Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Recife, PE – 2 a 6 de setembro de 2011

Do Violão ao Pandeiro: A Construção Midiática de como Madrinha do 1

Kelly MARTINS 2 Universidade Federal do , Rio de Janeiro, RJ

RESUMO

Existe uma compreensão de que Beth Carvalho constituiu sua carreira como madrinha do samba, por revelar ou resgatar talentos, sejam estes intérpretes ou compositores de samba. Quebrou barreiras entre a MPB e o samba, conseguindo que este gênero musical atingisse maior prestígio na indústria cultural. O presente artigo faz apontamentos das formas como se deu essa construção midiática de Beth Carvalho como “madrinha” e sua transição como cantora branca, de classe média, iniciada na e formada na MPB, para o universo do samba, no qual conquistou enorme autoridade e reconhecimento do público. Aponta-se ainda, como questões relacionadas à raça, classe social e ao gênero são relevantes para a construção da imagem dessa artista como madrinha do samba e de que modo esses fatores possibilitaram sua “transição musical”.

PALAVRAS-CHAVE: Samba; Apadrinhamento; Indústria Cultural; Critérios Estéticos.

INTRODUÇÃO

O show Rosa de Ouro “foi um musical imaginado, fomentado e construído a partir das experiências ocorridas no Zicartola” (DINIZ, 2010, p.166). Com previsão de ficar um mês em cartaz, o espetáculo dirigido por Hermínio Bello de Carvalho, estreado em 1965, no Teatro Jovem do Rio, ficou quase dois anos em cartaz no Rio de Janeiro e depois percorreu outras cidades do Brasil, também com grande sucesso de crítica e público. Este espetáculo mudou a vida de Beth Carvalho. era uma das integrantes deste show e foi ao vê-la cantar, que Beth Carvalho passou não só a entender o samba, como tomou a decisão de fixar-se nesse gênero musical 3. Beth Carvalho assumiu um lugar de mediação entre os campos midiáticos e do samba. Sua trajetória é, até certo ponto, original. Branca, escolarizada, de classe média e

1 Trabalho apresentado no GP Comunicação e Culturas Urbanas do XI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Mestranda em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, bolsista CAPES, professora substituta do IFRJ, e-mail: [email protected] 3 Entrevista de Beth Carvalho dada ao Programa do Jô, transmitido pela TV Globo, em 17/05/2011.

1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Recife, PE – 2 a 6 de setembro de 2011 revelada num gênero musical consumido por setores intelectualizados da sociedade, ela ganhou visibilidade em outro, o samba. O interessante é que isso se deu no final dos anos 1960, quando o samba ainda tinha o estigma de música de “morro”. Isto porque suas letras e músicas eram ainda dominadas majoritariamente, mas não exclusivamente, por homens negros, oriundos do subúrbio, com formação escolar precária e poder aquisitivo baixo (VIANNA, 1995). Frequentemente, em vários momentos, percebe-se que o samba

é relegado a um plano de prestígio inferior e qualificado como prática subalterna (...) Neste sentido há uma inter-relação muito estreita entre a questão étnica e social (grifo meu). Umbilicalmente identificado como música criada por setores marginalizados da sociedade, no seio de uma população majoritariamente negra ou mulata, o samba percorreu, no decorrer do século XX, um longo caminho de idas e vindas para se afirmar no mercado e conquistar prestígio. O preconceito contra o samba é uma face do preconceito que as classes sociais de maior poder econômico nutrem com relação aos setores mais humildes da sociedade. (TROTTA, 2011, p. 248)

Tendo Beth Carvalho uma diferenciação tanto estética quanto social do “estereótipo” da maioria dos sambistas, são levantados alguns questionamentos: Quais os fatores estéticos e sociais que permitiram ou ajudaram seu ingresso ao mundo do samba? Representa a trajetória de Beth Carvalho, interesses da indústria cultural (especialmente, a indústria fonográfica, seus produtores e a crítica especializada) de obter numa única figura, a síntese entre as duas principais vertentes musicais, a MPB 4 e o samba, que nos anos 1960-1970 davam significado a expressão “ser brasileiro”? Qual o peso e a importância das diversas ações exercidas por críticos culturais e produtores musicais na construção da imagem pública de Beth Carvalho como madrinha do samba?

