Monumento paradigmático da Exposição Universal de Paris de 1889, a Torre Eiffel acabou por se transformar em ex-libris da capital francesa e cenário do vôo do balão no 5 de Santos Dumont, a 8 de agosto de 1901. Guardados da Memória

Paris aplaude Santos Dumont

urante meia hora, todos os olhares de Paris estiveram D voltados para o céu da cidade, onde o brasileiro Santos Dumont conseguiu provar ser possível pilotar um balão dirigível. Decolando de Saint Cloud, Santos Dumont seguiu rumo à Torre Eiffel, a contornou e voltou ao ponto de partida, sobos aplausos de toda a Paris. Pela façanha, o brasileiro recebeu o Prêmio Deutsch de la Muerthe, no valor de 100 mil francos. O aviador não quis ficar com o dinheiro. Deu 25 mil francos para os homens que o ajudaram a construir a máquina voadora, e o restante doou à polícia de Paris para que fossem quitadas as dívidas de moradores da cidade. Como se não bastasse o feito inédito, a generosidade de Santos Dumont transformou o brasileiro em herói dos parisienses. Logo após com- pletar a façanha, ele recebeu um telegrama de outro grande inventor que muito o emocionou. “Alberto Santos Dumont, o pioneiro dos ares, homenagem de Thomas Edison.” O piloto contou sobre a emoção de ser o primeiro homem a controlar o vôo com perfeição. “No trajeto para a Torre Eiffel, nem uma só vez olhei para os telha- dos de Paris: eu flutuava sobre um mar branco e azul, nada mais ven- do senão meu objetivo.”

249 Guardados da Memória

Rui conquista Haia

a Da retrospectiva o fim da 2 Conferência da Paz, em Haia, na Holanda, do Jornal do Brasil. A todos os delegados comentaram a qualidade dos discursos de Rui Barbosa, chefe da delegação brasileira. Ora num inglês de fazer inveja aos lordes britânicos, ora num francês melhor do que o da corte parisiense, Rui defendeu o princípio da igualdade entre as nações, não importando seu poderio econômico, e ainda teve a cora- gem de denunciar a forma pela qual o encontro foi organizado, clas- sificando os países de acordo com seu poderio bélico. Segundo Rui, tal critério é inaceitável em uma conferência que pretendia tratar jus- tamente da paz mundial. O brasileiro tornou-se líder dos pequenos países da reunião e ficou conhecido com o Águia de Haia.

250 Guardados da Memória

Uma página de Euclides

Alceste

ncontro na revista Kosmos – a propósito da qual falei aqui, an- A Gazeta de teontem, número de outubro de 1908 – uma colaboração de S. Paulo, E 9 de outubro que, segundo me parece, ainda não foi reunida de 1945. em livro. Intitula-se “Numa volta do passado” e consiste na impres- são de uma visita feita ao “decaído sítio” do capitão Antônio Pinto da Silveira, perto da cidade de Silveiras. É essa uma de suas páginas mais interessantes, digna de não ser esquecida. O começo, por exem- plo, constitui um trecho descritivo de primeira ordem. Ei-la: “Che- guei à estancia solitária ao cair da noite, exausto de fadiga, ao cabo de dez horas a fio de marcha, aos boléus, pelos borocotós de um desvai- rado atalho do mais antigo e esquecido caminho de rodagem do Bra- sil. E, certo, a não faltar ainda longo estirão de três léguas para ir-se a Areias ou a não serem de todo impraticáveis à noite aquelas veredas que os tabocais cegavam, invadindo-as – eu teria prosseguido, su- plantando o cansaço, fugindo à espera fita do mal assombrado pou- so que se me oferecera. Na verdade era preferível qualquer rancho

251 Alceste aberto de tropeiros, varado das chuvas e dos ventos, àquela tapera desgostante. Como tantas outras, que se topam de longe em longe, ao longo das trilhas multivias de trato de São Paulo, ela me parecia como um espantalho de grandeza decaída: desgracioso casarão anti- go, de paredes esborcinadas e pensas sob telhado levadio de beirais saídos, bojando no recosto de um morro, no breve claro de um car- rascal bravio. À frente da porta principal, sobre um monte de seixos, um cruzeiro alto, sacudindo ao vento o estropalho de um sudário em tiras. A uma banda à esquerda uma figueira pobre de mandiocal ra- quítico, onde fora vasto pomar aprazível. À outra, adivinhavam-se os restos de um jardim invadido de samambaia. Ao fundo, desmoro- nando um terreiro de pedra, feito enorme muradal de lájeas disjungi- das. Mais longe, por todos os lados, cobrindo a morraria até ao pino, os galhos caóticos e sem folhas de um vasto cafezal seco, de cem anos. Nada mais. Pelo menos, nada mais vi relanceando o cenário que o crepúsculo entristecedoramente empastara...”



