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Sexta-feira 29 Maio 2009 www.ipsilon.pt

Como é que uma garota pode ter tanto fado? Carminho ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 6996 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE DO PÚBLICO, EDIÇÃO Nº 6996 INTEGRANTE DA PARTE FAZ ESTE SUPLEMENTO DANIEL ROCHA DANIEL

Tó Trips Thomas Mann Xeg Alastair Campbell Serralves Ricardo Menéndez Salmón

E-mail: Soares Mariana Carla Noronha, Jorge Guimarães, Designers Directora dearte Simon Esterson, Kuchar Swara Design Vítor Belanciano Óscar Faria, CristinaFernandes, Coutinho, InêsNadais, Conselho editorial Joana Henriques Gorjão (adjunta) Editores Director Ficha Técnica 26 O outro lado dos anos Blair Alastair Campbell tivesse escrito emportuguês 22 Como seThomas Mann A Montanha Mágica exposição dacolecção Passados 10anos, anova Serralves 18 12 portugueses regresso de umdos bonsMC Cinco anos depois, o 14 Xeg Desta vez asolo Tó Trips natureza tremenda, pura força da Ouçam-na cantar: voz Carminho 6 Sumário www.ipsilon.pt

Mark Porter, [email protected] José Manuel Fernandes Vasco Câmara, Ana Carvalho, Sónia Matos Isabel Flash apresenta emversão mas,que, parajá,se criação próprias nasvárias áreas de ater produçõescomeçar em 2010e2011deverá se faz“Próximo Futuro”, Mas nemsódeconferências 18h30) aprometer debate. conferência (23deJunho às defensores, éuma doquedetractores defunto, diz.Tese commais eurocêntrico ehámuito um pós-modernismo esucessoranomadismos de por novos tiposde financeira, marcada crise recente damais sequência queacredita entrámosna É anova eraemque ele que éaAltermodernidade. Gulbenkian, falarsobre o Calouste Fundação novo da programa dearte ao “Próximo Futuro”, o agora curadordaTate, vem deTokyo,Palais deParis, fundadores doconhecido Bourriaud, umdos do mundo Daniel (daarte), rapidamente paraoresto londrina terirradiado deapolémica Depois durante ummêsnaGulbenkian África, AméricadoSul eCaraíbas levantando todootipode levantando Internet veio permitir, tempo que ali,que a aquideste estar aomesmo forma deubiquidade,desta fala (Virilio Arte televisão convite de docanal por StéphanePaolia realizado noanopassado Vitesse”, documentário centro de“Penser La Virilio, no também está francêsPaulensaísta preocupações dofilósofo e nocentroestado das A velocidade, que tem dos jardins dafundação. ao arlivre, noAnfiteatro cinema tela, comcinema, sobretudodescobre-se na Junho às19h)...-mas de BuenosAires (28de Orquestrae asua Petitera, (21 deJunho às19h),Dema Doueh, doSaraOcidental -oGroupse viamúsica Sul easCaraíbas,descobre- do aAmérica como África, mundial, comprotagonistas Junho eJulho, anova ordem Num mês,entre de finais intenções. condensada, comoplanode A velocidade temestadonocentro daspreocupações Internet do fi lósofo eensaístafrancês Paul Virilio futuro’”, conclui. fresco de ‘portadora pode seralufada dear emergentesde sociedades deexperiênciasvitalidade avibrante sustentabilidade, novos modelosde na procura responsável de repensar comportamentos vivemos nosobrigaa “Quando aconjuntura que Lawrence Lemaoana). plástico doartista projecto (nonúmerocriação 01um de plataforma será também jornal doprograma que presidente dafundação, no Emílio Rui Vilar, o contemporâneo”, escreve acontecem nomundo que culturais mudanças às atenção a darparticular que continuaremossignifica Mali. “Estenovo programa edo Brasil, doUruguai filmes daArgentina, do programa que temainda Bourriaud, deum parte conferência deDaniel à cinematográfico equivalente Julho, às22h).Será o novos problemas -8de connosco. Venha construirestesite suplemento, éoutro desafi www.ipsilon.pt Estamos online.Entre em . Éomesmo o. o.

DAVID PAUL MORRIS/GETTY IMAGES/AFP Reader enoiPhone”). ou “lerlivros no Kindle2,no sentido equando nãofazem” fazem grátis electrónicos “quando éque oslivros sobre marketing viral”, Obama nospodeensinar livros”, “o de que acampanha nasvendaspirataria) de “o dogratuitoe(da impacto ( modo comolidarcomacrise desde ofuturo dolivro atéao autores. temasvariados: Com vários feira, ondeparticioam na soluções paraosector novas adiscutir estado eautoresbibliotecários têm editores, livreiros, Desde quinta-feira que os ajudaram aserquem éhoje. longo o da vidaecomoestas “lições” que apreendeu ao Nele opilotofalarádas atéagora).(desde ainfância vida dasua ahistória e conta nofinaldesteano americanas para aslivrarias norte- livros seus.Oprimeiro irá dois onde irãoserpublicados Publishers, HarperCollins Morrow, chancelada convidado pelaWilliam Sullenberger é capitão Greenspan (em2007).O (em2008)eAlan foramJeff da Bezos especiais anteriores osconvidados Unidos. Nosanos nos Estados livreiro aosector dedicada autógrafos namaiorfeira numa sessãode participar sábado àtarde edepois fazer umaconferência no Sullenberger irá O capitão do voo 1549daUSAirways. 115 pessoasque iamabordo Hudson salvando avidadas aterrou deemergência norio que nodia15deJaneiro Sullenberger,capitão opiloto decorrer emNova Iorque, éo (BEA), desdeontem a Expo 2009 America O convidado dehonrada America2009 Expo de honra daBook Piloto éoconvidado Ípsilon •Sexta-feira 29Maio2009• O capitão Sullenberger vai lançardoislivros 3

Flash

Ojos de Brujo, a banda catalã que revolucionou o fl amenco, abrindo-o à modernidade das ruas no dia 25

Survival of the projectar um centro escolar School: Post- que funcionasse também Colonial como motor para o Transformations desenvolvimento social e in Angola e cultural da zona. Até agora o Ojos de Brujo, a banda catalã Mozambique”, recebeu o Noel arquitecto trabalhou à que revolucionou o flamenco, Hill Travel Award 2009, do distância: estudou as abrindo-o à modernidade das American Institute of características do musseque, ruas e às culturas que se Architects - UK Chapter (que viu vídeos, fez entrevistas, cruzam na cosmopolita distingue um estudante depois localizou no Google Barcelona - rumbas, reggaes, matriculado numa Earth a antiga escola dos avós, tangos e hip hop, tudo cabe universidade do Reino Unido). encontrou duas antigas neste flamenco que Paulo Moreira inspirou-se amigas da avó ligadas à escola, Buena Vista Social Club, a banda de veteranos da música cubana noutra escola, criada há anos e foi assim que descobriu o revelada mundialmente pelo fi lme de Wim Wenders, actua dia 26 transforma cada concerto numa celebração da música por portugueses no Xai-Xai, desenho dos quatro meninos como espaço sem fronteiras e em Moçambique. No projecto de mão dada. em mutação constante. A há um muro de tijolos com Muito do projecto para guineense Eneida Marta e a aberturas entre eles que Capalanca tem que ser lenda do reggae Horace desenhará, quando a luz do adaptado à actualidade e ao Handy, acompanhado pelos sol as atravessar, a imagem de local. “A escola é composta Dub Asante, a banda com quatro crianças de mãos por várias salas, cada uma quem tem colaborado dadas. Trata-se da mesma com um volume diferente na recentemente, são os imagem que está no pórtico forma e na altura, restantes actuações. da escola em Moçambique, mimetizando um pouco o Destaque ainda para a que nasceu da iniciativa dos contexto envolvente”, explica Orquestra Buena Vista Social avós de Paulo Moreira quando o arquitecto, referindo-se às Club, a banda de veteranos da aí viveram no final dos anos construções do musseque, música cubana revelada 50, início dos ano 60 do feitas pelos próprios mundialmente pelo filme de século XX. habitantes. A escola será Wim Wenders (dia 26), para Esta ligação com a história construída pelas pessoas de os concertos de Camané, familiar do arquitecto foi uma Capalanca, com os materiais ainda em apresentação de das razões que levou o júri a que habitualmente usam, “Sempre De Mim”, e de Lura a escolher Paulo Moreira para o desde o cimento às chapas de 27 (o mesmo em que actuarão prémio que lhe permitirá zinco. Um elemento muito Justin Adams & Juldeh viajar até Capalanca e ao Xai- importante é a água, “um Orquestra Buena Vista Social Camara, autores de “Soul Xai e conhecer o local onde a bem precioso” no musseque. Club, Kimmo Pohjonen, Já Science”, o primeiro sua escola irá ser construída, A proposta é que haja uma Camané ou o baterista dos guitarrista colaborador de assim como a antiga escola, torre/depósito de água, e Police, Stewart Copeland, que sabemos o Robert Plant, o segundo um que a avó nunca teve uma bomba de brincar, na encerrará o festival liderando griot gambiano). oportunidade de ver em qual as crianças, “ao a orquestra La Notte Della Para a despedida, além dos funcionamento. A viagem, em brincarem na roda como se que dançar Taranta, projecto que supracitados Rokya Traoré e dois períodos de 15 dias, fosse um carrossel, estão, ao trabalha a herança musical de La Notte Della Taranta, subirá começa amanhã. mesmo tempo, a puxar a no Med de Salento, uma região de a palco o finlandês Kimmo Tudo começou com um água para o tanque”. Esta influência grega da Câmpania Pohjonen, acordeonista convite da Agência Piaget para segue depois por uma Loulé italiana. “demoníaco” que, fruto de o Desenvolvimento (APDES), espécie de aqueduto que Pelos dois palcos principais uma visão pessoalíssima, que propôs a Paulo Moreira percorre todos os volumes Rokya Traoré esteve há dois passarão, dia 24, o primeiro revolucionou profundamente (formado na Faculdade de da escola e que estará dias na Casa da Música, no do festival, Rabih Abou Khalil, a forma de abordar o Arquitectura do Porto e com à disposição da Porto, e ontem subiu ao palco o músico líbio radicado em instrumento. dois anos de estágio na Suíça) comunidade. do Lux, em Lisboa. Não se Berlim e reconhecido pela sua ficará por aqui. Dia 28 de fusão da música tradicional O projecto do português Paulo Moreira em Angola Junho rumará a Sul, árabe com a erudita ocidental, Uma escola em marcando presença no último passando pelo jazz e pelo Angola com a dia do Festival Med, em Loulé, rock. Ao Med leva “Em um dos mais importantes Português”, celebrado álbum memória de outra festivais de músicas do mundo de 2008 que o reuniu ao em Moçambique realizados em . fadista Ricardo Ribeiro. A actuação no Lux, de resto, Completam o cartaz o No musseque de Capalanca, surgiu incluída no evento de melting-pot dos Moriarty em Angola, poderá nascer apresentação de um cartaz (folk, blues, country, uma escola desenhada por que, propondo-se celebrar a rock’n’roll) e os Bajofondo, Paulo Moreira, arquitecto cultura mediterrânica, mas banda uruguaia-argentina que português nascido no Porto atento às músicas que se cruza tango e electrónica e em 1980 e actualmente a fazem noutras latitudes, que é liderada por Gustavo estudar a Londres, no anuncia para aquela que será Santaolla, compositor da departamento de a sexta edição, entre 24 e 28 banda sonora de “O Segredo Arquitectura da de Junho, nomes como Ojos de Brokeback Mountain”. Metropolitan University. de Brujo, Rabih Abou Khalil, Dia 25, o destaque vai para os O projecto, intitulado “The

4 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009

Combinámos encontrar-nos nos vez há três anos, pela boca de anos a família voltou para cima, Camané, uma garota destas “ter na Pastéis de Belém e, claro, mal nos Camané, que nos incitava a ir ouvi- para abrir uma casa de fados, o voz a história toda do fado”? sentámos tivemos de provar a espe- la à Mesa de Frades às segundas ou Travessa do Embuçado, por onde Isso cabe a Carminho responder cialidade da casa. De imediato Car- às quartas. Era uma promessa e passou, entre outros, Camané, e e ela fala de tudo com tremendo à minho confessou que tinha de se agora tornou-se uma certeza: um onde, a partir dos 15 anos, come- vontade. controlar: que não resistia a um tremendo disco de estreia, “Fado”, çou a cantar com regularidade. Pergunta inevitável: ouvia-se bom doce, que depois engordava que começou a nascer durante um Talvez por isso “Fado” seja um muito fado em casa dos seus e tinha de fazer dieta. ano que Carminho passou a viajar disco de fado quase sempre tradi- pais? Disse tudo de rajada, a rir-se, e a fazer trabalho de voluntariado cional: porque foi com isso que Sim, e cantava-se imenso no carro, Capa com o desplante de uma garota de - para só no regresso decidir a dedi- Carminho cresceu, com o bom e nas viagens, estávamos sempre a 24 anos. Mas ouçam-na cantar: car-se exclusivamente ao canto. velho fado. cantar. E lembro-me de assistir a uma voz tremenda, pura força da A mãe de Carminho, Teresa Como é que uma rapariga pode noites de fado lá em casa, com natureza, voz adulta, funda, segura, Siqueira, é ela própria fadista, e a ser tão rapariga e já tão mulher, cinco ou seis anos. Tenho umas não parece ter a idade que tem. A filha cresceu a ouvir os discos da como é que uma mulher pode ser fotografias, muito pequenina, de Carminho que canta quase parece mãe. Mas não cresceu em bairros tão mundana e tão funda, como é pijama, ao colo do meu pai, com a antítese da Carminho garota. fadistas: dos dois aos 12 anos a que uma garota pode ter tanto quatro ou cinco anos, e os guitar- Ouvimos falar dela pela primeira família viveu no Algarve e só há 12 fado? Como pode, como diz ristas e a minha mãe a cantar. Já era

uma voz com a h Ri-se com o desplante de uma natureza, voz adulta. Como é que E Carminho j DANIEL ROCHA

6 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 um gosto enorme. Toda a influên- Com que idade é que começou a nada. Adoraram, porque era como cia que tive de fado foi através da frequentar o meio fadista? Ouvimos falar dela uma mascote, ter uma menina de minha mãe e dos discos. Depois, Aos 12 anos. Por causa de uma há três anos, por folhos a cantar o “Fado do Embu- quando vim para Lisboa já houve festa no Coliseu: perguntaram aos çado”. A partir daí, sempre que essa vivência de bairro, de casas de meus pais se tinham algum filho Camané, que nos havia algum dia especial, a minha fado com fadistas. que queria cantar e os meus irmãos mãe levava-me ao Embuçado. Fomos viver para o Bairro Alto, [que são três] disseram que não. incitava a ir ouvi-la Nessa altura já apreciava na Rua da Esperança. Viemos por Eu disse que queria e o meu pai aquela coisa de ter de se vestir causa da Travessa do Embuçado, disse que não, porque não queria à Mesa de Frades. Era e cantar com toda a gente a [casa de fados] que a minha mãe e passar vergonhas. Mas insisti e ele olhar? o meu pai abriram. Depois fomos disse que eu podia ir se o Paquito, uma promessa e Nesse dia chorei baba e ranho, para Campo de Ourique, onde que tocava no Embuçado na altura, agora tornou-se uma furiosa, exactamente por causa do ainda vivo. É o meu bairro, mas con- aprovasse. O Paquito [guitarrista vestido. Tinha 12 anos, aquela vivi muito com Alfama e o Bairro da casa] disse que eu tinha tempo certeza: um tremendo idade em que já não se é muito Alto, onde a minha mãe me levava e era afinada: “Porque é que não criança, mas ainda não se é adulto. quando eu era mais pequena e onde hás-de deixar a miúda ir?”. Eu can- disco, “Fado” E nesse dia apareceram as filhas dos agora vou pela minha perninha. tava o “Fado do Embuçado” e mais fadistas e dos artistas, todas

Carminho a história do fado lá dentro garota. Mas ouçam-na cantar: voz tremenda, pura força da uma garota pode ter tanto fado? “Fado” é mesmo o nome do disco. já arrasta fãs. João Bonifácio

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 7 vestidas de tops e alcinhas e saltos Indo ao disco: Diogo Clemente, Neste disco, não. Achei que era altos e a minha mãe enfiou-me umas produtor, é um miúdo novo, importante mostrar aquilo que gosto sabrinas, uns collants e uma saia de não é? mesmo de fazer e que as pessoas me flanela e eu bati com os pés e fiz uma É, tem menos um ano que eu. Mas dizem que sei fazer. Agora, não me PINTO ISABEL birra. Já queria ir de lantejoulas para já tem imenso currículo. É uma pes- sinto presa a nenhum tradiciona- cima do palco. Ainda bem que a soa que vive no fado desde sempre: lismo, a nenhuma forma musical. minha mãe teve bom senso. nas casas de fado, nas colectivida- Disse: “Aquilo que as pessoas Na adolescência passava muito des. É daqueles que desde peque- me dizem que eu sei fazer”. tempo no restaurante dos seus nino já pegava na guitarra esponta- Quem são as pessoas cujo pais? neamente. O pai dele começou a conselho é importante? Tinha aulas de manhã e depois à tocar guitarra ao mesmo tempo que Os meus pais, os meus amigos - tarde gostava de ir com a minha mãe o filho porque o Diogo queria muito mesmo os que não têm nada a ver dar as voltas, comprar as velas, aque- tocar. Os pais puseram-no no Con- com o fado e não gostam de fado - e las coisas de quem gere. Ia ao Embu- servatório muito cedo: chegou ao as minhas referências, como a Bea- çado naquela altura em que os exame para ver se entrava e só sabia triz da Conceição, o Camané, o Car- empregados estavam a jantar, às seis tocar fados. E entrou. Aos quinze Havia uns los do Carmo, mesmo pessoas da da tarde, sete. Eles estavam sempre anos já tinha sido convidado para minha idade como o Ricardo Ribeiro a empanturrar-me com petiscos. Se tocar no Faia a ganhar dinheiro. Os coleguinhas e o Diogo. Tudo pessoas que me cri- calhar foi daí que veio o meu gosto pais é que fizeram questão que ele ticam de forma que eu agradeço. por comer. Em miúda tinha de comer acabasse o liceu. A Beatriz da Conceição ainda às escondidas da minha mãe. Às Acabou um curso, também. que gozavam cantou no Embuçado. vezes tinha de cantar e não conse- Sim, de Marketing e Publicidade. Durante muitos anos. Por isso é que guia. Estava tão cheia que não saía Como é que conciliou? Também ainda é a minha referência. Não só nada. Então a minha mãe mandava- já canta profissionalmente há comigo por por cantar como canta, mas por inte- me fazer becos. Junto ao Embuçado anos. ragir comigo, por me contar histó- há um beco e a minha mãe mandava- O canto adaptou-se sempre aos estu- eu cantar rias, por me criticar, por me ensi- me correr para cima e para baixo dos. Eu estudava, depois se podia nar. para moer o jantar. cantava. Tinha aulas de noite, no Neste disco opta muito por Nunca teve uma paixoneta IADE. fado. Não sei poetas clássicos do fado... pelos fadistas ou pelos E como é que conheceu o É importante recuperar. Acho que guitarristas? Diogo? se aquilo era há coisas antigas, lindas, que podem Não, nada. Quando fui cantar para a Mesa de ser actuais com novas roupagens e No liceu achava que a sua vida Frades. Ele tinha ido tocar para lá que podem ser apresentadas a pes- era diferente das dos outros há pouco tempo. Desde aí tocamos gozar, mas eu soas novas, que de outra forma miúdos? e cantamos juntos há quatro anos. nunca teriam acesso a elas. Sim. Uma vez perguntaram-me se eu Foi falando com ele ao longo E como é que as suas palavras tinha passado alguma fase de nega- dos anos acerca do que seria o sentia como competem nesse universo? Usa ção em relação ao fado. Nunca che- disco? dois poemas seus. guei a ter negação, mas escondia-o. Sim. Isto começou pouco tempo gozo. Às vezes Foi um atrevimento. Mostrei estes Tinha vergonha, escondia-o dos antes do disco se começar efectiva- poemas ao Diogo, mas não tinha meus colegas. Havia uns coleguinhas mente a fazer. Mas eu já sabia o que nada a ver com o disco. Era mais: que gozavam comigo por eu cantar queria: um disco que mostrasse a pediam-me “Olha, estou a escrever, que achas?”. fado. Não sei se aquilo era gozar, mas minha vida até ao dia de hoje ou até Ele escreve, é sensível às palavras. eu sentia como gozo. Às vezes ao dia de hoje daqui a uma hora. para cantar Gostou e depois sugeriu pôr esses pediam-me para cantar - eu fazia um Mas é uma garota de 24 anos... poemas no disco. Fiquei um bocado esforço para que isso não aconte- Não é muito e na experiência de fado incomodada com isso, por isso com- cesse, mas cheguei a ter de cantar menos ainda. Mas o que que queria - eu fazia um binámos olhar para cada poema e em aulas e em festas de anos. era pegar nos fados que sempre can- para cada tema sem autores. Não Quando estava a crescer, tinha tei desde pequena e que para mim fazer a obra sofrer por causa do orgulho da sua mãe ser fadista? cresceram comigo, que olho de esforço para obreiro nem vice-versa. E se os poe- Tinha. Lembro-me quando ainda maneira diferente porque tenho mas não estivessem à altura dos morava no Algarve e a minha mãe outro olhar. Também queria cantar que isso não outros iam embora. Apresentámos gravou um disco: fiquei de boca alguns fados que antes nunca tinha os poemas a pessoas que não faziam aberta quando ela deu uma entre- cantado. ideia de quem eram os autores e vista para um jornal e saiu uma foto- Acaba por fazer o disco de acontecesse, fizemo-los escolher 13 ou 14. Para grafia dela. Achei que a minha mãe forma familiar, com as pessoas experimentar. E pronto, acabaram era uma estrela mundial, que toda a que conhece. mas cheguei a por ficar. Claro que fez diferença gente a conhecia. Para mim essa foi a opção óbvia, por- serem escritos por mim, mas se fos- Gosta dos Queen, não é? que quando pensava fazer as coisas sem destoar do resto do disco tinham Adoro os Queen. Chorei baba e de outra forma não me ocorria nada. ter de cantar ficado de fora. Agora, em toda a ranho quando o Freddie Mercury Se calhar um produtor mais expe- forma de arte o que é bom fica e o morreu. Tinha sete anos e enfiei-me riente e mais velho já teria um cariz que não é bom acaba por se diluir dentro de um carro, no lugar do muito próprio. E eu queria só retra- em aulas e em no tempo. morto, e chorei baba e ranho. Tive tar. E quem melhor do que o Diogo, Há quanto tempo é que andava a sensação de uma imensa perda. que conhece a minha evolução, para festas de anos a escrever e a quem é que Porque eu ouvia imenso, sozinha, retratar o que faço? Conhece a minha mostrava? com essa idade. Pegava nos discos e voz melhor que eu. Também queria Desde que dei a volta ao mundo. Não ouvia por livre e espontânea von- transmitir a ideia de que o fado é um mostrava a muita gente. tade: Queen, Simon and Garfunkel, encontro de talentos mas também Foi viajar só ou fazer trabalho REM, Adamo. Até fundei um grupo de conhecimentos. E isso acontece: humanitário? de dança na minha escola: gravava chegamos a uma casa de fados onde As duas coisas. Fui à Índia, à China, as músicas para um leitor de cassetes nunca entrámos e podemos cantar Malásia, Singapura, Vietname, Laos, e depois reunia umas amiguetas e os nossos fados à vontade, porque Cambodja, Timor, Austrália, Nova fazíamos umas coreografias. Isto na todos sabem e todos podem tocar Zelândia, Ilha de Páscoa, Peru, Bolí- terceira classe. Só que depois para nós. E isso é fascinante. via, Chile, Argentina, Uruguai, Bra- houve uma que era muito Sendo nova gosta de fado sil. melhor que eu e expul- clássico. Não há violoncelos ou Isso num ano? sou-me do grupo. pianos. Sim.

“Ela tem o dom de ir buscar o

8 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 A aristocrata popular O que é que eles, os fãs, vêm? Uma estranha mistura de seda com vísceras.

“Ela tem o dom de ir buscar o passado e trazê-lo para Há meses, aquando o futuro”. Não podia haver das comemorações melhor elogiador: a frase é de Camané, fadista de eleição e, dos seus 45 anos de mais importante ainda, supremo conhecedor da história do fado. carreira, Carmo Foi Camané quem nos falou primeiro de Carminho, estava dizia-nos que ela ela a dar os primeiros passos na casa de fados Mesa de Frades, há vinha “de uma dois anos. Foi o primeiro de uma linhagem lista de fãs que engloba Carlos do Carmo, Tiago Bettencourt e aristocrática do o cineasta João Botelho, todos, entre outros, habituais clientes fado”, que lhe das noites de segunda e quarta na Mesa de Frades. O que é que lembrava Maria eles vêm nela? Uma estranha mistura de seda com vísceras. Teresa de Noronha “Ela consegue misturar o fado aristocrático com o popular”, cineasta João Botelho descobriu- diz-nos Camané, e Carlos do a há uns meses e desde então Carmo não podia estar mais de vai à Mesa de Frades “todas acordo. Há meses, aquando das as segundas e quartas-feiras”, comemorações dos seus 45 anos ou seja, aos dias em que ela de carreira, Carmo dizia-nos canta. “Carminho é uma menina - ainda Carminho não estava a com características sociais gravar o disco - que ela vinha elevadas” mas que “canta com “de uma linhagem aristocrática as vísceras”. Cá está, de novo: do fado”, que lhe lembrava aristocracia (“na atitude”, como Maria Teresa de Noronha. Isto diz Camané) e povo de mãos não quer dizer que Carminho dadas. A paixão de Botelho tenha sangue azul (não tem). vai ao ponto de ter acabado de É um elogio, que Carlos não só realizar para ela quatro vídeos, mantém como explica através de sendo o primeiro de “O teu nome uma espécie de hagiografi a do no vento”. Conhecedor da voz novo fado feminino. de Carminho sem os polimentos “A nova geração de fadistas de estúdio, Botelho recusou trouxe muitas mulheres, mas usar nos vídeos as versões do esse espaço, grosso modo, é o disco, preferindo antes que do fado burguês, o que não tem ela cantasse de novo, “com problema nenhum”, caracteriza som directo, com respirações, o autor de “Um Homem na soluços, pequenos enganos”, Cidade”. No fado, se retiramos porque, diz, do que gosta mesmo a burguesia, fi cam “a tradição e é “daquela coisa dura” que ouve a aristocracia, que nunca teve quando está na Mesa de Frades. problemas de relacionamento Depois resume tudo de forma com o povo, ao contrário da muito simples: “Ela tem umas burguesia”. Carminho, diz, cordas vocais incríveis. E é uma “tem um ídolo de eleição que é menina, o que é engraçado”. a Beatriz da Conceição, que é completamente povo”. E a partir dessa fonte ela estabeleceu uma ligação única, “e ocupa agora esse espaço entre o popular e o aristocrático”. Camané diz que sim: Carminho “tem muito de Maria Teresa de Noronha” e “tem muito de Beatriz da Conceição”, no que será talvez a mais improvável genealogia de uma fadista em muitos anos. Carminho não arrasta fãs Carlos do Carmo integra, com apenas entre os fadistas: o João Botelho ou Camané, a lista de fãs de Carminho