O PODER DA PALAVRA Nas palavras são encontradas diversas vozes: perto, longe, fortes e ainda as que ecoam harmoniosamente e ao mesmo tempo. No caso de Beth Carvalho, as palavras realmente tiveram poder e várias falavam positivamente e de forma concomitante sobre a artista que acabava de surgir.

4 A MPB se configurou na segunda metade dos anos 1960 como um gênero musical no qual cabia a produção de cantores e compositores como , , , Geraldo Vandré, e . Além disso, é importante destacar que a construção dessa nomenclatura e do gênero se deu na televisão, nos festivais da canção e nos programas musicais produzidos àquela época (NAPOLITANO, 2010). Nem o samba nem a música brega (cf. ARAÚJO, 2002) cabiam nessa definição.

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Dedicado à Clementina de Jesus, Canto Por Um Novo Dia, lançado pela Tapecar, em 1973, foi o terceiro LP da carreira de Beth Carvalho e o primeiro de samba. Neste disco, Sérgio Cabral, renomado jornalista, escritor, compositor e crítico musical (abordava frequentemente questões sobre o samba), apresenta a artista:

Se eu tivesse que inventar uma cantora, ela haveria (naturalmente) de ter uma voz muito bonita. Depois, eu a treinaria bastante para cantar bem, aprendendo os segredos da colocação da voz, das divisões, da respiração, da impostação, da naturalidade, essas coisas que se aprende na escola. Mais tarde, diria a ela que isso tudo não basta. Uma cantora não é um instrumento musical. É uma pessoa, um ser humano e é fundamental que isso fique claro quando canta. As emoções, a tristeza, a alegria, a depressão, a angústia, tudo isso que uma música popular propõe tem que ser transmitido na hora de cantar. Depende muito dela que a música não seja raspada de suas sensações quando é transmitida. E diria finalmente para cantar as coisas que vêm do povo. As músicas feitas pelos gênios do povo, impregnadas de talento e limpas das ambições comerciais e da neurose da novidade, tão próprias dos compositores de classe média. Sugeriria que ela servisse de ponte entre a cultura popular e o consumo, não deixando que o objetivo prejudicasse a origem. Teria que ser, portanto, uma cantora de muito talento. Beth Carvalho me poupou este trabalho. Ela já existe. (Sérgio Cabral, LP Canto Por Um Novo Dia , 1973)

A fala de Sérgio Cabral demonstra como Beth Carvalho conseguia sintetizar os diversos aspectos da cultura musical consagrados pela crítica cultural. A cantora foi capaz de incorporar uma formação clássica com as “emoções” da música popular. Por conta disso, ela passou a ocupar um lugar de referência como “ponte entre cultura popular e o consumo”. Apenas três anos após dar início à sua carreira como sambista, novamente recebe elogios em seu disco, dessa vez do poeta, compositor e diplomata . Ele inicia:

Beth Carvalho, como o nome indica... Repito: Beth Carvalho. Pra bom entendedor, duas palavras bastam. Só podia ser nome de moça carioca, meiga e bonita, e cheia de bossa pra cantar samba. Não deu outra coisa. Beth Carvalho é um encanto de pessoa, e sua vocação para o samba é absolutamente visceral. Estudou piano e violão, é claro, e praticou balé, arte na qual é amarrada e de que sofre frequentes recaídas. Poderia ter dado uma boa bailarina moderna, se quisesse, -e não houvesse no meio do seu caminho não a pedra de Carlos Drumond, mas uma maravilhosa pedra-90, esta doce figura de sambista e ser humano que se chama Nelson . Porque Beth e são como unha com carne. Ela não faz

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nada onde ele não esteja representado. (Vinicius de Moraes, LP Mundo Melhor , 1976).

