Sexta-feira 19 Novembro 2010 www.ipsilon.pt

Saramago é o nosso espelho “José e Pilar”, documentário de Miguel Gonçalves Mendes E T N MENT AMENT A AD A RAD ARAD PARAD PAR DO SE S D D NDI N VENDI R ER E SER SE SER E ODE OD PODE P PODE POD O ÃO Ã N E NÃO NÃ NÃO CO, CO ICO, ICO, ICO IC I B ÚBL ÚB PÚBL PÚBL PÚB PÚ P PÚBL D DO D 3 DO 33 DOD DO Nº 75 7 N 7 O Ã ÇÃO Ç IÇÃO IÇÃ D ED E DA EDE ED E NTE NT ANTE ANT AN R EGR NTEGR NTEG NTE NT N I E TET I RTE I RTERT R I A PA P AZ PA P A PA P O F TOT F NTO F NTO NT N F E ME M EM E LEM LE L PLEME U S TE SU T SU S ES E ESE ESE O IO I B U RU R -RUB S-RUB S-RU V IV I VIVE VIV VI V VIV VIVE C Sexta-feira IC I NRIC NR N 19 Novembro 2010 ENRIC ENRI ENR E Abbas KiarostamiTwin ShadowRicardowww.ipsilon.pt PaisVictor Gama FESTA DOS LIVROS GULBENKIAN JA LO NA SEU MU DO 010 EZ 2 3 D / 2 OV S 5 N DIA 2 OS 0 OS 0H0 TOD - 2 OO 10H

APRESENTAÇÃO DE LIVROS / 18H30

29 NOV REVISTA COLÓQUIO LETRAS Nº 175 José Carlos Seabra Pereira, Eduardo Lourenço e Nuno Júdice

30 NOV SAUDADE, AN ANTHOLOGY OF FADO POETRY Mimi Khalvati, Vasco Graça Moura, Rui Vieira Nery e Isabel Lucena

2DEZA NOVA HISTÓRIA DA ARTE Fernando António Baptista Pereira

4DEZCATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO “PROFESSORES” Eduardo Batarda e Isabel Carlos

7DEZÁLBUM DE PINTURA MUSEU CALOUSTE GULBENKIAN Luisa Sampaio e João Castel-Branco Pereira

9DEZAZULEJARIA EM PORTUGAL NO SÉC. XVIII Maria João S. Simões Real, Alexandra T. Gago da Câmara, João Castel-Branco Pereira, Jorge Rodrigues e Manuel da Costa Cabral

14 DEZ PATRIMÓNIO DE ORIGEM PORTUGUESA NO MUNDO - ARQUITETURA E URBANISMO VOL. ÁSIA E OCEANIA VOL. ÁFRICA-MAR VERMELHO E GOLFO PÉRSICO José Mattoso e Mafalda Soares da Cunha

15 DEZ SIDERIUS NUNCIOS, O MENSAGEIRO DAS ESTRELAS E PRINCÍPIOS MATEMÁTICOS DA FILOSOFIA NATURAL Henrique Leitão e Manuel Carmelo Rosa

16 DEZ HISTÓRIA DA GUERRA DO PELOPONESO Raul R. Fernandes, Nuno Vieira Matias e Manuel Carmelo Rosa

21 DEZ RÓMULO DE CARVALHO (MEMÓRIAS) Frederico Carvalho, António Manuel Nunes dos Santos e Manuel Carmelo Rosa design MBTeixeira

Eugene O’Neill sob o fogo cruzado do teatro “Darkness On The Edge Of Town”, um dos grandes álbuns do jovem Springsteen, portuguêss Flash regressa em versão revista e aumentada Se Eugene O’Neill (1888- 1953) fosse um rio, “era um rio largo, aparentemente plácido, Sumário O dramaturgo americano que infl uenciou com correntes todo o teatro ocidental do século XX José Saramago 6 subterrâneas e está a ser revisitado em Portugal O homem, em “José e Pilar” O regresso “deluxe” absolutamente mortal, de Springsteen com uma fúria muito Abbas Kiarostami 12 grande”. Quem assim Copia a vida em “Cópia enquanto jovem descreve o dramaturgo LutoLuto Certifi cada” norte-americano é Nuno Vai Bem com EElectra”,lectra”, a Lorca. Em 1975, “Born to Run” fez dele suasua versão de “Mournin“Mourningg uma estrela, mas “Darkness On The Cardoso, que amanhã, no Já Nuno Cardoso diz que o Andrei Ujica 14 Edge Of Town”, editado três anos Auditório Municipal de Vila Becomes Electra” (1931), tempo teatral das peças de As ditaduras comunistas depois, na ressaca do sucesso e de Nova de Gaia, estreia tríptico inspirado na O’Neill “acompanha o são o maior espectáculo do uma extenuante batalha legal com o “Jornada para a Noite”, “Oresteia” de Ésquilo, que tempo da acção”, antigo manager, confirmou-o mundo peça escrita em 1941 e Cardoso pensava encenar nomeadamente em definitivamente como autor, como daqui a uns anos. voz da América dos “working class estreada em Portugal pelo “Jornada...”, onde “cria Às Artes, Cidadãos 16 heroes”, aqueles que caem e Teatro Experimental do Joaquim Benite afirma que uma hipérbole sobre a A grande exposição do ano tropeçam, que sofrem e Porto, em 1958, numa a influência de O’Neill, família que pode existir ao chega a Serralves desesperam, mas que continuam a mítica encenação de Prémio Nobel da Literatura nosso lado”. olhar em frente e a caminhar vida António Pedro, apenas dois em 1936, se sente em toda a Segundo Rogério de fora, passo a passo. dramaturgia norte- Twin Shadow 20 Considerado um dos grandes anos passados da sua Carvalho, que já Canções entre Nova Iorque e álbuns de Springsteen e um primeira apresentação nos americana, “de tendência experimentou ambas, a a República Dominicana daqueles que melhor se inscreveu EUA autobiográfica”, onde “a diferença entre “Jornada...” como marca da sua obra, “Darkness A nova “Jornada para a experiência de e “Electra” joga-se na Victor Gama 26 On The Edge Of Town” tinha outra Noite” de Nuno Cardoso é transformação e criação da relação com o exterior. história para contar. Conhecemo-la sociedade é individual”, Os instrumentos são uma esta semana, desde que foi editado, só o início de uma fúria “’Jornada...’ é mais arma na segunda-feira, “The Promise: Eugene O’Neill nos palcos num contraponto à tradição concentracionária”, ao The Darkness On The Edge Of Town portugueses: no espaço de europeia. Essa influência, passo que em ‘Electra’ “as Ricardo Pais 28 Story”, título oficial para aquilo que um mês, haverá três “sente-se em Arthur Miller personagens “vivem Na pátria da língua poderíamos designar como “um estreias, correspondendo a e em Tennessee Williams”. sufocadas pelo passado, e portuguesa verdadeiro festim para os Mas para Benite, embora “Springsteenófilos”. quatro peças do pelos mortos, não se Existe a versão “digest”, a que foi dramaturgo norte- fazendo parte da grande conseguindo libertar da João Canijo 30 agora editada, na forma do duplo americano. Já na próxima família do realismo teatral a culpa e dos estigmas”. Duelo com Bergman no CD “The Promise”, álbum semana, em Almada, com que pertencem Ibsen, O’Neill “é avassalador”, diz Teatro Turim construído a partir das canções estreia a 25 e carreira até 19 Strindbergrg e TchéckhovTchéckhov,, o CCardoso”,ardoso”, e “isso deixa os “perdidas” das sessões de teatro de O’NeiO’Neillll “Darkness On The Edge Of Town”. E de Dezembro, Joaquim aactoresctores ddescobriremes como Ficha Técnica existe a versão “deluxe” da Benite regressa a “Hughie” aproxima-se,a-se, pporor trabalhar aas personagens”. empreitada, coisa de parar a (1941) e a “Antes do vezes, do Veremos ccomoo já a partir de Directora Bárbara Reis respiração, que chega às lojas na pequeno-almoço” (1916), “realismoo aamanhã.manhã. TTiagoi Bartolomeu Editor Vasco Câmara, Inês Nadais próxima segunda. Atentemos: uma depois de em 1984 já as ter poético” ddee CCostaosta (adjunta) caixa com três CD e três DVD onde, Conselho editorial Isabel além de “The Promise” e a versão apresentado também em Coutinho, Óscar Faria, Cristina remasterizada de “Darkness On The conjunto. E, tambémém em Fernandes, Vítor Belanciano Edge Of Town”, se incluem um Almada, mas a partirrtir de 1 Design Mark Porter, Simon documentário sobre a gravação do de Dezembro, Rogériogério de Esterson, Kuchar Swara álbum, o filme de um concerto em Carvalho – que emm 2009 Directora de arte Sónia Matos Houston, em 1978, ou um livro de Designers Ana Carvalho, Carla 80 páginas com fotos inéditas, encenou “Jornadaa pparaara Noronha, Mariana Soares reprodução de material de arquivo Noite” - estreia “OO Editor de fotografi a Miguel e todos os detalhes técnicos e Madeira pessoais sobre o processo de E-mail: [email protected] criação do álbum. Joaquim Benite, Rogério de Carvalho e Nuno Cardoso: todos no ataque a O’Neill deste Outono/Inverno

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 3 Flash

Diário inédito de Gonzalo Torrente Sei Miguel é um dos músicos a explorar no Muco, Ballester dias 3 e 4 de Dezembro vvai ser publicado

Mais de uma década após a sua morte e de um século sobre o seu nascimento, o nome de Gonzalo Torrente Ballester (1910-1999) vai regressar aos escaparates das livrarias, nos Estados Unidos, primeiro, e só depois em Espanha, seu país natal. “My Inmost Conscience” (“Mi Fuero Interno”, em castelhano), os diários que o escritor galego escreveu durante uma década, entre 1954-64, ainda em pleno franquismo, vão ser finalmente publicados em 2011 pela Universidade do estado de Nova americana, que Ballester à semelhança, por exemplo, dos Iorque, em Albany, à qual Ballester, encarregou de fazer cumprir uma barreirenses Outfest e Outras que ali trabalhou como professor das condições para a doação do Músicas, pretende ser palco de convidado, decidiu doar em 1967 manuscrito: retirar do texto a experimentação e de divulgação da uma série de manuscritos. A notícia publicar tudo aquilo que se refira música contemporânea (e do lançamento destes cadernos aos seus quatro filhos (a segunda exploratória) portuguesa. inéditos foi divulgada pelo jornal imposição do escritor galego foi a Lá estarão, portanto, dia 3, o “El País”, a pretexto do congresso de que o seu diário não poderia ser trompetista Sei Miguel, Coclea, duo internacional que no fim-de-semana revelado antes de dez anos que junta o guitarrista e navegador A Orchestra Baobab e os Konono Nº 1, entre outros grandes decorreu em Vigo sobre a obra do passados sobre a sua morte). de ondas sonoras Guilherme nomes da música congolesa, recebem agora o tratamento indie escritor, na passagem do seu “My Inmost Conscience” é Gonçalves e o baterista Gabriel em “Tradi-Mods vs. Rockers” centenário. constituído por três cadernos de Ferrandini, ou os Calhau, duo “De um ponto de vista da história uma centena de páginas cada, portuense que extrai música ao política, literária e religiosa deste “escritos à mão com uma letra de caos (e aos sons e aos objectos) do país nos anos do franquismo, os míope que quase não se consegue quotidiano. Dia 4, porque o Muco O rock ama o CongoCongo diários são impagáveis... Estamos decifrar e que contam com um luxo não se circunscreve em fronteiras perante o testemunho de um de detalhes as tormentas interiores estanques, ouvir-se-á a Talvez se deva a músicas como “Cape Cod Kwassa Kwassa”, dos Vampire intelectual que fala com absoluta de um autor como Torrente, alguém expressividade e a intuição de Tiago Weekend. Ou até ao facto de o líder destes, Ezra Koenig, jurar a pés liberdade numa época em que não que vem sendo vítima de um Sousa e deparar-nos-emos com as juntos que a sua forma de abordar a guitarra é descendente directa da havia liberdade”, disse ao diário esquecimento doloroso do ponto de muralhas sónicas de wah-wahs, senegalesa Orchestra Baobab. A verdade é que, de um dia para o outro, Joanna Sabadell, professora de vista da crítica e da edição”, disse feedbacks e distorção com classe a nação indie anglo-saxónica virou as antenas para os sons vindos de Literatura Espanhola ao “El País” Carmen Becerra, a dos Black Bombaim. Para além África e percebeu que Peter Gabriel não tem direitos exclusivos sobre a Contemporânea na universidade de directora da Fundação com o nome deles, o cartaz apresenta a coisa. Marc Hollander, homem forte da editora Crammed, responsável Albany, e uma das duas únicas do escritor, que promoveu o reciclagem de lixo pop para delícia pelos quatro volumes da série “Congotronics”, estava atento a todos pessoas que até agora tiveram congresso internacional. da pista de dança dos Tra$h quantos manifestaram (nalgum momento da sua vida recente) acesso ao texto de Ballester. O outro A vida em Espanha no tempo de Converters, o confronto de DJ Just admiração pelos discos que mostraram ao mundo como soa a música é o bibliotecário da Franco, a apropriaçãoç que o ditador Jaeckin Vs Sonja e o encontro luso- tradicional congolesa quando passada por uma electrificação precária universiduniversidadeade fezfez da relireligiosidadegiosidade ddoo povo helvético de Luís Lopes e Travassos (“tradi-mods”, chamam-lhes, juntando tradição a modernidade). Se nnorte-orte- espanhol,espanhol, a própria evoluçãoev com os Lost Socks (em conjunto, sai havia elogio público aos Konono nº 1 ou aos Kasai Allstars, Hollander ideológicaideológica ddoo escritor, que nos anos rock e sai free-jazz, sai uma banda guardava numa gaveta lá de casa. Até que se lembrou de recuperar uma dada juventujuventudede cchegouhegou a integral o de nome Big Bold Black Bone). ideia que desenvolvera antes em “Electric Gypsyland 2”, quando propôs nnúcleoúcleo ddee inteintelectuaisle da Mas, como mais do que revelar e a gente de outras esferas musicais apropriar-se do reportório cigano. FFalangealange franqfranquista,u são estimular através da experiência ao Desta vez, lançou 30 convites a nomes tão distintos quanto Animal alalgunsguns dos tetemasm abordados vivo, o Muco pretende fazer um Collective, Deerhof, Andrew Bird, Burnt Friedman, Micachu & The nos ddiários,iários, pporo onde criador de cada um e reflectir sobre Shapes ou Juana Molina. A provocação era simples: fugir às remisturas, ppassamassam tambémtambém outras a música que apresenta, a privilegiar novas composições inspiradas pelos “Congotronics” ou novas figuras da ccenae literária programação inclui ainda, dia 3, versões para os temas, reutilizando ou não elementos originais. Os eespanhola,spanhola, ccomo José “The Projectionist’s Nightmare”, resultados respeitam o experimentalismo original – inevitável quando os BBergamín,ergamín, CCamilo José projecto do DJ Afonso Macedo e do holofotes incidem sobre instrumentos construídos a partir de lixo –, tão CelCelaa e AlfonsoAlfons Sastre. VJ receyecler, que se debruça sobre talhado para as pistas de dança a céu aberto como para os palcos de o legado do cinema negro para grandes festivais. Ou isto: as notas do likembe congolês passadas para as abordar “a dicotomia entre o belo universais guitarras. FestivalFestival MucoM da obra acabada e o pesadelo do A ideia primeira era um disco simples que foi inchando e chega às lojas expexploralora mmúsicas processo criativo”. Na tarde do dia segunda-feira com o título “Tradi-Mods Vs. Rockers: Alternative Takes seguinte, mãos à obra com o on Congotronics”. No site da Crammed, Hollander explica tudo: “As no CartaxoCa workshop de “circuit bending” bandas dos ‘Congotronics’ receberam tanto amor de tantos grandes (criação musical espontânea, grupos ocidentais que pensámos em dar-lhes a oportunidade de fixarem AterraAterra no Cartaxo a normalmente associada à música esse amor numa gravação. Tínhamos planeado um único CD, mas 3 e 4 de Dezembro, noise, baseada na experimentação prudentemente convidámos 30 artistas (assumindo que uma boa parte mmaisais com curtos circuitos de não poderia participar). A resposta foi esmagadora e as gravações tão propropriamentep no equipamento electrónico), dado boas que acabámos por fazer um álbum duplo”. O disco vem CCentroent Cultural por Miguel Pipa, músico dos acompanhado por um “booklet” em que cada um dos participantes dada cidadec Kanukanakina, e ouvidos atentos à explica como se deixou seduzir pela música congolesa e aquilo a que se Ballester doou os seus diários inéditos ribatejana,rib “Conferência sobre músicas propõe na sua contribuição. Em aberto, está agora a possibilidade de à Universidade de Albany, na condição chama-sec urbanas” por Rui Eduardo Paes, “Tradi-Mods Vs. Rockers” ganhar vida em palco. Gonçalo Frota de esta não os publicar antes de dez anos Muco e é um jornalista e ensaísta, editor da passados sobre a sua morte festival que, revista Jazz.pt.

4 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon APRESENTAÇÃO AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO AGENDA CULTURAL FNAC entrada livre

MÚSICA AO VIVO CORAÇÕES DE ATUM Romance / Hardcore O cantor e autor da maioria dos temas é Manuel João Vieira. Romance faz sonhar e sorrir sem palavrões, enquanto Hardcore descansa o ouvinte que prefere a irreverência do líder dos Ena Pá 2000 e Irmãos Catita.

20.11. 22H00 FNAC COIMBRA

MÚSICA AO VIVO CARLOS DO CARMO E BERNARDO SASSETTI Juntos num disco inédito de voz e piano. Não é um disco de fado. Não é um disco de jazz. É uma fusão entre duas personalidades musicais.

25.11. 22H00 FNAC CHIADO

MÚSICA AO VIVO BLIND ZERO Luna Park Depois de dezasseis anos de percurso, os Blind Zero convidam a inaugurar um novo parque de diversões para adultos.

25.11. 22H00 FNAC GUIMARÃESHOPPING

MÚSICA AO VIVO DEOLINDA Dois Selos e Um Carimbo - Edição Especial De regresso a Portugal, depois das recentes digressões, vêm à FNAC apresentar a nova edição do seu último álbum.

26.11. 18H00 FNAC GAIASHOPPING 26.11. 22H30 FNAC NORTESHOPPING

MÚSICA AO VIVO GNR Retropolitana Uma das bandas mais carismáticas da pop-rock nacional apresenta, no Fórum FNAC, o novo disco.

26.11. 22H00 FNAC GAIASHOPPING

apoio: Consulte a AGENDA FNAC em: http://cultura.fnac.pt A alma boa de Feito em vida de Saramago, este fi lme seria sempre visto como o retrato de u nos mostra alguém que se sente grato por cada dia que lhe é dado v diz: “Pilar, encontramo-nos noutro sítio”. Pilar é Pilar del Rio, a Retrato de um homem e de uma mulher, portanto. Mas espelho para n

Em “José e Pilar”, o documentário de dificuldade em antipatizar com ela Lanzarote sem deixarem de ser, ele, filme diz da religião que “é uma aldra- romance a Jesus Cristo e outro a Caim, Miguel Gonçalves Mendes que ontem depois de verem estas imagens. Como o provocador de convicções um tan- bice, pá, uma aldrabice completa”, descontando já as ressonâncias bíbli- chegou às salas de cinema depois de terão dificuldade em antipatizar com to rígidas que já sabíamos que era, e, que a igreja católica é hoje “uma far- cas da inexplicável praga que atinge se ter estreado no DocLisboa, há um a própria Pilar. ela, a sevilhana de emoções fortes e sa trágica”, e que faz votos de “morrer a humanidade em “Ensaio Sobre a momento em que Pilar del Rio diz que A façanha do realizador não foi ter espírito prático, controlando com de- lúcido e de olhos abertos”, sabendo Cegueira”. o incómodo de se deixarem filmar pe- mostrado um velhinho inteligente, terminação a agenda do marido, que que a única realidade é “nascer, viver Num dos mais comoventes momen- lo cineasta vale a pena, porque as ima- simpático e compassivo, que vive nu- já adivinhávamos que fosse. e morrer”, é também um Saramago tos do filme, quando anda a fazer a gens do filme ficarão aí por muitos ma ilha espanhola, com a sua dedica- A corruptela do título de Brecht que atravessado por inquietações tipica- promoção mundial de “A Viagem do anos. Tendo em conta que as duas ho- da mulher, os últimos anos de um encima este texto pode servir para mente religiosas, que quer que as su- Elefante”, o escritor explica a uma ras deste documentário foram mon- amor perfeito. O feito de Miguel Gon- resumir o Saramago que este olhar as cinzas sejam enterradas em Lan- plateia que talvez não tivesse escrito tadas a partir de 240 horas de grava- çalves Mendes, e é por isso que Pilar desenha: uma boa alma, que, como zarote para ficar perto de Pilar e que o romance se não tivesse sabido que, ção, o incómodo não terá sido, de tem razões para dar como bem gastas as personagens da peça do dramatur- manifestamente gostaria que a vida após a morte do paquiderme, lhe ti- facto, pequeno. Mas Pilar tem razão. todas as horas sacrificadas a este pro- go alemão, duvida da bondade de um tivesse algum sentido que a tanscen- nham cortado as patas dianteiras pa- Os muitos portugueses que, gostando jecto, foi ter mostrado que Saramago Deus em que não acredita, mas tam- desse. Ou talvez não haja paradoxo ra as tranformar em recipientes para mais ou menos da obra de Saramago, e Pilar são esse casal com quem todos bém da bondade dos homens. Para- algum, tendo em conta que, numa bengalas e sombrinhas. “Aquelas pa- embirram com a pessoa, terão mais gostaríamos de passar uma tarde em doxalmente, o Saramago que neste obra não muito extensa, dedicou um tas que tinham andado milhares de

6 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon de Lanzarote e um homem a morrer – o que se torna tanto mais impressionante porque o viver. Numa das imagens Saramago, no alto duma montanha, , a vital andaluza que arrebatou o melancólico português. a nós, portugueses, nos confrontarmos. Luís Miguel Queirós

quilómetros”, diz, com a voz embar- dado viver. Mas é justo que o filme sagem de um grande escritor aos vin- concentrado no que vê no ecrã. O es- gada, e termina: “Não conseguimos seja visto assim, porque a morte é um douros. Quis apenas mostrar um ho- critor cruza os dedos e leva os indi- fazer da vida mais do que o pouco dos seus temas dominantes. Não por mem no fim da vida e que sabe que cadores aos lábios, na pose de quem que ela é”. acaso, uma das imagens iniciais, que vai morrer. Na verdade, quem não está a agarrar uma ideia, depois le- depois se repete pouco antes do fim, conhecer a obra de Saramago, pouco vanta-se e vai pôr música clássica, Um homem mostra-nos Saramago, no alto duma ficará a saber dela neste filme. O fac- como quem prepara um ambiente que por acaso é escritor montanha, dizendo: “Pilar, encontra- to de ser um romancista e um prémio Vamos ver um homem mais propício à escrita. Volta a sentar- Feito em vida de Saramago e estreado mo-nos noutro sítio”. Nobel da Literatura só é aqui relevan- que por acaso se, deixa escapar um “não”, e diz: após a sua morte, este documentário O filme está recheado de cenas di- te no sentido em que essas circuns- “Vou ver se faço aqui um truque”. Só seria sempre inevitavelmente visto vertidas e adivinha-se que entre o que tâncias se reflectem na sua vida diá- é escritor, e não então vemos o que está no monitor e como o retrato de um homem que nos é mostrado e o que caiu na mesa ria. percebemos que Saramago está a fa- está a morrer, o que se torna tanto de montagem, a presença da morte Numa divertida cena inicial, o rea- um escritor que zer uma paciência de cartas. mais impressionante porque o que poderia ter sido bastante mais ténue lizador prepara-nos para um docu- Adivinhamos então que vamos ver nos é mostrado é alguém que reco- se tivesse sido essa a opção do reali- mentário convencional sobre “o es- inevitavelmente um homem que por acaso é escritor, nhece a sua própria felicidade e que zador. Não que Miguel Gonçalves critor na intimidade”, filmando Sara- e não um escritor que inevitavelmen- se sente grato por cada dia que lhe é Mendes tenha querido filmar a men- mago sentado ao computador, é um homem te é um homem. E, logo a seguir,

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 7 “Ele punha as pessoa “José e Pilar”: uma história de amor entre um português melancólico e uma intempestiva a

Há um momento, e não é longe vez, e toda a gente temeu que O que é que lhe interessou em do início de “Pilar e José”, em que isso podia acontecer, isso, sim, Saramago e o que é que acha que o fi lme parece logo coisa ganha: mudou a leitura do fi lme. Vivi interessou a Saramago? quando a angústia do escritor sempre a rodagem com varios Acho que ele foi enganado [risos]. Saramago perante a página em pesos em cima, e um deles era Propus-lhe fazer um retrato branco – cliché na nossa cabeça a possibilidade de ele morrer. A intimista de uma relação, e ele – se transforma numa batalha montagem durou ano e meio, e disse logo que a intimidade dele lúdica do jogador Saramago com eu estava com medo. Tentámos era a intimidade dele. Expliquei- a paciência – o jogo da... O que acelerar. Queria que ele partilhasse lhe que não seria voyeurista, que Miguel Gonçalves Mendes, 32 connosco a estreia, e tinha medo queria perceber o quotidiano. anos, revela aí é a determinação de ser acusado de oportunismo. Fui insistindo, ele viu o fi lme de construir uma cena como numa Mostrei a primeira versão de três sobre o Mário, e disse uma coisa fi cção. Isso vai tendo oportunidade horas à Pilar e ao José. Várias lindíssima: “Miguel, tenho é de se mostrar ao longo do vezes tive medo das opções, o ter medo de não dizer coisas tão documentário, através da ironia, eliminado todas as entrevistas e interessantes como o Mário disse.” da cumplicidade e da admiração a ausência de um discuro mais O que é que lhe interessava? Ele perante as personagens José fi losófi co e político da parte dele... achava que eu era um repórter a e Pilar. E também esculpindo Porque é que eliminou, já agora? fazer mais um documentário. Mas na montagem um espelho que Inicialmente baseei o trabalho percebi rapidamente que o tempo nos confronta, espectadores, em oito horas de entrevistas ao de rodagem tinha de ser outro. Este filme são as próprias palavras de Sara- portugueses. José e à Pilar sobre a vida, a morte Eles eram duas fi guras públicas chama-se” mago, ditas pela sua voz, que justifi- e o trabalho. Mas eu não queria que sabiam muito bem lidar com a José e Pilar”, e cam esta opção: “A vida de cada um Um dos primeiros planos repetir fórmulas, o pensamento câmara, tinham as defesas todas, faz jus ao de nós a estamos contando em tudo do fi lme é hoje estranho: do Saramago está mais do que e se eu queria chegar ao âmago título. É, para quanto fazemos e dizemos, nos ges- José Saramago diz “Pilar, difundido. O que faltava era o tinha de ser estabelecida uma usar as tos, na maneira como andamos e encontramo-nos num outro registo intimista, aquilo que ele é relação de confi ança total. Não palavras do olhamos, na maneira como viramos sítio”. Parece um plano do “lado com esta mulher. podia ser uma rodagem de dois próprio a cabeça ou apanhamos um objecto de lá”. Em que momento da Há uma coisa que ele diz meses. Ou fi caríamos pela rama. Saramago, a do chão”, declara o romancista, con- rodagem esse plano aconteceu? nessas entrevistas, que não está Comecei por acompanhá- história de cluindo: “Somos um sistema de si- E tem um sentimento diferente no fi lme mas acho muito bonito: los nos eventos públicos e nas como “um nais”. hoje, quando sabemos que somos mata-borrões, somos viagens e eles começaram a senhor calado, Saramago morreu? impregnados pelo outro, deixamos perceber que o que eu estava a melancólico, O país de origem Acho que o sentimento da altura e de ser quem somos e passamos fi lmar não era normal. Criámos um pouco O filme é isso: a captação desse siste- o de hoje é o mesmo. A temática da a ser nós com o outro; por isso é uma relação especial. Quando triste” se ma de sinais. Não é uma biografia. morte interessa-me muito. É uma que nas separações o mais difícil cheguei a Lanzarote, as portas encontrou Aqui e ali vamos tendo informações obsessão que tenho de resolver. não é um separar-se do outro, é a estavam abertas. Fui deixando com a energia soltas do que foi a vida de Saramago, Claro que no caso do José a separação da terceira pessoa que nas entrelinhas que o que e vitalidade desde a infância na Azinhaga, passan- contagem descrescente estava lá, ambos criaram. Portanto, para me interessava era fugir ao desta do por momentos marcantes, como era um problema efectivo. fazer um fi lme sobre ele, eu tinha documentário do homem e da andaluza a sua decisão tardia de se tornar es- O que lhe propus foi a coisa mais de fazer um fi lme sobre ela. Para obra e criar uma narrativa com critor, o encontro com Pilar ou a de- idiota: “José, imagine que acontece além de que a Pilar é uma fi gura espessura clássica: esta é a savença com Portugal após a polémi- um cataclismo, o que é que dizia à incompreendida, alvo de juízos de história de um homem que quer ca criada no início dos anos 90 com Pilar como última mensagem?” E valores ordinários, e interessou- escrever um livro e depois adoece “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, ele disse aquilo... me quebrar isso... e tem medo de não conseguir mas apenas na medida em que esses Hoje tem uma ressonância Estava a dizer que a montagem acabar o livro, mas escreve e instantes do passado se repercutem diferente. tinha sido complicada... depois ainda escreve outro, e por no presente. Claro que sim. Quando mostrei a versão de três acaso é prémio Nobel... Em certa medida, um dos temas Mais: há aquele chamamento horas, o Saramago disse-me: ... sim, a questão da obra é fortes do filme é o da contrubada re- mútuo, “Pilar, Pilar...”, “José, “Miguel, muitas vezes quando irrelevante. Mas o que é que lhe lação de Saramago com o seu país de José...”. E a voz “off ” de estavas a fi lmar não percebia o interessou em Saramago? Já origem, mas a única referência que Saramago: “A voz de alguém que interesse daquilo, mas hoje que agora: o que é que lhe interessou temos ao episódio que “entornou o sente despegar-se da vida...”. vejo acho que o fi lme é mais do em Cesariny? caldo” – a decisão do então sub-secre- Era evidente a ideia de alguém que só sobre nós os dois, é um Li na adolescência os livros do tário de Estado da Cultura Sousa La- que se despedia? fi lme sobre a vida e as relações”. Saramago. Gosto muito da forma ra de retirar o “O Evangelho Segundo Não no sentido em que era no Foi o maior elogio, porque era como escreve as personagens, Jesus Cristo” de uma lista de roman- caso do Mário [Cesariny, objecto isso que me interessava: que o o bem e o mal habitam em nós. ces portugueses candidatos a um pré- do documentário “Autobiografi a”, fi lme ultrapassasse o patamar Quando toda a gente o acusava mio literário europeu – aparece já 2004]; aquilo, sim, era um da elegia e fosse sobre o que nos de ser panfl etário, eu achava-o quase no final, quando um jornalista testamento. O que aqui havia era faz estar aqui. E virou-se para a humano, modelado e sereno. O que português diz a Pilar que “a maior a noção clara de que o tempo dele Pilar e disse: “Este fi lme é uma parte dos portugueses” a “olha como estava a acabar. Nunca no fi lme ele dedicatória de amor à tua pessoa”. a mulher que levou Saramago para se comportou como se estivesse a E ela respondeu: “Sim, mas a Espanha” e ela replica: “Não, isso foi deixar um legado. Mas sabia que minha vida também é”. E é. Para o governo de Cavaco Silva”. Esta en- daqui a cinco ou dez anos o “game além do companheirismo, da luta “Quando ele escreveu trevista é, aliás, um dos momentos over” estava ali. comum, aquele amor era de uma mais hilariantes do filme, com um Quando adoeceu a primeira lucidez... ‘Caim’, em 2010, entrevistador obcecado com a legali- zação dos homossexuais em Espanha tivemos em horário e uma Pilar crescentemente irritada e tentando manter algum compostu- nobre na TV teólogos ra. “Há uma percentagem esmagado- ra de gays em Espanha”, declara o a discutir a existência jornalista, insistindo que esse alegado de Deus. Isso não é facto “deve ser complicado para a vi- da matrimonial” dos casais heteros- um privilégio sexuais. “Complicado para a vida matrimonial é a barriga dos homens”, numa época de responde a entrevistada ao algo nu- trido interlocutor. estupidificação total? A tradicional imagem do escritor crispado com Portugal só aflora no Não devemos momento em que Saramago, de ca- agradecer por isso?” deira de rodas, visita a inauguração, em Espanha, da grande exposição

