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DENNIS WHITEHEAD/CORBIS ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 6989 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE 70 Anos www.ipsilon.pt 22 Maio 2009 Sexta-feira

Helen Cooper Cada vez nomeiodenós mais Andy WarholAndy

Marçal Aquino

Green Day

Sean Riley

E-mail: Soares Mariana Carla Noronha, Jorge Guimarães, Designers Directora dearte Simon Esterson, Kuchar Swara Design Vítor Belanciano Óscar Faria, CristinaFernandes, Coutinho, InêsNadais, Conselho editorial Joana Henriques Gorjão (adjunta) Editores Director 24 Ficha Técnica a América de Bush a voz do protesto contra A banda que setornou Green Day Splash, Crash! no CCB Uma maratona Bang, Percussão 20 “Cabeça aPrémio” em54dias O brasileiro escreveu Marçal Aquino 18 22 guerra civil regressou em àLibéria A repórter de guerra Helene Cooper redescobrir, de AaZ 14 Uma década inteira para 12 Cinema dosanos1970 6 do arquitecto português Entre leões que riem, omundo Pancho Guedes Barómetro do nosso tempo Andy Wahrol Sumário www.ipsilon.pt

Mark Porter, [email protected] José Manuel Fernandes Vasco Câmara, Ana Carvalho, Sónia Matos Isabel Flash Niels Arden Oplev, orealizador dofi de “Millennium” a Maria-rapaz Noomi Rapace, entrado neste filme está entrado nestefilme está atéter desconhecida que erauma A actriz este anoéNoomiRapace.” escandinava emCannes von Trier. Amaiorestrela escreveu: Lars “Esqueçam Hollywood“The Reporter” passagemsua porCannes,o semana,apropósitoEsta da europeus.vários cinemas 2004), que aestrear está em (1954- Larsson sueco Stieg “Millennium” doescritor volume dasaga Oceanos), oprimeiro Odeiam Mulheres” (ed. “Osadapta Homens que Salander nofilmeque que falar. éLisbeth Aactriz adar Noomi Rapaceestá lme, decreveu Noomi como“explosiva” em Cannes. asernegociado mas estaria comprado paraPortugal, filme aindanãotinhasido o ao fechodanossaedição, Até ecanadianas. italianas espanholas, de cinema 29 deMaioiráparaassalas Enodia enaBélgica. Suíça estreou na emFrança, escandinavos, ofilmejá dospaíses Depois imprevisível.” É cavilha desegurança. de mãoaque setirou “Ela écomoumagranada do filme,como“explosiva”. Arden Oplev, orealizador porNiels Rapace édescrita europeia. Noomi star” “big destinada aserpróxima Público Espaço cortou o cabelo, praticava ocabelo, cortou quando tinha13, 14 anos ajudaram aentrarnopapel: que seu passado coisas a ao desenhada. Efoi buscar uma heroína dabanda que noslivros quaseparece para interpretar estepapel decombate treinou técnicas aprendeu e aandardemota de29anos sueca A actriz terem sidopublicados. antes deoslivroscinema ao direitos deadaptação -compraramos seguintes aprepararestá osfilmes produtora Yellow Bird já ea milhões deespectadores Só naEscandinávia fez2,4 MichaelNyqvist. é oactor MikaelBlomkvist, jornalista odo papel principal, suecos. Ooutroactores papéis tem nosprincipais e ser feitoparaatelevisão Estocolmo, começoupor Tattoo”, foirodado em Girl With theDragon otítuloeminglês“The Com apeteceu escrever sobre gostou tanto quelhe concerto, DVD viu e disco, álbum,canção, teatro, livro, exposição, seu. Que fi Este espaçovai ser lme, peçade 2 deJulho. livrarias nodia portuguesas (Oceanos)iráparaas Ar” dasCorrentes de no Palácio “Millennium”, “A Rainha último) volume de Alemanha. Oterceiro (e para oReino Unido ea venda asua negociação Polónia em eestá o filmejáfoicompradopela arevista “Variety” Segundo tontas”. românticas quer fazer“comédias “Dragon Tattoo”), enão bissexual que interpreta em (a “hacker” gótica e Salander como odeLisbeth complicados, em papéis interessadaRapace sóestá argumentos. MasNoomi enviado muitos europeus que lhetêm e norte-americanos conversas comprodutores O agente temtido da actriz rapaz. nascido lamentava época nãoter judo ekung-fu, enessa Ípsilon •Sexta-feira 22Maio2009• publicamos. publico.pt. Enósdepois caracteres para ipsilon@ nos umanotaaté 500 escrevemos? Envie- concordando comoque ele, concordando ounão 3

LOIC VENANCE/ AFP

Estamos online. Entre em Flash Internet www.ipsilon.pt. É o mesmo suplemento, é outro desafi o. Venha construir este site connosco.

Chico Buarque acaba de lançar no Brasil o seu quarto romance, “Leite Derramado”

António Lobo Anne Enright (Booker Prize de especificado com a EMI, a editora 2007), o afegão Atiq Rahimi O novo álbum de Danger de Danger Mouse e dos Antunes e Chico (Prémio Goncourt 2008), o Sparklehorse, “Dark Night Of The Buarque em Paraty americano Tobias Wolff, a francesa Soul” não pode ser editado. Os Catherine Millet, a artista e Mouse tem David Lynch músicos, contudo, contornaram a fotógrafa Sophie Calle, o escritor questão e disponibilizam ao O escritor português António Lobo Grégoire Bouillier e o crítico de público, isso mesmo, um CD-r Antunes e o brasileiro Chico música clássica Alex Ross ( da (e é um CD-r) virgem. No interior, estará uma Buarque são dois dos convidados revista “New Yorker” e autor do No final de Março a notícia foi nota encorajando o comprador a da FLIP - Festa Literária de Paraty, a livro “The Rest Is Noise”). anunciada misteriosamente e fazer dele o que bem quiser - leia- decorrer de 1 a 5 de Julho de 2009 São 35 autores de nove divulgada com pompa. Danger se, a gravar ali as canções do no Brasil. nacionalidades, reunidos em 18 Mouse e os Sparklehorse tinham álbum, já disponíveis em O autor português, Prémio Camões mesas e como todos os anos haverá novo álbum, intitulado “Dark Night plataformas ilegais de partilha de 2007, cujo último livro publicado uma homenagem, desta vez Of The Soul” e com lançamento ficheiros. Mais: a edição terá duas no Brasil é “Meu nome é legião” dedicada ao poeta Manuel Bandeira previsto para o Verão. Desta vez, a versões, acessíveis através do site não vai ao Brasil desde 1983, (a conferência de abertura será colaboração não se resumiria a ter www.dnots-store.com. A luxuosa segundo divulgou a organização. feita pelo especialista e crítico Davi o produtor trabalhando algumas custa 50 dólares (37,7 euros) e vem Chico Buarque, que acaba de lançar Arrigucci Jr.). canções da banda de Mark Linkous, acompanhada de um álbum de no Brasil o seu quarto romance, Flávio Moura, director de como aconteceu em “Dreamt For fotografias de David Lynch. A “Leite Derramado” (irá para as programação deste ano, na Light Years In The Belly Of A simples, não ultrapassa os 10 livrarias portuguesas a 12 de Junho apresentação à imprensa Mountain”, o álbum de 2006 dos dólares (7,3 euros) e oferece ao numa edição Dom Quixote), disse que “a FLIP Sparklehorse. comprador um poster alusivo ao regressa à FLIP e partilhará uma 2009, a exemplo Desta vez, o acontecimento seria álbum. mesa com o escritor de Manaus, das edições épico e podia ser anunciado Para os desinteressados no CD-r, Milton Hatoum (autor de “Cinzas anteriores, traz como tal ainda antes de se nas fotos de Lynch ou no poster, do Norte”, ed. Cotovia). autores de conhecer a música. Bastava mas curiosos quanto à música de Outros dos convidados é o qualidade olhar para a lista de “Dark Night Of The Soul”, há jornalista americano Gay Talese inquestionável” e convidados: Julian formas legais de conhecer a obra. (autor de “Honra o teu Pai”, ed. que se consolida Casablancas, dos Strokes, Até ao fecho de edição do Ípsilon, o Presença), que na FLIP conversará assim como “um James Mercer, dos Shins, site da NPR, a rede de rádio pública com o jornalista brasileiro Mario dos melhores Black Francis, dos Pixies, americana, tinha o álbum Sergio Conti, sobre jornalismo festivais Suzanne Vega, Iggy Pop, disponível para audição em stream. literário. literários do os Flaming Lips, Vic Entretanto, no site dedicado ao O biólogo inglês Richard Dawkins mundo”. Chesnutt ou, surpresa, David álbum, lê-se a seguinte mensagem: (“A Desilusão de Deus”, ed. Casa Lynch. “Danger Mouse deseja que as das Letras) estará também na festa Assim como estava, já era pessoas afortunadas o suficiente no ano em que se comemora o Danger Mouse e os Sparklehorse surpreendente o suficiente. para ouvir o disco, de que forma segundo centenário de nascimento (na foto) tinham novo álbum, Agora, tornou-se bizarro. for, estejam tão entusiasmadas de Darwin e os 150 anos da intitulado “Dark Night Of The Soul” Porque, afinal, o disco está como ele próprio”. A “batalha” publicação de “A Origem das e com lançamento previsto para feito mas não vai ser conhecerá certamente Espécies”. o Verão mas um confl ito editado tão cedo. Devido a desenvolvimentos nos próximos Em Paraty estarão ainda a irlandesa com a editora EMI anulou-o um conflito legal não tempos.

vozes da era de ouro da canção em Outubro e está em pré- Scorsese fi lma Sinatra (e não só) popular americana, como da produção na sua adaptação primeira vez que os herdeiros de “Silêncio”, de Shusaku do cantor deram a sua Endo, com Benicio del Toro e Parece que é desta que O encontro entre dois dos mais célebres italo-americanos autorização para um projecto Gael García Bernal. Martin Scorsese vai do mundo do espectáculo era há muito desejado por Scorsese deste género (incluindo o OK E a sua World Cinema concretizar o seu velho sonho para utilizar as gravações Foundation, que estabeleceu de dirigir uma biografia de originais de Sinatra). em 2007 com uma série de Frank Sinatra. O encontro Phil Alden Robinson outros cineastas entre os entre dois dos mais célebres (realizador de “Campo de quais Stephen Frears e

italo-americanos do mundo AFP HO/ Sonhos” e “A Soma de Todos Guillermo del Toro e é do espectáculo era há muito os Medos”) está a escrever o responsável pelo restauro e desejado pelo realizador, guião e já se fala de Leonardo preservação de filmes cujo fascínio pela era di Caprio, actual “musa” do esquecidos, vai agora iniciar clássica de Hollywood é realizador, para o papel de a distribuição digital dos bem conhecido (basta Sinatra. projectos em que tem lembrar “O O filme não será, contudo, trabalhado nos últimos anos. Aviador”...). para já: Scorsese ultima Scorsese anunciou na Segundo a revista neste momento passada semana, no festival “Variety”, Scorsese “Shutter Island”, de Cannes, que os filmes aceitou embarcar no baseado no romance restaurados pela fundação, projecto que a de Dennis Lehane até aqui visíveis apenas em Mandalay Pictures de (“Mystic River”), projecções pontuais, Peter Guber (produtor com Di Caprio, passarão a estar disponíveis de “Batman”) está a Mark Ruffalo, (em muitos casos desenvolver Ben gratuitamente) no website sossegadamente há dois Kingsley e theauteurs.com e poderão anos. Tratar-se-á não apenas Michelle igualmente ser requisitados do primeiro filme biográfico Williams, por museus, universidades, sobre a mais lendária das que estreará festivais e cineclubes.

4 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009

Quanto m o conhecemos

6 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009misterioso m os ele é ais Andy , mais mais Warhol Warhol

Pop Art

SUSANA VERA/ REUTERS destaque para umaretrospectiva que seráagrandeexposição de des tiveram exposições eaquela suas aAmesterdão,de Berlim outrascida- afazê-lo. Nosúltimosmeses, decidido Pensem novamente!” a frase “pensamque oconhecem? Janeiro com último, erapublicitada aopúblicoatéde Londres, aberta paraTV.criou Rouge, aosprogramas que dedicada mostra “Warhol Maison noLa TV”, -até13deJulho -oua Grand Palais Grande Mundo deAndy Warhol”, no autoriasua algumavez exibida, “O mostraderetratos vasta da é amais aoautorcada desde1979,aquela que amaiorexposição dedi- publicita-se obra.Nostransportes asua discute-se livros mundanos mais dele.Noscafés comuns eemdestaque estão deParis se celebra esteano. Nova Iorque. Nenhuma especial data reu a22deFevereiro de1987,em de Agosto Mor- de1928,Pittsburgh. dito sobre Andy Warhol. Nasceua6 dos sobre ele.Já tudoparece tersido Toneladas dedocumentos produzi- sistemática. nente edemediatização Foram perma- dediscussão décadas Famoso íconedepoisda emvida, volta-se areavaliar oseulegado. Parece que omundo mesmo está Uma mostradaHayward Gallery naslivrariasMas entra-se mais metade doséculo XX,continua Andy, nuncapareceu estartão dedicada nos últimos 20anos, morte. AndyWarhol, oartista a olharpara nós, desafi presente. mais conhecido dasegunda nos. Emtodo omundo,com em Paris, amaiorquelheé Vítor Belanciano Capa do mundo” piores filmes “fazer os desejava que disse Provocador, se oferece diversas àsmais inter- quer afirmar. Warhol éalguém que oquecontradizê-lo, maspercebe-se num vulgar diadesemana,parecem eossucessivosPalais, salõesrepletos complexidade.” umsinalevidenteda sua cisamente, deexposiçõesmultiplicação é,pre- oqueno meioartístico, éredutor. A pop, como sendoapenasumartista grande públicoe,outrasvezes, évisto ser entendido natotalidade pelo é demasiadosubtilelabirínticopara não.60 e70hojetambém Àsvezes se possapensar, nãoofoinosanos diz-nos.“Aosual”, contráriodoque longefigura, masestá deserconsen- “ÉverdadeParis. que éumagrande Cueff, daexposição comissário de grande público. valores deatrairo seguros, capazes preferem em clima decrise, apostar que, faceao instituições artísticas dizem que das éapenasumareacção meio denós. doqueparece mais nunca no estar ele, masexistem alturas emque impossível pensaronossotemposem receu, éverdade. Éomnipresente. É volta aserreavaliado. desapa- Nunca imprevisíveis,rostos, dosaspectos dos das aparências, dassuperfícies, quim, o “dandy eterno”, estratega nosanos80,oactor,da TV omane- rock Velvet Underground, ohomem “ricos efamosos”,omentordogrupo de Montreal. peloMuseu Artes deBelas iniciada tsburgh irãoreceber mostra, esta tarde, omuseu Andy Warhol dePit- e,mais SãoFrancisco com amúsica. Warhol”, relação que interpelaasua “Asição naObra de eaDança Música Sherman. Murakami oude DamienHirstaCindy Emin, deKeith HaringaTakashi que propagou, deJeff Koons aTracey que seguiarampelosparadigmas tas para assucessivas gerações deartis- - iráinterrogar oseulegado, olhando - “Pop InAMaterialWorld” Life:Art Outono daTate Modern deLondres revista “Interview” dedicada aos dedicada “Interview” revista ofundadorem1969da cineasta, Ípsilon •Sexta-feira 22Maio2009 • A filagiganteàentradadoGrand dofrancêsAlain Não éessaavisão Porquê agora? cínicos Osmais Warhol, opintor, ofotógrafo, o UnidosNos Estados circula aexpo- ando- 7

No palco de Lupa, Edie Sedgwick, Utra Violet, Brigid Berlin, Paul Morrissey...

“Ele não foi o artista Com os Velvet Under- ground, que gostávamos imagem do livro de Steven que ele fosse” Watson Kristian Lupa, encenador polaco, ressuscitou Andy Warhol e a Factory. Fez um espectáculo de oito horas. Joana Gorjão Henriques

Andy Warhol teve um golpe de fi lme é chato e Andy diz: “Adoro pretações. Quanto mais parece que génio: desmontou o mistério da coisas aborrecidas”), outros o conhecemos, mais o mistério se arte, dessacralizou-a. Krystian encenados com os actores de intensifica. Os olhares sobre ele pare- Lupa, encenador de “Factory 2” Lupa, como os “screen tests” a cem infinitos. É isso que está a acon- - espectáculo de oito horas sobre Nico. tecer hoje. esse atelier em Nova Iorque Foram para os ensaios sem onde tudo se passava nos anos textos, estiveram mais de um Revisitação constante 1960 - repete esta ideia numa mês a ver fi lmes de Andy com a A maior parte das retrospectivas da conversa em Breslau, onde lhe ideia de pôr em cena aquilo que sua obra tinham sido concebidas e foi entregue no início de Abril interessava ao encenador, “o produzidas nos EUA. Agora também o Prémio de Teatro Europeu e sonho da Factory”, onde todos a Europa o faz. E o olhar é, por vezes, apresentado “Factory 2”. Andy eram “superstars”. O sonho diferente da simples ideia do “pai da Warhol continua inatingível: da Factory que é, também, de arte pop.” um mistério que nenhum alguma forma, “o nosso sonho Por outro lado, a sua obra é de tal espectáculo, nenhuma biografi a da América” - e ali há o culto forma aberta, espécie de fenómeno consegue desvendar, defende de uma fi gura central, Andy, social total onde todos se podem Lupa, e a existir alguma teoria, claro. Regras básicas: testes reconhecer pelo menos um pouco, essa seria a sua. No fundo, “Andy de câmara aos actores, que todos podem procurar a sua ver- Warhol não foi o artista que inspirados nos fi lmes de dade nela. É isso que tem acontecido gostávamos que ele fosse”. Warhol e focados na ideia nos últimos anos, com artistas, músi- Seja o que for que Krystian do “eu” e do exibicionismo, cos ou pensadores revisitando o seu Lupa gostasse que Andy fosse, como explicou a legado, cada um deles saindo dessa isso resultou de um mergulho dramaturga do espectáculo experiência capazes de fornecer ele- de mais de um ano no universo Iga Gancarczyk numa mentos de ligação distintos com a de Andy Warhol e das estrelas conversa em Breslau. “Na realidade artística actual. e proto-estrelas que gravitaram nossa aventura com o Andy Da dança ao cinema, da música às à sua volta. Não se sabe se essa alimentámo-nos vampiristica- artes plásticas, da escrita à televi- foi a vontade do encenador, mas mente para fazer uma são abriu portas. Os Daft Punk, em “Factory 2” Andy Warhol reencarnação e não uma arautos da música de dança, (além da imagem cliché que recriação. Porque no revêem-se no seu minimalismo temos dele, o exibicionista) é fundo isto é qualquer radical, na aproximação con- uma espécie de buraco negro de coisa que faz viver de ceptual e na forma como solidão a atrair pessoas iguais novo algo que está subverte aspectos menos a si, alguém que vampiriza mas morto.” credíveis da sociedade de que protege ao mesmo tempo. Na Polónia, como consumo. Tal como ele, (Na Polónia falou-se sobre o em Paris ou Londres, cruzam linguagens entre vampirismo e exibicionismo de o espírito parece ser a arte, a moda, a música Warhol como um auto-retrato de este: ressuscitar Andy ou o design gráfico. Lupa, mas isso é toda uma outra Warhol. Criadores de moda história). como Marc Jacobs ou “Factory 2” reproduz tal e fotógrafos como qual o estúdio original onde David LaChapelle Warhol estava entre 1962 e destacam a visão 1968. Mas Lupa, 66 anos, nunca transversal e a mul- quis fazer um espectáculo tiplicidade e força documental. Passeiam-se das imagens liga- por lá Edie Sedgwick, Utra Aqui ele das ao seu traba- Violet, Brigid Berlin, Paul lho, fáceis de Morrissey, Ondin, Viva, Andrea serem apro- Feldman, Mary Woronov, Holly vampiriza priadas por Woodlawn, Freddie Herko, Eric todos. O Emerson, Jackie Curtis e Candy cineasta Gus Darling, Nico... Que não são mas Van Sant diz completamente Edie Sedgwick, que é “mais Utra Violet, Brigid Berlin, protege importante e, Paul Morrissey..., são também provavel- um pouco dos actores que os mente, mais interpretam. ao mesmo conhecido Lupa seguiu a regra de Warhol hoje do que nos seus fi lmes, a improvisação - quando mor- dos últimos trinta anos rege-se pelos “ele achava que da improvisação tempo reu”, enquanto seus princípios teóricos e as frontei- nasceriam novas realidades, a fotógrafa Nan ras da arte foram esticadas por ele. novos seres, novos qualquer Goldin destaca os Recentemente, o coreógrafo francês coisa”. E passam vários fi lmes “Screen Tests”, por- Jerôme Bel, na revista “Les Inrockti- no palco, alguns originais, como que “mostram as pes- bles”, contava uma história exempli- “Blow Job” (alguém diz que o soas tal como elas ficativa. Um dia, Andy terá convidado eram.” para jantar em sua casa John Lennon O mercado artístico e Yoko Ono, o coreógrafo Merce Cun-

8 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 ROBERT LEVIN/ CORBIS LEVIN/ ROBERT

Exposição “Le grand O “dandy” Monde numa

d’Andy REUTERS LVILLE/ sessão Warhol” , no de beleza

Grand Palais, METOBY facial em Paris sar o mundo, como a chamada cul- tura erudita. Brigitte Bardot, Voltar às referências Marilyn e Mas a profusão de arquétipos que Mao, tocou vai muito mais além. Proble- BENOIT TESSIER/ REUTERS

HANDOUT/ AFP HANDOUT/ algumas das matizou os limites da relação entre suas obras arte e economia. Legitimou o pro- mais íconicas cesso que torna possível a transfor- mação de uma banal imagem dos “media” numa obra de arte. Interro- “Longe de mim gou a ideia de autoria, através de uma simples assinatura. Fez a apologia do querer torná-lo num universo da fama ou denunciou-o, expondo-o. Nunca separou ficção e místico, mas há uma realidade. Antecipou a tele-realidade, grande sinceridade profetizando que todos teriam direito a “quinze minutos de fama”. no seu pensamento Nele a banalidade transmutou-se em excepção. Colocou no mesmo religioso. O mito pedestal Mao, Marilyn, latas de sopa, acidentes, suicídios, crânios, a morte. sociológico do artista “A morte pode fazer de vocês estre- las”, disse. de supermercado Dario Oliveira, um dos responsá-

AP PHOTO/ CHRISTIE’S AP PHOTO/ mais não fez do que veis pelo Festival Curtas de Vila do Conde, este ano de 4 a 12 de Julho, esconder essa coisa e que apresentará um projecto comis- ningham, o músico John Cage e “alta” e “baixa” cultura. “A ideia que sariado pelo Museu Andy Warhol de Madonna. Para entrarem no aparta- Cage, Cunningham, Warhol e raríssima que Pittsburgh (“13 Most Beautiful... mento, tinham que descalçar os sapa- Madonna - quatro dos meus heróis - Songs For Andy Warhol’s Screen tos. O único protesto veio de Madonna pudessem jantar juntos parece-me se chama génio. Tests”), é da opinião que o renovado que terá dito que lhe era mais des- emblemático da arte pop, uma interesse em torno da sua obra se confortável mostrar os pés que os maneira livre de pensar o mundo”, Ele tinha-o” deve à falta de pontos de referência seios. dizia. Através de Warhol diz ter enten- Alain Cueff neste período. “Vivemos a grande A história, segundo Jerôme Bel, dido que a cultura pop podia ser tão velocidade, há vazios, faltam referên- ilustra como, para Warhol, não havia rica e reveladora, uma forma de pen- cias”, diz. “Da música à arte con-

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 9 temporânea há convulsão. É neces- sário voltar atrás, perspectivar as coisas. A presença dele, agora, deve- se a isso. É uma personalidade cen- tral, estruturante, pela sua vida e pela sua obra. É necessário não esquecer “Ele era que foi ele que impôs uma série de novos paradigmas, da música às artes visuais.” No festival serão apresentados 13 dos clássicos testes de imagem de Nova Iorque” Warhol, onde aparecem Nico, Lou Reed ou o actor Dennis Hopper, per- Marcus Leatherdale, amigo de Warhol, fotografou sonagens que circulavam pela Fac- a Nova Iorque dos anos 1970 e 1980. E a Factory. tory, o atelier e o espaço por onde passou toda a fauna boémia e artística da época. Originalmente concebidos na década de 60, os “screen tests”, serão Amigo de Warhol, o fotógrafo India”, na Galeria AR-PAB, em apresentados ao vivo com uma banda Marcus Leatherdale, não Lisboa). sonora composta por temas originais conheceu a primeira morada Aparentemente, não e versões, tocados pela dupla Dean da Factory, de 1963, mas existe nada que ligue & Britta. A Factory e conheceu as duas restantes, a Nova Iorque dos Warhol ama-se. Mas também se os que por tendo fotografado a Nova Iorque anos 80 e a Índia, mas odeia. Suscita irritações. Nas projec- lá passaram mundana do fi nal dos anos 70 e Marcus tem outra visão. ções dos filmes ouviu insultos. Em retratados dos 80’s - acabou, aliás, de lançar “Na Índia fotografo um “Sleep” a câmara fixa-se num homem por Steven o livro “Hidden Identities” e na mundo que se vai extinguir, que dorme durante cinco horas. Ele, Watson capa vemos Warhol, coisa rara, por causa da modernização. provocador, afirmou que desejava neste livro encobrindo a cara. Em N.Y., sem o perceber, também “fazer os piores filmes do mundo”. Nascido em Montreal, Canadá, fotografei um mundo em Os seus filmes ainda hoje dividem chegou a Nova Iorque em 1978. extinção. Para algumas pessoas os cinéfilos. “Não participou na evo- Há cinco anos vive parte do parece que a única coisa que lução das linguagens cinematográfi- ano em Lisboa, quando não se fazíamos era andar pelos clubes, cas, mas teve uma contribuição frag- encontra a fotografar tribos na como o Studio 54. Saíamos, mas mentada com uma obra que, através Índia (a 27 de Maio inaugura, durante o dia criávamos. Existia da distância do tempo, percebemos aliás, a exposição “Bharat- um elemento criativo que ligava que foi importante. Os ‘scream tests’ não são cinema convencional, mas é apaixonante a forma como ele se apro- priou das figuras que rondavam a Fac- tory e as fixou”, defende Dario. LUCA BRUNO/ AP BRUNO/ LUCA

Leilão na Auto- Christie’s, retrato em 2007. exposto A sua obra em Milão ainda rende em 2004 milhões

“É necessário voltar atrás, perspectivar as coisas. A presença dele, agora, deve-se a isso” Dario Oliveira

Artista religioso Jones, Armani, Pelé, Diana, Jagger, vel apresentar-se como um artista Para muitos, a verdadeira obra de Jimmy Carter, Joseph Beuys, Leline, religioso”, afirma. “Um dos desafios O Andy arte de Warhol foi a sua vida, uma Presley, auto-retratos do próprio, etc, desta exposição foi precisamente tor- dos “screen existência cercada por lantejoulas à etc) constituem também um retrato nar essa dimensão religiosa mais visí- tests” estará superfície, experienciada com dis- colectivo das décadas de 60, 70 e 80, vel.” no Festival tância no íntimo. Depois da sua até porque do princípio ao fim os Terá sido, afinal, Warhol um artista de Vila do morte, a interpretação da obra artís- retratos se impuseram como um dos religioso que retratou os ícones do Conde, tica abriu-se às mais diversas teorias, traços característicos da sua obra. seu tempo à imagem do que a igreja em Junho das mais frívolas às mais empoladas. Na maior parte deles aplicou a vem fazendo com as imagens de san- Pela variedade da sua actividade, mesma técnica, serigrafia sobre tela tos há muitos séculos? É possível. aponta Alain Cueff, ainda existe impressa, a partir de retratos feitos Aliás, a exposição de Paris é conclu- espaço para muitas surpresas. com polaróides. Na visão de Cueff a ída com a figura de Cristo, da série No caso da retrospectiva de Paris exposição tenta mostrar “um espírito inspirada em “A Última Ceia” de Leo- interessou-lhe mostrar que os seus habitado por uma cultura religiosa”. nardo da Vinci, como se afinal aquilo retratos individuais (Stallone, Eas- Nos anos 60 ele inscrevia-se numa que fomos levados a observar ao twood, Debbie Harry, Nico, Grace tradição moderna, “era-lhe impossí- longo de mais de 246 obras não cons-

10 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 imensas pessoas e isso foi muito a levar-me a sério como artista” Uma vez a Debbie Harry excitante.” evoca. “Sabia sempre o que disse-me que a cidade se tinha Quando chegou a Nova estava a emergir”, afi rma, tornado demasiado ‘limpa’ e Iorque tinha 25 anos, e uma das recordando o apadrinhamento compreendo-a. É necessária primeiras pessoas que conheceu de artistas como Basquiat ou ‘merda’ para fazer as coisas foi Warhol. “Tínhamos amigos Keith Haring. crescer. De repente, percebemos comuns e naquela altura as Na festa do seu 30º Quando que já não havia fertilizador. As pessoas eram acessíveis”, aniversário juntou Warhol e rendas aumentaram. A boémia recorda. “Eu estava com [o Madonna. “Era incrivelmente desapareceu. Depois de Andy, fotógrafo] Robert Mapplethorpe tímida” lembra, “ninguém a falava fazia- ninguém sabia onde ir. Quando quando o conheci na Factory. conhecia, ainda não se tinha estava numa festa, sabíamos Virou-se para mim [faz uma lançado, mas percebia-se que que era ali. Ele era o barómetro. voz afectada imitando o tom de iria ser grande, embora não nos sentir que Andy era N.Y. Quando morreu, voz de Warhol] e pronunciou: imaginasse que iria ser tão parte de N.Y. morreu também.” ‘ei! Porreiro! Um tipo novo grande. Lembro-me de alguém A última vez que Marcus viu na cidade!’ Era simples, mas perguntar ‘quem é ela?’ e de eu éramos as Warhol foi poucos meses antes quando falava fazia-nos sentir responder, ao pé de Andy, que da sua morte. Partilharam um que éramos as pessoas mais iria ser grande, e de ele mostrar táxi, saídos de uma festa em importantes do mundo.” de imediato muita curiosidade. pessoas mais casa de Mick Jagger e Jerry Hall, Curioso por tudo e por Naquela altura, ela sentia-se e a conversa que tiveram foi todos, mas preservando a intimidada com aquela gente importantes premonitória. “Falámos sobre Andy sabia sua vida privada, tímido e toda.” medicina Ocidental e ele disse sempre o complexo, impulsionador de Numa polémica entrevista à que não confi ava nela. Às tantas que estava um espectáculo permanente “New Yorker”, no ano passado, do mundo afi rmou que sabia que se fosse emergir, onde a Factory funcionava como Madonna afi rmou que a “sua” para um hospital não sairia de lá diz Marcus cena, é difícil saber quem foi cidade estava moribunda. e foi verdade.” exactamente Warhol. Marcus sente o mesmo. “A Em 1987 foi operado à vesícula. Para Marcus “era um intuitivo, morte de Andy foi o princípio Parecia ter corrido bem. Morreu gostava de ajudar, foi o primeiro do fi m. Depois veio a sida. no dia seguinte. V.B .

tituísse mais do que um percurso bíblico. “Essa última obra funciona como reverberação de todas as outras”, esclarece Cueff, para quem Warhol, apesar de parecer o artista mais conhecido da segunda metade do século XX, continua envolto em segredos. “Longe de mim querer torná-lo num místico, mas há uma grande sin- ceridade no seu pensamento reli- gioso. O mito sociológico do artista de supermercado, algo irónico, mui- tas vezes, mais não fez do que escon- der essa coisa raríssima que se chama génio. Ele tinha-o. Tanto como Picasso, por exemplo.” Nos anos 60, os seus retratos tinham fortes ressonâncias autobio- gráficas, de Judy Garland aos mem- bros da Factory. Nos anos 80 domi- nam os retratos mundanos, alguns deles encomendados - por 25 mil dólares cada - por gente rica. “Alguns desses retratos são desvalorizados porque se sente neles o cheiro do dinheiro, mas isso não os desqualifica enquanto obras” diz Cueff. “Ele pode ter pintado o ‘parecer’ mas utilizou meios plásticos para fazer sobressair a consistência do ‘ser’”. Chegar às parábolas e ideias reli- giosas de Warhol, eis uma narrativa que muitos dificilmente lhe colariam. O facto de se ter tornado famoso em vida “tornou-nos preguiçosos”, na forma como o olhamos, avalia Cueff. “Se lhe colarmos apenas o autoco- lante da ‘arte pop’ nunca o percebe- remos inteiramente.” Hoje, mais do que nunca, parece sujeito às mais diversas reinterpreta- ções, barómetro e espelho de várias épocas. Como esta. Ele, que um dia disse que “era profundamente super- ficial”, deve estar contente com o efeito que continua a pro- vocar. Capaz das mais diver- sas camuflagens e reincarnações, e durante décadas sus- peito de “vampiri- zar” tudo e todos, é agora “vampirizado”. É por isso que continua tão presente. No fundo, somos todos ‘warho- liens’.

