Quick viewing(Text Mode)

Da Novela À Escola: Rebeldes Em Ação

Da Novela À Escola: Rebeldes Em Ação

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO – UNINOVE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE

DA NOVELA À ESCOLA: EM AÇÃO

BEATRIZ MARTINS FERREIRA REBELLO

SÃO PAULO 2008

FICHA CATALOGRÁFICA

Rebello, Beatriz Martins Ferreira. Da novela à escola: Rebeldes em ação. / Beatriz Martins Ferreira Rebello. São Paulo : 2008. 185 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Nove de Julho, 2008. Orientador: Profa. Dra. Cleide Rita Silvério de Almeida

1. Educação. 2. - RBD. 3. Juventude. 4. Complexidade. 5. Projeção- Identificação. 6. Cultura de massa.

CDU 37

DA NOVELA À ESCOLA: REBELDES EM AÇÃO

Por

BEATRIZ MARTINS FERREIRA REBELLO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Nove de Julho - UNINOVE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação.

______Presidente: Profa. Cleide Rita Silvério de Almeida, Dra. - Orientadora, Uninove

______Membro: Profa. Izabel Cristina Petraglia, Dra. - Uninove

______Membro: Profa. Rosamaria Luiza de Melo Rocha, Dra - ESPM

______Membro (Suplente): Profa. Elaine Teresinha Dal Mas Dias, Dra - Uninove

São Paulo, 12 de Dezembro de 2008.

Aos professores, com esperanças.

Aos alunos, com respeito.

A ambos, com carinho.

A todos o meu sonho de um mundo mais justo e humano. E a minha convicção de que o caminho que nos leva até lá passa pela escola.

AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Cleide Rita Silvério de Almeida, orientadora desta dissertação, por ter acreditado nesta pesquisa desde o início, pelo empenho, disponibilidade, sabedoria, compreensão e carinho, que fizeram com que concluíssemos este trabalho. À Profa. Dra. Izabel Cristina Petraglia, pela leitura minuciosa, assinalando pontos obscuros, por conferir as referências bibliográficas e, principalmente, pelas indicações para o estofo teórico da pesquisa; e à Profa. Dra. Rosamaria Luiza de Melo Rocha, especialmente, por me apresentar à obra de Roxana Morduchowicz e pelas sábias orientações por ocasião do Exame de Qualificação. Aos meus professores do Programa de Mestrado, pela paixão demonstrada em suas brilhantes aulas, que nos anos de convívio muito me ensinaram, com valiosas contribuições: Carlos Bauer de Souza, Celso do Prado Ferraz, Ester Buffa, Ivanise Monfredini, José Eustáquio Romão, José Gabriel Perissé Madureira, José Luís Vieira de Almeida, José Rubens Jardilino, Maria da Glória Marcondes Gohn, Miguel Henrique Russo, Paolo Nosela e a querida Terezinha Azerêdo Rios. E, em especial, aos professores do Grupo de Pesquisa em Educação e Complexidade: Cleide Rita Silvério de Almeida, Elaine Teresinha Dal Mas Dias, Izabel Cristina Petraglia, José J. Queiroz e Marcos Antonio Lorieri. À Vanessa, Assistente de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação, por sua dedicação e apoio. À amiga Silvia, por percorrer comigo este caminho, dialogar com interesse e ânimo sobre todas as questões, dúvidas e problemas que surgiam durante a elaboração da dissertação. Por ser uma interlocutora paciente e generosa. Pela alegria de compartilharmos interesses comuns desde o nosso primeiro dia de aula. Por sua amizade, principalmente. À diretora Edna Maria Yoshinaga e aos professores da escola pesquisada, que me acolheram e autorizaram o contato com os jovens entrevistados. Em especial, à coordenadora pedagógica Katia Rejane Ferreira dos Santos, pelo apoio quanto à aplicação dos questionários, e às professoras Elaine Garcia e Edna Horochk, pela leitura e revisão dos meus primeiros textos.

Aos jovens da escola pesquisada, por estarem dispostos a partilhar idéias e emoções sobre a telenovela Rebelde, elementos fundamentais desta pesquisa para ajudar a entender como compreendem a telenovela e o mundo em que vivem. À Diretoria de Ensino da Região de Caieiras, em especial ao Dirigente Regional de Ensino Celso de Jesus Nicoleti, à Supervisora Roseli Duarte e à Coordenadora da Oficina Pedagógica Claudia Bonavita, pelas oportunidades que a função de Assistente da Oficina Pedagógica me ofereceu. Ao Supervisor Jesse Pereira Felipe, pela atenção durante os trâmites necessários à concessão da Bolsa Mestrado, e à supervisora Selma Aparecida Pereira Yamada, da Diretoria de Ensino - Região Centro, pela continuidade deste processo por ocasião da mudança de Diretoria. À minha família, pelo apoio, carinho e amor, por compreender minha ausência durante este período e aguardar pacientemente meu retorno à vida familiar. Ao Cristiano, meu amado companheiro, pelo apoio e incentivo. À Secretaria de Educação do Estado de São Paulo - Programa Bolsa Mestrado, pelo apoio financeiro, imprescindível ao desenvolvimento deste trabalho. A todas as pessoas que, de maneira direta ou indireta, contribuíram para a realização desse trabalho. Muito obrigada!

[...] o círculo da docência não deveria fechar- se, como uma cidade sitiada, sob o bombardeio da cultura de mídia, exterior à escola, ignorada e desdenhada pelo mundo intelectual. O conhecimento desta cultura é necessário não só para compreender os processos multiformes de industrialização e supercomercialização culturais, mas também o quanto das aspirações e obsessões próprias a nosso “espírito da época” é traduzido e traído pela temática das mídias. A esse propósito, em vez de ignorar as séries de televisão – enquanto os alunos se instruem por elas –, os professores mostrariam que, por meio de convenções e visões estereotipadas, elas falam, como a tragédia e o romance, das aspirações, temores e obsessões de nossas vidas. [...]

Edgar Morin

RESUMO

Esta pesquisa aborda os Complexos Imaginários de Projeção-Identificação proporcionados pela telenovela Rebelde na vida dos jovens de 12 a 19 anos de uma escola pública estadual da cidade de Caieiras, bem como a presença desta influência no cotidiano escolar. A telenovela Rebelde tornou-se um dos produtos culturais que mais esteve presente no cotidiano dos jovens, e, com a inovação de transitar entre ficção e vida real, foi ao encontro do gosto deste público, fazendo muito sucesso entre os estudantes. Os resultados da pesquisa de campo demonstram que a telenovela Rebelde esteve presente na escola com os jovens, por meio dos mecanismos de projeção-identificação, refletidos em maneiras de falar, de vestir, de brincar e por objetos relacionados à telenovela. Evidenciaram ainda que, por meio destes mecanismos, os jovens também podem aprender, ter idéias, adquirir informação e discernimento sobre a vida deles e a dos outros, especialmente no que se refere às relações interpessoais, pois, por meio das tramas da telenovela, colocam-se diante de realidades que talvez não conheceriam ou dificilmente nelas se perceberiam, observam os comportamentos humanos e imaginam de que forma eles próprios se comportariam se estivessem frente a situações similares. Contudo, segundo os alunos, a maioria dos professores não nota ou não considera a presença da telenovela na escola e muito menos a sua interferência na vida escolar do jovem. A escola ainda se abdica da realidade dos educandos, ao não integrá-la em sua proposta pedagógica, havendo um grande distanciamento entre o que é ensinado em sala de aula e o contexto dos alunos, já que suas inter-retro-relações não são percebidas. Diante da forte presença da televisão no cotidiano dos jovens e da constatada distância entre a televisão e a escola, a abordagem da Teoria da Complexidade de Edgar Morin propõe como caminho uma nova relação de aproximação e diálogo entre professor e aluno, em que ambos participem do processo de aprendizagem, articulando o conhecimento sistematizado da escola e o conhecimento de vida do aluno em relações complementares. Aponta ser imprescindível dar voz ao jovem e conhecer a sua realidade cotidiana, ressaltando que a realidade que o aluno conhece e vive não é somente aquela empiricamente apreendida, mas também a realidade sonhada, a das idéias, das crenças, das emoções, das aspirações, das fantasias, dos desejos. Portanto, desconsiderando-se as dimensões simbólicas, não é possível ter acesso à visão de mundo do aluno.

Palavras-chave: Escola; Juventude; Telenovela Rebelde / RBD; Pensamento Complexo; Complexos Imaginários - Projeção-Identificação; Cultura de Massas.

ABSTRACT

This study addresses the imaginary complexes of Projection-Identification in the soap opera Rebelde’s influence over the lives of adolescents from 12 to 19 years old in a public state school in the city of Caieiras, as well as the presence of this influence daily in school. The soap opera Rebelde became one of the cultural products most present in the daily lives of the adolescents, and, with the innovation of moving between fiction and real life, it catered to the tastes of this public, achieving great success among the students. The results of the field study show that the soap opera Rebelde was present at school with the adolescents, through the mechanisms of Projection-Identification, reflected in the way they talked, dressed, joked and by objects related to the soap opera. They also showed that, through these mechanisms, the adolescents can learn, have ideas, acquire information and insights about their lives and those of others, especially with regard to interpersonal relationships, since through the soap opera’s plots they are confronted with realities they would otherwise hardly know of or understand. They observe people’s behavior and imagine how they themselves would behave if they were facing similar situations. However, according to the students most teachers do not realize or consider the presence of the soap opera in school, much less its impact on the adolescents’ lives at school. Even the school is renouncing the pupils’ reality by failing to integrate it into its pedagogical proposition, causing a big gap between what is taught in the classroom and the students’ context, as their inter-retro-relations are not noticed. Given the strong presence of television in the adolescents’ daily life and the confirmed distance between television and school, the approach of Edgar Morin’s Complexity Theory proposes a new relationship of rapprochement and dialogue between teacher and student as a way forward, where both are part of the learning process, articulating the school’s systematic knowledge and the student’s life experience in a complementary relationship. It points out that it is essential to give voice to the adolescent and get to know his or her daily reality, stressing the fact that the reality the student knows and lives is not only the empirically understood one, but the reality of dreams and ideas, of beliefs, emotions, aspirations, fantasies and desires. So when disregarding the symbolic dimensions it becomes impossible to get access to the student’s worldview.

Keywords: School; Youth; Rebelde Soap Opera / RBD; Complex Thought; Imaginary Complexes - Projection-Identification; Mass Culture.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Protagonistas da telenovela Rebelde...... 35

Figura 2 - Mía...... 40

Figura 3 - Roberta...... 40

Figura 4 - Miguel...... 40

Figura 5 - Diego...... 40

Figura 6 - Lupita...... 40 Figura 7 - Giovanni...... 41 Figura 8 - Alma...... 41 Figura 9 - Franco...... 41 Figura 10 - Leon...... 41

Figura 11 - Alunos da Escola Manoel Moratto, vestidos como seus ídolos...... 45

Figura 12 - Mochila da marca Rebelde...... 48

Figura 13 - Caderno da marca Rebelde...... 48

Figura 14 - Canetas hidrocor da marca Rebelde...... 48

Figura 15 - MP3 da marca Rebelde...... 50

Figura 16 - Celular da marca Rebelde...... 50

Figura 17 - Celular da marca Rebelde...... 50

Figura 18 - Máquina Fotográfica da marca Rebelde...... 50 Figura 19 - Boneca Roberta...... 51 Figura 20 - Boneca Mía...... 51 Figura 21 - Boneca Lupita...... 51

Figura 22 - Boneco Diego...... 51

Figura 23 - Boneco Miguel...... 51

Figura 24 - Boneco Giovanni...... 51

Figura 25 - Conjunto de Roupas Rebelde...... 52 Figura 26 - O corpo fragmentado: Mía...... 53

Figura 27 - O corpo fragmentado: Miguel...... 53

Figura 28 - O corpo fragmentado: Miguel...... 53

Figura 29 - O corpo fragmentado: Roberta e Diego...... 53

Figura 30 - Fragmento do pré-teste respondido pelos alunos...... 95

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Programas que assiste pela TV, por ranking...... 99

Gráfico 2 - A televisão, por ranking...... 100 Gráfico 3 - A novela Rebelde, por ranking...... 107 Gráfico 4 - A trama da novela, por ranking...... 109

Gráfico 5 - Eu e Rebelde, por ranking...... 113

Gráfico 6 - Inspirado na novela, quem assiste... (por ranking)...... 117

Gráfico 7 - Na escola que freqüentamos... (por ranking)...... 120

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1 - Folha Online: Qual é a melhor novela juvenil em exibição na TV brasileira?...... 43

Tabela 2 - Folha Online: Qual é a melhor novela de 2006? (ranking)...... 44

Quadro 1 - Rio Mídia: Por que as crianças e os jovens gostam da novela Rebelde?...... 47 Quadro 2 - Yahoo! Respostas: Diálogo entre internautas sobre onde

encontrar produtos da marca Rebelde...... 49 Quadro 3 - Yahoo! Respostas: Diálogo entre internautas sobre a idade

do público da telenovela Rebelde...... 77 Quadro 4 - Yahoo! Respostas: Diálogos entre internautas sobre a telenovela Rebelde...... 93 Quadro 5 - Yahoo! Respostas: Diálogos entre internautas sobre

a masculinidade dos rapazes que assistem à telenovela Rebelde...... 103

LISTA DE RELATOS

Relato 1 - Fascinação pela telenovela: escola e trabalho prejudicados...... 64 Relato 2 - A idade do público da telenovela Rebelde...... 76 Relato 3 - A disputa pelo programa a ser assistido no horário nobre da televisão...... 78 Relato 4 - A vida imaginária: uma necessidade real...... 110 Relato 5 - Fãs da telenovela Rebelde...... 112 Relato 6 - Influência negativa da telenovela Rebelde...... 115 Relato 7 - Manifestações do processo de projeção-identificação...... 116

Relato 8 - O professor e a programação televisiva...... 121

Relato 9 - Conhecimento informal...... 124 Relato 10 - Alunos que faltavam às aulas para assistir à telenovela...... 126 Relato 11 - Ponderação sobre faltar às aulas...... 127

LISTA DE SIGLAS

IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais MEC - Ministério da Educação PÓLIS - Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais, Juventude Brasileira e Democracia UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância

SUMÁRIO

REFAZENDO O PERCURSO...... 16

CAPÍTULO I - TÁ NA HORA DA NOVELA! ...... 34

1.1 - A TELENOVELA REBELDE...... 35 1.1.1 - Temporadas...... 37

1.1.2 - Personagens principais...... 40

1.1.3 - Ficção & Realidade...... 41

1.2 - O FENÔMENO REBELDE: PESQUISAS DE OPINIÃO...... 42

1.3 - REBELDE NA ESCOLA...... 45 1.4 - A REBELDIA QUE VENDE MAIS QUE IMAGINÁRIO...... 48 1.5 - O ESTADO DA ARTE EM REBELDE...... 54

CAPÍTULO 2 - VISÕES REFLETIDAS: DA NOVELA À ESCOLA...... 61

2.1 - EDUCAÇÃO E COMPLEXIDADE...... 61

2.2 - O SER HUMANO...... 66

2.3 - CULTURAS...... 70

2.3.1 - Cultura Midiática e Cultura de Massas...... 72

2.3.2 - Cultura de Massas...... 73

2.4 - COMPLEXOS IMAGINÁRIOS...... 82

CAPÍTULO 3 - PULANDO O MURO DA ESCOLA...... 88

3.1 - CONTEXTO DA PESQUISA DE CAMPO...... 88 3.1.1 - Caracterização da escola...... 88

3.1.2 - Caracterização da população...... 90

3.2 - METODOLOGIA DA PESQUISA DE CAMPO...... 91 3.2.1 - Rebelde e o jovem no ambiente on-line: um ponto de partida...... 91 3.2.2 - Os jovens e a televisão...... 94

3.2.3 - Os jovens e a telenovela Rebelde...... 101 3.2.4 - A escola, o jovem e a TV...... 117 3.3 - REBELDES EM AÇÃO...... 121

CONSIDERAÇÕES SEM PONTO FINAL...... 130

FONTES E BIBLIOGRAFIA...... 136

APÊNDICES Apêndice A - Questionário sobre a televisão...... 146

Apêndice B - Questionário sobre a telenovela Rebelde...... 148 Apêndice C - Relatos sobre a telenovela Rebelde...... 150

ANEXO

Anexo A - Yahoo! Respostas - telenovela Rebelde/RBD...... 162

16

REFAZENDO O PERCURSO

Caminhante, são tuas pegadas o caminho e nada mais; caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar Ao andar se faz caminho e ao voltar a vista atrás se vê a senda que nunca se há de voltar a pisar [...] ”Caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar". António Machado

Percurso sugere caminho, itinerário, andança em dupla significação, tanto corporal quanto imaginária. Em companhia da experiência sensível e racional, percorri mais um itinerário de vida, caminho que acrescento a outros, sempre importantes, com a sensação de que passou muito depressa. Sinto que o tempo foi insuficiente para fazer tudo o que gostaria e até o que queria, e, dessa forma, fica um gosto de quero mais. Não é sem razão que as palavras “sabor” e “saber” têm a mesma origem etimológica, do verbo latino sapere1. Neste caminhar entre encontros, desencontros, conversas e cruzamentos de olhares, foi possível perceber que a educação pode trilhar caminhos diversos. Assim, tomando como ponto de partida os versos em epígrafe, apresento minha caminhada. Sou professora de Arte há alguns anos e ministro aulas para estudantes do Ensino Fundamental - Ciclo I e Ciclo II e do Ensino Médio das redes Municipal e Estadual de São Paulo. Acredito que o processo de aprendizagem e aperfeiçoamento profissional não se finaliza com os cursos de formação; perdura ao longo de toda a vivência profissional. As representações visuais sempre estiveram presentes na minha prática pedagógica como instrumento de ensino/aprendizagem. A alfabetização para a leitura de imagens em sala de aula é exercitada pelo aluno ao decodificar a gramática da linguagem visual, da imagem fixa e em movimento, mediante a leitura de obras de artes plásticas, cênicas, da dança, do cinema e de alguns programas televisivos.

1 Sapere: “ter conhecimento”, “ter gosto”. (LORIERI, RIOS, 2004, p.11) 17

Entretanto, durante o meu caminhar profissional me deparei com questões que me inquietaram e impulsionaram para esta pesquisa. Observei no cotidiano escolar que os alunos reproduzem discursos de programas televisivos, imitam estilos de vestimentas e adotam condutas apresentadas por personagens, principalmente os das . Assim, percebi que se fazia necessário pensar a imagem inserida ou relacionada às vivências dos alunos, enfatizar a produção cultural comumente praticada ou consumida por eles e, desse modo, despertar um maior interesse por parte deles. Contudo, ainda restava a seguinte preocupação: Será que, ao optar por estes temas do cotidiano dos alunos para as aulas, eu estaria restringindo o repertório da disciplina ou lhes ensinando simplesmente o que já conhecem? Eu sabia que deveria ir além do conhecido pelos alunos. Assim, ao aprofundar meus estudos sobre arte contemporânea, compreendi que as imagens do cotidiano também utilizam recursos visuais semelhantes aos da produção artística, bem como que a compreensão da produção de muitos artistas contemporâneos se dá pelo olhar e pela leitura destas. Desse modo, ao seguir este percurso, poderia propor aos alunos que pensassem não somente as representações visuais da arte, mas também aquelas mais relacionadas às suas vidas. Vale esclarecer que a prática de problematizar programas televisivos pode apresentar-se como uma conduta pedagógica e ser exercitada por diferentes campos de conhecimento. No entanto, aqui me reporto à disciplina de Artes, por esta ser a minha formação. Entendo que a cultura audiovisual proporciona informações, valores, saberes, outros modos de ler e perceber o mundo. E apesar de este fato estar muito presente no ambiente escolar, sendo inclusive estandardizado pelos alunos, percebo que entre a vida destes e a prática pedagógica há uma grande ruptura, uma desvinculação. Ou seja, a escola está desconsiderando a mídia televisiva, enquanto os alunos estão se instruindo por ela. Se é difícil o acesso do aluno que estuda em uma escola pública da região metropolitana de São Paulo às imagens de um Museu de Arte, seu acesso é extremamente fácil àquelas da televisão. E, além disso, admitir as representações visuais televisivas no âmbito escolar não significa menosprezar os conhecimentos sistematizados da escola. Significa poder avivar a prática desenvolvida por ela. 18

Segundo Edgar Morin (2005a, p.79-80), é inerente aos professores educarem-se sobre o mundo e a cultura dos jovens. Ao invés de ignorarem o bombardeio da cultura de mídia, como se esta fosse restrita ao exterior da escola, deveriam conhecer as séries televisivas e considerar que, “por meio de convenções e visões estereotipadas, elas falam, como a tragédia e o romance, das aspirações, temores e obsessões de nossas vidas [...]” (2005a, p.80). Para Silverstone (2004), é necessário desenvolver instrumentos de análise, assim como novos princípios da prática educativa para a mídia. Os jovens deveriam ser instruídos para lidar com o processo de representação da mídia, e esta capacitação deveria fazer parte da educação básica permanentemente. É notório que, hoje em dia, todos crescem cercados pela mídia. O estudo “Aprova Brasil, o direito de aprender” (2006), realizado pelo MEC em parceria com o UNICEF, procurou identificar, em 33 escolas de 14 Estados mais o Distrito Federal, as boas práticas que fizeram diferença nos resultados da Prova Brasil2. Neste estudo, um dos indicadores da boa atuação da escola foi a sua proposta pedagógica ligada à realidade do aluno, sinalizando a proficuidade da união entre o conhecimento de vida e o conhecimento sistematizado da escola. Segundo dados do IBGE - Indicadores Sociais (2006a), cerca de 93,1% dos 44,9 milhões de lares brasileiros possuem ao menos um aparelho de TV, enquanto 92,5% possuem geladeira. Ou seja, os brasileiros têm mais televisores que geladeiras, embora estas sejam essenciais para uma alimentação adequada. Esse dado específico reflete a importância que as famílias brasileiras atribuem à televisão e ainda revela um fenômeno cultural que não pode ser ignorado. Assim, observa-se que, no Brasil, a informação e a forma de ver o mundo provêm principalmente da televisão, pois é um meio de comunicação de fácil acesso à imensa maioria da população e que veicula programas que contemplam todas as faixas etárias e classes sociais. É instrumento de socialização, entretenimento, informação e publicidade. Dessa forma, pode-se inferir que a TV mantém uma relação lúdica com o telespectador. A este respeito, Morin lembra que há dois estados que coexistem em nós: o prosaico – situação utilitária e funcional nas atividades destinadas à sobrevivência; e o poético – estado de espírito alcançado na relação lúdica, estética

2 Prova conduzida pelo INEP - MEC, que avaliou a aprendizagem das crianças da 4ª série e dos adolescentes da 8ª série em mais de 40 mil escolas públicas em todo o Brasil. 19

e poética. Assim sendo, a privação do poético é tão fatal quanto a privação de pão. (MORIN, 2005c, p.135-41) Em um país com alta taxa de analfabetismo funcional3 (23,5%, segundo o IBGE - Indicadores Sociais, 2006a), com um sistema público de educação deficiente nas regiões mais carentes e com profundas desigualdades econômicas e sociais, a grande maioria dos jovens, das crianças e das famílias tem na televisão a principal opção de entretenimento, informação e até educação. Várias pesquisas confirmam essa realidade, como se verá a seguir. A pesquisa “Juventude Brasileira e Democracia - participação, esferas e políticas públicas” (2006), desenvolvida pelo IBASE e PÓLIS e realizada em sete regiões metropolitanas (Belém, Belo Horizonte, , Recife, , Salvador e São Paulo) e no Distrito Federal, buscou ouvir oito mil jovens brasileiros de 15 a 24 anos de idade. No quesito “cultura, lazer e informação”, constatou que 85,8% dos jovens entrevistados se informam pela televisão. Ainda segundo esta pesquisa, a situação de quase monopólio da informação pela televisão não contribui para um sistema democrático, aberto, plural e diversificado quanto a valores básicos (éticos, ideológicos e políticos). Assim, considerando a realidade monopolista e a ampla influência da mídia televisiva no processo de formação da juventude brasileira, a pesquisa indicou a necessidade de novas políticas, estratégias e ações públicas voltadas para os jovens que envolvam e ampliem a atuação da sociedade civil, incluindo os segmentos juvenis, na regulação dos grandes meios de comunicação. Os dados desta pesquisa remetem aos estudos de Lima (2004a; 2007), que diz que o acesso à televisão aberta é quase universal no mundo contemporâneo. Segundo o autor, no Brasil, país em que os índices de leitura de jornais e revistas têm se mantido estagnados ou em queda, o sinal da televisão comercial alcança 99,77% dos municípios. Isso significa que, apesar de todo o avanço recente das tecnologias de informação e comunicação, a imensa maioria da população brasileira continua de fato exposta à mídia televisiva aberta. De acordo com o autor, para haver comunicação democrática na mídia é necessário que haja a pluralidade – que significa garantir a existência de competição entre prestadores do mesmo serviço ou a ausência de oligopólios e

3 Analfabeto funcional é a pessoa com menos de quatro anos de estudo. Conceito, segundo a Unesco, mais adequado para se avaliar a realidade social do mundo moderno. 20

monopólios; a diversidade – que significa a presença na mídia de conteúdos e representações que expressem as muitas opiniões e visões de mundo que existem na sociedade, não podendo ser confundida com quantidade de canais, com segmentação de mercado ou ainda com diferença de conteúdos, já que estes fatores certamente atendem às necessidades de mercado de proprietários e anunciantes, mas não interferem na representação pública de interesses em conflito; e o localismo – que significa preservar a produção regional e local de conteúdo. Por sua vez, a pesquisa “Perfil da Juventude Brasileira”, analisada no livro “Retratos da Juventude Brasileira” (ABRAMO, BRANCO, 2005), revela que 91% dos jovens durante a semana e 87% nos fins de semana ocupam seu tempo livre assistindo à televisão. Esse dado necessita ser entendido como traço cultural característico das contemporâneas culturas juvenis. Além de apresentar uma síntese dos dados da pesquisa, o livro supracitado, que reúne textos de diversos autores, traz análises que esclarecem dimensões pouco exploradas. O capítulo “Cultura do lazer e do tempo livre dos jovens brasileiros”, escrito por Carrano, Dayrell e Brenner, por exemplo, analisa os processos sociais de leitura e codificação que os jovens praticam na relação com os meios de comunicação, notadamente com o rádio e a televisão aberta, sem ignorar os poderes desses meios, mas reconhecendo que os jovens não estão inertes neste processo. (2005, p.190-1) De acordo com a pesquisa Mídia-Q (2005), projeto do Midiativa4, realizada com adolescentes de 12 a 17 anos, a televisão constitui a opção de entretenimento mais prática e acessível para os jovens quando estão em casa. Respondendo a questões abertas, eles afirmaram que assistem à TV para: “relaxar”, “descansar a cabeça”, “distrair quando não há nada para fazer”, “ficar por dentro do que está acontecendo”, “aprender coisas novas”. Ainda segundo a pesquisa, eles ficam em média 4 horas por dia em frente à televisão, geralmente no final da tarde e à noite. No entanto, raramente a TV é assistida isoladamente, ou seja, os jovens costumam deixá-la ligada enquanto fazem outras coisas, como acessar a Internet, ouvir rádio, falar ao telefone. Assistem basicamente à programação adulta, mas estão sempre em busca de programas que tenham a ver com as suas vidas. A preferência é por

4 Criado em abril de 2002, o MIDIATIVA - Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes é uma associação civil sem fins lucrativos, formada por um grupo multiprofissional que atua nas áreas da Comunicação e da Educação. Tem como missão promover o pensamento crítico sobre a mídia e contribuir para a melhoria da qualidade da programação televisiva e das demais mídias eletrônicas destinadas a crianças e adolescentes. 21

atrações que combinem humor, música e uma temática próxima aos interesses de sua faixa etária. Exemplos de programas que os atraem são os reality shows5, as Sitcoms6, os programas de variedades, os seriados, as telenovelas, os desenhos animados e, no caso dos garotos, as partidas de futebol. Dos 17 programas identificados como preferidos, praticamente a metade é de humor ou com conteúdo humorístico. A outra metade é dividida entre programas que abordam temas de comportamento jovem, música e esporte. Já a pesquisa “A Voz dos Adolescentes” (2002), realizada pela UNICEF e pela Fator OM - Opinião e Mercado, procurando apreender a realidade dos adolescentes brasileiros quanto à cultura, ao esporte e ao lazer, verificou que os jovens da classe A têm acesso às mais diferentes formas de entretenimento, diversão e arte, enquanto aqueles da classe D têm a televisão como praticamente única alternativa de divertimento. Entre estes jovens mais desprovidos, de acordo com a pesquisa, “ir à casa dos amigos” é o principal entretenimento, citado por 53% dos entrevistados. A televisão vem logo a seguir, como a segunda principal fonte de diversão e lazer. A porcentagem de entrevistados que indicaram a “televisão” como sua principal forma de distração é maior que a dos pesquisados que citaram atividades mais dinâmicas realizadas no espaço público, como passear pela rua e praticar esportes (ambos com 47%). Ainda segundo esta pesquisa, nacionalmente, o tempo médio dedicado diariamente pelos jovens à TV é de 3h55min. Enquanto os entrevistados da classe A ficam em frente à TV, em média, durante 3h04min por dia, para os da classe B esse tempo é de 3h21min, para os da classe C é de 4h08min e para os da classe D é de 4h09min. A partir destes dados, pode-se calcular a quantidade média de horas que o jovem de 12 a 17 anos passa em frente à TV anualmente – aproximadamente 1430 horas. Em contrapartida, considerando-se um calendário escolar com 200 dias letivos e 800 horas/aulas por ano, e acrescentando-se mais 1 hora de estudo ao dia, verifica-se que em média 1000 horas são dedicadas ao estudo anualmente. Isso sem considerar que a hora/aula pode variar de 45 a 50 minutos. Sendo assim, pode- se deduzir que os jovens dedicam por ano 430 horas a mais à televisão do que à escola, aproximadamente.

5 Programa televisivo apoiado na vida real. (GARCIA, VIEIRA, PIRES, 2006) 6 Comédia de situação que trata dos costumes com humor. (MÉDOLA, 2004) 22

Cabe mencionar também o premiado documentário brasileiro “Pro dia nascer feliz” (2005), de João Jardim, que aborda as adversas situações que jovens de 14 a 17 anos, ricos e pobres, enfrentam dentro da escola, como a precariedade, o preconceito, a violência, mas também a esperança. Para a produção do filme, foram ouvidos alunos de escolas públicas da periferia de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco e também de dois renomados colégios particulares, um de São Paulo e outro do Rio de Janeiro, que falaram da vida na escola, dos seus projetos e das suas inquietações numa fase crucial da sua formação. Professores também expuseram seu cotidiano profissional, ajudando a visualizar um quadro complexo das desigualdades e da violência no país a partir da realidade escolar. Este documentário, ao expor o cotidiano das escolas da periferia, desvela e denuncia uma triste realidade: estes alunos têm muitas aulas vagas e quase todos os dias são dispensados antes do término do período escolar. A direção tem a difícil incumbência de designar os professores presentes preferencialmente para as salas dos mais novos. E assim os professores “adiantam” as aulas das turmas a partir da 8ª série, que retornam mais cedo para casa. Nesse sentido, pode-se considerar que a situação indicada pelo cálculo realizado anteriormente é ainda mais alarmante, pois se descontadas as aulas vagas e as aulas “adiantadas”, o tempo dedicado aos estudos tem um grande déficit. Como visto, a televisão ocupa um tempo muito importante da vida dos jovens, que a assistem quase todos os dias, dedicando fidelidade aos seus programas preferidos, que são capazes de ver durante anos. Desse modo, vale notar que os dados das pesquisas aqui apresentadas revelam a importância de o professor problematizar a visão de mundo veiculada pela televisão com seus alunos, já que, de forma aparentemente despretensiosa e atraente, esse meio de comunicação nutre e atualiza o universo afetivo e ético que os jovens levam para a sala de aula. Segundo Morin (2003), em entrevista à revista Nova Escola, seria importante que os jovens conhecessem as particularidades do ser humano e o seu papel na era em que vivemos. Contudo, a educação ainda não incorpora essas discussões, fragmenta a realidade, simplifica o complexo, separa o que é inseparável, ignora a multiplicidade e a diversidade. A educação poderia romper com essa fragmentação ao mostrar as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas existentes. 23

Dessa forma, é importante que a escola reflita com os seus alunos sobre o que é apresentado pela mídia televisiva, partindo da visão que os alunos têm, uma vez que estes mantêm uma relação prazerosa com a televisão. O professor, em vez de adotar um discurso de maledicência da televisão, pode ser propositor de um espaço para o diálogo no qual os próprios alunos pensem e posicionem seus pontos de vista. A escola que temos pode ser repensada e compreendida como um sistema aberto, em processo, mediante interações, transformações e intercâmbios de conhecimentos dos professores e dos alunos. A imagem televisiva pode fazer parte do contexto escolar, não apenas para que esse ambiente seja mais coerente com o dia-a-dia do aluno, mas também para ajudá-lo a ler criticamente as imagens que lhe são transmitidas. Todavia, primeiramente faz-se necessário compreender que a ruptura entre conhecimento sistematizado e conhecimento de vida vem contribuindo cada vez mais para uma incompreensão do aluno. Nesse sentido, a pesquisa intitulada “Ensino Médio: múltiplas vozes”7, realizada pela UNESCO e pelo MEC (ABRAMOVAY, CASTRO, 2003), evidencia que o pensamento linear8 sustenta uma situação de incompreensão e indica a necessidade de reintegrarmos conhecimentos e aproximarmos os membros da comunidade escolar para que a escola se torne um espaço com sentido para o jovem e, portanto, mais prazerosa. Nesta pesquisa, professores e diretores apontam o desinteresse dos alunos pela escola por acreditarem que eles não têm consciência do valor do ensino, da sua utilidade prática e da possibilidade de ascensão pela educação.

[...] o que eu vejo são alunos muito desmotivados, alunos que estão acostumados a estudar muito pouco, a maioria não sabe estudar, a maioria fica feliz quando o professor não vem. Quando se propõe a eles outras atividades, como teatros, palestras e coisas assim, muitas vezes eles não valorizam, talvez pelo mal preparo que se faz para essas atividades, mas, muitas vezes, eles não valorizam, eles vão para casa. (ABRAMOVAY, CASTRO, 2003, p.382)

7 Pesquisa sobre o Ensino Médio, de abrangência nacional, que recorre a diversos tipos de metodologia, explora várias dimensões do cotidiano da escola, assim como os dispositivos legais do campo da educação, escutando múltiplas vozes de alunos, professores, diretores e outros membros da comunidade escolar em diversos tipos de comunidades escolares. 8 O pensamento linear tem como principais características a causa-efeito, a incapacidade de perceber o novo, a tendência à repetição, a fragmentação e a polarização de idéias. (MARIOTTI, 2002) 24

Para muitos professores não há propriamente um desinteresse dos jovens pela escola, mas um desinteresse de uma geração pelo seu tempo.

[...] eu percebo um desinteresse muito grande. Outro dia, eu fui assistir uma palestra de um jornalista que veio do Paquistão, foi numa outra escola. Mas eles [alunos] são praticamente alienados, a pessoa estava falando, eles não querem ouvir. Então, é uma geração de E.T. que está aí na Terra que não está dando para entender o que ele está querendo ou o que ele está buscando. (ABRAMOVAY, CASTRO, 2003, p.383)

Outros professores ainda consideram o desinteresse como algo próprio da juventude e entendem que este sentimento ocorre com maior freqüência em relação a algumas disciplinas específicas e a alguns professores com os quais os alunos não têm afinidades. Cabe notar também que o fato de os professores indicarem o desinteresse dos alunos como um dos principais problemas da escola pode ser tanto a expressão de um estereótipo sobre a juventude quanto o sinal de uma tendência de culpabilizar o aluno pelos problemas da escola. A pesquisa “Ensino Médio: múltiplas vozes” (ABRAMOVAY, CASTRO, 2003) revela ainda que do ponto de vista dos alunos os principais problemas da escola são as faltas constantes dos professores (principalmente nas escolas públicas), a postura distante destes com relação aos alunos e a sobrepujança das matérias exigidas nos vestibulares em detrimento de assuntos importantes para a formação de cidadãos.

[...] o que eu acho é que mesmo se preocupando com o vestibular, tem que ter tempo para outras coisas. Coisas mais ligadas ao dia-a-dia, à sociedade mesmo, aos nossos direitos. [...] (ABRAMOVAY, CASTRO, 2003, p.173)

Eu acho que o objetivo do ensino médio é formar para o vestibular e ponto final. É claro que eu não concordo com isso. E acho que enquanto não acabar o vestibular, nós não saberemos para que serve o ensino médio. (ABRAMOVAY, CASTRO, 2003, p.173)

Acho que deveria ter mais comunicação com os alunos sobre o que ele vai usar. Tipo a matemática e o português na vida e na profissão. (ABRAMOVAY, CASTRO, 2003, p.194)

A escola dos meus sonhos é uma escola em que o aluno pudesse procurar aprender, conhecer o que está no dia-a-dia da nossa vida [...]. (ABRAMOVAY, CASTRO, 2003, p.196) 25

Portanto, nota-se por parte dos alunos preocupações em relação à contextualização e aplicabilidade do conteúdo transmitido pela escola, aos desafios do mercado de trabalho e à expectativa de serem preparados pela escola para enfrentá-los em condições concretas, demonstrando a necessidade de aulas que conciliem teoria e prática. Os estudos de Roxana Morduchowicz (2004) ratificam as idéias aqui expostas. Segundo a autora, a cultura dos jovens e a cultura escolar estão em profundo conflito. Em relação ao conhecimento escolar, há uma ausência de sentido nos conteúdos que são ensinados, devido à sua fragmentação, descontextualização, falta de historicidade e falta de atrativo em relação aos interesses dos jovens, bem como à sua forte desvinculação em relação aos desafios futuros dos educandos. Diante desta realidade, o professor, com freqüência, não sabe como reagir. E, dessa forma, responde reafirmando sua própria autoridade e desqualificando os saberes que circulam fora da escola. Assim, a escola começa a falar do fracasso escolar, atribuindo este fato às limitações e dificuldades dos alunos. (p.14-5) Diferentemente do que pode parecer ao senso comum, os jovens não são somente reclamação, de acordo com a pesquisa “A voz dos adolescentes”, realizada pela UNICEF e Fator OM - Opinião e Mercado (2002). Eles enfatizam a importância da família, têm sonhos em relação ao país e acreditam na possibilidade de contribuírem para um mundo melhor. É imprescindível ir além do discurso corrente de que os jovens não participam, são desinteressados e alienados. A pesquisa realizada pelo IBASE e PÓLIS (2006), também já mencionada anteriormente, constatou que uma parcela significativa deles deseja participar, mas não encontra espaços que possibilitem tal inclusão. As formas de participação presentes no Estado e na sociedade são freqüentemente percebidas como muito distantes da realidade cotidiana, que ainda revela, de modo contundente, a existência de espaços interditados à sua participação. Na verdade, de um modo geral, os jovens tendem a não acreditar que alguém possa se interessar seriamente pelos seus problemas. Neste estudo entende-se que, em primeiro lugar, os professores devem se aproximar dos jovens e aprender a escutá-los, entendendo as condições em que vivem e suas perspectivas diante dos imensos desafios que a sociedade lhes impõe. A escola poderia ser um lugar onde eles pudessem dialogar uns com os outros, 26

construir relações de confiança e solidariedade, conviver com diferentes modos de ser e com a diversidade de opiniões e interesses. Ademais, o estabelecimento de uma relação mais estreita entre os conteúdos da escola e a realidade dos alunos enriquece o processo de aprendizagem, por estimular a participação mais efetiva dos estudantes. Assim, propor práticas mais consoantes com os seus interesses e as suas necessidades pode incentivar os jovens a tornarem-se cidadãos políticos e sociais capazes de influenciar, por meio da participação, importantes processos de transformação na educação e de construir um mundo melhor. Durante a pesquisa realizada para a construção da presente dissertação, momento em que foram buscados dados e estatísticas sobre o grupo de indivíduos com idades entre 12 e 19 anos, pôde-se observar que as informações existentes acerca dessa faixa etária são poucas e desagregadas, em parte devido ao próprio dissenso quanto ao início e ao fim da adolescência, mas também em função da diversificada denominação utilizada pelos autores para fazerem referência a este grupo. Este fato levou à seguinte questão: Como designar este grupo? Adolescentes ou jovens? Só para se ter uma idéia, de acordo com a pesquisa “A voz dos adolescentes” (2002) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), os indivíduos com idades entre 12 e 18 anos incompletos são designados “adolescentes”. Todavia, segundo a Organização Mundial de Saúde, adolescentes são os sujeitos com idades entre 10 e 20 anos. Já as pesquisas “Retratos da Juventude Brasileira” (ABRAMO, BRANCO, 2005) e “Juventude Brasileira e Democracia - participação, esferas e políticas públicas” (CORTI, 2005) consideram como jovem o indivíduo que se situa na faixa etária de 15 a 24 anos. Regina Novaes (2005), presidente do Conselho Nacional de Juventude e secretária-adjunta da Secretaria Nacional da Juventude, diz que, de acordo com a lei, a juventude brasileira está compreendida entre os 15 e os 29 anos, afirmando ainda que a tendência de se estender até os 29 anos é mundial e se configura por dois motivos: o aumento da expectativa de vida em geral; e a dificuldade de se conseguir efetivamente uma emancipação. Por sua vez, a pesquisa Mídia-Q (2005) ora utiliza o termo “adolescente”, ora utiliza o termo “jovem” para designar o indivíduo da mesma faixa etária.

