ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 6898 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE DO PÚBLICO, EDIÇÃO Nº 6898 INTEGRANTE DA PARTE FAZ ESTE SUPLEMENTO RUDY WAKS/CORBIS OUTLINE OUTLINE WAKS/CORBIS RUDY

O incrível Rourke Queremos ver o Óscar nas mãos do actor de “O Wrestler” Kusturica Maradona Cristopher Hogwood Juan José Millás estivesse no divã Como seoescritor Juan José Millás24 Welty, Kate Chopin Willa Cather, Eudora Flannery O’Connor, McCullers, HarperLee, por Faulkner, eisCarson terem sido abafadas Décadas depois de Sulistas 20 Um músico insaciável 18 Hogwood Cristopher na CasadaMúsica A diva daBossaNegra Elza Soares 16 indecifrável Nu, masainda Morrissey 12 10 Maradona? Quem éomaior, ele ou 4 Emir Kusturica Oscares Pronto para umKO nos Mickey Rourke Sumário 2 www.ipsilon.pt E-mail: Soares Mariana Carla Noronha, Jorge Guimarães, Designers Directora dearte Esterson, Kuchar Swara Design Vítor Belanciano Óscar Faria, CristinaFernandes, Coutinho, InêsNadais, Conselho editorial Joana Henriques Gorjão (adjunta) Editores Director Ficha Técnica •ÍpsilonSexta-feira 20Fevereiro 2009

Mark Porter, Simon [email protected] José Manuel Fernandes Vasco Câmara, Ana Carvalho, Sónia Matos Isabel Flash “melhor expressa uma obra que dólares, atribuídaa eos10mil distinção, domingo foireceber a que fazereno gosta que lhedigamo assunto, masnão ainda pensou no Jerusalém. Murakami feira dolivro de na Prize eparticipar oJerusalem aceitar que reconsiderasse Murakami pedindo-lhe japonêsHaruki escritor ao aberta enviou umacarta Um grupopró-palestiniano palestiniano pró- pedido prémio contra Jerusalém receber Murakami foi a “palestinianos, a quem está a ser “palestinianos, aquem aser está parapensarnos pedia aoescritor doPalestineForumA carta Japan Individual inSociety). Prize fortheFreedom ofthe completo doprémio éJerusalem indivíduos (onome nasociedade’” e promove aideiade‘liberdade dos arredores deDetroit. Oálbumestápronto e tem ediçãomarcada para Março Eminem esteve trancado nasua casaluxuosa nos Público Espaço negada aliberdade negada e dignidade comoseres humanos”. apeteceu escrever sobre gostou tanto quelhe concerto, DVD viu e disco, álbum,canção, teatro, livro, exposição, seu. Quefi Este espaçovai ser lado doPresi- Murakami Murakami perguntou, ao perguntou, ao cerimónia cerimónia respondeu na dos lados?”, com o seu com oseu apoiar um apoiar um Estarei a discurso. discurso. fazer? “Visitar acertada a a acertada mais coisa Israel seráa lme, peçade humanos, indivíduos, ovos frágeis. (...)Somostodos sereso sistema. um grandemuro. Ograndemuro é com Cada umdenósconfronta-se encerradanum ovoúnica, frágil. umdenóséovo,cada umaalma do lado doovo. Porquê? Porque oovo,ou quão erradoestá euficarei interessa omuro está oquão certo contraele,não que separte há ummuro altoegrandeumovo dúvidas sobre deque “Se lado está: jornal, nãodeixava margem para lembravanada.” Eoque disse, o falaremvez Decidi denãodizer ver. mãos.Por decidi suas isso comas próprios olhosoutocaram do que nãoviram comosseus emnada nãoacreditam romancistas Os natureza deromancista. dizem para fazer. naminha Está oopostodoqueexactamente me gosto romancistas, defazer vir.decidi amaioriados Como pelo jornal“Jerusalem Post”. “Mas ShimonPeres, dente israelita citado Chegou aumponto em caminho está a de volta, não está ainda Eminem que jálhechamavam o Howard Hughes dohip estrela maiordaprimeira hop. Istoporque Eminem, Não temos esperança contra o contrao Não temosesperança metade da década de dadécada metade publicamos. publico.pt. Enósdepois caracteres para ipsilon@ nos umanotaaté 500 escrevemos? Envie- concordando comoque ele, concordando ounão Murakami aoladodopresidente sellers, segundo o“Guardian”.sellers, segundo debest- todas àslistas chegaram de Corda” (ambosCasadasLetras), e“Crónica Mar” doPássaroBeira “Kafkaà pelaCivilização), editado Wood”“Norwegian (emPortugal, Em Israel,asobrasdeMurakami, sistema.” o somos. Somosnósque criamos controlar-nossistema oque -criar Nãopodemosdeixaro força. asnossasalmaspara tercalor,juntar contraomuro,Para lutar temosque demasiado escuro, demasiadofrio. muro: édemasiadogrande, ainda surge envolto em porDrDre,habitualmente Produzido como Março. para marcada tem edição Relapse”,Intitulado “The Express”, pronto. está semanário “NewMusical ao afirmou 50Cent disponível eoálbum, “Crack abottle”jáestá Hughes dohiphop. Osingle transformou num Howard o mesmonome),masnãose nofilmecom (imortalizado 8Mile quarteirão 2006 numa rixanum bardo rapper Proof, alvejado em do seumelhoramigo, o (e paranóico)apósamorte arrasado emocionalmente arredores deDetroit, luxuosa nos casa sua naEminem esteve trancado mediático. Pois bem, desaparecendo doradar a cerimóniadeentrega domais israelita Shimon Peres durante Depois, oSlimShady foiDepois, para escritores estrangeiros importante prémioliterário no ano seguinte. no anoseguinte. colectânea editada colectânea parecido. Houve “Encore” (2004) e “Curtain Call”,e “Curtain andava desa- Name Is”, rapper de 2000, o “My “Stan” e

MAYA LEVIN/ AFP Estamos online. Entre em Internet www.ipsilon.pt. É o mesmo suplemento, é outro desafi o. Venha construir este site connosco.

enorme expectativa, o que videasta Andreas Nilsson, Karin não espanta porque os The compondo um universo de Knife são um dos projectos realismo mágico, assente em Dreijer pop electrónicos mais gráficos, criaturas bizarras e entusiasmantes dos últimos situações surrealistas. Andersson anos. Tal como na música da Também nesse aspecto, dupla, a solo Karin Dreijer Karin Dreijer não se descurou. é Fever Andersson compõe a partir de Os videoclips dos dois singles uma electrónica glaciar, de de avanço - “If I had a heart” e som metalizado e vozes “When I grow up” (este último Ray inumanas, que resulta na criado pelo realizador encenação de singulares dinamarquês Martin de Ainda não é o novo álbum dos quadros neuróticos. Mais do Thurah) - mantém suecos The Knife, mas é que mero projecto musical, os a fasquia visual elevada, quase, já que se trata do Knife são uma experiência como se constata vendo-os no primeiro disco a solo, de um total que é necessário também sítio oficial da cantora na dos seus dois membros - a apreender visualmente, como Internet. Resta dizer que, ao cantora Karin Dreijer é perceptível em “Silent Shout contrário do que acontece Andersson, que divide o - An Audio Visual com os Knife - que raramente projecto com o irmão Olof Experience”, a obra em DVD actuam ao vivo -, a cantora Dreijer. A iniciativa solitária que regista um espectáculo - e prepara-se para partir em chama-se Fever Ray, sai a 18 videos - da dupla, na digressão, a partir de 19 de de Março, e está a suscitar companhia do artista e Março. O disco a solo da vocalista dos The Knife sai a 18 de Março e está a suscitar enorme expectativa

como “Common Threads: Stories especulações. 50 Cent já fez para editar terá sido from the Quilt” (1989), “The questão de dizer que montado a partir das Celluloid Closet” (1995) ou “Paragraph 175” (2000). É por participou nas gravações e centenas de esquissos que isso, aliás, que ver “The Times of que estará “por todo o foi fazendo ao longo dos Harvey Milk” agora, a seguir a lado”. Eminem, sem anos. “Milk”, não é mero “déjà vu”. O levantar o véu, confessou Aos 36 anos, o homem que documentário estende-se para que a química com Dre foi o fez da sua vida a banda além da morte de Milk mostrando, coisa de que Van Sant prescindiu, rastilho indispensável para sonora de uma geração os “riots” que incendiaram São se reerguer da reclusão. confusa, conturbada e Francisco depois de ser conhecida Conta-se que o álbum será, indecisa quanto ao seu a decisão que condenou o como habitualmente, um papel social está mais assassino, Dan White, a apenas sete exercício autobiográfico, sereno. Passa os dias anos de prisão. Ver “The Times of Harvey Milk” é com a morte de Proof como dividido entre a filha ainda, já agora, um exercício foco central, e os rumores Haillie e o estúdio caseiro lúdico: podemos imaginar o actor de que Elton John será um e ainda não está Sean Penn durante a sua pesquisa dos convidados aumentam completamente preparado para a personagem, face ao cada vez mais. Foi visto em para lidar com a atenção material de arquivo, imagens do “verdadeiro” Harvey Milk (que Detroit em meados do ano mediática que gera. Na maneirismos apanhou, que passado, especulando-se festa de apresentação de inflexões de voz trabalhou?). que a deslocação à Motor “The Way I Am”, a sua “The Times of Harvey Milk”, de Rob Epstein Diferencia “The Times of Harvey City serviu para preparar autobiografia, lançada em e Richard Schmiechen, recebeu o Oscar Milk” e “Milk”, para além do que uma colaboração que Outubro, os presentes para o Melhor Documentário do ano em 1984 diferencia um documentário de uma ficção, aquilo que neles é repetirá em disco o foram instruídos a não lhe “The Times of o Melhor Documentário do ano. reflexo de um tempo. O primeiro encontro que fez brado em dirigirem a palavra. Dez anos antes de Tom Hanks, falava de um presente, as emoções 2001, quando o cantor de Eminem manteve-se Harvey Milk”, premiado por “Filadélfia”, ter a quente sobre uma realidade em “Rocket man” actuou nos discreto, sorriu um pouco documentário pronunciado o seu emocionado e trágica mutação (foi realizado Grammys com Eminem - foi para um par de fotografias integrador discurso perante a cinco anos após os acontecimentos histórico, vai ser plateia de Hollywood, Epstein e que relatava), e isso fez dele um como que a “resposta” e desapareceu de cena, editado em Portugal Schmiechen, com os Oscares na pioneiro; o filme de Gus Van Sant, deste último às acusações deixando aos amigos 50 mão, homenageavam o primeiro nostálgico, elabora a partir de uma de homofobia sofridas na Cent e LL Cool J a função em DVD político americano assumidamente América que já não existe, eufórica altura. de anfitriões dos homossexual e explicitavam a (a América antes da sida), mas Apesar de se manter convidados - não utopia de uma era “para todos”. redirecciona esse olhar do passado Ganhe ou não “Milk”, de Gus Van Fez História. É este documentário distante para hoje, tempo de mais distante dos holofotes nos surpreenderá se levar Sant, em Los Angeles, nos Oscares, que em Março vai chegar a garantias asseguradas mas a últimos anos, os seus avante a sua vontade de é importante saber-se que o nome Portugal, em formato DVD (pela precisar de renovar a utopia. E colaboradores mais não realizar qualquer de Harvey Milk, o político de São Midas). deixa-se ler como página em próximos referem que o digressão para promover Francisco, homossexual, Em 1984, vivia-se a catástrofe, a branco para todos, não apenas autor de “Marshall “The Relapse”. Esperemos assassinado em 1978, já antes foi sida, e a comunidade “gay” para uma comunidade. O que os sinónimo de prémios da procurava a legitimação no une, afinal, é mais importante: um Mathers LP” nunca se por ele. Eminem ainda não Academia. Aconteceu em 1984, exterior, lutando pelo direito a uma olhar comovido pelas manteve longe do estúdio. está de volta. Está a quando “The Times of Harvey imagem sem estereótipos. É nesse “personagens” e a vontade de O álbum que se prepara caminho. Milk”, de Rob Epstein e Richard sentido que podemos entender este querer fazer a diferença no Schmiechen, recebeu o Oscar para e posteriores trabalhos de Epstein, presente. Vasco Câmara

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 3 Era uma vez Mickey Rourke, o mais próximo que

o cinema teve de um novo James Dean. Isso foi no OUTLINE WAKS/CORBIS RUDY tempo em que olhar para ele era um prazer. Agora temos medo: o belo é um monstro. Mas o mundo está pronto para o seu regresso, e Rourke está pronto para um KO nos Óscares. É preciso ver “O Wrestler” para perceber porquê. Encontro com o actor. Kathleen Gomes, em Londres O último hurrah

Uma Rourkiana essencial por Vasco T. Menezes Diner/Adeus, Amigos Barry Levinson Havia quem já tivesse 1982 reparado nele um ano antes, em “Body Heat”, mas é neste retrato agridoce de um grupo de amigos a tentar fi ntar a idade adulta, na Baltimore dos 50s, que o resto do mundo começa Em “O a prestar atenção a Rourke: Wrestler” voz melífl ua, quase sussurro, Rourke e o sorriso desarmante interpreta revelam uma uma antiga presença estrela do intrigante, “wrestling”, algures entre cabeça-de- a beleza mais cartaz nos “transparente” anos 80, um dos galãs de “has been” matinée da que ainda Hollywood combate em clássica e a ginásios psicologia torturada da manhosos geração do Actor’s Studio que se lhe seguiu. São as bases Mickey Rourke está sentado num sofá Os discursos de aceitação de pré- Dragão” (1985), no que parecia a do “Rourke’s touch” - um de um hotel londrino, a abrir o coração mios têm sido para Rourke o púlpito metáfora perfeita da figura inapreen- fascínio muito só dele, feito de aos jornalistas que entram e saem em da sua redenção – “É um prazer estar sível que sempre foi, alguém que con- oleosidade e ternura. rondas cronometradas. 15 minutos é aqui, e ter regressado das trevas”, seguia manter a sua distância, como pouco tempo para fazer perguntas, disse, ao receber o BAFTA de melhor se soubesse mais do que todos os Rumble Fish/ quanto mais para um acto de contri- actor –, um “one-man show” desas- outros – mais do que todos nós. Ele Juventude Inquieta ção, mas Rourke parece ter aperfeiço- trado e profano (com “bips” a abafa- era o mais próximo que o cinema Francis Ford Coppola ado a arte. A predisposição para contar rem os “fuck” do seu discurso) que tinha visto de um novo James Dean, Momento decisivo na 1983 a sua ruína pessoal tem menos a ver deve provocar no público o mesmo belo, sensível e lânguido, de gestos construção de uma Capa com as exigências de promoção de um prazer mórbido que os espectadores mínimos mas eloquentes (os braços “persona”. Descrita por filme do que com a narrativa de sobre- de “wrestling” sentem no filme ao ver cruzados no peito, como se tivesse Coppola como “Camus para vivência de um ex-“junkie” saído da o lutador autodestruir-se. (A “stripper” frio, ou como se quisesse impedir miúdos”, esta adaptação de S. reabilitação. interpretada por Marisa Tomei nota qualquer coisa de saltar para fora), E. Hinton cruza o universo da Tem sido comovente assistir ao que ele é parecido com “o tipo de ‘A um actor intuitivo que parecia estar- delinquência juvenil com o “comeback”, ao regresso (premiadís- Paixão de Cristo’”.) se nas tintas (como Brando) ao “art movie”, e dá a Rourke, aos simo) de Mickey Rourke, mas é preciso mesmo tempo que exibia uma vulne- 31 anos, a sua personagem ver “O Wrestler”, que estreia na pró- O belo e o monstro rabilidade quase feminina (como mais icónica: Motorcycle Boy, xima semana em Portugal, para per- Mickey Rourke aparece de costas no Brando). Era no tempo em que olhar ex-lider de gang e lenda viva ceber porquê. Da mesma forma que o início de “O Wrestler”. Está sentado para Mickey Rourke era um prazer. para os adolescentes do fi lme, filme é uma autobiografia latente de numa cadeira, cabisbaixo, no que Agora, Rourke aparece de costas em num progressivo alheamento Rourke – sobretudo, do seu declínio parece ser a sala de um jardim-de- “O Wrestler” e parece-se com um do mundo que o rodeia, quase –, tudo aquilo que se tem passado com infância, bastidores de um combate. monstro ferido a esconder o rosto. O surdo e daltónico devido o actor nos últimos meses parece um Demora algum tempo, até lhe vermos desejo de olhar confunde-se com o às rixas do passado. É uma prolongamento da sua personagem, o rosto; a câmara segue atrás dele, receio de olhar para ele. Não é só o fi gura enigmática, com a um ex-campeão de luta livre ameri- como um “teaser”. Não é a primeira choque do tempo, o impiedoso reapa- textura de uma aparição, cana que tenta manter a chama acesa vez que entra num filme de costas. É recimento de um rosto que não víamos em que o corpo esguio e a nem que isso o mate. Transformou-se assim em “Rumblefish/ Juventude há 15 anos, a decadência de um corpo dormência letárgica a inspiração na coisa inspirada. Inquieta” (1983), e em “O Ano do à maneira de Brando. Rourke é

4 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 RUDY WAKS/CORBIS OUTLINE de Mickey assumem uma dimensão fantasmagórica, eco de anteriores exemplos de rebeldia e sensibilidade à fl or da pele no cinema americano (Brando, Dean, Newman). Nasce aqui o anti-herói por excelência dos 80s.

The Pope of Greenwich Village/Iniciação ao Crime 1984 Stuart Rosenberg Ao lado de outra estrela em ascensão, Eric Roberts, Mickey volta a posicionar-se como um “elo perdido”, desta vez fazendo a ponte entre os continuadores do “Método” na Hollywood dos 70s - o fi lme é um sub “Mean Streets”, com Rourke e Roberts a substituírem Harvey Keitel e Robert De Niro - e a geração “brat pack” a quem servia de modelo em “Rumble Fish”. História de dois fura-vidas sonhadores às voltas com a máfi a nova-iorquina, vive da dinâmica entre os seus dois actores, com o registo interiorizado de Rourke, gingão e janota, a servir de contraponto ao histrionismo eléctrico de Roberts. E depois há a sequência em que Mickey se veste e bamboleia, com despudorada confi ança, ao som do “Summer Wind” de Sinatra...

O Ano do Dragão Michael Cimino A primeira vez como protagonista exclusivo, 1985 num policial duro, a marcar o regresso de Cimino após o desastre de “As Portas do Céu”. Rourke demonstra novamente a inclinação para as fi guras solitárias e de moral turva, na agora um palimpsesto grotesco sob Você não costumava pele. Os jornalistas europeus que vie- pele de um polícia de Nova o qual o antigo Rourke se dissipou. O entrar em fi lmes? ram para o “press junket” não preci- Iorque, veterano do Vietname, seu rosto amassado parece uma “más- Entra-se na sala do Blakes Hotel, em sam de se esforçar muito para pô-lo em luta contra o crime cara de lava endurecida”, como notou Kensigton – onde Rourke faz questão a falar, basta retomar onde a imprensa organizado de Chinatown. alguém, fruto das inúmeras cirurgias de ficar sempre que viaja para Lon- britânica o tinha deixado. “Numa A virulência e racismo (uma plásticas a que se submeteu por causa dres – sem saber o que se vai encon- entrevista, disse que se identificava guerra privada das fracturas que sofreu no boxe. O trar. Estamos no início de Janeiro, com o sentimento de vergonha em a vencer a todo corpo é um colosso excessivo, com vésperas da estreia britânica de “O que a sua personagem vive. Em que o custo, para cabelo comprido oxigenado e oleoso Wrestler”, a que a imprensa local tem sentido?” Rourke tem contado como, compensar a que e bronzeado de solário. dado destaque generoso. As descri- apesar de ter treinado intensamente foi perdida na Em “O Wrestler”, ele é a incarnação ções dos encontros com o actor para fazer as cenas de “wrestling” e selva asiática) física da América “white trash”, variam entre a irreverência politica- apesar de ter ficado feito num oito, da personagem suburbana – a ironia é que costumava mente incorrecta, com saudades do as cenas mais difíceis foram as que são inegáveis, ser um aristocrata, era isso que as jovem Rourke (Rourke à revista se passam no supermercado. O luta- tal como a outras personagens viam nele. “Ele é “Empire”: “For me, this whole crazy dor aceita trabalhar na charcutaria inadequação como realeza no exílio”, notava thing has never been about the fame de um supermercado para ganhar de Rourke, demasiado novo alguém em “Juventude Inquieta”. “Tu or the drugs or the money – it’s always algum dinheiro – até ao dia em que para o papel. O cabelo pintado portas-te como um bizarro sangue been about the pussy”) e o “mea um cliente o reconhece. de branco não chega e o azul, como um aristocrata”, dizia-lhe culpa” com a fragilidade à flor da “Eu não queria fazer a cena”, resultado é um “overacting” Faye Dunaway em “Barfly”. conta. “Acho que me recordava o deslocado, como se a anterior Rourke interpreta uma antiga estado em que vivi durante mais de contenção suave escondesse estrela do “wrestling”, cabeça-de-car- uma década. Quando se vive em Los uma acumulação de energia taz nos anos 80, um “has been” que “Uma vez, em Los Angeles ou em Nova Iorque somos destinada a explodir sem a ainda combate em ginásios manho- lembrados todos os dias que já não direcção necessária. sos. Apesar de estar consciente de Angeles, fui a uma somos importantes, que ninguém nos tudo o que perdeu, e pode perder loja de conveniência quer. Uma vez, em Los Angeles, devia Nove Semanas e Meia (depois de um ataque de coração, o ser uma da manhã, fui a uma loja de Adrian Lyne médico diz-lhe que corre risco de comprar um maço de conveniência comprar um maço de Último degrau na vida), é de uma resiliência e de uma cigarros – há sempre sete ou oito pes- subida ao panteão das dedicação a toda a prova, como se cigarros – há sempre soas na fila e um idiota gritou bem 1986 superestrelas. Apoiado fizesse o que nasceu para fazer. alto: ‘Ei! Você não costumava entrar na fotogenia de Rourke É difícil imaginar “O Wrestler” sem sete ou oito pessoas em filmes?’ E eu só pensei: “Fuck, e da sua “partenaire”, Rourke, não só porque as ressonân- deixem-me sair daqui!’ Ele começou Kim Basinger, e num arsenal cias com a sua história pessoal inves- na fila e um idiota a dizer os filmes errados e chamou- de efeitos publicitários, tem o filme de uma espécie de ver- gritou alto: ‘Ei! Você me pelo nome de outra pessoa... este “Último Tango em dade (estamos a ver uma ficção ou Estão constantemente a lembrar-nos Paris” dos pobrezinhos é estamos a ver um documentário sobre não costumava entrar que somos um fracasso, que batemos uma actualização do fi lme Rourke?), mas também porque, neste no fundo.” de Bertolucci ao sabor melodrama imediato, “in-your-face”, em filmes?’ Só pensei: Rourke impôs-se nos anos 80 como do hedonismo da “Me pairando sobre “clichés”, o actor é o um anti-herói existencial cheio de Generation”, segundo o que existe de mais subtil (os gestos “Fuck, deixem-me sair charme insolente, uma alternativa realizador de “Flashdance”. mínimos continuam a ser eloquen- aos “all-American boys” que eram a tes). daqui!’” maior parte dos actores da sua gera-

6 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 Crónica de uma relação escaldante entre dois estranhos, pouco mais fi ca do que uma colecção de vinhetas videoclipescas. CATHERINE CABROL/KIPA/CORBIS CATHERINE Apesar (ou por causa) disso, é o exemplo do “blockbuster” lustroso dos 80s e o “yuppie” misterioso e (claro) sorridente de Rourke consagra-o como um dos símbolos sexuais da década. Ainda que Basinger o chame de “cinzeiro humano”...

Angel Heart/Nas Portas do Inferno Alan Parker 1987 Barfl y Barbet Schroeder O apogeu da fama de Mickey, com o mundo a seus pés. Primeiro, não faz por menos e enfrenta, de uma penada, o Diabo e o “monstro sagrado” De Niro - como quem quer frisar a linhagem em que se insere - num híbrido faustiano de “noir” e conto de terror. O seu detective à procura de si mesmo é mais um caso de pantanosa ambiguidade feita por medida, num fi lme em que os rodriguinhos visuais de outro estilista incorrigível se colam melhor do que seria de esperar

É difícil ção (Tom Cruise e companhia). Em “Sin City” (2005), a adaptação da BD arranjar financiamento para o filme, imaginar “O Maio de 1985, a revista “Face” deu- de Frank Miller, foi o mais perto que mas os potenciais produtores recua- “Era muito ingénuo Wrestler” sem lhe a capa e o trono, proclamando: esteve de um “comeback”. Mas não vam assim que sabiam que Rourke em relação ao que Rourke, “Um Brando para os anos 80”. Ele chegou a acontecer. estava associado. Assim que aceitou porque as era um desses actores capaz de defi- “Tive uma carreira durante algum entrar no filme Rourke e o realizador pensava que devia ser ressonâncias nir um filme, um actor-autor ( Johnny tempo, uns cinco anos ou mais, e reviram o argumento “palavra a pala- com a sua Depp deve-lhe qualquer coisa) autodestruí-me por causa de regras vra” (segundo Aronofsky), de forma a profissão. Trazia história mesmo quando a filmografia não que estabeleci para mim mesmo, e a torná-lo mais pessoal para o actor. pessoal estava à altura. É uma das coisas que que tinham a ver com as minhas ori- Aronofsky contou que Rourke perso- comigo as regras com investem o surpreendem hoje: perceber que fez gens”, diz. A voz anasalada, suave, à nalizou todas as linhas de diálogo que filme de uma tão poucos filmes dignos de nota ou Brando, deu lugar a um timbre caver- diz no filme. que cresci, que eram espécie de falhados, mas elevou-se acima deles. noso – masculinizou-se (e não é certo “Quando Darren me pediu para as regras erradas. verdade; em Em meados da década de 80, era um que o regresso ao boxe não tenha sido fazer o filme, disse: ‘Quero que faças 1991, aos 34 dos actores mais desejados de uma tentativa de perseguir uma mas- isto, e não podes fazer aquilo...’. Não Tinha tudo a ver com anos, o actor Hollywood, e a partir daí a sua car- culinidade idealizada). “Estava-me parava de apontar o dedo à frente da virou as reira entrou numa curva descen- nas tintas para as consequências, e minha cara. Há 15 anos eu ter-lhe-ia ser duro, com respeito costas a dente. Começou a ficar notório tanto para a política da indústria de cinema, partido o dedo. Há pouco tempo per- Hollywood pelas escolhas embaraçosas (“Orquí- não tinha qualquer respeito por guntaram-me se eu podia ter feito o e orgulho, e isso não (depois de dea Selvagem”, “Harley Davidson and alguém que fosse uma figura de auto- mesmo papel há 15 anos e respondi dizer que the Marlboro Man”) como pelos “blo- ridade ou tivesse alguma coisa a ver de imediato: ‘sim’. Mas fiquei a pen- resultou bem em representar ckbusters” que recusava (“Os Intocá- com o financiamento ou a venda do sar nisso: não.” Hollywood. Pensei era “um veis”, “Platoon”, “O Silêncio dos Ino- filme. Tinha uma visão limitada, saída Em pessoa, Rourke parece o cru- trabalho de centes”, “Rainman – Encontro de do Actors Studio, de que o que fazia zamento entre um cowboy (as botas) que podia vencer o mulher”) e foi Irmãos”). Os papéis não lhe interes- só tinha a ver com representação. Era e um mosqueteiro (pêra e bigode). atrás da sua savam ou não eram suficientemente muito ingénuo em relação ao que Tem a camisa aberta até pouco acima sistema e o paixão de bons para ele – ganhou a reputação pensava que devia ser a profissão. do umbigo e bebe Evian directamente adolescente: o de difícil, arrogante, “um pesadelo”, Trazia comigo as regras com que pela garrafa, como se fosse cerveja. sistema boxe segundo Alan Parker, que o dirigiu cresci, que eram as regras erradas. A boca deixa entrever um dente de em “Angel Heart”. Em 1991, virou as Tinha tudo a ver com ser duro, com ouro superior. O dedo médio da deu-me costas a Hollywood (depois de dizer respeito e orgulho, e isso não resultou mão direita tem tatuado “Joe”, tri- cabo do que representar era “um trabalho de bem em Hollywood. Pensei que podia buto ao irmão mais novo que mor- mulher”) e foi atrás da sua paixão de vencer o sistema e o sistema deu-me reu de cancro há quatro anos coiro” Mickey e Loki adolescente: o boxe. Tinha 34 anos. cabo do coiro. Toda a dureza apren- e de quem Rourke diz ter Depois disso, só ouvimos falar dele dida na rua e nos desportos que pra- cuidado na fase termi- pelas piores razões (detenções, acu- tiquei não se aplicava à profissão de nal. As mãos parecem sações de violência doméstica). actor. Essa atitude temerária não foi inchadas. Os olhos Tarantino mandou-lhe o argumento benéfica, e também desenvolvi uma são o único sinal de “Pulp Fiction”, oferecendo-lhe o enorme armadura, física e mental, visível da sua papel de um ex-lutador de boxe (que uma dureza e uma alienação que na anterior exis- acabou por ir para Bruce Willis), mas verdade escondiam cacos que tinham tência. E tudo Rourke nem se preocupou em res- a ver com abandono e vergonha.” isto é uma ponder. Entretanto, continuou a acu- Darren Aronofsky, o realizador de versão franca-

mular más escolhas na filmografia. “O Wrestler”, passou um ano a tentar mente PIZZOLI/ AFP ALBERTO ao sobrenatural. Depois, em modo mais intimista, atira-se de cabeça à poesia de rua de Charles Bukowski, interpretando um alter-ego do escritor, num relato de uma existência nas margens da sociedade. Com a voz arrastada e uma linguagem MARIANNE ROSENSTIEHL/SYGMA/CORBIS corporal sempre ao “ralenti”, é o seu desempenho mais corajoso, emprestando uma insólita nobreza à fi gura “clownesca” de um bêbado a tempo inteiro e poeta nas horas vagas. De novo, há aqui uma qualidade etérea em Rourke, como que desligado do mundo à sua volta, e, entre álcool e lutas, a pulsão autodestruidora das suas personagens sobressai uma vez mais.

Homeboy/O Derradeiro Combate Michael Seresin 1988 Johnny Handsome/ Um Rosto Sem Passado Walter Hill Duas provas adicionais do lado masoquista e da vontade de correr riscos de Mickey, disposto a “apagar” as marcas da sua beleza. São também duas obras menores mas insolitamente proféticas e por isso essenciais num trajecto complexo. O primeiro é um projecto pessoal, onde Rourke, autor do argumento, dá largas à sua paixão pelo boxe - que praticara durante a adolescência a nível amador e a que regressaria pouco depois, já como profi ssional - e onde faz de pugilista envelhecido, 1989 “loser” incapaz de mudar de rumo mesmo com a vida em risco. No segundo, volta a crispação interior com novo “outsider”, um criminoso de segunda, desfi gurado e atraiçoado pelos parceiros, a quem é dada uma oportunidade de redenção via cirurgia plástica. “Thriller” violento, por um especialista em crise de inspiração, serve ainda assim para reforçar o charme amarrotado de Mickey .

Orquídea Selvagem Zalman King O começo do declínio. 1990 Variação ridícula O anti-herói existencial c de “Nove Semanas e Meia”, pelo rei do erotismo de pacotilha, faz regressar o Rourke garanhão, agora um milionário bronzeado e de lenço ao pescoço, que leva Carré Otis (com quem acabaria por casar) ao nirvana sexual. Nova polémica (esticam- se os limites do “softcore” e fala-se de uma suposta cena de sexo não simulado) e novo êxito, mas o fi lme é dizimado pela crítica. E Rourke, exibindo a sua vertente mais amaneirada, não se sai melhor, nomeado para o “Razzie” de pior actor do ano. O Motorcycle Boy a degenerar num Zezé Camarinha pretensioso? A seguir, renuncia à profi ssão e reentra no mundo do boxe aos 40 anos...

