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INTRODUÇÃO

A música tem início, junto com a humanidade. Todo povo ou civilização antiga tem um deus ou algum tipo de representação mitológica ligado à música. Desde os primeiros sons emitidos pela humanidade é possível distinguir a música. A música do Brasil começa antes da chegada dos portugueses. Os índios já faziam sua música. No século XX ela ganhou força, ainda mais com o advento do rádio no Brasil na década de 1920 e a partir de 1950, ela ganhou o mundo. A música brasileira a partir da segunda metade do século XX foi totalmente esmiuçada em inúmeros livros, filmes, séries e documentários, por todo o mundo. No início desse período veio a bossa nova, em 1958, depois veio o rock, que desembarcou por aqui em 1959 e a rotulada música de festival ficou conhecida como MPB, a partir de 1965. A música, através destes três gêneros, e a história recente do Brasil se confundem. É a música cantando a história e a história fazendo a música. Os compositores brasileiros usaram suas canções para contar a história de nosso país, de nossas cidades e de nosso povo. Este trabalho tem como proposta contar a história da música brasileira nas últimas cinco décadas do século XX e sua relação com a história do Brasil recente através dos gêneros musicais bossa nova, rock e MPB, para isso foram produzidas entrevistas com alguns nomes da música nacional, jornalistas, escritores e críticos musicais, para que eles possam mostrar suas opiniões e contar o que sabem e o que presenciaram. Além de extensa pesquisa bibliográfica e documental em diversos livros, documentários, reportagens e artigos sobre o assunto. Neste trabalho foram entrevistados alguns nomes importantes da música brasileira, como , cantor, compositor, um dos líderes do Tropicalismo e ex-ministro da Cultura; Nelson Motta, escritor, compositor e produtor musical; Fernanda Takai, cantora, vocalista da Banda Pato Fu; Roger Moreira, cantor, vocalista da banda ; Lobão, cantor e compositor; e Gabriel o Pensador, cantor e compositor; Os jornalistas, escritores e críticos musicais Paulo César de Araújo e Lira Neto, além do músico Fernando Gil Feichas e da professora 12

da Faculdade de Música da UFMG (Universidade Federal de ), doutora em música pela Universidade de Londres Heloisa Faria Braga Feichas. No Capítulo I deste trabalho, encontra-se um resumo do surgimento da música no mundo (origem mitológica e não-mitológica), e no Brasil. A partir do século XX é apresentado um panorama mais detalhado sobre os acontecimentos que foram importantes e que contribuíram para a história da música brasileira, ao mesmo tempo em que é mostrado acontecimentos de extrema relevância para a história política, social e cultural do Brasil e do mundo. O Capítulo II aprofunda-se na modalidade de Livro-reportagem. Desse modo, mostra o que é o livro-reportagem, seus conceitos e definições. Sem deixar de falar sobre o jornalismo literário, que é o estilo jornalístico usado nos livros dessa modalidade. Mostra ainda todas as vertentes dos livros-reportagens existentes. Já no capítulo III, a metodologia utilizada no desenvolvimento deste projeto é detalhada e exposta, mostrando quais pesquisas foram realizadas e quais os tipos de entrevistas feitas para a elaboração deste trabalho. Por fim, no capítulo IV há a descrição do livro-reportagem apresentado, com detalhamento da produção das entrevistas e diagramação.

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CAPÍTULO 1

Música e História

Há várias versões para o “surgimento” da música na história da humanidade. Em uma delas, a versão mitológica, conta-se que depois da vitória dos deuses do Olimpo sobre os filhos de Urano (Oceano, Ceos, Crio, Hiperião, Jápeto e Crono), mais conhecidos como Titãs, foi solicitado a Zeus, que criasse uma divindade que fosse capaz de cantar a vitória dos deuses olímpicos. Zeus então se deitou com Mnemosina, a deusa da memória, durante nove noites consecutivas e depois do devido tempo nascem as nove musas. Entre elas estavam Euterpe (a música) e Aede, ou Arche (o canto). As nove deusas gostavam de freqüentar o monte Parnaso, na Fócida, onde faziam parte do cortejo de Apolo, deus da Música. Na mitologia ainda há uma série de deuses relativos à música como Museo, filho de Eumolpo, que era tão grande musicista que quando tocava chegava a curar doenças. Há também Orfeu, filho da musa Calíope (musa da poesia lírica e considerada a mais alta dignidade das nove musas), que era cantor, músico e poeta. Outro é Anfião, filho de Zeus, que após ganhar uma lira de Hermes, o mais ocupado de todos os deuses, passou a dedicar-se inteiramente à música. Todo o povo ou civilização antiga tem um deus ou algum tipo de representação mitológica ligado à música. Os egípcios acreditam que a música teria sido inventada por Tot ou por Osíris. Os hindus acreditam que foi Brama seu inventor; por sua vez os judeus acham que o inventor da música é Jubal e assim acontece com inúmeros povos. Cada um identificando um criador diferente para a música. Isso nos mostra que a música é algo intrínseco à historia do ser humano sobre a Terra e uma de suas manifestações mais antigas e importantes. A origem não mitológica da música divide-se em duas partes: a primeira é a expressão de sentimentos através da voz humana. A segunda é o fenômeno natural de soar em conjunto duas ou mais vozes. A primeira seria a raiz da música vocal. A segunda, a raiz da música instrumental. 14

Pitágoras é um nome importante na história da música. Ele foi o inventor do monocórdio para determinar matematicamente as relações dos sons. Outro nome que deve ser lembrado quando o assunto é esse, é o de Lassus, o mestre de Píndaro, que, perto do ano 540 antes de Cristo, foi o primeiro pensador a escrever sobre a teoria da música. O nome do chinês Lin-Len também não pode ser esquecido, ele escreveu um dos primeiros documentos a respeito de música, em 234 antes de Cristo, época do imperador chinês Haung-Ti. No tempo desse soberano, Lin-Len -que era um de seus ministros- estabeleceu a oitava em doze semitons, aos quais chamou de doze lius. Esses doze lius foram divididos em liu Yang e liu Yin, que correspondiam, entre outras coisas, aos doze meses do ano. Frequentemente se diz que a música tem início na Grécia antiga e que se desenvolveu através dos tempos. Mas essa definição pode ser considerada equivocada, segundo alguns estudiosos. Esse conceito se aplica somente à música no ocidente. Marius Shneider escreveu:

“Até poucas décadas atrás o termo ‘história da música’ significava meramente a história da música erudita européia. Foi apenas gradualmente que o escopo da música foi estendido para incluir a fundação indispensável da música não européia e finalmente da música pré-histórica." (SHNEIDER, 1957. Pág 103)

1.1 A Música no Brasil

Música é a arte e a ciência de combinar os sons de modo agradável à audição, segundo o Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, Sétima Edição, publicado em 2009. Considerando esta definição é possível afirmar que a música brasileira é anterior à chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral ao país em 1500. Os antigos habitantes desta terra, que hoje chamamos Brasil, já faziam suas canções, principalmente para louvar e entoar seus vários deuses, já que eram povos politeístas. Com a chegada dos europeus a música daquele continente invadiu a “terra brasilis”, depois com a chegada do negro, vindo nos navios de escravos que partiam 15

de várias regiões da África, a música brasileira começou a tomar forma e a se tornar miscigenada, característica marcante do povo do Brasil. Nos terreiros e senzalas eram entoados pelos escravos cantos e danças aos deuses africanos, percussão com tambores e atabaques. Cantos esses que influenciaram posteriormente o samba e talvez tudo relativo não só a música, mas a arte em geral no Brasil. A música feita em nosso país sofreu influencias de todos os povos que aqui vieram. Africanos e europeus principalmente, mas também a música de outros países fez sucesso no no Brasil durante o período colonial e o primeiro império. Lundu e modinha, também as valsas, polcas e tangos de diversas origens estrangeiras encontraram no Brasil uma nova forma de expressão, segundo Renato Roschel no Almanaque Música. Ele ainda diz:

“Já no século 19 surgem os conjuntos de chorões, que adaptam formas musicais européias -como a mazurca, a polca e o scottisch- ao gosto brasileiro e à forma brasileira de se tocar essas construções. Surge então, a partir da brasileirização dessas formas, o choro, e firmam-se novas danças, como o maxixe.” (ROSCHEL, 2003, pág 73)

