele e guitarra acústica, antropólogo marroquino, professor querer torná-la o mais fodida “Festival Incerto de Música Urbana” e electrónica e uma voz suave para na mesma instituição onde Artur dá criar canções onde a folk (folk aulas de composição musical, lhe transnacional, atravessando Europa disse que esse conceito existia na e Atlântico até chegar aos EUA) é linguagem árabe. “A elevação apenas um difuso ponto de partida. espiritual em colectivo, entre o

RENATA PAKSHAN RENATA Amanhã, no último dia do Curvo, artista e o seu público em ouviremos Mariana Ricardo, a ex- determinado momento da Pinhead Society e membro dos performance, uma espécie de München que, a solo, cria pequenas viagem mental”. Na prática, diz, é “o canções portáteis de instrumentação princípio da música africana, chegar minimal, onde tudo se concentra ao êxtase pela repetição.” num forma dolente de Mas o grupo sempre procurou a “storytelling”. originalidade: “Há uma fuga à Antes de Scout Niblett, a inglesa gramática musical mais corrente de que se expõe totalmente, e talvez toda a música pop. O que tentámos não víssemos uma mulher de criar foi discursos harmónicos que guitarra em punho expor-se assim ainda não existissem. E aqui faço desde a PJ Harvey de “Rid Of Me”; uma vénia à importância musical do antes da autora de “The Calcination Zeca Afonso. Ele foi pioneiro a Of Scout Niblett”, dizíamos, ouvir- introduzir o sistema modal, até se-á aquela que poderá ser a grande como resultado da sua experiência surpresa do festival. A música do africana.” quinteto americano Here We Go Se no primeiro disco todos faziam Magic é como que shoegaze de tudo, hoje há uma especialização: Bateria marcial, guitarra a rebentar de distorção, sintetizadores bucólico, e é belíssima: como se Syd Filipe Cal faz as harmonias, Artur e uma voz estupidamente doce: os Health ardem, mas curam Barrett, Caribou e os Shins, no Fernandes e Francisco Miguel as mesmo estúdio, se deslumbrassem melodias, e Filipe Ricardo toca com a descoberta de um gravador de concertina baixo, que passou de quatro pistas. protótipo a instrumento fabricado

40 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon Directamente de São Petersburgo para Lisboa e (surpresa!) Bragança, os Messer Chups RITA CARMO RITA

por Clássica Cardew, o compositor e actividades paralelas à exposição escola de Nova Iorque, um grupo de encomenda. pianista americano na “Cornelius Cardew e a Liberdade de compositores que se reuniu em Um Escuta”, a decorrer na Culturgest- torno de John Cage (1912-1992) nos instrumento O eterno Culturgest-Porto. Porto até 26 de Junho. Hoje, às anos 50 e que desafiou as imponente: “O fole abre ao Cristina Fernandes 21h30, dará um recital com as suas convenções tradicionais da criação tamanho total de dois braços experimen- próprias composições, incluindo musical através da invenção de abertos”. É assim que se apresentam Christian Wolff selecções da colectânea “Keyboard sistemas próprios de composição, da agora, num desafio hipnótico e Miscellany” (1998), “Incidental exploração da música aleatória e da talista Porto. Culturgest. Avenida dos Aliados, 104 - Edifício estético chamado “Tarab”. da CGD. Hoje, às 21h30. Tel.: 222098116. 5€. Music” (2003-4), “Small Preludes” pesquisa em torno do silêncio. Entre (2009), e uma peça do início da sua as personalidades musicais deste Rock’n’roll e surf A pretexto da exposição O pianista e compositor Christian carreira, “For Prepared Piano” círculo encontravam-se Morton dedicada a Cornelius Wolff (n. 1934) é o próximo (1951). Feldman (1926-1987) e Earle Brown music, intuição convidado do ciclo de concertos e Wolff é o último sobrevivente da (1926-2002), mas o grupo ligou-se e encenação

Messer Chups Lisboa. Café Teatro Santiago Alquimista. R. Santiago, 19. Hoje, às 21h. Tel.: 218884503. Entrada gratuita até às 21h30. Sic Alps

Lisboa. Lounge. R. Moeda, 1. Amanhã, 29, às 22h30. Tel.: 213953204. Entrada gratuita.

Sic Alps + Messer Chups Bragança. Central Pub. R. Paço, 18. Dom., 30, às 23h. Tel.: 273331309.

Amanhã, os Sic Alps estão no Lounge e o bar lisboeta, sem separação entre público e banda, será ideal para o trio de São Francisco. A música da banda é Oferta educativa 2010/2011 rock’n’roll absurdamente visceral, uma carga eléctrica detonada para nosso prazer. Os Sic Alps têm Doutoramentos Pós-Graduações melodias orelhudas mas submergem-nas em camadas de Com 3 anos e 180 créditos Com 1 ano e 60 créditos ruído e distorcem-nas furiosamente Antropologia da Saúde: porque há neles demasiada intuição. Antropologia Competência Cultural Irmã bastarda e neurótica dos Times Psicologia New Viking, a banda de “US EZ”, em Âmbito Clínico onde encontramos agora o Comets Culturas Visuais Digitais On Fire Noel Harmonson, Mestrados representa o mais sincero e Inovação Turística relevante pulsar rock que a década e Hospitalidade nos tem oferecido. Com 2 anos e 120 créditos Práticas de Etnografia: Antes disso, já esta noite, no Antropologia Santiago Alquimista, a experiência Fronteiras Disciplinares será certamente diferente. Sobem Desenvolvimento, Diversidades ao palco os Messer Chups, banda Locais e Desafios Mundiais Candidaturas (1ª Fase) de 3 de Maio de São Petersburgo que pega no Desenvolvimento e Saúde Global a 13 de Julho surf-rock dos Ventures, na voragem psicótica dos Cramps e nas Direito das Empresas reverberações de Link Wray para Economia e Politicas Públicas Condições de acesso a Mestrados e recriar um ambiente específico. Os Economia Monetária Pós-Graduações títulos das canções não enganam: e Financeira “Hollywood devils”, “Rock it, Licenciatura ou equivalente legal creature from the break lagoon”, Economia Social e Solidária “Chupacabra twist”, “Chrisptopher Estudos Indianos Para mais informações Lee vs Bruce Lee”. A banda de Oleg Politicas de Desenvolvimento Gitaracula, Zombierella e Dennis www.iscte-iul.pt Messer actua numa “Retro Session: de Recursos Humanos Vintage vs Indie” que contará Psicologia Comunitária ainda com concertos dos e Protecção de Menores portugueses The Hypers e Blasfemea. Será também noite de Psicologia das Emoções cinema e o filme a exibir Psicologia Social da Saúde dificilmente seria mais apropriado. Psicologia Social A série B das séries B, o sci-fi para e das Organizações acabar definitivamente com Ed Wood, “Plan 9 From Outer Space”. Domingo, ambos rumam a Trás- os-Montes. O rock’n’roll (felizmente) descontrolado dos Sic Alps e o surf- rock cuidadosamente encenado dos Messer Chups, juntos e ao vivo em Bragança. M.L.

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 41 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente O concerto de Rufus hipnotizados assistimos sozinho ao piano, mas ao Wainwright na Aula à verdadeira exposição seu lado estiveram a mãe EspaçoEspaç Magna foi especial. A da intimidade do músico Kate McGarrigle, o pai ppúblicoúblic primeira parte foi um canadiano. Entrámos na Loudon, a irmã Martha, sonho. Fechámos os sua alma, nos seus sonhos, a tia Anna. Profundo olhos. Ouvimos uma voz no seio da sua família e tocante, como a sua e um piano, poderosos de músicos. Estivemos música. mas tristes. Um inédito com ele na sala da casa João Semog, 40 anos, e absoluto silêncio na Wainwright. Foi uma artista plástico

Concertos sala, fúnebre. Na segunda maravilhosa ode à família. parte acordámos e ainda Rufus esteve sempre

Alice Russel inicia Os Black Eyed Peas vão uma digressão no Porto ao Jamor puxar pela selecção Agenda