8 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon oas a pensar. Devemos-lhe muito” a andaluza. Mas é também, diz-nos o realizador Miguel Gonçalves Mendes, um espelho que nos confronta, espectadores, portugueses. Vasco Câmara

Portugal, que me interessava, e a questão internacional, o fi lme não podia ser bairrista. Houve várias

SUSANA PAIVA SUSANA coisas que começaram a pesar, e também a pressão dos produtores internacionais [a O2 Filmes do brasileiro Fernando Meirelles e a espanhola El Deseo] por causa dos prazos. Mas ninguem meteu o bedelho. Passar 240 horas para duas horas é uma tarefa que não desejo ao pior inimigo. Passámos cinco meses a ver o material, fi z uma primeira montagem cronológica. Ninguém esperava que ele, naquele momento, tivesse a ideia para a “Viagem do Elefante”. O fi lme passou a ser sobre o livro. Do momento da escrita até ao lançamento no Brasil – era assim que o fi lme começava e acabava. Depois foi dilatado no tempo por várias circunstâncias, porque ele adoeceu, porque houve a recuperação. Na montagem fi zemos uma primeira versão cronológica, depois fi z uma versão de seis horas, que é a minha preferida, mas que era impossível de ir parar às salas ou onde quer que seja. E depois foi a luta de cortar. E o fi lme começou a ganhar narrativa própria. E só parei a montagem porque se se começa a polir demasiado, o diamante começa a perder a forma. Aí decidi José, Pilar parar. Mas ainda hoje não sei se o e Miguel que fi cou de fora é pior ou melhor me levou a fazer o fi lme? Conhecê- não tinha qualquer tipo de com os estudantes... qualquer relação deles directa do que o que fi cou no fi lme. lo pessoalmente, o fi lme foi uma subserviência. Isto cria uma Eu já sabia que caras é que ele com a câmara. O fi lme foi isso: Há um “caso Saramago” e há desculpa. Foi assim com o Mário... relação de igual para igual, sendo fazia perante admiradores e fãs. um processo de limpeza. Se uma um “caso Portugal” em “Pilar No caso do fi lme sobre o que o meu olhar sobre o mundo O que me interessava era o outro reunião de trabaho deles tinha e José”. Aquela sequência em Cesariny você aparece no ecrã, é mais ingénuo e isso para eles lado, como os fãs lidam com três horas, eu fi lmava tudo. Depois que “Ensaio Sobre a Cegueira” a relação entra pelo fi lme. Com poderá ser carinhoso. A relação ele. Daí a colocação da câmara tratava de encontrar os momentos de Meirelles passa em Cannes Saramago foi diferente... que se estabece é honesta, não há naquela posição, por trás dele. em que eles se tinham esquecido e continua a ser dia de futebol A minha existência no fi lme nenhum tipo de luta de egos. Eu já calculava que aquilo ia da câmara. na TV portuguesa... E abrem-se sobre o Cesariny prende-se com Por quanto tempo se estendeu o acontecer. Eu já tinha assistido a Quando Saramago adoece, portas em relação à percepção o facto de o fi lme ser o resultado fi lme, da rodagem à montagem? comportamento daqueles. Queria Pilar toma as rédeas no pública do Saramago: uma da relação entre um miúdo que Quatro anos. que o fi lme fosse um confronto de documentário. Como é que a doçura que não se conhecia. na altura tinha 24 anos com a E só a montagem ano e meio. todos nós, fãs, jornalistas, pessoas doença perturbou a rodagem do Sim, mas esse era o Saramago que pessoa que ele admirava. É um Problemas de produção? que pedem autógrafos... com a fi lme? eu achava que haveria. Não era só fi lme sobre solidão e eu era uma Não só. Devido também à nossa imagem. Temos tendência a Trouxe também coisas bonitas... o fi lho da mãe comunista, ateu e companhia para o Mário. O José quantidade de material romantizar as coisas. Mas a beleza Chegámos a Lanzarote, para a traidor à pátria. Portugal é um pais estava acompanhado por aquele Precisamente: o fi lme apresenta reside na humanidade das coisas passagem de ano, e ele tinha complicado. Somos injustos. O que amor. Mas há nos dois fi lmes um recorte muito nítido, um e não na tentativa de fl orear a sido internado no dia anterior. não se perdoou ao Saramago foi um lado meu de ingenuidade olhar defi nido sobre o que quer. realidade. Filmámos a família em casa, a que ele tivesse sucesso. Veio de que colocou aquelas pessoas à Há um momento, no início, em Havia um roteiro para as cenas? situação estava grave. Acabei família pobre, não pertencia às vontade. que se percebe essa defi nição: Por exemplo, quando Saramago, por visitá-lo naqueles dias, e ele elites, começa a escrever aos 60 Há uma coisa de que gosto quando Saramago se senta ao no carro, fala sobre Deus, disse que andava a ter sonhos e aos 80 ganha o Nobel. De onde muito no Saramago e que pratico computador, prepara o ritual - aquele cepticismo orgulhoso: estranhíssimos, por causa do veio este tipo? Isso não se perdoa. na vida: não idolatro ninguém põepõe um disco - do queque pparecearece ser estou sozinho, mas quero estar espaço e das luzes. Basicamente, E como o sucesso do outro espelha e estabeleestabeleçoço relaçõesrelações com as um dia de escrita ee...... e afi nal era sozinho... colmatei a ausência dele com a a nossa inacção, começámos a pepessoasssoas em apenas um jogo de paciênciapaciência.... Não lhe dizia: hoje vamos recriação dos pesadelos dele, que destruir o outro para nivelarmos patamares dede AsAs pessoas constroem clclichés,ichés, conversar sobre isto. Antes para mim é das coisas mais bem por baixo. É sempre um processo igualdade. O e eu qqueriaueria qquebraruebrar o cliché. dessa sequência tínhamos ido conseguidas no fi lme. E depois de destruição colectiva. A puxar o SSaramagoaramago EEuu sabia que ele jogava fi lmar umas imagens perto de a forma milagrosa, palavra um país para baixo. ou a ppaciências,aciências, achava isso uma igreja, repleta. Ele começou bocado estranha... O Saramago era polémico. Há senhora do maravilhoso,maravilhoso, iaia lá a casa e a dizer: “A igreja estava cheia, ... provavelmente ele não iria coisas que ele defendia e com as mercamercado...do... via-ovia-o jogar.jogar. Portanto iiaa crcriariar cheia de fi éis para ouvir o padre”. gostar... quais não concordo. Não suporto, Ele o “setting”...“setting”... eis o momento A conversa partiu daí, embora ... [risos] como se deu a por exemplo, qualquer teoria ttambémambém triunfaltriunfal ddaa entraentradada do haja uma série de perguntas que recuperação. iberista. Agora, era um provocador escritor, a página em fi z que não estão na montagem. Quais foram os dilemas na nato. E temos que agradecer aos branco e tal... e de repente Eu queria que as pessoas não montagem? deuses. Quando ele escreveu está a jogarjogar pacpaciência...iência... sentissem que estavam a ver um Havia várias coisas que me “Caim”, em 2010, tivemos em Outro momento, este documentário. Queria dar um preocupavam: o escritor e Nobel, horário nobre na TV teólogos eembaraçoso,mbaraçoso, dodo encontro passo ao lado e limpar da imagem a Pilar, que é uma pessoa frontal a discutir a existência de Deus. e intempestiva - ele é muito Isso não é um privilégio numa português, mais melancólico -, o época de estupidifi cação total? MiguelMiguel GonçalvesGonça Mendes que para nós portugueses causa Não devemos agradecer por isso? trabalhoutrabalhou ququatroa anos em problemas, pelo nosso moralismo Ele punha as pessoas a pensar.

ENRIC VIVES-RUBIO “J“Joséosé e PPilar”ilar” barato. E depois a relação com Devemos-lhe muito.

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 9 SUSANA PAIVA SUSANA

O Saramago que neste fi lme diz da religião que “é uma aldrabice, pá, uma aldrabice completa” sobre a sua obra – “A Consistência resse, passa boa parte do tempo a tão tipicamente conjugal, comenta por todo o mundo e acaba internado dos Sonhos” –, e comenta: “É algo que sorrir. Sorri quando pede a Pilar que para os seus anfitriões que “quando num hospital, e o terceiro quando o parece que só se podia fazer em Lis- lhe corte a etiqueta de uma camisola ela se põe assim, é difícil chegar a al- romancista regressa a casa, a Lanza- e que faz boa, que é a capital do reino; pois não “Armani”, ri-se quando esta lhe suge- go”. Mas talvez em nenuma outra ce- rote, já farto das obrigações decor- se fez e duvido que se faça”. Na ver- re que responda a um convite para na a relação entre os dois pareça tão rentes da fama. Mas está cheio de dade far-se-á, e Saramago, numa cena integrar uma comissão do Dalai Lama sólida e tão convincente. efeitos circulares, uns mais óbvios, votos de que o filme também mostra, terá di- afirmando-se disponível, mas lem- A força de um documentário como outros apenas sugeridos. Por exem- reito ao elogio público do primeiro- brando que “é comunista” e “não este também depende de como Sara- plo: no início, Saramago conta que, “morrer ministro José Sócrates. acredita em deus nem vai acreditar mago e Pilar funcionam enquanto em criança, tinha um pesadelo recor- Em contrapartida, os exemplos de nos próximos duzentos anos”, e não imagens numa tela, e Miguel Gonçal- rente no qual se via num espaço trian- irritações lusas com o escritor retri- consegue conter o riso quando uma ves Mendes filma-os admiravelmente, gular fechado e havia uma substância lúcido e rado em Espanha são bastantes, mui- jovem brasileira, numa sessão de au- quer quando nos mostra um Sarama- misteriosa que começava a crescer, a tas vezes dadas através de noticiários tógrafos, lhe sussurra ao ouvido: “Eu go quase juvenil subindo uma mon- crescer, e que fatalmente o iria sub- de rádio e televisão. “Saramago deve te amo”. tanha ou dizendo uma graça a Pilar, mergir. Enquanto se ouve a voz do de olhos tudo a Portugal”, diz uma voz na rá- Pilar, e por extensão a sua família, quer quando nos mostra um velho escritor a contar isto em “off”, o rea- dio, enquanto o visado toma o seu é uma efectiva co-protagonista deste acabado e acabrunhado num quarto lizador mostra o sonho em termos pequeno-almoço, aparentemente tão filme. O público português, para de hospital, quer quando, depois dis- gráficos, usando apenas algumas li- abertos”, interessado no que ouve como se es- quem a jornalista espanhola era uma so, nos mostra o homem quase mila- nhas brancas sobre fundo negro, que tivessem a transmitir a notícia de um figura opaca de quem por vezes liam grosamente rejuvenescido que escre- mostram uma figura estilizada no in- acidente de viação. Já os sinais de in- declarações nos jornais, ou viam al- ve “A História do Elefante” e que se terior de um triângulo; este vai depois é também dignação de Pilar com o que conside- gumas fugidias imagens num telejor- recasa com Pilar aos oitenta e tal ficando preenchido até se ver apenas ra ser as ofensas portuguesas a Sama- nal, sairá do visionamento deste do- anos. Ou quando nos mostra uma Pi- um emaranhado informe de linhas um go são mais evidentes. E quando, em cumentário pelo menos com a sensa- lar cansada, receosa de que Sarama- brancas. Já perto do final, um mapa Lisboa, se prepara para ver, na tele- ção de que a ficou a conhecer de go possa morrer de um dia para o do mundo traçado em linhas brancas visão, a abertura do festival de Can- perto. E provavelmente dirá a si pró- outro e irritada com os seus colegas mostra-nos as intermináveis viagens Saramago nes, que irá exibir “Blindness” de prio que a opção de ir viver com Pilar de profissão que já vão tendo os obi- profissionais de Saramago, com seti- Fernando Meirelles, baseado em “En- para Lanzarote, tenha ou não sido tuários preparados, quer quando nos nhas brancas a partirem de Lanzaro- saio Sobre a Cegueira”, não esconde provocada pelos delírios censórios mostra a noiva jovial que, num cartó- te em todas as direcções, até que tudo atraves- a sua irritação. Todos os canais por- de Sousa Lara, foi a mais sábia decisão rio do registo civil, quando lhe per- se transforma num novelo informe, tugueses estão há uma data de tempo da sua vida. Não porque Miguel Gon- guntam se aceita Saramago, responde como sugerindo que a criança ante- a transmitir em directo declarações çalves Mendes procure esconder as ao notário: “Hijo, claro!”. Mas as mais cipou em sonhos o pânico que Sara- sado por de Luís Filipe Vieira no estádio da facetas mais irritantes de Pilar – por notáveis imagens de Pilar são talvez mago poderá ter sentido no final da Luz. “Quién es esse tio?!”, pergunta, exemplo a sua mania de enfatizar o as captadas no funeral da sua mãe, vida perante essa esmagadora onda furiosa, a Saramago. Mas a notícia que diz com pausas artificiais na dic- no interior de uma igreja, vestida de de jornalistas, fotógrafos e fãs (e do- inquie- acaba por chegar: dura uns segundos ção –, mas porque se vai tornando preto e com uma espécie de beleza cumentaristas) que ameaçava o seu e logo aparece no ecrã Rodrigo Gue- óbvio que é em Lanzarote que Sara- serena que, para lá de todas as disse- espaço vital e lhe roubava o pouco tações des de Carvalho a anunciar a inven- mago se sente efectivamente em casa, melhanças físicas, pode fazer pensar tempo que tinha. ção do “primeiro soutien solar”. e certamente não na sua Azinhaga em Ingrid Bergman. “Cansei-me de sorrir e do esforço natal, que a dado momento visita con- O filme está estruturado em três de parecer inteligente”, diz, após a tipica- O português e a andaluza trariado, porque, explica à mulher, já actos: o primeiro, centrado em Lan- inauguração da biblioteca de Lanza- Este filme, não convém esquecê-lo, lá não conhece ninguém. E é Pilar que zarote e na construção da biblioteca rote, à qual compareceu o ministro chama-se” José e Pilar”, e faz jus ao lhe lembra, em tom quase admoesta- de Saramago, o segundo no período da Cultura espanhol. Mas o filme aca- mente título. É, para usar as palavras do pró- dor: “Não vais lá por ti, vais lá pela em que o Nobel da Literatura viaja ba com Saramago e Pilar filmados de prio Saramago, a história de como aldeia”. costas (como Bogart e Claude Rains “um senhor calado, melancólico, um O momento mais tenso entre Sara- em “Casablanca”), num corredor de religiosas pouco triste” se encontrou com a mago e Pilar é quando ambos visitam Um dos temas fortes aeroporto. “O convite para ir a Quio- energia e vitalidade desta andaluza e a casa de uns amigos e se fala da pos- to ainda está de pé e eu gostava de ir se “viu rodeado”, citando novamen- sível vitória eleitoral de Obama, de do filme é o da a Quioto”, diz Saramago. “E gostava te o escritor, “por 15 energúmenos quem Saramago diz ter sido sempre de ir à Índia”. Só depois do genérico, selvagens”, referência aos numerosos admirador, acrescentando: “ao con- contrubada relação reparece a imagem de Saramago na irmãos e irmãs de Pilar. O resultado trário da minha senhora que era toda montanha: “Pilar, encontramo-nos é um Saramago que, salvo no período para a sehhora Clinton”. Pilar abes- de Saramago com noutro sítio”. em que esteve internado e se receou pinha-se e exalta-se. A dado ponto, (a começar por ele próprio) que mor- Saramago, com aquela complacência o seu país de origem Ver crítica de filmes pág. 43 e segs.

10 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon

“A mais elevada forma de arte é a arte de viver” O que é que copia o quê, a arte ou a vida? É a questão lançada por “Cópia Certifi cada” o fi lme que Abbas Kiarostami foi rodar a Itália, o país da arte. E a arte, diz o iraniano, “pode transformar a mais grosseira ‘arte de viver’ numa forma mais elevada e ainda mais verdadeira do que a originalidade da vida”. Luís Miguel Oliveira

Juliette que a coloca no centro da cultura eu- viver’ numa forma mais elevada e ain- Binoche, ropeia ocidental. Quão cirúrgica foi da mais verdadeira do que a origina- uma galerista, essa escolha, é o que queremos saber, lidade da vida”. É a questão lançada e William e a resposta começa por ser um bo- pelo título do filme, o que é que copia Shimmel, cadinho evasiva. Kiarostami fala da o quê, se é que copia e se copia “con- um historiador importância - primeiro no momento forme”, e se é uma “cópia” que temos de arte: de escrever o argumento, e depois o direito de esperar. Citamos a Kia- um casal que para o espectador - de se sentir “a re- rostami uma coisa que o cineasta fran- se forma lação das personagens com o ambien- cês François Reichenbach costumava na Toscana te que as rodeia”, e diz que para estas dizer: “entre uma maçã e uma maçã personagens (Binoche é uma galeris- pintada por Cezanne prefiro a maçã ta e a personagem masculina, inter- de Cezanne”. Por causa da maçã, Kia- pretada pelo barítono inglês William rostami lembra-se de Newton, para Shimmel, é um historiador de arte) dizer que o “observador também tem era “natural” uma paisagem investida que ser uma força de gravidade”, e de uma forte herança artística. E que exercer a sua influência sobre os ob- foi assim que se aproximou da Tosca- jectos, para concluir que entre a ma- Abbas Kiarostami passou pelo Estoril “A mais elevada na, das igrejas e da pintura. Ainda nos çã e maçã de Cezanne prefere uma Film Festival para apresentar o seu parece uma resposta casual, mas o terceira hipótese: a maneira como ele último filme, “Cópia Certificada”/ forma de arte é a arte próprio, mais à frente, será implicita- próprio vê a maçã. Ideia simples, mas “Copie Conforme”, rodado em Itália, mente mais determinado. como se diz no filme “não há nada de com produção europeia e actores eu- de viver. Mas a arte simples em ser-se simples”. ropeus - uma novidade na sua obra. pode transformar A maçã “Cópia Certificada” também é um Kiarostami, que fez 70 anos em Junho, Se Kiarostami quer falar da relação filme auto-reflexivo, está Kiarostami parece hoje mais solto, menos reser- a mais grosseira ‘arte das personagens com a arte aprovei- a ponderar algumas coisas sobre os vado do que quando o conhecemos, tamos a deixa. Em “Cópia Certificada” seus processos criativos? “A evolução em 2004, quando veio a Portugal a de viver’ numa forma os temas da arte monopolizam os pri- é necessária, as circunstâncias impe- convite da Cinemateca para acompa- meiros diálogos entre o par protago- lem-nos a refinar a nossa filosofia de nhar as primeiras sessões da retros- mais elevada e ainda nista, para lentamente se irem trans- vida”. E acredita que o objectivo da pectiva que lhe era dedicada. Já tínha- formando em conversas, e em situa- arte “é atingir a simplicidade”. E aqui mos percebido, por entrevistas na mais verdadeira ções, em que a arte já não pode ser a resposta ilumina um ponto prévio imprensa internacional, que alguma do que distinguida da vida, da vida vivida de da conversa. Diz que arte - em primei- coisa mudou entretanto nas interven- todos os dias. Poderemos dizer que ro lugar “muito egoisticamente”, pa- ções públicas de Kiarostami, e que o a originalidade se trata de um filme sobre uma rela- ra o próprio criador - é uma forma de seu discurso é mais aberto,o, menosmenos çãoçãç o natural,natural, ffluida,luida, iinteriorizada,ntere iorizada, cocomm “melhorarmelhorar a relarelaçãoção cocomm a vividada e ccomom fugidio. Sobretudo, menosos tenso.teensn oo. dada v vidavida”ida” a arte,arte, ou ccomom a aarterte cocomomo o mundo”,mum ndo”o , umauma “forma“fforrmam ddee compre-compm re- Quando o vemos a entrar naa suitesuiu tet ddoo “língua”“língua”a parapara umumaa rerela-laa- ensãoensão da vvidaida e do mmundo”.undo”.” E ccomoomo hotel reservada para as entrevistas,ntreevistas,s çãoção cocomm o mumundo?ndo? coexistecoc existe a aarterte cocomm ououtrastras fformasormas de parece mais jovem do que o Kiaros-Kiaros-s “A mmaisais elevadaelevada compreensãocompreensãão da vvidaida e do mmundo,undo, tami que conhecemos há mmeia-dúziaeiia-dúzia formaforma de aarterte é comocomo porpor exemploexemplo a filosofiafilosofia ouou a re-re- de anos. Também parece estarstaar à von-von- a artearte ddee vivi-- ligião?ligião? O iraniano,iraniai no, clcclaro,ara o,o ppercebeuercebeu tade com o facto de se terr tornadotoornado ver”,ver”, respon-resppon- ondeono de qqueríamosuerír amos chegarchegar comcom a per-per-r uma pequena “estrela”, umum autor-autor-r de KKiarosta-iaroosta- gunta,guntta,a e respondeurespondeu comcom todatoda a sub-sub- vedeta para um público queuee - inter-inter- mi,mi, nunumama tileza,tit leza, atéaté um bbocadoocado peperversa:rversa: “n“numum nacionalmente - já não é assimasssim tãotão frfrasease ququee mundomundo em queque religiãoreligião perdeperde influ-innflu- pequeno como isso. totomamosmamos ência,ência, a artearte e a fifilosofialoosoofia sãsãoo as llingua-ingua- Essa é, com certeza, umama ddasas rra-a- poporr um gensgens quequee a podempodem substituir”,substtituiu r”, frfraseasa e zões por que pôde ir filmarr a ItItáliaália e “sim”.“s“ im”.” MMasas queque soasoa a umaumma alusãoalussão “a“a contrario”contrarir o” fazer um filme “europeu”. A qququestãoestão a arte,arte, cocon-n- ao rregimeegime popolíticolíl tico ddoo seseuu papaís.ís. MaMass é que se impõe é outra: porquequuee é qqueue tinua,tinua, ““po-po- issoisso queque sese sentesente nanass enentrelinhastrelinhas de quis ir filmar a Itália, ele queue forafora do de transfor-traansfor-r “Cópia“Cópia Certificada”,Certificaadad ”, a aarterte cocomoomo uumama Irão só tinha filmado “ABCC ÁÁfrica”frica” marmar a maismais respostarespostaa ppotencialmenteotencialmentn e tãtãoo boboaa coco-- (um documentário sobre aass acacçõesçõões grgrosseiraosseiri a mo qualquerqualquer outra.outrra. RRepetimos-lheepete imos-l- he patrocinadas pelas Nações UnUnidasnidas eemm ‘arte‘arte de estaesta ideia,ideia, já comcom o tempotempo ddaa enentre-trt e- prole das populações desfavorecidas)vorrecidas) vistavista esgotado.esgotat do. SemSem esperaressperar pelapela tra-tra- e um segmento de “Tickets”ketts” ((emem duçãodução parapara ffarsi,arsi, KKiKiarostamiara ostami aacenacena 2005)? comcom a cabeça.cabeça. “Há três razões”, diz. A primeira,prrimeira,a que nem vale a pena esmiuçar,iuçar, eleele VerVer crcríticaítica de ffilmesilmes resume-a numa frase: “Nosos úúlúltimostit mos págs.págs. 43 e ssegs.egs. anos as condições para trabalharbaalhar nnoo Irão não são boas”. Segundada rarazão,zão,o havia um “compromisso” comomom Juliet-Juliet-t te Binoche, que fora uma ddasass eespec-spec- tadoras-actrizes de “Shirin”,n”n”, o seuseu filme anterior. E terceira, a vvovontadeontn ade de “experimentar”, de se pôrôr aoao tra-tra-a balho numa cultura diferententee e nnu-u- ma língua que não domina.. Mas não escolheu uma linguangguua e uma cultura quaisquer, nemm uumm cenário indiferente. Escolheuheeu a Toscana, que tem uma Históriatórria NUNO FERREIRA SANTOS Domingo, 21 de Novembro, 17h00 Auditório da NOVA (Campus de Campolide) Orquestra Metropolitana de Lisboa Berislav Skenderovic direcção musical LUDWIG VAN BEETHOVEN Sinfonia n.º 3 em Mi bemol maior, Op. 55, Heróica Andrei Ujica nasceu em 1951 em Ti- tobiografia...” não precisa de ver todas Durante o julgamento de mishoara, a cidade romena onde se as suas sequências descodificadas em Tîrgoviste comportou-se deram os conflitos que originaram a acontecimentos da sociedade romena de acordo com o sentido de revolução que, em 1989, depôs Nico- entre 1965 e 1989. As imagens repro- heroísmo dos comunistas nos lae Ceausescu e a ditadura comunista. duzem o fascínio e o tédio, o carisma tempos da resistência: não Em 1981 exilou-se na Alemanha. Pro- e a banalidade de uma ditadura em colaborar com o inimigo. fessor de Literatura e Teoria dos Media que a ideologia ficou reduzida à voz e Ele tornou-se tão fundamentalista na Academia de teatro e cinema de ao rosto de um só homem. porque a sua doutrinação surgiu nu- Karlsruhe, é o director do Instituto Ceausescu foi um dos expoentes do ma era muito perigosa. Ele tinha ZKM (centro de Arte e Tecnologia dos “monoteísmo ateu” em que se trans- quinze anos quando foi preso pela Media, em Karlsruhe). Em 18 anos re- formaram os regimes comunistas. primeira vez. Era uma criança que alizou três filmes: três lições de cine- Quando falou pela última vez da va- tinha prestado serviços para os pou- ma, três lições de História, três lições randa da sua residência oficial, para cos comunistas que existiam então sobre a arte de manipular o real. convencer o povo de que as manifes- na Roménia. É entre os dez e os quin- Para Ujica, a fabricação de imagens tações em Timishoara eram uma ze anos que se pode fazer uma dou- “Ele [Ceausescu] dirigir o país como quem dirige para cinema e TV e a sua preservação conspiração estrangeira, a meio do trinação forte, como Hitler, com a um filme musical. gerou fontes suficientes para que a discurso surgiu um rumor vindo da Juventude Hitleriana, e Estaline, com era um crente, Todos os líderes comunistas tinham História a partir do século XX possa Calea Victoria, que entrou como uma os Pioneiros, fizeram. É por isso que uma fixação com o papel da arte no recorrer apenas à imagem. Mas se onda na Piatza Palatului até transfor- a sua crença era tão forte e sem com- e acreditava neste aparelho de propaganda. A ideologia aceitarmos que o grande debate ético mar-se num irrefutável acto de pro- promissos, completamente atípica marxista em que acreditavam consi- e estético dos últimos 20 anos no ci- testo da multidão. Vemos o rosto do para a psicologia dos romenos. No ‘monoteísmo ateu’ deravam-na uma ciência, uma súmu- nema tem sido em redor da linha que ditador a transformar-se: ele queria fim, ele teve certamente memórias la do conhecimento da História e da separa o documentário da ficção, en- convencer o povo uma última vez da dos primeiros tribunais por que pas- que era a ideologia Cultura da sociedade, uma ciência tão Ujica apagou essa linha. “Autobio- mentira e o seu povo disse-lhe pela sou, quando foi preso na adolescên- do Estado marxista portanto com leis objectivas. Ceau- grafia de Nicolae Ceausescu”, que primeira vez a verdade: não acredita- cia e tomou a mesma decisão: não sescu estava convencido de que tudo esteve a concurso no Estoril Film Fes- va nele. A imagem que captou o acon- falar com o inimigo. (ou a ideologia o que acontecia era um acidente, e tival (estreia comercial em 2011), é tecimento, e que Ujica incluiu em Durante o funeral de de que leis objectivas, observadas por uma ficção sem material ficcional; e é “Videogramas de uma revolução”, é Gheorghiu-Dej [líder que marxista em geral), esta ciência da sociedade humana, um documentário que revela uma en- comovente: Ceausescu não encenou antecedeu Ceausescu no poder], seriam accionadas e todos esses aci- cenação totalmente fantasista. aquele momento, como os outros Ceausescu começa por ser como a definiu dentes seriam ultrapassados. O paradoxo tem uma explicação: todos. O mito desabou e deu lugar a um figurante, depois carrega Na medida em que acreditava numa apesar de ter morrido há 21 anos, exe- um ser humano vulnerável... o caixão; plano a plano, vai- [o filósofo] Peter ideologia que punha em prática en- cutado por soldados a mando de um Ceausescu foi marioneta ou se tornando cada vez mais Sloterdijck” quanto ciência, também acreditava tribunal ad hoc, o ditador é mesmo marionetista? importante, até assumir o que a arte mais não era do que um autobiografado neste filme, já que foi Ele era um crente, e acreditava neste protagonismo. movimento para pôr em cena a cren- ele a encenar e a “oficializar” as ima- “monoteísmo ateu” que era a ideolo- No protocolo comunista da sucessão ça na verdade última da sociedade gens que o constituem. Como é que gia do Estado marxista (ou a ideologia [de poder], deu-se esta estranha rea- humana. A um nível rudimentar, Ce- se transforma a derrocada de um pa- marxista em geral), como a definiu [o parição do mote medieval “o rei mor- ausescu era teórico autodidacta do ís – na economia, na cultura, na polí- filósofo] Peter Sloterdijck. O problema reu, viva o rei!”. No caso do protoco- marxismo que pretendia pôr em prá- tica, na barriga e na moral dos cida- do ditador ideológico é o de acumular lo comunista, o homem que faz o tica. Um dos poucos erros políticos dãos – numa etérea fantasia coreográ- funções. Ele é o chefe ideológico, que discurso das exéquias será o próximo que cometeu foi o de ter ficado fasci- fica? “Autobiografia de Nicolae deve pôr a doutrina em prática e para líder; outro pormenor: aquele que nado com a Revolução Cultural de Mao Ceausescu” é uma TAC à mentira. fazer isso deve anular qualquer ins- carrega a parte da frente do caixão, e com o aperfeiçoamento formalista “Videogramas de uma revolução”, tância crítica. Ele é o chefe inquisidor do lado esquerdo, será ele o próximo. de Kim Il Sung, na Coreia do Norte. que Ujica realizou em 1992 com Harun e chefe executivo numa só pessoa. Uma das razões para este funeral to- Farocki, já era sobre o último episódio Uma das possíveis explicações do mar tanto tempo no filme... é como da história da Roménia comunista, em porquê da ideologia de Estado estar dizer: podes esperar um longo épico que se assistia à queda do regime, mas condenada a tornar-se ditadura deve- com ascensão e queda, como “O Pa- também ao desabar do culto de per- se ao facto do ditador ideológico ser drinho II”. Do ponto de vista históri- CUNHA PEDRO sonalidade que Ceausescu vinha en- ao mesmo tempo uma marioneta da co, o funeral de Ghiorghiu-Dej foi o cenando. “Autobiografia...” não exibe sua ideologia e um marionetista dos último no bloco Leste a ter uma “mi- apenas a construção do mito, é sobre outros. Ceausescu tem uma qualida- se-en-scène” igual ao funeral de Le- o acto de manipular a realidade e a de importante para esta posição: as nine, que foi a maior cerimónia pro- História. Os romenos pensam que é pessoas que o rodeavam caracteriza- tocolar do mundo comunista. É uma um filme só para eles – quem mais po- vam-no como um mestre de intimi- cerimónia que só aconteceu quatro, deria entender um filme de três horas dação. Deram-se vários casos de pes- cinco vezes. sem voz “off” a contextualizar as ima- soas em posições de liderança que Depois das imagens com a visita gens que descrevem em registo de quase tiveram à beira de um ataque à China de Mao e a Pyongyang, digressão a passagem de Ceausescu cardíaco, depois de terem uma dis- em “Autobiografia...”, fica-se nos comandos de um país? Mas “Au- cussão com ele. com a ideia de um ditador a Uma TAC à ditadura Os fi lmes de Andrei Ujica são lições de História e de cinema. Traduzindo: são lições sobre a arte de manipular. O romeno, autor de “Autobiografi a de Nicolae Ceausescu”, que esteve em competição no Estoril Film Festival, explica o porquê dos grande ditadores comunistas serem realizadores, encenadores, coreógrafos... Rui Catalão

