Sexta-feira 30 Julho 2010 www.ipsilon.pt

Douglas Coupland Arcade Fire André Cepeda Paolo Pandolfo Susan Sontag

Uma tigre tamil explode nas mãos da pop, e do Festival Sudoeste Nome de guerra: M.I.A. ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7421 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE DO PÚBLICO, EDIÇÃO Nº 7421 INTEGRANTE DA PARTE FAZ ESTE SUPLEMENTO + 8 DVD

COM O PòBLICOPOR APENAS MAIS Û1,95 sŽrie ’psilon II

A pedido de v‡rios amantes da sŽtima arte, apresentamos mais 8 filmes premiados. (CADA) Agora sim, a melhor colec‹o de filmes premiados est‡ completa.

Festival Leeds National Society of de Cannes 2007 International Film Film Critics Award, Quinzena Festival USA dos Realizadores Vencedor Globos Ouro 2004 FIPRESCI Prémio Audiência Prémio Melhor Prize 2007 Óscar 2006 Actor Secundário Vencedor César 2006 2 Julho 9 Julho 16 Julho Caramel Feliz Natal Shattered Glass de Nadine Labaki de Christian Carion Verdade ou Mentira de Billy Ray

Festival Fantasporto dos Filmes do Selecção Ofi cial Vencedor Prémio Mundo Festival Melhor Actor Montreal 2007 San Sebastian Vencedor Prémio ock existente Selecção Ofi cial e Festival Independent Spirit Melhor Actor de Cinema de Awards para Melhor Festival de Cinema Veneza Performance de Guadalajara 23 Julho 30 Julho 2007 6 Agosto L.I.E. Sem Saída A Outra Margem Os Sonhadores de Michael Cuesta de Luís Filipe Rocha de Bernardo Bertolucci

Prémios da Academia Independent Japonesa 2004 Spirit Awards Melhor Fotografi a Vencedor do Prémio Festival de Cassavetes e Veneza 2003 Prémio Distinção Melhor Filme Especial Nomeação Leão 13 Agosto de Ouro 20 Agosto Zatoichi Uma Pequena Vingança de Takeshi Kitano de Jacob Aaron Estes Colec‹o 8 DVD. In’cio: 2/07/2010 á Fim: 20/08/2010 á Preo por DVD: Û1,95 á Preo Total: Û7,80 . Promo‹o limitada ao st Û7,80 Û1,95 á Preo Total: á Preo por DVD: á Fim: 20/08/2010 In’cio: 2/07/2010 Colec‹o 8 DVD. Chiara Mastroianni contracena com François Sagat em “Homme au Bain” RAFA RIVAS/AFP RAFA

Brett Easton Ellis deixou as drogas - ou Christopheoopheophe Honoré Honoré está a mentir? leva um actor pornoo “Quartos Imperiais”, o novo de Bret Easton Ellis, chega em (e um fi lme) a Locarnoo Setembro pela mão da Teorema. É o regresso, já se sabe, aos niilistas de “Menos que Zero”, o Não é a primeira vez nem canadiano Bruce será a última que o cinema LaBruce e definido dito “sério” recorre a como “a video art actores do porno: ficaram zombie film” ou Flash célebres as apostas de “porno zombie gay”. Catherine Breillat em Rocco O filme acaba, aliás, Siffredi para “Romance” ou de ser interditado Uma semana com Brett de Steven Soderbergh em pela Comissão de Easton Ellis e esta triste Sasha Grey no recente (e Classificação conclusão: é uma das ainda inédito entre nós) Australiana, que pessoas menos sinceras do mundo “The Girlfriend recusou a Experience”. O novo caso é autorização para a sua oontemntem François Sagat, astro exibição ao Festival não tinhatinha””- -,, mas francês do porno gay que Internacional de Cinema de apontou que se o filme foi Christophe Honoré acaba Melbourne. Ao jornal escolhido para a de fazer contracenar com “Sydney Morning Herald”, competição de Locarno é Sumário Chiara Mastroianni no seu LaBruce confessou-se porque terá certamente romance de estreia de um escritor novo filme, “Homme au deliciado com a interdição - algum mérito artístico. M.I.A. 6 que se ama ou se odeia. É um Bain”, uma encomenda do “deu-me um perfil que Jorge Mourinha Ao ataque nos 13 anos do momento curioso, este, em que os Théâtre de Gennevilliers Sudoeste escritores dos anos 90 regressam que começou por ser uma aos seus motes e refrões e lhes curta-metragem e que fazem um “update” geracional – Arcade Fire 14 umas páginas mais à frente neste “expandiu” para longa com Requiem por uma inocência mesmo Ípsilon verá Douglas 80 minutos, a estrear na perdida nos subúrbios Coupland a fazer o mesmo com as próxima semana no Festival VINCENT WEST/REUTERS suas gerações X e A. de Locarno. O realizador foi buscar François Sagat ao circuito Paolo Pandolfo 16 Por causa deste regresso à Los O realizador de “Em Paris” Angeles da anomia, e porque Ellis do cinema porno gay; estava à procura de uma A viola da gamba reabilitada não nos escrevia há cinco anos e “As Canções de Amor” virilidade “que não existe no cinema francês” (“Lunar Parque”), anda a dar-se declarou publicamente que Giorgios Lanthimos 18 novamente com jornalistas, dá a sua aposta no actor porno A família é uma caverna entrevistas e deixa-se acompanhar surgiu a partir do seu para ser escrutinado. O “Guardian” corpo, “um puro produto Livros de Verão 20 fez isso mesmo e passou uma semana com o homem. Conclusão da sua época que redefine Ninguém acredita neles, mas maior: Bret Easton Ellis é “uma das uma noção de virilidade” que os há, há pessoas menos sinceras” que que “não existe no cinema alguma vez se cruzou com o francês”. Enquanto Douglas Coupland 24 repórter. Constrói-se e desconstrói- “Homme au Bain”, título Da “Geração X” à “Geração A” se frente à imprensa: parece-se com Kiefer Sutherland mas soa a inspirado por uma obra do Ben Stiller. Garante que não mente pintor impressionista André Cepeda 27 nas entrevistas, apesar de ter sido Gustave Caillebotte, natural O fi m do mundo no Porto citado antes a dizê-lo com todas as de Gennevilliers, não letras. Enfurece-se, não, não estreia, o anterior filme do mente, não mentiu. Mas, uma noite Ficha Técnica depois de tão veemente garantia, cineasta francês, “Non Ma uma pergunta de um fã sobre algo Fille Tu N’Iras Pas Danser”, Directora Bárbara Reis que ficou de fora de “Lunar com Chiara Mastroianni no Editor Vasco Câmara, Inês Nadais Parque” confunde Ellis. “Foi o que papel principal, deverá (adjunta) você disse numa entrevista que eu chegar às salas portuguesas Conselho editorial Isabel li”. “Ah, sim. Pois. Não, eu inventei Coutinho, Óscar Faria, Cristina isso. Estava só a mentir”. no final de Agosto. François Fernandes, Vítor Belanciano Na vida de Ellis, as drogas Sagat, por seu lado, estará Design Mark Porter, Simon continuam lá, sempre as drogas duplamente presente em Esterson, Kuchar Swara – ou pelo menos é o que ele diz. Locarno, visto que faz parte Directora de arte Sónia Matos Viver em Nova Iorque levou-o a do elenco de um outro filme Designers Ana Carvalho, Carla novo hedonismo nebuloso Noronha, Mariana Soares alimentado por “basicamente todo a concurso, “L.A. Zombie”, Editor de fotografi a Miguel o tipo de drogas”, explica, assinado pelo fotógrafo, Madeira sobretudo “coca e vinho”. Agora, cineasta e activista gay E-mail: [email protected] depois de se fartar da vida adulta

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 3 Flash

Edwyn Collins esteve quase morto em 2005; agora, faz a prova de vida com um disco novo e uma biografi a, escrita pela mulher

literária da costa leste e do estáest ali à experiência, para isso valter hugo mãe escapismo adolescente dos “fins- chegandoch a encomendar fatos de de-semana intermináveis”, nada super-heróis.sup A peça pretende ser escreveu um musical disso. Los Angeles e uumam alegoria dos conflitos para Paulo Brandão desintoxicação? “No, no, no”. A idideológicose e da violência política cidade ajuda-o a afastar-se delas. do mundo contemporâneo, e Ele foi o director da Casa das Artes Mas não da sua atracção pelo retrataret o modo como as fantasias de Famalicão e, depois, do abismo “teen”: “Prefiro estar com de heroísmo têm consequências ressuscitado Theatro Circo, em Robert Pattinson do que com reais.rea A crítica elogiou a cenografia, Braga (e fez-nos acreditar que era Richard Ford”. Adora a atenção nas o vídeov e a coreografia do possível Braga ver as artes conferências que dá, mas depois espectáculo,esp e destacou o tom performativas sem ser por um diz que não se importa com o que Edwyn Collins bem-humoradob com que os canudo). Enquanto lá esteve, pensam dele. E sobre a eterna criadores trataram o tema. O “The encenou “Maldoror”, musical que questão da misoginia – as mulheres Australian” sublinha que o os Mão Morta construíram em cima Ellis raramente têm finais (e meios, ressuscita em livro e espectáculo “resiste à kryptonite das ruínas da obra do Conde de e princípios) felizes –, baralha. da indiferença” e o “The Lautréamont. É experiência para “Não acho que seja misógino. Mas em disco Independent” recomenda uma repetir, já na “rentrée”: “Cigarras se fosse, o que é que isso interessa? segunda visita. O espectáculo - um musical pop sobre quem canta Isso torna a [minha] arte menos Em Fevereiro de 2005, Edwyn Collins, o antigo vocalista dos segue para apresentações em e seus males encanta” é a segunda interessante? Chamem-me Orange Juice, queixou-se de uma indisposição enquanto era Melbourne. incursão de Paulo Brandão nos misógino. Acho que basicamente a entrevistado para a BBC, mas atribuiu-a a um qualquer Provavelmente o mais musicais, agora com um texto maior parte dos homens é ingrediente estragado numa refeição. Dois dias depois, entrava internacional dos encenadores original encomendado a valter misógina.” de urgência no hospital. O vocalista e compositor de “A girl like portugueses, Paulo Castro teve já hugo mãe e a direcção musical de you” sofrera uma hemorragia cerebral, e sofreria uma segunda os espectáculos “B-File” (2007) e Miguel Pedro, o baterista dos Mão pouco depois. “Tom The Loneliest” (2010) Morta. A estreia, de novo no local Paulo Castro Cinco anos depois, Collins está de volta. Dia 20 de Setembro será nomeados para os Melbourne do crime, o Theatro Circo de Braga, soma e segue na editado “Losing Sleep”, o primeiro álbum que gravou após o Green Room Awards, importante é a 16 de Setembro; “Cigarras” acidente vascular cerebral. O disco, o sétimo a solo da sua prémios de teatro da Austrália. segue depois para o Centro Cultural Austrália carreira, conta com a colaboração (e composição) de Castro e Stone começaram por Vila Flor, em Guimarães (25 de contemporâneos como o ex-Smiths Johnny Marr e Roddy Frame, trabalhar juntos num espectáculo Setembro) e para a Casa das Artes A dupla intercontinental Paulo dos Aztec Camera, e de descendentes do legado Orange Juice de Vera Mantero; fixaram-se na de Famalicão (29 e 30 de Outubro). Castro e Jo Stone, agora sob a como Alex Kapranos e Nick McCarthy, dos Franz Ferdinand, Austrália em 2006, depois de Brandão diz que “Cigarras” é coisa designação oficial Stone/Castro Ryan Jarman, dos Cribs, Romeo Stodard, dos Magic Numbers, e alguns anos em Berlim, onde para “interiorizar à primeira visão (www.stonecastro.com) acaba de os recentíssimos Drums. criaram a companhia, em 2003. e audição, uma espécie de novas- estrear “Superheroes”, em “Losing Sleep”, que atravessa de forma inspirada os fascínios de Em Outubro, trarão “Regina contra cantigas-de-amigo-versão-pop”. E Adelaide, na Austrália, com ampla Collins, da northern soul ao rock’n’roll reverberante, passando a Arte Contemporânea” a que a programação já era, vai cobertura da imprensa e um bom pelo tilintar de guitarras adaptadas dos Byrds, surge numa altura Serralves, na edição 2010 do continuar a encenar: até 2012, já há acolhimento da crítica. Com texto em que já chegou ao mercado “Falling & Laughing – The festival Trama. mais dois espectáculos previstos. de Castro, actor e encenador Restoration of Edwyn Collins”. Escrito por Grace Maxwell, português, e encenação de Jo mulher e manager de Collins, é a história de alguém que, nas Stone, bailarina australiana, a peça suas próprias palavras, “estava morto” e, depois, “ressuscitou”. decorre numa ala fechada de um E a biografia de um músico escocês que, no final da década de 70 centro de reabilitação, durante um e início da de 80, fundou os Orange Juice e definiu o universo NELSON GARRIDO dia nas vidas de um cristão “indie” de guitarras cristalinas, letras mordazes e franja bem evangélico, um veterano aparada que conheceríamos a partir de então. Um relato de O ex-director artístico do Theatro Circo volta a sala traumatizado da guerra do Iraque, sobrevivência terno e humorado, sem miserabilismo ou de Braga a 16 de Setembro, para estrear “Cigarras” um muçulmano da Palestina sensacionalismo: como Collins deveria ter morrido aos 45 anos recém-acordado de um coma de 20 ou, na melhor das hipóteses, sobreviver tremendamente anos (o próprio Castro) e uma limitado - era esse o diagnóstico dos médicos – e como conseguiu grávida que se diz assassina ( Jo superar surpreendentemente a incapacidade de se mover ou de Stone). Este improvável grupo, sob falar, de tocar guitarra, de ler os clássicos russos que adora ou de constanteconstante vvigilânciaigilância cocopiarpiar ddesenhosesenhos dede pássarospássaros dede revistasrevistas dede ornitologia,ornitologia, dede uma enfermeira, um hhobbyobby ddee llongaonga d data.ata. Vários ddessesesses desenhos,desenhos, tenta imimpressionarpressionar rrecentes,ecentes, ilustram as páginaspáginas do livro. o sobrinhosobrinho dada enfermeira,enfermeira, que

“Superheroes”, o novo espectáculo de Paulo Castro e Jo Stone, foi muito bem recebido pela imprensa australiana

4 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon AS CORES DO TEMPO ARTE SINAGOGAL NA MOLDÁVIA ROMENA mental o Foto-Docu Exposiçã 10 gosto de 20 3 a 30 de A Inauguração: terça-feira, dia 3 de Agosto, 19h00 Palestra por Dra. MADEEA AXINCIUC, Profª no Departamento de Estudos Judaicos/Universidade de Bucareste gia e Arqueolo Nacional d a) Museu elém, Lisbo Império, B (Praça do GUILLAUME BAPTISTE/AFP GUILLAUME

Estar nas margens é fácil. É o centro continha nada de novo. O seu primei- gres Tamil, um grupo de guerrilha que gera divisões. E M.I.A., ou seja ro videoclip, de 2005, “”, formado nos anos 70 que mantém “É irónico que Maya Arulpragasam, 34 anos, nunca encerrava um imaginário político um conflito armado com a maioria o Google se tenha escondeu que queria estar no centro (bombas, tanques, simulacros de guer- cingalesa que domina o território. dos acontecimentos. rilheiros), e logo aí os críticos argu- M.I.A. acabou por nunca se cruzar comovido quando foi É aí que ela está hoje. Não mudou mentaram que era uma revolucionária com ele. No regresso à Europa, foi muito nos últimos anos. Mas o con- chique – uma artista que estetizava parar ao Sul de Londres, uma zona censurado na China e texto alterou-se. Hoje recolhe os di- lutas distantes com cores exóticas. mestiça, rica musicalmente. Em ca- videndos, e os malefícios, da noto- Desde o primeiro momento que a sa ouvia Michael Jackson ou hip-hop. depois censure vídeos. Capa riedade. Tudo aquilo que faz é alvo polémica vem ter com ela. É natural. Nas ruas era gozada. Chamavam-lhe de centenas de leituras. É esse o pre- A sua música e a sua atitude contêm “paki”. No final da adolescência, en- Vimos Saddam a ser ço a pagar por quem quer comunicar os ingredientes que nos levam a trou na reputada Saint Martins Scho- enforcado e tropas com uma audiência universal. questionar dicotomias em grande ol de Londres. Formou-se em cine- Tudo o que M.I.A. faz polariza opi- parte irresolúveis (público minori- ma. Distinguiu-se nas artes plásticas. do Sri Lanka a niões. Está a acontecer com o seu tário vs. massas, autenticidade vs. Acabou na música. novo álbum, “Maya”. Aconteceu há fabricação, imitação vs. originalida- Deppos de assinar pela XL Recor- mutilarem pessoas meses com o vídeo de “”. de, Ocidente vs. Oriente). dings (Vampire Weekend, Radiohead Acontece com as suas posições po- Nascida em Londres, foi aos seis ou The xx), lançou o álbum de es- em vídeos horrendos líticas. Acaba de acontecer com um meses na companhia da mãe e dos treia e nunca mais parou. A icono- no YouTube. Mas, longo artigo no “New York Times”, irmãos para o Sri Lanka, onde per- grafia tamil que recriou nas suas onde é acusada de ser pouco autên- maneceu dez anos. Iam atrás do pai, imagens, o visual exótico e o traba- quando se trata tica, uma artista com uma agenda (nome do seu álbum de es- lho gráfico que ela própria concebeu pré-determinada. treia em 2005), um dos arquitectos contribuíram para o impacto. Mas de arte, censuram-na” O artigo causou polémica. Mas não da EROS, célula com ligações aos Ti- foi a música que a projectou, articu-

6 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon M.I.A. Amor, ódio, indiferença é que não Nela tudo se confunde: a música, o estilo, a política. Em poucos anos transformou-se num ícone, que há quem ame e quem odeie, como se constata pela recepção ao último álbum, “Maya”. M.I.A. virou nome de guerra. Ao Sudoeste, a inglesa que nunca esquece os confl itos no território de origem dos pais, o Sri Lanka, chega na quinta-feira. Vítor Belanciano

lação de balanço digital, batidas gor- uma sonoridade nova e refrescante. responsável pela multinacional War- Tratamento de choque durosas, climas exóticos e electróni- Os Clash agregavam rock com dub ner) nascer, actuou ao lado de Jay-Z Naturalmente, existia muita expec- ca encardida, inspirada em lingua- ou reggae e os Massive cruzavam ou Kanye West numa muita badalada tativa em perceber o que iria fazer gens urbanas emergentes (dancehall, hip-hop com soul ou dub. M.I.A. fez prestação que correu mundo, pelo com o novo álbum. “Maya” surpre- baile funk ou grime), tudo exposto o mesmo, criando uma nova síntese seu avançado estado de gravidez. ende por ser um álbum livre de com- num vocabulário pop. de sons urbanos (dancehall, baile Pelo meio formou uma editora, a promissos, movendo-se entre can- Dois anos depois, em 2007, veio funk, dubstep ou kuduro) com rit- NEET Recordings, que agrupa pro- ções dançantes e lúdicas e momentos “Kala” (o nome da mãe), outra obra mos comunitários e sedução pop. jectos descobertos por ela e que são de catarse distorcida e claustrofóbica. magnífica. Nesses dois discos impu- Em 2007, quando passou pelo fes- em simultâneo alguns dos mais ex- Não tem o mesmo sabor de novidade, nha um novo paradigma, resgatando tival Paredes de Coura, era ainda citantes da actualidade: Sleigh Bells, mas é até o seu registo mais arrojado. linguagens anteriormente deprecia- uma figura de culto. A chegada às NguzuNguzu, Blaqstarr ou a jovem Há convidados repetentes na produ- das e fazendo-as coincidir num cor- massas, em particular ao gigante cantora Rye Rye, que actuará tam- ção ( ou Switch), mas também po pop. De Santigold aos Buraka mercado americano, acabou por bém no Sudoeste. algumas novidades, como o inglês Som Sistema, dos The Very Best aos acontecer através de “Paper planes”, Se fosse necessário aquilatar do Rusko, Derek E Miller (dos Sleigh Major Lazer, todos acabaram por canção retirada do álbum “Kala” que seu impacto bastaria consultar os Bells) e Blaqstrarr. beneficiar do seu êxito. acabou na banda-sonora do filme balanços da década que se realizaram Tematicamente, é um disco cen- “Quem Quer Ser Bilionário?”, ven- no final do ano passado. Aí ficou cla- trado nas convulsões da Internet, no Cidadã do mundo cedor dos Oscars em 2008. ro que se transformou num ícone, facto de aquilo que ainda é vislum- No início foi essencialmente na In- Depois do sucesso global desse alguém que personifica o nosso tem- brado por muitos como sendo um ternet que se percebeu o seu alcan- tema, sediou-se em Los Angeles e po, uma rapariga em trânsito pelo espaço de liberdade estar a ser cada ce. Como os Clash no período pós- nos Grammys de 2009, dias antes de mundo, criando permutas entre lin- vez mais controlado por multinacio- punk ou os Massive Attack na alvo- o filho (resultante da relação com guagens desqualificadas e códigos de nais ou governos. rada dos anos 90, foi capaz de criar Ben Bronfman, filho do principal arte pop. “É irónico que o Google se tenha

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 7 Bob Dylan, o arquétipo do cantor de protesto dos anos 60, e Herbert, um anti-sistema dos tempos modernos

Lennon queria mudar o mundo num tempo em que o mundo ainda não era cínico acerca disso Eles só querem mudar o mundo M.I.A. faz parte de uma família de activismo político que inclui, entre outros exemplos, Bono, Herbert ou os Clash. Passamos o tempo a dizer que a sociedade civil devia ser mais militante, mas, quando os músicos conhecidos assumem ter uma agenda, o grande público mostra o dedo acusador. Vítor Belanciano

Na sua origem, há 50 anos, o egoísta ou indulgente”, no sentido governo do Sri Lanka”, disse na perdoamos aos que se permitem rock’n’roll não era frontalmente em que é incapaz de refl ectir as ressaca. “Vejo-me como aquele sonhar.” político. Mas antecipou e convulsões sociais, económicas Os críticos dizem que a sua Nos anos 70, um grupo com promoveu a mudança. Foi e políticas do mundo. “É como se visão dos acontecimentos que faz soar o alarme. pontos de contacto com a sempre assim quando surgiram estivesse divorciada da realidade, contribui mais para agitar do que O meu amplificador actividade de M.I.A. (que não movimentações emergentes, da vida, de nós.” para pacifi car. Ela responde que se resumem à cedência de uma estivessem elas conotadas com a É difícil não concordar com o momento não é para apaziguar. está ligado e posso amostra de “Straigh to hell”, folk, o punk, o tecno ou hip-hop. ele, embora cada caso seja um “Estão pessoas a ser mortas, canção que faz um “cameo” em A tentação política na música caso. No limite, haverá sempre agora”, responde, ao mesmo tempo servir-me desta coisa “Paper planes”), os Clash, também tem sido uma constante. De Bob alguém a dizer que criar música que se demarca de fi guras como assumiu uma activa agenda Marley aos Public Enemy, de é, por si só, um acto político. Bono, que acusa de proclamar ridícula chamada política. Sonoramente, os Clash Fela Kuti aos Rage Against The E é verdade. Mas a percepção “vamos salvar África” sem ter recriavam pontas soltas do punk, Machine, a galeria de fi guras é que temos sobre aqueles que passado pela experiência de viver celebridade do dub, do funk, do jazz ou do infi ndável. Nos anos 60 era a coisa conseguem tocar grandes naquele continente. em benefício ska, resultando daí uma música mais normal do mundo ouvir um multidões e que convocam, rock urbana, física e mestiça, músico dizer que queria mudar o de forma explícita, elementos Soar o alarme de algumas questões” principalmente no triplo álbum mundo. Hoje, quando um músico políticos, é naturalmente diferente. O vocalista dos U2 tornou-se “Sandinista!”, cujo título aludia à diz que quer mudar o mundo Demarcam as opiniões. É esse o no paladino que todos adoram Bono Frente Sandinista de Libertação é, quase sempre, apelidado de caso de M.I.A. odiar. E se existe alguém que tem da Nicarágua. cândido, ou arrogante, e acusado Desde o primeiro momento que consciência disso é o próprio. Sabe Mais do que restauradores de ter segundas intenções (nem o confl ito no Sri Lanka, entre a que as actividades extra U2 têm da ordem, os Clash agitavam que seja apenas o desejo de minoria tamil, à qual pertence, efeitos perversos, promovendo o Caricaturas. Como se não e denunciavam. Exactamente protagonismo). e a maioria cingalesa, integra a afastamento de muitos. Sabe que existisse um campo intermédio como M.I.A. A diferença é que ela Oiçamos o inglês Matthew agenda dela. Com a visibilidade existe quem não lhe perdoe ser que pudessem ocupar. Como se pertence a um tempo em que a Herbert, músico das electrónicas, acrescida dos últimos dois anos, mais do que um cantor rock: “O não pudessem ser realmente contracultura se transformou na o tipo de sonoridade que é as suas afi rmações – refere que torna alguém qualifi cado para personagens inteiras, densas, com norma e as mensagens políticas, visto como sendo apenas com frequência que existe ajudar uma pessoa que tenha tido convicções próprias. de tão gastas, perderam a efi cácia. entretenimento, sem qualquer uma situação de “genocídio” um acidente de automóvel? Só “Bob Dylan ou John Lennon Alguns destes músicos chamamento político: “Porque é no território – ganharam outro há uma qualifi cação necessária: fi zeram exactamente o mesmo expõem visões simplistas, têm a que faço música? Em último caso impacto. o acaso de estares lá e poderes nos anos 60, mas o contexto era insolência de pensar que a sua para mudar o mundo e derrubar No ano passado, a ministra chamar uma ambulância. É assim diferente, porque nessa altura postura poderá mudar alguma o meu Governo, mesmo sabendo dos negócios estrangeiros do que vejo o meu papel – como toda a gente acreditava realmente coisa e retiram dividendos do seu que as hipóteses de fracassar são Sri Lanka afi rmou publicamente aquele que faz soar o alarme. O que era possível mudar o mundo”, posicionamento? Sim. Outros não. elevadas.” que M.I.A. devia concentrar-se meu amplifi cador está ligado defendem os fi lósofos canadianos Como acontece com qualquer Quem conhece a sua actividade, na música e não na política. e posso servir-me desta coisa Joseph Heath e Andrew Potter político. desde a alvorada dos anos 90, Terá sido alvo de ameaças. ridícula chamada celebridade em em “The Rebel Sell”. “Hoje O curioso é que, no mundo sabe que fala a sério. Em tudo “Foi particularmente doloroso benefício de algumas questões”, estamos mais cépticos, por isso ocidental, nunca como hoje se aquilo que faz existe um propósito quando estava grávida e lia na argumenta no Livro “Bono por quando alguémguém nos vem dizer falou tanto do esgesgotamento político. Não são apenas as Internet coisas como ‘o teu bebé Bono”. que podemosmmomoss mudar das formas clássicasclássic de fazer eventuais palavras. É o próprio vai morrer’, apenas porque tinha Ele sabe que é um dos homens o mundo política.política. SSãoão os prprópriosó políticos som, conceptual, que o refl ecte. exposto algumas ideias contrárias mais estimados e detestados do defendemo-moo-- que afiafi rmarmamm essaessa extenuação. Herbert, como os Matmostmos em relaçãorelação ao planeta. Com eleele é tudo em grande. nos. Até Pedem qqueue susurjamr fi guras ou Terre Thaemlitz, “A“A forma de o mmeue pai me proteger podemos fora ddaa orbitorbitaa da política, para nos fi carmos pepelaselas dasdas desilusõesdesiluss era dizer-me acreditar, queque a sociesociedaded civil se electrónicas, possuii parapara não tter ilusões. Como mas é maisaiss mexa.mem xa. MasMas no momento uma agenda políticaa reacçãoreacção fi z ao contrário e cómodo nãonão dede sese conconfrontarem precisamente para nãonão parepareii de ter sonhos o fazer. Dessaesssa comcom perspersonalidades de garantir, até onde mmegalómanos.”egalóm forma protegemo-oteegemo- universosuniversos como a música, isso é possível, É ccomoo se a nos de eventuaisentuais nãonão sósó eles,ele mas também a que a sua música pepercepçãor pública desilusões.es. opiniãoopinião pública,pú mostram não é alvo de dedestee tipo de fi guras Mais ainda:daa: não um grandegrande paternalismo. apropriações ou de apaapenas deixasse ComoComo ironizairon Bono interpretações que eespaço para que acercaacerca de si próprio: “Até escapem à orbita pororr fossemf santos, Bono, o papaladinoaladino queque eu achoachho estrestranhoa ver uma ele defi nida. salvadoress do todos adoramorram odiarodiar,, e os eestrelastrelaa rocrockk a vaguear pelos Numa entrevista mundo,m ou vilões, Clash, queuee foram corredorescorredores do poder, em recente, dizia-nos milionáriosmii que se sandinistasstas assumidos, vez ddee estestara lá fora, junto que “a maior parte arvoramarvo em porta- entre outrastras coisascoisas de aos portões,portõe a empunhar da música actual é vozesvozes dos necessitados. esquerdaa cartazes.”carrtazes.