1.2 Início do Século XX

No começo do século passado com a chegada do rádio, a música brasileira tomou forma e ganhou vários seguidores. Em 1917 é composto “Pelo Telefone” por Ernesto dos Santos, o Donga, considerado o primeiro samba da história. Grandes compositores surgiram nas primeiras décadas do século XX, como Noel Rosa, o poeta da Vila, morto prematuramente em 1937, com 26 anos de idade. Antes do início da Bossa Nova em 1958, faziam sucesso por aqui cantores de samba-canção com uma melodia triste e letras carregadas, boleros para se dançar juntinho e alguns outros ritmos antigos e cantores como Francisco Alves conhecido com o rei da voz, Dalva de Oliveira, Erivelto Martins, Ângela Maria, Cauby Peixoto entre tantos outros. As rainhas do rádio, Marlene e Emilinha Borba, eram fenômenos de público e crítica. Enfim, a música feita no Brasil atingia a praticamente toda a 16

população, principalmente à das classes mais baixas, já que a burguesia preferia astros internacionais, preferencialmente de música clássica. O jazz e o blues norte- americano começavam a se fazer ouvir por aqui. A música brasileira era vista com desagrado pelas famílias mais abastadas. Os Matarazzo, família mais tradicional e mais rica de São Paulo na primeira metade do século passado, consideravam uma afronta alguém que pertencesse a ela, como a jovem Maysa Monjardim que havia se casado com André Matarazzo, se tornar cantora. Ela se tornou e firmou seu estilo dor-de-cotovelo na história da música brasileira e, com sua voz penetrante, suas letras melódicas, românticas e tristes, ficou conhecida como “Rainha da fossa”. Era a melhor cantora e a maior estrela brasileira no fim dos anos 50. Posteriormente abraçou as novas tendências trazidas pela Bossa Nova. O mundo passara por duas grandes guerras, o Brasil enviara suas tropas, mas o conflito era no velho continente e a Europa parecia tão distante para que a batalha influenciasse na música do país. Passada a segunda guerra, veio a Guerra Fria, Estados Unidos versus União Soviética, Leste contra Oeste e Capitalismo versus Socialismo. Os americanos adotaram a política da boa vizinhança que pretendia ressaltar e enaltecer seus vizinhos latinos para que não se sentissem seduzidos pelo regime socialista imposto pelo governo do Kremlin. Walt Disney em visita à América Latina criou o Zé Carioca em “homenagem” ao Brasil e Panchito ao México. Fez o filme “Você já foi à Bahia?” com o Pato Donald contracenando com Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda. A Guerra Fria também interveio na música brasileira. Carmem Miranda, ícone da brasilidade, apesar de ser lusitana de nascimento, se tornou fenômeno na terra do Tio Sam, foi a mulher mais bem paga da época e ainda é uma das que mais dinheiro ganhou no showbiz americano. Famosa com as músicas “Tico-Tico no Fubá” e “O que é que a baiana tem?” do baianíssimo Dorival Caymmi, ficou, àquela época, com uma imagem controversa no Brasil, achavam que tinha se entregado ao sistema e esquecido do país. Tamanha era sua fama e seus compromissos nos Estados Unidos que, quando convidada por um amigo a vir passar o carnaval no Brasil ela declinou dizendo: “Por agora em vez de “vesti uma camisa amarela e saí pó aí”, 17

infelizmente tem que ser assinei um contrato danado e fiquei por aqui”, referindo-se a uma antiga marchinha de carnaval. Quando volta ao Brasil como a maior estrela de Holywood, grava a música “Disseram que voltei americanizada”, de Luiz Peixoto e Vicente Paiva, em resposta àqueles que achavam que havia esquecido-se da terra que a acolhera tão bem desde a infância quando, com dois anos, chegou em um navio com seus pais. Aquele navio trazia uma menina que se tornaria o maior símbolo do Brasil, comparado apenas ao futebol. “A Pequena Notável” pode ter sido usada pelos ianques no contexto da Guerra Fria, mas ela também soube usá-los perfeitamente. Ainda não era época da música brasileira se envolver em política. Carmem morreu ainda nova, no auge da carreira, aos 46 anos, em Beverly Hills, nos Estados Unidos.

“Ao mesmo tempo em que ganhava fama nos programas de rádio e, logo depois, no cinema, Carmen fazia publicidade de cerveja, de batom, inaugurava nightclubs, como o Copacabana, em Nova York, e aumentava sua participação na divulgação da Política da Boa Vizinhança. No sisudo Congresso Pan-americano de Xadrez de 1945, lá estava ela, com a cintura e os quadris à mostra, com um turbante que a fazia mais parecida com um turco do que com uma baiana.” (TOTA: 2000 pág.118). . Quem praticava a música ou apenas quisesse aprendê-la era tido como “vagabundo”, como muito bem retratou Lima Barreto em seu principal livro, “Triste fim de Policarpo Quaresma”. O personagem-título que apenas queria aprender a tocar o violão, ficou mal falado na vizinhança e foi repreendido pela própria irmã. Barreto retratou uma situação comum no ambiente familiar no final do século XIX e início do século XX. Quando Nara Leão na década de 1950 disse ao pai que iria ser cantora, Dr. Jairo Leão respondeu: “Quer dizer minha filha, que você vai ser puta?”. Assim era a reação das pessoas em relação à música. O pai de Nara percebeu depois que, após o início da Bossa Nova, a música passou a ter uma importância maior perante a alta sociedade. O povo já tinha a sua música, o samba.

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1.3 Década de 1950

Enfim se chega a década de 1950, início da época estudada neste trabalho. A segunda guerra havia acabado em 1945 com a rendição da Alemanha, e posteriormente as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki impuseram a derrota ao resistente Japão. Na década de 50, o mundo vivia o começo da guerra fria. Estados Unidos e União Soviética disputando o posto de maior potência do planeta. Corrida armamentista, corrida espacial. O capitalismo ocidental e o socialismo do leste dividiam o mundo em dois sistemas. O planeta dividido em dois também pelo muro de Berlim. Stalin no Kremlin, Churchill em Londres e Truman na Casa Branca eram os líderes mundiais. Em 1950, o Brasil estava em festa, o país recebia a quarta Copa do Mundo. O torneio parara na década de 40 devido à guerra e voltava 12 anos depois. A seleção canarinho chegava como favorita ao título. Mas Gigia calou o Maracanã com seus mais de 200 mil torcedores. O Uruguai ganhava seu segundo título mundial e o Brasil teria que esperar um menino que em 1950 tinha nove anos morava em Bauru, tinha por apelido Gasolina, mas se chamava Edson para ganhar a sua primeira Copa ainda naquela década. O Estado Novo de Getulio Vargas acabara em 1945. O general Eurico Gaspar Dutra fora eleito presidente. Mas Getúlio voltaria ao Palácio do Catete cinco anos depois, eleito democraticamente e nos braços do povo. Em 24 de agosto de 1954 ele sairia do Catete também nos braços do povo para nunca mais voltar. Em seu quarto, dera um tiro no próprio peito. O ato causou a comoção de todo o Brasil, Getulio era alvo de acusações, conspirações e dificilmente levaria seu mandato até o fim. Entrou definitivamente para a história e até hoje é cultuado por quem viveu o período getulista. Cumpriu o que dizia em sua carta suicida: “Saio da vida para entrar na história”. Com o suicídio, Getulio atrasou em dez anos o golpe militar que já batia à sua porta e à porta de grande parte dos países latino-americanos. Em substituição a Getúlio, Café Filho assumiu a presidência com tempo apenas de preparar a transição. Em 1955, com um projeto arrojado, o ex-prefeito de Belo 19

Horizonte e governador de Minas Gerais, Juscelino Kubtscheck de Oliveira foi eleito presidente do Brasil pelo PSD. Com o lema “50 anos em 5”, JK pretendia construir em 5 anos de mandato a nova capital brasileira no meio do cerrado goiano. E assim o fez, a custo de muito dinheiro emprestado do recém-criado FMI.

“Ao presidente Kubitschek coube a tarefa de convocar a nação para a marcha rumo ao oeste, que tinha como objetivos principais a interiorização da ocupação populacional e a possibilidade de se criar um novo símbolo popular.” (FIGUEIREDO, 1979, p. 15). Não se pode negar que a segunda metade dos anos 50 foi uma época de grandes avanços políticos e artísticos no Brasil. O país é impulsionado pelo governo desenvolvimentista de Juscelino. Nelson Pereira dos Santos reinventa o cinema nacional e inicia o chamado cinema novo com o filme “Rio Zona Norte” em 1956. João Guimarães Rosa, considerado por muitos o segundo maior escritor do Brasil, atrás apenas de Machado de Assis, publica a sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas. Fernando Sabino, escritor morto em 2006, publica seu livro de maior sucesso: “O encontro Marcado”. Enfim chega o ano de 1958, a Copa do Mundo é na Suécia e o Brasil que havia decepcionado na Alemanha Ocidental em 54 chega à Suécia desacreditado, mas no grupo tem um menino de 17 anos, mineiro de Três Corações. Edson Arantes do Nascimento ou simplesmente Pelé, antigo Gasolina, faz a seleção do técnico Aymoré Moreira encantar o sisudo povo sueco e conquista o primeiro título mundial da história de nosso futebol. Seria o fim da síndrome de vira-lata a que se referia o grande Nelson Rodrigues? Segundo ele, depois de perder a final da Copa de 50, o brasileiro estava acostumado à derrota e fadado ao fracasso.

