2016 01 Exposicao Arquivo
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O Castelo de Alcantarilha Imóvel de Interesse Público Alcantarilha, com uma população estimada em cerca de 2327 habitantes (Censos de 2011), é uma bonita vila e sede de freguesia do concelho de Silves com cerca de 25 km2, situada no coração do Algarve, dista 11 quilómetros da sede de concelho e aproximadamente 50 quilómetros de Faro. Ergue-se numa pequena colina de 32 metros, entre arvoredos, e passa junto a ela a ribeira com o mesmo nome, também conhecida como Ribeira da Enxurrada, que nasce a NE de S. Bartolomeu de Messines, na freguesia de Alte (Loulé) e após um percurso de cerca de 30 km, desde as suas origens, desagua no Oceano Atlântico entre Pera e Armação de Pera. De terra fértil, rodeada de campos agrícolas, onde sobressai a produção de citrinos, cereais, amêndoa, figo, alfarroba, azeite e também vinho, que constituem o essencial da paisagem alcantarilhense. A vila de Alcantarilha tem como orago Nossa Senhora da Conceição. No que respeita à raiz do seu topónimo, o nome Alcantarilha é de origem árabe e deriva da palavra «Al-Qantarâ» que significa «a ponte» que, no seu diminutivo românico, moçárabe, significaria «ponte pequena ou pontezinha». Localizada estrategicamente na estrada que comunicava entre Faro e Silves, as duas capitais islâmicas do Algarve, Alcantarilha foi um povoado de grande importância estratégica. A povoação desenvolveu-se em função da ponte que lhe terá dado o nome: al-qantarâ. Das muralhas ou do chamado Castelo de Alcantarilha ainda resistem alguns vestígios da cerca abaluartada implantada no interior do espaço urbanizado de Alcantarilha, entre a Travessa do Castelo e o Largo General Humberto Delgado e no que respeita à sua data de execução há várias teses. Castelo de Alcantarilha | Imagem do livro Algarve – Castelos, Cercas e Fortalezas Alguns autores defendem a ideia de que na época da Em 1621, Alexandre Massai na Descrição do Reino do Reconquista Cristã da Península Ibérica, quando foi Algarve, em relação a Alcantarilha, para além de descrever tomada aos mouros pelo Mestre da Ordem de Santiago, que o lugar se localiza entre dois vales e ribeiras, D. Paio Peres Correia, sob o reinado de D. Afonso III, terá que produz figos, trigo, amêndoas e outros aspetos, determinado a edificação do Castelo de Alcantarilha, relativamente às muralhas aconselha que se deviam tendo, assim, uma origem islâmico-medieval. acabar as obras, levantando-se de pedra e cal os pedaços dos muros que estão começados e elevando-os à altura Outros defendem a ideia de que foi construído ou do baluarte que está feito e as mais obras se devem fazer reparado, entre a segunda metade do século XVI e de terra e faxina. Para a conclusão das obras também se a primeira metade do século XVIII, essencialmente deve aceitar toda a ajuda que o povo queria dar. Todavia para proteger a população das investidas da pirataria é provável que a muralha nunca tenha sido concluída. marítima vinda do Norte de África, uma vez que em 1550 Alcantarilha e os povoados vizinhos sofreram um No Dia de Todos os Santos de 1755 o Algarve foi devastador ataque de piratas mouros que a saquearam. sacudido pelo sismo que se fez sentir em toda a região Assim, segundo informação de João Baptista da Silva e um pouco por todo o resto do País, sobretudo no sul e Lopes, foi nesse mesmo ano de 1550, depois do ataque, litoral de Portugal, provocando uma enorme devastação. que Alcantarilha começou a ser cercada por uma Em 1758 o Secretário de Estado dos Negócios do Reino, muralha segura (Reis, 2003). Sebastião José de Carvalho e Melo, remete a todos os párocos do reino interrogatórios sobre as paróquias Outros testemunhos remetem-nos para uma campanha e povoações pedindo as suas descrições geográficas, de obras associada ao tempo de D. Sebastião (1568-1578) demográficas, históricas, económicas e administrativas, que em 1571 determinou uma serie de melhoramentos para além da questão dos estragos provocados pelo a nível da defesa militar do território e determinou a terramoto. Assim, o pároco de Alcantarilha nas Memórias conclusão das muralhas de Alcantarilha. Paroquiais refere apenas pequenos danos na Igreja, sendo relatado que “Nam padeceo ruina alguma no No ano de 1573 El-Rei D. Sebastião empreendeu uma Terramoto de mil sete centos sincoenta e sinco, Deos jornada ao Alentejo e Algarve e depois de pernoitar em Louvado may do que tres pedras da Capella Mor da Silves, às 6 horas, do dia 28 de janeiro partiu a caminho Parrochia darem de si dous dedos descaídas que logo se de Albufeira passando por Alcantarilha, para ver a ajustara”, não fazendo referencia ao estado em que ficou obra feita, como se pode ver através do relato histórico a muralha. feito por João Cascão, cronista que acompanhou o séquito do monarca na sua jornada, onde descreve que Alcantarilha estava sendo cercada por muro em toda a roda e que tinha baluartes em lugares convenientes “passou pela Alcantarilha, aldeia de 150 vizinhos, que ora se cerca de muro toda em roda, e com baluartes em lugares “Memórias Paroquiais da freguesia