8 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon comovido quando foi censurado na Internet. Um soldado filmou a exe- Claro que a cultura rock mais re- China e depois censure vídeos que “Quero ter sucesso, cução com um portátil. Passou nos trógrada ainda tem dificuldade em expõem um prisma criativo”, acusa noticiários, não para ser interrogado aceitá-la. E não é apenas pela atitude. ela. “Vimos Saddam Hussein a ser não quero ter sucesso. o seu conteúdo, mas para se analisar Muitos não entendem o sucesso de enforcado. Vimos tropas do Sri Lanka Quero deixar se era um vídeo real ou forjado. De- alguém que não tem problemas em a torturarem e a mutilarem pessoas pois de ter feito sair o meu videoclip dizer que não toca um único instru- em vídeos horrendos no YouTube. a América, não quero e de toda a polémica que causou, mento – mas que tem a incrível capa- Mas, quando se trata de arte, censu- interrogo-me: como é que um vídeo cidade de canalizar tudo à sua volta ram-na.” deixar a América. desses pode passar perante a indife- para a música – ou que não se revê O vídeo do primeiro single causou rença geral e uma ficção pode provo- na forma como a maior parte dos gru- polémica. A canção “Born free”, con- É natural que car tal reacção?” pos actua ao vivo, optando por ter cebida à volta de uma amostra de em palco um DJ, um baterista e algu- som retirada de “Ghost rider” dos a música acabe por Em guerra com o mundo mas bailarinas. Suicide (vale a pena ver no YouTube ser bipolar” “Maya” expõe desejos contraditórios Sempre existiram detractores de a recente apresentação no programa e é a própria a reconhecê-lo: “Quero M.I.A. Agora são mais. Mas agora tam- de TV de David Letterman, em que ter sucesso, não quero ter sucesso. bém há mais admiradores. Vão-se ela surge acompanhada por dez clo- Quero deixar a América, não quero encontrar todos no festival Sudoeste nes e Martin Rev, dos Suicide), foi deixar a América. É natural que a mú- porque, independentemente do que alvo de um tratamento de choque por sica acabe por ser bipolar.” Os seus possamos pensar sobre ela, já nin- da parte do realizador Romain Ga- detractores têm razão. Ela é contra- guém lhe é indiferente. Afinal, ela vras, que já havia estado envolto em ditória. Todos os são, no patamar agora está no centro. polémica com outro teledisco, onde ela actualmente se encontra. “Stress” (2008), dos Justice. No recente artigo do “New York Ver agenda de concertos págs. 39 e O vídeo coloca em cena soldados Times”, a jornalista Lynn Hirschberg segs. americanos que forçam prisioneiros tentoutou mmostrarostrar totodasdas as ppossíveisossíveis anan-- a correr num campo minado, enquan- tinomiasnoomias dadavi vidada ddee M.I.A.: o activis-activis to um rapaz é executado à queima- momo político e a vida desafogada,desafogada, o roupa e outro é atingido no corpo, desejoeseejo dede chegarchegar ao maior núme- desfazendo-se. São nove minutos, roo dede pessoas e a integridadeintegridade arar-- crus e violentos, que levaram o You- tística.stica. ConciConciliarliar os contrários é o BAPTISTE/AFP GUILLAUME Tube a retirá-lo da sua plataforma. sonhoonho de todos. Mas um sonho Mas o efeito de propagação viral já queue poucos alcançam. Depois tinha seguido o seu curso com debates daa ppublicaçãoublicação da peça, a cantora acesos um pouco por todo o lado. reagiuagiu como uma adolescen-adolescen- Metáfora sobre a condição de re- fugiado. Arte estilizada para ser con- sumida em massa. Reacção à sua re- lação conflituosa com os EUA – tem te zzanga-anga- tido problemas burocratas fronteiri- da,a, colocandocolocando o núme-núme- ços com o estado americano, que a roo dede tetelemóvellemóvel ddaa jorjor-- própria diz estarem ligados ao facto nalistaaliista na Internet,Internet, de ser vista como incómoda por de- masmas conseguiuconseguiu que o nunciar aquilo que considera ser o jornalrnnal publicasse uma “extermínio dos tamil” no Sri notaota de desculpa, re- Lanka. ferindorindo que havia As mais diversas interpretações incorrecçõescorrecções no tex-tex- fizeram-se ouvir. M.I.A. reagiu assim: to.o. CComoomo canta em “Uns meses antes, um vídeo de uma “Lovalot“,Loovalot“, ela luta execução, em grande plano, com pro- comomm os que a desa- veniência do Sri Lanka, aterrou na fiam.amm. NoN fimfim de con-con- tas,s, o fascínio sobre elaa reside também nessaesssa formaforma inflinflama-ama- daa ddee estestar.ar. PorPor vezes revelaeveela algumaalguma ingenuidade,ingenuidade, é ddesbo-esbo- cada,adda, apaixonada.apaixonada. Um furacãofuracão de emoçõesmooções e ideias. Uma rapa-rapa- rigagaa capaz de nos devolver noo seuseu últimoúltimo álbumálbum a vi-vi- braçãoraação ddee exexistir,istir, mas tambémammbém as frustrações,frustrações, atravésraavés ddee um som ruiruido-do- soo e industrial. “Born Free”, o vídeo de choque que Romain Gavras realizou para o primeiro single do novo álbum de M.I.A. , foi retirado do YouTube por causa do seu conteúdo violento “Também adorei ver os Daft Punk. Pensei que ia morrer sem os vcr, mas vi-os. Foi uma coisa...” NUNO FERREIRA SANTOS

A cada um Sudoeste, 2002 “A primeira memória é quase morrer afogado”

A primeira memória que me vem à cabeça, e talvez a mais importante, é a de quase morrer afogado no canal que chamarei canal do Montez, visto o seu Sudoeste ter sido o organizador do festival que me salvou. Isto terá sido em 2002 e não esqueci. Eu sei nadar, mas não reparei numa corrente que me estava a arrastar e, como sabemos, há uma certa vergonha em pedir ajuda nessas O primeiro Sudoeste aconteceu em 97, com situações de aflição. Principalmente quando aquele a quem se tem que pedir ajuda é nosso patrão, como era o Luis Montez na altura. Portanto, os Blur, os Suede e Marylin Manson, e deu um foi graças ao braço amigo dele que posso estar aqui hoje a dar este depoimento. empurrão defi nitivo à entrada de Portugal na era Nesse festival gostei muito do concerto dos Chemical Brothers e dos Black Rebel Motorcycle Club. Gosto assumidamente de rock, que é o meu dos festivais de Verão. Claro que já tínhamos tido som, e os Black Rebel Motorcycle Club foram uma destilação de rock fora do normal. Ainda gosto deles, mas na altura ainda não eram muito Vilar de Mouros e as suas míticas edições de 71 e conhecidos e estavam mesmo “on fire”. Quanto aos Chemical Brothers, senti que ia ser uma noite especial desde o 82. E, noutra escala, já havia Paredes de Coura. momento em que entraram em palco. Criaram logo uma empatia muito Mas foi com o Sudoeste que estes festivais de grande com o público. Acho que, nesse concerto, 70 por cento das pessoas estavam embriagadas. Eu não, mas toda a gente à minha volta estava e, à campismo e pé descalço vieram para fi car. Nessa medida que o concerto avançava, quase nos sentíamos obrigados a beber e a festejar tudo aquilo. Também me lembro do mítico concerto dos primeira edição, houve muito pó, muito trânsito Portishead [em 1998], mas não estava lá. Estava a ouvir pela rádio e a pensar como tinha sido pateta por não ter ido. e um maralhal a acordar encharcado em suor, Não sou muito de campismo e tenda, nunca tive o velho sonho de ter a bela autocaravana e viajar com uma finlandesa pela Europa, por isso não me às 7h da manhã. Nesta há 2 Many DJs a abrir, dia posso queixar das minhas experiências no Sudoeste. Visto estar sempre a trabalhar, ficava bem alojado, tomava banho e era bem alimentado. Fora 4, Massive Attack e Air a fechar, a 8. Pelo meio, as vezes que estive lá em trabalho, nunca fiquei os três dias. Será como este ano. Ainda não sei se vou. Se for, irei um dia, conforme a minha M.I.A. e Flaming Lips, Jamiroquai e Lykke Li, disponibilidade. Até porque tenho lá um recanto secreto. Há lá uma quintinha que só algumas pessoas conhecem. O Pedro Rolo Duarte, o Mika e Sugababes, Beirut e Carminho. Miguel Esteves Cardoso... Costumo ir até lá. Mas é secreta. Não tentem Treze anos são muito tempo e o Ípsilon partiu descobri-la. Não convém que se saiba que existe para não estragar tudo. em viagem pela memória: cinco pessoas, cinco Fernando Alvim, radialista e apresentador de televisão Sudoestes. Mário Lopes

10 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon “Os Portishead não foram uma festa, foram como um concerto PIMENTA PAULO numa sala pequena, mas para todos aqueles milhares de pessoas. Foi brutalíssimo, um som incrível, muito acima da média”

Sudoeste, 1998

o da Beth Gibbons, Vi a PJ Harvey ao lad “ ma do palco” e os Portishead em ci Silence 4 em recuar à actuação dos Sudoeste, é inevitável ipal, Sudoeste, Quando penso no a parte do palco princ 2006 al para fazer a primeir 98. Entrámos no festiv por questões 19 os informados de que, o dia. Nessa tarde, fom timos a tocar. “Os Franz Ferdinand durante d, teríamos de ser os úl estavam felicíssimos, m o voo dos Portishea errá- relacionadas co abrir o palco, mas enc a nadar no mar de cuecas” stávamos muito bem a ir Isso modificou tudo. E repente, tinha de segu o há pouco tempo e, de banda tinha começad egámos a Fui a todos os Sudoeste lo... A não fazia sentido, e ch , quase sempre em trabalho. Ao primeiro nã Portishead. Para nós festival, Esse foi o o. PJ Harvey e e actuar num grande meu primeiro festival a dormir fora de casa , mas a oportunidade d e, claro foi óptimo. pensar em não tocar a ver o concerto da PJ Ia à praia, apanhava umas bebedeiras c r ser mais forte. Estive om os amigos… Foi o festival de ela posição, acabou po Portishead em Marylin Manson e Suede naqu i o concerto inteiro dos . Gostei de chegar a um festival onde podia do da Beth Gibbons. V s da ouvir rock Harvey ao la entos mais marcante , mas que também tinha uma tenda de músic ertamente um dos mom que a de dança. Isso cima do palco. Foi c dos a música rock, por era uma novidade na altura. Via concerto stivais estão muito liga s e ouvia DJ. ória do Sudoeste. Os fe d não foram uma Os primeiros anos em que hist ma festa. Os Portishea fui ao Sudoeste em trabalho foram super rque os festivais são u odos divertidos. I é Verão e po a pequena, mas para t r a festivais era o ponto alto da minha carreir um concerto numa sal a. Estava a festa, foram como m som incrível, muito trabalhar, mas sempre em festa. E era uma as. Foi brutalíssimo, u promotora que raptava os ueles milhares de pesso artistas, que gostava de os leva aq r a passear. Depois aconteciam coisas média. u-me um como com os 2 M acima da uito divertida. Mostro any DJs, numa das vezes que lá tocaram. Le ou por ser uma noite m ja vei-os a Para mim, acab [com o crescendo de ntar e, no regresso, estava uma fila fora do n ainda teria nesse ano ormal àquela hora. Eles ocado da surpresa que s Humanos não me iam entrar à 1h e eu ia tendo dez b m 2005, a recepção ao oito AVC enquanto estávamos presos no idade dos Silence 4]. E nho das trânsito, com me popular e sentia na rua o empe do de não chegar a tempo. Noutro ano, levei o mesma forma, porqu o Fe s Franz surpreendeu da ária. Recordo sempre rdinand a passar a tarde na praia do Carvalh nfirmação extraordin al. Eles estavam essoas. Mas foi uma co tar o “Maria felicíssimos, todos branquelas e a p tra em palco para can nadar no mar de cuecas. Quando to em que o Camané en s. Como não fomos jantar, recom momen pecial por outras razõe endei-lhes uma série de coisas. Arroz de ma ra mim, foi também es utros amê risco, Albertina”. Pa áculo a tocar, a ver os o ijoas, sapateira… O Alex [Kapranos] ia morre ei dois terços do espect ndo mesmo antes de cantava sempre, pass sido possível antes, entrar em palco. Nem costuma com multidão. Nunca tinha er antes dos concertos e estava com os e a apreciar aquela uma indigestão. Foi o músic rei a sensação. utro pânico. Mas acabou por ser um óptimo sempre à frente, e ado Estava a concer porque estou o público foi em 1999. to, o primeiro deles cá [em 2004]. e no Sudoeste enquant A única vez que estiv mo não tinha forma de Adorei ver os Sonic Youth [em 1998], co o Algarve e, depois, co m aqueles solos de guitarra essar de um concerto n dos Gift. Se não me permanentes e aquela a regr eia com a “entourage” titude punk, “estamos num festival, metade d cabei por voltar de bol rincipal. pessoas n as sair de lá, a ite tocaram no palco p ão nos conhece, toma lá!’’. Muita gente não g e os Gift, que nessa no . ostou do engano, vi os James o sei se vou ter tempo.. concerto, eu adorei. Acho que foi mesm assive Attack, mas nã o de propósito. Também adorei ano gostava de ver os M ver os Daft Punk [2006]. P Este ensei que ia morrer sem os ver, mas vi-os. Fo músico uma coisa… i David Fonseca, Portanto, vi muitas ban das óptimas à custa do Sudoeste, mas agora, com a roda gigante, com o M cDonalds, com aqueles barracos que põem lá com as pessoas aos gu inchinhos, com toda a gente pintada com as cores dos patrocinad ores, parece demasiado uma Feira Popular. A lexandra Sumares, promotora de imprensa

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 11 “O [António] Sérgio estava a adorar

a situação: estava MADEIRA MIGUEL

a passar discos com ANTÓNIO CARRAPATO a Kim Gordon”

“Nesse concertos dos Chemical Brothers, 70 por cento das pessoas estavam embriagadas. À medida que o concerto avançava, quase nos sentíamos obrigados a beber e a festejar tudo aquilo”

Sudoeste, 2000 Sudoeste, 1998 “Andava-se por aquela cidade provisória “Depois daqueles dias, quase valia a pena de sombras antes de descobrir a tenda” trazer a poeira para Lisboa” Já estive nas tendas e já comi algum daquele pó, com todas as Eu e o [António] Sérgio fomos frequentes da primeira edição até 2005. É atribulações que isso implica, como a eterna procura da tenda à noite. um festival que ganhou um carisma enorme. Há ali uma mística que Acabava por ser uma oportunidade para conhecer outras pessoas, ultrapassa o som das bandas. Nas primeiras edições, o cuidado que se porque andava-se bastante por aquela cidade provisória de sombras e teve com a escolha das bandas tornou-o um festival internacional. vultos antes de a descobrir. Glastonbury não tem a ruralidade do Sudoeste, mas também tem a lama. Tirando a passagem do Marylin Manson [1997], que não vi, nunca foi um Lembro-me dos primeiros anos, do pó e da lama que se colava aos festival que tivesse as minhas bandas, mas lembro-me que nesse ano calções. Mas, depois daqueles dias, quase valia a pena trazer a poeira [2000] em que o vivi de forma mais intensa, com acampamento e tudo, para Lisboa. No Sudoeste pudemos ir assistindo ao crescimento de várias houve uma banda que me surpreendeu, os Bush. Era um pop-rock que bandas. Basta ver o luxo dos primeiros cartazes. PJ Harvey, Portishead, o piscava o olho ao grunge e tinha uma certa intensidade que me tocou. Marilyn Manson a chegar com aura toda de anticristo. Agora nota-se que Nesta edição tenho muita vontade de ver os Flaming Lips. Nunca o cartaz é mais frágil, mas vi lá concertos fabulosos. colocaram de parte a sua origem mais transgressora. O Sudoeste de 1999 foi muito bonito. Foi o ano da grande chuvada e o Talvez por ser um dos maiores festivais de Verão em Portugal, o Sudoeste palco ficou praticamente destruído. Foi o ano dos Massive Attack, que são acaba por ser um rito de passagem, de entrada na idade adulta. Na sempre uma banda de referência, de Jon Spencer Blues Explosion e dos última vez que lá estive [2007], lembro-me de terem tocado os Buraka Chemical Brothers, do “20 Anos 20 Bandas” dos Xutos. A minha maior Som Sistema e de ter sentido que já estava um bocado velho. Nesse desilusão foi ir ao Sudoeste de propósito para ver os Love. O Sérgio queria sentido, já me diz menos. Se é ritual de passagem, eu já passei. muito vê-los, não podia perdê-los, e estivemos lá no “soundcheck” e tudo, Nunca escrevi durante o tempo que lá estive, mas parece-me que se mas ele [Arthur Lee] não estava [o concerto acabou por acontecer, mas encontra sempre assunto. Já escrevi dois textos sobre o Sudoeste. Um assegurado pela banda suporte do fundador]. deles foi publicado unicamente no Jornal de Letras, uma crónica com o A cena mais cómica aconteceu em 1998. Os Sonic Youth tocavam nesse título “Lava-me Porco”, e outro que acompanhou um livro de fotografias ano e o Sérgio fez uma sessão DJ. Normalmente deixava-me fazer uma de Rita Carmo [“Altas Luzes”; Assírio & Alvim, 2003]. perninha, quando ia fumar um cigarro ou buscar uma cerveja. E, Uma coisa interessante é que estes festivais são lugares onde encontramos quando foi buscar um cigarro, abordaram-no porque achavam que ele Portugal. Hoje em dia Portugal oscila entre diversas imagens díspares. estava a partilhar o set com a Kim Gordon. Passado um bocado, já havia Pretende ser um país de grande modernidade, de grandes obras, grandes muita gente a pensar o mesmo. O Sérgio estava a adorar a situação: Expos, grandes pontes Vasco da Gama, grandes eventos de culturas de estava a passar discos com a Kim Gordon. massas e da globalização. Mas depois essas bandas transnacionais vêm São muitas memórias. Os momentos de angústia quando o Virgul aos festivais e são instaladas na Herdade da Casa Branca, em Vilar de [vocalista dos Da Weasel] partiu a perna ao dar um salto mortal [2000], Mouros ou em Paredes de Coura. Um Portugal que guarda em si tantas o grande concerto dos Black Rebel Motorcycle Club [2002] ou o concerto características do que temos sido nos últimos 70 anos. empolgante dos Primal Scream [2003]. E claro, também o óptimo concerto de Rustyman com a Beth Gibbons, nesse mesmo ano. José Luís Peixoto, escritor Ana Cristina Ferrão, radialista

12 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon Nestas férias exercite a sua mente.

COLECÇÃO P-IQ. 96 páginas com passatempos.

De 3 de Julho a 4 de Setembro, o Público lança 10 cadernos semanais de passatempos que vão estimular a sua inteligência com desafi os, enigmas e jogos de lógica que pode levar para a praia ou para a piscina. Canções sobre a adolescência e centros comerciais Com “Funeral”, os Arcade Fire tornaram-se a banda de uma geração. Com “Neon Bible”, prolongaram o fascínio. “The Suburbs”, um dos discos mais aguardados do ano, é um “requiem” pela inocência perdida, e o álbum de uma banda em mutação, explica William Butler ao Ípsilon. Mário Lopes

Há algumas semanas, os Arcade Fire soas mais velhas, pessoas que não Os subúrbios, aquele espaço de anos, os Arcade Fire mantiveram- montaram um acontecimento. Coisa sabiam quem nós éramos. Não esta- “que não é exactamente o se escondidos – acabada a digressão discreta, pensaram, nada mais que vam lá para nos julgar, estavam a campo mas permite a de “Neon Bible”, toda a banda tirou “aquecimento” para a digressão a sé- achar piada a ver uma banda rock no experiência da vida ao ar livre”, um ano de férias. Agora, ressurgem rio. Antes de avançar, recuemos. parque de um cento comercial.” é o lugar de onde os Arcade Fire em todas as frentes. Quando editaram “Neon Bible”, o se- Estes Arcade Fire que suscitavam vieram e aonde regressam gundo álbum, deram concertos em textos hiperbólicos, género “eu vi o neste terceiro disco Os subúrbios igrejas: “Um altar como palco”, des- futuro do rock’n’roll” continuarão a crevia o Ípsilon em 2007, quando a ser vistos como mensageiros de algo de “The Suburbs” banda levou as suas canções de “exal- superior, continuarão a ser descritos A génese de “The Suburbs” esconde- tação, fé e esperança” a uma pequena como banda que salva vidas – porque se numa fotografia. Um amigo de in- igreja de Westminster, em Londres. falam directamente aos ouvidos do fância de Win Butler com a filhas às “Um altar como palco”. De certa for- público. Mas, chegados a “The Subur- cavalitas nos subúrbios de Houston. ma, já tinha sido assim em “Funeral”, bs”, eles que estão prestes a entrar na Win crescera ali com William, o irmão o primeiro álbum, aquele que salvou categoria U2 e Coldplay em termos mais novo, antes de partirem aos 15 uma geração oferecendo-lhe algo que de dimensão (a estética é outra coisa), anos para um colégio privado. A foto ainda não tinha: as anteriores exibiam parecem recolher-se. do amigo tão crescido que já tinha no peito o seu Dylan e o seu Cohen, Com 16 canções e mais de uma ho- “Quando existe uma filha às cavalitas, justaposta à os seus Joy Division ou os seus Clash, ra de duração, o álbum abre-se a no- pressão de grupo paisagem que tão bem conhecia, des- aquela que ainda não se aproximara vas linguagens e experimenta mais pertou memórias. dos 30 passava a ter algo que contra- instrumentos e soluções de compo- para que Liricamente, “The Suburbs” é todo por. “Funeral” era pessoal e transmis- sição – ouvimos pedaços de electro- ele movimento de regresso. Um re- sível, era assombrado por fantasmas pop, punk agreste, uma balada com te mantenhas criar de cenários e situações da ado- que seriam ultrapassados num refrão sabor mexicano, os Cars a meter-se lescência, em busca de uma inocência gritado, luminoso, grandiloquente. com Bruce Springsteen. “Estamos são, manténs-te são. e de uma vitalidade que parece já não Depois de “Funeral”, “Neon Bible”, definitivamente mais concentrados existir, mas que se tenta agarrar com habitado pelo questionamento da fé no aspecto estético neste momento”, Nenhum de nós fica ambas as mãos, com tanta firmeza para que a fé se pudesse revelar por acentua Willliam. “Não digo que não ‘pedrado’ de emoção quanto desespero. Na primeira can- fim, mantinha o tom: era a tradução devamos falar daquilo que afecta a ção do álbum, o tema título, Win quer sónica de um desejo de transcendên- vida das pessoas, mas estamos muito quando partimos ter uma filha enquanto ainda é novo, cia. Voltemos ao início. mais concentrados na ideia de criar quer pegá-la pela mão e “mostrar-lhe Há algumas semanas, os Arcade arte”. Confissão com sabor a antigo, em digressão e as alguma beleza, antes de todos os es- Fire montaram um acontecimento. esta de músicos rock “concentrados tragos terem sido feitos” – “sometimes Uma discreta apresentação de “The na ideia de fazer arte”? Talvez, mas pessoas nos fazem I can’t believe it / I’m moving past the Suburbs”, o seu muito aguardado ter- nada de fundamentalismos, que a feeling”, canta o refrão. ceiro álbum que chega às lojas segun- ambição dos Arcade Fire inclui toda os elogios mais William Butler não se alongará de- da-feira, dia 2. Não lhes foi difícil ima- a gente. “Queremos convencer as emocionados. Claro masiado na viagem pelos subúrbios ginar o cenário: Longueuil, o subúrbio pessoas de que a nossa música é boa de “Suburbs”. Reconhece como o de Montreal onde cresceu Régine e, de certa forma, transformá-la em que o apreciamos, crescimento altera o olhar: “Quando Chassagne, vocalista e multi-instru- música pop”. Ou seja, chegados a somos pequenos, viver nos subúrbios mentista da banda. “Dois dias antes, “The Suburbs”, ambicionam o equi- mas quase que nos é incrível. Hoje, quando entras numa montámos palco num parque de es- líbrio perfeito: sem ceder um com- povoação cheia de campos de golfe, tacionamento de um centro comer- passo ao perigoso “dar ao público o sentimos a visão é deprimente. Quando és mi- cial”, conta-nos William Butler, irmão que o público quer”, conquistar o údo, o que vês são grandes campos mais novo de Win, o vocalista e gui- povo que é surpreendido na rotina envergonhados. de relva e charcos com tartarugas [na tarrista da banda, marido de Régine. de shopping por uma banda que des- Reagimos a isso América do Norte, os subúrbios são Prossegue: “Pensámos o concerto co- conhece. a zona das classes alta e média-alta].” mo aquecimento para a digressão e Neste momento, os Arcade Fire com um ‘eh, porreiro!’, Claro que depois, quando os miúdos apareceram oito mil pessoas.” Ou se- preparam-se para tocar no Madison se tornam adolescentes, aquele espa- ja, não foi propriamente um aconte- Square Garden, em Nova Iorque, esta e não com um ço “que não é exactamente o campo, cimento exclusivo e recatado. Mas foi quinta-feira. A actuação será trasmi- mas permite a experiência da vida ao “incrível”. “Como era um concerto tida online, gratuitamente, com rea- ‘AH-AH-AH-AH!’” ar livre”, torna-se opressivo. “De qual- gratuito nos subúrbios, num parque lização a cargo de Terry Gilliam, o quer forma”, acrescenta William, “na de estacionamento, estavam lá pes- Monty Python cineasta. No último par William Butler adolescência sentimo-nos aborreci-

14 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon Música

dos onde quer que estejamos.” Claro que o apreciamos, mas quase Nos subúrbios de Houston onde que nos sentimos envergonhados. cresceu, alguns miúdos programavam Reagimos a isso com um ‘eh, porrei- a sua fuga com sonhos burgueses: ro!’, e não com um ‘AH-AH-AH-AH!” “Vou arranjar um óptimo emprego, [simula a gargalhada perversa de um sair daqui, viver com uma mulher in- vilão que se prepara para dominar o crível e ter um jacuzzi”. Outros pro- mundo]. curaram uma fuga diferente. Win e Talvez seja esta necessidade de pro- William subiram até Montreal, no Ca- tecção contra a épica narrativa cons- nadá, juntaram-se a uma série de mú- truída ao longo dos anos por fãs e sicos e formaram a banda em que imprensa que leva William a defen- todos nos obrigámos a reparar em der-se. Pouco expansivo quanto à 2004, quando “Funeral” foi edita- ideia que agrega todo o álbum, diz- do. nos apenas que este “tenta descrever Seis anos depois esta banda, des- a sensação de crescer nos subúrbios crita ao “Guardian” por Richard Reed durante a adolescência, mas também Parry, multi-instrumentista de mil ta- todo o tempo que passamos a falar de lentos, como conjugação da impres- tudo e nada com os amigos, projec- sionante autoconfiança americana tando coisas que nunca serão concre- com a abertura de espírito canadiana, tizadas”, sensação que “é mais per- está no topo do mundo. Tem o apreço ceptível aos olhos de um adolescen- dos “velhos” fãs David Bowie, David te”, mas que também “está Byrne ou Lou Reed, tem atrás de si definitivamente presente” na sua vida milhões que esperam o novo álbum actual. como um livro de revelações acerca Aquilo que mais o entusiasma em do seu lugar no mundo. Basta passar “The Suburbs” é outra coisa: “Diver- por um par de blogues espalhados sidade. Desde o nosso primeiro álbum mundo fora para o constatar: enquan- que o objectivo é fazer música o mais to os Arcade Fire cantarem, continu- diversa possível, pensando cada can- ará a haver vida debaixo do sol. ção como um projecto individual”. Nada disto, porém, impressiona Por isso gravaram em vários locais William. Como vivem em Montreal diferentes – “na igreja se queríamos mas cantam em inglês, passam des- baterias poderosas”, “na sala [de Win percebidos: “As grandes estrelas do e Régine] se queríamos um som mais Quebeque cantam em francês e ven- extremo, mais directo”, “no quarto dem muito mais do que nós. Além para as canções com electrónica ‘ner- disso, mesmo a nível global, não so- dy’ e caixas de ritmo”. mos assim tão grandes”. Pausa, pen- Ainda não estão lá, mas estão mais sa mais um pouco, lança uma “bou- perto. Ou mais longe. “Estamos sem- tade”: “O que acontece é que somos pre a tentar levar as canções mais aclamados pela crítica, mas isso... Em longe. Tentámos coisas diferentes em alguns circuitos, também o são os Ni- ‘The Suburbs’ e agrada-me muito o ckelback”. resultado, mas o sonho nunca acaba”. Não, não é dominar o mundo, não é A arte é uma ambição continuar a ser Bíblia musicada de William descreve os Arcade Fire como uma geração. Voltamos ao início. uma família saudável que se protege Os Arcade Fire querem, muito abs- mutuamente de quaisquer acesos de tractamente, fazer a melhor arte que megalomania: “Quando existe pres- lhes for possível. E pôr multidões em são de grupo para que te mantenhas centros comerciais do subúrbio a per- são, manténs-te são. Nenhum de nós ceber exactamente o que estão a fa- fica ‘pedrado’ de emoção quando par- zer. timos em digressão e as pessoas nos fazem os elogios mais emocionados. Ver crítica de discos págs. 41 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 15 Do Renascimento ao início do Classi- cismo, a viola da gamba foi protago- nista da mais refinada música com- posta nas cortes europeias. Caiu no esquecimento depois da Revolução OTTERMANS EVY Francesa para voltar a renascer em meados do século XX, fascinando os adeptos da música antiga e também alguns compositores contemporâne- os. No final da década de 70, Paolo Pandolfo, um jovem italiano que já tinha tocado guitarra em grupos de

Música música popular e se dedicava à época a estudar contrabaixo, experimentou este antigo instrumento aristocrático e nunca mais o largou. Actualmente é um dos mais notáveis intérpretes de viola da gamba, mas nunca perdeu o gosto pela experimentação, dedican- do-se também à composição e à im- provisação. Membro de grupos como La Stravaganza e Hespérion XX, fun- dou em 1992 o seu próprio ensemble (Labyrinto), cujo nome se inspira na peça homónima de Marin Marais e com o qual tem construído uma mag- nífica discografia. Hoje, às 21h30, Pan- dolfo apresenta-se no Festival do Es- toril em conjunto com Guido Bales- tracci, num programa para duo de violas da gamba intitulado “Le Celes- ti Harmonie”. Como escreveu um cro- Paolo nista parisiense do século XVIII, só há Pandolfo uma coisa mais bela do que ouvir uma sente-se grato viola da gamba: “Ouvir duas!”. por ter tido Como nasceu a sua paixão pela uma formação viola da gamba? musical Tive a sorte de ter uma formação mu- atípica, que sical atípica. Nos anos da formação do passou por gosto, ou seja na adolescência, fui pas- vários sando por vários instrumentos de ma- instrumentos neira um bocado caótica mas muito e vários criativa. Toquei guitarra, piano, violi- géneros no e depois contrabaixo, quer na ver- musicais: “O tente clássica, quer do jazz. Acumulei meu percurso múltiplas experiências de prática mu- nos últimos sical viva com improvisação. O meu anos seria percurso nos últimos anos seria im- impossível se possível se não tivesse tido este pas- não tivesse sado de eclectismo. A descoberta da tido este viola da gamba deve-se a um amigo passado de que me emprestou um instrumento eclectismo” quando eu tinha 17 anos. Fiquei com ela três meses e quando a devolvi já tocava a primeira sonata de Bach! O meu amigo ficou espantado e incen- tivou-me a continuar. Foi ele que me deu a conhecer Jordi Savall, com quem estudei e colaborei vários anos. Mas não desistiu do contrabaixo... Acabei o curso e tive belas experiên- cias no domínio da música romântica, tocando sob a direcção de Karajan e Claudio Abbado na Orquestra de Jo- vens da União Europeia. Mas quando viajava com a orquestra levava sem- pre comigo uma pequena viola da gamba. Era já o meu grande amor e ficou para toda a vida. O que o fascina mais na viola da gamba? É um dos instrumentos mais ricos al- guma vez inventados. É como ter uma orquestra em miniatura: percorre to- das as tessituras (da mais grave à mais aguda), permite recriar os “tutti”, os grandes acordes, ou o som de linhas individuais, como se fosse uma flauta solo ou um violino. As suas possibili- dades expressivas são imensas, com- paráveis às da voz humana. No Estoril vai tocar em duo com Guido Balestracci. Quais são as A viola da gamba é um Para Paolo Pandolfo, a viola da gamba pode ser uma orquestra em miniatura ou cantar c tempo ou uma lição para os músicos do século XXI. Hoje, no Festival do Estoril, propõe c musical que percorre quase dois séculos. Cristina Fernandes

16 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon “O músico deve ter escutar um quarteto de Mozart. Nas últimas décadas do século XVIII, a vio- a capacidade de la da gamba deixa de ter protagonismo em consequência da Revolução Fran- tocar, de improvisar, cesa, já que era um dos instrumentos preferidos da aristocracia do Antigo de compor, de dirigir. Regime. Não é por acaso que, no início UM MUNDO DE ESPECTÁCULOS A PENSAR EM SI! do século XIX, encontramos ainda a UM MUNDO DE ESPECTÁCULOS A PENSAR EM SI! Há qualquer coisa viola da gamba na Rússia, em São Pe- de profundamente tersburgo, onde persistia uma classe aristocrática que repetia os hábitos de artificial num músico Versalhes. A viola da gamba renasceu no 12 SET PAV. ATLÂNTICO que é só intérprete” século XX com o movimento da música antiga, mas ultimamente tem inspirado compositores 14 SET PAV. ROSA MOTA contemporâneos. Como vê a renovação do repertório? ideias base do programa “Le Há vários compositores contemporâ- Celesti Harmonie”? neos que escrevem para viola da gam- Queremos dar a ouvir a grande varie- ba, mas pela minha parte faço um dade de cores e timbres que resultam pouco como Marin Marais, que toca- da combinação das duas violas da va as suas próprias composições. A gamba. Isto faz-me vir à mente uma resposta do público tem sido muito 6 OUTUBRO citação do século XVIII [publicada no encorajadora. A descoberta da músi- periódico “Le Mercure Galant”] que ca antiga e as pesquisas dos últimos diz: “Só há uma coisa mais bela do 50 anos seriam estéreis se não tives- que escutar uma viola da gamba... sem trazido um novo impulso criativo PAV. ATLÂNTICO ouvir duas!” O programa segue um à música do nosso tempo e à música arco cronológico que se inicia no final do futuro. Conhecemos agora mais do Renascimento com a música de instrumentos e um vocabulário mu- Tobias Hume. Com ele, a viola da sical que há meio século estava no gamba emerge como instrumento so- esquecimento. Remisturados numa lista, depois de ter sido no primeiro espécie de novo caos primordial, es- Renascimento quase sempre um ins- tes são elementos para a criação da trumento conjunto que tocava as vo- música presente e futura. zes da polifonia. Na Inglaterra isabe- Até que ponto as práticas de lina, o alaúde era considerado o ins- improvisação histórica estão trumento solístico por excelência, a contribuir para mudar mas Hume enaltece as capacidades mentalidades? da viola da gamba, que possui uma Os instrumentistas dos séculos XVII e paleta dinâmica muito maior do que XVIII eram grandes improvisadores, 18 NOVEMBRO PAV. ATLÂNTICO o alaúde e canta como uma voz. portanto tinham sempre ligado o mo- Interpretam também páginas tor criativo. Mas a partir do período de St. Colombe e Couperin, da romântico os músicos foram divididos escola francesa... em categorias especializadas. Quem Na música francesa há maravilhosos era intérprete não tinha direito a en- exemplos de conversas para duas vio- trar no sector dos compositores. Esta las da gamba, como os concertos de divisão gerou coisas maravilhosas, mas St. Colombe. É um milagre que estas também uma debilidade profunda da peças tenham ficado escritas, porque criatividade dos músicos clássicos. Na parecem ter sido acabadas de impro- minha opinião, o músico deve ter a visar. Não há um grande trabalho de capacidade de tocar, de improvisar, elaboração intelectual, a música soa de compor, de dirigir. Há qualquer coi- muito fresca e espontânea e revela sa de profundamente artificial num um conhecimento profundo do ins- músico que é só intérprete, leitor de trumento. St. Colombe foi o pai da notas escritas por outros. grande escola francesa da viola da Preocupa-se em desenvolver a gamba, a mais conhecida do grande criatividade dos seus alunos? público através da música de Marin Antes de mais tento recuperar estas Marais e Antoine Forqueray. Tocamos capacidades em mim próprio. pois também o XIII Concerto a duas violas, passei 20 anos influenciado por esta de François Couperin, cuja música visão. Vivi na primeira pessoa esta não é de um gambista, mas sim mú- contradição, pois no início da minha sica absoluta, no sentido em que po- formação tive experiências em géne- deria ter sido escrita para outros ins- ros musicais em que a capacidade de trumentos e soaria sempre bela. intervir criativamente fazia parte do Terminam com o pouco processo. A recuperação das práticas conhecido Christoph Schaffrath de improvisação é um percurso entu- (1709-1763). Quais as razões siasmante de descoberta de capacida- desta escolha? des esquecidas. Na música antiga há A música de Schaffrath ilustra os últi- maior liberdade, porque a improvisa- mos momentos de grande vitalidade ção sempre foi importante, ao contrá- da viola da gamba antes de esta ser rio do que sucedia na música român- substituída pelo violino e pelo violon- tica e pós-romântica. Quando entra- celo. As suas obras são já representa- mos num conservatório, somos tivas do estilo clássico, pelo que en- massacrados com estudos e técnica a contramos sonoridades que facilmen- todas as horas do dia. Há uma castra- te revelam relações com o primeiro ção das capacidades criativas. É im- DIRECTED BY FRANCO DRAGONE período de Mozart. Quando ouvimos portante abrir novas portas, reencon- as duas violas da gamba em conjunto trar a naturalidade de ser músico. 13 A 24 DE OUTUBRO nas peças de Schaffrath, facilmente are trademarks owned by Cirque du Soleil and used under license. conseguimos imaginar que estamos a Ver agenda de concertos págs. 39 e segs. PAVILHÃO ATLÂNTICO

