Rio de Janeiro, 10-11 de agosto de 2015

LIVRO DE RESUMOS I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica

PPBio MA - Programa de Pesquisa em Biodiversidade, Rede Mata Atlântica

Coordenação Geral: Dra. Helena de Godoy Bergallo (UERJ)

Coordenadores de Núcleo: Núcleo Nordeste Dr. André M. Amorim (UESC) Dra. Ana Carolina B. Lins e Silva (UFRPE)

Núcleo Sudeste Dra. Cláudia Franca Barros (JBRJ)

Núcleo Sul Dra. Márcia C. M. Marques (UFPR) Dr. Selvino Neckel de Oliveira (UFSC)

I Simpósio da Rede PPBio MA

Comissão Organizadora

Coordenação Geral: Dra. Helena de Godoy Bergallo (UERJ)

Comissão Científica: Dr. Bruno H. P. Rosado (UERJ) Dr. Carlos Frederico D. Rocha (UERJ) Dra. Claudia de Franca Barros (JBRJ) Dra. Helena de Godoy Bergallo (UERJ)

Comissão Assessora: MSc. Átilla Ferreguetti (UERJ) MSc. Maria Carlota Enrici (UERJ) MSc. Paula M. Ferreira (UERJ) MSc. Verônica Parente (UERJ) Dra. Luciana M. Costa (UERJ) Dra. Tahysa Macedo (JBRJ) Ana Carolina Lacerda (UERJ) Ana Carolina Vieira (FFP/UERJ) Chaenny Silva (UERJ) Emerson Nascimento (UERJ) Fabiana Cassar (UERJ) Gleika Marques (UERJ) Lilith Lima (UERJ) Stênnio Faria (UEZO)

Apresentação

O I Simpósio da Rede PPBio MA contou com a participação de 112 pesquisadores de 17 instituições e uma OCIP, a saber: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (SC), Instituto Estadual do Ambiente (RJ), Instituto Nacional da Mata Atlântica (ES), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (AM), Instituto de Pesquisas Jardim Botânico (RJ), Museu de Ciências Naturais de Madrid (Espanha), Universidade Estadual do Norte Fluminense (RJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (RJ), Universidade Estadual de Santa Cruz (BA), Universidade Estadual da Zona Oeste (RJ), Universidade Federal do Espírito Santo (ES), Universidade Federal do Paraná (PR), Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ), Universidade Federal Rural de Pernambuco (PE), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (RJ), Universidade Federal de Santa Catarina (SC), Universidade da Região de Joinville (SC), e Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (RJ). O livro de resumos que segue é o resultado de ações dos três primeiros anos (2012-2015) do Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Rede Mata Atlântica (PPBio MA). Durante o período houve um grande esforço em padronizar os protocolos de coleta e a metodologia RAPELD nos diferentes sítios de amostragem, de forma a permitir futuras integrações. Os resumos mostram os diversos estudos que estão sendo desenvolvidos nos diferentes Núcleos Regionais. Os 81 resumos que seguem estão separados nas seguintes áreas do conhecimento: 1) Biologia das espécies, 2) Estudos com populações, 3) Interações ecológicas, 4) Metodologia e Protocolos, 5) Monitoramento e Inventários, 6) Estrutura de assembleias, 7) Funcionamento de ecossistemas, 8) Impacto e Gestão, e 9) Guias e Coleções. Agradeço aos coordenadores e pesquisadores dos núcleos da Rede PPBio MA pela ampla participação no Simpósio; a Dra. Claudia Barros, ao Dr. Carlos Frederico Rocha e ao Dr. Bruno Rosado pela valiosa ajuda na organização científica do simpósio; aos bolsistas do PPBio MA e aos alunos da Comissão Organizadora que não mediram esforços e foram incansáveis na organização do evento; e ao Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico do Rio de Janeiro pelo apoio e cessão do espaço do Solar da Imperatriz para realização do Simpósio. Agradeço ao CNPq e à FAPERJ pelo financiamento das atividades na Rede PPBio MA.

Dra. Helena de Godoy Bergallo Coordenadora da Rede PPBio MA

I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 PLASTICIDADE MORFOLÓGICA DE CALOPHYLLUM BRASILIENSE CAMB. (CALOPHYLLACEAE) EM DUAS FORMAÇÕES DE RESTINGA NO SUL DO BRASIL Barbra Aliane Bächtold¹, João Carlos Ferreira de Melo Júnior ¹,* ¹ Universidade da Região de Joinville – Univille, Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal, Joinville, SC. * [email protected]

Introdução médio de área foliar específica foi superior em Ft. Para os atributos de caule, os valores de comprimento e diâmetro Fatores ambientais podem promover variações nas de vaso foram superiores em Raa, enquanto a frequência características funcionais e estruturais dos organismos a de vasos foi superior em Ft. De acordo com os valores 1 eles expostos . Esta capacidade de variação da fisiologia obtidos para o índice de mesomorfia, a espécie é e/ou morfologia que um organismo possui em resposta às xeromorfa em ambas as formações, o que se coaduna à 2 condições ambientais é conhecida como plasticidade . indicação de esclerofilia em função dos baixos valores de Em ambientes heterogêneos as espécies apresentam área específica foliar observados. Os índices de grande potencial plástico em suas características vulnerabilidade e condutividade foram superiores em 3 fisiológicas e/ou morfológicas . O presente trabalho visa Raa. O IPF apresentou valores baixos para a maior parte avaliar o potencial plástico de Calophyllum brasiliense dos atributos, com exceção à massa seca foliar e à área Cambess. (Calophyllaceae), popularmente conhecido foliar que apresentam valores medianos. como Olandi, em duas formações da Restinga do Parque Estadual Acaraí, localizado no município de São Discussão Francisco do Sul/SC (48º 33’ W e 26º 17’ S). O estudo sobre a plasticidade de Calophyllum brasiliense Metodologia na restinga do Acaraí revela o baixo potencial plástico de suas populações. Mesmo assim, considerando a A área de estudo compreende um remanescente de microescala espacial na qual tais populações se restinga localizado na planície costeira do município de desenvolvem, é possível inferir que os tênues ajustes São Francisco do Sul, Santa Catarina e pertencente ao estruturais observados possibilitam à espécie lidar com Parque Estadual Acaraí (48º 33’ W e 26º 17’ S). Trata-se as diferentes condições ambientais, tanto espacial quanto de uma Unidade de Conservação de proteção Integral temporalmente, produzindo ajustes em caracteres ligados criada pelo Decreto Estadual Nº 3.517 em 2005, com à sobrevivência. uma área de aproximadamente 6.667 ha4. Atualmente agrega o módulo PELD do Programa de Pesquisas em Agradecimentos Biodiversidade da Mata Atlântica (PPBio-MA), sendo as Ao Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal pelo coletas realizadas em parcelas extras do módulo O . desenvolvimento do trabalho. Este trabalho teve apoio material coletado foi incorporado ao Laboratório de financeiro da Universidade da Região de Joinville- Univille Anatomia e Ecologia Vegetal da Univille. Foram por meio do processo n. 6055 do coautor. Ao Programa realizadas coletas de folha e caule de 10 indivíduos de C. de Pesquisas em Biodiversidade – bioma Mata Atlântica – brasiliense, além de amostras de solo das formações de Núcleo Sul/SC. À equipe gestora do Parque Estadual ocorrência da planta. Foi utilizado teste t para a Acaraí. comparação de médias dos atributos e o índice de plasticidade fenotípica (IPF)² para se conhecer o Referências Bibliográficas potencial plástico desta espécie. [1] Grime, J.P.; Mackey, J.M.L. The role of plasticity in resource Resultados capture by plants. Evolutionary Ecology 2002; 16(3): 299- 307. [2] Valladares et al. Quantitative estimation of phenotypic Os valores nutricionais e de fertilidade do solo mostraram plasticity: bridging the gap between the evolutionary diferenças entre as duas formações. Na floresta de concept and its ecological applications. Journal of Ecology – transição (Ft) os valores de matéria orgânica, serapilheira ,2006;94, 1103 1116. [3] Cardoso, G.L. & Lomônaco, C. Variações fenotípicas e e umidade gravimétrica foram superiores, bem como os potencial plástico de Eugenia calycina Camb. (Myrtaceae) valores de cátions fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca) e em uma área de transição cerrado-vereda. Revista magnésio (Mg) e, consequentemente, o valor para Brasileira de Botânica, 2003; 26: 131-140. capacidade de troca catiônica (CTC) foi igualmente [4] FATMA - Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina. Núcleo de Unidades de Conservação. 2014. Acesso em 10 superior. Para a formação de restinga arbustivo-arbórea de Junho. Disponível em http://www.fatma.sc.gov.br. (Raa) foram registradas valores de potencial hidrogeniônico e saturação de bases superior à Ft. Para os atributos foliares obtiveram-se valores médios para área foliar, massa seca, comprimento, largura e espessura foliar superiores em Raa, enquanto o valor

1 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ESTUDO TAXONÔMICO DO COMPLEXO FOMITIPORIA APIAHYNA (SPEG.) ROBLEDO, DECOCK & RAJCHENB. (HYMENOCHAETACEAE, BASIDIOMYCOTA), A PARTIR DE ESPÉCIMES DA MATA ATLÂNTICA DE SANTA CATARINA, BRASIL

Genivaldo Alves-Silva*1, Mateus Arduvino Reck1, Elisandro Ricardo Drechsler-Santos1 1 Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Botânica, Campus Universitário, Trindade, CEP: 88040- 900, Florianópolis, SC, Brasil; *[email protected] Introdução Discussão

O gênero Fomitiporia Murrill foi, por décadas, considerado Embora seja difícil a caracterização morfológica destas sinônimo de Phellinus Quél., (1) porém, atualmente, espécies, pois as diferenças macro e micro são sutis, as constatou-se que este é polifilético, sendo subdividido em evidências ecológicas (distribuição e hospedeiros), bem vários gêneros menores. Fomitiporia foi então resgatado como os resultados de biologia molecular, corroboram os e redefino por possuir espécies com basidiósporos grupos, bem como demonstram que o complexo F. dextrinoides, proposta corroborada por filogenias apiahyna ainda possui espécies por serem descritas. moleculares (2, 3, 4). F. apiahyna é caracterizada morfologicamente por: basidioma pileado, perene e Agradecimentos densamente sulcado, poros circulares (7-9 por mm), À Capes pela concessão da bolsa ao primeiro autor; ao sistema hifal dimítico, basidiósporos subglobosos, CNPq pela bolsa ao segundo autor e parte do hialinos, de parede engrossada (5,0-6,0 x 4,5-5,0 µm) e financiamento da pesquisa através do Programa de setas ausentes (5). O táxon tem sido registrado desde a Pesquisa em Biodiversidade do Bioma Mata Atlântica Flórida (EUA) à Argentina (6), mas estudos recentes vêm (PPBio Mata Atlântica – Brasil). mostrando o táxon como um complexo de distintas linhagens filogenéticas e geográficas, que Referências Bibliográficas corresponderiam a espécies crípticas (7, 8). [1] Ryvarden, L. 1991. Genera of Polypores. Nomenclature and . Synopsis Fungorum 5.Oslo: FungiFlora. 363 p. Metodologia [2] Fisher, M. 1996. On the complexes within Phellinus: Fomitiporia revisited. Mycological Research 100(12): 1459- Análises morfológicas detalhadas de materiais tipo (NY, 1467. BPI) e de referência da região Neotropical e [3] Wagner, T. Fisher, M. 2001. Natural groups and a revised system for the European poroid Hymenochaetales principalmente de coletas da Mata Atlântica (SC e SP) (Basidiomycota) supported by nLSU rDNA sequence data. foram realizadas Também foram realizadas análises Mycological Research 105(7): 773-782. moleculares (ITS, LSU, rpb2 e tef1-α) da maioria dos [4] Wagner, T., Fisher, M. 2002. Proceedings towards a natural classification of the worldwide taxa Phellinus s.l. and espécimes estudados. Inonotus s.l., and phylogenetic relationships of allied genera. Mycologia, 94(6): 998-1016. Resultados [5] Ryvarden, L. 2004. Neotropical polypores Part 1. Synopsis Fungorum 19. Fungiflora. Os espécimes coletados foram divididos em cinco [6] Amalfi, M. Yombiyeni, P. Decock, C. 2010. Fomitiporia in sub- morfogrupos; dois deles destacam-se por terem sido Saharan Africa: morphology and multigene phylogenetic Drimys angustifolia analysis support three new species from the Guineo- coletados em hospedeiros vivos, Congolian rainforest. Mycologia 102(6): 1303-1317. Miers (1500-1700 m altitude), no Parque Nacional São [7] Amalfi, M. Decock, C. 2013. Fomitiporia castilloi sp. nov. and Joaquim/SC (PPBio) e Parapiptadenea rigida (Benth.) multiple clades around F. apiahyna and F. texana in Meso- and South America evidenced by multiloci phylogenetic Brenan, no Parque Estadual Fritz Plaumann/SC. A partir inferences. Mycologia 105(4): 000-000. de uma expedição em Apiaí/SP (PE’s), localidade do tipo [8] Amalfi, M. Robledo, G. Decock, C. 2014. Fomitiporia de F. apiahyna, foi possível encontrar um espécime de baccharidis comb. nov., a little known species from high Fomitiporia elevation Andean forests and its affinities within the , mas com basidioma pseudostipitado, Fomitiporia Neotropical lineages. Mycological Progress. diferentemente da atual circunscrição do táxon. Além destes três grupos, há materiais proximamente relacionados à morfologia do material tipo, assim como espécimes cuja morfologia se aproxima a de Phellinus elegans J.E. Wright & Blumenf., considerado sinônimo de F. apiahyna. A partir da análise do material tipo de Ph. elegans, bem como dos espécimes relacionados, foi possível observar que, diferentemente dos outros grupos, este apresenta espécimes com contexto não tão espesso e superfície abhimenial lisa.

2 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

PLASTICIDADE MORFOLÓGICA DE ILEX THEEZANS MART. EX REISSEK (AQUIFOLIACEAE) EM DUAS DO MÓDULO PELD - ACARAÍ Izabel da Silva Liberato1,*, João Carlos Ferreira de Melo Júnior1 1 Universidade da Região de Joinville – Univille, Departamento de Ciências Biológicas, Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal, Joinvillle, SC *[email protected] Introdução Resultados preliminares

O conjunto de ecossistemas da Mata Atlântica apresenta- Os valores nutricionais e de fertilidade do solo mostraram se como um dos mais ricos em termos de diversidade diferenças significativas entre as duas formações. Os biológica do planeta. Distribuído ao longo de um valores de matéria orgânica, serapilheira e umidade expressivo gradiente latitudinal, com grandes variações gravimétrica foram superiores em Ft, bem como os de altitude, esse domínio é composto por várias valores de P, K, Ca e Mg. A capacidade de troca fitofisionomias influenciadas por diferentes condições catiônica foi, consequentemente, superior em Ft. Valores físico-climáticas. Desta heterogeneidade ambiental, de área foliar, comprimento, espessura, largura e massa resulta sua abundante diversidade florística e faunística¹. seca apresentaram diferenças significativas entre os dois A Restinga, ambiente litorâneo sob domínio da Mata ambientes, sendo superiores em Ft. Atlântica, é um ecossistema costeiro, composto por um conjunto diversificado de comunidades biológicas, Discussão distintas florística e fisionomicamente, comuns em solos Os resultados preliminares indicam uma condição arenosos pouco desenvolvidos, formando complexos oligotrófica do solo em Raa quando comparado ao solo vegetacionais pioneiros². Um ambiente que apresente com maior disponibilidade de recursos minerais em Ft, o grande variação de condições de luz, disponibilidade de que torna essa última formação mais favorável ao nutrientes e de água no solo, como a restinga, é um bom desenvolvimento das plantas nela instaladas. A modelo para estudo da plasticidade morfológica, já que população de I. theezans em Ft parece estar investindo várias espécies vegetais ocorrem ao longo de uma mais crescimento dada a maior oferta de recursos grande parcela de todo o ecossistema. O presente estudo nutricionais e água. A avaliação dos demais atributos tem como objetivo avaliar as respostas plásticas de Ilex biológicos está em curso. Em função da heterogeneidade theezans (Aquifoliaceae) sob diferentes condições ambiental observada entre as formações estudadas edáficas e hídricas em duas formações de restinga. espera-se que a espécie I. theezans apresente potencial Metodologia plástico expressivo para os atributos avaliados.

A área de estudo compreende duas parcelas extras do Referências Bibliográficas módulo PELD localizadas na restinga do Parque Estadual [1]Leal G.C. & Câmara I.G. Mata Atlântica: biodiversidade, Acaraí, São Francisco do Sul, SC. Foram delimitadas ameaças e perspectivas. SP: Fundação SOS Mata como pontos de coleta dos espécimes as formações de Atlântica – BH: Conservação Internacional, 2005. [1] Lughadha, E.N. & Snow, N. 2000. Biology and Restinga Arbustivo-Arbórea (Raa) e Floresta de Transição Evolution of the Myrtaceae: A Symposium. Kew (Ft). Em cada formação foram selecionados cinco Bulletin 55: indivíduos adultos em fenofase vegetativa, e destes, [2]Falkenberg D.B. 1999. Aspectos da flora e da coletadas amostras de madeira do caule a altura do peito vegetação secundária da restinga de Santa Catarina, e 25 folhas expandidas dispostas no terceiro e quarto nós sul do Brasil. Florianópolis: Insula, 28: 1-30. [3] Pérez-Harguindeguy, N. et al. 2013. New handbook for a partir do ápice dos ramos. Variáveis químicas do solo, standardised measurement of plant functional traits umidade gravimétrica e espessura da biomassa morta worldwide. Australian Journal of Botany 61: 167-234. foram analisadas para cada formação. Escolheram-se [4] Fahn A, Werker E, Baas P. 1986. Wood anatomy and como atributos biológicos³: altura e diâmetro dos identification of trees and shrubs from Israel and indivíduos, massas seca e fresca foliar, área foliar, adjacent regions. Jerusalem: The Israel Academy of Sciences and Humanities. comprimento e largura foliar, espessura foliar, área [5] Carlquist S. 1977. Ecological factors in wood evolution: específica foliar, conteúdo de água, comprimento do a floristic approach. Amer J Botany 64: 887-896. elemento de vaso, freqüência e diâmetro dos vasos. Relações hídricas foram obtidas pelos índices de [6] Valladares, F.; Sanches-Goems, D.; Zavala, M.A. condutividade, vulnerabilidade e mesomorfia4,5. Para 2006. Quantitative estimation of phenotypic plasticity: brisging the gap between the evolutionary concept todas as características morfo-anatômicas foi calculado o 6 and its ecological applications. Journal of Ecology Índice de Plasticidade Fenotípica (IPF) . As médias 94: 1103-1116. obtidas para cada atributo foram comparadas pelo teste T de Student, com p ≤ 0,05.

3 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ASPECTOS ESTRUTURAIS E POTENCIAL PLÁSTICO DE ANDIRA FRAXINIFOLIA BENTH. (FABACEAE) OCORRENTES EM DUAS FITOFISIONOMIAS DE RESTINGA Karolline Raimundo da Silva¹*, João Carlos Ferreira de Melo Junior¹, Maria Regina Torres Boeger² ¹ Universidade da Região de Joinville, Departamento de Ciências Biológicas, Joinville, SC; ² Universidade Federal do Paraná, Laboratório de Ecologia e Morfologia Funcional, Setor de Ciências Biológicas, Curitiba, PR. *[email protected] atributos mensurados de xilema entre os indivíduos das Introdução duas populações não foram significativas. Plasticidade fenotípica é a capacidade dos organismos se A. fraxinifolia apresentou baixos valores para o IPF, ajustarem às diversas variações ambientais, podendo demonstrando que a espécie possui pouca plasticidade alterar seus atributos morfológicos-anatômicos e para os atributos de morfologia foliar e de xilema fisiológicos¹. Andira fraxinifolia Benth (Fabaceae) é uma observados na escala espacial em que foi estudada. planta lenhosa, perenifólia, heliófila e seletiva higrófita, Discussão endêmica no Brasil e característica da Mata Atlântica². No sul do país pode ser encontrada em ambientes litorâneos O solo de Ft aparenta ser mais favorável para ao da floresta atlântica, destacando-se as restingas. desenvolvimento das plantas, pois apresenta maiores Ambientes de restinga possuem vegetação sobre solos índices de nutrientes do que em Raa. As variações arenosos e exposta a fatores limitantes, como salinidade, observadas na estrutura foliar podem ser consideradas alta luminosidade, deficiência hídrica e nutricional³. O respostas às condições de luz nessa formação, visto que presente estudo objetivou analisar o potencial plástico de lâminas foliares com maior superfície captam mais Andira fraxinifolia em duas fitofisionomias de restinga. energia luminosa, mas necessitam de um maior investimento em tecido de sustentação, contribuindo para Metodologia o aumento da sua massa5. Apesar de apresentar maior O estudo foi realizado na restinga do Parque Estadual plasticidade fenotípica para os atributos foliares do que Acaraí, município de São Francisco do Sul/SC. Os para o xilema secundário, em geral, a análise realizada espécimes de A. fraxinifolia foram coletados em parcelas indica que A. fraxinifolia mantém o mesmo fenótipo extras do módulo PELD nas formações de Restinga mesmo em condições espaciais heterogêneas. Sugere-se arbustiva-arbórea (Raa) e Floresta de transição (Ft). Em que tal resultado seja uma estratégia de sobrevivência cada formação foram selecionados cinco indivíduos, dos adotada pela espécie como forma das populações quais foram coletadas 25 folhas e madeira de caule. otimizarem os recursos disponíveis ou até mesmo pela Foram coletadas amostras dos solos em cada formação microescala em que ocorrem no contexto da área de para avaliação da condição nutricional edáfica e umidade restinga estudada. gravimétrica dos solos. O Teste t de Student com nível de Agradecimentos significância de 5% foi utilizado para comparar os valores médios dos atributos quantitativos foliares e do caule Este trabalho teve apoio financeiro da Universidade da entre as duas populações estudadas. O índice de Região de Joinville- Univille por meio do processo n. 6055 plasticidade fenotípica (IPF) foi calculado para se do coautor. Ao governo do estado de Santa Catarina pela conhecer o potencial plástico da espécie. concessão da bolsa de pesquisa à autora. Ao Programa de Pesquisas em Biodiversidade – bioma Mata Atlântica – Resultados Núcleo Sul/SC. À equipe gestora do Parque Estadual Os resultados das análises de solo indicaram que ambas Acaraí. as formações apresentam acidez elevada e solos Referências Bibliográficas distróficos, em função das somas de bases. O solo de Ft apresentou maiores concentrações de matéria orgânica, [1] Bradshaw, A.D. 1965. Evolutionary significance of phenotypic plasticity in plants. In: Caspary E.M., Thoday, J. M. assim como um alto índice de capacidade de troca Advances in genetics. Academic Press 13: 115-155. catiônica (CTC) quando comparado com o de Raa. [2] Lorenzi, H. 1992. Árvores brasileiras: manual de identificação Considerando os atributos foliares, os valores médios das e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Editora Plantarum, Nova Odessa, 193 p. folhas para massa seca, área, largura e comprimento do [3] Manlay, R. J.; Cadet, P.; Thioulouse, J. & Chotte, J. 2000. limbo foram maiores em Raa em comparação com os Relationships between abiotic and biotic soil properties valores médios das folhas de Ft. Foram observadas during fallow periods in the sudanian zone of Senegal. Applied Soil Ecology 14: 89-101. características anatômicas do xilema secundário [4] Baas, P.; Wheller, E. & Chase, M. 2000. Dycotyledonous 4 esperadas para a família Fabaceae , como a presença de wood anatomy and the APG system of angiosperm elementos de vasos de maior calibre e menor frequência classification. Botanical Journal of the Linnean Society. 131: 3-17. de vasos. Contudo, a diferença de médias para os

4 [5] Witkowski, E.T.F. & Lamont, B.B. 1991. Leaf specific mass confounds leaf density and thickness. Oecologia 88: 486- 493.

5 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

PLASTICIDADE FENOTÍPICA DE STYLOSANTHES VISCOSA (L.) SW. (FABACEAE) EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE SOLO E LUZ

Leonardo Afonso Ruthes¹*, João Carlos Ferreira Melo Junior¹ ¹ Universidade da Região de Joinville, Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal, Joinville, SC. *[email protected] arquitetura das plantas, em Rh os indivíduos são Introdução subarbustos reptantes sobre a areia e atingem em média Stylosanthes viscosa é um subarbusto reptante com uma 5,64cm de altura e 0,34cm de diâmetro; enquanto em ampla distribuição geográfica no Brasil, ocorrendo em Raa encontram-se subarbustos eretos com 49,04cm de diferentes formações da Floresta Amazônica, Caatinga, altura, 0,57cm de diâmetro e com um número reduzido de Cerrado e Mata Atlântica¹. Neste último bioma, pode ser perfilhos por planta. Maiores áreas foliares foram obtidas encontrada em formações litorâneas, como a restinga. em Raa (1,05cm²), sendo quatro vezes superior às de Rh Conhecidamente, as comunidades de restinga estão (0,26cm²). submetidas a condições ambientais extremas, o que Discussão torna o ambiente limitante ao crescimento e ao desenvolvimento da vegetação², além de provocar Diferenças na altura dos indivíduos representam uma ajustes em diferentes atributos do corpo vegetal para estratégia relacionada à captura do recurso luminoso, otimizar a alocação de recursos³. O presente estudo tem uma vez que em Raa há maior sombreamento dos como objetivo avaliar atributos morfológicos, anatômicos indivíduos em contraposição à radiação direta recebida e ecofisiológicos de duas populações de Stylosanthes pelos indivíduos em Rh. Assim, plantas mais altas e com viscosa ocorrentes em duas distintas condições de solo e maiores áreas foliares em Raa garantem uma melhor luz da restinga. competitividade por luz em função do porte atingido pelas espécies vizinhas. Por outro lado, a disposição reptante Metodologia em Rh atenua os efeitos da radiação diretamente A área de estudo compreende duas formações de incidente, o que é acompanhado pela área foliar restinga, uma herbácea (Rh) e outra arbustivo-arbórea sensivelmente menor. Enquanto o aumento da área foliar (Raa), localizadas no Parque Estadual Acaraí, São representa a aclimatação ao sombreamento, sua redução Francisco do Sul, SC. As populações de S. viscosa, traduz-se como uma estratégia de economia de água em compostas por 10 indivíduos, foram selecionadas em plantas sujeitas à alta luminosidade. parcelas extras do módulo PELD existentes no Agradecimentos parque. De cada indivíduo foi registrada a forma de vida, a altura e o diâmetro basal e coletadas 20 folhas À Univille pelo apoio financeiro (proc. n. 6756 do coautor). fixadas no 3º e 4º nós para análise morfo-anatômica e Ao PPBioMa – Núcleo Sul/SC. À equipe gestora do análise do teor de clorofila. Os atributos selecionados, Parque Estadual Acaraí. baseados no manual global de atributos funcionais em plantas4, foram: forma de vida, altura (cm), diâmetro Referências Bibliográficas basal (cm), massa fresca (g), massa seca (g), área [1] Costa, L.C. da; Valls, J.F.M. Stylosanthes in Lista de 2 -1 foliar (cm²), área específica foliar (AEF, cm .g ), Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio espessura foliar (mm), conteúdo de matéria seca foliar de Janeiro. - [2] Scarano, F.R., Duarte, H.M., Ribeiro, K.T., Rodrigues, (mg.g ¹, espessura da epiderme + cutícula (µm), P.J.F.P., Barcellos, E.M.B., Franco, A.C., Brulfert, J., espessura dos tecidos clorofilianos (µm), relação Deleâens, E. & Luèttge, U. 2001. Four sites with paliçádico/lacunoso, teor de colorfilas a e b e clorofila contrasting environmental stress in southeastern total. Para cada atributo considerado será calculado o Brazil: relations of species, life form diversity, and índice de plasticidade fenotípica (IPF)5. A geographical distribution to ecophysiological parameters. Botanical Journal of the Linnean Society caracterização ambiental será baseada na nutrição 136: 345-364. mineral do solo, umidade gravimétrica, salinidade, [3] Melo Jr., J.C.F. & Boeger, M.R.T. 2015. Riqueza, radiação luminosa e velocidade dos ventos. Médias Estrutura e Interações Edáficas em um Gradiente de dos atributos serão comparadas pelo Teste-t de Restinga do Parque Estadual do Acaraí, São Student, enquanto a relação entre as variáveis Francisco do Sul, Santa Catarina, Brasil. Hoehnea 42(2): 207-232. ambientais e os atributos biológicos será verificada [4] Pérez-Harguindeguy, N. et al. 2013. New handbook for por meio do teste de correlação de Pearson. standardised measurement of plant functional traits worldwide. Australian Journal of Botany 61: 167-234. Resultados Preliminares [5] Valladares, F.; Sanches-Goems, D.; Zavala, M.A. 2006. Quantitative estimation of phenotypic plasticity: O trabalho está em fase inicial, mas os dados já brisging the gap between the evolutionary concept and processados indicam diferenças expressivas entre as its ecological applications. Journal of Ecology 94: duas populações de S. viscosa. Do ponto de vista da 1103-1116.

6 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 POTENCIAL PLÁSTICO DE CINCO ESPÉCIES DE RESTINGA DO MÓDULO PELD – ACARAÍ Maiara Matilde da Silva1*, Rodrigo Oszika¹, João Carlos Ferreira de Melo Júnior¹ 1 Universidade da Região de Joinville - Univille, Departamento de Ciência Biológicas, Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal, Joinville, SC, Brasil. *[email protected]

Introdução vaso foi a mais plástica. A espécie C. criuva foi a que Plasticidade fenotípica é a capacidade apresentada por apresentou características foliares mais divergentes das um organismo de expressar respostas funcionais por demais espécies refletindo as suas características meio de ajustes estruturais que contribuam filogenéticas. No entanto, C.criuva apresentou bastante efetivamente para seu crescimento e sobrevivência1. O variação intraespecífica, refletindo valores altos de ambiente de restinga apresenta diversos fatores IPF’s. A massa seca foi a característica foliar mais abióticos limitantes ao crescimento das plantas, os plástica em todas as espécies. As características quais formam um filtro ambiental restringindo a morfológicas foliares foram, em geral, mais plásticas ocorrência das espécies numa comunidade2. O filtro que as características anatômicas da madeira. pode diminuir a variação inter e intraespecífica gerando, assim, uma convergência funcional entre as espécies Discussão 2,3 de uma comunidade . Desta forma, o estudo da A semelhança entre as espécies para a área específica plasticidade fenotípica possibilita ampliar os foliar pode ser uma resposta à disponibilidade de conhecimentos sobre a variação intraespecífica vegetal nutrientes no solo, que reflete na alocação de recursos. e prever a distribuição das espécies pelo seu potencial As diferenças evidenciadas nas características adaptativo frente às mudanças climáticas e ambientais. estruturais foliares podem ser devido à variação da O presente estudo verificou o potencial plástico de intensidade luminosa que oscila na restinga arbustivo- cinco espécies lenhosas por meio da comparação de arbórea em função da estratificação das copas das atributos foliares e anatômicos de lenho, a fim de árvores mais altas. A disponibilidade hídrica detectar convergências funcionais que acenem a apresentou-se como um importante filtro no ambiente ocorrência do filtro ambiental. de restinga, influenciando od diferentes padrões no Metodologia comprimento e diâmetro dos elementos de vaso, o que se traduz como diferentes estratégias funcionais para O estudo foi realizado em uma parcela extra do módulo maximizar a condutividade hidráulica. As semelhanças PELD, no Parque Estadual Acaraí, São Francisco do estruturais interespecíficas evidenciadas neste trabalho Sul, SC. A caracterização ambiental foi realizada com sugerem que condições limitantes do ambiente de base nas características nutricionais do solo, espessura restinga podem influenciar nos processos de da serapilheira e umidade gravimétrica. As espécies colonização neste ecossistema, podendo levar a Clusia criuva Cambess (Clusiaceae), Myrcine venosa A. formação de uma comunidade com semelhanças DC. (Myrsinaceae), Ocotea pulchella (Nees e Mart.) funcionais. Mez (Lauraceae), Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill (Peraceae) e Ternstroemia brasiliensis Cambess. Agradecimentos (Pentaphylacaceae) foram selecionadas em função de À Univille pelo apoio financeiro (proc. n. 6055 do coautor). serem apontadas como espécies dominantes neste Ao PPBioMa – Núcleo Sul/SC. À equipe gestora do ambiente4. A comparação das médias dos atributos Parque Estadual Acaraí. foliares e da madeira foi realizada por ANOVA. Para cada atributo foi calculado o índice de plasticidade Referências Bibliográficas fenotípica (IPF)5. [1] Sultan, S.E. 2000. Phenotypic plasticity for plant development, function and life history. Trends in plant Science 5(12): 537-542. Resultados [2] Zanelato, D. 2012. Comunidades arbóreas em florestas de restinga : o papel das demandas conflitantes e dos Foi observada convergência de atributos entre algumas inimigos naturais no nicho de regeneração.137 f. espécies, com destaque à área específica foliar, (Dissertação) Instituto de Biociência da Universidade de diâmetro e comprimento de elemento de vaso. Alguns São Paulo, São Paulo. [3]Santos, B.S. 2007. Dinâmica da regeneração de clareiras atributos, como área, massa seca, largura e naturais na Floresta de Restinga na Ilha do Cardoso, comprimento foliar e frequência de elemento de vaso Cananéia/SP. 87 f. Dissertação (Mestrado) Universidade apresentaram maior herdabilidade. Das características de São Paulo. Piracicaba. [4] Melo Jr., J.C.F. & Boeger, M.R.T. 2015. Riqueza, Estrutura anatômicas avaliadas, a frequência de elementos de e Interações Edáficas em um Gradiente de Restinga do

7 Parque Estadual do Acaraí, São Francisco do Sul, Santa Catarina, Brasil. Hoehnea 42(2): 207-232. [5] Valladares, F. et al. 2006 Quantitative estimation of phenotypic plasticity: bridging the gap between the evolutionary concept and its ecological applications. Journal of ecology, 94: 1103–1116.

8 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

PLASTICIDADE MORFO-ANATÔMICA DE TIBOUCHINA CLAVATA (PERS.) WURDACK (MELASTOMATACEAE) OCORRENTE EM DUAS FISIONOMIAS DE RESTINGA DO MÓDULO PELD DO PARQUE ESTADUAL ACARAÍ

Maick Willian Amorim¹*, João Carlos Ferreira de Melo Júnior¹. 1 Universidade da Região de Joinville, Departamento de Ciências Biológicas, Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal, Joinville, SC. *[email protected]

Introdução espessura total do limbo (µm) e densidade da venação. Nas duas fisionomias foram avaliadas as Tibouchina clavata A espécie (Pers.) Wurdack, condições nutricionais do solo e radiação luminosa. conhecida popularmente como orelha-de-onça, pode Médias e desvios-padrão foram calculados para todas ser encontrada em áreas abertas em regeneração, na as variáveis descritas e comparadas por teste t de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas e nas Student. Para cada variável morfológica e anatômica formações pioneiras de influência marinha, conhecidas foi calculado o índice de plasticidade fenotípica (IPF)5. como Restingas. A vegetação de Restinga tem grande distribuição ao longo da costa brasileira e apresenta Resultados Parciais reconhecíveis diferenças fisionômicas, desde vegetação herbácea até formações florestais, Resultados preliminares evidenciam diferenças definidas, em geral, pelo distanciamento da influência morfológicas estatisticamente significativas entre as marinha¹. Desta forma, sugere-se que a populações de T. clavata. Os valores para a altura dos heterogeneidade ambiental seja precursora de ajustes indivíduos, o diâmetro, massa fresca, massa seca e morfo-anatômicos nas espécies distribuídas em área foliar, foram maiores na formação florestal, diferentes formações deste ambiente. O presente enquanto a AEF foi maior na formação herbácea. estudo tem como objetivo caracterizar alterações morfo-anatômicas em populações de Tibouchina Discussão clavata (Pers.) Wurdack (Melastomataceae) ocorrentes em duas formações de restinga. Tem-se Sendo a folha um órgão extremamente plástico, os como hipótese que as condições mais restritivas da ajustes registrados no ambiente florestal indicam formação de restinga próxima ao mar são indutoras de estratégias para o melhor aproveitamento da energia 8 características mais xeromórficas quando comparada luminosa , uma vez que na formação herbácea a à formação florestal. incidência da luz é direta sobre os indivíduos amostrais Desta forma, os resultados preliminares Metodologia apontam que embora as condições nutricionais da formação herbácea sejam mais limitantes, a luz A área de estudo compreende a restinga do Parque parece ser um recurso mais atuante sobre a espécie Estadual Acaraí, São Francisco do Sul/SC, cujos estudada. pontos amostrais correspondem a duas parcelas extras do módulo PELD, sendo uma localizada na Agradecimentos formação herbácea e outra na florestal. Em cada À Univille pelo apoio financeiro (proc. n. 6756 do formação foram selecionados dez indivíduos de T. coautor). Ao FAP-Univille pela concessão da bolsa de clavata, totalizando um grupo amostral de 20 IC ao autor. Ao PPBioMa – Núcleo Sul/SC. À equipe indivíduos. De cada indivíduo foram coletadas 22 gestora do Parque Estadual Acaraí. folhas de sol completamente expandidas e fixadas no 3º e 4º nós. Destas, dez folhas foram destinadas à Referências Bibliográficas morfologia, dez, fixadas em FAA 70, destinadas à anatomia e duas, diafanizadas em solução de [1] Melo Jr., J.C.F. & Boeger, M.R.T. 2015. Riqueza, Franklin, para análise da venação. A seleção de Estrutura e Interações Edáficas em um Gradiente de Restinga do Parque Estadual do Acaraí, São atributos foi baseada no trabalho de Pérez- Francisco do Sul, Santa Catarina, Brasil. 2 Harguindeguy et al. (2013) . Foram considerados os Hoehnea 42(2): 207-232. seguintes atributos: altura do indivíduo (cm), diâmetro [2] Pérez-Harguindeguy, N. et al. 2013. New do caule (cm), massa fresca (g), massa seca (g), área handbook for standardised measurement of plant 2 3 foliar (cm²), área específica foliar (AEF, cm /g-1) , functional traits worldwide. Australian Journal of conteúdo de matéria seca foliar (mg.g-1)4, conteúdo de Botany 61: 167-234. água (g), espessura de tecidos e da cutícula (µm),

9 [3] Witkowski, E. T. F. & Lamont, B. B. 1991. Leaf specific mass confounds leaf density and thickness. Oecologica 88: 486-493. [4] Vaierett MV, Díaz S, Vile D, Garnier E. 2007. Two measurement methods of leaf dry matter content produce similar results in a broad range of species. Annals of Botany 99: 955-958. [5] Valladares, F.; Sanches-Goems, D.; Zavala, M.A. 2006. Quantitative estimation of phenotypic plasticity: brisging the gap between the evolutionary concept and its ecological applications. Journal of Ecology 94: 1103-1116.

10 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

INFLUÊNCIA DO TIPO DE INCUBAÇÃO, TAMANHO CORPORAL E HORA DO DIA NAS TAXAS DE EXCREÇÃO DE NITROGÊNIO E FÓSFORO DE DUAS ESPÉCIES DE PEIXES EM CÓRREGOS DA ILHA GRANDE, RIO DE JANEIRO. Priscila Cunha1, Eugenia Zandonà1, Christine Lourenço Amorim Pereira1, Flavia Tromboni1, Krista Capps2, Timothy Peter Moulton1 1Departamento de Ecologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2Department of Wildlife Ecology, University of Maine, Orono, Maine, Estados Unidos *[email protected] Introdução Discussão

A comunidade de peixes atua na ciclagem de nutrientes Nós não encontramos uma relação significativa entre dos ecossistemas através de sua excreção, liberando tamanho do corpo e taxas de excreção para Characidium nutrientes importantes para os produtores primários e japuhybense. Provavelmente porque os animais microorganismos. Entre os fatores que podem regular as coletados eram de tamanhos similares. Houve uma taxas de excreção dos peixes estão: o tamanho corporal, relação significativa entre tamanho do corpo e taxas de pois quanto menor o indivíduo, maior sua taxa metabólica excreção para Bryconamericus microcephalus. Para e, por isso, proporcionalmente, maior a quantidade de fósforo, a taxa de excreção diminuiu com o aumento do nutrientes excretada; a hora do dia, devido aos períodos tamanho corporal. Estudos mostram que as taxas de de atividades e hábitos alimentares dos animais; e as excreção e o tamanho do têm uma relação condições de estresse que podem aumentar as taxas de alométrica, com indivíduos menores excretando excreção dos animais. O objetivo deste estudo foi proporcionalmente mais que indivíduos maiores. Para investigar a influência do tamanho corporal, hora do dia e nitrogênio, o oposto aconteceu, as taxas de excreção do tipo de incubação na excreção de peixes da espécie aumentaram com o aumento do tamanho do corpo. Esse Bryconamericus microcephalus (hábitos diurnos) e fato provavelmente está relacionado com a composição Characidium japuhybense (hábitos noturnos). corporal da espécie, que pode afetar as taxas de excreção de nutrientes. O tipo de incubação não afetou Metodologia as taxas de excreção de ambas as espécies, O estudo foi conduzido em dois sítios do rio Andorinha, possivelmente porque o animal está sofrendo o estresse na Ilha Grande. Os indivíduos foram coletados através de da captura e incubação. pesca elétrica e colocados em sacos plásticos com Agradecimentos volume de água conhecido e filtrado. Os animais foram submetidos a diferentes tratamentos: o tipo de incubação Agradecemos ao Centro de Estudos Ambientais e estresse (sem preocupação em diminuir o estresse do Desenvolvimento Sustentável (CEADS) pelo apoio logístico na Ilha Grande. A pesquisa recebeu o apoio animal) e sem estresse (com os sacos plásticos finaceiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento pendurados numa corda dentro do rio, visando reduzir o Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de estresse) e a hora do dia (dia e noite). Depois de 45-70 Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) minutos coletamos amostras de água filtradas para e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). análise de NH4 e PO4. Referências Bibliográficas Resultados [1] Alves, J.M., Caliman, A., Guariento, R. D., Figueiredo- Barros, M. P., Carneiro, L. S., Farjalla, V. F., Bozelli, R. L., Encontramos um efeito significativo do tamanho do corpo Esteves, F. A. 2010. Stoichiometry of benthic sobre as taxas de excreção de nitrogênio (F=7,865, invertebrate nutrient recycling: interspecific variation p=0,007) e fósforo (F=6,757, p=0,011) para and the role of body mass. Aquat Ecol (44:421–430 Bryconamericus microcephalus . Não encontramos um DOI 10.1007/s10452-009-9302-3 efeito significativo do tamanho do corpo sobre as taxas de [2] Capps K. A., Flecker A. S. 2013a. Invasive aquarium excreção para Characidium japuhybense (p>0,05). Não fish transform ecosystem nutrient dynamics. Proc R Soc B houve efeito significativo do tipo de incubação nas taxas 280:20131520. de excreção para ambas as espécies (p>0,05). [3] Capps K. A., Flecker A. S. 2013b. Invasive fishes Bryconamericus microcephalus teve taxas de excreção de generate biogeochemical hotspots in a nutrient-limited nitrogênio significativamente maiores durante o dia system. Plos One, Volume 8, Issue 1, e54093. (F=21,023; p <0,001). Characidium japuhybense teve [4] Mazzoni, R. and Rezende, C. F. (2009). Daily feeding taxas de excreção de nitrogênio significativamente activity of Bryconamericus microcephalus maiores durante a noite (F=4,474; p=0,043). Houve uma (Characiformes, Characidae) from Córrego Andorinha, diferença significativa na excreção de nitrogênio entre as Ilha Grande – RJ. Brazilian Journal of Biology 69, 381– duas espécies (F= 26,607; p <0,001), onde 384. Bryconamericus microcephalus excretou mais. [5] McIntyre, P. B. and A. S. Flecker. 2010. Ecological Stoichiometry as an integrative framework in stream fish ecology. American Fisheries Society Symposium 73:539‐ 558. [6] McIntyre, P. B.,L.E. Jones, A. S. Flecker, and M. J. Vanni. 2007.Fish extinctions alter nutrient recycling in tropical 11 freshwaters. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 104:4461--‐ 4466.

[7] Vanni, M. J. 2002. Nutrient cycling by in freshwater ecosystems. Annual Review of Ecology and Systematics 33:341--‐ 370. [8] Whiles, M. R., Huryn, A. D., Taylor, B. W., Reeve, J. D. 2009. Influence of handling stress and fasting on estimates of ammonium excretion by tadpoles and fish: recommendations for designing excretion experiments. Limnol. Oceanogr.: Methods 7, 2009, 1–7

12 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 VARIAÇÃO INDIVIDUAL NA DIETA DE TRÊS ESPÉCIES DE ANUROS NO PARQUE NACIONAL DE SÃO JOAQUIM-SC, BRASIL

Vítor de Carvalho Rocha1*, Benedito Cortês Lopes2, Selvino Neckel de Oliveira1 1 Universidade Federal de Santa Catarina, Laboratório de Ecologia de Anfíbios e Répteis, Florianópolis, SC 2 Universidade Federal de Santa Catarina, Laboratório de Biologia de Formigas, Florianópolis, SC *[email protected]

narina. O conteúdo estomacal foi obtido via lavagem Introdução gástrica (11) e armazenado para posterior identificação. Estudos que visam descrever os aspectos ecológicos das Cada indivíduo foi marcado e liberado de volta ao local de espécies usualmente se baseiam na teoria de nicho, a coleta após os procedimentos. O conteúdo estomacal foi qual considera que os indivíduos conspecíficos utilizam quantificado e identificado até o menor nível taxonômico de maneira similar os recursos (1,2). Entretanto, a largura possível. Diferenças na dieta entre machos e fêmeas de nicho dos indivíduos de uma população pode variar foram testadas via índice de similaridade proporcional em decorrência de diferenças morfológicas, sexuais e (PS) de Schoener (1968) (12). A relação entre morfologia ontogenéticas (3). Quando essa variação é observada e e dieta foi testada (teste de Mantel) pela correlação entre não pode ser atribuída a nenhum desses fatores, é uma matriz de sobreposição de dieta entre os indivíduos denominada de Especialização Individual (EI) (4). Esse (índice PS) e as matrizes dos scores de uma PCA dos tipo de especialização é normalmente encontrado em dados morfométricos dos mesmos (9). O grau de EI de ambientes temperados, com baixa riqueza de espécies, cada indivíduo em relação à sua população foi calculado em populações que exploram uma grande variedade de pela adaptação do índice de similaridade proporcional recursos (5,6). De acordo com a Hipótese da Variação de (PSi) (4). O grau de especialização da população foi Nicho proposta por Van Valen (1965), a largura total de obtido tanto pelo índice IS (0 indica máxima nicho (TNW) de uma população tenderia a aumentar especialização individual) quanto pelo índice E de quando aliviada a pressão de competição interespecífica variação individual de dieta (1 indica máxima sobre a mesma. Esse aumento dar-se-ia pela retração na especialização individual) (13.) A largura total de nicho sobreposição de nicho entre os indivíduos (7). Assim (TNW) foi calculada utilizando o modelo proposto por espera-se que quanto mais generalista uma população, Roughgarden (1979) (14). A relação entre TNW e IS foi mais especializados são seus indivíduos. Embora nos testada por correlação de Pearson. A significância de últimos 10 anos a EI tenha sido reconhecida como um todos os índices foi testada por bootstrap (1000 fenômeno amplamente difundido nos mais diversos iterações) e todas as análises foram feitas utilizando o táxons (1,8), informações sobre a quantificação dessa Programa R (15). Utilizamos apenas os dados da primeira especialização ainda são escassas, abrangendo menos captura de cada indivíduo para essas análises. Excluímos de 1% das espécies de anfíbios anuros, por exemplo os indivíduos que apresentaram estômago vazio. (9,10). Essa carência de informação dificulta Optamos por agrupar as famílias de algumas ordens de entendermos quão frequente é o fenômeno nesse grupo presas em grupos funcionais. Utilizamos a recíproca do e quais mecanismos levam ao seu desenvolvimento. número k de categorias de presas (1/k) como medida de Nesse trabalho propomos investigar a variação representatividade dos itens consumidos (16). Categorias intrapopulacional da dieta de três espécies de anuros com valor abaixo dessa proporção não foram incluídas (Hypsiboas leptolineatus, Pseudis cardosoi e Scinax nas análises. Adotamos esses parâmetros para evitar granulatus) de uma área de Floresta de Araucárias no Sul valores superestimados de especialização individual. do Brasil. Para cada espécie buscamos: testar se existe Resultados diferença na dieta entre machos e fêmeas; verificar a relação entre morfologia e variação da dieta; verificar a Extraímos o conteúdo estomacal de 27 indivíduos de H. existência de EI; e medir o grau de EI quando presente. leptolineatus, 83 de P. cardosoi e 53 de S. granulatus, Adicionalmente propomos verificar se populações com totalizando 163 estômagos analisados. As espécies de maior grau de EI apresentam maior largura total de nicho anuros consumiram 127 tipos de presas, pertencentes a (Hipótese de Variação de Nicho). 108 táxons, identificados em sua maioria a nível de ordem e família. As presas foram categorizadas em 44 Metodologia grupos. O número total de itens consumidos foi de 237 As coletas dos anuros foram realizadas mensalmente, de (média de 8,87 itens por estômago ± 2,63 desvio-padrão) setembro de 2014 a março de 2015, em uma poça de 300 para H. leptolineatus, 509 para P. cardosoi (6,13 ± 3,12) e m2 no Parque Nacional de São Joaquim, município de 132 para S. granulatus (1,92 ± 3,01). Não foi observada Urubici-SC. De cada indivíduo coletado foi medido seu relação entre forma do corpo e sobreposição da dieta comprimento rostro-cloacal, compri-mento da mandíbula para nenhuma das espécies (Mantel; todos os valores de e da cabeça, largura da boca e distância entre olho e P > 0,102). Todas as espécies apresentaram valores de especialização individual diferente da distribuição nula (H.

13 leptolineatus: E = 0,8562 (P < 0,001), IS = 0,2509 (P = [12] Schoener, T.W. 1968. The Anolis lizards of Bimini: resource P. cardosoi E IS partitioning in a complex fauna. Ecology, 49: 704-726. 0,001); : = 0,8654 (P < 0,001), = 0,2262 [13] Araújo M.S.; Martins, E.G., Cruz, L.D.; Fernandes, F.R.; (P = 0,001); S. granulatus: E = 0,8143 (P < 0,001), IS = Linhares, A.X.; dos Reis, S.F. & Guimarães-Jr, R. 2010. 0,3315 (P = 0,001)). Encontramos uma correlação Nested diets: a novel pattern of individual-level resource use. Oikos, 119: 81-88. positiva entre a largura total de nicho e o grau de EI das [14] Roughgarden, J. 1979. Theory of population genetics and espécies (t = 145,16, P = 0,005) quando comparado com evolutionary ecology: an introduction. Macmillan, New York. os valores obtidos pelos modelos nulos (t = 2,5968, P = [15] R Development Core Team. 2015. R Foundation for Statistical Computing. R Development Core Team, Vienna, 0,234). Austria. [16] Krebs, C.J. 1989. Ecological Methodology. Chapman & Hall, Discussão New York. A confirmação da presença de EI em três espécies de anuros subtropicais pode nos indicar que esse fenômeno ocorra independentemente da região do planeta onde as espécies ocorram. Aparentemente não são as diferenças morfológicas entre os indivíduos que levam às diferenças entre suas dietas. Provavelmente outros mecanismos como variação comportamental ou fisiológicas podem levar a essas diferenças (8). Nossos resultados corroboram com a Hipótese de Variação de Nicho proposta por Van Valen (1965) de que espécies com maior largura de nicho apresentam maior variação entre seus indivíduos. Agradecimentos

À Capes pela concessão da bolsa ao primeiro autor; ao núcleo regional de Santa Catarina do PPBio Mata Atlântica e ao Parque Nacional de São Joaquim pelo auxílio financeiro e logístico para realização das atividades na área do parque. Referências Bibliográficas [1] Bolnick, D.I.; Svanbäck, R.; Fordyce, J.A.; Yang, L.H.; Jeremy, M.D. & Forister, M.L. 2003. The ecology of individuals: indice and implications of individual specialism. The American Naturalist, 161(1): 1-28. [2] Hutchinson, G.E. 1957. Concluding remarks: cold spring harbor symposium. Quantitative Biology 22: 415-427. [3] Roughgarden, J. 1974. Niche width, biogeographic patterns among Anolis lizard populations. American Naturalist 108: 429-441. [4] Bolnick, D.I.; Yang, L.H.; Fordyce, J.A.; Davis, J.M. & Svanbäck, R. 2002. Measuring individual-level resource specialization. Ecology, 83(10): 2936-2941. [5] Robinson, B.W. 2000. Trade offs in habitat-specific foraging efficiency and the nascent adaptive divergence of sticklebacks in lakes. Behaviour 137: 865-888. [6] Robinson, B.W.; Wilson, D.S.; Margosian, A.S. & Lotito, P.T. 1993. Ecological and morphological differentiation of pumpkinseed sunfish in lakes without bluegill sunfish. Evolutionary Ecology, 7: 451-464. [7] Van Valen, L. 1965. Morphological variation and width of ecological niche. American Naturalist, 99: 377-390. [8] Araújo, M.S.; Bolnick, D.I. & Layman, C.A. 2011. The ecological causes of individual specialization. Ecology Letters, 14: 948-958. [9] Araújo, M.S.; dos Reis, S.F.; Giaretta, A.A.; Machado, G. & Bolnick, D.I. 2007. Intrapopulation diet variation in four frogs (Leptodactylidae) of the Brazilian savannah. Copeia, 855- 865. [10] Araújo, M.S.; Bolnick, D.I.; Martinelli, L.A.; Giaretta, A.A. & dos Reis, S.F. 2009. Individual-level diet variation in four species of Brazilian frogs. Journal of Animal Ecology, 78: 848-856. [11] Solé, M.; Beckmann, O.; Pelz, B.; Kwet, A. & Engels, W. 2005. Stomach-flushing for diet analysis in anurans: an improved protocol evaluated in a case study in Araucaria forests, southern Brazil. Studies on Neotropical Fauna and Environment, 40(1): 23-28.

