Brazilian Guitar Magazine
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B.G.M. 8 B.G.M. 8 BGM Editorial BRAZILIAN GUITAR MAGAZINE Publicada em 24 de maio de 2009 epois de um hiato de alguns meses desde o lançamento do seu número 7, a nossa revista A Revista do Violão Brasileiro eletrônica finalmente libera a sua www.BrazilianGuitar.net oitava edição e informa a todos que o projeto continua vivo, 8 ativo e com o mesmo alto nível de entusiasmo e compromisso. Aliás, compromisso e entusiasmo Editorial 0 3 são as palavras que melhor definem o espírito desta edição. 0 4 Entrevista – Reco do Um exemplo disso vai ser encontrado na entrevista Dcom Reco do Bandolim, um verdadeiro herói cujos Bandolim, Presidente do Clube esforços e dedicação conseguiram não apenas garan- tir a sobrevivência do Clube do Choro de Brasília em do Choro de Brasília momentos dificílimos, mas também abrir caminho para um projeto que hoje goza de uma reputação 0 9 Artigo – A Grafia Luterária ímpar e se tornou uma referência musical para todo o país. Artigo – A Música Barroca 1 2 Carlos Barbosa-Lima é um violonista com uma car- reira de mais de 50 anos e que até hoje mostra um 1 7 Artigo – Yamandu e seu Mafuá entusiasmo e uma disposição impressionantes. Com exemplos tão fortes como os do Carlos e do Reco, 2 0 Entrevista – Carlos a BGM se sente mais uma vez energizada e pronta para continuar com sua filosofia de funcionar como um canal de informação de qualidade para a comu- Barbosa Lima nidade violonística. 2 9 Partitura – Samba do Brejo, de Para finalizar este editorial, não podemos deixar de comentar o que os leitores já devem ter notado logo Renato Candro na primeira página: um projeto gráfico inteiramente novo e de nível profissional. Graças ao nosso cola- borador Gerson Mora, designer da revista Época, a BGM dá um novo salto qualitativo. Acreditamos que a demora valeu a pena. Equipe envolvida nesta edição (em ordem alfabética): Como sempre, desejamos a todos uma boa leitura! André Edgard Eugênio Gerson Gustavo Julian Mário Nilo Ruben Vinícius Priedols Thomas Reis Mora Cipriano Ludwig Sampaio Sérgio Paiva de Abreu 0 2 0 3 Entrevista B.G.M. 8 livro dele, fez correções e comentou que ele cometia Reco do Bandolim verdadeiras atrocidades contra a língua portuguesa, BGM - Não. mas os textos dele têm um valor incrível no sentido RECO - O cara tinha seis dedos na mão, tocava ca- de catalogar fatos e eventos de uma época. Esse Ale- vaquinho. Um advogado muito bem sucedido. Ele Henrique Lima Santos Filho, o Reco do Bandolim, é um dos fundadores do xandre Gonçalves Pinto, cujo apelido era Animal, me disse: olha Reco, eu agora não tenho a menor Clube do Choro de Brasília e seu atual presidente e também é idealizador e era louco por música, frequentava tudo, conhecia condição, estou envolvido na chefia do Departa- fundador da Escola de Choro Raphael Rabello, além de virtuoso bandolinista e todo mundo, tinha notícia de tudo e anotava tudo; mento Jurídico do Ministério dos Transportes, estou o livro dele tem um valor incrível, apesar de muito muito absorvido pelo trabalho; porque você não se competente jornalista. mal escrito. candidata à presidência do Clube? Bem, à época eu E o Alexandre dizia que em se tratando de cho- era Superintendente da Radiobrás, eu dirigia treze ENTREVISTA CONCEDIDA A EDGARD THOMAS* rões, não se podia tocar em dinheiro com eles, você emissoras de rádio, era muito envolvido com jor- tinha que falar em fartura, comida e bebida. Era nalismo. BGM - Caro Reco, você, junto com outros mú- isso que importava. Daí esse amadorismo todo. A Então para não perdermos o espaço nobre do eixo sicos, inaugurou o Clube do Choro em 1977. gente tinha que ter muita sensibilidade para com- monumental, eu me candidatei à presidência e fui Poderia falar um pouco sobre como foi a história bater isso, para dar alguma dignidade à atividade eleito. Encontramos três famílias de mendigos mo- da fundação do clube numa época em que a capi- do artista. E vai haver muitos ainda que exageram rando lá no espaço do Clube, o esgoto do Centro tal federal ainda tinha muito poucas atividades e nessa coisa, como o querido e saudoso Carlos Poia- espaços culturais? res. Poiares era um cara que tocava em RECO DO BANDOLIM - O Clube do Choro nas- qualquer lugar, em qualquer bote- ceu com a transferência da Capital da República quim, ele entrava e tocava a noite A gente ia tomar cerveja e tocar choro, sem para Brasília, com aqueles poucos funcionários inteira tomando um uisquezinho. públicos que se transferiram para cá nos anos 60, Um músico