UM ESPECTÁCULO INTIMISTA

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Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 17 Uma família arreganha os dentes contra o mundo É da Grécia, neste preciso momento em que a Grécia voltou a ser o centro da Europa, que nos chega “Canino”, retrato de uma família em luta contra a ameaça do mundo exterior. Vencedora, em 2009, do prémio Un Certain Regard, em Cannes, a segunda longa-metragem de Yorgos Lanthimos regressa agora a Portugal, um lugar onde já foi feliz. Francisco Valente

A Grécia fechada em casa, sozinha burbana em que coabitam um casal contra o mundo. e os seus três filhos adolescentes, É assim que temos a temos visto: quase adultos. Uma enorme cerca como um país na cauda da Europa, delimita o amplo jardim com piscina, em luta pela sobrevivência e pelo re- impedindo a família de construir conhecimento internacional enquan- qualquer imagem do mundo exterior. to estrutura social possível, obrigada As crianças nunca de lá saíram, não a seguir regras impostas pelo mundo por não poderem, mas porque o exterior para reconquistar a legitimi- mundo lá fora, segundo o que ouvem dade perdida e voltar ao bom cami- nas histórias dos pais, é demasiado nho do crescimento económico exi- perigoso. É um mundo de monstros gido pela União Europeia. e de violência que apenas estarão É assim que a vemos também em prontos para encarar quando lhes Cinema “Canino”, segunda longa-metragem cair o primeiro dente canino. de Yorgos Lanthimos (aqui co-argu- mentista, além de realizador), em Qu’est-ce que c’est que uma família luta contra a ameaça do mundo que a rodeia e que nunca dégueulasse? vemos. Todo o filme, que em 2009 “Canino” é um ensaio sobre como a ganhou a secção Un Certain Regard linguagem, mais do que um instru- do Festival de Cannes e também o mento de aprendizagem do mundo, prémio principal do Estoril Film Fes- pode ser uma forma de controlo pa- tival, se passa na agradável casa su- rental da curiosidade, da imaginação

18 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon Em “Canino”, a violência familiar não é um reflexo da violência do mundo exterior; pelo contrário, é a barreira que a família constrói entre ela e o mundo

poder de estipular os significados (os dado às raparigas: “Era, simplesmen- Um fi lme é uma perspectiva pais, donos do conhecimento) e aque- te, um assunto tabu.” Independentemente do que possa- les que devem corresponder à apren- Em “Canino”, os pais concentram- mos ver nesta casa, algures ali dentro dizagem (os filhos). Em “Canino”, o se nas necessidades físicas do filho de está também aquilo que é a natureza dia das crianças é preenchido pela forma muito directa, ao entregar-lhe implícita do cinema: uma visão que expectativa dos jogos teatrais mon- a única visita do mundo exterior, uma vem do conhecimento adquirido de tados pelos pais: testes de respiração funcionária da fábrica do pai que vem um autor, que nos propõe uma ma- debaixo de água, corridas, procura cumprir os seus desejos sexuais. “É neira de observar aquilo que nos ro- de objectos escondidos no jardim. Os um mero cumprimento de uma fun- deia. “A mecânica do cinema é essa: vencedores são premiados, alimen- ção: está aqui, despacha-te com isso uma câmara que grava coisas, a ma- tando uma relação de competição e pronto”. O desabar dessa imagem neira como as vemos através del... que serve, de novo, como pretexto começa quando as filhas vêem essa Tudo depende das pessoas que usam para a preparação para o mundo ex- mesma pulsão a tomar conta dos seus o meio.” terior inventado, mas que os concen- corpos. “É tentar controlar uma coisa Se “Canino” nos mostra alguma tra, também, na obtenção de um re- que, obviamente, nunca poderá ser coisa, é isto: não existe uma percep- conhecimento paternal que tarda em controlada. O sexo e os instintos na- ção correcta e uma percepção erra- chegar, e do qual precisarão, a nível turais das pessoas surgem de forma da, não existe, porventura, nenhu- emocional, para saírem dos limites natural e, a partir de uma certa altura, ma forma comprovada de ver ou de da sua casa. toda essa estrutura vai abaixo.” estar no mundo. “Temos de acredi- e das pulsões dos filhos. Um “zom- “Se o significado das Numa altura em que a Grécia é ela Essa supressão psicológica que os tar em tudo aquilo que nos disserem bie” é uma pequena flor amarela, o própria uma sociedade em risco pe- pais procuram impor também foi ne- sobre coisas que não podemos, de “mar” é uma cadeira e uma “vagina” palavras for alterado, los desvios à lógica da concorrência cessária, no “plateau”, para o resul- facto, comprovar. Temos de acredi- é uma grande luz, diz a mãe. Este é o em que se baseia todo o espírito do tado que o cineasta procurava nos tar no que certas pessoas nos dizem, mundo hipnótico de uma família que conseguimos fechar capitalismo, Lanthimos recusa, con- actores. Lanthimos conseguiu com e elas poderão estar enganadas so- decide contornar a realidade e dis- tudo, que o seu filme constitua uma esse controlo interpretações cujo efei- bre o assunto. Abre-se uma grande torcê-la a seu favor. as pessoas num crítica. “A crise é provocada por um to ganha, por vezes, contornos bres- porta sobre as coisas que sabemos A criação de um cativeiro parental conjunto de coisas que se influenciam sonianos. “O Robert Bresson é um dos sobre o mundo. Serão verdadeiras é indissociável do controlo sobre a certo ambiente. umas às outras, pela maneira como meus realizadores preferidos. Existe as coisas em que acreditamos? Quem linguagem - e é uma ferramenta que Interessou-me muito fazemos tudo funcionar, pelos objec- uma ligação com ele pela forma como poderá dizê-lo?”, questiona Lanthi- não apenas os pais, mas todas as fon- tivos que estão por trás e o ponto até evito, a todos os níveis, uma maneira mos. tes de informação, utilizam, argu- a maneira como ao qual estamos dispostos a ir. Não psicológica ou mental de trabalhar Quando o portão da casa desta fa- menta Lanthimos. “A linguagem é podemos dizer que a concorrência com os actores, ou qualquer tentativa mília se abre, é também para esse uma das principais formas que os nos servimos seja, em si, uma coisa má, pois tam- de explicar e discutir os seus senti- desconhecido que vamos. pais têm de controlar os seus filhos. bém é responsável pelo nosso pro- mentos. Dirijo-os de forma física, fa- É uma das coisas mais importantes da linguagem gresso enquanto sociedade.” Um dos zendo exercícios e jogos com eles.” Ver crítica de filmes págs. 43 e segs. que temos, porque é a maneira como objectivos de “Canino”, segundo o comunicamos e percebemos as coi- para esconder coisas, realizador, é precisamente mostrar sas, a maneira como falamos uns com a maneira como a validade múltipla dos critérios da os outros.” Esse poder, diz, começa vida em família e em sociedade. “Não na família, mas condiciona depois alimentamos podemos dizer que existe uma coisa todo o processo de crescimento e a errada e outra boa. É exactamente nossa colocação num lugar social. “Se as pessoas com isso que o filme nos diz. Não pode- o significado das palavras for altera- mos dizer isso sobre nada.” do, conseguimos fechar as pessoas informação e isso se A defesa, ou a aplicação radical, num certo ambiente. Interessou-me da nossa percepção do mundo pode muito a maneira como nos servimos transforma ser tão violenta como os valores des- da linguagem para esconder coisas, em conhecimento” ta família. “A violência é uma parte a maneira como alimentamos as pes- importante da nossa sociedade. Tudo soas com informação e isso se trans- Yorgos Lanthimos o que encontramos no nosso dia-a- forma em conhecimento.” dia, na nossa família, nas nossas re- Se, para os adultos, ainda existe a lações, é levado ao exagero no filme, possibilidade de escolher a informa- mas a violência é uma parte impor- ção recebida e a forma de a processar tante disso tudo.” Aqui, a violência (apesar de, paradoxalmente, cada vez surge, sobretudo, nos momentos em mais informação ser sinónimo de ca- que os pais perdem fisicamente o da vez mais informação igual), as controlo. “De repente, as pessoas crianças estão absolutamente à mer- Em parte, sentem-se autorizadas a usar a força cê de uma educação. A família de Yorgos para obrigarem os outros a acreditar “Canino”, a pretexto de proteger as Lanthimos, o naquilo em que elas querem que crianças do exterior, decide levar es- realizador de acreditem.”acreditem.” se controlo ao extremo, lembrando “Canino”, a forma como os Governos autoritá- reconhece-se A supresssupressãoã dos impulsos rios controlam a comunidade através nesta família: NoNo cativeiro de “Canino”, o físico ga- da propaganda política. Numa das a sua nhanha uma importânciaim central, mas cenas mais marcantes do filme, as educação uma importânciaimportâ totalmente despro- crianças pedem para ouvir “a canção sexual fez-se vida de ememoção.o O sexo, explícito e do avô”: trata-se de “Fly me to the assim, de pai mecânico,mecânic é meramente funcio- moon” de Frank Sinatra, tocada en- para filho nal.nal. LLanthimosa aborda-o não só quanto que o pai traduz a letra para a papartirr da perspectiva que é os seus filhos e transforma a música impostaimp pelos pais do filme num hino à autoridade parental e à (desprovida(de de paixão e, obediência familiar. Lanthimos subli- porpo isso, ultrapassando os nha que começou por querer escre- limiteslim morais do incesto), ver uma história sobre uma família, masm também a partir da mas que a comparação política tor- perspectivap que lhe foi nou-se, também, num elemento im- impostaim pelos seus pró- portante da sua reflexão. “Acaba por priosp pais, no seu país. “É ser inevitável associarmos a história algoa que vem da minha ao lado político e à gestão mediática infância.in Hoje em dia, as da informação.” coisasco já não são assim, mas,ma há duas décadas atrás, A violência da concorrência haviahav a ideia, dentro das fa- A distorção da linguagem implica, mílias,mília de que o pai se orgu- por outro lado, um jogo físico perma- lharialharia se os seus filhos rapazes nente entre aqueles que possuem o tivessemtivesse sexo.” Um orgulho ve-

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 19 O Verão é quando um livro quiser Escritores, editores, críticos literários, amantes dos livros e da leitura acreditam que não há livros “para” o Verão. Os livros são de todas as estações. Mas houve aquele Verão em que qualquer coisa de excepcional se passou: um clássico fi nalmente ultrapassado, a descoberta de um escritor, um namorado dispensado. Em cima da toalha de praia. Raquel Ribeiro (texto) e Nuno Saraiva (ilustrações)

Não há livros de Verão. As listas que ao Dia dos Namorados. Por causa dis- cem e só voltam no Outono”. O ma- (leia-se férias) a editora pode final- os jornais fazem sempre que Agosto so, hoje, um livro que se chamasse rketing dos livros alinhou e alimentou mente ler o que quer “e não o que tem se aproxima – e que as editoras caval- “Aquele Inverno em Veneza” “nunca a ideia de que “se podiam vender ‘li- de ser”: “Como editora tenho leituras gam com rótulos como o livro “deste” seria publicado no Verão”, que de vros de Verão’ para que as pessoas obrigatórias, entre originais e provas. Verão – não servem para nada. No resto passou a ser sinónimo de “silly não se cansassem muito a ler”. Não tenho tempo para ler coisas de fundo, escritores, editores, críticos, season”: “Na televisão não há nada Pedreira, claro, lê todo o ano. A outras editoras ou clássicos.” Por isso, amantes dos livros e da leitura acre-acre- em termostermos cuculturais,lturais, os proprogramasgramas únicaúnica difdiferençaerença é ditam que os livros são de todasas as desapare-desapare- que no Verão estações. No Verão há, contudo, maismais tempo para ler. Por isso, um bom QuiQui-- xote ou os sete volumes do Proustoust Rogério Casanova foi obrigado a ler “A Montanha Livros podem ser a solução para as horasoras Mágica”, de Thomas Mann, na Praia das Maçãs: de canícula. “As difi culdades operacionais de ler 800 A editora e poeta Maria do Rosá-sá- páginas numa praia tão ventosa como rio Pedreira, 50 anos, conta queue a superfície de Marte podem ser deduzidas”, diz o crítico literário, quando começou a trabalhar eemm edição não havia esta febre doss admitindo que adormeceu na toalha durante o diálogo “livros de Verão”. “É uma coisa “particularmente penoso entre Naphta e o sr. Settembrini” do marketing”, diz, semelhante

20 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon neste Verão, Pedreira vai continuar a Real, Margarida Vale de Gato descobriu Júlio Dinis numas férias de Verão, com 11 ou 12 ler “O Viajante do Século”, de Andrés “por- anos. Leu os sete livros do escritor português duas vezes de enfi ada, Neuman (Objectiva): “Foi-me reco- que iam ser mendado pelo [escritor espanhol] publicadosdos na e recorda particularmente o “Teatro Inédito”, colectâna Ricardo Menendez Salmon, que me ‘rentrée’”.e’”. Nunca que tinha uma peça intitulada (nunca a esqueceu) disse que foi das coisas mais maravi- distinguiuuiu entre lili- - “Não é com vinagre que lhosas que tinha lido nos últimos tem- vros de VerãoVerão e livrlivros o s de se apanham moscas” pos. Já comecei, fiquei muito entu- Inverno:o: “Na“Na minhminhaa fafamíliamília siasmada.” nunca houvehouve ddistinçãoistinção entre livros leveseves e llivrosivros sérios, porpor isso dede Ségur. TinTinhaha Infância de descobertas tanto lia ‘Tio Patinhas’ nas férias co- sete anos e leu-o nu- sete li- vros, Dos Verões de leituras memoráveis, mo durante o ano”, explica. mas férias em Porto Santo, na biblio- duas vezes de segui- Maria do Rosário Pedreira recorda “O A infância também é um território teca da ilha. Mudou tudo, porque da. É uma figura im- Meu Pé de Laranja Lima”, de José guardado na memória de Margarida começou aí uma relação com os li- portante da literatura Mauro de Vasconcelos. Mais recente- Vale de Gato, 37 anos, poeta e profes- vros. Depois houve muita Pearl S. Bu- portuguesa: morreu pre- mente, lembra-se de ter lido, “debai- sora de tradução na Faculdade de ck (“livros de raparigas”) quando ti- maturamente, mas merecia xo de um chapéu de sol”, “A Sombra Letras de Lisboa. Por acaso, diz, o pri- nha dez anos, e Júlio Dinis, com 11 ou ser comparado ao Dickens.” do Vento”, de Carlos Ruiz Zafón, mas meiro livro que leu (“livro a sério, sem 12. “Dinis foi muito importante para Gostou do “Teatro Inédito”, uma co- também vários originais do Miguel bonecos”) foi “Férias”, da Condessa mim. Também li num Verão os seus lectânea que, lembra, tinha uma

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 21

Nos Verões que passou, entre os nove e os 12 anos, na casa de férias da mãe em Petrópolis, João Paulo Cuenca devorou toda a obra do belga Georges Simenon. Essa é a ideia de livro de Verão do escritor brasileiro: “De férias, numa casa diferente, deitado numa rede, completamente imerso Tatiana Salem Levy e no Simenon” Guimarães R “O“O Crime dodo PadrePadre Amaro” e lleu,eu, ppe-e uma experiência única parara um península d lala primeira vez, “O Primo BasíBasílio”:lio” brasileiro”, explica. “Tive dede lerler até tegra,tegra, apenas excertos na cocolecçãolecção “Não“Não gosto nanadada ddee missão ddee ller.er. LLei-e metade para compreender, e ddepoisepois peçapeça inti-inti- de livros RTP do meu ppai.ai. Aí está: um turatura por obrigaçãoobrigação é muito desagra-desagra comecei de novo, quando jáá sabia o tulada (nun- livrolivro de leitura fácil, muito divertido dável.”dável.” que esperar. Foi uma leitura de Verão ca a esqueceu) “Não é com vinavinagregre e actual que se pode levar para a Não conseconseguegue nomear um livro dde porque era muito difícil e exigexige temtem- - queque se apanapanhamham moscas” [risos]. praia.”praia.” Este ano, a IIlíadalíada e a OOdisseiadisseia umum Verão.Verão. MMasas ddee umumaa PrimPrimaveraaver po, entrega e dedicação.” O llivro,ivro, Nos anos que se seguiram, a poeta estão na “sua”“sua” lista: ““Faltam-meFaltam-me esses sim: “Há“Há 15 anos, a minha melhor aami-m conta, tem um segredo “quee a maiomaio-- começou “a querer ter uma perspec- clássicos dos clássicos”. ga foi de férias. Era a Páscoa de 1996. ria das pessoas conhece, porqueque é um tiva mais abrangente da literatura e Mas o livro “do” Verão de Inês Pe- Foi nessa altura que li tudo o que po- clássico no Brasil”. Ela não sabia. A das influências literárias e a reservar drosa é “Belle du Seigneur”, de Albert dia do Paul Auster”: “O País das Últi- 20 páginas da revelação desse segre- os livros maiores e mais densos para Cohen, “um livro grande e maravi- mas Coisas”, “O Palácio da Lua” e “A do, alguém lhe perguntou: “Você já o Verão, por uma questão de tempo”. lhoso” que se lembra de ter lido em Música do Acaso”. Normalmente, não chegou à página tal e tal?” Ora, segre- “Ulisses”, de James Joyce, os sete vo- 1993 ou 1994, “com grande êxtase”. lê mais no Verão do que no resto do do revelado, caldo entornado. “Foi lumes de Marcel Proust, “Em Busca Entretanto foi traduzido, mas leu-o ano. Pelo contrário: “O Verão é muito um namorado que me revelou o se- do Tempo Perdido”: “Até aos 15 anos em francês, tinha-o comprado em distractivo e eu preciso de concentra- gredo. Deixou de ser namorado.” passava as férias com os meus pais, e Paris. O livro, edição da Gallimard, ção para ler. Leio melhor em dias de Neste Inverno brasileiro, chegada não tinha muito para fazer.” “muito bem cosido”, foi lido na praia frio, chuva, vento e nevoeiro. É um do Verão parisiense, Tatiana Salem O Verão continua a ser feito de li- e ainda conserva as marcas: tem man- ambiente mais propício à concentra- Levy vai ler “Journal de Deuil”, de vros maiores, mas, neste Agosto de chas de água salgada e grãos da areia ção.” Este Verão, contudo, vai ler o Roland Barthes, “Amada”, de Toni 2010, Margarida Vale de Gato quer na badana, “mas não se desfez.” último de Hertha Müller, “Nó Cego”, Morrison, e a biografia de Clarice Lis- escrever. Guardou “Adoecer”, de Hé- Rogério Casanova, 30 anos, tam- de Carlos Vale Ferraz (“encontrei-o pector por Benjamin Moser: “Gosto lia Correia, para as férias, mas o resto bém sublinha que ler um clássico na recentemente numa Feira do Livro, muito de Clarice. Tive uma grande do tempo será dedicado a leituras re- praia pode ser uma experiência mar- gostei muito de falar com ele e trocar paixão por ela quando era adolescen- lacionadas com um projecto de tra- cante (talvez não pelos mesmos mo- impressões acerca de África”, diz), e te. Sentia uma identificação, depois dução e de literaturas da diáspora. E tivos de Pedrosa). O crítico literário e “Verão”, de J. M. Coetzee: “Li o pri- criei até alguma aversão. Agora já fiz poesia de Verão? Gato diz que não. responsável pelo blogue “A Pastoral meiro livro dele, ‘Desgraça’, e gostei as pazes. Sou muito passional, mas “Nunca leio um livro de poesia do Portuguesa” mantém-se anónimo, muito. Depois comecei a ler tudo. depois a paixão acaba.” princípio ao fim, por isso não tem a mas falou ao Ípsilon por email, con- Gosto dessas descobertas, não acre- Tatiana lembra que o Verão brasi- ver com a estação do ano”. Mas, se tando que devido a “um inenarrável dito em listas.” leiro era normalmente a altura do ano houvesse uma poeta para recomen- conluio de razões” foi obrigado a ler em que viajava para lugares mais dar neste (ou em qualquer “A Montanha Mágica”, de Thomas Grande Sertão, no Verão frios, como a Europa. O escritor bra- outro) Verão, seria So- Mann, na Praia das Maçãs. Era o Ve- Isabela Figueiredo viveu em Moçam- sileiro João Paulo Cuenca, 31 anos, phia de Mello Brey- rão de 1996. “As dificuldades opera- bique até aos 13 anos. Lá era sempre também fugia do calor, mas não saía ner: “Por causa cionais de ler um livro de 800 páginas Verão. Por isso, não pode dizer com do estado do Rio de Janeiro: subia as do ‘Ilhas’. Fa- numa praia tão ventosa como a su- certeza que livros leu em que estação. montanhas em direcção a Petrópolis. lam desse perfície de Marte podem ser deduzi- Quando descemos aos trópicos, as “Durante a adolescência, era muito olhar transpa- das”, explica. Casanova conta que perguntas sobre livros de Verão ga- comum subir a serra, e ficar na cida- rente que as- houve dificuldades acrescidas que o nham outro significado, não só por- de imperial em Petrópolis. Aí faz mui- socio muito impediram de desfrutar do clássico que, por exemplo, no Brasil é Inver- to frio, é um clima muito menos tro- ao Verão. Há na totalidade: “O facto de eu usar nes- no, mas também porque o calor dura pical do que o do Rio. A minha mãe uma harmonia sa data o cabelo comcom- o aano todo. É isso que afirma a escri- tinha casa lá e era uma rotina de comcom o mmar,ar, um pridoprido (e bastante se- torator brasileira Tatiana Salem Levy, 31 criança passar lá o Verão.” processoprocesso de doso, didiga-se),ga-se), catacata-- anos:ano “Essa ideia de livros de Verão Entre os nove e os 12 anos, leu toda lisandolisando proezas de existeexi muito mais na Europa do que a obra do escritor belga Georges Si- Isabela Figueiredo transpiraçãotranspiração ssóó ao nono Brasil. Aqui o ano é muito menos menon, mas foi aos 12 que leu o seu não consegue nomear um livro de um dividido.div O Brasil quando pára é para “clássico de Verão favorito”: “O Ho- nãonão ler, como no Carnaval.” mem que Via o Trem Passar”, versão Verão, mas consegue nomear o autor de uma QuandoQ era jovem, Levy tinha brasileira, ou, em Portugal, “O Ho- Primavera: Paul Auster, de quem leu tudo o que podia na “sempre“ tempo para ler”. Mas ho- mem que via Passar os Comboios”. Páscoa de 1996 je lê de maneira igual no Verão e Essa é a sua ideia de livro de Verão: no Inverno (reside em França, “De férias, numa casa diferente, dei- onde é Verão, mas quando falou tado numa rede, completamente sarar que existe na poesia dela que é alcance de atletas olímpicos, e de a ao Ípsilon tinha acabado de chegar imerso no Simenon”. Foi um livro muito mais propício ao Verão.” edição ser da Livros do Brasil, cujos ao Brasil, onde é Inverno). “Sou uma marcante, sobre “a imobilidade” e a caracteres tinham a capacidade de leitora no sentido clássico. Gosto de dificuldade de aceitar “a rotina como Ler os clássicos transpirar tanto como eu.” Adorme- me envolver com a história, com a um futuro possível”: “Essa dúvida, As listas de Verão, diz a directora da ceu na toalha durante o diálogo “par- leitura. O livro de Verão pode ter a essa angústia foi uma das questões Casa Fernando Pessoa e escritora Inês ticularmente penoso entre Naphta e ver com isso, esse momento de prazer que mais me fizeram ser escritor.” O Pedrosa, 49 anos, “são um disparate”: o sr. Settembrini”, com o rosto trans- que não está ligado ao trabalho, mas escritor tem uma vida diferente da “O que normalmente se consideram pirado “em cima da página transpi- faço isso no meu dia-a-dia.” Por isso, maioria. “Mesmo que ele não suba no livros de Verão são policiais ou livros rada”, acordando “duas horas depois confessa que houve um Verão, o de trem, pode imaginar a viagem”. Tal- ‘light’, como se as pessoas durante o para descobrir a respectiva página 2002, em que se envolveu a sério com vez por isso, o seu último livro, “O resto do ano andassem a ler o Dostoi- [531] transformada num borrão pas- a leitura do “Grande único final feliz para uma historia de évski, e depois chegasse o Verão e só sível de ser usado num teste de Sertão, Veredas”, amor é um acidente”, seja também o lessem coisas levezinhas”. personalidade”. Com excep- de João Guima- resultado de uma viagem a Tóquio: Por isso, na mala de Verão de Inês ção desse incidente, expli- rães Rosa. Ti- “Cometi a ousadia de escrever um Pedrosa, há sempre um Camilo Cas- ca, “o Verão de 1996 foi nha 23 anos, livro cuja primeira pessoa é japonesa. telo Branco. “Releio sempre um Ca- óptimo”, e emagreceu passava fé- As personagens são todas japonesas, milo nas férias. Lê-lo é o que me ali- “imenso”. rias na pe- excepto o João Gilberto.” Sim, o mú- menta a escrita. Ele usa muitas pala- Quem passou um Ve- nínsula do sico, que é extremamente popular no vras que ainda hoje se usam no Brasil rão com um Eça de Quei- Maraú, na Japão. No fundo, não ficou a ver os mas que cá já caíram em desuso. Tem rós foi a escritora Isabela Baía. “Ler comboios passar em Tóquio: “É ver- imensa criatividade verbal, as perso- Figueiredo, 47 anos. Para esse livro é dade, cometi a ousadia de entrar no nagens nunca declaram uma coisa da a autoraautora ddee ““CadernoCaderno dede trem.trem.”” mesma maneira. E tem um lado foto- Memóriasemórias Colóniais”, o li- novela que é excelente para o inter- vroro de Verão é “aquele valo de coisas mais densas. Tem san- queue queremos muito Na mala de férias de Inês gue, tem suor, tem lágrimas, tem tudo ler”.r”. Por isso,isso , Pedrosa, há sempre um Camilo Castelo para dar uma boa leitura.” Além de háá cinco Branco: “Releio sempre um Camilo nas férias. Camilo (clássico entre os portugue- anosnos re-re- Lê-lo é o que me alimenta a escrita (...). Tem um lado ses), Pedrosa conta que há cinco anos leue u fotonovela que é excelente para o intervalo de coisas mais densas. Tem leu, na praia e em espanhol, “Dom Quixote”. “Nunca o tinha lido na ín- sangue, tem suor, tem lágrimas, tem tudo para dar uma boa leitura”

22 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon vy envolveu-se seriamente com “Grande Sertão, Veredas”, de es Rosa, no Verão de 2002, que passou com o namorado na a do Maraú, na Baía. A 20 páginas da revelação do À ideia de “livro jaki leu Manoel de Barros “como segredo do livro, ele estragou-lhe a surpresa. de Verão” como li- quem bebericava um novo universo”, vro de viagem é tam- e assim conheceu “Florença, Veneza, Ora, segredo revelado, bém fiel o escritor ango- Roma, e sobretudo o plácido Lago Di caldo entornado: zeezee quando estiesti-- lano Ondjaki, 32 anos. Lem- Como”. Foi “o início de um ritual im- “Deixou de ser namorado” ve na África do Sul, no VerãoVer bra-se de uma viagem de 16 dias a perdível”: “Comprei e li todos os li- deles,deles, o nosso Inverno. Ler ‘‘Des-D Itália, em Março de 2000. Uma Pri- vros de Manoel de Barros. Nunca me graça’graça’ nesse lugar ffaz-nosaz-nos olharolh mavera, portanto. “Levei comigo um curei dessa viagem a Itália.” parapara ele de outra forma”, exexplica.plica exemplar de ‘Retrato do Artista Quan- Ondjaki leva sempre LiteraturaLiteratura ddee viaviagemgem RRicardoicardo Adolfo exexplicaplica qqueue na ssua do Coisa’, do poeta brasileiro Manoel livros consigo, e não Livros de Verão são aqueles que juventude, quando tinha férias no de Barros. Não é nenhum calhamaço, são diferentes por ser lemos antes ou durante as nossas via- Verão, “ia de férias e não ficava agar- obviamente. É leve e profundo, are- Agosto ou por ser gens. Livros de Verão são livros de rado aos livros, antes pelo contrário”. jado e denso, brincalhoso e sério”, Verão. Há sempre viagem? Ricardo Adolfo, escritor por- No Verão passado, não viajou, por diz Ondjaki por email, desde o Brasil. um livro “para tuguês radicado na Holanda, 36 anos: isso leu a trilogia “Millenium”, de O livro fora-lhe oferecido, dois dias uma pequena ou “Se o Verão está associado a viagens Stieg Larsson, “em três ou quatro fins- antes do início da viagem pela poeta longa caminhada, (não comigo, porque não viajo no Ve- de-semana, 20 horas por dia”: “Li o angolana Ana Paula Tavares. “E ela para viagem de rão), se é esse o cliché, essa seria a primeiro, depois não conseguir parar. mesmo me preveniu: ‘Não escrevas Agosto ou de Outu- minha lógica de lista de livros de Ve- Valeu a pena.” nada enquanto estiveres a ler Manoel bro”: “Gosto de viajar rão. Uso a ficção como guia e para me “Lista cómica”, acrescenta, foi a do de Barros. E eu obedeci. Conheci a em Outubro.” ambientar aos sítios.” Ian Rankin do “”, quee Gosta de ler livros antes ou depois este ano pediu aos seus leitores no de descobrir certos lugares. Por exem- Twitter para serem eles a recomen- Para uma viagem de 16 dias a Itália, Ondjaki levou um plo: viajar para Saigão e ler o “O Ame- dar-lhe um livro para o Verão de exemplar do “Retrato do Artista Quando Coisa”, ricano Tranquilo”, do Graham Gree- 2010. Se tivesse de recomendar umm de Manoel de Barros, que a poeta angolana ne, ou estar em Bombaim e ler “Ín- livro a um amigo que fosse a Lisboa,a, Ana Paula Tavares lhe ofereceu dia”, de V. S. Naipaul ou “Maximum Ricardo Adolfo recomendaria o seuu dois dias antes da partida. “Conheci City: Bombay Lost and Found”, de romance “Mizé”. É uma outra Lisboa,a, Itália,Itália, entre comboios, noites Suketu Mehta. “São autores que as- fora do eixo Alfama-Baixa-Chiado-o- malma l ddormidas, ormi d as , bbons ons vinvinhos, h os , a Itália sob a voz (nova, para mim) socio aos Verões que passei nesses Bairro Alto. “Quem vai daqui [Holan-n- muitamu i ta pipizza, zza, mumuitos i tos pparques ar q ues desse que viria a ser um dos meus sítios”, diz. Por isso, continua, “faz da] para Lisboa vai dar a volta quee e montanhas,montan h as, e até aalguns l guns lla- a- ‘mais-velhos’. Nunca me curei sentido ir à África do Sul e ler Coetzee nós sabemos. Ler a ‘Mizé’ é ler a Lis-s- gos,gos, sob a voz (nova, para mim) dessa lá, ou ir à Figueira da Foz e ler o últi- boa da linha de Sintra, que tambémm desse que viria a ser um dos meus viagem” mo livro da Patrícia Reis”: “Li o Coet- deve ser conhecida.” ‘mais-velhos’.” Nessa PrimaveraPrimavera,, Ond-

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 23 “Geração A” chegou a o escritor canadiano a corre o risco de d