Camané r o passado e trazê-lo para o futuro” Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 9 E onde é que fez trabalho nos e vemos que cada pessoa pensa sabia o que tinha para dar, por isso chover elogios isso não foi uma humanitário? que está sozinha e está sozinha. não podia dar nada. Tive de ir viajar pressão adicional? Índia, Cambodja, Timor e Peru. Em que sítios ficava? para saber o que podia dar. Agora as Os elogios são uma arma contra nós Quanto tempo é que ficou Pensões. Ou enfiava o saco-cama pessoas podem gostar ou não gostar quando não nos conhecemos. As nesses quatro países? num lado qualquer. do disco, mas eu gosto muito dele e pessoas dizem-nos as coisas e das Seis meses. O que é que a levou a escrever? não duvido por um segundo daquilo duas uma: ou somos muito pouco E o que é que lhe deu Algum desespero perante o que que está dentro deste disco. confiantes e não acreditamos em para ir? via? Quando voltou já era para fazer nada do que nos dizem ou somos uns Não queria ser “marketeer”, não Não. Foi uma causa da contempla- o disco? deslumbrados e acreditamos em sabia o que queria fazer. Estava ção. Um dos países onde escrevi Sim, já tinha a sensação plena que tudo o que nos dizem. Claro que é quase a acabar o curso e precisava muito foi em Timor. Estive um mês estava preparada. Tinha dito quer ia importante ter a aprovação dos de me conhecer melhor e de relati- e meio numa comunidade que dava estar um ano fora e muita gente me outros mas acho que os meus pais vizar-me em relação ao mundo, para apoio às pessoas mais pobres e que dizia: “Olha que o comboio só passa foram fantásticos nisso: sempre tive- Os elogios dar às coisas a importância que as dava formação aos jovens, coisas uma vez” ou “É a última vez que vais ram uma grande necessidade de me coisas têm. Sou muito dramática e básicas, da higiene à costura. Fazía- ter esta oportunidade de cantar”. situar. às vezes perco-me nas personagens. mos imensas viagens de carrinha, de Mas eu não tinha coragem para o Parece ter sido protegida. são uma É importante sabermos quem somos, caixa aberta, para ir às aldeias. E fazer na altura. Sim. Quando comecei a ir aos fados sabermos em que país vivemos, qual assisti a momentos únicos de beleza. Carlos do Carmo diz que faz com os meus pais, só conhecia o a relação de Portugal com os outros O que me fez escrever foi contem- parte de uma linhagem no fado Embuçado. Não conhecia o meio do arma contra países, quais as prioridades. Percebi plar a beleza. Um mar imenso, pai- que começa em Maria Teresa de fado. Fui muito protegida, mas essa que Portugal é um país mínimo, um sagens lindas, um pôr do sol brutal, Noronha. Isso faz sentido para protecção não me prejudicou. Eles nós quando país onde as pessoas são pequeni- pessoas ao meu lado a rir. Quanto si? não me escondiam o que existia, nas, com pouco mundo. Mas ao mais simples é a envolvente mais Ouvi muito a Maria Teresa de Noro- apenas tentaram encaminhar-me mesmo tempo é o país onde quero vontade tenho de escrever. nha e gosto muito dela... Identifico- para aquilo que eles acharam que não nos viver. A viagem não foi também uma me com ela como me identifico com era mais seguro e melhor para O que é que a impressionou espécie de fuga do destino a Beatriz da Conceição ou com a mim. conhecemos. mais? fadista? Amália. Em coisas diferentes. Agora é uma esperança do fado. A pobreza e a miséria. E, claro, a Não... Isso só a um nível superficial. Chegou a conhecer a Amália? E depois? grandeza do mundo. Chegamos à Se eu quisesse dizer mesmo “Não, Cheguei. Uma vez só. Não tenho medo, sabe? Agora estou As pessoas Índia e pensamos: “Foi o meu Deus não quero” eu dizia. Ela ouviu-a cantar? a viver isto e a gozar isto. Se eu come- que criou isto. Ele conhece estas pes- Na altura já havia muita gente Ouviu, nesse dia. çar a preocupar-me com o que vem soas”. A Índia e a China mexeram a dizer que estava na altura de E pô-la ao colo e disse “Que aí não gozo o que estou a viver agora. dizem-nos as comigo. A China é um país impres- gravar o disco. linda menina”? As coisas foram sempre aconte- sionante. De fora parece um exército Eu não fugi. Adiei. Sabia que não ia Não. Ela não gostava de ouvir crian- cendo. Há-de vir aí qualquer coisa. coisas e das de formigas a trabalhar para o gravar o disco antes de fazer a via- ças a cantar. mesmo fim e depois aproximamos- gem... Não estava preparada. Não Na altura em que começaram a Ver crítica de discos págs. 42 e segs duas uma: ou somos

DANIEL ROCHA DANIEL muito pouco confi antes e não acreditamos em nada do que nos dizem ou somos uns deslumbrados e acreditamos em tudo o que nos dizem

João Botelho “Ela canta com as vísceras” 10 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 [email protected] Tel /Fax 253424700/710 4810 431Guimarães Av. D. Afonso Henriques, 701 Centro Cultural Vila Flor Endereço

mmm$YYl\$fj É mediterrânico, ibérico, com vista para o Atlântico, cruzando viagens pelo deserto africano, evocando bair- ros latinos nos Estados Unidos. Mas MARICOVILELAS “Guitarra 66” é essencialmente Tó Trips e a sua guitarra, ondulando por emoções dedicadas a uma mulher, Raquel Castro. É o seu primeiro álbum a solo e, na forma despretensiosa como se insinua, revela-se objecto surpreendente. Algumas das sombras que expõe já se descobriam noutros projectos pelo qual dá a cara, nomeadamente os Dead Combo e, mais recentemente, numa aventura com Tiago Gomes à volta de textos de Jack Kerouac. Mas ainda assim é outra coisa, temas ins- trumentais poéticos mas escorreitos, enxutos, mostrando alguém que pas- sou por colectivos rock eléctricos (dos Santa Maria Gasolina em Teu Ventre aos Lulu Blind) mas que se descobre por inteiro nos acordes de uma sim- ples guitarra acústica.

No contexto dos seus projectos qual o lugar deste álbum? Nunca me passou pela cabeça lançar discos em nome próprio. Sempre gos- tei de tocar em grupo. Como gravo quase todos os dias, tinha necessidade de por cá fora estas coisas. Os temas foram registados ao longo dos últimos anos? Sim, embora estivessem inacabados. Ao longo do tempo houve um pro- cesso de descoberta de cada um deles, em que fui acrescentando sempre coi- sas. A selecção natural acabou por surgir no interior desse processo de revelação. Depois, durante uma semana, em Esmoriz, terminei os que estavam inacabados. Nos Dead Combo, ou no projecto com Tiago Gomes à volta de textos do Jack Kerouac, está sempre implícita a ideia de viagem. Neste também. Mas é uma jornada introspectiva. Sim, é um disco muito mais pessoal. Desde puto que gosto da linha do hori- zonte. Olhar, ver, pesquisar. Gosto de planos abertos, de paisagens a perder de vista. Há dois anos fui pela primeira vez a Marrocos e confrontei-me com isso. O Alentejo puxa também por essa dimensão. É uma região que aprecio muito. Adoro também o mar. Quando estava lixado com a vida ia à praia ape- nas para olhar a linha do horizonte. Como se fosse uma linha de espe- rança. Depois daquela linha sabemos que estão outras gentes e essa ideia tem qualquer coisa de reconfortante. A praia é dos pouco sítios onde con- sigo estar sem fazer nada. Passo horas Música a olhar para o mar sem fazer nada. Só, ali. Equilibra-me, talvez. O céu tem também essa dimensão de infinitude. Sim. Adoro ver os aviões a fazer riscas no céu. Às vezes pergunto-me: “Aaquele pessoal irá para onde?”... [risos]. Existe um lado romântico nisto, claro. Há um filme que já vi para aí vinte e tal vezes, “A Revolta na Bounty”, que tem esse lado ideali- zado, presente na relação com o mar, na relação entre as personagens. Este é um disco que viaja por várias latitudes - África, Espanha, EUA - mas ao mesmo tempo parece não sair daqui.

Viagem ao interior da guitarra de Tó São temas instrumentais, mas é um álbum que passa o tempo a dialogar connosco. Em “Guitarra 6 à descoberta do Mediterrâneo, do Atlântico, de Portugal, de uma mulher. E encontra-se c

12 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 “Nunca me passou aos aspectos puramente sonoros. Como é que viajam? Com tudo pela cabeça lançar preparado previamente? Não. Marcamos um sítio, mas não discos em nome temos uma agenda para cumprir. Depende muito. Recordo-me de uma próprio. Sempre viagem ao País Basco em que arran- cámos sem nada arranjado. gostei de bandas, A fotografia da capa do disco foi de tocar em grupo” tirada onde? No Cairo. É uma pensão, com terraço. É de um egípcio casado com uma fran- Gosto de me sentir português. Temos cesa. Dentro do CD estão fotos de S. coisas tão porreiras. No mundo glo- Tomé, Nova Iorque, Marrocos. É o balizado, é bom sentir que podemos nosso imaginário romantizado. Conhe- transportar qualquer coisa de nosso. cemo-nos em Lisboa, mas pouco Mas também me revejo em Espanha, tempo depois fomos a S. Tomé e Nova no flamenco, naquele lado cigano. Iorque e deu para perceber que nos Hoje em dia irrita-me um pouco a cena entendíamos. Acabamos por nos des- do fado. Todos os dias nascem fadis- cobrir também em viagem. tas. No outro dia vi uma espanhola a Em alguns temas pressente-se cantar fado em castelhano e soou-me a influência de Carlos Paredes bem. Pensei: “Porque não?” que é alguém que, para além de O flamenco é, aparentemente, Ricardo Rocha ou de Norberto mais físico que o fado. Lobo, não criou descendência. Tenho apetite por essa dimensão Como é sua relação com a física. Pode ser apenas um tipo a tocar música dele? piano, mas gosto de perceber essa Sempre gostei do Carlos Paredes. Tem extensão nele. um tempo a tocar muito próprio, de Tem alguma nostalgia dos tal forma que era preciso alguém espe- concertos rock? cial para o acompanhar. O som dele Tenho. É outro tipo de abordagem. É passa muito pelo espaço. Ouve-se o uma coisa mais virada para fora, para mar nele. Há um tema neste disco, o exterior. Tem qualquer coisa de “Esmoriz”, onde gostava que se explosão, de purificador. Até aos Dead ouvisse também o mar. Gosto dos Combo a música para mim era des- temas que têm essa capacidade de carga, energia. Isso mudou. Este disco sugestionar. De criar ambiente. De é uma coisa contida. propor imagens, talvez. Na banda rock há também o lado O título do disco é também uma do grupo, da camaradagem. Este remissão ao ano em que nasceu. é um disco solitário. Por alguma razão? Tem piada porque, no passado, Não. É uma mistura de “Route 66” expressava-me no plural quando que- com o meu ano de nascimento. Gosto ria falar de mim. Utilizava a expressão da malta que nasceu nesse ano... “a malta” ou “o pessoal” quando, no [risos]. O [actor] Miguel Borges ou a fundo, queria dizer “eu”. O rock tem [coreógrafa] Vera Mantero, amigos, muito isso, o grupo, a malta. são também de 66. Não sou de signos, Mesmo a falar com pessoas com mas gosto dessas imagens. quem vivi utilizava a expressão “a No seu passado rock malta” para falar de mim. Às vezes identificavam-no com o punk. perguntavam-me: mas quem é “a Se o punk é a exposição malta”? Respondia: “Sou eu.” sem simulacros, este é O estar em grupo dava-lhe uma provavelmente o seu álbum sensação de segurança? mais punk. Sim. A partilha da responsabilidade. Hoje ligo muito mais à técnica, mas é Mesmo nas fotos de grupo já sabia verdade que na música sempre me como me posicionar, qual a postura a interessou mais a atitude e a persona- adoptar. Como se soubesse que ima- lidade. Se herdei alguma coisa do gem projectar. Acontece isso com os punk, foi essa vontade de ir para a Dead Combo também. Só é diferente. frente com as coisas, independente- Estou mais desprotegido. mente de ser ou não um dotado. Ter Podia ter criado uma consciência dos seus limites e passar personagem para este disco. alguma coisa às pessoas pode ser um Não. Foi a primeira vez que utilizei objectivo muito saudável. Este disco fotos naturalistas, normalmente tenho foi também um bocado purga, porque a tentação de mexer nas imagens. sempre fiz as coisas em colectivo. Mas nesse movimento solitário, Há umas semanas, num debate, pressente-se que este é um disco afirmou que nunca havia ganho que evidencia alguém que se dinheiro com a música, é mesmo reencontrou. Vamos arriscar: verdade? alguém mais feliz. Exagerei um pouco, claro. Ganho, mas É verdade [risos]. Sou um gajo feliz. não é significativo. Não consigo viver É também o disco para a sua só disso. Mas gosto de estar relacio- mulher. nado com a música de todas as for- Sim. Tenho a certeza que a encontrei. mas. De fazer posters. De trabalhar Essa mulher. imagens para outros músicos. Gosto Este disco é também muito ela? tanto de ir a concertos como de É. Aprendo muito com ela. É alguém tocar. que também gosta muito de viajar e, Já percebeu porque é que faz a nível musical, possui uma grande música? curiosidade - muito mais até do que Faz-me muito bem à saúde! É inteira- eu - em procurar coisas novas. Com mente verdade. ela descobri música a que antes não ligava nenhuma e aprendi a ligar mais Ver crítica de discos pág. 42 e segs. Trips a 66” Tó Trips, dos Dead Combo, parte e consigo próprio. Vítor Belanciano

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 13 Xeg está debruçado sobre um monte de singles, estrategicamente colocado

RITA CARMO RITA ao lado do gira-discos. Mostra-nos a capa de um, retira o vinil, passa a música, mostra-nos a parte “samplá- vel”, põe-no de lado. Aproxima-se do armário encostado à parede, também repleto de vinil, agora em formato LP. Mais preciosidades. Procura um em especial, o de Nilton César, figura da O pessoal em música brasileira dos anos 1970. Aí está. O bom do Nilton na capa, elegân- Portugal nunca cia de gola bem aberta, típica do romântico da época. A música soa novamente. Orquestrações opulentas, ouve o funk. o baixo concentrado no funk e aquele calor orgânico em que a década de A geração 1970, brasileira e não só, era fértil. “’De volta à actividade’ até foi dos anterior à últimos sons que fiz, mas pelo con- ceito, pelo refrão e pelo título, queria mesmo que fosse o primeiro tema”. minha ouvia Compreende-se. Estamos em casa de Xeg, numa pacata zona residencial heavy-metal de Porto Salvo, no concelho de Oei- ras. Conversamos no seu centro de e passou logo operações, o escritório-estúdio de um homem que nos dirá “gostar de para o hip hop. fazer as coisas sozinho”. É aí, micro- fone a um canto e preparado para ser usado, vinil espalhado em abundân- A festa nunca foi cia, prato montado e usado com pro- priedade, que o MC nos fala da pri- bem vista meira canção de “Outros Tempos”, o seu novo álbum. É o primeiro desde os “Instrumentais Vol. 1” que editou em 2004 e o sucessor de “Conheci- mento”, de 2002. “De volta à activi- dade”, o título, não podia portanto ser mais certeiro. Entrada épica da orquestração, o piano a anunciar-se, o ritmo reque- brado. Ei-lo: “Eu faço a propagação / Propago a programação / E programo para este ano a minha proclamação”. “Esta já sabia que tinha de ser a pri- meira”, acentua Xeg. Entusiasma-se: “Tinha aquele ‘beat’. É Nilton César. O Nilton é o meu ‘nigga’. Fez mesmo cenas para um gajo samplar”. Xeg sabe-o bem. “Conhecimento” pode ter sido editado há sete anos, mas ele não nunca esteve parado. Mostra-nos no computador o material que foi acu- mulando - produções preparadas para lançar quando julgar apropriado. E sabemos, olhando para a sua disco-

grafia, das participações nos últimos Música Os novos tempos do velho Xeg “Outros Tempos” e é obra inspirada de um MC da velha guarda, um criador de olhar abrangente. Mário Lopes

14 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 anos em álbuns de NBC, Kacetado, americanos, [dizendo] que os ‘beats’ muda tão rápido que é difícil mantê- por isso, compreendemos perfeita- MatoZoo ou Regula. No preciso parecem mesmo Dr. Dre ou algo do los actualizados. O Bush já foi e agora mente que, numa altura em o hip hop momento em que o entrevistámos, género. Se digo que não tenho estilo não podes falar da América [nos mes- se desdobra nos mais diversos forma- tinha “Outros Tempos” a chegar às é por isso. O meu estilo é o hip hop e mos termos], porque temos a cena tos, assuma sem rodeios a preferência lojas (foi editado segunda-feira, dia 25 posso brincar com o que quiser. Não da nova esperança com o Obama”. pela sua estrutura clássica: o MC e o de Maio) e dois projectos em mãos. tenho que ser interventivo por ser Isto conduz-nos a outro pormenor, DJ. Dispara: “Agora tens que ter banda Um álbum de electro, onde quer essa a imagem que as pessoas têm do algo que está evidente no cuidado para te convidarem para os concertos, explorar a vertente mais física, mais hip hop”. Isto é importante. Porque posto por Xeg em cada um dos temas mas o hip hop não tem banda”. sensual desse som - material dançável a intervenção está presente em do novo álbum, na criação de música Repare-se, não há aqui fundamenta- para o qual falta ainda descobrir a voz “Outros Tempos” - “Como é que eles onde sobressai o calor dos ritmos e lismo e Xeg até reconhece que, em feminina que dê personalidade defi- querem?”, por exemplo, é um retrato das produções. Confessa: “Acho que, alguns contextos - pensa em festivais, nitiva à música. Quanto ao outro pro- do país em crise -, mas é apenas uma em Portugal, faz falta esse lado mais por exemplo -, “o espectáculo fica a jecto, é a razão pela qual tem um das suas componentes. Xeg quer lúdico”. E explica: “o pessoal em Por- ganhar”. Até confessa que pensou em monte de singles brasileiros das déca- música que sobreviva. Enche os tugal nunca ouve o funk. A geração reunir um grupo para promover o das de 1960 e 1970, dos obscuros a cadernos de rimas, guardando as anterior à minha ouvia heavy-metal novo álbum. Infrutífero. “A coisa dos Roberto Carlos, dos românticos à palavras certas, e procura beats que e passou logo para o hip hop. A festa, ensaios, o músico que afinal não pode jovem guarda, empilhados ao lado do não sejam simplesmente “os que a diversão, nunca foi muito bem vista. vir... Faz-me muita confusão. Estou gira-discos: um álbum de instrumen- estão a bater agora” - porque esses A herança que fica é a dos anos 1990, habituado a fazer as minhas cenas tais está a começar a ser preparado e são esquecidos rapidamente. do ‘keep it real’ e do ‘real nigga’”. sozinho. Tenho o DJ que toca comigo ele tem perfeitamente definida a fonte “’Outros Tempos”, diz-nos, pode Ele, que sempre viveu imerso na ao vivo e é assim que vai”. para as suas produções. referir-se a tudo o que mudou desde cultura hip hop - “tirando rap, só tive Naquilo que considera basilar, Xeg que o ouvimos em álbum pela última uma cassete dos Iron Maiden, o ‘Fear é um purista. Felizmente, dizemos Velha guarda vez, mas é também uma forma de Of The Dark’” -, passou pelo break nós. Porque, depois, revela um olhar Xeg é um MC da velha guarda. Xeg é dizer que aquilo que pretende é pai- dance em finais da década de 1980 e abrangente, lúdico ou de rosto sério, um tipo convicto. Com 31 anos e per- rar sobre a actualidade: “Não diria apanhou os Technotronic ou MC Ham- de sabor vintage ou apontado à actu- curso sólido no underground portu- que é um álbum intemporal, diria mer, antes de chegar aos Public Enemy alidade, que se manifesta, certeiro, guês, segue o seu ritmo. Fala quando que é um álbum sem tempo”. Por e Gang Starr e alargar definitivamente neste inspirado regresso a que cha- tem que falar, fala apenas e só daquilo exemplo: “Alguns dos sons que fica- os horizontes. É isso, a total imersão mou “Outros Tempos”. que lhe interessa falar: “Muita gente ram de fora tinham um cariz mais nessa cultura e o conhecimento pro- no hip hop cataloga-te em relação aos político, só que actualmente tudo fundo da sua história, que o define. E, Ver crítica de discos págs. 42 e segs.

“Outros Tempos”, o novo álbum, é o primeiro desde os “Instru- mentais Vol. 1” que editou em 2004 e o sucessor de “Conhe- cimento”, de 2002

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 15 “Oh I’m so bored”, repetida uma, Ele o seu interesse no surf-rock dos dido há uma década e que, por isso, “Daqui a dois anos, Não será rápido demais? Para duas, três vezes. “I’m so bored”: grito Ventures e no garage rock de 60. Ele, se multiplica numa série de edições, quem, num repente, passou do MyS- primordial do rock’n’roll. Grito contra o seu aborrecimento e a transforma- nos mais diversos formatos. O seu o mais provável é que pace para o burburinho under- o insuportável aborrecimento dos dias, ção desse vazio em grito empolgante álbum de estreia conheceu primeira ground, para quem saltou daí para uns atrás dos outros, uns iguais aos - uma guitarra, uma bateria, um sin- edição em cassete e Nathan lançou as pessoas se artigos no “New York Times” ou na outros. É isso que nos diziam os Stoo- tetizador: música intuitiva, um “do it uma série de 7” antes de assinar pela “Interview”, não, não é rápido ges, entediados com a vidinha num yourself” ruidoso que ouvimos como Fat Possum, onde editou o último esqueçam de mim. demais. Para o bem e para o mal, é a subúrbio anódino de Detroit. Era o que reverso “no future” dos radiosos “Wavvves”. velocidade a que tudo se move actu- dizia Kurt Cobain naquele “here we Beach Boys, música que exclama “no Esta é música que se movimenta ao Tudo ok. Nunca fiz almente. “Vivemos na era da internet are now, entertain us” transmitido nos hope” enquanto lança uma piada ritmo da actualidade. Canções de ares- isto para que se e a forma como as pessoas ouvem e anos 1990, vezes sem conta, no comité sobre góticos na Califórnia e, nesse tas expostas, rápidas e rugosas, mas fazem música é diferente do que era central do entretenimento juvenil a movimento, há-de inspirar vinte miú- onde se procura sempre a luminosi- soubesse que existia” quando o Kurt Cobain ou as Breeders que chamavam MTV. “I’m so bored” dos a pegar em guitarras ou baterias, dade de uma melodia contagiante - e andavam por aí. O tempo de vida de repetida uma, duas, três vezes. Eis o a pegar no que quer que seja e formar ele diz-nos que os Beach Boys têm Nathan Williams um músico tornou-se mais curto. As que ouvimos em “So bored”, canção uma banda. aquele “je ne sais quoi” soalheiro, e pessoas perdem o interesse e, em vez que Nathan Williams, habitante de San Nathan Williams atende-nos o tele- acrescenta que o “Goo” dos Sonic de quererem ouvir um novo bom Diego a caminho dos 23 anos de idade, fone em San Diego, quarenta minutos Youth e o “Cannonball” dos Breeders álbum dos Wavves, querem ouvir o gravou num estúdio caseiro. após a hora marcada. Pede desculpa já são tão antigos que podem ser recu- incrível novo álbum dos, imagine- Williams é os Wavves, banda de pelo atraso. Do outro lado da linha é perados sem constrangimentos. Isto, mos, Billie Jean Loveburst”. Nada de melodias pop e ruído garageiro que uma da tarde e ele acabou de sair do enquanto faz questão de acentuar que preocupante: “Daqui a dois anos, o se vem tornando o “buzz” under- banho: “É por esta hora que desperto os Animal Collective têm uma influên- mais provável é que as pessoas se ground de 2009. A Nathan juntou-se e começo a pôr as coisas a andar para cia incrível na música da actualidade esqueçam de mim. Tudo ok. Nunca entretanto o baterista RW Ulsh e, jun- o resto do dia.” Pouco depois, ele que - lembramo-nos dos pequenos peda- fiz isto para que se soubesse que exis- tos, tocam esta noite na ZDB, em Lis- afirma que a sua música revela, acima ços de electrónica cósmica que pon- tia. No início, nem sequer pensei em boa. Do cartaz fazem também parte de tudo, a forma como é afectado por tuam os seus álbuns. este Nathan Williams que, há um ano, mostrar estas canções a ninguém. a pop fantasmagórica de John Maus aquilo que o rodeia, está a falar-nos de Acima de tudo, a música dos Wavves era um miúdo de 21 anos, incógnito Isto aconteceu-me e, agora, estou a e os Youthless. Dois dias depois, a 1 San Diego. Nós pensamos em surfistas é tremendamente transparente. É o em San Diego, a gravar canções em caminhar segundo os impulsos”. de Junho, os Wavves sobem a norte, e velhos hippies num retiro tardio e retrato de um dia a dia e de um estado casa dos pais, ele diz-nos que tudo O primeiro impulso, esse que resul- actuando no Porto Rio com os ALTO!, ele corrige-nos: “San Diego é uma de espírito, atravessado por uma mudou. Agora que percorre os EUA tou na música de “Wavves”, o pri- representantes de uma entusias- cidade republicana com uma grande urgência irreprimível: sentimo-la nos em digressão - os concertos em Por- meiro álbum, e em “Wavvves”, o mante fornada rock’n’roll com epi- base militar, por isso está cheia de idio- seus relatos de alienação adolescente, tugal fazem parte da sua primeira segundo, parece desmenti-lo. Até centro em Barcelos. tas musculados que pensam ter muita essa que tanto sobressai nas capas com incursão europeia -, San Diego já não pode ser que o tenhamos esquecido piada e que se comportam como tal. miúdos skaters das décadas de 1970 o aborrece tanto: “Quando volto, é quando for um veterano de 25 anos, Ao ritmo da actualidade Mas, no que diz respeito à cidade ela e 1980, quanto no humor posto nos como estar de férias. Fico em casa a mas duvidamos que assim seja. Esta Há apenas um ano, tudo isto soaria mesma e à paisagem, é bonita e soa- seus “Summer goths” ou nos “No hope gravar e tenho a liberdade de me música, que só podia ter nascido hoje, estranho a Williams. Tinha abando- lheira”. Aquela é então a cidade dos kids” que não têm carro, nem dinheiro, exprimir em roupa interior e sem t- carrega consigo algo de intemporal. nado a faculdade e o emprego numa Wavves, não a sua música. nem namorada, que não têm nada, shirt”. A sua música está também a Em 2011, decerto estaremos aborre- loja de discos. Voltara a casa dos pais Nela, ouve-se alguém que capta um mesmo nada. Essa urgência é aquilo mudar: “Tudo é intuição, espoletado cidos o suficiente para que continue e nem a banda que tinha na altura, sentimento de alienação intemporal, que torna esta música inescapável - por um som de bateria ou uma linha a fazer todo o sentido. os Fantastic Magic, lhe parecia inte- mas que o reflecte de uma forma que porque joga com memórias musicais, rítmica. Tenho trabalhado mais a elec- ressante. Sobrava ele. Ele e o seu fas- só agora seria possível. Alguém que mas trabalha-as para criar algo que é trónica e, como a minha vida mudou Ver crítica de discos págs. 42 e segs e cínio pela música dos anos 1990 de diz que já não faz sentido seguir um visceralmente do presente. bastante, o conteúdo das canções agenda de espectáculos, págs. 45 e Breeders, Nirvana ou Sonic Youth. percurso musical tal como era enten- No momento em que falamos com mudou substancialmente”. segs E do tédio os Wavves fi zeram luz Música Há um ano, Nathan Williams voltara a casa dos pais e só via tédio à sua volta. Sobrava ele. Ele, o seu aborrecimento e a transformação desse vazio em grito empolgante. Nasciam os Wavves, reverso “no future” dos radiosos Beach Boys. Tocam hoje na Zé dos Bois, dia 1 de Junho no Porto-Rio. Mário Lopes

16 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 O “D. Giovanni”, de Mozart, último título da presente temporada lírica do Teatro Nacional de São Carlos, é o ter- ceiro desafio da actriz e encenadora

