Significações nacionais de expressões locais: cultura, região e mídia no Brasil

Sebastião Guilherme Albano da Costa, Maria Érica de Oliveira Lima∗

Índice Resumo Introdução2 Este artigo está embasado em premissas 1 Momentos decisivos: Estado nacio- da modernidade latino-americana. Não nal, políticas culturais e ascensão da obstante, sua idéia principal tange à regula- mídia no Brasil2 ridade de motivos regionais na composição 1.1 Pilares das políticas culturais na da imaginação nacional surgida com a América Latina e no Brasil...4 ascensão dos processos de industrialização 1.2 Federalismo e as posições regio- e da cultura no Brasil do século XX. Se nalistas...... 10 tomarmos peculiaridades históricas tal como 1.3 A identidade cultural, o loca- o embate entre forças regionais e federais na lismo e a proximidade no campo constituição do estado, os ciclos econômicos midiático...... 12 que levaram à alternância na hegemonia Considerações finais 16 econômica nacional, ações políticas, etc. Bibliografia 17 percebemos que a indústria cultural e seu caráter transnacional tiveram uma matéria ∗ Sebastião Guilherme Albano da Costa é Pro- prima histórica e já sistematizada pelas fessor adjunto do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Ciências Sociais e (re) configurada pela (UFRN). Doutor em Comunicação Social pela Uni- Comunicação que puderam adaptar os versidade de Brasília, com sandwich na Universidad estímulos expressivos regionais aos supor- Nacional Autónoma de México (UNAM) e na Univer- tes e às especificidades cognitivas que a sity of Texas at San Antonio (UTSA). Pesquisador do caracterizam. Numa leitura epistemológica GEMINI: Estudos da Mídia. E-mail: [email protected] Maria Érica de Oliveira Lima é Profa. adjunta do e conceitual apresentamos o estudo sob o Departamento de Comunicação da Universidade Fe- prisma da identidade cultural, localismo, deral do Rio Grande do Norte (UFRN). Doutora em proximidade, regionalização, nacionaliza- Comunicação Social pela Umesp e sandwich UFP, ção, espacialização e territorialização. Porto (Portugal), como bolseira do Programa Alßan. Pesquisadora da Base Comunicação, Cultura e Mídia (Comídia/UFRN). E-mail: [email protected] Metodologia: O artigo é resultado de uma pesquisa qualitativa, cujos métodos dedutivo, dialético e observacional estão 2 Sebastião Costa, Maria Érica Lima representados nas técnicas de pesquisa Introdução bibliográfica e documental. Este artigo compõe-se de um resumo e vá- rias simplificações resultantes dos limites do Palavras-chave: Ciências da Comunica- projeto científico. Em verdade, é um com- ção e Sociais, Localismo, Nacional, Regi- pêndio de um trabalho mais vultoso e ensaís- onal, Território, Espacialização, Identidade tico sobre os processos de formação do pen- cultural e Proximidade. samento sobre a cultura nacional brasileira com ênfase na produção de sentido efetuada Abstract pela circulação dos mass media e dos dis- cursos que os legitimaram durante o século This article is based on issues of Latin XX. Naquela proposta tratamos da dinâmica America Modernity. Its central idea is rela- de ascensão de séries simbólicas e cogniti- ted to the construction of regional cultural vas relacionadas com as representações li- motifs throughout national imagination and terárias, cinematográficas e musicais cujos vice-versa, phenomena emerged in parallel modelos são a idealização da vida cotidiana, with industrialization processes in . a iconografia e os ritmos musicais proveni- Taking historical problems such as the clash entes da região nordeste do Brasil. Como between federal and regional forces, and consideramos também seu intercâmbio com economic hegemony cycles, we argue that os enunciados que compõem os grandes te- stronger cultural legacy, already outlined mas das ciências humanas e sociais, aqui lan- by Humanities, Media Studies and Social çamos mão de simplificações que pudessem Sciences, is mainly related to culture indus- dar conta desse fluxo, resumindo digressões try and its transnational character, which e ponderações a noções como identidade cul- could adapt regional stimulus to broader tural, representação, territorialização, redu- audiences, setting up a general cognitive fra- ção estrutural, e conceitos como localismo e mework. In order to reach the goal, we use proximidade, entre outros em que tratamos concepts such as cultural identity, location, apenas de indicar as matrizes e tangenciar o proximity, regionalization, nationalization, processo. Para tanto, nosso método parte da spatialization, and territorialization. descrição sucinta das primeiras políticas cul- turais realizadas no âmbito do Estado nacio- Methodology: This article is a result of nal, passa pela questão da cultura brasileira e qualitative research and deductive methods, chega à ascensão da mídia como ator impor- with dialectic and observational techniques. tante de transmissão de informação e conhe- cimento e de reformulação e atualização do Keywords: Communication and Social regime de representações. Sciences, Local, National, Regional, Terri- tory, Spatialization, Cultural Identity, and Proximity.

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1 Momentos decisivos: Estado licas de uma comunidade. Com respeito à nacional, políticas culturais e América Latina e especificamente ao Brasil, ascensão da mídia no Brasil ao se consolidar uma consciência de sua es- pecificidade cultural e conseqüentemente ao O tema da representação e sua relação com se pensar em uma política para sua manuten- a formação de identidades (HALL, 2003:28) ção, incentivo e divulgação, sempre se levou é crucial e para levar esta reflexão a bom a cabo um exercício de discernimento que termo, começaremos com um esboço das acabou por inscrever sob o mesmo programa primeiras iniciativas do estado brasileiro de de ação um corpus reduzido, mas heterodoxo configurar uma nacionalidade a fim de culti- de manifestações tradicionais. var o campo do futuro regime representativo, Nessa parte do mundo, os padrões que do qual trataremos mais adiante. Quando se consignam as prioridades são árduos de se- estudam as formações da cultura, uma das rem estabelecidos, mas sempre estão associ- séries mais solicitadas pelos pesquisadores é ados, primeiro, a uma apropriação mais ou a de cultura nacional. Nos termos de Guil- menos reflexiva dos parâmetros da moderni- lermo Bonfil Batalla, essa categoria encerra zação política e econômica do mundo oci- uma posição assimétrica entre duas culturas, dental pelos atores sociais de maior mobili- uma própria e outra imposta, fato que sugere dade, ao mesmo tempo em que implica um a necessidade de um controle cultural, “la ca- exercício de auto-reflexão, tendo em vista a pacidad de decisión sobre los elementos cul- necessidade de incorporar setores mais tradi- turales” (1997:49), que não deve ser relegada cionais e autóctones nesse processo. Foi por quando se executa um exame (ALTHUS- isso que identificamos que o advento da po- SER, 1968; GRAMSCI, 1975).Ademais, ne- pularização dos meios de comunicação ele- nhum país da América Latina consegue ob- trônicos na região veio em compasso com a servadas as diferentes proporções dos desa- criação de um mercado consumidor interno, fios, descreverem os mecanismos de produ- ambos definidores da conformação do nosso ção e reprodução de tradições culturais que estado e também de nossas nacionalidades, se enlaçam em seu interior e delimitá-los a que já surgiram modernas. um só ethos nacional. No século XX as for- Não obstante, importa comentar que o ca- ças econômicas da indústria cultural em vá- ráter transnacional ou desarraigado de tais rias ocasiões tomaram o controle dessa tarefa meios e dos produtos industrializados, con- e se tornaram um ator importante na repre- soante à formação cultural internacionalista sentação das culturas nacionais ou, em todo dos seus promotores aqui, também favore- caso, de sua versão globalizada. ceu a que os fenômenos mais plásticos dos Agora bem, uma política cultural supõe folclores regionais ganhassem maior proje- uma série de prerrogativas que vão do que ção do que os intimistas. Para exemplificar, um grupo entende em teoria como cultura, basta recordar que já em meados do século até a circunstância específica em que se apli- XX, o samba baiano e carioca, mais os rit- cam ações afirmativas a fim de garantir a so- mos e a iconografia embasada nas intempé- brevivência das tradições materiais e simbó- ries climáticas e humanas que assolavam o Nordeste, reuniram-se ou tomaram o lugar