“Geração A”, Douglas Coupland chegou a Portugal diz Coupland, numa altura em que, para fazer uma é sobre esta chamada local (num telefone fixo!), etapa da ainda não tínhamos de marcar o in- evolução da dicativo. Cioso, o “New York Times” Humanidade ainda escrevia, a seguir à palavra “In- em que, se ternet”, a frase explicativa “a rede tivéssemos de global de computadores”. A “Geração escolher entre X” que o escritor canadiano dissecou as abelhas e os no seu primeiro livro, em 1991, ainda telemóveis, era uma cultura emergente, fascinada escolheríamos pela tecnologia. Mas, logo aí, o seu os telemóveis amor pela cultura popular transfor- mou-o num gerador de imagens, de termos e de estilos narrativos que só podia redundar nisto: Douglas Cou- pland como personagem, ele próprio, dessa cultura popular “techie”. O facto não lhe escapou e, no seu penúltimo romance - “jPod”, publi- cado em Portugal em 2009 pela sua chancela habitual, a Teorema -, ele era personagem. Uma personagem que servia exactamente como reflec- tor, como a imagem de que outra per- sonagem, Ethan, precisava para se definir. Escreveu-se na “rede global de computadores” que era chegado o momento da couplandização de Douglas Coupland. O homem que criou o termo McJob (o McEmprego), que se tornou o perito de serviço pa- ra qualquer tema sobre a geração que sucedeu aos “baby boomers”, sobre a “sua” geração X, cristalizava-se. A auto-descrição era, obviamente, satírica. Leia-se em “jPod” sobre o en- contro de Ethan, num avião, com o meta-Douglas Coupland: ele era um egoísta unidimensional de olhos frios que pareciam “po- ços cheios FOTOGRAFIAS DE D.J. WEIR DE D.J. FOTOGRAFIAS Coupland de A a X u a Portugal e por isso teclámos com Douglas Coupland. Vinte anos depois de “Geração X”, o ainda se ocupa de isolamento, afectos e tecnologia. O mundo, diz, está tão hiper-ligado que e desintegração. Joana Amaral Cardoso

de bebés afogados”. E eles, as perso- símbolo, para um mundo que o autor A informação ou a vida nagens, sentiam-se como “refugiados considera estar a desagregar-se. Hoje, quem são os leitores de Cou- “Acho que devemos de um romance do Douglas Cou- pland? Quais as suas histórias? Há acarinhar quaisquer pland”, figuras perdidas num mundo O que pensou quando foi quem as conte, de um ponto de vista de “fast-food” e Internet, Ikea, cele- vendo notícias sobre o risco de especial (todos temos um e os escri- resquícios bridades vácuas, consumo, consumo extinção das abelhas? O que é tores sem ponto de vista são como e mais consumo (com algum existen- que a sua potencial extinção consolas sem jogos), numa linhagem de globalidade cialismo). simboliza para si? que pode ir dar a Coupland - pensa- Ao longo dos últimos 20 anos, Cou- Como seres humanos, se soubéssemos mos, por exemplo, em Jonathan Sa- que ainda tenhamos. pland perguntou-se por todos nós: “O que tínhamos de escolher entre as abe- fran Foer. Mas, 20 anos depois de “X”, Está tudo a começar

Livros que é que tudo isto significa?” Esta- lhas e os telemóveis, escolheríamos “A” coloca novamente ênfase nas his- mos todos tão ligados que corremos telemóveis. A morte das abelhas certi- tórias pessoais, num mundo sem abe- a desintegrar-se” o risco de ficar “offline” para sempre, ficaria a estupidez humana. lhas em que as pessoas de díspares ou simplesmente desligados uns dos partes do mundo são unidas por uma outros, diz-nos nesta entrevista por À nossa frente está a pilha de livros de picadela. Pessoas mais ou menos fas- e-mail cheia de ingredientes Cou- ficção - e o não-ficção “Polaroids de cinadas pela cultura american(izad) pland: “Visitei o vosso site. Foi a pri- Figuras Extintas” (1996) - de Coupland. a, pela religião e pelo World of War- meira vez que visitei um site .pt”. De forma intermitente mas regular até craft. E disparadas de um canhão pa- “jPod”, a riqueza também gráfica dos ra o estrelato pútrido do século XXI A cultura pop é essencial na sua romances do canadiano nascido numa que ainda deve a Warhol os 15 minu- escrita. Sente-se um curador, base militar na Alemanha (é um “army tos de fama - já agora, para Coupland um comissário de tudo quanto é brat”) e residente em Vancouver é um o termo geração X é a sua “lata de pop(ular) neste mundo de alta e traço hoje longe de ser único. Imagem, sopa Campbell”. baixa arte, de superabundância código binário, sequências de núme- Quem são, perguntando melhor, as e preguiça? ros para encontrar o único que não é personagens de “Geração A”? Que Não sei se [podemos falar de] curado- primo, elementos de videojogos semi- mundo as forjou? O caos (presumindo ria. Estou sempre à procura de coisas nais, notas de rodapé, cartoon. Para que o escritor acha que ele existe na que são tão grandes que não repara- os leitores de 1991, ele era tudo isto. overdose de informação do século quase um cidadão da nação PC mos nelas. Esses leitores (e voltamos ao “New XXI) estimula a criatividade? “Lem- [embora o facto de viajar com Pensa que a cultura popular York Times” de 1994) “tendem a ser bro-me de quando os vídeos de rock um Mac fosse digno de nota nos está a tornar-se cada vez menos universitários e pessoas na casa dos eram importantes para a cultura. Pa- jornais]. E agora? global e abrangente. Devíamos 20 e no início dos 30, alimentados por rece estranho como um pouco pare- Tento não usar demasiadas coisas. Acre- acarinhá-la como uma espécie computadores pessoais, MTV e o cia tanto nessa altura”, escreve-nos dito que ou temos informação ou temos de denominador comum que grunge, esgotados e desconfiados da Coupland, numa resposta invulgar- uma vida, não podemos ter ambas. Por (ainda) une a nossa civilização? publicidade e dos mass media, cépti- mente longa para um autor cujas en- isso construo uma vida fora da “info- Acho que devemos acarinhar quais- cos quanto ao futuro”. trevistas tendem a ser… poupadas. “A cloud” [nuvem de informação online]. quer resquícios de globalidade que ain- Esta é Coupland como a voz de uma minha ‘personal trainer’ nasceu em Como cronista, como foi ver da tenhamos. Está tudo a começar a geração, o megafone que representaria 1983 e perguntou-me porque é que a subcultura “tech” tornar-se desintegrar-se. todos os nascidos até 1981. Para irrita- ouvíamos música tão horrível, e eu “mainstream”? ção do autor, que se confronta com o disse-lhe que a verdade é que não ha- Não é tanto o facto de a cultura “tech” Em “jPod”, Coupland era também monstro que criou ao fazer a exegese via assim tanto por onde escolher. se ter tornado “mainstream”. É o facto um saqueador, um vampiro das no- de um modo de vida de forma tão cla- Não havia Internet, só a rádio para de a cultura “tech” se ter tornado “a” vidades, alguém que caçava furtiva- rividente. E para irritação dos outros, descobrir música. Ela achou que isso cultura. mente o que os outros protegiam o que também galvaniza Coupland. soava muito entediante e triste. E tem (neste caso, a estória de Ethan, mas Kurt Vonnegut, 1994: “Então, jovens razão. Vejo opções, e não caos, no Seja. É “a” cultura. Apesar do seu apa- também o portátil com informações cretinos, querem um nome para a vos- mundo actual”. rente desligamento, Coupland está sobre o novo projecto da sua empre- sa geração? Se calhar não. Só querem É o “zeitgeist” de um futuro-pre- por aí a partilhar no Twitter vídeos sa de videojogos). empregos. Certo? Bem, os media fa- sente para um homem que pareceu de marmotas a comer bolachas, a ex- “jPod” era uma espécie de “Infores- zem-nos a todos um favor tremendo sempre cantar os êxitos e os delicio- por a sua “orca digital” no centro de cravos” (1995) para a geração Y (os be- quando vos chamam Geração X, certo? sos enigmas da tecnologia, mas que convenções de Vancouver, a desenhar bés do novo milénio, a geração que A dois cliques do finzinho do alfabeto. hoje também revela a sua preocupa- uma colecção de roupa a partir da pergunta “why”, ou melhor, “why Aqui vos declaro Geração A, tão no ção com o que ela nos trouxe nos úl- herança canadiana, a manter-se longe not?”), que já nasceu num mundo “wi- princípio de uma série de admiráveis timos 20 anos. Sem conservadoris- do ou do MySpace, a fazer reless”. Há um mês, quase 20 anos de triunfos e fracassos como, há tanto mos, apenas analítico. ninhos de vespas como projecto e ar- “gadgets” e mudança depois de “Ge- tempo, Adão e Eva”. E assim começava te com os seus próprios livros. É um ração X - Contos para uma Cultura a prédica do romancista humanista Qual é a sua relação com a “multitasker”, um homem da cultura Acelerada”, chegou às livrarias portu- Vonnegut numa universidade, e assim tecnologia? Nos anos 1990 “crossover”, até do “mash-up”. Gos- guesas “Geração A”, o mundo Cou- se dá o mote para “Geração A”. Que era elogiado por ser fluente temos ou não dos anglicismos. pland sem abelhas. É uma imagem, um pode começar tudo novamente. na linguagem tecnológica e “Tudo o que faço é um projecto

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 25 de palestras que, no final, formarão gosta dessa ideia de que os filhos dos o próximo romance, “Player One: anos 90 são uma leva de “slackers” What Is to Become of Us?”, e que em desmotivados, desiludidos, sem he- Novembro serão lidas em cinco ses- róis, retratados em filmes (“Slacker”, sões de uma hora na rádio canadia- de Richard Linklater, “Reality Bites”, na), foi escrito em solidão total. E com de Ben Stiller, “Clerks”, de Kevin Smi- notas, centenas de páginas de apon- th. e até “Kids”, de Larry Clark), livros tamentos detalhados com observa- e caricaturas sociais com um “link” ções que fazia do quotidiano. para as drogas e a anomia (“Speaking Quando chegou a “Coma Profun- as a child of the nineties, never thou- do”, Coupland afirmou que esse seria ght you’d... habit”, ecoam os Pearl o ultimo livro que escreveria como Jam). Falar de grunge (o tal movimen- um jovem, ou seja, baseando-se nes- to musical do som de Seattle que nun- sas notas. ca existiu e que Kurt Cobain matou numa t-shirt) ou de “slacker” a Cou- Como é que escreve agora o pland é como repetir a Tim O’Reilly Douglas Coupland crescido? e outros gurus do século XXI que ho- Já não uso apontamentos há anos. Acho je tudo é “2.0”. Provocação: que aprendi a inventar as minhas pró- prias notas – o que é uma definição de Com tantos projectos e meios ficção. [“jPod” foi série de televisão, já Quando escreveu “Geração X” escreveu para cinema, além da isolou-se no deserto. Como foi a supracitada actividade artística escrita de “Geração A”? e de design], é o membro Tinha partido a perna e estava preso na mais trabalhador da geração cama, o que foi outro tipo de isolamen- “slacker”? to. E depois habituei-me a estar isolado Ainda a perpetuar o mito do slacker? artístico em que o resultado final “Tento não usar e quando melhorei fui para Oahu [Ha- Todos aqueles hippies exaustos preci- é papel ou tecido ou plástico ou ma- vai] e continuei a estar isolado. saram de propagar esse mito para fazer deira ou... Se eu tentar segmentar o demasiadas coisas. com que a sua própria geração se sen- meu cérebro, a única coisa que isso As coisas vão melhorar tisse melhor quanto às suas derrotas e faz é fazer-me questionar por que é Acredito que As crianças solitárias e observadoras falhanços. que as pessoas pensam que dividir é podem redundar em escritores que uma ideia assim tão porreira. É mui- ou temos informação captam o espírito de um tempo com É aproveitar a conversa sobre a déca- to limitativo. A maior parte das pes- o detalhe e o humor negro que Cou- da que entra agora em modo de revi- soas poderia ser muito mais criativa ou temos uma vida, pland produziu ao longo de 20 anos valismo pós-80 (saquem das camisas se parasse de pensar que pintar e es- não podemos de obras mais ou menos conseguidas. de flanela, “it’s (d)evolution, baby”) crever são planetas diferentes”, es- Nas melhores, eis a solidão e as estó- e sobre meios e plataformas para falar creve ao Ípsilon. ter ambas. Por isso rias, o acto de as contar como terapia de jornais, de crise, da ideia do papel Mas voltando a “Geração A” e ao em sentido lato, polvilhadas com os como suporte em extinção. “Acho que Coupland nas bancas, esta geração construo uma vida açúcares prazenteiros dos tais fenó- as revistas já bateram no fundo e só que começa de novo, a primeira da menos que se camuflam no seu gigan- podem melhorar. Fui ao site da ‘Va- turma, só pode concluir que o que fora da ‘infocloud’ tismo. nity Fair’ e estava óptimo”, diz Cou- tem em comum são as suas histórias pland. “Mas ainda haverá nova ronda e resquícios de fenómenos que outro- [nuvem de Quão importante foi para si, de extinções. De quantas ‘InStyle’ [re- ra foram globais mas que agora são informação online]” enquanto criança, o contar vista internacional de moda focada de macro-nichos. Mais uma vez, soli- histórias na cultura de celebridades] precisa tários como em “Gum Thief” (2007), Enquanto criança? Acho que as pesso- um planeta?”, ironiza. Os telemóveis “Shampoo Planet” (1992), “Eleanor as nunca faziam isso nos anos 60. Con- fazem de todos nós uns filhos da puta Rigby” (2004) ou o muito Smiths “Co- tar histórias aos filhos parece sempre armados em importantes, como es- ma Profundo” (no original, “Girlfriend uma coisa nova que as pessoas que acre- creveu numa coluna sobre tecnologia in a Coma”, 1998). “Geração X”, o li- ditam no “Forrest Gump” fazem pelos no “Guardian” em 2008, mas um dia, vro que começou esta carreira de co- seus filhos. Deve deixar-se que os miú- completou ao “Times”, “alguém fará laborador da “Wired”, de artista plás- dos descubram coisas sozinhos. a última chamada”. “Geração A” tal- tico, de orador universitário e de in- vez queira ser uma chamada de aten- vestigador da cultura canadiana (o O homem que está cansado de rótulos ção - o mundo está a correr mesmo seu espólio está já na posse da Uni- geracionais fez mais uma geração. mal, há pessoas-pessoas mesmo ao versidade de British Columbia, e Cou- Espanta-se com a existência de vida seu lado, enquanto você está a actu- pland está agora a redigir uma série nestas noções, e conta-nos que não alizar o seu perfil no Facebook.

26 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon Sala de convívio (Fotografia nº 12) Henrique, um arrumador de carros, levou André Cepeda a este prédio do centro do Porto onde se costumam juntar toxicodependentes a fumar heroína. Foi de manhã muito cedo, a uma hora sem ninguém, nesta sala cujas cadeiras estão por enquanto vazias e onde a única decoração é um quadro de um castelo da Baviera

Fotografi a nº 12

a Num prédio antigo, bem no centro da cidade do Porto, mas que Andre Ce- peda não teria encontrado sozinho, há um sítio onde se costumam juntar toxicodependentes a fumar heroína. De manhã muito cedo, a uma hora em que ainda não há ninguém – apenas vestígios: um casaco de ganga aban- donado numa cadeira, um jornal so- bre a mesa, uma manta –, o fotógrafo, ajudado por Henrique, um arrumador de carros, regista a sala vazia. De manhã muito cedo é quando há silêncio para fotografar, e era preciso que nas fotografias se ouvisse o silên-

Fotografi cio. E de manhã muito cedo, nesse sossego, o medo é quase palpável. A qualquer momento, alguém pode che- gar. André Cepeda demora muito tem- po até conseguir a imagem que pro- cura: um interior com cadeiras de onde se evaporaram os ocupantes, onde a luz nasce tarde e a única deco- ração é um quadro de um castelo da Baviera fugido dos sonhos das pesso- as que costumam vir aqui. O coração do fotógrafo bate depressa enquanto fotografa. Mesmo de manhã muito paço do seu estúdio – tectos altos, da Galeria de Paris, há poucos anos No quarto com As pessoas que Cepeda quis cedo, tem medo, e ainda bem. janelas até ao tecto com duas longas quase deserta, hoje com enchentes fotografar aceitaram porque não tinham nada para cortinas vernelhas a controlarem o todos os fins-de-semana à noite. fazer, porque queriam dinheiro, porque estavam sol que cai no soalho comprido de Cuidadoso, metódico, André Ce- disponíveis. Levaram-no para quartos, abriram-lhe as Rua Cândido dos Reis madeira. O estúdio, onde trabalha peda espera pelas imagens que saem portas de casa os que tinham casa, despiram-se, e os nos seus projectos mas também em das impressoras, coloca as impres- casais tocaram-se, sem problemas, sem pudor. E André Cepeda não tem um ar deste- imagens de outros fotógrafos para sões de grande formato sobre as me- depois de tudo isto, a maior parte destas pessoas não o mido. Cara redonda, argola numa rentabilizar o equipamento, fica no sas no centro da sala e cobre-as com reconhece se passar por ele orelha, parece mais novo do que os centro do Porto, redondezas da Tor- papel vegetal. Com as máquinas a seus 33 anos, e mais pequeno no es- re dos Clérigos, numa rua paralela à trabalhar por cima da sua voz O fi m do mundo mora ao lado de André Cepeda No Porto, basta atravessar uma rua para desaparecer. Com a máquina fotográfi ca, André Cepeda ausentou-se para um arquipélago misterioso feito de ilhas, bairros fechados, quartos abandonados, corpos com cicatrizes, pessoas com cara de fi m do mundo, e depois fez um livro. Porque aí o tempo não corre, chamou-lhe “Ontem”. Susana Moreira Marques

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 27 O Tarrafal (Fotografia nº 1) Em 1997, André Cepeda foi com um americano fotografar o Bairro de São João de Deus, entretanto demolido. Quando a droga chegava, saíam dezenas e dezenas de pessoas não se sabia de onde. Chutavam-se na rua, tinham muitas caras, muitos nomes, muitas idades. Com as casas demolidas é que se vê como o bairro dá para a cidade

tranquila, vai falando sobre “On- quase acusadora; um interior com tem”, o seu livro mais recente, pu- cadeiras rotas, paredes descascadas, blicado por um editor belga, Le o chão coberto de sujidade, onde An- Caillou Bleu Éditions, com o apoio dré Cepeda pára para contar que é da fundação portuguesa Ilídio Pinho. uma “sala de convívio de heroína”, É o seu projecto mais ambicioso até onde o levou o Henrique, como tam- agora, levou quatro anos a completá- bém o levou às ilhas que ainda exis- lo. Dele já tinha apresentado algu- tem no Porto isolando gente entre mas imagens no Prémio BES PHOTO prédios, e a caminhos alternativos 2010 e, antes ainda, numa exposição pela cidade, a pensões e a bairros su- na galeria ZDB. postamente “sociais” tão isolados Quando há três meses lançou o li- quanto ilhas. vro na Bélgica, na televisão para to- Os sítios de “Ontem”, lugares onde dos, o apresentador resumiu-o como teve medo, e ainda bem. um trabalho sobre “junkies”. Numa “Ontem” não é um livro documen- das melhores livrarias de fotografia tal. É um misto de documentário e de Londres, recusaram o livro porque ficção, e a narrativa que surge é tam- que era “demasiado duro”. bém a história de um fotógrafo que André Cepeda desliga as impresso- se quis magoar com as suas imagens, ras, e durante uns instantes o único nunca mais ser o mesmo depois. E som é o folhear de “Ontem”: um bair- fazer-nos isso a nós também. ro cigano que entretanto já foi demo- lido; um vaso onde o verde cresce entre muros a lembrar-nos que, mes- Fotografi a nº 1 a palavra provoca calafrios – dá para tas, como se tivessem receio de cair. mo que o tempo pareça ter parado, a cidade. Ocupam as mãos vazias nos cigarros a vida não pára; uma mulher, uma “Ontem” nasceu de uma vontade de O “Tarrafal” é agora um descampa- ou nas beatas, olham quem passa, “junkie” diria o apresentador belga, conhecer a cidade desconhecida que do com vista para o Porto. Foi um estranhos como nós, descendo a Rua nua, entregando-se à câmara de um convive todos os dias com o Porto. campo de heroína, a prova, se alguém dos Caldeireiros tão esquisitos, com desconhecido; as traseiras de pré- Havia sítios a que precisava de regres- precisasse de prova, de que a toxico- um propósito. dios, as nucas da cidade que nunca sar, para registar a sua transformação, dependência foi uma catástrofe, uma São cinco e meia da tarde e está ca- vemos, com roupa estendida, uma recordar-se como era, pensar como calamidade que nunca teve plano de lor de meio-dia, o céu sem uma nu- parabólica e um santo de outros tem- seria. emergência. É a memória do Portugal vem como nunca acontece nas foto- pos na parede; uma mulata vestida Com as casas demolidas é que se vê dos anos 80 e 90, uma realidade per- grafias de Cepeda. No Inverno, lembra com um casaco a imitar pele a olhar como o Bairro de São João de Deus, sistente. André Cepeda, o céu fica branco de interrogativamente para a câmara, mais conhecido por “Tarrafal” – e só Em 1997, André Cepeda foi ajudar encoberto, a atmosfera pesada, as ru- um fotógrafo americano, como assis- as mais tristes, os homens ainda mais tente e tradutor-intérprete, a fotogra- encostados às paredes, parados nas far o Tarrafal. Quando chegava a dro- bermas como carros para sucata. A mulher número 3 (Fotografia nº 3) Esteve com ela uma hora, ga ao bairro, saíam dezenas e dezenas “No Porto”, diz, e o mais eficiente duas. A mulher despe-se, deixando o fio ao pescoço, deita-se, os braços ao de pessoas não se sabia bem de onde. é dizer o mais simples, “há muita po- longo do tronco tenso, as costelas salientes, os mamilos quase sem seios, a Chutavam-se na rua, tinham muitas breza”. barriga enrugada, as marcas vermelhas das cuecas apertadas, os pêlos caras, muitos nomes, muitas idades. Passamos pelo Largo dos Lóios e ralos. Olha para um ponto no tecto e faz um esforço para estar presente O bairro de São João de Deus era um paramos em São Bento, junto de um lugar tão degradado e degradante prédio inteiramente forrado de ban- que, quando chegava a casa depois deiras de Portugal, visto que o patrio- do trabalho, chorava. tismo é barato. André Cepeda aponta Dez anos depois, faz uma fotografia para a entrada lateral da estação de sem pessoas e sem explicações por- São Bento. As escadas estão cheias de que a palavra Tarrafal, lá está, provo- homens e mulheres de cervejas na ca calafrios, é tão forte que diz tudo. mão bebendo o tempo que lhes resta. Esta imagem é a primeira do livro, Uma delas é uma mulher de magreza porque sem essa experiência não teria seca como um homem, um boné es- talvez começado sequer a querer curecendo-lhe mais a cara. “Eu já a olhar diariamente para aquilo a que fotografei”, comenta André Cepeda. quase todos nós diariamente fecha- “Ela já não me reconhece.” mos os olhos. Um dia têm onde dormir, no outro dia não. Um dia recebem um cheque da segurança social e compram um Rua dos Caldeireiros telemóvel, no outro dia vendem-no para comprar droga. Um dia sentam- – São Bento se a conversar, até parece que vivem André Cepeda fecha a porta do estú- neste mundo e têm noção do tempo dio. Deixamos para trás os cafés de a passar, no outro dia já se esquece- bom gosto, as lojas de design, a ju- ram onde estiveram, perderam o ventude que conhece Londres, Paris, relógio. Berlim, e veste vintage da moda, o Quando encontrava alguém que século XXI. queria fotografar, mesmo que mar- Atravessando a rua, a Torre dos Clé- casse para o dia seguinte, não podia rigos como uma fronteira, a decoração ter certeza de que a pessoa fosse apa- muda: bandeiras do FCP, a única ale- recer. “Não sabem o que vão fazer daí gria aqui e no último ano nem isso. a uma hora, vivem um minuto de ca- Os homens encostam-se nas por- da vez”, explica.

28 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon Uma vez que apareciam, era fácil E no entanto, a vida Mesmo onde o tempo parece ter parado, fotografá-las. “Não têm problemas, como no Porto do fim da rua, do fim do mundo, que André Cepeda diz não não têm pudor”. haver em mais nenhum lugar do mundo, a vida não pára: há vasos verdes A maior parte das pessoas que pe- a crescer entre os muros, gente, roupa estendida, parabólicas diu para fotografar aceitou rapida- mente. Porque não tinham nada para fazer, porque queriam dinheiro, por- Mesmo ao lado há uma loja de cabe- lembra. Os edifícios têm séculos, as que estavam disponiveís para que dais, depois uma loja de aparelhos roupas das pessoas têm décadas, e os alguém fosse ter com elas. Levaram- eléctricos onde só negoceiam indianos, rostos, milénios. no para quartos, abriram-lhe as por- a seguir a Loja Crocodilo com o mesmo Antes de começar a fotografar in- tas de casa os que tinham casa, des- crocodilo embalsamado pendurado tensamente o que o rodeia, o que faz piram-se, e os casais tocaram-se, sem do tecto, e uma discoteca com uma parte do seu “circuito” quotidiano da problemas, sem pudor, para mostrar bola de espelhos dos anos 70 de onde cidade, ou que está mesmo à beira que, lá por serem “junkies”, como sai aos berros um cha-cha-cha em Por- desse circuito mas praticamente in- diria o apresentador belga, não dei- tuguês. Desde quando em Portugal nos visível, André Cepeda viajava para xaram de sentir, não deixaram de ser sentimos “no país do cha-cha-cha”? fotografar. Fotografou Bruxelas em corpos que também amam. Cheira a charro e vem de um ho- “Anacronia” e os Estados Unidos em E depois de tudo isso, a maior par- mem de bigode comprido e cabelo “River”. A sua primeira viagem tinha te destas pessoas, tão intímas para a grisalho, idade para ser avô. sido a Moscovo, muito jovem, uma sua câmara, não o reconhece se pas- André Cepeda anda na rua e ainda espécie de prova iniciática. sar por ele. se choca e comove como há mais de Em nenhum lugar viu estas “caras A mulher levanta-se dos degraus da dez anos, quando aqui chegou e o de fim de mundo”, diz, enquanto sa- beijam-se nos bancos públicos. Um entrada lateral da estação de comboios Porto era o oposto de Bruxelas, onde ímos para a luz da Praça da Batalha, grupo de mulheres conversa e vigia um de São Bento, esbraceja, discute com tinha estudado fotografia, e pouco felizmente ainda lúcidos. No centro grupo de crianças. As gaivotas sobre- um homem. Numa das pernas, os jeans tinha a ver com Coimbra, onde tinha da praça, a estátua de D. Pedro V agra- voam-nos e hesitam em aproximar-se. têm umas letras que soletram a palavra nascido. dece, numa inscrição, aos artistas Viramos as costas ao rio, direcção Rua DEVIL. A outra perna não dá para ler, As pessoas, sobretudo, eram dife- portugueses. de São Vítor, mais ilhas por metro qua- provavelmente ANGEL. Duas faces da rentes: “Mais directas, mais duras, Caminhamos na direcção do rio até drado, freguesia do Bonfim. mesma moeda, é sempre assim. mais fechadas”. à Alameda das Fontainhas, de onde se “O Porto nunca foi invadido: nem tem vista de luxo. O sol já começou a pelos árabes nem pelos franceses”, descer. Os namorados adolescentes Fotografi a nº 54, Fotografi a nº 3 a fechar A mulher tem cara de medo, cara de Poderia ter sido a primeira fotografia quem já viu a morte. Entre os prédios (Fotografia nº 54) As ilhas do Porto foram do livro se isto fosse só um livro sobre André Cepeda viu-a várias vezes até construídas nos espaços que sobram dos prédios, ou no espaço que os as ilhas do Porto, mas acabou por ser que falou com ela, combinaram en- proprietários reservavam para alugar ao proletariado, quando ainda a última, como se pudéssemos come- contrar-se. Ela seria modelo, e faria havia fábricas. Com o portão aberto, tem-se um panorama de roupa çar tudo outra vez. de si própria. estendida, pequenas casas à direita e à esquerda, o corredor-rua no centro Porta sim, porta não, na Rua de André Cepeda levou a câmara de grande formato, que o obriga a pensar muito na imagem que quer e a foto- grafar muito pouco: duas, três ima- gens, não mais. Com aquela mulher esteve uma hora, talvez duas. Mas o tempo passa muito devagar fechado num quarto a olhar para o corpo de uma mulher que não conhece. A mulher despe-se, deixando o fio ao pescoço, deita-se na cama de per- fil para a câmara, os braços estendi- dos ao longo do tronco tenso, as cos- telas salientes, os mamilos quase sem seios, a barriga enrugada, as marcas vermelhas das cuecas apertadas, os pêlos púbicos ralos. A mulher há mui- to deixou de se importar com a sua aparência, como se já não habitasse o seu corpo. Olha para um ponto no tecto, com cara de quem já viu a mor- te mas sobreviveu, e para a câmara, faz um esforço para estar presente.

Rua Chã – Batalha – Alameda das Fontainhas

A primeira casa onde André Cepeda viveu no Porto era por cima de uma casa de fados. Na Rua Chã, passeava o cão, e as prostitutas achavam-lhe graça, metiam-se com ele. Foram precisos dez anos para vol- tar e fotografar. Nas mesmas pensões, explica, vivem prostitutas e “dealers”. Assim que recebem o dinheiro podem ir logo comprar droga.

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 29 ffiti e uma palavra que, quando a de bairros ainda piores, de pouca con- fotografou, soube que melhor do fiança, trazendo droga e criminalida- que nenhuma outra palavra dizia o de. “Isto já não é o que era, menina”, que todas as imagens que andava a diz, e a conversa rapidamente vai pa- fazer queriam dizer. O graffiti diz rar ao 25 de Abril, que esteve bem, “Ontem” e afinal era isso que ele an- sim senhora, mas era preciso estar dava a fotografar: sítios e pessoas de muito melhor, afinal isto é a Europa que o presente se esqueceu, quanto ou não é a Europa? mais o futuro. A rua de São Vítor desemboca na Praça da Alegria vazia, e, chegando ao Jardim de São Lázaro, a vida reto- Rua de São Vítor ma o seu curso. Os carros passam pa- ra cruzar a Baixa, e as pessoas apres- – Jardim de São Lázaro sam-se como quem sabe o que fazer, São João Sempre, está escrito a ver- para onde ir, o tempo passa. melho numa parede da Rua de São Vítor, e, aqui e acolá, ainda se vêem balões. O São João é mais uma daque- Fotografi a nº 16, las alegrias, uma vez por ano; ao con- trário do FCP, nunca falha. As ilhas a capa ainda têm à porta as classificações do Uma armazém ou lá o que é, azul por Um grafitti na Avenida (Fotografia nº 21) Foi para os lados da concurso de decoração para as festas fora, profundamente monocroma- Avenida Fernão de Magalhães, num armazém, que Cepeda descobriu este de São João. tico, e não sabemos como é por den- graffiti. Soube logo que esta palavra dizia melhor do que nenhuma outra o Uma menina entorna uma garrafa tro. Não tem janelas, não sabemos que todas as imagens do livro queriam dizer: andava a fotografar sítios e de vinho verde, o avô apanha os vi- se alguém vive ali e se respira. Uma pessoas de que o presente se esqueceu, quanto mais o futuro dros, o pai leva-a a passear ao colo ilha é uma ilha é uma ilha e um edi- para não chorar do susto. São três ge- fício pode ser uma ilha assim como rações nascidas nas ilhas da rua de um homem pode ser uma ilha. De- São Vítor, o avô orgulhoso mas cheio pois, uma ilha pode ou não, depen- São Vítor há um portão para uma guém deixou colado um bilhete onde de receio e preocupações pelos novos de de tanta coisa, mas sobretudo de ilha. se lê: “Não mora aqui ninguém”. habitantes das ilhas, desconhecidos nós, ser o paraíso. Com o portão aberto, tem-se um panorama de roupa estendida, peque- Fotografi a nº 21 nas casas à direita e à esquerda, o corredor-rua no centro, vazio. Foi para os lados da Avenida Fernão Por fora e por dentro (Fotografia nº 16) Por fora, um armazém No nosso imaginário, uma ilha é re- de Magalhães, num armazém onde monocromático; por dentro, não sabemos. Não tem janelas, não sabemos donda, ou pelo menos tem uma forma não conseguiria ir dar de novo, se é se alguém vive ali e se respira. Um edifício pode ser uma ilha, e uma ilha que permite uma certa circulação, que ainda existe. Descobriu um gra- pode ou não, depende de tanta coisa, ser o paraíso andar à volta, olhar a 360 graus, voltar ao lugar de onde se partiu. As ilhas do Porto foram construídas nos espaços que sobram dos prédios, ou no espaço que os proprietários reservavam para alugar ao proleta- riado, quando ainda havia proletaria- do e fábricas sempre a funcionar. No Porto, uma ilha tem o formato de um túnel. André Cepeda fotogra- fa do portão. Ao fundo a vista de luxo mas o céu cinzento de muita chuva por cair, muita humidade que entra- rá pelos ossos. E seria a última fotografia do livro, uma fotografia bonita com ar de fa- mília e o sentido de comunidade sem- pre forte nestes bairros, uma fotogra- fia que convida a entrar, mas sabendo que entrando num túnel pode não se voltar a sair.

