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OS CRITÉRIOS DA ELEIÇÃO Numa modalidade interdisciplinar como o MMA, responder esta pergunta com clareza absoluta é praticamente impossível, afinal de contas, além de conhecer um pouco de cada modalidade o treinador de MMA tem que ter liderança, uma visão tática diferenciada e, acima de tudo, humildade para trabalhar com profissionais de diversas áreas, como Boxe, Muay Thai, Wrestling, Jiu-Jitsu, preparadores físicos, sem os quais não conseguirá transformar seus atletas em campeões. Quando decidimos fazer esta matéria pensamos em criar uma tabela de pontuação para as principais virtudes de um treinador diferenciado como: capacidade de gerenciar talentos, visão tática da luta, percentual de vitórias de seus atletas, cinturões conquistados, importância na formação do atleta. Mas com tantos critérios subjetivos em questão, decidimos que a melhor maneira de chegar a uma conclusão objetiva seria perguntando aos maiores especialistas do esporte. Lutadores, treinadores e Jornalistas do mundo inteiro, que por conhecerem a fundo o MMA, tem maneiras diferentes de avaliar estas qualidades. Depois de quase um mês coletando votos de 110 profissionais do mundo todo, finalmente chegamos a um vencedor, o líder da Nova União, André Pederneiras, com 23 votos, acompanhado de perto por Rafael Cordeiro (Kings MMA), com 21 e Greg Jackson, com 16. Nas páginas a seguir você poderá verificar a tabela de votos e entender melhor o porquê estes três treinadores foram os mais votados. UM TREINADOR PARA TODAS AS HORAS A vitória de Pederneiras na eleição da PVT poderia tranquilamente ser justificada por números, afinal de contas poucas equipes hoje conseguem conjugar um excelente percentual de êxitos - 330 lutas com 81,8% de vitórias em 5 anos- com um número tão grande de cinturões mundiais atualmente em poder de seus comandados – quatro. Mas reconhecer a importância do trabalho que vem sendo desenvolvido por Pederneiras no MMA por números seria de um reducionismo absurdo, até porque são exatamente os critérios subjetivos que transformam este faixa preta de Carlson Gracie num profissional diferenciado e merecedor desta acachapante votação. Além de ter sido um excelente lutador tanto no Jiu-Jitsu como no MMA, Pederneiras tem uma visão tática diferenciada do esporte. Graças a esta visão ele conseguiu transformar a maior equipe de pesos leves do Jiu-Jitsu brasileiro em um time de strikers, respeitado por strikers. É o caso de seus faixas pretas José Aldo (campeão do WEC) e Marlon Sandro (campeão do Sengoku e Pancrase). “O Dedé sempre nos incentivou a treinar em pé trazendo os melhores profissionais de Boxe e Muay Thai aqui para a academia”, conta Marlon. A parceria costurada com a Boxe Thai de Luis Alves também foi essencial. “O pessoal foi começando a gostar de trocar e hoje no nosso treino dos profissionais você já nem sabe mais quem começou no Jiu-Jitsu ou no Muay Thai”, conta Pederneiras, que hoje conta ainda com o cubano Pedro Garcia, técnico de Wrestling, para ensinar seus lutadores a levar a luta para onde querem. “Hoje todos os atletas estão muito completos, a gente tem que definir a tática de luta em cima das qualidades e defeitos do oponente. Graças a Deus com os excelentes profissionais e excelente qualidade dos treinos que temos aqui na academia, o leque de opções para o treinador aumenta”. A relação de amizade de Pederneiras com seus atletas também é apontada por Thalles como um grande diferencial. “O Dedé consegue o equilíbrio ideal entre liderança, respeito e amizade. Todos da equipe o respeitam e o vêem como um grande amigo, em muitos casos um pai”, explica Thalles, que assim como a maioria dos companheiros não abre mão do mestre no corner. “Ele conhece muito a gente não só como pessoa, mas como atleta e isto te trás muita calma na hora da luta”, revela Leites. CREONTE DO JIU-JITSU Mas se hoje é reconhecido, Pederneiras já sofreu por ter uma visão diferenciada. Em 1995, quando a comunidade do Jiu-Jitsu não aceitava que nenhum faixa preta ensinasse Jiu-Jitsu a estrangeiros, Pederneiras foi a primeira voz dissonante. Ensinou Joe Charles e depois recebeu BJ Penn em seu Dojo, sendo por isso chamado de Creonte até pelo mestre Carlson. “Para piorar eu fui dar o azar de casarem uma luta entre o Junior, filho do Carlson, e o Joe. O Carlson queria me matar”, lembra Dedé. Aos poucos os radicalismos foram diminuindo, o Jiu-Jitsu deixou de ser tratado como um bem inexpugnável da família Gracie e seus alunos e os resultados começaram a aparecer. Depois de se sagrar o primeiro faixa preta estrangeiro campeão mundial, BJ conquistou o cinturão do UFC até 70kg, tendo seu excelente chão como uma de suas maiores armas. FÁBRICA DE TALENTOS O fato de ser uma pessoa de personalidade afável e agregadora, também sempre foi um dos diferenciais de Pederneiras. Foi graças a isso que conseguiu se unir a outros profissionais importantíssimos na