A Naifa Walter Cardew Group Sexta 28 Caldas da Rainha. Centro Cultural e Congressos - Porto. Culturgest. Avenida dos Aliados, 104 - Grande Auditório. Rua Doutor Leonel Sotto Mayor, Edifício da CGD, às 22h. Tel.: 222098116. 5€. Gary Numan às 21h30. Tel.: 262889650. 7,5€ a 15€. Vila Nova de Famalicão. Casa das Artes - Grande Auditório. Pq. de Sinçães, às 21h30. Tel.: 252371297. JP Simões domingo 30 20€. Ponta Delgada. Galeria Arco 8. Av. Antero de Quental, 5, às 22h30. Tel.: 296628733. 10€. Rock In Rio Lisboa 2010 Tiago Guillul Com Rammstein, Motörhead, Sines. Centro de Artes. R. Cândido dos Reis, às 22h. Muxima Megadeth, Soulfly, Ramp e Tel.: 269860080. 5€. Vilamoura. Casino de Vilamoura - Salão Miralago. Pç. Casino, às 20h30. Tel.: 289310000. 45€. Fingertips. Mazgani + Emmy Curl Lisboa. Parque da Bela Vista. Av. Dr. Arlindo Homenagem a Duo Ouro Negro. Espinho. Auditório de Espinho. Rua 34, 884, às Vicente (Chelas), às 17h. 58€ (dia). 21h30. Tel.: 227340469. 7€ (dia) a 10€ (passe). Orquestra Nacional do Porto Festival Tonalidades 10. Festival BES Selecção Direcção Musical de Christoph König. Com Black Eyed Peas, Buraka Som A Naifa Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho de Albuquerque, às 18h. Tel.: 220120220. 20€. Sistema e Ana Moura. Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Grande Jamor. Estádio Nacional. Praça da Maratona - Auditório. Avenida D. Afonso Henriques, 701, às Áustria 2010. “Sinfonia nº3”, de Dafundo, às 16h. Tel.: 214146030. 35€ a 50€. 22h. Tel.: 253424700. 15€. Mahler. Os Pontos Negros BB King Ricardo Parreira & Fernando Lisboa. Cinema São Jorge - Sala 1. Av. Liberdade, Alvim Christian Wolff , o último sobrevivente da Escola 175, às 21h30. Tel.: 213103400. 7,5€. Lisboa. Centro Cultural de Belém - Pequeno de Nova Iorque, evoca Cornelius Cardew no Porto Festas de Lisboa’10. Auditório. Praça do Império, às 17h. Tel.: 213612400. 5€. também a artistas plásticos como basquetebolista e Bruno Chevillon Art Sullivan Fados à Conversa. Jackson Pollock e Alexander Calder. formou-se em fotografia, mas a Guimarães. Pavilhão Multiusos. Alam. Cidade de Wolff, que nascera em Nice mas vivia descoberta de uma paixão comum Lisboa, às 21h30. Tel.: 253520300. 10€ a 15€. Terça 1 nos EUA desde 1941, tinha estudado pela música e pelos seus respectivos Hopkinson Smith God Is An Astronaut + Junius piano com Grete Sultan, mas era um instrumentos, o saxofone e o Vila das Aves. Centro Cultural. Rua Santo Guimarães. São Mamede - Centro de Artes e autodidacta da composição. A sua contrabaixo, veio alterar de forma Honorato, às 21h30. Tel.: 252870020. 10€. Espectáculos. R. Dr. José Sampaio, 17-25, às 22h. ligação com o grupo de Nova Iorque radical o percurso das suas vidas. XVII Festival Internacional de Tel.: 253547028. 17€. teve uma influência fundamental no Tim Berne tornou-se um dos mais Guitarra de Santo Tirso. seu percurso, tal como a relação que importantes e influentes Mostly Other People Do The Quarta 2 desenvolveu posteriormente com o saxofonistas da actualidade, Killing God Is An Astronaut + Junius Coimbra. Salão Brazil. Largo do Poço, 3 - 1º andar, compositor e pianista Frederic mantendo um percurso brilhante Lisboa. Café Teatro Santiago Alquimista. R. às 23h. Tel.: 239824217. 5€. Rzewski (n. 1938) e com Cornelius como músico independente, longe Jazz Ao Centro. Santiago, 19, às 22h. Tel.: 218884503. 17€. Cardew, neste caso também no da influência das grandes editoras BB King em Sabrosa, Terem Quartet plano das ideias políticas. multinacionais, numa recusa Peter Evans Estarreja. Cine-Teatro Municipal. Rua do Visconde Coimbra. Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. R. com entrada gratuita de Valdemouro, às 22h. Tel.: 234811300. 5€ (dia) a Tal como Cardew, Wolff reocupou- sistemática de qualquer tipo de Barreiras, às 22h. Tel.: 239801160. 5€. 12€ (passe). se em questionar e subverter as compromisso artístico. Sabrosa. Quinta dos Almeidas. Parque de Lazer das Jazz Ao Centro. Festim - Festival Intermunicipal de barreiras entre o compositor, o Profundamente influenciado pelo Almeidas, às 22h. Tel.: 259937120. Entrada gratuita. Músicas do Mundo. intérprete e o ouvinte. Nesta visionário saxofonista e compositor Muxima Monte Gordo. Casino de Monte Gordo - Salão Jorge Moyano perspectiva, orientou no Porto um Julius Hemphill, Berne liderou Oceano. Av. Infante D. Henrique, às 20h30. Tel.: Almada. Teatro Municipal de Almada - Sala Alice Decelle + Rémi Toulon “workshop” com músicos e não sessões de grande relevo com Paul 281530800. 35€. Principal. Av. Professor Egas Moniz, às 21h30. Tel.: Lisboa. Instituto Franco-Português. Av. Luís Bívar, 212739360. 12€. 91, às 19h. Tel.: 213111400. Entrada gratuita. músicos que incidiu sobre a sua Motian, John Carter, Bill Frisell ou Homenagem a Duo Ouro Negro. Obras de Chopin e Schumann. Poulenc em Jazz. Concertos Antena compilação de partituras verbais Craig Taborn, entre muitos outros. Dealema 2. “Prose Collection” (1968-1971), escrita Bruno Chevillon tornou-se Porto. Porto-Rio. Rua do Ouro - Barco Gandufe, às Mostly Other People Do The originalmente para um grupo de conhecido pela sua longa associação 23h. Tel.: 917871912. 8€. Killing Rão Kyao Coimbra. Salão Brazil. Largo do Poço, 3 - 1º andar, às Lisboa. Teatro da Trindade - Sala Principal. Largo estudantes de arte. “Stones” (1968), ao clarinetista Louis Sclavis. O seu Sinfonieta 23h. Tel.: 239824217. 5€. da Trindade, 7 A, às 18h. Tel.: 213420000. 5€. uma obra que extrai sonoridades a estilo fortemente pessoal, numa Direcção Musical de Rui Jazz Ao Centro. 3/4uartas - Concertos ao Fim da partir de pedras de diferentes mistura hábil da sensibilidade Massena. Tarde. tamanhos e texturas, e “Burdocks” musical europeia com a força e o Porto. Teatro Helena Sá e Costa (ESMAE). R. Digital Primitives Alegria, 503 (entrada pela R. da Escola Normal, Coimbra. Teatro Académico de Gil Vicente. Pç. Orquestra Gulbenkian (1972), escrita em colaboração com a “drive” dos grandes contrabaixistas República, às 22h. Tel.: 239855636. 7€. 39), às 21h30. Tel.: 225189982. 2€. Direcção Musical de Pedro Neves. Scratch Orchestra, fundada por norte-americanos, fez dele uma Jazz Ao Centro. Leiria. Teatro José Lúcio da Silva. R. Dr. Américo Cardew, serão apresentadas antes do figura de relevo do novo jazz Orquestra de Câmara Cortez Pinto, às 21h30. Tel.: 244834117. Portuguesa Bernardo Sassetti Trio 28.º Festival Música em Leiria. Obras recital por um conjunto de 15 europeu. Torres Novas. Teatro Virgínia. Largo São José Lopes Direcção Musical de Delgado e Haydn. intérpretes voluntários. Jazz moderno, livre, sem dos Santos, às 21h30. Tel.: 249839309. 10€. compromissos, por dois dos grandes de Pedro Carneiro. Leiria. Teatro José Lúcio da Silva. R. Dr. Américo improvisadores da actualidade. Zé Eduardo Unit Quinta 3 Cortez Pinto, às 21h30. Tel.: 244834117. Carnaxide. Auditório Municipal Ruy de Carvalho. Jazz 28.º Festival Música em Leiria. Centro Cívico de Carnaxide - R. 25 de Abril, lote 5, às Alice Russell 22h. Tel.: 214170109. 5€. Porto. Teatro Sá da Bandeira. R. Sá da Bandeira, Sábado 29 Portugal Jazz - Festival Itinerante de 108, às 22h30. Tel.: 222003595. 20€. Basquetebol Jazz. Camané PHILO LENGLET Rock In Rio Lisboa 2010 Lisboa. Museu do Fado. Com Miley Cyrus, McFly, Amy Mário Laginha e fotografi a São Martinho Bougado. Casa Largo do MacDonald, D’Zrt, Luís Represas e do Futebol Clube do Porto da Chafariz de Martinho da Vila. Trofa. Rua Alves da Cunha, Dentro, 1, às Lisboa. Parque da Bela Vista. Av. Dr. Arlindo 232, às 22h. Tel.: 252418308. Entrada gratuita. 19h. Tel.: Dois dos mais vibrantes Vicente (Chelas), às 17h. 58€ (dia). Rota Jazz 2010. 218823470. Entrada gratuita. improvisadores do nosso Pôr-do-Fado - Festa Ogre Cuarteto Casals do Fado. Festas de Lisboa. Onda Jazz. Arco de Jesus, 7 - ao Campo das Castelo Branco. Edifício do Governo Civil. Pç. Lisboa’10. tempo num encontro Cebolas, às 22h30. Tel.: 919184867. 10€. histórico. Rodrigo Amado Município, às 21h30. Tel.: 272339400. 5€ (dia) a Os Pontos Negros 25€ (passe). Julie & The Porto. Plano B. R. Cândido dos Reis, 30, às 23h. Primavera Musical 2010 - 16.º Carjackers Tel.: 222012500. Festival Internacional de Música de Lisboa. Maxime. Pç. Alegria, 58, Tim Berne + Bruno Chevillon Castelo Branco. às 22h. Tel.: 213467090. Long Way To Alaska + Lisboa. Centro Cultural de Belém - Cafetaria Ex-Gen + Nanuk + Khopat Quadrante. Praça do Império. 5ª, 3, às 22h. Tel.: Cavalheiro Espinho. Auditório de Espinho. Rua 34, 884, às + Kafar 213612400. Entrada gratuita. O sax de Tim Berne vai encontrar 21h30. Tel.: 227340469. 7€ (dia) a 10€ (passe). Porto. Porto-Rio. Rua do Ouro - Barco Gandufe, às Festival Tonalidades 10. 0h. Tel.: 917871912. 10€ Gary Numan em Famalicão Tim Berne começou por ser o clarinete de Chevillon

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aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Pop os Stones eram jovens, bonitos e, voltaram a ser os músicos que em os Stones fazem em piloto lamentamos desmentir declarações Londres, no início da década de automático – tal como “Following recentes de Jagger em Cannes, nada 1960, sonhavam ser bluesmen de the river”. Depois, entre versões Perfeita estúpidos. Chicago – “Shake your hips”, versão alternativas de “Loving cup” e um Regressando a ele em 2010, de Slim Harpo, é entrada directa na primeiro esboço de “Tumbling dice” quando o mito da sua criação e um famosa cave (é indiferente se foi nela (“Good time women”) há uma imperfeição intenso trabalho de marketing o registada ou não): a guitarra como canção chamada “So divine (Alladin conduziu ao topo das tabelas de serpente que hipnotiza, a voz que story)” que parece saída do período Em “Exile on Main St” os vendas britânicas, já sabemos que tresanda a provocação sexual; a em que Brian Jones descobria novos Nellcôte foi apenas parte do harmónica e o ritmo contagiante, instrumentos a cada sessão (pena o Rolling Stones criaram um processo que conduziu a “Exile On nada mais que baqueta dançando refrão mal amanhado que mina fascinante e irrepetível Main St” – há nele gravações sem fim no aro da tarola. Mas “Exile irremediavelmente) e uma microcosmo de blues, anteriores, registadas em Londres, e On Main St” é mais. curiosidade, o take alternativo de posteriores, em Los Angeles. A capa do fotógrafo Robert Frank, “Soul survivor”, em que Keith country e rock’n’roll. Contudo, isso em nada diminui a mosaico de excentricidades Richards, que a canta, soa a um Lou Mário Lopes aura de “Exile”. “Entre a verdade e o burlescas e “freaks” pós Tod Reed bêbado e mais desafinado. mito, imprima-se o mito”, não é Browning, acaba por ser Quanto temos as 18 canções de Rolling Stones verdade? Naturalmente, ou não adequadíssima representação do “Exile On Main St”, os extras são um falássemos nós de rock’n’roll, a mais mais imperfeitamente perfeito apêndice dispensável, reservado a Polydor; distri. Universal Music “mitificável” das artes. Ainda para álbum dos Stones. Porque não há fãs com espírito de coleccionador. mmmmn mais quando, no caso do disco em apenas essa revigorada pulsão blues. apreço, a distorção da verdade nem Com Gram Parsons por perto, com a Discos O que a história é tão gravosa quanto se infere da América visitada e explorada, Anacrónico registou é do famosa deixa de “Quem Matou levaram um passo em frente o e revelador domínio do mito. Liberty Valence?” Porque as mergulho na country de “Dead “Exile On Main gravações na cave de Nellcôte flowers” (de “Sticky Fingers”) e GAC St”, o décimo representam realmente o espírito do gravaram uma “Sweet Virginia” A Cantiga É Uma dos Rolling álbum. Sessões sem ordem e sem onde Mick Jagger é convincente Arma Stones, editado em 1972, foi regras, ams inacabadas onde era como nunca enquanto inglês a recebido ao seu tempo como uma menos importante ter a banda chafurdar em charco americano – e mmmnn desilusão, como retrato de uma reunida que fazer a música as vozes multiplicam-se no final, banda a entregar-se à indulgência acontecer. Em algumas canções, afogam a de Jagger e é um coro para acabar num beco sem saída. como “Shine a light”, é o produtor desordenado, comovente na sua Com o passar dos anos, foi-se Jimmy Miller que se senta na bateria caótica humanidade, que se ergue. GAC fazendo a reavaliação. Nem por de Charlie Watts e em muitas mais Por fim, há por todo o lado aquilo Pois Canté!! sombras, “Exile On Main St” não era não é Bill Wyman o baixista. que “Sticky Fingers” fixara um ano nenhuma desilusão: era o melhor Desse caos feliz nasceu um álbum antes. Uma ideia de rock’n’roll em mmmmm álbum da banda, aquele que melhor que é o exacto oposto de “Their que o lúdico nada tem de seguro: a representa enquanto diabo danado Satanic Majesties Request”. provoca e insinua-se perante nós do rock’n’roll. Enquanto nesse, obra-prima maldita enquanto perigo e sedução, com as Para a reavaliação do estatuto do psicadelismo, os Rolling Stones guitarras desdobrando-se em riffs, a GAC contribuiu claramente o contexto pretenderam reflectir com exactidão pianada a manter o “boogie” ...E Vira Bom em que o disco duplo foi gravado: a um momento musical e criar a sua constante e os metais, vibrantes e villa de Nellcôte, na Côte D’Azur, resposta a “Sgt. Peppers Lonely ruidosos, atravessando a canção mmmmn durante um exílio francês em que a Hearts Club Band”, em “Exile On para que qualquer resistência seja banda se dedicou a jogar o jogo de Main St” não procuraram o que quer infrutífera. Em “Exile On Main St”, a Keith Richards. Ou seja, um festim que fosse, deixaram-se levar. lista é imensa: “Rocks off” e “Rip de sexo, drogas e rock’n’roll quando Isolados do mundo em Nellcôte, this joint”, as duas primeiras, a GAC aceleradíssima “Turd on the run”, os Isolados do mundo em Nellcôte, voltaram a ser Ronda de Alegria!! os músicos que em Londres, no início da década ecos de “Bitch” chegando até “All de 1960, sonhavam ser bluesmen de Chicago down the line”. mmmmn “Exile On Main St” não é 18 canções históricas compiladas em Todos GAC-Vozes álbum duplo. Não é uma colecção de Em Luta; distri. canções imbatíveis por uma banda iPlay em estado de graça. É um ambiente sonoro que representa os Stones, A actividade do grupo é “orientada naquele preciso momento histórico, para o apoio à luta dos mais fielmente do que, trabalhadores, para o apoio à luta provavelmente, eles próprios pela democracia popular e pela desejariam. O som é mais sujo que o ditadura do proletariado”. A habitual e há canções que aparecem declaração não deixa dúvidas. O e desaparecem sem conclusão, há colectivo fundado enquanto coros gospel, voodoo de Nova Colectivo de Acção Cultural na Orleães, blues resgatado às margens madrugada de 1 de Maio de 1974, do Mississípi, planuras country e transformado depois em Grupo de uma ideia de rock’n’roll que os Acção Cultural, pretendia ser música Rolling Stones tornaram marca que acompanhava e estimulava o registada. Um microcosmo desejo revolucionário popular. fascinante e irrepetível. Inicialmente, a música é posta Perguntará agora o leitor pelos toda ela ao serviço da luta política: extras incluídos na reedição. Os “a canção, a poesia, são uma bomba extras: 10 canções do mesmo e uma bandeira. E a voz do cantor período, quatro delas com letra e eleva a classe.” O que o GAC fará voz acrescentadas agora por Mick depois, mantendo-se voz activista, é Jagger. “Plundered my soul”, uma uma outra revolução. das que sofreram enxerto, é Uma revolução musical que simpática, mas daquelas baladas que mergulhou no país para nele criar