Travessa de São Vítor – Rua de São Vítor Ainda nem chegámos lá em cima à Rua de São Vítor, e já encontramos ilhas, ilhas abertas, das que não têm portão para fechar à noite, apenas uma entra- da para um beco onde ficam várias casas. Entramos num desses becos, caiados de branco, o sol de Julho a ex- plodir na parede. Não é de manhã, como quando André Cepeda costuma- va fotografar, mas mesmo de tarde não se ouve quase nada, só as gaivotas, co- mo se de facto ao entrar na ilha esti- véssemos a abandonar a cidade. An- damos até ao fim do túnel branco e não vemos ninguém. Numa porta, al-

30 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon

Há tempestades no desenho de Jorge Queiroz Em “Donnerstag e outros desenhos”, reencontramos uma das obras mais notáveis da arte contemporânea portuguesa: o desenho livre, convulso e maravilhoso de Jorge Queiroz. Nova individual, três anos depois de Serralves, agora na Chiado 8. José Marmeleira

O desenho de Jorge Queiroz (Lisboa, há melhor sítio para o descobrir do 1966) tem situações que aparecem e que “Donnerstag e outros desenhos”, “[Os meus desenhos] desaparecem, figuras que perdem os patente no espaço Chiado 8, com a seus contornos ou que são menos de- curadoria de Bruno Marchand. Trata- funcionam como finíveis ainda do que a própria abs- se da primeira individual do artista um espaço onde tracção. Coisas que, ao olhar, se trans- em Portugal depois de em 2007 ter formam noutras coisas. Imagens co- exposto no Museu de Serralves, e re- se projectam as loridas que se “colam” a manchas de úne obras criadas nos últimos três preto-e-branco. A tentação de o do- anos, incluindo o desenho que dá o memórias visuais do mesticar, evocando referências (sur- nome à exposição. realistas, fantásticas, simbolistas, até Mas se a obra resiste às amarras da espectador. Existem cinematográficas) torna-se irresistível, descrição, já o percurso é uma história mas a obra de si nada revela, para fácil de contar. Jorge Queiroz estudou com a participação além de uma tempestade que sacode no Ar.Co, onde teve professores im- dos outros. Activam o olhar. É um lugar alheio à descrição portantes como Rui Sanches e António e à interpreta-p ção,çãoçãç o, e nesnnes-es-- Sena,SeSenana, e entre 191997 97 e 11999999 rerealizouala um e desactivam a te mmomen-omen- to nnãoão mestradomestrado nnaa ScSchoolhool ofof VisualVisual Arts, em NovaNova IIorque.oro que. Ficou por lláá mmaisai alguns memória e constroem anos,anos, antes de se fixar,fixar, eemm 22004, na Exposições cidadecidade ddee BerBerlim,lim, ondeonde viveviveve atéa hoje. e desconstroem O seu percursopercurso tem sido,sido, porp isso, construídoconstruído num contextocontexto tantotatan inter- aquilo que se está nacionalnacional comocomo nacional:nacional: atestam-noatate a ver” exposiçõesexposições individuaisindividuais e colectivascollece em importantesimportantes ininstituiçõesstituições europeiaseuru e nasnas bienaisbienais de VenezaVeneza (2003),(2003)3), São Pau- lo ((2004)2004) e BerlimBerlim (2006).(2006). “Donnerstag“Donnerstag e ououtrostros ddesenhos”es um espaço onde se projectam as me- sociados a certos motivos ou a perso- Confusos, mas pode,pode, poporr isisso,so, vever-ser-see ccomoomo umu regres- mórias visuais do espectador”, diz o nagens, pelo menos num primeiro fascinantes, so.so. NãoNão esespecialmentepecialmentn e do aartista,rtr i mas artista ao Ípsilon. “Existem com a par- olhar. “Pode acontecer”, ressalva, irresistíveis: dad oobra.brb a. CComom aass exexplosõesplososõ a que ticipação dos outros. Activam e de- “mas depois a própria linearidade do volta-se sujeita as escalescalas,asas, perspec-p sactivam a memória e constroem e material acaba desfeita”. repetidas tivas e planplanos.oso Com a desconstroem aquilo que se está ver”. A ideia de série, sublinha Jorge vezes aos diversidadediversidaddee ddos seus É, no fundo, esta impermanência – Queiroz, é mais recorrente: “É fácil trabalhos materiaismateriais (grafite,( composta por figuras, formas, meta- encontrar motivos que se repetem ou expostos em lápislápis dede cor,coc pastel morfoses – que torna as obras expos- surgem noutros desenhos. E isso tem “Donnerstag e dede óóleo,leo, acrílico, tas no Espaço Chiado 8 tão propensas a ver com o ritmo do próprio traba- outros guache).guachehe) Com o à ansiedade da interpretação. “Pode- lho, com o facto de as coisas serem desenhos” jogojogo parapar o qual mos ver esta exposição a partir de um bocado esponjosas”. A essa poro- convidaconvvid a per- várias tradições, coisas e imagens”, sidade, que absorve cores, formas e cepçãocepçãoç e a me- admite, “tem uma dinâmica muito texturas para as reproduzir em espa- móriamóóri do es- movimentada. Mas nunca se agarra ços diferentes, poderíamos acrescen- RUI GAUDÊNCIO RUI pectador.pecta Por bem ou quando se agarra já está a fu- tar outra característica: a capacidade exemplo:exxex gir [risos]. E isso passa-se dentro de de tornar ambíguas, escorregadias, umm ddesenho um desenho, como nos desenhos to- certas fronteiras e definições. Em mostramom du- dos ou mesmo nas passagens entre “Donnerstag e outros desenhos”, a asas persona-p os desenhos”. figuração e a abstracção não são o que gensg e a parecem. “As vezes ficam do avesso. transporta-trtra Do avesso Acontece a figuração servir apenas de remrere uma Confortável com as possibilidades de passagem para um momento mais terceira.tet significação que o seu trabalho esti- gráfico. Ou para dar escala a um de- NãoNãN têm mula, Jorge Queiroz rejeita um méto- senho. Mesmo quando vemos uma rosto,ror ape- do como o da escrita automática: “Foi figura a meio de uma acção ou numa nasnan con- uma receita para um determinado situação, como se estivesse num es- tottornos problema que procurava respostas paço teatral, ela consegue ser mais quequueu são en- para certas perguntas, e isso não é o abstracta do que as outras formas”. golidosgoliiddo por que procuro aqui, nem é o que se en- Embora alegremente indiferente umauma coccompacta contra aqui. As marcas mais rápidas às comparações e às classificações manchamanchaa negran da ou mais aleatórias que fazem parte que a sua obra motiva, Jorge Queiroz qualqual ressaltaressa um do meu desenho pertencem a uma revela, sem problemas, algumas das olho.olho. NoutroNoutr dese- orientação mais global e que produz suas afinidades correntes: a pintura nho,nho, uma figurafig hu- um efeito diferente”. e a arte europeias, especialmente da manamana esvai-seesvvai-s-se em tra- Esse efeito será o da (pura) criação Bélgica, da Alemanha e da Holanda. çosços títímidosmidos nunnumum espaço de uma cosmogonia, de uma singula- Três nomes assomam ao acaso, todos dominadodominado poporr mmutações ridade irredutível onde não deixam de artistas que fazem do absurdo e da coloridas, araarabescosbebes que de caber outras memórias: “Existem, liberdade artística, sem respeito por compõem esboçosesboçoç de pai- de facto, momentos de outras coisas. hierarquias ou lugares seguros, ferra- sagens.sagens. SãSãoo deddesenhos Por exemplo, da pintura, da colagem. mentas centrais da sua arte. O alemão “confusos”,“confusos”, masmasas fascinan-f São sempre elementos que se relacio- Kai Althoff, o holandês Mark Manders tes,tes, irrirresistíveis.esistíveis.s. AosA quais nam dentro do próprio desenho. O e belga Thierry du Cordier. “Fazem se vvoltaolta rerepetidaspetidida vezes. papel é um suporte excelente para parte de uma tradição de que gosto”, “Funcionam“Funcionama como isso”. Alguns materiais parecem as- remata.

32 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon LLUIS GEN/AFP LLUIS

Sara Serpa o jazz vocal português no mapa internacional Pág. 41

Elena Córdoba Uma coreógrafa espanhola em casa no Citemor Pág. 37

Sontag No I volume dos seus diários, Susan ainda não é Sontag. Mas já se divide entre a atracção física e o desejo mental, o intelecto e o corpo, a “high culture” e a “low culture”. Pág. 34

Jazzanova Live feat.Paul Muxima DJ até às 03H00 Randolph + Jazzanova Dj Set 19-ago m/18 5-ago

Programa sujeito a alterações

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Diários metade do século XX ao início do livros, mostrando uma mulher em reminiscências de infância numa século XXI tivesse finalmente poses perfeitas no papel da narrativa como “corrente de sucumbido. A mulher que escreveu intelectual nova-iorquina que consciência”, observações e Uma exaustivamente sobre a doença, (“A estudara em Paris, uma figura aforismos, descrições das suas Doença como Metáfora”. “A Sida e as andrógina que prendia a atenção experiências físicas com as mulheres suas Metáforas”), que produziu tanto de homens como de mulheres. que amou e a constatação do educação ensaios marcantes sobre a A elegante habitante de Manhattan, falhanço do seu precipitado fotografia, a violência, a pornografia, convidada para todas as festas casamento. Com o primeiro volume dos o sexo, o cinema, a literatura elitistas, amiga íntima de Marcuse e O mais interessante deste volume europeia, a política, a guerra e os de Brodsky, nascera numa família – e também o seu “ponto fraco” – é diários de Susan Sontag, costumes, a pensadora que abastada de judeus de origem testemunhar a fragilidade e a os leitores espreitam construiu a sua mente – um edifício austríaca – o pai fizera fortuna com o confusão, misturadas com a voyeuristicamente a grandioso, multifacetado e sólido – negócio de peles – e tornou-se figura arrogância própria da juventude e do formação, intelectual e como um esconjuro contra a marcante com a sua farta cabeleira, a início da idade adulta, numa mulher mortalidade acabou como qualquer madeixa branca e as relações que conquistou um estatuto especial física, de uma figura mítica outro ser humano sem ter apaixonadas com mulheres, sendo a e que, mais tarde, foi mimoseada do pensamento do século conseguido “negociar” mais tempo mais famosa a que manteve com com epítetos tão delirantes como a XX. Helena Vasconcelos para levar a cabo todos os projectos Annie Leibovitz, a fotógrafa de culto “pin-up das Letras”, a “dark lady” da que ainda acalentava. da “Vanity Fair”, da “Vogue” e da Literatura americana, a “Nathalie Renascer. Diários e Ela foi Susan Sontag, figura mítica “”, que documentou a Wood da vanguarda”, a “sibila de

Livros Apontamentos 1947-1963 da América, diva do pensamento e, sua deterioração física nos vários Manhattan”, a “Boadiceia da geração Susan Sontag simultaneamente, uma rainha da estádios do cancro, o que Beat”, a “Channel das Artes”, a (Trad. Nuno Guerreiro Josué) cultura pop, cuja aparência tinha desencadeou acusações de “invasão “Erasmo americana” (sem esquecer Quetzal tanta importância como o seu da privacidade” e de desavergonhada que Bruce Chatwin a comparou a intelecto. Carl Rollyson e Lisa “necrofilia”, como lhe chamou um “um tijolo” e que a venenosa Mary mmmmn Paddock que, em 2000, publicaram a crítico da “Newsweek”. McCarthy declarou ser Sontag uma biografia “The Making of an Icon”, Este primeiro volume de “Diários imitação de si própria). Quando Susan ocuparam mais de duas páginas a e Apontamentos”, coligido, editado Aqui, os leitores espreitam Sontag morreu em enumerar os prémios e os galardões e anotado pelo filho de Sontag, voyeuristicamente o lado mais íntimo Dezembro de 2004, obtidos por Sontag, não esquecendo David Rieff (politólogo e editor), de Susan (antes de ser Sontag), após uma luta de o que ela ganhou pelo seu trabalho começa com uma breve entrada acompanhando os seus esforços no décadas contra os humanitário durante o cerco a datada de 1947, quando a autora estudo encarniçado de si própria, da males que a Saravejo – onde viveu durante meses tinha 14 anos, e termina em 1963, história do pensamento e do mundo, afligiram – da asma –, em que aproveitou para encenar “À altura em que ela já se divorciara de enquanto revela o que sente, a sua infantil à Espera de Godot”, de Beckett, Philip Rieff e estava a viver, depois reacção às pessoas que encontra – A cisão entre o desejo físico pneumonia, enquanto mantinha uma acirrada de várias incursões pela Europa, em uma tarde com Thomas Mann e a vertigem intelectual passando por vários tipos de cancro controvérsia ao defender a Manhattan. O volume é composto mostra-lhe a banalidade das palavras é o principal dilema até à leucemia que a vitimou –, intervenção das forças militares essencialmente por listas (de livros do autor, reflectida em “A Montanha que atravessa este volume dos parecia quase impossível que a europeias e americanas no conflito, para ler, de eventos sociais, de filmes Mágica” – e o que faz. Como qualquer diários de Susan Sontag - o filósofa, ensaísta, romancista, para grande irritação da esquerda. e peças de teatro, de coisas em que estudante universitária, corre os primeiro de muitos dilemas que dramaturga, realizadora e activista Desde que publicou “Notes on acredita ou de que gosta, dos seus bares, embriaga-se com alguma a norte-americana cultivará política que marcou o pensamento Camp” em 1964, a sua imagem defeitos, das graças do filho bebé, de frequência, faz experiências no ao longo da vida americano e mundial da segunda começou a aparecer nas capas dos ideias para contos e ensaios, etc.), domínio sexual – apesar de afirmar convictamente que é na satisfação intelectual que encontra a “ausência do sofrimento”; como jovem mulher e mãe, analisa dúvidas e ansiedades, tentando não descurar a exploração

JENS-ULRICH KOCH/AFP das suas capacidades, tanto da mente como do corpo, numa maratona existencial cheia de obstáculos, voltas e reviravoltas, grandes avanços e alguns recuos. Clara e desassombradamente toma nota das poderosas forças que se entrechocam à medida que cresce – “como me posso ajudar, fazendo-me cruel?”, pergunta –, e quando atinge a satisfação sexual com Helena, depois do sofrimento de um amor mal correspondido por Irene que “esteve a pontos de a destruir”, escreve, exultante, que “a Grande Barreira, o sentimento de santidade sobre o [seu] corpo, caiu”. Ao conhecer o prazer “de uma forma puramente física”, sente-se “renascer”, afirmando com convicção que a “bissexualidade é a expressão da plenitude de um indivíduo”, ao mesmo tempo que exprime repulsa pela idealização da castidade. Aliás, com o seu ímpeto habitual, diz querer “dormir com muitas pessoas... não tencionando deixar que o intelecto tome conta” de si. Este é, seguramente, o principal dilema que atravessa o

34 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon “A Filha do Coveiro”,o”, RebeccaRebe e o seu percurso de de Joyce Carol Schwart,Schw fi lha reconstrução pessoal a Oates, é mais uma de um casal de partir das cinzas do Velho Novidade das novidades já judeusjude alemães Mundo e sobretudo do anunciadas pelo queque sse refugiam pai, um ex-professor de grupo Porto Editorara na AméricaA em Matemática ingloriamente para a “rentrée”. O 1936 fugindo ao obrigado a reinventar- novo romance da anti-anti-semitismos se como coveiro. Sai em escritora acompanhanha hihitleriano,tler Novembro, pela Sextante.

livro, entre os muitos que Sontag contemporâneo” é de resto um dos ociosidade que, só elela,a, serses r pura visibilidade e texto mais estranho desta recolha é cultivará e enfrentará ao longo da temas do seu mais recente livro, poderia restituir à presença”;pr “Antes do pecado, “K.”, em que Agamben regressa às vida, numa eterna disputa entre a “Nudez”. festa o seu sentido. o homemh vivia, assim, numa personagens K. de “O processo” e “O atracção física e o desejo mental, “Só pode dizer-se contemporâneo Mas porque é hoje, condiçãocon de ócio e de castelo” para propor novas entre o intelecto e o corpo, entre a quem não se deixa cegar pelas luzes para nós, a plenitude;pleni o abrir dos olhos interpretações à luz dos estabilidade e o caos, entre a “high do século”; “o contemporâneo é ociosidade tão difícilcil e significa,significa na realidade, o fechar dos agrimensores romanos! culture” e a “low culture”, entre a aquele que percebe o escuro do seu inacessível? E o que é o olhos da alma e o aperceber o seu exigência e a facilidade. tempo como qualquer coisa que lhe espírito da festa, como atributo do estado de plenitude e de felicidade Para além de ensaios que se diz respeito e não pára de o viver e do agir dos homens?” como um estado de fraqueza e de Poesia tornaram seminais como “Contra a interpelar”; “Perceber no escuro do Antes ainda, no texto dedicado atechnia, de falta de saber.” A Interpretação” e “Styles of Radical presente esta luz que procura aos hilariantes problemas dos contemplação (o acto de ver Will”, a actividade de Sontag como alcançar-nos e não pode fazê-lo, eis teólogos, sem saberem o que fazer aceitando o “segredo” – definição O tempo romancista – “The Benefactor “, o que significa sermos com os orgãos de um corpo, depois proposta por Walter Benjamin, pois “Death Kit”, “O Amante do Vulcão” contemporâneos”, afirma. de atingido o paraíso, propõe que “o “é no segredo que está o exacto e “Na América” – serviu para ela “A arte de viver é”, escreve no corpo que contempla e exibe nos fundamento divino da beleza”) é afirmar, apesar do falhanço na “último capítulo da história do gestos a sua potência acede a uma assim substituída por “técnicas e criação de uma voz narrativa mundo” (que é também o último segunda e última natureza, que não saberes mundanos”, pelas O quinto livro de poesia convincente, que o passado está ensaio do livro), “a capacidade de é mais do que a verdade da primeira. “modalidades do conhecimento”. de António Carlos Cortez sempre por trás, de uma maneira ou nos mantermos numa relação O corpo glorioso não é um outro Por oposição ao “segredo” do belo demonstra uma maturidade de outra, em todos os harmoniosa com aquilo que nos corpo, mais ágil e belo, mais (relação entre véu e velado), o acontecimentos do presente. No seu escapa”. “A relação com uma zona luminoso e espiritual: é o mesmo mesmo Benjamin propõe depois o estrófica e silábica invulgar extraordinário “On Photography”, de não conhecimento”, continua, “é corpo, no acto em que a ociosidade “dizer tudo” da aparência, o que em poetas jovens. Pedro explicou pacientemente: “A uma dança”. “Enquanto, todavia, os o desprende do encantamento e o leva Agamben a propor um “niilismo Mexia humanidade tem-se deixado ficar homens reflectem há séculos sobre abre a um novo uso comum da beleza”, a propósito de uma inerte na caverna de Platão, como devem conservar, melhorar e possível”. “O corpo glorioso é um atitude nas mulheres belas “que Depois de Dezembro regozijando-se numa atitude atávica tornar mais seguros os seus corpo ostensivo, cujas funções não consiste em reduzirem a sua beleza António Carlos Cortez com as imagens da verdade. Mas conhecimentos, faltam-nos até são executadas, mas mostradas; a a aparência pura, e em exibirem a Licorne ser-se educado por fotógrafos não é mesmo os princípios elementares de glória é, neste sentido, solidária da seguir, com uma espécie de tristeza a mesma coisa que crescer com uma arte da ignorância”. ociosidade”. desenganada, essa aparência, MMMNN antigas imagens artesanais.” No capítulo anterior, dedicado à Resumindo: não saber, não fazer, desmentindo obstinadamente Sontag sabia o que estava para vir. festa (o sábado judaico) e à não agir. qualquer ideia de que a beleza possa A poesia e a crítica E acertou em cheio. ociosidade, surge uma pergunta “Nudez” é o texto central desta significar seja que outra coisa for de António Carlos retórica: “O que é a dança se não recolha de dez ensaios. As suas para além de si própria (…)”. “A Cortez (n. 1976), libertação do corpo dos seus fulgurantes 35 páginas traduzem um ausência de ilusões sobre si própria, que escreve no Ensaio movimentos utilitários, exibição dos pensamento laborioso, que se vai a nudez sem véus que a beleza “Jornal de Letras”, gestos na sua ociosidade pura?” Mais cerzindo com um olhar sobre alcança deste modo” torna a beleza recusam aquilo que atrás, no mesmo capítulo, a manifestações da arte temível e este niilismo “atinge o seu se tomou a dado A nudez que propósito do acto de “fazer a festa”, contemporânea e uma minuciosa estádio extremo nas manequins e momento pelo afirma: “Obstinamo-nos em dançar, leitura de textos teológicos (antigos e nas modelos, que aprendem antes estilo hegemónico nos trespassa cobrindo a perda da música com o modernos) em redor do “Génesis”, do mais a anular no seu rosto toda a entre os “novos”, um estilo em geral fragor das discotecas e dos do tema da graça e do pecado expressão, de maneira a que este se identificado com o realismo e o altifalantes, continuamos a original. torne puro valor de exposição e quotidiano. Entre o impulso Giorgio Agamben reflecte desperdiçar e a destruir – até “Por detrás da veste de graça adquira, por isso, um fascínio romântico e a sofisticação oficinal, sobre o belo, a nudez e a mesmo, e cada vez mais pressuposta, nada há e a nudez é particular”. “Este simples morar da Cortez explorou caminhos identidade e mergulha o frequentemente,frequentemente, a vida – sem jjáá precisamenteprecissamamente este nadanada ter por aparência na ausênciaausênc de segredo”, diferentes. “Depois de Dezembro” é conseguirmos alcançaralcançar a menucha,menucha, detrásddeettrrááss ddee sissi,, eseestetee argumenta, “é o seuseu tremor especial a sua quinta colectânea. ser contemporâneo nas a simples,simples, mas parapara nósnós ADRIANO MIRANDA – a nudez, que,que, comocomo uma voz Anteriormente publicou “Ritos de suas origens sagradas. Rui impraticávelimpraticável branca,brb anca, nada signifisignificac e, Passagem” (1999), “Um Barco no Catalão precisamenteprp ecisamente pporor isso, nos Rio” (2002), “A Sombra no Limite” trespassa.”trt espassa.” (2004) e “À Flor da Pele” (2008). O Nudez Esta inquietação,inquiet este motivo que faz do novo livro o Giorgio Agamben “tremor”““tremor” a propósitop da melhor dos cinco é o seu diálogo (Trad. Miguel Serras Pereira) belezabbeleza sem ssegredo, rima seguro com a poesia portuguesa Relógio d´Água comcom “a reduçãored do homem contemporânea e a sua respiração As fulgurantes 35 páginas de “Nudez”, à vidavida nunua”,a num período quase clássica MMMMN o ensaio que dá título a esta recolha, dad sua hihistória em que se Nota-se nestes poemas uma traduzem o laborioso pensamento vêv reduzidoreduz à preocupação estrófica e silábica Do filósofo italianono de Agamben sobre a contemporaneidade identificaçãoiiddentifi invulgar em poetas jovens. O poema Giorgio Agambenn biométrica.bbiomé O ensaio é medido, ritmado, polido, muitas (Roma, 1942), foi “Identidade““Iden sem vezes com recurso à rima. Isso traduzido em pessoa”ppesso alude a essa permite a Cortez eliminar a estética 1993 um livrinho, vontadevvont de torrencial e palavrosa de muita “A comunidade libertaçãollibe de poesia preocupada com o que vem” responsabilidadesrresp “sublime”, e que nunca fez mais do (Presença), que fezez moraismmor e políticas, e que descarga de vocábulos. A do seu autor um dod ppróprio palavra “maturidade” é talvez o fenómeno de culto entre a reconhecimentoreco termo que melhor define esta comunidade artística portuguesa. dosd outros. O colectânea. Insistindo bastante no Entretanto, foram publicados maiss pensamentop de tema da “poética” (o que faz e como alguns, poucos, títulos em que o Agamben torna- se faz um poema), Cortez consegue autor se serve dos seus se tanto mais acompanhar essa reflexão teórica conhecimentos de direito romano lúdico,l e com uma prática. Os poemas são (“Homo sacer – o poder soberano e delirante,d quanto uma poética na sua própria a vida nua”, Presença) e teoria maisma construção, e não apenas no tema. literária (“Bartleby, escrita da profundamenteprof Há nestas páginas muitos ecos de potência”, Assírio & Alvim) para mergulhamerg na filologia poetas portugueses, de Ruy Belo a reflectir sobre a vida e na artear de arrancar Luís Quintais, mas a leitura de contemporânea. “Ser sentidossentido às palavras: o Gastão Cruz marcou

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 35 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Livros RAQUEL ESPERANÇA RAQUEL

Em “O Grande Retrato”, Dino Buzatti antecipa em oito anos o Arthur C. Clarke de “2001: Odisseia no Espaço”, mas a sua originalidade dilui-se na retórica fi losofante contra a corrupção da alma

Ficção com a formação humanística de existencialista que marca a obra de Buzzati, surpreende. E, no entanto, Buzzati. Neste particular, o aspecto é esse o tema de “O Grande Retrato”, mais curioso é que “O Grande Laura e a romance de 1960 que começou por Retrato” antecipa em oito anos o ser publicado (sob pseudónimo) em Arthur C. Clarke de “2001: Odisseia fascículos semanais, na revista no Espaço” (1968). Isso sim, merece Entre o impulso romântico e a sofi sticação ofi cinal, António máquina “Oggi”, em 1959. ser assinalado. Buzzati escreveu em Carlos Cortez explorou caminhos desviantes em relação Tem-se dito que “O Grande 1959 sobre uma realidade a haver: ao estilo hegemónico entre os “novos” da poesia portuguesa Buzzati antecipou em oito Retrato” sinaliza a chegada de “Em Abril de 1972, o professor Buzzati ao universo feminino. Dando Ermanno Ismani...”. Afinal, nem anos a máquina pensante de de barato a misoginia do autor, todo o futuro começou do outro lado Arthur C. Clarke. Mas ficou tenho dificuldade em subscrever a do Atlântico. preso às convenções da tese. O facto de “Un Amore” (1963) Contudo, aquilo que podia ser a especialmente o autor. É o Gastão “What does the song hope for?”, linguagem. Eduardo Pitta ser posterior à proclamada inflexão originalidade discursiva dilui-se na mais conceptual, preocupado com a escreveu Yeats, citado numa não autoriza tamanha ênfase. retórica filosofante de quem definição de fronteiras entre “a vida” epígrafe, e é disso que se trata aqui: O Grande Retrato Mesmo porque uma história com pretende ilustrar a corrupção da e “o poema”. O primeiro texto do a que é que um poema aspira? Dino Buzzati epicentro numa investigação alma: “Nessa altura irradiará da livro fala logo de uma “linguagem há Cortez conhece bem a estética do (Trad. José Luís Costa) científica, reportando directamente máquina uma potência espiritual muito dissolvida / e sem significado fingimento, e não ignora a ideia de Cavalo de Ferro a Silvio Ceccato (o filósofo e linguísta que o mundo nunca conheceu, um para dizer a vida”. Como acontece que a poesia é uma luz enganosa e italiano que projectou um protótipo fluxo irresistível e benéfico. A com quase todos os poetas, esta inútil. Mas em vários textos dá MMNNN de inteligência artificial), tem o máquina lerá os nossos angústia não conduz à afasia mas ao indícios de que continua a acreditar ponto de vista correlato. Suponho pensamentos, criará obras-primas, ensaio e erro. Tal como acontece no poder da transfiguração, a que A editora Cavalo de que os críticos se impressionaram revelará os mistérios mais com “a vida”. chama, eis a ironia, um poder Ferro prossegue a com a descrição de Olga Strobele, escondidos.” O quotidiano da “zona Regressando à temática passional realista: “Agora dentro da paisagem / divulgação do que “rondava os vinte e oito anos, militar 36” (estamos no centro de e em especial a um amor amargo, real não sei se havia / consciência do italiano Dino era esbelta, ruiva, pele branca uma operação militar de carácter Cortez escreve que o regresso é um vivo / sonho do poema no / tempo Buzzati (1906-1972), pontilhada de sardas, olhos talhados secreto) pauta-se pela modo de acabar, e se isso é verdade abstracto // O texto escrito traga / o autor de uma obra em amêndoa, lábios salientes numa inverosimilhança. A lentidão humanamente, ainda é mais verdade tempo exacto / tornando o facto / da muito vasta, que expressão ao mesmo tempo de narrativa e as convenções da poeticamente. Nestes poemas, os poesia / outro tempo oculto / a única inclui poesia, oferta e de desdém, rosto atrevido, linguagem obliteram qualquer recorrentes motivos aquáticos não verdade” (p. 21). romance, conto alegre e provocante, cintura hipótese de imprevisto. Mesmo são apenas geografia, são imagens Estas meditações contidas — género em que atinge maior delgada, pernas fortes e teimosas.” quando supomos que as regras do de um passado que flui retomam o conceito de “emoções conseguimento —, teatro, ensaio de Com efeito, um retrato e tanto! “thriller” vão levar a melhor, uma perpetuamente. O passado, que na linguísticas”. Os poemas são arte, crónica e libretos de ópera. Em A máquina que pensa pode, no sobrecarga de “mise-en-scène” faz verdade nunca passa, é “um outro frequentemente magoados, trazem Portugal ainda vamos na ficção, limite, devolver à vida a mulher do desabar a arquitectura da cena. Sirva tempo”, e não apenas no sentido recordações biográficas de uma estando publicados cinco títulos, enigmático professor Endriade, essa de exemplo o momento em que óbvio da expressão; é um tempo ternura engolida pela lava, mas esse entre eles os emblemáticos “O espécie de “replicante” do Dr. Jekyll Endriade chama por Laura, há muito diferente, um tempo de outra “engano transformado” faz-se coisa Deserto dos Tártaros” (1940) e “A (cf. Stevenson) que Buzzati constrói, morta: “Alguém, ou algo, lhe natureza. E o poeta pergunta: mental, recriação, objecto. Já que Derrocada da Baliverna” (1957). por intereposta Laura, em responde. É uma espécie de estertor, “Depois de nos esquecermos de nada sobrevive, nem sequer nós, A ideia de uma máquina homenagem da mulher amada. Daí à que sai às golfadas de ignotos canais quem fomos / como voltarmos ao que fiquem, ao menos consciente, isto é, de um corpo focalização de género... por toda a parte. Ondula, sobe, que somos / se outros voltamos do hipoteticamente, as palavras. artificial servindo de “hospedeiro” a O receio de que um autómato torna-se grito, resvala, dissolve-se mergulho?” (p. 25). A primeira António Carlos Cortez acredita que uma mente humana, parece saída de possa esquivar-se às ordens do em gemido, cala-se, regressa linear, pessoa do plural remete para a “a poesia” é para “a vida” uma linha Isaac Asimov, que acumulava criador, pensando pela sua própria explode, gorgoleja, tossica, condição humana mas também para paralela. E que os versos são “mais literatura com a docência de “cabeça”, inscreve-se com esganiça...”, etc. Não havia a experiência do casal. reais talvez que o mundo vivo”. bioquímica. Porém, num homem naturalidade no pensamento necessidade.

