UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

PRISCILA SOZIGAM

AS WEB ESQUETES DO PORTA DOS FUNDOS E A ATENÇÃO

DO ESPECTADOR: ANÁLISE DE ELEMENTOS DE

LINGUAGEM AUDIOVISUAL

SÃO PAULO 2017 PRISCILA SOZIGAM

AS WEB ESQUETES DO PORTA DOS FUNDOS E A ATENÇÃO DO ESPECTADOR: ANÁLISE DE ELEMENTOS DE LINGUAGEM AUDIOVISUAL

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Pós- Graduação em Comunicação, área de concentração em Comunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Renato Luiz Pucci Junior.

SÃO PAULO 2017 FICHA CATALOGRÁFICA PRISCILA SOZIGAM

AS WEB ESQUETES DO PORTA DOS FUNDOS E A ATENÇÃO DO ESPECTADOR: ANÁLISE DE ELEMENTOS DE LINGUAGEM AUDIOVISUAL

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Pós- Graduação em Comunicação, área de concentração em Comunicação Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Renato Luiz Pucci Junior.

Aprovada em ----/-----/-----

Prof. Dr. Renato Luiz Pucci Junior

Profa. Dra. Egle Müller Spinelli

Prof. Dr. Rogério Ferraraz RESUMO

Esta pesquisa tem o objetivo de compreender que elementos de linguagem audiovisual levaram as web esquetes de humor do Porta dos Fundos a se transformarem em um dos con- teúdos mais visualizados entre os canais brasileiros do YouTube. Para entender como os fun- dadores conseguiram chegar nesse resultado de público levantaremos a origem dos fundado- res do canal e suas influências profissionais, principalmente na televisão, como o conheci- mento adquirido nas mídias foi importante para a construção de um produto audiovisual fami- liar ao público. A metodologia do estudo será a análise de determinadas características das web esquetes, como iluminação, maquiagem, figurino, roteiro, decupagem e o tempo de dura- ção dos vídeos. Com esse procedimento busca-se mapear o formato das web esquetes e como esses elementos são relevantes para construir um produto audiovisual que possa contribuir para atrair a atenção do espectador. Além disso, compararemos as características das web es- quetes do Porta dos Fundos com três produtos audiovisuais, Zorra (RGTV), Tá no Ar: A TV na TV (RGTV) e Parafernalha (YouTube), para avaliar as diferenças e similaridades na cons- trução de esquetes para a televisão e a internet. Espera-se, com essa comparação, pontuar se os canais do YouTube como o Porta dos Fundos podem ter influenciado a construção de pro- gramas televisivos e como os produtores de ambas as mídias vêm adaptando suas técnicas e habilidades para criar produtos audiovisuais que possam atrair a atenção do espectador. Para auxiliar no entendimento dos conceitos utilizaremos como referência os autores: Gazzaley e Rosen (2016) quanto à problemática da atenção num mundo com acesso infinito a dados, To- fler (1995) e Castells (1999; 2011) sobre a era da informação, Butler (2010) quanto à lingua- gem audiovisual e Ramos (2004) sobre televisão.

Palavras-chave: Porta dos Fundos. Web esquetes. Humor. Espectador. Atenção. ABSTRACT

This research aims to understand which audiovisual language elements have led hu- mor web sketches by Porta dos Fundos to become one of the most viewed contents among Brazilian channels on YouTube. In order to understand how the founders managed to reach this result among viewers, we are doing a survey on the channel founders’ origins and their professional influences, especially when it comes to television. The knowledge achieved on media was extremely important so that they could eventually construct an audiovisual product which is so familiar to the audience. The methodology of the study will be the analysis of some of the characteristics of web sketches, such as lighting, makeup, costumes, script, de- coupage and duration of videos. This procedure seeks to map the format of the web sketches and to indicate how these elements are relevant in order to build an audiovisual product that can contribute to attract the attention of the viewer. Furthermore, we will compare the features of the web sketches from Porta dos Fundos with three audiovisual products, Zorra (RGTV), Tá no Ar: a TV na TV (RGTV) and Parafernalha (YouTube), to evaluate differences and simi- larities in the construction of sketches for television and the internet. We hope that, by com- paring these products, we will be able to point out whether YouTube channels such as Porta dos Fundos may have influenced the construction of television programs and how the produc- ers of both media have been adapting their techniques and skills in order to create audiovisual products that can attract the attention of the viewer. In order to help the understanding of the concepts, we will use as reference the following authors: Gazzaley and Rosen (2016) when it comes to the problem of attention in a world with infinite access to data, Tofler (1995) and Castells (1999; 2010) regarding the age of information, Butler (2010) on audiovisual language and Ramos (2004), regarding television.

Key-words: Porta dos Fundos. Web sketches. Humor. Viewer. Attention. LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Web esquete Sem Bateria...... 132 Figura 2 – Web esquete Rola...... 132 Figura 3 – Web esquete Rola...... 132 Figura 4 – Web esquete Na Lata...... 133 Figura 5 – Web esquete Na Lata...... 133 Figura 6 – Web esquete Na Lata...... 133 Figura 7 – Web esquete Sobre a mesa...... 133 Figura 8 – Web esquete Sobre a mesa...... 133 Figura 9 – Web esquete Quem manda...... 134 Figura 10 – Web esquete Quem manda...... 134 Figura 11 – Web esquete Porta dos Fundos na TV...... 134 Figura 12 – Making of da web esquete Porta dos Fundos na TV...... 134 Figura 13 – Making of da web esquete Porta dos Fundos na TV...... 134 Figura 14 – Web esquete Sobre a mesa...... 135 Figura 15 – Web esquete Sobre a mesa...... 135 Figura 16 – Web esquete Sobre a mesa...... 135 Figura 17 – Web esquete Sobre a mesa...... 135 Figura 18 – Web esquete Sobre a mesa...... 135 Figura 19 – Web esquete Sobre a mesa...... 136 Figura 20 – Web esquete Sobre a mesa...... 136 Figura 21 – Web esquete Sobre a mesa...... 136 Figura 22 – Web esquete Sobre a mesa...... 136 Figura 23 – Cachorro quente completo! do Zorra...... 136 Figura 24 – Cachorro quente completo! do Zorra...... 136 Figura 25 – Cachorro quente completo! do Zorra...... 136 Figura 26 – Cachorro quente completo! do Zorra...... 136 Figura 27 – Cachorro quente completo! do Zorra...... 137 Figura 28 – Cachorro quente completo! do Zorra...... 137 Figura 29 – Web esquete Spoleto...... 137 Figura 30 – Web esquete Spoleto...... 137 Figura 31 – Web esquete Spoleto...... 137 Figura 32 – Web esquete Spoleto...... 137 Figura 33 – Web esquete Spoleto...... 138 Figura 34 – Tá no Ar: A TV na TV vídeo Capa Bonita...... 138 Figura 35 – Tá no Ar: A TV na TV vídeo Capa Bonita...... 138 Figura 36 – Web esquete Biblioteca...... 138 Figura 37 – Web esquete Biblioteca...... 138 Figura 38 – Web esquete Biblioteca...... 139 Figura 39 – Tá no Ar: A TV na TV vídeo Capa Bonita...... 139 Figura 40 – YouTuber Felipe Neto...... 140 Figura 41 – Web esquete Técnicas de paquera...... 140 Figura 42 – Web esquete Técnicas de paquera...... 140 Figura 43 – Web esquete Técnicas de paquera...... 140 Figura 44 – Web esquete Técnicas de paquera...... 140 Figura 45 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos...... 141 Figura 46 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos...... 141 Figura 47 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos...... 141 Figura 48 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos...... 141 Figura 49 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos...... 141 Figura 50 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos...... 141

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Quantidade de esquetes do Porta dos Fundos por ano de publicação e o total de visualização do período...... 43 Tabela 2 – Quantidade de vídeos por tempo de duração...... 53 Tabela 3 – Quantidade de web esquete por ano de publicação...... 57 LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Esquetes do Porta dos Fundos por ano de publicação e visualização...... 43 Gráfico 2 – Quantidade de vídeos por tempo de duração...... 54 Gráfico 3 – Linha do tempo dos conteúdos da produtora Porta dos Fundos...... 55 Gráfico 4 – Quantidade de vídeos publicados de agosto de 2012 até março de 2017...... 57 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...... 12 1 VÍDEOS ONLINE E A ATENÇÃO DO ESPECTADOR...... 18 1.1 A memória e atenção do público e a familiaridade com as web esquetes do Porta dos Fundos...... 18 1.2 Seleção da atenção aos produtos audiovisuais pelo espectador...... 24 1.3 O tempo de atenção do espectador e a relação com tempo de duração das web esquetes do Porta dos Fundos ...... 30 2 A TRAJETÓRIA DA PRODUTORA PORTA DOS FUNDOS...... 35 2.1 O Porta dos Fundos na E ra da I nformação ...... 35 2.2 As mídias formadoras do canal do YouTube Porta dos Fundos ...... 44 2.3 Esquetes de humor e as web esquetes do Porta dos Fundos ...... 49 2.4 A linha do tempo das realizações da produtora...... 54 3 ANÁLISE DO FORMATO DAS WEB ESQUETES DO PORTA DOS FUNDOS ...... 63 3.1 Linguagem audiovisual das web esquetes...... 63 3.1.1 Resumo das web esquetes...... 63 3.1.2 Os elementos: figurino, maquiagem e iluminação...... 65 3.1.2.1 Figurino e Maquiagem...... 65 3.1.2.2 Iluminação...... 68 3.1.3 A decupagem para pequenas telas...... 69 3.1.4 A flexibilização do roteiro e o tempo da piada...... 71 4 O HUMOR DO PORTA DOS FUNDOS E O MEIO TELEVISIVO ...... 81 4.1 As esquetes dos programas televisivos: Zorr a e Tá no Ar: A TV na TV ...... 81 4.1.1 Zorra...... 81 4.1.2 Tá no AR: A TV na TV...... 90 4.2 O formato característico das web esquetes do Porta dos Fundos e o canal de humor do YouTube Parafernalha...... 95 CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 105 REFERÊNCIAS...... 107 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR...... 110 GLOSSÁRIO...... 111 APÊNDICES...... 113 APÊNDICE I: BIOGRAFIAS...... 114 APÊNDICE II: LISTA DAS WEB ESQUETES...... 117 CADERNO DE FIGURAS...... 132 INTRODUÇÃO

Atualmente um dos canais de humor na internet mais conhecidos pelo público brasileiro é o Porta dos Fundos. Com cerca de treze milhões de pessoas inscritas em seu canal do YouTube e um total de três bilhões de visualizações, o grupo conseguiu criar uma marca consolidando a visualização de seu produto audiovisual na internet: a web esquete. Para entender como foi possível atrair a atenção dos internautas, analisaremos a linguagem audiovisual das web esquetes e compararemos com esquetes produzidas por emissoras de televisão para compreender as semelhanças ou diferenças que podem ter levado o Porta dos

Fundos ao desenvolvimento desse formato de vídeo online.

O Porta dos Fundos publicou seus primeiros vídeos com tempo de duração de quinze a dezoito minutos com o formato de um programa de televisão: apresentador, conteúdo, intervalos e encerramento. Essas primeiras publicações em formato de programa televisivo podem ser entendidas em vista da vivência dos fundadores com o meio televisivo, porém, após o quarto vídeo o grupo decidiu publicar esquetes com duração máxima de cinco minutos com as características que conhecemos hoje: piada, vinheta e créditos. A alteração do formato de programa para esquete pode ser atribuída ao tempo de atenção do espectador que está habituado a assistir aos vídeos curtos na internet. A mudança também poderia ser atribuída ao limitado orçamento de produção do Porta dos Fundos no início do canal ou ainda, o ajuste no formato de publicação poderia ter sido efetuado em virtude das escolhas dos espectadores por um produto com menor tempo de duração em relação aos quatro programas publicados inicialmente no canal.

A produtora Porta dos Fundos1 foi criada com o conhecimento das técnicas de

1 Ao final da dissertação haverá um glossário para os termos técnicos e apêndice com a biografia dos fundadores e uma lista das web esquetes do Porta dos Fundos.

12 produção de vídeos para televisão e internet, por isso, é possível afirmar que o domínio desses processos ajudou a desenvolver um produto audiovisual que dialoga com esses meios de comunicação. Na Era da Informação, os autores Manuel Castells (1999), Alvin Tofler (1995) e

Armand Mattelart (2001) mostram que para tornar a informação cada vez mais utilizada pelo público não houve apenas um movimento de melhoria tecnológica, houve também uma expansão das possibilidades de criação, com estudos em diferentes áreas e investimento em novas tecnologias privilegiando capacidades e habilidades criativas no processo de geração de conhecimento. Podemos entender então que o conhecimento nos meios de produção audiovisual do Porta dos Fundos, formado por cinco pessoas com diversas habilidades criativas, prática na criação de conteúdos audiovisuais em variados meios de comunicação, e ainda, a compreensão dos elementos que chamam a atenção do espectador ajudaram a criar e a consolidar o público das web esquetes do canal em questão.

Por isso, o objetivo da pesquisa é compreender quais os elementos de linguagem audiovisual que foram responsáveis pelo sucesso de público das web esquetes do canal do

YouTube Porta dos Fundos em relação a outras esquetes de humor produzidas para o espectador da televisão aberta e da internet. O problema de pesquisa é entender quais as características desenvolvidas nas web esquetes do Porta dos Fundos que permitem um sucesso de público diante das infinitas possibilidades de produtos audiovisuais na internet e na televisão, e ainda, por que o Porta dos Fundos optou pelo formato esquete em vez de programas com várias esquetes como as séries ou os seriados ou outros formatos de conteúdos para entretenimento.

Para responder essas perguntas estudaremos a memória e a atenção das pessoas para compreender o processo de seleção que pode levar a essas escolhas mostrando como a familiaridade com produtos televisivos na grande mídia ajudou a construir o reconhecimento

13 das web esquetes do Porta dos Fundos em relação à televisão aberta. No capítulo 1 falaremos sobre memória e atenção com base nas teorias de: André Frazão Helene e Gilberto Fernando

Xavier (2003), John Santrock (2009) e Adam Gazzaley e Larry Rosen (2016).

Traçaremos um paralelo entre o tempo de atenção medido pelos pesquisadores

Gazzaley e Rosen e a duração das web esquetes do Porta dos Fundos, para isso, traremos gráficos e tabelas mostrando, em média, quantos minutos duram os 640 vídeos listados na pesquisa.

O mercado audiovisual é extremamente vasto e o Porta dos Fundos compete com inúmeros vídeos e programas televisivos disponíveis nos smartphones, atualmente as estatísticas elaboradas pelo YouTube divulgam que “mais da metade das visualizações do

YouTube ocorrem em dispositivos móveis”2. O acesso à internet através do celular ajuda as pessoas a ficarem conectadas de forma que busquem entretenimento a qualquer momento. No decorrer da pesquisa, tentaremos mostrar como o Porta dos Fundos tenta conquistar o público com o uso de recursos de linguagem audiovisual. As web esquetes ficam à disposição das pessoas podendo ser vistas e revistas pelo canal do YouTube, se houver, por exemplo, um desvio de atenção quando alguém está assistindo a esse produto, é perfeitamente viável ao espectador parar esse vídeo e revê-lo em um momento mais apropriado em que possa dedicar toda a sua concentração ao conteúdo. Para este estudo traremos autores que discutem a seleção dos vídeos online pelos espectadores, com as pesquisas de Jeremy Butler (2010) e

Márcio Carneiro dos Santos (2011) que indicam como a escolha e a interatividade podem trazer novas maneiras das pessoas assistirem aos conteúdos audiovisuais na internet e influenciar as produções audiovisuais para atender às necessidades desse público. Sabemos que o YouTube, como exemplo de plataforma de vídeos online, possui milhões de conteúdos à

2 SITE DO YOUTUBE. Sobre o YouTube. Disponível em https://www.youtube.com/intl/pt-BR/yt/about/press/. Acessado em 12 de nov. de 2017.

14 disposição do público. Além da enorme quantidade de produtos audiovisuais, suas ferramentas de visualização permitem que os espectadores construam uma relação de controle da imagem e do som. No capítulo 1, veremos essa adequação do vídeo com a necessidade de consumo de produtos audiovisuais por parte do público, podendo ser exemplificada quando ajustamos a definição da imagem ou congelamos o vídeo. Jeremy Butler (2010, pos. 3764)3 destaca essa possibilidade de ajuste no formato de tela como uma espécie de edição no vídeo online, em que o usuário da web tem sob seu controle o andamento ou a visualização da história.

Para explicar a relação da familiaridade das web esquetes com programas televisivos levantaremos a trajetória dos fundadores do Porta dos Fundos para mostrar como o know- how do grupo influenciou na construção das web esquetes. No capítulo 2, mostraremos brevemente o histórico profissional dos fundadores (PORTA DOS FUNDOS, 2013) para entendermos suas experiências profissionais adquiridas em outras mídias. Veremos nesse capítulo, que os fundadores passam por diversos meios, entre eles: a internet, com os canais do YouTube: Anões em Chamas4 e Kibe Loco5; a televisão, com os programas Zorra Total

(RGTV, 1999-2015) e O Fantástico Mundo de Gregório (Multishow, 2012); a publicidade, com o departamento de marketing da Icatu Hatford; o teatro, com a peça Z.É. Zenas

Emprovisadas; e o cinema, com os filmes Teste de Elenco – O Filme (Ian SBF e Osíris

Larkin, 2008) e A mulher invisível (Cláudio Torres, 2010). O autor Henry Jenkins (2008), que estuda as relações de convergência entre as mídias, nos ajudará a compreender a troca de experiências entre as produções audiovisuais e traçaremos um paralelo entre os meios de comunicação e a formação profissional dos realizadores do Porta dos Fundos.

3 Nota da autora: Os e-books do Kindle muitas vezes não possuem número de páginas de seus livros. Nesses casos, em vez de página, o programa utiliza número de posição. 4 CANAL DO YOUTUBE ANÕES EM CHAMAS. Sobre os Anões em Chamas. Disponível em https://www. y ou t ube.com/user/canalanoesemchamas/about . Acessado em 08 de dez. de 2016. 5 CANAL DO YOUTUBE KIBE LOCO. Sobre o Kibe Loco. Disponível em https://www. y ou t ube.com/user/antoniotabet/about . Acessado em 08 de dez. de 2016.

15 Com base nos levantamentos do histórico profissional e o mapeamento temporal das produções do Porta dos Fundos pretendemos mostrar como essas experiências em diferentes mídias ajudam a criar um ciclo de influxo entre as produções audiovisuais do Brasil possibilitando novos formatos ou características na criação de conteúdos audiovisuais. Para o entendimento dessa troca de conhecimento traremos o trabalho do autor brasileiro José Mário

Ortiz Ramos (2004) estudou o fluxo de experiências entre o cinema, a televisão e a publicidade no Brasil que se passaram entre os anos 70 e 80 ajudando a mostrar a importância da experiência entre produtores para diferentes mídias. Para relacionar os estudos de Ramos

(2004) com as produções do Porta dos Fundos será preciso aprofundar a evolução que a produtora foi realizando ao longo desses cinco anos. No seu início, começaram com as web esquetes na internet e, a partir do canal, foi desenvolvendo produtos em diferentes meios: aplicativo de games, programas de entrevista, séries, seriados, comentários sobre esportes, longa-metragem e peça de comédia.6

Após a pesquisa do nascimento e da consolidação da produtora, no capítulo 3, passaremos para a análise das características das web esquetes do Porta dos Fundos. Até o encerramento da pesquisa, em março de 2017, haviam sido publicadas 640 web esquetes7, para a nossa análise tomaremos como mais representativas as quatro web esquetes mais visualizadas até o momento. Os pontos de análise serão: iluminação, maquiagem e figurino, decupagem das cenas mostrando os planos e enquadramentos, roteiro como elemento de construção da piada cujo humor é pautado pelas vivências dos roteiristas e pela liberdade de ajustes na gravação. A compreensão destas características é relevante para a pesquisa, primeiro, porque delimita alguns elementos da linguagem audiovisual que ajudam a trazer a atenção do público e, segundo, pode indicar fatores que servem de comparação com outros

6 Para entendermos os detalhes desses produtos elaborados traçaremos uma linha do tempo desde o ano de 2012 até março de 2017. 7 Nota da autora: a lista das web esquetes está disponível no Apêndice II.

16 programas de humor disponíveis na internet e na televisão.

No capítulo 4 realizaremos a comparação dos recursos de linguagem audiovisual que ajudam a compreender a construção dessas web esquetes com três produtos audiovisuais: dois programas de televisão e um canal da internet. Essa parte da pesquisa terá o objetivo de apontar as semelhanças e diferenças entre algumas das características que compõem os vídeos disseminados em diferentes meios de comunicação: televisão e internet. Este estudo utilizará a metodologia de pesquisa qualitativa com a análise audiovisual das web esquetes do Porta dos

Fundos em comparação com outros produtos de humor: na internet, os vídeos do canal do

YouTube Parafernalha8; e na televisão, os programas da Rede Globo Zorra e Tá no Ar: a TV na TV. Faremos uso também da metodologia quantitativa para determinarmos número de visualizações ao ano, tempo médio de duração e quantidade de vídeos publicados ao ano.

O Porta dos Fundos foi inspirado pelas técnicas de produção da televisão e, assim como ele, outros canais de humor da internet podem ter influenciado mudanças nos formatos de novos programas de humor da televisão aberta. Por isso, acredita-se que é importante para a pesquisa mostrar a troca de experiência nas produções entre internet e televisão para atender

às necessidades de um público com milhares de vídeos à disposição: televisão digital, canais de filmes e séries online, sites e aplicativos das emissoras que disponibilizam sua programação pelos smartphones.

A finalidade central da pesquisa é tentar compreender quais os elementos audiovisuais que são utilizados para chamar a atenção das pessoas estimuladas por todas as mídias a todo o momento, e ainda, como o Porta dos Fundos desenvolve suas web esquetes para responder às necessidades de entretenimento dos internautas e espectadores.

8 CANAL DO YOUTUBE PARAFERNALHA. Sobre o Parafernalha. Disponível em https://www. y ou t ube.com/user/canalparafernalha/about . Acessado em 31 de jan. de 2017. Nota da autora: No Brasil existem outros canais no YouTube com vídeos de humor com tempo curto de duração, como é o caso do canal Parafernalha, entretanto, esse canal não alcançou a mesma marca de público do Porta dos Fundos, mais de treze milhões de inscritos.

17 1 VÍDEOS ONLINE E A ATENÇÃO DO ESPECTADOR

Neste primeiro capítulo falaremos sobre atenção, seleção e memória para apreender os processos que podem direcionar a escolha ou permanência do indivíduo em um determinado foco. Na nossa pesquisa, tentaremos trazer esses conceitos sobre a seleção e a memória do espectador tentando entender se existe algum mecanismo acionado quando assistimos a um produto audiovisual e se esses processos podem indicar a nossa preferência por determinado tipo de vídeo, ou seja, se a atenção pode ter relação com a construção da nossa memória audiovisual por assistir a determinados formatos de conteúdos.

A memória é utilizada como unidade de armazenamento e processamento das informações, possibilita um direcionamento na seleção das ações que tomaremos ao sermos estimulados, e de acordo com o ambiente, qual a informação que será relevante para a chamar nossa atenção. Nosso intuito na pesquisa é compreender os aspectos que podem direcionar o público brasileiro na sua escolha em assistir às web esquetes do Porta dos Fundos, em vez de optar por uma esquete de humor com uma linguagem audiovisual estranha aos hábitos dos espectadores. Ou seja, o distanciamento da atenção pode ser atribuído aos elementos utilizados em vídeos diferenciados das imagens e sons assistidos geralmente por um determinado público.

1.1 A memória e atenção do público e a familiaridade com as web esquetes do Porta

dos Fundos

Vivemos em um mundo estimulante com informações sendo jogadas para competir pela nossa atenção: mensagens, memes, vídeos, propagandas, etc. Os nossos celulares, por exemplo, que transitoriamente enviam sons indicando que alguém ou alguma coisa pede a

18 nossa atenção:

Nossos dispositivos vibram, agitam, chocalham e rolam, e nossa atenção é capturada. Não é por acaso que agora associamos toques específicos e vibrações a certas pessoas para chamar nossa atenção9. (GAZZALEY; ROSEN, 2016, pos. 2137-2138)

A nossa atenção é cobiçada momentaneamente para que possamos nos interessar por determinado produto ou serviço tentando nos transformar em potenciais consumidores com o uso de mensagens repetidas e expostas chamando-nos para receber e interagir com esses atores.

Helene e Xavier, biólogos, que estudam a memória e atenção em seres humanos, definem que a “Atenção corresponde a um conjunto de processos que leva à seleção ou priorização no processamento de certas categorias de informação; isto é, ‘atenção’ é o termo que refere-se aos mecanismos pelos quais se dá tal seleção.” (2003, p. 12) Com base nessa teoria podemos compreender que estamos constantemente escolhendo quais práticas terão prioridade para a nossa ação e reação perante as situações e, ainda, que esses atos podem concorrer entre si com informações recebidas ao mesmo tempo. Quando estamos andando na rua, e no mesmo momento, olhando uma mensagem em nosso celular, duas ações pedem a nossa atenção, a primeira, trata de uma atividade que move o nosso corpo em direção a algum local, e a segunda, possibilita adquirir informação ou fazer comunicação com alguém. Ambas podem ser relevantes, entretanto, se não selecionarmos adequadamente a prioridade de cada atividade há o risco de sofrermos um acidente, por exemplo, quando não olhamos por onde estamos caminhando. Portanto, a escolha entre uma ação e outra é significante, além de garantir a nossa segurança e bem-estar, pode nos direcionar em nossas preferências de

9 Texto original: “Our devices vibrate, shake, rattle, and roll, and our attention is captured. It is no accident that we now attach specific ringtones and vibrations to certain people to grab our attention.” Tradução da auto- ra.

19 comunicação e entretenimento (HELENE; XAVIER, 2003, p. 17).

A memória está relacionada com a seleção dos sistemas de atenção e, por isso, passa a ser importante para a nossa pesquisa. Nos capítulos 2 e 3 mostraremos que o Porta dos Fun- dos possui grande público não somente pelo meio de disseminação, mas também pela sua pro- ximidade com a linguagem audiovisual de programas televisivo. A familiaridade do público com produtos televisivos nos leva a crer que o espectador possui uma memória de imagem e som pautada pela vivência dos programas assistidos. Essa memória fica armazenada e, quan- do o espectador assiste às web esquetes do Porta dos Fundos, consegue reconhecer uma for- ma aproximada de linguagem audiovisual já que o público foi treinado desde a infância com determinado formato de programa televisivo brasileiro.

A memória é importante para a nossa pesquisa, ela é responsável por efetuar o processamento das interações que se acumulam com ações anteriores fazendo o direcionamento dos dados para armazenamento no sistema nervoso.

O estudo de processos de memória vem se beneficiando do conceito de modularidade de funções, isto é, da noção de que memória compreende um conjunto de habilidades mediadas por diferentes módulos do sistema nervoso, que funcionam de forma independente, porém cooperativa. O processamento de informações nesses módulos dar-se-ia de forma paralela e distribuída, permitindo que um grande número de unidades de processamento influencie outras em qualquer momento no tempo, e que uma grande quantidade de informações seja processada concomitantemente. (HELENE; XAVIER, 2003, p. 17)

Nosso cérebro recebe e armazena esses dados direcionando e armazenando as informações em nossa memória. Passaremos a trazer os estudos sobre a atenção relacionada com a memória, ou seja, a inserção de novas informações e o direcionamento da atenção sobre determinadas ações.

O autor John Santrock, que estuda psicologia educacional, afirma que existem três

20 categorias de atenção: 1. Dividida: que é centrada em duas funções ao mesmo tempo; 2.

Sustentada: que mantém a atenção prologada quando há a escolha por um determinado estímulo; e 3. Seletiva: quando seleciona para um foco de atenção e descarta os demais estímulos (SANTROCK, 2009, p. 267). Essas três categorias mostram como organizamos as informações que recebemos realizando o direcionamento das mesmas de acordo com a prioridade. Por exemplo, com a atenção dividida é possível ouvir música e andar ao mesmo tempo, pois são processamentos em regiões do nosso cérebro que conseguem ocorrer ao mesmo momento, já a atenção sustentada funciona como uma vigilância em que nos dedicamos a focar em uma determinada ação para absorção dessa atividade; e por último, com a atenção seletiva, escolhemos qual a relevância de uma prática e ignoramos as demais, quando estamos conversando em um ambiente barulhento conseguimos manter a atenção na conversa da nossa mesa e desconsideramos o barulho das outras pessoas, pois selecionamos que nosso foco seja direcionado aos nossos amigos. Esse processo de seleção da atenção parece estar relacionado à mesma ação que ocorre quando assistimos a um filme em que nós direcionamos a nossa atenção para um determinado local (tela) mesmo sabendo que existem pessoas ao nosso redor que podem nos distrair; logo, fazemos uma escolha em focar apenas no vídeo e ignorar demais as vozes.