www.bocc.ubi.pt 4 Sebastião Costa, Maria Érica Lima do índio amazônico, da religiosidade e das priorizaram a representação de tipos físicos, relações urbanas cariocas e até paulistas re- sociais e paisagísticos que corroboravam seu tratadas pelos romances, pelo teatro e pelas pendor pela focalização do pathos, já insinu- artes plásticas dos cem anos precedentes. ado com o romance do dezenove. Daí que o Resulta mesmo revelador o fato de que no efeito tenha sido uma espécie de naturaliza- audiovisual como antes nos romances apenas ção da iconografia do Nordeste, por exem- couberam nos suportes discursivos as formas plo, por intermédio dos interesses do Sul, mais maleáveis do que se considerava cul- suscitando de fato uma nacionalização das tura popular, isto é, as formas que melhor representações do Brasil a partir de uma pré- haviam negociado com o sistema de naciona- fabricada imaginação nordestina. lização em que os romancistas estavam inse- ridos e que depois melhor puderam adaptar- 1.1 Pilares das políticas culturais se ao sistema de reprodução técnica, quase que por definição desarraigada do meio au- na América Latina e no diovisual, mas que ao princípio buscou a ter- Brasil ritorialização para consolidar-se. Desse cor- A história das políticas culturais na América pus, todavia, os resultados mais vigorosos Latina pode ser traçada a partir da coloniza- foram os que mantiveram certa especifici- ção e da criação das universidades, centros dade dentro e fora do compósito discursivo educacionais ou instâncias de disseminação e ao mesmo tempo engendraram novas fun- de conteúdos necessários para o equilíbrio ções no quadro simbólico local. da administração pública. Dada a associa- Com a formação do estado depois da inde- ção entre igreja e estado dos séculos XV ao pendência, à criação de políticas culturais no XVIII, em geral as escolas criadas aqui man- Brasil e em toda a América Latina esteve ca- tinham cursos de filosofia (teologia), junto racterizada pela maneira como esse Estado, aos de direito canônico e direito civil, me- carecendo de uma simbologia nacional para dicina e artes. A existência de máquinas de seguir com o programa moderno, apropriou- imprensa desde o início da colonização em se de estruturas institucionais universalistas algumas áreas da América supõe o status ou- a fim de organizar uma sociedade embasada torgado pela metrópole à colônia e encerrava em relatividades culturais arraigadas. Como em si mesmo o estilo de colonização. A In- se sabe, a rigor, aqui o Estado veio antes que glaterra e Portugal, por exemplo, não cria- a nação (CASTAÑEDA, 1993). Assim, o ram universidades em suas propriedades, ao movimento seletivo de legitimação cultural passo que a Espanha desde 1538 fundou a redundou em uma verdadeira instituição dos Universidad de Santo Domingo, na ilha La significados, fato que se maximiza quando Hispaniola, em cujo território atualmente es- se percebe que muitos dos elementos que tão o Haiti e a República Dominicana. Em se consideram tradicionais na atualidade têm 1551 foram criadas as instituições mais im- uma história recente e uma origem inventada portantes, a Real Universidad de México e a (HOBSBAWM e RANGER, 1992). A rele- Universidad de San Marcos de Lima, finan- vância da assertiva cresce também quando se ciadas diretamente pela coroa de Castela. No percebe que o cinema, o rádio e a televisão