1.4 A Bossa Nova

A turma da casa da Nara Leão, nome pelo qual ficou conhecido o grupo de amigos que se reunia na casa da cantora, procurava algo novo, estavam cansados da mesma música de sempre. Eles não inventaram a bossa nova. Foi preciso Menescal chegar ali um dia com um baiano de jeito tímido, modo de cantar baixinho, 20

mas com uma batida de violão impressionante e revolucionária. Estavam diante do “messias encarnado” que como muito bem diz Ruy Castro ao invés de tábuas da lei, carregava um violão embaixo do braço. Ficaram loucos e fascinados por João Gilberto, começaram então a segui-lo e idolatrá-lo e muitos o fazem até hoje. No início de 1958 foi lançado o disco de Elizeth Cardoso, “Canção do amor demais”, com músicas da dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes. João Gilberto tocou violão em algumas faixas, inclusive em “Chega de Saudade”. Era a primeira vez que se ouvia a batida do que viria a ser chamado bossa nova. Em tempo, a primeira vez que a expressão Bossa Nova apareceu foi no final de 1957 em uma das apresentações da turma da casa de Nara Leão com a cantora Sylvinha Telles no Colégio Israelita Brasileiro, no . Uma secretária do colégio colocou um cartaz dizendo “Sylvia Telles e o grupo Bossa Nova”. Roberto Menescal gostou do nome e assim foi batizado um dos gêneros musicais brasileiro mais conhecido em todo o mundo. Em agosto de 1958 a Odeon lança o disco 78 RPM ,“Chega de Saudade” de João Gilberto, que marca o início da bossa nova. O disco de João continha além da canção-título “Chega de Saudade” de Tom e Vinicius, “Bimbom” do próprio. André Midani, um sírio-franco-brasileiro, que foi presidente de grandes companhias de música, apresentou esse disco a algumas gravadoras e recebeu como resposta: “Isso é música de viado”. Esse álbum foi o marco inicial da bossa nova e até hoje é considerado um dos melhores da música brasileira. Com esse disco, a bossa nova ganharia o mundo e influenciaria até mesmo o jazz norte-americano que foi o que influenciou a criação do ritmo brasileiro. Junto com a bossa, no final dos anos 50 e início dos anos 60, nascia a geração que faria a revolução do rock Brasil nos anos 80. Gente como Cazuza, Renato Russo, Evandro Mesquita, Roberto Frejat, , Lobão e muitos outros.

1.5 O Rei

Em 1959 iniciava a brilhante carreira do maior cantor popular do Brasil. Roberto Carlos, vindo de Cachoeiro do Itapemirim no Espírito Santo se tornaria o “rei” da 21

música brasileira cantando na década de 1960 seu iê-iê-iê e conquistando muitos brotos. Junto com Erasmo Carlos e Wanderléa daria início à Jovem Guarda, prenuncio do rock no Brasil. Roberto no início cantava bossa nova e fazia imitação de João Gilberto é o que conta o onipresente Nelson Motta em seu livro “Noites Tropicais”. Também nesse livro, Nelson Motta conta o início da amizade de Roberto e Erasmo Carlos. Ambos eram fascinados por João Gilberto e pela Bossa Nova. Roberto Carlos é, sem dúvida o maior fenômeno da música no Brasil, e até os dias de hoje vendeu milhões de discos em todo o mundo.

“Roberto Carlos é o mais popular cantor brasileiro de todos os tempos. Quando começou a fazer sucesso, em meados de 1963, o homem ainda não havia chegado à Lua, John Kennedy ainda despachava na Casa Branca, os Beatles ainda não haviam conquistado o mundo; a União Soviética era a principal potência comunista; e o Brasil era apenas bicampeão mundial de futebol. Pois bem: o homem foi e voltou à Lua, John Kennedy foi assassinado e tantos outros presidentes sucederam-se em Washington, os Beatles viraram lenda, a União Soviética acabou, o Brasil já conquistou o pentacampeonato e Roberto Carlos continua fazendo sucesso.” (ARAÚJO, 2006. p. 601;602)

Erasmo tinha um velho amigo de infância, um sujeito meio doido chamado Sebastião. Erasmo entregava marmitas para Dona Diva, sua mãe, que era dona de uma pequena pensão. No meio do caminho ele e seu amigo Tião comiam as carnes que estavam nas refeições e por muitas vezes Erasmo parava o seu serviço para jogar futebol com os amigos. Eles cresceram, mas a amizade continuou. Tião fora para os Estados Unidos e por ter cometido vários delitos tinha sido preso. Erasmo sempre se comunicava com o amigo através de cartas e no final assinava: “Erasmo Gilberto”, devido a sua paixão pela música de João Gilberto. Depois que conheceu Roberto Carlos, fizeram parceria em composições e Roberto logo fez sucesso cantando com uma música dos dois, “Parei na Contramão”. Erasmo passara a assinar as cartas que enviava ao amigo na prisão de Daytona como Erasmo Carlos. O amigo não acreditou quando Erasmo contou que uma música sua (Parei na Contramão) estava estourando em todo Brasil. Ele também cantava e não era mais 22

o Tião, aquele amigo de infância de Erasmo, agora com seu jeitão de negro americano queria ser chamado de .

1.6 Década de 1960

Em 1960, JK terminou a construção de Brasília e a inaugurou no dia 21 de abril. A capital era projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e tinha plano urbanístico de Lúcio Costa. JK termina seu mandato em alta, mas o PSD, seu partido, não consegue eleger o sucessor. Com uma vassoura como símbolo de sua campanha, o governador paulista Jânio Quadros vence a eleição e toma posse em 1961. O vice- presidente eleito era João Goulart, também vice de Juscelino. Em agosto de 1951, Jango viaja para a China, enquanto no Brasil o presidente Jânio condecora com a maior honraria do governo brasileiro, a Ordem do Cruzeiro do Sul, o maior guerrilheiro dos últimos tempos, o médico argentino Ernesto “Che” Guevara. Che foi peça fundamental na revolução socialista em Cuba que culminou na deposição do presidente Fulgêncio Batista, dando início a ditadura de Fidel Castro em 1959. Fidel ficaria no poder até 2007 quando renunciou por problemas de saúde, mas passou o bastão a seu irmão Raul. Depois da revolução em Cuba, Che voltou à América do Sul para tentar implantar o comunismo, objetivo amplamente fracassado. A cerimônia de condecoração de Che Guevara pelo governo brasileiro foi feita à noite, longe dos holofotes da imprensa e pouco divulgada. Ainda estávamos sob o contexto da guerra fria e éramos controlados pela batuta do Tio Sam e do capitalismo. Nunca um governo aliado aos Estados Unidos poderia dar qualquer honraria ao mito e símbolo do socialismo que era Che. Dias depois Jânio renunciou, apenas oito meses depois de ter assumido o comando do país. Dera um tiro no pé. Jânio que ganhara a eleição pouco tempo antes por esmagadora maioria usou o pretexto de que estava sendo perseguido e sofrendo conspirações. Esperava revolta popular, esperava voltar a Brasília nos braços do povo, tal qual fez Getúlio voltando ao Catete 7 anos antes, eleito democraticamente. 23

A morte de Getulio causou comoção no país inteiro e Jânio esperou que com sua renuncia acontecesse o mesmo. Queria voltar com o aval do povo e com poder ainda maior. É certo que podia estar sofrendo ameaças porque a ditadura estava prestes a acontecer a qualquer momento. A revolução seria pacífica ou sangrenta, dependeria da resistência. Mas o certo mesmo é que em apenas oito meses de mandato, Jânio propôs medidas impopulares e incoerentes, a esmagadora maioria a favor agora não o aprovava e o feitiço virou contra o feiticeiro, coisa que Jânio não previra. João Goulart ou simplesmente Jango, estava ainda em viagem oficial à China de Mao Tse-tung, país comunista. Não tinha nada pior no momento para ele. Queriam impedi-lo de assumir alegando estar contaminado pelo socialismo. O cunhado de Jango, Leonel Brizola, então governador do defendeu a sua posse, deu proteção a ele em seu estado quando voltou este voltou de viagem e assegurou a sua posse como presidente da república, cargo que acompanhara de perto nos dois últimos mandatos. Mas o seu não chegaria ao final. Em 1962, a seleção brasileira de Mané Garrincha - Pelé foi a copa, mas devido a uma contusão ficara de fora de quase todos os jogos - ganharia sua segunda Copa do Mundo, no .