Os pesquisadores Helene e Xavier (2003) explicam que existem duas fases sobre a escolha por determinada ação que podem concorrer paralelamente no processamento dos estímulos e informações que são enviadas ao nosso cérebro:

(1) nos estágios iniciais de processamento, antes do ingresso da informação nos supostos sistemas de capacidade limitada10, ou (2) no próprio sistema de capacidade limitada, através da escolha dos estímulos que influenciarão a

10 Sistema de capacidade limitada é “denominado retentor episódico, que corresponderia a um sistema de capa- cidade limitada no qual a informação evocada da memória de longa duração tornar-se-ia consciente. A central executiva, com capacidade limitada, proporcionaria a conexão entre os sistemas de suporte e a memória de lon- ga duração e seria a responsável pela seleção de estratégias e planos.” (HELENE; XAVIER, 2003, p. 13)

21 resposta, enfatiza a existência de dois domínios de processamento. O primeiro parece operar em paralelo e requerer pouco ou nenhum esforço consciente; o segundo operaria serialmente, requerendo esforço e destinação de recursos de um sistema atencional de capacidade limitada. Porém, em processamentos guiados pela especificação (expectativa) do objeto a ser selecionado, haveria seleção nos estágios iniciais. (HELENE; XAVIER, 2003, p. 17)

O sistema de capacidade realiza o filtro das informações a serem processadas e seleciona a informação dependendo da relevância do dado e da relação com o armazenamento da referência na nossa memória. Helene e Xavier dão dois exemplos para nos ajudar a compreender esse filtro de processamento das informações. O primeiro exemplo está relacionado à preferência de uma informação retida na nossa memória e qual a importância dessa retenção para a atenção: “informações retidas na memória e às quais se atribui relevância (por exemplo, o próprio nome) recebem prioridade no processamento e captam a atenção automaticamente (2003, p. 17)”; quando estamos em um ambiente desconhecido, por exemplo, em um parque que nunca visitamos e ouvimos o nosso nome prontamente buscamos localizar quem está nos chamando, para saber se há alguém nos procurando mesmo que desconheçamos o assunto a ser tratado. O nome é uma referência importante na nossa vida, somos reconhecidos praticamente em todos os ambientes que frequentamos por essa referência, por isso, essa informação fica retida na memória como um dado relevante para o sistema de processamento de informações.

Outro exemplo que os pesquisadores apontam para a seleção da atenção pode variar conforme a atividade que estamos realizando:

Por exemplo, durante o ato de dirigir um carro, estímulos como luzes vermelhas devem receber prioridade no processamento em relação ao mesmo tipo de estímulo, por exemplo, quando se joga tênis. Em termos neurais, o desempenho de certas atividades treinadas previamente (ou talvez de forma mais ampla, o contexto) deve pré-ativar redes neurais, de modo que o fruto de seu processamento passe a ter prioridade para os sistemas

22 atencionais. (HELENE; XAVIER, 2003, p. 18)

O exemplo acima de direcionamento do nosso foco para luzes vermelhas ao dirigir um carro pode mostrar que a luz vermelha precisa de nossa atenção porque esta ação está relacionada com uma memória de prevenção de acidentes na direção de um veículo. Desse modo, se um veículo freia à nossa dianteira, uma luz vermelha é acesa na traseira desse carro significando que precisamos frear para não colidir com o automóvel da frente, por isso, desde o treinamento da direção somos orientados a prestar atenção nas luzes como uma forma de garantir a nossa segurança e das pessoas ao nosso redor. Portanto, a prioridade pode variar de acordo com o tipo e o risco da atividade em que estamos realizando.

No decorrer da pesquisa, tudo indica que, os fundadores do Porta dos Fundos buscaram as referências de produção na televisão que possuem os elementos que estão armazenados na memória do público, dessa forma, o uso desses elementos pelo Porta dos

Fundos ajuda o espectador a se familiarizar com a linguagem audiovisual das web esquetes.

Por exemplo, qual seria a escolha do público brasileiro entre uma web esquete do Porta dos

Fundos e o programa de humor Ken & Cha Kato Gokigen do Japão11? Provavelmente, esse espectador optará pelo vídeo que compreende os diálogos, pois em um idioma desconhecido não existe a compreensão do contexto e particularidades que ajudam a acionar o humor.

Münsterberg, psicólogo, traz o exemplo de como o idioma é fundamental para compreensão da mensagem e pode direcionar a seleção da nossa atenção:

Se ouvimos chinês, percebemos os sons, mas não há resposta interna às palavras; eles são sem sentido e mortos para nós; não temos interesse neles. Se ouvimos os mesmos pensamentos expressados em nossa língua materna, cada sílaba traz seu significado e mensagem. Há uma tendência errada em imaginar que esse significado adicional que pertence à linguagem familiar e que está ausente do primeiro é algo que nos vem na percepção como se o significado também estivesse passando pelos canais de nossos ouvidos. Ao

11 CANAL DO YOUTUBE LAUGH IT OUT. Japanese Comedy Shimura Ken & Cha Kato Gokigen TV – EP3. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ruhoDIGSg5w. Acessado em 24 de jul. de 2017.

23 aprender um idioma, aprendemos a adicionar associações e reações próprias aos sons que percebemos12. (MÜNSTERBERG, 2004, p. 31)

Temos uma memória treinada em reconhecer os sons em nosso idioma, quando ouvimos conversas em outra língua não temos necessariamente o mesmo interesse, do que quando ouvimos um diálogo compreensível. Por isso, a memória é importante para a construção da atenção e no caso de produtos audiovisuais é possível afirmar que a formação do espectador com imagens e sons ao longo de suas vidas ajuda a criar uma relação de familiaridade ou estranhamento ao assistir a um vídeo.

Podemos concluir que o nosso cérebro vai armazenando as informações que recebe ao longo do tempo e processa os dados para nos ajudar na priorização de cada estímulo, dependendo do momento, ambiente e atividade. A memória é um dos fatores determinantes para essa seleção, por isso, é possível dizer que o espectador escolhe os vídeos de acordo com suas referências e prioriza suas ações ajustando às suas preferências.

1.2 Seleção da atenção aos produtos audiovisuais pelo espectador

De acordo com os pesquisadores Gazzaley e Rosen não mudamos a tal ponto que alte- rasse o funcionamento do nosso controle cognitivo comparando com o nosso antepassado há dez milhões de anos (2016, pos. 301). Ainda usamos os mesmos recursos de percepção e ação para garantir o nosso bem-estar como nossos ancestrais faziam para a sobrevivência deles em ambientes hostis:

12 Texto original: “If we hear Chinese, we perceive the sounds, but there is no inner response to the words; they are meaningless and dead for us; we have no interest in them. If we hear the same thoughts expressed in our mother tongue, every syllable carries it its meaning and message. There are erradicaly inclined to fancy that this additional significance which belongs to the familiar language and which is absent from foreign one is some- thing which comes to us in the perception itself as if the meaning too were passing through the channels of our ears. In learning the language we have learned to add associations and reactions of our own to the sounds whi- ch we perceive.” Tradução da autora.

24 Voltemos ao relógio de novo e consideremos uma cena do nosso antepassado humano para apreciar a atenção seletiva durante o período de formação: Um dos nossos antepassados sedento está rondando através de uma grande floresta e surge em uma clareira desconhecida onde ele percebe um atraente fluxo de água. Sucesso! Mas, apesar do poderoso, realmente reflexivo, convite para beber, ele não anda para a frente. Em vez disso, ele para... suprime o impulso, avalia, toma uma decisão e formula um objetivo. A experiência anterior nesta floresta ensinou-lhe que, onde há água, muitas vezes também há um predador altamente eficaz escondido nas proximidades – o jaguar. É aí que essa pausa crítica reflete a sua percepção-ação de "ver a água - beber água" e permite que ele realize uma avaliação rápida da situação para determinar se esta condição merece uma análise mais cuidadosa. Isso o leva a decidir que pode haver uma ameaça invisível.13 (GAZZALEY; ROSEN, 2016, pos. 661)

Mesmo vivendo em um mundo moderno, em que não somos alvos de animais maiores que podem nos caçar, ainda temos a necessidade de garantir a nossa sobrevivência no ambien- te que criamos e no qual também sofremos riscos de acidente ou morte: acidentes de carros, práticas de atividades físicas, etc. Ainda somos guiados por ações que nos ajudam a manter nosso bem-estar, por isso, um dos mecanismos que usamos para compreender o direciona- mento da nossa atenção é a seletividade.

Para desvendar a profundidade e amplitude da atenção, o primeiro passo é apreciar a característica mais fundamental: a seletividade. Isso é o que nos permite direcionar nossa força intelectual – nossos recursos neurais – de for- ma focada14. (GAZZALEY; ROSEN, 2016, pos. 655)

A seleção nos ajuda a direcionar nossas preferências e prioridades, por exemplo, 13 Texto original: “Let´s turn back the clock again and consider a scene from our human past to appreciate se- lective attention during its formative period: One of our thirsty ancestors is prowling through a deep forest and emerges into an unfamiliar clearing where he spots and enticing stream. Sucess! But, despite the powerfull, ac- tually reflexive, drive to drink, he does not charge forward. Rather, he pauses... suppresses the impulse, evalua- tes, reaches a decision, and formulates a goal. Previous experience in this forest has taught him that where there is water, there is often also a highly effective predator hiding nearby - the jaguar. This is where that critical pause in the perception-action reflex of "see water - drink water" allows him to undertake an initial rapid evalu- ation of the situation to determine if this setting deserves more careful assessment. This leads him to decide that there may indeed be an invisible threat.” Tradução da autora. 14 Texto original: “To unravel the depth and breadth of what attention is, the first step is to appreciate its most fundamental feature: selectivity. This is what allow us to direct our brainpower – our neural resources – in a fo- cused manner.” Tradução da autora.

25 mesmo com a variedade de conteúdo audiovisual disponível em nossa televisão e equipamentos modernos para assistir aos vídeos: telas grandes, óculos em três dimensões, qualidade de resolução e som, muitas pessoas mantêm o hábito de ir ao cinema regularmente, pois além de ser um lazer, a sala de cinema possui um ambiente que propicia uma experiência sensorial, uma vez que ficamos imersos em um local escuro com cadeiras direcionadas a uma tela gigante e um som alto. A sala de cinema proporciona à nossa visão, audição, paladar, tato e olfato uma atividade diferente da que vivenciamos ao assistirmos aos filmes em residências: a poltrona permite uma acomodação diferenciada da nossa casa, a pipoca que cozinhamos não tem o mesmo sabor, o cheiro da sala de cinema não é o mesmo que no ambiente residencial, o som é altíssimo em relação ao que costumamos ouvir em nossas televisões. Por um lado, o cinema representa uma imersão no universo do filme direcionando os sentidos do espectador graças à ambiência da sala em que ele está inserido. Por outro lado, a atenção do espectador fora do ambiente imersivo da sala de cinema é mais exposta às interferências que podem redirecioná-lo para outros fatores que ocorrem ao redor da tela. Um ambiente cheio de estímulos é o ambiente em que geralmente se encontra o espectador que, por exemplo, assiste

às web esquetes do Porta dos Fundos ou programas de humor Zorra e Tá no Ar: A TV na TV

(disponíveis no site ou aplicativo Globo Play) conectado com seu smartphone na rua, no

ônibus ou mesmo no trabalho.

Entretanto, o internauta possui uma variedade para escolha do conteúdo e como será o andamento desse vídeo: qual a esquete deseja assistir, se há preferência por um vídeo, ator ou tema específico ou deixar o programa completo rodando se for de seu interesse. “Ao assistir a um vídeo on-line, (o espectador) pode pausá-lo, retrocedê-lo, pular para frente ou para trás.”15

(BUTLER, 2010, pos. 4016) Butler explica as possibilidades de ajuste de acordo com as

15 Texto original: “When watching a video online one can pause it, rewind it, skip ahead or backwards.” Tra- duação da autora

26 necessidades do espectador em vídeos online que permitem interações de controle e seleção pelo público forçando os produtores a buscarem essas preferências para manter seus canais de internet com a audiência esperada.

Se pensarmos em dois tipos de ambiência para o espectador: assistindo aos filmes no ambiente imersivo do cinema ou assistindo aos vídeos online com interferências que podem impactar na compreensão da narrativa. Essas diferenças entre os ambientes precisarão ser analisadas pelos produtores de filmes, visto que, atualmente é possível assistir a um filme no cinema ou no celular. Imaginemos então, um filme sendo visto dentro de um ônibus com o barulho, a movimentação, as luzes e as pessoas interagindo ao redor competindo com a atenção do espectador. Esse tipo de ambiente não parece ser propício para imersão e entendimento da história, entretanto, muitas pessoas assistem aos seus vídeos favoritos nas pequenas telas em locais que podem ser até desconfortáveis. Os vídeos com curta duração podem ser compreendidos, mesmo em locais em que os espectadores sofram interferências, pois demandam pouco tempo para entendimento da história pelo público, por exemplo, dentro de um transporte público o internauta precisa de dois minutos para manter sua atenção ao assistir a uma web esquete do Porta dos Fundos, que poderia ser um tempo de parada para deslocamento dos passageiros entrando ou saindo de um ônibus.

Existem vantagens e desvantagens nas produções para meios diferentes. Pode ser uma vantagem se os produtores conhecerem seu público e explorarem os conteúdos audiovisuais para atenderem às necessidades de audiência. Se pensarmos em um seriado que é visto pelo celular, a vantagem é que o espectador pode controlar mais facilmente (do que em DVD, por exemplo) o momento em que deseja assistir ao vídeo, ou ainda, o espectador pode assisti-lo em qualquer lugar e com possibilidades de controle do vídeo: pular a introdução, os capítulos anteriores ou até mesmo cortando um personagem que não o agrade. Entretanto, essa

27 facilidade de modular o programa pelo espectador pode se tornar um problema quando pensamos no entendimento da narrativa. O professor Márcio Carneiro dos Santos explica alguns pontos das possibilidades de seleção pelo público:

a) no controle do tempo final do programa – esse problema pode ser melhor explicado considerando que ao ir e vir à vontade nas opções interativas da aplicação, o usuário poderia reduzir ou expandir o tempo efetivo da exibição para ver as coisas do jeito que gostaria, impossibilitando a inserção do programa dentro de uma grade tradicional de televisão, uma espécie de “playlist” que a área de programação das emissoras organiza incluindo também os comerciais e planejando o tempo disponível no canal de difusão. b) na organização da narrativa em si – apesar de existirem exemplos como os dos filmes de Kurosawa e o recente Ponto de vista, já citado, ou da obra Finnegan’s wake, de James Joyce na literatura, é no modelo da narrativa clássica hollywoodiana, estruturado em fórmulas bastante conhecidas nos manuais de roteiro, que a maioria de nós está acostumada a navegar na fruição das narrativas audiovisuais, principalmente na área da ficção. Uma organização que privilegia o entendimento e a condução segura do espectador pela narrativa, situando a trama em termos espaço-temporais e a caracterização dos personagens de forma clara e definida. A ausência desse ambiente familiar poderia causar estranhamento ao espectador mediano levado a um lugar onde as coisas podem perder o nexo ou o “fio da meada” ao longo das suas escolhas e gerando talvez a mais temida reação da audiência por parte de qualquer difusor, ou seja, a troca de canal. Devemos lembrar que o público de TV é extremamente heterogêneo. (SANTOS, 2011, p.114)

A seleção e controle do andamento do vídeo realizada pelo espectador pode levar a uma redução no tempo em que assiste ao seu programa preferido ou até mesmo causar um lapso na história quando não acompanha todos os momentos da narrativa. Podemos imaginar uma série policial em que a história vai dando pistas gradativamente ao público para que ele descubra quem é o vilão daquele episódio ou dos próximos; nesse caso, se o espectador não acompanhar os detalhes da história é plausível que perca uma parte importante do contexto.

No entanto, existem pontos positivos que podem ser percebidos pelos produtores de programas quando conseguem obter a informação da preferência do seu público. A Netflix16 é

16 Nota da autora: é uma empresa que produz e vende produtos audiovisuais para entretenimento do pú- blico através de uma assinatura de um canal de internet em que o público pode escolher quais os filmes ou séries deseja assistir. SITE DA NETFLIX. Página inicial da Netflix. Disponível em https://www.netflix.com/br/. Aces-

28 um exemplo de empresa de produção e disseminação de produtos audiovisuais com condições para avaliar pelo tempo e seleção dos espectadores quanto a quais são suas reais preferências.

É possível conseguir dados valiosos medidos pelo histórico de visualização dos usuários, por exemplo, quais as categorias de filmes e seriados que são mais escolhidas, durante quanto tempo as pessoas assistem aos vídeos, se existem preferências por formas de narrativa, ambientes, atores ou outros elementos, quais os dias e horários em que os programas são mais vistos, se existem pausas ou cortes durante os vídeos pelo público, etc. Enfim, o controle sobre a escolha dos espectadores pode trazer dados relevantes para os produtores que buscam construir seus produtos audiovisuais para conseguirem público.

Através das ferramentas do YouTube, o Porta dos Fundos consegue visualizar rapidamente seu alcance de público medindo por web esquete quais os vídeos mais vistos e preferidos pelo espectador fazendo ajustes em suas produções para obter a maior quantidade de público possível. O Porta dos Fundos, no início de seu canal do YouTube, já se beneficiou da informação da quantidade de público e ajustou o formato de seus primeiros vídeos. Eles haviam criado vídeos com quinze minutos (compostos de sete esquetes) e mudaram para publicação apenas de uma esquete curta de três minutos de duração atendendo ao desejo do público em assistir e disseminar os vídeos facilmente em virtude da divisão em esquetes. Os vídeos online com curto tempo de duração, como as web esquetes, permitem ao Porta dos

Fundos formas de compartilhamento que ajudam a disseminar o produto pelas redes sociais ou dispositivos de bate-papo criando uma espécie de grupo de interesse pelos conteúdos que podem ser propagados através da internet. Dessa forma, o público consegue visualizar as web esquetes de qualquer dispositivo com acesso à internet e passa a ter controle sobre seus gostos pessoais: tema, ator, nome do vídeo, etc. O formato de uma esquete de humor na internet possibilita o fácil acesso pelo espectador, que além disso, também consegue manipular o sado em 09 de ago. de 2017.

29 andamento do vídeo, ter maior autonomia na escolha dos conteúdos e, consequentemente, a possibilidade de atender a sua necessidade de entretenimento com produtos mais aderentes ao seu gosto.

1.3 O tempo de atenção do espectador e a relação com tempo de duração das web

esquetes do Porta dos Fundos

Para estudar o tempo de atenção do espectador buscamos pesquisas que apontassem de forma mensurável um indicativo da duração da atenção das pessoas na atualidade ou, ao me- nos, por quanto tempo conseguimos ficar focados em uma atividade:

Um estudo recente seguiu um grupo de jovens adultos e um grupo de adultos mais velhos que usavam cintos biométricos com câmeras de óculos embuti- dos por mais de 300 horas de tempo de lazer (referência do estudo: C. Marci, "A (Biometric) Day in the Life: Engaging across Media," paper presented at Re:Think 2012, New York, March 28, 2012.) Enquanto os adultos mais no- vos mudaram de tarefa para tarefa vinte e sete vezes por hora – uma vez a cada dois minutos – os adultos mais velhos tampouco eram tão bons em manter sua atenção, mudando de tarefas dezessete vezes por hora ou uma vez a cada três a quatro minutos17. (GAZZALEY; ROSEN, 2016, pos. 2148)

O estudo acima apontado pelos pesquisadores Gazzaley e Rosen traz dados interessan- tes sobre quantas vezes redirecionamos nossa atenção para outras atividades durante um de- terminado período de tempo. Esse redirecionamento pode estar vinculado aos estímulos que recebemos constantemente, seja pelos dispositivos móveis lançando novas informações a cada momento, seja pelo ambiente em que estamos inseridos. Por isso, é relevante para a pesquisa trazer estudos que mostrem por quanto tempo as pessoas conseguem focar a sua atenção para 17 Texto original: “A recent study followed a group of young adults and a group of older adults who wore biome- tric belts with embedded eyeglass cameras for more than 300 hours of leisure time (C. Marci, "A (Biometric) Day in the Life: Engaging across Media," paper presented at Re:Think 2012, New York, March 28, 2012.) While the younger adults switched from task to task twenty-seven times per hour - once every two minutes - the older adults were not all that great at maintaining their attention either, switching tasks seventeen times per hour, or once every three to four minutes.” Tradução da autora.

30 uma atividade que exija concentração e foco em que elas tenham selecionado e direcionado seus esforços para uma única ação:

Por exemplo, em um estudo recente, o laboratório do Dr. Rosen observou es- tudantes – que vão do ensino médio à faculdade – estudando por quinze mi- nutos em um local onde eles normalmente estudam. Chocantemente, os alu- nos não conseguiram se concentrar por mais de três a cinco minutos, mesmo quando lhes disseram para estudar algo muito importante. Este estudo repli- cou o trabalho da Dra. Gloria Mark e seus colegas da Universidade da Cali- fórnia, Irvine, que observaram que os trabalhadores de Tecnologia da Infor- mação eram igualmente e frequentemente interrompidos18. (GAZZALEY; ROSEN, 2016, pos. 2163)

Esses estudos indicam que as pessoas, jovens ou não, conseguem manter a sua atenção apenas por um curto período de tempo. Medindo o tempo de concentração de uma atividade importante por quinze minutos, o resultado mostrou que o foco de atenção mantém-se ativo de três a cinco minutos.

Para a pesquisa de produtos audiovisuais esses dados podem auxiliar nas construções de narrativas ou até mesmo de vídeos que considerem o tempo dedicado pelas pessoas com atenção aos conteúdos para garantir a manutenção de programas no ar. Isso não significa que todos os programas devem ser criados com a duração de três a cinco minutos, pois sabemos que muitas histórias utilizam um tempo maior para compor as suas narrativas, mas vale apon- tar que os produtores precisam conhecer o seu público para manter a audiência criando narra- tivas que possam criar seus picos de ação ou tensão moldados pelo foco atencional das pesso- as. Ou seja, desenvolver o entrelaçamento de narrativas com momentos que possam conquis- tar as pessoas, por exemplo, em filmes de ação, os produtores geralmente utilizam cenas de aventuras ou lutas. Esses minutos decisivos da história direcionam o espectador, e frequente-

18 Texto original: “For example, in a recent study Dr. Rosen's lab observed students - ranging from middle scho- ol to college age - studying for fifteen minutes in an area where they normally study. Shockingly, students could not focus for more than three to five minutes even when they were told to study something very important. This study replicated work by Dr. Gloria Mark and her colleagues at the University of California, Irvine, who obser- ved that IT workers were similarly easily and frequently interrupted.” Tradução da autora.

31 mente, após as lutas mostram-se diálogos sobre as próximas ações com uma movimentação mais lenta das cenas diferentes das rápidas batalhas. Podemos citar um exemplo do professor

Santos quando cita a possibilidade da interatividade do espectador na TV Digital:

O advento da TV Digital com a interatividade, mais uma vez, leva as narrati- vas a um novo patamar, só que agora diante de um problema que os roteiris- tas nunca tinham enfrentado antes: a manipulação do tempo de duração do conteúdo audiovisual tocado a quatro mãos, as do autor e as do espectador que, dependendo do tipo de interatividade proposta pela aplicação, pode que- brar a linearidade da narrativa com idas e vindas sem controle o que, em tese, impediria o planejamento e a inserção desse material na grade de pro- gramação tradicional da emissora, onde os tempos são contados com preci- são e de forma linear; sendo este apenas um dos vários problemas técnicos envolvidos nesse ambiente. (SANTOS, 2011, p. 113)

Santos defende que o controle pelo espectador permite uma espécie de manipulação do tempo que pode causar quebra na linearidade da narrativa. Esse pode ser um dos problemas gerados pela manipulação de um vídeo diminuindo o tempo de duração pela forma como o espectador assiste ao produto, mas existem aspectos positivos que podem ser obtidos com a informação do tempo atencional das pessoas, de modo que conhecer as preferências dos espectadores pode ajudar a construir narrativas que vão conduzindo o espectador para determinadas quebras sem perder sua linearidade.

O Porta dos Fundos desde a sua primeira publicação de web esquete no YouTube vem buscando conhecer o seu público e ajustando seus vídeos para tentar atender essas necessidades: diminuindo o tempo de duração das esquetes de quinze para três minutos, criando subprodutos para fãs interessados em conhecer os bastidores de suas produções, desenvolvendo seriados para internet e televisão19, ou seja, sempre fazendo ações com objetivo de perpetuar sua marca tendo como produto principal as web esquetes. O Porta dos

Fundos pode contar com a ajuda das ferramentas de medição de visualização pelo YouTube

19 Nota da autora: no capítulo 2.mostraremos as criações do Porta dos Fundos em todas as mídias.

32 em tempo real que possibilitam conhecer as preferências do público.

Após o estudo da memória, seleção e atenção do espectador percebemos a relevância das possibilidades de escolha e direcionamento do público tanto na seleção quanto na fidelização assistindo aos vídeos online. O Porta dos Fundos pode ter percebido a importância da predileção entre suas esquetes logo no início do seu canal e estruturado seus vídeos com elementos de linguagem audiovisual para trazer a atenção do público. Por isso, nos capítulos 2 e 3 apontaremos as características que auxiliaram a manutenção da produtora: experiência em trabalhos televisivos pelos idealizadores do canal, narrativas diretas e curtas com piadas rápidas, linguagem audiovisual com qualidade reconhecida pelo grande público da televisão, roteiros testados em cena dando maior liberdade ao processo de criação do humor, tempo curto de duração entre dois a cinco minutos.

A familiaridade do público da televisão com a linguagem audiovisual das web pode ser atribuída à memória de imagem e som dos espectadores que podem ter sido preparados a assistir aos vídeos com determinadas características. Conforme veremos no capítulo 2, a duração das esquetes está alinhada com o tempo de atenção das pessoas e no capítulo 3 veremos como a produção das web esquetes usa os elementos de linguagem audiovisual reconhecidos nos vídeos de humor pelos espectadores. Quando o público reconhece o vídeo, com base em programas assistidos anteriormente, pode acionar a memória que ajuda o processo de seleção e preferência pela web esquete tornando mais fácil fazer a opção por esse conteúdo e, ainda, o tempo de duração das web esquetes que vai ao encontro do tempo de atenção das pessoas.

No capítulo 2 traremos um levantamento histórico dos fundadores do Porta dos

Fundos para compreender como o conhecimento com a televisão foi importante para produção das web esquetes. Na Era da Informação, os autores mostram que o conhecimento,

33 tecnologia e habilidades criativas são importantes para formação desse movimento, por isso, traremos esses estudos para demonstrar como eles se encaixam na formação dos fundadores do Porta dos Fundos.

34 2 A TRAJETÓRIA DA PRODUTORA PORTA DOS FUNDOS

Neste capítulo estudaremos a origem dos idealizadores do Porta dos Fundos com breve relato de sua biografia, todos os produtos audiovisuais criados pela produtora Porta dos

Fundos e como as experiências profissionais e habilidades da equipe ajudaram na formação e continuidade do canal.

A trajetória do Porta dos Fundos acontece em um período em que os estudiosos chamam de Era da Informação, por isso, tentaremos mostrar como conhecimento aplicado ao mercado transformou produtos audiovisuais para a venda de produtos e serviços e também a importância na produção de conteúdos que possam atender às necessidades de entretenimento do público.

2.1 O Porta dos Fundos na Era da Informação

Começaremos neste capítulo com um breve relato sobre os principais movimentos que culminaram na Era da Informação e a exploração do mercado audiovisual mostrando como exemplo as web esquetes do Porta dos Fundos.

Descreveremos brevemente os eventos relevantes sobre a Era da Informação, quais foram as principais mudanças econômicas e sociais que foram se desenrolando após o período industrial e como as relações foram se moldando para um modelo de troca de conhecimento e informações, tanto no quesito de melhoria dos processos de trabalho, como uma maneira de incentivar o consumo de novos produtos através da sensibilização das necessidades das pessoas. O público é incentivado a consumir bens materiais ou imateriais através dos mecanismos de propaganda, logo, os detentores dos meios de comunicação percebem que é possível direcionar o olhar das pessoas com uso de imagens. Então, a construção de conteúdos

35 audiovisuais pelos produtores passa a ser utilizada para fins de orientar para determinada informação tornando-se uma forma de controle social, econômico e político.

