Aristocracia E Mosteiros Na Rota Do Românico
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Aristocracia e mosteiros na Rota do Românico JOSÉ AUGUSTO DE SOTTOMAYOR-PIZARRO CENTRO DE ESTUDOS DO ROMÂNICO E TERRITÓRIO CENTRO DE ESTUDOS DO ROMÂNICO E TERRITÓRIO Fotografia da capa: Mosteiro de Pombeiro (Felgueiras). Igreja. Nave norte, junto à parede. Arca tumular de D. João Fernandes de Lima. Pormenor da face superior. Fonte: Furtacores − Design e Comunicação. FICHA TÉCNICA PROPRIEDADE Rota do Românico EDIÇÃO Centro de Estudos do Românico e do Território COORDENAÇÃO GERAL Rosário Correia Machado | Rota do Românico COORDENAÇÃO DA EDIÇÃO Gabinete de Planeamento e Comunicação | Rota do Românico TEXTO José Augusto de Sottomayor-Pizarro FOTOGRAFIA Câmara Municipal de Arouca Câmara Municipal de Penafiel Digisfera Furtacores – Design e Comunicação Rota do Românico ILUSTRAÇÃO Xosé Antón García González-Ledo CARTOGRAFIA Miguel Nogueira (Oficina do Mapa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto) DESIGN E PAGINAÇÃO Furtacores – Design e Comunicação IMPRESSÃO Gráfica Maiadouro TIRAGEM 1000 DATA DE EDIÇÃO 1.ª Edição | Dezembro de 2014 ISBN 978-989-97769-6-8 DEPÓSITO LEGAL 386116/14 O texto é da exclusiva responsabilidade do autor. © Rota do Românico Centro de Estudos do Românico e do Território Praça D. António Meireles, 45 4620-130 Lousada T. +351 255 810 706 F. +351 255 810 709 [email protected] www.rotadoromanico.com Aristocracia e mosteiros na Rota do Românico A senhorialização dos vales do Sousa, Tâmega e Douro (séculos XI a XIII) JOSÉ AUGUSTO DE SOTTOMAYOR-PIZARRO Índice 7 Nota Prévia 9 Introdução 13 Parte primeira – A aristocracia (séculos VIII a XIII) 16 A aristocracia condal e portucalense (séculos IX a XI) 20 A aristocracia portuguesa (séculos XI a XIII) 25 Aristocracia e mosteiros 29 Parte segunda – A senhorialização do território 38 Do Vizela ao Douro pelas bacias do Sousa e do Ferreira 40 Concelho de Felgueiras 48 Concelho de Lousada 52 Concelhos de Paços de Ferreira e de Paredes 58 Entre as bacias do Sousa e do Tâmega 60 Concelhos de Celorico de Basto e de Amarante (I) 68 Concelhos de Penafiel e do Marco de Canaveses (I) 74 Do Tâmega ao Douro 76 Concelho de Amarante (II) 80 Concelho de Baião 84 Concelho do Marco de Canaveses (II) 89 Pela margem esquerda do Douro 91 Concelho de Castelo de Paiva 94 Concelho de Cinfães 98 Concelho de Resende 101 Conclusões 103 Fontes e bibliografia Um território é o resultado das múltiplas condicionantes cará em evidência os vínculos existentes entre a nobreza impostas pela geografia e pelos elementos naturais, mas e as comunidades monásticas que se implantaram neste igualmente das ações, deliberadas ou inconscientes, território, entre as terras de Basto e a margem sul do rio praticadas pelos seus habitantes e instituições ao longo Douro. da História. Serão destacadas, pela sua ancestral importância neste No caso do território, hoje abrangido pela Rota do Româ- território, as três estirpes aristocráticas (das cinco) que nico, a sua ligação aos alvores da nossa nacionalidade o Livro velho de linhagens aponta como responsáveis convertem-no no palco perfeito para o estudo das com- pela autonomia de Portugal: os Sousa (Sousões), os plexas relações entre os diversos poderes (constituídos Ribadouro e os Baião. Os senhores da Maia, outra das ou emergentes) e os longos e atribulados processos de citadas estirpes, também exerceram, de forma direta ou povoamento e organização administrativa e senhorial. indireta, o seu poder nesta região, sobretudo na sua parte mais ocidental. Com esta nova publicação do CERT – Centro de Estu- dos do Românico e do Território, intitulada Aristocracia e Mas não só. Outras famílias, muitas das quais descen- mosteiros na Rota do Românico: a senhorialização dos dentes das supra identificadas, serão alvo igualmente de vales do Sousa, Tâmega e Douro (séculos XI a XIII), temos uma cuidada e merecida referência (Barbosa, Tougues, o privilégio de apresentar a visão, sintética mas crítica e Soverosa, Riba de Vizela, Portocarreiro, Guedões, Gon- abrangente, de um dos mais (re)conhecidos especialistas dar, Gosende, Teixeira, Paiva...), tal como as ordens mi- nesta matéria, José Augusto de Sottomayor-Pizarro. litares do Hospital e do Templo, que também detiveram patrimónios significativos neste território, hoje unido pela Tendo como principal fonte de informação as diversas Rota do Românico. Inquirições realizadas no século XIII e XIV, o autor colo- ROSÁRIO CORREIA MACHADO Diretora da Rota do Românico Introdução O crescente número daqueles que percorrem e conhe- vo, até para se entender de que forma aquele grupo se cem os monumentos abrangidos pela Rota do Românico, desenvolveu, quais as principais características que o através das visitas e do apoio de material gráfico diversi- definiam, que privilégios