de Alcantarilha” convenientes, por ser perto da costa (…) Entrou El-Rei pela PT/TT/MPRQ/1/81_m0310 principal rua da aldeia que, de uma banda e de outra, estava cheia de gente, e às janelas algumas moças bem parecidas. A importância estratégica desta muralha deve-se ao (…) e andaram na Alcantarilha vendo o novo edifício”. facto de se situar num ponto mais recuado da linha de costa e uma segurança mais interior, que permitia fazer frente aos ataques marítimos e aos eventuais desembarques de tropas inimigas. As muralhas da cerca abaluartada são assim compostas por seis baluartes em cada vértice e a porta principal da vila tinha um arco – o Arco da Porta, chamado da Vila, junto do castelo, por onde se entrava para a povoação do lado sueste, que foi demolido no século XVIII para se utilizar a sua pedra na construção da ponte sobre a Ribeira, que substituiu outra mais antiga. Quatro anos depois as obras de construção da muralha O designado “Castelo de Alcantarilha” chegou até à ainda perduravam. Segundo Frei João de São José, na década de 1940 em relativo estado de conservação. sua Corografia do Reino do Algarve (1577), descreve a vila No entanto, a partir de então, e ao longo das últimas com mais de 200 vizinhos, todos lavradores de terras e décadas, com a evolução da malha urbana uma figueirais, dizendo que nela se construía uma cerca. parte significativa da muralha foi ocultada pelas construções modernas, descaracterizando-se a fisionomia do espaço intramuros de tal forma que atualmente são poucos os elementos que se encontram visíveis. Entre os quais se destaca um trecho curvo do pano de muralha, com cerca de 12 metros de comprimento por 4,5 metros de altura, constituído à base de alvenaria de pedra calcária argamassada com argila, irregularmente dispostas, ao qual estão adossadas a noroeste e a sudeste diversas edificações de piso térreo e telhado de duas águas. Castelo de Alcantarilha – 1976 | Fotografia site SIPA Na Travessa do Castelo encontra-se no pano de muralha curva com soco uma porta simples a sudeste da principal de cantaria de verga curva com portão em ferro, e a noroeste uma janela quadrangular de pequenas dimensões, a cerca de 4 metros de altura. Visível da Rua de Nossa Senhora do Carmo, do lado sudeste, destaca-se um canto de um baluarte, que corresponde a uma das faces de um cunhal em calcário que estreita da base para o topo. Do lado nascente da Rua do Lagar que continua para além das Escadinhas do Lagar continua ainda um longo pano de muralha, mas que não foi integrado no imóvel classificado, e Castelo de Alcantarilha – 1977 | Fotografia site SIPA visivelmente a meio do seu percurso o varandim de uma casa particular ocupa o topo de um torreão que ainda exibe uma das suas orelhas. Em agosto de 1973 a Câmara Municipal de Silves recebe o ofício n.º5450, datado de 16 de agosto corrente, da Secretaria de Estado da Instrução e Cultura – Direção Geral dos Assuntos Culturais, do Ministério da Educação Nacional, através do qual tomou conhecimento que “foi determinada a classificação, como imóvel de interesse público, do Castelo de Alcantarilha, situado em uma colina na vila de Alcantarilha, desse concelho”, pelo que a respetiva zona fica sujeita às disposições legais citadas no mesmo ofício. No entanto, só um anos depois, em 1974, se iniciou o Castelo de Alcantarilha – 1977 | Fotografia site SIPA processo de “Constituição da servidão administrativa do Castelo de Alcantarilha” para a sua classificação, tendo sido publicado no “Jornal do Algarve”, a 27 de julho desse mesmo ano, o edital relativo à constituição de servidão administrativa. Decorridos os trinta dias foram apresentadas três reclamações, subscritas por José Maria Tavares Alves Martins, António Inácio Vieira e Isabel dos Santos Quintinha. No ofício n.º8870, de 20 de agosto de 1974, foi comunicado que “por despacho de Sua Excelência o Secretário de Estado da Cultura e Educação Permanente, foi homologado o seguinte parecer da 4a. Subsecção da 2a. Secção da Junta Nacional da Educação: Nenhuma das reclamações apresentadas contém matéria que conduza á revisão do parecer anterior, deviamente homologado por Castelo de Alcantarilha | Imagem do livro Algarve – Castelos, Cercas e Fortalezas despacho do Senhor Secretário de Estado da Instrução e Cultura, no qual se propunha que o Castelo de Alcantarilha fosse classificado como “imóvel de interesse público” (…) considera de manter a anterior proposta, no sentido de ser classificado como “imóvel de interesse público” o Castelo de Alcantarilha”. Uma vez que os dois primeiros reclamantes, proprietários de prédios e terrenos situados na zona de proteção genérica de 50 metros de raio, que constitui a servidão administrativa, alegam que pode ser impeditiva de quaisquer construções, no entanto, “o facto de as suas propriedades serem abrangidas pela referida servidão administrativa não é impeditivo de que nas mesmas venham a construir ou alterar as que ali existem, apenas não poderá ser efectuada qualquer obra, quer de alteração, quer nova, sem que os projectos tenham sido sancionados por este departamento do Estado”.