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 11 Há uma casa “morta por uma revo- lução”, o que é uma pena “porque aquela casa destinava-se a existir - era uma casa escultórica, onde cada fachada tinha caras nas janelas e nas portas”. Há uma outra que foi desenhada para um dentista, que “tinha uma senhora muito pinoca” que um dia declara que “a casa assim é uma malu- quice e que quer uma casa quadrada, como é costume, uma caixa”. O arqui- tecto baptizou o projecto como Mulher Habitável, lamenta que só tenha sido construída “até aos joelhos”, e diz que estas e muitas outras casas que dese- nhou e construiu “causaram todas grande perturbação nas cidadezinhas onde eram construídas”. E até “os BANHA ANA colegas arquitectos ficavam muito afli- Quase no final da tos porque estas casas mostravam que a arquitectura podia ser muito mais visita guiada que do que caixotes”. O arquitecto chama-se Amâncio faz pela exposição, d’Alpoim Miranda Guedes, mais conhecido como Pancho Guedes, Pancho volta-se para nasceu em Lisboa em 1925, mudou- nós: “Está a ver como se muito pequeno para África, onde passou grande parte da vida, e tem a arquitectura não agora a sua primeira - e muito aguar- dada, por aqueles que ao longo dos tem que ser chata? anos o foram “descobrindo” - retros- pectiva em Portugal, no Museu Tudo depende do Berardo, em Lisboa. Quase no final da visita guiada que faz pela exposi- que se sonha” ção, Pancho volta-se para nós: “Está Pancho Guedes e a mulher, Dori, fotografados a ver como a arquitectura não tem no telhado da Casa Avião, construída em 1951 em Lourenço Marques que ser chata?” fício, construído em 1958 na então Tínhamos acabado de percorrer Lourenço Marques (hoje Maputo), grande parte das suas vidas e dos seus Moçambique, tornou-se o mais emble- mundos. “Tudo depende do que se mático da obra de Pancho e ele pró- sonha”, declara o arquitecto que diz prio o assume como um momento ter 25 estilos - há, no Museu Berardo, especial. “Os meus desenhos e pintu- exemplos do seu Stiloguedes, o mais ras recentes no Stiloguedes tornaram- carismático, mas também dos Espa- se autobiográficos, e sobretudo este ços Torcidos e Revirados, da Elegante edifício em particular, cujo corte pin- Arte de Curvar o Espaço, do estilo tei várias vezes, que identifico como Américo-Egípcio, de Torres Tempo- sendo a minha casa, o meu túmulo, rárias e Fatias de Rua, de Escapadelas como sendo eu mesmo”, escreve. Neoclássicas, Palhotas e Palácios de E, no entanto, no mesmo texto des- Capim, Pedaços de Aldeia, Palácios sacraliza completamente a obra: “O Euclidianos, Pechinchas num Estilo desenho é do meu filho Pedro [Pedro Mato Tropical, e até de Caixotes de Guedes, arquitecto e comissário desta Prateleiras Habitáveis. exposição], quando era um rapazinho Pancho fez de tudo, sem se impor de seis anos. Viu-me desenhar o Leão limites. “Nós não somos aquilo que que Ri e disse: ‘Dada, não estás a fazer se diz. Esta nossa civilização racional, isso como deve ser. É assim que deve lógica, matemática, não tem nada a ser.’ O desenho é realmente uma ideia ver connosco.” Por isso, com Pancho para um edifício muito mais solto do cada edifício tem uma história, que que o que eu consegui fazer”. ultrapassa em muito a arquitectura e Tudo começou sempre com um que ele conta como se fosse uma brin- desenho, conta o mesmo Pedro nou- cadeira de crianças. tro texto do catálogo: “O desenho é O Leão que Ri, por exemplo. O edi- o prisma através do qual Pancho per-

Pancho Guedes Vamos pôr um crocodilo no telhado? Entre leões que riem, espaços torcidos e revirados e um crocodilo- discoteca, o mundo de Pancho Guedes, arquitecto português, apresenta-se no Museu Berardo, em Lisboa. Alexandra Prado Coelho

12 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 cebe e cria os seus mundos [...] Hoje considera como a sua “família Quando era pequeno, achava esta real” esta “bizarra e fantástica família maneira de trabalhar perfeitamente de edifícios com bicos e dentes, com natural, uma vez que o escritório e o vigas rasgando os espaços em redor, atelier de Pancho eram em casa e ele inventados como se algumas das par- estava sempre a desenhar e a fazer a tes estivessem prestes a separar-se e sua magia no papel para projectos a estatelar-se no chão, com paredes que em breve ser tornariam noutra convulsivas e luzes encastradas”. coisa, que iriam ocupar um lote de Mas, enquanto em África a obra de terreno na cidade, uma prateleira na Pancho despertava paixões (e desde nossa casa ou no jardim, ou se trans- o início dos anos 60 na Europa tam- formariam em mais um quadro pen- bém, sobretudo em Londres), em Por- durado numa das nossas paredes já tugal, onde vive actualmente, o arqui- preenchidas”. tecto permaneceria praticamente ignorado ainda durante algumas déca- Machel devora a casa das. “Aqui uma pessoa pode ser anó- Pancho sempre quis ser pintor. Tor- nima. É estupendo funcionar num nou-se arquitecto, casou com Dori país em que sou o Guedes, o senhor [Dorothy Ann Phillips], com quem Guedes.” viria a ter quatro filhos - “na universi- dade tive muitas namoradas, até que O amigo Malangatana houve uma que me disse a verdade e “Nos anos 80 Pancho Guedes foi bas- casei com ela” - mas continuou sem- tante apropriado pelos pós-modernis- pre a pintar. tas”, explica o arquitecto Pedro Gada- Estamos agora a passar em frente a nho, autor de um documentário sobre um quadro em que [o antigo Presi- Pancho e comissário de uma exposi- dente moçambicano] Samora Machel ção que esteve em 2007 no Museu de devora a casa em que Pancho e Dori Arquitectura da Suíça, em Basileia. Foi viviam em Lourenço Marques - “já nessa década (em 1985) que a revista trincou o quarto da Dori e o atelier, e “Arquitectura Portuguesa”, dirigida eu estou aqui a deitar-lhe a língua de por José Lamas, lhe dedicou um pri- fora”. Mais à frente, noutro quadro, meiro grande trabalho, intitulado estamos dentro do carro com os dois, “Vitruvius Mozambicanus: as vinte e a caminho da aldeia de Eugaria, em cinco arquitecturas do excelente, Sintra, onde compraram duas casas, bizarro e extraordinário Amâncio e vemos, pelo retrovisor lateral, a casa Guedes”, e dois anos depois, em 87, de Lourenço Marques e pelo central a galeria lisboeta Cómicos convidou-o a de Joanesburgo (cidade onde vive- para apresentar uma exposição, “Da ram depois de deixaram Moçambi- Invenção dos Templos e Outras Artes”. que). “Mas a tendência que se veio a afirmar Pancho construiu muitas centenas na arquitectura portuguesa foi avessa de edifícios - casas, escolas, hospitais, a uma figura como Pancho Guedes, bancos, igrejas - mas diz que desenhou que explorou outros caminhos e cons- muito mais do que construiu. “Esta é truiu em contra-corrente”, explica a cidade com sarampo [aponta para Gadanho. um mapa de Lourenço Marques cheio Claramente influenciado por Le de pontinhos vermelhos], com todos Corbusier, Pancho é “modernista os projectos que fiz, os que foram antes dos modernistas”. Mas o que o construídos e os que não foram, que torna especial é o facto de “explorar são sempre os melhores.” um estilo em função de cada circuns- Alguns dos seus projectos eram de tância”. Além disso, sublinha ainda tal maneira arrojados que assustavam Gadanho, “Pancho liga-se a um ima- os clientes (mas também tem tido ginário local africano” - que, aliás, “clientes estupendos, que são aqueles invade toda a exposição, onde a que fazem o que eu quero, mas que arquitectura surge no meio de refe- julgam que eu estou a fazer o que eles rências tão importantes para ele querem”). A certa altura, começou a como as cruzes Mbali, que recolheu ser reconhecido pelo Stiloguedes. em cemitérios abandonados, as por- “Não fui eu que inventei o nome. tas Zambeze ou as máscaras Lomue, Foram as pessoas, que me diziam feitas pelo maior grupo étnico de ‘sabemos que o senhor faz umas plan- Moçambique. tas estupendas, mas não faça tanto Foi esta paixão pela arte africana estilo Guedes’. Eu peguei logo no que o levou também a descobrir nome.” aquele que se tornou um dos seus melhores amigos, o pintor Malanga- tana. “Ele era o criado do bar do clube da elite em Moçambique [o Clube de Lourenço Marques]”, conta Pancho. Um dia viu uma pintura dele, e per- guntou-lhe se lhe vendia um quadro por mês e se aceitaria ir viver para casa dele. A amizade dura até hoje e é para o amigo que Pancho projecta em 2002 Pancho a Fundação Malangatana, em Mate- – ou melhor, lane. No topo do prédio, um croco- os vários dilo. “O Malangatana quando o viu Panchos –, queria fazer um clube nocturno, de junto a forma que depois vamos fazer um cá edifícios em em baixo, também em forma de cro- Stiloguedes, codilo.” num desenho Actualmente, este é o único pro- dele próprio jecto que Pancho tem em vias de ser construído. De resto, conta com o seu humor desconcertante, vive num arquipélago utópico, a Ecléctica, onde existe a ilha Exposições Petrolia (onde foi descoberto petró- leo), a ilha Bancária (onde estão todos os bancos), e a ilha “onde vivem os filhos de família que foram estudar arte para Paris” e que é um sítio onde “só há pastelarias estupendas, e onde os bolos são construídos por arquitec- tos”. É aí que habita, junto a uma cidade, Ruinata, em que cada arqui- tecto pode construir aquilo com que sonha - isto quando não está a dese- nhar bolos, claro.

Ver agenda de exposições pág. 35

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 13 Hollywood morreu, viv e outras aventuras do cine A Cinemateca Portuguesa começa a mostrar a partir de hoje, com o monumental “O Padrinho”, d voltar à vida, depois da morte). Uma década inteira para redescobrir, de A a Z, e

O mundo mudou menos nos anos 70 a dizer: não foi o Vietname que der- “O Padrinho” do que nos anos 60: é uma questão de rotou a América, foi a América que se aritmética: houve menos revoluções, derrotou a si própria. menos descolonizações, menos cenas da luta de classes. Mas o cinema con- tinuou a mudar, assustadoramente, e de novo a partir de Hollywood. “Eram os Anos 70”, o ciclo que hoje se inicia na Cinemateca - começando exactamente onde o programa “Eram os Anos 60” terminou -, é o filme des- ses anos contraditórios que muda- ram Hollywood a partir das cin- Cinema zas do “studio system”, de uma geração de cineastas com um programa, e de um novo modelo de negócio assente no “blockbus- B Blockbuster - Steven ter”. “É na década de 70, com ‘O Spielberg era um miúdo de 27 Tubarão’, que a tradição de ir ao anos quando começou a trabalhar cinema uma vez por semana se perde num projecto que, mais do que fazer e os filmes ganham essa dimensão de a releitura (ver clássicos) da tradição acontecimento excepcional. Depois americana dos filmes-catástrofe da recomposição do cinema com a (uma experiência regeneradora para Nova Hollywood, que durou até 1975, uma nação que se estava a matar no o ‘blockbuster’ passou a ocupar todo Vietname), inaugurou o modelo de o espaço disponível. É possível que ‘O negócio que salvou Hollywood. Tubarão’ tenha sido o filme que mais “Tubarão” (1975) foi o primeiro mudou o cinema, mas seria demasiado “blockbuster” da história e alterou pessimista abrir o ciclo com esse filme radicalmente a experiência do porque representa o princípio do fim”, cinema. Lançado simultaneamente diz o programador do ciclo António em 465 salas, fez mais de sete Rodrigues. milhões de dólares só no primeiro Organizado em módulos que fazem fim-de-semana e com isso compro- um inventário o mais exaustivo possí- meteu definitivamente as 60 revolu- vel - até geograficamente - do que foi ções por minuto da Nova Hollywood, o cinema da década de 70 (mas sem que acabou ali (e houve sangue), em quebrar a quota de um filme por rea- Amity Island. lizador), o programa não ignora a experiência absolutamente singular do cinema português: “O ‘Amor de Perdição’ do Oliveira é um luxo de pobres: fazer um filme daqueles, com quatro horas, naquela altura, é quase milagre. Mas esse filme mudou o cinema português nos 20 anos seguin- tes: se há país europeu cuja produção é completamente autoral até ao final dos anos 90, é Portugal”, continua. Mas vamos por partes: ainda não che- gámos ao O, de Oliveira. há dezenas de cinemas europeus dos Disco - John Tra- anos 70, sublinha António Rodri- América - A Amé- volta tornou-se uma gues: “O tempo passou, os realizado- rica já tinha perdido a Clássicos - Embora se estrela da noite para res que fizeram a Nouvelle Vague face em 1969, quando tenha feito em grande parte o dia depois deste atravessaram o Maio de 1968 e já percebeu que em contra a lógica predadora do Dfilme, “Saturday Night não são mais um grupo. Cineastas A Março do ano anterior C “studio system” e contra a Fever” (1978), que corporiza tudo o como Chabrol e Truffaut aproxi- 26 soldados tinham passado moral que esse sistema conti- que o disco foi para a América - uma mam-se do ‘mainstream’, outros um belo dia a massacrar civis vietna- nuou a reproduzir, mesmo depois de música feita para as pistas de dança, como Godard radicalizam comple- mitas em My Lay, mas ainda tinha praticamente falido, a Nova mas sobretudo uma subcultura que tamente o discurso. Ainda havia muito a perder (e perdeu tudo) Hollywood construiu-se também em mobilizou toda a grande família espaço para tudo, até para os fil- quando entrou na década de 70. 58 cima das ruínas dos géneros que fize- americana (tem as suas origens his- mes árduos e fechados que mil mortos em acção (ver Viet- ram o esplendor do cinema ameri- tóricas nas comunidades negras e autores como Straub e Huillet name), duas crises petrolíferas e um cano. Os “movie brats” acharam que hispânicas de Filadélfia, e aqui é o estavam a fazer. E os grandes - Watergate depois, era um país valia a pena reler os clássicos - e então diabo no corpo de um italo-ameri- Fellini, Visconti e Bergman - encostado às cordas, e o cinema vimos Peter Bogdanovich a reler a cano). Parece um filme de entreteni- continuavam a filmar”. No tinha passado a mastigar essa “screwball comedy” em “Que se mento, mas é uma fotografia de mapa europeu, três casos par- palavra “bigger than life”, Passa, Doutor?” (1972), Martin Scor- família da América - e do estado das ticulares: a Alemanha (ver América, com remorsos, sese a reler o “film noir” em “Taxi coisas num ano em que os heróis JDF), Portugal (ver Oli- desde o “I believe in Ame- Driver” (1975) e o musical em “New de sempre já tinham sido substi- veira) e a URSS. rica, America has made my York, New York” (1977), William tuídos, no quarto de Tony fortune” que abre “O Padri- Friedkin a reler o filme de “gangsters” Manero como em todos os Feminismo nho” (1972), de Francis em “Os Incorruptíveis contra a outros quartos daquela juven- - Da Bolívia ao Ford Coppola, ao “God Droga” (1971), Alan Pakula e Roman tude em marcha, por posters de F Reino Unido bless America” que fecha “O Polanski a reler o filme de detectives Al Pacino (ver “Padrinho, O”) e (Portugal inclu- Caçador” (1978), de Michael em “Klute” (1971) e “Chinatown” Sylvester Stallone. ído), as mulheres Cimino. Richard Nixon podia 1974), respectivamente, e Sam tomaram o poder não saber o que estava a Peckinpah a reler o “western” Europa - Não há um durante a década “Saturday Night Fever” fazer, mas sabia o que estava em “Duelo na Poeira” (1973). cinema europeu dos anos 70: de 70 e ocupa- 14 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 E iva Hollywood ema nos anos 70 , de Coppola, o cinema que mudou Hollywood (e que o fez , em 60 fi lmes. Inês Nadais

ram cadeiras que até então nunca Abbas Kiarostami. O pro- tinham sido delas. O endurecimento grama da Cinemateca mos- do movimento feminista é um dos tra um filme de cada - “O traços mais marcantes da nova Ciclo” (1978), e “O Passa- J ordem, e filmes como “Alice Já Não geiro” (1974), respectivamente. Mora Aqui”, de Martin Scorsese JDF - Na Alemanha, a travessia no (1974), sobre uma mulher obrigada deserto imposta pela catastrófica der- a recomeçar do zero, depois da rota nazi na II Guerra Mundial parali- morte do marido, e “Klute”, de Alan sou todas as indústrias criativas, Pakula (1971), completamente incluindo o cinema, que explodiu na dominado pela presença, aliás osca- década de 70 com uma nova vaga rizada, de Jane Fonda, dão conta tardia (o movimento “Junger Deuts- Jane Fonda dessas mudanças em curso. cher Film”). Grande parte dos cineas- tas que a lideraram, como Fassbinder (“Jogos Perigosos”, 1972), Wenders (“Movimento em Falso”, 1975), Syberberg (“Ludwig - Requiem para um Rei Virgem”, 1978) e Schroeter (“O Reino de Nápoles”, 1978), fazem parte da “shortlist” da Cinemateca.

Kung Fu - O ciclo “Eram os anos 70” inclui um módulo de cinema popular que percorre alguns dos Guerra - É possível que mais significativos fenómenos de Ga América não tivesse feito “A bilheteira - e, nalguns casos, de culto Guerra das Estrelas” (1977) se não - daquele período, como “Febre de tivesse feito antes a Guerra do Viet- Sábado à Noite” (ver disco), “Fritz name. “Há um lado profundamente the Cat” (ver sexo), “Suspiria” (ver Disneylândia, profundamente infan- terror) e “The Rocky Horror Pic- til - imbecil até -, do cinema ameri- ture Show”. “Enter the Dragon” cano dos anos 70 e este ciclo não (1973), o filme que resgata Bruce podia omiti-lo”, explica o programa- Lee do circuito dos filmes de artes dor. De todos os “movie brats”, marciais “made in Hong Kong” George Lucas foi o que levou mais para fazer dele património ameri- longe o escapismo da sociedade cano e com isso continuar a reno- americana com uma saga que fez var a galeria de heróis nacionais, 127 milhões de dólares de bilheteira faz parte desse módulo. K no primeiro ano e descobriu a gali- nha dos ovos de ouro do “merchan- dising” consolidando, definitiva- mente, o modelo do “blockbuster”.

Hollywood, Nova - A primeira metade da década de 70 é o único perí- odo da história do cinema H americano em que os estúdios perderam completamente o con- Location, on - Com a des- trolo. A falência do sistema de pro- cida dos custos das filmagens “on L dução depois do verdadeiro filme- location” e a introdução de equipa- catástrofe que foi “Cleópatra” mar- mento mais leve, o cinema ameri- cou o fim de uma era em Hollywood cano pôde finalmente sair dos estú- - e enquanto “O Tubarão” não ini- dios e mudar-se para o país real. Foi ciou outra, uma nova geração de uma mudança tecnológica e política: cineastas (com outra idade, outra sair para a rua deu a toda uma nova formação e sobretudo outra agenda) geração de realizadores o poder de ocupou o vazio de poder. “Há um ver a América por trás do papel de render da guarda - o cinema ameri- cenário, e de ir atrás dela até ao fim cano recomeça do zero. Embora do mundo. Coppola levou isso às últi- figuras tutelares como Hitchcock e mas consequências com “Apocalypse Minnelli continuem a filmar, já são Now” (1979), filmado em condições cineastas de outro tempo”, impossíveis na selva (ver Zoetrope), comenta António Rodrigues. para poder dizer: “Isto não é um Coppola, filme sobre o Vietname. Isto é o Viet- em 1979, Irão - O Irão foi notícia durante name.” entre toda a década de 70 - desde 1971, Kurosawa e o ano em que o “New York Times” Movie Brats - Coppola, Bog- George noticiou que o Xá tinha gasto danovich, Scorsese, Spielberg, Lucas mais de 100 milhões de dólares Lucas, Friedkin e de Palma com as comemorações do 250º foram os pivôs de uma aniversário da monarquia ira- geração de meninos- I niana, até 1979, o ano em que o prodígio formada nas Ayatollah Khomeini fez a revolução escolas de cinema e no islâmica. Também foi notícia por contacto com influên- causa da sua própria Nova Vaga, ini- cias vindas de todas ciada em 1969 por Dariush Mehr- as partes do jui e continuada depois por mundo. O M Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 15 colapso do “studio system” deu- tiva da América, paralela à 120 Dias de Sodoma” (1975), de lhes as chaves da fábrica de brin- narrativa oficial, que é ao Pier Paolo Pasolini, ambos quedos, e o cinema americano mesmo tempo uma metá- censurados em Itália, e “O nunca mais foi o mesmo até 1975, fora da sucessão que Império dos Sentidos” o ano em que, com a invenção do tinha acabado de acon- (1976), de Nagisa Oshima. “blockbuster”, os estúdios vieram tecer em Hollywood reclamar o que lhes pertencia. (não por acaso, Al Terror - O Pacino é o “Don” que William Frie- Niro, Robert De - Não sucede a Marlon dkin que está há grandes heróis no cinema Brando). neste ciclo da americano dos anos 70 - há T Cinemateca grandes anti-heróis, e um não é o William deles é o Travis Friedkin de “O Exorcista” N Bickle que (1973), o primeiro “blockbus- “Dark Star”, de John Carpenter Robert de Q ter” da Warner Bros., mas Niro cons- também podia ser. O terror é Quinzena um dos géneros em releitura dos reali- na década de 70, de um lado e X-Rating - zadores - do outro do Atlântico, com o Depois de décadas Fundada em aparecimento de realizadores de estagnação (ver 1969 - no “day- como os americanos George X clássicos e sexo), o after” dos estra- Romero, Wes Craven e John Car- sistema de classificação gos que o Maio penter e do “giallo” italiano com do cinema americano alterou-se truiu em de 68 fez no Festi- Lucio Fulci, Mario Bava e radicalmente, primeiro em 1968 e “Taxi Driver” a val de Cannes - pelo Dario Argento. depois em 1972, baixando para os partir da ressaca mesmo grupo de realiza- 17 anos a idade legal para assistir a do Vietname, dores que, um ano antes, URSS - Em 1979, a um filme pornográfico (“x-rated”) e da crise sequestrara o festival em pro- União Soviética festejou o passando a admitir mais frequente- moral que testo contra o academismo da 60º aniversário da nacio- mente a representação da violên- se seguiu e selecção oficial, a Quinzena foi nalização da indústria cine- cia. Depois dessas alterações, a vio- da degene- fundamental para a divulgação U matográfica com a criação, lência gráfica passou a fazer parte ração dos grandes de novos autores e de novas cine- pelo Soviete Supremo, do Dia da personalidade do cinema ameri- espaços urba- nos. Para matografias (muitas vezes à revelia do Cinema Soviético. O cinema cano, sobretudo com “Os Incorrup- António Rodri- gues, De Niro dos países de origem). Entre os fil- ainda era completamente contro- tíveis contra a Droga” (1971), de é “o actor mais emblemático dos mes por ela anunciados ao mundo lado por um regime que o via como Friedkin, “Serpico” (1973) e “Um anos 70”: está praticamente com nesses anos estão três que cabem a continuação da política por Dia de Cão” (1975), de Sydney todos os realizadores decisivos (de neste ciclo: “Cerimónia Solene” outros meios, mas alguns filmes já Lumet, “Cães de Palha” (1971), de Palma, Corman, Scorsese, Coppola, (1971), de Nagisa Oshima, “O Reino anunciavam a implosão do Bloco Sam Peckinpah, e “Taxi Driver” Bertolucci e Cimino) em pratica- de Nápoles” (1978), de Werner de Leste - como “Tema” (1979), de (1975), de Scorsese. mente todos os filmes decisivos, e Schroeter, e “Scenic Route” (1978), Gleb Panfilov, profundamente cen- ainda chega, como Brando, de de Mark Rappaport. surado, que o Ocidente teve de quem é herdeiro, a filmar com esperar sete anos para ver na ver- Kazan no último filme do reali- Rocky Horror Pic- são integral. zador, “The Last Tycoon”. ture Show, The - Exemplo acabado do filme de culto que com os anos R perdeu a relevância para se transformar numa extravagân- cia (as salas que ainda hoje o exi- bem regularmente, em várias cida- des do mundo, são autênticos parques temáti- cos), este musical Oliveira, Manoel filmado nos estú- O de - O cinema português do dios Bray, como pós-25 de Abril é uma experiência os grandes suces- Vietname - O Viet- You talkin’ to me? - radical, contaminada pela euforia sos de terror da Ham- Vname dividiu a sociedade Robert De Niro ao espelho, do PREC e rapidamente atropelada mer, dançou literal- americana ao meio logo a partir de com um revólver a girar no pela normalização democrática. mente em cima do meados da década de 60, mas polegar e aquela frase repe- “Não podíamos escamotear esse túmulo da tradição demorou mais uma década a titiva a tornar-se uma ame- cinema muito datado mas que vale britânica do cinema impor-se, quase como um género à aça. Mesmo quem nunca viu Y a pena rever”, nota o programador série B - e, por uns ins- parte, no cinema (consumando a “Taxi Driver” do princípio ao a propósito, por exemplo, de tantes, reinventou-a. invasão da América pelo Vietname fim ouviu este “You talkin’ to me?” “Deus, Pátria, Autoridade”, de Rui que foi a contrapartida emocional que o American Film Institute pôs Simões. O ciclo também passa por da invasão física do Vietname pela em décimo lugar na lista das 100 Alberto Seixas Santos, António Reis América). Chegou tarde a citações mais lapidares do cinema e Margarida Cordeiro, João César Hollywood, no final dos anos 70, americano - e que é a mais impres- Monteiro e José Fonseca e Costa, com três filmes que estão fora deste sionante banda sonora, apesar de mas a figura central é o Manoel de ciclo - “Apocalypse Now”, “O Caça- Bernard Herrmann, deste “wes- Oliveira de “O Passado e o Pre- dor” e ainda “Coming Home”, de tern” nova-iorquino. sente” (e, fora do ciclo, de “Amor Hal Ashby - mas que ainda assim o de Perdição”). assombram, tal como assombraram Zoetrope - Funda- o cinema que se fez a seguir, nos dos em 1969 por dois Padrinho, O - Não anos 80. “movie brats” acaba- havia outra maneira de dos de chegar a Z começar o ciclo a não ser Woody Allen - Sete Hollywood, os estúdios por este filme que é toda filmes, três obras-primas American Zoetrope foram Puma declaração de princí- incontestáveis (“Annie decisivos para a viabilização pios da “Nova Hollywood”: Hall”, de 1977; “Interiors”, de alguns dos projectos Coppola recupera o cadáver do de 1978; e “Manhattan”, de mais pessoais dos dois rea- filme de “gangs- W1979), e isto era Woody Allen a lizadores: “Apocalypse ters” e trans- chegar, a ver e a vencer. As frontei- Now” (1979) e “Do forma-o numa ras do território que ele ocupou a Fundo do Coração” história alterna- Sexo - Com a partir de meados da década de 70 - (1982), de Francis Ford revogação do Código e que, em boa verdade, nenhum Coppola, e “THX 1138” Hays - que proibia a outro realizador americano quis (1971) e “American Gra- Snudez, as drogas e a disputar - fixaram-se com essas ffiti” (1973), de George homossexualidade, entre outras obras que estabeleceram Woody Lucas. A história da Ameri- “perversões” morais -, em 1968, o Allen como o grande autor europeu can Zoetrope é também a cinema americano foi onde nunca do cinema americano. história de Coppola, e de tinha ido na representação da sexu- como o cinema quase o alidade com “Fritz the Cat” (1972), matou fisicamente, com de Ralph Bakshi, o primeiro filme “Apocalypse Now”, e finan- independente de animação a fazer ceiramente, com “Do Fundo mais de 100 milhões de dólares, e o do Coração”. Continua a ser mítico “Garganta Funda” (1972). da família - Coppola passou Mas foi fora da América que a figu- a empresa para o nome ração do sexo foi mais extrema, dos filhos, Roman e Sofia. com filmes-escândalo como “O É um filme “to be conti- Último Tango em Paris” (1972), de nued”, a grande aventura Bernardo Bertolucci, “Salò ou os do cinema dos anos 70.

