Requerimento Nº , De 2009
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Gab. Senador Eduardo Suplicy REQUERIMENTO No Requeiro, nos termos do art. 218, inciso VII, e art. 221, inciso I, do Regimento Interno do Senado Federal, inserção em ata de voto de pesar pelo falecimento do compositor e zoólogo Paulo Vanzolini, no domingo, 28 de abril último, aos 89 anos, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia, bem como apresentação de condolências a sua mulher, a cantora Ana Bernardo, e aos cinco filhos. JUSTIFICAÇÃO O meio ambiente e o samba estão de luto, Paulo Vanzolini, um dos grandes ícones do samba paulistano e renomado zoólogo faleceu. Compositor dos clássicos “Ronda”, “Volta por Cima” e “Praça Clóvis”, Vanzolini teve suas músicas interpretadas pelos grandes nomes da música popular brasileira, como Chico Buarque, Maria Bethânia e Paulinho da Viola. Na zoologia, podemos destacar o incansável trabalho de desvendar parte do mistério que cerca a origem da biodiversidade amazônica. Paulo Emílio Vanzolini nasceu em São Paulo, em 25 de Abril de 1924. Filho de um engenheiro, foi para o Rio de Janeiro, com a família, quando tinha quatro anos mas voltou para São Paulo dois anos depois. A paixão pelo samba surgiu desde que tinha dez anos de idade. Desde cedo, habituou-se a ouvir sambas nas rádios. Cursou o primário no Instituto Rio Branco e depois concluiu o ginásio numa escola pública estadual. Gostava de ir aos bailes na sede do Glorioso Futebol Clube, perto de sua casa, e lá se sentava ao lado da orquestra, somente para ouvir música. Na adolescência começou a frequentar rodas de malandros, cultivando desde então uma combinação peculiar entre boemia e paixão pelos estudos. O interesse por zoologia de vertebrados levou-o a cursar a Faculdade de Medicina, aos 18 anos. O serviço militar interrompeu seus estudos por dois anos. Assim que retomou o curso de medicina começou a dar aulas no Colégio Bandeirantes e foi trabalhar no Museu de Zoologia, da Universidade de São Paulo. Formou-se em 1947, casou no ano seguinte, e foi para os EUA, onde se doutorou em zoologia, na Universidade de Harvard. Antonio Carlos Prado, em seu artigo na Revista Isto É, definiu Paulo Vanzolini como o grande cientista, o grande compositor que, dotado de uma grande delicadeza vangloriou São Paulo nas suas músicas e com seu trabalho junto ao Museu de Zoologias 1 Gab. Senador Eduardo Suplicy da Universidade de São Paulo, que dirigiu por 31 anos. Quando comentavam seu lado de zoólogo ele dizia: “Quando Deus me fez zoólogo sabia o que estava fazendo”. Com a ajuda de Aziz Ab’Saber, da USP, e Ernest Williams, de Harvard, Vanzolini propôs uma explicação para a origem da biodiversidade amazônica: no passado a Floresta Amazônica teria encolhido e se expandido diversas vezes. Com o espalhamento da floresta nos períodos úmidos as espécies se misturavam, e assim juntando os dados os três cientistas demonstraram como teria se formado parte da biodiversidade que hoje encontramos na Amazônia. Em 1993, depois de três décadas como diretor do Museu de Zoologia, teve aposentadoria compulsória, mas continuou trabalhando de segunda a sábado na instituição. "É a única coisa de que gosto, a única coisa que sei fazer [...]. Um dia eu nasci e já era zoólogo", comentou, em 2002, à revista "Scientific American Brasil". O cientista e pesquisador foi também um dos grandes nomes do samba paulista, compositor de clássicos como Ronda, Praça Clóvis e Volta por Cima. Ainda na faculdade de Medicina, integrou as “caravanas” musicais do Centro Onze de Agosto, da Faculdade de Direito, participando de shows no interior. Mas a paixão pela música veio na virada de 1948 para 1949 em Boston, quando fazia doutorado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Era considerado compositor bissexto. Compunha nas horas vagas e suas músicas chegavam a demorar um ano para ficarem prontas. “Não tenho carreira de compositor. Música, para mim, é um hobby. Trabalho 15 horas por dia como zoólogo, adoro minha profissão. Não sei cantar, nem sei a diferença entre o tom maior e o menor", disse, em 1997, em entrevista à Folha. “Na primeira vez que entrei num bar de jazz eu quase desmaiei”, contou ao Museu da Pessoa. A primeira composição, "Ronda", é de 1951, ano em que também publicou o volume de poemas "Lira", pelos Cadernos do Clube de Poesia de São Paulo. A canção seria gravada só dois anos depois, em 1953, no lado B de um LP de Inezita Barroso, de quem era amigo. Ficaria famosa na voz de Marcia, uma das intérpretes preferidas do compositor, nos anos 1960, e ganharia o país graças também a intérpretes como Bethânia, Carmen Costa, Angela Maria e Nora Ney. Para Vanzolini ninguém entendera a ironia contida na letra, “é uma piada, a mulher está atrás do cara para desperdiçar um pente de revólver”. 