de primeira linha. qualquer ensaio. Qualquer um que viesse motivados pela oportunidade de emprego. Porque Uma coisa que chega a comover ninguém, em sã consciência, ia deixar o Rio de Ja- a gente. podia tocar. Mas aí nós sofremos um roubo lá neiro, na época de ouro da cidade, para vir para um Nós começamos a fazer essas reu- fim de mundo desses. Uma poeira danada! Pelo que niões no Clube do Choro a par- no Clube do Choro. Assaltantes levaram tudo eu pude ler, pelo que eu pude perceber, gente como tir de 1977 e sem nenhum sentido o Avena de Castro, que era um grande citarista, ami- promocional, as famílias é que iam go e parceiro do Jacob do Bandolim, veio para cá. para lá. A gente ia tomar cerveja e to- O Pernambuco do Pandeiro, que tocou com todo car choro, sem qualquer ensaio. Qualquer um de Convenções tinha estourado lá, foi um negócio mundo na época de ouro do rádio, veio para cá. Vie- que viesse podia tocar. horroroso. ram também o Bide da Flauta, que era primo do Pi- Mas aí nós sofremos um roubo lá no Clube do E aí, rapaz, começamos uma luta, porque o Clube xinguinha, o Tio João Trombone de Vara. Nos anos Choro. Assaltantes levaram tudo. Depois, outro do Choro, como você sabe, é uma associação civil 70, veio o Waldir Azevedo. Naquelas noites empo- roubo, que obrigou a gente a se cotizar para com- sem fins lucrativos e, apesar de ter uma Diretoria, eiradas e geladas de Brasília – naquele tempo fazia prar um equipamento de som e outros aparelhos. ninguém ganha para trabalhar no Clube. Eu fiz uma mais frio aqui –, eles matavam a saudade do Rio de Terceiro roubo. Nessa terceira vez, fechou o Clube convocação de todos os músicos, pois o compromis- Janeiro fazendo aquelas rodas. Acho que o início do do Choro. Ainda tentamos umas duas vezes, fa- so com o GDF era que o Clube tinha que funcionar choro em Brasília está aí. zendo um esforço, mas aí já havia um desestímulo uma vez por semana, senão eles tomavam de volta. Eu cheguei nessa turma nos anos 70. Nessa época, com aquela fórmula que vinha sendo praticada, da Reuni todos os grupos, toda a rapaziada que tocava, tinha a Odete (Ernest Dias), uma francesa que se boemia, que apenas trazia prazer. e disse: olha, a cada semana vai ter que vir tocar um apaixonou pelo Brasil e pela música brasileira. Tam- grupo aqui. Temos que manter isso aberto até a gen- bém faziam parte desse grupo o Capitão Edgardo, o BGM - Não havia a configuração de hoje, de tra- te encontrar a fórmula. Começamos com o grupo Celso Alves da Cruz, o Raimundo de Brito, o pró- zer músicos de fora... Dois de Ouro, o grupo Feitiço, o grupo Choro Livre prio Bide, todos eram pessoas que abriam suas casas RECO - Não, absolutamente! Nós é que tocávamos. [foto]. Pegamos, assim, uns cinco ou seis grupos e para que rapaziada se juntasse para tocar. Mas eram E o Clube fechou em 1983 e assim permaneceu até combinamos que cada semana um grupo tocaria reuniões muito informais, mais pelo prazer de as 1993. Dez anos fechado. Em 93, saiu uma matéria um dia. A gente mesmo levava cerveja no isopor, pessoas estarem juntas. paço mesmo que a gente quer. Um espaço cheio de no Correio Braziliense, dizendo que o Clube do a gente mesmo limpava o clube. No primeiro mês, Em 1977, o então Governador de Brasília, Elmo pias, de banheiros, de balcões, um calor miserável! Choro seria despejado, porque havia outros grupos os grupos foram. Mas não tinha cachê, não tinha Serejo Farias assistiu a uma dessas apresentações e Mas toda semana, a gente se encontrava ali. A cada interessados naquele espaço e, como o Clube não o apoio, não tinha nada. No segundo mês, ninguém disse: “olha, vocês merecem um espaço”. E desco- semana preparava-se uma comida diferente: uma estava mais utilizando, o GDF iria tomar de volta. apareceu mais. briu este espaço aqui, em pleno eixo monumental, feijoada, um cozido, bem na tradição do choro. Eu liguei para o então presidente do Clube, que era Eu peguei o meu grupo Choro Livre e, com o meu que era um vestiário que deveria servir ao Centro Aliás, tem um escritor chamado Alexandre Gonçal- o Dr. Assis, e pedi a ele que tomasse uma providên- salário de jornalista, banquei o cachê e fomos à luta. de Convenções, só que nunca foi utilizado. Então ves Pinto, que não era propriamente um escritor... cia. Ele era o presidente, era um advogado. Você co- Porque a gente tinha que reerguer aquele negócio. nós fomos conhecer o local e dissemos: é esse es- O Catulo da Paixão Cearense fez a contra capa do nheceu o Assis? Isso é música brasileira, eu sou um aficionado, eu 0 4 0 5 B.G.M. 8 B.G.M.