16 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009

Helene Cooper “Este lugar horrível é a Helene Cooper fugiu da Libéria aos 14 anos, depois do golpe de Estado em que a mãe foi violada cobrir todas as guerras, excepto as de África. Foi preciso estar à beira da morte no Iraque para da Praia do Açúcar”, editado em Portugal pela Quidnovi. FERNANDO VELUDO/NFACTOS FERNANDO

Em 2003, a repórter do “Wall Street antes como repórter. A guerra civil viera para os EUA, excepto Eunice, a Journal” Helene Cooper foi enviada tinha rebentado no país, que estava a irmã adoptiva, que pertencia à etnia para o Iraque. Fez todo o treino militar ser evacuado de americanos. “Vai e Bassa, considerada inferior. Os Bassa necessário para poder ser integrada, faz uma reportagem”, disse o editor. pertencam ao Povo da Terra, enquanto como “embedded”, numa unidade do Helene foi. Tinha uma pista: a fábrica a elite era Povo do Congo. Helene, do Exército, e partiu para o Kuwait, e de pneus Firestone, onde sabia que a Congo, não sabia se Eunice, da Terra, depois para o Iraque, num jipe Humvee irmã trabalhara. Telefonou primeiro estava viva. Não sabia nada sobre o seu

igual aos dos militares. Na confusão para a Firestone de Nashville, nos EUA, país, com o qual perdera BEN CURTIS de um ataque, o veículo sofreu um aci- pedindo o contacto da sucursal libe- totalmente o contacto, do dente: um tanque passou-lhe por cima, riana. Dias depois ligou-lhe de um tele- qual não quis saber

Livros esmagando-o. Todos pensaram que fone-satélite o gerente da fábrica na nada. Helene tinha morrido. Principalmente Libéria. Helene disse: “Estou à procura ela própria. Ouviam-se gritos: “Ela está de Eunice Bull.” O homem respon- a sangrar! Ela está a sangrar!” Mas lá deu: conseguiram retirar o jipe de baixo do “A Eunice não está aqui neste tanque. Desencarceraram a tripulante, momento, mas...” estenderam-a na areia do deserto, cha- Helene, que ia a conduzir, travou maram um helicóptero para a evacu- subitamente, encostou o carro à ação. A guerra quase parou, estavam berma. “Não está aqui neste todos à volta da jornalista. E, no meio momento?” Então Eunice estava de tudo isto, Helene pensava: “Eu não viva! devia estar a morrer aqui. Se vou mor- Partiu para a Libéria e encontrou a rer, devia morrer a cobrir a guerra do irmã. “Foi a coisa mais importante que meu próprio país, e não esta, que não fiz na vida”, diz Helene Cooper ao Ípsi- Forças de paz na capital da me diz nada.” E, pela primeira vez em lon. “Quando agora penso nisso... não Libéria, Monrovia, em 2003. Na 20 anos, Helene Cooper sentiu von- sei o que andei a fazer durante 23 altura a guerra civil tinha tade de regressar a casa. anos!” rebentado e o país estava a ser Em Washington, disse aos seus edi- Tinha fugido da Nigéria aos 14 anos, evacuado por americanos. tores que queria ir para a Libéria, de após o golpe de estado de 1980, e Helene Cooper regressou, férias. Eles sugeriram-lhe que fosse nunca mais voltara. Toda a família então, a “casa” em reportagem

18 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 MUSEU DO ORIENTE SAJU GEORGE a minha casa” O JESUÍTA BAILARINO a e o tio assassinado. Nos EUA, tornou-se repórter e foi a pensar: que estou a fazer aqui? Partiu e escreveu “A Casa Paulo Moura

Agora, de regresso, o que sentia era Helene foi viver para o Tenessee, um misto de estranheza e familiari- “Onde vivia, no Sul depois para a Carolina do Norte. Ten- dade. Mas também, inexplicavel- tou adaptar-se ao novo ambiente e, mente, um grande orgulho. “A guerra dos EUA, ninguém para isso, precisou de esquecer a civil estava em convulsão. Tinham che- tinha alguma vez Libéria. gado as forças de manutenção de paz, “Eu queria integrar-me, afinar o mas tudo estava ainda num pandemó- ouvido falar da meu sotaque americano, ser como os nio. Não havia electricidade, nem água outros. Onde vivia, no Sul, ninguém corrente, milhares de órfãos enchiam Libéria. Fui-me tinha alguma vez ouvido falar da Libé- as ruas, meninos-soldados, com metra- ria. Fui-me tornando americana. Tan- lhadoras AK-47. Eu saí do avião, dirigi- tornando americana. tos membros da minha família foram me para o terminal, ainda vestida mortos. Na minha memória, a Libéria como se estivesse no Iraque, com botas Na minha memória, a era um lugar onde se morria, não um teflon, blusão cheio de bolsos, Libéria era um lugar lugar onde se vivia. Pensei que se acre- mochila... uma repórter americana. E ditasse que toda aquela gente tinha via aquelas mulheres liberianas, com onde se morria, não morrido, não seria magoada de cada as suas toilettes sofisticadas, apesar de vez que descobrisse que morrera estarem numa zona de guerra, sempre um lugar onde se alguém. Sei que é estúpido, mas foi a gritar umas com as outras... nesse isto que eu fiz. Foi um mecanismo pes- primeiro momento senti-me muito vivia” soal de lidar com o meu passado”. americana. Refugiei-me na minha A Helene não lhe interessava o que identidade de repórter, para me pro- se passava na Libéria, mas interessava- teger. Mas depois comecei a sentir... lhe tudo o resto. Tornou-se jornalista. espera lá! isto é a minha casa! E come- eram escravos negros libertos das “Queria viajar. Queria cobrir a política 29 Maio – 21.30 cei a rir-me para dentro. Estou em plantações do Sul. Na altura, o poder americana e cobrir guerras. Não a casa, estou em casa.” branco dos EUA debateu longamente minha, mas as guerras dos outros. Na Apanhou um táxi para a cidade. Pelo o problema dos negros livres. O que Libéria, tudo aconteceu tão repenti- caminho, foi vendo como tudo estava fazer com eles? Mantê-los no país, namente. Fui apanhada de surpresa. destruído, com preocupação. E orgu- onde havia ainda outros negros sub- De um momento para o outro, as pes- lho. “Este lugar é uma merda, mas é metidos à servidão? Ou reenviá-los soas comportavam-se de forma estra- meu. Este lugar horrível é a minha para África? Decidiu-se fazer uma nha, e eu nem queria acreditar que casa. Eu venho de um lugar. Também experiência: fundar a Sociedade Ame- aquilo estava a acontecer. Agora queria tenho uma casa. Posso dizê-lo aos ricana de Colonização e estabelecer compreender como é que as coisas meus amigos americanos. Antes, não uma colónia em África com os antigos acontecem. Para nunca mais ser apa- GRUPO EKVAT tinha nada para mostrar. Tenho escravos americanos. Surgiu assim a nhada desprevenida.” andado a fugir disto, mas é isto que Libéria. Elijah Johnson partiu de Nova Com o “Wall Street Journal”, para o tenho de enfrentar. Porque demorei Iorque, em 1820, no navio Elisabeth. qual trabalhou antes de entrar no VENTOS DE TRADIÇÃO tanto tempo?” Cooper viajou pouco depois. “New York Times”, Helene Cooper foi Nas ruas, as pessoas reconheciam A estes novos habitantes da região, enviada especial a várias guerras, em Helene, que entretanto se tornara descendentes dos escravos que foram todas as regiões do mundo, excepto muito parecida com a mãe. “Helene para a América, chamaram Povo do África. Mas sempre soube que um dia Cooper!” diziam. E apontavam para Congo, por oposição ao Povo da Terra, voltaria lá. ela, ou vinham abraçá-la. “Era ao que ainda praticava a escravatura. Joh- “Isto esteve dentro de mim toda a mesmo tempo fantástico e estra- son e Cooper, que eram trisavôs dos minha vida. Eu sabia que acabaria por nho.” bisavôs de Helene, deram origem a escrever, mas tinha muito medo.” Um uma elite que governou a Libéria medo de perder a segurança conquis- Os “Congo” durante quase dois séculos. tada. Mas tudo começou a mudar a Até aos 14 anos, Helene viveu num “Meti-me na Biblioteca do Congresso partir de 2001. “Eu estava a cobrir os palácio de 22 assoalhadas, junto ao durante seis meses. Queria saber quem atentados de 11 de Setembro. Vivia mar - a casa da Praia do Açúcar. Per- eram aquelas pessoas, o que as moti- mesmo ao lado do Pentágono, ouvi o tencia a uma família rica e “nobre”, vou a irem para África. Ia escrever um avião cair, e, pela primeira vez desde descendente dos colonizadores do testemunho pessoal, mas quis dar-lhe que viera para os EUA, senti-me vul- país, que saíram dos EUA, em 1820, perspectiva, credibilidade jornalís- nerável. Exactamente como me sentia após a libertação dos escravos. tica.” Era preciso compreender aquela na Libéria: num momento estava Elijah Johnson e gente, a sua gente, que a revolução de muito segura e, de repente...” Randolph Cooper 1980 veio derrubar, acusando-a de A partir daí, quis trabalhar em todas opressão. “Encontrei o registo do ‘Eli- as histórias relacionadas com a luta sabeth’, e uma lista de passageiros, e contra o terrorismo. Acabou no Ira- então descobri o diário do capitão, que, “embedded” com os invasores, Elijah Johnson. Comecei a tremer. Oh no meio de uma batalha em que che- meu Deus, ele escreveu um diário! gou a pensar ter morrido. Foi preciso Comecei a ler. Eu precisava de saber chegar a esse ponto. Agora sim, estava 30 Maio – 18.00 o que eles pensavam, por que razão pronta para a sua terra. apoio: se consideravam superiores. Porque Na Libéria, foi capaz de entrevistar é isso que está na origem do sistema os assassinos do seu tio. Encontrou de duas classes e de tudo o que acon- Eunice, que tinha passado pelo teceu depois.” Inferno, e lhe perdoou. Na verdade, Museu do Oriente mecenas principal: O que aconteceu depois foi que nunca se sentiu abandonada. “Deus Av. Brasília todos os “Congo” foram perseguidos, quis que eu ficasse, para ser mais Doca de Alcântara (Norte) expulsos dos empregos, torturados, forte”, disse ela. E ainda conseguia 1350-352 Lisboa mecenas espectáculos: assassinados. O presidente e os minis- sentir-se orgulhosa da irmã. “Ela, que Tel: 213 585 244 tros foram executados. A mãe de vivia na Libéria, com toda a gente a [email protected] Helene foi violada por um grupo de matar-se, numa guerra muito mais soldados que entrou lá em casa, violenta do que a iraquiana, voltou-se www.museudooriente.pt enquanto as três filhas esperavam, para mim, cheia de admiração: ‘Uau, fechadas num quarto. O tio foi exe- estiveste no Iraque, um lugar tão peri- cutado. goso. Que corajosa que és!’” A família fugiu para os EUA. Eunice, a irmã adoptiva, foi deixada para trás. Ver crítica de livros pág. 38 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 19 Tudo começou quando uma revista pediu ao escritor brasileiro Marçal Aquino um conto. Ele escreveu a his- tória de dois pistoleiros que num par- que de diversões se preparavam para “matar um sujeito”. Era “uma tocaia”, “uma emboscada em que o cara fica ali vigiando para escolher o melhor VELUDO/NFACTOS FERNANDO momento de atacar.” Os dois pistoleiros estavam numa cidade do interior brasileiro atrás de um piloto de avião que iam matar. Mas o escritor não sabia o que é que o Livros piloto tinha feito ou se eles o iam efec- tivamente matar. “Tanto que o conto termina sem que eles façam algo”, explica Marçal Aquino que esteve em Matosinhos a participar no LEV - Encontro de Literatura em Viagem. Só que quando acaba de escrever este conto - que nunca chegou a publi- car - o escritor percebe que quer saber o que está por trás daquela história e recomeça a escrever. Fecha-se em casa e durante 54 dias escreve sem parar porque a história começa a aparecer- lhe de “uma forma muito veloz”. Assim nasce “Cabeça a Prémio”, romance que publicou no Brasil, em 2003, e que acaba de ser editado pela portu- guesa Quetzal. “Eu não teria tempo para tocar esse livro em três anos. Se eu levasse três anos a escrever ‘Cabeça a Prémio’ não o teria escrito.” A vida de Marçal Aquino, 50 anos, transtornou-se. Escrevia de manhã, à tarde e à noite: chegava a escrever 17 horas por dia. “’Cabeça a Prémio’ saiu desse embrião e a história se mostrou para mim do jeito que está publicada. Ela tem um desarranjo temporal, ela avança, recua, avança, recua, mas não é nada pensado. É assim que a história me apareceu”, explica. Quis contar uma história de amor num ambiente absolutamente hostil, um mundo de traficantes. Aliás, “Cabeça a Prémio” cruza duas histó- rias de amor. Uma delas acontece entre Brito e Marlene - duas persona- gens “absolutamente à margem de tudo” que, para serem felizes, não podiam ter ciúmes uma da outra. Ela é uma “cafetina”, uma dona de bor- del, e ele é um pistoleiro, um mata- dor. Para conseguirem viver juntos fazem “um pacto maravilhoso”: “eu não vou perguntar sobre o seu pas- sado, não pergunte sobre o meu pre- sente.” Mas, mesmo numa relação “tão acordada, tão feita de acordo, o ciúme acaba envenenando tudo”, explica Marçal Aquino, que quando estava a escrever o livro se deparou com uma outra história de amor. A de um piloto, Dênis, que se envolve com Elaine, a filha do traficante para quem ele trabalha e ela fica grávida. “Esta história acabou sendo o eixo narrativo mas no início eu não tinha ideia de qual era a história do livro. Tal como o leitor, quando escrevi o livro, também estava na ignorância. Não sabia bem o que era aquilo. Sabia que estavam atrás de um piloto, não sabia porquê. Mas quando avanço na história vou descobrindo e fica claro: ele tem uma história com a menina e eles fogem.” O escritor foi encon- trando toda a trama à medida que ia escrevendo, tal como acontece com o leitor quando está a ler este livro. “Não tem nenhum jogo, não tem nenhuma armação. No livro policial se prepara o enigma de modo que o leitor só vem a descobrir na hora Marçal Aquino O especialista em ouvir conver O brasileiro Marçal Aquino só consegue escrever um livro mergulhando nele. O romance “ dias. Sem parar. Histórias de amor num mundo de trafi cantes já adaptado ao c

20 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 balho de argumentista. “Sempre esteve Marçal Aquino é um presente na minha literatura. Desde andarilho. Nem os meus primeiros livros essa é uma marca da minha literatura.” carro tem. Anda pela A sua narrativa é muito visual por- que o cinema entrou na sua vida antes cidade. “Sempre da literatura. A primeira vez que o leva- ram ao cinema tinha seis anos, “nem olhando, sempre alfabetizado era” e quando viu “aquela tela” ficou apaixonado. anotando frases.” É “Cabeça a Prémio” foi adaptado ao especialista em “ouvir cinema (o filme está em pós-produção no Brasil) como muitas das suas obras. conversa alheia”. “Já Actualmente, Marçal Aquino tem um livro parado porque está a escrever me aconteceu ver um com Fernando Bonassis o argumento da série policial “Força-Tarefa” em exi- casal brigando, bição na Globo. “Não consigo trabalhar de dia no discutindo, e segui-lo seriado e chegar à noite, desligar, e por quarteirões e voltar para o meu livro. O meu livro exige um mergulho. Então tenho uma quarteirões” novela parada. É uma novela que não sei direito o que é ainda.” O espião Marçal Aquino é um andarilho. Nem carro tem. Anda pela cidade. “Sem- pre olhando, sempre anotando fra- ses.” Precisa de estar sempre em movimento e o que lhe interessa são as pessoas. “Afinal é para as pessoas que eu escrevo”, diz. certa. ‘Cabeça a Prémio’ é anti-climá- Sempre se interessou por vidas tico. Termina antes. Tem uma espécie marginais. Afirma que São Paulo é de coda. São jogos que fui estabele- “um cinema a céu aberto, ininter- cendo e descobrindo à medida que rupto”. Se prestarmos atenção, ia escrevendo.” vemos maravilha e miséria. As duas Para escrever este romance, em que existem no mundo quotidiano. Tanto uma quadrilha de traficantes domina o acto de violência, quanto a poesia. uma certa região do Norte do Brasil e “Então você precisa de estar de olho faz contrabando de droga com peque- e de ouvido aberto. Essa coisa de ser nos aviões que pousam em pistas clan- andarilho, sempre me facilitou.” destinas, Marçal Aquino inspirou-se E é especialista em “ouvir conversa na realidade brasileira. O mesmo se alheia”. Já deu por si a seguir gente na passou com a personagem do piloto. rua. Hoje em dia é mais difícil porque “Existem. Normalmente são pilotos as pessoas o reconhecem e já sabem que não conseguem fazer carreira na que é escritor. Mas o jornalismo ensi- aviação comercial e vão trabalhando nou-o a ouvir sem ser visto. para traficantes.” “Já me aconteceu ver um casal bri- gando, discutindo, e segui-lo por quar- Pistoleiros de aluguer teirões e quarteirões.” Isso deu em Esta preocupação com o real está alguma coisa? “Eu queria saber o muito presente na sua obra. Consi- motivo da briga - como se houvesse um dera-se um escritor “realista”. Foi por motivo aparente de uma briga de casal. causa de uma reportagem que foi fazer, Enfim, tinha essa ilusão de que ia ainda na década de 80, na zona de entender o que estava acontecendo. fronteira do Brasil com o Paraguai, que Bem no momento em que parecia que tomou contacto com o universo dos eles iam falar o motivo, entraram num pistoleiros de aluguer e ficou fasci- edifício e fecharam a porta. Eu fiquei nado. Fez parte do grupo de escritores para fora. E percebi, claro, vou para que nos anos 80 trabalharam em São casa e vou inventar esse motivo. Então Paulo no “Jornal da Tarde”. Abando- aí eu fiz literatura, deixei de fazer jor- nou-o em 1990. “Trabalhei num jornal nalismo.” que era o meu sonho. Dava tratamento “A revolução tecnológica de certa literário para as matérias, para os tex- maneira me prejudicou porque anti- tos e valorizava as imagens de uma gamente o Brasil tinha muita linha forma muito diferente. Era um jornal cruzada de telefone. Eu adorava muito bonito graficamente, e ousado.” quando tirava o telefone e tinha Era “uma delícia” ser repórter. Aquino alguém conversando. Ficava ouvindo.” era repórter policial e quando ia cobrir Porquê? “Pelo extremo sabor que têm um crime, o editor pedia-lhe: escreva os diálogos. Como é difícil escrever uma novela policial. um bom diálogo, um diálogo natural. Quando se tornou jornalista “free- Sempre digo que cansei de ver no lance”, passou a ter mais tempo para cinema brasileiro um sujeito sair cor- se dedicar à literatura e acabou por ir rendo atrás de um ‘trombadinha’ que parar ao cinema. A verdade é que tomou a carteira dele a gritar: nunca quis trabalhar como argumen- ‘Peguem-no! Peguem-no!’. Ninguém tista porque achava que em matéria grita: ‘Peguem-no!’. Grita-se: ‘Pega de actividade economicamente inviá- ele’. Pode até ser um erro gramático vel já lhe bastava a literatura. “Não mas ele grita: ‘Pega ele!’” precisava de me meter com o cinema”, O “diálogo naturalista”, a “sintaxe diz a brincar, mas a sua prosa sempre da fala coloquial” sempre o interessou. foi considerada “cinematográfica” e E no dia-a-dia só consegue isso “espio- as suas narrativas visuais. Não con- nando as pessoas.” corda quando dizem que essa prosa visual está relacionada com o seu tra- Ver crítica de livros pág. 38 e segs. ersas alheias e “Cabeça a Prémio” foi escrito em 54 o cinema. Isabel Coutinho

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 21 A fúriaA semana da percussão (no CCB, em Lisboa) pro põe uma m do Drumming, um grupo que está a mu dar o p Há muitos outros exemplos. É só uma moda, ou as b

A percussão é um fenómeno? 1996) confirma este “boom” da per- Sem dúvida. A “Semana da Miquel Bernat diz que cussão. Para ele pode falar-se de um Percussão” que começa este verdadeiro “fenómeno”. Um dos domingo no Centro Cultural “começa a haver espectáculos mais recentes dos Tocá de Belém, em Lisboa, parece ser mais alunos e mais Rufar, intitulado “Wok” (em cena no mais uma prova da vitalidade de Teatro da Trindade), apresenta-se uma prática com cada vez mais adep- gente começa a ir a mesmo como “a maior investida na tos em Portugal. Uma nova “Mara- percussão tradicional portuguesa”. tona da Percussão” proposta por concertos de No último dia de Maio, o “Portugal Pedro Carneiro e a comemoração a rufar” (a decorrer no Seixal pela dos 10 anos de actividade de um percussão” quinta vez), encerra com um desfile dos grupos mais importantes de de rua de mais de 1600 tocadores. percussão do país, o Drumming, Isto para não falar na grande quan- fazem o núcleo central deste con- tidade de novos músicos, novos com- junto de iniciativas que se estende positores, novos grupos, novos cur- até dia 30 de Maio. Miquel Bernat, sos de percussão em escolas de percussionista valenciano a viver em música clássica, de jazz ou de música Portugal há mais de 10 anos, é um tradicional. dos organizadores desta semana A Semana da Percussão parece ser, em que muitas portanto, parte de um fenómeno baquetas vão bem mais vasto. O CCB será durante dançar. sete dias um local de encontro para compositores, músicos consagrados, O Boom! da percussão crianças e adolescentes aspirantes Este grande impulsionador do Drum- a percussionistas ou simples ouvin- ming, professor de percussão na Escola tes curiosos. Superior de Música e Artes do Espec- grupos mais importantes da percus- táculo do Porto e na Escola Profissional são a nível mundial, como o Ictus As baquetas são um baile de Música de Espinho, diz que há um Ensemble, e colaborou com a com- Um dos pratos fortes da programação “clamor” à volta da percussão. panhia de dança belga “Rosas”, de desta semana no CCB é a peça que dá “O concerto ‘Estou-me a marimbar’ Anne Teresa de Keersmaeker. Miquel nome ao grupo de Miquel Bernat - foi feito agora em Castelo Branco e as Bernat diz que “começa a haver mais “Drumming”, de Steve Reich, escrita pessoas ficam mesmo surpreendidas. alunos e mais gente começa a ir a con- originalmente, em 1970, para quatro E isso transmite-se”, diz o muito res- certos de percussão”. pares de bongós, três marimbas, jogos peitado percussionista espanhol que Desde que é professor na Escola de sinos, vozes, apitos e flauta. O per- já tocou com a orquestra da Concer- Superior de Música e Artes do Espec- cussionista pediu directamente a Steve tgebow de Amesterdão. táculo do Porto, Bernat tem cada vez Reich para usar no grupo o título desta Bernat tocou com mais alunos. Muitos vêm hoje para a obra que admira. E ele disse que sim. alguns dos escola, de várias partes do mundo, por Mas “Drumming” não está na pro- sua causa e “por causa do nome que gramação da “Semana da Percussão” tem o ‘Drumming’”. Segundo ele, este (no dia 24) só pelo título: “É uma peça panorama era “impensável há dez muito importante que consagra Steve anos - o público está a aumentar e há Reich como compositor. É apenas um muito para explorar”. ritmo descomposto, com a técnica de Rui Júnior, percussionista e funda- desfasamento, uma peça que teve dor dos Tocá Rufar (em um impacto e um encanto fabuloso nos anos 70”, diz Bernat, destacando o facto de ser uma oportunidade rara de ouvir esta peça. Que ele saiba, é a primeira vez que será tocada em Lisboa. Desde que em 1999 se tornou um grupo inde- pendente e espantou os espectadores do Teatro Rivoli, o Drumming já tem no reportório 45 espectáculos diferen- tes. Poderemos ouvir no CCB alguns deles: “Opens Scores” (dia 26), uma colaboração com a dança (Núcleo de Experimentação Coreográfica de Joclécio de Azevedo), com grande dose de improvisação, baseada numa peça famosa de Terry Riley (“In C”); “Trifásico” (dias 28 e 29), que junta três artes cénicas - um teatro musical de George Asper- ghis, um vídeo musi- cado ao vivo de Edmund Campion e uma ópera num acto de David del Puerto; o espectáculo pedagógico “Estou(- Música