A maneira como nos comunicamos, produzimos conhecimento e disseminamos informação vem sendo transformada após o período industrial em nossa sociedade pela chamada Era da Informação. A Era da Informação pode parecer, a princípio, um processo que foi criado diretamente por novas tecnologias, porém, os teóricos Alvin Toffler (1995), Manuel

Castells (1999) e Armand Mattelart (2001) nos trazem uma ótica interessante de mudanças nos meios de produção e relações de trabalho que foram se adaptando às necessidades de um modelo de valorização do conhecimento e troca de informações. A sociedade industrial que, anteriormente, unia o esforço do homem e da máquina em um único componente de força de trabalho, aos poucos, vai se deslocando para a automatização dessas máquinas forçando-o ao uso mais intelectual do seu meio de ofício com a finalidade de diminuir os gastos com mão de obra e aumentar o volume de bens produzidos. Esse deslocamento é analisando pelos autores como um momento de formação de um corpo social transformado pelas novas formas de se produzir e, consequentemente, o papel do homem nas relações de trabalho, família e sociedade.

Armand Mattelart (2001, p.12) faz uma síntese dos autores que antecederam o termo

Era da Informação através das mudanças sociais e econômicas desde a sociedade pós- industrial até os anos de 1990. A sociedade da informação, de acordo com o professor francês, após o período industrial foi sendo impulsionada pelas mudanças no trato da economia e do trabalho. A forma de fabricação evoluiu de um formato técnico industrial para um foco mais voltado às pesquisas e inovações nas formas de produção com a evolução da tecnologia das máquinas e a formação de um trabalhador especializado no trato dessas ferramentas em suas atividades. O estudo dos processos fabris e a melhoria das tecnologias foram fundamentais

36 para o aprimoramento das ferramentas e técnicas de produção no período industrial. Nesse período houve uma evolução nos processos de manufatura de produtos com a necessidade da produção para grandes consumidores atendendo às populações que migraram das áreas agrícolas para os centros urbanos.

O autor Alvin Toffler (1995) separou as formas de trabalho e suas relações em três partes principais: Primeira Onda, como a Era Agrícola; Segunda Onda, como a Era Industrial; e Terceira Onda, como a Era da Informação. O autor destacou as mudanças nas relações de trabalho após o período industrial (Segunda Onda) para a sociedade do conhecimento

(Terceira Onda):

Enquanto estas indústrias (da Segunda Onda) começavam a ser transferidas para os chamados “países em desenvolvimento”, onde a mão-de-obra era mais barata e a tecnologia menos avançada, sua influência social também começava a morrer e uma série de novas indústrias dinâmicas surgiam para tomar o seu lugar. Estas novas indústrias diferiam acentuadamente de suas predecessoras em vários aspectos: não eram mais primordialmente eletromecânicas e não mais se baseavam na ciência clássica da era da Segunda Onda. Em vez disso, surgiram de avanços aceleradores numa mistura de disciplinas científicas que ainda tão recentemente como 25 anos antes eram rudimentares ou mesmo inexistentes – eletrônica quantum, informática. (TOFFLER, 1995, p.143)

A transferência da mão de obra e da tecnologia das indústrias americanas para outros países trouxe avanço na exploração do conhecimento teórico em outras áreas que pudessem auxiliar e suportar a melhoria dos processos maquinários e humanos. O investimento no estudo de determinadas áreas possibilitaram melhorias em processos, e consequentemente, aumento do lucro das companhias que apostaram nessas transformações de novas tecnologias.

Toffler (1995, p.147) sugere que as empresas americanas que se prepararam para as mudanças tecnológicas foram as mais desenvolvidas também em relação ao seu contexto geográfico. Quando a empresa se desenvolvia, o local em que ela estava proporcionava mais

37 qualidade de vida e trabalho para a população ao seu redor. Além disso, o uso de computadores nas indústrias, comércio e lares foi um marco tecnológico importante para esse período de transformação das relações comerciais e sociais.

Associado aos bancos, às lojas, aos escritórios do governo, aos lares dos vizinhos e ao local de trabalho, tais computadores estão destinados a remodelar não só o negócio, da produção à venda ao público, mas também a própria natureza do trabalho e, com efeito, mesmo a estrutura da família. (TOFFLER, 1995, p.148)

Entretanto, o desenvolvimento de computadores pessoais ou aprimoramento das tecnologias não foram os únicos responsáveis pela formação de novas relações sociais.

Castells (1999, p.24-25) explica que o seu ponto de partida para a Era da Informação, chamada por ele como a “revolução da tecnologia da informação”, não se desenvolveu somente a partir da criação de novas tecnologias, o aprimoramento do conhecimento permitiu que surgissem novas formas de relações trabalhistas e sociais.

…a revolução da tecnologia da informação será meu ponto inicial para analisar a complexidade da nova economia, sociedade e cultura em formação. Essa opção metodológica não sugere que novas formas e processos sociais surgem em consequência de transformação tecnológica. É claro que a tecnologia não determina a sociedade. Nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica, uma vez que muitos fatores, inclusive criatividade e iniciativa empreendedora, intervêm no processo de descoberta científica, inovação tecnológica e aplicações sociais, de forma que o resultado final depende de um complexo padrão interativo. (CASTELLS, 1999, p.24-25)

Assim como Toffler (1995), Castells (1999) também compreende que as transformações tecnológicas vão além de suas novas ferramentas ou dispositivos de trabalho.

As empresas, os governos, as universidades e outros atores sociais vão sendo motivados pela aplicação final das possibilidades tecnológicas de um determinado momento da sociedade.

38 O autor espanhol lembra um interessante contexto sobre o nascimento e o desenvolvimento da internet e mostra como a tecnologia não é, necessariamente, o único ator que impulsiona as mudanças tecnológicas. Castells descreve como essa ferramenta que conecta computadores foi inventada, transformada, e posteriormente, nos anos de 1990 passa a ser disseminada em larga escala ao público (CASTELLS, 2011, p. 149-151). No ano de

1969 houve a invenção do predecessor da internet: a ARPANET, depois de sua criação essa rede foi sendo administrada e desenvolvida durante mais de vinte anos por pesquisadores americanos em agências de pesquisa e Universidades. Somente em 1990 a internet finalmente chegou no ponto de se tornar “uma internet fácil de usar20” (CASTELLS, 2011, p. 151) criando “uma oportunidade enormemente rentável para os investimentos empresariais21”

(CASTELLS, 2011, p. 151). A invenção dessa tecnologia não surtiu o efeito imaginado na

época, as pessoas não possuíam muitos computadores pessoais entre os anos 60 e 80, como atualmente, não havia a mesma facilidade de compra e manuseio de máquinas para utilização da internet. Com o passar dos anos, a internet foi sendo aprimorada e em meados de 1990 tornou-se um produto com potencial para venda (empresas e pessoas). Em 1997, ocorreu a privatização da internet com foco no mercado de usuários com o apoio do ex-presidente americano Bill Clinton. (CASTELLS, 2011, p. 149-151)

Como vimos, em 1969, a rede que interligava informação através de computadores já era idealizada como uma tecnologia com possibilidade de transformação nas comunicações, mas não existia suporte governamental e comercial que impulsionasse a disseminação desse produto no mercado. A disseminação dos produtos também está vinculada com a necessidade que o mercado percebe em virtude das possibilidades de negócio e técnicas de marketing desenvolvendo o desejo do produto pelo consumidor, então, somente, a partir desse

20 Texto original: “una Internet fácil de usar.” Tradução da autora. 21 Texto original: “una oportunidad enormemente rentable para las inversiones empresariales.” Tradução da autora.

39 movimento de interesse comercial, essa ferramenta começa a ser explorada para fins mercantis.

Após o período industrial, os meios de comunicação tornaram-se atores importantes auxiliando na valorização de produtos criando uma cultura voltada para a transmissão e a disseminação de ideias e produtos.

A partir do século XVIII, quando ocorre a Revolução Industrial, o sistema capitalista se consolida, criando relações sociais novas e possibilitando o surgimento de novas formas de comunicação voltadas para sociedades que abrigam uma população crescente. Os meios de comunicação de massa (o jornal impresso, as revistas, o cinema, o rádio e a televisão) passam a fornecer informações e alimento para o imaginário desse grande espectro de receptores, além de se tornarem fontes de lucros para as empresas que os controlam. Para chamar a atenção do público, estes meios de difusão cultural recorrem a fórmulas que se tornam conhecidas e consumidas, gêneros ficcionais que são identificados pelo público e que se transformam em mercadorias culturais rentáveis. (SANTOS, 2012, p.43)

Na Era da Informação os detentores dos meios de comunicação vão gradativamente trabalhando com a exploração de conteúdos imagéticos para formação de consumidores. As fórmulas às quais o autor Roberto Elísio dos Santos se refere são as pesquisas de comportamento dos consumidores, aplicados pelas áreas de marketing e publicidade nas empresas, para conhecer os componentes de um produto que são mais atrativos para as pessoas, como, por exemplo, um estudo para elaboração de filmes publicitários com uso de determinadas imagens preferidas pelo público ou até mesmo a exploração de gêneros reconhecidos pelos espectadores, como é o caso do humor. (SANTOS, 2012, p.43)

De volta ao objeto desta pesquisa, menciona-se que os fundadores do Porta dos

Fundos perceberam que havia um mercado audiovisual do gênero de humor que poderia ser explorado na web com baixo orçamento para produção e, começaram a unir os recursos necessários de conhecimento, técnicas e criatividade para a criação do seu canal no YouTube.

40 Sobre a importância do conhecimento para criação, Gorz explica que

Ele (o conhecimento) recobre e designa uma grande diversidade de capacidades heterogêneas, ou seja, sem medida comum, entre os quais o julgamento, a intuição, o senso estético, o nível de formação de informação, a faculdade de aprender e de se adaptar a situações imprevistas; capacidades elas mesmas operadas por atividades heterogêneas que vão do cálculo matemático à retórica e à arte de convencer o interlocutor; da pesquisa técnico-científica à invenção de normas estéticas (GORZ, 2005, p.29)

Gorz nos mostra como o conhecimento pode ajudar a construção de uma grande teia de possibilidades de atuação para os detentores desse processo. A união das habilidades criativas do Porta dos Fundos em desenvolver produtos audiovisuais, conhecer as variedades de preferência do público, possuir conhecimento para criação de roteiro com qualidade e a criatividade do grupo foram fundamentais para que atingissem uma marca significativa de acesso de seus vídeos de humor na internet (Tabela 1).

No item 2.2 mostraremos um breve resumo das vivências dos fundadores que auxiliaram no processo de criação das ideias, da produção dos vídeos e da disseminação de seus conteúdos, com este estudo poderemos perceber certos fatores que culminaram para que se tornasse um dos cinquenta canais do YouTube mais vistos no mundo22. Podemos citar entre esses fatores: o conhecimento das formas de produção e o interesse do público em assistir aos produtos em diversos meios de comunicação.

Em 2012, que foi o ano de criação do Porta dos Fundos, o custo para aquisição de equipamentos para produção de conteúdos audiovisuais como câmeras digitais, por exemplo, já estava a um preço acessível aqui no Brasil permitindo que pequenos produtores ou até amadores tivessem acesso às ferramentas para filmagem, gravação e edição de filmes, porém, a compra de uma câmera profissional, não garante a qualidade de um filme. Castells (1999,

22 SITE SOCIAL BLADE. 500 Most Subscribed. Disponível em https://socialblade.com/youtube/top/500/mostsubscribed. Acessado em 06 de abr. de 2017.

41 p.14-15) explica que é necessário o conhecimento e criatividade (capacidade) para o melhor aproveitamento de uma determinada tecnologia. A equipe fundadora do Porta dos Fundos percebeu a possibilidade de exploração de um mercado de vídeos de humor na internet com os elementos aceitáveis pelos espectadores23.

A ideia de uma esquete de curta duração pelos fundadores do Porta dos Fundos veio sendo construída antes do lançamento oficial do canal com o conhecimento dos processos de produção e da aceitação do público na televisão, no cinema e até mesmo na internet. A tecnologia foi importante para a consolidação desse processo, entretanto, o conhecimento das técnicas de trabalho, a criatividade do grupo e um possível mercado de internautas possibilitou o alcance de público de milhões de pessoas. De acordo com a avaliação de audiência dos canais do YouTube elaborada pelo Social Blade, em abril de 2017, o Porta dos

Fundos estava em quadragésimo sétimo lugar24, logo abaixo do cantor francês David Guetta, e acima da cantora colombiana Shakira, com treze milhões de inscritos25 e mais de três bilhões de visualizações distribuídas em todos os vídeos do seu canal (Tabela 1).

Para mostrarmos o alcance de público do Porta dos Fundos de forma concreta, elaboramos uma lista com as web esquetes de agosto de 2012 até março de 2017 no Apêndice

II, e, com base nesses dados, somamos os vídeos por ano de publicação e número de visualizações mostrados na Tabela 1 e no Gráfico 1.

23 Nota da autora: Nos itens 2.2 e 2.4 traremos as experiências dos fundadores do Porta dos Fundos e o histórico de elaboração de seus produtos. 24 SITE SOCIAL BLADE. 500 Most Subscribed. Disponível em https://socialblade.com/youtube/top/500/mostsubscribed. Acessado em 06 de abr. de 2017. 25 SITE PORTA DOS FUNDOS. Porta dos Fundos. Disponível em http://www.portadosfundos.com.br/. Acessado em 06 de dez. de 2016.

42 Tabela 1 – Quantidade de esquetes do Porta dos Fundos por ano de publicação e o total de visualização do período Ano de publicação Quantidade de Soma da visualização dos vídeos

vídeos no período 2012 53 343.917.600 2013 103 810.476.205 2014 133 728.412.869 2015 156 626.254.544 2016 157 459.509.198 2017 38 64.018.199 TOTAL 640 3.032.588.615 FONTE: da autora com base no Apêndice II Lista das web esquetes.

Esses dados da Tabela 1 resultam no Gráfico 1:

Gráfico 1 – Esquetes do Porta dos Fundos por ano de publicação e visualização

FONTE: da autora com base no Apêndice II Lista das web esquetes.

Na tabela 1 e gráfico 1 vemos que no ano de 2013, por exemplo, o Porta dos Fundos, conseguiu alcançar um número de visualizações de seus vídeos acima de 800 milhões. Esse sucesso de público pode ser explicado pela habilidade e competência criativa do grupo que conseguiu conceber um produto audiovisual de humor que atrai um grande número de pessoas: o desenvolvimento de vídeos curtos com qualidade de produção e imagem

43 reconhecido pelo público; temas variados que abrangem assuntos complexos como pedofilia e religião ou narrativas mais simples como as mazelas vividas em relacionamentos amorosos, sociais ou familiares; e finalmente roteiros com piadas diretas que ajudaram a criar um produto com elementos que foram moldando o grupo e marcando sua impressão no mercado audiovisual brasileiro.

Nas próximas leituras conheceremos mais sobre a formação do grupo e seus produtos, além do estudo de algumas das características que podem chamar a atenção do espectador. A princípio, podemos concluir que o Porta dos Fundos vem se estabelecendo como uma produtora que soube aproveitar as oportunidades do mercado de vídeos de humor no YouTube conseguindo fidelizar um grande número de internautas que seguem seu canal na tentativa de obter entretenimento mesmo com a avalanche de informações e imagens despejadas ao público na Era da Informação.

2.2 As mídias formadoras do canal do YouTube Porta dos Fundos

Neste estudo foi efetuado o levantamento das atividades realizadas pelos fundadores do Porta dos Fundos para expor suas habilidades individuais que, somadas, resultaram no seu canal do YouTube atualmente seguido por treze milhões de pessoas. Esse levantamento será realizado através de um resumo das principais experiências profissionais dos sócios- fundadores do Porta dos Fundos.

Além do histórico profissional dos fundadores faremos um relato de todos os conteúdos publicados no site da produtora26, porque ao longo da pesquisa percebemos que existem subprodutos das web esquetes como o making of dos vídeos no canal Fundos da

26 SITE PORTA DOS FUNDOS. Porta dos Fundos. Disponível em http://www.portadosfundos.com.br/. Acessado em 06 de dez. de 2016.

44 Porta27. Portanto, partiremos do levantamento do repertório dos fundadores e da produtora para nos ajudar a compreender a trajetória e a evolução do grupo no decorrer desses cinco anos de produção da equipe do Porta dos Fundos.

A formação inicial do grupo ocorreu pela união de Antônio Tabet, Fábio Porchat, Ian

SBF, Gregório Duvivier e João Vicente de Castro (PORTA DOS FUNDOS, 2013, p. 233-

235). No levantamento do Apêndice I: Biografias é possível conhecer a formação acadêmica e profissional e mostrar suas relações entre as mídias presentes no universo da equipe: televisão, cinema, internet e publicidade antes do canal do YouTube Porta dos Fundos. Os fundadores do Porta dos Fundos já haviam produzido vídeos para outros canais de humor no

YouTube: o Kibe Loco criado por Antônio Tabet em 2007 e o Anões em Chamas criado por Ian

SBF em 2011 com a participação de: Antônio Tabet, Fábio Porchat e Gregório Duvivier. A produção de vídeos de 2007 a 2011 para esses canais do YouTube foi fundamental para que os fundadores adquirissem experiência sobre o comportamento dos internautas e a partir desses dados traçassem estratégias para atingir as necessidades de entretenimento nesse meio de disseminação, como por exemplo, dias e horários de publicação dos vídeos para

Antes da criação do canal Porta dos Fundos em 2012, a equipe também trabalhou com a produção de conteúdo em outros meios. Pelo Apêndice I: Biografia sabemos que Fábio

Porchat, por exemplo, trabalhou como roteirista do extinto Zorra Total tendo acesso ao processo de elaboração e aprovação de roteiro de um programa de humor em uma grande empresa de televisão. As experiências com essas atividades nas mídias foram gradualmente sendo incorporadas ao know-how dos fundadores formando um quinteto heterogêneo e criativo.

José Mário Ortiz Ramos que estudou as relações entre os produtores de cinema,

27 CANAL DO YOUTUBE FUNDOS DA PORTA. Fundos da Porta. Disponível em https://www. y ou t ube.com/user/fundosdaporta . Acessado em 06 de dez. de 2016.

45 televisão e publicidade no Brasil. Ramos cita que

A análise da ficção audiovisual brasileira foi desdobrada, privilegiando duas dimensões. Primeiramente caracterizando a materialidade da produção do cinema e TV, delineando os seus padrões audiovisuais e a dinâmica cultural dos produtores, passo fundamental para compreendermos como se originam as imagens e sons que nos interpelam. Inseri neste segmento também a análise do cinema publicitário, já que é um setor que interage diretamente com a ficção televisiva, além de estabelecer fluxos com a produção cinematográfica, influenciando seus caminhos. (RAMOS, 2004, p.11)

O autor mostra que as produções brasileiras foram se moldando para criação de outros padrões de imagem e som movendo-se conforme as necessidades de entretenimento de cada período, e consequentemente, a migração dos profissionais do ramo audiovisual de uma mídia a outra. Esse trânsito entre diversas experiências profissionais pode ser percebido atualmente com os fundadores do Porta dos Fundos mesmo com milhares de visualizações no canal do

YouTube o grupo continua explorando novas experiências trabalhando com produtos audiovisuais em outros meios, como é o caso do programa Show do Kibe no canal de televisão da TBS apresentado por Antônio Tabet28 ou o programa Greg News na HBO apresentado por

Gregório Duvivier29.

Sob outro ponto de vista, o pesquisador americano Henry Jenkins (2008), que estuda o conceito de convergência entre as mídias, trata das mudanças de direcionamentos nas produções audiovisuais para atender às preferências de entretenimento das pessoas. Jenkins explica que

Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão

28 CANAL TBS. Show do Kibe. Disponível em http://canaltbs.com.br/show-do-kibe. Acessado em 08 de dez. de 2016. 29 CANAL HBO MAX. Greg News. Disponível em http://br.hbomax.tv/serie/Greg-News-com-Greg %C3%B3rio-Duvivier-Temporada-01/501493/TTL613338. Acessado em 13 de jun. de 2017.

46 a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. No mundo da convergência das mídias, toda história importante é contada, toda marca é vendida e todo consumidor é cortejado por múltiplos suportes de mídia. (JENKINS, 2008, p. 29)

Jenkins traz o ponto de vista do público em busca de entretenimento em diferentes meios de comunicação, com isso, criam-se demandas de novos produtos audiovisuais ou formatos de programas nas mídias. Os produtores do mercado audiovisual cortejam a atenção do espectador com seus recursos e limitações, sejam eles tecnológicos, financeiros ou artísticos. A expansão do mercado audiovisual para o crescimento de público pode requerer mudanças de conteúdo, formato ou até mesmo a forma de disseminação. Mesmo com pontos de vistas diferentes, Jenkins traçando um estudo sobre as influências do público em relação às suas necessidades de produções e Ramos sobre as mudanças no Brasil para atender às dificuldades e necessidades de produções audiovisuais pelos profissionais do ramo, ambos mostram como as trocas de informações e experiências são importantes e vem moldando as relações profissionais no mercado audiovisual.

Podemos perceber essas mudanças com a recente venda da maior parte da produtora

Porta dos Fundos para a empresa americana de televisão Viacom30. A justificativa da venda de parte da produtora pela CEO da Porta dos Fundos seria a expansão do mercado audiovisual com possibilidades de atuar no mercado internacional. No site da Viacom a notícia traz a ideia de que a parceria com a Porta dos Fundos auxilie na consolidação de seus conteúdos televisivos no mercado brasileiro e na América Latina.31 Em 20 de abril de 2017, foi publicada a web esquete Porta dos Fundos foi vendido32 como uma sátira à notícia publicada

30 NEWS VIACOM. Viacom International Media Networks To Acquire Majority Interest in Porta dos Fundos, A Leading Comedy Content Producer in . Disponível em http://news.viacom.com/press-release/viacom- international-media-networks-acquire-majority-interest-porta-dos-fundos-leading. Acessado em 02 de mai. de 2017. 31 Nota da autora: A Viacom atualmente é detentora dos canais de televisão: MTV, , Nickelodeon e Paramount Channel. 32 CANAL DO PORTA DOS FUNDOS. Porta dos Fundos foi vendido. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=cKSr5xQecEY. Acessado em 02 de mai. de 2017.

47 em 19 de abril.

A troca de experiência entre as diferentes mídias transformam seus processos de produção e disseminação, entretanto, não excluem completamente os formatos antigos. Novos produtos são criados com base em vivências anteriores, das quais recebem informações e passam a transferir conhecimento, em um movimento constante de mistura de aprendizados, como foi o caso da mudança do meio de comunicação radionovela sobre a telenovela em que a televisão absorveu o conhecimento sobre a construção de narrativas no rádio adaptando-o ao seu formato de produção. Essa retroalimentação de conhecimento como a transferência de experiências das esquetes da internet para a televisão com a venda de uma parte da produtora

Porta dos Fundos pode ajudá-los a repensar ou inovar as formas de produção no audiovisual que evoluem para outros produtos ou subprodutos, reconhecidos em suas características principais, mas com novas características. Ramos mostra que esse processo aconteceu em outras mídias, como “No cinema vemos também jovens cineastas recorrendo a fotógrafos de publicidade, procurando incorporar novos elementos visuais, e não rejeitando a televisão.”

(2004, p.95).

Um exemplo dessa mistura de elementos sobre a produção em outras mídias, o Porta dos Fundos faz uso de técnicas de enquadramento utilizados no cinema para as suas web esquetes, como é o caso, por exemplo, do plano de detalhe. O uso do enquadramento mais fechado em plano de detalhe pelo Porta dos Fundos mostra a ideia central da trama nos primeiros segundos do vídeo. Lembrando que são vídeos com curta duração e esses recursos de enquadramento direcionam a atenção para os pontos principais do vídeo. Vejamos na figura 1 da web esquete Sem Bateria33 mostrando em plano detalhe o celular na mão de um homem.34 O aparelho e a mão estão focados e nítidos na imagem e os demais elementos

33 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Sem bateria. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=JRjrCjSNrAg . Acessado em 10 de dez. de 2016. 34 Nota da autora: O caderno de figuras está disponível no final da dissertação.

48 desfocados, ou seja, em poucos segundos a câmera mostra o elemento central na narrativa que

é o uso massivo do smartphone pelo homem na cultura digital.

A narrativa da web esquete Sem Bateria gira em torno da desconexão pessoal e apatia na relação de um casal que se comunica de maneira intensa somente por celulares ou redes sociais. Quando a bateria do aparelho do marido acaba, o personagem passa a fazer novas descobertas sobre os acontecimentos passados da vida da esposa e da relação deles, incluindo um filho do casal. O marido parece não conseguir se conectar com fatos a respeito da vida de sua mulher dos últimos anos, pois têm se restringido a saber as informações através das mídias sociais. Outras características das web esquetes serão estudadas no capítulo 3 com detalhamento de alguns elementos de linguagem audiovisual para análise e comparação destes produtos.

As esquetes de internet também são frutos de outros meios, como cinema, publicidade e televisão, entretanto, é possível identificar que os vídeos online de humor podem provocar ajustes no formato dos programas de televisão aberta, como ocorreu com a mudança do programa de comédia da RGTV Zorra Total (1999-2015) para o Zorra (2015-atual). Essa transformação de um formato para outro pode ser atribuída à facilidade de disseminação de vídeos na internet ou à percepção do tempo de atenção do espectador. Portanto, os produtores do mercado audiovisual continuam buscando novos mercados, desenvolvendo e explorando outras possibilidades de expansão como o Porta dos Fundos, que germinou seu conhecimento na televisão, explorou o mercado de vídeos na internet e, agora, alia seus esforços e recursos para expansão de público fora do Brasil através de uma grande empresa do ramo televisivo.

2.3 Esquetes de humor e as web esquetes do Porta dos Fundos

A esquete não é uma nova categoria de conteúdo de entretenimento, que tenha nascido

49 recentemente nos canais de humor da internet, longe disso, o seu nascimento ocorreu em outros países há mais de dois séculos. De acordo com os estudos de Steve Neale, desde o século XIX, na América e na Inglaterra, já existiam performances artísticas com peças teatrais de curta duração que continham uma mistura de comédia, música, artes performáticas entre outros. (NEALE, 2001, p.92).

No século XX, as esquetes foram se expandindo conforme o avanço dos meios de comunicação: rádio, televisão e cinema. Essa expansão das performances para outras mídias também possibilitaram que fossem produzidas outras variedades de shows, como o stand up,

(NEALE, 2001, p.92) em que o artista faz uma apresentação humorística com o uso principalmente de temas do cotidiano com a intenção de mostrar improviso e muitas vezes utilizando a participação da plateia na construção de suas piadas.

Na Inglaterra, surgiu um dos modelos de esquetes de humor, o do grupo Monty

Python, que começou em 1969 apresentando o programa Monty Python’s Flying Circus no canal BBC de televisão. O grupo teria sido o primeiro a "explorar (e parodiar) as formas e convenções da TV e para adaptar a apresentação de seu material de esquete para esta estrutura e ritmo de segmento."35 (NEALE, 2001, p.93). As esquetes de humor fizeram sucesso no país e o grupo se tornou referência para os comediantes em programas de humor, com suas releituras sobre variados temas: religião, cotidiano, profissões, política, polícia, etc. (NEALE,

2001, p.93)

No Brasil, temos um histórico de múltiplos formatos de esquetes nos nossos programas de televisão. No ano de 1956, o programa Praça da Alegria (1956-1977)36 tinha como elemento central os diálogos produzidos entre transeuntes e um homem sentado em um

35 Texto original: "to explore (and to parody) the forms and conventions of broadcast TV and to adapt the presention of their sketch material to its segmental rhythms and structure." Tradução da autora. 36 SITE MEMÓRIA GLOBO. Formato do programa Praça da Alegria. Disponível em http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/humor/praca-da-alegria/formato.htm. Acessado em 24 de abr. de 2017.

50 banco de praça, em que cada pessoa que sentava no banco trazia uma nova piada com temas diferentes: religião, política, economia, futebol, etc. Criado por Manoel da Nóbrega deu origem ao atual A Praça é Nossa (SBT), mantendo o formato original com mudanças apenas de elenco e cenários.

Outro exemplo de esquete que permaneceu durante muitos anos na televisão brasileira:

Os Trapalhões (RGTV)37. O programa começou no ano de 1977 e permaneceu em exibição até

1985, formado com situações humorísticas improvisadas pelos quatro integrantes: Didi, Dedé,

Mussum e Zacarias. Ramos (2004, p.147) em estudo sobre as produções audiovisuais de Os

Trapalhões destaca que programas humorísticos em formatos de esquetes possuem mais liberdade de elaboração "Nos programas de TV, onde são utilizados os quadros/sketches, as improvisações são maiores e os cômicos acionam com maior liberdade seus recursos".

(RAMOS, 2004, p.147). Essa liberdade de criação ajuda os artistas e produtores a utilizarem as ferramentas criativas durante a gravação para alcançarem o resultado desejado: o humor. O

Porta dos Fundos trabalha com essa liberdade de ajuste da piada conforme veremos no capítulo 3 sobre a flexibilidade do roteiro e o tempo da piada.