Essas palavras estão no LP Mundo Melhor , lançado em 1976, pela RCA Victor. Foram três colunas inteiras, ocupando toda a contracapa do disco. Certamente tais palavras contribuíram para o engrandecimento da carreira de Beth Carvalho, recém- chegada ao samba. Normalmente, quem toma posse da palavra tem conhecimento do poder que nela há. “A palavra é o modo mais puro e sensível da relação social”. (BAKHTIN, 2004, p.36) Sérgio Cabral e Vinicius de Moraes além de grandes conhecedores musicais, são formadores de opinião, têm o poder da palavra 5. Pensando na palavra como ocupando uma posição de signo social e tendo poder de “transformar pensamentos”, até onde essas opiniões influenciaram a construção midiática de Beth Carvalho como madrinha do samba? Foram dois depoimentos de “peso”, sendo um destes, dado logo no início de sua carreira como sambista. São esses “testemunhos” uma forma de apadrinhamento? Observando esse rompimento da bossa nova e transição da MPB para o samba, é que se torna interessante discutir a partir desse artigo, as questões que influenciaram a obtenção desse título. Foi a partir da mídia, produtores culturais, especialistas e pesquisadores na área musical ou mesmo pelos seus “afilhados”?

UNIVERSO DO SAMBA E AS RELAÇÕES DE PODER Ao reformular a noção de indústria cultural, Theodor Adorno (1987) esteve interessado em destacar a articulação dos mais diferentes ramos da produção cultural num único sistema – a indústria cultural. Isso faz não só com que os consumidores fiquem enredados pelos seus mecanismos e produtos, mas também constitui e consolida um tipo de racionalidade de produção cultural bastante específica. Ela é baseada na transformação dos mais diferentes bens culturais, sejam eles “eruditos” ou populares, em mercadorias para consumo imediato. É evidente que essa racionalidade instrumental (de transformação da produção cultural em indústria) esteve presente, de modo específico, no processo de construção midiática de Beth Carvalho como madrinha do samba. Ela não só pode ter permitido essa construção, como dado autoridade nos campos do samba e da mídia.

5 Mesmo após sua morte, em 1980, Vinicius de Moraes continua “transformando pensamentos” com seus “eternos” poemas e composições.

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A noção de campo trabalhada por Pierre Bourdieu (1989) diz respeito a um espaço social e simbólico no qual um conjunto de agentes atua exibindo em torno de si diferentes relações de poder. É um lugar marcado por hierarquia e estruturado por determinada lógica de interesses. Trata-se, portanto, de um espaço de lutas no qual estes agentes (participantes de um determinado campo) disputam poder, posição e legitimidade com base na quantidade específica de capitais acumulados (econômico, cultural ou simbólico, especialmente). Enquanto o capital econômico corresponde aos bens financeiros, no caso específico do capital cultural, as bases da acumulação são a instrução e o refinamento adquiridos. Já o capital simbólico diz respeito à distinção, ao prestígio, a reputação e o poder de nomeação conquistados por um agente ou seus pares. O poder de nomeação, por sua vez, está relacionado à capacidade de um determinado indivíduo “fazer crer” e “fazer ver”, ou seja, influenciar os outros agentes do seu campo ou de outro sobre determinada questão e/ou disputa. Obviamente, esses capitais se relacionam e se convertem um em outro, desempenhando relações extremamente complexas e imbricadas. Dessa forma, o grau de poder bem como o capital acumulado obtido pelos agentes pode oscilar positiva ou negativamente no tempo histórico, mas as relações no interior do campo são dinâmicas. No contexto contemporâneo, os mais diferentes campos sociais têm sido atravessados, mobilizados e remodelados pela atuação do campo midiático. (RODRIGUES, 2000) Se o título de “madrinha” é ele mesmo uma distinção midiática, ele também passou a ser reconhecido no universo do samba, tanto que vários artistas são “afilhados” de Beth Carvalho. Isso demonstra justamente a articulação entre os campos de uma manifestação cultural e o midiático na construção de uma figura de autoridade. Consideramos isso possível, porque, como observou Adriano Duarte Rodrigues (2000), o campo midiático se estrutura de maneira difusa e reticular, tendo como principal atuação fazer a “mediação” entre outros campos sociais. Nesse caso, o campo midiático pode ter garantido à Beth Carvalho a legitimidade de fazer a “mediação” entre os sambistas e os produtores midiáticos, dizendo quem é ou não é bom neste “mundo” do samba. Neste sentido, a autoridade e legitimidade de Beth Carvalho no sistema midiático podem ter acentuado a sua mobilidade pelos sistemas culturais de ordem “erudita”, popular e massiva. Isso se deu pelo fato de os “bens simbólicos restritos” (eruditos) e os “bens simbólicos ampliados” (de massa) não terem tido no Brasil a autonomia que se conseguiu na Europa do século XIX. Ao contrário, aqui as relações