22 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA PRESIDÊNCIA AVISO CONCURSO PÚBLICO N.º 3/DA/2009 das baquetas MERCADO DE SANTA CLARA a maratona Bang, Splash, Crash! e comemora 10 anos LOJAS PARA ADJUDICAÇÃO o panorama da percussão contemporânea. s baquetas dançam mesmo em Portugal? Pedro Boléo Avisam-se todos os interessados que, entre os dias 18 de Maio e 19 de Junho de 2009, se encontra aber- to Concurso Público para adjudicação de 8 lojas no Mercado Municipal de Santa Clara, preferen- me) a marimbar” (dias 25, 27 e 29), de percussionistas, como cuba é reco- cular, pelo lado físico, mas nós tenta- uma volta ao mundo em música para nhecido pelos ritmos afro-cubanos e mos mostrar que há outro lado, tenta- cialmente para ramos de actividade com manufactu- marimba em que se ouvirão instru- o Brasil pelo samba”. mos explorar subtilezas, avançar nas ração no local (escultura, artesanato, pintura, joa- mentos e músicas tradicionais de qualidades expressivas, na qualidade vários países; e ainda “Estudos, ritmos, Drumming não é Stomp da música, sem ter esse aspecto ‘fit- lharia, bijutaria, outros) e/ou lojas de especialidade cadências”, com Miquel Bernat e Nuno Mas para fazer música contemporânea ness’, que também pode ter, ser virtu- (chocolateria, gourmet, produtos regionais, outros). Aroso, num espectáculo com mais também é preciso consciência histó- oso, forte, rápido.” música contemporânea. rica e saber das “raízes”. Também Compromisso com a qualidade da Caso esteja interessado consulte o Aviso do concur- Entretanto, Pedro Carneiro propôs Steve Reich foi à procura de raízes em música, com a novidade que não é só dois recitais de intérpretes interna- África, nos anos 60 e 70. Miquel Ber- moda, mas também com a divulgação so na Divisão de Gestão de Mercados e Lojas, sita na cionais de alto nível (Kunihiko Komori nat diz que quer “descobrir novos da percussão para públicos variados, Rua Luís Pastor de Macedo, s/n (das 9h00 às 16h00) e Jeremy Fitzsimons, ambos no dia caminhos estudando o antigo”. O a semana da percussão é uma iniciativa ou aceda ao site www.cm-lisboa.pt (Áreas de Ac- 30), inventou uma oficina “À desco- novo, para ele, não deve ser confun- com muito “Bang, Splash, Crash!” (o berta da marimba” e planeou tam- dido com o espectacular ou apenas nome da maratona proposta nova- tividade/Comércio/Concursos Públicos). bém com Miquel Bernat um concerto com a moda: “A percussão também mente pelo CCB). E se não sabe o que de encerramento em que todos os tem algo de teatral. Mas há o negativo é um steel drum jamaicano ou nunca músicos subirão ao palco do Pequeno disto quando vai pelo superficial. Tem viu uma orquestra de marimbas, se Lisboa, 2009/05/07 Auditório. de haver consciência e estudo, senão acha que as baquetas são todas iguais “As baquetas são um baile, dan- é apenas uma questão de moda. Os ou acha estranho que os compositores çam”, diz Bernat. Pelo CCB vão, por- ‘Stomp’ [grupo de comédia e dança de hoje tenham tanto interesse por A Vereadora tanto, andar a dançar baquetas, na inglês de sucesso] fazem um bom estes instrumentos, pode surpreender- Ana Sara Brito música contemporânea ou nas músi- espectáculo de teatro com música de se nesta semana da percussão. E talvez cas tradicionais. “São pólos opostos, baixa qualidade. Nós somos músicos encontre alguns jovens “com as baque- de certa forma. Por um lado, estamos antes de mais, só que temos de ter tas na mochila”, como diz Rui Júnior, no fio da vanguarda, mas ao mesmo visão do corpo e da cena.” os novos entusiastas da percussão e tempo estamos a lidar com música de Bernat explica-nos melhor a sua certamente parte do seu futuro. culturas muito antigas, de tradições ideia de “ter um compromisso sério Entre tantos tambores, bongós, ancestrais”, explica. com a percussão”: “Há uma visão da congas, marimbas, pratos, caixas, Porque a percussão está na berra, percussão apenas pelo lado especta- sinos e gamelões, vão poder ouvir-se mas é também uma coisa muito antiga. dois grandes nomes da percussão em No espectáculo “Estou(-me) a marim- Portugal. Um deles é Miquel Bernat, bar” mostrarão a públicos de várias um dos percussionistas que mais está idades os instrumentos tradicionais a contribuir para mudar o panorama primitivos de Madagáscar, mas tam- “A percussão também da percussão contemporânea. Miquel bém as timbilas de Moçambique, o Bernat chama ao seu “Drumming” wagogo da Tanzânia, o gamelão tem algo de teatral. “um arquipélago com várias ilhas”, (orquestra de percussão) da Indonésia, referindo-se às múltiplas actividades marimbas mexicanas ou japonesas e, Mas há o negativo do grupo, que passam pela colabora- nalguns casos, tocando música que ção com a dança e com o teatro, pela aprenderam com marimbistas africa- disto quando vai pelo divulgação e pelo ensino, pela música nos ou asiáticos. Antiga e moderna, e tradicional e pela música contempo- de todas as partes do mundo. superficial. Tem de rânea. Um grupo que vai continuar à Rui Júnior acha fundamental o pro- haver consciência e procura das novas e antigas subtilezas cesso de “trabalhar na raiz e trazer da percussão, mas que tem um com- para a actualidade”, assentando o seu estudo, senão é promisso com o futuro. Porque de trabalho na música tradicional portu- uma coisa Miquel Bernat não tem guesa e na herança dos tocadores de apenas uma questão dúvida: “Não penso para trás, penso bombo, agora redescoberta: “Há 10, para a frente.” 15 anos, não havia grande considera- de moda” ção por tocar bombo ou caixas de rufo. Ver agenda de concertos pág. 32 e Mas desde 1996 que já se criaram mais Miquel Bernart segs. de 40 orquestras contemporâneas.” Rui Júnior diz entu- siasticamente que, por este andar, “Portugal vai ser de novo um país

Pedro Carneiro, que propôs uma nova “Maratona da Percussão” e Miquel Bernat, um dos organizadores e impulsionador de um dos grupos mais importantes de percussão do país, o Drumming

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 23 MARINA CHAVEZ MARINA

Os Green Day querem ser os psiquiatras da Amé Quando editaram “American Idiot”, os Green Day eram uma banda em prolongada decadência. C se a voz do protesto contra a América de Bush, foram legitimados pelo mainstream e por ele c importante banda americana da actualidade. A ópera rock “21st Century Breakdown” é o novo á

Um musical. Isso mesmo, “American na mais importante banda americana Berkeley, Califórnia, pólo universitário espécie de versão caricatural dos Idiot”, álbum de 2004 dos Green da actualidade. e centro contra-cultural por excelência Green Day, na banda sonora. Agora que já não Day, vai ser transformado em musi- Não surpreende, portanto, que desde a década de 1960. Integrados Nesses tempos nada havia de sério cal e estará em cena entre Setembro “21st Century Breakdown”, o novo na comunidade reunida em volta de na banda de Billie Joe Armstrong, do há Bush e há Barack e Outubro, em Berkeley, Califórnia. álbum, oitavo numa carreira que conta um clube, o 924 Gilman Street, que baixista Mike Dirnt e do baterista Tré “Hope” Obama, Michael Mayer, o encenador, é um já duas décadas, venha sendo anun- fazia a ponte entre punks veteranos e Cool, nada se sabia verdadeiramente homem de certezas: “Tínhamos ciado com grande fanfarra. Nos media, hippies ainda mais veteranos e as do que pensavam do mundo à sua agora que a crise perante nós um novo drama musical especializados ou não, esmiúça-se a novas gerações, andaram no início da volta. Banda de festa desbragada, que implorava ser levado a palco”, ideia de narrativa que o atravessa e década de 1990 a percorrer o circuito banda que punha miúdos a pegar em financeira mundial declarou ao “Guardian”. Explicou pergunta-se sobre as dificuldades underground americano e a fazer guitarras porque, primeiro, falavam porquê: “Este trabalho de paixão, encontradas pela banda para dar coe- digressões por casas ocupadas na de coisas de miúdos; segundo, tinham ataca sem piedade, visão e inteligência feroz apresentou- rência a um álbum conceptual dividido Europa. Em 1994, tudo mudou. uma atitude cartoonesca em palco e se-me como o pulsar de uma geração em três actos. São os jornalistas do “Dookie”, o terceiro álbum, pri- fora dele; terceiro, os três acordes das o que prepararam de americanos que estavam far- “New York Times” a querer ouvir tudo meiro por uma editora multinacional, suas canções, fiéis à estética punk, os Green Day? tos.” o que Billie Joe Armstrong tem para transformou-os num fenómeno mun- aprendiam-se facilmente. Os Green Day, que colaborarão na dizer e a “Rolling Stone” a entrar em dial e, ao mesmo tempo, como nor- A partir de “Dookie”, e da loucura montagem da peça, foram menos prolongada histeria, cobrindo todos malmente acontece, valeu-lhes o ostra- de “Dookie”, foi sempre a descer. Con- eloquentes. Pela voz de Billie Joe os mais pequenos passos que condu- cismo da comunidade que os vira nas- tinuaram a ser banda multiplatinada, Armstrong, vocalista e guitarrista da ziram ao épico agora editado. cer. “Dookie” tinha muito pouco de mas ninguém para além dos indefec- banda que, no início da década de Mas, afinal, que aconteceu? Ora, activismo. Era o punk da geração X: tíveis prestou grande atenção a 1990 trouxe um despretensiosismo aconteceu Bush e a América de Bush rebeldia escatológica assente em can- “Insomniac” (1995), “Nimrod” (1997) adolescente, adequadamente acé- e uma banda que, sem nada a perder, ções sobre marijuana, masturbação e ou “Warning” (2000). Em 2002 anda- falo, à pesada introspecção do decidiu atirar-se a ela. Só havia duas demais temáticas prementes do ima- vam em digressão com um dos seus grunge, comentou: “Não faz muito hipóteses: renascer ou desaparecer no ginário adolescente. Canções simples sucessores, os Blink 182, mas as posi- sentido.” Tem toda a razão. Não faz inferno das digressões revivalistas - a e enérgicas, como “When I come ções estavam invertidas. Aos Green sentido nenhum. isso estariam destinados se “American around” ou “Basketcase”, que, logo Day cabia a função de banda de aber- Para sermos precisos, nada faz Idiot” não se tivesse transformado que a coisa começasse a descambar, tura - eram os veteranos que iam muito sentido na carreira dos Green naquilo em que se transformou. ameaçavam transformar os três acor- entreter os putos enquanto não che- Day desde que, em 2004, ressurgi- des do punk em banda sonora para gava a acção a sério. ram de uma penosa e prolongada Punk da geração X filmes “teen” - no célebre “American Por esta altura, contou Billie Joe decadência para se transformarem, Os Green Day nasceram em Oakland, Pie” (1999) a coisa já tinha descam- Armstrong, a banda estava em farra- segundo a imprensa anglo-saxónica, mas formaram-se musicalmente em bado e lá estavam os Blink 182, uma pos. Não se falavam, não se divertiam,

24 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 digressão pelo coração do Sul dos Estados Unidos, essa América “red- neck” onde estavam os mais fervoro- sos apoiantes de Bush. Com audiên- cias divididas entre o aplauso e o apupo, com a banda a aproveitar a polémica para reforçar as ideias expostas em “American Idiot”, regres- sou o protagonismo. De repente, os Green Day torna- vam-se a voz da América liberal, con- gregando à sua volta o público e a indústria: Grammys, prémios da

Música MTV, milhões de discos vendidos, concertos esgotados e a legitimação pelo mainstream mediático. Puseram multidões a berrar “ame- rican idiot”, nos Estados Unidos e fora deles, e ressurgiram como uma nova banda: mais importante e mais traba- lhada que nunca, consciente do espec- táculo à sua volta e da nova existência como porta-estandarte de qualquer coisa. Em resumo, tornaram-se res- peitáveis e chegaram onde nunca antes - das primeiras partes dos Blink 182 a parceiros de U2 ou Bruce Sprin- gsteen, de punks com imaginário ado- lescente a porta-vozes do protesto na coisa rock massificada. “Que tempos estranhos” Cinco anos passaram. Os Green Day levaram “American Idiot” mundo fora, tiraram férias em 2006, diver- tiram-se e inventaram os Foxboro Hot Tubs, que são eles próprios em versão banda garage rock da década de 1960 (em 2008, lançaram álbum e tudo, “Stop, Drop & Roll!!!”). E agora? Agora que já não há Bush e há Barack “Hope” Obama, agora que a crise financeira mundial ataca sem piedade, o que prepararam os Green Day? “De certa forma, estamos pior do que estávamos na altura [de ‘Ame- rican Idiot’]”, reflectiu Armstrong ao “New York Times”. Explicou: “Ainda estamos a combater duas guerras. Ainda vivemos uma crise financeira. Vimos o que aconteceu com o Fura- cão Katrina. As pessoas estão a per- der as suas casas. Toda a gente espera semana após semana, questionando- se o que será o próximo aconteci- mento terrível. Mas, ao mesmo tempo, é o momento de maior espe- rança. É delirante. Que tempos estra- nhos.” Aí temos então “21st Century Bre- érica akdown”. É a versão, revista e aumen- tada, de “American Idiot”. Produzido . Com ele, tornaram- por Butch Vig, de “Nevermind”, dos Nirvana, divide-se em três actos e considerados a mais (“Heroes And Cons”, “Charlatans And Saints” e “Horseshoes And Hand- o álbum. Mário Lopes grenades”). Tem baladas ao piano, produção grandiloquente, tem as canções habi- não sabiam o que fazer do trio que tuais dos Green Day, com um aceno haviam fundado em 1989. A resposta aos Clash aqui, ali um a Lennon, outro estava à sua frente: um país dividido a Cheap Trick algures num refrão pró- entre o apoio e o repúdio a Bush, a ximo de si. Diz-se que as canções combater duas guerras e a braços com expõem uma narrativa fragmentada uma crescente esquizofrenia securitá- que segue os passos de Gloria e Chris- ria. Para alguém que diz acreditar mais tian, amantes em tempos de caos. Ou em palavras que em cocktails motolov, seja, cinco anos depois, os Green Day era tempo de soltar a língua. apostam no mesmo. Os problemas da Primeiro, Billie Joe Armstrong América não estão resolvidos e a ouviu uma canção na rádio que o irri- banda que renasceu em 2004 cá está tou: eram os Lynyrd Skynyrd, ícones para dar a sua contribuição à causa. do rock sulista americano da década Antes, foram banda sonora do descon- de 1970, que bradavam o seu orgu- tentamento com um país e uma polí- lho em serem “rednecks”. tica. Agora, aparentemente, querem Chegou ao estúdio e compôs “Ame- ser os psiquiatras da nação. rican Idiot” de rompante: “Well maybe A sua próxima digressão passará I’m the faggot America / I’m not a part por Portugal. Quando actuar no Pavi- of a redneck agenda / Now everybody lhão Atlântico, dia 28 de Setembro, do the propaganda / And sing along to a banda que baptizou o seu maior the age of paranoia.” Já tinha um hino, sucesso, “Dookie”, com um termo de faltava o resto. E o resto, planeado ao calão para diarreia, irá apresentar na pormenor, foi o que se sabe. totalidade o segundo álbum concep- Inspirando-se em álbuns como tual da sua segunda vida. “Tommy”, a ópera rock dos The Who, Algures em Berkeley, um grupo de criaram uma personagem alienada, teatro estará a levar a palco “Ameri- Jesus Of Suburbia, e puseram-no a can Idiot” e Billie Joe Armstrong tem divagar pelos Estados Unidos. Musi- toda a razão: nesta surpreendente calmente, serenaram o lado mais história recente dos Green Day, nada imediato e abrasivo e apontaram às faz muito sentido. grandes produções das bandas de estádio. Álbum gravado, partiram em Ver crítica de discos pág. 28 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 25 O primeiro álbum, recordemos, inti- - “são os Slowriders a tocar country, A fuga Riley descreve como um disco que é tulava-se “Farewell”. Este que agora a tocar blues, a tocar algo mais ‘son- Conta-nos que, nomes consensuais “fato de alfaiate” - enquanto o ante- chega foi baptizado “Only Time Will gwriter’”. na banda, só existirão o supracitado rior era “a sorte de passar na Feira da Tell” e, na sua capa, Sean Riley & The Sim, é isso que aqui ouvimos. Uma Johnny Cash e Nick Cave. As imagens Ladra e encontrar uma série de peças Slowriders aceleram numa velha car- banda a abrir o plano sobre o cenário, fortes que se sucedem no álbum nas- que ficavam muito bem” -, é um rinha Mercedes por estrada secundá- a chamar o Faith Gospel Choir ou cem daí: “O Cave inspirou-se no Cash, objecto transparente. No sentido em ria em fim de tarde. É a mesma, de Paulo Furtado para a ideia de soul que se inspirou numa série de outros que é uma inspirada e vibrante carta resto, que vemos no vídeo de “Houses que atravessa “This woman”, a con- gajos que passaram a vida a escrever de amor à música que os fascina. & Wives”, o primeiro single do novo vocar o banjo e o pedal-steel de Pedro canções negras de homicídio, morte, Neste sentido: “acho que os músicos disco. A mesma estrada, a banda Vidal para o magnífico pedaço de perseguição, de Deus e do diabo, de devem fazer aquilo com que se sen- rodando sem destino até parar em country-rock que é “Working nights” pecado e redenção.” Continua: tem confortáveis, sem forjar ou fal- clareira sem público à vista. Montam ou a invocar o espírito de Jeffrey Lee “Quando estás feliz com a vida, as sear que quer que seja.” Não há os instrumentos, tocam aquela canção Pierce, ele dos Gun Club, para que o coisas passam por ti com uma leveza “rodriguinhos”, não há espaço para de reconfortante brisa veraneante, rock’n’roll assombrado de “Buffalo que não tens tendência a reter tanto. inquietações: “Devem fazer o que arrumam tudo novamente e seguem turnpike” tenha um refrão como este: A dor, aquilo que magoa, isso não têm a fazer. Estas canções são assim viagem. Todos? Não. Filipe Costa, o “this place’s a zoo / I say, everytime esquecemos. Crava-se realmente em porque foi assim que se nos apresen- teclista, Bruno Simões, baixista e gui- I drop by”. nós.” Acto contínuo, a ressalva: “Mas taram”. tarrista, e Filipe Rocha, o baterista, O mais interessante, contudo, é isto é uma escola como outra qual- Não é que Sean Riley & The Slowri- estão no Mercedes. Sean Riley, o pseu- como, sendo um álbum intrinseca- quer, é uma corrente literária da ders tenham uma identidade definida dónimo musical de Afonso Rodrigues, mente diferente de “Farewell” - um escrita de canções.” e estanque a contaminações. É mais não esperou. Segue a pé pela estrada “álbum maior”, como a própria Posto isto, pode então abalançar-se que isso. Demarcaram um universo vazia. A banda há-de apanhá-lo, que banda, em estúdio, classificou ao Ípsi- na fuga, nessa obsessão que lhe atra- e, nele, conhecem ao pormenor cada os Slowriders são banda-gangue, mas lon -, há nele uma linha que se per- vessa todas as canções e que a música recanto. entretanto já calcorreou caminho. petua. Está inscrita na escrita de Sean dos Slowriders tão bem corporiza: “Gosto daquelas canções em que, Sozinho. Riley, no homem de fronte suada e “Há esta ideia paradisíaca de que, se se estiveres de olhos fechados e mini- “Only Time Will Tell”, o segundo Bíblia na cabeceira que surge logo ao chegasse um dia a uma praia deserta mamente concentrado, vês todo o álbum de Sean Riley & The Slowri- início, no “Got to go” em ritmo ace- no Havai, o cérebro ia parar de insis- “Gosto daquelas filme desenrolar-se à tua frente”, con- ders, é em muito aspectos obra lerado que lhe ouvimos algures, no tir nessa insatisfação constante e eu fessa Sean Riley. Tem os cenários diversa da estreia. É um disco de “when to leave? / It’s not up to me to iria finalmente descansar. Isto apesar canções em que, todos na cabeça. Divaga e deambula, banda e, nele, utilizaram as poten- decide”, cantado enquanto a guitarra de saber que, como é óbvio, não há poeira desértica nas botas, suor na cialidades que o estúdio (e o produtor dança aquele “boom chicka boom” volta a dar. Vai ser assim até ao se estiveres de olhos fronte, Bíblia à cabeceira. Nélson Carvalho) ofereceu na criação que Luther Perkins, o guitarrista de fim.” Tem os cenários todos na cabeça dos ambientes específicos de cada Johnny Cash, legou à Humanidade Tudo se resume, no fundo, a um fechados e e, Slowriders a seu lado, não se canção. Porém, há coisas a que um nos idos de 1950. efeito cénico, uma ilusão a que se dá minimamente demora muito em nenhum deles. Jun- homem não escapa. A fuga. Fuga pela fuga, desespe- vida. Tudo se resume, no fundo, a tos, fogem em busca de qualquer “Farewell”, “ligado a canções mais rada ou confiante, em êxtase que vive isto: “É como se essa ideia de movi- concentrado, vês todo coisa interessante, dolorosa ou pelo acústicas e produzido dessa forma”, paredes meias com uma crónica insa- mento constante fosse necessária contrário, onde quer que se encon- explica Sean Riley, “traduzia uma tisfação. Isto é o que lemos nestas para criar algum tipo de romance. o filme desenrolar-se tre. “Only Time Will Tell” é o que ideia de músicos à volta de canções”. canções que são Americana de finís- Não é necessariamente fugir de algo sobra. A magnífica cristalização desse “Only Time Will Tell”, por sua vez, é simo recorte, inventada algures no mau, é procurar algo mais interes- à tua frente” percurso. trabalho de uma banda que fez “can- centro de Portugal. A resposta de sante.” ções para todos os músicos tocarem” Sean Riley tem preâmbulo. “Only Time Will Tell”, que Sean Sean Riley Ver crítica de discos pág. 28 e segs. A fuga pela fuga, em êxtase toldado por uma crónica insatisfação. Isto é o que lemos nas canções de Sean Riley & The Slowriders. “Only Time Will Tell” é o segundo álbum da banda. Mário Lopes Música

Sean Riley & The Slowriders A estrada perdida

Filipe Rocha, baterista, Bruno Simões, baixista, Sean Riley, compositor, vocalista e guitarrista, Filipe Costa, teclista criaram canções que são Americana de fi níssimo recorte, inventada algures no centro de Portugal

26 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009

28 •ÍpsilonSexta-feira 22Maio2009 Discos voltará, anova editorial, plataforma vez porumpassado que delutar não em nos hábitos deconsumo actuais, Procurandode elogios. integrar-se Optimus jáseriamerecedora Discos fundadora,a Só pelaestratégia Compact Records Todos OptimusDiscos; distri. Mário Lopes disponível emloja. nanet, grátis Bombazines, Biblesou DJ Ride,Tiguana Nova novos editora,seis EPs. presente ender o compre- Para Pop

mmm The Bombazines The Bombazines mmm Moon Child OfThe Tiguana Bibles mmmnn Na Noite DesaparecerVi-os Tó Trips Tiago Gomes& n n um tiro aolado, extremamente esse monstro chamadotriphop),é dopado (cenárioque nosrecorda will”, noseumovimento“The Madchester esugestões hiphop. protagonista -,psicadelismo éo Gon culture” -quando ovocalista aqui êxtase dachamada“club queremos Bombazines Hápor mais. de1960e1970,funk dadécada mas do trabalhodeWill Holland sobre o grão sonoro vintage, lembramo-nos corpo inteiro. Pelo bomgosto epelo Ren “soul woman” mostra-se de groove paranossoprazereMarta produzidas nomesmo unem-se lado, obaixo real easbaterias teclados reverberam portodoo Os ácidos. soul edofunkmais exímiamostra-se naapropriação da primeiro EP, abandaportuense uma surpresa que seconfirma.Neste beatnick. famosodos deambulações domais espaço idealparadarvidaàs momento, opalcoseráainda sobressai que, neste asensação passagem paraoestúdio-contudo, a aventura sobrevive incólumeà na tensãourbanade“Bananaking”, comaspalavras,tema dança como de Tiago todoo Quando Gomes. Dean Moriarty, representados navoz Kerouac eDeanMoriarty, sempre trompete, eKerouac, asmulheres de contrabaixo epelosopro da madrugadas embarfumarento, pelo deTrips,fantasmagórica jazzde filme deLynch, pelaguitarra durante oúltimoano. Ambientesde Kerouac, que levaramapalco de “Pela EstradaFora”, deJack emestúdioasreleiturasconcretizam certeira. deEPssemostra primeira colheita sobremaneira agradável a quando Posto torna-se isto, oimpacto disponível emloja. física edição paralelamente, conhecem estas, edições,sendoque gratuito dassuas através doseusiteodownload Henrique Amaro, disponibiliza doradialista com direcçãoartística The Bombazines, por sua vez, porsua The Bombazines, são Tiago &Tó Gomes Trips datado. Quando mais mais datado. Quando clássicos, porém, Internet Nos Tiguana Blues nãohátiros aolado chegar. acentuemos) demorar muito a álbum inteiro nãopode(nãopode, pungente.forma tão Perante isto, um rock’n’roll dos50srepresentava de que ecarnalidade o inocência dojogotoda elasedução, entre excessivos dançante, ealibertação vagueia entre atensãodeamores onírico, Bibles oEPdosTiguana com oórgãoainduzirumambiente realmente. Semcentro definido,é-o town”“Lonesome deRickyNelson, textura de“standards” -umadelas,a são magníficoteatro rock’n’roll com Gollightly, que aconduzircanções ela classeemistério, familiardeHoly vozmagnífica Vandal, deTracy toda Safari) eKaló(Bunnyranch) tema Victor Torpedo (Parkinsons, Blood há tiros aolado. A nova bandade universo plenamente definido, não ou “Now’s thequestion” aovivo. fortomorrow” songis “This mentar Ribeira!” -esalivamos porexperi- da Invicta!”, “Blaxploitation na exultamos: “Funkadelic caricatura, sãoimparáveis.os Bombazines Em Há dois anos,DJRidepropôsHá dois uma Todos OptimusDiscus “Turntable Food”,“Turntable emforma de hop e abraçando ojazz, asoulou o hop eabraçando dealicercesálbum, partindo hip- Nos Tiguana Bibles,que Nos Tiguana têm um connosco. Venha construirestesite suplemento, éoutro desafi www.ipsilon.pt Estamos online. Entre em Beat JourneyBeat DJ Ride mmmnn Aurora Madame Godard mmmnn Circles The Pragmatic mmmmn . Éomesmo o. o. norte friodePortugal,norte oque neste O grupoédeViana doCastelo, do efrancesesdeantigamente. italianos soul eremissões para filmes francesa”, vestígios de arranjos um toque de“canção ligeira latino, sugestõescalor desamba, anos 60ahoje,masadicionam-lhe dos popocidental, enorme tradição movimentos remetem paraa seus Os positivo. é resultado próprio.feitura deumparaíso E o oferecer, antesna concentrando-se tem nenhuma revolução para sónica e jovial. Sãootipodegrupoque não diferente, num somsoalheiro, lúdico com umenvolvimento muito embora Madame Godard apostam, dançável dosaustralianos CutCopy. ouapopelectrónica Service Postalsonhadora dosamericanos se algures entre apopelectrónica sós,situando- nãoestão actualidade 80 comoosNew Order, masna remotosmais serãogruposdosanos Osseusdescendentes electrónicas. pop grande àvontade nascanções programações, que manuseiam com vozes, sintetizadores e analógicos desenrola-se emvolta de acção é outraboasurpresa. a Noseucaso, ThePragmatic oquarteto formação, nasua portugueses mas comdois dos Flying aosSa-Ra. Lotus progressistas, mais internacionais linha dealgunsdosprojectos temas éumcorposonoro uno, na umdos cada cruzados, caminhos diversidade deestímulos ede dedespistagem. sinais quaisquer finalevidencie resultado semque o abstracta mais electrónica dubstep, drum&bassouda mostra desejodereceber motivos do Cada umdostemas dessa lógica. muito finalestá resultado distante com acultura hip-hop, maso A formacomooperatemaindaaver aolongoevidenciada deoitotemas. surpreendido, amaturidade tal desde2007 música sua será Portugal. em damúsica feita consequência, osseushorizontese,por ainda mais matriz fundadora,masalargando como tendo ohip-hop Jouney”, Agorafunk. propõe uma“Beat desde 2007serásurpreendido Quem nãoouve DJ Ride Como os Pragmatic, também os osPragmatic,também Como EUA,Sediados emSaintLouis, Pelo contrário, apesarda coma Quem nãotomacontacto ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente MAI ~ 09 o são luiz no maria matos MUSIC AROUND CIRCLES TEATRO MARIA MATOS 29 E 3O MAI ÀS 21H Um outro Oeste M/16

Sean Riley & The Slowriders Only Time Will Tell

HUGO BENTO ALVES BENTO HUGO Valentim de Carvalho mmmmn

“He wakes up com screaming / sweat BERNARDO SASSETTI drips from his JOÃO PAULO ESTEVES DA SILVA head / there’s a MÁRIO LAGINHA Bible, a glass / and a note that says / FILIPE QUARESMA ‘hold on’.” O JOANA VERONA álbum começa assim: imagem forte RAFAEL MORAIS e precisa. O piano em cadência assombrada, o violoncelo discreto a acentuar o negrume do UM CONCERTO enquadramento. a partir de imagens do filme de Os Madame Godard apostam num tom soalheiro, lúdico e jovial Chama-se “Hold on” e é a primeira canção de “Only Time Will Tell”, MARCO MARTINS caso parece ter funcionado a seu inventaram algo de novo. segundo álbum de Sean Riley & The Como desenhar um círculo perfeito favor. Talvez seja precisamente por Violentamente visceral, este disco Slowriders. Tudo o que mudou entre isso que a sua pop confortável expõe tem algo de majestoso na forma “Farewell”, estreia inspirada, está já com música original de um desejo de evasão tão declarado. como parece emanar de uma ali: um som mais preenchido e BERNARDO SASSETTI WWW.TEATROSAOLUIZ.PT Vítor Belanciano dimensão inalcançada: que são pormenorizado, onde cada

aquelas guitarras harmonizando-se e elemento serve a construção de um bilhetes à venda apoio à divulgação repelindo-se no final de “War pigs”?; cenário específico (em “Hold on”, MARIA MATOS TEATRO MUNICIPAL tel. 218 438 801 SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL tel. 213 257 650 Negrume, alienação, que é exactamente aquele riff depois do piano e do violoncelo, há- WWW.TICKETLINE.PT paranóia mastodôntico, assustador, dessa BD de ouvir-se a guitarra slide, a bateria apocalíptica a que chamaram “Iron imporá o seu ritmo e a canção Man”? crescerá com o sentido dramático de Black Sabbath Os Black Sabbath de “Paranoid” um Nick Cave sem cruz ao peito). Paranoid são, repetimos, o blues possível na Mas, em “Only Time Will Tell”, isso o são luiz no ccb Sancturay Records; distri. Universal nação da revolução industrial. São, que muda e que o torna álbum Music também, o psicadelismo como “bad maior que o óptimo “Farewell”, não mmmmm trip” sem espaço para misticismos - esconde algo que é basilar a Sean o reverso negro, logo cruelmente Riley & The Slowriders: a capacidade MARIANA “Paranoid” foi real, das utopias adolescentes do de pegar na tradição popular editado no dia em “flower power”. americana e resgatar-lhe “novas- que Jimi Hendrix Podem chamar a “Paranoid” o velhas” narrativas com o talento de AYDAR morreu, 18 de álbum que definiu o heavy metal, quem absorveu tão profundamente Setembro de 1970. mas isso é classificação demasiado uma história que a tornou sua. 25 MAI~21H Retrospectivamen- redutora para isto que aqui ouvimos. “Only Time Will Tell” pode ser um