8 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 The Rainmaker/O Sabem, ele é como realeza no exílio Poder da Justiça 1997 Convidado Mickey Rourke falha sucessivamente, não é sucessivamente um falhado. Pode andar a Francis Ford Coppola desfigurar os seus “rugged good looks” em combates de boxe que o sangue derramado Buff alo ‘66 no ringue continua a ser azul. Vincent Gallo É o regresso à carreira 1998 de actor, 8 combates Samuel Úria* ou para a frente do espelho ensaiar um sorriso expectativas por, sei lá, o “Saw V”). I choose to wait como depois, sem derrotas mas à Mickey Rourke. As primeiras tentativas são um adolescente evangélico americano, mas confesso que com várias lesões e outras demasiado expansivas e a coisa descamba já salivo por essa apregoada pérola rourkiana. Não espero tantas plásticas. O resultado: Vpara o Bruce Willis. Relaxo (algumas um regresso em grande, porque esse já se pode ter um outro Mickey, de corpo contracções faciais à De Niro ajudam a consumado no filme “Sin City”. É verdade que “Sin City” musculado, cara deformada, desanuviar) e volto a tentar. Sei que o princípio teve o condão paradoxal de tornar a transposição de voz endurecida e nenhum brucewillisiano da coisa não andava longe: a técnica de páginas de papel para o cinema numa coisa chata, vestígio daquele sorriso... O sorriso do Rourke passa por um semelhante degustar da estanque e bi-dimensional, mas o Marv interpretado por primeiro a dar-lhe a mão é própria boca e é assim que chego à imitação satisfatória. Rourke está acima da fita. Rourke feio a fazer de um feio; o velho amigo Coppola, que Contudo não esqueço que um sorriso está para além da um desfigurado intensivamente maquilhado para o convoca para um papel sua mecânica. Quando saboreio a minha própria boca, interpretar um desfigurado. Do Motorcycle Boy de Coppola secundário. Ao advogado obviamente o gosto que sinto é o meu próprio - torna-se ao Marv de Rodriguez/Miller temos uma via sacra manhoso sucede-se outra amargo o sabor deste saber: não sou o Mickey Rourke. De chamada Mickey Rourke: um aprazível “misfit” a tornar-se criatura de repelente repente não há assim tantos motivos para sorrir. num deformado “misfit”, ambos condenados, ambos a viscosidade moral, o corretor “Sabes, ele é como realeza no exílio” é uma grosseira preto e branco, ambos maiores do que a vida. Desde que o de apostas da fábula tradução minha, que não tenho o “Rumble Fish” do David Bowie deixou os andrajos “glam” para ser um disfuncional de Gallo, num Francis Ford Coppola legendado. A frase é dita a meio do “crooner” engravatado que não víamos tão cabal quase “cameo”. Chegam, filme por um anónimo jogador de snooker que tenta transformação de borboleta em lagarta. Rugosa e no entanto, para relembrar descrever o Motorcycle Boy, o messiânico/sebastiânico/ esplêndida lagarta. o talento de Rourke para maughamiano/flautista-de-Hamelin/angelical/desditoso Se ouvirmos as falas de Mickey no “Rumble Fish” e logo se aventurar por terrenos personagem de Rourke em 1983. Se houvesse um Óscar a seguir no “Sin City” vamos experimentar um enleio que movediços e indiciar um para melhor vaticínio, esta frase teria sido nomeada; se apenas tem par nas audições seguidas de um disco do segundo fôlego como houvesse um exílio chamado Leonard Cohen dos anos 60 e outro dos anos 80. O que “character actor”, com uma Tenho os dedos “más escolhas de carreira”, aconteceu àquela voz? Como é que o tom mavioso e série de “números” então a frase teria certamente acriançado se tornou num áspero catarro de dragão? que parecem querer celebrá- cruzados para que o arrecadado a tal estatueta Rourke deve ter fumado mais que um Marlboro Man, lo como representante de profética. bebido mais que os financiadores do “Harley Davidson um individualismo muito Oscar de melhor actor Do principesco Mickey ao and the Marlboro Man”. Maus hábitos de um católico americano, espécie de desfigurado Rourke vão 20 devoto, republicano bushista, pugilista de cara retalhada. “tesouro nacional”. pare nas mãos do anos com material para lenda. Com tais qualidades é possível não torcer pelos seus Se por um lado aceitava papéis regressos triunfantes? E por pouco que me esteja a ralar Sin City velho Mickey falhados em fitas fracassadas, para a Academia de Hollywood, por pouco que queira Robert Rodriguez a sua história faz-se sobretudo saber se o “supporting role” vai para um finado, tenho os e Frank Miller da recusa de papéis certos em filmes bem sucedidos. A dedos cruzados para que o Óscar de melhor actor pare nas Depois da travessia 2005 galeria de rejeições imprudentes está tão recheada que me mãos do velho Mickey. do deserto (incluindo faz sublinhar o carácter lendário de tudo isto. Do pugilista Por causa de me estar a borrifar para a Academia, problemas fi nanceiros, de Willis em “Pulp Fiction” ao “yuppie” egoista de Cruise lembrei-me disto: tinha uns 14 anos quando os Óscares acusações de violência em “Encontro de Irmãos”; do escocês imortal de Lambert me consciencializaram do seu próprio descrédito. Foi na doméstica e o fi m do casamento em “Highlander” ao irredutível agente federal de Costner edição em que para filme do ano se rejeitou o “Pulp com Otis) nos anos 90, o lento em “Os Intocáveis”: tudo papéis oferecidos a Mickey, Ficton”, o tal que também o Mickey rejeitara. O prémio “comeback” tem a etapa recusados por Mickey. Até há o caso de personagens calhou ao “Forrest Gump”, fita onde um pateta ia seguinte na transposição para pensadas para Rourke que foram parar ao corpo de Eddie acidentalmente marcando a segunda metade do séc. XX. cinema da BD de Miller. A abrir Murphy, vá-se lá imaginar. Digam-me que a Kate Winslet Se bem me lembro, uma dessas marcas passava pela caminho para só abriu as asinhas na proa do “Titanic” porque Mickey invenção casual do boneco Smile, aquele círculo a ressurreição Rourke não esteve para isso e eu acredito. amarelo com um suposto sorriso universal. Em verdade como “leading Sabem, ele é como realeza. Mas por Rourke não vos digo, também Rourke teria relegado esse filme. man” em “O nutrimos só aquela simpatia institucional que se tem pelas Porque um sorriso não é um arco aberto para cima. Wrestler”, Marv, famílias reais: somos monárquicos convictos. Como se Quando degustarem a vossa boca e vos souber a Mickey o protagonista explicaria de outra forma o facto de não termos perdido a Rourke, saberão o que estou a dizer. da primeira esperança? É que realmente nunca a perdemos. Apontar Espero o “The Wrestler” com a curiosidade de saber o história do fi lme para o desajuste das suas escolhas é assumir que ele não quanto resta da expressão facial rourkiana antiga. Saber (e a melhor coisa está ajustado para o mau. Mickey Rourke falha quanto é que a patine das operações plásticas continua a nele), surge sucessivamente, não é sucessivamente um falhado. Pode roubar ao clássico esgar. Não vou chorar se tudo o que como o compósito perfeito andar a desfigurar os seus “rugged good looks” em sobrar daquele maravilhoso sorriso for um maravilhoso do “velho” e “novo” Mickey: combates de boxe que o sangue derramado no ringue sorriso implícito. Porque se há alguém capaz de destronar um anti-herói torturado, de continua a ser azul. a Gioconda só pode ser o Mickey. “Sabes, ele é como físico imponente e cara cheia Mickey Já há largos meses que ouço falar no “The Wrestler”. realeza no exílio”, disse o anónimo jogador de snooker, ao de cicatrizes, embrulhando a Rourke Apercebo-me do respeito e boas expectativas que acalento que lhe perguntaram retoricamente “Haverá alguma coisa sua masculinidade lacónica enquanto pelo filme quando, nem por segundos, me senti compelido que ele não consiga fazer?”. num código de valores muito “sex-symbol” a sacá-lo ilegalmente da internet (obviamente isto não é pessoal. dos anos 80 matemático, ou teria que admitir o meu respeito e boas *Músico e compositor l cheio de charme insolente

melhorada do que se vê em “O vendo o cão minúsculo, mas com Wrestler”. “Nesta altura do uma vulnerabilidade tão notória Em Dezembro, a revista “Vanity que não se pode deixar de pergun- Fair” pedia: “Dêem um Óscar a campeonato, tudo é tar quem é o protector de quem. Mickey Rourke”, relembrando a céle- importante. Só o facto Um jornalista fala em Óscares. bre transformação física de Robert Estará Mickey Rourke pronto De Niro para “Touro Enraivecido” e de estar numa sala para um KO? “Quão importante CURRY SHAUN notando que Rourke elevara a fas- seria?”, quer saber o jornalista. quia, “desperdiçando o corpo e a vida com pessoas que “Nesta altura do campeonato, tudo ao longo de duas décadas de forma a é importante. Só o facto de estar interpretar com convicção um ‘wres- querem falar comigo numa sala com pessoas que querem tler’ decadente”. Mais ou menos ao falar comigo novamente é impor- mesmo tempo, o crítico Richard Cor- novamente é tante. Antes, era só eu e a Loki. A Loki liss assinalava na revista “Time” que importante” acompanhou-me sempre. Houve um o filme “oferece a fascinante visão de momento na minha vida em que era um actor que é o seu próprio mons- só isso que eu tinha. É por isso que tro, o seu próprio Incrível Hulk”. ela é tão importante.” O prémio da Já ninguém estranha que este indústria homem colossal tenha junto a si um O Ípsilon viajou a convite da Luso- britânica de chihuahua. Rourke o actor agradeceu mundo cinema foi a aos seus cães quando recebeu o Globo última de Ouro e tem sido fotografado com “O Wrestler” estreia em Portugal na distinção Loki nos braços, a sua armadura envol- próxima quinta-feira antes do Oscar Maradona e Kusturica empate sem golos Emir Kusturica fi lmou “Maradona”, documentário sobre o futebolista argentino, e acha-se igual a ele. Victor Ferreira

Na Igreja Maradoniana, deus é se a odiá-los, sobretudo quando eles mes. Duas partes de um mesmo que o objecto do filme. Em que o joga- humano. Divino, mas pecador como tentam sacar os segredos privados de mundo: onde a pobreza não envergo- dor, sozinho perante as câmaras, todo o Homem. O baptismo é uma alguém. E agora vou fazer um retrato nha, antes faz parte do sofrimento que revela as luzes e sombras da sua vida cerimónia de enganos. Antes de pro- de uma das pessoas mais famosas do honra aqueles que trabalham para sair pessoal: o desgosto que tem por ter fessar a fé, é preciso imitar o golo duvi- planeta e tenho de desempenhar esse do buraco das suas vidas. Maradona perdido tantos momentos nas vidas doso que Maradona marcou, com “a papel que pertence àqueles de quem preferiu o pobre Boca Juniors aos das filhas (mais pela droga do que mão de Deus”, nos quartos-de-final do nunca gostei”, confessa no filme. milionários do River Plate? E depois? pelas viagens, ou jogos ou estágios), Mundial do México em 1986. Porque “Sinto-me um ‘paparazzo’ à espera Também Kusturica trocou o conforto por exemplo. O filme de Kusturica é esse foi “um acto de justiça”, a vin- que uma estrela acorde e se coloque de Deus pelo desassossego comunista bom quando traz ao de cima o que gança dos pobres e oprimidos. Na em frente à minha lente para que eu e depois este pela irrealidade do existe por baixo das tatuagens de Fidel Igreja Maradoniana não há santos, mas possa vender as fotos aos tablóides.” cinema. e “Che” que Maradona perpetuou no Emir Kusturica idolatra a santíssima A dada altura, assume que, ao fim O cruzamento destes dois universos seu corpo. Aí, sim, chega a ser revela- trindade. Eis o cordeiro que salva os de dois anos, ainda não percebeu existenciais pode, contudo, causar dor, muito mais do que quando Cinema fracos: Maradona - o bom, o mau e o aquele pequeno grande jogador que dissabores em alguns espectadores. repassa imagens já conhecidas e bana- revolucionário. iluminou tantos estádios e tantas vidas, Pode-se querer ver este filme porque lizadas nos “youtubes” e ecrãs televi- A primeira conclusão que se retira ao mesmo tempo que, em privado, se se gosta de futebol e Maradona, ou sivos. Como aquelas que recuperam de “Maradona”, documentário que entregava às trevas da cocaína. É de porque se gosta de cinema e de Kustu- o primeiro regresso de Maradona a estreou ontem em Portugal, é que o agradecer a honestidade. Porém, por rica. Em qualquer dos casos, poucos Nápoles - onde o futebolista conduziu realizador sérvio é um acólito do fute- debaixo da música que desempenha sairão satisfeitos. Quem vai à procura os “pobres do Sul” a uma vitória bolista argentino. “Maradona by Kus- um papel essencial no filme, há histó- da radiografia de Maradona, encontra retumbante sobre os “ricos e podero- turica” (título original em inglês) é rias que não saem da penumbra. Manu Kusturica em frente ao espelho. sos do Norte”. Imagens que são dignas difícil de catalogar. É um encontro de Chao a dedicar uma música a Mara- Dê-se um desconto às declarações do “No Comment” do canal Euro- egos: de um lado, Maradona, e do dona, cantando que “a vida é uma políticas de Maradona a favor de Fidel news, mas que aqui funcionam como outro Kusturica (ou “o Diego Armando tômbola”, serve para lembrar que a Castro (“um homem com grandes tapa-buracos, preenchendo os vazios Maradona do cinema”, como é apre- sorte e o azar fazem parte do jogo tomates”), as cenas ao lado de Hugo causados pelo facto de Kusturica não sentado no início do filme). É também como da vida. Mais difícil é demons- Chávez e Evo Morales, as investidas se sentir confortável na pele de “jor- uma viagem ao universo pessoal de trar por que é que os sortudos procu- contra Bush (“o lixo humano”), e as nalista” ou “investigador”. Todo o ambos, no tempo que dura uma par- ram muitas vezes o azar. cenas de animação em que o futebo- documentário é preenchido por estes tida de futebol. E por último é também lista ridiculariza, ao som de “God remendos que tocam diferentes pla- um panfleto político, um resumo ou Duas partes Save the Queen” (Sex Pistols), figuras nos da vida do jogador sem permitir, exemplo da vitória dos pobres sobre da política britânica e norte-ameri- contudo, que se compreenda a sua os ricos, da denúncia dos oprimidos do mesmo mundo cana, como Margaret Thatcher, o relevância. Quem não conhece Mara- contra os poderosos. “Maradona” começa com uma citação príncipe Carlos, Isabel II de Ingla- dona - e daqui a 20 ou 30 anos serão Na sua autobiografia, “Eu sou El de Baudelaire - “Deus é o único ser terra, Tony Blair, Reagan ou Bush. muitos - vê aqui a azáfama da sua vida, Diego” (Oficina do Livro, 2001), Mara- que, para reinar, não precisa sequer Esses trechos são os mais dispensá- sem a perceber. dona afirma: “Às vezes, penso que toda de existir”. Segue-se Kusturica em veis de toda a obra, porque são pura a minha vida está filmada, que toda a cima do palco, agarrado a uma gui- glorificação. Kusturica entende que Um longo ámen minha vida está nas revistas. E não é tarra, interpretando os primeiros acor- Maradona é um “Sex Pistol do fute- Pode-se encarar “Maradona” como assim, sabem? Não é assim. Há coisas des do tema-título de “O Bom, o Mau bol”, uma “vítima da cocaína”. É um uma colectânea de instantâneos. que estão só cá dentro, no meu cora- e o Vilão”, de Sergio Leone. É a pauta tratamento reverencial para com o Alguns dos quais raramente vistos, ção, e que ninguém sabe.” O docu- apropriada para esta viagem que antigo camisola número dez da selec- como os filmes familiares que desta- mentário de Kusturica não releva o começa na Argentina, com uma visita ção alviceleste, bem sintetizado no pam um pouco o véu sobre o universo que continua escondido. O cineasta a Villa Fiorito, terra onde o jogador momento em que o cineasta sustenta pessoal de Maradona, brincando com teve três anos (2005-2008) para pre- nasceu, nos arredores de Buenos que Maradona teria merecido um as filhas, ainda pequenas, às cavalitas. parar uma goleada, mas acaba por Aires, e inclui paragens que, à primeira retrato de Andy Warhol. Tempos em que Diego já trazia às cos- empatar. Sobretudo porque vista, são injustificáveis, como a Sara- Há passagens redentoras. Momen- tas o peso do seu nome, em que Mara- não gosta das regras do jevo de Kusturica. Argumenta o rea- tos em que os egos submer- dona era o maior do mundo. jogo que tinha pela frente. lizador que Fiorito poderia ser gem, deixando o documen- Não se fala da vida do actual selec- “Quando se é perseguido Gorica, tal como Maradona uma tário respirar a sua essência, cionador argentino em Barcelona (o pelos jornalistas, começa- personagem de alguns dos seus fil- sem que o narrador sufo- seu primeiro clube na Europa) ou Sevi-

Emir Kusturica defende que Maradonna podia ser uma personagem dos

JEAN-PAUL PELISSIER/ REUTERS JEAN-PAUL seus filmes VINCENT KESSLER/ REUTERS

10 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 s

lha (o seu último emblema europeu), É um encontro de nem se questiona, para além do uso de drogas, aspectos da sua vida pri- egos: de um lado, vada como as traições conjugais. Kus- Maradona, e do outro turica repesca imagens de Maradona deformado devido aos tratamentos Kusturica antidependências e chega a admitir que todo o seu trabalho esteve em (ou “o Diego Armando risco devido ao colapso do jogador. Certo dia perguntou à mulher de Mara- Maradona do dona, Cláudia, como é que ele sobre- viveu a isso tudo. A resposta de Cláudia cinema”, como é é mais interessante: “Porque é que apresentado no início ninguém pergunta como é que eu sobrevivi?” Perante isto, Kusturica do filme). É também conclui que não percebe nada de mulheres. Um olho crítico concluiria uma viagem ao que não estava a fazer bem o seu tra- balho. universo pessoal No fundo, “Maradona” é uma ode que só não se limita a rezar a versão de ambos, no tempo adulterada do Pai-Nosso criada pelos VINCENT KESSLER/ REUTERS que dura uma fiéis da Igreja Maradoniana porque isso não chegaria para fazer um filme partida de futebol de 90 minutos. Kusturica oferece um palco a Diego onde este ataca as estruturas de futebol (Havelange, antigo presidente da Federação Inter- nacional de Futebol, “era um nego- ciador de armas”, enquanto Blatter, presidente actual, “vende as balas”), mas não o questiona sobre como con- viveu com a máfia napolitana. O filme é uma sequência de deferências, um longo ámen. Emir sustenta que Jorge Luís Borges não contou com Maradona quando um dia disse que os argentinos lhe faziam lembrar barcos amarrados num porto. Para Kusturica, Maradona foi (ou é) um barco sem amarras. Comparando esta obra ao filme biográfico “La Mano de Dios”, um “biopic” apresentado pelo italiano Marco Risi em Cannes, em 2006, ou à sua autobiografia edi- tada em livro, dir-se-ia que a âncora deste “Maradona” é um Kusturica (um pouco) à deriva.

Ver crítica de filmes págs. 42 e segs

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 11 E eis que, em 2009, Morrissey surge seus sentimentos”. Mas, “se calhar, nu, literalmente, na capa interior de engana-nos a todos e tem montes de “I’m Throwing My Arms Around sexo, droga-se, diverte-se imenso”. Paris”, o primeiro “single” do novo Simpson reconhece que Morrissey álbum, “Years of the Refusal” (OK, “parece diferente” do que era nos Smi- mentimos: há um disco de vinil a ths, mas lembra que “o exibicionismo tapar os órgãos genitais). O outrora é basicamente o mesmo - porventura franzino, nada musculado e depilado agora há uma vontade de dizer: ‘Sim, vocalista dos , surge é assim que sou hoje, lida com isso e entroncado, sem receio de exibir as adora-me por ser assim, como adora- pilosidades corporais, numa imagem vas antes’. O trabalho do Moz [a alcu- que de misterioso tem pouco (podia nha com que os fãs se referem a Mor- ser a capa de um disco punk orgu- rissey] sempre teve um lado atrevido, lhosamente insolente). descarado, exibicionista. E sempre Uma mera manobra publicitária de teve muito sexo, muito dele gay”, um artista com quase 50 anos? Uma acrescenta. É também uma questão assunção de que afinal é mais um de afirmação do Morrissey pré-cin- entre os homens, para infortúnio dos quentão (faz meio século em Maio): fãs mais dedicados? Ou mais um sinal “Tal como na capa do novo álbum [em de um artista que tem feito a sua car- que aparece com um bebé nos braços], reira num permanente jogo de tensão está-se a justapor à juventude, a tomar entre o que projecta (dúbio, contradi- consciência, de uma forma que poucos tório, misterioso) e o seu real signifi- ‘performers’ fazem hoje, de que já não cado? A “persona” Morrissey coincide é um jovem. Mas também de que ainda com o homem Steven Patrick Morris- não cresceu verdadeiramente”. sey? E será que isso interessa? “Entre as pessoas que eu queria ver semi-nuas não está o Morrissey”, ri-se O exibicionismo é o mesmo Pedro Mexia. Para o crítico literário, A Mark Simpson, autor de “Saint Mor- director interino da Cinemateca e fã rissey” (2004) e, entre outras activida- dos Smiths (a sua banda favorita), des, comentador no jornal britânico Morrissey tende a ser “primário” ou “The Guardian”, não interessa saber a directo nas provocações, uma espé- verdade. A “psico-biografia” (como ele cie de vingança em relação ao misté- lhe chama) que escreveu é reflexo disto rio das letras. “É melhor actor do que mesmo: “Nunca conheci Morrissey, cantor”, acredita David Bret, autor nem os seus amigos. Não quis conhecer de dois livros sobre Morrissey. “Acre- a realidade, não quis ser contaminado dito que ele não come carne, mas por ela”, diz este especialista em cultura tudo o resto é ‘persona’”, refere. Ao pop e masculinidade (foi o primeiro a posar nu, parece “uma piada”: “Está usar o termo “metrossexual”). Simpson a exibir a sua sexualidade, está a dizer partiu das letras e das entrevistas do ex- aos fãs que sempre foi assim, mas que Smiths para escrever algo “muito sub- eles foram ingénuos ao ponto de acre- jectivo, pessoal e louco”: a perspectiva ditarem nos disparates que ele lhes de um fã, no fim de contas, a perspec- disse no passado”. tiva que, ao que diz, Morrissey gostaria de ler. “Será um erro levar muitas can- As máscaras de Moz ções à letra, mas na maior parte dos A fotografia que motiva tanta conversa casos ele parece estar a falar sobre os é mais um dos vistosos actos públicos

Despe-se na capa interior do novo disco, “Years of the Refusal”. Mas permanece i Nisso estão de acordo fãs e b Morrissey está nu Música

12 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 de Morrissey, que constituem um “Acredito que não primeiro “single” do novo álbum (o George Eliot, Wilde e Samuel Beckett. “corpus” que corre paralelo à música refrão - “I’m throwing my arms “Os textos que já existem sobre Mor- e que com ela se relaciona, num todo come carne, mas o around all of Paris because only stone rissey tendem a desvalorizar as quali- repleto de contradições. Eis algumas: and steel accept my love” - é miséria dades estéticas do seu trabalho e, num é das pessoas mais adoradas do resto é ‘persona’. Morrissey “vintage”). A “nudez deste esforço de ‘destapar’ o artista, negli- mundo e continua a cantar a dor de homem de quase 50 anos, essencial- genciam a arte”, argumenta. Parado- não ser amado, é o literato que arma Está a exibir a sua mente a chorar para nós”, deixa xalmente, diz Hopps, “fazem-no pare- polémicas com outros músicos, o Simpson perplexo. cer menos estranho”. Mark Simpson furioso vegetariano e fã de Obama que sexualidade, está Ao contrário de Simpson, Brown responde, dizendo que Hopps tem “a tem no currículo declarações em que a dizer aos fãs que ou Bret, Gavin Hopps, autor de “Mor- perspectiva de um académico”, muito alguns vêem racismo, é o cantor pop rissey: The Pageant of His Bleeding diferente da sua, a de um fã. “Morris- misterioso com letras brutalmente sempre foi assim, mas Heart” (edição agendada para Abril), sey, ao contrário da maioria das pes- directas. A figura é tão complexa que não quis aproximar-se do “retrato soas, não cedeu ao que vende. Está os quatro especialistas na sua vida e que eles foram biográfico, nem chegar ao homem sempre empenhado naquele conceito obra que o Ípsilon entrevistou por por trás das letras”. Porquê? Porque de si próprio. Por causa disso, os seus telefone (Simpson, Bret, Len Brown e ingénuos ao ponto de Morrissey é “inacessível”, “encena fãs tornam-se exclusivos”, afirma. Gavin Hopps) divergem em pontos uma certa intimidade, convida a esse Mexia diz que o ex-Smiths “tem fundamentais - alguns lançam até far- acreditarem nos tipo de leitura, mas tal não significa uma certa licença poética” para ser pas sobre o trabalho dos outros. disparates que lhes que ela se possa fazer”. Arruma-se a esta soma de contradições. A forma Len Brown, que conhece Morrissey pessoa e fica-se com a “persona”, um “mais produtiva” de encarar Morris- há mais de 20 anos (entrevistou-o disse no passado” “conjunto de tradições”: “é tímido, sey, para o crítico literário, é pelo muitas vezes) e é autor de “Meetings mas conta tudo e diz o que quer; é “discurso do ‘outsider’, do incompre- with Morrissey” (2008), considera David Bret, autor de melancólico, mas é divertido; o endido”, em detrimento de exercícios que o princípio de Oscar Wilde (“A público adora-o e diz-se não amado. psicanalíticos a partir do que ele vida imita a arte, muito mais do que dois livros sobre É sempre isto e aquilo. Não precisa- revela (ou finge revelar). a arte imita a vida”) se aplica inteira- mos de fazer sentido de tudo isto”. Simpson, assumidamente gay, vê na mente a Morrissey. Lembra a canção Morrissey Para Hopps, que é investigador na recusa de uma definição sexual de “Christian Dior” (“You wasted your universidade escocesa de St Andrews Morrissey (“podemos dizer que ele life/On grandeur and style/And e especialista em literatura romântica não é ‘straight’”, mas não que é gay, making the poor rich smile”), que (os seus colegas riem-se da admiração acredita) uma “declaração positiva”. “celebra a importância de alguém intensa que ele tem pelas letras de “Esta ideia de que ele devia assumir- sacrificar a sua vida pessoal pela arte” Morrissey), é um “disparate” se.... Mas assumir-se como? Ele já o e a “importância de focar - para se ser inglesas, mas ao mesmo tempo aquilo achar que existe uma “pessoa fez. Assumiu-se como um estra- artista tem que se o ser 24 horas por é mais ou menos válido para qualquer explicável” pelas letras. nho, um ‘outsider’. Ser ‘strai- dia”. Os heróis de Morrissey (Wilde, jovem adulto ou adolescente. É a “Toda a gente que estudou ght’ não é mau, mas não ser James Dean, Humphrey Bogart) “tam- grande força dele”, refere Mexia, que literatura sabe que isso é ‘straight’ tem muito a ver bém foram assim”. Nessa canção, um vê no cantor inglês alguém “extrema- um disparate. No centro com criatividade”. lado B do “single” “In the Future mente directo”, que diz “aquelas coi- do trabalho dele está uma É o “ídolo anti-pop”, When All’s Well” (2006), o próprio sas que não se devem dizer”. “Uma preocupação real com a conclui Mark Simpson. “É o Morrissey assume: “I discipline my coisa muito adolescente, óptima.” escuridão. Não acho que inverso das restantes celebri- days just like Christian Dior”. Para David Bret, o Morrissey soli- seja um truque para entreter ou dades, que é suposto serem Para Mexia, “é muito pouco interes- tário e miserável é “um truque” de fazer dinheiro. O erro é ver nes- transparentes. Suspeito muito sante saber se é fingimento”, mesmo uma figura pop que vive desta ima- sas letras Morrissey num canto que sabemos menos dessas que reconheça existir “um lado de gem. Simpson não acredita nesta a chorar”, esclarece. celebridades do que sobre Mor- ambiguidade interessante”, um “jogo hipótese: se o cantor “quisesse ven- No livro, Hopps faz a análise rissey, que esconde tanto”. autobiográfico” que fascina e que per- der procurava a novidade”, argu- críticas das letras de Morrissey mite a Morrissey “chegar a vários menta. Dá o exemplo da letra de “I’m e compara-as com as obras de Ver crítica de discos págs. 31 e públicos”. “Há muitas referências Throwing My Arms Around Paris”, o escritores como Lord Byron, segs.

e indecifrável, uma das personagens mais misteriosas da música popular. e biógrafos. Pedro Rios u mas indecifravel

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 13 Jay Reatard Um murro e uma

Música revelação Na Memphis em que nasceu tudo era feio, aborrecido e deprimente. Salvaram-no o punk e o garage-rock. A história não é propriamente original, mas Jay Reatard transformou a insatisfação em algo criativo. “Singles 06-07” e “Matador Singles ‘08” são uma revelação. Mário Lopes

Jay Reatard grava desde 1998, data Compulsivo em que, adolescente de 18 anos, edi- Daí para cá Jay Reatard não consegue tou “Teenage Hate”. Desde então, parar, não quer parar. Metódico e não mais parou de produzir álbuns e hiperactivo, diríamos que a sua obses- singles e de se dividir por sabem-se são pelo trabalho é uma protecção. lá quantas bandas - a sua discografia O adolescente que, aos 15 anos, que- é mais complexa que a árvore gene- ria estar em qualquer lugar que não alógica de monárquico convicto. o seu quarto, arranjou forma de esca- Começou pelos Reatards e passou por par permanentemente: “Ficaria stres- uns Lost Sounds, uns Final Solutions, sado se estivesse na porra da praia Terror Visions ou Angry Angles. sem nada que fazer. Fui construído O nome de cada uma delas é, desde assim. Já não há ligar e desligar. Todos logo, uma indicação do que se passa os dias acordo e tenho que trabalhar na cabeça de Reatard. A sua música em qualquer coisa. Não há qualquer é raiva e frustração, são anti-canções razão para tirar férias porque, quando de amor intituladas “You mean o faço, ganho apenas duas semanas nothing to me”, são violência meta- de trabalho a acumularem-se.” fórica (entram os zombies de “All “Singles 06-07”, compilação de wasted”) e um “no future” apregoado título auto-explicativo (agrupa singles em refrão pop (lembramo-nos de e EPs editados entre 2006 e 2007 na Kurt Cobain ao ouvir algo como In The Red Records), e “Matador Sin- “you’re always wanting more / it’s gles 08” (exacto, colectânea dos sin- such an useless bore / but you’re gles lançados pela Matador em 2008), always wanting more”). chegaram a bem mais gente desde Em 2007, explicou desta forma à que um murro em concerto em webzine Terminal Boredom o Toronto ganhou visibilidade no You- negrume implícito na sua música: Tube. Não foi, como sempre acontece “Viver numa cidade de merda [nas- nestas situações, um caso isolado. ceu em Memphis] leva a que tudo o Durante algum tempo, parecia que que faço soe bastante negativo. Para parte do público se deslocava aos alguns isso será mau, mas é como me concertos de Jay Reatard para assistir sinto a maior parte do tempo. Não há “in loco” ao fenómeno “músico- muita esperança por aqui, mas isso espanca-membro-do-público”. Visto resulta em música real. Não quereria à distância, isso até se revelou posi- estar noutro sítio que não morto.” tivo - dessa forma, toda a gente come- O seu percurso começou a trans- çou a prestar-lhe atenção. formar-se em algo sério quando lar- Na Memphis onde nasceu, diz Rea- gou os mil projectos em que se dividia tard que tudo era feio, aborrecido e para tomar em mãos o controlo da deprimente: a família que não o com- sua música. Eis o objectivo: “Escrever preendia, a escola que o aborrecia, canções que soem alegres mas que, os amigos que não tinha. O seu refú- obviamente, não o são.” Em 2006, gio eram discos de punk e garage- com a edição do álbum “Bloody rock. Deles se alimentou e deles vive Visions”, passou a assinar como Jay hoje em dia. A história, desde os Stoo- Reatard. O passado estava marcado ges e antes deles, não é propriamente no nome escolhido - nasceu Jay Lin- original. O segredo, naturalmente, dsey, mas assumiu o nome da sua está no talento que permitiu a essa primeira banda como sobrenome, insatisfação, a essa ferida aberta, tor- seguindo o exemplo dos Oblivians, nar-se algo criativo. heróis do garage-rock que eram a sua Jay Reatard, criador compulsivo, banda preferida na adolescência. homem do underground punk e do Concretizando: desde que editou rock’n’roll visceral, tipo que grava “Teenage Hate” em 1998, passou de com os Deerhunter e que conhece o punk-rocker lo-fi a inspiradíssimo underground e a sua genealogia de criador de canções onde a urgência trás para a frente, é uma descoberta do rock’n’roll vive paredes meias com entusiasmante. O famoso murro? Por- uma sensibilidade pop que faria Joey menor insignificante. O homem dá Eis o cenário de um concerto normal sonoro, tão sonoro que se ouve bem “Ficaria stressado se Ramone dar saltos de alegria, que mais de duzentos concertos por ano. de rock’n’roll: uma banda de três entre a chinfrineira da banda numa faria Marc Bolan convidá-lo para uma Fazendo as contas, um par de lamba- gajos em palco. Ritmo rápido, um má gravação alojada no YouTube. estivesse na porra da colaboração, que homenageia os Go das, na escala rock, é uma percenta- guitarrista a disparar riffs para o povo Assim se tornou Jay Reatard instan- Betweens e idolatra os Devo - os pri- gem de violência a roçar o ridículo. que salta, outro guitarrista, que é taneamente famoso (além do under- praia sem nada que meiros foram alvo de versão após a Já as vinte e muitas canções de “Sin- também vocalista, a berrar sobre ground garage, entenda-se). Havia o morte de Grant McLennan (“Don’t gles 06-07” e de “Matador Singles todo o ruído. Alguém invade o palco vídeo para a criação do mito, havia fazer. Fui construído let him come back”), os segundos 08’” são uma colecção de pérolas de e nele se demora por alguns segun- uma colectânea, “Singles 06-07”, que levam-no a exclamar coisas como neurose rock’n’roll que nada têm de dos, dançando ébrio e saltitante. Pre- lhe dava consistência - e agora há assim. Já não há ligar “neste mundo pós-Devo, qualquer insignificante. Apresente-se então Jay para-se para o obrigatório “mosh” e outra, “Matador Singles 08”, que nos e desligar” pessoa que tente conjugar imagens Reatard: um murro e uma revela- recebe ajuda inesperada. O vocalista faz esquecer o murro e concen- com música vai falhar miseravel- ção. que é também guitarrista, Jay Rea- trarmo-nos exclusivamente na mente. Tudo o que os Devo fizeram tard, presenteia-o com um murro música. era perfeito”. Ver crítica de discos pág. 31 e segs.