14 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ANATOMIA DA MADEIRA DE ESPÉCIES ARBÓREAS OCORRENTES EM ÁREAS SOB EFEITOS DE BORDA NA RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ

Warlen S. da Costa1,*, Maura Da Cunha1, Cláudia F. Barros3 1 Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Laboratório de Biolocia Celular e Tecidual, Campos dos Goytacazes, RJ; 2 Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Laboratório de Botânica Estrutural, Rio de Janeiro, RJ; *[email protected]

porosidade é difusa com elementos de vaso solitários, Introdução múltiplos de 2-5 elementos e mais raramente em cachos A Reserva Biológica do Tinguá é constituída de um de até 6 elementos, seção circular a oval. Os elementos relevante fragmento de Floresta Atlântica localizado na de vasos apresentam placas de perfuração simples. As Região Fitoecológica da Floresta Ombrófila Densa 1. pontoações intervasculares são guarnecidas, alternas, Apesar de representar uma Unidade de Conservação diminutas ou pequenas; pontoações raio-vasculares e (UC) de proteção integral altamente restritiva em termos parênquimo-vasculares semelhantes às intervasculares. de uso, a Rebio do Tinguá é cortada por dois oleodutos Parênquima axial paratraqueal vasicêntrico, aliforme e implementados antes da criação da Unidade de confluente; seriado com 1-4 células; Os raios são Conservação1. A manutenção desses oleodutos envolve unisseriados e homogêneos, integrados por células a remoção da vegetação do entorno dos dutos numa procumbentes. O lenho de E. excelsa se caracteriza pela faixa de 20 a 40 m de largura1. A vegetação próxima aos ausência de camadas de crescimento. A porosidade é oleodutos está sujeita aos efeitos de borda e a difusa com elementos de vaso exclusivamente solitários, intensidade destes varia com a proximidade da área seção circular a oval. As placas de perfuração são desmatada e com o tempo de abertura da borda do simples, com ocorrência de apêndices. As pontoações oleoduto2. As árvores podem apresentar adaptações intervasculares são guarnecidas, alternas e diminutas; estruturais quando submetidas a um conjunto de pontoações raio-vasculares e parênquimo-vasculares variações ambientais e a anatomia do lenho é capaz de semelhantes às intervasculares. Parênquima axial detectar estas variações ocorrentes no sistema caulinar paratraqueal escasso e apotraqueal difuso e difuso em arbóreo3. Diante do exposto, este trabalho teve por agregados formando linhas; seriado com 4-8 células; Os objetivo investigar as adaptações anatômicas do lenho raios possuem porções unisseriadas e bisseriadas; necessárias para a sobrevivência das espécies arbóreas heterogêneos mistos com células procumbentes, eretas e submetidas aos efeitos de borda na Rebio do Tinguá. quadradas. Nas duas espécies analisadas, os indivíduos de interior de floresta e de borda de oleoduto não Metodologia apresentaram diferenças em seus caracteres qualitativos, porém, os dados quantitativos variam entre os indivíduos O estudo foi realizado em quatro parcelas permanentes destas duas áreas. A análise dos componentes principais localizadas no módulo RAPELD do PPBio Mata Atlântica separou as duas espécies pelo eixo 1, que explicou na Rebio do Tinguá. Duas parcelas estão à 5 metros de 53,3% da variância total e separou os indivíduos de distância do oleoduto Orbel 2, onde a vegetação está interior dos de borda em E. excelsa e em P inaequalis sujeita aos efeitos de borda (Fig.1A). As outras duas pelo eixo 2, que explicou 22,8 % da variância total, parcelas foram escolhidas como área controle e principalmente pela porcentagem de parênquima axial e encontram-se no interior da floresta há mais de 400 fibras (Fig.1B). Os indivíduos de borda apresentaram metros de distância da borda do oleoduto (Fig.1A). Foram maior proporção de parênquima axial em relação às escolhidas duas espécies arbóreas, Eugenia excelsa O. fibras, quando comparados aos indivíduos de interior Berg (Myrtaceae) e Pseudopiptadenia inaequalis (Benth.) (Fig.1C-F). Em P. inaequalis, os indivíduos de borda Rauschert (Fabaceae), que ocorrem tanto no interior da possuem 40% de fibras e 34% de parênquima axial, floesta quanto na borda do oleoduto Orbel 2 e também se enquanto os de interior 44% de fibras e 27% de enquadram dentre as espécies de maior valor de parênquima axial e em E. excelsa, essa relação foi importância para a área estudada. Foram selecionadas inversamente proporcional, os indivíduos de borda árvores de diâmetros semelhantes, retas e sem defeitos possuem 16% de fibras e 32% de parênquima axial, aparentes e as amostras de madeira foram coletadas por enquanto os de interior 33% de fibras e 16% de método não destrutivo e processadas de acordo com a parênquima axial. metodologia usual em estudos de anatomia do lenho4. Resultados Discussão O presente estudo está em andamento e os resultados O lenho de P. inaequalis se caracteriza pela presença de preliminares envolvendo essas duas espécies camadas de crescimento distintas, demarcadas pelo demonstraram que os caracteres anatômicos descritos achatamento radial e maior espessamento das fibras no para ambas estão em concordância com a anatomia de lenho tardio e faixas de parênquima marginal. A

15 axial. Essa diferença pode estar relacionada ao maior investimento em fibras libriformes nos indivíduos de interior, o que permite uma melhor sustentação9 para alcançar o dossel da mata, que em alguns trechos alcança mais de 40 metros de altura1. O maior investimento em parênquima nos indivíduos de borda pode estar relacionado ao armazenamento de água, pois os efeitos de borda aumentam a incidência de luz lateral e velocidade de vento próximo à borda do fragmento 10. Estas alterações aumentam a temperatura do solo e do ar e também o déficit de pressão de vapor, além de reduzir a umidade do solo e do ar10. Estas modificações microclimáticas causam estresses fisiológicos e consequentemente adaptações estruturais como observado no lenho dos indivíduos das espécies analisadas. Agradecimentos

À Faperj, CNPq, Capes, PPBio Mata Atlântica, Laboratório de Botânica Estrutural do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e ao Laboratório de Biologia Celular e Tecidual da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro pelo apoio financeiro e infraestrutura. Referências Bibliográficas [1] IBAMA. 2006. Reserva Biológica do Tinguá-RJ. Brasília. [2] Simões De Jesus, M. F. 2009. Análise dos efeitos de borda sobre a composição, dinâmica e estrutura da comunidade arbórea na Mata Atlântica da Reserva Biológica do Tinguá – RJ. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós- graduação em Botânica, Escola Nacional de Botânica Tropical, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. [3] Carlquist, S. 1975. Ecological strategies of xylem evolution. Berkeley, University of California Press. [4] Barros, C. F.; Callado, C. H.; Marcon, M. L.; Costa, C. G.; Cunha, M.; Lima, H. R. P. & Marquete, O. 2001. Madeiras da Mata Atlântica: anatomia do lenho de espécies ocorrentes nos remanescentes florestais do estado do Rio de Janeiro – Brasil. Vol. II. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 94p. [5] Marques, P. A.; Callado, C. H.; Barros, C. F.; Costa, C. G. 2012. Variação Intraespecífica do Lenho de Eugenia uniflora L. em Duas Diferentes Fitofisionomias do Complexo Vegetacional Atlântico. Floresta e Ambiente 19(4):483-496. Figura 1. A: Mapa das parcelas permanentes do módulo [6] Ribeiro, M. L. R. C. & Barros, C. F. 2006. Variação intraspecífica do lenho de Pseudopiptadenia contorta (DC.) RAPELD/ PPBio Mata Atlântica na Rebio do Tinguá. G.P. Lewis & M.P. Lima (Leguminosae - Mimosoideae) de Detalhe do oleoduto Orbel 2 (vermelho), das parcelas populações ocorrentes em dois remanescentes de Floresta estudadas de interior de floresta (círculo azul) e das de Atlântica. Acta bot. bras. 20(4): 839-844. [7] Santos, S. R.; Marchiori, J. N. C. 2011. Estudo anatômico do borda do oleoduto (círculo verde). B: Análise de lenho de Eugenia hiemalis Cambess. (Myrtaceae). Componente Principal. Indíviduos analisados de interior Bauduinia 31: 27-32. de floresta (azul) e de borda do oleoduto (verde). C: [8] Soffiatti, P. & Angyalossy-Alfonso, V. 1999. Estudo anatômico comparativo do lenho e da casca de duas espécies de Seção transversal de P. inaequalis em parcela de interior Eugenia L. (Myrtaceae). Revista Brasil. Bot. 22 (2): 175- de floresta. D: Seção transversal de P. inaequalis em 184. parcela de borda de oleoduto. E: Seção transversal de E. [9] Beck, C. B. 2010. An Introduction to Plant Structure and Development: Plant Anatomy for the Twenty-First Century. excelsa em parcela de interior de floresta. F: Seção Second Edition, Cambridge University Press, New York. transversal de E. excelsa em parcela de borda de 196 p. oleoduto. Barra=100 µm. [10] Pohlman, C.; Turton, S. M. & Goosem, M. 2007. Edge effects of linear canopy openings on Tropical Rain Forest understory microclimate. Biotropica 39(1): 62-71. outras espécies do mesmo gênero 5, 6, 7, 8. Os indivíduos de borda e de interior de floresta tanto de E. excelsa quanto de P. inaequalis não apresentaram diferenças anatômicas qualitativas, mas apresentaram variação principalmente na porcentagem de fibras e parênquima

16 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 ESTRUTURA POPULACIONAL DE Inga capitata (FABACEAE) NA REBIO UNA, BAHIA, BRASIL

Cauê Carvalho De Paula1,2; Diogo S. B. Rocha1,2 & André M. Amorim1,2

1 Universidade Estadual de Santa Cruz, Departamento de Ciências Biológicas, Ilhéus, Bahia. 2 Herbário CEPEC, CEPLAC, Ilhéus, Bahia *[email protected]

Introdução Resultados Na ecologia vegetal, analisar características populacionais, como densidade, distribuição etária e Foram amostrados 18 indivíduos de Inga capitata, espacial, auxiliam na compreensão das comunidades e distribuídos em 14 parcelas. A espécie apresentou ecossistemas, pois são fatores intrínsecos ao grupo (1). densidade de 60 indv./ha e índice de Morisita de 1.14. Nesse sentido, o modelo de Janzen-Connel (2; 3) Apresentou altura média de 8,5m e máxima de 22m. permite inferir sobre a distribuição etária e espacial para Quanto à distribuição de frequência de indivíduos por espécies de ambientes tropicais: grande quantidade de altura (Figura 1) e diâmetro (Figura 2), notou-se maior indivíduos jovens e poucos adultos, visto que poucos número de indivíduos nas classes inferiores (até 10m superam os estágios iniciais de vida devido aos alt. e 10 cm DAP) do que nas superiores (acima de 10m elevados níveis de competição e predação, alt. e 10 cm DAP). aglomerados em torno da árvore-mãe, região que oferece os recursos necessários à sobrevivência. Assim, populações fora deste padrão esperado, com jovens escassos, correm o risco de extinguir-se (4), visto que não há recrutamento suficiente.

Fabaceae é composta atualmente por 727 gêneros e cerca de 19.000 espécies (5), sendo uma das maiores famílias das angiospermas. Espécies de Inga Mill tem porte arbóreo arbustivo, folhas compostas pinadas, glândulas interfoliolares em forma de cálice, raque alada, frutos carnosos indeiscentes, alongados e adocicados, flores com estames numerosos e vistosos (6). Estudos descritivos de comunidades de Mata Atlântica na região do sul da Bahia indicaram a Figura 1: Frequência de indivíduos de Inga capitata por presença de espécies de Inga em diversos estratos e categorias de altura em metros, amostrados na REBIO Una, classes de DAP (7; 8), evidenciando a importância do Bahia, Brasil. gênero na composição das comunidades.

O presente estudo teve por objetivo descrever a estrutura populacional de Inga capitata em um fragmento de Floresta Atlântica localizada na REBIO Una. Metodologia Área de estudo – Os dados foram coletados na Reserva Biológica de Una (REBIO Una), Município de Una, Bahia, Brasil. A vegetação predominante na REBIO é Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas (9)

Coleta de dados – Foram alocadas 30 parcelas de 2X50m, nas quais foram medidos DAP e altura de todos Figura 2: Frequência de indivíduos de Inga capitata por os indivíduos de Inga capitata com DAP ≥2,5 cm categorias de DAP em centímetros, amostrados na REBIO Análise dos dados- Para descrever a estrutura, Una, Bahia, Brasil. analisadas as frequências das classes de DAP e altura e calculadas as densidades de indivíduos/ha., altura média e o índice de dispersão de Morisita (10): Discussão Id = [n (Σx 2 – N)] /(N(N-1)) A partir do índice de Morisita (>1), infere-se que a Inga capitata no qual n é o número de parcelas amostradas, x, o população de na área amostrada número de indivíduos em cada parcela amostrada e N é apresenta distribuição agregada. Esse padrão foi o total de indivíduos contidos em todas as n parcelas. observado para outras espécies do gênero, como Inga

17 alba, em matas de galeria do Distrito Federal (11), por on Herbaceous Taxa. 2ª edição, The University of exemplo. A densidade de Inga capitata encontrada na Chicago Press; REBIO é semelhante à registrada em fragmentos de Mata atlântica do Sergipe, 65 ind./ha (13). [7] Rocha, D.S.B. & Amorim, A.M. 2012. Heterogeneidade altitudinal na Floresta Atlântica As alturas média e máxima encontradas (8,5 e 22m) setentrional: um estudo de caso no sul da Bahia, Brasil. indicam que esta espécie ocorre predominantemente no Acta Botanica Brasilica 26(2), p.309-327. sub-bosque, com alguns indivíduos chegando a compor o dossel da REBIO, o qual apresenta cerca de 25 m de [8] Lopes, L. C. M., Amorim, A. M., Mariano-Neto, E. altura (8). Em descrições da comunidade regenerante e 2013. Estrutura da comunidade regenerante e arbustiva arbustiva da área, a espécie também foi abundante (8). no mosaico edáfico em uma floresta Tropical Atlântica Na Floresta Montana da RPPN Serra Bonita - BA foi no Brasil. Dissertação de Mestrado, UESC. encontrada uma estrutura similar para I. capitata, com a [9] IBGE. 1992. Manual Técnico da Vegetação maior concentração de indivíduos ocorrendo também Brasileira. Série Manuais Técnicos em Geociências, vol nos estratos inferiores, apesar do registro de dois 1. DEDIT/CCDI, Rio de Janeiro, RJ. indivíduos da espécie com altura acima de 15 metros (7). [10] Morisita, M. 1962. I σ-Index, a measure of dispersion of individuals. Researches on Population Como poucos indivíduos atingem a fase adulta devido à Ecology, 4(1), 1-7. alta taxa de mortalidade dos juvenis (2; 3), é importante para a manutenção da população na comunidade, que [11] Onghero, A. M. & Oliveira, M. C. 2013. Dinâmica haja muitos juvenis e poucos adultos. A estrutura da Populacional de Inga alba (Sw.) Willd. (FABACEAE) em população de Inga capitata, apresentou graficamente Mata de Galeria perturbada no Distrito Federal. um “J” invertido, com grande número de indivíduos nas Trabalho de Conclusão de Curso, UnB. primeiras classes e decréscimo nas últimas. Assim, pode-se inferir que esta população na REBIO Una está [12] Souza-Alves, J.P., Barbosa, M. R. V., Ferrari, S. F. em crescimento e não sofreu perturbações recentes e & Thomas, W. W. 2014. Diversity of trees and lianas in que a espécie é predominante no sub-bosque em two sites in the coastal Atlantic Forest of Sergipe, northeastern Brazil. Check List, 10(4): 709–717. demais localidades do seu eixo de distribuição. Agradecimentos Agradecemos à Universidade Estadual de Santa Cruz e ao Herbário CEPEC, CEPLAC pela infraestrutura disponibilizada. Também ao CNPq pelo financiamento do projeto (457483/2012-1) e bolsa de Iniciação Científica do primeiro autor e de produtividade do último autor. À CAPES pela bolsa de doutorado do segundo autor. Referências Bibliográficas [1] Odum, E. P. 1975. Ecology, 2ª edição. Holt/ Rinehart/ Winston, p. 121-149.

[2] Janzen, D.H. 1970. Herbivores and the Number of Tree Species in Tropical Forests. The American Naturalist;

[3] Connel, J.H. 1971. On the role of natural enemies in preventing competitive exclusion in some marine animals and in rain forest trees, in: Den Boer, P.J., Gradwell, G.R. (Eds.), Dynamics of Population. Wageningen, Pudoc;

[4] Almeida, F. S. & Cortiez, E. 2008. Estrutura populacional e distribuição espacial de Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr. Floresta e Ambiente, v.15, n.2, p. 18 - 23;

[5] Lewis, G. P., SCHRIRE, B. D., MACKINDER, B. A., LOCK, J.M. 2005 Legumes of The World. Royal Botanic Gardens, Kew, UK;

[6] Gentry, A. H. 1996. A Field Guide to the Families and Genera of Woody Plants of Northwest South America (Colombia, Ecuador, Peru) with Supplementary Notes

18 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ESTRUTURA ESPACIAL E DIAMÉTRICA DE Tovomita brevistaminea Engl. e Vismia pentagyna (Spreng.) Ewan NO PARQUE NACIONAL SERRA DAS LONTRAS, BAHIA BRASIL Diogo S. B. Rocha¹, Lucas C. Marinho², André M. Amorim¹,³ ¹ Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia; ² Programa de Pós-graduação em Botânica da Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Bahia; ³ Herbário CEPEC, Itabuna, Bahia; [email protected]

Introdução Foi utilizado o Índice de Dispersão de Morisita (Id) 8 para avaliar os padrões de distribuição espacial das espécies. As populações de plantas são estruturadas pela ação de fatores bióticos e abióticos, que atuam nos Resultados e Discussão indivíduos atuais e ancestrais, afetando a distribuição 1 espacial e estrutura etária dos mesmos . Estudos Foram amostrados 60 indivíduos do clado Clusióide, relacionados à estrutura populacional e distribuição das sendo Tovomita brevistaminea e Vismia pentagyna as espécies podem auxiliar no entendimento de como uma mais abundantes com 14 e 20 indivíduos e densidade população arbórea está se regenerando e como está de indivíduos de 140 e 166 inv.ha-1 respectivamente. 2 distribuída em sua área de ocorrência . O valor do Índice de Dispersão de Morisita (Id) Clusiaceae e Hypericaceae fazem parte do clado encontrado foi de 1,97 para T. brevistaminea e 3,6 para Clusióide, ordem Malpighiales, juntamente com V. pentagyna. Estes valores indicam um padrão de 3 Bonnetiaceae, Calophyllaceae, e Podostemaceae . O distribuição agregado para ambas as espécies. grupo é morfologicamente diverso, apresentando desde Em geral, as plantas tendem a apresentar uma 4 espécies arbóreas e latescentes, até ervas aquáticas . distribuição agregada devido a sua sobrevivência Exceto Podostemaceae, as clusióides são importantes depender, especialmente, dos fatores abióticos como componentes das florestas tropicais (ca. 3% do composição edáfica, luminosidade, precipitação e 4 componente) . temperatura do ar9. Apesar da síndrome de dispersão Este trabalho tem como objetivo caracterizar a estrutura das espécies estudadas ser zoocórica, o que poderia populacional de Tovomita brevistaminea e Vismia gerar uma distribuição aleatória ou uniforme, a pentagyna no Parque Nacional da Serra das Lontras heterogeneidade ambiental da área de estudos (PNSL), sul da Bahia. (diferentes altitudes) pode influenciar esta distribuição, pois mesmo que os animais possam dispersar as Metodologia sementes em maiores distâncias, as plantas podem não se estabelecer nos locais menos favoráveis. O Parque Nacional da Serra das Lontras é uma unidade Tomovita brevistaminea foi registrada tanto na cota de de conservação federal criada em 2010, localizada nos 500, quanto na de 800m, sendo mais abundante nas municípios de Arataca e Una - Bahia. O Parque possui terras mais baixas, com distribuição agregada, sempre uma área de aproximadamente 11.336 hectares e nas proximidades de rios e riachos, corroborando uma abrange a região das Serras das Lontras, Javi e Quatis, observação comum para esta espécie que ocorre com altitudes elevadas, que chegam a 1.000m nos tipicamente associada a áreas próximas a cursos topos. d’água6. Foram amostrados todos os indivíduos com DAP ≥2,5 Vismia. Pentagyna previamente associada à borda de cm em 60 parcelas de 2x50 m, sendo 30 à ca. 500 m de mata, apresentou uma distribuição agregada e restrita altitude e 30 à ca. 800 m. às áreas mais altas (800m), que apresenta A estrutura de tamanho das populações foi avaliada características similares às bordas de mata, com maior através da distribuição de DAP em intervalos de classe. 7 incidência solar e ação de ventos. Indicando, que as Sendo utilizado o algoritmo de Sturges como base para duas espécies possuem adaptações diferentes em a divisão das mesmas. A amplitude das classes foi relação aos fatores ambientais. estabelecida com base na fórmula A/K (A= amplitude dos valores de diâmetro; K= o número de intervalos de classes).

19 As populações de T. brevistaminea e V. pentagyna [5] Stevens, P.F. 2015. Malpighiales. In: Angiosperm apresentaram o maior número de indivíduos Phylogeny Website. Version 12, July 2012 [and more or concentrado nas classes de menor DAP (Figura 1) e less continuously updated since]. Disponível em: poucos indivíduos nas classes de maior DAP (3 http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/; acesso indivíduos), evidenciando que ambas as populações em 5 jan. 2015. estão em crescimento10 ou em auto regeneração11;12. [6] Marinho, L.C. 2015. Estudos taxonômicos em Assim, os indivíduos com maior DAP seriam aqueles Tovomita (Clusiaceae) da Floresta Atlântica brasileira. reprodutivamente maduros e potencialmente capazes Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de de manter o estoque de sementes na área, e indivíduos Feira de Santana. jovens garantiriam a manutenção da população, mesmo [7] Magurran A.E. Measuring Biological Diversity, havendo alta taxa de mortalidade destes indivíduos até Blackwell Science, Malden, MA, USA, 2004, 256 p. 13 o seu estabelecimento . [8] Morisita, M. (1962). I σ-Index, a measure of dispersion of individuals.Researches on Population Ecology, 4(1), 1-7. a) [9] Mueller-Dombois, D. & Ellenberg, H. Aims and methods of vegetation ecology. New York: Willey and Sons, 1974. [10] Martins, F. R. Estrutura de uma floresta mesófila. 2. ed. Campinas: Unicamp, 1993. [11] Aquino, F. D. G., Walter, B. M. T., & Ribeiro, J. F. (2007). Dinâmica de populações de espécies lenhosas de Cerrado, Balsas, Maranhão. [12] Whitmore, T. C. Tropical rain forest of the far east. Oxford: Claredon Press, 1975. [13] Dislich, R. & Mantovani, W. 1998. A flora de epífitas b) da reserva da Cidade Universitária "Armando de Salles Oliveira" (São Paulo, Brasil). Boletim Botânico da Universidade de São Paulo 17: 61-84.

Figura 1 - Frequência de indivíduos de a) Tovomita brevistaminea Engl. (Clusiaceae) e b) Vismia pentagyna (Spreng.) Ewan (Hypericaceae) por categorias de DAP em centímetros.

Agradecimentos Agradecemos ao CNPq pela concessão das bolsas de Doutorado ao primeiro e segundo autor, bolsa de produtividade ao terceiro autor e pelo financiamento do estudo através do Projeto PPBio (457483/2012-1). Referências Bibliográficas [1] HUTCHINGS, M. J. The structure of plant populations. In: CRAWLEY, M. J. (Ed.). Plant ecology. Oxford: Blackwell Science, 1997. p. 325-358. [2] de Souza, J. P., & Coimbra, F. G. (2006). Estrutura populacional e distribuição espacial de Qualea parviflora Mart. em um Cerrado sensu stricto. Bioscience Journal, 21(2). [3] APG III. 2009. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society 161: 105–121. [4] Ruhfel, B. R.; Bittrich, V.; Bove, C. P.; Gustafsson, M. H.; Philbrick, C. T.; Rutishauser, R.; ... & Davis, C. C. (2011). Phylogeny of the clusioid clade (Malpighiales): evidence from the plastid and mitochondrial genomes. American Journal of Botany, 98(2), 306-325.

20 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 INFLUENCIA DAS CAPTURAS ACIDENTAIS DE TEIÚ (TUPINAMBIS MERIANAE) (SQUAMATA; TEIIDAE) NAS CAPTURAS DE PEQUENOS MAMÍFEROS. Emerson Nascimento1*, Gisele R. Winck1, Helena G. Bergallo1, Maja Kajin1 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia, Departamento de Ecologia, Laboratório de Ecologia de Mamíferos, Rio de Janeiro, RJ; *[email protected]

Introdução Referências Bibliográficas O método de captura-marcação-recaptura (CMR) com armadilhas é um método muito utilizado para estudos [1] Winck, G. R et al. 2008. Hibernation and emergence populacionais de pequenos mamíferos, permitindo a pattern of Tupinambis merianae (Squamata: Teiidae) in the Taim Ecological Station, southern Brazil, obtenção de medidas individuais e parâmetros Journal of Natural History 42(3-4) 239- 247 demográficos. Porém, este método é frequentemente [2] Magnusson, W.E.; Lima, A.P; Luizão, R.; Luizão, F.; suscetível à captura de outros taxa além do táxon de Costa, F.R.C.; Castilho, C.V. & V.F. Kinupp. 2005. interesse. Quando uma armadilha é ocupada por um RAPELD: A modification of the Gentry method for indivíduo de uma espécie que não é a de interesse do biodiversity surveys in Long-Term Ecological Research Sites. Biota Neotropica. 5(2):1-6. estudo, ela deixa de estar disponível para captura de um indivíduo da espécie de interesse, prejudicando o esforço amostral planejado. O lagarto Tupinambis. merianae e o marsupial Didelphis. aurita, ambos generalistas em termos de dieta, co-ocorrem na Ilha Grande, Município de Angra dos Reis, RJ1. Na primavera/verão (período de atividade de teiús) foram observadas em campo inúmeras capturas de teiú em armadilhas destinadas à captura de pequenos mamíferos, indicando a interferência na amostragem. O objetivo deste trabalho é quantificar a perda de armadilhas para a captura de pequenos mamíferos em função da captura acidental de teiús no período de atividade deles. Metodologia A área de estudo está localizada dentro dos limites da Mata Atlântica no Parque Estadual da Ilha Grande, situada no município de Angra dos Reis, RJ (23º 05’ – 23º 15’S; 44º 05’ – 44º 23’ W). As coletas serão feitas em metodologia RAPELD2 dentro do módulo leste. Pequenos mamíferos e lagartos estão sendo capturados pelo método CMR nas duas estações climáticas do ano por 5 noites cada. Para identificação individual os pequenos mamíferos estão sendo marcados com brincos e os teiús serão marcados por método de toe-clipping. Ao serem capturados terão sua massa e tamanho corporal medidos. Serão quantificadas as proporções de captura de teiús em relação ao total de armadilhas disponíveis em ambas as estações climáticas. Resultados Esperados É esperado que no período de agosto a abril, quando ocorre atividade de lagarto Tupinambis. merianae, haverá uma diminuição do esforço amostral por perda de armadilhas disponíveis devido à captura indevida do lagarto, o mesmo não ocorrerá no período de inverno, quando os teiús hibernam. Agradecimentos HGB agradece à FAPERJ (E26/201.267/ 2014) e ao CNPq (307781/2014-3 457458/2012-7), MK agradece à FAPERJ (E26/110.844/2013). Todos os autores agradecem ao CEADS/UERJ e ao INEA pela permissão para coletas.

21 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

DENDROECOLOGIA DE PARATECOMA PEROBA (RECORD) KUHLM (BIGNONIACEAE) NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA ESTADUAL DE GUAXINDIBA

Glaziele Campbell da Silva1,*, Cátia Henriques Callado2, Saulo Pireda1, Jonas de Brito C. Marques1, Igor Gomes Campista1, Guilherme Rodrigues Rabelo1, Maura Da Cunha1 1 Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro/ UENF. Centro de Biociências e Biotecnologia, Laboratório de Biologia Celular e Tecidual, Setor de Biologia Vegetal. Campos dos Goytacazes, RJ; 2. Universidade Estadual do Rio de Janeiro/ UERJ, Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, Departamento de Botânica, Rio de Janeiro, RJ; *[email protected]

Posteriormente, os cortes foram clarificados, Introdução desidratados e corados em azul de Astra e safranina A espécie Paratecoma peroba possui um grande valor hidroalcoólica para a confecção de lâminas permanentes. comercial devido a sua madeira dura e de boa Outros fragmentos da amostra foram submetidos à resistência, tendo por isso sofrido intensa exploração1. maceração e dissociação dos elementos celulares com Esta espécie é encontrada na Estação Ecológica posterior confecção de lâminas semipermanentes. Estadual de Guaxindiba (EEEG) como uma das cinco espécies de maior índice de importância ecológica2. Esta área é caracterizada pela marcada sazonalidade com período de inverno seco e chuvas concentradas no verão3, o que pode interferir nas características da anatomia do lenho desses indivíduos. Visto que a variação cambial entre estados dormente e ativo pode ocasionar marcação na anatomia do lenho, formando anéis de crescimento distintos com células de características peculiares de acordo com o período do Figura 1. A. Coleta de lenho de Paratecoma peroba para análise 4 ano . Dessa forma, o estudo da atividade cambial da atividade cambial com auxílio de Sonda Pressler. B. Vista do acompanhada pela anatomia do lenho permite dossel evidenciando um indivíduo de P. peroba na Estação compreender a periodicidade de formação dos anéis de Ecológica Estadual de Guaxindiba no período de inverno. crescimento e, consequentemente, auxiliar nos estudos de dendroecologia e dinâmica de crescimento das Para análise da atividade cambial, amostras contendo 5 espécies arbóreas . Com o objetivo de melhor zona cambial, floema e xilema secundários recém- compreender a estrutura anatômica do lenho e a formados foram coletados e fixados em solução fixadora dinâmica de formação dos anéis de crescimento, o ainda no campo Posteriormente, o material foi submetido presente trabalho propõe caracterizar a anatomia do à desidratação, infiltração e inclusão em Historesina® lenho de P. peroba, assim como, descrever a para confecção de blocos que foram cortados em sazonalidade da atividade cambial ao longo das estações micrótomo rotativo a uma espessura média de 3 μm nos na EEEG. planos transversal e longitudinal radial, os cortes foram corados com Azul de Toluidina O e montados em lâminas Metodologia permanentes. Todas as lâminas foram observadas em A área de estudo compreende a Estação Ecológica microscópio óptico para as análises e descrições. Estadual de Guaxindiba, uma floresta Estacional Resultados Semidecidual de Terras Baixa6, que compõem o Módulo Guaxindiba/RJ do PPBio Mata Atlântica, localizada no As análises preliminares mostraram que o lenho de P. município de São Francisco do Itabapoana. Sessenta e peroba (Fig. 2) apresenta anéis de crescimento distintos, um indivíduos de P. peroba foram identificados e demarcados por uma zona de fibras espessas; presença marcados em duas trilhas da EEEG. Desses, 16 foram de elementos de vasos de formato circular a oval, com selecionados para serem utilizados como parte do porosidade difusa, agrupados em cachos ou em desenvolvimento do presente estudo. As amostras do agrupamento radial de 4 ou mais elementos; placas de lenho foram coletadas por método não destrutivo com perfuração simples; pontoações intervasculares Sonda Pressler (Fig. 1). Para as análises de descrição areoladas e alternas; parênquima axial paratraqueal anatômica, as amostras contendo xilema secundário vasicêntrico ou em faixas; parênquima radial de 1 a 3 foram submetidas a processamento, constando de células de largura, heterogêneos, formados por células amolecimento, secção em micrótomo de deslize em procumbentes na região central e com células quadradas espessura média de 15 μm nos planos transversal, e/ou eretas nas margens. longitudinal radial e longitudinal tangencial.

22 presença de folhas senescentes e queda foliar da espécie no mesmo período8. Estes resultados possibilitam a continuidade dos estudos, servindo de base para as próximas análises da dendrocronologia dos outros indivíduos de P. peroba identificados. Assim, ao final de toda a pesquisa essas análises servirão de base para um diagnóstico do histórico de perturbações, mudanças climáticas e dinâmicas de crescimento dessa espécie dentro da EEEG. Agradecimentos

Às instituições de fomento Capes, CNPq e FAPERJ. Ao Instituto Estadual do Ambiente (INEA) pela concessão da autorização para pesquisa científica em unidade de conservação sob o número 020/2014. À toda equipe comprometida no desenvolvimento do presente trabalho. Figura 2. Anatomia do lenho de Paratecoma peroba. em Referências Bibliográficas Microscopia óptica. A. Seção transversal, demonstrando [1] LINS, B. L.A. & NASCIMENTO, M.T. 2007. Efeito do corte distribuição e formato dos elementos de vaso e parênquima axial seletivo na fenologia de Paratecoma Peroba (Record) B. Seção Longitudinal tangencial, demonstrando o parênquima Kuhlm. (Bignoniaceae) em uma mata de tabuleiro na raio radial. C. Seção longitudinal radial, demonstrando os raios Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, São Francisco de Itabapoana, RJ. In: Anais do VIII Congresso de Ecologia heterogêneos. C. Macerado, evidenciando os elementos de do Brasil. Caxambu – MG. vaso e fibras. Barras: 100 µm [2] NASCIMENTO, M.T. & LIMA, H.C. 2008. Floristic and Structural Relationships of a Tabuleiro Forest in Em relação a análise da atividade cambial, as amostras Northeastern Rio de Janeiro, Brazil. In: Thomas, E. The Atlantic Coastal Forest of Northeastern Brazil. Memoirs of de câmbio avaliadas até o momento (Fig. 3) mostram que the New York Botanical Garden 100, 395-416. nos meses referentes ao inverno, P. peroba apresenta [3] SILVA, G.C. & NASCIMENTO, M.T. 2001. Fitossociologia de zona cambial com largura média de 4 células e 31 μm, um remanescente de mata sobre tabuleiro no norte do estado do Rio de Janeiro (Mata do Carvão). Revista zona de alongamento e diferenciação celular justaposta à Brasileira de Botânica 24, 51-62. zona cambial na face do xilema secundário com largura [4] COSTA, C.G. CALLADO, C.H ; CARADIN, V.R. & média de 19 μm e células iniciais fusiformes com 8 μm de CARMELLO-GUERREIRO, S.M. 2006 Xilema. In: APEZZATO-DA-GLÓRIA, B. & CARMELLO-GUERREIRO, diâmetro. S.M. (Eds.). Anatomia Vegeal. 2 ed.atual. Viçosa: Editora UFV. [5] OGDEN, J. 1981. Dendrochronological studies and the determination of tree ages in the Australian tropics. Journal of Biogeography 8, 405-420. [6] RIZZINI, C.T. 1979. Tratado de fitogeografia do Brasil. EDUSP, São Paulo. [7] CORADIN, V.T.R.; CAMARGOS, J.A.A.; PASTORE, T.C.M. & CHRISTO, A.G.. 2010. Madeiras Comerciais do Brasil. Versão 1.0. [8] LINS, B. L.A. & NASCIMENTO, M.T. 2010. Fenologia de Paratecoma peroba (Bignoniaceae) em uma floresta estacional semidecidual do norte fluminense, Brasil. Rodriguésia 61(3), 559-568. Figura 3. Microscopia óptica para análise da atividade cambial de Paratecoma peroba. A. Seção transversal, sendo possível observar a zona cambial, xilema e floema secundários recém- formados e zona de alongamento e diferenciação do xilema secundário B. Seção Longitudinal radial, sendo possível observa as células radiais e as iniciais fusiformes. Barras: 100 µm Discussão

A descrição da anatomia do lenho de P. peroba fornece conhecimento dos tipos celulares constituintes, sua organização e distinções estruturais, corrobora e complementa os dados existentes7 e fornece subsídios à taxonomia da família Bignoniaceae e aos padrões ambientais da área. Enquanto que as características observadas para a atividade cambial estão de acordo para a estação do ano, provavelmente marcando um período de dormência do câmbio, associado ao clima seco com baixo aporte hídrico na área e também à

23 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro,10-11 de Agosto de 2015

VARIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE E UTILIZAÇÃO DE ITENS ALIMENTARES DE PEQUENOS MAMÍFEROS NA ILHA GRANDE, RJ

Lilith Lima*, Chaenny da Silva, Maria Carlota Enrici, Helena G.Bergallo, Maja Kajin Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes; Departamento de Ecologia; Laboratório de Ecologia de Mamíferos - LEMA *[email protected]

Introdução quantificação de biomassa em cada ponto amostral. A biomassa foi quantificada para cada ordem e para cada Estudos sobre a dieta de mamíferos são necessários para parcela de amostragem. Para a coleta de fezes foram compreender os processos ecológicos como as relações colocadas toucas cirúrgicas descartáveis nas armadilhas de nicho, processos competitivos, coexistência, predação Tomahawk. E nas armadilhas Sherman as fezes foram e sua influência sobre o ecossistema, bem como a [1] coletadas com auxilio de pincéis. Depois de coletadas as heterogeneidade na abundância de animais . Assim fezes foram armazenadas em potes devidamente como outros fenômenos de interesse ecológico, o estudo identificados para posterior análise. da dieta compreende a descrição de padrões e a quantificação da variação de itens consumidos, assim Resultados Preliminares e Esperados como a busca das possíveis causas desta variação[2]. Os itens alimentares inclusos na dieta de pequenos Na estação úmida houve uma maior diversidade nas mamíferos são frutos, sementes, pequenos vertebrados e ordens de artrópodes terrestres em comparação com a artrópodes, sendo os artrópodes terrestres um dos estação seca. Porém, nessa estação teve uma maior principais. A disponibilidade de artrópodes terrestres pode quantidade de biomassa da ordem Hemynoptera ser influenciada por diferentes fatores, tais como, estação (Biomassa = 2,18g). Foi observada biomassa dessa climática e altitude. Em períodos de escassez de ordem em diferentes altitudes (Palmeiras altitude 165m - artrópodes os mesmos são recompensados na biomassa de 2,68g\ Poço do Soldado altitude 447m - alimentação pela utilização de outros itens alimentares. biomassa 24,26g\ Jaqueira altitude 152m – biomassa Uma forma de avaliar a utilização dos recursos pelos 2,51g). A maior biomassa da Ordem Coleóptera foi pequenos mamíferos é a análise do conteúdo fecal. Os encontrada somente em uma das parcelas com maior objetivos deste projeto são: 1) avaliar a variação da altitude (Poo ç do soldado – biomassa 26,38g) e as disponibilidade de artrópodes terrestres em função da demais ordens mantiveram uma quantidade relativamente altitude e estação climática e 2) quantificar a variação da constante na biomassa. Estes resultados ainda são proporção de artrópodes e demais itens alimentares preliminares, porém mostraram uma tendência da relação presentes nas fezes de pequenos mamíferos. entre a quantidade de artrópodes, a abundância e riqueza de pequenos mamíferos. Através das análises das fezes, Metodologia é esperado que os artrópodes terrestres sejam o item alimentar mais utilizado pelos mamíferos generalistas na Foram realizadas quatro excursões de captura-marcação- estação úmida e que a utilização de frutos e outros itens recaptura de pequenos mamíferos de acordo com a [3] alimentares seja secundária. metodologia RAPELD , em duas áreas de estudo (Vila Dois Rios e Vila Abraão), no Parque Estadual da Ilha Discussão Grande, município Angra dos Reis, RJ. O módulo corresponde a 10 parcelas, cada com 25 pontos de A disponibilidade de artrópodes terrestres coletados nas captura. Foram instaladas doze armadilhas de queda em armadilhas de queda (pitfalls) variou entre a estação seca pontos intercalados (20 metros). As armadilhas, e úmida, com uma maior disponibilidade na estação [4] adaptadas de garrafas PET, apresentam úmida, como encontrado em outros estudos . Foi aproximadamente 10cm de diâmetro de abertura. Estas observado que na estação úmida houve uma maior são enterradas com a abertura ao nível do solo para a diversidade de ordens de artrópodes terrestres coleta de artrópodes terrestres. As armadilhas de queda disponíveis, aumentando assim a diversidade de capturas foram preenchidas com um terço do seu volume total de de pequenos mamíferos em comparação a estação seca. água e detergente e permanecem abertas por 3 dias (72 Visto que nesta estação houve apenas um aumento na horas) em cada excursão. Os artrópodes coletados foram biomassa da ordem Hemynoptera e uma única espécie de armazenados em tubos falcons com álcool 70% para marsupial (Didelphis aurita) capturado (Figura 1). A adequada conservação. Em laboratório os mesmos foram variação altitudinal apresentou uma diferença nas duas triados, identificados, ao nível taxonômico de ordem com áreas do estudo. Em Vila dois rios, a parcela com maior auxílio de bibliografia especializada, e pesados para a altitude é a do Poço do soldado.

24 Agradecimentos 447m) apresentou uma notável diversidade de artrópodes Ao CNPq 457458/2012-7, a FAPERJ E-26/110.284/2010 e registrou uma maior riqueza e abundância de espécies e E-26/110/844/2013 pelo financiamento à pesquisa, ao de pequenos mamíferos capturados em comparação a Instituto Estadual do Ambiente - INEA e ao CEADS pelo parcela de menor altitude (Palmeiras - altitude 165m), que transporte e alojamento para a realização dos trabalhos ocorreu somente um aumento na biomassa de uma única de campo. ordem (Hymenoptera). Em Abraão, a parcela com menor Referências Bibliográficas altitude (Jaqueira - altitude 153m) apresentou uma [1] CASELLA, J.; CÁCERES, N.C. 2006. Diet of four numerosa diversidade nas ordens de artrópodes small mammals species from Atlantic forest patches terrestres do que na parcela com uma maior altitude (Pico in South Brazil. Neotropical and Conservation 1 do papagaio - altitude 692m) porem apresentou uma (1):5-11 maior diversidade nas espécies de pequenos mamíferos [2] LESSA, L. G.; GEISE, L. 2010. Hábitos alimentares (Figura 2). Estes resultados indicam que há uma forte de marsupiais didelfídeos brasileiros: análise do estado de conhecimento atual. Oceologia Australis variação sazonal na disponibilidade de recursos 14(4): 918-927. alimentares para pequenos mamíferos, o que pode [3] MAGNUSSON, W.E. et al. 2005. RAPELD: A sugerir variações tanto na abundância quanto na modification of the gentry method for biodiversity composição de espécies de pequenos mamíferos na Ilha surveys in long-term ecological research sites. Biota Grande. Visto que os resultados são preliminares precisa- Neotropica 5 (2), 1-6. se de mais dados para uma melhor conclusão sobre a [4] Bergallo & Magnusson. Effects of climate and food availability on four rodent species in southeastern variação altitudinal. Brazil. Journal of Mammalogy, 80(2):472-486, 1999.

Figura 1: Quantidade (biomassa medida em gramas no eixo Y) de artrópodes terrestres em relação à sazonalidade.

Figura 2: Quantidade (biomassa medida em gramas no eixo Y) dos artrópodes terrestre em relação à altitude

25 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ESPECIES DE AVES SENSIVEIS À PERTURBAÇÃO ANTRÓPICA EM FLORESTA NA ILHA GRANDE, ANGRA DOS REIS, RJ

L. Martin Vallejos1*, Edvandro A. Ribeiro1, Mauricio B. Vecchi2, Maria Alice S. Alves2 1 Pós-graduação em Ecologia e Evolução, IBRAG, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Rio de Janeiro 2Departamento de Ecologia, IBRAG, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Rio de Janeiro *[email protected]

aleatoriamente ou não, assumindo que uma maior Introdução associação a um conjunto de parcelas amostradas indica Indicadores ecológicos têm sido usados para detectar uma associação a um conjunto de características destas. mudanças na natureza nos últimos 40 anos e atualmente, As análises foram realizadas no software R incluídas no eles são usados principalmente para avaliar as condições pacote “Indicspecies”. 1 do ambientais . As aves são um grupo que se pode usar Resultados como uma ferramenta para o monitoramento ecológico, por serem fáceis de serem detectadas e por que se Utilizando a presença ou ausência da espécie de planta encontra em praticamente todos os ambientes2. indicadora nas parcelas amostradas, as parcelas L1- Para ambientes florestais tropicais, pouco se sabe acerca 1500, L1-2500, L1-3500, L2-3500, L2-4500 foram da biologia de algumas espécies, bem como das categorizadas como de alta qualidade, enquanto as exigências de habitats, estrutura social e outros fatores parcelas L1-500, L1-4500, L2-500, L2-1500, L2-3500, determinantes de presença e abundância3. Devido a isso, foram categorizadas como de baixa qualidade. qualquer fator determinante da estrutura da comunidade Foram registradas 66 espécies de aves nas parcelas é subamostrado na riqueza, complexidade e amostradas. Dentre as espécies que mostraram como heterogeneidade das comunidades de aves tropicais4. indicadoras de qualidade do habitat foram Chamaeza Em paisagens fragmentadas, geralmente ocorre a campanisona (p=0,042) e Saltator similis (p=0,047) para substituição de espécies raras ou especializadas pelas áreas de alta qualidade. Além dessas espécies, Tinamus mais abundantes-generalistas, mais adaptadas a áreas solitarius (p=0,11) e Lipaugus lanioides (p=0,12) tiveram abertas5. Assim se pode associar a presença / ausência resultado marginalmente significativas. de algumas espécies com a qualidade ambiental. Uma A parcela com maior riqueza de aves foi L2-2500 com 35 vez que as espécies respondem às alterações do hábitat espécies enquanto que L2-3500 com 15 espécies a qual de forma diferenciada de acordo com o bioma e o tipo de foi a parcela com menor riqueza no presente estudo vegetação amostrada, é importante avaliar como as (Figura 1). Não houve diferença significativa entre a espécies respondem às essas alterações localmente6. riqueza das parcelas de alta e de baixa qualidade (t=1,57 O objetivo do presente estudo é indicar espécies de aves p=0.27) (Figura 2). sensíveis à a atividades antrópicas em floresta ombrófila densa na Ilha Grande, bem como comparar a riqueza de espécies registradas em parcelas com alta e baixa qualidade ambiental. Metodologia

A área de estudo compreende a faixa do módulo leste do projeto RAPELD de 10 parcelas com diferentes graus de antropização na Ilha Grande, compreendidas entre as Vilas do Abraão e Dois Rios em Floresta Ombrófila Sub- Figura 1: Riqueza de espécies nas parcelas amostradas montana e Montana. A coleta de dados foi realizada por do RAPELD, no modulo Leste da Ilha Grande, RJ Alta= meio de dois pontos fixos de 50 m de raio/20 min cada. Alta qualidade, com ausência de Miconia cinnamomifolia Além de uma transecção de 300 m. de extensão por 50 e Baixa = baixa qualidade, com a presença desta m. de cada lado por parcela. Esta amostragem foi espécie. realizada durante Setembro de 2014 de Março de 2015 sendo cada parcela amostrada uma vez neste período. 40 Miconia cinnamomifolia (Melastomatacea) foi considerada 32 como espécie indicadora de baixa qualidade ambiental7. Se estimou a riqueza de espécies de cada parcela para 24 comparar se entre as áreas de alta e baixa qualidade poderia ter alguma diferencia significativa entre elas. 16

A análise dos dados utilizou o método de espécies 8 indicadoras8 que avalia se uma espécie esta distribuída 0 Pristina Secundari 26 Figura 2: Media do número de espécies nas áreas de significativo quanto à sensibilidade à qualidade ambiental. Alta e baixa qualidade nas parcelas amostradas do A primeira é categorizada como globalmente ameaçada e RAPELD do módulo Leste da Ilha Grande, RJ. a segunda como quase ameaçada, sendo consideradas como prioritárias para a conservação12. Das 66 espécies registradas, Patagioenas plumbea O aumento do número de parcelas amostrais pode ajudar (n=26) e Lipaugus lanioides, Chiroxiphia caudata e a refinar os dados obtidos e apontar outras espécies Saltator similis (n=16), Pyriglena leucoptera (n= 15) foram como indicadoras de qualidade ambiental. as espécies mais abundantes nas parcelas de alta qualidade, enquanto que Chiroxiphia caudata (n= 31), Turdus albicolis (n=21) e Conopophaga melanops e Vireo Agradecimentos chivi (n=16) foram as espécies mais abundantes nas Aos moradores e colegas do laboratório por ajudar na áreas de baixa qualidade (Figura 3). coleta de dados em campo, ao Rogerio Oliveira pela informação sobre as árvores indicadoras, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de estudos ao primeiro autor (processo 190594/2013-6), à CAPES pela bolsa de EAR. A Gabriel S. Santos pela ajuda com os analises estatísticos. Ao CNPq pela bolsa de Produtividade em Pesquisa, assim como à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) pelo apoio financeiro para M.A.S. Alves pelo auxílio de Cientista do Nosso Estado (processos 305.798/2014-6 e E-26/102.837/2012, respectivamente). Referências Bibliográficas [1] Niemi, G.J. & McDonald, M.E. 2014. Application of ecological indicators. Annu. Rev. Eco. Syst. 35>89- 111. [2] Koskimies, P. 1989. Birds as a tool in environmental monitoring. Annales Zoologici Fennici, 26: 153 - 166. [3] Thiollay, J.M. 2002. Bird diversity and selection of protected areas in a large neotropical forest tract.Biodiversity and Conservation. 11(8): 1377-1395. [4] Cintra, R., and L. N. Naka. 2012. Spatial variation in bird community composition in relation to topographic Figura 3: Abundância das cinco espécies mais gradient and forest heterogeneity in a Central Amazonian rainforest. Int. J. Ecol. 2012:1–25. representativas nas parcelas de alta e baixa qualidade do [5] Willis EO & Oniki Y. 2002. Birds of a central São Paulo RAPELD, Ilha Grande, RJ. woodlot: 1.Censuses 1982- 2000. Brazilian Journal of Biology, 62(2): 197-210. [6] Stouffer P.C. & Bierregaard R.O. 1995. Use of Discussão Amazonian Forest Fragments by Understory Insectivorous Birds. Ecology. 76(8) 2429-2445 Apesar de não apresentar diferença significativa, as [7] Oliveira R.R. 2002. Ação antrópica e resultantes sobre parcelas de área categorizadas como de alta qualidade a estrutura e composição da Mata atlântica na Ilha tiveram uma maior riqueza de espécies, embora não Grande, RJ. Rodriguésia. 53(82): 33-58 [8] De Cáceres, M., Legendre, P., Moretti, M. (2010) tenha havido diferença significativa entre essas parcelas Improving indicator species analysis by combining e as categorizadas como de baixa qualidade. Áreas de groups of sites. Oikos 119(10): 1674-1684. transição de ambientes podem ter uma maior riqueza de [9] Gascon, C., Lovejoy T. E., Bierregaard R. O., Malcolm espécies, mas as espécies com maior restrição no uso do J. R., Stouffer P. C., Vasconcelos H. L., Laurance W. hábitat tendem a ser encontradas em locais com menor F., Zimmerman B., Tocher M., and Borges S. 1999. 9 Matrix habitat and species richness in tropical forest grau de perturbação antrópica . Um fator que pode remnants. Biological Conservation 91:223–229. explicar a baixa diferença entre esses tipos de áreas seria [10]Thiollay J.M. 1992. Influence of Selective Logging on a ausência de um efeito de fragmentação uma vez que a Bird Species Diversity in a Guianan Rain Forest. vegetação da ilha é continua. Society for Conservation Biology. 6: 47-63 Chamaeza campanisoma foi umas das poucas espécies [11]Ribon R.; Simon, J.S.; Matos G.T. 2003. Bird extinctions in Atlantic Forest Fragments of the Viçosa sensíveis à qualidade ambiental na Ilha Grande, embora region, Southeastern Brazil. Conservation Biology. na Amazônia aparentemente a mesma espécie parece se 17(6): 1827-1839. beneficiar da atividade antrópica10,6. Saltator similis [12] Parker, T.A.; Stotz D. & Fitzpatrick, J.W. 1996. também foi considerada como espécie sensível na Ilha Ecological and distribution databases In: Stotz, D.; Grande, possivelmente porque esta espécie é alvo de Parker, T.A. & Moskovits, D.K. (Eds.). Neotropical birds: Ecology and Conservation. The University of 11 T. solitarius captura para o comercio ilegal . As espécies Chicago. p. 118-436. e L. lanioides apresentaram resultado marginalmente

27 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 ESTUDO GENÉTICO DE POPULAÇÕES DE PEQUENOS MAMÍFEROS VOADORES E NÃO VOADORES NO PARQUE ESTADUAL DA ILHA GRANDE, RJ E NO CONTINENTE. Maria Carlota Enrici1*, Luciana M. Costa1, Marcelo A. Oliveira1, Helena G Bergallo1 e Maja Kajin1 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, IBRAG, Depto. Ecologia, Laboratório de Ecologia de Mamíferos *[email protected] Introdução reprodutiva e dentição anotadas. Para morcegos, os dados são coletados nas 10 parcelas permanentes, onde Estudos de genética molecular em populações visam são abertas 13 redes de neblina (10 x 3 m) no corredor compreender as origens, quantidade e distribuição central ao longo de toda a noite. As excursões de campo genética presente. A fragmentação de hábitats exerce foram iniciadas em 12/2014, havendo uma noite de influência sobre a viabilidade genética e demográfica das amostragem em cada parcela. Os morcegos capturados populações remanescentes, devido aos efeitos são medidos, identificados, marcados com coleiras combinados da redução no tamanho populacional e o plásticas providas de anilhas de policarbonato 1 aumento do isolamento . A ampla fragmentação do bioma (www.anilhas.com.br) e soltos no próprio local de captura. Mata Atlântica limita a migração e a troca de indivíduos Para as análises genéticas são coletadas amostras de necessários à persistência de suas populações a longo tecidos, provenientes da pele em morcegos e da orelha 2 prazo . A maioria das espécies encontra-se subdividida em pequenos mamíferos não voadores, sendo fixados em em subpopulações com diferentes graus de isolamento álcool etílico absoluto. Há coleta de amostras de sangue onde a força atuante é o fluxo gênico que é de para mamíferos não voadores, fixando-as em cartão FTA. 3 importância decisiva nos estudos populacionais . A A posteriori será extraído DNA dos tecidos utilizando kit utilização das estimativas de parâmetros populacionais, específico de extração Quiagen. Serão realizadas como a análise da distribuição de variabilidade genética amplificações por PCR em um termociclador Veriti obtida com o uso de marcadores moleculares (Applied Biosystems). As análises genéticas serão feitas mitocondriais e nucleares permite inferir sobre a estrutura no Laboratório de Diagnósticos por DNA (LDD) e no 4 populacional . O último isolamento da Ilha Grande do Laboratório de Genética Pesqueira e da Conservação 5 continente iniciou-se a cerca de 7.000 anos . É a maior (LGPesC), ambos da UERJ tanto para mamíferos não das ilhas do litoral do Estado do Rio de Janeiro, com voadores quanto para morcegos. 193 km² de relevo acidentado e montanhoso, com elevações de até 1.031 metros. O ponto insular mais Resultados Preliminares próximo ao continente dista 3 km. Das espécies de Foram capturados 189 espécimes de pequenos pequenos mamíferos que ocorrem na Ilha com maior mamíferos no PEIG, sendo Trinomys dimidiatus a mais abundância estão o marsupial Didelphis aurita, o roedor abundante em todas as parcelas (57 indivíduos Trinomys dimidiatus e o morcego Carollia perspicillata6,7. marcados) e Didelphis aurita com 43 indivíduos Para avaliar os padrões genéticos, a estruturação marcados. Até o momento foram capturados 99 indivíduos populacional, quantificar a distância genética, e inferir de morcegos. A espécie mais abundante foi Carollia sobre o possível número de migrantes entre a ilha e o perspicillata com 46 indivíduos. A quantidade de captura continente, indivíduos dessas espécies pertencentes a em cada parcela variou de zero a 22 (5 ± 7; mediana = 1). Ilha Grande e a fragmentos de Mata Atlântica do Foram coletadas amostras de tecidos de todos os continente, serão comparadas utilizando marcadores indivíduos capturados. No momento, o ADN destas moleculares mitocondriais e nucleares do tipo amostras está sendo extraído. microssatélites. Metodologia Resultados Esperados O Espera-se quantificar o fluxo génico (ou a falta dele) O trabalho de coleta de dados de pequenos mamíferos entre as populações da ilha e o continente. Sendo a data vem sendo feito em 10 parcelas permanentes do módulo de separação da ilha e a distância dela do continente leste do Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) desde sabidas, esta quantificação nos auxiliará a compreender 10/2013, utilizando a metodologia RAPELD8 e, em os padrões de limitação do fluxo génico entre as fragmentos na localidade do Garrafão, Guapimirim (RJ), populações do continente, sob o efeito forte de em áreas fixas (grades), onde é realizado um estudo de fragmentação do habitat. Serão inferidos os tipos de longo prazo desde 1997. Cada campanha de coleta tem estruturas populacionais no espaço para as três espécies cinco noites de captura usando o método de captura- indicadas acima. marcação-recaptura. Cada parcela ou grade tem 25 pontos fixos com 10 e 20 m de distância entre si, Agradecimentos respectivamente. Em pontos alternados são colocadas armadilhas de chão e sub-bosque, de marca Sherman e HGB agradece à FAPERJ (E26/201.267/ 2014) e ao CNPq (307781/2014-3 457458/2012-7), MK agradece à Tomahawk. Os animais capturados são marcados com FAPERJ (E26/110.844/2013), e LMC agradece à FAPERJ brincos numerados, pesados, medidos e a condição (E-26/101.399/2014) e à CAPES pela bolsa de Pós-

28 doutorado. Todos os autores agradecem ao CEADS/UERJ e ao INEA pela permissão para coletas e apoio concedidos e ao Laboratório de Vertebrados (Prof. Rui Cerqueira) pela colaboração e possibilidade de uso das amostras já coletadas.