CCB M/6 GURU te, e aproveitando Do proto-punk de “Paranoid” às álbum de fugas em estrada aberta - é CO-PRODUÇÃO: SLTM ~ U as mitologias ocultistas da treta a convulsões de “Electric funeral”, esse o subtexto de todas as canções - que o nome dos Black Sabbath está passando pelo pesadelo opiáceo que mas é tudo menos unidimensional. “A VOZ ligado, faz todo o sentido. Morria é “Planet caravan”, é uma obra Há blues-rock de harmónica inquieta Hendrix, feiticeiro do blues, nasciam prima da música popular urbana, e ritmo contagiante (“Got to go”), há SENSAÇÃO para o mundo os Sabbath, homens copiado até à exaustão mas nunca um belíssimo pedaço de country- DO BRASIL” do rock’n’roll como negrume, melhorado. rock, intitulado “Working nights”, alienação e paranóia. Não é bonito, muito menos que tem pedal-steel silvando do “Paranoid” (voilá) era o segundo confortável. Assalta-nos os sentidos fundo do salloon e banjo dedilhado álbum da banda, mas por muito que com perverso prazer e projecta um em contemplação do crepúsculo. apreciemos a estreia homónima (e espaço mental que trespassou as Aqui, dança-se o stomp soalheiro de apreciamos, e adoramos), foi com frágeis certezas e optimismos de “Houses and wives”, o primeiro ele que tudo começou. Como uma época. Quatro décadas depois, single (“the world’s going insane” dispara Ozzy Osbourne em “Hand of mantém-se tão rudemente certeiro mas é melhor seguir em frente e doom”, “You’re having a good time quanto empolgante e inspirador. preocuparmo-nos depois). Aqui há baby, but that won’t last”: touché! Foi agora reeditado em CD triplo: o uma ideia de soul na catártica “This Revolvendo o espírito do blues como álbum original, um DVD com a woman” e theremins e delírios cidadãos da cinzenta Birmingham, mistura quadrifónica de 1974 e um psicadélicos em “Walking you ano 1970, os Black Sabbath terceiro com versões alternativas de home”. Aqui, em “Only Time Will cada uma das suas oito canções. M.L.

www.teatrosaoluiz.pt bilhetes à venda apoio CENTRO CULTURAL DE BELÉM tel. 213 612 444 www.uguru.net SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL tel. 213 257 650 WWW.TICKETLINE.PT “Only Time Will Tell” pode ser um álbum de fugas em estrada aberta SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA [email protected]; T: 213 257 640

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 29 30 •ÍpsilonSexta-feira 22Maio 2009 aJìBDCG@AF@@ %QRSC@MRDQíDí-í@MNQ $DQBNMRNQíCDííO@P@í Q JìIz@@Å \}AB %* 23!3(#!++7 3°"!$/íííEØÝGííÜ 3%8IØííí-ØÝGííÜ #%.42/í#5,452!,í#!24!8/ k|€+„‰+„ˆ€ ìbìB@@Iw X  ìb {S‹{cìì ì ìŒ ììÈììU  ì j|†€ S ìcìa w _‹Š„Š 4ERESAÐ!LVESÐDAÐ3ILVAÐEÐ'UZMfNÐ2OSADO b„€~£¡Š+_¨Ž„~| rƒ€+uƒŠ+|‰+rƒ€+uƒ| Ð0RO $ANlAÐEÐ#0"# ìv  ìŒ ìì ‹‰ìì ìv ì w Ð!NDRmÐ-ESQUITA ÐÐ ÷ v{‹‰ìcìì #2)!_é/í4/+ª!24 viver imponentes aosolhosdetodos. sobosoldatarde, confiantese çam dan- sidade. Seexistem fantasmas, “Farewell” ganhaumaoutralumino- otom assombradode de canções, inspirados eatentíssimos escritores The Slowriders seconfirmam nacionalidade. específico, mashojesem denascimento popular comlocal paisagem deumamúsica vasta mmnnn Reprise; Warner distri. Music Breakdown21st Century Green Day e aópera rock punks Os percurso deumeoutro em“21st paraencontraro abstracção de muitaé preciso capacidade domundo moderno,hipocrisia mas jovensChristian, perdidos na edo daGlory ahistória álbum conta poraíque oconcentrar -diz-se individualmente, que nosdevemos vistas nelas, nascanções elucidativa, éparticularmente Dadoque anarrativacanções. nãoé eestendidapor18(18!) actos Day, ópera rock dividida emtrês aCasaBranca. senhor jánãohabita anti-Bush porque, comosabemos,o Breakdown”, oálbumque sónãoé Bush, surge “21stCentury de “American Idiot”, oálbumanti- Green Day Depois têmaresposta. paranovodecadência estrelato? Os umabandaem catapultou ausência derisco Green Day: total Neste álbumemque SeanRiley & Eis então o novo então dosGreenEis disco Tell”, vagueiampela ascanções Discos mundial e num sucesso inesperadamente transformou ópera-rock que se deuma depois O que fazer M.L.

Este espaço vai ser seu. não concordando com o Que fi lme, peça de teatro, que escrevemos? Envie- Espaço livro, exposição, disco, nos uma nota até 500 álbum, canção, concerto, caracteres para ipsilon@ Público DVD viu e gostou tanto publico.pt. E nós depois que lhe apeteceu escrever publicamos. sobre ele, concordando ou

Century Breakdown”. naturalidade da interpretação do Lhasa de Sela Clássica Jorge Matta seleccionou um Com que ficamos então? Com Ensemble Gilles Binchois, que Lhasa criterioso conjunto de obras de uma banda de estádio com queda também se inspira na experiência da Warner; distri. Warner Raízes e ramos da Lopes-Graça interpretadas pelo para as melodias trauteáveis dos tradição oral da música de diferentes Coro Gulbenkian (na foto) Buggles (sem teclados, como se mmmnn música medieval culturas e numa imagem sonora que pode conferir em “The static age”), privilegia a identidade individual das com os Green Day de sempre, Lhasa nunca foi vozes em vez da sua fusão numa L’Arbre de Jessé naquele punkzinho saltitão de convencional, e a massa coral uniforme. Linhas Ensemble Gilles Binchois ritmo acelerado e assinatura sua a música melódicas de grande beleza, Dominique Vellard (canto e anónima (“Christian’s inferno”), e, nunca foi apenas texturas transparentes e uma direcção) novidade, com uma série de bonita. No seu pulsação fluente contribuem para Glossa GCD P32302 baladas para piano e guitarra primeiro disco um colorido painel de estilos que acústica em que, procurando (“La Llorona”, 98) predominavam mmmmn nos devolve a riqueza de um aproximar-se de John Lennon, Billie guitarras acústicas em canções que repertório que tem sido por vezes Joe Armstrong acaba por replicar os se aproximavam de tradicionais O último disco do subvalorizado. Cristina Fernandes Oasis (“Restless heart syndrome” mexicanos, mas havia um tal sufoco Ensemble Gilles será quanto a isso o melhor na voz, as melodias estavam de tal Binchois, exemplo). modo escondidas por uma cortina agrupamento O lirismo poético A total ausência de risco, o facto negra, que tudo ali soava doloroso e especializado na de Lopes-Graça de jogarem sempre em terreno misterioso. Ela encheu o segundo música medieval e confortável e previsível, aliada à álbum (“The Living Road”, 2003) de renascentista dirigido pelo tenor Fernando Lopes-Graça vontade de fazer do álbum uma instrumentos, com melódicas, Dominique Vellard, recorre à Música Coral ambiciosa proclamação política, pianos e guitarras a embelezar as simbologia da “Árvore de Jessé” na Coro Gulbenkian transforma-os na banda ideal para canções, mas o seu universo construção de um programa Jorge Matta (direcção) veteranos que perderam o pé com a permaneceu simultaneamente composto por canto gregoriano e Numérica/PortugalSom PS 5011 contemporaneidade há décadas onírico e carnal, e, acima de tudo, por peças das primeiras escolas mostrarem que estão a par do que intangível. importantes de polifonia sacra: mmmmn se passa (porque isto é rock Ao terceiro disco, “Lhasa”, a Notre-Dame de Paris e de Saint- moderno que quer mudar o mundo beleza permanece, mas a sua música Martial de Limoges. A vasta produção à antiga, dirão). parece domada. As canções que A “Árvore de Jessé” representa a coral de Fernando “21st Century Breakdown” é um abrem o álbum, “Is anything wrong” árvore genealógica que liga Jesus a Lopes-Graça O programa não inclui peças épico demasiado preocupado em e “Rising”, assentam em melodias Jessé, Pai do Rei David, tendo sido destinada a baseadas em melodias populares ser épico e, no seu final, coisas bonitas (de piano, a primeira, de um motivo recorrente na arte cristã agrupamentos (embora uma boa parte delas recrie interessantes como “Peacemaker”, guitarra, a segunda), porém da Idade Média. Surge em amadores e um folclore imaginário), mas mariachi “apunkalhado”, são demasiado convencionais. “Love manuscritos iluminados, vitrais ou algumas das suas obras com mais unicamente obras originais sobre esquecidas perante o assalto de um came here”, por exemplo, é um esculturas, mas aparece também na forte conotação política como as textos tradicionais (em português e par de perguntas. Porquê tantas blues (com guitarra e bateria) muito representação musical de textos “Heróicas” continuam a ser as mais castelhano) e textos de poetas canções, senhores, quando tantas bonito, mas ainda assim um blues bíblicos, pelo que a adopção desta conhecidas do grande público. portugueses. delas não passam de dispensáveis canónico. ideia como fio condutor de um No entanto, o compositor escreveu Contendo algumas das mais sucedâneos umas das outras? E “Lhasa” anda sempre por projecto discográfico se reveste de muitas outras que envolvem um grau inspiradas páginas de Lopes-Graça, a como encontrar aqui uma caminhos americanos, havendo toda a pertinência. O repertório de complexidade rítmica e selecção é, à partida, uma mais-valia relevância discursiva quando, verso derivados do blues, aproximações à gravado provém de manuscritos que harmónica e uma sofisticação de da gravação, mas a interpretação aqui, verso ali, somos presenteados folk e tangentes à country espiritual, se encontram em França e em Itália, escrita que apenas se encontra ao funciona também como uma espécie com coisas como isto que ouvimos só que raras vezes se cria uma incluindo uma selecção de Tropos e alcance de coros profissionais bem de manifesto ou reacção contra uma em “East Jesus nowhere”: “you’re a linguagem única, não catalogável. E Sequências (adição de nova música a treinados. Para a presente gravação certa “ideia feita” que identificava a sacrificial suicide / like a dog that’s quando, na segunda metade do um canto pré-existente) e de do Coro Gulbenkian, integrada na música do compositor com uma been sodomized”? M.L. disco, se começa a procurar uma motetes polifónicos, além de trechos colecção do Ministério da Cultura abordagem das obras bastante ideia de som (“A fish on land”, a em cantochão. dedicada à música portuguesa, foi agreste e angulosa. A dureza foi aqui Lhase: a beleza óptima “The lonely spider”, “I’m Ao contrário do que acontece com selecionado pelo maestro Jorge Matta trocada por uma generosa expressão permanece mas going in”) Lhasa fica presa ao que fez a música mais tardia, cuja notação um criterioso conjunto de obras que do lirismo e da flexibilidade rítmica, a música parece no segundo disco. Tudo isto é musical traduz proporções rítmicas pertencem a esta última categoria e que nos deixa saborear a clareza domada lento, bem adornado (uma exactas, a maior parte destas fontes que incluem os “Dos Romances subtil da prosódia e o potencial pedal steel guitar aqui, um deixa em aberto múltiplas Viejos”, “Em louvor do Sol”, “Para as expressivo da fonética e nos devolve violino ali, um coro acolá) questões rítmicas que os raparigas de Coimbra”, “Quatro as dissonâncias com outro sabor. e, por vezes, muito intérpretes têm de resolver Redondilhas de Camões”, “Três Em vez de cortantes, estas soam bonito, mas falta aquele com base num estudo Líricas Castelhanas de Camões”, agora como efeitos de pronunciado tom de ameaça que muito especializado e “Três Esconjuros” e “Canções de colorido ou de luz e sombra. Esta ensombrava as suas nalgumas conjecturas. Marinheiros”. ideia funciona bem com a maior canções, aquele O trabalho parte das obras registadas, mas som de académico suscita-nos algumas reservas nos tempestade a cuidadoso (realizado “Três Esconjuros” que assim aproximar-se, em colaboração com perdem uma parte da sua força. O de fundações a a musicóloga Marie- Dominique Vellard dirige um programa teor do texto e da música pedia, estalar antes Noël Colette) não composto por canto gregoriano e por peças neste caso, uma interpretação mais da queda. João restringe, porém, a das primeiras escolas de polifonia sacra dramática e incisiva. C.F. Bonifácio

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 31 32 •ÍpsilonSexta-feira 22Maio 2009 Concertos o OutFest referir que sentido já nemfaz altura, Nesta de Camões, Barreiro. DNA Discoteca Bar. Lg.Luís Gala Drop +Photonz dias: 15€. Pré-venda: 12€. 962372878. 10€.Pré-venda: 8€. Passe 2 49.Camões, Sáb. às21h30. Tel.: 212073237/ Barreiro. Franceses”. SDUB“Os Lg.Luísde Loosers + Ducktails +Tomutonttu Spectrum +Whitehouse +Os Lopes Drop noOut.Fest. Basinski eGala Spectrum, unidos o mundo, res detodo Explorado- Pop Passe 2dias:15€. Pré-venda: 12€. trip cósmica transportar opúblicopara asua rodeia-seBoom, debanda para Spectrum, oumelhor Sonic 962372878. 10€.Pré-venda: 8€. às 02h00. Tel.: 212061156/ 49. Sáb. Mário Mário noite, noAuditório Augusto Municipal Esta marcantes. seus momentosmais programados parahojeeamanhãos prolonga-se até 29, mastem vasto.todo mais presente, temsabidoinseri-lanum popular urbanadopassado edo exigentes eexploratórias damúsica ancorado naslinguagens mais que,abrangência firmemente estética revelando, anoapósano, uma porquejá assegurado. Depois, vem está nacionais panorama defestivais ediçõeseoseuespaçono seis já conta experimental. porque Antesdemais, referência nouniverso damúsica de comoacontecimento a solidificar Exploratória doBarreiro setemvindo - Festival deMúsica Internacional projecções de documentários como projecções como dedocumentários Thunderbolt Pagoda”, e deIra Cohen, uma bandasonorapara “Invasion Of Maio, comos Frango interpretando com GalaDrop. madrugada dentro comPhotonze DNA -desbundar discoteca às2h,para a depois, desloca-se dos finlandesesTomutonttu. Afesta MatthewMondanile, e do americano d’Os projecto de Ducktails, Loosers, Franceses” haverá aindaconcertos rugosos evoz gutural.Na“Os são punksarmados desintetizadores emversão unsSuicide gárgula, noise, Whitehouse. (ehistóricos) os britânicos rock’n’roll que interessa. Antes dele, do marginais manifestações todos osbluesetodasas ondecabem tripcósmica para asua opúblico genericamente, transportar música dos Spacemen3epara, rodear-se debandapara reinterpretar a oumelhorSonicBoom, Spectrum, Barreirense “Os Franceses”, estará União Democrática sala daSociedade serádeoutro tipo.psicadelismo Na popular).Pelacelebração noite,o e psicadélica Franceses (festa noCoreto doJardiminstalar dos percorrer doBarreiro asruas atése Improvisada deSopaa Colher tarde, háumaFanfarra Recreativa e terrorista de11Setembro.terrorista forma, foi a sua resposta ao ataque aoataque resposta forma, foiasua fortemente em A edição deste ano iniciou dia 16 e dia16e desteanoiniciou A edição O festival prossegue entre 27e29de Fundados em1980, sãoterroristas Sábado serádiaabastado. Pela Cabrita, actuam CianNugent, actuam Cabrita, compositor nova-iorquino cartaz surge William Basinski, cartaz senhor dofingerpicking, eSei actualmente. Como cabeça de de cabeça Como actualmente. Miguel, que apresentará “The Miguel, que apresentará “The peças em que trabalha emque trabalha peças Jewel System”, conjuntode 2001 e que, de certa 2001 eque, decerta em lenta transmutação, transmutação, em lenta faz-se de melancolia e demelancoliae faz-se de um sentido de de umsentido contemplação que, diz- contemplação velhas de duas décadas velhas décadas deduas se, atingiuoseuauge construído sobre fitas construído sobre fitas em “The Disintegration Loops”, Loops”, Disintegration sequência de loops sequência deloops sua música, música, sua influenciado pelo pelo influenciado minimalismo minimalismo e Brian Eno. A e BrianEno. A de Steve Reich 25€. Praça 10€a CCB. doImpério.Seg.25,às21h. Lisboa. Mariana Aydar Pacheco Nuno pelaprimeira vez. canta triângulo.toca EmPortugal Em palcoMarianaAydar dar quefalar Mariana vai pt.vu comoMarrakeshcidades eEssaouira.. de amúsica dasruas que capta From TheTrans-Saharan Highway”, 5th Street” ou Brotherhoods “Musical “Derek Bailey: Playing For FriendsOn homem moderno, de como homem moderno, decomo enclausuramento do do trabalho:“O oespírito sintetiza que para ela E faladeumtema disco. vai noquarto Darma Lóvers, que já The dupla budista autoria: Nenung, da ao disco, tem outra “Peixes’”, que dátítulo Masafaixa canções. marido, namaioria das surge seu aoladodadeDuani, Mariana, “muito autoral”. mais no Brasil enaEuropa) é,segundo Pássaros, agora Pessoas” (lançado diferentes”, “Peixes, enquanto pensar empúblicosmuito mesmo.” “foifeitoa Essedisco momento. isso Kavita significa entregues àquele totalmente somos ninguém,temos que estar “Na horadefazerumamúsica não que escreve. para assinarascanções ela escolheuKavita comopseudónimo 1”. emsânscrito, e Querdizerpoeta, que gravou, em2006, chamou“Kavita Aoconsidere sambista. primeiro disco a alma”, dizela,emboranãose brasileira. “O sambaéalgo que prende queria fazerera essencialmente Bobby McFerrin, masamúsica que eumanoemParis. Boston, um mêsnaBerkley School,em banda deforró, aos20anos,esteve violãonuma começouatocar Depois emLisboa. Centro CulturadeBelém, de estreia emPortugal, dia 25no agora, nasvésperas doseuconcerto livre, que medivertia muito”, dizela um ambientemuito muito libertário, sempoderassistir.espectáculos, “Era Mariana eralevadaparaos promotora Aindapequena, musical. Breque (Premê) eamãe,BiaAydar, LigeiraMúsica ePremeditando o Manga, émúsico fundador dosgrupos rodeada demúsica. Opai,Mário Paulo em1980, jáveio aomundo Antunes ouChicoCésar. Seu Jorge, ElbaRamalho, Arnaldo com jálhedeuparacantar Mas isso rodagem somaapenasdois. ediscos Nos palcoslevaapenasnove anosde de palcoedoisdiscos Mariana Aydar temnove anos Mais informaçõesemwww.outfest.Mais A assinatura dela, como Kavita, A assinaturadela,comoKavita, ouvia detudo, a Em casa deBeatles Mariana Aydar, emSão nascida “Noble Beast” o seuúltimo álbum, Andrew Bird traz Andrew Bird Mariana aindavaidarmuito que falar. que epeloselogios rodeiam, disco pelo noBrasil.Aajuizar será visto équeLondres, Lisboa) oespectáculo derodar só depois naEuropa (Paris, eGustavo melódica) E Ruiz (guitarra). VargasLucas (teclas, sanfona e (percussão), Arantes (baixo), Fumaça ebateria), Márcio musical (direcção noCCBDuani Mariana, estarão deGuimarães). Com português, passado fériasváriasvezes (oseuavô é primeira vez, tenha embora jácá piano. pela EmPortugal canta violoncelo, violãoeaindaestuda não sertriângulo. Masestudou cantoras.” e para miméumadasmelhores Mayra emParis Andrade:“Conhecia-a Pagodinhode Zeca edacabo-verdiana deMariana,surgem as segura nodisco regras epadrões.” tantas moral, presosainda estamos atanta de raiz americanas e em linguagens de eemlinguagens de de raizamericanas fluenteemmúsicas clássica, formação de nosso tempo. Instrumentista do celebrados criadores decanções e respeitados como umdosmais álbum de2007, consagração easua pequeno culto. veio Depois, oresto. que otinharevelado paraalémdo Mysterious“The OfEggs” Production haver, gratuito. deexibicionismo ali nada,epodiamuito facilmente não seperdia noprocesso -nãohavia acorde aacorde, apizzicato, pizzicato montava somasom, ascanções magia pelorelvado”. Omúsico que expressão “espalhou futebolística, coloridase,utilizando listadas seu violino, umasmeias guitarra, asua consagração. o reconhecimento, osucesso, a -isto: o álbumque começoutudoisto Mysterious“The ofEggs”, Production de rumaraFamalicão. Apresentava num Luxbemcomposto, umdiaantes A primeiravez que ovimos,actuava 22h00. Tel.: 253203800. 15€ a20€. Braga. Theatro Circo. Av. Liberdade, 697. 3ªàs 2ª às21h30. Tel.: 213103400. 20€. SãoJorge. Cinema Lisboa. Av. Liberdade, 175. e Dom Mariana não toca nada, em palco, a nada,empalco, a Mariana nãotoca Ao ladodavoz quente, clarae E oresto foi“Armchair Apocrypha”, Sozinho noLux,foimaiorque esse Andrew Bird chegou sozinho como vanguarda, curiosoinveterado e músico popimprovável. malabarista semântico que semânticoque malabarista Beast”, Andrew BirdBeast”, éum cita “proto-Sanskrit “proto-Sanskrit cita Minoans” e “Porto-centric Minoans” e“Porto-centric Lisboans” no seu último noseuúltimo Lisboans” recomendadíssimo “Noble recomendadíssimo “Noble álbum, o Aparentemente, ajulgar pelas reacções das pelas reacções das plateias de plateias de Coimbra, Lisboa e e Lisboa Coimbra, em 2007, Portugal Braga que oviram adora-o. adora-o. Confirma-se: em em Confirma-se: Lisboa, a data adata Lisboa, marcada para o parao marcada segunda-feira, segunda-feira, São Jorge, esgotou 25 deMaio,

CAMERON WITTIG Alela Diane, folk mais clássica que rejeita explosões Susan Graham tem-se distinguido num repertório operático que vai do século XVII ao século XX rapidamente e obrigou à marcação de seu grande segredo é a voz: delicada, Coimbra: Salão Brazil, TAGV e Museu Nacional editou o anterior “Every Woman Is a violoncelista Daniel Levin junta-se um novo concerto (Domingo, 24). Em feita de texturas suaves mas com uma Machado de Castro. De 28 de Maio a 6 de Junho. Tree”. também aos “after-hours”. Braga, chegará a 26, para concerto no acentuada característica onírica. Estas Bilhetes entre 5€ e 7€ (consoante os concertos), 10€ Na segunda semana actua Joe M.L. (3 “after-hours” da 1ª semana) e 25€ (3 concertos + 3 Theatro Circo. canções fazem tanto sentido hoje “after-hours” da 2ª semana). McPhee, extraordinário multi- como faziam nos anos 70 - e Diane instrumentista que tem vivido grande Clássica canta-as como se o tempo nunca Em ano de crise, o festival de jazz de parte da história do jazz, primeiro a Alela Diane tivesse passado. É música Coimbra muda de formato. Na solo no Museu Nacional Machado de Torres Novas. Teatro Virgínia. Lg. São José Lopes dos reaccionária, mas é, também, música primeira semana há apenas concertos Castro, no dia 4 de Junho, e na noite Santos. Sáb. às 21h30. Tel.: 249839309. 12,5€. Viagem muito bela. João Bonifácio “after-hours” no histórico Salão Brazil seguinte integrado no Peter Faz sentido que o culto a Alela Diane mas, em compensação, na segunda Brötzmann Quartet, no Teatro Gil vá crescendo devagar e em surdina: a semana há concertos com verdadeiras Vicente (TAGV). Este grupo promete pela canção sua música, despida e sibilante, é feita Jazz lendas vivas do jazz: Joe McPhee e jazz incendiário na tradição do da folk mais clássica, rejeita explosões Peter Brötzmann - o primeiro actuará melhor free e reúne, além dos velhos francesa e berrarias, antes funciona porque se a solo, o segundo com o seu quarteto. Brötz e McPhee, o contrabaixista vai enleando insidiosamente nos Lendas vivas A primeira metade do festival será Kent Kessler e o baterista Michael A meio-soprano americana ouvidos. O primeiro disco de Miss da responsabilidade do sexteto Zerang . No último dia, 6 de Junho, o Susan Graham apresenta Diane, “The Pirate’s Gospel”, era um nórdico Angles. Constituído por TAGV acolhe o trio francês DAG: CD-R para uso pessoal, feito de em Coimbra Martin Küchen (saxofone alto), Sophia Domancich no piano, Jean- o seu último disco a solo. melodias minimais e pouco adornado Magnus Broo (trompete), Mats Jacques Avenel no contrabaixo e Cristina Fernandes (não havia mais que guitarra acústica Joe McPhee e Peter Äleklint (trombone), Mattias Ståhl Simon Goubert na bateria. e banjo). O disco foi, posteriormente, (vibrafone), Johan Berthling Os “after-hours” da segunda Brötzmann no festival de Susan Graham e Malcolm re-editado por uma editora enquanto (contrabaixo) e Kjell Nordeson semana estarão por conta do Martineau objecto comercial e, ano a ano, jazz de Coimbra. Nuno (bateria), o grupo deverá investir em Christian Lillinger / Matthias Schriefl Com Malcolm Martineau (piano), conquistando mais adeptos até se Catarino material novo, balançando entre um Quartet - também serão registados Susan Graham (meia-soprano). tornar objecto de culto. “To Be Still”, hardbop estável e um free mais para futura edição discográfica. Este já deste ano, faz a transição para uma explosivo. Estes concertos terão lugar grupo junta quatro talentos do novo Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Jazz Ao Centro 2009 Avenida de Berna, 45A. 3ª às 19h00. Tel.: folk mais arranjada: há violoncelos, Angles / Joe McPhee / Peter no Salão Brazil, nos dias 28, 29 e 30 de jazz alemão - o trompetista Schriefl 217823700. 15€ a 30€ violinos, slide guitar, bateria, mas isso Brötzmann Quartet / DAG / Daniel Maio a partir das 23h, e serão já esteve no Jazz Im Goethen- em nada estragou a beleza frágil da Levin Quartet / Lillinger/Schriefl gravados para posterior edição Garden, com o seu grupo Faltam apenas dois recitais para escrita de Diane, em parte porque o Quartet discográfica, via Clean Feed - que Shreefpunk. No dia 6 o quarteto do terminar o Ciclo de Canto da