14 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon Depois da visita à Coreia do Estou certo que é possível. Nos últi- Norte, Ceausescu acreditou que mos dois anos trabalhei lá para este podia importar para a Europa filme. Boa parte da “nova emigração essa forma aperfeiçoada da arte romena”, aquela que partiu do país de propaganda na última década, teria provavelmen- te uma situação melhor na Roménia colectivo, não ocorre um único erro do que aquela que tem no estrangeiro, durante o espectáculo. Mas aqui na e isso também seria mais benéfico pa- Europa, quando são obrigadas a fazer ra o país. A situação não é tão histéri- o mesmo, as pessoas por baixos dos ca como os media fazem parecer. painéis comem uma sanduíche, lêem As condições de diálogo são um livro, pensam noutra coisa qual- suficientes? quer. É aí que se dá a ruptura. Politicamente é um desapontamento. As imagens da recepção a Está a ser uma longa transição, a no- Acreditou que podia importar para Ceausescu em Pyongyang va geração de políticos é feita de di- a Europa essa forma aperfeiçoada da impressionam pela perfeição letantes, não existe uma classe pro- arte de propaganda. São sociedades e de desenhos criados em fissionalizada. O maior obstáculo ao com bases colectivistas e não indivi- movimentos coreográficos. desenvolvimento mais acelerado da duais. Experiências como Revolução Mas o que mais impressiona é Roménia para um Estado democrá- Cultural ou a arte de propaganda de o espectáculo ser feito apenas tico moderno reside na inexistência Kim Il Sung funcionaram porque cor- para duas pessoas: Kim Il Sung e de uma justiça independente. respondiam a uma mentalidade, a a sua visita. Onde encontrou as Mas para além da classe política, uma educação, a um padrão cultural imagens? como vê a cidadania? com uma tónica no colectivismo. Na É uma reunião de material de televisão e A actual crise que se estende quer a história cultural da humanidade, Kim do arquivo nacional de cinema, a partir de Ocidente quer a Oriente da Europa é Il Sung ficará como o maior realiza- duas visitas, em 1978 e em 1982. Era sempre uma crise intelectual generalizada. É dor e produtor de arte de propagan- o mesmo ritual, mas o aparato aumentava um facto que no fim do século XX a da do século XX. a cada visita. Kim Il Sung foi o principal última ideologia utópica foi o marxis- Com Ceausescu no papel de responsável por este tipo de paradas. Ele mo e implodiu, e com ela a última seguidor... há dois anos, numa [Ceausescu] ficava pálido de inveja com construção intelectual vinda do ilu- exposição de fotojornalismo esta síntese entre a estética nazi (tal como minismo. O discurso intelectual ficou com imagens inéditas do regime a filmou Leni Riefenstahl), a cultura prole- desacreditado. Os filósofos que desde comunista, no Teatro Nacional tária estalinista, e os musicais de Busby Platão sonhavam em chegar ao poder de Bucareste, havia uma foto Berkeley em Hollywood - de quem Kim Il conseguiram chegar ao poder no séc. tirada num estádio, durante o Sung era fã. XIX, mas as consequências disso no ensaio de uma coreografia: ao A paisagem romena faz hoje século XX foram catastróficas. A in- fundo, uma multidão que enche lembrar os bastidores de um fluência dos intelectuais actualmen- o estádio cria imagens com plateau ao abandono. Restam te é muito pequena e são incapazes cartões; em primeiro plano, um os vestígios do espectáculo de de coordenar-se no que respeita aos rapaz a ler, com um cartão por um país em desenvolvimento conflitos entre esquerda e direita. cima da cabeça. acelerado, entretanto Com a implosão do marxismo os pro- Essa foi a grande diferença. Na Coreia interrompido. Vinte e um anos blemas não podem mais resolver-se 9e#eh]Wd_pW‚€e0Cki[kZeEh_[dj[šC_d_ijƒh_eZeiD[]ŒY_ei;ijhWd][_heišD[mJh[dZie\7hY^_j[Yjkh[_d do Norte, com todos os homens re- depois da Revolução é possível de acordo com este eixo [esquerda- ;khef[WdZ7i_W#FWY_ÓY9ecc_jj[[š7hj

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Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 15 “Grève humaine (interrom- pue)”, do colectivo parisiense Claire Fontaine, fundado em 2004, que interroga noções de autoria, propriedade intelectual e privada

Perante a curiosidade geral, mulhe- “I Am a Man”, res e homens atravessam as salas, de Sharon com um porte digno, quase orgulho- Hayes, artista so. E em menos de um minuto, che- que trabalha a gam ao destino: outra sala onde está partir de a instalação de João Sousa Cardoso slogans (Vila Nova de Famalicão, 1977). Um políticos: grupo interrompe, então, o passo, “still” da enquanto o outro sobe para cima de projecção uma mesa (que é parte da obra do “The Near artista). E a música e a dança come- Future, New çam. Durante vários minutos, uma York” das galerias do Museu de Serralves deixa-se tomar pelos cantares do Rancho Douro Litoral. Ou, para ser- mos, mais precisos, a instalação “As Fúrias” é activada por um corpo, ga- nha outro corpo. Este é um dos trabalho que integra “Às Artes os Cidadãos”, exposição que procura mapear as intersecções entre a arte o político, convocando, pelo caminho, os conceitos de globaliza- ção, memória, democracia, activis- mo, revolução ou comunidade. É um projecto intenso e imenso, uma das maiores colectivas em Serralves em termos do número de artistas (inter- nacionais e nacionais): ao todo che- Somos todos cidadãos d em Serralves Trinta artistas nacionais e internacionais. Uma lista impressionante de obras novas ou inéditas a ideia de comunidade ou memória. O Museu de Serralves inaugura neste domingo uma das história. Para pensar e rever as relações entre a arte a política, o espectador e o artista, o exercício “Às Artes, Cidadãos!” José Marmeleira

16 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon “Não vai ser um ansiolíticos, nem, um anti-depressivo, mas um desafio a qualquer gam aos 30, sendo que muitos apre- espectador que sentam obras novas, como é o caso de João Sousa Cardoso. se confronta consigo “As Fúrias” tem, no entanto, uma história. Em 2001, o artista, com Da- mesmo e o mundo, niela Paes Leão, já tinha colaborado com o Rancho Douro Litoral no âm- com os sentidos bito de um projecto, situado entre a CRIME STORY estética e a etnologia, que tinha resul- e o pensamento” tado num happening de uma noite. João Fernandes Agora, resgata os mesmos corpos, Kirk Wong, 1993, 106’ mas com outros efeitos: “Está mais Com Jackie Chan, Kent Cheng duro, menos na linha da antropologia participativa”, revela. “Mas não é so- E fomos procurar obras de artistas bre o folclore, embora este me inte- que se relacionassem com essa ideia, OVERHEARD resse enquanto manifestação cultural que se confrontassem com ela”. que uma certa classe média tende a O entendimento deste confronto, Alan Mak e Felix Chong, 2009, 100’ ver cristalizada, ou como memória para a génese da exposição, não se incómoda. É antes um trabalho sobre restringiu ao plano da criação artísti- Com Lau Ching-wan, Louis Koo, Daniel Wu as relações entre o corpo e a política, ca; alargou-se ao trabalho de comis- sobre as metáforas do povo português sariado, com o convite ao crítico do e sobre a memória do século XX”. De- PÚBLICO Óscar Faria. “Achámos que RUNNING OUT OF TIME baixo da mesa, em vários televisores era importante que o museu saísse correm imagens dos ensaios semanais do seu interior, da sua forma interna Johnnie To, 1999, 93’ do rancho. Para ver esses corpos (os de funcionamento, e convidámo-lo outros que dançam ao vivo só apare- na condição de comissário exterior. Com Andy Lau, Lau Ching-wan cem aos domingos, de manhã), o es- Fez em 1999 e 2004 as duas edições pectador tem que se baixar, sentar-se da exposição ‘Quartel – Arte e Revo- no chão. “Não se trata de uma elegia, lução’, e os seus textos enquanto crí- WRITTEN BY quis mostrar o que há de infinitamen- tico têm analisado estas questões”. te digno nesses homens que temos O enquadramento do “tema” pau- Wai Ka-Fai, 2009, 85’ diante de nós. E com os frisos dos te- tou-se por critérios que poderíamos levisores procurei evocar o “Friso do chamar de cronológicos: “Interessou- Com Lau Ching-wan, Kelly Lin Partenon onde se celebra a democra- nos pensar todo o século XX e optámos cia ateniense”. “As Fúrias” completa- por expor [obras] sobre a actualidade. se com uma série de folhetos dispos- Sabendo que a relação com o político tos sobre a mesa. Vemos imagens de é transversal à arte, decidimos convi- Cármen Miranda, de Bob Dylan, de dar artistas nascidos depois de 1961 “A Jangada de Medusa”, de Theodore [data da construção do Muro de Ber- Gericault. Um repto à memória da lim]; ou sejas artistas herdeiros dos História, de Portugal e do mundo. conflitos ideológicos do século XX, no- meadamente da Guerra-Fria. Que têm A ideia de cidadania trabalhos que reflectem esse passado Mas deixemos o mundo dos artistas, das gerações anteriores, embora de está na altura de ouvir os comissários: forma muito distinta e autónoma”. João Fernandes Óscar Faria Que im- Sobre a realização de uma exposi- pulso motivou esta exposição? A iden- ção assim, em plena crise económica tificação de um interesse renovado e financeira, e com as transformações pela relação entre a arte e o político? que ribombam ao virar da esquina, Uma reacção à realidade política e João Fernandes sublinha a coincidên- social contemporânea (como hoje soa cia e a oportunidade do título. “Nesta aflitiva a blague apocalíptica de Jo- situação que entretanto se criou, tor- hnny Rotten “No Future”!). A reposta nou-se actual porque convoca os ci- chega sem efeitos dramáticos. dadãos às artes e as artes aos cida- “O impulso vem de um convite das dãos. Não imaginava há um ano, Comemorações dos 100 anos da Re- quando começámos a conceber este pública para pensar uma exposição”, projecto, que pudesse ganhar uma diz João Fernandes. “E esse convite actualidade assim”. confrontou-nos com um discussão Os artistas nacionais que partici- ideológica e estética, colocou-nos um pam são André Romão, António de problema. Como é que a contempo- Sousa, João Sousa Cardoso, Mariana raneidade se podia integrar nestas Silva e Rigo 23. É uma lista estimulan- comemorações? A solução foi encon- te mas destituída de nomes que numa trar na cidadania uma ideia transver- exposição desta natureza não figura- sal à arte, à cultura e ao mundo, que riam de todo deslocados. Lembramo- remete para Antiga Grécia e que foi nos de João Tabarra, Fernando José fundamental na Revolução Francesa. Pereira, Miguel Palma, Fernando do mundo

s que lidam com a História, o activismo, s exposições mais ambiciosas da sua o da cidadania e a actividade artística.

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 17 os paradoxos da actividade política. António de Sousa traz para dentro do Museu, com ironia e gentileza, a me- mória de Loukanikos, o cão que “li- Performances, PAULO PIMENTA PAULO derou” as manifestações e tumultos sociais na Grécia dos últimos anos. seminários, música Rigo 23 “regressa” à sua Madeira natal para abordar com a pintura, escultu- numa exposição ras e elementos decorativos da cultu- Hall de ra popular as relações entre o povo, Não resistimos a contar. Por esta altura, “Às Serralves: o poder político e a religião. E na úl- Artes, Cidadãos!” já nasceu. Cortesia do artista “Nas Margens tima sala, com a projecção “In the australiano Tom Nicholson que realizou (na da Arte”, Near Future, New York”, a norte-ame- passada segunda-feira) duas acções com panfl etos antecâmara ricana Sharon Hayes devolve ao es- alusivos à história de Timor: distribuiu-os no da exposição pectador a possibilidade da acção da centro da Porto e largou-os a partir de dois aviões “Às Artes responsabilidade individual. Porque sobre a cidade. Ou seja, esta é uma exposição que Cidadãos!” o espectador é um cidadão desperta fora do Museu. E que, antes de o ocupar, se estende ao Auditório com performances, música, Um falso renascimento fi lmes e conferências. A estas propostas juntam-se outras Não se trata, avisa Óscar Faria, de “uma de artistas como Andrea Geyer, Azier programação paralela”, mas de uma série Mendizabal (que este ano teve uma de eventos indissociáveis da exposição: “A exposição na Culturgest, em Lisboa), programação faz parte de um todo orgânico que os colectivos Bureau d’Études e Clai- se complementa entre si e suscita pistas e leituras re Fontaine, Carolina Caycedo (com sobre ‘Às Artes, Cidadãos!’. Pode potenciar, por um trabalho sobre a imigração), Za- exemplo, ligações entre os fi lmes de uma artista chary Formwalt (fotografias que re- como a libanesa Ahlam Shibli e a performance da presentam a economia e o mundo das actriz Lina Saneh com o artista Rabih Mroué”. finanças), Gardar Eide Einarsson, Da- No auditório, as intersecções entre arte e política nh Vo, Pedro G. Romero Vangelis exploram-se logo no dia da inauguração com uma Vlahos ou Gert Jan Kocken. peça teatral de Nicoline Van Harskamp (sobre um Interpelamos Simon Wachsmuth e congresso de anarquistas) e no dia 23 de Novembro Carlos Motta. O primeiro participou com a apresentação pública dos resultados do na Documenta 12, em 2007, e na Bie- seminário de 48 horas “Viver Politicamente ou nal de Istambul de 2009, e investiga Sobre as Relações entre Teoria e Prática”, que os intervalos e os (falsos) epílogos que o colectivo russo de Chto Delat organiza, nos existem nas narrativas da História e primeiros dois dias da exposição, no interior do da História de Arte. O colombiano museu. Este é, aliás, um dos acontecimentos da Carlos Motta é um jovem artista cujas colectiva: os participantes do seminário vão de obras recuperam momentos, identi- facto viver – politicamente - no museu: isto é, vão dades e comunidades da América fazer deste, durante o período estabelecido, não Latina e que o progresso histórico apenas um espaço de debate, mas de habitação. apagou ou exilou. São ambos recep- Segue-se, a 25, a estreia do documentário Brito ou Paulo Mendes. Os comis- “Sabendo que a tores ideais de uma pergunta: assisti- “Nine Days In Wahat Al Salam”, de Ahlam Shibli, sários explicam-se: “‘Às Artes Cida- mos hoje a um renascimento do inte- e a 27 uma mesa redonda com as curadoras dãos’ é um desafio para Serralves se relação com o político resse dos artistas pelas relações entre internacionais Chrissie Iles e Catherine David, abrir a um grupo de artistas que não a arte e a política? que farão uma revisão crítica de um conjunto de têm trabalhado ou têm trabalhado é transversal à arte, Simon Wachsmuth: “Sim, podemos exposições de referência que cruzaram a arte e a pouco connosco, e cuja obra revela dizer que há muitos artistas que tra- política. uma interrogação da arte e da políti- decidimos convidar balham, há vários anos, de forma es- Em Dezembro (4 e 5), destaque para a peça ca. Procurámos escolhas inusitadas, pecífica a arte e a politica. Mas desde “World of Interiors” de Ana Borralho e João singulares, menos óbvias. Daí a au- artistas nascidos a Antiguidade ou o Renascimento que Galante e até Março são diversos os nomes que sência de nomes que as pessoas mais depois de 1961 as duas esferas fazem entre si alian- compõem o programa: os franceses Olive Martin facilmente associam a estas questões ças. A arte sempre lidou com a vida e Patrick Bernier com um trabalho que lida com e de que também gostamos muito. Por [dconstrução do que lhe era contemporânea e ao fazê- as questões do acolhimento e da imigração; Lina outro lado, interessou-nos proporcio- lo reflectiu sempre as circunstâncias Saneh e Rabin Mroué com uma performance e nar uma exposição que fosse um de- Muro de Berlim]; politicas. Às vezes só nos apercebe- vários fi lmes; a dupla Los Torreznos; o basco safio mais experimental”. mos disso mais tarde. Esta é a dimen- Mattin, artista, músico e teórico do noise (em Dar visibilidade a certas obras num ou seja artistas são invisível dessa relação. A dimen- termos musicais, socais e políticos), que editou há contexto museológico foi outro crité- são visível é quando reconhecemos pouco “Noise as Capitalism”; e o colectivo norte- rio, acrescenta Óscar Faria: “Estes herdeiros dos com facilidade a reacção dos artistas americano Ultra Red. artistas têm exposto em espaços não conflitos ideológicos ao presente. E isso é o que, creio, Estão previstas, também, a presença de Greg institucionais como A Certain Lack of acontece actualmente quando os ar- Bordowitz (com fi lmes e documentários, incluindo Coherence [no Porto e gerido por ar- do século XX” tistas se debatem com surgimento das “Fast Trip, Long Drop”) e seminários de Susana tistas] e o Kunsthalle [de Lisboa e di- novas democracias, a queda do co- Buck-Morss (professora norte-americana de rigido por João Mourão e Luís Silva]. munismo, a relação com o Oriente ou Ciência Política, especialista nos autores da Escola Refiro-me ao André Romão, ao João a evolução do capitalismo e do neo- de Frankfurt), Roberto Merrill (“Uma semana de Sousa Cardoso e ao António de Sousa, do colectvo Act Up, que combateram, liberalsimo”. bondade – Arte Política e imoralismo estético”) enquanto a Mariana Silva faz parte do respectivamente, a discriminação das Carlos Motta: “Na América do Sul e de artistas participantes na exposição (Claire blog ‘O Declive’. A única excepção mulheres na arte e na política, e a dis- esse interesse sempre foi muito forte. Fontaine, João Sousa Cardoso, Bureau d´Études e será o Rigo 23. Escolhemo-la forma criminação dos portadores da HIV na Basta pensar nalguma arte da Améri- Pedro G. Romero). como traz questões do espaço públi- sociedade norte-americana. Cartazes ca Latina dos anos 60, 70 e 80. Utili- Palavras fi nais para o catálogo, composto por “Battle of co para dentro do museu”. e publicações do movimento contra- zava as estratégias do conceptualismo dois volumes. O primeiro inclui textos inéditos de Alexander”, cultural holandês Provo, que antecipou do Norte com formas próximas do ac- Peio Aguirre, Federico Ferrari, Brian Holmes, Sven detalhe da Um espectador é um cidadão o Maio de 68. Uma antecâmara da vida tivismo político. Mas não creio que os Lütticken, Roberto Merril e do artista Hito Steyerl, instalação “Às Artes Cidadãos” insinua-se no Hall política antes da ou com a arte. artistas só agora se tenham lembrado que abrem janelas e portas para a exposição. O “Where we do museu com a exposição “Nas Mar- A partir daqui desenha-se um per- de fazer arte assim. Acontece que só segundo debruçar-se-á sobre as imagens das obras were then, gens da Arte”, comissariada por Gun curso pontuado pela História como nos últimos anos é que as instituições nos espaços expositivos e os trabalhos apresentados where we are Scharen. É toda uma história do acti- construção da política, com as suas se deram conta que a arte também é no âmbito de “Às Artes, Cidadãos!”. J.M. now”, de vismo feito nas fronteiras da arte que narrativas e momentos tratados pela a aplicação de um pensamento, de Simon se revela ao espectador. Livros, obras ambiguidade livre da arte. A Antigui- uma forma e de uma estética no âm- Wachsmuth gráficas, panfletos das Guerrila Girls e dade clássica, a história narrada pelo bito social, e não apenas uma explo- Ocidente e o Irão contemporâneo são ração de formas e estilos”. olhados criticamente num desenho e “Às artes os cidadãos” parece uma num filme de Simon Wachsmuth exposição adequada, útil para os temos (apresentados na Documenta de Kas- em que vivemos. Sobretudo porque sel em 2007). Sam Durant analisa o permite aos espectadores imaginarem processo da globalização em “The outras formas de viver e agir politica- World”, de 2010, obra feita para a ex- mente. Mas não se espere qualquer posição. O colectivo russo Chto Delta conforto ou cura para a ansiedade vai a viver dois dias numa sala do mu- diante do futuro. “Não vai ser um an- seu (feito cineclube informal) para siolíticos, nem, um anti-depressivo”, discutir política, arte e activismo, ins- observa o director do Museu de Serral- pirado no modelo da “peça didáctica” ves, “mas um desafio a qualquer es- de Brecht; Nicoline van Harskamp pectador que se confronta consigo explora um arquivo do anarquista mesmo e o mundo, com os sentidos e holandês para desvelar as dúvidas e o pensamento”.

18 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon DURAÇÕES DE UM SÃO MINUTO UM ESPECTÁCULO DE LUIZ CLARA NOV~1O ANDERMATT E MARCO MARTINS 5 A 27 NOV QUINTA A SÁBADO ÀS 21H 28 NOV DOMINGO 3 e 4 de DEZEMBRO ÀS 17H30 SALA PRINCIPAL M/12

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// MORADA Praça Marquês de Pombal nº3, 1250-161 Lisboa // TELEFONE // EMAIL 21 359 73 58 [email protected] O amor é um lugar me Nasceu na República Dominicana, mas circulou por várias cidades americanas antes de d a uma sueca. De regresso a Nova Iorque resolveu criar um álbum de canções pop intemporais, t história frustrada. “Forget”, assim se chama o álbum de estreia de George Lewis Jr, ou seja T

Nasceu na República Dominicana, claramente, mas talvez tenha sido a Ele, claro, ri-se, quando lhe contam O tempo e os cresceu nos EUA por onde andou em forma de gerir uma ligação à distância “Não acredito nas a sua história, desta maneira. “É en- silêncios dos trânsito, por Miami, Boston e Nova condenada. Não é por acaso que o graçado porque posso dizer que andei filmes de Iorque. Depois apareceu uma rapari- álbum se chama “Forget” e as canções pessoas que tentam 27 anos a preparar este disco”, diz- Bergman - ga, por sinal sueca. Foi com ela para são evocativas, algures entre a pop, o ser originais. Acredito nos, “no sentido em que reflecte o uma Copenhaga, na Dinamarca. Por lá fi- rock e a soul. Por vezes parece uma que sou desde sempre, ou então res- influência nas cou uns tempos, antes de ir visitar a sonoridade familiar, mas não o é, daí nas pessoas que tringi-lo a um período temporal limi- canções de irmã a Berlim, onde permaneceu mais a dificuldade em defini-la. É esta his- tado, o que também é correcto, por- Twin Shadow, uns meses. tória, a traço grosso, de Twin Shadow, fazem música a partir que foi feito em poucas semanas. É aliás George Sentia-se dividido em relação à ra- designação que George Lewis Jr, 27 como se tivesse andado todo este tem- Lewis Jr. pariga sueca. E resolveu regressar a anos, adoptou para o seu projecto delas e se isso for po a prepará-lo de forma inconscien- Nova Iorque, ou seja Brooklyn, e en- solitário. feito com verdade, te e quando senti necessidade de o fiar-se no quarto onde, na fazer as canções tivessem surgido sem companhia de um por- acabarão por expor dificuldade, para minha surpresa.” tátil e pouco mais, Faz sentido. Aos 14 anos começou compôs um conjunto algo de singular” a tocar guitarra. Integrou uma banda de excelentes can- rock quando viveu em Boston. Mas ções, marcadas foi quando esteve na Europa que se pela tal relação. fez luz. Em Copenhaga – onde vive a Ele não o diz tal sueca – George compôs música para uma companhia de teatro e aca- bou a criar versões dos Velvet Under- ground, que tocava todas as noites. “Foi divertido e uma excelente apren- dizagem”, recorda. Foi depois de re- gressar de uma dessas viagens, há quatro anos, que resolveu assentar em Nova Iorque. “Esse período na Europa foi determinante para perce- ber o que queria fazer. Aprendi a ser auto-suficiente. Deixei de idealizar a forma como poderia criar a minha música e comecei a fazê-la com o que tinha à mão.” No quarto, fez uma série de “de- mos”, com um gravador de quatro pistas, um microfone, alguns pedais de efeitos para guitarra e um velho sintetizador. “Na maior parte dos casos escrevia uma can- ção e depois precisava de pouco mais de um dia pa- ra a registar”, justifica. O resto é história habitual. Enviou 02 DEZ 19:30 SALA SUGGIA memorável J.S. BACH e desembarcar na Europa, por amor Variações Goldberg , tentando apagar da memória uma a Twin Shadow. Vítor Belanciano

as canções para algumas pessoas, en- prias e se esse movimento for feito tre elas Chris Taylor dos Grizzly Bear, com verdade, acabarão por expor que estava a formar uma editora e se qualquer coisa de singular.” interessou pelo projecto. “Para simplificar, diria que cheguei EUA vs. Europa com o som do álbum e ele ajudou-me Essa aproximação mais descontraída a remodelá-lo para que pudesse ser à criação acabou formar-se dentro escutado por mais ouvidos. Acabá- dele no período em que viveu na Eu-

mos por produzir o disco em conjun- ropa. “Deu-me uma perspectiva mais Foto ©Birgitta Kowsky Leipzig to, como se fôssemos dois amigos abrangente do mundo e da música, melómanos de longa data. Não foi porque ouvi imensas coisas nos clu- nada difícil, ele é o meu tipo de pes- bes nocturnos, por exemplo, que nos soa, é generoso e atencioso. Tem o EUA dificilmente ouviria.” Mas mais seu ego como toda a gente, mas não do que o músico, é o cidadão que se é egoísta.” diz marcado pelo Velho Continente. “Até aos 22 anos a minha visão do András Bergman e Camus mundo resumia-se aos EUA e Repú- Uma das pessoas em que pensou pa- blica Dominicana. Na Europa senti ra a produção do disco foi o sueco que a qualidade de vida é melhor. Os Olof Dreijer dos The Knife. “Quando padrões são mais conservadores nos digo isso as pessoas ficam muito sur- EUA. Somos um pouco trapalhões nas preendidas porque a música deles é relações sociais. Na Europa as pesso- muito mais clínica e electrónica que as são mais relaxadas.” Schiff a minha, mas no fim de contas todos Agora chegou a hora de se confron- MECENAS CICLO PIANO MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA compomos canções pop, e nesse sen- tar com as reacções ao seu trabalho tido somos da mesma família. Sei que e os elogios não o têm surpreendido. não produzem outros artistas, foi ape- “Não quero que pensem que sou um nas um desejo sem efeito, porque os arrogante, mas estou orgulhoso do admiro. Talvez para a próxima, quem disco que fiz. Quando estou a compor sabe?” não estou a pensar no resultado final, SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO Os The Knife não são os únicos sue- mas se faço música é para ela ser ou- PARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES. cos que George reverencia. O outro é vida pelo maior número de pessoas”, o realizador Ingmar Bergman. “Apren- argumenta. Para além da música, a di a gostar dos seus filmes, dos silên- imprensa americana gaba-lhe o visu- cios, daquilo que não é dito, mas fica al, o que o leva a largar uma gargalha- subentendido. Aprendi imenso. É in- da. “É incrível não é? Uma pessoa crível a forma como trata o tempo. veste-se com as roupas da avó e no Viu ‘Fanny and Alexander’? Na escri- dia seguinte as revistas dizem que so- ta de algumas canções pensei naque- mos o tipo com mais estilo de Nova la forma de desenterrar sentimentos Iorque. A roupa é uma extensão de que estão escondidos ou esqueci- mim, não o renego como é evidente, dos.” mas acaba por ser qualquer coisa pe- Esclarece que “quis trazer emoções la qual me interesso naturalmente. É à superfície”, embora recuse a ideia apenas isso.” que as canções sejam autobiográficas. Não parece facilmente impressio- “Não são a história da minha vida, nável. Dir-se-ia alguém que se encon- mas é evidente que existem elemen- tra preparado para dar que falar nos tos que fazem parte dela. É a forma próximos tempos. Na Europa a sua como penso a minha experiência.” editora é a histórica 4AD, mas esse O cinema e a literatura (“O Estran- facto também é vivido com naturali- geiro” de Albert Camus, é o seu livro dade. “This Mortal Coil, Birthday Par- de cabeceira) são as suas inspirações. ty, Cocteau Twins, todos esses grupos A música, nem por isso. “Perco-me que fizeram história, mas também os facilmente no aglomerado incrível de mais recentes como Ariel Pink ou De- música que existe na actualidade”, erhunter, identifico-me com eles. Mas ri-se. Muitos apontam-lhe influências essencialmente gostei da atitude que dos anos 80. Ele volta a rir-se. “Não a editora teve comigo e isso é que aca- sinto que tenha influências de um pe- ba por ser importante.” ríodo em particular, gosto de pensar De todos os passos encetados nos que a minha música tem qualquer últimos anos no sentido de afirmar coisa de intemporal.” E tem razão. um percurso como músico, o mais Claro que há elementos que reme- estranho tem sido andar em digres- tem para os anos 80 – Smiths, pop são, dar concertos, interpretar as can- electrónica, pós-punk. Mas também ções de forma visceral que compôs, dos anos 70 de Bowie, ou dos Can e sozinho, em recolhimento. Não por Kraftwerk. Dos 60 de Roy Orbinson. falta de experiência. Já tinha estado Ou dos tempos mais recentes. “Quan- em palco com a sua anterior banda do tinha 10 anos queria ser Michael rock. A estranheza advém de outra Jackson. Agora oiço imenso R&B, tipo circunstância. “Foram canções que The Dream e coisas desse género. Hip- compus sozinho, no meu quarto, sem hop e R&B são a coisa que mais oiço grandes meios, agora, estar em palco, hoje em dia.” expô-las com uma banda verdadeira, Diz que não teve intenção de fazer de forma enérgica, barulhenta e rá- um disco conceptual e explica que pida, ainda é algo que me causa con- não se preocupou em fazer diferente. fusão”, diz. “É como se nunca nos “Não tive nenhuma preocupação es- libertássemos completamente desse pecial. Não faço música dessa forma. momento originário em que foram APOIO Não acredito nas pessoas que tentam criadas.” MEDIA