Referências Bibliográficas

[1] Gibs, J.P, 2001. Demography versus habitat fragmentation as determinant of genetic variation in wild populations. Biological Conservation, 100: 15-20. [2] Tabarelli, M.; Pinto, L.P.; Silva, J.M.C. & Hirota, M. 2005. Challenges and opportunities for biodiversity conservation in the Brazilian Atlantic Forest. Conservation Biology. 19: 695-700. [3] Becker, F., 2009. Avaliação da diversidade e estrutura genética de Micoureus paraguayanus (Didelphidae) em fragmentos de Mata Atlântica.:UFSCar, São Carlos, São Paulo. 79 f. [4] Templenton, A. R. 2011. Técnicas de Investigação Genética. Apêndice 1 pags 540-554 In: Genética de Populações e Teoria Microevolutiva.Editora SBG, Ribeirão Preto, São Paulo. [5] INEA. Instituto Estadual do Ambiente. Parque Estadual da Ilha Grande: plano de manejo (fase 2)/resumo executivo./Instituto Estadual do Ambiente.---- Rio de Janeiro: INEA, 2013. 98p. il. Mapas. [6] Pereira, L.G.,Sebastião, H.; Geise, L. 2001. Non-Volant Mammals of Ilha Grande and Adjacent Areas of South Region of Rio de Janeiro State, Brazil. Boletim do Museu Nacional. Zoologia. 459(14): 1-15. [7] Esbérard, C.E.L.; Jordão-Nogueira, T.; Luz, J.L.; Melo, G.G.S.; Mangolin, R.; Jucá, N.; Raíces, D.S.L.; Enrici, M.C. & Bergallo, H.G. 2006. Morcegos da Ilha Grande, Angra dos Reis, Sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Zoociências. 8: 147-153. [8] Magnusson, W.E.; Lima, A.P; Luizão, R.; Luizão, F.; Costa, F.R.C.; Castilho, C.V. & V.F. Kinupp. 2005. RAPELD: A modification of the Gentry method for biodiversity surveys in Long-Term Ecological Research Sites. Biota Neotropica. 5(2):1-6.

29 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

DIETA E MORFOMETRIA DE LANIO MELANOPS (AVES: THRAUPIDAE): UMA COMPARAÇÃO ENTRE ÁREA INSULAR E CONTINENTAL DE MATA ATLÂNTICA Rafael de Sant’Ana Saint Clair1*, Maria Alice dos Santos Alves2 1Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ. 2Laboratório de Ecologia de Aves, Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, UERJ, Rio de Janeiro, RJ *[email protected]

medidas morfométricas a serem obtidas são: cabeça à Introdução ponta do bico, cúlmen exposto, largura e altura da base do Estudos com populações insulares sugerem que estas se bico, largura e altura da narina, cauda, asa, comprimento apresentam morfológica e ecologicamente diferentes de total e do tarso7. As medidas foram analisadas no populações continentais surgindo, assim, a chamada programa STATISTICA©. Além disto, de cada indivíduo 1 “regra insular” . Ilhas geralmente têm menor riqueza de tem sido obtida uma amostra de sangue espécies que no continente, havendo um menor número (aproximadamente 50µL) para posterior identificação de nichos ecológicos a serem ocupados, em função de molecular do sexo por meio da técnica do gene CHD8. menor número de competidores, o que favorece a Como a análise molecular para a identificação do sexo 2 expansão de nichos pelas espécies . Dessa forma, dos indivíduos amostrados ainda será feita, para o espera-se encontrar uma maior diversidade de itens na presente resumo a distinção dos sexos foi feita com base dieta de indivíduos em populações de ambientes insulares na plumagem. em relação a continentais. Em área insular é esperado As fezes encontradas nos sacos de algodão de cada existir um modo de forrageamento mais generalista e indivíduo têm sido coletadas, armazenadas em álcool 70% mudanças na morfologia ocorrem como adaptação para e etiquetadas para posterior análise no laboratório. esta expansão de nicho3. Em Passeriformes, características como tamanho do bico e comprimento total Resultados tendem a serem maiores em populações insulares em Até o presente, na área da Ilha Grande, 57 indivíduos de comparação às continentais4. O presente estudo tem L. melanops foram medidos, 39 tiveram amostras de como objetivo investigar se ocorrem diferenças entre sangue obtidas e foram coletadas 31 amostras de fezes sexos e entre populações do tiê-de-topete, Lanio (Tabela 1). As medidas de asa dos machos foram melanops, em ambientes insular e continental em termos significativamente maiores que as de fêmeas enquanto da amplitude de nicho e da morfometria. Essa espécie de para o comprimento total não houve diferença significativa ave é frequentemente observada e capturada em sub- entre os sexos (Figura 1). Medidas morfométricas maiores bosque da Ilha Grande, RJ, uma das áreas de estudo5. para machos são esperadas, porém quanto à dieta não é esperado encontrar diferença entre sexos9. De acordo Metodologia com a regra insular, espero encontrar medidas corporais A coleta de dados está sendo realizada no Parque maiores para indivíduos de ilha, bem como uma maior Estadual da Ilha Grande nas parcelas permanentes do diversidade de itens encontrados nas fezes em 6 projeto RAPELD e será realizada em área continental comparação com indivíduos continentais10. adjacente. As aves têm sido capturadas com redes ornitológicas (12 m x 2,5 m; malha 32 mm) expostas por 7 Tabela 1. Dados coletados de Lanio melanops na Ilha Grande, h no sub-bosque florestal, a partir do amanhecer e RJ. revisadas a cada 60 min. Os indivíduos de L. melanops MACHOS FÊMEAS TOTAL capturados são acondicionados individualmente em sacos MORFOMETRIA 33 24 57 de algodão limpos, marcados com anilhas metálicas SANGUE 25 14 39 (cedidas pelo CEMAVE/IBAMA–ICMBio), pesados, FEZES 19 12 31 medidos e posteriormente liberados na natureza. As Fonte: O autor, 2015.

30 birds: the roles of generalist foraging and niche expansion. Evolution, 57(9), 2147-2156 Figura 1. Médias e intervalos de confiança de medidas de asa [4] Clegg, S.M. & Owens, P.F. 2002. The ‘island rule’ in birds: (mm) e comprimento total(mm) de Lanio melanops em Ilha medium body size and its ecological explanation. Poc. R. Soc. Lond. B. 269, 1359-1365. Grande. [5] Alves, M.A.S. & Vecchi, M.B. 2009. Birds, Ilha Grande, state of Rio de Janeiro, Southeastern Brazil. Check List 5(2):300- 313. [6] Ribeiro, G.P.; Bergallo, H.G.; Santos, A.W.; Lopes, R.S. & Parma, R.G. 2012. Mapeamento digital na Ilha Grande em apoio a inventários rápidos RAPELD (Componente PELD- pesquisas ecológicas de longa duração). In: Anais do IV Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação. [7] Sick, H. 1997. Ornitologia Brasileira, uma introdução. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira S.A. [8] Griffiths, R. 2000. Sex identification in birds. Seminars in Avian and Exotic Pet Medicine. Volume 9 , Issue 1 , 14 – 26. [9] Fins, K.M. 2005. Dieta e medidas morfométricas de Trichothraupis melanops (Vieillot 1818) (Aves: Emberezidae) em uma área de Mata Atlântica da Ilha Grande, RJ: uma comparação entre sexos. 38 f. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Ciências Biológicas) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro. [10] Van Valen, L. 1965. Morphological variation and width of ecological niche. American Naturalist, 99, 377–390.

Figura gerada pelo STATISTICA© v.7.1

Discussão Conforme esperado, machos de Lanio melanops possuíram comprimento de asa maior que fêmeas. Vale observar que isto não ocorre devido a um dimorfismo sexual de tamanho corporal total, pois não houve diferença significativa entre sexos para essa medida. As amostras de sangue e fezes serão analisadas posteriormente, bem como os indivíduos a serem capturados no continente para a finalização do presente trabalho.

Agradecimentos À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa ao primeiro autor; ao Centro de Estudo Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS) e ao Instituto Estadual do Ambiente (INEA) pelo apoio logístico na Ilha Grande e à equipe do Laboratório de Ecologia de Aves da UERJ por todo apoio. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Produtividade em Pesquisa à segunda autora (processos 305.798/2014-6).

Referências Bibliográficas [1] MacArthur, R.H. & Wilson, E.O. 1967. The theory of island biogeography. Princeton Univ. Press. [2] Grant, P.R. 1965. The adaptive significance of some size trends in island birds. Evolution, 19: 355–367. [3] Scott, S.N.; Clegg, S.M.; Blomberg, S.P.; Kikkawa, J. & Owens, I.P. 2003. Morphological shifts in island‐dwelling

31 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

EFEITO DA PRODUÇÃO DE SEMENTES E FRUTOS NA DINÂMICA POPULACIONAL DE PEQUENOS MAMIFEROS NO PARQUE ESTADUAL DA ILHA GRANDE - RJ

Stênnio da S. Faria1*, Fabiana C. B. Couto, Nicole M. Wolff, Gleika M. Marques, Helena de G. Bergallo 1Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier 524, CEP 20559-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; *e-mail: [email protected]

cada 10 m em chão ou sub-bosque e iscadas com bacon Introdução e uma mistura de paçoca, fubá e banana. A compreensão de flutuações sazonais, anuais e Juntamente com o armadilhamento, as sementes e os multianuais é um tema recorrente no estudo da dinâmica frutos são coletados numa faixa de 1 m abaixo da área de populações de pequenos mamíferos. Os fenômenos onde se transita. É então obtida a massa úmida e seca que regem estas flutuações são divididos em densidade- do material coletado para cada transecto através de dependente e densidade-independente. O primeiro está secagem em estufa e pesagem direta. ligado ao número de indivíduos de uma população e o segundo normalmente ligado a fatores ambientais, como Resultados esperados chuva e temperatura, ou dele consequentes, como a produtividade das plantas. Há reconhecimento que Espera-se que aspectos de dinâmica populacional, isto é, ambos agem sinergicamente numa mesma população, a flutuação da população, a intensidade da dependência muito embora a influência relativa de cada fator varie em de densidade, o uso do espaço e outros atributos sejam resposta a mudanças ambientais1,2. alterados pela abundância de recursos. O efeito da produção de sementes na dinâmica de uma população de pequenos mamíferos granívoros possui Agradecimentos efeitos complexos. A dinâmica pode ser afetada por À FAPERJ pelo financiamento da pesquisa. fatores extrínsecos como o padrão de chuvas e a produção sincronizada de sementes (mast seeding). Esta Referências Bibliográficas Bottom-up alteração na regulação do tipo altera o [1] Turchin, P. 2003. Complex population dynamics: a equilíbrio existente como a do tipo Top-down realizada theoretical/ empirical synthesis. Princeton University Press, por predadores3,4. Por outro lado, a competição Princeton, New Jersey, USA. [2] Chen, L. et al., 2014. Complex and nonlinear effects of intraespecífica por comida é considerada um mecanismo weather and density on the demography of small densidade-dependente. Esta hipótese parece não se herbivorous mammals. Basic and Applied Ecology, 16(2), confirmar em estudos realizados em alguns países pp.172–179. [3] Saitoh, T. et al., 2008. Effects of acorn abundance on density nórdicos, sendo os predadores generalistas considerados dependence in a Japanese wood mouse (Apodemus os agentes principais para a dependência direta de speciosus) population. Population Ecology, 50(2), pp.159– densidade5,6. Ainda assim, se a hipótese de que a 167. [4] Letnic, M.; Story, P.L Story, G.; Field, J.; Brown, O.; competição intraespecífica é o principal agente da DICKMAN, C.R. Resource pulses, switching trophic control, dependência direta de densidade estiver correta, então a and the dynamics of small mammal assenblages in arid dependência de densidade pode ser influenciada pela Australia. Journal of Mammalogy. Austrália. V.92, n. 6, p. 1210-1222, 2011. abundância de recursos. [5] Korpimäki E, Brown PR, Jacob J, Pech R (2004) The puzzles Esta pesquisa tem por objetivo avaliar o papel da of population cycles and outbreaks of small mammals produção de sementes e frutos nas populações de solved? BioScience 54:1071-1079. [6] Klemola T, Pettersen T, Stenseth NC (2003) Trophic pequenos mamíferos no Parque Estadual da Ilha Grande, interactions in population cycles of voles and lemmings: a RJ. modelling study and a review-synthesis. Adv Ecol Res 33:75-160 Metodologia

A coleta de dados está sendo realizada no Módulo Leste do projeto RAPELD, compreendendo dez parcelas próximas ao Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentado (CEADS) e da Vila do Abraão, Ilha Grande, Município de Angra dos Reis, RJ. As parcelas de 250 m de extensão estão distantes entre si 1 km e seguem a curva de nível. Para a captura de pequenos mamíferos são utilizadas armadilhas do tipo Sherman e Tomahawk, dispostas a

32 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

O ENDEMISMO EM ESCALA REDUZIDA NO ESPAÇO GEOGRÁFICO, NA ALTITUDE E NO HABITAT: ESTUDO DE CASO DO ANURO DE RIACHO HYLODES FREDI NA ILHA GRANDE, RIO DE JANEIRO.

Tatiana Motta Tavares1*, Helena de Godoy Bergallo1, Carlos Frederico Duarte Rocha1. 1 Departamento de Ecologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier 524, Maracanã, CEP 20550-013, Rio de Janeiro, RJ. *[email protected] cada trecho de 20 m do riacho, foram registradas Introdução variáveis químicas da água, como pH, condutividade (μS) o Entre os exemplos de endemismo de escala reduzida e temperatura ( C), além de variáveis físicas do ambiente há o anuro Hylodes fredi, que é endêmico da Ilha Grande, como largura da superfície do córrego (m), profundidade o município de Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro, da lâmina d´água (cm), temperatura ( C), umidade tendo sido formalmente descrito em 20071. Contudo, a relativa do ar (%) e intensidade luminosa (lux). A cada espécie está atualmente categorizada na lista vermelha quatro metros dentro do riacho, também avaliamos a da IUCN2 como “Dados Insuficientes”, por haver poucas composição estrutural, categorizando os habitats informações disponíveis sobre sua ecologia4,5. Hylodes disponíveis como a presença e ausência de água, areia / fredi é uma espécie de fácil detecção no ambiente por ser lama, briófitas, folhiço, galho / tronco caídos, pedra e de presença conspícua no habitat, pelos fatos de ser vegetação arbustiva. As buscas ativas e medições das diurna, por vocalizar intensamente durante todo o período variáveis foram sempre realizadas em um único sentido, de luz e de forma relativamente exposta no habitat e por à montante do riacho, para evitar recontagem a de cantar durante quase todos os meses do ano (setembro a indivíduos e minimizar o distúrbio físico no riacho. maio)5. Faltam dados sobre a real distribuição desta Utilizamos Regressão Múltipla para averiguar se existe espécie na Ilha Grande e de estimativas de sua relação significativa das variáveis fisicoquímicas e da ocorrência em diferentes tipos de riachos na Ilha. Não se composição estrutural do riacho com a abundância de H. sabe na escala da Ilha Grande como este endemismo fredi. opera, tanto em termos do espaço geográfico da ilha, Resultados incluindo altitudinalmente e em termos de seleção dos riachos. O conhecimento sobre estes pontos permitirá Foram percorridos 72,4 km de trilhas e registrados 83 melhor definir o grau de espalhamento/restrição da pontos de ocorrência da espécie. Foram encontrados 98 espécie na já reduzida escala insular, de forma a melhor riachos com água corrente cortando as trilhas, onde em conhecer aspectos de sua ecologia e seu risco ou 33 deles (33.7%) foi registrada a presença de H. fredi. A probabilidade de extinção, favorecendo tomadas de taxa de ocupação dos sistemas hídricos por H. fredi foi decisão sobre estratégias e ações para sua proteção. maior na vertente oceânica (42,5 % dos riachos). A vertente continental foi a vertente com maior número de Metodologia riachos com água corrente encontrados ao longo das Para obter uma estimativa da distribuição e ocorrência trilhas percorridas (51), porém com comparativa menor de Hylodes fredi no espaço geográfico da Ilha Grande, taxa de ocupação do anuro nos riachos ocorrentes utilizamos como referência para realizar transecções os (25,4%). riachos que cruzam as trilhas existentes na Ilha e as Em 29 riachos com água corrente superficial ou parcelas ripárias do RAPELD da Ilha Grande, módulos subterrânea, apenas em 10 deles H. fredi ocorreu, tendo Oeste e Leste. As transecções ao longo das trilhas de sido encontrados 46 indivíduos. A abundância estimada acesso foram realizadas apenas entre os meses de do anuro nestes 10 riachos em que ocorreu, variou de um setembro a abril5. Em cada excursão de campo, ao longo mínimo de 0,1 ind/m de extensão de calha do córrego até das trilhas foi realizada uma busca sistemática por um máximo de 0,29 ind/m de calha. Considerando todos indivíduos de H. fredi no ambiente através de busca os trechos de córregos amostrados com registro de H. visual e sonora. As trilhas foram percorridas durante o fredi, ocorreu uma abundância média estimada de 0,05 período de maior atividade da espécie, entre 07:00 e ind/m de calha (ou cerca de um indivíduo de H. fredi a 17:005. A coordenada geográfica e a altitude dos riachos cada 20 metros de extensão de riacho) nos córregos da que cruzavam as trilhas foram registrados, bem como a Ilha Grande em que a espécie foi registrada. presença ou não de H. fredi. Ao longo de todas as trilhas percorridas, ocorreram Para estimar um índice da densidade de H. fredi em riachos em altitudes que variaram entre 8 até 864 metros. riachos em que a espécie ocorria, realizamos busca ativa Porém, os registros de H. fredi se restringiram a altitudes com contagens de indivíduos ao longo de uma extensão entre 52 a 352 m, com maior frequência entre 100 e 300 de 100 m da calha de cada riacho amostrado. A m. Em mais de 80% dos casos os indivíduos da espécie densidade de H. fredi foi expressa como o número de estavam em cotas atitudinais inferiores a 200 metros. indivíduos por metro de extensão de calha do riacho. A

33 A análise de regressão múltipla com as variáveis fisicoquímicas demonstrou que tanto a temperatura da Agradecimentos água como a largura do riacho, influenciaram de forma Agradecimento especial a equipe do INEA / PEIG, a negativa e significativa a abundância dos H. fredi nos pousada “Nautilus” e ao Centro de Estudos Ambientais e 2 riachos (R =0,50, P>0,001 e P=0,037, respectivamente), Desenvolvimento Sustentável (CEADS) por todo apoio enquanto a temperatura do ar influenciou de forma logístico. Agradecemos a FAPERJ pelo apoio a CFDR positiva (P=0,007). As demais variáveis fisicoquímicas através do programa “Cientistas do Nosso Estado” não estavam significativamente relacionadas com o (processo n° E‒26/102.765/2012) e CNPq (processos número de indivíduos encontrados. Já a Regressão 304791/2010-5 e 472287/2012-5). TMT recebeu bolsa de Múltipla com a frequência dos habitats encontrados mestrado da CAPES e atualmente recebe bolsa Nota Dez demonstrou que riachos com uma maior frequência de da FAPERJ. HGB agradece ao CNPq (307781/2014-3) e areia na estrutura possuem uma menor abundância da FAPERJ (E26 /201.267/ 2014). Este estudo foi apoiado espécie, em comparação com riachos com menos pela FAPERJ (E-26/110.284/2010) e CNPq 2 frequência de areia na estrutura (R =0,23, P=0,039). A (457458/2012-7). frequência dos demais elementos do habitat avaliados aparentou não afetar a abundância de indivíduos da Referências Bibliográficas espécie. [1] Canedo, C. & Pombal-Jr., J.P. 2007. Two new species of torrente frog of the Hylodes (Anura, Hylodidae) Discussão with nuptial thumb tubercules. Herpetologica 63: 224-235. [2] IUCN 2015. The IUCN Red List of Threatened Hylodes fredi foi detectado em ambas as vertentes da Species. Version 2015.1. . ilha, porém com diferentes frequências de ocupação dos [3] Almeida-Gomes, M., Hatano, F.H., Van Sluys, M. & riachos. Dois fatores podem influenciar este padrão de Rocha, C.F.D. 2007. Diet and microhabitat use by two ocupação: 1) uma maior pluviosidade da vertente Hylodinae species (Anura, Cycloramphidae) living in oceânica6 favorece a ocupação de mais riachos pela sympatry and syntopy in a Brazilian Atlantic Rainforest area. Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre 97 (1): 27-30. espécie; e/ou 2) uma maior presença de ocupação [4] Hatano, F. H., Gettinger, D., Van Sluys, M. & Rocha, humana na vertente continental poderia reduzir a C. F. D. 2007. Parasitism of Hylodes phyllodes (Anura: capacidade de dispersão dos indivíduos, uma vez que só Cycloramphidae) by Hannemania sp. (Acari: foram detectados indivíduos em riachos de água limpa e Trombiculidae) in an area of Atlantic forest, Ilha Grande, cristalina, sem proximidade e nem impacto antrópico. Southeastern Brazil. Parasite 14: 107-112. [5] Hatano, F. H., Rocha, C.F.D. & Van Sluys, M. 2002. A espécie aparenta possuir uma distribuição altitudinal Environmental Factors Affecting Calling Activity of a com uma maior frequência na faixa entre 100 e 200. É Tropical Diurnal Frog (Hylodes phyllodes: relativamente mais típico o padrão de distribuição Leptodactylidae). Journal of Herpetology 36 (2): 314-318. altitudinal com um pico de abundância de espécies em [6] Oliveira, R.R. & Hack, L.P. 2004. Influência do relevo altitudes intermediárias (ca. 50% dos casos), em na distribuiçãoo da pluviosidade na Ilha Grande, RJ. Eugeniana (27): 29-37. comparação com o padrão de declínio linear ao longo das 7 [7] Rahbek, C. 2005. The role of spatial scale and the faixas de altitude (ca. 25%) . No caso desta espécie de perception of large-scale species-richness patterns. anuro tipicamente associada a riachos, a distribuição Ecology Letters 8: 224–239. altitudinal pode estar relacionada a uma maior frequência de riachos nessa faixa altitudinal (cerca de 38,7% dos riachos encontrados estão entre 100 e 200 m de altitude), além do melhor estado de conservação das florestas nas regiões de topo de montanha da Ilha Grande. Hylodes fredi aparenta selecionar riachos de menor largura. Riachos menores proporcionam maior cobertura vegetal, o que diminui a incidência luminosa sobre o riacho e, consequentemente, resulta em uma menor temperatura da água. No estudo de Hatano et al. (2002)5, a temperatura do ar influenciou de forma negativa a atividade de canto da espécie, e nosso estudo indicou que a abundância do H. fredi está sendo afetada de forma positiva, o que indica que a temperatura do ar tem relativa influência na história de vida da espécie. Concluímos que, na Ilha Grande, Hyoldes fredi está amplamente distribuído no ambiente na floresta (mas não em restingas), mas com ocorrência em geral associada a riachos de menor largura, com menor temperatura da água (devido à menor condutividade), com menos areia em sua estrutura, e mais frequentemente dentro de uma faixa altitudinal entre 100 e 200 de altitude na floresta.

34 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

SEMENTES CONSUMIDAS E DISPERSADAS POR Carollia perspicillata (MAMMALIA, CHIROPTERA) NO PARQUE ESTADUAL DA ILHA GRANDE, RJ Ana C.F.V. Silva1*, Thiago A. Amorim2, André C. Siqueira1, Paula M. Ferreira1, Patrick C. Xavier1, Helena G. Bergallo1 e Luciana M. Costa1 ¹Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia, Departamento de Ecologia, Laboratório de Ecologia de Mamíferos, Rio de Janeiro, RJ; ² Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia, Departamento de Ecologia, Laboratório de Ecologia Vegetal, Rio de Janeiro, RJ; *[email protected]

Introdução Resultados

São conhecidas aproximadamente 1.116 espécies de Quarenta e seis indivíduos de C. perspicillata foram morcegos sendo que um quarto é fitófago¹. Os morcegos capturados. A quantidade de captura em cada parcela frugívoros são potenciais dispersores de sementes e variou de zero a 22 (5 ± 7; mediana = 1). A parcela L1 podem fazer de duas formas: retirando o fruto do seu 4.500 apresentou mais indivíduos e a parcela L1 1.500 foi local de origem para ser consumido em um lugar com a única que não apresentou captura dessa espécie. Até o menos competição4, ou através da endozoocoria, que momento não houve animais recapturados. Dos 46 consiste na dispersão da semente que passa pelo indivíduos capturados, 36 apresentaram amostras fecais sistema digestório, ocorrendo assim o mutualismo (78%). Até o momento 10 amostras foram analisadas em dispersivo². Nesse caso, as sementes menores são laboratório. Apenas um morfotipo de semente foi ingeridas e posteriormente liberadas através das fezes encontrado, que foi identificado como sendo da Família durante o voo3. Os morcegos da espécie Carollia Piperaceae. O número de sementes em cada amostra perspicillata são considerados generalistas, mas variou de 5 a 287 (87,6 ± 93,2; mediana = 39). Estamos apresentam preferência por consumirem frutos da família confeccionando catálogos com as sementes consumidas Piperaceae5,6. Essas plantas ocorrem geralmente no sub- e dispersadas pelos morcegos no Parque Estadual da bosque e C. perspicillata tem hábito de forragear perto do Ilha Grande. solo7,8. Além disso, esses morcegos se adaptam bem a ambientes perturbados, pois consomem frutos de Resultados esperados espécies vegetais pioneiras presentes no sub-bosque9. As redes de neblina armadas no sub-bosque são eficazes Com o presente estudo esperamos obter uma lista de na captura da Família Phyllostomidae e em especial de espécies de plantas consumidas e dispersadas, não só morcegos frugívoros10. O objetivo deste estudo é por C. perspicillata, mas para todas as espécies identificar e contabilizar as sementes que são capturadas no Parque Estadual da Ilha Grande. Essa lista consumidas e dispersadas pelos indivíduos da espécie C. será gradualmente aumentada ao longo dos anos com a perspicillata no Parque Estadual da Ilha Grande. continuidade das coletas. Analisaremos se as fases da atividade reprodutiva dos morcegos estarão associadas à época de maior disponibilidade alimentar. Compararemos Metodologia a dieta dos morcegos nas diferentes parcelas amostradas buscando verificar se há diferença na dieta. O estudo está sendo realizado em 10 parcelas terrestres no Parque Estadual da Ilha Grande, RJ. Até o momento Agradecimentos houve uma campanha na época chuvosa, que foi entre dezembro de 2014 e março de 2015. Os morcegos foram Á FAPERJ pela taxa de bancada para a realização do capturados com auxílio de redes de neblinas que ficaram projeto (E-26/101.399/2014). Luciana M. Costa agradece abertas do pôr do sol até o amanhecer. Cada parcela à CAPES pela bolsa de Pós-doutorado. Helena de Godoy apresenta um total de 250 metros de comprimento e em Bergallo agradece a FAPERJ (E-26/110.284/2010 e E- cada noite foram utilizadas 13 redes de neblina de 10 26/103.016/2011) e ao CNPq (457458/2012-7 e metros de comprimento (130 metros totais), abertas ao 307715/2009-4) pelas bolsas e auxílios à pesquisa. Ao longo do corredor central. As redes foram vistoriadas em CEADS/UERJ e INEA pela permissão para coletas e intervalos de aproximadamente 30 minutos. Carollia apoio concedidos. perspicillata foi a espécie que apresentou o maior número de capturas até o momento. Cada indivíduo capturado Referências Bibliográficas permaneceu no mínimo duas horas em sacos de pano para a obtenção das amostras fecais. As fezes foram [1] Bredt A.; Uieda W. & Pedro W.A. 2012. Plantas e armazenadas em criotubos e devidamente identificadas. morcegos na recuperação de áreas degradadas e na Os indivíduos capturados foram marcados com coleiras paisagem urbana. Brasília: Rede de Sementes do providas de anilhas (www.anilhas.com) com numeração Cerrado. 273 p. individual. No laboratório as amostras fecais foram [2] Van Der Pijl L. 1972. Principles of dispersal in higher armazenadas em geladeira até a triagem. As fezes foram plants. Berlin, New York: Springer-Verlarg. 161 p. triadas com o auxílio de placa de Petri e lupa [3] Lobova T.A.; Geiselman C.K. & Mori S.A. 2009. Seed estereoscópica. Para cada amostra as sementes foram dispersal by bats in the Neotropics. New York: New York contabilizadas e separadas por morfotipo. Botanical Garden Press. 465 p.

35 [4] Jordano P.; Galetti M.; Pizo M.A. & Silva W.R. 2006. Ligando a Frugivoria e Dispersão de sementes à biologia da conservação. In: Duarte C.F.; Bergallo H.G.; Dos Santos M.A. & Va A.E. (Eds). Biologia da conservação: essências. Editora Rima, São Paulo, Brasil.p 411-436. [5] Mello M.A.R.; Schittini M.G.; Selig P. & Bergallo H.G. 2004 A test of the effects of climate and fruiting of Piper species (Piperaceae) on reproductive patterns of the bat Carollia perspicillata (Phyllostomidae). Acta Chiropterologica, 6(2): 309-318. [6] Mello M.A.R.; Schittini G.M.; Selig P. & Bergallo H.G. 2014 Seasonal Variation in the diet of the bat Carollia perspicillata (Chiroptera: Phyllostomidae) in an Atlantic Forest area in southeastern Brazil. Mammalia, 68(1): 49- 55. [7] Charles-Dominique, P. 1991. Feeding strategy and activity budget of the frugivorous bat Carollia perspicillata (Chiroptera: Phyllostomidae) in French Guiana. Journal of Tropical Ecology, 7: 243-256. [8] Bonaccorso, F.J. 1979. Foraging and reproductive ecology in a panamanian bat community. Bulletin of the Florida State Museum, Biological Sciences 24(4): 359- 408. [9] Faria D. 2006. Phyllostomid bats of fragmented landscape in the North-Eastern Atlantic Forest, Brazil. Journal of Tropical Ecology, 22: 531-542. [10] Kalko E.K.V. 1998. Organization and diversity of tropical bats communities through space and time. Zoology, 111: 281-297.

36 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

DIVERSIDADE DE GALHAS DA FORMAÇÃO ARBUSTIVO-ARBÓREA DA RESTINGA DO PARQUE ESTADUAL ACARAÍ

Ígor A. Arriola1,*, João Carlos F. de Melo Júnior2, Rosy Mary S. Isaias3 1 Universidade da Região de Joinville, Departamento de Ciências Biológicas, Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal, Joinville, SC; 2 Universidade Federal de Minas Gerais, ICB, Departamento de Botânica, Belo Horizonte, MG; *[email protected]

galhas. Além desta, Psidium cattleianum Sabine Introdução (Myrtaceae), Ocotea pulchella (Nees) Mez. (Lauraceae) e As restingas são caracterizadas pelo mosaico de Guapira opposita (Vell.) Reitz (Nyctaginaceae), com três comunidades vegetais distintas que as compõem1, que morfotipos cada também foram identificadas como super- variam de formações herbáceas, passando por hospedeiras, indicando uma menor resistência destas formações arbustivas, chegando a florestas com dosséis plantas à instalação de galhadores. Das 36 espécies de que podem atingir 20 m de altura. As restingas arbustivo- plantas hospedeiras identificadas nesta formação, 22 arbóreas são florestas com dosséis em torno de 5-10m apresentaram um único morfotipo de galha, de altura, geralmente associadas a solos arenosos2. Em correspondendo a 37% da diversidade encontrada. restingas, devido a alguns fatores ambientais, como o Discussão estresse higrotérmico, hipóteses apontam para a existência de uma grande diversidade de insetos capazes A variedade de morfotipos de galhas encontrada nesta de induzir a formação de galhas em tecidos vegetais3. formação da restinga é consideravelmente maior ao já Este estudo teve como objetivo caracterizar registrado para a formação herbácea do mesmo parque6, morfologicamente a diversidade de galhas da restinga destacando-se a importância das super-hospedeiras para arbustivo-arbórea do Parque Estadual Acaraí (PEA), no a diversidade de galhas no PEA. município de São Francisco do Sul, SC, Brasil. Agradecimentos Metodologia Ao Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal pelo A área de estudo compreende um remanescente de desenvolvimento do trabalho. Este trabalho teve apoio restinga localizado no município de São Francisco do Sul, financeiro da Universidade da Região de Joinville- Univille Santa Catarina, pertencente ao Parque Estadual Acaraí por meio do processo n. 6055 do coautor. Ao Programa (PEA), que passou a integrar o Programa de Pesquisa de Pesquisas em Biodiversidade – bioma Mata Atlântica – em Biodiversidade Mata Atlântica (PPBio-MA) em 2014. Núcleo Sul/SC. À equipe gestora do Parque Estadual As coletas foram realizadas em quatro parcelas do Acaraí. módulo PELD instalado no parque. Foram delimitados plots de coleta anexos às parcelas, totalizando uma área Referências amostral de 5000 m² [(250m x 5 m) x 4]. As coletas foram [1] Scarano, F. 2002. Structure, Function and Floristic realizadas no período de julho a agosto de 2014, Relationships of Plant Communities in Stressful totalizando um esforço amostral de 20h. Ramos de Habitats Marginal to the Brazilian Atlantic Rainforest. Annals of Botany 90: 517-524. plantas (n ≥ 5) com galhas foram coletados, fotografados [2] Silva, S.M. 1999. Diagnóstico das restingas do Brasil. e identificados por comparação com lista florística do In: Fundação BIO RIO. Workshop Avaliação e ações 4 PEA . Os vouchers foram depositados no Herbário da prioritárias para a conservação da biodiversidade na Universidade da Região de Joinville (JOI). As galhas Zona Costeira e Marinha. Porto Seguro, Anais foram classificadas de acordo com padronização de Eletrônicos. Disponível em: 5 . Acesso nomenclatura proposta por Isaias et al. em: 5 jun. de 2015. [3] Fernandes, G.W. & Price, P.W. 1988. Biogeographical Resultados Preliminares gradients in galling species richness. Test of

Foram encontrados 59 morfotipos de galhas em 36 hypotheses. Oecologia 7: 161-167. [4] Melo Jr., J.C.F. & Boeger, M.R.T. 2015. Riqueza, espécies vegetais. Os morfotipos mais frequentes foram Estrutura e Interações Edáficas em um Gradiente de globóide (35.6%), lenticular (22.03%) e fusiforme Restinga do Parque Estadual do Acaraí, São (13.56%). A maior parte dos morfotipos ocorreu em folhas Francisco do Sul, Santa Catarina, Brasil. Hoehnea (67.8%), os demais ocorreram em caules (20.3%), 42(2): 207-232. meristemas (8.5%), e raízes de epífitas (3.4%). As [5] Isaias, R.M.S.; Carneiro, R.G.S.; Oliveira, D.C. & Santos, J.C. 2013. Illustrated and Annoted Checklist galhas variaram entre as cores verde (69.5%), marrom of Brazilian Gall Morphotypes. Neotropical (15.2%), vermelho (8.5%), amarelo (3.4%) e branco Entomology 42: 230-239. (3.4%). Guarea macrophylla Vahl (Meliaceae) foi [6] Arriola, I.A.; Melo Jr., J.C.F. & Isaias, R.M.S. 2015. considerada a maior espécie super-hospedeira de Questioning the environmental stress hypothesis for restinga galhadores neste ambiente, com 5 morfotipos distintos de gall diversity of vegetation on dunes. Journal of Tropical Biology. no prelo.

37 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ENVIRONMENTAL STRESS DOES AFFECT SPECIES DIVERSITY OF GALL-INDUCERS

Ígor A. Arriola1, João Carlos F. de Melo Júnior¹*, Rosy Mary S. Isaias³ 1 Universidade da Região de Joinville, Departamento de Ciências Biológicas, Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal, Joinville, SC; 2 Universidade Federal de Minas Gerais, ICB, Departamento de Botânica, Belo Horizonte, MG; *[email protected]

Introduction the marginal intumescence and the conical gall The Atlantic Coast Restinga is a mosaic of plant morphotypes (6.7%, each). Most of the morphotypes communities with a distinct floristic and occurred on leaves (53.4%), with others on stems phytophysiognomy located on plains of Quaternary (26.6%), petioles (13.3%), and buds (6.7%). The galls origin1. The major coastal portion of the restinga has a varied in color, with predominance of the green galls pioneer vegetation on sand banks, called psammophiles, (46.6%), followed by the brown and yellow (20%), and the and this plants is exposed to luminous, thermal, and black and pink galls (6.7%). 2 saline stresses . A greater diversity of gall-inducing Discussion insects is expected to occur in hygrothermally stressed environments4, such as that of the dunes of the restinga. Despite the environmental stresses, the xeric features of Galls are plant structures that protect and nurture the the dunes of the ASP, and the high local plant diversity, larvae of the gall-inducing insect which consist of a wide the diversity of galling herbivores were low. Varronia and taxonomically unknown fauna of galling herbivores in curassavica (Boraginaceae), Smilax campestris species-specific interactions, resulting in closely related (Smilacaceae), and Guapira opposita (Nyctaginaceae) morphotypes, and these morphotypes are representative were superhosts of galling herbivores in the dunes, with of the diversity of the inducing insects5,6,7. This study about 70% of the total associated parasites. The presents the inventory of the galls, and their morphology, environmental effect seems to be neutral, either for the focusing on future physiological and ecological host plants or for the generation of gall morphotypes. researches on the plant-insect interactions at the dunes of Alternatively, the scarce nutritional resources could be the Acaraí State Park (ASP) in São Francisco do Sul restrictive for the establishment of the galling herbivores municipality. The gall morphotypes are herein used to inside plant tissues. estimate these richness and diversity of galling herbivores, as proposed on literature6. Acknowledgements Methodology Laboratory of Anatomy and Plant Ecology for developing the work. This work had financial support from the The study area comprises a remnant area of restinga Universidade da Região de Joinville through the process located in the municipality of São Francisco do Sul, in the process n. 6055's co-author. The Research Program in coastal plain of Santa Catarina state, Brazil. The region Biodiversity - Atlantic Forest - South Core/SC. The has been recently transformed into a Conservation Unit, management team Acaraí State Park. the Acaraí State Park (ASP), and in 2014 was incorporated into the PPBIO. The sampling was done in References four extra plots of PELD module (250x5 m), constituting a [1] Scarano, F. 2002. Structure, Function and Floristic total area of 5 000 m², during April, May and June. Plant Relationships of Plant Communities in Stressful Habitats (n ≥ 5) Marginal to the Brazilian Atlantic Rainforest. Annals of branches with galls was sampled and identified Botany 90: 517-524. with comparision with the material in MBM Herbarium and [2] Boeger, M.R.T. & Gluzezak, R.M. 2006. Adaptações with literature. The vouchers were deposited in the estruturais de sete espécies de plantas para as condições ambientais da area de dunas de Santa Catarina, Brasil. Herbarium of the Universidade de Joinville (JOI). The Iheringia Série Botânica 61 (1-2): 73-82. identification of the galling insects was based on the [3] Fernandes, G.W. & Price, P.W. 1988. Biogeographical revision of galls from the Southeastern Brazil7. The gall gradients in galling species richness. Test of hypotheses. 5 Oecologia 7: 161-167. morphotypes were classified according to Isaias et al. [4] Shorthouse, J.D.; Wool, D., & Raman, A. 2005. Gall-inducing and photographed. insects - Nature's most sophisticated herbivores. Basic and Applied Ecology 6: 407-411. Results [5] Isaias, R.M.S.; Carneiro, R.G.S.; Oliveira, D.C. & Santos, J.C. 2013. Illustrated and Annoted Checklist of Brazilian Gall The galls were classified into eight morphotypes, Morphotypes. Neotropical Entomology 42: 230-239. [6] Carneiro, M.A.A.; Branco, C.S.A.; Braga, C.E.D.; Almada, associated to eight host plants constituting 15 host plants- E.D.; Costa, M.B.M.; Maia, V.C. & Fernandes, G.W. 2009. galling herbivores systems. Coalescent galls was the Are gall midges (Diptera, Cecidomyiidae) host-plant most common gall morphotype, with 26.6% of occurrence, specialists? Revista Brasileira de Zoologia 53 (3): 365-378. [7] Maia, V.C. 2013. Insect galls from restingas of Southeastern followed by the globoid and the lenticular (20%), and the Brazil, with new records. Biota Neotropica 13(1): 1-28. fusiform galls (13.3%). The less frequent was the rosette,

38 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

HEMOPARASITISMO EM LANIO MELANOPS (AVES: THRAUPIDAE), EM MATA ATLÂNTICA DA ILHA GRANDE, RIO DE JANEIRO

Jimi Martins-Silva1,2,*, Maria Alice S. Alves2 1 Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; 2 Laboratório de Ecologia de Aves e Ecologia Comportamental, Departamento de Ecologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; *[email protected]

Introdução Após identificadas, as aves são individualmente Muitos parasitos utilizam aves como hospedeiros1 e o marcadas com anilhas metálicas (Licenças: interesse por estudos sobre esta relação ecológica tem CEMAVE/ICMBio no. 1237, INEA no. 051/2011, SISBIO aumentado nas regiões tropicais nos últimos anos. Como 14210-7) e em seguida uma amostra de sangue é obtida já demonstrado para outros táxons, indivíduos da veia ulnar ou tíbio-tarsal, utilizando agulha parasitados são mais susceptíveis a predadores e têm hipodérmica (0,30X13mm) e microcapilar não menor capacidade de estabelecer territórios2,3. Por heparinizado (50 µl). Em seguida, medidas morfométricas ocasionar uma redução da massa corporal ao longo do são obtidas, sendo as aves liberadas em seguida. tempo, parasitos podem gerar um aumento na taxa A partir do sangue extraído, são confeccionadas de uma metabólica, como relatado para Columba livia, quando a três distensões sanguíneas para cada indivíduo, que parasitado por piolhos4. Provavelmente, este pode após secas à sombra, são fixadas em etanol absoluto por demonstrar, o motivo de aves infectadas por três minutos. hemosporídeos parasitas terem seu desempenho Parte do sangue obtido é acondicionado em tubo reprodutivo afetado5,6,7. eppendorf (1,5ml) com etanol absoluto para posterior Os parasitos têm impactos na diversidade genética, na identificação do sexo por técnica molecular do gene CHD, 11 abundância, na diversidade e na estrutura da utilizando os primers P2 e P8 , a fim de distinguir fêmeas comunidade8. Nas regiões tropicais e subtropicais os de machos jovens que possuem plumagem similar. vetores permanecem ativos o ano todo, mas pouco se Em laboratório, as lâminas consideradas melhor sabe sobre sazonalidade na transmissão de confeccionadas são coradas utilizando Giemsa 1% hemoparasitos9. durante 30 minutos e posteriormente, lavadas com água As aves podem hospedar hemoparasitos flagelados destilada e colocadas para secar. Quando secas, estas (Trypanossoma), parasitas filarídeos (Filo Nematoda) e são analisadas em microscópio óptico nos aumentos de esporozoários intracelulares (Filo Apicomplexa)10, e todos 400x e 1000x. esses grupos têm os dípteros hematófagos entre seus Resultados principais vetores5,6,7 Estudos envolvendo parasitismo em aves são Um total de 60 indivíduos foi capturado de junho de 2014 importantes para a saúde humana, já que estes animais a maio de 2015, gerando um total de 97 distensões podem servir como reservatório de certas doenças sanguíneas. De 12 amostras analisadas até o presente, transmissíveis para os seres humanos. Além disso, o cinco continham hemoparasitos, incluindo duas com parasitismo pode ter um grande impacto em populações Trypanossoma sp., duas com Plasmodium sp. e duas naturais, podendo inclusive ocasionar sua extinção. com microfilária (Figura 1). O objetivo do presente estudo é identificar os hemoparasitos do tiê-de-topete, Lanio melanops na Ilha Grande, onde essa ave é frequentemente capturada no sub-bosque. Como objetivos específicos, pretende-se investigar se há diferença da prevalência de parasitismo entre estações mais chuvosa e menos chuvosa, entre sexos e a influência do parasitismo na massa corporal dos indivíduos parasitados. Metodologia

O estudo tem sido realizado em área florestal da Ilha Grande, RJ, em parcelas localizadas no lado leste da mesma. As aves são capturadas utilizando 10 redes Figura 1. Hemoparasitos encontrados em esfregaços ornitológicas (12 m X 2,5 m, malha de 36 mm) em cada sanguíneos: a e b) Trypanossoma sp.; c e d) Microfilária. parcela amostrada. Além das amostragens no âmbito das amostragens sistematizadas com o protocolo RAPELD, Quando todas as amostras sanguíneas forem analisadas são realizadas amostragens adicionais fora das parcelas e realizadas as análises moleculares para identificação com a finalidade de se obter capturas mensais. do sexos das aves, os indivíduos parasitados serão

39 comparados com os não parasitados, de modo a avaliar o [7] Knowles, S.C.L.; Palinauskas, V. & Sheldon, B.C. 2010. Chronic malaria infections increase family inequalities and possível efeito do hemoparasitismo nas medidas reduce parental fitness: experimental evidence from a wild morfométricas e massa corporal. bird population. E. Evol. Biol. 23, 557-569. [8] Scott, M.E. 1988. The impact of infection and disease on Discussão animal populations: implications for conservation biology. Conservation Biology, 2: 40-56. Apesar do pequeno número de amostras analisadas até o [9] Atkinson, C.T.; Forrester, D.J. & Greiner, E.C. 1988. Epizootiology of Haemoproteus meleagrides (Protozoa: presente, já foi possível detectar na Ilha Grande três dos Haemosporida) in Florida: seasonal transmission and quatro tipos de hemoparasitos conhecidos para L. vector abundance. Journal of Medical Entomology, 25: 45- melanops12. A prevalência de hemoparasitismo 51. [10] Sebaio, F.; Braga, E.M.; Branquinho, F.; Fecchio, A. & encontrada nas análises preliminares do presente estudo Marini, M.A. 2012. Blood parasites in passerine birds from foi de 41,7%, valor consideravelmente maior do que o the Brazilian Atlantic Forest. Rev. Bras. Parasitologia obtido por Woodworth-Lynas et al.12 para essa mesma Veterinária, Jaboticabal, V.21, n. 1, p. 7-15. [11] Griffiths, R.; Doublem, M.; Orr, K.Y.C. & Dawson, R.J.G. espécie entre 1961 e 1975 no estado de São Paulo 1998. A DNA test to sex most birds. Molecular Ecology. 7: (1,8%, n=326). Em se confirmando esta diferença de 1071-1075 prevalência, esta pode ser decorrente do efeito ilha, o que [12] Woodworth-Lynas, C.B.; Caines, J.R. & Bennet, G.F. 1989. Prevalence of avian Haematozoa in São Paulo State, requer investigações adicionais. Além disso, em etapa Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 84 posterior pretende-se utilizar técnica de biologia (4): 515-526. molecular para a identificação de parasitos da malária em [13] Hellgren O, Waldenström J, Bensch S (2004) A new PCR assay for simultaneous studies of Leucocytozoon, todas as amostras, utilizando para o sequenciamento a Plasmodium, and Haemoproteus from avian blood. Journal identificação de marcadores moleculares já of Parasitology 90: 797-802. 21. desenvolvidos para parasitos haemosporideos13, além de [14] Lima MR, Simpson L, Fecchio A, Kyaw CM (2010) Low 14 prevalence of haemosporidian parasites in the introduced um protocolo de amplificação para estes marcadores . house sparrow (Passer domesticus) in Brazil. Acta Como essa técnica é sensível a amostras de indivíduos Parasitologica 55: 297-303. com baixa parasitemia não detectada em análises de lâminas, é possível que o valor de prevalência detectado no presente estudo seja ainda maior.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Produtividade em Pesquisa, assim como à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) pelo apoio financeiro para M.A.S. Alves pelo auxílio de Cientista do Nosso Estado para MASA (processos 305.798/2014-6 e E-26/102.837/2012, respectivamente). Ao Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS-UERJ) e ao Instituto Estadual do Ambiente (INEA) pelo auxílio logístico. Referências Bibliográficas [1] Lucena, D.T. 1941. Lista dos protozoários hemoparasitas de aves da região neotrópica. Rev. Fac. Med. Vet. S. Paulo — Vol. 2, fasc. I. [2] Laferty, K.D. & Morris, R. 1996. Altered behavior of parasited killifish increases susceptibility to predation by bird final hosts. Ecology, 77: 1390-1397. [3] Maksimouwich, D.S. & Mathis, A. 2000. Parasitized salamanders are inferior competitors for territories and food resources. Ethology, 106: 319-329. [4] Booth, D. T., Clayton, D. H., & Block, B. A. 1993. Experimental demonstration of the energetic cost of parasitism in free-ranging hosts.Proceedings of the Royal Society of London B: Biological Sciences,253(1337), 125- 129. [5] Merino, S.; Moreno, J.; Sanz, J.J. & Arriero, E. 2000. Are avian blood pathogenic in the wild? A medication experiment in blue tits (Parus caeruleus). Proc. R. Soc. Lond. B 267, 2507-2510. [6] Marzal, A.; de Lope, F.; Navarro, C. & Moller, A.P. 2005. Malarial parasites decrease reproductive success: an experimental study in passerine bird. Oecologia 142, 541- 545.

40 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

MECANISMOS DE RESPOSTA ANTIHERBIVORIA EM ESPÉCIES DE RESTINGA – MÓDULO PELD – ACARAÍ

Maiara Matilde da Silva1*, Maria Regina Torres Boeger¹, João Carlos Ferreira de Melo Júnior² 1Universidade Federal do Paraná – UFPR, Mestrado em Ecologia e Conservação, Curitiba, PR, Brasil; ²Universidade da Região de Joinville - Univille, Departamento de Ciência Biológicas, Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal, Joinville, SC, Brasil. *[email protected]

Introdução Benth. (Fabaceae), Calophyllum brasiliense Cambess. (Clusiaceae), Dalbergia frutescens (Vell.) Britton. A herbivoria é uma interação biótica muito comum às (Fabaceae), Nectandra oppositifolia Ness. (Lauraceae), plantas, mas gera um efeito negativo sobre o vegetal. A Schinus terenbinthifolius Raddi. (Anacardiaceae)5. De diversidade de tipos de tecido vegetal que os herbívoros cada espécie serão selecionados 10 indivíduos em podem consumir reflete a estreita relação evolutiva cada formação vegetal e, de cada indivíduo, serão entre plantas e insetos. Assim, para suportar estas coletadas 30 folhas para os testes histoquímicos, situações adversas as plantas desenvolvem estratégias análise de conteúdo de nitrogênio e análise de atributos de defesas que inibem a ação dos predadores, morfoanatômicos. Serão mensuradas para todas as 1 podendo ser defesas químicas e/ou estruturais . Esses espécies a taxa de herbivoria6 e o índice de herbivoria7. dois tipos de defesa podem ser, de acordo com a sua As médias dos atributos analisados serão comparadas origem, constitutivas ou induzidas. As constitutivas são por ANOVA. aquelas que ocorrem constantemente no vegetal, mesmo na ausência da ação do herbívoro, enquanto as Resultados esperados induzidas são geradas pela presença de herbívoros1. Os mecanismos subjacentes à produção de defesas Espera-se encontrar alterações morfoanatômicas, nas plantas podem ser explicados pelas seguintes ecofisiolófgicas e histoquímicas nas plantas decorrente teorias: Hipótese da Disponibilidade da Recursos (HDR) da ação de herbívoros, assim como um padrão nas a qual prediz que plantas em locais mais estressantes taxas de herbivoria ao longo dos gradientes edáfico, investem mais em defesas2; Hipótese do Estresse lumínico e hídrico da restinga que corroborem as Vegetal (HEV) que diz que plantas que sofrem hipóteses apresentadas. Os resultados deste estudo constantemente com fatores estressantes são mais devem fornecer dados para compreender as variantes suscetíveis à herbivoria, pois possuem folhas mais ricas atuantes na produção de defesas nas plantas e a em nitrogênio3; e a Hipótese da Aparência (HA) dinâmica da interação herbívoro-planta. segundo a qual espécies abundantes investem mais em defesas devido a chance de encontro com o herbívoro Agradecimentos ser maior4. A partir do exposto, é esperado que as plantas de restinga apresentem alterações À Univille pelo apoio financeiro (proc. n. 6055 do morfoanatômicas, ecofisiológicas e histoquímicas ao segundo coautor). À CAPES pela concessão de bolsa à – longo dos gradientes edáfico, lumínico e hídrico de autora por meio do PPGECO-UFPR. Ao PPBio Ma restinga. As hipóteses deste estudo são: i) plantas Núcleo Sul/SC. À equipe gestora do Parque Estadual expostas a condições mais estressantes investem mais Acaraí. em defesas anti herbivoria; ii) as taxas de herbivoria são crescentes ao longo da restinga no sentido mar- Referências Bibliográficas continente; iii) plantas mais abundantes investem mais [1] Corrêa, P. 2007. Defesas foliares em resposta à herbivoria em defesas contra herbivoria; e iv) a taxa de herbivoria em espécies lenhosas de restinga, Ipojuca-PE. 54 f. apresenta relação positiva com as concentrações de Dissertação (Mestrado em Botânica), Universidade Rural nitrogênio no tecido vegetal. Federal de Pernambuco. [2] Coley, P.D.; et al. 1985. Resource Availability and Plant Antiherbivore defense. Science 230: 895–899. Metodologia [3] White, T.C. 1984. The abundance of invertebrate herbivores in relation to the availability of nitrogen in stressed food plants. O estudo está sendo realizado na restinga do Parque Oecologia 63: 93-105. Estadual Acaraí (PEA), localizado no município de São [4] Feeny, P. Plant apparency and chemical defense. In: Wallace, J.W. & Mandell, R.L. (Orgs). Recent advances in phyto- Francisco do Sul/SC, em parcelas extras do módulo chemistry. Plenum Press: New York, 1976. pp. 1-40. PELD. A HDR e HEV serão testadas em três espécies [5] Melo Jr., J.C.F. & Boeger, M.R.T. 2015. Riqueza, Estrutura e coocorrentes nas formações de restinga herbácea, Interações Edáficas em um Gradiente de Restinga do Parque arbustiva), arbustivo-arbórea e floresta de transição5: Estadual do Acaraí, São Francisco do Sul, Santa Catarina, Brasil. Hoehnea 42(2): 207-232. São elas: Varronia curassavica Jacq. (Boraginaceae), [7] García-Robledo, C. 2005. Comparación de dos métodos para Dodonea viscosa Jacq. (Sapindaceae) e medir herbivoría. ¿Es la herbivoría en el Geotrópico mayor Symphiopappus casarettoi B. L. Rob. (Asteraceae). A de lo que creemos? Biologia Tropical 53: 111-114. HA será testada utilizando as espécies dominantes na [8] Dirzo, R. & Domingues, C. 1995. Plant-animal interection in mesoamerican tropical dry forest. In: Bullock, S. H.; .et al., floresta de transição. São elas: Alchornea triplinervia editors. Seasonally dry tropical forests. Cambridge: Spreng. M. Arg. (Euphorbiaceae), Andira fraxinifolia Cambridge University Press, p. 305-325.