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México, ademais, o primeiro bispo da Nova certa parcela da população que ele situou na Espanha, Frei Juan de Zumáraga, e o vice- chamada ciudad letrada, em geral habitada rei Dom Antonio de Mendoza, fizeram as pelos peninsulares ou criollos que até os pri- gestões necessárias para que fosse introdu- meiros decênios do século XIX reproduzi- zida a imprensa na região e mesmo havendo ram aqui a visão de mundo européia. Não um estrito controle dos conteúdos reproduzi- é um excesso afirmar que as zonas urbanas dos, propiciava o meio de disseminação do são o espaço natural de produção das mani- conhecimento. festações culturais de maior prestígio (teatro, No Brasil, a primeira instituição educa- literatura), de vez que é ali onde são admi- tiva foi construída pelos jesuítas na Bahia em nistrados os assuntos políticos, econômicos 1550, mas como as 17 posteriores, não tive- e jurídicos do Estado e da sociedade, o que ram designação de universidade, muito em- implica um registro escrito dessas relações bora em algumas delas houvesse cursos su- (leis, informes, memorandos etc.) e um exer- periores de artes e teologia. Com o traslado cício de gestão que favorece a habilidade re- da coroa portuguesa ao Rio de Janeiro em flexiva. Na América Latina redundou em que 1808, Dom João VI trouxe consigo cerca de tal espaço teve grande relevância comparado onze mil cortesãos, muitos deles alfabetiza- com o campo, em que a oralidade, as práti- dos, parte do acervo da Biblioteca Nacional e cas artesanais e as festas religiosas compu- uma máquina de imprensa. Ao chegar, criou nham o panorama do que se conhecia como escolas de educação superior, isto é, as fa- cultura. Esse poder dos signos citadinos e, culdades de Medicina do Rio de Janeiro e porque não dizer, cosmopolitas entre os bra- da Bahia, e as faculdades de Direito de São sileiros se reforça com a industrialização no Paulo e Olinda. Mas a primeira universidade século XX e com as hordas de imigrantes do brasileira foi construída em Manaus, capital sertão do Nordeste vindas a São Paulo e ao do estado do Amazonas, em 1909, e finan- Rio de Janeiro e a conseqüente reelaboração ciada por grupos privados beneficiados pelo dos conteúdos de suas tradições folclóricas, auge da borracha na região. A mais impor- da vida cotidiana e sua adequação aos gêne- tante e duradoura instituição de educação foi ros discursivos dos meios (do romance às te- fundada no Rio de Janeiro em 1920, e obri- lenovelas) e, devido à penetração desses for- gada a mudar de nome em diversas ocasiões. matos na sociedade, à nacionalização desses De outro lado, o conde da Barca, ministro de conteúdos. Antes, a disjuntiva entre cidade e Dom João, fundou aqui em 10 de setembro campo foi radicalmente representada na Ar- de 1808 a Gazeta do Rio de Janeiro, uma fo- gentina por Domingo Faustino Sarmiento em lha colaboracionista que servia como contra- Civilización y barbarie: Vida de Juan Fa- partida ao Correio Braziliense, considerado cundo Quiroga, 1845, uma glosa do imagi- o primeiro jornal brasileiro, editado em Lon- nário pós-colonial da região. dres por Hipólito da Costa, um degredado Para constatar o caráter rural e a vocação contrário à monarquia. agrícola do país, pode evocar dois argumen- De acordo com a tese de Ángel Rama tos já verificados. O primeiro diz respeito à (1984), os incentivos à cultura na região falta de disposição das elites locais para mu- sempre foram dirigidos e resguardados por dar o sistema de produção brasileiro, base- www.bocc.ubi.pt 6 Sebastião Costa, Maria Érica Lima ado no latifúndio, no trabalho escravo e na 1940, o índice de população urbana no Bra- monocultura. As mudanças necessárias para sil era de cerca de 25 por cento (SANTOS, uma modernização efetiva não ocorreram 1993:29). Malgrado essa situação, em 1940, nem sequer com a Independência política do quando a população brasileira alcançava já Brasil de Portugal, mais um acordo de cava- 41 milhões de pessoas, o Nordeste contava lheiros que uma ruptura, algo patente na per- com uma taxa de urbanização de 23,4 por manência de um herdeiro do trono lusitano à cento, apenas acima do Centro-Oeste. O Su- frente do Estado. O segundo refere-se a que deste, de outro lado, a taxa era de 39,4 por pouco antes da vinda de Dom João VI para cento. o Brasil, haviam apenas cinco cidades com Seguindo nesse fenômeno de apropria- mais de cinco mil habitantes. Rio de Janeiro ção/territorialização, cabe mencionar que (50.000), Salvador de Bahia (45.000), Recife logo em seguida das revoluções de Indepen- (30.000), São Luiz do Maranhão (22.000) e dência e conforme avançava a construção das São Paulo (15.000), e todas eram porto, salvo estruturas do Estado, o espaço mítico da ur- São Paulo, que era uma espécie de “boca do banidade em que as idéias eram discutidas e sertão” (COSTA, 1977:180). Esses números cotejadas teve de se estender e ganhou corpo são significativos se os confrontamos com o com a chegada dos imigrantes do campo às 2.8 milhões de brasileiros existentes, o que cidades, o transporte dos valores de um lu- nos leva a concluir que a maioria da popu- gar a outro e o conseqüente processo de acli- lação, cerca de 95 por cento, vivia mesmo matação. As manifestações da cultura po- no campo e que os núcleos urbanos aqui ti- pular foram integradas ao espectro oficial veram uma função meramente comercial, e de representações da nação formada havia “havia pouco lugar para instrução e cultura” pouco como uma estratégia mais ou menos (COSTA, 1977:183). Até meados do século inconsciente, em especial na segunda me- XIX essa situação, assim observada, pros- tade do século XIX, para apoiar o compo- segue sem mudanças (SANTOS, 1993: 20). nente anti-ibérico entre os americanos que Como diz Emília Vioti da Costa: falavam português ou castelhano, o que es- timulou a descolonização das mentalidades O uso de mão-de-obra escrava, a auto- em favor da formação de um quadro de re- suficiência do latifúndio, o baixo padrão de ferências próprias. Os valores aristocráticos vida do trabalhador livre, restringiam a ex- atribuídos (Costa, 1977:184) às cidades em pansão do mercado interno, inibindo o desen- pouco tempo tiveram de conviver com valo- volvimento do artesanato, das manufaturas e do comércio interno, limitando as forças ur- res rurais e agrícolas, possivelmente valores banas” (1977:181). plebeus ou, na denominação republicana, va- lores populares. Agora bem, vendo a questão de outro ân- Desse período são os primeiros fenôme- gulo, percebe-se que em princípios do sé- nos de migração interna e externa no Bra- culo XX, apenas três cidades contam com sil, com massas de escravos nordestinos, já mais de cem mil habitantes, Rio de Ja- decadentes devido a que perderam seu va- neiro (274.972), Salvador (129.109) e Recife lor de troca a partir da cessação do tráfico (116.671). Cabe o comentário ainda que em negreiro em 1850, deslocando-se para traba-