36 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon O texto de teve estestreiar na Sala- D. Maria II com a editora “Film Noir”, EstEstúdioúdio dod Teatro Bicho do Mato, está já espectáculo NacionaNacionall D. Maria II em disponível na livraria do Livro escrito, JJunho do ano teatro e noutros pontos de encenado e ppassado, acaba venda seleccionados. cenografado de ser editado por André em livro. A edição, Murraças quee uumama parceria do SUSANA PAIVA SUSANA

Elena Córdoba é a criadora em destaque nesta edição do Citemor: traz a Montemor uma instalação e três espectáculos, um dos quais em estreia absoluta

Estreiam Há cerca de quatro anos, Elena filmes - “Piezas Macabras”, “Piezas rumarão até ao Centro de Arte Córdoba começou a reflectir sobre o Móviles” e “Piezas Vivas” – que vão Rainha Sofia, em Madrid. Os vídeos corpo, as suas potencialidades e ser exibidos em conjunto pela mostram diferentes formas de A anatomia fragilidades, o modo como exibe a primeira vez em Montemor, a partir representação do interior do corpo passagem do tempo. A coreógrafa e da próxima quinta-feira, e, depois, humano. “Como coreógrafa, bailarina espanhola precisava, tal de Elena como um médico, de examinar a máquina através da qual se Córdoba expressa. Estudou anatomia e preparou espectáculos com “a mesma metodologia de trabalho”, A coreógrafa espanhola traz para perceber o movimento e a ao Citemor parte de um ciclo ausência dele, entre a vida e a de seis obras, “Anatomia morte. Ao longo do processo, Poética”, em que aprofunda manteve contacto permanente com um catedrático de cirurgia jubilado, o conhecimento sobre o Cristóbal Pera: “Foi o meu grande corpo da mulher. Maria companheiro neste projecto. Sem João Lopes ele, não teria a mesma profundidade”, diz. Museos del Silencio Da reflexão resultou um ciclo, De Elena Córdoba e Sylvia Calle. “Anatomia Poética”, com seis espectáculos sobre o corpo feminino Montemor-o-Velho. Galeria Municipal. De 5/08 a 14/08. 5ª a Dom. das 17h às 22h. Tel.: 239689505. (a seguir, vai trabalhar o do homem). Entrada gratuita. No Citemor – é a segunda vez que La Mujer de la Lágrima está no festival de Montemor-o- De Elena Córdoba e Sylvia Calle. Velho -, apresenta três desses espectáculos: duas estreias Montemor-o-Velho. Teatro Esther de Carvalho. R. Dr. José Galvão, 101. 5/08. 5ª às 22h30. Tel.: nacionais e uma estreia absoluta,

Teatro/Dança 239689505. 7€ a 10€. produto de uma residência de Todo lo que se mueve está vivo criação. Paralelamente aos + Expulsadas del Paraíso espectáculos, é inaugurada a De Elena Córdoba. instalação “Museos del Silencio”, construída a partir das visitas que Montemor-o-Velho. Espaço Mota-Engil/Real Estate. 12/08 a 13/08. 5ª e 6ª às 22h30. Tel.: 239689505. fez com a realizadora Sylvia Calle a 7€ a 10€. museus anatómicos em Paris, Lyon, Citemor - 32º Festival de Montemor- Arras, Nápoles e Coimbra. Dessas o-Velho. visitas resultou um conjunto de

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 37

Teatro

conhecia o exterior do corpo, mas Agenda tinha necessidade de o conhecer por dentro. Apercebi-me da sua O circo hoje e amanhã no CCB Fora de Si: “Inua”, de Netty Radvanyi Teatro Uma Lição dos Aloés complexidade, de como a nossa De Athol Fugard. Encenação de José força reside na nossa debilidade”, Estreiam Peixoto. Com Daniel Martinho, Elsa explica. Valentim, Jorge Silva. “La Mujer de La Lágrima”, que o Amadora. Espaço Cultural Recreios da Amadora. Morro Como País Avenida Santos Mattos, 2. Até 01/08. 4ª a Sáb. às festival apresenta também no dia 5, De Dimítris Dimitriádis. Encenação 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 214927315. é a continuação desta descoberta. O de John Romão. Com Cláudia Dias, título vem de uma escultura de cera O Sossego que ali Cláudio da Silva, João Folgado. do século XVIII que Córdoba e Calle Montemor-o-Velho. Espaço Mota-Engil/Real Estate. Havia Assemelhava-se De 31/07 a 01/08. Sáb. e Dom. às 22h30. 7€ a 10€. ao da Eternidade filmaram no Museu do Homem de Citemor - 32º Festival de Montemor- De Jaime Salazar Sampaio. Paris. O modelo, uma mulher a o-Velho. Encenação de São José Lapa, Inês quem falta metade da cara e que Lapa Lopes, Rui Pedro Cardoso. chora do seu único olho, era “a La Grosse Collection Azóia. Espaço das Aguncheiras. Rua das metáfora perfeita da melancolia”, Encenação de Eric Burbail. Com Aguncheiras. Até 22/08. 6ª, Sáb. e Dom. às 18h30. William Eston. Tel.: 212682430. diz a coreógrafa, adiantando que, Lisboa. Centro Cultural de Belém - Caminho durante o espectáculo, queima um Pedonal. Praça do Império. De 30/07 a 01/08. 6ª às A Nossa Cidade bloco de cera que se transforma 18h30. Sáb. às 16h. Dom. às 15h. Tel.: 213612400. De Thornton Wilder. Encenação de “numa grande paisagem de Entrada gratuita. Carlos Avilez. CCB Fora de Si 2010. Monte Estoril. Teatro Municipal Mirita Casimiro. lágrimas”. Avenida Fausto Figueiredo. Até 01/08. 2ª a Sáb. às Seguem-se, dias 12 e 13, “Todo lo Pino do Verão 21h. Dom. às 16h e 21h. Tel.: 214670320. que se mueve está vivo” e A Transformação: Ironia sobre a “Expulsadas del Paraíso”. No Metamorfose de Kafka primeiro, um estudo sobre o Pela Gato Que Ladra. Encenação de aparelho locomotor, centrado nos Cláudia Negrão. Com José Mateus ombros, nos braços e nas mãos, Pedro Barbeitos. Córdoba recorre a alguns objectos, Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. Até 31/07. só para evidenciar o corpo: é o caso 5ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h30. Tel.: 217221770. 5€ a 10€. das cordas usadas para pendurar as bailarinas de cabeça para baixo, De Eugénio de Andrade. Pelo Bando. Dança fazendo sobressair os músculos em Encenação de João Brites. esforço. Elena Córdoba concorda Palmela. Castelo de Palmela - Miradouro. Dia 30/07. Sáb. às 22h. Entrada gratuita. Continuam com Aristóteles, que diz que “tudo o FIAR - Festival Internacional de que se move está vivo e move-se e Artes de Rua. Maiorca desgasta-se para se manter com De Paulo Ribeiro. Com Erika vida”. “Segundo o princípio Birly e Birloque Gustamacchia, Gonçalo Lobato, aristotélico, para estar vivo um Pelos Tiritirantes. Marta Cerqueira, Pedro Mendes, Vila Real. Teatro de Vila Real - Esplanada. Alameda Romulus Neagu, Pedro Burmester. corpo pode alimentar-se, pode de Grasse. Dia 05/08. 5ª às 23h. Tel.: 259320000. Coimbra. Quinta das Lágrimas. Estrada das Lages. move s porque estamos vivos e, Entrada gratuita. Dia 01/08. Dom. às 21h30. Tel.: 239802380. 10€. com isso, desgastarmos o corpo e Continuam Festival das Artes. caminharmos para a morte, a A Casa bailarina, de 48 anos, está tranquila. Single E na velhice quer continuar a dançar, “uma dança que trabalhe CCB aproveita os meses de Julho e daquele continente”, sublinha com a mesma paixão tudo o que [o Agosto para receber uma invasão de Margarida Veiga, eventualmente corpo] não pode ser”. espectáculos de teatro, dança, mais evidentes no cinema, ao qual é música e cinema que diversificam a dado particular destaque. O ciclo sua programação habitual, explica co-programado pela Apordoc, Um verão Margarida Veiga, que coordenou o responsável pelo DocLisboa, alinhamento deste Verão. Este ano, propõe ao longo dos fins-de-semana De Aldara Bizarro. Com Albana Hall, são mais de 50 propostas, que de Agosto filmes vindos da Constanza Givone, Maria Radich. saleroso incluem o circo (“Inui”, de Netty Argentina, do Chile, do México e do A partir de Peter Sloterdijk e Ryszard Alcobaça. Biblioteca Municipal de Alcobaça. 01/08. Radvanyi, hoje e amanhã, e Brasil. A cinematografia da América Kapuscinski. Pela Mala Voadora. Dom. às 21h30. Entrada gratuita. “Fazzoletto”, dos belgas Ripopolo, a Latina, diz Sérgio Tréffaut, “está Encenação de Jorge Andrade. Com Fora de portas até 28 de Miroir, Miroir 27 e 28 Agosto), a instalação muito mais preocupada com Anabela Almeida, Bruno Huca, Agosto, o CCB abre-se à (Arquivar”, de Ana Rita Barata e questões sociais e o Flávia Gusmão, Jorge Andrade, América Latina e apresenta Pedro Sena Nunes, dias 6 e 7), e o desenvolvimento da sociedade Marco Paiva, Miguel Damião, Pedro Gil, Tânia Alves. espectáculos para todos flamenco (“El cielo de tu boca”, de contemporânea do que o cinema Montemor-o-Velho. Sala B. Centro Histórico de Andrés Marín e Llorenç Barber, dia europeu”. “Nestes filmes”, Montemor-o-Velho - R. Cadeia Velha. Até 30/07. 5ª e os públicos. Hoje há circo. 13), bem como as marionetas de continua, “vemos espelhados os 6ª às 22h30. 7€ a 10€. Tiago Bartolomeu Costa João Calixto (“King Pai”, dias 7 e 8) problemas prementes da Citemor - 32º Festival de Montemor- o-Velho. e do Teatro de Ferro, que apresenta sociedade”, como o fecho de Inua uma ópera de Regina Guimarães, “A fábricas, o desemprego, e questões O Dia de Todos os Pescadores Ópera dos 5€” (dia 27), reflexão ligadas à memória histórica das De Francisco Luís Parreira. Pela De Netty Radvanyi. Com Netty Radvanyi, Danila Vaz. sobre a Europa e as vagas de ditaduras. Assédio. Encenação de João imigrantes, e a dança de Clara Para o próximo ano, uma das Cardoso. Com João Cardoso, Jorge Lisboa. CCB - Espaço Circo. Pç. do Império. 30/07 a Andermatt, numa nova versão de ideias em cima da mesa é “uma Mota, Micaela Cardoso, Pedro Frias, 31/07. 6ª e Sáb. às 22h. Tel.: 213612400. Entrada Rosa Quiroga. gratuita. “Void” (20 e 21). aproximação às comunidades com Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. Até CCB Fora de Si 2010. O “CCB Fora de Si” tem assim a criação própria existentes em 31/07. 4ª a Sáb. às 21h30. Tel.: 223401905. 5€ a 15€. Pela Compagnie Moglice - Von Verx. configuração de um amplo Portugal, como, por exemplo, a De e com Mélissa Von Vépy. Long Distance Hotel Fundão. Praça do Município. Dia 31/07. Sáb. às A ideia de um Centro Cultural de território, em que as artes de palco, cabo-verdiana”. Será, acredita De Gilles Polet, Goran Sergej Pristas, 22h. Entrada gratuita. Belém (CCB) fora de si é para ser agora na rua, convivem com a Margarida Veiga, “uma levada à letra. Desde há quatro música e a arte pública. Este ano oportunidade para trabalhar de Judith Davis, Leo Preston, Tiago Brel, Como Num Sonho Rodrigues, Tónan Quito. anos, “porque os espaços precisam esse território é particularmente forma mais criteriosa com o que Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos - Sala Pela Eclipse Arte. Lisboa. Instituto Franco-Português. Av. Luís Bívar, de manutenção” e porque há latino-americano: parte do existe e, ao mesmo tempo, trazer Principal. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. Até 30/07. 91. Até 31/07. 3ª a Sáb. às 21h30. Tel.: 213111400. 7€. 2ª a Sáb. às 21h30. Tel.: 218438801. 5€ a 12€. “muitas pessoas que fazem férias programa procura dar a ver “as até ao CCB um público que não é em Lisboa e na Grande Lisboa”, o preocupações contemporâneas habitual.”

38 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon Peter Murphy, Swing Out Sister, Alphaville, Waterboys:

a nostalgia é a droga na primeira edição do Festival Alentejo PIMENTA PAULO

Pop capaz de rapar com fluidez e ter A vida segundo Domingo fundura soul, autora do magnífico Waterboys + Houdini Blues + “The Miseducation of Lauryin Hill”, Juana Molina Easyway já lá vão muitos anos – o disco é de Lauryn Hill à Évora. Zona Industrial. Hoje, amanhã e dom., às 1998 e é, até certo ponto, o único Juana Molina 21h. Entrada gratuita. 10€ (dia) a 25€ (passe). disco a solo da senhora, já que o moda antiga Lisboa. CCB - Pç. do Museu. Dom., 1, às 22h. Tel.: “MTV Unplugged” de 2002, por 213612400. Entrada gratuita. O primeiro Festival Alentejo mais autónomo que seja, não é um acontece em 2010, na zona Uma voz negra fabulosa disco concebido como um conceito. Quando começou a dedicar-se à industrial de Évora, mas leva-nos em O mistério da senhora Hill é a música na Argentina, o país onde viagem ao passado. Esta noite, numa aparição rara, em relutância em lidar com o seu nasceu, o público não queria ouvi-la, sobem ao palco Peter Murphy, o Lisboa. João Bonifácio sucesso, o que implica relutância em queria vê-la. Estávamos nos anos 90, histórico vocalista dos Bauhaus, lidar com o seu talento. “The e Juana Molina era actriz famosa no mestre do gótico que poderá Lauryn Hill + Estelle + Seda Miseducation of Lauryn Hill” mundo latino-americano, enquanto apresentar algumas das canções de mostrava que Hill não ficava a protagonista de humor certeiro da “Ninth”, álbum a solo com edição Lisboa. Pç. do Comércio (Terreiro do Paço). Sáb., 31, às 21h. Tel.: 210312700. Entrada gratuita. minimamente atrás de Wyclef Jean, série “Juana Y Sus Hermanas”. marcada para este Outono, e a o principal compositor dos Fugees. Quando a sua música chegou à banda de CJ Ramone, o baixista que Festival dos Oceanos 2010. Decerto o disco a solo era mais Europa e aos Estados Unidos, depois substituiu Dee Dee nos míticos ecléctico do que a habitual produção da edição do segundo álbum, Ramones. Como estamos em 2010 e, Para muitos milhões de pessoas, dos Fugees (se por habitual apropriadamente intitulado como canta Tiago Guillul, “a Lauryn Hill é a mocinha que há uns entendermos uma carreira que “Segundo” (2000), ouviram-lhe o nostalgia é a nova pornografia”, não valentes anos cantava uma cantiga durou apenas dois discos), unindo castelhano em que cantava, haverá problemas de convivência bonita, “Killing me softly with his rap a soul, r’n’b’ e tudo o que se ouviram-lhe aquela música com com a banda que abre o festival, os song”,song , com os Fugees (isto sem assemelhasse a músicamúsic negra. Só que sensibilidade de cantautora e britânicos ABBA Platinum, que ssaberemaberem que a canção não era o sucesssucessoo tremendtremendoo ddo disco não só delicadeza de tecelã electrónica, e recriam acorde a acorde, fatiota a deles).deles). Para uns milhões a llevouevou à dissolução ddoso Fugees como colaram-lhe a etiqueta “world- fatiota, os êxitos do mais famoso menos,menos, HillHill é ttornouornou Hill descondesconfiadafia music” – que ela detesta. grupo sueco da história da pop. uma exímia rerelativamentelativamente à inindústriadús musical e à No regresso a Portugal – actua no Amanhã, a toada revivalista voz,voz, eexposiçãoxposição púpúblicablica emem geral. Desde Centro Cultural de Belém a 1 de mantém-se. No lugar dos ABBA eentãontão as suas apariapariçõesçõ são Agosto, poucos meses depois de Platinum surgem os Jacksonmania, mínimas, as digressõdigressões idem, as passagens pelo Teatro Aveirense e banda italiana de tributo a Michael eentrevistasntrevistas raras. No “MTV pelo Santiago Alquimista, em Lisboa Jackson, e em posição de destaque UnpUnplugged”,lugged”, só com uma guitarra, -, não veremos a actriz que, de no cartaz, substitui-se o gótico e o elelaa verberavaverberava contra a indústria, qualquer modo, nunca conhecemos, punk pela pop radiofónica de velha ccontraontra o negócio, a ffavora da muito menos uma argentina memória: os Swing Out Sister de ““autenticidade”.autenticidade”. Por mais ingénuos “tradicional” do circuito “world “Breakout” e os alemães Alphaville qqueue os comentários fossem,f a music”. Sozinha em palco, com a de “Forever young” e “Big in Japan”. eentregantrega em cacadada canção,canç essa, era guitarra, o piano e a “loop station” Para o último dia, domingo, Mike eextraordinária.xtraordinária. O concertocon de com que constrói os cenários Scott traz os seus Waterboys de amanamanhãhã em LisboaLisboa é,é, por isso, é uma sonoros em que divaga, mostrará regresso a Portugal. E, neste caso, opoportunidadeortunidade única dde ver uma principalmente as canções do último haverá forma de equilibrar a vverdadeiraerdadeira diva, dadaquelasqu que, à “Un Dia”, álbum de 2008 em que nostalgia do folk-rock de “This Is The moda antiga, se fazemfazem difíceis. Não solidificou definitivamente a sua Sea” ou “Fisherman’s Blues” com as hháá desculpas para ficarfic em casa, linguagem musical. canções de “Book of Lightning”,

Concertos para mais tentendodo em cconta que Uma viagem tocante, onírica, sem álbum de 2007 que actualiza o som EEstellestelle (a do magníficomagnífico dueto com eespaçospaço para elfos e unicórnunicórnios.i A clássico da banda com uma leve KanyeKaK nye West, “Ame“Americanrican músimúsicacaa podepode ter algo de mágicomág na camada de psicadelismo. BBoy”)oy”) também faz parteparte foformaormr a coccomoomo nnosos envolveenvolve camadacam a A acompanhá-los em cartaz estão ddoo cardápio.cardápip o. camada no seuse os eborenses Houdini Blues, universo - excertosexc de “melting pot” de línguas e sons Juama Molina está voz transformadostransform (podemos chamar-lhes electro-pop- de volta, agora para em ritmritmoo trad-heavy-folk’n’roll?) que editará um concerto ao ar livre encantatóriencantatório,o acordes até ao final do ano “Suão”, sucessor no Centro Cultural ddee guitarraguitarra do muito recomendável “F de de Belém plpplanandoanando como Falso”, e os punks Easyway, que tectecladoslad -, lançaram recentemente mammass é telúrica “Laudamus”, obra ambiciosa em e feitfeitaa da vida regime “do it yourself” que tanto eelala memesma, não podemos ver como álbum com filme dede fantasiasfan dentro como filme com banda imaginadas.imagin sonora como extra. M.L. MárioMáM rio LopesL AGENDA CULTURAL FNAC Os ananoso 80 entrada livre

Lauryn Hill em carne e osso? Não é uma fantasia, é o nnoo AAlentejolente programa obrigatório para a noite de amanhã, em Lisboa FestivalFestival AlentejoAlente HoHojeje PPetereter MurpMurphyhy + CJ Ramone + PlatinumPlatin AbbAbbaa + DJ FernandoFernan AlAAlvimvim MÚSICA AO VIVO AAmanhãmanhã VIRGEM SUTA Alphaville + SSwingw Out Sister + JacJacksonmaniakson + 01.08. 22H00 FNAC ALGARVESHOPPING PowPow PPowow MMovementov Todos os eventos culturais FNAC em http://cultura.fnac.pt

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 39 BOB HANDELMAN Concertos

Boris Berman chega a Óbidos com um programa inteiramente dedicado a Debussy

Clássica seu recital de Óbidos irá concentrar- especialmente centrado nas obras de Agendada se nas principais efemérides musicais Bach, as quais servem de ponto de de 2010, ou seja, no legado de partida para repertório complementar Sexta 30 Loulé.Loul Notáveis Schumann e Chopin. e para combinações com trechos de MoMonumento A SIPO inclui ainda vários recitais compositores menos conhecidos. DDuarte Paolo Pandolfondolfo PPacheco. de música de câmara, nomeadamente Praticamente todos os membros do e Guido LLg.g Duarte do piano a apresentação do duo de violoncelo grupo têm bem sucedidas carreiras Balestraccicci PacPacheco,heco, às 22h. e piano formado por Márcio Carneiro individuais e são colaboradores de Estoril. Igreja ddosos TTel.:el.: 289289400600.4 20€.20€. em Óbidos e Manuela Gouveia (hoje, às 21h), do outros agrupamentos prestigiados, Salesianos. Av. MarginaMarginal,l, às 21h30. Tel.: 214456049.4456049. 15€. Quarteto de Matosinhos (quarta, dia como a Orquestra Barroca de StanleyStanle 4) e da colaboração entre o pianista Amesterdão de Ton Koopamn, La Ver texto na págpág.. 16 e JoJordanrdan + Joel Vitaly Margulis, Boris segs. XXavieravier Adriano Jordão e o barítono José Petite Bande de Sigiswald Kuijken ou Viana ddoo CCastelo. Berman e Luiz de Moura Oliveira Lopes (dia 7). Os a Orchestre des Champs-Elysées de Klaxons + WhiteWhite TeatroTeatro MunicipalMun Sá Castro na Semana participantes das “masterclasses” Philipe Herreweghe. A sua Lies + Peterter Os Klaxons no penúltimo de MirandMiranda.a R. tocarão em público nos dias 5 e 6 e discografia contempla obras de Hook + Thehe MMajorajor XaXavierv Costa, Internacional do Piano. dia de Paredes de Coura haverá actividades paralelas como a Bach, Telemann, C. F. Abel, Fasch, Courteenersers + ààss 2222h.h. TTel.:el Cristina Fernandes PAUS + Thehe 2588258809382.09382 15€. conferência de Vasco Graça Moura “A Benda, Vivaldi ou Albinoni, entre Tallest Manan on poesia da música e a música da outros compositores. C.F. Earth Semana Internacional de Piano poesia: uma experiência pessoal” Paredes de Coura.ura. Praia (amanhã, às 18h). Fluvial do Tabuão,uão, às 16h. de Óbidos Jazz Tel.: 213933770. 40€ (dia) a 70€ OrchestrUtopica Com Vitaly Margulis, Boris Berman, (passe). Cascais. CC de Cascais. Av. Rei Humberto II de Luiz de Moura Castro, Manuela Itália, às 21h30. Tel.: 214848900. 15€. Il Giardellino na Kimi Djabaté + Barbez + Sa Gouveia, Adriano Jordão e outros Da voz como Dingding + Tinariwen + The Orquestra Metropolitana de Óbidos. Auditório Municipal da Casa da Música. Até Póvoa de Varzim Rodeo + Forro in the Dark + Lisboa dia 7, às 21h. Tel.: 262959231. 15€ (concerto) a 100€ Bailarico Sofi sticado Alcobaça. Cine-Teatro. R. Afonso de Albuquerque, (passe). Il Giardellino instrumento às 21h30. Tel.: 262580890. 5€ a 8€. Sines. Castelo. Lg. do Poeta Bocage / Av. Vasco da SIPO 2010 - XV Semana Direcção Musical de Marcel Ponseele. Gama, a partir das 18h. Tel.: 269630600. 12,5€ 34 Puñaladas (concerto) a 40€ (passe). Internacional de Piano de Óbidos. Póvoa de Varzim. Igreja Matriz. R. Igreja. Amanhã, às Numa das suas regulares Vila Real. Teatro - Auditório Exterior. Alam. de 21h45. Tel.: 252614145. 6€ (concerto) a 35€ (festival). Orquestra Clássica de Espinho Grasse, às 22h30. Tel.: 259320000. Entrada gratuita. A decorrer desde ontem, a Semana visitas a Lisboa, Sara Serpa XXXII FIMPV - Festival Internacional Direcção Musical de Pedro Neves. Internacional de Piano de Óbidos traz-nos alguma da vibração Com Janice Watson (soprano). Domingo 1 (SIPO) prossegue até 7 de Agosto de Música da Póvoa de Varzim. Espinho. Auditório. R. 34, 884, às 22h. Tel.: de Nova Iorque. Rodrigo 227340469. 7€. Barbez com a participação de vários O encerramento do 32º Festival Porto. Plano B. R. Cândido dos Reis, 30, às 23h. intérpretes de prestígio Internacional de Música da Póvoa de Amado Angles Tel.: 222012500. internacional. Além de Paul Badura- Varzim faz-se com um agrupamento Coimbra. Qta das Lágrimas - Anfiteatro Colina de Skoda, que protagonizou o recital de de primeiro nível no âmbito do Camões. Estrada das Lages, às 21h. Tel.: Mariza Sara Serpa Quarteto 239802380. 10€. São João da Madeira. Parque Urbano do Rio Ul, às abertura, os maiores destaques da universo da música barroca Festival das Artes. 22h. Tel.: 256200200. 10€. Lisboa. Onda Jazz. Arco de Jesus, 7 - ao Campo das edição deste ano incluem o pianista, interpretada em instrumentos Cebolas, às 22h. Tel.: 919184867. 7€. Jue Wang Mafalda Arnauth pedagogo e escritor ucraniano Vitaly originais de acordo com as práticas Alcobaça. Mosteiro - Claustro D. Dinis, às 22h. Tel.: Lisboa. Pç. do Município, às 22h. Tel.: 210312700. Margulis (amanhã, às 21h30, num de execução históricas. Trata-se de Il Sara Serpa tem trabalhado muito e 262505120. 5€ a 8€. Entrada gratuita. programa preenchido com obras de Gardellino, ensemble fundado em cresceu também, muito, tornando-se Orquestra Filarmónica de Bacau Segunda 2 Schumann e Chopin), o russo Boris 1988 pelo grande oboísta Marcel uma cantora invulgarmente segura, e Sílvia Mateus Berman (domingo) e o brasileiro Ponseele, que apresenta um magnética e criativa. Dos muitos Direcção Musical de Ovidiu Balan. Joana Amendoeira Luiz de Moura Castro (terça, dia 3). programa do qual fazem parte êxitos projectos em que se encontra Vila Nova de Gaia. Auditório Municipal. Rua de Lisboa. Pç. do Município, às 22h. Tel.: 210312700. Actualmente a residir nos EUA, da música setecentista como o envolvida, contam-se actuações com Moçambique, às 21h45. Tel.: 223771820. 3€. Entrada gratuita. Boris Berman tem leccionado em Concerto para oboé, cordas e baixo os projectos de Greg Osby (com o Géraldine Laurent: Time Out Gotan Project prestigiadas universidades contínuo op. 1, de Alessando qual gravou “9 Levels”), uma Trio São João da Madeira. Parque Urbano do Rio Ul, às americanas (Indiana, Yale), em Marcello (gravado pelos mesmos participação no último disco de Loulé. Monumento Duarte Pacheco. Lg. Duarte 22h. Tel.: 256200200. 10€. paralelo com uma sólida carreira intérpretes num excelente disco da Danilo Perez, um tremendo novo Pacheco, às 22h. Tel.: 289400600. 10€. internacional como intérprete. Aluno Accent) ou a Cantata “Vergnügte álbum em duo com Ran Blake (ver Moonspell Quarta 4 de Lev Oborin no Conservatório Ruh!” BWV 170, de J. S. Bach, que crítica de discos na pág. 41) e as Vila Nova de Gaia. Mosteiro da Serra do Pilar. Lg. Tchaikovsky de Moscovo, diplomou- contará com a participação do sessões de gravação do seu próximo de Avis, às 22h. Entrada gratuita. Amália Hoje Tavira. Antiga Fábrica Balsense. R. Almirante se em piano e cravo no final dos anos contratenor Damien Guillon. O registo, em quinteto com André Carlos Barretto Trio: Lokomotiv Cândido dos Reis, às 22h30. Tel.: 281320568. 15€. 60 e trabalhou em estreita alinhamento inicia-se com o Matos, Kris Davis, Ben Street e Ted Tavira. Museu Municipal - Palácio da Galeria. colaboração com compositores Concerto para Flauta em Si bemol Poor. Para este concerto, Serpa e Calçada da Galeria, às 22h30. Tel.: 281320540. 5€. Quinta 5 contemporâneos como Schnittke e Maior Wq. 167, de Carl Philip André Matos, guitarrista e habitual Sábado 31 M.I.A. + The Flaming Lips + Denisov. Na sua extensa discografia, Emanuel Bach e termina com a colaborador da cantora, fazem-se Groove Armada + Kruder & avulta a integral da obra para piano Sinfonia da Cantata BWV 49, para acompanhar por uma excelente The Prodigy + The Specials + Dorfmeister de Prokofiev e Schnittke, para além órgão, oboé d’amore, cordas e baixo secção rítmica formada por Demian Mão Morta + Jamie T + The Zambujeira do Mar. Herdade da Casa Branca, às de gravações avulsas de peças de contínuo, de J. S. Bach. Cabaud no contrabaixo e Marcos 19h. 40€ (dia) a 80€ (passe). Dandy Warhols + Os Dias de Brahms, Debussy, Stravinsky, Apesar de ter roubado o nome (“Il Cavaleiro na bateria. Oportunidade Raiva Ver texto na pág. 6 e segs. Shostakovitch, Janacek, Berio, Joplin Gardellino”) ao famoso Concerto RV. para testemunhar a vibração de uma Paredes de Coura. Praia Fluvial do Tabuão, às 16h. Tel.: 213933770. 40€ (dia) a 70€ (passe). Carmen Souza e Cage. Em Óbidos dará um recitaltal 90 dede VivaVivaldi,ldi, o grupo dede MarceMarcell ccantoraantora qqueue se está a tornar um caso Lisboa. Museu do Oriente. Av. Brasília - Edifício integralmente preenchido com PonseelePonseele temtem feitfeitoo um sério do jazzjazz vocal feminino.feminino. Galaxy + U-Roy + Batida + Guadi Pedro Álvares Cabral - Doca de Alcântara Norte, às música de Debussy. percursopep rcurso Galego + Lole Montoya + Cheick 21h30. Tel.: 213585200. 15€. Tidiane Seck + Staff Benda Bilili Luiz de Moura Castro tem Sines. Castelo. Lg. do Poeta Bocage / Av. Vasco da Tinariwen + Kimi Diabaté igualmente um importante percursourso Gama, a partir das 18h. Tel.: 269630600. 12,5€ Lagoa. Senhora da Rocha, às 22h. 6€. internacional como pianista e (concerto) a 40€ (passe). Michael Dessen Trio pedagogo, leccionando com The Mekons Lisboa. CCB - Cafetaria Quadrante. Pç. do Império, frequência nos EUA e na Europa.a. Lisboa. Maxime. Pç. da Alegria, 58, às 23h30. Tel.: às 22h. Tel.: 213612400. Entrada gratuita. Nascido no Rio de Janeiro, fez 213467090. 8€. Cristina Branco estudos superiores na Academiaa Pedro Abrunhosa & Comité Lisboa. Pç. do Município, às 22h. Tel.: 210312700. Franz Liszt de Budapeste, sendoo Caviar Entrada gratuita. actualmente o organizador do Vila Nova de Gaia. Mosteiro da Serra do Pilar. Lg. Festival Liszt do Rio de Janeiro. DDaa de Avis, às 22h. Entrada gratuita. Carminho + Ciganos d’Ouro Caldas da Rainha. Pç. de Touros. R. da Pç. de sua discografia fazem parte A música barroca com os instrumentos de época McCoy Tyner Trio Touros, às 22h. Tel.: 262836360. 10€ a 12.5€. compositores como Rachmaninov,ov, do Il Giardellino, no encerramento do festival Liszt, Gershwin e Villa-Lobos, masas no

40 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Jon Spencer voltou a fazer o rock rugir, suar e assustar

