ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

CAP INF EVANDRO DA SILVA VIANA

A DEFESA DE STALINGRADO DURANTE A II GUERRA MUNDIAL: UM ESTUDO DE CASO

Rio de Janeiro 2019 1

ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

CAP INF EVANDRO DA SILVA VIANA

A DEFESA DE STALINGRADO DURANTE A II GUERRA MUNDIAL: UM ESTUDO DE CASO

Trabalho acadêmico apresentado à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito para a especialização em Ciências Militares com ênfase Operações Defensivas.

Rio de Janeiro 2019 2

MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DECEx – DESMil ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS (EsAO/1919) ______DIVISÃO DE ENSINO / SEÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO FOLHA DE APROVAÇÃO Autor: Cap Inf EVANDRO DA SILVA VIANA

Título: A DEFESA DE STALINGRADO DURANTE A II GUERRA MUNDIAL:

UM ESTUDO DE CASO

Trabalho acadêmico apresentado à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, como requisito para a especialização em Ciências Militares com ênfase Operações Defensivas, pós graduação universitária lato sensu. APROVADO EM ______/______/______CONCEITO:______BANCA EXAMINADORA

Membro Menção Atribuída

JOBEL SANSEVERINO JUNIOR - Maj Cmt Curso e Presidente da Comissão

ROSEMBERG PEREIRA DIAS JUNIOR - Cap 1º Membro e Orientador

ARTHUR NUNES E SILVA - Cap 2º Membro

EVANDRO DA SILVA VIANA – Cap Aluno 3

A DEFESA DE STALINGRADO DURANTE A II GUERRA MUNDIAL: UM ESTUDO DE CASO

Evandro da Silva Viana* Rosemberg Pereira Dias Junior**

RESUMO Este estudo sobre a Batalha de Stalingrado mostra o empenho dos Soviéticos para defender esta cidade cujo nome homenageava seu líder supremo: Stalin. Sua principal característica é a não valorização das perdas de civis e militares. Os Soviéticos não mediram esforços para rechaçar as tropas de Hitler de seu território, e conseguiram que esta fosse uma Batalha decisiva para o início da derrocada Alemã. O presente artigo visa concluir quanto a relevância do estudo desse capítulo da história militar mundial para os conflitos na atualidade, se os mesmos encontram- se defasados e fora do contexto do combate urbano em vigor, além de ressaltar a importância do estudo de casos históricos de conflitos militares como forma de compreender e preparar-se para os conflitos da atualidade e do futuro.

Palavras-chave: II Guerra Mundial; Stalingrado; Operações Defensivas; Combate Urbano; Barbarossa; Urano; União Soviética; Alemanha; Nazismo.

ABSTRACT This study about the shows the Soviet effort to defend this city that the name honored its supreme leader: Stalin. Its main feature is the non- appreciation of civilian and military losses. The Soviets fought to drive Hitler's troops out of their territory, and managed to make this a decisive battle for the beginning of the German defeat. This article aims to predict the relevance of this study to the current chapter of world military history, if its outdated of the context of urban combat. This study aims to show the importance of military history to understand and prepare for today's and future conflicts.

Keywords: World War II; Stalingrad; Defensive operations; Urban combat; Barbarossa; Uranus; ; Germany; Nazism.

______*Capitão da arma de Infantaria. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 2009. **Capitão da arma de Infantaria. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 2008. Pós Graduado em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) em 2018. 4

1 INTRODUÇÃO

Na segunda metade do ano de 1939 ocorreu o segundo grande conflito militar, chamado de Segunda Guerra Mundial. As grandes potências econômicas organizaram-se em duas alianças militares oponentes, denominadas Aliados e Eixo. Os envolvidos dedicaram grande parte de sua capacidade econômica para tentar lograr êxito nesse conflito, que envolveu mais de 100 milhões de militares e teve um dano colateral enorme aos civis, devido a práticas com o Holocausto e o emprego da bomba atômica por parte dos Estados Unidos da América. Isso ocasionou mais de 60 milhões de mortes, sendo considerado o conflito mais letal da história da humanidade. (SOMMERVILLE, 2008)