41 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ORGANIZAÇÃO TEMPORAL DOS RECURSOS FLORAIS USADOS POR BEIJA-FLORES: EFEITO DA FENOLOGIA, DENSIDADE DE PLANTAS E COMPORTAMENTO DE BEIJA-FLORES

Marcia L. Malanotte1,*, Isabela G. Varassin1

1Universidade Federal do Paraná, Departamento de Botânica, Laboratório de Ecologia Vegetal, Curitiba, PR. *[email protected]

parcela (número de espécies com flor/número de Introdução espécies total), e por meio de regressão linear foi A fenologia é reconhecida dentro da ecologia de relacionado com a frequência de visitação dos beija- comunidades pelo papel na organização temporal dos flores de comportamentos trapliners e territorialistas recursos, especialmente para o estabelecimento das isoladamente (variáveis respostas). Uma relação interações de polinização e dispersão1. De fato, os positiva entre o índice de sobreposição e frequência de padrões de floração no nível de comunidade podem visitação de ambos os comportamentos indica afetar a dinâmica dos sistemas ecológicos, influenciando facilitação entre plantas, ao passo que uma relação processos competitivos, em que, por exemplo, plantas negativa indica competição entre as plantas. 2 competem por polinizadores , ou de facilitação em que Resultados Preliminares plantas florescem simultaneamente resultando em uma maior atração de polinizadores3. O particionamento Plantas mais abundantes apresentaram maior 2 temporal na oferta de recursos, com consequente extensão de floração (R = 0,46, F1,15 = 12,9, p < 0,01, redução da sobreposição de nicho, é um mecanismo Figura 1), assim como uma maior intensidade de 2 importante para coexistência dessas espécies. Além floração ao longo do ano (R = 0,34, F1,15 = 7,92, p = disto, a qualidade e a distribuição temporal dos recursos 0,01). Porém, não foi encontrada relação entre os 2 ofertados pelas flores podem influenciar o resíduos e a intensidade de floração (R = 0,08, F1,15 = comportamento de forrageamento dos beija-flores4. 1,34, p = 0,26), indicando que o efeito do número de Desta forma, os objetivos deste trabalho foram analisar a flores é apenas efeito da densidade de indivíduos. A extensão temporal e intensidade de floração e sua sobreposição temporal de floração não apresentou relação com a densidade de plantas. E avaliar se a relação positiva (facilitação) com a frequência de sobreposição da extensão temporal de floração explica a visitação de beija-flores trapliners e territorialistas em frequência de visitação dos beija-flores de diferentes nenhuma das parcelas ao longo dos meses, mas comportamentos, influenciando em processos de apresentou relação negativa (competição) com a competição e facilitação. frequência de visitação de beija-flores trapliners apenas em uma das parcelas (Tabela 1). Metodologia O estudo foi realizado na Reserva Natural Rio Cachoeira, pertencente à SPVS, inserido na APA de Guaraqueçaba no litoral norte do Paraná. As coletas dos dados de floração serão realizadas mensalmente durante 12 meses, em 10 parcelas. Porém, para este resumo foram considerados apenas os sete meses iniciais das coletas. A floração das plantas e a frequência de visitação de beija-flores de diferentes comportamentos foram observadas com auxilio de binóculo, e foram anotadas a intensidade (número de flores) e extensão temporal (número de meses) de floração dos indivíduos de espécies polinizadas por beija-flores em cada parcela. A extensão temporal e intensidade de floração foram relacionadas com a Figura 1. Relação entre a densidade de plantas densidade de plantas (número de indivíduos) (indivíduos por espécie) e a extensão temporal de logaritimizadas. Para analisar se a intensidade de floração da guilda de plantas polinizadas por beija-flores. floração não é apenas o efeito da densidade de plantas, foi realizada uma regressão linear entre os resíduos da análise (densidade plantas x extensão de tempo) com a intensidade de floração como variável resposta. O índice de sobreposição temporal foi calculado por

42 Tabela 1. Resultados da regressão linear entre o índice de sobreposição das plantas por parcela (novembro/ 2014 a maio/2015) e a frequência de visitação de beija- flores de comportamento trapliner e territorialista. Valor em negrito representa p < 0,05.

Parcelas Trapliner Territorialista R2 F p R2 F p 1 0,01 0,41 0,85 - - - 2 0,65 9,19 0,03 0,18 1,07 0,35 3 0,01 0,06 0,81 0,15 0,85 0,40 4 0,21 1,31 0,30 - - - 5 0,15 0,92 0,38 - - - 6 0,08 0,41 0,55 0,04 0,24 0,65 7 0,37 2,89 0,15 0,04 0,19 0,68 8 <0,01 <0,01 0,99 - - - 9 0,29 2,04 0,21 0,01 0,08 0,79 10 0,12 0,68 0,45 - - -

Discussão Espécies de plantas mais abundantes têm investido em maior tempo de floração e maior quantidade de flores, levando a uma sobreposição temporal de floração entre elas. Uma maior densidade de indivíduos afeta as interações entre plantas e polinizadores, favorecendo uma maior taxa de visitação de polinizadores5,6. Neste estudo, a sobreposição de floração não afetou os processos de facilitação ou competição, indicando que outros fatores biológicos ou neutros7 estejam atuando na guilda de plantas polinizadas por beija-flores. Agradecimentos À Capes pela concessão da bolsa, ao PPBio pelo financiamento da pesquisa na Reserva Natural Rio Cachoeira. À SPVS pela disponibilidade da área de estudo. À Pós-Graduação em Ecologia e Conservação e a Universidade Federal do Paraná. Referências Bibliográficas [1] Rathcke, B. & Lacey, E.P. 1985. Phenological patterns of terrestrial plants.Annual Review of Ecology and Systematics 16:179-214. [2] Stiles, F.G. 1975. Ecology, Flowering phenology, and hummingbird pollination of some Costa Rican Heliconiaspecies.Ecology 56: 285-301. [3] Moeller, D.A. 2004.Facilitative interactions among plants via shared pollinators.Ecology 85: 3289-3301. [4] Heinrich, B. Energetics of pollination. 1975. Annual Review of Ecology and Systematics 6: 39-170. [5] Kunin, W.E. 1997. Population size and density effects in pollination: pollinator foraging and plant reproductive success in experimental arrays of Brassica kaber. Journal of Ecology 85: 225-234. [6] Mustajärvi, K., Siikamäki, P., Rytkönen, S. & Lammi, A. 2001. Consequences of plant population size and density for plant–pollinator interactions and plant performance. Journal of Ecology 89(1): 80-87. [7] Cavender-Bares, J., Keen, A. & Miles, B. 2006. Phylogenetic structure of Floridian plant communities depends on taxonomic and spatial scale. Ecology 87: 109-122.

43 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

COCCÍDIOS (APICOMPLEXA: EIMERIIDAE) EM MORCEGOS (MAMMALIA: CHIROPTERA) NO PARQUE ESTADUAL DA ILHA GRANDE: PROCURANDO NOVOS HOSPEDEIROS

Marcos T. de S. Miglionico¹, Lúcio A. Viana², André C. Siqueira¹, Maria C. Enrici¹, Helena G. Bergallo¹, Luciana M. Costa¹

¹Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Departamento de Ecologia; ²Laboratorio de Parasitologia Veterinária, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS, Campo Grande, MS, Brasil.

*[email protected]

Introdução Resultados Atualmente, existem no Brasil cerca de 9 famílias, 68 Na primeira campanha foram capturadas 13 espécies de gêneros e 178 espécies de morcegos¹. Dessas, 43% (78 morcegos, totalizando 99 indivíduos. Destes, foram espécies) ocorrem no estado do Rio de Janeiro²³. Os obtidas e analisadas 53 amostras de fezes. Não foram encontrados coccídios em nenhuma das amostras coccídios são protistas que geralmente parasitam o trato (tabela 1). digestório de mamíferos, aves e répteis. Coccídios do gênero Eimeria são os mais prevalentes em mamíferos Tabela 1. Morcegos capturados e presença de coccídios 4 não voadores e menos estudados em quirópteros . No intestinais na Ilha Grande, Rio de Janeiro. mundo estão descritas 31 espécies de Eimeria4 Espécie Positivos/examinados 5 encontradas em morcegos , e no Brasil, apenas duas Artibeus fimbriatus 0/7 espécies. As duas espécies de Eimeria conhecidas, E. Artibeus obscurus 0/5 molossi5 e E. bragancaensis6, têm como hospedeiros Artibeus planirostris 0/0 Molossus ater pertencente a família Molossidae e Carollia perspicillata 0/29 Peropteryx macrotis da família Emballonuridae, Chiroderma doriae respectivamente, ambas descritas para o estado do 0/0 Amazonas. Para Ilha Grande, já foram registradas 36 Chrotopterus auritus 0/0 espécies de morcegos7 porém nenhum estudo sobre Micronycteris microtis 0/2 coccídeos foram desenvolvidos. O presente trabalho tem Myotis sp. 0/6 como objetivo procurar novos hospedeiros e parasitos e Sturnira lilium 0/0 entender seus ciclos biológicos no Parque Estadual da Sturnira tildae 0/1 Ilha Grande, RJ. Tonatia bidens 0/1 Metodologia Trachops cirrhosus 0/2 A área de estudo fica localizada no Parque Estadual da Vampyrodes caraccioli 0/0 Ilha Grande no município de Angra dos Reis em um Total 0/53 módulo demarcado na parte leste da ilha, entre o Abraão e a Vila Dois Rios. O módulo abrange 5 km2 onde estão demarcadas 10 parcelas seguindo a metodologia Discussão 8 RAPELD . Os dados aqui apresentados são de uma A análise do material até o momento não revelou campanha, de 10 noites de amostragem, realizada no nenhuma infecção. É provável que fatores imunológicos período chuvoso. Para a captura dos morcegos foram possam modular a ocorrência de parasitos na utilizadas 13 redes de neblina de 10 metros de comunidade de morcegos na Ilha Grande, dificultando o comprimento, armadas ao longo das parcelas. As redes encontro de animais infectados. Estudos com roedores foram abertas antes do pôr-do-sol e fechadas ao 9 têm lançado luz sobre a resposta imunológica (RI) para amanhecer . Após a captura, os morcegos foram coccídios em animais silvestres. Níveis variados de identificados e soltos no próprio local, mas cada indivíduo imunização/proteção contra estes parasitos têm sido permaneceu contido em sacos de pano, por um período registrados. Fatores como a espécie de coccídio de no mínimo duas horas, para a coleta de amostras envolvida, a espécie de hospedeiro e a região de estudo fecais. Cada saco foi utilizado uma única vez. As fezes não permitem até o presente traçar padrões para a RI. foram depositadas em tubos Falcon com dicromato de Outro aspecto relevante é que apesar do razoável potássio (K2Cr2O7) a 2,5% numa proporção de 1: 6 (v / v). número de animais capturados nesta primeira campanha, As amostras foram processadas mediante o método de nem todos os animais defecaram. Os poucos registros da centrífugo-flutuação em solução saturada de açúcar e em prevalência de coccídios em morcegos corresponde a seguida examinadas em microscópio óptico. Para 33% para a Eimeria bragancaensis6 e 44% para a Eimeria identificação dos oocistos foi realizada a análise molossi5, ambas na região norte do país. A continuidade morfométrica e morfológica dos mesmos em objetiva de das coletas é fundamental para o aumento da imersão e com uma lente ocular milimetrada calibrada.

44 possibilidade de registro e descrição de espécies de coccídios em morcegos na Ilha Grande. Agradecimentos Á FAPERJ pela taxa de bancada para a realização do projeto (E- 26/101.399/2014). Luciana M. Costa agradece à CAPES pela bolsa de Pós-doutorado. Helena de Godoy Bergallo agradece a FAPERJ (E-26/110.284/2010 e E-26/103.016/2011) e ao CNPq (457458/2012-7 e 307715/2009-4) pelas bolsas e auxílios à pesquisa. Ao Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável e ao Instituto Estadual do Ambiente pela colaboração nos trabalhos. Referências Bibliográficas [1] Nogueira, M.R.; Lima, I.L.; Moratelli R.; Tavares V.C.; Gregorin R. & Peracchi A.L. 2014. Checklist of Brazilian bats, with comments on original records The Journal of Biodiversity Data 10(4): 808-821. [2] Peracchi A.L. & Nogueira M.R. 2010. Lista anotada dos morcegos do Estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil. Chiroptera Neotropical 16(1): 508-519. [3] Moratelli R.; Peracchi A.L.; Dias D. & Oliveira J.A. 2011. Geographic variation in South American populations of Myotis nigricans (Schinz, 1821) (Chiroptera, Vespertilionidae), with the description of two new species. Mammalian Biology, 76: 592-607. [4] Duszynski D.W. 2002. Coccidia (Apicomplex: Eimeriidea) of the Mammalian Order Chiroptera. The University of New Mexico, Albuquerque, NM 87131. The Museum of Southwestern Biology. [5] Lainson R.; Naiff R.D. 1998. Eimeria peltocephali n. sp., (Apicomplexa: Eimeriidae) from the Freshwater Turtle Peltocephalusdumerilian (Chelonia: Pelomusidae) and Eimeria molossin. sp., from the Bat, Molossus ater (Mammalia: Chiroptera) Mem Inst Oswaldo Cruz, 93(1): 81- 90. [6] Lainson R. & Naiff R.D. 2000. On Eimeria bragancaensis n. sp. (Apicomplexa: Eimeriidae) And Tissue-cysts of na unidentified protozoan inthe pat Peropteryx macrotis (Chiroptera: Emballonuridae) from Amazonian Brazil.Parasite, 7, 123-129 [7] Esbérard C.E.L.; Jordão-Nogueira T.; Luz J.L.; Melo G.G.S.; Mangolin R.; Jucá N.; Raíces D.S.; Enrici M.C.; Bergallo H.G. 2006. Morcegos da Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ, Sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Zoociências. 8(2: ;151-157.. [8] Magnusson, W.E.; Lima, A.P; Luizão, R.; Luizão, F.; Costa, F.R.C.; Castilho, C.V. & V.F. Kinupp. 2005. RAPELD: A modification of the Gentry method for biodiversity surveys in Long-Term Ecological Research Sites. Biota Neotropica, 5(2): 1-6. [9] Esbérard, C.E.L. 2006. Efeito da coleta de morcegos por noites seguidas no mesmo local. Revista Brasileira de Zoologia, 23: 1006-1009.

45 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ECTOPARASITOS INFESTANDO MORCEGOS NO PARQUE ESTADUAL DA ILHA GRANDE, RJ Patrick C. Xavier1*, Elizabete C. Lourenço¹, Jessica Assis1, André C. Siqueira1, Ana C.F.V. Silva¹, Helena G. Bergallo1, Luciana de Moraes Costa1 ¹Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia, Departamento de Ecologia, Laboratório de Ecologia de Mamíferos, Rio de Janeiro, RJ; *[email protected]

Durante a realização deste trabalho foram capturados 99 Introdução indivíduos de morcegos de 13 diferentes espécies. Desses, 40 morcegos (40,4%) estavam infestados por Os morcegos são considerados importantes para estudos ectoparasitos (Tabela 1). Somente duas espécies não das interações parasita-hospedeiro, pois apresentam alta estavam infestados: Artibeus obscurus e Artibeus diversidade1 e ampla distribuição geográfica2 e planirostris. comportamento gregário3. Artrópodes ectoparasitos são organismos que passam uma parte ou toda vida em estreita associação em um ambiente criado pela pele e Tabela 1 – Morcegos capturados e infestados por anexos do corpo de seus hospedeiros4. Como qualquer ectoparasitos no Parque Estadual da Ilha Grande entre outro animal, os morcegos não estão livres de dezembro de 2014 e março de 2015. ectoparasitos, os quais são artrópodes pertencentes às Espécies Abundância Infestados classes Insecta e Arachnida, que vivem a custas dos Carollia perspicillata (Linnaeus, 46 18 hospedeiros, alimentando-se de fluidos corpóreos ou 1758) folículos capilares. São encontrados em sua pelagem, Artibeus obscurus (Schinz, 1821) 14 0 nas membranas das asas, que podem sofrer perfurações, Myotis sp. 9 6 ou nos abrigos. Os morcegos podem ser parasitados por Artibeus planirostris (Spix, 1823) 7 0 Artibeus fimbriatus mais de 600 espécies de artrópodes pertencentes as Gray, 1838 5 4 Trachops cirrhosis 4 3 Ordens Siphonaptera, Diptera, Hemiptera, Dermaptera e (Spix, 1823) 5 5 Sturnira lilium (É. Geoffroy, 1810) 3 2 Subclasse Acari . Segundo Marshall (1982) os Micronycteris microtis Miller 1898 3 1 ectoparasitos de morcego vivem a vida inteira no corpo Tonatia bidens (Spix, 1823) 2 2 do hospedeiro ou em seus abrigos. A abundância de Vampyrodes caraccioli (Thomas, 2 1 ectoparasitos pode variar de acordo com idades, sexos, 1889) 6 condições reprodutivas e estado de saúde . Quando um Chrotopterus auritus Peters, 2 1 morcego apresenta um alto índice de infestação, 1865 geralmente está relacionado com o fato deste encontrar- Sturnira tildae de la Torre, 1959 1 1 se debilitado, não fazendo a sua auto limpeza e com isso Chiroderma doriae Thomas, 1891 1 1 debilitando ainda mais a vida do hospedeiro5. O objetivo TOTAL 99 40 do presente trabalho é avaliar a composição e abundância dos ectoparasitos nas diferentes espécies de morcegos capturados nas diferentes parcelas RAPELD Resultados Esperados no Parque Estadual da Ilha Grande. Contabilizaremos os ectoparasitos coletados e Metodologia identificaremos em laboratório. Posteriormente relacionaremos a incidência de ectoparasitos com as O trabalho está sendo desenvolvido no Parque Estadual parcelas onde os morcegos foram capturados. da Ilha Grande, em 10 parcelas do RAPELD no módulo Analisaremos o período do ano em que os morcegos Leste. Cada parcela apresenta um corredor de 250 estão mais infestados. Será analisado para cada espécie metros de comprimento. Nesse corredor são colocadas de morcego se a incidência de ectoparasitos pode variar 13 redes de neblina (10 x 3 m e 19 mm de malha), para de acordo com sexo, idade e condição reprodutiva captura de morcegos ao longo do corredor central. As diferente. redes são vistoriadas em intervalos de aproximadamente 30 minutos a partir do pôr do sol até o amanhecer. Os Agradecimentos morcegos capturados são retirados da rede de neblina e retidos individualmente em sacos de pano para que não Á FAPERJ pela taxa de bancada para a realização do ocorra contaminação de ectoparasitos entre eles. Os projeto (E-26/101.399/2014). Luciana M. Costa e indivíduos de morcegos capturados, recebem numeração Elizabete C. Lourenço agradecem à CAPES pela bolsa própria. Todos os morcegos são vistoriados ainda em de Pós-doutorado. Helena de Godoy Bergallo agradece a campo a olho nu e os ectoparasitos são removidos com FAPERJ (E-26/110.284/2010 e E-26/103.016/2011) e ao as mãos ou com o auxílio de pinças e armazenados em CNPq (457458/2012-7 e 307715/2009-4) pelas bolsas e criotubos com álcool 70% para serem identificados auxílios à pesquisa. Jessica. Ao CEADS/UERJ e INEA posteriormente em laboratório. Depois de retirado todos pela permissão para coletas e apoio concedidos. os ectoparasitos, os morcegos são liberados. Referências Bibliográficas Resultados [1] Mares, M.A.; Willig, M.R.; Streilein, K.E. & Lacher, T.E. 1981. The mammals of northeastern Brazil: a preliminary

46 assessments. Annals of the Carnegie Museum of Natural History. 50(4): 81-110. [2] Hill, J.E. & Smith, J.D. 1988. Bats: A Natural History. Henry ling, Dorchester. [3] Lourenço, S.I. & Palmeirim, J.M. 2007. Camite prasitism affect the doditions of bat hosts? Implications for the social structure of the colonial bats. Journal of Zoology, 273: 161-168. [4] BossiI, D. E. P.; Linhares, A. X. & Bergallo, H. G. Parasitic arthropods of some wild rodents from Juréia- Itatins Ecological Station, State of São Paulo, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro-RJ, v. 97, n.7, p. 959-963, 2002. [5] Marshall (1982) Ecology of Insects Ectoparasitic on Bats. Ecology of Bats 1982, pp 369-401 [6] Rui, A.M. & Graciolli, G. 2005. Moscas ectoparasitas (Diptera, Streblidae) de morcegos (Chiroptera, Phyllosto- midae) no sul do Brasil: associações hospedeiros-pa- rasitos e taxas de infestação. Revista Brasileira de Zoologia, 22(2): 438-445.

47 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ARTRÓPODES EM PEQUENOS MAMÍFEROS NOS MODÚLOS RAPELD DO PARQUE ESTADUAL DA ILHA GRANDE, RJ

Thaís B. C. Silva1*, Elizabete C. Lourenço1, Jéssica S. de Assis1, Maria Carlota Enrici1, Maja Kajin1, Helena G. Bergallo1 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Ecologia, Laboratório de Ecologia de Mamíferos, Rio de Janeiro, RJ; 5, 6 Professora Associada Departamento de Ecologia, UERJ; *[email protected] Foram analisados cinco espécies de pequenos Introdução mamíferos: Phylomys pattonni (Emmons, Leite, Kock & Costa), Trinomys dimidiatus (Günther, 1877), Didelphis A Mata Atlântica, possuí uma das maiores aurita (Wied-Neuwied, 1826), Euryoryzomys russatus biodiversidades do mundo, abrigando muitas espécies de (Wagner, 1848) e Marmosops incanus (Lund, 1841), distribuição restrita1. Dentre os mamíferos, o grupo que totalizando 89 capturas e recapturas (Tabela 1). mais se destaca são dos roedores e marsupiais2. Exceto por Marmosops incanus, que não apresentou Muitos são os artrópodes que habitam a pelagem e os ectoparasitos, todas as outras espécies obtiveram uma ninhos destes mamíferos3. Pesquisas com os artrópodes alta prevalência. Apenas Trinomys dimidiatus e Didelphis de pelos desenvolvidas no Brasil têm abordado diversos aurita foram recapturados (Tabela 1). Trinomys dimidiatus aspectos tais como, vetores biológicos de organismos foi o grupo com maior número de ordens de artrópodes patogênicos entre seus hospedeiros4, a interação encontrados, enquanto o grupo de ectoparasitos com parasito-hospedeiro5, composição das comunidades de maior distribuição entre os mamíferos estudados foram ectoparasitos6. os ácaros, presentes em todas espécies capturadas O Laboratório de Ecologia de Pequenos Mamíferos da (Tabela 2). Universidade do Estado do Rio de Janeiro vem desenvolvendo, desde o início de 2013, estudos sobre a Tabela 1: Prevalência de artrópodes coletados de mastofauna da Ilha Grande através do método de pelos de pequenos mamíferos no Parque Estadual da Ilha parcelas RAPELD. Este método permite amostrar Grande, RJ comunidades biológicas em grandes áreas amostrais e ao mesmo tempo minimizar a variação nos fatores abióticos que afetam estas comunidades7. O presente projeto teve como objetivo avaliar a composição e a abundância da fauna de artrópodos de pêlo nas diferentes espécies de pequenos mamíferos no Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG).

Metodologia Tabela 2: Artrópodes encontrados nos pequenos mamíferos do Parque Estadual da Ilha Grande, RJ A Ilha Grande é localizada no litoral sudoeste do Estado do Rio de Janeiro. A ilha é protegida por três Unidades de Conservação de proteção integral e é coberta por matas de encosta em diferentes estágios sucessionais, restinga e mangue. Os pequenos mamíferos foram capturados no módulo Leste do RAPELD instalado no PEIG, município É possível verificar uma prevalência alta de de Angra dos Reis, RJ. Em cada parcela (N=10) 25 ectoparasitos encontrados na maioria dos pequenos armadilhas foram abertas durante cinco noites no solo e mamíferos, o que é de se esperar em populações de no sub-bosque, em duas campanhas na estação seca e mamíferos em ilhas9. na estação chuvosa, entre março de 2014 e junho de Apesar de não ter sido encontrado ectoparasitos em 2015. Os ectoparasitas foram coletados através da todos os grupos capturados, as ordens Rodentia e escovação em potes brancos e preservados em etanol Marsupialia costumam abranger um percentual alto de 70%. Através do microscópio estereoscópico os ectoparasitos, pois ocupam diversos nichos em diferentes ectoparasitos foram separados por suas ordens. A ecótopos10. prevalência foi considerada como o número de O próximo passo será identificar as espécies de hospedeiros parasitados dividido sobre o número de ectoparasitos e avaliar se há especificidade entre parasito hospedeiros analisados8. e hospedeiro. Resultados Agradecimentos

Ao CNPq (457458/2012-7) e a FAPERJ (E- 26/110.284/2010) pelo financiamento do projeto. Ao

48 CEADS pela infraestrutura cedida aos pesquisadores envolvidos. Referências Bibliográficas [1] Silva, M. P. L.; Leite, Y. L. R.; Costa, L. P. Diversidade Filogenética de Mamíferos no Corredor Central da Mata Atlântica. Mamíferos do Brasil: genética, sistemática, ecologia e conservação. Vol.II p. 36 – 51. Rio de Janeiro, 2012. [2] Carceres. Efeitos da Conservação e da Distância Geográfica sobre comunidades de pequenos Mamíferos do Cerrado e Pantanal no Oeste do Brasil. Mamíferos do Brasil: genética, sistemática, ecologia e conservação. Vol. II p. 10 – 18. Rio de Janeiro, 2012. [3] Martins-Hatano, F.; Gettinger, D.; Bergallo, H.G. Ectoparasitas de pequenos mamíferos na Restinga de Jurubatiba. In: Carlos Frederico Duarte da Rocha; Francisco Assis Esteves; Fábio Scarano. (Org.). Pesquisas de longa duração na Restinga de Jurubatiba. Ecologia, história natural e conservação. 1ed.São Carlos: Rima Editora, v. , p. 231-241. 2004. [4] Bossi, D.E.P.; Linhares, A.X.; Bergallo, H.G. . Parasitic arthropods of some wild rodents from Juréia-Itatins Ecological Station, state of São Paulo, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 97, p. 1-5, 2002. [5] Martins-Hatano, F.; Gettinger, D.; Manhaes, M. L. & Bergallo, H.G. Morphometric Variations of Laelapine Mite (Acari: Mesostigmata) Populations Infesting Small Mammals (Mammalia) in Brazil. Braz. J. Biol. vol. 72, no. 3, p. 595- 603. 2012. [6] Bittencourt, E. B. & Rocha, E. B. Host-ectoparasite Specificity in a Small Mammal Community in an Area of Atlantic Rain Forest (Ilha Grande, State of Rio de Janeiro), Southeastern Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 98(6): 793-798, September 2003; Bossi, D.E.P.; Linhares, A.X.; Bergallo, H.G. . Parasitic arthropods of some wild rodents from Juréia-Itatins Ecological Station, state of São Paulo, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 97, p. 1-5, 2002; Martins-Hatano, F.; Gettinger, D.; Manhaes, M. L. & Bergallo, H.G. Morphometric Variations of Laelapine Mite (Acari: Mesostigmata) Populations Infesting Small Mammals (Mammalia) in Brazil. Braz. J. Biol., 2012, vol. 72, no. 3, p. 595-603. [7] Magnusson, W. E., A. P. Lima, R. C. C. Luizao, F. Luizao, F. R. C. Costa, C.V. Castilho, And V. P. Kinupp. RAPELD: A modification of the Gentry method for biodiversity surveys in long-term ecological research sites. Biota Neotropica 5: 1– 6. 2005. [8] Bush, A. O., Lafferty, K. D., Lotz, J. M., Shostak, A. W. Parasitology meets ecology on its own terms Margolis et al. revised. Journal of Parasitology, 83(4): 575-583. 1997. [9] Adler, G. H.; Levins, R. The island syndrome in rodent populations. The Quarterly Review of Biology, 69: 473-489. [10] Linardi, P. M., 2011. Checklist of Siphonaptera (Insecta) from São Paulo State, Brazil. Biota Neotrop. 11(1a): 607-617. 1994. [11] Klompen, J.S.H., Black, W.C.I.V, Keirans, J.E. et al. Evolution of ticks. Annu. Rev. Entomol., v.41, p.141-161, 1996. [12] Bittencourt, E. B.; Rocha, C. F. D. Host-ectoparasite specificity in a small mammal community in an area of Atlantic Rain Forest (Ilha Grande, State of Rio de Janeiro), Southeastern Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 98(6): 793-798, September 2003.

49 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

DIVERSIDADE DE ESPÉCIES E INTERAÇÕES: OS BEIJA FLORES E SUAS FONTES DE NÉCTAR NA RESERVA NATURAL RIO CACHOEIRA, ANTONINA, PARANÁ, BRASIL Tiago Simões Malucelli1 e Isabela Galarda Varassin2 1 Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós Graduação em Ecologia e Conservação, Curitiba, PR; 2 Universidade Federal do Paraná, Departamento de Botânica, Curitiba, PR; *[email protected]

Introdução matrizes de abundância das espécies, de altura e de A diversidade de espécies pode estar relacionada a distância entre as parcelas foram feitas correlações de diversos processos ecossistêmicos1, sendo uma das mantel. A rede de interações foi feita somando as métricas mais estudadas em comunidades naturais. No interações entre todas as parcelas, já que o número de entanto, as interações entre espécies também constituem interações em cada parcela isoladamente ainda é muito um importante componente na estruturação dessas baixo para permitir comparações entre elas. A partir comunidades2 e tem sido intensamente exploradas dessa rede foram feitas análises de diversidade e através de uma abordagem de redes de interação. A equitatividade de interações. Todas as análises diversidade de beija flores e suas fontes de néctar assim estatísticas foram realizadas no software R. como a diversidade de interações entre essas duas Resultados guildas, são assuntos bastante explorados no Brasil, principalmente no bioma da Mata Atlântica. Porém, sabe- A riqueza e abundância de espécies de beija flor variou se que existem grandes diferenças entre a diversidade de entre as diferentes parcelas (Fig. 1). A análise de NMDS espécies e interações entre esses grupos em diferentes mostrou que as parcelas 8 e 9 parecem ter composições regiões da Mata Atlântica e em diferentes biomas de beija flores bastante específicas em relação as outras brasileiros3,4. Essas diferenças entre comunidades podem parcelas. A riqueza e abundância de espécies de plantas ser causadas por vários fatores, que variam de visitadas por beija flores também variou entre as parcelas importância dependendo da escala5. Dessa forma o (Fig. 2). No caso das plantas, a análise de NMDS revelou estudo da diversidade de beija flores, de suas fontes de que as parcelas 1, 4, 7 e 9 parecem ter composições néctar e das interações entre eles pode contribuir para o bastante diferenciadas das outras parcelas. As análises entendimento dos fatores que geram essas diferenças, de Mantel determinaram que a abundância de beija flores assim como suas consequências para a estruturação das está correlacionada a altitude das parcelas (r=0,61, comunidades. O objetivo deste estudo é determinar a p<0,05) e a composição de beija flores está diversidade de beija flores, de suas fontes de néctar e correlacionada à composição de plantas (0,61, p<0,05). A das interações entre as duas guildas; determinar se a partir destes resultados foram feitos testes de mantel abundância de beija flores é correlacionada à distância parcial entre a abundância de beija flores e plantas, entre parcelas, à diferenças de altitude entre as parcelas, controlado pela altitude das parcelas (r=0,33, p<0,05) e e a diferenças na composição de parceiros mutualísticos. entre a abundância de beija flores e altitude das parcelas, controlado pela abundância de plantas (0,19, p>0,05). A Metodologia rede de interação no módulo como um todo (Fig. 3) mostrou que os beija flores Ramphodon naevius e O estudo está sendo realizado no módulo PPBio Rio Thalurania glaucopis, assim como as plantas Psychotria Cachoeira desde novembro/2014. O módulo consiste em nuda e Nidularium innocentii são as espécies 10 parcelas de 1 hectare (20x250), na formação dominantes. A diversidade de interações foi de 2,12 vegetacional da floresta ombrófila densa. O registro da enquanto a diversidade de interações máxima para a abundância das espécies e interações está sendo comunidade foi de 2,24. A equitatividade de interações foi realizado em uma área (20x250) a jusante do corredor de 0,5. central, evitando assim, afetar a faixa sensível. Dentro dessa área está sendo contado o número de indivíduos Discussão de cada espécies vegetal visitada por beija flores e o número de avistamentos de cada espécie de beija flor. O As diferenças de composição de beija flores nas parcelas registro das interações está sendo realizado nessa está relacionada à altura das mesmas porém não à mesma área, durante dez minutos de observação focal distância entre elas. Esse resultado era esperado já que em cada planta da parcela. Esses procedimentos estão se trata de uma escala local, onde fatores ambientais são sendo repetidos mensalmente em cada parcela. Até o tidos como mais importantes que fatores espaciais5. No momento foram feitos 7 meses de coleta de dados, a qual entanto, um fator biótico (presença de parceiros será estendida até completar 12 meses. Para avaliar as mutualísticos), foi bastante importante para a composição diferenças de composição de beija flores e das suas de plantas e beija flores, o que também é esperado em fontes de néctar nas diferentes parcelas foi realizado um escalas menores5. As análises de mantel parcial mostram cálculo de abundância relativa e uma análise de NMDS. que esse fator não só é importante como é mais Para verificar correlação entre as determinante que a altitude das parcelas na composição de beija flores. Futuramente analises semelhantes serão

50 realizadas com a totalidade dos dados para verificar se esse padrão se mantém. Além disso, serão utilizados os traços das espécies para evidenciar a importância relativa da competição, interação mutualística, fatores ambientais, fatores espaciais e fatores filogenéticos na composição das parcelas. A rede de interações mostrou uma diversidade de beija flores e plantas menor quando comparada a locais de Mata Atlântica localizados mais ao norte do Brasil4. A dominância dos beija flores R. naevius e T. glaucopis, assim como da planta P. nuda não são surpreendentes na Reserva do Cachoeira6. No entanto a grande importância da planta N. innocentii é algo que ainda não havia sido detectado no local. A diversidade de interações no módulo pode ser considerada intermediária. Isso parece ser causado pela dominância das espécies já citadas, o que diminui a equitatividade de Figura 1 - Abundância relativa das espécies de beija flor nas interações. parcelas do módulo PPBio Cachoeira Agradecimentos À Capes pela concessão da bolsa ao primeiro autor; ao PPGECO-UFPR pela possibilidade de realizar o doutorado, ao Laboratório de Ecologia Vegetal pelo apoio, ao Projeto PPBio Mata Atlântica pelo financiamento da pesquisa. Referências Bibliográficas

[1] Millennium Ecosystem Assessment. 2005. Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. Washington, DC.: World Resources Institute. [2] Vázquez D. P.; Blüthgen, N.; Cagnolo, L. & Chacoff N. P. 2009. Uniting pattern and process in plant–animal mutualistic networks: a review. Ann Bot. 103(9): 1445– 1457. [3] Maruyama, P. K., J. Vizentin-bugoni, G. M. Oliveira, P. E. Oliveira, and B. Dalsgaard. 2014. Morphological and Spatio- Temporal Mismatches Shape a Neotropical Savanna Plant- Figura 2 - Abundância relativa das espécies de plantas nas – Hummingbird Network. Biotropica. 46: 740 747 parcelas do módulo PPBio Cachoeira [4] Vizentin-Bugoni, J., P. K. Maruyama, and M. Sazima. 2014. Processes entangling interactions in communities: forbidden links are more important than abundance in a hummingbird-plant network. Proc. R. Soc. B Biol. Sci. 281: 20132397–20132397. [5] Cavender-Bares, J.; Kozak, K. H.; Fine, P. V. A.; Kembel, S. W. 2009. The merging of community ecology and phylogenetic biology. Ecology Letters, 12: 693–715. [6] Malucelli, T. S. 2014. Fatores envolvidos na estruturação das redes de polinização brija flor-planta em um gradiente sucessional. Dissertação de Mestrado. UFPR. Curitiba. Figuras

Figura 3 - Rede de interações entre plantas (barras verdes) e beija flores (barras vermelhas) no módulo PPBio Cachoeira. A frequência de interações está representada pela largura dos links em cinza.

51 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

PROTOCOLO PARA LEVANTAMENTO E ACOMPANHAMENTO DA DIVERSIDADE DE MACROFUNGOS (ASCOMYCOTA E BASIDIOMYCOTA) DA MADEIRA EM MÓDULOS RAPELD-PPBIO

Elisandro Ricardo Drechsler-Santos1*, Dr. Mateus Arduvino Reck1, Dr. Pedro Cavalin2, Felipe Bittencourt3, Genivaldo Alves da Silva1, Gesiele Kaiper1, Gustavo Felipe Dell’Antonio Flores1, Joane Prata1, Melissa Palacio Pulgarin1, Pedro Henrique Ruppel de Medeiros1, Samuel Galvão Elias1 1Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Biologia dos Fungos Algas e Plantas; 2Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Ecologia; 3 Universidade Regional de Blumenau, Departamento de Ciências Naturais, Blumenau, SC. *[email protected]

Para o desenvolvimento do protocolo foram realizadas Introdução expedições de campo, em parcelas RAPELD instaladas Com notável diversidade de formas e hábitos de vida, o no Parque Estadual de São Joaquim (PNSJ), localizado Reino Fungi abriga formas micro e macroscópicas. São no município de Urubuci/SC, no âmbito da realização da capazes de degradar variados substratos, possuindo disciplina Macrofungos da Madeira: Biologia, Ecologia e papel fundamental na manutenção dos ecossistemas, Diversidade (BVE3014) do programa de Pós-Graduação atuando como simbiontes de plantas e animais em em Fungos, Algas e Plantas da Universidade Federal de relações mutualísticas e parasíticas, ou ainda Santa Catarina. Foram testadas três faixas de degradando matéria orgânica morta de origem animal, amostragem de diferentes larguras: (A) 1 metro; (B) 2 vegetal ou até mesmo fúngica1,2,3. metros; e (C) 5 metros ao longo dos 250 metros de uma Os macrofungos saprófitos (Ascomycota e das parcelas do primeiro módulo implementado em na Basidiomycota), decompositores de madeira, podem localidade de Santa Bárbara. Em campo, todo substrato colonizar substratos de pequenas dimensões como passível da colonização fúngica foi integralmente gravetos até grandes troncos5,6. No entanto, pouco ainda vistoriado e os espécimes foram coletados e se sabe sobre a sua diversidade, não só em número de acondicionados e identificados, em caixas organizadoras espécies, mas também de seus padrões de distribuição ou sacos de papel para posterior agrupamento em (espécies amplamente distribuídas e/ou restritas). Assim morfogrupos. Em campo foram tomadas notas de como a Fauna e Flora deve ser levantadas e monitoradas características do substrato como dimensões a Micota também merece destaque no que diz respeito ao (comprimento e largura), posição em relação ao solo reconhecimento da diversidade e para conservação8. (suspenso, sobre o solo, horizontal ou vertical) e estágio 7 Considerando sua importante função ecológica, como de decomposição . A comparação da eficiência da decompositores de madeira é notória a necessidade de amostragem foi realizada através da curva de rarefação entendimento dos padrões de distribuição destas micotas de espécies (CRE), a qual foi utilizada para estimar qual no espaço e no tempo, principalmente frente às seria o esforço amostral necessário para representar a mudanças climáticas. comunidade fúngica a cada faixa de amostragem. O número total de espécies ou táxons amostrados em Resultados escala local representa um intuitivo índice natural da estrutura de uma comunidade. Apesar da aparente Foram realizadas coletas de mais de 200 amostras de simplicidade na realização desta tarefa, conhecer com macrofungos da madeira, dos quais foram identificadas precisão a riqueza de uma dada localidade é uma missão 143 morfoespécies de macrofungos Basidiomycota surpreendentemente difícil de ser realizada9. Com o (corticioides, agaricoides, poliporoides, coraloides e intuito de padronizar o material e métodos de tremeloides) e Ascomycota (xilarioides, entre outros). Os levantamento e acompanhamento da diversidade de fungos corticioides foram os mais frequentes, com maior macrofungos decompositores de madeira, e ao mesmo riqueza e abundância, dominando todas as faixas de tempo ser abrangente o suficiente para monitorar todos amostragem testadas. As curvas de rarefação não se os elementos dos ecossistemas, a metodologia estabilizaram, mas de modo significativo, quanto à RAPELD/PPBio representa uma nova perspectiva ao eficiência da amostragem mais adequada para cenário da conservação nacional. Deste modo, a partir representar a diversidade de uma determinada deste trabalho foi desenvolvido um protocolo para localidade, foram estabelecidos no Protocolo: levantamento e acompanhamento da micodiversidade 1. Os materiais de campo (para coleta e registro das fornecendo subsídio para comparações desde escalas amostras, para medidas dos substratos, para delimitação restritas como formações florestais até estrapolações ao das áreas de amostragem) e de laboratório (para nível de domínios fitogeográficos. desidratação do material coletado, para montagem das lâminas para análises micromorfológicas, para o kit de Metodologia biologia molecular, para identificação morfológica e armazenamento do material, entre outros objetos

52 diversos). 2. Técnicas de amostragem: o critério de [1] Webster, J., Weber, R. W. S. 2007. Introduction to Fungi. 3 ed, v. 1, 841 p. inclusão de substrato para vistoria, o procedimento ideal [2] Moore, D., Robson, G. D., Trinci, A. P. J. 2011. 21st Century de coleta, da fotografia, do acondicionamento, dos dados Guidebook to Fungi. 627 p. e metadados (data, ID local e geral, filo/morfoespécie, [3] Riley, R., Salamov, A. A., Brown, D. W. et al. 2014. Extensive sampling of basidiomycete genomes demonstrates posição no substrato e na área de amostragem, grau e inadequacy of the white-rot/brown-rot paradigm for wood tipo de decomposição no substrato). 3. Desenho decay fungi. Proc Natl Acad Sci U.S.A, v. 111, n. 27, p. Amostral: a amostragem em uma faixa de 5 x 250m 9923-9928. ² [4] Urcelay, C., Robledo, G. 2009. Positive relationship between (total 1.250m ), à montante da zona sensível, e dos wood size and basidiocarp production of polypore fungi in cuidados com zona sensível; as recomendações de Alnus acuminata forest. Fungal Ecology, v. 2, p. 135–139. divisão em inter-piquetes como unidades amostrais para [5] Borba-Silva, M. A., Drechsler-Santos, E. R., Robledo, G. L. 2015. Community structure and functional diversity of melhor tabulação dos dados e interpretação dos dados, polypores. Biotemas, v. 28, n. 1, p. 1-11. bem como avaliação através de técnicas estatísticas. 4. [6] Halme, P., Kotiaho S. J. 2012. The importance of timing and Critérios de inclusão: o diâmetro mínimo (5 cm) do number of surveys in fungal biodiversity research. 7 Biodiversity and Conservation, v. 21, n. 1, p. 205-219. substrato, conforme Rossman et al. e localização do [7] Rossman, A. Y., Tulloss, R. E., O’Dell, T. E., et al. 1998. substrato no interior da área de amostragem, Protocols for an all taxa biodiversity inventory of fungi in a considerando diferentes situações de contato parcial com Costa Rican conservation area. Parkway Publishers, North Carolina, 213 p. a área de amostragem e/ou zona sensível, na linha do [8] Blackwell, M. The Fungi: 1, 2, 3 ... 5.1 million species? solo ou em substrato suspenso. 5. Dados ambientais American Journal of Botany, v. 98, n. 3, p. 426-438, 2011. adicionais: a coleta de dados sobre altitude, [9] Gotelli, N. J.; Colwell, R. K. Quantifying biodiversity: procedures and pitfalls in the measurement and fitoformação, determinação da espécie vegetal (quando comparison of species richness. Ecology Letters, n. 4, p. possível) vivo ou morto. 6. Preservação do material 379–391, 2001. coletado: a desidratação e acondicionamento dos diferentes grupos de fungos e das amostras para estudos de biologia molecular.

Discussão

A iniciativa de estabelecimento de um protocolo para coleta de macrofungos da madeira representa um grande passo em direção ao uso sustentável das riquezas naturais em território nacional, sendo que protocolos para amostragem de grandes grupos de animais e vegetais já estão disponíveis na página do PPBio (http://ppbio.inpa.gov.br) e ajustados às necessidades metodológicas dos organismos. Isso se deve ao fato desses organismos possuírem metodologias bem estabelecidas na literatura, o que facilita a produção de tais protocolos. Em se tratando de fungos, poucos são os trabalhos voltados ao estabelecimento de métodos fiáveis as singularidades dos diferentes grupos, destacando-se Rossman et al.7, os quais após cinco anos de intensiva amostragem realizada no noroeste da Costa Rica, na Área de Conservação Guanacaste, publicaram “Protocols for na All Taxa Biodiversity Inventory of Fungi in a Costa Rican Conservation Area”. Tal obra serviu como base para elaboração do presente protocolo, que por sua vez, tem por objetivos levantar e acompanhar da diversidade dos macrofungos da madeira no âmbito do método RAPELD - PPBio.

Agradecimentos Ao Parque Nacional de São Joaquim e PPBio Mata Atlântica SC pelo acesso e logística e ao PPGFAP/UFSC pelo transporte e manutenção em campo para a realização do trabalho.

Referências Bibliográficas

53 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS TRADICIONAIS DE AMOSTRAGEM DE PEIXES USADOS NO RAPELD vs. BRUV EM RIACHOS DA MATA ATLÂNTICA Fabricio de Andrade Frehse1*, Bruno Kazuo Nakagawa1, Jean Ricardo Simões Vitule1 1Universidade Federal do Paraná (UFPR), Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC), Curitiba – PR. *[email protected] Introdução amostragem de peixes (MTAP) (e.g. utilização de redes de bloqueio, redes de arrasto pequenas, puçás e Amostrar peixes em rios e riachos da Mata Atlântica peneiras) de acordo com o “Protocolo para pode ser uma tarefa difícil, principalmente quando os levantamentos de peixes em módulos RAPELD do rios possuem forte correnteza e/ou cachoeiras que 2 1 PPBio” (adaptado de Mendonça et al.2005 ). inviabilizam o uso de embarcações e/ou especialmente Posteriormente, em junho do mesmo ano, foram em riachos de cabeceiras onde o único acesso é realizadas amostragens nos mesmos locais através de caminhando por longas trilhas de difícil locomoção filmagens subaquáticas com a utilização de iscas (Frehse, observação pessoal). atrativas (BRUV - baited remote under water video) As amostragens de peixes na rede PPBio, em geral, (adaptado de Ebner, 20134). seguem o “Protocolo para levantamentos de peixes em Para as amostragens através de filmagens módulos RAPELD do PPBio” (adaptado de Mendonça et ® 2 subaquáticas foram instaladas três câmeras GoPro , al.2005 ). Este método é eficiente e possui diversas fixadas a uma base de 20 cm acima do leito do riacho, vantagens em rios de planície, entretanto demanda uma em diferentes locais dentro de cada parcela. Dois tipos equipe de campo (i.e. no mínimo três pessoas) para de isca (quirera azeda e sardinha em óleo) foram carregar todos os materiais utilizados nas coletas. Tal acopladas em frente a cada câmera por meio de uma metodologia de amostragem é difícil de ser empregada haste rígida de um metro de comprimento (Fig. 1b). As em riachos de cabeceiras, típicos da Mata Atlântica filmagens duraram 40 minutos, posteriormente os (Fig. 1a), com alta declividade, constituídos por grandes 3 vídeos foram analisados utilizando o software Media blocos de rochas e grande transparência da água (o Player Classic®. Para cada vídeo as estimativas de que possibilita os peixes fugirem dos coletores). abundancia relativa foram calculadas como o número Frente a essas dificuldades, decidimos testar e máximo de indivíduos de cada espécie presentes em comparar os métodos propostos no “Protocolo para um campo de visão ao mesmo tempo. A identificação levantamentos de peixes em módulos RAPELD do 2 em nível de espécie foi confirmada através de literatura PPBio” (adaptado de Mendonça ) com amostragens a especializada5 e indivíduos não identificados foram partir de filmagens subaquáticas com a utilização de omitidos das análises. A partir da abundância total das iscas atrativas, devido a este último método apresentar 1 espécies coletadas foram calculados os índices de vantagens em riachos de difícil acesso . diversidade de Shannon-Wiener (H’) e equitabilidade Metodologia (E), através do programa Past. O presente trabalho foi desenvolvido na Reserva Resultados Natural do Rio Cachoeira, localizada no município de Utilizando os MTAP foram coletados 45 indivíduos Antonina - PR. Foram instaladas quatro parcelas distribuídos em quatro famílias e seis espécies, aquáticas em riachos de diferentes ordens dentro da enquanto que no método BRUV foram registrados 132 grade RAPELD. Para as amostragens da ictiofauna indivíduos pertencentes às mesmas seis espécies (Tab. foram realizadas duas fases de campo com a aplicação 1). Os índices de diversidade de Shannon-Wiener (H’) e de diferentes metodologias. Em maio de 2015 foram equitabilidade (E) foram maiores para os MTAP quando realizadas coletas com os métodos tradicionais de comparados com o BRUV (Fig. 2).

Figura 1. a) Métodos tradicionais de amostragem de peixes (MTAP), e b) BRUV em riachos da Mata Atlântica.

54 Tabela 1. Espécies e número de indivíduos amostrados em cada ponto de coleta por método de amostragem. MTAP – Métodos tradicionais de amostragem de peixes, BRUV - filmagens subaquáticas com a utilização de iscas atrativas.

P1 P2 P3 P4 TOTAL FAMÍLIA ESPÉCIE MTAP BRUV MTAP BRUV MTAP BRUV MTAP BRUV MTAP BRUV Characidae Bryconamericus microcephalus 1 1 1 2 1 Characidae Hollandichthys multifaciatus 2 2 28 121 30 123 Characidae Deuterodum langei 1 3 1 3 Crenuchidae Characidium pterostictum 1 2 2 1 Schizolecis guntheri 2 7 1 7 3 Heptapteridae Rhamdioglans frenatus 1 2 1 3 1

Figura 2. a) Valores referentes à diversidade de Shannon-Wiener (H’) e b) equitabilidade (E), para cada método de amostragem. MTAP – métodos tradicionais de amostragem de peixes, BRUV - filmagens subaquáticas com a utilização de iscas atrativas. Discussão Referências Bibliográficas Ambas as metodologias registraram o mesmo número de espécies e uma maior abundância de H. [1] Ebner, B.C.; Fulton, C.J.; Cousins, S.; Donaldson, J.A.; multifaciatus Kennard, M.J.; Meynecke, J. & Schaffer, J. 2014. Filming , entretanto no método BRUV a dominância and snorkelling as visual techniques to survey fauna in desta espécie de Characidae foi mais acentuada. difficult to access tropical rainforest streams. Marine and Outros estudos em riachos da Mata Atlântica Freshwater Research 66(2): 120-126. demonstram de fato uma dominância de espécies desta [2] Mendonça, F.P.; William, E.M. & Zuanon, J. 2005. 3,6 Relationships Between Habitat Characteristics and Fish família , indicando que os maiores valores dos índices Assemblages in Small Streams of Central Amazonia. de diversidade e equitabilidade constatadas através dos Copeia 4: 751-764. MTAP podem não representar adequadamente a [3] Abilhoa, V.; Braga, R.R.; Bornatowski, H. & Vitule, J.R.S. 2011. Fishes of the atlantic rain forest streams: ecological abundância ou dominância de determinadas espécies patterns and conservation, 259-282. In: Grillo, O. & nestes ambientes (e.g. H. multifaciatus). Entretanto a Venora, G.(Eds.). Changing Diversity in Changing utilização de iscas pelo BRUV pode favorecer o registro Environment. Croácia, InTech. [4] Ebner, B.C. & Morgan, D.L. 2013. Using remote underwater de espécies que utilizam primariamente o olfato para video to estimate freshwater fish species richness. detecção de alimento e subestimar a abundância de Journal of Fish Biology 82, 1592-1612. espécies herbívoras, crípticas e de hábitos noturnos1,7. [5] Menezes, N.A.; Weitzman, S.H.; Oyakawa, O.T.; Lima, Apesar do número reduzido de réplicas e das FC.T.; Castro, R.M.C. & Weitzman, M.J. 2007. Peixes de Água Doce da Mata Atlantica. Ed. FAPESP. amostragens terem sido realizadas em meses distintos [6] Ferreira, F.C. & Petrere Jr., M. 2009. The fish zonation of (porém com condições abióticas semelhantes) ambos the Itanhae´m river basin in the Atlantic Forest of os métodos foram equivalentes quanto a detecção de southeast Brazil. Hydrobiologia 636: 11-34. [7] Harvey, E.S.; Cappo, M.; Butler, J.J.; Hall, N. & Kendrick, espécies. Entretanto o método BRUV parece amostrar G.A. 2007. Bait attraction affects the performance of uma abundância de indivíduos mais próxima do real remote underwater video stations in assessment of (Vitule, observação pessoal), além de ser um método de demersal fish community structure. Marine Ecology amostragem não-destrutivo8. Apesar de um Progress Series 350: 245-254. [8] Ellender, B.R.; Becker, A.; Weyl, O.L.F. & Swartz, E.R. investimento inicial alto para compra das câmeras, 2012. Underwater video analysis as a non-destructive acreditamos que o BRUV é um método mais prático, alternative to electrofishing for sampling imperilled que emprega um esforço de campo muito menor, headwater stream fishes. Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems 22: 58-65. necessitando um menor número de pessoas e consequentemente reduzindo os custos das amostragens.

55 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

SUGESTÃO DE PROTOCOLO PARA MONITORAMENTO DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS EM RESERVATÓRIOS NO MÓDULO PPBIO

Joana D’Arc L. C. de Alcântara1,*, Ana Paula Gonçalves de Souza Dias2, Ênio Wocyli Dantas3, Karine Matos Magalhães1 1 Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE, Departamento de Ciências Biológicas; 2 Faculdade Frassinetti do Recife, Laboratório Geral, Recife, PE3; Universidade Estadual da Paraíba - UEPB - Campus V, Departamento de Ciências Biológicas *[email protected]

Introdução adaptado. Para estimar a cobertura vegetal foi 6 Macrófitas aquáticas desempenham papel relevante na empregado o método de Braun-Blanquet (1954) e PVI. estruturação dos ecossistemas aquáticos, pois As variáveis ambientais amostradas foram participam da ciclagem de nutrientes, propiciam refúgio transparência, profundidade, temperatura e nutrientes dessedentação e local de desova para vários animais, da água. No entanto os dados de nutriente na água entre outras funções¹. Na última década, com a ainda não foram analisados e não serão apresentados escassez de água, foram criados reservatórios para neste trabalho. As plantas foram triadas e identificadas minimizar o problema de abastecimento e auxiliar na com o auxílio de literatura específica no Laboratório de geração de energia, mas com a criação deles surgiu Ecossistemas Aquáticos (LEAQUA) da Universidade outro dilema, a presença exacerbada de macrófitas Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). aquáticas². A resposta desses vegetais às variáveis Resultados ambientais, em conjunto com os efeitos das relações intra e interespecíficas, estabelecem a base da A temperatura média foi entre 26°C e 28°C e a diversidade e abundância dessas comunidades³. No profundidade média dos reservatórios do Prata e Dois eixo Nordeste da Rede de Pesquisa PPBio Mata Irmãos é 2,20 m, a variável que diferiu Atlântica, Sítio Pernambuco, os principais corpos significativamente foi transparência, de 90% no Prata e d’água encontrados são, justamente, dois reservatórios 45% em Dois Irmãos. No reservatório do Prata obteve- artificiais, provenientes de poços artesianos, se um total de 9 espécies distribuídas em 5 famílias, afloramentos de lençóis subterrâneos, precipitação com predomínio de espécies emergentes e submersa pluviométrica e de águas provenientes das encostas4. fixa, com maior cobertura para as espécies Eleocharis Desta forma, o presente trabalho teve por objetivo interstincta (Vahl) Roem. & Schult (18,46%) e Websteria propor e testar um protocolo para o monitoramento de confervoides (Poir.). Hooper (16,58%). Já o reservatório macrófitas aquática em reservatórios. Dois Irmãos obteve-se 25 espécies, distribuídas em 10 famílias. Houve predomínio de espécies flutuante livre Metodologia Salvina auriculata Aubl (32,32%), e de flutuante fixa, O módulo PPBio na Rede Mata Atlântica Eixo Nordeste, Nymphaea alba L. (14,81%). Sítio Pernambuco, está localizada no Parque Estadual de Dois Irmãos em Recife-PE (entre 7°59′30″ e Discussão 8°01′00″S; 34°56′30″ e 34°57′30″W)5. Os reservatórios O predomínio de plantas submersas no reservatório do são bem distintos, sendo o primeiro, o Reservatório do Prata indica que o local possui águas claras com boa Prata, o mesmo apresenta boa qualidade de água e é penetração da radiação subaquática. Entre as espécies, utilizado para abastecimento urbano da cidade do se destaca a espécie W. confervoides é utilizada como Recife, enquanto o segundo, de Dois Irmãos recebe bioindicadora da qualidade da água em ambientes descargas de efluente urbanos não tratados e está oligotróficos. Segundo Agência Estadual de Meio constantemente coberto por vegetação aquática Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH) a água desse flutuante. As coletas foram realizadas em duas reservatório é considerada de classe especial, ou seja, incursões à campo, em outubro de 2014 (período seco) é necessário apenas tratamento de desinfecção para o e janeiro de 2015 (período chuvoso). Para realização da abastecimento doméstico. Já no reservatório Dois coleta botânica foram determinados dois transectos Irmãos o predomínio de Salvina auriculata é um fixos em cada reservatório, distribuídos uniformemente indicativo da baixa qualidade da água, pois a mesma é a partir do ponto central do corpo d’água. As amostras considerada daninha e relacionada à ambientes com de plantas foram coletadas com o auxílio de um maiores cargas de nutrientes. Com os resultados quadrado 0,50 x 0,50m lançado a cada 5 metros obtidos foi possível observar que a metodologia pode independente do tamanho do transecto. Foram ser utilizada como monitoramento no módulo PPBio por coletadas espécies emersas, anfíbias, flutuante apenas ser simples, confiável e não destrutiva sendo coletadas com o quadrado e as submersas, com gancho plantas apenas para identificação e herborização.

