Tecnologia, Política E Cultura Na Comunidade Brasileira De Software Livre E De Código Aberto
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL Tecnologia, Política e Cultura na Comunidade Brasileira de Software Livre e de Código Aberto Luis Felipe Rosado Murillo Dissertação de Mestrado Professor Orientador: Dr. Carlos Alberto Steil Porto Alegre, 14 de Abril de 2009 Luis Felipe Rosado Murillo Tecnologia, Política e Cultura na Comunidade Brasileira de Software Livre e de Código Aberto Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Antropologia. Professor Orientador: Dr. Carlos Alberto Steil Porto Alegre, 2009 AGRADECIMENTOS Uma jornada acadêmica é constituída por incessantes trocas. Este trabalho é o resultado (parcial) de uma trajetória compartilhada na qual incontáveis pessoas, textos, idéias, dificuldades, recuos, encontros, avanços, desencontros, hesitações e aprendizados tiverem lugar. De forma mais próxima e intensa, acredito que algumas pessoas se fizeram presentes, empenhando uma grande dedicação para que este trabalho fosse possível, procurando sempre auxiliar em momentos difíceis. Reconheço, portanto, Fernanda Tussi, minha companheira, como uma importante pessoa a me incentivar com seus questionamentos para os quais não achei resposta satisfatória e que me fizeram enxergar os limites da minha abordagem. Devo a ela muito pela dedicação, carinho e paciência. Ao Professor Carlos Steil pela amizade e pela orientação acadêmica e espiritual. Estou profundamente endividado (na melhor acepção do termo), já que ele sempre me estendeu a mão nos momentos mais críticos (e continua a fazê-lo para a minha sorte e imensa alegria). Ele se faz presente em momentos muito importantes de minha trajetória, além de revelar-se um grande amigo. À Professora Ondina Fachel Leal por sua contagiante energia e entusiasmo no que diz respeito ao trabalho de todo o dia. Ela foi responsável por impulsionar a mim e aos outros alunos em direções extremamente produtivas. Devemos a ela muito por toda a dedicação e por abrir portas para o trabalho futuro que não se abririam sem o seu vigor e entusiasmo. À Professora Ceres Víctora: como exemplo de seriedade, ética e amor pela antropologia. Para as questões administrativas, intricadas e entediantes dos projetos, ela se demonstrou uma grande parceira para “o que der e vier”. A todos aqueles que foram meus professores no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social: eles estão presentes em tudo que aprendi e não possuem nenhuma responsabilidade pelas coisas que eu deixei de aprender durante o mestrado. Aos meus colegas do PPGAS, todos e todas, com raras exceções: aprendi que o caminho em direção à profissionalização em ciências sociais não precisa ser pautado pela competição, mas pelo companheirismo. É imensa a satisfação de olhar para trás e ver que tivemos uma das turmas mais unidas, solidárias e divertidas. Que sejam assim todas as turmas que vierem e que, dessa experiência primeira, a integração continue para todo o sempre. Para erradicar a competição que a todos aflige, façamos dos nossos espaços de socialização no futuro, os espaços da amizade, tal como o construímos durante o mestrado. A todos e todas os/as colegas, meus sinceros e profundos agradecimentos pelo simples fato de compartilharmos a experiência (apesar dos pesares) de encarar o pós-graduação. Aos meus familiares: todos eles acreditaram no argumento, difícil de aceitar, de que algo poderia “ser feito” das ciências sociais. Acabei, finalmente, por convencê-los de que a busca vale a pena, a despeito das dificuldades financeiras, quando é feita a opção pelo “nosso bem” e não pelos “nossos bens”. Em especial, à minha Mãe e ao meu Pai, Léo, Tio Vinícius, Tia Rosa, Tia Stella, Lupie e Prima Lulua – todos são dádivas encarnadas na vida daqueles que cruzam o seu caminho. Às acadêmicas Rosa e Lu: a sorte fez da ligação de sangue entre nós a ligação harmônica espiritual voltada para a busca do conhecimento acerca da condição humana! Agradeço ao amigo Lucas por partilhar dos anseios e das boas experiências de boardriding na adolescência (eterna). Ele é o irmão que tive a oportunidade de escolher com a certeza de jamais, jamais me arrepender. Devo lembrar também de meus amigos (quase) nerds: inauguramos a Lumea Webcast com a esperança de que possamos fazer de uma amizade consolidada através dos tempos uma forma de nos divertirmos, ao mesmo tempo em que geramos divisas. Eles esperaram pacientemente eu terminar a dissertação para me cobrar trabalho, por isso agora devo agradecê-los. Gus, Rebeca, Paulo e a família Deriva por serem o despertar da consciência crítica e por não me deixarem esquecer que devemos fazer das nossas vidas também uma batalha para garantir uma vida melhor para tod@s. À Biella Coleman: pelas lições inestimáveis sobre a política no mundo F/LOSS e por todo o suporte que ela me deu e continua a dar. Toda a atenção que ela tem dispensado acerca do futuro de minha pesquisa é, certamente, um grande privilégio. Last but not least, devo mencionar a dívida imensa que possuo com a comunidade