5 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Recife, PE – 2 a 6 de setembro de 2011 foram de intensa heterenomia. (ORTIZ, 2001) Podemos afirmar que não há nenhum sistema cultural puro, todos eles se configuram pelas relações de força que estabelecem entre eles. A polarização cultural existe, mas também há influxos recíprocos, circularidade. A produção cultural é fruto dessa miscigenação, embora os benefícios e o controle do processo sejam repartidos e distribuídos de forma desigual. Ou seja, a circularidade não impede a análise da manutenção de princípios tradicionais – e autoritários – de organização social. A indústria cultural (moderna) se firmou numa sociedade hierarquizada (tradicional). A configuração de uma ordem de relações de proteção e apadrinhamento é, para Roberto DaMatta (1997), uma das características mais marcantes da coexistência entre o tradicional e o moderno na sociedade brasileira. Sendo assim, pode-se acreditar que tanto o samba quanto a mídia ainda estão marcados por uma constante tensão entre modernidade e arcaísmo e pela divisão entre, de um lado, a impessoalidade e a racionalidade das instituições (baseadas nos princípios da representatividade, da sociedade de direitos, da cidadania) e, de outro, as práticas oligárquicas, clientelísticas, familiares, patriarcais e patrimonialistas. Dessa forma, é possível pensar que a articulação do campo midiático (moderno) com o universo do samba (tradicional) foi capaz de construir uma “madrinha”. Isso não só contribuiu para que o samba mantivesse suas hierarquias, mas também sinaliza para um grande dilema da modernidade, a tensão entre uma sociedade pautada pela ideia de indivíduo e uma cultura guiada pela noção de pessoa . (DaMATTA, 1997) Enquanto a noção de indivíduo privilegia o sujeito racional, a de pessoa reforça as relações marcadas pelo afeto e pela proximidade. Ou seja, os que têm relações afetuosas com aqueles que tinham autoridade (os “padrinhos”) poderiam usufruir das benesses de serem “apadrinhados”.

MEDIADORA CULTURAL: DE “AFILHADA” À “MADRINHA” Segundo o Dicionário Houaiss , apadrinhar é “oferecer patrocínio, favorecimento; lutar em favor de, defender; amparar”. Beth Carvalho experimentou esse amparo, proteção, ao ter como padrinho musical, o consagrado sambista brasileiro, Nelson Cavaquinho. Após anos tentando uma aproximação, recebeu para gravar em 1972, a até então inédita Folhas Secas . Iniciava ali não só uma grande amizade, como também parceria. Em 1975, saiu do ostracismo pela segunda vez. Beth Carvalho gravou As Rosas Não Falam . A partir dali ele teve uma carreira de discos. Tanto com Nelson

