Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Ciências Socias Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Pablo Victor Fontes Santos

Mídia e relações internacionais: criação e existência da TeleSUR na era Chávez (1999-2013)

Rio de Janeiro 2017

Pablo Victor Fontes Santos

Mídia e relações internacionais: criação e existência da TeleSUR na Era Chávez (1999- 2013)

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Área de concentração: Política Internacional

Orientadora: Prof.ª Dra. Mônica Leite Lessa

Rio de Janeiro 2017

CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/CCSA

S237 Santos, Pablo Victor Fontes. Mídia e relações internacionais: criação e existência da TeleSUR na era Chavez (1999-2013)/ Pablo Victor Fontes Santos. – 2017. 183 f.

Orientador: Mônica Leite Lessa. Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Bibliografia.

1. Venezuela – Relações exteriores – Teses. I. Lessa, Mônica Leite. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título.

CDU 327(87)

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação, desde que citada a fonte.

______Assinatura Data

Pablo Victor Fontes Santos

Mídia e relações internacionais: criação e existência da TeleSUR na Era Chávez (1999-2013)

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Política Internacional.

Aprovada em 23 de Fevereiro de 2017 Banca Examinadora

______Prof.ª Dra. Mônica Leite Lessa (Orientadora) Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – UERJ ______Prof. Dr. Williams da Silva Gonçalves Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – UERJ ______Prof.ª Dra. Cristina Rego Monteiro da Luz Universidade Federal do Rio de Janeiro ______Prof.ª Dr. Ingrid Piera Andersen Sarti Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro 2017

DEDICATÓRIA

À minha família, que sempre me apoiou.

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profª Drª Mônica Leite Lessa, pela confiança, pela oportunidade de trabalhar ao seu lado e por me ajudar a tornar essa dissertação uma realidade.

Ao programa de Pós-Graduação de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGRI/UERJ), pela proposta multidisciplinar e pelos conhecimentos que adquiri ao longo do curso.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Aos meus professores do PPGRI, aos professores que aceitaram fazer parte de minha Banca de Defesa, Prof. Dr. Williams da Silva Gonçalves, Profª Drª Cristina Rego Monteiro da Luz e Profª. Drª. Ingrid Sarti.

A minha professora querida Profª. Drª. Ana Carolina Teixeira Delgado por me ajudar na minha trajetória de modo sempre incentivador.

Aos meus pais, Klinger e Thereza, ao meu irmão, Gabriel, à minha segunda mãe e amiga, Cristina Rego Monteiro da Luz por todo o suporte emocional e carinho.

Ao meu companheiro, Roberto Duarte, pelo carinho e suporte, por suas leituras e correções, além do apoio emocional.

Ao professor do IESP/UERJ, Prof. Dr. Carlos Milani, por me ajudar com artigos, livros sobre a temática, além da inserção em grupos de pesquisa (LABMUNDO).

Aos meus amigos pesquisadores que me auxiliaram, dando apoio à minha pesquisa, em especial Alana Camoça, Danielle Costa, Taisa Rezende, Reneé Couto.

Aos colegas da turma de mestrado do ano de 2015 que me incentivaram e ajudaram em momentos tão duros.

O homem não teria alcançado o possível se, repetidas vezes, não tivesse tentado o impossível.

Max Weber

RESUMO

SANTOS, Pablo Victor Fontes. Mídia e relações internacionais: criação e existência da TeleSUR na Era Chávez (1999-2013). 183 f. Dissertação ( Mestrado em Relações Internacionais) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2017.

Este trabalho tem, como ponto de partida, a constatação da relevância do papel desempenhado pelas mídias nas relações internacionais. Neste sentido, estudar a criação e a existência da TeleSUR, tem como objetivo analisar a importância dessa iniciativa para a política externa da Venezuela, durante a Era Chávez, representa a importância e a influência que os meios de comunicação exercem sobre as sociedades. Duas hipóteses são delineadas na pesquisa aqui proposta: A primeira diz respeito aos objetivos e razões para a criação e existência da TeleSUR uma vez que, segundo nossa visão ela foi criada como um elemento estratégico midiático para atender à política externa dos governos de Hugo Chávez. A segunda hipótese estabelece que a adoção da diplomacia pública e midiática (Gilboa) de Chávez se estrutura em dois planos: de uma parte, no combate contra a privatização dos recursos petrolíferos nacionais e, de outra parte na promoção de investimentos, oriundos da PDVSA, numa inédita política cultural que visa o resgate, a promoção e a valorização da cultura popular venezuelana como forma de inclusão e desenvolvimento social.

Palavras-chave: Mídia e relações internacionais. Política externa da Venezuela (1999- 2013). TeleSUR

ABSTRACT

SANTOS, Pablo Victor Fontes. Media and international relations: creation and existence of TeleSUR in the Age Chávez (1999-2013). 183 f. Dissertação ( Mestrado em Relações Internacionais) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2017.

This work has as starting point, a verification of the relevance of the role played by the media in international relations. In this sense, studying the creation and existence of TeleSUR, aims to analyze an initiative for a foreign policy of Venezuela, during a Chávez era, to represent an importance and an influence that the media exercise on societies. Two hypotheses are outlined in the research proposed here: The first concerns the objectives and the reasons for the creation and maintenance of TeleSUR since, in our view, it was created as a strategic media element to meet the foreign policy of the governments of Hugo Chávez. The second hypothesis is that Chávez's adoption of Chávez's public and media diplomacy (Gilboa) is structured in two ways: on the one hand, a counter-attack on the privatization of petroleum resources and on the other part on the promotion of investments from PDVSA, In a cultural culture aimed at the rescue, promotion and appreciation of Venezuelan popular culture as a form of inclusion and social development

Keywords: Media and international relations. Venezuela foreign policy (1999-2013). TeleSUR.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABAE- Agencia Bolivariana de Actividades Espaciales AFP- Agência France Press ALADI- Associação Latino-Americana de Integração ALCA- Área de Livre Comércio das Américas ALBA- Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América ANMCLA- Associação Nacional de Meios Comunitários ANTV- Televisora de La Asamblea Nacional AP- Associated Press AVN- Agências Oficiais da Venezuela BACUA- Banco de Conteúdo Argetino Universal Audiovisual BANDES- Banco de Desenvolvimento Econômico e Social BBC- British Broadcasting Corporation BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento CEPAL- Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe CFO- Commonwealth Foreign Office CNAC- Centro Nacional Autônomo de Cinematografia CNN- Cable News Network CNTV- Comisión Nacional de Televisión CSA- Conselho Superior de Audiovisual EBC- Empresa Brasileira de Comunicação EUA- Estados Unidos da América FISTEL- Fundo de Fiscalização das Telecomunicações FMI- Fundo Monetário Internacional FNL- Frente Nacional da Libertação FSM- Fórum Social Mundial GATT- Acordo Geral de Tarifas e Comércio INCAA- Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais INTRAVISIÓN- Instituto Nacional de Radio y Televisión IPTV- Internet Protocol Television IRT- Instituto de Radio e Televisíon

MERCOSUL- Mercado Comum do Sul MoMAC- Movimento Nacional de Meios Alternativos e Comunitários NAFTA- Acordo de Livre Comércio da América do Norte NHK- Nippon Hoso Kyokai NOMINIC- Nova Ordem Mundial da Comunicação e da Informação OAS- Organização do Exército Secreto OI’s- Organizações Internacionais OMC- Organização Mundial do Comércio ONGS- Organizações Não-Governamentais ONU- Organizações das Nações Unidas OPEP- Organizações de Países Exportadores de Petróleo PDVSA- Empresa Estatal de Petróleo da Venezuela PIB- Produto Interno Bruto RNV- Rádio Nacional da Venezuela RTVC- Rádio Televisão Nacional da Colômbia UNASUL- União de Nações Sul-Americanas UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNCTAD- Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento URSS- União das Repúblicas Socialistas Soviéticas USIA- Agência de Informação dos Estados Unidos VTV- Venezolana de Televisión TASS- Agência Soviética TELESUR- Rede de Televisión do Sur TELEVES- Fundación Televisora Venezolana Social TVes- Televisión Venezolana Social

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Modelos das Agências de Notícias Internacionais...... 26 Figura 2 Organograma da TeleSUR...... 108 Figura 3 TeleSUR no Youtube...... 115 Figura 4 TeleSUR no Twitter...... 116 Figura 5 TeleSUR no Facebook...... 117 Figura 6 Instagran da TeleSUR...... 117 Figura 7 TeleSUR no Google +...... 118 Figura 8 TeleSUR no Pinterest...... 118 Figura 9 TeleSUR no Paper.Li...... 119 Figura 10 Aplicativos da TeleSUR...... 119

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Cartel das Agências de Notícias Internacionais século XIX-XX ...... 27 Mapa 2 Modelo de Gestão das Agências de Notícias Internacionais: Fluxo- Verticalização Norte- Sul das Notícias ...... 27 Mapa 3 As Bacias e Limites da Venezuela ...... 73 Mapa 4 Reserva Energética Da Venezuela...... 79 Mapa 5 Total de Exportações Culturais ...... 94 Mapa 6 Rede de Transmissão da TeleSUR via satélite ...... 113 Tabela 1 As 10 maiores agências internacionais do mundo ...... 28

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Domínios dos Conglomerados Comunicacionais Mundiais ...... 46 Quadro 2 Modelos Midiáticos em Perspectiva Comparada ...... 50 Quadro 3 Modelos Midiáticos m Perspectiva Comparada – Outros Níveis De Análise 51 Quadro 4 Modelos Midiáticos m Perspectiva Comparada – Outros Níveis De Análise 54 Quadro 5 Modelos Midiáticos Na América Latina – Outros Níveis De Análise ...... 54 Quadro 6 Equipe da TeleSUR (2016) ...... 109 Quadro 7 Linha do Tempo da TeleSUR por ano ...... 111 Quadro 8 Programação da TeleSUR ...... 124 Quadro 9 Mídia como tipos de ator ...... 126 Quadro 10 Documentários transmitidos pela TeleSUR ...... 134

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Reservas Provadas De Petróleo Dos Membros Da Opep, 2014 (Mil Barris). 69 Gráfico 2 Evolução Da Exportação De Petróleo Venezuelano Com Relação À América Latina E Mundo (1000 Barris/Dia), 1980-2014 ...... 70 Gráfico 3 Distribuição De Exportação De Bens Culturais Por Região No Mundo ...... 92 Gráfico 4 Distribuição Regional De Exportação De Bens Culturais e Todos Bens Em 2013 ...... 93 Gráfico 5 Exportação De Bens Culturais Da Venezuela(2004-2013) ...... 94 Gráfico 6 Importção De Bens Culturais Da Venezuela (2004-2013) ...... 95 Gráfico 7 Publicações dos Conteúdos da TeleSUR (2007-2016) no Youtube ...... 135 Gráfico 9 Contagem Cronológica das Publicações dos Conteúdos da TeleSUR (2007- 2016) no Youtube ...... 137

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 15 1 MÍDIA E ESTADO ...... 22 1.1 Origens da comunicação de massas ...... 22 1.2 As Agências de notícias internacionais ...... 24 1.3 Novos horizontes: ondas hertzianas ...... 29 1.4 Economia política, indústria cultural, hegemonia ...... 32 1.5 Hegemonia cultural e comunicação ...... 37 1.6 Modelos midiáticos em perspectiva comparada: o caso da América Latina 46 1.6.1 Modelo midiático latino americano ...... 52

2 HISTÓRIA E ANÁLISE DA POLÍTICA EXTERNA DOS GOVERNOS DE HUGO CHÁVEZ (1999-2013) ...... 55 2.1 A América Latina diz não ao neoliberalismo e as críticas aos processos da globalização ...... 55 2.2 Eleições espetaculares: a chegada de Hugo Chávez a presidência da Venezuela- a quinta república ...... 57 2.3 A Política externa da Venezuela durante a era Chávez- um revisionismo periférico ...... 61 2.3.1 A influência de Simon Bolívar e de Perón durante a era Chávez: a construção do inimigo ...... 64

2.3.2 O Revisionismo periférico autonômico (1999-2002) ...... 68

2.3.3 O Revisionismo periférico antagônico (2003-2009)...... 73

2.3.4 A Manutenção do revisionismo periférico autonômico (2009-2013) ...... 88

2.4 A Importância da cultura e da mída na agenda política dos governos Chávez .. 90 2.4.1 As Tv’s e rádios comunitárias e o investimento na produção cultural ...... 98

3 O EFEITO TELESUR ...... 100 3.1 TELESUR: histórico, organograma e programação ...... 100

3.2 Investimentos tecnológicos, redes sociais e mídias digitais ...... 112

3.3 A Telesur: a diplomacia midiática e pública da era chávez ...... 125

3.3.1 Diplomacia midiática ...... 126

3.3.2 Diplomacia pública ...... 130

3.4 TELESUR e a integração cultural foi possível? ...... 140

3.5 TELESUR- 10 anos quais mudanças sentidas e possíveis? ...... 142

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 143 ANEXO A – Tabela II ...... 162 ANEXO B – Nome do vídeo ou programa ...... 164 ANEXO C – Transcrição da Entrevista com Beto Almeida ...... 176

INTRODUÇÃO

Observa-se, a partir das últimas décadas do século XX, o vertiginoso desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação, marcado pelo surgimento de novas mídias, como a internet, o celular e o IPTV, e, por conseguinte, pela transformação do status e do consumo da informação. Novas estratégias passaram a ser organizadas para a sobrevivência do ameaçado controle do establishement sobre a informação, assim como para a sobrevivência dos conglomerados que constituem as tradicionais imprensa escrita e televisiva, que passaram a concorrer com uma infinidade de blogs, sites, redes de sociabilidades e IPTVs que reconfiguraram a produção e o consumo da informação. A “era da informação” passou a exigir, portanto, novas estratégias de comunicação por parte dos Estados, e dos governos, como destacou VALENTE (2007), sem que para isso, no mundo globalizado1, se observasse o desaparecimento do caráter nacional dos veículos de comunicação de relevância global. Além do fato de que o trabalho exercido pelas grandes mídias, destacaram Chomsky e Hermam (1988), sempre representou o interesse daqueles que financiam os conglomerados comunicacionais, ou seja, os empresários2. Contudo, é importante observar, os meios de comunicação são também formas de organização social que participam das relações sociais no cotidiano (WILLIAMS, 2005). Para Adorno (2009); Bolaño (2002), os meios de comunicação e a cultura são preenchidos por ideologias mantidas e escondidas através dos cálculos de probabilidades oriundas dos lucros obtidos durante, e após, o processo de fabricação e de venda. Discursos como autonomia, liberdade, igualdade são vendidos mostrando a aparência ilusória dos conceitos vinculados pela mídia (ALTHUSSER, 1978; BOLAÑO, 2002; ADORNO, 2009; ECO, 2015).

1Compartilhamos a visao de David Held (1980) sobre a definição de globilização. 2Os magnatas da mídia são definidos como pessoas que além de serem proprietários dos meios de comunicação operam assumindo, por exemplo, os riscos empresariais que possam existir. É importante fazer uma distinção entre magnatas, príncipe da coroa e barão. O príncipe da coroa é compreendido como aquele que herda propriedades midiáticas de seu pai como pioneiro. O barão atua como uma espécie de gerente empresarial, ou seja, aquele que é um chefe do executivo assumindo os riscos empresariais que possam a vir, contudo não é o último a conceder a palavra final. Devemos também destacar que os magnatas exercem certo voyerismo para uma determinada classe social a medida que uma parte dos jornalistas e publicitários percebem o elevado nível de influência que os magnatas exercem na política nacional através de seu prestígio (TUNSTALL E PALMER, 1991).

15

No contexto da América Latina, região marcada por tradições políticas autoritárias, e com economia baseada no modelo de substituição de importações (HALLIN E PAPATHANASSOPOULOS, 2002), se observaria um alto grau de “coronelismo eletrônico”, segundo Santos3. Lichtenberg considera que os veículos de comunicação impressa latino americanos, sobretudo, apresentariam baixos níveis de circulação, tendo como tradição a produção de relatórios de defesa4 como forma de proteção contra a “censura” política dos governos locais, e tendo um jornalismo profissional relativamente associado a ideia romântica de que essa é uma profissão “autônoma”, com forte tendência à produção de matérias opinativas, nas quais é comum lê-se comentários e opiniões do autor da matéria (LICHTENBERG, 1990). Alguns autores destacam como característico da indústria cultural latino- americana uma dependência histórica da indústria cultural estrangeira. No que tange o sistema de comunicação social observa-se sua forte privatização, sua organização em oligopólios familiares, e uma visível ausência de televisões estatais de peso, a exemplo do que existe na Europa, conformando, dessa forma, uma indústria cultural latino- americana marcada pela ausência de autonomia e liberdade de sua produção. (HALLIN e PAPATHANASSOPOULOS, 2002). Esse quadro teria se modificado na passagem do século XX para o XXI, quando foram eleitos governos progressistas em vários países latinos americanos, em grande parte, advindos das correntes ideológicas de esquerda, que, consequentemente, rechaçaram a agenda neoliberal em curso na década de 1990, pautada nas diretivas do Consenso de Washington. Esses governos alteraram as agendas políticas de seus países, e, por conseguinte, a inserção internacional dos mesmos (BETHELL, 1999; 2000; MORAES, 2009; VIZENTINI, 1996; HOBSBAWM, 2014). A Venezuela vivenciou essa transformação com a chegada de Hugo Farias Chávez, em 1999. Político e militar venezuelano, que governou o país entre 1999 até 2013, ano de sua morte, líder da Revolução Bolivariana, Chávez advogava a doutrina bolivarianista, promovendo o que denominava de “socialismo do século XXI”. Forte crítico do neoliberalismo e da política externa dos Estados Unidos fundou o Movimento

3O coronelismo eletrônico é o resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada. Não é, pois, mera sobrevivência do poder privado (...) é antes uma forma peculiar de manifestação do poder privado, ou seja, uma adaptação em virtude da qual os resíduos de nosso antigo e exorbitante poder privado têm conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa (SANTOS, 2008, p.224). 4Os relatórios de defesa são documentos escritos pelos jornalistas e seus respectivos diretores de jornalismo como forma de criticar qualquer tipo de “intervenção” que possa existir por parte do Estado. De acordo com Lichtenberg (1990), o jornalismo quando sofre qualquer tipo de ameaça sua pseudo- liberdade cria estes tipos de mecanismos (LICHTENBERG, 1990).

16

Quinta República, de orientação política de esquerda, depois de capitanear um golpe de estado mal-sucedido contra o governo de Carlos Andrés Pérez, em 1992. Considerado por muitos como um líder controverso, governou sofrendo forte oposição das elites econômicas, sociais e políticas venezuelanas. Mesmo assim, foi o vencedor das eleições presidenciais de 1998 quando pôs fim a quarenta anos de vigência do Pacto de Punto Fijo (firmado em 1958 entre os três maiores partidos venezuelanos) com uma campanha centrada no combate à pobreza, e reelegeu-se nas eleições de 2000 e 2006. Popular por suas políticas de inclusão social e transferência de renda, durante seus governos o índice de pobreza na Venezuela caiu de 49,4%, em 1999, para 27,8%, em 2010. Chávez também buscou exportar os ideais da Revolução Bolivariana para além da Venezuela, e para isso empreendeu a criação de uma rede de televisão, a TeleSUR, como elemento fundamental de difusão dos ideais da Revolução Bolivariana. Iniciou assim uma diplomacia midiática venezuelana inédita, com ambições latino americanas5, que, igualmente, deveria contribuir na conquista do apoio regional para seu governo. Por meio do exercício de um jornalismo local, autônomo, exerceu oposição ao “imperialismo cultural norte-americano” e fortaleceu o discurso contra-hegemônico6, buscando afirmar seu poder na região e no mundo (VALENTE, 2012). A TeleSur, criada em 24 de julho de 2005, dia do aniversário de Simon Bolívar7, sob o lema “Nuestro Norte es el Sul”, como uma propriedade multiestatal entre Venezuela, Argentina, Uruguai e Cuba, possuía uma média de 51%dos investimentos em tecnologia da informação e da comunicação garantidos pela Venezuela, seu maior acionista e detentor de cerca de 49% das ações. A emissora, atualmente, conta com aproximadamente 160 profissionais atuando em diversos países, inclusive com sucursais (doze) em diversas capitais do continente americano: Washington, Havana, Cidade do

5A diplomacia midiática é a forma como os conglomerados comunicacionais atuam e influenciam nas negociações internacionais. A diplomacia midiática visa ampliar a capacidade de melhorar a imagem de um país e líder político utilizando às agendas dos canais de informações (GILBOA, 2002; VALENTE, 2007; CAMARGO, 2009; FONTES e CAMOÇA, 2015). 6Ao fim do século XIX e início do século XX os movimentos anti-sistêmicos passaram a se apresentar como movimentos que se definiram a opressão em termos de classe e objetivam a substituição do capitalismo pelo socialismo e movimentos que definiam a opressão em termos étnico-nacional e objetivam a auto-determinação (movimentos de libertação nacional). Em 1968, movimentos anti- sistêmicos eram vistos como movimentos em reação contra os poderes restauradores dos povos pró- sistêmicos sob a hegemonia dos Estados Unidos da América e uma reação contra o fraco (AMIN, 2003; ARRIGHI, 2003; WALLERSTEIN, 2003). 7O bolivarianismo se fundamenta no resgate e na continuidade do projeto de emancipação venezuelano das oligarquias político-econômicas que reproduzem a estrutura dependente, contra a subordinação do país à influência de agentes do imperialismo e a distribuição radical do poder político. Refere-se assim às condições de realização da segunda emancipação (SEABRA, 2012). 17

México, Manágua, Porto Príncipe, Caracas, Bogotá, La Paz, Quito, Lima, Buenos Aires e Brasília. Entretanto, a TeleSUR apresenta certas limitações tecnológicas, se comparada a redes de televisão de países como os EUA e a Grã-Bretanha, e, sobretudo, essa rede de televisão multiestatal tem dificuldade de adentrar na América do Sul, inclusive no Brasil, país este que se apresenta apenas como membro colaborador. O corpo de funcionários da emissora conta com jornalistas que atuam como correspondentes internacionais, sendo a produção de notícias elaborada em dois idiomas (espanhol e português), e em parceria com mais de trinta empresas de comunicação, de forma a facilitar o acesso na região (SANTORO e VALENTE, 2008; SEABRA, 2012; SANTOS e FONTES, 2015). A despeito dos dissensos acerca da TeleSUR, considerado por uns como um projeto político ambicioso e controverso, visto como uma estratégia de promoção pessoal de Hugo Chávez, e por outros como uma estratégia anti-hegemônica e anti- imperialista importante, a TeleSUR logrou conquistar um público antes totalmente apartado de uma estética regional, das temáticas regionais, e, por outro lado, totalmente refém da produção e da difusão da informação e do divertimento concebido e distribuído pelo establishment estrangeiro (e, em alguns casos, nacional). Nesse sentido, a TeleSUR nasceu com evidentes, numeroso se poderosos obstáculos a superar para assegurar a sua (plena) existência. É a revolução tecnológica dos meios de comunicação, iniciada com a televisão - que se afirma como um veículo de comunicação de massa mundial com a transmissão de programas e de notícias via satélites - que transforma o mundo em uma “aldeia global”, como previu McLuhan (1962). Mas outro dado a ser observado é o interesse crescente de um público cada vez mais amplo para as questões internacionais, antes circunscritas aos círculos dos especialistas do mundo político, econômico e dos governos. A televisão, primeiramente, passa a transmitir eventos internacionais transformados em grandes espetáculos midiáticos. É a “cultura da mídia e o triunfo do espetáculo” (KELLNER, Apud LESSA, 2011) que transforma eventos esportivos, fatos diversos ou fenômenos políticos marcantes em “mega espetáculos políticos”. Daí, a justificativa de se entender a importância política exercida pelos conglomerados comunicacionais nas relações internacionais.

Desenvolvimento da Dissertação

18

O objetivo geral desta pesquisa é analisar a importância da TeleSUR enquanto instrumento da política externa do presidente Hugo Chávez. Busca-se demonstrar que a importância da criação da TeleSUR reside nas inúmeras possibilidades que esse veículo de comunicação promete no campo político, econômico e cultural. Estudar a criação da TeleSUR, significa analisar as razões e os objetivos que envolveram essa iniciativa por parte de Hugo Chávez mas, também, analisar criticamente o “custo e benefício” desse passo tão ousado vis a vis a potência hemisférica e vis a vis as forças conservadores venezuelanas e regionais. Para além dos interesses, acima referidos, em se estudar a criação e a existência da TeleSUR, enquanto importante elemento da política externa da Venezuela, cabe destacar a importância desse país para o Brasil, e para a região, devido ao compartilhamento de fronteiras, a convergência de interesses geopolíticos, comerciais e devido à importância estratégica da Venezuela como o quinto produtor mundial de petróleo. Além disso, compartilhamos a visão daqueles que consideram esse tipo de estudo, sobre o papel das mídias nas relações internacionais, um campo ainda pouco explorado no Brasil (VALENTE, 2007; CAMARGO, 2009). Por outro lado, claro está que o espaço dedicado às questões internacionais cresce a cada dia nas mídias em geral, e que nos dias de hoje é inquestionável a importância e a influência que os meios de comunicação exercem sobre as sociedades. Governantes de vários países, percebendo essa influência das mídias, buscam instrumentalizar as mídias como recurso para a diplomacia midiática dos países (GILBOA, 2002). A criação da TeleSUR corresponde a essa busca política de fortalecer e legitimar o discurso chavista contra-hegemônico e antiimperialista na esfera do sistema mundial? Ou apenas visa legitimar e fortalecer o governo Hugo Chávez, por meio da instrumentalização dos meios de comunicação, e a partir de uma política externa com retórica antiimperialista e integracionistas, como defendem seus opositores, de maneira a afirma o poder chavista na América Latina, e no mundo? Essas são as perguntas que guiam nossa pesquisa sobre a TeleSUR, objeto de estudo desta investigação. Duas hipóteses são delineadas na pesquisa aqui proposta. A primeira diz respeito aos objetivos e razões para a criação e existência da TeleSUR. Esta televisão multiestatal, segundo nossa visão, foi criada como um elemento estratégico midiático para atender à política externa dos governos de Hugo Chávez e tem como missão

19 reafirmar o poder de Chávez na região e no sistema internacional. Nesse sentido, a TeleSUR funciona como um elemento de diplomacia midiática que enaltece e divulga a ideologia bolivarianista, constitutiva da política externa da Era Chávez. Apoiada em claro discurso contra-hegemônica, como pretende a retórica chavista, a TeleSUR, no entanto, não admite a possibilidade da pluralidade de ideias, de ideologias e de suas fontes entrevistadas – residindo aí a principal critica de que é objeto por parte dos opositores políticos de Chávez. Contudo, é importante notar que, por outro lado, a TeleSUR promove, por meio de sua programação, críticas sistemáticas a todo e qualquer elemento norte-americano de forma a fortalecer o discurso antiimperialista típico da Era Chávez. A segunda hipótese estabelece que a adoção da diplomacia midiática de Chávez se estrutura em dois planos: de uma parte, Chávez combate a privatização dos recursos petrolíferos nacionais e, ao mesmo tempo, promove investimentos substanciais, oriundos da PDVSA, numa inédita política cultural que visa o resgate, a promoção e a valorização da cultura popular venezuelana como forma de inclusão e desenvolvimento social. Essa visão de Chávez pretende uma reconstrução do tecido social através da cultura, no plano doméstico, e da imagem do país, no plano externo, não mais, exclusivamente, baseada na sua condição de país produtor de petróleo, mas, doravante, construída para divulgar a cultura venezuelana e o desenvolvimento social alcançado entre 1999 e 2013. Para a consecução deste objetivo, a criação da TeleSUR torna-se o instrumento primordial a ser adotado (Vide os anexos constantes desta disssertação). A metodologia desta pesquisa se constitui à base da pesquisa empírica de dados qualitativos sobre o objeto de estudo, analisados à luz da Teorias Crítica e dos estudos da Economia Política da Comunicação, além dos estudos sobre a política externa da Venezuela durante a Era Chávez. Somado a isso, foi realizado uma análise de conteúdo do discurso a partir da constituição de gráficos e tabelas que buscam reafirmar as nossas hipóteses. A estrutura geral da dissertação é constituída por três capítulos. O primeiro capítulo aborda a relação entre mídia e Estado, com ênfase na relação exercida pela economia liberal burguesa sobre os conglomerados comunicacionais, na sua influência sobre a concepção das informações a partir dos valores e dos interesses de seus proprietários. O capítulo se estrutura em torno da relação entre Estado e mídia, a partir da concepção de Marx, e dos autores marxistas como Gramsci, Althusser e Raymond Willams. Também se analisa os diferentes tipos de agentes econômicos típicos dos conglomerados

20 comunicacionais: proprietários e empresários, a partir da tipologia produzida por Tustall e Palmer (1991). O segundo capítulo analisa os fundamentos da Política Externa da Venezuela durante os governos do ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013), a partir de uma abordagem histórica que enquadra os elementos que caracterizam a figura do líder, suas relações com a geopolítica do petróleo, as dimensões sobre o tema da integração regional, a importância atribuída à cultura nacional e regional, e o uso mídia como instrumento estratégico para reafirmação de uma nova imagem da Venezuela, liderada por Chávez, no mundo, plasmada no discurso8antiimperialista e contra-hegemônico. O terceiro capítulo encerra esta pesquisa com uma análise detalhada sobre a criação e a existência da TeleSUR. Concebida com o objetivo de difundir uma nova identidade da Venezuela, por meio da notícia, e de sua liderança no combate ao imperialismo norte-americano, ponto central do discurso contra-hegemônico de Chávez, a TeleSUR tem aqui examina da sua logística comercial, programação, e seu alcance dentro e fora da América Latina, demonstrando-se assim como a TeleSUR é muito mais uma plataforma midiática de Hugo Chávez, para reafirmar seu papel regional,do que promover a integração regional anunciada.

8O discurso é caracterizado por vários números de procedimentos como o poder, o perigo, a dominação. O discurso está vinculado ao desejo de poder que poder transmitido através do texto, do silêncio. O discurso é visto pela dualidade, implícito e explícito, visível e velado, inclusão e exclusão. Marcado por elementos ideológicos que promovem a relação de descontinuidade, especificidade (FOUCAULT, 2014). 21

PRIMEIRO CAPÍTULO: MÍDIA E ESTADO

1.1 ORIGENS DA COMUNICAÇÃO DE MASSAS

Desde a Pérsia até o antigo Império Romano, as redes de comunicação foram fundamentais para o estabelecimento do poder político e do comércio internacional. Na Roma Antiga, a Acta Diurna, considerado o primeiro jornal conhecido, foi fundado por ordem de Júlio César em 69 A.C., e consistia em publicação gravada em pedra e destinada aos espaços públicos para comunicar fatos de natureza diversa. Mas foi somente em 1450, com a invenção da prensa de tipos móveis, de Gutemberg, que um salto tecnológico fundamental determinou a ampliação da comunicação através de um meio de comunicação inédito: a imprensa pré industrial. Outro setor favorecido pela invenção de Gutemberg foi o mercado editorial de livros. A expansão desse mercado, já no ano de 1500, significou uma média de vinte e sete mil edições de livros, quinhentas cópias por edição, representando cerca de treze milhões de livros em circulação na Europa do século XVI. Dessa forma, no século XVII, as bibliotecas tiveram suas bases ampliadas, organizados catálogos de seus acervos que, por sua vez, funcionavam como guias de pesquisas do patrimônio cultural de suas instituições. Os sistemas de catalogações passaram a exigir atualização regular tendo em vista o aumento constante do número de livros publicados. Mas, como observam Briggs e Burke (2006), a expansão da comunicação atendia aos interesses comerciais das potências da época. Entre os séculos XVII e XVIII, o sistema postal passou a seguir a rota da prata, que ligava o México ou Peru para o velho mundo, e a rota do açúcar, que conectava o Caribe e Londres (BRIGGS e BURKE, 2006; WEBER, 2015), assim como, no século XIX, com a abertura do Canal de Suez, em 1869, a ligação entre a Europa e o Oriente Médio (Thussu, 2010). Em todos os casos, o sistema postal seguia a lógica dos interesses das potências européias presentes nessas diferentes regiões. Transformado pela Revolução Industrial, com o uso de máquinas a vapor, o transporte marítimo assegurava o envio de, em média, oito mil e quinhentas correspondências por navio. Além de cartas, livros, jornais eram transportados através do transporte transatlântico (BRIGGS e BURKE, 2006). Outra tecnologia inglesa, as ferrovias, conecta, gradativamente, várias partes do mundo, assegurando, em escala mundial, a circulação de mercadorias e de pessoas.

22

Paralelamente, a comunicação remota (e imediata) se desenvolve com a invenção do sistema de telégrafos, de Cooke e Morse. O mundo se aproxima e se conecta através da expansão do sistema capitalista. Mais tarde, o surgimento do cabo submarino permitiu estender e intensificar as comunicações entre as nações, inclusive no âmbito da expansão imperialista. Ao fim dos anos de 1870, as redes de cabos submarinos passaram a cobrir o mundo ultrapassando em média 104.000 milhas. Cerca de 10% dessas milhas pertenciam à administração governamental (MATTELART, 1995). A região da América do Sul foi “beneficiada” pela existência do cabo transatlântico sul, inaugurado em 1874, ligando a Lisboa ao estado de Recife (Brasil), utilizando as ilhas de Cabo Verde e da Madeira. Segundo Thussu (2010), dois anos mais tarde, a costa do Chile recebeu o cabo submarino possibilitando que o império Britânico reforçasse sua presença no continente americano, e, ao mesmo tempo, o florescimento de empresas privadas, como a Eastern Telegraph Company (Grã-Bretanha) e a Western Union Telegraph (EUA), diretamente envolvidas na expansão dos meios de comunicação da época. Trens e estradas de ferro, observa Mattelart (1995), correspondem a um forte imaginário internacional no qual “sua fumaça negra foi o próprio sinal do progresso” e do Ocidente. As ferrovias participaram das conquistas coloniais dos grandes impérios europeus, na África, por exemplo, ligando as cidades do Cabo e do Cairo, o modelo ferroviário, nesse contexto colonial, tinha por missão, ligar centros administrativos, encravados na maior parte do tempo, junto da costa, às minas do interior, ou então permitir o acesso a outros territórios a serem controlados e colonizados. Em 1870, a conferência internacional telegráfica, realizada em Roma, regularizou o sistema telegráfico. Em média, vinte e dois países participaram dessa conferência e concordaram com a criação, alguns anos mais tarde, da União Postal Universal. O Congresso de Berlim possibilitou que vários acordos multilaterais passassem a estruturar o que seria a Convenção Radiotelegráfica Internacional (MATTELART, 1995). Nos Estados Unidos da América do Norte, em 1876, a invenção do telefone (1860) superou as expectativas e essa nova modalidade de comunicação atravessou o Atlântico e passou a ser adotada na Grã-Bretanha e na França, desde em 1881.

23

1.2 AS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS INTERNACIONAIS

Outra inovação dos meios de comunicação que, intrinsecamente, contribuiu para a expansão do sistema capitalista ocidental exportando suas visões de mundo, suas perspectivas políticas, econômicas, sociais e culturais, foram às agências de notícias internacionais. Durante o século XIX, quatro grandes agências ocidentais surgiram como empresas privadas, aparentemente independentes de seus governos, mas profundamente vinculadas à história da expansão das grandes potências e do desenvolvimento do capitalismo ocidental. Destinadas a atender a uma demanda específica do capital da informação, as agências vendiam as informações e notícias coletadas no exterior a jornais nacionais ou estrangeiros. A agência Havas, criada em 1835 por Charles-Louis Havas, com sede em Paris, e que após o fim da segunda guerra mundial, transformou-se, em 1944, na Agência France Press (AFP). Muito antes disso, dois ex associados da Havas criaram suas próprias agências de notícias: Barnhard Wolff criou a Wolff, em 1848, em Berlim, e Paul Julius Reuter criou a Reuters, em 1851, em Londres. No mesmo período, nos Estados Unidos, foi fundada a Associated Press (AP), em 1848, com sede em Nova York. Em 1907 foi criada uma segunda grande agência de notícias internacionais nos Estados Unidos, a United Press Associations (UPI) (SALINAS, 1984; AGUIAR, 2015; FONTES, 2015). Boyd-Barrett (1980) analisa que a colaboração entre essas agências existe desde 1856, através de troca de informações, mas, também, configurada em um poderoso cartel com direitos exclusivos repartidos entre seus respectivos mercados regionais. A região da América Latina, por exemplo, durante anos foi administrada pelo cartel das agências de notícias internacionais, principalmente, Reuters e Havas, através do uso de cabos submarinos fixados no Brasil desde 1874 (SALINAS, 1984). Após a primeira guerra mundial, ficou claro o grau de dependência da América Latina em relação a essas grandes agências de notícias, inclusive porque a agência internacional alemã, Wolff, foi fechada e a criação da agência de Agencia Soviética, em 1918, por ordem direta de Lênin, em nada alterou o quadro geral devido ao cartel instituído entre as quatro grandes (TASS). Por sua vez, os especialistas sobre o tema assinalam que as agências de notícias internacionais nasceram como empresas especializadas em coletar informações de

24 interesses jornalísticos dispersos, formatá-las como notícias9 e redistribuí-las para aos clientes. Para Aguiar (2015), as agências de notícias devem ser descritas como empresas que buscam a circulação de mercadorias, as informações, previamente produzidas e distribuídas. São empresas que funcionam como produtoras, distribuidoras e reivindicadoras de mercadorias produzidas em massa, não apenas para um consumidor final, mas, também, se necessário, destinado a um público varejista (BOYD-BARRETT, 1980). Aguiar (2015) considera que as agências de notícias são, portanto, um tipo de empresa, típica do contexto do capital monopolista, cuja produção e o sistema operacional têm como alicerce o sistema fordista - ou seja, de produção em massa10 [2]. Esse tipo de estrutura tem como base a centralização, a irradiação, além da alta dependência quanto ao controle da notícia, cujo objetivo é a produção numa economia de escala. Ao longo do tempo, as agências passaram a ter diferenças quanto ao seu modo de financiamento e organização e vários modelos coexistem na atualidade. A France Press, por exemplo, é uma agencia estatal; a Thompson-Reuters é uma empresa privada; a Associated Press é uma cooperativa constituída por jornais e estações de rádio e televisão norte-americanas. Por fim, mas não menos importante, existem as agências do chamado terceiro setor, ou agências das organizações não governamentais (ONG’s), como a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) que recebem subsídios das ONG’s. As agências podem ser também divididas em modelos globais, transnacionais, agências nacionais e especializadas.

9 Notícias são relatos de uma série de fatos a partir do fato mais importante, ao qual se resumem as palavras e conceitos abstratos como o de verdade e interesse humano. É composta de dois componentes básicos: uma organização relativamente estável, ou componente ideológico e elementos escolhidos segundo critérios de valor essencialmente cambiáveis que se organizam na notícia- o componente ideológico (LAGE, 2001, p.25). 10 Modelo criado no início do século XX, por Henry Ford, cujo objetivo refere-se ao sistema de produção em massa. Visto como forma de racionalização da produção capitalista baseada em técnicas e mecanismos organizacionais baseados na produção e no consumo das massas (WOOD JR, 1992).

25

Figura 1: Modelos das Agências de Notícias Internacionais Fonte: AGUIAR (2015);

Durante a segunda guerra mundial algumas mudanças puderam ser notadas. A Conferência de Paz e Guerra, em 1945, possibilitou a existência do acesso livre à informação. Nesse contexto, os Estados Unidos e suas delegações passaram a criar sessões dedicadas (no âmbito da UNESCO), constantemente, aos fluxos comunicacionais no mundo. O discurso11 corrente sugeria que a liberdade de recolher, transferir e publicar notícias, em todos os lugares do mundo, não se submeteria a qualquer tipo de interesse ou enfrentaria qualquer tipo de obstáculo. Esse discurso, tão difundido pelos norte-americanos, associa a liberdade de imprensa como um dos principais valores da democracia norte-americana, o que, portanto, sugere que a imprensa norte-americana é uma entidade acima de qualquer disputa política, nacionalista ou imperialista. Mas, a despeito dos discursos sobre a neutralidade das agências internacionais de notícias essas são empresas, públicas ou privadas, que funcionam segundo a lógica capitalista, e que, portanto, tanto na época da comunicação via telégrafo, via telex ou via satélite, seguem estratégias mercadológicas em busca da ampliação constante de seus lucros. Na América Latina, segundo Salinas (1984), a presença dos interesses norte- americanos nos conglomerados comunicacionais representa cerca de 50% dos investimentos nos jornais nacionais da região. Desta parcela, apenas 5% é destinada às

11 O discurso é caracterizado por vários números de procedimentos como o poder, o perigo, a dominação. O discurso está vinculado ao desejo de poder que poder transmitido através do texto, do silêncio. O discurso é visto pela dualidade, implícito e explícito, visível e velado, inclusão e exclusão. Marcado por elementos ideológicos que promovem a relação de descontinuidade, especificidade (FOUCAULT, 2014).

26 notícias suaves como esporte, tecnologia, educação e cultura (BOYD-BARRETT, 1980).

Mapa 1 Cartel das Agências de Notícias Internacionais século XIX-XX Fonte: AGUIAR (2015); FONTES (2015);

Mapa 2 Modelo de Gestão das Agências de Notícias Internacionais: Fluxo- Verticalização Norte- Sul das Notícias Fonte: AGUIAR (2015); FONTES (2015);

27

AGÊNCIA SEDE FUNDAÇÃO DESPACHOS/DIA ESCRITÓRIOS PAÍSES CLIENTES

AP Nova York 1848 300 243 97 16.530

REUTERS Londres* 1851 6849 palavras 197 130 500000

AFP Paris 1835 5000 110 165 n/d

EFE Madri 1939 2767 palavras 181 120 n/d

TASS Moscou 1925 300 130 63 n/d

DPA Hamburgo 1949 280 119 80 3000

ANSA Roma 1945 270 105 79 n/d

BLOOMBERG Nova York 1982 4000 135 150 170.000

KYODO Tóquio 1945 500 50 50 n/d

XINHUA Pequim 1931 1000 n/d 138 n/d

Tabela 1 As 10 maiores agências internacionais do mundo *A atual sede da agência Reuters está localizada em Nova York tendo em vista o processo de fusão que passou a empresa passando a se chamar Thompson Reuters (2007) Fonte: AGUIAR (2015); n/d- não disponível;

28

1.3 NOVOS HORIZONTES: ONDAS HERTZIANAS

As primeiras transmissões radiofônicas regulares, a partir de 1920, inauguraram uma nova fase no sistema da comunicação internacional, com promissoras perspectivas em termos econômicos, com a criação do novo mercado, e em termos políticos com com a propaganda nacional. O rádio possibilitou o desenvolvimento de uma nova dimensão da propaganda pois atingia um público mais amplo do que aquele formado pelos leitores dos jornais : as famílias, o público feminino, o público jovem, o público iletrado, o público estrangeiro. Nesse sentido, autores como Briggs e Burke (2006) e Thussu (2010) consideram que a União Soviética (URSS) teria sido a primeira potência a perceber a importância política e estratégica da radiodifusão para a divulgação de valores políticos e para a propaganda da imagem do Bloco Socialista, através de transmissões regulares em alemão, francês, holandês e inglês. A criação da rádio All-união, em 1925, por ordem direta de Lenin, é a principal evidência, para esses autores, da visão do rádio como uma ferramenta estratégica para a propaganda política soviética. Em 1933, com a eleição de Hitler como chanceler do Terceiro Reich, e a criação do Ministério da Propaganda, o sistema de radiodifusão na Alemanha ganha novo impulso tornando-se peça essencial na difusão da ideologia nazista, inclusive estimulando a ideia de uma raça ariana superior, e da diplomacia alemã (MATTELART, 1995). A ideologia racista e anti-semita que antes era restrita a Alemanha passa a ser difundida para o mundo. Na Argentina, por exemplo, o rádio foi um dos mecanismos de transmissão e difusão de conteúdos, em vários idiomas, deste tipo de ideologia. Na Itália de Benito Mussolini não foi diferente, nem na Espanha do General Franco (THUSSU, 2010). Na Inglaterra, ao perceberem os avanços que a propaganda nazista alcançava através do rádio, o governo inglês decidiu organizar um escritório de comunicação como a missão de monitoramento internacional e a produção de programas de contra propaganda. O novo escritório, abrigado na British Broadcasting Corporation (Corporação Britânica de Radiodifusão), mais conhecida como BBC, emissora pública de rádio (e futuramente televisão), criada em 1922, teria como marca um discurso “maduro” e “equilibrado”, em contraponto ao tom da retórica dos líderes do Eixo. Em busca da credibilidade internacional através da radiodifusão, e com os subsídios do governo britânico através do Commonwealth Foreign Office (CFO), a nova missão da BBC era combater a propaganda nazi-fascista no mundo. No entanto, analisa Thussu (2010), a forma utilizada pela BBC evidenciava o imperialismo britânico reforçando-o. O Japão também buscou incluir transmissões de ondas curtas usando a Nippon Hoso Kyokai (NHK) para sua propaganda de guerra. E no mesmo período, o governo dos Estados Unidos criou o programa de radiodifusão “The Voice of America” (Voz da América) “com o objetivo de transmitir notícias e propaganda política para os países da Europa e do Norte da África, então sob ocupação militar da Alemanha Nazista. As transmissões foram

29

iniciadas em fevereiro de 1942, utilizando ondas curtas da Columbia Broadcasting System e da National Broadcasting Company. Em fevereiro de 1947 foram iniciadas as transmissões para a União Soviética. E durante todo o período da Guerra Fria o programa Voz da América esteve sob o controle direto da CIA (CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY).