Jazz “Providencia”, o mais recente norte-americano. Músico de realidade este blues-punk não é mais registo do conceituado pianista influências contrastantes, (ou não é nem mais nem menos) do Danilo Perez. Tudo isto desenvolveu um estilo pós-bop que Muddy Waters revisto e Sem fi ltros acompanhado por um crescente particular – de um lado, Bill Evans, aumentado para a brutalidade entusiasmo por parte da crítica Lennie Tristano ou Paul Bley, aos eléctrica do final do século XX. O internacional. No entanto, nada do quais foi buscar o mistério, a mérito de Jon Spencer foi, portanto, Sara Serpa, cantora a viver que lhe ouvimos anteriormente fazia subtileza e a forma de coloração das o de devolver ao rock’n’roll a sua há anos em Nova Iorque, antever a grandeza deste “Camera notas; do outro, McCoy Tyner e energia primitiva, o seu sentido de Obscura”. Surpreendendo tudo e Thelonious Monk, dos quais herdou a perigo imediato, de urgência. põe o jazz vocal português todos ao ir buscar Ran Blake, um força dos power-chords, a Porque, mais do que blues – que o há no mapa internacional. enorme pianista que é um dos angularidade de algum do seu em barda, como “Shake’em down”, Rodrigo Amado segredos mais bem guardados do fraseado e uma poderosa mão com a sua harmónica infecciosa, jazz, e abandonando esquerda nos graves. Em demonstra –, a obra da Jon Spencer Sara Serpa / Ran Blake momentaneamente a improvisação “Wandering”, gravação a solo para a Blues Explosion é uma constante sem palavras que marca o seu estilo etiqueta italiana Cam Jazz, assistimos procura de todas as derivações Camera Obscura Inner Circle Music vocal, Serpa mergulha fundo no a um desfilar de todas estas possíveis da ideia de ameaça a partir desconhecido da pura criação influências, de forma transparente, de uma escala pentatónica. O que mmmmn artística e, sem filtros, em versões de através de uma prodigiosa técnica significa que este blues-punk é à vez rara entrega e magia, assina um pianística. De todos os álbuns garage-rock, funk, Elvis em punk, Longe da registo poderoso e vibrante que gravados nos últimos anos, rockabilly, country rock drogado, previsibilidade e evoca grandes criadoras do jazz nomeadamente os notáveis registos tudo o que equivala, em seis cordas, do artifício da vocal como Jeanne Lee, Sheila com o seu trio (com o contrabaixista a vudu, feitiço, sexo e desvio à Discos maioria das Jordan ou Flora Purim, e revelan Marc Johnson e o baterista Joey norma. Como compilação, “Dirty cantoras jazz uma abordagem emocional que Baron), este é aquele que mais se Shit Rock’n’Roll” é perfeito: actuais, Sara Serpa passa ainda por Chris Connor ou aproxima de um auto-retrato, com relembra-nos como Spencer voltou a dá um enorme salto artístico e Peggy Lee. Com um tom puro, de momentos que evocam uma clássica fazer o rock rugir, suar e assustar. É afirma-se como uma das mais uma enorme beleza, sem vibrato ou de câmara europeia (“Fermati a assim que gostamos dele. interessantes vozes da actualidade, a artifícios desnecessários, a cantora guardare il giorno”, “Rosa del nível internacional. Com apenas 31 entrega-se por completo em mare”), outros em que domina um anos e uma formação que passou interpretações memoráveis de jazz impressionista e lírico, como nos Demasiada pelo Conservatório de Música de “When sunny gets blue”, “Folhas” vários andamentos de “Wandering”, Lisboa, a Escola de Jazz do Hot (com versos de Eugénio de e ainda outros, como em CClube, ube, o Berklee e ee College Co ege ofousceo Music e o Andrade), “Driftwood” ou “Get out “Teensblues”, “Improvisions” ou ambição NNewew EngEnglandland Conservatory,Conservatory, Serpa oof town” (original de Cole Porter “Dark”, em que vem ao de cima a ttemem dado que falar desde que foi ddedicado a Dorothy C. Wallace). energia bop e o contraponto O novo Arcade Fire não está cconvidadaonvidada pelo saxofonista GreGregg NNum repertório que inclui ainda poderoso do puro jazz. R.A. Osby para integrar o seu sexteto, ttemas como “Nutty”, de Thelonious à altura do “momentum” com o qualqual gravougravou o áálbumlbum “9 MMonk, ou “April in Paris”, nem tudo de “Funeral” nem da Levels”. Desde então, fixadafixada ffunciona da mesma forma, mas a Pop emotividade de “Neon eemm Nova Iorque, editoueditou o pprofunda empatia e o abandono Bible”. Mário Lopes áláálbumbum “Praia”“Praia” nana editoraeditora de mmusical de Serpa e Blake Blues de fi m Osby (Inner Circle Music), ttransformam os curtos 30 minutos Arcade Fire ttornou-seornou-se o pprimeirorimeiro mmúsicoúsico dde “Camera Obscura” num precioso The Suburbs portuportuguêsguês a actuar no rregisto de superior criatividade de século Merge; distri. Universal Music llendárioendário VillageVillage VanguardVanguard dede mmusical. Nova Iorque e mmmnn pparticipouarticipou em “Dirty Shit Rock’n’Roll” PieranunziP relembra-nos como Jon Não poderia existir eem auto-retrato Spencer voltou a fazer o rock outro título para o rugir e suar. João Bonifácio álbum porque “os EnricoE Pieranunzi subúrbios” são nele a única paisagem WWandering Jon Spencer Blues Explosion visível. Neste que é CCam Jazz; distri. Mbari Dirty Shit Rock’n’Roll: The First Ten o terceiro, mais longo e mais Years mmmmnm Essential-Music; distri. Popstock ambicioso álbum dos Arcade Fire, eles são tanto lugar quanto Natural de Roma, mmmmn obsessão: um refúgio de Enrico Pieranunzi é adolescência onde a banda se considerado por Quando a Jon projecta. Não é tarefa sem perigos. muitos o grande Spencer Blues Porque o reflexo que lhes é pianista jazz Explosion surgiu devolvido não tem a inocência e o europeu. Com com um álbum romantismo das velhas fotos a preto ddiscografia variada e consistente, homónimo em a branco: “pray to God I won’t live to Nada do que lhe ouvimos anteriormente fazia aassinou ao longo da carreira 1992, parecia uma see the death of everything that’s antever a grandeza deste “Camera Obscura” pparticipações com grandes coisa nunca vista. Como acontece wild”, ouvimos Win Butler cantar nnomes do jazz, como sempre que não se sabe o que em “Half light II (No Celebration)”. CChet Baker, Johnny fazer com um objecto, “The Suburbs” são 16 canções GGriffin, houve um rótulo para centradas na inevitabilidade da Lee Konitz, facilitar a compreensão passagem do tempo e na CCharlie Haden, da coisa: chamaram- consciência, cada vez mais aguda, PPaul Motian, Enrico lhe blues-punk como de tudo o que nunca poderemos PPhill Woods Pieranunzi, se isso fosse recuperar. Nesse sentido, é um oou Jim Hall, o grande novidade. Na mosaico construído com mestria. ttornando-se pianista realidade, Jon Musicalmente, contudo, a banda uum dos jazz Spencer já andava a cede ao peso da sua própria pprincipais europeu fazer esta música ambição. Os crescendos emotivos iinterlocutores desde os saudosos que são imagem de marca dos italianos do jazz Pussy Galore e na Arcade Fire, com piano

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 41 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Discos

Ao terceiro disco, os Arcade Fire sucumbem ao peso da sua própria ambição O pianista espanhol Javier Perianes

McCartney e as opulentas Meia vitória linha de guitarra que Graham Coxon intérpretes assumem, assim, mais Sonatas e duas Pastorelas da autoria orquestrações de Owen Pallett (o não desdenharia -, e deparamo-nos um papel de mediadores das de Manuel Blasco de Nebra (1750- óptimo tema-título, primeira canção Kele Okereke com o Kele de ontem. Pizzicatos de ousadias da linguagem e do carácter 1784), compositor que até agora tem do álbum, é disso exemplo violino como base melancólica para inovador destes concertos no suscitado pouca atenção dos The Boxer magistral) colam-se a acessos punk Wichita Recordings; distri. Nuevos “The new rules”, uma melodia de contexto da época do que uma intérpretes. Filho de José Blasco de inesperados (uma versão Ramones Medios voz que nos leva a questionar se postura interventiva portadora de Nebra (1702-1768), figura bastante da banda em “Month of May”), a “Everything you wanted” não será uma leitura demasiado pessoal ou mais conhecida da história da discretas pinceladas synth-pop mmmnn remistura de canção antiga dos Bloc enfática das partituras. música espanhola, Manuel Blasco de (“Half light II”), a baladas de charme Party e, no geral, aquela constante Till Felner dá-nos uma visão Nebra nasceu em Sevilha, onde viria com tempero mexicano Os Bloc Party não sensação de culpa e a súplica por maturada e refinada das obras, toca a exercer o cargo de organista da (conseguimos imaginar Chris Isaak a acabaram e o seu uma redenção que o futuro há-de as secções virtuosísticas com grande Catedral, tocando “con finura, cantar “Suburban war” e isto é um estado é trazer não só para ele, mas para toda agilidade e nitidez (mas sem valentía y expresión”, segundo os elogio) ou, mesmo no final, a uma estacionário. Mas a sua geração. exibicionismos supérfluos) e possui relatos da época. Sabe-se que terá desavergonhada investida por entretanto Kele Na primeira metade do álbum, o uma ampla paleta dinâmica. A sua sido autor de 127 composições, mas terrenos electro-pop, como se os Okereke mudou-se novo Kele surge revigorado interpretação é expressiva e actualmente conhecem-se apenas New Order se fundissem com os para Berlim e aproveitou a criativamente. Na segunda, ouvimos meticulosa, mesmo se nalguns cerca de três dezenas: 24 Sonatas Blondie (“Sprawl II”, cantado por efervescente cena electrónica da uma versão dos Bloc Party em momentos (como o extraordinário agrupadas em três cadernos e seis Régine Chassagne). Note-se que cidade para dar o passo que electrónica ambiental e damos de “Adagio, un poco moto” do Concerto Pastorelas localizadas no Mosteiro nenhuma delas é individualmente prenunciara em “Intimacy”, o caras com o velho Kele, que se nº5) não atinge a dimensão sublime de Montserrat. uma má canção, mas várias parecem terceiro álbum da banda inglesa. compraz com os seus fantasmas e de outras versões da discografia. Blasco de Nebra conviveu de perto deslocadas neste contexto. “The Boxer”, o seu primeiro álbum a nos aborrece com a sua exasperante Kent Nagano dirige uma orquestra com a música de Domenico Scarlatti Os Arcade Fire não perderamperderam o solosolo,, põe de lado guitarras e baterias ddemanda por beatitude. que se mostra em óptima forma e e Antonio Soler e com os seus “toque”, mas falta a este disco o e entrega-seentrega-se a neurose dubstep,dubstep, a que revela um grande equilíbrio modelos da sonata bipartida, mmomentumomentum dede “Funeral”,“Funeral”, a hhouseouse ddee pianinpianinhoshos saísaídosdos ddaa entre os naipes. Esta responde bem reflectindo parte dessa herança na ememotividadeotividade de “Ne“Neonon ddécadaécada de 9900 ouou a ClássicaC ao diálogo com o pianista, mas podia sua obra em conjunto com traços do Bible” e a concisão queque melancolias “folktrónica”.“folktrónica”. ir mais longe na exploração das estilo galante e do classicismo aambosmbos mostravam.mostravam. A primeira impressimpressãoão nuances de colorido. Num plano emergente. As suas Sonatas contêm MusicaMusicalmente,lmente, “The“The é que KeKelele popodiadia O Beethoven global, as interpretações revestem-se dois andamentos (normalmente um SuSuburbs”burbs” é mais conjuntoconjunto deddeixarixar ddee vez ooss de um elevado nível artístico, mas Adagio de grande inspiração ddee cancançõesções do que álbum. esgotados Bloc Party. apolíneoa de situam a fulgurante música de melódica e um Allegro com Fragmentado e de “Walk tall”tall”,, a Beethoven num plano mais apolíneo figurações mais virtuosísticas), iinspiraçãonspiração variável. pprimeirarimeira canção,canção, tem TillT Felner do que dionisíaco. enquanto as Pastorelas se iniciam um ritmo diabólico,diabólico, igualmente com um andamento tonitruante, lento (destacando-se o belíssimo Kele Okereke: numa e OOkerekekereke erguendo-seerguendo-se OsO dois mais famosos Descobertas Adagio da nº6) e terminam com um primeira metade sosobrebre osos detritosdetritos ConcertosC para Piano de da música de tecla gracioso Minueto. A interpretação criativamente industriaisindustriais sintetizadossintetizados de Javier Perianes é elegante e revigorado; na outra, como instigadorinstigador ddee mumultidões.ltidões. BeethovenB na interpretação ibérica polida, sendo servida por uma exasperante Pouco depois,depois, “Tenderoni”“Tenderoni” depuradad de Till Felner. “toucher” cristalina e percorrida por cruzacrc uza electroelectro para CristinaC Fernandes Blasco de Nebra um tom contemplativo, extensivo à pezinhopezinho de maior parte dos andamentos Sonatas para Piano dança rápidos. Estes últimos necessitavam LudwigL van Beethoven Javier Perianes (piano) etilizadaetilizada de maior variedade de articulações e CConcertos para Piano nºs 4 e 5 Harmonia Mundi comcom por vezes de mais velocidade e TTill Felner (piano) umu vivacidade. Perianes parece ter OOrquestra Sinfónica de Montreal mmmnn optadooptado pporor rearealçarlçar o lado popoéticoético KKent Naganoano (di(direcção)recção) EECM New SeriesSeries O jjovemovem pianista dasdas obras e o qqueue nelas pparecearece eespanholspanhol Javier anunciaranunciar o Romantismo,Romantismo, deixando mmmmnm mn PerPerianesianes nana sombra as reminiscências ddá-á- barrocas.barrocas. ToTodavia,davia, estas teriam a A interpretainterpretaçãoção ddosos ganharganhar com uma abordagemabordagem mais CConcertosoncertos parapara contrastantecontrastante ddosos diferentes idiidiomasomas PianoPiano e OrOrquestraquestra nonoss a musicais.musicais. Futuras interpretaçinterpretaçõesões em nºs 4 e 5,5, de ddescobrirescobrir instrumentosinstrumentos de éépocapoca (tanto ao BBeethoven,eethoven, por TillTill nnesteeste CDCD cravocravo como ao pianoforte)pianoforte) poderão FFelnerelner e pepelala uumm revelarrevelar outras ffacetasacetas destas pepeças,ças, refrãorefrão OOrquestraa Sinfónica de Montreal, conconjuntojunto de merecedorasmerecedoras de um lugar de incendiárioincendiário ssob a batutauta de Kent Nagano, seseisis destaquedestaque no repertóriorepertório ibérico (um(um Gary Numan ddistingue-se-se pela sua nobreza, pelo setecentista.setecentista. C.F. emem falsete)falsete) e eequilíbrioo classicistaclassicista e pelapela luminosaluminosa entusiasmamo-nos.eentusiasmamo-nos. cclareza dosos ddetalhesetalhes na execuexecuçãoção KeleKKele Okereke ficafica ppianística.a. Há uma notória definitivamenteded finitivamente ddiferençaa entre a execuexecuçãoção do melhormelhor sem a guitarra CConcerto nº 44,, mais líricolírico,, e o e a lamechice imimponentete e heróico Concerto existencialista.existencialista. nnº5, “Imperador”,perador”, tocatocadodo com AconteceAcontece que mmaior ververve e bbrilhantismo,rilhantismo, aquiloaquilo é o início, mmas a abordagemordagem que o não o fim. E à ppianista e a orquestraorquestra fazem de medidamedida queque “The aambas as obras pparecearece orientarorientar-- Boxer”Boxer” avança, sse mais emm torno ddaa bbuscausca ddaa ultrapassamosultrapassamos a pperfeição,, da polidez do som, melhormelhor cançãocanção dodo dda transparênciaarência ddaa textura e álbum,álbum, “The“The ddo controloolo da arquitecturaarquitectura otherother side” – mmusical ddoo qqueue assentar em ritmo quebrado,quebrado, ggrandes rasgosasgos dramáticos ou percussãopercussão nnos riscoss ddaa tropicaltropical e uma eespontaneidade.eidade. Os A interpretação é expressiva e meticulosa: Till Felner aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

“Black“Bla Swan”, de Darren ballet novaiorquino – AronofskyAro , abre a 67ª Portman é uma bailarina ediçãoedi do Festival de enredada numa intriga Venezaza VenezaV (de 1 a 11 de com a rival Kunis. Setembro).S Com Natalie Aronofsky foi o vencedor Portman,P Vincent do Leão de Ouro da CasselC e Mila Kunis, é anterior edição do festival, um “thriller” psicológico com “The Wrestler”, com passadopa no mundo do Mickey Rourke (na foto).

Estreiam A grande evasão A Pixar não brinca em serviço

O melhor e mais elaborado produto Pixar. Mário Jorge Torres

Toy Story 3 + Dia e Noite Toy Story 3 De Lee Unkrich, com Tom Hanks (Voz), Tim Allen (Voz), Joan Cusack (Voz), Michael Keaton (Voz). M/6 MMMMn

Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h45, 21h45 (V.Port.) Sábado Domingo 15h45, 18h30, 21h45 (V.Port.); Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h, 21h10 (V.Port.) 6ª 15h40, 18h, 21h10, 23h40 (V.Port.) Sábado 12h50, 23h45 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Torres Vedras: Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 10h45, 13h10, 16h10, 19h O ponto de partida é simples e 15h40, 18h, 21h10, 23h40 (V.Port.) Domingo 12h50, 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h35, 21h10, (V.Port./3D), 21h50, 00h30; ZON Lusomundo Parque eficaz: Andy cresceu (acontece até na 15h40, 18h, 21h10 (V.Port.); Castello Lopes - Cascais 23h50 (V.Port./3D) Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h35, Nascente: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h, 15h30, Villa: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h, 21h10 6ª 21h10, 23h50 (V.Port./3D); Auditório Charlot: Sala 1: 18h20, 21h10, 24h (V.Port./3D) Domingo 10h30, 13h, animação, imagine-se), vai entrar na 15h40, 18h, 21h10, 23h40 Sábado 12h50, 15h40, 18h, 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 21h30 (V.Port.) Sábado Domingo 15h30, 18h20, 21h10, 24h (V.Port./3D); Castello Lopes Faculdade e deixa para trás os 21h10, 23h40 Domingo 12h50, 15h40, 18h, 16h, 21h30 (V.Port.); Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala - 8ª Avenida: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10,

Cinema brinquedos da infância, escolhendo 21h10; Castello Lopes - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h30, 18h, 21h10 15h40, 18h40, 21h30 (V.Port./3D) 6ª Sábado 13h10, 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h45 (V.Port./3D) 6ª (V.Port./3D) 6ª Sábado 13h10, 15h30, 18h, 21h10, 15h40, 18h40, 21h30, 23h50 (V.Port./3D); ZON apenas levar consigo, como mascote, Cineclubes para mais Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h45, 24h (V. 23h50 (V.Port./3D); Castello Lopes - Fórum Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, o “cow-boy” Woody. Por um informações consultar www.fpcc.pt Port./3D); Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 5: Barreiro: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h30, 15h10, 18h50, 21h40 (V.Port./3D) 6ª Sábado 13h10, 16h, equívoco engenhosamente imbricado 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h40, 21h40 (V.Port./3D) 6ª Sábado 12h30, 15h10, 18h50, 21h40, 00h30 (V.Port./3D) Domingo 10h40, 18h50, 21h25, 23h50 (V.Port./3D); CinemaCity Alegro 18h40, 21h40, 24h (V.Port./3D); Castello Lopes - Rio 13h10, 16h, 18h50, 21h40 (V.Port./3D); ZON na acção o saco que se destinava ao Parque S. Lourenço Alfragide: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Sul Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª sótão das recordações (na boa linha Abrantes 15h30, 17h50 (V.Port./3D); CinemaCity Alegro 4ª 13h20, 15h45, 18h10, 21h30, 24h (V.Port./3D); UCI 13h45, 16h25, 19h05, 21h45, 00h25 (V.Port./3D) do imaginário americano, todas as Mostra de Cinema ao Livre Alfragide: Cinemax: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h15, Freeport: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h, 21h15 (V. Domingo 11h10, 13h45, 16h25, 19h05, 21h45, 00h25 Port./3D) 6ª 15h40, 18h, 21h15, 23h35 (V.Port./3D) (V.Port./3D); casas têm esse local de reserva Ver www.espalhafitas.org 18h30, 21h30, 23h50 (V.Port./3D) Sábado Domingo 11h30, 14h, 16h15, 18h30, 21h30, 23h50 (V. Sábado 13h30, 15h40, 18h, 21h15, 23h35 (V.Port./3D) sentimental) acaba como doação Port./3D); CinemaCity Beloura Shopping: Sala 2: 5ª Domingo 13h30, 15h40, 18h, 21h15 (V.Port./3D); ZON Quinze anos depois do início da série, num infantário para crianças de Parque Catarina 6ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h15, 18h30, 21h30, 23h50 Sábado Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª Eufémia Domingo 11h30, 14h, 16h15, 18h30, 21h30, 4ª 13h20, 16h, 18h25, 21h15, 23h30 (V.Port./3D) onze depois da primeira sequela e diferentes idades, convenientemente Barreiro 23h50; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Domingo 11h, 13h20, 16h, 18h25, 21h15, 23h30 (V. após uma bem sucedida operação de divididas em escalões etários: os mais Touros: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Port./3D); ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª “marketing” que consistiu em velhos tratam os brinquedos com Duelo Ao Sol 14h05, 16h30, 18h40, 21h20, 00h15; CinemaCity Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h15, 21h15, De King Vidor, 1946, M/12 Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 4: 5ª 6ª 2ª 24h; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado relançar em sala os dois primeiros carinho; os mais miúdos espatifam- 30/07, 21:30h 3ª 4ª 13h45, 16h, 18h15, 21h30, 23h50 (V.Port./3D) 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h40, 21h20, 23h50 (V. filmes, refeitos no formato da moda, nos e usam-nos de forma selvática. Sábado Domingo 11h30, 13h45, 16h, 18h15, 21h30, Port./3D) Domingo 11h, 13h30, 16h10, 18h40, 21h20, o 3D (que pouco lhes acrescenta, E é aqui que tudo começa a ganhar 23h50 (V.Port./3D); Medeia Fonte Nova: Sala 3: 5ª 23h50 (V.Port./3D); Cinema Paraíso 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h30, 19h, diga-se), eis “Toy Story 3”, este sim uma dimensão fantasmagórica: Praça 9 Abril, Famalicão Porto: Arrábida 20: Sala 15: 5ª 6ª Sábado Domingo 21h30 (V.Port.); Medeia Monumental: Sala 4 - Cine 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h20, 18h50, 21h20, 24h (V. concebido de raiz para o relevo recebidos por um urso coxo e Invictus Teatro: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, Port./3D); Arrábida 20: Sala 20: 5ª 6ª Sábado aparatoso, mas inútil, das três maléfico, vítima de uma rejeição e 16h40, 19h, 21h30, 24h (3D); Medeia Saldanha De Clint Eastwood, 30/07, 22:00h Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h35, 00h10 (V. Residence: Sala 7: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª dimensões, em que as cores vibrantes substituição traumática por parte da Port./3D); Cinemax - Cinema da Praça : Sala 1: 5ª 2ª Shine A Light 14h20, 16h50, 19h20, 21h50, 00h15; UCI Cinemas - El 3ª 4ª 15h30, 21h45 (V.Port./3D) 6ª 15h30, 21h45, do original se perdem um pouco num sua dona, comandando um exército De Martin Scorsese, 2008, M/12 Corte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h05, 23h55 (V.Port./3D) Sábado 15h, 17h30, 21h45, 23h55 desbotado efeito de embaciamento. de bonecos, aparentemente 31/07, 22:00h 16h20, 18h40 (V.Port./3D), 21h40, 00h05 (3D) (V.Port./3D) Domingo 15h, 17h30, 21h45 (V. Domingo 11h30, 14h05, 16h20, 18h40 (V.Port./3D), Porém, a Pixar não brinca em simpáticos, os brinquedos de Andy Port./3D); Cinemax - Penafiel: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª 21h40, 00h05 (3D); UCI Cinemas - El Corte Fábrica da Cerveja 15h30, 21h45 (V.Port.) 6ª 15h30, 21h45, 23h55 (V. serviço e atinge, porventura, com vêm-se sujeitos a violenta tortura Inglés: Sala 12: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h35, Faro Port.) Sábado 15h, 17h30, 21h45, 23h55 (V.Port.) esta revisita ao mundo encantado de “psicológica” e são encerrados em 19h (V.Orig./3D), 21h15, 23h40 (V.Port./3D) Domingo Domingo 15h, 17h30, 21h45 (V.Port.); Cinemax - Mostra de Cinema ao Ar Livre 11h30, 14h15, 16h35, 19h (V.Orig./3D), 21h15, 23h40 (V. Andy e dos seus brinquedos favoritos caixas com grades, como se se Penafiel: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 17h30, 21h50 6ª 17h30, De 30/07 08/08 às 22h Port./3D); UCI Dolce Vita Tejo: Sala 8: 5ª Domingo Ver www.cineclubefaro.blogspot.com/ 21h50, 24h Sábado 17h30, 21h50, 24h Domingo (alguns perderam-se pelo caminho, tratasse de um campo de 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45, 19h15, 21h45 6ª Sábado 14h15, 17h30, 21h50; Nun`Álvares: Sala 1: 5ª 6ª Sábado permanecendo apenas o núcleo concentração, a que não falta um 16h45, 19h15, 21h45, 00h15; UCI Dolce Vita Tejo: Sala Domingo 2ª 3ª 4ª 16h30, 19h, 21h30 (V. 2: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h10, 18h35, 21h15 (V. duro), que se animam e ganham vida sinistro vigia. Este lado negro desloca Cinema Verde Viana Port./3D); Vivacine - Maia: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Praça 1º de Maio, Centro Comercial - Viana do Port./3D) 6ª Sábado 13h45, 16h10, 18h35, 21h15, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50, 18h30, 21h30, na ausência do dono (velha receita a acção de simples divertimento para Castelo 23h40 (V.Port./3D) Domingo 11h30, 13h45, 16h10, 00h05; Vivacine - Maia: Sala 1: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª infalível pelo menos desde os tempos uma sádica exploração dos terrores 18h35, 21h15 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Alvaláxia: Polícia Sem Lei 4ª 13h30, 16h, 18h40, 21h20, 23h55 (V.Port./3D) 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30, 21h20, 23h45 de Hans Christian Andersen, infantis, não sem que tenhamos De Werner Herzog, 2009, M/16 Domingo 11h10, 13h30, 16h, 18h40, 21h20, 23h55 (V.Port./3D) Sábado Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h30, (V.Port./3D); ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª passando pelo mais que centenário direito a dois prodigiosos “alívios 05/08, 21:45h 21h20, 23h45 (V.Port./3D); ZON Lusomundo 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h40, 21h30, 24h bailado “natalício” do “Quebra- cómicos”: a anoréxica Barbie Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª (V.Port./3D) Domingo 10h50, 13h30, 16h, 18h40, 13h50, 16h40, 19h10, 21h50, 00h15; ZON Lusomundo Nozes”), o melhor e o mais elaborado encontra o seu Ken, mais “gay” do 21h30, 24h (V.Port./3D); ZON Lusomundo Ferrara CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h20, Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 21h50 6ª Sábado de todos os seus produtos. Ao seu que nunca, com a respectiva casa de 16h, 18h40, 21h30, 00h15 (V.Port./3D) Domingo 11h, 21h50, 00h20; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª lado, as aventuras do ogre Shrek e a bonecas a capricho, sucedendo-se os 13h20, 16h, 18h40, 21h30, 00h15 (V.Port./3D); ZON série ípsilon II 2ª 3ª 4ª 15h10, 17h50, 21h10 (V.Port./3D) 6ª Sábado Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª maior parte das animações episódios irrisórios, com o absoluto 15h10, 17h50, 21h10, 24h (V.Port./3D) Domingo 11h, Sexta-feira, 3ª 4ª 13h30, 16h05, 18h50, 21h25, 00h15; ZON 15h10, 17h50, 21h10 (V.Port./3D); ZON Lusomundo contemporâneas fazem figura de auge na tortura deste pela ameaça da Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª dia 6 de Agosto,o, GaiaShopping: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h40, 18h10, meros exercícios de técnica destruição sistemática do seu 13h25, 16h, 18h35 (V.Port./3D), 21h10, 23h45 Domingo o DVD 21h20 (V.Port./3D) 6ª 13h10, 15h40, 18h10, 21h20, 11h, 13h25, 16h, 18h35 (V.Port./3D), 21h10, 23h45; ZON virtuosística e de acanhados grotesco guarda-roupa (veste e despe 23h50 (V.Port./3D) Sábado 10h45, 13h10, 15h40, “Os Sonhadores”,s”, Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª 6ª Sábado 2ª 18h10, 21h20, 23h50 (V.Port./3D) Domingo 10h45, artefactos para estrito consumo fatos sem conta para se exibir à sua 3ª 4ª 15h20, 17h40, 19h50, 22h, 00h20 (V.Port./3D) de Bernardo 13h10, 15h40, 18h10, 21h20 (V.Port./3D); ZON infantil, o que não passa por “amada”), nomeadamente o exótico Domingo 11h, 15h20, 17h40, 19h50, 22h, 00h20 Lusomundo MaiaShopping: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h35, Bertolucci (V.Port./3D); ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª desmerecer da sua execução (e casaco Nehru, quase em tons de 16h20, 19h10, 22h (V.Port./3D) 6ª Sábado 13h35, 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h40, 18h15, 21h15 (V.Port./3D) 6ª 16h20, 19h10, 22h, 00h40 (V.Port./3D) Domingo 11h, função), mas por enaltecer o paródia da comédia musical; a fim de 13h15, 15h40, 18h15, 21h15, 23h40 (V.Port./3D) Sábado +8 DVD 13h35, 16h20, 19h10, 22h (V.Port./3D); ZON excepcional trabalho de argumento e neutralizar as suas capacidades 11h, 13h15, 15h40, 18h15, 21h15, 23h40 (V.Port./3D) Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª Todas as sextas,xtas Domingo 11h, 13h15, 15h40, 18h15, 21h15 (V. de memória fílmica plasmada, na heróicas, os bonecos carcereiros 13h40, 16h10, 18h50, 21h30, 00h10 (V.Port./3D) Port./3D); ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Domingo 11h, 13h40, 16h10, 18h50, 21h30, 00h10 perfeição, em peripécias sabiamente reprogramam Buzz Lightyear (o por €1,95. 20anos Sábado 2ª 3ª 4ª 13h25, 16h, 18h40, 21h05, 23h45 (V. (V.Port./3D); ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª encadeadas, em “Toy Story”. herói espacial, que deixa de Port./3D) Domingo 10h50, 13h25, 16h, 18h40, 21h05,

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 43 Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Dia e Noite mmnnn nnnnn mnnnn mnnnn Escritor-Fantasma mmmmn mmmnn mmmmm nnnnn Canino mmmnn mmmnn nnnnn nnnnn Contraluz nnnnn A mnnnn nnnnn

Cinema É Muito Rock, Meu! mmnnn nnnnn mmnnn nnnnn Origem mmmmn mnnnn nnnnn nnnnn Shrek Para Sempre! mmmnn nnnnn mmnnn nnnnn Toy Story 3 mmmmm nnnnn mmmmn nnnnn Vão-me buscar alecrim mnnnn mmmmn mmnnn mmmmm Whisky mmmnn mmmnn mmmnn nnnnn