44 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon Soaked Lamb: é difícil resistir ao “good time” deste “ragtime”

grupo (“A Cantiga É Uma Arma”, nova ainda hoje. A primeira canção, “Pois Canté!!”, “...E Vira Bom” e tema título do álbum, é todo um “Ronda de Alegria” ), acrescidas de programa: filarmónica vanguardista singles e EPs e com percurso e dramatismo Kurt Weill na “Pois contextualizado em textos Canté!!” magnificamente dos jornalistas Nuno Pacheco interpretada por José Mário Branco. e João Lisboa, é um serviço Um dos álbuns maiores da história inestimável. da música portuguesa. “A Cantiga É Uma Arma”, editada Com “...E Vira Bom” (1977), em 1975, compilava vários singles e intensifica-se a pesquisa da música ouve-se hoje como diário heróico do tradicional. É feito de recolhas PREC, incrivelmente detalhado. etnográficas transformadas em Basta ler os títulos: “A Luta do Jornal matéria viva, num equilíbrio entre do Comércio”, “A Luta dos Jornais criação do GAC e recriação de temas algo muda. Entre chulas de Penafiel O “good time” algo novo, algo que destruísse a Camarários”, “Hino da tradicionais: gaitas transmontanas e e uma canção imensa intitulada folclorização do Estado Novo e que Reconstrução do Partido” (inédito coros beirãos e alentejanos, mas “Toada de aboiar”, ouvem-se deste “ragtime” permitisse à música popular agora revelado). Um fascinante também o desejo de esbater tambores marroquinos em manifestar-se enquanto matéria documento de época, mas fronteiras e ser respeitosamente corridinhos algarvios, ouve-se o Soaked Lamb aberta ao presente. Mantida longe demasiado alinhado à canção de “impuro” – dois movimentos em shawm anglo-saxónico protagonizar Hats & Chairs do olhar público ao longo de várias intervenção típica da época. Seria “...E Vira Bom”, fixar a tradição e uma “Oração das almas”. Abre-se a Panólia; distri. Compact Records décadas, pela inexistência de no ano seguinte, com “Pois Canté!!”, dar um passo em frente. música ao mundo para além das reedições, pela dificuldade de acesso que tudo floresceria. De certo modo, “Ronda da fronteiras do país - e fecha-se o GAC. mmmnn às edições originais, a música do “Roncos” de gaitas transmontanas Alegria!!” (1977) surge na discografia Do seu percurso frutificaram GAC manteve-se desconhecida para e adufes minhotos, cante alentejano como o concretização da viagem grupos como a Brigada Vítor Jara, Os Soaked Lamb os que chegaram depois dela ou, na e a canção popular portuguesa iniciada em “A Cantiga É Uma que perseguiram os mesmos afirmam não ter melhor das hipóteses, como enriquecida com surpreendentes Arma”. A luta ideológica mantém-se objectivos. Nenhum porém, até à grande interesse colecção de hinos presos no seu arranjos de sopros (por Luís Pedro a alma do grupo e a música chegada dos Gaiteiros de Lisboa, na música tempo, anacrónicos. Faro). Música nova para um país tradicional continua a ser o chegou tão longe e de forma tão posterior à A reedição dos quatro álbuns do novo. Música arrancada à tradição, esqueleto de todas as canções, mas empenhada. M.L. década de 50, e

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 45 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Discos

O projecto mais ambicioso, mas também mais atípico, de

não precisavam de o dizer para arqueologia. E ainda bem. acham feias e acreditam que nunca Mariinsky 0505 que o soubéssemos. Os Soaked “Ditadura de seis elementos” vão casar, quanto muito adoptar Lamb, que se vestem como onde se destaca o multifacetado Canções de órfãos quando forem grandes. mmmmm “travelling band” da América pós- Afonso Cruz, ilustrador, realizador Não importa. Ou melhor, não Grande Depressão, surgem perante de animação, escritor e, na banda, importa para quem for adulto, gostar É desta forma que nós como artistas elegantes com homem dos mil instrumentos e dono embalar para de poesia e de pop madura, o virtuosismo espírito de caixeiro-viajante (mala às da voz gravíssima que serve de sobretudo para quem dominar bem a atinge a sua costas, fatos e vestido de bom corte contraponto à elegância de Mariana matulões língua inglesa. Os poemas são todos expressão mais e chapéu na cabeça). São banda de Lima (saxofonista e vocalista a ou quase brilhantes e se não dizem sublime, quando blues já electrificado e de jazz que tempo quase inteiro), os Soaked Natalie grava disco para grande coisa aos miúdos de hoje em obras da maior ainda não “solificou”. Mas não se Lamb de “Hats & Chairs” não fazem contrapartida parecem ter o condão dificuldade transcendental são cristalizam aí. recriações. A naturalidade da crianças que os miúdos não de porem muitos adultos em órbita, apresentadas de uma forma Há desvios pela inocência da interpretação, quer nos solos de entendem, mas constitui algures na galáxia dos sonhos de apaixonada e natural dando a América dos anos 1950, em que os trompete com surdina, quer no uma rara iguaria para infância. Sobretudo quando os impressão de serem fáceis. sonhos pareciam paisagem amor sem espaço para lamechices (o arranjos são um assombro, Desde que venceu o 11º Concurso havaiana com banda sonora de filtro que o cobre é o da Hollywood graúdos letrados. Luís Maio envolvendo um leque alargado de Internacional de Piano Tchaikovsky, guitarra “pedal steel” (“Smilin’ de Rita Hayworth ou Robet sons do mundo, que vai da música em Moscovo, no ano de 1998, Denis moon”) ou até à Europa latina, Mitchum), quer no gosto Natalie Merchant celta à chinesa, passando pelo Matsuev afirmou-se como um dos porque, na verdade, fanfarra evidente pelo revolver da tradição hillbilly dos Apalaches, o blues do maiores virtuosos da nova geração. Leave Your Sleep italiana combina bem com este operado por Tom Waits, impede-nos Nonesuch, distri. Warner Delta e o jazz de Nova Orleães. Doze anos depois, a sua carreira espírito (confirme-se a recta de sentir as canções como Cantora de voz acetinada, prossegue em plena ascensão, final do lamento assombrado por exercícios de estilo. Descobrimo-los mmmmn usualmente com queda para o drama tocando com os nomes mais violino de “Grain by grain”). assim: banda moderna a e para a melancolia, Natalie dá aqui destacados da direcção de orquestra De resto, o ataque de guitarra oferecer-nos novas versões de bailes Este é o projecto uma série de golpes de rins, por a nível mundial, aumentando o seu eléctrica a abrir “Blue voodoo” antigos. mais ambicioso, vezes surpreendentes. A versatilidade repertório e a já muito intensa faz questão de acentuar que os Em disco, é difícil resistir mas também mais permite-lhe assumir uma pluralidade agenda de concertos e recitais. É Soaked Lamb até podem ser ao “good time” deste “ragtime”. atípico, de Natalie de vozes na primeira pessoa, considerado por muitos como o fantasia de um Cotton Club Ao vivo, imaginamos, sê-lo-á mais Merchant. Ela foi a variando de registo consoante as actual intérprete do regime, imaginário, mas não são certamente ainda. M.L. voz dos 10.000 histórias. Isto sem nunca facilitar, apresentando-se com grande Maniacs, antes de seguir uma carreira nem aligeirar, consistência que torna regularidade em Moscovo e a solo que a consagrou como uma das a colecção ainda mais compensadora ocupando cargos importantes na melhores cantoras de pop adulta, do para adultos e impenetrável para Rússia. Toca igualmente com as outro lado do Atlântico. Depois, em miúdos. Mas o que esperar de um maiores orquestras do seu país, 2003, deu à luz uma rapariga e não disco infantil chamado “Leave Your sendo o eleito predilecto para as editou mais nada até agora, que tem Sleep”, que começa por propor: acompanhar em digressões como 46 anos. Desde que a criança nasceu, “Meninos e meninas venham brincar intérprete dos grandes compositores no entanto, Natalie passou a para a rua, que a lua brilha tanto russos. coleccionar canções de embalar e como dia”? Na companhia de Valery Gergiev, poemas relacionados com a infância, com quem tem actuado em todo o compostos em Inglaterra e nos mundo e acaba de fazer a sua estreia Estados Unidos, durante os séculos Clássica com a Filarmónica de Nova Iorque XIX e XX. O passatempo no presente mês de Maio, gravou o transformou-se num trabalho de 3º Concerto para piano e as investigação a tempo inteiro, quando Virtuosismo Variações sobre um tema de dessa literatura infantil, na maior Paganini, de Rachmaninoff, num parte esquecida, seleccionou meia sublime registo da mais altíssima qualidade centena de poemas, para os quais ela técnica e artística. Feito para a própria compôs música. Daí resulta editora do Mariinsky e realizado este duplo álbum, que inclui 26 Matsuev e Gergiev oferecem com a célebre orquestra russa, temas e conta com um elenco de 130 uma sublime interpretação resulta numa interpretação músicos. do 3º Concerto para piano absolutamente genial e Natalie diz, nas notas que irrepreensível, em perfeita sintonia acompanham a edição, que esta de Rachmaninoff. entre solista e orquestra. Todas as colecção de canções “são parte de Rui Pereira sonoridades que reconhecemos uma longa conversa” com a sua filha, características de Rachmaninoff “durante os primeiros seis anos da Rachmaninoff brotam com uma naturalidade vida dela”. Mesmo uma audição estonteante, fazendo esquecer a Concerto nº 3 e Variações sobre distraída revela, porém, que “Leave dificuldade técnica do repertório e tema de Paganini Your Sleep” não é um disco deixando o ouvinte compenetrado Denis Matsuev, piano especialmente alegre, divertido, ou na música. Valery Gergiev, parecido com a cultura de direcção entretenimento infantil dos nossos Orquestra Mariinsky dias. Alguns poemas são fábulas, outros parábolas, uns são histórias morais, outros charadas e peças de nonsense, na maior parte requerendo um segundo nível de leitura. Não quer dizer que estejam para além da compreensão dos mais novos, mas não rimam seguramente com a linguagem e o imaginário das crianças actuais. Ou a filha de Natalie é dessas crianças hiperdotadas, ou a cantora deve ter coleccionado cabelos brancos para a fazer Gergiev dirige a orquestra entender histórias de monstros que em perfeita sintonia com o solista com a idade passam a comer enguias em vez de crianças e raparigas que se