27

O estudo intitulado “Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais”, realizado pela Ação Educativa (FREITAS, 2005), contribuiu para a definição da denominação que seria aqui utilizada para fazer referência ao grupo que é foco da pesquisa de campo desenvolvida para subsidiar este estudo, grupo este que se situa na faixa etária de 12 a 19 anos. Segundo este estudo, a definição de juventude pode ser realizada por uma série de pontos de partida, podendo ser compreendida como uma faixa etária, um período da vida, um contingente populacional, uma categoria social, uma geração etc. No entanto, todas essas definições remetem, de algum modo, à fase da vida compreendida entre a infância e a maturidade, correspondendo a essa faixa de idade, mesmo que os limites etários não possam ser definidos rigidamente. Normalmente, os psicólogos, quando se referem aos processos que marcam esta fase da vida, usam o termo adolescência. Já entre os sociólogos, demógrafos e historiadores, ao abordarem as categorias sociais, o termo mais usado é juventude. No entanto, no Brasil o termo adolescência predomina no debate público, na mídia e no campo das ações sociais. O Estatuto da Criança e do Adolescente avançou profundamente a compreensão dessa questão, ao estabelecer que adolescente é a pessoa com idade entre 12 e 18 anos. A partir deste documento, as ações públicas e privadas passaram a definir seu público-alvo levando em conta tal premissa. Atualmente, no debate sobre políticas públicas, procura-se distinguir em dois momentos o período de vida situado entre o fim da infância e o início da fase adulta: a adolescência e a juventude. A adolescência corresponde à primeira fase pós- infância e caracteriza-se principalmente pelas mudanças corporais e comportamentais, que marcam esta fase como um período específico de desenvolvimento e de preparação para uma inserção futura. A juventude (que alguns denominam como jovens adultos ou ainda pós-adolescência), por sua vez, é a fase posterior, em que se constrói a trajetória de entrada na vida social. Convencionalmente, a adolescência é compreendida como a faixa etária entre os 12 e os 18 anos; e a juventude como aquela entre os 15 e os 29 anos de idade. Esta, todavia, dividi-se ainda em três subgrupos etários: de 15 a 19 anos (jovens adolescentes), de 20 a 24 anos (jovens) e de 25 a 29 anos (jovens adultos).

28

Entretanto, a imprecisão e a superposição entre os dois termos permanecem. Diante disto, após a análise de várias pesquisas, pôde-se constatar que a faixa etária de 12 a 19 anos compreende tanto a adolescência quanto a juventude. Assim, neste estudo optou-se por utilizar o termo jovem. Em se tratando dos jovens, cabe notar que o título do programa televisivo eleito para este estudo é bem sugestivo. Trata-se da telenovela Rebelde, que foi produzida pela e exibida no Brasil pelo SBT, no período de 15 de agosto de 2005 a 29 de dezembro de 2006, de segunda a sábado, das 20h15min às 21h. Atualmente é reexibida pelo canal pago Boomerang. Destinada a este público, Rebelde fez muito sucesso entre os alunos. Durante sua exibição, foi assunto de discussão no cotidiano dos jovens, que comentavam as peripécias e adversidades enfrentadas pelos personagens, além de consumirem e levarem para a escola os produtos relacionados à telenovela. A apresentação da telenovela e os estudos a ela relacionados serão abordados no primeiro capítulo desta dissertação. Nesta pesquisa, o objeto de estudo é a relação cultural dos jovens de 12 a 19 anos de uma escola pública estadual situada na região metropolitana de São Paulo com a telenovela Rebelde, relação esta que será analisada mediante os Complexos Imaginários (Projeção-Identificação). A escola pesquisada pertence à cidade de Caieiras, localizada na sub-região norte da grande São Paulo, próximo à Serra da Cantareira. Sua área, cercada de matas e florestas, é uma das mais ricas em fauna e flora e abrange um dos maiores mananciais do Brasil. Faz divisa ao norte com o município de Franco da Rocha, a oeste com o município de Cajamar, a leste com o município de Mairiporã e ao sul com São Paulo.9 A cidade, segundo dados do IBGE (2006b), conta com 32 escolas de Ensino Fundamental, sendo 16 da rede pública estadual, 7 da rede pública municipal e 9 da rede privada. Quanto às escolas que oferecem o Ensino Médio, são 14, sendo 9 da rede pública estadual e 5 da rede privada. No ano de 2006, em Caieiras, foram efetuadas 6.904 matrículas no Ensino Fundamental - Ciclo II, sendo 6.132 na rede pública estadual e 781 na rede privada. Quanto ao Ensino Médio, foram 4.306 matrículas, sendo 3.754 na rede pública estadual e 552 na rede privada, segundo dados do Censo Escolar (INEP, 2006).

9 PORTAL ICAIEIRAS. Caieiras - Localização Geográfica. Disponível em: . Acesso em: 12/10/2006. 29

Dessa forma, nesta pesquisa a preferência pela escola pública da rede estadual se deu por esta ter a maior representatividade, sendo responsável por 89% das matrículas de alunos de 11 a 14 anos, do Ensino Fundamental - Ciclo II (de 5ª a 8ª série), e por 87% das matrículas de jovens de 15 a 19, do Ensino Médio. Tive a oportunidade de lecionar na escola em questão durante o período de agosto de 2004 a junho de 2007, ministrando aulas para as turmas de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental e para as turmas de 1º a 3º anos do Ensino Médio. Nesta ocasião, o objeto deste estudo foi suscitado na minha vivência profissional. Ao observar os alunos em momentos como os de aula vaga, de intervalo e de pátio, percebi que eles comentavam e exibiam objetos e adereços relacionados à telenovela Rebelde, além de imitarem os personagens em suas maneiras de falar, de vestir e de brincar. Assim, assumi este fato como pesquisadora, visto que havia uma questão a ser estudada, e procedi à busca de caminhos que pudessem cooperar para a compreensão do jovem, a partir de seu olhar e de sua voz. A intenção era escutar o que eles tinham a dizer. Segundo Edgar Morin (2006), no processo de aprendizagem é fundamental que haja uma interação entre o objeto de estudo e a vivência do aprendiz, seus conhecimentos prévios, sua vida e sua realidade. Foi na tentativa de estabelecer tal interação que surgiram questões que provocaram a presente investigação, cujo intuito é compreender como os alunos se relacionam com a telenovela Rebelde e, a partir desta compreensão, buscar alternativas e subsídios para a mediação da leitura das imagens televisivas na escola. Nesse sentido, pretende-se buscar respostas para as seguintes indagações:

- Os protagonistas da telenovela Rebelde influenciam os jovens? Ou seja, eles servem de modelos aos jovens, suscitando desejos de imitação em relação aos seus estilos de vestimentas, seus discursos e suas condutas? - Tendo em vista que a telenovela aborda fatos comuns e corriqueiros, dando a estes valores específicos, cabe perguntar: Tais valores, uma vez transmitidos pela trama, passam a ser seguidos pelos jovens? - A escola estaria desconsiderando a importância da mídia televisiva na vida dos jovens? - A telenovela, mediada pelo professor, poderia ser aliada à escola como modo de entender o mundo, já que representa a vida, aborda o meio social, o familiar, o 30

histórico e as relações humanas? Poderia contribuir para a aprendizagem dos conteúdos objetivos e subjetivos? Promoveria a aproximação do conhecimento sistematizado da escola ao conhecimento de vida dos alunos, tornando o conhecimento pertinente10?

As pesquisas aqui apresentadas confirmam que os jovens são telespectadores assíduos, bem como que as telenovelas estão entre os programas mais assistidos por eles. Assim, o presente estudo parte das seguintes hipóteses: as telenovelas desencadeariam mecanismos de projeções-identificações, ou seja, os alunos estariam reproduzindo discursos de programas televisivos, incorporando estilos de vestimentas e adotando condutas apresentadas por personagens; a escola não estaria considerando a importância da mídia televisiva na vida dos jovens, enquanto estes estariam se instruindo por ela; a aprendizagem poderia se articular a partir da inter-relação entre o conhecimento sistematizado da escola e o conhecimento de vida dos alunos. No intuito de verificar as considerações teóricas sobre a mídia televisiva, em especial sobre a telenovela endereçada aos jovens, busca-se, nesta dissertação, estudar a relação cultural da telenovela Rebelde com os estudantes com idades entre 12 e 19 anos. Esta telenovela, muito popular e inovadora, ao misturar ficção com realidade, se sobressaiu às outras, demandando um olhar mais atento. O delinear dos questionamentos e a definição do foco do estudo direcionaram a estrutura teórica, os conceitos e os procedimentos que seriam adotados para a concretização da pesquisa. Dessa forma, procurou-se identificar as categorias de análise que estariam em consonância com o objeto de pesquisa, bem como o referencial teórico adequado para a investigação. Definidas as categorias de “cultura de massas” e “Complexos imaginários - projeção-identificação”, empregou- se as concepções do pensamento complexo de Edgar Morin. Izabel Petraglia (2000), a partir de Morin, nos auxilia quanto ao entendimento da epistemologia da complexidade. Segundo a autora, este pensamento une e busca as relações necessárias e interdependentes de todos os aspectos da vida humana. Integra os diferentes modos de pensar, opondo-se aos mecanismos reducionistas, simplificadores e disjuntivos. Considera todas as influências

10 O conhecimento pertinente compreende o contexto, o global, o multidimensional e o complexo. (MORIN, 2000, p.36) 31

recebidas, internas e externas, e enfrenta a incerteza e a contradição, sem deixar de conviver com a solidariedade dos fenômenos existentes. Enfatiza o problema, e não a questão que tem uma solução linear. Como o homem é um ser complexo, o pensamento também assim se apresenta, desprovido de certezas e verdades científicas. Considera a diversidade e a incompatibilidade de idéias, crenças e percepções, integrando-as à sua complementaridade; associa conceitos de ordem, desordem e organização; incorpora o princípio de incerteza; e aborda as noções de sujeito e homo complexus. Partindo de alguns operadores do Pensamento Complexo, que serão aprofundados no segundo capítulo, o entendimento da cultura de massas dará suporte à pesquisa como um todo. Edgar Morin, em seu livro ”Cultura de Massas no Século XX: Neurose”, elabora uma análise dessa cultura. Este termo caracteriza as produções veiculadas em larga escala pelos meios de comunicação de massa, sobretudo as audiovisuais. Segundo o autor, uma cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos, orientam as emoções. Esta penetração se efetua segundo trocas mentais de projeção e identificação polarizadas nos símbolos, mitos e imagens da cultura, bem como nas personalidades míticas ou reais que encarnam os valores (os ancestrais, os heróis, os deuses). A concepção de Morin possibilita o entendimento da cultura de massas e dos processos de projeção-identificação (Complexos Imaginários) por ela desencadeada na vida imaginária. Esses processos podem ser compreendidos na reflexão descrita nos capítulos 2 e 3, em que os dados da pesquisa implantada são apresentados, considerando-se as percepções dos alunos participantes da coleta de dados. O procedimento metodológico se deu pela pesquisa bibliográfica e investigação de campo. A primeira possibilitou a fundamentação teórica para o entendimento das categorias fundamentais para a análise do problema. Quanto à pesquisa de campo, teve início no ambiente on-line, mais especificamente no Yahoo!Respostas, site em que os jovens, de maneira informal e descontraída, deixam transparecer preocupações e opiniões que dificilmente seriam reveladas em um questionário estruturado. Os dados colhidos nesta oportunidade foram de grande relevância, pois propiciaram o entendimento a respeito do que os jovens pensam sobre a telenovela Rebelde.

32

Após esta etapa, iniciou-se o processo de construção e formatação do questionário. Foram necessárias várias reformulações, em decorrência da dificuldade apresentada pelos alunos, que, ao perceberem que teriam de responder a perguntas abertas, se retraíram, pela dificuldade quanto à leitura e escrita. Assim, a partir das críticas e sugestões dos alunos, recorreu-se a um formato que considerasse o repertório cultural dos estudantes. Percebeu-se, assim, que se fossem aplicadas questões fechadas as limitações dos educandos não seriam expostas, e, dessa forma, eles se abririam para a participação. Além disso, no questionário foram incluídas imagens e procurou-se aplicar uma diagramação diferenciada, com o escopo de torná-lo mais atraente para os jovens. Ou seja, a elaboração do questionário se desenvolveu e se modificou conforme o desenvolvimento da pesquisa, buscando encontrar o rigor, não a rigidez, mas em uma estratégia de adaptação constante, como defende Morin (1984, p.133). No primeiro capítulo, intitulado “Tá na hora da novela!”, apresenta-se um panorama da telenovela Rebelde – sua história, seus personagens principais e sua relação com o público, além do estado da arte. No segundo capítulo, “Visões refletidas: da novela à escola”, enfatizam-se alguns princípios do pensamento Complexo e as categorias teóricas utilizadas na análise da pesquisa, que são a “cultura de massas” e os “Complexos imaginários - projeção-identificação”, considerando-se ainda o ser humano na concepção de Morin. E no terceiro e último capítulo, “Pulando o muro da escola...”, faz-se a contextualização do universo da pesquisa e descreve-se o percurso metodológico, apresentando os dados obtidos a partir da observação e dos questionários, sob a forma de gráficos e comentários, procurando-se estabelecer relações entre a pesquisa de campo e a pesquisa bibliográfica e analisar os dados colhidos. As considerações finais trazem reflexões sobre a dissertação, a fim de demonstrar os resultados gerais da pesquisa, os percalços e as dificuldades do trabalho e indicar caminhos para novas investigações.

33

Por fim, vale relatar que minha convivência diária nesses últimos anos junto à escola permitiu presenciar e conviver com ações e situações que muitas vezes provocavam desejos de mudança na maneira de se pensar a educação. A participação no programa de pesquisa da universidade oportunizou momentos que possibilitaram vislumbrar essas inovações e ousar realizá-las. É o que será partilhado, a partir de agora, neste estudo.

34

CAPÍTULO I - TÁ NA HORA DA NOVELA!

A telenovela é um programa diário exibido, em geral, seis vezes por semana, durante um período de aproximadamente cinco meses, que corresponde a uma temporada. Faz parte da rotina e do cotidiano dos telespectadores, e a mobilização que provoca ultrapassa o acompanhar passivo e distanciado de uma história fictícia. A telenovela invade os espaços públicos, entre eles a escola, e está nas notícias dos jornais e revistas com o desenrolar de suas tramas, provocando uma rede de comentários entre as pessoas, que vibram, torcem, aprovando ou não seus personagens, e despertando sentimentos de indignação e ternura, levando inclusive a agressões ou manifestações de estima e carinho aos atores. Este capítulo apresenta um panorama da telenovela Rebelde, sua história, seus personagens principais e sua relação com o público ao qual é direcionada. Os resultados de pesquisas de opinião também são trazidos à baila, compondo um cenário da telenovela. Quanto ao impacto da telenovela Rebelde no espaço escolar, no tópico “Rebelde na escola”, mostram-se os procedimentos de negociação com os estudantes adotados por três escolas, sendo duas de São Paulo e uma do Rio de Janeiro. Uma pesquisa realizada pelo Rio Mídia pergunta aos estudantes de uma escola do Rio de Janeiro por que as crianças gostam tanto da novela Rebelde. Por último, apresenta-se uma reportagem em que a supervisora de ensino de uma escola do Amapá revela um parecer desfavorável sobre a telenovela Rebelde. Em relação ao consumo, muito evidenciado na telenovela, no tópico “A rebeldia que vende mais que imaginário...”, apresentam-se alguns produtos e serviços relacionados à telenovela, que acabam indo para as salas de aulas, pelas mãos dos estudantes, e discute-se a estratégia de marketing direcionada às crianças e aos jovens, em que o imaginário se relaciona aos personagens. A pesquisa sobre o Estado da Arte da telenovela Rebelde abarca o Brasil, a Colômbia, o México e Israel. A maioria dos estudos diz respeito ao consumismo promovido pela telenovela.

35

1.1 - A TELENOVELA REBELDE

Rebelde é uma telenovela mexicana produzida pela Televisa. A história foi criada por , adaptada por Pedro Armando Rodríguez e dirigida por Juan Carlos Muñoz e Luis Pardo. É uma nova e bem-sucedida versão da novela argentina . Figura 1 - Protagonistas da telenovela Rebelde.

A telenovela Rebelde foi exibida no Brasil pelo Sistema Brasileiro de Televisão - SBT, em três temporadas, totalizando 440 episódios, durante o período de 15 de agosto de 2005 a 29 de dezembro de 2006, de segunda a sábado. Oscilando na grade de programação da emissora, já entrou no ar às 17h30min, horário em que estreou, às 18h e às 19h, mas foi transmitida principalmente das 20h15min às 21h, período tradicionalmente destinado ao público adulto, passando a ser exibida cada vez mais tarde devido ao crescimento de sua audiência. Não houve adaptações ou quaisquer modificações em relação à trama original, apenas os procedimentos de tradução/dublagem. Segundo informações da revista Nova escola de maio de 200611, esta telenovela atingiu em média 14 pontos de audiência na Grande São Paulo. Em duas pesquisas de opinião, Rebelde foi eleita a telenovela que melhor retrata a juventude (ver o tópico 1.2 - O fenômeno Rebelde: Pesquisas de Opinião). Os protagonistas da trama se dividiam entre a fama e o cotidiano da escola, onde passavam pelos conflitos típicos da juventude, relacionados a sexo, drogas, relação com os pais e incertezas quanto ao futuro. A ênfase era a aparência dos personagens. As meninas, por exemplo, apresentavam-se com um toque acentuado de sensualidade, vestidas com gravatas desalinhadas, minissaias e botas de cano alto. Como o próprio nome da escola indicava – Elite Way School –, os personagens

11 MINAMI, Thiago. “A moda é ser ‘rebelde’”. Revista Nova Escola. Edição 192. São Paulo: Editora Abril, maio de 2006. Disponível em: . Acesso em: 10 de maio de 2006. 36

eram de classe média alta e viviam às voltas com laptops, celulares de última geração e viagens para o exterior. O núcleo de bolsistas, de origem pobre, respondia por parte dos conflitos da trama. Da novela Rebelde originou-se o grupo RBD, uma banda pop que faz sucesso em todos os 65 países em que a telenovela foi exibida, entre eles México, Angola, Argentina, Bolívia, Bósnia, Brasil, Canadá, Cazaquistão, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Espanha, Estados Unidos, Guatemala, Honduras, Indonésia, Israel, Japão, Nicarágua, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Romênia, Rússia, Sérvia e Montenegro, Turquia, Ucrânia e Venezuela. (FERLA, 2006, p.36)12 Os protagonistas da novela eram também integrantes da banda RBD, e chegaram ao estrelato por meio de supostas atitudes de rebeldia, como enfrentar os obstáculos que os pais e a direção da escola tentavam impor. A banda RBD, devido ao sucesso da telenovela, deixou de ser ficção e passou a fazer shows e lançar discos na vida real. Seu álbum de estréia, intitulado “Rebelde”, logo fez a banda conquistar Disco de Ouro, depois Disco de Platina e recentemente Disco de Diamante, com mais de 500 mil cópias vendidas no México. Com o disco “” o grupo ganhou Disco de Platina, após vender por volta de 127 mil cópias em apenas 7 horas, no dia de seu lançamento. Tanto a telenovela Rebelde quanto a banda RBD têm diversos sites (oficiais ou não) distribuídos pelo mundo. Procurando-se sites sobre a telenovela Rebelde no Google13, podem-se encontrar 9.080.000 páginas diferentes. No orkut14, site de relacionamento mundialmente famoso que permite aos usuários cadastrados fazer novas amizades e discursar sobre temas em comum, há mais de 1.000 comunidades sobre a banda RBD e mais de 1.000 comunidades que fazem referência à novela. Uma delas – “Sou fã da novela Rebelde” – tem mais de 73 mil membros. No orkut ainda podem-se encontrar gostos específicos dos fãs da telenovela e da banda. Grupos de jovens discutem sobre os mais variados assuntos, desde cenas da trama até as cores dos cabelos dos integrantes, as roupas, as viagens, a vida pessoal, entre outros assuntos. O fã-clube oficial da banda no Brasil,

12 Vale conferir também: FÃ-CLUBE ENSINA-ME A SER REBELDE. Disponível em: . Acesso em: 21 de abril de 2006. 13 Cf.: GOOGLE. Disponível em: . Acesso em: 10 de maio de 2006. 14 ORKUT. Disponível em: . Acesso em: 12 de maio de 2006. 37

o RBD Sin Limites15, está presente em quase todo o país, tendo sedes em São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Amazonas, Rio Grande do Norte e Pará. Embora a telenovela Rebelde tenha chegado ao fim, depois do sucesso conquistado, a banda RBD, com músicas em português, em versões feitas pelos próprios atores, teve três de seus discos simultaneamente nas listas de mais vendidos em São Paulo. Além do fã-clube oficial, há também a comunidade Rebelde/RBD **POR SIEMPRE**, com 101.728 membros. Existe até uma versão da telenovela na linguagem dos desenhos animados japoneses – mangá –, e planeja- se adaptar a história para o cinema. Recentemente, a telenovela voltou a ser exibida no canal Boomerang, de segunda a sexta-feira, às 21h, desde a sua primeira temporada. A programação desta emissora é dedicada a crianças com idade entre 2 e 14 anos e está disponível 24 horas por dia a assinantes das redes DirecTV, Tecsat, TVA, SKY e NET, chegando a países como Brasil, Chile, México, Argentina, Venezuela, entre outros, por sistemas de televisão paga.

1.1.1 - Temporadas

Primeira Temporada

No site do SBT pode-se conferir que a emissora sintetiza a telenovela da seguinte forma:

Rebelde é uma história de jovens que abrem os olhos para a realidade do mundo em um ambiente elitista, onde o poder e os bens materiais são supervalorizados. Eles vão lutar pelo direito de amar, romper as barreiras sociais e pelos ideais nos quais acreditam.16

Segundo Houch (2006), organizador de “A obra oficial de Rebelde”, Elite Way School é, no universo da novela em questão, um colégio particular de prestígio internacional em que jovens de classe alta são preparados para um grande futuro. A escola conta com um programa de bolsas de estudos para jovens com baixos

15 RBD SIN LIMITES. Disponível em: . Acesso em: 21 de abril de 2006. 16 SBT. Disponível em: . Acesso em: 10 de fevereiro de 2006. 38

recursos financeiros, mas que possuem excelente nível acadêmico. No entanto, poucos chegam a se formar, já que são perseguidos por uma sociedade secreta chamada “Seita”, cujo propósito é conservar a “pureza” da classe privilegiada. Entre os jovens que participam da trama estão Mía, Miguel, Diego e Roberta. Apesar de suas diferenças, descobrem algo em comum, o amor pela música, e unem-se para formar uma banda. Roberta é filha de uma famosa cantora de música sertaneja. Miguel ganhou uma bolsa de estudos, mas seu verdadeiro propósito é vingar a morte de seu pai. Sua vida vem abaixo quando descobre que o culpado é o pai da garota que ama, Mía. Para Diego, filho de um importante político, a música é só um hobby. Desde criança, sabe que seu destino está na política. Mía é filha de um grande empresário da moda e não aceita o fato de seu pai ter se apaixonado por uma mulher como Alma Rey, a mãe de Roberta.

Segunda Temporada

De acordo com os sites do SBT e da Equipe RebeldeBrasil17, na segunda temporada de Rebelde o diretor do colégio, Pascual Gandía, resolve instalar câmeras nas salas de aula para monitorar os alunos e intensificar as aulas de educação física para que os jovens liberem a rebeldia nos esportes. Por sua vez, os jovens, que durante o ano anterior conseguiram se manter como um grupo, apesar das diferenças sociais e individuais, vêem essa união ser posta à prova com a entrada de novos alunos. Os jovens veteranos mudaram durante as férias. Mía e Miguel viveram um sonho de amor, que se transforma em pesadelo com a volta ao colégio, onde discussões e reconciliações novamente acontecem. Quanto a Roberta e Diego, voltam a se enfrentar e, tanto um como o outro, buscam consolo nos braços de outras pessoas, sem obtê-lo. Os dois sofrem mudanças importantes. Diego acha que sua mãe o abandonou e começa a agir como seu pai, de forma arrogante e prepotente. Já Roberta tenta colocar sua rebeldia em uma tarefa solidária, graças ao novo professor, Martín Reverte. Na realidade, Reverte não é professor, mas simula ser para estar perto de Roberta, já que na verdade é seu pai.

17 SBT. Disponível em: . Acesso em: 10 de fevereiro de 2006. EQUIPE REBELDE BRASIL. Disponível em: . Acesso em: 10 de fevereiro de 2006. 39

Quanto à banda, no primeiro momento, os integrantes voltam a se unir, mas não se conformam em cantar no anonimato. É tão forte o sentimento pelo grupo que por ele lutam contra tudo, mas logo percebem que o inimigo mais forte, que atenta contra a união da banda, são eles mesmos e os diferentes estágios pelo qual vão passando em suas vidas pessoais. Cada um dos jovens vai enfrentando diversos conflitos, buscando saber quem são e o que querem para suas vidas.

Terceira Temporada

Ainda segundo os sites supramencionados18, na terceira temporada de Rebelde, após muitas disputas e amadurecimentos, os alunos do colégio Elite Way estão ansiosos pela viagem de férias ao Vacance Club. Embora as intrigas continuem, todos convivem em paz e dão início a novos relacionamentos. Diego, para provocar Roberta, se envolve com Lola. Miguel aproxima-se de Sabrina, o que pode destruir definitivamente seu relacionamento com Mía. Roberta se relaciona com Isaac para tentar esquecer Diego, mas, devido a um segredo do rapaz, esse relacionamento não persevera. Mía, após pensar muito, decide se relacionar sexualmente com Miguel, como uma grande prova de amor, mas se decepciona ao descobrir o envolvimento dele com Sabrina. Os jovens esquecem um pouco de seus problemas com a chegada dos jogos do intercolegial. Trágicas mudanças nas vidas de Roberta e Mía fazem elas se unirem ainda mais. Roberta descobre que Reverte é seu verdadeiro pai e demonstra raiva por sua mãe ter mentido. Mía descobre que sua mãe está viva e que seu pai mentiu. Diego tem de conviver diariamente com Xavier, o filho da namorada de seu pai, que lhe traz muitos problemas. Mas Diego também amadurece e enfrenta de vez o pai. Os jovens canalizam sua rebeldia para a música, e acabam fazendo o grupo RBD sair do anonimato e enfrentar platéias maiores em diferentes turnês, tornando a banda um sucesso mundial. Os quatro protagonistas vêem que o maior amor não é o amor pela música, e sim o amor entre eles.

18 SBT. Disponível em: . Acesso em: 20 de agosto de 2006. EQUIPE REBELDE BRASIL. Disponível em: . Acesso em: 20 de agosto de 2006. 40

1.1.2 - Personagens principais19

Mía Colluci (Anahí) - É filha única de um importante empresário da moda internacional. Acredita que sua mãe morreu quando ela ainda era criança. Sua beleza é o mais importante para ela. É simpática, solidária e caprichosa. Adora ajudar suas amigas a Figura 2 - Mía. melhorar a aparência. Sente que com isso está contribuindo para o bem da humanidade. Idade: 16 anos.

Roberta Prado (Dulce Maria) - É filha única de uma famosa cantora e de um produtor de televisão. Parece muito segura e acredita ser mais madura que as outras garotas de sua idade.

Figura 3 - Roberta. Odeia as meninas da alta sociedade. Idade: 16 anos.

Miguel Arango () - É simpático e leal, mas esconde sua sensibilidade. Acredita que o responsável pela ruína de sua família é o pai de Mía e está decidido a destruí-lo. Assim,

decide refazer o Ensino Médio com este propósito. Idade: 19 Figura 4 - Miguel. anos.

Diego Bustamante (Christopher Uckermann) - Rapaz muito inteligente, carismático e generoso. Sabe que terá de se dedicar à política, como seu pai. Possui um grande talento para a Figura 5 - Diego. música, mas a pratica apenas como hobby. Idade: 16 anos.

Lupita Fernández (Mayte Perroni) - Vem de uma família humilde. É solidária e está sempre disposta a ajudar e a ver o lado positivo das coisas. Criativa, desfruta das coisas mais simples e se comove facilmente. Adora músicas românticas e Figura 6 - Lupita. novelas. Idade: 16 anos.

19 Fonte: SBT. Disponível em: . Acesso em: 10 de fevereiro de 2006. 41

Giovanni Méndez (Christian Chávez) - Vem de uma família de

classe média-alta e tem muito interesse em ter relações com

pessoas que o ajudem a crescer socialmente. É mentiroso,

egoísta e desconfiado. Preocupa-se demais com sua imagem e

Figura 7 - Giovanni. adora imitar as pessoas que admira. Seu maior propósito é se casar com uma garota da alta sociedade. Idade: 16 anos.

Alma Rey () - Mãe de Roberta, é uma famosa cantora e símbolo sexual. Uma mulher que não sabe como desempenhar o seu papel de mãe, mas ama sua filha. É trabalhadora, independente, inteligente e muito solidária. Não

Figura 8 - Alma. teve sorte no amor e por isso desconfia de todos os homens que tentam se aproximar dela.

Franco Colucci (Juan Ferrara) - Pai de Mía. É um importante empresário da moda. Adora sua filha, mas passa pouco tempo com ela. Deixa-a no colégio interno com o intuito de protegê-la. Depois que foi abandonado por sua esposa, se transformou em

Figura 9 - Franco. um homem duro e frio com todos, exceto com sua filha.

Leon Bustamante (Enrique Rocha) - Pai de Diego. É um importante político, rígido, inflexível e muito agressivo. É muito exigente com o filho. Finge ser um bom político, mas, na verdade, é corrupto. Tem uma vida dupla, o que sua família Figura 10 - Leon. desconhece.

1.1.3 - Ficção & Realidade

A banda RBD surgiu no ano de 2004, no México, a partir da trama da telenovela Rebelde, sendo integrada pelos seus próprios protagonistas: Anahí, Dulce, Mayte, Alfonso, Christian e Christopher. No Brasil, começou a fazer parte do fim de tarde de crianças e jovens a partir do dia 15 de agosto de 2005, mas foi 42

somente depois da tragédia20, numa tarde de autógrafos, no estacionamento do shopping Fiesta, na zona sul da cidade de São Paulo, em 4 de fevereiro de 2006, que os adultos começaram a prestar atenção no fenômeno Rebelde. A banda RBD, ao mesmo tempo em que alimentava o sucesso da telenovela, era retroalimentada pela trama na televisão. Para a divulgação das músicas do grupo, um clipe da banda era exibido na abertura de cada capítulo e shows eram apresentados pelos personagens no desenrolar da história, shows estes que eram reais, ou seja, realmente organizados e assistidos pelo público. Em reportagens, comumente podem-se observar fãs se referindo aos integrantes do RBD pelo nome de seus personagens na novela. É comum também encontrar admiradores que confundem até os relacionamentos amorosos de seus ídolos com os de seus personagens. A grande novidade lançada pela telenovela é a transição da banda entre a ficção e a vida real. Com o término da telenovela, a banda RBD iniciou a filmagem da série “RBD: a família”, projeto lançado em 2007, no México. Segundo o elenco, a série trazia um conceito inovador para a televisão mexicana, uma fusão da ficção e da realidade de suas vidas.21 Este conceito inovador a que o elenco se refere, na verdade, utiliza a mesma estratégia anteriormente testada e aprovada com a banda RBD. Vale considerar, todavia, que esta fusão pode provocar uma confusão quanto ao discernimento entre o real e o imaginário, merecendo, portanto, um olhar mais atento, embora este não seja o foco da presente pesquisa.

1.2 - O FENÔMENO REBELDE: PESQUISAS DE OPINIÃO

O site Ofuxico, em maio de 2006, realizou uma pesquisa de opinião com os internautas para saber qual novela, entre aquelas que estavam no ar naquela ocasião, melhor retratava a juventude atual. As opções eram: Floribella (Band), Malhação (Globo) e Rebelde (SBT). A telenovela mais votada foi Rebelde, com

20 De acordo com a Polícia Militar, mais de 10 mil pessoas estavam no local, na maioria garotas. Muitos destes fãs haviam passado a madrugada anterior na fila para garantir um bom lugar. Assim que a apresentação teve início, quem ficou mais distante do palco, descontente com o baixo volume sonoro, passou a empurrar os que estavam na frente. O alambrado entre o palco e o público cedeu devido à pressão. Várias pessoas caíram e foram pisoteadas, muitas ficaram feridas e três pessoas morreram. O Ministério Público de São Paulo cogitou a hipótese de que haveria um público muito superior ao estimado inicialmente. Em vez dos sete mil esperados, aproximadamente vinte mil fãs teriam ido ao shopping para ver de perto seus ídolos. (FERLA, 2006, p.14-6) 21 Cf.: RBD OFFICIAL SITE. Disponível em: . Acesso em: dezembro de 2006. 43

60,83% dos votos (equivalentes a 27.554 votos), seguida por Malhação, com 35,84% (16.234 votos), e Floribella, com 3,33% (1509 votos).22 No mesmo sentido, a Folha Online, em abril de 2006, também realizou pesquisa de opinião com o intuito de verificar qual era a melhor novela juvenil em exibição na televisão brasileira. Novamente, a telenovela Rebelde (SBT) ficou em primeiro lugar, com percentual ainda maior que o indicado pela pesquisa anteriormente citada, como se pode verificar na tabela apresentada a seguir:23

Tabela 1 - Folha Online: Qual é a melhor novela juvenil em exibição na TV brasileira?

"Rebelde" (SBT) 79% - 7.007 votos

"Malhação" (Globo) 13% - 1.169 votos

"Floribella" (Bandeirantes) 8% - 690 votos

Total 8.866 votos

Já na pesquisa de opinião da Folha Online (realizada em dezembro de 2006) sobre a melhor telenovela do ano de 2006, "Belíssima" (Globo) ficou em primeiro lugar, com 1926 votos (15%). Na segunda posição, com 1892 votos (14%), apareceu Rebelde (SBT). A pesquisa começou com "Rebelde" disparando na liderança. No entanto, na data final da pesquisa, dia 8 de dezembro, "Belíssima", com diferença de apenas 1% em relação a “Rebelde”, foi eleita a melhor telenovela do ano. Vale ressaltar que a telenovela vencedora foi produzida pela emissora líder no Brasil e exibida em horário nobre. Além disso, Floribella (Bandeirantes) e Malhação (Globo), novelas destinadas também ao público jovem, obtiveram apenas 1% dos votos cada uma, alcançando, respectivamente, somente 150 e 74 votos. Considerando-se estes dados, pode-se ter uma visão mais ampla do impacto da telenovela Rebelde no Brasil.24

22 OFUXICO. Disponível em: . Acesso em: 23 de maio de 2006. 23 FOLHA ONLINE. Teledramartugia. Ilustrada. São Paulo, 17/04/2006. Disponível em: . Acesso em: 24 de abril de 2006. 24 FOLHA ONLINE. “Belíssima” e “Rebelde” são melhores novelas de 2006, aponta enquete. Ilustrada. São Paulo, 08/12/2006. Disponível em: . Acesso em: 30 de dezembro de 2006. 44

Tabela 2 - Folha Online: Qual é a melhor novela de 2006? (ranking)

"Belíssima" (Globo) 15% - 1.926 votos

"Rebelde" (SBT) 14% - 1.892 votos

"Cobras & Lagartos" (Globo) 14% - 1.825 votos

"Alma Gêmea" (Globo) 9% - 1.241 votos

"A Feia Mais Bela" (SBT) 9% - 1.212 votos

"Sinhá Moça" (Globo) 8% - 1.017 votos

"Páginas da Vida" (Globo) 7% - 987 votos

"Cidadão Brasileiro" (Record) 4% - 535 votos

"Prova de Amor" (Record) 4% - 489 votos

"América" (Globo) 4% - 484 votos

"Vidas Opostas" (Record) 3% - 348 votos

"Paixões Proibidas" (Bandeirantes) 2% - 284 votos

"Bicho do Mato" (Record) 1% - 173 votos

"Floribella" (Bandeirantes) 1% - 150 votos

"Bang Bang" (Globo) 1% - 145 votos

"Cristal" (SBT) 1% - 115 votos

"O Profeta" (Globo) 1% - 94 votos

"Alta Estação" (Record) 1% - 86 votos

"Pé na Jaca" (Globo) 1% - 84 votos

"Malhação" (Globo) 1% - 74 votos

"Mariana da Noite" (SBT) 0% - 61 votos

"Feridas de Amor" (SBT) 0% - 46 votos

Total 13.268 votos

45

1.3 - REBELDE NA ESCOLA

A revista Nova escola de maio de 200625 trouxe uma reportagem sobre a telenovela Rebelde e sua influência na escola, em que relatou os procedimentos pedagógicos e administrativos adotados por duas escolas, uma de São Paulo e outra do Rio de Janeiro, em relação ao impacto da telenovela no espaço escolar.

A referida reportagem ainda apresentava imagem com alunos da Escola Manoel Moratto, em São Paulo, vestidos como os ídolos da telenovela Rebelde. Nesta escola o uso do uniforme, obrigatório nos outros dias da semana, tornou-se opcional às sextas-feiras. Figura 11 - Alunos da Escola Manoel Moratto, vestidos como seus ídolos.26

Na escola em questão, segundo a professora da 4ª série Sueli Novais: “As crianças só querem saber de trocar figurinhas. Sem falar nos apelidos, que reproduzem na classe os personagens da novela.” Já na 6ª série, os reflexos da trama eram um pouco diferentes: “Os alunos, principalmente as meninas, querem substituir o uniforme escolar pelo que é utilizado na televisão”, dizia a diretora pedagógica Cristiane Semenssato. A solução encontrada pela escola para mediar a situação foi negociar os pedidos dos estudantes dentro de certos limites. Assim, decidiu-se que as figurinhas poderiam ser trocadas, mas só depois das atividades. E os uniformes foram liberados apenas às sextas-feiras, quando cada aluno poderia ir para a escola vestido como quisesse. Uma das alunas, de 12 anos, até pintou os cabelos para

25 MINAMI, Thiago. “A moda é ser ‘rebelde’”. Revista Nova Escola. Edição 192. São Paulo: Editora Abril, maio de 2006. Disponível em: . Acesso em: 10 de maio de 2006. 26 Foto: Ricardo Benichio. 46

ficar igual à Roberta, uma das protagonistas de Rebelde. “Eu gosto porque é uma novela jovem, que mostra as situações do dia-a-dia”, dizia a garota da 6ª série. No Rio de Janeiro, a Escola Municipal Dom Pedro I, para absorver, em parte, o impacto que a telenovela havia causado em seus alunos, criou uma ponte entre os interesses da turma e o conteúdo escolar. Dessa forma, segundo a professora da 6ª série Vânia Vieira Leite, as crianças passaram a se sentir mais atraídas pelas aulas de Espanhol, com o uso das músicas do grupo RBD para treinar pronúncia e vocabulário. Segundo a reportagem, além de negociar tempo e espaço para a diversão com a novela, seria interessante estimular a reflexão sobre este modismo. Heloísa Penteado, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, sugeria que vídeos curtos fossem apresentados aos alunos para que assistissem e comentassem. Maria Thereza Fraga Rocco, da mesma faculdade, afirmava que a reflexão deve partir também dos educadores: “Eles precisam refletir sobre a mídia e conhecer o que faz sucesso entre os estudantes para lidar com os modismos.”27 Em outra pesquisa, esta realizada na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Anézio Cabral, na cidade de Osasco - SP (2005-2006), pelos professores Marcos Neira e Mario Nunes, ambos da Faculdade de Educação da USP, uma das temáticas trabalhadas foi o tipo de dança divulgada pela telenovela Rebelde e pela banda RBD. A partir de informações que os jovens trouxeram, foi possível pensar a propósito da língua espanhola e dos povos que a falam, além de outros tipos de dança (ver tópico 1.5 - O Estado da Arte em Rebelde). No Rio de Janeiro, o Rio Mídia - Centro Internacional de Referência em Mídias para Crianças e Adolescentes, quis saber: Por que as crianças e os jovens gostam tanto de assistir à novela Rebelde, exibida pelo SBT? Qual a razão do sucesso? Assim, pediu a alunos da Escola Municipal , localizada no bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, que escrevessem suas justificativas. A proposta foi aceita sem maiores dificuldades. Grande parte dos alunos não pensou duas vezes. A seguir, podem-se conferir as opiniões de algumas estudantes.28

27 Cf.: EDUCAMÍDIA. Educação midiática, pesquisa e (in)formação. A moda é ser “rebelde”. Disponível em: . Acesso em: 25 de maio de 2006. 28 RIO MÍDIA. Centro Internacional de Referência em Mídias para Crianças e Adolescentes. Por que as crianças gostam da novela Rebelde? Disponível em: . Acesso em: 15 de junho de 2006. 47

Quadro 1 - Rio Mídia: Por que as crianças e os jovens gostam da novela Rebelde? "Nós amamos Rebelde porque a novela fala sobre a vida difícil dos adolescentes. Nem todos são totalmente bons ou totalmente ruins. A novela - com seus personagens super diferentes e rebeldes - nos ajuda a escolher, ter e aprimorar nossa identidade. Cada personagem que aparece com um estilo e um jeito de ser faz nos identificarmos com cada um dos atores. A história da novela acontece em uma escola, na qual o adolescente aprende a se defender sozinho. O que também nos chama a atenção é a banda Karina Tampasco, formada por três meninos e três meninas com personalidades fortes e 13 anos, e Mayara marcantes. Quem assiste à novela percebe que nós adolescentes Valentim, 12 anos. precisamos de atenção, embora muitas vezes mostremos que somos independentes. Precisamos de atenção para sentirmos que alguém se importa com a gente."