Com diferentes configurações a televisão brasileira vem produzindo esquetes de humor como programas de sucesso, permanecendo por muitos anos na grade de programação das emissoras. No caso da RGTV, podemos adicionar outros programas no formato de esquetes:

Nos programas fundamentados em esquetes, por exemplo, podemos encontrar: um espaço único, como em “Escolinha do Professor Raimundo”, onde todos os humoristas intercalam seus bordões na sala de aula; espaços distintos, nos quais cada personagem tem seu set apropriado, é o caso de “Viva o Gordo”; sets separados, que, na narrativa, entrecruzam-se, formando, ainda que mentalmente, um espaço maior onde vivem todas as

37 SITE MEMÓRIA GLOBO. Sobre Os Trapalhões. Disponível em http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/humor/os-trapalhoes.htm. Acessado em 21 de abr. de 2017.

51 personagens, como a cidade de “Chico City”; ou, ainda, espaços compostos em estúdio, das formas mais variadas, combinados com espaços externos, como em “Casseta & Planeta Urgente”. Ou seja, usando como exemplo apenas programas da Rede Globo, pode-se observar que são várias as possibilidades de configuração do espaço nesse gênero. (CARDOSO; SANTOS, 2008, p.11)

A questão temporal é um dos fatores para identificarmos a configuração de uma esquete, a semelhança entre os programas televisivos Praça da Alegria, Os Trapalhões, Viva o Gordo, Escolinha do Professor Raimundo, Chico City, Casseta e Planeta Urgente e o canal do Porta dos Fundos está na elaboração de vídeos curtos, com piadas rápidas contadas de maneira síncrona e contínua por seus personagens. A esquete é um tipo de conteúdo que traz na sua narrativa uma história rápida com começo, meio e fim. Não existe a necessidade de continuidade das histórias em próximos episódios, geralmente, não há relação entre uma esquete e outra. Neale explica que,

Como o termo implica, esquetes são curtas, geralmente com estruturas de cena-única. Elas geralmente compreendem um cenário, um ou mais personagens, e um prazo interno dentro dos quais as possibilidades cômicas de uma premissa de um tipo a outra - uma situação, um relacionamento, uma conversa, e seus tópicos, um modo de linguagem, fala ou comportamento, ou algum outro princípio organizador - que são perseguidos até um ponto de clímax e conclusão.38 (NEALE, 2001, p.92)

Esquete é o tipo de produto audiovisual que o Porta dos Fundos produz em seu canal do YouTube. Certos fatores como o tempo de duração e a conclusão são relevantes para chegarmos à classificação de esquete. Como examinado no capítulo 1 o tempo de duração dos produtos do Porta dos Fundos é curto, ou seja, em sua grande maioria, as web esquetes permanecem construídas com o tempo de cinco minutos de duração. Podemos visualizar na

38 Texto original: “As the term implies, sketches are short, usually single-scenes structure. They generally comprise a setting, one or more characters, and an internal time-frame within wich the comic possibilities of a premise of one kind of another – a situation, a relationship, a conversation, and its topics, a mode of language, speech or behavior, or some other organising principle - are either pursued to a point of climax and conclusion.” Tradução da autora.

52 Tabela 2 e no Gráfico 2, com base no levantamento das web esquetes do Apêndice II, que

98% (noventa e oito por cento) das web esquetes do Porta dos Fundos não ultrapassam o tempo de cinco minutos de duração. Existem pouquíssimos vídeos com duração acima de cinco minutos, apenas oito de um total de 640 (seiscentos e quarenta) web esquetes listadas nesse levantamento; além disso, a maioria dos vídeos 46% (quarenta e seis por cento) possui uma duração média de até dois minutos.

Tabela 2 – Quantidade de vídeos por tempo de duração Tempo máximo de duração Quantidade % sobre o total de vídeos lançados

01'59 122 19.06% 02'59 295 46.09% 03'59 158 24.68% 04'59 47 7.33% 05'59 10 1.56% 06'59 1 0.16% 11'59 1 0.16% 12'59 1 0.16% 14'59 1 0.16% 15'59 2 0.31% 16'59 1 0.16% 22'59 1 0.16% Total 640 100%

FONTE: da autora com base no Apêndice II Lista das web esquetes.

Esses dados resultam no Gráfico 2:

53 Gráfico 2 – Quantidade de vídeos por tempo de duração

FONTE: da autora com base no Apêndice II Lista das web esquetes.

Por isso, classificamos as características para enquadramento dos produtos do Porta dos Fundos como esquete em razão de sua composição: tempo de duração, piadas diretas, narrativas contínuas no mesmo episódio com começo, meio e fechamento da história. Como o objeto da pesquisa são as análises das publicações na internet utilizamos a denominação de web esquete.

2.4 A linha do tempo das realizações da produtora

Nosso estudo tem como objeto a web esquete, porém, ao pesquisar sobre esse produto percebeu-se que outros subprodutos surgiram e que a produtora não se limitou a um único formato. Ao longo desses cinco anos, a produtora Porta dos Fundos foi criando outros tipos de conteúdos, como seriados e filmes, por isso, novos produtos como a série Porta dos Fundos na FOX39, que foram surgindo e sendo distribuídos em outras mídias para alcançar cada vez

39 SITE DA FOX. Porta dos Fundos. Disponível em http://www.foxplaybrasil.com.br/show/11248-porta-dos- fundos#clips. Acessado em 09 de dez. de 2016.

54 mais público, portanto, é interessante para a pesquisa mostrar a evolução da produtora Porta dos Fundos40 desenvolvendo produtos audiovisuais com formatos diferentes das web esquetes para outras mídias como a televisão e o cinema.

O gráfico 3 foi realizado com as informações sobre os tipos de produtos, os meios e o tempo de duração para auxiliar na compreensão dos trabalhos da produtora Porta dos Fundos.

Gráfico 3 – Linha do tempo dos conteúdos da produtora Porta dos Fundos

FONTE: SITE PORTA DOS FUNDOS. Porta dos Fundos. Disponível em http://www.portadosfundos.com.br/. Acessado em 06 de dez. de 2016.

Começaremos com o produto principal, a primeira web esquete chamada de Programa

Porta dos Fundos No. 141 foi lançada em 06 de agosto de 2012 com um tempo de duração de quinze minutos. Nesse primeiro vídeo há um apresentador que reaparece durante os intervalos entre uma esquete e outra. Percebe-se que havia uma tendência em trazer o formato de um conteúdo televisivo nesse primeiro vídeo devido ao conhecimento dos fundadores na produção para esse meio. Os elementos que reforçam a ideia de programa são: apresentador, geralmente utilizado em programas; quebras para inserção dos intervalos comerciais; nome do

40 Nota da autora: Porta dos Fundos manteve o formato mesmo com a mudança de direção de Ian SBF para Rodrigo Magal na web esquete A boa da segunda (2013) e Vini Videla com a web esquete Odebrecht (2016) ou com a mudança de atores nas contratações de Rafael Portugal e Thati Lopes. 41 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Programa Porta dos Fundos No. 1. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=eQmDdD5f-Ic . Acessado em 09 de dez. de 2016.

55 vídeo Programa Porta dos Fundos; e um tempo maior de duração que poderia ser redistribuído ou aumentado conforme a inserção de mais vídeos ou a necessidade de mais conteúdo.

A elaboração dos vídeos iniciais no canal com duração de quinze minutos permaneceu por pouco tempo, apenas nos quatro primeiros do Porta dos Fundos. A mudança na configuração de programa para esquete pode ser entendida pelo fato de que as esquetes superaram a visualização dos vídeos mais longos. Esses quatro programas do Porta dos

Fundos chegaram a ter seis milhões de visualizações42, ao passo que as web esquetes extrapolaram essa marca de visualizações para mais de vinte e três milhões de acessos no canal do YouTube como, por exemplo, o vídeo Rola43. Então, é possível acreditar que a mudança de programa para web esquete pelo Porta dos Fundos ocorreu devido ao momento em que estavam conhecendo as preferências de seu público. A diminuição do tempo de duração da web esquete surtiu um efeito positivo no canal. Apoiado nas visualizações e inscrições em seu canal no YouTube, o Porta dos Fundos aumentou a publicação semanal das web esquetes44. Entre 2012 a 2014 o Porta dos Fundos publicava dois vídeos por semana, e a partir de meados de 2014 aumentaram a quantidade de publicações para três dias na semana gerando um aumento na quantidade de vídeos. Em 2015 e 2016 as publicações mantiveram-se praticamente na mesma quantidade conforme verificamos na Tabela 3 e Gráfico 4, pois já havia experiência dos anos anteriores que indicassem as predileções dos internautas:

42 Nota da autora: vide o Apêndice II Lista das web esquetes. 43 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Rola. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch? v=h1A9Kc5iNkQ. Acessado em 09 de dez. de 2016. 44 Nota da autora: Não traremos para a pesquisa um número exato de publicações em virtude das atualizações no canal do YouTube. Atualmente são inseridos três vídeos por semana: aos sábados, às segundas-feiras e às quintas- feiras às 11 horas, entretanto, essas publicações podem mudar a qualquer momento de acordo com as decisões da equipe do Porta dos Fundos.

56 Tabela 3 – Quantidade de web esquete por ano de publicação Ano de publicação Quantidade 2012 53 2013 103 2014 133 2015 156 2016 157 2017 38 Total 640

FONTE: da autora com base no Apêndice II Lista das web esquetes.

Esses dados resultam no Gráfico 4:

Gráfico 4 – Quantidade de vídeos publicados de agosto de 2012 até março de 2017

FONTE: da autora com base no Apêndice II Lista das web esquetes.

O Porta dos Fundos criou dois novos canais no YouTube extraídos dos “bastidores” das web esquetes, esses subprodutos são: Fundos da Porta45 e Portaria46. O primeiro, Fundos da Porta, foi lançado em janeiro de 2013 trazendo erros, making of, entrevistas e extras das

45 CANAL DO YOUTUBE FUNDOS DA PORTA. Sobre o Fundos da Porta. Disponível em https://www. y ou t ube.com/user/fundosdaporta/about . Acessado em 09 de dez. de 2016. 46 CANAL DO YOUTUBE PORTARIA. Sobre o Portaria. Disponível em https://www. y ou t ube.com/user/canalportaria/about . Acessado em 09 de dez. de 2016.

57 web esquetes; o outro subproduto é o Portaria, que começou em agosto de 2013 e encerrou sua publicação em agosto de 2014. A temática do Portaria é a resposta aos comentários de fãs de redes sociais e YouTube pelos atores e produtores do Porta dos Fundos em que foram criados cinquenta e três vídeos no canal. Esses dois subprodutos das web esquetes exploram seus próprios vídeos trazendo detalhes das gravações e as relações com os fãs, através da opinião dos atores e da equipe de produção, os assuntos desses vídeos são: falhas na gravação, comentários sobre roteiro, direção, etc. na mesma linha de contexto do programa Vídeo Show

(RGTV, 1983-atual).

No ano de 2013 a produtora lançou um novo subproduto, em outra mídia: um aplicativo de jogo chamado Bola Azul47 baseado na web esquete Quem manda (2013)48 o vídeo parodia a relação de um pai ciumento com o namorado de sua filha.

Em abril de 2014 foi lançado o seriado Viral49 com quatro episódios e tempo de duração de dez a dezesseis minutos. O seriado traz a história do personagem Beto que descobre que é portador do vírus HIV. Junto com um amigo, Beto procura todas as mulheres com que transou sem proteção para informá-las sobre a possibilidade de transmissão da doença, e ainda, descobrir quem o contagiou. As narrativas ocorrem no Rio de Janeiro e também possuem muitas cenas em veículos como no gênero road movie50.

Em 2014 a produtora assinou contrato com o canal de televisão FOX e vendeu a permissão para exibição de suas web esquetes na emissora, dessa forma, nasceu o programa

Porta dos Fundos na FOX.

47 SITE PLAY GAMES. Bola azul. Disponível em https://play.google.com/store/apps/details? id=com.playerum.gorilaobolaazul&hl=pt_BR. Acessado em 09 de dez. de 2016. 48 CANAL DO YOUTUBE DA PORTA DOS FUNDOS. Quem manda. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=0b_l0bE_E9s . Acessado em 09 de dez. de 2016. 49 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Viral. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch? v=yezAn6RL9XY&list=PLT0Smhj8chMUkwlHTFWyv3-21Mpmfdthr. Acessado em 09 de dez. de 2016. 50 Nota da autora: O livro The Road Movie Book explica a origem e os conceitos a respeito do gênero fílmico road movie em Hollywood. (COHAN, Steve; HARK, Ina Rae, 1997, p.2).

58 Um dado interessante sobre o Porta dos Fundos na FOX51 é que o programa tem o mesmo formato dos primeiros vídeos publicados no YouTube chamados Programa Porta dos

Fundos. Na Fox, os programas são construídos com apresentador, intervalos comerciais, encerramento e um tempo maior de duração. A exibição na televisão possui duração de trinta minutos e, um dado sobre a mudança na disseminação é que o programa para a FOX não tem publicação na internet, ou seja, o público pode assistir ao Porta dos Fundos na FOX somente através dos canais exclusivos da emissora de televisão.

Em novembro de 2014 o Porta dos Fundos lançou um novo conteúdo, um seriado chamado Refém52. O seriado é composto por cinco episódios, com duração de doze a quinze minutos, possui como trama a história de um homem casado, Rogério, que mantém um relacionamento extraconjugal e mente para a sua esposa dizendo que viaja de ônibus a trabalho enquanto está se encontrando escondido com outra mulher. O ônibus em que Rogério disse que viajaria é sequestrado. A partir do sequestro, começa o envolvimento com a polícia para garantir a segurança dos reféns e a divulgação da ocorrência pela mídia. Rogério acaba sendo o personagem principal na resolução do sequestro, o que problematiza a mentira dita à sua esposa. No caso desse seriado, após a publicação na internet, a FOX exibe-o meses depois em seu canal: em fevereiro de 2015.

Percebemos que, após o programa Porta dos Fundos na FOX, inicia-se um relacionamento do Porta dos Fundos mais próximo com a televisão articulando a distribuição de seus conteúdos em ambos os meios: internet e televisão.

Outro produto com a temática humorística em um formato de programa de entrevistas

é o Porta Afora (2015)53. A série realiza discussões sobre viagens de pessoas famosas ou

51 Nota da autora: O programa é recomendado apenas para maiores de dezoito anos. 52 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Refém. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch? v=c-BzISKjHhM. Acessado em 09 de dez. de 2016. 53 SITE DO PORTA AFORA. Porta Afora. Disponível em http://www.portadosfundos.com.br/porta-afora/. Acessado em 09 de dez. de 2016.

59 desconhecidas pelo grande público que relatam suas experiências de acordo com o tema de viagem do programa. O tempo de duração dos episódios é de quinze a vinte minutos. Os vídeos podem ser assistidos tanto no canal do YouTube Porta dos Fundos quanto nos veículos de distribuição do Multishow, ou seja, mais uma parceria da produtora Porta dos Fundos com a televisão.

É possível associar o nome Porta dos Fundos como produtos audiovisuais na internet ou até mesmo na televisão, mas surpreendentemente, a equipe estreou uma peça teatral chamada Portátil54 (em cartaz desde julho de 2015 no Brasil e em Portugal) com duração de

100 minutos. A peça propõe que os atores encenem uma situação de improviso solicitando a uma pessoa da plateia expor uma história pessoal marcante, a partir desse contexto, o grupo reconstrói a narrativa com excesso e humor.

No final de 2015 o Porta dos Fundos estreou o seriado O Grande González55 no canal da FOX com dez episódios de trinta minutos cada. A história traz o ambiente de uma festa infantil em que o mágico González é encontrado morto. A trama se baseia na investigação policial para descobrir se houve assassinato, e quem seria o responsável pelo crime. O seriado estreou primeiramente na televisão e, posteriormente, no canal do YouTube56 em fevereiro de

2016. Nesse caso, o que chama atenção é que a exibição do seriado do Porta dos Fundos ocorreu primeiro na televisão, e meses depois, em seu canal. Ocorrendo a inversão no meio de disseminação do produto, em vez de transmitir o seriado no meio principal, a internet, a prioridade de disseminação do seriado é atribuída ao meio televisivo.

Um novo formato de produtos do Porta dos Fundos, um longa-metragem, o filme

54 FACEBOOK DO PORTA DOS FUNDOS. Agenda. Disponível em https://www.facebook.com/pg/PortaDosFundos/events/. Acessado em 09 de dez. de 2016. 55 SITE DA FOX. O Grande González. Disponível em http://www.foxplaybrasil.com.br/show/12403-o-grande- gonzalez. Acessado em 09 de dez. de 2016. 56 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. O Grande González. Disponível em https://www. y ou tu be.com/watch?v=MHI9WQ9aVB0 . Acessado em 09 de dez. de 2016.

60 Contrato Vitalício (Ian SBF, 2016) estreou em 201657. O filme conta a história de dois amigos que ganham um prêmio internacional de cinema em Paris e saem para comemorar a vitória.

Na festa dos vencedores os amigos assinam um contrato vitalício de trabalho em um guardanapo. No dia seguinte à festa de comemoração o personagem que interpreta o diretor do filme, Miguel desaparece e o paradeiro dele fica desconhecido por anos. Após dez anos, os amigos se reencontram no mesmo festival, entretanto, Miguel apresenta mudanças de comportamento. Mesmo com as estranhezas do diretor, os amigos resolvem gravar um novo filme adaptando às experiências vividas por Miguel durante os seus dez anos de desaparecimento. O longa-metragem de cem minutos é exibido somente nos cinemas, e não há possibilidade de assistir ao filme pelo canal do YouTube.

Em 2016 os Jogos Olímpicos foram sediados no Brasil circulando por várias cidades, mas principalmente, com eventos na cidade do Rio de Janeiro. O Porta dos Fundos participou da narrativa dos Jogos, ao vivo, no programa de televisão da FOX Sports58 (julho de 2016) em dois horários: dezoito horas e vinte horas. A ideia do programa era de que a equipe do Porta dos Fundos fizesse comentários sobre as partidas entre as diferentes modalidades de esportes dos jogos. Esses comentários sobre os Jogos Olímpicos não foram divulgados no canal do

YouTube do Porta dos Fundos pelo fato de ser um programa criado pela FOX sua disseminação ocorre somente no meio televisivo.

Como pudemos verificar a equipe do Porta dos Fundos participou e realizou produções em diferentes meios e foi criando relações próximas com as emissoras de televisão.

A mídia televisiva representa o principal meio de comunicação utilizado pelos brasileiros, e por isso, possui uma presença marcante na vida do público (CGI, 2014, p.153)59. As 57 SITE DA PORTA DOS FUNDOS. Filme Contrato Vitalício. Disponível em http://www.portadosfundos.com.br/contrato-vitalicio/#. Acessado em 09 de dez. de 2016. 58 SITE DO JORNAL ESTADÃO. Porta dos Fundos nos jogos olímpicos na Fox Sports. Disponível em http://emais.estadao.com.br/noticias/tv,porta-dos-fundos-narra-partidas-da-olimpiada-na-fox-sports-mesmo-sem- entender-do-assunto,10000067220. Acessado em 09 de dez. de 2016. 59 Nota da autora: O CGI BR – Conselho Gestor da Internet no Brasil mostra a presença do aparelho de televisão

61 produções do Porta dos Fundos para televisão ou outros meios, obviamente sofrem adaptações de acordo com a linguagem utilizada para cada público e os fatores de produção que imperam em cada meio de comunicação: tempo, continuidade, narrativa, etc.

Quando os atores do Porta dos Fundos participam da narrativa dos Jogos Olímpicos, por exemplo, a web esquete não é mostrada em nenhum momento, mas a ideia do formato cômico está presente e essa representação faz com que o público aceite os comentários não convencionais do grupo. Por exemplo, quando Antônio Tabet sugere na abertura dos Jogos

Olímpicos60 a inserção do show do grupo musical “É o Tchan” com a música A Dança do

Ventre (1997) adaptando as letras “Vai (mulher) ordinária” para um formato mais progressista

“Vai (mulher) independente”.

Com base no mapeamento das produções do Porta dos Fundos podemos compreender que a equipe desenvolveu um formato de produto audiovisual que tem aceitação dos internautas e consegue dialogar com o meio televisivo, além disso, explora constantemente novas formas de produção de conteúdos. Essa aceitação está vinculada ao conhecimento adquirido nos meios de produção audiovisual dos fundadores e a rápida resposta de audiência que as ferramentas de visualização do YouTube trazem ajudando a desenvolver um formato de produto familiar às preferências do espectador brasileiro.

No próximo capítulo mostraremos como a trajetória e a experiência são aplicadas nas construções das web esquetes com a análise de alguns elementos de linguagem audiovisual escolhidos para este estudo.

em primeiro lugar de acordo com a pesquisa da maioria dos lares brasileiros. 60 CANAL DO YOUTUBE. Porta dos Fundos na abertura dos jogos olímpicos Rio 2016. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=cYT4g8AlVpU . Acessado em 10 de dez. de 2016.

62 3 ANÁLISE DO FORMATO DAS WEB ESQUETES DO PORTA DOS FUNDOS

No capítulo 2 vimos o histórico dos fundadores do Porta dos Fundos e evolução do trabalho do grupo com o relato de todas as suas produções. Neste capítulo traremos as características das web esquetes com o estudo de seus elementos e analisaremos o uso de determinados recursos de linguagem audiovisual para a construção desses produtos. Para buscarmos resultados para os nossos objetivos de pesquisa, tentaremos focar em dois tipos de ponto de vista das web esquetes: dos produtores (iluminação, roteirista, tempo, etc.) e do público. A metodologia qualitativa aqui utilizada mostra os elementos desses conteúdos que podem contribuir com a atenção do espectador: iluminação, maquiagem, figurino, roteiro e enquadramento utilizados pela equipe do Porta dos Fundos.

Como todas as web esquetes estão disponíveis no YouTube, isso facilita a visualização e descrição de cenas, enquadramentos, iluminação, etc. Os estudos podem ser direcionados e analisados de forma minuciosa com a possibilidade de pausa em segundos do vídeo, podendo retornar e rever vídeos específicos ou para reavivar a memória do pesquisador ao explorar novos pontos de vista.

3.1 Linguagem audiovisual das web esquetes

3.1.1 Resumo das web esquetes

Para realizar a análise dos vídeos do Porta dos Fundos foram selecionadas quatro web esquetes entre as dez mais acessadas até o momento: Rola, Na Lata61, Sobre a mesa62 e Quem manda.

61 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Na Lata. Disponível em https://www.youtube.com/watch? v=NZb0XKHgtjo. Acessado em 18 de jun. de 2016. 62 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Sobre a mesa. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=6EYmKAs7mzc. Acessado em 18 de jun. de 2016.

63 Começaremos com um resumo das web esquetes. Na web esquete Rola, uma cliente pede ao atendente de uma lanchonete um sanduíche de frango. O atendente responde que só existe um produto disponível para venda, denominado por ele como “rola”. A cliente tenta pedir outros lanches, mas devido à falta de opções acaba sendo obrigada a escolher o único produto que o estabelecimento possui para venda.

Na web esquete Na Lata, Kellen procura em uma geladeira de supermercado a lata de refrigerante Coca-Cola com o seu nome gravado. Uélersson, o funcionário do supermercado, aparece para ajudar Kellen em sua busca pela lata. O funcionário explica a cliente que o nome não será localizado no refrigerante Coca-Cola justificando que Kellen não é um nome aceitável para gravar na lata. No final da cena, o funcionário acaba aconselhando Kellen a procurá-lo em outra marca de refrigerante mais popular como da marca Dolly.

Em outra web esquete, Sobre a mesa, Mário Alberto pergunta a Odete qual a sobremesa que provarão no jantar. Quando Odete responde que há abacaxi e tangerina, Mário

Alberto mostra insatisfação e discursa sobre seu papel de mantenedor da casa e a sua indignação em não encontrar um pudim como sobremesa. Após o sermão, o marido questiona qual o desejo de Odete. Em réplica, de forma tranquila e detalhada, a esposa informa que o seu desejo está relacionado em fazer sexo expondo minúcias sobre quem seriam esses homens e como desejaria que essas relações acontecessem.

No vídeo Quem manda, Ju leva o seu novo namorado Marcelo em casa e o apresenta ao seu pai. Em seguida sai da sala e se dirige ao quarto. O pai começa a fazer uma série de questionamentos sobre as intenções do rapaz em relação ao namoro. Marcelo em tom de voz baixa responde às perguntas indiscretas do pai da moça. Ao final das perguntas, o pai conta que assistiu a um documentário sobre os gorilas africanos em que o líder do bando mostra sua força ao apresentar uma tonalidade azulada em sua bolsa escrotal. De forma direta o pai exige

64 que Marcelo passe tinta azul em seu órgão sexual como sinal de submissão ao líder da casa.

Marcelo ao ouvir essa exigência do progenitor, fica com medo e vai embora correndo da casa de sua namorada.

3.1.2 Os elementos: figurino, maquiagem e iluminação.

Nas produções audiovisuais estamos lidando com representações de situações contadas através de imagens e sons, e cada produto possui inúmeras formas de transmitir sua mensagem ao público. As possibilidades de criações são ímpares e existem recursos que ajudam o processo criativo a traduzir os pensamentos e as emoções dos realizadores para chamar a atenção do público.

O Porta dos Fundos traz nessas web esquetes ambientes que representam o cotidiano de pessoas comuns: trabalhadores, estudantes, pais, mães, etc. Essas representações serão analisadas nas figuras 2 a 22 com o estudo dos recursos de linguagem utilizados na composição dessas web esquetes.

3.1.2.1 Figurino e Maquiagem

Na web esquete Rola a personagem é uma cliente da lanchonete que utiliza roupas com cores neutras sem decotes, adereços ou outro acessório (figura 2). A sua maquiagem é opaca com cores claras e o seu cabelo está levemente desalinhado. A moça interpreta uma pessoa que aparenta cansaço, como se estivesse no final de um dia exaustivo em que necessita comer para repor sua energia.

Para ajudar na ambiência das situações cotidianas, os atores são vestidos de maneira simples: os funcionários de estabelecimentos comerciais utilizam uniformes como camisetas,

65 aventais e toucas (figuras 3 e 4) e também uma maquiagem condizente com a situação, sem acessórios ou exageros no visual.

Em Na Lata a personagem Kellen está vestida com uma roupa prateada e com um vestido sobreposto na coloração amarelo fluorescente (figura 5). Essa informação chama a atenção para o figurino mostrando que a personagem utiliza elementos que valorizam seu corpo.

O funcionário do supermercado Uélersson além de explicar que Kellen não encontrará o produto desejado menciona que esse nome é associado com a profissão de '‘puta’'. Pela história não podemos confirmar a profissão da personagem, pois a vida de Kellen não é mencionada, entretanto, existe na construção do figurino e na sequência das cenas informações que podem direcionar o público. Kellen está maquiada realçando sua pele e faz uso de batom vermelho, o cabelo está alinhado e possui uma forma alongada. Um ponto para reforçar a importância do figurino está nos cortes da sequência das cenas, após Uélersson dizer a Kellen: “nome de puta a Coca não faz” a câmera mostra as costas do vestido de Kellen

(figura 6) como se houvesse a ideia de confirmar a informação sugerida por Uélersson. A construção de uma personagem feminina maquiada, com batom vermelho, cabelo longo, roupa justa, decotada e com tonalidades fortes pode ter sido realizada para trazer ao imaginário do espectador a possibilidade de que Kellen seja prostituta, ou seja, composição do figurino e maquiagem da cliente ajuda a construir o humor no contexto em que a história acontece.

Na web esquete Sobre a mesa o casal está sentado à mesa de uma residência e parecem ter finalizado um jantar. Ambos estão com roupas que podem ter sido utilizadas no trabalho:

Odete veste um terninho marrom, cabelo preso e um brinco discreto, sua maquiagem apresenta tonalidades claras fazendo um ornamento natural em relação à tonalidade de sua

66 pele (figura 7). Mário Alberto veste camisa com manga comprida azul clara e um par de

óculos discreto (figura 8). Nesse caso, o figurino tem o objetivo de surpreender o púbico visto que a aparência representa um casal comum em uma situação cotidiana: todos os dias, após o trabalho, jantam juntos e falam sobre amenidades do dia, entretanto, existe uma quebra nesse modus operandi no jantar do casal, quando Odete descreve detalhes sobre os seus desejos sexuais envolvendo diversos homens desde o porteiro do seu prédio até pessoas famosas. O figurino e a maquiagem trazem no universo da esquete personagens com uma aparência comum: trabalho, almoço, jantar, etc., porém, o diálogo transgride essa imagem quando ocorre a confissão dos desejos de Odete. Como o internauta poderia prever que essa personagem com aparência calma e voz baixa teria necessidade de fazer sexo com muitos homens de diferentes formas até ficar desgastada e extasiada? Pode existir o propósito de chamar a atenção do público com a imprevisibilidade da situação trazendo os personagens em uma ambiência de moderação na vida do casal que inesperadamente muda com o desenvolvimento dos diálogos.