56 Agradecimentos

Ao CNPq pela concessão da bolsa de mestrado ao primeiro autor (Nº 37/2015), á Universidade Federal Rural de Pernambuco, a equipe do LEAQUA, á professora Ana Carolina Borges Lins e Silva e a toda equipe PPBIO. Referências Bibliográficas

[1 ] Esteves, F.A. 2011. Fundamentos de Limnologia. Interciência. 2a Ed. Rio de Janeiro, 602p. [2] Thomaz, S.M. & Bini, L. M. 1998. Ecologia e manejo de macrófitas aquáticas em reservatório. Acta Limnologica Brasiliensia. Vol.10 (1). [3] Junior, B.I. Modelos de crescimento e decomposição de macrófitas aquáticas. 2003. In: Thomaz, S.M.; Bini, L.M. (Eds). Ecologia e manejo de macrófitas aquáticas. EDUEM, Maringá. pp. 85- 126. 341 p. [4] Machado, I.C.; Lopes, A.V. & Pôrto, K.C. 1998. Reserva Ecológica De Dois Irmãos: Estudo Em Um Remanescente De Mata Atlântica Em Área Urbana. Editora universitária da Universidade Federal de Pernambuco, Recife. 326p. [5] Lima, M. G. C.; Corrêa, A. C. B. 2005. Apropriação de uma unidade de conservação de Mata Atlântica no espaço urbano de Recife – PE: O caso da reserva de Dois Irmãos. Revista de Geografia, v. 22, n.1. [6] Braun-Blanquet, J.1954. Fitosociología, bases para el estudio de las comunidades vegetales. H. Blume, Madrid.

57 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

APLICAÇÃO DE DESCRITORES DE HETEROGENEIDADE AMBIENTAL NA SELEÇÃO DE ÁREAS PARA SISTEMAS DE PARCELAS AMOSTRAIS: UM ESTUDO DE CASO PARA A DETERMINAÇÃO DE HOTSPOTS POTENCIAIS DE BIODIVERSIDADE.

Luiz Fernando de Novaes Vianna1,*, Elisângela Benedet da Silva1, Angelo Mendes Massignan1, Selvino Neckel de Oliveira2 1 Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Epagri. Florianópolis, SC; 2Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, SC *[email protected] de alocação dos módulos no Parque Nacional de São Introdução Joaquim. Estudos de longo prazo em biodiversidade vêm sendo instituídos em muitos países. No Brasil, destaca-se o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) e seu método de amostragem para pesquisa de longo prazo (RAPELD) [1]. Para definir a localização geográfica dos sistemas de parcelas amostrais (grades ou módulos de pesquisa) deve-se considerar a heterogeneidade ambiental [2, 3, 4] e a infraestrutura de acesso. Neste trabalho, publicado na íntegra na revista Geografia [5], foi feita uma caracterização da heterogeneidade ambiental do Parque Nacional de São Joaquim e seu entorno e uma avaliação da sua infraestrutura de acesso para auxiliar na localização dos módulos de pesquisa. Metodologia

Para identificar e selecionar as variáveis que melhor explicaram a heterogeneidade ambiental, foram utilizados dados de sensoriamento remoto e aplicadas técnicas de estatística descritiva e multivariada. A seleção das Figura 1. Mapa de heterogeneidade ambiental e acessibilidade variáveis foi feita através de uma análise de componentes do PNSJ. principais (ACP) e com as variáveis selecionadas foi feita Referências Bibliográficas uma análise de agrupamento para gerar o mapa de heterogeneidade ambiental. [1] Magnusson, W.; Lima, A.; Luizão, R.. RAPELD: A modification of the Gentry method for biodiversity surveys in long-term ecological research sites. Biota Neotrópica, v.5, Resultados n.2, p.1–6, 2005. . Entre as 21 variáveis analisadas, as que melhor [2] Lausch, A.; Herzog, F.. Applicability of landscape metrics for explicaram a heterogeneidade ambiental foram altitude, the monitoring of landscape change: issues of scale, índice de rugosidade do terreno, declividade, horas de resolution and interpretability. Ecological Indicators, v.2, p. 3–15. 2002. sol, curvatura e índice de posição topográfica. A área de [3] Dufour, A.; Gadallah, F.; Wagner, H.. Plant species richness estudo foi mapeada em cinco classes de and environmental heterogeneity in a mountain landscape: heterogeneidade ambiental: vales ou planícies de baixa effects of variability and spatial configuration. Ecography, v.29, p.573-584, 2006. altitude; cumes e encostas de baixa altitude; vales ou [4] Parviainen, M.; Luoto, M.; Heikkinen, R.. NDVI-based planícies de altitude; escarpas; cumes e encostas de productivity and heterogeneity as indicators of plant-species altitude. Foram identificadas quatro áreas potenciais para richness in boreal landscapes. Boreal Environment Research, 6095(June), 301–318, 2010. implantar os módulos de pesquisa (Figura 1). [5] Vianna, L.F.N.V; Silva, E.B.; Massignan, A.M.; Oliveira, S.N. Aplicação de descritores de heterogeneidade ambiental na Conclusão definição da localização geográfica dos sistemas de parcelas amostrais de biodiversidade. Geografia. (No O método de implantação da infraestrutura de pesquisa prelo), 2015. em biodiversidade [1] não fornece subsídios suficientes para auxiliar na escolha dos sítios de localização dos módulos. Como existe correlação entre heterogeneidade ambiental e biodiversidade, uma análise prévia da heterogeneidade ambiental através de métricas de terreno e variáveis edafoclimáticas auxiliou no processo

58 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

MODELO DE DADOS E METADADOS DOS MÓDULOS E PARCELAS DO PARQUE NACIONAL DE SÃO JOAQUIM, SANTA CATARINA, BRASIL PARA UM SISTEMA INTEGRADO DE MAPAS VIA WEB.

Luiz Fernando de Novaes Vianna1,*, Erika Naomi2, Carol Angri2, Selvino Neckel de Oliveira2 1 Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Epagri. Florianópolis, SC; 2Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, SC *[email protected] Para nomear os conjuntos de dados, temas, campos das Introdução tabelas dos temas e campos das tabelas relacionais O presente trabalho tem como objetivo descrever o utilizamos o método a dotado no Centro de Informações método e o modelo de dados adotado para implantar a de Recursos Ambientais e Hidrometeorologia da Epagri. infraestrutura dos módulos e parcelas do PPBio no Esse método foi criado inicialmente para modelar a base Parque Nacional de São Joaquim, Santa Catarina, Brasil. de dados hidrometeorológicas de Santa Catarina e Seguindo o que está previsto nas regras de implantação posteriormente adaptado para a base de dados dessa infraestrutura pelo PPBio georreferenciados. 1 (http://ppbio.inpa.gov.br/instalacao), apresentamos o que De acordo com o IBGE o atual e único sistema consideramos uma contribuição metodológica específica geodésico de referência oficialmente adotado no Brasil é para a estrutura organizacional dos dados em uma base o SIRGAS 2000. Assim, toda a base de dados está em de dados espaciais. SIRGAS 2000. Essa estrutura permitirá organizar os dados espaciais dos Resultados módulos, trilhas e parcelas em uma base de dados integrada. Com isso será possível, também, estruturar um Essa proposta permitiu estruturar uma base de dados da sistema de mapas via web para acessar todos os dados e infraestrutura do PPBio que pode ser implementada em metadados dessa infraestrutura no Brasil. qualquer plataforma e em qualquer sistema de informações geográficas. Ela permitiu, ainda, a criação de Metodologia serviços de mapas para serem acessados via internet. Consideramos como metadados os dados cadastrais dos A estrutura da base de dados proposta para o PPBio é pontos do perímetro dos módulos e dos piquetes das composto pelos temas: parcelas, dos polígonos dos módulos e das linhas das Módulos: Polígonos dos módulos de pesquisa do PPBio. trilhas dos módulos e das parcelas. Os dados cadastrais Trilhas: Linhas dos perímetros dos módulos de pesquisa são compostos por atributos de natureza diversa, como do PPBio. códigos, siglas, nomes, medidas, coordenadas e classes. Parcelas: Linhas das parcelas. Apresentamos uma lista mínima de atributos que Vértices dos módulos: Pontos dos piquetes dos módulos. julgamos importantes para uma base de dados dessa Vértices das parcelas: Pontos dos piquetes das parcelas. natureza, considerando sua aplicação em nível nacional. Cada objeto de cada tema tem um código e um nome Também consideramos metadados as descrições das únicos, gerados a partir de critérios de codificação e variáveis ambientais associadas a cada ponto, suas nomenclatura padronizados e objetivos. fontes, unidades de medida e métodos de aquisição. Para cada vértice dos módulos e parcelas foram Nos metadados apresentamos, quando necessário, uma extraídos dados edafoclimáticos de outras fontes de breve descrição de como cada campo deve ser calculado. dados espaciais através de técnicas de análise espacial. Como trabalhamos com a plataforma ArcGis – Esri, Para cada ponto sugere-se que sejam gerados, pelo adaptamos os termos “Geodatabase” para “base de menos, dados de altitude, declividade, orientação, dados”, “Feature Dataset” para “conjunto de dados” e curvatura, índice topográfico de terreno, temperatura “Feature Class” para “temas”. Assim, quando falamos em média, pluviosidade média anual, radiação potencial, base de dados, nos referimos a um banco de dados horas de sol e classe de solo predominante. georreferenciado, que pode ser File Geodatabase, Discussão Access, Oracle, SQL, etc. Quando falamos em conjunto de dados, nos referimos a um conjunto de temas que O que para alguns pesquisadores de biodiversidade é estão organizados em uma mesma “pasta” dentro do considerado um metadado, para um pesquisador da área banco, em um mesmo sistema de referência e com a de ecologia da paisagem ou geografia pode ser um dado. mesma abrangência espacial. Por fim, consideramos Como existe correlação entre biodiversidade e como tema, cada “layer” ou conjunto de dados que heterogeneidade ambiental, é preciso que a infraestrutura representam uma mesma coisa, como polígonos dos módulos, linhas das trilhas e parcelas e pontos dos 1 vértices e piquetes. http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geodesia/pmrg/faq.shtm#2

59 de base amostral para biodiversidade do PPBio esteja organizada e caracterizada através de dados ambientais, principalmente os dados edafoclimáticos. Como existe um método padrão de implantação dessa infraestrutura [1] é necessário que haja também uma padronização na base de dados que armazena os dados dessa estrutura. Essa padronização passa por critérios de modelagem de banco de dados espaciais [2] e deve ser projetada para atender ao PPBio em nível nacional. Referências Bibliográficas [1] Magnusson, W.; Lima, A.; Luizão, R.. RAPELD: A modification of the Gentry method for biodiversity surveys in long-term ecological research sites. Biota Neotrópica, v.5, n.2, p.1–6, 2005. . [2] Vianna, L.F.; Novaes, A.L.T.Geocodificação de unidades de mapeamento aquícola para um sistema de controle de produção e rastreabilidade em Santa Catarina, Brasil. Geografia, v.36, p. 163-178, 2011.

60 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 HERPETOFAUNA DO PARQUE ESTADUAL DOIS IRMÃOS, RECIFE – PERNAMBUCO, BRASIL – NOVOS REGISTROS E CONTRIBUIÇÕES.

Amanda Cesar B. Anjos1,*, Emerson G. Dias2, Jessica Amaral3, Katarina Nino, Priscilla Santana, Vanessa N. Barbosa, Edivania Pereira, Jozélia Correia, Geraldo Moura, Ednilza Maranhão dos Santos 1 Universidade Federal Rural de Pernambuco, Laboratório de Estudos Paleoherpetológicos e Herpetológicos, Departamento de biologia, PPBio Mata Atlântica – Sítio Dois Irmãos. [email protected]

unidirecional e gravador digital Marantz, posteriormente Introdução armazenadas na Biblioteca de Som da Coleção de O Brasil é um país megadiverso, ocorre 1026 anfíbios e herpetologia da UFRPE. 4 808 répteis , desses, boa parte são encontrados na Mata Resultados Atlântica, representando uma alta diversidade biológica e grande endemismo. No entanto, esse bioma sofre Foram registradas 27 espécies de anfíbios, 15 serpentes severamente com a perda de hábitat e modificação de e nove lagartos. Nas áreas de drenagem do PEDI seus remanescentes, considerado como um dos hotspot registrou-se cinco espécies de Testudines, desses quatro prioritário para a conservação5. Com a redução drástica exóticos e duas espécies de jacarés. Entre os organismos da sua extensão original, a Mata Atlântica atualmente registrados destaca-se o Frostius Pernambucensis apresenta-se sob a forma de fragmentos descontínuos, Bokermann, 1962 que há cerca de 50 anos não havia como resultado de processos históricos de uso e registro; um novo registro de anfíbios para o PEDI, como ocupação do solo e apenas 25% dessas áreas é o caso de Chiasmocleis alagoanus Cruz, Caramaschi & encontram-se protegidas por Unidade de Conservação Freire, 1999, espécies ameaçada de extinção1 e outro (UC) 3. Espécies de anfíbios e répteis são negativamente novo registro para o estado de uma serpente afetadas com a fragmentação2, que leva a um Dendrophidion atlântica (Freire, Caramaschi & empobrecimento dessas populações. O Parque Estadual Gonçalves, 2010). A parcela com maior riqueza foi a PE de Dois Irmãos (PEDI) possui um dos maiores 2-500, mas a PE 1-500, obteve registro de espécies fragmentos de Mata Atlântica urbano no Estado de raras. Pernambuco e apesar disso, sua herpetofauna é subamostrada. Considerando a relevância de inventário, Discussão este trabalho teve como objetivo apresentar a riqueza e Os dados aqui apresentados são bastante preliminares, uma lista preliminar dos anfíbios e répteis do PEDI, todavia são considerados relevantes contribuindo com a oferecendo informações inéditas de novos táxons, além inclusão e ampliação geográfica de novos táxons para de contribuir para o plano de manejo. lista da herpetofauna do PEDI e para o estado de Pernambuco2. Metodologia

O PEDI está localizado na região metropolitana do Recife Agradecimentos (8º 9’ 17’’ S e 34º 52’ 05” W), é um fragmento de Mata À UFRPE/CNPq pela concessão da bolsa de Iniciação Atlântica urbana, com área total de 1.158 hectares. Cientifica ao PPBio/CNPq pelo apoio financeiro, aos Possui mananciais hídricos como açude Dois Irmãos, gestores do Parque Estadual de Dois Irmãos, ao CIPOMA Açude do Prata e Açude do Meio. As atividades de e comunidade dos Macacos. campo, ocorreram em quatro campanhas com duração de 10 dias consecutivos, distribuídas entre agosto/2014 a Referências Bibliográficas junho/2015, com intervalos bimestralmente. A coleta de [1]Ministério do Meio Ambiente. Lista Nacional das Espécies da dados seguiram a metodologia do RAPELD e o esforço Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Ministério do Meio amostral foi dividido em um módulo de 1km² X5km², do Ambiente. Brasília, DF. (17/04/2005), 2003. Disponível em: http:www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.cfm Acesso em 04 de Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) Mata maio de 2015. Atlântica, onde nas “linhas” laterais estão localizadas [2] Moura G. J. B. de et al. 2011. Herpetologia no estado de parcelas. Até o momento, quatro parcelas foram Pernambuco. Brasília: IBAMA, 2011. amostradas (PE 1 – 500; PE 1 – 1.500; PE 2 – 500 e PE [3] Rodrigues, M. T. U. 2005. Conservação dos répteis 2 1.500), seguindo o protocolo 10 para herpetofauna do brasileiros: os desafios para um país megadiverso. São Paulo – SP. PPBio (Programa de Pesquisa em Biodiversidade), com [4] Segalla, M. V.; Caramaschi, U.; Cruz, C. A.G.; Garcia, P.C.A.; algumas adaptações para a realidade da Mata Atlântica Grant, T.; Haddad, C. F.B & Langone, J. Brazilian amphibians – Nordestina. Os animais foram marcados com List of species. Accessible athttp://www.sbherpetologia.org.br. bioelastomero, microship e corte em escamas ventrais, Sociedade Brasileira de Herpetologia.Captured on date of your isso para serpentes de pequeno e médio porte. Alguns online consult. 2015. [5] SOS Mata Atlântica – Mata Atlântica : biodiversidade, espécimes foram mortos e encontram-se como ameaças e perspectivas - Belo Horizonte: Conservação testemunho na Coleção Herpetologica da UFRPE. As Internacional, 2005. vocalizações de anuros foram gravadas com microfone

61 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 PRIMEIRO INVENTÁRIO DE MORCEGOS COM METODOLOGIA RAPELD NO PARQUE ESTADUAL DA ILHA GRANDE, RJ André C. Siqueira1*, Maria Carlota Enrici1, Ana Carolina F. V. Silva1, Patrick C. Xavier1, Helena G. Bergallo1 e Luciana M. Costa1 ¹Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia, Departamento de Ecologia, Laboratório de Ecologia de Mamíferos, Rio de Janeiro, RJ; *[email protected]

capturados são anotados os dados da parcela, data, hora Introdução e são identificados, pesados, medidos, classificados em jovens ou adultos, determinado o sexo e a condição A Mata Atlântica é um dos Biomas mais ameaçados do reprodutiva e posteriormente são soltos no mesmo local planeta e abriga uma das maiores biodiversidades 1 da captura. Quatro indivíduos (dois de cada sexo) são conhecidas para ecossistemas terrestres . O coletados como material testemunho para ajudar na desmatamento e a fragmentação produziram graves identificação por análises morfológicas e genéticas e consequências para a biota em função da redução de 2 estão sendo depositados na coleção de referência hábitats e do isolamento das populações . Portanto, o Adriano L. Peracchi/UFRuralRJ. levantamento da biodiversidade em remanescentes é essencial para propor medidas para a conservação das Resultados espécies3. Na Floresta Atlântica, as comunidades de morcegos podem representar até 50% de toda a Até o momento foram capturados 99 indivíduos diversidade local de mamíferos4. Diante da diversidade pertencentes a 13 espécies e 10 gêneros, das famílias de hábitos alimentares, papel nas interações ecológicas Phyllostomidae e Vespertilionidae (Tabela 1). A parcela e abundância neste ecossistema5, o levantamento de com maior número de capturas foi L1 4.500 com 28 espécies de morcegos se torna um importante passo indivíduos, seguida pelas parcelas L2 500 e L2 1.500 para a construção de diretrizes para a conservação de com 16 indivíduos. A parcela L1 1.500, com um remanescentes florestais. Atualmente, no Estado do Rio indivíduo, foi a parcela com menor número de capturas. de Janeiro, são conhecidas 78 espécies de morcegos6,7 A espécie mais abundante foi Carollia perspicillata com sendo que, na Ilha Grande, foram encontradas 36 dessas 46% das capturas. Dentre as 13 espécies capturadas, espécies em inventários anteriores8. Porém esses Vampyrodes caraccioli foi um novo registro para a Ilha inventários avançaram apenas até a altitude de 250 m8, Grande, sendo ela ainda, considerada rara no Brasil10 e podendo assim ter excluído possíveis espécies que na região da Costa Verde, foi capturada apenas na Ilha ocorrem nas partes mais altas. Além do mais, não há da Marambaia11. Salientamos ainda, o fato de que um uma avaliação como as assembleias de morcegos se dos dois indivíduos de V. caraccioli foi capturado às organizam e quais fatores influenciam. O RAPELD é uma 03h30, mostrando a importância de mantermos as redes metodologia proposta para a realização de inventários abertas após as 00h00. rápidos para a avaliação da complementaridade biológica, acrescida de sítios de pesquisa de longa Resultados Esperados duração9. Isso permite que haja pesquisas integradas de todos os táxons e o monitoramento de elementos da Como as parcelas estão localizadas em diferentes biodiversidade e processos ecossistêmicos9. Nesse formações vegetais, o conhecimento sobre as espécies contexto, o objetivo é apresentar uma lista de espécies deverá ser ampliado, uma vez que novas áreas estão de morcegos capturados na primeira amostragem com sendo amostradas. Além disso, espera-se adicionar metodologia RAPELD na Ilha Grande, RJ. novos registros de espécies para Ilha Grande. Com a continuidade das amostragens esperamos saber se as Metodologia assembleias de morcegos respondem a um mosaico edáfico, altitudinal e sucessional. O presente trabalho está sendo desenvolvido no Parque Estadual da Ilha Grande em 10 parcelas permanentes de Agradecimentos amostragem, onde são abertas 13 redes de neblina (mist nets) de 10 x 3 m ligadas em séries por estacas de Á FAPERJ pela taxa de bancada para a realização do alumínio de 3 m de altura ao longo de cada parcela por projeto (E-26/101.399/2014). Luciana M. Costa agradece toda a noite. As redes são abertas antes do pôr-do-sol e à CAPES pela bolsa de Pós-doutorado. Helena de Godoy fechadas ao amanhecer, sendo vistoriadas em intervalos Bergallo agradece a FAPERJ (E-26/110.284/2010 e E- de 15 ou 20 minutos. As excursões a campo foram 26/103.016/2011) e ao CNPq (457458/2012-7 e realizadas de 12/2014 a 03/2015, havendo uma noite de 307715/2009-4) pelas bolsas e auxílios à pesquisa. Ao amostragem em cada parcela, sendo contemplado até o CEADS/UERJ e INEA pela permissão para coletas momento apenas o período chuvoso. Os morcegos são e apoio concedidos. identificados no campo antes da soltura ou em laboratório, através de chaves dicotômicas, ou ainda por Referências Bibliográficas comparação com material testemunho depositado na [1] Galindo-Leal, C. & Câmara I.G. 2005. Mata Atlântica: Coleção de Referência do Laboratório de Diversidade de biodiversidade, ameaças e perspectivas. SOS Mata Atlântica / Morcegos, da Coleção Adriano L. Peracchi/UFRuralRJ ou Conservação Internacional, Belo Horizonte. do Museu Nacional/UFRJ. Os animais capturados são [2] Prado M.R., Rocha E.C. & Del Giudice G.M.L. 2008. Mamíferos marcados com coleiras plásticas providas de anilhas de de médio e grande porte em um fragmento de Mata Atlântica, policarbonato (www.anilhas.com.br), onde cada indivíduo Minas Gerais, Brasil Revista Árvore 32(4): 741-749. tem uma numeração própria. Para os animais

62 [3] Esbérard C.E.L. 2003. Diversidade de morcegos em área de Mata Atlântica regenerada no Sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Zoociências 5: 189-204. [4] Timm R.M. 1994. The mammals fauna, p. 229-237 in: La Selva: ecology and natural history of a neotropical rain forest (McDade L.A., Bawa K.S., Hespenheide H.A.; Hartshorn G.S., eds.). University of Chicago Press. [5] Mello M.A.R.; Marquitti F.M.D.; Guimarães Jr. P.R.; Kalko E. K.V.; Jordano P. & Aguiar M.A.M. 2011. The missing part of seed dispersal networks: structure and robustness of bat-fruit interactions. PloS One 6(2): e17395. [6] Peracchi A.L. & Nogueira M.R. 2010. Lista anotada dos morcegos do Estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil. Chiroptera Neotropical, 16(1): 508-519. [7] Moratelli R.; Peracchi A.L.; Dias D. & Oliveira J.A. 2011. Geographic variation in South American populations of Myotis nigricans (Schinz, 1821) (Chiroptera, Vespertilionidae), with the description of two new species. Mammalian Biology, 76: 592- 607. [8] Esbérard C.E.L.; Jordão-Nogueira T.; Luz J.L.; Melo G.G.S.; Mangolin R.; Jucá N.; Raíces D.S.; Enrici M.C. & Bergallo H.G. 2006. Morcegos da Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ, Sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Zoociências, 8(2): 151-157. [9] Magnusson W.E.; Lima A.P; Luizão R.; Luizão F.; Costa F.R.C.; Castilho C.V. & Kinupp V.F. 2005. RAPELD: A modification of the Gentry method for biodiversity surveys in Long-Term Ecological Research Sites. Biota Neotropica, 5(2): 1-6. [10] Velazco P.M.; Aires C.C.; Carmignotto A.P.; Bezerra A.M. 2010. Mammalia, Chiroptera, Phyllostomidae, Vampyrodes caraccioli (Thomas, 1889): Range extension and revised distribution map. Check List 6(1): 49-51. [11] Bolzan D.P.; Lourenço E.C.; Costa L.M.; Luz J.L.; Nogueira T.J.; Dias D.; Esbérard C.E.L. & Peracchi A.L. 2010. Morcegos da região da Costa Verde e adjacências, Litoral Sul do Estado do Rio de Janeiro. Chiroptera Neotropical, 16(1): 586-595.

Tabela 1 – Espécies capturadas na primeira amostragem com metodologia RAPELD no Parque Estadual da Ilha Grande, RJ, entre 12/2014 e 03/2015.

ESPÉCIES TOTAL

Família Phyllostomidae Subfamília Carollinae

Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) 46 Subfamília Stenodermatinae

Artibeus fimbriatus Gray, 1838 5 Artibeus obscurus (Schinz, 1821) 14 Artibeus planirostris Spix, 1823 7 Chiroderma doriae Thomas, 1821 1 Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1821) 3

Sturnira tildae de la Torre, 1959 1 Vampyrodes caraccioli (Thomas, 1889) 2 Subfamília Phyllostominae

Chrotopterus auritus (Peters, 1856) 2 Micronycteris microtis Miller, 1898 3

Tonatia bidens (Spix, 1823) 2 Trachops cirrhosus (Spix, 1823) 4 Família Vespertilionidae Subfamília Myotinae

Myotis sp. 9

TOTAL 99

63 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

MONITORAMENTO DA HERPETOFAUNA DO PARQUE NACIONAL DE SÃO JOAQUIM

Caroline Angri¹, Erica Naomi Saito¹, Vitor de Carvalho Rocha¹, Selvino Neckel-Oliveira¹. 1 Universidade Federal de Santa Catarina *[email protected] Introdução Joaquim como forma de maximizar o conhecimento da herpetofauna do Parque. O Brasil é o país que possui a maior riqueza de anfíbios Quando possível dois exemplares testemunho em cada no mundo e o quarto na riqueza de répteis (SBH, 2015; parcela foram coletados, além de dados de mídia como UETZ & JIRÍ, 2015). Atualmente são registradas 1786 vocalizações, fotos e vídeos também estão sendo espécies, que, em sua maioria, ocorrem na região do realizados. Os indivíduos coletados são acondicionados Bioma Mata Atlântica. Esse bioma, que se estende ao em saco plástico e no laboratório são eutanasiados com longo de toda a costa brasileira, apresenta condições xilocaína 5%. Em seguida, amostras de tecido (fígado ou florestais diferenciadas de acordo com a sua altitude músculo) são retirados e armazenados em álcool (MMA, 2010). O Parque Nacional de São Joaquim é uma absoluto. Da mesma forma, os indivíduos são fixados com das poucas Unidades de Conservação localizada em uma formol 10% e depois armazenados em frascos com álcool região montanhosa e está no limite sul de distribuição da 70% para sua conservação. Tanto as amostras de tecido mata atlântica brasileira, com áreas representativas de como os exemplares coletados são depositados na Araucárias, matas nebulares e campos de altitude Coleção de Herpetologia da Universidade Federal de (ICMBIO, 2015). Essa paisagem fornece uma Santa Catarina (CHUFSC). oportunidade única para o desenvolvimento de estudos para a compreensão de processos e padrões geradores, Resultados mantenedores e impactantes da Biodiversidade da Mata Nas duas campanhas realizadas em maio/2014 e Atlântica do sul do Brasil. Apesar do clima caracterizado janeiro/2015 foram encontradas 21 espécies de anuros e por baixas temperaturas, a região apresenta uma grande seis de répteis. Das 21 espécies de anuros, oito foram quantidade de nascentes e corpos d’água bem encontras nas parcelas terrestres. A espécie mais conservados, o que favorece a ocorrência de anfíbios e abundante foi Hypsiboas leptolineatus totalizando seis répteis, principalmente àqueles que exigem condições indivíduos, seguindo de Aplastodiscus perviridis com ambientais específicas (ALFORD & RICHARDS, 1999). quatro, Melanophryniscus cf. simplex com três, Diante disso, este estudo tem como objetivo de Leptodactylus plaumanni e Scinax granulatus com dois e determinar e monitorar em longo prazo a composição e Scinax fuscovarius, Hypsiboas prasinus e Rhinella icterica riqueza de espécies de anfíbios e repteis do Parque com um indivíduo. Através do encontro ocasional, foram Nacional de São Joaquim. registradas as espécies Pseudis cardosoi, sendo essa a Metodologia mais abundante nesse método, Adenomera sp., Dendropsophus nahderei, Dendropsophus minutus, A coleta de dados esta sendo feita pelo método de busca Elachistocleis bicolor, Hypsiboas aff joaquini, Hypsiboas ativa visual (anfíbios e repteis) e auditiva (anfíbios) em faber, Leptodactylus latrans, Odontoprhynus americanus, parcelas riparias e terrestres (PPBIO, 2008). Cada parcela Physalaemus gracilis, Physalaemus cuvieri, Rhinella tem 250m de comprimento com largura máxima de 20m henseli, Scinax cf. berthae e Scinax uruguayus. para busca ativa visual e 40m para busca auditiva. Cada Dos anfíbios, ainda foram obtidas as vocalizações e fotos parcela é percorrida por duas pessoas, sendo uma das espécies A. perviridis, D. nahderei, H. leptolineatus, disposta do lado direito e a outra do lado esquerdo da P. cardosoi, H. aff. joaquini, S. fuscovarius e S.granulatus. linha central da parcela, percorrendo o trajeto no tempo Já para os répteis, todos foram registrados ao longo do médio de uma hora e meia. A cada dez metros, os deslocamento pela trilha do módulo, ou em afloramentos observadores param e registram todos os indivíduos que rochosos próximos às parcelas de amostragem. Foram estão vocalizando do seu lado correspondente da linha observadas as espécies de serpentes: Bothrops cotiara, central, tomando cuidado para não contabilizar um com oito indivíduos encontrados, Liophis miliaris, com mesmo indivíduo mais de uma vez. Simultaneamente a dois indivíduos, Erythrolamprus jaegeri, Xenodon sp., procura visual por indivíduos ocorre durante o Thamnodynastes strigatus, e uma espécie de deslocamento, onde a serrapilheira, pedras e vegetação Amphisbaena sp., com um indivíduo registrado cada. são removidos. A coleta de dados esta sendo realizadas duas vezes por ano, uma entre a primavera-verão e outra Discussão no outono. Tanto para anfíbios como repteis, as De acordo com a bibliografia, são esperadas até 62 amostragens estão sendo feitas no período diurno e espécies de anuros para a região, considerando áreas de noturno. possível ocorrência das espécies. A quantidade de Procuras ocasionais estão sendo feitas em locais de espécies registradas até o momento pode estar reprodução, estradas e trilhas no Parque Nacional de São

64 relacionado com o período de amostragem, devido as microrregiões apresentam ao longo de toda a estrutura do baixas temperaturas, ou pelas características reprodutivas módulo. das espécies registradas, as quais se reproduzem em corpos d’água lênticos, que em sua maioria estão Agradecimentos localizados fora do módulo, na parte baixa do PARNA. Ao CNPq pelo financiamento da pesquisa através do Devido a mesma característica, a baixa riqueza de anuros Ministério de Tecnologia e Ciência (MCT – Edital PPBio nas parcelas terrestres também estão relacionadas com MA/2012; Ao Parque Nacional de Sçao Joaquim- IMCBio, as características climáticas e de vegetação arbustiva das pela autorização da realização das pesquisas na área. parcelas terrestres, que dificulta a ocorrência de espécies que não utilizam a serrapilheira. Durante o inverno, as Referências Bibliográficas baixas temperaturas da região diminuem a atividade da [1] Uetz, P. & Jirí Hošek (ed.), The Reptile Database, maioria das espécies registradas, e as que foram http://www.reptile-database.org, accessed on May 23, 2015. encontradas ocasionalmente estavam próximas aos [2] SBH Sociedade Brasileira de Herpetologia. http://www.sbherpetologia.org.br/. Accessed on May 23, corpos d’água lênticos. Já durante o período do verão, as 2015. parcelas apresentaram- se mais secas, com diminuição [3] MMA, 2010. Mata Atlântica: patrimônio nacional dos do fluxo de água no corpo d’água. Porém, é importante brasileiros / Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de inferir que a formação geológica da região não permite Biodiversidade e Florestas. Núcleo Mata Atlântica e Pampa; organizadores Maura Campanili e Wigold Bertoldo Schaffer. fácil deslocamento entre as áreas de amostragem, Brasília. principalmente para um grupo faunístico de baixo [4] ICMBio, 2015. Instituto Chico Mendes – Parque Nacional de deslocamento. Diante disso, é imprescindível que a São Joaquim. http://www.icmbio.gov.br/portal/o-que- fazemos/visitacao/ucs-abertas-a-visitacao/196-parque- amostragem seja realizada em ambos os tipos de nacional-de-sao-joaquim Accessed on May, 23, 2015. parcelas, terrestres e aquáticas, nos diferentes módulos [6] Alford AR, Richards SJ.1999. Global amphibian declines: a da região, permitindo maior abrangência na área do problem in applied ecology. Anual Review of Ecology and Systematics (3):133-165. PARNA São Joaquim. Das espécies encontradas na região, Melanophryniscus simplex apresentam a qualidade do ambiente como exigência ecológica para sua reprodução, porém nenhuma espécie ameaçada foi encontrada na região até o momento. Nove das espécies registradas utilizam os arbustos como sítio de vocalização, porém algumas se reproduzem em corpos d’água lótico, como as espécies Hypsiboas leptolineatus e Scinax granulatus. Já Adenomera sp., espécie conhecida pela sua reprodução associada ao folhiço úmido, foi encontrada somente nas trilhas de deslocamento entre as parcelas. O restante das espécies observadas, vocalizam e têm a sua reprodução relacionada a corpos d’água lênticos temporários, como exemplo as espécies Pseudis cardosoi e Odontophrynus americanus. Das mídias obtidas, de vocalização e fotos, está sendo realizada a triagem do material, para a criação de uma Sapoteca (PPBio – INPA), onde informações biológicas das espécies, juntamente com o material de mídia ficarão disponibilizados no site do PPBio- MA. De acordo com o levantamento bibliográfico, feito através de mapas de distribuição de ocorrência, são esperadas 31 espécies de répteis para a região. Dos répteis registrados, Liophis miliaris , Erythrolamprus jaegeri eThamnodynastes strigatus foram as espécies observadas ocorrendo em corpos d´agua lênticos. Já a Bothrops cotiara foi a espécie mais abundante no número de registros, sendo 6 indivíduos, os quais todos foram encontrados em campos de altitude, nas proximidades da vegetação nebular. Amphisbaena sp., encontrada próximo aos afloramentos rochosos, sendo seu registro feito somente uma única vez, devido. Diante desses registros, e a falta de material científico publicado para répteis da região da serra catarinense, é importante considerar a determinação de um protocolo para amostragens de répteis, mesmo que ao longo das trilhas do módulo, devido as diferenças que as

65 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

FORMIGAS (HYMENOPTERA:FORMICIDAE) NO PARQUE NACIONAL DE SÃO JOAQUIM, SANTA CATARINA, BRASIL

Cristian L. Klunk¹*, Frederico R. Marcineiro¹, Félix B. Rosumek¹,², Benedito C. Lopes¹ ¹Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Ecologia e Zoologia, Laboratório de Biologia de Formigas, Florianópolis, SC. ² Technische Universität Darmstadt, Ecological Networks research group, Fachbereich Biologie, Darmstadt, Hessen, Alemanha. *[email protected]

Introdução discussões com outros grupos de pesquisa com formigas do PPBio Mata Atlântica. Desta maneira, foi estabelecido um protocolo básico como sugestão para Formigas são insetos eussociais, com mais de 13 mil os estudos com formigas nos módulos. Dentro de cada espécies no mundo¹, na família Formicidae parcela, foram definidos cinco pontos amostrais, (Hymenoptera). Esses animais se destacam pela afastados entre si por 50 m, partindo do ponto 50 m até abundância e diversidade, principalmente em ambientes o 250 m. Em cada ponto, foram aplicados três métodos tropicais. Devido a essa diversidade, aliada aos mais de coleta: um pitfall (armadilha de queda) no solo, um variados hábitos alimentares (espécies generalistas até pitfall arbóreo e uma coleta de serapilheira para cultivadoras de fungo e atendentes de afídeos), as processamento no mini extrator de Winkler5. O pitfall de formigas participam de uma ampla gama de processos solo foi colocado ao lado do piquete de referência do ecológicos, sendo insetos importantes no que se refere ponto amostral, distante um metro do corredor central à à dinâmica dos ecossistemas². Além disso, formigas jusante. O pitfall constituiu-se de um copo plástico de apresentam relações com diversos outros grupos, como 300 ml, preenchido até 1/3 do seu volume com uma artrópodes, fungos e especialmente plantas3. Apesar da solução de água, detergente e sal. Na árvore mais fauna de formigas ser bem conhecida nas regiões próxima do pitfall no solo, com DAP superior a 15 cm, temperadas, com pequeno número de espécies, nas foi colocado o pitfall arbóreo, numa altura aproximada ricas regiões tropicais esse conhecimento ainda é de 1,5 m que apresentava o mesmo volume e solução deficiente, e a descoberta de novas espécies ou novos do pitfall de solo. Ambas as armadilhas de queda registros para uma região são comuns. Santa Catarina permaneceram em campo por cerca de 48 horas e possui uma fauna comparativamente bem conhecida, depois tiveram seu conteúdo recolhido e acondicionado mas certas regiões e ecossistemas ainda são pouco em potes fechados contendo álcool 95%. Três metros à explorados. Para o Planalto Serrano, onde predominam frente do pitfall de solo, foi recolhido um metro quadrado Matas de Araucária, Florestas Nebulares e Campos de de serapilheira, que era peneirada em campo e altitude, apenas 12 espécies são registradas4. Assim depositada nos mini extratores de Winkler no sendo, este trabalho constitui o primeiro levantamento alojamento, permanecendo nestes por cerca de 48 sistemático de formigas para a região, tendo como horas. Nos pontos sem árvores de tamanho adequado principal objetivo avaliar a riqueza e diversidade de ou serrapilheira, apenas os pitfalls de solo foram espécies de formigas do Parque Nacional de São colocados. No total, foram instalados 50 pitfalls de solo, Joaquim, Santa Catarina, Brasil. Também pretende-se 33 arbóreos, e coletados 31 m² de serrapilheira. O relacionar as comunidades de formigas com a estrutura material coletado foi triado no Laboratório de Biologia de da vegetação e outros fatores ambientais, como tipo de Formigas, UFSC, e, para cada amostra, no mínimo um solo e altitude. exemplar de cada morfoespécie foi montado em Metodologia triângulos de papel. As formigas encontram-se em processo de identificação com o auxílio de chaves dicotômicas e material depositado na coleção do A área de estudo está localizada dentro do Parque laboratório. Foi realizada uma coleta no verão de 2014 e Nacional de São Joaquim, no município de Urubici, SC. outra no verão de 2015, sendo que o material desta A coleta foi realizada dentro do Módulo I, que consiste segunda coleta encontra-se em processo de triagem. num retângulo de cinco km de comprimento por um km de largura, conforme as diretrizes metodológicas do Resultados Projeto de Pesquisa Biológica da Mata Atlântica (PPBio). O módulo engloba diferentes fitofisionomias Para o primeiro ano de coleta, foram identificadas 53 encontradas na região, tanto entre quanto dentro das espécies ou morfoespécies, cujos gêneros estão parcelas. A partir desse módulo, foram instaladas 10 distribuídos em oito subfamílias (Tabela 1). parcelas terrestres de 250 m cada (cinco a partir de cada linha longitudinal do retângulo), que seguem a curva de nível, em direção ao norte, afastadas um km entre si. A primeira etapa do trabalho consistiu em

66 Tabela 1: Subfamílias e gêneros de formigas do Parque ² HÖLLDOBLER, B.; WILSON, E.O. The ants. Nacional de São Joaquim, Urubici, SC. (n) = espécies Cambridge, Massachussets: Belknap Press, 1990. 732 ou morfoespécies do gênero. p. DOLICHODERINAE Crematogaster (3) ³RICO-GRAY, V; OLIVEIRA, P. S.; The ecology and Linepithema (2) Eurhopalothrix (1) evolution of ant-plant interactions. Chicago: University of Tapinoma (2) Octostruma (1) Chicago Press, 2007. 320p. 4 DORYLINAE Oxyepoecus (3) ULYSSÉA, M. A.; CERETO, C. E.; ROSUMEK, F. B.; Neivamyrmex (1) Pheidole (8) SILVA, R. R.; LOPES, B. C. Updated list of ant ECTATOMMINAE Solenopsis (5) species (Hymenoptera, Formicidae) recorded in Santa Gnamptogenys (2) Strumigenys (1) Catarina State, southern Brazil, with a discussion of FORMICINAE Trachymyrmex (1) research advances and priorities. Revista Brasileira de Entomologia, v. 55, n. 4, p. 603-611, 2011. Brachymyrmex (2) Wasmannia (4) 5 BESTELMEYER, B. T.; AGOSTI, D.; ALONSO L. E.; Camponotus (6) PONERINAE BRANDÃO, C. R. F.; BROWN Jr, W. L.; DELABIE, J. Myrmelachista (1) Anochetus (1) H. C.; SILVESTRE, R. Field techniques for the study of Nylanderia (1) Hypoponera (2) ground-dwelling ants: an overview, description and HETEROPONERINAE Pachycondyla (1) evaluation. In: AGOSTI, D.; MAJER, J. D.; ALONSO, L. Heteroponera (1) PSEUDOMYRMECINAE E.; SCHULTZ, T. R. (Eds). Ants: standard methods for MYRMICINAE Pseudomyrmex (1) measuring and monitoring biodiversity. Washington: Acromyrmex (3) Smithsonian Institution Press, 2000. p. 122-144. 6 World Wide Web electronic publication. AntWeb.org. A subfamília Myrmicinae foi a que mais se destacou em Disponível em , Acessado em número de espécies (30), seguida por Formicinae (10). 01 Junho 2015. O gênero com maior número de espécies foi Pheidole 7 WILSON, E. O. Which are the most prevalent ant (8), seguida por Camponotus (6) e Solenopsis (5). genera? Studia Entomologica., v.19, fasc. 1-4, p. 1-14, Foram coletadas 34 espécies com os pitfalls de solo 1976. (média de 0,68 por amostra), sendo 19 exclusivas deste método. Com a coleta de serrapilheira foram obtidas 34 espécies (1,1 por amostra), sendo 19 exclusivas. Já com os pitfalls arbóreos, foram coletadas apenas 2 espécies (0,06 por amostra), sem espécies exclusivas. Em 24 pitfalls arbóreos (73%) não foram registradas formigas. Discussão

A subfamília Myrmicinae se destaca aqui como aquela com maior número de espécies ou morfoespécies registradas. Isso se deve ao fato de que esta subfamília é a mais diversificada em Formicidae, apresentando 6526 espécies6. Entre os gêneros, aqueles que mais se destacam são Pheidole (Myrmicinae) e Camponotus (Formicinae). Estes são dois dos mais diversificados gêneros de formigas no mundo, não só pelo número de espécies, mas também pela grande diversidade morfológica e ecológica7. O presente trabalho reforçou essas tendências, mesmo numa região do estado pouco amostrada4. Pitfalls de solo e coleta de serrapilheira mostraram-se ambos eficientes e complementares. Por outro lado, os pitfalls arbóreos não renderam bons resultados do modo como foram aplicados. Isto levou, no segundo ano, ao uso de pitfalls iscados com sardinha nas árvores, de modo a aumentar o número de espécies amostradas. Referências

¹ BOLTON, B. 2014. An online catalog of the ants of the world. Disponível em . Acessado em 03, Junho, 2015.

67 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

DIVERSIDADE DE MACROFUNGOS DO PARQUE NACIONAL SÃO JOAQUIM (PNSJ) NO ÂMBITO DO PROJETO PPBIO

ER Drechsler-Santos1,*, A Góes-Neto2, AC Magnago4, A Furtado1, CA Salvador-Montoya1,6, C Heisecke1, DH Costa-Rezende2, F Bittencourt3, F Mafalda-Freire1, G Alves-Silva1, GL Robledo5, G Kaipper-FIgueiró1, J Duque1, J Prata1, JF Souza1, MA Neves1, Mariana Fernandes1, M Reck1, M Palacio1, P Nunez1, RC Friedrich1, SG Elias1,SU Valencia1, V Ferreira-Lopes5 1 Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Biológicas, Departamento de Botânica, Florianópolis, SC, 2 Universidade Estadual de Feira de Santana, Programa de Pós-Graduação em Botânica, Feira de Santana, BA, 3 Universidade Regional de Blumenau, Departamento de Ciências Naturais, Blumenau,SC. 4 Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Campus do Vale, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 5 Universidad Nacional de Córdoba – Instituto Multidisciplinario de Biologia Vegetal – Laboratorio de Micologia - Edificio de Investigaciones Biológicas y Tecnológicas, Córdoba, Argentina; 6 Laboratorio de Micología, Instituto de Botánica del Nordeste, CONICET-UNNE, Corrientes, Argentina. *[email protected]

informações sobre hospedeiro (vivo/morto, identificação) Introdução e ambiente (por exemplo: área sombreada, ecossistema, Os fungos apresentam diversas formas e estratégias de etc.) foram anotadas. Os exemplares coletados foram vida, sendo sapróbrios ou simbiontes1,2. Destes, os desidratados e após a identificação morfológica foram macrofungos (Ascomycota Whittaker e Basidiomycota incorporados no Herbário FLOR (UFSC). Para as análise R.T. Moore) são espécies que produzem estruturas (macro e microscópica) e identificação morfológica dos reprodutivas macroscópicas (e.g. cogumelos, orelhas de materiais foi levado em consideração o máximo de pau, estrelas da terra), ascomas e basidiomas, caracteres possíveis de acordo com a literatura respectivamente. Para a Mata Atlântica de Santa especializada. Catarina, foram registradas 237 espécies, principalmente Resultados na região insular3. No entanto, outras áreas do estado de Santa Catarina são potenciais para o reconhecimento de Foram identificadas mais de 50 espécies de macrofungos uma diversidade ímpar, como é o caso do Parque até o momento. Em Ascomycota destacam-se algumas Nacional São Joaquim (PNSJ), que desde 2011 vem espécies de fungos entomopatógenos (os complexos sendo estudada. Formalmente registradas, 17 espécies Ophiocordyceps unilateralis, O. curculionum, O. de macrofungos (Basidiomycota e Ascomycota) são thyrsoides e Cordyceps cardinalis, Torrubiella sp. e apresentadas em um capítulo sobre fungos do PNSJ do Gibellula sp., entre outros) e decompositores (ex.: livro Portal do Conhecimento4. O PNSJ além de Chlorociboria aeruginascens e Hypocrea sulphurea, entre apresentar uma ampla variação de paisagens, outros espécies de Hypoxylon e Xylaria). Basidiomycota é decorrentes das diferenças de altitude, formação representado por muitas espécies de liquens, geológica e de relevo, apresenta ecossistemas (e.g. Mata microrrízicas, parasitas e/ou decompositoras de plantas. Atlântica, Matas de Araucária, Matas Nebulares) Alguns gêneros podem ser citados com exemplos: particulares em condições propícias de estudos de longa Amauroderma, Amyloporia, Antrodia, Antrodiella, Athelia, duração, com relação às mudanças climáticas, e que Auriporia, Aseroë, Bjerkandera, Ceriporia, Chlorophyllum, abrigam uma micota diferenciada. Neste contexto, o Clathrus, Diplomitoporus, Flaviporus, Fomes, Fomitiporia, objetivo do trabalho é levantar e acompanhar a micota Fuscoporia, Ganoderma, Hornodermoporus, dos diferentes ecossistemas da Mata Atlântica no PNSJ. Hymenochaete, Irpex, Lentinus, Leptonia, Macrolepiota, Pachykytospora, Panellus, Panus, Peniophora, Metodologia Perenniporia, Polyporus, Phlebia, Pycnoporus, Psilocybe, Até no momento foram realizadas aproximadamente 22 Ramaria, Schizopora, Stereopsis, Trametes, expedições de campo para coleta de macrofungos Tropicoporus, Skeletocutis e Wrightoporia, entre outros. principalmente nas localidades de Santa Bárbara e nas imediações do Morro da Igreja, desde 2011. Em Santa Discussão Bárbara foram explorados principalmente os fragmentos de Mata de Araucária, além dos Campos Naturais de Há vários novos registros da ocorrência de espécies para altitude e de Mata Nebular. No Morro da Igreja foram a Mata Atlântica de Santa Catarina (ex.: Peniophora cf. visitados os fragmentos de Mata Nebular, bem como cinerea e Tropicoporus tropicalis), Sul do Brasil (ex.: ecossistemas de turfeiras e zonas de transição entre Cordyceps cf. cardinalis, Hypocrea cf. sulphurea), Matas Nebulares e outras formações florestais de território Brasileiro (ex.: Amyloporia cf. sinuosa e encostas. Todas essas formações são contempladas Ceriporia reticulata) e até para a região Neotropical. pelas parcelas e módulos RAPELD-PPBio Mata Atlântica. Muitas espécies estão sendo estudadas Foram coletadas e fotografadas as estruturas filogeneticamente em trabalhos de conclusão de curso reprodutivas macroscópicas (ascomas e basidiomas) e as (TCCs, dissertações e/ou teses), com intuito de resolução

68 de complexos taxonômicos e/ou descrição de novidades científicas, dentre eles algumas possíveis espécies novas (Amauroderma aff. schomburgkii, Antrodia aff. albida, Auriporia cf. aurulenta, Cordyceps aff. cardinalis, Fomitiporia aff. apiahyna, Fuscoporia aff. wahlbergii, Lentinus aff. crinitus, Ophiocordyceps aff. thyrsoides, O. aff. unilateralis, entre outras). A cada nova expedição de campo novos registros são incorporados à lista de espécies, muitas destas com morfologias e aspectos ecológicos (distribuição geográfica, relações com hospedeiro) particulares, representando novidades filogenéticas. A partir do apresentado é possível concluir que o cenário se torna cada vez mais incentivador para a descrição de novos táxons, bem como acompanhamento destes frente às mudanças climáticas.

Agradecimentos

À MCT, CNPq, CAPES e UFSC pelo apoio financeiro nos projetos (Fungos poliporoides em Santa Catarina, FUNPESQUISA/UFSC 2011.0182; Diversidade de Cordyceps s.l. em Santa Catarina, UFSC 2011.0751; Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade do Parque Nacional de São Joaquim, MCT/CNPQ 35/2012-PPBio Mata Atlântica-UFSC 2013.0044; A biologia molecular como ferramenta taxonômica de fungos e de organismos fotossintetizantes, CAPES/PNPD/2011; Identificação molecular de fungos do Brasil, MCT/CNPq/FNDCT Nº. 50/2010-UEFS) e bolsas de IC/PIBIC, de mestrado e de doutorados para alguns dos coautores. Referências Bibliográficas [1] Alexopoulos C. 1985. Introducción a la Micología. 1ra Edición. Omega S.A. Barcelona. 636 p. [2] Watling R. 1995. Assessment of fungal diversity: macromycetes, the problems. Canadian Journal of Botany. Vol. 73 (Suppl. 1). Pp. S15-S24. [3] Loguercio-Leite, C.; Campos-Santana, M.; Gerlach, A.; Guthjar, M.; Trierveiler-Pereira, L.; Drechsler-Santos, E.R.; Baltazar, J.M. 2009. Sinopsis de macromicetos em Santa Catarina, Brasil. Ínsula, Florianópolis, v. 38, Pp. 01-14. [4] Drechsler-Santos, E.R.; Demetrio, A.M.; Salvador-Montoya, C.A.; Souza-Aguiar, C.; Costa-Rezende, D.H.; Mafalda- Freire, F.; Figueiró, G.K.; Souza, J.F.; Friedrich, R.C.S.; Ferreira-Lopes V . Macrofungos do Parque Nacional de São Joaquim: Aspectos preliminares sobre a Micodiversidade. In: Castilho, P.V.; Omena, M.T.R.N.; Taniwaki, M.H. (Org.). Parque Nacional de São Joaquim: Portal do Conhecimento. 1ed.São Paulo: Santarém, 2014, v. 1, Pp. 23-44.