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Cavaquinho como com Cartola, Beth Carvalho foi responsável pela volta desses grandes mestres do samba à mídia. Após buscar esses sambistas esquecidos pela crítica e público e “eternizar” suas canções, tratou de sair do posto de “afilhada” para o de “madrinha”, revelando talentos no mundo do samba. Cartola, Nelson Cavaquinho, , Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão, , , Cacique de Ramos e outros diversos renomados compositores e grupos de samba gravados e/ou “descobertos” por Beth Carvalho, que se colocou como mediadora entre o mercado e o público, fez com que ela não só ganhasse o título de madrinha do samba, como também permanecesse até hoje com ele, mesmo 38 anos após seu início nesse gênero musical 6. Para Deleuze, “os mediadores são fundamentais. A criação é coisa de mediadores. Sem eles, nada acontece”. (DELEUZE, 1992, 285) Ao apadrinhar grupos, cantores e compositores, Beth Carvalho e outros artistas consagrados do samba

promovem a ressignificação de sua importância simbólica para o mundo do samba e ainda colaboram para ampliar a lucratividade do grupo de sambistas afilhados no mercado musical. Por outro lado, eles adquirem com isso elevado grau de respeitabilidade entre seus pares, além de se apresentarem publicamente como mediadores e profundos conhecedores desse meio sociocultural. (HERSCHMANN e TROTTA, 2007, p. 163)

Dessa forma, há uma “justa” troca onde ocorrem vários benefícios: os “padrinhos” lucram com a indústria fonográfica, não só reafirmando sua presença nos selos das gravadoras, como também reforçando um grande mercado de trabalho para os músicos e por sua vez, os “afilhados” vão se tornando mais conhecidos, à medida que o trânsito cultural e a produção artística destes passam a estar vinculados ao mostrar a afiliação e a qual tradição se filia. Assim, a novidade no samba, é também a revalorização da tradição, possibilitando ao mesmo tempo o resgate e a reconstrução da memória. Neste sentido, de acordo com Eric Hobsbawm e Terence Ranger (1997), pode-se entender por tradição “um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas” visando estabelecer sempre que possível uma “continuidade em relação ao passado”, através da repetição. (HOBSBAWM e RANGER, 1997, p. 9)

6 Beth Carvalho iniciou sua carreira profissional lançando seu primeiro LP, Andanças , em 1969, mas foi somente em 1973 que lançou seu primeiro álbum, Canto Por Um Novo Dia , pela Tapecar, contendo .

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Ao falar em Beth Carvalho, seu nome “é lembrado como o de alguém não apenas responsável pelo salto comercial do 7 mas, principalmente, pela divulgação na mídia e nas gravadoras”. (PEREIRA, 2003, p.129) Detentora de grande poder mercadológico 8, essa artista desfrutava de uma boa relação com os diretores de suas gravadoras. Isso dava-lhe “mérito” para lançar talentos, como seu “afilhado” Zeca Pagodinho, que obteve mais destaque entre todos, se tornando referência entre os sambistas contemporâneos. Atualmente, Zeca Pagodinho supera sua “madrinha” em vendagem de discos e destaque na mídia, porém em seus shows, faz questão de reverenciar Beth Carvalho, o que de certa forma, mantém viva sua obra na mente do público. Em setembro de 2010, ele lançou o CD Vida da Minha Vida , dedicado exclusivamente à sua “madrinha”.

CRITÉRIOS ESTÉTICOS IMPOSTOS PELA INDÚSTRIA CULTURAL O samba, ainda hoje, porém bem menos que outrora, é um meio que prevalece o machismo. Certamente o preconceito atrapalhou, mas não impediu o surgimento de artistas virtuosas e respeitadas pela crítica musical, como por exemplo, D. Ivone Lara e Jovelina Pérola Negra. Dificilmente até o início do século XX, mulheres ocupavam “abertamente” postos de compositoras sambistas, pelo contrário, no máximo de intérpretes “e quase sempre se fazia necessário que o talento e o timbre de voz estivessem acompanhados da beleza e da sedução (fosse ela ingênua ou provocante)”. (BURNS, 2009, p. 23) Sendo assim, o fato de Beth Carvalho ser da classe média, bonita e branca, na época foram fatores suficientes que atenderam os critérios estéticos tanto da mídia quanto da indústria fonográfica. Isso não aconteceu no caso de D. Ivone Lara, por exemplo. Considerada a primeira dama do samba, foi a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba. Compunha suas músicas, mas quem passava como autor de suas composições era seu primo, Mestre Fuleiro. Possuidora de uma boa formação e vasto conhecimento musical (durante anos transitou entre o