www.bocc.ubi.pt Significações nacionais de expressões locais 7 lhar nas lavouras de café próximas às cida- Faustino Sarmiento na Argentina, que foi des de São Paulo, a fim de substituir o ne- um importante adversário político do dita- gro na mão de obra e apoiar os estrangei- dor Juan Manuel Rosas (1829-1832 y 1835- ros que também imigravam, especialmente 1852). Muita embora ainda exista nessa si- portugueses, italianos, espanhóis e alemães. tuação uma desproporção entre formas, con- Cabe remarcar a nota de que os nordestinos teúdos e público difícil de ser franqueada, que iam para o Sul eram escravos, e não ser- as obras desse período já buscavam incor- tanejos como ocorreria futuramente. Como porar em definitiva os segmentos menos pri- a situação fosse basicamente semelhante em vilegiados nas estruturas de acesso cultural parte da América Latina, pode-se dizer que, do estado, antes do advento dos mass me- no século XIX, uma manifestação primordial dia. Renato Ortiz, por exemplo, recorda que desse tipo de nacionalismo pode ser adver- as obras do romantismo que visavam a con- tida no romance do mexicano Joaquín Fer- formar uma imaginação nacional se encon- nández de Lizardi, El periquillo sarniento, travam com entraves para se solidificarem, 1816, em que um pícaro relata as calami- primeiro porque tinham um público reduzido dades da sociedade colonial, e de maneira numa sociedade de iletrados, depois porque mais elaborada e romântica no Brasil, com excluía o homem negro do cenário de re- a publicação de O guarani, em 1857, por presentação, um componente importante da José de Alencar, e na Argentina com o Mar- constituição étnica e social do Brasil: tín Fierro, 1872, de José Hernández, obra que consagra a figura do gaúcho como o O movimento romântico tentou construir um personagem-tipo da região do Pampa. Se- Ser nacional; no entanto, faltaram-lhe con- gundo Ángel Rama, nesses romances pouco dições sociais que lhe possibilitassem discu- a pouco se pode notar que a ascendência tir de forma mais abrangente a problemática das massas sobre o sistema cultural se tor- proposta. Por exemplo, o Guarani é um livro restritivo. nou algo incontornável, mas ainda havia na forma letrada um viés elitista na sociedade De qualquer maneira, essa orquestração de então. Assim a emergência das massas oficial deficitária foi a que incidiu na pro- [. . . ]fue abonada, más que por los discursos moção cultural posterior e principalmente no de los intelectuales que capitanearon la ola, século XX no Brasil, e isso em um contexto por la emergencia a la aceptación pública, ya em que se empreendia a tarefa da industriali- sin vergüenza, y con respaldo oficial, de las zação, ocasionando o contraponto do atraso culturas populares que si bien existían desde econômico do campo, por exemplo, com hacía mucho tiempo y eran el patrimonio de efeitos deletérios para as comunidades que los más, no habían sido reconocidas como não conseguiram integrar o novo esquema, válidas, ni desde luego, apoyadas para faci- entre elas os negros e os indígenas, associ- litar su expansión. adas ao diletantismo e à insolência pelas te- orias positivistas do século XIX, e dos nor- Para coincidir com sua opinião bastaria destinos, outro contingente humano em des- ver os casos do romantismo indianista que se vantagem perante o modelo de sociedade que desenvolveu no Brasil, e mesmo de Domingo www.bocc.ubi.pt 8 Sebastião Costa, Maria Érica Lima se formava. Mas, nesse último caso, esta- feravam no estado de São Paulo. A migra- vam respaldados por teorias que considera- ção em 1950 apresentava o seguinte quadro: vam o sertanejo o verdadeiro homem brasi- Minas Gerais contribuiu com quase 50% do leiro, como o atesta Capistrano de Abreu em fluxo. A Bahia é o Estado que mais contri- Capítulos de história colonial (1907), e pelo buiu depois de Minas Gerais, com 17,56% fato de não serem de maioria negra, o que do fluxo. Somente esses dois Estados re- lhes permitia manter, mesmo nas lavouras e presentavam 65,04% do total de imigrantes. fábricas do Sul, suas tradições e, como con- , , Ceará, Paraíba, Piauí, seqüência, produzir novas variações discur- Sergipe e Rio Grande do Norte representa- sivas e simbólicas que agradavam a seus con- vam cerca de 15%.1 terrâneos já instalados em São Paulo. Com No Brasil, a implementação das primeiras efeito, pela quantidade de migrantes e pelo políticas culturais do século XX, foram ini- fato de que desenvolviam um sentimento de ciadas por Mário de Andrade em São Paulo origem comum, configuravam um mercado e Gustavo Capanema em âmbito nacional, e bastante forte e influente. esteve marcada, ao menos no caso desse úl- De acordo com um documento publicado timo, por uma espécie de romantismo com- pelo Memorial do Imigrante, de São Paulo, pensatório, tardio e renovado, promovido em 1923 houve um recrudescimento do fluxo por um estado que se encontrava na encruzi- de nordestinos para São Paulo. Em 1935, lhada de ter de se integrar à nova ordem das durante o governo de Armando Salles de relações internacionais sem sacrifício de sua Oliveira, decidiu-se estimular oficialmente a soberania. O deslocamento da raça pela cul- vinda de nordestinos para o estado, com o tura como categoria de análise nas ciências objetivo de suprir a lavoura de mão de obra. humanas e sociais proporcionou um lastro de Por iniciativa do governador foi criado o sis- legitimidade para se valorizar a mestiçagem tema de contratos com companhias particu- generalizada em que nossa sociedade estava lares, como havia ocorrido antes com os es- assentada. Na escala das políticas culturais, trangeiros, para a introdução de trabalhado- mais necessárias do que nunca para a uni- res brasileiros. No contrato constava o cus- dade social, essas novas relações foram tra- teio de passagem e bagagem, mais um salá- duzidas em manobras cujas origens podiam rio para a família. Em 1939 criou-se a Inspe- mesmo ter um legítimo desejo de desenvol- toria de Trabalhadores Migrantes com a fi- ver o patrimônio humano nacional, mesmo nalidade de substituir as firmas particulares. que a gesticulação excessiva conotasse uma Com estímulos do governo, as entradas pas- urgência de auto-afirmação. Como disse saram a ser maciças, atingindo em 1939 a Jean Franco, “[. . . ] the elite now sought, in casa dos 100 mil. Entre 1941 e 1949 foram folk culture, in the indigenous people and the encaminhados à lavoura 399.937 trabalhado- environment, the values they had previously res procedentes de outros estados, sendo que accepted from Europe.” mais de 100.000 provenientes do Nordeste. 1Fonte: Migrante, Memorial do Imigrante, São Nos decênios de 1950 e 1960 verifica-se Paulo. também crescimento, mas o destino não seria mais a lavoura, mas as fábricas que se proli-