ser originais. Acredito nas pessoas ORGANIZAÇÃO CO-PRODUÇÃO que fazem música a partir delas pró- Ver crítica de discos págs. 39 e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 21 Meia noite e meia da passada segun- da-feira, e estava tudo bem: os Black Rebel Motorcycle Club (BRMC) tinham acabado de ensinar à Aula Magna, em Lisboa, não apenas o bê-a-bá do rock’n’roll mas todos os abcedários possíveis em que as descargas de elec- tricidade se exprimem. Não é coisa pouca, tendo em conta A vida que desde a estreia, há dez anos, a popularidade dos BRMC tem vindo sempre a cair. E não é coisa pouca é sempre a perder tendo em conta os acontecimentos de umas horas antes. Lá pelas seis horas da tarde uma silhueta magra e solitária estava em pé nos braços das Há dez anos os Black Rebel Motorcycle Club tomaram de assalto as rádios cadeiras das doutorais. Percebia-se o tufo de cabelo revolto recortado con- graças a um single perfeito, “Whatever happened to my rock’n’roll”. Desde tra o único foco de luz branca, via-se a guitarra a tiracolo, e quase se podia então, os media voltaram-lhes as costas mas as salas continuam cheias jurar que era um dos irmãos Reid, William ou Jim, que era um dos men- de gente com fé. Mas para eles ainda bem que é assim: se tivessem muito tores dos Jesus and Mary Chain, ali, sozinho, empoleirado nas cadeiras a sucesso, diz Peter Hayes, estariam mortos. João Bonifácio fazer o teste de som. Uma coisa não batia certo: não ha- via som nenhum da guitarra na am- plificação. Peter Hayes, guitarrista e vocalista dos BRMC, não se deu ao trabalho de ouvir o som da guitarra. Verificou a afinação e ficou para ali, sozinho, a tocar umas notas que só ele conseguia ouvir. Hayes é tido nos meios da música como “um tipo com problemas de atitude”, palavras do próprio, uma pessoa antipática, de “sins” e “nãos” nas entrevistas. Ou seja: é tido como o protótipo da estrela rock que, ga- rante-nos, não é nem quer saber. “E mesmo que quisesse não conse- guia”. Este é o mote de Hayes, com ele é sempre a perder – e quase se acredita vendo os BRMC em acção: Hayes faz o ensaio de som uma hora atrasado porque ficou à conversa quando co- meçámos a falar de blues, de droga- rias, do número de horas que um tipo deve dormir por noite, etc, enquanto Robert Turner, o baixista e co-voca- lista, só apareceu quando já passava da hora designada para o fim do en- saio. Subiu ao palco de ar perdido, e andou por ali a deambular muito len- tamente. Por “muito lentamente” entenda-se “com uma lentidão que não é alcançável num estado de per- cepção normal”. O rock ainda é o rock Uma hora de conversa com Hayes, a súbita aparição do zombie Turner e é claro que o rock’n’roll está vivo. Das botas pretas às calças de ganga (pre- tas) com o bolso direito de trás a es- farelar, passando pela camisa (preta) rota no cotovelo e a acabar no ninho de pássaro em vias de extinção que orna o cabelo do rapaz, toda a figura de Hayes estava desenhada para afir- mar uma e uma só coisa: que o rock Peter Hayes (à direita) é tido ainda é o rock e habita naquele corpo. nos meios da música como “um Há dez anos, tantos quantos os BRMC tipo com problemas de atitude” levam a cuspir electricidade. Haynes é um tipo que fala com a Não durmo assim tão pouco, até dur- vamos em digressão. Aí ouço, mas só frão, fizemos essas merdas a pedido lho desmedido e sem razão na sua pró- cabeça apoiada na mão esquerda e o mo umas seis horas por dia”. Uma porque tenho de reaprender a tocar das editoras e o resultado foi sempre pria falta de conhecimento dos ressa- cotovelo em V sobre a mesa, como se média que faria rir Keith Richards, as canções. Eu só tento escrever boas o mesmo: ninguém quis saber. Por biados. No caso, tanto pode ser ressa- estivesse a levar um sermão dos papás atiramos, com aquele sorriso ao can- canções, é só isso”. isso agora fazemos à nossa maneira. biamento quanto ao sucesso da banda e fizesse questão de lhes fazer ver que to da boca que dá sempre vontade de Frase curiosa. Normalmente dita Que se foda”. como ressabiamento social patente a opinião deles lhe é indiferente. Aca- pregar um murro no focinho do tipo por quem sabe que não é só isso. No numa frase biográfica como “Nós nun- ba as frases com “you know” e faz que atira a graçola. “Eu não sou o Kei- caso de Hayes é óbvio que ele não Sempre de fora ca fomos à escola”, que quer dizer: pausas que, com a maior parte das th Richards”, grunhe Hayes com um tenta apenas escrever boas canções, Não é um “Que se foda” irado, aquele. “Nós sempre estivemos de fora”. pessoas, criariam um clima de tensão tom de insolência que, obviamente, é óbvio que ele queria o sucesso. Tão Vem com um tom blasé que camufla Tudo na linguagem de Hayes, des- e mal-estar. Também tem um cabelo pede uma resposta ainda mais inso- óbvio que a dada altura diz: “Não é a raiva. É o mesmo tom de sarcasmo de as palavras que escolhe, ao tom de aos caracóis que não vê água durante lente. Pois. Ele teve, não sei, quantos escolha da banda escrever canções que ele usa para explicar que “algu- voz, tem esse tique de marginal que dias. Mirando-lhe as trincheiras fun- êxitos? Uns cem? Vocês tiveram quan- memoráveis, não está nas nossas mas pessoas escrevem com um plano” já não sabe ser de outra forma, de ti- das debaixo das órbitas é perceptível tos? “Sim. Se consideras o que vende- mãos”. E prossegue de forma explí- mas os BRMC não fazem “as coisas po que foi espezinhado em novo e que ir à cama também não é activida- mos um êxito. Nunca vendemos assim cita: “Eu sei, porque fizemos compro- assim e não compreendemos as pes- resolveu deitar tudo a perder quando de que conste das suas rotinas. tanto. Mas não quero falar dessa mer- missos: cortámos canções que tinham soas que o fazem assim. O artesanato teve as cartas na mão. E quando dize- “Devemos ter mesmo ar de jana- da. Não ouço o primeiro disco como seis minutos para três, tirámos partes não nos interessa. Nós só fazemos”. mos as cartas na mão, queremos di- dos, porque nos dizem sempre isso. não ouço os outros excepto quando experimentais para ir logo para o re- É o tom de sarcasmo blasé, o orgu- zer: um milhão de dólares.

22 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon “Um tipo é o que come e nós comemos rock’n’roll desde e soubesse que não há ninguém para miúdos. A nossa vida escutá-lo, “mas não há assim tanta gente que ouça os discos com cuidado estava toda fodida e atenção. Mas também não quero desde miúdos mas dizer que antes é que era. Antes os Monkees estavam em número 1 e ga- tínhamos rock’n’roll nhavam quase sempre aos Beatles. Os Carpenters estavam em primeiro. Os para comer. E um tipo Abba. O caralho dos Abba”. “O caralho dos Abba”. Fica a repe- é o que come” tir a expressão. Estamos no campo da mais pura Peter Hayes, tradição: o rapaz que viveu sempre guitarrista e vocalista à margem da lei teve a sua hipótese de ser adorado, perdeu-a, o seu co- ração empederniu-se mas no fundo – e segue tremendo cliché – ainda jaz uma luz. Não há cinismo nisto, basta atentar nas palavras de Hayes: “Uma coisa como o momento em que se “Na altura do primeiro disco podí- escreve ‘Whatever happened to my amos ter recebido um milhão de dó- rock’n’roll’ ou qualquer outra can- lares da Virgin e dissemos não e toda ção”, diz, cheio de sentimento, “não a gente achou que éramos loucos. Mas há palavras para descrever uma coi- não éramos loucos. Só pensei: ‘Se me sa assim. Não há maneira de capturar põem um milhão de dólares na mão o que sentimos quando escrevemos eu morro’, percebes? É tipo”– e fica uma canção, nem num CD nem num com ar alucinado, a gesticular no ar DVD”. – “um milhão de dólares. Consegues (A brincar a brincar Hayes deixou- imaginar o que isso te faz? Eu não so- nos a pensar que talvez as formas de brevivia. Há tipos que pegam no di- gravação, mais do que auxiliares de nheiro e gastam todos os dias só um memória, acabem por ser – em ter- bocadinho e fazem tudo certo – eu sa- mos, digamos, metafísicos – uma pa- bia que não ia conseguir, eu sabia que tética procura de possibilidade de se aceitasse esse dinheiro eu morria, emulação desses momentos vitais da percebes?” E um tipo percebe. Perce- iluminação.) “E a beleza disto”, con- be o que ele está a dizer: está a referir- tinua, prestes a atingir aquele culmi- se ao seu gostinho por composições nar orgiástico de elocubração filosó- químicas proibidas no ocidente. fica recheada de lugares-comuns que Este é um ponto importante, por- só os grandes rockers alcançam, “é que ajuda a perceber a história dos que cada um sente cada canção de BRMC. É como se uma nuvem negra forma diferente”. os acompanhasse desde o início. Co- Hayes diz este tipo de coisas apenas mo se “não estivéssemos destinados depois de muita pedra partida, isto é, a ser vencedores, meu”. depois de atravessarmos um mar de O que torna a história dos BRMC “sins” e “nãos”, de passarmos o teste diferente da que conhecíamos. Supos- do quanto-rock’n’roll-é-que-conhe- tamente Peter Hayes tinha feito parte ces, etc. “O que é fodido nas entrevis- dos Brian Jonestown Massacre, a ban- tas é que é suposto seres muito pro- da mais drogada, delirante, violenta, fissional e teres todo um discurso psicótica e trágica da história do Ai-cresci-muito-neste-disco-e-na-mi- rock’n’roll, tinha passado por prisões, nha-vida-também e ser todo profis- porrada entre elementos da banda no sional, mas não conseguimos ser as- meio dos concertos, dormir no chão, sim. Tu chegas aqui, eu não te conhe- não ter o que comer – e um belo dia ço, se eu estiver mal disposto só digo acordou e as canções da sua banda sim e não. E nos concertos é a mesma estavam em todo o lado, com as dos merda. Se estiver feliz toco as canções Strokes e dos White Stripes, enquan- de forma feliz, se estiver infeliz toco- to a imprensa gritava que finalmente as de forma infeliz”. o rock tinha regressado. Como os seus riffs, a conversa de Agora Hayes diz-nos que nem no Hayes é circular. Como os seus riffs a início eles tiveram assim tanto êxito. conversa de Hayes é obsessiva e escu- “Nunca estivemos no mesmo sítio ra. E orgulhosamente solitária. Tem que os Strokes ou os White Stripes. um ethos que consiste em acreditar E o Porto outra vez tão perto de Estávamos nos mesmos festivais mas que sofre de um pathos. (E se isto não Sérgio Godinho. Antes de entrar para eles eram cabeças de cartaz e éramos for verdade, pelo menos é divertido estúdio, o cantautor quer testar, a penúltima banda da tenda mais pe- de dizer em voz alta.) junto do público da Casa da Música, quena”. “É o que nos faz continuar”, diz, alguns dos temas que farão parte do Pelo que na realidade os BRMC quando o confrontamos com essa seu próximo álbum. Em primeiríssima nunca caíram. “A coisa apenas dimi- “ideologia” que ele parece ostentar. mão, a partilha incluirá conversa nuiu. A imprensa aumentou-a quan- “Depois do primeiro disco temos sido sobre a génese das canções e a sua do surgimos e depois foram à procu- fantasmas: há gente nos concertos, feitura, “dos primeiros acordes ra de outra coisa. E nós continuámos mas não se fala de nós. Há gente que ao final de rascunho”. Godinho vai a fazer a mesma coisa. Provavelmen- se interessa por nós, mas não o sufi- também incluir no concerto três te melhor”. ciente para os jornalistas escreverem ou quatro poemas do livro O Sangue Para Hayes toda a história da banda sobre nós. E daqui a uns anos vão apa- Por um Fio (Assírio & Alvim, 2009) foi mal contada. A começar pela ideia recer uns tipos quaisquer e vão escre- e versões novas de temas antigos. de que trouxeram o rock de volta: “O ver que o rock voltou. E nós sempre Segundo o próprio, “será um rock nunca desapareceu. Quando apa- estivemos aqui”. concerto com muitas palavras e muita recemos havia óptimo rock a ser feito. “Sabes?”, diz, em tom verdadeira- música, encenado e espontâneo,

A atenção dos media é que se vira pa- mente sentido, “não fomos à univer- www.casadamusica.com | www.casadamusica.tv T 220 120 construído e imprevisível”. ra outros lados. Quando nós e os sidade, não aprendemos nada, não Strokes e os White Stripes surgimos já sabemos nada. E também não fomos havia coisas antes e continuou a haver à universidade do rock’n’roll e não depois. Mas que havemos de fazer? sabemos o que é correcto ouvir. Mas MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA Um dia um jornalista acorda e porque um tipo é o que come e nós comemos leu numa revista que agora há o retor- rock’n’roll desde miúdos. A nossa vi- no do rock, vai e escreve ‘É o retorno da estava toda fodida desde miúdos do rock’. E há quem acredite”. mas tínhamos rock’n’roll para comer. “Não quero parecer snob”, acres- E um tipo é o que come”. SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL COMPLETO NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE centa, abanando a cabeça, como se Quatro horas depois estava a servir- DUPLO PARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES. entrevesse a desgraça da humanidade nos uma tremenda refeição.

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 23 “Nunca estive obcecada com MIGUEL MANSOMIGUEL a exposição pública, que é o motor de muita gente para fazer música, belas artes, teatro “Se não sabes o que hás-de dizer, ficas ou cinema. Eu fiquei calada”. A lição Márcia sorveu-a do irmão ainda tenrinha, tenrinha, quan- à espera da altura do os degraus que conduziam aos palcos representavam ainda uma es- em que sentisse calada assustadora. E para uma me- preparada” nina tímida, receosa de olhos que se demorassem em si apesar do esforço “camaleónico” de se confundir com Márcia estreia-se com o seu o ambiente, a lição colou na perfei- nome próprio um disco de ção. Mas não sem custos. Aos poucos, cantautora que não tem Márcia Santos foi percebendo que o paralelo na música portuguesa. conforto oferecido pela discrição era ombreado pela traiçoeira interpreta- ção que a postura podia suscitar: co- para não mais dela sair, preferiu fazer mo se o seu silêncio estivesse dicio- um curso de pintura. Também andou narizado como substantivo masculino pelas salas de aula do Hot Clube, mas equivalente a: arrogância, charme, saiu com a certeza de que não ia pen- amuo. E não era nada disso, garante. durar a sua voz num cabide pré-defi- Era timidez. Nem mais, nem menos. nido chamado quarteto. Tudo se pre- “Às vezes é lixado”, conclui agora, cipitou quando a sua melhor amiga no mesmo sopro em que expulsa o da faculdade resolveu mostrar ao pai fumo do cigarro, ao transpor para a uma maqueta que Márcia gravara. O sua experiência de palco este descon- pai – será que já deu para adivinhar? forto com a atenção dos outros. “Num – era João Paulo Feliciano, que num palco não se consegue passar desper- instante ascendeu de pai da melhor cebido, está sempre alguém a olhar amiga a melhor amigo e braço direito. para nós. Essa exposição é tramada, Depois de ouvidas as 12 canções, terá mas tem de se viver com isso. Sempre dito à filha: “Vou fazer uma editora, me senti mais exposta a tocar sozinha vou fazer uma orquestra e ela vem porque passam-me muitas coisas pe- para cá cantar”. Tudo se confirmou. la cabeça”. Sob olhares que queima- Quando voltou de um estágio de ci- vam mais do que holofotes, durante nema documental em Barcelona, qua- alguns dos seus primeiros concertos se à saída do aeroporto havia uma a solo uma das coisas que teimava em Pataca Discos e um Real Combo Lis- ocupar-lhe a cabeça era a certeza de bonense com uma folha branca onde que cada uma das pessoas lá em bai- se lia a tinta preta: “Márcia”. xo, ao longe, no distante público, es- Essa passagem por Barcelona – não taria a consultar o relógio de minuto lhe tendo mudado a língua de expres- em minuto à espera que a tortura che- são musical como o Erasmus em Fran- gasse ao fim. Até que uma amiga lhe ça, quando o inglês perdeu para o chamou a atenção para o facto de português – levaria inesperadamente “nem dar tempo às pessoas de aplau- a pôr um termo às hesitações edito- direm entre as músicas”. “Eu queria riais da cantora. Na altura, lembrou-se despachar tudo, mas depois o feed- de criar uma página no site MySpace back do público, de concerto para e, pouco tempo depois, já andava a concerto, foi-me mostrando que fazia “salvar vidas” e a saber disso pela sentido dar aquilo ao mundo”. mesma via “cibernáutica” que a leva- Esses tempos de ter por companhia ra a encontrar o seu público. O eco apenas a guitarra já lá vão. Após dois das suas canções em vidas alheias anos como uma das cantoras do Real deu-lhe força para assumir o caminho Combo Lisbonense, a ter público aos a solo. Assim como, revela, “os filhos milhares nalguns concertos, isto de músicos que a ela se juntaram. A rede ras canções. Depois, com as faces portas da colectânea “Bandas de Ga- de amigos que adormecem a ouvir a ser simplesmente Márcia no cartaz de segurança no seu primeiro disco, vermelhas da vergonha, foi-as mos- ragem” (2001) e despertaria o interes- música e ficam deliciados”. Estas re- “não é igual, mas não dói”. Se bem “Dá”, ficou então entregue a Luís Nu- trando a alguns amigos e até sabia que se de editoras. A todas deu a mesma acções, por totalmente desinteressa- que a partilha de canções compostas nes (que gosta de ser conhecido pelo queria gravar um álbum. Mas também resposta: não. “Não tinha uma pressa das, foram decisivas. Se levadas para a um cantinho do quarto, de manta nome do ensaísta alemão Walter Ben- sabia que teria de ser respeitado o seu enorme de que passasse para o mun- um ringue as eloquências e artes ora- ou edredão a protegê-la do mundo jamin) e João Paulo Feliciano. “Tro- tempo e não estaria disposta a adap- do”, explica. “Nunca estive obcecada tórias de uma criança de quatro anos exterior, não se fez sem alguma resis- quei o meu edredão por músicos”, tar-se a desejos de encaixe financeiro com a exposição pública, que é o mo- e de um experimentado A&R de uma tência. Foi por isso que Márcia tardou trocou por miúdos. disfarçados de direcção artística por tor de muita gente para fazer música, multinacional, no mundo de Márcia tanto em passar as suas canções para parte de editoras. E isto porque ape- belas artes, teatro ou cinema. Eu fi- a vitória cairá sempre para o mesmo outras mãos sujas com os seus pró- Dizer não sar da timidez, lá passou pela inevitá- quei à espera da altura em que sen- lado. prios universos pessoais. Foi por isso Eram 13 anos no seu relógio biológico vel banda que chega com o acne ju- tisse preparada”. que escolheu milimetricamente os quando começou a compor as primei- venil, Ana’s Blame, que lhe abriria as E em vez de mergulhar na música Ver crítica de discos págs. 39 e segs Elogio da timidez Andou dois anos a aquecer a voz com o Real Combo Lisbonense. Agora, Márcia estreia-se com o seu nome próprio, num disco de cantautora que não tem paralelo na música portuguesa. Música nascida no conforto do quarto mas pronta para a crueldade do mundo. Gonçalo Frota

24 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon

Instrumentos co Os instrumentos construídos por Victor Gama, feitos por crianças com destroços de armas da g por Gama para o quarteto de cordas dos EUA e que este fi

“Adopto os lugares por onde viajo co- mo meus.” Assim se explica Victor Gama, músico de Angola, Portugal,

para dizer que também pode ser ci- GAUDÊNCIO RUI dadão da Colômbia e outras latitudes. Para ele uma pessoa pode ser “parte deste país ou daquele” numa “geo- metria variável”. Assim encara a nacionalidade. Na- da de fixo, portanto. Nada de fixo também na maneira como encara a (sua) criação musical. Esta flui e não vive sem os instrumentos que ele constrói. O Acrux, o Galcrux, a Toha, o Dino... e outros fazem parte da série Pangeia Instrumentos. Traduz: “Este é um processo de criação musical no qual o instrumento é moldado pelos elementos que compõem a narrativa. Utilizo instrumentos que vão sendo refinados para criar música.” E de- pois: “Os instrumentos libertam-se da peça original”. Na origem, há essa ideia de “criar uma peça sem à partida ter um ins- trumento”. De os criar juntos. Ou de compor uma peça nova para um ins- trumento já construído. A nacionalidade, coisa indefinida, pode também ela levar à música para uma pessoa que, como Victor Gama, diz em vários momentos da conversa com o Ípsilon, “tudo isto leva à músi- ca...” Nesse “tudo isto”, cabem as vivências e as histórias como a que levou a “So(l)to” ou “Rio Cunene”, o projecto que escreveu em 2009 para o Kronos Quartet. Ambas nos trans- portam para Angola. A primeira – espectáculo multimé- dia – estreou em 2007 na Cidade do Cabo (África do Sul); nasceu de uma história que nos leva a uma investiga- ção de um antropólogo sul-africano no deserto do Namibe, em Angola, e mostra imagens da estrada ao longo da qual foram construídas as casas dos cantoneiros vindos de Portugal. A segunda estreou em Março deste ano no Carnegie Hall em Nova Iorque, “meca” dos grandes músicos deste mundo; tem uma história que desa- gua na criatividade das crianças de uma província do Cunene, em tem- “Adopto os lugares por onde como algo fixo, querem expandi-lo. cresceu, fez o liceu, e de onde saiu Tudo o que faz é produto dessa vi- pos, em guerra. Pode ser (re)vista, em viajo como meus”, asim se E foi essa abertura que me fascinou com 24 anos, regressando doze anos vência: Luanda mas também o interior estreia europeia, este domingo (21 de explica Victor Gama pois também é a minha forma de ver depois, em 1996. Nesse regresso re- de Angola, onde encontrou uma cul- Novembro) no Centro Cultural de Be- o mundo”, nota. encontrou raízes e histórias que con- tura, com uma diversidade tal que vai lém (CCB), no concerto de encerra- tchèw Mèkurya, entre outros – inter- ta através da música como em “Rio ao encontro dessa imagem que define mento do Festival Temps d’Images, pretadas pelo quarteto norte-ameri- Expandir para fora Cunene”. a sua própria música. E que o próprio em parceria com o Africa-Cont. cano. Na vida de Victor Gama, Angola e Por- Subitamente, mesmo que de forma define assim: “Há uma muito maior Além de “So(l)to” (escrito e inter- Victor Gama reconhece-se nessa tugal são parte importante nessa ge- momentânea, “Rio Cunene” assume abertura e muito maior flexibilidade, pretado por Victor Gama) e “Rio abertura do Kronos Quartet para a ometria da nacionalidade de que fa- importância central, dá sentido a nono processo de criaçãocriação musi- Cunene” (escrito por Gama para o diferença e constante procura do no- la. (quase) tudo o que fez, ao que foi até cal, de não ficar fixo nu- Kronos Quartet), o espectáculo inclui vo. “É um quarteto ambicioso. Pega Portugal: onde viveu metade da aqui. O tema funde a história por trás ma formaçãoformação ou em peças de outros compositores – o nú- em repertório que habitualmente um vida, desde 1984, a sua base, a da fa- desta música, e esta ilustra a história determinadosdeterminados tipos bio Hamza El Din (1929-2006) ou o quarteto não pega. São únicos nisso. mília. de um país, que é o país de nascença dede instrumentos. saxofonista de jazz da Etiópia Géta- Não encaram o quarteto de cordas Angola: onde nasceu, em 1960, de Victor Gama. Há um exexpandirpandir

Carregador - de uma kalashnikov AK - 47. Conhecida Viola - esculpida de um pedaço como a arma do século XX, de madeira cujo tampo de dispara 600 tiros por minuto ressonância é feito com a chapa de metal de um carro militar

26 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon om vida própria a guerra em Angola, revivem no universo do Kronos Quartet. O espaço é “Rio Cunene”, peça criada e fi m-de-semana tem estreia europeia no CCB, em Lisboa. Ana Dias Cordeiro

golas completamente diferentes” – a Angola, mais de 30 anos desde a úl- diz. “São uma componente tridimen- “[O Kronos Quartet] do antes e a do depois dos 27 anos de tima vez que se fizeram registos des- sional da escrita. Eu volto muitas ve- guerra civil. se tipo. Não é etnográfico, mas sim zes ao instrumento para refiná-lo e É um quarteto Nessa Angola do pós-conflito, en- um projecto voltado para os músicos para alterar os elementos da afinação, ambicioso. Pega controu na aldeia de Xangongo, na que contribuem com a sua música e vibrantes, do instrumento e que pro- província do Cunene, junto às mar- a perspectiva de que a sua música duzem notas. Há alterações significa- em repertório que gens do rio com o mesmo nome, os pode ultrapassar a barreira do isola- tivas que me levam para outros terri- detritos da violência dessa guerra. mento.” tórios acústicos.” É nessa constante habitualmente um Juntou crianças entre os 8 e os 12 anos descoberta e revelação que a sua mú- para um “workshop” de criação de Abordagem paralela sica ganha fôlego. quarteto não pega. instrumentos. “Rio Cunene” é tocado Na metade da vida que passou em Além do Kronos Quartet com quem São únicos nisso. Não por quatro desses instrumentos – lata, Portugal, Victor Gama formou-se em trabalhou para este projecto nos últi- viola, batuque, carregador –, hoje na Engenharia Electrónica. Vê a electró- mos cinco anos, Gama está na origem encaram o quarteto posse do Kronos Quartet, e seis outros nica como “uma membrana que pode de projectos como Berimbau-Ungu da série Pangeia de Victor Gama – to- envolver um instrumento acústico”. com Naná Vasconcelos e Kituxi, que de cordas como algo ha e galcrux. Todos serão interpreta- E vê a sua abordagem da música como acompanhou numa digressão pela dos em alternância por David Har- “uma abordagem paralela” da música África Austral, o Folk Songs Trio com fixo, querem rington (violino), John Sherba (violi- que é feita com instrumentos conven- os nova-iorquinos William Parker e no), Hank Dutt (viola) e Jeffrey Zeigler cionais. Com uma perspectiva dife- Guillermo E. Brown e a Makakata Ex- expandi-lo. E foi essa (violoncelo) no palco do CCB este fim- rente, mas sem entrar em contradi- change na África do Sul com Diso Pla- abertura que me de-semana. ção. “Continuo a basear-me ou a uti- tges e os Kalahary Surfers. lizar o método europeu, o sistema de Nesse percurso de vida, nesse ca- fascinou pois também Troca por troca música com a afinação cromática de leidoscópio de nacionalidades que A viola, na verdade, não resultou do doze divisões por oitava”, explica. A gostaria de adoptar, se tivesse que é a minha forma “workshop”, já existia. Chama-se diferença, diz, é não estar focado nes- escolher só uma, seria a de Angola. “viola hovana” e era pertença e cria- se aspecto. À sua perspectiva de criar Sobretudo agora: “Quando se é de um de ver o mundo” ção de um duo de músicos de 16 anos, um instrumento a partir de uma nar- país que está em reconstrução, sente- Ovana Voinaimwé, que anda de aldeia rativa, como se partisse de uma caixa se que há algo para dar, para contri- em aldeia a tocar música com os ins- preta na qual põe tudo lá dentro, cha- buir. Muitos angolanos sentem esse Londres, em 2005. Harrington mão trumentos que constrói. Foi feita a mou de Modos Golianos. impulso de tentar contribuir de algu- podia, mas em alternativa sugeriu que partir da chapa recortada de um veí- Quando nascem os instrumentos ma forma para a construção de um se encontrassem numa outra ocasião. culo militar usada em muitas ocasiões estão muito ligados à própria escrita, país novo.” Victor Gama também. Quis conhecer melhor essa ideia de no Cunene e talvez mesmo nas pro- Victor Gama utilizar instrumentos víncias ao lado, na Huíla, Namibe e construídos por crianças. Cuando Cubango. Hoje entra na peça “Rio Cunene” e é pertença do Kronos Potencial transformador Quartet. Em troca, Victor Gama deu Esta é uma história que vem de trás, aos dois jovens uma viola com seis quando num país em guerra, as crian- cordas. Para eles, é importante ter os ças de aldeias isoladas de zonas no instrumentos cromáticos que conhe- turbilhão do conflito, pegaram nos cem e vêem outros tocar. “É a partir destroços de armas para construir deles que se inspiram para construir brinquedos e instrumentos. os seus.” Nas províncias do Sul, como nou- Muitos músicos em Angola come- tras, para além do que as pessoas cul- çam assim, conta. Ele próprio, aos tivavam, apenas existiam armas, tan- seis anos, criou um instrumento de ques destruídos, destroços de aviões corda inspirado por outro que viu ser ou helicópteros, munições, cartu- tocado por um pescador na praia – o chos. O músico não podia passar ao ungu, “o pai do berimbau”. Tinha seis lado deste “fenómeno”. Nele se vêem anos, vivia em Luanda onde não havia “as crianças como recicladoras de escolas de música e onde não era uma violência para a qual não tinham qualquer um que podia ter um ins- contribuído. Através dessa recicla- trumento. Mais tarde, aprendeu a para fora. Um pouco como faz o Kro- gem, transformam essa violência em tocar guitarra, tocou e construiu um nos Quartet, que também acede a instrumentos de música que são ins- kissange a partir de um capacete de essa diversidade que existe.” trumentos de não-violência. Neste um soldado sul-africano que encon- Habitualmente, os primeiros en- contexto, é uma metáfora forte e pro- trou no Cuíto Cuanavale, onde se deu contros de Victor Gama com forma- missora daquilo que é o ser humano. a batalha que opôs o exército angola- ções musicais internacionais aconte- Para além da violência que pode cau- no apoiado por Cuba às forças da UNI- cem por acaso. O encontro com o sar, também tem esse potencial trans- TA e da África do Sul. Kronos Quartet poder-se-ia quase di- formador”, acentua. A esse local voltou, em 1997, já num zer que era anunciado. Foi por impul- Em vários momentos, pensou nis- cenário de paz, e ponto de partida so que aconteceu. Victor Gama en- so, quando viajou pelo interior de para o seu projecto Tsikaya, platafor- viou um convite a David Harrington, Angola, ainda em guerra, nos anos ma de representação dos melhores violinista e fundador do quarteto de 80. “Rio Cunene” nasce mais tarde, músicos do interior de Angola. “O Seattle, para que visitasse uma expo- com o país já em paz, em transforma- projecto pretende criar um arquivo sição dos Pangeia Instrumentos em ção. Victor Gama fala em “duas An- digital do que se está a fazer hoje em