14 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 EnsembleEn InterconteInInterconntercontt temporainn SEX(-<;L;H;?HE ('0&&I7B7IK==?7

FEHJH7?J@ED7J>7D>7HL;O Whl[o O regresso à Casa da Música do mais prestigiado agrupamento mundial de música contemporânea

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alcultur encontros cultideias® Tem um exíguo vestido negro. Um Promete aparições desgarradas junto ao antigo nência de uma declaração. A cantora Chegasse. Acrescentou ao samba um rio de suor no pescoço. E uma abun- marido Garrincha, entra em cena que em 1963 deu a conhecer ao pouco de jazz. dância de movimento que transborda inebriar. “Queridos, “limpa”. “Bem maquilhada, é claro. mundo o tema “Só Danço Samba” qualquer indumentária. “Eu não Muito perfumada. Quero estar gostosa ensaia uma síntese. Já trata a vida por BBC e “ a plateia a vibrar” tenho idade, meu filho.” O registo bebam-me. Uma para o público.” tu, dispensa grandes prólogos. Não Elza Soares não é purista. Aos 71 anos, etário não importa. Não pode sequer A caminho dos 72 anos, cumpridos gosta muito de sair à noite, para a o novo espectáculo demonstra-o. “As importar. música já é capaz a 23 de Junho, promete inebriar. “Que- balada. Garante que sempre foi muito canções ‘Salve a Mocidade’ e ‘Se Acaso “Quer saber a verdade?” A urgência ridos, bebam-me. Uma música já é suculenta. “Faço os shows, vou a um Você Chegasse’ ficaram um desbunde. da pergunta invalida interjeições. Elza de embriagar... capaz de embriagar... Imagine o reper- bom restaurante, tomo um vinho deli- E, invariavelmente, eu gosto da mis- Soares quer que a soltem, que a lar- Imagine o repertório tório todo de uma só vez.” Não cantou cioso e beijo muito a boca do meu tura.” Já em 2002, com o álbum “Do guem. Que a deixem livre no palco. todo, nem metade. Mas corporizou a marido.” O actual tem 26 anos. Cóccix Até O Pescoço” flexibilizou rit- “Eu faço o resto.” É a diva da bossa todo de uma só vez” advertência. “Elza é uma mito de ópera Em palco, dança, catalisa a plateia. mos. O trabalho, em colaboração com negra. Desafia com o olhar, com o gin- a cantar samba, a cantar o Brasil e a Canta Boat, um hino. Uma, duas, qua- Caetano Veloso, Chico Buarque, Car- gar do corpo. Um passo de samba, esquizofrenia deste povo que tão bem tro catarses feitas de palmas. Um sor- linhos Brown e Jorge Ben Jor valeu-lhe aplauso. Um balouçar de anca ao com- conhece.” Ivanildo Rubens continua a riso malandro, o rodopio. Afinal a ener- uma indicação ao Grammy. Há um passo do funk, explosão de palmas. dançar. “É uma figura, não é? Um vul- gia que demonstra tem uma origem. esforço para amenizar os momentos Plateia de pé, outro menear de corpo. cão.” Esta sexta-feira está na Casa da Uma génese dúplice. “Vem das mãos de maior mediatismo internacional. Olhar feroz, sorriso coquete. “É som Música, no Porto, a convite dos Banga- de Deus. Se não esquecer de pedir a “Em 2000, fui distinguida como de preto, de favelado, mas quando eu lafumenga, grupo do vocalista, cava- papai do céu todos os dias que te aben- ‘Melhor Cantora do Universo’ pela canto, ninguém fica parado.” quista e compositor Rodrigo Maranhão. çoe, que te beije, que te guarde, che- BBC, quando me apresentei num con- Ninguém ficou. Ninguém podia O mesmo discurso desempoeirado. gará à minha idade como eu, se bem certo com Gilberto Gil, Caetano Veloso ficar parado. Alguma coisa aconteceu “Os portugueses, como o meu pai, vão que eu não tenho idade.” Tem também e Virgínia Rodrigues, Gal Costa, Chico em todo e qualquer coração. Bastava adorar. Isto é ritmo de esquentar a outra, mais profana. “A vida é amor, Buarque. São momentos, o que me cruzar “Ipiranga com a Avenida São alma e deixar de frescuras, isto é o afecto, alegria, brilhos nos olhos, a importa é ver a plateia a vibrar. Isso é João”, naquela quarta-feira à noite. ritmo da vida”, diz ao Ípsilon. tesão. Só temos que a viver.” eterno.” Elza Soares está no palco do Bar Salto alto, saia acima do joelho, Gosta mais do epíteto que se lhe Bhrama, ali no cruzamento do centro Ensaio de síntese unhas de vermelho, Elza Soares colou à pele em 1961, quando lançou de São Paulo celebrizado por Caetano Vai estrear o novo espectáculo em supera poses de bailarina. “As rosas o álbum “Bossa Negra”. “Amo quando Veloso. A mulher de voz rouca e instantes. Dá um trago no sumo. não falam, simplesmente exalam...”. me chamam diva da Bossa Negra. Diz vibrante, que se não cansa ao cantar Sorri, esfuziante. “Está bárbaro.” Ou Piscar de olho. “Ai, eu vou levar a tudo, não é?” Em forma de antecipa- “Se Acaso Você Chegasse”, está em sinistro, no léxico carioca. Elza Soa- Portugal uma suculenta Elza Soares, ção, um suspiro na conversa com o cena. E esquece-se de beber água. res condensa dois dos grãos mais vou mesmo.” O termo é recorrente. Ipsílon. “É tão bom o palco, sentir o “Tamanha é a adrenalina.” contrastantes do celeiro do Brasil: a “Sempre fui suculenta, vivi e vivo a sangue a ferver, o desejo, a magia dos Estreia um novo espectáculo, “Uma torrente idiossincrática das favelas vida sem freio [travões], canto o meu corpos a libertarem demónios.” Canja de Elza”. Uma viagem por 50 do Rio de Janeiro, onde nasceu em povo, a minha e a vida dos outros.” O relógio não pára. O bar da anos de carreira com a liberdade de 1937 e cresceu durante duas déca- Adolescente, a caloira cantora da Brhama cheio, Elza Soares ansiosa gesto a roçar o ingénuo. Um tom naive das, e a rota europeizada da elite de favela carioca participou num espec- para estrear o novo espectáculo, 50 com as cores pecaminosas das favelas São Paulo. “Sou do Rio, carioca, táculo do músico brasileiro Ary Bar- anos depois do início. “O que dizer à do Rio de Janeiro. Samba e funk não tenho a fúria do mar e a poesia da roso. Foi um prenúncio. “O povo plateia?” Resposta, de novo imediata. cabem no tempo. Quanto mais com favela. Tenho sangue do povo.” E adorou, nunca mais parei de cantar”. “Eu quero muita ressaca. Bebam-me, swing e soul. O palco é uma extensão uma energia sabe-se lá vinda de onde. No fim da década de 1950, aos 20 sem moderação.” da casa, do quarto. “Ai, sou tão livre.” “Não dá tempo para parar, se traba- anos, fez uma digressão pela Argen- Como “sempre”, Elza, o ícone do lhar sempre fica reluzente.” tina, com Mercedes Batista. Celebri- Ver agenda de concertos pág. 35 e samba que provocou o Brasil com as Os olhos luzidios insinuam a imi- zou a primeira música Se Acaso Você segs. Elza Soares voltou a cantar para não enlouquecer Esta sexta-feira, a diva da Bossa Negra está na Casa da Música, no Porto, a convite do grupo Bangalafumenga. A caminho dos 72 anos, estreou em Janeiro um novo espectáculo em São Paulo. “Eu quero muita ressaca. Bebam-me, sem moderação” Nuno Amaral, em São Paulo Música

16 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 Pop portuguesa e a bossa dela Chama-se Márcia Barros e dá voz a um projecto que funde pop portuguesa e bossa nova. Brasileira? Sim, mas teve muito Portugal pelo caminho, mesmo antes de nascer. Nuno Pacheco Música

Brasileiros a cantar música portu- de Música Santa Cecília, no Rio de moda feminina chamada O Vati- “Bossa Nossa”, meiro, em fazer um disco de bossa guesa não tem sido coisa habitual. Janeiro, durante cinco anos. cano. só com música dos Xutos & Pontapés. Mas nos últimos anos já houve pelo O pai era ligado à música? Não, ele que agora chega às Chamei um pianista que já trabalhava menos dois projectos que deram que pagava os cursos porque gostava de Supertramp e fusão comigo, experimentámos, e a Sony ouvir e que pensar: os Couple Coffee ver os filhos ganhar conhecimentos. A música não era para ali chamada. lojas, foi ideia dela: quis logo ficar com o trabalho. Mas dedicaram um disco inteiro à obra Tanto podia ser música, inglês ou Até que... “Uma vez, no Algarve, o sugeriu-nos começar por um apa- de José Afonso e Myléne Pires fez o computadores. Já o avô materno era Rodrigo d’Orey estava a tocar no Tri- “Porque estava a nhado geral. Deu-nos trinta e tal mesmo com os Madredeus. outra história. “Ele tocava os instru- plicado, onde hoje é um banco. E músicas para trabalhar e saiu isso.” Para provar que não há duas sem mentos todos sem ter aprendido: tocava Supertramp, ‘The logical notar muita fusão “Isso” são onze canções onde há três, surge agora “Bossa Nossa”, pro- violino, violão, acordeão. Tinha uma song’. Mas não cantava. Perguntei se de ritmos, Thievery Xutos, Madredeus, Abrunhosa, Del- jecto sem rosto que alinha num só banda, mas nunca trabalhou profis- ele queria ajuda, subi ao palco e can- fins, Jorge Palma, Trovante, Santos & disco onze canções do reportório pop sionalmente na música.” Mas tinha-a tei do princípio ao fim, sem desafinar. Corporation, Pecadores, Rádio Macau, Sétima nacional, mas vertidas, todas elas, na alma, apesar de, na verdade, ser Conhecia de cor muitas canções dos Legião, GNR, Paulo Gonzo. E bossa para o ritmo e o tom da bossa nova. estofador, com uma pequena oficina. Supertramp, foi muito fácil. No final, Nouvelle Vague, nova. Sem rosto? Na capa sim, mas esprei- A alma era o hobby. ele apresentou-me como ‘Roger Mistura na música, mistura na vida: tando a contracapa, à frente de uma Márcia encheu então o seu espaço Hodgson’.” Bossa n’Stone. “Os meus avós paternos eram portu- banda de músicos portugueses, surge de estudo com música. “O curso tinha Depois, no Porto, conheceu uns gueses, de Tondela, os meus bisavós o nome de uma brasileira que já banda, jograis, teatro, e eu queria amigos que começaram a tocar lá em Discos de fusão maternos eram de Aveiro e Trás-os- conhecíamos de um disco anterior, fazer tudo”. Como era muito extenso casa bossa nova. “Como é que esses e fusão para a bossa Montes, casei no Brasil com um por- “Márcia In Bossa” (2001). O seu e inconciliável com o resto, teve de portugueses podiam tocar bossa nova tuguês, tenho dupla nacionalidade, nome? Márcia Barros, nascida no Rio trocar por aulas particulares. “Esco- assim tão bem, como os brasileiros? nova” os meus filhos também, o primeiro na segunda metade dos anos 60. lhi um curso de administração de Eu não entendia. Mas eles tocavam e nasceu lá, o segundo cá. Tanto estou E o que faz Márcia cantar Xutos, empresas. Fui fazer um teste voca- cantavam como se fossem cariocas e por dentro da cultura portuguesa Jorge Palma, Madredeus ou Sétima cional e deu economia, administra- eu cantava com eles aquelas músicas como por dentro da cultura brasi- Legião? É uma história que começa ção e música. Como música já que me cansei de ouvir na infân- leira, para mim é como se fosse uma no Brasil, há muitos anos. Na infância tinha...” Ficou-se pela administração, cia.” espanhol (prontos mas não editados) coisa só.” dela. “O meu pai perguntou aos filhos “que é sempre necessária.” Nessa altura, Márcia já ia no e começou a participar num festival Márcia Barros, agora, mostra o qual o instrumento que gostavam de Conheceu, aí, o actual marido, um segundo filho e já tinha 28 anos. Deci- de boleros em Cuba. disco ao vivo pelas Fnac’s do país. E aprender, que ele pagava o curso.” português “que cursava hotelaria”. diu então ir para a escola de jazz do “Bossa Nossa”, que agora chega às já andam a marcar-lhe outros palcos Os filhos eram um rapaz e duas rapa- Casaram. “E tivemos um filho lá, Porto, onde estudou três anos. lojas, foi ideia dela: “Porque estava a onde, além do que está no disco, can- rigas, sendo Márcia a mais nova. enquanto estudávamos”. Vieram “Comecei a fazer canto com a Fátima notar muita fusão de ritmos, Thievery tará canções que deixou de fora. “Escolhi o piano porque gostava. para Portugal depois (ele é empresá- Serro e piano com o Eugénio Barrei- Corporation, Nouvelle Vague, Bossa Além de “alguma genuína bossa nova, Gosto até hoje de ouvir, recitais. O rio no sector) e foi assim que ela che- ros.” Depois profissionalizou-se. n’Stone. Discos de fusão e fusão para Tom Jobim e isso.” Os Bossa Nossa, que eu sei tocar no piano é clássica. gou ao Porto, com 24 anos e um país “Márcia In Bossa” (2001) foi o a bossa nova. Ora como estava já cá já sabem, têm a cara dela. E uma bossinha ou outra.” Foi assim novo pela frente. Como já trabalhara único disco que viu lançado em Por- há muitos anos e conhecia bem as que ela frequentou a Conservatória em moda no Brasil, abriu uma loja de tugal. Gravou mais três discos em músicas portuguesas pensei, pri- Ver crítica de discos pág. 31 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 17 MARCOBOREGGREVE Música

Christopher Hogwood Uma questão de estilo Christopher Hogwood acha que se perde demasiado tempo com obras conhecidas. As efemérides musicais de 2009 coincidem com compositores cruciais da sua carreira como Handel, Haydn, Mendelssohn e Martinu, mas o eclético maestro britânico recusa-se a trilhar caminhos óbvios. No domingo dirige pela primeira vez a Orquestra Metropolitana de Lisboa. Cristina Fernandes

Do século XVI ao século XXI parece Com a Academy of Ancient Music, (1809-1847) e Bohuslav Martinu Este verdadeiro “homem das efemé- são agrupamentos que trabalham de não haver repertório que tenha segre- agrupamento que fundou em 1973, (1890-1959). Os últimos quatro pre- rides” não tem mãos a medir em forma muito específica. Com esse tipo dos para Christopher Hogwood. gravou mais de 200 discos, entre os enchem a sua estreia à frente da 2009 mas, mesmo assim, ainda tem de orquestras temos de concentrar os Maestro, intérprete de instrumentos quais a primeira integral em instru- Orquestra Metropolitana de Lisboa tempo para se dedicar a um hobby programas num período restrito, de tecla, musicólogo e professor, este mentos da época das sinfonias de no próximo domingo (às 17h, no peculiar: uma pesquisa sobre a his- geralmente o barroco ou o classicismo. insaciável músico britânico esteve Mozart. Grande Auditório do CCB), no âmbito tória do piquenique. Como gosto de apresentar obras dis- durante décadas na linha da frente Hoje com 67 anos, Hogwood con- do “Quatro efemérides, quatro esti- tanciadas no tempo, as orquestras do movimento de revivificação da tinua extremamente activo como los, quatro linguagens”. Além de Foi um dos pioneiros das modernas permitem misturar épocas. música antiga. Mas actualmente a sua intérprete, editor de partituras e interpretar com frequência a música práticas históricas na Por exemplo, a junção de música clás- actividade é muito mais ecléctica. autor de livros e artigos sobre música. destes compositores, Hogwood já interpretação musical, mas nos sica e neo-clássica funciona muito Dirige com frequência formações Uma curiosa coincidência fez com escreveu livros e artigos sobre Handel últimos anos dirige cada vez bem. Posso associar Haydn a Martinu, com instrumentos modernos e o seu que as principais efemérides musicais e Haydn, é o editor das obras com- mais orquestras modernas. O Bach a Hindemith, Handel e Michael repertório contempla vários compo- de 2009 celebrassem compositores pletas de Purcell, está a preparar a estilo é mais importante do que Tippet ou Copland. Contemplo assim sitores do Romantismo e do século cruciais na sua carreira como Henry edição das versões alternativas das os instrumentos? vários estilos com uma formação XX, bem como autores contemporâ- Purcell (1659-1695), George Frideric aberturas e das sinfonias de Mendels- As orquestras com instrumentos da orquestral similar. Ter instrumentos neos, em programas que misturam Handel (1685-1759), Joseph Haydn sohn e é membro da direcção edito- época são importantíssimas. Cada ano originais é importante, mas mais criteriosamente o antigo e o novo. (1732-1809), Félix Mendelssohn rial do obras completas de Martinu. que passa há mais e ainda bem, mas importante ainda é a questão do estilo.

18 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 verdade ele corrigia constantemente contrastes. A Sinfonia nº 70, de Haydn as partituras. Cheguei a encontrar - uma belíssima obra pouco interpre- mais de 20 versões diferentes das tada, talvez porque não tem um título Aberturas! As sinfonias têm também - e a Sinfonia nº3 (“Escocesa”), de várias versões, mas todas funcionam Mendelssohn, formam uma excelente bem, mesmo as primeiras. É um pri- combinação. Para abrir escolhi um vilégio observar o processo de com- Concerto de Handel [HWV 335a] tam- posição e dar alternativas de escolha bém raramente tocado mas com um aos intérpretes. sabor conhecido, pois é uma adapta- Como surgiu o seu interesse por ção da abertura da “Música para os E esse pode-se trabalhar a partir dos moderno. Parecem demasiado está- Martinu? Reais Fogos de Artifício”. O seu carác- meios que temos à disposição. ticas. Não tenho visto produções “O piquenique nunca Conheci a sua música quando estava ter festivo, com o uso de trompas e Os intérpretes de instrumentos muito bem sucedidas. O resultado é tinha sido estudado a estudar em Praga na minha juven- trompetes, é ideal para começar. modernos têm dificuldade em uma espécie de caricatura porque os tude. Fascinou-me a sua originali- É verdade que vai publicar adaptar-se aos estilos históricos? encenadores não entendem o estilo. como um tema dade. Fiquei desapontado pelo facto um livro sobre a história do Hoje há cada vez mais músicos que Por outro lado, Haydn não tinha a de ser pouco conhecido fora da Repú- piquenique? também tocam instrumentos histó- veia teatral de Handel ou Mozart. histórico. Lembrei-me blica Checa. Por isso tenho-me esfor- O piquenique nunca tinha sido estu- ricos. Nesse caso eles percebem ime- Tem editado várias obras de çado em dar a conhecer a sua música. dado como um tema histórico. Lem- diatamente o que se está a pedir. Mendelssohn a partir dos disso quando via os Esta é também a razão pela qual brei-me disso quando via os quadros Quando isso não acontece é preciso manuscritos originais. Esse incluí a Suite do bailado “La Revue de Goya no Museu do Prado. Está mais paciência, mas não é impossível. trabalho trouxe-lhe surpresas? quadros de Goya no de Cuisine” no programa que vou presente em todas as épocas e em Ultimamente, a maior parte dos ins- Mendelssohn foi durante muito Museu do Prado. Já dirigir com a Orquestra Metropoli- todos os lugares e tem uma forte trumentistas mostra consciência de tempo considerado um compositor tana de Lisboa. É um bailado muito dimensão poética. Já reuni bastante aspectos estilísticos como a articula- de segunda categoria. Achava-se que reuni bastante ligeiro, para poucos instrumentos, informação e talvez venha a escrever ção, o vibrato, o tipo de arcadas, as a sua música era adocicada mas ela mas que mostra como Martinu conhe- um livro. É o meu hobby do momento. dinâmicas. é tão boa como a de Mozart. Estou informação e talvez cia bem os vários estilos dos anos 20 E uma grande mudança na minha Quais foram as principais muito contente por hoje se perceber e 30, a época do jazz, do ragtime e carreira [risos], sempre escrevi sobre mudanças no universo da finalmente como Mendelssohn era venha a escrever um da música latino-americana. música mas agora vou dedicar-me ao música antiga nas últimas três especial. No que diz respeito às edi- Que critérios usou na selecção piquenique! décadas? ções, eu pensava que as versões das livro. É o meu hobby do restante programa? Há 30 anos os instrumentos da época obras eram perfeitas e únicas mas na do momento” Queria que o programa tivesse muitos Ver agenda de concertos pág. 35 e 36 eram usados sobretudo para a música barroca. A primeira surpresa foi pas- sar de Haendel e Purcell à interpre- tação de Mozart e Haydn com instru- mentos originais e continuar a avan- çar até Beethoven, Schumann, Mendelssohn e assim por diante. Houve muito mais mudanças desde o tempo desses compositores até à actualidade do que pensamos. Tudo se transforma muito rapidamente. As gravações que Stravinsky fez nos anos 50 e 60 soam hoje antigas. O estilo, as técnicas instrumentais e a atitude em relação à performance é muito diferente da de hoje. E só passaram 50 anos! Nota grandes diferenças entre os agrupamentos do Norte e do Sul da Europa que se dedicam à música antiga? O movimento da música antiga come- çou por se afirmar em Inglaterra, na Alemanha e nos Países Baixos. A razão porque começou em grandes cidades como Londres é porque havia muitos músicos “free lancer” e as pessoas começaram a lançar-se nou- tras experiências. Penso que no Sul não há tantos músicos independentes e por isso demorou mais. Mas actu- almente há grupos espanhóis e italia- nos muito bons. A sua abordagem da música barroca difere bastante da dos grupos do Norte mas não encontro grandes diferenças no repertório clássico. Estou muito curioso por ouvir como os italianos (ou os polacos ou os russos...) tocam Beethoven, Schubert ou Mendelssohn. Em 1985 escreveu uma biografia de Handel que entretanto reviu e ampliou. O que mudou na visão sobre este compositor? Nos anos 80 quase não se conheciam as óperas de Haendel, mas entretanto estas começaram a representar-se e hoje estão todas gravadas. Tenho de admitir que a campanha pelas óperas teve grande sucesso. Quando há um período em que um género não é devi- damente sustentado ou quando se recusa a ópera actual há tendência para começar a olhar para o museu da ópera. Nessa perspectiva Handel é uma óptima escolha mas há outros compositores com interesse como Hasse, Vivaldi ou Telemann. Agora o novo objectivo é dar a conhecer as imensas cantatas que Handel escreveu na juventude. São peças belíssimas, muito dramáticas. Perde-se dema- siado tempo com as obras conhecidas. Seria muito útil que em 2009 não se fizesse mais uma vez “O Messias”. Há mais 40 oratórias para escolher! E as edições modernas estão disponíveis, é só comprar e interpretar. E as óperas de Haydn? Não encaixam muito bem no teatro

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 19 A violência também pode Escreviam textos curtos, com o quotidiano como elemento central e a pele, a religião, a violência dezenas de anos depois de terem sido abafadas por William Faulkner: Carson McCullers, Harper PHILIP GOULD/CORBIS

Homens entrincheirados em fervor Kate Margarida Vale de Gato, tradutora Chopin (1850-1904) O sim religioso, cisões entre raças, hierar- ples facto e investigadora do Centro de Estu- de escrever era uma subv quias sociais estanques e moralistas, ersão dos Anglísticos da Universidade de as mulheres como vítimas ou porta- Lisboa - que nos dirigimos para nos doras de desgraça, fundas feridas responderem à pergunta essencial: da guerra, a decadência das gran- que Sul é este, que mulheres surgem des famílias, pobreza, pobreza e nestas obras, vistas pelos olhos do a culpa, a tremenda culpa da século XXI? Guerra e da escravatura - que nunca acaba, a culpa nunca acaba A sombra de Faulkner

Livros - sintetizada naquela frase : “O pas- Primeira e inevitável pergunta: pode- sado não morreu. Na realidade, o mos unir estas escritoras em torno de passado nem sequer é passado”. um qualquer “sulismo”? Diana Durante décadas foi esta a ima- Almeida é cuidadosa: “A minha sen- gem que tivemos do Sul dos EUA: sibilidade diria que o género é mais mais que em grandes campos de forte que o espaço [geográfico]. A algodão, ou em mulheres de som- Welty coloca os textos no Sul, mas não brinha e vestidos de folhos, era é uma escritora sulista, porque o nisto que pensávamos - nisto e em espaço que descreve adquire carac- violência extrema. Era uma cons- terísticas universais”. trução, mas inscreveu-se no nosso Que não se tresleia a resposta de imaginário com a força apenas pos- Almeida. Ela está a pôr a ênfase na sível aos relâmpagos que quase Willa Cather (1873-1947) Só viveu dez questão feminina por razões específi- cegam de tanto iluminar. Devemo- anos no Sul, mas foi suficiente para cas: durante anos, nos EUA, ser escri- la ao homem acima citado: William se tornar sensível à questão “do outro” tora não era motivo de regalias sociais, Faulkner. Ele não se limitou a des- antes pelo contrário. As escritoras crever o Sul, tornou-o lugar mítico. americanas “foram perseguidas E os mitos, como escreveu o antro- até meados do século XX: inter- pólogo William Burke, têm uma fun- nadas, sujeitas a electro-choques, ção: manter-se. afastadas dos filhos. Como exem- Mas agora podemos começar a des- plo, temos a Edith Wharton” construir esse universo, ou, pelo [1862-1937]. Isto não impediu menos, a rever as percentagens de que algumas tivessem sido bem cada um dos seus componentes. E recebidas: Welty teve os favores da dizemos agora porque só agora é que crítica, mas era vista “como uma nós, portugueses, começamos a ter solteirona pacata, inofensiva”. Kate acesso ao outro lado da moeda: a Chopin teve êxito à primeira, mas escrita das mulheres do Sul dos EUA. não era considerada relevante. Elas O Sul que encontramos nessas obras, escreviam, mas não eram “primas” tendo traços comuns com o de Faulk- inter pares - não eram “pares”. ner, é outro: o do lado de dentro das A revisão da literatura feminina casas, o do dia a dia, o de uma relação só surgiu, nos EUA, “nos anos 70”. mais íntima com os negros. A violência O atraso de mais de trinta anos com do exterior é nelas, muitas vezes, um que Portugal recebe esta literatura Carson McCuller eco, uma frase num diálogo aparente- s (1917-1967) O Sul de acaba por ser normal, se atentarmos dentro das casas, mente inocente. Isto não é o mesmo o do dia a dia, o de uma nas palavras de Teresa Alves: “Acor- relação m que dizer que Faulkner estivesse ais íntima com os negros dámos tarde para toda a literatura errado - apenas não podia olhar para americana e mesmo então só líamos dois lados ao mesmo tempo. Faulkner, Hemingway, Steinbeck e “Estas mulheres são Lentamente elas têm chegado às muito pouco Fitzgerald”. prateleiras portuguesas. Há uns anos, obra no final do século XIX, início e O simples acto de escreverem (em essencialmente foi Carson McCullers (1917-1967). meio do século XX, quatro delas edi- particular Chopin e Cather, que pro- Depois chegou a tradução desse tadas por cá no último ano e meio, duzem no final do século XIX) era contistas. Tinham cometa insuperável que é “Por Favor que nos trazem outra imagem do Sul uma subversão. Para piorar a situa- Não Matem a Cotovia”, de Harper Lee, dos EUA. Fomos tentar perceber por ção, quando a segunda vaga de escri- uma série de nascida em 1926. Muito recentemente que razão estiveram estas escritoras toras surge (McCullers, O’Connor, criou-se um minúsculo culto em volta tantos anos afastadas do nosso mer- Harper Lee, Welty), já existia um trabalhos domésticos de Flannery O’Connor (1925-1964). cado editorial, o que as une, que pre- cânone, exclusivamente masculino que não lhes O ano passado vieram Willa Cather mência têm hoje. e interdito a mulheres. E no topo do (1873-1947) e Kate Chopin (1850- Há anos que Teresa Alves e Teresa cânone, um totem, cuja sombra era permitiam fazer 1904). Recentemente Antígona lançou Cid leccionam estes (e outros) livros gigantesca: Faulkner. “O Vento e Outros Contos”, colectânea na Universidade Clássica de Lisboa Diana Almeida: “O Faulkner aba- o grande ‘american que reúne contos recolhidos da obra - inclusive, “O Vento e Outros Contos” fou-as. Foi entronizado pelo ‘New de Eudora Welty (1909-2001). foi traduzido por uma ex-aluna, Diana Criticism’, que se tornou a escola novel’” Diana Temos, portanto, seis escritoras Almeida, cuja tese de doutoramento americana de canonização”. nascidas no Sul dos EUA, todas com se centra em Welty. Foi a elas - e a Teresa Alves: “É preciso perceber Almeida, tradutora

20 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 de ser um abanar de leque a e a condição da mulher em fundo. Desmistifi caram o Sul dos EUA e temo-las vindo a conhecer, r Lee, Flannery O’Connor, Willa Cather, Eudora Welty, Kate Chopin. João Bonifácio