2 Gab. Senador Eduardo Suplicy Em 1963, foi a vez de o cantor Noite Ilustrada lançar a segunda composição de Vanzolini a ser gravada, "Volta por Cima" -- antes recusada por Inezita, que a considerou pouco comercial. A gravação, além de se tornar conhecida no país inteiro, foi incluída no filme "O Dragão da Maldade" contra o "Santo Guerreiro" (1969), que renderia a Glauber Rocha o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes. A música faria sucesso também na voz de Jair Rodrigues. Só em 1967, mais de 20 anos depois de começar a compor, Vanzolini teria um disco inteiro gravado com suas canções. Produzido por seus amigos Luís Carlos Paraná (dono do lendário bar Jogral) e Marcus Pereira, "11 Sambas e uma Capoeira" teve músicas interpretadas por nomes como Chico Buarque ("Praça Clóvis" e "Samba Erudito"), Cristina Buarque ("Chorava no Meio da Rua") e o próprio Paraná ("Capoeira do Arnaldo"). Anos depois, esse seria considerado pelo compositor como seu único disco "que presta". Em 2010, 47 dos seus mais de 150 artigos científicos foram reunidos no livro Evolução ao Nível de Espécie: Répteis da América do Sul, organizado por Andrea Bartorelli, Murilo de Andrade Lima Lisboa, Virginio Mantesso-Neto e Dione Seripierri e apoiado pela FAPESP. Vanzolini foi membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, premiado pela Fundação Guggenheim, em Nova York, por sua contribuição para o progresso da ciência e ganhador do Prêmio Conrado Wessel 2011. Foi homenageado com a nominação de pelo menos 15 táxons de insetos, anfíbios, répteis, aracnídeos e até um mamífero – Alpaida vanzolinii (1988), Vanzosaura ( 1991) e Anolis vanzolinii (1996), entre outros. Seu corpo foi enterrado nesta segunda-feira, 29 de abril, no Cemitério da Consolação, em São Paulo. Sua história dupla, dividida entre duas paixões - a música e a zoologia - rendeu o documentário "Um Homem de Moral" (2009). A obra do cineasta Ricardo Dias registra os preparativos para um show realizado em 2003 no SESC Vila Mariana. Com o mesmo diretor, Vanzolini filmou outros dois documentários, ambos sobre sua vida na área científica. Entre suas publicações estão "Tempos de cabo" (1981) e "Lira" (1952). A discografia conta com discos como "Onze sambas e uma capoeira", de 1967, com 12 composições interpretadas por artistas como Chico Buarque, Adauto Santos, Luiz Carlos 3 Gab. Senador Eduardo Suplicy Paraná e Mauricy Souza e com arranjos de Toquinho. Outro álbum lançado por Vanzolini é "Por ele mesmo", que saiu em 1981 e foi o primeiro no qual ele também cantou. "Samba é paciência", sempre repetia Vanzolini. Em conversa com o pesquisador Assis Ângelo, ele contou que levou 25 anos para terminar a letra de "Pedacinhos do Céu". Autodeclarado duro de ouvido e incapaz de escrever ou ler partituras, Vanzolini começou a compor seus sambas tipicamente paulistanos ainda no início dos anos 40, foram cerca de 70 cações, uma das últimas foi "Quando Eu For, Eu Vou Sem Pena", gravada por Chico Buarque em 1997. No mês passado, Vanzolini foi um dos 87 artistas a se apresentar em evento no Teatro Oficina promovido pela Casa de Francisca, pequena casa de shows paulistana. Também em março, recebeu o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) pelo conjunto da obra. Falar de Vanzolini obrigatoriamente é falar de Ronda e Volta Por cima, que eu gostaria de citar aqui: Ronda De noite eu rondo a cidade A te procurar sem encontrar No meio de olhares espio em todos os bares Você não está Volto pra casa abatida Desencantada da vida O sonho alegria me dá Nele você está Ah, se eu tivesse quem bem me quisesse Esse alguém me diria Desiste, esta busca é inútil Eu não desistia Porém, com perfeita paciência Volto a te buscar Hei de encontrar Bebendo com outras mulheres Rolando um dadinho Jogando bilhar 4 Gab. Senador Eduardo Suplicy E neste dia então Vai dar na primeira edição Cena de sangue num bar Da avenida São João Volta Por Cima Chorei, não procurei esconder Todos viram, fingiram Pena de mim, não precisava Ali onde eu chorei Qualquer um chorava Dar a volta por cima que eu dei Quero ver quem dava Um homem de moral não fica no chão Nem quer que mulher Venha lhe dar a mão Reconhece a queda e não desanima Levanta, sacode a poeira E dá a volta por cima Sala das Sessões, Senador Eduardo Matarazzo Suplicy 5 .