A Voz da América se tornou uma espécie de porta voz oficial do governo norte- americano e permitiu que o presidente Harry Truman (1945-1953) constituísse uma tribuna anti-comunista através da chamada “Campanha pela Verdade”, definida no relatório NSC 68/1950, do National Security Council, como “uma batalha, acima de tudo, pela mente dos homens”. Truman argumentava que a propaganda usada pelas “forças do comunismo imperialista” só podia ser vencida pela “verdade nua e crua”. A Voice of America, Radio Free Europe e a Radio Liberation (depois rebatizada de Radio Liberty) fizeram parte da ofensiva da “política de contenção” ao comunismo e de exaltação aos valores do capitalismo. A “Campanha pela Verdade” não faltou em defender o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra da Coreia (1950-1953), que ceifou mais de um milhão de vidas, em nome de mais uma batalha pelo “mundo livre”. Esse padrão de intervenção dos Estados Unidos será repetido em vários outros conflitos, relacionados com a Guerra Fria, na África, Ásia e América Latina Mattelart (1995) e Thussu (2010). Por sua vez, a União Soviética reagia transmissões destinadas a combater a propaganda ocidental norte- americana e a promover a ideologia socialista, como as transmissões destinadas à China: a Radio Moscou aumentou suas transmissões em mandarim de 77 horas por semana, em 1967, para 200 horas, em 1972. Esse breve resumo sobre os meios comunicacionais, ou meios de comunicação, criados no século XIX, e atuantes até os nossos dias, tem por propósito sublinhar como esses conglomerados comunicacionais, das agências de notícias internacionais ao rádio, constituem- se em poderosos veículos de difusão de visões de mundo, de divulgação de ideologias. Resultam, portanto, em segregação e verticalização do mundo e dos indivíduos que o habitam (THUSSU, 2010) em uma estrutura que evidencia a ordem e a subordinação em relação aos proprietários, representados por países que, por sua vez, representam os interesses de grupos políticos e/ou econômicos. Nesse sentido, Gramsci (1982) ilumina essa visão ao considerar que cada meio de comunicação apresenta uma corrente filosófica que, por sua vez, constituir-se-á em um lastro, em uma sedimentação. Essa sedimentação é o que alimenta e retroalimenta o senso comum12.

12O senso comum não é algo rígido e imóvel; ele se transforma continuamente, enriquecendo-se com noções científicas e com opiniões filosóficas que se penetram no costume. O “senso comum” é o folclore da filosofia, e 30

E isso sendo um denominador comum a todos os países, sem exceção. Nessa visão, todos os meios de comunicação são considerados ferramentas empregadas pelo Estado, no exercício de seus interesses, no exercício da dominação ideológica que, nesta sua forma, e segundo a visão marxista, atua como mais um meio imperialista de dominação13 (IANNI, 1976; SCHILLER, 1978; GATUNG, 1978). Ou, nas palavras de Marx e Engels: A moderna sociedade burguesa, surgida das ruínas da sociedade feudal, não eliminou os antagonismos entre as classes. Apenas estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das antigas. A nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se, entretanto, por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade inteira vai-se dividindo cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes diretamente opostas entre si: burguesia e proletariado. [...] O poder político do Estado moderno nada mais é do que um comitê (Ausschuss) para administrar os negócios de toda a classe burguesa. (MARX e ENGELS, 1848, p.67).

É a partir dessa perspectiva que podemos considerar que o uso dos meios de comunicação de massas, por parte das potências, no plano internacional, vai muito além da mera propaganda transitória mas configura uma prática, uma prática definida como diplomacia pública (public diplomacy). Em artigo sobre o tema, Cull (2006) resgata a origem do termo e sua constituição em conceito para apresentar aquela que ele considera como sendo a primeira (mas não a única) definição de diplomacia pública, quando em 1965 Edmund Guillon, fundador e primeiro reitor da Edward R. Murrow Center of Public Diplomacy, escreveu na brochura de apresentação da instituição:

Public diplomacy... deals with the influence of public attitudes on the formation and execution of foreign policies. It encompasses dimensions of international relations beyond traditional diplomacy; the cultivation by governments of public opinion in other countries; the interaction of private groups and interests in one country with another; the reporting of foreign affairs and its impact on policy; communication between those whose job is communication, as diplomats and foreign correspondents; and the process of intercultural communications14.

Essa definição não difere muito daquela proposta por Gilboa sobre diplomacia pública na era da informação, na qual ele identifica três tipos principais de uso, e de resultados, das mídias por parte da política externa e das negociações internacionais: public diplomacy, media ocupa sempre um lugar intermediário entre o folclore propriamente dito (isto é, tal como é entendido comumente) e a filosofia, a ciência, a economia dos cientistas. O senso comum cria o futuro folclore, isto é, uma frase relativamente, enrijecida dos conhecimentos populares de uma certa época e lugar (GRAMSCI, 1982, p.178). 13O imperialismo é compreendido como uma forma de domínio de relação entre coletividades, particularmente, entre as nações (LENIN, 1975). Por vezes, o imperialismo é visto como um sistema sofisticado de dominação do capital privado e que transpassa as fronteiras. Geralmente, o imperialismo é abordado pela dicotomia entre nações centrais e nações periféricas cuja relação é evidenciada de modo desarmônico, desigual, verticalizado e feudal (LENIN, 1975; GATUNG, 1978) 14https://en.wikipedia.org/wiki/Public_diplomacy 31 diplomacy e media-broker diplomacy. No primeiro caso, diplomacia pública, atores estatais e não estatais utilizam as mídias e outros canais de comunicação para influenciar a opinião pública internacional. No segundo caso, os governos utilizam as mídias para se comunicar com os atores e promover resoluções de conflitos. No terceiro caso, os jornalistas assumem, temporariamente, o papel de diplomatas servindo como mediadores nas negociações internacionais (GILBOA, 2001). Em vista da pesquisa realizada para este trabalho é que adotamos a perspectiva de considerar que a problemática da comunicação, da cultura e da política externa são vasos comunicantes e se realizam dentro de uma única esfera (LESSA: draft, s/d). Para os estudos de Comunicação, a tendência é “[...] na sua vertente crítica [...] indagar-se sobre as funções dos meios no próprio processo de acumulação de capital, com o que prioriza, ora a problemática da publicidade, ora a dos meios de comunicação de massa como locus privilegiado da acumulação de capital no atual estágio do desenvolvimento do capitalismo.” (BOLAÑO, 2000, p. 17).

1.4 ECONOMIA POLÍTICA, INDÚSTRIA CULTURAL, HEGEMONIA

No capítulo O iluminismo como mistificação das massas constante do ensaio Dialética do Esclarecimento, de 1942, Adorno e Horkheimer analisam que:

A cultura contemporânea a tudo confere um ar de semelhança. Filmes, radio e semanários constituem um sistema. Cada setor se harmoniza em si e todos entre si. [...] Toda a cultura de massas em sistema de economia concentrada é idêntica, e o seu esqueleto, a armadura conceptual daquela, começa a delinear-se. Os dirigentes não estão mais tão interessados em esconde-la [...] O cinema e o rádio não tem mais necessidade de serem empacotados como arte. A verdade de que nada são além de negócios lhes serve de ideologia. [...] O cinema e o rádio se autodefinem como indústrias [...] (ADORNO e HORKHEIMER, 2002, pp. 7-8).

A partir dessa perspectiva, nesse texto fundador no qual os autores criam o conceito de indústria cultural (Kulturindustrie), é impossível se ignorar os vínculos existentes entre os interesses econômicos e políticos, nacionais e estrangeiros, que envolvem o setor dos meios de comunicação. Adorno e Horkheimer explicitam ainda que:

A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria dominação, é o caráter repressivo da sociedade que se auto-aliena. Por hora a técnica da indústria cultural só chegou à estandardização e à produção em série, sacrificando aquilo pelo qual a lógica da obra de arte se distinguia da lógica do sistema social. Mas isso não deve ser atribuído a uma lei de desenvolvimento da técnica enquanto tal, mas à sua função na economia contemporânea. [...] Se a tendência social objetiva da época se encarna nas intenções dos diretores gerais, são estes os que integram originalmente os setores mais poderosos da indústria: aço, petróleo, eletricidade, química. Os 32

monopólios culturais são, em comparação com estes, débeis e dependentes. [...] A dependência da mais poderosa sociedade radiofônica em relação à indústria elétrica, ou a do cinema aos bancos, define a esfera toda, cujos setores singulares são ainda, por sua vez, co-interessados e economicamente dependentes.” (ADORNO e HORKHEIMER ,2002, pp. 9-11).

A indústria cultural, esse setor altamente lucrativo da economia capitalista contém, portanto, intrinsecamente, essa função alienante através de diversas formas - os meios de comunicação sendo apenas mais uma de suas partes. As divisões existentes entre alta, média e baixa cultura alimentam a desigualdade e tem estratégia e logística próprias para o setor: A estética representa nada mais do que uma forma de estímulo à violência já que enaltece ideias como repressão e subordinação. O desejo pelo consumo dos produtos expostos nas prateleiras mantém a divisão social. Porém, neste caso, a divisão se evidencia pelos processos de “inclusão” e pelo processo de exclusão.

A cultura é uma mercadoria paradoxal. É de tal modo sujeita à lei da troca que não é nem mesmo tocável; resolve-se tão cegamente no uso que não é mais possível utilizá-la. Funde-se por isso como a propaganda, que se tanto mais onipotente quanto mais parece absurda, onde a concorrência é apenas aparente. Os motivos, no fundo, são econômicos. É evidente que se poderia viver sem indústria cultural, pois já é enorme a saciedade e a apatia que ela gera entre os consumidores. Por si mesma ela pode bem pouco contra esse perigo. A publicidade é o seu elixir da vida. (...) Na sociedade competitiva, a propaganda preenchia a função social de orientar o comprador no mercado, facilitava a escolha e ajudava o fornecedor mais hábil, contudo até agora desconhecido, a fazer com que sua mercadoria chegasse aos interessados. Ela não só custava, mas também economizava tempo-trabalho. Agora que o livre mercado chega ao fim, entricheira-se na propaganda o domínio do sistema. Ela reforça o vínculo que liga os consumidores às grandes firmas. Só quem pode rapidamente pagar as taxas exorbitantes cobradas pelas agências publicitárias, e, em primeiro lugar, pelo próprio rádio, ou seja, quem faz parte do sistema, ou é expressamente admitido, tem condições de entrar como vendedor no pseudo mercado (ADORNO e HORKHEIMER, 2002, pp.70-71).

Outro ponto interessante, deve ser aqui mencionado, refere-se ao papel da imprensa escrita. Teixeira Coelho, em sua obra O que é Indústria Cultural, defende que a indústria cultural teria surgido com os primeiros jornais15. O autor reconhece, entretanto, que é somente no século XIX, com a Revolução Industrial e existência de uma economia de mercado,

15“A industria cultural só iria aparecer com os primeiros jornais. E a cultura de massa, para existir, além deles exigiu a presença, neles, de produtos como o romance de folhetim - que destilava em episódios, e para amplo público, uma arte fácil que se servia de esquemas simplificadores para traçar um quadro da vida da época (mesma acusação hoje feita às novelas de TV). Esse seria, sim, um produto típico da cultura de massa, uma vez que ostentaria um outro traço carcaterizador desta: o fato de não ser feito por aqueles que o consumiam. Para ter- se uma cultura de massa, na verdade, outros produtos deveriam juntar-se a esses dois, formando um sistema: o teatro de revista (como forma simplificada e massificada do teatro), a opereta (idem em relação à ópera)”, o cartaz (massificação da pintura) e assim por diante - o que situaria o aparecimento da cultura de massa na segunda metade do século XIX europeu. Não se poderia, de todo modo, falar em indústria cultural num período anterior ao da Revolução Industrial, no século XVIII. Mas embora esta Revolução seja uma condição básica para a existência daquela indústria e daquela cultura, ela não é ainda a condição suficiente.” (TEIXEIRA COELHO, 2006, p. 9). 33 baseada no consumo de bens, e, logo, numa sociedade de consumo, é que se pode, de fato, reconhecer a existência da indústria cultural: “Assim, a indústria cultural, os meios de comunicação de massa e a cultura de massa surgem como funções do fenômeno da industrialização.” (TEIXEIRA COELHO, 2006, p.10.) Teixeira Coelho (1996), defende que duas concepções devem ter destaque sobre a indústria cultural. A reificação, ou coisificação, e a alienação. A reificação ou coisificação tem por objetivo transformar os indivíduos em coisas, objetos que podem ser consumidos nas prateleiras de uma mercearia. A alienação é compreendida diante da possibilidade dos indivíduos serem trocados por um valor de moeda inferior ao valor de mercado. Isto é, o que recebem os proletários não permite sequer a possibilidade de comprar os produtos que os mesmos produzem nas fábricas. Umberto Eco, em sua obra Apocalípticos e Integrados (2001) aborda o debate sobre a indústria cultural identificando as duas concepções antagônicas em “apocalípticos” e “integrados”. Os primeiros repudiam toda e qualquer visão da indústria cultural, entendendo que há um estado de barbárie cultural que possibilita e acelera a adequação do homem à alienação (opressão do próprio homem). A divisão entre alta, média e baixa cultura evidenciaria ainda mais esta perspectiva de barbárie cultural na medida em que promove uma maior clivagem social. A cultura superior, ou alta cultura, é vista como uma cultura erudita que apenas consomem os que fazem parte da elite. A cultura inferior, ou cultura de massa, é representada por obras que apresentam elementos de homogeneidade, provocam emoções intensas e, por vezes, dependendo do contexto, emoções imediatas, que encorajam uma visão passiva e acrítica do mundo. A cultura média, ou midcult, corresponderia a uma espécie de equilíbrio entre a alta cultura e a baixa cultura. Geralmente pessoas da baixa burguesia são as que consomem esta última forma de cultura. É importante lembrar que as estruturas que pertencem à baixa cultura podem migrar para alta cultura e vice versa. Isto permite uma flexibilidade no âmbito da cultura. Os “integrados”, ao contrário, defendem a indústria cultural, reiteram que ela traz benefícios na medida em que permite o desenvolvimento do ser humano indistintamente. Diferentemente deste tipo de pensamento liberal evocado por Eco, a Teoria Crítica, a qual estão vinculados Adorno e Horkheimer, considera que a indústria cultural beneficia apenas a grande burguesia e o Estado liberal. Isso ocorre através do processo de alienação que cria meios e mecanismos para iludir o ser humano, reduzido a consumidor, como, por exemplo, através do conceito de liberdade, que objetivamente não existe posto que o sistema

34 de produção da indústria cultural tudo controla para a homogeneização e subordinação do indivíduo à ordem burguesa. Não obstante, a industria cultural permanece a indústria do divertimento. O seu poder sobre os consumidores é mediado pela diversão que, afinal, é eliminada não por um mero diktat, mas sim pela hostilidade, inerente ao próprio princípio do divertimento, diante de tudo que poderia ser mais do que divertimento. Uma vez que a encarnação de todas as tendências da indústria cultural na carne e no sangue do público se faz mediante processo social inteiro, a sobrevivência do mercado, neste setor, opera o sentido de intensificar aquelas tendências. [...] A diversão é o prolongamento do trabalho sob o capitalismo tardio. Ela é procurada pelos que querem se subtrair aos processos de trabalho mecanizado, para que estejam de novo em condições de enfrentá-lo (ADORNO e HOKHEIMER, 2002, p.32).

Os meios de comunicação, também segundo a perspectiva da Teoria Crítica, não apenas informam, mas comunicam. O ato de comunicar é o grande objetivo. Comunicar se deve ao fato de religar alguém a algo (WILLIAMS, 2005). O discurso proferido por um determinado veículo de comunicação traz impactos na sociedade de modo direto e indireto, independentemente, do formato e estilo adotados. É possível perceber e distinguir os tipos de transformação material não verbal que sobre os quais os meios de comunicação atuam. Por vezes, a comunicação funciona como amplificador funcionando como um megafone. Isto é, amplia algumas questões que não são contextualizadas, pormenorizadas, colaborando para um viés sectário. Às vezes, a mídia funciona como uma espécie de armazenamento, ou seja, os recursos diretos estão atrelados a uma linguagem não verbal. Por fim, os meios de comunicação operam de modo alternativo usando a transformação convencional dos objetos físicos como sinais (WILLIAMS, 2005, p.76). Por isso, a mensagem transmitida deve ser analisada e investigada sempre que possível. A problemática da cultura e da comunicação ganhou renovada atenção ao ser analisada por Althusser em artigo intitulado Aparelhos ideológicos de Estado. Neste artigo, Althusser resgata a definição marxista de Estado como “um aparelho repressivo”, “uma máquina de repressão que permite que às classes dominantes (no século XIX à classe burguesa e à classe dos grandes latifundiários) assegurar sua dominação sobre a classe operária, para submetê-la ao processo de extorsão da mais-valia (quer dizer, à exploração capitalista).” (ALTHUSSER, 1989, p.62), e define como “aparelhos ideológicos do Estado”, os sistemas religiosos, escolar, familiar, jurídico, político, sindical, “os meios informação (a imprensa, o rádio, a televisão etc...), a cultura (Letras, Belas Artes, esportes etc...).” Os “aparelhos ideológicos do Estado não se confundem com o Aparelho (repressivo) de Estado.” Duas diferenças distinguem os aparelhos ideológicos de Estado (AIE) do Aparelho (repressivo) do Estado: a primeira é que os AIE são, na maior parte, de domínio privado. Mas, sobretudo, o fato de que “o Aparelho

35 repressivo do Estado “funciona através da violência” ao passo que os Aparelhos Ideológicos do Estado “funcionam através da ideologia”. (ALTHUSSER, 1988, p.68). Ou seja, Se os AIE “funcionam” predominantemente através da ideologia, o que unifica a sua diversidade é este funcionamento mesmo, na medida em que a ideologia, na qual funcionam, está de fato sempre unificada, apesar da sua diversidade e contradições, sob a ideologia dominante, que é a ideologia da “classe dominante”. Se considerarmos que por este princípio a “classe dominante” detém o poder do Estado (de forma clara ou, mais frequentemente por alianças de classes ou de frações de classes) e que dispõe portanto do Aparelho (repressivo) do Estado, podemos admitir que a mesma classe dominante seja ativa nos Aparelhos Ideológicos do Estado (ALTHUSSER, 1988, pp.70-71).

Althusser concebe que “pouco importa” se as instituições que constituem os aparelhos ideológicos de Estado são públicas ou privadas : “O que importa é o seu funcionamento” e se ter em mente de que “nenhuma classe pode, de forma duradoura, deter o poder do Estado sem exercer ao mesmo tempo sua hegemonia sobre e nos Aparelhos Ideológicos do Estado [...] os Aparelhos Ideológicos do Estado podem não apenas ser os meios mas também o lugar da luta de classes [...].”. A luta pode ser dar entre a classe dominante e o proletariado, que “pode encontrar o meio e a ocasião de expressar-se neles, utilizando as contradições existentes ou conquistando pela luta posições de combate.” (ALTHUSSER, 1989, 71). Cada nação apresenta modelos midiáticos diferentes uns dos outros, e cada modelo midiático utiliza relações de simbiose com a política e vice-versa, contudo, se observa ao fim e ao cabo a economia tudo determina nas tomadas de decisões: Desde a escolha da cobertura até o enquadramento e a edição jornalística, por exemplo. Em algumas nações, os meios de comunicação passaram por mudanças importantes: maior ou menor controle do Aparelho do Estado, ou antes pertencentes ao setor estatal e depois passando para o setor privado etc. O que importa é se entender, como assinalou Althusser, o seu funcionamento e não se olvidar que neles também se expressam as contradições e a luta de classes pois eles operam e são estruturados como parte do sistema capitalista. Portanto, não estão acima dos interesses de classes, ou são independentes dos interesses representados no Estado. Não estão apartados da hegemonia da classe dominante, ainda que abriguem as contradições da luta de classes. Além de constituírem-se, ao mesmo tempo, em produto e meios de produção, desde suas formas físicas mais simples, como a linguagem, até às formas de tecnologias mais avançadas. Os meios de comunicação, tanto como produtos quanto como meios de produção, estão diretamente subordinados ao desenvolvimento histórico. Isso porque, primeiramente, os meios de comunicação têm uma produção histórica específica, que é sempre mais ou menos diretamente relacionada às fases históricas gerais de capacidade produtiva e técnica. E também é assim, em segundo lugar, porque os meios de comunicação, historicamente em transformação, possuem relações históricas variáveis com o complexo gerando às forças produtivas e com as relações sociais gerais, que são por eles produzidas e que as forças produtivas gerais tanto

36

produzem quanto reproduzem. E essas variações históricas incluem tanto as homologias relativas entre os meios de comunicação e as forças produtivas e relações sociais mais gerais quanto, mais especificamente, em certos períodos, as contradições gerais e particulares (WILLIAMS, 2005, pp.69-70).

Ou seja, segundo Williams, apesar dos veículos de comunicação serem meios de produção, os mesmos não deixam de ser uma forma de organização social na medida em que participam das relações sociais no cotidiano. As formas produção e reprodução ocorrem a partir da logística da infra-estrutura e da superestrutura. A superestrutura funciona como uma relação de reflexo, ou seja, imita ou reproduz a realidade de uma forma mais ou menos direta. Ao mesmo tempo, funciona como espécie de mediação tendo em vista que a superestrutura está atrelada ao domínio da cultura (filosofia). Porém, para nós a superestrutura mostra apenas uma parte do modo como transitam os meios de comunicação. Nesse sentido, a ideologia tem um destaque já que se mostra como um conjunto abstrato, principalmente, a partir dos nossos ideais, hábitos sociais, políticos e culturais. Entretanto, esses hábitos sofrem o processo de manipulação específico a partir de uma formação aberta que pode ser simplesmente removida (WILLLIAMS, 2005). De acordo com Althusser (1983), a ideologia é um sistema de ideias, de representações que dominam o espírito de um homem ou de um grupo social. Todavia, o autor faz duas divisões sobre o conceito de ideologia. A primeira tese defende que a ideologia representa a relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência, ou seja, visões de mundo. Deste modo, a ideologia não corresponde à realidade e, portanto, são constituídas de ilusões necessitando apenas, interpretá-las. A segunda tese defende que a ideologia tem uma existência material apresentada de diferentes formas, mas enraizada de modo físico. Por nossa parte, compreendemos que a ideologia se mostra das duas formas supracitadas, porém é a forma materializada a que mais nos interessa neste trabalho, principalmente quando esta materialidade está vinculada ao modo de produção. É importante destacar que mais do que a ideologia, a base, ou infra-estrutura, é o que buscamos enfatizar por entender que mesmo marcada pelas contradições e paradoxos existentes, resta que o principal objetivo da economia capitalista é sempre maximizar o lucro e o consumo dos consumidores.

1.5 HEGEMONIA CULTURAL E COMUNICAÇÃO

Quando os discursos proferidos pelas mídias apresentam características homogêneas, marcados pela ausência de contextualização e fundamentados por um viés apologético isso 37 dificulta a pluralidade de ideias, e impede que novas perspectivas sejam debatidas fazendo com que o leitor, ouvinte ou internauta tenham apenas a visão única que esses discursos oferecem. Essa problemática da hegemonia cultural, originalmente apresentada por Gramsci em “Cadernos do cárcere” e “Os intelectuais e a organização da cultura”, e o modo operante dos meios de comunicação, sobretudo do jornalismo na sua busca incansável pela hegemonia cultural, Gramsci aponta que tem sua origem nas escolas de jornalismo (Gramsci, 1982, 196). Essas primeiras escolas, segundo Gramsci, teriam o objetivo de eliminar o caráter “diletante” que envolveria os primeiros jornalistas e na busca da profissionalização do ofício, da criação de uma “profissão qualificada”, destacaram como predicativo da profissão sua “completa independência”, a qual, teria no jornal seu principal aliado para oferecer as condições de oferecer ao público informações e julgamentos independentes de quaisquer interesses particulares (GRAMSCI, 1982, p.196). Porém, alerta Gramsci, os meios de comunicação atuam de modo hegemônico. Essa hegemonia pode ser traduzida como uma repetição paciente, sistemática, como uma espécie de método. Nesse sentido, há um enaltecer do processo de repetição que alimenta o sentimento de adaptação de cada conceito às diversas peculiaridades e tradições culturais. O elemento de apresentação e representação são evidenciados a partir dos aspectos positivos e nas suas negações tradicionais cuja relação é marcada pelo aspecto parcial à totalidade (GRAMSCI, 1982, p.174). Portanto, é necessário enxergar, esmiuçar os meios de comunicação, o modo operante, as construções ideológicas que possam legitimar sua funcionalidade, seus argumentos e retóricas que evidenciem suas contradições. A hegemonia deve ser vista como um sistema central efetivo e dominante marcado por vários tipos de símbolos, signos e significados que não são abstratos, mas que, por vezes, estão materializados. Segundo Williams (2005), a hegemonia não pode ser entendida como mera opinião ou manipulação. Isto é, deve ser abordada como um conjunto de práticas e expectativas onde há um investimento energético. A hegemonia deve ser vista como uma estrutura que transmite suas visões de mundo. Devemos ter atenção ao estudo da hegemonia à medida que, por vezes, a forma como o conceito de hegemonia é transmitido perpassa uma sensação estática e abstrata. A hegemonia é dinâmica, ou seja, ela se molda diante de um processo social em curso. Esse dinamismo está atrelado à perspectiva de cooptar o maior número de indivíduos, da melhor maneira, de forma a atender o ideal de maximização do lucro da economia

38 capitalista que se organiza, no início do século XX, com forte concentração capitalista em direção a novos e longínquos mercados. Os grupos de monopólios capitalistas - cartéis, sindicatos, <> - partilham entre si em primeiro lugar o mercado interno, apoderando-se, de um modo mais ou menos absoluto, de toda a produção do seu país. Mas, em regime capitalista, o mercado interno está necessariamente ligado ao mercado externo. Há já muito que o capitalismo criou o mercado mundial. E, à medida que aumentava a exportação de capitais e que se foram alargando, sob todas as formas, as relações com o estrangeiro, com as colônias e com as <> dos maiores grupos monopolistas, a marcha <> das coisas levou estes a um acordo universal, à formação de cartéis internacionais. Esse novo grau de concentração do capital e da produção à escala mundial é infinitamente mais elevado que os precedentes (LENIN, 1975, p.85).

Nessa configuração da economia internacional, no início do século XX, marcada pela centralização econômica e prevalência do capital financeiro, a base econômica do domínio estadounidense havia adquirido um papel cada vez mais importante nas relações internacionais, transformando o “imperialismo cultural americano” em "dominação cultural corporativa transnacional", conforme o identificado por Schiller (1976) e Santos (2004). Nesse sentido, a América Latina foi durante anos uma das principais esferas de influência dos Estados Unidos, e de influência e propaganda da mídia norte-americana. No entanto, a revolução cubana mostrou os limites dessa dominação. Também evidenciou a perda dessa influência, e seus inúmeros impactos inclusive com ameaças do porte da crise dos mísseis até as diversas campanhas anti-Castro que vigoraram no mundo através de várias formas, como de programas de rádio como o popular Voz da América. Percebendo a dificuldade em desalojar do poder, multiplicavam os mecanismos que impedissem a difusão, especialmente no continente, dos valores e ideais socialistas, mas também do nacionalismo cubano e dos avanços sociais alcançados por Cuba. No contexto da Guerra Fria, os meios de comunicação adquiriram, portanto, fundamental importância no escopo da política de contenção, da disputa cultural entre as duas super potências. Aliado a isso, a dependência tecnológica dos Estados Unidos, ponderam Ianni (1975) e Schiller (1978), em muito facilitou com que muitas regiões do mundo adotassem a ideologia do American Way of Life, através da propaganda disseminada pelos veículos de comunicação mainstream, principalmente pelos programas de televisão, como um ideal de sociedade “naturalmente” exportado, sem outras intenções que a exportação de elementos do desenvolvimento tecnológico da potência hemisférica. No Brasil, como em toda a região da América Latina, o “imperialismo sedutor” galopante a partir da Segunda Guerra Mundial, visando promover o estreitamento das relações

39 americanas, principalmente através dos meios de comunicação (TOTA, 2000), deu lugar à guerra fria cultural (SAUNDERS, 1999) que perdurou por toda a Guerra Fria. Entre os anos de 1970 e 1980, no âmbito da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) foi realizado a publicação do relatório MacBride16 e do livro Um mundo e Muitas Vozes: Comunicação e Informação na Nossa época, que reportou as críticas aos domínios da comunicação global, ao imperialismo comunicacional e à hegemonia cultural das grandes potências sobre os países do dito Terceiro Mundo. A Comissão Internacional para os Estudos da Comunicação buscou apresentar as totalidades dos problemas da comunicação nas sociedades modernas. Nesse sentido, era necessário romper com a forma engessada e verticalizada pela qual as mídias eram concebidas. Assim foi publicada uma Nova Ordem Mundial da Comunicação e da Informação (NOMINIC), que deveria apontar as condições práticas para as mudanças almejadas (UNESCO, 1983, XIII). Segundo a UNESCO (1983), os meios de comunicação buscavam uma “justiça”, uma “equidade”, uma “reciprocidade” no intercâmbio das informações, com menos dependência em relação às correntes de comunicação, menos difusão de mensagens em sentido descendente, maior “auto-suficiência” e identidade cultural local, e maior número de vantagens para toda a Humanidade (UNESCO, 1983, XIII). Essa mudança de abordagem expressa no NOMINIC e registrada pela UNESCO não é resultante de uma evolução progressista dos conglomerados comunicacionais, ou de iniciativas altruístas e voluntárias por parte das grandes potências em relação a seus AIE, mas tem sua origem no combate ao imperialismo e ao neo-colonialismo, nas lutas pelo desenvolvimento econômico das regiões secularmente exploradas. Elas refletem parte dos embates da Guerra Fria e expõem as lutas anti-sistêmicas que possuem marcos como a Conferencia de Bandung (1955) e o Movimento Dos Países Não Alinhados. Assim, a despeito das tentativas apaziguadoras e reformistas em direção ao Terceiro Mundo, inclusive através da ONU, como, por exemplo, a criação da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com o declarado fito de “estimular a cooperação” entre as grandes potencias e os países da região da América Latina e do Caribe,

16 Relatório que aborda através da coleta e da difusão da informação ou sobre os meios de comunicação e os principais problemas associados a eles. Partindo desde uma perspectiva histórica, sociológica e política. Mais de 16 membros participaram de diversas partes do mundo com pensamentos dos mais diversos buscando construir em medidas concretas as práticas realizadas pelos conglomerados comunicacionais. Era preciso romper com a antiga ordem e criar uma nova que possibilitasse a mudança tanto na forma de se fazer comunicação como na forma prática (UNESCO, 1988, XII-XIII). 40 nem por isso regiões inteiras da Terra deixaram de manifestar-se contra o status quo da época. E esse novo paradigma de ação, “cooperação”, cooperação para a “conversão ao desenvolvimento” apoiado na “assistência técnica” tem, naturalmente, seus conhecidos equivalentes norte-americanos, como a USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, criada em 1961), entre outros, que se estruturam no escopo da Guerra Fria, da política de contenção e do imperialismo denunciado por tantas correntes políticas e intelectuais desde os anos 1950, pelo menos no que concerne a América Latina17. No âmbito da CEPAL, por exemplo, foram reunidos nomes do pensamento desenvolvimentista latino-americano, como Raúl Prebisch (segundo secretário da Agencia, com mandato entre 1950 e 1963) e Celso Furtado, defensores da industrialização regional como condição essencial para o desenvolvimento econômico e social da América Latina. Mas essa “visão clássica cepalina”, de origem keynnesiana, logo passou a ser criticada, a partir do final dos anos 1960, através da teoria da dependência que, para os nossos fins, deve ser aqui referida por conta de sua visão acerca da

Dinâmica do capitalismo mundial que forja o subdesenvolvimento como produto do desenvolvimento das forças produtivas globais, ou melhor, das economias dos países do centro capitalista. É a contradição de dependência dos países da periferia que perpetua e até mesmo acentua o seu subdesenvolvimento. O esforço de modernização por meio da industrialização substitutiva - estratégia defendida por economistas como Celso Furtado - é incapaz de tirar a periferia do atraso e da dependência. O intercambio desigual, a ação das multinacionais e a hegemonia dos países capitalistas centrais produziriam um mecanismo de extração do excedente produzido na periferia, uma modalidade internacional do conceito de exploração. Impossibilitados de apropriar-se do excedente produzido localmente, os países pobres nunca teriam os recursos necessários para seu desenvolvimento e não conseguiriam reduzir o gap (econômico, tecnológico, militar) que os separa dos países ricos e os condena à dependência: “A característica mais importante do sistema mundial é que, ao funcionar como um todo integrado, extrai excedente econômico e transfere riqueza da periferia dependente para os centros imperiais” (NOGUEIRA e MESSARI, 2005, p.118).

A teoria da dependência, a partir da década de 1970, gerou a perspectiva da teoria da dependência cultural ou do imperialismo cultural, cujo conjunto de contribuições tiveram

[...] importância fundamental no debate sobre os fluxos internacionais de informação, na denúncia das formas de dominação a eles relacionadas e sobretudo na histórica luta pela adoção de uma nova ordem informativa internacional que se desenrolou durante toda a década de 70, culminando com a saída dos E.U.A. da UNESCO em 1983 [...] Durante todo esse processo, o papel desses teóricos latino- americanos foi central. [...] Mas é preciso reconhecer que do ponto de vista teórico,

17 A USAID foi alvo de denúncias e críticas que associavam a Agencia à CIA e suas atividades fora dos Estados Unidos. 41

as teorias da dependência ou do imperialismo cultural são extremamente limitadas (BOLAÑO, 2000, p.130).

No entanto, a crítica a essa perspectiva analisa que a teoria da dependência cultural, ao aplicar à análise dos meios de comunicação de massa o conceito althusseriano de aparelhos ideológicos de Estado (AIEs), considera que esses “cumprem a função ideológica de reforçar o caráter dependente das relações de produção” mas que a despeito de seu

[...] inegável mérito em denunciar o processo de dominação, mostrando que este não se esgota nos métodos puramente repressivos, mas se insinua pelos caminhos tortuosos do requinte ideológico [...] Tal como acontece com sua matriz [as teorias da dependência], a importância histórica da noção de “dependência cultural” reside, portanto, em sua proposta de superação de abordagens do tipo evolucionista e funcionalista, onde o “atraso”, visto em termos quantitativos, correspondia ao estágio “atrasado” do desenvolvimento. Com o tema “dependência”, pela primeira vez a sociologia da América Latina não propunha o “desenvolvimento” como solução ao “subdesenvolvimento”; aliás, apontavam-se as falhas – os atrasos – como resultado das contradições do próprio modo de produção. Considerando-se o prisma desenvolvimentista, até então vigente na mesma sociologia, dava-se um passo à frente de inegável valor histórico. Da mesma maneira, a teoria da “dependência cultural” busca superar o “desenvolvimentismo” através de uma visão crítica do capitalismo, mais especificamente, de sua fase imperialista (SARTI, 1979, pp.235- 236).

Bolaño retoma a discussão acerca do tema da dependência cultural, em obra de 2014, para pontuar “que não há possibilidade de compreensão da teoria da dependência cultural sem rever a teoria da dependência”, ou se ignorar a contribuição de Celso Furtado sobre

[...] a problemática da cultura, da dependência, do desenvolvimento e do subdesenvolvimento [.... tratada por Furtado] de forma bastante mais complexa, incluindo [...] uma sofisticada teoria da dependência cultural muito distinta daquela que prevaleceu nos anos 1970 no campo da comunicação. [...] O conceito de dependência cultural elaborado por Furtado está na origem das teorias da dependência e é completamente alheio ao determinismo das teorias analisadas por Ingrid Sarti – mesmo porque, na formulação furtadiana, a dependência cultural não é determinada pela dependência técnica e produtiva, antes pelo contrário (BOLAÑO, 2014, pp.84-84).

Segundo Bolaño, Furtado estabelece uma crítica à hegemonia norte-americana não apenas no plano político-militar, ou monetário-financeiro, mas fundamentalmente no econômico e cultural mais amplo e atribui ao conjunto dos padrões de consumo, de estilos de vida e de comportamentos, que se redefine em nível global, a promoção de uma ampla americanização do planeta.

Nessas condições, diversos países periféricos passarão a participar de uma divisão internacional do trabalho renovada, na qualidade de exportadores de manufatura. Isso, contudo, não elimina a dependência, que, ao contrário, se aprofunda, 42

enraizando-se no sistema produtivo, em razão do estilo de desenvolvimento adotado, comandado, mais uma vez, pela dinâmica da demanda de produtos finais, de caráter imitativo. Trata-se, portanto, de uma dependência cultural determinada pela forma como se incorpora a tecnologia no sistema produtivo dos países periféricos (BOLAÑO, 2014, p. 86).

Resta que é somente após a Segunda Guerra Mundial que se constitui a área da economia política da comunicação, criada por Dallas Smythe e Hebert Schiller, com o fito, segundo seus criadores, de discutir a democratização dos meios de comunicação social no mundo. Na Europa, os primeiros estudos da área tiveram por foco temas como a teoria da modernização, o imperialismo cultural e as teorias do sistema-mundo. E somente após 1980 é que os estudos sobre a mídia eletrônica ganharam destaque e se interessaram sobre as relações centro-periferia. Segundo Mosco, após 1980, os estudos midiáticos buscam articular as influências do capitalismo, baseados em concepções neoliberais, a partir da propriedade privada e do paralelismo político. No início do século XXI, observa-se uma nova tendência interessada em estudos sobre ativismo político a partir das redes sociais, e que contempla temas como liberdade de expressão, liberdade de imprensa e busca por um ideal de imprensa livre (MOSCO, 2009). Dessa forma, a economia política da comunicação passou a abordar uma grande quantidade de temas diversificados produzindo abundante literatura com diversas abordagens, interessadas em entender as relações sociais, e as relações de poder que constitui de modo recíproco a produção, passando pela distribuição e o consumo de recursos. No âmbito da cultura e da comunicação, porém, os estudos estão mais voltados, de modo crítico e dialético, para o funcionamento das práticas materiais, como a linguagem. Mas, alguns autores, como Grahan e Golding (1997), apontam como os meios de comunicação incidem sobre as vidas das pessoas a partir de dois modos: Primeiro, provocando um aumento das despesas monetárias com os meios de comunicação e atividades de lazer. Em seguida, funcionando como as principais fontes de informações sobre as explicações sociais e os processos políticos. Ou seja, todo o processo comunicacional evoluiu de forma complexa e sofisticada oferecendo amplos horizontes econômicos e políticos para os conglomerados comunicacionais e para a economia internacional. A o sistema de comunicação e sua tecnologia contribuem ainda mais para o processo de mercantilização já que possibilita uma maior expansão da informação sobre o circuito da produção, distribuição e venda. Estudos apontados por Vicent Mosco (2009) evidenciam que há um tipo particular de mercantilização do setor, chamada de mercantilização do conteúdo. Essa forma de mercantilização permite 43 que haja uma transformação das mensagens em sistemas de bits18 cujo intuito é tornar um sistema de produtos comercializável. A comunicação pode inclusive produzir um valor excedente na medida em que cria símbolos, imagens que buscam moldar a mente dos indivíduos. Guy Debord (2003) entende a mercantilização a partir da espetacularização da informação. Nesse cenário de teatro ou espetáculo circense, a mídia permite que a platéia (lê- se público) seja tratada como verdadeiros “palhaços”, e de forma a promover a despolitização do público através, sobretudo, da televisão. Nessa perspectiva, o jornalismo funciona como uma espécie de voyeurismo, ou seja, o jornalista não entende ou busca não compreender a importância do conteúdo que ele própria noticia ao seu público (BOURDIEU, 2005). Por suposto, poucas escolas de Comunicação estudam nos dias de hoje A política como vocação, artigo no qual Weber chama a atenção para a ausência de responsabilidade tanto por parte do jornalismo quanto dos jornalistas, que se portam como demagogos, ou seja, como os políticos profissionais19. E audiência das TVs, observa Mosco (2009), é fundamental na medida em que tornou-se outro elemento de mercantilização que ademais funciona como uma espécie de termômetro da “temperatura” dos meios de comunicação e de seu grau de influência e impacto. A mercantilização foi baseada em um sistema inflexível de entrega de um lote de canais de transmissão para a casa de um telespectador que paga por meio de um receptor e para um mercado através dos produtos anunciados no ar. Ele ascendeu a um sistema de entrega de programação genérica para uma audiência de massa que foi comercializada para os anunciantes para um preço por mil telespectadores. Cada passo para a digitalização da televisão tem refinado a mercantilização da conteúdo, permitindo o fluxo ser capturado ou, mais precisamente, para o produto a ser medido, monitorado e embalados em formas cada vez mais específica ou personalizada. A TV a cabo no início funcionou como um sistema de transmissão de mercantilização através da cobrança por mês para um conjunto de canais. Como este meio tornou-se digitalizados, empresas oferecem muitos mais canais e empacotá-los em muitas maneiras diferentes, incluindo a venda de conteúdo em uma base pay per view. Material entregue pela televisão, a Internet ou alguma combinação destes e de outros novos sistemas com fio e sem fio podem agora ser flexivelmente embalados e, em seguida, reembalados para venda de alguma forma relacionada com a transação medidos e monitorados pelo mesmo sistema digital. A capacidade enorme para expandir o processo de mercantilização não garante seu sucesso. Com a internet empresários aprenderam da maneira mais difícil que a cobrança por conteúdo tendo em vista que pode ser um negócio arriscado, de fato. Problemas técnicos de gestão, marketing e demanda do consumidor muitas vezes podem ficar no caminho (MOSCO, 2009, pp.135-136)20

18 Binary Digit é a tradução para a sigla BIT. Bit representa um dígito binário, ou seja, é a menor unidade de informação que pode ser armazenada ou transmitida. É geralmente usada na computação e teoria da informação. Um bit pode assumir somente 2 valores, como 0 ou 1. Os computadores são idealizados para armazenar instruções em múltiplos de bits, que são denominados bytes. 19 Se o jornalista como tipo de político profissional remonta a um passado considerável, a figura do funcionário de partido pertence a uma evolução das últimas décadas e, em parte, somente aos anos recentes. A fim de compreender a posição dessa figura na evolução histórica, teremos de nos voltar para uma consideração dos partidos e organizações partidárias (WEBER, 1919, p.69). 20 Tradução Nossa. 44

Nesse sentido, o controle dos meios de comunicação tornou-se um desafio fundamental no que concerne seus tipos e modelos, concentração, o controle e o grau de influência desses meios. O modelo formulado por Graham e Golding (1997a) é mais pertinente para dos processos de controle desses meios. Para os autores existem três formas de se entender a concentração dos meios de comunicação: A integração, a diversificação e a internacionacionalização. A integração é entendida a partir da fusão e da aquisição dos meios de comunicação, contudo, esta mesma integração funciona em dois modos: Horizontal e o vertical. O modelo de integração horizontal é aquele cujas empresas adquirem unidades adicionais no mesmo nível da produção. Isto é, as empresas conseguem consolidar, ampliar seu controle dentro de um setor da produção midiática alcançando a maximização de suas economias tanto em escala quanto em compartilhamento de recursos. Esse modelo funciona a partir da adesão das unidades empresariais em diferentes níveis. Portanto, as empresas com interesses numa fase da produção acabam por estender suas operações para outras fases com o fornecimento de matéria-prima, através do abastecimento de equipamentos, organização e distribuição de vendas. As conseqüências desta forma de administração empresarial comunicacional faz com que uma empresa de comunicação apresente menos vulnerabilidade em flutuações que o mercado possa apresentar. O modelo de concentração e controle é o da diversificação. Essa forma busca, por meio da aquisição e fusão de empresas maiores, adquirir uma maior participação numa gama de instalações de lazer e fornecimento de informação. Devemos destacar que através da diversificação, as empresas conseguem lidar com os efeitos de uma recessão que o mercado possa apresentar. Durante o processo da diversificação as empresas buscam a cada dia adquirir investimentos em conjunto, participações recíprocas e administrações de modo interligado. O modelo da internacionalização busca a partir da exportação e do investimento estrangeiro, principalmente, com os países que pertencem ao mundo em desenvolvimento. A lógica e o funcionamento deste tipo de modelo é a busca do custo mínimo e máxima audiência e receitas. O poder concentrado no mercado diminui o poder popular que a votação. Da mesma forma, quando poder cultural está concentrada nas mãos de poucos, como o caso quando um punhado de empresas possuem grandes jornais de uma nação, a radiodifusão, telecomunicações e empresas de informática, o voto é também claramente limitado no que pode realizar. Isto significa hegemonia ideológica. Deste modo, a hegemonia é perpetuada e defendida pelos mesmos donos do poder que controlam os meios mais substanciais de comunicação. Para que a democracia floresça, a sociedade precisa criar as condições para uma relativa igualdade e do

45

mesmo modo, fazer com que haja uma participação cívica através as esferas políticas, econômicas e culturais (MOSCO, 2009, pp.163-164)21.

As possibilidades econômicas do setor da comunicação são de tal ordem que facilmente se pode entender as razões da importância que os estudos de economia política da comunicação tem adquirido, já que os diferentes modos de mercantilização, de controle midiático, representam a busca pelo aumento de receitas e lucros dos conglomerados comunicacionais. As empresas midiáticas tentam a todo instante ampliar, homogeinizar o público, telespectador, e o próprio mercado. Principalmente, diante do processo de globalização que permite que o capital antes atrelado à burguesia-liberal seja transformado em capital monopolitsa e oligopoista. Quando olhamos para as agências de notícias internacionais percebemos o padrão fordista adotado e o modelo de alinhamento vinculado ao modo de produção, distribuição, venda e consumo vinculados a vertente Norte-Sul. Como já abordaram Chomsky & Herman (1988), ou apenas Chomsky (2003), há um investimento de patrocinadores para publicidade, valorizando uma "invasão eletrônica", especialmente no Sul global, ameaçando minar as culturas tradicionais e enfatizando o consumo globalizado em detrimento dos valores locais, regionais, ou nacionais.