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 33 34 •ÍpsilonSexta-feira 22Maio 2009 Franck, Ravel.Franck, deSchumann, César concertos Grieg, maratona prossegue emJunho comos sobre umtemadePaganini”.A nº2ea“Rapsódia famoso Concerto deRachmaninov como virtuosismo obrilhante emdestaque estará (domingo, etapa segunda às 18h) König.direcção deChristoph Numa nº2,deBrahms, soba Concerto “Jeunehomme”, eo deMozart, n.º9,inclui oConcerto primeira éjáhojeànoite, às21h,e Orquestra doPorto. Nacional A longo dequatro apresentações coma piano eorquestra interpretados ao para Oitoconcertos Casa daMúsica. aniversário comumamaratonana vaicomemoraroseu pianista anos. Longe desemostrarfatigado, o com aimpressionantede72 duração conta carreira faz80anos.Asua Costa Sequeira No dia18deJulho opianista dia24,às18h. daMúsica, Porto, Casa Obras deDvorák eRachmaninov (piano) Sequeira Costa KönigChristoph (direcção) Orquestra doPorto Nacional Perfil Sequeira Costa II às21h. hoje,dia22, daMúsica, Porto, Casa Obras de Mozart eBrahms Obras deMozart (piano) Sequeira Costa KönigChristoph (direcção) Orquestra doPorto Nacional Perfil Sequeira Costa I Honneger ouMessiaen, entre outros. Debussy, Ravel, Poulenc, Satie, Chausson,Franck, Duparc, Fauré, diversostão Gounod, comoBizet, vaudeville, abrangendo compositores trechos ligeiros mais decabaret e ou Impressionismo edoSimbolismo do linguagens harmónicas doséculoXIX,asnovas décadas dasúltimas sentimental canção variadascomoa tão tendências na próxima Nelasecruzam terça-feira. queo Modernismo trazàGulbenkian viagem musical entre oRomantismo e epiano.francesa para canto Éesta onde percorre umséculodemúsica (etiqueta Onix), français” “Un frisson preencheamericana, oseuúltimoCD, derepertórioapostas dacantora deManhattan. Música concedido em2008pelaEscolade causa” um doutoramento“honoris Entresdistinções. asúltimas conta-se recheadacarreira deprémios e que têmcontribuídopara uma inteligência interpretativa, qualidades impecável egrande técnica Possui ummagníficotimbre, uma decâmara. no âmbitodacanção intérprete umaconceituada também nos maiores palcosdomundo eé extenso -doséculoXVII aoséculoXX- num repertório operáticomuito Mahler, Schumann eLiszt. Wolframpianista Rieger interpretam barítono ThomasHampson eo para oséculoXX.Nodia30, o da “mélodie”francesa naviragem apresentam umprograma emtorno MalcolmMartineau e opianista SusanGraham dia 26, ameio-soprano sendo ambosimperdíveis. No Sequeira Costa,Sequeira 72anosdecarreira A música francesa, uma das grandes A música francesa,umadasgrandes distinguido Susan Grahamtem-se temporada Gulbenkian, Concertos C.F. 21h30. Tel.: 227340469. 7€. Passe 2dias:10€. Espinho. Auditório deEspinho.Rua 34,884. Sáb. às Norberto Lobo+Azevedo Silva 20€ (sujeitoadescontos). Porto. R.S.Tomé. Sáb. às22h00. Tel.: 228340500. Porto. Auditório Superior doInst. deEngenharia do (bateria). (contrabaixo), MatthewSkelton (piano), David Chamberlain Tomlinson (saxofone), Hirahara Art Kent Stacey Com (voz), James Stacey Kent sábado 23 e €12 TeatroLisboa. daLuz,Lg.Luz.Sábado, 21h30. €8 Silva, 779, Hoje,22h30. daMaia. Castêlo TertúliaMaia. R.Augusto Castalense, Nogueira da + Karl Blau Kimya Dawson +AngeloSpencer sexta 22 Agenda Com NobuyasuFuruya(Saxofone Com Trio Furuya Nobuyasu domingo 24 venda: 10€. Sáb.108. às23h59. Tel.: 222003595. Pré- 12,5€. Porto. Teatro SádaBandeira. R.SádaBandeira, Guilhas, Evil Pupil,Kamuki, Fusion. Prolix, MCAd, Patmac, Subway, Zé Spor,Com Renegade, Chris Apex, of Garagem Big Up: -13Years LiftedSessions Albuquerque. Sáb. às12h00. Tel.: 220120220.5€. Pç. daMúsica. Porto. Casa Mouzinho de (piano). Pacheco (trompete), Nuno Marques Filipe AlvesCom (trombone), Sérgio Nuno Marques Filipe Alves, Sérgio Pachecoe 20€. 45A.Sáb.de Berna, às19h00. Tel.: 217823700.10€ a Fundação eMuseuLisboa. Av. Gulbenkian. Calouste Lawrence Foster. AlexeiCom Volodin (piano).Maestro: Gulbenkian VolodinAlexei eOrquestra às 22h00. Tel.: 282402475. 10€. Portimão. Teatro Lg.1.ºde Dezembro. Municipal. 6ª (trompete efliscorne). Rey (percussão), Julien Atour Jerome Regard (contrabaixo), Pascal acordina), AlfioOriglio(piano), DanielMille(acordeão Com e Daniel MilleQuinteto 229408643.2,5€. Pç. Fórum. Maia. Município. Sáb. às21h30. Tel.: (piano). Laginha PedroCom Burmester(piano),Mário Pedro Burmester eMárioLaginha às 23h00. Tel.: 239824217. Coimbra. SalãoBrazil. Lg.doPoço,3-1ºandar. Sáb. Norman Tel.: 213240580.15€ a44€. Antão,96.2ªàs21h30. R.PortasSt. Coliseu. Lisboa. Tel.: 289888100. 25€a30€. das Figuras -EN125. Sáb. às21h30. Faro. Teatro Municipal deFaro. Horta Izabella Bicalho, Cláudio Lins. RobertoMusical: Burguel.Com João Fonseca.Encenação: Direcção De ChicoBuarque, Paulo Pontes. Gota D’Água Festival Tonalidades 09. tenor eclarinetebaixo eflauta), Gota D’Água Hernani Faustino (contrabaixo), Gabriel Ferrandini (bateria). Gabriel Ferrandini (bateria). Lisboa. R. dos Bacalhoeiros, 125 - 2º. R.dos Bacalhoeiros,Lisboa. 125-2º. Dom. às22h30. Tel.:Dom. 218864891. Alexei VolodinAlexei e Orquestra Gulbenkian Com AlexeiCom Lopes-Graça d’Almeida, Tomás deLima,Lupie Milhaud, Carneyro, Victorino Obras deSaint-Saëns,Debussy, Ravel, 5€. 262580843. 262580890/ Tel.: 18h00. às Dom. Cine-Teatro.Alcobaça. R.Afonso deAlbuquerque. Panomariovaite (piano). (piano),Vita Pizarro Artur Com Panomariovaite Artur Pizarro eVita Ver textopág. 22e23 213612400. 5€a15€. às17h00. Praça CCB. doImpério.Dom. Lisboa. Tel.: Drumming Plays Drumming a 20€. às19h00. 45A. Tel.: Dom. de Berna, 217823700. 10€ Fundação eMuseuLisboa. Av. Gulbenkian. Calouste Foster. Aksenova (piano).Maestro: Lawrence (violoncelo),Karina Bartikian Kouznetsova (violoncelo),Varoujan Elena Riabova (violino),Maia (violino), StefanSchreiber (violino), Volodin (piano),André Cameron 213111400. 12€a15€. 5ª às21h30. Tel.: Português. Av. LuísBívar, 91. Instituto Franco-Lisboa. Anésia Medeiros. Encenação: Ramos. Humberto Musical: Direcção Medeiros. Anésia Cenografia: Pereira Celina Pereira +Carminho Moniz 22h00. Tel.: 213103400. 15€ a20€. SãoJorge. Cinema Lisboa. Av. Liberdade, 175. 5ªàs Rita Redshoes 37,5€. a195€. Camarotes: 112,5€ (portas abrem às20h30).Tel.: 213240580. 15€ a Antão,96.5ªàs21h30 R.PortasSt. Coliseu. Lisboa. Maria João Quadros Ver textopág. 22e23 Tel.: 213612400. a15€. 12,5€ Praça CCB. doImpério.5ªe6ªàs21h00.Lisboa. del Puerto. Aperghis, Edmund Campion,David João Merino. Compositor: Georges SusanaTeixeira, AnónioPires, Com Trifásio quinta 28 Brahms eVerdi. Obras deChausson, Bach,Bartók, 256370222. 10€. Congressos. Espargo 4ªàs21h30. deBaixo. Tel.: Santa MariadaFeira. Europarque -Centro de Gamzou. Orchestra Maestro: deBerlim. Yoel InternationalMahler (violino). Com (violino),Afonso Ivry Gitlis FeschCom de Berlim International MahlerOrchestra Armazém A.5ªàs22h00. Tel.: 218820890. 22€. LuxFrágil.Lisboa. Av. Infante D. Henrique, Albuquerque. 4ªàs21h30. Tel.: 220120220. 22€. Pç. daMúsica. Porto. Casa Mouzinhode Rokia Traoré quarta 27 eBeethoven.Obras deMozart 17. 3ªàs18h00. Tel.: 213253045. Entrada livre. TeatroLisboa. NacionaldeSãoCarlos. Lg.S.Carlos, (piano). Lopes (violoncelo),Nuno Emídio Coutinho (violinos), Witold Dziuba(violinos), AntónioFigueiredo (barítono), CiroSerôdio Telmo (meio-soprano), (soprano),Ana FilipaLopes Com Septeto terça 26 Kimya Dawson Rokia Traoré ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente

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Capa do disco dos Scritti Politti, um “double A” canção onde se escuta Green I’m in love Gartside, o vocalista e ideólogo dos Scritti Politti, a cantar “I’m in love with Jacques Derrida...” with a Dot No catálogo onde agora surge o texto observam-se os dois lados “a” Dot Dot da capa do disco, falta contudo saber se na revista, o número oito da Dot Dot Dot, as páginas eram igualmente Exposição na Culturgest- a preto-e-branco, pois há outros Porto. Óscar Faria casos em que o original é a cores. É que o vinil, lançado em 1982, é um objecto com um design apelativo, o Dexter Sinister - Extended qual apela a ser desconstruído - pode Caption (DDDG) sempre ver-se na silhueta-sombra de mmmnn Napoleão ali inscrita um símbolo das estratégias invisíveis associadas a um Porto. Culturgest. Avenida dos Aliados, 104 - Edifício produto, neste caso editado pela da CGD. Tel.: 222098116. Até 27/06. 2ª a Sáb. das Rough Trade Records ... 10h às 18h (última admissão às 17h45). Objectos, Fotografia, Outros. A exposição, o catálogo, a revista não nos dizem quem desenhou a Entre os objectos expostos na capa do disco ou qual foi o papel de parede que dá corpo à exposição Green Gartside na sua concepção - o “Extended Caption (DDDG)” nome Scritti Politti, por exemplo, encontra-se um disco dos Scritti tem a sua origem nos “Scritti Politti, um “double A”, do qual se Politici”, de Antonio Gramsci e este revela a capa correspondente ao vocalista chegou, de facto, a lado da música intitulada “Jaques encontrar-se com Derrida, a convite Derrida”. Este exemplo, colhido deste, no Beaubourg, em Paris. entre muitos outros, pode servir não Todas estas histórias parecem ter só para questionar a capacidade do temporalmente esse doze polegadas “AA Philosophy”, neste caso pouco a ver com design, mas hoje design para produzir significados (12”), que inclui a “extended version” reproduzido numa escala mais nada escapa a esta organização do além dos relacionados com a da música “Jacques Derrida” - exis- pequena, de modo a caberem as mundo. De facto, a mostra, e este é o visualidade, mas também para tem ainda dois sete polegadas (7”), quatro páginas originais numa seu principal problema, pode ser perceber as relações entre o vinil e a entre os quais um “picture disc”. única. Na página 24, surge assim o lida como uma espécie de revista Dot Dot Dot - objecto da Ali, naquela parede, a capacidade texto de Diedrich Diederichsen, um musealização do modernismo, do mostra -, onde surge como ilustração daquela capa dizer algo sobre si curto ensaio acerca do início dos pós-modernismo, da vida associada do texto “AA Philosophy”, um duplo própria pode ser pouca, depende anos 1980, quando foi lançado o às vanguardas estéticas: da revista “a” também, do teórico alemão sempre de quem olha. Contudo, single “Asylums in Jerusalem”, de “Blast”, passando pelo poema “Un Diedrich Diederichsen. como sublinha Stuart Bailey, um dos uma banda chamada Scritti Politti, Coup de Dés...”, de Mallarmé, Um espectador sem informação e fundadores da revista Dot Dot Dot e que tinha num dos seus lados “a” a depois transformado por sem curiosidade pode, de facto, ficar comissário de “Extended Caption música “Jacques Derrida.” Broodthaers - ambas versões apenas por uma leitura visual, (DDDG)”, a sua presença ali, entre Diedrich Diederichsen refere apropriadas por Seth Price para um retiniana, do disco; pode sempre outros objectos, é apenas metade da ainda a forma como o mercado e as texto publicado na Dot Dot Dot -, até colocar-se a hipótese de ele confundir exposição. Esta completa-se com o indústrias culturais - hoje designadas uma fotografia recente de Genesis P- o nome do grupo com o da canção e catálogo, desenhado em colaboração por um eufemismo: indústrias Orridge , tudo é nivelado pelo muro assim teríamos Jacques Derrida a com os Roma Publications - talvez criativas - estão desde o primeiro erguido na Culturgest. Falta, interpretar Scritti Politti - o que veio, fosse mais correcto afirmar que a instante associados a fenómenos portanto, comprar a revista - cada de facto, a acontecer, mas a nível mostra é apenas um terço da aparentemente revolucionários número é um objecto diferente, teórico. Esse mesmo visitante, iniciativa, sendo os restantes o como o punk, tentando depois notável na sua concepção - e pôr o olhando para aquela capa, volume agora editado e a revista Dot explicar as razões que levaram à vinil a tocar: “I’m in love with a Exposições provavelmente inspirada numa Dot Dot (17 números desde 2000). improvável associação entre a Jacques Derrida/ Read a page and embalagem de cigarrilhas, também Abra-se então a publicação e música popular e a “french theory”, know what I need to/ Take apart my seria incapaz de localizar procure-se o contexto onde surge uma mistura da qual resultou a baby’s heart/ I’m in love...”

Agenda

Inauguram Pintura, Escultura, Fotografia, Inaugura 22/5 às 22h. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Praça do Joalharia, Outros. Fotografia. Império - Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Até 26/07. 6ª das 10h às 22h (última Dias Úteis Revolution-Patriotism, Coleccionar II admissão às 21h30). 2ª a 5ª, Sáb., Dom. e Feriados De Catarina Botelho. Raft / Dark Days De Catarina Saraiva, José Miguel Ger- das 10h às 19h (última admissão às 18h30). Lisboa. R. Garrett. Até 18/07. 4ª a Sáb. das 14h às vásio, Mariana Gomes, Marta Soares, Inaugura 28/5 às 19h30. 20h. Na Rua Anchieta, nº 31. Inaugura 22/5 às 19h. De Costa Vece. Lisboa. Carpe Diem Arte e Pesquisa. R. de O Século, Pedro Valdez Cardoso, Pedro Vaz. Fotografia. Fotografia. Lisboa. Módulo - Centro Difusor de Arte. Calçada dos 79. Até 04/07. 4ª a Sáb. das 14h às 20h. Inaugura Ich Bin Kein Berliner Desenhos do Sol 22/5 às 21h30. Mestres, 34A/B. Tel.: 213885570. Até 23/06. 3ª a Sáb. das 15h às 20h. Inaugura 23/5 às 18h. De João Tuna. De Mauro Cerqueira. Instalação. Cristóbal Hara na Photoespaña Pintura, Escultura. Porto. Teatro Nacional São João. Pç. Batalha. Tel.: Lisboa. Espaço Round The Corner - Porta 9F/9G. Sea (C) 223401910. Até 09/06. 3ª a 6ª das 14h às 19h. R. Nova da Trindade - Teatro da Trindade. Tel.: Sences & Attitudes... Dom. das 14h às 17h. FITEI 2009 - Festival 213420000. Até 28/05. 2ª a Dom. das 17h às 19h. De João Tabarra. Internacional de Teatro de Expressão Ibérica. Lisboa. Carpe Diem Arte e Pesquisa. R. de O Século, De Duarte Vitória. Inaugura 22/5 às 18h. 79. Até 04/07. 4ª a Sáb. das 14h às 20h. Inaugura Lisboa. Galeria Pedro Serrenho. Rua Almeida e Fotografia. Instalação. 22/5 às 21h30. Inaugura 22/5 às 21h30. Sousa, 21A. Tel.: 213930714. Até 20/06. 3ª a Sáb. das Vídeo. 11h às 20h. Inaugura 23/5 às 15h. Ar.Co Bolseiros Continuam Pintura. & Finalistas 2008 Chão Morto Pancho Guedes De Alexandra Rodrigues, Ana De Nuno Sousa Vieira. Cartas de Amor de Penélope - Vitruvius Mozambicanus Cálem, Ana Margarida Carvalho, Lisboa. Carpe Diem Arte e Pesquisa. R. de O Século, 79. Até 04/07. 4ª a Sáb. das 14h às 20h. Inaugura Para Ulisses Lisboa. Museu Colecção Berardo. Praça do António Bolota, Eugénia Rufino, 22/5 às 21h30. Inaugura 22/5 às 21h30. De Ana Tecedeiro. Império - Centro Cultural de Belém. Tel.: Hugo Madeira, Javier Carrera, Escultura. Lisboa. Galeria Pedro Serrenho. Rua Almeida e 213612878. Até 16/08. 6ª das 10h às 22h (última Liene Bosquê, Sérgio Dias, Victor Sousa, 21A. Tel.: 213930714. Até 20/06. 3ª a Sáb. das admissão às 21h30). 2ª a Dom. e Feriados das 10h Jorge, entre outros. Pinocchio 11h às 20h. Inaugura 23/5 às 15h. às 19h (última admissão às 18h30). “Dias Úteis”, Lisboa. Galeria do Palácio Galveias. Campo De Jorge Molder. Instalação, Objectos. Arquitectura, Desenho, Escultura, de Catarina Botelho Pequeno, 53 - Edifício do Palácio Galveias. Tel.: Lisboa. Chiado 8 - Arte Contemporânea. Largo do Pintura. 218170534. Até 26/06. 3ª a 6ª das 10h às 19h. Sáb. Chiado, 8 - Edifício Sede da Mundial-Confiança. Tel.: Photoespaña 2009 e Dom. das 14h às 19h. Inaugura 22/5 às 18h30. 213237335. Até 10/07. 2ª a 6ª das 12h às 20h. De Mabel Palacín, Cristóbal Hara. Ver texto págs. 12 e 13

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 35 36 •ÍpsilonSexta-feira 22Maio2009 Bilhetes àvenda naslojas .eet alCsas A 20Lso Telef: 213961515/Fax 213954508 e-mail: info 1250Lisboa R.Tenente RaulCascais,1A. De 3ªaSábadoàs21.30h.Domingo16.00h Tradução: Interpretação: e figurinos: Estrutura financiadapelo @ JoséMaria Vieira Mendes; CristinaReis; teatro-cornucopia.pt http://www.teatro-cornucopia.ptteatro-cornucopia.pt RitaDurão Worten, Fnac, Viagens Abreu, Inglêsewww.ticketline.sapo.pt ElCorte Desenho deluz: ESTREIA 28deMAIO Adaptação eEncenação:

JoséÁlvaro Correia. Teatro TEATRO DOBAIRRO ALTO personagens, aparecem nomescomo que sedeixem iludir. Fala-se de Lux,emLisboa. discoteca agoraano passado, eestá na with Flowers” estreou noPorto, no “Say -nãotemhistória. carreira it aniversário dosseus20anosde escolheu paraapresentar no (1874-1946) que AntónioPires Flowers” -otexto Stein deGertrude Atéhistória. porque “Say itwith a Um conselho:nãotentemseguir anos+65 egrupos +9 pessoas). Tel.: 218820890. 10€(desconto25% para -25 anos, Armazém A.Até 06/06. 4ª,5ª,6ªeSáb. às22h00. LuxFrágil.Lisboa. Av. Infante D. Henrique, MiguelMoreira.Booth, Tavares,Francisco Maya Brütt, Rita Dias, Graciano Com António Pires. Stein. Encenação: De Gertrude Say it With Flowers Alexandra Prado Coelho noLux,emLisboa. estar “Say itwithFlowers” vai regressa Stein. aGertrude AntónioPires histórias, de ecansado carreira, A festejar 20anosde uma história Isto nãoé E umaviso: épossível aoprincípio 09M/12 2009 ChristineLaurent; Apoio Cenário Cenário inglês original. Desta vez,inglês original.Desta com“Say apresentar otextoPires decidiu no de tudooque sepossaimaginar - - “A Lista” éumasucessão delistas memarcou.”mais que Stein efoiumdosespectáculos um texto intraduzível deGertrude ‘quero eu disse Então fazeristo’. Era que podiafazeroque quisesse. edisse para encenarumespectáculo Miguel [Cintra]umdiaconvidou-me trabalhava naCornucópia eoLuís deStein).“Naalturaeu (também “Dr.Faustus LightstheLights” Wilson porBob de feita a encenação detervisto, emParis, depois nascida outro texto, -umaideia List” “The quem játinhaencenado há11anos regressado Stein, de aGertrude voltarmos àshistórias.,” para da vida,háumatendência nãodeviaserumacópia que aarte vezesde termosditonãoseiquantas desconstruiraarte, termos tentado movimentos alguns,de emais termos passadoportodosos de “Depois Negros, emLisboa. no espaçoRe.al, naRua doPoço dos confessa Pires, nofinaldeumensaio Gomes. Costa por Luísa feita paraportuguês e natradução em versão bilingue,noinglêsoriginal o encenadoroptouporapresentar dotexto,nas pelamusicalida-de que équenio Pires) sedeixem levarape- odeAntó- conselho (que étambém eonosso todo osentidoseestilhaça daí Masapartir comumcão. chegar te, àesperadeumhomemque há-de estão, aparentemen-Henry eosLong ealgunsdos de bolosàbeira-mar”, num Estamos sítio,Long. uma“loja beth Henry, eWilliam Long Elizabeth George Henry, Henry Henry, Elisa- “Say it With Flowers” éapresentado naversão bilingue Precisamente porserintraduzívelPrecisamente Ele quer edaíter fugir disso “Ando muito dehistórias”, farto ir ver teatro.” Eleutério]. Éumsítiodiferente para música édePaulo AbelhoeJoão tem[a quelado musical apeça Lux. “Faz todo osentido, até pelo agora chega pelo SãoLuiz),Pires ao ou pelo Centro CulturaldeBelém, Castelo deSãoJorge, mastambém pelo salãodaVoz doOperárioepelo nos bares doBairro Alto, passando espaço (desdeoprimeiros tempos onde quer que encontrasse um passado nemfuturo.” acrescentando. Masaqui nãohá porque vai normalmenteumactor émuitoprimeira, eisso difícil, fizerem vez decada comosefossea aorepetiremse osactores nãoo presente. “A mal repetiçãofunciona não sabermosporquê.” e uma paisagem, emocionarmo-nos Podemos sentar-nos emfrente a éumapaisagem. um espectáculo, João Mendes Ribeiro). “Isto nãoé num cenáriodejogo deespelhos(de coreografia, decorposepalavras, uma Mesquita) ecriou-lhes viva (osfigurinossãodeLuís umdeumacor cada Brutt -vestiu-os Maya MiguelMoreira Booth, eRita Tavares, Dias,Francisco Graciano emoções”. com que as aspessoassintam exemplo, desconstruirefazer tentar fazia naaltura comapintura, por fazercomaliteraturaoque se tenta tem tudoaver comosom.“Stein pode traduzir.” Essacaracterística dotexto que nãose característica de umacompreensão. Mashá uma O texto ailusão cria emportuguês há frases inteiras que fazemsentido. bilingue.“Aqui,peça apesardetudo, it With Flowers”, optouportornara Ao fimde20anosa fazerteatro O tempoéaqui umeterno convidouPires - actores cinco

MÁRIO SOUSA 223394947. De 28/05 a29/05. 5ªe6ªàs21h30. Tel.: Porto. Coliseu doPorto.R.Passos Manuel, 137. Alejandro Ollé,David Plana. FuradelsBaus. Encenação: La De Alejandro Ollé.Companhia: GodunovBoris eterceira equi.). (jovens idade)e5€(qua. 16h00. Tel.: 217221770. 7,5€ 10€(sex.adom.); 30/06. 4ª,5ª,6ªeSáb. às às21h30. Dom. TeatroLisboa. Pç. Até daComuna. Espanha. Neto. Ana Filipe,Tânia Alves, Rui Hugo Franco, Marco Paiva, Maria João Encenação: Mota. Com De LudmillaRazoumovskaia. Helena Serguéiévna Querida Professora Estreiam Teatro Agenda 22h30. Tel.: 234400922. 4€. República. 27/05. Dia 4ªàs Aveiro. Teatro Aveirense. Pç. SérgioMartín. Gonçalves, Silva, Victor Martinho Guerra, Luís Elgris, Luís Félix Félix Lozano. Com Lozano, De Félix Lozano. Encenação: Vis aVis Formas Animadas. e deMarionetas Internacional FIMFA LX9-Festival 213250835. 7,5€ a16€ (sujeitos adescontos). IV. De28/05 a29/05. 5ªe6ªàs21h30. Tel.: TeatroLisboa. NacionalD. MariaII.Pç. D. Pedro Thomas Rascher, Frederik Rohn. SebastianKautz,Anna Kistel, MichaelVogel.Encenação: Com Frederik Rohn, MichaelVogel. Thomas Rascher, HajoSchüler, SebastianKautz,De AnnaKistel, Hotel Paradiso Sáb. às21h30. Tel.: 213430205. Santa Clara Ptª5.De27/05 a06/06. 4ª,5ª,6ªe ONegócio. R.doOSéculo,Lisboa. 9-Páteo de Faleiro. Amorim, Raquel Dias,Sandra David Almeida,Gonçalo Anabela Brígida,André Levy, Bruno Bravo. AnaBrandão, Com De Henrik Encenação: Ibsen. Hedda Gabler 213961515. 15€ 4ª, 5ª,6ªeSáb. às16h.Tel.: às21h30. Dom. Tenente Raúl 1A.De28/05 Cascais a21/06. 3ª, TeatroLisboa. Alto. daCornucópia -Bairro R. Durão. Rita Com Laurent. Christine Encenação: De Arthur Schnitzler. A Menina Else 10€. 218855550. 28/05 a31/05. 4ª,5ª,6ªeSáb. Tel.: às22h. Chapitô.R.Costa 1/7. doCastelo, Lisboa. De Herts. Laura Com Herts. De Laura A Won Woman Show 5€. 30/05. 5ª,6ªeSáb. às21h30. Tel.: 256378508. Lavandeira. Lugar dalavandeira. De28/05 a Santa MariadaFeira. Pavilhão Desportivo da Imperium Hedda Gabler ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente

