O Pessimismo Na Poesia De Augusto Dos Anjos the Pessimism in Poetry Augusto Dos Anjos El Pesimismo En La Poesía De Augusto

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O Pessimismo Na Poesia De Augusto Dos Anjos the Pessimism in Poetry Augusto Dos Anjos El Pesimismo En La Poesía De Augusto http://dx.doi.org/10.18675/1981-8106.vol27.n54.p06-22 O PESSIMISMO NA POESIA DE AUGUSTO DOS ANJOS1 THE PESSIMISM IN POETRY AUGUSTO DOS ANJOS EL PESIMISMO EN LA POESÍA DE AUGUSTO DOS ANJOS Wellington Lima AmorimI Adonay Ramos MoreiraII IUniversidade Federal do Maranhão, Maranhão – Brasil. E-mail: [email protected] IIUniversidade Federal do Maranhão, Maranhão – Brasil. E-mail: [email protected] Educação: Teoria e Prática, Rio Claro, SP, Brasil - eISSN: 1981-8106 Está licenciada sob Licença Creative Common Resumo Augusto dos Anjos faz parte, em nossas letras, de um seleto grupo de escritores que, por ter mergulhado a fundo na existência humana, criou na Literatura Brasileira obras que fogem aos lugares-comuns de seu tempo e à condição de carnavalização atribuída à diversidade cultural das terras brasileiras, visão essa que tanto distorceu e ofuscou o verdadeiro poder de nossos artistas. O pessimismo assume, dessa forma, uma função essencial: questionar o que se está fazendo e como se está fazendo, uma vez que todos os grandes pessimistas são, no fundo, 1 O estudo acerca do pessimismo na poesia de Augusto dos Anjos se fará com base na leitura de seu livro “Eu”, única obra publicada em vida pelo genial poeta paraibano, lançada no Rio de Janeiro em 1912. Contudo, à 6 medida que sua fama foi aumentando, sobretudo devido à leitura da gente comum, feito um tanto quanto inédito na história da literatura nacional, alguns outros poemas do autor foram sendo estudados e acrescentados à sua obra. Nesse particular, se fará menção em qual estudo o poema foi compilado quando o texto citado não Página pertencer ao livro “Eu”. Educação: Teoria e Prática/ Rio Claro, SP/ Vol. 27, n.54/ p. 06-22/ JANEIRO-ABRIL. 2017. eISSN 1981-8106 O pessimismo na poesia de augusto dos anjos grandes realistas. O objetivo de tal trabalho é avaliar o pessimismo da poesia de Augusto dos Anjos e identificar as reflexões inovadoras que seus versos apresentam. Para tanto, leu-se a sua única obra, “EU”, bem como poemas publicados na juventude e alguns de seus principais críticos e estudiosos, como Raimundo Magalhães Júnior e o poeta Ferreira Gullar. A metodologia utilizada foi de revisão bibliográfica, avaliando a poesia do autor e identificando em sua obra, em comparação com o pensamento de seu tempo, a gênese de sua singularidade em nossa Literatura. Palavras-chave: Poesia. Pessimismo. Reflexão. Abstract Augusto dos Anjos is part of a select group of writers who, having dived deep into human existence, created in Brazilian literature works fleeing the commonplaces of his time and carnivalization condition attributed to the cultural diversity of Brazilian land, a view that is both distorted and obscured the true power of our artists. Pessimism takes thus an essential function: to question what you're doing and how you are doing, since all major pessimists are, deep down, great realistic. The purpose of this study is to evaluate the pessimism of Augustan poetry of the Angels and identify innovative reflections that his verses present. For this, read to your unique work, "I", and poems published in youth and some of his critics and leading scholars, as Raimundo Magalhaes Junior and poet Gullar. The methodology used was the literature review, assessing the poetry of the author and his work in identifying, compared to the thought of his time, the genesis of their uniqueness in our literature. Keywords: Poetry. Pessimism. Reflection. Resumen Augusto dos Anjos forma parte, en nuestras letras, de un selecto grupo de escritores que, por haberse sumergido a fondo en la existencia humana, creó en la Literatura Brasileña obras que huyen de los lugares comunes de su tempo y de la condición de carnavalización atribuida a la diversidad cultural de las tierras brasileñas, visión esta que tanto distorsionó y ofuscó el verdadero poder de nuestros artistas. El pesimismo asume, de esta forma, una función 7 esencial: cuestionar qué se está haciendo y cómo se está haciendo, una vez que todos los grandes pesimistas son, en el fondo, grandes realistas. El objetivo de dicho trabajo es evaluar Página Educação: Teoria e Prática/ Rio Claro, SP/ Vol. 27, n.54/ p. 06 - 22/ JANEIRO-ABRIL. 2017. eISSN 1981-8106 Amorim, W. L.; Moreira, A. R. el pesimismo de la poesía de Augusto dos Anjos e identificar las reflexiones innovadoras que sus versos presentan. Para esto, se hizo la lectura de su única obra, “EU” (“YO”), y de poemas publicados en su juventud; asimismo, se leyó a algunos de sus principales críticos y estudiosos, como Raimundo Magalhães Júnior y el poeta Ferreira Gullar. La metodología utilizada fue la de revisión bibliográfica, evaluando la poesía del autor e identificando en su obra, en comparación con el pensamiento de su tiempo, la génesis de su singularidad en nuestra Literatura. Palabras clave: Poesía. Pesimismo. Reflexión. 