I. Lourinho Fronteira Do Gharb Al-Andalus Ebook.Pdf
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Fronteira do Gharb al-Andalus: Terreno de Confronto entre Almorávidas e Cristãos (1093-1147) Inês Lourinho Lisboa Centro de História da Universidade de Lisboa 2020 Título Fronteira do Gharb al-Andalus: Terreno de Confronto entre Almorávidas e Cristãos (1093-1147) Autora Inês Lourinho Revisão André Morgado Imagem da capa Kitab al-Hayawan/ © Veneranda Biblioteca Ambrosiana Mapas Luís Ribeiro Gonçalves Editor Centro de História da Universidade de Lisboa Primeira edição 2020 Grafismo Bruno Fernandes Impressão Sersilito ISBN: 978-989-8068-27-9 Depósito Legal: 475902/20 Tiragem: 150 exemplares Centro de História da Universidade de Lisboa | Centre for History of the University of Lisbon Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa | School of Arts and Humanities of the University of Lisbon Cidade Universitária - Alameda da Universidade,1600 - 214 LISBOA / PORTUGAL Tel.: (+351) 21 792 00 00 (Extensão: 11610) | Fax: (+351) 21 796 00 63 URL: http://www.centrodehistoria-flul.com Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I. P., no âmbito dos projetos UIDB/04311/2020 e UIDP/04311/2020. This work is funded by national funds through FCT – Foundation for Science and Technology under projects UIDB/04311/2020 and UIDP/04311/2020. This work is licensed under the Creative Commons Attribution-Non Commercial 4.0 International License. To view a copy of this license, visit http://creativecommons. org/licenses/by-nc/4.0/ or send a letter to Creative Commons, PO Box 1866, Mountain View, CA 94042, USA. ÍNDICE 11 AGRADECIMENTOS 13 GUERRA PELA FRONTEIRA 35 1093-1106. HOMENS DO DESERTO TORNAM-SE SENHORES DO AL-ANDALUS 37 1. O FIM DAS TAIFAS Queda de Badajoz Pressão de Afonso VI sobre os reis do al-Andalus Rivalidades no controlo dos tributos Fronteira dinâmica Equilíbrio instável no bloco cristão Conquista de Coimbra e reorganização do território Circulação da moeda e adoção de morabitinos 77 2. QUEM ERAM OS ALMORÁVIDAS? Ascensão e legitimação de Yusuf b. Tashfin Abd Allah b. Yasin e a guerra santa Submissão das tribos sanajas e constituição de um grupo de apoio O triângulo Sijilmassa-Awdaghust-Aghmat e a morte de Ibn Yasin O ouro dos negros Comércio: traço de união entre as cidades de um império em construção 135 3. CONQUISTA DO MAGREBE Mequinez, Fez e Marraquexe: o legado de Abu Bakr b. Umar A caminho do Mediterrâneo Ceuta e a luta pelo controlo do estreito de Gibraltar Zallaqa ou o reencontro do al-Andalus com o Magrebe Obediência ao califado abássida 171 4. FRONTEIRA DO GHARB NO FINAL DO SÉCULO XI Destituição dos reis andaluzes e tomada de Sevilha Normandos tomam posição no Mediterrâneo Conquistas almorávidas de Badajoz e Lisboa Foral de Santarém e outras estratégias de construção da fronteira Consequências da doença e morte de Yusuf na geografia da fronteira 201 1106-1130. DE TOMBUCTU A LISBOA, UM IMPÉRIO ESCULPIDO COM O OURO DO BILAD AL-SUDAN 203 1. RENOVAÇÃO NO BLOCO ALMORÁVIDA Ascensão de Ali b. Yusuf e reorganização do poder Batalha de Uclés Guerra pelo trono cristão Jihad no al-Andalus Recuperação almorávida de Lisboa e Sintra: as informações nas sagas nórdicas Nascimento de D. Afonso Henriques 229 