46 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon 26 MAIO A 4 JULHO 2010 www.dasein.pt

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DESIGN 280 FESTIVAL

26 MAIO 02 JUNHO 14 JUNHO 20 JUNHO 27 JUNHO QUARTA 21H30 QUARTA 21H30 SEGUNDA 21H30 DOMINGO 21H30 DOMINGO 21H30 Teatro José Lúcio da Silva / Leiria Teatro José Lúcio da Silva / Leiria Teatro Miguel Franco / Leiria Igreja de São Francisco / Leiria Teatro José Lúcio da Silva / Leiria

EUROPA ORQUESTRA 15 JUNHO CORO TALK SHOW TERÇA 21H30 ATÉ SE APAGAR O CORPO GALANTE GULBENKIAN Teatro Cine de Pombal / Pombal GULBENKIAN FABIO BIONDI MAESTRO PEDRO NEVES MAESTRO MICHEL CORBOZ MAESTRO Coreografia de Rui Horta para quatro SÓNIA GRANÉ SOPRANO intérpretes e duas colunas de som A teatralidade barroca imortalizada Obras de Alexandre Delgado VERA DIAS FAGOTE CÁTIA MORESO MEIO-SOPRANO pela música dos compositores e Joseph Haydn MÁRIO ALVES TENOR /violinistas italianos LUÍS RODRIGUES BARÍTONO 4 JULHO CRISTINA SIMON SAVOY PIANO DOMINGO 21H30 8 JUNHO NICHOLAS MCNAIR ÓRGÃO Teatro José Lúcio da Silva / Leiria 28 MAIO TERÇA 21H30 ÁNCHEL FLAUTA SEXTA 21H30 Teatro Miguel Franco / Leiria A religiosidade operática de Rossini Teatro José Lúcio da Silva / Leiria ORQUESTRA PEDRO RIBEIRO ANA MARIA OBOÉ 22 JUNHO FILARMONIA ORQUESTRA TERÇA 21H30 PINTO Teatro Miguel Franco / Leiria DAS BEIRAS DE CÂMARA SOPRANO ESTHER GEORGIE STEPHEN COKER MAESTRO JOÃO MOREIRA CLARINETE PORTUGUESA NUNO VIEIRA CLARINETE PEDRO GOMES PEDRO CARNEIRO MAESTRO PIANO Americanos e Europeus PEDRO LOPES VIOLINO DE ALMEIDA JONATHAN dos séculos XIX e XX HUGO DIOGO VIOLA PIANO Obras de Beethoven, LUÍS ANDRÉ FERREIRA VIOLONCELO LUXTON TROMPA Chopin e Prokofiev DAVID COSTA OBOÉ Evolução / Contrastes – um recital ROBERTO ERCULIANI FAGOTE comentado Música francesa para sopros no início do século XX 25 JUNHO Convenção e Contemporaneidade SEXTA 21H30 13 JUNHO Cine Teatro da Batalha DOMINGO 21H30 19 JUNHO / Batalha 01 JUNHO Igreja do Convento da Portela, SÁBADO 21H30 PROGRAMA SUJEITO A ALTERAÇÕES TERÇA 11H00 E 15H30 (Franciscanos) / Leiria Mosteiro de Santa Maria da Vitória RESERVA DE BILHETES Teatro José Lúcio da Silva / Leiria / Batalha 26 JUNHO SÁBADO 21H30 No Orfeão de Leiria a partir de 19 Maio CORO Auditório do Museu do Vidro VENDA DE BILHETES Espectáculos O JAZZ VAI LA VENEXIANA / Marinha Grande DO ORFEÃO CLAUDIO CAVINA DIRECÇÃO no Teatro José Lúcio da Silva: a partir À ESCOLA ROBERTA MAMELI SOPRANO de 19 Maio na bilheteira daquele Teatro JOSÉ MENEZES DIRECÇ. E SAXOFONE DE LEIRIA RENATA SPOTTI VIOLINO QUARTETO / Restantes espectáculos: no local do GONÇALO MARQUES TROMPETE PEDRO MIGUEL DIRECÇÃO EFIX PULEO VIOLINO espectáculo, uma hora antes do início. JORGE GONÇALVES GUITARRA LUCA MORETTI VIOLA BLANC ORGANIZAÇÃO PEDRO PINTO CONTRABAIXO Na tradição vocal portuguesa TAKASHI KAKETA VIOLONCELO JOÃO RIJO BATERIA ALBERTO LO GATTO VIOLONE Obras de Mozart, Webern Orfeão de Leiria Conservatório de Artes FULVIO GARLASCHI TIORBA e Chostakovitch Av. 25 de Abril, 2400-265 Leiria MARTA GRAZIOLINO HARPA Uma fantástica viagem ao Mundo T 244829550 / 938238700 / F 244829551 do Jazz para o público juvenil DAVIDE POZZI CÍMBALO e familiar [email protected] A arte de Claudio Monteverdi www.orfeaodeleiria.com

Patrocínios Institucionais Patrocínios Empresariais Jornal Oficial aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Nascer e Custódia Gallego é Maria dos Anjos, a criada de servir que volta a casa para reviver um passado doloroso morrer nos Anjos

“A Casa dos Anjos”, no Teatro Aberto, recupera memórias de vidas passadas, à pequena escala de uma família e à grande escala de um país. Clara Campanilho Barradas

A Casa dos Anjos De Luis Mário Lopes. Pelo Teatro Aberto. Encenação de Ana Nave. Com Custódia Gallego, Pedro Laginha, Sandra Barata Belo. Lisboa. Teatro Aberto - Sala Vermelha. Pç. Espanha. Até 11/07. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 213880089. 7,5€ a 15€.

As paredes da casa dos Anjos estão

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entre outros. Ibsen. Pela Companhia Teatral do Make Love Not War Teatro Lisboa. Teatro Chiado. Encenação de Juvenal Garcês. A partir de Aristófanes. Pelo Teatro Nacional D. Maria II Lisboa. Teatro-Estúdio Mário Viegas/Companhia Marionetas do Porto. Encenação de - Sala Garrett. Pç. D. Teatral do Chiado. Lg. Picadeiro, 40. De 28/05 a João Paulo Seara Cardoso. Estreiam Pedro IV. De 01/06 a 31/12. 6ª às 22h. Tel.: 707302627. 25€. 02/06. 3ª e 4ª às 21h. Santa Maria da Feira. Piscinas Municipais. R. Exitus Tel.: 213250835. António Castro Corte Real, 1. Até 29/05. 5ª a Sáb. às De e com Diego Lorca, Pako Merino. Alkantara Continuam 21h30. Tel.: 256375728. Entrada gratuita. Pelo Titzina Teatro. Imaginarius 2010. Festival. A Comissão Vila Real. Teatro. Alam. de Grasse. Dia 28/05. 6ª às A Feliz Idade 22h. Tel.: 259320000. 5€ a 7€. C’est du Chinois A partir de Carpinejar, valter hugo Porto. Teatro Nacional S. João. Pç. Batalha. Dia De Edit Kaldor. Com Nucheng Lu, mãe e César Santos. Encenação de 3/06. 5ª às 21h30. Tel.: 223401910. 7,5€ a 16€. Siping Yao, Aaron Fai Wan, Lei Wang, FITEI. Anna Stigsgaard. Qi Feng Shang. Santa Maria da Feira. Museu Convento dos Lóios. Pç. Ver texto na pág. 14 e segs. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Dr. Guilherme Alves Moreira. Até 29/05. 5ª a Sáb. às Miguel Contreiras, 52. De 03/06 a 05/06. 5ª a Sáb. às 22h30. Tel.: 256372450. Entrada gratuita. 19h. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. EJC # El Jardin de los Cerezos Imaginarius 2010. A partir de Tchékov. Pela Rayuela. Alkantara Festival. Geneviève... si chaste, si pure Encenação de Nina Reglero. Com A Descoberta das Américas De Freek Neirynck. Pelos heater Alberto Velasco, Marta Ruiz de De Dario Fo. Pela Cia Leões de Circo. Taptoe. Encenação de Massimo Viñaspre, entre outros. Encenação de Alessandra Vannucci. Pelo Visões Úteis. Com Ana Vitorino, Porto. Palacete Pinto Leite. R. da Maternidade 3/9. Estarreja. Cine-Teatro Municipal. R. do Visconde de Carlos Costa, Pedro Carreira, entre Schuster. De 01/06 a 04/06. 3ª a 6ª, às 23h. Tel.: 222082432. Valdemouro. Dia 28/05. 6ª às 22h. Tel.: 234811300. outros. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Salão Nobre. Pç. FITEI. 3,5€ a 5€. Porto. Hotel D. Henrique. R. Guedes de Azevedo, 179. D. Pedro IV. Até 29/05. 4ª a 6ª às 23h15. Tel.: 213250835. 8€. Ver texto na pág. 14 e segs. Matosinhos. Cine-Teatro Constantino Nery. Av. Serpa Até 05/06. 3ª a Sáb. às 22h. Dom. e 2ª às 18h30. 8€. Pinto. Dia 31/05. 2ª às 21h30. Tel.: 229392320. 5€. FIMFA LX10. Como Rebolar Alegremente Hard To Be FITEI. Sobre um Vazio Exterior Troubles: ô!..., iiii!..., ah! a God Utópolis De André Guedes, Miguel Loureiro. Pela Cie Gare Centrale. Encenação de De Kornél Pelo Teatro do Frio. Encenação de Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. De 29/05 a Sabine Durand. Mundruczó. Rosário Costa. 31/05. Dom. a 2ª às 19h. Tel.: 217221770. Lisboa. Museu da Marioneta. R. da Esperança, 146 - Encenação Porto. Pç. Parada Leitão. De 01/06 a 02/06. 3ª às 17h. Alkantara Festival. Convento das Bernardas. Até 28/05. 4ª a 6ª às 21h30. de Kornél 4ª às 18h30. Entrada gratuita. Tel.: 213942810. Mundruczó. FITEI. Centro de Dia FIMFA LX10. Por Dona Vlassova e Guests. Com Lili Schoolboy Play O Naufrágio do Titanic Monori, Lisboa. Centro Social da Sé. R. S. Mamede ao Caldas, 19. Até 01/06. 2ª, 3ª, 5ª e 6ª das 10h00 às 0h. De John Fisk. Encenação de Jim Annamária Alkantara Festival. Bywater. Com Paul Kessel, John Fisk. Lang, entre Lisboa. Chapitô. R. Costa do Castelo, 1/7. Até 29/05. outros. Medeia 4ª a Sáb. às 22h. Tel.: 218855550. Lisboa. Antiga Fábrica Simões. Av. Gomes Pereira, A partir de Eurípides. Pelos Dood 11. De 29/05 a 31/05. Sáb. a 2ª, às 21h. Paard. Dança Alkantara Festival. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. Até 28/05. 4ª a 6ª às 21h. Tel.: Se Uma Janela Se Abrisse 218438801. 5€ a 12€. De Tiago Rodrigues. Com Paula Estreiam