Domínio dos Fluxos Globais Transnacional Geo-Cultural Hollywood Bollywood Phoenix MTV Al-jazeera ZEE TV Disney Telenovela Baidu.com BBC TeleSUR NHK Google Euronews MBC ESPN Korean Films Roj TV Wall Street Journal RTTV islamonline.net Quadro 1 Domínios dos Conglomerados Comunicacionais Mundiais Fonte: THUSSU (2005);

1.6 MODELOS MIDIÁTICOS EM PERSPECTIVA COMPARADA: O CASO DA AMÉRICA LATINA

Os modelos midiáticos formulados por Macini e Hallin sobre os diferentes tipos de mídias existentes oferecem uma tipologia que favorece à análise qualitativa comparativa entre

21 Tradução Nossa. 46 os meios de comunicação e entre os países. Em obras como “Media Comparring System”, de 2004, os autores apresentam três modelos bastante conhecidos e que consideram variáveis como o paralelismo político, modelos de regulação, grau de profissionalismo jornalístico, o papel do Estado, a relação entre a mídia e o Estado. É importante entender que cada modelo de comunicação não implica na minimização das particularidades de cada país, são apenas ponto de partida para se considerar em relação ao modelo vinculado à América do Sul. Nosso objetivo também não será minimizar, mas evidentemente apresentar as características que estão evidenciadas de um modo geral, respeitando-se as particularidades de cada nação. O primeiro modelo é o modelo Pluralista Polarizado ou Mediterrâneo. Esse formato está presente em países pertencentes ao sul da Europa. Nações como Espanha, Portugal, Itália, França22 cujo modelo de regime democrático aconteceu de modo tardio. Países como Grécia, Portugal e Espanha somente deixaram o regime autoritário pós 1975. Em termos de mercado midiático, nesses países a imprensa é relativamente fraca dependendo, por vezes, de insumos do Estado. Geralmente, os jornais de circulação diária são pertencentes a partidos políticos ou à Igreja e atuam de modo comercial. Outra característica é que esses países são marcados por um alto paralelismo político23 fortemente politizado. Também apresentam sistemas de radiodifusão pública e vinculados a partidos políticos. A instauração de conselhos midiáticos foi geralmente tardia, com exceção da França que em 1964, durante o governo De Gaulle, criou o Conselho Superior de Audiovisual (CSA). Por fim, os padrões jornalísticos que foram desenvolvidos nesses países não representam uma instituição autônoma pois, geralmente, a região é governada por forças externas, principalmente, pelo mundo político e dos negócios. No que concerne a relação entre a mídia e Estado, se considera a combinação de tradições autoritárias e democráticas do Estado de bem estar social. O modelo pluralista polarizado entende que a capacidade do Estado de intervir de forma eficaz é limitada tendo em vista a falta de consenso político que, por vezes, surge além da existência de relações clientelistas24. Nesse modelo midiático, a regulação da mídia é compreendida pelos autores de

22 Exceção. 23 Entre o fim do século XVIII e início do século XIX, o jornal começou a emergir como uma força na política. A política jornalística estava vinculada a ideia de que a mídia pode influenciar a opinião pública em norma de uma facção política ou causa. O jornalista não tinha por objetivo servir a uma causa, mas ganhar dinheiro. Os meios de comunicação comerciais são instituições politicamente partidárias, critérios como objetividade, neutralidade e imparcialidade só funcionavam como elementos ideais. Na prática, os meios de comunicação operam por elementos tanto ideológicos, mas, sobretudo, econômicos. As mídias não comerciais surgem, por vezes dentro dos partidos políticos que acabam transmitindo visões de um determinado segmento (HALLIN e MANCINI, 2004). 24 O sistema clientelista refere-se a um padrão de organização social em que o acesso aos recursos sociais são controlados por clientes e entregas aos clientes em troca de várias formas de apoio. Clientelismo tende a ser 47 modo fraco. Isto permite que o sistema clientelista permita que a informação seja tratada como um recurso privado e não compartilhada publicamente.

A Espanha é um processo um tanto diferente. Na Espanha, os meios de comunicação estão cada vez mais dominado, e não por industriais com os seus interesses primários fora da mídia, mas por dois ampla multimédia conglomerados (Bustamante, 2000; Dader, 1998; Reig, 1998) que, no entanto, não têm fortes alianças políticas. Por muitos anos, a empresa dominante era PRISA, cujas interesses incluem El País, rádio SER e televisão por cabo e satélite, e cujo proprietário era próximo do presidente socialista Felipe González. Um império de mídia rival está agora a emergia em torno do antigo monopólio estatal de telecomunicações, a Telefónica de España, que foi privatizada sob o governo conservador Partido Popular. este conglomerado Inclui a empresa de televisão privada, a Antena 3, a rede de rádio Onda Zero e uma plataforma de televisão por satélite. El Mundo, um jornal que fez seu nome quebrar um série de grandes escândalos envolvendo o governo PSOE, é parcialmente propriedade da Telefônica e da mesma forma é alinhado com o governo Partido Popular Os dois meios impérios se tornaram rivais intensos, tanto na política como no mundo comercial. O ABC jornal conservador e rede de rádio da Igreja Católica COPE são também alinhado com a Telefónica neste conflito, deixando alguns meios de comunicação nacionais fora dela. Os grandes bancos também têm laços com esses conglomerados e jornalistas espanhóis e meios de comunicação analistas frequentemente descrevê-los como grande potência nos bastidores (HALLIN e PAPATHANASSOPOULOS, 2002, p.6).

O segundo modelo é o Corporativista Democrático ou Norte/Central. Neste formato midiático países como a Alemanha, Áustria, Suíça e países escandinavos apresentam um alto paralelismo político, com forte influência e tendência a partir das divisões sociais partidárias. Os meios de comunicação, principalmente os jornais impressos, apresentam uma alta circulação. A Suíça, por exemplo, foi o primeiro país a estabelecer os princípios da publicidade e da liberdade de imprensa a partir da constituição de 1776. Este modelo é marcado por uma relação muito próxima entre a imprensa e a religião protestante, na medida em que o protestantismo é instrumentalizado como forma de propaganda. Em relação aos estudos entre Estado e mídia é importante dizer que o Estado é visto como aquele que tem responsabilidade de assegurar a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa garantidas na legislação. Nesta região da Europa, o liberalismo triunfante do início do século XIX logo limitou o poder estatal e permitiu que a mídia estabelece-se uma ligação entre o setor público, privado e o governo. Portanto, o Estado funciona tanto como financiador quanto como regulador, mas seu papel ainda é considerado fraco. Quanto ao nível de profisisonalismo midiático, os conglomerados comunicacionais refletem um alto nível de autonomia por parte dos jornalistas.

associado como instrumentos dos meios de comunicação tanto público, quanto privado. O sistema clientelista é entendido de modo resumido através da síntese: um voto para um benefício (HALLIN e MANCINI, 2004). 48

O Modelo Liberal ou Atlântico Norte, comum em países como Estados Unidos da América, Canadá e Grã-Bretanha apresenta uma imprensa precoce com alto nível de desenvolvimento, principalmente com a ampliação da imprensa comercial que se desenvolveu na América do Norte. O profissionalismo jornalístico é tratado com alto nível de desenvolvimento. Os jornalistas apresentam uma alta autonomia, mas ligada a princípios de objetividade25. Geralmente, os jornais liberais são mais orientados para o estilo informativo. As instituições formais e seus processos de auto-regulação são menos desenvolvidos. Nos conglomerados comunicacionais, a regulação ocorre de modo informal. Os quadros que seguem abaixo exemplificam os modelos midiáticos, os formatos, estilos e os modos como operam. Os modelos exemplificados pelos autores nos ajudam a evidenciar como caracterizamos os modelos midiáticos na América do Sul.

25 A objetividade como uma estranha exigência a se fazer nas instituições cuja origem e sobrevivência estão atreladas a perspectiva econômica. É uma estranha exigência a se fazer sobre o critério de objetividade à medida que percebemos, com intensa frequência, que os órgãos estão vinculados a trâmites políticos. A crença na objetividade é apenas a ideia de que se pode haver uma separação entre fatos e valores. Fatos são declarações sobre o mundo abertas a uma validação independente. Eles se colocam além das influências distorcedoras de quaisquer preferências pessoais. Os valores são entendidos como predisposições conscientes ou inconscientes de um indivíduo sobre o conceito e visão de mundo. São vistos de modo subjetivo e, portanto sem sustentação legítima sobre outras pessoas. Os jornais são diretamente dependentes das forças do mercado. Portanto, apelam sempre que necessário para a opinião popular. O valor da objetividade nasceu no jornalismo no século XX, mas surgiu com base numa mudança fundamental do jornalismo, que ocorreu no século XIXI, em que a primazia era dada aos fatos e não as opiniões (SCHUDSON, 2010; TRAQUINA, 2005a). 49

Modelos Midiáticos Regiões/Países Papel do Estado e o Sistema Paralelismo Político Profissionalização Indústria Jornalística de Mídia

Pluralista Polarizado ou França, Grécia, Itália, Forte intervenção do Estado ; Alto paralelismo político; Profissionalismo Sistema de mídia Mediterrâneo Portugal e Espanha; Subsídios são dados a Pluralismo Externo Fraco; jornais com baixa imprensa; marcado pelo comentário; circulação;Orientados pela elite política;

Corporativista- Democrático ou Dinamarca, Suécia, Noruega, Forte Intervenção do Pluralismo Externo; P Profissionalização Europa Setentrional Finlândia, Alemanha e Suíça; Estado, contudo a Historicamente a imprensa forte; Alta circulação de imprensa tem liberdade é partidária; Auto-regulação jornais; Indústria para exercer seu trabalho; A Política da radiodifusão institucionalizado; Jornalística precoce; Forte serviço público de é um sistema com radiodifusão; substancial autonomia;

Liberal ou Atlântico Norte Estados Unidos (jornalismo Domínio do Mercado ; Imprensa comercial neutra; Forte Circulação de jornais marcado pela orientação), Profissionalização; Médio Canadá e Inglaterra Jornalismo orientado para a Auto-Regulação, mas Desenvolvimento (jornalismo opinativo); Informação; Pluralismo não institucionalizado; precoce de circulação Interno; em massa da imprensa comercial;

Quadro 2 Modelos Midiáticos em Perspectiva Comparada Fonte: Elaboração própria com base HALLIN e MANCINI (2004)

50

Modelos Midiáticos Regiões/Países Papel do Estado e o História Política; Consenso ou Individual/ PluralismoLegal Racionalidade/ Sistema de Mídia Padrões de conflito / Governo Majoritário Organizado Autoridade Construção de Consenso

Pluralista Polarizado ou França, Grécia, Itália, Forte envolvimento Democratização Ambos Pluralismo Fraca Mediterrâneo Portugal e Espanha; do Estado; Forte Tardia; Organizado; Desenvolvimento envolvimento dos Pluralismo Polarizado; Forte papel dos de autoridade legal- partidos políticos; partidos políticos; racional; Clientelismo;

Corporativista- Dinamarca, Suécia, Forte Estado de Precoce O consenso é Pluralismo Forte Democrático ou Europa Noruega, Finlândia, Bem estar Social; Democratização; Predominantemente; Organizado; História desenvolvimento de Setentrional Alemanha e Suíça; Forte Envolvimento do Pluralismo Moderado; de pluralismo autoridade legal- Estado na Economia; segmentado; racional; Corporativismo Democrático;

Liberal ou Atlântico Estados Unidos, Estado marcado pelo Precoce P Predominantemente Representação Forte Norte Canadá e Inglaterra; Liberalismo; Democratização; Majoritário; Individual; desenvolvimento Fraco Estado de Bem Pluralismo Moderado; de autoridade legal- Estar Social; racional;

Quadro 3 Modelos Midiáticos m Perspectiva Comparada – Outros Níveis De Análise Fonte: Elaboração própria com base HALLIN e MANCINI (2004);

51

1.6.1 MODELO MIDIÁTICO LATINO AMERICANO

Os estudos sobre o modelo midiático latino-americano são baseados, em grande parte, em referências bibliográficas e análises da fatura do Observatório de Radiodifusão Pública na América Latina26 e contam pesquisas que mapeaiam as diversidades dos meios de comunicação existentes, sobretudo televisão e emissoras de rádio públicas, as respectivas logísticas, financiamentos, sistemas de gestão, possibilidades de participação social, assimetrias, e questões de responsabilidade editorial. Em termos de gestão da radiodifusão pública na região duas correntes devem ser destacadas: Uma de perspectiva norte americana e outra européia. Ambas tratam da relação cidadão e Estado (HALLIN e MANCINI: 2004). É importante destacarmos que a América Latina é caracterizada pelo patrimonialismo e pelo clientelismo. Grande parte das emissoras surgiram através de iniciativas estatais, e das instituições vinculadas ao Estado, marcadas, portanto, por forte dependência editorial e financeira, submetidas a mecanismos de transparência e accontability (ESCH; DEL BIANCO; MOREIRA, 2012). Segundo Esch; Del Bianco; Moreira (2012), os sistemas de TV e rádio tiveram origem a partir de duas lógicas de sistema público. A primeira teve início nas décadas de 1920 e 1930, com o sistema público associado a atores educativos e culturais. O segundo sistema público surgiu na década de 1940, com forte vínculo à agenda governamental e estatal. A programação deste sistema sendo articulada a partir de programas culturais e musicais. Os noticiários estavam vinculados ao Estado, contudo, ao longo do tempo, o conteúdo passou a ser convertido como porta voz dos governos da região. No que concerne a TV pública três modelos podem ser destacadis: 1) Modelo industrial ou empresarial, cuja direção executiva é sujeita à interferência política, o que colabora para casos de corrupção, casos cuja irresponsabilidade são incomuns e marcadas pelas descontinuidades com relação às metas a serem perseguidas. 2) Modelo de sustentabilidade econômica, com estratégia baseada em subsídios, ou seja, ignora-se os interesses pela audiência e não se estabelecem mecanismos para diversificar o financiamento. 3) Modelo da programação marcado por um grande público, que não se sente atraído pela programação fornecida pela emissora (FUENZALIDA, 1998). As condições limitadas de desenvolvimento na America Latina contribuíam para a manutenção de índices restritos de alfabetização na região, com uma população formada por grupos étnicos de origem e conformação cultural bastante diferentes entre si. Pela abrangência e penetração social, o rádio oferecia uma nova

26 Link: http://www.observatorioradiodifusao.net.br/

52

possibilidade de alcançar, por meio de escolarização suplementar, públicos não atendidos pelo sistema escolar formal, além de colaborar para vencer as longas distâncias, superando problemas de comunicação em regiões de acesso restrito. Esse vínculo original à idéia de superação do subdesenvolvimento é uma espécie de “mito fundador” do rádio educativo que inspirou / direcionou a maioria dos programas de educação a distância produzidos no Brasil, Colômbia, México, Bolívia e Venezuela a partir dos anos 50. Entendia-se que a solução para a pobreza social estava na modernização, isto é, na adoção das características e métodos de produção dos países desenvolvidos. Para multiplicar aceleradamente a produção e obter um rápido aumento nos índices de produtividade era imprescindível alfabetizar, elevar o nível educacional para facilitar a introdução de novas tecnologias. O rádio era considerado instrumento capaz de alargar o alcance da educação, por isso, durante décadas, temas relacionados ao ensino e à aprendizagem impregnaram as programações das emissoras radiofônicas. A partir das décadas de 60 o mesmo processo se repete nas primeiras emissoras de TV educativas que operam em instituições estatais, confessionais e universidades. (ESCH; DEL BIANCO; MOREIRA, 2012, p.76).

As tradições autoritárias da política latino-americana em geral, que somente apresentam uma democracia liberal recente, em grande parte mais para o final do século XX, é acompanhada por um alto grau de clientelismo que busca minar o desenvolvimento da massa horizontal organizada por partidos políticos, principalmente aqueles atrelados à classe trabalhadora. Os veículos de comunicação impresso, sobretudo os jornais, apresentam baixos níveis de circulação, e têm como tradição a formação de relatórios de defesa. Outra característica observada é que em grande parte esses meios funcionam como mecanismo da propriedade privada. O jornalismo é visto como uma profissão “autônoma”, com forte tendência subjetiva, com ênfase em comentários e opiniões. A região tem como característica o modelo de substituição por importados, comum à lógica das relações econômicas dos países de economia periférica, e em acordo com as práticas neoliberais, logo o sistema social é privatizado em sua grande parcela. De um modo geral, a indústria cultural da região nunca foi na sua essência autônoma haja visto que sempre houve uma dependência do mercado de massa e de sua relação com a base econômica (HALLIN e PAPATHANASSOPOULOS, 2002).

53

Modelos Midiáticos Regiões/Países Papel do Estado e o Sistema Paralelismo Político Profissionalização Indústria Jornalística de Mídia

Latino Americano América Latina Baixa intervenção do Estado; Alto paralelismo político; Profissionalismo Sistema de mídia jornais com Subsídios são dados a Pluralismo Externo marcado Fraco; baixa circulação; imprensa a partir do pelo comentário; Orientados pela elite política; Eestado;

Quadro 4 Modelos Midiáticos m Perspectiva Comparada – Outros Níveis De Análise Fonte: Elaboração Própria (2016);

Modelos Midiáticos Regiões/Países Papel do Estado e o História Política; Consenso ou Individual/ PluralismoLegal Racionalidade/ Sistema de Mídia Padrões de conflito / Governo Majoritário Organizado Autoridade Construção de Consenso

Latino Americano América Latina; Baixo envolvimento do Democratização Tardia; Ambos Pluralismo Organizado;Alto Desenvolvimento Estado; Pluralismo Polarizado; Forte papel dos partidos de autoridade legal- Forte envolvimento dos políticos; racional; partidos políticos; Clientelismo;

Quadro 5 Modelos Midiáticos Na América Latina – Outros Níveis De Análise Fonte: Elaboração própria (2016);

54

SEGUNDO CAPÍTULO: HISTÓRIA E ANÁLISE DA POLÍTICA EXTERNA DOS GOVERNOS DE HUGO CHÁVEZ (1999-2013)

2.1 A AMÉRICA LATINA DIZ NÃO AO NEOLIBERALISMO E AS CRÍTICAS AOS PROCESSOS DA GLOBALIZAÇÃO

Ao fim do século XX e início do século XXI, a região da América do Sul passou por grandes mudanças. Em 1994, as lutas contra-hegemônicas (movimento zapatista- México) que passaram a ter impacto e reflexão na sociedade, sobretudo, diante da assinatura do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA). No início dos anos 2000, novas turbulências puderam ser notadas a partir das manifestações contra a Organização Mundial do Comércio (OMC), o G7, o Banco Mundial e contra o Fundo Monetário Internacional (FMI) a partir dos protestos em Seattle (1999), Nice, Praga, Quebec, Davos (SADER, 2003; 2006). No Cone Sul, o Fórum Social Mundial (FSM) em Porto Alegre (Brasil) buscou de modo crítico, amparados nos movimentos antiglobalização, críticas aos modelos de poder descomunal das grandes corporações, o inconformismo dos países terceiro mundistas diante do elevado nível de desigualdade no mundo, do alto nível de pobreza (ANDERSON, 1995; MORAES, 2009). Os anos 2000 possibilitaram a ascensão de governos progressistas diante das campanhas eleitorais de Hugo Chávez (1999), de Luís Inácio Lula da Silva (2003), de Nestor Kichner (2002), Michele Bachelet (2005), Rafael Correa (2006), Fernando Lugo (2008) e Daniel Ortega (2006) tinham como comprometimento da redução das mazelas e desigualdades que assolavam a região da América do Sul (SADER, 2003; 2006; MORAES, 2009). Segundo Emir Sader em seu texto “A nova toupeira” informa que era preciso romper com todas as políticas neoliberais que desde o fim dos anos de 1980 e que ganharam destaque nos anos de 1990 através do Consenso de Washington27 permitindo

27 Em 1989, na cidade de Washington DC, nos Estados Unidos, funcionários do governo norte-americano e das organizações internacionais como, o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) especializados em assuntos latino-americanos denominado Consenso de Washington. De acordo com Batista (1994), o consenso buscou a partir da cooperação financeira externa, bilateral e/ou multilateral fazer com que a mensagem da política externa de Ronald Regan (1981-1989)- então presidente norte-americano. Segundo o autor, Regan por meio do discurso “moderno” buscava reformas estruturais econômicas contra o anacronismo. Nesse sentido, campanhas pela desmoralização do modelo de desenvolvimento da CEPAL passaram a ser difundidos. Concepções como falência do Estado, incapacidade do Estado em solucionar políticas macroeconômicas e o convencimento de que a partir dos organismos internacionais poderiam vir às respostas e os anseios como o combate a inflação e a renuncia a autonomia nacional. Outra medida a ser adotada se dava pela

55 que a desigualdade, a pobreza, a dependência externa, a vulnerabilidade aumentassem ainda mais nos países vistos pelos mais desenvolvidos como atrasados. De acordo com o marxista Antônio Gramsci era preciso que o Estado reconquistasse seu espaço institucional e ético-político capaz de interagir com a sociedade fazendo com que o mercado passasse por uma disciplina (GRAMSCI, 2002; MORAES; 2009). Perrry Anderson (1995) afirma que o noeliberalimo teve sua gênese após o fim da segunda guerra mundial (1939-1945) tendo efervescência em países como os EUA e a região ocidental da Europa. Segundo o autor, o neoliberalismo tinha como inimigo mortal toda e qualquer política de bem estar social promovida pelo Estado. Seu auge enquanto política econômica se deu nos anos de 1970 na Inglaterra a partir do governo de Margaret Thatcher (1979-1990) e suas políticas de austeridade. Uma das questões que também norteava o pensamento neoliberal era a crítica ao modelo comunista da URSS e as políticas da social-democracia. Devemos destacar que as políticas neoliberais atingiram a região do continente sul-americano na chamada terceira onda de experimentações neoliberais tendo como consequências os elevados níveis de desemprego, repressões sindicais, privatização de bens públicos e a redistribuição de renda em favor dos mais ricos (ANDERSON, 1995). Para Emir Sader (1995) desde os anos de 1930, a América Latina já vinha buscando percepções nacionalistas que reproduzisse a concepção antiimperialista tendo em vista a dificuldade de sua inserção no sistema internacional. Na América Latina, o nacionalismo reproduziu o antiliberalismo político e econômico, mas assumiu uma posição anti-imperialista, pela própria inserção da região na periferia – no nosso caso, norte-americana, o que nos situou no campo da esquerda. No entanto, as transferências mecânicas dos esquemas europeus do fascismo e do antifascismo, naquele período, levaram alguns partidos comunistas (no Brasil e na Argentina, por exemplo) a, em certos momentos, caracterizar Juan Perón e Getúlio Vargas como reprodução do fascismo na América Latina, portanto, identificados como os adversários mais ferrenhos a ser combatidos. O Partido Comunista da Argentina, por exemplo, aliou-se contra Perón, nas eleições de 1945, não apenas com o candidato liberal, do Partido Radical, mas com a Igreja e a Embaixada norteamericana, segundo a orientação de que vale toda aliança contra o inimigo maior, isto é, o fascismo. A confusão maior se dá não apenas em relação ao nacionalismo, mas também ao liberalismo, que na Europa foi a ideologia da burguesia ascendente, mas na América Latina as políticas de livre-comércio do liberalismo eram assumidas pelas oligarquias primário- exportadoras (SADER, 2013, p.95).

adesão do dólar como moeda nacional. Empréstimos seriam concedidos a taxas de câmbio flutuante. Poderíamos enumerar dez pontos principais do consenso. São eles: 1. disciplina fiscal; 2. priorização dos gastos públicos; 3. reforma tributária; 4. liberalização financeira; 5. regime cambial; 6. liberalização comercial; 7. investimento direto estrangeiro; 8. privatização; 9. desregulação; e 10. propriedade intelectual (BATISTA, 1994, pp.5-10).

56

Para além do governo cubano, o governo de Hugo Chávez foi o primeiro após exaustivos anos de neoliberalismo, a romper com esta visão política econômica social. Após a queda de Carlos Andrés Perez e o fracasso do governo de Rafael Caldera, Hugo Chávez e, sua proposta de um socialismo do século XXI, ganhou importância e impacto na Venezuela. A América Latina passava assim, por um novo desenho geoestratégico e geopolítico, não apenas na região, mas na arquitetura do sistema internacional. Somado as visões neoliberais, a América Latina necessitava compreender os impactos que a globalização trouxera ao longo dos anos. Já apontava Milton Santos (2008), a real globalização é perversa, desigual, aumenta a pobreza, apresenta novas enfermidades, acentua a elevada e expressiva mazela, o elevado baixo nível educacional. Uma globalização que vem proveniente da história do capitalismo e suas empreitadas crises sistêmicas antecipadas e sucedidas marcadas pelas tiranias dos discursos e da informação. No entanto, há que se destacar a existência da globalização contra hegemônica caracterizada por um conjunto de vastas redes, iniciativas, organizações e movimentos que lutam contra as consequências econômicas, sociais, políticas. Nesta concepção sobre a globalização é necessário propor alternativas que tenham como epicentro a luta contra a exclusão social compreendida como subproduto das relações de poder desiguais (SOUSA SANTOS, 2005; 2008).

2.2 ELEIÇÕES ESPETACULARES: A CHEGADA DE HUGO CHÁVEZ A PRESIDÊNCIA DA VENEZUELA- A QUINTA REPÚBLICA “Patria, Patria Patria querida, tuyo es mi cielo, tuyo es mi sol...” (CHÁVEZ, 2013).

A chegada de Hugo Chávez a presidência da Venezuela pôs fim a chamada Era do Pacto de Ponto Fijo28. Como é sabido o período da Era do Pacto de Ponto Fijo

28 O Pacto de Punto Fijo tinha a pretensão de reduzir as diferenças ideológicas e pragmáticas entre seus signatários e lanças as bases para uma convergência de interesses que tinha como ponto de apoio o domínio do aparelho do Estado. Na prática, se converteria, mais tarde, num acerto entre AD e Copei e um terceiro partido, de acordo com sua força eleitoral de momento. O pacto representou um jeito de acomodar na planilha do poder as diversas frações da classe dominante, incluindo aí o capital financeiro, as empresas de petróleo, a cúpula do movimento sindical, a Igreja e as Forças Armadas. Além disso, esforçava-se por definir uma democracia liberal simpática aos Estados Unidos. Este grande acordo político-institucional de uma economia baseada na exportação de petróleo. Além de abrigar os interesses das elites, visava a amortecer os conflitos sociais mediante lenta, porém, constante, melhoria do padrão de vida da maioria da população. Clientelismo, fisiologismo e corrupção eram também as características de um tipo de dominação que, no reverso da medalha, reprimiria durante qualquer constatação mais consistente. Uma democracia dependente dos fluxos petrodólares (MARINGONI, 2008, pp.62-64). 57 representou as disputas bipartidárias entre o Comitê de Organização Política Eleitoral Independente (Copei) e a Ação Democrática (AD). Como bem lembra Valente (2012), o fim do Ponto Fijo não configura a era democrática, mas o fim de um período de alternância de poder entre o centro-direita. Numa curta retrospectiva histórica foi perceptível observar que os anos de 1980 modificaram ainda mais a Venezuela. Durante a gestão de Carlos Andrés Pérez, vinculado ao Partido Ação Democrática, com seu discurso anti Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e antiglobalização, as medidas submetidas foram de encontro ao discurso. Empréstimos e pacotes neoliberais passaram a ser instaurados no país somados a retirada de qualquer tipo de subsídio fornecido pelo Estado a população em geral. Uma vez eleito, Pérez reagiu à crise adotando um pacote de medidas neoliberais no início de 1989. No entanto, tais medidas não foram muito bem acolhidas pelos setores populares venezuelanos. A opção neoliberal inaugurada em 1989, que incluía um forte ajuste fiscal, privatização das principais empresas estatais, com exceção da petrolífera, e o enxugamento da máquina administrativa do Estado (em um país onde o Estado e suas empresas eram os principais empregadores), nunca suscitou o mesmo entusiasmo popular “que as políticas intervencionistas do passado (VILLA, 2005, p.156).

De acordo com Valente (2012), as insatisfações políticas e econômicas propiciaram para a instauração de uma convulsão social contra o governo de Carlos Andrés Pérez. Em Reação aos protestos de setores mais pobres da população, militares de modo repressivo dirigiram-se as ruas, em 27 de fevereiro de 1989, representando o movimento chamado Caracaço. Anos mais tarde, outras batalhas passaram a ser travadas entre o MBR 20029 e o governo de Carlos Andrés Pérez. Estoura o movimento Caracazo, no qual morreram cerca de 300 pessoas durante a repressão da população, gerando uma onda de protestos por todo o país, entre 1989 e 1992, ocorreram cerca de 130 protestos por mês no país. O descontentamento era claro entre civis e militares de baixa patente e o recurso à força prevaleceu sobre a tentativa de conciliação (NEVES, 2010, p.49).

Em 4 de fevereiro de 1992, uma nova rebelião contra o governo do presidente Carlos Andrés Pérez foi declarada. A operação Ezequiel Zamora, assim chamada, buscou tomar o poder por meio do Palácio de Miraflores, da residência oficial de La Casona, e da base aérea Francisco de Miranda em Caracas. No entanto, a operação veio a sofrer, a cerca de 12 horas, uma derrota. Apesar do fracasso da investida, os revoltosos conquistaram importantes ganhos políticos com a empreitada. Chávez assumiu a autoria das ações e foi

29 Movimento Revolucionário Bolívar 200 (MBR200, seu movimento político de origem da época de oficial), conclamassem a abstenção eleitoral (VILLA, 1999, p.159). 58

preso pelos militares. Sua rendição, no entanto, foi condicionada a uma aparição em rede nacional de TV para que pudesse pedir a seus aliados que baixassem as armas. Durante o discurso, o então desconhecido tenente revoltoso pediu que seus companheiros abrissem mão da força, pois aquele não era momento da mudança “por ahora” (por enquanto). O “por ahora” de Chávez rapidamente ganhou a simpatia popular, e ganhou a força de um slogan pela mudança. Chávez deixou de ser um tenente conspirador desconhecido do grande público para, pouco a pouco, se tornar uma liderança política alternativa ao sistema bipartidário. No momento de sua prisão, a popularidade do militar golpista girava em torno de 60%, quase o dobro da popularidade do presidente (VALENTE, 2012, p. 63).

Ainda que por meio de uma derrota, o MBR 200 conseguiu alguns ganhos políticos. Nas eleições em 1992, o partido La Causa conseguiu eleger parlamentares como o prefeito da cidade de Caracas, Aristóbulo Istúriz. Sobretudo, mediante a crise econômica- fruto de iniciativas neoliberais, a instabilidade política ganhou mais relevância. O alinhamento com o FMI e com os Estados Unidos fazia com que a Venezuela se afastasse cada vez mais dos países latino-americanos. Como exemplo, as relações conflituosas com o Haiti contra o golpe do presidente eleito Jean Betrand Aristide e com o Peru em virtude do golpe do realizado por Alberto Fujimori (VALENTE, 2012). O estopim do governo de Carlos Andrés Perez deu-se através das revelações, feita pelo Promotor Geral da República, Ramon Escobar Salom, aos jornais diários da região. De acordo com as matérias vinculadas aos jornais da época, o Procurador acusava o presidente de desvio de dinheiro, em média 250 milhões de bolívares foram retirados do fundo de despesas governamentais de responsabilidade direta do então presidente. A justificativa do presidente veio por meio de um discurso que objetivava financiar a campanha de Violeta Chamorro na Nicarágua. A Suprema Corte intimou o então presidente, porém o Congresso Nacional buscando inocentar deu-lhe cerca de 90 dias para que fosse inocentado das acusações. Em agosto de 1993, Carlos Andrés Perez foi afastado da presidência da república diante do impeachment sendo substituído pelo presidente interino Ramón José Velásquez até o fim do mandato presidencial de Carlos Peréz. Ainda durante aquele ano, uma nova eleição foi convocada fazendo com que Rafael Caldera que já havia sido presidente entre 1968 e 1974 conseguisse retornar a presidência da república através do apoio do Movimento ao Socialismo (MAS), o Partido Comunista da Venezuela (PCV) e algumas legendas centro-direita tornando-se a única opção cabível. A chegada de Rafael Caldera corroborou ainda mais as práticas econômicas neoliberais. A quebra do Banco Latino, a falta de crédito, a fuga de capitais, a inflação

59 descontrolada, corte nos gastos públicos, desvalorização da moeda nacional em 70% e o aumento do preço dos combustíveis em 800% representavam algumas das medidas neoliberais econômicas. O setor energético também sofreu duras crises a partir da desnacionalização do petróleo e a acentuada privatização das empresas fazendo com que milhares de pessoas tomassem as ruas de Caracas e em várias cidades do interior. Todas estas questões apresentadas permitiram que as eleições de 1998 sofressem mudanças (VALENTE, 2012, p.67). Caldera continuaria a agenda inaugurada por Pérez, aprofundando as medidas neoliberais sob o pomposo nome de Agenda Venezuela. A segunda gestão de Caldera, mais do que restituir o pontofijismo nos trilhos anteriores a 1989, aprofundou entre os setores sociais venezuelanos três sentimentos quase irreversíveis em relação ao sistema político: o desprestígio dos partidos políticos tradicionais e de suas lideranças, das quais Caldera era um ícone; uma sensação de que existia um vazio de poder incapaz de ser coberto pela elite política remanescente de 1958; e, por fim, o desejo dos setores populares, e mesmo da classe média, de renovar suas elites dirigentes para que estas fizessem funcionar novamente o sistema clientelista redistributivo que tinha operado até os anos de 1980 (VILLA, 2005, p.158).

Com a saída de Rafael Caldera da presidência da República em 1998 a Quinta República tem seu início a partir da chamada promulgação da Constituição de 1999 que permitiu que o combatente e general Hugo Rafael Chávez Frías chegasse à presidência da República. Porém, é necessário recapitularmos as eleições em 6 dezembro de 1998 já que naquele período Chávez havia conseguido já no primeiro turno, cerca de 58% dos votos para a presidência da república. Chávez conseguiu chegar ao poder com o apoio praticamente de todos os partidos de esquerda do país. Durante este período histórico, Hugo Chávez adquiriu apoio de cerca de 12 senadores e 42 deputados nas eleições parlamentares de 1998 (SERPA, 2013, p.137). Para Villa (2000, pp.149-150), o chavismo não emergiu como uma expressão guerreira clássica, mas segundo os descontentamentos e ressentimentos populares que buscavam ser canalizados por alguém que não tivesse qualquer tipo de vínculo político estabelecido. Naquela época, Chávez fez um discurso histórico, propondo um plebiscito que permitisse a modificação do Legislativo, moralizando a administração pública e promovendo uma redistribuição da renda nacional. Foi através do referendo que teve 87% de aprovação, convocado pela Assembléia Nacional Constituinte, em novembro de 1999, foi possível modificar a forma de gestão da República da Venezuela. O Referendo Aprobatório da Constituição conquistou 72% da população da Venezuela. Mediante aprovação, o nome do país passou por alteração passando a se chamar República Bolivariana da Venezuela (SERPA, 2013, p.137).

60

Figura 4 Campanha pelo Referendo Presidencial (1999) FONTE: SERPA (2013).

Durante este período, uma nova eleição foi pleiteada por Hugo Chávez cujo objetivo era permitir a autorização de novos procedimentos jurídicos. Durante os anos 2000, em junho, Chávez enfrentou mais uma nova eleição sendo reeleito para um mandato de seis anos com cerca de 56% dos votos. Não bastasse a conquista da eleição presidencial, Chávez conseguiu mais uma vez o apoio do parlamento venezuelano abocanhando uma fatia expressiva com cerca de 44% dos votos, elegendo 91 deputados pelo seu partido o MVR (SERPA, 2013, p.137). Naquele ano, Hugo Chávez fez sua primeira viagem presidencial internacional tendo como destino a região do Oriente Médio. Países membros da OPEP foram escolhidos como forma de fortalecer as relações entre as nações aumentando os preços oriundos do petróleo tendo em vista que o petróleo promoveria a estabilidade interna e a possibilidade de projetos integracionistas bolivariano (BARROS, 2007, p.89). O Iraque, na época governado por Saddan Hussein, foi um dos destinos escolhidos pelo comandante Chávez. Devemos destacar que os Estados Unidos não aceitaram com bom grado esta visita presidencial.

2.3 A POLÍTICA EXTERNA DA VENEZUELA DURANTE A ERA CHÁVEZ- UM REVISIONISMO PERIFÉRICO

61

A compreensão sobre os estudos e as análises sobre a política externa da Venezuela durante a Era Chávez é possível na medida em que revisitamos os 14 anos de governo. Durante este período, Hugo Chávez não teve a mesma postura e a mesma lógica de atuação e inserção da Venezuela na cena da política internacional. Portanto, foi preciso dividir estes períodos para compreendermos as principais questões da política externa. Segundo Rafael Villa (2005), era preciso refundar a República rompendo com as antigas estruturas internas que controlavam o país. Chávez compreendia que era preciso modificar a forma como a política externa era gerida, sobretudo, os anos 1980 e 1990, já que durante estes períodos os Estados Unidos eram vistos como os principais aliados. Segundo Guimarães (2008), entre 1999 a 2002 uma orientação discreta, mais independente dos Estados Unidos, passa a ser estruturada na política externa da Venezuela. Esta fase política da Venezuela é compreendida a partir de uma proposta simétrica e inversa à aquiescência pragmática dos anos de 1990. Nesse sentido, um revisionismo periférico passa a caracterizar a política externa da Venezuela tendo como propósito um revisitar a partir das relações assimétricas estabelecidas entre os Estados da Periferia com o status quo, com a potência dominante (GUIMARÃES, 2008; VALENTE, 2012). Ainda segundo os autores, o revisionismo periférico deve ser entendido segundo as diretrizes de um sistema orquestrado por atores unitários que possui uma tendência à multipolaridade em detrimento de uma unipolaridade frágil e instável. O revisionismo consiste aqui em tomar a unipolaridade como “status quo” insustentável e/ou insuportável, e que supõe certo tipo, algo aguerrido, de unidade sul-americana, composta com alianças externas pertinentes. (No quadro das acusações habituais americanas, o Irã aparece como esse aliado, mas a fragilidade do novo “polo” é tão grande quanto a da especulação propagandística. A China também é citada, mas decerto não se envolveria em aliança que se mostraria hostil aos Estados Unidos) (GUIMARÃES, 2008, p. 244).

Para Valente (2012), a Era Chávez, no âmbito de sua a política externa, deve ser vista a partir de duas questões: De um lado, o revisionismo periférico autonômico que vigorou entre 1999 a 2002 (primeira fase) e foi retomado entre 2009 a 2013 (terceira fase). Nestes períodos, uma postura revisionista, mas encabeçada por uma postura autonômica. Contudo, entre 2003 a 2009 (segunda fase) vigorou o revisionismo periférico antagônico. Neste momento histórico, existiu uma combinação de um revisionismo somado a uma postura antagônica.

62

Uma das diversas formas de se analisar a política externa de um determinado país é observar o papel do líder. Isto é, avaliar e analisar a construção enquanto indivíduo em sociedade. No âmbito da política externa, a forma como Hugo Chávez se pauta através dos seus discursos, em sua maneira de abordar determinadas temáticas onde há a reflexão e o questionamento quanto aos arranjos e as coalizões da arquitetura do sistema internacional. Deste modo, falaremos de maneira breve um pouco sobre a biografia30 de Hugo Chávez tendo por objetivo compreender a importância das convicções e visões de mundo que o líder venezuelano tinha e de que modo essas concepções são transferidas para a arena de decisão da política externa da Venezuela. Hugo Rafael Frías Chávez nasceu em 28 de Julho de 1954, na cidade de Sabaneta, no Estado de Barinas, oeste do país. Hugo Chávez filho de Elena e de seu pai Hugo de Las Reyes. Oriundo de família com baixo poder aquisitivo que buscou investir na educação dos filhos. Durante sua infância, Chávez teve acesso a literatura de Simon Bolívar a Vladimir Lenin. Em 1971, ingressou na Academia Militar da Venezuela não porque almejou ser piloto, mas porque tinha interesse em ser jogador de Beisebol. Chávez fez parte do time seleto de jogadores de Beisebol do Exército. Ainda durante suas atividades na Academia Militar Venezuelana, Chávez participou de diversos cursos. Foi também durante suas atividades na Academia Militar que Chávez recebeu condecorações como a Estrela de Coraboba, a Estrela de Cruz de Las Fuerzas Terrestres, a Ordem Militar Francisco de Miranda em sinal de suas atribuições e prestações de serviços bem desempenhados no Exército. Após este período ingressou no curso de Mestrado na Universidade Simon Bolívar onde obteve o título de Mestre em Ciência Política (1989-1990). Chávez ocupou diversas funções enquanto militar desde tenente do Exército (1977), passando por Capitão (1982), em 1986 tornou-se Mayor e chegou à patente de Tenente Coronel em 1990. De acordo com algumas biografias escritas sobre o comandante foi através de contatos com pessoas vinculadas a linha esquerdista e a pensamentos mais nacionalistas históricos que Chávez construiu sua figura enquanto líder de Estado venezuelano. Durante suas atividades enquanto militar, Chávez teve contato com o filho do peruano Omar Tonjos, Juan Velasco Alvorada que buscava através dos seus

30 Site da Biografia de Hugo Chávez feita pelo Ministério da Educação e da Comunicação da Venezuela. Disponível em http://www.minci.gob.ve/wp-content/uploads/2014/03/Hugo_Biograf%C3%ADa- infantil.pdf Acessado em 15/06/2016

63 pensamentos e ideais temas como a reforma agrária, crítica ao modelo elitista e o fortalecimento do nacionalismo foram exemplos de suas visões e concepções. Compreendemos o nacionalismo venezuelano abordado por Hugo Chávez durante sua gestão, enquanto presidente da República Bolivariana da Venezuela foi caracterizado pela retomada da historicidade de figuras como Simon Bolívar, Francisco Miranda e General Ezequiel Zamora31. Foi este nacionalismo externalizado por Chávez que buscou-se construir um imaginário Sul-Americano tendo como prerrogativa o fortalecimento da identidade da região (ANDERSON, 2003) Como foi percebido Hugo Chávez foi um líder que obteve certo destaque na política externa da Venezuela durante os últimos anos. Um líder considerado por alguns analistas como controverso. Oras visto como demônio, oras colocado como um salvador da pátria. Segundo Herman e Herman (1989), na categoria de análise de política externa de um país, o líder tem uma importância, principalmente, aqueles intitulados como líderes autocráticos. Isto é, aqueles que atuam na arena decisória da política externa de modo a influenciar e deliberar sobre determinadas questões a partir das suas convicções, suas crenças, visões de mundo. Como é sabido, Chávez tinha críticas aos Estados Unidos, então governado, por George W. Bush. Hugo Chávez compreendia os EUA como imperialistas, dominadores tendo em vista as diversas formas que se colocavam no mundo. O modo como operava geoestrategicamente e geopoliticamente no sistema internacional, com discurso pacifista, por vezes, representavam, na visão de Chávez, a forma cruel, individual e egoísta de obter lucros sobre os demais. Era preciso, segundo Chávez, romper com esta visão hegemônica.

2.3.1 A INFLUÊNCIA DE SIMON BOLÍVAR E DE PERÓN DURANTE A ERA CHÁVEZ: A CONSTRUÇÃO DO INIMIGO

Segundo a história, Simon Bolívar foi um aristocrata, venezuelano, general do exército espanhol quando ainda, a Venezuela era colônia da corte espanhola. Durante o século XIX, diversas batalhas foram realizadas tendo como objetivo a independência da Venezuela. Dentre as diversas guerras que foram travadas, algumas destacamos pelo seu impacto, relevância e pelos manifestos escritos. Em 26 de julho de 1812, através do

31 General de guerra durante a Batalha de Santa Inês em 10 de Dezembro de 1859. Durante esta batalha, no povoado de Santa Inês, o general Ezequiel, junto com seu comando de Federalistas, triunfou sob as tropas do General Pedro Ramos através da tentativa de provocar o inimigo atraindo de modo a gerar um contra- ataque (SERPA, 2013, p. 110).

64 manifesto de Cartagena Bolívar buscou por fim a chamada primeira república. O ano de 1813 proporcionou Simon Bolívar realizar uma campanha que buscava libertar a Venezuela de todas maneiras possíveis da coroa espanhola. Para Domínguez e Francechi (2010, p. 129) a campanha realizada por Bolívar teve êxitos sendo condecorado como libertador do povo e da nação. Após diversas derrotas contra a coroa espanhola, Simon Bolívar lançou o manifesto de Carúpano. De acordo com este documento, Bolívar afirmava que existia um complexo de vira-lata por parte das elites locais que não conseguiam sair da condição de demência. A condição de demência fazia com que pessoas da região através do uso de armas de fogo se voltassem contra os movimentos libertadores apoiando assim o centro tirano. Si el destino inconstante hizo alternar la victoria entre los enemigos y nosotros, fue sólo en favor de pueblos americanos que una inconcebible demencia hizo tomar las armas para destruir a sus libertadores y restituir el cetro a sus tiranos. Así parece que el cielo para nuestra humillación y nuestra gloria ha permitido que nuestros vencedores sean nuestros hermanos y que nuestros hermanos únicamente triunfen de nosotros. El ejército libertador exterminó las bandas enemigas, pero no ha podido ni debido exterminar unos pueblos por cuya idea ha lidiado en centenares de combates. _o es justo destruir los hombres que no quieren ser libres, ni es libertad la que se goza bajo el imperio de las armas contra la opinión de seres fanáticos cuya depravación de espíritu les hace amar las cadenas como los vínculos sociales (BOLÍVAR, 1999, p.4)32.