Lata - caixa de munições vazia e um dos quatro instrumentos construídos por Africano, Frank, Graciano, Vádo e Kiki para a peça “Rio Cunene”

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 27 “Sombras” sonda as profundezas do modo de ser português, dos abismos do fado ao nosso inveterado sebastianismo

Ricardo Pais numa manhã de nevoeiro “Sombras” é Ricardo Pais em auto-citação, cantando e rindo em cima de um património tão pessoal quanto colectivo (fado e fandango, Garrett e Pessoa, sardinhas e outras sibilantes) e reconstruindo um país (e uma língua) a partir dos seus mais irredutíveis fantasmas. Inês Nadais (texto) e Manuel Roberto (fotos)

Estes pés, diz Ricardo Pais, foram fei- to desconstruindo. “Sombras – A nos- (2004) e “Cabelo Branco é Saudade” tos para dançar o fandango. sa Tristeza é uma imensa alegria”, o “Mesmo tendo raízes (2005). Não apenas os dele, também os des- novo “espectáculo de variedades” Nessa sua ambição de tudo digerir te país com os pés para a cova, mas (sic) do ex-director do S. João (ele pró- em coisas que num novo espectáculo, “Sombras” é sempre a sapatear em cima do cimen- prio um fantasma, pelo menos desta fizemos, ‘Sombras’ um “digest” de Ricardo Pais e a porta to debaixo do qual enterrámos em casa), é o último capítulo desta des- por onde entram aquisições novas vida os nossos melhores mortos, to- cida aos abismos do modo de ser por- não é igual como os fadistas RaquelRaq Tavares e Jo- dos sibilantes, da Castro ao D. Sebas- tuguês que nas mãos de qualquer VELUDO/ARQUIVO FERNANDO sé Manuel Barreto. MMas é, sobretudo, tião, do Frei Luís de Sousa ao Pessoa. outra pessoa podia ser só uma opera- a nada. umauma festa de famílifamíliaa (ver caixas) em Como num espectáculo de variedades ção demolidora, mas que nas mãos queque o Mário LaginhaLaginh que fez a direc- onde tudo vai nu, artistas e apresen- de Ricardo Pais também tem um efei- Eu próprio ção musicamusicall ddee “R“Raízesa Rurais, Pai- tadores, reis e Presidentes da Repú- to regenerador. E é uma maneira de xões Urbanas”U encon- blica, a nossa irredutível tristeza é o encenador ressuscitar os seus fan- decifro tra,tra, em carne e osso, uma imensa alegria. tasmas mais obstinados, revisitando o espectáculoo o PPaulo Ribeiro que Desde ontem e até dia 28, no Teatro textos que, mesmo depois de resolvi- coreografouco várias Nacional S. João (e a seguir do Minho dos em montagens anteriores – o “Frei dentro de sequênciasse de ao Algarve, passando pelo Brasil e Luís de Sousa” de Garrett relido em “Fados”,“F o Fabio pelo Théâtre de la Ville, em ), “Ninguém” (1978), a “Castro” de An- mim todos IaquoneIa que fez somos ao mesmo tempo fadistas e tónio Ferreira (2003), os vários Pes- osos vídeos da “Cas- fandangueiros, cantando e rindo em soas de “Turismo Infinito” (2008), e os dias” tro”tro e de “Um Ha- cima desses mortos-vivos que edifi- os “Figurantes” de Jacinto Lucas Pires Ricardo mletml a Mais”, e o Ricardo Pais caram Portugal – mas também em (2004) –, continuaram a falar uns com CarlosCarl Piçarra Alves regressa aqui cima do património pessoal e colec- os outros dentro da sua cabeça, e Pais queque Ricardo Pais a algumas das tivo que, desde “Ninguém” e “Sauda- cruzando-os com a natural reverbe- transformoutran no pri- suas des: Um Hetero-Cabaret-Erosatírico”, ração do fado, repetidamente sonda- meirome actor-clari- obstinações experiências fundadoras de 1978, Ri- do em “Fados” (1994), “Raízes Rurais, netistane do país em como cardo Pais foi construindo, e portan- Paixões Urbanas” (1997), “Regressos” “Figurantes”“ – e encenador

28 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon em que os actores Emília Silvestre, Pedro Almendra e Pedro Frias são as- sombrados pelos fantasmas dos Na- tais passados João Reis, António Du- Emília Silvestre rães, Albano Jerónimo, Glicínia Quar- tin e Teresa Madruga. Está há tanto tempo na família – outra forma é estranho, mas ao Demasiadas vozes, aparentemente desde “Dom Duardos”, primeira mesmo tempo muito excitante, (e ainda há os bailarinos Carla Ribeiro, montagem de Ricardo Pais para porque as personagens ganham Francisco Rousseau e Mário Franco o seu TNSJ, nos idos de 1996 – que uma densidade que tem a ver e os músicos Miguel Amaral, Paulo parte do ADN de Emília Silvestre com a nossa cumplicidade e Faria de Carvalho, Diogo Clemente e como actriz é o ADN dele. Esse ADN com os anos que já temos em o mesmo Mário Franco que há umas está todo em campo em “Sombras”, cima”, diz ao Ípsilon. O Ricardo linhas atrás era bailarino e agora é onde Emília é ao mesmo tempo Pais de “Sombras”, nota, tem contrabaixista). Até abrirem a boca e a corcunda que foi em “Turismo essa “vitalidade”: “Ele entende percebermos que falam todos do mes- Infi nito” e a Maria que não foi a identidade portuguesa não mo: do amor e da morte, do destino em “Ninguém” (em 1978 o papel como lamento mas como prova de e dos malditos espanhóis, de pela pá- foi de Teresa Madruga), além vida. Mais ninguém em Portugal tria lutar e do desejado que há-de do coro da “Castro”. “Acordar os conseguia fazer um espectáculo chegar, numa manhã de nevoeiro. fantasmas do passado e dar-lhes assim”. Como se conseguíssemos falar de outra coisa. Variedades e microfones “Sombras” é um dos espectáculos Mário Laginha mais complexos de Ricardo Pais – um prodígio de engenharia teatral, aten- Esteve com ele em “Raízes camadas de profundidade. Há dendo à quantidade de elementos e Rurais, Paixões Urbanas”, camadas mais eruditas e outras de personalidades em jogo –, mas, diz encomenda da Cité de la que são muito populares e que o encenador, foi montado em tempo- Musique em 1997, mas nunca se as pessoas alcançam nem que recorde. Talvez por isso ele ainda es- lembraria de tantos episódios seja pela emoção, que eu acho teja a tentar perceber que óvni é este: dessa colaboração como o uma maneira muito valiosa de “Parte do seu fascínio está em não próprio Ricardo Pais: “O Ricardo chegar a um espectáculo”. Aqui, conseguirmos rotulá-lo. Mesmo tendo tem para já uma bagagem ao contrário do que acontecia raízes em muitas coisas que fizemos absolutamente esmagadora, e em “Raízes Rurais…”, Mário no passado, não é igual a nada. Eu depois uma memória que me Laginha não faz só uns “cameos” próprio decifro o espectáculo dentro chega a incomodar. Mas é uma ao piano: assina toda a direcção de mim todos os dias”, explicou aos coisa em que ele é exemplar, musical de um espectáculo que jornalistas depois de mais um ensaio. no trabalho com a memória. vai do fado ao jazz, do nacional- No limite, a verdadeira pátria deste Como ela está tão cheia, os cançonetismo à MPB, do cabaré espectáculo de teatro, de fado e de espectáculos dele têm várias ao fandango. fandango, entre outras variedades, é a língua portuguesa: “Mais importan- te do que pormos a Raquel Tavares a dizer uma parte do texto da Emília no ‘Frei Luís de Sousa’ ou na ‘Castro’ ou Fabio Iaquone o Mário Franco a circular entre o fan- dango do Paulo Ribeiro e o contrabai- Videasta italiano, Fabio Iaquone Hamlet a Mais”, explica: “Para xo, é o que cada uma destas pessoas tornou-se “meio português” mim este trabalho foi muito traz à nossa língua”. por causa de Ricardo Pais, com delicado, porque se trata de O trabalho dele, sublinha Ricardo quem trabalha há 12 anos: “É um um espectáculo nacional e eu Pais, tem sido esse: fazer reverberar portento, um grande catalisador: sou um estrangeiro. Mas como o português, e com ele uma identida- como o núcleo de um átomo à cheguei há dois meses entrei de colectiva que textos como os que volta do qual gira uma série de mais a fundo no quotidiano aqui ecoam escavam até fazer sangue. pessoas. A pesquisa que faz é do país, fui às fábricas, estive Porquê voltar a mexer na ferida ago- ao mesmo tempo galopante e com os pescadores… e depois ra? “Estes textos não precisavam de minuciosa, e é fascinante vê-lo procurei uma forma de pôr essas ser revistos – eles andam aí, mas an- a trabalhar”. As assombrações imagens a comunicar com a dam aí como fantasmas nossos, e tam- que foi chamado a fazer sofi sticação do Ricardo”. Coisa bém como prazeres que temos. São agora são muito diferentes que vai continuar a fazer agora assombrações, atormentam-nos, mas das imagens que criou para que o espectáculo está pronto: também brincam connosco, entram a “Castro”, para a ópera “The Fabio Iaquone e Ricardo Pais no jogo”. Turn of the Screw” ou para “Um ainda têm um DVD pela frente. Para o espectador, em parte o jogo é procurar onde está o Ricardo Pais escondido, mas com o rabo de fora, por trás de cada frase destas “Som- bras” – e descobrir que ele está em Paulo Ribeiro todo o lado, ainda que o facto de este exercício de auto-citação não seja ne- Não achava “grande piada” mesmo tendo um guião muito cessariamente narcísico. “Definitiva- ao fado até Ricardo Pais o defi nido na cabeça, ele não mente, o que me interessa aqui é o ter convidado a coreografar fecha portas e tem uma forma património colectivo; o meu patrimó- – e a interpretar – algumas muito construtiva de puxar nio pessoal não interessa nem ao me- sequências de “Fados”, o pelas pessoas e de trazer ao de nino Jesus. Isto é uma maneira de ir- espectáculo que criou em 1994 cima o que elas têm de melhor”. mos às nossas memórias, mas para para Lisboa, Capital Europeia Tal como ele, também Paulo perceber se o vocabulário que usámos da Cultura, e agora está aqui Ribeiro foi “muito às coisas da no passado ainda significa alguma mais pelo fandango: “Fiz o portugalidade” no seu último coisa”, explica. que o Ricardo me pediu: um espectáculo, “Paisagens… Onde Foi surpreendente verificar que fandango letal. Há uma parte o Negro é Cor”, mas agarrando- sim: que cada peça tem o seu lugar do espectáculo que é colectiva, se a outras bengalas: “O Ricardo neste puzzle acumulado ao longo dos mas o Ricardo vai para o palco tem uma ligação muito profunda anos e que agora, à distância, vemos com meses e meses, para não com a língua, eu vou muito mais melhor como corpo em construção. dizer anos, de trabalho de casa. por sensações, e um bocadinho Ao ponto de textos sem parentesco O que depois acontece é que, pelo ar do tempo”. conhecido – a “Carta da Corcunda ao Serralheiro”, de Fernando Pessoa, os fados de Pedro Homem de Mello, o cancioneiro tradicional da Beira Bai- por cruzar coisas. Mas são coisas que mo à baixa cultura também faz parte de apresentadores: “Alguns políticos crofone na mão. A anunciar que, en- xa, as falas sibilantes que Alexandre se cruzam, de facto: às tantas, o aman- do método Ricardo Pais, que na ver- são verdadeiros ‘compères’. Anun- tre mortos e feridos, corcundas e O’Neill criou para o D. Sebastião de te a quem recusam os gerúndios nos dade nunca quis ser mais do que um ciam a entrada desta vedeta e depois trinca-corações, noivas de Viana e “Ninguém”, os poemas de António ‘Figurantes’ parece o amante que pre- “compère” de espectáculo de varie- daquela, que infalivelmente nunca engenheiros navais, a nossa história Botto, as cançonetas de Frederico Va- parou a queca do século e nunca a dades: “Aos quatro anos, quando o chegam a horas: os achados econó- é menos de morte do que de ressur- lério e de Caetano Veloso, as grandes chegou a dar do ‘Frei Luís de Sousa’. meu pai me perguntou o que é que mico-sociais, os choques tecnológi- reição. tiradas da “Castro” e os gerúndios de Tem toda a lógica, mas aconteceu a eu queria, eu disse que queria um mi- cos, as fusões, os aviões ‘low-cost’, Embora seja de esperar que tam- “Figurantes” – parecerem carne da brincar, na sala de ensaios, de um crofone”. Portugal, acrescenta na en- etc. São rapazes treinados para esta- bém ela não chegue a horas. mesma carne, textos do mesmo texto. momento para o outro” trevista incluída no programa do es- rem ao microfone”. “Tem a ver com o meu gosto pessoal Que essa viagem tanto vá à alta co- pectáculo, não passa aliás de um país E aqui está ele, Ricardo Pais, de mi- Ver agenda de espectáculos pág. 41.

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 29 Uma cópia não é uma cópia No palco estão duas mulheres. Ma- gras, cabelo apanhado, vestidas de negro, roupa justa ao corpo, fitas na cabeça. Uma mulher fala, a outra ape- CUNHA PEDRO nas ouve. Estão em lados opostos da mesa. Depois trocam. É sempre a mesma mulher que fala, e a mesma que ouve. Serão duas? Será apenas uma? Ao fundo do palco, num ecrã, estão mais duas mulheres. Vestidas de pre- to, os cabelos apanhados. Uma fala, a outra ouve. O filme é “Persona” (1966), de Ingmar Bergman. As duas Teresa mulheres no palco fazem parte de Tavares, a “Persona”, a encenação do realizador Elizabet João Canijo. Os gestos são os mesmos, Vogler de no palco e no ecrã. As palavras são as “Persona”, mesmas (embora as do ecrã na maior frente à parte das vezes não se ouçam). São enfermeira quatro mulheres? Duas? Apenas uma? Alma (Katrin A peça é uma cópia do filme? Ou é Kaasa) outra “Persona”? João Canijo acredita nos actores. Por isso acredita que cada interpre- tação é única – mesmo que os gestos e as palavras sejam exactamente os mesmos. “Não se pode impor uma interpretação a um actor. As palavras faladas dependem da pessoa e da sua circunstância”, explica, sentado na borda do palco do Teatro Turim, em Benfica (Lisboa), onde hoje inaugura a sua “Persona” (até 12 de Dezembro), produção integrada no Festival Temps d’Images. Ao lado do encenador, também João Canijo parte de “Persona” de Bergman, cruza teatro e cinema, sentadas na borda do palco, ainda vestidas de preto, estão as duas actri- reproduz gestos e palavras para chegar a um espectáculo que só zes – Katrin Kaasa, que é Alma, a en- fermeira interpretada no filme por pode ser diferente do fi lme. Tudo está nas emoções das actrizes. E Bibi Andersson, e Teresa Tavares, Eli- zabet Vogler, uma actriz de teatro que Katrin Kasa e Teresa Tavares não são Bibi Andersson e Liv Ullman. um dia decidiu deixar de falar, papel que Bergman deu a Liv Ullman. E es- Por isso “Persona” não é “Persona”. Alexandra Prado Coelho tá ainda a terceira actriz desta ence- nação, Anabela Moreira, a médica psiquiatra. O duelo, muitas vezes violento, en- bela), deixando espaço às puras emo- O método emoção. Pode-se, com as mesmas pa- tre Alma e Elizabet oscila entre a ções da enfermeira e da paciente. A Foi “por causa delas” (Katrin e Teresa) lavras e os mesmos gestos, chegar a “E para quê colocar atracção e a rejeição, a fusão das du- actriz que se refugiou no silêncio fu- que Canijo decidiu fazer “Persona”. outra emoção, que é sempre própria, as numa só ou a divisão de um ser em gindo de si própria parece estar a ab- As duas actrizes queriam muito re- única e intransmissível. “Cópia seria o filme de Bergman dois. A médica é aqui “a parte racio- sorver a identidade de Alma (o nome presentar um texto de Bergman, ain- se não estivéssemos a mostrar o fil- em pano de fundo? nal, que se retira” (quem o diz é Ana- não é um acaso). da tentaram escapar a “Persona”, mas me”, afirma o encenador. E na sala a escolha acabou por ser inevitável. pequena do Teatro Turim (que abriu “Se uma Desafiaram Canijo para a encenação ao público em Maio deste ano), a es- porque “só podia ser ele.” cala das actrizes no palco não é mui- interpretação “Tinha que ser o João”, explica Te- to menor do que a das actrizes no ecrã resa Tavares, “porque só ele trabalha (embora grande parte do filme de é sempre um com este método, em que se começa Bergman sejam grandes planos dos por discutir tudo, e em que se traba- rostos). espectáculo diferente, lha ao nível das intenções.” Katrin achou que a sincronização então porque Canijo insiste: “Pode haver tantas dos gestos com os do ecrã a “faria sen- ‘Persona’ como actrizes a fazê-las. tir uma coisa muito falsa”, mas não não compará-los?” Este é um espectáculo em que leva- foi o que aconteceu. Teresa explica: mos ao limite o deixar as actrizes fazer “O trabalho de mesa [as conversas uma interpretação de uma partitura prévias] foi tão grande, as nossas mo- que está dada e congelada.” Não é tivações foram de tal forma trabalha- uma versão de um filme. Não é uma das... Não sei o que a Liv Ullman pen- coberta, “deixando cair todas as más- adaptação. “Os movimentos são exac- sou.” caras”. No final do caminho está, es- tos mas as intenções são diversas. É E como é que, na prática, esse tra- pera Canijo, essa emoção única que como no ballet – os bailarinos têm que balho é feito? Canijo: “Começamos pertence apenas àquela actriz ou fazer aqueles gestos, mas têm que por questionar a escolha das palavras àquele actor. descobrir as suas próprias motiva- e a intenção começa a sedimentar-se. E como é que o encenador e as três ções.” Discute-se frase a frase, palavra a pa- actrizes de “Persona” interpretam o E para quê colocar o filme de Berg- lavra.” Teresa: “O João tem uma for- duelo Alma/Elizabet? São duas mu- man em pano de fundo? “Se uma in- ma muito hábil de ir construindo es- lheres que ali estão? Ou apenas uma? terpretação é sempre um espectácu- sas camadas.” É Canijo quem responde, coerente lo diferente, porque não compará- O processo pelo qual passam Alma com o que disse até ali: “Não há uma de Luís de Camões (cantos I a V) por António Fonseca los?”. Assim, diz Canijo, “o espectador e Elizabet em “Persona”, esse cami- visão única. Temos quatro visões di- pode escolher o que quer ver, se Bibi nho difícil, violento, em que é preciso ferentes. Vemos sempre uma visão Andersson ou Katrin Kaasa, se Liv chegar cada vez mais ao fundo e em própria da realidade, e é isso que me 4ª a 6ª às 21h45 - Antologia I Sáb. às 17h - Versão completa Ullman ou Teresa Tavares.” que as máscaras vão caindo é muito interessa.” Morada: Rua do Açúcar, nº 64 - Poço do Bispo 1950-009 Lisboa Autocarros: 28, 210, 718 www.teatromeridional.net O “perigo da cópia” não existe aqui semelhante ao trabalho de uma actriz, A cópia é, no fundo, uma impossi-

estrutura financiada por: apoio: tal como não existe quando “um pia- acredita Anabela Moreira. “O João é bilidade. 2010 nista faz a sua interpretação de um capaz de trabalhar dois ou três anos M/12 concerto”. Não se pode copiar uma com um actor” nesse processo de des- Ver agenda de teatro pág. 41

30 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon Philip Roth Vai querer esperar até 2012 para ler esta obra prima, “Nemesis”? Pág. 32

Márcia Algo de muito especial Pág. 40

Rosario, La Tremendita Alcunha fantástica para voz excepcional. Pág. 40

www.casino-lisboa.pt Entrada Livre Visite a página Casino Red Carpet no Facebook e aceda a passatempos exclusivos, bilhetes para 2010 espectáculos e muitos Jamie Lidell outros prémios. 22 de Novembro Programa sujeito a alterações Informações: todas as segundas-feiras às 22h30 [email protected] | T: 91 635 08 38 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

novelas – que inclui criançascrianças que a apanhavamapanhavam era Sem Deus “Todo-o-mundo” elevada. Muitas acabavam por (2006), morrermorrer e outrasoutras ficficavamavam ccomom nem lei “Indignação” sequelassequelas eternas. Uma das vítimas (2008), as duas maismais famosasfamosas seria o presidente editadas pela D. Roosevelt,Roosevelt, cuja hhistóriaistória em “A Philip Roth cria em Quixote, e “The ConspiraçãoConspiração contra a América” é, “Nemesis” uma obra de Humbling” (2009), uma magnífica estratégia ficcional, previsto em o motor para a acçacção.ão. fôlego onde a realidade e a português para Abril 2011 – onde Roth já tinha, brevemente, ficção são uma e a mesma Philip Roth explora não apenas mostradomostrado as consequências ddaa coisa, onde não há Deus algumas das suas questões mais poliomielitepoliomielite para a perseguiçãoperseguição ddoo nem Homem com lugar na prementes, como o conflito sonhosonho aamericanomericano e a falênciafalência dosdos geracional, a consciência das valores no interior da família judiajudia história. Tiago Bartolomeu limitações do poder individual, o em “Epstein”,“Epstein”, um dos outros contos Costa envelhecimento e a morte, e o reunidosreunidos no primeiro llivro,ivro, mas microcosmos da família judia como nuncanunca essa doençadoença – sobresobre a qualqual eleele Nemesis metáfora para a sociedade norte- dissedisse no mesmo artigo dada “Vanity“Vanity Philip Roth americana, mas também, no que é Fair” conhecer aapenaspenas um caso na Houghton Mifflin Harcourt um passo surpreendente ao fim de suasua infinfânciaância – tinhatinha

Livros 31 livros, a relação com Deus. sido mmmmm Num perfil publicado na edição de protagonista.protagonista. Novembro da “Vanity Fair”, Roth Em “Nemesis”, que em português só afirmava não ter “um osso religioso” “Nemesis”“Nemesis” chega no primeiro semestre de 2012, e, apesar de em muitos dos seus vamosvamos foi lançado a 5 de Outubro e já se livros o judaísmo ter sido não apenas assistindo,assistindo, consegue encontrar em algumas uma referência mas a espinha dorsal comcom um livrarias na sua língua original. A da narrativa, foi-o sempre a partir de obra encerra um ciclo de quatro um outro paradigma que não o teológico, aproximando-se assim de perfis traçados apenas num breve conto publicado no início da sua carreira literária, “Conversation of jews” (1959), reunido em “Goodbye Columbus”, o seu primeiro livro, e, parcialmente, em “A Mancha Humana” (2000). Em outros livros o modo como Nunca até “Nemesis” Philip Roth expunha a sua ausência de fé, tinha entrado em verdadeiro substituindo uma confiança em confl ito com Deus Deus por uma observação do Homem temente a Deus, tomava contornos domésticos e filiais (“The Ghost Writer”, 1979, “O Complexo de Portnoy”, 1969), de dissecação do estereótipo judaico (“O Teatro de Sabbath” 1995) e discussão política (“Counterlife”, 1986). Ora, uma das características principais da sua obra assenta num princípio de realismo ficcional, onde a grande história existe como acumulação de pequenas histórias (nesse caso “Casei com um comunista”, 1998, “A Conspiração contra a América”, 2004, e “Pastoral Americana”, 1997 são exemplos de uma América a braços com a dificuldade de conciliar o sonho americano com a realidade diária), e onde as personagens não se comportam como heróis, mas como reagentes a uma situação sobre a qual não controlam nada a não ser – e é esta a relação com o processo de escrita – o modo como a contam. “Nemesis” conta a história de Bucky Cantor, um professor de educação física e responsável pelos parques infantis em Newark – berço de Roth e mapa eterno dos seus livros – que, no verão de 1944 (período fértil para o autor) vê as crianças das quais toma conta serem atacadas por uma epidemia de poliomielite. Na altura a doença estava ainda a anos de ter uma vacina e a vaga de

32 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon SÃO LUIZ NOV~1O §

convidados ARGENTINA SANTOS CARMINHO RICARDO rigorrigor dodo qualqual não se duvidaduvida mas que queque é amor, sente que é um presente Grossbart (no conto “Defender of RIBEIRO o génio de Roth transforma num queque lhe dão. the faith”, 1959, incluído no primeiro § inteligenteinteligente thriller médico, ao modo BuckyB Cantor tem com Neil livro), a mesma impossibilidade de como a epidemiaepidemia transformatransforma a vida Klugman,Klu o protagonista de integração criada pela auto- dede Bucky Cantor, órfão,órfão, educado “Goodbye“Go Columbus” (1959) imposição de éticas intransponíveis. ppeloelo avô para ser um sosoldadoldado mas diversasdiv parecenças. Não apenas Porque “Nemesis” recupera para qqueue problemas graves de visão o vivevive com a avó, tal como Neil vivia o título a lenda grega da deusa que 3O NOV iimpedemmpedem de combater (criando aquiaqui comcom a tia Gladys, como a diferença castigou o rei Creseu, demasiado um paraleloparalelo com Marcus Messer, o socialsoc que existe entre ele e a sua feliz com as suas riquezas, levando a pprotagonistarotagonista de “Indignação”, que namoradanam se assemelha à que Neil bater-se contra o Rei da Pérsia, o que se alistaalista na guerraguerra na Coreia, em temtem com Brenda Patimkin, com a acabou por lhe trazer ruína e RODRIGO 1966, para fufugirgir ao pai). Cantor, a diferençadife de que Neil deixa Brenda desgraça, também aqui Bucky CANTADOR DE HISTÓRIAS viver com a avó, ambiciona mais. porpor não suportar o seu lado Cantor, resistente a mais uma Por isso a sua namoradanamorada,, Marcia materialistama e Marcia está disposta a mudança (a perda da mãe, a morte Steinberg, também ela judia mas de deixardei tudo para cuidar de Bucky. do avô, a impossibilidade de lutar ao 5O ANOS DE FADO TERÇA ÀS 21H00 / SALA PRINCIPAL M/3 umum outro estrato, apresenta-se AgoraAgo a narrativa mostra as falhas lado dos seus amigos na guerra, o como um sonhosonho que dosdos discursos de cada uma das avanço da poliomielite) empreende ele,ele, mais ddoo que personagens,per agravadas pela tensão uma luta que o levará à tragédia. acharachar criadacria pela incontrolável epidemia. A discussão com Deus, assente no E é essa consciência de um discurso argumento básico de que um Deus tendencialmenteten autista que carrega caridoso não chamaria a si crianças no livro a tecla do dramatismo, inocentes leva Bucky Cantor a um comoc já não tínhamos em Roth afastamento da realidade e Roth a desde, pelo menos, “Pastoral um discurso poderoso sobre a

Americana”, onde um pai vive impossibilidade de uma vida CO-PRODUÇÃO APOIO À DIVULGAÇÃO preso aos erros de uma filha, temente a Deus. A sua resiliência MUSEU responsável por ataques depressa se transformará em DOFADO terroristas que colocam em culpabilidade. É como se Cantor se causa tudo o que lhe ensinou. desse conta, mais tarde e tarde

SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL BILHETEIRA DAS 13H00 ÀS 20H00 Buck Cantor partilha com demais, de que as escolhas que fez RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA TEL: 213 257 650 / [email protected] [email protected]; TEL: 213 257 640 www.teatrosaoluiz.pt WWW.TICKETLINE.PT E LOCAIS HABITUAIS outros protagonistas dos livros para a sua vida se sustentavam numa de Roth a mesma resiliência, o ficcionada realidade. Acusar Deus, mesmo modo de questionar o ou pelo menos questioná-lo, é, para mundo. Não é que Roth tenha ele que não tem pai, uma forma de criado anti-heróis, mas as suas desviar para terceiros o que ele acha personagens, porque auto- que está certo – salvar as crianças e, SÃO conscientes, inserem-se mal no por consequência, salvar-se a si de que tenderíamos a classificar um futuro sem história. Bucky LUIZ como heróis. São figuras auto- Cantor quer ser um herói, tal como o descritivas, reagindo às situações avô o ensinou (e tal como nenhuma DEZ ~1O e procurando gerir os factos sem das outras personagens de Roth umau estratégia delineada, sendo alguma vez ambicionou, presas que semprese atentos ao modo como, em estavam à ideia de corte com o acumulação,ac um acontecimento mundo). malma avaliado pode revelar-se determinante.det A diferença substancial em Bucky Déjà vu fatal CantorCan é que ele vive consciente de queque esse erro, esse desvio, é iminente.imi Esta é uma alteração no Narrativa desencantada apresentação do novo disco paradigmapar narrativo proposto por sobre um triângulo amoroso RothRot desde o início – nem mesmo “Lisboa AlexanderAle Portnoy (“O Complexo de em tom sépia. Eduardo mora aqui” Portnoy”),Por que conta a sua vida a um Pitta psicólogo,psic parece tão consciente das suassua falhas. Cantor propõe um outro Divórcio em Buda modelomo de adolescência às Sándor Márai personagensper de Roth, introduzindo (Trad. Ernesto Rodrigues) umaum culpabilidade que tinha sido Dom Quixote evidenciadaevid no Marcus Messer de “Indignação”,“In mas também no mmmmn Pedro própriopró Roth de “The Facts”, a biografiabio de 1988 que avalia o modo Ninguém melhor do Moutinho como,com enquanto jovem escritor, se que Sándor Márai aproveitouapr das personagens da sua (1900-1989) para vidavid para criar personagens nos dar em grande ficcionaisficc (em particular Lucy angular aquilo em dez Nelson,Nel de “When she was good”, que se transformou 1967,196 a única protagonista de toda a o Império Austro- quinta obraobr de Roth, inspirada numa sua Húngaro. Em amante).am síntese, podemos 2 CantorC partilha com o jovem dizer que a obra subsume a implosão às 21h ZuckermanZuc (sobretudo em “The do Império (1918), a queda da sala principal m/3 GhostGho Writer”), Messer, Klugman e monarquia (1919), o fim da revolução produção uguru / www.uguru.net Portnoy,Por mas também com o bolchevique húngara (1920) e a ficcionalficc Sandy Roth (inspirado no subsequente “regência” de Miklós MEDIA PARTNERS APOIOS seuseu irmão em “A Conspiração contra Horthy, o almirante que impediu o

