Orquidofilia E Ciência No Brasil (1937-1949)
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
VALÉRIA MARA DA SILVA EDUCANDO HOMENS PARA EDUCAR PLANTAS: orquidofilia e ciência no Brasil (1937-1949) UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA Belo Horizonte 2013 VALÉRIA MARA DA SILVA EDUCANDO HOMENS PARA EDUCAR PLANTAS: orquidofilia e ciência no Brasil (1937-1949) Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em História. Linha de Pesquisa: Ciência e Cultura na História Orientador: Prof. Dr. Bernardo Jefferson de Oliveira Coorientadora: Profa. Dra.. Alda Lúcia Heizer Belo Horizonte Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais 23 de agosto de 2013 1 2 112.109 Silva, Valéria Mara da S586e Educando homens para educar plantas [manuscrito] : orquidofilia 2013 e ciência no Brasil (1937-1949) / Valéria Mara da Silva. - 2013. 215 f. : il. Orientador: Bernardo Jefferson de Oliveira. Co-Orientadora: Alda Lúcia Heizer. Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências. 1. História – Teses. 2. Orquídea – Teses. 3. Profissionais - Teses. 4. Ciência – História – Teses. I. Oliveira, Bernardo Jefferson de. II. Heizer, Alda Lúcia. III. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. IV. Título 3 Resumo Educando homens para educar plantas: orquidofilia e ciência no Brasil (1937-1949) A pesquisa analisa as relações estabelecidas entre amadores e especialistas que se dedicaram ao estudo das orquidáceas no Brasil entre 1937 a 1949. O primeiro marco temporal corresponde à fundação da Sociedade Brasileira de Orquidófilos (1937). O ano de 1949 à publicação da obra Iconografia de Orchidaceas do Brasil, obra de divulgação do botânico Frederico Carlos Hoehne (1882-1959), que tornou-se referência para os orquidófilos do período. O interesse pelas orquídeas envolvia diretamente dois “mundos sociais”, ou seja, o de amadores e profissionais. Tal vínculo demandou a criação de mecanismos para organizar e manter um diálogo, sobretudo obras de divulgação. Abordamos as condições que deram maior evidência ao colecionismo de orquídeas. Dessa forma, consideramos as práticas científicas, trocas de espécies entre países, mercado e colecionadores reunidos em agremiações. Palavras-chave: orquídeas, amadores, profissionais, ciência, Brasil. 4 Abstract Educating men to educate plants: orchidophilia and science in Brazil, 1937-1949. The research analyzes the relationships between amateurs and experts who have dedicated themselves to the study of orchidaceae in Brazil from 1937 to 1949. The first event to track corresponds to the establishment of Orchidophiles’ Brazilian Society in 1937. As for 1949, corresponds to the publication of the work of Iconografia de Orchidaceas do Brasil, work aimed at the general reading public by the botanist Frederico Carlos Hoehne (1882-1959) that became a reference for orchidophiles at the time. The interest in orchids directly involved two "social worlds", that is, the amateurs world and the professionals world. This bond required the creation of mechanisms to organize and maintain a dialogue, especially works of scientific popularization. We address the conditions that gave bigger evidence to the collecting of orchids. Thus, we take into account: the scientific practices, the exchange of species between countries, the market, and the collectors gathered in associations. Key-words: orchids, amateurs, experts, science, Brazil. 5 Agradecimentos: Várias pessoas foram fundamentais para a realização desse trabalho. Agradeço meu orientador Bernardo Jefferson de Oliveira pelos ensinamentos e incentivo constante ao longo desses anos. A ajuda, atenção e carinho da coorientadora Alda Lúcia Heizer foram decisivos ao longo da pesquisa, muito obrigada! A bolsa concedida pela CAPES foi de essencial importância para as viagens de pesquisa e compra de bibliografia. A banca composta pelas professoras: Ana Carolina Vimieiro Gomes, Helena Miranda Mollo e Anny Jacqueline Torres Silveira, por me presentearem com leituras tão atenciosas e desafiadoras da tese. Agradeço também à professora Regina Horta pelas preciosas observações da qualificação. A Graciela de Souza Oliver por auxiliar-me na fase inicial da pesquisa e Eduardo Borba pelo empréstimo da coleção da revista Orquídea. Meu padrinho, amigo e consultor de biologia, Vinícius Albano que respondeu pacientemente dezenas de emails com as mais variadas dúvidas. Do Instituto de Botânica de São Paulo, agradeço ao Prof. Fábio de Barros e ao arquiteto Luiz Ribeiro de Azevedo Barreto por me receberem tão gentilmente e pela autorização do último para citar um trabalho inédito. Ao orquidófilo, Sr. Euro