A Batalha de Urica representou mais uma perda das forças patriotas pelos militares ligado a coroa espanhola. De acordo com documentos e relatos históricos, as perdas desta batalha se deram diante da falta de suprimentos e de recursos para a guerra. Segundo Domínguez e Francechi (2010), entre 1815 a 1820 inúmeras batalhas ocorreram em busca da libertação da Venezuela. Em 1815, a partir da publicação da Carta da Jamaica ou Carta Profética o mundo passou a ter acesso às informações do pensamento político de Simon Bolívar sobre a questão da independência. Vou enviar-lhe um projecto de Constituição que formei para a República da Bolívia; em que nelas estão reunidas todas as garantias de permanência e da liberdade, da igualdade e da ordem. Se você e seus amigos gostariam de passar esta lei, seria muito conveniente para escrever sobre ele e recomendar à opinião do povo. Este é o serviço que nós podemos fazer para o país; serviço que irá ser admirada por todas as partes que não são exagerados, ou melhor, eles querem a verdadeira liberdade com verdadeira estabilidade. Caso contrário, eu não iria aconselhá-lo. Para fazer por si mesmos o que eles não querem a mim, mas se o povo quer, e você. Aceita a votação nacional, a minha espada e minha autoridade vai ser usado com infinita alegria em apoiar

32Manifesto de Carúpano. Disponível em http://blog.chavez.org.ve/wp- content/uploads/2010/09/manifiesto-carupano.pdf Acessado em 20/06/2016 65

e defender Decretos de soberania popular. Este protesto é tão sincero quanto o coração de seu amigo constante33 (BOLÍVAR, 1815, p.3).

Devemos destacar que as iniciativas de Bolívar não paravam. Em 31 de março de 1816, Bolívar promulgou o Decreto de Carúpano que permitiu a libertação dos negros em nome da República de acordo com a necessidade de incorporar mais homens ao campo de batalha contra a coroa espanhola. Em média, 800 homens e 14 embarcações participaram deste conflito armado. Este e os demais ideais de Simon Bolívar tinham um único propósito à busca pela emancipação nacional, a liberdade de valores, da busca pelo compartilhamento da língua, da religião, dos costumes e tradições. De acordo com Domínguez e Francechi (2010, p. 140), em 1819, através do Congresso de Angostura, Simon Bolívar foi consagrado Presidente da República e Francisco Antonio Zea como seu vice. O Congresso proporcionou a criação da Corte de Justiça, a promulgação de novas leis e de novos regulamentos. Anos se passaram e novas batalhas foram iniciadas. Porém, um feito foi realizado, a Gran Colômbia foi criada unificando a Capitania Geral da Venezuela e a região de Nova Granada. Esses territórios foram subdivididos a posteriori nos departamentos da Venezuela, Quinto e Cundinamarca. Era o fim da colonização espanhola na região e dava-se início a fase Colombiana (SERPA, 2013, p.87). Durante esta etapa Bolívar buscou a todo instante lutar contra a monarquia espanhola, mas não mais para a região da Gran Colômbia e sim por toda a região da América. Em junho de 1826, através do Congresso do Panamá, Bolívar pretendia consolidar a integração hispânico-americana, entretanto as iniciativas ao longo do tempo não tiveram êxito reverberando em grandes catástrofes como as novas guerras e batalhas de conflito armado com a coroa espanhola. Entre os anos de 1828, Bolívar viria a sofrer atentados contra sua vida tendo em vista as medidas impopulares tomadas que impulsionaram falas como ditador, centralizador. Simon Bolívar após tantas batalhas entre perdas e ganhos não regressaria para a região da Venezuela. Sua morte data de 1830, em Santa Marta, mas seus restos mortais somente regressaram a Venezuela em 1842. Em 1830, a Venezuela passaria por uma mudança após o Congresso da Constituinte, a nação se separou da Gran Colômbia.

33 Trecho da Carta da Jamaica- Tradução nossa.

66

Após a morte de Simon Bolívar deu-se início a chamada terceira República que compreende desde 1830 até 1958. Este período apresenta outras subdivisões e diversos entraves históricos. Assim sendo, de modo objetivo apresentaremos um panorama sobre este momento histórico da Venezuela. Marcelo Serpa (2013) afirma que durante esta etapa a Venezuela teve em média 26 constituições. Reformas menores e maiores passaram a existir inclusive o nome do país que passou a ser adotado Estado Unidos da Venezuela. Contudo, anos mais tarde, em 1953 retornou a denominação República da Venezuela tendo seu nome modificado a partir de 1998, durante o início da Era Chávez, intitulado República Bolivariana da Venezuela. No que concerne ao pensamento de Juan Domingo Perón34, Chávez foi influenciado, sobretudo, a partir da construção do inimigo. Este inimigo pode ser segregado em duas questões: De um lado, um inimigo35 da Pátria ou Apartidário e do outro um inimigo norte-americano que também deve ser combatido. Ambos inimigos devem ser combatidos sem distinção. Os inimigos não querem o crescimento, desenvolvimento, tampouco, buscam prosperidade ao contrário buscam acentuar ainda mais as desigualdades. A ideologia marxista também reforçou a compreensão sobre o inimigo. Em meio ao discurso, Chávez compreendia que o imperialismo necessitava ser combatido. Este imperialismo que era abarcado como uma forma de domínio da relação entre coletividades, particularmente, entre as nações (LENIN, 1975). Por vezes, o imperialismo também foi visto como um sistema sofisticado de dominação do capital privado e que ultrapassa as fronteiras. Foi por meio do imperialismo que a dicotomia entre nações centrais e nações periféricas passasse a nortear as relações entre os países de modo desarmônico, desigual, verticalizado e feudal (LENIN, 1975; GATUNG, 1978). Os grupos de monopólios capitalistas- cartéis, sindicatos, <> - partilham entre si em primeiro lugar o mercado interno, aponderando-se, de um modo mais ou menos absoluto, de toda a produção do seu país. Mas, em regime capitalista, o mercado interno está necessariamente ligado ao mercado externo. Há já muito que o capitalismo criou o mercado mundial. E, à medida que aumentava a exportação de capitais e que se foram alargando, sob todas as formas, as relações com o estrangeiro, com as colônias e com as <> dos maiores grupos monopolistas, a marcha <> das coisas levou estes a um acordo universal, à formação de cartéis

34 Militar, político e presidente da Argentina entre 1946 -1955 e ente 1973 a 1974. Discursos de Juan Perón na Argentina em 1945. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=G0EQQildKCE Acessado em 19/07/2016 35Discurso de Hugo Chávez no Fórum Mundial Social- Porto Alegre 2005. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=I5uAejoNDU0 Acessado em 19/07/2016

67

internacionais. Esse novo grau de concentração do capital e da produção à escala mundial é infinitamente mais elevado que os precedentes. (LENIN, 1975, p.85).

De acordo com Valente e Santoro (2008), uma formação amparada nas ideologias vinculadas ao pensamento da esquerda passa a constituir o discurso chavista. O Socialismo do século XXI proporcionou mudanças desde a perspectiva econômica como também as dimensões político-culturais. No campo doméstico houve o aumento do papel do Estado como regulador, como promovedor da inclusão social além de incentivador e fomentador. Quanto ao campo da política mundial, confronta o inimigo (Estados Unidos) 36 a partir dos discursos proferidos tanto nos organismos internacionais como por meio dos fóruns multilaterais. El Proyecto Nacional Simón Bolívar debe romper los límites de la farsa representativa, para avanzar hacia La conquista de nuevos espacios participativos en una primera fase de su desarrollo. Pero el objetivo estratégico debe ser la democracia popular bolivariana como sistema de gobierno. Y más aún, como expresión de vida económica, social y cultural Del modelo de sociedad original robinsoniano. (CHÁVEZ, 2013, p.76).

2.3.2 O REVISIONISMO PERIFÉRICO AUTONÔMICO (1999-2002)

Durante este momento histórico, a política externa do governo de Hugo Chávez não apresentou muitas diferenças aos demais presidentes anteriormente, no entanto algumas pequenas mudanças puderam ser notadas. Nesta nova configuração da Ordem Mundial, Hugo Chávez propusera que uma frente formada por cinco questões fossem estruturadas. De um lado a Venezuela buscaria uma aproximação mais intensa com o Grupo dos 15, com o Grupo do G-77, com os Movimentos dos Não-Alinhados, com o Grupo do Rio e com os esquetes da integração regional (BLANCO, 2002). Ao chegar à presidência da república, Hugo Chávez em suas primeiras medidas governamentais realizou algumas viagens a países pertencentes ao Oriente Médio como Líbia e Iraque ao mesmo tempo em que buscou articular com os países pertencentes a OPEP as oscilações quanto ao preço do barril do petróleo. No que concerne aos Estados Unidos à diplomacia venezuelana se manteve discreta e não antagônica, porém um certo distanciamento já pode ser observado ao mesmo tempo que, um diálogo com os países pertencentes a região da América Latina passou a ser mais intensificada. O objetivo com esta aproximação era fortalecer os

36 Disponível em http://minci.gob.ve/category/publicaciones-seccion/ Acessado em 20/07/2016 68 processos de integração regional. De acordo com Hurrell (1995), o regionalismo pode surgir como uma resposta aos desafios externos. Nesse sentido, a questão energética e a possibilidade de escassez desses recursos se tornaram, nas últimas décadas do século XX, um fator potencializador de iniciativas de integração regional no continente sul- americano. A Venezuela, durante a Era Chávez, mostrou a importância dada ao petróleo, ao gás natural e a produção de outros hidrocarbonetos a partir da criação da PetroAmérica (2001). A PetroAmérica foi concebida como uma ferramenta geopolítica e integracionista voltada tanto para a cooperação quanto para a integração, utilizando recursos energéticos do Caribe, da América Central e da América do Sul. Segundo a empresa estatal venezuelana, Petróleo da Venezuela e Sociedade Anônima (PDVSA), o objetivo da PetroAmérica é melhorar a perspectiva socioeconômica dos povos do continente. A PetroAmérica, projeto de integração sub-regional, conta com três iniciativas utilizando a energia como principal elemento: a Petrosul (Argentina, Brasil, Uruaguai e Venezuela); a Petrocaribe (os 14 países da região do Caribe), assinada em 2005; e a PetroAndina (Bolívia, Equador, Colômbia, Peru e Venezuela) (FONTES e RENNI, 2016).

300.000

250.000

200.000

150.000

100.000

50.000

0

Gráfico 1 Reservas Provadas De Petróleo Dos Membros Da Opep, 2014 (Mil Barris) Fonte: OPEP (2015); Todas estas iniciativas buscam o fortalecimento da cooperação através do fornecimento de produtos brutos, das trocas de bens, do desenvolvimento e do financiamento da infraestrutura. Segundo Jácome (2007); (2009); Krufi e Flores (2009), a PetroAmérica busca construir e operar as refinarias, instalar terminais e armazéns.

69

Ainda de acordo com os autores, investimentos em logística, transporte, pesquisa, políticas públicas e comércio de gás natural também seriam aplicados à questão energética. O gráfico abaixo aborda a quantidade de exportação do petróleo venezuelano ao longo de sua história na região da América Latina e do mundo.

30000

25000

20000

15000

10000

5000

0

Mundo América Latina Venezuela

Gráfico 2 Evolução Da Exportação De Petróleo Venezuelano Com Relação À América Latina E Mundo (1000 Barris/Dia), 1980-2014 Fonte: OPEP (2015);

Com relação ao plano doméstico, Chávez passou por diversas situações que permitiram que seu governo e sua gestão sofressem novas mudanças. O ano de 2001 foi muito problemático para o presidente Hugo Chávez tendo em vista as dificuldades para lidar com a população que estava sendo instrumentalizada pela elite criolla e pelos meios de comunicação do setor privado que buscavam a todo o momento, criticar as medidas tomadas por Chávez. Em 2001, Chávez, por meio da Lei Habilitante, conseguiu aprovar 49 leis, vários decretos presidenciais, conseguiu criar a Lei Terras- uma espécie de Reforma Agrária no país. A lei dos Hidrocarbonetos, outro exemplo, que permitiu que o Estado tivesse controle dos lucros advindos do Petróleo. A lei da Pesca foi outra importante lei criada que proporcionou mudanças na atividade pesqueira da Venezuela. Esta situação foi estopim para que uma greve geral por cerca de 12 horas de paralisação em retaliação as medidas outorgadas por Chávez fosse arquitetada. O pacote contou também com duas leis muito polêmicas: Lei de Terras e Lei de Pesca. A Lei de Hidrocarbonetos previa um aumento nos repasses, porém só para novas licenças, e uma questão chave: a contabilidade das atividades internas e externas da companhia deveria ser feita em separado, o que

70

explicaria que as atividades internas geraram muitos excedentes, enquanto as externas, os enormes prejuízos que garantiam a apropriação dos recursos do petróleo por uma casta da burocracia da PDVSA (BARROS, 2007, p.94).

A greve contou com o apoio da Federación de La Cámaras de Comercio y Produción (Fedecámaras) vinculada aos setores empresarias com o apoio da Confederación de Trajadores de Venezuela (CTV) e dos meios de comunicação. A situação na Venezuela se agravou em janeiro de 2002 de modo que os gestores da PDVSA em média 50% foram exonerados devido às rebeliões e greves sendo substituídos por pessoas da confiança de Hugo Chávez (SERPA, 2013). Em 11 de abril de 2002, as insatisfações aumentaram na Venezuela fazendo com que milhares de pessoas caminhassem em direção ao Palácio de Miraflores (sede do governo) com um único intuito, convencer e pressionar Hugo Chávez a renunciar o seu mandato. Cerca de 15 pessoas foram mortas nestas manifestações ao Palácio de Miraflores. Durante este momento foi pleiteada a autorização de Pedro Carmona (então presidente da FEDECÁMERA) para assumir a presidência da República. Pedro Carmona contou com a ajuda de alguns militares da época como General de Guerra Lucas Renco vindo a público e em cadeia nacional por meio do discurso afirmar que Hugo Chávez havia sido deposto. Neste instante, um Golpe de Estado passa a ser promovido com o apoio de uma direita conservadora. Em meio a tantas peripécias, Chávez consegue voltar ao poder, porém seria novamente criticado ao final de 2002, nas greves que paralisaram o país por 9 semanas com a ajuda novamente de alguns militares. O atual mandatário comparece continuamente a múltiplas Cúpulas, reuniões e outros cenários, buscando maior visibilidade, muitas vezes através de sua aberta posição dissidente frente a outros dignitários. Também joga em dois tabuleiros, pois enquanto assiste aos atos oficiais, em muitas ocasiões também comparece a foros paralelos e alternativos de movimentos sociais antiglobalização. Essa política exterior personalizada se fundamenta em (BLANCO, 2002): sua capacidade midiática, já que se converteu em um personagem fora do habitual, atraindo para si a atenção da imprensa internacional – o enfant terrible (ROMERO, 2005); sua promoção como o novo líder do terceiro-mundismo, percebido por muitos como o representante dos povos oprimidos; sua liderança dentro da OPEP, fundamentada em sua percepção de que a organização não é somente um cartel petroleiro, mas também um instrumento político para a defesa dos interesses do Terceiro Mundo, em oposição aos países industrializados, especialmente os Estados Unidos (JÁCOME, 2007, pp.66-67).

Após a aprovação do plano de desenvolvimento (2001-2007) a República Bolivariana da Venezuela tem como principal objetivo realizar acordos que permitam fortalecer a integração regional onde as atividades pesqueira, ferroviária, aérea e

71 marítima abram três frentes: De um lado, a região caribenha, do outro lado a região amazônica e por fim, mas não menos importante abrir uma frente andina (JÁCOME, 2007, p.86). No que concerne a geografia da região, a Venezuela é um país que apresenta características próprias, o que permite entendermos algumas questões que são tratadas na atualidade como, por exemplo, a importância e a dependência do petróleo e do gás natural para a nação. A Venezuela está localizada na região norte da América do Sul, banhada pelo mar do Caribe. A República Bolivariana da Venezuela faz divisa ao sul com o Brasil, a oeste faz fronteira37 com a Colômbia e também faz divisa a leste com a Guiana. No que concerne à geografia continental, a Venezuela tem aproximadamente 916,455 km². Nas zonas marítimas e submarianas, o país tem 500.00 km². A região da costa do Caribe tem comprimento de cerca de 2813 km. Com relação à costa do Atlântico, o país apresenta 814 km de litoral, dos quais 291km de área litorânea e cerca de 472 km de costa insular. A Venezuela ainda apresenta 98.500 km de plataforma continental. Em suma, a Venezuela é comparada a um trevo de quatro folhas. Isto é, o país se localiza no meio, e as folhas representam os países andinos, do caribe, latinos americanos e por fim, amazônicos (GARGANO, 2014). Portanto, a Venezuela é compreendida ao mesmo tempo como país andino e amazônico. Andino, pois sofre influência comercial dos países que compõem a Cordilheira dos Andes e também por constituir parte da cordilheira (FONTES e RENNI, 2016).

37 A fronteira é o órgão periférico do Estado, o portador do crescimento e sua força, e participa em todas as transformações do corpo de Estado. O crescimento espacial é manifestado como um fenômeno periférico empurrando para fora da fronteira através do cruzamento por vetores do crescimento. O mais perto das fronteiras viver esses vetores, mais intimamente. Eles compartilham um interesse neste processo; e o mais amplo o limite mais. É marcadamente o crescimento periférico. Um estado que é esticado para uma área desejado, ele envia, enquanto os nós de crescimento exibindo maior atividadeo que faz o resto da periferia. (RATZEL, 2011, p.13). 72

Mapa 3 As Bacias e Limites da Venezuela Fonte: GARGANO (2014);

Clima e topografia são fatores que determinam a natureza de um território. As fronteiras entre Estados tornam-se zonas de exposição ou zonas práticas. Deste modo, a localização geográfica regional é fundamental. Regiões montanhosas como os Andes permitem uma maior segurança para o país (SPYKMAN, 1953a). Por outro lado, a Venezuela é vista como um país amazônico já que uma parte da nação se encontra influenciada pela floresta Amazônica – uma área de aproximadamente 6.7000.000 km². É importante dizer que esta parte da região é banhada pelas bacias do Orinoco (região rica em petróleo) e a bacia do Amazonas (rico em grande quantidade de biodiversidade) (FONTES e RENNI, 2016). De acordo com levantamentos feitos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em parceira com órgãos venezuelanos, a região da Amazônia vem sofrendo graves problemas de queimadas, de destruição do ecossistema e de extração de madeiras de modo ilegal. A República Bolivariana da Venezuela é considerada um país da região latino-americana tendo em vista que esta região sofreu, ao longo do seu processo histórico, com o sistema do pacto colonial difundido durante o século XVI pelos países da Península Ibérica (Portugal e Espanha).

2.3.3 O REVISIONISMO PERIFÉRICO ANTAGÔNICO (2003-2009)

Após a tentativa de golpe de Estado ao fim de 2002, ao presidente Hugo Chávez uma nova tentativa de derrubar Chávez é buscada com o apoio da direita elitista com

73 ajuda de alguns partidos de esquerda em janeiro de 2003. Naquele ano foram recolhidas assinaturas da população para solicitar um referendo. Em 15 de agosto de 2004, o referendo é autorizado, mas desta vez o comandante saiu vitorioso com a aprovação popular de 58,25% para se manter no poder enquanto presidente da República. É neste ínterim que Chávez se ver na necessidade de criar meios de comunicação estatais para que outras questões sejam abordadas e que a população pudesse ter acesso ao contraditório. Naquela época a Venezuela era composta em sua grande maioria por redes de televisão privada. Em média 60% da audiência pertencia as redes de televisão que detinham por dia, cerca de 80% das informações em canais 24H de transmissão de conteúdo. Além disso, jornais impressos nacionais mantidos por empresas e empresários neoliberais dificultavam que quaisquer tipo de informação que fossem de encontro pudessem ser abordados. Foi desta maneira, que o Alô Presidente38 (1999) e a TeleSUR (2005) foram criados como meios de promover a imagem da Venezuela no Sistema Internacional e como forma de desconstruir a visão contraditória orquestrada pelos inimigos chavistas no ambiente doméstico e internacional. Segundo Jácome (2007), Chávez propusera, mediante uma carta, o fortalecimento da democracia participativa e protagonista, a partir do aprofundamento da participação do Estado na vida econômica do país. Deste modo, a Venezuela passou por uma mudança um tanto quanto radical. Isto é, no plano político um revisionismo começou a ser executado a partir do aprofundamento das relações com o continente Latino-Americano e com outras regiões do Oriente Médio e com a África (sobretudo, Argélia e Nigéria). De acordo com Kfuri e Flores (2009) através dos documentos “O Novo Mapa Estratégico” 39 de 2004 e do “Linhas Gerais do Plano de Desenvolvimento Econômico e Social da Nação 2007 – 2013” possibilitou um novo desenho geoestratético. Venezuela ha avanzado de manera certera y sostenida en el cumplimiento de los objetivos del equilibrio internacional previstos en las Líneas Generales Del Plan de Desarrollo Económico y Social 2001-2007. Se fortaleció la soberania nacional y se avanzó en la construcción de un mundo multipolar, la integración latinoamericana y caribeña y la diversificación de las relaciones internacionales que se constituyan en puntales de nuestra política exterior; esto ha dado como resultado que Venezuela haya tenido un importante crecimiento en su posicionamiento en escenario internacional. En los últimos siete años, la Revolución Bolivariana ha implementado una intensa política exterior, rompiendo con la pasividad histórica que caracterizó La relación de

38 Disponível em http://alopresidente.gob.ve/ Acessado em 03/07/2016 39 Disponível em http://www.urru.org/papers/El_nuevo_mapa_estrategico.pdf. Acessado em 03/07/2016

74

Venezuela con el mundo, en la cual el elemento fundamental fue La mediatización y subordinación a los intereses geopolíticos del imperialismo norteamericano. En la actualidad, Venezuela recuperó su independencia y soberanía en la formulación de su agenda internacional. Las nuevas circunstancias presentes determinan que Venezuela avance hacia una nueva etapa en la geopolítica mundial, fundamentada en una relación estratégica de mayor claridad en la búsqueda de objetivos de mayor liderazgo mundial. Es la estrategia de conducción multipolar de la política mundial que se aplica mediante la diversificación de las relaciones políticas, económicas y culturales, para la creación de nuevos bloques de poder atendiendo las particularidades, de acuerdo al establecimiento de áreas de interés geoestratégicas. La construcción de un mundo multipolar implica la creación de nuevos pólos de poder que representen el quiebre de la hegemonía del imperialismo norteamericano, en la búsqueda de la justicia social, la solidaridad y las garantías de paz bajo la profundización del diálogo fraterno entre los pueblos, el respeto de lãs libertades de pensamiento, religión y la autodeterminación de los pueblos (CHÁVEZ, 2007, pp.44-45).

Segundo os documentos oficiais do governo, a América Latina e o Caribe passaram a ter destaque de modo que cabia a Venezuela uma participação da construção do “Novo MERCOSUL” (2006). Era também de interesse da República Bolivariana a criação da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) tendo sua consolidação em 23 de maio de 2008 em Brasília. Fortalecer esquemas que intensificassem ou mesmo ampliassem as relações sócio-políticas e econômicas com países pertencentes à América Central e Caribe. A Alternativa Bolivariana para a América (ALBA) buscava impulsionar e consolidar ideias que trouxessem um viés alternativo a Aliança de Livre Comércio das Américas (ALCA) (VALENTE, 2012, pp.97-98). A incorporação do país ao MERCOSUL em 2006 foi um primeiro passo da estratégia presidencial orientada para o desenvolvimento de um esquema mais amplo de integração sul-americana, que tem a ALBA e a Petroamérica como aspectos centrais. Os eixos principais dessa estratégia são, em primeiro lugar, a idéia de uma liderança venezuelana com a finalidade de fomentar a integração bolivariana. Em segundo lugar, como vimos anteriormente, a constituição de um “eixo do Sul” junto com o Brasil e a Argentina, como primeiro passo para a constituição de um mundo multipolar. Por último, uma reformulação do MERCOSUL para privilegiar o tema dos chamados “déficits sociais”, bem como atribuir maior importância aos conteúdos políticos. Do ponto de vista venezuelano, os temas comerciais e econômicos passariam a ter um papel secundário (JÁCOME, 2007, p.20).

A ALBA, por exemplo, representou um aumento, sobretudo, das relações entre Venezuela e Cuba. Por meio deste processo de integração regional, Chávez conseguiu no ano de 2003 um projeto de política pública chamado “Missão Bairro Adentro”. De acordo com este projeto que envolvia cooperação técnica, médicos cubanos foram alocados para a Venezuela cujo objetivo era intervir em regiões, cidades mais necessitadas através da saúde assistencial e preventiva. Em troca, a Venezuela (em substituição a URSS) passou a ser o principal supridor de recursos energéticos cubanos.

75

Com a adesão da Bolívia em 2006, projeto ganhou mais espaço e maior atuação na cena regional (KFURI e FLORES, 2009, p.22).

Além da Míssão Bairro Adentro, o governo venezuelano patrocinou os seguintes programas sociais: A venda de cestas básicas e alimentos a preços bem inferiores aos do mercado, chegando a diferença, em alguns casos a 50%. Inicialmente realizada com caminhões do exército, a Missão Mercal conta com várias unidades fixas em diversas cidades; O plano educacional, denominado Missão Robinson, que eliminou o analfabetismo do país no fim de 2005. A Venezuela era, antes disso tudo, um dos países de menores taxas de analfabetismo do continente, em torno de 6%; Diversos programas educativos, como escolas bolivarianas (com cursos inicialmente de curta licenciatura); Missão Vuelvan Caras, de incentivo à economia popular, como cooperativas e pequenos negócios, por meio de políticas de microcrédito (MARINGONI, 2008, p.154).

Com relação às missões, as mesmas fazem parte dos projetos sociais da era Chávez. Diversas missões foram arquitetadas tendo como estratégias reduzir as desigualdades e incluir socialmente as pessoas. Rômulo Neves (2010) afirma que as missões podem ser divididas de acordo com algumas estratégias: 1) a questão educacional é considerada vital sendo subdivida nas Missões Ribas, Robinson 1 e 2, Sucre, Cultura, Ciência e Barrio Adentro 1, 2 e 3; 2) A saúde outra temática que teve destaque durante seu governo. As Missões Milagro e Barrio Adentro 1, 2 e 3; 3) A Assistência Social também merecem destaque exemplificados pelas Missões Madres Del Barrio e Negra Hipólita; 4) A segurança alimentar obteve proeminência como exemplo, a Missão Alimentação; 5) O desenvolvimento regional a partir das Missões Vuelvan Caras, Zamora e Piar. Outros temas como atenção à população indígena, Missão Gauicaipuro; Preservação ambiental, Missão I; fortalecimento de documentação, Missão Identidad; energia, Missão Revolución Energética, e habitação, Missões Habitat e Villanueva. Na área de educação, as missões foram especialmente exitosas (NEVES, 2010, p.75).

Segundo o autor, cinco características caracterizam os programas de assistência social durante a Era Chávez: 1) os recursos públicos providos da PDVSA colaboram para os investimentos; 2) a participação de profissionais estrangeiros especialmente os cubanos- fruto das estratégias bilaterais entre a Venezuela e Cuba; 3) Uma ampla mobilização popular através da conscientização e estímulo a participação popular; 4) Integração das ações das diferentes missões; 5) O público-alvo são as pessoas de baixa renda. A missão Robinson I chegou a reduzir em dois pontos e meio a porcentagem do analfabetismo para adultos (maiores de 15 anos) para menos de 4%. A missão Robinson

76

2 teve o início de suas operações em outubro de 2003 tendo como meta a retomada de adultos ao ensino fundamental. Em média mais de 1,5 milhão de pessoas foram beneficiadas com a ajuda de 200 mil bolsas de estudo. A missão Ribas complementou as missões supracitadas. A inserção de jovens ao ensino médio fez com que mais 600 mil estudantes fossem matriculados contando com o subsídio de 100 mil bolsas. Aqueles que almejam dar continuidade aos estudos, através do ensino universitário, a Missão Sucre, uma parceria entre o governo cubano e a Venezuela possibilita que os estudantes realizem cursos de medicina em Cuba (NEVES, 2010, p.76). Buscando investir e capacitar jovens e adultos na área desportiva, a Missão Barrio Adentro Desportivo, criada em 2004, proporcionou atividades esportivas regulares, investimento na construção de ginásios públicos. Em média, cerca de 150 atletas estão em formação tendo como objetivo as olimpíadas de Pequim em 2008. A Missão Ciência foi lançada em 2005 e possibilitou a criação de estudos de pós- graduação em áreas estratégias: biotecnologia agrícola, saúde, energia, estudos ambientais. Informações fornecidas pelo governo afirmam que cerca de 6 mil profisssionais foram capacitados e para os próximos dez anos, em média 10 mil pesquisadores serão capacitados (NEVES, 2010, p.77). A Missão Cultura buscou ampliar o acesso de bens culturais, valorizando a produção cultural local, promovendo a identidade nacional, divulgando a memória dos interessados. Investimentos educacionais na área da cultura como cursos de especialização em desenvolvimento cultural foram abertos. Como veremos mais adiante, ao fim deste capítulo, o investimento na cultura e na mídia ganhou um nobre espaço na agenda da política da Era Chávez. A Missão Habitat tornou-se outro exemplo de política pública tendo como estratégia a criação de moradias populares. Todavia, a missão fracassou na medida em que houve falta de desempenho e um elevado índice de corrupção (NEVES, 2010, pp.73-74). A Missão Barrio Adentro 1, 2 e 3 buscou cobrir atendimentos criando inclusive centros de alta tecnologia, de reabilitação integral, sobretudo, para pessoas de baixa renda. A Missão Milagro é vista como uma espécie de continuação da Missão Barrio Adentro dedicando-se em continuar os tratamentos médicos iniciados nos consultórios dos hospitais e clínicas públicas. Com esta missão países inclusive do entorno regional como El Salvador, Colômbia e Equador foram ajudados, em média mais de 6 milhões de pessoas foram beneficiadas.

77

A questão da segurança alimentar ganhou destaque, a Missão Alimentação criada em 2003 incentivou à produção nacional já que a Venezuela é um país importador de alimentos. Por meio do incentivo a produção nacional buscou-se gerar emprego e renda, integrar os estados da federação, incentivar o comércio regional. Na área de assistência social, a Missão Madres Del Barrio teve como intuito dar apoio social e financeiro às mulheres chefes de família que apresentem ou estejam em situação de risco. Ajudas financeiras temporárias são concedidas pelo governo entre 60% a 80% do salário mínimo (NEVES, 2010, pp.79-80). Para Valente (2012), o pilar estratégico regional para América Latina foi configurado a partir dos recursos e das ações. Isto é, os recursos estão atrelados a grande abundância que a Venezuela dispõe em seu parque geológico o que permitiu cooptar os vizinhos da região. Não devemos esquecer que este tipo de articulação já havia sido tentada em décadas anteriores como as de 1960 e 1970. No que concerne as ações, o autor informa que os acordos de integração física e política viriam logo em seguida. Diferentemente de Valente (2012), Francine Jácome (2007; 2009) aponta que Hugo Chávez buscava integrar a América Latina a partir dos ideais bolivarianos da “Gran Colômbia”, porém era necessário que os países da região estivessem mobilizados para que uma área de livre comércio com exceção do gás natural e do petróleo fosse construída.

78

Mapa 4 Reserva Energética Da Venezuela Fonte: CEBALLOS (2014).

A integração regional na América Latina era tão importante, que Hugo Chávez acreditava que a construção do Gasoduto do Sul40 seria essencial para a geopolítica da região. De acordo com o plano estratégico este gasoduto cortaria o Brasil de modo que toda a região do Cone Sul seria abastecida por este projeto tornando a região mais fortalecida e autônoma. En América Latina, vivimos un momento bastante interesante. En América Latina hay un gran forcejeo, es un forcejeo histórico de dos siglos por lo menos. En Suramérica están pasando cosas bien importantes que nos obliga a una acción muy acelerada, pero bien planificada; y debemos trabajar en todos niveles. (...) Nadie podría desmentir ese hecho, una vez más el pueblo asumió el cambio histórico a favor de los más humildes, de los más pobres, de los más necesitados y al mismo tiempo a favor de la grandeza de nuestra patria, la independencia y soberanía que levanta la integración y dignidad de América Latina.” (CHÁVEZ, 2005, pp.26-46).

40 O gasoduto integra a Argentina, Brasil e Venezuela têm como caráter menos ideológico que a Alba. Mas ao mesmo é um meio de Chávez comprometer os seus vizinhos com o seu projeto de transformação da Venezuela (CARMO, 2007, p.35).

79

Como bem lembra Saraiva (2007) e Vigevani (2005), durante a década de 1990, novos processos de integração regional foram almejados tendo como elemento central a liberalização das economias e a incansável busca por atração de capital estrangeiro. Diferentemente dos anos 90, os anos 2000 foram marcados por algumas mudanças que passaram a ocorrer no cenário internacional. Os Estados Unidos passaram a ter como pauta e prioridade regiões como a Ásia, Europa e Oriente Médio. Isto possibilitou que as políticas externas dos países pertinentes a América do Sul tivessem um maior grau de autonomia imprimindo inclusive severas críticas às posturas hegemônicas (SOARES DE LIMA, 2013, p.1).

No início dos anos 2000, com a eleição de governantes de esquerda e centro- esquerda na Argentina, Brasil, Uruguai, Bolívia, Equador e Venezuela. A América do Sul vai experimentar significativa mudança de orientação política e ideológica com a chegada desses governos, também diversos entre si, mas com uma orientação semelhante no que diz respeito à superação do dogma neoliberal, o retorno da coordenação econômica estatal e da visão desenvolvimentista ajustada às restrições do capitalismo globalizado, a prio- ridade concedida à inclusão social, e uma política externa revisionista, também com variações entre o conjunto de países de orientação progressista (LIMA, 2008, p.10).

Segundo Soares de Lima (2013) um novo desenho institucional passa a compor as agendas e os processos de integração regional. Este novo processo de integração regional tem como alicerce as bases socialistas, a construção de um eixo multipolar e antiimperialista tornaram-se os elementos essenciais, durante a política externa na Era Chávez. Deste modo, o governo buscou o apoio tanto dos membros da Comunidade Andina de Nações (CAN) como do MERCOSUL, privilegiando uma relação estreita especialmente com Brasil. Parte desta nova configuração tem como principal iniciativa a criação do Conselho Energético Sul-Americano através da cúpula de abril de 2007. De acordo com este conselho, uma estratégia energética deveria ser firmada entre os países tendo como pauta o petróleo, o gás, as energias alternativas e a poupança de energia. Com o surgimento da UNASUL em 2008, este conselho foi anexado (KFURI e FLORES, 2009, p.1). A UNASUL foi outro ganho para América do Sul na medida em que proporcionou ampliar os horizontes da integração regional pr’álem da pauta comercial. De acordo com Lima (2013), a UNASUL possibilitou que iniciativas nas mais diversas áreas da cooperação regional pudessem ser almejadas como o campo energético, militar, logístico, de infraestrutura e de saúde pública. À promoção de modelos alternativos,

80 como a Alba e o Banco do Sul41, soma-se a intensificação das relações comerciais através das empresas estatais. No centro desse novo modelo está a questão da integração energética, materializada em acordos firmados entre a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) e as demais estatais petroleiras da região. Seus objetivos declarados são o desenvolvimento econômico, a redução das assimetrias e a erradicação da pobreza, além de reforçar a região como zona de paz e livre de armas nucleares. Os documentos prévios à constituição formal da Unasul, como os produzidos na cúpula presidencial de Cochabamba, em 2006 (LIMA, 2013, p.16).

No entanto, no que tange a CAN a integração na área de segurança ainda que fosse buscada, na prática não foi alcançada. A Declaração Final do IV Fórum de Presidentes dos Poderes Legislativos Andinos, em maio de 2004, realizada em Bogotá, não conseguiu efetivar o possível acordo já que a Venezuela foi o único país que não assinou o documento. Sendo assim, o máximo de coordenação e cooperação que ocorrera foi no âmbito bilateral. Como é sabido, anos mais tardes a Venezuela solicitou sua saída da CAN partindo para um novo investimento (MERCOSUL- 2006). Segundo o presidente venezuelano, o MERCOSUL poderia trazer mais vantagens e respaldo (CÁRDENAS e CHRISTIAN, 2004). A adesão da Venezuela ao MERCOSUL ocorreu em 200642, segundo o então presidente venezuelano, Hugo Chávez, o MERCOSUL traria uma maior estratégia regional possibilitando que outros projetos em curso como a ALBA e a PetroAmérica ganhassem projeção. Com a adesão ao MERCOSUL, a liderança venezuelana de fomentar a integração bolivariana poderia ser também alcançada. Com o MERCOSUL temas intitulados como “déficits sociais” passariam a ter relevância ganhando o mesmo protagonismo dado a termas políticos e econômicos. Na prática, o “NOVO MERCOSUL” passa a representar em termos comerciais cerca de 78% do PIB da América Latina (JÁCOME, 2007).

A Venezuela já anunciou uma série de iniciativas, entre as quais estão (ROMERO/TOKLATIÁN, 2006): criar um Observatório de Qualidade Democrática do Mercosul, que buscaria aos poucos substituir a Comissão Interamericana de Direitos Humanos; converter o Mercosul em uma aliança anti-Estados Unidos; e criar o Banco do Sul como alternativa frente a agências como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Não obstante, essa última proposta foi rechaçada pelo Brasil durante a XXXI Cúpula, realizada no Rio de Janeiro

41 Projeto do Banco do Sul, criado em Caracas no início de novembro de 2007. Com a assinatura de representantes dos governos de Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela, a nova instituição nasceu com o capital inicial de US$ 7 bilhões. A intenção é que seja um banco de desenvolvimento voltado para a América do Sul (MARINGONI, 2008, p.161). 42 No entanto, somente em 2012 seu ingresso foi efetivado.

81

em janeiro de 2007, com o argumento de que já existem agências como a Corporação Andina de Fomento e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil. Do mesmo modo, a Venezuela propôs a criação do Bônus do Sul e, na Cúpula de Córdoba, o presidente defendeu a construção de um “mega Estado” com uma moeda e uma constituição única (JÁCOME, 2007, p.82)

No campo da integração cultural, durante a Era Chávez buscou democratizar, descolonizar, desmonopolizar e desenvolver a região já que através da cultura e da mídia é possível que uma pluralidade de vozes que antes havia sido rejeitada e excluída no sistema internacional passasse a ser ouvida (CANCLINI, 2010). Portanto, promover a integração regional, tendo como alicerces a mídia e a cultura, tornava-se indispensável para compreendermos a identidade, o nacionalismo e as alusões históricas que proporcionam uma maior união entre os povos que compõe a região da América Latina. A cultura, compreendida em seu sentido mais amplo, a saber, a produção, a difusão e o consumo de objetos simbólicos criados por uma sociedade, constitui em primeiro lugar um agente ou fator das relações internacionais na medida em que forja mentalidades e orienta o sentimento público. Mas ela é ao mesmo tempo um desafio ou, se preferirmos, um terreno de enfrentamento sobre oqual intervêm diversos grupos e forças antagonistas na ação que seopera de forma explícita, ou, mais comumente, de maneira oblíqua ou oculta (MILZA apud LESSA; SUPPO, 2007, p.238).

O mapa estratégico também tornou a Colômbia uma prioridade. Era preciso segundo Chávez fazer com que a Colômbia como a Venezuela voltassem a ter relações um tanto quanto cordiais. Segundo o presidente bolivariano, a retomada com a Colômbia era uma maneira de elucidar e retomar o projeto de Simon Bolívar. Além disso, o projeto estratégico permitiria que a Venezuela conseguisse saída para o mar junto à Costa do Pacífico. Con Colombia, ustedes saben, hemos mejorado la relación, ahora vamos a hacer um gasoducto entre los dos países. Tenemos otros planes de cooperación. Ahora estamos em Cartagena con una la refinería y nos están pidiendo que invirtamos en un gasoducto hacia el Pacífico, es un proyecto interesantísimo. Tendría que ser por acá (muestra), por la costa colombiana, sobre todo porque nosotros no tenemos costa pacífica. Eso nos permitiria una salida hacia el Pacífico (...) En cuanto al conflicto interno de Colombia, consideramos que es un conflicto de ellos, y eso también debe quedar claro aquí. Ninguno de nosotros está autorizado para abrir canal alguno de comunicación con la guerrilla colombiana, nadie debe hacerlo, nadie. (CHÁVEZ, 2005, p.26).

Países como Irã, Síria Bielorrússia e Rússia também tiveram destaque. Para Valente (2012), esses países tiveram relevância tendo em vista os interesses em comuns quanto aos Estados Unidos e suas políticas imperialistas. Nesse sentido, a criação de uma zona de intercâmbio tecnológico e produtivo era fundamental tendo como objetivo

82 a defesa nacional. A Rússia obteve certo destaque tornando-se a principal nação exportadora de produtos bélicos e aeronaves. De acordo com o autor, os investimentos no setor de armamento tinham dois objetivos: Por um lado, era preciso fazer uma reposição e uma modernização do parque tecnológico e das forças armadas tendo em vista o sucateamento que passaram durante os anos 1980 e 1990. Por outro lado, era essencial a modernização tendo como objetivo a proteção de sua soberania doméstica- golpes de Estado e a soberania externa – Estados Unidos. Entre 2005 e 2007 a Venezuela firmou contratos no valor de US$ 4 bilhões para a compra de caças, helicópteros e cerca de 100 mil fuzis Kalashnivkov. Os Kalashinivkov são considerados fuzis ultrapassados para uso em forças militares regulares mas a distribuição desse armamento entre forças civis, chamadas pelo governo como milícias defensoras da revolução, tiveram a clara intenção de blindar o governo contra investidas golpistas internas. Entre 2007 e 2010 a Venezuela ampliou suas compras de armamentos russos em mais de US$ 2 bilhões e iniciou uma cooperação para o desenvolvimento da primeira usina nuclear do país, voltada para fins pacíficos e sem qualquer contestação da comunidade internacional. Também foi em 2008 que Venezuela e Rússia realizaram exercícios militares conjuntos no Caribe, num 104 claro desafio venezuelano e russo ao governo do presidente americano George W. Bush, que insistia para descontentamento russo em instalar uma base antimísseis no Leste da Europa, o que era considerado por Moscou como inaceitável (VALENTE, 2012, p.103-104).

No plano doméstico, as forças armadas passaram por muitas mudanças que vão muito além de investimento bélico. Mediante o decreto da Lei 6.23943 promulgada em 22 de julho de 2008, uma nova Lei Orgânica das Forças Armadas Nacional Bolivariana (FANB) passa a substituir a lei que havia sido aprovada pela Assembléia Constituinte em 2005. Segundo esta nova lei, as mudanças passam a afetar desde a estrutura a institucionalidade das forças armadas. Uma das mudanças modifica e inclui o nome “Bolivariana” passando a politizar as forças armadas da Venezuela. A mudança incorpora os ideais bolivarianista a partir das perspectivas socialista do líder revolucionário Simon Bolívar (JÁCOME, 2009, p.166). Respecto a la estructura e institucionalidad, el tema más importante es el de la milicia. En el artículo 5 se incorpora a la Milicia Nacional Bolivariana, definida como un complemento de la FANB. En el artículo 43 se establece que depende directamente del Presidente de la República y en el artículo 44 se define que su misión principal es entrenar, preparar y organizar AL pueblo para la defensa de la Nación, lo cual incluye su actuación en el orden interno y, de acuerdo AL artículo 50, la Reserva y Guardia Territorial están bajo el mando de la Milicia Nacional. Se establece su movilización en casos de conmoción nacional y su participación en el Plan República que se activa para los procesos electorales. Desde el gobierno se ha negado que sea un quinto componente, señalándose que es una fuerza complementaria. Sin embargo, se ha advertido que su incorporación contraviene el artículo 328 de

43 Disponível em: http://www.mp.gob.ve/c/document_library/get_file?uuid=7c4f7fbe-be7d-446c-be87- 3994d36614ac&groupId=10136 Acessado em 22/07/2016

83

la actual carta magna que incluye cuatro componentes: Ejército, Armada, Fuerza Aérea y Guardia Nacional. Esta modificación también tiene como consecuencia que el financiamiento de esta milicia pasa al presupuesto del Ministerio de la Defensa, por lo que existe preocupación no solamente sobre cómo esto afectará la nómina Del despacho sino también sus impactos sobre el sistema de seguridad social de los militares (JÁCOME, 2009, p.166).