69 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

FORMIGAS DA ILHA GRANDE, RJ: INVENTÁRIO PRELIMINAR COM ÊNFASE NAS ESPÉCIES EXÓTICAS

Jarbas M Queiroz1,*, Jacques H.C. Delabie2 1 Departamento de Ciências Ambientais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica 2 Convênio CEPLAC-UESC, Itabuna, BA. *[email protected]

Introdução Tabela 1 – Lista preliminar de espécies de formigas na A contribuição dos invertebrados para a riqueza Ilha Grande, RJ. de espécies é maior do que outros grupos1 e os insetos são considerados úteis como ferramentas de análise do Espécies Vila Vila PE Ilha status de conservação de outros organismos encontrados Dois Abraão Grande 9 em florestas . As formigas compreendem uma grande Rios porção da biomassa nos ecossitemas, especialmente os Acromyrmex X tropicais, estando envolvidas em diversas funções aspersus 2 ecológicas . Na Australia, listas de espécies de formigas Acromyrmex X são usadas para avaliar o grau de reabilitação de áreas 3 subterraneus que foram degradadas por atividades de mineração . A brunneus família Formicidae compreende atualmente 15.000 Atta sexdens X X X espécies descritas (http://www.antweb.org) e, As espécies Azteca instabilis X que obtiveram êxito fora de seus domínios naturais Azteca ovaticeps X normalmente recrutam operárias em grande número e Brachymyrmex X rapidamente, forrageiam por grandes períodos, possuem heeri várias rainhas por colônia e baixa agressividade entre 4 Brachymyrmex X X X colônias . Quando fora de seu habitat nativo, as espécies patagonicus parecem obter maior sucesso na colonização de 5 Camponotus X X ambientes perturbados . atriceps Aproximadamente, 150 espécies de formigas já 6 Camponotus X foram registradas fora de seu habitat nativo e os depressus impactos que as formigas podem causar quando Camponotus X X X introduzidas em novos ambientes são muito variáveis e fastigatus dependem de um conjunto de fatores relacionados ao Camponotus X X X ambiente físico e biótico. Os impactos sobre a biota senex nativa podem ser diretos e indiretos. Os efeitos diretos Camponotus X X X são quase sempre sobre as espécies nativas de sericeiventris formigas, enquanto os indiretos envolvem organismos Camponotus dependentes das formigas nativas, tais como vertebrados X trapezoideus e diversas famílias de insetos sugadores conhecidos como “Homoptera”; ou ainda populações de artrópodes Cardiocondyla X 8 obscurior naturalmente reguladas pelas formigas . O impacto pode Cephalotes também comprometer certos processos ecológicos X 7 atratus importantes como a dispersão de sementes . Crematogaster Desta forma, a análise das espécies que X acuta ocorrem em determinada localidade é o primeiro passo para que posteriormente esses estudos possam envolver Crematogaster X X medidas conservacionistas e de manejo quando curvispinosa necessárias. Crematogaster X erecta Metodologia Crematogaster X victima A coleta de formigas foi realizada em agosto de 2012 Dolichoderus X durante três dias em três áreas da Ilha Grande, sendo lutosus Dorymyrmex X uma no interior do PE Ilha Grande e as outras duas na brunneus Vila de Abraão e na Vila Dois Rios. A técnica utilizada foi Dorymyrmex X a manual com auxílio de isca. pyramicus Gnamptogenys X X Resultados striatula Linepithema X Foram encontradas 53 espécies de formigas, distribuídas anathema em 25 gêneros (Tabela 1), sendo cinco delas exóticas. Linepithema X X X Cardiocondyla obscurior Wheeler, Paratrechina pulex Nylanderia fulva longicornis (Latreille, 1802), Tapinoma melanocephalum X X Nylanderia sp. X (Fabricius) Tetramorium bicarinatum (Nylander) e T. Odontomachus X X X simillimum (Smith). haematodus Neoponera X apicalis

70 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

….continuação Weterrer et al. (2006) que sugeriram que as espécies Espécies Vila Vila PE Ilha exóticas em ilhas podem ficar restritas apenas às terras Dois Abraão Grande mais baixas, próximas da costa. Segundo esses autores, Rios Pachycondyla X tais espécies teriam pouca interferência nas comunidades harpax de interior. Neoponera X villosa Paratrechina X Agradecimentos longicornis Pheidole X X X Ao INEA pelo apoio na realização do trabalho e ao puttemansi CEADS-UERJ pelo auxílio no transporte entre as Vilas de Pheidole X X X Abraão e Dois Rios. rudigenis Pheidole (gp. X X X Referências Bibliográficas Fallax) sp.1 Pheidole (gp. X X [1] Allen, C.R.; Pearlstine, L.G.; Wojcik, D.P. & Kitchens, W.M. Tristis) sp.2 2001. The spatial distribution of diversity between disparate Pheidole (gp. X taxa: spatial correspondence between mammals and ants Fallax) sp.3 across South Florida, USA. Landscape Ecology, 16: 453- Pheidole (gp. 464. X [2] Alonso, L.E. & Agosti, D. 2000. The all protocol: a standard Fallax) sp.4 protocol for the collection of ground-dwelling ants, p. 204- Pheidole X 206. In: Agosti, D.; Majer, J. D.; Alonso, L. E.; radoszkowskii Schultz,T.R.(Ed.) Ants: Standard methods for measuring Pheidole diligens X and monitoring biodiversity. Washington, Smithsonian Pogonomyrmex X X X Institution Press. 280p. naegelii Pseudomyrmex X [3] Andersen, A.N & Majer, J.D. 2004. Ants show the way down (gp. Pallidus) under: invertebrates as bioindicators in land management. sp. Frontiers in Ecology and Environment, 2: 291-298.Holway, Pseudomyrmex X X D.A.; Lach, L.; Suarez, A.V.; Tsutsui, N.D.; Case, T.J. gracilis 2002.The causes and consequences of ant invasions. Pseudomyrmex X Annual Review of Ecology and . Systematics, 33: 181-233. oculatus [4] Holway, D.A.; Lach, L.; Suarez, A.V.; Tsutsui, N.D.; Case, T.J. Pseudomyrmex X 2002.The causes and consequences of ant invasions.Annu. tenuis Rev. Ecol. Syst., 33: 181-233. Solenopsis X [5] King, J.R. & Porter, S.D.. 2007. Body size, colony size, abundance, and ecological impact of exotic ants in Florida’s geminata upland ecosystems. Evolutionary Ecology Research 9: 757- Solenopsis X 774. globularia [6] Mcglynn, T.P. 1999. The worldwide transfer of ants: Solenopsis X X X geographical distribution and ecological invasions. Journal invicta of Biogeography 26: 535-548. Solenopsis sp. X X [7] Ness, J.H., Bronstein, J.L., Andersen, A.N. & Holland, J.N. Tapinoma X X X 2004. Ant body size predicts dispersal distance of ant- melanocephalum adapted seeds: implications of small ant invasions. Ecology Tetramorium X 85: 1244-1250. bicarinatum [8] Suarez, A.V.; Richmond, J.Q. & Case, T.J. 2004. Prey selection in horned lizards following the invasion of Tetramorium X argentine ants in southern California. Ecological simillimum Applications 10: 711-725. Trachymyrmex X [9] Sutton, S.L. & Collins, N.M. 1991. Insects and tropical forest sp. conservation. In: Collins NM, Thomas JA The conservation of insects and their habitats. Academic Press, London. [10] Weterrer, J.K. 2008.Worldwide spread of the longhorn crazy ant, Paratrechina longicornis (Hymenoptera: Formicidae). Myrmecological News 11: 137-149. Discussão

A lista preliminar de espécies da Ilha Grande, RJ, representa uma diversidade relativamente elevada diante do esforço empregado e dos ambientes amostrados. Entre as espécies exóticas, a única que ocorreu dentro do PE Ilha Grande foi Tapinoma melanocephalum, as outras foram exclusivas das áreas urbanizadas das duas Vilas. Paratrechina longicornis prevalece em ambientes perturbados e frequentemente aparece associada a habitações humanas. Cardiocondyla obscurior é uma espécie arborícola que pode ser encontrada em ambientes perturbados ou florestas nativas. Tetramorium bicarinatum e T. simillimum são espécies que podem ser encontradas em residências. Embora haja necessidade de mais esforços de coleta, o resultado corrobora

I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica 71 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DA DIVERSIDADE VEGETAL E ANIMAL DO PARQUE ESTADUAL ACARAÍ

João Carlos Ferreira de Melo Júnior1*, Sidnei da Silva Dornelles², Maria Regina Torres Boeger³, Rosy Mary dos Santos Isaias4 & Luciano Lorenzi5 1 Universidade da Região de Joinville – Univille, Laboratório de Anatomia e Ecologia Vegetal, Joinville, SC. ² Universidade da Região de Joinville – Univille, Laboratório de Ecossistemas Costeiros, Joinville, SC. ³ Universidade Federal do Paraná, Laboratório de Morfologia Funcional, Curitiba, PR. 4 Universidade Federal de Minas Gerais, Laboratório de Anatomia Vegetal, Belo Horizonte, MG. 5 Universidade da Região de Joinville – Univille, Laboratório de Bentologia, São Francisco do Sul, SC. *[email protected] c) Interações planta-animal: galhas ◊ Introdução d) Ecologia de pequenos mamíferos terrestres □ O Parque Estadual Acaraí é considerado a maior área e) Ecologia de mamíferos de médio e grande porte ⌂ contínua de restinga do estado de Santa Catarina. Esta f) Ecologia de Ruppia maritima e organismos unidade de conservação abriga comunidades florísticas associados ¥ em excelente estado de conservação e de diferentes Fazem parte da equipe dos projetos em desenvolvimento formações de restinga, além dos ambientes de no Parque Estadual Acaraí, os seguintes pesquisadores e manguezal, pradarias de Ruppia maritima, várzea e estudantes: floresta ombrófila submontana. Por apresentar gradientes edáfico, lumínico e hídrico numa escala espacial Pesquisador Instituição Área reduzida, esse ambiente heterogêneo revela-se como Dr. Selvino Neckel de Oliveira UFSC - uma importante fonte de pesquisas sobre a dinâmica de (Coordenador Núcleo Sul –SC) populações e de comunidades vegetais que compõem a Dr. João Carlos F. Melo Júnior Univille ☼ ∆ ◊ biodiversidade dos ambientes costeiros que integram a (Coordenador Módulo Acaraí) Mata Atlântica no sul do país. Dr. Sidnei da Silva Dornelles Univille □ ⌂ Dra. Maria Regina Torres Boeger UFPR ☼ ∆ Objetivos Dra. Rosy Mary dos Santos Isaias UFMG ◊ Destacam-se como objetivos do projeto PPBio – Acaraí Dr. Luciano Lorenzi Univille ¥ avaliar a dinâmica de populações e comunidades de plantas e animais em diferentes formações de restinga Estudante Instituição Área + nos módulos já instalados na fase 1 do projeto, assim Alex Baumer Lopes Univille ☼ como nas parcelas extras instaladas na presente fase, Ana Paula Moraes * Univille ⌂ nas perspectivas espacial e temporal. Barbra Aline Bachtold ++ Univille ☼ Francine D. Ribeiro Müller * Univille ◊ ‡, Área de Estudo Igor Abba Arriola * Univille ◊ + É uma unidade de conservação de proteção integral do Izabel Liberato Univille ☼ ‡, município de São Francisco do Sul, localizada no litoral Karoline Raimundo da Silva * Univille ☼ nordeste de Santa Catarina e classificada como área de Leonardo Afonso Ruthes * Univille ☼ prioridade extremamente alta para a conservação da Maiara Matilde da Silva ø UFPR ∆ biodiversidade. O clima, fortemente influenciado pela Maick William Amorim * Univille ☼ ж umidade marítima, é mesotérmico sem estação seca Pedro Balieiro Univille □ definida e com verões quentes, com índices Tamires de Faria Cardoso * Univille ¥ pluviométricos médios de 1.874 mm ao ano. Seu relevo Thadeu Opolski Neto * Univille □ se caracteriza em planície costeira com 6.667 ha de área (2) TCC em andamento+; (1) TCC concluído++; (2) IC ‡ coberta por formação herbácea, arbustiva, arbustivo- concluídas ; (8) IC em andamento*; (1) mestrado em ж arbórea e floresta de transição. Os solos são andamentoø; e (1) mestrado concluído . classificados, respectivamente, como: Neossolo Quartzarênico, Espodossolo Ferrihumilúvico e Resultados Alcançados Espodossolo Ferrihumilúvico + Organossolo Háplico e Infraestrutura: módulo + 14 parcelas extras. representam 90,3% da área total do parque. Atividades em andamento: Plasticidade fenotípica de Ilex Equipe do Projeto e atuação theezans (Aquifoliaceae), Tibouchina clavata (Melastomataceae), Stylosanthes viscosa (Fabaceae), e As pesquisas têm sido desenvolvidas ao longo de um ano Vanilla chamissoni (Orchidaceae). Galhas em espécies e meio e estão inseridas nas seguintes linhas temáticas: das formações arbustiva e arbustivo-arbórea, Baccharis a) Plasticidade fenotípica em plantas ☼ dracunculifolia (Asteraceae) e Smilax campestris b) Interações planta-animal: herbivoria ∆ (Smilacaceae). Herbivoria em espécies co-ocorrentes e

72 dominantes de restinga. Diversidade e abundância de pequenos mamíferos. Diversidade e distribuição de mamíferos de médio e grande porte. Agradecimentos

À Fundo de Amparo à Pesquisa da Univille pela concessão de recursos via processos 6055, 6756 e ID 1671 e pela concessão de bolsas de IC. À CAPES pela concessão de bolsa de mestrado (PPGECO-UFPR).

73 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

LEVANTAMENTO DE DADOS ECOLÓGICOS PARA PTERIDÓFITAS EM MÓDULOS RAPELD DO PPBIO NA RESERVA NATURAL DO RIO CACHOEIRA, PARANÁ

Juliano Seiti Alves Kubo1,*, Paulo Henrique Labiak Evangelista1 1Universidade Federal do Paraná, Departamento de Botânica, Curitiba, PR *[email protected]

Introdução da família Dryopteridaceae também apresentaram uma O termo “pteridófita” é utilizado para designar um grupo grande frequência, com as espécies Polybotria parafilético de plantas vasculares que não apresentam cylindrica, Mickelia scandens e Ctenitis distans flores, frutos ou sementes; se reproduzem por esporos e aparecendo em grande parte dos segmentos das apresentam fases gametofítica e esporofítica parcelas, assim como Danaea geniculata, da família independentes. Presente nos mais variados Marattiaceae. Na amostragem de cobertura não ecossistemas, as pteridófitas ocorrem principalmente em verificou-se a mesma quantidade de espécies que na regiões tropicais e tem sua distribuição influenciada por amostragem de ocorrência, ainda que espécies como uma série de fatores, tais como temperatura, umidade e Polybotria cylindrica e Danaea geniculata, também relevo do ambiente. No Brasil, estimativas registram a tenham apresentado grande cobertura. Além disso, presença de aproximadamente 1.200 espécies de indivíduos outrora bem representados na amostragem pteridófitas1. A Mata Atlântica, onde está inserida a área de ocorrência não apresentaram a mesma de estudo do presente projeto, é o domínio representatividade na amostragem de cobertura, caso fitogeográfico brasileiro com o maior número de de Mickelia scandens e Lindsaea lancea, por exemplo. espécies de pteridófitas, registrando 834 espécies. A Discussão pesquisa tem como objetivo realizar um inventariamento das espécies de pteridófitas ocorrentes em módulos Os resultados divergentes apresentados por cada tipo RAPELDs do PPBio na Reserva Natural do Rio de amostragem refletem as características de cada um. Cachoeira, Paraná. A amostragem de ocorrência é menos quantitativa. A amostragem de cobertura é quantitativa, mas pode Metodologia acabar não registrando espécies de pouca cobertura. A área de estudo localiza-se na Reserva Natural do Rio Espera-se que o registro do número de espécies de Cachoeira (RNRC), inserindo-se no âmbito da Área de pteridófitas na RNRC aumente com o levantamento das Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, a qual demais parcelas. Essa hipótese também é sustentada está situada no município de Antonina, litoral norte do pelo fato de que levantamentos anteriores na RNRC 2 estado do Paraná. O levantamento de pteridófitas até o registraram a ocorrência de 70 espécies de pteridófitas ; 3 momento foi realizado em duas das dez parcelas do e mais recentemente, 196 espécies de pteridófitas , com módulo RAPELD existente na RNRC, segundo protocolo esses organismos representando grande parte do total para levantamento de samambaias para módulos de espécies de plantas vasculares da região. RAPELD do PPBio, consistindo em uma amostragem de Agradecimentos ocorrência e uma amostragem de cobertura em uma faixa adjacente ao corredor central de cada parcela, Ao CNPq pela concessão de bolsa de iniciação científica localizada a montante desse corredor e com 1,5 metro ao primeiro autor, e a Sociedade de Pesquisa em Vida de largura. A identificação dos materiais foi Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), instituição exclusivamente visual e contou com o auxílio de demais mantenedora da área de estudo do presente projeto. pesquisadores. As informações foram obtidas em expedições realizadas no mês de novembro de 2014. Referências Bibliográficas Resultados [1] PRADO, J.; HIRAI, R.Y. Checklist das licófitas e samambaias do Estado de São Paulo, Brasil. Biota Os resultados preliminares indicaram a presença de 22 Neotropica, São Paulo, v. 11, n.1ª, 2011. espécies, distribuídas em 11 famílias e 18 gêneros; [2] BORGO, M. Diagnóstico da Vegetação das Reservas segundo a amostragem de ocorrência para as duas Naturais Serra do Itaqui e Rio Cachoeira. SPVS – parcelas. As famílias com maior número de Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação representantes foram Dryopteridaceae, com 6 espécies; Ambiental. Relatório técnico interno, 2004. e Cyatheaceae, com 4 espécies. Blechnaceae, [3] MATOS, F. B. Pteridófitas da Reserva Natural Rio Thelypteridaceae e Hymenophyllaceae apresentaram 2 Cachoeira, município de Antonina, Paraná, Brasil. espécies cada. Lomariopsidaceae, Marattiaceae, Monografia (Graduação em Ciências Biológicas) – Setor Lindsaeaceae, Anemiaceae, Polypodiaceae e de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, Tectariaceae apresentaram uma espécie cada. Espécies Curitiba, 2007.

74 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

DETECÇÃO DE SINAIS DE ECOLOCALIZAÇÃO DE MORCEGOS EM PARCELAS RAPELD NO PARQUE ESTADUAL DA ILHA GRANDE, RJ Luciana M. Costa1*, Enrico Bernard2, André C. Siqueira1, Maria Carlota Enrici1, Helena G. Bergallo1 ¹Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia, Departamento de Ecologia, Laboratório de Ecologia de Mamíferos, Rio de Janeiro, RJ; ² Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade, Departamento de Zoologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE; *[email protected]

parcela. Com 39 passes, a parcela L2 3.500 teve a maior Introdução atividade, e maior riqueza de sonotipos (6), ou seja, um indicativo de mais espécies. A parcela com menos O método mais utilizado para amostrar os morcegos na registros foi a L1 3.500, com apenas um passe e uma região Neotropical consiste no uso de redes de neblina1, espécie. Três parcelas (L2 3.500, L2 4.500 e L1 4.500) armadas principalmente no sub-bosque em possíveis apresentaram sinais de alimentação (feeding buzzes), rotas de voo2. Algumas espécies forrageiam em alturas que ocorreram às 19:00, 19:30, 2:00 e 04:45 horas. muito elevadas (dossel e acima dele)3, e para esses o uso convencional da rede de neblina mostra-se pouco Resultados Esperados eficaz. Várias espécies de morcegos insetívoros podem ser observadas ou detectadas em vários ambientes pelos Técnicas de monitoramento acústico são uma excelente seus sinais de ecolocalização4. Assim, outra forma para ferramenta para quantificar a atividade de morcegos acessar quais espécies estão presentes em um local é insetívoros aéreos. Os sinais de ecolocalização deverão usar detectores de ultrasom5. Um conhecimento prévio ser classificados em nível específico e para tanto serão das ecolocalizações de cada espécie ajuda na analisados quanto aos seus atributos físicos: duração em identificação dos sinais6. Os sinais vocais são uma milisegundos, frequência em kHz, e intensidade em importante forma de comunicação para os morcegos em decibéis. Um banco de sonogramas está sendo gerado e interações sociais, sendo também utilizados para seus sinais comparados com dados disponíveis em orientação e obtenção de alimento7. Os morcegos literatura para a correta identificação ao mais alto nível geralmente produzem dois tipos de sons: sinais de taxonômico. Quando a identificação específica não for ecolocalização, emitidos como frequências ultrassônicas possível, será adotada a designação de “sonotipos” para (> 20 kHz) e usados para a localização espacial e das a identificação de sinais com características únicas. Com presas; e os chamados sinais sociais para comunicação, uso de análise de função discriminante será possível alguns audíveis pelos humanos8,9. A bioacústica vem se confirmar se cada “sonotipo” pode ser de fato atribuído a definindo como uma metodologia útil e acessível para uma única espécie, permitindo a realização de análises biólogos de conservação e para os gestores de vida de abundância. A riqueza, diversidade e abundância de selvagem, mostrando-se uma ferramenta com bom passes e sinais registrados nas áreas serão comparadas potencial na ciência da conservação10. O presente estudo estatisticamente. Além disso, procuraremos responder se utilizou a gravação de sinais de ecolocalização de existe concordância entre as espécies de morcegos morcegos em 10 parcelas permanentes na Ilha Grande detectadas por ultrassom e as capturadas em rede. como uma ferramenta para acessar a riqueza, presença e atividade de diferentes espécies nestas parcelas. Agradecimentos Metodologia Á FAPERJ pela taxa de bancada para a realização do projeto (E-26/101.399/2014). Luciana M. Costa agradece O estudo está sendo realizado em 10 parcelas à CAPES pela bolsa de Pós-doutorado. Helena de Godoy permanentes localizadas no Parque Estadual da Ilha Bergallo agradece a FAPERJ (E-26/110.284/2010 e E- Grande, RJ. Até o momento apenas a época chuvosa foi 26/103.016/2011) e ao CNPq (457458/2012-7 e amostrada, entre 12/2014 e 03/2015, com uma noite de 307715/2009-4) pelas bolsas e auxílios à pesquisa. amostragem em cada parcela. As gravações dos sinais Enrico Bernard agradece ao CNPq. Ao CEADS/UERJ e de ecolocalização emitidos pelos morcegos foram INEA pela permissão para coletas e apoio concedidos. realizadas com gravadores portáteis do tipo Songmeter SM2BAT (www.wildlifeacoustics.com), registrando sinais Referências Bibliográficas emitidos pelas espécies durante o voo ou forrageio, em um esquema de 3 minutos de gravação e 12 de intervalo, [1] Kunz, T.H. & Kurta, A. 1988. Capture methods and holding durante toda a noite, começando 45 minutos antes do devices. In: Kunz, T.H. (ed). Ecological and behavioral pôr-do-sol e terminando 15 minutos depois do nascer do methods for the study of bats. Smithsonian Institution Press. sol. Cada passe (uma sequência contínua de pulsos Washington, DC. Pp 1-29. sonoros) foi considerado um registro singular. Pelo [2] Estrada, A.; Jiménez, C.; Rivera, A. & Fuentes, E. 2004. General bat activity measured with an ultrasound detector in menos um indivíduo de cada espécie capturada em rede a fragmented tropical landscape in Los Tuxtlas, Mexico. de neblina teve o seu som gravado em laboratório Animal biodiversity and conservation, 27(2): 1-9. durante 5 minutos. Todas as gravações dos sinais de [3] Rinehart, J.B. & Kunz, T.H. 2001. Preparation and deployment ecolocalização foram analisadas em laboratório por of canopy mist nets made by Avinet. Bat Reserarch News, softwares específicos (CallViewer). 42(3): 85-88. [4] Almeida, H.; Ditchifield, A. & Tokumaru, R.S. 2007. Atividade Resultados de morcegos e preferência por habitats na zona urbana da Grande Vitória, ES, Brasil. Revista Brasileira de Zoociências, Foram realizadas 10 noites de amostragens, com 9(2): 13-18. [5] Murray, K.L.; Britzke, E.R., Handley, B.M. & Robbins, L.W. aproximadamente 140 minutos de gravação em cada 1999. Surveying bat communities: a comparison between

75 mist nets and AnaBat II bat detector system. Acta Chiropterologica, 1(1): 105-112. [6] Kalko, E.K.V.; Handley, C.O. & Handley, D. 1996. Organization, diversity and long-term dynamics of a neotropical bat community. Pp. 503-553. In: Cody, M.L. & Smallwood, J.A. (eds.). Long-term studies of vertebrate communities, Academic Press, 597 p. [7] Dechmann, D.K.N. & Safi, K. 2005. Studying Communication in bats. Cognitie, Creier, Comportament / Cognition, Brain, Behavior, 9(3): 479-496. [8] Fenton, M.B. 1985. Communication in the Chiroptera. Indiana University Press, Bloomington. 161 pp. [9] Pijanowski, B.C.; Villanueva-Rivera, L.J.; Dumyahn S.L.; Farina, A.; Krause, B.L.; Napoletano, B.M.; Gage, S.H. & Pieretti, N. 2011 Soundscape Ecology: The Science of Sound in the Landscape. BioScience, 61: 203-216. [10] Laiolo, P. 2010. The emerging significance of bioacoustics in animal species conservation. Biological Conservation, 143: 1635-1645.

76 I Simpósio da Rede PPBioMata Atlântica Rio de Janeiro,10-11 de Agosto de 2015

COMPOSIÇÃO DA QUIROPTEROFAUNA DO PARQUE ESTADUAL DE DOIS IRMÃOS, PERNAMBUCO, BRASIL

Luiz Augustinho M. da Silva1,*, Albérico Queiroz S. de Souza1, 2,Allyson S. da Silva1, André D. Santos1, Ane C. M. Queiroz1, Joana D. da Costa1, Joelma S. dos S. da Silva1, Patrícia M. V. de Góz1, Rafael F. da Silva1 1 Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de Vitória, Grupo de Estudos de Morcegos do Nordeste (GEMNE), Vitória de Santo Antão, PE; 2 Programa de Pós Graduação em Saúde Humana e Meio Ambiente, Centro Acadêmico de Vitória, Universidade Federal de Pernambuco, Vitória de Santo Antão, PE; *[email protected] outubro a dezembro, caracterizando um período de Introdução deficiência hídrica12. A Mata Atlântica ao norte do rio São Francisco, mesmo Para a caracterização da comunidade de possuindo uma riqueza biológica elevada, onde são morcegos, foram feita coletas trimestrais com duração de conhecidas aproximadamente 298 espécies de quatro dias, sendo uma noite para cada sítio amostral, mamíferos, sendo 90 endêmicas1, vem sofrendo um executadas em noites de luas minguante e nova. Estas elevado processo de fragmentação2. Essas modificações estão sendo realizados em parcelas permanentes, sofridas ao longo tempo resultaram em uma paisagem distantes entre si 1 km, localizadas no interior do com poucas áreas conservadas e em virtude do elevado fragmento florestal do PEDI e estabelecidas seguindo-se o processo de antropização sofrido e da elevada diversidade método de RAPELD. Para a realização das capturas existente nesse ambiente, consideram esse bioma como foram utilizadas 11 redes de neblina (12 x 2,5 m). As um dos 34 hotspots globais3. redes estão sendo instaladas ao longo das parcelas de A Ordem Chiroptera representa o segundo grupo mais forma intercalada entre os seguimentos, podendo haver rico em espécies, superado apenas por Rodentia4. Para o restrições, onde a área é muito fechada ou com árvores Brasil e Pernambuco, atualmente, são conhecidas, caídas, nesse caso foram instaladas seguidas. Duas respectivamente, 178 e 73 espécies de morcegos5,6 e parcelas tiveram coletas por sete (7) horas a cada noite segundo Bernard et al.7 a Mata Atlântica é o bioma com (entre as 17h e 00h) e duas de 12 horas (entre 17h e 5h) melhor conhecimento sobre esse grupo e por ocuparem revisadas em intervalos de 15minutos. Os morcegos 13 uma vasta variedade de níveis tróficos, desempenham capturados foram marcados . importantes papéis ecológicos na manutenção dos Durante o processamento são utilizadas fichas de ecossistemas, sendo ótimos modelos para avaliar a campo onde são anotados os dados do processamento resposta à fragmentação e bioindicadores da qualidade do como, local da captura, marcação, espécie, sexo, peso, habitat8,9.Além do fato de serem considerados bons comprimento do antebraço, além de classe etária (jovem indicadores de integridade funcional de uma ou adulto) e condição reprodutiva, nos machos se são comunidade10. escrotados ou não, e nas fêmeas se estão Desta forma, este trabalho teve como objetivo identificar gestante,lactantes, pós- lactante. e caracterizar a comunidade de morcegos do Parque Alguns animais foram mortos, seguindo técnicas Estadual Dois Irmãos (PEDI) obtendo dados ecológicos padrão, para confirmação da espécie e posterior para elaboração de estratégias conservacionistas na área deposição em coleção científica. Os espécimes foram 14,15,16,17 do Parque. identificados a partir dos trabalhos de . Os espécimes capturados serão depositados na coleção de Metodologia mamíferos da UFPE, para montagem de uma coleção referência para área de estudo. O trabalho foi realizado no Parque Estadual de Dois Irmãos (PEDI), que possui uma área total de 1.158 Resultados ha, sendo considerado um dos maiores fragmentos urbano de Floresta Atlântica nesta região, situando-se no Foram capturados 1.180 indivíduos, cinco recapturas, Noroeste do município do Recife, paralelo à rodovia BR- pertencentes a três famílias, 15 gêneros e 21 espécies. 101 Norte, km 6911. Está inserido na Bacia Hidrográfica do Com relação ao número de capturas a família Rio Capibaribe, suas águas formam a Micro bacia do Phyllostomidae foi a mais abundante, correspondendo a Prata e do Beberibe e possui vegetação classificada como 99,52% (N=1.178), enquanto que as famílias Floresta Ombrófila Densa, que se encontra em estágio de Emballonuridae e Vespertilionidae apresentaram um e sucessão secundária. Apresenta clima quente, com dois indivíduos capturados, respectivamente, e apenas temperatura mínima de 18ºC e úmido comandado por uma espécie para cada. ventos alísios de SE-E e com regimes de chuvas situando- A espécie mais abundante foi Artibeus planirostris (Spix, se no período de outono-inverno, com precipitações 1823) 32,6% (n=385) seguida de, Carollia perspicillata máximas médias mensais em junho e julho, e uma (Linnaeus, 1758) 28,3% (n=335), Phyllostomus discolor estação seca no mês de janeiro, e no período que vai de (Wagner 1843) que apresentou 26,17% (n=180) e Artibeus lituratus (Plfers, 1818) 13,25% (n=117) do total de

77 capturas. Cinco espécies ocorreram entre dez e 50 Implications for conservation. Biological Conservation 142: 1141-1153. capturas e as demais em menos de dez. [3] Mittermeier, R.A.; Gil, P.R.; Hoffmann, M.; Pilgrim, J.; Brooks, A riqueza foi semelhante entre as parcelas, mas a T.; Mittermeier, C.G.; Lamourex, J. & Fonseca, G.A.B. 2005. composição foi distinta. Algumas espécies como Hotspots revisados: as regiões biologicalmente mais ricas e Chiroderma villossum, Desmodus rotundus, Micronycteris ameaçadas do planeta. Conservação Internacional, Brasil. sp1, Saccopteryx leptura apareceram em uma única [4] Simmons, N.B. 2005. Order Chiroptera. In: Wilson, D.E. & parcela. A espécie mais abundante nas parcelas foi A. Reeder, D.M. (Eds.). Mammal species of the world: a planirrostris seguida por C. perspicillata e P. discolor com taxonomic and geografic reference. 3rd ed. Baltimore: The capturas em todas. Johns Hopkins University Press. p.312-529. Com relação a dieta, nas amostras de fezes, foram [5] Nogueira, M.R; Lima, I.P.; Moratelli, R.; Valéria, C.T.; Gregorin R.; Peracchi, A.L. Checklist of Brazilian bats, with comments registradas mais de 20 espécies de plantas cujos frutos – Cecropia Piper on originalrecords. Check List 10(4): 808 821, 2014. são consumidos por morcegos (ex de spp; [6] Garcia, A.C.L.; Leal, E.S.B.; Rohde, C.; Carvalho-Neto, F.G.; spp; Ficus spp; Solanum spp entre outros) além de Montes, M.A. The bats of northeastern Brazil: a panorama. polens, este ultimo Predominado Parkya pendula. Animal Biology, v. 64, p.141-150. 2014. Informações relacionadas a padrões de atividade horária, [7] Bernard, E.; Aguiar, L.M.S.; Machado, R.B. Discovering the reprodução, seleção de micro-habitat e interação com a brazilian bat fauna: a task for two centuries? Mammal comunidade ainda estão sendo avaliadas. Alguns Review, v. 41, n 1, p. 23-39. 2011. trabalhos parciais foram apresentados no EBEQ 2015. [8] Meyer, C.F.J.; Kalko, E.K.V. 2008. Assemblage-level responses of phyllostomid bats to tropical Discussão forestfragmentation: Land-bridge islands as a model system. Journal of Biogeography. Das 21 espécies capturadas, 17 já possuem [9] Jones, G., Jacobs, D. S., Kunz, T. H., Willig, M. R. & Racey, P. registro para o Parque Estadual Dois Irmãos18, havendo A. 2009. Carpe noctem: the importance of bats as assim o acréscimo de duas novas ocorrências bioindicators. Endangered Species Research, 8: 93 – 115 Phyllostomus elongatus (E. Geoffroy, 1810) e Tonatia [10] Medellín, R.A.; M. Equihua& M.A. Amin. 2000. Bat saurophila diversity and abundance as indicators of disturbance in (Koopman & Williams, 1951). Revisando listas Neotropical rainforests. Conservation Biology 14 (6): 1666- anteriores é possível citar ainda para o PEDI as espécies 1675. Rhynchonycteris naso (Wied-Neuwied, 1820), Noctilio [11] Weber, A.; Rezende, S.M. Reserva Ecológica e Parque de leporinus (Linnaeus, 1758), Lophostoma brasiliensis Dois Irmãos: Histórico e Situação Atual. In: Machado, I.C.; (Peters, 1866), Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767), Lopes, A.V.; Porto, K.C. (orgs.). Reserva Ecológica de Dois Eptesicus furinalis (D'Orbigny e Gervais,1847)e Promops Irmãos: Estudos de um remanescente de Mata Atlântica em nasutus (Spix, 1823). Molossus molossus(Pallas, 1766) e Área Urbana. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1998. Cynomops planirostris (Peters, 1866) foram capturadas no [12] Coutinho, R. Q.; Lima-Filho, M.F.; Souza-Neto, J.B. & Silva, campus da UFRPE, área localizada próxima ao PEDI e E.P. Características climáticas,geológicas, geomorfológicas que podem utilizar o Parque18. Com esses registros temos e geotécnicas da Reserva Ecológica de Dois Irmãos. In: MACHADO, I.C.;LOPES, A V.; PORTO, K C. Reserva um total de 28 espécies para a área. Provavelmente os Ecológica de Dois Irmãos: estudos em um remanescente de espécimes de Micronycteris (sp1 e sp2), ainda não MataAtlântica em área urbana (Recife-PE, Brasil). Recife: identificados, serão novos registros para a área, com base Ed. da UFPE, 1998. em características morfológicas verificadas nos [13] Esberard, C.; Daemon, C.1999. Novo método para marcação 15,19 indivíduos , que os distinguem de Micronycteris de morcegos. Chiroptera Neotropical, Brasília, 5(1-2): 116- megalotis (Gray, 1842) única espécie do gênero 117. identificada na área.As capturas no interior de mata [14] Vizotto, L.D; Taddei, V.A.1973. Chave de identificação de diversificam em muito a amostragem. quirópteros brasileiros. Bol de Cien.,Fac de Filos. Cien e O elevado número de P. discolor capturado, Letras1: 1 – 72. principalmente durante o mês de outubro/2014, pode ser [15] Simmons, N.B. & Voss, R.S. 1998.The mammals of Paracou, French Guiana: a Neotropical lowlandsrainforest fauna. justificado por ter o período de coletas coincidido com o Parkia pendula Part1: Bats. Bulletin of the American Museum of Natural período de floração da (Willd.), espécie History 237: 1-219. vegetal que está presente em todos os sítios amostrais. O [16] Bianconi, G.V. & Pedro, W.A. 2007. Vespertilionidae. P. 167- uso de P. pendula como recurso alimentar de morcegos já 20 195. In: Reis, N.R.; Peracchi, A.L.; Pedro, W.A. & Lima, I.P. é conhecido , e esta espécie é amplamente utilizada por Morcegos do Brasil. Londrina: Universidade Estadual de P. discolor. Sendo este um de seus polinizadores (Baker, Londrina. 1957; Hopkins, 1984). Esta afirmação se justifica pelo fato [17] Vicente, E.C.; Jim, J.; Taddei, A.V. Características de um grande número de indivíduos de P. discolor morfológicas externas distintas de Myotisalbescens, M. capturados estarem com o corpo coberto de pólen desta nigricans, M. simus e M. riparius (Chiroptera, planta ou este era encontrado em suas fezes (N= 58). Vespertilionidae) Ensaios e ci. Campo Grande. V.9. n. 2, p. 293-304. 2005. [18] Silva e Freitas, 2015.Mastofauna Alada do Parque Estadual Agradecimentos de Dois Irmãos. In. Rodrigues et al. (Orgs) Plano de Manejo À Capes pela concessão da bolsa ao segundo autor; A - Parque Estadual de Dois Irmãos. 2014 Gestão do PEDI pelas facilidades na logística. A [19] Moras, L.M.; Milagres G.; Valéria C.T. Distribution and comunidade do entrono pelo acolhimento durante a taxonomy of the common big-earedbatMicronycterismicrotis aplicação dos questionário. (Chiroptera:Phyllostomidae) in South America. [20] FABIÁN, M. E.; RUI, A. M.; WAECHTER, J. L. Plantas Referências Bibliográficas utilizadas como alimento por morcegos (Chiroptera, Phyllostomidade), no Brasil. In: REIS, N. R.; PERACCHI, A. [1] Paglia, A.P.; Fonseca, G.A.B.; Rylands, A. B.; Herrmann, G.; L.; SANTOS, G. A. S. D. (Ed.). Ecologia de morcegos. Aguiar, L. M. S.; Chiarello, A. G.; Leite, Y. L. R.; Costa, L. Londrina: Technical Books, 2008. p. 51-70 P.; Siciliano, S; Kierulff, M. C. M.; Mendes, S. L.; Tavares, . V. da C.; Mittermeier, R. A. &Patton J. L. 2012. Lista [21] Baker, H. G.; Harris, B. J. The Pollination of Parkia by Bats Anotada dos Mamíferos do Brasil / AnnotatedChecklist of and Its AttendantEvolutionaryProblems. Evolution, Vol. 11, Brazilian Mammals. 2ª Edição / 2nd Edition. No. 4 (Dec. 1957), pp. 449-460. OccasionalPapers in Conservation Biology, No. 6. [22] Hopkins, H. C.Floral Biology and PollinationEcology of the Conservation International, Arlington, VA. 76pp. Neotropical Species of Parkia. Journal of Ecology, Vol. 72, 2] Ribeiro, M.C.; Metzger J.P.; Martensen A.C.; Ponzoni F.J. No. 1 (Mar., 1984), pp. 1-23. &Hirota M. M. 2009. The Brazilian Atlantic Forest: Howmuch is left, and how is the remaining Forest distributed?

78 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

DIVERSIDADE DE , CORETHRELLIDAE E THAUMALEIDAE (INSECTA: DIPTERA: CULICOMORPHA) DA REGIÃO SERRANA DE SANTA CATARINA: AVANÇOS E PERSPECTIVAS

Luiz Carlos de Pinho1,*, Trond Andersen2, Humberto Fonseca Mendes3, André Pereira do Amaral1, André Geremia Parise1 1 Universidade Federal de Santa Catarina, Lab. de Diversidade de Insetos Aquáticos, Florianópolis, SC; 2Universidade de Bergen, Bergen, Noruega; 3 Universidade Federal de Alfenas, Alfenas, MG; *[email protected] Foram encontradas até o momento cinco espécies de Introdução Corethrellidae na região, previamente registradas até o Lacunas sobre o conhecimento taxonômico das espécies sudeste brasileiro, com exceção de Corethrella inca, do de diferentes grupos de insetos aquáticos do Brasil tem Peru. sido evidenciadas nos últimos anos. O conhecimento Com relação à Thaumaleidae, larvas, pupas e fêmeas sobre a diversidade de espécies de insetos aquáticos na adultas de uma nova espécie, provavelmente pertencente Mata Atlântica, por exemplo, é ainda pobre, exceto pelo ao gênero Niphta foram coletadas em dois pontos (Serra estado de São Paulo e região por conta da maior do Corvo Branco e Módulo 1 PPBio) da região. Este será concentração de especialistas. o primeiro registro da família para o Brasil, sendo que Chironomidae é uma das famílias megadiversas de previamente era relatada para áreas andinas, no Chile e Diptera. Suas larvas habitam diversos ambientes, desde Argentina. o semiterrestre até o aquático. Atualmente 523 espécies O módulo 2 do PARNA São Joaquim, no Morro da Igreja são relatadas para o Brasil. (Urubici), ainda não foi amostrado. As fêmeas de Corethrellidae são hematófagas, picando Discussão exclusivamente anfíbios anuros, sendo atraídas por ondas sonoras das vocalizações de seus hospedeiros. Ao Apesar de poucos pontos terem sido amostrados até o realizar o repasto sanguíneo, estes dípteros podem agir momento, a região serrana, em especial o PARNA São como vetores de Trypanosoma entre os anfíbios. Apenas Joaquim, tem revelado vários táxons novos de dípteros três espécies são registradas para o sul do Brasil aquáticos. A continuação das pesquisas nas parcelas As larvas da família Thaumaleidae habitam ambientes ripárias dos módulos RAPELD, no contexto do Programa higropétricos em áreas subtropicais. Na região de Pesquisa em Biodiversidade, deverá contribuir muito, neotropical são registradas apenas sete espécies, para não somente na taxonomia alfa que até agora tem sido Chile e Argentina, pertencentes aos gêneros Niphta, empregada, mas no desdobramento de novas pesquisas, Oterere e Austrothaumalea. envolvendo interação entre parasitos e hospedeiros (ex. Até 2004 nenhuma espécie de Chironomidae, interação entre Corethrella e anuros), biogeografia Corethrellidae ou Thaumaleidae havia sido relatada para histórica (ex. relações circum-antárticas de Thaumaleidae o sul do Brasil e relação da espécie brasileira com outras da família) e estudos ecológicos de qualquer natureza. Metodologia Agradecimentos Dípteros aquáticos tem sido amostrados desde 2004 na região serrana de Santa Catarina, nos parques de São Esta pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Joaquim e da Serra Furada e arredores, abrangendo os Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina municípios de Orleans, Grão-Pará e Urubici. Os métodos (FAPESC), através do projeto "Insetos aquáticos do de coleta empregados foram armadilhas luminosas, Parque Estadual da Serra Furada, SC" (FAPESC armadilhas sonoras, Malaise e busca ativa de larvas. 11323/2012–9) e Programa de Pesquisa em Biodiversidade, Mata Atlântica (MCTI/CNPq 457841/2012- Resultados 9). Nos últimos onze anos 18 espécies de Chironomidae Referências Bibliográficas foram registradas para a região serrana de Santa Catarina, sobretudo em apenas um ponto no Morro da [1] Mendes, H.F., Andersen, T. & Pinho, L.C. 2007. Taxonomic research on Brazilian Orthocladiinae (Diptera: Igreja (PARNA São Joaquim), sendo que 16 destas eram Chironomidae) during the last decade. Entomología desconhecidas pela Ciência. Gêneros novos, como Mexicana, 6(2), 1173–1177. Miambera Andersen & Mendes, 2012, Saetherocryptus [2] Pinho, L.C. & Andersen, T. 2015. Limnophyes guarani sp. n., Saetherocladius a new hygropetric Orthocladiinae from southern Brazil Andersen & Mendes, 2007 e Andersen & (Diptera: Chironomidae). Zootaxa 3948 (1): 137–144. Mendes, 2007 foram descritos com base nestas coletas. [3] Amaral, A.P. & Pinho, L.C. 2015. New species and records of Três outros novos gêneros e cinco novas espécies do frog-biting midges from southern Brazil (Diptera: Corethrellidae) Zootaxa 3946 (2): 274–284. Morro da Igreja e PE Serra Furada estão em fase adiantada de descrição e publicação. Larvas e pupas são desconhecidas para a maioria destas espécies.

79 I Simpósio da Rede PPBioMata Atlântica Rio de Janeiro,10-11 de Agosto de 2015

LEVANTAMENTO DE AVES FLORESTAIS NA ILHA GRANDE, RJ

Maria Alice S. Alves1,*, Maurício B. Vecchi1, Jimi Martins-Silva2, Luis Martín Vallejos Bardales2, Rafael Saint Clair2, Edvandro de Abreu Ribeiro2, Caio C.C. Missagia2, Christiano Pinheiro da Silva3, Luciene Saar Gallindo4, Fabio M. Patiu5, Gabriel da Silva Santos2 1Departamento de Ecologia, IBRAG, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ; 2Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, IBRAG, UERJ. 3Bolsista TCT-5 FAPERJ do Lab. Ecologia de Aves da UERJ. 4Graduada em Ciências Biológicas. 5Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Macaé. *[email protected]

Introdução As aves foram capturadas com 10 redes ornitológicas (12x2,5 m, malha 36mm), expostas por 7h consecutivas a Por abrangerem um grupo rico em espécies, com partir do amanhecer. Ao serem capturadas, as aves foram taxonomia bem conhecida e de amostragem acondicionadas individualmente em sacos de algodão relativamente fácil, estudos de levantamento e limpos, identificadas em nível de espécie utilizando guias monitoramento da avifauna são frequentemente usados de campo e em seguida processadas e marcadas para avaliar a qualidade de hábitats, bem como mensurar individualmente com anilhas metálicas cedidas pelo impactos em diferentes níveis. CEMAVE/ICMBio (Autorização CEMAVE n.1237, SISBIO O uso de redes de neblina é amplamente difundido como 14210 e INEA 051/2011). importante técnica para monitoramento de aves, incluindo 1 As parcelas foram comparadas entre si por meio de estudos demográficos e de abundância relativa . análise de Escalonamento Multidimensional Não-Métrico Entretanto, como as capturas limitam a detectabilidade e (NMDS) e agrupamentos utilizando o índice de Jaccard6. amostragem da avifauna efetivamente presente nas áreas estudadas, sua amostragem é otimizada quando Resultados conjugada com métodos que envolvem pontos de escuta, especialmente em florestas tropicais2, como é o caso da Foram registradas 86 espécies de 35 famílias distribuídas Mata Atlântica3. O presente estudo é vinculado ao PPBio em cinco ordens. Foram capturadas 47 espécies, sendo Mata Atlântica/Ilha Grande, que visa integrar o seis registradas exclusivamente por esse método. conhecimento da biodiversidade de fauna e flora. A As espécies mais frequentemente capturadas foram amostragem de avifauna tem sido realizada pela equipe Turdus albicollis (n=126), Lanio melanops (n=105) e do Lab. de Ecologia de Aves, do Depto. de Ecologia da Dendrocincla turdina (n=83). A família com mais espécies Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), capturadas foi Thraupidae (n=155) seguida por Turdidae e coordenado pela Profa. Dra. Maria Alice S. Alves. Dendrocolaptidae (n=155 cada) e Thamnophilidae (n=112).Sclerurus scansor (Scleruridae), Xiphorhynchus Metodologia fuscus (Dendrocolaptidae),Chiroxiphia caudata (Pipridae) e Conopophaga melanops (Conopophagidae) são Foram utilizados os métodos de captura-marcação- 7 4 5 espécies endêmicas da Mata Atlântica e foram recaptura e pontos fixos no período dejunho de 2013 até capturadas em todas as parcelas, assim como Turdus o presente. O esforço amostral totalizou 3.010 horas/rede albicollis (Turdidae), considerada migrante altitudinal8. e 21,3 horas de amostragem por ponto fixo, em cinco Considerando apenas o método decaptura, a parcela L2- campanhas em cada uma das 10 parcelas do módulo 0500 apresentou a maior riqueza de espécies (n=25), leste do RAPELD, instalado na Ilha Grande (Figura 1) seguida por L2-4500 (n=24) e L2-1500, L2-3500 eL1-4500 contemplando os períodos mais chuvoso e menos (n=23 cada). chuvoso. As amostragens de 2013 foram realizadas em Nas amostragens de pontos fixos foram detectadas 80 apenas seis parcelas, durante dois dias consecutivos por espécies, sendo 39 exclusivas. As parcelas com maior parcela a cada seis meses. A partir de 2014 até o riqueza de espécies foram L1-1500 (n=43), L1-3500 e L2- presente, foram realizadas amostragens com duração de 1500 (n=39), L2-4500 (n=37). Entretanto, em todas as um dia por parcela em 10 parcelas em intervalos de três parcelas a riqueza de espécies foi maior quando meses. considerados os dois métodos conjuntamente (Figura 2).

Figura 2.Riqueza de espécies de aves amostradas por meio de capturas e pontos fixos nas 10 parcelas estudadas. Figura 1. Mapa do módulo leste RAPELD-Ilha Grande.

80 As parcelas L1-2500, L2-0500 e L2-3500 apresentaram o Futuros estudos integrados de dados bióticos e abióticos maior número (n=5) de registros exclusivos para as obtidos no RAPELD/Ilha Grande poderão indicar parcelas. possíveis fatores associados à dissimilaridade da Conforme os resultados da análise de ordenamento por composição de aves de determinadas parcelas. NMDS, utilizando o índice de Jaccard, percebe-se uma agregação entre as parcelas L1-0500, L1-1500, L1-4500, Agradecimentos L2-1500, L2-2500 e L2-4500, enquanto que as demais Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e parcelas parecem não estar agrupadas (Figura 3). Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Produtividade em Pesquisa, assim como à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) pelo apoio financeiro para M.A.S. Alves pelo auxílio de Cientista do Nosso Estado para MASA (processos 305.798/2014-6 e E-26/102.837/2012, respectivamente). À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelas bolsas de estudo concedidas aos autores CCCM, EAR, FMP, GSS. Ao Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS-UERJ) e ao Instituto Estadual do Figura 3. Escalonamento Multidimensional Não-Métrico (NMDS) da Ambiente (INEA) pelo auxílio logístico. composição de espécies de aves registradas por meio de capturas e pontos fixos nas 10 parcelas estudadas. Referências Bibliográficas

Discussão [1] Dunn, E. H. & Ralph, C. J. 2004. Use of mist nets as a tool for A amostragem por pontos fixos foi mais efetiva em termos bird population monitoring. Studies in avian biology 29: 1-6 de detecção de espécies, permitindo a detecção de 93% [2] Blake, J. G. & Loiselle, B. A. 2001. Bird assemblages in do total de espécies da avifauna registrada, onde 45% second-growth and old-growth forests, Costa Rica: desta foi detectada exclusivamente por este método. perspectives from mist nets and point counts. Auk 118: A dissimilaridade entre as espécies registradas nas 304–326. parcelas pode ser decorrenteda diferença entre a [3] Cavarzere, V.; Alves, F.; Machado, É.; Rego, M. A.; Silveira, L. composição de espécies exclusivas de cada parcela. As F.; Costa, M. M. & Calonge-Méndez, A. 2013. Evaluation of parcelas L1-2500 e L1-3500 ambas localizadas próximo a methodological protocols using point counts and mist nets: topo de morro e com pouca perturbação antrópica.Outras a case study in southeastern Brazil. Papéis Avulsos de duas parcelas que apresentaram alta dissimilaridade Zoologia (São Paulo) 53(26): 345-357. foram L2-3500 e L2-0500. Essas duas parcelas parecem [4] Bibby C.J.; Burgess, N. D.; Hill, D.A. & Mustoe S. 2000. Birds ser mais heterogêneas em que as duas primeiras, por census techniques.2nd edn.London: Academic Press exemplo, a parcela L2-3500 localiza-se próximo à estrada, [5] Hutto, R.L.; Pletschet, S.M. & Hendricks P.P. 1986. A fixed- que liga Vila Dois Rios à Vila do Abrahão,ocasionando radius pointcount method for nonbreeding and breeding uma maior proximidade da borda com a parcela estudada, season use.The Auk 103: 593-602. além da presença de espécie de bambu exótico na área [6]Gotelli, N.J. & Ellison, A.M. 2011. Principios de Estatística em de entorno. Enquanto a parcela L2-0500 está inserida Ecologia. Artmed. próxima a um rio e circundada por um vale, o que [7] Bencke, G.A.; Maurício, G.N.; Develey, P.F. & Goerck, J.M. provavelmente irá influenciar nas espécies capturadas 2006. Áreas Importantes para a Conservação das Aves no nesta parcela. O desenho amostral do RAPELD/Ilha Brasil, Parte I – Estados do Domínio da Mata Atlântica. Grande parece estar sendo efetivo para amostrar a SAVE Brasil, São Paulo. diversidade de espécies de aves na área de estudo, pois [8] Collar, N. J. 2005. Family Turdidae (thrushes), p. 514-807. In: considera a alta heterogeneidade ambiental J.delHoyo, A. Elliot & J. Sargatal (Eds.). Handbook of the possivelmente provocada pelo gradiente altitudinal, birds of the world. Vol. 10. Cuckoo-shrikes to thrushes. relação entre face continental e oceânica, grau de Barcelona: Lynx Edicions. perturbação antrópica e histórico de regeneração9. Apesar [9] Ribeiro, G.P; Bergallo, H.G.; Santos, A.W.; Lopes, R.S. & de preliminares, as amostragens até o presente Parma, R.G. 2012. Mapeamento digital na Ilha Grande em permitiram acrescentar mais duas espécies (uma apoio a inventários rápidos RAPELD (Componente PELD- capturada e uma detectada por ponto fixo) à lista de 222 pesquisas ecológicas de longa duração). In: Anais do IV espécies registradas na Ilha Grande10. Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias Embora o método de pontos fixos tenha se mostrado mais da Geoinformação. efetivo na detecção de espécies da avifauna, é importante [10] Alves, M.A.S. & Vecchi, M.B. 2009.Birds, Ilha Grande, state conjugar esse método com o de captura. O uso de redes of Rio de Janeiro, Southeastern Brazil. Check List 5: 300– ornitológicas, além de complementar a amostragem das 313. espécies, permite obter dados autoecológicos e de interações de aves com outras espécies da flora e fauna (por exemplo dieta, reprodução, parasitismo e dispersão).