1 INTRODUÇÃO Na história da literatura brasileira, não são poucos os esquecidos. Em meio às glórias literárias que tanto seduzem as musas dos poetas, não é raro que se encontrem, em nossas letras, aqueles para os quais não se deu atenção. Esse fenômeno, que de resto não é particular às nossas letras, sendo perceptível em literaturas de vários países2, foi particularmente cruel no caso de Augusto dos Anjos. Vivendo no nordeste brasileiro do século XIX, em um Brasil que aos poucos começava a tomar conhecimento das novidades científicas da Europa, o poeta do Engenho Pau D'Arco passou despercebido em nossas letras. Sua poesia permaneceu ignorada, rejeitada pela novidade de seu vocabulário e pelo exotismo de suas imagens. Nesse mesmo século, o país via surgir a famosa instituição criada por Machado de Assis, com o objetivo de preservar a língua portuguesa. Tendo como modelo a Académie Française, a Academia Brasileira de Letras, cujo início foi bem difícil3, foi um grande 2 A lista dos grandes escritores que morreram sem ter o reconhecimento devido é demasiadamente longa e conta, entre seus personagens, com nomes como os de Kafka, Lima Barreto, Baudelaire, Rimbaud, Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa, dentre muitos outros. Kafka é, nesse sentido, um dos casos mais exemplares, pois se tornou quase lendário o seu pedido a Max Broad para que este destruísse toda a sua obra. É mais do que notório que esse pedido não deve ser levado muito a sério, uma vez que, se o escritor de Praga quisesse realmente dar cabo a seus textos, ele mesmo o teria feito. Contudo, esse tipo de comportamento suspeito em relação ao seu próprio futuro literário não é nada estranho em se tratando de Kafka, pois é ele o mesmo homem que, ao ser questionado sobre a sua posição cômoda dentro dos escritórios dos Institutos de Seguros de Praga, respondeu: “Não chamo isso de trabalhar, mas de apodrecer. Toda vida verdadeiramente ativa, direcionada para um objetivo, preenchendo verdadeiramente um ser, tem o ímpeto e o brilho de uma chama. Mas eu, o que faço? Fico lá naquele escritório. Ele não passa de uma fábrica de fumaça fedorenta, sem nenhum sentimento de felicidade. Por isso minto tranquilamente às pessoas que me perguntam como vou, em vez de simplesmente dar as costas em silêncio, como o condenado que sou de fato” (KAFKA apud JANOUCH, 2008, p. 145-146) 3 Raimundo Magalhães Júnior dá uma amostra desse começo difícil em seu monumental estudo sobre a vida de 8 Machado de Assis, intitulado “Vida e Obra de Machado de Assis”. O estudo é dividido em quatro volumes, ficando reservado ao quarto, denominado “Apogeu”, a descrição dos primeiros passos da nascente Academia Brasileira de Letras, por cuja existência, como bem relata Magalhães Júnior, tanto lutou o Bruxo do Cosme Página Velho. Educação: Teoria e Prática/ Rio Claro, SP/ Vol. 27, n.54/ p. 06-22/ JANEIRO-ABRIL. 2017. eISSN 1981-8106 O pessimismo na poesia de augusto dos anjos acontecimento desse século e representou um grande avanço na valorização de nosso pensamento e de nossa sensibilidade. Entanto, nem mesmo isso exerceu sobre o poeta do cosmos em dissolução alguma influência. O que não é de todo estranho, uma vez que a famosa Academia deixou fora de seus quadros muitos dos nossos maiores autores daquele século4. Angustiado, cultor de uma poesia ímpar em nossas letras, que em muitos aspectos antecipa muitas das conquistas do Modernismo de João Cabral de Mello Neto e Graciliano Ramos, pelo uso de palavras que até o momento eram inusuais no vocabulário dos poetas de então5, Augusto seguiu ignorado, esquecido, visto antes como um excêntrico do que como um gênio das terras brasileiras. Como bem lembra Lúcia Helena em seu “A Cosmo-Agonia de Augusto dos Anjos”: Na tribo literária da época coexistiam, entre pacíficas guerras frias, entre uma e outra pompa despertada, o Neoparnasianismo, o Penumbrismo e as viagens “futuristas” de Oswald de Andrade à Europa. É natural, portanto, nesse clima de transição e indefinições, que a obra de Augusto dos Anjos, aparentemente o soneticista da poesia científica do realismo-naturalismo, enfrentasse inúmeros obstáculos e incompreensões. (HELENA, 1984, p. 18) Ao contrário do que normalmente acontece com os artistas e intelectuais, que são primeiro cultuados por seus pares para depois, já imortalizados, caírem na tradição culta de um povo, Augusto dos Anjos sobreviveu em nossas letras pelas mãos da gente comum, gente essa que ficava fascinada pela linguagem empregada pelo poeta do Engenho Pau D'Arco, linguagem essa até então desconhecida das obras literárias em voga, e que misturava a uma profunda reflexão filosófica e existencial uma soma nada vulgar de termos científicos, os quais essa mesma gente comum certamente ignorava. Será esse poeta excêntrico que tecerá, nas letras brasileiras, junto a escritores como Machado de Assis, Lima Barreto e Euclides da Cunha, uma das mais finas reflexões sobre a 4 A esse respeito, há que lembrar de Lima Barreto, um dos casos mais notórios de esquecimento da ABL.
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