Em setembro de 1939, a Alemanha atacou a Polônia. (EVANS, 2008) Em resposta a esse ato, logo em seguida, Reino Unido e França declararam guerra à Alemanha, porém não prestaram, de imediato, qualquer tipo de apoio bélico em prol da soberania Polaca (KEEGAN, 1997), determinando, somente, um bloqueio naval e econômico à Alemanha. (ROSKILL, 1974). Ainda no mês de setembro a União Soviética também invadiu a Polônia, sendo esse território divido com a Alemanha. (ZALOGA e GERRARD, 1954)

A França se prepara para Guerra estabelecendo uma linha fortificada conhecida como Linha Maginot, deixando a região das Ardenas sem posições de bloqueio. Essa decisão equivocada permitiu que a Alemanha invadisse a França e, contornando essa grande posição defensiva, avançar facilmente em território Francês. (KEEGAN, 1997). Ainda em setembro, foi assinado o Pacto Tripartite, que estabelecia uma aliança militar entre a Alemanha, Itália e Japão. (BILHARTZ, 1997)

Em meados de 1941 a Alemanha invade a União Soviética (URSS) sem uma declaração formal de guerra, em uma Operação chamada Barbarossa. Com isso Hitler pretendia neutralizar a URSS militarmente e utilizar seus recursos agrícolas e reservas de petróleo para sustentar uma ofensiva aos países oponentes. (KERSHAW, 2007).

Hitler também planejava o uso do trabalho escravo dos povos conquistados para suprir a demanda de mão de obra da indústria Alemã, conseguindo com isso uma melhor condição de fazer frente ao Império Britânico (HILDEBRAND, 1973). 5

Para a Barbarossa os alemães planejaram três frentes, a norte, ao centro e a sul. A frente norte tinha como objetivo conquistar Leningrado, ao centro Moscou e a sul controlar o Cáucaso, devido a suas jazidas de petróleo. (GLANTZ, 2012)

Menos de um mês após o início da campanha começam a aparecer os primeiros problemas logísticos. O ritmo da progressão teve que ser diminuído, propiciando mais tempo e consequentemente uma melhor organização do terreno para a União Soviética. (KEEGAN, 1997).

Mesmo com as dificuldades logísticas a Alemanha conquista rapidamente Leningrado na frente norte e enfrenta pouca resistência na frente central, cujo objetivo é Moscou. Porém, na frente sul, encontra-se com dificuldades. Hitler, contrariando assessoramento de seus Generais, decide realocar seus esforços na frente central para reforçar a frente sul. (KEEGAN, 1997).

O Exército Soviético, conseguiu segurar a ofensiva em seu território principalmente por que a Alemanha estava começando a sentir os efeitos da carência de mão de obra e combustível. Hitler, consciente de seus problemas logísticos, lança uma ofensiva na frente sul chamada de Caso Azul. Essa ofensiva, seria, posteriormente, barrada na então cidade de Stalingrado, hoje chamada de Volvogrado. (TOO… 2000)

A Batalha de Stalingrado teve como principal característica a não valorização das perdas de civis e militares, desde o início da ofensiva Alemã até o contra-ataque da URSS, que rechaçou as tropas de Hitler de seu território, sendo uma Batalha decisiva para o início da derrocada Alemã. (THE... 1941)

1.1 PROBLEMA

Esse estudo busca fazer uma revisão da literatura, concentrando-se na concepção Soviética de defesa, e, a partir dessa explanação, responder a seguinte problemática: Os ensinamentos colhidos a partir da análise desse conflito podem ser aplicados na atualidade? O que pode ser feito no nível Operacional visando a defesa de localidade estudados em Stalingrado? 6

Tendo por base esses questionamentos, concluiremos quanto a relevância do estudo desse capítulo da história militar mundial para os conflitos na atualidade, ou se os mesmos encontram-se defasados e fora do contexto do combate urbano em vigor.