81 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

MYRTACEAE NAS ÁREAS ALTOMONTANAS DO PARQUE NACIONAL DE SÃO JOAQUIM (SANTA CATARINA)

Mariana de Andrade Wagner1; Pedro Fiaschi1

1Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Botânica, Laboratório de Sistemática de Plantas Vasculares, Florianópolis, SC [email protected] diferenciar espécies semelhantes. Está sendo produzida Introdução uma lista com os materiais examinados. A Mata Atlântica é considerada um ‘hotspot’ mundial de Resultados biodiversidade1. É constituída por um gradiente contínuo de distribuição de espécies desde a floresta ombrófila da Durante cinco viagens de campo ao Parna de São costa até as florestas estacionais do interior2. No Sul do Joaquim foram coletados 87 espécimes de Myrtaceae. Brasil, extensas áreas de Matas com Araucária (floresta Foram encontradas até o momento 13 espécies, uma das ombrófila mista) separam a floresta ombrófila densa da quais está representada por duas variedades, totalizando costa e a floresta estacional decidual a oeste2. O Parque 14 táxons dentro de cinco gêneros: Myrceugenia (8 spp.), Nacional de São Joaquim foi criado em 1961 com o intuito Myrcia (2 spp.), Acca sellowiana, Myrrhinium de conservar as Matas com Araucária3. Em muitos atropurpureum e Siphoneugena reitzii. As espécies foram trabalhos abordando a composição florística da Mata descritas, suas distribuições geográficas foram incluídas, Atlântica, Myrtaceae aparece como uma das famílias e os espécimes estudados para cada descrição foram arbóreas mais ricas4, 5, 6. No Brasil existem 1034 espécies listados. de Myrtaceae, distribuídas em 23 gêneros7. Existem duas fisionomias florestais ombrófilas altomontanas diferentes Myrtaceae nas áreas altomontanas no Parna de São Joaquim no Parna São Joaquim, as Matas com Araucária e as gêneros espécies 8 Matas Nebulares . Áreas altomontanas de Matas com Acca O. Berg Acca sellowiana (O. Berg) Burret Araucária são caracterizadas por possuírem composição Myrceugenia O. Myrceugenia alpigena var. rufa (O. Berg) L.R. florística distinta daquelas de áreas mais baixas, com Berg Landrum temperaturas médias mais altas situadas na bacia do rio Myrceugenia bracteosa (DC.) D. Legrand & Paraná, e de outras áreas situadas na bacia do rio Kausel Paraná e alto rio Uruguai e bacias menores que drenam Myrceugenia euosma (O. Berg) D. Legrand direto para o Atlântico, nas regiões de Lages e Campos Myrceugenia glaucescens (Cambess.) D. 5 Novos. O objetivo deste trabalho foi intensificar os Legrand & Kausel esforços de coleta de Myrtaceae na região altomontana do Myrceugenia miersiana (Gardner) D. Legrand Parna de São Joaquim, especialmente nas Matas & Kausel Nebulares e Matas com Araucária, e desenvolver um Myrceugenia myrcioides var. acrophylla tratamento taxonômico das espécies encontradas. (O.Berg) Legrand Metodologia Myrceugenia myrcioides var. myrcioides (Cambess) O. Berg Foram coletadas amostras férteis e vegetativas de Myrceugenia oxysepala (Burret) D. Legrand & Myrtaceae no Parna de São Joaquim nas áreas acima de Kausel 1000 m de altitude. Foi usado GPS para registrar o local Myrceugenia pilotantha (Kiaersk.) L.R. de ocorrência dos espécimes. As coletas aconteceram Landrum entre setembro de 2014 e fevereiro de 2015. Folhas, flores Myrcia DC. Myrcia hartwegiana (O. Berg) Kiaersk. e frutos foram preservados em etanol 70 % para análise Myrcia richardiana (O. Berg) Kiaersk. morfológica. Os materiais coletados foram herborizados e Myrrhinium Myrrhinium atropurpureum Schott serão incluídos no herbário FLOR, e as duplicatas Schott enviadas para os herbários ICN, K, MBM, RB, SPF, UPCB. Siphoneugena Siphoneugena reitzii D. Legrand O tratamento taxonômico foi desempenhado com O. Berg identificação dos espécimes a partir de literatura especializada9, 10, 11, 12, 13. A terminologia adotada na descrição das espécies segue Radford et al. (1976)14 e Discussão 15 Harris & Harris (2009) . Para as descrições foram usados 16 materiais depositados no herbário FLOR. As estruturas Falkenberg (2003) fez um levantamento florístico das reprodutivas de materiais previamente herborizados foram Matas Nebulares na região dos Aparados da Serra, reidratadas previamente à análise. Foram produzidas incluindo a região do Morro da Igreja dentro do Parna de descrições e comentários acerca da distribuição São Joaquim, onde encontrou quatro gêneros de Eugenia Myrceugenia geográfica, aspectos ecológicos das espécies e como Myrtaceae: L. (2 spp.), (9 spp.),

82 Myrrhinium atropurpureum e Siphoneugena reitzii. No Parque Nacional de São Joaquim, SC. Revista Discente Expressões Geográficas 3: 121-141. presente trabalho não foi registrada ocorrência de [4] Falkenberg, D. & Voltolini, J. C. 1995. The Montane Cloud espécies de Eugenia, porém Falkenberg registrou duas: Forest in Southern Brazil. In: Hamilton, L. S. Juvik, J. O. & Eugenia handroi (Mattos) Mattos e Eugenia uruguayensis Scaten, F. N. (eds.). Tropical Montane Cloud Forests. Ecological Studies v.110. Springer Verlag, New York. Pp. Cambess. Falkenberg também registrou a ocorrência das 407. seguintes espécies de Myrceugenia: M. acutiflora [5] Higuchi, P.: et al., 2012. Floristic composition and (Kiaersk.) D. Legrand & Kausel e M. cucullata D. Legrand, phytogeography of the tree component of Araucária Forest Fragments in Southern Brazil. Brazilian Journal of Botany 34 as quais não foram registradas no presente trabalho. 17 (2): 145-157. Vieira (2008) desenvolveu levantamento florístico de [6] Koehler, A.; et al. 2002. Floresta Ombrófila Densa Alto- espécies de Myrtaceae na região do Alto Quiriri, no Montana: aspectos florísticos e estruturais de diferentes trechos da Serra do Mar, PR. Ciência Florestal, Santa Maria município de Garuva, em SC. Nesta região foram 12(2): 27-39. encontradas sete espécies e duas variedades de [7] Sobral, M.; et al. Myrtaceae. In: Lista de Espécies da Flora do Myrceugenia, quatro destas não foram encontradas no Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: Myrceugenia alpigena . Parna de São Joaquim. Quanto a , Acesso em: 02 Jun. 2015. no Parna de São Joaquim foi registrada M. alpigena var. [8] IBGE 2012. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Série rufa, enquanto no Alto Quiriri foram registradas M. Manuais Técnicos em Geociências número 1, 2 ed. Instituto alpigena alpigena M. alpigena Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rio de Janeiro. var. (DC.) L.R. Landrum e [9] Landrum, L. R. 1981. A monograph of the Genus Myrceugenia var. fulignea (O. Berg) L.R. Landrum. M. alpigena var. rufa (Myrtaceae). Flora Neotropica 29: 1-135. é um dos principais elementos das Matas com Araucária, [10] Landrum, L. R. 1986. Campomanesia, Pimenta, Blepharocalyx, Legrandia, Acca, Myrrhinium Luma e pode ter uma função pioneira na expansão da floresta, , 9 (Myrtaceae). Flora Neotropica 45: 1-178. pois comumente cresce nas bordas . M. alpigena var. [11] Landrum, L. R. & Kawasaki, M. 1997. The genera of alpigena ocorre geralmente em elevações acima de 1200 Myrtaceae in Brazil: an illustrated synoptic treatment and m e necessita de hábitat frio e úmido para desenvolver- identification keys. Brittonia 49(4): 508-536. 9 [12] Legrand & Klein, 1967, 1969a, 1969b, 1970, 1971a, 1971b, se . Foram encontradas sete espécies de Myrcia no Alto 1972, 1977, 1978. Myrtaceae In: Reitz, R. (Org.) Flora Quiriri, cinco a mais que no Parna de São Joaquim. Ilustrada Catarinense Itajaí. Siphoneugena reitzii também foi encontrada no Alto [13] Sobral, M. & Jarenkow, J. A. (Org.) 2013. Flora arbórea e arborescente do Rio Grande do Sul. 2ed. RiMa, São Carlos, Quiriri. Gêneros de Myrtaceae não encontrados no Parna SP. Pp. 362. de São Joaquim que foram registrados no Alto Quiriri [14] Radford, A. E. et al., 1976. Vascular Plants Systematics. foram: Eugenia (4 spp.), Psidium L. (2 spp.), Bepharocalyx Harper & Row, New York. [15] Harris, J. G. & Harris, M. W. 2009. Plant Identification O. Berg, Calyptrantes Sw., Myrciaria, Pimenta Lindl. e Terminology: An Illustrated Glossary. 2nd ed. Spring Lake Plinia L. (estes cinco últimos com apenas uma espécie Publishing, P. O. Payson, UT. cada). Algumas espécies de Myrtaceae encontradas no [16] Falkenberg, D. 2003. Matinhas nebulares e vegetação rupícula dos Aparados da Serra Geral (SC/RS), sul do Parna de São Joaquim são muito similares, dificultando Brasil. Pp. 558 Tese (Doutorado em Biologia Vegetal) - distingui-las em campo. Duas espécies de Myrceugenia Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, são muito próximas e podem ser separadas atentando-se Caminas, SP. [17] Vieira, F. C. S. 2010. Myrtaceae Juss. no Alto Quiriri, Garuva, para algumas características. Myrceugenia oxysepala e M. Santa Catarina, Brasil. Dissertação de Mestrado. euosma frequentemente ocorrem juntas e podem ser Universidade de São Paulo. confundidas entre si. É possível diferenciar M. oxysepala de M. euosma pelas folhas maiores (2,1-3,4 x 0,8-1,8 cm versus 1,3-2 x 0,4-0,6 cm em M. euosma), obovadas a elípticas com ápice arredondado (raramente agudo) em M. oxysepala (vs estreitamente elíptica com ápice de acuminado à agudo). As bractéolas e sépalas são iguais em M. oxysepala, mas diferem entre si em M. euosma. Em M. oxysepala são lanceoladas à triangulares (vs. bractéolas lanceoladas a ovadas e carenadas e sépalas triangulares). Bractéolas e sépalas de 4 a 7 mm comp. em M. oxysepala (vs. c. 2 mm comp.). As flores parecem sésseis em M. oxysepala (pedúnculo 1-2 mm comp. vs. 5 a 13 mm). Agradecimentos À Capes pela concessão da bolsa ao primeiro autor. Referências Bibliográficas [1] Mittermeier R. A.; et al. 2005. A brief history of biodiveristy conservation in Brazil. Conservation Biology 19: 601-607. [2] Oliveira-Filho, A.; Fontes, M. 2000. Patterns of Floristic Differentiation among Atlantic Forests in Southeastern Brazil and the Influence of Climate. Biotropica 32 (4b): 793-810. [3] Alarcon, G. G. & Silva, E. H. 2007. Mapeamento e caracterização da cobertura vegetal e uso do solo do

83 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

MAMÍFEROS TERRESTRES DE UM FRAGMENTO FLORESTAL URBANO DE FLORESTA ATLÂNTICA DA CIDADE DO RECIFE, PERNAMBUCO.

Marina Falcão Rodrigues1,*, Flávio da Silva Sobreira2, Anna Claúdia Aca Ferreira3, Tatiane França Melo 3, Luis Marcos da Silva Júnior1, Abraão Ricardo Tenório Gomes 1, Martín Alejandro Montes 1, Maria Adélia B. de Oliveira2 1Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia, Recife-PE. 2,Universidade Federal Rural de Pernambuco, Laboratório de Ecofisiologia e Comportamento Animal, Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Recife-PE. 3,4Universidade Federal de Pernambuco Centro Acadêmico de Vitória, Pernambuco. *[email protected]

2015, tiveram duração de cinco dias consecutivos. Nos Introdução animais capturados, identificados e fotografados, No Brasil, todos os biomas apresentam perdas procederam-se as biometrias e as coletas de material expressivas de habitat. A perda da cobertura original da biológico. Seguiu-se o protocolo 10 de Rossi et al. (2012) Floresta Atlântica nordestina, ao norte do Rio São na busca ativa da mastofauna local. Para os indivíduos Francisco, por exemplo, alcançou 97% (ALVES-COSTA avistados durante as caminhadas, foram anotados dados et al., 2008). Isto dificulta o sucesso reprodutivo de como data, hora e localização do observador, além de espécies cujas populações necessitam de grandes áreas estimada a posição do mamífero observado dentro do para completarem seus ciclos biológicos. Além da perda sistema de trilhas. Os vestígios encontrados nas trilhas, de habitat, a falta de conectividade entre os fragmentos como pegadas, fezes e marcas de goiva foram coletados, existentes se apresentam como barreiras para a quando possível, e fotografados com escala. migração entre as populações. A projeção de como as populações naturais respondem as mudanças ambientais, implica no conhecimento de suas Resultados características biológicas e ecológicas, e na relação desses dados com os diferentes ambientes. Pesquisas Durante as campanhas o esforço de captura foi de 750 de monitoramento com a Classe Mammalia, e o armadilha/dia. Foi registrado um total de nove espécies cruzamento desse dado com a condição ambiental, vêm de mamíferos terrestres: três por captura, cinco por busca sendo propostas para populações de diferentes ativa e quatro através de seus vestígios (Figura 1). O localidades (CERQUEIRA, 1991). Segundo Oliveira et. al. número entre parênteses representa o total de espécies (2014), a grande biodiversidade de mamíferos, associada em cada uma das cinco Ordens: Didelphimorphia (2); ao grau de endemismo, permite o uso desses animais Rodentia (2); Carnivora (3); Primates (1); Xenarthra (1). A como bioindicadores, inclusive nas áreas antropizadas. Tabela 1 relaciona as espécies e respectivas formas de Faz-se imprescindível o conhecimento dos aspectos registro. ecológicos dos mamíferos para um manejo adequado da biodiversidade in situ. Nesse sentido o presente trabalho Tabela 1 - Lista de mamíferos terrestres registrados no objetiva conhecer a mastofauna terrestre de um dos Parque Estadual de Dois Irmãos, entre janeiro e maio fragmentos urbanos do eixo nordeste, sítio Pernambuco, de 2015, e respectiva forma de registro. da Rede de Pesquisa PPBio Mata Atlântica.

Espécie Forma de registro Metodologia Preguiça (Bradypus variegatus) Avistamento O Parque Estadual de Dois Irmãos (PEDI), Unidade de Sagui (Callitrix jacchus) Avistamento Conservação de Proteção Integral, possui dois fragmentos de floresta atlântica totalizando 1.157,72 ha. Quati (Nasua nasua) Avistamento/ Captura Este trabalho iniciou o inventário de mamíferos terrestres Papa-mel (Eira barbara) Avistamento do sítio Pernambuco, eixo Nordeste, no fragmento menor, Coandou (Coendu de 374 ha, do PEDI. Apesar de estar inserido em área prehensilis) Avistamento/ Vestígio urbana e sofrer com a pressão antrópica, a cobertura Cutia (Dasyprocta sp.) Avistamento/ Vestígio florestal do PEDI tem sua importância ressaltada, por Timbu (Didelphis fazer parte da história da cidade do Recife e por albiventris) Captura Marmosa assegurar serviços ambientais relevantes. Para o Marmosa ( murina) Captura levantamento de mamíferos terrestres na área foi Jaguatirica (Leopardus aplicada a metodologia de captura-marcação-recaptura. pardalis) Vestígio-pegada Cinquenta armadilhas por trilha, dos tipos Tomahawk e Sherman, foram posicionadas no solo e no sub-bosque, utilizando-se abacaxi e paçoca de amendoim como isca. As campanhas, realizadas em janeiro, março e maio de

84 policiamento e falta de segurança para enfrentar situações de risco pessoal, impossibilitou que amostras fossem realizadas em todas as parcelas planejadas no início do projeto. Porém a continuidade do trabalho em campo pode trazer um novo cenário. Apesar de haver o registro pregresso de 29 espécies, faz-se imprescindível a confirmação da permanência dos demais táxons neste importante fragmento urbano, assim como o B monitoramento longitudinal dessa comunidade de mamíferos, de modo a implementar ações que assegurem a conservação das espécies e equilíbrio das populações e do ecossistema.

Agradecimentos

A C Ao CNPq pelo apoio financeiro ao eixo Nordeste do PPBio e ao Parque Estadual de Dois Irmãos pelo apoio logístico.

Referências Bibliográficas [1] ALVES-COSTA, C.P.; LÔBO, D.; LEÃO, T.; BRANCALION, P.H.S.; NAVE, A.G.; GANDOLFI, S.; SANTOS, D E A.M.M.; RODRIGUES, R.R.; TABERELLI, M. Implementando Reflorestamentos com Alta Diversidade na Zona da Mata Nordestina: Guia Prático.

Figura 1 - Espécies registradas e fotografadas no Recife, 2008. . levantamento de mamíferos terrestres do Parque [2] CERQUEIRA, R Planejamento e Gerenciamento de Áreas Ambientais Especiais. Relatório Técnico. Rio de Estadual de Dois Irmãos. A - Preguiça comum, Janeiro: UFRJ/Escola de Engenharia, 1991. Bradypus variegatus; B - Quati, Nasua nasua; C - [3] OLIVEIRA, A.C.M.; RODRIGUES, L.R.R.; SILVA, C.; Timbu, Didelphis albiventris; D - Coandu, Coendou OLIVEIRA, T.; ROSSI, R.PROTOCOLO 11 – MAMÍFEROS, prehensilis; E - Marmosa, Marmosa murina. PPBio. Disponível em: http://ppbio.museu-goeldi.br/?q=pt- br/protocolo-11-mam%C3%ADferos. Acessado em:10/2014. [4] MONTEIRO DA CRUZ, M.A.O.; CABRAL, M.C.C.; SILVA, Discussão L.A.M & BARRETO CAMPELLO, M.L.C. Diversidade da Mastofauna no Estado de Pernambuco. In: TABARELLI, M. Monteiro da Cruz e colaboradores (2002) registraram & SILVA, J.M.C. (orgs.) Diagnóstico da biodiversidade de Pernambuco. Recife: Secretaria de Ciência, Tecnologia e para o mesmo fragmento 27 espécies de mamíferos Meio Ambiente, Editora Massangana, 2: 557-579, 2002. terrestres distribuídos em seis ordens. Comparativamente [5] RODRIGUES, M. F.; MORAES, B. L. C.; MALTA, A. J. R.; a única ordem não representada no presente estudo foi a OLIVEIRA, M. A. O. M. C.; MASCARENHAS-LEITE, L. M. R. Conhecimento da comunidade do Bairro de Dois Irmãos Lagomorpha. Entre os oito roedores listados pelos sobre a mastofauna terrestre local, e suas interferências autores supracitados, dois eram exóticos, de hábito antrópicas diretas sobre os animais. Anais. VII Congresso generalista e associado as bordas do fragmento. Brasileiro de Ecologia. Caxambú, MG, 2005. Provavelmente, por utilizar uma abordagem que evita as áreas de borda, estas espécies teriam baixas chances de serem capturadas no presente estudo. A capivara, Hydrochoerus hydrochaeris, também incluída no levantamento de 2002, pode ser avistada nos açudes do Parque, mas estes se encontram a razoável distância das parcelas estudadas no presente trabalho. Rodrigues et al. (2005), levantou a mastofauna terrestre do Parque e seu entorno, através de dados etnozoológicos, identificando 29 espécies distribuídas nas mesmas ordens identificadas por Monteiro da Cruz e colaboradores (2002). Algumas espécies registradas em estudos anteriores da mesma área podem não ter sido listadas aqui em razão do curto espaço de tempo amostrado, hábito críptico - como os felídeos, ou aquelas essencialmente arborícolas - como o Caluromys philander. Outra limitação do presente levantamento está relacionada à restrição do espaço amostrado. Questões com ausência de

85 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

REDESCOBERTA DE WRIGHTOPORIA PORILACERATA LOGUERCIO- LEITE, GERBER & RYVARDEN NO PARQUE NACIONAL DE SÃO JOAQUIM - SC

Mateus Arduvino Reck1,*, Elisandro Ricardo Drechsler Santos2, 1 Laboratório de Biologia Molecular – Dep. Botânica, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis - SC 2 Laboratório de Micologia (MICOLAB), Dep. Botânica, UFSC, Florianópolis - SC *[email protected] Wrightoporia porilacerata Loguercio-Leite, Gerber & Introdução Ryvarden. 1998. Wrightoporia porilacerata, a new species Wrightoporia Pouzar é um gênero de fungos of pore fungi from southern Brazil. Mycotaxon. 67:251- degradadores de madeira (causando prodridão marrom) 256. pertencente à ordem Russulales Kreisel ex P.M. Kirk, P.F. Basidioma anual, pileado, amplamente aderido ao Cannon & J.C. David (Basidiomycota). É caracterizado substrato, de consistência carnosa e macia, higroscópico por possuir basidiomas variando de ressupinados a quando fresco, de peso bastante leve, duro após seco, pileados, podendo eventualmente apresentar estipe, de com até 4 cm de espessura na base, margem obtusa. coloração geralmente clara (branca a creme), com Superfície abhimenial glabra, levemente rugosa, de margens frequentemente miceloide e presença conspícua coloração clara, creme a amarelada, tornando-se mais de rizomorfas junto ao substrato. Microscopicamente, escura (castanha) após seco. Superfície himenoforal da apresenta sistema hifal mono a dimítico, com hifas mesma cor, tornando-se castanha-escura nas porções generativas fibuladas (podem haver exceções, como em mais velhas do himenóforo; poros grandes (1-3/mm), W. bracei (Murrill) I. Lindblad & Ryvarden, que pode irregulares, arredondados a angulares, com apresentar septos simples e multifibulados no mesmo dissepimentos frágeis e inteiros nas porções mais novas basidioma), hifas esqueletais com reação dextrinoide (próximas à margem), tornando-se totalmente lacerados variável e basidiósporos de parede ornamentada e em direção à base. Contexto homegêneo, mais claro que 1 amiloide . O gênero apresenta distribuição pantropical, a superfície abhimenial (creme), espesso (até 3cm). sendo poucos exemplares conhecidos para regiões Sistema hifal monomítico, hifas generativas com fíbulas 1 temperadas . No Brasil são citadas seis espécies do bastante evidentes e nodulosas, hialinas, de parede fina gênero, com distribuição na mata atlântica e floresta a engrossada, tortuosas, com poucas ramificações. amazônica. Dentre estas, destaca-se W. porilacerata, Sistema gloeopleural bastante evidente no material descrita para a mata atlântica da Ilha de Santa Catarina fresco, com hifas gloeopleuras de parede fina, porém de em 1998 e conhecida até o momento somente para a maior calibre que as generativas normais, com conteúdo 2 localidade do tipo . A partir de coletas realizadas na área citoplasmático amorfo, fortemente coradas quando do PPBio Mata Atlântica no Parque Nacional de São colocadas junto ao reagente floxina, sem septos Joaquim, foi possível identificar a presença desta espécie evidentes. Cistídios ou outros elementos estéreis não na formação de Mata com Araucária. observados, porém, em função da presença do sistema gloeopleural, espera-se que observações futuras Metodologia evidenciem a presença de gloeocistídios. Basidiósporos subcilíldricos a elipsoides, 3-4,5 – 2-3 µm, de parede As coletas foram realizadas entre os dias 02 e 05 de ornamentada, finamente asperulada, fortemente amiloide. dezembro de 2014, em matas nebulares e com Araucária, na área do Parque Nacional de São Joaquim, município de Urubici, no âmbito do projeto PPBio. Após serem Discussão coletados, os materiais ainda frescos foram estudados do ponto de vista macro e micromorfológico, seguindo as Wrightoporia porilacerata é uma espécie única dentro do técnicas usuais para o estudo de fungos poroides. gênero, pois apresenta basidiomas pileados e espessos, Seções dos basidiomas foram montadas em lâminas creme a castanhos, de consistência “carnosa” e com contendo Hidróxido de Potássio 3% mais corante floxina, poros lacerados nas porções mais velhas do himenóforo, e também no reagente de Melzer, para verificação de lembrando a morfologia hidnoide, além do sistema hifal reação dextrinoide e amiloide. Os basidiósporos e demais monomítico e esporos amiloides. Esta é uma das estruturas microscópicas foram medidos com auxílio de espécies do gênero onde nenhuma estrutura apresenta ocular micrometrada. Para identificação, foram utilizadas reação dextrinoide. obras de referência sobre o gênero. Após identificados, Foi descrita originalmente com base em coletas feitas na os materiais foram desidratados a temperatura de 60°C e Unidade de conservação UCAD, no município de acondicionados em sacos ziplocks para posterior Florianópolis, em 1998. Desde então, seu conhecimento incorporação no Herbário FLOR, do Departamento de ficou restrito aos espécimens coletados nessa área de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina. mata atlântica. No presente estudo, sua distribuição é ampliada para a formação de mata com Araucária, onde Resultados foi coletada provavelmente crescendo em madeira em

86 decomposição de um indivíduo morto de bracatinga (Mimosa scabrella Benth. – Fabaceae), em meio a um xaxinzal (Dicksonia sellowiana (Presl.) Hooker - Dicksoniaceae). Pode ser considerada uma espécie rara, dada a baixa reincidência de coleções. A partir desta amostra será possível a estudos de biologia molecular que auxiliarão no entendimento da espécies e de suas relações filogenéticas no gênero. Agradecimentos À Capes pela concessão da bolsa ao primeiro autor. Referências Bibliográficas [1] Ryvarden, L. 2000. Studies in neotropical polypores 7. Wrightoporia (Hericiaceae, Basidiomycetes) in tropical America. Karstenia 40: 153-158. [2] Leite, C.L.; Gerber, A.L.; Ryvarden, L. 1998. Wrightoporia porilacerata, a new species of pore fungi from southern Brazil. Mycotaxon. 67:251-256

87 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

PEQUENOS MAMÍFEROS NÃO VOADORES EM FLORESTAS DE RESTINGA DO PARQUE ESTADUAL ACARAÍ, SÃO FRANCISCO DO SUL- SC.

Pedro Balieiro1,*, Daniela Behs2, Maurício E. Graipel3, Sidnei S. Dornelles1, Liliani M. Tiepolo4, Marta J. Cremer1 1 Universidade da Região de Joinville, Laboratório de Ecossistemas Costeiros, São Francisco do Sul, SC; 2Universidade de Brasília, Laboratório de Ecologia de Vertebrados, Brasília, DF; 3 Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Zoologia e Ecologia, Florianópolis, SC; 4 Universidade Federal do Paraná, Pós Graduação em Zoologia, Matinhos, PR *[email protected] sendo 3.850 em cada estação do ano. Devido ao grande Introdução número de interferências ocorridas nas armadilhas no O bioma Mata Atlântica é um complexo conjunto de inverno, causadas por mamíferos de médio porte, optou- ecossistemas composto por inúmeras formações se por não computar as armadilhas que sofreram esta vegetacionais, que abriga uma parcela significativa da influência. Sendo assim, o esforço efetivo no inverno foi diversidade biológica do Brasil, sendo um dos 34 de 2.612, totalizando 6.462 armadilhas-noite. O sucesso [1,2] total de captura foi de 2,78%, sendo 5,93% no inverno e hotspots de biodiversidade mundial { A importância das florestas úmidas para os pequenos 0,64% no verão. Ao longo do trabalho foram realizadas mamíferos é indiscutível, pois concentram grande 186 capturas de 126 indivíduos, sendo uma espécie da diversidade de espécies, desde marsupiais até pequenos ordem Didelphimorphia e quatro espécies da ordem roedores. Esses organismos podem ser considerados Rodentia (Tabela 1). A espécie mais abundante foi Akodon montensis como chave nestes ambientes, pois estão inseridos nas (n=71), com 56,35% dos indivíduos, Nectomys squamipes mais diversas categorias ecológicas, podendo ser seguido de (n=42), com 33,33%, e [3] Marmosa paraguayana utilizados como indicadores da qualidade do ambiente . do marsupial (n=6), com 4,76%. O norte do estado de Santa Catarina apresenta diversas No verão ocorreram 25 capturas de 24 indivíduos fitofisionomias da Mata Atlântica e, entre elas, se destaca pertencentes a três espécies, enquanto no inverno foram a floresta de restinga[4]. Esse ecossistema é 155 capturas de 101 indivíduos de cinco espécies. Nectomys squamipes extremamente ameaçado devido ao intenso impacto foi a espécie mais abundante no causado principalmente pela exploração imobiliária, verão, representando 68% dos indivíduos capturados. No A. montensis resultado de sua localização na região litorânea, próximo inverno, passou a ser a espécie mais ao nível do mar[5]. Este estudo teve como objetivo abundante, com 64,36% dos indivíduos capturados. O Marmosa paraguayana caracterizar a riqueza de pequenos mamíferos não marsupial foi a terceira espécie mais abundante, com seis indivíduos. Euryoryzomys voadores em diferentes ambientes das florestas de russatus e Oligoryzomys nigripes foram capturados restinga do Parque Estadual Acaraí somente no inverno e estiveram restritos a algumas Metodologia parcelas. O Parque possui área de 6.667 hectares, incluindo o Arquipélago de Tamboretes. O clima da região é Discussão caracterizado como subtropical úmido (Cfa), sem estação seca definida, com verão quente (média <25ºC) e inverno A baixa riqueza de pequenos mamíferos não voadores já [6] ameno (média > 18ºC) . Foram realizadas duas havia sido reportada anteriormente na área[10]. O presente campanhas de campo em 2014, sendo uma no verão e estudo registrou cinco dessas seis espécies, não tendo outra no inverno, em cada uma das parcelas (10 registrado Didelphis aurita, encontrado somente nas permanentes e 4 ripárias) seguindo o protocolo áreas de floresta submontana[10], não amostrada neste [7] RAPELD . Foram estabelecidas 25 estações de captura, estudo. As florestas de restinga, no entanto, podem distanciadas 10 metros entre si, compostas por uma ou apresentar uma riqueza maior de pequenos duas armadilhas no solo, e uma no sub-bosque, mamíferos[11,12]. Nas florestas de alta restinga da planície totalizando 55 armadilhas por parcela. A identificação foi de Itapoá, por exemplo, foram registradas 11 espécies [8,9] realizada utilizando literatura específica , espécimes [11,13]. Um ou mais fatores que podem ter influenciado este coletadas previamente no parque e por meio de análises resultado. Um deles pode ter sido o uso exclusivo de [10] citogenéticas . Os procedimentos de coleta, marcação e armadilhas tipo Sherman e Tomahawk, somente no solo captura foram autorizados pela licença SISBio Nº e sub-bosque, portanto sem o uso de armadilhas no 38976-1. dossel e de interceptação e queda (pitfalls). A importância do uso das armadilhas arbóreas e ninhos artificiais para Resultados as espécies estritamente arborícolas têm sido apontada [13] O esforço amostral total foi de 7.700 armadilhas-noite, por diferentes autores, como Graipel , em Itapóa no litoral de Santa Catarina, e Loretto [14], na região serrana

88 do Rio de Janeiro. Outro importante fator pode ser sido em caracteres externos. Centro Pan-Americano de Febre uma possível flutuação populacional das espécies entre Aftosa, Rio de Janeiro. os anos, ocasionando uma redução na densidade [9] Paglia, A.P.; Fonseca, G.A.B; Rylands, A.B., Herrmann, G.; populacional de uma ou mais espécies, dificultando o Aguiar, L.M.S.; Chiarello, A.G. & Patton, J.L. 2012. Lista [13] registro de certas espécies . Os dados existentes até o Anotada dos Mamíferos do Brasil Conservation International, momento indicam que a área do PAEAC abriga uma Belo Horizonte. reduzida riqueza de pequenos mamíferos não voadores. [10] Balieiro, P.; Miranda, M.L.P.; Dornelles, S.S.; Soares, A.; O isolamento insular deve ter contribuído pouco para a Hass, I. & Sbalqueiro, I.J. no prelo. Pequenos mamíferos baixa riqueza registrada, uma vez que todas as espécies não voadores (Rodentia e Didelphimorphia) do Parque capturadas na região continental (Itapoá), a 25 km de Estadual Acaraí, São Francisco do Sul-SC. Boletim da distância, em fitofisionomias equivalentes, também foram Sociedade Brasileira de Mastozoologia. registradas na Ilha de São Francisco do Sul, com uma [11] Quadros, J. & Cáceres, N.C. 2001. Ecologia e Conservação única exceção (Metachirus nudicaudatus) (Graipel, de Mamíferos na Reserva Volta Velha, SC, Brasil. Acta [13] comunicação pessoal; Graipel ). O Parque Estadual Biologica Leopoldesia 23(2):213–224. Acaraí apresentou uma baixa riqueza de pequenos [12] Pessôa, L.M.; Tavares, W.C. & Gonçalves, P.R. 2010. mamíferos não voadores ao se comparar com outras Mamíferos das restingas do macrocompartimento litorâneo regiões de florestas de restinga. Esta reduzida riqueza da bacia de campos , Rio de Janeiro. Pp 95-123. In (Pessôa, pode ter sido ocasionada por um ou diversos fatores. A L.M.; Tavares, W.C. & Siciliano, S. (eds). Mamíferos de utilização do método RAPELD propicia condições para Restingas e Manguezais do Brasil. Sociedade Brasielira de avaliar esta dinâmica no médio e longo prazo, indicando Mastozoologia, Museu Nacional, Rio de Janeiro. se a riqueza de espécies obtida está relacionada a [13] Graipel, M.E. 2003. Contribuição ao estudo da mastofauna artefatos de amostragem associados a métodos de do estado de Santa Catarina, sul do Brasil. Faculdade de captura, a necessidade de maior esforço de amostragem Biociências, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande temporal, à fatores temporais e/ou espaciais. do Sul, Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil. . [14] Loretto, D. 2012. Ecologia de pequenos mamíferos arborícolas: estado do conhecimento, métodos de amostragem e estudo populacional, com ênfase no bioma Agradecimentos da Mata Atlântica. Departamento de Ecologia, Universidade À Capes pela concessão da bolsa ao primeiro e terceiro Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, autor. Ao Fundo de Apoio à Pesquisa da Universidade da Brasil. Região de Joinville, pelo financiamento de parte do projeto. Referências Bibliográficas

[1] Laurance, W.F. 2009. Conserving the hottest of the hotspots. Biological Conservation, 142(6): 1137. [2] Mittermeier, R.A.; Gil, P.R.; Hoffmann, M.; Piligrim, J.; Brooks T.; Mittermeier, C.G. & Fonceca, G.A.B. 2004. Hotspots revisited. CEMEX, Mexico City. [3] Bonvicino, C.R.; Lindbergh, S.M. & Maroja, L.S. 2002. Small non-flying mammals from conserved and altered areas of atlantic forest and cerrado : comments on their potential use for monitoring environment. Brazilian Journal of Biology 62(4 B):765–774. [4] Araújo, D.S.D & Lacerda, L.D. 1987. A natureza da restinga. Ciência Hoje 6(33):42–48. [5] FATMA, (Fundação de Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina). 2014. Plano de Manejo do Parque Estadual Acaraí. Plano Básico. FATMA, São Francisco do Sul. [6] Alvares, C.A.; Stape, J.L.; Sentelhas, P.C.; Gonçalves, J.L.M. & Sparovek, G. 2013. Köppen’s climate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift 22(6):711–728. doi:10.1127/0941-2948/2013/0507 [7] Magnusson, W.E.; Lima, A.P.; Luisão, R.; Luisão, F.; Costa, F.R.C.; Castilho, C.V. & Kinupp, V.F. 2005. RAPELD : A modification of the gentry method for biodiversity surveys in long-term ecological research. Biota Neotropica 5(2):1–5. [8] Bonvicino, C.R.; Oliveira, J.A. & D’Andrea, P.S. 2008. Guia dos roedores do Brasil, com chaves para gêneros baseadas

89 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 COMO OS FATORES AMBIENTAIS E ESTRUTURAIS DA FLORESTA INFLUENCIAM A COMUNIDADE DE EPÍFITAS VASCULARES NA ILHA GRANDE, ANGRA DOS REIS, RJ?

Ana Carolina Rodrigues da Cruz1*; André Felippe Nunes-Freitas1

1Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; Instituto de Florestas; Departamento de Ciências Ambientais; Laboratório de Ecologia Florestal e Biologia Vegetal; Br-465, Km 7, Campus Universitário, Seropédica , RJ. *[email protected]

Introdução inclinação e orientação do terreno, DAP, altura do fuste e altura total das árvores, diâmetro maior e menor da copa, Epífitas são plantas que se utilizam de outras plantas tipo de ritidoma e abertura do dossel serão coletadas em 1 como apoio mecânico em algum estágio da vida . O cada seção sorteada. epifitismo ocorre em 83 famílias e em quase 900 gêneros, dentro dos quais mais de 29 mil espécies são Resultados Esperados encontradas2. Apesar destes dados serem antigos, estima- se que este habito representa cerca de 10% de todas as Esperamos listar a composição de espécies de epífitas nas plantas vasculares do planeta3. parcelas do módulo leste do RAPELD-IG. Além disso, A distribuição e a ocorrência das epífitas podem ser pretende-se identificar os fatores responsáveis pela determinadas por um conjunto de fatores locais. Parte estruturação e montagem da comunidade de epífitas ao destes fatores estão relacionados a características longo do gradiente ambiental no qual as parcelas deste intrínsecas das espécies, tais como suas exigências módulo estão alocadas. ecofisiológicas, o tipo de reprodução (sexuada ou assexuada) e as interações com outros organismos, em Agradecimentos especial com seus dispersores4,5. Por outro lado, fatores Ao Laboratório de Ecologia Florestal e Biologia Vegetal; ao extrínsecos às espécies, tais como a estrutura e Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e composição da vegetação, condições edáficas e Florestais do Instituto de Florestas da UFRRJ; e à Capes microclimáticas também serão importantes para 2,5 pela concessão da bolsa ao primeiro autor; determinar a composição da comunidade de epífitas . Espera-se então que a estrutura e composição da Referências Bibliográficas comunidade de epífitas sejam determinadas, especialmente, por fatores microclimáticos e estruturais da [1] Madison, M. 1977. Vascular epiphytes: their systematic occurrence and salient features. Selbyana 2: 1-13. floresta, já que esses funcionariam como limitantes para o [2] Gentry, A. H. & Dodson, C. H. 1987. Diversity and estabelecimento da maioria das espécies. Assim, o biogeography of neotropical vascular epiphytes. Annals of the presente projeto tem como objetivo identificar os fatores Missouri Botanical Garden, 74, 205-233. ambientais e estruturais que determinam a composição, a [3] Kress, W. J. 1986.The systematic distribution of vascular epiphytes: an update. Selbyana 9, 2-22. riqueza e a estrutura de epífitas ao longo de um gradiente [4] Benzing, D. H. 1987. Vascular Epiphytism: Taxomomic ambiental na Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ Participation and Adaptive Diversity. Ann. Missouri Bot. Gard., 74, 183-204. [5] Benzing, D.H. 1990. Vascular epiphytes. Cambridge University Metodologia Press. Cambridge, 354. [6] Alho, C. J. R.; Schneider, M.; Vasconcellos, L. A. 2002. Degree Área de estudo: A Ilha Grande possui 28 km de leste a of threat to the biological diversity in the Ilha Grande State Park oeste e 12 km de norte a sul, com cerca de 19.300 ha6, (Rj) and guidelines for conservation. Braz. J. Biol., 62(3), 375-385. sendo a maior ilha localizado no litoral sul do Estado do [7] UFRRJ (Universidade Federal Rural Do Rio De Janeiro)/IEF 7 (Fundação Instituto Estadual De Florestas Do Rio De Rio de Janeiro . O Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) Janeiro)/Pro-Natura (NGO). Plano Diretor do Parque Estadual da foi criado em 26/06/71 pelo Decreto 15.273, com 5.594 Ilha Grande. Relatório. Rio de Janeiro, 1992. 247 p.. Acta bot. hectares de superfície, localizado na região da Costa bras. 21(1), 49-63. [8] PPBIO. Sítios de coleta. PPBio. 2015. Disponível em Verde do Rio de Janeiro, os seus objetivos são: proteção . Acesso em: 17 de da biodiversidade local e incentivar o uso múltiplo dos maio. 2015. recursos naturais sem degradá-los, para fins turísticos7. O . estudo será realizado em parcelas do módulo Leste do RAPELD instalado no PEIG para amostragem da biodiversidade. O módulo leste está inserido na vertente ocidental da ilha, situado em áreas de Floresta Ombrófila Densa Submontana e Montana8. Procedimento amostral: Em cada parcela serão sorteadas árvores com DAP ≥ 10 cm nas 25 seções de cada uma das 10 parcelas do módulo leste do RAPELD e será verificada a ocorrência e identificados todos os epífitos presentes. As variáveis ambientais como características químicas e físicas do solo,

90 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

DADOS PRELIMINARES DA ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO FLORESTAL, NO PARQUE NACIONAL DE SÃO JOAQUIM, SANTA CATARINA, BRASIL

Anelise Nuernberg-Silva1*, Rafael Barbizan Sühs2, Pedro Fiaschi3, Nivaldo Peroni2 1 Bolsista PPBio-MA PNSJ, Universidade Federal de Santa Catarina, Depto. de Ecologia e Zoologia, Florianópolis, SC; 2 Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Ecologia, Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica, Florianópolis, SC; 3 Universidade Federal de Santa Catarina, Depto. de Botânica, Laboratório de Sistemática de Plantas Vasculares, Florianópolis, SC *[email protected]

Introdução de largura, sempre à montante; da faixa 2 é 5 cm de DAP, O Brasil é reconhecido internacionalmente como um dos possuindo 10 metros de largura de cada lado; e da faixa 3 países detentores da maior biodiversidade do planeta, a é de 10 cm de DAP, tendo esta faixa 20 metros de largura qual está distribuída em diferentes domínios¹. Dentre de cada lado, totalizando 1 hectare ao final da estes, o domínio atlântico destaca-se pela alta amostragem. Calculou-se a densidade, a dominância e o biodiversidade, endemismos em diferentes níveis e por valor de importância de cada espécie. Os cálculos possuir apenas cerca de 12,5% de remanescentes bem preliminares de valor de importância não consideraram a conservados². Este domínio destaca-se por abranger frequência das espécies devido à área entre os piquetes diversos biomas, dentre eles o bioma de florestas ser irregular (por estarem em curva de nível). A subtropicais-temperadas, no qual as florestas de pinheiro- nomenclatura das espécies seguiu a Lista das Espécies da 5 do-paraná estão inseridas¹. Estas florestas localizam-se Flora do Brasil (2015) e a classificação das angiospermas 6 principalmente no Planalto Sul-Brasileiro, e, até o século seguiu APG III (2015) . Todas as espécies amostradas 20, cobriam uma área de aproximadamente 200.000 km² 3. estão sendo coletadas e identificadas com literatura Atualmente, restam entre 2 a 5% de sua área original³. especializada, consultas ao Herbário FLOR da UFSC e a Nesse contexto, a compreensão dos padrões e processos especialistas. O material coletado fértil é tratado e deverá envolvidos na estruturação destas comunidades tão ser incorporado ao referido herbário. fragmentadas, torna-se um desafio, dificultado pela falta de Resultados políticas públicas na conservação destes remanescentes. O presente trabalho teve como objetivo inventariar e Até o momento foram amostradas duas parcelas, avaliar a composição e estrutura de um trecho de localizadas entre 1.600 e 1.650 metros de altitude, vegetação florestal de duas parcelas em altitudes elevadas codificadas como TN 3500 e TS 3500. Todavia, ambas se no Parque Nacional de São Joaquim (PNSJ). As parcelas encontram em processo de finalização. Foram realizados fazem parte do Programa de Pesquisa em Biodiversidade cerca de 50 dias de campo, distribuídos desde março de (PPBio) e estão inseridas no primeiro módulo instalado no 2014 até o momento, contando com dois bolsistas e ano de 2014 no PNSJ (Módulo I). diversos voluntários, principalmente graduandos do curso de Ciências Biológicas da UFSC. A TN 3500 encontra-se Metodologia totalmente inserida em ambiente florestal, possui dossel O Parque Nacional de São Joaquim (PNSJ) está com altura média de oito metros, com árvores emergentes localizado na região serrana do estado de Santa Catarina de até 17 metros. Já a TS 3500 está localizada na borda e possui 49.300 ha. Possui relevo irregular que varia de de um fragmento florestal, distante 1 km em linha reta da 300 a 1.826 m de altitude e está situado em uma das outra parcela, onde parte da parcela está inserida em um regiões mais frias do Brasil, na qual a temperatura média ecótono entre ambiente campestre e florestal, possuindo anual varia entre 12°C a 14°C, com geadas frequentes e clareiras com vassourais entremeados. A altura média temperatura mínima registrada de 10 graus negativos e calculada foi de 5 metros, mas encontrou-se também máxima de 31 graus4. O clima é considerado como árvores emergentes atingindo 11 metros de altura. No total mesotérmico médio, condicionado às altitudes, com foram marcados 1.307 indivíduos de 29 espécies chuvas abundantes, tendo em torno de 1.370,5 mm de arbustivo/arbóreas pertencentes a 21 famílias botânicas na precipitação anual e média de 83,1% de umidade relativa TN 3500, totalizando 1 hectare, e 749 exemplares de 20 do ar4. Os solos em grande parte são litólicos rasos4. espécies distribuídas em 13 famílias na TS 3500, totalizando 5.200 m² de amostragem analisada. As famílias A coleta de dados da estrutura da vegetação está sendo com maiores números de espécies foram Myrtaceae (8), realizada no módulo I do PPBio-MA PNSJ, e deverá se Asteraceae (3) e Lauraceae (2) na TN 3500 e Asteraceae estender para os demais módulos à medida que forem (7) e Myrtaceae (2) na TS 3500. finalizados os trabalhos de implantação dos mesmos. Os Na TN 3500 as espécies que apresentaram maior valor de dados levantados a respeito da estrutura da vegetação importância na faixa 2 foram Drimys angustifolia Miers com estão seguindo a metodologia do protocolo do PPBio para 30,2%, Myrceugenia glaucescens (Cambess.) D.Legrand & estrutura da vegetação, adaptado para a Mata Atlântica. Kausel com 21,8%, Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze No PNSJ o critério de inclusão da faixa 1 é de 1 cm de e Crinodendron brasiliense Reitz & L.B.Sm. com 7,5% e DAP (Diâmetro à altura do peito), e esta possui 1,5 metros 7,2% respectivamente. Na faixa 3 D. angustifolia teve

91 importância de 27,6%, representado por 249 indivíduos, M. Catarina, apesar de haver diversas Unidades amostrais glaucescens 17,4%, com 188 indivíduos, A. angustifolia, nos municípios de sua ocorrência11. 7,84% com 55 indivíduos e C. brasiliense com 6,94% e 54 Estes dados demonstram a importância deste tipo de indivíduos. Considerando o intervalo entre DAP >5 e <10 estudo já em um curto prazo e abre caminhos de na faixa 2, D. angustifolia alcançou 36% de valor de possibilidades de monitoramento de importantes importância, seguido por M. glaucescens com 33,4%, populações em longo prazo, que poderão ajudar na mortas com 4,9% e Myrceugenia oxysepala (Burret) compreensão de padrões biogeográficos e a implicação D.Legrand & Kausel com 4,3%. Na zona sensível (faixa 1) das alterações do clima sobre elas. D. angustifolia e M. glaucescens merecem destaque, com 40,4% e 26,8% de importância, respectivamente, Agradecimentos demonstrando alta regeneração, seguidos de Asteraceae Ao CNPq pela concessão de bolsa DTI à ANS e RBS bem com 8,21%. Cabe-se destacar que C. brasiliense, apesar como pela bolsa produtividade concedida a NP e pelo de ter obtido 7,22% de importância na faixa 2 e 6,9% na financiamento da pesquisa através do Sistema Nacional de faixa 3, teve apenas 4 (1,4% de importância) indivíduos Pesquisa em Biodiversidade (SISBIOTA – Brasil). A todos amostrados entre DAP >5 e <10 cm e na zona sensível foi que auxiliaram nas atividades no campo e na identificação amostrado apenas 1 indivíduo (0,5%). Esta espécie é das espécies. endêmica de Santa Catarina, com populações restritas às grandes altitudes na região do PNSJ7. Na TS 3500 as Referências Bibliográficas espécies com maior valor de importância foram M. glaucescens com 60,6%, D. angustifolia com 17,5% e [1] Coutinho, L.M. O conceito de Bioma. Acta Botanica Brasílica 20, v.1, p. 1-11. 2006. mortas com 12,9% na faixa 2 (DAP >5cm) e 56,9% (301 [2] SOS MA-Fundação SOS Mata Atlântica; INPE-Instituto indivíduos), 19,9% (93 indivíduos) e 10,7% (48 indivíduos) Nacional de Pesquisas Espaciais. Atlas dos na faixa 3 (DAP >10) respectivamente. Analisando a faixa remanescentes florestais da Mata Atlântica no 2 entre DAP >5 e <10, observamos as mesmas espécies período 2013-2014. São Paulo. 2015. se destacando, porém, M. glaucescens possui 70% de [3] Mahler Jr., J. K. F. & Larocca, J.F. Fitofisionomias, importância neste intervalo analisado. Já na faixa 1, que desmatamento e fragmentação da Floresta com Araucária. In: Fonseca, C.R.; Souza, A.F.; Leal- tem como diferencial amostrar indivíduos com DAP entre 1 Zanchet, A.M.; Dutra, T.L.; Backes, A. & Ganade, G. Baccharis uncinella e 5 cm, DC. merece destaque, com (Orgs.). Floresta com Araucária: ecologia, 30,3% de importância, seguido de D. angustifolia com conservação e desenvolvimento sustentável. Ribeirão 26%, Eupatorium sp. com 13,7% e Asteraceae com 11,2%, Preto, Holos editora, 2009. p.243-252. demonstrando que a faixa consegue abranger espécies [4] Souza, Bianca. Aspectos Fitogeográficos do Parque arbustivas. Nacional de São Joaquim. Trabalho de Conclusão de Dentre as espécies levantadas, quatro merecem destaque curso. Bacharelado em Geografia. UFSC, 2004. 86 p. [5] Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico quanto aos seus status de conservação e/ou endemismo: do Rio de Janeiro. Disponível em: Araucaria angustifolia, que é considerada Vulnerável (VU) 8 . Acesso em: 09 Jun. de extinção pela IUCN e Em Perigo (EN) de Extinção pelo 2015 MMA9; Dicksonia sellowiana Hook., EN pela lista do MMA9; [6] Stevens, P. F. (2001 onwards). Angiosperm Phylogeny Myrceugenia pilotantha (Kiaersk.) Landrum, como VU pela Website. Version 12, July 2012. URL: lista da IUCN8 e Crinodendron brasiliense, espécie http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/. endêmica da Serra Catarinense, até o momento conhecida [7] Klein, R.M. Mapa fitogeográfico do estado de Santa Catarina. In: REITZ, R. (Ed.). Flora ilustrada apenas para os municípios de Urubici, Bom Jardim da 12 Catarinense. Itajaí: Herbário Barbosa Rodrigues, Serra e Bom Retiro . 1978. [8] IUCN 2015. The IUCN Red List of Threatened Species. Discussão Version 2015.1. URL: http://www.iucnredlist.org. Downloaded on 01 June 2015. A vegetação florestal dessas parcelas é classificada como 10 [9] Martinelli, G; Moraes, M.A.; (ORGS), Livro Vermelho da Floresta Ombrófila Mista Altomontana , ocorrendo acima Flora do Brasil, 2013. CNCFLORA, Centro Nacional 11 dos 1.200 metros de altitude . Regionalmente, estas de Conservação da Flora. 1. ed. - Rio de Janeiro : florestas são classificadas como Florestas Nebulares da Andrea Jakobsson: Instituto de Pesquisas Jardim Crista da Serra Geral7. As espécies mais importantes na Botanico do Rio de Janeiro, 2013. 1100 p. estrutura florestal fazem parte de um contingente florístico, [10] Mapa da Mata Atlântica. Diálogo florestal. As 7 diferentes Matas da Mata Atlântica. Disponível em: adaptados a um clima de frio extremo . Por exemplo, . Acesso em: 20 representado por apenas quatro espécies, todas maio 2012. ocorrentes no Sul da América do Sul, em ambientes frios, [11] Vibrans, A.C., et al. (Ed.). Inventário Florístico sendo sua distribuição restrita à estas condições12. Florestal de Santa Catarina. Vol lll. Floresta Ombrófila Crinodendron brasiliense é endêmica de Santa Catarina12, Mista. Blumenau: Edifurb, 2013. 225 p. [12] Reitz, P.R. & Smith, L. B. Crinodendron no Brasil. apesar da importância da espécie na faixa acima de 10 cm Sellowia, Itajaí, v. 9, n. 10, p. 19-22, 1958. de DAP na TN 3500, sua representatividade é pequena nas outras faixas de estudo e nenhum indivíduo foi encontrado na TS 3500. Além disto, a espécie não foi observada no Inventário Florístico Florestal de Santa

92 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

COMUNIDADE DE MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE EM UM MOSAICO DE FITOFISIONOMIAS NA MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL. Átilla Colombo Ferreguetti1,*, Walfrido Moraes Tomas2, Helena de Godoy Bergallo1 1 Departamento de Ecologia,Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ. 2 Laboratório de Vida Selvagem, Embrapa Pantanal, Corumbá, MS. *[email protected] negativo na frequência de registros nas regiões oeste e Introdução sul, onde apresentaram uma maior incidência de caça. O Estado do Espírito Santo, localizado na região Nossos resultados mostram que essas espécies não Sudeste, possuía quase 90% de sua superfície coberta estão distribuídas uniformemente dentro da reserva, com por Mata Atlântica, entretanto com o processo de a ocupação das mesmas tendo sido afetada por quatro colonização portuguesa, ocupação do território e principais covariáveis: (1) distância entre árvores; (2) industrialização, restou apenas 8% da cobertura florestal distância da estrada; (3) distância do recurso hídrico original1,2. Com toda a informação existente acerca das mais próximo e (4) densidade de lianas por hectare. A espécies neotropicais de mamíferos de médio e grande detectabilidade das espécies que são consideradas porte ainda há muitas lacunas no nosso conhecimento3. cinegéticas foi afetada pelo histórico de registros de Nesse sentido, com o objetivo de realizar um caça. levantamento de dados de riqueza, composição, Discussão abundância, densidade populacional, período de atividade, distribuição e uso do hábitat por espécies de A maioria das espécies registradas que tiveram uma mamíferos de médio e grande porte, da Reserva Natural probabilidade de ocupação alta são raras ou até mesmo Vale (RNV), norte do Espírito Santo. Espera-se que as localmente extintas em outras áreas de domínio da Mata informações aqui geradas possam contribuir com o Atlântica3. Adicionalmente nossos dados confirmam que incremento no conhecimento da ecologia dos mamíferos a RNV abriga uma fauna de mamíferos de médio e neotropicais, bem como fornecer informações desse grande porte rica, incluindo grandes herbívoros, grupo para subsidiar as políticas e ações ambientais que dispersores de sementes e alguns carnívoros. Embora o visem à conservação da biodiversidade. estudo tenha sido realizado em apenas uma área, vale lembrar que a RNV, juntamente com a ReBio Sooretama, Metodologia formam o maior bloco de área protegida dentro do O presente estudo foi realizado na Reserva Natural Vale estado do Espírito Santo e também um dos maiores (RNV), uma área de 23.500 ha que pertence à blocos de Mata de Tabuleiro. Assim, para a conservação companhia Vale, localizada entre os municípios de das espécies que habitam a RNV, é preciso considerar Linhares e Jaguaré (19º06’ – 19º18’ S e 39º45’ – 40º19’ não apenas a reserva isolada, mas todo o bloco W), ao norte do rio Doce no nordeste do Estado do Linhares-Sooretama, uma vez que estão conectados Espírito Santo. A RNV é adjacente à Reserva Biológica permitirão o incremento populacional e as trocas de Sooretama (RBS; 24.250 ha) e a outras três RPPNs genéticas entre as populações. Somente desse modo (Mutum Preto; Recanto das Antas e Fazenda Cúpido e será aumentada a probabilidade de sobrevivência e Refúgio). Juntas estas reservas formam um bloco manutenção das espécies em longo prazo, das espécies contínuo de vegetação nativa (bloco Linhares / de mamíferos de médio e grande porte. Sooretama), interceptado pela Rodovia BR-101, e Agradecimentos representam quase 10% da área com cobertura florestal remanescente no Espírito Santo. Para este estudo foi Agradecemos a Reserva Natural Vale por seu apoio a realizado amostragens mensais no período de abril de esta pesquisa. AFC também é grato a Coordenação de 2013 até junho de 2014 na RNV, através de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) armadilhamento fotográfico (39 armadilhas fotográficas) por uma bolsa de estudos de pós-graduação. e também transecções lineares. Referências Bibliográficas Resultados [1] PEREIRA, O.J. A cobertura vegetal do Espírito Santo. In:SIMONELLI, M. & FRAGA, C.N. (eds.). Espécies da flora Os registros obtidos nas 39 armadilhas fotográficas ameaçadas de extinção no estado do Espírito Santo. Vitória: IPEMA, resultaram em um total de 7.020 dias de monitoramento. p. 29–34, 2007. Foram observadas 23245 fotos de 26 espécies de [2] RIBEIRO, M.C. et al. 2009. The Brazilian Atlantic Forest: How mamíferos de médio e grande porte. Uma maior riqueza much is left, and how is the remaining forest distributed? Implications for conservation. Biological Conservation, 142: 1141- e frequência de registros ocorreram nas armadilhas 1153. estabelecidas na região norte da RNV. A distância do [3] MOREIRA, D.O. et al.. 2008. O status do conhecimento sobre a recurso hídrico estava positivamente relacionada com a fauna de mamíferos do Espírito Santo baseado em registros de museus e literatura científica. Biota Neotropica, 8(2). composição de mamíferos e a quantidade de registros de caça no presente estudo teve um efeito marginalmente

93 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

RELAÇÕES ESPACIAIS E AMBIENTAIS COM O CRESCIMENTO DE ÁRVORES EM FLORESTA OMBRÓFILA DENSA SUBMONTANA NO PARANÁ, BRASIL

Cilmar Antônio Dalmaso1.*, Renato Marques2, Jonas Eduardo Bianchin1 1 Universidade Federal do Paraná, Laboratório de Biogeoquímica, Departamento de Engenharia Florestal, Curitiba, PR; 2 Universidade Federal do Paraná, Laboratório de Biogeoquímica, Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, Curitiba, PR; *[email protected]

topográficas como altitude e declividade dentro das Introdução parcelas serão obtidas a partir do georreferenciamento Devido o avanço e pressão antrópica sobre a floresta do ponto inicial de cada parcela com GPS de precisão e atlântica, estudos do crescimento da vegetação arbórea irradiações com bussola e trena eletrônica. Para uma apresentam um grande interesse científico, pois escala maior, que inclua todas as parcelas, as variáveis oferecem subsídios para conservação, manejo adequado topográficas serão obtidas de um Modelo Digital de e recuperação de áreas degradadas. A pesquisa em Elevação (MDE) elaborado com uso de SIG e bases biodiversidade deve estabelecer as relações entre os cartográficas do Exército Brasileiro com escala de fatores físicos e químicos do solo e bióticos, pois a 1:25.000 (Figura 1). biodiversidade é um produto destes e influencia profundamente os processos físicos e químicos na superfície da terra¹. O objetivo desta pesquisa é avaliar relações do crescimento da vegetação arbórea com variáveis ambientais de topografia e atributos de solo. Especificamente abordamos as seguintes perguntas: • Atributos de solos e topografia explicam a variação espacial de crescimento das espécies em Floresta Ombrófila Densa Submontana? • Com base na correlação entre os atributos físicos e químicos do solo e variáveis topográficas, é possível prever a variação do crescimento da vegetação arbórea na Floresta Ombrófila Densa Submontana com dados secundários? Figura 1 – Base cartográfica do Exército Brasileiro Metodologia vetorizada para a área de estudo. A partir do MDE será extraído as altitudes, O trabalho está sendo realizado na Reserva Natural Rio sombreamentos, inclinações e orientações das encostas Cachoeira, localizada no município de Antonina, PR para cada “célula” de um arquivo tipo raster, sendo em (25°25' S e 48°40' W), dentro da APA de Guaraqueçaba seguida estimado a radiação solar. Com isso deve-se sob administração da Sociedade de Pesquisa em Vida obter dados das taxas energéticas disponível em cada Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). O clima na localização. Para análise de incremento em diâmetro região de estudo é subtropical úmido com verões serão realizadas coletas de lenho por métodos não quentes e temperado classificado como Cfa segundo a destrutivos e analisada as séries de anéis de crescimento Köppen e Geiger². As variáveis biofísicas estão sendo de algumas espécies selecionadas. A competição será obtidas em um módulo de pesquisa do PPBio Mata testada por meio de índices de concorrência dependentes Atlântica que prevê a utilização de 10 parcelas de 250 m da distância (em que a localização espacial entre árvores X 40 m onde o eixo mais longo da parcela, chamado de é uma exigência do modelo) e a suposição é que o linha central, segue o contorno da curva de nível. Para crescimento da árvore pode ser estimado se a espacialização das árvores a partir de coordenadas localização e o tamanho das árvores competidoras cartesianas esta sendo implementado um banco de vizinhas forem conhecidos. As variáveis topográficas, os dados geográficos orientado a objetos por meio de um principais atributos físicos e químicos do solo e os Sistema de Informação Geográfica (SIG). As amostras índices de competição serão submetidos à análise do solo serão coletadas em todas as 10 parcelas em 6 multivariada para identificar quais estão mais pontos e 4 profundidades, totalizando 24 amostras por correlacionadas com o crescimento. parcela. As amostras de solo indeformadas, serão obtidas nos diferentes perfis de solo. Os atributos do solo Resultados presente nas amostras serão estimados para qualquer ponto (local) dentro da área de amostragem por meio de O estudo está na fase de coleta de dados, sendo que até funções de estatística espacial. Algumas variáveis o momento foram avaliadas três parcelas onde foram

94 registrados aproximadamente 2.500 indivíduos. As parcelas apresentaram densidade entre 800 e 900 ind/ha. Discussão Sloanea guianensis (Aubl.) Benth.; Hieronyma Nas florestas tropicais e subtropicais é comum a alchorneoides Allemão; Vochysia bifalcata Warm.; frequência nas classes de diâmetro se distribuírem em Tibouchina pulchra (Cham.) Cogn.; Psychotria nuda um histograma em forma J invertido. As classes de (Cham. & Schltdl.) Wawra; Cupania oblongifolia Mart.; maiores diâmetros têm poucos indivíduos ou frequências Euterpe edulis Mart.; Casearia obliqua Spreng e baixas. Nas próximas etapas serão selecionadas as Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. estão se espécies que apresentam maior frequência nas parcelas destacando com maior numero de indivíduos. Na Figura e que apresentam anéis de crescimento visíveis para 2 estão representadas as distribuições dos diâmetros estudos dendrocronológicos. É necessário que as para cada uma das parcelas. espécies apresentem árvores que ocorrem em número suficiente para a validação dos dados, e que sejam frequentes nas diferentes amostras para testar os efeitos dos gradientes ambientais e dos atributos do solo. A espacialização inicial esta sendo importante para verificar a consistência dos dados. Conhecer a estrutura espacial das árvores de uma floresta é de fundamental importância quando se pretendem avaliar fatores que determinam a competição entre os indivíduos e o crescimento. Com a implementação de um banco de dados em Sistemas de Informação Geográfica é possível consultar as informações ou atributos das árvores e elaborar esquemas gráficos ampliando as perspectivas com analise espacial. Figura 2 - Gráfico da distribuição diamétrica das duas amostras avaliadas. Resultados esperados Na Figura 3 é possível observar a distribuição espacial Considerando que o solo, a altitude, inclinação e das árvores com diferentes diâmetros na parcela 2. Para exposição do terreno afetam diretamente a análise de crescimento será priorizado as árvores com disponibilidade de água, luz e nutrientes, espera-se maiores diâmetros que possuem uma série encontrar relações destes atributos com o crescimento dendrocronológica maior. das espécies arbóreas. Agradecimentos À Capes pela concessão da bolsa ao primeiro autor; ao CNPq pelo apoio com o projeto PPBio. Referências Bibliográficas [1] Magnusson, W. et al. Biodiversidade e Monitoramento Ambiental Integrado. Santo André, SP : Áttema Editorial, 2013. Disponível em: . Acesso em: 30/07/2014. [2] Climate-Data.Org. Clima: Antonina. Disponível em: . Acesso em: 16/08/2014.