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O apoio incondicional à idéia de constru- adoção de ações positivas no que concerne ção de valores culturais que servissem para a à alfabetização e ao fomento à cultura foi redenção do país foi a marca dos mandatos à criação do Conselho Nacional de Educa- de Mário de Andrade no Departamento Mu- ção, 1931, e a Subsecretaria do Patrimônio nicipal de Cultura de São Paulo e de Gustavo Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), em Capanema no Ministério da Educação. Este 1937, ambos sob a jurisprudência do Mi- era um intelectual mineiro do mesmo grupo nistério da Educação e Saúde Pública, que de Carlos Drummond de Andrade, cuja car- depois se tornaria Ministério da Educação reira na política começara em meados dos e Cultura. Enquanto o Conselho Nacional anos de 1920 como vereador da pequena ci- de Educação durou apenas seis anos (1931- dade de Pitangui, em 1930 havia sido nome- 1937), o SPHAN se mantém até os dias atu- ado secretário do Interior no governo do es- ais, muito embora haja passado ao estatuto tado e já em 1934 atuaria como ministro da de Instituto (IPHAN) em 1979. Segundo Educação de Getúlio Vargas, posto que ocu- Sérgio Miceli, esse órgão constituiu-se como paria até 1945. Francisco Campos, o futuro um refrigério da cultura oficial, de vez que mentor da Constituição do Estado Novo, re- mesmo sob a égide de um regime autoritário, digida e promulgada em 1937, foi uma de “a própria natureza das atividades a cargo do suas inspirações políticas. A outra foi Al- SPHAN contribuiu para que a agência fosse ceu Amoroso Lima, “o intelectual reacioná- conquistando crescente autonomia de opera- rio” que propugnava uma educação privada e ção e gestão.”Mesmo assim, antes da Revo- assentada em bases cristãs. lução de 1930, o movimento modernista ha- A fundação das primeiras grandes univer- via auspiciado a incorporação de elementos sidades laicas brasileiras, em meados do de- que se consideravam como tipicamente na- cênio de 1930, a Universidade de São Paulo cionais ao estatuto de representáveis, como e a Universidade do Distrito Federal, ambas as heranças negras e indígenas no complexo sob a égide de Anísio Teixeira e do governo cultural brasileiro, muito embora tenha sido federal, seriam ações pontuais de seu man- o viés nordestino que haja se firmado com o dato que, em alguns casos, como a Universi- advento da mídia. dade do Distrito Federal, seria fechada anos Agora bem, a partir da metade do século depois por ordem do mesmo ministro, que XX, os ministérios da Educação da América começou a ver nelas um celeiro de idéias co- Latina se tornaram coadjuvantes das políti- munistas. Inclusive, há quem atribua o êxito cas articuladas em crescente diálogo com ou- da Universidade de São Paulo ao fato de que tras instâncias do sistema, o que impôs uma sua “implantação [...] ocorreu numa conjun- dinâmica compartilhada com a indústria cul- tura política de transição, quando a burocra- tural. Não obstante, os programas que levou cia estatal ainda não havia imposto sua he- adiante Gustavo Capanema no Brasil e os gemonia nesse campo” (MICELI, 2001, p. modelos que ele incentivou ecoam hoje em 497). Em 1940 seriam fundadas as primei- dia nas manifestações expressivas da cha- ras universidades católicas (PUCs) do país, mada cultura de massa, em que se encontram igualmente com anuência oficial. parâmetros estéticos decididos nos primeiros Certamente o marco institucional para a anos do século, fato que revela a influência www.bocc.ubi.pt 10 Sebastião Costa, Maria Érica Lima de suas propostas, mas também uma espé- nordestinos se tornaram os grandes sintetiza- cie de coincidência estratégica, de vez que dores das grandezas e mazelas do país, e sua na atualidade os meios parecem aproveitar o literatura realista, social, localista, ganhou o que já foi sagrado como eficiente. estatuto de ser uma espécie de metonímia da As disputas entre os grupos de poder de- expressividade nacional. pois de 1930 podem ser advertidas nas to- Para fins do decênio de 1930, os roman- madas de posição dos integrantes paulistas ces prediletos dos leitores brasileiros, afora do movimento modernista de 1922. Mesmo as obras realizadas para o público feminino sendo São Paulo o estado derrotado na Revo- (nas coleções Menina e Moça, da José Olym- lução, em favor de Minas Gerais, Rio de Ja- pio, ou a Biblioteca das cenourinhas, da Em- neiro, Rio Grande do Sul, e dos estados nor- presa Editora Brasileira etc.), “se enquadrava destinos, seguiu como importante pólo cul- nos moldes do romance social” (MICELI, tural e locomotora econômica do Brasil. Até 2001, p. 155), e os autores diletos eram já 1934, por exemplo, é no interior das rinhas Ciro dos Anjos, Raquel de Queiroz e Gra- entre os intelectuais filiados ao Partido De- ciliano Ramos. Não obstante, eles obtive- mocrático e ao Partido Republicano Paulista, ram pouco apoio oficial, que foi endereçado onde se pode intuir como estava organizada aos intelectuais orgânicos do grupo de Plí- a vida cultural no Brasil até o período. Os nio Salgado e, depois do decreto do Estado integrantes do Partido Democrata, onde atu- Novo, agruparam-se em torno da revista Cul- ava Mário de Andrade, viam por bem manter tura Política e do Departamento de Imprensa apartadas sua posição política de suas obras e Propaganda (DIP). De qualquer maneira, literárias, ao passo que o grupo dos politiza- como a rubrica editorial penetrasse cada vez dos de direita ou de esquerda, Plínio Salgado mais no campo cultural brasileiro, e o ro- e Oswald de Andrade, filiados ao Partido mance desbancasse a poesia no gosto, os es- Republicano Paulista, assumiam uma litera- critores “só puderam solidificar sua posição tura comprometida, que derivou em revistas no mercado graças à boa acolhida do público e manifestos como o Pau-Brasil, o Verde e e da crítica, e não apenas como resultado de Amarelo e Anta. sua atuação política ou de momentâneas sin- O curioso é que em todos os grupos, de tonias doutrinárias” (MICELI, 2001:162). direita, esquerda ou os artepuristas, o naci- onalismo cifrado na iconografia regionalista 1.2 Federalismo e as posições e nas tradições folclóricas foi uma matéria- prima comum. Sem embargo, se antes de regionalistas 1930 os paulistas mantinham certa prevalên- No Brasil, a questão do federalismo adotado cia devido a sua grandeza econômica, pelo desde a primeira Constituição, 1824, isto é, que os grupos do modernismo podiam in- da parcela de autonomia que cabe aos esta- ventar e reinventar referências particulares, dos diante da administração central, sempre depois da Revolução de outubro, como foi foi objeto de discussão. Com o fim da in- dito, ainda que a influência paulista se manti- fluência econômica nordestina, na passagem vesse, especialmente em relação à produção dos séculos XVIII para o XIX, e das relações dos cientistas sociais formados pela USP, os sociais que a circunstância declinante acar-

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reta a representação mais consistente que se 1926, de Gilberto Freyre, claro protesto ao tem do Nordeste e de sua relação com a mo- regionalismo elaborado na rua Augusta pe- dernidade em ascensão, está nas obras de los modernistas e um panegírico às tradições seus cientistas sociais e de seus poetas e fic- nordestinas, selecionadas segundo a ótica do cionistas. Em princípio, toda reação do Nor- sociólogo. De qualquer maneira, a com- deste a uma elaboração cultural de vulto na- plexidade no fenômeno dinâmico das hege- cional tem um cunho aparentemente conser- monias simbólicas no Brasil é inabarcável, vador, como no caso de Gilberto Freyre e o portanto aqui nos concentraremos em dois estudo Casa Grande e Senzala, 1933. Sem pontos, especialmente na questão do avanço embargo o fato de haver dinamismo regio- das marcas regionais sobre as expressões nal no interior do Brasil que ventile as dis- da indústria cultural, elaboradas nos centros cussões sobre a cultura num dado de liberta- econômicos do país, e, como conseqüência, ção dos padrões acolhidos aqui dos centros na questão da mimese, isto é, como o regio- mundiais de produção de idéias. E mesmo o nalismo formula uma unidade simbólica que errático estudo de Freyre, esquartejado pela funciona como representação de uma dimen- esquerda, teve o valor de colocar as matri- são específica da nacionalidade brasileira. zes mais visíveis da cultura brasileira como Como Antonio Candido, acreditamos que protagonistas da história. As obras literá- “nosso nacionalismo foi antes forjado em rias, sob um foco sociológico, também assim posições regionalistas” (2000, p.113). Deve- devem ser observadas, bem como os filmes. se recordar que entre os artistas e os forma- Na produção midiática, esse viés conserva- dores de opinião, as dissidências ocorreriam dor salta à vista, e aí então se instaura uma por motivos relacionados com a codificação ideologia da cultura nacional (MOTA, 2008). dos significados, o que era questionado, so- Em verdade, devido aos constantes emba- bretudo pelos escritores. Os nacionalistas tes entre as diferentes regiões em relação às mais engajados, solidários com os progra- medidas adotadas pelo governo executivo fe- mas oficiais, incorriam em um trabalho artís- deral, no Brasil tendeu-se a cultivar um tipo tico cujo conteúdo era negociado antecipada- de sentimento nacionalista dentro de cada re- mente, pelo que os resultados de suas obras gião, ciosa de suas tradições, o que no plano eram sempre bastante previsíveis. Os outros da ficção fica claro desde a obra panorâmica exaltavam o discurso da autonomia da arte. de José de Alencar até os ciclos regionais de No período de 1930, esse torneio intelectual cinema. O caso nordestino se torna exemplar não ocorria apenas no Brasil, mas entre os ao serem observadas as muitas reações polí- no século XVII. Dos três levantes ocorridos à época ticas ocorridas na região desde antes da In- da Independência, Inconfidência Mineira (1789), a 2 dependência até o Manifesto Regionalista, Conjuração dos Alfaiates (1798) e a Revolução de