1.2 OBJETIVOS

O presente trabalho tem por objetivo estudar as circunstâncias em que ocorreu a defesa da cidade de Stalingrado frente a ofensiva Alemã, com a finalidade de colher ensinamentos relevantes ao estudo de casos históricos e seus ensinamentos para deixados para o combate em ambiente urbano na atualidade. Para isso, foram elaborados os seguintes objetivos intermediários: a) Identificar o cenário da Batalha mais sangrenta da história da humanidade, nos níveis político, estratégico e operacional; e b) Identificar a aplicabilidade dos ensinamentos colhidos de acordo com a realidade da Força Terrestre na atualidade.

1.3 JUSTIFICATIVAS E CONTRIBUIÇÕES

O combate urbano, também chamado de combate a localidade, é uma constante em todos conflitos bélicos da atualidade. Essa tendência aumentou exponencialmente após a II Guerra Mundial. Nesse artigo faremos um estudo sobre como a URSS, visivelmente em desvantagem em relação ao Exército Alemão, conseguiu defender com sucesso a cidade de Stalingrado, reorganizar-se, e retomar a ofensiva, cercando e capturando mais de 100 mil Alemães. O estudo desse caso histórico é de fundamental importância para do adestramento das tropas, tendo em vista que as técnicas de defesa são de caráter provisório e tem por finalidade permitir que a Força Terrestre ataque com maior eficiência.

2 METODOLOGIA

Para consubstanciar uma solução para a problemática levantada, este estudo abrange uma ampla revisão da literatura, baseada em livros com a retórica soviética do conflito supracitado.

O método para abordagem da pesquisa foi o qualitativo, pois visa fazer um 7 relatório documental de um caso histórico de Defesa em Localidade.

A técnica empregada é o estudo de caso, baseado em levantamento bibliográfico associado ao instrumento de pesquisa entrevista exploratória com militares e civis com conhecimentos relevantes em história e geopolítica.

2.1 REVISÃO DE LITERATURA

A frente sul da Operação Barbarossa visava abordar a regiao do Cáucaso Soviético, a fim de suprir a demanda de petróleo Alemã (GLANTZ, 2012). Para isso, Hitler empregou meios de sua frente central, cujo objetivo era Moscou. O grupo sul logrou êxito ao ultrapassar a Ucrânia, porém antes de chegar às jazidas de petróleo foi barrado em Stalingrado, cidade localizada às margens do Rio . Inicialmente Stalingrado foi reduzida a Ruínas, devido aos pesados bombardeios aéreos e de artilharia de Hitler (BERGSTRÖM, 2007). O Exército Soviético estabeleceu posições defensivas nas instalações da cidade, obrigando o oponente a uma luta desgastante casa a casa. Josef Stalin também proibiu que os civis saíssem da cidade, empregando os mesmos para a defesa da localidade. O slogan nessa época era “Nenhum passo para trás!” (BEEVOR, 1998).

Mamayev Kurgan é uma colina dominante sobre a localidade de Stalingrado. Essa disputada posição era conquistada e perdida pelas forças oponentes constantemente sendo palco de duras baixas para ambos os lados. (CRAIG, 1973)

Em outro local da cidade, um Pelotão comandado pelo Sargento Yakov Pavlov controlava um edifício transformado-o em uma fortaleza. Essa fração estava tão bem preparada que os Alemães não conseguiram conquistá-la. (BEEVOR, 1998)

Apelidada posteriormente de “Casa de Pavlov”, tornou-se uma marca da perseverança de uma nação que luta para expulsar o invasor. Isso porque Hitler conquistou países em poucas semanas mas não conseguiu conquistar uma simples fortaleza em ruínas. (THE… 2019).