"Essa novela faz com que os telespectadores tenham uma visão diferente da vida. Ela nos faz entender que a vida é um mar de novas descobertas e que, a cada dia, aprendemos um pouco com elas. A novela fala sobre jovens ricos e pobres. Os ricos têm tudo o que querem e nem assim são felizes. A novela fala sobre os problemas que ocorrem nas famílias. Fala sobre amor, amizade Rayane Souza, e muita curtição. Fala de coisas que fazem parte do nosso dia-a-dia. Por 13 anos. esse motivo, acompanhamos a novela e nos identificamos tanto com ela. Ser rebelde não é só uma atitude, é uma decisão."

"Gosto da novela Rebelde porque ela mostra o dia-a-dia dos adolescentes. Ela fala também das dificuldades e dos dilemas que podem acontecer em

nossas vidas. Rebelde é uma novela muito legal e interessante." Eliza Silva, 12 anos.

"A novela fala de coisas que estão acontecendo na vida dos adolescentes. Fala de política, de música, de namoro e, principalmente, da escola. Rebelde mostra que todas as escolas têm sempre brigas, fofocas, intrigas, grandes inimigos e muitas amizades. Os personagens têm estilo e não copiam Pâmela Oliveira, ninguém. Muitas pessoas não gostam da novela, mas elas não sabem o que 12 anos, e Jhenifer estão perdendo." Santos, 14 anos.

"Gostamos porque a novela é muito interessante, pois mostra algumas coisas boas e outras ruins. Os personagens agem como se estivessem na vida real. Os alunos são bem abusados e ao mesmo tempo amigos. Alguns Hannah Mathias, 12 professores são legais e outros rígidos. Já os diretores, engraçados." anos, e Samara Alves, 12 anos.

Já no Amapá, na Escola Estadual Maria do Carmo dos Anjos, localizada no Bairro Jardim Felicidade II, a Supervisora da escola, Gláucia Martins, apresenta uma visão bastante negativa em relação à telenovela Rebelde, segundo a reportagem publicada pelo jornal Folha do Amapá. Ao falar sobre o problema que a escola vem enfrentando com o envolvimento de seus alunos com as drogas, acaba estabelecendo uma associação com a “má influência” da telenovela, sem buscar 48

compreender por que os alunos gostam da trama e o que os leva a agir e se vestir como os personagens. De acordo com a supervisora de ensino, os adolescentes, nesta fase da vida, buscam se espelhar em alguém. Ela explica que os alunos que consomem drogas, em sua maioria, vêm de famílias desestruturadas e convivem com brigas e agressões no ambiente onde moram, e argumenta que isso influencia no desenvolvimento do adolescente, que fica sem a referência familiar, restando à escola toda a responsabilidade de sua educação. Enfatiza que alguns programas de televisão estimulam os adolescentes a terem um mau comportamento. Afirma ainda que na escola só o que se vê são os alunos com o comportamento e o modo de vestir dos personagens da novela Rebelde, que julga não ser um programa educativo.29

1.4 - A REBELDIA QUE VENDE MAIS QUE IMAGINÁRIO...

Na telenovela Rebelde, além do consumo imaginário, o consumo de artefatos é enfatizado. Desse modo, o comércio oferece uma variedade de produtos relacionados à telenovela e à banda RBD, disputando acirradamente o público infanto-juvenil e os orçamentos domésticos.

Figura 12 - Mochila Figura 13 - Caderno Figura 14 - Canetas hidrocor da marca Rebelde. da marca Rebelde. da marca Rebelde.

29 BARROS, Letícia. “A invasão das drogas nas escolas”. Jornal do Amapá. Amapá, 26/05/2006. Disponível em: . Acesso em: 29 de maio de 2006. 49

Na linha escolar, há uma infinidade de produtos que utiliza a marca Rebelde/RBD, como os da empresa Caderbrás, que confecciona cadernos, agendas, blocos de anotações, organizadores de dados e pastas escolares; ou os da empresa Polibrás, que produz material escolar, portas-treco e portas CDs; já a empresa Pacific oferece mochilas, mochilas com rodinhas, lancheiras e estojos, entre outras empresas que disputam a atenção de crianças e jovens. Assim sendo, muitos destes objetos vão parar dentro da sala de aula. Por conseguinte, pode-se verificar que há uma preocupação, entre as crianças e jovens que são fãs da telenovela e da banda RBD, em adquirir esses e outros produtos da marca, o que se pode constatar, por exemplo, no site Yahoo!Respostas, mais especificamente nos diálogos que versam sobre o tema:30

Quadro 2 - Yahoo! Respostas: Diálogo entre internautas sobre onde encontrar produtos da marca Rebelde. lola Gente onde eu posso encontrar canetas, borrachas e lapis do rebelde? (dezembro de 2006) eu gostaria de comprar materiais escolares de rebelde alguem pode me dizer onde vende.Obrigada.

Vc poderia ir na 25 de março na estação da luz e poderá encontrar mais coisas sobre os rebeldes como roupas, sapatos, maquiagens, etc Rosinha logo que chegar na 25 de março procure pela loja armarinhos fernandes, não estou fazendo propaganda, apenas encontro tudo que quero lá e em grande quantidades. Já vi o que vc quer lá a roupas poderá ir na 2ª esquina perto de um viaduto e poderá encontrar muitas roupas dos rebeldes e sobre maquiagem e só entrar em qualquer loja que venda produtos para maquiagem que encontrará tudo que deseja boa sorte, espero ter ajudado divirta-se.

sunflower olha... como isso é moda, já q todo mundo fala desses rebeldes, acredito que em qqr papelaria vc ache com muita facilidade... mas dê uma olhada em alguns sites tipo lojas americanas, kalunga...

A revista eletrônica Capricho optou por oferecer vários serviços relacionados à novela Rebelde e ao RBD pelo celular, como ringtones31, informações sobre datas de shows, dicas de moda baseadas nos personagens da telenovela, testes para saber se o jovem é mesmo fã, notícias diárias sobre a banda RBD e turnês programadas para o Brasil, com tarifas que são cobradas de acordo com a

30 YAHOO!BRASIL-RESPOSTAS. Disponível em: . Acesso em: 10 de agosto de 2006. 31 Ringtones são tons ou músicas para baixar e personalizar o toque do celular. 50

operadora do celular. O custo das notícias, por exemplo, varia de R$ 0,08 a R$ 0,16 cada.32

Figura 15 - MP3 da Figura 16 - Celular Figura 17 - Celular Figura 18 - Máquina marca Rebelde. da marca Rebelde. da marca Rebelde. Fotográfica da marca Rebelde.

Conforme informações publicadas no site da Revista Espaço Brinquedo, o selo Rebelde, no Brasil, pertence à Redibra. Ainda segundo o site, os mais diversos setores estiveram a todo vapor na fabricação de produtos com a licença, afinal, estimava-se, no início do ano de 2006, que o licenciamento e a venda de produtos com a marca movimentariam mais de R$ 25 milhões no ano. O site também apresenta informações sobre o público-alvo da telenovela, indicando como seu público primário os adolescentes de 13 a 18 anos e como seu público secundário tanto as crianças e pré-adolescentes de 6 a 12 anos como os jovens adultos de 19 a 27 anos. A marca esteve vinculada a promoções de grandes anunciantes e a campanhas cooperadas junto ao varejo. Ademais, houve o lançamento das temporadas da novela em DVD, além de shows da banda RBD.33 Quando a questão se restringe ao marketing, o público secundário não é esquecido. O mercado infantil adquiriu autonomia quando as crianças deixaram de ser vistas como filhas de clientes para se tornarem clientes. A Acalanto, por exemplo, não perdeu a oportunidade de lançar três das mais queridas personagens da telenovela em forma de bonecas. Segundo a própria empresa, este trio não passa despercebido perante as meninas com idades entre 8 e 12 anos. Vestidas iguais às estrelas de Rebelde, as bonecas vêm com minissaia jeans, camisa branca, blazer vermelho e gravata, peças que marcam a ousadia das personagens. Com 57

32 CAPRICHO. Tudo de Rebelde. Disponível em: . Acesso em: 04 de setembro de 2006. 33 ESPAÇO BRINQUEDO. A rebeldia que vende! Disponível em: . Acesso em: 04 de setembro de 2006. 51

cm, corpo rígido e rosto de vinil, as bonecas têm cabelos com cores e cortes arrojados e vêm ainda com um card das meninas para guardar de recordação. O preço sugerido ao consumidor é de R$ 64,00.

Figura 19 - Boneca Roberta. Figura 20 - Boneca Mía. Figura 21 - Boneca Lupita.

Mas também há quem prefira os bonecos dos garotos de Rebelde (Diego, Miguel e Giovanni), e estes custam cerca de R$ 31,90 cada. Audir Queixa, superintendente comercial da empresa, afirma:

O que eu vejo é que a empresa, mais uma vez, desprezou comentários sobre a situação econômica do País e centrou esforços para desenvolver um produto que chamasse a atenção das crianças. Aliás, tenho como princípio ficar atento aos canais de TV que falam para a criança e temos colhido bons resultados investindo em protagonistas de novelas infantis. O momento de hoje está centrado em Rebelde.

Figura 22 - Boneco Diego. Figura 23 - Boneco Miguel. Figura 24 - Boneco Giovanni.

52

Todavia, somente as bonecas vestidas como as estrelas de Rebelde não satisfazem as fãs. Elas querem também ficar iguais a elas, ou será que o mercado é que cria esta pseudonecessidade? A esta questão, em certo sentido, aplicam-se as palavras de Marx: “A produção cria o consumidor... A produção produz não só um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto.” (apud MORIN, 2005e, p.45) No endereço eletrônico das Lojas Americanas é possível encontrar o “conjunto Rebelde”, com peças de roupa (uma saia, uma camisa e uma gravata) confeccionadas especialmente para as crianças, pelo preço de R$ 69,90. Estas roupas são demonstradas por crianças, que posam de manequins. Conforme se pode observar na imagem apresentada a seguir, são crianças maquiadas, penteadas e vestidas como as jovens protagonistas da telenovela Rebelde, deixando transparecer uma sexualidade precoce que é realmente perturbadora. A publicidade, nesta imagem, explora a vulnerabilidade natural das crianças, ou seja, o fato de elas desejarem ser como as mais velhas e de se espelharem nelas. (LINN, 2006, p.40-2)

Figura 25 - Conjunto de Roupas Rebelde.34

34 AMERICANAS.COM. Conjunto Rebelde - Multitoys. Disponível em: . Acesso em: : 04 de agosto de 2007. 53

Essa situação é preocupante, já que a temática da telenovela Rebelde é dirigida ao público jovem, mas acaba atraindo também as crianças, o que os profissionais de marketing das empresas que exploram a marca percebem e utilizam em suas estratégias. Segundo Susan Linn (2006, p.40-2), os publicitários entendem que crianças tendem a imitar outras crianças mais velhas. Um princípio básico em programas infantis de televisão e comerciais é empregar crianças um pouco mais velhas que aquelas que compõem seu público-alvo. Dessa forma, estariam ensinando valores e comportamentos e, ao mesmo tempo, vendendo produtos. Nas imagens apresentadas a seguir, pode-se observar o corpo fragmentado. E quais são as partes do corpo? Os olhos, a boca e o dorso. Em uma das imagens nem a cabeça aparece. Portanto, a imagem que a criança, a menina especialmente, recebe é a de um corpo fundamentalmente sexualizado. Por isso, não é uma surpresa encontrar meninas de dez anos vestidas como se tivessem vinte e movendo-se como mulheres, haja vista que idealizam como têm de ser com base nessas referências, que não se restringem aos personagens de Rebelde, contemplando ainda todo o imaginário com que os relacionam.

Figura 26 - O corpo Figura 27 - O corpo fragmentado: Mía. fragmentado: Miguel.

Figura 28 - O corpo Figura 29 - O corpo fragmentado: fragmentado: Miguel. Roberta e Diego.

54

Partindo-se da reflexão de Linn (2006), pode-se inferir que os jovens poderiam querer se afastar da telenovela Rebelde e da banda RBD ao perceberem que as crianças também são seus fãs, já que tal admiração pareceria coisa de criança. E provavelmente voltariam sua atenção para modelos ainda mais velhos, o que poderia favorecer comportamentos precoces. Talvez isso justifique, em parte, a situação observada durante a pesquisa de campo, em que muitos jovens, principalmente os garotos, tiveram grande dificuldade de assumir que assistiram à telenovela.

1.5 - O ESTADO DA ARTE EM REBELDE

Quanto ao estado da arte da telenovela, os estudos realizados durante o ano de 2006 ainda eram escassos no Brasil; somente no segundo semestre de 2007 foram apresentados trabalhos significativos acerca do tema. Como a telenovela Rebelde teve impacto mundial, podem-se encontrar estudos realizados em outros países, como Colômbia, México e Israel. Estes estudos abordam a telenovela principalmente sob a ótica da Comunicação e da Psicologia, tendo como temáticas o consumismo e as influências comportamentais. No Brasil, a Mídia Jovem, da Agência de Notícias dos Direitos da Infância - ANDI, realizou uma pesquisa com jovens de 14 a 18 anos, que foram convidados a assistir a alguns capítulos da telenovela Rebelde exibidos em março de 2006 e a tecer comentários, revelando suas impressões sobre os conteúdos apresentados.35 Segundo o texto introdutório da pesquisa, os personagens são cercados por um ambiente de glamour e de valorização do poder e do dinheiro. Ademais, os protagonistas têm como maiores preocupações a popularidade e o modo de se vestir, ou seja, adotam um estilo de vida comum aos jovens de classe alta, com uma supervalorização da imagem e dos bens materiais. A grande maioria dos personagens representa estereótipos do que é considerado belo e aceitável pela sociedade. Predominam na tela pessoas magras, brancas, com cabelos lisos e muito bem vestidas. Fazem festas e esbanjam dinheiro. Não há negros. A personagem Celina, que destoa dos demais por ser gorda, é muitas vezes ridicularizada e

35 Cf.: EDUCAMÍDIA. Educação midiática, pesquisa e (in)formação. Trama mexicana conquista adolescentes brasileiros. Disponível em: . Acesso em: 15 de junho de 2006. 55

demonstra constantemente sua baixa auto-estima. Rica, ela namora um garçom, mas mente para a família e os amigos dizendo que ele é dono do restaurante em que trabalha. No capítulo que no Brasil foi exibido em 6 de março, aparece na trama um homossexual. Com características afeminadas, também faz papel de ridículo. As situações de humor se atêm aos personagens que não se encaixam no padrão de beleza imposto pela novela. Seja um motorista que está acima do peso ou um professor idoso, as piadas geralmente estão ligadas a eles. A grande frustração dos personagens secundários é não serem tão belos, famosos e descolados quanto os personagens principais. Por se sentir excluída numa festa, a personagem Pilar, por exemplo, sacou um rifle para atirar na caixa de som e acabar com a diversão. O relacionamento entre os jovens e seus pais é marcado pela rivalidade. Não há demonstração de respeito, e sim uma rebeldia, muitas vezes sem motivo. Embora a história se desenvolva numa escola, raramente os personagens aparecem empenhados em estudar. Eles se interessam mais por festas e shows promovidos pela banda RBD e por atividades fúteis, como fazer dois professores se apaixonarem. De acordo com a pesquisa, não há coerência entre as atitudes dos personagens e a rebeldia sugerida pelo nome da novela. As manifestações de revolta aparecem num cabelo espetado, com gel e cores exóticas, ou pelo uso do uniforme escolar de maneira despojada. Parecem mais “rebeldes sem causa”. Todas as meninas usam cabelos escovados e muito bem penteados. É nítida a exploração do corpo feminino. Minissaias extremamente curtas e blusas decotadas compõem o vestuário das garotas. As gravatas, tanto das meninas quanto dos meninos, são usadas de maneira desalinhada. Essa composição do visual é bastante atrativa para o público jovem. A estética acaba como um dos pontos mais importantes da novela. Além de reforçar a idéia de que a felicidade está atrelada a um visual bem produzido – com ares de rebeldia – e ao dinheiro, a novela estimula o consumo de pôsteres, revistas e camisetas dos ídolos musicais da banda, alimentando um fanatismo que pode aparecer na adolescência.

56

A revista Nova Escola de maio de 2006 publicou uma reportagem intitulada “A moda é ser ‘rebelde’”, que discute como utilizar o modismo em favor da educação.36 Segundo a revista, a novela mexicana e o grupo de jovens que formam a banda RBD são as mais novas manias entre crianças e adolescentes. Assim, defende que os professores podem lidar de modo proveitoso com essas manias periódicas, usando-as na escola para provocar boas discussões. Professores e diretores de escolas relatam a influência da novela em sala de aula e a necessidade de se negociar com os alunos. Ainda no Brasil, os professores Neira e Nunes (2006), da Faculdade de Educação da USP, realizaram uma pesquisa-ação crítico-colaborativa intitulada “A crítica da cultura do corpo”, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Anézio Cabral, na cidade de Osasco, com o objetivo de fomentar uma ação educativa mais reflexiva acerca dos novos rumos da educação física no currículo da escola. Segundo os autores, as práticas corporais que estão presentes no currículo atual são elitistas:

São produtos culturais hegemônicos de determinados grupos que se apresentam na escola. Isso leva os jovens portadores de outros saberes da cultura corporal, com outras formas de jogar, dançar e brincar, a não se identificarem e se sentirem excluídos do universo escolar, com dificuldades de adaptação e assimilação do saber imposto. (NEIRA, NUNES, 2006, p.14)

Dessa forma, uma das temáticas trabalhadas nesta escola foi o tipo de dança conhecido pelos jovens. A maioria, segundo os pesquisadores, citou a novela “Rebelde”, do SBT, e a banda RBD, por ter um impacto muito grande entre os jovens.

A ação na escola se deu a partir de um DVD do grupo musical da novela, levado pelos alunos, cantado em espanhol e português. Fizemos uma reflexão sobre a língua, de onde vem o espanhol, quem são os povos que falam, que tipo de dança é aquela. Também pedimos que tragam contribuições de danças conhecidas por eles e não somente do referencial da mídia. (NEIRA, NUNES, 2006, p.14)

36 MINAMI, Thiago. “A moda é ser ‘rebelde’”. Revista Nova Escola. Edição 192. São Paulo: Editora Abril, maio de 2006. Disponível em: . Acesso em: 10 de maio de 2006. 57

Em 2007 surgiram trabalhos significativos no Brasil, como o desenvolvido pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP) e apresentado no XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado em Santos, no período de 29 de agosto a 2 de setembro de 2007. O Programa de Mestrado da ESPM em Comunicação e Práticas de Consumo formulou um projeto coletivo, do qual participaram professores-doutores com a colaboração de mestrandos, tomando por objeto a novela Rebelde, não apenas pelo seu êxito, mas, sobretudo, pelo que ela significa enquanto avanço nas estratégias de consumo, simbólico e material. A ESPM-SP apresentou duas mesas. A primeira – “Rebelde-RBD: narrativas amorosas, publicidade e poder” –, coordenada por Clóvis de Barros Filho, contou com as seguintes pesquisas: “Narrativas amorosas nas composições musicais da banda RBD” (de Hoff e Kersul); “Rebelde: estratégia de rizoma e tática de árvore” (de Carrascoza e Furtado), que discutiu qual traço cultural poderia estar presente nas relações entre os procedimentos de construção de Rebelde e os da publicidade; e “Da escola à mídia: breve discussão sobre os novos dispositivos de poder na contemporaneidade” (de Lucas e Cury), que debateu as linhas de força e de fratura nos dispositivos de poder da contemporaneidade, tanto no que se refere ao consumo cultural quanto no que diz respeito à escola e à mídia.37 Por sua vez, a segunda mesa – “Rebelde-RBD: consumo e identidade entre os jovens” –, coordenada por Maria Aparecida Baccega, contou com as seguintes pesquisas: “Rebelde-RBD e os jovens: constituição de identidade e consumo” (de Baccega e Budag); “Consumo rebelde: a construção do desejo e a formação da identidade de jovens telespectadores” (de Bredarioli e Oliveira), cuja preocupação era o consumo e a identidade entre crianças e jovens; “Midiaticamente admiráveis: meninos, meninas, o gozo de ser visto e de ser gostado” (de Rocha e Avanzi), que apresentava as bases estésicas e estéticas, sobretudo na articulação entre imagem do jovem e imaginário juvenil em Rebelde; e “RBD: música, telenovela e mercantilização” (de Castro e Bento), em que foram verificadas as relações que se evidenciam entre a banda RBD, fulcral na novela, e os novos procedimentos de

37 Cf.: INTERCOM. Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Anais Intercom 2007 – XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Santos, 29 de agosto a 2 de dezembro de 2007. Disponível em: . Acesso em: 23 de dezembro de 2007. 58

criação de ídolos musicais associados à mídia, característicos da contemporaneidade.38 No mesmo XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, um outro trabalho, da Universidade de , foi apresentado no III Intercom Júnior - Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, intitulado “Eu sou Rebelde porque a Mídia quis assim?”, de Carvalho e Guedes (2007), propondo analisar em que parâmetros o conteúdo apresentado pela telenovela Rebelde serve de modelo de conduta para seu público, levando em consideração, para tal, conceitos como os de infância, adolescência, representação social, identidade e projeção. Embora a análise tenha se detido à influência e à formação da identidade da criança e do adolescente, o grupo focal foi integrado apenas por oito meninas com idades entre 6 e 9 anos. No México, Guillermo Orozco Gómez (2006), da Universidade de Guadalajara, publicou um ensaio intitulado “La Telenovela en México: De una expresión cultural a un simple producto para la mercadotecnia?”39. O autor enfatiza algumas das principais mudanças que a ficção televisiva vem sofrendo, desde as suas origens, marcada fortemente pela cultura e pelos modelos de comportamento característicos de seu lugar e época. Faz referência à telenovela Rebelde, analisando as transformações formais, estéticas e narrativas que suscita e toda a sua estratégia de mercado. Dessa forma, expõe argumentos que, segundo o autor, ajudam a explicar esse fenômeno emergente pelo qual a telenovela passa a “não ser vista”, mas simplesmente consumida, “comprada”, como um modelo de negócios em si mesma. Ainda no México, Mariana González (2006) publicou uma reportagem, em 13 de fevereiro de 2006, no jornal Sociedad, intitulada “Consumir la rebeldia”40. Nesta reportagem, González diz que a telenovela Rebelde vem mudando a maneira de produzir telenovelas, ou seja, se tornou um produto para vender e exportar, sem perder sua marca de identificação, o que tem gerado uma maior penetração e identificação entre sua audiência, que abrange todas as camadas sociais e envolve

38 INTERCOM. Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Anais Intercom 2007 – XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Santos, 29 de agosto a 2 de dezembro de 2007. Disponível em: . Acesso em: 23 de dezembro de 2007. 39 “A telenovela no México: De uma expressão cultural a um simples produto de marketing?“ – Tradução livre da autora. 40 “Consumir a rebeldia” – Tradução livre da autora. 59

todas as idades, em diferentes países. Apresenta um novo conceito em que o público vê, desfruta e experimenta a necessidade de consumir. Rebelde está baseada em um gênero da ficção como qualquer telenovela, no entanto incorpora a realidade, pois há elementos que sucedem de maneira paralela com a vida real, como as apresentações do grupo RBD, que tem como integrantes os mesmos atores. Em um dos capítulos da telenovela, os protagonistas até conseguiram angariar fundos para os desabrigados de Cancun e Chiapas. Na Colômbia, o professor Raúl Piamonte Peña (2005), analista de mídias e co-fundador do Grupo acadêmico ALFAVISUAL, está realizando uma pesquisa nas escolas de Bogotá, cujo título é “Rebeldes con Cau$a: Un estudio del impacto en las audiencias infantiles de la telenovela Rebelde”41. As conclusões preliminares a que chegou são que esta telenovela pretende mostrar uma juventude, um colégio e uma sociedade baseando-se em uma premissa equivocada, pois não reflete a realidade da juventude colombiana, tampouco a dos jovens mexicanos. Os jovens colombianos que estão na guerra, em situação de desemprego, que vêem violentados seus direitos, que são marginalizados, não estão presentes na telenovela. O autor convida os pais que têm dúvidas acerca da bondade ou das intenções moralistas da telenovela a entrarem no site de Rebelde () e encontrarem a verdadeira causa de toda a rebeldia do grupo, que, de acordo com o autor, é o dinheiro. Tese confirmada com a declaração de Pedro Damián, produtor da serie Rebelde, à Excelsior da Cidade do México, em que revelou que Rebelde é um produto de mercado e está formatado para aumentar o ingresso de todos os empreendimentos do negócio. Peña ressalta que discorda da emissora RCN, que, mesmo exibindo no horário da tarde uma telenovela como Rebelde, difunde que tem conteúdos em prol dos valores. O autor relata ainda que psicólogos têm avaliado o conteúdo da telenovela como impróprio para a formação ética de jovens. Dada a evidência dos estudos de percepção e formação em modelos afetivos, acredita que as meninas, público principal da telenovela, estão precocemente obtendo uma informação e uma formação incidental em sexualidade, afetividade e formas de relacionar-se entre elas e com os professores.

41 “Rebeldes com Cau$a: Um estudo do impacto da telenovela Rebelde no público infantil” – Tradução livre da autora. 60

E em Israel, Yariv Tsfati, Rivka Ribak e Jonathan Cohen (2005), do Departamento de Comunicação da Universidade de Haifa, realizaram um estudo intitulado “Rebelde Way42 in Israel: Parental Perceptions of Television Influence and Monitoring of Children's Social and Media Activities”43. Este estudo examinou as percepções dos pais sobre a influência da telenovela em seus próprios filhos e em outros jovens, utilizando a concepção do efeito da terceira pessoa, isto é, quando se acredita que as influências afetam os outros mais do que a nós mesmos. Os dados demonstraram que a maior parte dos pais percebeu um impacto maior da telenovela em outras crianças do que em seus próprios filhos. Estes pais, preocupados com a influência da telenovela sobre outras crianças, tenderam a supervisionar e examinar as amizades de seus filhos. Em contrapartida, os pais que perceberam que a telenovela teve influência em seus próprios filhos passaram a monitorar o que estes viam na TV.

42 Way é uma gíria espanhola que significa “amigo”. (HOUCH, 2006, p.43) 43 “Rebelde Way em Israel: Percepções dos pais sobre a influência televisiva e monitoramento das atividades midiáticas e sociais das crianças” – Tradução livre da autora. 61

CAPÍTULO 2 - VISÕES REFLETIDAS: DA NOVELA À ESCOLA

Tendo como referência o pensamento de Edgar Morin, o objetivo deste capítulo é apresentar alguns princípios do Pensamento Complexo e as categorias teóricas utilizadas na análise desta pesquisa: cultura de massas e complexos imaginários de projeção-identificação. Busca-se, ainda, considerar o ser humano na concepção de Morin, ou seja, o aluno visto como sujeito complexo que está inserido em um ambiente também complexo, que é a escola. A fim de esclarecer ou corroborar alguns conceitos, em alguns momentos são citados os relatos dos jovens participantes da pesquisa de campo, que será abordada no próximo capítulo.

2.1 - EDUCAÇÃO E COMPLEXIDADE

A complexidade não é um conceito teórico e sim um fato da vida. (MARIOTTI, 2002, p.87)

O Pensamento Complexo, proposto pelo pensador francês Edgar Morin44, é o foco deste capítulo por permitir analisar tanto os fatores envolvidos neste estudo quanto as suas relações intrínsecas com o meio em que se projetam. Mas o que é complexidade? A palavra “complexidade”, do ponto de vista etimológico, tem origem no latim e provém de complectere, cuja raiz plectere significa trançar, enlaçar. O prefixo “com” acrescenta o sentido da coexistência de dois elementos opostos que se enlaçam intimamente, mas sem anular sua dualidade. Em francês, a palavra “complexo”, surgida no século XVI, vem do latim complexus, que significa “que abraça”. (MORIN, 2003, p.43) Assim, sob a ótica da complexidade, o objeto de estudo é visto na inseparabilidade de seus constituintes. Nesse sentido, na educação, o conhecimento sistematizado e o conhecimento de vida, considerados indissociáveis, na perspectiva do Pensamento

44 Filho de espanhóis judeus, Morin nasceu em Paris, França, em 8 de julho de 1921. Estudou na Universidade de Sorbonne, onde cursou simultaneamente Direito, História e Geografia e ainda freqüentou aulas de Ciências Políticas, Sociologia e Filosofia. Foi Combatente voluntário da Resistência Francesa (1942), Tenente das Forças Francesas (1942-1944), Representante do Estado Maior do Primeiro Exército Francês na Alemanha (1945), Chefe da Assessoria de Comunicação e Imprensa do Governo Militar Francês (1946), jornalista e redator (1947-1950) e Pesquisador do Centre Nationale de Recherche Scientifique (1951-1989). Em 1961 tornou-se Mestre de Pesquisa e em 1970 Doutor de Pesquisa (para mais detalhes sobre a biografia e as obras do autor, vale consultar PETRAGLIA, 1995). 62

Complexo, devem ser vistos não mais como unidades isoladas, mas como faces inseparadas, sendo estas exemplificadas em aulas em que se considere a relação cultural que o aluno traz consigo. Propõe-se, então, o ponto de vista da complexidade, que, frente a dois termos antagônicos, enfrenta a contradição entre eles, associando-os e procurando o metaponto de vista que os abarca.

Uma tal junção de noções até agora separadas nos aproxima do próprio núcleo principal da complexidade que está não somente na ligação do separado/isolado, mas na associação do que era considerado como antagônico. A complexidade corresponde, neste sentido, à irrupção dos antagonismos no coração dos fenômenos organizados, à irrupção dos paradoxos ou contradições no coração da teoria. O problema do Pensamento Complexo é desde já pensar junto sem incoerência, suas idéias contrárias. Isso só é possível se encontrarmos: a) o metaponto de vista que relativiza a contradição; b) a inscrição em um circuito que torna produtiva a associação das noções antagônicas tornadas complementares. (MORIN, 2005g, p.458)

O ponto de vista da complexidade nos convida, então, a associar o conhecimento que se pratica na escola e o conhecimento de vida do aluno e a fazer dos seus possíveis antagonismos não um obstáculo, mas um desafio, expresso na possibilidade de, enxergando-os, deixar irromperem-se para serem pensados juntos. Isso só é possível, segundo apresenta Morin no texto acima exposto, se procurarmos alcançar o metaponto de vista capaz de relativizar suas contradições, tomando-as como complementares. A simplificação, por exemplo, veria ou somente o ponto de vista do conhecimento oficial escolar, ou somente o ponto de vista do contexto do aluno. Já a complexidade procuraria um ponto de vista que os contemplaria e os integraria em uma totalidade, reconhecendo suas correlações. Portanto, o termo “educação” será tomado, nesta dissertação, no seu sentido de totalidade resultante da tecedura dos antagonismos que, por um lado, distinguem, opõem e separam, mas, por outro, associam, unem e religam, indissociavelmente, o conhecimento sistematizado e o conhecimento de vida. A educação, desse modo, é uma emergência45 tecida pelas inter-relações complexas

45 Emergência refere-se “às propriedades ou qualidades oriundas da organização de elementos ou componentes diversos associados num todo, que não podem ser deduzidos a partir das qualidades 63

entre os conhecimentos. É, então, uma unitas multiplex (MORIN, 2005c, p.62-4, 308), ou seja, uma unidade complexa que, vista como totalidade, é uma unidade e, examinada na sua intimidade, é múltipla, pois contém ambos os conhecimentos, entrelaçados, tecidos juntos. Assim, deve-se conceber uma unidade que garanta e favoreça a diversidade, uma diversidade inscrita na unidade. Como modo de pensar, a complexidade se cria e se recria no próprio caminhar. É um pensamento que abrange o princípio dialógico, o princípio recursivo e o princípio hologramático como seus preceitos mais pertinentes, complementares e interdependentes. Reconhece a incompletude e a incerteza, porque é um pensamento articulante e multidimensional. O princípio dialógico (MORIN, 2005a, p.95-9; 2005h, p.110-2; 2006, p.73-4; MARIOTTI, 2002, p.95-96) une duas lógicas que tendem a excluir-se reciprocamente, mas são indissociáveis em uma mesma realidade. Neste estudo, uma se refere ao conhecimento sistematizado – ou seja, aquele que ocorre nas práticas da sala de aula ou dos espaços oficiais de ensino, com conteúdos previamente demarcados –, que pressupõe ambientes normatizados e é transmitido de acordo com a idade/classe do educando, com regras e padrões comportamentais definidos previamente, constituindo os saberes formais; e a outra ao conhecimento de vida – ou seja, aquele que ocorre de forma espontânea nas relações de convívio ou nas experiências com produtos culturais –, que socializa os indivíduos, desenvolve hábitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de expressar e atua no campo das emoções e dos sentimentos, campo este em que as relações sociais se desenvolvem segundo preferências ou pertencimentos herdados, constituindo os saberes informais. (GOHN, 2006) Estes dois conhecimentos, apesar de distintos, são necessários um ao outro. O conhecimento sistematizado não exclui o conhecimento de vida; estes são antagônicos e complementares. Contudo, na educação ocorre a compartimentação do saber e a separação dos conhecimentos sistematizado e de vida, como se não fosse possível uma convivência ou interação entre eles. Estes conhecimentos, quando complementares, se alimentam e se beneficiam um do outro, e esse elo pode favorecer uma apropriação do conhecimento de maneira mais viva, dinâmica e atenta aos interesses dos alunos e do mundo contemporâneo. ou propriedades dos componentes isolados, e irredutíveis aos seus elementos”. (MORIN, 2005d, p.206-7) 64

O princípio recursivo (MORIN, 2005a, p.95; 2005b, p.102; 2005h, p.112-3; 2006, p.74-5), por sua vez, considera que os produtos e os efeitos são ao mesmo tempo os produtores e causadores daquilo que os produz. Aplicando-se tal princípio ao objeto de investigação desta dissertação, verifica-se que a telenovela Rebelde é produzida a partir da cultura juvenil, mas, uma vez exibida, retroage sobre a cultura juvenil e a produz. E, simultaneamente, a cultura juvenil serve de alimento para a trama da telenovela, uma vez que esta se modifica de acordo com a audiência, as pesquisas de opinião e, quando há ações de merchandising46, os produtos relacionados às personagens e/ou atores. A cultura juvenil, por seu turno, é alimentada pela telenovela, o que se constata levando-se em conta o mimetismo, o consumo imaginário e o de produtos a ela relacionados. O princípio recursivo é, portanto, uma noção em ruptura com a idéia linear de causa/efeito, de produto/produtor, de estrutura/superestrutura, já que tudo que é produzido volta-se sobre o que o produz, num ciclo autoconstitutivo, auto-organizador e autoprodutor. Para que estes conceitos de “idéia linear”, “pensamento complexo” e “princípio recursivo” sejam melhor compreendidos, vale citar o caso de uma jovem, verificado durante a pesquisa de campo realizada para este estudo, que teve seu rendimento escolar e profissional prejudicado devido à sua fascinação pela telenovela Rebelde e pelo grupo RBD. Segundo seu relato, chegava até a faltar às aulas do período noturno para acompanhar os desfechos e peripécias de seus personagens preferidos, brigava com seus familiares para poder assistir à telenovela e quase foi despedida por querer ouvir a música da banda RBD no local de trabalho.

Relato 1 - Fascinação pela telenovela: escola e trabalho prejudicados.47 *Lene* (17 anos, 3º ano) – Eu gostava tanto de Rebelde, que cabulava aula para assistir a novela, quando eu perdia um capítulo eu perguntava para a minha irmã o que aconteceu. Quando criticavam a novela eu não gostava e até brigava pela novela. Eu amo os Rebeldes. Quando os meus pais não deixava eu e minhas irmãs assistir, nós brigava para eles deixar nós assistir nós até chorava. Quando as pessoas da escola falava que odiava os Rebeldes, nós amigas cantávamos e atormentávamos as pessoas na sala de aula. Eu gostava tanto da novela que toda vez que a mia ou a Roberta chorava, eu chorava junto com elas, principalmente quando a mia chorava. Uma vez eu briguei no meu serviço pelos rebeldes quase fui despedida do serviço, só porque eu queria ouvir a música dos Rebeldes. foi mó barraco.

46 “Designação corrente da propaganda não declarada feita através da menção ou aparição de um produto, serviço ou marca durante um programa de televisão ou de rádio, filme, espetáculo teatral etc.” (FERREIRA, 2004) 47 Os relatos dos alunos foram transcritos respeitando suas escritas. 65

Em uma situação como esta, é natural pensar: se a televisão é prejudicial ao desenvolvimento desta jovem, a melhor atitude a se tomar é desligar a televisão. Esta orientação se dá pelo pensamento linear de causa e efeito. Supõe-se que a ação de desligar a televisão, impedindo que sua programação seja assistida, resultará na eliminação ou redução acentuada da suposta influência negativa. Ou seja, presume-se que quanto menos a jovem assistir à telenovela, menor será a influência desta sobre ela. Entretanto, este pensamento linear não leva em conta a complexidade, pois tanto o acesso à mídia televisiva como as informações sobre os conteúdos veiculados por ela estarão presentes no cotidiano desta jovem. Na casa de amigos ou mesmo na sua casa, sem a presença de adultos, a jovem estará livre para zapear (percorrer, com a ajuda do controle remoto, todos os canais em operação) e ver o conteúdo que desejar. Assim, o problema inicial se agrava, já que não existe um diálogo familiar, tampouco um diálogo com os professores sobre os conteúdos veiculados. Além disso, uma atitude unilateral, sem incluir e respeitar o que a jovem pensa a respeito da televisão e sua programação, gerará confrontos, com resultados decepcionantes. Nesse exemplo, se do ponto de vista linear o entendimento era quanto menos televisão menos influência, do ângulo da complexidade percebe-se que quanto mais soluções lineares mais problemas complexos podem surgir. O Pensamento Complexo incluiria providências múltiplas, como não eliminar a televisão e, por extensão, a telenovela preferida da jovem, mas entender por que a trama chama tanto a sua atenção e, a partir deste entendimento, dialogar sobre o seu conteúdo e as atitudes que desencadeia. Simultaneamente, poder-se-iam criar atividades alternativas que avivassem os encantos da convivência, pensar a respeito da quantidade de horas que se passa em frente à televisão e propiciar o entendimento de que o conteúdo televisivo deve ser escolhido, e não zapeado48. A partir do momento em que se dialoga sobre o conteúdo da televisão e o tempo excessivo que é dedicado a ela, apresentando alternativas de uma vida fora da tela, o telespectador se torna mais seletivo, e essa seletividade contribui também para a melhoria da qualidade da programação televisiva, devido ao princípio da

48 Aqui se entende “zapear” como uma prática comum em uma televisão com programação de baixa qualidade, à qual as pessoas acabam se submetendo muitas vezes simplesmente pelo hábito de estar em frente à televisão ou com ela sempre ligada. 66

recursividade. De acordo com este princípio, o jovem, ao mesmo tempo em que é produto, é também produtor do meio. Ou seja, da mesma forma que transforma e influencia o meio, este também produz uma influência permanente sobre ele. Esta relação de interinfluência está constantemente se retroalimentando de si mesma. Roxana Morduchowicz (2004, p.92) nos lembra: “Es más fácil prohibir ver que permitir pensar.” Quando se busca controlar as imagens, neste caso as da televisão, na realidade se quer assegurar o silêncio do pensamento. E quando o pensamento perde seus direitos, acusa-se a imagem. Culpar as imagens é evitar abordar a complexidade do tema. (MORDUCHOWICZ, 2004, p.87, 93) Por fim, o princípio hologramático (MORIN, 2005a, p.94; 2005b, p.101; 2005h, p.113-20; 2006, p.74-5) vai além do reducionismo, que só vê as partes, e do holismo, que só vê o todo. Entende que não apenas a parte está no todo, mas o todo está na parte. Dessa forma, o indivíduo na sua singularidade representa o todo de sua cultura, e a cultura como um todo é representada pela singularidade de seus indivíduos; assim, o indivíduo é um microcosmo de sua cultura e a leva consigo para onde quer que vá. Diante disto, verifica-se, com base em tal princípio, que a escola não pode desconsiderar a cultura juvenil, e esta não pode desconsiderar a cultura escolar, já que ambas estão presentes no aluno. Partindo-se desse pressuposto, pode-se enriquecer o conhecimento das partes pelo todo e do todo pelas partes, num mesmo movimento produtor de conhecimentos. Portanto, a idéia hologramática está ligada à idéia recursiva, que, por sua vez, está ligada à idéia dialógica.