Maria Emília Correira na ópera. TNSC ALFREDO ROCHA É um universo que a apaixona desde sempre e que gostaria de con- tinuar a explorar. Já encenou “As Bodas de Fígaro”, de Mozart, e “O Elixir de Amor”, de Donizetti, no Tea- tro da Trindade, e assina agora a nova Ópera produção da versão de Mozart e do seu libretista Lorenzo da Ponte das divertidas e, por vezes, trágicas aven- turas do libertino sedutor. Com “D. Giovanni estreia marcada para dia 30, o espec- táculo tem direcção musical de Johan- é também alegre, nes Stert e o cantor italiano Nicola Ulivieri no papel titular. jovial e carinhoso “Acho que D. Giovanni não pertence à nossa ordem de existência. É uma de modo a conseguir figura que contém elementos que são do nosso quotidiano mas é também os seus objectivos. uma figura que nos escapa sempre por A sua extraordinária tudo o que é sítio”, diz Maria Emília Correia. “Nunca saberemos quem ele capacidade é tal como ele quis.” A sua encenação assenta na ideia camaleónica é de D. Giovanni como “um ícone da energia física”, imprimindo a todo o sincera, doutra forma espectáculo uma dinâmica que parte da fisicalidade. “A energia e o movi- não seria um mito mento estendem-se inclusive à figu- assim tão grande” ração, feita por jovens actores do teatro e da televisão, que represen- Maria Emília Correia tam muito e não estão lá só para encher os espaços.” Uma das primeiras coisas que a encenadora disse ao baixo-barítono do espectáculo é que é nova pois ten- Nicola Ulivieri foi que queria “um ita- tei fugir a tudo o que conhecia.” liano de fogo” ao que ele respondeu: Localizou a acção em Sevilha - “uma “Ok, é leve!” Sevilha conceptual e de hoje” - e pro- O cantor italiano é um conceituado curou um compromisso entre a actu- intérprete de Mozart e já personificou alidade e a época setecentista. “Alguns tantas vezes D. Giovanni como o seu figurinos remetem para o século XVIII, criado Leporello, sob a direcção de mas de repente somos transportados maestros tão importantes como Clau- para actualidade. Recorri também à dio Abbado ou Harnoncourt. “É influência asiática na decoração, que muito divertido fazer Leporello mas estava na moda nesse tempo, e inspi- considero mais interessante cantar rei-me, por outro lado, em pintores D. Giovanni porque é uma persona- como Watteau e Fragonard, que tem gem muito complexa, onde se desco- um quadro com a Zerlina, D. Juan e D. brem sempre coisas novas”, diz. “D. Elvira”, explica. “Vi filmes dos anos Giovanni é também mais difícil pois 20 como o ‘Casanova’ e li muito, mas no imaginário colectivo pode ser de nem todo este trabalho prévio é evi- muitas formas. Conseguir convencer dente no espectáculo.” todos os espectadores é uma missão Não é apenas D. Giovanni que é quase impossível.” enigmático, as restantes personagens A ópera de Mozart baseia-se na também são. “Todas transportam um conhecida lenda de Don Juan, o sedu- segredo, ninguém é totalmente trans- tor insaciável, que acaba morto num parente”, diz a encenadora. “D. Ana desvio surreal da acção, pela estátua mente a D. Otávio e vai adiando o mortuária do Comendador, uma das casamento, a Zerlina não diz ao seu suas vítimas anteriores. Esta narração noivo Masetto que esteve com D. Gio- ficcional, cuja origem remonta ao vanni, o passado de D. Elvira não é século XIV, serviu de base a inúmeras claro, assim como a personalidade adaptações literárias, teatrais e ope- de D. Otávio. As questões são inter- ráticas. mináveis.” Em relação às suas múltiplas inter- A encenadora revela que a estátua pretações, Nicola Ulivieri prefere não falante do Comendador vai ser algo ter ideias fixas. “Não quero colocar mais imaginativo e sinistro do que é demasiado o problema pois preciso costume e remete quase para um D. Giovanni, de ser maleável já que cada encena- filme de terror, tendo recorrido à ins- dor tem uma ideia diferente.” piração de “Inferno”, de Dante, que Adianta, contudo, que não vê em D. Lorenzo da Ponte também leu Giovanni apenas o mal. “Ele é tam- enquanto escrevia o libreto. Quanto bém alegre, jovial e carinhoso de aos camponeses, Zerlina e Masetto, um italiano de modo a conseguir os seus objectivos. são “o exemplo da alegria pura”. “O Tem também a sua pureza porque é casamento, por exemplo, situa-se verdadeiro. A sua extraordinária visualmente numa festa que vi em capacidade camaleónica é sincera, Janes, em . As roupas foram doutra forma não seria um mito assim compradas nas feiras e são multico- tão grande.” Ulivieri refere que sem- loridas”, conta. pre gostou de trabalhar com encena- Como contraste, as personagens dores de teatro e por isso sente-se em aristocráticas de D. Ana e D. Otávio sintonia com a encenação de Maria são colocadas num outro século. “São Emília Correia porque esta não pro- convencionais e têm uma represen- põe nada de extravagante. “Tenta tação diferenciada das restantes.” A pôr-se ao serviço do libreto para fazer D. Elvira deu coordenadas de alguma um D. Giovanni teatralmente realista, masculinidade no sentido de ser ainda que moderno na cenografia.” alguém muito firme, fugindo a “dese- nhá-la como a maluca perturbada” fogo Enigmas mas foi D. Giovanni quem lhe colocou A encenadora confirma que não teve o maior desafio pelo carácter fugidio “ousadias pós-modernas”. “Já se ence- e pela sua personalidade enleante. Ícone da energia física e fi gura camaleónica, D. Giovanni nou o D. Giovanni de mil maneiras, “É o papel mais difícil, mas é o papel algumas das quais eu não posso estar que todos os cantores querem fazer”, continua a seduzir-nos. A encenadora Maria Emília de acordo porque atraiçoam o espírito concorda Nicola Ulivieri. “A D. Gio- da obra. Não queria inventar uma vanni ninguém resiste!” Correira e o cantor Nicola Ulivieri na nova produção da coisa diferente da que lá está. Nesse ponto fui convencional, a visualização Ver agenda de concertos pág. 45 e 46 ópera de Mozart no São Carlos. Cristina Fernandes

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 17 No dia em que são comemorados os apresentaram um projecto para o dez anos do Museu de Serralves é hoje núcleo histórico da colecção através inaugurada, no Porto, “Serralves de obras disponíveis para aquisição. 2009”, uma exposição que revela o A ideia para a constituição do espólio ponto da situação de uma colecção centrava-se num período com início reunida ao longo de uma década. em meados dos anos 1960, momento Com poucas excepções, as obras em que se alteram alguns dos paradig- agora reveladas pertencem ao espólio mas da arte do século XX, nomeada- da instituição, permitindo assim enten- mente com o emergir de uma série de der um projecto iniciado com “Circa práticas artísticas através das quais se 1968”. punham em causa as disciplinas tradi- Que compras têm sido feitas? Quais cionais da pintura e da escultura - da os critérios das aquisições? E ainda, Earth Art à Arte Conceptual, de Fluxus por que razão não foi possível conser- à Arte Povera, do Minimalismo à Per- var no acervo trabalhos então dispo- formance, esta é a época de todas as níveis para compra como “Steel chan- revoluções. nel piece” (1968), de Bruce Nauman, Nos anos seguintes à “Circa 1968” “Il n’y a pas de structures primaires” a instituição procurou incorporar no (1968), de Marcel Broodthaers, ou o seu espólio o maior número de traba- Exposições “Igloo com albero” (1969), uma obra lhos nessa colectiva e, segundo João emblemática de Mario Merz, agora Fernandes, actual director do MACS, propriedade do Castello di Rivoli, em esse objectivo foi conseguido em 80 Turim? por cento: “Logo de imediato coloca- Vídeo “The Em dia de “vernissage”, é também ram-se outros desafios; um deles era True Artist is revelada ao público a nova peça da como continuar a coleccionar para an Amazing artista brasileira Fernanda Gomes, que além deste contexto histórico que era Luminous passa a integrar em permanência o o nosso ponto de partida para a colec- Fountain”, parque de Serralves. ção”, nota. de Bruce Há dez anos, o Museu de Arte Con- É também por essa altura, há dez Nauman, temporânea de Serralves (MACS) inau- anos, que o mercado da arte, sobre- obra gurava com a exposição monumental tudo através das leiloeiras, define esse adquirida “Circa 1968”. Na altura, os comissá- período, com início nos anos 1960, em 1999 rios, Vicente Todolí e João Fernandes, como sendo o de uma mudança de paradigma. Esse facto faz com que algumas obras emblemáticas apresentadas na “Circa 1968”, como as esculturas “Steel channel piece” (1968), de Bruce Nauman, e “Igloo com albero” (1969), de Mario Merz, ou a pintura “Il n’y a pas de structures primaires” (1968), de Marcel Broodtha- ers passassem rapidamente ao estatuto de objectos de desejo de instituições e coleccionadores privados (a obra de Mario Merz, por exemplo, foi adquirida para o espólio do Castello di Rivoli, espaço sediado nos arre- dores de Turim, Itália. “Comprámos outras peças des- ses autores, mas acontece que a ‘Circa 1968’ aconteceu no último momento em que era possí- “Interessa-nos há pouco tempo; as casas leiloeiras Serralves vel criar uma internacionais abrem departamentos teria de gastar colecção que adquirir obras que especializados em arte contemporâ- um quarto do integrasse esses nea que, precisamente, vão fazer seu orçamento anos dentro dos representam um aumentar muito o valor dos artistas para comprar orçamentos que desta época.” uma das nós tínhamos dis- questionamento da Para o director do MACS, foi a expe- pinturas de poníveis”, subli- riência do seu antecessor, Vicente Christopher nha João Fernan- condição do objecto Todolí - actual responsável pela Tate Wool des. “O mercado de arte. Não estamos Modern, em Londres -, em fazer colec- expostas da arte, nessa ções, a sua credibilidade junto de gale- recentemente altura, dinamiza- a correr atrás do rias e junto de artistas, que permitiu no museu. se e entra num obter condições favoráveis para a com- “Untitled” foi período de espe- mercado” pra de algumas das obras, hoje parte doada pelo culação crescente integrante do espólio de Serralves. próprio em [que durou] até Por vezes, esses trabalhos foram 2008 Serralves uma arte de coleccionar Dez anos depois da exposição “Circa 1968”, Serralves revela a sua colecção numa exposição em que se propõem confrontos inesperados entre as obras. A inauguração é hoje. Óscar Faria

18 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 pagos ao longo de vários anos e, é um É que nos últimos anos, em Portugal, “Interessou-nos facto, se a instituição tivesse optado “e em função da especulação do mer- por outra via, hoje seria impossível cado da arte, houve obras que aumen- interrogar a natureza reunir esse acervo, não só porque as taram mais de 100 por cento o seu obras teriam sido entretanto vendi- valor desde que nós as adquirimos; e a condição da obra das a outras entidades, mas também há vários casos assim”. devido ao orçamento disponível para de arte nos aquisições: “O ‘igloo’ do Mario Merz, Confrontos uma obra que gostaríamos de ter na Um dos novos dados a ter em conta é confrontos colecção, foi vendida por um valor a actual crise económica internacio- inesperados que elevado”, refere João Fernandes, nal, um factor que certamente irá aju- apontando de seguida a forma como dar a repensar muitos dos critérios e propomos com esta se tornou evidente, após a solidifica- parâmetros do coleccionismo particu- ção do núcleo histórico do espólio, lar e institucional. “Um museu tem um exposição; essa é uma a necessidade de colmatar as lacunas programa de trabalho, critérios de do acervo relativamente aos anos de escolha e, portanto, dentro desses cri- linha de trabalho que 1980 e de 1990, um trabalho em pro- térios vai procurar as obras, não vai gresso. apenas absorver aquilo que está mais não impede outras, disponível à sua volta”, afirma João porque algo que esta Sem correr atrás do mercado Fernandes. “Por exemplo, nós temos As novas aquisições não são ,con- comprado relativamente pouco em mostra inaugura tudo, realizadas sem o necessário feiras de arte; quando pensamos que recuo relativamente ao mercado: vamos representar a obra de um artista é uma presença “Acho que os museus têm uma dis- na colecção, começamos por trabalhar tância maior do que o coleccionismo com ele, não começamos por traba- regular da colecção particular em relação àquilo que lhar com a galeria.” acontece; raríssimas vezes um museu É que, segundo diz, o museu reflecte de Serralves nos começa a comprar de imediato a a segurança de uma obra ser guardada, espaços do museu” última novidade”, esclarece João Fer- apresentada, investigada: “Apesar do nandes. “Interessa-nos adquirir obras coleccionismo privado ter evoluído que representam sempre um ques- imenso e ter também criado os seus tionamento da condição do objecto próprios museus, há, no entanto, sem- de arte, da sua relação com a vida e, pre uma incerteza - e hoje sabemos artísticas, a períodos, etc”, refere João “Possession”, nessa medida, não estamos a correr isso mais duramente quando vemos Fernandes. E acrescenta: “Interessou- de Paula Rego, atrás do mercado.” muitas colecções particulares a come- nos interrogar a natureza e a condição uma aquisição O director do MACS tem a consci- çarem e a dispersarem-se.” da obra de arte nos confrontos ines- de 2006, ência de estar a competir num con- “Serralves 2009”, comissariada por perados que propomos com esta expo- assim como texto agressivo, com um número João Fernandes e por Ulrich Loock, sição; essa é uma linha de trabalho que “Bending”, de crescente de coleccionadores, insti- director adjunto do museu, surge não impede outras, porque algo que Juan Muñoz, tucionais e privados. Por isso, uma assim como resposta ao desafio de esta mostra inaugura é uma presença em baixo das políticas de aquisição de Serral- projectar aquilo que acontecerá no regular da colecção de Serralves nos ves é a tentativa de incorporar na futuro na instituição: “Foi para nós espaços do museu”. colecção trabalhos de artistas a quem importante colocar as obras em con- Dez anos depois de “Circa 1968”, o museu tem dedicado exposições: fronto de forma a criar novas pistas de “The Fence”, a fundação dispõe de um acervo de “Luc Tuymans não só falou com a sua leitura que não fossem os modelos que Luc 1500 obras, encontrando-se também galeria para termos condições muito mais tradicionais que poderíamos Tuymans cerca de 2500 obras em depósito em especiais de aquisição de obras, como esperar ao nível da cronologia das ofereceu a Serralves, sendo de salientar as da nos ofereceu, como Miroslaw Balka, obras, ao nível da sua indexação a Serralves em galeria Sonnabend, do Ministério da o trabalho conjunto ‘The Fence’ movimentos, a grupos, a linguagens 1998 Cultura e da Fundação Luso-Ameri- [apresentado pela primeira vez na cana. exposição ‘Privacy’, Casa de Serral- E quem entrar hoje nas salas do ves, 1998], e que nós vamos agora MACS será desde logo confrontado voltar apresentar.” com um desses trabalhos, neste caso Com o orçamento que actualmente o vídeo “Amazing Fountain” (1998), dispõe para aquisições, um milhão e de Bruce Nauman, que nos diz: “O ver- duzentos e trinta mil euros - 700 mil dadeiro artista é uma maravilhosa euros do Estado, 350 mil euros da fonte luminosa”... própria Fundação e 180 mil euros da Câmara Municipal do Porto -, Serral- Ver agenda pág. 40 ves teria de gastar um quarto do seu orçamento para comprar uma das pinturas de Christopher Wool expos- tas recentemente no museu, na expo- sição “Porto-Köln”. Contudo, há o desejo de integrar uma dessas obras no acervo, estando em curso negocia- ções com o artista e com as galerias que o representam, de modo a ser possível obter as condições mais favo- ráveis para o negócio entre as partes - isto acontece após Wool ter doado à instituição uma das suas monotipias, com um valor de mercado elevado, igualmente visível na mostra que é hoje inaugurada. “Quando falamos em valores, eles ficam sempre aquém daquilo que são as ambições de qual- quer museu”, explica João Fernandes.

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 19 Há detalhes significativos: em 1997, turísticas, pelos sítios mais bonitos o Partido do Centro, de Anne Enger, do país. ficou em segundo lugar nas eleições Mas os Snøhetta - autores também norueguesas e integrou a coligação da Biblioteca de Alexandria, no Cairo, governamental. Enger podia ter esco- e com um ambicioso projecto em lhido praticamente qualquer pasta curso para uma nova cidade no no Governo. Escolheu a da Cultura. deserto nos Emirados Árabes Unidos O que é que isto tem a ver com a - não são o único atelier de arquitec- exposição de Arquitectura Norue- tura da Noruega. E é isso que a expo- guesa Contemporânea 2000-2005, sição em Lisboa, sobretudo feita de que está actualmente na Faculdade fotografias, quer mostrar. de Arquitectura de Lisboa? Tudo. Enger foi uma das mais entusiásticas Gelo e escuridão defensoras da construção de uma A arquitectura norueguesa parte de ópera em Oslo - e hoje, o edifício pro- “uma grande preocupação em obser- jectado pelo atelier Snøhetta e ven- var o local” e de uma “experiência cedor do Prémio Mies van der Rohe, de construir muito próximo da natu- tornou-se um dos principais símbolos reza”, explica Børre Skodvin, res- da cidade. ponsável pelo Instituto de Arquitec-

Quando visitamos Oslo vamos tura da Escola de Arquitectura de Exposições reparando noutros “detalhes”: por Oslo. Ele próprio é autor (com Jan exemplo, que o Museu Nacional se Jensen) de um dos projectos da expo- chama de Arte, Arquitectura e Design. sição, uma igreja nos arredores de Que a Escola de Arquitectura e Design Oslo, com a parte de baixo das pare- de Oslo tem condições magníficas, des em vidro e a parte superior feita com enormes oficinas equipadas para de lâminas de pedra colocadas de fazer maquetes em diferentes tipos forma incerta, deixando passar pon- de material. Que existe uma institui- tos de luz. Dentro da igreja os arqui- ção chamada Norskform, criada para tectos optaram por deixar no local incentivar o debate e estabelecer as grandes pedras que rompem do pontes nas áreas do design, arquitec- chão como se estivessem a invadir o tura e planeamento urbano. E que edifício. esta tem um serviço educativo com Mas se aqui a relação com a natu- a missão de “abrir caminho para uma reza era relativamente pacífica, há aprendizagem da arquitectura e exemplos de situações mais extre- design, através da experiência mas. Outro dos edifícios incluídos na directa”. exposição é um projecto dos arqui- E depois disso começamos a não tectos Jarmund/Vigsnaes para um nos surpreender quando vemos gru- centro universitário em Svalbard, pos de escolas com crianças entusias- uma região onde há três meses por madas a visitar o edifício da ópera ou ano de completa escuridão - uma a exposição sobre os 20 anos dos fotografia mostra em primeiro plano Snøhetta. Ou quando nos apresentam veados deitados na neve, ao longe o projecto (no valor de cem milhões uma montanha também coberta de de euros) para uma série de interven- neve, e entre uns e a outra um edifí- ções arquitectónicas, desde miradou- cio cor-de-fogo. ros a edifícios de apoio a 18 estradas “Num sítio assim tem que se reagir à natureza, porque ela é muito forte”, Projecto dos arquitectos afirma Anne Marit Lunde, curadora Jarmund/Vigsnaes para um do Museu Nacional. Num terreno centro universitário em gelado, e onde há muitas tempesta- Svalbard, uma região onde há des, o edifício teve que ser construído três meses por ano de completa sobre pilares, de forma a que o vento escuridão possa varrer a neve por baixo dele. O exterior é forrado a folha de cobre, um material que se pode trabalhar bem, mesmo a temperaturas muito baixas. E o interior é em madeira, com a qual os arquitectos criam uma espécie de caminhos como os que vão sendo escavados nas minas (que exis- tem em grande quantidade na região). A arquitectura Arquitectura da madeira norueguesa parte de A madeira é, aqui, um dos elementos mais constantes nos edifícios, a par “uma grande do cimento, do aço e do vidro (o már- preocupação em more, base da construção do edifício Actualmente, Oslo, sobretudo a obrigados a reduzir o número de fun- necessário reconstruir o país, que da ópera, é um material bastante zona em torno da ópera, está trans- cionários. Mas há algo de mais estru- “os arquitectos puderam posicionar observar o local” e de menos utilizado). Todos eles foram formada num estaleiro, com uma tural no papel dos arquitectos na a arquitectura como uma peça neces- usados pelo “pai” e referência maior série de projectos novos em vias de Escandinávia, explica Karl Otto Elle- sária para pôr a política em prá- uma “experiência de da arquitectura norueguesa, Sverre serem construídos. Isto não significa, fsen, director da Escola de Arquitec- tica”. Fehn (1924-2009), vencedor do Pri- no entanto, que a crise não tenha tura, num texto incluído no catálogo: Afinal, se calhar os detalhes não construir muito ztker em 1997, e continuam a ser chegado aqui. O petróleo, descoberto “[...] uma proporção excepcional- são detalhes. usados pela nova geração, que termi- no final dos anos 60, é um seguro de mente grande do que é construído próximo da natureza” nou os estudos nos anos 90 e que tem vida para a Noruega mas não a torna [...] foi, de uma forma ou outra, pen- O Ípsilon viajou a convite do Ministé- Børre Skodvin beneficiado de um “boom” da cons- imune, e ateliers como os de Jensen sado por arquitectos.” E desde o rio dos Negócios Estrangeiros da trução a partir de 1995. e Skodvin e os Snøhetta já se viram período do pós-guerra, quando foi Noruega Na Noruega a arquitectura está nos detalhes A Ópera de Oslo, prémio Mies van der Rohe, deu grande visibilidade à arquitectura norueguesa - e o país quer aproveitar isso para mostrar mais, numa exposição que está agora em Lisboa. Para os noruegueses, a arquitectura é uma aposta estratégica. Alexandra Prado

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Não sabemos se o calhamaço que é O mais seguro “A Montanha Mágica” (mil páginas no original alemão e, a partir de é dizer aquilo que agora, 816 páginas no melhor portu- guês - e algum francês, quando as “A Montanha Mágica” paixões têm rédea solta) terá pare- cido mais digerível a um leitor de não é: um livro para 1924 do que a um leitor da era do Twitter (capacidade máxima: 140 ajudar a “passar o caracteres). Já em 1934, no diário tempo”. Num breve que fez da sua primeira viagem aos EUA, a bordo de um vapor, e durante prólogo, Thomas a qual leu o “Dom Quixote” de Cer- vantes, Thomas Mann (1875-1955) Mann propõe-se constatava que “a chamada literatura de entretenimento” era “sem dúvida narrar “com a mais aborrecida do mundo” e que “tudo o que é bom requer o seu profundidade, rigor e tempo”, o que soa a advertência con- minúcia”, preparando tra o espírito generalizado da época. “Encontra-se largamente divulgada o leitor para uma a opinião de que o que se lê em via- gens tem de ser do mais leve e super- experiência singular ficial, balelas que ajudam a ‘passar o

tempo’. Eu nunca entendi seme- do tempo Livros lhante atitude”, escreve em “Viagem Marítima com Dom Quixote” (editado Guilherme em 2008 pela Dom Quixote). de Hans e as suas primeiras três sema- d’Oliveira “A Montanha Mágica” é um desses nas no sanatório, o tempo parece pas- Martins refere clássicos mais conhecidos que lidos, sar muito devagar. Episódios de pou- que “este título obrigatório no “ranking” da fic- cos minutos ou horas podem ocupar homem ção insuperável do século XX, sendo páginas e páginas e, à medida que se comum que é provável que mesmo o leitor que encaminha para o final, a passagem Hans Castorp nunca o leu esteja familiarizado com dos anos pode suceder em breves fra- [anti-herói do o seu enredo, que, aliás, se pode resu- ses. O que corresponde à experiência romance] se mir em 140 caracteres: o jovem Hans que o protagonista, Hans Castorp, tem pode Castorp chega a um sanatório para do tempo no sanatório suíço: ali, nas assemelhar ao uma curta visita de três semanas e ali montanhas, retirado do mundo, “o ‘homem sem permanece sete anos, até ao início da tempo das pessoas não interessa para qualidades’ de Primeira Guerra. É só isto, e isto nada” e a “unidade mínima é o mês”. Robert Musil”, requer mil páginas - ou, em moeda Mas o que Mann deixa implícito e que também portuguesa, 816 páginas? Sim (a acção explicita, por fim, nas páginas 612- assiste à importa menos que a narração). E não 613, é que a sua intenção é “narrar derrocada “do (este é um romance caleidoscópico, acerca do tempo”, que “A Montanha tempo das que suscita, porventura, tantas inter- Mágica” é “um romance sobre o grandes pretações diferentes quanto o número tempo”. Uma “trip”, como se insinua: causas” de leituras, e leitores que tiver). não é por acaso que nessas mesmas páginas Mann se refere a experi- Uma trip ências com drogas e respectivos O mais seguro é dizer aquilo que “A efeitos na dilatação do tempo. O Montanha Mágica” não é: um livro sanatório é um mundo paralelo, para ajudar a “passar o tempo”. Num um idílio (doentio, mas um idílio), breve prólogo, Thomas Mann propõe- com regras próprias e um tempo espe- se narrar “com profundidade, rigor e cífico, que nada têm a ver com o minúcia”, preparando o leitor para mundo normal, “lá de baixo”, que é uma experiência singular do tempo. como os hóspedes da montanha se “Não será, pois, num abrir e fechar de referem à vida prática e activa, à rea- olhos que o narrador conseguirá con- lidade fora dali. A experiência da tar a história de Hans. (...) O melhor leitura tem o mesmo efeito que o que ele tem a fazer é não tentar prever sanatório tem em Hans Castorp. “É quanto tempo se manterá envolvido uma realidade paralela”, como em tal projecto”, escreve. Resumindo sugere Gonçalo M. Tavares, talvez (em menos de 140 caracteres): “A o escritor português que mais Montanha Mágica” é uma voluptuosa tem cultivado um parentesco máquina do tempo. Hermann Kurzke, com a literatura germânica da biógrafo de Mann (“Life as a Work of primeira metade do século XX Art”, Princeton University Press, (Musil, Walser, Mann, só para 2002), descreve o romance como um citar alguns autores). “A triângulo invertido, “assente na sua dimensão física (número de cabeça”, chamando a atenção para a páginas) é tão importante extravagância da sua estrutura - cada que nos obriga a sair da rea- capítulo é maior do que o anterior (na lidade. E é tão significativo versão portuguesa, o primeiro tem 17 o tempo que levamos a páginas, o sétimo e último tem 215). ler o livro que depois Publicado em 1924, “A Montanha Mágica” remonta a 1912, quando a mulher de Ao mesmo tempo, nas secções iniciais nos lembramos Mann, Katja, contrai doença pulmonar que conduz ao seu internamento num sanatório nos Alpes suíços do livro, correspondentes à chegada bem dos sítios GAUDÊNCIO RUI Uma máquin

É um título obrigatório no “ranking” da fi cção insuperável do século XX. Um romance sobre o t tradução feita directamente a partir do alemão. Valeu a pena esperar: podemos ler “A M

22 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 onde os lemos. É um paradoxo: puxa- nos tanto tempo e com tanta intensi- dade para fora da nossa vida que acaba por interferir nela. E por per- Como se Thomas turbar a natureza normal das coi- sas.” Não é só o tamanho, mas a natu- reza omnívora da obra, o seu desejo Mann escrevesse de totalidade. Mann revela um poder de apropriação quase enciclopédico: “A Montanha Mágica” é um íman do em português caldo cultural e científico que domi- nava a Europa antes da I Guerra Mun- dial, um retrato do “status quo” da Gilda Lopes Encarnação demorou ano e meio a traduzir. medicina, da psicanálise, da filosofia e da política à época (sem esquecer Não tarda nada, “A sido comprados pela uma deriva por experiências de ocul- Montanha Mágica” Dom Quixote). Gilda tismo). Como se Mann quisesse dizer faz 100 anos e só Lopes Encarnação ao leitor: deixe o mundo real para agora surge pela garante que o trás, tem aqui tudo o que precisa. O primeira vez em original alemão carácter fabuloso da obra fará o resto. Portugal numa “não resiste de Não sabemos se “A Montanha Mágica” tradução directa forma nenhuma não será, ao fim e ao cabo, um sonho do alemão, à tradução”. O de Hans Castorp. Afinal, o narrador sem passar que não quer refere-se a ele como um “sonhador”, por nenhum dizer que não e é um ruído estrondoso - a “explo- intermediário. A tenha enfrentado são” da guerra - que o faz despertar versão disponível desafi os: a escrita da sua longa hibernação no sanató- desde os anos 50 era de Mann “é muito rio. E, chegado aqui, é provável que a tradução feita para o idiossincrática” - “há até o leitor tenha esquecido o que Mann Brasil por Herbert Caro, judeu dicionários da terminologia” anunciara no prólogo: “é bem possí- alemão exilado em Porto Alegre, específi ca do escritor -, para além vel que a nossa história tenha algo a publicada pela Livros de Brasil. da descrição minuciosa que faz ver com o mundo fabuloso”. Uma tradução “meritória” e de personagens e paisagens. Publicado em 1924, “A Montanha “competente”, avalia o escritor Tradutora de Hoff manstahl e Mágica” remonta a 1912, quando a e ensaísta Frederico Lourenço. Celan, além de fi losofi a alemã, mulher de Thomas Mann, Katja, con- “Mas não é de forma alguma faz parte da equipa liderada por trai uma doença pulmonar que con- uma obra de arte em língua João Barrento que trabalha na duz ao seu internamento durante portuguesa. Isso é que fazia tradução de Robert Musil. Leitora meio ano num sanatório nos Alpes falta.” Gilda Lopes Encarnação, de português na Universidade suíços, na região de Davos (tal como tradutora da nova edição, com de Salzburgo entre 1997 e o sanatório Berghof do romance). selo da Dom Quixote, diz que 2003, convidou José Saramago Mann visita-a durante três semanas, a versão que já existia “não em 1999 para dar ali uma período em que o médico do sanató- é má porque não é errónea”. conferência, viagem que acabou rio lhe diagnostica “um catarro nas Aponta-lhe “omissões, pequenos por inspirar o último romance do vias respiratórias superiores” e reco- esquecimentos”, mas “o escritor, “A Viagem do Elefante”. menda uma estadia mais prolongada, principal problema é estilístico, A “sua” “Montanha Mágica” à semelhança do que acontece com talvez pela proximidade que é uma tradução para acabar Hans Castorp. Mann relatou que o Para o tradutor tentou manter em com as traduções daquele ambiente do sanatório descrito nas Frederico relação à língua alemã. Quase romance? “Nenhuma tradução secções iniciais do seu romance cor- Lourenço, que reconhece a língua de é defi nitiva”, responde, e diz responde à sua própria experiência escritor e partida, mas é preciso fazer um que “a situação desejável” para e às impressões que lhe causaram a ensaísta, fazia esforço para se perceber o que a edição de Mann em Portugal referida passagem pelo estabeleci- falta mais do quer dizer em português”. A “seria aquela que acontece com mento onde se encontrava a mulher. que uma nova tradução tomou-lhe ano e Musil: uma equipa e uma coesão Mann começa a escrever “A Monta- tradução meio, e Gilda está actualmente a no trabalho dessa equipa, que nha Mágica” em 1913, ano da publi- “competente”; traduzir, para a mesma editora, debate e esclarece dúvidas entre cação de “Morte em Veneza”. O plano fazia falta a “Os Buddenbrook”. Sobre “A si”. K. G. é conceber uma novela que sirva de obra de arte Montanha Mágica”, diz: “O meu contraponto satírico a “Morte em em língua objectivo foi que a obra se lesse Veneza” - depois da trágica destrui- portuguesa com a mesma naturalidade e ção da vida ordeira de um grande fl uência com que o leitor de escritor, a cómica perdição de uma expressão alemã lê a obra.” “O meu objectivo foi existência banal (Hans Castorp) pelas Missão cumprida: o que uma que a obra se lesse mesmas vias do amor e da doença. não-leitora de alemão pode dizer Mas a escalada da guerra interfere é que nunca lhe ocorreu que com a naturalidade na escrita, que é interrompida estava a ler uma tradução. devido ao crescente envolvimento Frederico Lourenço considera e fluência com que político de Mann, que durante CUNHA PEDRO que “o humor requintadíssimo” este período e até à publicação de “A Montanha Mágica” é o leitor de expressão do livro vai sofrer convulsões “intraduzível” (o que não ideológicas que o levam a mudar o impediu de, em 2005, alemã lê a obra” de flanco - o conservador nacio- propor a sua tradução à Gilda Lopes nalista e anti-republicano con- Cotovia, antes de descobrir verte-se num defensor da via que os direitos já tinham Encarnação democrática. Quando retoma a escrita do romance, em 1919, na do tempo chamada “Montanha Mágica” tempo. Uma “trip”. Não tarda nada faz 100 anos, mas só agora surge em Portugal na primeira Montanha Mágica” como se Thomas Mann tivesse escrito em português. Kathleen Gomes