A união Soviética também empregou largamente Franco-atiradores contra os invasores. Estima-se mais de 1000 baixas das tropas Alemãs por intermédio desses atiradores. O mais famoso foi Vasily Zaitsev, que teve contabilizadas 242 mortes em Stalingrado. (THE… 2019). 8

Segundo BEEVOR, 1998, a grande virada Soviética começou a se moldar a partir da decisão dos Generais Aleksandr Vasilievsky e Georgy Jukov de mobilizar tropas no flanco Sul e Norte de Stalingrado. O flanco norte era fracamente defendido por tropas Italianas, romenas e húngaras, e esta vulnerabilidade seria explorada posteriormente. Inicialmente o objetivo era fixar os Alemães combatendo em Stalingrado, para somente numa segunda etapa avançar sobre os flancos e os trancar em um bolsão dentro da cidade, impedindo principalmente seu ressuprimento logístico. A essa Operação foi dado o nome de Urano (BEEVOR, 1998). Segundo GLANTZ e HOUSE, 1995, para Urano foram mobilizados mais de 1.100.000 homens, 800 blindados, 13.000 peças de artilharia e 1.000 aeronaves. Isso representava 11 Exércitos várias brigadas e corpos de tanques independentes. Inicialmente tal mobilização foi marcada por grande desorganização, necessitando inclusive ser adiada devido a atrasos de muitas unidades para se deslocarem a sua área de responsabilidade.

Enquanto a ofensiva não era lançada, começaram um trabalho de dissimulação da intenção de efetuar o cerco. As comunicações via rádio foram diminuídas, foram construídas posições defensivas falsas e pontes falsas ao longo do rio Don. Realizaram também algumas ofensivas contra o Exército da frente central, tudo com o objetivo de passar a idéia que ocorreria uma realocação de meios de Stalingrado visando o centro da União Soviética na frente cujo objetivo era chegar a Moscou. (GLANTZ e HOUSE, 1995)

Segundo ERICKSON, 1983, quando tudo estava pronto, Urano conseguiu cercar em um bolsão cerca de 300 mil militares do Eixo em uma área de 40 por 50 Km. Isso correspondia a quatro corpos de infantaria, um panzer e duas divisões romenas. Ficaram isolados também mais de 100 blindados, e 2000 peças de armamento de tiro curvo. O cerco foi reforçado para o início do ataque. A intenção era abrir uma frente sul e outra a leste, com o objetivo de fragmentar as tropas de Hitler. Para manter o sigilo os preparativos deveriam ser desencadeados a partir de 24 de Novembro, e executado com pouca movimentação de reservas ou outras tropas. Quando o cerco se consolidou, estava constituído de um círculo exterior, com comprimento de aproximadamente 300 Km e outro menor, interno. Ambos 9 distanciavam-se 16 Km um do outro. A medida que eram cercadas as tropas Alemãs deixavam para trás uma trilha de equipamentos e armamentos abandonados, na tentativa de esconder-se mais no subúrbio da cidade e fugir das tropas soviéticas.

Em 2 de fevereiro mais de 100 mil alemães renderam-se. Entre estes 22 Generais. Estavam famintos e enfermos. “Hurra, hurra, hurra! Os alemães estão totalmente destruídos, os prisioneiros de guerra partem em longas filas. Dá nojo vê-los. Cheios de muco, esfarrapados, congelados. São a escória!”, escreveu uma jovem de Stalingrado em seu diário em 3 de fevereiro de 1943. Referia-se aos soldados e oficiais do Sexto Exército da , que haviam se rendido na véspera. Cerca de 100.000 prisioneiros, dos quais só metade sobreviveu. Andavam em fila e tentavam se manter perto dos guardas ou no centro da coluna, para estarem mais ou menos a salvo dos civis. Os alemães capturados ofereciam uma imagem patética: mortos de fome, enregelados e doentes, envoltos em mantas para se aquecer. Os guardas, em vingança pelas atrocidades germânicas, davam um tiro nos que não tivessem força suficiente para andar. E as mulheres, os velhos e as crianças do lugar se postavam no acostamento da estrada para tentar arrancar suas mantas, atirar pedras, empurrá-los, chutá-los e cuspir na sua cara. Depois de meio ano de uma batalha que cobrou mais de um milhão de vidas de soldados e civis, não restava qualquer compaixão. (VINOGRADOVA, 2017, p. 82)