2.2 - O SER HUMANO

Nas obras “O método 5: a humanidade da humanidade” (2005c, p.75-81), “O método 3: o conhecimento do conhecimento” (2005h, p.158-9), “Os sete saberes necessários à educação” (2000, p.47-58), “Ciência com consciência” (1999a, p.323) e “A cabeça bem-feita” (2005a, p.40-2, 57), Morin apresenta as condições em que a identidade humana é construída, elucidando a idéia de integralidade, que postula a superação da visão unilateral a partir do reconhecimento dos elementos antagonistas e complementares existentes no ser humano, fundamentais para a reflexão pedagógica. Segundo Morin, o ser humano é um ser a um só tempo plenamente biológico e plenamente cultural, pois traz em si a unidualidade originária. Não há cultura sem 67

cérebro humano, como também não há mente, isto é, capacidade de consciência e pensamento, sem cultura. Há, desse modo, uma tríade em circuito entre cérebro, mente e cultura, sendo cada um desses elementos necessário ao outro. O ser humano também possui três naturezas indissociáveis: indivíduo, sociedade e espécie. São a cultura e a sociedade que garantem a realização dos indivíduos, e são as interações entre indivíduos que permitem a perpetuação da cultura e a auto-organização da sociedade. Assim, ao mesmo tempo em que o homem é singular, com características únicas e constituição físico-química exclusiva, é também múltiplo do ponto de vista das características do meio social em que está inserido. A complexidade humana não poderia ser compreendida dissociada dos elementos que a constituem, pois todo desenvolvimento humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana. Uma qualidade essencial do ser humano é a possibilidade de auto- objetivação. O Ego é uma objetivação do Eu para si mesmo que permite ao Eu “refletir-se” e reconhecer-se objetivamente. Foi a partir dessa aptidão que o indivíduo tomou consciência de si, objetivando-se no seu “duplo”, pois o espírito humano pôde se auto-examinar, praticar a introspecção, a auto-análise, o diálogo consigo mesmo. A construção da autonomia no sujeito implica organização da dependência, haja vista que o ser humano depende de um cérebro, de uma herança genética, de uma linguagem, de uma cultura, de uma sociedade e de uma educação para que possa escolher a maneira de manter-se autônomo. Portanto, busca sua própria identidade numa relação de dependência com o meio social em que vive, e assim torna-se sujeito, ou seja, tem uma autonomia que é dependente, sendo isto um aspecto da complexidade humana. Ser sujeito demanda situar-se no centro do mundo para conhecer e agir, e comporta um princípio de exclusão, tendo em vista que nenhum outro indivíduo pode dizer Eu em lugar de outrem, e um de inclusão, já que ao dizer Nós o indivíduo inclui-se numa comunidade. O sujeito sofre pressão de duas forças contraditórias, uma emanada de seu egoísmo e a outra do seu altruísmo. Na relação com o outro, ao qual é, concomitantemente, semelhante, pelos traços humanos ou culturais comuns, e dessemelhante, pela singularidade individual ou pelas diferenças étnicas, o fechamento egocêntrico torna o outro estranho, enquanto a abertura altruísta o torna simpático. Assim, o sujeito é, por natureza, aberto e fechado. Quando o sujeito 68

abre o seu Nós para o outro, os semelhantes, a vida e o mundo, torna-se rico em humanidade. O sujeito não está sozinho, pois o Outro e o Nós estão nele. A compreensão permite reconhecer ou sentir o que sente o outro (alteridade) e, sendo assim, é um modo fundamental de conhecimento do ser humano. Dessa maneira, um ser percebido como indivíduo-sujeito comporta a distinção entre o Eu e o Tu em conjunção, ou seja, “eu me torno tu permanecendo eu”, o que ocorre em um ciclo de projeção ↔ identificação, ciclo este em que compreendemos o que sente o outro pela conjeturação do que nós mesmos sentiríamos em semelhante circunstância e pelo retorno da identificação sobre si do sentimento projetado no outro. (MORIN, 2005h, p.158-9) O complexo projeção-identificação será retomado e aprofundado neste estudo mais adiante (ver item 2.4 - “Complexos Imaginários”). Caberia à educação estar atenta para que a idéia de unidade da espécie humana não apague a idéia de diversidade e para que a de diversidade não apague a de unidade. Compreender o homem é compreender este princípio de unidade/diversidade em todas as esferas. Na esfera individual, existe unidade/diversidade genética, cerebral, mental, psicológica, afetiva, intelectual, subjetiva, já que todo ser humano carrega elementos fundamentalmente comuns e que, ao mesmo tempo, representam as suas singularidades. Já na esfera da sociedade, existe a unidade/diversidade das línguas, das organizações sociais e das culturas. A cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, idéias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social. Não há sociedade humana desprovida de cultura, mas cada cultura é singular. Assim, sempre existe a cultura nas culturas, mas a cultura existe apenas por meio das culturas. As culturas são aparentemente fechadas em si mesmas para salvaguardar sua identidade singular. Contudo, também são abertas, já que integram não somente saberes e técnicas, mas também idéias, costumes, alimentos, indivíduos vindos de fora. As assimilações de uma cultura por outra são enriquecedoras. Ao contrário, a hegemonia, ou seja, a desintegração de uma cultura sob o efeito destruidor da dominação, é uma perda para toda a humanidade. Há no ser humano um formidável potencial de racionalidade e de desenvolvimento técnico, que se atualizaram ao longo da história, tornando tal 69

potencial mais acelerado e amplificado nestes últimos séculos. Ademais, tão importantes para a humanidade quanto a técnica são a criação e a multiplicação de um universo imaginário, aquele dos mitos, crenças, religiões. O mito, inflamado pelo mistério da existência e da morte, nasce de alguma coisa muito profunda no espírito humano. Como visto, o ser humano traz em si elementos ao mesmo tempo antagonistas e complementares, e por isso Morin o define como Homo Complexus:

O ser humano é um ser racional e irracional, capaz de medida e desmedida; sujeito de afetividade intensa e instável. Sorri, ri, chora, mas sabe também conhecer com objetividade; é sério e calculista, mas também ansioso, angustiado, gozador, ébrio, extático; é um ser de violência e de ternura, de amor e de ódio; é um ser invadido pelo imaginário e pode reconhecer o real, que é consciente da morte, mas que não pode crer nela; que secreta o mito e a magia, mas também a ciência e a filosofia; que é possuído pelos deuses e pelas Idéias, mas que duvida dos deuses e critica as Idéias; nutre-se dos conhecimentos comprovados, mas também de ilusões e de quimeras. E quando, na ruptura de controles racionais, culturais, materiais, há confusão entre o objetivo e o subjetivo, entre o real e o imaginário, quando há hegemonia de ilusões, excesso desencadeado, então o Homo demens submete o Homo sapiens e subordina a inteligência racional a serviço de seus monstros. (MORIN, 2000, p.59-60)

No atual sistema educacional, as estruturas curriculares e suas divisões em áreas e disciplinas têm promovido a fragmentação do conhecimento, desintegrando o processo educativo e a própria visão acerca do ser humano e de suas aptidões, o que freqüentemente impede o vínculo entre as partes e a totalidade. Pelo exposto, a educação necessitaria repensar a visão unilateral cartesiana a partir da qual concebe o aluno, visão esta que define o ser humano pela racionalidade, pela técnica, pelas atividades utilitárias, pelas necessidades obrigatórias, negligenciando suas outras dimensões. Os princípios de redução e separação impedem que se pense o ser humano pleno, ou seja, simultaneamente físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Quanto a isso, Morin (2000, p.59) lembra que o desenvolvimento do conhecimento racional-empírico-técnico no ser humano nunca invalidou o seu conhecimento simbólico, mítico, mágico ou poético. Apresentados os princípios do Pensamento Complexo mais pertinentes para esta pesquisa, além de reflexões acerca do ser humano, pode-se agora, por meio 70

dos mecanismos de projeção-identificação, buscar uma melhor compreensão do fenômeno da cultura de massas e suas implicações no cotidiano escolar.

2.3 - CULTURAS

As sociedades contemporâneas são policulturais e comportam, entre outras, a cultura humanista, a cultura científica e a cultura de massas. Entretanto, estas três culturas, antagônicas, mas em estado de coexistência, apresentam conexões muito fracas entre si. Dessa forma, Morin (2005b, p.82-91; 1984, p.263-5, 293) apresenta sua análise compreendendo os problemas decorrentes da separação, da diferenciação e da oposição entre elas. A cultura científica e a cultura humanista emergiram no Renascimento, obedecendo à mesma regra fundamental de troca de argumentos e discussão crítica, bem como aos valores de ética do conhecimento pelo conhecimento, da busca da verdade. Tais culturas se distinguiram e se dissociaram progressivamente nos séculos XVII e XVIII, embora tenham continuado a coexistir, até a grande disjunção, a partir do século XIX. Todavia, podem ainda coexistir no indivíduo, mas, salvo exceções, não mais estabelecem simbiose. Esta cisão corresponde a uma grave ruptura no interior da cultura ocidental. A cultura humanista floresceu do Renascimento (séc. XI) ao século XVIII. Antropocêntrica, preocupa-se em esclarecer a condição e a conduta humanas. Como neste período a informação ainda se configurava como bastante limitada, era fácil organizar o saber, possibilitando a reflexão sobre os problemas fundamentais do homem. Nem a literatura nem a filosofia haviam se fechado em disciplinas estanques, no entanto, com o apogeu da metodologia científica, cederam lugar à especialização, e a filosofia se tornou esotérica, enquanto a literatura se converteu em forma. A cultura científica passava a ser uma cultura de especializações à medida que o rigor da metodologia multiplicava exponencialmente os conhecimentos humanos. O conhecimento científico se organiza com base na formalização, que desencarna seres e coisas, em uma redução que desintegra fenômenos complexos, e na disjunção, que destrói qualquer elo entre entidades, como entre o Homem e a Natureza, que se tornam estranhas umas às outras, promovendo, por exemplo, a redução do humano ao biológico e do biológico ao físico. Com efeito, esse processo 71

de simplificação/disjunção torna impossível ligar um objeto dividido em parcelas aos problemas concretos e globais da condição humana. Essa ruptura entre os conhecimentos e os saberes humanos não permite que estes se comuniquem, pois têm estruturas de organização diferentes. A cultura de massas, tal como a cultura científica, é constituída por uma enorme quantidade de informações que cresce constantemente, mas que também constantemente se destrói, transformando-se em ruído, ou seja, informações não estruturadas. Enquanto na cultura científica a informação é sistematizada, na cultura de massas a informação, veloz e rotativa, é vista em momentos de entretenimento ou como ruído, impedindo a reflexão acerca de seus conteúdos. Há quem a veja como instrumento de subjugação, de alienação e de manipulação, mas, por outro lado, há também quem veja na difusão da cultura de massas um processo de democratização da cultura. Vale ressaltar que seria insuficiente e errôneo definir a cultura de massas como a que emana dos meios de comunicação, embora ela tenha se desenvolvido neles e por meio deles. Hoje, a cultura de massas ultrapassa o campo restrito dos meios de comunicação, envolvendo o vasto universo do consumo e dos lazeres e alimentando o micro-universo do interior doméstico. Defini-la daquela maneira seria, ainda, esquecer que as sociedades são policulturais e que diversas culturas coexistem e entram em conflito. Além disso, todas as culturas podem utilizar-se dos meios de comunicação, que são os canais universais das diferentes culturas. (MORIN, 1984, p.292-300) A dissociação das culturas deflagra um novo tipo de ignorância na acumulação sem reflexão do conhecimento. Isso torna a nossa cultura um tanto paradoxal, pois, ao mesmo tempo em que tem aspectos ricos, por sua pluralidade, comporta um grande vazio cultural. O conhecimento, no estado atual de organização dos conhecimentos, não pode refletir sobre si mesmo, pois está compartimentado em departamentos que não se comunicam. Com a hiperespecialização do conhecimento ocorreu, concomitantemente, um importante enriquecimento e também uma pauperização, ocasionando uma nova e temível ignorância na esfera tecnoburocrática. No auge da competência cognitiva, reina não tanto o profissional que trabalha com consciência e experiência, mas o expert que estabelece o diagnóstico a partir do seu saber, unicamente calculador e estritamente especializado, desprezando o que foge ao 72

cálculo e ignorando as interações entre os campos fragmentados do conhecimento especializado por ser incapaz de responder ao desafio do imprevisto. A reintrodução da comunicação entre as três culturas é o grande desafio contemporâneo. Com a tomada de consciência por cada uma das culturas de sua própria insuficiência pode ocorrer uma autotransformação e o conhecimento poderá progredir. Assim, o homem reapareceria no conhecimento como Homo Complexus.

2.3.1 - Cultura Midiática e Cultura de Massas

Visando a esclarecer os conceitos de “cultura midiática” e “cultura de massas” e qual dos dois termos seria utilizado nesta pesquisa, recorreu-se ao estudo de Santaella (2003) intitulado “Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano”, em que a autora defende a idéia de que intelectuais, pesquisadores e mestres devem se dedicar à tarefa de gerar conceitos que sejam capazes de levar a compreender de modo mais efetivo as complexidades com que a realidade em mutação nos desafia. Segundo Santaella, com imprecisão, muitos autores têm usado o termo “cultura midiática” para se referirem a todo o complexo contexto atual. Antes de tudo, deve-se elucidar que os meios de comunicação, desde o aparelho fonador até as redes digitais atuais, não passam de meros canais para a transmissão de informação. Por volta do início dos anos 80, começaram a se intensificar as misturas entre linguagens e meios, que funcionam como um multiplicador de mídias. Com o surgimento de novas tecnologias e equipamentos, as linguagens criadas para circularem neles propiciaram principalmente a escolha e o consumo individualizados, em oposição ao consumo massivo. São esses processos comunicativos que a autora considera como constitutivos de uma cultura das mídias, pois nos tiraram da inércia da recepção de mensagens impostas de fora e nos treinaram para a busca da informação e do entretenimento que desejamos encontrar. Por isso, foram esses meios que prepararam os usuários para a chegada dos meios digitais, cuja marca principal está na busca dispersa, não linear, fragmentada, mas certamente uma busca individualizada da mensagem e da informação. Segundo a autora, “cultura das mídias” é uma cultura intermediária entre a cultura de massas e a cultura digital. Para compreender essas passagens de uma cultura a outra, a autora utiliza uma divisão em seis tipos de formações culturais: a 73

cultura oral, a cultura escrita, a cultura impressa, a cultura de massas, a cultura das mídias e a cultura digital. Tais tipos não se tratam de períodos culturais lineares, como se uma formação cultural fosse desaparecendo com o surgimento da próxima. Santaella esclarece que, em cada período histórico, a cultura fica sob o domínio da técnica ou da tecnologia de comunicação mais recente. Enfim, cultura de massas, cultura das mídias e cultura digital, embora convivam hoje, apresentam, cada uma delas, características que lhes são próprias e que precisam ser distinguidas. Dessa forma, conforme Santaella, a cultura de massas é a do consumo massivo; a cultura das mídias é uma cultura do disponível; e a cultura digital é a cultura do acesso. Mas é a convergência das mídias, na coexistência com a cultura de massas e a cultura das mídias, estas duas em plena atividade, que tem sido responsável pelo nível de exacerbação que a produção e circulação da informação atingiu na atualidade; é, ainda, uma das características principais da cultura digital. Das obras de Morin que foram estudadas para o desenvolvimento da presente dissertação e que tratam desta temática, em apenas uma, intitulada “A Cabeça bem-feita”, foi possível identificar o termo “cultura de mídia”, seguido de nota de rodapé em que o autor recomenda como referência aos estudos desta cultura a sua obra “L’Esprit du temps”, traduzida no Brasil em dois volumes, intitulados “Cultura de Massas no século XX: neurose” (“O espírito do tempo 1”) e “Cultura de Massas no século XX: necrose” (“O espírito do tempo 2”). Constatou-se, todavia, que nestes dois livros somente o termo “cultura de massas” é mencionado. Assim, verifica-se que há a possibilidade de a expressão “cultura de massas” ter sido interpretada, na tradução da obra “A cabeça bem-feita” para o português, como “cultura de mídia”, ou ter sido utilizada em reciprocidade ao entendimento desta. Dessa forma, considerando-se os estudos de Santaella e os de Morin, sobretudo quando este último diz que seria insuficiente e errôneo definir a cultura de massas como a que decorre dos meios de comunicação, visto que estes são canais universais das diferentes culturas, utilizar-se-á neste estudo o termo “cultura de massas”.

2.3.2 - Cultura de Massas

Segundo Edgar Morin (2005e), no começo do século XX iniciou-se a segunda industrialização, se referindo àquela que se processa nas imagens e nos 74

sonhos, e a segunda colonização, que passa a dizer respeito à alma. O autor afirma ainda que “Essas novas mercadorias são as mais humanas de todas, pois vendem a varejo os ectoplasmas de humanidade, os amores e os medos, os fatos variados do coração e da alma” (MORIN, 2005e, p.14). Uma cultura, de acordo com o autor, constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos, orientam as emoções. Esta penetração se efetua segundo trocas mentais de projeção e identificação polarizadas nos símbolos, mitos e imagens da cultura, assim como nas personalidades míticas ou reais que encarnam os valores (os ancestrais, os heróis, os deuses). Assim, a cultura fornece pontos de apoio entre a vida real e o imaginário, mediante processos de identificação e de projeções que os indivíduos e grupos sociais constroem a partir dos símbolos culturais. O mesmo ocorre com a cultura de massas, que também possui seu conjunto específico de símbolos, mitos, valores e imagens, tanto em relação à vida diária quanto ao imaginário coletivo, desenvolvendo um sistema próprio de projeções e identificações. A cultura de massas, embora não seja a única cultura do século XX, é a de maior destaque e penetração, já que é cosmopolita por vocação e planetária por extensão. (MORIN, 2005e, p.15-6) Morin (2005e, p.35) afirma que todo sistema industrial tende ao crescimento, e toda produção de massa destinada ao consumo tem sua própria lógica, que é a de máximo consumo. Desse modo, ao se referir ao grande público, assevera que as grandes produções cosmopolitas se dirigem efetivamente a todos e a ninguém, adaptando-se às diferentes idades, aos dois sexos, às diversas classes da sociedade, a nações diferentes. A telenovela Rebelde é um bom exemplo disso, já que ultrapassou as fronteiras do país em que foi produzida (México) ao desenvolver seus campos comuns imaginários, sendo exibida em mais de 65 países e tornando-se um grande sucesso. A procura de um público variado pressupõe a procura de variedade na informação ou no imaginário, em um denominador comum. Portanto, sua trama tende sistematicamente ao ecletismo, oferecendo romance, drama, ação, humor e erotismo em doses variáveis. Esta variedade visa a satisfazer todos os interesses e gostos, de modo a obter o máximo de consumo imaginário diário, assim como o máximo de consumo dos produtos promovidos pela marca Rebelde/RBD. 75

A telenovela Rebelde, embora seja direcionada ao público jovem e trate de assuntos como conflitos típicos da juventude, relacionados a amizade, namoro, sexo, gravidez, drogas, preconceito, violência, doenças, relação com os pais e incertezas quanto ao futuro, também atinge o público infantil, visto que seu marketing também se volta para esta faixa etária, oferecendo bonecas, brinquedos, vestimentas e acessórios. Segundo a Redibra, detentora da marca Rebelde, o público-alvo da telenovela e, por conseguinte, dos produtos que levam o seu selo compreende a faixa etária entre 6 e 27 anos, sendo a principal entre 13 e 18 anos. Dessa forma, a homogeneização da produção se prolonga em homogeneização do consumo, o que tende a atenuar as barreiras entre as idades. Segundo Morin (2005c, p.85), cada idade tem as suas verdades, as suas experiências e os seus segredos. Contudo, devido à multiplicidade sucessiva das idades, cada um, sem perceber, carrega em si todas as idades. A infância e a juventude não desaparecem na idade adulta, mas são recessivas. Dessa forma, quando assistimos aos filmes ou acompanhamos os capítulos de uma telenovela, somos transportados para outros tempos e espaços. Ao nos projetarmos e nos identificarmos, podemos relembrar as brincadeiras da infância, a escola primária, o doce preparado pela mãe, e nos sentir como crianças novamente. Podemos, mediante a lembrança, nos sentir, por um momento, junto com nossos amigos de juventude e exaltar o que fomos no passado, assim como podemos nos sentir como anciãos que possivelmente seremos. A grande imprensa para adultos está impregnada de conteúdos infantis e a recíproca é verdadeira. De acordo com Morin (2005e, p.39), pode-se considerar que catorze anos seja a idade de acesso à cultura de massas adulta, pois é a idade em que os jovens já assistem aos mesmos programas que os adultos. No entanto, é pertinente contextualizar esta informação, visto que foi escrita no ano de 1960, ou seja, há 48 anos. A questão preocupante que se coloca é que hoje se pode observar que crianças têm acesso à cultura de massas adulta cada vez mais cedo, vêem filmes de todos os gêneros e os mesmos programas de televisão que os adultos. Assim, a cultura de massas leva precocemente a criança ao alcance do setor adulto e o adulto fica, em princípio, estacionário, pois essa homogeneização das idades tende a se fixar na juventude (MORIN, 2005e, p.38-9).

76

A juventude passou a ser a idade favorita. Almeja-se chegar mais cedo à juventude e nela permanecer pelo maior tempo possível. Assim, as crianças são estimuladas a deixar logo o mundo infantil e jovens adiam a hora de assumir responsabilidades de adultos. Segundo Novaes (2005), a juventude brasileira está compreendida entre os 15 e os 29 anos, e essa tendência de se estender até os 29 anos é mundial, configurando-se por dois motivos: a expectativa de vida em geral foi aumentada; e tornou-se cada vez mais difícil conseguir efetivamente uma emancipação. Os relatos apresentados a seguir, tanto os dos alunos pesquisados (apresentados como relatos) quanto aqueles colhidos no site Yahoo!Respostas (apresentados em quadros e transcritos em itálico), corroboram o exposto.

Relato 2 - A idade do público da telenovela Rebelde. *Lurdinh@* (18 anos, 2º ano) – [...] sempre perguntava o que aconteceu [na novela] para a minha prima de 8 anos que que não perdia nenhum capítulo *Ma Elis* (16 anos, 2º ano) – Rebelde não só chamava a atenção dos adolescentes e crianças, mas, das pessoas mais velhas também, meu pai assistia todo dia Rebelde e ninguém podia fazer barulho na sala para não atrapalhar a concentração dele na novela. *Máy* (17 anos, 3º ano) – A minha ex-cunhada tinha 22 anos, era casada, estava gravida e assistia rebelde, a mãe dela e o pai e meu ex-namorado brigavam com ela para ela parar de assistir mas ela assistia escondito e ouvia as músicas escondido ela era muito fã *Jacque* (16 anos, 2º ano) – [...] meu pai acabou se fiquisando na novela, e quando não conseguia asistir ele me contava o que acontecia. *Xuxinha* (18 anos, 2º ano) – [...] até minha filhinha assistia comigo. Sempre que passava a novela eu minha filha corría para ver o clipe que passava antes da novela. [...]

77

Quadro 3 - Yahoo! Respostas: Diálogo entre internautas sobre a idade do público da telenovela Rebelde.49

Carol Alguém com mais de 20 anos de idade assisti a novela Rebelde? Me diz por quê? [agosto de 2006] Porque eu tb assisto e tenhu 20 anos. Mas não acho nada de mais assistir. [...] [Rebelde] mostra de uma maneira muito divertida, como os jovens são na realidade, e digo JOVENS não apenas ADOLESCENTES, pois lok muitas das situaçoes que ocorrem ali, tanto comicas como conflitos é muito comum na vida dos jovens, fato comprovado q pessoas com mais de 19 ou 20 anos tambem adoram a novela, conflitos amorosos, assuntos sobre sexo, drogas, brigas familiares esta muito presente na vida dessa pessoa e não apenas na garotada de 12 a 15 anos! A novela retrata isso de uma maneira muito divertida, sem fala nos atores que são otimos (principalmente os guris hehehe) [...] Tity minha prima tem 20 e adora rebelde; minha tia tem 47 tambémgosta; minha mãe tem 37 e gosta.

Rose Eu tenho 38 e assisto. De inicio assistia porque meu filho e minha filha gostavam, mas ai fui seguindo a historia e continuei... [...] os assuntos abordados são interessantes... coisas que acontecem de verdade no dia a dia do adolescente e eu como já tenho dois em casa, acabo aprendendo a lidar melhor com eles... também gosto das musicas... gosto é gosto.... laurinha Rebelde é mesmo infantil? o q vcs acham? Rebelde é mais para criança? ou nao tem nada a ver? [outubro de 2006]

Vivi lógico que não a novela rebelde esta volta para um público adolescente não só adolescentes fique sabendo que uma senhora de 74 anos assiste todos os dias não perde nenhum capitulo

leanny a novelinha REBELDE e para adolescente, pois a criança ñ beija na boca, ñ faz sexo, ñ fuma, etc...

Além disso, cabe considerar que a telenovela Rebelde foi exibida no Brasil majoritariamente em horário tradicionalmente destinado ao público adulto, das 20h15min às 21h00min. A telenovela estreou no horário das 17h30min, mas, devido ao crescimento de sua audiência, passou a ser apresentada cada vez mais tarde, ocasionando uma disputa entre pais e filhos pelo chamado horário nobre da

49 YAHOO!BRASIL-RESPOSTAS. Disponível em: e . Acessos em: agosto e outubro de 2006. 78

televisão. Atualmente, voltou a ser exibida ainda mais tarde, às 21h, no canal Boomerang. Durante a pesquisa de campo, chamou atenção o elevado número de relatos revelando esta disputa entre os jovens e seus familiares, como se pode verificar a seguir:

Relato 3 - A disputa pelo programa a ser assistido no horário nobre da televisão. *Taia* (17 anos, 3º ano) – Na minha casa, só tem uma TV, entaum ficava difícil de eu assistir, entaum, eu lia revistas, e via o comercial. ás vezes eu fazia meu pai dormi ou falava p/ ele ir p/ a rua para eu poder assistir sossegada!!!... *Jé* (16 anos, 2º ano) – [...]em casa mesmo eu arrumava a maior briga pelo controle remoto! Com o meu pai principalmente... mais valeu a pena e não me arrependo de nada! *Miny* (15 anos, 2º ano) – Eu sempre brigava com a minha mãe porque ela sempre implicava comigo porque ele detestava a novela, eu vivia resando pra ele chegar mais tarde em casa. *Belzita* (14 anos, 1º ano) – Às vezes eu brigava com meu pai para assistir Rebelde porque quase sempre passava no horário do jornal dele e ele queria assistir mas eu sempre ganhava porque eu ia para casa da minha vizinha assistir. *Kelly* (15 anos, 1º ano) – Eu tinha muitas dificuldades p/ assistir a novela Rebelde. Quando chegava a hora de começar a novela eu ia por minha mãe começava a brigar comigo porque ela queria assistir outra novela mas mesmo assim eu assistia *Rica!!!* (14 anos, 1º ano) – Na época que passava Rebelde minha avó dormia lá em casa comigo no meu quarto, só que eu queria assistir Rebelde e ela queria assistir o sete e era uma briga todos os dias por eu querer assistir Rebelde e ela Bicho do Mato. *Nessa* (15 anos, 1º ano) – Brigar com os pais para poder assistir a novela. Esconder o controle da televisão, ficar na frente do aparelho que muda o canal. *Carlinha* (13 anos, 8ª série) – quando eu queria assistir a novela meu pai nunca deixava, de tanto eu e ele brigar e mudar toda hora de canal a TV acabou queimando. *Renew* (14 anos, 8ª série) – Eu já cheguei a brigar com meus pais para mim poder assistir, que minha mãe queria assistir a novela da globo e meu pai queria assistir o jornal então eu armava mó briga la em casa, mas eu sempre ganhava a briga, mais o ruim é que isso acontecia todo dia, mais valeu a pena que a novela foi muito legal. *Juka* (13 anos, 8ª série) – Quando chegava na hora da novela era uma confusão enorme, meu pai queria assistir o jornal e eu e a minha irmã a novela, em casa chegou ao extremo e então a minha mãe decidiu comprar outro receptor para acabar com as brigas e meu pai poder assistir jornal. *Amandinha* (14 anos, 8ª série) – [...] teve uma época que Rebelde era no horário do jornal nacional e o meu pai queria assistir o jornal e eu queria assistir a novela então era uma briga danada. [...] *Karolzinha* (14 anos, 8ª série) – Eu brigava muito com meu irmão e tirava do canal que ele tava asistino o que meu pai tava asistindo se para assistir Rebelde. Eu parava de lavar para assistir eu o meu pai não deixava mais eumudava mesmo assim. *Sarinha* (14 anos, 8ª série) – Chegava a hora da novela eu brigava com a minha mãe e o meu pai porque eu queria assistir Rebelde e eles não queriam assistir eles queriam assistir jornal sendo que eles ja tinham assistido um. e queriam assistir o outro

79

*Zo10* (14 anos, 8ª série) – [...]Brigava com meu pai e minha mãe, porque eu queria assistir Rebelde e ela o jornal. Mas ela se acostumou e começou a deixar, e depois gostou da novela e não perdia um capítulo. *Má* (14 anos, 8ª série) – [...] já briguei com os meus pais porque eu queria assistir Rebelde e os meus pais queriam assistir jornal então eu ganhei uma televisão só pra mim. [...] < Coração (12 anos, 7ª série) – Em casa era a maior briga minha mãe queria assistir jornal, e também, eu até fiquei de castigo. [...] *Mense* (15 anos, 7ª série) – Eu escondia o controle, ia assistir na casa de alguém, fingia de doente e até ameacei fugir de casa se eles não deixassem eu ir ao show, até que consegui. [...] *Ro* (12 anos, 7ª série) – Sempre que chegava a hora de começar a novela meus pais ficavam me enchendo o saco pra assistir o jornal mais eu fazia de tudo para assistir e no final que conseguia é claro que era eu. Nunca perdi nenhum capítulo.

Esses relatos demonstram que na vida real o que se desvendava era a disputa dentro da família pelo programa a ser assistido no horário nobre das 20h: o telejornal, a telenovela destinada ao público adulto ou a telenovela juvenil Rebelde. A exibição desta telenovela não se dava no horário tradicionalmente dedicado ao público jovem – 18h. Dessa forma, as emissoras disputavam no horário nobre públicos diferentes: pais e filhos. A disputa acontecia mediante gêneros de programas também diferentes: o telejornalismo e a telenovela. Privilegiando-se a telenovela Rebelde, dava-se espaço às crianças e aos jovens, o que revelava uma mudança de costume, de hierarquia das preferências e de autoridade na família. Nesse caso, novos telejornais, transmitidos em outro horário, passavam a ser procurados, principalmente nas casas onde havia apenas um aparelho de televisão, representando a única opção de lazer e/ou informação para a família. Considerando-se esses fatores, pode-se ter uma visão mais ampla do impacto da telenovela Rebelde no Brasil. Ademais, cabe notar que o mercado infanto-juvenil adquiriu autonomia quando as crianças e os jovens deixaram de ser vistos como filhos de clientes para se tornarem os próprios clientes. Segundo Edgar Morin (1989, p.73-7), a Indústria Cultural se aproveita da necessidade afetiva ou mítica do homem de projeção-identificação e transforma isso em mercadoria. Desse modo, produz celebridades para utilizá-las no estímulo ao consumo real e ao consumo imaginário. Cria-se a estrela-mercadoria, que vende tudo que tenha seu nome, a começar pelo próprio produto em que ela está. Assim, a banda RBD é sucesso garantido, uma vez que é formada pelo elenco principal da telenovela Rebelde, que por si só já é um sucesso de audiência. Além disso, os protagonistas vendem qualquer produto que se associe a eles. Na Internet, a 80

comunidade do orkut “RBD irá me levar à falência” reúne um grupo de fãs que costumam comprar produtos oficiais da banda; a “brincadeira”, segundo os integrantes da comunidade, é contabilizar a quantia de dinheiro já “investida” nos ídolos. (HOUCH, 2006) A figura do artista agrega valor ao produto, pois, ao consumi- lo, o fã se identifica com o artista. Toda a estratégia de marketing vinculada à marca Rebelde tem como objetivo único convencer os consumidores de que seus ídolos também usam o produto anunciado. O fã quer saber tudo sobre seu ídolo, tornando o conhecimento um meio de apropriação mágico. Assim, as revistas buscam propiciar aos leitores tudo sobre as celebridades, seus cuidados com a beleza, os cosméticos que usam, suas preferências alimentares ou estéticas, seu mobiliário, seus animais domésticos e seus detalhes íntimos. Promovem-se e comercializam-se conselhos de um saber ser, um saber viver, irrigando a vida afetiva e infiltrando, em todos os sentidos, na vida prática. A esses conselhos, aparentemente desinteressados, acrescentam-se as incitações interessadas da publicidade. Assim, desde os heróis imaginários até os cartazes publicitários, a cultura de massas carrega uma infinidade de incitações, que desenvolvem ou criam invejas, desejos e pseudonecessidades. (MORIN, 1989, p.60, 105; 2005e, p.103-4; PENA-VEGA et al, 2003, p.91) A cultura de massas se apresenta como uma forma de lazer, principalmente sob a forma de espetáculo. O espetáculo, para Morin, é uma manifestação de conteúdos estéticos que determinam uma forma de relação. É principalmente na televisão que se destacam as características do espetáculo, forma estética de comunicação construída com o saber artístico, que a torna extremamente sensibilizadora, atraente, uma vez que a cultura de massas não é imposta, mas sim proposta; se sujeita aos tabus, mas não os cria; propõe modelos, mas não ordena nada; é sempre mediada pelo produto vendável, ou seja, pela lei da oferta e da procura. Daí sua relativa elasticidade e seu poder de sedução. (MORIN, 2005e) A produção cultural cria o público universal e é determinada pelo próprio mercado. Assim, ela se distingue das outras culturas, que utilizam também as mass media50, mas com um caráter normativo, pois são impostas, pedagógica ou autoritariamente, sob forma de obrigações ou proibições, como ocorre na escola. (MORIN, 2005e, p.45-6)

50 Impresso, filme, programas de rádio e televisão. 81

A cultura de massas é animada por um duplo movimento do imaginário imitando o real e do real pegando as cores do imaginário. (MORIN, 2005e, p.37) Assim, na telenovela Rebelde, a banda RBD assemelha-se e faz parte da realidade e os cantores desta banda assemelham-se aos personagens e também atuam, como protagonistas, na telenovela. Essa dualidade confere um potencial de máximo consumo, uma das características fundamentais da cultura de massas. Quanto ao telespectador, este se destaca fisicamente do espetáculo, fica reduzido ao estado passivo e voyeur, já que tudo se passa diante de seus olhos, mas ele não pode aderir corporalmente àquilo que contempla. Em compensação, seu olhar está em toda parte; ou seja, mediante a tela da televisão, pode ver o mundo, observando tudo em plano aproximado, como teleobjetiva, mas, ao mesmo tempo, numa impalpável distância. Sua participação é sempre intermediada, uma vez que o telespectador projeta seus desejos e aspirações em um personagem, e não somente se identifica com ele, mas também o identifica a si mesmo, sentindo como pessoal o que lhe é exterior. Por meio dos processos de projeções e identificações, o telespectador entra num universo imaginário que, de fato, passa a ter vida para ele, mas, ao mesmo tempo, por maior que seja a sua participação, ele sabe que vê a televisão. Assim, o que é exibido na televisão é, concomitantemente, a maior presença e a maior ausência. Desse modo, promove uma participação ao mesmo tempo intensa e desligada, ou seja, uma dupla consciência. (MORIN, 2003, p.89-90; 2005e, p.70-7) Uma outra contradição que a televisão apresenta é que, simultaneamente e contraditoriamente, ela pode prejudicar e beneficiar a comunicação entre as pessoas. Tem o potencial de prejudicar as comunicações familiares quando assistida, por exemplo, no decorrer das refeições, ou quando cada membro da família possui um televisor em seu quarto. Pode causar prejuízo não apenas à comunicação com o outro, mas também à nossa própria presença perante nós mesmos, em virtude de ser sempre mobilizada para outro lugar. (MORIN, 2005e, p.71) No entanto, a televisão também nutre as comunicações vividas, pois suscita conversações sobre os programas que exibe, entre eles a telenovela, que se destaca por seu caráter diário e seu grande poder de penetração, desencadeado pelos personagens/atores mediante os processos de projeção e identificação e pelos fatos variados a estes relacionados. 82

Na mentalidade clássica (MORIN, 2006, p.68), quando surgia uma contradição em uma argumentação, como nestes exemplos sobre a televisão, ela era considerada como erro. Isso significava que era necessário voltar atrás e empreender uma outra argumentação. Em contrapartida, na ótica complexa, a contradição não é sinal de erro, mas de descoberta, já que pode ser considerada levando-se em conta sua interatividade com outros fatores, o que permite uma melhor compreensão.

2.4 - COMPLEXOS IMAGINÁRIOS

Com embasamento nos pressupostos teóricos que norteiam este estudo, buscou-se verificar o desenvolvimento das premissas básicas dos Complexos Imaginários, ou seja, os processos de projeção-identificação na telenovela Rebelde. Estes conceitos são apresentados por Edgar Morin nas obras “Cultura de massas no século XX: o espírito do tempo” (2005e), “As Estrelas: Mito e Sedução no Cinema” (1989) e “O cinema ou o homem imaginário” (1997), e também na obra “Edgar Morin: Ética, Cultura e Educação” (PENA-VEGA et al, 2003), mais especificamente no capítulo “Os Complexos Imaginários”. O processo de projeção-identificação, oriundo de conceitos da psicanálise (FERENCZI, apud MORIN, 2003, p.90) e nomeado por Edgar Morin de Complexos Imaginários, é fundamental para o entendimento da vida imaginária. Um complexo, segundo o autor, é um conjunto que engloba várias partes ou elementos distintos em interdependência. Estes conceitos sobrepõem-se uns aos outros de diversos modos e só podem explicar os processos imaginários quando associados. Dessa forma, toda projeção é uma transferência de estados psíquicos subjetivos para o exterior; estes se fixam em imagens, representações ou símbolos, que parecem então existir objetivamente em outros sujeitos, em objetos, em conjuntos de objetos no meio circundante e/ou no cosmos. Atua na transferência dos temores ou angústias, promovendo uma certa libertação psíquica e expulsando do interior do telespectador aspectos obscuros, violentos ou reprimidos.