reconhecer os amigos) e, a certa Os gregos têm queda para alegorias, brinquedo: o “medo permanente” descobrir o mundo maravilhoso das altura, opera-se uma alteração como bem sabemos. E “Canino”, que é instilado aos miúdos tem palavras feias. Está uns bons furos inesperada para o modo vocal em não sendo o mais platónico filme do pontos de contacto evidentes com o abaixo de “Um Belo Par de Patins”, espanhol mexicano, tornando-o mundo, é dos mais cavernícolas que quotidiano do mundo ocidental pós- mas tem “filme de culto” estampado numa hilariante caricatura de um vimos nos últimos tempos. 11 de Setembro, lá fora o caos e por tudo quanto é sítio – e vai criar galã de “western” de fronteira, a Felizmente, Giorgos Lanthimos filma “breaking news” sempre que alguém um pequeno exército de rimar, aliás, com a artificiosa curta mais a caverna do que a alegoria – e encontra um sapato desirmanado ferrenhos. J. M. inicial, espécie de sonho o seu registo muito “matter of fact”, num aeroporto qualquer. A alegoria premonitório dos horrores por vir. muito directo, às vezes muito seco, do paternalismo do poder político Tecnicamente e do ponto de vista impede que “Canino” se deixe – e do seu reverso, a infantilização Continuam imagético, o auge deste arremedo de invadir pelo peso retórico e dos súbditos – expande-se por aqui. escape da prisão, porventura demonstrativo que frequentemente Lanthimos filma os gestos e os sinais O Escritor-Fantasma moldado em fitas de guerra, como se encontra nos filmes de Michael que compõem este “regime”, com The Ghost Writer “A Grande Evasão” ( John Sturges, Haneke (a quem imaginamos um sentido de humor certeiro: uma Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30, De Roman Polanski, 1963), atinge-se durante a cena da facilmente a filmar uma história canção de Frank Sinatra (“Fly me to 21h45, 00h20; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h55, 18h45, com Ewan McGregor, Jon Bernthal, incineração do lixo, a que os nossos parecida, e é outro adepto do tipo de the moon”) ouvida em família com o 21h40, 00h20; ZON Lusomundo Parque Nascente: Kim Cattrall, Pierce Brosnan, Olivia heróis escapam miraculosamente, a “negrume civilizacional” que pai a fazer “tradução simultânea” (e 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h10, Williams. M/12 recordar também as aventuras mais “Canino” explora). na versão traduzida, Sinatra diz “que 18h40, 21h40, 00h20; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h40, sofisticadas (e pós-modernas) de A situação é simples, mas não se porta bem” e, por isso, “o pai 21h30 6ª Sábado 13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h25; MMMMn Indiana Jones. Por tudo isto fica imediatamente perceptível. gosta dele”). claro que “Toy Story 3” possui vários Começamos, aliás, por uma cena em Mas filma, sobretudo, a sua A conjugação do idiótico título Lisboa: CinemaCity Campo Pequeno Praça de níveis de leitura, não se esgotando tom de poesia absurdista: três decomposição, o avançar do caos. português e do cartaz chegam e Touros: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 16h35, 19h15, 21h55, 00h30; Medeia King: Sala 3: 5ª no seu imediato público-alvo, antes miúdos, ou enfim, três jovens As brechas que se abrem na relação sobram aos mais desatentos para Domingo 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h 6ª Sábado 2ª piscando o olho a uma cinefilia adultos (um rapaz e duas raparigas), dos miúdos com o “regime” – e que arquivar “É Muito Rock, Meu!” na 14h30, 17h, 19h30, 22h, 00h30; Medeia Saldanha inteligente e bem arquitectada. num ambiente muito branco, ouvem se abrem pelo desejo (o sexo, que gaveta das comédias boçais Residence: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h45, 17h10, 19h35, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El Aliás, a dúvida persistente que uma espécie de “dicionário gravado” começa por ser “organizado” e descartáveis destinadas a tapar Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, fica, depois do imenso prazer que para cada palavra propõe uma convencional, e se vai tornando buracos nas programações das salas. 16h35, 19h15, 21h55, 00h30 Domingo 11h30, 14h, reservado aos adultos, é a da sua definição errónea mas, nalguns “desregulado”), pela curiosidade (de Mas vale a pena escavar mais, porque 16h35, 19h15, 21h55, 00h30; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, adequação ao imaginário infantil, casos, estranhamente bonita – ver o que está lá fora), pela vontade esta é uma espécie de “sequela 16h05, 18h50, 21h40, 00h25; ZON Lusomundo apesar da chantagem emocional ficamos assim a saber que naquele (de serem adultos), pela dúvida (de lateral” a uma das comédias mais Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª operada pelo lacrimejante final feliz, universo uma carabina é “um belo que as palavras não significam de injustiçadas dos últimos anos, “Um 12h50, 15h30, 18h10, 20h50, 23h30; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 4ª 12h50, com o beneplácito de Andy: os pássaro branco” (assim como, mais facto o que o lhes dizem). Toda a Belo Par de Patins” (2008). Nicholas 15h45, 18h40, 21h35, 00h25 3ª 12h50, 15h45, 18h40, brinquedos ficam todos juntos e tarde no filme, daquilo que a força da sua descontrolada Stoller, realizador de ambos mas aqui 00h25; ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª encontram uma nova (amorosa) legendagem escolheu traduzir por humanidade virada contra a também argumentista, puxa para Domingo 2ª 3ª 4ª 21h 6ª Sábado 21h, 24h; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo criança para brincarem. No entanto, “pachacha” será proposto como educação e os condicionamentos: a primeiro plano uma personagem 2ª 3ª 4ª 15h55, 21h30; ZON Lusomundo Almada quando pensamos nos horrores entendimento que se trata de uma Grécia anda tensa, como também secundária do antecessor, o astro Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, infligidos, durante séculos, à “luz”). O que se passa, na verdade, é sabemos. rock Aldous Snow, arquétipo “sex, 16h, 18h50, 21h40, 00h20; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, pequenada, desde os irmãos Grimm que um pequeno industrial grego drugs & rock’n’roll” que anda pelas 15h55, 18h40, 21h20, 00h05; até aos sinistros desenhos animados (sobre cuja saúde mental nunca ruas da amargura e cuja reabilitação É Muito Rock, Meu! Porto: Arrábida 20: Sala 10: 5ª 6ª Sábado Domingo da Disney dos tempos áureos (ai, seremos elucidados – tudo é mesmo Get Him to the Greek passa por um concerto de regresso à 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h25, 19h15, 22h05, 00h45; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo aquela ameaçadora floresta de “matter of fact”) decidiu criar e De Nicholas Stoller, sala onde a sua carreira disparou (o árvores com olhos, na “Branca de manter os seus três filhos numa Greek Theatre referenciado no título 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h30, 18h20, 21h20, 00h20; ZON com Jonah Hill, Russell Brand, Rose Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo Neve e os Sete Anões”, dos nossos “caverna” protegida do exterior. A Byrne. M/16 original). O filme, então, é a odisseia 2ª 3ª 4ª 21h, 23h55; ZON Lusomundo Marshopping: pesadelos de criança!), muitas caverna é a casa familiar, e o exterior de Snow e do júnior da editora 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 13h20, 16h, 19h, 21h50, 00h35 4ª 13h20, 16h, 19h, 00h35; ZON Lusomundo dessas interrogações têm tendência é o mal absoluto, o perigo constante, MMnnn enviado para lhe servir de Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª a dissipar-se: o medo faz parte do a ameaça total. Um mundo de ficção, “babysitter” durante os três dias que 22h20; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo crescimento necessário a todo o ser ritualizado e codificado como um Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 3: 5ª 6ª faltam para o concerto, e sente-se 2ª 3ª 4ª 14h50, 17h50, 21h10 6ª Sábado 14h50, 17h50, humano. E, depois, será que existe universo mítico (é aqui que entram Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h20, 21h45, 00h15 que terá passado pela cabeça de 21h10, 00h10; Domingo 11h30, 14h20, 16h50, 19h20, 21h45, mesmo ficção infantil? as abundantes referências aos 00h15; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Stoller fazer uma “resposta” roqueira Seria pena que todos os “caninos”, sejam eles dentes ou, de Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h40, 19h05, 21h50, ao êxito-sensação de 2009 que foi “A desaguisados judiciais que têm facto, canídeos). 00h15; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Ressaca”. O resultado, no entanto, perseguido Roman Polanski nos Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h30, 18h50, 21h20, Cavernícolas Lanthimos descreve este “mundo” 23h45; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado nunca se consegue equilibrar na últimos meses desviassem a atenção – espaço concentracionário, espaço Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h25, 21h20, corda muito bamba em que se quer daquilo que é realmente importante totalitário – a partir das ficções que o 00h05; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª pôr de pé: bom enquanto comédia no mais recente filme do cineasta Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h50, Giorgios Lanthimos filma sustentam e das acções que lhe 21h30, 00h10; do desconforto à volta da polaco: um notável exercício na garantem a ordem. A presença dos inadequação, da fachada e da mecânica do cinema de género, os gestos e os sinais que Porto: Arrábida 20: Sala 13: 5ª 6ª Sábado aviões é conspícua, sejam os que Domingo 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h45, 19h25, 22h05, percepção; irresistível enquanto “thriller” de factura superior sobre compõem um regime cruzam os céus, sejam os aviões de 00h45; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª desvairo quase-absurdista que leva um escritor (EwanEwan McGregor familiar concentracionário aos limites a mitologia decadente do em grande formaorma como há num registo seco que evita rock’n’roll; certeiro mas banal muito não o vívíamos)amos) enquanto sátira do negócio da apanhado numum caso que a retórica demonstrativa música; insuficiente enquanto o transcende,e, onondede se de Michael Haneke. Luís comédia romântica do re-casamento; sentem ecos ddosos Miguel Oliveira A casa familiar de “Canino” francamente pedestre enquanto “thrillers” liberaisberais é a caverna protegida “bromance” Apatowiano sobre de conspiraçãoão do exterior em que um Canino homens em busca do seu lugar no dos anos industrial grego mantém mundo. Stoller quer fazer 1970 ou dos Kynodontas os seus três fi lhos ao abrigo De Yorgos Lanthimos, malabarismo com demasiadas bolas mistérios do mal absoluto ao mesmo tempo sem o conseguir, clássicos com Christos Stergioglou, Michelle e da ameaça constante Valley, Aggeliki Papoulia, Christos complicado pelo funcionalismo de Passalis, Mary Tsoni, Anna amador da realização e da imagem. O Hitchcock. Kalaitzidou. M/18 que redime o filme e o torna digno de Polanski interesse, no entanto, é a energia sempre MMMnn inesgotável da sua dupla de actores, Jonah Hill e Russell Brand, e a aposta “O Escritor Fantasma” está Lisboa: Medeia King: Sala 1: 5ª Domingo 3ª 4ª num humor transgressoramente muito acima da 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45 6ª Sábado 2ª vulgar mas inofensivo na sua concorrência recente 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 21h45, 00h15; inocência de puto que acaba de

44 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

SophiaSophia LorLorene é convidada de honra ddoo sesegundogund Douro Film Harvest, que Home- decorre eme Lamego, Sabrosa, Vila nagem Real e FreixoFr de Espada à Cinta, de 5 a 1111 de Setembro. A actriz vaivai receber o CastaDouro CarreiraCa e vão ser exibidos algunsal dos seus fi lmes maism marcantes de uma carreirac de seis décadas.

Billy Wilder, realizador de “Testemunha de Acusação”

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 17h, 21h 6ª Sábado 13h20, anónimo “action movie” (muita 17h, 21h, 00h10; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª correria, muito tiroteio), cosendo 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h30, 15h20, 18h20, Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200 21h25, 00h30; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª tudo com uma intriga Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 17h40, 21h, 00h10 complicadíssima sobre Sexta, 30 Sábado, 31 ; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado “implantações” e “extracções” de Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 17h, 21h, 00h10; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª “ideias”. Dez anos a escrever o A Águia Voa ao Sol Testemunha de Acusação 12h50, 15h40, 18h30, 21h20 6ª Sábado 12h50, 15h40, argumento, diz Nolan, e mesmo The Wings of Eagles Witness for the Prosecution 18h30, 21h20, 00h10; Castello Lopes - Fórum assim, dizemos nós, “A Origem” tem De John Ford. Com Dan Dailey, John De Billy Wilder. Com Charles Barreiro: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h20, Wayne, Maureen O. 110 min. M12. Laughton, Merlene Dietrich, Tyrone 15h20, 18h20, 21h20 6ª Sábado 12h20, 15h20, 18h20, que pôr as personagens 15h30 - Sala Félix Ribeiro Power. 114 min. 21h20, 00h20; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala permanentemente a explicar o que 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h50, aconteceu na cena anterior e o que 15h30 - Sala Félix Ribeiro 18h50, 21h50; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala Carmen 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h20, vai acontecer na cena a seguir, como De Francesco Rosi. Com Faith Le Crime de Monsieur Lange 21h20, 00h20; UCI Freeport: Sala 5: 5ª Domingo 2ª se o filme tivesse integrado um PDF Esham, Julia Migenes-Johnson, De Jean Renoir. Com René Lefèvre, 3ª 4ª 15h20, 18h15, 21h20 6ª Sábado 15h20, 18h15, com o manual de instruções (há Placido Domingo, Ruggero Florelle, Jules Berry, Marcel 21h20, 00h10; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª Raimondi. 152 min. Lévesque. 90 min. 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 13h15, 15h50, alguns filmes de “fc” que funcionam 19h - Sala Félix Ribeiro 19h - Sala Félix Ribeiro soube pegar no cinema de género e 17h, 19h, 21h05, 22h10, 00h10; ZON Lusomundo assim, mas não se levam a sério um torná-lo seu sem nunca trair as Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª décimo do que “A Origem” se leva: Um Homem e o seu Destino La Dame Masquée 13h10, 16h50, 21h10, 00h15; coordenadas do género, e esta é uma longas explicações sobre “barreiras Requiem for a Heavyweight De Viatcheslav Tourjansky. Com Porto: Arrábida 20: Sala 16: 5ª 6ª Sábado Domingo De Ralph Nelson. Com Anthony Nathalie Kovanko, Nicolas Koline, demonstração virtuosa de domínio 2ª 3ª 4ª 15h15, 18h30, 21h40, 00h45; Arrábida anti-projecções” e afins, who formal e narrativa que se resume a 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h10, 17h25, cares?). Acaba com um piãozinho a Quinn, Jackie Gleason, Mickey Nicolas Rimsky. 106 min. uma única coisa: contar bem uma 21h15, 00h20 3ª 4ª 17h25, 21h15, 00h20; Cinemax - rodopiar, ao género dos cavalinhos Rooney. 95 min. 19h30 - Sala Luís de Pina Penafiel: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h35 6ª 15h30, 19h30 - Sala Luís de Pina boa história. É isso que ergue “O 21h35, 00h20 Sábado 15h, 17h50, 21h35, 00h20 brancos do “Blade Runner”, para A Grande Cidade Escritor Fantasma” muito acima da Domingo 15h, 17h50, 21h35; Vivacine - Maia: Sala 3: deixar o espectador a “pensar”. Ora, Agosto Mahanagar concorrência recente (ou mesmo 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 17h20, 21h, tomates. (Donnie Darko, por onde De Jorge Silva Melo. Com Christian De Satyajit Ray. Com Anil Chatterjee, muito antiga): é um filme que se 00h10; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª andas tu?). L.M.O. Patey, Isabel Ruth, Manuela de Madhabi Mukherjee, Jaya Bhaduri. Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 17h, 21h, Freitas., Marie Carré, Oliver 130 min. marimba no acessório e se concentra 00h10; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 18h10, 21h20 6ª Sábado 15h, 18h10, Cruveiller. 95 min. 22h - Sala Luís de Pina apenas naquilo que interessa Contraluz realmente. A quem sabe, nunca 21h20, 00h25; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 22h - Sala Luís de Pina 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h45, 18h40, Backlight O Predador Rocky IV The Predator esquece – e Polanski sabe muito. J. M. 21h40, 00h35; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª De Fernando Fragata, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 17h, 21h10 6ª Sábado De Sylvester Stallone. Com Sylvester De John MacTiernam. Com Arnold 13h40, 17h, 21h10, 00h30; ZON Lusomundo com Joaquim de Almeida, Scott Stallone, Talia Shire, Burt Young. 91 Schwarzenneger, Carl Weathers , A Origem Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Bailey, Evelina Pereira. M/12 min. Elpidia Carrillo. 107 min. Inception 14h10, 17h30, 21h20, 00h30; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Mnnnn 22h30 - Esplanada 22h30 - Esplanada De Christopher Nolan, 13h50, 17h10, 21h20, 00h40; ZON Lusomundo Parque com Leonardo DiCaprio, Marion Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, Lisboa: CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 4: 5ª 6ª Cotillard, Ellen Page, Tom Berenger, 17h20, 21h20, 00h25; Castello Lopes - 8ª planos “aéreos” e de habilidosa vê-lo por cá, quando esta longa Avenida: Sala 4: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 20h05, 22h10, mobilidade de câmara, para mostrar descartável dos irmãos Safdie chega Michael Caine, Tom Hardy, Joseph 00h15; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 1: 5ª 6ª 15h30, 18h20, 21h10 6ª Sábado 12h40, 15h30, 18h20, domínio técnico “industrial”. Algures às salas menos de seis meses depois Gordon-Levitt. M/12 21h10, 24h; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 23h55; ZON Lusomundo Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h20, 19h05, 21h50 6ª Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, entre a Ficção Científica e a análise da sua vitória. Já diz o ditado que Mnnnn Sábado 13h30, 16h20, 19h05, 21h50, 00h35; ZON 16h30, 19h20, 22h, 00h20; ZON Lusomundo comportamental de uma massa mais vale cair em graça do que ser Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 3ª 4ª 14h40, 18h, 21h20, 00h40; 16h20, 18h50, 21h30, 00h05; ZON Lusomundo humana abstracta, o filme não engraçado, e a verdade é que os Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª ofende ninguém, mas também não nova-iorquinos parecem ter caído 15h30, 21h30 Sábado Domingo 15h30, 18h15, Por razões que a “sociologia do 13h10, 15h50, 18h20, 21h50, 00h25; ZON Lusomundo chega a lado nenhum. M.J.T. em graça junto de alguma crítica e 21h30; Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 1: 5ª 2ª 3ª Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 4ª 15h20, 18h20, 21h20 6ª 15h20, 18h20, 21h20, espectador” um dia explicará, 15h25, 18h05, 21h05, 23h30; ZON Lusomundo público europeus. Nada de 00h20 Sábado 12h20, 15h20, 18h20, 21h20, 00h20 Odivelas Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Christopher Nolan tornou-se Vão-me buscar alecrim confusões: os Safdie têm de facto um Domingo 12h20, 15h20, 18h20, 21h20; Castello Lopes especialista em “rebentar com o 15h30, 21h50; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª olhar pessoal, atento às pessoas que - Londres: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15,15h45, 18h10, Go Get Some Rosemary 18h45, 21h30 6ª Sábado 13h15, 16h, 18h45, 21h30, tomatómetro do consenso de 21h20, 23h55; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª De Ben Safdie, Joshua Safdie, não se enquadram nas convenções 00h15; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h30, 18h10, massas”, como se escrevia outro dia com Ronald Bronstein, Sean Williams, exigidas pela sociedade, e um 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h25, 18h20, no “Village Voice” (e se o leitor não 21h40, 00h20; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª espírito de cineasta que anda a fazer 21h15, 00h15; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 7: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h20, 18h10, Eléonore Hendricks. M/12 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h30, 19h25, sabe o que é o “tomatómetro” 21h25, 23h45; falta em muitos contemporâneos, 23h; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 8: 5ª 6ª procure os Rotten Tomatoes na Porto: ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Mnnnn aprendido numa certa linhagem de Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 17h55, 21h30, Internet). Outro famigerado Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h15, 17h30, 19h45, cinema independente nova- 00h20; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 2: 5ª 6ª 22h, 00h15; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 23h55; CinemaCity “tomatómetro”, o Top 250 da IMDB, Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 10: 5ª 6ª iorquino. O problema, depois, é que Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h30, 17h50, Beloura Shopping: Cinemax: 5ª 6ª Sábado Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h20, 21h55, mete 3 filmes de Nolan nos 21h10, 24h; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª o lado “bricolado” deste cinema cai Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h20, 21h40, 00h20 Domingo 11h30, 14h20, 16h50, 19h20, 21h55, primeiros 30, e “A Origem” está em Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30 6ª Sábado 21h30, rapidamente no maneirismo vazio e 00h30; CinemaCity Campo Pequeno Praça de 00h20; 00h10; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Touros: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª terceiro... Pois sim. Um “filme sobre no equívoco fantasista, arriscando Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h50, 19h30, 00h10; CinemaCity Campo Pequeno Praça de sonhos”, anuncia-se, e a gente 22h10, 00h45; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª Ponto prévio: é inexplicável que, em confundir sinceridade com Touros: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª fantasia com um Cocteau americano 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h50, 18h10, sete anos de existência do petulância. Não é falta de talento 14h20, 17h10, 21h45; CinemaCity Campo Pequeno 22h10, 00h35; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Praça de TouroTouros: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª ou com um blockbuster surrealista. IndieLisboa, “Vão-me Buscar que desbarata “Vão-me Buscar Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h30, 19h10, 21h55 6ª 33ªª 4ª 1616h20,h20, 222h05; CinemaCity Classic O que há é um Christopher Nolan Sábado 13h20, 16h30, 19h10, 21h55, 00h35; Alecrim” seja o primeiro dos seus Alecrim”, é a sensação que não se Alvalade: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 14h20, 17h10, 21h30 6ª inglês, e surrealismo nem vê-lo – prémios máximosmáximos a sabesabee o que ffazerazer com esse 14h20,14h20, 17h10,17h10, 21h30,2 00h20 Sábado 11h30, 14h20, 1717h10,h10, 21h30,21h30, 00h200 Domingo 11h30, 14h20, 17h10, pobres devem ser os sonhos de A campanha de “marketing” do novo encontrarar o camincaminhoho ddasas talentotalel nto – o que é 21h30; Medeia Monumental: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Nolan, tão visualmente enfadonho é filme de Fernando Fragata insistia salas portuguesas.rtuguesas. aindaaia nda pior. DomingoDomingo 2ª 3ª3 4ª 13h30, 16h20, 19h10, 22h; Medeia o seu filme (que tem muito mais a que o cinema português chegara a Sobretudodo porque,porque, J.J M.M. Saldanha ResiResidence:d Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h113h10,0 16h, 18h50, 21h40, 00h30; UCI ver com “second lives” e “third Hollywood. Terá chegado, mas em 2009,9, o certame CinemasCinemas - El CorteCo Inglés: Sala 11: 5ª 6ª Sábado lives”, ou com uma existência “em pouco: preso a uma estrutura foi vencidoido ppeloelo Domingo 2ª 33ª 4ª 14h15, 17h15, 21h, 24h; UCI CinemasCinemas - ElEl CorteCo Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª rede”, plena de “zeitgeist”, a que se narrativa em mosaico que não esmagadordor 3ª3ª 4ª 15h15,15h15, 118h30,8 21h30, 00h25 Domingo 11h30, tenta atribuir alguma misteriosa domina, sem personagens bem conterrâneoâneo 15h15,15h15, 18h30,18h30, 21h30,2 00h25; UCI Dolce Vita Tejo: Sala “transcendência”, se a “sociologia definidas, embora bem americanono 9:9: 5ª DominDomingogo 2ª 3ª 4ª 15h, 18h15, 21h20 6ª Sábado 15h15h,, 118h15,8 21h20, 00h25; ZON Lusomundo do espectador” não se importar que intencionadas, “Contraluz” é um “Ballast”,”, de Lance Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, a gente vá avançando uns tópicos). avanço, por exemplo, em relação ao Hammerr - e atéaté 16h50,16h50, 18h2018h20,, 221h, 21h30, 24h, 00h30; ZON Avesso a qualquer noção de “estilo”, inane “O Pesadelo Cor-de-Rosa”. No hoje nemm Lusomundo AAmoreiras:m 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª3ª 4ª 14h,14h, 1717h30,h3 21h20, 00h20; ZON Lusomundo o filme avança de cenas entanto, tal avanço não passa pela CascaiShopping:Casc 5ª 6ª Sábado Domingo desinteressantes em cenas organização narrativa, confusa e 2ª2 3ª 4ª 12h40, 16h30, 21h10, 00h20; ZON Lusomundo Colombo: 5ª desinteressantes, banalmente dispersa, baseada em picos de 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª filmadas e montadas (a única ideia interesse não desenvolvidos, mas, 13h45, 17h30, 21h, 00h10; ZON “onírica” tem a ver com uma canção sobretudo, por uma espécie de Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, de Piaf, é a melhor ideia e é uma virtuosismo exibicionista com que se 18h30, 21h50; ZZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª ideia de som) como as de qualquer filma a paisagem, numa vertigem de Josh e Ben Safdie, realizadores de “Vão-me buscar alecrim”

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 45 “Penélope”, um dos trabalhos incluídos em “Menina Limpa, Menina Suja”, consiste numa colcha feita a partir da correspondência trocada entre os pais de Ana Vidigal durante a guerra colonial: uma vez mais, o arquivo biográfi co como matéria-prima da prática da artista

que é enviadaen a bienais e sempre sucede, a artista retirou do exposiçõesexposiç importantes no arquivo que é apenas seu a matéria- estrangeiro)estrang para se prima destas peças, onde, ao compreendercompr como a cor, o contrário do que sucede na pintura, objecto,object os detalhes a dor de uma falta – o vazio, a que se decorativos,decor as frases refere o título da última obra – é frequentementefrequ mais evidente. corrosivas,corro de duplo e Ana Vidigal está agora na plena triplotripl sentido, as imagens maturidade da sua obra, e esta vindasvind de revistas de exposição, que nos dá a moda,mo de livros da Anita, oportunidade de considerar as três dede literatura erudita ou décadas em que ela se desenvolveu, dede fotonovelas destoam é disso a melhor prova. da seriedade e da sobriedadeso tão masculinasm que nos Imagem habituámosh a ver por todo o llado. Estas inovaçãoinovação características eram já evidentes nas de uma técnicatécnica ttomaoma mmaioraior obras mais antantigasi da exposição, relevo. Falamos aapenaspenas de vindas da décadadéca de 80, em que a ausência iinovaçãonovação técnica, pois totododo o artistaartista combinavacombina a pintura com a conceito que subjaz à sua obraobra, acumulação de materiais diversos, desenvolvida já há três décadas, fruto de uma atitude de Arlindo Silva no quarto dos A vida como mantém-se: o de uma arqueologia coleccionadora de todo o tipo de fundos do espaço A Certain da identidade pessoal e social, feita vestígios do seu trabalho. Com o Lack of Coherence, no Porto. colecção com o recurso a todo o tipo de passar dos anos, essas acumulações documentos e objectos encontrados tornaram-se menos evidentes Óscar Faria e apropriados. Estes últimos, mesmo através da ocultação pela tinta ou Arlindo Silva Trinta anos de trabalho na quando aparentemente não pelo verniz. Apenas na “produção possuem valor artístico ou paralela” as encontrávamos Porto. A Certain Lack of Coherence. Rua dos retrospectiva de Ana Vidigal. Caldeireiros, 77. Tel.: 919272115/ 917910031. Até Luísa Soares de Oliveira comercial, são tratados como despidas de todo o artifício ou, dito 8/08. Sáb. das 16h às 19h30 (restantes dias por catalizadores de um conjunto de de outra forma, de toda a marcação). Menina Limpa, Menina Suja valores tradicionalmente atribuídos maquilhagem. Pintura. De Ana Vidigal. à mulher. Muitos estão relacionados Na exposição, há três peças pelo com aquilo a que se convencionou menos que exercem no visitante um mmmmm Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo chamar o “feminino”, ou seja, essa impacto particular. Uma delas é o Perdigão - Rua Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: 217823474. Até 26/09. 3ª a Dom. das 10h às 18h. espécie de molde feito de doçura, magnífico “Véu da Noiva”, feito há Há cerca de meio ano, Arlindo Silva Pintura. Instalação. Outros. apagamento, abnegação e domínio cerca de uma década em parceria (Figueira da Foz, 1974) revelou duas das prendas domésticas (com a com Ruth Rosengarten: uma pinturas na exposição “Mãe” (galeria mmmmm consequente desvalorização das instalação construída a partir do MCO, Porto). Nessa mostra havia prendas intelectuais, profissionais e vestido de noiva da mãe de Ana uma figura anunciada: a da filha do Como sucede sempre nas grandes científicas) que permitiam a Vidigal, a que se juntou uma cauda artista, adivinhada no retrato que exposições do Centro de Arte conservação do “status quo” social e feita de um pano de cena tomava como ponto de partida uma Moderna, a entrada do museu burguês. Ana Vidigal, nascida na encontrado no Funchal. Outra, fotografia da parturiente antes de apresenta uma síntese do que se transição das décadas de 50 e 60, “Penélope”, que esteve presente na dar à luz. Esse trabalho pode evocar pretende mostrar. No caso da grande quando estas e outras verdades exposição “Um oceano inteiro para – não só pelo tema, mas também retrospectiva da obra de Ana Vidigal, começavam a ser contestadas, acusa nadar” (Culturgest, 2000), consiste pelo comum azul que projecta o encontramos aqui obras muito no seu trabalho a contradição que numa colcha de cama onde estão destino de ambas as mulheres... – recentes, algumas das quais caracterizou, e caracteriza ainda, a cosidas as cartas enviadas entre os uma das obras seminais da história estiveram na Bienal de Sharjah sociedade em que vivemos: aquela pais durante a guerra colonial. A da arte, o fresco da “Madonna del Exposições (Emirados Árabes Unidos, 2009): que resulta da coexistência dos terceira, “Void”, recria o quarto de Parto”, terminado por Piero della peças construídas digitalmente pela antigos modelos e daqueles que se infância da pintora, ao mesmo Francesca em 1460. selecção de imagens oriundas das criram a partir da igualdade e da tempo que estabelece um paralelo A ausência dessa imagem, a da páginas de passatempos da emancipação da mulher. entre este e uma fotografia do figura por vir, podia fazer pensar imprensa. De cada uma destas A retrospectiva comissariada por quarto do pai na Guiné. Como que a pintura seguinte às reveladas imagens, de forte economia de traço Isabel Carlos está focada na e pendor caricatural, a artista extrai chamada produção paralela da um elemento decorativo que, artista, peças feitas por isolado e recontextualizado, altera o “assemblage” e colagem de significado original da imagem para materiais diversos que existiram um sentido que é próprio a toda a sempre no seu processo de trabalho, obra de Vidigal. O princípio é o mas que foram sendo menorizadas mesmo da colagem, que a artista pelo modo particular como a obra sempre associou à pintura; mas, de Vidigal se impôs no meio nestas peças recentes – de que a artístico: a partir do mercado e da grande “Bravura (não vaciles, põe-te divulgação na imprensa, em a andar)”, feita propositadamente detrimento da adopção para a exposição, é um dos melhores institucional. A quase totalidade das exemplos -, encontramos a síntese obras expostas provém de do processo técnico que sempre foi coleccionadores particulares, sendo Arlindo Silva levou o seu, prescindindo agora as únicas excepções a Fundação “The Wrong Guy”, voluntariamente de toda a Manuel de Brito, a Caixa Geral de a única pintura desta manipulação da matéria. Depósitos e o Museu Berardo. É que exposição, para “Menina Limpa, Menina Suja”, o de facto a obra de Ana Vidigal é o quarto dos fundos, título da exposição, é uma antologia marginal, no sentido mais literal da obrigando o espectador feita com rigor e consistência do palavra; e basta atentar naquilo que a aproximar-se deste trabalho de Ana Vidigal em que a constitui a arte oficial portuguesa (a retrato hiper-realista

46 • Sexta-feira 30 Julho 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

O graffi ti faz a sua estreia na Dama Afl ita, no Porto: “Vandal Jackpot”, de Tae Stylin’, inaugura amanhã

na última exposição seria a da filhalha ANUAL DE VÍDEO ARTE do artista. A melhor tradição AgendaAgenda justificaria essa escolha – lembremo- INTERNACIONAL DE LISBOA nos, por exemplo, de Gerhard Inauguram Richter, que pintou alguns retratos // 2ª EDIÇÃO dos seus descendentes (Betty, Moritz Vandal Jackpot e Ella). Contudo, as circunstâncias De Tae Stylin’. ditaram que a seguinte mostra Porto. Dama Aflita. R. da Picaria, 84. Tel.: 927203858. Até 15/08. 2ª a Sáb. das 15h às 19h. individual de Arlindo Silva tivesse Inaugura 31/7 às 17h. A VÍDEO ARTE ALEMÃ lugar no A Certain Lack of Graffiti. Coherence, um espaço Quatro VIDEOKUNST independente gerido pelos artistas De Sofia Areal, Manuel Casimiro, RECORD > AGAIN! Mauro Cerqueira e André Sousa, Jorge Martins, Nikias Skapinakis. facto que levou o pintor a optar por Alcobaça. Armazém das Artes. R. Eng. Duarte 40 JAHRE VIDEOKUNST.DE uma outra solução. Pacheco, 38. Tel.: 262595269. De 31/07 a 31/10. 2ª Convidado por André Sousa, a 6ª das 11h às 18h. Sáb. e Dom. das 14h às 17h. Pintura. Arlindo Silva decidiu retribuir o gesto do seu amigo apresentando The Greatness of Little KLAUS RINKE // HEIKE MUTTER // C. O. PAEFFGEN // ULRIKE Portugal nas salas de exposição uma única ROSENBACH & KLAUS VOM BRUCH // URSULA WEVERS // pintura em que o representa, Lisboa. Oceanário de Lisboa - Sala Luís Saldanha. Esplanada Dom Carlos I - Doca dos Olivais. Tel.: ULRICH RÜCKRIEM tomando como referência uma 218917002. De 31/07 a 14/08. 2ª a Dom. das 10h às fotografia tirada por si – o trabalho 20h. do artista é também uma história de Fotografia. amizades, que formam um retrato Continuam ESTAS OBRAS INTEGRAM A COLECÇÃO "RECORD > AGAIN! de uma comunidade. Essa obra 40 JAHRE VIDEOKUNST.DE", CONCEBIDA PELO ZKM KARLSRUHE confronta-se com as condições Donnerstag e Outros Desenhos adversas do lugar, como as variações de humidade e de temperatura: ela // DE 28 DE JULHO A 31 DE AGOSTO está fora de um ambiente protegido e, como tal, constitui um desafio para o pintor deixá-la correr o risco de se deteriorar. Intitulada “The Wrong Guy”, a pintura mostra André Sousa numa pose descontraída: as mãos desenham na cabeça um gesto que tanto pode ser entendido como a representação de uns chifres – à memória vem um trejeito semelhante protagonizado pelo antigo ministro da Economia, Manuel Pinho – ou de umas orelhas De Jorge Queiroz. – neste caso o envio é mais para a de Lisboa. Chiado 8 - Arte Contemporânea. L. do um animal, um coelho, por Chiado, 8 - Ed.o Sede da Mundial-Confiança. Tel.: exemplo, que até podia ser o de 213237335. Até 17/09. 2ª a 6ª das 12h às 20h. “Alice no País das Maravilhas”, Desenho, Outros. sempre atrasado para alguma coisa. Ver texto na pág. 32. O rapaz errado é ainda o próprio WARHOL TV pintor, que sente aquele lugar como De Andy Warhol. um desafio, levando, por isso, a Lisboa. Museu Colecção Berardo. Pç. do Império - pintura para o quarto dos fundos, CCB. Tel.: 213612878. Até 17/10. Sáb. das 10h às obrigando o espectador a 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h. Fotografia, Pintura, Vídeo, Som, aproximar-se de uma pintura a óleo, Outros. hiper-realista, de modo a sentir o detalhe das formas, a precisão das Grazia Toderi // MORADA // HORÁRIO cores – sobretudo a intensidade do Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, Praça Marquês de Pombal 210. Tel.: 226156500. Até 31/10. 3ª a 6ª das 10h às Segunda a Sexta vermelho da “t-shirt” –, o 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 20h. nº3, 1250-161 Lisboa das 9h às 21h encantamento da arte. E há ainda a Desenho, Fotografia, Vídeo. distância entre a pose e o olhar de // TELEFONE // EMAIL Quando os Convidados se 21 359 73 58 [email protected] André Sousa, os quais parecem viver Tornam Anfi trião em tempos distintos, uma sugestiva De WochenKlausur, Supersudaca, ambiguidade servida para fascínio Freee. do público. Entre a focagem e a Porto. Culturgest. Av. dos Aliados, 104 - Ed. da desfocagem, a figura retratada é CGD. Tel.: 222098116. Até 15/10. 2ª a Sáb. das 10h às 18h (última admissão às 17h45). // CO-PRODUÇÃO colocada no limiar de dois mundos: Instalação, Outros. // PATROCÍNIO presente diante de nós, ela é também a imagem de uma ausência, POVOpeople de uma memória – e note-se que o De Almada Negreiros, Noé Sendas, Eduardo Nery, entre outros. representado está fora do país, só Lisboa. Museu da Electricidade. Av. Brasília - Ed. regressando depois de a exposição Central Tejo. Tel.: 210028120. Até 19/09. Sáb. das encerrar, o que acrescenta outros 10h às 20h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 18h. Documental, Pintura, Fotografia. // PARCEIROS INSTITUCIONAIS níveis de leitura. // PARCEIROS É no olhar que esta pintura se Marlene Dumas: Contra o Muro encontra com aquela outra patente De Marlene Dumas. em “Mãe”. E é também a ausência Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, da figura por vir que agora se espera 210. Tel.: 226156500. Até 10/10. 2ª a 6ª das 10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 20h. visitada pela luz. Dar corpo a uma Pintura. potência: a tarefa da pintura.

Ípsilon • Sexta-feira 30 Julho 2010 • 47