Ficaram à sombra de Faulkner não apenas porque eram mulheres, também porque os seus textos estavam a leste dos “grandes temas”

que à época o Faulkner chegou a tapar o talento de homens como o [Truman] Capote”. A valorização do quotidiano Há razões para isto, como aponta Diana Almeida: num país em cuja génese está a chaga da Guerra Civil, “Faulkner fez a expiação colectiva da culpa americana”. Margarida Vale do Gato anui a esta visão: a literatura sulista “partia de um complexo de inferioridade, por causa dos crimes”. Teresa Alves assinala que a escrita sulista é identificável por dois grande motivos: a) “O Sul surge como um espaço dis- tinto dentro do espaço americano: é o derrotado, conhece a amargura.” b) “É mítico não no sentido de ser construído fora do nosso espaço de vivências, mas porque houve nele pela primeira vez uma consciência nítida do abismo entre raças: os escravos são considerados animais, objectos”. Portanto: estas mulheres não fica- ram à sombra de Faulkner apenas por- que eram mulheres, mas também por- que os seus textos estavam a leste dos “grandes temas”. Diana Almeida, relembra uma cita- ção de Welty para demonstrar que a escritora não podia estar mais longe desse universo: “Eu detesto a Guerra Civil, não tenho nada a ver com a Guerra Civil”, dizia. “Não existe tanta violência [nelas]”, continua a acadé- mica cuja tese de doutoramento versa Welty, “porque elas têm uma perspec- tiva mais regeneradora - faz-se uma deslocação dos pontos de interesse do heróico para o quotidiano”. Teresa Cid demonstra como se produz essa deslocação, recorrendo ao exemplo de Kate Chopin: diz que por um

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 21

Flannery O lado “O Despertar” (Relógio ’Connor (1925-1964) Guerra, centram-se no dia-a-dia, pelo A violência também D’Água) está mais próximo de Flau- está nelas, basta dar que não temos a presença da epopeia o bert que de Faulkner, por outro exemplo de O’Connor mas da comunidade”. Diana Almeida “ela está a escrever sobre um concorda: “A identidade feminina é mundo intrinsecamente sulista”; construída em integração comunitá- no entanto, a sua obra está pejada ria por oposição ao herói solitário”. “de subtilezas raciais”, que não são E realça que “nos romances de óbvias porque “estão muito ligadas homens, as mulheres surgem como ao quotidiano”. desgraçadas, condenadas” enquanto Nestas mulheres, diz, “há uma elas retiram “o carácter monstruoso atenção às formas como o poder [no sentido de potenciador da des- se manifesta no quotidiano, no graça] da mulher”. modo como uma empregada abana Vale a pena assinalar que há excep- o leque da senhora. É aí que vemos ções às regras e diferenças entre elas: a força poderosíssima das hierar- Willa Cather e Chopin escrevem no quias. São universos que as mulhe- virar do século XIX para o XX e têm res conhecem muito de perto”. bastos resquícios de escrita moderna. Não vale a pena, no entanto, ser Cather só viveu dez anos no Sul, absolutista: a violência também embora esse tempo tenha sido sufi- existe nelas - e em O’Connor isso é ciente para se tornar sensível à ques- notório. Mas, apenas para dar um tão “do outro” como as restantes escri- exemplo, num conto de Welty fala-se toras mencionadas eram - só que em de um “serial killer” apenas de pas- Eudora Welty (1909-2001) “Eu detesto vez do negro abordava questões sagem, num diálogo no cabeleireiro. a Guerra Civil, não tenho nada a ver migratórias. Cather também teve E noutro conto a II Guerra Mundial com a Guerra Civil” ténues aproximações ao registo épico. é apenas abordada por uma alusão a Lee só escreveu um romance - porém, bandeiras. Margarida Vale do Gato: como faz notar Teresa Alves, “um “É possível que tivesse havido uma romance extenso não é o mesmo certa vontade das mulheres de fugir a que um romance épico”. E nem esse universo de criminalidade e viti- todas eram católicas, embora mização” que caracterizava a escrita “fossem todas cristãs e a questão masculina. Os ditos “temas sérios” religiosa fosse comum a todas por- estão lá, mas de forma lateral. Porque que o Sul era uma zona entrichei- à frente, como realçam as nossas inter- rada” (Teresa Cid). locutoras, está o quotidiano. Se nos for permitida a generaliza- Os olhos de hoje ção, podemos afiançar que elas tinham O que acontece, se olharmos para questões em comum: abordavam a estas mulheres com olhos de hoje? questão de género (ser mulher), de Parecer-nos-ão ingénuas? As nossas pele (a presença do negro, do “outro”), quatro interlocutoras são unânimes da violência e da religião, mas “não em aclamar-lhes a actualidade. Mar- apresentavam esses aspectos de forma garida Vale do Gato vê-as como tão crua como aparecem no Faulkner “mulheres de corpo inteiro”. E se a ou no Capote” (Teresa Cid). “A ques- condição feminina (que abordavam) Harper Lee (n. 1926) tão da pele”, diz a professora, “está A “pele” está presente se alterou, a arte está no detalhe e no quotidiano - ma presente no quotidiano, sem que s quando rompe com “os pormenores” (expressão de a ordem das coisa pareça ser importante - mas no s, surge com violência Teresa Alves), as ínfimas subtilezas momento em que há uma mínima destas escritoras salvam-nas de se ruptura com a ordem natural das perderem em literatura de época. coisas, a questão surge com violência”. Têm ainda outros méritos, como Exemplo (escolhido por nós): a forma os de “a escrita [versar] aquilo que é como a menina de “Por Favor Não escondido e é essencial”, diz Teresa Matem a Cotovia” olha para a questão Alves. E, como diz Cid, desmistifica- racial. (Demoraria demasiado tempo ram duas ideias de Sul: a que Faulk- a explicar este passo. O nosso conse- ner criou, e aquela que era vigente lho: leiam esse magnífico livro.) no seu dia a dia, a de um Sul “de Elas “celebram as rotinas e cerimó- senhores respeitáveis e raparigas loi- nias da vida diária feminina”, diz Diana ras a cheirar a magnólias”. Mudaram Almeida. “Fazem um levantamento a nossa visão clássica da natureza desses detalhes”. Se o quotidiano lhes como inimiga. Trouxeram um “humor interessa é porque esse é o universo subversivo” que ainda nos deleita, que conhecem, aquele a que estavam como lembra Diana Almeida, que confinadas - e que determina a forma acrescenta que elas “escreveram sobre da sua escrita: “Estas mulheres são protagonistas femininas que não que- essencialmente contistas: num dado riam obrigatoriamente casar e ter momento do dia tinham tempo e con- “Como elas não têm filhos”, o que não é “avant la lettre”, seguiam acabar uma obra. Tinham acesso ao universo da é a lettre dos dias de hoje. uma série de trabalhos domésticos que Mas, talvez mais importante que não lhes permitiam fazer o grande Guerra, centram-se tudo isto, diz Teresa Cid, “elas têm ‘american novel’”, diz Diana Almeida. ainda mais interesse hoje, porque Oferta de 10 bilhetes duplos às primeiras 10 pessoas que apresentarem este “O cultivar desses géneros ia de encon- no dia-a-dia, pelo falam da diferença, e hoje vivemos anúncio na bilheteira do Cinema São Jorge. tro à condição da mulher: é mãe de num mundo em que convivemos com Este bilhete é valido para a sessão de encerramento do Panorama, com projecção família e por isso não pode fechar-se que não temos raças diferentes sem necessariamente do filmeHistórias Selvagens de António Campos, Sala 1 do Cinema São Jorge, no seu quarto em transe, como o as conhecer”. no dia 22 de Fevereiro, às 21h30. Faulkner. As tarefas relativas ao espaço a presença “Quando procuramos a capa que Mais Informações CINEMA SÃO JORGE Bilheteira Preço dos bilhetes: WWW.VIDEOTECALISBOA.ORG AVENIDA DA LIBERDADE, 175 HORÁRIO: ATÉ DIA 13 DE SESSÃO 2,00€ do feminino podem ter induzido esse se esconde debaixo da normalidade WWW.APORDOC.ORG Acessos FEVEREIRO, DAS 13H00 BILHETE DIÁRIO 4,50€ da epopeia mas WWW.EGEAC.PT METRO AVENIDA ÀS 19H00, DE 13 A 22, PASSE 18,50€ tipo de registo”, aponta Teresa Cid. aprendemos a conhecer melhor o Autocarros ATÉ AO INÍCIO DA ÚLTIMA 2/9/36/44/45/90/91/711/732/746 SESSÃO DE CINEMA Para terem uma ideia: Kate Chopin só da comunidade” mundo”, acrescenta Teresa Alves. E TEL. 213 103 400 CINEMASAOJORGEEGEAC.PT começou a escrever quando ficou isso, dizem todas, ainda pode ser con- viúva. E escrevia para viver. Margarida Vale seguido nos livros destas mulheres Os temas também são determina- que não são só do Sul, são património dos por essa condição. Como lembra do Gato, tradutora de quem quer que queira aprender Margarida Vale do Gato, “como elas a andar sustentado apenas nas patas não têm acesso ao universo da e investigadora traseiras.

22 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 MUSEU DO ORIENTE Mulheres do Hindustão QUI (,<;L;H;?HE 22:00 SALA SUGGIA Exposição de @E>DPEHD iWne\ed[ 9OHE87FJ?IJ7 f[hYkii€e Fotografia JJKAKD7A f[hYkii[i Fernando Penim Redondo 8 Março a 12 Abril

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AtacadoJuan José Millás pelas costas por um romance Todo o livro é, de certo modo, uma ferida e a sua cicatriz ao mesmo tempo. E em “O Mundo” Juan José Millás foi atropelado por um romance quando pensava fazer uma reportagem sobre si próprio. Isabel Coutinho

Juan José Millás nunca quis ser escri- Recorda-se da entrada sobre a folhas - e ficou a saber uma coisa que violentamente na nossa existência”, tor. Queria ser leitor. Queria ler (para morte. “Era fabulosa para uma o impressionou muito. este foi para Juan José Millás um dos sempre) porque foi com a leitura que criança porque explicava como é que “Que existia uma larva que parecia livros que passaram o semáforo descobriu “um outro mundo”. Des- se podia averiguar se uma pessoa um excremento de pássaro. Ficava encarnado. cobriu-o através da revista das Selec- estava mesmo morta. Através do tra- com essa aparência para evitar ser O escritor andava a fazer há algum ções do Reader’s Digest e da enciclo- dicional espelho colocado à frente da comida pelos pássaros. E depois de tempo uma série de reportagens para pédia espanhola Espasa que existia sua boca, mas também através de um ler aquilo, ficava sempre a pensar se a revista do “El País” - o Projecto em casa dos seus pais. método mais eficaz: o de aproximar valia a pena viver assim, pagando Sombra - quando o editor lhe pediu Deliciou-se na infância. “Com mais um fósforo acesso do dedo grande do esse preço, o preço de passar por para fazer uma reportagem consigo de 100 volumes, a Espasa editou-se pé do cadáver. A entrada dizia: ‘Se o uma merda!” próprio. “Acompanhava uma pessoa em 1917. É um monumento, não fica dedo estalar, está vivo.’” Esse “outro mundo” que ele foi durante um tempo determinado Livros a dever nada à enciclopédia britânica. A enciclopédia foi uma fonte de descobrindo com a leitura está todo como se fosse a sua sombra. Andáva- Está muito bem escrita e eu passava riqueza para o escritor e jornalista dentro do seu mais recente romance, mos sempre juntos e, a seguir, con- a vida a lê-la”, conta Juan José Millás, espanhol que se lembra também “O Mundo”, uma autobiografia tava essa experiência. Mas contava-a sentado num dos sofás de um hotel muito bem da entrada da enciclopé- romanceada que acaba de ser publi- a partir de mim, na primeira pessoa. da Póvoa de Varzim, onde esteve a dia sobre o mimetismo. Aí, Millás cada (ed. Planeta). E como há “livros Não era uma reportagem objectiva, participar nas Correntes d’Escritas, aprendeu que existiam insectos que que fazem parte de um plano e livros como aquelas que se chamam às encontros de escritores de expressão ficavam com a aparência do meio em que, tal como um carro que passa no vezes ‘24 horas com’. Não. Eu vivia ibérica. que se encontravam - podiam parecer semáforo encarnado, se atravessam com uma pessoa, sendo a sua sombra

24 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 durante um tempo e depois contava anos a tinha levado a assistir a uma um romance “mais intenso do que normal e para as quais se olha com a minha experiência. Não tentava ser autópsia. Isso marcou-a para sem- extenso”. perplexidade. E, diz, essa carga oní- objectivo. O protagonista era eu”, pre. “O Mundo” é uma autobiografia rica que contamina todo o romance explica. “Pois, houve um momento em que romanceada e o que no livro não obe- é consciente. “Sei que era assim e que Era uma fórmula que funcionava me estava a observar e perguntei: dece a uma verdade literal mistura-se está metaforizada com momentos muito bem. A ideia ao princípio era ‘Como é que cheguei aqui?’ Apareceu com o que é aconteceu na realidade. como o do éter, a utilização do haxixe, que fosse feita com gente comum, então involuntariamente na minha De tal maneira que até ao escritor lhe os comprimidos de Optalidom”, mas teve tanto êxito que os políticos cabeça uma frase que não fui eu a custaria dizer o que foi aquilo que explica. e artistas quiseram entrar no pro- formular e que é a primeira do livro: aconteceu e aquilo que não aconte- Este livro é também, de certo jecto. “Começámos com um rapaz ‘O meu pai tinha uma oficina de apa- ceu. “Porque o que não aconteceu, modo, um produto de delírio. Tal que tinha síndroma de Down, funcio- relhos eléctricos de medicina.’” ocorreu-me. Por outro lado, há coisas como todas as grandes obras na his- nou muito bem, foi capa. E quando Todo o Quando lhe apareceu esta frase, que não são verdade na sua literali- tória da literatura. A “Divina Comé- já tínhamos feito umas 15 ou 20 Millás, lembra-se perfeitamente, dade, mas são-no na sua profundi- dia”, por exemplo, é a descrição de reportagens, disse a um responsável estava num quarto de hotel em Bar- dade. E, as coisas que não são ver- um sonho. O “Dom Quixote” está do jornal que devíamos encerrar o romance celona. Abriu-se “uma fenda na caixa dade na sua literalidade são mais cheio de momentos de delírio. “Se assunto e começar outra coisa. Res- da memória e começou a sair mate- verdadeiras do que as outras.” pensarmos em grande parte da his- pondeu-me que estava bem mas com escrevi-o rial”. Muitas pessoas colocaram em tória da literatura, as grandes obras uma condição: ‘Tens que terminar Sentou-se à secretária do seu causa esta exposição pessoal e per- dão sempre a impressão de que são com uma sombra tua. Feita por ti.’ E quarto e começou a escrever um guntaram-lhe se lhe tinha custado produto de um sonho ou de um delí- aquilo pareceu-me uma brinca- numa espécie ditado em estado de transe. “Escrevi fazê-lo. Respondeu sempre que não. rio”, recorda o escritor. deira.” umas dez ou doze páginas. Compre- Acha que o pudor para um escritor é Quando escreveu as primeiras Mas o escritor começou às voltas endi que não era uma reportagem, nefasto. É um modo de autocensura. páginas deste livro naquele hotel de com a ideia e quanto mais pensava de estado era outra coisa. Continuei a escrever “Por isso curei-me do pudor logo nos Barcelona, Millás viu-se a si próprio nisso, mais lhe agradava. De maneira nos dias seguintes e todo o romance meus primeiros romances. Actual- na oficina de instrumentos eléctricos que começou a seguir-se, a perseguir- escrevi-o numa espécie de estado de mente não tenho nenhum pudor”, de medicina do seu pai. Estava fasci- se, a observar-se como havia obser- de transe. transe, sem colocar nele nenhuma afirma. nado a olhar para o pai a fazer cortes vado e perseguido os protagonistas vontade minha. Era um romance que O facto de ser em “O Mundo” a per- num pedaço de carne de vaca, a expe- das suas anteriores reportagens. me estava a ser dado, era uma sonagem principal não lhe impor- rimentar um bisturi eléctrico, quando “Comecei a tomar notas e, num Não tenho prenda, porque não tinha que fazer tava, porque sabe que “a primeira ele lhe disse: “Repara, Juanjo, caute- momento determinado, compreendi nenhum esforço. De tal maneira matéria literária para um escritor é riza a ferida ao mesmo tempo que a que aquilo não era uma reportagem. memória. aconteceu assim que não me recordo ele próprio. E não se pode renunciar causa.” Aquilo era um romance que acabava de o estar a escrever. Não tenho a esse material porque é um material Essa frase nunca a esqueceu. Na de me atacar pelas costas.” memória. Não sei como o escrevi. precioso”, acredita. altura não a compreendeu muito bem Não sei como Escreveu-se.” - “havia na frase uma palavra compli- Uma fenda na caixa Foi a primeira vez que isto lhe Entre o sonho e o delírio cada que era cauterizar, mas ficou-me da memória aconteceu de uma forma tão cons- As drogas e os mundos artificiais gravado porque de alguma maneira Tudo aquilo fez com que ele pensasse o escrevi. tante. Já lhe tinha acontecido parcial- estão muito presentes ao longo de compreendi que aquela frase continha na sua própria vida. Nas suas repor- mente, mas nunca desta maneira. todo este livro. “O Mundo” é quase um paradoxo, uma contradição.” tagens do Projecto Sombra Juan José Millás passou três anos no divã um romance onírico. “Essa carga oní- É por isso que na literatura o que Millás fazia sempre uma pergunta: Escreveu-se (muito tempo antes de escrever este rica que contamina todo o romance mais lhe interessa é o paradoxo. E no “Como é que este personagem che- romance). Estava a acontecer-lhe algo quis mantê-la porque é real. A per- hotel, naquela espécie de transe, viu gou a isto?” A ideia era ir buscar ao parecido com as sessões de psicaná- cepção que tenho da minha infância, aquela cena. Lembrou-se então que, seu passado remoto algo que expli- lise, em que se começa a fazer asso- aquilo que mais recordo é a estra- de certo modo, a escrita é um bisturi casse porque é que tinha chegado ao ciações livres. Quando terminou o nheza. A estranheza frente a tudo, e a literatura abre feridas ao mesmo que tinha chegado. Por exemplo, romance, tinha o dobro das páginas. frente a um mundo que eu não enten- tempo que as fecha. “Todo o livro é, investigando uma mulher que era Editar e ordenar todo o material deu- dia.” de certo modo, uma ferida e a sua médica legista, que fazia autópsias. lhe mais trabalho do que escrever Essa estranheza tem muito a ver cicatriz ao mesmo tempo.” Ela contou-lhe que o seu pai também porque foi obrigado a sacrificar muito com um mundo onírico, onde suce- era médico e que quando tinha 15 do que gostava, mas queria que fosse dem continuamente coisas fora do Ver crítica de livros pág. 26 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 25 26 Top Livros Não Ficção Ficção •ÍpsilonSexta-feira 20 Fevereiro 2009 4 4 1 1 2 2 5 5 3 3 Verso daKapa Nuno LoboAntunes Sinto Muito Pergaminho Eckhart Tolle Mundo Novo Um A Esfera dosLivros Luís Ferreira Lopes que aCrise Seja maisEsperto Lua dePapel Paul McKenna em 7Dias Mude asua Vida Bertrand Editora Úrsula Doyle de Grandes Homens Cartas deAmor Gailivro Stephenie Meyer Crepúsculo Gailivro Stephenie Meyer Nova Lua Bertrand Editora Paolo Giordano dos Números Primos A Solidão Gailivro Stephenie Meyer Eclipse Edições Asa John Boyne às Riscas O RapazdoPijama Livros mmmm deautor,Edição €15 Manuel deFreitas Morte Boa final. tem o“pathos”deumlivro regresso aomesmocenário, origem, Morte”, noseu “Boa éumlivroSe “Levadas” da de Freitas Manuel livro de O “último” Poesia 2005). Não é por acaso que coloca a 2005). que coloca Não époracaso ‘obra’” (“A FlordosTerramotos”, abreviava, sóparaela,aminha umguardanapoenquanto qualquer/ queMas foiaresposta lhedei,/ não é/ umaprofissão./ exactamente “Escrever,morte. sobre amorte, sublime”. certo/ dizerKantcomaquilo/ do pudesse perceber “o que queria ao único sítioondeoautor talvez nadeBach,o música, emparticular por vezes na brilham também o que nãofomos”. Eessascintilações nos separaumaeoutravez/ detudo Morte”, éum“jogo/“Boa inútil que regresso. Amemória,escreve em memória autoriza umsimulacro de apenas odoloroso resgate da inacessíveis àqual comoainfância, outão em viasdefecharasportas, lisboeta comoumataberna morte brilham emlugares prometidos tão à Quesó cintilações. espectrais entre ruínas,algumasderradeirase na melhordashipóteses, aresgatar, dapoesiaresumir-se-ia, e afunção que opróprio mundo perdeu aaura, de Freitas, pelo contrário, dir-se-ia viva deque temrazão. ParaManuel demiúrgico, eelepróprio éaprova perdeu nenhum doseupoder Herberto achaque apoesianão aparentemente antagónicos. tão depressupostospartir livros possam marcantes igualmente mesmo contexto temporal,dois exemplares. autor, numa exígua tiragem de161 de emedição Freitas, publicou-o Morte”. Oautor,“Boa Manuel de de20páginasintitulado caderno em2008foi umpequenopublicado livro depoesiaportuguesa ADRIANO MIRANDA Manuel deFreitas escreve sobre a que, numÉ curiosoconstatar Luís MiguelQueirós n mais importante importante mais quehesitações o quaisquer afirmaria sem Corta o Fogo”, e com “A Faca Não Herberto Helder, regresso de fulgurante Não forao Lá Fora obra, uma obra difícil desever obra, umaobradifícil própria asua aura de eficazmente que essaobra que sabota doséculoXXI.Sucede deste início centraldapoesiaportuguesa poeta atornar-se evidentequecomeça éo estruturada ecoerente, como uma obraexemplarmente uma “Obra”. aimagemimpedir que secrie de aparentemente, destinadasa poesiae, com asua consistentes Opções completa. bibliografia remotamente semelhanteauma doleitor,benefício algo de títulos que publicou inclui,a eque nenhumconfidenciais, dos de autor emtiragens oumenos mais dosseuslivrosboa parte sãoedições superar. de produz difíceis resultados equilíbrio, que Morte” neste“Boa mercênunca deumdelicado prosa, naqual sónãodescamba primeiros livros, deseaproximar da que oautor sentiu,logo nos sequer poesia,edaíanecessidade “obras”. Emrigor, nãopediria ornamentos retóricos, nem,decerto, fulgurantes,nem metáforas se sentesobreviver, nãopede mortiço, comoesteemque Freitas raso,tempo tão tão, digamos, palavra “obra” entre aspas.Um (colecção Plural/Ensayo). Regional deExtremadura Espanha naEditora foi agora publicado em Existir “ O livro de poeta central dapoesiaportuguesadesteiníciodoséculoXXI Começa atornar-se evidente queManuel deFreitas éo Portugal Hoje: OMedo de No entanto, Freitas nãosótem Também que nãoserá poracaso ” (Relógio D’Água) José Gil ¬ no Brasil. Pequenas Percepções” e “A Imagem-Nua eas brevemente noMéxico - OCorpo eaDança” sai “O Movimento Total A outra obra dofi Mau ☆ na Madeira, entre familiares e longínquas memóriasinfantis, mais começou, àquelas que serãoassuas regressa aosítioondetudo 2004. Énesselivro que oautor direito ampliada,em aumareedição único títulodeFreitas que teve (2002),Morte” écom“Levadas” o instituição. toda amámemóriaque reteve da o autor terexorcizado, noprimeiro, de asópoderexistir depois segundo autor pela universidade, mascomo referir-se ambosàpassagem do Demora” (2007), que parecem “Game Over” (2002) e“Juros de porexemplo,estabelece, entre nexos comooque se subtis, mais recente “Jukebox 2”,quer aindaem temáticos ostensivos, comoodo recorrentes, quer emregressos através depersonagens elugares falaram unscomosoutros, quer o antecede. iniludível que acoerência dotrajecto tem aindaoméritodevirtornar ninguém ocorreria chamarperfeita, que numa a perfeição escrita de serumlivro deuma comovente sem seatraiçoar. Morte”, além “Boa que estesepodepermitir é aúnica pequena dimensãoemenortiragem, semprepublicou, quase emlivros de nos25títulosque oautorcomo tal já Medíocre O diálogo privilegiado de“Boa Os livros deFreitas sempre ☆☆ lósofo, Razoável ☆☆☆ Bom

DAVID CLIFFORD/ PÚBLICO ☆☆☆☆ concluir-se. levou algunsanosemuitos livros a que de“Levadas”, uma reescrita isso: Morte” éexactamente “Boa talvez fossepossível sugerir que daObra -, deliberada construção pelo que denunciaria deuma vedado comoeste-até aumpoeta nãofosse dareescrita Se oafã desuperação?seria umaespécie Morte” deque “Boa este “Levadas”, num asdolivro sentidoespecial, que dealgummodoseapagamsão, asugerirnão estará que aspalavras todas aspalavras que escrevi”, “Apagam-se, comolevadas/ secas, “olhar paratrás”. isso: cujo infernoéjustamente que nãoapenasolhouparatrás,mas palavras deumregressado Orfeu, aonada.Podemrendição seras de necessariamente umaespécie Pessanha, nãotraduz pressentir umecosubtil de dístico, talvez noqual sejalícito todas aspalavras que escrevi.” Este “Apagam-se, comolevadas/ secas, perda, elasjáseperderam: também palavras a sedisse comasquais Morte” afirmamque aspróprias aos campos. evão morrerdescem dasmontanhas que artificiais, deágua estes canais tópicos madeirenses, ter privilegiado Freitas, entre outros possíveis de pode nãotersidoalheiaaofacto passado- substantivo ouparticípio ambiguidade dapalavra “levadas”- que a “levados”. Note-se lugares que nosvão sendo(eserão) os sentimentos, aspessoas,os recuperaremosnunca osmomentos, morrer sugestão deque enasua devidamente avisados deque vamos reconhecimento deque fomos imagem noseu quaseestóica, tornava oregresso duvidoso.” Éuma apenas umautocarro pordia,/oque informações eramclaras:/havia abre com estestrês versos: “As Morte”, que dátítuloaovolume, que viráapublicar. Freitas decerto como “último” livro, os nãoobstante Morte” promete“Boa permanecer antes, domesmomodoque este que outros tenhamsidopublicados “primeiro” livro obra,ainda dasua no transforma-o “Levadas”, fechar opercurso em iniciado “pathos” deumlivro final.Eao regresso aomesmocenário, temo origem, Morte”, noseu “Boa nadaremos juntos?”. vezes/ quantas pergunta:// ainda ondas,/ ouvimosduas aúnica “De repente, pai,entre/ de osilêncio breve, Morte”, aindamais “Boa diz: mundo.” Openúltimo poemade sóparati,ofimdo Começava, Tinha três anos,naCalheta./ descalço, repousa nosrochedos.// extintasubitamente eumpé,/ correm para apaisagem/ aslevadas/virão -enquanto correm, do desespero (outros, mais, tantos/ oprimeiroencontra/ abota, indício/ “Háumpaique não abertura: logo nopoemade é acentuada figuras daterra.Essaideiadeorigem E quandoFreitas diz: versos Os últimosdois de“Boa O derradeiro poemade“Boa éumlivroSe “Levadas” da Muito Bom ☆☆☆☆☆ Excelente APRESENTAÇÃO AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO AGENDA CULTURAL FNAC entrada livre

CICLO DE PROJECÇÕES CICLO A ORIGEM DAS ESPÉCIES Comemoração dos 200 Anos do Nascimento de Charles Darwin

23 e 25.02. 18H30 FNAC COLOMBO

AO VIVO RUI REININHO Companhia das Índias

20.02. 18H30 FNAC CHIADO

AO VIVO ROSE BLANKET Our Early Balloons

21.02. 22H00 FNAC ALMADA 22.02. 19H00 FNAC COLOMBO

AO VIVO KÁTIA GUERREIRO Fado

25.02. 18H30 FNAC CHIADO

EXPOSIÇÃO ATMOSFERA DE UM LUGAR Fotografias de Pedro Medeiros

16.02. - 15.04.2009 FNAC COIMBRA

Apoio: com.br/ amoresexpressos. http://www. Expressos 28 Amores org/ ranchocarne. http://www. Rancho deCarne cuenca/ globo.com/blogs/ http://oglobo. Anotações Blog de html ondjaki/ondjaki. kazukuta.com/ http://www. Ondjaki e brasileira literatura portuguesa “novíssimos” da terça-feira ànoite. Os Fernando Pessoa, era nossa frente,Casa na Ali estavam todosà Coutinho Isabel •ÍpsilonSexta-feira 20Fevereiro 2009 Livros

Os novíssimos Ciberescritas ciberescritas) (Ciberescritas jáéumblogue http://blogs.publico.pt/ [email protected] amor. para Tóquio.Cuenca Tinhamque escrever de umahistória GalerafoiparaBuenosAires, dasLetras. pela Companhia durante ummêseoslivros17 cidades serãopublicados Amores Expressos, que enviou 17escritores brasileiros para em BuenosAires. Estelivro foi oprimeiro asairdoprojecto (Prémio Machado que deAssis) éumromance que sepassa poemasnum oviuarecitar quando livro aosquadradinhos. site: RanchodeCarne.Eacordou paraFernando Pessoa “Um livro sobre aqueda”, Danieltem um Gonçalo. disse enfi onde sepassaaidade adulta aliás esseoseutalento. “arrebentar nochão”, umrapazpronto parasangrar, era se senteatraídopelapossibilidade daqueda, porse Massempreentediado naidadeadulta. umrapazque 10 anos,umadolescente plástico de15ou umcirurgião protagonista de“Mãos deCavalo”. Oraéumgaroto de M. Tavares. Acompanhamos várias fasesdavidado “Mãos deCavalo” (ed.Caminho)apresentado porGonçalo Daniel Pellizzari. Estava oseuromance namesaalançar Cardosonline, revelou que também ClarahAverbuck e porser“colunista”conhecido do“fanzineelectrónico” nojornal“O que semanais publica Globo”.crónicas assuas renega. Agora ondecoloca deAnotações, temoBlog “Oitentacidades. porcento dolivro énarrado naprimeira para ofi mas lámais (que fi jáfoi tão “retrato alguém jádisse, deumageração”. Caçavas eTomás Anselmo, “comparsas detédio” como 2008) que dePedro relata 24horasdavidadepândega (ver “O diabodoCuenca”, PÚBLICO, 23deFevereiro de (ed. Caminho),romance dobrasileiro João Paulo Cuenca Caminho) estava aliparaapresentar “O DiaMastroianni” (ed. deumEspanadorTristezas” para Confecção angolano olivro delançar que acaba depoemas“Materiais sãoescritores. Esteescritor acertadas, sempre coisas disse XXI. Eantesdeserem jovens, lembrou Ondjaki,que como noséculoXX,outros noséculo apublicar - unscomeçaram Daniel Galera; OndjakieJosé Paulo Cuenca. Telecom M.Tavares deLiteratura2005); Gonçalo e Caminho, oseulivro decontos, Prémio Portugal “OsdoCírculo” (alançar Lados Bettega -ed. Amilcar E O anopassadoDanielGalerapublicou“Cordilheira” Um livro e épassada aandardebicicleta ondeainfância Também Ficou DanielGaleracomeçounaInternet. dolivro,No início comoRiodeJaneiro parece-se acidade novíssimos comoisso Embora algunsjánãosejamtão portuguesa ebrasileira:José Peixotoportuguesa Luís e feira ànoite.Os“novíssimos” daliteratura frente, naCasaFernando Pessoa, eraterça- acontecer. Masaliestavam todosànossa muitora assimumacoisa improvável de lmado, cantado e escrito, lembrou Ondjaki) lembrou eescrito, lmado, Ondjaki) cantado m entra num mosaico de diferentes m entranum mosaicodediferentes criou um blogue que agora que agora umblogue criou que iaescrevendo eem2000 aosamigospor e-mail aquilo seu primeiro livro, enviava efi de edição Internet umdiáriodo“processo americana”. João Paulo fezna o futuro daliteraturalatino- que marcarão as tendências paradefi epotencial talento aqueles que consideravam “ter 39,que Bogotá seleccionava Hay Festival iniciativa nasua de 39anosescolhidospelo 39 escritores commenos explicou -umdos Cuenca diferente”, completamente se drogou numa eestá cidade pessoa epodeseratéque ele ado dentro de um carro. ado dentro deumcarro. nalização” nalização” do Público Espaço nir nir Planeta, €16Planeta, Diogo eCarlos Torres) deLuísa (tradução Juan José Millás O Mundo Coutinho Isabel indiferentes. Millás nunca nosdeixa franco,absolutamente Sarcástico, porvezes Millás de Juan José À procura Ficção mmmmm nós, leitores. Eatravés dessa Milllás setivesse nodivã deitado para se “O Mundo” comoseJuan José uma famíliadenove” Lê- (pág.17). demoraria aestar. de Souoquarto não estava estragado, masnão omundo eunasci, ainda Quando eJulio”.“Laura de Adúlteros Desorientados”, Mulheres em Praga”, “Contos Bastardo eInvisível”, Duas Solidão”, “Tonto, Morto, Ordem Alfabética”, “Assim era a Desordem doTeu Nome”,“A “A emportuguês: publicados apareceram. Algunsjáestão comolhe foram escritos, livros. Epercebemos melhorporque tropeçando emalgunsdosseus José deJuan fantasmas Millásvamos Uma autobiografia ficcionada. obra. espanhol,easua jornalista e éele,ofamosoescritor principal “romance” emque apersonagem aescreveuNunca esaiudalium sobre sipróprio nojornal“ElPaís”. encomendaram umareportagem Tudo começou quandolhe foi “atropelado porumromance”. Juan José estranha: Millásumacoisa intitular “O Mundo”, aconteceua “mundo”: infância. dasua arua Esse lugarondeMillásencontrou o nasceu, parairem viver paraMadrid. abandonarem Valência, ondeele vida ospais paraasua marcante como foi 200 páginas,ondeconta nos deixaindiferentes. Sãoquase franco, absolutamente Millásnunca Literalmente. Edamospornósarir. cabeça. entramos nasua deNarrativa Nacional 2008, o Prémio 2007 Planeta eoPrémio sobre ele,concordando ou que lheapeteceuescrever DVD viu egostoutanto álbum, canção, concerto, livro, exposição, disco, Que fi Este espaçovai serseu.