83

A identificação, no entanto, não pode ser reduzida à projeção. Ela é também o efeito de um processo de introjeção51, por meio do qual o telespectador não somente se identifica com o personagem, mas ainda identifica o personagem a si mesmo. É um processo pelo qual o sujeito sente como subjetivo, pessoal ou próprio o que lhe é exterior ou estranho, ou seja, se dá quando o telespectador identifica-se com personagens e se sente vivenciando as experiências que não fazem parte da sua realidade. O complexo imaginário é um análogo psíquico das relações de troca entre um ser vivo e seu meio. As atividades imaginárias não dizem respeito unicamente aos sistemas imaginários, como os mitos, magias, religiões e estéticas; elas alimentam a vida afetiva e penetram no seio da vida prática. (PENA-VEGA et al, 2003, p.89-91) O universo imaginário adquire vida para o telespectador quando este se projeta e se identifica com os personagens. Em relação à televisão, o telespectador, ao mesmo tempo em que libera fora dele virtualidades psíquicas, fixando-as sobre os ídolos em questão, identificando-se com eles, que, no entanto, lhe são estranhos, e se sente vivendo experiências que, contudo, não pratica. Há um desdobramento do telespectador sobre os personagens, uma interiorização destes dentro do telespectador, segundo transferências incessantes e variáveis. O telespectador vive de uma forma quase mística, integrando-se mentalmente nos personagens e na ação (projeção) e integrando mentalmente os personagens e a ação em si (identificação). (MORIN, 2005e, p.78; 1989, p.82) Todo esse processo de identificação-projeção é responsável pela magia de filmes e telenovelas. Quando os assistimos, nos identificamos com os personagens, até mesmo com figuras que ignoramos na vida real, como os bandidos, mendigos etc., pois nelas existem aspectos morais e físicos que estimulam as nossas participações afetivas. Por isso há uma linguagem específica composta em planos, tipos de corte, posição de câmera, tudo para enfatizar os aspectos significativos e estimular as projeções-identificações do telespectador com este universo. A trama do filme ou da telenovela não deixa de responder às necessidades de todo o imaginário, aquelas que a vida prática não pode satisfazer. No filme ou na telenovela, o espectador aprecia a sorte dos heróis sem expor-se a riscos, já que os

51 Introjeção: processo pelo qual o sujeito faz passar, de um modo fantástico, de “fora” para “dentro” objetos e qualidades inerentes a esses objetos. Tal processo está estreitamente ligado com a identificação. O termo foi introduzido por Sandor Ferenczi, que o forjou por simetria ao termo projeção. (LAPLANCHE, PONTALIS, 2001) 84

tiros, os acidentes e as doenças não podem atingi-lo; o impossível é realizado no imaginário, sem perigo. (MORIN, 1997, p.122-7, 134) A estética contemporânea alimenta-se do imaginário e ganhou espaço considerável pelos filmes e pelas séries televisivas. Morin (2005c, p.132-135; PENA- VEGA et al, 2003, p.99) a concebe não somente como uma característica própria das obras de arte, mas também a partir do sentido original do termo, aisthètikos, de aisthanesthai, ou seja, sentir. Trata-se de uma emoção, uma sensação de beleza e de admiração. Pode vir tanto da contemplação de belezas naturais quanto de produtos artificiais, cuja finalidade não é artística. Ao mesmo tempo em que sentimos com os nossos ídolos imaginários, nossa consciência de que continuamos telespectadores permite a emoção pela estetização. Em outras palavras, a estética é a atitude de consciência dividida; ou seja, ao mesmo tempo em que o sujeito participa de cenas artificiais por meio dos processos imaginários, sabe que se trata de uma participação imaginária. A estética retira-nos do estado prosaico, racional, utilitário, para nos colocar em transe, tanto em ressonância, empatia, harmonia, quanto em fervor, comunhão, exaltação. Tudo o que é estético ou estetizado nos dá prazer, satisfação, felicidade, do mesmo modo que provoca tristeza, lágrimas e sofrimento. O drama, por exemplo, nos extasia na mesma aflição que nos proporciona. Segundo Morin (2005e, p.82), diferentes fatores favorecem a identificação, que variam em função não só dos temas romanescos, mas também dos telespectadores, devido a variantes como idade, sexo, classe social, nacionalidade, psicologia individual, entre outras. O optimum da identificação se estabelece num certo equilíbrio de realismo e de idealização. Por outro lado, Morin (2005e, p.82; 1989, p.66-7) lembra que também é preciso que o imaginário se eleve acima da vida cotidiana, bem como que os personagens vivam com mais intensidade, mais amor, mais riqueza afetiva que os mortais comuns. Num determinado optimum identificativo da projeção-identificação, o imaginário secreta mitos diretores, que podem constituir verdadeiros “modelos de cultura”. Inversamente, há um optimum projetivo de evasão, atuando como uma “purificação”, isto é, a expulsão-transferência das angústias e fantasmas, como, por exemplo, de necessidades insatisfeitas e aspirações proibidas. Há igualmente as pessima, nas quais a relação real-imaginário pode suscitar o desejo de imitação intenso, sem poder realizar-se, e determinar uma neurose, que volta 85

incansavelmente a se fixar sobre o imaginário, insaciavelmente insatisfeita. A projeção pode ser tão fascinante a ponto de ocasionar uma espécie de conversão hipnótica da vida, que, então, se sonambuliza e se escoa no consumo imaginário. (MORIN, 2005e, p.83) Um exemplo disso é o que ocorreu com uma fã do cantor e apresentador Ronnie Von, em janeiro de 2000. A fã, com 74 anos na época, residente no Paraná, jurava que estava noiva do artista. Por três vezes ela apareceu nos estúdios da Rede CNT, em São Paulo, para cobrar a suposta promessa de casamento. Depois de ser impedida de entrar na emissora pela terceira vez, ela atacou os assessores do artista com sua bengala.52 Morin (1989) percebe que ao redor das estrelas se instala um culto que às vezes toma caráter de religião. Nesse caso, o presidente de um fã-clube pode figurar um papa, e há até cerimônias em que os fiéis entram em estado de êxtase, como nos shows do RBD. O fã deseja ser amado, mas sem perder sua humildade, e esta desigualdade caracteriza o amor religioso. A adoração, todavia, não é recíproca, embora às vezes seja recompensada. A projeção-identificação dos telespectadores também é estimulada pelo ritmo da telenovela, por meio da música, dos efeitos visuais e dos movimentos de câmera. Estes recursos podem até dar vida a um rosto inexpressivo, como mostrou a experiência do cineasta Lev Kuleshov, que, pensando no poder de sugestão que a imagem pode exercer sobre o espectador, realizou, na década de 20, uma experiência que ficaria na história do cinema. Kuleshov filmou um ator com expressão neutra e, posteriormente, alternou esta imagem com planos de diferentes conotações: uma criança, uma mulher em um caixão e um prato de sopa. Ao assistir às diferentes cenas, a platéia via nuances de interpretação e achava que a face do ator representava a ternura paterna quando em justaposição com a criança, a tristeza ao ver a mulher no caixão e a fome, subentendida na imagem do prato de sopa. Sobre este experimento, Morin (2005h, p.163) comenta que a compreensão das três situações humanas havia incitado os espectadores à obrigação de viver os sentimentos que deveriam experimentar, mas esta justa compreensão os cegou em

52 Cf.: ISTOÉ GENTE. Ronnie Von sofre com fã apaixonada. São Paulo: Editora Três, 21 de fevereiro de 2000. Disponível em: . Acesso em: 05 de março de 2006. 86

relação à idêntica inexpressividade do rosto do ator nas três situações. Assim, entregue às forças espontâneas da projeção-identificação, a compreensão corre o risco de errar. Esta experiência permitiu reconhecer ao mesmo tempo a pertinência e a ilusão oriundas de uma compreensão. A cultura de massas, mediante estas forças espontâneas da projeção- identificação que promovem a ilusão de uma compreensão, destituiu parcialmente a família e a escola de seu papel formador, na medida em que os modelos de pais, educadores e grandes homens e mulheres foram gradualmente sendo substituídos pelos novos modelos de cultura que lhe fazem concorrência. (MORIN, 2005e, p.168) Dessa forma, os modelos de identificação e as funções tutelares desertam, por sua vez, da família e da escola para transferir-se para outro lugar – os deuses de carne, os ídolos imaginários da cultura de massas, que se apoderam de funções tradicionalmente privilegiadas pela família e pelos ancestrais. E, simultaneamente a isso, há o recalcamento do tempo, do declínio, que foi bruscamente acelerado pela indústria do rejuvenescimento, visto que a velhice está desvalorizada. A idade adulta se rejuvenesce, o homem e a mulher (incluindo pais e educadores) não querem envelhecer, desejam ficar sempre jovens para sempre se amarem e sempre desfrutarem do presente. Assim, com o enfraquecimento da imagem paterna no imaginário, o jovem tem de lutar menos para tornar-se adulto e encontra maior dificuldade em identificar-se com seus pais. (MORIN, 2005e, p.149) A juventude experimenta de modo mais intenso o apelo da modernidade e orienta a cultura de massas nesse sentido. Assim, os modelos dominantes não são mais os representados pela família ou pela escola, mas sim aqueles figurados na mídia. A cultura de massas desagrega os valores gerontocráticos e acentua a desvalorização da velhice ao mesmo tempo em que dá forma à promoção dos valores juvenis e assimila uma parte das suas experiências. (MORIN, 2005e, p.157) A cultura de massas apresenta uma organização distinta daquela observada na escola ou na família, pois se fundamenta no mercado, no consumo e na volúpia. Tem como bandeiras as fotografias de jovens fisicamente atraentes e de ídolos, de tal modo que os ritos ou cultos são os autógrafos e a aclamação dos fãs. (MORIN, 2005e, p.167-8) Morin esclarece que as relações de projeção-identificação da cultura de massas com os jovens funcionam de modo diferente das ocorridas com os adultos. Enquanto para os adultos a violência, a barbárie, o horror, a volúpia e a aventura 87

são apenas evasões projetivas, esses temas podem se tornar modelos de conduta para os jovens. No entanto, essa influência diz respeito, evidentemente, a uma minoria, condicionada à delinqüência por suas determinações sociais ou familiares, e nessa situação a cultura de massas poderá servir como exemplo. (MORIN, 2005e, p.156)

88

CAPÍTULO 3 - PULANDO O MURO DA ESCOLA...

Será verdade que nós adultos desconfiamos da juventude? Certamente porque um dia também fomos jovens... Como mudaria o mundo se a juventude escutasse tudo o que nós, os velhos, queremos contar-lhes! (Pensamento da personagem Hilda, professora na telenovela Rebelde, no capítulo exibido em 20 de setembro de 2006).

Este capítulo tem por objetivo contextualizar o universo da pesquisa de campo, descrever o percurso metodológico e analisar os dados colhidos, que foram metodicamente quantificados e tabulados, servindo de base para a confecção de gráficos e tabelas. Busca-se, dessa forma, uma melhor visualização do ponto de vista dos jovens em relação à televisão e à telenovela Rebelde, possibilitando estabelecer relações entre a pesquisa de campo e a pesquisa bibliográfica, uma vez que os dados revelados encontraram solo fértil na teoria, permitindo discorrer sobre um universo claramente exposto. Para isso, foi necessário ouvir os próprios jovens quanto às suas vivências, idéias e emoções sobre a telenovela Rebelde, o que ajudou a entender como compreendem a telenovela e o mundo em que vivem, bem como a revelar graves disparidades e muitas dificuldades em relação à ruptura entre o conhecimento sistematizado da escola e a mídia televisiva, haja vista a importância desse meio no cotidiano dos jovens. A coleta de dados foi realizada no primeiro semestre de 2007. Mesmo com o término de Rebelde em dezembro de 2006, a pesquisa de campo não sofreu prejuízo, uma vez que a banda RBD e os produtos relacionados à telenovela continuaram intensamente suas atividades, mantendo-a viva.

3.1 - CONTEXTO DA PESQUISA DE CAMPO

3.1.1 - Caracterização da escola

A contextualização a seguir, escrita a partir do Plano de Gestão Escolar e de observações feitas pela pesquisadora, tem como objetivo possibilitar ao leitor inteirar-se da realidade pesquisada. 89

A pesquisa de campo e a coleta de dados foram realizadas na Escola Professor Francisco Gonçalves Vieira, localizada na Rua Ilma dos Santos Batista, s/nº, no Bairro de Laranjeiras, município de Caieiras. A entidade mantenedora é Estadual, pertencente à Diretoria de Ensino da Região de Caieiras. A área de atendimento abrange os bairros de Laranjeiras, Sítio Aparecida e Morro Grande, situados no município de Caieiras, região norte da Grande São Paulo, próximo à Serra da Cantareira. A instituição atende aos cursos de Ensino Fundamental Ciclo II, de 5ª a 8ª séries, com 677 alunos, e Ensino Médio regular, com 529 alunos, totalizando 1.206 alunos. O horário de funcionamento é das 7h às 23h, dividido em três turnos, com quarenta minutos de intervalo entre eles. O 1º turno é das 7h às 12h20min, o 2º das 13h às 18h20min e o 3º das 19h às 23h. A clientela atendida tem idades entre 10 e 24 anos e pertence, em sua grande maioria, às classes menos favorecidas. A escola supre o material e o uniforme escolar para cerca de 30% dos alunos. A maioria consome a merenda escolar, e para alguns alunos esta é a alimentação básica. Muitos deles estão inseridos no mercado de trabalho informal. Quanto à estrutura física da escola, o prédio próprio foi construído especialmente para o fim escolar, em alvenaria, constituído por 12 salas de aula, estando todas em funcionamento, nos três períodos. Possui zeladoria, uma quadra de esportes sem cobertura, uma sala multifuncional com três ambientes – biblioteca, sala de leitura e sala de vídeo –, sala de informática com 10 computadores e 3 impressoras, refeitório e cantina. O mobiliário necessita de reforma, em especial as carteiras, cadeiras e lousas. A escola conta ainda com 10 equipamentos de informática para uso pedagógico e 3 para uso administrativo, dois aparelhos de DVDs, um televisor com antena parabólica, aparelho de som com caixas e microfone. Quanto ao material disponível para o ensino/aprendizagem, é escasso, se restringindo muitas vezes a giz e lousa. No que se refere à conservação da unidade escolar, cabe notar que as salas não possuem cortinas, muitas não têm mesas para o professor, muitas janelas estão sem vidros e as paredes estão pichadas. As cortinas que haviam na escola foram queimadas e destruídas, e os vidros, que haviam sido colocados recentemente, se soltaram, pois os alunos, principalmente os das quintas séries, retiram a massa de vidraceiro para brincar. A direção da escola está repondo cortinas e vidros nas salas 90

em que comissões de alunos foram formadas para reformá-las, pintá-las e conservá- las. A reforma já ocorreu em duas salas, e foram os próprios alunos que as freqüentam que escolheram a cor das paredes e realizaram a sua pintura, limpeza e conservação. A verba para este fim foi arrecadada pela venda de rifas de cestas com produtos doados pelos professores e pela contribuição da APM - Associação de Pais e Mestres, no valor de R$ 1,00 (um real) por aluno, pago somente por aqueles que podiam contribuir. Acredita-se que dessa forma, ou seja, com a participação dos alunos dos três períodos que estudam na mesma sala, as melhorias serão preservadas. O corpo docente conta com três categorias: a dos titulares de cargo, a dos professores estáveis e a dos demais docentes servidores, totalizando 44 professores. O corpo docente é comprometido com os projetos da escola, e a maioria possui muitos anos de docência, refletindo a experiência adquirida de forma positiva e participativa.

3.1.2 - Caracterização da população

Após ouvirem esclarecimentos acerca da natureza da presente pesquisa e seus objetivos, os alunos das séries que se pretendia investigar – 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio – foram convidados a contribuir para a coleta de dados. Foi então que 240 alunos mostraram-se interessados, correspondendo a 33% do total de alunos destas séries – 736. Daqueles que concordaram em participar da pesquisa, 26% são alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, 23% do 1º ano do Ensino Médio e 20% da 8ª série do Ensino Fundamental. Nesse aspecto, cabe considerar que as duas primeiras séries citadas são as com maior demanda na escola, que possui 5 salas de 7ª série, 5 salas de 1º ano e 4 salas de 8ª série. Em contrapartida, os alunos que participaram da pesquisa em menor número foram os do 2º ano do Ensino Médio, com 15% de participação, uma vez que a escola possui apenas 3 salas destinadas a esta série, seguidos pelos alunos do 3º ano, com 16%. Sobre estes últimos, vale elucidar que, embora ocupem 4 salas, todos estudam no período noturno, ou seja, o mesmo período em que era exibida a telenovela Rebelde, o que justifica a menor participação destes estudantes. 91

Assim, tiveram maior participação na pesquisa os alunos da 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio, com 164 alunos partícipes, perfazendo 69% do total de pesquisados. A faixa etária com maior representatividade foi a de 12 a 17 anos, com 230 alunos, totalizando 95% dos participantes, sendo que este grupo de idade corresponde às séries com maior participação. Apenas 5% dos partícipes, ou seja, 12 alunos, têm entre 18 e 24 anos, o que se fundamenta pelos motivos já expostos. A maioria dos participantes – 163 – é do sexo feminino, correspondendo a 68% do total, enquanto 77 alunos são do sexo masculino, perfazendo 32%. Quanto a este dado, faz-se pertinente observar que a maior parte dos 77 rapazes que participaram desta primeira parte da pesquisa aceitaram contribuir para a sua realização pelo fato de o questionário tratar da televisão de modo geral. Já na segunda fase da pesquisa, em que se abordou particularmente a telenovela Rebelde, este número diminuiu consideravelmente, por motivos observados durante a aplicação do questionário e que serão relatados posteriormente.

3.2 - METODOLOGIA DA PESQUISA DE CAMPO

3.2.1 - Rebelde e o jovem no ambiente on-line: um ponto de partida

A pesquisa de campo foi realizada inicialmente no ambiente on-line, em especial no site Yahoo!Respostas, que é uma comunidade virtual na qual os participantes podem fazer perguntas para obter respostas sobre uma grande variedade de temas, bem como expressar seus juízos acerca das perguntas já realizadas e à espera de réplicas. Como se pode observar pesquisando-se essa comunidade, os jovens dela participam de maneira informal e descontraída, deixando transparecer preocupações e opiniões que dificilmente seriam reveladas em um questionário estruturado. Com o surgimento dos comunicadores instantâneos (chats, blogs, MSN), surgiu também uma linguagem típica da Internet, caracterizada pela agilidade e facilidade de escrita. Para o jovem acostumado com esse linguajar, o mais importante durante uma conversa virtual é se fazer entender e, mais do que isso, da maneira mais rápida possível. Por conseguinte, não há preocupação com a adequação da escrita à norma padrão, tampouco com a ortografia correta. 92

Com o intuito de entender melhor esta linguagem, recorreu-se à pesquisa de Denise Telles Leme Palmiere (2005, p.503-8), intitulada “’Chateando’ com jovens e adolescentes: a construção da escrita na Internet”. Segundo a autora, os jovens com idades entre 13 e 16 anos mostram-se fortemente envolvidos na construção desta linguagem, são inovadores e estão abertos à subversão da escrita convencional. Assim sendo, transportam as características da oralidade para a tela do computador, criando códigos de escrita específicos, nos quais a linguagem falada e escrita se fundem. A autora destaca em seu estudo os principais recursos utilizados na escrita do jovem na Internet:

ƒ Escrita com aspectos próprios da fala, representada pelo uso excessivo de sinais de pontuação, principalmente dos pontos de exclamação, interrogação e reticências, numa tentativa de fazer ecoar, na escrita, a entonação própria da fala; ƒ Utilização de letras maiúsculas para dar ênfase e alongamento vocálico e consonantal para dar à escrita a entonação da fala; ƒ Utilização intensa de abreviações, geralmente marcando-se uma letra para cada sílaba, como “blz” para beleza; ƒ Supressão de sinais gráficos como til, acento agudo e acento circunflexo, com grafias norteadas por tentativas de transcrição fonética da fala, como “jah” (já), “eh” (é) e “naum” (não); ƒ Substituições de palavras e expressões por símbolos ou algarismos, como “t+” (até mais), “9dade” (novidade) e “v6” ou “6” (vocês); ƒ Uso da tecla Enter substituindo os sinais de pontuação que marcam fronteiras oracionais, trazendo para a escrita as entonações de final de enunciado; ƒ Uso de gíria, por se tratar de um gênero utilizado por jovens; ƒ Interação marcada por ironia, sátira e deboche mútuo, sendo muito comuns xingamentos e palavrões, o que pode ser explicado pela necessidade de auto- afirmação perante os pares.

93

Uma vez desvendada a construção da escrita dos jovens no ambiente on- line, passou-se a acompanhar o site Yahoo!Respostas, examinado pelo período de sete meses – de julho de 2006 a janeiro de 2007. Foi possível, então, coletar perguntas e respostas elaboradas pelos próprios jovens sobre a telenovela Rebelde. Estes diálogos estão disponibilizados, na íntegra, no anexo desta dissertação, bem como no endereço eletrônico da referida comunidade (http://br.answers.yahoo.com). A seguir, pode-se observar a transcrição de alguns diálogos sobre a telenovela Rebelde estabelecidos pelos próprios jovens neste site:

Quadro 4 - Yahoo! Respostas: Diálogos entre internautas sobre a telenovela Rebelde.53

Karol Oq vcs axam da Novela REBELDE...influencia na criação dos filhos>? (julho de 2006)

bom, eh soh saber educa-los! se vc começar a axar lgl tbm , eles vao te axar a Line melhor mae do mundu , mais tente controlar, dizer o q tah errado!! eu soh fa da banda , e naum da novela , mais qualquer novela traz o conteudo do rebelde ... malhação é pior... tire a atenção das crianças na hora da novela , pq minha melhor amiga tah apx por rebelde , e tá acabandu com a vida dela , ela soh fala neles , mais soh por ser novela mexicana , as meninas tem q ficar gravidas, nada a ver! ok? bjoo

kaka Sim, pois toda espécie litterária visual exerce um forte componente formativo, uma vez que atua na formação de conceitos muitas vez não encontrados na escola, em casa, na rua...A mídia exerce e sempre exercerá uma significativa influência no cotidiano desse país "cinematográfico".

Alessandro Rebelde é melhor que Malhação [telenovela exibida na emissora GLOBO]? (agosto de 2006) Pode-se dizer que há um número muito grande de fãs de Rebelde e há muitos fãs de Malhação. Afinal, qual é melhor?

Bomm sempre fui mtu fã de malhação soh q desde o ano passado vem decaindu _CiNtHiA heim!! a melhor epoca era as 1ª mais eu adorei o ano da vagabanda mtu massa msmo!!! soh q agora tah meio chatoo!! jah Rebelde eh massa desde o começo eles sempre entram em encrenca! fala serioo!! mtu bomm!!! eu casco o bico com eles!! o Diego e a Roberta !!! rss..... mais os dois saum legais! soh q Rebelde tah mais legal do q malhaçao nos dias de hj!!!

53 YAHOO!BRASIL-RESPOSTAS. Disponível em: , e . Acesso em: julho e agosto de 2006. 94

futuro_ex... Rebelde ou RBD oque vc mais gosta? (agosto de 2006)

bem, considerando q Rebelde seria a novela e RBD apenas a banda, prefiro RBD! a novela é mt frakinha msm assim ainda é beeeeeeem melhor q malhaçao! apesar de a Paulo Tr maioria gostar de falar mal e criticar, o RBD é mt bacana e tem musicas q nao devem nada a kalker artista pop. começou como um projeto nao audacioso e acabou arrastando uma multidao de fans. mt bacana msm! eu msm era um dos q detestava ate q vi um dvd da minha irma e curti mt. nao demorou mt pra eu comprar os cds tds. na minha opniao o melhor cd é o nuestro amor, um trabalho mais maduro e com musicas mt lindas. estou super ancioso pro show deles aki no rio! estarei la! abraço!

Ao todo, no Yahoo!Respostas, foram coletadas 42 perguntas com suas respectivas respostas. Essas questões tratam de assuntos relacionados à telenovela Rebelde e à banda RBD, como a sua influência ou não no comportamento de crianças e jovens, comparações entre novelas direcionadas ao público jovem, a homogeneidade étnica do elenco, o sucesso da telenovela, a faixa etária do público que a assiste, roupas e objetos da marca Rebelde ou relacionados à atração e preconceitos que recaem sobre os meninos que a assistem. Pôde-se notar que as perguntas e respostas são repetitivas, recorrendo sempre às mesmas temáticas, o que demonstra a grande preocupação dos jovens em relação a esses assuntos. A identificação dos temas mais recorrentes subsidiou a elaboração da pesquisa de campo quanto ao que deveria ser abordado no questionário, permitindo considerar a cultura juvenil e os processos de Projeção- Identificação na sua construção. Assim, após a observação no ambiente on-line do que pensam estes jovens sobre a telenovela Rebelde, iniciou-se o processo de construção e formatação do questionário.

3.2.2 - Os jovens e a televisão

Com a primeira versão do questionário sobre a televisão pronta, foi realizado um pré-teste, entre os dias 15 e 21 de março de 2007, em uma turma, cujas críticas e sugestões possibilitaram identificar falhas e corrigi-las. Observou-se, nesse momento, que a linguagem empregada no questionário estava distante daquela utilizada pelo jovem, fato que tornava a leitura das questões difícil de ser entendida e cansativa. 95

Os alunos, ao perceberem que tinham de responder a perguntas abertas, se retraíram, pela dificuldade quanto à leitura e escrita. Dessa forma, houve a compreensão de que não somente as idéias contidas no site Yahoo!Respostas, mas também a linguagem nele utilizada poderia facilitar o entendimento das questões pelo jovem. A formatação do questionário também não era percebida como agradável; havia muitas questões e a letra usada era pequena. Foram necessárias várias reformulações para que se conseguisse o resultado esperado.

Figura 30 - Fragmento do pré-teste respondido pelos alunos.

96

Após essa etapa de pré-teste, as vantagens e inconveniências contidas em cada questão foram analisadas em seus aspectos conceituais e de formatação. A intenção era utilizar um formato que considerasse o repertório cultural dos alunos. Percebeu-se, assim, que se fossem aplicadas questões fechadas as limitações dos alunos não seriam expostas, e, dessa forma, eles se abririam para a participação. Em decorrência disso, houve a necessidade de elaborar alternativas a partir do material coletado no site Yahoo!Respostas, material este construído pelos próprios jovens, e também das respostas dadas no pré-teste. Quatro questões apresentaram como opção a alternativa “Outra(s) - Qual/Quais?”, possibilitando ao entrevistado responder de forma espontânea. Vale destacar ainda que o vocabulário utilizado na concepção das questões foi alvo de atenção, procurando-se utilizar a linguagem corrente entre os jovens. Assim, logo no cabeçalho do questionário o entrevistado era solicitado a indicar dados pessoais, como nome, idade, sexo, nome da escola, série em que estuda e pseudônimo pelo qual gostaria de ser identificado, além da data de aplicação do questionário. O objetivo da utilização de pseudônimos nesta pesquisa é preservar a identidade dos alunos. O primeiro questionário, sobre a televisão, foi composto por dez questões divididas entre perguntas fechadas e de múltipla escolha. Com o objetivo de apreender a realidade do jovem e o impacto da televisão em sua vida, as perguntas se referiram a dados objetivos sobre a sua relação com esse meio de comunicação, como: assiste ou não à TV e qual tipo de transmissão televisiva – aberta, a cabo ou parabólica; quando, com que freqüência, em que período e quantas horas por dia assiste à TV; programas preferidos; a função da televisão. Também foram elaboradas questões concernentes à telenovela Rebelde, como: assistiu ou não; se assistiu, com que freqüência; e gostou ou não da telenovela. O questionário foi aplicado pela pesquisadora, que apresentou a natureza do trabalho e explicou seus objetivos. A aplicação do questionário foi realizada nos três períodos de atividade da escola, com duração de 40 minutos em média, em uma sala preparada para este fim, entre os dias 30 de maio e 04 de junho de 2008. Quanto à primeira pergunta, “Você assiste à televisão?”, dos 240 alunos participantes, 100% responderam “sim”. Em relação ao tipo de recepção televisiva, 209 alunos (80%) assinalaram a alternativa “parabólica”, 31 alunos (12%) a alternativa “TV aberta” e 22 alunos (8%) “TV a cabo”. 97

No bairro onde a escola está situada, a recepção televisiva só é possível mediante antenas parabólicas, o que justifica o elevado percentual desse item. Para se adquirir uma antena parabólica com um receptor é necessário despender cerca de R$ 350,00, de acordo com os comerciantes locais. Alguns alunos residem em bairros que, apesar de serem vizinhos ao da escola, são distantes fisicamente desta, ou em bairros de São Paulo que fazem divisa com o município de Caieiras, como Perus e Taipas, o que possibilita o acesso à TV aberta. Os alunos que possuem TV a cabo são minoria, devido ao custo da assinatura. A maior parte dos alunos pesquisados assiste à TV durante a semana; de 240 entrevistados, 211 (60%) assinalaram essa opção. Apenas 29 alunos (12%) assistem à TV somente no fim de semana. Durante a aplicação do questionário, estes alunos relataram que, como trabalham e estudam durante a semana, só podem acompanhar a programação televisiva no final de semana. Ademais, 141 alunos (40%) afirmaram que assistem à TV no fim de semana, sendo que 112 alunos (47%) o fazem durante a semana e também no sábado e domingo. A maioria dos entrevistados afirmou que assiste à TV todos os dias; 171 alunos (72%) assinalaram essa opção. Já os que declararam assistir à TV às vezes correspondem a 65 entrevistados (28%), podendo assistir às vezes tanto durante a semana quanto no fim de semana. Na questão sobre o período em que assiste à TV, o entrevistado pôde assinalar mais de uma alternativa. A maior parte dos alunos assinalou os dois períodos em que não estão na escola, ou seja, durante o tempo em que permanecem em suas residências assistem à TV. Dos 240 alunos participantes, 146 ou 38% disseram que assistem à TV no período da noite. Em seguida, 124 alunos, perfazendo 32%, citaram o período da tarde. O período da manhã foi o menos citado; apenas 74 alunos escolheram essa opção, correspondendo a 19%. Ainda nesta questão, 43 alunos, ou seja, 11%, indicaram que assistem à TV o dia todo. Com esses resultados, entende-se que a maior parte dos alunos assistem à televisão em mais de um período, destacando-se os períodos da tarde e da noite.

98

Sobre quantas horas diárias os entrevistados assistem à TV, a maioria, 95 alunos (40%), dedica mais de 6 horas por dia à televisão. Somando-se os alunos que assistem à TV por mais de 4 horas diárias, temos 137 alunos, perfazendo 57%. Esse dado específico diz muito sobre a importância que os jovens atribuem à televisão, ocupando um tempo muito importante em suas vidas. A questão seguinte teve como objetivo investigar as preferências dos jovens quanto aos programas televisivos. O gráfico apresentado mais adiante demonstra que as novelas são os programas mais assistidos pelos jovens entrevistados, com 238 citações, correspondente a 99%. Esta informação confirma a hipótese inicial desta pesquisa de que as telenovelas estariam entre os programas mais assistidos pelos jovens. O segundo tipo de programa mais escolhido pelos entrevistados foram os filmes, com 230 citações (96%), e o terceiro foram os desenhos animados, com 203 citações (85%). Cabe notar que estes são programas que propiciam uma intensa participação estética, por meio do processo de identificação-projeção. Além disso, 5 alunos (2%) assinalaram a opção “Outro(s)”, e especificaram que também assistem ao Cine Privé (programa erótico), a programas sobre animais, de variedades e de culinária. Entre os jovens pesquisados, os programas menos assistidos são aqueles religiosos, com 30 citações (12%), de vendas, com 39 citações (16%), e do tipo teleplay, com 50 citações (21%). Os documentários e os programas educativos também são pouco assistidos pelos pesquisados, com 56 (23%) e 66 (27%) citações, respectivamente. O gráfico a seguir apresenta os resultados obtidos por ranking, ou seja, iniciando pelas opções mais citadas:

99

Gráfico 1 - Programas que assiste pela TV, por ranking.

NOVELA 238; 99% FILME 230; 96% DESENHO ANIMADO 203; 85% MÚSICA 166; 69% SERIADO 159; 66% REALITY SHOW 143; 60% HUMORÍSTICO 140; 58% REPORTAGEM 137; 57% PROGRAMA DE AUDITÓRIO 135; 56% ESPORTE 127; 53% TELEJORNAL 113; 47% ENTREVISTA 102; 42% INFANTIL 82; 34% EDUCATIVO 66; 28% DOCUMENTÁRIO 56; 23% TELEPLAY 50; 21% PROGRAMA DE VENDAS 39; 16% RELIGIOSO 30; 13% OUTRO (1) 5; 2%

0 50 100 150 200 250

(1) - Cine Prive, programa sobre animais, programa de variedades e programa de culinária.

Com o objetivo de averiguar o que pensam os jovens sobre a função da televisão, a questão seguinte apresentou 15 opções que permitiam a múltipla escolha. A maior parte – 192 alunos (80%) – optou pela alternativa que indicava que a televisão “preenche o tempo quando a gente não tem o que fazer”; a segunda opção mais escolhida foi a de que a televisão “distrai”, assinalada por 189 alunos (79%). Estes dados podem estar relacionados à escassa oferta de atividades culturais e esportivas no bairro em que residem. Em terceiro e quarto lugar ficaram as opções “mostra lugares e assuntos que não conheço” e “ajuda a aprender coisas”, com 171 (71%) e 162 (68%) citações, respectivamente. A maioria dos pesquisados também não acredita que a televisão possa deixar os jovens frustrados por não serem como aqueles que o meio mostra, muito menos levá-los a serem violentos. Na opção “outra(s)”, assinalada por 13 alunos, 100

foram indicadas respostas como “a televisão me anima, eu danço assistindo os clipes”, “me faz ficar feliz”, “me ajuda a saber das notícias, a ver a realidade do mundo, a não ficar na rua”, “mostra a violência e casos de polícia”, “é uma alienação, manipula as pessoas”.

Gráfico 2 - A televisão, por ranking.

Preenche o tempo quando a gente não tem o que 192; 80% fazer Distrai 189; 79%

Mostra lugares e assuntos que não conheço 171; 71%

Ajuda a aprender coisas 162; 68% Faz a gente deixar de lado outras atividades para 120; 50% ficar em frente à TV Não deixa se sentir sozinho 116; 48%

Ajuda a ficar na moda 111; 46%

Faz esquecer os problemas 110; 46%

Mostra novelas com as quais me identifico 109; 45%

Leva a imitar os personagens da novela 97; 40%

Trata dos problemas da vida 94; 39% Apresenta anúncios que dão vontade de comprar tudo 72; 30% Faz a moçada ficar frustrada por não ser como a 50; 21% TV mostra Leva o jovem a ser violento 36; 15%

Outra(s) (2) 13; 5%

0 50 100 150 200 250

(2) - Me anima, eu danço assistindo os clipes; me faz ficar feliz; me ajuda a saber das notícias, a ver a realidade do mundo, a não ficar na rua; mostra a violência e casos de polícia; é uma alienação, manipula as pessoas.

A pergunta seguinte, por sua vez, procurava identificar se os entrevistados haviam assistido à telenovela Rebelde, constatando que 217 (90%) alunos a assistiram. Somente 23 estudantes (10%) disseram não tê-la assistido, mas ainda assim quiseram participar da pesquisa, já que este primeiro questionário teve como foco a televisão.

101

Logo depois, dos 240 entrevistados, 218 (91%) afirmaram assistir a outras telenovelas. Em contrapartida, 20 alunos (8%) disseram que assistiam exclusivamente à telenovela Rebelde. E apenas 2 alunos (1%) declararam não assistir nenhuma telenovela. Estas informações vêm corroborar a preferência por esse gênero televisivo. Sobre a freqüência com que assistiram à telenovela Rebelde, dos alunos que anteriormente haviam afirmado que a viram, a maioria, 110 alunos (51%), assistiu somente a alguns capítulos, 55 (25%) assistiram a muitos capítulos e 53 (24%) não perderam nenhum capítulo. Os entrevistados que assistiram a muitos capítulos e aqueles que não perderam nenhum capítulo totalizam 108 alunos, correspondendo a 49%. Deste grupo específico, 105 declararam ter gostado da telenovela, e somente 3 disseram que não gostaram dela. Dos 240 alunos, 150 (69%) disseram ter gostado da telenovela, e 66 (31%) disseram não ter gostado da novela, argumentando que a assistiram pelos seguintes motivos: “os irmãos ou os sobrinhos assistiam”; “todos assistiam”; “todos comentavam diariamente”; “estava na moda”; “mostrava muita rebeldia”; “fazia as pessoas ficarem rebeldes com os pais e familiares”; “não tinha outra coisa para assistir ou fazer”; “para passar o tempo”; “foge um pouco da realidade”; “para estudar o comportamento do jovem alienado”.

3.2.3 - Os jovens e a telenovela Rebelde

Em continuidade à pesquisa, foi elaborado um questionário específico sobre a telenovela Rebelde (vide apêndice) com cinco questões, procurando-se obter resultados que expressassem, de forma mais apurada, a relação do jovem com esta atração, a partir das categorias de análise de projeção-identificação, consubstanciadas pelo referencial teórico pesquisado. Nas primeiras quatro perguntas optou-se por questões fechadas de múltipla escolha, em que o aluno pôde escolher uma ou mais opções entre as apresentadas. As alternativas para estas questões também foram elaboradas a partir do material coletado no site Yahoo!Respostas, das respostas dadas pelos alunos no pré-teste e, principalmente, da pesquisa bibliográfica, tendo como objetivo verificar os processos de projeção-identificação. Estas questões também apresentaram como última opção 102

a alternativa “Outra(s) - Qual/Quais?”, possibilitando ao aluno dar respostas mais espontâneas. Já a quinta questão buscou investigar a relação do aluno com a escola e da escola com a televisão, utilizando-se perguntas fechadas. A última parte ficou reservada para comentários dos alunos. Embora no pré- teste tenha se observado uma escrita de difícil entendimento, em função da caligrafia quase ininteligível, dos erros de ortografia e da falta de clareza de idéias, julgou-se importante incluir no questionário espaço para comentários, na tentativa de se verificar a aproximação entre os dados quantitativos e os fatos cotidianos que cercam e aprofundam as questões investigadas. Desse modo, procura-se penetrar no mundo discursivo dos jovens, bem como ilustrar e exemplificar, por meio das palavras dos próprios alunos, a realidade detectada na etapa quantitativa. Além disso, no questionário foram incluídas imagens relacionadas à telenovela e à banda RBD, com o escopo de torná-lo mais atraente para os jovens. Durante a aplicação do questionário, foi possível perceber fatos relevantes, mas que estavam implícitos. Nesse sentido, Morin (1984, p.138), sobre a relação entre o investigador e o terreno, afirma:

Não se trata simplesmente de uma relação sujeito-objecto. O terreno é humano. O pesquisado é simultaneamente objecto e sujeito, e não se pode eliminar o carácter intersubjectivo de qualquer relação de homem a homem. Pensamos que a relação óptima requer, por um lado, desapego e objetivação relativamente ao objecto de pesquisa; por outro lado, participação e simpatia em relação ao sujeito pesquisado. Como o sujeito pesquisado e o objeto de pesquisa são o mesmo, somos levados a ser duplos.

A aplicação deste questionário também aconteceu nos três períodos de atividade da escola, com duração média de 40 minutos, em uma sala preparada para este fim, entre os dias 20 e 26 de junho de 2008. Um dos acontecimentos que chamou atenção foi o caso de uma aluna da 8ª série do Ensino Fundamental que ainda não estava alfabetizada. Ela procurava ocultar o fato, já que o preenchimento do questionário era feito à medida que as questões e alternativas eram lidas pela pesquisadora, mas o último item da pesquisa, que pedia seu comentário, fez com que o caso fosse descoberto. Embora o comentário não fosse obrigatório (alguns alunos não fizeram comentários), esta 103

aluna queria muito registrar suas observações, pois se declarava fã da telenovela. Assim, após uma conversa em particular com a aluna, que se sentia envergonhada, foi necessário auxiliá-la individualmente para que conseguisse transcrever seu pensamento, possibilitando desta maneira a sua participação neste item. Outro fator que se destacou durante a execução da pesquisa foi o preconceito dirigido aos participantes do sexo masculino que assistiram à telenovela Rebelde. Muitos rapazes não participaram desta etapa da pesquisa, não por não terem assistido à telenovela, mas sim por constrangimento. Esta ocorrência também estava presente no site Yahoo!Respostas, em que constam perguntas e respostas sobre o tema, como se pode ver a seguir:

Quadro 5 - Yahoo!Respostas: Diálogos entre internautas sobre a masculinidade dos rapazes que assistem à telenovela Rebelde.54 Cesar Vc acha homens que curte rebelde é *****? (setembro de 2006) pq eu amo so o fam deles numero 1... e quero veer as suas opnião.. há e vc gosta de ofender?