Teatro/Dança Alkantara Festival. Diogo, Cláudia Gaiolas, entre outros. Hnuy Illa Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estúdio. De Roman Paska. Com Roman Paska, Entrado De Mireia Gabilondo. Por Kukai- Pç. D. Pedro IV. De 02/06 a 05/06. 4ª a Sáb. às 23h. Gabriel Hermand-Piquet. Pela PELE e o Centro de Criação para Tantaka. Coreografia de Jon Maya. Tel.: 213250835. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett. Pç. o Teatro e Artes de Rua. Encenação Alkantara Festival. D. Pedro IV. De 28/05 a 29/05. 6ª e Sáb. às 21h30. Porto. Teatro Nacional S. João. Pç. Batalha. De 28/05 Tel.: 213250835. de Hugo Cruz. a 29/05. 6ª às 22h. Sáb. às 21h30. Tel.: 223401910. Foreplay FIMFA LX10. Custóias. Estabelecimento Prisional do Porto. 7,5€ a 16€. De Arthur Schnitzler. Encenação de Guifões.Até 28/05. 5ª e 6ª às 21h. Tel.: 229513020. FITEI. Entrada gratuita (sujeita a marcação). Mpumelelo Paul Grootboom. Com Amor com Amor se Paga Ver texto na pág. 14 e segs. Refilwe Cwaile, Koketso Mojela, A partir de Tchékhov, Strindberg, Imaginarius 2010.

48 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon O performer Miguel às 21h30 no Centro Performativas, Bonneville Bonneville (Porto, de Estudos Regianos, partilhará o que quiser 1985) é o convidado em Vila do Conde. À partilhar (livros, Encontro da sessão desta conversa com Magda textos, fi lmes, músicas, noite dos encontros Henriques, coordenadora poemas, documentários, “Derivas - Para que do programa de performances, imagens) servem a arte e o actividades pedagógicas com a audiência. A conhecimento da associação que entrada é gratuita. em geral?”, organiza o Circular que decorre - Festival de Artes

cheias de memórias. Durante 60 acho que tenho a responsabilidade Custódia Gallego, Sandra Barata contracenavam e eram monólogos, grandes planos dos actores e quase anos, a casa foi testemunha das – temos a responsabilidade – de Belo e Pedro Laginha eram os o que é que eu fazia aqui?”. de sensações ampliadas. Como desventuras da família de Ana e valorizar e fazer aparecer mais actores ideais para dar corpo às Continua: “O texto era complicado imaginei que fossem as memórias. Eduardo. Todo esse tempo depois, teatro português”, explica a personagens que vivem na casa dos porque é no pretérito. Mas tivemos a Mas sem tomar totalmente conta do Maria dos Anjos, a criada de servir encenadora. Anjos. colaboração do autor, que aceitou espectáculo”. que nasceu na casa, volta para Depois de ler a peça, Ana Nave Mas o mais difícil, para a muito generosamente as sugestões Além de uma família, o recordar o passado doloroso. “Nasci não achou que fosse um texto fácil. encenadora, foi mesmo tornar o que fizemos para tornar o texto mais espectáculo também pode aqui, aqui não hei-de morrer”, diz “Gostei logo do texto. É muito texto num espectáculo: “O meu possível de ser uma peça”. representar o país: “Pode ser ela. Mas também Ana e Eduardo, a bonito, muito poético. Mas foi aos problema era como é que se passava A encenação de Ana Nave tem Portugal, se quisermos. Está torto!... viver por entre as paredes da casa, pouquinhos que entrei. A aquilo para o palco. O texto não tem uma forte componente audiovisual, Temos uma rampa a cair para o lado contam a sua versão da história. dramaturgia é que foi difícil”. diálogos, praticamente; não há “pensada desde o início”: Apetecia trágico! Acho que sim, mas não “A Casa dos Anjos”, em cena na Começou por escolher o elenco. contracena. Se eles não que o espectáculo tivesse um lado de garanto!”. Sala Vermelha do Teatro Aberto até 11 de Julho, é o texto vencedor do Grande Prémio de Teatro Português da Sociedade Portuguesa de Autores/Teatro Aberto 2009. Representa a primeira aventura do autor, Luís Mário Lopes, na escrita para teatro. João Lourenço, director artístico do Teatro Aberto, convidou a actriz Ana Nave para encenar a peça. “Eu tinha uma dupla responsabilidade. Primeiro, porque o convite foi feito pelo João Lourenço, que faz parte da Festival Internacional história do teatro português. Depois, de Música Avançada porque era um texto português, e eu e Arte Multimédia www.sonar.es

A Sagração da Primavera De Olga Roriz. Corunha Lisboa. Centro Cultural de Belém - Grande Auditório. Pç. do Império. De 29/05 a 03/06. 3ª e Sáb. às 21h. 5ª 17.18.19 Junho e Dom. às 17h. Tel.: 213612400. 5€ a 25€. Ver texto na pág. 16 e segs.

As Bodas + Fauno + A Sagração da Primavera De Bronislava Nijinska, Cayetano Soto, Vasco Wellenkamp. Pela Companhia Nacional de Bailado. Faro. Teatro Municipal de Faro. Horta das Figuras - EN125. De 28/05 a 30/05. 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 289888100. 12€ a 16€. Ver texto na pág. 16 e segs.

You’ve changed De Thomas Hauert. Lisboa. Centro Cultural de Belém - Pequeno Auditório. Pç. do Império. De 03/06 a 04/06. 5ª e 6ª às 21h. Tel.: 213612400. 12€. Alkantara Festival. Continuam H3 De Bruno Beltrão. Pelo Grupo de R. de Niterói. Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria Cardoso, 38-58. De 28/05 a 29/05. 6ª e Sáb. às 21h. Tel.: 213257650. 5€ a 12€. Alkantara Festival. Void Eléctrico air, lcd soundsystem, 2manydjs, hot chip, laurent garnier, sasha, booka shade, matthew herbert’s one club, flying lotus, fuck buttons, broadcast, alva noto + blixa bargeld, carte blanche (dj mehdi & riton), john talabot, uffie, the slew feat. kid koala, cora novoa, octa push, delorean, 6pm, grobas, david m, fat fish, fluzo, cauto, bflecha vs. mwëslee, viktor flores, o.m.e.ga, ino, labrador + p. ma, eme dj, fake robotique, caradeniño dj, escoitar.org (berio molina + horacio gonzález)… ouve tudo em SonarRadio www.sonar.es

organização patrocinador principal

De Clara Andermatt. Com Avelino patrocinadores colaboradores venda de bilhetes Chantre e Sócrates Napoleão. Santa Maria da Feira. Mercado Municipal. Lg. da República. Até 29/05. 5ª a Sáb. às 22h30. Tel.:   256370800. Entrada gratuita. Imaginarius 2010.

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 49 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

É impossível entrar neste tom irónico com Nicolas O fi lme tem planos- fi lme sem estar a pensar Cage (um pouco à solta) sequência fabulosos Espaço no “Bad Lieutnant” de no limite do patético. e um dos happy-end Público Ferrara (maior fi lme Percebe-se o interesse mais desconcertantes americano dos últimos 20 de Herzog no cenário: a do cinema americano. anos). Mas Herzog safa-se: quase inóspita e caótica Desequilibrado, mas sem fazer tábua rasa do New Orleans pós Katrina, fascinante. fi lme de Ferrara, substitui com a presença constante Vitor Ribeiro, Director a sua gravidade por um de iguanas e crocodilos. do Cineclube de Joane

Estreiam metade do século XX, Ida Dalser hoje, assombrar a história italiana, batalhou até ao fim para que sublinhando o lado operático desta acreditassem nela. O homem a quem panorâmica transversal sobre um A ópera dos ela se entregou chamava-se Benito período negro dessa história. Coloca Mussolini. Quando ela o conheceu por todo o lado intimações do não passava de um sindicalista cinema como arte fulcral deste fantasmas carismático e inflamado, quando ela período, num misto de homenagem e morreu era o chefe de estado registo (não nos referimos apenas à Ao mesmo tempo glorioso italiano, um dos líderes totalitaristas constante presença de jornais de da Europa dos anos 1940, um homem actualidades, que, num toque de melodrama clássico e que passou o seu governo a negar génio, passam a ser a única épico de câmara, cinema que Ida Dalser alguma vez tivesse representação de Mussolini no filme emocional e popular sido sua esposa. uma vez ele chegado ao poder, mas, e ensaio fílmico meta- Não é, evidentemente, de Ida por exemplo, à citação do “Miúdo” Dalser apenas que Marco Bellocchio de Chaplin no hospital de Veneza), “Alma Perdida”: comédia textual, “Vencer” é uma está a falar; é da Itália toda, a Itália evocando um aroma viscontiano de doce-amarga sobre a existência, ópera austera e arrebatada que se deixou embarcar na canção decadência, citando os modernismos a arte, as aspirações... povoada por fantasmas. do bandido que Mussolini lhes futuristas nos múltiplos intertítulos precisaria de um grãozinho maior de cantou, a Itália que tudo lhe deu para godardianos que vão pontuando a loucura para se tornar num clássico Jorge Mourinha dar por si sem nada, prisioneira de história. instantâneo, mas que assim como Vencer um regime bizantino, quase Ao mesmo tempo glorioso assim já não é nada de se deitar fora. Vincere Orwelliano (embora, é verdade, melodrama clássico e épico de A começar pela narrativa central De Marco Bellocchio, Orwell só tenha publicado “1984” em câmara, cinema emocional e popular de pôr o grande Paul Giamatti a fazer com Filippo Timi, Giovanna 1949...), onde bastava um estalar de e ensaio fílmico meta-textual, de si próprio às turras com o “Tio Mezzogiorno, Michela Cescon. M/12 dedos para a verdade ser apagada “Vencer” é uma ópera austera e Vânia” de Tchekov e de, convencido para sempre. Bellocchio desenha arrebatada, histórica e política, social que a sua interpretação é um tiro ao MMMMn Mussolini como um pequeno crápula e pessoal, trágica e gloriosa. lado, tentar fazê-la sem alma para ver ambicioso, insensível, venal, no que dá. Obviamente, dá num Lisboa: Medeia Monumental: Sala 1: 5ª 14h30, 17h, concentrado em atingir o seu grande sarilho, sobretudo quando a 00h30 6ª 14h30, 17h, 22h, 00h30 Sábado Domingo

