A Razão Em Jane Austen: Classe, Gênero E Casamento Em Pride and Prejudice
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS MODERNAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS EM INGLÊS NARA LUIZA DO AMARAL DIAS A razão em Jane Austen: classe, gênero e casamento em Pride and Prejudice SÃO PAULO 2015 2 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS MODERNAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS EM INGLÊS A razão em Jane Austen: classe, gênero e casamento em Pride and Prejudice Nara Luiza do Amaral Dias Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Daniel Puglia SÃO PAULO 2015 3 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. 4 FOLHA DE APROVAÇÃO Nome: DIAS, Nara Luiza do Amaral. Título: A razão em Jane Austen: classe, gênero e casamento em Pride and Prejudice. Dissertação de Mestrado, pelo Departamento de Letras Modernas, Área de Estudos Linguísticos e Literários em Inglês, sob orientação do Prof. Dr. Daniel Puglia. Aprovada em: __________________________________ Banca examinadora Prof.(a) Dr.(a)_______________________________________________________________ Instituição:________________________ Assinatura:______________________________ Prof.(a) Dr.(a)_______________________________________________________________ Instituição:________________________ Assinatura:______________________________ Prof.(a) Dr.(a)_______________________________________________________________ Instituição:________________________ Assinatura:______________________________ 5 Aos meus pais, pelos livros E ao Pedro, que deu vida a eles 6 AGRADECIMENTOS Ao professor Dr. Daniel Puglia, pela aposta, paciência e orientação. Às amigas Marina e Michelly, que deram graça ao mestrado. Às professoras Dra. Maria Sílvia Betti e Dra. Mariana Teixeira Marques, pelas contribuições valiosas no desenvolvimento do projeto. À minha família, pela retórica e pelo apoio. A todos que escreveram esse texto comigo e àqueles de quem emprestei conhecimento. À Capes, pela bolsa de estudos. 7 ... E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. (Fernando Pessoa) 8 RESUMO DIAS, Nara Luiza do Amaral. A razão em Jane Austen: classe, gênero e casamento em Pride and Prejudice. 2015. 160 f. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. O presente trabalho faz um estudo crítico de Pride and Prejudice (1813), de Jane Austen, buscando mostrar aproximações da obra com as mudanças sociais, políticas, econômicas e ideológicas que ocorreram na Inglaterra da passagem do século XVIII ao XIX, a partir da ascensão da burguesia. Com base na construção feita da heroína Elizabeth Bennet como uma personagem racional, em oposição às demais personagens do romance, contrastes de classe e gênero são explorados, de modo a conduzir a análise para uma interpretação da maneira como o casamento (atuação social principal de mulheres de certa classe no período) é desenvolvido ao longo de todo o romance, acabando por se tornar o fio condutor da narrativa – uma verdadeira investigação de significados sociais desenvolvida pela autora. Palavras-chave: Orgulho e Preconceito; Jane Austen; classe; gênero; casamento. 9 ABSTRACT DIAS, Nara Luiza do Amaral. The reason in Jane Austen: class, gender and marriage in Pride and Prejudice. 2015. 160 p. Dissertation (MA) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. This work brings a critical study of Jane Austen’s Pride and Prejudice (1813). It aims to show the approaches between the book and social, political, economic and ideological transformations that took place in England in the transition of the eighteenth century to the nineteenth, since the rise of the bourgeoisie. Based on the construction of the heroine Elizabeth Bennet as a rational character, in opposition to the other characters of the novel, class and gender contrasts are explored in order to conduct the analysis to an interpretation of how the marriage (the main social activity of women of a certain class in the period) is developed throughout the novel, eventually becoming the underlying theme of the narrative – a true research of social meanings developed by the author. Keywords: Pride and Prejudice; Jane Austen; class; gender; marriage. 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO: UMA LUZ SOBRE A CRÍTICA ................................................................................. 11 1. O CONFRONTO ENTRE ELIZABETH BENNET E LADY CATHERINE DE BOURGH .................... 