Ainda segundo Francine Jácome (2009), a nova lei proíbe que militares emitam declarações públicas sem a prévia autorização que está estabelecida através da Controladoria Geral. Nova lei orgânica sinaliza que o Ministério de Poder Popular para a Defesa fará funções administrativas e passará a compor o Comando Estratégico Operacional presidido pelo Presidente da República Bolivariana da Venezuela. Cabe ao presidente dirigir as metas, as estratégia e os objetivos operacionais da defesa nacional. Por fim, a lei informa que o Presidente passa a ser a autoridade máxima do Comando Maior. No âmbito internacional, a lei concede a permissão do país em estabelecer alianças com as forças armadas sem a prévia autorização do parlamento. Algumas destas mudanças na composição do comando militar venezuelano tanto no ambiente doméstico quanto no ambiente internacional também têm como objetivos proteger as fronteiras com a Colômbia, sobretudo, por conta das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCS). De acordo com o Instituto Internacional de Investigação para a Paz da Suécia, em quatro anos cerca 78% de investimento e gasto militar foi realizado durante a política externa dos Governos de Hugo Chávez. Ainda segundo o Instituto as medidas de investimento servem para assegurar futuras guerras preventivas, ao mesmo tempo em que busca estabilizar a região (CARDOZO, 2008; JÁCOME, 2009, p.169). Os documentos da doutrina militar evidenciam as mudanças que passam a ocorrer em todo o continente Latino Americano. Segundo os documentos, uma União Militar da América Latina e Caribenha seria constituída como representação de uma segunda independência. Entretanto, segundo Chávez era fundamental que existisse o desenvolvimento no campo militar por intermédio da fusão cívico-militar. O projeto Pátria Grande deveria ser alçado de modo que a recuperação da soberania nacional latino-americana fosse conseguida. Nesse sentido, a criação da Organização do Tratado do Atlântico Sul (OTAS) e a Doutrina Bolivariana da Guerra Defensiva de todo o povo deveriam constituir o pilar deste projeto de Pátria Grande (JÁCOME, 2007). Durante a gestão da Política Externa de Hugo Chávez foi buscada a tentativa de construção de um programa nuclear através de alianças e cooperação com outras nações

84 e instituições. Para Trinkunas (2005), Chávez ainda que tivesse por objetivo a construção deste programa nuclear era impossível a sua execução haja vista que a Venezuela carecia de uma comunidade científica que possibilitasse a criação e o desenvolvimento de uma estrutura nuclear. As Forças Armadas também apresentavam um déficit tecnológico para constituição deste projeto. Segundo o autor, este projeto da Era Chavista tinha como intuito apenas estimular a provocação, a retaliação frente aos Estados Unidos. Naquela época, os Estados Unidos havia colocado críticas junto à comunidade internacional ao programa de enriquecimento de Urânio. Países como a China, Vietnã e Malásia também passaram a ter relevância. Projetos de integração econômica, sociocultural, científica e tecnológica foram incentivadas. A construção de um novo marco comercial mundial que permitisse romper com núcleos hegemônicos tornava-se indispensável. Nesse sentido, foi incentivado à criação de fundos binacionais de desenvolvimento para a implementação de projetos. Anos mais tarde, a Venezuela colheu os louros plantados em parceria com a China. Em janeiro de 2009, o satélite VENESAT I ou também chamado de Simon Bolívar foi lançado ao espaço. A partir daquele momento, a Venezuela passava a poder transmitir sinais televisivos para as emissoras públicas e comunitárias da Venezuela. As parceiras com a China só aumentaram nos últimos anos. Para o Palácio de Miraflores, o dragão asiático representava uma alternativa revisionista frente a Washington. A China também significava um importante mercado externo a ser explorado, especificamente, o petróleo. Em 2008 e 2009 alguns acordos foram assinados entre a Venezuela e a China permitindo que empresas petrolíferas, instalações e logísticas fossem criadas. Em média mais de 450 mil barris de petróleo por dia passaram a ser produzidos e consumidos pelo mercado chinês. A China passava a se tornar a segunda maior pauta de importação de petróleo venezuelano. Com relação à Europa, Hugo Chávez buscou consolidar as alianças políticas com forças sociais, partidos políticos e parlamento nacionais. Segundo Valente (2012), buscou-se um intensificar o relacionamento com países como Espanha, Portugal e Inglaterra. No que tange ao continente africano, buscou-se fortalecer a política de intercâmbio sul-sul tendo como prerrogativa a consolidação geoestratégica. Com relação aos países pertencentes a Opep, a Era Chávez teve como objetivo o reforçar dos vínculos entre as nações. Nesse sentido, o incremento de intercâmbio comercial e científico passou a ser fortalecido (JÁCOME, 2007).

85

Os Estados Unidos foi outro país que passou por mudanças geoestratégicas segundo os documentos da assessoria do governo, no âmbito do Instituto de Altos Estudos Diplomáticos Pedro Gual (Ministério das Relações Exteriores da Venezuela). O incentivo e a mobilização de intercâmbios de movimentos sociais, o incentivo e o apoio aos cidadãos da sociedade norte-americana que se sentiram excluídos tendo em vista as políticas adotadas pelos Chefes de Estado tornaram-se algumas das prioridades. Incentivar intercâmbios com personalidades, acadêmicos que tenham um pensamento crítico ao modelo de gestão, operação e atuação norte-americana também foi incentivado. Todavia, no que concerne as questões petrolíferas, as relações mantiveram- se inalteradas como afirma Leonardo Valente (2012) “Inimigos Sim, Negócios a Parte”. Hugo Chávez mudou a orientação política do país em relação aos Estados Unidos, mas manteve uma diplomacia do petróleo muito semelhante a dos governos anteriores, preservando o pragmatismo. Iniciava-se ai uma nova dinâmica de relações entre os componentes da política externa. Chávez não inaugurou a sobreposição de orientações dentro dessa política. Mas pela primeira vez a ordem dessa relação foi invertida. Os negócios continuaram à parte, o que mudou foi a relação de amizade (VALENTE, 2012, p.76-77).

De acordo com pesquisadores e analistas das relações internacionais havia um temor por parte do governo norte-americano com a chegada de Chávez a presidência da república. Esse assombro se concretiza, principalmente, a partir da mudança do relacionamento com os Estados Unidos após o golpe de 2002 como já falado nesta dissertação. Segundo alguns analistas, Chávez acreditava que havia de fato uma influência dos EUA na iniciativa e no investimento quanto ao golpe de Estado, sobretudo, pelos funcionários da PDVSA.

Desde que Chávez asumió la presidencia de Venezuela en 1999, se ha observado cada vez con más frecuencia la emergente participación activa y abierta de un grupo de oficiales y ex oficiales militares en la política y en el sector público nacional. Este factor y la misma situación general de crisis, ha hecho que Venezuela se convierta em objeto de preocupación para Washington. Las posibles limitaciones al juego democrático, a la actividad privada y a las inversiones norteamericanas, la incertidumbre sobre la seguridad del suministro petrolero, la posibilidad del desarrollo de una política exterior “antiimperialista”, y la actitud venezolana frente al conflicto armado em Colombia, son algunos de los elementos que preocupan a los decisores norteamericanos (ROMERO, 2006, p.13).

Valente (2012) aponta que as relações entre EUA e a Venezuela chegaram a níveis de grande desgaste político. Prova disso, deve-se as retaliações que o governo de Washington fizera a Venezuela concedendo apoio ao pleito a vaga do Conselho de Segurança da ONU ao Brasil e a Argentina. Os anos posteriores tornaram-se mais complexos, principalmente, quando os Estados Unidos resolvem apoiar o então

86 presidente da Colômbia Alvaro Uribe tendo como troca a permissão do governo colombiano em alocar bases militares do serviço de inteligência norte-americano em território colombiano. Após esta situação, embaixadores de ambas as nações foram expulsos dos respectivos países sendo substituídos após 15 dias por outros chanceleres. Francine Jácome (2007; 2009) afirma que as relações entre Venezuela e os Estados Unidos foram moderadas traduzindo-se em compromissos para o sobrevôo de aviões norte-americanos sobre território venezuelano na luta contra o narcotráfico, no Tratado de Promoção e Proteção de Investimentos, num acordo de fornecimento de petróleo para os próximos 20 anos e na garantia de cooperação na luta contra o terrorismo. Em resposta, o governo de Washington buscou moderar as críticas e vinculá-las mais às atuações da OEA. Retomando o plano doméstico, o ano de 2006, novas eleições, para presidência da república, foram convocadas. Mais uma vez, Chávez foi reeleito com 62,9% dos votos derrotando Manuel Rosales que obteve 36,9% dos votos. Entretanto, estes tempos de glória não durariam muito. Em 2007, um referendo constitucional havia sido convocado fazendo com que Chávez tivesse algumas perdas no âmbito do parlamento. De acordo com Serpa (2013), o referendo tinha como intuito modificar a constituição. Cerca de 33 artigos seriam modificados. Entretanto, a população, com cerca de 50,65%, rejeita as alterações solicitadas por Chávez. Em 9 de dezembro de 2008 um novo referendo Aprobatório da Ementa Constitucional é solicitado. De acordo com o referendo, uma emenda seria feita, tendo por objetivo que reeleições ilimitadas do mandatário pudessem ser feitas. Em 2009, a população concordou com a modificação. No que concerne aos números, 54,86% da população disse sim para Chávez (SERPA, 2013). De um modo geral, a política externa de Chávez durante este período teve como marco a diplomacia social. Redes transnacionais em apoio a movimentos sociais, principalmente, no âmbito regional tinham como objetivo a multiplicação das ideologias bolivarianas a partir do “Socialismo do Século XXI” 44. Muito desta difusão ideológica contou com investimentos oriundos do petróleo, mas também contou com a participação

44A moral...Devemos recuperar o sentido ético da vida. Lutar contra os demônios disseminados pelo capitalismo, como o individualismo, o egoísmo, o ódio e os privilégios... o socialismo deve defender ... a generosidade. A democracia participativa e protagônica, o poder popular; A igualdade conjugada com a liberdade; Corporativismo e associativismo. No econômico, uma mudança no sistema de funcionamento metabólico do capital. Na Venezuela se iniciou um movimento para impulsionar o cooperativismo, o associativismo, a propriedade coletiva, o banco popular, e núcleos de desenvolvimento endógeno (MARINGONI, 2008, p.174).

87 de uma agenda privada que estabelecia no âmbito da chancelaria relações com organizações sociais que estivem disponíveis e interessados em divulgar esses círculos bolivarianos (KFURI e FLORES, 2009, p.11).

2.3.4 A MANUTENÇÃO DO REVISIONISMO PERIFÉRICO AUTONÔMICO (2009-2013)

Uma nova história passa a ser construída na política externa na Era Chávez, principalmente, com a retomada do revisionismo periférico autonômico. A chegada de Barack Obama (2009) a presidência da república dos Estados Unidos da América põe certos freios as estratégias e retóricas anti-Bush e antiimperialista promovidas pelo governo chavista. Durante a campanha presidencial de Brack Obama, Caracas já havia demonstrado uma maior receptividade num tom mais conciliador. Na visão venezuelana, Obama poderia adotar uma postura menos intervencionista, o que significava dar menos ouvidos e apoios aos líderes oposicionistas mais radicais dentro da Venezuela. Uma vez reduzidas as chances de interferência americana no equilíbrio de forças internas da Venezuela, menor a necessidade de se adotar uma diplomacia agressiva e focada na denúncia em relação a Washington (VALENTE, 2012, pp.124- 125).

Outra mudança que também pode ser vista se deu através de temas como segurança, estratégia e defesa. A crise e a queda do preço das commodities, a chamada doença holandesa45, atravessava novamente a historia da Venezuela determinando sua agenda política, econômica, social e cultural. A crise econômica mundial de 2008 fez com que os preços internacionais do petróleo entre 2008 e 2009 despencassem cerca de US$ 140 em julho de 2008 para pouco mais de U$ 60 em julho de 2009 (VALENTE, 2012, p.128). Nesse sentido, a Venezuela buscou priorizar a pauta da exportação do petróleo, sobretudo, para os norte-americanos a fim de resgatar as receitas oriundas deste fóssil. Não obstante, as tentativas não obtiveram êxitos. Segundo o Ministério das

45A Teoria da Doença Holandesa tem sido utilizada para tratar problemas típicos das economias primário- exportadoras. Seu nome remonta ao comportamento que a economia teve nos anos sessenta, logo após a descoberta de grandes reservas de gás natural e dos preços internacionais do produto. Durante o período de “bonança gasífera”, a Holanda recebeu quantidade de moeda estrangeira e o imediato aumento do superávit comercial fez a moeda nacional se sobrevalorizar. No momento seguinte a produção industrial do país passou a enfrentar problemas, decorrentes, da apreciação da moeda nacional, para concorrer com os produtos de outros países tanto no mercado interno quanto no externo. A baixa competitividade da indústria nacional levou o aumento das importações, principalmente de produtos industrializados, e a uma diminuição significativa das exportações de outros produtos que não o gás natural. Em pouco tempo, a abundante entrada de moeda estrangeira para a compra de gás natural levou a Holanda a um processo de desindustrialização e da perda de competitividade internacional (BARROS Apud CORDEN, 2007, p.75).

88

Relações Exteriores, por meio de sua embaixada em Washington, havia muita reticência por parte dos EUA em negociar com a Venezuela. Uno de los escenarios es la reducción de las tensiones entre los dos gobiernos y que los temas de seguridad y defensa pasen a un segundo plano, predominando otros de orden económico, político y social. Esto le restaría al presidente Chávez una de sus banderas principales tanto en el ámbito doméstico como en el internacional. Otro es que el nuevo gobierno estadounidense continúe catalogando AL actual gobierno venezolano como una «amenaza regional», lo cual dependerá de las acciones que éste último tome a corto plazo. Las relaciones cada vez más estrechas con Irán serán un elemento perturbador importante (JÁCOME, 2009, p.169).

No âmbito regional, algumas mudanças puderam também ser observadas. Um pé no freio passa a desacelerar os processos e projetos da integração regional. A UNASUL, por exemplo, atravessava uma série de desafios desde as condições que permitiriam superar os desacordos e os conflitos da região da América do Sul. Temas econômicos e comerciais tornam-se “leis” que passaram a ser observadas tendo como pauta o desenvolvimento institucional e os efeitos das crises mundiais que afetam os processos de integração. Nesse sentido, a criação do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) ganhou relevância. Também deve ser observado que muitos dos países pertencentes ao entorno regional passaram por mudanças através das novas lideranças, como exemplo, o Brasil- chegada da presidenta Dilma Rousseff (2009). O ano de 2010 trouxera vantagens para o governo chavista, o Partido Socialista Unidos de Venezuela (PSUV) 46 conquistou 98 cadeiras das 165 ocupadas pelos deputados na Assembleia Nacional Constituinte. No ano de 2012, uma nova eleição presidencial aconteceu. Desta vez, Chávez enfrentaria o opositor Henrique Capriles chamado de “El Flaco”. A vitória foi certeira, cerca 55,07% da população concedeu novamente a Chávez a possibilidade de se manter na presidência da república (SERPA, 2013). Naquele mesmo ano, em 8 de dezembro de 2012, um pronunciamento realizado pela TV, em cadeia nacional, chamaria a atenção da Venezuela e do mundo. Chávez solicitava seu afastamento da presidência da república, por um período indeterminado, para tratamento médico de um câncer. Assumia no seu lugar, o vive-presidente Nicolás Maduro. Em 5 de março de 2013, Hugo Chávez viria a falecer. Um infarto do miocárdio acometeu o presidente da república dando fim à era Chávez na Venezuela.

46 Disponível em http://www.psuv.org.ve/ Acessado em 21/06/2016 89

De um modo geral, a Política Externa do Governo Hugo Chávez desde 1999 até 2013 pode ser compreendida e analisada a partir da categorização de uma política externa ativa e reativa. Consideramos ativa na medida em que o então Chefe do Executivo apresentou ao longo de sua política externa diversas inovações e parcerias. Os objetivos almejados foram conseguidos na medida do possível. Ao mesmo tempo a política externa pode e deve ser analisada como reativa já que em muitos momentos Chávez buscou não apenas por meio do discurso, mas, sobretudo, diante de ações como a construção de conglomerados comunicacionais responder as diversas questões colocadas por Chefes de Governos e Estado quanto a sua imagem e postura frente ao sistema internacional. No entanto, algumas críticas podem ser observadas ao longo do decurso de sua política externa. Durante a Era Chávez ainda que tenha almejado assentar novas diretrizes, não foi possível superar alguns fatores estruturantes. (KFURI e FLORES, 2009, p.1). A não diversificação econômica que pudesse superar o modelo rentista de sua economia, a elevada dependência de recursos financeiros do petróleo- refletindo na chamada doença holandesa fez com que alguns possíveis ideias não conseguissem alavancar no campo prático.

2.4 A IMPORTÂNCIA DA CULTURA E DA MÍDA NA AGENDA POLÍTICA DOS GOVERNOS CHÁVEZ

Milton Santos em seu célebre livro “Por uma outra globalização” já informava que através da globalização perversa a produção de consumo torna-se a fonte de novos totalitarismos cujo sistema ideológico se observa diante da violência da informação e da violência do dinheiro. A violência da informação se observa diante da manipulação da informação, do não esclarecimento dos dados, das informações misturadas a ideologia cuja retórica do discurso é marcada pelo princípio e pelo fim. Basta olharmos para as empresas midiáticas que como já havíamos dito no capítulo I não sobrevivem sem publicidade e capital estrangeiro. Santos (2008) vai além, segundo o autor, as mídias nacionais se globalizam não pela mesmice das fotografias, seus títulos, mas pelas escolhas dos seus personagens, pela falsificação dos eventos dando uma atribuição e uma interpretação de um fato que por vezes não procede. Como bem lembra Bolaño (2009), a comunicação é um princípio do capitalismo sob dupla forma: Por um lado, a propaganda está vinculada aos

90 interesses do capital em geral ou está atrelada ao Estado. Já por outro lado, a publicidade vincula-se as necessidades de acumulação do capital dos grandes centros financeiros mundiais. A região da América Latina apresenta em média, as quatro maiores empresas de mídia e entretenimento. No Brasil temos as Organizações Globo, no México a Televisa, na Argentina o grupo Clarín e na Venezuela o grupo Cisnero que retêm 60% do faturamento dos mercados e das audiências (MORAES, 2009, p.112). De acordo com Moraes (2009), a maioria dos países latino-americanos, comparado as grandes potências internacionais, no comércio global com os gigantes midiáticos, arrecadam muito pouco. Somente, os Estados Unidos ficam com a fatia de 55% das rendas mundiais e logo em seguida a União Europeia com cerca de 25%. O Japão e a Ásia compreendem em média 15% desta fatia econômica. Para Moraes (2009, p.115), a superioridade dos países desenvolvidos são expressivas tendo em vista os irrisórios investimentos feitos ao longo das últimas décadas na região da América Latina tanto em tecnologia, como em produção. Assim sendo, há um consenso entre os governos progressistas na América Latina que é preciso compreender a importância estratégica que os meios de comunicação ocupam no mundo. Portanto, é mister que a soberania, o desenvolvimento nacional, cultural, a integração cultural sejam fortalecidas. Marcos regulatórios, outorgas de rádio e televisão devem ser vistas e revistadas sempre que necessário. Do mesmo modo, investimento e capacitação e, produções audiovisuais. Segundo Mônica Lessa (2012), ao final do século XX, um crescente e expressivo aumento da participação dos fluxos globais culturais ganharam destaque representando em média 7% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Nesse sentido, as instituições internacionais da época, como o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT)- atual OMC percebeu a importância que os bens culturais representavam e passou a estabelecer algumas reuniões e cúpulas para debater sobre as questões da liberalização dos bens e serviços culturais. Ainda de acordo com Lessa (2012), a Rodada do Uruguai (1986-1994) 47 serviu como um termômetro para os debates acalorados que viriam a posteriore.

47 Em setembro de 1986, na cidade de Punta del Leste (Uruguai), foi iniciado o maior acordo comercial da história a partir de exaustivas reuniões e demandas que buscaram registrar as obrigações contratuais de redução ou eliminação de tarifas específicas e de barreiras não tarifárias relacionadas aos comércio de bens e serviços. Vários compromissos foram firmados desde a liberalização do comércio aos acordos envolvendo temas como agricultura, medidas sanitárias. O acordo pôs fim ao antigo GATT substituindo

91

Lessa (2012) compreende, assim como nós, que a cada dia mais se torna de vital importância os estudos sobre a cultura nas relações internacionais, principalmente, na temática da política externa. A importância dada a cultura se torna perceptível à medida que a cultura se torna a cada dia um modelo estratégico de inserção internacional. No âmbito da diplomacia, os formuladores de política externa não conseguem mais negligenciar esse tema já que a cada dia a relação de produção, distribuição, venda, troca e lucro se tornam vitais entre os países no sistema internacional. O relatório “The Globalisation of Cultural Trade: A shift in Consumption- Internacional flows of cultural goods and services 2013-2014” 48 realizado pela UNESCO coloca a região da América Latina.

Distribuição da Exportação de Bens Culturais

1,20% 0,02% 2,70% 0,80% América do Norte e 0,45% Europa Leste e Sul Asiático

Pacífico 49,10% América Latina 45,50%

Caribe

África Sub-Sariana

Gráfico 3 Distribuição De Exportação De Bens Culturais Por Região No Mundo Fonte: UNESCO (2014)

pela nova organização chamada OMC. O acordo apresentou vários tripés, dentre eles, a questão dos acordos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionadas ao Comércio (Trips). O acordo buscava estipular os direitos de propriedade intelectual determinando medidas consideradas eficazes; Buscava solucionar os problemas e gargalos através de soluções multilaterais; Além, de estipular datas para a transição e implementação dos acordos firmados. O acordo sobre os Trips buscava conter as disposições gerais como a cláusula da nação mais favorecida; Abordada sobre o direito em sucessão como as marcas, os cpyright, desenhos industriais, patentes, apelações geográficas (LAMPREIA, 1995, pp.247-250). 48 Disponível em http://www.uis.unesco.org/culture/Documents/international-flows-cultural-goods- report-en.pdf Acessado em 12/05/2016 92

31,20% 48,70% 0,02% 5,30% 1,70% 1,60% 6,10% 5,30%

45,50% 49,10% 0,02% 2,70% 0,50% 0,30% 1,20% 0,80%

Todos os Bens Bens Culturais

Gráfico 4 Distribuição Regional De Exportação De Bens Culturais e Todos Bens Em 2013 Fonte: UNESCO (2014)

Dados coletados no último relatório mundial da UNESCO intitulado “Investir na Diversidade cultural e no Diálogo Intercultural” 49 aponta para que desde 2006, os meios de comunicação e cultura representam em média cerca de 7% do PIB mundial cujo valor aproximado de 1,3 trilhões de dólares americanos. Ainda de acordo com o relatório, durante a década de 1990, a economia da cultura e da criação cultural cresceu no ritmo superior (em média o dobro) ao setor de serviços e quatro vezes ao setor industrial. A UNESCO afirma categoricamente que as mudanças que se almejava desde o relatório MacBride, nos dias que se seguem não passaram por mudanças. Ao olharmos o elevado nível de concentração que ainda se mantém nos países desenvolvidos através de suas empresas multinacionais e transnacionais. Contudo, o relatório aponta que os setores de radiodifusão e produções cinematográficas apresentam dificuldades para competir no mercado mundial. A maioria dos países em desenvolvimento não apresenta condições competitivas na área da cultura. A áfrica ainda se mantém de modo marginal tendo apenas 1% das exportações mundiais. Embora, o cenário mundial midiático esteja apresentando algumas mudanças começando a exportar equipamentos culturais e de produtos de comunicação chamados de contra fluxo. A região da América Latina tem havido uma

49 Disponível em http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001847/184755por.pdf Acessado em 12/06/2016

93 expansão das redes de informação pan-regionais e internacionais com possibilidades de vozes alternativas.

Mapa 5 Total de Exportações Culturais Fonte: UNESCO (2014)

No que concerne a Venezuela, os gráficos abaixo mostram o índice de exportação e importação dos bens culturais desde 2004 até 2013 realizados pela UNESCO.

100% 0,41 1,11 90% 2013 80% 5,43 2012 70% 2011 60% 2010 2,92 50% 2009 2008 40% 2007 30% 8,47 2006 20% 2005 10% 2004 0% 0,74 Venezuela

Gráfico 5 Exportação De Bens Culturais Da Venezuela(2004-2013) Fonte: UNESCO (2014)

94

3000

2500 2013 340,65 2012

2000 237,9 2011 173,25 2010 2009 1500 554,56 2008 1000 2007 656,35 2006 500 2005 339,25 2004 187,7 0 Venezuela

Gráfico 6 Importção De Bens Culturais Da Venezuela (2004-2013) Fonte: UNESCO (2014)

Durante a gestão do período de Hugo Chávez houve uma rejeição a todo e qualquer tipo de monopólio privado dos meios de comunicação. Na abertura do V Encontro Mundial de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade (Bolívia), Chávez fez críticas severas aos meios de comunicação e sua atuação na região do Cone Sul. Para tanto, segundo Chávez era preciso realizar uma reestruturação de todo parque tecnológico cultural e midiático na Venezuela. Durante a era Chávez uma variedade de órgãos foram criados para medir e investir na área cultural tendo como resultado a criação de quatro novos canais televisivos. A Vive TV50, a Venezolana de Televisión (VTV) 51, a Ávila TV52, a Asamblea Nacional53 (MORAES, 2009, p.120). Rádios também foram criadas durante este período. A Rádio Nacional e a Rádio Mundial (sistema AM). Ainda neste período, agências foram criadas como a Agência Venezolana de Notícias, a criação da Imprenta Nacional, da existência da Fundación Vicente Emilio Solo (Instituto de Musicología) e a criação do Centro Nacional de Tecnologías de Información (MORAES, 2009, p.120). Algumas mudanças comunicacionais ocorreram tendo em vista as eleições presidenciais em dezembro de

50 Disponível em http://www.vive.gob.ve/ Acessado em 24/06/2016 51 Disponível em http://www.vtv.gob.ve/ Acessado em 24/06/2016 52 Disponível em http://www.avilatv.gob.ve/ Acessado em 24/06/2016 53 Disponível em http://www.asambleanacional.gob.ve/vtv Acessado em 24/06/2016 95

2007. Durante este período, Chávez quase perdeu a eleição tendo em vista a pequena margem de votos. Deste modo, Chávez se viu na necessidade de recompor seus ministérios incluindo a pauta e a instauração dos chamados três “R” da revolução bolivariana (MORAES, 2009, p.121). Segundo Moraes (2009), a instauração dos três “R”54 tinham como objetivo, a revisão, a retificação e o reimpulso. Toda esta logística buscava enfrentar a artilharia da mídia e os problemas econômicos que afetam e assolavam a Venezuela, principalmente, a partir da crise dos preços das commodities como o petróleo que já incidiam no mercado mundial. Chávez buscou por meio do Ministério da Comunicação e da Informação retomar o projeto do Sistema Nacional de Meios Público. Esse projeto tinha dois objetivos: Reestruturar os veículos governamentais e buscar uma maior circulação através dos meios alternativos e comunitários. Portanto, fica evidente que se fazia necessário romper com a oligarquia nacional diante de suas demandas. As programações televisivas foram alteradas buscando uma definição de um formato único e específico. As mudanças também buscaram a cooperação e permuta de informações e conteúdos. A VTV se tornou um canal de notícia, a Rádio Nacional da Venezuela (RNV) passou a voltar-se para os segmentos juvenil, cultural e informativo. A Ávila TV buscou o público infanto-juvenil. A Vive TV priorizou a participação comunitária. No que concerne a produção de conteúdos, coube ao Instituo de Radio e Televisión (IRT) coordenar estúdios, capacitar e financiar a estrutura técnica. Além disso, foi criada a Red TV55 que concentra e distribui sinais das emissoras governamentais. Ao fim de outubro de 2008, mais uma inovação na área da comunicação e da cultura. Em parceria com a China, a Venezuela lança em janeiro de 2009, o satélite VENESAT I ou também chamado de Simon Bolívar56 que passa a transmitir sinais das emissoras públicas e comunitárias da Venezuela. O satélite busca solucionar os entraves e as limitações que a Venezuela sofreia durante anos da rede privada DirecTV. Devemos destacar que através da Agencia Bolivariana de Actividades Espaciales (ABAE) existe um rigor quanto ao controle e manutenção do satélite. De acordo com

54 Disponível em http://www.aporrea.org/actualidad/a48979.html Acessado em 24/06/2016 e o Discurso da revisão dos Três “R”- Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=vR103UbhSJY Acessado em 24/06/2016 55 Disponível em http://www.redtv.gob.ve/ Acessado em 13/06/2016 56Disponível em http://www.telesurtv.net/news/Satelite-Simon-Bolivar-7-anos-al-servicio-de-Venezuela- -20160110-0011.html Acessado em 26/06/2016 96 alguns analistas, a instauração do satélite Simon Bolívar permitiu uma independência tecnológica e um enaltecer da soberania (MORAES, 2009, p.122). O Equador durante a gestão de Rafael Correa (2007) através do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BANDES) conseguiu o financiamento para a instauração do canal do Equador TV, tendo sua inauguração em dezembro de 2007. Outros movimentos de cooperação informativa foram feitas com países do Cone Sul. As agências oficiais da Venezuela (AVN) trocaram notícias e informações com a Argentina, Brasil, Uruguai e Equador. Segundo Moraes (2009), os acordos de circularidade informativa permitem que um novo estuário midiático convencional seja distribuído e divulgado. Outro acordo feito pelo Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BANDES) da Venezuela foi feito na Bolívia em média US$ 5 milhões que proporcionou a Rede de Rádios dos Povos Originários da Bolívia57 tendo por lema “A voz dos que não tem voz”. A rede atualmente conta com cerca de 30 emissoras (20 AM e 10 FM) (MORAES, 2009, p.158). As mudanças no âmbito da mídia e da cultura não pararam. Hugo Chávez decidiu lançar jornais impressos com versões on-line como mecanismos de divulgar ações na mídia evitando o bloqueio das mídias mainstream. De acordo com Moraes (2012, p.65), o público alvo destes jornais são as classes de menor poder aquisitivo cujo objetivo é conquistar uma fatia do público com distribuição dirigida e preços mais simbólicos. Por outro lado, os jornais impressos buscam abordar os fatos e acontecimentos a partir da lógica interpretativas com ideário governamental. Outro objetivo é fazer com que as acusações e críticas realizadas pelas mídias mainstream sejam rebatidas. Em 30 d e agosto de 2009, Chávez lançou o Correo Del Orinoco58 com cerca de 32 páginas e 50 mil exemplares. O nome do veículo de comunicação tem como expoente histórico o jornal Gazeta de Caracas que circulou entre 1818- 1832 durante o período da guerra pela independência da Venezuela. A Gazeta de Caracas tinha como objetivo fortalecer a luta pela independência e críticas a coroa espanhola. Segundo Moares (2012), o jornal Correo Del Orinoco consegue ultrapassar as intervenções do governo chavista ainda que maioria das notícias reflitam as informações oriundas do Palácio de Miraflores (MORAES, 2012, pp.67-68).

57 Disponível em http://www.patrianueva.bo/ Acessado em 05/06/2016 58 Disponível em http://www.correodelorinoco.gob.ve/ Acessado em 23/05/2016 97

2.4.1 AS TV’S E RÁDIOS COMUNITÁRIAS E O INVESTIMENTO NA PRODUÇÃO CULTURAL

O ano de 2005 possibilitou a criação da Lei de Cinematografia Nacional da Venezuela59 proporcionou uma espécie proteção ao cinema nacional. De acordo com a lei, a permanência mínima de uma estréia nacional em cartaz passou a ser por três semanas. As companhias passaram a ser obrigadas a comercializar um mínimo de 20% de filmes venezuelanos (MORAES, 2009; 2012). O Centro Nacional Autônomo de Cinematografia (CNAC) 60 permitiu que passasse a vigorar cotas mínimas para a proteção das produções venezuelanas. Em média cinco salas de exibição de conteúdo nacional devem ser disponibilizadas que podem ficar até 12 semanas de exibição. A lei também permite que os lucros das distribuidoras variem de 30 a 60% nos preços dos ingressos conforme o tempo que o filme permaneça em exibição. Para Moraes (2009), os investimentos em cultura na Venezuela durante a era Chávez foram ampliados de modo que 500 projetos de comunicação popular incluindo meios audiovisuais, 205 jornais impressos, 100 jornais digitais, blogs, portais de internet. Em termos comunitários, o Movimento Nacional de Meios Alternativos e Comunitários (MoMAC)61 criado em 2008, permitiu que mais de 200 grupos coletivos e entidades de comunicação popular de todo o país. De acordo com Moraes (2009), o MoMAC associou-se a Associação Nacional de Meios Comunitários (ANMCLA)62. O objetivo é fazer com que o modelo de comunicação pública cada vez mais seja difundido com o menor índice de interferência do governo. É importante destacarmos que o Ministério da Comunicação da Venezuela promove encontros com uma periodicidade razoável cujo objetivo é debater melhorias no padrão técnico e na qualidade jornalística. Além disso, os encontros permitem que financiamentos e subsídios possam ser ofertados para os meios de comunicação comunitários. O Ministério da Cultura por meio da Rede Cultural Comunitária busca transmitir programações, amostra de filmes, exposições, apresentações de espetáculos de teatros nas grandes periferias da Venezuela (MOARES, 2009, p.162). Devemos destacar que todos estes programas e leis somente puderam ser criadas a partir dos lucros do petróleo oriundo da PDVSA. Foi através dos financiamentos da

59 Disponível em http://www.wipo.int/edocs/lexdocs/laws/es/ve/ve042es.pdf Acessado em 23/05/2016 60 Disponível em http://www.cnac.gob.ve/ Acessado em 23/05/2016 61 Disponível em http://movimientos.org/es/foro_comunicacion/show_text.php3%3Fkey%3D12028 Acessado em 23/05/2016 62 Disponível em http://www.medioscomunitarios.org/ Acessado em 21/06/2016

98

PDVSA que Fundos Culturais puderam ser criados. Segundo plano estratégico dos Fundos Culturais, redes de distribuição de conteúdos audiovisuais puderam ser compartilhados e exibidos em projetos de integração regional como Aliança Bolivariana para os povos de Nossa América (ALBA) (MORAES, 2009). No âmbito do audiovisual, o governo chavista passou a patrocinar a Escola Internacional de Cinema em La Guaira. De acordo com governo, a Escola tem por missão e objetivo capacitar e treinar pessoas na área da cinematografia. Além disso, no ano de 2006, Chávez inaugurou a Villa Del Cine63 próximo a capital Caracas cujo propósito era criar um complexo cultural. Outro objetivo era enfrentar a indústria de Hollywood recuperando a soberania nacional (MORAES, 2009, p.175). De acordo com Moraes (2009), foram investidos US$ 42 milhões em instalações e estúdios de pré- produção e pós-produção. Outro compêndio foi à existência da Cinemateca Nacional64 que passou a fortalecer atividades cinematográficas desde formar platéias ao desenvolvimento de pólos audiovisuais regionais.

63 Disponível em http://villadelcine.gob.ve/ Acessado em 21/06/2016 64 Disponível em http://www.cinemateca.gob.ve/fcn/index.php Acessado em 21/06/2016

99

TERCEIRO CAPÍTULO - O EFEITO TELESUR

3.1 TELESUR: HISTÓRICO, ORGANOGRAMA E PROGRAMAÇÃO

A criação da TeleSUR teve sua “origem” desde a época que Hugo Chávez assumiu a presidência da Venezuela em 1999. Naquele período, o comandante Hugo Chávez já observava a importância e o papel de influência que a mídia exercia na sociedade tanto no ambiente doméstico quanto internacional. Na América Latina, em termos históricos, a discussão sobre a importância entre as relações internacionais, a cultura e a comunicação social é ainda muito complexa e por vezes de difícil compreensão como já abordado no capítulo I. A região é marcada por tradições autoritárias e apresenta uma democracia liberal recente em grande medida oriunda do século XX. Ao olharmos para as questões mundiais percebemos que a cada dia existe um despertar sobre a importância e a influência que os meios de comunicação exercem na sociedade. Governantes de vários países percebendo a interferência que a mídia desempenha na sociedade buscam por meio de suas políticas externas instrumentalizarem a mídia como meio estratégico e como recurso de diplomacia midiática (GILBOA; HALLIN e PAPATHANASSOPOULOS, 2002). De acordo com Gláucia Moraes (2015), a visita de Hugo Chávez, ao Brasil, em 2 de setembro de 2000, para proferir uma palestra numa universidade em Brasília permitiu que a discussão e o debate sobre uma integração latino-americana que ampliasse horizontes utilizando a mídia e a cultura passou a ser almejada. Naquela época, o sindicato de jornalistas do Distrito Federal, por meio do jornalista Beto Almeida, aproveitou a oportunidade para apresentar uma proposta de uma TV regional cuja identidade e a cultura fossem os pilares. Ainda segundo Moares (2015) e Beto Almeida (2016), o projeto então apresentado pelos jornalistas ganhou relevância e espaço na agenda do presidente Hugo Chávez. Durante, o Congresso Internacional realizado pela União de Jornalistas em Cuba (UPEC) houve questionamentos e debates quanto ao imperialismo comunicacional. Eu me lembro da data de 2 de setembro de 2000, Chávez esteve em Brasília, na época eu trabalha como jornalista na TV Senado. Nós gravamos a palestra que ele proferiu numa universidade. E logo após, eu apresentei a ele uma proposta do sindicato de jornalista na área de vídeo para que a integração latino-americana não se limitasse acordos comerciais, mas que ela fosse mais

100

além, que caminhasse pelo terreno da cultura, da comunicação e da educação. Ele me escutou, ficou de pensar e analisar. Muito tempo depois, Chávez através do seu Ministro da Comunicação me ligou me chamando para encontrar com o presidente no início de 2004 a respeito da ideia de que você tinha apresentado. Mas, é preciso destacar que em 2001, houve um congresso sobre o jornalismo em Cuba, e Fidel Castro já naquela época disse uma frase célebre “Nós precisamos de uma CNN dos Meus”. Anos mais tarde, uma entrevista celebre entre Hugo Chávez e Fidel Castro para as várias praças (lugares principais selecionados pelo jornalismo) como Brasília onde eu pude perguntar novamente em 2002, para os Chefes de Estado, os elementos chaves para a integração latino-americana, por meio da comunicação, que está faltando. Ele lembrou de mim e comentou com Fidel Castro, ao vivo, da proposta que havia feito ele em 2000. Ele ainda brincou, se o Fidel aprovar, por mim, está fechado (ALMEIDA, 2016). De modo formal, a rede de televisão TeleSUR foi criada em 24 de julho de 2005, dia do aniversário do revolucionário Simon Bolívar65, a partir do lema “Nuestro Norte es el Sul”. Pautada por uma propriedade multiestatal (aliança entre Venezuela, Argentina, Uruguai e Cuba). Inicialmente, a TeleSUR recebeu um investimento de 10 milhões de dólares, somente, Caracas investiu cerca de 51%, em tecnologia da informação e da comunicação, enquanto os demais membros investiram em outras tecnologias e aparatos midiáticos como a Argentina (20%), Cuba (19%) e o Uruguai (10%) foi empregado (MARINGONI, 2007, pp.155-156). Este encontro entre nós está sendo transmitido ao vivo pela TeleSUR para todo o mundo. E do mesmo modo, para os membros fundadores da TeleSUR como Andres Rissara, Ministro da Comunicação da Venezuela, durante o meu e do nosso governo. Mas, temos que chamar a atenção que a TeleSUR deve chegar a todos os lugares e povos dos continentes. Grátis, sim. Eu não posso tomar decisões aqui, mas que a emissora deve chegar a diversas localidades. Agora, por exemplo, temos problemas com satélites e estamos buscando soluções. Fazendo com que o sinal seja aberto, em formato digital. A tantas maneiras de avançar que teremos que pensar como faremos isso já que a TeleSUR tem que alcançar todo mundo, a Europa, transmitindo ao vivo (CHÁVEZ, 2007).

Em 2008, com a entrada de novos membros, como a Nicarágua (2007) e o Equador (2007) o investimento na TeleSUR passou por mudanças. A Argentina continuou com 20%, Uruguai manteve seus 10% do mesmo modo Cuba com seus 19% e Venezuela com seus 51%, porém Bolívia passou a contribuir com 5%, Equador com 10%, Nicarágua com 10% segundo o portal de notícias da emissora66.

65O bolivarianismo se fundamenta no resgate e na continuidade do projeto de emancipação venezuelano das oligarquias político-econômicas que reproduzem a estrutura dependente, contra a subordinação do país à influência de agentes do imperialismo e a distribuição radical do poder político. Refere-se assim às condições de realização da segunda emancipação (SEABRA, 2012). 66 Disponível em http://www.telesurtv.net/opinion/10-anos-de-teleSUR-20150719-0042.html. Acessado em 13/08/2016. 101

Glaúcia Moraes (2012) em entrevista ao jornalista Beto Almeida (membro idealizador da TeleSUR) informa que os países participaram de modo diferente. Cuba participou não só oferecendo seus melhores técnicos, jornalistas, engenheiros de satélite como também, inaugurou uma sucursal da emissora de modo imediato. A ilha governada por Fidel Castro disponibilizou todo seu acervo audiovisual para a TeleSUR (programas, documentários). Países como Bolívia e Nicarágua ajudaram com equipamentos. No caso do Equador também, a contribuição financeira ocorreu, sobretudo, porque uma parte do noticiário telejornalístico da TeleSUR é produzido nos Andes. Ainda segundo Moraes (2012), o Equador é o país cuja participação ainda se encontra muito variável. Destaca-se que a participação de cada país membro na TeleSUR ocorreu de modo que as particularidades políticas, sociais, econômicas e legislativas fossem respeitadas. O Uruguai foi um dos países que teve dificuldade em realizar uma adesão formal a TeleSUR tendo em vista o baixo nível de engajamento político das elites com o projeto comunicacional latino-americano. Foi preciso que o país realizasse reformas comunicacionais por via parlamentar negociando com os partidos conservadores. Na época, o então presidente Tabaré Vazquez (2005-2010) chegou a ceder a pressão de forças oposicionistas submetendo a assinatura do tratado da TeleSUR a apreciação do Congresso. Somente, em 2006, o Senado aprovou o documento, por meio da Frente Ampla, sendo enviado a Câmara dos Deputados onde sua votação demorou cerca de três anos (MORAES, 2015, p.158). A Argentina também foi outra nação que também teve problemas e dificuldades em apreciar o documento formal da criação e participação como membro fundador da TeleSUR. Segundo Moraes (2015), os governos de Néstor e Cristina Kirchner foram omissos em certos momentos quanto às políticas públicas de comunicação. Mesmo com a adesão da Argentina a TeleSUR, durante o governos de Néstor Kirchner (2003-2007) o acesso da emissora ainda era muito pequeno. Somente os clientes do serviço de televisão via satélite DirecTV é que tinham a possibilidade de assistir o canal- em média esse pequeno grupo representava 6% dos telespectadores do país, Moraes (apud BECERRA; MASTRINI, 2009). Outra dificuldade encontrada na Argentina deve-se ao mercado de televisão a cabo, muitas empresas na época se recusavam a transmitir o sinal da TeleSUR mesmo sabendo que a emissora tinha sinal gratuito. Na Argentina, como já falado no capítulo I da dissertação, o sistema televisivo é controlado por dois grandes conglomerados

102 comunicacionais a Cablevisión e o Multicanal que acabam verticalizando o mercado. O sinal da TeleSUR somente começou a mudar com a gestão de Cristina Kirchner (2008- 2015) quando a presidenta tomou para si a importância da democratização dos meios de comunicação na Argentina. Com a promulgação da Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual em setembro de 2010, através da Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (AFSCA), outorgando a Resolução 126/10, que permitiu que as pautas de ordenamento da grade de programação dos serviços audiovisuais fossem por subscrição e recepção fixa (MORAES, 2015, p. 157). O artigo 1° da normativa obrigava ditos serviços a ordenar a grade por gêneros e fixar algumas localizações. Em relação aos sinais de notícia internacionais, determinava a inclusão da TeleSUR na grade de todos os operadores de televisão a cabo e serviço satelitial e sua localização no início do espaço reservado ao gênero. O art. 5 definiu a data de 1° de outubro de 2010 como prazo para a adequação e o art. 6 estabeleceu que o descumprimento dessas disposições seria considerado falta grave sujeita a multa (MORAES, 2015, p.158).

Após diversas batalhas entre governo, Congresso e conglomerados comunicacionais, em 2010, a TeleSUR teve seu sinal ampliado com transmissão digital tendo em vista o processo de migração da radiodifusão da tecnologia analógica subsidiada pelo Governo de Cristina Kirchner. Com relação ao Equador, em 2011 a transmissão aberta do conteúdo da TeleSUR passou a ocorrer nas duas principais cidades do país. De um lado, a capital Quito e do outro lado a cidade de Guayaquil. Em Cuba, a transmissão do sinal passou a ser aberto a partir de 2013. Para além dos Estados, a TeleSUR buscou contar com patrocínio de empresas que estivessem interessadas em colaborar com investimentos segundo a coletiva de imprensa da emissora em sua inauguração. Em 2016, a emissora passou a realizar uma campanha intitulada “Cidadano TeleSUR” cuja finalidade é arrecadar subsídios dos telespectadores da TeleSUR. No “Cidadano TeleSUR”, cidadãos de diferentes nacionalidades pode fazer doações de diferentes valores monetários. “Graças ao seu contributo, milhares de pessoas terão um espaço para serem ouvidos. Seu aporte vai nos permitir continuar mostrando os fatos tal como eles são” 67. Em resgate a historicidade da emissora, a TeleSUR teve sua primeira transmissão realizada no Teatro Teresa Carreño, sala José Felix Ribas, em Caracas (Venezuela) em 24 de julho de 2005. De acordo com o Observatório da Radiodifusão Pública da

67 Disponível em https://ciudadano.telesurtv.net/portuguese.html . Acessado em 13/08/2016.

103

América Latina68, a emissora contou com 100% de financiamento de recursos estatais. Com relação à natureza jurídica da emissora, a TeleSUR dispôs de uma administração pública direta. No que concerne a participação pública, a TeleSUR disponibilizou desde o início, através de e-mail, telefone, contatos para que a interação com o público ocorresse. Hoje anunciamos um passo importante para a estratégia por uma unidade sul- americana, motivo de orgulho para todos os nossos povos. O governo da República Bolivariana da Venezuela, em especial o presidente Hugo Chávez em companhia de outros governo sul-americanos que trabalham em uma nova emissora do Sul e de uma eminente necessidade latino-americana contar com um meio que permita a todos os habitantes desta vasta região difundir com seus próprios valores, suas próprias imagens, suas próprias idéias transmitir seus próprios conteúdos de modo livre e equitativo frente aos discursos únicos sustentados pelas grandes corporações. Será imprescindível uma alternativa capaz de representar os princípios básicos de um meio de comunicação a serviço da integração dos povos. Esta alternativa é a TeleSUR constituída de uma sociedade multiestatal (TELESUR, 2005).