2 1817, as duas últimas foram no nordeste, na Bahía O quilombo de foi um povoado criado e em Pernambuco, respectivamente. Houve ainda a a partir de uma sublevação de escravos de Pernam- Confederação do Equador (1824), com Pernambuco buco que fugiram para o sul da capitania no século na liderança de insurgentes no Ceará, Rio Grande do XVII, no que hoje é o estado de Alagoas. A Guerra Norte e Paraíba, a Cabanada (1832) também em Per- dos Mascates ocorreu no século XVIII em Recife e nambuco e Alagoas, a Revolta dos Malês (1835), na Olinda. A Revolta de Beckman ocorreu no Maranhão Bahia, e no mesmo lugar, a Sabinagem (1837). www.bocc.ubi.pt 12 Sebastião Costa, Maria Érica Lima

brasileiros os termos foram bastante revela- poderíamos utilizar a categoria habitus, cu- dores das seqüelas autoritárias que a revolu- nhada por Marcel Mauss (1959) e reaprovei- ção de 1930 ia deixando no plano das idéias. tada por Pierre Bourdieu (1992), para mos- No caso nordestino, por exemplo, as ex- trar como são adquiridas predisposições sim- pressões se dividiam entre os que exerciam bólicas duradouras e intercambiáveis den- um estilo e um tratamento conservador dos tro de cenários sociais determinados. Essa temas, como Gilberto Freyre e José Lins do noção de alguma maneira identifica as fun- Rego, e outro de ordem intimista ou franca- ções que o regionalismo e os gêneros midiá- mente revolucionário, como Raquel de Quei- ticos tiveram em seu âmbito de atuação e são roz e Graciliano Ramos, “quando o realismo nomenclaturas que resumem esse horizonte paisagístico dá lugar, diríamos, a um ‘paisa- de figurações e significações plausíveis em gismo’ histórico” (ALBUQUERQUE, 1999, qualquer estado-nacional, e significam con- p. 152). De fato, Antonio Candido pondera sensos da imaginação. que se “fosse possível estabelecer uma lei de O nacionalismo tende a ser descrito como evolução da nossa vida espiritual, podería- algo relacionado com o espírito comunitá- mos talvez dizer que toda ela se rege pela di- rio, que pode ser associado a um campo de alética do localismo e do cosmopolitismo.” possibilidades semânticas. Nos termos em A explicação de Boris Fausto (1994, p. 261) que se desenvolveu essa noção recentemente, para a especificidade da situação brasileira Immanuel Wallerstein se destaca ao distin- ajuda a que vejamos sob um prisma seme- guir entre um nacionalismo cultural e ou- lhante os eventos políticos e os estéticos: tro constitucional (2003), e Cornejo Polar dá bons exemplos ao recordar que antes das na- Oligarquia é uma palavra grega que signi- ções ou dos estados nacionais, havia já en- fica governo de poucas pessoas, pertencentes tre os incas e quéchuas um espírito nacional a uma classe ou uma família. De fato, embora (2000). Antonio Candido crê que no Brasil a aparência do país fosse liberal, na prática o as regiões mantêm as suas idiossincrasias a poder foi controlado por um reduzido grupo ponto de que poderiam constituir-se uma na- de políticos em cada Estado. ção à parte (2000). Longe de uma balcaniza- A República concretizou a autonomia esta- ção, onde os elementos religiosos e étnicos dual, dando plena expressão aos interesses de cada região. Isso se refletiu no plano da polí- são cruciais, talvez mais próximas aos ca- tica através da formação de partidos republi- sos ibéricos, em que a união federal foi ori- canos restritos a cada Estado. As tentativas entada por questões de interesses econômi- de organizar partidos nacionais foram transi- cos etc. O que chamamos de nacionalismo tórias ou fracassaram. Controlados por uma existe, portanto, antes do surgimento da no- elite reduzida, os partidos republicanos deci- ção, e está mais ancorado em fenômenos lo- diram os destinos da política nacional [...] cais e provisórios, do que em sólidos valores gerais. E aqui, entre nós, o nacionalismo é Para seguir com a tarefa de definir o fenô- uma noção ainda mais vaga e para ser atu- meno de regionalização brasileiro, ou de na- alizada em uma experiência convoca, antes cionalização do regional nordestino no país, de qualquer coisa, uma iconografia folclórica num contexto que se revela a identidade cul-