Está aqui um trecho modelo das admiráveis qualidades descriti- vas de Euclides e modelo também do seu preciosismo que, se não chega a empanar a beleza da página, poderia, com vantagem, ser eli- minado. Aquele “trato” por pedaço não deixa de irritar e o mesmo diríamos de tapera “desgostante”, que nos parece uma tradução do francês “degoûtante”. Apesar de tais pecadilhos – comuns e característicos de toda a obra de Euclides – a página é magnífica. Por aí vai o escritor, retra- tando depois do velho que o recebeu: “arcado, como se o doirasse o peso da candeia de azeite suspensa a uma das mãos”. Em Contrastes e confrontos eemÀmargem da História , os únicos livros fragmentários de Euclides, não encontramos essa crônica, o que nos leva à quase certeza de que ela se acha esquecida nas páginas da velha revista.

252 PATRONOS, FUNDADORES E MEMBROS EFETIVOS DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Fundada em 20 de julho de 1897) As sessões preparatórias para a criação da Academia Brasileira de Letras realizaram-se na sala de redação da Revista Brasileira, fase III (1895-1899), sob a direção de José Veríssimo. Na primeira sessão, em 15 de dezembro de 1896, foi aclamado presidente . Ou- tras sessões realizaram-se na redação da Revista, na Travessa do Ouvidor, n. 31, . A primeira sessão plenária da Instituição reali- zou-se numa sala do Pedagogium, na Rua do Passeio, em 20 de julho de 1897.

Cadeira Patronos Fundadores Membros Efetivos 01 Luís Murat 02 Álvares de Azevedo Tarcísio Padilha 03 Filinto de Almeida 04 Basílio da Gama Aluísio Azevedo 05 Bernardo Guimarães 06 Raymundo Faoro 07 Valentim Magalhães Sergio Corrêa da Costa 08 Cláudio Manuel da Costa Antonio Olinto 09 Domingos Gonçalves de Magalhães Magalhães de Azeredo 10 Rui Barbosa Lêdo Ivo 11 Lúcio de Mendonça 12 França Júnior Urbano Duarte Dom 13 Visconde de Taunay Sergio Paulo Rouanet 14 Franklin Távora Clóvis Beviláqua 15 Gonçalves Dias Pe. Fernando Bastos de Ávila 16 Gregório de Matos Araripe Júnior 17 Hipólito da Costa Sílvio Romero Affonso Arinos de Mello Franco 18 João Francisco Lisboa José Veríssimo 19 Joaquim Caetano Alcindo Guanabara Marcos Almir Madeira 20 Salvador de Mendonça Murilo Melo Filho 21 José do Patrocínio 22 José Bonifácio, o Moço 23 José de Alencar Machado de Assis Zélia Gattai Amado 24 Júlio Ribeiro Garcia Redondo Sábato Magaldi 25 Barão de Loreto Alberto Venancio Filho 26 Guimarães Passos Marcos Vinicios Vilaça 27 Maciel Monteiro 28 Manuel Antônio de Almeida Inglês de Sousa Oscar Dias Corrêa 29 Josué Montello 30 Pedro Rabelo Nélida Piñon 31 Pedro Luís Luís Guimarães Júnior Geraldo França de Lima 32 Porto-Alegre 33 Raul Pompéia Domício da Gama Evanildo Bechara 34 J.M. Pereira da Silva João Ubaldo Ribeiro 35 Tavares Bastos Rodrigo Octavio Candido Mendes de Almeida 36 Teófilo Dias Afonso Celso João de Scantimburgo 37 Tomás Antônio Gonzaga Silva Ramos Ivan Junqueira 38 Graça Aranha José Sarney 39 F.A. de Varnhagen Oliveira Lima 40 Visconde do Rio Branco Eduardo Prado

Composto em Monotype Centaur 12/16 pt; citações, 10.5/16 pt.