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 23 a superfície narrativa mantém-se - “É tão significativo o “É bem possível que a nossa história tenha algo a ver com o mundo um sanatório na montanha, a deso- fabuloso”, escreve Mann no prólogo de “A Montanha Mágica” rientação educativa do herói por via tempo que levamos a da paixão e da doença, o confronto de argumentos entre um liberal e um ler o livro que depois conservador (Settembrini e Naphta), a irrupção da guerra como desfecho nos lembramos bem - mas a moral da história mudou ine- vitavelmente. “A Montanha Mágica” dos sítios onde teria sido outra coisa se tivesse sido os lemos. É um publicada antes de 1924. Dois germa- nistas, António Sousa Ribeiro, da Uni- paradoxo: puxa-nos versidade de Coimbra, tradutor de Karl Kraus e Brecht, e Teresa Seruya, tanto tempo e com professora de literatura e cultura alemã na Faculdade de Letras de Lis- tanta intensidade boa, confluem neste ponto: o romance traduz a “procura interior” de Mann para fora da nossa em termos do seu pensamento polí- vida que acaba por tico, o “choque de ideias” - fratricida, até, porque o escritor se incompatibi- interferir nela” lizou com o irmão, Heinrich, cujas opiniões eram contrárias à sua - que Gonçalo M. Tavares foi a sua cabeça durante a produção do livro. “A Montanha Mágica” é “uma súmula do estado da civilização e das linhas de pensamento da cultura euro- peia nos anos 20, mas já vista à luz da evolução ideológica” de Mann, nota Teresa Seruya. É por isso que, dos dois rivais que disputam a alma de Castorp, o racional e humanista Settembrini e Cartaz do o autoritário e repressivo Naphta, fi lme, de 1982, Mann “consegue dar alguns traços de Hans W. simpáticos” ao primeiro (e tor- Geissendörfer que adapta o romance; com nar o segundo repulsivo). “Isso teria “The Wanderer Christoph sido impossível se Thomas Mann Above the Mists” Eichhorn tivesse terminado ‘A Montanha Pintura de Caspar David como Hans Mágica’ antes da guerra”, explica Friedrich Castrop e Seruya. ainda com interpretações O homem sem qualidades de Rod Steiger Hans Castorp, tal como é descrito em gémeas”, resume Oliveira Martins.

e Marie France DANIEL ROCHA “A Montanha Mágica” é um “burgue- Naphta e Settembrini seriam meras Pisier Gonçalo M. Tavares, talvez o escritor português que mais sinho de boas famílias”, “singelo” - “o caricaturas se não fosse o facto de tem cultivado um parentesco com a literatura germânica da nosso herói insignificante”, como o representarem ideologias que domi- primeira metade do século XX (Musil, Walser, Mann...) narrador não se cansa de referir. Que naram o século XX. tipo de herói é este? “Hans é um Hans Castorp é um homem comum, nome vulgaríssimo na Alemanha, em suma, porque, como o leitor con- como João”, nota António Sousa temporâneo de Mann, ele é um espec- Ribeiro. “Até o nome remete para a tador do “absolutismo das ideias” mediania do zé-ninguém. É um anti- que “acaba no campo de batalha”, herói, mais do que um herói.” conclui Oliveira Martins. Guilherme d’Oliveira Martins, pre- Castorp “é um jovenzinho à procura sidente do Centro Nacional de Cul- de caminho”, descreve Sousa Ribeiro, tura, refere que “este homem comum e “A Montanha Mágica”, fiel a uma que é Hans Castorp é alguém que se tradição da literatura alemã, é o seu pode assemelhar ao ‘homem sem “bildungsroman”, o romance da sua qualidades’ de Robert Musil e aos aprendizagem. Mas o desfecho DkdYW^ekl[ protagonistas de ‘Os Sonâmbulos’ de abrupto do livro, com o herói enter- c[b^ehcej_le Hermann Broch”, que também assis- rando os pés na lama das trincheiras tem à derrocada “do tempo das gran- e cantando sobre a morte quando jul- FWhWY[b[XhWh(+±7d_l[hi|h_e fWhWied^Wh des causas”. Castorp é um espectador gávamos que tinha escolhido a vida, (+:[iYedje das discussões exaltadas entre Set- é inconclusivo. Ele fica entregue ao tembrini e Naphta que quase sempre seu destino enquanto o leitor fica estão acima do seu entendimento, entregue a uma obra aberta - e à ambi- mas até na sua simplicidade ele guidade da “mensagem” de Mann. As detecta as inconsistências intrínsecas interpretações divergem. O livro “não à argumentação de um e outro. “Com aponta um caminho, não dá uma solu- o tempo, ele vai perceber que Settem- ção, tem como programa equacio- brini e Naphta são incapazes de viver nar”, refere Sousa Ribeiro. “Nesse um sem o outro, que são almas sentido, é um romance experimental - permite ensaiar um conjunto de posi- ções, pô-las em confronto, mas acaba Photo: Véronique Vial Costume: Eiko Ishioka “Todo e qualquer por não tirar uma lição. Inscrevendo- se na tradição do romance de apren- ponto de vista dizagem, é o anti-romance de apren- dizagem, quase uma paródia.” Teresa [nY[fjeJWf_iHek][ é desmontado Seruya: “Todo e qualquer ponto de vista é desmontado e confrontado e confrontado com com outro. Nunca há um ponto de outro. Nunca há um vista estável, e isso é muito moderno.” Moral da história, para Guilherme ponto de vista estável, d’Oliveira Martins: Castorp aprendeu que “o valor das ideias é relativo” e o e isso é muito leitor pode vislumbrar nessa obra aberta que “há uma superioridade ;I9H?JE;:?H?=?:EFEH:EC?D?99>7CF7=D; moderno” ética na liberdade de espírito”. Maria Teresa Seruya, Teresa Delgado Mingocho, especialista @Ü;C9;D7"DÁEF;H97 em Mann, completa: quando volta professora para a planície, Hans Castorp não é o mesmo que a tinha deixado, porque F7HGK;J;@ErB?I8E7 de literatura e entretanto “teve uma preparação” 8?B>;J;IÀL;D:7MMM$9?HGK;:KIEB;?B$9EC para a vida, experimentou “esse mis- H;I;HL7I-&-()*()*MMM$J?9A;JB?D;$I7FE$FJ cultura alemã na tério e essa aventura do que é ser-se humano”. Agora, “tem de saber gerir 97I?DEB?I8E7"EI7"78H;K"78;F"C;=7H;:;;;B9EHJ;?D=BxI Faculdade de Letras o que aprendeu”. Assim como o leitor, no fim de “A de Lisboa Montanha Mágica”.

24 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 SEX 19 JUN 21:00 SALA SUGGIA ORQUESTRA NACIONAL DO PORTO Christoph König direcção musical Alban Gerhardt violoncelo Pedro Frias actor/narrador (Prokofieff)

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Duas versões da mais trágica história www.casadamusica.com | T 220 120 de amor de sempre encontram-se num mesmo programa sob o signo da música russa - Tchaikovski e Prokofieff retrataram o drama de Shakespeare sobre um amor condenado. Destaque ainda para o regresso de Alban Gerhardt, especialista em concertos para violoncelo do período Romântico.

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Alastair Campbell aO homemsombra que foi de Tony Blair

Durante anos, Alastair Campbell fez a ponte entre Tony Blair e os jornalistas britânicos. Estratega p sombra em boa parte por causa da má relação que tinha com os media. No seu livro de memórias “ anos que em que o New Labour transformou o Reino Unido. M

É perigoso julgar alguém pela sua a sua verdadeira força era ser uma pes- vadores, eram eles que faziam a inventado a história e que se tivessem reputação. Alastair Campbell, o todo- soa capaz de tomar decisões. Ambos agenda. Agora, era o Governo a fazê-lo investigado teriam percebido que era “Desagradava-me a poderoso assessor de Tony Blair entre têm pontos fortes em áreas diferentes e a oposição não servia para nada. falsa. forma como a 1994 e 2003, chegou a Lisboa prece- e houve tempos em que a relação entre Então, decidiram que iam ser eles a E chegámos à questão do Iraque. dido da fama de conselheiro implacá- os dois foi muito difícil. oposição. Em 2003 você sai de Downing cultura dos vel e não necessariamente polido. Mas qual é a qualidade que Os media tornaram-se a Street acusado de ter tornado Veio promover o livro em que des- fazia dele um líder? O estilo, a oposição? Não havia outra “mais picante” (“sexed up”) um jornalistas se creve os nove anos que passou ao lado capacidade de comunicar, ou a oposição? relatório dos serviços secretos de Blair, “Os Anos Blair”, e parecia capacidade política? Nós enfraquecemos a oposição, ocu- sobre a alegada ameaça das desenvolveu e eu interessado em dar uma imagem mais Não se podem separar as coisas. O pando o centro e ficando lá. armas de destruição maciça de suave do que a que lhe ficou colada mais importante num líder moderno Mas não foi essa capacidade de Saddam Hussein. Alterou esse desafiei-a” nesse período. Conhecido como um é que o escrutínio é tão intenso que é ocupar o centro que levou os relatório? dos homens que construiu a máscara preciso ter todas as qualidades. media a apoiar-vos? Não. E fui completamente ilibado pública de Tony Blair, falou sobre o Quando Blair vence as eleições pela Ao princípio sim. Mas, com o passar dessa acusação. modo como a política é vivida por primeira vez, em 1997, a imprensa do tempo, a imprensa de esquerda O que se passou então? A detrás das máscaras. está toda com os trabalhistas. A partir começou a achar que não éramos sufi- afirmação de que havia uma Escreve no livro que Tony Blair de certa altura isso começa a mudar e cientemente de esquerda e a imprensa ameaça em 45 minutos não era o escolheu quando ainda estava o Governo passa a ter muito má de direita começou a achar que nós real? Campbel, que passou nove anos na oposição, porque precisava imprensa. não éramos suficientemente de direita. O primeiro-ministro decidiu que que- ao lado de Blair, elogia Bush. de um estratega e havia poucos. O seu trabalho não era Para o público isso não interessava ria partilhar tanto quanto era possível “Tony Blair também acreditava Como é que um assessor de precisamente evitar que isso muito. Não se esqueça que, mesmo com o público a informação que tinha que era preciso atacar o imprensa tem este grau de acontecesse? depois do Iraque, ganhámos uma ter- dos serviços secretos e apresentou-a Iraque”, diz importância? Em parte creio que sim. Mas não sei ceira eleição. As pessoas apoiavam-nos ao Parlamento. A acusação foi de que Era o que ele queria que fizesse. Que- se poderíamos ter feito uma coisa dife- muito mais do que os media. E eles tínhamos “sexed up” o relatório, que ria que fosse um porta-voz mas tam- rente. Os trabalhistas sempre tinham ficaram ressentidos com o facto de nós tínhamos tornado [a ameaça] maior bém queria que fizesse estratégia polí- tido uma má imprensa e boa parte dos dizermos que não eram tão importan- do que era, mas o que emergiu durante tica. Isso tornou-se mais difícil por jornais eram de direita. Nós libertáva- tes como pensavam. Também come- a investigação é que tínhamos sido causa da pressão dos media moder- mos mais informação, havia mais çaram a ficar obcecados comigo de cautelosos e meticulosos.

nos, que reduzem tudo ao curto prazo. declarações “on the record”, o pri- uma forma estranha. Ainda defende que a invasão foi WALSH SUSAN Ele conhecia-me suficientemente bem meiro-ministro falava mais do que os Lendo o livro, percebe-se que uma decisão correcta? para saber que compreendia os media anteriores. Tudo isso eram tentativas não tinha os jornalistas em Penso que o resultado final não foi e sabia como era possível superar o de nos abrirmos, mas isso foi lido pela grande consideração. Não é o que devia ter sido. Mas onde havia fosso que historicamente existia entre imprensa como uma tentativa de a exactamente amável com eles... uma ditadura brutal agora há um eles e o Partido Trabalhista. manipular. Não sei o que se passou. A Desagradava-me a forma como a cul- princípio de uma democracia, Nessa altura havia uma partir de certa altura decidiram que tura dos jornalistas se desenvolveu e começa a ser possível levar uma discussão sobre se o líder não gostavam de nós e exageravam a eu desafiei-a. Posso dar-lhe dezenas vida normal. Demorou mais tempo trabalhista devia ser Tony Blair importância do que fazíamos. Quando de exemplos de histórias que sabia do que esperávamos? Sim. Demasia- ou Gordon Brown. E dizia-se foi a questão do Iraque foi terrível... serem falsas. Quem escreve acha que das pessoas morreram? Sim, obvia- que o que separava os dois era a Já vamos ao Iraque. Esta não vai ter resposta. Eu nunca tive pro- mente. Foi uma decisão muito difícil diferença entre o estilo [Blair] e situação começou muito antes blemas em fazê-lo e era muito directo. mas o que quis explicar no livro é que a substância [Brown]. disso. Se aparecia alguém num briefing meu cada novo dado que chegava dos ser- Acho que isso é errado. Dizia-se isso Em parte creio que - e não quero ser que tinha escrito uma coisa que eu viços secretos nos preocupava ainda porque Blair é um grande comunica- muito conspirativo ao dizer isto - o achava uma porcaria, eu dizia-lhe isso. mais. E que era preciso tomar uma dor e era isso que as pessoas viam. Mas media achavam que, com os conser- E às vezes dizia que achava que tinham decisão.

26 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 Livros

a político e porta-voz, foi saindo da s “Os Anos Blair” dá-nos o seu relato dos . Miguel Gaspar

Mas o que escreve é que logo [David Kelly, cientista que terá infor- a seguir ao 11 de Setembro mado a BBC sobre as mudanças intro- a invasão do Iraque já era duzidas no relatório e que se suicidou um dado adquirido pelos a seguir à divulgação deste] morreu americanos. foi um dos piores da minha vida. Sim. E Tony Blair também acreditava Sabia que ia ser acusado pelos media que era preciso atacar o Iraque. e sabia que já tinha aguentado o sufi- Então para que serviam ciente. Tratava-se de alguém que eu relatórios como o que conduziu não conhecia, que não me conhecia, à sua saída se a decisão já estava que pode ou não ter-me censurado. tomada? É obviamente alguém que disse A decisão não estava tomada. Mas ele alguma coisa a um repórter, mas nin- [Blair] estava cada vez mais preocu- guém podia imaginar que ele se ia pado e achávamos que tínhamos de matar. enfrentar o problema. Por isso quise- Elogia George W. Bush mos ser mais transparentes. Normal- afirmando que as pessoas mente não apresentamos publica- passam a vida à espera que mente relatórios dos serviços secretos. apareça um político que diga Era uma coisa absolutamente legítima. o que realmente pensa e que Não era a causa para a guerra, era a quando isso acontece já não o causa para ele estar cada vez mais pre- querem. ocupado. Provavelmente, ele absorveu a ima- Mas a razão era a mudança gem que as pessoas tinham dele. Tinha de regime e não as armas de uma compreensão muito maior do destruição maciça? mundo do que se pensa. E era muito Até Bill Clinton tinha essa política, nós irónico, fazia muitas piadas sobre si não. A questão é o modo como a situ- próprio. A minha política não é a dele. ação do Iraque evoluiu. Mas se ele fosse um imbecil, como teria Acusa a BBC de ter conspirado chegado ali? Hoje vemos Obama quase para você sair. Porque é que a como um Deus e Bush como um demó- relação era particularmente má nio. Não é verdade. São ambos seres com eles? humanos com pontos fortes e pontos Não digo bem isso. Penso, quanto ao fracos. No meu diário talvez haja pes- Iraque, que muitos dos seus principais soas que eu trato demasiado mal e jornalistas eram pessoalmente contra pessoas com quem sou complacente. a guerra. Quanto à questão do relató- Mas são as minhas impressões, em rio, isso foi um nível diferente de acu- momentos específicos. sação. A BBC nem sequer verificou a Tony Blair disse que se você história. fosse religioso seria um Mas é o momento em que decide fundamentalista islâmico. sair? Sei o que ele quer dizer. Acha que eu Não, já tinha tomado essa decisão e sou excessivo a fazer as coisas. acabei por ficar mais tempo por causa desse inquérito. O dia em que Kelly Ver crítica pág. 32 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 27 Ricardo Menéndez Salmón “O mal é um tema inesgotável” FERNANDO VELUDO/ NFACTOS VELUDO/ FERNANDO

O livro passa-se durante a II Guerra Mundial

Ricardo Menéndez Salmón ainda não tem 40 anos e já é uma referência da nova literatura espanhola. Os seus últimos três livros são sobre o mal. “A Ofensa” foi editado pela Porto Editora. Isabel Coutinho

Quando o escritor espanhol Ricardo alguns media espanhóis como “o Menéndez Salmón foi a Auschwitz fez melhor romance publicado em Espa- uma visita guiada com um polaco, um nha em 2007” -, Kurt Cruwell é um homem cujos avós tinham morrido jovem alfaiate alemão destacado para ali. Durante a visita ao campo de con- a II Guerra Mundial. Antes de partir, centração, o guia não emitiu nenhum o pai diz-lhe estas palavras: “Procura juízo moral. “Mostrava-nos as coisas manter-te sempre na retaguarda. O simplesmente”, conta agora Ricardo heroísmo foi inventado para os que Menéndez Salmón, o autor do carecem de futuro.” romance “A Ofensa” (Porto Editora) No livro, Kurt Cruwell acaba por que participou no LEV- Encontro de não suportar a realidade da guerra. A Livros Literatura em Viagem, em Matosi- determinada altura, aquilo que vê e nhos. que faz entra em conflito com a sua “O único juízo moral que se permi- sensibilidade e a personagem rompe tiu fazer foi quando nos mostrou umas as amarras com a realidade. Para fotos aéreas, tiradas pelos aliados. E Ricardo Menéndez Salmón, Kurt pode disse: ‘Estas fotos foram feitas nos ser visto como “uma metáfora”. Desde anos 42 e 43.’ Nelas via-se perfeita- que Hitler chegou ao poder e o início mente o funcionamento dos fornos da II Guerra Mundial passaram-se seis crematórios. Como se nos estivesse a anos. “Nesses anos, Hitler foi dando dizer: ‘Sabiam perfeitamente o que provas do que era realmente e na estava a acontecer aqui e ninguém Europa ninguém moveu um dedo moveu um dedo’.” para evitar que o seu poder aumen- Em “A Ofensa” - considerado por tasse. Isto é uma constante na Histó-

28 • Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 ria. Gerámos monstros, deixámo-los crescer e quando esses monstros se “Gerámos monstros, começam a movimentar, muitas vezes, viramos a cara para olharmos deixámo-los crescer e para outro lado.” quando esses Ricardo Menéndez Salmón publi- cou o seu primeiro livro aos 27 anos. monstros se Nasceu em 1971, pertence à primeira geração que em Espanha escreve em começam a liberdade. A sua grande influência são os romances do século XIX. E Dos- movimentar, muitas toievski, Herman Melville, a literatura de vanguarda, Juan Carlos Onetti, vezes, viramos a cara Kafka, Conrad estão entre os seus para olharmos para autores preferidos. Um dos avós era republicano e outro lado” esteve no exílio. Costumava dizer-lhe que o mais dramático para os espa- nhóis no exílio não foi perder a guerra. “Claro que isso foi dramático mas, quando a II Guerra Mundial aca- bou, o que mais custou aos exilados espanhóis foi pensarem que as potên- certas decisões. Diz que há muito de cias democráticas iam tirar Franco intuição na literatura. “Do ponto de do poder e devolver o Governo à vista da escrita o mais difícil foi o final República. No entanto, elas não fize- de ‘A Ofensa’. Para mim era claro ram nada.” desde o início que Kurt devia morrer Para este escritor espanhol o mal para recuperar a sua humanidade. é um tema inesgotável, independen- Como se houvesse uma espécie de temente do momento histórico esco- paradoxo em que só no momento da lhido. “Kurt podia ser um soldado morte Kurt voltasse a recuperar essa norte-americano no Iraque”, diz. unidade perdida. Como se só a morte Optou por situar a sua história lhe devolvesse o sentido.” durante a II Guerra Mundial porque É curioso porque foi precisamente é um tema que sempre o interessou. essa última parte que foi lida de Foi o último grande conflito em que maneiras muito diferentes. Há quem praticamente o mundo inteiro se viu diga ao escritor que a última parte envolvido e o fenómeno do nazismo deste livro é “um romance de fantas- tem uma pergunta a que é impossível mas”. Outros dizem-lhe que tem um responder. “Licenciei-me em filosofia tom de Grand Guignol, quase de e todos os grandes nomes da filosofia “mascarada”, como se fosse um jogo moderna são alemães. De Kant até de máscaras. Outros insistem nos aqui, a Alemanha construiu as gran- aspectos oníricos. des formas de pensamento do mundo A história foi levando o escritor europeu. A música clássica é alemã, nessa direcção e o romance foi têm artistas maravilhosos... E surge ganhando simbolismo porque, acre- então a pergunta óbvia: como é pos- dita Ricardo, a personagem já se tinha sível que o país que deu frutos inte- convertido num símbolo. “Kurt no lectuais extraordinários tenha sido, centro do romance converte-se numa ao mesmo tempo, aquele onde se metáfora, já não é só ele, representa incubou ‘o ovo da serpente’ (citando muitas outras coisas”, diz, e é uma o filme de Bergman)? Essa pergunta personagem cuja história nos acom- continua sem resposta porque certa- panha depois de encerrado o livro. mente é impossível responder. É a pergunta da modernidade. E é nela Trilogia sobre o mal que a minha literatura se move.” Quando começou a escrever “A Ofensa” Ricardo Menéndez Salmón Quase um fi lme de Lynch não pensava necessariamente em Quando Ricardo Menéndez Salmón fazer uma trilogia sobre o mal. Mas o começa um livro acontece-lhe como que aconteceu é que houve um aos poetas: a sua primeira impressão momento em que estava a trabalhar é sempre uma imagem e é essa pri- em três livros ao mesmo tempo e deu- meira imagem que se torna central. se conta de que os livros estavam a No início da escrita do romance “A dialogar entre si. Não porque um livro Ofensa”, Ricardo Menéndez Salmón remetesse para um outro, são histó- via um homem que “sofria muito” em rias distintas. frente a um incêndio. “Naquele O segundo romance “Derrumbe” momento eu não sabia nem quem era (que vai ser traduzido pela Porto Edi- aquele homem, nem o que estava a tora) é uma espécie de “thriller” em ver”, explica. “ Eu tinha um homem que um grupo de jovens atacam um em conflito com o mundo por culpa parque temático. Há um assassino em de algo terrível e era necessário cons- série, um polícia que o persegue e um truir uma história para contar essa grupo de jovens terroristas. O escritor imagem.” Todo o romance é “uma espanhol quis reflectir sobre os diver- tentativa de vestir essa imagem, de sos medos da sociedade contempo- lhe dar um antes e um depois. É para rânea (a incomunicabilidade, a soli- contar uma história que explique essa dão e a morte). E o romance que fecha imagem.” a trilogia, “El Corrector” passa-se “A Ofensa” foi um romance de num só dia, 11 de Março de 2004, o “escrita lenta”, foram precisos quase dia dos atentados de Madrid. Começa três anos de trabalho para que o escri- às 7h da manhã, hora do primeiro tor terminasse um “livro muito comboio e termina à meia-noite. “É pequeno”. Foi escrito sequencial- escrito na primeira pessoa, quase mente, apesar das três partes do uma crónica jornalística. O protago- romance terem um estilo muito dife- nista sou praticamente eu, tem mui- rente. “A primeira parte começa com tos elementos autobiográficos. Per- tom quase realista de reportagem de mitiu-me construir um discurso sobre guerra e a última termina com um a manipulação política como outra tom simbolista, surrealista, quase de das formas do mal contemporâ- filme de David Lynch. A segunda neo.” parte é mais filosófica, mais concep- Enquanto escrevia, Ricardo Menén- tual, quase um tratado do amor, um dez Salmón apercebeu-se de que tratado do corpo. Cada parte, embora havia um diálogo temático entre os o narrador seja omnisciente, exigia três romances. O tema da maldade, um tom e uma aproximação distinta”, da dor, do medo, do terror aparecia conta. como um vínculo possível dos três No trabalho de um escritor há livros. “É um tema que me interessa zonas de obscuridade. Ricardo não tanto que fui incapaz de o esgotar sabe muito bem por que é que toma num único romance!”