Magalhães pelo generoso bate- papo e a presteza em responder minhas dúvidas. A Rosye e Gilberto que me acompanham desde o mestrado, obrigada! Aos amigos que diz durante o doutorado: Ana Marília, Gabriel, Rodrigo, Paloma, Francismary, Carol Capanema (ahhh...essa desde o mestrado). Pelas longas conversas, trocas de ideias e, principalmente, sorrisos e horas de descontração. Aos acolhedores amigos de Uberlândia: Luciene, Betinha, Florisvaldo, Luiz, Maria Andréa, Guilherme, Flávia e Raphael. Monalisa e Daniel por preservar meu cantinho em BH. Ao meu esposo, Jean pelo carinho e cumplicidade nessa jornada. Meus pais, Vera e Maurílio e irmãs, Gleice, Grasiele e Raissa: muito obrigada!!!!!! A família Neves Abreu: Ana, D. Normélia, Sr. Moacir e a tia Marcília. 6 Lista de ilustrações: Imagem 1: Caderno de recortes de Luys de Mendonça. Acervo da OrquidaRIO – p. 49 Imagem 2: Capas da Orquídea em fases distintas (volumes 01, 10, 20 e 27) – p.60 e 61 Imagem 3: O botânico João Barbosa Rodrigues – p.87 Imagem 4: Ilustração de orquídea – p.89 Imagem 5: Hoehne em companhia do Secretário de Agricultura Fernando Costa no Orquidário do Estado em 1929 – p.135 Imagem 6: Aula de Botânica Prática no Instituto de Botânica de São Paulo, 1939 – p.142 Lista de tabelas: Tabela 1: Livros sobre orquídeas publicados entre 1930 a 1950 – p. 46 e 47 Tabela 2: Visitantes do Orquidário do Instituto de Botânica de São Paulo – p.168 e 169 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................ 8 CAPÍTULO I- Colecionismo e orquidofilia........................................................ 17 1.1 - Colecionismo, plantas e orquídeas................................................................... 17 1.2- O colecionismo das orquídeas brasileiras......................................................... 28 1.3- Da sociedade ao periódico................................................................................ 49 CAPÍTULO II – O espírito do orquidófilo ou como se fazia um amador.......... 73 2.1- Da definição do termo amador.......................................................................... 73 2.2- Por que orquídeas?............................................................................................ 79 2.3- Amadores com distinção................................................................................... 94 CAPÍTULO III – Educando homens para educar plantas.................................. 104 3.1- O botânico......................................................................................................... 104 3.2 – “Sem o auxílio do mestre”: a autonomia dos amadores.................................. 151 3.3 – Dos preparativos para o Iconografia de Orchidaceas do Brasil..................... 161 3.4- O colecionador verdadeiro................................................................................ 164 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 180 FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................. 182 8 INTRODUÇÃO: Em 2008, após ler um artigo sobre Frederico Carlos Hoehne interessei-me por conhecer mais de sua obra. Essa leitura despertou-me lembranças familiares: a tia que colecionava violetas, as gardênias da casa da avó e, sobretudo, a paixão materna pelas orquídeas. Recebi a informação1 de que havia uma revista chamada Orquídea, publicada desde 1938 por amadores. As coleções completas do período são raras e vendidas a peso de ouro, mas tive a sorte de acessar uma quase completa. Já nas primeiras páginas, percebi a polarização entre o amador e o profissional e o discurso de defesa da flora orquidácea atrelado a ideias nacionalistas. Ler esse cenário pressupunha abandonar preconceitos correntes e impunha a questão: afinal o que é um amador de orquídeas? A resposta veio através da análise das sociedades criadas no período e noticiadas na Orquídea. O que as unia era o primado de doutrinar um tipo exemplar de orquidófilo. Uma palavra utilizada no período, orquicultura, resume os lados desse processo. Seu sentido original é cultivar orquídeas, mas o assumi como uma cultura que despontou na década de década de 1930, através de histórias paralelas: da orquidofilia e orquidologia. 2 1 Agradeço à professora Graciela de Souza Oliver por essa indicação e por viabilizar o empréstimo da coleção do professor Eduardo Borba. 2 É comum ouvir a afirmação segundo a qual as orquídeas são espécies originárias dos trópicos, o que não é correto. Apresento resumidamente alguns dados sobre a biologia das orquídeas: a família Orchidaceae tem distribuição cosmopolita, embora seja mais abundante e diversificada em florestas tropicais, especialmente