Cinema objectivo por quaisquer meios. Ao sua alma armazenada é roubada por 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h, 00h30; Medeia Esta coisa Monumental: Sala 3: 5ª 19h30, 22h 6ª 19h30; seu lado, Ida é uma figura trágica, uma traficante de almas russa para uma mulher arrebatada por uma instalar na esposa bimba do patrão Parece uma daquelas histórias que paixão ardente que transcende as leis da alma... mafioso que tem aspirações a actriz, fazem chorar as pedrinhas da da razão, e que a leva a insistir até ao e quando Giamatti pede de calçada: a mulher que se apaixona fim, contra ventos e marés, contra a Uma inspirada comédia empréstimo a alma de uma poetisa perdidamente, que dá tudo ao “história oficial”, que só o coração russa. Toda esta “screwball comedy” homem que ama para nada receber sabe a verdade. doce-amarga sobre um metafísica não passa do “embrulho” em troca, para dar por si afastada Giovanna Mezzogiorno, fogosa, homem que decide ver de uma meditação estimulante sobre para sempre da sua vista, negada, violenta, avassaladora, recorda Anna o que é viver sem a alma. o que faz de cada um de nós quem renegada, deserdada. Só que esta Magnani, Vivian Leigh, Bette Davis, somos, de modo mais gentil e história de fazer chorar as pedrinhas remete “Vencer” directamente para Jorge Mourinha educado do que Kaufman faria e com da calçada é verdadeira: Ida Dalser os grandes melodramas femininos da Alma Perdida uma patine de elegância estilizada e existiu mesmo, abdicou de tudo em era de ouro da Hollywood e da Cold Souls formal que justifica plenamente a nome do homem que amava, deu-lhe Cinecittà, ancora Bellocchio num De Sophie Barthes, co-autoria de Parekh, capaz de ao tudo e dele nada recebeu a não ser género preciso, clássico. É tudo com Paul Giamatti, Emily Watson, mesmo tempo invocar uma Nova um bilhete só de ida para o asilo aquilo de que o veterano cineasta David Strathairn. M/12 Iorque burguesa e intelectual, uma psiquiátrico onde, anos mais tarde, o italiano necessita para propulsionar o São Petersburgo vasta e desolada, um filho do casal foi também parar. filme noutras direcções. Invoca MMMnn filme de ficção científica dos anos Aconteceu na Itália da primeira fantasmas que continuam, ainda 1970 e outro dos anos 2000 ou o Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª surrealismo absurdo dos primeiros Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h20, 22h, 00h20 Woody Allen. Domingo 11h30, 14h20, 16h50, 19h20, 22h, 00h20 Falta, depois, mais qualquer coisa Porto: Arrábida 20: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h30, 16h55, 19h20, 21h45, 00h15 3ª 4ª 16h55, a “Alma Perdida”, que navega 19h20, 21h45, 00h15 simpaticamente sem nunca fixar onde quer amarar. Barthes e Parekh Podia ser uma ideia saidinha da não perdem o filme nessa indecisão, mente perversa de Charlie Kaufman, mas deixam um travo semi-amargo o argumentista de “Queres Ser John de filme que não conseguiu cumprir Malkovich?” (Spike Jonze, 1999) e “O todas as suas promessas. Mas não faz Despertar da Mente” (Michel Gondry, mal: para primeiro filme, já é uma 2004) e realizador de “Sinédoque, estreia de peso. Nova Iorque” (2008): uma máquina que permite “extrair” as almas humanas e guardá-las no armazém Chega para fazer um da firma enquanto se tiram umas Rohmer coreano? férias (quer na sede em Roosevelt Island, Nova Iorque, ou no armazém Noite e Dia de Nova Jérsia se não se quiser pagar Bam gua nat/Night and Day impostos). Nas mãos da estreante De Hong Sang-Soo, francesa radicada em Nova Iorque com Sabine Crossen, Gi Ju-bong, Cyril Sophie Barthes e do director de Hutteau. M/12 fotografia Andrij Parekh, creditados como co-autores do filme, essa ideia MMnnn de metafísica de ficção-científica dá na elegância descentrada e distorcida Lisboa: Medeia King: Sala 3: 5ª 13h15, de “Alma Perdida”, comédia doce- 16h, 21h30 6ª 13h15, 16h, 21h30, 00h30 Ida Dalser abdicou de tudo em nome do homem que amava, Sábado 13h15, 00h30 Domingo 3ª 13h15, amarga sobre a existência, a arte, as 16h, 18h45, 21h30 2ª 4ª 13h15, 16h, 18h45, Mussolini, e dele nada recebeu a não ser um bilhete só de ida para o asilo aspirações e os grãos-de-bico que 21h30, 00h30

50 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Alma Perdida mmmnn nnnnn nnnnn nnnnn Eu Sou o Amor mmmmm nnnnn mmmmn nnnnn Histórias da Idade de Ouro mmmnn mmmnn mmnnn nnnnn A Mente dos Famosos mmnnn nnnnn nnnnn nnnnn Noite e Dia mmnnn nnnnn nnnnn nnnnn Polícia Sem Lei mmmmn nnnnn nnnnn mmmmn Príncipe da Pérsia nnnnn nnnnn mmnnn nnnnn Robin Hood mmnnn nnnnn mmnnn mnnnn O Segredo dos Seus Olhos mmnnn nnnnn mmnnn nnnnn Vencer mmmmn mmmnn nnnnn mmnnn