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 29 30 “Onde Vamos Morar” •ÍpsilonSexta-feira 29Maio 2009 Teatro/Dança escrito e publicado umanovela epublicado escrito cujos superior porterposto deoficial destituídodoseu com 38anos,vê-se saída-Schnitzler,como única então padeiro emdueloevê osuicídio que serecusa aconfrontar um doexército deumoficial - ahistória pessoa. naprimeira um dramapsicológico primeiras obras desempre aexpor Tenente Gustel” -eumadas de“Ode Arthur Schnitzler-depois monólogoElse”, osegundo interior a adolescente aocentro de“Menina 33 anos,podersubir aopalcocomo para,aos namedidacerta segurança torna força. Odesamparo ea que umafragilidadeaparente se tem esselado em demulher-criança Durão última sílaba,àfrancesa. Rita “Ritinha”, comumacentovago na LaurentChristine chama-lhe Sáb. às16h00. às21h30. Dom. Tel.: 213961515. 15€ Tenente Raúl 1A.Até 21/06. 3ª,4ª,5ª,6ªe TeatroLisboa. Alto. daCornucópia-Bairro R. Durão. Rita Laurent. Com Christine De Arthur Schnitzler. Encenação: A Menina Else Vanessa Rato subir àcenacomoElsa. para asegurança também fragilidade, mastem aaparenteconserva Aos Durão 33anosRita de Else A vertigem “Traições” Só, Sílvia Almeida,FilipeLuz. Noronha/Miguel Moreira, Paula AdelaideCom João, Guilherme Miguel Moreira, João Brites. Correia. Encenação: De Natália Crucifi Estreiam Teatro Encenação: AntónValén.Encenação: Businessclass Tel.: 222089007. De 30/05 a31/05. Sáb. às16h. às21h30. Dom. Porto. Teatro Pç. doBolhão. Coronel Pacheco, 1. João Paulo Costa. Teatro doBolhão. Encenação: De Harold Pinter. Companhia: Traições Tel.: 229392320. Avenida 01/06. Dia 2ªàs21h30. SerpaPinto. Matosinhos. Cine-Teatro ConstantinoNery. Ricardo Gageiro, Romeu Costa. Garnel,RaquelMónica Castro, António Fonseca, David Almeida, Pedro AinhoaVidal, Gil.Com De Pedro Gil.Encenação: Mona LisaShow XXXII FITEI Aconselha-se ousoderoupas quentes. Tel.: 8€ 212336850. a12€.Espectáculo aoarlivre. De 04a28/06. 5ª,6ª,Sáb. às22h00. eDom. Palmela. Teatro Vale OBando. de Barris. Agenda Em 1900, com“O Tenente Gustel” cado boca de cena, pernas a baloiçar para decena,pernas abaloiçar boca à lágrimas nosolhosquando sesenta empréstimo de30milflorins. deDorsday,um tal um pedindo-lhe éfalarcomumamigoprisão dele, maneiradesalvar opaida única explicando que decasa a telegrama quandorecebeabismo um abaixo dojoelho, no que élançada esconder amalhanasmeiasdeseda um primo;aparente pobre, atentar apassarférias comumatiae está advogado amantedabolsaedojogo, masendividadoconhecido Else,filhadeum italianas. charme perdido entre asmontanhas dia eumanoitenum hotelde um um diaeumanoite,nestecaso vertigem individual. volta atrabalharomesmotipode húngaro”. anosdepois Vinte ecinco renome doexército austro- comprometerem “a honraeo conteúdos seconsiderou 7,5€ a16€ Até 29/05. 5ªe6ªàs21h30. Tel.: 213250835. TeatroLisboa. Nacional D. MariaII.Pç. D. Pedro IV. Thomas Rascher, Frederik Rohn. SebastianKautz,Anna Kistel, MichaelVogel.Encenação: Com Frederik Rohn, MichaelVogel. Thomas Rascher, Hajo Schüler, SebastianKautz,De AnnaKistel, Hotel Paradiso Tel.: 213250835. 7,5€ a16€ De 30/05 a31/05. Sáb. às 16h. às21h30. Dom. TeatroLisboa. NacionalD. MariaII.Pç. D. Pedro IV. Neville Tranter.Allan Zipson.Com Stuffed Puppet Theatre. Encenação: De Jan Veldman. Companhia: Vampyr FIMFA 29/05.Reis, Dia 12. 6ªàs21h30. Tel.: 271205241. 5€. Guarda. Teatro Municipal daGuarda. Rua Batalha às17h.Tel.:Dom. 212724928. Pç. Liberdade. De30/05 a31/05. Sáb. às21h30. Almada. Fórum Municipal Romeu Correia. 03/06.Dia 4ªàs21h30. Tel.: 223401910. Porto. Teatro NacionalSãoJoão. Pç. Batalha. Sílvia Filipe. Pedro Lacerda,SérgioGodinho, Henriques, Pedro Carmo, Pedro Gil, AndreiaCom Bento, Cecília JorgeEncenação: Silva Melo. Unidos. Artistas Companhia: De José Maria Vieira Mendes. Onde Vamos Morar 29/05.Dia 6ªàs16h. R.SantaCatarina. Porto. Rua de SantaCatarina. “A Menina Else” éumprojecto antigo Else - ou seja, Rita Durão-tem Else -ouseja,Rita paraatragédia:A medidaclássica O Jesuíta Bailarino” “Saju George: encontro invariavelmente soba belascriações, uma dassuas Sempre que medeixo absorver por sentimento defamiliaridade. comove comumestranho me tudoisso do amoredamorte; seu pensamento presta àpolaridade que o aatenção nossa sociedade, que fazdasconvenções da culturais instintos dohomem,adissecação ecomosimpulsos inconsciente tem comasverdades do “Aem carta: preocupação que você o seuduplonaliteratura,escreveria para aver nua. velhomais que, emtroca, lhepede ter que sevender àquele homem paranão deixar que opaisesuicide lágrimas nosolhosquando pondera Durão-volta ater ou seja,Rita osjoelhosnosdela.Else- encostar velho, a dearte, umnegociante faz imaginaressehomemmais encolhe num bancodejardim, enos fora dopalco, comoquem se às 21h30. Tel.: 256372248. da Feira. Vila daFeira. Até 30/05. 5ª,6ªeSáb. 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ANA BANHA momento - a sua alturacerta. momento -asua pordefiniroseupróprioacabam Cornucópia. assim,que Háprojectos da daprogramação fizesse parte quem sugeriu que aencenação MiguelCintra eLuís encenação ofereceu pessoalmenteparaa ela. guardadosque ficam nagaveta”, diz assim, “Háprojectos tempo depois. primeiro esboçodotexto algum um Durão; eleofereceu àactriz paraRita fosse umbomprojecto equeElse” para português talvez Mendes que “Menina traduzisse Melo sugeriu aJosé MariaVieira Homens” (1998),Jorge“Dois Silva dimensão.” ampliada, tudoganhaumanova parecedas coisas alterada, todoumpalco. “Acabe percepção solidão literaldeumcorpoaquem personagem, essa mastambém uma duplasolidão-ada “hipnose”, dizela.Ahipnosede por seentrarnuma de espécie tinha feitonum monólogo. Acaba Durão,como Rita que nuncaantes em palco. Sobretudo para alguém, ao longo horas. deduas -que acompanhamos auto-derrisão para ohumor,escape aleveza, a o e adúvida, sim,mastambém vertigem deElse-aangústia mental laborioso estudosobre osoutros.” tudo oque eudescobricom de que você conheceintuitivamente conclusões... Ficocomaimpressão suposições, interesses e apresentam asminhaspróprias que elas poética superfície 223399000. 10€. De 02/06 a03/06. 3ªe4ª às21h30. Tel.: Porto. Palácio R.Ferreira daBolsa. Borges. Francisco. Bailarino:Filipa Francisco. Coreografia: Filipa Leitura deListas Sáb. Tel.: às22h. 253424700. 10€ a12,50€ Avenida D. Afonso Henriques, 701. 30/05. Dia Guimarães. Centro Cultural Vila Flor. Augustijnen. Koende laB.Coreografia: lesballetsC Companhia: Ashes Tel.:às 22h. 226156500. Entrada livre. 210.Castro, De30/05 a31/05. Sáb. eDom. Porto. Museu deSerralves. Rua João de Dom Marianne Baillot. Júlio, Pavlos Kountouriotis, Instável. António Coreografia: Companhia Companhia: Camping Violence + TheRevenge oftheBlondes: + Stone-washed and BreathBoots Tel.: 213585200. 15€. deAlcântaraDoca 29/05. Norte.Dia 6ªàs21h30. Brasília Pedro -Edifício Álvares Cabral - Museu doOriente.Lisboa. Av. Moolamthuruthil. Bailarino:Saju George O Jesuíta Bailarino Saju George: Dança Foi Laurent Christine quem se Projecto antigo de este:depois horasémuitoDuas temposozinha éaterrível pois: O inconsciente, “Crucifi cado”

32 português extensa bibliografi “O Olho” vem agora juntar-se àjá •ÍpsilonSexta-feira 29Maio 2009

Nuno Júdice Pepetela parte para destinos diferentes: Coop de chamar os seres amados por um deambula até ao Nevada e torna-se nome “errado” – é mais um poeta do Saídas um jogador profissional em lugares que um romancista. Este “Divisadero” como Santa Maria e Tahoe (onde, quebra resolutamente a estrutura Ficção mais tarde, revê brevemente Claire novelística com a sua linguagem que, de novo, cuida dele depois de fluida, cadenciada e encantatória, sem O Planalto e a uma luta, embora seja confundida fio narrativo e construída sobre Estepe Pepetela com Anna) e ao acompanhá-lo o leitor momentos que são como epifanias Dom Quixote, € mergulha num sub-mundo num universo movediço, em que as 14,00 crepuscular, marginal e brutal; arranja personagens estão unidas por fios O mais recente trabalho como investigadora para um invisíveis e ténues, encontrando o seu romance de advogado de São Francisco e é a única caminho na travessia do tempo. Pepetela, Prémio que, de tempos a tempos, regressa Camões em 1997, para ver o pai, acompanhando-o em é um regresso ao refeições silenciosas e carregadas de O paraíso tempo e aos modos da “geração da tristeza; Anna vai para São Francisco utopia”. É a história de um amor onde mora na rua Divisadero, um proibido entre um estudante nome que, para ela, tem uma nunca chega angolano e uma jovem mongol que se encontram em Moscovo nos conotação de “divisão”. Aí dedica-se anos 1960. “A estória aconteceu”, ao estudo de um famoso poeta, Depois do romance garante o autor, mas as Lucien Segura, que desapareceu um “Falconer” e dos geniais personagens são ficção, “mesmo dia sem deixar rasto. contos, sai em português aquelas que fazem lembrar Esta história ocupa a segunda parte alguém”. do livro e Ondaatje aproveita-a para a última e elegíaca obra de desenvolver a sua estranha obsessão John Cheever. Pedro Mexia As Aventuras de pela cegueira que já tinha surgido com Robinson Crusoe Alamasy em “O Paciente Inglês“ e com Daniel Defoe Parece Mesmo o Paraíso Ananda em “O Fantasma de Anil”. (tradução de Maria John Cheever João Freire de Segura é meio cego desde criança e a (tradução Maria Carlota Pracana) Andrade) sua paixão por Marie-Neige – casada Nelson de Matos Relógio D’Água, €12 quase criança com um homem muito As Edições mais velho – é também fracturada e mmmmn Nelson de Matos confusa. Paralelamente, a relação que inauguram a sua Anna desenvolve com Rafael – um “Esta é uma história para se ler na “Biblioteca Juvenil” com uma homem rústico e uma espécie de filho cama, numa velha casa, numa noite nova tradução de um dos mais populares clássicos do romance adoptivo do escritor francês – de chuva”, assim começa este curto MAI ~ 09 de aventuras, desde a sua funciona como um espelho (imagem romance publicado em 1982, que cem primeira publicação há trezentos o são luiz no maria matos recorrente, sempre quebrado em mil páginas depois termina: “Mas isso é anos. É o relato de como Crusoe estilhaços) das outras ligações outra história e, como disse no viajou, naufragou e aportou à amorosas. começo, está é uma história para ser célebre ilha deserta, de como Todo o livro se desenvolve em lida na cama, numa velha casa, numa sobreviveu sozinho e de como MUSIC espirais, construídas como noite de chuva.” Talvez este principio encontrou depois um homem meditações soltas em torno de e fim mostrem que aqui a narrativa é chamado Sexta-Feira. identidades difusas, num exercício menos importante do que o tom, Os Passos da Cruz AROUND que remete o leitor para os mistérios elegíaco e algo hermético, e com da própria criação literária. A maior algumas e inesperadas epifanias. Nuno Júdice Dom Quixote atracção de Ondaatje reside na Num escritor tão pessimista como Novela ou Natureza, no que esta tem de belo e John Cheever (1912-1982), tendemos a romance, o livro CIRCLES de violento, e na sua ligação com o entender a palavra “paraíso”, ainda mais recente do TEATRO MARIA MATOS desejo sexual e a ânsia erótica. por cima na sua forma exclamativa poeta Nuno Tanto a cena da união de Anna e (“Oh What a Paradise It Seems”, no Júdice é a história 29 E 3O MAI ÀS 21H Coop no início do livro, como o original), como uma amarga ironia. de um homem M/16 fantasmagórico encontro de Segura e Essa ideia não é exacta. O romance que tenta refazer Marie-Neige quando ele regressa da apresenta várias figurações possíveis a história de uma mulher que viveu guerra, são descritos com uma do paraíso, embora de facto nunca três séculos antes: “Há em todas minúcia e uma estranha calma que seja um paraíso metafísico nem estas coisas um halo melancólico, o remetem para a liberdade poética mental. Esse paraíso que Cheever que tem a ver com mundos que utilizada por um autor que bebe as convoca faz-se da banalidade do desapareceram, vidas que não sei suas fontes em Thoreau, Dickinson, quotidiano, às vezes muito pouco até que ponto se terão chegado a Emerson e Anne Dillard paradisíaca na superfície mas que, em realizar, pessoas que esperam, ainda, que alguém se interrogue com (expressamente citada neste livro). dados momentos, permite uma sobre o mistério da sua existência.” Michael Ondaatje – além da felicidade sem motivo: compras em BERNARDO SASSETTI influência budista que o faz utilizar o supermercados, idas à praia em JOÃO PAULO ESTEVES DA SILVA Noite Dentro, conceito de “gotraskhalana“, termo família, viagens na auto-estrada, gente Moçambique e MÁRIO LAGINHA em sânscrito que tem a ver com o acto a fazer “jogging” para esquecer os Outras FILIPE QUARESMA seus males, estranhas reuniões Narrativas JOANA VERONA Num escritor tão pessimista paroquiais. Brilhante cronista dos Laurent Gaudé (tradução de RAFAEL MORAIS como John Cheever tendemos a “subúrbios” (que no contexto Isabel St. Aubin) entender a palavra “paraíso” americano designam os locais de ASA como uma amarga ironia residência da classe média e média- Depois de alta), Cheever quase abdica da “Eldorado”, “A UM CONCERTO concepção tradicional de “felicidade”, Morte do Rei a partir de imagens do filme de concentrando-se em sensações e Tsongor” e “O Sol dos Scorta” evocações que mantém as (Prémio Goncourt 2004), publica-se MARCO MARTINS personagens à tona de água. agora esta colectânea de quatro Como desenhar um círculo perfeito narrativas de Laurent Gaudé, Amor propriamente dito é um romancista e dramaturgo nascido com música original de sentimento quase ausente. Os casais em Paris em 1972. Disse a crítica WWW.TEATROSAOLUIZ.PT continuam juntos por comodismo, o francesa que estes contos BERNARDO SASSETTI sexo é uma compulsão ou um “perfeitos” revelam “uma divertimento, e até os laços familiares qualidade que falta à maior parte bilhetes à venda apoio à divulgação MARIA MATOS TEATRO MUNICIPAL tel. 218 438 801 não contam pouco. Assim, um pai dos romancistas, a imaginação e a SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL tel. 213 257 650 mantém com a filha “uma relação beleza da escrita”. WWW.TICKETLINE.PT altamente prática, caracterizada

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 33 A 34

•ÍpsilonSexta-feira 29Maio 2009 Caroline Bergeron Bergeron Caroline

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31 de Maio wordpress.com/ universitydiary. http:// University Blog br/blog/ acarlos.com. http://www. Silveira António Carlos adquirir onovo modelo agora nãoresistiu a sua primeira versão e comprou umKindle na Também Ferdinand Coutinho Isabel Livros logo existo” “Compro gadgets, Ciberescritas (Ciberescritas jáéumblogue http://blogs.publico.pt/ciberescritas) rápida ao dicionário (em inglês obviamente).” (eminglêsobviamente).” rápida aodicionário que éumavanço, deconsulta comafunção principalmente opção, masaousaronovoesta direccional possoconcordar ‘click’. quando viaprimeira Fiquei vez umpouco pessimista do Kindle1.Agora háumdireccional de4direcções o mais a barralateraldenavegação, diferencial que eraumcerto ele: “Nonovo Kindle2foram removidos o‘click-wheel’ e pontoporponto. e noseu“post”vaianalisando Escreve o tecladoémelhor, etc.AntóniotrabalhanaYahoo! Brazil menos requintada doque aantiga(adoKindleoriginal),que émenore Antóniovai explicando quecaixa esta de cartão Kindle 2”éotítulodovídeoeenquanto vai abrindoacaixa do Kindle2lhechegou àsmãos.“DesembalandoAmazon o seunome,colocou umvídeoque fi EUA adquiriu que omodeloKindle2.Noseublogue, tem o brasileiro AntónioCarlos Silveira, que numa viagem aos ecomMacatravés comPC também deUSB). funciona “e-reader” (apesardisso, oKindle aumcomputador livros ligaro semserpreciso electrónicos em60segundos, secomprarem crédito norte-americano, edescarregarem doprópriopartir aparelho, de comumnúmero decartão dea em territórioamericano. Uma delaséacapacidade [email protected] logo existo”, deDescartes). (“Compro gadgets, logo existo”, umavariantede“Penso, “Iacquire eacrescenta: blogue gadgets, therefore Iam.” não resistiu aadquirir onovo modelo. Explica tudonoseu primeiraversãoKindle nasua eagora, comoAntónio, tal o aparelho comlivros novos. Também elecomprou um eumamorada nosEUA, encher crédito norte-americano aproveitou umaidaaosEUA de para, comumcartão e oslivros que jávinhamcomoaparelho, masdepois PrimeiroBlog. sóliaclássicos(semdireitos deautor) comprou umecolocou impressões assuas noAUniversity seu Kindle,muito legal.” vocêmadrugada equando acorda no aversão jáestá digital jornal, comarede semfi deassinatura de falido:-).Também aopção estaria élegal aindabem que noBrasil,senão de segundos, nãofunciona sem fi usar noBrasil” confessa que “usaroaparelho comarede fi Wifi WiFi (“chegaligação derede semfi colorido(“porfavor:ecrã ésacanagem”), 16tons decinza aotoque”, esperandoumatelacomresposta todos acabam “ao pressionar umateclaoKindledemorava unssegundos danovatempo deresposta tela”, jáque noantigo modelo do aparelho. Masoque eleachaque melhorou mesmoé“o aceder rapidamenteacomandossemterque iraomenu quemelhor egosta para sepodemactivar dosatalhos É o emqualquer lugardomundo”). António também consideraque otecladofi António também acompracomo No entanto, háquem tenhaarriscado Na Irlanda, Ferdinand von Prondzynski também Num outro “post”,intitulado“-como noKindletornariapossível seusrecursos utilizar sem o é outra coisa, épossívelo éoutra coisa, comprarlivros emquestão características que só funcionam quando se está que quando seestá sófuncionam características O Kindlesóévendido nosEUA etem Kindle, oleitor delivros electrónicos daAmazon. vivem Unidos eque foradosEstados têmum vez frequentecada mais encontrarpessoasque ¬ Mau ☆ Medíocre o o jornal é entregue todo dia de o jornaléentregue tododiade com a introdução do iPhone com aintroduçãodoiPhone ter “telasensível aotoque: que pelopreço devia que custa aparelho muito eacha caro António aindaconsiderao Kindle2”, explica. usoo otecladoenquanto mais “Agora estouusandomuito seu usomuito irritante”. para responder oque tornava Apesar destas melhorias Apesar melhorias destas ☆☆ o viacelular, habilitando lmou quando a caixa a caixa lmou quando Razoável cou muito ☆☆☆ Bom ☆☆☆☆ enquanto olhamparaasunhas. Todaenquanto homensque crápulas, mentem castas, Sears procura naspessoas,sóexistem ninguém tema“luminosidade” que gente contaminada, écorrupta, Porter” (pág.88).TodaHarrison esta Townsendtenentes eramCopley e Chaunchey Upjohn eosseuslugar- chamava-se fantoche daoposição, que era Chisholm um segundo Opresidentemontanhas. dajunta, lagos,nome comruas, pauis eàsvezes rural emque asfamíliaspartilhavam o “Pareciam nomesdaquele passado prioridades, sãooutra gente: porque têmoutras osdirigentes locais preocupados? Aparentemente não, o lago sesalve, apesardoscidadãos ouseja,épossívelcontaminação, que português. notáveisescritores játraduzidosem comoYatestal ouBrodkey, outros que Cheever dessa contaminação fala, profunda (pág.102). contaminação” É própriasua libidinosidadeerauma deque a dacrença consciência sua a parecia terlibertado deBeasley Lago potável. daágua busca Apureza do doamorena nabusca semelhança deter encontrado dofacto nascido “Sears falava comoentusiasmo no gelo. Impossível fugiràmetáfora: epatinagem em vez calmas deáguas aserusado comolixeira,está entulho um lago, Beasley, oLago que agora lampejos eelipses,intensidades. por não ésequencial masfaz-se narrativa, herdeiratécnica doconto, perdidas, vivem vidasirreais. A estão densidade fragmentada, maséuma densidade psicológica, personagens têm oque sechama alguns para eutratar.” As amigosassim tantos mande-me como conselhodoque: “Setem “alienista”), oferece elepouco mais (aqui chamado psicanalista Mesmo quando aparece um incoerente, envelhecido, neurótico. história” (págs.45-46). pensar que estava amanipular Searsparecia genitais nascalças, para aguerra.Ao pôrosórgãos sementes paradiscórdias futurase para oBálticoeespalhandoas oferecendo àPolónia umcorredor e deixandosemabrigo populações, expatriandoconflituosas nosBalcãs, do Egeu, várias novas criando nações costa Bulgária, dandoàGrécia asua Versailles, roubando aMacedónia à com que de seassinouoTratado um tesouro comoacaneta especial; fosse todos oshomensdoplaneta, comum,este órgãotão possuído por deautoridade, uma espécie comose Parecia, de noentanto, desfrutar nemarrogância. descaramento homem amável enãohavia aqui “Searseramenos sensual: um étudo burlesca, quase anatómica, mulheres”. Até umadescrição dizer que eunãopercebia nadade sópara me tirou daboca omeupénis exemplo, umaamanteque “umavez enlevo apaixonado temos,por eno ética, identidade masnãoasua quebissexuais incomodamasua o protagonista temexperiências Haverá aessa que escape paraíso O “paraíso” propriamente dito é tudo étriste, Tudo então principalmente pelo cepticismo”, pelocepticismo”, principalmente Muito Bom ☆☆☆☆☆ Excelente Estamos online. Entre em Internet www.ipsilon.pt. É o mesmo suplemento, é outro desafi o. Venha construir este site connosco.

a gente, como se diz, vive nuns isolamento do partido em relação ao de outras cimeiras (as europeias, por “Balcãs do Espírito”, uma terra centro político, que se acentuou exemplo) que Campbell relata muito desolada. durante os anos em que esteve na bem. Ficamos a saber até que ponto Em “Parece Mesmo o Paraíso”, o oposição ao thatcherismo. Depois os ginásios podem ser um espaço de futuro parece não ter futuro, por mais com a transformação do Labour no negociação política neste tempo de premonições e linguagem partido dominante da Grã-Bretanha, domínio da imagem em que os esperançosamente técnica que um período em que o número de 10 decisores políticos não escapam à enxameiem o texto. Há tragédias de Downing Street se torna o obsessão pela forma física. pequenas (um cão abatido), rádios epicentro de inúmeras tempestades, Mas o ponto em que o relato de Os com música atroz, tragédias enormes internas e externas. Blair começou os Anos Blair se torna mais fugidio é (um bebé perdido), casas de sereno seus anos no poder querendo claramente o do relatório sobre as isolamento e a chuva em algerozes construir uma “New Britain”, acabou- armas de destruição maciça defeituosos. Há um falso final feliz e os a tentar evitar que a invasão do iraquianas. Tanto no momento em um paraíso que nunca chega. No seu Iraque ficasse como a marca do seu que o relatório aparece e é usado, no último texto, John Cheever refere-se legado histórico. período imediatamente anterior à várias vezes à “época sobre a qual O livro de Campbell é, portanto, um guerra, como durante à investigação escrevo”. Que época é essa? É agora. relato a partir do interior dos salões da fuga de informação sobre as do poder de um dos períodos mais mudanças ao documento (que fascinantes da história política recente Campbell sempre negou) e a morte do Memórias da Grã-Bretanha. Mas é também cientista David Kelly. Quem tenha interessante por ser escrito por uma seguido o caso, em 2003, não personagem que deu corpo à lenda do encontra as respostas que esperaria e A política assessor de imagem omnipotente depara-se com uma narrativa onde como poucos – Karl Rove, o homem vários episódios decisivos parecem ter que fez as campanhas de George W. ficado diluídos num relato onde o também Bush, que Campbell identifica como leitor tem dificuldade em distinguir o uma espécie de alma gémea, é dos essencial do acessório. se faz no poucos cuja reputação é comparável à Essa é, aliás, uma característica do antigo jornalista. comum a todo o texto de Campbell. O ginásio Depois, por Campbell ser, ele livro é um relato extensíssimo onde os próprio, uma personagem. Teve episódios se sucedem numa ordem problemas de alcoolismo que superou quase cronológica e aos quais falta Relato a partir de dentro (era um dos seus temas de conversa essa distinção entre o que é e não é de uma parte da história com George W. Bush) e que importante. Os casos e as situações começaram quando estava na multiplicam-se, com vários juízos recente do Reino Unido. redacção do Daily Mail. Segundo pessoais à mistura (a ministra Miguel Gaspar contou há tempos ao “Financial trabalhista Clare Short é um dos ódios Times”, havia um carrinho com de estimação de Campbell). Ou bebidas que circulava no jornal logo passagens curiosas sobre a difícil Os Anos Blair de manhã, à hora a que em outras relação que um assessor responsável Alastair Campbell redacções é costume venderem-se pela imagem de um político pode ter Bertrand sandes e sumos. As bebidas com a mulher de um político, como mmmnn destinavam-se aos editores mas acontecia entre Campbell e Chérie Campbell, que ainda não era editor de Blair. Entre todas, a história mais Antigo jornalista e política, não viu nisso um obstáculo. curiosa relatada em “Os Anos Blair” é conselheiro político Não se sabe se foi aí que começou a a de uma conferência trabalhista em de Tony Blair visceral antipatia do futuro assessor que Bill Clinton, já depois de ter durante nove anos, de imprensa contra os seus antigos deixado a Casa Branca, é a estrela de 1994 a 2003, colegas de profissão, outro dos traços convidada. Clinton arranja maneira de Alastair Campbell foi do carácter desta pouca ortodoxa quebrar o protocolo e anda a passear a principal personagem. na rua até encontrar um McDonalds eminência parda da O resultado final é um texto rico em onde se instala, para espanto dos seus ascensão e domínio episódios e pequenas histórias, companheiros de passeio, dos clientes do New Labour na política britânica. algumas particularmente e de toda a gente nas redondezas. Entrou para a equipa de Blair no interessantes, como as do O lado bom do livro é sem dúvida Verão de 1994, quando este assumiu a período da ascensão de Tony essa viagem ao interior de um liderança do Partido Trabalhista e Blair no Partido Trabalhista, período político muito significativo acompanhou-o quando chegou ao outras politicamente da história recente e ao retrato interno poder, em Maio de 1997, pondo fim ao reveladoras, como as do de como funcionavam Blair e a sua ciclo de 18 anos de governos período que separa o 11 entourage. O lado menos bom é conservadores, iniciado por Margaret de Setembro da o modo como as histórias se Thatcher. invasão do Iraque. Os encavalitam umas nas Saiu em 2003, após um escândalo momentos da génese outras, escritas quase como em que foi acusado de ter falsificado da liderança de Blair notas do dia transpostas dados de um relatório da espionagem e do modo como para o texto. britânica sobre a alegada existência de desenha a ruptura Falta esse “gate keeping” armas de destruição maciça no com as tradições e falta alguma reflexão e Iraque. David Kelly, um especialista do trabalhistas (a distanciamento em relação Ministério da Defesa que teria contado invenção do slogan a tudo o que é descrito. O a história à BBC, suicidou-se na New Labour, por Alastair resultado é um livro que é sequência deste caso, tornando a exemplo, que Campbell: possível ler como se fosse posição de Campbell insustentável. Campbell a principal uma série televisiva, um Blair ficou ainda mais quatro anos em reivindica para si) são eminência episódio aqui, outro ali, ligados Downing Street, antes de passar a fascinantes. A evidência parda da por uma trama difusa que é pasta ao actual primeiro-ministro, de como a invasão do ascensão e sempre possível recuperar. Gordon Brown, em 2007. Iraque estava domínio do Funciona como um “Os Anos Blair” é o registo das politicamente pensada New Labour documento que ajuda a situar memórias que o antigo jornalista do muito antes de 2003 é um na política uma parte da história tal como “Daily Mail” foi escrevendo ao longo relato interessante de britânica ela foi vivida, mas que deixa desses anos de mudança na política seguir, bem como o relato mais pontas a descoberto do que britânica. Primeiro com a viragem do dos vários encontros de histórias encerradas. A Partido Trabalhista no sentido da Blair com George W. Bush. E fragilidade do livro acaba

STEPHEN HIRD “terceira vida”, rompendo com o há todo um ambiente destas e também por ser a sua força.