Conforme o manual de campanha EB70-MC-10.202 as Operações Defensivas são, normalmente, executadas com desvantagem de meios ou pouca liberdade de ação. Nesse momento a intenção é perseverar sobre a ofensiva inimiga, causando o máximo de desgaste e destruição. O manual de campanha C7-20, Batalhão de Infantaria, cita que a defesa de localidade negar ao oponente a livre utilização das vias de acesso que penetram ou passam próximas à localidade. Caracteriza-se, principalmente, pela descentralização do combate e pela observação reduzida devido a completude de obstáculos. Inicialmente é traçado o Limite Anterior à Área de Defesa Avançada (LAADA), que geralmente coincide com a orla da localidade. São atribuídas zonas de ação para cada elemento de manobra. Quanto à execução, o manual citado afirma que a defesa da localidade deve ser conduzida da mesma forma que a defesa de área, porém sem entrar em maiores detalhes. O manual de campanha EB70-MC-10.303, Operação em Área Edificada, também regula que o LAADA deve ser próximo a orla da localidade. Inova em relação aquele ao estabelecer que todas vias de acesso devem ser cobertas por 10 elementos de segurança, e se possível, estabelecer Posto Avançado de Combate. É dada importância aos estabelecimento de pontos fortes, emprego de obstáculos, Carro de Combate e Apoio de Fogo.

FIGURA 1 - Defesa de área em área edificada. Fonte: EB70-MC-10.303 Operação em área Edificada

O EB70-MC-10.303 também prevê a possibilidade de ser realizada uma defesa móvel no interior da localidade, caso haja a possibilidade de criar um “bolsão” para engajar e destruir o inimigo.

FIGURA 2 – Defesa móvel em área edificada FONTE – EB70-MC-10.303 Operação em área Edificada 11

a. Critério de inclusão: - Estudos publicados em português, espanhol ou inglês, relacionados às Operações Defensivas da então URSS; - Estudos publicados em português, sobre as características das Operações Defensivas e combate a localidade dentro da doutrina Brasileira. b. Critério de exclusão: - Estudos que abordam o emprego de milícias, e civis para o combate urbano; - Estudos que abordam o emprego da Força Aérea e Marinha.

2.2 COLETA DE DADOS

Tendo em vista o aprofundamento teórico sobre o assunto, essa pesquisa realizou coleta de dados através de um questionário. 2.2.1 Questionário A amostra foi selecionada, prioritariamente, com militares que estão servindo na EsAO, seja como Oficial aluno, ou Instrutores e monitores. Um teste preliminar foi aplicado em 10 Cap Al, tendo em vista ratificar ou retificar a pauta do questionário. Ao final deste pré-teste não foram observados itens que necessitassem de mudança. A distribuição desse item se deu por meio da rede social “WhatsApp” e e-mail a aproximadamente 180 militares.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o objetivo de mensurar o nível importância que os militares dão a casos históricos, foi aplicado um questionário. Obtivemos 38 respostas, no seguinte universo de Posto/Graduação: 12

O item 2 procura avaliar o nível de conhecimento em história militar, de acordo com a percepção do próprio indivíduo.

Como podemos verificar no gráfico acima, maior parte dos militares, 60,5%, considera seu nível de conhecimento em história militar como “mediano”. No item 3, ao delimitar o parâmetro para a 2ª Guerra Mundial, há uma melhora no nível de conhecimento, provavelmente devido à proximidade temporal e relevância do conflito.

No item 4, quando perguntado sobre o nível de conhecimento sobre Operação Barbarossa, pontualmente, podemos verificar que os que se consideram com baixo conhecimento somam 50% 13

Porém, no item 5, quando tratado da Batalha de Stalingrado, o nível de conhecimento “mediano” e “alto” aumenta, devido a relevância da Batalha objeto de presente estudo no contexto da história militar: 14

Quando perguntado qual a importância do estudo de casos históricos de conflitos armados, 100% considerou como importante ou muito importante.