“Estava tudoestragado. Por viagem esta aomundo dos por obra,que acabou esta Com Sarcástico, porvezes lme, peçadeteatro, Portugal, recebeu em publicado deser que acaba em “O Mundo”, particularmente seus livros, e estarrecido. Nos sempre oleitor deixa quase Juan José Millás publicamos. publico.pt. Enósdepois caracteres para ipsilon@ nos umanotaaté 500 que escrevemos? Envie- não concordando como nossa falta demundo.nossa falta Terá, sema confrontados coma constantemente adultos”. eomundoinfância desordenado dos esquina”. Por aqui passa“o da caos e oInferno, que “ficava alià num romance deintrospecção, Deus sexo. Ofrio. Eclaro, nãopodiafaltar outros, emque nãochegou ahaver comprimidos. Osdiasdesexo eos obsessão pelasdrogas. Os és interessante paramim.”Asua não aquela umdia:“Tu que lhedisse mulheres, suas principalmente Millás tinhafebre. ser pobres Emque comoratazanas. colégio. Otempoem que passarama tempo dasfreiras edospadres no Erao docoração. tinha umadoença rapaz que vivia eque namesmarua aprendizagem comoVitaminas, o e deamizade arelação também outra (Freud explica). Por lápassa atravessa olivro à deumaponta tempo” (pág.12). aomesmo feridas ecauteriza-as abre as aescrita eléctrico, pois bisturi quando estava aexperimentar o comomeupai pareço umbocado caderno, comoagora, achoque me “Quando escrevoescrita. àmão, num afalar-nosestá doque pensada ferida aomesmotempo que acausa”, eléctrico, “queseu bisturi a cauteriza enosfalado demedicina eléctricos deaparelhos tinha umaoficina que acontar oseupai Millás está que étodooprograma destelivro. dali. Masdeondeera?” (pág.135) – “Eu nãoera umdeles.Eunãoera – dolugarondesepertence busca Éessa (pág.23). a que pertencíamos” edolugar daclassesocial arrancados tínhamos sidoviolentamente evidente, eestragadasasnossas,pois era isso vidas dosmeuspais, estava tudoestragado:estragadasas verdade. a amentiraouondeacaba começa connosco. Nunca saberemos onde brinca oescritor psicanálise por umromance” estranha: foi“atropelado a Juan José Millásumacoisa Com estaobra aconteceu Ao ler“O Mundo”, somos Em “O Mundo” as também estão A mãedeMillás,“a mamã”, Logo noprimeiro capítulo, quando “Quando comeceiaescrever, já mínima dúvida, mínima dúvida, lugar nas listas dos dos lugar naslistas melhores livros do ano.

ADRIANO MIRANDA mmm Livros €12 Cotovia, Porto Fernandes) porPedro(traduzido donorueguês Jon Fosse É aAless José Riço Direitinho inebriante, hipnótica. escreveu umanovela quase dramaturgos daactualidade Um singulares dosmais das ondas O ritmo monetários aceitouescrevermonetários uma quando porcausa deproblemas em1994, surgiu-lhe poracaso, publicou 14 livros. deteatro Aescrita novelas decontos, ecolectâneas dramaturgo, eleescreve também em2001. Letras, saiu comachancelaCampodas Teatro, aexcepção éoprimeiro que Livrinhos Cotovia de nacolecção pelaeditoraLivrospublicados os textos representados foram dezenas que escreveu); quase todos (deentrepeças ascerca detrês tendo jálevadoàcenameiadúziade “descoberta”),divulgação (etambém Unidos oresponsável pelasua temsidoogrupoteatralArtistas cá, Nobel.Por peloComité distinguido 1983, e atéhoje,entre romances, um romance que seestreou em eensaios.Foi,crianças aliás,com romances, poesia,livros para nou anarrativa cidade para teatro nãoabando Jon Fosse: apesarda sua prolifi Mas Jon Fosse nãoéapenasum n n candidato a ser aser candidato um sério foi referido como já porváriasvezes representados, e mais noruegueses dramaturgos vivos 1959) éumdos Fosse (Haugesund, Jon O norueguês

se está a ver a si própria, também uma volta no mar, pensa ela, mas cheia das vozes dos antigos que terá acontecido naquele dia? ele esteve assim à janela, tal como nunca, ou quase nunca ia com ele, habitantes, Signe vagueia pelo Morte ou perda do amado têm o ela agora se está a ver a si própria, o mar não era coisa para ela, pensa passado, encontra a trisavó de Asle, mesmo valor: a experiência do antes de ter desaparecido, de ter ela (...).” Aless, que junto à margem toma abandono. A melancolia atravessa

ENRIC VIVES-RUBIO desaparecido para sempre, também Sentada num banco, ou deitada conta de uma fogueira de fogo lilás, toda a narração: o fiorde negro, frio, ele esteve muitas vezes assim a num divã, dentro de uma casa velha pois já nesse tempo houve alguém a maldição remota, a cabeça da olhar, a olhar, e a escuridão lá de junto a um fiorde, está Signe, uma que não voltou do fiorde. ovelha passada pelo fogo lilás, as fora era negra e ele quase não se mulher já idosa que se vê a si própria Nesta história, Fosse pergunta o tradições longínquas de um idílio distinguia da escuridão lá de fora, como jovem a andar pela casa, a que é que acontece quando uma nórdico perdido, a saudade da ou a escuridão lá de fora é que não olhar pela janela para a água, vê o relação perde o equilíbrio. Asle não simplicidade. “É a Aless” é uma se distinguia dele, é assim que se marido, Asle, que se sentia impelido consegue resistir ao fiorde, rema tentativa de esconjurar o grande lembra dele, era assim, era assim a navegar no seu pequeno barco para longe da margem e nunca mais silêncio, porque “quando uma que ele estava, e depois ele disse pelo fiorde dentro até que um dia regressa. O amor como uma pessoa fala nem sempre quer dizer qualquer coisa, que queria ir dar não regressou. A velha casa está tentativa de afastar a realidade? O qualquer coisa”.

peça para ser levada à cena. Depois disso, parece ter descoberto a vocação e tornou-se num dramaturgo prolífico que tem sido representado um pouco por todo o mundo e cujas obras estão já traduzidas em mais de 30 línguas. Os textos de Fosse são quase sempre minimalistas e obedecendo a uma estrutura “rígida”, fortemente estruturados, e cuja principal marca estilística acaba por ser a repetição, abrindo com isso caminho para um espaço reflectivo que está presente em toda a sua obra. Os pensamentos e as sensações acontecem e voltam a acontecer, repetindo-se, à semelhança de uma obsessão; a acção, que quase sempre acontece no presente, surge sem narrador omnisciente que saiba mais do que aquilo que está a ser dito no momento. Isto implica quase sempre que o texto flua do começo até ao fim sem interrupções, sem alguém que nos venha dizer do aspecto ou da idade desta ou daquela personagem, ou por que razão ali está, ou o que faz, pois tudo isto nos vai chegando indirectamente. Apesar da prolificidade da sua produção para teatro, Jon Fosse não abandonou a escrita narrativa. Em 2004 escreveu a novela “É a Aless”, que a Livros Cotovia acaba de publicar, com tradução directa do norueguês. São 85 páginas de leitura quase compulsiva. A escrita ritmada de Fosse torna-se por vezes quase inebriante, hipnótica. Os pensamentos vêm e vão ao ritmo das batidas das ondas na margem do fiorde onde toda a história decorre. Fosse consegue transformar as emoções no “movimento” de uma paisagem agreste, impregná-la desses sentimentos. A subida e a descida das águas, o vir e o ir das ondas, gravam-se no tempo narrativo. Este excerto é um bom exemplo da arte do autor norueguês: “(...) Vê-se a si própria de pé à janela e também ele, pensa ela, também ele esteve muitas vezes assim como ela agora

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 29 mmmnn 60 €12, Quasi, Eugénio deAndrade À Sombra daMemória Pedro Mexia dapoesia. à estética prosa éemtudosemelhante Em Eugénio, da aestética sentimental Geografi Ensaio 30 além disso que a sua estética na estética que asua além disso deEugénio,sentimental emostra interessante comogeografia da recolha de1968,estevolume é Embora estejalonge dadensidade plásticos. deartistas catálogos homenagens ecolaborações em prefácios, textos lidosem e “Rosto Precário” (1979).Reúne de “Os Afluentes doSilêncio” (1968) Rainer MariaRilke Ficção Poesia cinismo, Miller mantém-se o Miller mantém-se cinismo, JongDiz Erica que “numa era de da“Rosa-Crucificação”. trilogia “Plexus” e“Nexus” nafamosa “Sexus”tradução. com conjuga-se clássico deMilleremnova nos EUA enaGrã-Bretanha), o eis (esteve proibido 20anos quase deste ciclo. Hindemith musicou ospoemas Ocompositor Paul“Elegias”. obramaior, dasua escrita as a também altura emque iniciou de Duino, emJaneiro de1912,na por RainerMaria Rilke nocastelo Saídas •ÍpsilonSexta-feira 20 Fevereiro 2009 Livros original em Paris original emParis publicação “escandalosa” da depois anos Sessenta Asa Nogueira) Couto deJosé (tradução Henry Miller Sexus Maria, escritos figura daVirgem poemas sobre a Um de ciclo Portugália Furtado) Dias Teresa deMaria (tradução Rainer MariaRilke A Vida deMaria Andrade, depois Eugénio de livros deprosa de último dostrês reeditado, éo 1993 eagora em publicado Memória”, “À Sombrada a Arial Sharon que venera olucro”. pobrede felicidade num mundo numoptimismo mundo decadente, romântico, oexemplo do segredo familiarque estava oculto mãe,um desua damorte depois quando Júlio descobre,Começa eaventuratraição inevitáveis. edeamor, éépica história com de500páginas.A 2007, tem mais vencido Breve oPrémio Biblioteca visitados (osAçores,visitados oAltoDouro). Baixa,oPorto)Beira eoutros escolhida, comlugares vividos (a napoesia. estética prosa éemtudosemelhante àsua Henry Miller A geografia física érigorosamenteA geografia física Eugénio deAndrade escolheageografi embora tenha (n. 1970)e, recente dePrada É oromance mais Dom Quixote do CarmoAbreu) deMaria (tradução Prada Juan Manuel de O SétimoVéu Carlos Ruiz Zafón Póvoa daAtalaia ereconhece o Eleregressafutilidade lisboeta. à um Portugal secoedigno, alheioà Portugal que contava paraEugénio, comtodoo Alentejo, ficamos o regiões juntarmos Se aestas que desejava. inicialmente descobrir muito doque aquilo mais esquecidos daIIGuerra Mundial e Júlio irádesenterrarepisódios há meioséculo.porele, Obcecado Ensaio de amor. Entre outrascoisas. Somerset Maugham. Éumahistória Encontrarmos” eganhouumPrémio “Anteschama-se denos Este doCoração”. outro “Incertezas deTuPartires” e intitulado “Depois inteiro”. Publicou umromance escreve atempo actualmente Peter Sloterdijk a físicacomlugares vivi dos eoutros visitados

ISOLDE OHLBAUM dos três dos três “Do com-bate Relógio d’Água Oliveira) Correia Monteiro de deCarlos (tradução Peter Sloterdijk A Loucura deDeus “mas foi jornalista em1972, do Norte nasceu naIrlanda O’FarrellMaggie Presença de Almeida) deMaria (tradução O’FarrellMaggie Encontrarmos Antes deNos Internet

MANUEL ROBERTO pitoresco, eque um texto sobre o que EugénioNote-se foge sempre ao ribeirinha(...)”(pág.53). população descentrada dasua vitalidade assado regados averde tinto;a dastripasedolombo sonolenta adigestão festas; pagã dassuas longo febrile deséculos;apulsação convicções forjadas ao políticas, poder edeladrões; asolidezdas deabusos adefendê-la catadura, amuralhapela brutalidade; demá que franca roçavamasculina, tão nãoéesquecida: “(...)rudeza adulta poemas. que conhecemosdos também eroseiraspor lódãos,cigarras bravas Eugénio, eestestextos sãohabitados para natureza uma ética équase crepúsculo (...)”(pág. 143). A do vento, varridapelasombra do penhascos, até casa serláemcima trepando pelos ou outracapelinha auma ciprestes deperfiltaciturno; aos solares guardados alvíssimos por daschuvas; caminhos encabritados espessos galgandomontes;aos depâmpanos àqueles socalcos osolhos espuma, eeuiadeitando de umafesta à flordaságuas deescolhos,deixando desviando-se navega noDouro, “subindo eclusas, àfrente,mais vainum barco que dunas”.E, minha pátria foramestas Sobre asdunasdeFão, escreve: “a paratodaavida. epoética mental paisagem eda mãe,sua infância orgulhoso, que éomundo da mundo camponês, essencial, mata emnomedavirtude? mata desastre dessaloucura“divina” que religiões o evitar monoteístas? Como asrelaçõesficamente entre astrês evoluirão, efiloso- politica social, será “A FúriaeoTempo”). Como Relógio d’Água (opróximo publica título dopensadoralemãoque a novo livro deSloterdijk, oquinto éosubtítulodeste monoteísmos” acontecimento”. pleno em vivo, ao “captadas dois, as“conversastambém íntimas”dos a Dannesseintervalo detempo mas que entrevistas Sharon deu principais século enãoreproduz apenasas que durahámeio deamizade relação Estelivro israelita. éfrutodeuma confidente econse-lheiro dopolítico seraomesmotempojornalista, segue A cidade que oacolheunavida A cidade connosco. Venha construirestesite suplemento, éoutro desafi www.ipsilon.pt Estamos online. Entre em Pedra daLua Gomes) deHugo(tradução Gross Gross eJan Tomasz Irena Grudzinska- Olhos dasCrianças A Guerra Pelos Uri Dan,que con- man, Sharon tem teveGoethe Ecker- Pedra daLua Oliveira) Correia Monteiro de deCarlos (tradução Dan Uri com ArielSharon Conversas Íntimas . Éomesmo o. o. A gentileza corrige oorgulho. Mello). Oorgulhocorrige agentileza. esquecidos (comoPedro Homem de é generoso comalgunspoetas a“charangapolítica, junqueiriana”), agrestescomentários (oturismo, a aoseurecato.cabotinas Propenso a Andrade exagera nasreferências Eugéniomas celebradíssima, de como aspessoas.Figura recatada aparecemevoca osversos tanto Cesariny, Nemésio)equando os (Pascoaes, Carlos deOliveira, Sena, contemporâneo deoutros grandes em1923,Nascido teve deser asorte Camões, Cesário, Pessanha, Pessoa. repetida: Meendinho, Pêro Meogo, umaeoutragenealogia vez poética, momento alto). aoateliêdeResende éum visita abundamospintorespoesis”, (a retrato deamigos e,“utpictura Sombra daMemória” um étambém “Àhumana nãoémenosimportante. paisagem a motivo, um é física mesmo naprosa. Eseapaisagem eregra procura, que opoeta emoção regra”. Éesteequilíbrio entre quepara “amo corrige aemoção a emoção” tarde eque emendou mais “amo aregradisse que corrige a diferente. que Braque Eleconta deexactidão,ofício aprosa nãoé enlouquecida. ao outro” violência nasua eSalomé,“condenadosBaptista um sobre fantasia SãoJoãobelíssima setornanumaSão João (afesta) Guia crianças. olhar surpreendente das e osseushorrores pelo vistos de 1939a1941.Ouguerra nosanosque selheseguiram easdeportações a oeste) Polónia (apósainvasão alemã soviética dolesteda sofreram napeleaocupação que polacas por crianças que reúne 120textos escritos Um documentoimpressionante barcelonesas. por oitodiferentes rotas e leva-nosnuma viagem lugares que frequentam nos elas fazempelacidade, livros, nos percursos que pegou naspersonagens destes “O Jogo doAnjo”. SergiDória “A SombradoVento” e seus romances, “Marina”, Ruiz através Zafón detrês dos Carlospelo olhardoescritor eguiado literária emisteriosa, Mas Eugénio nunca esquece uma Se apoesiaépara Eugénio um Barcelona, ilustrado por de umpasseio Trata-se Planeta do CarmoAbreu) deMaria (tradução Sergi Dória Zafón de Carlos Ruiz Guia de Barcelona

de Morrissey discos asolo Um dosmelhores Discos mmmmn Polydor, Universal distri. Years ofRefusal Morrissey melhores asolo. entreMorrissey está osseus nono álbumdeestúdio aquie bizarrias eali,o da energiadopunkrock temasque bebem Com fi A estranheza Pop produzir o álbum), conhecido pelos produzir pelos oálbum),conhecido morreria emAgosto, de depois produção coube aJerry Finn(que deMorrissey,fase dinâmica a (2004), oprimeiro daactual disco como em“You Are TheQuarry” tiveram em“” (1992). Tal recuperação dasraízes rockabilly acompanha, alembraroefeitoque a energia rock dabandaque o coma de fazer50anos,encantado encontramos umcantor, nasvésperas “Ringleader ofTormentors” (2006), Em “Years ofRefusal”, sucessorde ostemasdesempre édiferente. canta abordados, masoveículo comque continuam aserassuntos afastamento novo álbumumpassovigoroso. interessanteestética eque tem neste tem operadoumareabilitação para Morrissey, que nosúltimosanos éinjusto decoisas Ora, esteestado aosmesmostemas. constantemente personagem que regressa sobretudo quandofalamosdeuma Smiths, temesteladoperverso, ele estimula desdeotempodos que pessoa,situação em tornodasua obra eaprojecção deumimaginário Aconfusãoentre asua caricatura. éhojeuma eMorrissey saturação Para muitos, jáfoiatingidoopontode trabalhos com bandas pop-punk trabalhos combandaspop-punk ca-lhe bem Miséria, incompreensão Miséria, e como Green Day eOffspring. guitarras distorcidas ebaixo distorcidas guitarras sujo, há até um momento dos sujo, háatéummomentodos Logo aabrir, “Somethingis squeezing my skull” tem you me”,todo ela needis ares de canção dos dos ares decanção único no disco: em“Allúnico nodisco: Ramones e, modern life”. Não é caso modern life”.Não écaso atira “There is nolove is atira “There in dura sintomaticamente, - sorrimos quando ele - sorrimosquando ele minutosapenas dois e guardamos deMorrissey “outsider” que com aimagem de estranhamentebem casa meio. Atoadapunkrock “riff” inicial que inicial parece “riff” repetição de clichés. repetição declichés. vêem neleuma avolumam osque um pontoemque se Morrissey chegou a de A carreira Amadou &Mariam Pop, imediato evibrante: Pedro Rios Luís Maio embalagem dançante. longe nasousadiaspopena malivai aindamais O casal baralho Fora do e“VauxhallQuarry” andI”. com“Youjuntamente Are The deMorrissey asolo, discos pop. entre Acolocar osmelhores personagens inclassificáveis mais da o imaginárioMorrissey, umadas estranho, que qualidades sublinham imperfeito, gloriosamentefeio, “Years ofRefusal” é,porvezes, peloclassicismo, marcado um disco primeiro “single” dodisco. quede guitarra foi escolhidapara orquestral ededilhado melancólico dependorlevemente fabulosa canção throwing my armsaround a Paris”, e“I’m ritmo quase militarista, um adebitar com bateriaeguitarras “Mama lay softly ontheriverbed”, never beingsomeone’s sweetie”), yes, there are thingsworse inlife than car/I crashed andbroke my spine/So, agruras doamor: “Iwas driving my (novamente as aaceitar Morrissey “That’s how peoplegrow up” Éassimem comsegurança. pisado eufórico comalgumterritório clássico há sopros). um temafulgurante(e,novamente, noflamencoparafazer com que pega Carol” pelodescaramento conquista lastIspoke “When enquanto to direito asopros “mariachi”nofinal, com um temadosSmithsvitaminado day goodbye willbefarewell” parece “One bizarrias. algumas deliciosas uma correria punk. põetermo aoálbumcom myself”), you,surprise butIfindI’mOKby solidão (“Now might crónica this àsua emrelação curiosa resignação em que assumeuma Morrissey e“I’mOKbydos Sex myself”, Pistols, de“Holidaysdecalcado inthesun” mmmmn Because, Warner distri. Welcome To Mali Amadou &Mariam Scissor Sisters. A associação com a com a Aassociação Sisters. Scissor dos comobandadesuporte actuaram emque osconcertos especial 2006 eadigressão sequente, em que assinaramparaoMundial de popularidade cresceu comotema produziu esseálbumde2005. A aproximação aosom Manu Chao, que Bamako”, à graças emboaparte com“Dimanchea internacional anos 80, ganharam projecção desdeos musical partilhada carreira Se “RingleaderofTormentors” era “Years ofRefusal” este lado balança Entre asnovidades também estão década. Com uma uma Com década. desta africana sucesso dapop maiores de casos são umdos Amadou eMariam 09 monstra mo instrumentista francêsJuanRozoff,instrumentista o chamada deconvidados comoomulti- mestiçagem a latina,que justificam no afrobeat, nohiphopemesmona Novidades sãoasincursõesnoreggae, electrónicos epercussão local. frequentemente comteclados Mariam contracena mais ligeiras, ondeavoz ternurenta de deformatopopebatidas canções Alternamcom e ritmosdedança. comórgãoFarfisa sempre carburados quase funk, mais ora numa dinâmica Amadou, oranuma blues, toadamais de “riffs” incendiáriosdaguitarra nos dostemasassenta ampliada. Parte dessa fórmula revistae única, garagem, àmodaafricana. 60 e70, numa versão festiva ede sons rock/soul/funk, típicosdosanos umarepescagem raízes. Mais dos oufielaossonsdassuas autenticista, êxito -éque foramumabanda nunca causaporventura doseu aprincipal espantoso- doMali.Eomais capital há 36anosnuma escoladecegos da que seconheceu normal nestecasal, lembra aninguém,masnada é banda “camp” nova-iorquina não ORGANIZAÇÃO

ORGANIZAÇÃO ilustração: Zepe “Welcome To Mali”éareedição Transversalidades |CabaretVoltaire Formação Antestreias defi lmesportugueses|ExposiçõesMONSTRINHA Animação Suíça|CompetiçãoLongasecurtasdeEstudantes De 9a15deMarço...AMONSTRA àsoltaemLisboa! ACRAESTRATÉGICA PARCERIA 9 PARCERIA ESTRATÉGICA CO-PRODUÇÃO MUSEU DA MARIONETA Bacharach da músicapopular: compositores bem sucedidos Um dosmais festival deanimação stival d www.monstrafestival.com MEDIA PARTNER MEDIA PARTNER Ípsilon •Sexta-feira 20Fevereiro 2009• Rhino, Warner distri. Bacharach Collection Magic Moments -theDefinitive Burt Burt Bacharach defazerafesta. capacidade pelasousadiascomo pelasua tanto “Welcome To Mali”recomenda-se ser pop, evibrante, imediata baralho. deixade Quenemporisso ousadia numa jádesiforado música umsuplemento de dos Gorillaz, bizarro mais esquecida nocatálogo de Amadou.Soacomoumapérola volátil quase a combinarcomoregisto deressonâncias orientais computador introduz tecladosdejogo de produção doinglêsDamonAlbarne “Sabati”.Trazde abertura, a porsinallogo notema rumo radical, incluiumamudança de mali também o guião, masonovo álbumdocasal variações que semsubverter recriam K’Naan. São rapper somali-canadiano nigeriano Keziahguitarrista Zoneseo “colecção definitiva” daextensa Não éaprimeira-nemseráúltima mmmmn APOIO APOIO LISBOA 09 Teatro Meridional Museu deEtnologia Museu daMarioneta Museu doOriente Cinema SãoJorge – animatedfilmfestival

15 Mar 15 www.monstrafestival.com 31

32 Britten..., disseoPedroBritten..., contigo, temos10CDdo Mas oquesepassa Abraçar amaestrina? (bolas para asregras)? Posso bater palmas Reis Bárbara •ÍpsilonSexta-feira 20 Fevereiro 2009 Discos Britten brutal Coff maestros que andamporali“sem acharcaminho”. Prefi “mascontinuam afazerosgestos”meio doconcerto ehá todos osnaipes”.Há maestros que “perdem asrédeas” no adar-me detonsarrebatadoreschega uma“felicidade em osmaestros. sãoaspalavrasencanta escolhidasparacriticar fazer uma“insípidaabertura”. presença”pode teruma“frescaeactiva ou,pelocontrário, umcantor médios”.Na clássica, “fogosidade” e“bonitos “constelações interpretações “solares”, tímbricas”, “explosões nostuttis”, “brio particularíssimas: rítmicas”, ouvemcolorido”. coisas daclássica Alémdisso, oscríticos e têm,comfrequência, “grande transparência e belastravessuras” das“mais capazes tímidas” mastambém num “som fortemasdespedaçado”? que cai CD do Britten..., disse oPedro.CD doBritten..., disse amaestrina?Abraçar Mas oque sepassacontigo, temos10 salvamos disto? paraasregras)? Posso baterpalmas(bolas Auditório (eaterramosnuma árvore dojardim). nos Como enosatirasem piedadeparaojanelãodoGrande cadeira avassaladora, tristeza oque da fazer?, oranosarranca picos que ultrapassam oEverest numa eoranosafoga minhanoiteinesperadaatinge Britten (1913-1976)desta maestrina australiana SimoneYoung dirigiuaOrquestra eo programa. dahora enãofuisequer emcima o levantar Cheguei Noite deVerão” emversão concerto? O“Peter Grimes”? amigo tive depára-quedas, e,caída belanoitedoano. amais pura. dias, sorte uma “fl rigorosos”, “apaixonados esugestivos”, ou seja,osque têm ler sobre osque ebrilho”, têm “veemência são“seguros e semana antesdofi Owen, daguerraeque morreu poeta emcombateuma com poemasdo“HinoàJuventude Perdida” deWilfred ostextosanos, misturando emlatim daliturgiatradicional de requiem daguerra aosmortos quandotinha48 dedicada emInglaterra.EscreveuMundial missa adarconcertos asua BrittendaIIGuerra passouboaparte oestatuto), conseguir (em1942foi atribunalpara de consciência e objector que Britten escreveu em1961.Um profundo pacifi deouvirepercebique tudo:erao“War acabara Requiem”, [email protected] que nunca mevêm àcabeça. roubados”, expressões“bungee jumping”eem“beijos duas diga terra,oque lheapetecer.” nada, nãotenhamedo. Digamadeira,digachato, digafruta, veterano. nãopenseem “Nãopenseseéumdisparate, um que disse-me a primeira coisa lhevieràcabeça”, vinhos.“Cheire, segredo sobre como criticar bebaediga S Ler os bons críticos, e isto nãotemumpingo eisto deironia, osbonscríticos, Ler oqueme mais daclássica Mas detodoovocabulário asorquestrasNa clássica, podemser“ligeiramente Só nofi Sem intervalo, durante90minutos sempausas, a eusabia.Masoquê? Era Britten,isso O“SonhodeUma Fui àGulbenkiancomunsbilhetesoferecidos porum Pois eu, durante este Britten brutal, só pensava em só pensavaPois eu,duranteesteBrittenbrutal, em Há unsanosaprendi um num comescanções jantar ee-break uência esvoaçante dogesto”. esvoaçante uência Apanhei umassimhá m, quando fui à procura do programa, soube o fuiàprocuram, quando doprograma, soubeo tons escuros”, em“subtis ou nuances decor” timbres de falaem“belíssimos música clássica, insuperáveis. de Quem,anãoserumcrítico absolutamente asdaclássica, especial demúsica, em empre ascríticas mefascinaram m daIGuerra. outra hipótese. A peça de de outra hipótese.Apeça faço noginásio. intensasdoque asquemais eu braços edaspernas,emfl do corpo, paranãofalardos a voar àmedidadaondulação os seuslongos soltos cabelos centímetros esolaencarnada, seus sapatos-agulhadedez nos grandiosa, semvacilar o barítono eotenorcomgarra Coro daGulbenkian,asoprano, Simone Young nãotinha de canções:Jay Reatard Um exímioescritor sta sta exões exões ro ro punk a falar de zombies e corações punk afalardezombies ecorações põe apopberrar depressões eo Happening, osOblivians eosDevo, não restem dúvidas. “Don’t let himcomeback”,para que aversãochegar dosGo-Betweens, up” ouvidoalgures) -eatéhá-de o“it’scomo nosassegura allfucked que bem(masnãoestá, tudoestá adizer-nos acústica comguitarra lo-fi person” (osDevo hápop porperto), em“Anotherteclados dançarinos negro, nele:há masnãonosafogamos prazer. Aqui, onegro podesermesmo paranossoconfuso electrificado deparanóia éumcaos festa, bebedeira rock’n’roll, nãoéuma eisto é jánãoépós-punk, -eisto eléctricas deguitarras estridente eumaerupção Tudoexplodepunk. comumberro pós- paraque abismos nosencaminha eumalinhadebaixo estilhaçarem-se comvidrosTudo começa a Belanciano daantologia. nasnotas Costello mundo conhece,comoescreve Elvis que todo o confidenciais canções composições, dassuas influência prestaram tributo, ouassumirama sãoinfindáveisLekman, osque lhe Rufus Wainwright, dosAiraJens dosWhite Stripesa Na últimadécada, Dr.afamado produtor dehip-hop Dre. para alémdeCostello, colaborava o desempre politizado mais eonde, “Atoriginais, Time”(2005), This o eoseuúltimoálbumde Costello Elvis colaboraçõescom destacando-se irregular,mais parado, nãotemficado últimos tempos, apesardopercurso home” comShirley Bassey),masnos a“A Springfield, Dusty nota house is Warwick, lookoflove”, de“The com DeShannon a“Walk deDionne onby” world needsnow love” is deJackie the imaginário popular(de“What que do fazemhojeparte canções ouro. Foi que compôs nessaépoca fasede -constituíramasua elegantes produção lustrosa deorquestrações euma traços depopclássica tranquilo, sugestões bossa-nova, -mescladejazz conhecido ficar quando definiuosompeloqual iria maior musa (DionneWarwick) e colaborações desucesso comasua das realizou grandeparte anos 60, dos70, eparte quando Os decarreira. de quatro décadas mais dereflectir são 3CDque tratam “Singles 06-07” recicla os Beat recicla osBeat “Singles 06-07” popular. feita, Desta sempre damúsica compositores de bem-sucedidos mais Bacharach, umdos mmmmn Popstock Matador; distri. Singles‘08 Matador Jay Reatard mmmmn Sabotage Records; distri. In TheRed Singles 06-07 Jay Reatard obra de Burt obra deBurt Vítor Vítor Periscópio O Maquinista O Maquinista anuncia paraJunho. menos quedoálbum se isso inesgotável -nãoesperamosnada numa fontedeprazer transforma-o dovazio e Alimenta-se canções. bem num). alternativo finalistas (orefrão caía death” paraestragarumbailede Replacements em“An anuncia-se ugly aqui, oespíritodos electricidade, eopunkserena a acústicas guitarras os Ramones.Contudo, aqui ouvem-se deReatardmúsica muito partilha com diríamosquenessa dualidade, a -e, constante ser umainsatisfação como desejável, nada éseguro anão erupções demelodia,nada funciona que sãocontagiantes canções, Nestas dediscos. ou nomeiodacolecção empalco,se sente emcasa noestúdio deummisantropo que só pela cabeça dançável,deliciosamente inventado É rock adolescente, deliciosamente desinglessemmácula. uma colecção comootítuloanuncia: exactamente eapresenta-se visceral de mais aquilo quepõe departe Reatard tem excessivacoisa em palco. edecadente setransformaem como tudoisto DVD aovivo deactuações paraver um destroçados -eacrescenta-lhes mmmnn reconfortantes e ouvem-se eouvem-se reconfortantes ouvem-se harpas jazzfumarento,respira-se bamboleante docontrabaixo e Aqui, o“groove” ouve-se apagam umuniverso partilhado. perceber que asdiferenças não exterminador deBuñuel” -,para relva de Lynch”, “o anjo na voz deTom Waits”, “a orelha na matéria que oenforma -“a rouquidão iluminam” emque Kyron a elenca ao final,aesse“Salve osque me quase Contudo, chegar nãoépreciso aparentemente, tudoaqui édiferente. Esim, conhecemos dosHipnótica. daquilo que separar estedisco pensar-se-á que háummundo a que de“spoken éumdisco word” primeiro álbumasolo. Sedissermos O Maquinista Jay Reatard de éumexímio escritor Singles‘08”, vez, “Matador porsua assina o seu assina oseu que assim Hipnótica dos vocalista João BrancoKyron, novo trabalho de “O Maquinista” é o M.L. Internet Bossa NossaBossa o rosto dos Márcia Barros, Sony/BMG ritmo bossanova em O melhordapopportuguesa NossaBossa frases que alinha. paraavidadas demasiado mecânico do que seriadesejável, emnarrador transformam João BrancoKyron, mais que darecitação, dedinamismo falta pela peca concretização que asua universo. disso, depois Assinala-se, Kyron mantémacoerência doseu expandindo expressão asua criativa, a ideiaeaformacomo, Louva-se nos” aacompanhá-lasatentamente. às palavras “obrigando- acentua-o, Aênfasedada musical. com oobjecto física imaterialidade, umarelação reforçar, emtemposde Gray,Lois “O Maquinista” pretende Pedro de Gundaredeumafotografia Acompanhado de deumailustração sobraramaopovo?”lembranças “Eque desterrada, questionando-se: com apersonagem deKyron, momento dodisco, esseque termina -provavelmenteaberto o melhor que em policial termina com ocaso atravessa ouum Alfamaemprocissão que messiânica são umahistória palavras serevelarem. Easpalavras sonoros cenáriosparaas -criam sãoesquissos Tudoisto dos edifícios. ancestral atravessando osesqueletos percussões que tribais sãopulsão mmmnn composta por composta vez, comumaequipa Desta bossa-novistas. “covers” declássicos 2001 ecompostopor em Bossa”, editado tivera positiva nota em“Márcia In voz dabrasileiraMárcia Barros, que já connosco. Venha construirestesite suplemento, éoutro desafi www.ipsilon.pt Estamos online. Entre em M.L. detrás dele há a detrás deleháa rosto, maspor terum Nossa evita sob otítuloBossa aqui seapresenta O colectivo que . Éomesmo o. o. ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente

SEX 20 FEV SALA 2 23:00 BANGALAFUMENGABAA músicos portugueses, o risco é outro: transpor para a batida da bossa onze canções pop portuguesas de irregular qualidade, mas todas elas populares: desde o “Bairro do amor”, de Jorge CONVIDA ELZAZZA SOARES Palma” ao “Perdidamente” dos Trovante, passando por “Sou como um rio” dos Delfins ou até pelos “Jardins proibidos” de Paulo Gonzo. Apesar da excessiva colagem à Um disco falhado o dos Makongo métrica dos originais (veja-se “O DOM 22 FEV pastor” dos Madredeus), distinguem- se por uma elegante metamorfose, além do tema de Palma que abre o SALA SUGGIA 12:00 e 18:00 disco, “O anzol” (Rádio Macau), “Asas” (GNR) ou o achado que é a Jazz recriação de “Tudo o que te dou” (de Abrunhosa). Menos ousado do que ORQUESTRA NACIONAL experiências anteriores com Bobo Stenson Trio reportório português (Couple Coffee, Cantando Mylene Pires), “Bossa Nossa” justifica ECM, dist. Dargil a audição. Nuno Pacheco mmmmn DO PORTO Makongo Bobo Stenson foi Angolan Kung-Fu um dos principais Makongo, distri. Sony-BMG Lavard Skou-Larsen direcção musical protagonistas da mmnnn “revolução” Håkan Hardenberger trompete musical que a Depois do editora ECM reconhecimento, realizou nos anos 70 e 80. um pouco por Acompanhando frequentemente Carlos Gomes Abertura O Guarani todo o mundo, do alguns dos grandes nomes Heitor Villa-Lobos Bachianas projecto português americanos que visitavam a Europa, Buraka Som entre eles Stan Getz ou Sonny Rollins, Brasileiras n.º 5 (arranjo para trompete) www.casadamusica.com | T 220 120 Sistema, poder-se-ia imaginar que o Stenson conquistou uma sólida kuduro, e outras linguagens similares, reputação como pianista de rara Cláudio Santoro Ponteio seriam alvo da atenção de quem cria, sensibilidade lírica, sofisticado e projecta e difunde música em modernista. Na ECM participou em Heitor Villa-Lobos Bachianas Portugal. Existem razões para isso - discos históricos ao lado de Jan não as vamos esmiuçar agora -, mas Garbarek, Tomasz Stanko ou Charles Brasileiras n.º 2 não surgiu até agora qualquer Lloyd, e iniciou a sua discografia em projecto que consiga acrescentar 1971 com “Underwear”, o primeiro de qualquer coisa aos Buraka. No papel, uma relação criativa intensa com o os Makongo até pareciam uma ideia extraordinário baterista Jon válida. Constituídos pela dupla SP & Christensen. No ano em que o Brasil é o País Tema da Casa da Wilson (que lançou um primeiro Em “Cantando”, embora não álbum, em 2006, com algumas ideias atinja o grau avassalador de Música, o Carnaval celebra-se com dois concertos válidas), pela jovem cantora Petty - “Serenity”, o seu quinto disco de que se evidenciava nos espectáculos originais, Stenson junta-se distintos na forma, mas homogéneos no conteúdo. ao vivo dos Buraka - e por dois DJ novamente a Christensen e ao Na sexta-feira, os Bangalafumenga seguem na (Stikup e Knowledge), os Makongo contrabaixista Jon Falt para criar um ficam aquém do esperado. O centro registo impressionista onde se vanguarda dos blocos de rua misturandoisistur o samba da maior parte das canções é o evocam luzes e sombras nórdicas, serpenteado frenético dos ritmos tocadas pelo lirismo contemporâneo com o baile funk, o reggae ou oora rap, convidando kuduro, mas também há muitas do líder e fortemente influencidas alusões aos terrenos do hip hop e por outra grande figura do piano uma das grandes musas do samba, Elza Soares. R&B. Mas nem a produção de SP é jazz, Keith Jarrett. Na interpretação convincente, repetindo demasiados de temas como “Wooden church”, Os festejos prosseguem no domingo ao sabor lugares-comuns nas já de si saturadas de Anders Jormin, “Don’s kora de músicas cariocas, danças extrovertidas estruturas rítmicas, nem a voz song”, de Don Cherry, ou “A fixed dulcificada de Wilson constitui, no goal”, de Ornette Coleman, os três e de acentuado bom humor pela Orquestra caso, qualquer mais-valia. Em alguns músicos têm amplo espaço para criar dos temas mais conseguidos e a música desenvolve-se num fluxo Nacional do Porto, num concerto que conta com consegue-se perceber a energia orgânico, natural, numa dinâmica esfuziante de de comunicação absolutamente o virtuoso do trompete Håkan Hardenberger. Petty, mas notável. Explorando a fundo o isso é sentimento de cada canção, manifesta- “Cantando” reafirma mente pouco Stenson como um dos para afastar o grandes músicos de jazz fantasma europeus. Rodrigo de disco Amado falhado. V.B.

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Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 33 34 •ÍpsilonSexta-feira 20 Fevereiro 2009 Concertos

SACHAMARIC três acoisa: dinamarquesesfunciona como já sabemosperfeitamente deosverdepois emconcerto. Agora, que visitar qualquer decidam local los emconvidados dehonra etransformámo- dedança, de pistas começou atomardeassaltoumpar nãoadosStones) Benassi, Benni versão de“Satisfaction” (adoitaliano desdeque a mobília. Conhecemo-los da Os WhoMadeWhojáfazemparte Armazém A.6ªàs23h00. Tel.: 218820890. 18€. LuxFrágil.Lisboa. Av. Infante D. Henrique, Speed +KaosTiago WhoMadeWho +ChicksOn Mário Lopes Speed umanova atitude. novo disco, asChicksOn WhoMadeWho apresentam hedonismo faces do As duas Pop Três dinamarqueses metidosemfatos esqueleto fazem dosconcertosumfestimdehedonismo Concerto Os primeiros vãoestar “Motion”, em1999. estrearam comoálbum lar poraquidesdequese Orchestra, presença regu- e osingleses Cinematic em Portugal hádoisanos, Deerhunter regressos, osamericanos gal. Destavez sãodois concertos emPortu- da marcação devários notícias quedãoconta Vão-se acumulando as , queestiveram ao que nelesepassa.Ouseja, emrelação crítico mais mas também divertido,o mundo mais umlocal , eumanova atitude.Querem tornar - Boys letrasatírica eahabitual Beach single, “Supersurfergirl” -sim,praia, que veio aseguir, têmumnovo electroclash semculpanenhuma do Douglas Gordon, instigadorasdo plástico Karl edoartista Lagerfeld dePeaches, doestilista amicíssimas conspiradoras pós-feministas de“Weinstalação don’t play guitars”, asChicksOnSpeed.Otrio- actuam de apresentações degente familiar, agradável vê-los porcá. “Saturday NightFever” eésempre versão anos00edebomgosto do combinações inesperadas) -,sãoa (elesgostamdesértico de roqueiro- emais psicadélico-digital Plot”-mais “The originais, álbumde apresentar osegundo atinge pontodesaturação. nunca que, apesardasmuitas visitas, dehedonismo umfestim concertos bem expostas, que fazemdos aotechno comguitarras brincam “groove” bemdesenhado, que rock’n’roll, que seatiramaofunkde dedelírios fazem umafesta metidos emfatosesqueleto que Antes deles,continuando emmaré Os WhoMadeWho, que vêm uma dasbandasmais hunter sãoactualmente de Atlas -osDeer- Sound 2008, comadesignação magnífi - queeditou tambémum Bradford Cox (nafoto) de 2008.Liderados por nas listasdosmelhores discos maispresentes “ seu maisrecente álbum, Junho, apresentando o no Lux, emLisboa,a1de Microcastle co álbumasoloem ”, umdos da banda. quecrónica povoam álbuns oscinco deinsatisfação ashistórias cima lá embaixo láem eRibasagritar berraria animada, pessoalaossaltos acelerado, refrões para entoar em mudaram oque quer que fosse: ritmo pararam,nunca enunca Censurados, dos 1996, fundadosdascinzas hardcore existem desde nacional, representantes do destacados OsTaraao palcoprincipal. Perdida, umaondadepóemfrente a levantar recuperar dodia anterior, daressaca napraia a normalmente aindaestá noite, levaramumamultidão, que àsoitoda com orelógio apontado ano passado, nomesmoSudoeste, palco secundáriodoSudoeste. No das maiores enchentesdesempre no anos,protagonizaram Há dois uma 213240580. 20€. 6ª às22h00(portasabrem às20h30).Tel.: ColiseudosLisboa. Recreios. R.PortasSt. Antão,96. Tara Perdida palco emalgummomentodanoite. o bandas acabarem porpartilhar se, comosesegreda poraí,asduas estranho -nãoseráportanto política ferramenta deseja sertambém WhoMadeWho, que mashedonismo comoos hedonismo, tal electrónicos. guagens popeamétodos jazz, para seabriralin- de que partedeumaideia do colectivo, Fleur”, “Ma último álbumdeoriginais têm comopanodefundoo do Porto. Osconcertos no Teatro SádaBandeira Lisboa, a2deAbril,e3, estar naAula Magna, em A Cinematic Orchestra vai alternativo. entusiasmantes dorock se desloque. que ondequer abandaarrasta que anos, asverdadeiras peregrinações quem nãoviu,aolongo dosúltimos noPorto,Batalha, sóésurpresa para noCinema deactuação seguida oslevassempelamão.pais semque os idade parasairdecasa banda surgiuem1996, nãotinham após ano, miúdosque, quando a 90 evêem ano juntarem-se-lhes, que osacompanhavam de nadécada popularidade, mantêmpróximos os de concertos. passa palavra epelointensoregime Pontapés, foramcrescendo pelo versão punkhardcore dosXutos & descreveríamos como emcaricatura que osTaraconcertos: Perdida, que aquilo que vinhasendopalpável nos em2008,confirmou álbum, editado Zorn surge agora ao associado Calouste Gulbenkian, Fundação altos doúltimoJazz emAgosto da duo comFred Frith,umdospontos deter protagonizado,Depois em davanguardacaminhos nojazz. que marcou econtinua os amarcar de John Zorn,saxofonista lendário aumaactuação de voltar aassistir temosoprevilégio Casa daMúsica, temadeste anona ao Brasil,país dedicada No âmbitodaprogramação Bilhetes 20eurosPorto -22:00h. 26 deFevereiro, SalaSuggia, daMúsica, Casa Ttukunak (percussões) (percussão)Cyro eDuo Baptista JohnCom Zorn(saxofone), Ttukunak John /Cyro Zorn Baptista/ Baptista. improvisação livre, aCyro da grande iconoclasta que reúne John Zorn,o aoencontroassistir musical Expectativas aorubro para Rei Cobra Jazz “case-study” depopularidade um Tara Perdida, A chegada ao Coliseu de Lisboa, deLisboa, aoColiseu A chegada Verdadeiro de “case-study” oúltimo “Nada aEsconder”, Rodrigo Amado M.L. Concerto Treze anos depois do último formada pelos irmãos concerto em Portugal, os Malcolm e Angus Young é australianos AC/DC regres- uma das mais requisitadas o sam a 3 de Junho ao Estádio do momento, sendo que na de Alvalade e os bilhetes Europa estão praticamente vão estar disponíveis a esgotados os cerca de 50 partir de sábado, 21 de concertos agendados. Fevereiro. O preço varia A digressão dos AC/DC entre os 55 e os 60 euros. À pela Europa arranca no semelhança do que acon- próximo dia 18, em Oslo, na tece nos restantes países, Noruega. O concerto vai dar também em Portugal cada a conhecer ao vivo o último pessoa só poderá adquirir álbum de originais da um máximo de quatro bil- banda, “Black Ice”, lançado hetes. A digressão da banda em Outubro de 2008.

Clássica Carnaval brasileiro

O virtuoso do trompete Hakan Hardenberger interpreta a famosa Bachiana nº5 de Villa-Lobos. Cristina Fernandes

Hakan Hardenberger e Orquestra Nacional do Porto Direcção Musical: Lavard Skou- Larsen. Com Hakan Hardenberger (trompete). Porto. Casa da Música. Pç. Mouzinho de Albuquerque. Dom. às 12h00 e 18h. percussionista brasileiro Cyro Tel.: 220120220. 5€. Baptista, figura maior da música livre brasileira que desenvolveu um percurso notável marcado por colaborações com Herbie Hancock, David Byrne, Brian Eno, Laurie Anderson, Cassandra Wilson ou o BORGGREVE MARCO próprio Zorn. Apesar da importância de Cyro Baptista no cruzamento de géneros e linguagens musicais, é o saxofonista que rouba grande parte do protagonismo deste encontro musical, neste caso tornado incógnita pela participação do duo de percussões Ttukunak, duas irmãs gémeas provenientes do País Basco. Parece não ter fim a criatividade e Hakan Hardenberger constante capacidade de reinvenção de Zorn, músico responsável pela O Brasil é o país tema da temporada editora Tzadik, por alguns dos mais da Casa da Música, marcando a emblemáticos clubes de vanguarda programação num largo espectro de de Nova Iorque, e ainda pela autoria géneros musicais que se estendem de Cobra, o complexo e fascinante do erudito ao popular e englobam jogo de improvisação livre. várias contaminações. Assinalando a quadra festiva do Carnaval, a Orquestra Nacional do Porto propõe no domingo (ao meio-dia e às 18h) um programa com obras de três importantes compositores da história da música no Brasil, dos quais o mais conhecido é Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que morreu há precisamente 50 anos. Da famosa série de Bachianas Brasileiras - onde o compositor presta um original tributo a J. S. Bach- serão interpretadas a nº 2 e a nº5, esta última numa transcrição Festa até de madrugada com para trompete realizada pelo trompetista sueco Hakan Hardenberger para o concerto de gala do Campeonato do Mundo de Futebol de 2006. Será solista o próprio Hardenberger, considerado DJ SAMMY JO um dos mais extraordinários virtuosos do seu instrumento e o (SCISSOR SISTER TOUR DJ) destinatário de numerosas composições contemporâneas inspiradas pela sua portentosa técnica e musicalidade. O programa inclui ainda a Abertura da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes (1836- 1896), estreada com grande sucesso no Scala de Milão em 1870, e “Ponteio”, de Claudio Santoro (1919- 1989), peça que ilustra a vertente nacionalista de um autor que foi John Zorn continua a marcar também influenciado pelo M/18 os caminhos do jazz atonalismo e pelo serialismo.

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 35 Orishas, 3ªfeira, Almada Centro Cultural de Belém iniciou há iniciou Centro CulturaldeBelém ou doalargamentodepúblicos.O comintuitospedagógicospraticam na área o damúsica erudita instituições que promovem eventos ficar. todasas quase Actualmente parececomentados ter vindopara O modelodosconcertos às11h00. Tel.:Dom. 213612400. 5€. Centro CulturalLisboa. Praça deBelém. doImpério. Artzen. Pacheco (piano),Quarteto (violoncelo),PauloSofia Gomes Abreu Cristiana (violino), Com deCordas e Quarteto Trio Com Piano Ferreira deCastro comentados porPaulo Mendelssohn eHaydn Conversa noCCB Concertos à 36 Albuquerque. 6ªàs23h00.Tel.: 220120220. 20€. Pç. daMúsica. Porto. Casa Mouzinhode Bangalafumenga +ElzaSoares 20 Sexta Com VascoCom Agostinho (guitarra), Quarteto deVasco Agostinho Tel.: 245307498. 10€.Passe Festival: 30€. Portalegre. Praça daRepublica, 39. 6ªàs21h30. Portalegre. Centro deArtesdoEspectáculo de (bateria). (contrabaixo), BrunoPedroso (piano), Bernardo Moreira FilipeMelo (guitarra), Pais JoanaCom Machado(voz), Afonso Joana Machado Alto.Bairro 6ªàs23h00. Tel.: 213430205. 6€. 59 Rua GaleriaZédos - Bois. Lisboa. daBarroca, Ferrandini (bateria). Miguel Mira (violoncelo),Gabriel RodrigoCom Amado (saxofone), TrioRodrigo AmadoMotion Ver textopág. 16 Agenda •ÍpsilonSexta-feira 20 Janeiro 2009 Concertos Village People naGala deCarnaval noCasinodeLisboa,2ªfeira

De Mim Não Posso Fugir, Paciência!

neurótico. Max vive para o prazer, ajusta na perfeição corpo e voz à Sentido Portátil O riso é recebendo cheques chorudos de personagem Franz, o demente velhinhas perversas, e Leo vive para dramaturgo nazi. Com a entrada o dever, ordenando as contas dos desta figura, que se move como um a melhor outros. Cansados da subserviência, pássaro tresloucado, o espectáculo unem-se para congeminar a fraude ganha cor e as aves raras desfilam arma perfeita - produzir um espectáculo no crescendo de loucura de um falhado para ficar com o dinheiro despautério sem limites. O investido. Escolhem uma peça encenador Roger DeBrie (Rui Mello) povoada de personalidades reais, inconcebível, intitulada “Primavera e o seu secretário Carmen (Rodrigo onde a realidade e a ficção se Os produtores portugueses para Hitler”, o pior dos Saraiva) fazem um casal de drag misturam. não se enganaram na encenadores, um elenco queens primoroso e o Hitler gay de A adaptação e encenação de Carla deplorável. Tudo somado, o Rui Mello é uma delícia. Nem Bolito, com produção Jump Cut, traz fórmula e acertaram nas espectáculo é considerado uma sempre as actuações mantêm o os “Shandys”, nome secreto dos escolhas. Rita Martins sátira brilhante de rara inteligência. mesmo vigor, o que determina elementos da sociedade, para a sala Os produtores portugueses, esses oscilações de ritmo e um de ensaio do Centro Cultural de não se enganaram na fórmula e dinamismo hesitante ao longo do Belém de dia 21 a dia 24 de Os Produtores acertaram nas escolhas. As espectáculo. Embora de forma Fevereiro. De Mel Brooks. Encenação: Cláudio interpretações comedidas de irregular, todos os actores acabam “Sentido Portátil” fala de uma Hochman. Com Rita Pereira, Miguel Miguel Dias e Manuel Marques, não por ter bons momentos. sociedade secreta constituída por Dias, Manuel Marques, Rodrigo tendo rasgos de extrema Destaque-se, ainda, o conjunto de artistas portáteis. Para ser um Saraiva, Custódia Galego. Direcção comicidade, também não caem na vozes masculinas, que exibe um “Shandy” ou artista portátil era Musical: Nuno Feist. caricatura ou despropósito. Com o óptimo nível.” Já o cenário, necessário ter uma obra que não Lisboa. Teatro Tivoli. Av. Liberdade, 182. Até 28/02. 3ª, 4ª, 5ª e 6ª às 21h30. Sáb. e Dom. às 17h00 e sentido de humor apurado, esteticamente desajustado, nada fosse pesada e que coubesse 21h30. Feriados às 17h00. Tel.: 213572025. 27,5€ a destacam o extremo ridículo das traz ao espectáculo. Mas, facilmente numa mala. Uma 45€. situações. Pedro Pernas, que ponderando a distribuição do referência à “boîte-en-valise” de mmmnn nasceu para o teatro musical, está dinheiro, vale mais ter uma boa Marcel Duchamp, onde o artista como peixe na água. Fazendo uso orquestra de vinte músicos do que guardava versões miniaturizadas das Dizia Mel Brooks que o humor é das suas competências expressivas, uma cenografia sofisticada. suas obras. Duchamp e o poeta apenas outra defesa contra o Os gostos dificilmente se discutem Jacques Rigaut são personagens na universo. No polémico e o humor não é menos peça, tal como outras filme “Os Produtores” problemático. Porém, o riso personalidades do movimento (1968) Mel Brooks, partilha-se e Dada. E o que torna a literatura judeu de Brooklyn, mais triste do portátil? “A ironia, a imaginação, o defendeu-se bem e que chorar humor, a inteligência, é isso que faz disparou em todas sozinho é rir a escrita suportável, tanto para o as direcções: desacom- leitor como para o escritor,” produtores da panhado. Nesta comédia musical, explicou Vila-Matas ao PÚBLICO Broadway, ninguém ri sozinho. numa entrevista em 1997, quando encenadores, “História Abreviada da Literatura críticos, público. Portátil” foi publicada pela Assírio & Satirizou os Tal como um Alvim em Portugal. musicais com um relâmpago Henrique Ralheta, cenógrafo, musical, castigou o teve um papel fundamental mau gosto com o ao criar uma série de adereços que Sentido Portátil mau gosto e também seguem a ideia de De Carla Bolito, a partir de Enrique exorcizou o pavor, “portabilidade”, diz a encenadora Vila-Matas. Com Diogo Bento, Rita ridicularizando Carla Bolito. As próprias cortinas Calçada Bastos e Tiago Mateus Hitler e a suástica. Os Produtores: nesta comédia transformam-se, revelando em Cenário Henrique Ralheta Na produção musical ninguém ri sozinho determinada cena, por exemplo, um portuguesa do Lisboa. Centro Cultural de Belém, Sala de espelho ou um mapa onde são Ensaio. De 21/02 a 24/02. Sábado, 2ª e 3ª às musical que, em 21h, Domingo às 19h. Tel.: 21 3230053. 10€. assinaladas as viagens das 2001, arrecadou 12 personagens. Tony Awards, Em 1985, Enrique Vila-Matas Enrique Vila-Matas vai estar Miguel Dias escreveu “História Abreviada da presente num encontro onde interpreta o Literatura Portátil” como um discutirá a obra, no dia 21 às 18h e produtor falhado, manifesto contra a literatura 30, na Sala de Leitura do CCB. O Max, e Manuel “pesada” carregada com descrições encontro “Café Perec” é organizado Marques é Leo, e sem sentido de humor. É a história pelo CCB e pelo Instituto Cervantes. um contabilista de uma sociedade secreta ficcional, Henrique Mourão

Agenda

Teatro Lisboa. Teatro da Trindade. Largo da Trindade, 7 A. Dança De Mim Não Posso Fugir, Até 15/03. 4ª, 5ª e 6ª às 10h30 e 15h (para escolas, Paciência! mediante marcação). 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 22h00. Estreiam Dom. às 17h00. Tel.: 213420000. 8€ Estreiam Coreografia: Tânia Carvalho. Bailarino:Tânia Carvalho, Luís O Café Minetti ou Retrato Visita Guiada Guerra, Maria João Rodrigues, do Artista Quando Jovem Encenação: Nuno M Cardoso. Com Coreografia: Cláudia Dias. Bailarino: Marlene Freitas, Ricardo Vidal. De Thomas Bernhard. Encenação: Fernando Moreira, Lígia Roque, Cláudia Dias. Almada. Teatro Municipal de Almada. Av. Teatro/Dança Mónia Calle. Com David Pereira Micaela Cardoso, Paulo Freixinho, Aveiro. Teatro Aveirense. Pç. República. Dia 25/02. Professor Egas Moniz. Dia 21/02. Sáb. às 21h30. Bastos. Pedro Almendra,entre outros. 4ª às 22h. Tel.: 234400922. 4€. Tel.: 212739360. 10€ (c/ descontos). Lisboa. Casa Conveniente. Rua Nova do Carvalho, Porto. Teatro Nacional São João. Pç. Batalha. Até Bal Moderne Segundo Plano 11 (ao Cais do Sodré). De 23/02 a 28/02. 2ª, 3ª, 4ª, 22/02. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h00. (Baile Moderno) 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 964407007. Tel.: 223401910. 7€ a 15€. Coreografia: Né Barros. Companhia Rosas. Bailarino:Bruno Teixeira, Continuam Lindos Dias Coreografia: Michel Joana Castro, Pedro Rosa, Encenação: Bruno Bravo. Com Reilhac. Sónia Cunha. Com Raquel Dias, Gonçalo Amorim. Nasrudin Lisboa. Culturgest. Rua Alexandre Soares (música Lisboa. O Negócio. R. do O Século, 9 - Páteo de Santa Arco do Cego - Edifício da ao vivo). Encenação: Pedro Alvarez- Clara Ptª 5. Até 21/02. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: CGD. De 21/02 a 23/02. 2ª, Guimarães. Centro Cultural Vila Flor. Ossorio. Com Pedro Barbeitos, 213430205. 7,5€. Reservas: 213430205 ou reservas@ Sáb. e Dom. às 16h. Tel.: Avenida D. Afonso Henriques, 701. Dia Tiago Pereira. zedosbois.org. 217905155. 5€. 21/02. Sáb. às 21h30. Tel.: 253424700. 10€ Baile Moderno