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 35 36 •ÍpsilonSexta-feira 29Maio2009 espaço para surpresas como que asdistribuidoras têm despejado nassalas,há Pelo do“refugo” meio

“Traidor” Cinema perturbante. Porperturbante. tudoaquilo que alguma vez mais foi,mastambém devampirosqualquer história tempo, inocentedoque mais que é,aomesmo idade adulta à deiniciação éumahistória Entrar” adolescente).“Deixa-me abstinência como “Crepúsculo”, paraa sexo oupara aluxúria (oumesmo, parao como metáfora vampirismo mito dosvampiros nãousao tenha 12anos. melhor, mesmoque sófisicamente mesmo que sótenha12anos.Ou, quer dizerque... éuma vampira— detersidoconvidada, depois isso à escolaesóentrar casa emsua anevar,está osgatos,nãofor irritar noite, nãotiver friomesmoquando E seanova vizinhadolado sósairà 19h30, 22h10, 00h50 2ª 14h15, 16h50, 19h30, 22h10, 00h503ª4ª16h50, Porto: Arrábida 20:Sala4:5ª 6ªSábadoDomingo 00h30 Domingo 2ª3ª4ª14h20, 16h50, 19h20, 21h45, Lisboa: Medeia Monumental:Sala3:5ª6ªSábado MMMMn Leandersson, Per Ragnar. M/16 com Kåre Hedebrant, Lina De Tomas Alfredson, Right OneIn Låt denrättekomma in/Let the EntrarDeixa-me Jorge Mourinha muito tempo. queadolescência vemos em espantosos filmessobre a amigo éumdosmais adolescente edoseuúnico deumavampira A história que eudeixo Morde aqui perturbante doquequalquerhistóriadevampiros à idadeadulta queémaisinocente emais Entrar”“Deixa-me éumahistóriadeiniciação Mas a mais recenteMas amais revisão do

precisar de carregar notraço, decarregar precisar sentir—efá-losem conseguimos raiva) comosó naadolescência emoções arrebatadas (amor, ódio, de sabiamente doseshomeopáticas estruturado, Tomas Alfredson injecta eextremamente preciso formalismo escandinavo. Por trásdeum docinema Bergmaniana, própria “glacial”, reputação extremamente inteligentes coma demodos que joga também mas doscolegas, porparte aceitação de adolescente dosmiúdosembusca do vampiro comaalienação de“outsider” oestatuto equaciona amigos. e dizer-lhe que poderão ser nunca comelenopátio doprédiose cruzar —sobretudo deela intriga-o depois próximo. Anova vizinhadepatamar numsangrada atéàmorte subúrbio entre uma vítimaque osquais foi sórdidos que dosjornais, recorta decrimes enasnotícias da cama que mantémescondidadebaixofaca na encontramlibertação vingança humilhar; de fantasias assuas prazerdeo que tiraespecial deescola porum colega perseguido próprio dodiae amaiorparte separados,entregue asi filho depais romântica. sedução da civilizada àfantasia por oposição animal, instintivo dovampirismo tudo sepassa,eque explora olado deEstocolmoonde desenrascado com abanalidadedosubúrbio ao mesmotempo que ossubverte inquietovampíricos noseuonirismo selvagem, que oscânones segue do outro, e maséumafábulaglacial nosbraçosum encontram conforto adolescentes sozinhos que dedois história defábulanesta coisa pelosdedos:háqualquer contam-se gráfica elidida, ascenasdeviolência Toda acomponentesobrenatural é prefere sugerir doque explicar. mais porque osueco Tomas Alfredson deixa pordizer—emuito, Zack eMiriFazem umPorno O Último Condenado àMorte Traidor Os Resistentes Um Conto deNatal Cada umoseuCinema À Noite noMuseu EntrarDeixa-nos Amazing Grace Anjos eDemónios As estrelas dopúblico É o princípio deuma viagemÉ oprincípio que Oskar éummiúdodedoze anos, “Traidor” é a manipulação: toda a todaa éamanipulação: “Traidor” Masoverdadeiroterrorista. temade agora está ligadoaumacélula explosivos emuçulmano devoto, que em americano, especialista movida pelo FBIaumex-comando ésobre aperseguição superfície, aonívelum físico dainteligência. À trabalho deginásioeapresentasse um “Syriana” que tivesse feito é Ponhamos assim:“Traidor” acoisa 13h20, 16h15, 21h50, 19h, 00h35 Dolce Vita Porto:5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª 2ª 3ª4ª19h05, 21h55, 00h30;ZONLusomundo 20: Sala1:5ª21h55, 00h306ªSábadoDomingo 2ª 14h10, 16h55, 19h353ª4ª16h55, 19h35;Arrábida Porto: Arrábida 20:Sala2:5ª6ªSábadoDomingo 21h20, 00h05 Sábado Domingo 2ª3ª4ª13h10, 15h55, 18h40, 24h; ZONLusomundoAlmada Fórum: 5ª6ª Domingo 15h30, 2ª3ª4ª13h, 18h10, 21h30, 00h25; ZONLusomundoColombo: 5ª6ªSábado Domingo 2ª3ª4ª13h40, 16h30, 19h10, 21h50, 24h; ZONLusomundoAmoreiras: 5ª6ªSábado Sábado Domingo 2ª3ª4ª14h, 16h20, 21h30, 19h, 21h30, 24h;UCIDolce Vita Tejo: Sala2:5ª6ª Sábado Domingo 2ª3ª4ª14h10, 16h30, 19h, 24h; Medeia SaldanhaResidence: Sala7: 5ª6ª Sábado Domingo 11h40, 13h55, 16h20, 18h35,21h50, 6ª 2ª3ª4ª13h55, 16h20, 18h35,21h50, 24h BelouraLisboa: CinemaCity Shopping: Sala3:5ª MMMnn Taghmaoui. M/12 Cheadle,Guy Pearce,com Don Saïd De Jeffrey Nachmanoff, Traitor Traidor vimos emmuito tempo. atentos aoque éseradolescenteque surpresa comoumdosfilmesmais o que énãoapenasumagrandíssima mero filmedegénero éinjusto para que aespaços.Ereduzi-lo ohabita a animal daviolência súbita erupção comoa visceral étão me Entrar” percorre oquotidiano deOskar. diferente dodesespero surdo que vampira, vive —eque nãoéassimtão emque Eli,amenina- abismo imensodo perante onegrume nãorecua preciso. Mastambém digamtudooque um sorriso é deixando que umolhar, umgesto, O impacto emocional de“Deixa- emocional O impacto nn nn nn nnnnn nnnnn nnnnn nnnnn nnnnn nnnnn mnnnn nnnnn nnnnn mmnnn a nnnnn nnnnn mmmnn mmnnn nnnnn nnnnn nnnnn mmnnn nnnnn mmmnn nnnnn mmmmn mmmnn nnnnn nnnnn nnnnn mmmnn nnnnn nnnnn mmnnn nnnnn nnnnn mmmmn nnnnn nnnnn mmnnn nnnnn mmnnn nnnnn Mourinha Jorge Oliveira Luís M. Mikkelsen, Stine Stengade. M/12 com Thure Lindhardt, Mads Madsen, De OleChristian Flammen &Citronen Os Resistentes pelo caminho. queesta, correm deseperder orisco ainda espaçopara surpresas como semanas adespejarnassalas,há têmpassadoasúltimas distribuidoras “refugo” edos“monos”que as desnecessárias. Pelo meiodo sobrecarregar comdeclamações sematrair nema países), adecorreracção emmúltiplos àmão, saturada, fotografia câmara contemporâneo (ritmonervoso, “globe-trotter”“thriller” fluido naformaconvencional do demodointeligente integrado e é éomodocomotudoisso nota dignode que tornaoseufilmetão ao mundo emque vivemos, maso velados Nachmanoff decomentários dobradoporJeffreyIsso é,depois, representado para umaaudiência”. como oteatro, eoteatro ésempre emtempos:“odisse terrorismo é anda nada longe doque DondeLillo que não personagens —eumacitação chave deumadas numa está citação de modoleal)comoespectador. A aessenívele filmejoga (mesmoque todos osoutros, nadaéoque parece, amanipular gente está história nesta qual nunca qual nunca num tabuleiro do não passamdepeões centro. FlameeCitron espelhos que no lheestá jogo de elaboradíssimo redutora através do definição essa transcende que mesmo tempo género —ao fachada de por baixo deuma moral existencialismo e formal glacial escandinavo —cuidado deespionagemum “thriller” encargos” doque imaginaríamosser Madsen corresponde ao“caderno de moral. OfilmedeOleChristian deixardepassarpelopântano isso —sempor locais colaboracionistas deeliminaros encarregues resistentes dinamarqueses verdadeirapara ahistória dedois duranteaIIGuerrae da Dinamarca nazi paraaocupação transporta-nos terrorismo”, “FlameeCitron” moral da“guerra contrao nopântano seambienta “Traidor” estreias dasemana.Mas onde diferentes...) estejanocentro deduas forçosamente, demodos patrióticos (embora, ideais dos É curiosoque amanipulação 00h05 Domingo 2ª3ª4ª12h45, 15h30, 18h30, 21h20, 00h20; ZONLusomundoAmoreiras: 5ª6ªSábado Domingo 11h30, 14h, 16h35, 19h10, 21h45, Sábado 2ª3ª4ª14h, 16h35, 19h10, 21h45, 00h20 -ElCorte Inglés:Lisboa: UCICinemas Sala11:5ª6ª MMnnn J. Torres J. Mário J. M. J. “Os Resistentes” Câmara Vasco Nas últimas sextas-feiras de Natal” (19h30), “Cân- ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente de cada mês há Encontros tico das Criaturas”, de Cinema na Malaposta, “Pre-Evolution Soccer’s Ciclo um encontro que aposta One Minute After a na divulgação de fi lmes Golden Goal in the Master “Liverpool”, de Lisandro Allonso portugueses. Hoje, todas League” e “Kalkitos” as curtas- (21h30). Sessões apre- metragens sentadas pelo realizador, de Miguel por Rui Poças, director de Gomes: fotografi a, e por Fran- “Entretanto”, cisco Ferreira, crítico do “Inventário “Expresso”.

“Os Incorruptiveis contra a Droga”: os anos 70 na Cinemateca

Cinemateca portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. B213596200

Sexta, 29 Sábado, 30 Segunda, 01 Terça, 02 Quarta, 03 Atrás do Espelho O Carniceiro O Crime Não Compensa Revolta Na Bounty Bola de Fogo Bigger Than Life Le Boucher Knock on Any Door Mutiny on the Bounty Ball of Fire De Nicholas Ray. Com James Mason, De Claude Chabrol. Com Stéphane De Nicholas Ray. Com Humphrey De Lewis Milestone. Com Hugh De Howard Hawks. Com Barbara Barbara Rush, Walter Matthau. 95 Audran, Jean Yanne, Antonio Bogart, John Derek, George Griffith, Marlon Brando, Richard Stanwyck, Gary Cooper. 111 min. 15h30 - Sala Félix Ribeiro min. M12. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Passalia. 93 min. Macrea-dy. 100 min. 15h30 - Sala Félix Harris, Trevor Howard. 169 min. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Ribeiro 15h30 - Sala Félix Ribeiro Acidente O Romance de Tillie Alice Já Não Mora Aqui Accident Tillie’s Punctured Romance Os Incorruptíveis Emboscada Na Sombra Alice Doesn’t Live Here De Mack Sennett. Com Marie De Joseph Losey. Com Dirk Contra a Droga The Stalking Moon Anymore Dressler, Charles Chaplin, Mabel Bogarde, Baker, Jacqueline The French Connection De Robert Mulligan. Com Gregory De Martin Scorsese. Com Alfred Normand. 82 min. 19h - Sala Félix Ribeiro Peck, Eva Marie Saint, Robert Lutter, Diane Ladd, Ellen Burstyn, Sassard. 105 min. 19h - Sala Félix Ribeiro De William Friedkin. Com Gene O Testamento do Dr. Mabuse Hackman, Fernando Rey, Roy Forster. 109 min. 19h - Sala Félix Ribeiro Kris Kristofferson. 112 min. 19h - Anzukko Sala Félix Ribeiro Das Testament des Dr. Mabuse Scheider. 104 min. 19h - Sala Félix Ribeiro O Pântano De Mikio Naruse. Com Sô De Fritz Lang. Com Rudolf Klein- A Mosca Negra Santiago La Ciénaga Yamamura, Kyôko Kagawa, Isao Rogge, Oskar Beregi, Otto Wernicke. Pretty Ladies De João Moreira Salles. 80 min. 19h30 De Lucrecia Martel. Com Graciela Kimura. 108 min. 19h30 - Sala Luís de 120 min. 19h30 - Sala Luís de Pina De Monta Bell. Com Zasu Pitts, - Sala Luís de Pina Borges, Martín Adjemián, Mercedes Pina Tom Moore, Ann Pennington. 65 O Rosto Morán. 103 min. 19h30 - Sala Luís de Pina Batalla en el Cielo min. 19h30 - Sala Luís de Pina Lake Tahoe Ansiktet Liverpool De Fernando Eimbcke. Com Diego De Ingmar Bergman . Com Max von De Carlos Reygadas. Desierto Adentro Cataño, Hector Herrera, Daniela Va- Sydow, Ingrid Thulin, Gunnar Com Marcos Hernández, Anapola De Lisandro Alonso. Com Nieves De Rodrigo Plá. Com Diego Cataño, lentine. 85 min. 21h30 - Sala Félix Ribeiro Björnstrand. 100 min. M16.21h30 - Mushkadiz, Ber-tha Ruiz. 95 min. Cabrera, Giselle Irrazabal. 85 min. Guillermo Dorantes, Katia Xanat 21h30 - Sala Félix Ribeiro 21h30 - Sala Félix Ribeiro Sala Félix Ribeiro Espino. 110 min. 21h30 - Sala Félix Ribeiro Hideko, Revisora de Autocarro A Ave Nocturna Hideko no Shasho-san Vencer ou Morrer Quaresma Toda a Família Trabalha Quaresma Lady of the Night De Mikio Naruse. Com Hideko Taka- Fort Dobbs Hataraku ikka De Gordon Douglas. Com Clint De José Alvaro Morais. Com Beatriz De Monta Bell. Com Norma Shearer, mine, Kamatari Fujiwara, Daijirô De Mikio Naruse. Com Musei Walker, Virginia Mayo, Brian Keith. Batarda, Filipe Cary, Rita Durão. 95 Malcolm McGregor, Dale Fuller. 70 Tokugawa, Noriko Honma, Akira 22h - Sala Luís de Pina Natsukawa. 54 min. 93 min. 22h - Sala Luís de Pina min. 22h - Sala Luís de Pina min. 22h - Sala Luís de Pina Ubukata. 65 min. 22h - Sala Luís de Pina apreenderão a dimensão e onde a sua qualidade principal — o seu desejo de manter a Dinamarca livre, a qualquer custo — é sistematicamente usada contra eles por amigos e inimigos, tornando a sua luta numa manifestação de um idealismo quixotesco, condenado desde o primeiro instante mas que brilha como uma espécie de “farol” no meio 13h30, 15h35, 17h40, 19h45, 21h50, 00h30; UCI da moralidade equívoca dos que os Dolce Vita Tejo: Sala 11: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª rodeiam. Thure Lindhardt (o 3ª 4ª 13h30, 15h55, 18h45, 21h25, 23h55; ZON detective da Guarda Suíça de “Anjos e Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h45, 18h20, 21h40, 00h20; ZON Demónios”) e Mads Mikkelsen (o Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado vilão de “007 Casino Royale”) Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h30, 18h, 21h30, traduzem na perfeição a 24h; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h20, 18h, 21h15, complexidade destes homens que 23h55; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª pegam em armas sem Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h20, compreenderem inteiramente as 21h35, 00h15; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50, 18h45, suas razões, Madsen filma tudo com 21h40, 00h15; Castello Lopes - Rio Sul atenção às ínfimas modulações dos Shopping: Sala 3: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 16h10, 18h40, actores; faltaria apenas um pouco 21h40, 24h Sábado Domingo 13h40, 16h10, 18h40, 21h40, 24h; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª mais de ritmo e nervo para “Flame e Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h35, 18h15, Citron” se erguer acima da lição de 21h05, 23h40 história inteligente mas pesada e Porto: Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado descolar como filme de guerra Domingo 2ª 14h10, 16h35, 19h10, 21h45, 00h25 3ª moderno, mas o que aqui temos não 4ª 16h35, 19h10, 21h45, 00h25; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª é nada mau. J. M. 13h20, 16h10, 19h10, 22h, 00h30; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h30, 21h30, 00h20 Zack e Miri Fazem um Porno Há uma ideia genial a funcionar aqui Zack and Miri Make a Porno — e, não se duvide, é mesmo genial: De Kevin Smith, como teria sido “Um Amor com Seth Rogen, Elizabeth Inevitável”, a seminal comédia de Banks, Craig Robinson. M/16 Rob Reiner com Billy Crystal e Meg Mnnnn Ryan como dois melhores amigos que se descobrem apaixonados um pelo Lisboa: Castello Lopes - Loures outro, se todo o filme fosse centrado Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado a partir da infame cena do orgasmo Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h20, 18h40, 21h30, na cafetaria? Trocando por miúdos: 00h10; CinemaCity Alegro Smith, o autor “faça-você-mesmo” de Alfragide: Sala 6: 5ª 6ª 2ª clássicos de culto como “Clerks” e 3ª 4ª 13h45, 15h50, 17h55, 19h55, 21h55, 24h Sábado “Dogma”, conta a história de Zack e Domingo 11h40, 13h45, Miri, dois melhores amigos que 15h50, 17h55, 19h55, moram juntos desde que acabaram o 21h55, 24h; CinemaCity Campo Pequeno Praça de liceu mas que nunca pensaram Touros: Sala 8: 5ª 6ª 2ª sequer em namorar, até que o estado 3ª 4ª 14h, 16h05, 18h10, desastroso das suas finanças os 21h25, 23h35 Sábado Domingo 11h50, 14h, 16h05, obriga a procurar dinheiro rápido, e a 18h10, 21h25, 23h35; Medeia melhor solução parece ser um filme Saldanha Residence: Sala 6: 5ª porno rodado lá em casa com a 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 37 38 •ÍpsilonSexta-feira 29Maio 2009 IBÉRICA DE EXPRESSÃO DE TEATRO INTERNACIONAL 32º FESTIVAL Fundação deSerralves Dom 31/05-18h00 Fundação deSerralves Sáb 30/05-12h30 Rua StªCatarina/Batalha Sex 29/05-16h00 ENCENAÇÃO DEANTÓNVALÉN Businessclass (Espanha) Producciones Nacho Vilar Coliseu doPorto Sex 29/05–21h30 OLLÉEDAVIDPLANA ALEJANDRO ENCENAÇÃO EDRAMATURGIADE OLLÉ DE ALEJANDRO Boris Godunov (Espanha) La FuradelsBaus 2009 26 MAIO-10JUNHO (Portugal) Teatro doBolhão Garrett MunicipalAlmeida Biblioteca Dom 31/05-21h30 ASCENÇÃO E CATARINA RAMOS CRIAÇÃO DECÉLIA ISABELFREIRE DE Portuguesas Mulheres Eróticas das Fantasias Filhas daMãe (Portugal) Célia Ramos Teatro doBolhão Dom 31/05-16h00 Teatro doBolhão Sáb 30/05-21h30 COSTA JOÃOPAULO ENCENAÇÃO RIBEIRO CORREIA TRADUÇÃODEBERTA COM DE HAROLDPINTER Traições ieTar osatn Nery Constantino Cine-Teatro Qui 04/06-21h30 VOGEL MICHAEL DE ENCENAÇÃO ECENOGRAFIA VOGEL MICHAEL LEESE,HAJOSCHÜLER, BJÖRN GONZALEZ, DE PACO Teatro Delusio Stuttgart Berlin, Theaterhaus Co-Produção Arena (Alemanha) Familie Flöz NacionalSãoJoão Teatro Qua 03/06-21h30 MELO ENCENAÇÃO DEJORGESILVA MENDES VIEIRA MARIA JOSÉ DE Morar Onde Vamos (Portugal) Artistas Unidos Palácio daBolsa Qua 03/06-21h30 Palácio daBolsa Ter 02/06-21h30 LEPECKI) ANDRÉ (EM COLABORAÇÃOCOM DE FILIPAFRANCISCO Leitura deListas (Portugal) Filipa Francisco Nery Constantino Cine-Teatro Seg 01/06-21h30 DE PEDROGIL CRIAÇÃO EDIRECÇÃOARTÍSTICA Show Mona Lisa Pedro Gil(Portugal) WWW.FITEI.COM equívoco. que serve deengodo.espertalhão Um amor, apenas umtruque barato e nenhum de portrás destecrime explica que, afinal,nãohásegredo porumfinalabrupto que desfeita deummistério sugestão constante panorâmico); e,sobretudo, a doécrã cinematográfica televisiva (apesardapretensão perfeitamente de umaencenação supérfluo); abanalidade desajeitada éperfeitamente miguelista criado do inexistente (todooepisódio cuja relevância paraanarrativa é depersonagens constante introdução meios para ser nenhum deles); a oufresco (massem social histórico romântica, filmedetribunal,painel sequernunca sedecide sertragédia minimamente umanarrativa que deestruturar incapacidade pura esimples.Enumere-se: a foraporinépcia deitada boa história, pela tiaviúva francesa.Eéuma cega perdido paixão seminarista pelasua condenado amorrer enforcado, ex- província que foioúltimoportuguês Mattos Lobo, pequeno burguêsde de verídica deFrancisco É ahistória 22h20 2ª16h20, 19h30, 22h20 Sábado Domingo 3ª4ª13h30, 16h20, 19h30, Porto: ZONLusomundoParque Nascente: 5ª6ª 21h25, 24h 6ª SábadoDomingo 2ª3ª4ª13h15, 16h05, 18h45, 21h40, 00h25;ZONLusomundoAlmada Fórum: 5ª Sábado Domingo 2ª3ª4ª13h10, 18h40, 16h, ZONLusomundoOeiras23h30; Parque: 5ª6ª Domingo 2ª3ª4ª13h20, 15h50, 18h15, 21h, ZONLusomundoColombo: 5ª6ªSábado 23h50; Domingo 2ª3ª4ª13h05, 15h40, 18h10, 21h10, 21h20; ZONLusomundoAlvaláxia: 5ª6ªSábado 14h, 16h10, 18h30, Domingo 11h45,23h40 18h30, 21h20, 14h, 16h10, Sábado 11h45, 21h20, 23h40 18h30, 16h10, 21h20 6ª14h, 18h30, 16h10, 5ª 2ª3ª4ª14h, Alvalade: Sala2: Classic Lisboa: CinemaCity a Breyner. M/16 João Nicolau Bastos, Maria com IvoCanelas, Manso, De Francisco à Morte O Último Condenado Condenado àMorte O Último boa. de umaideiatão odesperdício por nósalamentar ao pontoderapidamentedarmos perdem omelhorgaguedofilme)— do genérico senão finalacabar irvê-lo,arriscarem nãosaiamantes (e,se momentos inspiradíssimos sobretudo, ospontuais afoga E, entrega dosseusactores. que Smithparece querer aspirar, a a acomédiadodesconforto história, da stop” obomcoração eafoga liceal atravessa todoofilme“non- o “porque sim”. Essa“verborreia” que não parece teroutrajustificação palha que setorna cansativa enão banho epalavrões aquela pordácá inconsequente de dehumor decasa —uma“overdose”obstáculo infantil, contudo, tropeça noprimeiro ajuda deamigos. ideiagenial, Atal Cinema J. M. J. J. M. J. Cannes expectativas doespectadorsemoenfurecer disponibilidade infantil para fi com umtomde irrisãofantasiosa euma Desplechin fala decoisasmuito sérias clássico dareunião festiva defamília. dodispositivo lúdica desconstrução autorais francês nasua docinema a densidade dasexperiências mais tempo aenergiadaNouvelle Vague e moderno, que invoca aomesmo imprevisível em tomdejazz de“improvisação”uma espécie é ao humor deNatal” Conto —“Um abre àemoção, àespontaneidade, seco, cerebral, estéril, distante, se Desplechin, atéaqui demasiado sentimos que dofrancês ocinema É oprimeiro momentoemque Domingo 15h55, 2ª3ª4ª13h, 19h10, 22h 00h30; Medeia Monumental:Sala1:5ª6ªSábado 18h15, 21h306ªSábado2ª15h, 18h15, 21h30, Lisboa: Medeia King: Sala1:5ªDomingo 3ª4ª15h, MMMMn Roussillon, AnneConsigny. M/12 Um Conto deNatal Continuam O episódio deCronenberg em“Cadaumo seucinema” Un conte deNoël com Catherine Deneuve,com Catherine Jean-Paul De Arnaud Desplechin, assegurada, emPortugal, do júri-têmexibição Jacques Audiard, prémio Ouro, e“Un Prophète”, de Michael Haneke White Ribbon”,- “The de no PalmarésdeCannes fi Aqueles queforam os lmes maisbemcolocados , Palmade ntar as Mário Jorge Torres todos? Talvez odeJane Campion. competições desportivas. Opiorde comosediriadas “participar”, mesmo tempo, que oobjectivo era Tsai Ming-liang. Muito epouco ao de olhar deChahine;ouoonirismo do romeno Mungiu; do abeleza Cronenberg; política aoportunidade de docinema eafunção ficção sobre parareflectir a capacidade fabuloso;a com umPiccoli exercício deOliveira, decontenção doconjunto?destacar Ointeligente para oFestival deCannes.Que do que um“presente deaniversário” compósito e,até,irónico, ainda mais valor deumretrato defamília o deumolhar deépoca, pujança Chacun sonCinéma” possuia porexemplo?Lelouch, Ditoisto, “À entre NanniMoretti eClaude contribuições. Queexiste decomum irregularidade dasmúltiplas desdelogo, ea arrisca, adispersão Um filmede“sketches” curtos tão 00h05 00h05 Domingo 11h30, 14h15, 16h40, 19h05, 21h35, Sábado 2ª3ª4ª14h15, 16h40, 19h05, 21h35, -ElCorte Inglés:Lisboa: UCICinemas Sala10:5ª6ª MMMnn com .M/12 Wim Wenders, etc, Salles, David Lynch, Von Lars Trier, David Cronenberg, Raúl Ruiz, Walter Angelopoulos, Olivier Assayas, De ManoeldeOliveira, Theo Chacun sonCinéma Cada umoseuCinema encontrar... — egostamos muito dea “Esther Kahn” e“Reis eRainha” quase chaplinesca do autorquase chaplinesca de esperávamos elegância esta semoenfurecer.espectador Não para fintar asexpectativaspara fintar do disponibilidade quase infantil quase disponibilidade Ardant, “CinzaseSangue” cinematográfi Ford Coppola eaestreia Ou “Tetro”, deFrancis 62ª ediçãodoFestival. outro dosdestaquesda Folles”, deAlainResnais, Como, Herbes aliás,“Les pela Atalanta Filmes. irrisão fantasiosa euma fantasiosa irrisão um inesperadotomde coisas muitocoisas sériascom Desplechin fala destas Desplechin faladestas Amalric) —mas Amalric) um notável Mathieu velhos (AnneConsigny e entre os dois filhos mais entre filhosmais osdois tensão nunca resolvidatensão nunca Deneuve imperial)eda (uma Catherine damatriarca doença J. M. J. gira àvolta da ca deFanny Aqui, tudo “Aconteceu a20deJulho”, dePabst “O Homem Perdido”, dePeter Lorre DVD Jorge Torres na AlemanhaNazi. guerra, ambasambientadas de50,década da naressaca produzidasLorre ePabst, na dePeter cinematográficas, raridades Duas tormenta Depois da Cinema raridades cinematográficas, muito muito raridades cinematográficas, duas espanhola Divisa fazemparte daeditora catálogo Do ecléctico Sem extras mmnnn Divisa EditoresDivisa Pabst Wilhelmde Georg 20. Juli Es geschaham de Julho Aconteceu a20 Sem extras mmmmm EditoresDivisa de Peter Lorre Der Verlorene Perdido O Homem