1.7 A bossa nova ganha o mundo

Em 1960, a bossa nova já tinha conquistado o Brasil, pelo menos a elite brasileira e partia para conquistar o mundo. Tom Jobim como maior maestro e compositor do ritmo, Vinicius de Moraes como poeta e João Gilberto, o inventor e papa da música. A Bossa nova nunca foi música de apartamento e há muito deixara de ser música da Zona Sul. A Zona Norte e os lugares mais pobres não idolatravam, mas já conheciam o ritmo e o mundo começava a conhecer. Tom, João e outros músicos como Roberto Menescal e Carlos Lyra foram para os Estados Unidos levar a música que tanto sucesso faria por lá. Fizeram shows memoráveis e no Carnegie Hall, em Nova Iorque fizeram o mais marcante de todos em 1962. Vários ícones da música americana e mundial como 24

Stan Getz, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Frank Sinatra e se interessaram pela bossa nova e gravariam seus sucessos. O primeiro deles foi Stan Getz, que com Tom Jobim ao e João Gilberto no violão e na voz gravaria o memorável “Getz/Gilberto”, um dos maiores discos da música mundial. João Gilberto já famoso por suas excentricidades e esquisitices não poupou nem Getz de suas ácidas críticas e, referindo-se a ele, disse a Tom: “Esse gringo é muito burro”. João também exigia o som perfeito, no qual era prontamente atendido, pois já era considerado um gênio pelos americanos e nunca mais se mudou de lá. Para Nelson Motta, a bossa nova acabou quando Tom e João Gilberto se mudaram para os Estados Unidos. “Com o Tom e João fora não existe bossa nova”, diz Motta. Ele tem razão, embora, o fim cronológico da bossa nova deve-se ao início da MPB em 1966, já no regime militar. A renovação da canção brasileira foi o grande diferencial do movimento e a mistura interessante e muito peculiar entre ritmo, melodia e harmonia fez com que o gênero ganhasse o mundo.

1.8 Início da repressão

Em 1964, o governo de João Goulart chegaria ao seu terceiro ano, mas não o completaria. O golpe de estado que há muito vinha se anunciando finalmente acontecera e Jango era deposto do cargo que assumira com a renuncia de Jânio. O golpe era financiado e apoiado pelo governo americano do presidente Lindon Johnson sucessor do mítico presidente John Fitzgerald Kennedy que em novembro de 1963, fora morto com um tiro na cabeça, enquanto desfilava em um carro conversível com sua mulher Jacqueline, em Dallas, no Texas. Era conveniente para os norte-americanos que fosse instalado o estado ditatorial nos países da América Latina e foi o que aconteceu no México, e no Chile, com batalha nas ruas e culminando no suposto suicídio do presidente Salvador Allende. No Brasil, os militares esperavam resistência por parte do governo, porém Jango, corretamente, optou por não lutar em uma batalha que fatalmente seria perdida. 25

O maior posto do país estava vago e uma junta militar foi chamada a governar o país, que depois teria como presidente o General Humberto de Alencar Castello Branco, escolhido pelos militares. O país ainda tinha congresso nacional, mas essa representação política duraria pouco. Começavam tempos difíceis, mas também gloriosos para a música brasileira.

1.9 Início da MPB - Era dos Festivais

Talvez por ironia do destino, um dos maiores compositores da Bossa Nova comporia a música que marcou o “fim” do predomínio do gênero e início do que se rotularia de MPB. Em 1965, no Guarujá, acontecia o I Festival de Música Popular Brasileira, da TV Excelsior. A “Pimentinha”, nome pelo qual Elis Regina ficara conhecida, venceu o festival interpretando a música “Arrastão” de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. A partir desse festival a MPB nascia com a função de também protestar contra o regime militar no Brasil e começavam a se destacar nomes como Chico Buarque de Hollanda, Geraldo Vandré, Edu Lobo entre outros importantes cantores e compositores. Música popular brasileira, ao pé da letra, pode englobar muitos gêneros e estilos e pode ser qualquer canção feita no Brasil. Mas aquela que nascia ali nos festivais significava um movimento específico. Tinha também função de protestar contra o regime militar que há pouco se instalara no país. Eram jovens cultos e politizados que sabiam muito bem o que queriam. Todos eram fãs de boa música e tinham real veneração a João Gilberto. Em 1966, no festival da TV Record, quando foram apresentadas as músicas selecionadas, duas músicas despontaram como grandes favoritas ao título. Chico Buarque trazia “A banda” ( Estava à toa na vida/o meu amor me chamou/pra ver a banda passar/cantando coisas de amor ) e Geraldo Vandré apresentava “Disparada” (Prepare o seu coração/pras coisas que eu vou contar/eu venho lá do sertão ). A música de Chico seria interpretada pela ex-bossanovista Nara Leão. Vandré por sua 26

vez trazia um negro de jeito animado para cantar sua canção sertaneja, Jair Rodrigues. O Brasil estava dividido entre “A banda” e “Disparada”, nunca se viu nada parecido na música brasileira. A rivalidade entre as duas músicas era tamanha que se temia pancadaria quando fosse anunciado o resultado. No dia da final a gritaria era tanta, que as outras músicas classificadas para a final foram extremamente vaiadas. O povo só queria ouvir as duas favoritas. Maysa tomou a maior vaia de sua vida ao cantar uma música finalista e, com razão, deixou o palco chocada com a selvageria que parecia tomar conta do ginásio. Seria impossível ouvir a voz doce e meiga de Nara Leão com aquela barulheira. Então Chico Buarque a acompanhou com seu violão e seus lindos olhos verdes, que deixavam as mocinhas em polvorosa. A rivalidade entre as duas músicas ficava só no público. Vandré, Chico, Nara e Jair eram amigos e também achavam aquele espetáculo circense demais. Graças à internet é possível ver o vídeo da música defendida por Nara e Chico com Jair Rodrigues acompanhando com palmas ao lado. Chico Buarque, então com apenas 21 anos, considerava a música de Vandré muito melhor que a dele e ameaçava não receber o prêmio caso “A banda” vencesse. Ao final das apresentações pairava sobre o público, a apreensão e a ansiedade. A música de Chico venceu a de Vandré por 7 a 5, porém com medo de o vencedor se recusar a receber o troféu, o presidente do festival decretou empate entre “A banda” e “Disparada”, o que faria a felicidade de todos. A partir de então o movimento que ficou conhecido pela sigla MPB iniciava sua trajetória que ia muito além da música. Agora era a hora de se protestar contra o regime instalado no Brasil.

“A platéia dos festivais dava a certas canções um conteúdo revolucionário. A partir daí, as músicas de festival passam a ter como bordão o protesto contra o autoritarismo militar. Os compositores perceberam com bastante clareza esse tipo de reação e procuraram fazer músicas que contivessem essa mensagem de insatisfação com o poder militar. Daí nasceu um profundo diálogo entre o músico censurado pelo regime e a platéia libertária.” (HOMEM DE MELLO, 2003, pág. 93) 27

Os Festivais ainda continuariam por algum tempo, tanto na TV Record (Música brasileira), quanto na Rede Globo de Televisão /Festival Internacional da Canção (FIC). Depois da vitória de “A banda”, venceram nos festivais seguintes a música “Ponteio” de Edu Lobo, Saveiros de Nelson Motta e Dory Caymmi. Tão importante quanto as músicas vencedoras foram aquelas que não se tornaram campeãs e até mesmo as preteridas pelos Festivais. “Domingo no parque” de Gilberto Gil mostrou ao Brasil a banda “”. O grupo formado por e os irmãos Sérgio Dias e Arnaldo Batista interpretou a canção que causou sensação no festival da canção de 1967. “Pra não dizer que não falei das flores” (vem, vamos embora que esperar não é saber/quem sabe faz a hora não espera acontecer) uma das maiores obras-primas da música brasileira ficou em segundo lugar no III Festival internacional da Canção perdendo para a também brilhante “Sabiá” de Tom Jobim e Chico Buarque. Travessia de Milton Nascimento e Fernando Brant faz parte dos tesouros que não foram vitoriosos nos Festivais. A criatividade e a vida musical brasileira era tão intensa que certamente era difícil escolher a melhor dentre tantas preciosidades. “Roda Viva” (Roda mundo, roda gigante/roda moinho, roda pião) também de Chico e Caetano Veloso, caminhando contra o vento sem lenço e sem documento, com “Alegria, Alegria” perderam no Festival que consagrou “Ponteio”. A partir de 1698 os festivais perderam a força, mas continuaram, com muito menos prestígio e ainda assim divulgando os nomes de alguns que virariam grandes cantores e compositores. Paulinho da Viola com seu charme e elegância malandros apareceram em 1969. Ivan Lins, Taiguara, Aldir Blanc e Luis Gonzaga Junior apareceram também nessa época, Todos vinham do MAU (Movimento Artístico Universitário).