(NANCY CRAMPTON (NANCY a América”)A ou mesmo Sheldon regresso dos Habsburgos,

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 33 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Sándor Márai: só depois de dar um tiro na cabeça, semanas antes da queda do muro de Berlim, é que o mundo de língua inglesa descobriu (as primeiras traduções são de 2001) um autor que se mede com Kafka e Musil

conseguindo manter-se no poder política da Europa Central. Os foi seu marido durante oito anos, e relatos fantásticos com igual junco deu-se mais cedo do que seria até 1944, ano em que foi expulso romances, e este em particular, fica a saber que ela não esqueceu. virtuosismo, num português castiço de esperar. Um tiro ribombou e pelos nazis. Anti-comunista acentuam essa linha de fractura. Agora interpela Komives: pensava e impecável. abateu um marinheiro que se declarado, Márai partiu para os EUA Sem nunca carregar no traço, o em Anna quando estava (“quero Cada um dos 22 “Contos da Sétima debruçava duma enxárcia, atento à em 1948. No exílio, viu a cidade onde autor faz o retrato subtil dos que dizer, fisicamente”) com Hertha? Esfera” inaugura um novo universo. manobra. No meio do estralejar das nasceu mudar de nome e sobreviveram ao desmoronamento Komives não responde. Por que São quase todos textos detonações, uma chusma de nacionalidade: a primitiva Kassa é da Hungria. Homens e mulheres carga de água será o juiz o historicamente situados e de chineses, em grande alarido, galgou hoje a cidade eslovaca de Kosice. insatisfeitos com as novas fronteiras, responsável pelo suicídio de Anna? contornos fantásticos, mas de um a amurada e invadiu o convés, Em permanente rota de colisão hábitos novos, a terra perdida da para outro passamos de reis caldeus brandindo cimitarras e piques. / com a História, Márai foi até ao Transilvânia. A estrutura do livro a alfarrabistas lisboetas, de berberes Logo o imediato lhes fez frente, início dos anos 1950 um dos lembra “Vinte e quatro horas na vida Em qualquer a ditadores sul-americanos, de muito de rijo, à testa do seu grupo, e intelectuais mais populares e de uma mulher” (1927), romance de garimpeiros a cavalheiros ingleses todas as armas aprestadas a bordo, respeitados da Hungria. Escreveu Stefan Zweig, pois, também aqui, o em clubes privados. O escritor num estrondear medonho que ficção, poesia, ensaio e essencial da intriga é decidido no lado de todo começa muitas vezes a narrativa “in encheu o convés de fumaça, dramaturgia. Romances como lapso de uma noite. media res”, forçando o leitor a alvejaram a piratagem surpreendida. “Rebeldes” (1930), “A Herança de Com a Europa prestes a desabar, o lado entrar de rompante num universo A luta foi muito sumária e os Eszter” (1939) e “As velas ardem até Komives e Hertha sentem-se que não lhe foi apresentado, e invasores recuaram de atropelo, ao fim” (1942), entre outros, fazem protegidos pela campânula da muitas vezes as histórias terminam despenhando-se os poucos parte da herança cultural europeia. respeitabilidade: “Ambos Reedição do primeiro livro de repente, sem epílogo ou sobreviventes pelo portaló que lhes Traduzido directamente do pertenciam à mesma classe social, de Mário Carvalho, um moralidade. A naturalidade do deu entrada, sem cuidaram dos húngaro, “Divórcio em Buda” (1935) tinham sido educados nos mesmos exercício de imaginação estranho e do longínquo é um traço cadáveres dos companheiros que ali chegou agora à edição portuguesa. preceitos e normas, pegavam na faca decisivo destes textos, que contam ficaram prostrados” (pág. 65). Márai nunca escreveu senão na e no garfo da mesma maneira...” Ali soberana. Pedro Mexia com a curiosidade e a inteligência de A diversidade é outra marca língua natal, e só depois de dar um no bairro do Castelo, “o sumo do Contos da Sétima Esfera quem lê. destes contos. Pragas, elefantes, tiro na cabeça, semanas antes da requinte”, descendentes de famílias Mário de Carvalho Os contos fazem-se de inúmeras catapultas, tornados, aqui há de queda do muro de Berlim, é que o nobres sem recursos (“funcionários Caminho imagens acumuladas, de inúmeras tudo, numa voragem viciante. Mas mundo de língua inglesa descobriu de nome sonante em quartos leituras, dos cronicões às notícias de também existem reincidências, (as primeiras traduções são de 2001) alugados”) cruzam-se com mmmmm jornal, da Bíblia a Verne ou Poe. E da divindades caprichosas e vingativas, um autor que se mede com Kafka e escritores, artistas e os novos-ricos “Peregrinação” aos “Contos do Gin espíritos que inquinam as vidas. Musil. de segunda geração que ocupam as “Contos da Sétima Tónico”. Escassas mas exactas linhas Deus e o diabo nem se distinguem Conceitos como os de patriotismo, casas da colina. Denominador Esfera” (1981), definem todo um ambiente: “Não grandemente, ambos infernizam as honra e lealdade são traves-mestras comum: todos emulam “as “Casos do Beco das tardou que uma noite. Estando personagens, ambos determinam da obra deste “déraciné” que excentricidades e o estilo de vida Sardinheiras” (1981) Sarténides sentado na sua sacada de maldições. Perpetuamente escreveu sempre ao arrepio do ar do dos inquilinos dos palacetes.” e “A Inaudita Guerra colunatas, a redigir pausadamente, à amaldiçoadas, estas figuras tempo. Vindo de outro tempo, é Um “déjà vu” ilumina a intriga: da Avenida Gago luz de uma lucerna, ouvisse passos esboçadas contam as suas desse tempo que faz eco. lendo a carta em que o advogado a Coutinho” (1983) dede caligas ferradas no empedrado. / desventuras, ou alguém as conta por Associamos com facilidade a sua informa dos trâmites do divórcio, trouxeratrouxeramm Denaio vinha pelaspelas ruas, ataviado elas, manchas misteriosas que pessoa à figura austera do juiz uma mulher (Anna) reconhece no camincaminhos,hos, com o seu eelmolmo ddee três penachos,penachos, crescem numa parede, caves que Kristóf Komives, alguém “a quem se nome do juiz (Komives) que ditará a ddigamos,igamos, inauditos,inauditos, à literaturaliteratura couraça,couraça, cclâmidelâmide ddee púrpura e desembocam em terraços, cabeças poderia confiar a tradição [...] os sentença. Lembra-se: viu esse pportuguesa.ortuguesa. NemNem grevas.grevas. Outros mimilitareslitares o decapitadas, sabres assassinos, segredos práticos da judicatura, o homem uma vez, num baile: “foi ppsicologistassicologistas nem seguiam, de armaduraarmadur assombrações angélicas, amnésias e seu espírito.” As memórias coligidas como um terramoto, como se terra e ddoutrinárias,outrinárias, estas escamadaescamada apocalipses. O tom é ao mesmo em “Confissões de um Burguês” céu se abrissem”, um encontro para fficçõesicções promoviam a rebrilhando à luz tempo divertido e opressivo. E só (1934) dão a medida do desacerto de a vida. Passaram dez anos e três iimaginaçãomaginação dosddos archotes.archotes. esporadicamente o autor nos Márai com a evolução social e meses. Imre Greiner, o médico que sosoberana,berana, através ddee RevoluteavamRRevoluteavam oferece uma chave alegórica: é o exercíciexercíciosos ddee estiestilolo e atrásatrás ooss mmantosantos dde caso daquela rapariga carbonizada ppastiches,astiches, de algunsalguns que sofre ainda, séculos depois, as ludismludismosos e senadores”senadores” (pá(pág.g consequências de um auto-de-fé. pparábolasarábolas amambíguas.bíguas. 26).26). Basta isto As intenções críticas, em geral Mário dede CarvalhoCarvalho para catcativarivar os conseguidas através de cruzamentos escrevia hhistorietasistorietas leitores.leitores. E depoisdepoi históricos, são subtis e nunca rrealistasealistas háhá cenas dede acçãoacçã pedagógicas. Aquilo que interessa a escritasescritas com gostogosto Mário de Carvalho não é a verdade e verve: “De súbitosúbito,, histórica mas a ficção como verdade: doisdois arpéus vieram “Não consegues propor qualquer pelopelo ar, amarradosamarrados a ideia, qualquer sonho, qualquer caboscabos ddee , e o invenção por mais estranha, que não embateembate ccomom o seja verdade em qualquer lado de todo o lado. A quadratura do círculo? É verdade em qualquer lado de todo o lado. O moto-contínuo? É verdade em qualquer lado de todo o lado. O Minotauro? É verdade em qualquer lado de todo o lado. Gilgamesh? É verdade em qualquer lado de todo o lado. E todos os mitos. E todas as lendas. Precisamente e rigorosamente verdade com todas as suas variações e todos os seus pormenores” (pág. 210). Esta 3ª edição de “Contos da Sétima Esfera” tem ilustrações de Aquilo que interessa a António Jorge Gonçalves que fazem Mário de Carvalho não justiça aos textos, até na medida em é a verdade histórica mas que avançam pela página, e se a fi cção como verdade derramam em indícios ou apoteoses.

34 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon ESTE NATAL

Contribua com um livro para o BANCO de LIVROS

Este Natal ofereça um livro a uma criança. As Livrarias Bertrand desenvolveram uma campanha em parceria com o Banco de Bens Doados e a Fundação Pro Dignitate para fazer chegar livros novos a crianças carenciadas de Instituições em todo o pa ís. De 15 Novembro a 5 de Dezembro, compre um livro à sua escolha numa Livraria Bertrand e deposite-o no Livrão. Todos os livros serão entregues às crianças no mês de Dezembro.

DÊ UM FINAL FELIZ À HISTÓRIA DE MUITAS CRIANÇAS. DÊ UM LIVRO.

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Percussões, palmas e uma jovialidade

de sorriso aberto: os WENG KARLSENRASMUS Clássica

MARTA PINA MARTA Primeiras audições em desafi o

O Remix Ensemble e o Klangforum Wien mostram dois olhares diferentes sobre a mesma música em concertos consecutivos. Cristina Fernandes

Remix Ensemble Casa da Música vs Klangforum Wien Direcção Musical de Emilio Pomàrico. Com Noa Frenkel (contralto), Jonathan Ayerst (piano).

Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho de Albuquerque. Hoje, às 21h. Tel.: 220120220. 10€.

Klangforum Wien vs Remix Ensemble Casa da Música “Overcoat Heat”, o novo EP dos Gala Drop, Direcção Musical de Enno Poppe, foi lançado pela nova-iorquina Golf Channel Florian Müller. Recordings: um verdadeiro acontecimento Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho de Albuquerque. Dom., 21, às 18h. Tel.: 220120220. Pop krautrock, posicionando o projecto Ao terceiro álbum, “Magic Chairs”, 10€. mais perto das últimas aventuras de que apresentam esta noite no Áustria 2010. Four Tet ou Caribou, do que Musicbox, em Lisboa, temo-lo por A segunda propriamente dos Animal Collective, evidente. Ao contrário do que sucede com as com quem são muitas vezes A sua música, dramática e obras que entraram no cânone da relacionados. orquestral, pormenorizada na forma música ocidental, no domínio da vida dos Na continuação do entusiasmo como conjuga matéria orgânica e música contemporânea a internacional gerado pelo concerto electrónica, ora encontra refúgio comparação entre interpretações Gala Drop recente em Nova Iorque (a convite nos grandes espaços, contemplativa musicais tende a ficar em segundo de Panda Bear, dos tais Animal e divagante, ora pede intimidade de plano. Por um lado, a estreia Depois da euforia gerada Collective), dá-se agora o quarto fechado enquanto a chuva frequente de novas obras não

Concertos espectáculo de lançamento do novo bate na janela. Depois, liberta-se rua permite ter referências; por outro, pelo concerto em Nova EP em Lisboa. Constituídos por um fora, pede companhia a quem a muitas dessas partituras não chegam Iorque, os portugueses quarteto de músicos (Nelson ouve, oferece percussões, palmas e sequer a ter uma segunda audição regressam a casa para Gomes, Afonso Simões, Guilherme celebração de uma jovialidade de ou uma segunda gravação em disco. Gonçalves e Tiago Miranda, que sorriso aberto - certamente não por Contrariando essa tendência, os mostrar o seu promissor acabou de lançar um máxi-single acaso, Efterklang traduz-se próximos dois concertos da Casa da novo EP. Vítor Belanciano em nome próprio na nova-iorquina livremente por “recordação” ou Música dedicados ao repertório DFA, a editora de James Murphy, “reverberação”. contemporâneo vão permitir o Gala Drop + Magina dos LCD Soundsystem) que não Formados em 2000, editaram confronto entre duas personalidades desiste de se reinventar em estúdio, desde então “Tripper”, em 2004, e interpretativas. A ideia já foi posta Lisboa. Espaço M (antiga Casa d’Os Dias da Água) Rua D. Estefânia, 175. Amanhã, às 22h. os Gala Drop vão iniciar agora uma “Parades”, em 2007. De álbum para em prática com sucesso em 2007 e segunda existência em palco que álbum, mantendo todos os agora vai repetir-se a fórmula, Há dois anos, os portugueses Gala promete. elementos da sua música, foram colocando frente-a-frente o Remix Drop lançaram um excelente caminhando em direcção a um Ensemble e o prestigiado homónimo álbum de estreia, formato canção mais clássico. Klangforum Wien na estreia em daqueles difíceis de situar. Havia Efterklang, Paralelamente, expandiram a sua Portugal de “...Vom Gesang der qualquer coisa de escultórico na sua os dinamarqueses expressão criativa. “Magic Chairs” Wasserspeier...”, de Wolfram sonoridade, na forma como ecos e serviu de mote para uma Schurig, uma encomenda conjunta reverberações coabitavam com globais colaboração com o realizador da Casa da Música, do Wien Modern AGENDA CULTURAL FNAC ritmos percussivos dispostos em francês Vincent Moon, o criador do e do Klangforum Wien, que teve entrada livre câmara lenta, num conjunto de Efterklang conceito “take away shows” recentemente a sua estreia mundial camadas de som que se (alojados em “La Blogotheque”), e em Viena. O agrupamento da Casa Lisboa. MusicBox. R. Nova do Carvalho, 24. Hoje, às sobrepunham, criando um ambiente 23h30. Tel.: 213430107. 12€. autor de filmes-concerto sobre The da Música apresenta-se hoje, às 21h, letárgico repleto de sol. National ou . na Sala Suggia, com direcção de Agora, sem perderem essas Dinamarqueses globais, estes Durante quatro dias, banda, características, regressam com o EP Efterklang. No mesmo sentido em equipa de filmagem e cerca de 200 “Overcoat Heat” – uma edição da que os Arcade Fire ou , músicos locais reuniram-se numa nova-iorquina Golf Channel canadianos, o são. No mesmo ilha dinamarquesa para Recordings –, naquele que é um sentido em que , reinterpretar e dramatizar as AO VIVO verdadeiro acontecimento, apesar do projecto “um álbum por canções do álbum. No Musicbox, MÁRIO LAGINHA TRIO expandido as possibilidades do seu estado americano”, também acaba poderemos ver parte da música e som, através de uma música física e por ser. Ou seja, representam muito das imagens do filme resultante, “An 26.11. 17H30 FNAC NORTESHOPPING celebrativa, que tem tanto de disco mais um pulsar pop contemporâneo Island”, com estreia marcada para Todos os eventos culturais FNAC em http://cultura.fnac.pt ou house, como de dub ou do que um reflexo do seu contexto. Fevereiro de 2011. Mário Lopes Klangforum Wien

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 37 Jamie Lidellll gratuitgratuitoo emem LisboaLisboa Concertos

Gonzalo Rubalcabaaba no Guimarães Jazzazz Christine Schäfer regressa a uma peça Emilio Pomarico e a participação Ciclo Grandes Vozes. do pianista Jonathan Ayerst como tipicamente masculina: “Viagem de Inverno”, de a “Viagem de Inverno”, solista, e os seus colegas austríacos Schubert. dão um concerto no domingo, às de Schubert 18h, dirigido por Enno Pope e com Thomas Quasthoff era uma das Florian Müller ao piano. Os dois personalidades aguardadas com abordagens no programas têm ainda em comum a maior expectativa no Ciclo de Canto feminino, como esta que irá suceder peça “...es...”, de Mark André. Para da temporada Gulbenkian, mas o segunda, dia 22, no recital da avaliar até que ponto pode ser conceituado barítono alemão soprano Christine Schäfer. Nascida diferente um olhar sobre um novo cancelou há poucos dias os recitais em Frankfurt, Schäfer estudou no objecto musical, haverá que agendados para os próximos Conservatório de Berlim com Ingrid comparecer a ambos os concertos, tempos. Será substituído pela sua Figur, Arlen Augér, Aribert Reimann que terão ainda algumas obras compatriota Christine Schäfer, e Fischer-Dieskau, empreendendo adicionais. No caso do Remix será mantendo-se em programa “A depois uma bem sucedida carreira Possível ouvir “Omens II”, de Viagem de Inverno”, de Schubert. internacional. No domínio da ópera Emmanuel Nunes, e “Abyss”, de Embora tenha sido originalmente distinguiu-se em papéis Donatoni, e no caso do Klangforum escrito para tenor, é freqüente mozartianos, mas também no papel Wien as estreias portuguesas de “as transpor este ciclo para todo o tipo titular da “Lulu” de Berg. As sua in a mirror, darkly”, de Joanna de vozes. Porém, devido ao seu empatia com a 2ª Escola de Viena Wozny, e de “A végso Tavasz”, op.23, carácter sombrio e à angústia do encontra-se também patente na de Jorge E. Lopez. viandante que discorre sobre um gravação do “Pierrot Lunaire”, de amor perdido numa jornada de Schoenberg, sob a direcção de profunda desolação em que a Pierre Boulez. Mais recentemente Viagem de Inverno Natureza o acompanha nos seus estreou-se como Violeta em “La no feminino estados de alma, o ciclo adequa-se Traviata”, de Verdi, e tem cantado especialmente bem ao colorido e à óperas de Handel e Richard Strauss. Christine Schäfer e Justus Zeyen densidade das vozes mais graves e o No primeiro ano da Trienal do Ruhr, poema ganha veracidade em ser em 2002, interpretou “Viagem de Lisboa. Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - Grande Auditório. Av. Berna, 45A. 2ª, 22, às 19h. cantado por um homem. No Inverno” de Schubert, com uma Tel.: 217823700. 17,5€ a 35€. entanto, não são inéditas as encenação de Oliver Hermann. C.F.

Agenda Sexta 19 Pedro Abrunhosa Terça 23 & Comité Caviar Fucked Up + Myd + Throes + The Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Macy Gray Portas St. Antão, 96, às 21h30. Tel.: Lisboa. Aula Magna. Alam. Shine + Sun-Explosion + Lovers 213240580. 23€. Os Skatalites Universidade, às 22h. Tel.: & Lollypops Soundsystem no Hard Club Porto. Plano B. R. Cândido dos Reis, 30, às 23h. Mazgani 217967624. 25€ a 35€. Tel.: 222012500. 5€. Tondela. Cine Tejá - Novo Ciclo ACERT. R. Dr. Ricardo Pedro Abrunhosa & Comité Mota, às 21h45. Festival Náice #01. Tel.: 232814400. 7,5€. Caviar Porto. Coliseu do Porto. R. Passos Manuel, 137, às Rita Redshoes Kimi Djabaté 21h30. Tel.: 223394947. 23€. Faro. Teatro Municipal de Faro. Horta das Figuras Torres Novas. Teatro Virgínia. Lg. São José Lopes dos - EN125, às 21h30. Tel.: 289888100. 10€ a 12,5€. Santos, às 21h30. Tel.: 249839309. 10€. A Parte Maldita + Gigantiq com Matteo Uggeri Samuel Úria António Rosado e Orquestra Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Portimão. Teatro Municipal de Portimão - Café- Sinfónica do Porto Casa da Miguel Contreiras, 52, às 22h. Tel.: 218438801. 6€ Concerto. Lg. 1.º de Dezembro, às 22h. Tel.: (dia) a 15€ (passe). 282402475. Entrada livre. Música Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho de Sonic Scope #10. Gonzalo Rubalcaba Quintet Albuquerque, às 18h. Tel.: 220120220. 16€. Moonspell Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Grande Áustria 2010. Porto. Casa da Música - Sala Suggia. Pç. Mouzinho Auditório. Av. D. Afonso Henriques, 701, às 22h. de Albuquerque, às 22h. Tel.: 220120220. 22,5€. Tel.: 253424700. 20€ (dia) a 90€ (passe). Domingo 21 Guimarães Jazz 2010. Septeto Hot Club de Portugal Kronos Quartet & Victor Gama Lisboa. Igreja de Santa Catarina - Coro Alto. Sábado 20 Lisboa. Centro Cultural de Belém - Grande Auditório. Calçada do Combro, às 21h30. Tel.: 213464443. 6€. Pç. Império, às 21h. Tel.: 213612400. 15€. The New York Composers Temps d’Images 2010. Quarta 24 Orchestra Ver texto na pág. 26 e segs. Direcção Musical de Wayne Horvitz, Gogol Bordello Robin Holcomb. Lisboa. Praça de Touros do Campo Pequeno. Shakira Campo Pequeno, às 21h. Tel.: 217820575. 23€ a 28€. Guimarães. Centro Cultural Vila Flor - Grande Lisboa. Pav. Atlântico. Pq. das Nações, às 20h30. Tel.: Auditório. Av. D. Afonso Henriques, 701, às 22h. 218918409. 35€ a 45€. Macy Gray Tel.: 253424700. 20€ (dia) a 90€ (passe). Porto. Hard Club - Sala 1. Praça do Infante, 95, às Guimarães Jazz 2010. Joe Satriani 22h. 25€. Porto. Teatro Sá da Bandeira. R. Sá da Bandeira, Carlos Martins Quinteto 108, às 21h30. Tel.: 222003595. 20€ a 35€. Sei Miguel + Carlos Santos e Porto. Casa da Música - Sala 2. Pç. Mouzinho de Paulo Raposo Albuquerque, às 22h. Tel.: 220120220. 10€. João Paulo Esteves da Silva Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Ciclo Jazz Galp. Aveiro. Teatro Aveirense - Sala Principal. Pç. Miguel Contreiras, 52, às 22h. Tel.: 218438801. 6€ República,República, às 18h. Tel.: 234400922. 5€. (dia) a 15€ (passe). The Skatalites + Human Chalicehalice Sonic Scope #10. + Dirty Skank Beats SegundaSe 22 Porto. Hard Club - Sala 1. Pç. Infante, 95, ààss 22h. 15€. JamieJa Lidell Quinta 25 Lisboa.Lisb Casino Lisboa. Alam. dos Oceanos, às Mariza Dead Combo & Royal 22h30.22h Tel.: 218929070. Entrada gratuita. Porto. Coliseu. R. Passos Manuel, 137, às 21h30. Tel.: Orquestra das Caveiras ArenaAr Live 2010. Caldas da Rainha. Centro Cultural e 223394947. 18€ a 50€. Congressos. R. Dr. Leonel Sotto Mayor, às JoeJoe Satriani 21h30. Tel.: 262889650. 10€. Rodrigo Amado Quarteto + @c Lisboa.Lisb Praça de Touros do Campo Pequeno, Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos - Sala ààss 21h.21 Tel.: 217820575. 20€ a 35€. Rita Redshoes Principal. Av. Frei Miguel Contreiras, 52, às 22h. Tel.: 218438801. 6€ (dia) a 15€ (passe). Serpa. Cine-Teatro Municipal. Pç. República,ca, às Skakira,SSkak Shakira: domingo 21h30. Tel.: 284543050. Entrada gratuita. no PPavilhão Atlântico Sonic Scope #10.

38 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Jazz De que é feito um gigante

Na fronteira entre o jazz mainstream e a absoluta liberdade musical, Charles Lloyd afirma-se cada vez mais como um artista único. Rodrigo Amado Uma profunda empatia desenvolvida por quatro músicos, uma conecção Charles Lloyd Mirror ECM, dist. Dargil mmmmn Discos A capa de “Mirror” – um retrato de Lloyd feito pela sua mulher, através de um reflexo no tradicionais (“Go down Moses”, “La sabermos situar o todo. Não é resistem a todos os clichés, espelho onde a llorona” e “The water is wide”), um amnésia. É o contrário. É integrando-os, fazendo-os seus, de própria aparece - poderá servir de hino afro-americano (“Lift every consciência do lugar que se ocupa. É forma desarmante, seja quando indicação ao carácter autobiográfico voice and sing”), e um cover dos ponto de partida, mas não de adoptam a pose de balada (“When deste registo. Sucessor do aclamado Beach Boys (“Caroline, no”) - Lloyd chegada. Mais provas fossem we’re dancing”, “Yellow balloon”, “Rabo de Nube”, gavação ao vivo realiza uma música atmosférica e necessárias, esse é um sinal que “Forget”) ou enveredam por uma editada em 2008, “Mirror” descontraída, construída num comprova a singularidade destas atitude mais activa (“At my heels”, “i apresenta-nos a primeira gravação crescendo de abstracção que culmina canções. can’t wait”, “Slow“). de estúdio realizada com o seu na beleza incandescente de “Tagi”, O próprio George, num sinal de Os ritmos são elementares, não extraordinário new quartet, uma com a leitura de um texto por Lloyd, maturidade, reconhece diversas omitindo a condição caseira. Os formação com Jason Moran (piano), sobre um mantra ambiental marcas temporais na sua música teclados omnipresentes criam o Reuben Rogers (contrabaixo) e Eric construído por Rogers. Num registo (Roy Orbinson dos 60s, David Bowie ambiente para o funk transpirar, Harland (bateria), cujo impacto já onde se destaca o rubato luminoso e Can dos 70s, Smiths dos 80s e um integrando princípios rítmicos tivemos oportunidade de presenciar. de “Monk’s mood”, o deep-groove pouco dos TV On The Radio mais “disco”. No fim, todos estes Sem captar o poder avassalador espiritual de “The water is wide”, e o suaves dos 00, acrescentamos nós) e elementos se dissolvem em destilado pela banda ao vivo, hino à liberdade construído em “Lift outras, menos ilustres (da soul mais estruturas pop, através do balanço “Mirror” tem, no entanto, muitos every voice...”, com a banda em açucarada e do rock FM), poderiam electrónico insinuante e do tom pontos a seu favor. O principal será, registo mais free, é necessário ser convocadas. Mas as canções vocal confessional, não muito talvez, a profunda empatia apontar a excelência do piano de desenvolvida pelos quatro músicos, Moran, cujo trabalho como sideman, uma conecção telepática que cresce particularmente ao lado de Lloyd e ENCENAÇÃO e REALIZAÇÃO VÍDEO FIGURINOS de dia para dia. Outro ponto de Paul Motian, lhe tem valido um lugar JOÃO LOURENÇO BERNARDO MONTEIRO destaque prende-se com o som de no topo do jazz mundial. MÚSICA COREOGRAFIA Lloyd, um tom mercurial que o MAZGANI CLÁUDIA NÓVOA saxofonista emprega com uma CENÁRIO SUPERVISÃO AUDIOVISUAL absoabsoluta uta naturalidade atu a dade e Pop ANTÓNIO CASIMIRO AURÉLIO VASQUES descontracção, JOÃO LOURENÇO LUZ ttransformandoransformando totodad George Lewis Jr. MELIM TEIXEIRA a música que [ m/12 ] tottoca.ca. nunca existiu EscEscolhendoolhendo QUARTA A SÁBADO 21H30 DOMINGO-MATINÉE 16H00 um Twin Shadow rerepertóriopertório Forget variavariadodo que 4AD, distri. PopStock ffazaz um retratoretrat impressionisimpressionistat mmmmn ddaa sua pprópriarópria ccarreiraarreira – É uma história ddiversosiversos muitas vezes VERSÃO JOÃO LOURENÇO | VERA SAN PAYO DE LEMOS orioriginais,ginais, doisdois repetida, ao longo BERTOLT BRECHT DRAMATURGIA VERA SAN PAYO DE LEMOS ttemasemas ddee MonMonk,k, uumm dos últimos anos no COM sstandardtandard (“I fall in campo da pop. ANTÓNIO PEDRO LIMA | CÁTIA RIBEIRO love too easily”), Ouve-se um ESTRUTURA PATROCINADA PELO CARLOS MALVAREZ | CRISTÓVÃO CAMPOS três canções conjunto de canções, identificam-se FRANCISCO PESTANA | JOÃO FERNANDEZ LUIS BARROS | MAFALDA LENCASTRE os elementos e influências que as MAFALDA LUÍS DE CASTRO | MARTA DIAS atravessam, mas existe dificuldade MIGUEL GUILHERME | MIGUEL TAPADAS em defini-las com precisão. APOIO PATRÍCIA ANDRÉ | RUI MORISSON “Forget”, estreia de George Lewis Jr SARA CIPRIANO | SÉRGIO PRAIA “Forget”, estreia de George Lewis Jr (Twin Shadow), SOFIA DE PORTUGAL (Twin Shadow), é mais uma dessas VASCO SOUSA é uma dessas obras onde reconhecemos as fracções obras onde reconhecemos as que o constituem sem sabermos situar o todo fracções que o constituem sem

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 39 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Discos