consumido marijuana com um O ladrão de Alamut 17h30, 21h45, 24h Domingo 15h, 17h30, 21h45; Cinemax - Penafiel: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, Cineclubes estudante americano e de recear a 21h45 6ª 15h30, 21h45, 24h Sábado 15h, 17h30, para mais informações consultar www.fpcc.pt consequente prisão. Em França, Princípe da Pérsia: 21h45, 24h Domingo 15h, 17h30, 21h45; Medeia hospeda-se numa pensão infecta, lê a Cidade do Porto: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª As Areias do Tempo 3ª 4ª 14h15, 16h45, 19h25, 21h50; Vivacine - Maia: Bíblia (não se sabe bem porquê), Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h50, Cine-Teatro S. Pedro Prince of Persia: Largo S. Pedro - Abrantes frequenta a comunidade coreana, faz The Sands of Time 18h30, 21h30, 23h40; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 8 ½ FESTA DO CINEMA o circuito das galerias de arte, De Mike Newell, apaixona-se por raparigas mais 16h, 18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Ferrara ITALIANO – 3ª edição com Jake Gyllenhaal, Jake Gyllenhaal, Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 15h30, 18h, 21h30 6ª Programação em www.espalhafitas. jovens, fala ao telefone com a mulher Alfred Molina, Gemma Arterton. M/12 Sábado 4ª 15h30, 18h, 21h30, 24h; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h05, org em conversas vazias e manifesta a sua 2 a 6/6, 19h e 21.30h 18h45, 21h50 6ª Sábado 13h15, 16h05, 18h45, 21h50, incapacidade para integrar o espaço MMnnn 00h30; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª que habita. E aqui chegamos a um Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 18h50, 21h40 6ª Cinema Teixeira ponto fulcral: a essência do universo Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª Sábado 13h10, 16h, 18h50, 21h40, 00h30; ZON de Pascoaes rohmeriano passa por uma espécie 15h30, 21h30 Sábado Domingo 15h30, 18h15, 21h30; Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo Centro Comercial Santa Luzia - Amarante Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50, 18h40, 21h30, 00h30; ZON de ligeireza, de frivolidade séria, que 15h30, 18h10, 21h30 6ª 4ª 15h30, 18h10, 21h30, 24h Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado SIGNIFICADO – A Música não se inventa nem se improvisa, Sábado 13h, 15h30, 18h10, 21h30, 24h Domingo 13h, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h50, 21h50, Portuguesa se Gostasse Dela antes vem direitinha da tradição 15h30, 18h10, 21h30; Castello Lopes - Londres: Sala 00h50; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Própria + B FACHADA 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h45 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h20, 18h20, De Tiago Pereira, 2009, M/6 Não custa entender as razões pelas francesa da comédia de costumes, de Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h45, 24h; Castello Lopes 21h20, 00h15; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 1: 5ª 28/5, 21.30h quais a crítica ocidental insiste em uma descomplexada atitude - Loures Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 15h30, 18h40, 21h40 6ª 4ª 15h30, 18h40, aproximar o cineasta coreano de comunicativa, sem medo de arriscar 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h40, 21h30, 24h; CinemaCity 21h40, 00h10 Sábado 13h, 15h30, 18h40, 21h40, Alegro Alfragide: Cinemax: 5ª 6ª Sábado Domingo 00h10 Domingo 13h, 15h30, 18h40, 21h40; ZON Casa das Artes uma certa “Nouvelle Vague”, o lugar comum, a “conversa fiada”, a 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30, 21h35, 24h; CinemaCity Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª de Vila Nova de sobretudo de Éric Rohmer: “Night banalidade genial, transformada, Beloura Shopping: Cinemax: 5ª 6ª Sábado 14h20, 17h30, 21h 6ª Sábado 14h20, 17h30, 21h, 24h; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Famalicão and Day” (o título inglês que o tornou quantas vezes, em sinais de cultura Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h25, 18h50, 21h35, 24h; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala Domingo 2ª 3ª 4ª 14h50, 18h, 21h20, 00h15 Parque de Sinçães – Famalicão conhecido, talvez rimando com o de uma alta burguesia para quem 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h, Home (Lar Doce Lar) facto de jogar com o dia em Paris ser viver o momento é como respirar. 18h20, 21h30, 24h; Medeia Fonte Nova: Sala 3: 5ª De um filme baseado num jogo de De Ursula Meier, 2008, M/12 noite em Seul) organiza-se em torno E depois há a língua: as suas 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, vídeo, há sempre que esperar o pior. 3/6, 21:30h - Pequeno Auditório 21h50; Medeia Monumental: Sala 4 - Cine Teatro: 5ª de um discurso culturalista, desde a personagens também falam que se Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h 6ª Por tudo isto, convém desde já presença algo obsessiva (mas desunham, mas fazem do francês 14h, 16h30, 19h, 24h Sábado 16h30, 19h, 21h30, 24h; explicitar que “O Príncipe da Pérsia” Auditório do IPJ unilateral) de um tema da Sétima uma música surda, do trocadilho UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª Sábado constitui uma relativa (e agradável) (Faro) 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h40, 19h15, 21h50, 00h15 Rua da PSP - Faro Sinfonia de Beethoven, logo a partir uma arte, da não comunicação um Domingo 11h30, 14h05, 16h40, 19h15, 21h50, 00h15; surpresa: embora sempre destinado do genérico; constrói uma estrutura supremo jogo de cumplicidades, UCI Dolce Vita Tejo: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª a um público-alvo que reconhece os Uns Belos Rapazes De Riad Sattouf, 2009, M/12 romanesca, sob a forma de entradas perdido (e ganho) no artifício da 13h50, 16h15, 19h, 21h40 6ª Sábado 13h50, 16h15, seus heróis da consola de jogos, o 19h, 21h40, 00h15; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 31/5, 21.30h de diário, entre princípios de Agosto palavra certa, sem culpa nem tortura 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h25, 16h10, 18h50, filme cedo mostra que pretende e meados de Outubro; encena “jogos interior. Sem a “transparência” e a 21h30, 00h10; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª incorporar a memória fílmica das Centro Cultural do amor e do acaso” (o encontro luminosidade do francês escandido Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h50, aventuras clássicas, até pela forma 21h40, 00h20; ZON Lusomundo CascaiShopping: Vila Flor ocasional e inesperado do na perfeição, não há Rohmer, como 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, como configura as proezas atléticas Av. D. Afonso Henriques, 701 - Guimarães protagonista com uma antiga não há Marivaux, Musset ou Molière. 18h25, 21h20, 00h10; ZON Lusomundo Colombo: 5ª na acção e como encena Um Lugar Para Viver namorada que acaba por suicidar-se, Por isso não tomemos a nuvem por 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h15, personagens transparentes e De Sam Mendes, 2009, M/16 21h15, 24h; ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 30/5, 21.45h - Pequeno Auditório conforme se lê no jornal coreano, Juno: “Noite e Dia” terá com certeza 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30 6ª unilaterais, mas dotadas de mas também os seus romances os seus atractivos, mas fica a Sábado 15h30, 18h30, 21h30, 00h30; ZON suficiente complexidade, a fim de Cine-Teatro António inconsequentes com jovens quilómetros-luz da medida Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, remeter para reconhecíveis 18h30, 21h20 6ª 15h40, 18h30, 21h20, 00h10 Sábado Pinheiro compatriotas que estudam na escola inconstância rohmeriana. 12h50, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10 Domingo 12h50, paradigmas cinematográficos. R. Guilherme Gomes Fernandes, 5 - Tavira de Belas Artes de Paris); insere, de Na sequência em que Sung-nam 15h40, 18h30, 21h20; ZON Lusomundo Oeiras Num Império Persa, mais mítico Um Lugar Para Viver modo bastante forçado diga-se, uma não consegue comprar um Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, do que histórico, sem grandes dados 15h45, 18h30, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo De Sam Mendes, 2009, M/16 visita ao Museu d’Orsay, frente a um preservativo na farmácia, porque Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª quanto à sua localização cronológica 30/5, 21.30h quadro de Gustave Courbet, o não fala francês, reside não apenas 13h15, 16h10, 18h50, 21h30, 00h10; ZON Lusomundo (o que, no contexto presente, não famoso nu feminino intitulado “A um limite ficcional, mas a evidência Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª constitui defeito, mas feitio), Teatro Virgínia 13h, 15h35, 18h20, 21h30, 00h10; Largo José Lopes dos Santos – Torres Novas Origem do Mundo”; discute a loucura de que tudo está perdido na assistimos ao assalto pelas tropas do Castello Lopes - C. C. Jumbo: Séraphine de Van Gogh; inclui duas visitas a tradução (ou pela tradução): “Noite e Sala 1: 5ª 2ª 3ª 16h10, rei Sharaman, confiadas aos seus De Martin Provost, 2009, M/12 Deauville, com emblemáticos (mas Dia” é pesado, “gauche”, 18h40, 21h30 6ª 4ª 16h10, três filhos, um dos quais adoptado (o 18h40, 21h30, 00h10 2/6, 21:30h pouco “rohmerianos”) passeios pela denunciado, torturado, onde os Sábado 13h20, 16h10, herói do título, Dastan, encarnado praia, consumo desordenado de contos morais ou proverbiais de 18h40, 21h30, 00h10 com conveniente superficialidade Teatro Municipal ostras, passagem por cafés, Rohmer respiram (e transpiram) Domingo 13h20, 16h10, por Jake Gyllenhaal) numa 18h40, 21h30; Castello de Vila do Conde Av. João Canavarro - Vila do Conde esplanadas, pontes com (pouca) vista magistral leviandade. Por isso, talvez Lopes - Rio Sul Shopping: primeira sequência de sobre a Cidade-Luz; parece o momento-chave do filme passe Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª perseguição infantil Invictus comprazer-se numa deambulação pelo afrontamento de diferentes 15h40, 18h40, 21h40, 00h10 pelos telhados de De Clint Eastwood, 2009, M/12 Sábado Domingo 13h, 30/5, 16.00h e 21.45h sem sentido, nem tempo, ao sabor de concepções políticas de base entre as 15h40, 18h40, 21h40, uma cidade oriental improvisações amorosas. duas Coreias, metaforizado no braço 00h10; UCI Freeport: Sala 1: estereotipada, à Chega para “fazer” um Rohmer de ferro que os dois homens 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h30, cidade sagrada 21h25 6ª 15h40, 18h30, 21h25, coreano? Vamos por partes: Sung- efectuam na esplanada parisiense. E 23h55 Sábado 13h20, 15h40, de Alamut, nam, um quarentão pintor de o vaso que se quebra no final dá 18h30, 21h25, 23h55 Domingo onde está nuvens, exila-se em Paris por um conta da fragilidade da ficção, 13h20, 15h40, 18h30, 21h25; encerrado ZON Lusomundo Almada breve período devido ao facto de ter empenhada em “tocar uma guitarra Fórum: 5ª 6ª Sábado o para a qual não tem (nem tinha que Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, segredo 15h30, 18h20, 21h05, 23h55; ter) unhas”. das ROCHA DANIEL ZON Lusomundo Almada Jake Gyllenhall Dito isto, louve-se a capacidade Fórum: 5ª 6ª Sábado areias do para construir o drama a partir do Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, tempo, vazio anedótico da fuga, o esforço de 16h20, 19h, 21h45, 00h25; das origens ZON Lusomundo Fórum representar o fingimento como se Montijo: 5ª 6ª Sábado míticas da fosse vida, a máscara do sonho Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, salvação do sempre “perdida na tradução”. Só 15h40, 18h25, 21h30, 00h10; mundo, Porto: Arrábida 20: Sala 12: que o tempo (quase duas horas e 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª guardadas pela meia) pesa toneladas e este “conto 4ª 15h20, 18h20, 21h20, 00h15; princesa Tamina de fim-de-Verão” regressa à base Arrábida 20: Sala 15: 5ª 6ª (assim tal e qual, como Sábado Domingo 2ª 14h, sem que tenhamos percebido muito 16h35, 19h15, 21h55, 00h35 3ª na “Flauta Mágica” de B Fachada bem porque viajou para uma 4ª 16h35, 19h15, 21h55, 00h35; Mozart) da bela e em documentário Europa, de outras subtilezas feita. Cinemax - Cinema da Praça : Sala misteriosa Gemma 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h45 6ª Mário Jorge Torres 15h30, 21h45, 24h Sábado 15h, Arterton. Nada de mais

Ípsilon • Sexta-feira 28 Maio 2010 • 51 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Segundo o site Empire Switch”, de Elmore Robert de Niro no fi lme de Online, a prequela a Leonard, autor de “Run Tarantino) são dois jovens “Jackie Brown” (1997) Punch” que inspirou que se tornam amigos na Prequela vai existir, sem Quentin “Jackie Brown”. “The prisão, quando são presos

Cinema Tarantino. Está a ser Switch” é a prequela de por roubar carros. Quando escrita por Dan Schechter. “Run Punch”. Na prequela, são libertados, decidem Ou melhor, está a ser Ordell Robbie e Louis preparar um grande golpe adaptada do livro “The Gara (Samuel L. Jackson e

simples e previsível, a sobretudo nos três mais recentes desencadear todo o tipo de episódios (a prequela) da saga de “A peripécias, desde lutas corpo a Guerra das Estrelas”, tanto mais que corpo, travessias do deserto, duelos uma das chaves narrativas do filme de armas brancas e traições elabora sobre “A Máquina do inverosímeis, tudo empacotado em Tempo” de H. G. Wells – as efeitos especiais toscos e primários. capacidades mágicas do punhal de Onde reside então o interesse desta areia permitem “reescrever” a acção produção da Disney? Precisamente e voltar atrás, castigando o vilão no seu carácter simplista de não (Ben Kingsley, em piloto procurar mascarar o essencial de automático), “ressuscitando” os uma fábula das “Mil e Uma Noites”, príncipes mortos e evitando o endereçada a um público que já Apocalipse, dado fundamental para conhece Indiana Jones e que foi a “modernidade” da fábula. alimentado pelas bizarrias da Dito tudo isto, tratar-se-á de um Kevin Spacey impecavelmente “Guerra das Estrelas”. grande filme? Claro que não, uma cínico e silenciosamente devastado Comecemos talvez por um outro vez que as marcas do videojogo princípio: existem nas piruetas do limitam o olhar e a montagem tende herói, saltando de cenário em sempre a confundir as imagens cenário, ecos longínquos do grande numa vertigem desordenada. Douglas Fairbanks dos tempos do Mesmo o excesso aventuroso mudo e das suas acrobacias em “O aparece formatado, recusando o Ladrão de Bagdad” (Raoul Walsh, onirismo possível. O que 1924), por exemplo. Há na defendemos é que, apesar de tudo, engenhosa ingenuidade do enredo, e existe um prazer de efabular, uma na sua instrumentalização de um capacidade para aceitar o imaginário delirante e plano, desconchavo da aventura pela vestígios curiosos das aventuras aventura, que permitem consumir o orientais da Universal dos anos 40, produto com segurança. No com a heroína a lembrar os cômputo geral, é um caldeirão de erotismos óbvios de Maria Montez referências múltiplas, um – vejam com atenção o delirante e divertimento descomplexado e onírico “Cobra Woman” (Robert assumido, possuindo a vantagem Siodmak, 1944) –, prolongados no (enorme) de não mistificar o Porto: Arrábida 20: Sala 14: 5ª 6ª Sábado disfarçar que algumas destas Sala 10: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h35, 19h10, início da década seguinte por essencial: não se levando a sério, o Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h50, 19h20, 21h55, personagens estão apenas 21h45, 00h20 Domingo 11h30, 14h, 16h35, 19h10, 00h25 21h45, 00h20; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª produtos de série, destinados a “ladrão de Alamut” repõe as regras esboçadas e outras servem apenas Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h45, servir de veículo a jovens actores “ecológicas” do equilíbrio universal Kevin Spacey, num raro intervalo um papel funcional. E ainda menos 21h40, 00h25; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª então em ascensão, Rock Hudson, e encaixa a acção na tradição das suas funções de director da disfarçam que os últimos quinze Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª Tony Curtis ou Piper Laurie, em milenar do conto mágico, como se se companhia teatral londrina do Old minutos vêm negar 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h30, cenários de cartão pintado e procurasse obrigar o espectador Vic, recorda-nos em “A Mente dos vergonhosamente o retrato 21h15, 23h55; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª repetitivas histórias de triunfo e moderno e desinformado a procurar Famosos” porque é que é um dos desencantado de uma Hollywood Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h35, 18h30, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª sedução. Logo, o que muitos críticos as raízes do seu deleite numa intensa melhores actores americanos cínica e venal que preencheu a 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h35, 18h25, censuram a “O Príncipe da Pérsia”, a demanda do mito e não na violência contemporâneos – impecavelmente maior parte do filme. Apesar disso, 21h20, 00h10; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª baixa qualidade dos efeitos desconexa do dedo na tecla da cínico e silenciosamente devastado “A Mente dos Famosos” (quem se 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h15, 21h45, 00h30; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª especiais, reverte a seu favor, consola. Mário Jorge Torres como um psiquiatra de Hollywood à lembrou deste título idiota?) vale a 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h40, 18h40, inscrevendo-o numa quase linhagem beira do colapso, afogando as olhadela, quanto mais não seja por 21h20, 00h05; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª de série B, embora ostentando mágoas da morte da esposa em um Spacey em grande forma e pelo 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h50, A Mente dos Famosos 21h35, 00h20; grandes meios de produção. Shrink cigarros medicinais de variedades olhar desencantado sobre uma Por outro lado, como já referimos, De Jonas Pate, “design”. O problema é que o guião “fábrica de sonhos” que mais Porto: Arrábida 20: Sala 13: 5ª 6ª Sábado o punhal mágico e as pesquisas com Kevin Spacey, Mark Webber, Keke insiste em construir à sua volta a parece um pesadelo. J.M. arqueológicas no interior do templo enésima variação sobre “Magnolia” Domingo 2ª 14h, 16h45, 19h30, 22h10, 00h50 3ª 4ª Palmer. M/12 16h45, 19h30, 22h10, 00h50; ZON Lusomundo Dolce de Alamut não ignoram Indiana e subsequentes filme-mosaico, Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Jones, embora reformulado depois MMnnn alargando o seu raio de acção aos Continuam 14h30, 17h30, 21h10; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h45, de “A Múmia”, e incorporam as clientes do psiquiatra (um super- 18h35, 21h20 6ª Sábado 13h05, 15h45, 18h35, 21h20, Lisboa: CinemaCity Classic Alvalade: Sala 2: 5ª regras acrobáticas do “kung-fu” agente fóbico, uma actriz insegura, Polícia Sem Lei 00h15; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª coreografado de um filme como “O Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h40, 17h50, 19h55, 22h uma estudante introspectiva). E Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 19h, 21h50, 6ª Sábado 13h35, 15h40, 17h50, 19h55, 22h, 00h15; The Bad Lieutenant: Port of Call Tigre e o Dragão”; as aventuras no nem a elegância da encenação de 00h25; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 11: 5ª 6ª Sábado - New Orleans Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 19h, 22h, 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, 00h10 deserto, o sadismo ritual, as cobras Jonas Pate, nem a a melancolia De Werner Herzog, 00h45; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª monstruosas ou a corrida das Domingo 11h30, 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, 00h10; disfarçada da banda-sonora de Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 16h10, 21h40; ZON ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado com Nicolas Cage, Eva Mendes, Val avestruzes esboçam uma piscadela Brian Reitzell e Ken Andrews, nem a Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h20, 19h, 21h50, Kilmer. M/16 13h, 15h55, 18h50, 21h45 6ª Sábado 13h, 15h55, de olho à ficção científica codificada, 00h20 entrega do elenco conseguem 18h50, 21h45, 00h40 MMMMn Apesar de Werner Herzog negar a Lisboa: CinemaCity Beloura Shopping: Sala 3: 5ª relação de “remake” (ou sequela, ou 6ª Sábado Domingo 2ª 17h55, 21h45, 00h20 3ª 4ª o que for) entre o seu filme e o de 21h45, 00h20; Medeia Saldanha Residence: Sala 7: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 16h50, Abel Ferrara, é estimulante ver os 19h20, 21h50, 00h20; UCI Cinemas - El Corte Inglés: dois “Polícia sem Lei”. Comparar,