7 Segundo Carlos Alberto Messeder Pereira (2003, p.13), o pagode “é um ‘movimento’ de enorme efervescência que marcou o samba carioca –nas quadras, nos ‘fundos de quintal’, no mundo do rádio e do disco, bem como na grande imprensa- durante a década de 1980”. 8 Beth Carvalho liderava a “venda” de discos. Apenas para destacar alguns de seus álbuns de grande sucesso, segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira , o LP Pra Seu Governo , dedicado à Elizeth Cardoso, sua grande amiga, fez tanto sucesso, que foi editado na França. Em 1977, vendeu cerca de 400 mil cópias do LP Nos Botequins da Vida , lançado pela RCA. No ano seguinte, 1978, foram vendidas 500 mil cópias do LP De Pé no Chão , também lançado pela RCA.

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“erudito” tendo aulas de música no colégio e o popular, nas rodas de samba e chorinho com a família), ainda assim, sofreu preconceitos por parte da indústria fonográfica. Segundo Burns: O preconceito de que Dona Ivone reclama ter sido vítima pode ter atrapalhado sua carreira no sentido de dificultar seu acesso ao mercado fonográfico, no qual existiam fortes resistências às tradições afro-brasileiras (grifo meu). Apesar de ter gravado mais de dez discos, ela nunca integrou o chamado main stream – a fatia das gravadoras ocupada pelos grandes nomes da música. (BURNS, 2009, p. 18)

Somente a partir dos anos 1960, onde ser diferente passou a ser bonito e assim surgiram movimentos para valorizar a diferença (entres esses estavam incluídos os de gênero e étnicos), foi que D. Ivone Lara sem temer sua exposição como mulher, artista e negra , despontou. Ex-empregada doméstica, Jovelina Pérola Negra tornou-se “cantora, compositora e grande versadora de rodas de partido-alto”. (DINIZ, 2010, p. 223) Frequentemente esta artista falava abertamente sobre o preconceito que também sofria. Sua carreira artística começou em 1985, ao gravar duas composições suas, Feirinha da Pavuna e Bagaço da Laranja , no LP Raça Brasileira . No mesmo ano gravou o LP Pérola Negra (o primeiro solo), que teve mais de duzentas mil cópias vendidas. Mesmo fazendo sucesso e vendendo discos durante o curto tempo de sua carreira (quase onze anos), lastimava “a dificuldade de ter acesso às grandes gravadoras, onde era “brabo” entrar. Dizia sofrer muito com o racismo, mesmo depois de se tornar um sucesso de vendas”. (BURNS, 2009, p. 31) O fato de ser talentosa e considerada “herdeira de Clementina de Jesus” (DINIZ, 2010, p. 223) não a poupou do preconceito. Toda “diferença é sustentada pela exclusão”. (HALL e WOODWARD, 2009, p.9) Ao impor, ainda que de forma não tão notória, os critérios estéticos para que um sambista seja reconhecido, tenha notoriedade, a indústria cultural exclui “alguns” talentos. Como quase sempre se observa, os critérios impostos ainda são os de raça. O privilégio branco é constante na vida social. É como se o fato de ser branco fosse função social que dá autoridade, estabelece hierarquia. Porém, ainda que a diferença seja negativa, “por meio da exclusão ou da marginalização daquelas pessoas que são definidas como “outros” ou forasteriros (...) ela pode ser celebrada [atualmente] como fonte de diversidade, heterogeneidade e hibridismo, sendo vista como enriquecedora”. (HALL e WOODWARD, 2009, p. 50) É o que tem acontecido no samba, em especial com os novos talentos que surgem nas rodas. Há uma grande diversidade de raça, classe