2. CONJUNTURA DE TRANSIÇÃO Batalha de Valtierra e conquista almorávida de Saragoça Luta pela fronteira com Coimbra em ebulição 241 3. A FRONTEIRA DE COIMBRA Estratégias de D. Henrique em marcha Mais instabilidade na cidade Maurício Burdino, conflitos entre Braga e Compostela e investidura em Roma Disputas pela sucessão ao trono cristão 255 4. GUERRA DE FRONTEIRA E GUERRA NAVAL Ataques almorávidas à região de Coimbra Guerra na fronteira marítima Das areias do deserto à lide dos mares: a frota enquanto modelo de expansão económica e política Amigos e inimigos: estratégias de controlo do Mediterrâneo ocidental 327 5. ASPIRAÇÕES POLÍTICAS DE D. TERESA A “rainha” D. Teresa e a disputa pelo poder Rescaldo do ataque almorávida Apoio dos Travas e revolta dos nobres portucalenses D. Afonso Henriques na arena política Afonso de Aragão ameaça o al-Andalus Contenção da fronteira e doação do Castelo de Soure aos templários Batalha de São Mamede e afastamento de D. Teresa Os novos rostos da fronteira 365 1130-1147. NOVO EQUILÍBRIO DE FORÇAS NO GHARB AL-ANDALUS 367 1. DESAFIO DO PODER NO MAGREBE Contestação de Ibn Tumart e reforço dos sistemas defensivos almorávidas Cerco almóada a Marraquexe, morte de Ibn Tumart e elevação de Abd al-Mumin a califa 383 2. OS ANOS DO APOGEU ALMORÁVIDA Organização territorial do al-Andalus Calma antes da tempestade D. Afonso Henriques, génese de um rei Construção da fronteira portucalense com os muçulmanos 459 3. DESMORONAMENTO DO IMPÉRIO Caos no assalto ao poder de Marraquexe Desmilitarização do al-Andalus: fossados cristãos e consolidação da fronteira 489 4. OS ANOS DO FIM O ano de todas as calamidades Queda do Império Almorávida e partilha dos despojos 525 REFLEXÕES 541 CRONOLOGIA 547 BIBLIOGRAFIA AGRADECIMENTOS A Amos Amit, Ana Luísa Miranda, André Leitão, André Simões, Badr Hassanein, Dehbia Belkacemi-Dendani, Francisco Mendes e Kari Ellen Gade, pelo debate de ideias e pelo auxílio em traduções. A Luís Gonçalves, pelo incentivo e pela elaboração dos mapas publicados nesta obra. A Hermenegildo Fernandes, pelo desafio intelectual constante. À minha família, pelo apoio e pela infinita paciência. GUERRA PELA FRONTEIRA Al-Ushbuna: última peça no puzzle da fronteira com o Gharb al-Andalus. Barcos atracam, outros deixam o cais. Homens rolam barris de vinho, margem acima, margem abaixo.1 Carregam às costas sacos de mercadorias. Um fervilhar de línguas adensa a atmosfera do porto. Tecidos finos, tapetes de oração, livros, mobiliário, cerâmicas e vidros decorados, joias e equipamento de guerra aportam vindos do al-Andalus, do Norte de África, do Oriente.2 Escravos de pele escura ou clara, guerreiros do deserto com rosto velado e mercenários negros acentuam os tons da paleta de raças e culturas.3 Especiarias, perfumes e essências desprendem-se no ar. Nas ruas adjacentes, comerciantes, corretores e cambistas procuram os melhores negócios, concedem créditos, trocam dinheiro.4 Os silos recebem as 1 O cultivo da vinha na região de Lisboa durante o período islâmico e o elevado grau de especialização que envolvia podem ser atestados, entre outros, pelo Foral dos Mouros Forros de Lisboa, Palmela e Alcácer, outorgado por D. Afonso Henriques em 1170 (Azevedo 1958, 401-402). Para a vinha na região de Santarém, ver: Viana 1998. 