Tatá Claro que não, fique tranqüilo, rebelde é uma novela divertida, feita para o público jovem. Agora Gay, são esses que tem tanto medo de por sua masculinidade em risco que nem assistem novelas pra ninguém dizer nada a respeito. Isso sim é meio suspeito concorda?

Cesar Sim eu concordo com ela...

agora quem acha que é gay coisa assim ta totalmente errado só pq eu assisto eu so gay?? aff calma ae né e alendo + ñ preciso de provar eu so e ponto final...

Felipe Não, afinal rebelde é uma novela para adolescentes, e não para mulheres ou gays. Blz?

eureka Nada a ver orientação sexual com curtir rebeldes, ate eu gosto "e sou rebelde...." a minha namorada me mata...... rsrs mas nao tem nada a ver

*Gueninha Naum mas axo q eles se identificam com os meninos e temtam imitá-los, isso eh fase depois passa....

54 YAHOO!BRASIL-RESPOSTAS. Disponível em: e . Acesso em: setembro e novembro de 2006. 104

Todo adolescente homem que curte rebelde é gay? dodião (novembro de 2006) Pq todos os meninos que interpretam os ídolos no programa do gugu tem um jeitão, e vc precisa ver elles nos shows, parecem umas meninhinhas assanhadas, não se sabe se é pelos garotos ou pelas garotas, mas acho que isso é difícil. Não querendo generalizar, at´pq eu gosto do hit salva-me, mas também é só.

Pri Eu achu q naum pois cada um tem o seu estilo musical agora naum e so pq eles gostam de rbd e que vaum ser gays eu achu q naum tem nada a ver os meninos que gostam de rbd ser gays conheçu um menino que e gay e odeia rbds e outro q gosta de rbd e namora minha amiga.

Não, eu tenho um colega que foi ao show aqui em Brasília, pintou o cabelo de ×÷)»N@ND@ laranjado e foi para o colégio com a blusa dos rebeldes e não é gay, pelo contrário é .. um galinha nato. Mas também tem alguns que são gays.

Muitos se fazem de gays ou também curtem esses sons só para estarem perto das meninas e poderem tirar uma casquinha.

Esta situação se refletiu diretamente no número de jovens do sexo masculino participantes da investigação. Na primeira fase da pesquisa, em que o questionário versava sobre a televisão, pôde-se contar com a participação de 77 rapazes (32%); já na segunda fase, que tinha como foco a telenovela Rebelde, a participação dos rapazes foi expressivamente reduzida para apenas 11 (10%). Alguns deles relataram que se participassem seriam alvo de chacotas. Esclarecida a construção do questionário sobre a telenovela Rebelde e comentadas as observações feitas durante a sua aplicação, ver-se-á a seguir o critério de seleção do grupo que respondeu este questionário e as suas características. Como visto nos resultados do primeiro questionário sobre a televisão, os alunos que assistiram à telenovela Rebelde foram 217. A partir deste dado, a escolha dos participantes para responderem o questionário sobre a telenovela Rebelde teve como critério a seleção dos alunos que possibilitariam a investigação dos processos de projeção-identificação, ou seja, os alunos que não perderam nenhum capítulo ou assistiram a muito capítulos e gostaram da telenovela. Estes representam 105 alunos, correspondendo a 48% do total dos que assistiram à telenovela Rebelde. Quanto à faixa etária deste grupo, a maior parte tem idades entre 13 e 15 anos, correspondendo a 64 alunos (61%). Em seguida vêm os alunos com idades entre 16 e 17 anos, somando 25 participantes (23%). A menor participação é da 105

faixa etária de 18 a 19 anos, com 6 alunos (6%), seguida pelos alunos de 12 anos, com 10 participantes (10%). Quanto à série em que estudam os partícipes, a maioria cursa a 7ª série do Ensino Fundamental, com 28 alunos (27%); 25 alunos (24%) cursam o 1º ano do Ensino Médio; e 21 alunos (20%) cursam a 8ª série do Ensino Fundamental. As séries com menor representatividade são o 2º ano do Ensino Médio, com 14 alunos (13%), e o 3º ano do Ensino Médio, com 17 alunos (16%). Quanto ao gênero dos participantes, pelos motivos já relatados, há escassez de jovens do sexo masculino, representados por apenas 11 rapazes (10%). Em contrapartida, as garotas representam a grande maioria, com 94 alunas (90%).

Primeira questão

Uma vez apresentado o perfil do segundo grupo, passa-se agora a analisar os dados obtidos. A primeira questão do questionário sobre a telenovela Rebelde teve como objetivo entender o que esta representa para os jovens. Assim, foram selecionadas opções sobre a importância da música para a audiência da telenovela; o interesse dos jovens em relação à vida dos atores e aos integrantes da banda RBD, uma vez que esta saiu da ficção e se tornou real, ficando independente da telenovela; e o estabelecimento ou não de relações entre os fatos da telenovela e a vida dos jovens.

( ) É uma diversão. ( ) Mostra corpos bonitos. ( ) Mostra muita gente “ficando”. ( ) Acabou e sinto saudades. ( ) Mostra uma vida mais interessante.

( ) Mostra uma vida de sonhos e aventuras.

( ) Tem a música como atrativo da audiência.

( ) Desperta curiosidade sobre a banda ou a vida dos atores.

( ) Mostra que os personagens têm qualidades e defeitos como na vida real.

( ) Outra - Qual? ______QUESTÃO 01 - A NOVELA REBELDE:

106

Nesta questão, em que os alunos podiam escolher mais de uma opção, conforme comentado anteriormente, todas as alternativas tiveram alto índice de escolha – variando entre 73% (77 alunos) e 94% (99 alunos) –, com exceção da última, “Outra - Qual?”, assinalada por apenas 6 alunos (5%), os quais responderam que a telenovela “ensina coisas boas e ruins”, “chama a atenção por falar dos adolescentes” e “mostra a realidade dos adolescentes”. A opção indicando que para o jovem a telenovela representa uma diversão foi a mais assinalada, sendo marcada por 99 entrevistados (94%). Se, por um lado, este dado pode revelar que aos pesquisados faltam opções de lazer, recursos financeiros ou mesmo educação para o tempo livre, por outro, demonstra a relação afetiva do jovem com a telenovela preferida. Em segundo lugar, 98 alunos (93%) disseram que a telenovela mostra que os personagens têm qualidades e defeitos como na vida real, demonstrando que os jovens estabelecem relações entre suas vidas e as dos personagens da ficção, já que é preciso haver condições de verossimilhança e de veracidade que assegurem a comunicação com a realidade vivida, bem como que os personagens participem da humanidade cotidiana. Em terceiro lugar, para 97 alunos (92%) a telenovela tem a música como atrativo da audiência, confirmando a importância da banda RBD na trama. Entre os elementos que fazem o público guardar na memória uma telenovela, até anos depois do seu final, está a trilha sonora. As músicas marcam a aparição de certos personagens, ajudam a compor o clima que os cerca e alia-se à personalidade e ao estilo de vida de cada um deles. Além disso, enfatiza as situações em que as pessoas se vêem envolvidas, sejam de drama, comédia, amor etc. No caso de Rebelde, tudo isso é potencializado com a formação da banda que sai da ficção e se apresenta na vida real. Segundo 91% dos jovens, Rebelde despertava curiosidade sobre a banda RBD ou a vida dos atores da telenovela, dado que justifica o fato de até a vida privada do ídolo tornar-se um produto. Prova disso são revistas como Caras, Capricho, Quem e Contigo, que não vendem nada além da vida dos artistas. Mediante revistas como essas, o jovem se projeta e se identifica com seu ídolo, pois ele também é jovem e tem interesses, necessidades e aspirações como todos os outros jovens, porém sua vida, ao menos aparentemente, tem mais glamour, intensidade, amor, riqueza afetiva e material se comparada à vivência dos mortais 107

“comuns”. A imprensa de massa, ao mesmo tempo em que investe os ídolos de um papel mitológico, mergulha em suas vidas privadas a fim de extrair delas a substância humana que permite a identificação. (MORIN, 2005e, p.106-7) A vida imaginária é o produto de uma necessidade real, advinda da vida anônima que deseja ampliar-se até a dimensão das vidas das estrelas, que são projeções desta necessidade. É isso que leva 88% dos jovens pesquisados a dizerem que a telenovela “mostra uma vida de sonhos e aventuras” e 73% a afirmarem que “mostra uma vida mais interessante”.

Gráfico 3 - A novela Rebelde, por ranking.

É uma diversão. 99; 94% Mostra que as personagens têm qualidades e defeitos como na vida real. 98; 93%

Tem a música como atrativo da audiência. 97; 92%

Desperta curiosidade sobre a banda ou a vida dos atores. 96; 91%

Mostra corpos bonitos. 94; 90%

Acabou e sinto saudades. 94; 90%

Mostra uma vida de sonhos e aventuras. 93; 89%

Mostra muita gente “ficando”. 84; 80%

Mostra uma vida mais interessante. 77; 73%

Outra (1) 6; 6%

(1) - Ensina coisas boas e ruins; Chama a atenção por falar dos adolescentes; e Mostra a realidade dos adolescentes.

Segunda questão

A segunda questão teve como objetivo averiguar o que os jovens podem aprender com a telenovela Rebelde. Também nesta questão, em que os alunos novamente podiam escolher mais de uma opção, todas as alternativas tiveram alto índice de escolha, variando entre 69% (72 alunos) e 95% (100 alunos), com exceção da opção “Outra - Qual?”, 108

assinalada por apenas 1 aluno, que respondeu que a trama “mostra que os adolescentes sabem ser mentirosos e verdadeiros”.

( ) Apresenta um novo jeito de falar.

( ) Traz sempre uma mensagem para pensar.

( ) Ajuda na aprendizagem.

( ) Incentiva a gente a lutar pelo que acredita.

( ) Ajuda a lidar melhor com os meus sentimentos.

( ) Desperta interesse pelo espanhol.

( ) Dá idéias para a gente questionar e negociar quando não concorda com algo.

( ) Ajuda a resolver problemas quando não encontramos respostas na escola e com amigos.

( ) Mostra assuntos importantes como amizade, namoro, sexo, gravidez, drogas, preconceito, violência, doença etc. QUESTÃO 02 - A TRAMA DA NOVELA: ( ) Outra - Qual? ______

______

Em primeiro lugar ficou a opção indicando que a novela “mostra assuntos importantes como amizade, namoro, sexo, gravidez, drogas, preconceito, violência, doença etc”, assinalada por 100 alunos (95%). Em segundo lugar ficou a opção “incentiva a gente a lutar pelo que acredita”, eleita por 99 alunos (94%), e em seguida “traz sempre uma mensagem para pensar”, indicada por 98 alunos (93%). Estas informações confirmam a relevância para os jovens dos temas abordados na telenovela, já que trata de situações que correspondem aos seus interesses e que dizem respeito às suas necessidades e aspirações cotidianas. Evidenciam também que a telenovela tem o potencial de cooperar para a forma de pensar e agir do jovem. Dessa forma, por intermédio de sua trama e de seus protagonistas, o que se demonstra é a possibilidade de os jovens aprenderem com a telenovela Rebelde, uma vez que representa a própria vida, aborda o meio social, familiar, histórico e as relações humanas.

109

Gráfico 4 - A trama da novela, por ranking.

Mostra assuntos importantes como amizade, namoro, sexo, gravidez, drogas, preconceito, 100; 95% violência, doença etc.

Incentiva a gente a lutar pelo que acredita. 99; 94%

Traz sempre uma mensagem para pensar. 98; 93%

Dá idéias para a gente questionar e negociar 93; 89% quando não concorda com algo.

Apresenta um novo jeito de falar. 90; 86%

Desperta interesse pelo espanhol. 90; 86%

Ajuda na aprendizagem. 86; 82%

Ajuda a lidar melhor com os meus sentimentos. 82; 78%

Ajuda a resolver problemas quando não 72; 69% encontramos respostas na escola e com amigos.

Outra (2) 1; 1%

(2) - Mostra que os adolescentes sabem ser mentirosos e verdadeiros.

A telenovela suscita uma série de questionamentos ao permitir aos jovens se imaginarem no lugar dos personagens ou ao fazê-los trazer os personagens para alguma circunstância real de suas vidas. A identificação tanto pode ser positiva quanto negativa. Como a participação se dá freqüentemente sob um processo de projeção e identificação com um ou vários personagens, existe grande probabilidade de esta se efetuar com intensa carga emocional. E este processo pode ocorrer tanto em telespectadores diferentes como no mesmo telespectador, em momentos diversos. Ao observarem diferentes personagens como se fossem pessoas reais, os telespectadores se colocam diante de um espelho, e se confrontam com seus próprios valores. Nesse sentido, o eu ou o nós do telespectador é visto como diferente e mesmo contraditório ao ele, elas e eles que estão na telenovela. O fato de os personagens estarem sujeitos a variações morais e psicológicas que imitam a vida real, de evoluírem e se manifestarem dentro de seus relacionamentos com 110

outros personagens, revelando diversos aspectos de sua personalidade, é a grande fascinação do gênero.

Relato 4 - A vida imaginária: uma necessidade real. *Jé* (16 anos, 2º ano) – [...] eu sempre gostei pelo fato de mostrar realmente o que nos acontece (nossas dúvidas, sonhos...) [...]. *Anitty* (15 anos, 1º ano) – Apesar de Rebelde ter sido inicialmente só mais uma novelinha juvenil, ele acabou sendo mais que isso, se tornou um guia. Ele fazia a gente refletir várias vezes sobre o que estava acontecendo com a gente, o que aconteceria, etc. As vezes era mais uma galeria...... pra gente se inspirar no visual, ou até morrer de inveja. [...] U Pam (15 anos, 1º ano) – Eu assistia a novela, porque tratava de assuntos muito interessantes, e importantes. [...] #Zero# (14 anos, 1º ano) – [...] Eu gostei da novela porque mostra o que um adolescente passa durante esta fase da vida. [...] *Nathy* (14 anos, 8ª série) – A novela Rebelde tinha tudo a ver com o meu dia-a-dia. [...] *Bi* (13 anos, 7ª série) – [...] Na novela mostra coisas reais que acontecem na escola. [...]

Terceira questão

A terceira questão teve como objetivo investigar a relação de consumo dos jovens com os produtos relacionados tanto aos personagens da telenovela quanto aos atores desta (também integrantes da banda RBD). Buscava-se também ponderar a atribuição de valor afetivo a estes objetos, como pôsteres, fotografias, entre outros, bem como verificar de que maneira os jovens se informam a respeito de seus ídolos e identificar se procuram estabelecer contato com estes mediante e- mails ou cartas. Assim, os alunos foram solicitados a assinalar as alternativas com que mais se identificassem, sendo que em primeiro lugar ficou a opção “adoro a novela e o RBD”, com 100 citações (95%); em segundo lugar ficou a opção “gostaria de ter uma lembrança de meus ídolos, como um autógrafo, uma fotografia ao lado deles ou um objeto”, com 99 citações (94%), revelando um desejo do jovem de continuar o seu sonho por meio de suportes míticos; e o terceiro lugar ficou para “gostaria muito de ir ao show do RBD”, com 95 citações (90%).

111

( ) Adoro a novela e o RBD. ( ) Tenho os CDs e DVDs.

( ) Já fui ao show do RBD.

( ) Gostaria muito de ir ao show do RBD.

( ) Tenho revistas, jornais, pôsteres etc.

( ) Entro no Orkut e no site de Rebelde ou RBD

( ) Já escrevi uma carta/e-mail para meus ídolos.

( ) Pretendo escrever uma carta/e-mail para meus ídolos.

( ) Gostaria de ter uma lembrança de meus ídolos, como um autógrafo, uma fotografia ao

QUESTÃO 03 - EU E REBELDE: lado deles ou um objeto.

( ) Outra - Qual? ______

Em quarto lugar ficaram empatadas as opções “tenho revistas, jornais, pôsteres etc” e “tenho os CDs e DVDs”, assinaladas, cada uma, por 84 alunos (80%); seguidas da opção “entro no orkut e no site de Rebelde ou RBD”, escolhida por 61 estudantes (58%). Ademais, 39 entrevistados (37%) afirmaram que pretendem escrever uma carta ou e-mail para seus ídolos, e 23 (22%) declararam já tê-lo feito, o que demonstra a adoração que os fãs alimentam pelos seus “deuses”. Da mesma forma que fiéis faziam oferendas aos deuses antigos para, em troca, realizarem pedidos, os fãs fazem as mais diversas ofertas e os mais diversos pedidos para seus ídolos. Os admiradores mais exaltados fazem de seus “deuses” sua razão de viver, e muitas vezes tal adoração interfere até mesmo em seu cotidiano. Outros sabem tudo sobre seus ídolos. Também característico dessa situação são os fãs que não conseguem distinguir o ator do personagem.

112

Relato 5 - Fãs da telenovela Rebelde.

*Rose* (15 anos, 1º ano) – [...] foi paixão a primeira vista comecei a assistir só por causa do Diego mais depois eu comecei a conhecer os outros personagens e da em diante não parei de assistir na hora da novela era uma hora sagrada para mim ficava como uma estatua na frente da televisão não adiantava vim falar comigo era Rebelde no céu e eu na terra Às vezes eu ia na casa da minha tia e lá não pegava o SBT. ficava em gual uma loga subia no telhado pra arrumar a antena e por incrível que pareça sempre conseguia adorava esta novela... #FabiS# (14 anos, 8ª série) – Eu já tentei arrumar emprego só para ir no show do RBD e não consegi mas arrumei o dinheiro mas não tinha mais os ingressos. já briguei com o meu pai por causa da novela e quando eu vou escutar o sede e meu pai chega é aquela discurção mas tudo isso porque eu amo RBD de alma e coração. E se eu vejo alguma pessoa falando mal eu brigo com eles não fale mal de Rebelde perto de mim se não eu viro a macaca *Má* (14 anos, 8ª série) – Eu já fiz uma carta quilométrica. Já deixei de perder uma calça para pegar o dinheiro pra comprar poster do RBD. Já veio uma fortuna de conta de telefone por causa que eu ficava na Internet vendo as fotos os clipes Também já briguei com os meus pais porque eu queria assistir Rebelde e os meus pais queriam assistir jornal então eu ganhei uma televisão só pra mim. Já recebi o apelido de Mia por causa do meu cabelo grande, e o meu jeito de falar.

A opção menos citada foi “já fui ao show do RBD“, com apenas 4 citações (4%), evidenciando o baixo poder aquisitivo dos jovens em questão. A propósito, cabe mencionar que, durante a pesquisa de campo, uma jovem da 7ª série ofereceu à pesquisadora seus serviços como babá, pois, segundo suas palavras, precisava urgentemente “arrumar grana para ir ao show do RBD“. Na opção “Outra - Qual?”, 3 alunos escreveram, respectivamente, “gostaria de passar um dia inteiro com os meus ídolos”, “gostaria de pelo menos falar com eles” e “[gostaria de] ter eles sempre por perto”.

113

Gráfico 5 – Eu e Rebelde, por ranking.

Adoro a novela e o RBD. 100; 95% Gostaria de ter uma lembrança de meus ídolos, como um autógrafo, uma fotografia 99; 94% ao lado deles ou um objeto. Gostaria muito de ir ao show do RBD. 95; 90%

Tenho revistas, jornais, pôsteres etc. 84; 80%

Tenho os CDs e DVDs. 84; 80%

Entro no Orkut e no site de Rebelde ou RBD. 61; 58%

Pretendo escrever uma carta/e-mail para 39; 37% meus ídolos. Já escrevi uma carta/e-mail para meus 23; 22% ídolos.

Já fui ao show do RBD. 4; 4%

Outra (3) 3; 3%

(3) - Gostaria de passar um dia inteiro com os meus ídolos, gostaria de pelo menos falar com eles, ter eles sempre por perto.

Quarta questão

A quarta questão, que solicitava aos entrevistados que completassem a frase “Inspirado na novela, quem assiste...”, teve como objetivo investigar se os protagonistas da telenovela podem vir a ser modelos, suscitando desejos de imitação, como, por exemplo, em relação aos estilos de vestimentas, aos discursos e às condutas dos personagens.

114

( ) Gosta de usar roupas, calçados e acessórios (como bonés, faixas para cabelos, brincos, pulseiras, colares, mochilas etc), para ficar fashion.

( ) Acha a gravata desalinhada, a minissaia e a bota de cano alto “supersexy”.

( ) Gosta e segue os cortes e cores de cabelos e penteados.

( ) Usa a maquiagem como a das personagens na hora de se produzir.

( ) Usa piercing ou tatuagem como o/a dos personagens.

( ) Gostaria de usar piercing ou tatuagem como o/a dos personagens.

( ) Fala igual aos personagens.

( ) Gostaria de ter tudo o que vê na novela. QUEM ASSISTE: QUEM ( ) “Fica” muito.

( ) Fuma ou bebe.

( ) “Transa”. QUESTÃO 04 - INSPIRADO NA NOVELA, ( ) Outra - Qual? ______

Na primeira posição ficou a opção “gosta de usar roupas, calçados e acessórios (como bonés, faixas para cabelos, brincos, pulseiras, colares, mochilas etc), para ficar fashion”, com 101 citações, correspondendo a 96% dos entrevistados. Em segundo lugar a opção “acha a gravata desalinhada, a minissaia e a bota de cano alto ‘supersexy’”, com 96 citações, ou seja, 91%. E em terceiro lugar a opção “gostaria de ter tudo o que vê na novela”, com 93 citações (89%), seguida pela alternativa “gosta e segue os cortes e cores de cabelos e penteados”, com 90 citações, correspondendo a 86% dos entrevistados. Estes dados confirmam não somente os desejos de imitação, mas a imitação de fato dos protagonistas, comportamento que havia sido observado pela pesquisadora no cotidiano escolar e que motivou esta investigação. Já a opção “fala igual aos personagens” foi assinalada por 83% dos jovens. Sobre essa alternativa, vale ressaltar que a telenovela Rebelde foi traduzida do Espanhol para o Português e dublada. Dessa forma, o processo de projeção e identificação em relação ao modo de falar dos personagens se deve, em parte, aos tradutores e dubladores. Cabe considerar ainda que os jovens pesquisados preferem as músicas originais da banda, em espanhol, e não aquelas traduzidas para o português, isso devido à quebra, pela tradução, do ritmo original, segundo os próprios entrevistados. 115

Assinalaram a opção “Outra - Qual?” 5 alunos, justificando que, inspirado na novela, quem assiste “estuda” (resposta indicada por dois estudantes) e “canta” (resposta indicada por um estudante, sendo que os outros dois não fundamentaram sua opção), respostas que demonstram inspirações positivas suscitadas pela telenovela. As opções menos assinaladas foram “fuma ou bebe”, marcada por 35 alunos (33%), e “transa”, escolhida por 40 alunos (38%). Estes dados evidenciam que os protagonistas da telenovela podem vir a ser modelos e provocar desejos de imitação, mas também que poucos são aqueles que consideram que possam estimular condutas negativas, como fumar, consumir bebida alcoólica e ter relação sexual precocemente, já que estas foram as opções menos assinaladas pelos jovens. Essa influência negativa, de acordo com Morin (2005e, p.156), diz respeito a apenas uma minoria de jovens, que são condicionados a estas condutas por suas determinações sociais ou familiares, e nesse contexto a telenovela pode fornecer o exemplo, como no caso do jovem cujo relato se apresenta a seguir:

Relato 6 - Influência negativa da telenovela Rebelde. *Darckson* (15 anos, 1º ano) – Rebelde foi até uma novela diferente, pois, foi ela que mostrou realmente o que o jovem pensa e que mostra que mesmo que a gente tenha ou pense que tem certa liberdade falta coisas pra gente realmente ser feliz alguns bebem para esquecer outros por bebe [se referindo aos personagens] as vezes quando eu me sinto muito ruim eu me lembro de alguma festa, chamo meu primo e a gente sai para beber (melhor encher a cara)

Para que ocorra o processo de projeção-identificação é preciso que as situações imaginárias correspondam a interesses profundos, ou seja, que os problemas tratados digam respeito intimamente a necessidades e aspirações dos telespectadores; é preciso, enfim, que os personagens sejam dotados de qualidades eminentemente simpáticas. Atingindo esse optimum, os personagens suscitam apego, amor e ternura, tornando-se outros eus idealizados do telespectador, que realizam do melhor modo possível o que este sente em si de possível. Mais do que isso, como se observou, os personagens podem vir a ser exemplos, modelos. A identificação provoca um desejo de imitação que pode irromper na vida e determinar mimetismos de detalhes, como a imitação dos penteados, vestimentas, maquilagens e mímicas dos protagonistas das telenovelas, ou orientar condutas essenciais, como a busca do amor e da felicidade. 116

Relato 7 - Manifestações do processo de projeção-identificação. *Hrota* (17 anos, 3º ano) – [...] Algumas pessoas levam a TV como se fossem algo real e se espelham de tal forma se elas estivessem dentro da novela, do filme ou até de um livro, até que é bom viver uma aventura para esquecermos dos problemas mas as vezes nem sempre é tão bom assim. temos que encarar a realidade [...] *JúClier* (17 anos, 3º ano) – Muitas vezes, quando levava meu irmão para, a escola eu reparava nas meninas da rua de cima pintando o cabelo se vestindo, com roupas que simbolizavam a novela ou seja bota vestidinho e blusinha e assim se achavam as poderosas por se vestirem igual *Mica* (15 anos, 1º ano) – Quando a mia brigava, ou ficava triste ia longo falar com seu pai, que ela se sentia melhor. E eu quando estou assim igual a ela vou logo nos braços do meu pai que me sinto muito bem.

Pode-se pensar que a telenovela só detém a atenção quando existe uma tensão entre a aceitação ou a rejeição dos personagens. Ao rejeitar um personagem o indivíduo demonstra não ser igual a ele, não gostar dele ou não querer ser como ele; e quando ama um personagem demonstra ser igual a ele, gostar dele ou querer ser como ele. Entretanto, quando o telespectador declara não gostar de um determinado personagem, pode significar: eu sou como ele, eu não quero ser como ele ou eu quero ser como ele, revelando um profundo conflito entre o que pensa ser e o que gostaria de ser. O contrário, ou seja, a admiração pelo personagem mostra duas possibilidades: eu gosto dele, eu quero ser igual a ele, mas penso que jamais serei porque somos diferentes; ou eu gosto dele, eu me percebo como ele, mas não quero ser igual a ele porque é avaliado como mau do ponto de vista moral. Os telespectadores se relacionam com a telenovela, com seus personagens, seu meio, suas situações, com o desenvolvimento das intrigas e com suas resoluções. Se posicionam uns em relação aos outros, manifestando simpatia ou antipatia a respeito dos personagens. Os mecanismos de projeção-identificação fazem cada telespectador viajar dentro de si mesmo. Os personagens, por meio de tais mecanismos, remetem os sujeitos que acompanham suas trajetórias aos seus próprios desejos, conflitos, energias, frustrações e contradições. As telenovelas são feitas de situações humanas primordiais, demonstrando a complexidade, pois, simultaneamente e contraditoriamente, a narrativa apresenta a distância histórica, geográfica e social para situar o telespectador em si mesmo e em seu dia-a-dia.

117

Gráfico 6 - Inspirado na novela, quem assiste... (por ranking)

Gosta de usar roupas, calçados e acessórios (como bonés, faixas para cabelos, brincos, pulseiras, 101; 96% colares, mochilas etc), para ficar fashion. Acha a gravata desalinhada, a minissaia e a bota de cano alto “supersexy”. 96; 91%

Gostaria de ter tudo o que vê na novela. 93; 89%

Gosta e segue os cortes e cores de cabelos e 90; 86% penteados.

Fala igual as personagens. 87; 83%

Usa a maquiagem como a das personagens na hora 84; 80% de se produzir.

“Fica” muito. 68; 65%

Gostaria de usar piercing ou tatuagem como o/a dos 63; 60% personagens.

Usa piercing ou tatuagem como o/a dos personagens. 54; 51%

“Transa”. 40; 38%

Fuma ou bebe. 35; 33%

Outra (4) 5; 5%

(4) - Estuda; estuda; e canta.

3.2.4 - A escola, o jovem e a TV

Quinta questão

Esta questão teve como objetivo investigar a relação da escola com a televisão e com a cultura juvenil, apresentando, para este propósito, duas vertentes: uma em relação aos alunos e a outra em relação aos professores. Com as afirmações concernentes aos alunos buscava-se examinar se o comportamento que

118

apresentam na sala de aula é influenciado por programas televisivos, se conversam na escola sobre estes programas e se levam para ela objetos a estes relacionados. E com as asserções referentes aos professores pretendia-se verificar se a televisão estaria sendo mediada por eles, contribuindo para a aprendizagem dos conteúdos objetivos e subjetivos, ou se estaria sendo ignorada pelos docentes. Também se tencionava descobrir se os professores conhecem o mundo e a cultura dos jovens.

QUESTÃO 05 - NA ESCOLA QUE FREQUENTAMOS: SIM NÃO

(1) Os alunos comentam sobre o que passa na televisão. (2) Os alunos levam CDs, revistas e pôsteres de ídolos da novela. (3) Os professores comentam sobre o que passa na televisão. (4) Os professores discutem programas que são vistos pelos jovens. (5) Os professores levam em conta a vida dos jovens. (6) Os professores mostram que o que passa na TV pode ser ligado aos conteúdos da escola. (7) Os professores sabem do que gostamos, o que fazemos e sabemos. (8) Os professores percebem que precisamos de atenção e diálogo, apesar de a gente se mostrar independente. (9) Os professores tratam de assuntos ligados aos nossos sentimentos (sonhos, desejos, mágoas, alegrias, criatividade, habilidade).

As duas primeiras afirmações se referiam aos alunos, e foram as que apresentaram mais respostas indicando-as como verdadeiras. A primeira delas – os alunos comentam sobre o que passa na televisão na escola – teve 102 (97%) respostas afirmativas e apenas 3 respostas negativas (3%). A segunda – os alunos levam CDs, revistas e pôsteres de ídolos da novela para a escola – teve 83 respostas afirmativas (79%) e 22 respostas negativas (21%). Estes dados confirmam a importância da televisão na vida dos alunos e permitem inferir que se reflete no ambiente escolar.

119

Já a terceira, quarta e sexta afirmações abordam a relação do professor com a mídia televisiva. As respostas dadas a tais asserções causaram surpresa, pois apresentaram um elevado índice de negativas. A maioria dos alunos respondeu que os professores não comentam sobre o que passa na televisão (74%), não discutem programas que são vistos pelos jovens (66%) e não mostram que o que passa na TV pode ser ligado aos conteúdos da escola (67%). Tais respostas revelam que há uma desvinculação entre a prática pedagógica e o contexto do aluno, pois ratificam que a escola está ignorando a mídia televisiva. Evidenciam, desse modo, a necessidade de a escola estar articulada com o cotidiano dos alunos e de a mídia televisiva fazer parte do processo educativo, inclusive como objeto de estudo. A quinta, sétima, oitava e nona afirmações, por sua vez, tratam da relação do professor com o conhecimento de mundo e a cultura dos jovens, e apresentaram um índice ainda maior de respostas negativas. Os alunos responderam que os professores não levam em conta a vida dos jovens (75%), não sabem do que eles gostam, o que fazem e o que sabem (79%), não tratam de assuntos ligados aos sentimentos dos jovens (79%) e não percebem que eles precisam de atenção e diálogo, apesar de se mostrarem independentes (68%). Estes dados apontam a necessidade de se olhar para os alunos e de se considerar a forma como eles olham o mundo. O professor poderia refletir sobre as imagens e representações e sobre os conceitos e preconceitos que ele próprio tem em relação ao jovem, pois estas atitudes, sem dúvida, favoreceriam o seu modo de se relacionar com os alunos, de preparar suas aulas e de avaliar os educandos.

120

Gráfico 7 - Na escola que freqüentamos... (por ranking).

SIM NÃO

Os alunos comentam sobre o que passa na 102; 97% 3; 3% televisão.

Os alunos levam CDs, revistas e pôsteres de 83; 79% 22; 21% ídolos da novela.

Os professores discutem programas que são 36; 34% 69; 66% vistos pelos jovens.

Os professores mostram que o que passa na 35; 33% 70; 67% TV pode ser ligado aos conteúdos da escola.

Os professores percebem que precisamos de atenção e diálogo, apesar de a gente se 34; 32% 71; 68% mostrar independente.

Os professores comentam sobre o que passa 27; 26% 78; 74% na televisão.

Os professores levam em conta a vida dos 26; 25% 79; 75% jovens.

Os professores sabem do que gostamos, o 22; 21% 83; 79% que fazemos e sabemos.

Os professores tratam de assuntos ligados aos nossos sentimentos (sonhos, desejos, 22; 21% 83; 79% mágoas, alegrias, criatividade, habilidade).

Seção de comentários

A última seção do questionário ficou reservada aos comentários de quem os desejasse escrever. Dos 105 alunos que responderam este segundo grupo de questões, 100 (95%) escreveram comentários, versando sobre a telenovela, a televisão, a escola e sobre a abordagem da televisão por alguns professores como aparelho de alienação. Alguns destes relatos foram expostos neste capítulo, com a finalidade de exemplificar e elucidar a análise. A transcrição deles na íntegra está disponível no Apêndice C desta dissertação.55

55 Os relatos dos alunos foram transcritos respeitando suas escritas. 121

3.3 - REBELDES EM AÇÃO

A televisão sempre esteve presente na rotina escolar, independentemente de os professores saberem ou não utilizá-la e de o aparelho existir ou não dentro da escola. Os temas tratados por ela se fazem presente por meio de maneiras de falar, brincadeiras, modismos e objetos relacionados aos programas. Contudo, muitos professores ainda apresentam um discurso pronto contra a televisão, não considerando os programas televisivos como objeto de diálogo. Há um preconceito, dissimulado ou não, de que a televisão representa apenas uma forma de entretenimento ou um instrumento de alienação e de má influência. Esta postura se deve a um determinismo cultural – imprinting56 – que elimina outros modos possíveis de conhecer, levando a uma desatenção seletiva, que faz o indivíduo desconsiderar tudo aquilo que não concorde com suas crenças, toda informação inadequada às suas convicções ou toda objeção vinda de fonte considerada má. Nesse sentido, vale conferir a seguir o relato de uma jovem participante desta pesquisa que exemplifica esta postura determinista:

Relato 8 - O professor e a programação televisiva. *Preta* (16 anos, 3º ano) – Certo dia um professor substituto entrou na sala de aula, porque um professor tinha faltado.O professor tinha preparado uma aula um pouco diferente, sobre televisão e seus conteudos. Até ai tudo bem primeiro começou a falar sobre os canais semelhou SBT como SBesteira e a Globo como Globobaquisse ate insinuou que quem assistia os programas da TV e principalmente ratinho era burro até o padre Marcelo Rossi ele implicou disse que ele era manipulador. Até que meu amigo se irritou e começou a debater com o prof., para fazelo entender que a televisão podia também trazer cultura. ai aconteceu uma coisa inédita que nunca pensei que puderia vêr um prof. rebaichando o aluno, ele disse que meu amigo nem tinha o que discutir por que ele era leigo do assunto e o chamou de burro e o pior disse que ele não tinha capacidade mental para discutir sobre esses assuntos com ele. Foi tão ruim presencia isso meu amigo se sentiu muito mal os dois discutiram feio e até gritaram um com o outro. O mais constrangedor é que tudo bem o prof. ter esta opinião, mas ele estava achando que só ele tinha razão e não deu liberdade de expressão para o meu amigo. Meu amigo muito magoado por terem subestimado a sua inteligência saiu da sala. Mais depois do caso passado os dois até pediram desculpas um para o outro, mas o importante não é só isso, é importante a liberdade de expressão e suas opiniões.

56 O imprinting é a marca indelével imposta pela cultura, primeiro pela familiar, depois pela social, e que se mantém na vida adulta. Inscreve-se cerebralmente na primeira infância pela estabilização seletiva das sinapses. Essas inscrições vão marcar irreversivelmente o espírito individual no seu modo de conhecer e de agir. A isso se acrescenta e combina a aprendizagem, que elimina outros modos possíveis de conhecer e de pensar. É uma matriz que estrutura o conformismo. (MEHLER,1974, apud MORIN, 2005b, p.29-30) 122

Os programas de televisão considerados de baixo nível e com grande audiência devem ser problematizados, mas nunca de maneira determinista. Eles precisam ser analisados, dentro da própria escola, de modo transdisciplinar57, o que capacitaria o aluno a ponderar e criticar as cenas a que assiste, com aquelas em que a cidadania é violada, em que a exploração do indivíduo é posta em destaque ou a falta de ética e a exaltação do grotesco são evidenciadas. Almeida (2005) afirma que a TV não é um simples reflexo da sociedade, embora seja necessário destacar que parte do que se critica na televisão advém das desigualdades, das formas de violência e do desrespeito presentes no corpo social. Segundo a autora, seria sensato que a TV, sendo uma concessão pública, jamais reforçasse tais preconceitos e formas de violência. Enfatiza ainda que a TV não é um reflexo da sociedade, já que jamais mostra todas as questões sociais, nem todas as minorias e realidades de um país. Adverte que é preciso refletir mais sobre como e por que determinados programas de TV selecionam aquilo que consideram dar mais audiência sem nenhum cuidado ou sentido ético e naturalizam certas desigualdades e preconceitos. Silverstone (2005), por sua vez, enfatiza a necessidade de se refletir sobre a mídia e o processo midiático, para que os indivíduos possam compreender melhor a si mesmos e para que se perceba a necessidade de os estudos sobre esta temática transgredirem os muros da academia. É necessário alfabetizar os jovens e aprofundar a sua competência para a leitura e a análise de imagens televisuais, da mesma forma que se espera que o texto escrito seja lido, analisado, compreendido e criticado, tendo em vista a própria experiência de vida do aluno. A mídia televisiva pode ajudar a escola no processo de aprendizagem, ampliando e melhorando, por meio de seus recursos, as próprias dimensões da educação formal. Integrar à escola os estudos de educação para a mídia, sobretudo da televisão, como instrumento pedagógico e como objeto de estudo, suscita ao mesmo tempo o espírito crítico e a capacidade de análise do educando. A inclusão da leitura e interpretação dos programas televisivos equivale a ajudar o aluno a ler e interpretar o mundo em que vive.

57 Na abordagem transdisciplinar não há fronteiras entre as disciplinas. Mariotti indica que uma disciplina não deve julgar-se superior ou inferior a quaisquer outras: o que existe são diferenças, e é essa diversidade que mantém a tensão criativa necessária para o constante aparecimento de novas idéias e práticas. (MARIOTTI, 2002, p.91) 123

Conforme evidencia o relato apresentado anteriormente, o professor e o aluno, infelizmente, não estão dialogando, o que acontece é uma discussão. Vale esclarecer que o diálogo se difere da discussão. De acordo com Mariotti (2001, p.31- 2), a partir do pensamento de David Bohm, o diálogo visa a abrir questões, mostrar, estabelecer relações, compartilhar idéias, questionar e aprender, compreender, ver a interação partes-todo, fazer emergir idéias e buscar a pluralidade de idéias. Enquanto a discussão visa a fechar questões, convencer, demarcar posições, defender idéias, persuadir e ensinar, explicar, ver as partes em separado, descartar as idéias vencidas e buscar acordos. Esta diferenciação, entretanto, não significa que o diálogo é melhor ou pior que a discussão; ambos são maneiras diferentes, porém complementares, de conversar. Há situações na vida em que discutimos para lidar com fenômenos objetivamente observáveis, com quantidades e com as partes em separado. E há outras circunstâncias nas quais é necessário pensar de modo global, lidar com sentimentos, emoções e intuição, ocasiões em que é necessário compreender as inter-relações entre o todo e as partes. Roxana Morduchowicz (2004) reflete sobre o impacto da dissociação entre o que se ensina na escola e o que aprendem os jovens. Segundo a autora, a escola, com a lógica da linearidade, da ordem seqüencial, da ênfase no verbal, no abstrato, no analítico e no racional, desconsiderou as culturas que começaram a surgir e a conviver com ela fora da sala de aula, como o cinema, a televisão e mais recentemente as novas tecnologias. Por conseguinte, as novas gerações de crianças e jovens sofrem com esta ruptura, pois enquanto na escola prevalece uma modalidade de conhecimento que enfatiza a lógica da razão, da objetividade, da planificação e da previsibilidade, os alunos vivem uma realidade em que absorvem diariamente outras linguagens, informações e textos que circulam em seu meio de maneira dispersa e fragmentada, realidade esta na qual prevalece a lógica da simultaneidade dos estímulos, do impacto, da emoção, da subjetividade, do efêmero, e que sem dúvida afeta o seu modo de conhecer, perceber e pensar a realidade. Segundo Damásio (apud MORIN, 2005c, p.120), a paixão funda a razão e a capacidade de emoção é indispensável à prática de comportamentos racionais para certos aspectos. Assim, a faculdade de raciocinar pode ser diminuída, até mesmo destruída, por um déficit de emoção. Não há apenas antagonismo, mas também complementaridade entre paixão e razão. A vida humana necessita da verificação 124

empírica, da correção lógica, do exercício racional da argumentação, mas também precisa ser nutrida de sensibilidade e de imaginário. Os jovens escolhem programas televisivos que estão relacionados às suas próprias vidas e com tais atrações aprendem, têm idéias, adquirem informação e discernimento sobre a vida deles e a dos outros, especialmente no que se refere às relações interpessoais. Mediante as telenovelas, por exemplo, observam os comportamentos humanos (sobre a vida e sobre as pessoas) e imaginam de que forma eles próprios se comportariam se estivessem frente a situações similares. A telenovela Rebelde, além de promover experiências educativas informais, com suas canções, danças e com os assuntos abordados, pode contribuir com a educação formal e inclusive trazer a intencionalidade desta educação, por meio de projetos desenvolvidos em instituições escolares ou em complemento a elas. O conhecimento formal pode esclarecer o processo de construção da telenovela e promover o discernimento entre ficção e realidade; e o conhecimento informal pode contextualizar o conhecimento formal. Com essas experiências de troca de conhecimentos e incorporação de novos aprendizados, transcendem-se os conteúdos trabalhados em sala de aula. Morduchowicz (2004, p.14) ratifica esta idéia ao afirmar que os jovens são consumidores intensivos da cultura extra-escolar, da qual fazem parte a música, a televisão, a internet, entre outros, defendendo que este consumo pressupõe um domínio de competências específicas, as quais desenvolvem novos saberes.