Portanto, cada web esquete utiliza roupas e adereços adequados para a situação que desejam trazer em cena. O figurino não se sobrepõe aos diálogos, serve para mostrar o contexto e situar o espectador da atmosfera da história. Os personagens são apresentados de forma natural, dentro do contexto dos vídeos, sem exagero no visual. Seria possível afirmar que a construção desses figurinos e maquiagens poderiam criar uma relação com o público que se sinta representado por artistas que possuem um modo de vestir simples, tentando aproximar a aparência dos personagens com a realidade das pessoas em sua rotina de vida e trabalho.

67 3.1.2.2 Iluminação

Nas web esquetes Sobre a mesa e Quem manda os cenários são ambientes residenciais e, para essa ambiência, cria-se a sensação de uma iluminação natural onde a luz pode retratar uma janela aberta como nas figuras 7 e 8 ou uma janela fechada (figuras 9 e 10).

Na web esquete Na Lata, o cenário é um supermercado e as cenas ocorrem em frente à geladeira. É provável que nesse local exista uma luz forte para atrair os clientes, pois esses produtos perecem rapidamente, então a iluminação nas figuras 4 a 6 mostram as luzes refletindo as lâmpadas nas prateleiras da geladeira. Como não é um vídeo comercial, o destaque nas imagens vai sendo direcionado para os atores, ou seja, a câmera desfoca os produtos para evidenciar a importância dos personagens na narrativa.

A iluminação representando a luz apropriada para cada ambiente é uma das características dessas web esquetes do Porta dos Fundos. No capítulo 3 analisaremos a iluminação de um produto audiovisual da televisão para comparar o uso desse recurso entre as web esquetes e o programa Zorra. Por ora, faremos uma comparação da iluminação da web esquete Sobre a mesa na figura 7 com a web esquete Porta dos Fundos na TV63 (figura 11).

Comparando as figuras 7 e 11, vemos que há diferença na forma de iluminar um ambiente, a luz é mais reluzente na figura 11 para mostrar a composição para um programa televisivo. A web esquete Porta dos Fundos na TV faz uma paródia com a seguinte ideia: como seria a esquete do Porta dos Fundos se fosse elaborada para a televisão aberta? Para representar diferença entre uma sala de jantar residencial e a iluminação utilizada na televisão, a luz apresenta um brilho mais intenso, justamente para mostrar ao espectador uma das características da composição de cenas utilizadas no meio televisivo.

Como vimos no capítulo 2, os produtores do Porta dos Fundos possuem conhecimento

63 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Porta dos Fundos na TV. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=zvyFNjxTy-E . Acessado em 18 de jun. de 2016.

68 sobre como criar ambiências através do uso de iluminação, com a escolha por determinada tonalidade de luz, como nas figuras 2 e 3 onde a iluminação tenta parecer natural. O Porta dos Fundos não abusa de intensidade ou de tonalidade fortes em ambientes que não necessitam desse tipo de recurso, o uso que a equipe faz da iluminação tenta retratar as cenas representando os ambientes de acordo com as situações narradas.

3.1.3 A decupagem para pequenas telas

Na edição das web esquetes geralmente utilizam-se os enquadramentos em campo e contracampo como forma da câmera ajudar na compreensão da história. Os cortes vão passando de um personagem ao outro em uma combinação de planos (figuras 4 a 5, 7 a 10).

No canal Fundos da Porta são publicados, desde janeiro de 2013, os bastidores das gravações de todos os produtos do Porta dos Fundos, por isso, é possível saber detalhes da produção, como o posicionamento e fixação das câmeras, mudanças nos roteiros durante a gravação, escolha de figurino, iluminação e outros dados. (figuras 12 e 13).

Como não há o making of de Rola e Sobre a mesa para trazer a informação do plano e enquadramento utilizaremos a web esquete Porta dos Fundos na TV para saber o posicionamento da câmera baixa nas figuras 12 a 13. Nessa web esquete a câmera permanece fixa na mesma altura dos personagens que estão sendo enquadrados sem movimentação de imagens.

Nas web esquetes analisadas não existe a preocupação em apresentar ambientes inteiros ou cenários com vários cômodos com a câmera passando de um ambiente ao outro.

Os enquadramentos geralmente são mais fechados, utilizando os planos: detalhe (figura 1), primeiro plano (figuras 2, 5, 7 a 10), meia figura (figuras 3 e 4), americano (figura 6) e primeiríssimo plano, (figura 14), ou seja, as imagens são mostradas com cortes da cintura para

69 cima dos atores e fechando em seus rostos ou em objetos. Essa construção com planos mais aproximados consegue dar conta da narrativa mesmo que o espectador esteja utilizando uma tela pequena como smartphone para assistir ao vídeo.

Em Sobre a mesa a esquete começa em plano detalhe com um celular na mão de Mário

Alberto (figura 15), após esse corte, nas figuras seguintes 16 e 17, Mário Alberto é mostrado em um primeiro plano nas cenas em que ele pergunta à companheira se existe alguma sobremesa. A resposta desse questionamento aparece na figura 17 com Mário Alberto olhando furioso para a esposa que não fez um pudim. Na figura 18 (primeiro plano) vemos Odete calmamente ouvindo as reclamações do marido. Quando Mário Alberto pergunta se Odete deseja uma sobremesa, ou melhor, qual o verdadeiro desejo dela, as respostas de Odete são enquadradas em planos mais aproximados no rosto, nos braços e nas mãos da personagem mostrando sua expressão e gestos enquanto vai explicando suas necessidades. É possível visualizar nas figuras 19 a 21 que existem mudanças suaves de planos utilizando primeiro plano, plano detalhe e meia figura construindo as cenas chamando o espectador para as expressões e gestos dos atores em um momento da cena que a personagem detalha seus desejos e deixa o marido sem palavras. E finalmente, após a explicação detalhada de Odete, na figura 22 vemos Mário Alberto congelado ouvindo sua esposa, o clímax da cena termina com plano detalhe mostrando o rosto estupefato de Mário Alberto diante de fatos surpreendentes dos desejos sexuais de sua companheira. Os cortes na edição ajudam na compreensão do contexto, pois as mudanças entre uma cena e outra acontecem conectando as imagens aos diálogos.

Conforme vemos nas figuras 1 a 22, as cenas dessas web esquetes são gravadas em ambientes pequenos que não exigem a movimentação das câmeras em travellings horizontais

(para frente e para trás) ou verticais (de cima para baixo).

70 É interessante pontuar essas escolhas de planos e enquadramentos pela equipe do

Porta dos Fundos visando a compreensão da narrativa e o tamanho da tela dos dispositivos eletrônicos utilizados pelo público para assistir a esses produtos audiovisuais, porque em planos com grandes ambientes, os detalhes podem ser perdidos ao ver os vídeos em telas muito pequenas. Então, é possível deduzir que as web esquetes possuem uma fotografia e decupagem mais apropriadas às telas reduzidas como a de computadores pessoais ou smartphones trazendo ao espectador qualidade e clareza na narrativa através dos enquadramentos efetuados pelo Porta dos Fundos.

3.1.4 A flexibilização do roteiro e o tempo da piada

O tempo de duração denota um ponto importante na construção das web esquetes que em sua maioria dura entre dois a cinco minutos (conforme verificamos no capítulo 2). A preocupação com o tempo na produção audiovisual é um tema relevante, pois pode impactar em custos, otimização dos processos de trabalho e também, na construção da narrativa. O autor José Mário Ortiz Ramos afirma que “A questão da temporalidade na produção da cultura é fundamental para podermos ampliar a reflexão sobre a racionalidade e tecnificação na sociedade moderna” (RAMOS, 2004, p. 104).

O tempo como recurso de construção da web esquete pelo Porta dos Fundos ajuda a desenvolver suas piadas. Em vídeos de humor com maior tempo de duração poderia impactar no formato da construção da narrativa, passando a ter entrelaçamentos no enredo para fazer sentido e desenvolver humor ao longo desse período de duração, por exemplo, em vinte minutos seriam necessários desenvolver histórias paralelas ou complementares que necessitariam de mais recursos de criatividade e de produção para elaboração de um programa

71 de humor para internet. Portanto, a característica da web esquete também está relacionada ao seu tempo de duração que possui sua construção pautada na construção do humor de forma direta e rápida.

Outro dado em relação ao tempo de duração que esbarra na elaboração de programas longos são os intervalos comerciais. Arlindo Machado faz uma comparação interessante no uso do intervalo entre cinema e televisão devido à continuação da narrativa entre esses dois meios:

Ao contrário da narrativa cinematográfica clássica, que se baseia nas leis da continuidade, os relatos televisuais (mesmo quando se trata de narrativas, como no caso das novelas e seriados) são, por natureza, descontínuos e fragmentários, não apenas porque a sequência precisa ser interrompida a todo momento para dar entrada aos breaks comerciais (isso a que os franceses chamam, pejorativamente, de saucissonage, “fatiamento” do programa como se ele fosse um salsichão), mas também porque eles foram concebidos para ser continuados no dia seguinte. (MACHADO, 1995, p. 109)

Contudo, por se tratar de tempos curtos as web esquetes do Porta dos Fundos não possuem intervalos comerciais ou a preocupação com a continuidade das histórias, as narrativas começam e terminam em um único conteúdo.

A construção de produtos audiovisuais com tempo curto de duração pelo Porta dos

Fundos, a princípio, pode ser pensada do ponto de vista de custo de produção, entretanto, é importante avaliar esse elemento cuidadosamente para não levantar informações incompletas, pois o roteiro também é um fator que direciona a construção do humor. Como as web esquetes tratam de situações de humor as histórias são escritas para atender determinado momento introduzindo o espectador ao ambiente através das informações relevantes para compreensão do contexto.

No caso das web esquetes não temos um fechamento que extrapola os diálogos

72 anteriormente efetuados, não existe excesso nas falas com o uso de prolongamento de palavras ou bordão, também não vemos o olhar dos atores se dirigindo diretamente ao público, e, para entender a piada das web esquetes é necessário ouvir o diálogo inteiro, ou seja, a piada não está relacionada com gestos corporais involuntários dos personagens, que por si só, poderiam levar ao riso.

O humor do Porta dos Fundos não é mostrado com corpos caindo ou roupas exageradas. A piada não é gerada por um mecanismo mais simples e repetitivo como o bordão ou por uma movimentação corporal como ocorre nos circos em que o humor é acionado ao cair do palhaço simulando um movimento falso ou involuntário. Bergson traz um exemplo de do mau jeito corporal que pode provocar o riso no público:

Um homem, correndo pela rua, tropeça e cai: os transeuntes riem. Não ririam dele, acredito, se fosse possível supor que de repente lhe deu na veneta de sentar-se no chão. Riem porque ele se sentou no chão involuntariamente. Portanto, não é sua mudança brusca de atitude que provoca o riso, é o que há de involuntário na mudança, é o mau jeito. (BERGSON, 2001, p. 7)

Bergson explica que o riso pode suceder em função de um movimento acidental, um mau jeito na articulação das pessoas em relação àquela situação que não era prevista, por isso, ao ocorrer esse acidente o involuntário provoca risada. Nas esquetes de Os Trapalhões, por exemplo, o quarteto simulava vários movimentos corporais acidentais para acionar o riso. Nas web esquetes do Porta dos Fundos a intenção de criar o riso no espectador contradiz esse pensamento de Bergson, visto que o humor não é acionado pelos gestos corporais acidentais ou involuntários dos atores e sim pelo contexto da piada.

Quando um roteirista imagina e escreve uma história de humor precisa pensar nas possibilidades da piada, como a cena vai sendo construída, quais os recursos utilizados na cena. É preciso ter uma visão sobre essas necessidades para construção da escrita, pois

73 Um escritor que não tenha entendido como os filmes são feitos, quais são as necessidades, limites e virtudes do veículo cinematográfico, quem são os outros profissionais, e como se comunicar com eles, não consegue ser bom na arte da roteirização. (HOWARD, MABLEY, 2002, p. 42)

Conforme vemos nos making of dos vídeos com os diálogos dos bastidores da gravação e a pesquisa da biografia dos fundadores, os roteiristas do Porta dos Fundos possuem know-how com a construção de roteiros em outras mídias, Na gravação, eles dialogam com os escritores, os atores e os produtores para obter o melhor resultado possível na sua web esquete. O próprio formato em que a produtora se desenvolveu ajudou a criar uma relação próxima com sua equipe permitindo testar a gravação de seus vídeos e até mesmo decidir se o vídeo gravado seria publicado ou não em seu canal no YouTube.

O recurso utilizado para a construção do humor é a representação de situações do cotidiano de uma forma que tenta se aproximar do imaginário do público diante daquela realidade, ou seja, a apropriação de possíveis cenários dentro de um recorte de acontecimentos. “‘Uma boa história bem contada’ inclui outro elemento crucial: a maneira como o público vivencia a história.” (HOWARD, MABLEY, 2002, p. 51) O humor do Porta dos Fundos possui temáticas bem variadas, pois em suas 640 web esquetes (Apêndice II) podemos assistir aos vídeos sobre comportamentos e relacionamentos: ciúmes, casamento, namoro, etc.; religiões: católica, afrodescendente, protestante, etc.; sobre filmes: Batman, 50

Tons de Cinza, etc.; sobre esportes: futebol, olimpíadas, etc.; enfim, o repertório das web esquetes é variadíssimo e abrange uma grande possibilidade de temas.

Essa variedade de temas pode ser associada com as habilidades dos atores roteiristas do Porta dos Fundos, porque cada escritor se alimenta de diferentes experiências para escrever o texto. Existe na narrativa do Porta dos Fundos a exploração de acontecimentos que são familiares ao público e destacados por determinados pontos de vista, como na web

74 esquete Delação'64, publicada em abril de 2016. Na época havia noticiado na grande mídia um movimento de investigação da Polícia Federal em busca de fatos que poderiam incriminar e punir a Presidenta brasileira Dilma Roussef ou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no período em que foi pedido o impeachment dela. O período da publicação da web esquete

Delação vai ao encontro com um momento em que no Brasil acontecia um movimento político e popular de insatisfação com o governo da época, além de um processo de investigação divulgado massivamente na mídia sobre todos os gastos e pagamentos relacionados ao nome de Dilma Roussef e o ex-presidente. Nessa web esquete, o Porta dos

Fundos, satiriza os “bastidores” da investigação da Polícia Federal na tentativa de relacionar quaisquer palavras parecidas com os nomes Dilma e Lula como prova de pagamento de despesas indevidas pelo governo a essas pessoas.

Passaremos agora pela análise da construção da piada do Porta dos Fundos utilizando os diálogos da web esquete Quem manda. Para o argumento do roteiro, Antônio Tabet descreve no livro do Porta dos Fundos que se baseou em dois pontos: o comportamento de determinados macacos para manter a posição de líder do bando e a preocupação de um pai em relação ao início da vida sexual de sua filha:

Certa vez, assistindo ao Discovery Channel no escritório do blog do Kibe Loco, no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, vi um documentário sobre uma espécie de macaco africano cujos testículos são azuis por causa de um determinado hormônio. Segundo o programa, quanto mais azul a bolsa escrotal do macaco, maior a força física e a energia sexual dele. Isso acaba sendo comprovado a cada disputa – algumas bastante violentas – entre o macho dominante do grupo e forasteiros que tentam dar suas boladas azuis nas macacas alheias. Quando vi aquelas cenas, imaginei como seria se tivéssemos os mesmos sinais em nosso corpo para afugentar outros macaquinhos. Escrevi o roteiro sobre a relação pai e filha porque tinha ido almoçar no dia anterior com um amigo, pai de menina, e ele se mostrava apreensivo com o futuro. Depois que o vídeo foi lançado, passei a ser chamado, sempre de maneira

64 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Delação. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch? v=m92wwsCxk7k. Acessado em 09 de jan. de 2017.

75 irreverente, de “Bola Azul”. O que prova que a natureza é sábia ao não nos fazer com ovos de botequim. (PORTA DOS FUNDOS, 2013, p. 208)

O vídeo começa com a apresentação do namorado Marcelo ao pai, e a partir disso, iniciam-se as perguntas embaraçosas ao namorado. “Na maioria dos roteiros bem construídos, já no início da história o autor canaliza vigorosamente a atenção do público para um dos personagens.” (HOWARD, MABLEY, 2002, p. 77). O espectador já vai sendo direcionado logo nos primeiros diálogos da web esquete a possibilidade da narrativa: um pai ciumento, uma filha jovem e um novo namorado.

Filha – Pai, esse aqui é o Marcelo. Má, eu vou lá dentro trocar de roupa e a gente sai, tá? Pai… (ela dá um tapinha carinhoso no braço do pai e olha sorrindo para o namorado antes de sair)

Pai – Senta aí, Marcelo. (Marcelo se senta. Pai dobra o jornal.)

Pai – Tudo bem?

Marcelo – Tudo ótimo. E com você?

Pai – Você, não. Senhor.

Marcelo – Errr…desculpa. Tudo bem com o senhor? (PORTA DOS FUNDOS, 2013, p. 208-209)

O diálogo vai engatilhando situações de humor ao longo da conversa e começa quando o pai impõe que Marcelo o chame de '‘senhor’' em sinal de respeito. Após esse fato, o pai efetua diversas perguntas intimidadoras ao Marcelo, como por exemplo, se o jovem sabe o que é um quartel:

Pai – Nem vai querer passar o piru nela, né?

Marcelo – Oi?

Pai – Oi? Nem vai querer passar o piru nela, né?

Marcelo – Não! A gente só tá indo ao cinema…

76 Pai – Ah! Cinema.

Marcelo – É…

Pai – Que filme? Que horas?

Marcelo – O novo filme do 007…

Pai – Não. Você vai ver Peixonauta, sessão das quatro. (entrega os ingressos para Marcelo) O Walter vai estar na mesma fileira que vocês.

Marcelo – Walter? Que Walter?

Pai – Walter. Um cara que trabalha pra mim quando tá de folga no quartel. Você sabe o que é um quartel, Marcelo?

Marcelo – Sei, sei.

Pai – Então você já serviu o Exército?

Marcelo – Não...Eu acabei de fazer 18 anos....

Pai – Oooh, 18 anos! Sabia que com 18 anos eu já tinha perdido o pai, a mãe, morava e trabalhava numa serraria em Catumbi e já tinha pego sífilis, gonorréia, cancro duro, escoliose, Aids. (PORTA DOS FUNDOS, 2013, p. 208)

O pai intima Marcelo para tentar saber as intenções sexuais com sua filha Ju. Essa maneira de se dirigir ao namorado vai deixando o rapaz em uma situação desconfortável mostrada pelo tom de voz que vai ficando cada vez mais baixo até o ponto em que Marcelo quase sussurra.

O pai informa que o casal será seguido dentro da sala de cinema e acrescenta que o perseguidor trabalha no serviço militar. A pressão de serem vigiados por um homem com conhecimento de técnicas de guerra tenta amedrontar o namorado e, ainda, sugerir que o pai pode ser um homem perigoso, dado que conhece o uso de armas que podem ferir ou matar uma pessoa.

Ao longo do diálogo o pai mostra imponência em sua entonação vocal e Marcelo expressa o seu medo quase sussurrando as respostas. Esses recursos de interpretação auxiliam

77 no entendimento da posição em que são colocados: o intimidador e o intimidado.

Os diálogos vão reforçando essa relação em que o progenitor cresce com seu personagem pressionando o namorado até o ponto do jovem fugir de medo da casa da namorada:

Pai – Éééé! Eu sou o gorilão da bola azul. E você, você é o macaquinho que quer entrar no bando não quer? Você quer comer a filha do gorila, não quer? Não quer, Marcelo? Eu tô vendo que a bola azul precisa de uma demão. O azul tá descascando, tá saindo. Então, pega a tinta azul, vai, macaquinho, e vem passar aqui na bola do macaco-rei, vai! Vai, porra! Pega a tinta, vai! (Marcelo sai correndo do apartamento, batendo a porta. Pai se recompõe e volta a ser o jornal.) (PORTA DOS FUNDOS, 2013, p. 211)

Ao explicar sobre a sua forma de obter poder, o pai exige que Marcelo se submeta a uma ação estranha: passar uma tinta azul em sua bolsa escrotal. O vídeo finaliza com a filha questionando a sua mãe o motivo de seu esmalte azul estar sempre cheio de cabelos.

Mesmo com os diálogos com palavrões e gírias, os elementos em cena não mostram movimentos corporais exagerados dos personagens, ambos permanecem sentados dialogando na mesa da sala de estar. Além disso, nessa web esquete, o Porta dos Fundos não traz excesso no figurino, interpretação ou outro elemento na cena que se sobressaia aos diálogos.

A conversa entre o pai e o namorado é um jogo de perguntas e respostas diretas e rápidas. Não existe um vídeo com o início do namoro de Marcelo e Ju ou a vida do pai em

Catumbi. (PORTA DOS FUNDOS, 2013, p. 208-211) A narrativa vem sendo construída sem mensagens em entrelinhas com uso da ironia paterna em relação ao início da vida sexual de sua filha. O público em doze segundos conhece o elemento principal do vídeo: a apresentação de Marcelo, o novo namorado de Ju, ao pai. Nos três minutos procedentes a conversa entre ambos trazem a representação com as preocupações familiares vividas diariamente por brasileiros: se o novo namorado da filha será um jovem decente e respeitoso.

78 O roteiro traz as perguntas que muitos pais gostariam de fazer aos namorados de suas filhas e, por isso, são facilmente compreendidas pelo público: se o casal já teve relações sexuais, se o rapaz é uma pessoa com caráter, incutir medo no novo namorado caso ele faça algo desrespeitoso, avaliar o quão atencioso e leal será ao pai, enfim, todas essas questões são tratadas em três minutos através dos diálogos da web esquete.

Além das mensagens diretas e familiares ao público, existem fatores que impactam na qualidade do roteiro das web esquetes: o texto pode ser testado e modificado no momento da gravação. Um exemplo de flexibilidade do roteiro é visto na gravação da web esquete Porta dos Fundos da TV, em que existe mais de uma opção de diálogo para a cena. O ator Rafael

Infante sugere e testa uma das opções de texto junto com o diretor Ian SBF. A segunda versão mais direta é a escolhida pelo ator, que foi gravada e se torna o produto final da web esquete.

Rafael Infante – Essa é a primeira opção (do roteiro): Eu quero salsichão! Quer salsichão é? Salsichão roliço, vermelho, branco? Salsichão grosso? É, salsichão rola. E tem uma outra versão mais direta, que eu acho mais legal: Eu queria um salsichão, róla? Róóólaaaa!

A possibilidade de ajustar o diálogo no momento da gravação do vídeo traz uma liberdade para a equipe do Porta dos Fundos que as grandes empresas televisivas não possuem, por políticas internas que aprovam e validam os roteiros de todos os produtos, e principalmente, em programas de humor que por vezes geram processos indenizatórios aos que se consideram insultados pelas histórias.

A flexibilidade em trabalhar o texto na gravação das cenas com uma equipe que pode testar, cortar e adaptar o diálogo aliado a experiência com escrita de roteiros impacta na qualidade e na construção do humor das web esquetes do Porta dos Fundos. Se há no texto palavras que não são claras ou engraçadas, na gravação o diálogo pode ser mudado, logo, a vivência em programas de humor, piadas diretas e a possibilidade de ajuste do texto para se

79 adequar àquela determinada situação podem ser indicativos de fatores que mostram conhecimento da produção textual para atrair e fidelizar a atenção do público.

80 4 O HUMOR DO PORTA DOS FUNDOS E O MEIO TELEVISIVO

4.1 As esquetes dos programas televisivos: Zorra e Tá no Ar: A TV na TV

Existem muitos programas tradicionais na televisão brasileira que são vistos há déca- das e mantém-se fiel às mesmas narrativas e formas de produção. Citamos alguns destes pro- gramas no capítulo 2 quando mencionados, por exemplo, A Praça é Nossa, Zorra Total e a

Escolinha do Professor Raimundo. Eles conquistaram seu espaço com suas esquetes de hu- mor, seus bordões e sua linguagem, mantendo-se no ar por muitos anos graças a um público que conquistou e fidelizou em seus horários na televisão.

Entretanto, ao longo dos anos os programas podem sofrer pequenos ajustes para se adaptarem aos novos públicos que vão surgindo, essa adequação pode ser percebida pelas no- vas tecnologias ou outras tendências de formato de produção, mas principalmente, por manter e/ou aumentar sua audiência. Para compreender sobre o processo de adaptação realizado nas mídias televisivas e comparar os elementos com as web esquetes do Porta dos Fundos foi rea- lizada uma seleção para este estudo com vídeos de dois programas de televisão: Zorra e Tá no Ar: A TV na TV.

4.1.1 Zorra

Começaremos com uma análise das características do programa Zorra que foi refor- mulado a partir das referências de produção do antigo Zorra Total (PHILIPPSEN, FARIAS,

2016, p. 150). Da passagem de conhecimento do antigo Zorra Total para o novo Zorra65 hou- ve mudança no novo formato: as esquetes passaram a ser mais curtas em seu tempo de dura-

65 CANAL GLOBO PLAY. Zorra. Disponível em https://llobooply..lloboo.oom/v/.9799985/. Aoessydo em 04 de jul. de 20179.

81 ção de um a três minutos em comparação aos quadros antigos como da personagem Lady

Kate que duravam até doze minutos66, nas narrativas não existe a continuação das histórias ou personagens em episódios diferentes, com a saída dos personagens fixos o bordão passou a fi- car inviável, portanto, não é utilizado o reforço nas frases e a continuidade da história em epi- sódios subsequentes.

Marquioni explica a influência de produtos audiovisuais nas mídias digitais que po- dem forçar os produtores de programas televisivos a reformulá-los para atender aos interesses de entretenimento do público:

Ao se constatar a ampliação do uso da internet no Brasil, o aumento da dis- ponibilidade de dispositivos móveis e as possibilidades de operação em con- junto da televisão com esses dispositivos, estabelece-se um contexto de adaptação cultural no sistema televisivo que impacta a experiência televisual afetando tanto o público (que sofre influência nos modos de assistir TV) quanto as emissoras (que produzem os conteúdos): assim, de forma análoga ao que ocorreu no passado, as variações nos modos de ver TV pela audiência motivam as emissoras a repensarem os modos de produzir e veicular conteú- dos. (MARQUIONI, 2014, p. 51)

O novo Zorra herdou a expertise da produção realizada durante muitos anos de exibi-

ção do Zorra Total, mas pode ter sofrido influência dos programas de humor da internet com a diminuição do seu tempo de duração nas esquetes e a exclusão do bordão. Por isso, faremos uma comparação dos elementos do Zorra para analisar a construção de um produto audiovisu- al e analisar se os vídeos online, como as web esquetes do Porta dos Fundos, podem ter sido utilizados como uma das referências de produções para a internet para essa nova versão do programa.

No episódio do Zorra exibido no dia 14 de maio de 2015 foram construídos quatorze esquetes com duração de um a três minutos cada. O episódio completo disponível no Globo

66 SITE DA GLOBO PLAY. Zorra Total. Disponível em https://globoplay.globo.com/zorra-total/p/2546/. Acessado em 28 de out. de 2017.

82 Play67 possui 34 minutos de duração total. Começaremos essa análise com a sétima esquete do vídeo: Cachorro Quente Completo! Com direito a molho, farofa e consulta ao médico?!. A esquete mostra uma moça comprando um cachorro-quente em um carrinho de lanche de rua.

O atendente pergunta se ela deseja um tipo de lanche chamado “completão”, a partir da con- firmação da cliente, o vendedor passa a colocar inúmeros ingredientes no pão, alguns dos quais não fazem parte do típico lanche: uva-passa, ovo de codorna, carne moída, farofa, fran- go, arroz, pedido de consulta do SUS68 entre outras coisas incomuns ou impossíveis em ca- chorros-quentes.