Quando perguntado sobre qual o método mais eficiente para abordagem de casos históricos de conflitos armados âmbito corpo de tropa, o melhor método foi o descrito como “contextualização da instrução com casos históricos”. Em segundo lugar seria o estudo de artigos científicos, em terceiro lugar seria a instrução de quadros. e, por último, assistindo filmes e séries.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo CRAIG, 1973, com duração de pouco mais de 6 meses, é difícil estimar ao certo o número de baixas na Batalha de Stalingrado. Estudiosos sugerem que os Alemães e seus aliados perderam aproximadamente 850 mil militares. Grande parte desses morreram como prisioneiros de guerra em cativeiros Soviéticos. Aproximadamente 100 mil foram feitos prisioneiros, porém apenas 5 mil foram repatriados depois de mais de 10 anos do fim da segunda Grande Guerra; os outros não resistiram aos maus tratos sofridos e nunca mais voltariam pra casa. No lado Soviético em todo conflito foram aproximadamente 1.130.000 baixas, sendo 650 mil feridos somente em Stalingrado.

Segundo BEEVOR, 1998, Stalingrado é um ponto de virada na guerra, devido ao tempo de combate e as baixas apresentadas. Também pode-se ressaltar o denodo dos soldados Alemães e Soviéticos. Inicialmente os Soviéticos protegeram a 15 cidade da força descomunal do Exército Alemão. A expectativa de vida de um soldado em combate era de 24h. Pontos como a estação ferroviária foram conquistados, perdidos e reconquistados por pelo menos 15 vezes durante o conflito. Os Alemães, apesar de vencidos, mantiveram a lealdade até o último momento, mesmo quando não era mais lógico persistir. O comandante do 6º Exército, General , foi fiel às ordens de em não tentar romper o cerco, mesmo sabendo que isso resultaria em sua aniquilação e de sua tropa. O Marechal , buscou, sem sucesso, romper o cerco de Stalingrado. Tentou salvar algumas vidas se rendendo, ficando marcado pela história como o primeiro Marechal Alemão a render-se em campanha. Após a guerra foi erguido na colina de , que tem dominância sobre a cidade, um monumento chamado Mãe Pátria.

A casa que serviu como fortaleza para o pelotão do Sargento Pavlov também tornou-se um memorial da guerra. Atualmente ainda é possível achar pedaços de material de ossos da época, lembranças da agonia que dominava os dois oponentes e do sucesso Soviético em resistir ao ataque Nazista (BEEVOR, 1998)

4.1 Conclusões

No questionário abordado conclui-se que, dentre os militares que responderam, a maioria admite não ter um conhecimento satisfatório em história militar. E esse percentual chega a 95% quando perguntados sobre a batalha de Stalingrado.

Também foi concluído que o melhor método é a contextualização da instrução militar com um tema histórico correspondente. Em segundo lugar seria o estudo de casos históricos por meio de artigos científicos.

Cabe ressaltar que não necessariamente devemos usar somente um método de ensino, mas, sempre que possível devemos combiná-los para que o aprendizado seja mais eficiente.

Com a análise da Batalha de Stalingrado, sob a perspectiva do combate urbano enquadrado na égide das Operações Defensivas podemos utilizar algumas lições aprendidas neste conflito. 16

Destaca-se a utilização de Pontos Fortes. Na Doutrina Brasileira, ponto forte é um local composto por uma instalação que propicia comandamento sob determinada faixa do terreno. Na Batalha de Stalingrado o ponto forte mais famoso foi a “casa de Pavlov”. Essa casa era um prédio residencial que um pelotão utilizou para combater os alemães. Tal local proporcionou grande vantagem, causando inúmeras baixas ao inimigo e nunca chegou a ser conquistada.