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 37 38 e jáumadasexposiçõesdo ano Um mundo deluz esombras... •ÍpsilonSexta-feira 20Fevereiro 2009 Expos impressionista - lembremo-nos de -lembremo-nos de impressionista de palha. num projectada monte sombra desta ea umaescada onde seobserva de Feno” Haystack”, (“The de1844), tiragem positiva sobre papel-“A Meda - comonocalótipo inglês (1800-1877), algumas dasimagens dofotógrafo sobrenatural, “mágico”, évisível em assim perene. quase Oacontecimento umasombra,tornando-a materializar desde logo, apossibilidadede negativo/positivofotográfico sublinha, formulada peloinventor doprocesso Talbot em1839. Adescrição escrevia Williaminstante”, Fox Henry destinada aocupardurante umsó que aparentementeposição estava natural’, efixá-laparasempre na danossa‘magia mediante osortilégio efémero emomentâneo, podereter-se sombra, oemblemaproverbial do “A uma transitória dascoisas, mais mmmmm Fotografia. Bilhetes: 2€. Feriados das14h às20h(última admissãoàs19h30). 19h (última admissãoàs18h30).Sáb., e Dom. CGD. Tel.: 217905155. Até 10/05. 2ªa6ªdas11hàs Culturgest.Lisboa. Rua Arco da doCego -Edifício Jochen Lempert FariaÓscar na Culturgest, emLisboa. paraverde Jochen Lempert Uma maravilhosa exposição do espanto Figuras Tão próxima da pintura nomeadamente a relacionada com a nomeadamente arelacionada coma questões, antes colocar formular sólida,procura umaresposta que, doque mais dimensão artística, avesso, pela écontaminada pois éviradado científica taxinomia a deLempert, Contudo, nocaso Wilhelm &FriedrichLangenheim. Foucault, telescópicos de ou registos Ritter von Ettingshausen oudeLéon estudos microscópicos deAndreas os deTalbot, mastambém caliótipos traduzir, paraosnossosdias,nãosó parecem embiologia, formação alemão,As imagens com doartista origens edasespécies. dafotografia paraas Oorebeek também -,apontam Raad, aJean-Luc Moulène eaWillem la Cruz,àRoma aWalid Publications, aAngela dedicadas de paradigmáticas curador, dasmostras depois desenhadaporeste programação das revelações dasingular Wandschneider uma émais -eesta porMiguel comissariada Culturgest, numa exposição (Moers, Alemanha,1958) expostas na horror. poderososdos mais testemunhos do deHiroshima, doinstantâneo um caso sobretudo beleza, inquietante, no terrível,podem serunidaspelasua dessasimagens, que observação assimoutros acrescentando sentidosà (imagem), grego +typos kalos(belo) éumtermoderivado do calótipo aindaque em ruínas.”Note-se inglêsaoJapão sequências, docampo amontagem inopinadadas cimenta negro, eéestepontonegro que daluz,contém neleumponto nascido mesmo, que fotográfico, oregisto originariamente, inocentemente Contudo, voltando aBailly, “é de que Fox Talbot éumdospioneiros. Origem daprópria também fotografia, há17 milanos,éanónima. pintadas autoria, comoadasfiguras tal realidade, emHiroshima -eaqui a emnegativo,duplicada, numa outra sobreprojectada amedadefeno, àsombra echega de Lascaux compinturas comoas magicamente, humano. Origem que daarte, seinicia, árvore, aocorpo doplâncton embalsamamento, dasementeà num percurso que vai dofóssil ao procurou registar, cientificamente Origem que afotografia dasespécies, tempo claramentesuspenso.” tempo decorrido, ouadecorrer, edo ausência, do damassaedodetalhe, velhos esquemas dapresença eda ver regressar, masagora sacudidos,os suspendido, comapossibilidadede “sombras queimadas, detempo de francês,umahistória ensaísta o nota esta, Seuil, 2008).Trata-se, Hiroshima (“L’Instant etSonDouble”, explosão em dabombaatómica um corpohumano nomomentoda parede, e dassombras deumaescada aimpressão,acontecimento: numa Bailly provas comduas deummesmo confrontada porJean-Christophe entregas entreseis 1844e1846-é Pencil ofNature”distribuído, “The - comercialmente fotografias no primeiro livro ilustrado com imagemnatureza, esta foipublicada Monet -,dessedesejode ePissarro As fotografias de Jochen Lempert deJochenAs fotografias Lempert dasorigensQuestão também. toda aprodução dePalolo geometrizante mantiveram-se durante A coreaestrutura já, umadasexposições doano. eoseuduplo. instante O naturaldeBerlim. de história quinze anosdediferença, num museu um grupodeKiangstirada, com repetição deumamesmaimagem de Eháaquela dialoga. de Lempert autorestambém aobra comosquais Baumgarten eWolfgang Tillmanssão Marcel Broodthaers, Lothar contemporâneo- absolutamente do desenho;umterritório de luzesombras, porvezes próximo muitas obrasdamostra.Um mundo Hiroshima aindaseprolonga em que oclarãode com asensação uma árvore emcombustão. Fica-se definidoporquatroquadrado cisnes, umpirilampo,plâncton, um tatuagem deummorcego, o oscorais, oudeumacegonha, a insecto das aves, ovoo suspenso deum amigração oMardoNorte, impennis), marinhos, oextinto (alca arau-gigante figuras doespanto:sejamcorvos- reinos natural eanimal.São, estas, uma viagem espantosaatravés dos montagem depurada,proporciona percurso expositivo, comuma de35 mm.O tiradas comumacâmara apreto emfotografias ebranco regista convulsivo,mais alemão que oartista maravilhoso,mais perene, omais o exemplo -,Jean Painlevé e Eli Lotar. Révolution“La Surréaliste” (1926), por nonúmero publicada oitodarevista André Boiffard -aimagem dagirafa osnomesdeJacques- destacando-se outrareferência, surrealista nafotografia temtambém Lempert ounãoserá.” mágico-circunstancial, será erótica-velada, explosiva-fixa, mesmo conceito:“A convulsiva beleza do pode ler-se umaoutradefinição Amor Louco” (1937), domesmoautor, será convulsiva ounãoserá” -emO romance em1928: escrito “a beleza Breton nafraseque encerra“Nadja”, maravilhoso -,formulada porAndré ade qual sepodeadicionar convulsivaainda hoje,éadebeleza -à nos nossosdias. doconceito debeleza persistência Pintura. Pintura. Inauguradas 11hàs19h. 21/2 às17h. Pedro V, 81.Tel.: 914206519. Até 28/03. 2ªaSáb. GaleriaBernardoLisboa. Marques. Rua Dom De Tiago Taron. Albatroz Pintura. Sáb. das14h Inaugura às19h. 21/2 às15h. Vaz, Tel.: 20B. Até 04/04. 918501234. 4ªa6ªe Influx R.Fernando Contemporary Art. Lisboa. De George Afedzi Hughes. Everything Else On Guns,Red Coats and Desenho. Inauguradas 10hàs18h. 20/2 às22h. Grande, 245. Tel.: 217513200. Até 29/03. 3ªaDom. Campo deLisboa. Museu daCidade Lisboa. De João Tengarrinha. A Noite éTriste Inauguram Agenda “Um trabalho de campo” é, desde “Um trabalhodecampo” é,desde transitório, omais o portanto, É, operativas,Um dasnoçõesmais Vídeo. Vídeo. Inaugura2. dia26/2 às22h. das 15h às17h. Sáb. das15h Espaço Web às18h. Cam Jesus, 12A/16A. Tel.: 961825575. Até 28/03. 4ªa6ª VoyeurLisboa. Project View. Travessa Convento de Aleksander Vasilkov Outros. 1. Inaugura dia26/2 às22h. das 15h às17h. Sáb. das15h Espaço Web às18h. Cam Jesus, 12A/16A. Tel.: 961825575. Até 28/03. 4ªa6ª VoyeurLisboa. Project View. Travessa Convento de Catarina Saraiva Vídeo. (24h). Inaugura dia26/2 às22h. Jesus, 12A/16A. Tel.: 961825575. EspaçoPeep-Hole VoyeurLisboa. Project View. Travessa Convento de Rui Mourão Desenho. Inauguradas 10hàs19h. 26/2 às21h. João Soares, Tel.: 5B. 217977418. Até 11/04. 2ªaSáb. Grande, Galeria111.Campo Lisboa. 113/Rua Doutor De Pedro Gomes. Amnésia amigo deJoaquim Bravo, Álvaro Lapa denível superior,artística masera Vivia emÉvora, nãopossuíaformação na 111quando tinhaapenas17 anos. obra única. apreciar odesenvolvimento desta Brito, comopelapossibilidadede Manuel dafundação de colecção à deobraspertencentes quantidade exemplar, e nãosópelaqualidade deumtrabalho assim, trata-se entrerealizados 1970 e1980. Mesmo e osfilmes,vídeosinstalações pintor morreu em2000, aos54anos) de90(o transparência dadécada ostrabalhossobremas faltam a 1973. Háobrasposteriores data, aesta trabalhou comPalolo, desde1964até sobretudo duranteosanosemque galeria 111foi coleccionando ecolagensdesenhos, guaches -que a dasobras -pinturas, apresentação retrospectiva, massimcomo a ser entendidacomouma autonomia, eoriginalidade. qualidade mesmo tempoque seconstituíacom ao internacional artística da criação 60, acompanharaslinhas conseguiu Palolo que, daÉvora apartir dosanos pintura temnitidamentefigura!” que nãoerafigurativo, masesta de80,década seespantava: “Eledizia a propósito durantea dapinturafeita a voz deMaria Helena deFreitas que, exposição, dabandasonora, ouvia-se, momento emque visitávamos a um filmesobre aobra dePalolo. No de Brito, emAlgés, passaemmonitor Numa Manuel saladoCentro deArte mmmmn Pintura. encerra às24h). 17/5. 11h30às18h(última 6ªdecadamês, 3ªadom. Anjos. Alameda Hermano Patrone. T. 214111400. Até Algés. Centro deArteManuel deBrito-Palácio dos António Palolo Palolo aTechnicolor Palolo fez a sua primeira individual primeiraindividual Palolo fezasua A exposição inaugurada nãodeve Este éumdosparadoxos daobrade ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente

e António Charrua que constituíam Histórias da arte Uma exposição que forma inteligentíssima e um núcleo importante de artistas a desalinha convenções surpreendente - numa “encenação” viver na cidade alentejana. As obras desalinhadas e histórias... de uma sobre a arquitectura para a qual que mostrou nessa altura são notáveis: colecção e da arte contribuem as cortinas do tecido

uma profusão de cores e formas ENRIC VIVES-RUBIO especial - as esculturas, as pinturas e Heimo Zobernig geometrizantes, pintadas a tinta as instalações de Zobernig industrial sobre platex, onde se Lisboa. Centro de Arte Moderna - José de Azeredo “apropriam-se” criticamente de Perdigão. Rua Dr. Nicolau Bettencourt. Tel.: detecta já uma estrutura cromática 217823474. Até 24/05. 3ª a Dom. das 10h às 18h. movimentos, temas e diferentes forte sobre a qual a pintura nasce e se Bilhetes: 4€ (c/descontos). subtextos da história da arte. Atente- resolve. Haveria de permanecer fiel a se no uso de materiais simples ou Pintura, Vídeo, Instalação, esta base de trabalho toda a sua vida, pouco “assertivos” como as penas, o Escultura, Outros. e é ela que permite hoje apreciar a cartão ou a espuma, em esculturas exigência de renovação constante que mmmmn que lidam com as noções de peso, acaba por ser uma norma ética sobre equilíbrio ou escala, subvertendo a qual o seu trabalho se pautou. Nas galerias do Centro de Arte sobriamente alguns dos primados do Dois anos depois, em 1966, Moderna (CAM) da Gulbenkian há minimalismo; no vidro partido cujos integrava a representação portuguesa visitantes que olham desconfiados os recortes remetem para uma pintura à Bienal de São Paulo. Fez o serviço estrados de madeira (serão abstracta e no plinto que é também a militar em Angola, e em 1995 teve uma mobiliário ou obras?) enquanto caixa onde a escultura será guardada; retrospectiva no CAMJAP, o que outros, na sala principal, circulam à acto de pintar. Acontece que Riley? O que aproxima certa pintura ou no gesto irónico e distanciado marcava na altura o reconhecimento volta de uma escultura ou estugam o aparecem como fazendo parte de um de Amadeo de Souza-Cardozo daquela que salienta a transparência e as institucional da qualidade do seu passo na direcção dos quadros. A texto que pode ser reescrito, de uma de Helena Almeida? cores das esculturas feitas de trabalho. Esta exposição, no Centro de maioria, provavelmente, julga estar construção que pode feita de novo. Desta justaposição, atenta à prateleiras do Ikea. Arte Manuel de Brito, que se sucede a diante de mais uma apresentação da Afinal o que une os retratos de Alberto qualidade formal e estética das obras “Heimo Zobernig e a Colecção do outras de artistas portugueses fulcrais colecção, mas não está. Isto porque Lacerda feitos por Fernando Lemos e (e nesse sentido a proposta de Centro de Arte Moderna da das décadas de 60 e 70, é a os ecos que se ouvem, os espaços que Rui Filipe, para além do sujeito? Que Zobernig não se atém a uma simples Fundação Calouste Gulbenkian” aproximação mais recente a uma se percorrem, as peças que se vêm experiências da percepção convidam crítica institucional), passamos para representa-se, assim, como uma consideração global do trabalho deste são elementos constituintes de obras como “Carantonha” (1978- uma revisitação de discursos e ideias exposição que desalinha convenções artista. É também a oportunidade “Heimo Zobernig e a Colecção do 2006), de Ângelo de Sousa e patente nas propostas assinadas pelo e histórias. De uma colecção e da para conferir a vitalidade da sua obra, Centro de Arte Moderna da Fundação “Metamorphosis” (1964), de Bridget artista. Dispostas no espaço de uma arte. José Marmeleira passados que estão oito anos da sua Calouste Gulbenkian”, morte. Comissariada por Jürgen Bock, e Consoante os períodos da sua vida, realizada em parceria com a Tate St a cor ou a forma (a “figura” de que Ives, esta exposição mostra obras de falava Maria Helena de Freitas) vai Heimo Zobernig (Áustria, 1958), da tomando, ou não, o lugar colecção do CAM e da instituição predominante. Ainda na década de inglesa num contexto criado por uma 60, há pinturas conotadas com a Pop intervenção na arquitectura que, onde essa forma toma aparências desde logo, nos confronta com aquilo reconhecíveis. Uma árvore, umas que define (ou não) a apresentação de crianças, nuvens e paisagens, e obras de arte. Introduzindo novos mesmo um sol poente que diríamos a equipamentos (os estratos, por Technicolor aparecem não porque exemplos), retirando as paredes e queiram representar uma realidade mostrando as janelas, o artista exterior, mas como apropriação de austríaco desvela as ideologias que se motivos já esvaziados do seu escondem por detrás da recepção conteúdo. Por isso, na década de 70, pública da arte. O seu gesto dirige-se estas formas ocas desaparecem para por isso à autoconsciência do dar lugar ao preenchimento do espaço espectador para neste despertar disponível com riscas rigorosas de tensões, “dramas”; como se uma cores saturadas, “shaped canvases” exposição fosse também um “acto”, feitos 15 anos depois de Frank Stella. uma performance. Ao contrário do que sucedia nessa As paredes da entrada estão coberta altura com o norte-americano (Stella de faixas de tecido de Chroma Keying, também se há-de interessar pela cor), material usado na TV e no cinema o que parece interessar aqui Palolo é a para a projecção de cenários e fundos possibilidade de modulação cromática virtuais, mas o que vemos são telas: do espaço. Sem receios, num país que “Room in Which Shakespeare Was privilegiava já a arte oficial sóbria, Born” (1853), de Henry Wallis, “The discreta e de bom gosto, Palolo exibe a Ghost Scene from ‘The Castle of cor, ela própria pintura e Otranto’”, de Susanna Duncombe e imprescindível na pintura. uma pintura sem título de Jorge A cor e a estrutura geometrizante Barradas. Representam fantasmas, mantêm-se assim durante toda a cenas, lugares interiores e vazios; ou produção de Palolo, inclusive nos espaço abertos para outro mundo, quadros dos anos 80 onde há uma como “Drains”, (1990) de Rober atenção inédita ao trabalho do pincel, Gober (um ralo que é um falso objecto mas também a uma certa encontrado) ou apenas para a transparência nos motivos que será a superfície da própria pintura, como os tónica dominante na pintura da monocromos brancos da autoria de década seguinte. No fundo, cada Heimo Zobernig. mudança formal é a prova de que o É este sublinhar de brechas, artista não se deixa enredar na espaços em branco, intervalos que a facilidade academizante da receita intervenção na colecção do CAM vem feita, e de que renova constantemente revelar. A partir de uma ordem o seu vocabulário para manter a cronológica, o artista compõe uma pintura como uma interlocutora viva. “narrativa” deixando a cada José-Augusto França, que escreveu espectador a possibilidade de sobre esta obra em 1973, já notava isto construir o seu cânone pessoal, de mesmo. Hoje, permanece a qualidade estabelecer as associações possíveis. plástica da obra de Palolo. E também Tal não impede que das obras se o seu exemplo ético. Luísa Soares de manifestem motivos como o corpo, o Oliveira auto-retrato, a cidade, a figuração ou o

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 39 ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente

Música O CD regista um concerto em São A primeira fase da obra Francisco, mostrando que os dois de Pasolini em retrospectiva Justice sabem recriar a sua música ao vivo, apresentando versões Amor, retalhadas dos temas numa toada infernal, explosão electrónica que arrasta tudo à sua passagem, para pistolas e delírio do público, que faz parte do cerimonial. É qualquer coisa entre rock & roll música de dança e rock para massas, um som virulento de programações

DVD Não fazem rock & roll, pelo impetuosas, bloco metalizado de menos como o imaginámos, potência raras. O documentário, realizado por dois mas ninguém entende dos mais criativos realizadores de melhor a mitologia rock vídeos da actualidade, Romain Gravas como os franceses Justice, (que criou o polémico e fascinante “Stress” dos Justice) e So-Me, reflecte como se constata num o tempo entre concertos, o antes e o fascinante documentário e depois do palco. Um tempo onde num CD ao vivo que reflecte tudo pode acontecer, segundo o uma digressão americana. imaginário “sexo, drogas e rock & roll”, ou onde irrompe o vazio. Vítor Belanciano Depende da perspectiva, como reflectia, com lucidez, um dos realizadores do documentário, Justice Romain Gravas, numa entrevista. A Cross The Universe Haverá quem, perante o DVD, veja Ed Banger, distri. Warner nele simples paranóia, repulsa, mmmmm depressão e sequência de lugares comuns; e outros que vejam comédia, O tempo glamour, fascínio pela vida rock & suspende-se, os roll. Seja qual for o olhar, é um dias, as cidades, as objecto estimulante. O dispositivo salas e os traçado por Romain Gravas e So-Me, admiradores que que acompanharam os Justice surgem nos durante três semanas numa digressão para cima do público, arrastados pelo uma razoável escolha da obra de bastidores tornam- americana, é esse: deixarem um ar pelos admiradores, enquanto se Pier Paolo Pasolini, nomeadamente se indistintos. É, espaço em branco onde todos podem ouve “Love me tender”, como se, no uma caixa, anteriormente editada simultaneamente, submergir. É um dos raríssimos fim de contas, tudo se resumisse a pela Costa do Castelo, contendo a um tempo excitante porque tudo documentos sobre digressões - por isso: amar e ser amado. “Trilogia da Vida” (“Decameron”, pode acontecer e demasiado seguro norma objectos extremamente “Os Contos de Canterbury” e “As Mil porque os rituais se repetem. repetitivos e frágeis - que não é tanto e Uma Noites”), bem como “Saló”, É assim que Gaspard Augé, uma sobre o grupo, mas sobre o que os Cinema ou seja um olhar sobre a parte final das metades da dupla francesa rodeia. da cinematografia do cineasta Justice, descrevia a sensação de andar Em primeiro lugar, a América. Há friulano. A curiosidade desta nova em digressão à revista “Les um tour-manager obcecado por O cinema caixa passa pelo facto de abarcar Inrockuptibles”. A edição de “A Cross pistolas mas que trata os dois Justice algumas das obras iniciais, com The Universe”, que incluiu um como os seus “bebés”. Há um destaque para o “opus 1”, o documentário em DVD e a condutor de autocarro “tipicamente” poético de celebradíssimo “Accatone” (1961), reprodução de um concerto em CD americano. Há os clichés da América, um dos filmes que o liga, ainda que ajuda a entender melhor as suas os “hamburguers”, Las Vegas, a Pasolini de forma iconoclasta, ao imaginário palavras. violência, os polícias que neo-realista: um jovem “chulo” dos prendem os Justice, os fãs subúrbios pobres de Roma algo bizarros mas também Uma caixa que abarca apaixona-se por uma rapariga expondo vulnerabilidade. algumas das obras iniciais de inocente e, ao tentar iniciá-la na Tudo isto segundo um Pasolini, com destaque para prostituição, rompe com o seu dispositivo intimista e quotidiano sem sobressaltos e acaba “realista”, até onde é o “opus 1” “Accatone”. por sossobrar na tragédia. Típico do possível falar de Mário Jorge Torres território preferencial do realizador, “realismo”. com não-actores (encontra um dos Depois, as imagens rostos paradigmáticos do seu Caixa Pasolini da massa humana universo, Franco Citti), “Accatone” Accatone, Ro. compacta em concerto, prolonga as experiências literárias Go.Pa.G, A Raiva, fora de si, energia dos seus romances, “Una Vita O Evangelho descontrolada, Violenta” ou “Ragazzi di Vitta”, e Segundo São electricidade, corpos funciona como um manifesto do Mateus consumindo corpos, solidão. cinema poético sobre o qual teoriza Costa do Castelo E há essa sequência final, abundantemente. Forte, duro, “mal icónica: os dois Justice mmmmn filmado” num preto e branco lançando-se abrupto, possui o encanto do Extras improviso, do cinema em directo, mnnnn sem sofisticações, nem estilismos rebuscados. Segue-se, caso queiramos acatar a Édipo Rei cronologia, o famoso “sketch” que Costa do Castelo dá pelo nome de “La Ricotta” mmmnn (traduz-se à letra para “O Requeijão”, mas todos o Justice, o imaginário sexo, Sem extras reconhecem pelo título original), drogas e rock’n roll integrado num filme de conjunto, Existe já no sobretudo interessante porque mercado nacional retrato de uma época complexa, “Trilogia daVida”.“Trilogia ilustrativa daposterior função a forma brilhante,maslimitada, de contemporaneidade e antecipa, tragédia grega arepresentar a desafiaa limites: “ÉdipoRei” (1967) tempo, anulando fronteiras e moderno, para confrontar saltosno imaginário grego parafiguraro quede trilogia sesocorre do umaespécie integrando metáfora, culto, que refugia nomitoena exemplos dorealizador acabados neste contexto. Sana”, que nãofazmuito sentido “Asdocumentário Muralhas de o “trailers”), apenasseacrescenta ealguns biografia filmografia, semextrasembora quase (sobretudo legendagem,boas, comcorrecta modernos.Ascópiassão critérios iluminado, mascredível, dentro dos modéstia deumcarpinteiro comfranciscana pictóricos, demuitoshistéricos dosreferentes acessível, dosdramatismos afastado despojado, comumdiscurso religiosa. pobre, Era umCristo romano dedevoção edasestampas dogrande ritual circunstância Vaticano II,estava longe dapompae doConcílio quase ideal,depois edialéctico, arepresentação realista Enrique Irazoqui, humano esereno, moreno, confiado aomexicano oCristo crística: hagiografia palavra doEvangelho, desafiava-se a eafilmagemcrónica rigorosa da dos conturbados anos60. Entre a ideológicos tempo paraosabismos moderno, vindodosconfinsdo subversiva imagem deum Jesus SãoMateus”(1964)amais Segundo primas indiscutíveis, “O Evangelho político. polemista dePasolini,oacerbo conhecidos ilustraumdosladosrevisita menos Giovanni Guareschi) edatada, esta (sobretudodemagógica ade contemporânea. Por vezes controversauma história daira easpirandoatraçar àLua chegada Inglaterra, DeGaulle, oua Elvis coroação darainha Isabelde Marilyn,Lenine, a abombaatómica, misturando de documentários, Raiva” (1963),interessante colagem formal, o“panfleto” mãos“A aduas estreianão conheceu,àépoca, umararidadedepois, que, cremos, primeira fase,oferece-se-nos, realizador. por OrsonWelles, alter-ego do “realizada”branco) dacrucifixão, (em contexto globaldepreto e uma grotesca recomposição acores de Ladrão (“trapos”, àletra),oBom indigestão doprotagonista, Stracci de Roma, por culminandonamorte dos bairros miseráveis dosarredores comfigurantes esfomeados Cristo umaPaixão de filma-se justiça): problemas comacensurae sacrílego (valeu-lhe,aliás,grandes de longe omelhor, blasfemo e Gregoretti. pasolinianoé Oepisódio Rossellini, Godard, Pasolinie de soma quase aleatóriadasiniciais divergentes, “Ro. Go.Pa.G” (1963), múltiplasespelhos deestéticas eaté Fora umdos edita-se dacaixa, Fecha umadasobras- acaixa progressivaNa descoberta desta

Quem éomaior: EmirouDiego? Cinema movimento. “Maradona” éaprova depredadorqualquer coisa em cúmplices que aniquilam. Há como aqueles grandesabraços oquê”.sei lámais saído dounderground dasdrogas e estrutura deDiego, elenão teria da nãofizesseparte de que seocaos Diego noclube:“Estouconvencido inscrevendopersonagem dionisíaca, Emir Kusturica elegeu-se como paraDiego Maradona, virando-se E, doque aracionalidade”. importante ambos aprova émais que ocaos continuamos agostar davida.” ecomo Internacional Monetário devemos nossospaíses aoFundo vejam dedinheiro aquantidade que celebrar avidacomoumcarnaval. E para deixarmos de cristianizados juntou? “Nãofomossuficientemente Oque équegrande dosBalcãs. os eo Latina o pequeno daAmérica imprensa emCannes,oanopassado, Apareceram numa conferência de 3ª 11h35,13h40, 15h40, 17h40, 19h50, 21h50; 13h40, 15h40, 17h40, 19h50, 21h50, 24hDomingo 15h40, 17h40, 19h50, 21h50, 24hSábado 11h35, 13h40, 15h40, 17h40, 19h50, 21h506ª2ª13h40, ClassicAlvalade: Sala2:5ª4ª Lisboa: CinemaCity Mnnnn Maradona. M/12 com EmirKusturica, Armando Diego De EmirKusturica, Maradona by Kusturica Maradona Vasco Câmara Devia chamar-se “Kusturica”. “Maradona”.Chama-se o maior? Quem é Estreiam É falsamentemagnânimoEmir–é “O Somos esta: caos. Só mais Oscar encontrou Coldplay, dos vocalista armada: imagens de de“Lembras-te alarmante comoumassaltoàmão tão Diego parafalardesitorna-se o poder). (Terceiro Mundo, juntai-vos etomai Malvinaspor ElPibe. vingadas Reagan, eosBush) aserem fintados Thatcher, Carlos deInglaterra(e imagens deanimação, aRainha,Ms. e, àbaliza Maradona aapontar Argentina derrotou aInglaterra, do México de1986, quando a asimagensPistols, sãodoMundial aver?Estão punk rocker dofutebol aDiego. éavezLogo aseguir deEmirchamar chamam punkrocker dosBalcãs. lhe cinema” chamam-lhe,etambém Smoking Band.“Maradonado comaNo filme, aliás,atocar stars”. elesquepartilham, sãocomo“rock que osdois outras característica piedade deDiego: oegocentrismoé Masnãotenhamos o futebolista. pretexto sobre deumdocumentário personagem deEmirKusturica, sob Maradona étransformadoem forma:Diego Desta Armando Latina. devora opequeno daAmérica do “delito”: ogigantedosbalcãs Martin pouco maisdeatenção fi “O Visitante” éumdaquelespequenos lmes discretos queapenaspedemum Chris O acto deEmirseapossar O acto Na bandasonoraouvem-se osSex Emir éoprimeiro aaparecer no , o Paltrow), evai daíafi se écasadocomGwyneth (não éimpunemente que nomeados para osÓscares com osnomesdos em casaumformulário Ípsilon •Sexta-feira 20Fevereiro 2009• rmou outro. genuínomanifestasse interesse pelo assim seodocumentário Kusturica”, dizotítulooriginal.Seria humanitárias”. ”Maradona by desculpa deserem acções Bombardeamentos feitoscoma da IIGuerraMundial. de1945, depois americanos depois que forambombardeados pelos que aSérvia, foi umdos24 um país, em direcçãoaoseuego: “Venho de para redireccionar ofilmedenovo no corpo, Hugo sófalta Chavez – Diego –que temCheeFideltatuados Emir apanhaboleiadoguerrilheiro fizeram aospoderosos domundo. foi uma“patifaria” que ospobres México, em1986, dizofutebolista, jogo comaInglaterranoMundial do de Diego coma“mãodeDeus”no Ogolo embaraço”, em“off”. ouve-se sofrimento, é noOcidente apobreza é nosBalcãs “Enquanto dospobres”. aristocrático que orealizadorchama“o espírito dos filmesdeKusturica, aquilo eis a Diego nasceu,imagens dosciganos sido!”, exclama Diego. que eu poderiater jogador coca, “Esenãofossea muita cocaína. Branco’”, há filmeondetambém própria perda, em‘Gato Preto, Gato pior inimigo, que causa asua como aquele homemque éoseu uma personagem dosmeusfilmes.É personagem podiaser decinema, “Diego Maradonaéuma dorealizador: Branco”, eavoz “off” “GatoNegócios”, Preto, Gato “ODolly Bell?”, PaifoiemViagem de não tivesse sidonomeado parao Provavelmente, seRichard Jenkins 2ª 3ª4ª14h25, 16h45, 19h20, 00h30; 22h, Porto: Arrábida 20:Sala5:5ª6ªSábadoDomingo 19h30, 00h30; 22h, 14h30, 17h,19h30, 22h6ªSábado 2ª14h30, 17h, Lisboa: Medeia King: Sala1:5ªDomingo 3ª4ª MMMnn Danai Jekesai Gurira. M/0 com Richard Jenkins, Haaz Sleiman, De ThomasMcCarthy, The Visitor O Visitante em trânsito Miniatura degente Imagens dobairro pobre onde Rourke casa votaram em Manchester queláem Disse àrádioKey 103 de as suas preferências.