No início da esquete a imagem mostra ao fundo um parque ou uma praça, o atenden- te atrás do carrinho de cachorro-quente e a cliente em um plano médio (figura 23). Nessa construção da narrativa a câmera ajuda criar o andamento da história através de plano e con- traplano: conforme o atendente vai falando os ingredientes e mostrando os produtos sendo co- locados no pão (figura 24) a cliente vai confirmando, até que o ato de perguntar sobre os in- gredientes passa a ser mais rápido que a confirmação, o atendente parece hipnotizado e come-

ça a colocar produtos que não fazem parte do cachorro-quente como: tremoço, arroz, feijão, etc. Quando a cliente percebe que os ingredientes de seu lanche são absurdos começa a se de- sesperar e pede que ele não coloque mais nada no lanche fazendo sinais com as mãos, entre- tanto, o vendedor entra em um modo frenético de preparação dizendo os nomes e colocando objetos no pão (figura 24). A piada vai sendo construída com esses ingredientes estranhos e a ideia de que a cliente vai lanchar, contrair uma bactéria estomacal e morrer. No final o aten- dente entrega um cachorro-quente de três andares embalado em vários papéis: atestado de in- fecção estomacal, corpo funerário, etc. (figura 25). A cliente, angustiada, tenta parar o vende- dor fazendo sinal negativo com a mão (figura 26), mas o atendente ignora os sinais da moça

67 CANAL GLOBO PLAY. Programa Zorra. Disponível em https://globoplay.globo.com/v/4168410/programa/. Acessado em 05 de jul. de 2017. 68 SUS: Sistema Único de Saúde.

83 visto que parece realizar aqueles movimentos de forma automática. Finalmente, quando o atendente termina o lanche e entrega para a cliente vemos a expressão dela de desespero um cachorro-quente exagerado (figura 27) e finaliza o preparo com molho ketchup (figura 28).

Neste vídeo não existe exagero no vestuário ou maquiagem como era geralmente utili- zado no antigo Zorra Total, os atores permanecem com roupas apropriadas para a situação: os atendentes do carrinho usam uniforme e a cliente uma roupa normal para uma pessoa que está passeando em uma praça ou parque (figura 26). Também não é percebido excesso nas falas ou o uso de bordões:

Vendedor – Provolone? À milanesa? Sanduíche de pernil? Limãozinho?

Cliente – Quê isso?

Vendedor – Sal de fruta? Consulta no SUS?

Cliente – Peraí moço…

Vendedor – Pedido de exame pra bactéria estomacal?

Cliente – Não…

Vendedor – Atestado de infecção alimentar?

Cliente – Eu não…quê isso?

Vendedor – Inspeção de Atestado? Atestado pelo INSS?

Cliente – Para com isso…

Vendedor – Corpo funerário? Carta de despedida? Robson cobra o completão aí da madame. Ketchup?

Os diálogos tentam extrair humor através da inserção de objetos estranhos no lanche a partir do nome do lanche “completão” que contempla desde os ingredientes mais incomuns até uma doença por comer alimento impróprio para consumo (consulta no SUS, atestado pelo

INSS e, finalmente, a morte da cliente por infecção alimentar: corpo funerário e carta de des- pedida). A piada é construída a partir do nome do cachorro-quente, sabemos que é comum

84 nesse tipo de lanche de rua utilizar muitos componentes para prepará-lo e não apenas o pão e a salsicha, por isso, é normal que o cliente tenha opção de escolher entre diversos ingredien- tes. Outro ponto trazido para a história é a de que quando comemos um alimento na rua que não possui higiene no preparo podemos ficar seriamente doentes e até vir ao falecimento. En- tão, a possibilidade de morte por comer um alimento estragado também é trazida ao enredo, por isso, a cliente recebe todos os documentos para fazer seu tratamento médico. No final des- se vídeo não existe bordão, como era a construção do humor no antigo Zorra Total, apenas a expressão agoniada da cliente ao pegar o seu lanche gigante (figura 28).

Essas mudanças do novo Zorra parecem detalhes irrelevantes, entretanto, são impor- tantes para entender as transformações que os programas podem sofrer para atrair novos es- pectadores: tirar os personagens fixos com seus respectivos bordões, diminuir o tempo de du- ração das suas esquetes e não ostentar mais glamour em ambientes ou com vestuário com o uso de perucas, excesso de acessórios ou roupas coloridas.

Muitos atores e produtores foram absorvidos no novo formato do Zorra, mas fazer uma grande reformulação como feita nesse caso pode ser um sinal de que a emissora está atenta ao que se fazem em outros programas de TV ou na internet em que alcançam público fora da televisão.

A comparação do produto do Zorra será com a web esquete Spoleto69 do Porta dos

Fundos que satiriza o atendimento em uma rede de fast food. Nesse vídeo, assim, como na es- quete do Zorra que foi analisada, o atendente também se precipita em sugerir ingredientes que a sua cliente não deseja deixando-a em uma situação desconfortável, além de haver também o atendimento frenético e automático do vendedor de comida existe um tratamento desrespeito- so por parte do funcionário da rede de alimentos. É óbvio que existem diferenças na constru-

69 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Spoleto. Disponível em https://www.youtube.com/watch? v=Un4r52t-cuk. Acessado em 06 de jul. de 2017.

85 ção dos vídeos entre o Porta dos Fundos e o Zorra, mas para a pesquisa é interessante apon- tarmos os elementos para compreender a produção desse vídeos e entender o que pode funcio- nar para atrair a atenção do público independentemente do meio de disseminação.

O Porta dos Fundos explora o problema do mau atendimento de uma forma diferente: o cozinheiro pressiona, grita, joga palmito e bate com o pegador no rosto da cliente para que ela escolha rapidamente o seu ingrediente. A característica da rede de fast food Spoleto é ser- vir comida rápida e o método de atendimento é o de que o cliente precisa escolher os ingredi- entes enquanto o atendente vai acrescentando o alimento para cozimento na panela. O alimen- to fica pronto em poucos minutos quase ao mesmo tempo em que o cliente escolhe seu pedi- do. É comum que muitas pessoas fiquem em dúvida sobre quais ingredientes escolher, por isso, a web esquete explora o humor sob dois pontos de vistas: a indecisão do cliente e a raiva do atendente quando uma pessoa não consegue se decidir rapidamente. No Spoleto, o Porta dos Fundos trabalha o humor com recurso do roteiro aliado às emoções dos personagens, vis- to que a ira do atendente é mostrada pela expressão descontrolada do funcionário.

O vídeo do Porta dos Fundos começa mostrando a cliente e o atendente em um plano de meia figura (figura 29) esse dado aponta uma característica que difere o Porta dos Fundos e o Zorra: o novo Zorra mantém a característica de trazer enquadramentos amplos mostrando paisagens ou cômodos inteiros. Observamos que o antigo Zorra Total sempre trazia planos abertos com cômodos inteiros, ao contrário do Porta dos Fundos, que em virtude da decupa- gem para telas pequenas de celulares, geralmente não utiliza enquadramentos amplos em suas web esquetes. Nas emissoras televisivas existem programas com grandes cenários com mó- veis luxuosos, luzes brilhantes e objetos glamourosos, e a câmera, obviamente, tenta obter os melhores ângulos com a intenção de chamar a atenção do público, por exemplo, em uma no- vela sabemos que o personagem é rico quando ele desce por uma larga escada central, cercado

86 por móveis luxuosos, ninguém precisa mencionar a situação financeira desse personagem. A câmera vai mostrando esses elementos para criar a história através do cenário e dos planos apropriados para esse tipo de enredo, pois a tela da televisão possibilita maior nitidez em visu- alizar as imagens em relação à tela do smartphone que é muito menor70.

A montagem dos planos no vídeo Spoleto possui a mesma ordem de abertura e lineari- dade que é realizada na esquete do Zorra: o vídeo começa situando o espectador quanto ao lo- cal e aos personagens principais (figura 29), o andamento do atendimento com o pedido da cliente e o atendente colocando o ingrediente na panela (figuras 30), a angústia da persona- gem (figura 31) e o maltrato sofrido pela moça quando o atendente joga o palmito ou bate o pegador no rosto dela (figuras 32 e 33). Estes planos são fechados do peito para cima dos ato- res ou com a câmera mostrando o detalhe dos ingredientes dando ênfase aos diálogos e aos detalhes do lanche. Os enquadramentos do Porta dos Fundos se assemelham com os da es- quete do Zorra com a história sendo contada pelos diálogos dos personagens mostrando o hu- mor pela situação e ajudando o espectador a se identificar com o contexto. Portanto, o novo

Zorra evoluiu para outro formato de programa de humor: diálogos sem repetição, variados te- mas e personagens, piadas criadas com base nos diálogos e na câmera sem o excesso de movi- mentação corporal, sem personagens ou ambientes glamourosos criando a uma narrativa mais aproximada com as web esquetes do Porta dos Fundos.

No início do diálogo o espectador já percebe a pressa do atendente, quando a cliente começa a dizer a palavra “penne”, o atendente antecipadamente grita para a cozinha ir prepa- rando o macarrão:

Cliente – Eu queria o penn…

Atendente (grita para a cozinha) – Penne! Molho? 70 Nota da autora: Por exemplo se pensarmos no tamanho de uma tela da televisão com 32 (trinta e duas) polega- das em relação a uma tela de um smartphone com 5 (cinco) polegadas o celular apresenta um tamanho pelo me- nos seis vezes menor que a tela da televisão.

87 Cliente – Eu queria molho de tomate…

Atendente – Acompanhamento?

Cliente – Eu queria milho.

Atendente (jogando os ingredientes na panela de modo rude) – Milho. Que mais?

Cliente – Pres…

Atendente – Presunto. Que mais?

Cliente – Presunto…

Atendente: Isso. Milho, presunto. Que mais?

Cliente – É…calma!

Atendente – Fala! O que mais você quer? Quer mais o quê? (gritando) Fala! Vambora! (PORTA DOS FUNDOS, 2013, p.28-29)

Outro ponto da construção desta web esquete é a agressão que a cliente sofre no res- taurante quando o atendente joga palmito ou bate com o pegador no rosto dela, a expressão da personagem vai ficando cada vez mais angustiada em virtude do péssimo atendimento do fun- cionário da rede fast food.

Como vimos no capítulo 2, os produtores devem conhecer e explorar seu público, tan- to nas relações com os clientes internos (patrocinadores), como dos clientes externos (especta- dores), pois o que aconteceu na web esquete do Porta dos Fundos foi que mesmo com a ideia de que a história reflete uma imagem negativa no atendimento, a empresa proprietária da fran- quia Spoleto não se sentiu lesada com a linguagem do vídeo e patrocinou duas web esquetes chamadas Spoleto Parte 271 e Parte 372. O patrocínio dos vídeos talvez indique que as empre- sas enxergam válidas as tentativas de divulgação na internet pensando em um marketing mais

71 CANAL DO YOUTUBE SPOLETO. Spoleto Parte 2. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ebe- 3s4TLfQ. Acessado em 07 de ago. de 2017. 72 CANAL DO YOUTUBE SPOLETO. Spoleto Parte 3. Disponível em https://www.youtube.com/watch? v=fGyt3sF3T7M. Acessado em 07 de ago. de 2017.

88 voltado à disseminação do produto do que na mensagem, pois o público compreende que a história da esquete é uma sátira.

A diferença na construção dos diálogos pode ser atribuída ao meio, pois a televisão possui um processo de aprovação de roteiro e políticas próprias para evitar processos contra a emissora, ao passo que o Porta dos Fundos, como já dissemos no capítulo 3, testa o humor no momento da gravação com mudanças nos textos dos atores para chegar ao ponto necessário para a construção do humor de sua web esquete e está aberto a criação de esquetes com temas polêmicos, linguagem agressiva ou mesmo divulgação de marca ou produto de uma empresa.

De um lado o Porta dos Fundos possui permissão para mudanças repentinas e uso de lingua- gem ofensiva explorando a raiva do atendente através de palavrões e violência, ao passo que, o Zorra permanece usando um diálogo ameno, sem ofensas, de acordo com as normas de pro- dução de roteiro da televisão aberta.

A web esquete Spoleto do Porta dos Fundos poderia ser aceita para exibição na televi- são aberta se não fosse o uso de palavrões e da linguagem agressiva ao transmitir uma ima- gem depreciativa da rede de restaurantes Spoleto, entretanto, a audiência desse conteúdo al- cançou mais de treze milhões de visualizações no YouTube, esse número pode impactar na busca dos produtores de televisão por novos formatos de vídeos que possa fidelizar seu públi- co. A televisão demanda a produção contínua de conteúdos com intervalos mais curtos entre um programa e outro, de tempos em tempos, é necessário renovar o formato de seus produtos audiovisuais para que ajudem a reforçar o uso de determinados produtos e serviços, que pos- sam ser facilmente associados com suas propagandas, garantindo renda com a divulgação dos comerciais em suas emissoras, e ainda, ser atraente para o grande público.

89 4.1.2 Tá no AR: A TV na TV

O Tá no Ar: A TV na TV é constituído de uma metalinguagem da televisão fazendo paródia de programas televisivos dos mais variados tipos: jornalístico, novela, comercial, in- fantil, musical, etc. O programa é formado de vídeos curtos, que podem variar de segundos a dois minutos, com enredos aleatórios e apenas alguns temas fixos como: Jardim Urgente, Mi- litante e Galinha Preta Pintadinha73.

A nossa pesquisa analisará o vídeo Coletânea Capa Bonita do programa exibido em março de 201574. Esse vídeo tem duração de 45 segundos e parodia um comercial de livro em que a apresentadora mostra uma coleção de livros com capas de autores clássicos com as páginas em branco.

Nesse enredo a apresentadora aparece em uma grande sala de estar rodeada de livros e móveis luxuosos para criar a ambiência de uma biblioteca glamourosa. A vendedora dos li- vros apresenta um volume com uma capa dura e páginas em branco para o espectador. O pre-

ço do livro aparece e no final do vídeo uma promoção: “levando ‘Assim Falou Zaratrusta de

Friedrich Nietzsche’ ganhe a capa de um DVD do filme do Woody Allen”. Além da produção do cenário com lustres, estátuas e outros itens, a personagem da apresentadora também é construída com figurino apropriado ao ambiente: vestido, maquiagem e peruca (figura 34). A peruca é um dos componentes que mais se utilizam nas construções de figurino dos persona- gens do Tá no Ar: A TV na TV, muitos personagens do programa atual da Rede Globo usam esse acessório como nos vídeos: Militante e Jardim Urgente. Ao contrário do Porta dos Fun- dos e do novo Zorra que apenas utilizam o uso de peruca quando a esquete traz um enredo de um tempo histórico ou uma sátira de uma celebridade em que o vestuário exige uma composi-

73 CANAL GLOBO PLAY. Tá no Ar: A TV na TV. Disponível em https://globoplay.globo.com/busca/?q=t %C3%A1+no+ar+a+tv+na+tv. Acessado em 28 de out. de 2017. 74 CANAL GLOBO PLAY. Tá no Ar: A TV na TV. Disponível em https://globoplay.globo.com/v/4048492/programa/. Acessado em 14 de jul. de 2017.

90 ção específica de figurino. A peruca utilizada constantemente no Tá no Ar: a TV na TV traz um elemento que reforça a paródia de programas televisivos como era anteriormente efetuado nas esquetes do TV Pirata75 (1988-1990, 1992) ou do Casseta & Planeta Urgente (1992-

2010)76.

A construção das cenas no Tá no Ar: a TV na TV apresenta diferentes enquadramen- tos, desde os planos mais abertos: na figura 34 mostrando a apresentadora entrando na luxuo- sa sala, até os planos mais fechado: na figura 35 onde a apresentadora é vista com a coleção de livros ao fundo. Esta composição de enquadramentos traz cenários amplos com o objetivo de mostrar ao espectador a representação de uma pessoa que possui cultura e riqueza através da aparência com a posse de uma biblioteca. Aliado aos componentes da cena, o diálogo ex- plora o contexto de adquirir uma aparência de cultura por um preço razoável:

Apresentadora – Chegou a coleção em fascículos Capa Bonita! Por apenas nove e noventa você leva a capa de um livro clássico para enfeitar a sua es- tante! Isso mesmo, somente a capa dos maiores clássicos da literatura pra você, que nunca leu um livro na vida, impressionar as suas visitas! Decore a sua sala com Machado de Assis, Eça de Queiroz, Jorge Amado, Schopenhau- er, Nietzsche e muitos outros…Na edição de lançamento por apenas nove e noventa você leva a capa do livro “Assim Falou Zaratrusta de Friedrich Ni- etzsche” e ainda leva de brinde uma caixa de DVD vazia de um filme de Wo- ody Allen. Tá esperando o quê?! Coleção Capa Bonita: Porque o que importa é a aparência.

O humor é criado com a paródia de um comercial de televisão, quando a apresenta- dora diz: “Chegou a coleção…” o espectador pode entender que o vídeo trata de uma propa- ganda para tentar vender alguma coisa. O monólogo continua com o objetivo de atrair o con- sumidor para comprar os produtos da Capa Bonita em que os livros serão utilizados como ob- jeto de decoração para impressionar as pessoas com a quantidade e qualidade do acervo. A

75 SITE MEMÓRIA GLOBO. TV Pirata. Disponível em http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/humor/tv-pirata/ficha-tecnica.htm. Acessado em 28 de out. de 2017. 76 SITE MEMÓRIA GLOBO. Casseta & Planeta Urgente. Disponível em http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/humor/casseta-planeta-urgente-/formato.htm. Acessa- do em 25 de out. de 2017.

91 frase final do roteiro: “Porque o que importa é a aparência” com um bordão reforçando a ideia de aparentar cultura para aqueles que desejam mostrar para os amigos que possuem uma vasta biblioteca em casa. Bordões são também muito utilizados em comerciais de televisão para ajudar a fixar o nome ou característica do produto através da repetição de palavras, por isso, o uso desse recurso no vídeo traz ao espectador o fechamento da paródia de um comercial de te- levisão.

Para compararmos esse vídeo do programa Tá no Ar: A TV na TV escolhemos a web esquete Biblioteca77 do Porta dos Fundos com o mesmo tema: mostrar a aparência de uma pessoa culta para amigos e visitantes com a posse de uma biblioteca. Essa web esquete mostra dois homens em um ambiente com estantes cheias de livros, o visitante elogia a vasta bibliote- ca do anfitrião, mas ao fazer o elogio descobre que o dono da estante nunca leu um livro. A biblioteca apenas faz parte da decoração daquele ambiente, o dono não fazia ideia de que ha- via uma narrativa em cada um daqueles livros. A sátira dessa história tem a mesma ideia da esquete do Tá no Ar: A TV na TV: explorar o humor do ponto de vista de quem adquire livros apenas para decoração de suas casas. Com diferentes formas de construção do humor, o Porta dos Fundos cria um diálogo em que uma pessoa que comprou vários livros para montar uma biblioteca mostra sua variedade de autores para um amigo, e o Tá no Ar: A TV na TV mostra o comercial de televisão vendendo as capas dos livros para quem deseja ostentar a aparência de uma biblioteca.

A construção de cenas do Porta dos Fundos traz planos mais fechados com ênfase em mostrar os atores: a web esquete começa mostrando os atores e uma parte da biblioteca na fi- gura 36 com plano americano e depois os diálogos vão sendo construídos em campo e contra- campo, como vemos nas figuras 37 e 38, em plano meia figura. Essa técnica de enquadramen-

77 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Biblioteca. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=k9CbDcOT1e8. Acessado em 14 de jul. de 2017.

92 to também é muito utilizada na televisão, Butler explica que os planos mais utilizados são os médios com os atores sendo mostrados da cintura para cima.

A escala de enquadramentos da televisão não se move necessariamente ao plano mais fechado, como frequentemente se presume. Sitcoms, soap opera e outros programas gravados no sistema multiple-camera com frequência fa- vorecem os planos de meia figura78 e os close-ups abertos e não os verdadei- ros close-ups. 79 (BUTLER, 2010, pos. 2129-2130)

É possível afirmar que o enquadramento utilizado na web esquete do Porta dos Fun- dos traz uma composição de planos aproximados das imagens utilizadas no programa Tá no

Ar: a TV na TV, ambos utilizam os enquadramentos que mostram os elementos principais da cena: cenas que privilegiam os diálogos, sem excesso de movimentos corporais, e alguns ob- jetos sendo mostrados, por exemplo, em plano detalhe podemos ver a capa do livro focada na figura 39.

O figurino, iluminação e maquiagem na web esquete Biblioteca são mantidos com roupas comuns dos atores e pouca luz, para trazer a representação de um ambiente residencial.

Um detalhe nessa composição, diferente das demais web esquetes do Porta dos Fun- dos, uma música instrumental traz a ideia de um ambiente de uma pessoa culta. O componen- te musical também aparece na esquete da Capa Bonita, enquanto a vendedora apresenta seu produto ao público, uma música instrumental também pode ser ouvida em baixo volume.

Os diálogos do Porta dos Fundos não são formais, com palavras rebuscadas, a lingua- gem é coloquial para estabelecer uma relação direta do público:

Convidado – Daqui dos seus livros você já conseguiu ler mais ou menos quantos? 78 Nota da autora: Cada autor da literatura de produtos audiovisuais possui um vocabulário apropriado para sua linha de pesquisa. Butler usa a nomenclatura planos médios cujo vocabulário nesta pesquisa se iguala aos planos de meia figura. 79 Texto original: “Television's shot scale does not necessarily gravitate to very close framing, as is often pre- sumed. Sitcoms, soap operas, and other multiple-camera show frequently favor medium shots and medium close- ups and not true close-ups.” Tradução da autora.

93 Anfitrião – Desculpa…ler?

Convidado – Você não leu?

Anfitrião – Ler? Como assim leu, leu? Acho que eu não to entendendo…

Convidado – O livro você lê, né?

Anfitrião – Ler, ler, você diz de ler?

Convidado – É.

Anfitrião – Gente, eu não sabia disso não..

Convidado – Mas, mas você tem um monte de livro.

Anfitrião – É que pra mim era mais de decoração mesmo, ó que bonito…

Convidado – Dentro do livro tem uma história.

Anfitrião – Pra mim isso aqui era vazio, era mais de colorir mesmo..

Convidado – Você nunca leu um livro?

Anfitrião – Pra mim quando as pessoas falam: “Ah você leu um livro” e o outro fala: “Li”, pra mim era mais uma maneira de falar mesmo, pra mim ninguém nem lia não.

Convidado – Você não falou que você adorava o Moby-Dick?

Anfitrião – Sim, do…da capa. Aqui ó, gente, tem uma baleia na capa.

Convidado – “A” Moby-Dick…a baleia…

Anfitrião – Para! Existe uma baleia chamada Moby-Dick?

Convidado – É a baleia da história.

Anfitrião – É óbvio, gente, por isso que tem uma baleia na capa, porque a ba- leia…eu nunca, nunca entendi o que quê essa baleia tava fazendo aqui.

Nesta web esquete a equipe traz no roteiro a ideia do novo entretenimento para adul- tos: livros para colorir. O anfitrião explica que julgava que os livros para a sua biblioteca tinha a finalidade de serem coloridos, diferente do Tá no Ar: A TV na TV, em que os livros vendi- dos possuem apenas a capa, sem conteúdo, com todas as páginas em branco. São piadas com

94 pontos de vista diferentes, no caso do Tá no Ar: A TV na TV a linguagem do programa é uma paródia direcionada aos comerciais de televisão satirizando as pessoas que adquirem bens apenas para manter sua aparência perante seus amigos, o Porta dos Fundos traz uma situação que pode ser vivida por aqueles que efetivamente compram esses objetos e estão tentando im- pressionar os colegas com a decoração de suas residências.

Além da diferença entre a linguagem formal e a informal nos textos, também é possí- vel apontar a produção de cenários e enquadramentos, pois na esquete Capa Bonita é utilizado um ambiente amplo e luxuoso, ao contrário da web esquete do Porta dos Fundos, que mostra um cenário pequeno com enquadramentos aproximados do tronco dos atores.

O Porta dos Fundos traz o enredo de um universo familiar à vida das pessoas se co- nectando com o espectador pelas situações vivenciadas e o Tá no Ar: A TV na TV resgata o ponto de vista de programas televisivos trazendo uma representação dos acontecimentos ajus- tados por uma releitura das produções televisivas.

4.2 O formato característico das web esquetes do Porta dos Fundos e o canal de hu-

mor do YouTube Parafernalha

A internet tem sido um espaço importante para o mercado audiovisual, o público possui milhares de possibilidades de vídeos brasileiros e estrangeiros que estão sendo produzidos em diversos formatos: esquetes, séries, filmes, etc. Desatento ou atento, o fato é que o internauta vem ganhando novos programas ou novas formas de assistir aos programas e filmes preferidos. Como a nossa pesquisa direciona suas análises e comparações para o mercado audiovisual brasileiro sabemos que além das web esquetes do Porta dos Fundos

95 outros canais de humor na internet foram ganhando espaço no YouTube como: Galo Frito80,

Amada Foca81 e tantos outros.

Nos capítulos 2 e 3 mostramos o alcance de público que o Porta dos Fundos conseguiu, mas se existem tantos outros canais de humor na internet poderíamos perguntar se todos esses vídeos conseguem a mesma quantidade de visualização apenas porque fazem vídeo de humor e publicam através do YouTube? O fato de um comediante possuir acesso a uma câmera e criar o seu canal pode garantir que o artista contando piadas curtas com menos de cinco minutos conquiste o público na mesma proporção que o Porta dos Fundos? No capítulo 3 vimos as características de produção do Porta dos Fundos e percebemos que as web esquetes não são vídeos amadores criados por um comediante sem experiência em produção audiovisual. O Porta dos Fundos tornou-se conhecido em seu início como uma novidade, um novo produto audiovisual com liberdade de explorar roteiros para contar suas piadas sobre temas polêmicos, entretanto, a trajetória que os idealizadores do Porta dos

Fundos percorreram antes de criar o canal do YouTube e suas experiências em produção televisiva ajudaram a formação de suas esquetes. É interessante para a pesquisa apontar a origem dos realizadores de vídeos no YouTube para compreender de onde eles vieram e como o conhecimento foi importante para a consolidação de seu canal. Mas, se estamos estudando o meio de disseminação internet, seria precoce apontar apenas o Porta dos Fundos como parâmetro de produção audiovisual. Por isso, escolhemos compará-los com os vídeos de outro canal de internet criado um ano antes do Porta dos Fundos: Parafernalha. Com a comparação da linguagem audiovisual desses dois formatos de web esquetes apontaremos os elementos comuns ou nãos entre eles para entender porque os outros canais de humor da internet não

80 CANAL DO YOUTUBE GALO FRITO. Galo Frito. Disponível em https://www.youtube.com/user/programagalofrito. Acessado em 03 de jul. de 2017. 81 CANAL DO YOUTUBE AMADA FOCA. Amada Foca. Disponível em https://www.youtube.com/user/amadafoca1. Acessado em 03 de jul. de 2017.

96 conseguiram alcançar o mesmo público do Porta dos Fundos.

A origem do canal Parafernalha teve um começo diferente do Porta dos Fundos.

Conforme o capítulo 2 vimos que o Porta dos Fundos foi planejado e criado por um grupo de pessoas com experiência na televisão, no caso do Parafernalha o canal foi fundado em maio de 2011 pelo YouTuber Felipe Neto. Atualmente o canal Parafernalha possui cerca de nove milhões de inscritos e um bilhão de visualizações em seus mais de 500 vídeos82, ou seja, o número total de visualização dos vídeos do Parafernalha é um terço do seu concorrente. Além disso, o Parafernalha já nasceu na internet com o fundador Felipe Neto dando seus primeiros passos de produção de vídeos através do seu canal no YouTube em 200683. Se pensarmos em experiência adquirida no meio de disseminação, o Parafernalha estaria muito mais preparado e teria um público muito maior que o Porta dos Fundos em detrimento da experiência com os internautas e suas produções na web anos antes, mas não é isso que os números mostraram sobre o Porta dos Fundos nos capítulos 2 e 3. Por isso, é interessante para a pesquisa conhecer a origem e as influências dessas produtoras para apreender a importância do conhecimento para conseguir criar vídeos online que atraiam a atenção do público.

Sobre o fundador do Parafernalha, Felipe Neto, faremos uma breve descrição de sua experiência para tentar entender quais as influências que levaram Felipe Neto a criar e disseminar um canal de internet que também alcançou milhões de visualizações. De acordo com o Netflix, “Em 2012, o canal do YouTube de Felipe Neto se tornou o primeiro canal em português a alcançar um milhão de assinantes.”84.

O canal Felipe Neto começou suas publicações há mais de dez anos em maio de 2006 e atualmente contabiliza aproximadamente doze milhões de inscritos e um bilhão de

82 CANAL DO YOUTUBE PARAFERNALHA. Sobre o Parafernalha. Disponível em https://www.youtube.com/user/canalparafernalha/about. Acessado em 03 de jul. de 2017. 83 CANAL DO YOUTUBE FELIPE NETO. Sobre o Felipe Neto. Disponível em https://www.youtube.com/user/felipeneto/about. Acessado em 03 de jul. de 2017. 84 SITE NETFLIX. Felipe Neto. Disponível em https://www.netflix.com/br/title/80162210. Acessado em 03 de jul. de 2017.