Com relação à transmissão, a TeleSUR, somente, em 9 de fevereiro de 2009, passou a ser transmitida via sinal aberto na Venezuela. Em Caracas, a TeleSUR estava disponível no canal 51 e no canal 49 UHF. Na cidade de Valencia, a emissora podia ser assistida pelo canal 46, já na cidade Barquisimeto, canal 51 e na cidade de Puerto La Cruz a emissora pode ser assistida no canal 43. Na Argentina, a TeleSUR pode ser vista no canal 7. No Uruguai, a emissora é transmitida pelo canal 6, a partir do Complexo da Torre das Telecomunicações de Montevidéu. De acordo com o site institucional da emissora multiestatal, a TeleSUR tem como missão ser um multimeio de comunicação latino-americano cuja vocação social está orientada a liderar e promover os processos de união dos povos do Sul. “Somos un espacio y una voz para la construcción de un nuevo orden comunicacional”. Destacamos que a concepção por Sul parte de um conceito geopolítico que busca promover a luta dos povos pela paz, pela autodeterminação, o respeito aos Direitos Humanos e a Justiça Social. Quanto a visão e os princípios e valores, segundo a emissora, a TeleSUR é um multimeio e uma multiplataforma com cobertura global que a partir do Sul produz e difunde conteúdos de informação e formação para uma ampla base de usuários fiéis com uma visão que integre as pessoas. Por fim, mas não menos importante, os

68Disponível em http://www.observatorioradiodifusao.net.br/index.php/tvs-sp-370647445/325- venezuela/tvs. Acessado em 10/08/2016.

104 princípios e valores da emissora são o compromisso com a excelência, trabalho em equipe, vocação social, transformação social, criatividade e ética. TeleSUR também compartilha um objetivo estratégico perseguido pelo movimento dos países não alinhados: promover a circulação de informações produzidas pelo Sul, sem a intermediação dos países do Norte. Nas palavras do membro do primeiro Conselho Assessor da emissora, Miguel Bonaso, o veículo almeja “romper o cerco informativo na América Latina”. A afirmação é uma crítica à atuação das agências de notícias internacionais e de redes informativas como CNN em espanhol, Fox News, ESP e NBC, que dominam o espaço comunicacional do continente (VALENTE; SANTORO, 2006).

Ainda de acordo com aspectos históricos, a TeleSUR nasceu com o propósito a serviço de um processo de integração regional, no âmbito da cultura, em relação à comunidade sul americana. Constituindo-se como uma emissora cuja resistência regional, por meio da notícia, contesta o “imperialismo cultural” norte-americano; e por fim, funciona como uma ferramenta de diplomacia pública da região e da Venezuela. No entanto, defende-se a hipótese que a emissora vai além, ou seja, atua como elemento soft power69 da diplomacia midiática e pública do ex-presidente Hugo Chavéz, da Venezuela e da região. Un nuevo canal de televisión no sirve para nada si no tiene contenidos y formatos nuevos. Si no lo entendemos, estaremos condenados a ver El Chavo del Ocho y Walt Disney hasta el último día de nuestras vidas. Falta una fábrica de contenidos latinoamericanos. Lo que la gente necesita son documentales, filmografía, cultura, entretenimiento en el mejor sentido de la palabra, telenovelas o deportes, con perspectiva latinoamericana. Por otra parte, las redes de distribución de las señales están en manos del enemigo. Si no apostamos por la democratización del espectro radioeléctrico, que quiere decir más espacio público que privado, nunca vamos a llegar a nadie tampoco. Nos quedaremos en un mero ejercicio onanista. Porque en lugar de vernos 100 millones de personas, nos estarán viendo 100.000 (…) El tejer un proyecto latinoamericano alternativo al neoliberalismo. Hoy en día la verdadera izquierda está en los movimientos sociales que empujan a los gobiernos, que pueden ser más o menos reformistas, meros administradores temporales que no tienen el verdadero poder. Esa misma timidez en tomar decisiones ha hecho que algunos gobiernos no hayan hecho frente al capital especulativo. En América Latina lo que ha fallado es el capitalismo, no el socialismo. La última experiencia neoliberal ha dejado 300 millones de latinoamericanos en exclusión total, gente que habita el territorio pero que no tiene documentación, ni derecho a educación, ni a salud, ni a nutrición. La pregunta es si la Revolución se puede hacer gracias a una televisora. Y la respuesta es que ésta no va hacer el proceso de cambio, sino que va a coadyuvar con el mismo. Telesur debe ser plural, brindando variados enfoques sobre un mismo hecho para que la gente pueda sacar sus propias conclusiones y tener esa capacidad de decidir por sí sola su futuro. Los

69Joseph Nye cunhou o termo "poder brando" no final de 1980. Ultimamente, o termo é usado com frequência e muitas vezes de forma incorreta pelos líderes políticos, editorialistas e acadêmicos de todo o mundo. Soft power reside na capacidade de atrair e convencer, influenciando indiretamente o comportamento de outros Estados através dos meios culturais e ideológicos, conquistando seu objetivo através dos meios diplomáticos, culturais e ideológicos. 105

medios de siempre desprecian la ciudadanía. Telesur debe tener un respeto permanente por la gente (AHARONIAN, 2008)70.

Aqueles que nos acusam, os grandes meios de lá e aqui cujos proprietários são representantes da burguesia e do imperialismo, em sua grande maioria que nos acusam de ser repressores das liberdades e de perseguir jornalistas, de encerrar o funcionamento dos meios de comunicação, de fazer censura aos meios de comunicação, eles nos acusam, mas ficaram em silêncio diante das perseguições contra os assassinatos, das ditaduras. Apoiaram os golpes de Estados, apoiaram os saquiamentos bancários feitos a população como Somoza. São cínicos apelando e acusando nós como tiranos apoiando a ditadura em todo o continente. Cinismo. Por isso, dou graças à vida enquanto cantava Black, clube (CHAVEZ, 2011).

Para Nogueira (2012) e Seabra (2012), o funcionamento da TeleSUR se dá diante do fortalecimento da identidade latino-americana, colocando-a na posição de contestação do “imperialismo norte-americano”. Deste modo, a emissora multiestatal faz uso da “pluralidade de vozes” na América Latina buscando, desta forma, a não utilização de um “discurso único” como é visível nas grandes cadeias de comunicação, como nas agências de notícias internacionais Thompson-Reuters, France Press, BBC (FONTES, 2015). O documentário “La Concentración Mediática” (2015) produzido pelo programa Expedicion TeleSUR aborda a questão da concentração dos meios de comunicação no México que chega a quase 95% de índice de concentração. A Televisa tornou-se uma emissora que conseguiu por meio do paralelismo político entre Governos e Televisão vincular conteúdos que não permitem uma pluralidade de voes e de fontes. Através do pagamento de propina a manipulação do público é realizada maquiando dados eleitorais inclusive. Outro documentário que foi vinculado pela TeleSUR intitulado “La Guerra que usted no ve”(2010) foi outra maneira de mostrar como os meios de comunicação tornam-se imperialistas e acabam não vinculando a realidade em si. Ao retratar a Guerra do Iraque (2003), o documentário mostra o poder que a imprensa norte-americana adquiriu ao longo do tempo e o “erro” na cobertura midiática ao não evidenciar ao público as questões centrais. Os documentários ajudam a elucidar mais uma vez a retórica da TeleSUR como uma emissora alternativa. Como já mencionavam Chomsky & Hermam (1988), Robison (1999) e Traquina (2007), a notícia divulgada por um veículo de comunicação pode não apenas influenciar, mas também, manipular as pessoas. Dessa forma, a mídia está em

70 Disponível em http://www.aporrea.org/actualidad/n124220.html. Acessado em 13/08/2016.

106 conformidade com a agenda oficial estipulada por um determinado governo, ou a mídia está em conformidade com os interesses de um grupo desde executivos, legislativos. No que concerne ao organograma, à emissora conta dois órgãos: Uma Junta Diretiva composta por representantes dos Estados e (co) proprietários indicados pelos governos. Em média, 7 pessoas compõem a Junta Diretiva. Abaixo da Junta Diretiva, encontra-se o Conselho Assessor constituído por intelectuais e militantes da esquerda latino-americana e mundial. Cerca de 30 pessoas fazem parte deste setor. Dentre eles Adolfo Pérez Esquivel (Prêmio Nobel da Paz), o jornalista Ignácio Ramonet, o escritor e historiador Eduardo Galeano, o cineasta Walter Salles Jr, intelectuais como Silvio Rodríguez, Tariq Ali, Ernesto Cardenal, Pascual Serrano, Tristán Bauer, Atilio Boron (MORAES, 2015). De acordo com Beto Almeida (2016), cabe a Junta Diretiva determinar e deliberar as decisões editoriais, cartográficas, econômicas, políticas da emissora. A Junta Diretiva define, inclusive, os investimentos tecnológicos que serão feitos naquele e demais anos. A cada 5 anos há um rodízio entre aqueles que fazem parte da Junta Diretiva para decidir quem irá presidir a TeleSUR. Inclusive, a renovação do mandato em curso pode ser feita caso a junta considere oportuno. O Conselho de Assessor são pessoas consideradas de notório saber que ajudam, dão palpites nas linhas editoriais e tomam decisões tomadas por consenso.

Junta Diretiva

Conselho Assessor

Setor Técnico Editorias de cada (Logística, Programa Financeiro)

107

Figura 2 Organograma da TeleSUR71 Fonte: Elaboração própria com base em Moraes (2012).

Com relação à equipe de trabalho na redação, o esquema abaixo exemplifica:

71 Disponível em http://www.brasil247.com/pt/colunistas/betoalmeida/189717/Telesur-10-anos-pela- integra%C3%A7%C3%A3o.htm. Acessado em 15/08/2016. 108

Quadro 6 Equipe da TeleSUR (2016) 72 FONTE: Sítio da TeleSUR

72 Disponível em http://www.telesurtv.net/pages/equipo.html. Acessado em 10/08/2016. 109

Historicamente a emissora já contou com alguns presidentes em sua direção. Quando a emissora teve sua inauguração o presidente da época era o Ministro da Comunicação e da Informação Andrés Izarra tendo como seu vice-presidente e diretor geral Aram Aharoniam, mais tarde sendo substituído por Milton Crespo Correo. De acordo com a Gazeta Oficial número 39.60173, em 25 de janeiro de 2011, o Ministro del Poder Popular para las Comunicación e Información (Minci), da Venezuela, Andrés Izarra, designou a cidadã colombiana Patricia Villegas, como presidenta da TeleSUR a partir da deliberação da Assembléia Geral Ordinária e Acionistas da Companhia Anônima da Nova Televisão do Sul em 21 de janeiro de 2011. Destaca-se que até setembro de 2012, o jornalista Jorge Enrique Botero era o Diretor Geral de Comunicação e Informação da TeleSUR, porém segundo a rádio Caracol74, o jornalista teria renunciado a presidência tendo em vista que atuaria como pacificador e articulista dos acordos de paz que estavam sendo buscado pelos governos de Juan Manuel Santos e a guerrilha das FARCS.

73 Disponível em http://www.mp.gob.ve/c/document_library/get_file?p_l_id=10240&folderId=156025&name=DLFE- 2240.pdf . Acessado em 14/08/2016. 74 Disponível em http://caracol.com.co/radio/2012/09/27/internacional/1348735020_769016.html . Acessado em 13/08/2016.

110

ANO CONTEXTO 2005 Telesur foi ao ar pela primeira vez no Teatro Teresa Carreño, em Caracas, Venezuela. Seu conselho consultivo foi formado por figuras notáveis. 2006 Anuncio da compra do canal CMT que seria usado como a sede da emissora. 2007 O sinal da Telesur atinge Cuba através de canal educativo 2. Além disso, uma nova sede em Caracas é inaugurada ampliando a equipe e a rede de colaboradores. 2008 A Telesur esteve nas coberturas importantes como o ataque ao acampamento das FARC. 2009 A cobertura do golpe em Honduras. Marca o rótulo como um canal Telesur notícias internacionais. A partir de 2009, a TeleSUR se torna um meio multiplataforma com o seu site e renda para redes sociais. 2010 Telesur fez uma cobertura exclusiva na operação humanitária de liberações unilaterais mantidos pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). O sinal da Telesur amplia para mais de 123 países da Europa, Oriente Médio e África. 2011 Câmeras da Telesur em Trípoli, na Líbia, durante o processo de invasão desse país, que poderia contar a história que estava sendo invisível. A narrativa hegemônica da mídia na época era que Kadafi estava a bombardear o seu povo. Telesur mostrou que em Tripoli não havia sido bombardeada . Ao contrário, as pessoas estavam participando ativamente na praça da capital. Neste ano foi ao ar a primeira temporada de Just Cause, liderado por Piedad Córdoba (produzido em alta definição). 2012 Em 4 de fevereiro TeleSUR inaugura seus novos estudios. A partir dessa data, os noticiários assumem um conceito mais personalizado. 2013 TeleSUR muda sua identidade visual, seu logotipo aponta para o moderno e ao mesmo tempo minimalista. Além disso, o satélite MEX6 Sat passa a permitir presenças no México e nos estados do sul dos Estados Unidos. Quadro 7 Linha do Tempo da TeleSUR por ano Fonte: Elaboração Própria com base na história e no site da TeleSUR

111

3.2 INVESTIMENTOS TECNOLÓGICOS, REDES SOCIAIS E MÍDIAS DIGITAIS

Quando se pensa na construção de uma emissora de televisão a que se levar em conta o elevado custo financeiro que irá se dispor. O investimento necessário passa desde a compra de software, a compra de equipamentos voltados para a tecnologia da comunicação e informação, logística, capacitação de jornalistas quando necessário. Com a TeleSUR essa situação não foi diferente. A emissora tem certas limitações tecnológicas, se comparada a redes de televisão em países como EUA e a Grã-Bretanha. . Além das limitações tecnológicas, a rede de televisão multiestatal tem dificuldade de adentrar na região da América do Sul, inclusive no Brasil, que se apresenta apenas como membro colaborador. A TeleSUR tem em seu corpo de funcionário, jornalistas que atuam como correspondentes internacionais (cerca de 101), dispersos por várias cidades latino-americanas, cuja produção de notícias e reportagens feitas pelos correspondentes pode ser vista em dois idiomas (espanhol e português) (SANTORO e VALENTE, 2008; NOGUEIRA, 2012). Com relação às parcerias, a emissora possui mais de 30 contratos com empresas de comunicação parceiras que buscam facilitar seu acesso na região. A emissora multiestatal conta ainda com cerca de 160 profissionais atuando em diversos países. Isso inclui as sucursais (12 no total), em diversas capitais do continente americano como Washington (Estados Unidos), Havana (Cuba), Cidade do México (México), Manágua (Nicarágua), Porto Príncipe (Haiti), Caracas (Venezuela), Bogotá (Colômbia), La Paz (Bolívia), Quito (Equador), Lima (Peru), Buenos Aires (Argentina) 75 e Brasília (Brasil) 76 (SANTORO e VALENTE, 2008). A cobertura televisiva da TeleSUR se dá através da cobertura via satélite de modo gratuito, a emissoras públicas, privadas, educativas e comunitárias. O satélite Hotbird 13B atingi quase toda a Europa, a região do Oriente Médio e o norte da África. O satélite Astra 1L amplia a recepção do sinal das regiões da Europa, Norte da África. O satélite Hispasat 1E também ajuda a ampliar o sinal, sobretudo, dos países europeus

75 Desde abril de 2016, o sinal da TeleSUR foi cortado na Argentina sobre o comando do presidente Maurício Macri. Um editorial produzido pela TeleSUR crítica com veemência a atitude tomada. Link do editorial: https://www.youtube.com/watch?v=9MuIDwLx5sw . Acessado em 19/12/2016. 76 De acordo com Beto Almeida (2016), a sucursal de Brasília não existe mais. Disponível no anexo A.

112

(Reino Unido, Alemanha, França, Portugal, Espanha, Suíça, Bélgica, Holanda, Irlanda, Itália, Áustria) e da África (Marrocos, Tunísia, Norte de Saharaui, Argélia). Os satélites Eutelsat 113W e SES-6 ampliam a recepção do sinal na região da América Latina (México, Peru, Porto Rico, Paraguai, Haiti, Panamá, Jamaica, Antilhas e Barbuda, Argentina, Venezuela, São Vicente e as Granadinas, São Cristóvão e Neves, Uruguai, Barbados, Nicarágua, Honduras, Guiana, Bahamas, Santa Lúcia, Belize, Chile, Equador, El Salvador, República Dominicana, Brasil,Granada, Cuba, Trinidad e Tobago, Guatemala, Colômbia, Suriname, Bolívia, e Costa Rica).

Mapa 6 Rede de Transmissão da TeleSUR via satélite FONTE: Sítio da TeleSUR

De acordo com a emissora, a TeleSUR somente na Argentina conta com mais de 90 operadores de cabo e tem acordo com mais de cinco estações de televisão aberta em diferentes províncias atingindo mais de 20 milhões de telespectadores potenciais e mais de 8 milhões de assinantes. La cadena de televisión transmite su señal a través de satélites, cableoperadores, Internet y televisoras abiertas que cubren América del Sur, Centroamérica, el Caribe, Estados Unidos, Europa Occidental, el Norte de África y parte del Medio Oriente. También ha suscrito acuerdos y convenios comunicacionales con otras televisoras y cadenas de noticias, lo que hace posible el reconocimiento de esta fuente de información a millones de usuarios alrededor del mundo (TELESUR, 2016).

113

De acordo com a atual Diretora de Informação da emissora e/ou presidenta, Patrícia Villegas, a TeleSUR recorre em alguns momentos a profissionais temporariamente contratados ou também chamados de freelancers, em outros países quando necessário. Segundo a diretora, isto somente acontece na ausência de sucursais. Ainda segundo a Villegas, a cada dia a tecnologia da informação e da comunicação passa por inovação. Nesse sentido, a TeleSUR precisa caminhar e se inovar cada vez mais. Portanto, as redes sociais tornam-se mais um elemento de transmissão de informação e de comunicação para a sociedade. Ou seja, por meio das redes sociais77 é possível ampliar a atuação da emissora no sistema mundial como uma alternativa as notícias que são pasteriorizadas pelos meios de comunicação mainstream. Assim sendo, a TeleSUR lançou-se como televisão e ao mesmo tempo criou um portal de notícias dando certa continuidade ao que já vinha sendo produzido. Todavia, a emissora inovou ainda mais na medida em que criou reportagens, matérias e conteúdos específicos destinados ao portal.

Figura 2 Portal da Emissora Fonte: TeleSUR (2016)

A emissora também passou a contar com um sistema de RSS78 onde os usuários podem ter acesso as informações em primeira mão. Basta apenas que o usuário acesse o

77 Como é sabido as redes sociais são as mudanças importantes detectadas pela comunicação mediada por computador nas relações sociais é a transformação da noção de localidade geográfica das relações sociais, embora a internet não tenha sido a primeira responsável por esta transformação. O processo de expansão das interações sociais começa com o surgimento dos meios de transporte e de comunicação (...) o início da aldeia global é também o início da desterritorialização dos laços sociais (RECUERO, 2009, p.135). 78 RSS é um formato, baseado em XML (Extensible Markup Language) (W3C, 2008), para subscrição e sindicação de conteúdos na Web. O termo sindicação pode ser entendido como um mecanismo em que um produtor de conteúdos para a Web permite que outros os utilizem, republicando-os ou republicando informação sobre eles. O formato permite dividir a informação de um sítio Web em partes distintas e

114 portal da emissora e instale através do seu navegador o leitor de RSS. Em 8 de junho de 2007, a rede de televisão do Sul criou um canal através do youtube79. Atualmente, a emissora conta com cerca de 159.795 mil inscritos com cerca de 144.908.910 milhões de visualizações com mais de 100 mil vídeos em língua espanhola. Outros canais da emissora foram abertos com conteúdos em inglês (31.702 vídeos) e em português (11.446 vídeos).

Figura 3 TeleSUR no Youtube Fonte: TeleSUR (2016)

A inovação não parou por aí. O Twitter80 também tornou-se uma forma de comunicação e de divulgação de conteúdo. A TeleSUR abriu uma conta em junho de 2009. Atualmente, a emissora conta com cerca de 1 milhão e 250 mil seguidores. Em média, cerca de 768 mil tweets foram feitos com aproximadamente 271 mil fotos e vídeos compartilhados para todo os continentes.

entregá-las automaticamente em outros produtos de informação, desde sítios Web até mensagens de correio eletrônico (WINER apud LEITÃO, 2010, p.1). 79 O YouTube foi lançado em maio de 2005 para que bilhões de pessoas possam descobrir, assistir e compartilhar os vídeos mais originais já criados. O YouTube oferece um fórum para as pessoas se conectarem, se informarem e inspirarem umas às outras por todo o mundo, bem como atua como plataforma de distribuição para criadores de conteúdo original e anunciantes grandes e pequenos (YOUTUBE, 2005). 80 É uma rede social e servidor para microblogging, que permite aos usuários enviar e receber atualizações pessoais de outros contatos, em textos de até 140 caracteres (TWITTER, 2016).

115

Figura 4 TeleSUR no Twitter Fonte: Site da TeleSUR (2016)

Em 19 de junho de 2012, a TeleSUR lançou sua página na rede social do Facebook81. De acordo com a emissora multiestatal, a empresa tem como missão ser uma multimídia de comunicação latino-americana tendo como vocação social a liderança e a promoção dos processos de união dos povos do Sul. A emissora também informa na sua descrição, um espaço e uma voz para a construção de uma nova ordem comunicacional. Sentimos satisfacción y pasión por brindar los mejores contenidos, productos y servicios impulsados por nuestra identificación y lealtad con la organización y el orgullo de pertenecer a su colectivo de trabajadoras y trabajadores. Nos orientamos al cumplimiento oportuno de nuestros objetivos y metas, enfocándonos en la obtención de resultados con altos niveles de excelencia, calidad y competitividad. Compartimos la Misión, Visión, Principios y Valores, y nos sentimos parte de la organización. Establecemos relaciones basadas en la solidaridad social con nuestras usuarias, usuarios, trabajadoras, trabajadores, pueblos y comunidades. Somos agentes de transformación, influyendo e inspirando a otros, creando espacios de comunicación e intercambio para fortalecer la integración regional, la participación protagónica de sus pueblos y la suprema felicidad social (TELESUR, 2012).

81 O Facebook define-se como um produto/serviço que tem por missão “oferecer às pessoas o poder da partilha, tornando o mundo mais aberto e interligado” (Facebook, 2013a). Tendo em conta as estatísticas decorrentes de estudos desenvolvidos neste âmbito, tudo indica que essa missão foi e continua a ser cumprida. De fato, a quase onipresença do Facebook é surpreendente: em junho de 2013, o Facebook registou cerca de 1.150 milhões de utilizadores, número superior à atual população européia (Facebook, 2013a). O Facebook pode ser definido como um website, que interliga páginas de perfil dos seus utilizadores. Tipicamente, é nestas páginas que os utilizadores publicam as mais diversas informações sobre eles próprios, e são também os utilizadores que ligam os seus perfis aos perfis de outros utilizadores (CORREIA e MOREIRA 2014). 116

Figura 5 TeleSUR no Facebook Fonte: Site da TeleSUR (2016) O Instagran82 também foi outra forma de também se manter conectado via as redes sociais. A emissora do sul realizou sua primeira postagem em 10 de julho de 2013. Atualmente, a emissora conta com mais de 2.740 publicações de fotos e com cerca de 45 mil e 700 seguidores.

Figura 6 Instagran da TeleSUR Fonte: Instagran da TeleSUR (2016)

82 Kevin Systrom (@kevin) is the CEO and co-founder of Instagram, a community of more than 500 million who capture and share the world's moments on the service. He is responsible for the company's overall vision and strategy as well as day-to-day operations. Since the beginning, Kevin has focused on simplicity and inspiring creativity through solving problems with thoughtful product design. As a result, Instagram has become the home for visual storytelling for everyone from celebrities, newsrooms and brands, to teens, musicians and anyone with a creative passion. Prior to founding Instagram, Kevin was part of the startup Odeo, which later became Twitter, and spent two years at Google working on products like Gmail and Google Reader. He graduated from Stanford University with a BS in Management Science & Engineering and serves on the boards of Walmart and KCRW (INSTAGRAM, 2016).

117

Outras redes sociais também foram investidas pela TeleSUR nos últimos anos. No Google +, no Pinterest, Paper-Li são alguns exemplos de investimento, de inovação e de percepção sobre a importância das redes sociais. Os Blogs83 também estão presentes no portal da emissora. Cerca de 43 jornalistas fazem parte da rede de blogs da emissora.

Figura 7 TeleSUR no Google + Fonte: Site da TeleSUR (2016)

Figura 8 TeleSUR no Pinterest Fonte: Site da TeleSUR (2016)

83Disponível em http://f2.telesurtv.net/seccion/blog. Acessado em 15/08/2016.

118

Figura 9 TeleSUR no Paper.Li Fonte: Site da TeleSUR (2016)

Investimentos nas mídias digitais tornou-se outra forma de ganhar relevância e aproximação com o público. Usando sistema IOS ou Android, o usuário pode baixar o aplicativo da TeleSUR tanto em inglês como em espanhol e ter acesso a todo o conteúdo da emissora. Um aplicativo contando todo o legado e história do ex-presidente Hugo Chávez também foi lançado pela emissora. Basta o usuário baixar em sua loja de preferência o aplicativo “Mi amigo Chávez”.

Figura 10 Aplicativos da TeleSUR Fonte: Site da TeleSUR (2016)

Outro fator importante que merece ser destacado é o telejornalismo feito pela TeleSUR. Isto é, o telejornalismo produzido pela emissora funciona 24 horas, todos os

119 dias da semana, cuja ênfase dá-se através de matérias, informações que de algum modo dialoguem e relembrem o histórico do colonialismo da América Latina. Nesse sentido, por exemplo, faz uso dos discursos anti-imperialista e/ou antiburguês proferidos por Chefes de Estado da região da América Latina. Esses mesmos discursos são ressaltados pela emissora tendo em vista seu alinhamento editorial vinculados a esquerda. Muito de suas fontes entrevistadas, nos mais diversos programas, se identificam com a ideologia da esquerda (OLIVEIRA, 2011). Segundo a atual presidenta Patrícia Villegas (2015), a TeleSUR nasceu como uma alternativa informativa independente querendo mostrar os que os outros não querem. Frente as adversidades, a TeleSUR responde com a verdade. Com mais participação, com respeito e com mais democracia. Porque está informado é um direito e não um negócio. Nesse sentido, cerca de 80% do conteúdo produzido pela emissora corresponde a material telejornalístico, entrevistas, documentários dossiês, reportagens especiais, séries históricas. Os outros 20% representam conteúdos preenchidos por filmes e documentários dependentes produzidos na região da América Latina fruto da cooperação da emissora com os países pertencentes e não pertencentes à emissora (MORAES, 2009, p. 127).

120

PROGRAMAS DESCRIÇÃO

TeleSUR Notícias 25 minutos de notícias em vários cenários da América Latina e do resto do mundo, integrados em uma única informação e numa única voz- Telesur Notícias. The Empire files with Abby Martin Os arquivos do império é um semanário, com estilo documental investigativo conduzido por um jornalista estadunidense Abby Martin. O programa tem ênfase sobre o poder, a injustiça e as guerras que são travadas com os direitos humanos e as liberdades civis nos Estados Unidos e em todo o mundo. Los Nuestros * Es Noticia É um programa de análise e opinião que aborda o acontecimento noticioso mais importante do dia. Uma radiografia minuciosa e exaustiva dos atos, seus protagonistas e suas consequências. Destes três artistas são apoiados pelas investigações, gráficos, entrevistas, pela internet, pelas notícias e materiais dos nossos correspondentes. Edición Central É um resumo informativo mais completo das notícias do dia sobre o que acontece na América Latina e no resto do mundo, com uma perspectiva latino-americana. Reportajes TeleSUR – Fidel y Chávez * Prisma * Temos * Impacto Econômico Impacto Econômico oferece um informe completo das notícias mais relevantes do cenário econômico na América Latina e no mundo. Deportes TeleSur Ação e adrenalina esportiva. Uma cobertura detalhada e mais completa da informação sobre o

121

mundo dos esportes. As equipes mais destacadas do momento, as melhores jogadas do dia, os encontros mais esperados pelos fanáticos e amadores do esporte, com personagens que fizeram e seguem fazendo história. TeleSUR Notícias Lenguaje de Señas TeleSUR Notícias a partir da utilização da Língua de Sinais promove a inclusão de usuários e usuárias com ausência de capacidade auditiva passa estar informado sobre tudo que acontece em termos de notícia na América Latina e no mundo, com uma visão integral das transformações que estão sendo produzidas na atualidade. Zona Verde Espaço informativo em que se abordam temas de interesse coletivo sobre a ecologia e o meio ambiente. Zona Verde apresenta com informação pertinente e precisas, histórias e denúncias sobre os sistemas que impulsionam a contaminação do mundo. Conexión Global Notícias do momento desde os mais diversos cenários de interesse da vida política, econômica e social de toda a América Latina, integrando ao mundo em uma só voz informativa. Reporte 360 As notícias da atualidade que se produzem para além do nosso continente latino-americano. Entre Fronteras Espaço de atualidade sobre os atos noticiosos no âmbito das migrações. A análise dos fenômenos migratórios a partir dos mais diversos especialistas sobre o tema. Para onde se migra e por que, os regastes e perigos da imigração ilegal. Agenda Abierta Um recorrer pela agenda noticiosa da América Latina e o mundo. Conheça os principais temas da política, economia, esportes, cultura, ciência e tecnologia que marcara a jornada informativa do dia. Guia tu cuerpo Espaço informativo dedicado as notícias sobre saúde, os temas de interesse coletivo sobre saúde física, mental, social, bem estar coletivo, dados sobre o interesse de gerenciar a

122

consciência e a prevenção dos nossos povos. Em Juego Espaço esportivo para analisar as tabelas, prévias, prognósticos e classificações dos partidos mais importantes da jornada do fim de semana. Nuestra América Desportiva Um novo programa especializado em esportes com análises mais completas, as jogadas mais polêmicas e os melhores atletas do mundo. Entrevista com Jorge Gestoso A entrevista com Jorge Gestoso é um espaço informativo e de opinião em que o jornalista conversa com personalidades de cada eleição presidencial nos Estados Unidos e analisam diversos temas da atualidade. Congénero Congénero é um programa que trata tema enfocados a diversidade de gênero, onde se ressaltam as lutas do seco, gênero diversos, mulheres e homens. Mostra os avanços sobre as leis sobre a igualdade de gênero e reivindica suas contribuições a sociedade. El punto em La i Uma equipe de investigação jornalística, dedica-se a cada capítulo a abordar temas de interesse para a América Latina e os povos do Sul fora e longe do imediatismo das conjunturas midiáticas. Vidas Espaço para conhecer as histórias de vida de personagens simples imerso no cotidiano de suas obras, paixões, crenças e história. Histórias humanas destacando suas idiossincrasias, expressões, e as criatividades dos latinos-americanos.

Cruce de Palabras TeleSUR dedica um espaço a conversação com homens e mulheres ao redor do mundo, cujas vidas, desde suas tarefas, trabalhando a partir de suas trincheiras e lutas, incidem e afetam o curso da história humana.

123

The World Today Tariq Alí Uma interpretação da atual mão política global Tariq Ali, de Londres.

Quadro 8 Programação da TeleSUR FONTE: Elaboração própria com base no site da TeleSUR (2016) *Não há descrição do programa no site da TeleSUR

124

3.3 A TELESUR: A DIPLOMACIA MIDIÁTICA E PÚBLICA DA ERA CHÁVEZ

Existe uma ausência e falta de predisposição por parte dos policymakers, diante da importância da mídia tanto na formulação, na implementação e bem como na transformação da política externa de um país. Como afirma Gilboa (2002) há uma carência por parte dos estudiosos das relações internacionais sobre os aspectos da comunicação e seu grau de influência nos fenômenos internacionais e globais. The global news media have affected both the policy-making and the interactive phases of foreign policy. Scholars have conducted considerable research on communication aspects of only a few international and global phenomena. These include uses of force, such as war, terrorism, and military intervention, and coverage of foreign affairs in the various media. Researchers, however, have not sufficiently studied the media’s roles and effects on the conduct of foreign policy and diplomacy, andt hey have given even less attention to the emerging significant roles and effects of global communication. Scholars studying foreign policy making often ignore the roles and effects of the media and public opinion, and their colleagues in communication often ignore foreign policy in studies of roles and effects. The literature on media and foreign policy is both diverse and dispersed, where as thes cope and depth of studies focusing on the global media and foreign policy are even more limited. (GILBOA, 2002, p. 731).

Diferentemente de muitos Chefes de Estados, Hugo Chávez durante sua gestão percebeu à atuação e o protagonismo que a mídia se constituia nas mais variadas formas e nos mais diversos contextos. Durante os primeiros anos de governo, Hugo Chávez teve que enfrentar a atuação da mídia venezuelana que associada as elites locais tentaram dar um golpe de Estado (como já mensionado no capítulo II). Foi durante este episódio, que o comandante Chávez teve a nitidez da atuação e da participação que os meios de comunicação podiam exercer desde o controle político e econômico a promoção do conflitos. Segundo Camargo (2009), no dia a dia e em tempo real, a mídia busca constranger, as possíveis tomadas de decisão política feitas pelos policymarkers atuando como um ator constrangedor. Ou seja, os constrangimentos feitos pelos meios de comunicação são feitos por meio dos discursos tendo por “objetivo” o “interesse dos cidadãos”. Entretanto, segundo a autora, em momentos onde há crises políticas, sobretudo, internacional, a mídia atua como um ator interventor, ou seja, faz uso da mediação.

125

Além disso, no âmbito da política externa, a mídia pode ainda exercer a função de ator instrumental, ou seja, promove as nogociações e os acordos entre os Estados. Por fim, Camargo (2009) trabalha com um quinta categoria de análise, a mídia como um ator conflituoso. Em momentos históricos marcados por situação de crise, ao invés de mediar ou mesmo solucionar, os meios de comunicação promovem ainda mais o conflito. Tipo de Ator Atividade Contexto Conceito Ator Substitui a Tomada Intervenções em Crises Efeito CNN Controlador de Decisão Humanitárias Ator Constrange a Processo de Tomada Políticas em Constrangedor Tomada de Decisão de Decisão Tempo de Real Ator Mediadores Mediação Crises Políticas Interventor Internacional Ator Promove Resolução de Conflitos Diplomacia Instrumental Negociações e Midiática Acordos Ator Provoca Conflito Situação de Crise Conflitos Conflituoso Midiáticos Quadro 9 Mídia como tipos de ator Fonte: GILBOA (2002); VALENTE (2007); CAMARGO (2009)

3.3.1 DIPLOMACIA MIDIÁTICA

Entende-se a diplomacia midiática como aquela que analisa os efeitos modernos que os meios de comunicação promovocam e promovem na sociedade, sobretudo, nos assuntos estatais no âmbito da política externa e da política internacional. Para Gilboa (2002); Valente (2007); Fontes e Camoça (2015b) a diplomacia midiática é dividida em duas perspectivas: A diplomacia indireta da mídia ou diplomacia na mídia e a diplomacia pela mídia. A diplomacia indireta da mídia afirma que os meios de comunicação, utilizados pelos governantes e diplomatas, são mecanismos que ajudam a promover a política externa de um país. Isto é, a diplomacia midiática é definida como a capacidade do uso da mídia para articular e promover política. Gilboa (2001) compreende a diplomacia midiática como aquela capaz de realizar a comunicação com os estados e atores não-

126 estatais tendo como objetivo a construção de negociações e acordos a partir do apoio do público. A diplomacia feita pela mídia funciona como uma espécie de mediador à medida que os jornalistas e executivos de empresas de comunicação (magnatas da mídia) assumem o papel dos cônsules e diplomatas interfirindo e influenciando nas questões internacionais por diferentes motivos. Inclusive, motivos de cunho privado (VALENTE, 2007; FONTES e CAMOÇA, 2015a). Tratando-se da TeleSUR, a emissora é vista como um ator instrumental utilizando-se da diplomacia midiática na medida em que promove negociações e acordos regionais e internacionais, através de seus diálogos, discursos, matérias e reportagens que estimulam parcerias. Em entrevista o jornalista e membro do Conselho de Assessor, Beto Almeida informou que durante a invasão na Líbia (2001) comandada pelos Estados Unidos com apoio da OTAN, o presidente Chávez pediu que uma equipe da TeleSUR estivesse em loco para cobrir o suposto “Massacre da Praça Verde”. Diferentemente do que apontavam os meios de comunicação mainstream, a TeleSUR foi a única que apontou no sentido oposto mostrando que não havia nenhum tipo de repressão feita pelo Muammar AL-Kadafi.

Quando a Líbia foi invadida pela OTAN (bombardeio), e o olhar estava voltado apenas para um enquadramento que era o Massacre da Praça Verde, orquestrado pela Al Jazeera, o Chávez mandou que uma equipe da TeleSUR fosse realizar uma cobertura. Todas as emissoras européias apontavam suas câmeras num sentido, a TeleSUR foi a única que apontou no sentido oposto mostrando que não havia nenhum tipo de repressão feita pelo Kadafi. Inclusive alguns brasileiros caíram nessa armadilha. Chávez manda equipe da TeleSUR para defender a ditadura de Muammar AL-Kadafi. A Líbia era um dos países da África com maiores indicadores sócio-econômico da África (ALMEIDA, 2016). Neste caso, além de mostrar o lado contraverso da questão envolvendo a Líbia, a emissora multiestatal buscou por meio das notícias conseguir possíveis soluções aos impasses que cada vez mais demostranvam que existiam outros interesses de dimensão geopolítica que não estavam sendo considerados. As imagens vinculas pela TeleSUR tinham como objetivo chamar a atenção da opinião pública internacional84 para as ditorções que estavam ocorrendo na Líbia.

84 É percebível que os meios de comunicação têm uma participação cada vez maior na arena da política internacional. Betrand Badie (2010) afirma que os estudos sobre opinião pública não se restringem como já informado a esfera do Estado nacional, mas sim rompe com as fronteiras e participa da arena do internacional. A vida internacional assemelha-se cada vez menos a um clube fechado de debate público em que somente príncipes, embaixadores, diplomatas, militares tinham direito a participação. Segundo o

127

Outra situação em que a mídia foi utilizada como forma de resolução de conflitos deu-se na Cúpula das América, em Trinidade e Tobago, em 17 de abril de 2009, o aperto de mãos entre Brack Obama e Hugo Chávez ganhou destaque em várias mídias internacionais, inclusive na TeleSUR. Na época, a emissora destacou a relevância do gesto simbólico e da importância da figura do líder venezuelano que afirmava de modo categórico que não assinaria o documento da cúpula caso os Estados Unidos não revisse a situação de Cuba na Organização dos Estados Americanos (OEA). Para além do gesto simbólico, o apaziguamento dos ânimos que há anos foram exautados tanto por George W Bush (2001-2008) quanto por Hugo Chávez nos discursos de suas políticas externas. Na época, para além do aperto de mãos, uma expressão ganhou relevância, “Adios Amigo” (TELESUR, 2009) que acabou sendo divulgada somente pela TeleSUR. A TeleSUR também divulgou em primeira mão que após os cumprimentos dos presidentes, Chávez num gesto de descontração manifestou a seu homólogo Barack Obama que o mesmo parece muito com a apresentadora Oprah Winfrey já que tudo que o presidente acaba falando ganha repercusão e consegue ser vendido em alusão ao livro “As veias abertas da América Latina” do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Ressaltemos que a poucos meses Brack Obama havia sido eleito presidente dos Estados Unidos e naquele período Chávez já havia e pronunciado Ano posterior a este simbolismo, em retaliação as declarações de Barack Obama, Hugo Chávez vem a público, em visita a Líbia (Academia de Estudos Superiores) (TELESUR, 2010), utiliza a TeleSUR, afirmando que a Venezuela não obdece a império algum, somente ao povo. O debate entre os chefes de Estado tornam-se mais acalorados principalmente quando Chávez por meio de um acordo estratégico com a Rússia buscou incentivar e investir na criação do primeiro reator nuclear para a Venezuela. Em declaração, televisionada ao vivo, Chávez afirma que nada irá impedir a criação e o desenvolvimento deste reator nuclear tendo em vista o desenvolvimento tecnológico do país. Em 2011, as relações entre os Estados Unidos e a Venezuela passam por dificuldades. Novamente, a TeleSUR foi instrumentalizada pelo comandante Hugo Chávez tendo em vista as acusações de narcotráfico (TELESUR, 2011) pelo Barack

autor, durante anos as informações eram restritas as fronteiras dos Estados que detinham o controle dos meios de comunicação e da informação.

128

Obama. Segundo o discurso presidencial, transmitido ao vivo pela emissora multiestatal, em reunião do Conselho da ALBA, Chávez dizia: Numa das primeiras cartas escritas e enviada ao Brasil em 1830, Simon Bolívar felicita o Brasil pela sua independência. Brasil é um país importante para nossa autonomia e independência da região. Falando de ALBA, de UNASUL- que funciona como uma grande blindagem deste continente para a locura imperial sobre o petróleo. Para libertar a soberania de Líbia, o drama da Líbia apenas está começando. Temos chegado a uma loucura imperial, por isso insisto. Aqui, na Venezuela buscamos um território de paz, de democracia, de luta, de respeito aos povos. Nesse sentido, eu convido o presidente Barack Obama que apresente as provas necessárias que comprovem as questões que envovem a Líbia, a Venezuela tendo em vista que nossos países sempre foram colocados na lista de países falidos (CHÁVEZ, 2011).

A TeleSUR consegue por meio de seu investimento em documentários, a partir da produção de conteúdo audiovisual consegue influenciar, conquistar a opinião pública ressaltando informações que falem sobre a importância da chegada por exemplo dos governos progressistas na América Latina. No documentário, dirigido pelo cineastra Luciano Ezequiel Leyrado, feito pela TeleSUR em parceria com países fundadores e membros intitulado “AlCarajo” (2015) pela primeira vez um documentário conseguiu reunir os presidentes da América Latina, após 10 anos da Cúlpula do Mar da Prata que conseguiu por freios a ALCA. Na época, os presidentes do MERCORUL mais Hugo Chávez na chamada IV Cúpula das Américas não houve consenso para a formação da ALCA deixando Washington frustado. As falas de assessores, Ministros de Estados, presidentes, representantes dos movimentos sociais, da população dos mais variados países evidenciam o discurso crítico sobre a Área de Livre Comércio que vinha tentando ser implementada pelos EUA. Outro documentário também produzido pela emissora multiestatal, intitulado “Los Daños del Fracking U.S” (2014) mostra a condução que os jornalistas, os produtores e os diretores fazem a partir da narrativa tendo como propósito falar especificamente da importância do petróleo e da responsabilidade que a região da América Latina exerce no setor enrgético torna-se crucial para negociações políticas, econômicas que estão por vir ou estão em curso. Ainda que não tenhamos um jornalística, como um mediador, o fato de ser produzido, editado e dirigido por setores da comunicação exemplificam a importância da atuação da mídia na política internacional, sobretudo quando o objetivo é criticar de modo duro as estratégias dos EUA. A emissora multiestatal reafirma o poder midiático

129 mais uma vez só que agora por intermédio de recursos cinematográficos. Corroborando para todo o discurso que a emissora defendeu desde sua origem. A forma como os presidentes falam do comandante e ex-presidente Hugo Chávez enaltecem a valorização da imagem do Chefe de Estado, do mesmo modo valorizam a Venezuela. Disse o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva “Eu acho que a grande virtude do Chávez era ser um provocador. Ele era um cara provocador, mas era um cara muito afável, muito amável na hora de conversar. Ele provocava muito o debate que eu particulamente achava importante”. Quando os documentários dão foco a Chávez atraves de seus discursos e de suas formas em falar certas questões. No documentário “AlCarajo” (2015) identificamos a seguinte fala: “Venezuela não renunciará jamais o cargo de ser um país soberano livre e justo custe o que nos custar (...) Aqui vou repetir a fala de Evita Perón, ou a pátria será livre ou falahrá entrando em ruina (...) eu vou repetir uma frase de meu amigo General San Martin sejamos livre, o resto não importa ”. Outra fala que também corrobora para o enaltecer da figura do ex-presidente Hugo Chávez deu-se por meio do Assessor de Relações Internacionais da Presidência da República do Brasil – Marco Aurélio Garcia que afirmou: “O Chávez essa figura explosiva, generosa e extraordinária. Às vezes incontrolável, acho que isto era uma percepção do Lula e do Nestor Kichner”. As falas, as faces, as emoções, a sonoplastia, os efeitos gráficos e audiovisuais exploradas nos documentários tanto pelos Assessores, Chefes de Estados, Ministros e representantes da Sociedade Civil reafirmam todo o discurso anti-imperialista que a TeleSUR explora através de suas narrativas e de seus discursos. Tudo isto vale para os cenários, as canções, os enquadramentos produzidos e escolhidos pela equipe de direção do documentário apoiado pela TeleSUR. Nestes casos supracitados temos a nitidez de que a TeleSUR não apenas funcionou como um projeto integracionaista. Isto é, a emissora multiestatal conseguiu ir além atuando como uma ferramenta de diplomacia midiática.

