Emerson Ricardo Pansarin1 & Ludmila Mickeliunas Pansarin2 Orchidaceae Abrange Cerca De 7% Das Angiospermas, Sendo Considerad
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A FAMÍLIA ORCHIDACEAE NA SERRA DO JAPI, SÃO PAULO, BRASIL Emerson Ricardo Pansarin1 & Ludmila Mickeliunas Pansarin2 RESUMO (A família Orchidaceae na Serra do Japi, São Paulo, Brasil) Este estudo apresenta o inventário das espécies de orquídeas ocorrentes na Serra do Japi, no estado de São Paulo. A região é composta por áreas de floresta mesófila estacional semidecídua baixo montana e de altitude e afloramentos rochosos. A família está representada por 125 espécies, distribuídas em 61 gêneros. O gênero mais representativo é Epidendrum (10 spp.), seguido de Oncidium e Habenaria (9 spp. cada). A maioria das espécies (79 spp., 63,2%) é epífita, sendo que 40 espécies (32%) são terrícolas, 31 espécies. (24,8%) são rupícolas, duas são hemiepífitas e apenas uma é saprofítica. A floresta mesófila estacional semidecídua é o tipo de vegetação que abriga o maior número de espécies (88 spp., 70,9%). A maioria das espécies floresce no verão, entre dezembro e março. Duas espécies, Habenaria sp. e Acianthera sp. provavelmente são novas para a ciência. A Serra do Japi, por estar em uma zona de transição entre a as florestas ombrófilas (Serra do Mar) e as florestas estacionais semideciduais do planalto paulista, abriga espécies de ambas as formações. Apesar da grande diversidade de Orchidaceae na Serra do Japi, a região sofre com a intervenção humana. A preservação e o estudo integrado da Serra do Japi é uma urgente necessidade científica, com reflexos sociais, econômicos e preservacionistas. Palavras-chave: conservação, ecótono, floresta mesófila estacional semidecídua, levantamento florístico. ABSTRACT (The family Orchidaceae in the Serra do Japi, São Paulo, Brazil) This study reports the floristic survey of orchid species occurring in the Serra do Japi, State of São Paulo, Southeastern Brazil. The region is characterized mainly by semi-deciduous mesophytic lowland and altitude forests and rocky outcrops. The family is characterized by 125 species distributed among 61 genera. The most representative genus is Epidendrum (10 spp.), followed by Oncidium and Habenaria (both with 9 spp.). Most of the species (79 spp., 63.2%) occurs as epiphytes, while 40 species (32%) are terrestrial, 31 species (24.8%) are rupicolous, two are hemi-epiphytes and only one is a saprophyte. The semi-deciduous mesophytic forest has the highest occurrence of species of Orchidaceae, with 70.9% (88 spp.) of the species. The majority of species flower in summer, between December and March. Two species, Habenaria sp. and Acianthera sp. were not identified and are possibly new to science. The Serra do Japi is strategically placed in the transition between interior semi-deciduous mesophytic forests and the Atlantic forest, presenting species from both formations. Although the orchid diversity is high, the region is affected by anthropogenic disturbance. The preservation and the integrated study is an urgent necessity, with social, economic and preservationist reflexes. Key words: conservation, ecotone, floristic survey, semi-deciduous mesophytic forests. INTRODUÇÃO aproximadamente de 2.400 espécies para o Orchidaceae abrange cerca de 7% das território brasileiro (Barros 1996). Espécies de angiospermas, sendo considerada uma das Orchidaceae podem ser encontradas em todas maiores famílias desse grupo (Dressler 1993). as formações vegetacionais brasileiras (Hoehne Atwood (1986) estimou que a família possui 1949). A grande capacidade adaptativa das cerca de 20.000 espécies distribuídas por todo orquídeas pode ser explicada, em parte, pelas o mundo, apresentando maior riqueza nas várias formas das estruturas vegetativas regiões tropicais. De acordo com Pabst & presentes na família, as quais podem Dungs (1975), o Brasil possui cerca de 2.300 representar diferentes estratégias relacionadas espécies distribuídas em 191 gêneros. com a obtenção e reserva de água e nutrientes. Atualmente acredita-se que esse número seja Caules intumescidos formando pseudobulbos, Artigo recebido em 06/2007. Aceito para publicação em 10/2007. 1Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Departamento de Biologia, 14040-901, Ribeirão Preto, SP. [email protected] 2Universidade Estadual de Campinas, Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, C.P. 6109, 13083-970, Campinas, SP. [email protected] 100 Pansarin, E. R. & Pansarin, L. M. folhas carnosas, raízes dotadas de velame e o Embora as regiões de florestas mesófilas próprio crescimento em touceiras, permitindo estacionais semidecíduas estejam sendo o acúmulo de matéria orgânica, são algumas devastadas no interior do estado de São Paulo, dessas estratégias (Hoehne 1949). muitas vezes pelo avanço de lavouras de cana- A Serra do Japi é uma das últimas regiões de-açúcar, muito pouco tem sido feito com de mata contínua do interior do estado de São relação ao conhecimento da diversidade Paulo, com algumas áreas de vegetação florística e/ou conservação dessas áreas. Além primária bem preservadas em função, disso, quando se refere à família Orchidaceae, principalmente, da acidentada topografia poucos estudos de florística são realizados (Morellato 1992). Sua posição geográfica abrangendo esse tipo de formação no estado peculiar, entre as florestas ombrófilas a leste (para uma exceção veja Cardoso & Israel (Serra do Mar) e as florestas mesófilas 2005). Normalmente esses estudos são estacionais semidecíduas do planalto paulista realizados em áreas de floresta ombrófila (e.g. a oeste, caracteriza uma região ecotonal, Barros 1983; 1991; Ribeiro 1992), embora em permitindo a ocorrência de um número elevado Minas Gerais levantamentos florísticos para a de espécies de ambas as formações (Leitão família em regiões de florestas semidecíduas Filho 1992). Um estudo florístico realizado em sejam mais freqüentes (e.g. Oliveira Filho & um fragmento da Serra do Japi evidenciou Machado 1993; Oliveira Filho et al. 1994; elevado número de espécies arbóreas (303) Menini Neto et al. 2004a; 2004b). Com base (Leitão Filho 1992). Até o presente estudo nesses fatos, o presente estudo tem como nenhum inventário envolvendo espécies principal objetivo inventariar as espécies de herbáceas havia sido realizado na região. orquídeas presentes na Serra do Japi, além de Em virtude de sua localização, entre dois acompanhar a fenologia de floração e verificar grandes centros (Campinas e São Paulo) e o habitat e a ocorrência de cada espécie em circundada por regiões densamente povoadas, ambiente natural. a Serra do Japi vem sofrendo, ao longo de praticamente toda sua extensão, grande MATERIAL E MÉTODOS interferência por ação antrópica. Em função desse Caracterização da área mesmo fator, a flora e, como conseqüência a O estudo foi realizado na Serra do Japi, fauna da região, sofrem alterações. Além das localizada no estado de São Paulo, entre as alterações antrópicas, que provocam diferenças coordenadas 37º25’818’’N, 122º05’36’’O na vegetação, existem aquelas naturais que (Fig. 1). A região apresenta aproximadamente são devidas às diferenças de solo, de umidade 354 km2 e abrange quatro municípios: Cabreúva, e de altitude que contribuem para caracterizar Cajamar, Jundiaí e Pirapora do Bom Jesus floristicamente algumas áreas da Serra. (Morellato 1992). A Serra do Japi é caracterizada Devido à heterogeneidade da vegetação, à por altitudes que variam entre 700 e 1.300 m, presença de um grande número de riachos e o que condiciona temperaturas médias à topografia da região, tem-se como anuais entre 15,7ºC e 19,2ºC, nas partes mais conseqüência uma grande variação de altas e mais baixas, respectivamente. A média microclimas. A diversidade de microclimas e de precipitação anual é de aproximadamente da vegetação que, em muitos casos, é 1.600 mm, sendo o período de chuvas mais utilizada como refúgio ou fonte de concentrado entre a primavera e o verão (Pinto alimentação, são propícias para a presença 1992). A região da Serra do Japi apresenta de um grande número de animais. A soma áreas de floresta mesófila estacional desses fatores faz da Serra do Japi uma região semidecídua (700–900 m), floresta mesófila muito importante em termos de preservação estacional semidecídua de altitude (900–1.300 m) e banco genético (Morellato 1992). e esparsos enclaves de lajeados rochosos Rodriguésia 59 (1): 099-111. 2008 Orquídeas da Serra do Japi 101 (Leitão Filho 1992). Ao longo das florestas excursões de campo foram prensados, secos mesófilas estacionais semidecíduas ocorre um em estufa e estão incorporados ao acervo do variado número de espécies que podem ser herbário da Universidade Estadual de encontradas em regiões de floresta ombrófila, Campinas (UEC). O material testemunho está isso sucedendo, particularmente, com espécies listado na Tabela 1. que demonstram preferência pelas regiões mais altas da Serra do Japi. Os lajeados Identificação das espécies rochosos têm composição florística própria, Para a identificação dos táxons foram sem influência das florestas da região, tendo utilizadas as principais obras de referência na sido interpretados como relictos de climas mais taxonomia das Orchidaceae brasileiras secos (Leitão Filho 1992). (Cogniaux 1893-1896; 1898-1902; 1904-1906; Hoehne 1940; 1942; 1945; 1953; Pabst & Dungs Trabalho de campo e laboratório 1975; 1977; Sprunger et al. 1996) e alguns O inventário das Orchidaceae da Serra trabalhos mais específicos para a família (e.g. do Japi foi realizado através de coletas Pabst 1950; Garay 1977; 1980; Hágsater 1993; aleatórias e que abrangeram toda sua Christenson 1988;