52 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon A adolescncia na vis‹o cl’nica de Antonio Campos. Numa escola, longe dos pais, a descoberta do sexo, das drogas, do Moutube... O que fazem eles depois das aulas? DVD inŽdito ÒDepois das AulasÓ, I|XWZe, 2/ Maio, por apenas +9,95Û, com o Pœblico. Festivais: Cannes (Selec‹o Oficial), Nova Iorque, Berlim, Londres, Deauville, Gijon e Austin Ð South by Southwest. Promo‹o limitada ao stock existente. limitadaPromo‹o ao stock aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Cinema

por exemplo, os uivos de angústia não se limita a repetir estereótipos O Segredo dos Seus Olhos Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200 de Harvey Keitel com os furores decadentistas e neo-barrocos, com a El Secreto de Sus Ojos nada religiosos e mais irrisórios de saga familiar de “O Leopardo” em De Juan José Campanella, Sexta, 28 Nicolas Cage que, à medida que o mente, a voz magoada e langorosa com Ricardo Darín, Soledad Villamil, filme progride, vai ficando cada vez de Maria Callas nos ouvidos, e o Pablo Rago. M/16 Lola Montes mais torto (é o mal das costas...) e grande melodrama cinematográfico Lola Montès mais parecido com o amigo/inimigo no olhar – de Visconti a Stahl ou MMnnn De Max Ophüls preferido de Herzog, o diabólico Douglas Sirk, passando pelo quase 15h30 - Sala Félix Ribeiro Klaus Kinski. Isso também é sempre esquecido De Sica de “O Lisboa: Medeia King: Sala 1: 5ª Domingo 3ª 14h15, interessante: ver como Herzog faz Jardim dos Finzi-Contini”, adaptado 16h45, 19h30, 22h 6ª Sábado 2ª 4ª 14h15, 16h45, Directed by John Ford 19h30, 22h, 00h20; UCI Cinemas - El Corte Inglés: De Peter Bogdanovich seu um argumento que serviria às de Giorgio Bassani, uma referência Sala 5: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h35, 19h15, maravilhas o “thriller” urbano dos literária tão incontornável em Luca 21h50, 00h30 Domingo 11h30, 14h, 16h35, 19h15,

19h - Sala Félix Ribeiro AFP HO/ anos 70 americanos, sendo o mais Guadagnino como Lampedusa. O 21h50, 00h30 A Gardénia Azul possível ele próprio, Herzog, que faz deste filme uma sedutora Porto: Arrábida 20: Sala 19: 5ª 6ª Sábado The Blue Gardenia mostrando-se como artesão a revisão (é a palavra) da tradição Domingo 2ª 13h45, 16h25, 19h10, 22h, 00h45 3ª 4ª De Fritz Lang 16h25, 19h10, 22h, 00h45; cumprir eficazmente a melodramática é a sua 19h30 - Sala Luís de Pina encomenda – ou seja, algo de improbabilidade narrativa, a noção Com alguma surpresa galardoado Il Gabbiano reptilíneo por aqui, o que não é da passagem do tempo, da com o Óscar de melhor filme em De Marco Bellocchio de espantar perante o restante da inutilidade do “pastiche”. “Eu Sou o língua estrangeira, quando quase 21h30 - Sala Félix Ribeiro obra de um cineasta que em 2009 Amor” faz todo o sentido, porque toda a gente esperava o triunfo The Mistery of Natalie ainda se fez passar (com menos sabe que já aparece fora de moda, merecidíssimo de “O Laço Branco” Wood graça) por David Lynch em “My Son, que se dirige a um paradigma morto, de Michael Häneke, “O Segredo dos De Peter Bogdanovich My Son, What Have Ye Done”. Vasco que se compraz num fim de mundo Seus Olhos” é um filme 22h - Sala Luís de Pina Câmara em que tudo mudou e nada muda. arrumadinho, bem narrado Por isso, Tilda Swinton se revela tão (romanesco no sentido mais Sábado, 29 Eu Sou o Amor magnífica na contradição de uma tradicional do termo), ostentando Uma Mulher Para Io Sono l’Amore personagem impossível, presa a uma bons valores de produção, mas sem Dois De Luca Guadagnino, sensualidade feita de esplendorosas os pequenos fulgores do seu anterior Design for a Living com Tilda Swinton, Flavio Parenti, ruínas fílmicas. Como diz David “O Filho da Noiva”, menos De Ernst Lubitsch Edoardo Gabbriellini. M/12 Thompson de “Amar Foi a Minha ambicioso, mas bem mais coerente. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Perdição” de John M. Stahl, é um Sempre perto da estrutura do filme para se ver em estado febril e, “thriller” que vai povoando de O Que O Céu Permite MMMMn All That Heaven Allows acrescentamos, em melancólico múltiplos indícios de outras histórias De Douglas Sirk Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 13: 5ª 6ª êxtase. De outro modo, arriscamo- subliminares, o filme acaba por Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, nos a uma reacção racional que “Eu perder-se na sua própria rede de 19h - Sala Félix Ribeiro 00h10 Domingo 11h30, 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, 00h10 Sou o Amor” não comporta. M.J.T. sentidos, demasiado longo para Degelo sustentar a essência do que Ledolom Porto: Arrábida 20: Sala 18: 5ª 6ª Sábado “O Segredo dos seus Olhos” pretende demonstrar. A De Boris Barnet. 65 min. Paul Newman, Domingo 2ª 13h55, 16h40, 19h20, 22h05, 00h45 3ª 4ª 16h40, 19h20, 22h05, 00h45 19h30 - Sala Luís de Pina realizador magnífi co - conferir excessiva extensão do “flash- esta semana na Cinemateca Não é Visconti quem quer e o back” rouba eficácia ao que O Medo Come a Alma milagre de “Sentimento”, poderia constituir um Angst essen Seele Auf De John Ford 15h30 - Sala Félix Ribeiro disseminando o pathos operático interessante exercício sobre a De Rainer Werner Fassbinder pela História e pela complexidade auto-reflexividade narrativa, 21h30 - Sala Félix Ribeiro Heaven Can Wait romanesca, não se repete apesar de conseguir construir Scorpio Rising + Behind Every De Ernst Lubitsch facilmente, de tal modo reflecte uma personagens fortes e de Good Man + The Craven Slick 19h - Sala Félix Ribeiro visão fascinante e irrepetível do revelar um Campanella, + Siamese Twin Pinheads Marcia Trionfale mundo. E, no entanto, “Eu Sou o bom director de (bons) Scorpio Rising De Marco Bellocchio Amor” entendeu a lição do mestre e actores. M.J.T. De Kenneth Anger. 28 min. 19h30 - Sala Luís de Pina “Eu sou o amor” entendeu a lição do mestre Visconti 22h - Sala Luís de Pina Música no Coração Segunda, 31 The Sound of Music De Robert Wise Spartacus 21h30 - Sala Félix Ribeiro Spartacus De Stanley Kubrick Playback 15h30 - Sala Félix Ribeiro De Hartmut Bitomsky. 90 min. 22h - Sala Luís de Pina Il Sogno della Farfalla De Marco Bellocchio Quarta, 02 19h - Sala Félix Ribeiro Lilith e o Seu Destino Directed by John Ford Lilith De Peter Bogdanovich De Robert Rossen 19h30 - Sala Luís de Pina 15h30 - Sala Félix Ribeiro O Voo da Fénix O Rei da Comédia The Flight of the Phoenix The King of Comedy De Robert Aldrich De Martin Scorsese 21h30 - Sala Félix Ribeiro 19h - Sala Félix Ribeiro O Efeito dos Raios Gama no Comportamento das Margaridas Luz de Inverno The Eff ect of Gamma Rays on Nattvardsgästerna Man-in-the-Moon Marigolds De Ingmar Bergman De Paul Newman 19h30 - Sala Luís de Pina 22h - Sala Luís de Pina Il Principe di Homburg De Marco Bellocchio Terça, 01 21h30 - Sala Félix Ribeiro O Prisioneiro da Ilha dos Die UFA Tubarões De Hartmut Bitomsky. 88 min. The Prisoner of Shark Island 22h - Sala Luís de Pina

54 • Sexta-feira 28 Maio 2010 • Ípsilon 19 JUN SÁB 21:00 SALA SUGGIA | € 15 ÁUSTRIA 2010

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