Também podemos aproveitar os ensinamentos sobre o caçador. Tal militar é de vital importância para monitorar o inimigo, neutralizar alvos pontualmente e baixar o moral do inimigo. Em Stalingrado a URSS usou amplamente a figura do caçador. Esses atiradores exímios utilizavam uma munição especial que furava facilmente os capacetes alemães, conseguindo infligir baixas de militares de alta patente e alvos compensadores.

Esses fatos são os principais pontos que podemos aproveitar sobre a batalha de Stalingrado no combate urbano no âmbito das Operações Defensivas. Ainda existem vários outros aspectos dessa tão distinta Batalha que podem e devem ser estudados no âmbito das Operações Ofensivas. 17

ANEXO A – QUESTIONÁRIO DISTRIBUÍDO À AMOSTRA SELECIONADA ACERCA DO ESTUDO DE CASO DA BATALHA DE STALINGRADO

ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

SEÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

QUESTIONÁRIO

O presente instrumento de coleta de dados é parte integrante do artigo científico do Cap Inf Evandro da Silva Viana, a ser apresentado na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais no ano de 2019.

O trabalho versa sobre o tema “ A DEFESA DE STALINGRADO DURANTE A II GUERRA MUNDIAL: UM ESTUDO DE CASO”.

Tratam-se de perguntas fechadas simples, as quais o Senhor responderá baseado em vossa experiência. A experiência profissional do Senhor irá contribuir, sobremaneira, para o resultado final desta pesquisa.

Certo de vossa atenção, desde já agradeço a colaboração e me coloco à disposição para o esclarecimento de eventuais dúvidas acerca do assunto, por meio do telefone (14) 98169-7697 ou pelo e-mail [email protected]

IDENTIFICAÇÃO 1. Qual seu posto/graduação atual? ( ) Cap ( ) Ten ( ) STen ( ) Sgt

2. Como o Sr julga seu nível de conhecimento em História Militar?

( )Alto ( ) Médio ( ) Baixo

3. Como o Sr julga seu nível de conhecimento sobre a II Guerra Mundial?

( )Alto ( ) Médio ( ) Baixo

4. Como o Sr julga seu nível de conhecimento sobre a Op Barbarossa no contexto da II Guerra Mundial?

( )Alto ( ) Médio ( ) Baixo 18

5. Como o Sr julga seu nível de conhecimento sobre a Batalha de Stalingrado no contexto da II Guerra Mundial?

( )Alto ( ) Médio ( ) Baixo

6. Na opinião do Sr, qual a importância do estudo de casos históricos de conflitos armados para a formação dos militares no corpo de tropa?

( )Alto ( ) Médio ( ) Baixo

7. Coloque na ordem de prioridade quais métodos o Sr julga mais eficiente para abordagem de casos históricos de conflitos armados âmbito corpo de tropa?

( ) Estudo de artigos científicos

( ) Contextualização da Instrução com casos históricos

( ) Filmes, séries ou documentários sobre conflitos armados

( ) Instrução de quadros

8. O Sr. gostaria de acrescentar alguma consideração sobre o presente estudo? ______

Obrigado pela participação. 19

REFERÊNCIAS

BEEVOR, Antony. STALINGRAD: THE FATEFUL SIEGE: 1942-1943. London: Penguim Group, 1998.

BERGSTRÖM, Christer. Stalingrad - The Air Battle: 1942 through January 1943, Chevron Publishing Limited, 2007.

BILHARTZ, Terry D.; ELLIOTT, Alan C. Currents in American History: A Brief History of the United States. Dallas: M.E. Sharpe, 2007.

BRASIL, MINISTÉRIO DA DEFESA, ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO. Manual de Campanha EB70-MC-10.202: Operações Ofensivas e Defensivas. 1Ed, 2017.

BRASIL, MINISTÉRIO DA DEFESA, ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO. Manual de Campanha C 7-20:Batalhão de Infantaria. 2007.

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Too Little, Too Late: An Analysis of Hitler's Failure in August 1942 to Damage Soviet Oil Production. 2000. Disponível em : Acesso em: 20 maio 2019.

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