Rosario é a verdadeira Tremendita do fl amenco novo-clássico

distante daquilo que se tem de uma estirpe tão sobrepovoada cinco anos. Desde então fez carreira Esta última corrente, comparável às ouvido de Arthur Russell, resgatado quanto a Índia é conseguir que as entre festas populares e espectáculos mais ousadas vanguardas do século do esquecimento nos últimos anos. canções nos convençam que são de gala, dando mais recentemente XX, encontra um lugar central no Tudo isto é verdade. Tudo isto é essenciais à nossa existência, ao voz a coreografias conotadas com a programa gravado pelo Ferrara ilusão. Esqueçam, ouvindo. Vítor mesmo tempo que são bem- vanguarda do flamenco. “A Tiempo” Ensemble, projecto que pretende Belanciano sucedidas no ziguezaguear dos reflecte essa bagagem, num reabilitar o universo musical do clichés entre o patético e o reportório de clara matriz Duque de Berry através de peças pretensioso, a lamechice pura e a tradicional, mas onde aqui e ali se relacionadas com a sua vida ou Canções sem nódoas intelectualidade de pacotilha. Márcia verificam descolagens, que escritas por compositores do seu sobrevive sem nódoas à travessia rejuvenescem sem desvirtuarem a círculo (Rodericus, Senleches, Márcia desse pântano de armadilhas, tendo essência do flamenco. Trebor, Solage, Guido, Magister do seu lado uma arma poderosa: a A maior parte do reportório é uma século XXI, e à tecnologia do século Egidius Augustinus e alguns Dá Discos Pataca; distri. Compact voz equilibrada naquele limbo em selecção de temas populares, XXI, nas delícias opiáceo- anónimos). O nome da colectânea Records que uma entrega mais desabrida incluindo bulerias, soleàs e tangos, desesperadas de “Help me” ou o deriva da peça de Solage “Corps seria coisa para concursos de com um par de originais da própria regresso ao ribombar contagiante dos Feminin par vertu de nature” escrita mmmmn televisão e uma contenção mais Rosário e um tango de Carlos Gardel tempos de “Fly or Die” em “Nothing para o casamento do filho do Duque firme reduziria as suas palavras a pelo meio. Guitarras acústicas, on you”. Contudo, ao ouvir o álbum com Catarina de França. Mas a Há algo de muito uma sucessão de sussurros. palmas e cajón formam a base em sequência, há algo que não selecção inclui outras páginas especial quando Mas se é, acima de tudo, a sua voz instrumental, mas há também uma funciona. Falta-lhe convicção, a fascinantes como “Angelorum psalat se ouve alguém que faz com que “Dá” dê vontade de faixa de sapateado a marcar o ritmo, capacidade de sentirmos estas visões tripudium”, de Rodericus, uma como Márcia ouvir repetidamente, é também títulos centrados no piano que são de psicadelismos soul de ontem em “ballade” que encerra uma série de Santos. Tudo bem, graças às suas boas alianças musicais mais flamenco-canção, enquanto canções de hoje como algo sério, algo alusões codificadas a personalidades até sabemos que que o disco se vai redescobrindo sem noutros lados o trompete vem real. É pena, porque, canção isolada da época e constitui uma espécie de canta com o Real Combo perder o brilho inicial. João Paulo emprestar tonalidades jazzísticas ao em canção isolada, “Nothing” tratado filosófico-matemático sobre a Lisbonense, mas aqui, depois de Feliciano, Sérgio Costa e Tomás som tradicional da Andaluzia. Estas assemelha-se a um grande álbum dos notação musical, jogando com a deixado cair o apelido nesses bailes Pimentel (que a conhecem do Real são as “ousadias” assumidas por uma N.E.R.D. Acontece que, mesmo oposição entre “perfeição” (ligada ao dos anos 50, chega até nós quando Combo Lisbonense também andam voz que em nenhum momento se descontando com bonomia os tiros numero 3 e à divisão ternária dos ainda temos os ouvidos impolutos, a aqui), assim como B Fachada, Tó afasta da alma profunda do flamenco. ao lado, temos dificuldade em valores rítmicos) e “imperfeição” cabeça vazia de ideia pré-concebidas Trips ou Mariana Ricardo dão uma Uma voz cava, granulada e ao mesmo acreditar nele. M.L. (ligada à divisão binária). A sobre o que é ou deve ser a sua preciosa ajuda, mas sem tropeçarem tempo aveludada, sobretudo proporção 3:2 é uma chave da obra música, ainda uma folha em branco naquele que é o maior bem deste brilhante no domínio das melismas, a no plano da construção, mas também para preencher com o que temos à disco: a forma como cada palavra arte de cantar várias notas em cadeia, Clássica no plano simbólico, através da mão. E à mão apetece ter pouca saída de Márcia parece cair lenta e numa só sílaba. Ainda jovem, mas já referência à queda dos anjos coisa. Apenas aquilo que, fazendo delicadamente em cima com uma segurança e intensidade rebeldes, um episódio ilustrado jus a estas 12 canções, consiga conter da cama musical que a espera. dramática mais próprias à idade A vanguarda igualmente no famoso Livro de Horas num mesmo traço uma fragilidade Gonçalo Frota madura, Rosario é a verdadeira do Duque através de uma construção de desabafos adolescentes à guitarra Tremendita do flamenco novo- do século geométrica. Dirigido por Crawford acústica e uma beleza madura de Rosario, La Tremendita clássico. Luís Maio Young, o Ferrara Ensemble interpreta quem bebeu abundantemente as este repertório com grande A Tiempo XIV águas inspiradoras servidas pela World Village, distri. Harmonia N.E.R.D. sensibilidade e um conhecimento música de Will Oldham, Bill Callahan profundo das suas particularidades Mundi Nothing ou Stina Nordenstam, e percebeu Interscope; distri. Universal O Ferrara Ensemble dá estilísticas. O grupo joga com que as suas propriedades não eram mmmmn a conhecer o sofisticado múltiplas combinações tímbricas diuréticas. Reter tudo, reter sempre, mmmnn (recorrendo à harpa, à viola de arco, reter cada vez melhor. Tremendita é uma universo musical do Duque ao alaúde, ao guiterne ou ao Márcia parte da fórmula mais alcunha fantástica Há algo de estranho de Berry, mecenas das artes dulcimer) numa equlibrada estafada que existe na música: uma para uma voz a acontecer em e amante das coisas belas. cumplicidade com as vozes e opta voz e uma guitarra. Qualquer um excepcional, que “Nothing”. Cristina Fernandes por uma abordagem contida, junta estas duas e faz uma canção, nesta estreia se Aparentemente, marcada pela precisão técnica e pela certo? Nem por isso. Porque uma estabelece como um este híbrido de Corps Femenin – L’avant-garde atenção que dá às pequenas nuances. canção não merece reclamar esse dos grandes talentos emergentes do teclados fervilhantes de Jean Duc de Berry Os tons melancólicos e poéticos estatuto até que um terceiro a cante. flamenco. Rosário tem apenas 26 à Stevie Wonder, propulsão rítmica imperam numa música altamente Ferrara Ensemble E as de Márcia pedem vozes por anos mas uma já longa carreira atrás dos Stereo MCs de boa memória (a sofisticadasofisticada nnoo Crawford Young (direcção) cima do canto dela. Não para a de si. Nascida em Triana, o bairro dos primeira) e excertos de genes Prince Arcana âmbitoâmbito da abafar, mas para que ressoem ciganos Sevilha, neta de uma cantora nos locais recomendados (quando o construçãoconstrução devidamente em cada ouvinte. célebre na comunidade local, filha de funk se torna matéria sintética) são os mmmmn e dada O complicado quando alguém se um pai cantor e de uma mãe N.E.R.D. como gostaríamos de os expressivi-expressivi- propõe acrescentar mais um disco bailarina, subiu ao palco com apenas ouvir – com metais ao alto na pista de Jean de Berry dade.dade. dança e condimentados a odores (1340-1416), filho psicadélicos resgatados a 1967. Ainda do rei da França “Dá” dávontade de ouvir repetidamente assim, algo falha. E é isso que causa Jean II Le Bon, foi estranheza neste disco. Os tiros ao um extraordinário lado são tão evidentes que os mecenas das artes ultrapassamos sem lhes dedicar que gostava de coleccionar os muita reflexão – a tenebrosa balada objectos belos e preciosos. Mais “Victory”, com falsetes de postiço conhecido como Duque de Berry é Crawford Young dirige MTV a estragarem o cenário (“the hoje recordado pelo magnífico Livro o Ferrara Ensemble limit is the sky”), ou a tentação de Horas (“Les Très Riches Heures “cómico messiânica” de um Pharrell du Duc de Berry”) repleto de obras- a contar-nos a história da vida na primas da iluminura. A sua relação Terra entre castanholas e soul-jazz com a música é hoje menos maneirinho (“Life as a fish”), essas recordada, mas foi rica até porque “coisas”, dizíamos, são pormenores a atravessou um período de grandes que estamos habituados na transformações: da figura tutelar de discografia da banda. O que é mais Guillaume de Machaut (de quem teria estranho é o resto. Porque o resto sido amigo) à polifonia dos alvores do está recheado de boas ideias, como a Renascimento, passando pelas visão de uns Love anunciando-se ao refinadas criações da Ars Subtilior.

40 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

A dramaturga nova- apresentação de “Peça iorquina Sheila de Violação” (“That Callaghan vai estar Pretty Pretty”) em Palestra non Teatro Taborda, na Lisboa (ver agenda), próximap quinta, dia numa encenação de “A Noite de 25,2 para enquadrar a Nuno M. Cardoso Ravensbruck” suas obra no contexto para O Cão Danado em Matosinhos dod novo teatro norte- e Companhia, em americano.a A palestra, coprodução com o marcadam para as Teatro Ofi cina e o “Peça de Violação” Nova criação da 18h30,1 acompanha a Teatro da Garagem. no Taborda, Cornucópia: “Fim em Lisboa de Citação”

Agenda

Experimental. Av. Professor Egas Moniz. De 25/11 a ALÍPIO PADILHA Teatro 19/12. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 212739360. 6€ a 12€. Estreiam Peça de Violação Persona De Sheila Callaghan. Por O Cão De Ingmar Bergman. Encenação de Danado e Companhia. Encenação de João Canijo. Com Teresa Tavares, Nuno M. Cardoso. Katrin Kaasa. Lisboa. Teatro Taborda. R. Costa do Castelo, 75. De 24/11 a 28/11. 4ª a Dom. às 21h30. Tel.: 218854190. Lisboa. Teatro Turim. Estrada de Benfica, 723 A. De 19/11 a 12/12. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 17h. Temps d’Images 2010. Continuam Ver texto na pág. 30. Sombras Fim de Citação De Ricardo Pais. Com José Manuel Barreto, Raquel Tavares, Emília As fotografi as espalhadas pelo estúdio de Miss Pelo Teatro da Cornucópia. Silvestre, Pedro Almendra, Pedro Mara transformam-se em histórias tridimensionais Encenação de Luís Miguel Cintra. Frias, Carla Ribeiro, entre outros. na nova peça do Teatro da Garagem Lisboa. Teatro da Cornucópia. R. Tenente Raúl Cascais 1A. Até 12/12. 3ª a Sáb. às 21h30. Dom. às Porto. Teatro Nacional São João. Pç. Batalha. Até nas fotografias em papel”. 16h. Tel.: 213961515. 7,5€ a 15€. 28/11. 3ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: Em “Snapshots”, é como se as 223401910. 3,75€ a 16€. As vidas O Autor figuras das fotografias saltassem Ver texto na pág. 28 e segs. De Tim Crouch. Encenação de Karl escondidas para o palco para deixar o seu James. 1974 testemunho, para marcar a sua Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Edifício da Pelo Teatro Meridional. Encenação presença. Tudo se passa no estúdio CGD. De 23/11 a 25/11. 3ª a 5ª às 21h30. Tel.: de Miguel Seabra. 217905155. 5€ a 15€. das de Miss Mara, completamente Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett. inundado por fotografias. Ao fundo, A Noite de Ravensbruck Pç. D. Pedro IV. Até 19/12. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 213250835. 7,5€ a 30€. fotografi as uma projecção videográfica que nos De Viale Moutinho. Encenação de leva a percorrer os mais diversos José Leitão. Matosinhos. Cine-Teatro Constantino Nery. Av. Dança cenários, sejam eles trágicos, Serpa Pinto. De 19/11 a 28/11. 4ª a Sáb. às 21h30. Em “Snapshots”, figuras que melancólicos e até mesmo cómicos. Dom. às 16h. Tel.: 229392320. Continuam Cada cena tem, do ponto de vista da o passado imobilizou em Jornada para a Noite história que conta, autonomia Olhos Caídos De Eugene O’Neill. Pelo Teatro papel fotográfico ganham Com Tânia Carvalho, Luís Guerra. própria, podendo ser lida Experimental do Porto. Encenação vida, no presente. independentemente das outras, Lisboa. O Negócio. R. do O Século, 9 - Páteo de de Nuno Cardoso. Com Ângela Santa Clara Ptª 5. Até 27/11. 4ª a Sáb. às 21h30. Tel.: Cláudia Carvalho complementando-se à medida que a Marques, João Pedro Vaz, Luís 213430205. 7,50€. peça se desenrola. “Cada história Araújo, Susana Sá, entre outros. À Deux Pas de Là-Haut desenvolve-se a partir de uma Gaia. Auditório Municipal. R. Moçambique. De Snapshots De João Paulo dos Santos. Pela O fotografia e cada fotografia gera cada 20/11 a 12/12. 4ª a Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: De Carlos J. Pessoa. Pelo Teatro da 223771820. Último Momento. Encenação de uma daquelas personagens. No Olivier Antoine. Com Guillaume Garagem. Encenação de Carlos J. Hughie + Antes do Pequeno Pessoa. Com Ana Palma, António entanto, tudo acaba por Amaro, João Paulo dos Santos. corresponder a uma única história, Almoço Lisboa. Culturgest. Rua Arco do Cego - Edifício da Banha, Carolina Sales, David De Eugene O’Neill. Pela Companhia que tem a ver com o percurso CGD. Até 19/11. 5ª e 6ª às 21h30. Tel.: 217905155. 5€ Cabecinha, Dinis Machado, de Teatro de Almada. Encenação de a 20€. Fernando Nobre, José Neves, Maria daquela fotógrafa”, conta Carlos J. Joaquim Benite. Viseu. Teatro Viriato. Lg. Mouzinho Albuquerque. João Vicente, Miguel Mendes, Nuno Pessoa. Almada. Teatro Municipal de Almada - Sala Dia 23/11. 3ª às 21h30. Tel.: 232480110. Nolasco, Nuno Pinheiro, Tiago De forma discreta, e através de Lameiras. cada história, a peça é o reflexo dos nossos medos, das nossas Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estúdio. esperanças, das nossas dúvidas e das Pç. D. Pedro IV. De 19/11 a 19/12. 4ª a Sáb. às 21h45. nossas vitórias. “Nós não podemos Dom. às 16h15. Tel.: 213250835. 12€. resolver todos os problemas, temos Cada fotografia conta uma história e é que aprender a viver com eles”, cada história tem as suas diz Mister Universo, mais uma personagens. Na raiz de “Snapshots”, personagem das muitas fotografias que o Teatro da Garagem hoje estreia espalhadas pelo estúdio. Para Carlos na Sala-Estúdio do D. Maria II, em J. Pessoa, esta frase resume o sentido O CLEPUL Lisboa, está a visão de uma fotógrafa, de “Snapshots”: “As histórias que Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, Miss Mara, que em nenhum vemos aqui são um reflexo da momento se esquece da máquina sociedade em que vivemos, do nosso da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, fotográfica. Ela já nem precisa de tempo e das nossas próprias institui em 2010, com o patrocínio de mecenas anónimo, o olhar, os cliques e os flashes que histórias”. “No fundo este trabalho é saem da sua máquina são como que um pouco como a nossa bandeira, uma extensão do seu próprio corpo. uma espécie de verde e vermelho Miss Mara vive as suas fotografias e em que vemos o vermelho da PRÉMIO JORGE DE SENA celebra as suas histórias no teatro. tragédia e o verde da esperança”, “Snapshots” é muito mais do que o explica o encenador. instante fotográfico, é uma história, Intensa, trágica, cómica, poética e O prémio, com o valor de 5000 €, distinguirá uma vida. filosófica, “Snapshots” é uma peça Numa época cada vez mais digital, que salta das fotografias, tiradas no uma monografi a, édita ou inédita, publicada ou

Teatro/Dança o analógico e as fotografias em papel passado, para contar uma história apresentada em 2009, sobre qualquer faceta da obra ganham um significado especial. “Há no presente, que pode ser a história uma relação diferente com o objecto de qualquer um. “Não podemos só de Jorge de Sena. Os originais deverão dar entrada material e com o objecto virtual”, olhar para as fotografias, elas não até 30 de Novembro de 2010 no Centro diz Carlos J. Pessoa, autor do texto e podem simplesmente arder. Antes encenador da peça, explicando que disso tem que nascer vida e as “sentir o toque, o cheiro, imaginar a pessoas têm que voltar a viver, é história por trás das imagens, tudo tudo isto que faz ‘Snapshots’”, Regulamento em: www.clepul.eu isso é muito mais sentido e intenso conclui.

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 41 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Bernard Stieglerr, Commerce des Regards” “Res Publica 1910 e 2010 professorprofessor convidadoconvidado dodo (Seuil, 2003) e “Homo Face a Face”. Stiegler Confe-e- GoldsmithsGoldsmiths ColleCollegege Spectator” (Bayard, abordará “A coisa pública rênciaia da UniversidadeUniversidade 2007), vão estar amanhã como processo de trans- dede LLondres,ondres, e no Auditório 2 da individuação” e Mondzain Marie-JoséMaM rie-José Gulbenkian, em Lisboa, falará de “Cultura do Mondzain,Mondzain, para participar no ciclo de possível e fundação autoraautora de conferências “A República da vida política”. Dia ensaiosensaios por Vir: Arte, Política e 27 há nova ronda de como Pensamento para o Século conferências, com Jacques “Le“Le XXI”, um programa Rancière e Georges paralelo à exposição Didi-Huberman.

“Le Passeur” conta histórias dos passadores que, entre 1971 e 1975, A posição facilitaram a emigração clandestina Agenda vertical Inauguram Às Artes, Cidadãos! Em “Montage”, a activação De Ahlam Shibli, Ahmet Ögüt, André Romão, entre outros. da consciência crítica do Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, 210. Tel.: 226156500. De 20/11 a 13/03. 3ª a 6ª das espectador diante das 10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. Inaugura 20/11 às 22h. imagens em movimento Instalação, Pintura, Outros. faz-se com o cinema, Ver texto na pág. 16 e segs. a memória, a história Still Video e a arquitectura. José De Gabriel Abrantes, José Maçãs de Marmeleira Carvalho, entre outros. Lisboa. Doca de Santo Amaro. Armazém 17. De “Montage” é a apresentação mais local de degredo e os ditos ou não- 20/11 a 30/11. 2ª a 6ª das 10h às 17h. Inaugura Montage 20/11 às 18h. De Filipa César. extensa da obra de Filipa César ditos gerados por essa punição

Expos (Porto, 1975) em Portugal. Compõe- ganham “visibilidade”, texto. São Vila do Conde. Solar - Galeria de Arte Cinemática. se de sete peças realizadas em vídeo, duas obras irmãs, que se Solar de S. Roque. Tel.: 252646516. Até 26/12. 3ª a 6ª das 14h30 às 18h. Sáb. e Dom. das 10h às 18h. três das quais inéditas no circuito harmonizam. Uma com um plano fixo acompanhado por vozes que Vila do Conde. Centro de Memória. Lg. São expositivo nacional, e divide-se Sebastião. Tel.: 252617506. Até 26/12. 3ª a Dom. das entre o Solar de S. Roque e o Centro falam da história de Castro Marim, a 10h às 18h. de Memória, em Vila do Conde outra representando o que esses Outros. Permite, assim, um olhar amplo relatos nos permitem imaginar. A sobre um “assunto” que a artista montagem também se faz com Festival Interferências. Vídeo. tem explorado com frequência na palavras, como forma de mmmmm Bypass última década: as possibilidades conhecimento. De Augusto Brázio, Jordi Burch, redentoras ou emancipadoras do Na projecção dupla “Le Passeur” entre outros. cinema. Porque Filipa César não se (2008), patente no Centro de Lisboa. Av. Liberdade. Espaço “Farmácia”. De limita a desvelar a existência dos Memória, contam-se histórias dos 25/11 a 19/12. 3ª a Sáb. das 13h às 19h. Inaugura 25/11 às 18h. mecanismos que determinam um passadores que, entre 1971 e 1975, Festival Interferências. Fotografia. filme (a montagem, os planos, os colaboraram na emigração enquadramentos): faz do próprio clandestina provocada por motivos Refl exões filme um instrumento que enriquece políticos. As imagens correm num De Mauro Restiffe. Lisboa. Baginski Galeria/Projectos. R. Capitão a realidade. ecrã de dupla face. De um lado, Leitão, 51/53. Tel.: 213970719. De 19/11 a 08/01. 3ª A disposição dos trabalhos é vários intervenientes relembram a Sáb. das 11h às 20h. Inaugura 19/11 às 22h. eficaz. O ambiente reservado do episódios desses tempos; do outro, Fotografia. Solar, com as suas galerias de planos-sequência do rio Trancoso, The Pavilion of Progress/The granito, convidou à diminuição da que marca a fronteira, no Minho, Pavilion of Fall escala das projecções e, inclusive, à entre Portugal e Espanha. E de novo, De André Romão. alteração das condições do espaço, as vozes (as narrativas) se Lisboa. Baginski Galeria/Projectos. R. Capitão Leitão, 51/53. Tel.: 213970719. De 19/11 a 08/01. 3ª como acontece na sala, cheia de sobrepõem às imagens ou a Sáb. das 11h às 20h. Inaugura 19/11 às 22h. espuma de almofadas, de “Rapport” acompanham os rostos, ouvindo-se Instalação. (2007), um dos trabalhos inéditos dentro e fora de campo. Desta vez, a Lugares de Incerteza em Portugal. Numa sucessão de montagem estende-se à De Adelina Lopes, Álvaro Negro, planos, enquadramento de rostos e materialidade do ecrã. E circulamos. André Cepeda, entre outros. corpos, a artista documenta uma E continuamos a circular pelas Porto. Palacete Pinto Leite. R. Maternidade, 13. psicoterapia dirigida a gestores: paisagens de “Alle Der Tel.: 222097000. De 19/11 a 18/12. 2ª a 6ª das 09h às 17h30. homens e mulheres, monitores e Kosmonauten” (2007) e “Porto 1975” Pintura, Fotografia, Outros. alunos, usam conceitos e situações (2010) – as restantes obras inéditas –, derivados do cinema para obterem mas sem movermos o corpo. Em dois Piece and Parts melhores resultados no trabalho planos-sequência, somos De Ana Vidigal, Julião Sarmento, entre outros. (lucros, eficiência); ou seja, transportados para a história da Lisboa. Plataforma Revólver. R. Boavista, 84 - 1º, transformam dispositivos da ficção arquitectura e de algumas utopias 3º. Tel.: 213433259. De 25/11 a 22/01. 3ª a Sáb. das em elementos para agirem sobre a políticas do século passado: numa 14h às 19h30. Inaugura 25/11 às 22h. Pintura, Outros. realidade. É possível aludir a uma avenida na Berlim oriental baptizada crítica ao mundo empresarial, mas o com os nomes de astronautas (um Continuam que parece interessar a Filipa César soviético, outro alemão), e pela é sobretudo a forma como a Cooperativa das Águas Férreas da Res Publica - 1910 e 2010 experiência cinemática determina o Bouça, um complexo habitacional De Ângela Ferreira, Bruce Nauman, comportamento social. projectado por Siza Viera no âmbito entre outros. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian. Av. Personagens, actores, pessoas? A do programa SAAl. Duas viagens, Berna, 45A. Tel.: 217823700. Até 16/01. 3ª a Dom. mesma inquietação atravessa afinal correspondentes ao desenrolar das 10h às 18h. “The Four Chambered Heart” integral da bobine de película de 16 Pintura, Fotografia, Vídeo. (2009), também incluída em mm, onde a deriva se transforma em Ninguém podia dormir na rede “Montage”, embora com outras evocação. Palavras final para o livro porque a casa não tinha parede ressonâncias políticas (o conflito “Montrage”, editado com a De Rodrigo Oliveira. israelo-palestinano) e exposição. É um arquivo dos Lisboa. Galeria Filomena Soares. R. da Manutenção, 80. Tel.: 218624122/23. 3ª a Sáb. das cinematográficas (a erosão da conteúdos dos filmeses e dos 10h às 20h. verdade no cinema documental). textos assinados porr CoColinlin Instalação,Instal Outros. Ainda na Solar, estão os filmes MacCabe, Doreen HelgaH Stüber-Nicolas “Memograma” e “Insert”, Mende, Helena Lisboa.L Galeria Trema. Rua do Jasmim, apresentados na exposição do Vilalta, Galit Eilat, 30. Tel.: 218130523. Até 11/12. 3ª a 6ª Prémio BES Photo 2010, que Filipa Eglantina Monteiro das 13h às 19h30. Sáb. das 12h às 19h. César venceu. A cidade de Castro e a própria Filipa Escultura. Marim é rememorada enquanto César. Helga Stüber-Nicolas

42 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon “Yuki & Nina”: a infância sem pieguices

Estreiam desde o mote (uma conferência de reconhecimento “conforme” de um filme sobre crianças para um historiador de arte, a uma dívida. adultos: o segredo de “Yuki e Nina” personagem de Shimmel, sobre A outra questão interessante – e está no tom, na delicadeza das suas Made in Italy cópias e plágios na arte ocidental) à “oblíqua” – do filme está no facto de modulações, na maneira como conclusão, quando, idealmente, o ele não mergulhar apenas num desliza entre crianças e adultos sem espectador já não sabe distinguir se é universo artístico mas também num trair nem uns nem outros. Nobuhiro É um filme feito no a “arte” que copia a “vida” se é ao universo religioso, numa relação Suwa e Hyppolite Girardot trabalham estrangeiro, mas é um contrário. Portanto, nessa medida, (arte/religião, arte de inspiração aqui o cinema como uma arte que se sim, diríamos que Kiarostami se religiosa) que em parte define muito faz de discrição e de um regresso. Luís Miguel dispõe a jogar o jogo da estranheza e daquilo que entendemos por cultura entendimento tácito entre a câmara Oliveira do reconhecimento, preservando europeia clássica. Kiarostami sai do e os actores. traços do seu cinema (“copiando- Irão para se ir instalar no coração do Quase se podem adivinhar as Cópia Certificada se”, portanto), como os travellings Renascimento: se há coincidência e razões da aliança entre os dois e o Copie Conforme de automóvel com longas cenas de só coincidência nisto, acredite quem modo como ela se praticou. Girardot De Abbas Kiarostami, diálogo, no meio de tudo o que é quiser. Porque o que ele evoca é um é actor, presença regular em filmes com Juliette Binoche, William Shimell, novo e estranho. Até mais do que mundo em que a Arte se equiparou à franceses, em “Yuki e Nina” pela Jean-Claude Carrière. M/12 isso, não é descabido ver em “Cópia Religião enquanto linguagem e primeira vez creditado como Certificada” um daqueles filmes de expressão de uma relação com o realizador. Nobuhiro Suwa é um MMMMn “impasse” e auto-reflexão que os mundo e com os seus mistérios. realizador japonês que grandes cineastas têm tendência a paulatinamente tem vindo a instalar- Lisboa: Medeia Monumental: Sala 1: 5ª 6ª Sábado fazer – e há pelo menos uma frase se no cinema francês – é o primeiro Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h30, 17h40, 19h50, dita pela personagem de Shimmel, filme dele que se estreia em Portugal, 22h, 00h10; A infância “ser simples não tem nada de mas os outros já foram vistos por cá, Abbas Kiarostami viajou para Itália. simples”, que podia ser assinada inclusive “Un Couple Parfait”, outro Estamos habituados a vê-lo viajar pelo próprio Kiarostami (e de resto, é feliz filme francês, que tem algo a ver com pelo Irão, entre a cidade e o campo ele quem a assina: o argumento e os este. Há aqui uma maneira de mais remoto, naqueles percursos de diálogos são dele). Sem pieguices nem trabalhar os actores, naquele automóvel que se tornaram uma das Na relação com as personagens e naturalismo todo feito de precisão, mais reconhecíveis “trademarks” com as situações o desdobramento patetices. Luís Miguel que vem da sólida escola francesa

Cinema dos seus filmes. Vê-lo a filmar no entre “cópias” e “originais” adensa- Oliveira (será o contributo de Girardot); e estrangeiro é uma raridade. “Cópia se. Shimmel e Binoche começam o uma mise-en-scène que funciona em Certificada”/”Copie Conforme”, filme como dois desconhecidos, ela Yuki & Nina tensão e distensão sucessivas, Running Out of Time rodado na Toscana, é apenas a sua é uma galerista admiradora dos De Nobuhiro Suwa, Hippolyte tirando todo o partido dos planos segunda longa feita fora do Irão, livros dele mas isso parece ser tudo. Girardot, longos e da maneira como os actores depois de um documentário, “ABC Nas horas que se seguem, em com Noë Sampy, Arielle Moutel, partilham a sua presença neles (que Africa”, realizado em 2001 a convite passeios por aldeias e igrejas Tsuyu Shimizu, Hippolyte Girardot, é um traço que reconhecemos como das Nações Unidas. Mais do que toscanas, a proximidade acaba por Maryline Canto. M/12 uma das maiores virtudes de Suwa). apenas um filme feito no cruzar uma fronteira qualquer, Há cenas, de resto, que podiam ser estrangeiro, “Cópia Certificada” é como se em pouco tempo Shimmel e MMMnn de um filme de Suwa (como o um filme estrangeiro, com produção Binoche deixassem de ser “Couple”) em que as crianças francesa (a MK2 de Marin Karmitz), desconhecidos para passarem a ser Lisboa: CinemaCity Campo Pequeno Praça de tivessem tomado o ponto de vista. Na 2ª Mostra de Cinema actores “internacionais” ( Juliette um casal com uma longa história. Touros: Sala 7: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h10, primeira parte há uma espécie de 18h05, 20h, 21h55, 23h55 Sábado Domingo 11h55, de Hong Kong Binoche e o cantor de ópera William Inútil tentar explicar a natureza 14h05, 16h10, 18h05, 20h, 21h55, 23h55; história contada em “off”: os pais de Lisboa, Cinema City Classic Alvalade Shimmel, um “não-actor”, certo, dessa transformação: ela é o fulcro Yuki (pai francês, mãe japonesa) vão- mas por todas as razões um “não- do filme, como se através dum Um filme adulto para crianças, ou se separar, o que é um drama Night and Fog de Ann Hui 24/11 às actor profissional”), e nenhuma “raccourci” temporal Kiarostami 21h45 relação directa com qualquer quisesse filmar um arco de anos na Crime Story” de Kirk Wong 25/11 às contexto iraniano (nenhuma relação vida de um casal, sem tornar precisa 21h45 directa, mas as relações “obliquas” a linha entre a “representação” (a dariam pano para mangas). No meio “cópia”: duas personagens que Invisible Target de Benny Chan de tanta novidade, constitui, por “imitam” um casal?) e a 26/11 às 19h paradoxal que pareça, algo como “genuinidade” da sua condição. Esse The Long Arm of the Law de um regresso: é o mais “clássico” dos mistério, acrescido à situação e ao Johnny Mak 26/11 às 21h45 filmes de Kiarostami desde o já cenário italiano, tem levado muita Overheard de Alan Mak e Felix longínquo “O Vento Levar-nos-á” gente a falar de “Cópia Certificada” Chong 27/11 às 19h (1999), seja no modo de fazer seja na como uma “homenagem” à “Viagem linearidade da estrutura narrativa. à Itália” de Rossellini. Com certeza Running Out of Time de Johnnie É “Cópia Certificada” uma cópia que Kiarostami faz a sua vénia, e que To 27/11 às 21h45 conforme, “made in Italy”, do a conjugalidade nunca ocupou assim Written de Wai Ka-Fai 28/11 às 19h cinema de Kiarostami? O tema da o espaço dos seus filmes iranianos; “cópia”,cópia , e do lugar da cópia na “arte”arte mas está longe de ser um “remake”.rem Rebellion de Herman Yau 28/11 às 21h45 e na “vida”,“vida”, NãoNão mais “rema“remake”,ke”, nesse cascaso,o do percorrepercorre o queque outros filmes de Kiarostami:Kiarostam se filmefilme de pensarmospensarmos naquelanaquela célebre tiradatira diversasdiversas queque Rivette escreveu, à éépoca,poca, sobre

Preo total Portugal Continental: Û29,25. De 8 de Outubro a 14 de Janeiro. Dia da semana: Sexta-feira. Limitado ao stock existente. maneiras,maneiras, o filmefilme de Rossellini (que “abria“abria uma bbrecharecha pelapela qualqual todotodo o cinecinemam modernomoderno devia forforçosamenteçosam passar”),passar”), torna-se evidenteevi queque todo o cinema de Sexta, Kiarostami passoupassou pela 5 Novembro, “brecha”“brecha” abertaaberta pelap EMIR “Viagem”“Viagem” (até nnoo uso É “Cópia Certifi cada” uma cópia KUSTURICA dosdos automóveisautomóveis…),… e “made in Italy” do cinema de Kiarostami? queque a ser algumaalguma por mais 1,95€. coisacoisa do género,género este filmefilme será sobretudosobretudo o

