O Corpo-Templo De Jacobina O Que Nos Ensina Sobre a Histeria?
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VERA MARIZA STOCCO O CORPO-TEMPLO DE JACOBINA O QUE NOS ENSINA SOBRE A HISTERIA? Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida como pré-requisito para obtenção do título de mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade. Área de concentração: Psicanálise e Sociedade. Linha de pesquisa: Psicanálise e Arte. ORIENTADORA: PROFa. DRa. SONIA XAVIER DE ALMEIDA BORGES RIO DE JANEIRO 2019 UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO STRICTO SENSU Rua Ibituruna, 108 – Maracanã 20271-020 – Rio de Janeiro – RJ Tel.: (21) 2574-8834 e 2574-8871 FICHA CATALOGRÁFICA S864 Stocco, Vera Mariza. O Corpo-templo de jacobina – o que nos ensina sobre a histeria? / por Vera Mariza Stocco. – 2019. 95 f.: il. color.; 30 cm. Orientação: Profª. Drª. Sonia Xavier de Almeida Borges. Dissertação (Mestrado) – Universidade Veiga de Almeida. Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade, Rio de Janeiro, 2019. 1. Psicanálise. 2. Maurer, Jacobina Mentz, 1841 ou 2- 1874. 3. Histeria. 4. Discurso. I. Borges, Sonia Xavier de Almeida (Orientador). II. Universidade Veiga de Almeida. Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade. III. Título. CDD – 616.8917 Decs Elaborado por Flávia Fidelis Calmon – CRB-7/5309 FOLHA DE APROVAÇÃO VERA MARIZA STOCCO O CORPO-TEMPLO DE JACOBINA O QUE NOS ENSINA SOBRE A HISTERIA? Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida como pré-requisito para obtenção do título de mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade. Área de concentração: Psicanálise e Sociedade. Linha de pesquisa: Psicanálise e Arte. Aprovada em 4 de outubro de 2019. __________________________________________ Prof.a Dr.a Sonia Borges (Presidente da banca) Universidade Veiga de Almeida __________________________________________ Prof.a Dr.a Gloria Sadala Universidade Veiga de Almeida __________________________________________ Prof.a Dr.a Elisabeth da Rocha Miranda Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Dedico este trabalho ao José Eduardo, cujo companheirismo foi essencial desde a primeira leitura, passando pela primeira palavra escrita, pelo primeiro capítulo até chegar ao ponto final. Sorte a minha de poder contar com tamanha dedicação e carinho, suportando, dividindo e aliviando as minhas urgências. Obrigada. AGRADECIMENTOS Todo final aponta para um misto de sensações e sentimentos, como alivio e pesar, mas é tempo de concluir e de revisitar o que aconteceu ao longo de dois anos mencionando os que participaram dessa empreitada. Por tudo isso, agradeço: À minha orientadora, Sonia Borges, por ter aceitado caminhar comigo pelos “caminhos de Jacobina”, sempre generosa, trazendo confiança e rigor teórico, sempre com valiosas contribuições em todos os momentos dessa escrita. Aos membros da banca de defesa, Gloria Sadala e Elisabeth da Rocha Miranda, pela disponibilidade e generosidade ao ler minha pesquisa e pelas valiosas contribuições em minha banca de qualificação. A todos os professores do Programa de Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida, pela excelência da qualidade de ensino oferecido e pelo compromisso com a transmissão do saber. Às minhas irmãs, Jussara Maria Glaser e Marie Traude Schneider, pela contribuição com a pesquisa histórica, com os diálogos e rememorações sobre fatos relevantes, e pela incansável e constante oferta de sugestões de fontes de consulta. Aos meus filhos, Vanessa, Sabrina e Eduardo pelo carinho ao me incentivarem a perseverar reafirmando que sempre é tempo para aprender, para aumentar os conhecimentos e para realizar projetos. Vocês são minha melhor produção, meu texto encarnado. À minha sobrinha Cristine, que me apresentou o senhor Arti Hugenthobler, que, com seu entusiasmo, dividiu generosamente seu conhecimento sobre os Mucker e Jacobina, presenteando-me com livros e artigos e, também, à sua filha Luciana, pela colaboração e gentileza. Aos queridos colegas do mestrado, representados por Andreia Camargo, pelas trocas e parceria durante o tempo de angústias e dúvidas próprias à produção de um trabalho acadêmico. Ao Mauricio Loures, pelo interesse genuíno por Jacobina e sua história, e pela revisão criteriosa e eficiente do trabalho. Aos meus amigos que receberam várias recusas de encontros sociais por entender a importância dessa jornada, em especial, à Vanisa Santos, parceira de estudos e amiga de todas as horas, minha sincera gratidão. Ao professor Martin Dreher, autor do livro A Religião de Jacobina, que me recebeu em sua casa dialogando e enriquecendo esta dissertação. Aos meus netos, continuidade da vida e fonte de inspiração. À minha netinha Maria Eduarda que, tão pequenina, compreendeu o valor dessa jornada para a vovó, que me pedia para deixar uma cartinha nos dias do mestrado e que fez de Jacobina uma personagem presente em nossos diálogos. Ao João Vicente, que chegou no meio do caminho, e ao Arthur, que nascerá tendo ouvido inúmeras vezes a palavra “mestrado”. Vocês representam a renovação e a crença do valor da vida. “Lá onde a ave busca o ninho Onde a ponte cresce em rio, desce o morro se faz caminho. De água clara sem