formação de sua equipe atual de MMA como Jair Lourenço (Kimura- Natal) e Luis Alves (Boxe Thai). Da equipe de Jair em Natal (RGN) vieram atletas como Renan Barão (que hoje luta no WEC) e Jussier Formiga (considerado o melhor 56kg do mundo) e da Boxe Thai Will Ribeiro (ex-lutador do WEC), Jonny Eduardo (campeão sul americano do Shooto) e Felipe Olivieri. “O Dedé é coração de mãe o ambiente aqui é único, todo mundo aqui é tratado da mesma maneira independente de sua origem. Parece que treino aqui a minha vida toda”, conta Luis Beição remanescente do Ruas Vale-Tudo que acabou de conquistar o cinturão mundial do Shooto na categoria até 77kg. Apesar de receber tantos atletas de fora, Pederneiras faz questão de reiterar que a base da equipe sempre foi formada em casa, lembrando de atletas como Shaolin Ribeiro, Marlon Sandro, Léo Santos, Wagney Fabiano, Renato Charuto, Thalles Leites, Robson Moura, Hacran Dias, Dudu Dantas e Ronnys Torres. “Recebemos muitos atletas de fora, mas sempre tivemos a preocupação em formar atletas desde a faixa branca”, afirma Pederneiras. A LEI DO RETORNO A capacidade de ajudar terceiros sem pensar no benefício próprio talvez seja o maior diferencial desta faixa preta de Carlson Gracie. Desde que começou a dar aulas de Jiu-Jitsu, Pederneiras sempre destinou bolsas para atletas de favelas e comunidades carentes vizinhas a sua academia no Flamengo. Além disso Pederneiras cansou de fazer competições cobrando a entrada em alimentos, que eram distribuídos no Morro Azul ou Santo Amaro. “Acredito que quando você faz o bem isso retorna para você de alguma maneira. Se mais mestres fizessem isto certamente conseguiríamos tirar mais crianças da criminalidade para o esporte”. Que o digam os primos Marlon Sandro, Hacran Dias e Dudu Dantas. Moradores da comunidade do Santo Amaro, os três perderam as contas do número de amigos que perderam para o tráfico de drogas, mas graças ao apoio de Pederneiras conseguiram a consagração pelo esporte. “Se hoje tenho dois cinturões mundiais e posso dar uma vida melhor a minha família, devo isso ao Dedé”, reconhece o campeão do Sengoku e Pancrase, Marlon Sandro. Outro que teve sua história mudada pelo autruísmo de Pederneiras foi José Aldo. “Eu passei um tempo treinando no Rio, mas tive que voltar para Manaus pois não tive como me manter aqui. Eu ainda era faixa roxa, mas o Dedé acreditou em mim e pagou minha passagem para eu voltar e me deixou morar na academia”, conta o campeão do WEC José Aldo, apontando por Anderson Silva como o maior Pound for Pound do mundo. O maior exemplo do autruísmo de Pederneiras são as 18 edições realizadas até hoje do Shooto Brasil. “Os pesos leves nunca tiveram visibilidade lá fora, a maneira que encontrei para conseguir isso foi promover o Shooto. Mesmo tirando dinheiro do meu bolso, sabia que o evento serviria como vitrine não só para os meus atletas, mas para talentos nacionais. Hoje depois de 18 edições e muita grana tirada do bolso, fico feliz em ter aberto o caminho de tanta gente”, comemora Pederneiras. Hoje apesar de não fazer muito dinheiro com a luta, Pederneiras consegue viver muito bem graças a sua academia UPPER (onde aliás fica localizado o QG da Nova União no 4º andar). Ele pode não ter ficado rico, mas aos poucos vem recebendo de volta todo o bem que fez, não em forma de dinheiro, mas sim de títulos e reconhecimento ao seu trabalho. Rafael Cordeiro: a consagração de uma doutrina Quem disputou cabeça a cabeça com Pederneiras o título foi o líder da Kings MMA, Rafael Cordeiro. Considerado o braço direito de Rudimar Fedrigo, Rafael teve importância capital na formação de alguns dos maiores campeões da equipe como Maurício Shogun (nos tempos de Pride) e Wanderlei Silva (Pride e agora no UFC). Ao contrário de Pederneiras que era faixa preta de Jiu-Jitsu e teve que incorporar a luta em pé para se transformar num grande treinador de MMA, Cordeiro fez o caminho inverso. Considerado um dos mais técnicos campeões de Muay Thai da equipe de Rudimar, Rafael se dedicou com afinco aos treinos de chão até ganhar a faixa preta de Jiu- Jitsu de Cristiano Marcello. Há três anos nos EUA, Rafael tem aproveitado para se aperfeiçoar no Wrestling. Não por acaso merceu os votos, não só de Shogun e Wanderlei, mas de quase todos os discípulos de Rudimar, caso dos irmãos Maurício Véio e André Dida (hoje morando no Canadá a frente da Evolução Thai) e do casal Cyborg (ainda hoje representando a Chute Boxe). Poderia se imaginar que os votos fossem motivados pela longa amizade dos curitibanos com Rafael, mas como explicar os fotos de Renato Babalú e Fabrício Werdum ? “Já treinei com alguns dos maiores treinadores do mundo, mas nenhum passa a energia que o Rafael passa, gostaria muito que ele fosse reconhecido no mundo do MMA como é reconhecido pelos seus atletas”, revela Renato Babalú, que treina há pouco mais de um ano com o líder da Kings MMA, mas pensa em se aposentar ao lado do novo mestre.