3.3.2 DIPLOMACIA PÚBLICA

É importante entendermos que a cada dia nos estudos das relações internacionais, sobretudo, os estudos históticos e analíticos sobre as políticas externas dos países é imprencendível que não seja negligenciado a atuação da mídia como ator. É evidente que a atuação dos meios de comunicação podem apresentar diferentes

130 formas, atividades, e contextos. A diplomacia pública é um mecanismo que traz novas regras e uma infinidade de implicações entre os governos e o grande público. Para tanto, a diplomacia é segregada em três postulados: a diplomacia pública, a diplomacia na mídia e a diplomacia pela mídia (FONTES e CAMOÇA, 2015b). A diplomacia pública é a construção da imagem feita de um país junto ao exterior por meio de comunicação direta com governos e indivíduos locais, disseminando o pensamento e a cultura local por meio de intercâmbios culturais. Documentário “Los sueños llegan como la lluvia” (2015) produzido pela emissora multiestatal conta a história do comandante Chávez, desde sua infância, as referências no campo da educação e da ideologia, a relação com seus pais, suas emoções, sentimentos, perspectivas são enaltecidas constantemente. As escolhas teóricas, os autores preferidos, a relação com seus filhos, os depoimentos de pessoas que estiveram muito próximo do ex-presidente da república. O momento em que o presidente resolve optar pela carreira profissional de piloto das forças armadas, a paixão pelo beisiboll, a paixão pelo atleta e de beisebol Isaías Nestor Chávez da Silva, a entrada na faculdade de ciências militares, a maneira que fala da pátria de modo carinhoso e saudosista. O momento em que foi preso durante a tentativa do golpe no anos 1990. A escolha da trilha sonora também permiti fazer alusões as palavras como guerreiro, forte, esperança, possibilidade reforçando a figura do líder venezuelano. Um vídeo produzido por Fernando Sulichin, Serge Lobo e Rob Wilson por intermédio da TeleSUR chamado “Mi amigo Hugo- ” (2014) mostra a vida de Chávez, a realidade da Venezuela antes e após a chegada do comandante Chávez ao poder. Imagens da tentativa de golpe de Estado fracasada em 2002, a força que o líder bolivariano adquiriu para enfrentar as mais diferentes adversidades durante o seu mandato presidencial. As imagens no período em que Chávez por intermédio do MVR 200 buscaram uma revoluação e um Golpe de Eestado em 1992. Este filme é uma resposta áquela noite do nosso encontro. É a minha forma de despedida a um soldado e a um amigo. Filmes como este contribuem para a consciência do mundo. E aqui na América Latina estamos dando um novo aspecto e mostrando ao mundo esta mudança. (TeleSUR, 2014).

O explorar da imagem diante das perdas dos amigos durante a revoluação. A forma como o comandante Chávez mexe com a sociedade, como desperta o amor, as paixões, o carisma. As falas de personagens como crianças, mulheres dizendo “Chávez, Te amo”. O gosto por apreciar a arte do café, as viagens a bordo do avisão presidencial,

131 as conversas e diálogos com o Ministro de Energia e Petróleo- Rafael Ramírez sobre o petróleo e seus derivados. A fala na Assembléia Geral da ONU quando afirma que o “Diabo esteve aqui, Deus nos proteja”. A fala da primeira mulher Ministra de Defesa- Carmen Melendez afirmando que “Yo soy feminista” dizia Chávez- mais uma vez o documentário explora a imagem do ex-presidente, mas neste momento o olhar se depruça sobre a questão de gênero. Outra fala que deatacamos deve-se a presença do presidente cubano Fidel Castro na Venezuela, no veículo estatal Alô Presidente, na fala de Fidel e de Chávez a representação da aliança entre as duas nações “Aqui é Cuba, ela é toda sua”. A batalha contra um câncer foi outras forma de tratamento audiovisual que ganha destaque. Em mais uma interpretação a partir novamente do documentário, Chávez é visto como um homem forte, batalhador que lutou contra a própria eferminidade, a batalha pela sobrevivência. Os útlimos dias de vida, a dor por conta da doença são vistas nas falas de médicos, enfermeiros dando mais uma vez uma projeção de homem como uma espécie de semi-Deus. Outro discurso também importante trata-se do momento em que Chávez vem a público e afirma que fazia falta ao MERCOSUL o ingresso da Venezuela. Utilizando a TeleSUR como um meio de difusão desta informação, Chávez faz publicidade em favor da Venezuela e de seu governo na medida em que enaltece o papel que o MERCOSUL trará para o desenvolvimento do país e o fortalecimento da região. Venezuela membro pleno do MERCOSUL. E além do MERCOSUL, a Venezuela está aberta ao Caribe. Como dissemos ontem, com Dilma, com Cristina e todos e todas o MERCOSUL não pode se limitar ao norte da Venezuela. É preciso fazer relações com Cuba, com Porto Rico, Jamaica, Haiti. O MERCOSUL precisa de uma expansão e de uma explosão a partir do Cone Sul,mas também do Caribe. A entrada da Venezuela nos coloca numa dimensão geopolítica e geoestrategicamente como o peito da América do Sul e não como o quinta do Estados Unidos. A entrada da Venezuela representa nosso maior interesse nacional, objetivos, metas históricas inscritos na nossa constituição nacional e no nosso projeto nacional de desenvolvimento, buscando transformar a Venezuela num país potência, um fator estratégico. Uma região de grande estratégia com três grandes bacias: Oorinoco, Prata e Amazônia juntas tem uma das maiores reservas de petróleo e de gás natural do mundo. O mesmo vale para a abuxita, de douro, de ferro (CHÁVEZ, 2011).

Com relação as elites locais, Chávez responde, por meio da imprensa, que não é pouca coisa a entrada da Venezuela como pensam alguns cidadãos venezuelanos que gostam de diminuir a importância da Venezuela. A entrada da Venezuela fortaceler a

132 democracia, a política, a importancia inclusive cultural-histórica em nossas tradições profundas indígenas, africanas, criola própria da nossa região. Assim sendo, todos os documentários citados nesta dissertação e os demais documentários produzidos pela emissora ou com sua co-participação reforçam a nossa hipótese principal de que a TeleSUR faz uma diplomacia pública na medida em que reforça a imagem positiva tanto do comandante Chávez, a partir de suas características e personalidade, como também enaltece através da exploração das imagens, ângulos selecionados e dos enquadramentos das entrevistas, as imagens positivas tanto do país como da região. Além disso, a emissora realiza a diplomacia midiática já que por meio dos seus noticiários, de seus documentários, de seus conteúdos destinados a web e as mídias digitais reforça a tentativa de buscar negociação com os mais diversos atores do sistema internacional. Os interesses tanto do país, quanto da região quando colocados em xeque são vistos a partir de outras dimensões ou alternativas que vão deencontro aos interesses dos mainstream. O pensamento crítico, contra-hegemônico é reforçado de modo que o telespectador, internauta visualize questões que são niglegenciadas, marginalizadas. Os conteúdos produzidos pela TeleSUR enaltece e divulga a ideologia bolivarianista, constitutiva da política externa da Era Chávez. Apoiada em claro discurso contra-hegemônica, como pretende a retórica chavista, a TeleSUR, no entanto, não admite a possibilidade da pluralidade de ideias, de ideologias e de suas fontes entrevistadas – residindo aí a principal critica de que é objeto por parte dos opositores políticos de Chávez. Contudo, é importante notar que, por outro lado, a TeleSUR promove, por meio de sua programação, críticas sistemáticas a todo e qualquer elemento norte-americano de forma a fortalecer o discurso antiimperialista típico da Era Chávez. Em média foram analisados 28 documentários produzidos, divulgados e/ou co- produzidos pela emissora que reforçam as hipóteses de que a emissora está apara além de projeto integracionista exercendo os pápeis de diplomacia pública e midiática.

133

Documentários Ano

Al Carajo 2015

Mi amigo Hugo- Oliver Stone 2014

Los sueños llegan como la lluvia 2013

Los Daños del Fracking U.S 2015

Ché Guevara, donde nunca jamás se lo imaginan 2006

¿Quien es Bolívar? 2012

Expediente Televisa [TeleSUR] ¿Quién manda en México? 2015

El Tesoro da America 2011

Operación Diablo 2010

Quadro 10 Documentários transmitidos pela TeleSUR Fonte: Elaboração Própria por meio do Portal da TeleSUR (2016)

134

Publicações de Conteúdos da TeleSUR (2007-2016) por países

29 8 Venzuela 17 Bolívia 77 15 Chile 50 42 39 6 Brasil 5 9 EUA 428 Colômbia 21 874 Argentina Uruguai Equador 5008 Peru 2019 México Canadá Espanha Guatemala 541 Portugal Grécia 830 Ucrânia Iran 8 1009 722 48 Síria Turquia 2151 22 111 Vietnã Nepal Honduras Cuba Haiti

Gráfico 7 Publicações dos Conteúdos da TeleSUR (2007-2016) no Youtube Fonte: Elaboração Própria com base na divulgação dos vídeos no Canal do Youtube inaugurado em 2007. Neste primeiro gráfico se ultrapassou a cronologia demarcada nesta dissertação já que que a emissora multiestatal não separa seus conteúdos por tempo cronológico, apenas por algumas temáticas. Além disso, deve-se ler levado em consideração que a TeleSUR somente criou seu portfólio no Youtube em 2007. Muitos poucos vídeos desta

135

época ainda são encontrados no canal da rede social da emissora. Até 2009, a emissora não contava com um portal de notícias na web. O que evidencia que muitos dos seus vídeos não foram direcionados para as redes sociais. Impedindo que outros vídeos entre 2005 até 2007 fossem disponibilizados. Se levarmos em consideração o portal de notícias, a dificuldade ainda se torna maior já que o tempo cronológico entre 2005 até 2009 não foram direcionados para o canal do Youtube.

136

Conteúdos da TeleSUR por Tempo de Transmissão por país (2007-2016)

Canadá 1.230,94 Venezuela 0 0 0 1.729,18 Brasil 0 0 0 Argetina 0 0 0 0 0 0 0 EUA 0 México 1.827 Guatemala Equador Colômbia Chile 6.833 18.156 Bolívia Portugal Grécia Irã 1.827,00 Nepal 0 Síria

5.094,21 Turquia Peru Ucrânia 2.869,60 4.885,92 0 Grécia Nepal Vietnã Honduras Cuba Haiti

Gráfico 8 Contagem Cronológica das Publicações dos Conteúdos da TeleSUR (2007-2016) no Youtube Fonte: Elaboração Própria com base na divulgação dos vídeos no Canal do Youtube inaugurado em 2007.

137

O gráfico acima explora a quantidade de conteúdo de transmissão da TeleSUR entre 2007 a 2016. Novamente, o extrapolar do tempo foi feito na medida em que o s conteúdos transferidos a rede social do Youtube só começou a ocorrer em 2007. Neste gráfico, alguns detalhes puderam ser observados. A Colômbia tem vídeos que não foram mensurados tendo em vista que foram excluídos ou estão em modo privados não permitindo a contagem do tempo. E m média 3 vídeos privados e 4 vídeos excluídos não foram mensurados. Deve-se também levar em consideração que há vídeos que podem tanto ser destinados a Colômbia quanto a Venezuela ao passo que as narrativas e os discursos envolvem os dois países. Aparece com muita expressividade provavelmente por conta da fronteira com a Venezuela e os aspectos históricos que ambos os países vivenciaram desde a época da colonização. Com relação à Venezuela, o país tem o maior número de transmissão de conteúdos referentes a nação. No entanto, deve ser considerado nesta leitura destes vídeos que muitos foram mensurados tanto a partir da gestão do ex-presidente Hugo Chávez quanto do atual presidente Nicolás Maduro já que os vídeos vinculados a playlist da Venezuela não separa por mandato. Quanto aparece a figura do atual presidente da Venezuela, em sua grande parcela está se referindo ao comandante Chávez. Deve também ser registrado que os vídeos onde estão nomeados EUA e Venezuela (PDVSA) foram inseridos neste gráfico haja vista que aborda os dois países dificultando a separação. Além disso, destacamos que 5 vídeos foram excluídos e 1vídeo encontra-se em modo privado não sendo catalogados. Países como Equador aparecem, porém alguns vídeos não foram mensurados tendo em vista que foram excluídos. 2 vídeos foram excluídos. Espanha aparece na no gráfico ainda que não tenha grande expressividade. Entende-se que a Espanha aparece na playlist haja vista que foi o país que colonizou grande parte da região da América Latina, sobretudo, a Venezuela. A Bolívia foi um país que destacou-se na medida em que não há uma playlist que mostre os vídeos referentes à Bolívia. O que existe são vídeos soltos pelo Youtube. Além disso, no somatório do cálculo da programação 3 vídeos foram excluídos pela emissora não sendo contabilizados. O Brasil somente aparece no Youtube a partir de 2014. Não Há se quer nenhuma playlist destinada ao país. O que houve por parte da emissora multiestatal foi a criação de um canal no Youtube em 17 de janeiro de 2011 destinada ao público no idioma de língua portuguesa. Atualmente, esse canal conta com 11.446 vídeos com 2.477 inscritos e 870.413 visualizações. No que tange à Argentina (país membro fundador) teve 2

138 vídeos excluídos e destacamos que nem todos os vídeos encontram-se na playlist vistos apenas de modo separado. Cuba outro país membro fundador tem uma playlist, apenas vídeos soltos e/ou vinculados a um específico tema como a morte do ex-presidente Fidel Castro onde há muitos vídeos e depoimentos sobre sua liderança, sua personalidade e seu legado a Cuba e ao mundo. Destacamos que o país teve 2 vídeos repetidos que foram desconsiderados nesta conta. Países como Grécia, Nepal, Irã, Síria e Líbia quando são mostrados no gráfico deve-se a conjuntura da época. México (país não membro) teve 1 vídeo excluído de sua playlist. Com relação aos EUA, o país teve 3 vídeos excluídos de sua playlist. Além disso, neste gráfico foram considerados os números que não se encontram na playlist, mas que devem ser levados em consideração na medida em que existem vídeos que tratam da relação entre os EUA e a Venezuela. Outra questão que deve ser destacada neste gráfico é que existem vídeos que falam e/ou abordam a influência dos EUA no mundo e na Venezuela em 2016. Processo eleitoral também entra nesta conta a partir de2016. Quanto ao conteúdo dos vídeos existem diversas temáticas abordadas desde economia até a dimensão cultural. Entretanto, destacou-se que muitos dos conteúdos produzidos, editados e publicados mostram uma tentativa da emissora de romper com os discursos hegemônicos, arquitetadas entre a mídia, a elite e a opinião pública no sistema mundial. Através dos seus discursos, reportagens, matérias, documentários, a emissora busca realizar um movimento contra-hegemônico abordando outros debates, formas quando faz referência a temática da região da América Latina. Trazendo inclusive uma visão própria da realidade da região, com suas contradições, dificuldades, desafios a partir de suas fontes consultadas. Assim sendo, os dois gráficos reforçam as hipóteses de que a TeleSUR funciona como uma diplomacia pública e midiática tanto da Venezuela quanto do governo Hugo Chávez. Ao considerarmos a quantidade de tempo destinada ao país a Venezuela ocupa quase que metade do gráfico. Juntando todos os países, a Venezuela sofre uma queda, mas muito pequena comparada ao tamanho de horas que foram destinadas a República Bolivariana. Ao analisarmos os vídeos muitos deles exploram a imagem do presidente Chávez através de seu legado, da história do governante, trajetória da sua vida pessoal. Isso tudo é reforçado por intermédio de um aplicativo chamado “Mi Amigo Chávez” que

139 traz sínteses do então presidente. Entrevistas, documentários, imagens, conteúdos especiais colaboram para a difusão da diplomacia midiática.

3.4 TELESUR E A INTEGRAÇÃO CULTURAL FOI POSSÍVEL?

A origem da TeleSUR dá-se pelo pelo processo de integração regional onde a cultura, os elementos históricos e midiáticos sejam abordados e explorados. Através de um outro olhar, a emissora multiestatal busca integrar a região do Cone Sul como da América Latina. De acordo com o antigo vice-presidente e diretor geral da TeleSUR, Aram Aharoniam, em sua inauguração, a emissora somente conseguiria a integração através da participação dos Estados da região da América Latina. Por meio dos intercâmbios entre os países e através de suas emissoras estatais e públicas, por intermédio da contribuição de organismos sociais, dos produtores independentes, das universidades e dos correspondentes na região colaboraria para o processo. No entanto, há problemas quanto à emissora tenta realizar o processo de integração regional. A começar pelo Brasil, país com dimensões continentais que não participa do processo. Segundo Moraes (2009), o Brasil não participa como membro fundador, contudo realiza intercâmbios com a emissora por meio da Radiobrás. Durante a Era Lula (2003-2010), o Brasil chegou a ter sucursais em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo Beto Almeida (2016) durante um período, em Caracas, nós montamos uma mini-redação de jornalistas (cinco brasileiros e uma venezuelana, mas que havia morado no Brasil durante muito tempo e falava português) em língua portuguesa, mas isso só ocorreu quando o Roberto Requião (PMDB-PR) era governador do Paraná onde nós conseguimos estabelecer um convênio da TVE do Paraná com a TeleSUR. Ainda de acordo com Beto Almeida (2016), esse convênio só pode ser estabelecido a partir de uma viagem que Chávez fez a Curitiba (Brasil) onde 19 acordos foram assinados e um deles se referia a TeleSUR. Meia hora por dia, em um determinado horário a TVE utilizava do satélite brasileiro e divulgava um noticiário em língua portuguesa. No que tange as TVS parabólicas, elas captavam o sinal da TeleSUR. Ao total quase que duas horas da programação da TeleSUR era transmitida diariamente. Após este acordo, outro convênio tentou ser realizado com o Rio Grande do Sul quando Tarso Genro (PT) era governador, mas apesar da boa recepitividade, ele

140 não tomou as devidas providências enquanto que o Requião (então governador do Paraná) resolveu em 10 minutos. Outro dado importante deve-se ao fato de que emissora por questões de bloqueio ideológico se mantém excluída como canal de televisão de sinal aberto e por assinatura. Apenas, canais estatais têm a possibilidade de transmissão de conteúdos. Países como Argentina e Uruguai, membros acionistas, somente órgãos oficiais retransmitem o conteúdo da emissora. Quanto a programação televisiva, a TeleSUR conta com cerca de 25 programas televisivos e telejornalísticos, 24H por dia, porém nem todos os programas vão ao ar periodicamente. Nogueira e Ribeiro (2013) afirmam que a TeleSUR, por meio da fala presidencial, possibilitou durante anos a divulgação das ideais integracionistas de Simon Bolívar. O falecido ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, usou a figura deste líder como meio de incentivar a construção de uma identidade latino-americana. Portanto, elementos da história da região são regatados como uma forma de construir o desenvolvimento do projeto integracionista. O uso de meios simbólicos através dos recursos audiovisual, como documentários, reforça não apenas a figura de Bolívar, mas também de outros políticos que corroboraram para a inspiração do projeto político. Os gráficos na secção anterior da dissertação reforçam que o processo de integração regional tem limitações tendo em vista que países que são membros fundadores não apresentam uma playlist dedicada a eles. É o caso de Cuba, Uruguai que tem uma quantidade mínima de vídeos no Youtube. A pouca quantidade difusa se encontra de maneira desorganizada. Contudo, deve-se levar em consideração que a emissora realiza com bastante constância conteúdos que envolvem questões sobre identidade, história, integração regional. Nesse sentido, a TeleSUR valida uma espécie de sistema de classificação social relativa aos Estados-Nacionais à medida que os indivíduos apresentam identidades, baseadas no caráter nacional. Portanto, é possível compreender que a identidade nacional se valida no sentimento do “eu” do indivíduo como nacional e na identidade do todo coletivo. Há de se considerar, nesse sentido, que a ideia que decorre dessa identidade latino-americana não é tratar o “nós” ou o “outro”, mas o “nosotros”. Todo este sistema de classificação social relativo aos Estados-Nacionais está presente no âmbito do discurso nacionalista que é proferido nas reportagens e chamadas das matérias. Esses discursos tratados pela TeleSUR podem apresentar uma visão homogênea, diferenciadora ou classificatória, uma vez que dirige seu apelo a pessoas

141 que supostamente têm coisas em comum, em contraste com pessoas que se acredita não terem ligação mútua. É nesta vertente que se segregam formas de cultura e tradição, ou seja, debate sobre a construção de identidades regionais, que, em princípio, constituíram-se divergentes em relação a outras identidades de mesmo tipo.

3.5 TELESUR- 10 ANOS QUAIS MUDANÇAS SENTIDAS E POSSÍVEIS?

Patrícia Villegas (2015) em entrevista ao programa Agenda Abierta – produzido pela TeleSUR informa as dificuldades e os desafios que a emissora multiestatal passou e as inovações que está a buscar. Para a presidenta da emissora, uma das dificuldades percebidas deve-se as barreiras tecnológicas, políticas que impedem que o sinal da TeleSUR consiga atingir o público. Nesse sentido, a emissora vem investindo em acordos políticos e tecnológicos que busquem romper com as adversidades. Uma das conquistas deve-se a cobertura do sinal via satélite que passa a abranger os Estados Unidos da América. Na capital Washington, a partir de 2015, os cidadãos poderão acessar o conteúdo da TeleSUR. Outra forma de ampliar seu raio de atuação são os conteúdos em plataformas digitais em inglês que a emissora vem investindo. Nos últimos anos, a emissora buscou aumentar suas redes de colaboradores que pudessem compartilhar conteúdos em inglês. Plataformas multilíngües estão sendo arquitetadas, inclusive em árabe. Projetos binacionais vêm sendo projetados, por exemplo, programas produzidos com o canal Árabe Majed. Parcerias com a CCTV estão sendo feitas co-produções de conteúdos latino-americanos com os chineses. Investimento e projetos em cooperação a cada dia vêm sendo feito com meios alternativos e independentes que estejam alinhados com os propósitos da TeleSUR. Fazer a sua própria agenda é o grande projeto da emissora. Porém, essa agenda deve pautar-se não a partir da informação com um negócio, mas como um direito. Contar cada vez mais histórias de países, de pessoas a partir de outras questões que são colocadas de modo invisível. Aumento no número de estúdios como em Quito (Equador), onde quatro estúdios simultâneos estão sendo arquitetados. Em Washington novos estúdios estão também sendo produzidos do mesmo modo, uma nova sucursal está sendo aberta na Cidade do México (México).

142

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que durante décadas, as relações internacionais negligenciaram a interdisciplinaridade com os estudos midiáticos. Desde a Pérsia, países de diversas localidades, sobretudo, de origem europeia e norte-americana firmaram seus poderes, através, das redes de comunicação e dos tráfegos de informação onde puderam realizar intercâmbios, via comércio internacional. As diplomacias pública, cultural e midiática das agências de notícias internacionais, por intermédio de seus cartéis, fizeram uso de métodos soft power ou numa visão mais crítica, do imperialismo com a ajuda do capitalismo ocidental. Nessa conjuntura caracterizada pelos diversos tipos de imperialismo e por conflitos armados, como a primeira grande guerra (1914-1918) foi que a região da América Latina começou a perceber, o elevado grau de influência e de dependência midiática fruto das agências de notícias internacionais. Mesmo após esta constatação, ainda assim, a região da América Latina não conseguia conquistar sua autonomia e/ou independência midiática e cultural. Após a segunda grande guerra (1939-1945) tentou- se através de conferências, no âmbito da UNESCO, obter acesso a livre circulação de informações, mas ainda assim havia reticências por diversos países e suas respectivas hegemonias. Ao fim da Guerra Fria (1991), os EUA, símbolo do imperialismo internacional, passou a preferir discursos a favor da livre circulação. No entanto, como sabido, o discurso estadunidense não passou de retórica. Com o tempo, constatou-se que o imperialismo norte-americano somado a política do livre-comércio fizeram com que a comunicação via satélite passasse a comandar o mundo. Cerca de 50% dos jornais nacionais da região da América Latina se utilizavam de fontes oriundas dos Estados Unidos. Como já informavam Adorno e Horkheimer (2009), a maneira que pela qual a indústria cultural capitalista opera, faz com que o indivíduo seja tratado como um ser amorfo, ou seja, não há possibilidade de contestação. Os interesses dos Estados não são necessariamente revelados. Ou seja, a ideologia é mantida escondida por de trás dos cálculos e lucros após o processo de fabricação e venda. Desta maneira, diversos discursos como autonomia, liberdade, igualdade são vendidos mostrando a aparência ilusória dos conceitos. Assim sendo, a indústria cultural atua e funciona como uma forma de alienar os indivíduos. O modo operante da indústria cultural faz com que a burguesia liberal capitalista, promova

143 e perpetue a desigualdade, as divisões existentes entre alta, média e baixa cultura fortificando, o estímulo a violência, a repressão e a subordinação. A reificação/coisificação transforma os indivíduos em coisas, objetos que podem ser consumidos nas prateleiras de uma mercearia. Portanto, a diversão e/ou lazer funciona com uma manobra por grupos econômicos, por executores especializados que miram os fins lucrativos. Ao Estado compete à prerrogativa de ser um aparelho representativo, visto como uma máquina de pressão que permitiu as classes dominantes assegurar suas dominações e subordinações sobre as classes operárias, submetendo ao processo de extorsão da mais valia. Dentre as diversas funções que o Estado detém, coube a ele, no âmbito de seu aparelhamento, as diversas formas de instituições especializadas e distintas. Por exemplo, o sistema religioso, o escolar, o familiar, o jurídico, o político, o sindical, o da informação e o da cultura. No que concerne a mídia e a cultura, é de responsabilidade do Estado, apresentar diferentes tipos de modelos midiáticos desde sistemas privados, públicos, público-privados, comunitários e estatais. Porém, em muitos lugares como o caso da América Latina, a geopolítica midiática foi influencia pelas grandes potências cuja logística do processo de operação comunicacional, atuou e ainda se mantém, com base no sistema capitalista burguês liberal transnacional. A forma de trabalho exercida pelos jornalistas visava o não interesse do público, mas o interesse daqueles que financiam os conglomerados comunicacionais. Com bem dizia Raymond Williams (2005), os meios de comunicação são meios de produção desde suas formas físicas mais simples como a linguagem até as configurações de tecnologias mais avançadas. Nesse sentido, é necessário que as mídias sejam mais autônomas e mais independentes. Deixando assim, o estado primitivo que por vezes se encontram, cujas narrativas e discursos construídos são amparados por critérios como objetividade, neutralidade e imparcialidade. É preciso reconhecer que os meios de comunicação não detêm estas características, ao contrário, são preenchidas por hegemonias mediante repetições pacientes, sistemáticas como uma espécie de método e/ou mesmo prática que buscam persuadir e/ou dissuadir os diversos tipos de público na sociedade internacional. A Teoria Crítica já abordava estas questões citadas dizendo inclusive, que toda e qualquer teoria é feita por alguém, com algum propósito e evidentemente apresenta algum tipo de interesse.

144

Ainda que o imperialismo, não somente norte-americano, exerça influência, é preciso rompê-lo por meio de modelos contra-hegemônicos, principalmente, os de dimensões culturais e midiáticos. Na América Latina, é necessário deixar o American Way of Life e buscar modelos próprios como os movimentos contracultura ocorridos durante a década de 1950. As Conferências de Bandung (1955), o Movimento dos Países Não-Alinhados mostraram que é possível a existência de uma nova ordem política e econômica social no mundo. Programas como “A voz dos Árabes” tornaram- se referências midiáticas e políticas através da transmissão de conteúdos informativos diferenciados onde era possível escutar discursos contra-hegemônicos em favor dos movimentos de libertação nacional a partir de perspectivas pós-coloniais. As teorias Sistema-Mundo e da Dependência contribuem uma vez que oferecem um contraponto as formas engessadas do pensamento imperialista. Entre os anos de 1970 e 1980, o mundo assistiu, no âmbito da Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO), movimentos que buscaram questionar as verticalizações midiáticas e culturais, que foram promovidas durante anos, pelos países desenvovidos, por intermédio de suas respectivas agências de notícias internacionais. A pubicação do relatório MacBride tornou-se um marco para os estudos da comunicação e das relações internacionais uma vez que denunciava e apresentava as idiossincrasias dos países desenvolvidos sob os em desenvolvimento. Além disso, o relatório defendia a configuração de uma Norva Ordem Mundial da Comunicação e da Informação (NOMINIC). Os anos 2000 foi outro período que nos demonstrou, a partir da ascensão de governos progressistas na América Latina e com a tentativa dos BRICS em realizar um revisionismo na Ordem do Sistema Internacional. É neste cenário que buscou-se romper com o até então modelo de comunicação caracterizado pelo patrimonialismo, pelo clientelismo e pelo coronelismo eletrônico na região do Cone Sul. Em grande medida, a maioria das emissoras surgiu a partir das iniciativas dos governos e das instituições vinculadas ao aparato estatal onde não há independência editorial, financeira. Além disso, a região tem tradições autoritárias e apresenta uma democracia liberal recente, e em grande parte oriunda do século XX. Os veículos de comunicação impresso, sobretudo, apresentam baixos níveis de circulação onde há uma tendência a formação de relatórios de defesa. Seu funcionamento e atuação estão vinculados aos cânones da propriedade privada onde o jornalismo é visto como uma profissão “autônoma” com alta tendência a tecer comentários e opiniões.

145

Com a chegada de Hugo Farias Chávez, em 1999, e sua proposta de um socialismo do século XXI, após a queda de Carlos Andrés Perez e o fracasso do governo de Rafael Caldera, a América Latina passava por um novo desenho geopolítico e geoestratégico. Era preciso, romper com as políticas neoliberais que desde o fim dos anos de 1980, e durante os anos de 1990, através do Consenso de Washington, permitiram que a desigualdade, a pobreza, a dependência externa, a vulnerabilidade ganhassem mais espaços de atuação na região. Ao revisitarmos a história da política doméstica e externa durante a Era Chávez é possível perceber as diferentes fases e atuações dos seus governos. No entanto, é preciso destacar que independentemente das fases, pelas quais passou seus respectivos governos, a retomada histórica durante a época do processo de colonização e conquista da independência, pode ser vivenciada e visualizada. Figuras como Francisco de Miranda e Simon Bolívar estiveram presentes nos discursos presidenciais e nas falas dos seus Ministros de Estado. Entre as diversas iniciativas realizadas pelo governo chavista, as viagens presidenciais, destinadas aos países do Oriente Médio tiveram destaque na medida em que se buscou articular a questão do preço do barril do petróleo. Outro destaque deu-se, mediante, os projetos integracionistas como a PetroAmérica, a PetroSul, a PetroCaribe. Com relação à PetroCaribe, ela foi concebida como uma ferramenta geopolítica e integracionista voltada tanto para a cooperação, quanto para a integração, onde a utilização de recursos energéticos do Caribe, da América Central e da América do Sul eram essenciais. Ainda durante esta época, o governo chavista, em 2002, veio a sofrer uma segunda tentativa de Golpe de Estado, novamente, o apoio da direita elitista e com ajuda de alguns partidos de esquerda. Foi a partir desta nova tentativa de Golpe de Estado, que o presidente Hugo Chávez realizou novas estratégias de modo a aprofundar os projetos integracionistas em curso e ao mesmo tempo, articulou novos projetos mediante “O Novo Mapa Estratégico” de 2004 e o plano de “Linhas Gerais do Plano de Desenvolvimento Econômico e Social da Nação 2007 – 2013”. Documentos oficiais do governo apontavam também que a América Latina e o Caribe passaram a ter destaque de modo que cabia a Venezuela, uma participação da construção do “Novo MERCOSUL”. Ainda segundo as fontes consultadas, a República Bolivariana participou da criação da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) tendo sua consolidação em 23 de maio de 2008 em Brasília. A Alternativa Bolivariana para a América (ALBA) foi

146 outro projeto que buscou impulsionar e consolidar ideias que trouxessem um viés alternativo a Aliança de Livre Comércio das Américas (ALCA). Por meio destes projetos integracionistas, algumas políticas públicas, no âmbito doméstico, puderam ser implementadas como as Missões Ribas, Robinson 1 e 2, Sucre, Cultura, Ciência e Barrio Adentro 1, 2 e 3, As Missões Milagro, Missões Madres Del Barrio e Negra Hipólita. Todo este contexto fez com que uma rejeição, a todo e qualquer tipo de monopólio privado dos meios de comunicação, permitindo, portanto a criação e instauração da TeleSUR. A criação da emissora teve sua “origem” desde a época em que Hugo Chávez assumiu a presidência da Venezuela em 1998. Naquele período, o comandante Hugo Chávez já observava a importância e o papel de influência que a mídia exercia na sociedade tanto no ambiente doméstico quanto internacional. Não obstante, a formalização da televisão TeleSUR só ocorreu, em 24 de julho de 2005, dia do aniversário do revolucionário Simon Bolívar, a partir do lema “Nuestro Norte es el Sul”. Pautada por uma propriedade multiestatal (aliança entre Venezuela, Argentina, Uruguai e Cuba). Como já mensionado, inicialmente, a TeleSUR recebeu um investimento de 10 milhões de dólares, somente, Caracas investiu cerca de 51%, em tecnologia da informação e da comunicação, enquanto os demais membros investiram em outras tecnologias e aparatos midiáticos como a Argentina (20%), Cuba (19%) e o Uruguai (10%) foi empregado. Após este período, a emissora contou com a participação de novos membros a exemplo da Nicarágua (2007) e do Equador (2007). A cada participação de um novo membro e da continuidade dos antigos o respeito às particularidades políticas, sociais, econômicas e legislativas eram valorizadas. Ainda de acordo com a historicidade da emissora, a TeleSUR nasceu com o propósito de realizar um projeto integracionista, no âmbito da cultura, constituindo-se como uma emissora contra-hegemônica, anti- imperialista, cuja resistência regional ocorreria, por meio da notícia. Porém, o que o nosso trabalho comprovou, a partir de uma análise de conteúdo, que a TeleSUR funcionou e atuou mais como uma ferramenta de diplomacia pública e midiática da Venezuela e do Governo Chavista, do que como um projeto integracionista. Ao realizar a mensuração dos conteúdos produzidos pela emissora que foram divulgados através do canal do Youtube, entre 2007 a 2016, notou-se que existem cerca de quase cem mil vídeos. No entanto, não foi possível analisar todos os conteúdos mesmo porque, existem muitos objetos que não estão organizados seja por temáticas, ou

147 mesmo por países. Algo que chamou a nossa atenção deve-se aos conteúdos divulgados já que alguns países que são membros fundadores, não têm uma playlist dedicada a eles. É o caso de Cuba e Uruguai que tem uma quantidade mínima de vídeos no Youtube. A pouca quantidade difundida é encontrada de maneira desorganizada. Contudo, deve-se levar em consideração, que a emissora realiza com bastante constância, conteúdos que envolvem questões sobre identidade, história, integração regional. Destacamos nesta dissertação que a realização metodológica só foi possível durante este intervalo de tempo porque a emissora, somente criou seu portfólio no Youtube em 2007. Muitos poucos vídeos desta época ainda são encontrados no canal. Até 2009, a emissora não contava com um portal de notícias na web. Acredita-se que esta seja uma das razões pelas quais muitos vídeos que foram filmados desde 2005 (inauguração da emissora) não foram disponibilizados e/ou transferidos para conteúdo digital. Destacamos que além da quantidade de vídeos disponibilizados e que foram contados, contabilizou-se o tempo de transmissão, por meio de gráficos onde somente a Venezuela ocupou quase que metade dos gráficos. Ao fazermos algumas simulações, percebeu-se também que mesmo somando todos os conteúdos dos outros países, ainda assim, a República Bolivariana da Venezuela sofre uma queda, mas muito pequena comparada ao tamanho de horas que foram destinadas a ela. Dando continuidade as análises de conteúdos dos vídeos, notamos que muitos deles exploravam, a imagem do presidente Chávez através de seu legado, da história enquanto governante, da trajetória de sua vida pessoal. Não bastasse a exploração da imagem do comandante Chávez por meio dos vídeos e documentários, houve a criação do aplicativo chamado “Mi Amigo Chávez” que traz sínteses de toda sua história, desde as fotografia quando ainda era criança, até o período em que foi presidente da Venezuela. Mais uma vez observamos a projeção da imagem do governante Chávez, da Venzuela e os processos de mediação e negociação por intermédio da instrumentalização das mídias. De um lado, a TeleSUR, com sua programação e conteúdo que corroboram para a diplomacia pública e midiática. Do outro lado, os documentários e os aplicativos da emissora e sua cooparceria que mais uma vez atestam nossa hipótese. Com relação à integração regional, a emissora multiestatal não consegue realizar os objetivos em certos quesitos, aos quais se pretende. A começar pelo Brasil, país com dimensões continentais que não participa da emissora. Embora, o país não participe com

148 membro fundador, o Brasil realizou intercâmbios com a emissora por meio da Radiobrás. Durante a Era Lula (2003-2010), o Brasil chegou a ter sucursais em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Como explorado em nossa entrevista, durante um período, em Caracas, houve a montagem de uma mini-redação jornalística (cinco brasileiros e uma venezuelana, mas que havia morado no Brasil durante muito tempo e falava português) em língua portuguesa. Nesse período, conseguiu-se estabelecer um convênio entre a TVE do Paraná e a TeleSUR. Na época, Roberto Requião (PMDB-PR) era governador do Paraná e assinou junto com o presidente Hugo Chávez, numa viagem presidencial, um convênio onde cerca de 19 acordos foram assinados e um deles se referia a TeleSUR. Segundo o convênio, cerca de meia hora por dia, em um determinado horário (às 16H geralmente), a TVE utilizaria o satélite brasileiro e divulgaria um noticiário em língua portuguesa. No que tange as TVS parabólicas, elas captavam o sinal da TeleSUR onde era transmitida quase que duas horas da programação da TeleSUR no total. Após este acordo com o Paraná, outro convênio tentou ser realizado com o Rio Grande do Sul, quando Tarso Genro (PT) era governador, mas apesar da boa recepitividade, ele não tomou as devidas providências. Outra questão que a TeleSUR falha enquanto emissora, deve-se ao fato de que por questões de bloqueios ideológicos, a TV multiestatal se mantém excluída como canal de televisão de sinal aberto e por assinatura. Apenas, canais estatais têm a possibilidade de transmissão de conteúdos. Países como Argentina e Uruguai, membros acionistas, somente por intermédio de seus órgãos oficiais, retransmitem o conteúdo da emissora. Quanto a programação televisiva, a TeleSUR conta com cerca de 25 programas televisivos e telejornalísticos, 24H por dia, porém nem todos os programas vão ao ar periodicamente. Muitos destes conteúdos â ênfase recai sobre a realidade venezuelana – o que não é de se espantar já que é o maior acionista. A mensuração dos conteúdos da TeleSUR via Youtube reafirmou outra hipótese na medida em que os membros fundadores e acionistas não detém uma playlist dedicada a estes países (Cuba e Uruguai). Por fim, retomamos que ainda que sejam incipientes os trabalhos dedicados a interface relações internacionais e mídia no Brasil, houve desde os anos de 1970 o intenso debate sobre o papel das mídias no campo político (agenda-setting) no mundo. A cada dia tem sido progressivamente incorporado nos estudos das Relações Internacionais que por sua vez, tem priorizado uma substancial análise sobre a relação entre as mídias, a política externa e a política internacional. Dentre os vários conflitos

149 dessa novance os discursos sobre o papel das redes transgovernamentais sobre as tomadas de decisões governamentais ganharam relevância. Como observado, a revolução tecnológica dos meios de comunicação, iniciada com a televisão - que se afirma como um veículo de comunicação de massa mundial transforma o mundo em uma “aldeia global”, como previu McLuhan (1962). Deste modo, o público, cada vez cada vez mais amplo, busca se interar sobre as questões internacionais, antes circunscritas aos círculos dos especialistas do mundo político, econômico e dos governos. É a “cultura da mídia e o triunfo do espetáculo” (KELLNER, Apud LESSA, 2011) que transforma eventos esportivos, fatos diversos ou fenômenos políticos marcante sem “mega espetáculos políticos”. Daí, a justificativa de se entender a importância política exercida pelos conglomerados comunicacionais nas relações internacionais.

150

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, Pedro. “Marx Explica a Reuters: a economia política das agências de notícias”. In. SILVA JR, José Afonso da; ESPERIDIÃO, Maria Cleidejane; AGUIAR, Pedro (Org.). Agências de Notícias: Perspectivas Contemporâneas. Recife: Editora UFPE, 2015. AHARONIAN, Aram. Entrevista concedida a Eloy Pardo. 18 abr. 2008. Disponível em: http://www.aporrea.org/actualidad/n124220.html. Acesso em 13 ago. 2016. ALCARAJO. Direção de Luciano Ezequiel Leyrado. TeleSUR. 2015. Disponível em: http://videos.telesurtv.net/video/467363/documentales-467363. Acesso em: 18 ago. 2016. ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado. Rio de Janeiro: Editora Martins Fontes, 1983. AMIN, Samir. “Refundar a solidariedade dos povos do sul”. In. MARTINS, Carlos Eduardo; SÁ, Fernando; BRUCKMANN, Mónica. Os impasses da Globalização: Hegemonia e Contra-Hegemonia. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora PUCRIO, 2003. ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2008. ANDERSON, Perry. “Balanço do Neoliberalismo”. In. SADER, Emir; GENTILI, Pablo (Org.). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. ARRIGHI, Giovanni. “Hegemonia e movimentos anti-sistêmicos”. In: MARTINS, Carlos Eduardo; SÁ, Fernando; BRUCKMANN, Mónica. Os impasses da Globalização: Hegemonia e Contra-Hegemonia. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora PUCRIO, 2003. ______; HOPKINS, Terence K.; WALLERSTEIN, Immanuel. Antisystemic Movements. British Library Cataloguing in Publication, 1989. BARROS, Pedro Silva. “Venezuela: Mudanças e Perspectivas - A razão Chavista”. In. CARMO, Corival Alves; BARROS, Pedro Silva; MONTEIRO, Leonardo Valente. Prêmio América do Sul: Venezuela: Mudanças e Perspectivas. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2007. BETHELL, Leslie. História da América Latina. Vol. 2. São Paulo: EDUSP, 1999. ______. História da América Latina. Vol. 3. São Paulo: EDUSP, 2001. BLANCO, Carlos. “La odisea de Hugo Chávez”. In. El Universal, 7-9-05, p. 1-8, 2005.

151

______. Industria cultural, informação e capitalismo. São paulo: Ed. Hucitec/Ed. polis, 2000. BOLAÑO, César. “O Conceito de cultura em Furtado e a problemática da Dependência Cultural”. In. CALIXTRE, André Bojikian; NIEMEYER, Almeida Filho. Cátedras para o desenvolvimento: patronos do Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2014. BOLÍVAR, Simon. Carta de Jamaica. ELALEPH, 1999. ______. Dicursos y Proclamas. Republica Bolivariana de Venezuela. Fundación Biblioteca Ayacucho, 2007. BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005. BOYD-BARRETT, O. The International News Agencies. Londres: Constable, 1980. ______. “National News Agencies in a Globalizing World”. In. SILVA JR, José Afonso da; ESPERIDIÃO, Maria Cleidejane; AGUIAR, Pedro (Org.). Agências de Notícias: Perspectivas Contemporâneas. Recife: Editora UFPE, 2014. BRIGGS, Asa; BURKER, Peter. Uma História Social da Mídia: De Gutenberg à Internet. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2006. CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas. São Paulo: EDUSP, 2008. CAÑZÁLES, Andrés; OCANDO, Jairo Lugo. “The media in Venezuela: the revolution was televised, but no one was really watching”. In. OCANDO, Jairo Lugo (Org.). The Media in Latin America. New York: Open University Press, 2008. CARDOZO, Elsa. “Ingobernabilidad e inseguridad en La región andina: La crisis Colombia-Ecuador-Venezuela y los retos a la seguridad cooperativa”. Caracas: Ildis, 2008. Disponível em: www. ildis.org.ve. Acesso em: 02 jul. 2016. CARMO, Corival Alves. “Confrontando o subdesenvolvimento e a dependência: A Venezuela de Hugo Chávez”. In. CARMO, Corival Alves; BARROS, Pedro Silva; MONTEIRO, Leonardo Valente. Prêmio América do Sul: Venezuela: Mudanças e Perspectivas. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2007. CEBALLOS, Beatriz. La formación del espacio venezolano. 3ª edição. Caracas: Fondo Editorial de la Universidad Experimental Libertador, 2008. CHÁVEZ, Hugo. Discurso presidencial em defesa da TeleSUR e do processo de integração regional entre os povos. 29 de agosto de 2007. Disponível em: http://www.telesurtv.net/news/Chavez-simbolo-de-unidad-20150727-0055.html. Acesso em: 22 ago. 2016.

152

CHÁVEZ, Hugo. Chávez: Al Mercosur le hacía falta el ingreso de Venezuela. 2011. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QnkyS5mnYLc. Acesso em: 17 ago. 2016. CHÁVEZ, Hugo. Discurso presidencial ao receber prêmio Rodolfo Walsh na Universidade Nacional La Plata. 29 de março de 2011. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7_25oVw-oFQ. Acesso em: 11 ago. 2016. CHOMSKY, Noam; HERMAN, Edward. Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media. Pantheon Books, 1988. ______. Controle da Mídia. Rio de Janeiro: Editora Graphia, 2003. CIDADANO TELESUR. Página informativa sobre a campanha “Cidadano TeleSUR”. Disponível em: https://ciudadano.telesurtv.net/portuguese.html . Acesso em: 13 ago. 2016. COELHO, Teixeira. Indústria Cultural. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996. CORREIA; Pedro Miguel Alves Ribeiro; MOREIRA, Maria Faia Rafael. “Novas formas de comunicação: história do Facebook – Uma história necessariamente breve”. In. ALCEU. Vol. 14, nº 28, p.168-187, 2014. Disponível em: http://revistaalceu.com.puc-rio.br/media/alceu%2028%20-%20168-187.pdf. Acesso em: 14 ago. 2016. COX, Robert. Approaches to World Order. Cambridge: Cambridge University Press, 1980. CULL, Nicholas J. Public Diplomacy: Lessons from the Past. Los Angeles: Figueroa Press, 2009. Disponível em: http://www.kamudiplomasisi.org/pdf/kitaplar/PDPerspectivesLessons.pdf Acessado em 15/02/2017. DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2003. DOMÍNGUEZ, Freddy; FRANCESCHI, Napoleón G. Historia General da Venezuela. Caracas: 2010. ECO, Humberto. Apocalípticos e Integrados. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001. ESCH, Carlos Eduardo; DEL BIANCO, Nelia Rodrigues; MOREIRA, Sonia Virgínia. “Radiodifusão Pública: um desafio conceitual na América Latina”. In. Revista FSA. Teresina: v. 10, nº. 4, art. 4, p. 67-86, Out./Dez, 2013.