1.10 Década de 1970

Em 1968, o governo brasileiro decreta o Ato Institucional n° 5, o AI-5 que tira todos os direitos individuais do brasileiro e dá a ditadura poder de vida e morte sobre 28

todo e qualquer cidadão. É nesse contexto que inicia a década de 1970, uma das mais movimentadas na música e na história do país. Em 1970, a Seleção de futebol conquista o tricampeonato no México e”ajuda” o presidente Médici a em balar o “milagre brasileiro” – somos “90 milhões em ação” e “ninguém segura o Brasil” Em 1972 chega no Brasil a Televisão colorida. No ano de 1975, o jornalista Vladmir Herzog é morto na câmara de tortura do II Exército, em São Paulo, causando revolta “surda” em todo o país. Em 1977, Jango morre na Argentina, supostamente vítima da Operação Condor. JK morre em acidente automobilístico na Via Dutra, em circunstâncias mal esclarecidas. “Ele foi morto pela Operação Condor, não tenho a menor dúvida. Por que não foi feita a autópsia do corpo de Jango? Não consigo compreender como o governo argentino entrega às autoridades brasileiras o corpo de um ex-presidente sem investigar as causas de sua morte”. (Leonel Brizola, Zero Hora. 2000) Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia, os Doces Bárbaros excursionam pelo Brasil. Em Florianópolis, policiais invadem o hotel em que estão e encontram uma porção de maconha. Gil assume que aquilo lhe pertence. Preso, um juiz o libera dizendo que não pode ser considerado criminoso alguém que cria uma música como “Refazenda”. Em 1978, o movimento sindical no ABCD paulista começa a se organizar, tendo como líder o jovem metalúrgico, Luís Inácio da Silva, o Lula. No mesmo ano depois de um mês no comando da católica, João Paulo I morre e o conclave elege como seu sucessor o ex-ator e ex-operário polonês, cardeal Karol Wojtyła. O primeiro papa não-italiano depois de 400 anos e o primeiro do leste europeu. No último ano da década, o governo brasileiro concede anistia aos presos e exilados políticos. Nesta década, uma das mais férteis musicalmente no Brasil, os cantores e compositores seguiam a tendência e estilos da década passada, sejam os sambistas, o emepebistas ou os bossa-novistas. O que viria a ser o rock Brasil dos anos oitenta dava seus primeiros passos.

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1.11 Década de 1980

João Paulo II visita o Brasil pela primeira vez em 1980, Ele viaja a 13 cidades, do Sul ao Nordeste do país. A direita brasileira ataca com bombas a OAB, no Rio de Janeiro e o Riocentro. Ainda em 1980, o Brasil perde duas importantes personalidades de sua cultura, Vinicius de Moraes, ao 66 anos e Nelson Rodrigues aos 68. Em dezembro, no famoso edifício Dakota, em Nova Iorque, o ex-beatle John Lennon é morto com um tiro à queima roupa por Mark Chapman. Em 1981, João Paulo II é ferido a tiros na Praça São Pedro, no Vaticano. Morrem duas figuras geniais do nosso cinema: Amácio Mazzaropi, aos 69 anos, e Glauber Rocha, aos 48. Bill Gates vende o primeiro modelo de computador, com seu programa MS-DOS, dando início à esra dos computadores pessoais. O início de 1982 é marcado pela morte de Elis Regina, vítima de uma mistura de cocaína e álcool em 19 de janeiro. Em 1982 com o estouro da Blitz estava iniciado o rock Brasil, que começava com as letras alegres e divertidas da banda de Evandro Mesquita, posteriormente veio o rock de protesto das bandas provenientes de Brasília. A cena do rock era forte também no Rio, em São Paulo e no Rio Grande do Sul. As quatro bandas de maior sucesso na década ganharam o apelido de “Quarteto de Ferro”, eram elas , Titãs, Legião Urbana e Barão Vermelho.

“O BRock tinha como desafio “provar que era possível produzir rock no Brasil merecendo o rótulo ‘brasileiro’” (Menezes Bastos, 2005:232). No mesmo ano, depois de quase vinte anos a população pôde escolher seus governadores. Brizola é eleito para governar o Rio e Lula é eleito o deputado mais votado do país. Em 1983, morre Clara Nunes, durante uma simples operação de varizes. Clara foi a primeira mulher a bater recorde de vendas no primeiro disco gravado. Também morre o ídolo Garrincha, a “alegria do povo”. Chega ao mercado mundial o compct disc (CD). 30

Em 1984, o Movimento “Diretas Já” ganha as ruas do Brasil com participação de artistas e políticos, mas em agosto a emenda Dante de Oliveira, que previa a eleição direta para presidente, é vetada pelo Congresso. No ano seguinte, Tancredo Neves é eleito presidente pelo colégio eleitoral, mas não pôde assumir em 15 de março devido ao seu estado de saúde, quem assume interinamente é o vice José Sarney. Em 21 de abril, Tancredo morre e Sarney assume definitivamente a presidência do Brasil. Em 1986 surge, em , a banda de metal Sepultura dos irmãos Cavalera, Igor e Max. O Sepultura é até hoje a banda brasileira de maior repercussão no mundo. A assembléia constituinte, presidida por Ulysses Guimarães, promulga a nova Constituição brasileira no ano de 88. Em dezembro, é morto em Xapuri, no Acre, o líder seringueiro Chico Mendes. Em 1989, na Alemanha, é derrubado o Muro de Berlim, em 9 de novembro. Esfacelando o “mundo socialista”. No Brasil, depois de 29 anos, ocorrem eleições diretas para presidente. Fernando Collor é eleito no segundo turno derrotando Lula. Morrem neste ano, duas figuras muito importantes na música brasileira: Nara Leão, vítima de Câncer no cérebro e , por parada cardíaca, causada por uma série de fatores, inclusive seu alcoolismo.

1.12 Década de 1990

Em março de 1990, Collor assume a presidência e anuncia o “Plano Collor” que visa à estabilidade econômica do Brasil, amplamente fracassado em seu objetivo. Aos 32 anos, vítima da AIDS, doença ainda desconhecida no Brasil, morre o cantor Cazuza, segundo Nelson Motta, a morte de Cazuza, marca o fim da década de 1980 para a música brasileira. No ano seguinte, os Estados Unidos, de George Bush pai, invade o Iraque e inicia a Primeira Guerra do Golfo. A União dos Países Socialistas Soviéticos (URSS), a União Soviética, é desmembrada. 31

Em maio de 1992, imprensa publica dossiê de Pedro Collor, irmão do presidente, que acusa Paulo César Farias, o PC, tesoureiro da campanha de Collor, de possuir uma fortuna em contas bancárias no exterior. CPI mostra conivência de Collor e irregularidades na campanha eleitoral. Movimento dos caras-pintadas sai às ruas pedindo a saída do presidente. É iniciado o processo de impeachment contra Collor, que para escapar da cassação, renuncia e Itamar Franco assume a presidência da república. No ano de 1994 é implantado no Brasil o Plano Real que muda a moeda do país. Em maio, no Grande Prêmio de San Marino, um acidente mata o piloto brasileiro de Fórmula 1 Ayrton Senna da Silva, considerado um dos melhores de todos os tempos. Em julho, nos Estados Unidos, o Brasil de Romário e Bebeto conquista, depois de 24 anos, a Copa do Mundo sagrando-se campeão pela quarta vez. Com o sucesso do Real, o Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso é eleito presidente do Brasil. Nelson Mandela é eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, pondo fim ao apartheid. Aos 67 anos, em 8 de dezembro se vai o genial Tom Jobim, que uma vez disse: “O Brasil é uma país de ponta-cabeça”. Em março de1996, no auge da fama com suas letras escrachadas, os cinco jovens que formavam o grupo Mamonas Assassinas morrem em um acidente aéreo, na Serra da Cantareira, em São Paulo. Em outubro morre o líder da banda Legião Urbana, Renato Russo, considerado o maior poeta de sua geração, vítima da AIDS.

“A sensibilidade de Renato em tratar os relacionamentos amorosos só encontra paralelo no modo como Chico Buarque encara suas personagens femininas. Mais do que uma canção de amor, Eduardo e Mônica era uma canção amorosa. Amorosa e gentil. Coisa de menestrel medieval, de gentil- homem.” (DAPIEVE, 2000. p. 79) No ano seguinte, morre em Pernambuco, em um acidente de automóvel, o cantor Chico Sciense, principal nome da música surgida nos anos 1990.

“Nos anos 1990, o BRock enfraqueceu e o Manguebeat foi construído como o sinal mais importante da continuidade do rock brasileiro. Este movimento teve 32

sua origem em Recife, no final dos anos 80 e início dos 90, e presentou os artistas Chico Science, líder da banda Chico Science e Nação Zumbi.” (MENEZES BASTOS, 2003) Em 1998, Fernando Henrique Cardoso aproveitando-se de uma emenda constitucional, aprovada um ano antes, que permitia a reeleição, vence novamente Lula e garante mais quatro anos no poder. No mesmo ano de 1998, morre Tim Maia, um ano depois do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.