9 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Recife, PE – 2 a 6 de setembro de 2011 social e gênero, dando cada vez mais espaços aos diversos novos sambistas, bastando obviamente ter talento. O que isso significa? Simples! Beth Carvalho, como oriunda da classe média (nascida na Gamboa e criada em bairros da Zona Sul do Rio de Janeiro, teve uma infância privilegiada, pois seu pai apesar de ser bacharel em Direito, exerceu profissão de Conferente da Alfândega, possibilitando à família boa condição financeira) 9, atuou nesta fronteira, dialogando, negociando e se apropriando de elementos das ditas alta e baixa culturas por atender aos critérios estéticos impostos pela indústria cultural. Assim, a representação social e formação de uma consciência coletiva em torno do lugar ocupado por uma artista como Beth Carvalho emergiram na confluência dos sistemas midiáticos e do samba, no bojo de dois sistemas e suas relações específicas de poder. É no interior delas que se deu a produção da imagem pública de Beth Carvalho. Tais relações compõem parte de um processo de legitimação que interfere em toda atividade artística. É, portanto, neste complexo sistema de relações sociais (que o escritor estabelece com o conjunto de outros agentes do campo intelectual e cultural, como o samba) que se realiza a objetivação progressiva da criação e que se forma o senso público sobre o artista, sua obra e suas ações. Ele passa a ser definido e pautar suas ações em relação à “imagem pública” que se constrói dele. Como afirma Pierre Bourdieu (1968, p. 120), o que deve ser interrogado é quem tem o poder de julgar e consagrar, como é feita a seleção e por que determinados artistas e obras são dignos de serem amados e admirados em detrimento de outros. Queira o artista ou não, ele está constantemente sendo colocado dentro de um sistema de qualificação e hierarquização de seu comportamento. Por isso, a consideração que Stuart Hall (2005) faz sobre a identidade é fundamental. Para o autor, a identidade não está relacionada “com o que somos, mas com o que nos tornamos” e com o modo como as nossas representações pelos outros nos afeta. É justamente por isso que as identidades são construídas dentro e não fora dos discursos. Elas são produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de determinadas formações e práticas discursivas e por estratégias e iniciativas próprias. São também construídas no interior de modalidades específicas de poder e de marcação da diferença e da exclusão. (HALL, 2005, p.109) Assim fica evidente a

9 Entrevista concedida a Eduardo Goldenberg, em 27 de julho de 2010 e postada em 05 de agosto de 2010, em seu blog, Buteco do Edu, no endereço: http://butecodoedu.blogspot.com/2010/08/entrevista-beth-carvalho.html

10 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Recife, PE – 2 a 6 de setembro de 2011 dinâmica entre identidade e diferença na construção de Beth Carvalho como madrinha do samba.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo se direciona para o entendimento dos tipos de imbricação existentes entre esses dois campos (midiático e do samba) nos quais operam lógicas distintas de atribuição de status e legitimidade. De um lado, a vendagem de discos e a aceitação dos parâmetros estéticos estabelecidos pela crítica e a indústria fonográfica. De outro, a importância e a autoridade que personagens relativamente desconhecidos do grande público, como por exemplo, Aniceto, grande mestre do improviso do Império Serrano, Jair do Cavaquinho e outros componentes da Velha Guarda da tinham para agregar os membros da comunidade. Entender o próprio exercício de mediação é fundamental, assim, para pôr em questão os critérios estéticos usados pelos agentes da indústria cultural na escolha de Beth Carvalho como madrinha do samba. Beth Carvalho conquistou o título de madrinha do samba pelo fato dela conseguir transitar entre o popular, o “erudito” e o massivo. Esse título, na verdade, estaria relacionado à habilidade da cantora em negociar com a indústria fonográfica, introduzindo novos elementos no samba 10 , sejam eles técnicos ou estéticos e também trazendo novos e talentosos artistas (seus “afilhados”) a público, vistos assim pelos diálogos entre a autoridade da cantora e pelo reconhecimento da crítica musical. Por conta do reconhecimento dessa habilidade por seus pares sambistas, ela passou a ser vista não só como um lócus de agregação, mas também de interlocução com os diferentes seguimentos da indústria cultural. Por outro lado, a cantora soube adaptar-se e reverenciar as tradições e hierarquias existentes no universo do samba. Daí ela ter ocupado o posto de “madrinha” e ter um estatuto diferente do das “tias”, termo que designa o papel ocupado por mulheres negras, filhas de ex-escravos migrantes de Salvador para o Rio de Janeiro em busca de oportunidades para si e seus familiares. Boa parte dessas famílias foi morar no centro da capital da República (nas primeiras décadas do século XX) e constituíram suas identidades como “tias” por mediarem relações de diversos grupos sociais distintos, inclusive policiais, em espaços em torno dos quais se produziram festejos e