e estratégias suportavam o seu ficado, sabe que em vários desses monumentos se en- poder e qual o seu papel na origem ou no apoio de uma contram túmulos de antigos cavaleiros, ou que a história expressiva rede de comunidades monásticas implanta- deste ou daquele mosteiro está associada a uma deter- das no noroeste de Portugal; território que, em linhas mui- minada família nobre. Talvez o caso de Paço de Sousa to gerais, se poderia delimitar a norte e a sul pelas bacias (Penafiel) seja a esse título exemplar, congregando as dos rios Minho e Douro, com um prolongamento até ao duas situações: por um lado, porque ali se encontra o Vouga, e desde o Atlântico até aos dois eixos hidrográ- túmulo do célebre D. Egas Moniz, o Aio do nosso primeiro ficos Tâmega-Corgo e Paiva-Varosa, esquematicamen- monarca, e, por outro, porque ele pertencia aos senho- te perpendiculares ao rio Douro. Por outras palavras, o res de Ribadouro, estirpe aparentada com os fundadores bem conhecido Entre-Douro-e-Minho (Mattoso, Daveau e daquele Mosteiro. Isso significa, ou pelo menos permite Belo, 2010: 99), o espaço que José Mattoso, com toda a a suposição de que o território onde se distribuem todos perspicácia e felicidade, há muito definiu como o “Norte esses monumentos, vestígios materiais do românico dos Senhorial”, e que Luís Krus abordou de forma magistral a séculos XII e XIII, coincidiria com aquele onde domina- partir da análise simbólica das referências toponímicas vam algumas das principais famílias da aristocracia por- dos nossos nobiliários medievais (Krus, 1994). 10 tuguesa mais antiga1. Na segunda parte, como foi referido, procuraremos O propósito deste livro é o de tentar apresentar uma analisar essa articulação entre aristocracia e comunidades síntese que ajude a compreender esse processo de ar- monásticas no espaço abrangido pela Rota do Românico, ticulação entre implantação monástica e aristocratização relativo a um território dividido em torno de dois vetores do território, por um lado, muito dinâmico nas duas ver- espaciais: por um lado, os eixos hidrográficos Vizela-Fer- tentes desde o século XI até à sua estabilização duran- reira/Sousa-Douro, Sousa/Tâmega-Douro e Douro-Paiva, te o século XIII, e, por outro, avaliar as gradações com ordenadores daquele espaço; e, por outro, as estruturas que essa articulação se fez em áreas mais delimitadas militares e judiciais/administrativas que ali se foram organi- daquele território, e quais os principais atores, laicos ou zando, isto é, as terras e os julgados medievais, em muitos eclesiásticos, que a promoveram. casos verdadeiros embriões da atual rede concelhia. Desenvolvido, assim, em torno de dois eixos, este li- Para esta análise, que na verdade pretende revelar as vro também procura oferecer a um público mais vasto famílias que mais diretamente dominaram estas terras ao uma perspetiva, ainda que breve, da evolução do grupo longo de vários séculos, a par das instituições monásticas aristocrático, desde as origens até ao final do século XIII. que fundaram ou que desde há muito tempo protegiam, A primeira parte, portanto, será dedicada a esse objeti- contamos com o auxílio de uma fonte verdadeiramente excecional, que vai permitir um enfoque muito detalha- 1 Para o enquadramento geral do território e do românico ver, por to- dos, Rosas, Rocha e Barros (2008: 33-67) e Rosas, Botelho e Resende do, seguindo de perto a secular malha paroquial desta (2014, 1: 19-67). região. Referimo-nos, como alguns terão já deduzido, aos inquéritos régios promovidos pelos monarcas dos sécu- e crescimento do reino de Portugal. José Mattoso já há los XIII e XIV, as Inquirições Gerais, peças fundamentais muito propôs uma interpretação global para esse proces- para a concretização de uma política de controlo senho- so, destacando a forma como as forças centrífugas e os rial e de centralização régia conduzida pelos monarcas vetores de oposição iniciais se foram depois moldando portugueses, com toda a claridade desde o início do sé- e conjugando de forma a corporizarem as partes de um culo XIII, mas que, de certa forma, começara praticamen- todo (Mattoso, 1985). Teremos aqui a oportunidade de te desde a fundação do reino. acompanhar com algum detalhe a dinâmica desse pro- Na verdade, é muito difícil falar do processo de se- cesso num momento charneira, a segunda metade do nhorialização, laica como eclesiástica, sem o enquadrar século XIII, decisivo mesmo para essa mudança. no processo mais vasto e complexo da própria génese 11 Parte primeira A aristocracia (séculos VIII a XIII) 14 Como ficou referido anteriormente, procuraremos, nes- forma cluniacense na diocese do Porto, nos séculos XI e ta primeira parte, de uma forma muito sintética, traçar um XII (Mattoso, 1962; 1968). quadro geral sobre a evolução do grupo aristocrático, De resto, alguns dos mosteiros