1.13 Década de 2000 Em 4 de fevereiro, Herbert Viana, vocalista da banda Os Paralamas do Sucesso, cai com seu ultraleve na baía de Angra dos Reis. Sua mulher Lucy morre e o cantor fia paraplégico. Em 11 de setembro de 2001, dois aviões atingem o World Trade Center, as torres gêmeas, de Nova Iorque, matando mais de 3 mil pessoas e um avião cai sobre o Pentágono, no maior atentado terrorista da história. Estados Unidos dão início à Guerra do Afeganistão, país em que supostamente estaria Osama Bin Laden, mandante dos atentados. Jorge Amado morre na Bahia, aos 88 anos. Em 2002 na primeira Copa do Mundo na Ásia, na Coréia e no Japão, o Brasil se torna penta campeão mundial de futebol. Em outubro, Luis Inácio Lula da Silva vence José Serra e é eleito presidente do Brasil após três derrotas consecutivas. Em 19 de março de 2003, os Estados Unidos, de George W. Bush, invade o Iraque e derruba o ditador iraquiano Saddam Hussein, no que seria chamada de Segunda Guerra do Golfo. Em 2005 morre no Vaticano, João Paulo II, o papa polonês. Seu funeral foi um dos maiores eventos da história recente. O alemão conservador Joseph Ratzinger é escolhido como novo líder da igreja católica. Em 2006, Lula é reeleito presidente do Brasil, derrotando o governador paulista Geraldo Alckmin. No ano de 2007, sem concorrentes, o Brasil é escolhido como sede da Copa do Mundo de 2014. Em 2008, Barack Hussein Obama é eleito presidente dos Estados Unidos. É o primeiro afro-americano a governar o país mais poderoso do mundo. 33

Em junho de 2009, morre em Los Angeles nos Estados Unidos, o maior astro da música pop mundial, Michael Jackson, aos 50 anos. Em novembro é escolhida a cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, derrotando Chicago, Madri e Tóquio.

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CAPÍTULO 2 Jornalismo x Literatura

Livro-reportagem é, segundo definição de Edvaldo Pereira Lima, o veículo de comunicação impressa não-periódico que apresenta reportagens em grau de amplitude superior ao tratamento costumeiro nos meios de comunicação jornalística periódicos. 1 A definição de literatura está comumente associada à idéia de estética, ou melhor, da ocorrência de algum procedimento estético. Um texto é literário, portanto, quando consegue produzir um efeito estético e quando proporciona uma sensação de prazer e emoção no receptor.

2.1 Livro reportagem como literatura

O jornalismo literário é um tema quase sempre controverso e polêmico. Ainda há divergência entre jornalistas e escritores quanto ao fato de jornalismo literário poder ser considerado literatura. Em entrevista ao Observatório da Imprensa o jornalista e escritor Ruy Espinheira Filho diz que jornalismo e literatura são áreas distintas. "O jornalista é um informante, é um opinativo, um sujeito que interpreta os fatos, mas ele não cria nem pode ser criador e o que se espera dele é o máximo de fidelidade ao factual". Já Laurentino Gomes, jornalista e escritor dos best-sellers “1808” e “1822” em entrevista ao autor deste projeto afirma que o jornalismo literário tem seu lugar na literatura. “Jornalismo não serve apenas para informar as pessoas do fato ocorrido, de maneira sempre imparcial, como dizem os teóricos. Jornalismo pode e deve, além de informar corretamente, entreter os leitores. Meus livros são uma reportagem extensa e aprofundada, mas também não deixa de ser literatura”.

1 Definição de livro-reportagem do livro “O que é livro-reportagem”, de 1998. 35

Guilherme Fiúza, autor de “Meu nome não é Jhonny”, afirma que o livro reportagem traz ao leitor uma idéia mais clara dos fatos e que ele só por estar nas livrarias ao lado de obras ficcionais pode ser considerado literatura. Ideia compartilhada por Paulo César de Araújo, autor do proibido “Roberto Carlos em Detalhes” diz que o livro reportagem, pode contar a vida de uma pessoa ou um fato com toques de literatura. “A vida é como a ficção. Posso contar uma história real, que se passa por ficção e ninguém perceber. Não há como separar jornalismo e literatura.” Na hora da redação o livro-reportagem evidencia traços do autor. Suas ideias e seu estilo podem ser enxergados, diferente da maioria das reportagens comuns. Fica impregnada no texto sua forma de narrar e encadear descrições e cenas, também fica evidente os recursos literários que o autor dispõe como julgar conveniente no texto. O jornalista-escritor prima pela investigação, pelo levantamento de informações, por narrar histórias reais. "Fazer jornalismo é fazer história, a história do cotidiano" (SATO, 2002, p.33). Ou seja, o livro-reportagem é jornalismo porque cumpre a função primeira deste que é informar e, através dessa informação, levar a sociedade a se posicionar e a buscar mudanças. O livro-reportagem também é literatura porque ao contar essas histórias do cotidiano o jornalista-escritor não segue, necessariamente, os paradigmas ou normas do discurso jornalístico. Ou seja, a imparcialidade, a isenção, a neutralidade e a objetividade perseguidas no jornalismo diário podem e são deixadas de lado. Assim, ao fazer sua narrativa, o jornalista-escritor abandona o estilo seco, duro dos jornais diários e recorre (sem perdas de informação) a elementos literários. “A literatura cabe fazer com que o recorte da realidade atue como uma explosão que abra uma realidade muito mais ampla.” (SATO, 2002, p.45)

2.2 Vertentes do livro-reportagem

Podemos encontrar vários tipos de livros-reportagem, que variam de acordo com o tema abordado e com o modo de escrever do autor. Edvaldo Pereira Lima, 36

identificou 13 vertentes de jornalismo literário. Em uma obra desse gênero é possível encontrar mais de um tipo. Vamos a eles: • Livro-reportagem-perfil: evidencia o lado humano de uma personagem pública ou anônima (representante de um grupo social); tem como variante o livro- reportagem-biografia, com mais destaque ao passado e menos ao presente da pessoa; • Livro-reportagem-depoimento: reconstitui um acontecimento relevante na visão de um participante ou testemunha. Pode ser escrito pela própria testemunha, com auxílio de um jornalista, e geralmente sua narração é movimentada, com bastidores e ações encadeadas; • Livro-reportagem-retrato: focaliza uma região geográfica, um setor da sociedade, um segmento da atividade-econômica ou uma instituição (pública, privada ou terceirizada), para traçar o retrato do objeto em questão (mecanismos, problemas, complexidade), familiarizando-o ao grande público e, assim prestando um serviço educativo e elucidativo; • Livro-reportagem-ciência: serve à divulgação científica, geralmente em torno de um tema específico, com caráter de crítica ou reflexão; • Livro-reportagem-ambiente: vinculado às causas ecológicas, pode ter feição romantizada ou combativa/crítica, sobre a harmonia das relações homem- natureza; • Livro-reportagem-história: focaliza temas de um passado recente ou distante, destacando algum elemento que o conecta com o presente, propositadamente ou por fatores externos. Tem como variantes o livro-reportagem- empresarial, que trata do mundo dos negócios, de um grande grupo e suas conexões com a sociedade, e o livro-reportagem-epopéia, abarcando episódios históricos de grande relevância social (guerras, conflitos, revoluções e outros); • Livro-reportagem-nova consciência: trata de temas das novas correntes comportamentais, culturais, econômicas e religiosas resultantes da contracultura e da aproximação às culturas orientais; • Livro-reportagem-instantâneo ou da história imediata: debruça-se sobre um fato recém concluído cujos contornos finais já podem ser identificados; 37

• Livro-reportagem-atualidade: difere do de cima porque capta um tema de maior magnitude e perenidade no tempo, cujos desdobramentos finais não são conhecidos, identificando as forças em conflito e projetando tendências possíveis de desfecho; • Livro-reportagem-antologia: reúne várias reportagens sob diferentes critérios (mesmo autor, mesmo tema por autores distintos, mesmo gênero ou categoria em diferentes autores e temas); • Livro-reportagem-denúncia: possui propósito investigativo de identificar injustiças, abusos, desmandos e incorreções, levantando casos marcados pelo escândalo; • Livro-reportagem-ensaio: caracteriza-se pela presença muito evidenciada do autor e suas opiniões sobre o tema, de forma a convencer o leitor a compartilhar seu ponto de vista (persuasivo, com uso recorrente do foco narrativo na primeira pessoa); • Livro-reportagem-viagem: toma a viagem a uma região geográfica específica como pretexto para trabalhar vários aspectos de caráter sociológico, humano, cultural, e histórico do local. Difere do relato turístico e romantizado por se preocupar com pesquisa, coleta de dados e exame de conflitos, sem fechar os olhos para determinadas observações e pontos negativos. Dentre os 13 tipos descritos acima, este projeto se enquadra melhor na vertente livro-reportagem história, já que conta a história recente da música brasileira, contextualizando com a história do país.

“Quando uma história se mantém no foco do interesse público, é quase certo virar uma reportagem-novela. Reproduz-se, então, a mesma fórmula do folhetim, que veio a dar no romance e surge o livro-reportagem.” (SODRÉ, 1986, p. 94).