para melhoractor. Mickey 41

42 pot.com portagem.blogs http://diariore emigrar era Itália que omelhor paíspara que humanos achava eram vistoscomomenos palestinianos agora dito queos O homemquetinha Coelho Lucas Alexandra •ÍpsilonSexta-feira 20 Fevereiro 2009 Cinema Menos quehumano Viagens com bolso [email protected] um homem. constrangida porconvenções. amãoporquenão fuiapertar-lhe souumaeuropeia é ondeospalestinianosaindapodemserhumanos, só que aimprensa ofi nãoéodiscurso Israel atécombombasdefósforo. daimprensa,o resto emdenegrir sãohistórias apostada armados ou não sepensanelescomoseres humanos. E humanos desarmados? que Ouseacredita estavam todos seres matousistematicamente nemcorações, vêem caras aérea, força que asua metida em F16deondenãose que é quem povo, delespensoutermotivosmaior parte maior. deforça de europeus a duranteaIIGuerraMundial, ecertamente menos que humana. Foi oque aconteceu commilhões averuma comunidade outracomunidade começa como degás.Porquedas câmaras oextermínio quando começa menos que humano -que começou oextermínio, antes XX “undermenschen”. Foi palavra nesta -sub-humano, doséculo para selembrardoque dizernaHistória quis esquerda” A“velha temidade um destesradicais. israelita são considerados “a velhae portanto esquerda”, hoje ainda vota nelajánãoselembradoque éaesquerda. deesquerdaqualquer coisa tempoque hátanto quem onde emigrar. deRoma agorapodem estar apensarpara nacinemateca deNaniMoretti -,muitos italiana discípulos televisão (asmulheres,de beleza oshomens,qualquer pracinha). porcausa dosentido paraemigrareraItália, o melhorpaís agora comomenosque humanos eramvistos achava que emigrar. Ohomemque tinhadito que ospalestinianos de Livni, maspelasconversas nãoparecia. de ver “kipas”).Secalhar, deBibie háimensospartidários muitos religiosos (assimderepente, nãomelembro sequer Nãosevêem amais). que estão ospalestinianoséque cá daqueles queháumadúziadeanos(masacham chegaram Nãosevêem ecentro-direita. direita-direita muitos russos -extrema-direita,as eleiçõesisraelitas direita religiosa, predominam osquatro tiposdedireita que venceram (não tive tempoparaessaparte). algunsfi edepois da cidade, dão paraaCidadeVelha, fazemamelhorsopadeabóbora asmesassãoconfortáveis, degraça, asjanelas “wireless” S Menos que humano éoolhardocolonizador. Aquilo era aoamigo disse nacinemateca oisraelita Mas quando outro quede40anoscoloniza hámais Em Israel,país Suspeito que ohomemnamesaàminhafrente fosse háaquelesDepois que selembramdoque éaesquerda, esquerda dedizer A dita temsidoincapaz israelita Mas Moretti emIsrael. desesperariamais Claro que -eda senoslembrarmosdeBerlusconi Na mesaàfrente, aconversa paraonde eramais sejaumsítioondenão Suspeito que também vistos comomenosque humanos.” vistos inglês: “EmIsrael,ospalestinianosagora são namesaàfrente dizaumamigo,israelita em deJerusalém eum nacinemateca ento-me A cinemateca éumbomsítioparatrabalhar.A cinemateca Há consegue viver com a consciência de viverconsegue de comaconsciência O Visitante Valquíria Um diade cada vez Revolutionary Road Quem querserBilionário? Milk Maradona O Leitor Dúvida O Casamento deRachel As estrelas dopúblico lmes têm legendas em inglês lmes têmlegendas eminglês esquerda é radical. équeIsrael, eporisso esta contra ogoverno, ésercontra governo numa guerra nãoéser guerra. EmIsrael,sercontrao que écontraogoverno numa esquerda dita aquela radical, dofuturo.desistiram fundaram Israeleaindanão sobreviveram aoHolocausto, falarão ememigrarporque que nunca sem consciência, deumtempo consciências Alguns estão jápróximosAlguns estão da cial, eque cial, naimprensa Jorge Mourinha demuito.isso, jáserviu Jenkins para servir deRichardOscar para o nomeação carinho. Sea ede atenção de um poucomais que apenaspedem discretos egenuínos pequenos filmes umdaquelesVisitante” para fazerde“O suficiente função, não personagens que servem uma averestarmos gente verdadeira e de easensação aosactores atenção contento, mascompensacoma McCarthy nãoosconsolidaa queque é. fizeramdelaopaís mal osexactos mesmosimigrantes que dáporsiatratar uma América de daparanóiasecuritária sossegada papel), dooutro adenúncia Palmos deTerra”, éimpecável no dasérie“Sete como opaifantasma secundário emdezenasdefilmesou Jenkins, que vimoscomo seu tempo( a sentirque andouadesperdiçar o deumWalterpor parte que começa um lado, areaprendizagem davida umnooutro:que de nãoencaixam mas tocantes, eigualmente discretos bons,igualmente igualmente dividir-seVisitante” filmes, emdois McCarthy seperde edeixa “O Éaíqueconcentracionária. inexplicável burocracia tentativa deajudá-loesbarranuma autoridades easua comoilegal, quando esteépreso eentregue às kafkianadeTarekcom aodisseia do seuregresso àvidaentrelaça-se —masahistória joalheira senegalesa um músico sírio, eZainab, uma —Tarek, comocasal se deamizade pés háanos.Walter portravar- acaba ondenãopunhaos no apartamento amorardescobre emigrantesilegais para apresentar umtrabalho, aregressarforçado aNova Iorque daesposae, concha apósamorte universitário que sefechou nasua as voltas —nocaso, umprofessor em trânsito aquem odestinotroca é umapequena miniaturadegente McCarthy, “A “O Estação”, Visitante” com ofilmeanterior deTom público –eseriapena. edo foge aosradares dacrítica filme que, semter razões paraisso, estrear emPortugal —éotipode nãoteria a Visitante” chegado americana” é contada como uma“saga A históriadeHarvey Milk Um poucocomojáacontecera Oscar demelhoractor,Oscar “O mn nn nnnnnnnn MMmnn nnnnn a mmmnn mnnnn nnnnn mnnnn MMmnn nnnnn mmnnn mmmnn nnnnn mmmnn mmmmn mmmmn nnnnn mnnnn nnnnn mmnnn mmmmm mnnnn mmnnn a nnnnn mmnnn mmmmm mmmmn mmmnn nnnnn nnnnn mmmnn nnnnn mmmnn nnnnn MMmnn mmnnn mmnnn mmmnn Mourinha Jorge Oliveira M. Luís Continuam 00h45; doPorto:Sala4:5ª6ª Medeia Cidade Domingo 2ª3ª4ª13h45, 16h25, 19h10, 22h, Porto: Arrábida 20:Sala17: 5ª6ªSábado Domingo 2ª3ª4ª13h15, 16h, 18h50; Lusomundo Fórum Montijo:5ª6ªSábado Sábado Domingo 2ª3ª4ª18h10, 00h10;ZON ZONLusomundoAlmada Fórum: 5ª6ª 23h40; 5ª Domingo 2ª4ª 21h05 6ªSábado 3ª21h05, 21h20, 00h20;ZONLusomundoOdivelas Parque: 3ª 4ª15h20, 18h20, 21h206ªSábado15h20, 18h20, Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ªDomingo 2ª 13h20, 18h40, 00h15 Domingo 13h20, 00h15; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª6ªSábado2ª3ª4ª 5ª 6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª13h40;ZON 19h10, 21h50, 00h25;ZONLusomundoAlvaláxia: 19h10, 21h50, 00h25Domingo 11h30, 14h, 16h35, Inglés: Sala8:5ª6ªSábado2ª3ª4ª14h, 16h35, -ElCorte19h20, 00h30;UCICinemas 22h, 6ª SábadoDomingo 2ª3ª4ª14h20, 16h50, 00h20;Medeia22h, SaldanhaResidence: Sala6:5ª Domingo 3ª4ª19h40, 22h6ªSábado 2ª19h40, ClassicAlvalade:00h15; Sala4:5ª CinemaCity Domingo 3ª4ª21h406ªSábado2ª21h40, Castello Lopes-Feira23h50; Nova: Sala3:5ª Sábado 2ª13h10, 15h50, 18h30, 21h10, Domingo 3ª4ª13h10, 15h50, 18h30, 21h106ª Villa: Lopes-Cascais Lisboa: Castello Sala3:5ª MMMMn M/16Brolin. com SeanPenn, EmileHirsch, Josh De GusVan Sant, Milk Sábado Domingo 2ª3ª4ª13h40, 16h05, Anne Hathaway interpretação reveladora de traz de maisinteressante éa O que“OCasamento deRachel” 21h30; ZONLusomundoParque Nascente: 5ª (“Gerry”, “Elephant”, “Last “Elephant”,“Last (“Gerry”, 6ª Sábado2ª3ª4ª22h50;ZON “vanguardismo” dasequência Lusomundo Glicínias:5ª6ªSábado “Milk”, por oposição ao “Milk”, poroposição com o “tradicionalismo” de com o“tradicionalismo” reacções semi-desiludidas Domingo 2ª3ª4ª14h10; Compreendem-se algumas Compreendem-se Days”, “Paranoid Park”) de J. Torres Mário que vanSantvinha. Mas tenhamos em conta em conta uma Câmara Vasco DeWitt, Debra Winger. M/12 com AnneHathaway, Rosemarie De Jonathan Demme, Rachel GettingMarried O Casamento deRachel Oliveira obviamente, fabuloso. tempera. ESeanPenn é, das imagens dearquivo) que a ver o tratamento (mesmo nostálgica: “exemplar” eamelancoliasacrificial entre aeuforia deumsucesso espaço daconvenção, aflutuação comqueforça vanSantpreenche o for, éimpressionante ea aprecisão dos seusúltimosfilmes.Sejacomo claradoque a mais um legibilidade realizador queria, simplesmente, de“Milk”o que paraahistória excelência). Também sepodedizer por americana cinematográfica uma comunidade: éanarrativa isto de postoaoserviço individualismo (o outrasnarrativas clássicas tantas descendentede narrativa clássica como uma“saga americana”, deHarvey Milkécontada história masmergulhaemcheio:a facto, éum “Milk” mergulhanatradição, “experiência” ea“convenção”. “centro” ea“margem”, entre a vontade entre comque saltita o oà- singularidade docineasta, de novo. O que traz de novo – ou, ou, – novo de traz que O novo. de dairmã,nãotraznada casamento ao para assistir em reabilitação do regresso deumadrogada acasa “O CasamentodeRachel”, história lixada, eaessenívelsão umacoisa Sim, nósjásabemosque asfamílias 13h30, 18h50, 00h25; Dolce Vita Porto:5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª 2ª 3ª4ª14h, 16h30, 21h30;ZONLusomundo 19h, doPorto:Sala3:5ª6ªSábadoDomingoCidade 2ª 3ª4ª14h15, 16h45, 19h15, 21h45, 00h20;Medeia Porto: Arrábida 20:Sala6:5ª6ªSábadoDomingo Domingo 2ª3ª4ª13h25,18h45, 00h05; Lusomundo Almada Fórum: 5ª6ªSábado Domingo 2ª3ª4ª12h55, 18h10, ZON 23h30; 13h30; ZONLusomundoColombo:5ª6ªSábado Alvaláxia: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª 16h45, 19h10, 21h35,24h;ZONLusomundo 16h45, 19h10, 21h35,24hDomingo 11h30, 14h20, Corte Inglés: Sala7: 5ª6ªSábado 2ª3ª4ª14h20, 4ª 14h, 16h30, 19h10, 21h40, -El 24h;UCICinemas Residence: Sala5:5ª6ªSábado Domingo 2ª3ª 21h20 3ª13h50, 18h10, 16h, 21h20; Medeia Saldanha Domingo21h20, 11h40, 23h40 13h50, 16h, 18h10, Sábado11h40,21h20, 13h50, 23h40 18h10, 16h, 13h50, 16h, 18h10, 21h206ª2ª13h50, 16h, 18h10, ClassicAlvalade: Sala1:5ª4ª Lisboa: CinemaCity MMnnn Luís Miguel Luís

44 esta ordem necessariamente por filhos, não fazer filmes ebuscar onde aAngelina Jolie ia ...o Cambojaera osítio Inês Nadais •ÍpsilonSexta-feira 20Fevereiro 2009 Cinema [email protected] para trásdoque aandarparafrente. -émuitocomo todososcaranguejos melhor aandar salva asiprópria, doque mais aoCamboja. representantescomo oslegítimos até dopaís 1991)se queinternacional reconheceu oskhmer vermelhos que acomunidade (amesmacomunidade internacional apesar dasprostitutas), emedodestesjulgamentosem ir falarpara outro sítio, umsítiocommesasdebilhar, ninguém comquem falar, porque aténóspreferimos de bilhardohotelesenhoras que falamfrancês sem prostitutas nasmesas àporta, estacionados (com SUV à venda pelopiorpreçoemponto grande eumcasino destes anosemque oCambojaéumafl afazeraoCamboja:medo estão eles, oscambojanos, Phnom Penh e etermedodoque nós,osocidentais, dastrevas). coração no SudesteAsiáticoeaindanãotinhasubido orioaté ao não compreender, quando eraumcoronel americano infernalque atéoMarlonasiática Brandocomeçoupor portodoolado,a morte mascomaquela brutalidade um bolseiro chamado Pol semgente Pot, e umacapital sempre ideiadoCamboja(enãocomaoutra: comesta banco detrásumriquexó, sepudéssemosfi que dávamos aoresto davidano parapoderassistir miúdasatrês, etudoaquilo semprecasa, semcapacete, corpo nemcérebro, sóunsolhosdemasiado e abertos que construímosnessafaseemque nãotínhamos o Cambojainterior, intransmissível, completamente dedezlugares.que saímosdacarrinha Nada anãoser nadadoCambojaàhoraem ao pontodejánãorestar deixámosdepensar,deixámos decomerepraticamente intermináveisse tornarammais deixámosdefalar, ser ofi encontrámos outro nofi mas nacara, umhotelfechou-nosaporta causa disso daquele ladodoMekong.com pimenta para omelhorcaranguejo àporta), estacionados SUV (nempelos partida esempassarpelacasa directamente, comtodasasinstruçõesparaavançarum blogue fi buscar Camboja era osítioondeaAngelina Jolie iafazerfi vou o somosapolícia), chamarapolícia-nós 25-então 20dólares-mas dizque custa custa ovisto saído (ocartaz sítio, eumpostofronteiriço ter deondepodíamosnunca tipobomba-relógio,decrescente, de paraumestado sem nexo -,umaeroporto deBanguecoque emcontagem por causa doqual aindahojeàsvezes dizemoscoisas que reconheceríamos emqualquer domundo parte e ali,por causa daqueledesistir maravilhoso cheiro aÍndia teríamos deultrapassar anossaprópria vontade de máximo-esobretudobomba-relógio, paraumalerta emcontagemaeroporto tipo decrescente, deBombaim O caranguejo Luna Park A O caranguejo com pimenta estava compimenta óptimo,O caranguejo masé a Houve etempoparachegar diasseguintes mais Demorámos horasintermináveis -por achegar m domundo emque -,enaparte essashoras lhos, não necessariamente por esta ordem,lhos, nãonecessariamente poresta e para chegar láteríamosdeultrapassarum para chegar primeiro, edeumavião indiano, que depois, noites dentro deumavião irlandês, para umdiaeduas que láiasercoisa chegar lá,eantes desabermos ntes dechegarmos Oscar II m de uma rua quem deumarua podia sarong de ebebésnus àporta nos arrozais, homensde terra vermelha eoesplendor fundo dotúnel:estradas de ealuzao sete passaportes que desapareceram osnossos mesmo tempo, otúnelem o Cambojapassou aser, ao voltarmos aseroque éramos. grande dedormiraté uma necessidadedemasiado De manhã, no dia seguinte, De manhã,nodiaseguinte, oresta tropical entrega dosOscares. Isto actuar nacerimóniade rejeitou aproposta de O cantor car car para porque percebeu lmes e Peter Gabriel que teria apenas um minuto para - acanção, interpretar nomeada nomeada que está canção, a sua questões éticas, oproblemaquestões éticas, da nas ofilmecentra-se conceptual: doseuuniversolimitações as acentuam-se “O Leitor”, em“Asactrizes, Horas”. Agora, em sobretudo, comadirecção de notoriedade com“Billy Elliot”e, ganhou Stephen Daldry 21h50; Sábado Domingo 2ª3ª4ª14h20, 16h50, 19h20, 00h35; Medeia doPorto:Sala1:5ª6ª Cidade Domingo 2ª3ª4ª13h45, 16h20, 19h05, 21h50, Porto: Arrábida 20:Sala13:5ª 6ªSábado 13h05, 16h, 18h50, 21h35,00h20; Almada Fórum: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª 15h50, 18h35,21h20, 00h10;ZONLusomundo Gama: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª13h05, 18h45, 21h35,00h30;ZONLusomundoVasco da Alvaláxia: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª16h, 14h10, 16h456, 19h20, 00h30;ZONLusomundo 22h, 14h10, 16h456, 19h20, 00h30Domingo 22h, 11h30, - ElCorteInglés: Sala14: 5ª6ªSábado 2ª3ª4ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, 00h15; UCICinemas Monumental: Sala1:5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª 3ª 12h05, 14h30, 16h55, 19h20, 00h25;Medeia 22h, 14h30, 16h55, 19h20, 00h25SábadoDomingo 22h, Pequeno Praça deTouros: Sala7: 5ª6ª2ª4ª 2ª 14h, 16h30, Campo 21h30, 19h, 24h;CinemaCity Domingo 3ª4ª14h, 16h30, 21h306ªSábado 19h, Lopes-Londres:Lisboa: Castello Sala1:5ª MMnnn Kate M/16 Winslet. com Ralph Fiennes,Jeanette Hain, De StephenDaldry, The Reader O Leitor cruzados. gerir habilmente osvários fios de Altman esbarranaincapacidade dediluido naboémia,aevocação demasiado está ponche emocional porque éque ir; aceitámos o termos percebido muito bem família, edoqual saímossem convidados semconhecerbema somos paraoqual um casamento Rachel” ade deixaéexactamente que “Osensação Casamentode Winger Masa nãoapareça). quase equecertinha; penaque Debra Rosemarie deWitt nopapeldairmã irmã perdida secundada por (bem nopapelda(nomeada para oOscar) reveladora deAnneHathaway interessante éainterpretação vezes). Oque traz demais bastantes feias(eficam ficam estivesse lá sempre que ascoisas dafamíliae fizesseparte câmara Jonathan Demmeofilma,comosea modo “homemovie” como menos interessante deMikeLeigh “Um DiadeCadaVez”: ofi pelo menos,deinvulgar –éo

Jorge Mourinha forma completa. Mas interpretadas de que ascançõesseriam segundos”. “Pensávamos interpretação a“65 lhe quelimitasse a da “soirée” pediram- que osorganizadores ofi Gabriel explicanoseusite com ThomasNewman. E”, eGabriel énomeado ao fi “Down toEarth”, pertence cial, citado pelaAFP, lme da Pixar “WALL-lme daPixar lme Alexis Zegerman. M/12 com SallyHawkins, ElliotCowan, De Mike Leigh, Happy-Go-Lucky Um DiadeCadaVez mediania. desnecessários, numa desesperante por vezes, emtruques eemtiques demasiado,arrasta perdendo-se, mastudosepotencialidades, (melo)dramático tem bom filme? Omaterial argumento. parafazerum Chega backs” edesurpresas de numa intrigarepleta de“flash- comoco-adjuvante certo, funciona Ralph Fiennes,sempre notom sequências detribunal,enquanto densidade, extraordinária nas ex-nazisua umaperturbante prestações. Kate Winslet confere à notáveis dosactores conseguir rarapara uma capacidade profundidade, erevela, denovo, comrelativaculpa tratado reconheçamos a sua notávelreconheçamos asua interessante. Nãoque não provavelmente, oseufilmemenos “Um DiadeCadaVez”, “cómico”,registo oque fazdeste Mike nãoseentende como Leigh 12h55; Alvaláxia: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª 3ª4ª 3ª 4ª14h, 16h30, 21h30, 19h, 24h;ZONLusomundo Monumental: Sala3:5ª6ªSábadoDomingo 2ª 16h45, 19h15, 21h45, 00h15; Medeia 14h15, 16h45, 19h15, 21h45 6ªSábado 2ª14h15, Lisboa: Medeia King: Sala3:5ªDomingo 3ª4ª MMnnn perturbante densidade ex-nazi de uma “OLeitor” Kate Winslet confere àsua espectáculo.” penso, umlugar no dos fi processo de elaboração uma pequena partedo representamos apenas compositores, mesmose pena porque nós,autores- retirar-me dacerimónia.É Por essarazão decidi da audiência televisiva. fórmula devido àqueda Oscares] mudaram a os produtores [dos Mário Jorge Torres lmes, merecemos, Hoffman, AmyAdams.M/12 Streep,com Meryl PhilipSeymour De John Patrick Shanley, Doubt Dúvida obra anterior. que àsua irritante nada acrescenta numacompraz-se pormenorização bem oterritórioque mas delimita, conhece deLondres. Leigh do Norte burguesia dosbairros desfavorecidos aborda ascontradições dapequena condução, naligeireza comque afigura doinstrutoranalisa de comque psicanalizante facilidade no tom“pateta” daprotagonista, na definidas. Noentanto, tudoseperde complexas erelativamente bem minimal, centrado empersonagens derealismo umaespécie história, deumquotidianoseleccionados sem momentos paracaptar capacidade 13h30; ZONLusomundoFórum Aveiro: 5ªDomingo Sábado 2ª3ª4ª13h30, 00h30Domingo 19h, 21h20, 24h;ZONLusomundoParque Nascente: 5ª6ª NorteShopping: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª Domingo 2ª3ª4ª21h20, ZON Lusomundo 23h50; Lusomundo Dolce Vita Porto:5ª6ªSábado 2ª 3ª4ª14h15, 16h40, 19h10, 21h45, 00h20;ZON Porto: Arrábida 20:Sala14: 5ª6ªSábado Domingo Domingo 2ª3ª4ª13h10, 15h45, 23h40; 18h15, 21h, Lusomundo Almada Fórum: 5ª6ªSábado Domingo 3ª13h15, 15h20, 18h15, 21h50;ZON 00h05 Sábado13h15, 15h20, 18h15, 21h50, 00h05 15h20, 18h15, 21h506ª2ª15h20, 18h15, 21h50, UCIFreeport:2ª 3ª4ª21h10, 23h40; Sala7: 5ª 4ª Rio Sul Shopping: Sala2:5ª6ªSábadoDomingo 15h30,2ª 13h, 21h30, Castello Lopes- 18h, 23h50; Domingo 15h30, 3ª4ª13h, 21h306ªSábado 18h, Jumbo:00h05; Sala1:5ª C. Castello Lopes-C. 6ª SábadoDomingo 2ª3ª4ª15h40, 18h15, 21h40, 21h20, ZONLusomundoVasco 23h55; daGama:5ª Sábado Domingo 2ª 3ª4ª13h10, 15h45, 18h20, 21h20, 24h;ZONLusomundoOeiras Parque: 5ª6ª Parque: 5ªDomingo 3ª4ª21h206ªSábado2ª 3ª 4ª15h45, 21h05; ZON LusomundoOdivelas Lusomundo Colombo: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª 6ª SábadoDomingo 2ª3ª4ª21h15, ZON 23h45; 12h50, 15h30; ZONLusomundo CascaiShopping: 5ª 2ª 3ª4ª12h50, 15h30, Domingo 21h10, 18h, 23h30 13h05; ZONLusomundoAmoreiras: 5ª6ªSábado Alvaláxia: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª 16h50, 19h20, 21h55, 00h20;ZONLusomundo 16h50, 19h20, 21h55, 00h20Domingo 11h30, 14h20, Inglés: Sala4:5ª6ªSábado2ª3ª 4ª14h20, 4ª 19h30, -ElCorte 00h30;UCICinemas Residence: Sala7: 5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª 14h30, 19h30, 17h, 22h;Medeia Saldanha Nova: Sala1:5ª 6ªSábadoDomingo 2ª3ª4ª Domingo 2ª3ª4ª13h30, 19h50;Medeia Fonte Pequeno Praça deTouros: Sala1:5ª6ªSábado Campo Domingo CinemaCity 3ª18h45, 23h45; 6: 5ª6ª2ª4ª16h40, Sábado 18h45, 23h45 Beloura19h55, 00h20;CinemaCity Shopping: Sala Sábado Domingo 3ª11h35,13h40, 15h45, 17h50, 5ª 6ª2ª4ª13h40, 15h45, 17h50, 19h55, 00h20 Alegro Alfragide: CinemaCity 23h40; 4ª 21h, Sala5: Shopping: Sala2:5ª6ªSábadoDomingo 2ª3ª 21h50, 00h20;Castello Lopes-Loures Domingo 3ª4ª18h20, 21h506ªSábado2ª18h20, Villa: Lopes-Cascais Lisboa: Castello Sala4:5ª MMnnn M.J.T. ¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente

Philip Seymour Hoff man em “A Dúvida”

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2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h40, 21h20 6ª Sábado 13h20, 16h, 18h40, 21h20, 24h; Cinemateca Portuguesa “Mystic River” A primeira homilia do padre R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200 Seymour Hoffman refere-se ao assassinato do presidente Kennedy, Sexta, 20 Mystic De Lewis Seiler. Michelle Pfeiffer. 129 min. M16. “sucedido no ano passado”, mas o River Com Carmen 15h30 - Sala Félix Ribeiro ambiente de “Dúvida” lembra menos Bruscamente No Verão Passado De Clint Miranda, Harry James, Phil os anos 60 dos que os anos 50. Os do Suddenly, Last Summer Eastwood. Winchester ‘73 Silvers. 78 min. De Joseph L. Mankiewicz. Com Com Kevin De Anthony Mann. Com James senador McCarthy, e todos os filmes e 19h30 - Sala Luís de Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn, Bacon, Stewart, Shelley Winters, Dan peças teatrais (“Dúvida” também Laurence Pina parte de uma peça do próprio Montgomery Clift. 112 min. Duryea. 92 min. M12. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Fishburne, Sean 19h - Sala Félix Ribeiro Shanley) que se fizeram em parábola Penn, Tim Robbins. Uma Noite No Rio da “caça às bruxas” do senador. A O Cadillac Cor-de-rosa 137 min. M12. That Night In Rio Million Dollar Baby - Sonhos “bruxa”, aqui, é “moderna” (a Pink Cadillac 22h - Sala Luís de Pina De Irving Cummings. Com Vencidos pedofilia), mas no fundo é De Buddy Van Horn. Com Clint Carmen Miranda, Don Ameche, Alice Million Dollar Baby irrelevante, como irrelevante é a Eastwood, Bernadette Peters, Faye. 90 min. De Clint Eastwood. Com Clint Sábado, 21 21h30 - Sala Félix Ribeiro hipotética culpabilidade da Timothy Carhart. 122 min. Eastwood, Hilary Swank, Morgan 19h - Sala Félix Ribeiro personagem do padre: o que Shanley Mystic River Serenata Boémia Freeman. 145 min. M16. 19h30 - Sala Luís de Pina filma é a convicção irracional e a Os Maridos De Elizabeth De Clint Eastwood. Com Kevin Bacon, Greenwich Village sanha persecutória da personagem Paint Your Wagon Laurence Fishburne, Sean Penn, Tim De Walter Lang. Com Carmen Miranda, Les Aff aires Publiques de Meryl Streep (por sua vez uma De Joshua Logan. Com Lee Marvin, Robbins. 137 min. M12. Don Ameche, William Bendix. 82 min. De Robert Bresson. Com Marcel 15h30 - Sala Félix Ribeiro 22h - Sala Luís de Pina espécie de “bruxa”, bastante Clint Eastwood, Jean Seberg. 125 min. Dalio, Beby, Andrée Servilanges, arrepiante). Há uma austeridade 19h30 - Sala Luís de Pina O Castelo Das Surpresas Gilles Margaritis. 25 min. M12. 21h30 - Sala Félix Ribeiro (totalmente justificada) no tom de Million Dollar Baby - Sonhos Scared Stiff Quarta, 25 “Dúvida”, mas fica por decidir se é o Vencidos De George Marshall. Com Dean Martin, Quando Troveja produto de uma opção estilística Million Dollar Baby Jerry Lewis, Lizabeth Scott. 108 min. A Verdade Escondida De Manuel Mozos. Com Elsa deliberada ou, como algumas cenas De Clint Eastwood. Com Clint 19h - Sala Félix Ribeiro What Lies Beneath Valentim, José Wallenstein, Miguel deixam desconfiar, o resultado de um Eastwood, Hilary Swank, Morgan A Canção Da Felicidade De Robert Zemeckis. Com Diana Guilherme, Raquel Dias. 92 min. M12. academismo a precaver os seus Freeman. 145 min. M16. If I’m Lucky Scarwid, Harrison Ford, Joe Morton, 21h30 - Sala Félix Ribeiro 22h - Sala Luís de Pina limites. L.M.O.

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 45 Joaquin Phoenix j A estreia americana de “Two Lovers”, de James Gray, está a ser Joaquin Phoenix. Que, a partir de agora, desaparece

46 • Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 x já não mora aqui r dominada por um assunto: é o último fi lme em que participa e como actor e renasce como músico. John Horn*

“Two Lovers”, de James Gray, é o é a opinião de Eamonn Bowles, cuja filme”, diz Gray da performance de apresentação à imprensa de “Two tipo de filme intelectual que muitos Mangolia Pictures lança “Two Lovers” Joaquin. “Se for o seu último filme, Lovers”. Foi perguntado aos jornalis- actores considerariam uma óptima nos EUA. “O filme é tudo menos será uma pena. É um tipo extrema- tas que entrevistavam Phoenix se oportunidade: um pequeno filme material para tablóides. É história mente talentoso e tem ainda muito Affleck podia filmar as entrevistas pessoal com um papel central exi- profunda, séria e quase da velha a dar. Mas ele disse vezes sem conta: para integrar no filme, o que fez com gente. Joaquin Phoenix, a estrela, vê guarda. E não queremos que o filme ‘Já não gosto de fazer isto. Estou can- que os procedimentos se assemelhas- o filme de forma diferente: é o seu se afogue nos artigos de tablóide.” sado.’ Parecia de facto exausto no sem aos de um documentário ficcio- último sopro. “Two Lovers” é tudo menos um fim do filme. Parecia mesmo aba- nado do que a uma tournée de pro- O seu abandono do cinema - ele romance leve. O filme começa com tido. Nunca conheci alguém tão moção de um filme, especialmente insiste: não é uma piada, nem um Leonard (Phoenix) a tentar cometer sério enquanto artista como ele. E quando Phoenix reencenou a queda golpe de publicidade - está a trans- suicídio. Leonard, que voltou para não se preocupa com o que os outros de Las Vegas. formar o lançamento americano do casa dos pais, em Brooklyn, depois pensam.” “Começou de forma inocente [a filme num circo quase tão surreal de um noivado cancelado, vê-se E isso inclui a avaliação que o actor ideia para o documentário]”, diz como algo realizado por Federico envolvido por duas mulheres: Michele faz do seu trabalho. Quando lhe per- Phoenix. “Estava no estúdio, a gra- Fellini ou encenado pelo Cirque du (Paltrow), uma vizinha que tem um guntam se pensava que “Two Lovers” var, e queria documentar essa expe- Soleil. “Não pensei que fosse receber caso com um homem casado, e San- seria um adequado último capítulo riência.” tanta atenção”, diz Phoenix. “Pensei dra (Vinessa Shaw), uma conhecida para sua carreira no cinema, encolhe Diz que quando era jovem actor que ninguém se fosse importar.” da família que parece ser uma escolha os ombros, responde que ainda não entrava num estúdio de cinema, O actor de “Walk the Line”, de mais saudável para o emocional- viu o filme. “Não vejo os filmes que sentia o forte odor que as tintas James Mangold, e de “O Gladiador”, mente instável Leonard. faço. Porque faria isso?” libertavam com o calor das luzes e de Ridley Scott, anunciou no Outono Gray escreveu o argumento com ficava intoxicado. “Eu quero entrar que iria deixar a carreira de actor Phoenix e Paltrow em mente. (O O caminho para os estúdios ali, eu quero entrar ali”, assim des- para seguir uma carreira musical, actor já tinha participado em “The Com um aspecto mais típico de uma creve a forma como se sentia atra- afirmando que “Two Lovers” seria a Yards” e “Nós Controlamos a Noite”, estrela de rock do que de um ídolo ído para a representação. “Mas não sua última presença no grande ecrã. filmes anteriores de Gray). E inspi- de “matinées”, Phoenix aparece para sinto isso há algum tempo... e a A notícia (Phoenix só tem 34 anos e rando-se no conto “Noites Brancas” a entrevista com cabelo despenteado, minha mãe sempre me disse: ‘segue é considerado um dos talentos da sua de Dostoiévski. barba desleixada, roupas rasgas e o teu coração.”” geração) ameaça eclipsar o filme, tes- “Acho que ele está fantástico no óculos escuros. Alguns descartaram Não sabe se vai ter o mesmo tando seriamente o velho adágio a notícia do afastamento como uma sucesso na música como teve no segundo o qual não existe má publi- partida ao estilo de Andy Kaufman cinema, mas precisa de fazer o que cidade.) [lendário comediante da TV ameri- acha recompensador. Representar, “Não faço ideia se ajuda ou preju- cana dos anos 70, que jogava perma- conta, “envolve demasiados ele- dica o filme”, diz o argumentista e nentemente com o seu “desapareci- mentos, que têm a ver com os fil- realizador de “Two Lovers”, James mento” nas personagens - Jim Carrey mes, que acho insuportáveis.” Não Gray, num final de dia de promoção interpretou-o em “Homem na Lua”], especifica quais, mas deixa claro em que Phoenix está a ser seguido comentando sem parar a lendária que se tornou mais um emprego e por uma equipa de filmagens dirigida actuação de Phoenix em Las Vegas, menos uma aventura criativa. “Esti- pelo actor (e cunhado de Phoenix) onde o actor/cantor se desequilibrou mulava-me [representar], e depois Casey Affleck, que realiza um docu- e caiu do palco. Phoenix diz que leva tornou-se nesta coisa.” mentário sobre a nova carreira de muito a sério a troca das salas de O que também mudou foi o tipo de Phoenix. “Mas o meu instinto é que cinema pelos estúdios de gravação, filmes para os quais se sente atraído, é muito bom para o filme”, continua caminho para o qual se começou a que já não são os mesmos que agra- o realizador. “É um pequeno filme e dirigir há anos. De facto, cantou todas dam ao público. Apesar de “Walk the de outra forma não estaria a receber as canções de Johnny Cash em “Walk Line”(2005) ter feito mais de 140 tanta atenção pela imprensa.” the Line”, onde a sua interpretação milhões de euros em todo o mundo, Não é só o afastamento de Phoenix do cantor country lhe valeu uma os filmes mais recentes de Phoenix (e a cobertura mediática deste afas- nomeação para os Óscares. têm sido menos populares. “Traídos tamento) que coloca a história de “É algo que ando a fazer há bas- Pelo Destino” de Terry George (2007) “Two Lovers” em segundo plano - a tante tempo”, diz, enquanto acende fez pouco mais de 100 mil dólares complicada vida emocional e român- um cigarro e bebe um refrigerante. nos EUA (cerca de 77.6 mil euros). tica de um homem de meia-idade. É “Eu não quero filmar agora... Não “Two Lovers” deverá ter resulta- que a outra estrela do filme, Gwyneth me satisfaz.” dos semelhantes e Phoenix sabe-o. Paltrow, também está atrair atenção. Conta que está num estúdio de Enquanto termina o pouco usual dia Não por fazer cada vez menos filmes gravação todos os dias a trabalhar de entrevistas, pega numa cópia do nem pelo seu casamento com o voca- para acabar um disco que espera que poster do filme que está montada lista dos Coldplay, Chris Martin. Mas esteja pronto dentro de meses. Diz num suporte e descobre que está porque se tem falado do novo site de que a música é difícil de categorizar outro poster no verso. Era de um auto-ajuda (www.goop.com) da actriz “Eu não quero e que, apesar de incluir rap, o resul- dos sucessos da última época nata- de “A Paixão de Shakespeare”, e nem filmar agora... tado deve ser eclético e imprevisí- lícia, “Uns Sogros de Fugir” de Seth toda a cobertura dada aos seus con- vel. Acrescenta que quer fazer Gordon. “É assim que se faz selhos para um estilo de vida luxu- Não me coisas selvagens. dinheiro”, diz, olhando para o pos- riante tem sido positiva. O que também descreve ter de “Uns Sogros de Fugir”, antes “Apesar de ser bom rece- satisfaz” a forma como decorreu a de o virar ao contrário. “E assim é bermos esta atenção, como não se faz.” é um pau de dois Joaquin bicos, porque não Exclusivo PÚBLICO/Washington Post reflecte o filme”, Phoenix

Joaquin Phoenix e Gwyneth Paltrow em “Two Lovers”

Ípsilon • Sexta-feira 20 Fevereiro 2009 • 47