Dos Joelhos Para Baixo A Falecida Vapt-Vupt Até 30/06. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h45. Dom. às De Márcia Lança. Com Márcia 16h00. Tel.: 226063000. Lança. Variações Enigmáticas Lisboa. Museu da Marioneta. Rua da Esperança, De Eric-Emmanuel Schmitt. 146 - Convento das Bernardas. Dia 27/05. 4ª às Encenação: João Mota. Com 22h. Tel.: 213942810. 5€ (sujeitos a descontos). FRED MESQUITA FIMFA LX9 - Festival Internacional Carlos Paulo, Álvaro Correia. Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. Até 31/12. de Marionetas e Formas 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h00. Tel.: Monólogos da Vagina 217221770. 10€ e 7,5€ (quartas e quintas: 5€). De Eve Ensler. Encenação: Isabel O Inspector-Geral De Andrell Lopes. Encenação: Medina. Com Ana Brito e Cunha, De Nikolai Gogol, António Antunes Filho. Com Adriano Bolshi, Guida Maria, São José Correia. Victorino D’Almeida (música). Angélica Colombo, Bruna Anauate, Lisboa. Casino Lisboa. Alameda dos Oceanos Lote Encenação: Maria do Céu Guerra. Eloisa Costa, Erick Gallani, Fred 1.03.01 - Parque das Nações. De 26/05 a 31/12. 3ª, Com Maria do Céu Guerra, João 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 22h. Dom. às 17h. Tel.: Mesquita, Geraldo Mário, João D’Ávila, Adérito Lopes, Carla 218929070. 18€ a 22€. Paulo, Lee Thalor, Marco Biglia, Alves, Jorge Gomes, Pedro Borges, Marcos de Andrade, Michelle Rita Fernandes, Sérgio Moras, Continuam Boesche, Tatiana Lenna, Ygor Fiori. Sérgio Moura Afonso, Susana Tambores na Noite Porto. Teatro Nacional São João. Pç. Batalha. Até 24/05. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 22h00. Dom. às 16h00. Costa. De Bertolt Brecht. Encenação: Tel.: 223401910. 20€. Lisboa. A Barraca - Teatro Cinearte. Lg Santos, 2. Nuno Carinhas. Com Emília Até 28/06. 5ª, 6ª e Sáb. às 21h45. Dom. às 17h00 Papel Químico Silvestre, Fernando Moreira, Joana (não há espectáculos de até 3 de Maio). Tel.: De Luís Franco Bastos. Com Luís 213965360. Manuel, João Castro, Jorge Mota, Franco Bastos. José Eduardo Silva, Luís Araújo, Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria Dança Marta Freitas, Paulo Freixinho, Cardoso, 38-58. Até 23/05. 5ª, 6ª e Sáb. às 22h00. Pedro Almendra, Pedro Frias, Sara Tel.: 213257650. Carinhas, Pedro Jorge Ribeiro. Pedras nos Bolsos Estreiam Aveiro. Teatro Aveirense. Pç. República. Dia 23/05. Encenação: Manuel Coelho. Com Sáb. às 21h30. Tel.: 234400922. 8€ a 15€. Isolda + À Flor da Pele + Fauno Diogo Morgado, Rui Unas. Vertigem Olival Basto. Centro Cultural da Malaposta. Rua + Strokes Through The Tail De João Paulo Santos. Com João Angola. Até 14/06. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. Coreografia: Olga Roriz, Rui Lopes Paulo Santos. às 16h00. Tel.: 219383100. 10€ (preço sujeito a Graça, Vasco Wellenkamp, Tondela. Cine Tejá - Novo Ciclo ACERT. R. Dr. descontos). Marguerite Donlon. Ricardo Mota. Dia 23/05. Sáb. às 21h45. Tel.: Kvetch Lisboa. Teatro Camões. Parque das Nações. De 232814400. 28/05 a 05/06. 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb. e Dom. às De Steven Berkoff. Companhia: 21h (dias: 28, 29, 30 Maio e dias 3, 4, 5 Junho). Dia Panos - Palcos Novos Seiva Trupe. Encenação: Rui 30 Maio às 16h00 (tardes em família). Tel.: Palavras Novas Quintas, Álvaro Lavín. Com António 218923470. 5€ a 20€ (c/ descontos). Reis, Clara Nogueira, Miguel Pernas, Gamaka Mundo Villalustre, Pilar Pereira. Bailarino:Shantala Shivalingappa. Porto. Teatro do Campo Alegre. R. das Estrelas s/n. Até 31/05. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h45. Dom. às Com K. S. Jayaram (flauta), N. 16h00. Tel.: 226063000. 7,5€ Ramakrishnan (mridangam), B.P. SÉRGIOSALGUEIRO Haribabu (nattuvangam e Wonderland percussões), J. Ramesh (criação Encenação: João Paulo Seara Cardo- rítmica e músicos canto). so. Com Edgard Fernandes, Sara Hen- Viseu. Teatro Viriato. Lg. riques, Sérgio Rolo, Shirley Resende. Matosinhos. Cine-Teatro Constantino Nery. Avenida Mouzinho Albuquerque. Dia Serpa Pinto. Até 24/05. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. 27/05. 4ª às 21h30. Tel.: Com várias escolas. Dom. às 16h00. Tel.: 229392320. 232480110. 7,5€ a 15€ (c/ Lisboa. Culturgest. Rua Arco do Cego - Edifício da descontos). CGD. De 22 a 24 de Maio. Tel.: 217905155. 2,5€. Harper Regan De Simon Stephens. Encenação: Lisboa. Centro Cultural de Belém. Praça do Coro dos Maus Alunos Império. Dia 24/05. Dom. às 17h. Tel.: 213612400. Ana Nave. Com António Cordeiro, 12€ a 15€. Lisboa. Culturgest. Rua Arco do Cego - Edifício da Cristóvão Campos, Dinarte Branco, CGD. Dia 23/05. Sáb. às 18h30. Tel.: 217905155. João Ricardo, Luísa Cruz, Maria Against Architecture Hotel Paradiso Panos - Palcos Novos Palavras Amélia Matta, Sofia Dias. Novas. Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II. Pç. D. Pedro IV. 28 e 29 Mai Até 14/06. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h45. Dom. às 16h15. 5ª e 6ª 21h30 Refuga Tel.: 213250835. Sala Garrett De Abi Morgan. Lisboa. Culturgest. Rua Arco do Cego - Edifício da A Menina Júlia Vampyr CGD. Dia 23/05. Sáb. às 22h. Tel.: 217905155. Panos - Palcos Novos Palavras 30 e 31 Mai Novas. sáb. 21h30 dom. 16h Sala Garrett Nós Numa Corda De Miguel Castro Caldas. Coreografia: Bruno Listopad. Le Cyclo Théâtre Lisboa. Culturgest. Rua Arco do Cego Bailarino:Angelina Deck, 28 a 30 Mai 5ª a sáb. 20h30 e 23h | Foyer do TNDM II - Edifício da CGD. Dia 22/05. 6ª às 22h. Amaranta Velarde González. Tel.: 217905155. Lisboa. Centro Cultural de Belém. Praça do Panos - Palcos Novos Palavras Império. Dia 23/05. Sáb. às 19h. Tel.: 213612400. 5€. Novas. De August Strindberg. Encenação: K Two (performance) Os Europeus Rui Mendes. Com Albano Jerónimo, Coreografia: Nicole Seiler em cola- De Howard Barker. Encenação: Beatriz Batarda, Isabel Abreu. boração com Kylie Walters. Baila- Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II. Pç. D. Pedro IV. Rogério de Carvalho. Com Carla rino:Nicole Seiler, Sun-Hye Hur. www.fimfalx.blogspot.com M/4 Até 24/05. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h00. Porto. Contagiarte. R. Álvares Cabral, 372. Dia Miranda, Cláudia Chéu, Elmano Tel.: 213250835. Sancho, Laura Barbeiro, Maria do 23/05. Sáb. às 23h. Tel.: 222000682. Informações e Reservas Ticketline Porto em Directo Céu Ribeiro, Maria Ladeira, Namasya [email protected] 707 234 234 De Criação Colectiva. Encenação: www.ticketline .pt Miguel Eloy, Nuno Geraldo, Paula Coreografia: Shantala Tel.: 21 325 08 35 Claudio Hochman. Com Adriana Garcia, Paulo Duarte, Wagner Shivalingappa. Bailarino:Shantala www.teatro-dmaria.pt Faria, Alexandra Calado, Cristina Borges. Shivalingappa. Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. Até Cardoso, Joana Duarte Silva, Jorge Lisboa. Centro Cultural de Belém. Praça do 31/05. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às Loureiro, Nuno Preto, Rui Pena. Império. De 22/05 a 23/05. 6ª e Sáb. às 21h. Tel.: 16h00. Tel.: 223401905. 10€ e 15€. Porto. Teatro do Campo Alegre. R. das Estrelas s/n. 213612400. 12,50€ a 15€.

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 37 38 Nacional Bulhosa Livreiros Não Ficção Ficção •ÍpsilonSexta-feira 22Maio 2009 4 4 1 1 2 2 5 5 3 3 Texto Editora Ralph Hewinks Senhor Cincopor CentSenhor Calouste Gulbenkian, Âncora Editora Manuela Cruzeiro Vasco LourençoeMaria Interior daRevolução Vasco Lourenço -Do A Esfera dosLivros Mafalda Pinto Leite Poupar Cozinha para QuemQuer Relógio D’Água José Gil O Desnorte Em BuscadaIdentidade - EditoresAlêtheia Vasco Valente Pulido História edePolítica Portugal -Ensaiosde Gailivro Stephanie Meyer Crepúsculo Casa dasLetras Paulo Neves da Silva de Fernando Pessoa Citações ePensamentos Bertrand Follet Ken Sampetersburgo O Homem de Asa David Lodge Vida emSurdina Dom Quixote Pepetela O Planalto eaEstepe

o Livros mmmmm Assírio &Alvim, €16 deFilipeJarro)(tradução Yukio Mishima O Templo Dourado protagonista. do dos anosdeformação Ou, pelomenos,oromance Um “romance deformação”. O estrangeiro Ficção Isto diz alguma coisa sobreIsto dizalgumacoisa oque vez, pelaAssírio&Alvim, em1985. Jarro, pelaprimeira foipublicada deFilipe obranoOcidente), da sua passagem obrigatória para adifusão aliás, comoveículo eentreposto de quedo inglês,língua oautor impôs, sempre apartir detraduçõesfeitas reeditada (deve que notar-se setrata Maria OndinaBraga. Aversão agora daescritora pormenor fascinante, Portugal: em1972,numa versão, em japonêspublicado escritor Dourado” foioprimeiro livro do A escrita de Mishimatemoveneno deumaclareza lírica esolarfulminante Mário Santos 1970). “O Templo (1925-Mishima obra deYukio doquejornais a corrói livrarias e tempos livres que de ocupação literatura de contrário à Nada mais desencontro comodestino. este como objectivo certificar aprendizagem tem deMizoguchi que todootrabalhode exterior Digamos nãocoincidem. eleeomundodesencontro radical: Dourado”. Há,desdesempre, um mundo igualava oTemplo embeleza província”, lhediziaque “nada no de pai, “umsimplespadre [budista] desdeotempoemqueinfância, o magraeremota desde amais estrangeiro (nosentidocamusiano) Quioto. incêndio doTemplo Douradode termo:o põe-lhe Outra profanação “jovem herói idopara aguerra”. “forro negro dabelaadaga” deum o profundas efeiascicatrizes”, “duasimpondo-lhe outrês que afiava evandaliza, oslápis no“canivetepega ferrugento” com omomentoemque ele Mizoguchi: dos anosdeaprendizagem dojovem na vidaadulta. entrada easua àinfância Mizoguchi e oanode1950. Entre oadeusde aoPacífico, em1941,decididamente II Guerra Mundial seestendeu Quioto, entre omomentoemque a decorre,a acção naregião de primeira pessoa,peloprotagonista, Narradana Mizoguchi. cinéfilas: estimulantesas mais memórias emnós evoca nome, alémdomais, doprotagonista, cujo formação menos, oromance dosanosde “romance pelo deformação”. É, literatura. temos andadoaler. Atítulode Mizoguchi éalguémqueMizoguchi sesabe Uma oinício sinaliza profanação “O Templo Dourado” éum Internet da morte do pai. Aliás, Mizoguchi dopai.Aliás,Mizoguchi da morte do “seminário” que oacolhedepois a mãe,comodesprezará o“Prior” causa.” Odeiaedespreza filialmente oudeumaqualquer acontecimento independentedeum totalmente quando existe desgosto, [...]é gaguejam: “O desgosto que sinto, Também osseussentimentos afectiva”. deimpotência espécie descobreMizoguchi emsi“uma nãolhetraz lágrimase adolescência, Genet. irresistivelmente o“ladrão” de lembradesejada. Mizoguchi sentimentos condenáveis, aaversão oroubo,também amentira,os favorece-lhe odestino. Agagueze humana,fraternidade daespécie da liberta-o ideias negras”), existe nomundo emmatériade “aquilo que negro demais éaBeleza, primeira dasquais dastraiçõesdomundoprotege-o (a aoreal,atraso emrelação mas descontinuidade, umintervalo, um A gaguezimpõeuma paraserumartista”. demasiado alta que tinhadesi“umaideia diz também Beleza”. Mas Mizoguchi deparou navidafoi “o problema da primeiro problema” comque se afirma, “sem exagero”, que “o ousa consolá-lo. que ele Écerto fazer-me entender.” NemaArte provinha daimpossibilidadeem curar: “O meuúnicoorgulho emédicosseatrevam asociais não éumavítimaque osdesvelos gaguez,Mizoguchi escola pelasua pobre, gozada de peloscolegas connosco. Venha construirestesite suplemento, éoutro desafi www.ipsilon.pt Estamos online. Entre em A morte do pai, pondo fim à sua dopai,pondofimàsua A morte débiledesengraçada, Criança . Éomesmo o. o. imaginá-lo feliz? que “queria viver”. Serápreciso tem21anosedescobreMizoguchi Amúsica, porexemplo.ar”. perdura, inútil abeleza “solúvel no Kashiwagi, que não abeleza condiscípulo como oseucínico Dourado, masnãoporamarapenas, porincendiaroTemploacabará luminosas colinasdoVerão. Ele nas cantam eascigarras existencial vertiginosamente dograndevazio universidade abeiram-se eosseusrarosMizoguchi amigos na esolarfulminante. clareza lírica grande russo, oveneno deuma tem,diferentementeMishima dado dostoievskiano. de Masaescrita alto climade“O Templo Dourado” é escrevemosqual emNovembro), o Perdeu (sobre doMar” o asGraças um acto. iluminação, quer que vidaseja asua procuramaléfica”. Mizoguchi uma eternidade”, uma“eternidade paz éapenas“o da despertar deumlado,Belo eeudooutro!” A anterior, desesperada: o aindamais [...] Vou achar-me naminhasituação a qualquerdesignificado. espécie seesquivarafulgurante, nunca tanto foratão beleza asua “Nunca pelas bombasoTemplo Dourado: “sonho secreto” dever destruído o semlherealizar guerra acaba movimento decompaixão”. A eum criminosa entre umaintenção não existe qualquer visível diferença os seusefeitossãoidênticos,que separa osmelhores dospiores; que sentimentos nadanestemundo aprende que “em matéria de Como em“OComo Marinheiro que ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente

“Reduto Quase Final” são doze textos em CUNHA PEDRO que Dinis Machado, sentado em casa noite dentro e de cigarrilha nos lábios, escreve Histórias que se cruzam FERNANDO VELUDO/ NFACTOS VELUDO/ FERNANDO

Um retrato do Brasil profundo sem “paninhos quentes”. Isabel Coutinho

Cabeça a Prémio Marçal Aquino Quetzal, €14, 40 mmmm Marçal Aquino leva-nos para dentro de um fantástico “faroeste brasileiro” Embora a epígrafe escolhida pelo conheceram, Brito demorou um reeditado com “Reduto Quase escritor brasileiro pouco para compreender o que ele Final”, obra de 1989. “Reduto” não é Marçal Aquino estava pedindo”, lê-se na pág. 75. E a saída de um bloqueio mas a sua para “Cabeça a tal como Brito demorou algum anatomia. São doze textos em que o Prémio” seja do tempo a perceber o que ele estava autor, sentado em casa noite dentro realizador e pedindo em “Cabeça a Prémio” e de cigarrilha nos lábios, escreve. argumentista Sam também o leitor é mantido na Ruídos na rua, evocações na cabeça, Peckinpah (“I ignorância (até certo ponto) acerca escreve, num feixe de textos, todos wanna be able to das motivações das personagens. relativamente curtos, difíceis de make westerns like Kurosawa did”), Marçal Aquino faz isto enquadrar em termos de género. este romance lê-se como se primorosamente bem e as suas No prefácio que acompanha esta estivéssemos dentro de um filme de personagens são de carne e osso. reedição, Clara Ferreira Alves diz Quentin Tarantino. O realizador Beto Brand, com que são textos sobre nada (é um Em “Cabeça a Prémio” entramos quem o escritor costuma trabalhar elogio), um monólogo em avanços e para dentro de um fantástico no cinema, diz que quando os dois recuos. A noite enquadra este “faroeste brasileiro”, onde todos têm olham para a mesma mulher só punhado de memórias e meditações, “a cabeça a prémio” e as personagens Marçal Aquino nota que “o esmalte uma espécie de noite regressiva, que se movem pelo dinheiro e códigos de do dedão do pé está descascando”. faz o sujeito mergulhar naquilo que honra particulares. Mas a história não Ele é “o cara do detalhe”. E é por o fez e o desfez, o formou e nos é contada de uma forma linear. O essa atenção ao detalhe que “Cabeça deformou. Dinis Machado é narrador - omnisciente, a Prémio” nos conta uma história incansavelmente triste, escrevendo omnipresente e que conhece todos os que não nos larga mesmo depois de sobre os miúdos que jogavam à bola personagens - puxa o leitor para a termos pousado o livro. É um retrato e agora têm reumatismo, sobre tias e frente e para trás, obriga-o a estar do Brasil profundo sem “paninhos cheiros perdidos, sobre um remorso atento e no final encaixa-se tudo quentes”. de amor que ainda magoa. perfeitamente. Este é o terceiro livro de Marçal Uma parte substancial dos textos Há um “desarranjo temporal”, um Aquino publicado em Portugal. Os tem uma dinâmica de grupo, ritmo e uma linguagem muito romances “O Invasor” e “Eu diálogos de café de rapazes e depois próximos do cinema. Embora receberia as piores notícias de seus homens que vivem de citações, Marçal Aquino seja considerado um lindos lábios” foram publicados em picardias, ilusões. Trocam livros (um escritor policial, a sua literatura Portugal pela editora Palavra (em Bandeira, um Steinbeck, “já papei anda por outros territórios. 2005 e 2006) embora o autor seja mais dois poemas do Torga”), vão ao “Eu não consigo ficar muito mais conhecido como contista. Jardim Cinema, são Bogarts e Gables tempo com a mesma mulher. Por Recebeu o Prémio Jabuti em 2000 de leitaria lisboeta. Dinis Machado quê? Ah, não sei. Acho que mulher pelo livro de contos “O Amor e nomeia, presentifica o passado em desconcentra a gente. Eu não fico Outros Objetos Pontiagudos”. figuras concretas, mas também sem, mas acabo cansando rápido”, procura sempre equivalências que afirma a determinada altura uma das sejam transfiguração. personagens de “Cabeça a Prémio”, Educação O estilo ajuda: imagens, que nos conta uma história de dois para a tristeza fragmentos, cepticismo e ironia. O pistoleiros e de uma quadrilha de texto tão rapidamente é um pastiche traficantes de droga no Brasil quase lúdico de Chandler como um Reduto quase Final, seguido de profundo. lamento ou uma remissão cinéfila Discurso de Alfredo Marceneiro a Mas não se deixem enganar. Este é autobiográfica (o George Raft, a Gabriel García Márquez um romance que se passa num Loretta Young). A identidade Dinis Machado mundo de homens mas em que afinal emocional do “narrador” (digamos Quetzal, € 16,50 as mulheres são aquelas que fazem assim) está entre Camus e Harold mover a acção. Negócios escuros, mmmnn Lloyd, entre “A Queda” e as quedas contrabando, droga, prostituição, (“qual é o lado mais cómico disto?”, armas, corrupção, violência juntam- Depois de “O que pergunta Dinis a cada sofrimento). se a duas histórias de amor. A de diz Molero”, Mais do que um impasse da escrita, Brito, o matador, e Marlene, a dona colossal sucesso “Reduto Quase Final” é sobre a vida de um bordel que se cruza com a em 1977, Dinis como impasse, feita de quimeras e de história do piloto, Dênis, que trabalha Machado sofreu melancolia à portuguesa. Como se só para um traficante e se apaixona pela um bloqueio houvesse dois estados: um juvenil, de filha deste, Elaine. criativo. Na patuscadas e despiques, e outro “Brito lembrou que Mirão nunca década seguinte decadente, uma espera pela morte falava em ‘matar’. Preferia pedir que publicou apenas o que é como a espera das palavras: “O você ‘cuidasse’ de uma pessoa. Ou brevíssimo desperdício das palavras. Já não se que ‘desse um jeito’ em alguém. “Discurso de Alfredo Marceneiro a trata de serem inúteis - trata-se de Sutilezas de um homem que até o Gabriel García Márquez (1984)”, um serem enganadoras e, sempre, mal tamanho impedia de ser sutil. Na texto feérico de navalhadas e poesia. colocadas. Assim, perante o amigo boate em Campo Grande, quando se Esse elogio do casticismo foi agora que vai morrer, assusta-me um

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 39 40 •ÍpsilonSexta-feira 22Maio2009

A

Métalu AChahuter

La Chana Teatro

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Compagnie À CAMA – CENTRO DE ARTES

MUSEU DA MARIONETA

Márcia Lança

TEATRO MARIA MATOS

DE

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DA MARIONETA

MAIO INFORMAÇÕES: JUNHO

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22 e 23 de Maio

22 e 23 de Maio

27 de Maio

22 e 23 de Maio

Esta semana:

mfalx.blogspot.com

212 427 621 621 427 212

Clair de Lune Théâtre Théâtre Lune de Clair

Théâtre du Petit Miroir Miroir Petit du Théâtre Cie Planet Pas Net Net Pas Planet Cie

TEATRO NACIONAL D. MARIA II MARIA D. NACIONAL TEATRO

CENTRO CULTURAL DE BELÉM DE CULTURAL CENTRO

Familie Flöz Flöz Familie

Tof Théâtre Théâtre Tof

R. AUGUSTA AUGUSTA R.

[email protected]

MUSEU DO ORIENTE DO MUSEU

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28 e 29 de Maio de 29 e 28

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28 e 29 de Maio de 29 e 28 ROSSIO (FR)

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28 a 30 de Maio de 30 a 28 23 e 24 de Maio de 24 e 23 Pedro Mexia para atristeza. educação não émuito diferente. Éuma de embustes eresignações. Escrever sucessão deadiamentoserecursos, de continuar vivo” (págs.57-58). inexplicável (oupoucoconvincente) me concedesseoprivilégio como se,dealgummodo, anatureza punida muito essaincapacidade ederrota. (...)Custa-me aceitação estranha simbiosededecoro, -uma idiotas se meafiguram sucedâneos que recusar ou calado ficar embaraçoso de interminável e ocupar ovazio restando-me ou daminhaoferta, minha linguagem, inutilidade da mmmmn Tradução: Pedro Garcia Rosado Ed. Quidnovi Helene Cooper A CasadaPraia doAçúcar Times”. do“New Yorkjornalista liberiana que setornou deumarefugiadaA história à Libéria regressa Casa Branca dente da A correspon- Não ficção americana”, ou“estudos afro- prateleiras de“literatura afro- nas possa sercolocado dificilmente Unidos.nos Estados Aindaque novas abordagens racial àquestão referência entre osque defendem porque olivro setornou uma TambémTimes” naCasaBranca. correspondentes do“New York Não sóporelaserumadas dos conselheiros oleu. presidenciais MassabequeAçucar”. amaiorparte lido oseulivro, “A CasadaPraia do muito desi.” a Helene Cooper. Tenho ouvido falar O que éaesperadamorte? Éuma Helene duvidaque Obamatenha pouco a pouco a Livros

FERNANDO VELUDO/ NFACTOS “Ah, você éque é Presidente disse: Force One,o bordo doAir apresentados, a foram Quando Barack Obama. entrevistou Helene No mêspassado, Helene Cooper escreveu um livro se tornou uma referência entre os que defendem novas abordagens à questão racial nos Estados Unidos Ciberescritas Livros na Internet

á algumas semanas vários autores acordaram para a realidade. Um “site” na Internet, o , tinha disponíveis para H descarregar na íntegra livros que ainda americanos” das estão ao abrigo de direitos de autor. O livrarias. A autora quis evitar que jornal “New York Times” publicou um artigo, a 11 de isso acontecesse e conseguiu. Maio, em que a autora Ursula K. Le Guin contava que E no entanto, “A Casa da Praia do andava a navegar na Internet quando descobriu que era Açucar” lançou a discussão e a Isabel possível descarregar do “site” Scribd livros seus. Eram controvérsia na comunidade negra Coutinho versões piratas. Nem ela, nem os seus editores tinham americana. É verdade que apenas dado autorização para que isso acontecesse. conta uma história, mas é uma Outros sítios como o – que também serve para história que raramente é contada, partilha de documentos e que tem como lema “lê o que pelo menos desta maneira: fala do gostas, partilha o que escreves” – têm disponíveis livros tempo dos escravos, de África e do recentes. Numa busca que fi z esta semana encontrei pelo racismo negro, relata uma vida, um menos dois livros de J. K. Rowling em português. caso de vitimização, um pouco como É verdade que não todos esses best-sellers, geralmente foram estes “sites” que narrados na primeira pessoa, sobre disponibilizaram para toda mulheres que foram abusadas e a gente as edições piratas. WWW.TEATROSAOLUIZ.PT fugiram, em África ou no Médio Quer o Scribd quer o Wattpad CO-PRODUÇÃO APOIO Oriente, para se tornarem top- permitem aos seus utilizadores SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA models ou casarem com um (para se utilizar é necessário [email protected]; T: 213 257 640 magnata, no Ocidente. Este livro fazer uma inscrição, é grátis conta a história de uma rapariga que e basta dar um endereço de sofreu o horror da guerra na Libéria correio electrónico) que façam e fugiu, com 14 anos, para os EUA. A Quer o Scribd quer o “uploads” de documentos e de diferença é que essa rapariga, cuja e-. E por vezes o que é mãe foi violada e a irmã abandonada Wattpad permitem enviado para lá não é legal. pela própria família, se tornou uma No estrangeiro as editoras grande repórter americana, e, aos seus utilizadores já têm pessoas a pesquisar portanto, sabe escrever. E equipou o constantemente a Internet seu livro com uma aturada pesquisa que façam “uploads” à procura de cópias ilegais. histórica, uma investigação no de documentos e de E os responsáveis da Scribd terreno sobre os factos, as condições disseram ao “The New York e as personagens do palco e dos e-Books. E por vezes o Times” que sempre que bastidores do golpe de estado e da são informados de que lá guerra civil. E ainda uma reflexão que é enviado para lá existe uma cópia ilegal ela é sobre as causas e as contradições imediatamente retirada. E têm dos eventos históricos dos últimos não é legal agora um sistema de fi ltragem séculos em África e na América. que os ajuda a perceber se o Alia a subjectividade emotiva de livro que está a ser enviado quem viveu a história com a para o Scribd tem “copyright” objectividade distanciada do ou não. repórter. E chega a conclusões como Também não deixa de ser esta: se os seus tetravós, escravos verdade que os livros que mais libertados da América, não tivessem se encontram disponíveis em decidido partir para África, cópias piratas são os best-sellers fundando o primeiro estado que continuam a vender nas independente do continente, a livrarias sem parar. É nisso que acredita o escritor Paulo Scribd Libéria, Helene teria crescido como Coelho, cujo exemplo já aqui demos várias vezes por causa http://www. uma mulher negra num bairro de do seu Pirate Coelho. scribd.com/ uma cidade dos EUA, fazendo pela O escritor brasileiro utiliza todas as ferramentas à sua vida à custa de subsídios estatais disposição e no início deste mês disponibilizou e publicou Loja da Scribd para as minorias, lutando contra os no dois dos seus livros: “The Way of the http://www. estereótipos, tentando mostrar que Bow/O Caminho do Arco” em inglês, português, italiano, scribd.com/store/ podia fazer as mesmas coisas, e tão espanhol e alemão e “Stories for Parents, Children and bem, como uma americana branca... Grandchildren” em inglês (volume 1 e 2). A partir deste Wattpad e talvez nunca tivesse chegado a ser “site” é possível descarregar estes livros gratuitamente http://www. correspondente na Casa Branca do em vários formatos electrónicos (ePub, PDF, / wattpad.com/ “New York Times”. kindle, Reader, iLiad). welcome Foi esta afirmação, suportada por Esta semana, na segunda-feira, a Scribd anunciou que uma narrativa intensa, sensível, vai entrar na mercado dos e-Books. Vai passar a deixar que Feedbooks autêntica, rica de aventuras, os seus utilizadores vendam edições digitais online pelo http://feedbooks. rigorosamente estruturada e preço que defi nirem. O “site” fi ca com 20% dos lucros, se os com/ marcada pelo suspense, que tornou houver. As editoras independentes Lonely Planet, O’Reilly o livro amado e odiado. Media e Berrett-Koehler já afi rmaram disponibilizar o seu “A Casa da Praia do Açúcar” catálogo completo de livros na Scribd Store. Outras ainda começou por ser uma reportagem, estão renitentes mas para a semana começa em Nova escrita na primeira pessoa, Iorque a Expo America e todos estes assuntos serão publicada na primeira página do certamente ali discutidos. “Wall Street Journal”. Isto é tão inédito quanto o testemunho de [email protected] Helene Cooper foi considerado importante para se comprender, de (Veja o blogue Ciberescritas em http://blogs.publico. uma assentada, a realidade de África pt/ciberescritas) e dos negros americanos.