153

FLORES, Fidel Perez. “Processo decisório da política externa venezuelana: considerações sobre a era chavista”. In. Observador On-Line. Vol.10, nº.09, 2015. Acesso em 13 jan. 2015. FONTES, Pablo. “A Reuters é um ator geopolítico?” In. Revista Ponto de Vista. Vol. 7. n°13, Outubro de 2015. FONTES, Pablo; RENNI, Yasmin. “Integração Regional e petróleo: um panorama da política externa dos governos Hugo Chávez”. In. Revista Oikos: Revista de Economia Política Internacional. Vol.15, nº2, 2016. FOUCAULT, Michael. A Ordem do Discurso. São Paulo: Editora Loyola, 2014. FRÍAS, Hugo Chávez. El Libro Azul. Caracas: Ediciones Correo Del Orinoco, 2016. FUENZALIDA, V. Situación de la televisión publica en América Latina. Lima. Felafacs - Diálogos de la comunicación, nº 53 dezembro, 1998. FURTADO, Celso. Economic Development of Latin America: Historical background and contemporary problems. Segunda Edição. Cambridge: New York: Melbourne: Cambridge University Press, 1976. GATUNG, Johan. “A Structural Theory of Imperialism”. In. Journal of Peace Research. Vol. 8, issue 2, 1971. GIACALONE, Rita. “Dilemas De Los Procesos De Integración: Sudamericana Y Opciones Para Venezuela”. In. Revista Venezolana Estudios Internacionales, 2007. GILBOA, Eytan. “Diplomacy in the media age. Three models of uses and effects”. In. Diplomacy & Statecraft. Vol..12, nº.2, p.1-28, 2001. ______. “Global Communication and Foreign Policy”. In. Journal of Communication. Dezembro de 2002. Acesso em: 23 jul. 2016. GOLDING, Peter; MURDOCK, Graham. (Eds.). The Political Economy of the Media. Cheltenham, UK; Brookfield, US: The International Library of Studies in Media and Culture, Vol. I, 1997. GRAMSCI, A. Cadernos de um Cárcere. Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. ______, A. Os intelectuais e a Organização da Cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. HALLIN, Daniel; MANCINI, Paolo. Comparing Media Systems Beyond the Western World. New York: Cambridge University Press, 2004. ______; PAPATHANASSOPOULOS, Stylianos. “Political clientelism and the media: southern Europe and Latin America in comparative perspective”. In. Media,

154

Culture & Society. London; Thousand Oaks; New Delhi: SAGE Publications, Vol. 24: p. 175–195, 2002. HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2014. HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de massas In ADORNO, Theodor. Indústria Cultural e Sociedade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2005. HURRELL, Andrew. “O Ressurgimento do Regionalismo na Política Mundial”. In. Contexto Internacional. IRI/PUC-RJ, janeiro-junho 1995. Disponível em: http://contextointernacional.iri.puc-rio.br/media/Hurrell_vol17n1.pdf. Acesso em: 08 mar. 2016. IANNI, Octavio. Imperialismo e Cultura. Petrópolis: Editora Vozes, 1976. INSTAGRAM, 2016. “About us”. Disponível em: https://www.instagram.com/about/us/. JACOME, F. “La Política de Seguridad y Defensa del Gobierno de Venezuela en el 2008”. In: MATHIEU, H.; ARREDONDO, P. R. (Org). Anuario 2009 de la Seguridad Regional en América Latina y el Caribe. 2009. JACOME, F. “Segurança e Integração “Bolivariana” no Marco da Política Exterior da Venezuela (1999-2006)”. In. Cadernos Adenauer. Rio de Janeiro: VIII, nº 1, p. 63- 93, 2007. ______. “Sector de Defensa en Venezuela: Hitos Nacionales e Internacionales (2008 – 2010)”. In. Atlas Comparativa de la Defensa en América Latina y Caribe. 2010. KFURI, Regina; FLORES, Fidel Perez. “Socialismo, Multipolaridade e integração regional na política externa do Hugo Chávez”. Trabalho apresentado no Encontro Internacional ISA/ABRI. Rio de Janeiro, julho de 2009. LA CONCENTRACIÓN MEDIÁTICA. TeleSUR. 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=k4nd2c2Lr6E . Acesso em: 20 ago. 2016. LA GUERRA QUE USTED NO VE. Direção de Alan Lowery e John Pilger. Expedicion TeleSUR. 2010. Disponível em: http://videos.telesurtv.net/video/441551/la- guerra-que-usted-no-ve. Acesso em: 21 ago. 2016. LAGE, Nilson. Ideologia e Técnica da Notícia. Florianópolis: Insular- EDUFSC, 2001. LAMPREIA, Luiz Felipe Palmeira. “Resultados da Rodada do Uruguai: Uma tentativa de síntese”. In. Revista de Estudos Avançados. 1995.

155

LEITÃO, Paulo Jorge O. A Revolução RSS e as Bibliotecas, 2010. Disponível em: http://eprints.rclis.org/16270/1/RSS_Bibliotecas_PJL_CongBAD_.pdf. Acesso em: 13 ago. 2016. LEITE, Iara; FLORES, Fidel. “Refundações, Conflito e Polarização na Venezuela De Chávez”. In. LIMA, Maria Regina Soares de; COUTINHO, Marcelo Vasconcellos. A Agenda Sul-Americana: Mudanças e Desafios no Início do Século XXI. Brasília: FUNAG, 2008. LENIN, Vladimir I. Imperialismo, etapa superior ao Capitalismo. 2° edição. São Paulo: Editorial Estampa, 1975. LESSA, Mônica Leite. “Bens e Serviços Culturais: O Lugar do Brasil na Cena Internacional (2001-2006)”. In. SUPPO, Hugo Rogelio; LESSA, Mônica Leite. A quarta dimensão das relações internacionais: a dimensão cultural. Rio de Janeiro: Editora Contra Capa, 2012. LICHTENBERG, Judith. “Foundations and limits of freedom of press”. In. LICHTENBERG, Judith. Democracy and The Mass Media. London: Cambridge University Press, 1990. LIMA, Maria Regina Soares de; COUTINHO, Marcelo Vasconcellos. A Agenda Sul- Americana: Mudanças e Desafios no Início do Século XXI. Brasília: FUNAG, 2008. ______. “Relações Interamericanas: A Nova Agenda Sul-Americana e o Brasil”. In. Revista Lua Nova. São Paulo: 2013. LOS DAÑOS DEL FRACKING U.S. TeleSUR. 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-u4ivozqLT4 . Acesso em: 19 ago. 2016. LOS SUEÑOS LLEGAN COMO LA LLUVIA. TeleSUR. 2015. Disponível em: http://videos.telesurtv.net/video/420182/las-suenos-llegan-como-la-lluvia. Acesso em: 18 ago. 2016. MACBRIDE, Report. Communication and Society Today and Tomorrow, Many Voices One World, Towards a new more just and more efficient world information and communication order. Kogan Page, London/Uniput, New York/Unesco, Paris: Unesco, 1983. MALAMUD, Andre. “Conceptos, teorías y debates sobre la integración regional”. In. Brazilian Journ al of International Relations. Edição Quadrimestral, Vol. 2, ed.3, 2013. MARINGONI, Gilberto. A Revolução Venezuelana. São Paulo: Editora UNESP, 2008. MARX, Karl. Crítica a Economia Política. São Paulo: Martins Fontes, 2009. ______. Liberdade de Imprensa. Porto Alegre: Editora LPM Pocket, 1999.

156

______; ENGELS, Frederich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Martins Fontes, 2009. MATTELART, Armand. Comunicação-mundo: história das idéias e das estratégias. Petrópolis: Vozes, 1994. MCLELLAN, David. “A Concepção Materialista da História”. In. SINGER, Peter. Marx. São Paulo: Editora, 2015. MI AMIGO HUGO - OLIVER STONE. Produção Fernando Sulichin, Serge Lobo e Rob Wilson. TeleSUR. 2014. Disponível em: http://videos.telesurtv.net/video/216397/mi-amigo-hugo . Acesso em: 19 ago. 2016. MOARES, Denis de. A batalha da Mídia: Governos Progressistas e Políticas de Comunicação na América Latina e outros ensaios. Rio de Janeiro: Pão e Rosas, 2009. ______. Vozes Abertas da América Latina: Estado, políticas públicas e democratização da comunicação. Rio de Janeiro: Mauad X, 2011. MORAES, Gláucia da Silva Mendes. Pátria Grande À Vista: TeleSUR e as contradições da integração da América Latina. Tese de Doutorado em Comunicação Social pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015. MORAES, Wallace dos Santos. Por que Chávez chegou ao poder e como permanece por mais de uma década? Um balanço dos onze anos de chavismo na Venezuela. Observatório Político Sul-Americano. Rio de Janeiro: 2010. MOSCO, V. The political economy of communication: rethinking and renewal. Londres: Sage, 2009. MURDOCK, Graham; GOLDING, Peter. “For a Political Economy of Mass Communications”. In. The Socialist Register, 1973. NASCIMENTO, José Diego de Lima. A Mídia como Instrumento de Diplomacia Pública: TV Brasil Internacional. Trabalho de Conclusão de Curso, João Pessoa - PB, Universidade Estadual da Paraíba, 2012. NEVES, Rômulo Figueira. Cultura Política e Elementos de Análise da Política Venezuelana. Brasília: FUNAG, 2010. NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nisar. Teoria das Relações Internacionais: Correntes e Debates. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2010. NOGUEIRA, Silvia Garcia; RIBEIRO, Alana Maria. “A TeleSUR e a construção Simbólica da Integração Latino-Americana durante e depois da Era Chávez”. In. Revista Sul-Americana de Ciência Política. Vol.1, nº.3, p. 123-131. Acesso em: 2 nov. 2014.

157

NYE, Joseph. Soft Power: Means to Success in World Politics. EUA: Public Affair, New York, 2004. PREBISCH, Raúl. El desarrollo económico de La América Latina y algunos de sus principales problemas. CEPAL: UNESCO, 2012. RECUERO, Raquel. Redes Sociais. Porto Alegre: Editora Siluna, 2009. ROMERO, Carlos. Las relaciones de seguridad entre Venezuela y Estados Unidos: entre la diplomacia y el conflicto. Caracas: Venezuela, 2006. SADER, Emir. A nova toupeira: os caminhos da esquerda latino-americana. São Paulo: Editora Boitempo, 2010. SADER, Emir. “América Latina no século XXI: Perspectivas e desafios para o futuro”. In. OSAL, janeiro, 2003. ______. “O longo ciclo eleitoral latino-americano”. In. OSAL. Ano VIII, n° 21, setembro-dezembro, 2006. SALINAS, Raquel. Agencias Transnacionales de Informacion Yel Tercer Mundo. Ecuador: The Quito Times, 1984. SANTORO, Maurício; VALENTE, Leonardo. A Diplomacia Midiática do Governo Hugo Chávez. Observatório Político Sul-Americano. Rio de Janeiro: 2006. SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004. SANTOS, Suzy dos. “Os prazos de validade dos coronelismos: transição no coronelismo e no coronelismo eletrônico”. In. SARAVIA, Enrique; MARTINS, Paulo Emílio Matos; PIERANTI, Octavio Penna (Org.). Democracia e Regulação: dos meios de comunicação de massa. Rio de Janeiro: FGV, 2008. SANTOS, Thauan; FONTES, Pablo. A relevância da mídia na construção da identidade latino-americana: o caso da TELESUR. Trabalho apresentado no SIMPORI, São Paulo, 2015. ______. “Identidade e Integração Regional: O Papel Da Mídia Na Formação Da Identidade Latino-Americana”. In. SUPPO, Hugo. TELESUR. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2016. SARTI, Ingrid. “Comunicação e dependência cultural: um equívoco”. In: WERTHEIN, Jorge (Org.). Meios de comunicação: realidade e mito. São Paulo: Nacional, 1978. SAUNDERS, Frances Stonor. La CIA y la guerra fria da cultura. ed. Debates, Madrid, 2001

158

SCHILLER, Hebert. O império norte-americano das comunicações. Petrópolis, Vozes, 1978. SCHUDSON, Michael. Descobrindo a Notícia: Uma história social dos jornais nos Estados Unidos. Petrópolis: Editora Vozes, 2010. SEABRA, Raphael. “A revolução venezuelana: chavismo e bolivarianismo”. In. Soc. e Cult. Goiânia: Vol.. 13, nº. 2, p. 211-220, jul./dez. 2010. Acesso em: 26 dez. 2014. SERPA, Marcelo. Eleições Espetaculares: Como Hugo Chávez conquistou a Venezuela. Rio de Janeiro: Editora Contra Capa, 2013. SUPPO, Hugo Rogelio. “O Papel da Dimensão Cultural nos Principais Paradigmas das Relações Internacionais”. In SUPPO, Hugo Rogelio; LESSA, Mônica Leitte. A quarta dimensão das relações internacionais- a dimensão cultural. Rio de Janeiro: Editora Contra Capa, 2004. TELESUR. Discurso de lançamento do sinal da TeleSUR. 24 de julho de 2005. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=R7nnaZfIKXI. Acesso em: 13 ago. 2016. TELESUR. “Presidente Barack Obama se despide de su homologo Hugo Chavez ‘Adios Amigo’ ‘Bye bye my friend’”. 2009. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gHReao0Osp4 . Acesso em: 17 ago. 2016. TELESUR. “Chávez responde a Obama que Venezuela no obedece al império”. 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xcpJZjl-tok . Acesso em: 17 ago. 2016. TELSUR. “Hugo Chávez reta a Obama a probar acusaciones de narcotráfico”. 2011. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6fF5Pn8_gRs . Acesso em: 17 ago. 2016. TELESUR. Repudian salida de la senal de TeleSUR en Argentina. 2016. Disponível em: http://www.telesurtv.net/news/Repudian-salida-de-la-senal-de-teleSUR-en- Argentina-20160523-0044.html. Acesso em: 10 ago. 2016. TOTA, Antonio Pedro. O Imperialismo Sedutor. São Paulo, Cia. Das Letras, 2000. THUSSU, Daya Kishan. International Communication: Continuity and Change. London: Oxford Press, 2000. ______; “Mapping global media flow and contra-flow”. In. THUSSU, Daya Kishan. Media on the Move: Global Flow and Contra-Flow. London: Routledge 2007.

159

TRINKUNAS, Harold A. “The logic of Venezuelan Foreign Policy during the Chávez Period”. In. CLEM, Ralph S.; MAINGOT, Anthony P. Venezuela´s Petro-Diplomacy: Hugo Chávez Foreign Policy. Tampa: University Press of Florida, 2005. TUNSTALL, Jeremy; PALMER, Michael. Media Moguls. London: Routledge, 1991. TWITTER, 2016. “Uso do Twitter – Dados da Empresa”. Disponível em: https://about.twitter.com/pt/company. UNESCO. Investir na Diversidade cultural e no Diálogo Intercultural. 2009. UNESCO. The Globalization of Cultural Trade: A shift in Consumption- International flows of cultural goods and services 2013-2014. 2014. VALENTE, Leonardo Monteiro. Inimigos sim, negócios à parte: revisionismo periférico e pragmatismo comercial combinados na política externa do governo de Hugo Chávez. Tese de Doutorado pelo Instituto de Estudos Políticos e Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ), 2012. ______. A Política Externa na era da Informação. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2007. VELOSO, Maria. “O poder da cultura na integração sul-americana”. In. Revista do Instituto de Estudos Sócio Econômicos. 2006. VILLA, Rafael Duarte. “Venezuela: O projeto de refundação da República”. In. Revista Lua Nova. São Paulo: n° 49, 2000. ______. “Venezuela: mudanças políticas na era Chávez”. In. Revista de Estudos Avançados. 19, 2005. VILLEGAS, Patrícia. “TeleSUR ha cambiado la agenda mediática en AL”. 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9MuIDwLx5sw . Acesso em: 18 ago. 2016. VIZENTINI, Paulo G. Fagundes. Da Guerra Fria á crise: relações internacionais do século 20. Porto Alegre: UFRGS, 1995. WALLERSTEIN, Immanuel. “Geopolítica, Política de classe, e a atual desordem mundial”. In. MARTINS, Carlos Eduardo; SÁ, Fernando; BRUCKMANN, Mónica. Os impasses da Globalização: Hegemonia e Contra-Hegemonia. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora PUCRIO, 2003. WALLERSTEIN, Immanuel. The Essential Wallerstein. New York: The New Press, 2001. WEBER, Max. “A política como vocação”. In. Max Weber. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

160

WILLIAMS, Raymond. Cultura e Materialismo. São Paulo: UNESP, 2005. WOOD JR, Thomaz. “Fordismo, Toyotismo e Volvismo: Os Caminhos da Indústria em busca do tempo perdido”. In. Revista de Administração de Empresa. São Paulo: 32 (4), 6-18, 1992. YOUTUBE, 2005. “Sobre o YouTube”. Disponível em: https://www.youtube.com/yt/about/pt-BR/.

161

ANEXO A TABELA II: EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS DURANTE A ERA CHÁVEZ (1999-2013) 1999 Valor 2000 Valor 2001 Valor 2002 Valor 2003 Valor 2004 Valor 2005 Valor EUA EUA EUA EUA EUA EUA EUA 1.547.341. 2.225.878. 2.352.694. 1.757.941. 1.788.738. 2.414.781. 2.204.615. 912 584 271 443 442 601 958 Colôm Colôm Colôm Colôm Colôm Colôm Colôm bia 677.750.31 bia 779.881.21 bia 738.150.99 bia 749.468.10 bia 700.141.79 bia 1.041.618. bia 1.029.229. 6 8 1 0 9 539 032 Japão México México México México México México 220.422.17 286.540.23 275.368.76 282.674.10 388.572.20 440.384.76 476.754.34 4 6 5 1 4 9 1 México Japão Brasil Países Países Equado Equado Baixos Baixos r r 182.336.10 243.414.70 201.796.47 274.144.81 220.807.72 298.845.07 301.766.31 7 5 9 7 2 2 7 Peru Brasil Equado Equado China Países Espanh r r Baixos a 143.406.54 158.185.99 188.392.09 215.552.68 200.926.42 281.827.35 218.937.86 7 5 5 9 3 4 7

162

2006 Valor 2007 Valor 2008 Valor 2009 Valor 2010 Valor 2011 Valor 2012 Valor 2013 Valor

EUA EUA EUA EUA EUA EUA EUA EUA 1.735.95 1.240.46 1.610.82 586.643 662.954 531.219 733.338 550.141 6.823 5.534 5.418 .481 .997 .696 .177 .527 Colô Colôm Colôm Colôm China China China China mbia bia bia bia 1.114.82 1.130.06 929.566. 461.488 495.846 492.292 427.751 254.069 3.908 1.056 706 .601 .106 .397 .330 .459 Méxic Méxic Países China Colôm Colôm Colôm Colôm o o Baixo bia bia bia bia 675.546. 422.507. s 317.409. 322.093 284.383 431.701 358.236 236.363 081 266 783 .661 .600 .593 .039 .628 Países Trinid Méxic Méxic Brasil Brasil Brasil Países Baixo ade & o o Baixo s 418.776. Tobag 263.979. 283.672. 225.827 168.578 403.531 206.770 s 196.401 423 o 348 397 .136 .526 .763 .125 .427 Equad Países China Brasil Méxic Trinid Países Brasil or Baixo o ade & Baixo 239.201. s 233.726. 270.301. 170.109 157.415 Tobag 166.933 s 157.731 172.984 457 317 877 .989 .674 o .694 .245 .125 Fonte: SISOV (2015); UNESCO (2015) e BLANC (2015) 85

85 Disponível em http://www.mppp.gob.ve/ Acessado em 29/07/2016.

163

ANEXO B

Nome do Vídeo ou Programa Quantidade Misterios de La Historia 40 Entrañable Fidel 3 Entrevista com: Jorge Gestoso 9

Infraganti con Miguel Ángel Pérez Pirela 138

EnClave Política - Juan Pablo Pozo 9 #PorSiempreFidel 383

Los mejores discursos de Fidel Castro 24

Paz para Colombia 128

Punto en la i 23

Prisma Cultural 4 Nicaragua Decide 2016 5 Dia de los Muertos 6 Devastador Huracan Matthew 13 #quesetraeteleSUR 46

7 Preguntas Con Ernesto Villegas 24

71° Asamblea General de la ONU 30

Glosario teleSUR_ 44 17ma Cumbre del MNOAL 2016 50 Historias en Resistencia 4

Cruce de Palabras, II temporada 55

Audio Frases Eduardo Galeano 3

AntiPeriodistas 7

Impeachment Dilma 13

164

Poder 18

Terremoto en Italia 5

11° Aniversario de teleSUR 17

Tras el Telón 11

Venezuela en Resistencia 5

Golpe de Estado en Turquía 17 Atentado terrorista en Niza 14

Ciudadano teleSUR 9

España Decide 34

Todo sobre el Brexit: la salida del Reino Unido de la UE 8

Ecuador es Noticia - América Latina en Juego 24

#NoNosVanADesaparecer 36

Venezuela y Rusia en la Mira 7

Perú Decide 31

Copa América Centenario 16

Entrevistas Exclusivas: Dilma y Lula 8 Foro Dilemas Económicos de América Latina 6

República Dominicana Decide 11

Sismo en Ecuador 399

Cumbre Doha 2016 6

Tiempo Extra 30

BRASIL - Diputados a favor del juicio político contra Dilma 34

Nicolas Maduro y sus tres años al frente de la Revolución 3

165

Encuentro de la Red de Intelectuales en Defensa de la Humanidad 19

Diálogos de Paz con ELN 7

#Fueron30Mil 5

Allanamiento a la casa de Lula Da Silva 9

Victimas de la Dictadura en Argentina 4

Atentados Terroristas en Bruselas 9

Obama visita Cuba 25

EE.UU. DECIDE 5

Es Noticia 5

Siria en Cifras 5

El desierto invisible 4

Asesinato de Berta Cáceres, líder indígena de Honduras 10

Expediente Uribe 6

Referendo Bolivia 2016 14

Bolivia En Cifras 2

Visita del Papa Francisco a México 18

La Calle Habla 6

Independencia de Kosovo 5

Recorrido del Papa Francisco en México 10

Situacion politica de Haiti 15

Invasión USA 1

Venezuela: Habla La Calle 7

166

Cumbre Celac 2016 19

Encuentro de Parlamentarios de Izquierda en Ecuador 6

Intervenciones destacadas en la historia de las Cumbres #Celac 9

#10anosConEvo 20

Portugal Decide 6

El Valor de la Historia 8

Ernesto Guevara, también conocido como el "Che" 10

Países en Guerra No Convencional 3

Chávez en la Asamblea 4

Primavera Árabe 5

Promesas incumplidas de Obama 5

Pruebas de delitos electorales de la oposición-Venezuela 3

Bolívar en América Latina 5

Argentina protesta contra medidas de Macri 10

Quién te lo hubiese contado 15

Economia: Lo que fue noticia en 2015 y los escenarios 2016 4

La Entrevista Decide con Víctor Hugo Morales 49

Parlamentarias de calle 19

Venezuela Decide 138

CLACSO 2015 5

COP21 6

Promociones La Entrevista Decide 18

167

Argentina Decide 41 41

Hiroshima y Nagasaki - Misterios de la historia 49

Estados Unidos espía a la petrolera venezolana PDVSA 12

Debate presidencial Argentina 5

Atentados en París #13N 14

En Juego 1

Documental Alcarajo 1

Argentina en Cifras 3

Promo teleSUR 20

Crisis de Refugiados: Desde Esvolenia a Croacia 5

Cruce de Palabras con Mustafa Alzidi 7

Seriado especial: Refugiados de la OTAN 8

Debate en la ONU contra el Bloqueo a Cuba 8

Colombia Decide 16

Ucrania Decide 7

Guatemala Decide 2015 39

Guatemala em Cifra 6

Huracán Patricia, el más potente del Pacífico 15

Colombia en Cifras 10

Haití en Cifras 9

Francisco en Cuba y EE.UU. 86

Cierre de frontera colombo-venezolana 333

168

Reunión en Ecuador de Santos y Maduro 16

Entrevista exclusiva a Timoleón Jiménez 10

Discursos más contundentes en la ONU 8

Los 43 normalistas de Ayotzinapa ¿Quiénes son? 47

Intervenciones en la ONU 12

Crónicas: Los 43 de Ayotzinapa 44

24 Horas en Ayotzinapa 8

Crónicas de Ayotzinapa 15

Cobertura Especial Grecia 45

Grecia en Cifras 5

Canto General Pablo Neruda 6

Chile 681

El Papa Francisco en América 96

Paramilitarismo en Venezuela 82

200 años Carta de Jamaica 7

X Cumbre Petrocaribe 28

Maduro en Vietnam y China 42

Seriado especial: Mozambique nuestro 5

#10AñosteleSUR 36

Seriado especial: Colombia: La lucha por el retorno 4

El paso de Exxon Mobil por América Latina 3

169

Ecuador 830

Cobertura Haití - 100 años de la invasión de EE.UU. 21

Argentina 960

Hangouts teleSUR 2

61 AÑOS DE CHÁVEZ 7

Seis Grados 60

I Encuentro Ciespal -teleSUR 4

Reapertura embajadas Cuba y EE.UU 5

De Chilena 79

Revoluciones en Resistencia 6

Negociación de la Deuda Griega 6

Copa América Chile 2015 7

Saludos de "DeChilena" rumbo a la Copa América 6

México 2019

Venezuela 4212

Colombia 1723

Estados Unidos 2085

Perú 541

Canadá 21

España 874

#PorSiempreGaleano 15

Los Nuestros 20

170

Beatificación Arnulfo Romero 9

Cobertura Ucrania 10

Sismo en Nepal 15

A 40 años de Vietnam 8

Espacios de Paz 2015 2

De Zurda - Segunda Temporada 37

Cumbre de las Americas 2015 91

Apoyo a Venezuela desde Panamá 16

Cumbre de los Pueblos 32

Guerra Económica en Venezuela 4

Expedientes teleSUR 24

#PorQuételeSUR 32

Gente teleSUR 43

Desarticulado Plan Golpista en Venezuela 7

Entrevista a gobernador Adán Chávez 8

Venezuela en Movimiento 4

¿Defensores de Derechos Humanos? 4

Evo Morales en Discurso en Investidura como Presidente 14

Mensaje Anual Nicolás Maduro 17

Avance en los ejes sociales de Venezuela 5

Maradona en Venezuela 1

Brasil Decide 8

171

Navidades con colores y sentimiento latinoamericano 8

De Zurda 41

Uruguay en Cifras 4

2014 en un minuto: Las noticias de este año 7

Las noticias más impactantes del 2014 2

2014- Grandes despedida 12 teleSUR Hangout 10

Héroes cubanos 2

Discurso de Obama sobre bloqueo a Cuba 5

X Aniversario del ALBA - Apoyo Jóvenes Latinoamericanos 6

Siqueiros 12

Torturas por Estados Unidos 4

Reacciones - Suspensión Diálogos de Paz 6

Rueda de prensa Procuraduría México 8

Cobertura Sierra Leona con @OskarteleSUR: Héroes contra el 7 ébola

#UruguayDecide 4

Bolivia Decide 11

Noticiero teleSUR en Quechua 3

Bolivia en Movimiento 5

Mercedes Sosa 9

Asesinato del Diputado Robert Serra 7

172

Entrevista web a Laurent Lamothe 3

Intervencion de Maduro en Asamblea General de la ONU 3

Maduro en la ONU 5

Pruebas de desestabilizacion en Venezuela 5

Colombia: Debate por la Verdad 10

Entrevista Samper 8

Infografias 15

Discurso Salvador Allende 7

Declaraciones tras atentado en Chile 7

Discurso Fidel Castro 5

Cambios en el Gabinete ministerial de Venezuela 13

Programas teleSUR 2

Homofobia 7

Huellas 20

Únete 1

Mi amigo Hugo 14

Infographics 2

Brasil 2014 14

Programas deportes teleSUR 3

Niños del Mundial 8

Cuentos del Arañero 5

Huellas Colombia 12

173

Fuera de Agenda 45

Expediente Uribe 6

Mirada Molano 3

Yo Soy Chávez 29

Chávez 7 de octubre 5

Pachamama 6

Canciones que inmortalizan a Simón Díaz 5

A 4 años del Golpe a Honduras 5

Acciones contra guerra econômica 11

Chevron 7

Seriados Chile 4

#40AñosdeTraición en #Chile 10

Campaña presidencial 7-O 8

@WilliamteleSUR enviado especial a #Siria 12

#AtaqueASiria 60

Avion Humanitario del ALBA viaja al Líbano 3

Mapuches en Chile 10

Victimas Chile 5

Salvador Allende 3

Paro Nacional Colombia 31

Egipto enfrentamiento, violencia y muerte 50

Cumpleãnos 87 del Comandante Fidel Castro 6

174

Campaña Admirable 2013 5 teleSUR presente #EnLaTierraDelPapa 10 teleSUR cumple 8 años de transmisión ininterrumpida 5

Conoce detalles del Atentado A Evo con Rolando Segura 5

Snowden, joven que desenmascaró al Gobierno EEUU 21

Catatumbo, pueblo que resiste 20

Atentado a Evo Morales 18

Turquía - Noticias del Mundo 42

Síntesis Web 173

Irãn Decide 2013 - Noticias del Mundo 29

Banco del Sur - Noticias Latinoamérica 32

TOTAL 100.067 mil

175

ANEXO C – Transcrição da Entrevista com Beto Almeida Transcrição entrevista realizada no dia 01/09/2016 ás 19hrs Entrevistado: Roberto Almeida Função: Membro do Conselho Assessor da TeleSUR Local: Rio de Janeiro

A transcrição sofreu uma pequena alteração e diminuição para se adequar mais a temática pretendida na dissertação.

1) Como surge a TeleSUR?

BETO: A TeleSUR surgi de uma necessidade óbvia, Chávez, ele levantou a bandeira da integração dos povos. Não apenas, a integração latino-americana, mas a integração dos povos do Sul, daí o nome TeleSUR. Isso faz parte da prática do que foi traduzido como política pública. A TeleSUR faz parte de uma das grandes heranças do governo Chávez da mesma forma a PetroSul, a PetroAmérica, Petrocaribe. Ela surge quando se verificava que os meios de comunicação estão sobre o controle das transnacionais que tentam destruir e isolar todo aquele movimento de ideias políticos e de governo que tentam questionar toda e qualquer hegemonia imperialista.

Chávez era a expressão disso. Desde o início, ele (Chávez) estabeleceu laços para criar um novo patamar nas relações internacionais. Um leitor voraz que nunca perdeu suas origens e sua capacidade competitiva. Chávez faz uma parte de estirpe de militares muito inteligente que sabia muito bem da importância no âmbito de sua política externa através da consolidação de políticas domésticas por meio da participação popular e das relações civil-militar.

Quem era a Venezuela, um dos maiores produtores de petróleo do mundo com uma mensagem de resistência via integração latino-americana e dos povos do Sul, aos grandes países imperiais. Ele viu que precisava criar mecanismos que falasse a partir de uma mensagem democrática que era preciso ter resistências aos domínios imperiais.

Eu me lembro da data de 2 de setembro de 2000, Chávez esteve em Brasília, na época eu trabalha como jornalista na TV Senado. Nós gravamos a palestra que ele proferiu numa universidade. E logo após, eu apresentei a ele uma proposta do sindicato de jornalista na área de vídeo para que a integração latino-americana não se limitasse

176 acordos comerciais, mas que ela fosse mais além, que caminhasse pelo terreno da cultura, da comunicação e da educação.

Ele me escutou, ficou de pensar e analisar. Muito tempo depois, Chávez através do seu Ministro da Comunicação me ligou me chamando para encontrar com o presidente no início de 2004 a respeito da ideia de que você tinha apresentado. Mas, é preciso destacar que em 2001, houve um congresso sobre o jornalismo em Cuba, e Fidel Castro já naquela época disse uma frase célebre “Nós precisamos de uma CNN dos Meus”. Anos mais tarde, uma entrevista celebre entre Hugo Chávez e Fidel Castro para as várias praças (lugares principais selecionados pelo jornalismo) como Brasília onde eu pude perguntar novamente em 2002, para os Chefes de Estado, os elementos chaves para a integração latino-americana, por meio da comunicação, que está faltando. Ele lembrou de mim e comentou com Fidel Castro, ao vivo, da proposta que havia feito ele em 2000. Ele ainda brincou, se o Fidel aprovar, por mim, está fechado.

2) Esse é segundo ponto Beto, o fato de Hugo Chávez ter sofrido um Golpe de Estado em 2002, isso propiciou para a existência da TeleSUR haja vista que na época a Venezuela em sua maioria era restrita aos conglomerados comunicacionais privados?

BETO: É evidente, até porque o golpe de Estado foi literalmente escancarado e organizado via televisão. Eles (empresários e funcionários da PDVSA) divulgaram um vídeo, em que um militar golpista anuncia uma marcha em direção ao palácio de Miraflores. Tem até um vídeo que conta esta história chamado “Puente Llaguno- Claves de um Massacre”. Esse vídeo mostra exatamente a marcha em direção a Miraflores. É claro que o Golpe foi orquestrado, mas eles (empresários e funcionários da PDVSA) recuaram porque o povo desceu das favelas e da periferia e falou se Chávez não fosse libertado nós não voltamos. Naquela época, o General Manuel deu 30 min para que desocupassem o Palácio de Miraflores e libertassem Chávez porque se não ele iria bombardear o palácio. Os que estavam ali dentro do palácio de Miraflores saíram correndo com medo.

TeleSUR surgi desse descaramento da manipulação internacional midiática que acontecia quando se abordava questões que envolvia a Venezuela e a região. Logo em seguida, após a tentativa do Golpe, veio à paralisação da PSVSA, uma das maiores empresas no ramo energético. Toda a informação da empresa tinha interferência da CIA

177 nos mais diversos setores. A paralisação da PDVSA fez com que o Produto Interno Bruto (PIB) tivesse uma queda muito grande.

3) Ao longo do tempo, muitos países passam a compor a TeleSUR, mas em que medida esses presidentes se sentem convencidos de que a TeleSUR é importante?

BETO: Esses governos todos tinham consciência da importância da identidade e da integração latino-americana. E todos esses governos eram alvos das pressões midiáticas. Era uma identidade natural. É evidente que em cada país havia certas dificuldades em seus países de origem. É uma empresa multiestatal. A Venezuela tem 51%, a Argentina 19%. Paraguai nunca foi participante. A Argentina saiu da TeleSUR em 2016, mas isto não quer dizer que o sinal deixou de funcionar.

4) A que você atribui a não adesão do Brasil na participação da TeleSUR?

BETO: Eu não sei teria que perguntar para alguém da época do governo Lula. Mas, o que me parece é que havia uma dificuldade na área da comunicação social da gestão do governo Lula. O que o Brasil tentou foi criar um canal de integração via Radiobrás como forma de concorrer com a TeleSUR. Nós vamos fazendo a nossa própria integração. Inclusive é uma contradição na área da integração de certo ponto de vista. Esse projeto de integração é uma expressão concreta de toda uma dimensão geoestratégica que se tem da região. Sobretudo, com a participação de Cuba. Porque obras importantes que abordam a questão integracionista não são vinculadas na televisão.

Um argumento que se utilizava de maneira falsa é que a TeleSUR é uma TV Chávez. Eu posso comprovar que esse argumento é falso porque a quantidade de horas de aparição. Então vou te dar um exemplo, a última reunião do Fórum de São Paulo, o presidente Lula teve seu discurso divulgado na íntegra. Ao passo que a TV Brasil não divulgou. A TeleSUR divulga todos os discursos dos presidentes na íntegra, por exemplo, reuniões da UNASUL, reunião do MERCOSUL, a TeleSUR divulga na íntegra. Era uma democratização. Porque você tem que escutar todos os discursos dos dirigentes que são contra o MERCOSUL, mas você não escuta o discurso dos Chefes de Estados a favor da integração.

178

Ai de fato se pratica o jornalismo internacional. Conteúdos que são oriundos das agencias de notícias internacionais, controlados por anunciantes, baseados em ideologias e visões de mundo.

5) A TeleSUR chega a recorrer a estes conteúdos das agências de notícias internacionais?

BETO: A TeleSUR compra porque veja bem. Você não tem condição de está em todo lugar. Nosso objetivo é ter um sinal de boa qualidade a serviço dos valores da integração regional. Dá vozes ao povo do Sul, a partir da economia, da política, da educação, da cultura. Você tem coisas do tipo, a cobertura do acordo entre as FARCS e a Colômbia está fazendo desde o início. Nós temos um acervo sobre toda esta questão. Entrevista com Eduardo Galeano dentre outras personalidades.

Inclusive o Alberto Diniz (TV Brasil) abordou a questão da Crise da Venezuela, em dois programas, a partir de uma visão extremamente colonizada. A própria TV Brasil fala sobre a Crise da Síria de uma maneira grotesca. Quando a Líbia foi invadida pela OTAN (bombardeio), e o olhar estava voltado apenas para um enquadramento que era o Massacre da Praça Verde, orquestrado pela Al Jazeera, o Chávez mandou que uma equipe da TeleSUR fosse realizar uma cobertura. Todas as emissoras européias apontavam suas câmeras num sentido, a TeleSUR foi a única que apontou no sentido oposto mostrando que não havia nenhum tipo de repressão feita pelo Kadafi.

Inclusive alguns brasileiros caíram nessa armadilha. Chávez manda equipe da TeleSUR para defender a ditadura de Muammar AL-Kadafi. A Líbia era um dos países da África com maiores indicadores sócio-econômico da África.

6) Chávez, interferia na TeleSUR?

BETO: É nossa linha editorial. O país está em luta contra o imperialismo. Nosso espírito é do John Reed da Revolução Mexicana de 1910. Aonde os povos estão em luta, onde há enfrentamento que podem definir período históricos, a TeleSUR tem que está presente. A Linha Editorial da Telesur está na carta, aonde povos do Sul estiverem em perigo, a TeleSUR estará presente. A equipe da TeleSUR que cobriu a Líbia sofreram enorme perigo. O satélite Simon Bolívar foi fundamental fruto da parceira China e Venezuela para a transmissão do conteúdo jornalístico da TeleSUR.

179

7) Algum recurso da PDVSA em termos de investimento vai para a TeleSUR?

BETO: Não. Somente recursos estatais.

8) Como atua e funciona a Junta Diretiva e o Conselho Assessor da TeleSUR?

BETO: Se você analisar bem, as linhas dos governos são linhas editoriais. Alinha editorial é forma que eu interpreto o mundo. Tanto a Junta Diretiva como o Conselho Assessor da TeleSUR tratam as informações a partir de um ângulo. A exemplo do Golpe em Honduras durante a gestão do Zelaya. Nós nosso somos panfletários, nós não somos neutros, mas temos uma linha editorial, uma visão de mundo. As informações que ficam escondida, por exemplo, o golpe de Estado na presidenta Dilma Rousseff que até hoje não foi comprovado. Nós estamos atrás disso. Esse é o objetivo da integração que o jornalismo na desintegração não tem interesse em tratar.

9) Como funciona o cidadão TeleSUR?

BETO: Ajuda de modo concreto porque a renovação do equipamento é algo constante. Atualmente, muito dos comentários e entrevista também é feito por Skype. Em média, temos 2 milhões de um público fiel, que é bastante para uma TV que nasce amaldiçoada. A política cultural é muito generosa, importante, documentários que até pouco tempo atrás nunca foram mostrados na televisão, informações inéditas. O jornalismo em última instancia é qual a história que eu conto, por qual ângulo. A TeleSUR tem uma audácia muito grande em investimentos tecnológicos. Inclusive nas suas transmissões. Quando Evo Morales ganhou a eleição na Bolívia, ele consultou o Xamã da tribo local, lá estava a TeleSUR transmitindo. Mas, muita gente disse vocês perderam horas transmitindo a posse de um índio, eles ficaram 500 anos invisíveis, o que são 8 horas de transmissão. Então você vai reequilibrando modestamente o mundo, a um outro caminho a ser explorado.

10) A TeleSUR investiu desde 2007 nas redes sociais, nas mídias digitais, qual o alcance da emissora na emissora nesses últimos anos e porque estes conteúdos não encontram-se na língua portuguesa? BETO: O que acontece que durante um período, em Caracas, nós montamos uma mini- redação de jornalistas (cinco brasileiros e uma venezuelana, mas que havia morado no Brasil durante muito tempo e falava português) em língua portuguesa, mas isso só

180 ocorreu quando o Roberto Requião (PMDB-PR) era governador do Paraná onde nós conseguimos estabelecer um convênio da TVE do Paraná com a TeleSUR. Isso ocorreu numa viagem que Chávez fez a Curitiba onde 19 acordos foram assinados e um deles se referia a TeleSUR. Meia hora por dia, em um determinado horário a TVE utilizava do satélite brasileiro e divulgava um noticiário em língua portuguesa. As TVS parabólicas pegavam a TeleSUR. Dando quase que duas horas de TeleSUR diariamente. Eu tentei fazer um convênio com o Rio Grande do Sul quando Tarso Genro (PT-RS) era governador, mas apesar da boa recepitividade, ele não tomou as devidas providências enquanto que o Requião resolveu isso em 10 minutos. Chamou o responsável pela transmissão via satélite. Eu passei a frequência, fez-se o teste e depois o Requião dissera que resolveria a questão burocrática. Atualmente, o que você tem no Brasil em termos de transmissão da TeleSUR é TV’s comunitárias de Brasília (entre 8h e 8h30min), Pernambuco, Florianópolis e Rio de Janeiro (às 16h30min).

11) Cada país membro tem uma sucursal? BETO: Não. As estruturas são muito modestas. Na Argentina, por exemplo, funciona junto a TV estatal de lá. O que você tem são equipes de correspondentes. No máximo, você tem são alugueis de salas quando necessário. No caso do Brasil, por exemplo, temos correspondentes em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Nós já tivemos uma equipe e sucursal em Brasília em média 6 pessoas, mas os custos são muitos altos inviabilizando os procedimentos. Os custos são muitos limitados nesse sentido.

12) Quem faz parte da TeleSUR (Organograma) e como é a relação entre os correspondentes, o setor da pauta e da edição da emissora? Quem decide o que será divulgado no portal, e na televisão? BETO: Sim, existe para cada programa uma equipe específica. Você tem o pessoal do esporte, específica, as editorias. A diferença do que se produz pela TeleSUR é o investimento em produções AO VIVO. A Junta Diretiva é um para cada país, escolhida por cada governo. A Junta Diretiva são 7 pessoas que tomam as decisões editoriais, cartográficas, econômicas, políticas da emissora. Define os investimentos tecnológicos. E a cada 5 anos há um rodízio entre quem irá presidir a TeleSUR. Podendo ser renovado o mandato em curso. O Conselho de Assessor são pessoas consideradas de notório saber. São pessoas que ajudam, dão palpites nas linhas editoriais. São em média 30

181 pessoas convidadas que tomam decisões tomadas por consenso. Em torno de 600 pessoas em média. Não há uma precisão quanto aos números de funcionários.

13) A emissora se diz aberta a receber conteúdos independentes, como é feita esta seleção, de que modo é feita? Quem seleciona? Quais os critérios? BETO: A nível de cada editoria, existem pessoas que selecionam a partir dos princípios da emissora. E daí você tem a linha mestra onde existe a seleção. Essa carta você encontra no site. Onde também é possível fazer acordos com outras empresas, universidades. Conteúdos em Árabe está sendo investido, sobretudo, para tratar de temas sobre Oriente Médio, a Síria é muito importante para nós.

14) Com a Morte do Chávez e a chegada de Nicolas Maduro, a TeleSUR sofreu com impactos financeiros? BETO: Não. Nenhuma. A TeleSUR é uma estrutura multiestatal. O que afeta a emissora é a baixa do Petróleo.

15) Existe algum procedimento que é feito pela TeleSUR para mensurar sua audiência? BETO: Essas coisas são muito caras. Não temos. Entre você investir em equipamentos é preferível. Recursos são limitados.

16) Qual a importância de criar conteúdos específicos para o site? BETO: Muito dos programas e seus conteúdos que já foram exibidos e que você não tem condições mais de produzir são retroalimentados e repasteriorizados. E daí são colocados no site e você otimiza. A diferença é a linha editorial.

17) Há algum investimento do Fondo de Responsabilidad Social da Venezuela na TeleSUR? Se sim, qual? Em quantos porcentos e números?

BETO: Não há qualquer tipo de investimento que venha do Fondo de Responsabilidad Social da Venezuela.

18) Para além de um projeto integracionista, a TeleSUR não funciona ou atua como uma ferramenta diplomacia midiática?

182

BETO: Olha nós fazemos jornalismo. É claro que o jornalismo que tem dimensões políticas e ideológicas que tem como propósito uma integração. É lógico, e depois eu me pergunto um governo que leva uma mensagem para o mundo sobre a importância dos países do Sul, se isso já não merece uma importância. Então acho que responde a pergunta. É claro que temos uma forma e uma escolha de divulgação conteúdos jornalísticos. Não é que a TeleSUR esteja fazendo propaganda, mas é a mídia tradicional é quem realiza essa propaganda de maneira inclusive partidária. Seus conceitos, suas linhas editorias, suas visões, suas missões. Então não vejo a confusão entre jornalismo e a diplomacia. Por meio da TeleSUR, a Venezuela e os povos do Sul realizam integração, reportagens de modo criativo.

183