brasileira e internacional de Software Livre e de código aberto que me ensinou a importância de defendermos o livre acesso ao conhecimento. Desde o primeiro momento em que instalei a versão 3.3 do Slackware Linux em meu computador pessoal, senti que deveria fazer alguma coisa para retribuir a dádiva que me havia sido ofertada, sem nenhuma garantia de retorno. Os exemplos dados pelas pessoas que trabalham na produção e promoção do Software Livre inspiraram a mim e a um conjunto de pessoas dos mais remotos lugares do planeta (e continuam a fazê-lo com vigor!). Agradeço à Fabrício Solagna por compartilhar comigo dos brainstorms sobre a comunidade brasileira e a tod@s @s nov@s amig@s que fiz durante o trabalho de pesquisa e de voluntariado na ONG Associação Software Livre.org. Que as iniciativas F/LOSS prosperem e que a pesquisa acadêmica possa contribuir ativamente nesse sentido. RESUMO Nesta dissertação são descritas as diferentes práticas culturais que compõem a comunidade brasileira de Software Livre e de Código Aberto com o objetivo de demonstrar como são criados os laços entre agentes para a constituição de redes. Com base no trabalho de dois anos e meio de pesquisa, assumimos o ângulo das práticas culturais e do reconhecimento de agentes para problematizar a oposição binária que domina grande parte do debate sobre altruísmo e interesse próprio em economias da dádiva. Ao centrarmos o foco nas redes de trabalho e prestígio, procuramos demonstrar quão heterogênea é a malha de redes da comunidade F/LOSS brasileira. As orientações teóricas e metodológicas da antropologia do dom de Caillé e da antropologia da tecnologia de Ingold e Pfaffenberger foram combinadas para a investigação da conformação da comunidade brasileira em três domínios experienciais: o técnico, o político e o cultural. O trabalho de pesquisa foi conduzido nos encontros nacionais da comunidade brasileira, bem como através das listas de discussão, wikis, blogs, portais de notícias e conversas informais na rede IRC Freenode. O desenvolvimento da pesquisa aponta para o surgimento de uma nova cultura tecnopolítica no Brasil, produto de práticas políticas e técnicas intimamente relacionadas ao Software Livre e de Código Aberto. Palavras-Chave: Software Livre e de Código Aberto, Antropologia do Dom, Antropologia da Tecnologia. ABSTRACT In this thesis, I turn to various agents in the Brazilian Free and Open Software community — developers, evangelists, politicians, and users — in order to discuss how gift economy works to shape commitments among them for the building of networks. Drawing on two and a half years of research, I take the angle of cultural practices and prestige to problematize the binary opposition between altruism and self-interest that dominates much of the literature. By focusing on social networks and the production of prestige, I am able to demonstrate how heterogeneous the composition of social networks are for the Brazilian economy of F/LOSS sharing. The theoretical and methodological orientation of Caillé’s “Anthropologie du Don” and Pfaffenberger's and Ingold's “Anthropology of Technology” were combined to describe the community of Brazilian agents, engaged in three experiential domains: technical (producers), political (agents that promote F/OSS in the federal government), and cultural (artists whose work is empowered by F/OSS and the concept of Free Culture). The research work was conducted during the gatherings of F/OSS community in Brazil, as well as in electronic mailing lists, wikis, Internet sites and informal discussions via IRC. The development of the research points to the emergence of a new technical and political culture in Brazil, embodied by the “free software movement” therefore articulating political, cultural and technological practices. Keywords: Free and Open Source Software, Anthropology of the Gift, Anthropology of Technology. LISTA DAS SIGLAS AD Análise do Discurso ASL Associação Software Livre.org CC Creative Commons CELEPAR Companhia de Informática do Paraná DATAPREV Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social DFSG Debian Free Software Guidelines F/LOSS Free/Libre and Open Source Software MIT Massachusetts Institute of Technology OSI Open Source Initiative ODF Open Document Format FGV Fundação Getúlio Vargas FISL Fórum Internacional Software Livre FSF Free Software Foundation FSF-LA Free Software Foundation Latin America FSM Fórum Social Mundial IRC Internet Relay Chat GNU Projeto “Gnu is Not Unix” PSL Projeto Software Livre GPL GNU General Public License OSD Open Source Definition SERPRO Serviço Federal de Processamento de Dados STS Science and Technology Studies SNA Social Network Analysis SL Software Livre PROCERGS Companhia de Processamento de Dados do Rio Grande do Sul PT Partido dos Trabalhadores UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul USP Universidade de São Paulo SUMÁRIO INTRODUÇÃO.....................................................................................10 CAPÍTULO 1 - Sobre o Trabalho de Investigação..................................15 1.1.