97 visualizações em seus mais de 600 vídeos. Podemos perceber que Felipe adquiriu experiência através das gravações de suas histórias pessoais compartilhadas no canal do YouTube começando com produções amadoras, sem experiência na produção audiovisual e foi evoluindo ao longo dos anos para a construção de uma produtora de vídeos: a Paramaker.

Um vídeo publicado em maio de 2010 de Felipe Neto mostra a impureza do seu canal no início de sua carreira. Vemos na figura 40 em que não havia uma luz adequada para o vídeo: a iluminação é feita com um abajur ao fundo do vídeo jogando a luz contra a parede deixando a imagem azulada, o enquadramento é fixo, mas provavelmente a câmera está conectado ao computador mostrando o rosto de Felipe Neto muito próximo da imagem. Sobre o enredo dos vídeos, os Youtubers geralmente interpretam relatos de uma situação pessoal ou sátira de acontecimentos comuns em suas vidas e, quase sempre, pedindo opinião de seus visualizadores na tentativa de conquistar a simpatia do público por compartilhar suas histórias pessoais.

Fazendo uma comparação da linguagem audiovisual do Porta dos Fundos e

Parafernalha podemos perceber que a ideia de satirizar situações cotidianas está no universo de criação das duas equipes, entretanto, podemos perceber diferenças nos diálogos, no posicionamento dos atores, cortes de edição e enquadramentos. Para compreender essas diferenças compararemos duas web esquetes com temáticas parecidas: Técnicas de Paquera do Porta dos Fundos e Tipos de Garçons do Parafernalha.

Começaremos com o Porta dos Fundos, na web esquete Técnicas de Paquera85, o vídeo traz em sua narrativa o uso da paquera para atrair a atenção de um garçom em um restaurante. Nessa história os amigos Sandro e Evandro estão no restaurante e nenhum garçom atende ao pedido deles, então, Sandro ensina a Evandro que os atendentes daquele

85 CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Técnicas de paquera. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=k8lAoPEfyEs. Acessado em 27 de jun. de 2017.

98 estabelecimento precisam ser tratados de forma diferenciada. A partir desse aprendizado,

Evandro troca olhares, faz ciúmes com outro garçom e conquista a atenção do garçom

Geraldo. No começo do vídeo alguns garçons passam por Evandro, mas mesmo quando ele toca no braço dos atendentes, eles não se sensibilizam em parar, anotar o pedido do cliente e trazer alguma bebida. No primeiro minuto do vídeo os amigos discutem sobre o descaso no atendimento dos garçons e Sandro começa então a ensinar formas de conquistar a atenção dos garçons:

Sandro – Olha só, eu venho aqui nesse restaurante irmão há muito tempo, aqui é um lugar supertradicional no Rio de Janeiro. Tem toda uma maneira de chamar os garçons aqui irmão.

Evandro – Você me desculpa, na boa, só quero tomar minha cerveja só! (Olha para o garçom Geraldo e grita) Ô amigo! Oi! Ô amigo!

Sandro – Ih que erro, meu, foi escolher logo o Geraldo.

Evandro – Mas Geraldo, quero escolher qualquer um. É Geraldo então? Ô Geraldo! Olha aqui Geraldo!

Sandro – Desiste irmão chamar o Geraldo assim? O Geraldo? Genioso…

Evandro – Geraldo, eu sei que você tá me ouvindo, porra! Ele não tá me vendo, mas tá me ouvindo. Tenho certeza.

Sandro – O Geraldo é um desses que se ele sente que você tá a fim, ele logo perde o interesse.

Depois de compreendidas as dicas que Sandro dá para conquistar o Geraldo, Evandro ao contrário de gritar “Amigo” passa a fazer ciúmes entre os garçons elogiando outro garçom para que Geraldo possa se sentir menosprezado. Após isso, usando a nova técnica Geraldo e

Evandro passam a troca olhares até que o garçom vai ao encontro dos dois clientes. Com a atenção de Geraldo conquistada, Evandro começa a utilizar as dicas ensinadas por Sandro para sensibilizar Geraldo a trazer uma cerveja.

99 Evandro – O Geraldo posso fazer uma pergunta pra você?

Geraldo – Depende da pergunta.

Evandro – Depende da pergunta. Você gosta de beber alguma coisa quando tá aí, assim?

Geraldo – Suco.

Evandro – Suco, suco é uma delícia. E mais alguma coisa que você gosta de beber?

Geraldo – Gosto de Coca (Cola).

Evandro – Maravilha a gente gosta de Coca também.

Sandro – Gosta, mas e no bar?

Evandro – E por exemplo, olha só se você tivesse com, com uns amigos em um bar, tipo um bar como esse, que nem a gente tá aqui, o que você pediria?

Geraldo – Cerveja.

Evandro – Cerveja…

Geraldo – Bebo muito.

Evandro – Bebe muito? Igual à gente, olha que mundo pequeno. Eu posso te pedir uma coisa Geraldo? Mas eu to só pedindo: é possível você trazer uma cerveja pra gente? Mas sem pressão, só se você quiser ir lá e por acaso tá indo pra lá, pode ser?

Os clientes Sandro e Evandro permanecem sentados (figuras 41 e 42) e há pouca movimentação dos garçons ao redor deles, os atendentes cruzam o espaço atrás da mesa dos amigos Sandro e Evandro (figura 43) para não cobrir os clientes andando em passos normais mostrando que estão trabalhando em um restaurante. As mesas não são próximas umas às outras para que o espectador veja os atores principais e compreenda o enredo através das imagens e do diálogo dos amigos (figura 44).

O figurino, maquiagem, iluminação e demais elementos também trazem a ideia de normalidade ao ambiente: os clientes que estão no restaurante apresentam-se com roupas casuais, os funcionários com uniforme, a maquiagem é simples e a luz mostra uma tonalidade

100 que parece natural para um ambiente fechado com iluminação própria.

O Parafernalha criou um vídeo chamado Tipos de garçons86 com nove esquetes construídas com base em estereótipos de garçons denominados: 1o. Cegos e surdos, 2o. Traíra,

3o. Limitado, 4o. Má vontade, 5o. Mestre dos magos, 6o. Curioso, 7o. Choppinho?, 8o. Com mania de limpeza e 9o. Ansioso. O vídeo tem duração de quatro minutos e é construído com nove esquetes trazendo situações de atendimentos recebidos em restaurantes por este tipo de profissional. Todas as narrativas acontecem no mesmo restaurante com garçons diferentes e,

às vezes, os mesmos clientes como personagens.

Trataremos da análise da primeira esquete com a ideia de um garçom que ignora os pedidos dos clientes em um bar ou restaurante, assim como a web esquete Técnicas de paquera do Porta dos Fundos. De um lado, a narrativa do Porta dos Fundos começa com o cliente chamando o garçom e aos poucos vai introduzindo a ideia de que o cliente precisa conquistar o atendente desejado através das técnicas de paquera, por outro lado, o

Parafernalha usa a mesma narrativa no início da esquete de chamar incessantemente um garçom, mas não sai dessa situação, apenas no final insere a ideia de que a falta de atendimento dos garçons é devido ao fato de serem pessoas com necessidades especiais: garçons cegos e surdos que não ouvem ou enxergam seus clientes: “Vai ver que ele (o garçom) entrou pela cota, tá?”. O humor nessa situação fica entre o ofensivo e o engraçado, pois a proposta de uma cota para as empresas que precisam atender em suas contratações pessoas com necessidades especiais parece ser uma medida inclusiva e que abrange maior colaboração e participação entre todos. Mas, isso não acontece na história, os atendentes, mesmo quando olham para o casal (figura 45), ignoram todos os seus gestos, sinais com as mãos, toques ou chamadas.

86 CANAL DO YOUTUBE PARAFERNALHA. Tipos de garçons. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=tlGBGEEnT6Q. Acessado em 28 de jun. de 2017.

101 Homem – Escuta eu queria pedir o rodízio pra…Amigo queria pedir um ro- dízio pra …

Mulher (outro garçom passa) – Aqui amor, aqui!

Homem – Queridão! Eu queria pedir um rodízio pra você.

Mulher (o garçom passa por eles) – Aqui!

Homem – Amigo, posso pedir pelo menos a bebida, aqui adiantando… Amigo eu posso pedir a bebida pra você por favor? Um chopp. Amigo! Coca! Cara ele tava olhando pra mim.

Mulher – Amor, deixa vai ver que ele é vesgo…

Homem – Cara é surdo também né?

Mulher – Vai ver que ele entrou pela cota, tá? Calma, fica tranquilo…

Na esquete Cegos e Surdos do Parafernalha existe uma movimentação inesperada de um ator que interpreta um dos garçons. Podemos ver nas figuras 46 a 49 que o garçom anda entre as mesas, e de repente, senta-se em uma das mesas com clientes após um suposto atendimento. Esse ato na gravação pode parecer despercebido, mas, traz questionamentos sobre a composição da cena, ou o ator não soube onde se situar na cena ou aconteceu uma falha na gravação passando despercebido pela direção esse posicionamento em cena.

O vídeo do Parafernalha é gravado em plano sequência, praticamente sem movimentação, apenas com uma leve virada para a direita acompanhando o movimento de um dos garçons. A cena é gravada no restaurante Graça da Vila com mesas adjacentes umas às outras e os dois atendentes rodeando a mesa do casal a todo momento. A imagem fica poluída com excesso de informação: mesas próximas umas às outras, muitos clientes e dois garçons cruzando-as rapidamente. Os garçons quase se esbarram em cena, ocorre até de um dos atendentes atravessar na frente da câmera duas vezes tampando o casal como vemos nas figuras 48 e 50. Para acentuar a situação de descaso no atendimento os garçons ficam dando

102 voltas ao redor da mesa do casal ou próximos deles sem resposta sobre o pedido do casal.

Além dessa movimentação frenética no vídeo, o espectador pode ter uma sensação estranha com objetos e pessoas próximos à câmera ou tampando os atores principais, pois esse não é um procedimento comum em televisão.

A construção dessa web esquete parece estar associada com a experiência que o fundador do Parafernalha, Felipe Neto, possui com os seus vídeos de YouTubers, em que ele fala diretamente à câmera mostrando seu rosto próximo da imagem com uma movimentação aleatória e espontânea.

Por outro lado, o figurino, maquiagem e iluminação parecem ter a mesma composição que nas criações do Porta dos Fundos trazendo representação do cotidiano das pessoas. O

Parafernalha não utiliza glamour no figurino de seus atores assim como o Porta dos Fundos.

Comparando as web esquetes desses dois canais podemos concluir que existem diferenças na produção dos vídeos: as imagens do Porta dos Fundos não mostram a mesma poluição com excesso de elementos (atores e cenário) que o Parafernalha. Ambas as produções mostram o mesmo tipo de ambiente um bar ou restaurante, entretanto, o

Parafernalha opta por escolher um ambiente fiel às características de um restaurante popular com mesas próximas umas às outras trazendo muita informação nas imagens podendo causar um estranhamento ao público.

Os diálogos apresentam diferenças entre o Parafernalha e o Porta dos Fundos, a piada vai sendo construída pelas técnicas de paquera quando o cliente tenta fazer com que o garçom

Geraldo se sinta atraído pela conversa e atenda ao seu pedido. A experiência com a produção televisiva ajuda o Porta dos Fundos a construir diálogos mais elaborados explorando o humor sob o ponto de vista da conquista do garçom, suas cenas são desenvolvidas com cenários nítidos e enquadramentos que ajudam a explorar a história. Entretanto, o Parafernalha limita-

103 se a explorar a decepção do casal com enquadramentos que não privilegiam a clareza das imagens havendo uma certa confusão durante as cenas, proposital ou não, essa construção parece estar mais vinculada a produção amadora em que o espaço em cena não é desenvolvido da forma mais compreensível ao público, além disso, os diálogos são limitados ao pedido incessante dos clientes e tentam explorar o problema da deficiência visual e auditiva dos garçons no final da conversa do casal sem trazer uma narrativa que seja construída para explorar o humor para esse contexto.

104 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa tenta compreender o sucesso de público conquistado pelo Porta dos

Fundos em relação a outros programas da internet e da televisão descritos na nossa análise.

Com base nos levantamentos efetuados e comparações podemos supor que as web esquetes do

Porta dos Fundos conseguiram se estabelecer usando o conhecimento dos fundadores obtidos com a construção de produtos audiovisuais em diversas mídias, principalmente, na televisão.

A experiência com a televisão é importante para o grupo, pois o espectador brasileiro possui uma relação enraizada com a linguagem audiovisual de programas televisivos, sendo um dos principais meios de entretenimento do público da infância à velhice, por isso, os vídeos do

Porta dos Fundos são vistos com elementos que se conectam ao público brasileiro recorrendo

à memória durante anos assistindo aos programas televisivos. Dessa forma, o público reconhece o uso da linguagem audiovisual e pode até se sentir atraído pela qualidade em que a web esquete é produzida.

Em relação ao meio de disseminação, o Porta dos Fundos também passou por um aprendizado, pois logo no início do canal a equipe tentou criar um produto com formato de programa televisivo de acordo com as referências obtidas trabalhando nesse meio, mas, ao perceber a preferência do público por um produto audiovisual mais curto rapidamente mudou o seu formato para esquete. Essa mudança pode ter ocorrido graças ao contador de visualização automática do YouTube que permite que os produtores enxerguem em tempo real o total de visualização dos internautas. Conhecendo as necessidades do público, os YouTubers conseguem ajustar a produção de seus vídeos de acordo com os elementos que chamam atenção de seu público: temas, tempo de duração, atores, andamento das narrativas, etc.

O internauta, por sua vez, pode controlar a programação que deseja assistir e adapta seu gosto diante das inúmeras possibilidades de entretenimento disponíveis. Existe um desafio

105 ao produtor que precisa se adaptar mais rapidamente às necessidades do público, mas, com a vantagem de obter informações mais objetivas para mudanças dos vídeos online do que no método utilizado pela televisão para medição de audiência: IBOPE (estimativa de público).

Manter a atenção do espectador não é uma tarefa fácil no ramo de produção audiovisual. Apesar da liberdade para acesso ao entretenimento, esse público também está sujeito às interferências que interrompem sua concentração ao assistir aos vídeos, portanto, o conhecimento e criatividade são aliados para as produtoras desenvolverem vídeos que consigam atrair e manter a atenção das pessoas.

O Porta dos Fundos buscou desenvolver as web esquetes com os elementos de linguagem audiovisual que atendem às necessidades do público: criação de ambientes e personagens próximos do imaginário do público, clareza nas imagens com iluminação nítida e cenários bem posicionados, cortes e enquadramentos que ajudam a construção das narrativas mostrando os pontos principais do vídeo, roteiros inteligíveis e diretos com piadas curtas e bem elaboradas e, finalmente, um tempo de duração de poucos minutos que vai ao encontro do tempo de atenção do espectador. Com isso, podemos concluir que o Porta dos Fundos conseguiu obter sucesso em seu canal do YouTube em virtude do seu conhecimento sobre a produção de conteúdo com linguagem audiovisual para atrair a atenção do espectador.

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108 humorístico Zorra Total como alimentador de preconceitos. Dossiê: Interfaces Sociolinguísticas da Revista de Letras Norte@mentos. Campo Grande, outubro 2016. Sinop, v. 9, n. 20, p. 142-162.

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PUCCI, JR., Renato Luiz. Cinema brasileiro pós-moderno: o neon-realismo. 1. ed. Porto Alegre: Sulina, 2008.

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TOFFLER, Alvin. A terceira onda. 20. ed. Tradução: João Távora. Rio de Janeiro: Record, 1995.

109 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

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AQUINO, Victor; BIENING, Patrícia (orgs.) Olhares do sensível: experiências e dimensões estéticas em comunicação. 1. ed. São Paulo. Pimenta Cultural: 2014.

GOLIOT-LÉTÉ, Anne, VANOYE, Francis. Ensaio sobre análise fílmica. 5.ed. Tradução: Marina Appenzeller. Campinas: Papirus: 2008.

NOGUEIRA, Hellen Camara. Porta dos Fundos: análise da articulação de conteúdos midiáticos e sociais na produção narrativa humorística. In: XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste, 2015, Campo Grande. Anais. Centro-Oeste 2015. Resumo. Disponível em: http://www.portalintercom.org.br/anais/centrooeste2015/resumos/R46-0146-pdf. Acessado em: 13 de jan. de 2016.

POSSENTI, Sírio. Os humores da língua: análises linguísticas de piadas. 1. ed. Campinas: Mercado de Letras, 1998.

WILLIAMS. Raymond. Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade. 1. ed. Tradução: Sandra Guardini Vasconcelos. São Paulo: Bomtempo, 2007.

110 GLOSSÁRIO87

– Enquadramentos: Plano de detalhe: enquadra-se um objeto ou só uma parte do corpo humano (por exemplo, mão, olhos, orelha, etc.), com exceção do rosto. Também conhecido como um termo em inglês chamado close-up.

Primeiro plano: a cabeça de uma pessoa ocupa a parte principal da tela, podendo ou não mostrar-se o seu pescoço ou peito.

Plano de meia figura: corta-se o ator em sua cintura.

Plano americano: personagens em pé são enquadrados a partir da altura de seus joelhos, um pouco acima ou um pouco abaixo.

Primeiríssimo plano: mostra-se apenas o rosto.

Plano geral: exibe uma grande porção do espaço, como paisagens e interiores de grandes extensões (como um grande salão), em que a figura humana se torna tão pequena que não é visível sua fisionomia.

Plano de conjunto: enquadramento aberto, em que se mostram espaços amplos, como a frente de uma casa ou uma sala, com os personagens podendo ser identificados por traços fisionômicos e apresentando espaço razoável tanto acima das cabeças como abaixo dos pés.

Plano médio: exibe-se o corpo inteiro de personagens que estão em pé, com pequena porção de espaço acima das cabeças e abaixo dos pés.

87 O Glossário foi baseado do Vocabulário do livro Cinema brasileiro pós-moderno: o neon-realismo do autor Renato Luiz Pucci Junior (2008, p. 269-270).

111 – Movimentação da câmera: Travelling: movimento de câmera em que ela se desloca para a frente ou para trás, para cima ou para baixo.

– Edição Campo e contracampo: combinação de planos em que, após um corte, um espaço é filmado em direção oposta em relação ao que estava sendo filmado, de modo que o espaço in (por exemplo, uma pessoa e o que está atrás dela) se transforma em espaço of (a pessoa e seu entorno desaparecem e a tela passa a exibir o que estava na frente daquela pessoa).

112 APÊNDICES

113 APÊNDICE I: BIOGRAFIAS88

O Apêndice I traz um breve resumo de algumas vivências no meio audiovisual dos fundadores, sócios e, também roteiristas da produtora Porta dos Fundos. Esses profissionais são os integrantes que idealizaram o canal da internet e estão presentes nas produções atuais das web esquetes.

Antônio Tabet: roteirista e ator no Porta dos Fundos Na internet: Criador do canal de humor do YouTube Kibe Loco.

Formação acadêmica: Publicitário.

Na televisão: Foi consultor artístico do Caldeirão do Huck (Rede Globo) e atualmente apresenta o talk show no canal da TBS chamado Show do Kibe.

Fábio Porchat: roteirista e ator no Porta dos Fundos Formação acadêmica: Ator formado pela CAL (Casa das Artes de Laranjeiras).

Na televisão: Trabalhou na Rede Globo nos programas Junto & Misturado, Esquenta! e A grande família. Apresentou o programa De Perto Ninguém é Normal (GNT, 2008), roteirizou os programas Zorra Total (Rede Globo de Televisão, 2006 a 2009), Junto & Misturado (RGTV, 2010) e estreou em 2012 a série Meu Passado Me Condena no canal de televisão Multishow. Em 2016 iniciou a apresentação do talk show Programa do Porchat na emissora de televisão Rede Record.

88 A pesquisa para o Apêndice I: Biografia foi extraída do livro PORTA DOS FUNDOS. Porta dos Fundos. 1. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2013 nas páginas 233 a 235 e também das informações obtidas pelos fundadores diretamente conforme as demais notas de rodapé.

114 No teatro: Escreveu as peças: Faz Sentido (2005), Olho de Boneca (2006), Elas Morrem no Fim (2007), Calabouço (2008), Velha é a Mãe (2010). Em 2008, produziu e dirigiu a montagem de Pic Nic no Front. Em 2009, escreveu, produziu e dirigiu a peça Palavras na Brisa Noturna.

No cinema: Atuou nos filmes O Lobinho Nunca Mente (Ian SBF, 2007), Teste de Elenco – O Filme (Ian SBF e Osíris Larkin, 2008), Totalmente Inocentes (Rodrigo Bittencourt, 2012), Meu Passado me Condena (Júlia Rezende, 2013), O Concurso (Pedro Vasconcelos, 2013), Vai Que Dá Certo (Maurício Farias, 2013) e Entre Abelhas (Ian SBF, 2014)89.

Gregório Duvivier: roteirista e ator no Porta dos Fundos Histórico de formação acadêmica e profissional: Em 2003 estreou a peça Z.É. - Zenas Emprovisadas. Publicou em 2009, o livro A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora (7 Letras). Ganhou o prêmio APTR de Melhor Ator em 2013 pelo monólogo Uma noite na Lua.

Ian SBF: diretor, editor e roteirista do Porta dos Fundos No cinema: Começou sua carreira fazendo curtas, entre eles, O lobinho nunca mente, que lhe rendeu mais de 30 prêmios nacionais.

Na Internet: É fundador do canal Anões em Chamas.

Na televisão: Trabalhou como redator do programa Junto & Misturado (RGTV) e diretor da série O fantástico mundo de Gregório (Multishow).

89 SITE DO FABIO PORCHAT. Perfil do artista. Disponível em http://www.fabioporchat.com.br/site/fabio- porchat/perfil/. Acessado em 08 de dez de 2016.

115 João Vicente de Castro: diretor comercial e ator do Porta dos Fundos Formação profissional: Trabalhou em agências de publicidade como redator e diretor. Foi roteirista da Rede Globo.

116 APÊNDICE II: LISTA DAS WEB ESQUETES90

Lista das web esquetes do Porta dos Fundos por ordem de publicação:

Ano de Duração Nome da Esquete publicação (Mm’'SS) Visualização Porta dos Fundos No. 1 2012 15'24 6.961.018 Traveco da Firma 2012 03'24 8.648.783 Cocaína 2012 01'16 2.133.755 CSI Nova Iguaçú 2012 01'40 1.097.801 Batman: The Dark Knight Erects 2012 05'50 6.395.835 Spoleto 2012 02'00 13.271.048 Modelo vivo 2012 03'35 4.175.455 Superávit 2012 04'25 5.154.539 Meias palavras 2012 03'36 8.494.371 KKKKKK 2012 03'22 3.535.884 Depois daquele gol 2012 03'22 4.564.433 Porta dos Fundos No. 2 2012 14'11 3.318.977 Médico vidente 2012 01'57 9.903.911 Comercial de pasta de dente 2012 01'06 2.556.979 Galã global 2012 02'57 3.116.290 Minuto da marmota 2012 03'51 2.869.750 Sobre a mesa 2012 03'57 21.393.331 Setor de RH – Supergêmeos 2012 05'35 4.582.934 Filme Pornô 2012 04'28 17.466.435 Encontro 2012 02'13 6.865.571 Programa político 2012 03'58 9.216.107 Meu príncipe 2012 02'04 5.690.795 Porta dos Fundos No. 3 2012 11'12 2.976.464 Cancelamento 2012 02'09 5.317.882 Pode ser? 2012 00'35 3.940.863 Assembléia geral 2012 03'00 2.938.815 Setor de RH – Jesus 2012 02'39 7.736.849 Sex shop 2012 02'21 5.760.343 Coma 2012 03'06 7.527.710 Linha da vida 2012 02'31 3.483.609 Brainstorm 2012 04'14 5.907.429 Ponto de vista 2012 02'35 5.801.721 Preparadora de elenco 2012 04'08 3.443.267 Término de namoro 2012 04'02 16.813.994 Ciclo da vida 2012 03'08 6.034.775 Nome do Bebê 2012 04'58 8.640.359 Porta dos Fundos No. 4 2012 12'09 2.703.577 90 A pesquisa para o Apêndice II: Lista das web esquetes foi extraída das informações disponíveis no canal do YouTube Porta dos Fundos em 31 de março de 2017.

117 Teste pra Saci 2012 03'32 4.649.522 Trago a pessoa 2012 02'39 5.456.903 Mesa redonda 2012 03'46 2.039.373 Tipo…. 2012 00'58 5.659.109 Van 2012 03'14 6.029.452 Troca de presente 2012 02'21 3.304.262 Tequila - “Quem tá dentro?” 2012 02'47 3.391.352 Barata no banheiro 2012 03'15 8.950.330 Trocado 2012 02'08 4.667.351 DR 2012 02'07 3.387.593 Com quem será? 2012 02'30 10.531.255 Clarice Falcão – Oitavo andar 2012 02'46 11.337.550 Taxista 2012 01'23 5.858.585 Depois do fim do mundo 2012 03'10 11.693.525 Corte de Gastos 2012 02'34 5.702.362 Versão brasileira 2012 02'27 10.817.417 Gerente júnior 2013 02'46 7.129.677 Exorcismo 2013 03'24 6.535.313 Rola 2013 01'18 24.688.738 De bêbado 2013 02'09 9.103.308 Na lata 2013 01'39 22.921.308 O homem que não sabia mentir 2013 02'25 14.906.884 Entrevista 2013 03'52 4.920.875 Vil lage people 2013 04'35 5.933.727 Poltergeist 2013 02'43 3.486.134 Fundo verde 2013 04'58 6.983.019 10 mandamentos 2013 04'49 16.442.441 Torcedores 2013 03'01 6.087.671 Mecânica 2013 02'26 5.426.617 Batalha 2013 04'25 6.086.237 Voyeur 2013 03'18 3.842.693 Confessionário 2013 03'26 6.101.826 Maitêndo fundo 2013 02'22 8.929.036 Casamento 2013 03'33 19.569.795 Essa é pra você 2013 02'31 23.451.389 Log out 2013 02'43 11.199.438 Amante 2013 02'24 9.036.409 Previsão do tempo 2013 01'53 6.653.716 Deus 2013 03'21 13.014.831 Quem manda 2013 03'58 17.697.327 Mulheres 2013 02'31 14.511.634 Homens 2013 02'14 9.553.931 Happy hour 2013 04'09 7.860.602 Entrevista de emprego 2013 03'16 9.236.313

118 Arca de Noé 2013 03'16 6.066.794 Drébito 2013 01'29 5.582.558 A vida como ela é 2013 03'23 12.691.970 Vozinha 2013 03'46 9.390.062 Bola fora 2013 01'41 3.400.400 Sinal 2013 03'16 4.051.460 A regra é clara 2013 03'36 6.950.898 Parabéns 2013 01'53 8.579.663 Michelangelo 2013 03'38 4.501.225 Despedida de solteiro 2013 03'02 8.312.787 Demônio 2013 03'19 11.739.649 Aula de segunda 2013 03'15 5.593.576 Aula de quinta 2013 02'48 6.134.868 Sorte grande 2013 01'34 5.390.387 Menino menina 2013 01'51 5.507.116 O plano 2013 03'19 6.228.119 Ministério 2013 02'52 4.964.431 Reunião de traficante 2013 02'28 11.030.650 Porta dos Fundos na TV 2013 01'38 2.731.337 Sheila 2013 02'28 8.358.132 Reunião de emergência 2013 02'44 8.659.076 Tiros da vingança – cenas excluídas 2013 02'21 2.788.587 Eitcha Lelê 2013 02'39 5.177.776 Pornô moderno 2013 03'00 8.584.850 Depoimento 2013 02'35 4.834.964 Compadre 2013 02'03 6.755.143 É pau é pedra 2013 02'55 6.674.400 Segunda opinião 2013 02'14 4.026.756 Princesa 2013 02'03 5.860.876 Juiz 2013 02'15 4.037.104 Casal normal 2013 03'20 9.882.907 Arte moderna 2013 03'13 5.438.153 Banco 2013 01'54 7.765.032 Quinta maluca 2013 02'24 5.935.298 Bafo 2013 02'30 12.149.484 Oh, meu Deus! 2013 01'40 8.054.685 Espinha 2013 02'11 6.429.318 Deputado 2013 02'34 5.045.791 Ocupada 2013 01'28 5.900.347 Cabeça do Gregório 2013 02'54 4.664.141 Camiseas do Porta 2013 01'10 2.092.427 Compra coletiva 2013 02'13 5.349.572 Cura 2013 02'51 7.628.130 Sexo por telefone 2013 02'55 15.650.242