2 Os geógrafos al-Zuhri e al-Idrisi referem que estas mercadorias eram produzidas e comercializadas no al-Andalus (al-Zuhri [1150-1170?] 1968, 206; al-Idrisi [1145-1166?] 1974, 188). É natural que tais produtos alcançassem ainda o extremo do Gharb, pois al-Zuhri atesta a navegação até Lisboa, ao referir que o farol de Cádis era imprescindível para atingir diversos portos, incluindo o de al-Ushbuna (al-Zuhri [1150-1170?] 1968, 217). 3 Ibn Abdun descreve a cidade de Sevilha no princípio do século XII e não se esquece de notar a presença de homens de cara velada (almorávidas) e de mercenários berberes e negros (Ibn Abdun [1050-1120?] 1948, 61-62). As fontes muçulmanas referem que o governo das cidades da marca era, muitas vezes, entregue a elites locais: “Deixaram as fronteiras do lado dos inimigos [cristãos] a mando dos andaluzes, porque estes conheciam melhor a sua situação e sabiam melhor lutar com o inimigo e fazer algaras. Só a estes davam o governo, e tratavam-nos bem” (al-Hulal al-Mawsiyya [1381-1382] 1951, 96). Mas, por uma questão de controlo do poder, é natural também a presença de elementos do regime almorávida, guerreiros de cara velada, como Ibn Abdun explica. 4 Jacinta Bugalhão defende a existência de uma forte circulação de moeda no final do período almorávida, realidade que considera comprovada pelo fracionamento dos espécimes (Bugalhão 2008, 386). Quanto às profissões associadas à finança, como a de cambista, os estudos de S. D. Goitein fornecem informação detalhada (Goitein 1999, 1:229-272). 14 FRONTEIRA DO GHARB AL-ANDALUS: TERRENO DE CONFRONTO ENTRE ALMORÁVIDAS E CRISTÃOS (1093-1147) mercadorias que chegam do interior do território.5 Cereais, arroz, azeite, figos, maçãs e outros frutos, mel, âmbar, ouro e demais riquezas enchem os armazéns. Os rostos iluminam-se com a beleza dos falcões e açores criados nos arredores da cidade.6 Impostos são pagos. Naves de guerra adentram a foz do rio.7 Rotas comerciais ligam a cidade ao Mediterrâneo e ao austral porto de Nul,8 na costa atlântica africana; estreitam laços com as longínquas latitudes do ouro e dos escravos de Tombuctu e de Gao.9 Pelo caminho, aproximam-na de Alcácer, de Silves, de Ceuta, de Aghmat, de Sijilmassa e de Marraquexe, ora de barco, ora nas pegadas poeirentas das caravanas que, pacientemente, atravessam o Magrebe e o deserto e regressam. As ondas do rio açoitam a muralha e a Bab al-Bahr, a porta que abre sobre uma frente marítima muralhada com pouco menos de 500 metros.10 Almada protege a entrada no porto. Cerca de 40 quilómetros para oeste, Sintra vigia o recorte costeiro das incursões dos piratas.11 A sul, Sesimbra e Palmela repousam atentas.12 Um sistema de torres de vigia salpica a envolvente.13 As cidades 5 Bugalhão 2008, 386. 6 As produções da região de Lisboa e a arte da falcoaria são referidas pelos geógrafos muçulmanos: Abu l-Fida [1321] 1848, 2:244-245; al-Bakri [1050-1090?] 1982, 37-38; Ibn Ghalib [1100-1199?] 1975, 380; Ibn Said al-Maghribi [1230-1286?] 1958, 317; al-Idrisi [1145-1166?] 1974, 172-174; al-Razi [910-955?] 1975, 305; al-Zuhri [1150-1170?] 1968, 222. Mas também não escaparam ao olhar do cruzado inglês que participou da conquista da cidade: De Expugnatione Lyxbonensi [1147-1199?] 2001, 77-79.