Outros autores, porém podem classificar de outra maneira. Simão Farias Almeida, resume os gêneros literários de Pereira Lima em quatro subgêneros. São eles:

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• Biografia: Obra estruturada através da polêmica entre perfis criados pelos personagens-entrevistados. Cada perfil é construído por depoimentos, inclusive do biografado sobre um mesmo tema. • Tese: autor polemiza idéias de entrevistados, estruturando obra através do método argumentativo a fim de defender idéia sociológica, antropológica, filosófica, histórica, estética, política, física, geográfica etc. Os entrevistados podem ser especialistas na área, áreas afins, pessoas públicas e até pessoas que ilustram determinada realidade, determinada experiências descritas. • Romance: autor polemiza com personagens, estruturando a obra através da apresentação alegórica de uma realidade. A alegoria é estruturada como o contexto semostra ao autor. O dito do livro figura o interdito, o contexto. No livro-reportagem-romance, a pauta é menos utilizada. Por seu caráter alegórico, que inclusive serve para proteger a identidade de pessoas públicas e as idéias do próprio autor, representado pelo narrador. • Factual: autor polemiza testemunhos e opiniões dos entrevistados sobre fato passado ou presente, estruturando a obra a partir de como engendrou o agendamento de entrevistas, a prática da reportagem, de acordo com a realidade dos envolvidos ou como o acontecimento se mostrou a ele através dos depoimentos dos personagens.

Dentre as divisões dispostas acima este projeto se encaixa no tipo Factual porque trata de assunto verídico do passado O livro reportagem não tem a função de apenas informar, orientar, explicar determinado fato. Ele vai além, anda por caminhos desconhecidos de outras modalidades jornalísticas, caminha lado a lado com a literatura, mas nunca deixando de ser fiel ao real e não deixando se levar pelo imaginário.

A função particular do livro-reportagem é informar e orientar em profundidade sobre ocorrências sociais, episódios factuais, acontecimentos duradouros, situações, ideias e figuras humanas, de modo que ofereça ao leitor um quadro da contemporaneidade capaz de  itua-lo diante de suas múltiplas realidades, de lhe mostrar o sentido, o significado do mundo contemporâneo. (LIMA, 2004). 39

2.3 Marcado de livros no Brasil

O BNDES, em 2004, encomendou ao Instituto de Economia da UFRJ um estudo sobre a atual situação do mercado de livro no país. Dentre os resultados publicados na Série Texto para Discussão A Economia do Livro: A Crise Atual e uma Proposta de Política , de Fábio Sá Earp e George Kornis, destacam-se:

“A principal característica da economia do livro, segundo os autores, é o descompasso existente entre a oferta global crescente, a limitada capacidade de absorção das bibliotecas e a limitadíssima capacidade de absorção do consumidor individual” (p.4). Sendo assim, o principal problema do editor é encontrar o leitor que esteja interessado em cada título publicado – um problema típico da economia da informação. No país, há aproximadamente 3.000 editoras e 15.000 gráficas. No setor de distribuição há aproximadamente 1.500 livrarias, sendo 350 pertencentes a 15 redes. Uma constatação concernente ao problema das editoras é que a maior parte dos livros não proporcionará retorno ao editor, sendo que apenas alguns poucos livros terão grandes vendas e cobrirão as perdas com a maioria, de forma que editoras que puderem imprimir grande número de títulos e simultaneamente desencadear ações de marketing terão vantagens frente às demais. Nesse mercado, os livros que alcançarem grandes tiragens terão vantagens de escala, podendo custar bem menos. A distribuição do preço de capa de um livro no país possui a seguinte configuração: Os direitos autorais correspondem a 10% do preço total, os custos editoriais e manufatureiros somam ao todo 25%. Outros 15% correspondem à margem de lucro da editora, o distribuidor fica com 10% e o livreiro corresponde a 40% do preço total do livro. Esses referenciais não são absolutos, há casos em que as grandes editoras conseguem reduzir a fração dos livreiros para 30% ou menos. Todavia, no caso das 40

pequenas editoras, essa situação tende a se inverter. E, pior do que isso, é sequer conseguirem ingressar nas livrarias. A cadeia do livro tende a uma estruturação em oligopólios, em que poucos detêm frações expressivas do mercado, tanto na edição, como na gráfica, papel, distribuição e livraria. No mercado do livro, de 1995 a 2003, o faturamento das editoras caiu praticamente pela metade, passando de pouco mais de 4,5 bilhões de reais para menos de 2,4 bilhões. De 1990 a 2003, a tiragem média caiu de pouco mais de 10.000 exemplares para pouco mais de 8.000. Os títulos publicados, todavia, passaram de aproximadamente 23.000 para 36.000. Os exemplares vendidos passaram de pouco menos de 240 milhões, em 1990, para quase 300 milhões, em 2003. Em 1995, as vendas das editoras no mercado foram de quase 3,4 bilhões de reais, sendo pouco mais de 1,1 bilhões de compras do Governo. Em 2003, as vendas foram de pouco mais de 1,9 bilhões de reais, sendo quase meio bilhão de compras do Governo. Em 2002, a China vendia 7,1 milhões de livros por ano, com 49% do total, sendo assim o país que vendia mais livros no mundo, devido, claro, ao tamanho da sua população. Os estadunidenses compraram nesse ano 2,55 milhões de livros (18%), no Japão venderam 1,4 milhão de livros (10%) e no Brasil apenas 345 mil exemplares (2%). Com dados do mesmo ano, quando a referência são os valores das vendas, os Estados Unidos abocanham 43% do valor total, caindo a China para apenas 7% desse total. Quanto à quantidade de exemplares por pessoa, os Estados Unidos, Japão e Taiwan aparecem com venda entre 9 a 11 livros. O Brasil, nesse quesito, situa-se entre os que vendem menos de 3 livros por pessoa ao ano. Na China, 54% dos livros são compras institucionais, para doação a estudantes e bibliotecas (quase 4 bilhões de livros). Nos Estados Unidos, 34% são compras institucionais (quase 700 milhões de livros). Nesse quesito, o Brasil vem em terceiro lugar com 51% dos livros comprados por instituições e, na sua maioria, doados aos estudantes. A propósito, não procede o discurso de que o Governo brasileiro é o maior comprador de livros do mundo. Está longe da China em 41

exemplares e em valores, também perde para os Estados Unidos. As compras institucionais por pessoa na China perfazem 3 exemplares, nos Estados Unidos, 3,5 e no país, apenas 1 livro por pessoa 2.

2 “O Livro e seu mercado no País”, do sociólogo Agenor Gasparetto, encontrado no site http://www.vialitterarum.- com.br/ 42

CAPÍTULO 3 Metodologia

A metodologia deste trabalho foi dividida em seis partes: 1º - Definição do tema e modalidade 2º - Coleta de dados e materiais 3º - Pesquisa bibliográfica e documental 4º - Análise do material coletado 5º - Elaboração do Relatório/ Produção e diagramação do livro-reportagem 6º - Apresentação do trabalho

3.1. Tema/Modalidade

O tema deste trabalho: “Música Brasileira e suas relações com a História” surgiu por uma preferência pessoal do autor pelo objeto de estudo. Foram definidos os gêneros musicais a serem abordados ao longo do trabalho bossa nova, rock e MPB, pela importância e a permanência destes gêneros ao longo dos anos. Para se trabalhar melhor o tema foi escolhido a modalidade de livro-reportagem

3.2. Coleta de dados e materiais

Nesta etapa foram desenvolvidas entrevistas não-estruturadas (abertas) com músicos e jornalistas e escritores. Nas entrevistas com os músicos foram abordados questões relativas ao seu trabalho e à sua época na música. Os jornalistas e escritores foram questionados sobre os assuntos em que se especializaram ou sobre os quais eles tenham escrito. Na entrevista não-estruturada o entrevistador propõe um tema, que se desenvolve no fluir da conversa. Assim, as questões emergem do contexto imediato. Entretanto o entrevistado promove, encoraja e orienta a participação do entrevistado.

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“[...]Nas entrevistas não-estruturadas, o entrevistador segue o informante, mas faz perguntas ocasionais para ajustar o foco ou para clarificar aspectos importantes. O pesquisador tem geralmente um guia com os tópicos a serem cobertos na entrevista, mas não tem uma ordem para perguntar sobre estes tópicos.” (RODRIGUES, 2007 p. 45) Neste trabalho foram entrevistados alguns nomes importantes da música brasileira. Em maio de 2009, foi entrevistado Gilberto Gil. Cantor, compositor, um dos líderes do Tropicalismo e ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil é referência mundial de música brasileira. Em maio de 2008, foi entrevistado o escritor, compositor e produtor musical Nelson Motta, que participou ativamente dos três gêneros musicais que são objetos de estudo deste trabalho. Fernanda Takai foi entrevistada em duas oportunidades, em maio de 2008 e outubro de 2009. Ela é vocalista da Banda de pop rock Pato Fu, e, em carreira solo, vendeu milhares de discos e ganhou diversos prêmios. Roger Moreira foi entrevistado em abril de 2010, vocalista da banda Ultraje A Rigor, Roger é um nos principais nomes do rock brasileiro dos anos 80. Lobão, cantor e compositor, foi entrevistado em maio de 2011, apesar de ter começado a carreira na década de 1970, ele se consagrou na década seguinte ao fundar a banda Blitz, ao lado de Evandro Mesquita, e posteriormente, teve consistente carreira solo.O rapper brasileiro Gabriel O Pensador, entrevistado em dezembro de 2010 foi um dos músicos de maior sucesso na década de 1990. Também foram entrevistados, em maio de 2010 os jornalistas, escritores e críticos musicais Paulo César de Araújo e Lira Neto. O primeiro é escritor da biografia não-autorizada de Roberto Carlos, o segundo é autor da biografia de Maysa, que depois foi adaptada para a televisão. O músico Fernando Gil Feichas foi entrevistado em diversas oportunidades, ele teve mais de 50 anos de carreira, embora nunca tenha se profissionalizado. O músico faleceu em março de 2011. A pianista e professora da Faculdade de Música da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Heloisa Faria Braga Feichas também foi entrevistada em diversas oportunidades. Ela doutora em música pela Universidade de Londres e participa de diversos congressos pelo mundo, onde fala, 44

principalmente, de música brasileira. As entrevistas foram feitas pessoalmente e através de telefone e e-mail.