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tural, o surgimento e as potencializações do (...) la indentidad en tiempos de globaliza- localismo e da proximidade legitimados por ción es représala como una identidad mul- representações simbólicas e midiáticas. ticultural que se nutre de varios repertorios, que puede ser multilingue, nómade, transitar, desplezar-se reproducirse como identidad en 1.3 A identidade cultural, o lugares lejanos del territorio donde nació esa localismo e a proximidade no cultura o esa forma identitaria (CANCLINI, campo midiático 1997 p. 80). A identificação individual e coletiva pela cul- Neste sentido, a identidade local procura tura tem como corolário à produção de uma pensar os lugares, os territórios de onde alteridade em relação aos grupos cuja cul- nasce cada cultura, e a partir daí, manifesta- tura é diferente. Portanto, o indivíduo não é se. Nestor García Canclini (1997, p. 33) ex- um ser sob influência, inteiramente coman- plica que: “toda sociedad tiene cultura, por dado, de fora pela sociedade à qual ele per- lo tanto no hay razones para discriminar o tence e de dentro por sua própria cultura in- descalificar a las outras”. corporada. “Cada um age sobre si mesmo A maneira como Canclini (1997, p. 38) e sobre os outros, de acordo com os seus aponta esse raciocínio é que “la cultura es meios, grandes ou pequenos” (WARNIER, una instancia simbólica donde cada grupo or- 2000, p. 19). Esta ação comporta certa ganiza su identidad es decir muy poco las ac- parte de liberdade e de racionalidade. É neste tuales condiciones de comunciación globali- ponto que a cultura e a identificação têm um zada”. Quer dizer, temos de analisar a com- papel importante, ao propor repertórios de plexidade que assumem as formas de inte- ação e de representação. Os repertórios dão ração, de discriminação, de hostilidade com sentido à sua ação. Eles legitimam o sujeito os outros nestas situações de confronto per- diante dos seus protagonistas. manente. Portanto, é preciso levar em conta Ao fornecer repertórios de ação e de re- dois pontos: “las industrias culturales y el presentação à nossa escolha, a cultura, a tra- de las ciudades” (CANCLINI, 1997, p. 38). dição, os processos de identificação preen- Então, isso vai nos levar a viver hoje a mul- chem uma função de orientação, de relaci- ticulturalidade. Ou seja, toda a problemática onamento, mediação. A cultura tem a ca- sobre cultura e comunicação deve ser inves- pacidade de orientação e de estabelecer re- tigada a partir da problemática multicultural. lações significativas entre os elementos do É por este tipo de processos sociais que é meio: pessoas, instituições, acontecimentos. possível pensar e repensar a cultura de ma- É uma capacidade de acionar referências, es- neira surpreendente, inclusive, já observando quemas de ação e de comunicação (WAR- âmbito da modernidade. NIER, 2000, p. 21). A segunda questão levantada por Canclini A identidade passa pelo local, como cita (1997) é “la cultura es vista como uma ins- Canclini, e é preciso repensá-la, pois em tancia simbólica de la producción y repro- tempos modernos, a identidade dá lugar há ducción de la sociedad”. A cultura não é um vários repertórios: suplemento decorativo, algo para as ativida- des de ócio ou para a recreação espiritual de www.bocc.ubi.pt 14 Sebastião Costa, Maria Érica Lima todos os trabalhadores cansados; a cultura é ples guerra, tem-se que ser uma “eufemiza- algo constitutivo, presente também dentro do ción de los conflitos sociales, una manera de trabalho, das interações cotidianas, na me- dramatizar lo que nos está pasando. Por eso dida em que todos estes lugares se configu- tenemos teatro, artes plásticas, cine, canci- ram como estímulos aos processos de signi- ones, etc”. Esta vertente da cultura como ficação. Isto leva algumas conseqüências im- “dramatização eufemizada” dos conflitos so- portantes: “rebaten las distinciones brutales ciais, com o teatro, como representação, foi entre cultura y sociedad, o ente lo material y muito trabalhado por Brecht, Walter Benja- lo simbólico” (CANCLINI, 1997, p. 40). min e outros. Também está relacionada com Qualquer prática social é um trabalho e a linha anterior, com a conformação do con- o consumo está indicando um nível de sig- senso e hegemonia, porque estamos falando nificação que dá sentido a essa prática, que de lutas pelo poder, de lutas, dissimuladas, constitui nossa interação na sociedade. En- encobertas que tem a construção do poder na tão, quando dizemos que a cultura é parte de sociedade. todas as práticas sociais, porém não é equi- Portanto, as vertentes de Canclini (1997) valente a sua totalidade, estamos dizendo e não estão desconexas. Através de qualquer distinguindo cultura e sociedade. Neste pro- uma dessas podemos entender sobre a cul- cesso, a cultura aparece como parte de qual- tura e conseqüentemente a identidade: “la quer produção social, e parte também de cultura como instancia donde cada grupo or- uma reprodução. Isto se encontra muito bem ganiza su identidad” (CANCLINI, 1997, p. na teoria ideológica de Althusser (1980), 40), ou seja, o exemplo de bens culturais no quando o mesmo aponta que a sociedade se âmbito local e que organiza sua identidade reproduz através de ideologia. Todavia, nos regional; e cultura como “una instancia sim- parece melhor a nossa reflexão o pressuposto bólica de la producción y reproducción de la de Pierre Bourdieu (1979) quando estabelece sociedad” (1997, p. 40). a cultura como “espaço de reprodução social A partir destas premissas que envolvem e organização das diferenças”. identidade cultural passamos para compre- Uma terceira linha é “la cultura como una ender o conceito de localismo e de proxi- instancia de conformación del consenso y la midade que estão relacionados diretamente hegemonía, o sea de conformación de la cul- com a construção e significações do campo tura política, y también de la legitimidad. La midiático. cultura es la escena en que adquieren sentido No começo da segunda década do século los cambios, la administración del poder y la XX se inicia o processo de uma economia lucha contra el poder” (CANCLINI, 1997, p. baseada em produção de bens industriais 40). e outra estruturada, fundamentalmente, em A quarta, “la cultura como dramatización torno do tratamento da informação. A par- eufemizada de los conflitos sociales”. Ou tir deste tratamento, os indicadores america- seja, a partir desse raciocínio que passa pelas nos e muitos europeus apontaram em busca chamadas sociedades primitivas, que muito de redutos localizados. É um princípio de ocorre na vida social, para que não seja uma gestão, como afirma Maciá Mercadé (1997, luta a morte; para que não suceda uma sim- p.52) “que la decisión se tome lo más posi-

www.bocc.ubi.pt Significações nacionais de expressões locais 15 ble de donde se la demanda”. Ou seja, este que se produzem arraigadamente à realidade princípio aplicado à informação, coloca em da vida dos cidadãos de uma comunidade. primeiro lugar lógico e histórico, a aparição Esta sociedade da informação compensa de uma mídia local, que cumpre assim, de seu efeito de mundialização com o fenômeno imediato, o âmbito de convivência social. de descentralização e de fragmentação das Outro ponto que Maciá Mercadé (1997) audiências, que possui o local. A conse- identifica quando tratamos do localismo, é guinte desmassificação dos meios de comu- o chamado princípio de “subsidiariedade”, nicação e a revalorização do direito a dife- isto é, que o superior não invade o âmbito rença propiciam a potência dos meios locais, de competência do inferior. Por exemplo, no contraponto, e inclusive, o declínio dos naci- caso da informação, um periódico nacional onais. ou regional nunca satisfaz plenamente o di- Essa característica local é conseqüência reito, a saber, do leitor local; a que se refere a do processo de introdução das novas tecno- sua quotidianidade mais imediata. Portanto, logias de informação, que propendem a in- não chega a uma extensão e profundidade tão dividualizar a comunicação. Por fim, cresce detalhada e rigorosa. o interesse pela notícia local, em um marco Nesta altura, o fenômeno do localismo que de informação personalizada. Ou seja, como com o universal acaba se complementando aponta Victor Urrutia (1988): é uma das tendências indispensáveis para o funcionamento geral das redes de informa- en una sociedad caracterizada por el anoni- ção, segundo o pesquisador galego Xosé Ló- mato y por la dimensión mundial de los acon- pez García: tecimientos, está emergiendo una corriente revitalizadora de lo particular, lo privado, lo (...) uma de las tendências punta de la in- local. (...) se inscribe en la búsqueda de la formación sigue siendo la potenciación de lo identidad personal del individuo. Desde el local y de los médios locales como elemen- punto de vista comunitario y comunicacio- tos indispensables para el funcionamento ge- nal, el interés por la identidad se centra en neral de las redes de información. Las nue- la ocupación de los espacios locales, los âm- vas tecnologías no rebatieron estas tesis, sino bitos más cercanos de las relaciones sociales. que ratificacion su validez. Em el cambio de siglo, los contenidos informativos son globa- A significação deste fenômeno, em que les y generales en la concepción y los esque- podemos qualificar como “localismo” se mas, y locales en la aplicación y la captación acentua, ainda mais, com as orientações das (1992, p. 32). novas tecnologias numa perspectiva positiva no sentido de criação e difusão de grupos ou Xosé López García (1992) define essa ca- redes de comunicação. É graças à tecnologia racterística local a partir de uma tradição que podemos pensar nos avanços de empre- cujo papel é a conservação de uma identi- sas de mídia por todo o Brasil. dade. E apesar da tendência do local ser Por fim, a cultura local e o conceito do lo- complementar ao global, não há um enfren- calismo estão em contato com o nacional e tamento e sim tensões que buscam o equi- o mundial, mesmo recusando, por vezes, as líbrio entre as questões mais imediatas e as tendências globalizadas. www.bocc.ubi.pt 16 Sebastião Costa, Maria Érica Lima