Internet Mário críticas ao antisemitismo, para aliviar paraaliviar ao antisemitismo, críticas deKafkaecomevidentes adaptado prestígio de“O Processo” (1948), de propaganda explícita. (Paracelsus, 1943) oudeevasão, enão embora emobrashistóricas de ter“colaborado” comoregime, durante aguerraesofriadasuspeição um interregno francês, àAlemanha indiscutíveis - regressou, de depois Brecht, sãoobras-primas adaptando Ópera dosTrês Vinténs (1931), Brooks, ou“A deLouise perturbante (1929), amboscomapresença Diário deumaMulher Perdida” “A dePandora” Boceta (1929), “O maiores alemãopré-nazi - docinema Wilhelm umdosnomes Pabst, nosEUA,carreira Georg orealizador emigrou dasua efezgrandeparte Lorre enquanto histórica: integração temtodaumaoutra Berlim, armadas, poucoantesdaqueda de Hitler, patentesdasforças poraltas sobre falhadoaAdolf oatentado invulgar força. debaixo docomboio, possuiuma Ofinal,como“suicídio”beleza. digressões, num mosaicodegrande eas principal aacção se organizam tornar claro omodointeligente como investigação sem desta ética, essência fezcomque seperdesse caótica a germânica. Por outro lado, anarrativa amancharidentidade colectiva, daculpa dametáfora o alcance entendesse melodramas oumusicais, imperiais, defantasias escapismo público, predisposto ao mais O trauma daguerraimpediuque o aleatóriaviolência eindiscriminada. ao cérebro, que parece a justificar tenebrosa dimensãodeumalavagem personalidade, conferindoa demudança denomee facilidade a daGestapo, figuração a sinistra remorso eaculpa:empanodefundo, psicopatia individual eignorandoo se vislumbrem configuraçõesde o assassíniocomoimpulso, semque regime edescreve, deforma terrífica, ambiente deneurose do colectiva Verlorene” transmitiro consegue expressionista, pela herança “Der (1930) deFritzLang. paradigmáticos doactor, em“M” revisitando umdospapéis deparar,“serial incapaz killer”, Rothe, sendade continua nasua personagem deLorre, o Dr. Karl a pelavolúpiaLevado docrime, contexto complexo daIIGuerra. segredos aosaliados inimigos, no apercebe que elavendeu osseus anoiva,que mata se quando narra aexperiência deumcientista tragédiadenúncia, esta moderna ede obra-prima decontenção obracomorealizador: pequena única Petercinema, Lorre, econstituiasua do secundários (enãosó)dahistória assinado porumdosgrandes actores recente. com umolharnegro sobre aHistória ambas decorrem naAlemanhaNazi, daguerrae em tempoderessaca alemãs, produzidasde50, nadécada pontos emcomum: ambassão diferentes entre si,mascomdois E nemorelativo sucessode “Aconteceu a20deJulho” (1955), Filme estranho, muito marcado “O Homem Perdido” (1951) aparece connosco. Venha construirestesite suplemento, éoutro desafi www.ipsilon.pt Estamos online.Entre em . Éomesmo ¬ o. o. Mau ☆ que passou ao lado do público na sua que passouaoladodopúbliconasua oque raioéestefilme Exactamente Sem extras mmnnn Atalanta Filmes de RaduMihaileanu Va, Vis etDeviens Vai eVive identidade. desequilibrado sobre a Um filmesincero mas sou daqui Eu não extras escritos e em castelhano. extras eemcastelhano. escritos mas apenas com correctíssimas, “Valquíria”. Ascópiassão com hipótese decomparação eventos encenados,ecomacuriosa muito próximacatarse, aindados de comoseucarácter dissemos como pois, prende-se, datada fita dramático. ponto devista logopicos deacção, inexistente do numa narrativa monótonaesem Alemanha Nazi, comprazendo-se da dapsicosecolectiva captação Ondeofilmefalhaéna Goebbels. com se parecesse fisicamente procurar umactor, Willi Krause, que verosímil ehouve de apreocupação constrói brilhantemente um herói filme anterior. Bernhard Wicki revelada alegórica tentação noseu sema às personagens factuais, existentes ecingindo-se dos registos docudrama, comdiálogos transcritos do navizinhança documental, rigoroso einformadopelocuidado é atmosferasficcionais, de fortes falhandoacriação cinematográfico, embora semgrande interesse como objectivo descrever e, aHistória ofilmedePabsttem como cinema, Von interessante Stauffenberg, mais apersonagemencarnar docoronel “Valquíria”, comTom a Cruise ditador. dorecente Àsemelhança dofim eirrisória tempo trágica versão, Akt, aomesmo a “DerLetzte imediatamente esegue-se, fantasmas como tentativa deexorcizar deve carreira, sua ler-se, sobretudo, um anoantes dofinaldefinitivo da de Julho”, oseuantepenúltimo filme, socialmente interventivo sobre odestinodosjudeusetíopes Uma históriadepassagemàidadeadulta eummelodrama Medíocre O que resta deinteressante nesta ☆☆ Jorge Mourinha Razoável “Aconteceu a20 inglória. Por isso, e incaracterística produção imerso numa aura perdida, restaurar aantiga chegou para a consciência, ☆☆☆ Bom ☆☆☆☆ igualasse essasinceridade. igualasse einconstante este filmedisperso Vive” para que -masera mais preciso asinceridadede“Vaipode negar e ideias que surgem aespaços.Não se prestações dosactores easboas inacreditável) asexcelentes sufoca terço dofilmeenofinalque o roça visível (particularmente noúltimo escorregão para atelenovela enscène”,opontual “mise abanalidade dasopçõesde a história, lugares-comuns que percorrem toda roque deMihaileanu; aforçados semrei nem Amar epelacâmara grandiloquente deArmand partitura sublinhado atraçogrosso pela narrativoesquematismo previsível, tudotombaque, num depois, uma identidadeculturalcomum. Só de apartir construído precisamente identidade, num que foi país permanente sobre aprópria dobrados deumquestionamento significativamente) são sinaliza adulto (eque aculturajudaica depassagem rituais deadolescentea de Mihaileanu: omodocomoos umfactor? ou apenasmais situação dasua ponto éque éaessência isso Schlomo nãoéjudeu-masaté que paraseraceite. onde temdelutar navegar num que país nãoéoseue que temde de todososobstáculos tem delidardiariamente,pelomeio numa mentira primordial comaqual sefardita emJerusalém, ébaseada adoptivo deumafamíliajudia novatoda asua vida,comofilho consigo éumajudiaetíope,eque que amãeque olevou cristãos, Schlomo, Salomon, depois éfilhode tarde perceberemosmais éque direcção aumavidamelhor-oque só antes deomandaremboraem palavras deumarefugiada aoseufilho derefugiados noSudão. campo depuxar àlágrimanum seu início desdeo boas intençõesàdistância, longo devinteanos, transpirando saga familiarque sedesenrola ao como“falashas”conhecidos euma destino dosjudeusetíopes interventivosocialmente sobre o comoummelodrama à idadeadulta depassagem umahistória étanto joga Eoque aqui se como filmeisraelita. podemosolharpara ele dificilmente demuitospresença locais, actores eda deco-produção estatuto masapesardoseu israelita, cinema percorrem renascençado aactual identidade, memóriaeterritórioque Israel dehoje,debateasquestões de vaga romena. “Vai eVive” no passa-se nova nada temaver comaactual hálongos emFrança anos, radicado Radu Mihaileanu éromeno, mas, Israel contemporâneo? Orealizador etíope pelareligião e pelo judaica acompanha opercurso deumórfão estreia em2006, portuguesa que Ípsilon •Sexta-feira 29Maio2009 • É isso queÉ isso éinteressante nofilme O título, evive”, “vai sãoasúltimas Muito Bom ☆☆☆☆☆ Excelente 39

40 •ÍpsilonSexta-feira 29Maio 2009 Exposições da mostra, acabou porserretirada da mostra,acabou no pavimento de diferentes espaços impressas sobre “chiffon” epousadas daEuropabandeiras devários países umasériede proposta desteartista, dosanos1970 noinício em Paris, (a realizada daEstampa, Internacionais Pedro numa Morais dasBienais a referência de aumaintervenção sapato, fixadas-,épossível encontrar marcas deumasola observam-se recortado sobre -nasuperfície juta deferro porplacas composta de slides. Numa dechão, das peças vibra comosopro deumamáquina semente deplátano, que também sobretudo daimagem nocaso da homenagem aManuel Zimbro, comouma desde 1962,mastambém porLourdesdas obras criadas Castro não sócomoumdesenvolvimento podemserlidas sombras projectadas assimaumalinhagem.pertencem As desenho, literatura,etc. fotografia, várias tradições -escultura, de ecos, espelhamentoseheranças possível umasériede vislumbrar como umaprogressão naqualé aparecem nopercurso expositivo tonalidade comum àsobras,que corpos detrabalho. uma Existe produzidas noâmbitodestes peças asmesas,terceirofaltam grupode porpanoseprojecçõescomposta - Elaé variações formais. se detectam desenvolve num contínuo, noqual lida comoumafrase, porque se Egipto” (2008).Amostra podeser “Tesouros SubmersosdoAntigo em2005,Euclides”, iniciado e projectos “A Assembleiade exercício que desilêncio prolonga os Tropa 1968).UmFrancisco (Lisboa, sóbriasexposiçõesuma dasmais de eochão.entre otecto comum, umaaspiração dualidade, “nature Uma persistente morte”. -“stillconforme alíngua nature”, naturezas paradasoumortas, ainda umalinhadohorizonte, atravessadas porumaesponja.E garrafas decervejaminimais, chão, esculturasmóveis, cubos eumamosca. plátano protagonizada porumasementede daaviação, secreta história deumvoo.subtilmente. Oinício A sobreprojectada aparede, que vibra pena depássaro. Uma sombra umacorrenteNo início deareuma Escultura. Até 31/5. Sáb. das17h às19h. edom. EspaçoAvenida.Lisboa. Av. daLiberdade, 211,1º. Francisco Tropa mmmmm FariaÓscar Tropa.Francisco sóbriasexposiçõesmais de AvenidaNo edifício umadas que vibram Sombras Os trabalhos apresentados AvenidaNo edifício encontra-se pousadosno objectos Há também dúvida. davida.Humortambém negro, sem mas não só daarte, impermanência acerca da faz meditar umready-madeuma morte: que nos por umalente,éapenasasombra de espalmada numa lamela,ampliada sobre deumpéemgesso. aplanta seencontrampousadas de moscas “Torture-Morte”, naqual umasérie francês, aesculturaintitulada um pardestetrabalhodoartista voltada parabaixo -há com acabeça (1959), deMarcel Duchamp, surge comoa“Sculpture-Morte” vanitas, emmuitas umapresença insecto, numaprojectada parede. Afigura do morta, sombra deumamosca formar umcentro quadrado. a serdobradaváriasvezes até tonsdepreto,lona comdois pronta espaço envolvente; ouaindauma dobro dotamanho, adifundepara o sobre ooutro, si,enquanto com o que umconcentraaluminosidade separados porumaparede, sendo nochãoe colocados em calcário cubos vezes -comodois minimais por vezes delirantes,por objectos, deteatroUma espécie feitode aluzeassombras. toma emconta montagem. Asucessão dasobras um cuidadomuito na particular imobilidade.Há ou afirmamasua têm movimento, exigem umaacção evolta afazer-se.desfaz-se Aspeças narrativa linear. Amostrafaz-se, Tropa, nãoexiste uma nesta anteriores deFrancisco individuais que seencontranuma escultura. vegetal idênticoao de umcarvão Simões que, muitas vezes, seservem desenhos deJoão Queiroz eThierry Suécia). embaixadas daUnião eda Soviética depressõesdepois exercidas pelas É que, olhando bem, esta mosca, É que, mosca, olhandobem,esta coma Tudo termina,oucomeça, Ao em contráriodoque acontecia Há aindaumsubtilenvio paraos ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente

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Stacy Peralta e o construtor George skaters a usar piscinas vazias.” “entre”, testemunham um Powell, as Powell-Peralta. Um destes Mauro Cerqueira fabrica obras de acontecer; nem antes, nem depois. skates é usado num dos vídeos que arte com ideias simples e de uma Sublinham igualmente uma Mauro Cerqueira (Guimarães, 1982) eficácia desarmante. Talvez seja paragem. Ali, aqueles textos, apresenta no Espaço Campanhã - o possível um dia ver o seu trabalho ao transcritos em diferentes tipografias, mais recente espaço independente lado de outros nomes e criações que são sobrepesados, pensados a partir do Porto, gerido por Miguel Pinho e participam da mesma energia: de bronzes, que se curvam de modo José Maia. Bruno Peinado, Shaun Gladwell, a acompanhar as páginas e o vinco O filme, caseiro, sem edição e com Raphaël Zarka, a arquitectura “Free que as divide. Como se a escultura cerca de 30 minutos, é composto Basin” (2000-2002), instalada pelos nascesse das palavras e estas por manobras realizadas por dois Simparch na Documenta XI, em tivessem origem numa fundição. skaters de Bristol, Serin e Rich, que Kassel, ou ainda as fotografias de Nesse acontecer, entre o texto e a tomaram como ponto de partida Craig R. Stecyk III. O.F. sua sombra, os bronzes que uma série de desenhos publicados prendem as páginas, sobrevive a pelo autor no fanzine “Sem Rumo”. leitura, o fazer da memória. Lêem-se A interpretação vai dando lugar a Uma ética as esculturas como se fossem frases um progressivo afastamento da de uma comédia ou de um ensaio “pauta”, dando lugar à invenção de filosófico - e pode mesmo atravessar- Peso para livro aberto novos desafios - o registo, feito no se cada livro na horizontal, sem De Sérgio Taborda. ateliê do artista, documenta assim necessidade de passar à próxima um processo criativo, feito de um Lisboa. Instituto Franco-Português. Av. Luís Bívar, linha, de forma a inventar um novo 91. T. 213111400. Até 5/6. 2ª a 6ª das 08h30 às 21h. permanente experimentar. Sáb. das 08h30 às 13h. discurso, sem obstáculos. Há essa Na parede oposta à apresentação ligação íntima entre a pátina dos deste trabalho é projectado um mmmmn pesos e o tempo de cada livro, como outro vídeo, protagonizado pelos se estes estivessem a devir arte, mesmos skaters. Contudo, neste As esculturas de Sérgio Taborda porque eles são metade da caso, Serin e Rich misturam-se com (Vila Nova de Poiares, Coimbra, escultura, a matéria que lhes deu a população local no acto de saltar 1958) encontraram o seu repouso origem. O verbo ganha corpo e das margens da Ribeira e do ideal na estante de poesia da deixa-se elevar, um pouco acima da tabuleiro inferior da ponte D. Luís, Nouvelle Librairie Française. Ali sua habitual superfície, de forma a Tudo termina, ou começa, com a sombra para o rio Douro. instauraram o seu vazio, a sua alcançar novos territórios, outras de uma mosca morta, projectada numa parede A performance tem agora lugar no presença, o seu peso, em livros vidas. As palavras são de Samuel espaço público, num crescendo que abertos. Elas funcionam como uma Beckett, Bento de Espinosa e Gilles Saltos no vazio criou a “frontside air”, uma das leva o estrangeiro a ser o marca no tempo: um intervalo na Deleuze. Quatro esculturas, quatro principais manobras da modalidade protagonista do mergulho mais leitura, a espera de um livros. Uma ética, esta exposição. vertical. O uso deste género de corajoso, porque feito de um ponto recomeçar. A sua O.F. Desenhos do Sol arquitecturas para a prática do skate mais elevado. A grelha da duração depende De Mauro Cerqueira. voltou a surgir recentemente devido arquitectura do ferro é, assim, o de um início e Lisboa. Espaço Round The Corner - Porta 9F/9G. R. à crise no mercado imobiliário cenário de uma coreografia de um fim, Nova da Trindade - Teatro da Trindade. Tel.: 213420000. Até 28/05. 2ª a Dom. das 17h às 19h. norte-americano - não é raro ver-se informal, popular, mas nem por isso por isso os praticantes deste desporto a menos equivalente conceptual em surgem Instalação. limparem o lodo entretanto “Le saut dans le vide” (1960), mmmmn acumulado no fundo de um tanque protagonizado por Yves Klein. de água para ali aperfeiçoarem o seu Projectados sobre duas estruturas Nos anos 1970 um longo período de estilo. em madeira - uma peça intitulada seca obrigou ao esvaziamento das Os Z-Boys são igualmente “As paredes de um grande tanque”, piscinas de uma vasta área de Los apontados como uma das origens da que faz de cenário e de elemento Angeles. O facto foi aproveitado subcultura punk/skater, sendo hoje estruturante da exposição, porque a pelos Z-Boys, o mais importante famosas as pranchas criadas por confina a um território nómada, no grupo de skaters qual acontece a deriva de da história, para Serin e Rich -, os vídeos são inventar novas acompanhados por uma As escultura funcionam como uma marca no tempo: transições - foi na legenda inscrita na parede, um intervalo na leitura, a espera de um recomeçar “Dogbowl”, em um grafitti onde se lê a frase: Santa Monica, que “Uma das coisas mais o mítico Tony Alva bonitas que eu já vi foi

Agenda Obra de Tatiana Doll em “Serralves 2009 - a Colecção”

Inauguram Transparências Pinocchio Relação do Porto. Campo Mártires da Pátria. Tel.: De Leonor Brilha, Vanessa Chrystie. De Jorge Molder. 222076310. Até 10/06. 3ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb., Porto. Galeria Arthobler. R. Miguel Bombarda, 624. Lisboa. Chiado 8 - Arte Contemporânea. Largo do Serralves 2009 - a Colecção Dom. e Feriados das 15h às 19h. FITEI 2009 - Festival Tel.: 226084448. Até 02/07. 3ª a Sáb. das 15h às Chiado, 8 - Edifício Sede da Mundial-Confiança. De vários autores. Internacional de Teatro de Expressão Ibérica. Porto. Museu de Serralves. Rua Dom João de Castro, Inaugura 29/05 às 18h30. 19h30. Inaugura 4/6 às 16h. Tel.: 213237335. Até 10/07. 2ª a 6ª das 12h às 20h. 210. Tel.: 226156500. Até 27/09. 3ª a 6ª das 10h às Fotografia. Fotografia, Pintura. Fotografia. 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 20h. Inaugura 29/5 às 18h30. System Project/ Continuam Ver texto pág. 18 e 19 System (Re)Active De Miguel Rios Design. Arquitectura Norueguesa Daniel Buren Porto. Galeria Fernando Santos (Espaço Oficina). R. Contemporânea 2000-2005 Miguel Bombarda, 276/282. Tel.: 226061090. Até Porto. Museu de Serralves. Rua Dom João de Castro, Lisboa. Universidade Técnica de Lisboa. Faculdade 210. Tel.: 226156500. Até 30/08. 2ª a Sáb. das 10h 29/05. 6ª das 22h às 0h. Apresentação única. de Arquitectura. Espaço Rainha Sonja da Noruega. às 19h. Na Biblioteca. Inaugura 29/5 às 18h30. Design. Rua Sá Nogueira/Alto da Ajuda. Tel. 213 615 000. Até Objectos, Publicações. Resort “Happy Days” 23 Junho. De 2ª a 6ª das 9h às 18h Sediment II De Pedro Valdez Cardoso. Dom. das 13h às 18h. Inaugura 30/5 às 18h30. Ver texto pág. 20 De Jakub Nepras. Faro. Galeria Artadentro. R. Rasquinho, 7. Tel.: Instalação. Lisboa. Galeria Arthobler - Lisboa. R. Rodrigues 289802754. Até 18/07. 3ª a Sáb. das 15h às 19h. Photoespaña 2009 Faria, 13 - Lx Factory (Edifício G. 03). Até 28/06. Inaugura 30/5 às 18h30. De Mabel Palacín, Cristóbal Hara. 4ª a Dom. das 12h às 20h. Inaugura 29/5 às 16h. Religio Escultura. De Inês Pais. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Praça do Império - Vídeo, Outros. Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Até 26/07. Lisboa. Museu Nacional de História Natural. Rua da Happy Days 6ª das 10h às 22h (última admissão às 21h30). 2ª a Contrapontos Visuais Escola Politécnica, 58. Tel.: 213921800. Até 28/06. 3ª 5ª, Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h (última De Vasco Araújo. a 6ª das 10h às 17h. Sáb. e Dom. das 11h às 18h. Na De Pedro Sottomayor, Susana Almada. Casa da Cerca - Centro de Arte admissão às 18h30). Sala do Veado. Inaugura 4/6 às 18h30. “Pinocchio”, Neves. Contemporânea. R. Cerca, 2 / Pç. Camões. Tel.: Fotografia. Porto. Centro Português de Fotografia - Cadeia da 212724950. Até 13/09. 3ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb. e Fotografia. de Jorge Molder

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 41 42 com exactidãopara amúsica aquiloquelhepassapelacabeça Dan Deaconpertenceàestirpedemúsicos queconseguepassar •ÍpsilonSexta-feira 29Maio2009 Discos mmmmn Flur distri. Carpark, Bromst Dan Deacon Serralves. novo álbum,amanhã,em Deacon apresentará oseu formato ampliado, Dan pop, bebéchorão em Demente compositor a chorar continua O bebé Pop berrar. continua a continua a ainda Vítor Belanciano dizíamos que ele Dan Deacon.Naaltura, música doamericano definitivamente a poderiam viraafirmar que características visíveis as descrevera asua dentro dele E, música da seguinte daseguinte música felizmente, o bebé obebé felizmente, Rings”, já eram Rings”, jáeram “Spiderman Ofthe de estreia, ele, masnoálbum que derampor foram muitos os anosnão Há dois anos depois, anos depois, forma: “é como atenção.” Dois Dois atenção.” berra por berra por chorão que chorão que ter porperto um bebé um bebé

músico também chora. músico chora. também que um paraconstatar Oportunidade num orquestral. concerto Serralves, apresentará esteálbum um lugarcoerente. Amanhã,em para de melodias,mastudocoincide rascunhosemforma apontamentos, parecemcanções indícios, Cada umadas lhe passapelacabeça. exactidão aquilo paraamúsica que músicos que passarcom consegue àestirpede elepertence também Baltimore -AnimalCollective, adolescente. eumaenergia libertária organização num perceptível, local impondouma transformarocaos que consegue sim reter que DanDeaconéalguém sideral? Folk heróica?), digital mas jubilatória?de utopias(dança Pop entraremos num infindável território atéporque quemúsica pratica, interessa perceber tanto otipode não Noseucaso pormenorizada. refazer tudodeforma enviasse peloar, para deseguida eas caóticas decoisas montão desvairado -umbebé? num -pegasse alargou-se. densa eoespaçoque aacolhe mais decomunicações está paleta continua omesmo, informação masa propor. a Ométodocomoorganiza desconexa aquilo que tempara exageradas edeinformação defanfarras correrias digitais, Éumasucessãode suas. fazendo-as revolvendo-as,mastigando-as, margem dasconvenções pop, à comtudooque fica sintonizando-o doanterior, muitoestá distante prestar Onovo atenção. álbumnão porque a muitos lheestão mais parece feita, terresultado, desta Wavves O tédio inspira inevitável oparalelismo, osWavves No Age. californianos Sendo também dos Wavves foicomparadaàdos ruído num contexto pop, amúsica Por adiferença. marca trabalharo amais -o“v” emcassete editada sucessor daestreia homónima, NathanWilliams. californiano Isto sãoosWavves, ouseja,o realidade, nadamais. nãoépreciso material que àmãoporque, está na feitocomo um“menosémais” lo-fi, Wavvves do quotidiano. Eépunkemregime Fat Possum mmmmn Como os conterrâneos - de osconterrâneos-de Como Às vezes écomosealguém “Wavvves” éoseuúltimoálbum, antiga de todas: o aborrecimento antiga detodas:oaborrecimento espoletada pela razão mais mais pelarazão espoletada afinados. Mas isto também é é também afinados. Masisto alienação adolescente e adolescentee alienação visceral alimentada por por alimentada visceral rock’n’roll desafiante,matéria falsetes pouco falsetes pouco para libertar harmonias ideais e cantarolar melodias para pop contagiantes: Isto sãocanções Internet Mário Lopes apatia. Entusiasmanteeinspirador. existir, éumavitóriasobre essa música que, simplesmentepor o correr dosdias.Mas fizeram-no em perante deimpotência uma sensação deespírito, Capturaram umestado umfeitoraro.obra -,conseguiram oque é contrário -namesmacanção, eoseuexacto pop paracantarolar estesWavvesdos Nirvana, que fazem a ferocidade dosolode“Inbloom”, Happening com dosBeat sobre olo-fi minutos de“Sobored”, que investem hino poppara oséculoXXInostrês primitivosmais -,que inventaram um Collective deantigamente, ainda Animal -quais danificadas cósmicas com“suites” eléctricas descargas de Williams. intuitivoempreitada otalento quanto pararevelartanto ohumor da explosão garageira irresistível, serve group de queseguido selhesegue, do“na-nanana”seguido degirl- que éabasede“California goths”, corrosiva. Idie”visceral Já o“when Boys einterpretação Beach inocência embrulhada emmelodiade dregs”, resume aatitude-evem repetida em“To insistentemente the porumsolretemperador.agraciadas soterradasemferrugem estão mas para extrair capacidade - dalicanções eumaevidente sintetizador umabateria,guitarra, um tédio dodiaque corre, sobra-lhe uma Sobra-lhe ohumor parasobreviver ao que, nastintas. simplesmente,seestá acontecer, osWavves sãoomiúdo emfazerascoisas apostados comunal tipos concentradoemdois aqueles sãoumlevantamento Enquanto são umaoutracoisa. mmmnn Music Aftermath Records; Universal distri. Relapse Eminem A ressaca deEminem uma sensaçãodeimpotênciaperante ocorrer dosdias Os Wavves capturaram umestado deespírito, Estes Wavves que as intercalam “You seeme,Idon’t frase care”, connosco. Venha construirestesite suplemento, éoutro desafi www.ipsilon.pt Estamos online. Entre em Hughes dohip Howard qual anos, que passou, últimos cinco do purgatório dos Eminem regressou Cinco anosdepois, . Éomesmo

o. o. starts /Icomposeoutlike starts theghost frente, temalinha“soon asmy flow entrada. “Stay wide awake”, à mais abrir, -grande aatenção capta Queen &Paul Rodgers. sample de“Reaching out”, dos de balada rock FMeconstruídasobre conhecer, “Beautiful”, comespírito que nãoqueríamos dissonante siamesas-eháomomento lésbicas gémeas comduas Mathers nacama do Iraque que sefala:Marshall emórgãodefeira,masnãoé arábica Bagdad” equipada commelodia Há poraqui uma“Bagpipesfrom choque seesgotarem rapidamente. autobiográfico eoscenários discurso que continue. Oproblema éo que Concedemos nãoeacenamos que noinício. faledamãe.Estamos fartos senãoestamos pergunta-nos contínuo,seu percurso -e,acto da mãe-temarecorrente emtodoo entre asAntilhaseavelha Albion,fala que, deforma localizaríamos bizarra, aqui eali,emsotaque disparados, Eminem, cujosversos surgem todo oprotagonismo àspalavras. doambientesonoro eentrega criação na concentra-se uma sábiadiscrição, deDr.trabalho deprodução Dre, de torrencial, entusiasmaainício. O expressivo“flow” edelírica sôfrego. devolta edevidamente Eminem está time foryou tohatemeagain”. Éisto, “Iguessit’smeio doálbum,dispara: e BritneySpears.Pouco alia depois, sequestra eassassinaLindsay Lohan pedófilo, em“Samesong&dance” perverso pormenorumabusosexual pela sala,em“Insane”descreve em corpos desmembradosespalhados serial killerque acorda nosofácom éo em“3A.M.” choque habituais: de Slim Shady astácticas eutilizar Marshall Mathersavestir apelede ressaca. “Relapse”canções. éoálbum da todosnasprimeiras Paxils: estão Klonopin,Xanax,Ritalin, Percodan, (2004), parasaberdessedia-a-dia. agora sucessorde“Encore” editado sobre iminente“Relapse”, oentão o reportagens hámeses publicadas necessário terlidotodasas De resto, nãoera mão. deitar conseguiu os comprimidosaque de Detroit todos aemborcar hop, mansão fechadonasua Recapitulemos. “3 A.M.”, logo Recapitulemos. a “3A.M.”, Sendo umóptimorapper, de fora, Marhall Mathersapôrtudocá ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente

JP Simões tornou-se o grande escritor de canções de um país que gostaria que os grandes escritores de canções não tivessem a desconfortável mania de desvelar as pequenas hipocrisias e misérias que nos fundam