30 2. AS REPRESENTAÇÕES FEMININAS EM PRIDE AND PREJUDICE .............................................. 69 3. O CASAMENTO EM PRIDE AND PREJUDICE INVESTIGADO EM QUATRO PARTES .................. 105 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 147 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 150 11 Introdução: uma luz sobre a crítica “… seven years I suppose are enough to change every pore of one’s skin, & every feeling of one’s mind”1, disse Jane Austen em uma carta endereçada à sua irmã, Cassandra, em 1805. (apud KNOX-SHAW, p. 12) A mudança de sentimentos e ideias é recorrente em Pride and Prejudice, um romance no qual as “primeiras impressões” costumam estar erradas. Não à toa, dois pedidos de casamento são feitos durante a narrativa com a certeza de que teriam uma resposta positiva, apenas para que seus autores fossem frustrados. O passado de Mr. Darcy e Mr. Wickham é mal avaliado por quase todos; a exceção sendo Jane Bennet, que nunca confia nas primeiras impressões, mas que sofre com as consequências dos julgamentos que outras personagens fazem sobre seus sentimentos. Os esquemas de Charlotte são sempre uma surpresa, e ninguém desconfia, até o final, do que se passa no coração de Elizabeth. A heroína está, inclusive, enganada quase sempre sobre quase tudo. Peter Knox-Shaw explica que a própria Jane Austen mudava bastante de opinião, seja sobre homens, mulheres ou livros, e a certeza que alguns leitores tomam como chave de leitura de suas obras é, na verdade, apenas uma característica da maneira como ela escreve. Trata-se, segundo o autor, de um estilo autoral – mas não das realidades que ela representa e, nesse sentido, Austen poderia ser considerada uma típica iluminista cética: “doubts, muddles, delusions, mixed motives and feelings are the stuff of the experience she handles (...)”2, e a determinação para chegar à verdade teria feito dela “all the quicker to seize on signs of self-deceit and inconsistency, and to recognize distortion as part of the texture of life, her own included”3 (2004, p. 11-12). Quando nos voltamos a questões de gênero e classe retratadas nos seus romances, seria possível atestar que, muito mais do que criar definições finais como resoluções de debates ideológicos, Jane Austen talvez tenha tido como fim justamente o “fazer pensar” – e por receberem um tratamento sutil, as questões levantadas pela autora permitem diversas interpretações. Deborah Kaplan (1994), ao se propor a analisar a obra de Austen sob uma 1 “… suponho que sete anos sejam suficientes para mudar cada poro da pele de alguém, & cada sensação em sua mente” (AUSTEN apud KNOX-SHAW, p. 12 – tradução livre). 2 “dúvidas, confusões, delírios, motivações e sentimentos contraditórios são o material da experiência que ela maneja” (KNOX-SHAW, 2004, p. 11-12 – tradução livre). 3 “muito mais rápida para aproveitar sinais de autoengano e inconsistência, e para reconhecer a distorção como parte da textura da vida, a dela própria incluída” (KNOX-SHAW, 2004, p. 11-12 – tradução livre). 12 perspectiva tanto feminista quanto histórica, faz um levantamento da postura da fortuna crítica diante da autora, especificamente no que se refere a Pride and Prejudice. Conversando com estudos relacionados ao American Feminism4, Kaplan parte do princípio de que “Pride and Prejudice, and Austen’s other novels as well, affirm patriarchal values with the resolution of marriage”.5 Essa questão da resolução do romance com o casamento da heroína será a grande crítica feita a Austen pelas feministas, haja vista que nenhuma das suas obras publicadas apresentaria algum refúgio ou opção às heroínas para além do matrimônio. A partir daí, a proposta de Kaplan será, não negar que haja uma afirmação de valores patriarcais na obra de Austen, mas relativizar essa crítica, apontando para o fato de que os finais dos romances não são exatamente iguais entre si, e que existem diversos aspectos envolvidos na conclusão das obras que devem ser levados em consideração (1994, p. 183). Sobre os desacordos da crítica, Kaplan lembra que os comentários a respeito de Elizabeth Bennet feitos ao longo do tempo revelam concepções distintas sobre a heroína: os críticos do início do século XIX a elogiavam, entendendo a protagonista feminina como uma caracterização consistente com seus próprios valores e normas patriarcais. Para eles, e aqui temos como exemplo um crítico anônimo em março de 1813 (Critical Review, 2001, p. 46, apud KAPLAN, 1994, p. 184-185), “Elizabeth’s sense and conduct