Para já, o conceito de proximidade está restantes meios de comunicação” (CAMPO- longe de ser “apanágio dos media local- NEZ, 2002, p. 117). regionais”. Na realidade, trata-se de uma A descoberta do conceito de proximidade questão transversal no esforço de comunicar assumiu uma importância maior, nos últimos conteúdos considerados pertinentes aos seus anos, constituindo-se como uma estratégia leitores e telespectadores, particularmente, para recuperar o público, que normalmente, na definição de estratégias empresariais com está alheado dos grandes meios de comuni- objetivo de conseguirem a fidelização dos cação de massa. públicos. Grosso modo, vemos as estratégias utilizadas tanto nos media regionais e locais Considerações finais como nos de maior expansão, de âmbito na- cional. A formação da cultura nacional tem ênfase Por exemplo, no mercado de proximidade, na produção simbólica e circulação dos pro- à medida que a concorrência entre os grandes dutos midiáticos, geradores de discursos que títulos e redes nacionais se acentua, surge se legitimaram desde o século XIX e estão como uma alternativa, num contexto midiá- até hoje na dinâmica da vida cotidiana, da tico cada vez mais exigente no sentido finan- agenda e das transformações de uma brasili- ceiro, e onde só os grandes parecem ter lu- dade idiossincrática e plural. gar. A imprensa, o rádio, a televisão local, Buscamos mapear as primeiras iniciativas além de fornecer informação próxima, credí- do estado brasileiro numa configuração fede- vel, podem e devem funcionar como referên- ralista a apontar a constituição da nossa cul- cia de mudança na sociedade. Como vemos, tura. Pois, o Brasil apresenta diferentes me- novamente, o papel estratégico da proximi- canismos de produção e reprodução vindos dade dos media locais e regionais em face ao de uma historicidade tradicional que carac- seu público volta a ser evidenciado. teriza o nacional. No século XX as forças O valor da proximidade local e ideológica econômicas da indústria cultural em várias dos acontecimentos pode inferir-se em dife- ocasiões tomaram o controle dessa tarefa e se rentes critérios. A proximidade ideológica tornaram um ator importante na representa- resulta, em linhas gerais, numa consonância. ção das culturas nacionais ou, em todo caso, A proximidade local inclui a pressuposição de sua versão globalizada. de conhecimentos adquiridos, bem como o Com estado independente e com a criação da relevância: sabemos mais sobre a nossa de políticas culturais no Brasil, assim como própria aldeia, cidade, país, continente, em outros países da América Latina, a simbo- parte nossa experiência direta e pelas comu- logia pátria, nacionalista seguiu com o pro- nicações informais das experiências de ou- grama moderno, apropriando-se de estrutu- tros que conhecemos. ras institucionais universalistas a fim de or- Por isso, os acontecimentos que nos são ganizar uma sociedade embasada em relati- mais próximos são compreendidos. E acres- vidades culturais arraigadas. centa: “uma notícia com repercussão é Somam-se ainda o fenômeno de apropri- aquela que gera informações e comentários ação/territorialização, o avanço na constru- ao longo de vários dias nos diários e nos ção das estruturas do Estado, o espaço mí-

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tico da urbanidade em que as idéias eram dis- arma de la revolución. México: Pasado cutidas e o processo de adaptação das gera- y Presente, 1968. ções migrantes. Portanto, as manifestações da cultura popular foram integradas ao es- BATALLA, Guillermo Bonfil. Pensar nues- pectro oficial de representações da nação for- tra cultura. México: Alianza Editorial, mada sob a estratégia da busca de enfraque- 1997. cer as mentalidades colonialistas. BOURDIEU, Pierre. Les règles de l’art. No Brasil da sua primeira Constituição Genèse et structure du champ littéraire. o federalismo ganhou autonomia, na qual Paris: Seuil, 1992. coube a administração central tomar para si os rumos da nação, principalmente, no que ______.“A identidade e a repre- competia a chamada modernidade. O dina- sentação. Elementos para uma reflexão mismo regional, as potencialidades do inte- crítica sobre a região”. In: O poder sim- rior do Brasil ventilaram as discussões sobre bólico. Lisboa: Difel, 1994. cultura, dando uma liberdade dos padrões que por cá foram acolhidos, vindo dos cen- CAMPONEZ, Carlos. Jornalismo de pro- tros mundiais de produção de idéias. ximidade: rituais de comunicação na Neste sentido, surgiu a identidade local imprensa regional. Coimbra: Minerva, que muito contribuiu a pensar os lugares, 2002. p. 289. os territórios de onde nasce cada cultura, CANCLINI, Nestor García. Cultura y comu- e a partir daí, manifestar-se. Somando- nicación: entre lo global y lo local. La se a proximidade cujo objetivo de fideliza- Plata: EPC, 1997. ção demonstrou e reforçou o campo idios- sincrásico do povo brasileiro alimentando, CÂNDIDO, Antonio. Literatura e socie- distanciando-se do iberismo. E os mass me- dade. São Paulo: Publifolha, 2000. dia, porta-vozes e representantes de uma re- alidade fracionada, recortada e maquiada fo- CASTAÑEDA, Carlos. La utopia desar- ram e ainda são os indicadores de uma iden- mada. Intrigas, dilenas y promesas de tidade do Estado-nação. la izquierda em América Latina. Mé- xico: Joaquín Mortiz, 1993.

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