Eminem: não é um regresso glorioso... AZENHA/ ARQUIVO SÉRGIO

of Mozart”, e a tensão do piano a silêncio e da tradução da existência de baixo, as vozes assentam na criar novo (bom) cenário de crime através de uma forma poética. No perfeição e na ponte há metais e cinematográfico. Contudo, são seu caso não são precisos grandes sopros com cheiro a cabaret. É uma fogachos. “Relapse” é um contínuo. artifícios. Basta uma guitarra, tremenda canção e, presume-se, A produção de Dr. Dre, cadência algumas ideias, uma respiração reside aqui o futuro de JP. No resto inquebrável e ambiente soturno introspectiva, deixar fluir o tempo, do disco temos um desfilar de impecável, é a ideal para a paranóia, um imaginário para partilhar, preciosas melodias que vestem a esquizofrenia e a catarse de contemplar o mundo, o exterior e o tristes sinas e anónimas tragédias. Eminem, mas isso não suporta um interior, sem a ânsia de descobrir As canções vindas da “Ópera do álbum inteiro de cenários idênticos, um propósito final nesse seu gesto Falhado” distinguem-se pelas suas das mesmas histórias com errante. Vítor Belanciano longas frases melódicas em personagens diferentes - a mãe, ascensão, trespassadas por uma Britney, Mariah Carey e até um angústia seca. Entre os inéditos JP Simões Christopher Reeves que Eminem domina uma doce e sedutora Boato ergue da tumba e encarna para dizer: melancolia, seja quando a canção se Compact Records “I hate you and I still do”. veste de tango ou de vaudeville ou Não é um regresso glorioso, não mmmmn de bossa: não há uma melodia tem singles memoráveis que se fraca, não há dicção que não seja autonomizem dele. Diz-nos que Depois de dois imaculada. JP Simões tornou-se o Eminem está de volta, conta porque discos com os grande escritor de canções de um esteve ausente e mostra que, na sua Belle Chase Hotel país que gostaria imenso que os forma de olhar o mundo, tudo se e um com o grandes escritores de canções não mantém inalterável. Aguardemos Quinteto Tati, J.P. tivessem a desconfortável mania de pela continuação. “Relapse 2”, a Simões lançou-se desvelar as pequenas hipocrisias e sequela, já foi anunciada e terá a solo com “1970”, extraordinário misérias que nos fundam. Talvez JP edição ainda durante este ano. disco de homenagem à canção devesse escrever umas coisas Mário Lopes Chico Buarqueana, que colheu os positivas.. Como a Madonna. Ou moderados encómios que um país assim. Carminho tem apenas 24 anos e pequeno, medíocre e mesquinho João Bonifácio Carminho, a grande canta como se nunca tivesse feito outra coisa pode dispensar aos seus génios (desde que eles não incomodem). ilusão The Field impossível não subir, e quando desce partilhando um lamento, um “1970” trazia um Simões menos Yesterday And Today (em “depois de o murmurar, deixou- momento de felicidade, um soslaio atreito à ironia amarga e mais Carminho Kompact, distri. Flur me”) nota uma grande sensibilidade de nostalgia, uma viagem, Espanha, adulto no sentido em que deixou de Fado ao valor das palavras, ocupando Marrocos, EUA, desertos, mares, esconder a tristeza em que as suas EMI mmmmn apenas o espaço que o contra-baixo e céus, chuva, Portugal, sempre canções sempre se fundaram. mmmm a guitarra acústica deixam, com Portugal. Mas um Portugal que não Alguma “inteligentsia blasé” Há dois anos o grande respeito pelo silêncio que o tem necessidade de se exibir para o perguntou-se, com certo temor sueco Axel Como é que se tema precisa. Este é um dos poucos ser. É-o simplesmente. São temas existencial, se depois de disco tão Willner elogia uma momentos em que se foge à santa instrumentais para guitarra clássica, honesto este moço pouco confiável surpreendeu o fadista? Nove em trindade (guitarra portuguesa, viola mareando intuitiva e serpenteante, voltaria ao porto seguro do bom universo dez vezes fala-se baixo e guitarra de fado) que ocupa que a cada nova audição se cinismo. Mas o famoso problema do demasiado em alma, um disco próximo da tradição, mas transformam num momento de difícil segundo disco foi resolvido saturado das linguagens electrónicas definição sem purismos. Ela é magnífica descoberta da realidade. De Tó de maneira inóspita: “Boato” é a de vocação dançante com o incorpórea e quando pode ser gaiteira, como na Trips. Da nossa. Das gravação de dois concertos ao vivo extraordinário álbum “From Here simplista para o que é uma equação “Marcha de Alfama” (controlo exímio pessoas de todo o no Jardim de Inverno do Teatro São We Go To Sublime”. Regressa, agora, com inúmeras variáveis: o timbre, a do vibrato), e sabe dar calor à voz mundo, porque as Luiz (Lisboa), e do seu alinhamento com outro óptimo disco que, em precisão, a dicção imaculada, a num fado melancólico e suas emoções contam canções do segundo disco relação ao seu antecessor, peca intensidade de cada arroubo. Mas lindíssimo como “O Tejo corre são iguais em dos Belle Chase (“Toillete des apenas por já não transportar ninguém é apenas uma coisa, pelo no Tejo”, ou dar peso e fundura a todas as Étoiles”), do Quinteto Tati, de consigo o efeito de surpresa. Não que sabemos que estamos na uma coisa magnífica como “A latitudes. É “1970” e uma data de canções que “Yesterday And Today” faça presença de uma grande fadista voz”. também o nunca gravadas, que pertenciam à papel químico do anterior. As quando ela encerra contradições e Carminho tem apenas 24 disco que “Ópera do Falhado” (que JP propriedades são as mesmas ambiguidades. Carminho tem uma anos e canta como se nunca aproxima escreveu e levou à cena) e outras (cadências tecno repetitivas, alusões característica única: consegue ser tivesse feito outra coisa. Tem a mais o que estavam esquecidas na gaveta - de ruído estático produzido por simultaneamente popular e contida, capacidade de nos fazer crer que o músico do todas traduzidas para piano, guitarras que não estão lá e mantras tão visceral quanto lúdica. Ouçam tempo parou e o fado está a nascer guitarra e a ocasional trompete. sonoras que parecem não findar), com atenção a sequência que a leva hoje, mesmo à nossa frente, como se Há duas excepções: as canções organizadas de forma diferente. É de “Palavras dadas” a “Espelho não houvesse história. É uma ilusão - que abrem e fecham o disco uma sonoridade tecnológica de quebrado”. Em “Palavras dadas” e a essa ilusão chamamos Arte. vêm de um concerto a solo montagens ambientais a que o não há rédeas na voz, ela dá todas as João Bonifácio de há muitos anos e nelas produtor sueco tem para propor, notas que quer, põe-se a estilar - JP é acompanhado por clarões de luz que entram por entre basta ver o que faz a cada roubado, uma orquestra. Deus, sedimentos digitalizados. A maior Tó Trips ou como canta palavras como como o luxo, fica bem a parte dos temas parece induzir ao Guitarra 66 “verdade” ou “amor”, prolongando este vagabundo da entorpecimento, narrativas Edit. e distri. Mbari Música aquele “ó”. É popular, é quase melancolia: em circulares que parecem fixar-se popularucha, mas é extraordinária, mmmmn “Canção do jovem numa certa monotonia. Mas existe cheia de cor, com um prazer danado cão” (em que é sempre um motivo que nos tira em pôr os pulmões cá para fora. É bonito, não o acompanhado por dessa zona, guiando-nos para planos Esse é um dos segredos: o prazer bonito que o Manuel João imperceptíveis. Desta vez há várias que retiramos de a ouvir cantar é cinismo Vieira) a linha participações, com destaque para muito lúdico, mas não no sentido de contemporâneo melódica dos John Stanier dos Battles, e uma encenação, antes no sentido de um se habitou a violinos tem versão - “Everybody’s got to learn prazer primário, quase gutural, algo desvalorizar, flautas em que afecta o corpo. É o puro prazer bonito mesmo. “Guitarra 66”, contra-ponto de ouvir uma grande voz, com inatas primeiro álbum a solo de Tó Trips, capazes de pôr

qualidades fadistas, voz satisfeita que nos últimos anos conectado com os meninas LARS BORGES satisfaz. Mas reparem o que ela faz a Dead Combo, é isso: simples, “Guitarra 66”, primeiro álbum a solo de coquetes a um dificílimo tema como “Espelho despojado, parecendo saído do Tó Trips: é simples, despojado; é bonito chocalhar quebrado”, que Amália cantou: nada. Há discos assim, como se a sua ombros sentimos-lhe a respiração, mas a voz função fosse estar a um canto, desnudos, em é muito mais contida. Quando sobe murmurando, mas prontos a fundo há uma não sobe porque sim mas porque é conduzir-nos à intimidade, deliciosa linha Axel Willner

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 43 44 .eet alCsas A 20Lso Telef: 213961515/Fax 213954508 e-mail: info 1250Lisboa R.Tenente RaulCascais,1A. De 3ªaSábadoàs21.30h.Domingo16.00h e figurinos: Tradução: Bilhetes àvenda naslojas Interpretação: •ÍpsilonSexta-feira 29Maio2009 Estrutura financiadapelo [email protected] @ JoséMaria Vieira Mendes; CristinaReis; teatro-cornucopia.pt http://www.teatro-cornucopia.ptteatro-cornucopia.pt RitaDurão Worten, Fnac, Viagens Abreu, Ingl ElCorte De 28deMAIOa21JUNHO Desenho deluz: Adaptação eEncenação: JoséÁlvaro Correia. TEATRO DOBAIRRO ALTO p s ewww.ticketline.sapo.pt 09M/12 2009 ChristineLaurent; Apoio Cenário Cenário distri. Universaldistri. Records Footmovin’ Records /SóHipHop; Outros Tempos Xeg contempla ohorizonte. também paradançar onde amúsica emmomentos transformando-as um, de cada partículas rock ambientalismo, -,isolando tecno, house,trance, os limites demuitos idiomas- atravessa infinito. que Éumdisco direcção ao em que partem instrumentais mmm resto são tudo o Mas dos Korgis. M.L. hiphop.canções Recorte clássico. de óptima colecção uma tema, criou cada poderia servir concentrado naquilo que melhor que aprimorou linguagem asua e, transformado. Éoálbumdealguém de alguémque regressa “Outros Tempos” nãoéoálbum crescente. cadência em a libertando-se anunciarem-se easrimas a ambiente, metais o compassado acriar percussões, ebeat guitarra Xeg doálbum: amelhorcanção com apartilhar Sam KideSirScratch Size, “Na possedasrimas”-Short vintagequalidade daempolgante em “Hoje eusou” (comVirgul) ea entrandoritmodentrojamaicano luxo deSagaseValete), umbalanço “Primeira vez” (comapresença de de (eafricano) sabor nostálgico Rodhes ebaixo háo Depois, funk. deórgão balada souleocalor Milton Gulli.“Ausência” temalmade comavozincluída) partilhado de descontraído (flauta debisel desingle,é“groove”single comcara “Liberdade”, dos“beats”. precisão “retro”combinam elegância coma orgânico dasproduções, que “Outros Tempos” docalor faz-se querem”. detudo, Mas,acima em“Como équeclasse política eles à atira-se dia aeromantiza-os, comunidade, ao episódios arranca seu hiphop. Mandamensagens à abrangente daquilo que é,hoje,o sobretudo, numa coerente visão e investe Investe, nascanções. ausência prolongada. Não, Xeg inovações que justifiquem a e oseuálbumnãoprocura título. Xeg éumMCdavelha guarda pelo porém, fica-se “actualização”, intitulá-lo “Outros Tempos”. Tal farátodoosentido perspectiva, longa duração. Tendo em isso “Conhecimento”, oseusegundo sometime” Discos n

Vol.1”, setedesde “Remisturas de depois Xeg, anos cinco novo álbumde finalmente um que surgeEis RITA CARMO V.B. V.B. Rui Pereira “Cravo bem-temperado”. A versão “gourmet” do gourmet Bach Clássica mmmmm 4 CDHyperion CDA67741/4 Angela Hewitt, piano Cravo bem-temperado Bach seguiram-se outros para discos seguiram-se apósagravação.concerto Depois apresentou em mesmaintegral esta apenas sendo que apianista 1999, foiacolhida entusiasticamente, temperado decorreu entre 1997e primeira doCravo integral bem- A maiores dacrítica. elogios editora Hyperion eque recebeu os queBach, projecto seloucoma para“piano”obra completa de pela numa maratonadiscográfica lançou-se de90apianista da década enoinício dimensão internacional ganhou carreira de80asua década de Toronto da edeLeipzig.Apartir Bach nomeadamente osConcursos degrande prestígio,internacionais venceu diversos concursos de70 Nadécada seu paiorganista. compositor presente, nãofosseo de hiphop;recorte clássico Xeg umaóptimacolecçãodecanções criou esta nova versão earesposta é:defi A pergunta que noscabefazer ésevale apenaouvir sempre um os três eBach foi Toca pianodesde anos deidade. 50 actualmente Angela Hewitt tem imaginativa onde usufruímos profunda mais e emocionalmente versão exemplar igualmente mas parauma muito elógica correcta deumainterpretação sensação antiga asermuito boa,passamosda continuando aversão pois acima anterior representa umdegrau bem poros. comaversão Emcomparação portodosos reflectida musicalidade Uma versão que transpira polifónico que aobraproporciona. jorra em todo nota oesplendor cada a pavio pelanaturalidade comque defio integral vale apenaouviresta particular, maspossogarantir que nenhum prelúdio oufugaem bem definidos.Nãovou salientar assimcomounsgravescristalinos, tem unsagudossonoros emuito eque conhece emdetalhe pianista contribuir oseupianoFazioli que a pode também paraoqual aspecto variadas eluminosas, são mais maior liberdade, sonoridades assuas demonstra emocional, no campo maduraeassertiva Hewitt mais está é: definitivamentea resposta sim. novavale apenaouviresta versão e integral. recentemente foireeditada aantiga ainda pois no mercado pedido que causa algumasurpresa novamente oCravo bem-temperado, Hyperion que queria gravar aoseuprodutorterminou disse da a Gulbenkian.Quando Fundação ondetocouna incluindo Lisboa, volumes) de21países, a58cidades do Cravo bem-temperado(os dois digressão mundial levandoaintegral 2007 auma e2008abalançou-se Entre naCasadaMúsica. actuou trouxeram aPortugal, onde também numa que sériedeconcertos a em blocosseparados(Livros IeII) numaapresentando-a primeirafase noseurepertório capital retomou obra esta a canadiana estendeu até 2005. oprojecto quecompletar se A pergunta que nos cabe fazerése queA pergunta noscabe debreveEm 2006, depois pausa, harmonias eoutros “sabores” desconhecidos. desconhecidos. Rui Pereira Rui nitivamente sim ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente

No ano passado Bradford Cox, líder dos Deerhunter, esteve no Lux numa noite memorável: agora regressa

Pop Tweedy lê-se uma mensagem, curta e lacónica, enaltecendo as suas Clássica contribuições para as canções e para Os Wilco, a evolução dos Wilco. O regresso Golpe inesperado aquele. Principalmente numa altura em que fi nalmente a banda parecia definitivamente do ilustre pacificada. De facto, desde “A Ghost A estreia em Portugal de Is Born”, álbum de 2004, cujo Thomas uma banda (já) histórica. lançamento sofreu adiamento quando Tweedy deu entrada numa Canções alienígenas Mário Lopes clínica para curar uma dependência Hampson de analgésicos, que os Wilco Wilco Deerhunter + Ariel Pink serenaram. Estabilizaram a sua Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Antão, 96. formação em 1994, que sofrera Lisboa. Lux. 2ª feira, 1 Junho. Às 22h. Bilhetes 15 Dom. às 21h00. Tel.: 213240580. 25€ a 45€. euros. O premiado barítono norte- mudanças constantes desde o seu Braga. Theatro Circo. Av. Liberdade, 697. Sáb. às americano encerra o Ciclo 21h30. Tel.: 253203800.25€ a 40€. nascimento, a partir das cinzas dos Foi protagonista em dois dos Uncle Tupelo, precursores do melhores álbuns de canções rock de de Canto da Gulbenkian. Para uma banda que documentou as chamado “alt-country”. 2008, mas como não pára acabou de Cristina Fernandes suas convulsões internas em “I Am Estabilizaram a sua própria música. lançar mais um - “Rainwater Cassete Trying To Break Your Heart”, o filme Depois do anseio experimentalista Exchance”. Thomas Hampson de 2002 que os acompanhou ter atingido o auge no seminal Falamos de Bradford Cox, líder e Wolfram Rieger durante o turbulento processo de “Yankee Hotel Foxtrot”, “A Ghost is dos Deerhunter, que em 2008, além Com Wolfram Rieger (piano), gravação de “Yankee Hotel Foxtrot” Born” foi álbum classicista com um de ter lançado um álbum com o seu Thomas Hampson (barítono). (e que era mais jogo freudiano que delírio kraut de 15 minutos pelo grupo - “Microcastle” - teve ainda excesso rock’n’roll), a estreia em meio. “Sky Blue Sky”, de 2007, tempo para editar “Let The Blind Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian. Avenida de Berna, 45A. Sáb. às 19h00. Tel.: Portugal terá enquadramento acentuou o apego pelas raízes da Lead Those Who Can See But 217823700. 15€ a 30€. tragicamente adequado. música popular anglo-saxónica. Cannot Feel” com a designação Atlas Jay Bennett, teclista e guitarrista A Portugal, onde se estreiam com Sound. Foi nesta última qualidade Muitos melómanos terão ainda na da banda entre 1994 e 2002, concertos marcados em Braga que esteve no Lux, no ano passado, memória algumas das inesquecíveis presente naquele que é considerado (Theatro Circo, sábado) e Lisboa na primeira parte dos Animal passagens de Thomas Hampson pela o período mais criativo dos Wilco, (Coliseu, domingo), chega uma Collective. Gulbenkian, sobretudo as suas morreu durante o sono na terça- banda histórica em trânsito. Trazem Essa foi uma noite memorável. notáveis interpretações da música de feira, dia 25 de Maio - recentemente, “Sky Blue Sky” na bagagem, mas a Segunda-feira há condições para que Mahler. tinha processado a banda por curiosidade maior reside no novo se volte a repetir algo de semelhante. No encerramento do Ciclo de Canto dívidas relativas a direitos autorais. álbum que se propõem apresentar, Os Deerhunter não serão tão desta temporada, o barítono norte- No sítio do grupo liderado por Jeff com edição marcada para o final de fantasistas quanto os Animal americano regressa a Lisboa para um Junho. Intitula-se simplesmente Collective, mas possuem o mesmo recital com o pianista Wolfram Rieger. “Wilco (The Album)”, mas o título faro para a criação de canções rock O programa percorre alguns dos não aponta qualquer “reinício”. transparentes a partir de melodias, grandes pilares da história do Lied

ZORAN ORLIC Nele, a banda que, na última ruídos, estruturas clássicas e germânico com obras de Schubert, década e meia, respeitadíssima, se ambientes alienígenas. Muitos Liszt, Mahler e Wolf, terminando com revelou uma das mais interessantes outros grupos das linhagens mais uma homenagem à canção americana aventuras da música americana, alternativas têm procurado com alguns trechos de Samuel Barber. joga em terreno seguro. Melodias inspiração nas mesmas memórias - Apesar de ser um requisitado Concertos beatlescas, desvios pelo folk rock numa vasta linha narrativa que parte cantor de ópera, solicitado pelos britânico de uns Fairport dos Velvet Underground e passa mais prestigiados teatros do mundo, Convention (em “You and I”, que pelos My Bloody Valentine - mas e um refinado intérprete da canção conta com a participação de poucos têm revelado ideias tão de câmara de várias tradições, Feist), os jogos sónicos de uns precisas, pondo-as ao serviço de um Hampson nunca esqueceu as suas Television (Tweedy adora-os), as som convulsivo mas contemplativo. raízes. manchas sonoras Aparentemente, o americano Há poucos anos fez com o pianista cuidadosamente elaboradas e Ariel Pink, que actua na primeira Wolfram Rieger uma digressão por aquele equilíbrio entre o tom parte, tem-se movimentado na várias cidades dos Estados Unidos confessional de Tweedy, direcção oposta. Enquanto os intitulada “Song of America”, A Portugal chega uma banda histórica descarnado, e um virtuosismo Deerhunter parecem, cada vez mais, em trânsito com “Sky Blue Sky” na bagagem instrumental sempre posto ao interessados em clarificar a sua serviço da canção. São 11 novas sonoridade, Ariel Pink continua a músicas clássicas dos Wilco e isso é querer danificar a história da pop, de saudar. Ainda para mais, tendo a desconstruindo-a, de forma sempre oportunidade de as ouvir, em delirante e excessiva. São formas primeira mão, no concerto da diferentes de comunicar essa coisa banda que demorou tempo chamada canção, mas ambas demais a chegar a Portugal. Ainda profundamente estimulantes. vem a tempo. Vítor Belanciano Thomas Hampson

SŽrie ’psilon. Û1,95

premiado em cabourg prŽmio cŽsar prŽmio Žtoiles dÕor premiado em torino MELHOR REALIZADOR MELHOR MòSICA ORIGINAL MELHOR COMPOSITOR - MòSICA ORIGINAL PRƒMIO ESPECIAL DO JòRI

Ípsilon • Sexta-feira 29 Maio 2009 • 45 gravações deMahler. Prémio Toblacher notáveis pelassuas eEMI),bemcomoo America Musical Ano” Music Awards, (Classical várias nomeaçõescomo“Artista do International Gustav MahlerSociety, Grammy, aMedalha deOuro da nomeaçõespara os incluindo seis numerosos prémios dacrítica, com distinguida discografia e Richard Strauss -eumaimportante Verdi, Tchaikovsky, Puccini, Wagner Rossini, Gluck, passando porMozart, Monteverdi aBritteneHenze, repertório operáticoextenso -de Sherril Milnes,Hampson possui um Leonard Warren, Robert Merril ou onde seincluemLawrence Tibett, linhagem debarítonosamericanos americana. cultural dacanção sobreSinging”, antologia ocontexto -ou“IHear America Canal Arte deStephenFostermúsica parao sobre -umdocumentário Heart” a multimédia como“Voices from the desenvolvimento deprojectos pesquisa derepertório eao doCongresso.a Biblioteca 46 Continuador de uma ilustríssima Continuador deumailustríssima aoensino, também à Dedica-se apresentada com emcolaboração •ÍpsilonSexta-feira 29Maio 2009 Concertos Quarteto Psophos:sómulheres Concurso deEvian)Concurso eem2005 foi deBordéus (antigoInternacional primeiro lugarnoConcurso internacionais. prestigiadosmais festivais prémios nos etocar importantes começouareceberdepois, deLyon.Dança Pouco tempo e deMúsica 1997 noConservatório surgiu em musical) acontecimento (palavra grega que significa Psophos feminina, oQuarteto inteiramente umacomposição Com às18h00. Tel.: Dom. de Alcobaça. 262505120. 5€. MosteiroAlcobaça. deAlcobaça. Abadia deSantaMaria (violoncelo). Eve-Marie(violeta), Caravassilis Grassi Maitre (violino),Cécile (violino),Le Schatzmaz Lisa Com Quarteto Psophos Passe: 25€. Município. Sáb. às19h30. Tel.: 272339400. 10€. Branco.Castelo Pç. doGoverno Civil. Edifício Quarteto Psophos Mendelssohn toca Haydn e Quarteto Psophos Em 2001,oagrupamentoobteve o AC/ DC AC/ como a herança docontrapontode como aherança Mendelssohn, mostrando assim op. op. 81,nº3, eoQuarteto 80, de nº5, deHaydn; oCaprichoeFuga Fuga”, op. deBach;oQuarteto 20, Fugasda“Arteinterpretadas duas da Serão emAlcobaça. Cistermúsica, Branco, enodia31Festival Primavera emCastelo Musical, amanhã (dia30),noFestival Mendelssohn, que seráapresentado programa emtornodeHaydn e Portugal comuminteressante do público. Regressa agora a acolhido comenormeentusiasmo Psophosfoi oQuarteto Belém, noCentro Culturalde Música, Ohana. eMauriceSchoenberg, NicolasBacri a Mendelssohn, Webern, Berg, gravações, incluindoCDsdedicados emvárias tem sidoregistado inclui váriasobrasdoséculoXXe 2006 e2007. Program”do “NewGeneration de aos12vencedoresBBC parasejuntar la Musique” pela efoiseleccionado Ensemble doAno” de nos“Victoires de“Melhornomeado nacategoria Miquel Bernart Mechanism Blasted 10€ a20€ Tel.: 218438801. e Sáb. às21h00. Contreiras, 6ª 52. Miguel Matos. Av. Frei Municipal Maria TeatroLisboa. FilipeQuaresma. Laginha, João Paulo Esteves, Mário BernardoSassetti. Com Sassetti, BernardoDirecção Musical: Music Around Circles 213612400. 2€. Império. 6ªàs14h30 (2ºe3ºciclos). Tel.: CentroLisboa. Cultural Praça deBelém. do Drumming -GrupodePercussão Out.Fest 2009 962372878. Entrada livre. Eusébio Leão,11.6ªàs21h30. Informações: Barreiro. EscoladeJazz doBarreiro. Rua Doutor Frango Ver textopág. 16 Alto.Bairro 6ªàs23h00. Tel.: 213430205. 10€. 59 Rua GaleriaZédos - Bois. Lisboa. daBarroca, Wavves +Youthless +John Maus 5€ 234811300. do Visconde deValdemouro. 6ªàs22h00. Tel.: Estarreja. Cine-Teatro Municipal deEstarreja. Rua Manecas Costa O melhordosanos80aovivo 218918409. 41€ a61€. às 21h00(abertura deportasàs19h30)..Tel.: PavilhãoLisboa. Atlântico. Parque dasNações.6ª Killed TheCat + Nik Kershaw +Curiosity Carlisle+ Belinda +ABC Rick Astley +KimWilde 5€. CGD. 6ªàs21h30. Tel.: 217905155. 10€.-30 anos: Culturgest.Lisboa. Rua Arco da doCego -Edifício Maestro: Joan Cerveró. OrchestrUtopica: Via Latina 29 Sexta Agenda Nas últimasediçõesdaFesta da O seudiversificado repertório Blasted Mechanism Quarteto Remix,Quarteto entre outros. Nicols&Steve Boyland,Maggie Percussão, Mauro Benavidez, Avenida, Drumming-Grupode HaswellLisbonense, &Hecker, Uma Matosinhos, Real Combo Area Dj’s, Orquestra deJazz de Ensemble, Gravy Train!!!, Metro Ratio, DanDeacon ACertain Com 226156500. Entrada livre. 210. das08h00 às00h00. Sáb. Tel.: eDom. Porto. Museu deSerralves. Rua João deCastro, Dom Serralves emFesta 2009 às 21h30. Tel.: 223394947. 5€a20€. Porto. Coliseu doPorto.R.Passos Manuel, 137. Sáb. + Joana Costa + Joana Amendoeira Arnauth +HélderMoutinho Kátia Guerreiro +Mafalda Sáb. às19h00. Tel.: 213612400. 6€. CentroLisboa. Cultural Praça deBelém. doImpério. Miquel Bernat +Nuno Aroso do Império.Sáb. às16h00. Tel.: 213612400. 6€. Centro CulturalLisboa. Praça deBelém. (comentário). Pedro Carneiro Komori (marimba), KunihikoCom Kunihiko Komori Ver textopág. 17 Tel.: 213253045. 25€a65€. São Carlos. Lg.S.Carlos, 17. TeatroLisboa. Nacionalde Carlos. Teatro deSão Nacional Coro do Com Stert. JohannesDirecção Musical: António Lagarto. Cenografia: MariaEmília Correia. Encenação: Don Giovanni livre. .Sáb. Azambuja. às00h00.Azambuja. Entrada Buraka Sistema Som Sábado 30 Festival. Informações: 917186584. 15€. .6ªàs23h00. Figueira Gala. Gala. Racing 31 deMaio). de Haydn, a ocorridaprecisamente Mendelssohn edamorte nascimento (respectivamente, os200anosdo efemérides desteano compositores que marcamas dos de dois refinada obradecâmara epeloromantismo na classicismo Bach foi reciclada commestriapelo seu sucesso (nacional e seu sucesso (nacional será semdúvidaumdosmotivos do comtemasalimentado seuseesse terra. OtrioAzuléprincipalmente activos compositores jazzdanossa notável umdosmais instrumentista, é,alémde Carlos Bica contrabaixista contemporâneo.português O vultos dojazz importantes aqui envolvidosEstão dosmais dois CGD. 5ªàs21h30. Tel.: 217905155. 18€. -30 anos: 5€. Culturgest.Lisboa. Rua Arco da doCego -Edifício CarlosCompositor: Bica. JoãoCom Paulo (piano). João Paulo tocaCarlos Bica Bica revisitado Jazz C.F. Serralves emFesta Dan Deaconno

Buraka Nuno Catarino vermos vestidas comnovas roupas. Agoradespindo-as. éavez deas exposto essência, asmúsicas nasua 2005) jáhavia Bica Land, (Bor nova solo“Single” vida.Nodisco novasjuntar cores, paralhesdar para lhesextrair osumo, paralhes transformar ascomposiçõesdeBica: e vaiatacar Culturgest opianista do seuconcentradolirismo. Na recente éomais exemploGonzales, Dennis americano trompetista Grace”,emduocomo “Scape gravações paraaCleanFeed -odisco desvendado aopúbliconas que setem magnífico pianista, Joãointernacional). Paulo éum Bairro Alto.Bairro 5ªàs23h00. Tel.: 213430205. 8€. 59 Rua GaleriaZédos - Bois. Lisboa. daBarroca, Baby Dee às 21h30. Tel.: 223394947. 20€a25€. Porto. Coliseu doPorto.R.Passos Manuel, 137. 5ª Mayra Andrade Quinta 4 2,5€. 4ª às22h00. Tel.: 232480110. Consumomínimo: TeatroViseu. Viriato. Lg.MouzinhoAlbuquerque. (contrabaixo). Moran (vibrafone),Peter Bitec (violoncelo),Mat Daniel Levin NateWooleyCom (trompete), Daniel Levin Quartet daCGD.Edifício 4ªàs22h00. Tel.: 222098116. 5€. Porto. Culturgest. Avenida dos Aliados, 104- Joe McPhee 19h30. Tel.: 707204444. 55€ a60€. Alvalade -R.Prof. Fernando daFonseca. 4ªàs EstádioAlvalade ViscondeLisboa. de XXI.Ed. Pç. daMúsica. Porto. Casa Mouzinhode daUniversidadeLetras doPorto. Tomé de Coral Com (barítono). Finnur Bjarnasson(tenor),Job (soprano), LilianaCoelho Com JoanaDirecção Musical: Carneiro. Nacional doPorto OrquestraA Criação: Domingo 31 João Paulo Albuquerque. às18h00. Tel.: Dom. AC/DC 220120220. 17€. Quarta 3 Obras deHaydn -A Criação Ver textopág.16 222058351. 8€222058351. a10€. Segunda 1 Segunda 2ª às22h00. Tel.: Rua Passos Manuel, 137. Wavves +Alto! Porto. Passos Manuel.