Relato 9 - Conhecimento informal. *Tamy* (17 anos, 3º ano) – Quando não dava para ver a novela, eu lia revistas que falavam da novela e da banda RBD. [...] *Desynha* (17 anos, 3º ano) – Toda música nova na novela que surgia, eu procurava saber as as cifras de violão, para eu poder saber tocar elas. *Jóliana* (15 anos, 2º ano) – [...] Eu e minha amiga gravamos cantando todas as músicas deles, e com isso até surgiu a idéia de formar uma banda, inventamos umas músicas até. *Bela* (15 anos, 1º ano) – [...]Esta novela me ajudou muito a ver todos os meus sentimentos pelos meus amigos e as pessoas que amo. *Ale* (12 anos, 7ª série) – A novela era muito legal, eu me apaixonei por ela, eu gostava tanto que teve uma vez que eu e minha amiga escrevemos uma carta de 6 metros.

125

Os relatos dos jovens demonstram essa possibilidade. Situações como estas nos colocam diante da importância e das inúmeras possibilidades do conhecimento em rede, em que não há um ponto de partida ou de chegada, mas uma longa trama a ser tecida e enriquecida por múltiplos saberes em circularidade, sem hierarquia. Desse modo, é necessário que o diálogo esteja presente na escola, que os jovens sintam que estão sendo ouvidos e, ao mesmo tempo, percebam que a escola e os professores também têm muito a lhes dizer. A escola precisa considerar toda a realidade existencial dos educandos como ponto de partida para qualquer proposta pedagógica. Mas, para que ocorra de fato o diálogo, antes de tudo, é necessário que as imagens preconcebidas, a partir das quais costumamos olhar para os jovens, sejam abolidas. Conhecer este jovem é, antes de tudo, situá-lo no universo, e não separá-lo dele. Uma das maiores críticas feitas à escola diz respeito ao seu distanciamento em relação ao contexto dos alunos. (ABRAMOVAY, CASTRO, 2003)58 Embora os jovens cheguem à sala de aula impregnados de mensagens da mídia, sobretudo da televisão, o fato está sendo desconsiderado pela escola, para a qual existe apenas uma cultura e um saber, aqueles promovidos pela educação formal. Assim, partindo do ponto de vista da simplificação, não considera o antagonismo; separa os alunos e considera-os isoladamente, sem jamais perceber suas inter-retro-relações. É essa atitude, infelizmente, que tem prevalecido entre muitos professores e que tem sido revelada nesta pesquisa de campo. O resultado apresentado por esta investigação da relação da escola com a televisão e com a cultura juvenil remete à análise de Charles Handy (1984) sobre o sistema educacional:

Ser aluno de uma grande escola é uma experiência estranha. Se nos pedissem para organizar um escritório, será que faríamos as pessoas trabalharem para oito ou nove patrões por semana, [...] sem mesas e sem cadeiras que pudessem considerar suas, sem terem lugar para guardar suas coisas e, além disso, desaconselhadas – senão proibidas – de conversar enquanto trabalham? Mais ainda: será que interromperíamos cada tarefa de meia em meia hora, para dar início a outra? É esta, com pouquíssimo exagero, a experiência dos alunos das

58 Abramovay e Castro são organizadoras da pesquisa “Ensino Médio: múltiplas vozes”, de abrangência nacional, que recorre a diversos tipos de metodologia, explora várias dimensões do cotidiano da escola, assim como os dispositivos legais do campo da educação, escutando as vozes de alunos, professores, diretores e outros membros da comunidade escolar em diversas localidades. 126

grandes escolas secundárias. (HANDY, 1984, apud SCHWARZ, W., SCHWARZ, D., 1990, p.148)

A escola que temos apresenta de fato esta organização educacional, com saberes separados, fragmentados, compartimentados entre disciplinas, tempo e espaço. Tais fatores dificultam uma convivência prazerosa, já que tornam distante o encontro necessário entre professores e alunos, que acabam por manifestar uma certa desesperança e procuram encontrar no outro a origem do problema, pois as possibilidades de compreensão e reflexão são atrofiadas, diminuindo as oportunidades de um olhar multidimensional. Esta organização educacional, que embaça a visão do global e do essencial, esclarece o resultado desta pesquisa quanto à dificuldade do professor em saber quem é este jovem, quais são as suas necessidades e perspectivas, uma vez que pouco se considera o que é subjetivo, afetivo, criador e livre. Conseqüentemente, impedidos de ver o global e o essencial, professores não vêem seus alunos, não notam a presença da televisão na escola e muito menos a interferência deste meio de comunicação na vida escolar do jovem. Nos relatos apresentados a seguir, muitos alunos revelaram que cabulavam aulas ou perdiam a primeira aula para acompanhar os capítulos da telenovela, e outros afirmaram que a acompanhavam por meio de sites como YouTube, inclusive em horários considerados inadequados, durante a madrugada, quando não podiam assisti-la no horário previsto.

Relato 10 - Alunos que faltavam às aulas para assistir à telenovela. *Esinha* (17 anos, 3º ano) – [...] eu e minhas amigas [...] levávamos [para a sala de aula] posters e músicas e começava a cantar espanhol [...] Tinha vezes que a gente cabulava aula quando sabia que a Roberta ia voltar com o Diego, ou quando a Mia ia voltar com o Miguel [...] tinha vezes que a minha mãe ficava brigando comigo porque eu só entrava na segunda aula, para não perder pelo menos o começo da novela, até hoje eu tenho um monte de cards do RBD [...]acho que eu sei todos os capítulos de cor e salteado de tanto assistir os DVDs. *Sol* (17 anos, 3º ano) – Tinha vez que eu não dava tempo pra asistir, e memhas irmão me esperavam chegar da escola para me contar o que aconteceu, ou então eu faltava (cabulava) na escola para asistir. [...] *Lene* (17 anos, 3º ano) – Eu gostava tanto de Rebelde, que cabulava aula para assistir a novela [...] *Lurdinh@* (18 anos, 2º ano) – [...] Eu sempre entrava na segunda aula por causa da novela Rebelde [...].

127

*Xuxinha* (18 anos, 2º ano) – [...]Muitas vezes faltei às aulas para assistir com meu irmão a novela “rebelde” até minha filhinha assistia comigo. #Petty# (16 anos, 2º ano) – Eu chegava em casa [após às 23h] e ia no You Tube baixa os vídeos da novela para não perder nenhum capítulo, e isso era todos os dias. Para mim, se eu perdesse rebelde eu ficava chata a semana inteira, ninguém me suportava, tanto que nem da minha casa saia. [...] *Loira* (16 anos, 2º ano) – Tinha dia que não dava para eu assistir a novela, aí eu falava para minha mãe gravar. E tinha dia que minha mãe não conseguiu gravar eu fiquei com muita raiva, aí quando eu cheguei em casa liguei para a minha tia para saber o que tinha acontecido e ela foi e me falou só assim que eu consegui dormir com calma, mas mesmo assim quando foi no outro dia e fui na Lan House e assisti no Youtube e foi aí que eu fiquei mais calma.

Somente um aluno, ao escutar os comentários supra-apresentados e entendendo o ato de cabular como um artifício para fugir de obrigações em prol de uma satisfação pessoal, escreveu as seguintes ponderações:

Relato 11 - Ponderação sobre faltar às aulas. #Malfoy# (14 anos, 1º ano) – Rebelde é uma novela muito boa e a banda também tudo bem gostarmos mais não fora dos limites, não podemos deixar nossas responsabilidades de lado por causa de um “vício”. Se não poder assistir pessa para alguém gravar, pergunte o que aconteceu no episódio, mas não fuja das responsabilidades que você tem.

Acredita-se que este “embaçamento” da visão acontece porque a escola tradicionalmente vem utilizando apenas ações programadas. Estas são adequadas para seqüências predeterminadas a um meio ambiente estável, idealizado, ou seja, não obriga a estar vigilante, muito menos a inovar, tudo se faz por automatismo, sem se considerar a complexidade do real e que a realidade é mutante. No entanto, a escola não é uma máquina e, por isso, não pode ser gerida apenas por programas, uma vez que se as circunstâncias externas não forem favoráveis, o programa se detém ou fracassa. O professor exerce uma profissão que não se funda nas coisas inanimadas, em máquinas ou em objetos, mas sim nas pessoas e nos saberes, que são vivos e fecundos. (MORIN, 2001) Morin (2005a, p.79-80) enfatiza que é inerente aos professores conhecer o mundo e a cultura dos jovens, pois a elevada exposição dos educandos à cultura de mídia não é restrita ao exterior da escola. Como visto, 100% dos alunos entrevistados assistem à televisão, 72% todos os dias e 40% por mais de 6 horas diárias. 128

Dessa forma, levar para a sala de aula as experiências culturais vivenciadas pelos estudantes com a televisão pode favorecer inúmeras possibilidades de aproveitamento no processo de ensino-aprendizagem. Buscar compreender como os jovens lidam com as experiências desta mídia em suas vidas e como essas experiências dialogam com o processo educativo propicia possibilidades de a escola qualificá-las, transformando-as em conhecimento. Dessa forma, a emoção poderia ser acompanhada pela reflexão. Assim, em vez de rotular os programas televisivos, criticar a influência persuasiva da televisão e culpá-la, devemos ir à contramão do senso comum. Ou seja, em vez de dizer que a telenovela Rebelde é uma má influência, é preciso identificar os aspectos que atraem a atenção dos jovens e ajudá-los a assistir à programação criticamente, já que se pode dizer que a televisão tornou-se um dos instrumentos mais democráticos de divulgação de informações, ainda que de forma ambígua. Portanto, é necessário promover o conhecimento e o reconhecimento mútuos dos dois universos – o da escola e dos jovens, que se apresentam sobrepostos um ao outro, mas não dialogam, não se conhecem. Diante do exposto, o que se propõe é um sistema de pensamento aberto, abrangente e flexível – o Pensamento Complexo, introduzido por Edgar Morin:

O conhecimento que une substituirá a causalidade linear e unidimensional por uma causalidade em círculo e multirreferencial; corrigirá a rigidez da lógica clássica pelo diálogo capaz de conceber noções ao mesmo tempo complementares e antagonistas, e completará o conhecimento da integração das partes em um todo, pelo reconhecimento da integração do todo no interior das partes. (MORIN, 2005a, p.92- 3)

Este pensamento configura uma nova visão, que aceita e procura compreender as mudanças constantes do real e não pretende negar a multiplicidade, a aleatoriedade e a incerteza, e sim conviver com elas. Se o sistema educacional apresenta sinais de abalo, é o momento de se pensar em uma nova escola e em novas práticas pedagógicas. Dessa maneira, a crise educacional pode tornar-se positiva ao propiciar novas idéias e oportunidades, sendo que para isso é necessário abandonar os programas e levar em consideração situações aleatórias, elementos adversos, o novo, o inesperado, modificando ou enriquecendo a ação. (MORIN, 2006, p.79-90) Assim, o desafio é fazer uso da 129

estratégia e relacionar a televisão à escola, articulando entretenimento e conhecimento. Podem-se atribuir sentidos distintos à instituição escolar e à televisão sem oposição, mas em relações complementares. A comunidade escolar tem a possibilidade de escapar à sujeição exercida pelos programas, que deveriam ser substituídos por guias de orientação, e utilizar as idéias emancipadoras que se encontram na própria escola (MORIN, 2005a, p.78; 2005b, p.31, 150-1). É nesse sentido que a rebeldia na escola é bem-vinda.

130

CONSIDERAÇÕES SEM PONTO FINAL

Como pudemos demonstrar ao longo deste trabalho, a telenovela Rebelde tornou-se um dos produtos culturais que mais esteve presente no cotidiano dos jovens pesquisados. Com linguagem mais próxima daquela utilizada no dia-a-dia e a inovação de um elemento importante da trama – a banda RBD – transitando entre ficção e vida real, foi ao encontro do gosto deste público, consolidando-se como um produto de grande audiência e de muito sucesso entre os estudantes envolvidos nesta pesquisa. A telenovela Rebelde esteve presente na escola, independentemente de os professores a notarem e de o aparelho televisivo existir dentro da unidade escolar. Esteve presente com os jovens por meio de maneiras de falar, de vestir, de brincar e mediante objetos relacionados à telenovela ou à banda RBD. Ou seja, a telenovela não se restringia ao momento de assisti-la, sua presença se prolongava no cotidiano. Durante a pesquisa de campo, os diálogos afetivos dos jovens sobre a telenovela e as suas experiências cotidianas e imaginárias foram desvelados. Os episódios suscitaram comentários e reflexões, colocando em pauta questões nem sempre fáceis de serem tratadas, mas importantes para a vida dos jovens. Quando a telenovela aborda de maneira clara e positiva questões difíceis, como as relacionadas ao sexo, à gravidez precoce, ao consumo de drogas e a doenças, pode haver uma repercussão na forma de lidar com esses acontecimentos, e a escola tem a possibilidade de se valer disso. Entretanto, os dados coletados mostraram que a escola ainda desconsidera a realidade dos educandos, indicando que há uma desvinculação entre o que é ensinado em sala de aula e o contexto dos alunos, haja vista que suas inter-retro- relações não são percebidas. O sistema educacional apresenta-se organizado a partir de saberes fragmentados, compartimentados entre disciplinas, tempo e espaço, não permitindo o encontro necessário entre professores e alunos. Dessa forma, não se vê o global, tampouco o essencial. Segundo os jovens pesquisados, a maior parte dos professores desconhece quem são seus alunos e quais são as suas necessidades e perspectivas. Eles não notam, não consideram ou não sabem como lidar com a presença da telenovela na escola e muito menos com a sua interferência 131

na vida escolar do jovem, comportando-se muitas vezes como se os programas televisivos fossem restritos ao exterior da escola. É imprescindível conhecer a realidade do aluno, compreendendo as diferenças culturais e as distâncias lingüísticas existentes entre a escola e o jovem. A realidade que o aluno conhece e vive não é somente aquela empiricamente apreendida, mas também a realidade sonhada, a das idéias, das crenças, das emoções, das aspirações, das fantasias, dos desejos. Segundo Morin (apud SÁTIRO, 2002):

Somos habitantes da Terra. Citamos a Holderlin e completamos sua frase dizendo: prosaica e poeticamente o homem habita a Terra. Prosaicamente (trabalhando, fixando-se em objetivos práticos, tentando sobreviver) e poeticamente (cantando, sonhando, gozando, amando, admirando), habitamos a Terra. A vida humana está tecida de prosa e poesia. A poesia não é só um gênero literário, é também um modo de viver a participação, o amor, o fervor, a comunhão, a exaltação, o rito, a festa, a embriaguez, a dança, o canto que transfiguram definitivamente a vida prosaica feita de tarefas práticas, utilitárias e técnicas. Assim, o ser humano fala duas linguagens a partir de sua língua. A primeira denota, objetiva, funda-se na lógica do terceiro excluído. A segunda fala através da conotação, dos significados contextualizados que rodeiam cada palavra, das metáforas, das analogias, tenta traduzir emoções e sentimentos, permite expressar a alma.

Desconsiderando-se as dimensões simbólicas, não é possível ter acesso ao universo cultural do aluno e à sua visão sobre o mundo, pois são tais dimensões que permitem uma percepção integral da condição humana. Nesse sentido, é importante ter presente que o ser humano traz em si caracteres, simultaneamente, antagonistas e complementares, ou seja, é um Homo Complexus. (MORIN, 2005c; FREIRE, 1979) Os jovens escolhem programas televisivos que estão relacionados às suas próprias vidas. Por meio dos mecanismos de projeção-identificação, podem aprender, ter idéias, adquirir informação e discernimento sobre a vida deles e a dos outros, principalmente no que se refere às relações interpessoais. Mediante a telenovela podem colocar-se perante as diferentes realidades, observar os comportamentos humanos e imaginar de que forma eles próprios agiriam se 132

estivessem frente a situações semelhantes, pois para eles a vida não é aprendida somente pelo saber oferecido pela escola. Os programas televisivos não precisariam ser especificamente educativos para que fossem tratados pela escola. No entanto, seria desejável partir dos programas que o jovem assiste, pois o ato educativo com sentido pressupõe contextualização com a realidade para que adquira sentido. Dessa forma, reconhecer em sala de aula as experiências culturais vivenciadas pelos estudantes com a telenovela pode favorecer inúmeras possibilidades de aproveitamento no processo de ensino-aprendizagem e, por conseguinte, enriquecê-lo. Buscar compreender como os jovens lidam com as experiências da telenovela em suas vidas e como essas experiências dialogam com o processo educativo torna possível à escola qualificar a experiência com a telenovela, transformando-a em conhecimento. Se os alunos levam produtos relacionados à telenovela para a sala de aula, em vez de ignorá-los, por que não dialogar com eles e acordar horário e local adequados para utilizá-los? Se os alunos imitam a maneira de vestir e o comportamento dos personagens, é importante dialogar sobre o que é realidade e o que é fantasia, pois, como já dito, um elemento importante da trama – a banda RBD – transita entre ficção e vida real, promovendo uma fusão que pode desencadear uma confusão entre ambas. Agindo desse modo, o professor poderá estimular o senso crítico dos jovens, aproximar a vida do aluno ao que é ensinado em sala de aula e contribuir para que o educando se sinta mais compreendido pela escola. Entretanto, conforme revelou este estudo, o que se observa é que a maioria dos educadores não entende a programação televisiva como texto que propicia uma leitura, tampouco compreende que tal leitura convoca uma reflexão, já que para muitos a educação por meio da mídia se resume apenas à utilização de aparelhos de TV em sala de aula. Assim sendo, não vêem ou não levam em consideração que a programação televisiva, a preferida dos alunos, além de ter um grande potencial lúdico, poderia fazer parte do processo educacional por estar articulada com o cotidiano dos jovens. Poderia, por exemplo, ser requisitada para ilustrar, motivar, informar e suscitar rodas de diálogos, inclusive como objeto de estudo. Seria uma ótima oportunidade de analisar a sua produção e a forma como é recebida e ressignificada. 133

É importante transcender o sentido da leitura e escrita usual para outros textos além dos convencionais, uma vez que a leitura de imagens, por exemplo, além de possível, é extremamente necessária, sejam elas das artes ou da cultura de massas. Reconhecer esta multiplicidade de linguagens, imagens e imaginários possibilita apreender seus significados e pensar a respeito do efeito que podem exercer sobre as nossas concepções a respeito de nós mesmos e dos outros. Quando o educador oferece aos seus alunos diferentes possibilidades de leitura – como a da televisão, a das telenovelas, a dos filmes, entre outras –, o aluno pode interpretar e estabelecer significados de diferentes textos, promovendo experiências que o levem a uma utilização diversificada da leitura nas múltiplas formas de linguagem. Diante da forte presença da televisão no cotidiano dos jovens e da constatada distância entre o contexto do aluno e a escola, se faz necessária uma aproximação que permita aos educadores trabalhar a produção da ficção televisiva como uma experiência possível de interface cultural. Em vez de criticar a influência persuasiva da mídia televisiva e rotular seus programas, é preciso identificar os aspectos que atraem a atenção dos jovens e propor atividades de leituras para que possam assistir à programação criticamente. Assim, é necessário promover o conhecimento e o reconhecimento mútuos dos dois universos, o da escola e o dos jovens, que se apresentam sobrepostos um ao outro, mas, como revelou a pesquisa, têm dificuldades em dialogar, em se conhecer. O professor, perante a programação televisiva, pode pensar em novas abordagens no ensino, de forma a criar possibilidades para uma construção conjunta do conhecimento, além de dispor de materiais próximos da sensibilidade dos alunos, planejando atividades que sejam mais dinâmicas, interessantes, mobilizadoras e pertinentes. O professor é um criador de situações de aprendizagem e, às vezes, de ruptura. Ao estabelecer relações entre as imagens televisivas e os conteúdos que pretende ensinar, desenvolve uma aprendizagem compartilhada com seus alunos, o que pode desencadear avanços, contribuir para ampliar os conhecimentos e permitir mais dinamismo e reflexão, atendendo às necessidades dos educandos, pois, no dia-a-dia, somos sempre requisitados a buscar práticas pedagógicas que auxiliem e facilitem o processo de aprendizagem.

134

Quando os jovens dialogam sobre os programas televisivos, tornam-se mais seletivos quanto ao que assistem, o que colabora também para a melhoria da qualidade destes programas. A escola, ao valorizar características presentes nos jovens, como a espontaneidade, a criatividade e a imaginação, propicia condições favoráveis para que eles se mostrem mais receptivos para desenvolver suas habilidades e assimilar os conteúdos. Essa interação poderia ajudar mais a compreender e a transformar as pessoas do que um raciocínio repassado mecanicamente. Boas práticas vêm da conversação e do respeito à diversidade de opiniões, não do dogmatismo e da unidimensionalidade. Portanto, é de suma importância a atuação das unidades escolares para que, por meio delas, se torne possível questionar a rigidez institucional, fundamentada em um modelo mecânico/linear de ensino. É necessário fazer uso da estratégia e pensar em termos de complementaridade. Essa abrangência possibilita a elaboração de saberes e práticas que permitem buscar novas formas de entender a complexidade dos sistemas educacionais e lidar com ela, o que inclui toda a comunidade escolar e suas culturas. Televisão e escola não devem ser entendidas como concorrentes, no sentido de competição e disputa, mas sim como com-corrência, que corre-com, junto, uma vez que escola e televisão se cruzam e se sobrepõem, tanto no ambiente escolar como fora dele, mediante os alunos, que carregam consigo, para onde quer que vão, a cultura em que vivem. É necessário negar a divisão entre teoria e prática, entre razão e emoção, ou seja, toda fragmentação ou compartimentalização da vivência e do conhecimento. O processo pedagógico carece promover a interação entre saber e prática relacionados à história, às sociedades e às culturas, possibilitando uma relação de ensino-aprendizagem mais efetiva, a partir de experiências vividas. Ensinar, dessa forma, implica conhecer um mundo que não pára de se transformar. Uma telenovela, um filme, uma música, uma imagem, quando analisados junto com os alunos, dão origem a um conhecimento socialmente construído. Isso facilita a escolha dos conteúdos para a sala de aula e nos ajuda a aproximar esse conhecimento ao cotidiano dos alunos. No momento em que se ressalta a relevância da vida na educação, é imprescindível a busca de novas metodologias que valorizem o diálogo, a livre- expressão, o autoconhecimento, a afetividade, a cooperação, a autonomia, a 135

criatividade, com vistas a encontrar o equilíbrio entre razão e emoção. Vivemos uma época de grandes desafios, e vale a pena pesquisar novos caminhos de integração do humano e do científico, do emocional e do racional, na integração entre escola e vida. 136

FONTES E BIBLIOGRAFIA

ABRAMO, H. W.; BRANCO, P. P. M. (Orgs.) (2005). Retratos da Juventude Brasileira - Análises de uma pesquisa nacional. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.

ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia (Orgs.) (2003). Ensino médio: múltiplas vozes. Brasília, UNESCO, MEC. Disponível em: . Acesso em: 15/10/ 2006.

ALMEIDA, H. B. de (2005). Reflexões antropológicas sobre o conteúdo da TV. Seminário Nacional Controle Social da Programação Televisiva, 26 e 27 de abril. Brasília, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Disponível em: . Acesso em: 10/01/2006.

AMERICANAS.COM. Conjunto Rebelde - Multitoys. Disponível em: . Acesso em: 04/08/2007.

ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da Infância (2006). “Antenados - Trama mexicana conquista adolescentes”. Radicais Livres. Ano X, n.389. Brasília, DF, março de 2006, p.18-20. Disponível em: . Acesso em: 15/06/ 2006.

BARROS, Letícia (2006). “A invasão das drogas nas escolas”. Jornal do Amapá. Amapá, 26/05/2006. Disponível em: . Acesso em: 26/05/2006.

BOHM, David (1996). On dialogue. Routledge Classics, Taylor & Francis Group.

______(2005). Diálogo: Comunicação e redes de convivência. Tradução de Humberto Mariotti. São Paulo: Associação Palas Athena. 137

CAPRICHO. Tudo de Rebelde. Disponível em: . Acesso em: 04/09/2006.

CARVALHO, Bárbara Janiques; GUEDES, Brenda Lyra (2007). Eu sou Rebelde porque a Mídia quis assim? III Intercom Júnior - Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, 2007. Disponível em: . Acesso em: 23/12/2007.

CORTI, Ana Paula (Org.) (2005). Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas. Relatório Final da Região Metropolitana de São Paulo. Ibase - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas.

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Edição da Secretaria Municipal de Educação. Projeto Vida.

EDUCAMÍDIA. Educação midiática, pesquisa e (in)formação. A moda é ser “rebelde”. Disponível em: . Acesso em: 25/05/2006.

______. Trama mexicana conquista adolescentes brasileiros. Disponível em: . Acesso em: 15/06/2006.

EQUIPE REBELDE BRASIL. Disponível em: . Acessos em: 10/02 e 20/08/2006.

ESPAÇO BRINQUEDO. A rebeldia que vende! Disponível em: . Acesso em: 04/09/2006.

FÃ-CLUBE ENSINA-ME A SER REBELDE. Disponível em: . Acesso em: 21/04/2006.

FARIA, Ernesto (Org.) (1962). Dicionário Escolar Latino-Português. MEC - Ministério da Educação e Cultura, Departamento Nacional de Educação. Disponível em: . Acesso em: 10/01/2008.

FERLA, Marcelo (2006). Segredo rebelde. São Paulo: Futuro Comunicação. 138

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (2004). Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.11a. São Paulo: Editora Positivo.

FOLHA ONLINE. Teledramartugia. Ilustrada. São Paulo, 17/04/2006. Disponível em: . Acesso em: 24 de abril de 2006.

______. “Belíssima” e “Rebelde” são melhores novelas de 2006, aponta enquete. Ilustrada. São Paulo, 08/12/2006. Disponível em: . Acesso em: 30/12/2006.

FREIRE, Paulo (1979). Extensão ou comunicação? 4ªed. Tradução de Rosisca Darcy de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

FREITAS, M. V. (Org.) (2005). Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais. São Paulo, Ação Educativa. Disponível em: . Acesso em: 10/02/2006.

GAETA, Rafael Alarcón (Editor-chefe) (2004). Longman Dicionário Escolar Inglês- Português, Português-Inglês para estudantes brasileiros. Impresso no Brasil. Pearson Education Limited, R R Donnelley Moore.

GARCIA, Deomara Cristina Damasceno; VIEIRA, Antoniella Santos; PIRES, Cristiane Carneiro (2006). A explosão do fenômeno: reality show. Disponível em: ou . Acesso em: 20/02/2007.

GOHN, Maria da Glória (2006). “Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas”. Revista Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. Vol.14, n.50. Rio de Janeiro, Fundação Cesgranrio, p. 27-38, jan/mar.

GÓMEZ, Guillermo Orozco (2006). La Telenovela en México: De una expresión cultural a un simple producto para la mercadotecnia? Universidade de Guadalajara, México. Disponível em: . Acesso em: 02/02/2007. 139

GONZÁLEZ, Mariana (2006). “Consumir la rebeldia”. Sociedad. Gaceta Universitaria. México, 13 de fevereiro de 2006. Disponível em: . Acesso em: 13/03/2006.

GOOGLE. Disponível em: . Acesso em: 10/05/2006.

HOUCH, Paulo Roberto (Org.) (2006). A obra oficial Rebelde. São Paulo: Prestígio.

IBASE; PÓLIS (2006). Juventude Brasileira e Democracia - participação, esferas e políticas públicas. Disponível em e . Acesso em: 20/12/2006.

IBGE (2004-2005). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Disponível em: . Acesso em: 10/08/2006.

______(2006a). Indicadores Sociais. Disponível em: .

______(2006b). Cidade de Caieiras - SP. Disponível em:

INEP (2006). Resultados do Censo Escolar de 2006. Disponível em: . Acesso em: 18/12/2007.

INTERCOM. Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Anais Intercom 2007 – XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Santos, 29 de agosto a 2 de dezembro de 2007. Disponível em: e . Acesso em: 23/12/2007.

ISTOÉ GENTE. Ronnie Von sofre com fã apaixonada. São Paulo: Editora Três, 21 de fevereiro de 2000. Disponível em: . Acesso em: 05/03/2006.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand (2001). Vocabulário da Psicanálise. 2ªed. São Paulo: Martins Fontes. 140

LIMA, V. A. (2004a). Mídia - Teoria e Política. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.

______(2004b). Mídia, Informação e Conhecimento: Anotações para debate. III Fórum Mundial de Educação. Porto Alegre, RS, 29/06/2004. Disponível em: . Acesso em: 20/08/2007.

______(2007). “Propriedade cruzada. Sobre pluralidade, diversidade e localismo”. Data: 20/03. Observatório da imprensa. Disponível em: . Acesso em: 15/06/2007.

LINN, Susan (2006). Crianças do consumo. A infância roubada. Tradução de Cristina Tognelli. São Paulo: Instituto Alana.

LORIERI, Marcos Antônio; RIOS, Terezinha Azerêdo (2004). Filosofia na escola: o prazer da reflexão. São Paulo: Editora Moderna.

MACHADO, Antonio (1973). "Proverbios y cantares". In: MACHADO, Antonio. Poesías completas. 14ªed. Madri: Espasa - Calpe, p.158.

MARIOTTI, Humberto (2001). “Diálogo: um método de reflexão conjunta e observação compartilhada da experiência”. Revista Thot. n.76. São Paulo: Palas Athena Editora, p.6-22. Disponível em: .

______(2002). As Paixões do Ego: Complexidade, Política e Solidariedade. 2ªed. São Paulo: Editora Palas Athena.

MEC; UNICEF (2006). Aprova Brasil, o direito de aprender. Disponível em: . Acesso em: 21/12/2005.

MÉDOLA, Ana Sílvia (2004). A produção ficcional da televisão brasileira e a busca por novos formatos. Disponível em: . Acesso em: 10/06/2007. 141

MÍDIA-Q (2005). Qualidade na televisão para crianças e adolescentes. Disponível em: . Acesso em: 20/10/2005.

MIDIATIVA (2004). Dez Mandamentos da TV de Qualidade. Disponível em: . Acesso em: 15/03/2005.

MINAMI, Thiago (2006). “A moda é ser ‘rebelde’”. Revista Nova Escola. Edição 192. São Paulo: Editora Abril, maio de 2006. Disponível em: . Acesso em: 10/05/2006.

MORDUCHOWICZ, Roxana (2004). El capital cultural de los jóvenes. Fondo de Cultura Económica. Argentina.

MORIN, Edgar (1984). Sociologia. A sociologia do microssocial ao planetário. Tradução de Maria Gabriela de Bragança. Portugal: Publicações Europa-América.

______(1989). As Estrelas: Mito e Sedução no Cinema. Tradução de Luciano Trigo. Rio de Janeiro: José Olympio.

______(1997). O cinema ou o homem imaginário. Tradução de António-Pedro Vasconcelos. Lisboa: Relógio D’Água Editores.

______(1999a). Ciência com consciência. Tradução de Maria D. Alexandre e Maria Alice Sanpaio Dória. Edição revista e modificada pelo autor. 3ªed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

______(1999b). Complexidade e transdisciplinaridade: a reforma da universidade e do ensino fundamental. Tradução de Edgard de Assis Carvalho. Natal: EDUFRN - Editora da UFRN.

______(2000). Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez/ UNESCO. Disponível em: . Acesso em: 17/03/2006.

______(2001). Entrevista concedida a Napoleão Sabóia, apresentada no artigo “Cruzada de heróis anônimos pelo planeta”. O Estado de São Paulo. São Paulo, 04 de fevereiro de 2001. Disponível em: ou 142

. Acesso em: 22/07/2007.

______(2003). Entrevista concedida a Paola Gentile, apresentada no artigo “A escola mata a curiosidade”. Revista Nova Escola. n.168. São Paulo: Editora Abril, dezembro de 2003. Disponível em: . Acesso em: 15/01/2004.

______; CIURANA, E. R.; MOTTA, R. D. (2003). Educar na era planetária, o pensamento complexo como método de aprendizagem pelo erro e incerteza humana. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO. Disponível em: . Acesso em: 17/03/2006.

______(2005a). A cabeça bem-feita - Pensar a reforma, reformar o pensamento. 11ªed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

______(2005b). O método 4: as idéias. Tradução de Juremir Machado da Silva. 4ªed. Porto Alegre: Sulina.

______(2005c). O método 5: a humanidade da humanidade. Tradução de Juremir Machado da Silva. 3ªed. Porto Alegre: Sulina.

______(2005d). O método 6: ética. Tradução de Juremir Machado da Silva. 2ªed. Porto Alegre: Sulina.

______(2005e). Cultura de massas no século XX: o espírito do tempo. Vol.I - Neurose. Rio de Janeiro: Florense Universitária.

______(2005f). Cultura de massas no século XX: o espírito do tempo. Vol.II - Necrose. Rio de Janeiro: Florense Universitária.

______(2005g). O método 1: a natureza da natureza. Tradução de Ilana Heineberg. 2ªed. Porto Alegre: Sulina.

______(2005h). O método 3: o conhecimento do conhecimento. Tradução de Juremir Machado da Silva. 3ªed. Porto Alegre: Sulina. 143

______(2005i). O método 2: a vida da vida. Tradução de Marina Lobo. 3ªed. Porto Alegre: Sulina.

______(2006). Introdução ao Pensamento Complexo. 1ª reimpressão. Tradução de Eliane Lisboa. Porto Alegre: Sulina.

NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. (2006). “A crítica da cultura do corpo”. Jornal da USP. São Paulo, 11 set., p.14. Disponível em: . Acesso em: 25/10/2006.

NOVAES, R. (2005). A Juventude de hoje: (Re)Invenções da Participação Social. Conferência do 75º Aniversário Fundação W. K. Kellogg. São Paulo, 30/maio a 01/junho de 2005.

OFUXICO. Disponível em: . Acesso em: 23/05/2006.

ORKUT. Disponível em: . Acesso em: 12/05/2006.

PALMIERE, Denise T. L. (2005). “’Chateando’ com jovens e adolescentes: a construção da escrita na Internet”. Revista Estudos Lingüísticos. Vol.34. São Paulo, GEL - Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo, p.503-8. Disponível em: . Acesso em: 10/06/2006.

PENA, Raúl Piamonte (2005). Rebeldes con cau$a: Un estudio del impacto en las audiencias infantiles de la telenovela Rebelde. Colômbia, Grupo acadêmico ALFAVISUAL. Disponível em: Acesso em: 20/05/2006.

PENA-VEGA, Alfredo; ALMEIDA, Cleide R. S.; PETRAGLIA, Izabel (Orgs.) (2003). Edgar Morin: ética, cultura e educação. São Paulo: Cortez.

PÉREZ, Aquilino Sánchez; CASAS, Rafael Monroy (2002). Diccionario de bolsillo de la lengua española. 8ªed. España: Sociedad General Española de Librería. 144

PETRAGLIA, Izabel (1995). Edgar Morin: a educação e a complexidade do ser e do saber. Petrópolis, RJ: Vozes.

______(2000). “Complexidade e auto-ética”. ECCOS - Revista Científica. Vol.2, n.1. São Paulo, PPGE - UNINOVE, junho, p.9-17.

PORTAL ICAIEIRAS. Caieiras - Localização Geográfica. Disponível em: . Acesso em: 12/10/2006.

PRO DIA NASCER FELIZ (2005). Filme. Direção: João Jardim. Brasil, 87min, livre, Documentário.

RBD OFFICIAL SITE. Disponível em: . Acesso em: dezembro de 2006.

RBD SIN LIMITES. Disponível em: . Acesso em: 21/04/2006.

RIO MÍDIA. Centro Internacional de Referência em Mídias para Crianças e Adolescentes. Por que as crianças gostam da novela Rebelde? Disponível em: . Acesso em: 15/06/2006.

SANTAELLA, Lúcia (2003). “Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós- humano”. Revista FAMECOS - mídia, cultura e tecnologia. n.22. Faculdade de Comunicação Social, PUCRS, Porto Alegre, EDIPUCRS, dezembro 2003, quadrimestral.

SÁTIRO, Angélica (2002). “O pensamento complexo de Edgar Morin e sua ecologia da ação”. Revista Linha Direta. Entrevista com Edgar Morin. Belo Horizonte, Ano 5, n.57, p.24-6, dezembro de 2002. Disponível em: . Acesso em: 20/05/2006.

SBT. Disponível em: . Acessos em: 10/02 e 20/08/2006. 145

SCHWARZ, W., SCHWARZ, D. (1990). Ecologia: alternativa para o futuro. 2ªed. Tradução de Maria Inês Rolim. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

SILVERSTONE, R. (2004). Entrevista. 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes. Disponível em: . Acesso em: 12/01/2006.

______(2005). Por que estudar a mídia? Tradução de Milton Camargo Mota. 2ªed. São Paulo: Edições Loyola.

TRESSERRAS, Joan Manuel (Editor) (2003). “Libro Blanco: La educación en el entorno audiovisual”. Quaderns del CAC. n.25. Catalunha, Conselho Audiovisual da Catalunha. Disponível em: . Acesso em: 01 dez . 2005.

TSFATI, Yariv; RIBAK, Rivka; COHEN, Jonathan (2005). “Rebelde Way in Israel: Parental Perceptions of Television Influence and Monitoring of Children's Social and Media Activities”. Mass Communication & Society. Vol.8, n.1. Departamento de Comunicação da Universidade de Haifa, p.3-22. Disponível, pelo sistema pay per view, por U$24,00, em: . Acesso em: 25/07/2006.

UNICEF; Fator OM - Opinião e Mercado (2002). A Voz dos Adolescentes. Disponível em: . Acesso em: 10/12/2004.