10 Beth Carvalho “deu novas sonoridades ao samba, introduzindo instrumentos como o banjo, com afinação de cavaquinho, o tantã e o repique de mão, que até então eram utilizados sobretudo nos do Cacique”. (DINIZ, 2010, p. 205)

11 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Recife, PE – 2 a 6 de setembro de 2011 reuniões de congraçamento, regadas à música, bebida e comida, como nas festas da Penha e nas promovidas na Praça Onze, nas quais se celebravam cultos e oferendas às entidades ao som de diversos ritmos que redundaram aquilo que veio a se chamar de samba. A Tia Ciata é o exemplo mais acabado deste tipo de figura (MOURA, 1995). A “madrinha”, por sua vez, se constituiu tanto como um elo entre o amadorismo e o profissionalismo, entre a roda e o mercado, quanto como um agente com prestígio e poder suficiente para “militar em prol da comunidade do samba” em outros campos sociais, especialmente no midiático (HERSCHMANN e TROTTA, 2007, p. 162). Nos dois títulos (tia e madrinha), portanto, se mantém o papel de proteger e valorizar o samba e os sambistas. Assim, tal e qual as tias do passado, a tessitura narrativa produzida por sambistas, agentes midiáticos e pelos discursos de auto-referenciação de Beth Carvalho, construiu sobre a mesma a representação de “madrinha”, consagrando-a a um lugar de autoridade fundamental para ela mediar seu trânsito entre as festas, terreiros de samba e junto aos agentes da indústria cultural. Dessa forma, pode-se entender pelo argumento de Sérgio Cabral, citado no LP Canto Por Um Novo Dia , que no início dos anos 1970 havia certa expectativa de críticos culturais acerca do surgimento e/ou invenção de uma cantora, capaz de dominar sofisticadas técnicas de canto e interpretar “as músicas feitas pelos gênios do povo, impregnadas de talento e limpas das ambições comerciais e da neurose da novidade, tão próprias dos compositores de classe média”. Essa associação realça a singularidade da carreira de Beth Carvalho e nos permite pôr em discussão a pertinência e relevância do papel assumido pelos críticos culturais e agentes da indústria fonográfica na construção e na publicização de sua imagem de “protetora” e “descobridora” de novos sambistas para a indústria fonográfica. Assim, torna-se importante observar além da construção da imagem pública de Beth Carvalho, a realidade do mito, seus efeitos sobre o mundo externo aos próprios meios de comunicação, o sentido ideológico dos discursos presentes, a modelagem da persona midiática pela indústria fonográfica, o ativo papel que os críticos culturais tiveram no processo de reconhecimento da cantora como sambista. Ela prestigiou o samba e continua fazendo isso até hoje. Ao apostar no novo, consegue permanecer com o seu título de madrinha do samba, renovando seu público através da reverência feita por seus afilhados. Desse modo, pode-se ter cada vez mais a certeza de que o “samba agoniza, mas não morre”. (, 1979)

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REFERÊNCIAS

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