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 41 42 erupção derevelações A mãe(Catherine Deneuve, àdireita) sofre de umadoençaeéesteo cenário dareunião familiar, propício à •ÍpsilonSexta-feira 22Maio2009 Cinema geracional. aproximáveis dotestemunho decoisas de1996) Disputé”, filiações e(em“Comment Je Me Suis sobre debruçar questões defamílias, francês”, aindanãodeixou dese sobrediscussão a“famíliadocinema sobosignodeuma colocada Desplechin, desdeoprincípio quando severifica que aobra de não. Maséinteressante lembraristo delas. que, reconhecendo-as, selibertava tutelares francês domodernocinema maneira deviver comassombras francês, porencontrarcinema uma “pós-nouvelle vague”parao caminho Sentinelle”, de1992), porabrirum primeira longa-metragem (“La saudado, estreou quando asua Arnaud Desplechincomeçou porser Domingo 15h55, 2ª3ª4ª13h, 19h10, 22h; 00h30; Medeia Monumental:Sala1:5ª6ªSábado 18h15, 21h306ªSábado2ª15h, 18h15, 21h30, Lisboa: Medeia King: Sala1:5ªDomingo 3ª4ª15h, MMMnn Roussillon, AnneConsigny. M/12 Deneuve,com Catherine Jean-Paul De Arnaud Desplechin, Un conte deNoël Um Conto deNatal Oliveira generis”. “sui disfuncionalmente fragmentada, dispersa, Reunião deumafamília de Sangue Relações Estreiam Vem apropósito muito de aocaso Talvez fosseumexagero, talvez Luís Miguel Truffaut. dealgunsfilmes auto-consciente deResnais comoenvolvimentocoisas dealgumas analítica, fria,mais mais se estivesse asensibilidade acasar trabalhacomo deNatal” Conto “Um “síntese” nãoéapalavra adequada, vague” –nessesentido, emesmose argumento” da“nouvelle depois “romanesco”, um“cinema de modernado uma formulação um filmeque sepropõe reencontrar Rainha” –, –evoltamos aoprincípio distinção). perfeita vezes, tornandoimpossível asua gravidade coexistirem eairrisão (às narrativa,conduz asua fazendoa inflexões detom comque Desplechin entre aspersonagens as mastambém eogelocalor que marcam asrelações egelo,temperaturas variadas,calor o precedente. Umficção filmede mesma linhade“Reis eRainha”, asua éumfilme,digamos,na de Natal” com ooutro, agora: fê-lo Conto “Um filmesquedois separecessem um contraditórios. desentimentos e manifestações derevelações,à erupção declarações cenário dareunião familiar, propício semelhante,eéesteo uma doença (Catherine Deneuve) que sofre de um filho“inútil”). morreu, eficou comoestigmadeser se revelou compatível, oirmão não dosangue(masacriança cancro velho,irmão mais acometidodeum dador demedulacompatível como gerado naexpectativa deviraserum personagem deMathieu foi Amalric) causa dela:umdosfilhos(a sangue), aponto deter por crescido (do família marcada peladoença “sui generis”. disfuncionalmente Uma fragmentada, família dispersa, no seucentro areunião deuma filmeque deNatal”, tem Conto “Um Fricção resolvida Fricção emsobrecarga, como“Reis tal e Mas étambém, Se Desplechinaindanãotinhafeito Agora –sempre osangue –éamãe ¬ Mau ☆ fim de contas, bastante justo. bastante fim decontas, atritos. Singularmentesedutore,no dos ouainterrupção, a superação, verdadeira “comunhão” que permite todos opassadoefuturo, a eéesta a doqueMuito osangue,une-os mais oseumausoléu. mortalidade, sua exige que da lidemcomofantasma o seumuseu que asituação ou,visto cultural” daquelada “história família, referências –aquela éummapa casa díspares remissões paraasmais Dez Mandamentos”),emiluma antigos (algunsreligiosos, como“Os porondeentram filmes televisões oude efotografias, adereços, objectos onde todosseencontram,repleta de “jump cut”. a serdesmembrado agolpes de quase comover umplano-sequência é –nalgumassituações “irregular” “découpage”, esempre estranhíssima da estende aotratamento quedo filme,numa se perturbação comavelocidade sempre aimplicar à beira datorrencialidade, estão em relatos osdiálogos, deperipécias; narrativas; ou emperipécias “portas” personagens, emdigressões e Rainha”, em desdobra-se como“Reis deNatal”, Conto “Um e em acumulação, quase emexcesso. 20h05, 22h10, 00h15 SábadoDomingo 11h35, Shopping: Sala1:5ª6ª2ª3ª4ª13h50, 15h55, 18h, 20h05, 22h10, Beloura 00h15; CinemaCity 00h15 SábadoDomingo 11h45, 13h50, 15h55, 18h, 5ª 6ª2ª3ª4ª13h50, 15h55, 20h05, 22h10, 18h, Alegro21h50, 00h15; Alfragide: CinemaCity Sala7: Sábado Domingo 2ª3ª4ª13h30, 15h40, 18h30, 24h; Castello Lopes-Loures Shopping: Sala 1:5ª6ª 21h45 6ªSábado14h,19h, 16h30, 21h45, 19h, Londres: Sala 2:5ªDomingo 2ª3ª4ª14h, 16h30, Domingo 13h30, 16h20, 21h40;Castello Lopes- 19h, 00h30 Sábado13h30, 16h20, 21h40, 19h, 00h30 3ª 4ª16h20, 21h406ª16h20, 19h, 21h40, 19h, Villa: Lopes-Cascais Lisboa: Castello Sala1:5ª2ª MMnnn VanDick Ben Stiller. Dyke, M/12 com AmyAdams,Robin Williams, De Shawn Levy, Night at the Museum 2 À Noite, No Museu 2 semana. descartável defim-de- do que umdivertimento — oque nãofazdelamais é melhordoque ooriginal Uma daquelas sequelas que massa sopinha-de- O faraó entretenimento defi “À Noite noMuseu 2”éumbom Medíocre Sobrecarga ainda no décor da casa Sobrecarga aindanodécordacasa Jorge Mourinha ☆☆ Razoável m-de-semana ☆☆☆ Bom ☆☆☆☆ 16h30, 00h40; 19h15, 22h, Glicínias: 5ª6ªSábado Domingo 2ª3ª4ª13h45, 15h50, 18h30, 21h10,ZONLusomundo 23h50; Aveiro: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª13h10, 15h30, 18h30, 21h40;ZONLusomundoFórum 15h30,13h, 18h30, 21h40, 00h10Domingo 13h, 18h30, 21h406ª15h30, 18h30, 21h40, 00h10Sábado Lopes -8ªAvenida: Sala 2:5ª2ª3ª4ª15h30, 4ª 13h20, 15h50, 18h20, 21h20, 00h10;Castello Parque Nascente: 5ª6ªSábado Domingo 2ª3ª 13h20, 16h10, 19h10, 00h45; 22h, ZONLusomundo NorteShopping: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª 18h50, 21h30, 00h10;ZONLusomundo 5ª 6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª13h30, 16h, 18h50, 21h20, 24h;ZONLusomundoMarshopping: 13h30, 16h10, 18h50, 21h206ªSábado13h30, 16h10, Lusomundo MaiaShopping: 5ªDomingo 2ª3ª4ª Sábado 13h30, 15h50, 18h30, 21h20, 00h20;ZON Domingo 2ª3ª4ª13h30, 15h50, 18h30, 21h206ª 00h15; ZONLusomundoGaiaShopping: 5ª 19h40, 22h6ªSábado15h10, 17h25, 19h40, 22h, Ferrara Plaza:5ªDomingo 2ª3ª4ª15h10, 17h25, 13h30, 16h, 18h40, 21h40, 00h15; ZONLusomundo Dolce Vita Porto:5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª Domingo23h55 15h, 17h30, 21h45; ZONLusomundo 15h30, 17h30, Sábado15h, 21h45, 23h55 21h45, Penafiel: Sala2:5ª2ª3ª4ª15h30, 21h45 6ª 4ª 16h35, 19h10, - 21h45, 00h20;Cinemax Domingo 2ª14h05, 16h35, 19h10, 21h45, 00h203ª 00h40; Arrábida 20:Sala16: 5ª6ªSábado 6ª SábadoDomingo 2ª3ª4ª22h15, 2ª 3ª4ª15h05, 17h30, 20h;Arrábida 20:Sala1:5ª Porto: Arrábida 20:Sala2:5ª6ª SábadoDomingo 21h30, 24h; 6ª SábadoDomingo 2ª3ª4ª13h15, 18h30, 16h, 21h40, 00h10;ZONLusomundoFórum Montijo:5ª Sábado Domingo 15h30, 2ª3ª4ª13h, 18h20, 21h30; ZONLusomundoAlmada Fórum: 5ª6ª 18h40, Domingo 21h30, 13h50, 23h50 15h55, 18h40, 6ª 15h55, 18h40, Sábado13h50, 21h30, 15h55, 23h50 Freeport: Sala5:5ª2ª3ª4ª15h55, 18h40, 21h30 Domingo 13h30, 16h, 18h30, 21h30, 24h;UCI 6ª 2ª3ª4ª16h, 18h30, 21h30, 24hSábado 21h40; Castello Lopes-RioSul Shopping: Sala 1:5ª 21h40, 00h10Domingo 13h20, 15h50, 18h40, 18h40, 21h40, 00h10Sábado13h20, 15h50, 18h40, 2: 5ª2ª3ª4ª15h50, 18h40, 21h406ª15h50, 21h20, 00h10;Castello Lopes-Fórum Barreiro: Sala 6ª SábadoDomingo 2ª3ª4ª13h10, 15h35, 18h25, ZONLusomundoVasco21h15, 23h45; daGama:5ª 6ª SábadoDomingo 2ª3ª4ª13h30, 16h, 18h45, ZONLusomundoTorres21h20, 23h50; Vedras: 5ª Sábado Domingo 2ª3ª4ª13h05, 15h40, 18h10, 21h20; ZONLusomundoOeiras Parque: 5ª6ª 18h20, 21h20, 00h10Domingo 15h30, 13h, 18h20, 6ª 15h30, 18h20, 21h20, 15h30, 00h10Sábado 13h, Odivelas Parque: 5ª2ª3ª4ª15h30, 18h20, 21h20 15h30, 18h30, 21h30, 00h30;ZONLusomundo Domingo 2ª3ª4ª15h30, 18h30, 21h306ªSábado 00h10; ZONLusomundoDolce Vita Miraflores: 5ª Sábado Domingo 15h30, 2ª3ª4ª13h, 21h20, 18h, 21h30, 24h;ZONLusomundoColombo: 5ª6ª Sábado Domingo 2ª3ª4ª13h10, 15h45, 18h30, ZONLusomundoCascaiShopping: 5ª6ª 23h30; Domingo 2ª3ª4ª13h40, 16h, 18h20, 21h, 00h15; ZONLusomundoAmoreiras: 5ª6ªSábado Domingo 2ª3ª4ª13h15, 16h,18h50, 21h45, ZONLusomundoAlvaláxia:23h50; 5ª6ªSábado Domingo 2ª3ª4ª14h05, 16h15, 18h40, 21h15, 00h10; UCIDolce Vita Tejo: Sala2:5ª6ªSábado 00h10 Domingo 11h30, 14h10, 16h50, 19h20, 21h45, Sábado 2ª3ª4ª14h10, 16h50, 19h20, 21h45, -ElCorte Inglés: UCICinemas 23h45; Sala12:5ª6ª Domingo 14h30, 12h, 16h35, 18h40, 21h35, 3ª 4ª14h30, 16h35, 18h40, Sábado 21h35,23h45 PequenoCampo Praça deTouros: Sala2:5ª6ª2ª 13h50, 15h55, 20h05, 22h10, 18h, 00h15; CinemaCity Thomas Lennon). Thomas Lennon). Robert Garante Ben argumentistas realizador Shawn eos Levy é obradamesmaequipa (o criativa do outro parte mundo segunda eesta quanto oprimeiro filmenão era nada surpreendente mais que étanto que asequela ultrapassao original —o Museu 2”éumdaqueles em casos recentemente, mas“À Noiteno Já não éaprimeiravez que acontece O que mudou, então, deumpara Muito Bom ☆☆☆☆☆ Excelente Estamos online. Entre em Internet www.ipsilon.pt. É o mesmo suplemento, é outro desafi o. Venha construir este site connosco.

outro? O tom, que abandonou a Dante não faria com isto...) e a de uma causa maior mas 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h35, 17h30, 19h25, 21h45, 24h fantasia inofensiva para toda a família desaproveitar os talentos reunidos, incompreendida — é claramente por Sábado Domingo 11h35, 13h40, 15h35, 17h30, 19h25, 21h45, 24h; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 7: 5ª 6ª (na origem do projecto estava um apesar da “performance” fabulosa de aí que Apted e o argumentista Steven Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h40, 18h, livro para miúdos de Milan Trenc) Hank Azaria no faraó sopinha-de- Knight (guionista dos “Estranhos de 20h05, 22h10, 00h10; ZON Lusomundo Alvaláxia: para se tornar numa comédia mais massa literalmente “roubar” o filme à Passagem” de Frears e das 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h25, 17h40, 21h20, 23h40; ZON Lusomundo Almada assumida que segue pela anarquia concorrência (Steve Coogan, “Promessas Perigosas” de Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, Looney Tunes que o primeiro filme Christopher Guest e Alain Chabat não Cronenberg) preferem ir, muito bem 15h45, 18h10, 21h10, 23h35; nunca cumpriu. Ben Stiller, o guarda têm quase nada para fazer). Um bom sustentados pelas performances de Porto: Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado nocturno que descobria incrédulo entretenimento de fim-de-semana. Ioan Grufudd, Romola Garai e Domingo 2ª 14h40, 17h05, 19h30, 21h55, 00h20 3ª que o Museu de História Natural de Benedict Cumberbatch. 4ª 17h05, 19h30, 21h55, 00h20; “Amazing Grace” chega com Nova Iorque ganhava vida à noite, é Encomenda oblige, “Amazing É complicado explicar o que torna Amazing Grace dois anos de atraso agora um pequeno empresário Grace” nunca resolve a contento um filme potencialmente tão De Michael Apted, “reconvocado para o serviço” quando À superfície, é um exemplo perfeito essa esquizofrenia entre o estudo de anónimo como “O Rei da Califórnia” com Michael Gambon, Albert Finney, o recheio do museu é transferido para da “qualidade inglesa” que neste câmara e a biografia de prestígio, e a numa surpresa agradável: é o mais Ioan Gruffudd, Romola Garai. M/0 os Arquivos Federais do Smithsonian, momento já não surpreende ninguém tonalidade triunfal do final é um recente exemplo de um actor de em Washington, e a tábua egípcia MMnnn (impecável reconstituição de época, erro, mas é fita mais interessante do peso a brincar ao cinema responsável pelo acordar das estátuas elenco na mouche, tudo no seu sítio) que parece — fica mesmo só por independente com um papel que faz o mesmo a um faraó sopinha-de- Lisboa: CinemaCity Classic Alvalade: Sala 2: 5ª 2ª — só que, neste caso, trata-se de uma explicar porque é que foi “tirado da mostra que ele ainda não perdeu o massa convencido que é mau como as 3ª 4ª 14h10, 16h30, 18h50, 21h30 6ª 14h10, 16h30, produção americana (com um dos prateleira” com dois anos de jeito, é mais uma daquelas comédias 18h50, 21h30, 24h Sábado 11h50, 14h10, 16h30, cobras. 18h50, 21h30, 24h Domingo 11h50, 14h10, 16h30, produtores, surpreendentemente, a atraso... J. M. doce-amargas sobre famílias É o pretexto para uma série de 18h50, 21h30; Medeia Saldanha Residence: Sala 5: ser o esquivo Terrence Malick), disfuncionais, etc., etc., etc. sequências visualmente 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, “encomendada” ao veterano Michael E, contudo, o primeiro filme de 19h10, 21h50, 00h30; O Rei da California inspiradíssimas e para alguns Apted (“A Filha do Mineiro”, “007 O Mike Cahill, “apadrinhado” por King of California momentos de comédia surreal Há qualquer coisa de intrigante nas Mundo Não Chega”). Alexander Payne (o realizador de De Michael Cahill, paredes-meias com o “stand-up” ou tensões que atravessam esta biografia Mas, por trás da história bem- “Sideways” e “As Confissões de com Michael Douglas, Evan Rachel com a recente comédia do do deputado inglês William intencionada de um homem que Schmidt”), é qualquer coisa mais do Wood, Willis Burks II. M/12 desconforto de Judd Apatow (dos Wilberforce que, no final do século lutou por um mundo melhor, que isso, sobretudo devido ao tom e quais, aliás, se reconhecem algumas XVIII, lutou incansavelmente para esconde-se uma exploração do que MMnnn ao modo com que conta a sua caras). Mas a coisa continua a ser abolir o comércio de escravos no significa ser uma figura pública, história de um pai solteiro demasiado “certinha” (ai o que Joe Reino Unido. sacrificar a vida e a saúde em nome Lisboa: CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 5: 5ª 6ª psiquiatricamente instável,

Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 43 simpática. simpática. bem uma fita grande filme,descobre-se esperar de“O Rei daCalifórnia” um prazer derepresentar. Senãose inteiramente ancoradanosimples Douglas comumaperformance Douglas fazesquecer que éMichael Michael americanas, actrizes promissorasuma dasmais jovens Rachel Wood confirmaporque é sobretudo, Evan pelosactores: atraço grosso.carregar Epassa, explicam de tudosemprecisar deplanosrápidos quemeia-dúzia personagens sãodesenhadasem comquesozinha), as pelaelegância adesenrascar-se se viuforçada (aqui, o“adulto”papéis éafilhaque inteligência deinverter oshabituais cenário que osrodeia, pela convenientemente desfasadosdo excêntrica eaventura adolescente Califórnia contemporânea. pelos parques da deestacionamento aotesouropara umaquixotesca caça 44 Douglas que éMichael faz esquecer Michael Douglas Passa pelo tom misto decomédia Passa pelotommisto que arrasta afilhaadolescente que arrasta •ÍpsilonSexta-feira 22Maio2009 Cinema

delimitando e definindo e que, aqui, diferença fundamental entre Sandro (2004), mas sobe a fasquia com esta Perdição” de encontrar o público que Sábado 13h15, 16h05, 18h55, 21h45, 00h30; na primeira longa, encontra uma Aguilar e Miguel Gomes, o “Lennon” adaptação livre do “Amor de merece. J. M. topografia e uma temporalidade mais e o “McCartney” da geração de 70 do Perdição” de Camilo inteligentemente Ir ver um novo filme do alemão Tom abrangentes – mas a obstinação é a cinema português. L.M.O. transformada em apaixonado Tykwer, realizador do mau “Corre The International - A mesma, e o caminho é o mesmo, sem melodrama adolescente dobrado de Lola Corre” e do péssimo “O Organização desvios (também se pode dizer que meta-comentário do próprio Perfume”, faz tremer de susto Um Amor de Perdição The International todas as curtas de Sandro Aguilar vão romance (usado como artifício no qualquer espectador timorato: de De Mário Barroso, De Tom Tykwerq, dar à “zona”). “Tarkovskiano”? interior da própria história), sem semelhantes credenciais só se espera com Tomás Alves, Catarina com Remy Auberjonois, Clive Owen, Eventualmente, como descrição perder nada do romantismo quase o pior. Talvez por isso, “A Wallenstein, Virgílio Castelo, Ana Naomi Watts. M/12 aproximativa de um universo operático original, sublinhado pela Organização”, que não inventa Moreira. M/0 contraído pela impossibilidade da sua sumptuosa partitura de Bernardo MNNNN coisíssima nenhuma, resulta visível, tradução psicológica. Mas onde MMMNN Sassetti. Dito isto, o grande trunfo de amarrado como está a um cerrado Tarkovski encontrava a “metafísica” “Um Amor de Perdição”, que é a sua Lisboa: CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 10: 5ª 6ª programa de fazer reverter variações (mesmo em sentido religioso) como Lisboa: Medeia Nimas: Sala 1: 5ª 6ª Sábado modéstia discreta, joga um pouco Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h35; CinemaCity sobre “teorias da conspiração”, para Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 15h40, 17h30, 19h30, 21h45; Beloura Shopping: Sala 5: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h05, ponto de fuga e explicação derradeira contra si próprio – há momentos em 16h40, 19h05,2 1h20, 23h35 Sábado Domingo falar do capitalismo selvagem e seus corresponde aqui apenas uma Se mais provas não houvesse (e até que seria preciso um rasgo qualquer 19h05,2 1h20, 23h35; CinemaCity Campo Pequeno malefícios. Não se pense, no entanto, intensificação da “física” – corpos sem tem havido), “Um Amor de Perdição” para levar o filme um pouco mais Praça de Touros: Sala 6: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h30, que escapamos aos mais óbvios 15h45 Sábado Domingo 13h30; UCI Cinemas - El nome, que se tocam ou não se tocam, é o exemplo ideal de que é possível longe e, sobretudo, a intensidade de Corte Inglés: Sala 2: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h05, clichés narrativos ou a uma direcção vivos ou moribundos, em todo o caso fazer cinema para o grande público Tomás Alves não encontra eco nem 16h30, 19h, 21h35, 00h10 Domingo 11h30, 14h05, de actores certinha, mas sem rasgos condenados a existirem enquanto em Portugal sem tombar no na Teresa de Ana Moreira 16h30, 19h, 21h35, 00h10; UCI Dolce Vita Tejo: Sala de maior. Claro que há a “famosa” 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 19h, 21h25, “sinais de vida” (toda a maquinaria audiovisual formatado para televisão, (praticamente ausente do filme) nem 24h; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado sequência do Museu Guggenheim médica). pegar numa obra clássica da literatura na Mariana demasiado apagada de Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h35, 21h05, (para que não nos acusem de Como se vê por uma planificação portuguesa e adaptá-la para os nossos Catarina Wallenstein. Mas que isso 23h55; UCI Freeport: Sala 6: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª comparações descabidas, não 19h10, 21h55 6ª Sábado 19h10, 21h55, 00h30; ZON que decompõe o mundo em unidades dias sem a trair nem a esventrar, e não impeça “Um Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado falamos de Hitchcock, nem de ínfimas e austeras, estamos num conseguir no processo um óptimo Amor de Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 18h45; “Intriga Internacional”), só que a cinema que se decide pelo desejo do filme de “produção média”, sem ser Porto: Arrábida 20: Sala 10: 5ª 6ª Sábado montanha acabou por parir um rato: “controlo absoluto” (e só perde populista nem elitista, como não é Adaptação Domingo 2ª 13h55, 16h30, 19h10, 21h45, 00h25 3ª o relativo virtuosismo conseguido não alguma força quando, como na hábito fazer-se por cá. Mário Barroso livre 4ª 16h30, 19h10, 21h45, 00h25; ZON Lusomundo possui qualquer função no resto do de “Amor Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª sequência da festa, alarga o crivo que já o tinha conseguido ao primeiro 4ª 23h; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª filme, morno, bem-comportado, mas exerce esse controlo). Está nisto a ensaio, “O Milagre Segundo Salomé” de Perdição” Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h05, 18h55, 21h45 6ª inócuo. M.J.T.

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A voz humana é o ponto de partida para um ;c_b_eFec}h_YeZ_h[Y‚€ecki_YWb programa que nos dá a conhecer grandes 7dkAeci_iefhWde obras-primas da música nas suas recentes versões para ensemble. Merece destaque 7bXWd8[h]/ ;c_b_eFec}h_Ye7bj[dX[h]B_[Z[h a presença da soprano Anu Komsi na @edWj^Wd>Whl[o>_ZZ[dLe_Y['; Ied]E\\[h_d]i interpretação de canções de Harvey e Alban H_Y^WhZMW]d[h/ Berg, assim como a inclusão do célebre H[_dX[hjZ[B[[kmFh[b‘Z_e[Cehj[Z[?iebZW Prelúdio e Morte de Isolda, de Wagner.

FEHJH7?J@ED7J>7D>7HL;O estreia mundial; encomenda Casa da Música

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Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 • 45 O fi lme que nunca d Há sempre quem ache que uma sequela é uma má ideia. Como se reagirá ao fi lme original está envolvido? “S. Darko” foi directo para

“S. Darko - A Donnie Darko Tale” não é bem uma sequela de “Don- nie Darko”. O sub-título, pelo menos, encarrega-se de deixar algumas dúvidas. Mas “S. Darko” passa-se sete anos depois do filme anterior e a “vedeta” aqui é a irmã mais nova de Donnie, Samantha, interpretada de novo pela actriz Daveigh Chase, que começa a ser perseguida por visões do apocalipse (como o irmão o fora) durante uma via- gem de carro com uma amiga. Quem já viu, contudo, diz que não é tanto uma sequela como uma “duplicação” de “Donnie Darko”, construindo toda uma nova história que recupera ele- mentos e rima propositadamente com o original. É algo que pro- vavelmente faz todo o sentido na cabeça de Richard Kelly, o reali- zador e argumentista do filme que começou por ser ignorado em 2001 antes de se tornar numa bola de neve de culto. Isto, claro, caso ele tivesse alguma vez contemplado fazer uma sequela a “Donnie Darko”. Kelly para a sua história de um Darko”, que foi dirigido por John Hughes e David Lynch Quem já viu “S. liceal instável no final dos anos Chris Fisher (três longas inde- Era uma vez um filme indepen- Darko” diz que não é 1980, confrontado com um coe- pendentes e episódios das séries dente que tinha ao princípio um lho profeta, um apocalipse anun- “Chuck”, “Moonlight” e “Casos motor de avião a cair em cima tanto uma sequela ciado e viagens no tempo. Arquivados”) e escrito por de uma pacata casa de uma cida- A crítica, fascinada, encontrou Nathan Atkins. dezi- nha americana. como uma todo o tipo de “mash-ups” para Fez, aliás, questão, de se dis- Estava-se em Outubro definir o filme: uma colisão da tanciar do projecto com um post de 2001 e, embora o “duplicação” de “Twilight Zone” e dos filmes de no seu blog (http://blogs.mys- filme estivesse pronto liceu de John Hughes, um episó- pace.com/richardkellyofficial): desde Janeiro e já tivesse “Donnie Darko”, dio dos “Ficheiros Secretos” diri- “Não li o argumento, não tenho sido mostrado no festival construindo toda gido por Paul Thomas Anderson, envolvimento nenhum com a de Sundance (onde dividira “A Tempestade de Gelo” de Ang produção, nem quero tê-lo. Não as opiniões), o “timing” da uma nova história Lee refeito por David Lynch. tenho controle de espécie estreia - um mês depois do O filme encontrou em DVD e nas nenhuma sobre os direitos do 11 de Setembro - não foi o que recupera salas europeias (onde estreou filme.” A sequela foi orientada ideal para o conto-de-fadas durante 2002) o público que lhe por Adam Fields, um dos produ- apocalíptico de Richard elementos e rima faltara na estreia americana (sufi- tores do original, e a única “rein- Kelly, que desapareceu das ciente para em, 2004, Kelly mon- cidente” do elenco é Daveigh salas sem deixar rasto após propositadamente tar um “director’s cut” mais longo Chase. ter feito uns miseráveis 500 com o original em 20 minutos que dividiu opini- À revista Fangoria, Fisher - que mil dólares de bilheteira. ões). Muita gente esteve pronta a admitiu que não esteve na ori- Oito anos depois, “Don- admitir que não percebia exacta- gem do projecto e foi contratado nie Darko” tornou-se mente tudo o que acontecia em pela produção por gostar muito naquela coisa que escapa às “Donnie Darko” mas que não se do original - disse: “Sabíamos previsões mais calculistas e ralava nada. É o tipo de fenómeno que havia pessoas que não iam calculadas e que muitos pro- que quase exige uma sequela - ou, dar uma hipótese ao filme. ‘Don- curam sem nunca encontrar: pelo menos, algo que sacie a fome nie Darko’ falou às pessoas de um filme de culto, à imagem dos dos fãs obsessivos procurando o um modo muito forte, muito velhos “midnight movies” que porquê do labirinto. emocional; os fãs são muito pro- formaram toda uma geração de tectores.” cinéfilos, que exigia múltiplas “Não percam tempo” Meu dito, meu feito: as primei- (re)visões para penetrar no uni- Só que Richard Kelly não está ras e brutais reacções na internet verso singular imaginado por minimamente envolvido em “S. não deixam dúvidas. Os ferre-

46 • Ípsilon • Sexta-feira 22 Maio 2009 devia ter sido feito á à ideia de continuar “Donnie Darko”? Sobretudo quando ninguém ligado a DVD nos EUA e já há quem grite sacrilégio. Jorge Mourinha

nhos que fizeram de “Donnie ceeiros” interessados no lucro e Tales” por parte do comentador Outubro trará o “tira-teimas” Darko” o culto que continua a desprezando a integridade artís- da IMDB não é casual: a ambi- com a estreia americana de “The ser são unânimes em arrasar “S. tica: “Este filme nunca devia ter ciosa segunda longa do realiza- Box”, adaptação de um conto do Darko”. O mais simpático que sido feito”; “Nunca esperei muito dor terá sido o primeiro grande veterano Richard Matheson (“Eu conseguimos encontrar vem do mas ainda assim achei que ia ser filme maldito do século XXI. Sou a Lenda”) com Cameron crítico da Fangoria, Samuel Zim- melhor do que é”; “Não percam A fantasia apocalíptica que Diaz, Frank Langella e James merman: “Não é o filme comple- tempo a vê-lo”; “Não se pode Kelly desdobrou numa série de Marsden (e música original dos tamente horrível que muitos fazer uma sequela de um clássico websites e novelas gráficas vol- Arcade Fire). Vai ser o momento pensaram que iria ser (ou que de culto”; “Pior que ‘Grease 2’”; tou à sala de montagem após a decisivo para perceber se queriam que fosse). Mas não é “Sabia que ia ser mau, mas não sua desastrosa estreia na compe- Richard Kelly é homem de um grande coisa.” podia ser pior”. E, como “cereja tição de Cannes em 2006 - e por só filme ou é mesmo o talento Uma breve resenha dos pri- no topo do bolo”: “Richard Kelly lá ficou ano e meio antes de che- singular que “Donnie Darko” meiros comentários na Internet não tem nada a ver com esta gar finalmente às salas america- deixava entrever. Movie Database (www.imdb. sequela mas ainda assim, depois nas no Natal de 2007, onde con- Quanto a “S. Darko”, a sequela com) é liminar nas acusações à de ‘Southland Tales’, apetece-me seguiu passar ainda mais desper- mal recebida não teve direito a equipa criativa e aos produtores culpá-lo.” cebida que “Donnie Darko” estreia em sala nos EUA e foi do filme, retratados como “mer- aquando da estreia. A sua distri- direitinha para DVD; Chris Fisher O fi lme maldito buição europeia tem sido, mais diz que o filme irá estrear em O problema não é apenas da do que confidencial, errática cinema na Europa, embora para sequela: “Donnie Darko” conti- (muitos países lançaram-no já não haja maneira de confirmar nua a ser, oito anos depois, para directo em DVD, cá ainda nem se é verdade ou apenas uma vaga o bem e para o mal, o único filme sequer chegou), e o filme tem esperança. Mas se houve “mer- de Richard Kelly, espécie de esbarrado na incompreensão - ceeiros” capazes de produzirem “aviso” dos perigos de assinar mesmo por parte daqueles que uma sequela a um filme inexpli- um filme de culto à primeira ten- admitiam não ter digerido por cável, também os haverá para a tativa. A referência a “Southland inteiro “Donnie Darko”... distribuir...

Em cima, à esquerda, imagem de “Donnie Darko”, o conto-de- fadas apocalíptico de Richard Kelly, que em 2001 desapareceu das salas sem deixar rasto. Em baixo, “S.Darko”, a “sequela”, oito anos depois

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