3.3 Pesquisa bibliográfica e documental

Nesta etapa foram feitas análises de diversos livros sobre vários temas, entre história e música, todos constam na bibliografia, no final deste projeto. Também foram analisados vários filmes e documentários que retratam personagens e épocas diferentes da música brasileira. Também foi feita uma extensa pesquisa nos arquivos de áudio, texto e imagens do MIS (Museu da Imagem e do Som), situado em São Paulo. Em Como Elaborar Projetos de Pesquisa, de 2008, Antonio Carlos Gil, diz que pesquisa bibliográfica, como qualquer outra modalidade de pesquisa, desenvolve-se ao longo de uma série de etapas. Seu número, assim como seu encadeamento, depende de muitos fatores, tais como a natureza do problema, o nível de conhecimentos que o pesquisador dispõe sobre o assunto, o grau de precisão que se pretende conferir à pesquisa etc. (GIL, 2008)

Algumas informações apresentadas neste trabalho foram encontradas de forma que. Ainda não sofreram um tratamento analítico, mais aprofundado por parte de seus respectivos autores. A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. (GIL, 2008)

3.4 Análise do material coletado

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Aqui todo o material obtido durante as pesquisas foi analisado e as informações principais e mais relevantes, selecionadas. Teve início a redação do livro- reportagem sobre música brasileira e suas relações com a história. Após analisar os resultados obtidos com as pesquisas se confirmou a hipótese de que é possível contar a história da música brasileira na segunda metade do século XX e contextualizar com os fatos ocorridos no Brasil. Chegou-se à conclusão que tanto a bossa nova, a MPB e o rock contribuíram para a formação do Brasil atual.

3.5. Elaboração do relatório

Depois de todo o material ter sido coletado e analisado, teve início a redação deste relatório e do livro-reportagem. Os resultados obtidos foram sintetizados.

3.6 Apresentação do trabalho

Após a grande reportagem ter sido concluída, redigida e diagramada, o trabalho final será apresentado para a banca examinadora.

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CAPÍTULO 4 Descrição do trabalho

4.1 Entrevistas

Todas as entrevistas contidas neste trabalho foram feitas ao longo de três anos, desde maio de 2008 até maio de 2011. Foram entrevistados os músico Gilberto Gil, Fernanda Takai e com os escritores Nelson Motta, Paulo César de Araújo e Lira Neto as entrevistas foram presenciais e gravadas em áudio. Com os músicos Fernando Feichas Lobão e Gabriel O Pensador, as entrevistas foram presenciais, mas não foram gravadas. Com a doutora Heloisa Feichas e com o cantor Roger Moreira, as entrevistas foram por e-mail.

4.2 Livro

O produto final deste projeto, o livro reportagem tem por título “Caminhando e Cantando” com o subtítulo “História Fazendo Música e Música Cantando História”. O título faz referência a canção que moveu os jovens nos anos 60, “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré 3 O livro foi divido em seis capítulos, excetuando o prefácio, a apresentação e o epílogo. A apresentação mostra o contexto histórico do Brasil e a música do nosso país antes dos anos 50, conta a criação do samba e sua influência, também fala da era de ouro do rádio. O primeiro capítulo “Período pré-bossa nova”, mostra década de 1950 antes do surgimento da bossa nova, isto é, de 1950 a 1958, quando se inicia o segundo capítulo “A Bossa Nova”.

3 Música também conhecida e intitulada muitas vezes como “Caminhando” 47

Este segundo capítulo, que vai de 1958 a 1964 conta, em detalhes, a criação da bossa nova por João Gilberto. Também mostra a vinda do rock para o Brasil. O começo da carreira e o estouro de Roberto Carlos, no embalo do rock da Jovem Guarda. Conta como a bossa nova deixou de ser só música brasileira para se tornar internacional, sendo aí o declínio do gênero no Brasil. O terceiro capítulo “O Início da Repressão”, que vai de 1964 a 1970, conta como foi o início da ditadura militar e sua direta influência na música brasileira. Mostra a era dos festivais, quando foi criada a chamada MPB (Música Popular Brasileira). Conta que, ao mesmo tempo em que o Brasil era sacudido pela truculência dos anos de chumbo, surgiam movimentos que revolucionariam a música brasileira, como o tropicalismo e o Clube da Esquina. O capítulo 4, que vai do ano de 1970 até 1979, mostra a década da afirmação e da renovação da música brasileira. Período em que, com a ditadura ainda vigente e a censura com plenos poderes, os músicos brasileiros da década anterior conseguiram se consagrar e que surgiram novos nomes importantes na música popular do Brasil. O Capítulo 5, do ano 1980 a 1989, conta a década do rock e da redemocratização. Conta como os jovens, que faziam o chamado Brock 4, contribuíram para que o Brasil tivesse, de novo, democracia. Mostra o período da Diretas Já, da eleição e morte de Tancredo e da eleição de Collor. O Capítulo 6, que conta a década de 1990, mostra o fim de uma era e o começo de outra. O fim da era de música social e politicamente engajadas para o começo da era da internet, que tem início no fim dos anos 90 e no começo do século XXI.

4.3 Diagramação

A fonte utilizada no trabalho é Times New Roman, assim como a maioria dos livros e como recomenda o site Guia do Escritor 5, com espaçamento 12 pt. e

4 Definição de Artur Dapieve, que dá título a seu livro homônimo: Brock: O Rock Brasileira dos anos 80 5 https://www.guiadoescritor.com/docs/editar/formatacao/fontes 48

tamanho 12. O livro foi impresso com 165 páginas, em tamanho A5 (14,8x21cm). O miolo do livro está impresso em papel off set 90g/m². A ilustração da capa é de Giovan Gomes Valério. A fonte usada na no título é Harrington, com tamanho 48. O subtítulo está em Lucida Calligraphy, com tamanho 18. A contracapa tem texto com fonte Garamond, com tamanho 12.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste trabalho, o aluno conheceu melhor a história da música brasileira e também, conheceu um pouco mais sobre a história recente do Brasil. Apurando, coletando dados e entrevistas e escrevendo foi possível se aproximar de pessoas que fizeram parte da história de nossa música como Gilberto Gil e Nelson Motta, também foi possível observar a riqueza cultural, lingüística da música brasileira. Perceber e conhecer a história por trás de composições famosas de nosso cancioneiro popular. Foi possível também analisar a semiótica das letras e a ideologia de nossos compositores.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do século XX. Curitiba: Ed. Fundamento, 2009. CABRAL, Sérgio. Nara Leão – Uma Biografia. São Paulo: Lazuli Editora e Companhia Editora Nacional, 2008. CASTRO, Rui. Chega de Saudade – A História e a História da Bossa Nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. DAPIEVE, Arthur. BRock – O Rock Brasileiro dos anos 80. São Paulo: Ed. 34, 1996. FAUSTO , Boris. História do Brasil . São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1995. GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 175 p. HOMEM DE MELLO, Zuza. A Era dos Festivais: Uma Parábola. São Paulo: 34, 2003. HOMEM DE MELLO, Zuza. Era dos Festivais: Uma Parábola. São Paulo: Ed. 34, 2003. HOMEM, Wagner. Chico Buarque – História de Canções. São Paulo: Leya, 2009. KIEFER, Bruno. História da Música Brasileira. Ed. Movimento: Porto Alegre, 1976. LIMA, Alceu Amoroso. O jornalismo como gênero literário . São Paulo: Com/Arte;Edusp, 1990. LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas ampliadas : o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. Barueri, SP: Manole, 2004. LIMA, Edvaldo Pereira. O que é livro-reportagem. São Paulo: Brasiliense, 1998 MIDANI, André. Música, Ídolos e Poder – Do Vinil ao Download. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2008. MOTTA, Nelson. Noites Tropicais – Solos, Improvisos e Memórias Musicais. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. PICOLLI, Edgard. Que rock é esse? – São Paulo: Editora Globo, 2008 RODRIGUES, Willian Costa. Metodologia Científica . São Paulo: FAETEC/IST, 2007. 51

VÁRIOS AUTORES. Enciclopédia da Música Brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo: Art Editora, 1977. VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. Rio de Janeiro: Companhia de Bolso, 1997. WERNECK, Humberto. Chico Buarque – Letra e Música. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.