desvio Viveu e morreu, Jacobina Jacobina, Jacobina, Jacobina Fere a terra com o arado Joga o grão, planta o não, se faz a vida Ergue a mão para dar ao céu a preferida, Jacobina. Jacobina, Jacobina, Jacobina É preciso calar esta voz Não ouvir mais seu canto saindo do chão Cortar se preciso sua palavra a facão Esmagar para sempre sua bravura feroz. Tiros, balas, baionetas, foices, pás, fumaça preta. Verdades mortas rolando na terra Vão separando os destroços de guerra.” (“Jacobina”, Grupo Caverá) RESUMO Este trabalho tem por objetivo produzir um estudo sobre Jacobina Mentz Maurer, considerada líder política e religiosa de uma seita no interior do Rio Grande do Sul. Os Mucker, grupo étnico muito definido de filhos de imigrantes alemães ao qual Jacobina pertencia, sofreu perseguição, tendo se envolvido no trágico episódio conhecido como “A Revolta dos Mucker”, acontecido entre os anos de 1873 e 1874. As ideias de Sigmund Freud e de Jacques Lacan sobre religião, psicologia das massas e histeria, articuladas com relatos orais, livros e filmes que nos aproximam da história de Jacobina e dos Mucker, uma história marcada por exaltações e discursos religiosos que permitem uma apreensão, tanto das características deste grupo quanto dessa mulher, que causa tanta curiosidade nos campos da literatura e da ciências sociais, e que ainda é pouco estudada pelo viés da psicanálise. Seria Jacobina louca, santa ou bruxa, como a denominaram, ou poderíamos, a partir dos fundamentos da psicanálise, pensar nela como uma histérica? Partindo dessa aposta, buscamos situar Jacobina dentro da teoria psicanalítica sobre a histeria, mas sem a pretensão de transformar esse trabalho em um estudo de caso, pois Jacobina não passou pela experiência do divã e, por conseguinte, pelo dispositivo da transferência analítica. Palavras-chave: Jacobina; discurso religioso; histeria; psicanálise. ABSTRACT The objective of this work is to produce a study related to Jacobina Mentz Maurer who was considerated to be the leader of a religious sect in the interior of Rio Grande do Sul. The Muckers is the designation given to a very defined ethnic group of descendentes of German immigrants to which Jacobina belonged. They suffered a strong persecution being engaged in the tragic episode known as "The Mucker Uprising," which took place between 1873 and 1874. The ideas of Sigmund Freud and Jacques Lacan about religion, mass psychology, and hysteria, articulated with oral reports, romances and films, approches us to the history of Jacobina and the Muckers, a history marked by exaltations and religious speeches which allows us to aprehend the characteristics of this group as well as the characteristics of this woman who rises great curiosity in the fields of the literary productions and of the social sciences. Nevertheless, she is shortly studied by the psychoanalysis. Could Jacobina be considerated to be a mad woman, or a saint, or a witch, as designated by her opponents? Otherwise, could we, based on the studies of psychoaalyses think of her as a hysterical? Betting on this possibility, we will aproach Jacobina to the psychoanalytic theory of hysteria not intending to turn this work into a study case, since Jacobina did not go through the couch experienced or the device of analytical transference. Keywords: Jacobina; religious discourses; hysteria; psychoanalysis. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Jacobina Mentz Maurer 18 Figura 2: Jacobina e João Jorge 22 Figura 3: Cena do filme Os Mucker (1978) 27 Figura 4: Esquema de “Psicologia das massas e análise do eu” 33 Figura 5: O discurso da histeria 87 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 11 1. JACOBINA MENTZ MAURER 16 1.1 A HISTÓRIA SINGULAR DE JACOBINA 16 1.2 MULHER E LÍDER DE UM MOVIMENTO INACEITÁVEL 31 2. CONTEXTUALIZACÃO 36 2.1 ALGUNS FATOS SOBRE A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO BRASIL 36 2.2 OS MUCKER: SANTARRÕES, FANÁTICOS RELIGIOSOS 39 2.3 ANABATISTAS E PIETISTAS 43 2.4 O DISCURSO MÁGICO/RELIGIOSO 47 3 HISTERIA: ESTRUTURA E FENOMENOLOGIA 56 3.1 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A HISTERIA 57 3.2 A HISTERIA DESDE FREUD E BREUER 65 3.3 O CASO ANNA O. 68 3.4 JACOBINA, O CRISTO MULHER E MADELEINE, O BODE 74 4. O QUE JACOBINA NOS ENSINA SOBRE A HISTERIA? 80 CONSIDERAÇÕES FINAIS 89 REFERÊNCIAS 91 INTRODUCÃO Esta dissertação é um estudo sobre Jacobina Mentz Maurer, uma descendente de imigrantes alemães que foi considerada responsável pela criação de uma seita messiânica. Considerada líder política e religiosa de um grupo de colonos, um grupo étnico muito definido de filhos de imigrantes alemães que, entre os anos de 1873 e 1874, se estabeleceu em Sapiranga. Por isso mesmo, Jacobina sofreu perseguição tendo se envolvido no trágico episódio conhecido historicamente como “A Revolta dos Mucker. A sua atuação como líder, junto àquela comunidade de pessoas simples e sem educação formal foi frequentemente atravessada por fenômenos que podem ser tomados como manifestações somáticas e/ou psíquicas, e que foram consideradas por seus seguidores como sinais divinos levando-os a consagrá-la como sua líder, enquanto seus detratores a interpretavam como louca e/ou bruxa.