Ípsilon • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • 43 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Cinema

maior para eles do que para a temática, e de um posicionamento culminante na entrevista ao “Diário miúda, mais intrigada com esta coisa político interveniente: comunista de Notícias”, construindo uma do amor aparecer e desaparecer assumido, ateu militante, sacrílego figuração central que contrasta com (como lhe explicam) do que contestatário da herança do o retórico apagamento perante o propriamente amedrontada. Depois, cristianismo, director do “Diário de mestre. assusta-se mais: é quando a mãe, que Notícias” nos tempos quentes do Por tudo isto, a história de amor vai voltar para o Japão, lhe diz que PREC, defensor de uma estranha cifra-se no confronto entre dois egos Encenação:                 Cenário e quer levá-la (e o pai está de acordo). União Ibérica, na sequência do seu de idêntica força e o documentário         S   E então as crianças (Yuki e a sua “exílio” na ilha de Lanzarote, dissolve-se numa ficção articulada encenação:      ! amiga Nina) varrem os adultos da dizendo cobras e lagartos da pátria com os dados factuais e jogada " #  % &' vista, ou varrem-se da vista dos que o “rejeitara”, embora sempre contra uma dimensão que é & ( * +    %!  % , ! adultos – aventuram-se sozinhas pelo mantendo uma complexa relação de aparentemente a predominante, a !    "  bosque. Sem esquizofrenia amor-ódio com Portugal. Biografar hagiográfica: o louvor ao “homem "  "  /     nenhuma, bem pelo contrário, “Yuki uma figura desta dimensão implica que mais fez pela língua portuguesa” # !0 /0   %\1 e Nina” passa aí de “filme francês” a riscos incalculáveis, de tal modo o aparece, em simultâneo, no excesso “filme japonês” – entre Ozu e seu ego desmesurado suplanta a de uma vaidade narcisista e na DE 18 DE NOVEMBRO TEATRO DO BAIRRO ALTO De 3ª a Sábado às 21.30h Domingo às 16.00h A 12 DE DEZEMBRO 2"    3 2 34567489  ":43;<83535 Miyazaki – antes de chegar realmente dimensão física e literária da extrema fragilidade que a doença e a :==>>>27    2  : ?@7    2 ao Japão para que – mais que “personagem”. Envolvê-lo numa ameaça da morte arrastam consigo.  /  '  *Worten, Fnac, Viagens Abreu, El Corte Inglês  www.ticketline.sapo.pt provável moral da história contida idealizada história de amor acresce o Se “José e Pilar” constitui um \    =34 no derradeiro plano – se perceba que tamanho da façanha de construir monumento à glória de um escritor, a infância é um território tão mágico uma ficção documental, feita de assume-se também como uma como qualquer bosque de conto de fragmentos e gestos acumulados ao contagem decrescente: Saramago fadas. A partir de uma história de longo de centenas de horas de insiste na falta de tempo, na pais separados Suwa e Girardot filmagem, durante anos. ignorância do que existe para além fazem um filme sobre a infância feliz. O ponto de partida é interessante e da desaparição física. E se o objecto Sem pieguices nem patetices. É passa pela assunção de que todo o do olhar é complexo e contraditório, simples, mas é raro. material narrativo possui uma a montagem das imagens aumenta componente autobiográfica, essa complexidade, porque parece construindo assim um arremedo de desnudar o que “elogia”. Da vida memórias provocadas, algo que o Pautado por dedicatórias (as próprio Saramago cultivou, muitas a Pilar “que tardou tanto a sobretudo nos narcísicos e diletantes chegar”), ignorando embora o lado e da morte “Cadernos de Lanzarote”: a mais negro da personalidade do montagem possível dos fragmentos escritor, a alteração das dedicatórias Saramago, aqui, não é o estrutura-se de modo cronológico que fez a quem chegou antes à sua com datas apostas a cada um dos vida, numa espécie de cancelamento ícone, é o homem. Mário elementos, cobrindo três anos de de um passado que deveria respeitar, Jorge Torres vida e obra, de 2006 a 2008, os anos até em nome do “grande amor”, o do endeusamento máximo (a filme aceita as regras do jogo: José é José e Pilar inauguração da biblioteca de um homem mais do que um ícone. De Miguel Gonçalves Mendes, Lanzarote, a grande exposição Na montagem final reside a M/6 iconográfica, as repetitivas escolha da narrativa que se quer entrevistas pelo mundo inteiro, a mostrar: seleccionar a referência a MMMMn criação da Fundação José Saramago), “Caim” significa um olhar mas também da doença e do retrospectivo que dá conta do que Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 6: 5ª 6ª contacto com a morte, pudicamente aconteceu depois do tempo Sábado 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h40, 19h15, 21h50, tratados com extremo cuidado pelo representado; insistir na 00h25 Domingo 11h30, 14h05, 16h40, 19h15, 21h50, 00h25; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado “biógrafo”. omnipresença da morte significa, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h10, 18h50, 21h30, O projecto parte, porém, de outras consciente ou inconscientemente, a 00h10; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª coordenadas: há um Saramago antes importância posterior da sua Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h10, 21h05, 23h50; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª de Pilar e outro depois de Pilar e esta passagem para o tal outro lado que Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40,,,, 15h30, 18h25, imiscui-seimiscui se na narrativa com um SaramagoSaramago não rreconhece.ec Há um 21h40, 00h25; ZON Lusomundoomundo DolceDolce Vita protagonismoprotagonismo lado telúrico, a ssubidau à montanha, a Miraflores: 5ª Domingoo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, 21h30 6ª Sábado 15h30,0, 18h3018h30,, 21h3021h30,, 00h3000h30;; ZON desafiantedesafiante qqueue paisagempaisagem agreste de Lanzarote que o Lusomundo Almada Fórum:rum: 5ª 6ª SábadoSábado atingeatinge o olharolhar ddoo cineasta cruza com a Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40,40, 15h35, 18h30, 21h25, pontoponto imediatezimediatez ddee um quotidiano, tornado 00h20; comezinhocomezinho pepelal repetição dos Porto: Arrábida 20: Salaa 14: 5ª 6ª Sábado DominDomingogo 2ª 13h50, 16h25, 19h05, 221h50,1h50, 00h35 3ª 4ª 16h2516h25,, gestos.gestos. 19h05, 21h50, 00h35; ZONON LusomundoLusomundo DolceDolce Vita E chchegamose a um dos Porto: 5ª 6ª Sábado Domingoomingo 2ª 3ª 4ª 12h50, problemasprobl fulcrais. “José 15h30, 18h20, 21h20, 00h10;h10; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingongo e PiPilar”l é um filme 2ª 3ª 4ª 14h50, 17h55, sobresob o tempo: os três 21h15 6ª Sábado 14h50, anosan que reconstitui, 17h55, 21h15, 00h30; a duração das José Saramago peripéciasp tornou-se um seleccionadas,se o ícone cultural, muitom tempo que fica sobretudo depoiss de fora na da atribuição do montagem,m o tempo Nobel, mas já antestes quequ falta para disso entrara no completarco uma obra cânone ocidentall começadaco (Harold Bloom dixit)ixit) verdadeiramentev por via de uma obrabra aosa 60 anos. [email protected] polémica com pessoaisessoais PoderiaP ser um marcas de estilo, “José e Pilar”: há um Saramago antes de Pilar “filme-fleuve”“fil de 50 embora dispersa em e outro depois de Pilar e esta imiscui-se horas,horas, popoderiad optar por termos de abrangênciagência na narrativa com um protagonismo desafi ante mais cortes, corte mas a grandeza

44 • Sexta-feira 19 Novembro 2010 • Ípsilon Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Cópia Certifi cada nnnnn mmmnn nnnnn mmmnn Dos Homens e dos Deuses mmmmn nnnnn nnnnn mmmnn Inside Job mmmnn nnnnn nnnnn nnnnn José e Pilar mmmnn nnnnn mmmmn mmmnn Mistérios de Lisboa mmmnn mmmnn mmmmm mmmnn 36 Vistas do Monte Saint-Loup mmmnn mmmmn mmmmn mmmnn A Rede Social mmmmn nnnnn mmmnn mnnnn O Rei da Evasão nnnnn mmmnn mmmnnn mmnnn Os Miúdos Estão Bem mmnnn nnnnn mmnnn nnnnn Yuji & Nina mmmnn mmmnn nnnnn mmnnn do romance documental retrata-se Annette Benning e Julianne Moore particular, das suas mudanças de nessa hesitação, nessa noção de que transformando-o num veículo para o registo e só existe porque elas vida e morte não cabem no espaço seu carisma incontestável; reformula entendem a fragilidade da proposta e exíguo de uma projecção. Por isso, o os mecanismos da comédia, se empenham em mostrar como o essencial passa menos pelo conteúdo deslocando-a para territórios cinema ainda se alimenta de (Saramago é sobretudo um pré-texto) inexplorados, os de uma fábula pequenos nadas, de olhares furtivos, do que pelas formas. “José e Pilar” é moral destinada a explorar novas de carícias escondidas. M,J.T. um documentário, mas também um sexualidades e diferentes conceitos documentário para acabar com a de família. ilusão do documental puro. Um fim Aideia de jogar com o estafado Continuam de ciclo. Depois disto, ainda será conceito do triângulo amoroso no possível a Miguel Gonçalves Mendes, contexto de um par de lésbicas, que O Rei da Evasão que já nos dera o excelente cria os filhos adolescentes (um rapaz Le Roi de L’évasion “Autografia” (2004), continuar a e uma rapariga) num ambiente de De Alain Guiraudie, fazer documentários? A enormidade abastada harmonia familiar, esboça com Hafsia Herzi, Ludovic Berthillot, do projecto poderá ter-se esgotado um pano de fundo adequado para Pierre Laur. M/12 na sua feitura. brincar com os conflitos de uma pacífica realidade suburbana e abre MMMnn para parâmetros de discussão dos EXPOSIÇÃO Mãe há só duas labirintos comportamentais. A cena Lisboa: Medeia King: Sala 2: 5ª Domingo 3ª 4ª de amor entre as duas mulheres tem 13h45, 15h45, 17h45, 21h45 6ª Sábado 2ª 13h45, 15h45, 17h45, 21h45, 00h15; ÀS ARTES, CIDADÃOS! Os Miúdos Estão Bem a vantagem de gerar uma estranheza The Kids Are All Right representativa que interroga, de É um filme raro, pela extrema 21 NOV 2010 - 13 MAR 2011 De Lisa Cholodenko, modo radical, a existência de tabus e ternura que revela por personagens com Annette Bening, Julianne Moore, proporciona uma comicidade de pequena dimensão, por um Mark Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh controlada (e renovada). trabalho miniatural de atenção ao PROGRAMA DA INAUGURAÇÃO Hutcherson. M/16 Tudo se complica quando os dois pormenor, por uma espécie de jovens decidem procurar o pai secreto pudor com que trata MMnnn biológico (um Mark Ruffalo capaz de questões complexas de secretas 20 NOV (SÁB) dar réplica condigna às estrelas), um sexualidades. Tudo aparece perante EM SERRALVES Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª dador de esperma que ignora o nós como nascesse de um sonho 3ª 4ª 15h40, 18h20, 21h20 6ª 15h40, 18h20, 21h20, resultado factual da sua antiga real, sem alardes, nem 22h00 Abertura da exposição 24h Sábado 13h10, 15h40, 18h20, 21h20, 24h Domingo 13h10, 15h40, 18h20, 21h20; CinemaCity contribuição envolvendo-se com espectacularidades: na crise da “I want to live with no fear”, acção contínua de Shilpa Gupta Alegro Alfragide: Sala 8: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h45, uma das mães, uma arquitecta mudança de idade um homossexual 15h50, 17h55, 20h, 22h05, 00h15 Sábado Domingo frustrada. O resultado é menos vulgar e desinteressante deixa-se 23h00 “As Fúrias”, acção de João Sousa Cardoso 15h50, 17h55, 20h, 22h05, 00h15; Medeia Saldanha Residence: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª excitante do que pareceria à seduzir por uma jovem adolescente e com o Rancho Douro Litoral 4ª 13h10, 15h20, 17h30, 19h40, 21h50, 00h30; UCI primeira vista: cedo caímos no “déjà revela facetas até aí ignoradas. Cinemas - El Corte Inglés: Sala 11: 5ª 6ª Sábado 2ª vu”, com o casal lésbico desavindo e Pungente e irónico, o filme de NA CIDADE 3ª 4ª 14h10, 16h30, 18h50, 21h45, 00h10 Domingo Maus Hábitos 11h30, 14h10, 16h30, 18h50, 21h45, 00h10; ZON os filhos revoltados com a Guiraudie possui um cariz poético Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª intromissão do “macho” apaixonado. que perturba e revela uma espantosa 23h00 Tam (Dj) 3ª 4ª 13h50, 16h30, 19h10, 21h50, 00h20; ZON O que poderia resultar numa revisita capacidade para dirigir actores. E, 02h00 Thomas Meinecke (Dj) Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h35, 18h10, 21h25, 00h05; ZON revigorante a um género moribundo no entanto, esta delicadeza extrema Passos Manuel Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado acaba por se esgotar em “clichés”: a provoca também alguma (pequena) “… MARCHAR, MARCHAR!” Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h20, 18h, 21h10, rapariga que vai para a universidade reserva: não haverá uma certa dose 23h50; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª 23h00 Rui Maia (x-wife) (Dj) Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h45, 18h55, acompanhada pelo irmão e pelas de autocomplacência na construção 21h35, 00h10; mães; o amor “verdadeiro” que do herói e das suas aventuras? M.J.T. 02h00 Move D (Dj) Porto: Arrábida 20: Sala 9: 5ª 6ª Sábado Domingo triunfa no epílogo algo forçado; uma Plano B 2ª 14h10, 16h35, 19h, 21h30, 00h20 3ª 4ª 16h35, moralidade que conforta pelo A Rede Social “YES WE CANCAN!” 19h, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo final feliz. NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª The Social Network 00h30 Move D & Thomas Meinecke apresentam “Work” (live) 13h10, 16h, 19h, 22h, 00h40; O que fica, pois, de todo o esforço De David Fincher, 01h30 Maxime Iko e Aurélie (Collectif Cancan) (Dj) para fazer diferente? Relativamente com Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, As estrelas, as que incendeiam o pouco. Instala-se um clima de doce Justin Timberlake, Armie Hammer, ecrã, constituem uma espécie em modorra narrativa, sem que a Max Minghella, Josh Pence. M/12 21 NOV (DOM) vias de extinção. Por outro lado, a realizadora consiga ultrapassar o comédia romântica perdeu-se em previsível, numa receita bem Mnnnn EM SERRALVES caminhos repetitivos. Ora, “Os comportada e recheada de 11h30 Visita Oficial de Sua Excelência, Miúdos Estão Bem” de Lisa abundantes lugares-comuns. Salva-se Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª o Presidente da República Cholodenko, realizadora que passou a função estelar de Moore e Benning. 15h45, 21h45 Sábado Domingo 15h45, 18h30, 21h45; Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 4: 5ª 2ª 12h00 “As Fúrias”, acção de João Sousa Cardoso pela televisãotelevisão e que jjáá nos dederaera um “Os MMiúdosiúdos EstEstãoão Bem” vviveive ddelas,elas, 3ª 4ª 15h20, 18h10, 21h10 6ª 15h20, 18h10, 21h10, com o Rancho Douro Litoral curiosooso “Atracção“Atracção ddaa sua qquímicauímica 23h40 Sábado 12h50, 15h20, 18h10, 21h10, 23h40 Acidental”ental” Domingo 12h50, 15h20, 18h10, 21h10; Castello Lopes - Londres: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 16h00 “Solidariamente Convosco”, performance (2002),2), possui 19h, 21h45 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h45, Concepção gráfica da imagem: Nuno Bastos gráfica Concepção de Nicoline van Harskamp desdee logo 00h15; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 3: 5ª duas 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h30, 19h, 21h45, 00h15; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 2: Toda a informação em www.serralves.pt interessantesessantes 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h50, 18h20, 21h40, 23h50 Sábado facetas:tas: Domingo 11h35, 13h50, 18h20, 21h40, 23h50; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 1: 5ª 6ª repousausa nnoo Apoio Institucional Apoios Apoio à Divulgação Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h, 18h20, poderer 21h35, 23h50; CinemaCity Campo Pequeno Praça de comunicativounicativo Touros: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª das vvedetasedetas 16h, 18h35, 21h35, 23h50; CinemaCity Classic Alvalade: Sala 4: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, possíveis,íveis, 16h10, 18h40, 21h25 6ª Sábado 13h45, 16h10, 18h40, 21h25, 23h50; Medeia Monumental: Sala 3: 5ª 6ª Apoio - Exposição Integrada nas Comemorações Mecenas Exclusivo Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h20, Apoio nas Estadias Seguradora Parceria do Centenário da República do Museu e da Exposição 21h50, 00h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h45, 19h20, 22h, 00h10 Domingo 11h30, 14h05, 16h45, 19h20, 22h, 00h10; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 9: 5ª “Os Miúdos Estão Bem” vive destas duas estrelas Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h10, 18h40, 21h20 6ª Sábado 13h50, 16h10, 18h40, 21h20, 00h05; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo

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aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Cinema

2ª 3ª 4ª 13h35, 16h20, 19h, 21h45, 00h30; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 15h, 18h, 21h 6ª Sábado 15h, 18h, 21h, 24h; Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h20, 19h, 21h40, 00h30; ZON Com Fincher passa-se qualquer coisa Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h35, 18h15, 21h30, 00h15 Sábado Domingo 18h15, próximo de um “outing”, de uma Sexta, 19 A Vida é Bela 21h30, 00h15; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª verdadeira natureza que se expõe. La Vita è Bella Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h40, 18h30, “Seven: Sete Pecados Mortais” ou 21h20, 00h20; ZON Lusomundo Dolce Vita Tom Jones, Romântico e De Roberto Benigni Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 21h10 6ª “Clube de Combate” ajudaram a Aventureiro 22h - Sala Luís de Pina Sábado 21h10, 00h10; ZON Lusomundo Odivelas construir uma aura sombria e Tom Jones Parque: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h30 6ª claustrofóbica, mas sempre que os De Tony Richardson. Terça, 23 15h40, 18h30, 21h30, 00h15 Sábado Domingo filmes se despojam de efeitos Fincher 15h30 - Sala Félix Ribeiro 12h50, 15h40, 18h30, 21h30, 00h15; ZON Esta Terra é Minha Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado revela-se um americano tranquilo no O Enforcamento This Land Is Mine Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h40, 21h30, “A Rede Social”: uma sitcom seu convencionalismo. Recorde-se 00h20; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Koshikei De Jean Renoir Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h55, 18h40, “Zodiac”, lembre-se o paquidérmico 15h30 - Sala Félix Ribeiro 21h50, 00h30; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª “O Estranho Caso de Benjamin 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 2ª 13h55, 16h30, 19h05, 21h45, 00h25 3ª 4ª 16h30, Button” (um caso, na verdade, em que O Menino 18h40, 21h30, 00h10; Castello Lopes - C. C. 19h05, 21h45, 00h25; ZON Lusomundo Dolce Vita Shonen Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, os efeitos só realçaram o embuste), Jumbo: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h20, 21h30 6ª De Nagisa Oshima 15h40, 18h20, 21h30, 24h Sábado 13h10, 15h40, 18h40, 21h40, 00h30; ZON Lusomundo Ferrara veja-se agora “A Rede Social”. Há um 19h - Sala Félix Ribeiro 18h20, 21h30, 24h Domingo 13h10, 15h40, 18h20, Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h50, 18h30, 21h40 6ª Sábado 15h50, 18h30, 21h40, 00h20; ZON filme ao fundo (ou talvez nas 21h30; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 3: 5ª Os Fugitivos Domingo 21h40 6ª Sábado 21h40, 00h10 2ª 3ª 4ª Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo sequências do genérico), em surdina, 15h20, 18h20, 21h40; Castello Lopes - Rio Sul 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h50, 21h40, 00h30; ZON sobre a solidão de uma personagem, Les Égarés Shopping: Sala 6: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h20, Lusomundo MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª Mark Zuckerberg. Mas não é esse esta De André Téchiné 21h30, 24h Sábado Domingo 12h40, 15h40, 18h20, 13h40, 16h40, 21h10 6ª Sábado 13h40, 16h40, 21h10, 19h30 - Sala Luís de Pina 21h30, 24h; UCI Freeport: Sala 4: 5ª 2ª 3ª 4ª 00h05; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª “A Rede Social”, filme que, incapaz de 15h40, 18h25, 21h30 6ª 15h40, 18h25, 21h30, 00h15 Sábado Domingo 2ª 3ª 13h, 15h40, 19h, 21h40, estar à altura dos confrontos De Nagisa Oshima O Homem de Mármore 00h20 4ª 13h, 15h40, 19h, 00h20; ZON Lusomundo Sábado 13h25, 15h40, 18h25, 21h30, 00h15 Domingo 19h - Sala Félix Ribeiro Czlowiek Z Murmuru NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª mitológicos que esboça, está sempre a 13h25, 15h40, 18h25, 21h30; ZON Lusomundo De Andrzej Wajda Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h30, 18h20, 21h10, 24h; ZON Lusomundo deslizar para a superfície da televisão Longe 21h30 - Sala Félix Ribeiro 12h45, 15h30, 18h20, 21h10, 24h; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª - com os diálogos em hora de ponta a 12h40, 15h20, 18h40, 21h40, 00h25; Castello Lopes - Loin Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª fazerem estilo: “olhem como somos De André Téchiné A Loja da Esquina 13h, 15h40, 18h25, 21h15, 00h05; 8ª Avenida: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 16h, 18h40, 21h10 6ª 16h, 18h40, 21h10, 24h Sábado 13h10, 16h, 18h40, do nosso tempo a falar”; como uma 19h30 - Sala Luís de Pina The Shop Around Porto: Arrábida 20: Sala 13: 5ª 6ª Sábado Domingo 21h10, 24h Domingo 13h10, 16h, 18h40, 21h10; ZON “sitcom”. V.C. the Corner Les Témoins De Ernst Lubitsch De André Téchiné 22h - Sala Luís de Pina 21h30 - Sala Félix Ribeiro A Luz Quarta, 24 SEMINÁRIO Yellen De Souleymane Cissé Hamlet De Laurence Olivier 22h - Sala Luís de Pina COMO PROMOVER A MOBILIDADE 15h30 - Sala Félix Ribeiro Sábado, 20 Um Verão em Okinawa E A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS Natsu Ma Imooto AGENTES CULTURAIS? A Voz do Amor De Nagisa Oshima I Dream Too Much 19h - Sala Félix Ribeiro De John Cromwel 15h30 - Sala Félix Ribeiro Os Tempos que Mudam 23 NOVEMBRO Les Temps qui Changent / CENTRO CULTURAL DE BELÉM Duas Horas na Vida de Uma De André Téchiné Mulher 19h30 - Sala Luís de Pina Cléo de 5 à 7 10H00 ABERTURA 14H30 PAINEL 2 De Agnès Varda O Homem de Ferro Czlowiek Z Zelaza Testemunhos 19h - Sala Félix Ribeiro GABRIELA CANAVILHAS De Andrzej Wajda Ministra da Cultura A Grande Parada 21h30 - Sala Félix Ribeiro KALAF ANGELO The Big Parade JOANA GOMES CARDOSO Músico e Vocalista do grupo Buraka Som Sistema De King Vidor Comboios Rigorosamente Vigiados Directora-Geral GPEARI 19h30 - Sala Luís de Pina VERA MANTERO Bailarina e Coreógrafa Ostre Sledované Vlaky Frenzy - Perigo na Noite De Jiri Menzel ANTÓNIO PINTO RIBEIRO JOÃO BRITES Frenzy 22h - Sala Luís de Pina Programador Cultural, perito nacional do grupo de Director do grupo de Teatro O Bando De Alfred Hitchcock trabalho da Comissão Europeia sobre Mobilidade dos 21h30 - Sala Félix Ribeiro Quinta, 25 PAINEL 3 artistas e outros profissionais da cultura 15H30 Moisés e Aarão Mediadores de Mobilidade e de Hospitalidade Os Homens Não Moses und Aron São Deuses Pausa / Café De Danièle Huillet Men Are Not Gods ALEXANDRA PINHO 22h - Sala Luís de Pina De Walter Reisch 11H00 PAINEL 1 Directora de Serviços de Promoção e Divulgação 15h30 - Sala Félix Ribeiro Quais os Obstáculos à Mobilidade? Cultural Externa do Instituto Camões Segunda, 22 Sem Fim FABIEN JANNELLE Bez Konca RICHARD POLÁČEK Director do ONDA O Que Viram os Meus Olhos The Window De Krzysztof Kieslowski Autor do estudo Impediments to Mobility and Possible ANNIKA SÖDERLUND De Ted Tetzlaff 19h (Em complemento, a curta: O Teste do Solutions Microfone, de Marcel Lozinski) - Sala Félix Ribeiro Representante do Nordic-Baltic Mobility Programme 15h30 - Sala Félix Ribeiro for Culture RUI GOMES Diário de um Ladrão Três Menos Eu Sociólogo Associado do Observatório das Actividades CRISTINA FARINHA Shinjuku Dorobu Nikki De João Canijo 19h30 - Sala Luís de Pina Culturais Coordenadora de Informação do On-the-Move.org De Nagisa Oshima 19h - Sala Félix Ribeiro YEB WIERSMA O Império dos Sentidos Representante da Trans Artists Ai no Corrida 17H00 ENCERRAMENTO Les Témoins De André Téchiné De Nagisa Oshima DEBATE 21h30 - Sala Félix Ribeiro 19h30 - Sala Luís de Pina CATARINA VAZ PINTO Esperança e Glória Almoço Livre Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa Os Tempos que Mudam Les Temps qui Changent Hope and Glory De André Téchiné De John Boorman 22h - Sala Luís de Pina 21h30 - Sala Félix Ribeiro

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Cinema Quando o entrevistámos por telefone desavindos acabam reunidos por um dos filmes mais amados e há algumas semanas, André Téchiné doença da mãe. É uma demonstração populares de Téchiné, é também o surpreendeu-nos com o olhar perfeita do modo simultaneamente único destes quatro que é uma Os tempos permanentemente “em frente”, pela cruel e sensível como Téchiné disseca encomenda assumida (filmado para sua relutância em olhar para trás e a família ao longo de toda a sua obra, uma temporada de telefilmes do ter um ponto de vista sobre a sua capturando com uma elegância canal ARTE sobre a adolescência), que mudam carreira. Nessa conversa, o realizador atenta as correntes subterrâneas de mas quem não o soubesse não daria francês explicou que a sua grande tensão e amor, atracção e repulsão certamente por esse estatuto – Quatro fi lmes para ambição sempre foi ser um realizador entre as pessoas. Isso é igualmente porque não destoa de uma

DVD de encomenda, mero tarefeiro visível, numa outra dimensão, em filmografia inquieta, atenta, em reencontrar o cinema de encarregue de realizar o que os “Não Dou Beijos” (1991), sobre a constante movimento, sobre os André Téchiné, um dos outros lhe pediam, mas também que aprendizagem da vida e do amor por tempos que mudam e as pessoas que nomes-chave do moderno todos os seus filmes foram sempre um jovem da província que, para mudam com eles. cinema francês quase contra feitos em reacção a e por contraste sobreviver em Paris, acaba por ter de Transcrições e legendagens boas, com o anterior. vender o corpo. É um filme edições sem extras de espécie a sua própria vontade. Jorge A ironia, no entanto, é que tanto a emblemático do método Téchiné, nenhuma, o que aliás não surpreende Mourinha retrospectiva que lhe foi dedicada porque o que interessa ao cineasta vindo de um cineasta que não gosta pela Festa do Cinema Francês e pela nunca é forçosamente o passado ou o de olhar para trás. De salientar que a O Segredo do Cinemateca Portuguesa (e que futuro, mas sim captar as suas retrospectiva Téchiné continua na Amor prossegue até ao próximo dia 23) personagens num estado de fluxo, de Cinemateca até ao final do mês e Hôtel des como esta edição em DVD de quatro trânsito, de transição. haverá a oportunidade de ver em Amériques dos seus títulos emblemáticos Como na tomada de consciência de estreia nacional os dois últimos De André Téchiné, desenham de modo evidente uma “Os Juncos Silvestres” (1994), história filmes do realizador, que por razões com Catherine mesma filiação do cinema de de quatro colegas de um liceu de inexplicáveis não chegaram nem às Deneuve, Patrick Téchiné, um percurso pessoal e província que, em plena Guerra da salas nem ao DVD portugueses, “Les Dewaere, Étienne intransmissível, um caminho – para Argélia e no tempo de um ano Témoins” (2006), com Emmanuelle Chicot usar a palavra de que o próprio não escolar, abrem uma espécie de trégua Béart e Michel Blanc, e “La Fille du mmmmmn gosta nada – de autor. que lhes permite crescer e aprender RER” (2009), com Catherine Téchiné filma sempre gente em outros modos de olhar o mundo. É Deneuve e Émilie Dequenne. Não Dou Beijos crise, confrontada com problemas J’Embrasse Pas que, mais do que puramente De André Téchiné, existenciais, afectam o modo como com Philippe vivem, pensam, são. Fá-lo em retratos Noiret, de grupo que demonstram como Emmanuelle ninguém vive em isolamento e que Béart, Manuel quase sempre recusam atar pontas Blanc soltas: filmes “em aberto”, mais próximos da vida real e do modo mmmmn como as coisas acontecem sem fronteiras certinhas do que da lógica A Minha Estação fechada e perfeitinha da narrativa Preferida clássica. Mesmo que, em todos eles, Ma Saison haja uma respiração muito específica Préférée herdada do cinema clássico De André Téchiné, (americano ou francês), do com Catherine melodrama romântico de “O Segredo Deneuve, Daniel do Amor” (o mais antigo dos quatro Auteuil, Marthe filmes) às histórias de entrada na Villalonga idade adulta de “Não Dou Beijos” e mmmmn “Os Juncos Silvestres”. É difícil, se não mesmo impossível, Os Juncos escolher um destes quatro, tal é a Silvestre fasquia a que quase todos eles se Les Roseaux elevam sem esforço. “O Segredo do Sauvages Amor” (1981), primeiro de seis De André Téchiné, encontros de Téchiné com aquela com Élodie ququee se tornariator na sua diva de BBouchez,ouchez, GaëGaëll eeleição,leição, CatherineCa Deneuve, é um MMorel,orel, StéStéphanephane ffilmeilme aindaaind tacteante na carreira do RideauRideau realizadorealizador,r fascinante no modo como invoca mmemóriase e convenções do Catherine mmmmn ccinemainema clássicoclá para as trabalhar Deneuve SemSem extras dentro dede um quadro moderno, é uma fi gura MidasMidas FilmFilmeses quase anti-naturalista,anti e como joga central na ccomom a imimagema de marca da actriz fi lmografi a para reverevelarl a vida imparável por trás de André ddestaesta mulhermul distante e glacial à Téchiné desde procura ddo equilíbrio que lhe permita “O Segredo reencontreencontrarr o amor. Já nos do Amor”, dedeparamosparamo aqui com a desenvoltura de 1981 nana direcçãodirec de actores que Téchiné elelevaráev a uma arte do mosaico a partir deste filme. Por exemplo, no “jeu de

JAN BAUER/ AP BAUER/ JAN massacre”m familiar de “A MinhaM Estação Preferida” (1993),( terceiro filme com Deneuve,D onde dois irmãos

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