YAHOO!BRASIL-RESPOSTAS. Disponível em: . Acessos: de julho de 2006 a janeiro de 2007. 146

APÊNDICES

Apêndice A - Questionário sobre a televisão

QUESTIONÁRIO SOBRE A TELEVISÃO:

NOME:______IDADE:______

APELIDO: ______SEXO: ( ) Feminino ( ) Masculino

ESCOLA:______

SÉRIE:______DATA:____/____/_____

( ) NÃO ( )SIM - ( ) TV aberta VOCÊ ASSISTE À TELEVISÃO? 1 ( ) TV a cabo ( ) Parabólica

2 QUANDO? ( ) Durante a semana ( ) Fim de semana

3 COM QUE FREQÜÊNCIA? ( ) Todo dia ( ) Às vezes

4 EM QUE PERÍODO? ( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Noite ( ) O dia todo

QUANTAS HORAS POR DIA ( ) Até 2 horas ( ) Até 4 horas 5 VOCÊ COSTUMA VER TV? ( ) Até 6 horas ( ) Mais de 6 horas

QUAIS PROGRAMAS VOCÊ ASSISTE PELA TELEVISÃO? 6

( ) Telejornal ( ) Novela ( ) Programa de auditório ( ) Reportagem ( ) Seriado ( ) Programa de vendas ( ) Documentário ( ) Teleplay ( ) Desenho animado ( ) Entrevista ( ) Humorístico ( ) Reality show ( ) Educativo ( ) Filme ( ) Outro(s). Qual/Quais? ( ) Religioso ( ) Esporte ______( ) Música ( ) Infantil ______

147

A TELEVISÃO: 7 ( ) Distrai. ( ) Faz esquecer os problemas. ( ) Mostra lugares e assuntos que não ( ) Faz a moçada ficar frustrada por não conheço. ser como a TV mostra. ( ) Mostra novelas com as quais me ( ) Trata dos problemas da vida. identifico. ( ) Preenche o tempo quando a gente não ( ) Apresenta anúncios que dão vontade tem o que fazer. de comprar tudo. ( ) Não deixa a gente se sentir sozinho. ( ) Leva o jovem a ser violento. ( ) Ajuda a ficar na moda. ( ) Leva a imitar os personagens da ( ) Ajuda a aprender coisas. novela. ( ) Outra(s). Qual/Quais? ( ) Faz a gente deixar de lado outras ______atividades para ficar em frente à TV. ______.

VOCÊ ASSISTE OU ASSISTIU À NOVELA: 8 ( ) MALHAÇÃO ( ) REBELDE ( ) Outra. Qual? ______.

COM QUE FREQÜÊNCIA VOCÊ ASSISTE OU ASSISTIU ESTA NOVELA? 9 A) MALHAÇÃO: B) REBELDE: C) OUTRA:

( ) não perco nenhum ( ) não perdi nenhum ( ) não perco nenhum capítulo. capítulo. capítulo. ( ) assisto muitos capítulos ( ) assisti muitos capítulos ( ) assisto muitos capítulos ( ) assisto só alguns ( ) assisti só alguns ( ) assisto só alguns capítulos. capítulos. capítulos.

VOCÊ GOSTA OU GOSTOU DESTA NOVELA? 10 A) MALHAÇÃO: B) REBELDE: C) OUTRA:

( ) SIM ( ) SIM ( ) SIM ( ) NÃO, mas assisti ( ) NÃO, mas assisti ( ) NÃO, mas assisti porque: porque: porque: ______

148

Apêndice B - Questionário sobre a telenovela Rebelde

( ) É uma diversão. ( ) Mostra corpos bonitos. ( ) Mostra muita gente “ficando”. ( ) Acabou e sinto saudades. ( ) Mostra uma vida mais interessante. ( ) Mostra uma vida de sonhos e aventuras. ( ) Tem a música como atrativo da audiência. ( ) Desperta curiosidade sobre a banda ou a vida dos atores. ( ) Mostra que as personagens têm qualidades e defeitos como na vida real.

A NOVELA REBELDE: REBELDE: A NOVELA ( ) Outra. Qual? ______

______( ) Apresenta um novo jeito de falar. ( ) Traz sempre uma mensagem para pensar. ( ) Ajuda na aprendizagem.

( ) Incentiva a gente a lutar pelo que acredita. ( ) Ajuda a lidar melhor com os meus sentimentos. ( ) Desperta interesse pelo espanhol. ( ) Dá idéias para a gente questionar e negociar quando não concorda com algo. ( ) Ajuda a resolver problemas quando não encontramos respostas na escola e com amigos. ( ) Mostra assuntos importantes como amizade, namoro, sexo, gravidez, drogas, preconceito, A TRAMA DA NOVELA: NOVELA: DA A TRAMA violência, doença, etc. ( ) Outra. Qual? ______

______

( ) Adoro a novela e a RBD. ( ) Tenho os CDs e DVDs. ( ) Já fui ao show da RBD. ( ) Gostaria muito de ir ao show da RBD. ( ) Tenho revistas, jornais, pôsteres, etc. ( ) Entro no Orkut e no site de Rebelde ou RBD.

REBELDE: ( ) Já escrevi uma carta/e-mail para os meus ídolos. ( ) Pretendo escrever uma carta/e-mail para meus ídolos. EU E ( ) Gostaria de ter uma lembrança de meus ídolos, como um autógrafo, uma fotografia ao lado deles ou um objeto. ( ) Outra. Qual? ______

149

( ) Gosta de usar roupas, calçados e acessórios (como bonés, faixas para cabelos, brincos, pulseiras, colares, mochilas, etc.), para ficar fashion. ( ) Acha a gravata desalinhada, a minissaia e bota de cano alto “supersexy”.

( ) Gosta e segue os cortes e cores de cabelos e penteados. ( ) Usa a maquiagem como a das personagens na hora de se produzir. ( ) Usa Piercing ou Tatuagem como a das personagens. ( ) Gostaria de usar Piercing ou Tatuagem como a das personagens. ( ) Fala igual as personagens. ( ) Gostaria de ter tudo o que vê na novela.

QUEM ASSISTE: QUEM ( ) “Fica” muito.

INSPIRADO NA NOVELA, ( ) Fuma ou bebe. ( ) “Transa”. ( ) Outra. Qual? ______

NA ESCOLA QUE FREQUENTAMOS: SIM NÃO Os alunos comentam sobre o que passa na televisão. Os alunos levam CDs, revistas, e pôsteres de ídolos da novela. Os professores comentam sobre o que passa na televisão. Os professores discutem programas que são vistos pelos jovens. Os professores levam em conta a vida dos jovens. Os professores mostram que o que passa na TV pode ser ligado aos conteúdos da escola. Os professores sabem do que gostamos, o que fazemos e sabemos. Os professores percebem que precisamos de atenção e diálogo, apesar da gente se mostrar independente. Os professores tratam de assuntos ligados aos nossos sentimentos (sonhos, desejos, mágoas, alegrias, criatividade, habilidade).

______

COMENTÁRIOS: ______

150

Apêndice C - Relatos sobre a telenovela Rebelde59

QUESTIONÁRIO SOBRE A TELENOVELA REBELDE

COMENTÁRIOS:

*Dany* (19 anos -3º ano) –sim 2 prof de arte e de geografia e de português faravão sobre isso. Auguas pessoas erão descriminadas por gostar e se vestir como eles e erão descriminados pelo modo de querer viver. Os professores criticavão os alunos que gostavão de usar as roupas e os acesorios por que achavão muito imaturos sem responsabilidade era um preconseito muito grande e augos professores muito achão que asistir novelas ou ate mesmo outros atrativos da teve e prejuizo para a mente.

*Deni* (16 anos, 3º ano) – Eu comecei a assistir este programa por influência da minha irmã ela assistia eu não podia mudar de canal e aprendi a gostar do programa, porém quando mudava de temporada, mudando de horário também, perdi muitas cenas da novela, mas comentava com a minha irmã sobre os capítulos.

*Desynha* (17 anos, 3º ano) – Toda música nova na novela que surgia, eu procurava saber as as cifras de violão, para eu poder saber tocar elas.

*Esinha* (17 anos, 3º ano) – Tinha um tempo com que o SBT não pegava em casa eu ia correndo pra casa da minha amiga assistir a RBD. E quando eu fui para a Bahia deixei vários passeios incríveis, só pra não perder a RBD. eu e minhas amigas entrava num quebra-pau danado com as meninas da sala só por causa do RBD, elas odiavam, nós levávamos posters e músicas e começava a cantar espanhol só pra provocar, elas ficavam ferradas, aí que nós cantávamos mais alto. Tinha vezes que a gente cabulava aula quando sabia que a Roberta ia voltar com o Diego, ou quando a Mia ia voltar com o Miguel, eu sentia a dor da Lupita, ficava revoltada com a Sol, tinha vezes que a minha mãe ficava brigando comigo porque eu só entrava na segunda aula, para não perder pelo menos o começo da novela, até hoje eu tenho um monte de cards do RBD, quando eles sumiram, eu fiquei louca,e quando eu fui para a Bahia, as minhas avós não suportavam mais, acho que elas estavam querendo que eu fosse logo embora. O nome que mais me davam era de “criança”, mais eu nem ligava, acho que eu sei todos os capítulos de cor e salteado de tanto assistir os DVDs.

*Hrota* (17 anos, 3º ano) – Eu acho que cada um faz o que bem entender de sua vida, não é a TV que vai interferir, Acho que alguns comentários, manchetes, reportagens ajudam ou pioram os pensamentos de cada um e ajudam também nós ficarmos alinhados sobre a realidade. Algumas pessoas levam a TV como se fossem algo real e se espelham de tal forma se elas estivessem dentro da novela, do filme ou até de um livro, até que é bom viver uma aventura para esquecermos dos problemas mas as vezes nem sempre é tão bom assim. temos que encarar a realidade de cabeça erguida por isso temos que assistir o que se passa ao nosso mundo.

59 Os relatos dos alunos foram transcritos respeitando suas escritas. 151

*JúClier* (17 anos, 3º ano) – Muitas vezes, quando levava meu irmão para, a escola eu reparava nas meninas da rua de cima pintando o cabelo se vestindo, com roupas que simbolizavam a novela ou seja bota vestidinho e blusinha e assim se achavam as poderosas por se vestirem igual

*Laia* (17 anos, 3º ano) – A novela rebelde, mostrou assuntos importantes, trazia sempre uma mensagem para pensar, incentivava a gente a lutar pelo que acredita e enfim...

*Lene* (17 anos, 3º ano) – Eu gostava tanto de Rebelde, que cabulava aula para assistir a novela, quando eu perdia um capítulo eu perguntava para a minha irmã o que aconteceu. Quando criticavam a novela eu não gostava e até brigava pela novela. Eu amo os Rebeldes. Quando os meus pais não deixava eu e minhas irmãs assistir, nós brigava para eles deixar nós assistir nós até chorava. Quando as pessoas da escola falava que odiava os Rebeldes, nós amigas cantávamos e atormentávamos as pessoas na sala de aula. Eu gostava tanto da novela que toda vez que a mia ou a Roberta chorava, eu chorava junto com elas, principalmente quando a mia chorava. Uma vez eu briguei no meu serviço pelos rebeldes quase fui despedida do serviço, só porque eu queria ouvir a música dos Rebeldes. foi mó barraco.

*Malandrinho* (17 anos, 3º ano) – Acho na minha opinião que as novelas do SBT ou Globo (Rebelde ou Malhação) demonstram um aspecto de vida Não uso ou não usarei qualquer roupa ou acessorio de novelas. Mudei e idéia a respeito de algumas respostas Meus pais facam sempre comentários (ilegível) sobre emissoras de T.V. Comentario: Curtia sem todas as novelas a tal ponto de faltar a escola ou cursos, a respeito de gostar ou ser o aspecto da novela, tive opiniões que pessoas de nossa classe social gostariam de ser algum personagem da novela. Meus pais, professores da escola ou cursos de fora falavam mal da novela. Cheguei a cometer o ato da bebida. Sendo rebelde independente de tudo. Isso virou um vício de beber ou fumar as dependencias de depressão ou outros problemas: família, amigos. E eu saia também pensando que iria esquecer os meus problemas, ainda faço isso. Independencia seria uma palavra rebeldia porque hoje aconteceu que não queria fazer algo de errado. Comecei a assistir a novela por base de meu irmão e gostei sem ter preconceito algum, tenho CDs ou DVDs.

*Máy* (17 anos, 3º ano) – A minha ex-cunhada tinha 22 anos, era casada, estava gravida e assistia rebelde, a mãe dela e o pai e meu ex-namorado brigavam com ela para ela parar de assistir mas ela assistia escondito e ouvia as músicas escondido ela era muito fã

*Preta* (16 anos, 3º ano) – Certo dia um professor substituto entrou na sala de aula, porque um professor tinha faltado.O professor tinha preparado uma aula um pouco diferente, sobre televisão e seus conteudos. Até ai tudo bem primeiro começou a falar sobre os canais semelhou SBT como SBesteira e a Globo como Globobaquisse ate insinuou que quem assistia os programas da TV e principalmente ratinho era burro até o padre Marcelo Rossi ele implicou disse que ele era manipulador. Até que meu amigo se irritou e começou a debater com o prof., para fazelo entender que a televisão podia também trazer cultura. ai aconteceu uma coisa inédita que nunca pensei que puderia vêr um prof. rebaichando o aluno, ele disse que meu amigo nem tinha o que discutir por que ele era leigo do assunto e o chamou de burro e o pior disse que ele não tinha capacidade mental para discutir sobre esses assuntos com ele. Foi tão ruim presencia isso meu amigo se sentiu muito mal os dois discutiram feio e até gritaram um com o outro. O mais constrangedor é que tudo bem o prof. ter esta opinião, mas ele estava achando que só ele tinha razão e não deu liberdade de 152

expressão para o meu amigo. Meu amigo muito magoado por terem subestimado a sua inteligência saiu da sala. Mais depois do caso passado os dois até pediram desculpas um para o outro, mas o importante não é só isso, é importante a liberdade de expressão e suas opiniões.

#Ratinho# (17 anos, 3º ano) – As minhas irmãs asistião e falava a novela para mim quando eu não asistia.

*Sol* (17 anos, 3º ano) – Tinha vez que eu não dava tempo pra asistir, e memhas irmão me esperavam chegar da escola para me contar o que aconteceu, ou então eu faltava (cabulava) na escola para asistir. Comentario: tinha professores que criticavam a novela e riam do pessoal que falavam dela e criticava as roupas delas, chamavam eles de bobo criança Porque pareciam umas crianças idiota

*Taia* (17 anos, 3º ano) – Na minha casa, só tem uma TV, entaum ficava difícil de eu assistir, entaum, eu lia revistas, e via o comercial. ás vezes eu fazia meu pai dormi ou falava p/ ele ir p/ a rua para eu poder assistir sossegada!!!...

*Tamy* (17 anos, 3º ano) – Quando não dava para ver a novela, eu lia revistas que falavam da novela e da banda RBD. Gosto das músicas do RBD, e tenho algumas das músicas no meu MP4.

TUTU (16 anos, 3º ano) – Falando a verdade eu nunca me interessei muito por essa novela mas eu passei a acompanhala, quando minha irmã mais nova ficou, doente aí eu tive que cuidar dela e acabe assistindo bastante

*Jacque* (16 anos, 2º ano) – Eu saia da escola 18:20, Como estudava na Lapa e tinha que pegar o ônibus praticamente, corríamos para pegar o ônibus e em numas dessa paramos o ônibus no meio da rua, e todo mundo parou para olhar para a gente. E meu pai acabou se fiquisando na novela, e quando não conseguia asistir ele me contava o que acontecia.

*Jé* (16 anos, 2º ano) – Apesar de muitas pessoas serem contra a novela e acharem besteira eu sempre gostei pelo fato de mostrar realmente o que nos acontece (nossas dúvidas, sonhos...) e não de deixar de ser engraçada ao mesmo tempo. Até em casa mesmo eu arrumava a maior briga pelo controle remoto! Com o meu pai principalmente... mais valeu a pena e não me arrependo de nada!

*Jóliana* (15 anos, 2º ano) – Eu estudava na Lapa, só que meu ônibus chegava tarde e eu normalmente perdia os capítulos, então eu fazia de tudo para pegar o ônibus mais cedo. E quando eu não conseguia me dava vontade de chorar. Eu e minha amiga gravamos cantando todas as músicas deles, e com isso até surgiu a idéia de formar uma banda, inventamos umas músicas até.

*Line* (16 anos, 2º ano) – Sempre adorei Rebeldes, e para conseguir coisas sobre eles eu vendi algumas coisas como revistas de outros artistas para outras pessoas só para comprar revistas pôsteres e CDs e DVDs. É isso eu sou louca por todos eles mais especialmente pela Roberta. 153

*Loira* (16 anos, 2º ano) – Tinha dia que não dava para eu assistir a novela, aí eu falava para minha mãe gravar. E tinha dia que minha mãe não conseguiu gravar eu fiquei com muita raiva, aí quando eu cheguei em casa liguei para a minha tia para saber o que tinha acontecido e ela foi e me falou só assim que eu consegui dormir com calma, mas mesmo assim quando foi no outro dia e fui na Lan House e assisti no Youtube e foi aí que eu fiquei mais calma.

*Lurdinh@* (18 anos, 2º ano) – Só uma professora comenta sobre o que passa na televisão. Eu sempre entrava na segunda aula por causa da novela Rebelde, e quando eu não entrava na segunda sempre perguntava o que aconteceu para a minha prima de 8 anos que que não perdia nenhum capítulo.

*Ma Elis* (16 anos, 2º ano) – Rebelde não só chamava a atenção dos adolescentes e crianças mais, das pessoas mais velhas também, meu pai assistia todo dia Rebelde e ninguém podia fazer barulho na sala para não atrapalhar a concentração dele na novela.

*Manu* (16 anos, 2º ano) – Eu e minhas amigas saiam as 18:20 e como tínha que pegar ônibus pois estudava na lapa saiamos correndo na Doze de Outubro lotada só para assistir a novela e em uma dessa fizemos o ônibus parar no meio da rua e as pessoas não agüentavam mais ouvir as músicas que cantavamos. Quando não assistia nas aulas minhas amigas me contavam o capítulo.

*Miny* (15 anos, 2º ano) – Eu sempre brigava com a minha mãe porque ela sempre implicava comigo porque ele detestava a novela, eu vivia resando pra ele chegar mais tarde em casa. Eu e minha amiga gravamos com a nossa voz quase todas as músicas da RBD, nós até criamos uma banda chamada Luck.

*Naty* (15 anos, 2º ano) – Sinto muita saudade. Eu brigava com o meu pai e com a minha mãe para assistir Rebelde. Mas quando acabou eu fiquei muito triste, senti muita saudade mesmo.

#Petty# (16 anos, 2º ano) – Eu chegava em casa e ia no You Tube baixa os vídeos da novela para não perder nenhum capítulo, e isso era todos os dias. Para mim, se eu perdesse rebelde eu ficava chata a semana inteira, ninguém me suportava, tanto que nem da minha casa saia. O mais interessante que no dia do show da RBD no Brasil, eu fiquei insuportável, quando assisti na teve eu chorei até umas horas.

*Xuxinha* (18 anos, 2º ano) – Sempre achei interessante a forma em que os personagens se tratavam Muitas vezes faltei às aulas para assistir com meu irmão a novela “rebelde” até minha filhinha assistia comigo. Sempre que passava a novela eu minha filha corría para ver o clipe que passava antes da novela. Eu me comparo bastante com a Roberta, pelo jeito dela ser sempre amiga e simpática.

*Adriele* (15 anos, 1º ano) – Quando eu perdia algum capítulo eu procurava saber o que aconteceu com minhas amigas no. outro dia mesmo assim eu perdi muitos capítulos principalmente quando estava no final da novela quando estava acabando eu perdi varios capítulos. 154

*Amelha* (17 anos, 1º ano) – 1 - Eu assistia todos ao dias a RBD 2 - não perco nenhuma parte 3 – tinha uma parte interessante 4 – Ajuda entender mais a história 5 – Eu tentava escrever algumas partes 6 – Mostra que é capaz de ser você mesmo 7 - Eu tenho todos os CDs.

*Anitty* (15 anos, 1º ano) – Apesar de Rebelde ter sido inicialmente só mais uma novelinha juvenil, ele acabou sendo mais que isso, se tornou um guia. Ele fazia a gente refletir várias vezes sobre o que estava acontecendo com a gente, o que aconteceria, etc. As vezes era mais uma galeria...... pra gente se inspirar no visual, ou até morrer de inveja. Isso foi um ponto odioso para mim, pois só tinha uma menina e um menino gordinhos e ñ tinha pessoas negras (achei um preconceito tremendo). Várias vezes fiquei estressada por perder a novela, mas tinha que me calar se não ia ser uma guerra. Minha personagem favorita era a Lupita, pois me identificava mais com ela, a insegurança e a nerdice era bem parecida (além de eu achar a voz da Mayte a mais bonita), então, muitas coisas dela eu me identificava, e os problemas principalmente. Quando o Cristian assumiu ser gay, também foi polêmico, mas me pergunto “Como uma pessoa “vira” gay por causa de outra?” Não foi um tema discutido na novela, mas a banda já influência demais. Apesar de não gostar tanto quanto antes, agora fico esperando o manga, (juntar a melhor banda POP, com o meu vício favorito, foi D+) e o filme, pois eu acho que é a última coisa que resta para eles.

*Bela* (15 anos, 1º ano) – Tinha necessidade de assistir, não perdia nem um capítulo. Amava as músicas e ainda escuto muito os CDs deles. Esta novela me ajudou muito a ver todos os meus sentimentos pelos meus amigos e as pessoas que amo.

*Belzita* (14 anos, 1º ano) – Às vezes eu brigava com meu pai para assistir Rebelde porque quase sempre passava no horário do jornal dele e ele queria assistir mas eu sempre ganhava porque eu ia para casa da minha vizinha assistir.

*Cáh* (15 anos, 1º ano) – Deixava de ir a algum lugar só para assistir a novela. Se perdesse algum capítulo, perguntava para as minhas amigas o que acontecia.

*Darckson* (15 anos, 1º ano) – Rebelde foi até uma novela diferente, pois, foi ela que mostrou realmente o que o jovem pensa e que mostra que mesmo que a gente tenha ou pense que tem certa liberdade falta coisas pra gente realmente ser feliz alguns bebem para esquecer outros bebem por bebe as vezes quando eu me sinto muito ruim eu me lembro de alguma festa, chamo meu primo e a gente sai para beber (melhor encher a cara)

*G@ivot@* (14 anos, 1º ano) – Muitas vezes quando não dava para assistir eu pedia pra minha irmã gravar para mim assistir mais tarde. Eu às vezes também brigava com meu pai porque ele não queria deixa eu assistir porque ele queria assistir outra coisa.

*Kei* (15 anos, 1º ano) – Comecei assistir por causa da minha irmã, depois comecei a gostar e passei a deixar de sair só para assistir, as vezes eu ficava sozinha em casa só por causa da novela.

*Kelly* (15 anos, 1º ano) – Eu tinha muitas dificuldades p/ assistir a novela Rebelde. Quando chegava a hora de começar a novela eu ia por minha mãe começava a brigar comigo porque ela queria assistir outra novela mas mesmo assim eu assistia 155

*Lol* (15 anos, 1º ano) – Quando eu estudava na escola E E Dr Mario Toledo de Moraes elas comentavam Quando eu estava no Portal forava a mesa com o pôster meu caderno era cheio de figurinha Tenho 200 e pocos cards, varias revistas e pôsteres eu amo rebelde.

*Lyly* (15 anos, 1º ano) – Uma vez uma amiga me contou que fingiu que passou mal só para ganhar a roupa da RBD em um sorteio, enfim, acabou pagando o mal mico e não ganhou a roupa!!!

*Mica* (15 anos, 1º ano) – Quando a mia brigava, ou ficava triste ia longo falar com seu pai, que ela se sentia melhor. E eu quando estou assim igual a ela vou logo nos braços do meu pai que me sinto muito bem.

#Malfoy# (14 anos, 1º ano) – Rebelde é uma novela muito boa e a banda também tudo bem gostarmos mais não fora dos limites, não podemos deixar nossas responsabilidades de lado por causa de um “vício”. Se não poder assistir pessa para alguém gravar, pergunte o que aconteceu no episódio, mas não fuja das responsabilidades que você tem.

*Nandinha* (15 anos, 1º ano) – Sempre que perdia algum capítolu eu corria e ia para a lam ver tudo que perdi e dependendo do que estava passando eu chorava ou sorria.

*Nessa* (15 anos, 1º ano) – Brigar com os pais para poder assistir a novela. Esconder o controle da televisão, ficar na frente do aparelho que muda o canal.

U Pam (15 anos, 1º ano) – Eu assistia a novela, porque tratava de assuntos muito interessantes, e importantes. Mas eu tenho uma amiga, que é tão fã, que ela fez um rolo de carta enorme, e nele tinha várias coisas escritas sobre o rebelde, e sobre o que ela sentia sobre essa banda.

*Paty* (15 anos, 1º ano) – tem amigas minha que elas saíam “cabulavam” da escola, para poder assistir RBD. eu as vezes deixava de sair para assistir.

*Paulinha* (15 anos, 1º ano) – Eu tinha que insistir muito p/ poder assistir a novela pois meus irmãos e pais não gostavam e amigas minhas vinham assistir em casa pois na casa delas n` pegava o SBT.

*Rica!!!* (14 anos, 1º ano) – Na época que passava Rebelde minha avó dormia lá em casa comigo no meu quarto, só que eu queria assistir Rebelde e ela queria assistir o sete e era uma briga todos os dias por eu querer assistir Rebelde e ela Bicho do Mato.

*Roberta RBD* (15 anos, 1º ano) – Eu assistia a novela Rebelde todos os dias por que eu ainda não estudava a noite; e eu não perdi nenhum capítulo e até hoje eu tenho tudo que eu comprei quando passava a novela e eu sempre vou, gravar esta história do RBD na minha cabeça Rebelde te amo

156

*Rose* (15 anos, 1º ano) – Bom para falar verdade eu não gostava de Rebelde mais como eu ia direto na casa da Isabel sempre que eu chegava lá estava passando foi paixão a primeira vista comecei a assistir só por causa do Diego mais depois eu comecei a conhecer os outros personagens e da em diante não parei de assistir na hora da novela era uma hora sagrada para mim ficava como uma estatua na frente da televisão não adiantava vim falar comigo era Rebelde no céu e eu na terra Às vezes eu ia na casa da minha tia e lá não pegava o SBT. ficava em gual uma loga subia no telhado pra arrumar a antena e por incrível que pareça sempre conseguia adorava esta novela...

*Tuellen* (14 anos, 1º ano) – Eu deixava de limpar a casa para vêr os (Rebeldes) eu tenho pôsteres CD etc. Minha amiga brigava por poster por cards que pena que Rebelde acabol

#Zero# (14 anos, 1º ano) – Em casa, sempre reclamava com a minha mãe pra poder assistir Rebelde, porque ela não gostava, mas de tanto eu reclamar ela começou a querer assistir também e acabou gostando (pra minha sorte) Acabei conseguindo mostrar a ela como é bom assistir Rebelde, porque eu aprendi muito assistindo e queria... assistir tudo de novo! Eu gostei da novela porque mostra o que um adolescente passa durante esta fase da vida.

*Aninha* (14 anos, 8ª série) – Eu gostei muito dos Rebeldes, gostaria de conhecer todos eles, eu gosto muito do Cristian mesmo ele sendo homosexual, eu adoro ele, eu adoro todos eles.

*Amandinha* (14 anos, 8ª série) – Eu já deixei de fazer muitas coisas para assistir Rebelde Por exemplo, teve uma época que Rebelde era no horário do jornal nacional e o meu pai queria assistir o jornal e eu queria assistir a novela então era uma briga danada. Teve também quando eu dancei na sala de aula a música Rebelde.

*Branca* (15 anos, 8ª série) – Eu queria ser a Mia porque eu acho ela bonita. Queria também fazer um par romântico com o Miguel. Eu não gostava da Roberta, porque ela era muito fresca, chata e metida. Quando começava Rebelde eu ia para o meu quarto e ninguém podia me atrapalhar. (A pesquisadora vez o papel de escriba, pois a aluna não é alfabetizada.)

*Cabeção* (14 anos, 8ª série) – Lá em casa ninguém queria deixar eu assistir, pois só eu gostava. A personagem que eu mais gostava era a Lupita (Maite) e a que eu mais ódio e a Mia (Anahí)

*Carlinha* (13 anos, 8ª série) – quando eu queria assistir a novela meu pai nunca deixava, de tanto eu e ele brigar e mudar toda hora de canal a TV acabou queimando.

*Daí Pingüim* (14 anos, 8ª série) – Eu gostaria de ser a Mia é legal ser ela, seu jeitinho era da hora. Quando eu ia para a casa do meu pai, a gente brigava muito porque lá só havia uma televisão, ele queria assistir o jornal Nacional, que passava na mesma que Rebelde.

*Faby* (14 anos, 8ª série) – Eu gostava da mia por causa do cabelo dela que é muito bonito e eu odiava o gastão porque ele fazia maldade com a josy. 157

#FabiS# (14 anos, 8ª série) – Eu já tentei arrumar emprego só para ir no show do RBD e não consegi mas arrumei o dinheiro mas não tinha mais os ingressos. já briguei com o meu pai por causa da novela e quando eu vou escutar o sede e meu pai chega é aquela discurção mas tudo isso porque eu amo RBD de alma e coração. E se eu vejo alguma pessoa falando mal eu brigo com eles não fale mal de Rebelde perto de mim se não eu viro a macaca

*Juka* (13 anos, 8ª série) – Quando chegava na hora da novela era uma confusão enorme, meu pai queria assistir o jornal e eu e a minha irmã a novela, em casa chegou ao extremo e então a minha mãe decidiu comprar outro receptor para acabar com as brigas e meu pai poder assistir jornal.

*Kaka* (14 anos, 8ª série) – Eu queria ser a Roberta porque eu gosto de jeito dela, eu as vezes perdia, alguns capítulos, mas a minha irmã assistia e me comtava era muito legal quando passa a novela era 10.

*Karolzinha* (14 anos, 8ª série) – Eu brigava muito com meu irmão e tirava do canal que ele tava asistino o que meu pai tava asistindo se para assistir Rebelde. Eu parava de lavar para assistir eu o meu pai não deixava mais eumudava mesmo assim.

*Má* (14 anos, 8ª série) – Eu já fiz uma carta quilométrica. Já deixei de perder uma calça para pegar o dinheiro pra comprar poster do RBD. Já veio uma fortuna de conta de telefone por causa que eu ficava na Internet vendo as fotos os clipes Também já briguei com os meus pais porque eu queria assistir Rebelde e os meus pais queriam assistir jornal então eu ganhei uma televisão só pra mim. Já recebi o apelido de Mia por causa do meu cabelo grande, e o meu jeito de falar.

*Magdynha* (14 anos, 8ª série) – Gostei muito da novela, acho que ela insentiva muitas coisas da vida. Ajuda os jovens a ter decisões que os jovens tem dificuldades. Q tem muitas meninas que assistiram a novela e tem vergonha de assistir. O personagem que eu mais gostei foi a Roberta por causa de sua personalidade forte

*Nathy* (14 anos, 8ª série) – A novela Rebelde tinha tudo a ver com o meu dia-a-dia. Sempre quando eu queria assistir a novela Rebelde, sempre tinha alguém para me atrapalhar, eu adoro muito rebelde e a personagem que eu mais gostava era a Roberta, por que ela tem jeito para tudo e é isso meu comentário.

*Patinho* (14 anos, 8ª série) – Eu gostava da Roberta, porque ela tinha um visual super fashion e era decidida além de ajudar bastante os amigos ela era bastante legal. Eu não gostava do Gastão, porque ele infernizava a vida dos alunos, principalmente da Mia e do Miguel.

*Renew*(14 anos, 8ª série) – Eu já cheguei a brigar com meus pais para mim poder assistir, que minha mãe queria assistir a novela da globo e meu pai queria assistir o jornal então eu armava mó briga la em casa, mas eu sempre ganhava a briga, mais o ruim é que isso acontecia todo dia, mais valeu a pena que a novela foi muito legal.

158

*Sarinha* (14 anos, 8ª série) – Chegava a hora da novela eu brigava com a minha mãe e o meu pai porque eu queria assistir Rebelde e eles não queriam assistir eles queriam assistir jornal sendo que eles com tinham assistido um. E queriam assistir o outro

*Tartaruguinha* (14 anos, 8ª série) – quando eu saia a minha mãe gravava a novela para eu assistir no outro dia, eu adorava a personagem Roberta pq ela é muito divertida e não gostava do personagem odô .

*Zo10* (14 anos, 8ª série) – Sinti muita falta quando acabo a novela, fiquei muito triste. Brigava com meu pai e minha mãe, porque eu queria assistir Rebelde e ela o jornal. Mas ela se acostumou e começou a deixar, e depois gostou da novela e não perdia um capítulo.

*Agatita* (13 anos, 7ª série) – Eu gostava muito da Roberta porque o jeito de ser dela e muito interessante. Eu me indentifico muito com a Roberta pelo jeito de ser. Eu odiava a Sol por que na minha escola tem uma menina que se indentifica muito com ela, ela faz muitas intrigas e gosta muito de roubar os namorados das outras

*Ale* (12 anos, 7ª série) – A novela era muito legal, eu me apaixonei por ela, eu gostava tanto que teve uma vez que eu e minha amiga escrevemos uma carta de 6 metros.

*Bi* (13 anos, 7ª série) – eu sempre ficava de castigo porque eu e meu irmão odô porque eu gostaria de asistir a novela! Eu gostaria de ter a aparência da odô e gostaria de namorar o odô . Na novela mostra coisas reais que acontecem na escola na escola têm meninas brigando e ficando (muito) tem rebeldia na sala (na escola inteira) e meninos bonitos como ( odô , odô teo e etc...) animais igual o odô que mostra ser visiados com cerveja e etc... e meninas bonitas e pessoas pobres e esibidas como a mia.

*Carol* (13 anos, 7ª série) – As personagens da RBD são muito legal, muito lindas, etc... O Migel é um gato, um gostoso, um maravilhoso. A Roberta é uma linda, uma gata, se eu não fose mulher eu namoraria com ela. Eles estão de parabéns..

< Coração (12 anos, 7ª série) – Em casa era a maior briga minha mãe queria assistir jornal, e também, eu até fiquei de castigo. Eu gostaria de ser a Roberta por que ela era meio “doidinha”. Também eu gostaria de namorar o Miguel por que ele é muito bonito e o corpo também. Eu odiava a Sol, a menina da minha sala a Sarah parece a Sol.

*Day* (13 anos, 7ª série) – Eu deixava de limpar a casa só para assistir, eu deixava de sair para assistir, até fazer a lição eu não fazia para não perder.

*Dessa* (13 anos, 7ª série) – Eu gostava de todos, mas os que eu preferia o Miguel e a Mia, eu me espelhava muito nessas pessoas. Se eu pudesse eu estudava na mesma escola. Eu me espelhava na Mia por ela ser vaidosa pouco arrogante metida. Na minha escola tem várias pessoas igual a Sol gosta de roubar namorado dos outrao, metida e chata também

#Dodo# (12 anos, 7ª série) – eu brigava com o meu pai para assistir rebelde.

159

*Gatinha* (12 anos, 7ª série) – A novela mostrava vários assuntos, um dos assuntos era os garotos da Rebelde o Diego ele é tudo de bom e até hoje eu amo ele de paixão Meu Dieguinho é um máximo. Eu até fiz um caderno sobre ele e a banda.

*Gatona* (13 anos, 7ª série) – Na novela Rebelde a personagem que eu mais gostava era a Roberta por que a Roberta tinha um jeito bonito ela era muito sincera e sempre certa do que estava fazendo. A personagem que eu odiava era a Sol e a personagem que eu mais gostava era o Miguel não só porque era bonito + sim porque ele era sempre escreto O Giovane, eu nem gostava de ver as partes dele a mia, diego, lupita e roberta eu gostava muito

*Jú* (13 anos, 7ª série) – Eu e minha amiga Alessandra escrevemos uma carta de 6 metros para a banda, mas nós não enviamos.

*Keylinha* (12 anos, 7ª série) – As Personagens que eu mais gosta são a mia roberta Lupita Vic diego giovani nico teo alma rei, franco colute. O capítulu que eu mais gostei foi o dia en que teve o ano novo eu gostei também o dia em que a Jose começou a namorar o teo e eu gostei muito da novela Rebelde adorei de mais eu queria que voltace novamente. Rebelde.

*Lala* (12 anos, 7ª série) – Eu tenho uma amiga que quando passava a novela ela comprava vários cars, pôsteres, revistas etc... Quando acabou a novela ela colocou fogo em tudo o que ela tinha de rebelde..

*Lety* (13 anos, 7ª série) – Quando meu irmão não deixava eu assistir eu ficava no pé do do da minha mãe falando que, queria e queria assistir a novela e meu irmão não deixava, eu adorava a mia e a roberta porque elas tinham um jeitinho muito lindo, e teve um dia que eu comprei uma revista do rebelde e tinha umas coisas da mia, da lupita e da roberta para ver a quem você se parece mais, Eu adorava a mãe da roberta porque ela era muito linda e porque ela era a mãe da roberta.

*M100%* (13 anos, 7ª série) – Eu chegava 11:40 ou 12:40 da escola e j trocava de ropa fazia tudo o que eu tinha que faz e ja ia assistir TV ficava assistindo até começar a novela eu nunca perdi nem um capítulo. Eu largava tudo e ia assistir RBD tinha vezes.

*Mense* (15 anos, 7ª série) – Eu escondia o controle, ia assistir na casa de alguém, fingia de doente e até ameacei fugir de casa se eles não deixassem eu ir ao show, até que consegui. Na novela rebelde eu me identifico mais com a RBD Lupita por ela ser muito responsável e muito sinpatica. Mais também um pouco com a Roberta por cer um pouco rebelde. A novela mostra a realidade dos adolescentes como fazer intrigas, paixões e etc...

160

*Mila* (12 anos, 7ª série) – Eu gostava do jeito da Roberta, gostava do jeito que a mia se vestia. Gostaria de namorar com o miguel. Gostaria de ser parecida com a roberta. Eu odiava a sol. E se vestia parecendo com a mia parecendo uma patricia. Eu odiava a sol, porque a sol era muito metida. Na novela tinha muitas meninas que parece com as meninas da escola metida e arogantes e etc.

*Morena* (13 anos, 7ª série) – Da novela Rebelde eu me identificava mais com a Roberta pelo seu jeito independente e rebelde de ser na frente dos outros, só que quando ela estava sozinha mostrava que era sensível e meiga que nem muitas outras meninas por aí.

*Nanda* (13 anos, 7ª série) – Os personagens da novela que eu gostava era quase todos. Menos a Pilar e alguns outros. E eu me indentificava com a Roberta por ela ser o que ela era na frente de todos e com a Mia por ela ser vaidosa. Na escola eu não suporto algumas pessoas por parecer com a Pilar: metida e insuportável.

*PatySS* (13 anos, 7ª série) – Eu admirava a Mia sempre quis ser igual a ela por que eu achava ela bonita eu odiava a sol ela era muito metida. Eu sempre queria namorar com o iguel ele era um gato o A parte que eu mais gosto da novela e quando o iguel e a mia ficou perdida na ilha sozinhos na minha escola tem uma menina parecida com a sol metida rouba os namorados dos outros só pensa em ficar.

*Paincão* (13 anos, 7ª série) – Em casa era uma briga, meu pai queria assistir jornais bem na hora da novela eu ficava doida, saia correndo para casa da minha prima. Eu gostava de todos, mais do Miguel e da Roberta. O Diego era um gato e a Mia era muito implicante, muito metida.

*Pime* (12 anos, 7ª série) – Quando queria assistir Rebelde meu pai não deixava queria assistir o jornal mas eu sempre conseguia assistir.

*Pri* (13 anos, 7ª série) – Eu gostava da mia porque ela era patricinha e nunca deixava de ser linda e arrumada Eu gosto de todos mais a mia é minha preferida eu gosto do giovani também com o seu jeito catador de ser Roberta também com sua voz afinada e seu jeito de ser definida. Miguel por ser sarado e cincero. Lupita por ser queta e iguel ca. Diego seu jeito fofo e metido só isso que eu acho

*Ro* (12 anos, 7ª série) – Sempre que chegava a hora de começar a novela meus pais ficavam me enchendo o saco pra assistir o jornal mais eu fazia de tudo para assistir e no final que conseguia é claro que era eu. Nunca perdi nenhum capítulo.

*Su* (13 anos, 7ª série) – Eu gostava muito da Roberta, ela era muito descolada e fashiom a mia também, que namorava com o iguel tudo de bom. Os pais são muito liberais. A Roberta é muito legal eu me indentificava muito com ela, Rebelde ela é minha ídola. Na escola tem muitas meninas que nem a Sol, ororosas.

161

*Tatiu* (12 anos, 7ª série) – Eu tenho uma amiga que ela tinha 200 cards do Rebelde, tinha uma blusa do Rebelde e uma saia. Mas quando acabou a novela ela rasgou todos os cards, nunca mais usou as roupas e etc.

*Teia* (13 anos, 7ª série) – Eu deixava de ir ver a minha avó só para assistir a novela não fazia lição não obedecia a minha mãe. Na hora da novela eu não saia nem pra ir ao banheiro.

*Teté* (12 anos, 7ª série) – A minha amiga amava os Rebeldes, ela tinha mais de 300 figurinhas deles, deixava de limpar a casa e até mesmo de ir para a escola.