119 Setor de RH – Mosqueteiros 2013 03'19 3.501.865 Mímica 2013 01'25 5.568.733 Arrá 2013 02'52 6.423.167 Vida privada 2013 03'13 4.663.258 Garçom vegetariano 2013 02'36 5.666.824 Sequestro 2013 02'35 3.608.831 Debate 2013 02'36 5.630.929 Sessão de terapia 2013 04'17 5.954.198 Gostosa 2013 02'43 14.857.046 Suborno 2013 03'37 6.965.626 Fidelidade 2013 04'03 9.448.711 Xuxuxu Xaxaxá 2013 02'16 4.168.912 Meteorologia 2013 02'32 5.209.295 Exercício 2013 01'08 5.191.852 Leiconha 2013 02'24 7.299.853 Casório 2013 02'04 4.737.151 Estátuas 2013 02'27 5.566.103 Cabeça do Fábio 2013 02'07 6.057.735 Bom dia 2013 02'06 12.093.923 Terapia de casal 2013 03'16 6.981.086 Delay 2013 01'48 4.854.774 Macedo 2013 03'31 7.144.009 Bala de borracha 2013 03'04 12.821.871 Adão 2013 02'15 5.279.457 A boa de segunda 2013 02'19 4.792.879 Xingó Kaiapu 2013 03'23 3.549.097 Amigos 2013 03'47 9.674.182 Moda 2013 03'06 6.650.347 Especial de Natal – Porta dos Fundos 2013 16'42 7.266.920 Ciúmes 2013 02'50 13.834.787 Fã 2013 03'03 7.110.754 Táxi 2014 02'18 4.085.694 Espelho 2014 01'43 5.353.779 Empregada 2014 01'48 7.612.655 Biografia 2014 04'02 5.038.509 Careca 2014 02'26 7.411.116 Número de emergência 2014 01'51 4.418.904 Armário 2014 02'07 4.408.862 Hitler 2014 02'14 7.515.255 Indiretas 2014 02'15 8.279.646 Dura 2014 03'17 10.898.261 Sinais 2014 01'20 3.991.476 Despacha 2014 01'54 4.886.390 Pobre 2014 03'15 13.678.555

120 Pra mim chega 2014 04'18 16.721.394 Tatuagem 2014 02'28 8.558.032 Comandante 2014 02'40 6.369.444 Foi Deus que me deu 2014 02'27 7.094.278 Tradução simultânea 2014 03'21 3.843.553 Massagem 2014 02'17 6.761.723 Ronco 2014 02'40 4.297.721 Alala 2014 02'15 5.236.458 Pessoa ruim 2014 01'51 6.198.576 Anunciação 2014 02'36 5.098.549 Tempo 2014 02'29 5.407.340 Refém 2014 02'34 3.828.094 Áries 2014 01'51 5.208.657 Confissão 2014 03'06 3.430.350 Problemas domésticos 2014 03'00 6.872.340 Churrascaria 2014 02'39 6.419.729 OK OK 2014 02'54 5.415.363 Intimidade 2014 02'20 6.293.722 Adoção 2014 01'50 4.289.011 Ménage 2014 05'19 14.965.677 Operação 2014 02'30 4.836.254 Viado 2014 01'35 11.491.741 Academia 2014 02'34 12.782.392 Pipoca 2014 01'26 6.618.632 Táxis 2014 01'53 3.593.423 Morando sozinho 2014 02'17 7.448.839 Tô indo 2014 01'56 5.971.726 Show 2014 03'33 3.189.271 Tribunal 2014 03'20 5.754.802 De frente 2014 02'56 3.483.194 Concepção 2014 02'55 3.149.225 Restaurante moderno 2014 02'37 6.657.447 Barbeiro 2014 02'23 6.217.581 Fofoca 2014 03'06 6.104.209 Preparadora de elenco 2014 02'26 4.145.586 Sono 2014 01'56 5.395.940 Cantada 2014 02'11 15.830.821 Atendimento 2014 02'43 3.908.515 Quem 2014 02'06 4.123.796 Banheiro feminino 2014 01'43 11.586.096 Comemoração 2014 03'04 4.585.796 Homem bomba 2014 02'41 3.948.498 Traje a rigor 2014 02'38 3.738.189 Mesa redonda 2014 04'04 3.172.347

121 Inferno 2014 02'51 6.537.445 Lembra de mim 2014 01'51 4.246.526 Pagode 2014 03'51 5.610.123 Coisa nossa 2014 03'24 3.534.307 Defesa pessoal 2014 03'33 5.524.182 Chuteira 2014 02'57 4.659.591 Bate-bola 2014 02'24 3.515.025 Lição 2014 03'39 6.621.551 Repórter 2014 02'57 2.311.009 Aumento 2014 03'13 5.400.298 Suspeito 2014 03'30 3.636.871 Aula de sábado 2014 03'05 4.773.757 Torcida organizada 2014 02'02 4.494.054 Loucos 2014 02'28 4.271.734 Adivinha 2014 01'28 3.740.722 Pão nosso 2014 02'40 4.512.519 Pirataria 2014 02'48 8.637.458 Papai 2014 03'41 4.709.817 Negro 2014 03'06 7.599.660 Aqui ó 2014 01'32 4.271.946 Quem nunca? 2014 03'32 11.244.853 Tortura 2014 02'54 5.200.022 Traição 2014 02'22 7.649.856 Vote em mim 2014 01'14 3.563.693 Correria 2014 03'09 4.998.361 Calma 2014 03'03 9.824.083 Crianças 2014 01'52 6.090.935 Filho 2014 02'34 4.552.783 Como é que fala? 2014 02'13 4.596.434 Regressão 2014 03'19 2.639.471 Nutricionista 2014 01'56 5.545.169 Chamado 2014 02'37 3.324.339 Festa 2014 03'09 3.230.556 Atendendo a pedidos 2014 03'10 5.007.964 Paradoxo 2014 04'01 3.882.132 Loja 2014 01'18 5.307.160 Motivo de segurança 2014 02'23 3.551.184 Ídolo 2014 03'18 3.821.105 Namorada 2014 02'20 6.998.197 Santo Antônio 2014 01'28 4.467.960 Senha 2014 01'51 7.399.004 Financiamento 2014 01'50 3.967.348 Você me conhece 2014 01'15 2.030.389 Zona eleitoral 2014 02'44 4.228.567

122 Comida 2014 01'08 3.664.565 Deu mole 2014 02'59 5.374.492 Crítica 2014 02'45 6.515.129 Boas vindas 2014 04'13 3.239.100 Aeroporto 2014 02'09 3.028.604 Papa 2014 03'57 3.400.753 Trocadilho 2014 02'59 7.198.736 Agonia 2014 02'08 5.050.440 Carla 2014 05'08 6.076.408 Justificando 2014 02'21 5.452.942 Direção 2014 02'34 4.402.331 Entrevista coletiva 2014 03'04 2.781.108 Flagra 2014 02'03 5.215.267 Alianças 2014 02'19 3.092.567 Romanos 2014 02'11 3.959.357 Barulho 2014 01'46 3.345.772 Pedido 2014 02'18 6.637.653 Possessivo 2014 02'02 3.196.154 Sonho 2014 03'20 2.961.843 Merenda 2014 02'11 7.650.925 Eu vou embora 2014 02'38 4.088.775 Tarifa 2014 01'53 4.962.706 Conta 2014 01'32 2.314.206 Pedreiro 2014 02'15 4.406.497 Tenho que ir 2014 02'45 5.861.143 Papai e mamãe 2014 02'49 3.417.082 Instrução de segurança 2014 02'10 2.442.492 Currículo 2014 03'14 3.622.086 Primeiro encontro 2014 02'10 6.998.594 Especial de Natal – O velho testamento 2014 22'33 2.790.211 Papai Noel 2014 02'41 2.054.689 Testemunha de Darwin 2014 02'16 3.856.649 Ajuda 2015 01'44 2.317.261 Entrevistador 2015 02'31 3.097.686 Segunda gravidez 2015 03'10 5.404.846 Toboágua 2015 03'40 7.156.148 Correspondente 2015 03'44 2.208.932 Escolhas 2015 02'29 2.946.719 Filmando 2015 03'14 3.693.430 Sem bateria 2015 01'57 3.340.901 Inveja 2015 02'39 5.540.923 Viagem 2015 01'36 2.831.539 Dietas 2015 02'25 4.595.529 Imigração 2015 02'52 4.456.010

123 Sorvete 2015 02'31 9.444.434 Preso 2015 01'26 4.866.855 Tá picotando 2015 01'12 2.348.504 Na lata 2 2015 02'33 7.541.209 Fantasma 2015 02'27 2.735.536 Claque 2015 03'49 2.935.895 Tamanho 2015 03'12 9.487.149 Carnaval 2015 02'59 3.089.834 Marchinha 2015 01'19 1.640.765 UFC LGBT 2015 01'58 4.056.959 Gameplay 2015 02'17 4.756.603 Esquecimento 2015 02'45 4.045.766 Piranho 2015 02'15 5.585.019 Reabilitação 2015 03'24 3.359.403 Carona 2015 05'22 8.620.693 Grávida 2015 02'47 4.695.034 Convenção 2015 04'32 2.865.509 Desaparecimento 2015 02'24 2.176.183 Gênio 2015 02'26 3.711.834 Privacidade 2015 02'01 4.969.690 GPS 2015 02'50 5.723.327 Colateral 2015 01'49 1.870.022 Agradecimento 2015 03'21 2.381.019 Wi-Fi 2015 01'35 5.614.059 Promoção 2015 02'22 2.988.309 Casa de massagem 2015 02'29 5.315.714 Tenso 2015 02'05 4.785.716 Reunião 2015 01'33 2.076.427 Ônibus 2015 02'07 10.110.438 Reality Show 2015 03'04 3.229.490 Ajudante de DR 2015 02'17 4.556.507 50 Tons 2015 03'08 7.592.972 Vendedora 2015 02'01 4.507.973 Sexo conjugal 2015 02'23 4.342.841 Aniversário 2015 02'28 2.359.935 Posição 2015 04'15 8.823.252 Ogum 2015 02'18 2.725.462 Opções 2015 0'56 3.012.346 Berçário 2015 4'02 4.210.475 Conversa 2015 03'41 5.567.908 Bíblia 2015 02'51 3.757.955 Problemas linguísticos 2015 02'16 3.613.623 Perdeu, perdeu 2015 01'20 3.379.621 Mãe 2015 02'21 4.672.720

124 Livro 2015 02'29 2.406.070 Porrada 2015 02'10 2.968.541 Soldado 2015 03'31 3.948.458 Rio 2025 2015 01'33 4.706.955 Correria 2015 01'41 3.781.388 James Bond 2015 03'23 5.400.371 Brinde 2015 02'17 5.720.918 Nascimento 2015 02'18 2.175.270 Transformação 2015 03'14 2.749.323 Ceia 2015 03'59 3.296.985 Ressurreição 2015 02'27 2.277.335 Mendigo 2015 01'40 4.178.921 Amor 2015 01'37 3.972.906 Culinária 2015 03'33 4.100.134 Manjando 2015 03'28 3.400.100 Encosto 2015 03'05 2.755.815 Gago 2015 02'19 3.626.337 Palavra 2015 02'21 2.819.184 Retrô 2015 03'01 3.151.024 Para sempre 2015 01'55 2.796.956 Vinho 2015 01'55 2.388.289 Cama 2015 03'00 3.850.490 Exame de sangue 2015 02'30 5.402.545 Humanidade 2015 02'11 4.024.270 Vida real 2015 02'06 4.186.115 Código de guerra 2015 01'29 2.908.456 Meia 2015 02'00 3.488.302 Travesti 2015 01'56 8.111.307 Não soube? 2015 01'32 2.958.568 Palavra da salvação 2015 01'59 2.475.386 Noticiário 2015 01'17 1.789.947 Passiva agressiva 2015 02'16 4.215.602 Novela bíblica 2015 01'54 4.599.482 Redução 2015 02'36 3.223.134 Artista 2015 02'02 2.820.156 Truco 2015 00'58 3.788.849 Sotaques 2015 02'28 6.308.334 Peso 2015 02'14 3.049.806 Olheiro 2015 04'22 2.965.143 Tatuador 2015 02'41 6.018.124 Antes de dormir 2015 02'22 3.541.461 Me liga 2015 01'57 3.236.891 Grupo de apoio 2015 02'29 3.313.335 Embora 2015 02'52 3.271.171

125 Peido 2015 01'57 8.195.920 Alien 2015 05'12 4.212.315 Excêntrico 2015 02'39 2.984.847 Questão de ordem 2015 04'12 2.721.030 Fofoqueiro 2015 02'17 2.919.446 Barzinho 2015 01'35 2.942.101 Pena 2015 02'04 6.855.784 Ameaça 2015 01'12 2.603.093 Treino 2015 02'22 3.062.018 Mestre cuca 2015 04'13 4.280.920 Letra 2015 01'10 2.752.695 Não olhe agora 2015 01'35 2.493.738 Discurso 2015 01'42 2.154.846 Como foi? 2015 02'43 3.733.308 RH bom RH mau 2015 03'47 3.654.758 Desvio 2015 03'17 2.988.885 Juíza 2015 03'07 4.149.269 Amiguinho 2015 04'01 6.715.921 Thank you 2015 02'12 2.513.229 São Longuinho 2015 02'27 3.648.423 Maquininha 2015 02'49 2.702.980 Vendas 2015 02'21 4.815.810 Limão 2015 01'49 3.160.402 Remédio 2015 01'45 2.194.392 Medo 2015 02'08 3.507.534 Signo 2015 02'04 5.236.467 Tananã 2015 01'27 4.355.810 Sabe com quem tá falando? 2015 02'09 3.885.092 Emoticon 2015 03'15 3.719.249 Likes 2015 01'35 4.477.592 Velório 2015 02'29 4.165.899 Stand up 2015 04'13 3.499.272 Reunião de criação 2015 03'39 2.659.182 Biblioteca 2015 02'07 2.295.052 Sucesso 2015 04'18 6.374.903 Garçons 2015 02'06 2.081.974 Pra onde? 2015 02'04 3.381.702 Merda 2015 02'20 7.775.625 Vlogueira 2015 02'16 4.259.526 Supermercado 2015 04'05 6.416.806 Bar 2015 02'26 2.708.850 Fada 2015 03'03 4.656.896 O que você faria? 2015 03'34 4.277.217 James 2015 02'31 3.121.832

126 Papo merda 2015 02'08 2.904.040 Atraso 2015 02'31 2.607.298 Flanelinha 2015 01'59 3.762.307 Escuta 2015 02'33 2.763.379 Amigo secreto 2015 05'41 10.596.250 Compras de Natal 2015 02'11 2.402.748 Amigo secreto 2 2015 05'41 4.900.011 Caixinha 2015 02'05 2.443.578 Especial de Natal – Jesus Cristo 2015 15'14 1.916.750 Assalto em SP 2015 03'25 5.053.285 Vaga 2015 02'16 2.859.970 Coincidência 2015 02'36 2.823.255 Acidente 2016 02'22 2.503.725 Santa 2016 03'26 3.022.898 Transferência 2016 02'27 2.479.117 Luiz 2016 01'04 2.157.460 Woody Allen 2016 02'06 3.610.901 Garçom de esquerda 2016 02'25 3.056.375 Conta pra gente 2016 02'06 2.871.105 Descobrimento 2016 03'41 3.787.214 Chip 2016 02'26 4.081.705 Terrorista 2016 05'12 3.849.023 Técnico 2016 02'42 2.178.095 Posso ajudar? 2016 03'05 2.133.301 Balada 2016 02'34 2.415.809 Mudança 2016 02'23 3.519.805 Resgate 2016 02'19 1.735.696 Tradutor 2016 02'41 2.681.886 Beija-Flor 2016 04'03 1.689.313 Cerimônia 2016 02'52 2.250.186 Insegurança 2016 01'39 2.979.101 A três 2016 02'03 3.021.912 Porteiro 2016 02'19 2.085.124 Bromance 2016 03'41 4.792.890 Acerto de contas 2016 03'25 2.897.916 Bala perdida 2016 02'11 2.794.589 Palavras 2016 02'11 2.334.659 Jesus te ama 2016 03'07 4.071.455 Reforma 2016 02'34 3.358.209 Julgamento 2016 02'48 2.578.564 Assalto 2016 01'53 3.557.911 Peçanha 2016 03'45 3.027.685 Majestade 2016 02'23 2.033.187 Roubo 2016 02'01 3.771.869

127 Post pago 2016 02'51 5.667.509 Pagamento 2016 02'49 3.176.367 Reunião de emergência 2 2016 03'10 3.925.948 Narrador 2016 02'44 2.858.184 Mesa redonda 2 2016 02'20 1.814.486 Promovido 2016 03'50 3.041.431 Tô sem nada 2016 02'09 3.660.148 Delação 2016 02'39 7.084.551 Lembra? 2016 02'50 2.275.155 Avaliação física 2016 03'11 6.176.150 Milagre 2016 03'18 2.791.140 Reunião de emergência 3, A delação 2 2016 04'01 5.041.072 Tio 2016 01'44 4.592.489 Moto 2016 03'16 3.696.232 Hospital 2016 02'13 2.162.610 Colonizado 2016 04'36 4.360.048 Romeu e Julieta 2016 03'01 2.071.521 Ensino 2016 01'47 4.709.200 Indignado 2016 03'32 3.869.812 Negão 2016 04'19 5.922.725 Bloqueio 2016 03'51 5.203.375 Xuxa Meneghel 2016 02'31 11.773.771 Travado 2016 02'17 2.920.525 Perfil 2016 02'33 6.215.505 Animal 2016 02'08 2.685.127 Jornalista 2016 04'08 2.492.522 Eu vos declaro 2016 04'15 3.800.368 Igreja 2016 01'54 2.963.768 Fora de época 2016 02'13 2.848.461 Segredo 2016 01'53 2.928.558 Opinião sincera 2016 02'12 2.786.464 Mapa astral 2016 03'38 3.203.449 Homenagem 2016 02'17 2.351.690 Vaticano 2016 03'55 2.677.666 Viraliza 2016 03'44 2.146.762 Ping Pong 2016 01'31 2.296.109 Saúde 2016 01'57 3.512.041 História 2016 03'01 2.524.079 Perdidos 2016 02'22 2.788.996 Um minutinho só 2016 02'49 2.109.213 Tédio 2016 03'18 2.406.227 Banheiro 2016 02'04 3.047.070 Subliminar 2016 02'20 2.254.291 Separação 2016 02'33 3.207.768

128 Crítico 2016 03'38 2.553.565 10 mandamentos vitalícios 2016 01'14 1.502.666 Murphy 2016 02'16 2.573.565 Farmácia 2016 01'34 2.906.160 Zoeira 2016 02'01 2.808.876 Histérica 2016 02'42 2.534.629 Brinco 2016 02'28 3.643.062 Sommelier 2016 02'08 2.170.875 Obrigado, Jesus! 2016 02'42 3.278.428 Empréstimo 2016 02'28 2.264.139 Cotidiano 2016 01'34 2.312.413 Pra ontem 2016 02'43 2.357.233 Imagina 2016 02'31 2.247.065 Satanás 2016 03'00 3.965.508 Eles só pensam nisso 2016 01'53 3.518.012 Posto Ipiranga 2016 01'50 3.395.759 Belize 2016 01'58 2.968.211 Boa sorte 2016 02'56 4.062.439 Pontual 2016 02'25 2.471.506 Antidoping 2016 02'38 2.941.347 Natação 2016 02'10 2.785.499 Hipismo 2016 05'16 4.375.972 Badminton 2016 01'36 2.510.984 Anabolizante 2016 03'49 3.095.783 Opinião 2016 02'01 2.064.708 Record 2016 01'46 3.600.955 Fim de festa 2016 02'19 3.017.551 Whatsapp 2016 03'54 5.214.471 Terrorismo 2016 03'03 2.757.081 Javali 2016 02'56 2.640.008 O mundo tá chato 2016 03'07 4.583.807 Programa 2016 02'24 2.803.335 Pero Vaz 2016 03'44 2.012.046 Busão 2016 01'36 3.817.770 Finesse 2016 01'41 1.927.361 Pessoa amada 2016 01'50 1.900.770 Desculpa 2016 02'37 2.190.776 Milk Shake 2016 04'04 5.766.565 Teatro 2016 03'47 2.282.695 O povo fala 2016 02'12 2.317.198 Merchan 2016 02'43 2.038.238 Campanha política 2016 02'32 2.407.553 Teste de elenco 2016 03'27 1.811.560 CPI 2016 03'06 1.659.487

129 Céu católico 2016 04'22 4.339.688 Mamãe 2016 03'02 2.181.554 Internet 2016 01'09 1.900.181 Cancelamento do plano 2016 02'12 1.804.829 Chapeuzinho 2016 03'50 2.108.068 Arte cubista 2016 01'31 1.487.050 Você sabe do que eu tô falando 2016 01'52 1.964.555 Peraí 2016 03'04 2.111.573 Missa 2016 04'00 2.488.369 Cartão 2016 01'51 2.210.769 Nulo 2016 02'19 1.921.355 Vício 2016 01'51 1.854.422 Acode 2016 01'34 1.632.536 Bagagem 2016 03'12 2.381.359 Novas medidas 2016 02'33 1.681.920 Criação 2016 06'54 4.069.194 Tática de venda 2016 02'23 2.050.091 Necessidades básicas 2016 03'02 2.060.240 Pensador 2016 03'15 1.926.898 Não acredito 2016 01'08 2.136.486 Uma saída para a crise 2016 02'13 1.646.048 Detalhes 2016 01'59 1.575.633 Novo pornô 2016 04'22 3.395.559 Futuro 2016 03'24 2.012.191 Amigo secreto na cadeia 2016 03'34 4.265.472 Jura 2016 02'53 2.506.999 Odebrecht 2016 04'05 2.426.245 Confere 2016 02'58 1.996.633 Aprovação 2016 02'28 1.611.516 Necessidades 2016 03'13 1.656.269 Discutindo a relação 2016 02'26 1.834.726 Reis Magia 2016 03'37 1.937.253 De onde vêm os bebês 2016 04'21 1.855.846 Aniversário de Jesus 2016 04'22 2.164.345 Disse Jesus 2016 02'27 1.884.603 Lava Jato 2016 02'17 1.500.912 Cinco minutinhos 2016 02'29 1.500.912 Não posso te beijar 2017 01'32 2.642.804 Fila 2017 02'42 2.269.932 Hater 2017 02'17 2.308.751 Deu merda 2017 01'49 2.651.656 Mensageiro 2017 03'08 1.739.718 Ingresso 2017 02'30 1.849.215 Herói 2017 02'12 2.183.822

130 Monstro 2017 02'38 2.234.735 Desculpas 2017 03'02 2.270.994 Parto 2017 03'00 1.596.668 Amante no armário 2017 03'57 1.902.913 Escolhido 2017 03'03 1.778.070 Fila do banheiro 2017 02'19 1.936.728 Lista 2017 03'32 1.445.241 Atenção 2017 02'04 1.393.902 Meme 2017 01'49 1.593.951 Barba, careca e bigode 2017 02'55 1.768.364 Emergência 2017 02'15 1.632.933 Peça 2017 04'40 1.719.898 Minha casa, sua casa 2017 03'56 2.235.251 Padre 2017 04'18 1.433.518 Nomes 2017 01'32 1.491.606 Recife 2017 03'49 1.668.956 Apocalipse Zumbi 2017 02'47 1.611.904 Carlos 2017 04'56 1.358.137 Manifesta show 2017 03'27 1.347.199 Telemarketing 2017 02'55 1.470.472 Comida inteligente 2017 02'47 1.353.449 Meus favoritos 2017 03'31 1.410.422 Ministra 2017 04'01 1.138.459 Esquerda túnica 2017 02'02 1.709.824 Punheta 2017 02'46 2.427.622 Fantasia 2017 03'52 1.358.600 Fashion week 2017 03'43 1.123.066 Furacão 2017 04'09 1.201.994 Japa 2017 04'08 1.295.330 Plano de carreira 2017 03'52 1.109.361 Cabeleireiro 2017 01'23 352.734

131 CADERNO DE FIGURAS

Figura 1 – Web esquete Sem Bateria.

FONTE: CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Sem bateria. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=JRjrCjSNrAg . Acessado em 10 de dez. de 2016.

Figura 2 – Web esquete Rola Figura 3 – Web esquete Rola

FONTE: CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Rola. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=h1A9Kc5iNkQ . Acessado em 09 de dez. de 2016.

132 Figura 4 – Web esquete Na Lata Figura 5 – Web esquete Na Lata

Figura 6 – Web esquete Na Lata

FONTE: CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Na Lata. 2013. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=NZb0XKHgtjo. Acessado em 18 de jun. de 2016.

Figura 7 – Web esquete Sobre a mesa Figura 8 – Web esquete Sobre a mesa

FONTE: CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Sobre a mesa. 2012. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=6EYmKAs7 mzc. Acessado em 18 de jun. de 2016.

133 Figura 9 – Web esquete Quem manda Figura 10 – Web esquete Quem manda

FONTE: CANAL YOUTUBE DA PORTA DOS FUNDOS. Quem manda. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=0b_l0bE_E9s . Acessado em 09 de dez. de 2016. Figura 11 – Web esquete Porta dos Fundos na TV.

FONTE: CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Porta dos Fundos na TV. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=zvyFNjxTy-E . Acessado em 18 de jun. de 2016.

Figura 12 – Making of da web esquete Porta dos Figura 13 – Making of da web esquete Porta dos Fundos na TV. Fundos na TV.

FONTE: CANAL DO YOUTUBE FUNDOS DA PORTA. Porta dos Fundos na TV. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=8HDVpFJ8ctI . Acessado em 09 de jan. de 2017

134 Figura 14 – Web esquete Sobre a mesa

Figura 15 – Web esquete Sobre a mesa Figura 16 – Web esquete Sobre a mesa

Figura 17 – Web esquete Sobre a mesa Figura 18 – Web esquete Sobre a mesa

135 Figura 19 – Web esquete Sobre a mesa Figura 20 – Web esquete Sobre a mesa

Figura 21 – Web esquete Sobre a mesa Figura 22 – Web esquete Sobre a mesa

FONTE: CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Sobre a mesa. 2012. Disponível em https://www. y ou t ube.com/watch?v=6EYmKAs7mzc . Acessado em 18 de jun. de 2016.

Figura 23 – Cachorro quente completo! do Zorra. Figura 24 – Cachorro quente completo! do Zorra.

Figura 25 – Cachorro quente completo! do Zorra. Figura 26 – Cachorro quente completo! do Zorra.

136 Figura 27 – Cachorro quente completo! do Zorra. Figura 28 – Cachorro quente completo! do Zorra.

FONTE: CANAL GLOBO PLAY. Zorra. Disponível em https://globoplay.globo.com/v/5979986/. Acessado em 04 de jul. de 2017.

Figura 29 – Web esquete Spoleto. Figura 30 – Web esquete Spoleto.

Figura 31 – Web esquete Spoleto. Figura 32 – Web esquete Spoleto.

137 Figura 33 – Web esquete Spoleto.

FONTE: CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Spoleto. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Un4r52t-cuk. Acessado em 06 de jul. de 2017.

Figura 34 – Tá no Ar: A TV na TV vídeo Capa Figura 35 – Tá no Ar: A TV na TV vídeo Capa Bonita. Bonita.

FONTE: CANAL GLOBO PLAY. Tá no Ar: A TV na TV. Disponível em https://globoplay.globo.com/v/4048492/programa/. Acessado em 14 de jul. de 2017.

Figura 36 – Web esquete Biblioteca Figura 37 – Web esquete Biblioteca

138 Figura 38 – Web esquete Biblioteca

FONTE: CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Biblioteca. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=k9CbDcOT1e8. Acessado em 14 de jul. de 2017.

Figura 39 – Tá no Ar: A TV na TV vídeo Capa Bonita.

FONTE: CANAL GLOBO PLAY. Tá no Ar: A TV na TV. Disponível em https://globoplay.globo.com/v/4048492/programa/. Acessado em 14 de jul. de 2017.

139 Figura 40 – YouTuber Felipe Neto.

FONTE: CANAL DO YOUTUBE FELIPE NETO. Não faz sentido! - Idiotices. NÃO VEJA ISSO!. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=BLQsHdrIWeM. Acessado em 04 de jul. de 2017.

Figura 41 – Web esquete Técnicas de paquera. Figura 42 – Web esquete Técnicas de paquera.

Figura 43 – Web esquete Técnicas de paquera. Figura 44 – Web esquete Técnicas de paquera.

FONTE: CANAL DO YOUTUBE PORTA DOS FUNDOS. Técnicas de paquera. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=k8lAoPEfyEs. Acessado em 27 de jun. de 2017.

140 Figura 45 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos Figura 46 –Parafernalha esquete Cegos e Surdos

Figura 47 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos Figura 48 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos

Figura 49 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos Figura 50 – Parafernalha esquete Cegos e Surdos

FONTE: CANAL DO YOUTUBE PARAFERNALHA. Tipos de garçons. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=tlGBGEEnT6Q. Acessado em 28 de jun. de 2017.

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