Figura 3 – Distribuição espacial dos indivíduos na parcela 2.

95 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 DIVERSIDADE FUNCIONAL E A COEXISTÊNCIA DE ESPÉCIES ARBÓREAS NA MATA ATLÂNTICA DO LITORAL DO PARANÁ Daniele Aparecida de Moraes1* & Márcia Marques1 1Universidade Federal do Paraná, Laboratório de Ecologia Vegetal, Curitiba, Paraná.*[email protected]

meio de Teste de Mantel parcial comparado a um modelo Introdução nulo. Variações na diversidade funcional ao longo de gradientes Resultados ecológicos podem revelar mudanças nos mecanismos de coexistência de espécies em comunidades1. No caso De dezembro de 2014 a junho de 2015 foram amostradas específico das plantas que competem por poucos três parcelas, representando, portanto, 30% da recursos limitantes como água, nutrientes do solo e luz, a amostragem prevista. No total, foram amostrados 3.200 forma como elas coexistem com vista a reduzir o efeito da indivíduos, representados por 277 morfoespécies. Destas, competição é o que mantém a alta diversidade. Assim, no 85 foram identificadas em nível de espécie, 28 em nível contexto atual, o conhecimento desses mecanismos se de gênero e 87 em nível de família. Foram amostradas torna fundamental para a pesquisa sobre o impacto das morfoespécies de 43 famílias, das quais se destacam em mudanças globais na diversidade da Mata Atlântica e, riqueza: Myrtaceae (47 morfoespécies), Rubiaceae (26), consequentemente, para sua preservação. Por exemplo, a Lauraceae (19), Fabaceae (18) e Euphorbiaceae (10). Os deposição de N pode provocar reduções drásticas na gêneros mais ricos foram Marlierea (4 morfoespécies), diversidade se a partilha de recursos for o mecanismo Matayba, Casearia e Miconia (3 morfoespécies cada). chave de coexistência; por outro lado, pode ter um efeito Algumas espécies se destacaram em termos de mínimo se a coexistência é mediada principalmente pela frequência. São elas: Psychotria nuda (Cham. & Schltdl.) 2 variação espacial em fina escala na umidade do solo . Wawra, Sloanea guianensis (Aubl.) Benth., Vochysia Logo, os objetivos desse trabalho são estudar os bifalcata Warm., Hieronyma alchorneoides Allemão, mecanismos de coexistência de espécies arbóreas Tibouchina pulchra (Cham.) Cogn., Posoqueria sp., Virola analisando: 1) os padrões de coocorrência de espécies bicuhyba (Schott) Warb., Bathysa australis (A.St.-Hil.) em relação a traços funcionais e 2) o efeito da K.Schum., Casearia obliqua Spreng., Marlierea tomentosa heterogeneidade ambiental e da partição de recursos na Cambess., Alsophila cf. setosa e Pausandra morisiana diversidade funcional. (Casar.) Radlk.. Considerando as espécies identificadas ao nível específico (ou de gênero), na parcela 2 foram Metodologia encontradas 85 espécies, enquanto que nas parcelas 4 e 6 foram encontradas 49 e 56 espécies, respectivamente. O estudo está sendo conduzido na Reserva Natural Rio Cachoeira (25º19’15’’S e 45º42’24’’O) situada no município de Antonina, litoral norte do Paraná. O clima da Discussão região, segundo a classificação de Köeppen, é do tipo Cfa (subtropical úmido mesotérmico) em áreas serranas e Como o trabalho está em fase de execução, com parte do Af(t) (chuvoso tropical sempre úmido mesotérmico) em material botânico a ser determinado ou mesmo coletado, áreas de planície. A temperatura média é de 21°C nos eventuais super ou subestimação da riqueza do local de meses mais quentes, com precipitação média anual em estudo podem ter ocorrido. Apesar disso, a alta riqueza torno de 2.000 a 3.000 mm e umidade relativa do ar em 3 amostrada associada com a grande diversidade de torno de 85% . Entre as principais classes de solo ambientes observada sugere adaptações das espécies a encontradas na reserva estão os Neossolos, Gleissolos, 4 esses locais e que eventualmente refletirão na estrutura Cambissolos e Argissolos . Em área de Floresta funcional da comunidade. Os próximos passos da Ombrófila Densa Submontana foi instalado um módulo pesquisa incluem a conclusão da amostragem da RAPELD, contendo 10 parcelas de 240 m de vegetação nas parcelas, coleta de atributos funcionais, comprimento por 40 m de largura (1 ha cada). A medição das variáveis ambientais, e a análise da amostragem da vegetação teve início em dezembro de influência dessa variação na diversidade. 2014 e se restringe a indivíduos com DAP ≥ 5 cm situados na faixa mais central da parcela, com 20 m de Agradecimentos largura. Para essas plantas estão sendo medidos DAP, altura e coordenadas espaciais, com eventuais coletas de À CAPES, pela concessão da bolsa à primeira autora, ao material para determinação botânica. A coleta de CNPq, pelo financiamento do projeto através do PPBio atributos funcionais está prevista para ocorrer a partir de Mata Atlântica, e à SPVS, por permitir o trabalho na dezembro de 2015. Reserva. Serão medidos oito atributos vegetativos contínuos para 5 indivíduos por espécie em cada parcela: 1) área foliar, Referências Bibliográficas área foliar específica, espessura da folha, conteúdo de massa seca da folha, conteúdo de N e P, altura máxima, [1] Mason,N. W. H.; Richardson, S. J.; Peltzer, D. A.; de Bello, F.; densidade específica do galho. Alguns gradientes Wardle, D. A. & Allen, R. B. Changes in coexistence mechanisms ambientais serão considerados, como: 1) declividade do along a long-term soil chronosequence revealed by functional trait terreno, 2) abertura do dossel, 3) teor de nutrientes, e 4) diversity. Journal of Ecology, 2012. [2] Adler, P. B.; Fajardo, A.; Kleinhesselink, A. R. & Kraft, N. J. B. granulometria do solo. A diversidade funcional será Trait-based tests of coexistence mechanisms. Ecology Letters, 2013. medida pela entropia quadrática de Rao e sua relação [3] Maack, R. 2012. Geografia Física do Estado do Paraná. 4ª ed. com os gradientes ambientais será analisada, UEPG, Ponta Grossa, BR. basicamente, por meio de ordenações e regressões [4] Cardoso, F. C. G., Marques, R., P. C. Botosso, P. C. & Marques, lineares. Já a relação da diversidade funcional com a M. C. M. 2012. Stem growth and phenology of two tropical trees in distribuição espacial das espécies será analisada por contrasting soil conditions. Plant Soil. 354:269–281.

96 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 ESTRATÉGIAS DE CRESCIMENTO DE ARBUSTOS DE SUB-BOSQUE DA MATA ATLÂNTICA: HÁ UMA VARIAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS AO LONGO DE UMA VARIAÇÃO ALTIDUDINAL? Dario Caminha-Paiva1,*, Bruno H.P. Rosado1 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, IBRAG, Depto. Ecologia, Rio de Janeiro, RJ *[email protected] utilizando-se os valores médios, de R2 e coeficiente Introdução angular por parcela. Entender padrões e mecanismos de estruturação de comunidade vegetais é de extrema importância para o Resultados manejo e preservação de áreas naturais. Nesse contexto, Somente três atributos apresentaram variação abordagens funcionais permitem uma precisa análise dos significativa com a altitude: CP e FMP apresentaram uma processos ecológicos que moldam as comunidades em relação positiva (R2 0.80; p<0.05 e 0.68; p<0.05, termos de presença/ausência de espécies e padrões de respectivamente) e, RAF, uma relação negativa (R2 -0.68; dominância. Para lidar com variações na disponibilidade p<0.05). Nas análises entre altitudes baseadas nos de recursos, plantas tem que balancear a alocação de valores de R2 e coeficiente angular (α) das relações entre recursos de forma a otimizar seu fitness. É bem atributos em cada parcela, como variáveis dependentes, estabelecido na literatura a existência de um trade-off foi encontrado um aumento do R2 da correlação entre CP entre crescimento e sobrevivência, dois extremos de um e FMP (R2 0.57; p<0.05) e, a relação CP e CEP, negativa 1 contínuo de estratégias ecológicas . Ao longo de uma em todas as amostragens, teve uma diminuição do R2 (R2 variação altitudinal o aumento da severidade ambiental -0.59; p<0.05), indicando uma maior alocação de massa causado por fatores como menor disponibilidade hídrica e nos pecíolos, o que suporta a diminuição em RAF ao nutricional e, aumento de radiação solar promovem longo da variação altitudinal e o aumento de α de 2,3,4 mudanças nos padrões das comunidades vegetais . correlação entre CEP e RAF (R2 0.51; p<0.05). Entre as Nesse sentido, é esperado encontrar em altitudes análises dos pecíolos e entrenós ocorreu diminuição do elevadas uma maior predominâcia em estratégias de R2 das correlações CP e FME (R2 -0.59; p<0.05) e FMP e 5 sobrevivêcia , caracterizados por investimentos na CEE (R2 -0.57; p<0.05); o qual apresentaram valores de durabilidade dos tecidos e, consequentemente baixas R2 variando desde positivos e muitos baixos até negativos taxas de crescimento em contraste a estratégias de nas parcelas mais elevadas. Houve uma diminuição de α rápido crescimento normalmente encontradas em entre FMP e FME (R2 -0.75; p<0.05). Adicionalmente, o α comunidades com maior disponibilidade de recursos, da correlação entre CP e CE apresentou uma relação como em altidudes mais baixas. Nesse contexto, o negativa com a altitude (R2 -0.59; p<0.05). O R2 (R2 0.78; objetivo deste estudo foi analisar mudanças de p<0.05) de AF bem como α (R2 0.86; p<0.05) de sua estratégias ecológicas da comunidade arbustiva de sub- relação com FMP aumentou com a altidude. A relação bosque de Ilha grande utilizando-se de uma abordagem entre AF e CP também aumentou com a altitude e foi funcional. demonstrada pelo aumento de α da correlação (R2 0.89; Metodologia p<0.05). Entre RAF e AF, o α diminuiu com o aumento altidudinal (R2 -0.58; p<0.05). Entre MFA e CEP, houve um aumentotanto no R2 (-0.59; p<0.05) como no A área de estudo se localiza na Ilha Grande, município de coeficiente angular (R2 -0.63; p<0.05). Por último, o Angra dos Reis, RJ e, abrange 190 km2 de relevo aumento altitudinal promoveu uma maior importância de acidentado. A comunidade de plantas arbustivas de sub- ESP para explicar variações em MFA (R2 0.77; p<0.05)., bosque foi coletada utilizando-se a metodologia RAPELD O R2 e α da relação entre MFA e CAF aumentou ao longo baseada no protocolo PPBio. A amostragem se deu em da altitude (0.60; p<0.05 e R2 0.73; p<0.05, sete das dez parcelas do módulo oeste da Ilha Grande, respectivamente) . com altidude variando de 164 à 692 m. Em cada parcela de 500m2 treze sub-parcelas de 20m2 foram Discussão aleatóriamente amostradas e todos os indivíduos de 1 à 2 Pode-se observar um aumento na alocação de recursos metros tiveram seu grau de exposicao de copa nos pecíolos. Esse investimento diferencial em massa e estimados, ramos de ate 30cm coletados e tamanho foi coordenado com mudanças na dimensão (AF acondicionados em sacos plásticos pretos previamente e CE) e massa (FME, CEE, MFA) dos estrenós e folhas. umidecidos. Em laboratório, treze atributos funcionais O maior investimento em massa dos pecíolos esteve foram estimados (tabela 1). Utilizando-se o software R- correlacionado com a diminuíção em massa investida nos studio versão 2.11.1, 2010 foram feitas regressões entrenós. Essa mudança permite que as folhas lineares entre atributos em cada parcela e, para avaliar permaneçam por mais tempo acopladas as plantas e, mudanças nas relações entre atributos ao longo da portanto poupem recursos para a produção de novos variação altitudinal foram feitas regressões lineares tecidos6, estratégia característica de ambientes com

97 baixa disponibilidade de recursos. Adicionalmente, pecíolos mais longos permitem um posicionamento espacial mais eficiente das folhas o que aumenta a interceptação luminosa7. O aumento do poder explicativo de ESP sob MFA permite que as plantas potencializem fotossíntese por área foliar e lidem com o trade-off entre trocas gasosas e balanço hídrico, típico de ambientes com altos índices de radiação luminosa, temperatura e disponibilidade hídrica8. A mudança das relações entre atributos com a altitude demonstra como as plantas estão respondendo diferencialmente à alterações no gradiente de condições e recursos. Agradecimentos

À Faperj pela concessão da bolsa ao primeiro autor e finaciamento da pesquisa. Referências Bibliográficas [1] Reich. P B. 2014. The world-wide ‘fast–slow’ plant economics spectrum: a traits manifesto. Journal of Ecology 102: 275-301. [2] Korner, C. 2007. The use of ‘altitude’ in ecological research. Trends in Ecology and Evolution 22: 569-574. [3] Rosado, B.H.P. 2011. Ecologia funcional de árvores da Mata Atlântica: o papel de atributos morfológicos, grau de exposição da copa e altitude sobre o uso de água das espécies. PhD Dissertation. Unicamp, Campinas. [4] Rosado, B. H. P.; et al. 2012. Diversity in nighttime transpiration behavior of woody species of the Atlantic Rain Forest, Brazil. Agricultural and Forest Meterology 158: 13-20. [5] Kraft, N. J., Valencia, R., & Ackerly, D. D. 2008. Functional traits and niche-based tree community assembly in an Amazonian forest. Science, 5901, 580-583. [6] Poorter, L. 2009. Leaf traits show different relationships with shade tolerance in moist versus dry tropical forests. New Phytologist 181: 8 90-900. [7] Poorter, L., & Rozendaal, D. A. 2008. Leaf Size and Leaf Display of Thirty-Eight Tropical Tree Species. Oecologia, 1. 35-46. [8] De Mattos, E.A et al. 2004. Variação espacial e temporal em parâmetros fisioecológicos de plantas. In C. F. D. Rocha, F. A. Esteves and F. R. Scarano (Eds.). Pesquisas de longa duração na restinga de Jurubatiba. Ecologia, história natural e conservação, RiMa editora, São Carlos.pp. 99-116.

Tabela 1. Atributos funcionais.

Espessura foliar (ESP) mm Comprimento do pecíolo (CP) cm Comprimento do entrenó (CE) cm Área foliar (AF) cm2 Massa de folha por área (MFA) g.m-2 Comprimento especifíco do pecíolo (CEP) cm.g-1 Comprimento especifíco do entrenó (CEE) cm.g-1 Conteúdo de água foliar (CAF) g.g-1 Densidade foliar (DEN) mg/mm3 Razão de área foliar (RAF) cm2g-1 Fração de massa foliar (FMF) % Fração de massa do pecíolo (FMP) % Fração de massa do entrenó (FME) %

98 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 DIVERSIDADE DA MALACOFAUNA EM PARCELAS RAPELD-ILHA GRANDE, ANGRA DOS REIS, RJ Jaqueline L. de Oliveira1* e Sonia B. dos Santos2 1,2 Laboratório de Malacologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução (PPGEE- UERJ) *[email protected]

Introdução abundância. A análise da diversidade alfa foi feita utilizando o índice de Shannon-Winner (H’) e o índice de Os moluscos terrestres apresentam aproximadamente 35 equitabilidade de Pielou (J’). Com o objetivo de analisar mil espécies viventes em um total de 50 a 100 mil os fatores ambientais que influenciaram a composição e 1,2 descritas mundialmente para os moluscos . No Brasil, a distribuição da malacofauna nas áreas de estudo foi temos 670 espécies listadas e estima-se 2000 espécies realizada uma análise discriminante. ainda não descritas3. São considerados um grupo de grande diversidade, com ampla variedade morfológica e Resultados de ocupação de habitats4. Apesar do grande número de espécies, estudos sobre a biologia e ecologia de Coletamos 373 espécimes distribuídos em 42 espécies, gastrópodes terrestres são escassos5. Este fato pode ser 30 gêneros e 11 famílias. A parcela com a maior alarmante, já que moluscos terrestres são considerados abundância foi a L2_3500 com 108 espécimes (29%), um dos grupos de invertebrados mais ameaçados, seguida da L1_3500 com 66 espécimes (18%) e da principalmente pela fragmentação e alteração do L1_4500 com 47 espécimes (13%). A que apresentou a habitat6,7. A proposição de ações de incentivo à menor abundância foi a L1_2500, com apenas nove conservação da malacofauna terrestre, além do espécimes (2%). As parcelas que apresentaram a maior e inventariamento, depende do investimento em pesquisas a menor riqueza foram L2_4500 e L1_2500 com 19 (45%) sobre a taxonomia, morfologia, biologia, distribuição e e seis (14%) espécies, respectivamente. Scolodontidae ecologia das espécies6. O objetivo desse estudo foi foi a família com a maior riqueza, 12 espécies, totalizando investigar a distribuição dos moluscos terrestres 28,5% da amostragem, seguida por Bulimulidae com seis presentes nas oito parcelas permanentes do RAPELD, espécies (14,5%) e, Charopidae e Subulinidae com cinco Módulo Leste, na Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ. espécies (11%) cada uma. As outras famílias foram representadas por três ou quatro espécies. A família com Metodologia a maior abundância também foi Scolodontidae com 41% dos espécimes coletados. Beckianum beckianum (Pfeifer, As coletas foram realizadas em oito parcelas 1846) foi a espécie mais abundante em relação a permanentes estabelecidas no Módulo Leste do amostra total, com 48 espécimes (13%), distribuídos em Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) apenas duas parcelas: na L1_4500 com nove espécimes situadas na Ilha Grande, em áreas que abrangem (19%) e na L2_3500 com 39 espécimes (36%). Floresta Ombrófila Densa Submontana e Montana. Drepanostomella sp., Synapterpes aff. hanley (Pfeiffer, Coletamos na faixa de amostragens múltiplas, onde 1846), Bahiensis janeirensis (Sowerby, 1833), estabelecemos 10 pontos de coleta a cada 25 metros na Lilloiconcha gordurasensis (Thiele, 1927) e Guppya sp. parcela. Nesses pontos, realizamos: (1) coleta direta, com foram registradas pela primeira vez na Ilha Grande. 4 coletores durante 15 minutos, totalizando 1 hora, perfazendo 10 horas de busca; (2) coleta de serapilheira Os valores dos índices de diversidade de Shannon- em 10 quadrats de 25x75cm, apoiado sobre o solo do Wiener indicaram L2_4500 (H’ =2,79) e L1_2500 (H’ = qual toda a serapilheira contida em sua área foi recolhida 1,68) como as parcelas com o maior e o menor índice, e acondicionada em sacos plásticos identificados, respectivamente. O índice de equitabilidade de Pielou posteriormente levados ao laboratório para a triagem dos demonstrou que a uniformidade variou de 0,70 para a moluscos (vivos ou somente conchas). Antes da retirada parcela menos uniforme (L2_3500), até 0,95 para a mais da serapilheira foram obtidas as medidas: temperatura do uniforme (L1_1500). De acordo com a análise solo e do ambiente, umidade do ar, profundidade da discriminante houve distinção entre as amostras das oito serapilheira e fechamento do dossel. O percentual de parcelas (Wilks’s Lambda = 0,000; Df= 24,206, p>0,05) umidade da serapilheira foi obtido através da secagem de acordo com as variáveis ambientais. As parcelas das folhas, em estufa, no laboratório. A identificação dos L1_3500, L2_0500 e L2_3500 foram mais semelhantes moluscos foi feita até a menor categoria taxonômica entre si. Já as parcelas L1_1500, L1_4500, L1_2500, possível. Utilizamos a bibliografia pertinente, fotos de L2_2500 e L2_4500 diferiram acentuadamente e espécimes identificados disponíveis nos bancos de dados apresentaram uma boa separação entre os grupos. As do Laboratório de Malacologia da UERJ, comparação parcelas L1_2500, L1_1500 e L1_4500 ficaram bem com exemplares depositados nas Coleções Científicas de distantes das L1_3500, L2_0500 e L2_3500 com moluscos da UERJ e do Museu de Zoologia da destaque para a parcela L1_2500, que apresentou o Universidade de São Paulo (MZSP) e, parecer de maior grau de isolamento. As variáveis temperatura do especialistas. Os dados de cada parcela foram solo, profundidade da serapilheira e temperatura média analisados separadamente para posterior comparação. do ambiente foram as que mais contribuíram para a Para a estrutura da comunidade calculamos a riqueza e discriminação das parcelas.

99 [1] Ribeiro-Costa, C. S.; Marinoni, L. Mollusca. In: Ribeiro-Costa, Discussão C. R.; Rocha, R. M. (Org.) Invertebrados: Manual de Aulas Práticas. 1ª Ed. Ribeirão Preto: Holos, p. 74-105, 2002 O estudo mostrou que as parcelas que atingiram os [2] Barker, G. M. The biology of terrestrial molluscs. 1ª Ed. New maiores valores de diversidade foram aquelas em áreas York: CABI publishing, 2001. de florestas secundárias em estágio intermediário de [3] Simone, L. R. L. Moluscos. In: Joly, C.A.; Bicudo, C.E.M. (orgs.). Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: sucessão e mais afastadas dos povoados da Ilha 8 síntese do conhecimento ao final do século XX, 5: Grande . O processo de sucessão ecológica proporciona Invertebrados Terrestres. São Paulo: FAPESP, p.390, um aumento da complexidade estrutural, o que favorece 1999 a ampliação da biodiversidade, facilitada pela existência [4] Leme, J. L. Sistemática e Biogeografia. In: Barbosa, F. S. de mais microhabitats e nichos para as espécies. A (Org.) Tópicos em Malacologia médica. 20ª Ed. Rio de heterogeneidade pode ser consequência da maior Janeiro: Editora FIOCRUZ, p. 15-49, 1995 diversidade de espécies da vegetação que estão em [5] Götmark, F.; Proschwitz, T. V.; Franc, N. Are small sedentary constante dinamismo, entrando e saindo das species affected by habitat fragmentation? Local vs. comunidades no decorrer dos estágios de sucessão9. A landscape factors predicting species richness and família Scolodontidae, é endêmica da América do Sul, composition of land molluscs in Swedish conservation forests. Journal of Biogeograph,. v. 35, p. 1062–1076, amplamente distribuída, abundante e com elevada 2008. riqueza em ambientes de florestas tropicais úmidas, 10 [6] Machado, A. B.; Drummond, G. M.; Paglia, A. P. Livro principalmente com espécies associadas à serapilheira . vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. 1ª Ed. O registro de espécies ainda não listadas foi facilitado Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 2008. pela instalação dos módulos RAPELD/Ilha Grande, que [7] Santos, S. B.; Nunes, A. J. M.; Brown, G.; Costa, J. M. C.; permitiu ampliar as coletas de moluscos terrestres, Luz, J. L.; Lorenzon, M. C. A.; Salgado, N. C.; Baptista, R. explorando novas áreas, retirando o foco de L. C.; Monteiro, R. F. Conservação dos invertebrados concentração da maioria dos estudos sobre a terrestres no Estado do Rio de Janeiro. In: Bergallo, H. G.; malacofauna terrestre da região em torno das Fidalgo, E. C. C. Rocha, C. F. D. e outros. (Org). 11 Estratégias e ações para a conservação da biodiversidade comunidades de Vila Dois Rios e Vila do Abraão , no Estado do Rio de Janeiro. 1ª Ed. Rio de Janeiro: ampliando o conhecimento sobre a distribuição dos Instituto Biomas, p.127-152, 2009 gastrópodes terrestres na Mata Atlântica. A diversidade e [8] Oliveira, R.R. Ação antrópica e resultantes sobre a estrutura e a distribuição dos moluscos terrestres podem ter sido composição da Mata Atlântica na Ilha Grande, RJ. fortemente influenciadas pela profundidade da Rodriguésia, v.53, n. 82, p.33- 58. 2002. serapilheira. As áreas com uma maior diversidade de [9] Begon, M.; Townsend, C. R.; Harper, J.L. Ecology from espécies de folhas e serapilheira mais profunda, individuals to ecossystems. 4ª Ed. Oxford: Blackwell proporcionam um maior aporte de matéria orgânica Publishing Company, 2006. (nutrientes), uma eficiente cobertura física com [10] Hausdorf, B. The systematic position of Scolodonta Döring, possibilidades de abrigos e microclimas favoráveis à vida 1875 and Scolodontidae H. B. Baker, 1925 (Gastropoda: Pulmonata). Zoologischer Anzeiger. v.245, p.161-165, para um número maior de espécies de moluscos, o que 12,13 2006. amplia a diversidade da área .Com uma cobertura [11] Santos, S. B.; Oliveira, J.L.; Vasconcelos, M. C. Pioneering maior e mais espessa do solo pela serapilheira, a studies on terrestrial molluscs in the atlantic forest of Ilha temperatura do solo tende a ser menor, possibilitando Grande, Rio de Janeiro by the RAPELD methodology. 14,15 uma alta taxa de umidade , ou seja, existe uma Tentacle, v.22, p.22-23, 2014. correlação entre estas variáveis. Camada fina ou a [12] Getz L.L.; Uetz, G.W. Species diversity of terrestrial snail in ausência da serapilheira e de vegetação, permitem que o the Southern Appalachian Mountains, U.S.A. Malacological solo fique exposto ao sol, tendendo a acelerar a perda de Review. v.27, p.61-74, 1994 água pela evaporação e pelo aumento da temperatura16. [13] Tattersfield P.; Seddon M.B.; Ngereza, C.; Rowson, B. Elevational variation in diversity and composition of land- Essas condições do solo podem impedir que snail faunas in a Tanzanian forest. African Journal of determinadas espécies sobrevivam, já que moluscos 15 Ecology.v. 44, p. 47-60, 2006. terrestres necessitam ambiente bem úmido . Esse [14] Vargas, A. B.; Mayhé-nunes, A. J., Queiroz, J. M., Souza. O. trabalho é pioneiro, ao utilizar a metodologia RAPELD G.; Ramos, E. F. Efeitos de Fatores Ambientais sobre a para estudos da ecologia e distribuição de moluscos Mirmecofauna em Comunidade e Restinga no Rio de terrestres no Brasil. Esperamos fornecer novas Janeiro, RJ. Neotropical Entomology. v.36, n.1, p.28-37, abordagens, ao buscar a integração com os dados 2007. oriundos de diferentes áreas, principalmente da botânica [15] Nunes, G. K.; Santos, S. B. Environmental factors affecting e pedologia, para obtermos novas informações sobre a the distribution of land snails in the Atlantic Rain Forest of malacofauna. Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ, Brazil. Brazilian Journal of Biology. v.72, n.1, p. 79-86, 2012. [16] Franklin, E.; Magnusson, W.E.; Luizão, F.J. Relative effects Agradecimentos of biotic and abiotic factors on the composition of soil invertebrate communities in an Amazonian savana. Applied Faperj APQ1 E-26/110.402/2010; E-26/110.362/2012; Soil Ecology. v. 29, p. 259-273, 2005. Capes (Bolsa Mestrado), CEADS; IBRAG; PPGEE. Aos colegas de laboratório.

Referências Bibliográficas

100 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

A COMUNIDADE DE ANUROS EM UMA ÁREA DE FLORESTA DE TABULEIRO NA MATA ATLÂNTICA DO ESPÍRITO SANTO: FATORES INFLUENCIANDO NA ESTRUTURAÇÃO DAS COMUNIDADES Juliane P. Ribeiro1*, Jane C. F. Oliveira1, Átilla C. Ferreguetti1, Helena de G. Bergallo1, Carlos Frederico D. Rocha1 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Ecologia, Laboratório de Vertebrados, Rio de Janeiro, RJ. *[email protected]

Introdução ocupado pelas espécies são registradas para todos os A forma como as comunidades de anfíbios anuros está indivíduos encontrados. Dados de pluviosidade (em estruturada é uma função das distintas maneiras em mm) serão obtidos na Estação Meteorológica da que os membros se relacionam e interagem, bem como Reserva Natural Vale. Os dados de estrutura de os níveis que surgem a partir dessas interações, como vegetação para caracterizar a heterogeneidade a estrutura trófica, o fluxo de energia, a diversidade de ambiental das fitofisionomias serão obtidos nos estudos espécies1. O conhecimento dos fatores que influenciam de vegetação do módulo RAPELD da Vale. a estrutura das comunidades de anfíbios constitui uma questão fundamental na compreensão da ecologia do grupo2. O presente estudo tem como objetivo avaliar em Resultados preliminares que extensão os fatores ambientais bióticos e abióticos podem afetar a estruturação comunidades de anfíbios Durante o período de 15 a 26 de março, foi realizada a anuros em diferentes mesohabitats (fitofisionomias) na instalação das 20 parcelas. Entre os dias 31 de maio a Reserva Natural Vale, Norte do Espírito Santo. 12 de junho, foi feita a instalação dos baldes que compõem as armadilhas de interceptação e queda, e, Metodologia no mesmo período, foi realizada a primeira amostragem O presente estudo está sendo realizado na Reserva de anuros em 9 parcelas durante o horário noturno Natural Vale (19°06’45”S e 40°03’03”O, altitude: 22 m), (entre 18:00 – 23:00). As amostragens nas parcelas situada em parte dos municípios de Linhares e São somaram um total de 667 minutos de procura ativa em Mateus, ao norte do estado do Espírito Santo. Possui 9 parcelas percorridas. cerca de 23.000 ha e representa uma das áreas de Foram registradas 13 espécies pertencentes a 6 elevada importância para a conservação da diversidade famílias: Brachycephalidae (Ischnocnema sp), biológica da Mata Atlântica, estando localizada no Craugastoridae (Haddadus binotatus), Hylidae corredor central da Mata Atlântica3. A cobertura vegetal (Aparasphenodon brunoi, Scinax argyreornatus, Scinax da reserva compreende a Floresta de Tabuleiro, que fuscovarius, Scinax gr.catharine), Leptodactylidae pode ser dividida em quatro fitofisionomias distintas: a (Physalaemus cf. maculiventris, Physalaemus crombiei, floresta alta (tabuleiro), a floresta de mussununga, Physalaemus signifer) Microhylidae (Chiasmocleis floresta permanentemente ou sazonalmente inundada carvalhoi, Chiasmocleis cf. schubarti, Dasypops (brejo, a floresta de várzea e a mata ciliar); e os campos schirchi), Odontophrynidae (Proceratophrys cf. boiei). nativos, que estão representados por campos abertos A família mais representativa nesta primeira campanha com vegetação graminóide ou vegetação arbustivo- foi Hylidae (30,7%), seguido de Leptodactylidae e arbórea em moitas características4. Microhylidae (ambas 23%). A temperatura do ar nas As amostragens de campo são feitas em 20 parcelas de o o 250 m de comprimento distribuídas nas fitofisionomias parcelas variou entre 21,2 C a 26,9 C e a umidade de floresta de tabuleiro (floresta alta), mussununga e relativa do ar variou entre 64,8% a 75%. No geral, campo nativo, seguindo o modelo RAPELD5, com base encontramos um total de 43 indivíduos de anuros em no protocolo metodológico para anfíbios. Utilizamos 80 667 minutos de esforço, ou 1 indivíduo a cada 15,51 armadilhas de interceptação e queda (“pitfall traps”) minutos, e média de 4,7 indivíduos por parcela para complementar as buscas ativas. As unidades amostrada. amostrais de cada conjunto de armadilhas consistem Os resultados preliminares foram considerados em cinco baldes de 60 litros, enterrados e dispostos em satisfatórios, considerando o esforço amostral forma de Y, instalados no final de cada uma das introdutório realizado. Esperamos que, a partir da parcelas. continuidade deste estudo, novas espécies de anfíbios A temperatura (em oC) e umidade relativa do ar (em %) anuros sejam acrescentadas à lista, assim como as são medidas em cada parcela com um informações para caracterizar a comunidade em relação termohigrômetro. As informações do microhabitat aos seus diversos componentes.

101 Agradecimentos

À Reserva Natural Vale (RNV) pelo apoio logístico na realização da pesquisa. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ (Processos nºs 304.791/2010-5 e 472287/2012-5 e 457458/2012-7) e à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do estado do Rio de Janeiro - FAPERJ (Processo nº E- 26/102.765-2012 e E-26/110.284/2010) pela concessão de bolsas e auxílio financeiro. Referências Bibliográficas [1] Begon, M; Townsend, C.R. & Harper, J.L. 2007. Ecologia de indivíduos a ecossistemas. 4a ed. Porto Alegre, Editora Artmed, 752p. [2] Pulliam, H.R. 2008. On the relationship between niche and distribution. Ecology Letters 3: 168 – 175. [3] Ministério do meio ambiente. 2000. Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos. MMA/SBF, Brasília. [4] Peixoto, A.L.; Silva, I.M.; Pereira, O.J.; Simonelli, M.; Jesus, R.M. & Rolim, S.G. 2008. Tabuleiro Forests North of the Rio Doce: Their Representation in the Vale do Rio Doce Natural Reserve, Espírito Santo, Brazil. In: The Atlantic Coastal Forest of Northeastern Brazil. Memoirs of the New York Botanical Garden, 100: 313–348. [5] Magnusson, W.E.; Lima, A.P.; Luizão, R.; Luizão, F.; Costa, F.R.C.; Castilho, C.V. & Kinupp, E.V.F. 2005. RAPELD: A modification of the Gentry Method for biodiversity surveys in long-term ecological research sites. Biota Neotrop. 5: 1–6.

102 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE EM MÓDULOS PPBio NA MATA ATLÂNTICA SUBTROPICAL, BRASIL

Juliano André Bogoni1,*, Maurício Eduardo Graipel1, Nivaldo Peroni1 1 Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Depto.de Ecologia e Zoologia, Universidade Federal de Santa Catarina *[email protected]

Introdução Resultados

Na Mata Atlântica – um dos domínios de alta Foram feitos 137 registros válidos de 18 espécies de biodiversidade e endemismo do planeta1 – 90 das 298 mamíferos (Tabela 1). No PSA, foram registradas 17 espécies de mamíferos são endêmicas2. Em Santa espécies e no PSB 11 espécies, que comparados no Catarina há registro de 152 espécies, nenhum limite mínimo de registros válidos [64: PSB], foram endemismo de mamíferos de médio/grande porte3, e estatisticamente diferentes (IC.95%), há 11 espécies poucos estudos de ecologia e conservação, registradas nesse limiar no PSB enquanto no PSA há predominando estudos populacionais4,5,6. Há, portanto, 16,1 espécies, com IC não se sobrepondo. deficiência de dados de distribuição12 e eventuais lacunas Temporalmente, foram registradas 15 espécies no taxonômicas – i.e. déficits Wallaceano e Linneano7. inverno e 11 no verão, que foram estatisticamente Populações de mamíferos têm decrescido em regiões diferentes. Em relação aos diferentes ambientes, foram tropicais8 e a perda de espécies produz efeitos-cascata registradas 6 espécies no campo, 11 em áreas de espaço-temporalmente9,10. Perspectivas apontam que capoeira, 12 em matas de araucária e 11 em matas informações ecológicas – i.e. padrões e processos – são nebulares, que comparadas por rarefação no limite perdidas, antes de serem pesquisadas, devido a mínimo de registros [22: campo], mostrou diferença pressões antrópicas em várias escalas8,9,10. Essa significativa apenas entre o campo em relação aos pesquisa objetiva conhecer a riqueza e composição de demais ambientes. Na composição de espécies, há 20% médios e grandes mamíferos em módulos do PPBio no de dissimilaridade entre módulos e 40% entre as réplicas Planalto Catarinense e caracterizar o uso de diferentes temporais. Entre os ambientes, a maior dissimilaridade foi formações vegetais pelas espécies, para, no futuro, entre campo e capoeira (78%) e a menor entre floresta de relacionar os resultados (variações na estrutura espaço- araucária e mata nebular (36%) (Figura 1). temporal das comunidades) com padrões de distribuição e disponibilidade de recursos-chave da Floresta Ombrófila Mista (FOM). Metodologia

O estudo foi feito áreas de Mata Atlântica subtropical e a amostragem via armadilhas fotográficas (Bushnell) em duas réplicas temporais (inverno de 2014 e verão de 2015) nos módulos do PPBio no Parque Nacional de São Joaquim-SC (PNSJ) – (1) Morro da Igreja (PSA: 28°06'11"S; 49°29'36"O) e (2) Campos de Santa Bárbara (PSB: 28°08'40"S; 49°28'47"O). Nas parcelas do PSA foram instaladas 9 armadilhas, nas parcelas do PSB 10 armadilhas, que permaneceram ativas por 46 dias no inverno e 32 no verão e executaram registros a cada 15”. Considerou-se registros válidos (numericamente) os que, da mesma espécie na mesma parcela, tiveram intervalos 13 superior a 1h . A caracterização das parcelas foi feita Figura 1. (A) Curvas de rarefação comparando riqueza qualitativamente em: (1) floresta de araucária (FOM de mamíferos de médio e grande porte em dois módulos senso strictu); (2) mata nebular; (3) campos (incluindo PPBio (PSA e PSB) no PNSJ; (B) Curvas de rarefação banhados); e (4) capoeiras (incluindo mata de xaxim (sem comparando riqueza de mamíferos em duas réplicas araucárias) e de bracatinga). As análises efetuadas temporais (verão e inverno); (C) Curvas de rarefação foram: (1) descritivas, explorando a riqueza nos módulos; comparando riqueza de mamíferos em diferentes (2) curvas de rarefação e intervalos de confiança de 95% formações vegetais; e (D) Análise de dissimilaridade (IC), para comparar a riqueza entre módulos, réplicas comparando a composição de mamíferos em diferentes temporais (verão e inverno) e ambientes; e (3) análise de formações vegetais em módulos PPBio no PNSJ. dissimilaridade (Bray-Curtis) entre os módulos, réplicas temporais e ambientes14.

103 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

foram ocupadas é um ponto importante para entender as Tabela 1. Registros independentes de mamíferos de variações espaço-temporais, possíveis desequilíbrios médio e grande porte em dois módulos PPBio no PNSJ. entre guildas tróficas e processos de defaunação e/ou reaparecimento de espécies. Espécie PSA PSB Cavia aff. aperea 4 8 Agradecimentos Cerdocyon thous 1 0 À CAPES pela concessão da bolsa a JAB; ao CNPq pela Coendou spinosus 1 0 bolsa produtividade de NP. Os autores agradecem ao Dasyprocta azarae 1 0 então chefe do PNSJ, Michel Omena e demais Dasypus novemcinctus 6 0 funcionários do ICMBio. Eira barbara 11 1 Galictis cuja 1 0 Referências Bibliográficas Leopardus guttulus 19 18 [1] Myers, N, Mittermeier, RA, Mittermeier, CG, Fonseca, GAB., Leopardus pardalis Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. 1 2 Nature 403: 853-858. Leopardus wiedii 2 0 [2] Paglia, AP, Fonseca, GAB, Rylands, AB., Herrman, G, Aguiar, Mazama americana LMS., Chiarello, AG, Leite, YLR., Costa, LP., Siciliano, S, 1 3 Kierulff, MCM, Mendes, SL., Tavares, VC., Mittermeier, RA, Mazama gouazoubira 10 20 Patton, JL. 2012. Lista anotada dos mamíferos do Brasil. 2ª Nasua nasua 5 4 Ed.. Occasional Papers in Conservation Biology 6: 1-82. [3] Cherem, JJ, Simões-Lopes, PC., Althoff, S, Graipel, ME. Pecari tajacu 3 3 2004. Lista dos mamíferos do Estado de Santa Catarina, Sul Procyon cancrivorus 4 0 do Brasil. Mastozoología Neotropical 11(2): 151-184. [4] Mazzolli, M. 1993. Ocorrência de Puma concolor (Linnaeus) Puma concolor 2 2 (Felidae, Carnivora) em áreas de vegetação remanescente de Puma yagouaroundi 0 1 Santa Catarina, Brasil. Rev. Brasileira de Zoologia 10: 581-587. [5] Oliveira-Santos, LGR., Graipel, ME, Tortato, MA, Zucco, CA, Tamandua tetradactyla 1 2 Cáceres, NC, Goulart, FV. 2012.Abundance changes and Riqueza 17 11 activity flexibility of the oncilla, Leopardus tigrinus (Carnivora: Felidae), appear to reflect avoidance of conflict. Zoologia 29(2), 115-120. [6] Mazzolli, M, Graipel, ME, Dunstone, N. 2002. Mountain lion Discussão depredation in southern Brazil. Biological Conservation 105(1): 43-51. A diferença espacial na riqueza pode estar associada à [7] Whittaker, RJ, Araújo, MB., Jepson, P, Ladle, RJ, Watson, alguns registros atípicos – e.g. Coendou spinosus no solo JEM, Willis, KJ 2005. Conservation Biogeography: assessment and prospect. Diversity and Distributions, 11:3-23. – e espécies com um único registro (embora sejam de [8] Dirzo, R, Young, HS, Galetti, M, Ceballos, G, Isaac, NJB, ampla distribuição no bioma), já que padrões de Collen, B. 2014. Defaunation in the Anthropocene. Science diversidade e raridade tipicamente variam em diferentes 345: 401-406. 15 [9] Galetti, M, Dirzo, R. 2013. Ecological and evolutionary escalas e áreas . Essa diferença, sobretudo, pode estar consequences of living in a defaunated world. Biological relacionada a suposta menor intensidade de uso das Conservation 163: 1-6. áreas no PSA e/ou a processos de defaunação19,8. A [10] Kurten, EL. 2013. Cascading effects of contemporaneous defaunation on tropical forests communities. Biological tendência de que temporalmente existe atividade Conservation 163: 22-32. diferenciada na fauna de mamíferos (maior riqueza e [11] O’Connell, AF., Nichols, JD, Karanth, KU (eds.). 2011. quantidade de registros no inverno) pode estar associada Camera Traps in Animal Ecology. Springer. New York. 16,17 [12] Cáceres, NC, Cherem, JJ, Graipel, ME. 2007. Distribuição a disponibilidade de recursos (e.g. pinhão) , assim geográfica de mamíferos terrestres na região sul do Brasil. como ao término da época de criação de filhotes para Ciência & Ambiente 35: 167-180. várias espécies (dispersão: busca e ocupação de novos [13] Oliveira-Santos, LGR, Tortato, MA, Graipel. 2008. Activity 18 pattern of Atlantic Forest small arboreal mammals as revealed territórios) . Entretanto, devemos reconhecer que o by camera traps. Journal of Tropical Ecology 24:563–567. esforço diferente entre as réplicas temporais, e os [14] Magurran, AE. 2004. Measuring Biological Diversity. Malden: registros não relativizados pelo esforço (armadilhas-dia), Blackwell Publishing. [15] Flather, CH, Wilson, KR, Dean, DJ, McComb, WC. 1997. pode ter influenciado os resultados, e, nesse caso será Identifying gaps in conservation networks: of indicators and possível relativizar os registros e usar modelos de uncertainty in geographic-based analyses. Ecological probabilidade de ocorrência e de ocupação11 e relacioná- Applications 7: 531–542. [16] Duarte, LS., Santos, MMG, Hartz, SM, Pillar, VD. 2006. Role los aos padrões de produtividade de recursos (como o of nurse plants in Araucaria Forest expansion over grassland in pinhão e a goiaba-serrana), ajudando a compreender a south Brazil. Austral Ecology 31: 520-528. estrutura espaço-temporal das comunidades de [17] Zechini, AA, Schussler, G, Silva, JZ, Mattos, AG., Peroni, N, Mantovani, A, Reis, MS. 2012. Produção, comercialização e mamíferos em ambas as áreas, inclusive, as mudanças identificação de variedades de Pinhão no entorno da Floresta na composição quanto ao uso de diferentes formações Nacional de Três Barras-SC. Biodiversidade Brasileira 2(2): 74- vegetais. A diferença entre o uso de áreas de campo em 82. [18] Parera, A. 2002. Los mamíferos de la Argentina y laregión relação aos demais ambientes (em riqueza e austral de Sudamérica. El Ateneo, Buenos Aires. composição) não é atípica, devido à fato de que o uso de [19] Canale, GR., Peres, CA, Guidorizzi, CE, Gatto, CAF, Kierulff, áreas abertas é comum a um menor número de CM. 2012. Pervasive defaunation of forest remnants in a tropical biodiversity hotspot. PlosOne 7(8): e41671. espécies18. Entender os processos históricos, avaliando possíveis deslocamento da fauna a medida que as áreas

104 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 ESTRUTURA DA COMUNIDADE LENHOSA DO SUB-BOSQUE EM MOSAICO EDÁFICO NA FLORESTA ATLÂNTICA, BAHIA, BRASIL Lucas Costa Monteiro Lopes¹*; Eduardo Mariano-Neto²; André Márcio Amorim³

1.Universidade Estadual de Santa Cruz – Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, Ilhéus, BA; 2 Universidade Federal da Bahia – Departamento de Botânica, Salvador, BA; 3 Universidade Estadual de Santa Cruz – Departamento de Biologia, Ilhéus, BA - * [email protected] do teste de Mantel. Comparamos; a riqueza entre os Introdução solos através da curva de rarefação, os parâmetros Variáveis edáficas são relatadas como explicadoras para estruturais (densidade, medidas de DAP e altura) com o a distribuição das espécies e estruturação das teste de permutação e a composição de espécies através 1, 2 comunidades em escalas locais . Neste sentido, solos da Análise de Variância Multivariada com Permutação mais arenosos, devido à maior drenagem de água e (PERMANOVA). Com os valores de freqüência e nutrientes tendem a ser mais restritivos para a ocupação abundância das espécies calculamos a análise de 3 das espécies vegetais . espécies indicadoras. Calculamos também a diversidade beta para as comunidades em cada tipo de solo. Entender quais variáveis melhor elucida os padrões de 7, 8 distribuição das plantas no sub-bosque é de extrema Verificamos as listas florísticas preteritamente importância, pois este estrato tem elevada diversidade publicadas para a REBIO Una com o intuito de florística, abrigando indivíduos residentes (permanentes detectarmos as possíveis novas ocorrências. do sub-bosque) e jovens transitórios que podem atingir o 4 Resultados dossel . Esta pesquisa objetivou caracterizar a estrutura da Amostramos 2.526 indivíduos vivos, distribuídos em 449 comunidade lenhosa do sub-bosque em dois tipos espécies e 61 famílias. As famílias mais ricas foram distintos de solos. Para isto, buscamos responder as Myrtaceae (74 ssp) e Rubiaceae (41 ssp). Observamos seguintes questões; 1) ocorre diferenciações na estrutura que 35% das espécies foram representadas por um das comunidades entre os solos; 2) os solos influenciam indivíduo e 60% menos de cinco indivíduos. Sobre solo a composição e riqueza de espécies? 3) A beta- Argiloso quantificamos 1.233 indivíduos pertencentes a diversidade existente está relacionada mais a um 303 espécies e sobre o solo franco-arenoso componente de substituição ou aninhamento das quantificamos 1.293 indivíduos em 320 espécies. Não espécies? Esperamos encontrar variação na composição observamos correlação espacial entre as parcelas das espécies entre os tipos de solos e maiores valores (p=0.61). Os parâmetros estruturais; altura (p=0.50), DAP dos parâmetros estruturais e riqueza para o solo menos (p=0.83) e densidade (p=0.24) não tiveram diferenças restritivo (argiloso). Quanto à diversidade beta, significativas. Observamos o mesmo para a composição esperamos ter maiores valores do componente e abundância (p=0.13) e riqueza (sobreposição dos substituição nas unidades amostrais do solo argiloso e intervalos de confiança na curva de rarefação) de maiores valores para o componente aninhamento entre espécies. A beta diversidade foi de 0.730 (0.704 de as unidades do solo franco-arenoso (mais restritivo). substituição e 0.026 aninhamento) para o solo argiloso e de 0.734 (0.690 de substituição e 0.044 de aninhamento) Metodologia para o solo franco-arenoso. Paypayrola blanchetiana, O trabalho foi desenvolvido no Projeto de Longa Duração Eugenia itapemirimensis, Rinorea guianensis e Tovomita na Reserva Biológica de Una (PELD Una). A estrutura choisyana foram às espécies mais abundantes em ambos física do projeto (grade de 5X5 Km) está localizada no os solos. Inga capitata (80%, p=0.0469), Randia calycina município de Una, Bahia, Brasil. Demarcamos as (80%, p=0.0478) e Faramea coerulea (80%, p=0.0483) unidades amostrais (parcelas) seguindo a curva de nível foram indicadoras do solo argiloso. Para o solo franco- e estas apresentam distância mínima de 1 km entre elas arenoso não foram encontradas espécies indicadoras. 5 como proposto pelo método sistematizado RAPELD . O Detectamos 73 novas ocorrências para REBIO Una e tamanho determinado para as parcelas foi de 2x100 m. quatro espécies (todas de Rubiaceae) estão em processo Selecionamos 10 áreas (total de 0.2ha), no qual os de estudo por especialistas que suspeitaram serem critérios avaliados para a seleção foram: tipo de solo e espécies novas. locais onde aparentemente existiam florestas sem Discussão recente registro de perturbação (florestas maduras). 6 Alocamos as parcelas sobre dois tipos de solos , cinco A alta riqueza de espécies corrobora outros estudos no 6 9 parcelas sobre o Latossolo Amarelo (argiloso) e cinco sul da Bahia e a elevada diversidade de Myrtaceae e 6 sobre o Argissolo Amarelo (franco-Arenoso) . Rubiaceae corrobora outros estudos estruturais na Quantificamos todos os indivíduos lenhosos que floresta Atlântica. A alta porcentagem de espécies raras apresentaram no mínimo 1,30 m de altura e com até 10 frequentemente é relatada em estudos nas florestas cm de DAP. Medimos os DAP, altura e coletamos ramos tropicais. para identificação ou morfoespeciação. Avaliamos a A ausência de diferenças significativas para a correlação espacial entre as unidades amostrais através composição, abundância, riqueza e parâmetros

105 estruturais das espécies entre os tipos de solos, sugerem biodiversity surveys in long-term ecological research pouca explicação desta variável como filtro ambiental sites. Biota Neotropica 5(2):1-6. para a distribuição das espécies, contrariando nossa [6] Santana, S.O.; Mendonça, J.R.; Filho, A.F.F.; hipótese original. Azevedo, D.G. & Waldburger, T. 2009. A não-existência de correlação espacial entre as parcelas Levantamento semidetalhado dos solos do indica que a limitação de dispersão também não é o município de Una, Bahia, Brasil. 31p. processo dominante para a ocupação das espécies. [7] Amorim, A.M.; Thomas, W.W.; Carvalho, A.M.V. & Observamos elevada diversidade beta entre as unidades Jardim, J.G. 2008. Floristic of the Una Biological amostrais, o que indica que variáveis abióticas podem Reserve, Bahia, Brazil. Memoirs of the New York estar atuando em microescala (entre as parcelas) para a Botanical Garden 100:67-146. distribuição dos táxons. Este incremento de espécies [8] Martini, A.M.Z. ; Jardim, J.G. & Santos, F.A.M. 2008 . entre locais é apontado como uma das causas que geram Floristic composition and growth habits of plants in 10 a mega-diversidade em florestas tropicais . No entanto, understory, natural treefall gaps and fire-disturbed diversas variáveis podem atuar em diferentes escalas areas of a tropical forest in southern Bahia State, 10 para tal fato . Brazil. Memoirs of the New York Botanical Garden Ambos os solos sustentam elevada diversidade de 100:67-146. espécies que pode estar associados aos fatores [9] Martini, A.M.Z.; Fiaschi, P.; Amorim, A.M. & Paixão, históricos, pois a região é apontada como refúgio J.L. 2007. A hot-point within a hot-spot: a high 11 pleistocênico e centro de endemismo para diversidade diversity site in Brazil´s Atlantic Forest. Biodiversity 12 vegetal . and Conservation 16:3111-3128. A elevada quantidade de novos registros e as suspeitas [10] Condit, R.; Pitman, N.; Leigh Jr, E.G.; Chave, J.; de espécies novas sugere que o método utilizado é eficaz Terborgh, J.; Foster, R.B.; Nunez, P. Aguilar, V.S.; e que abrange áreas provavelmente não estudadas em Valencia, R.; Villa, G.; Muller-Landau, H. C.; Losos, trabalhos florísticos e estruturais pretéritos. Além disso, H. & Hubbell, S. P. 2002. Beta diversity in tropical as espécies indicadoras e as mais abundantes em cada forest trees. Science 295: 666–669. solo servirão para estudos de restauração florestal. [11] Carnaval A.C. & Moritz C. (2008). Historical climate modelling predicts patterns of current biodiversity in Agradecimentos the Brazilian Atlantic forest. Journal of A CAPES pela bolsa concedida a Lopes, LCM. Ao CNPQ Biogeography 35:1187-1201 pelo financiamento da pesquisa através dos projetos [12] Thomas, W.W.; Carvalho, A.M; Amorim, A.M.; PELD (processo 558269/2009) e PPBIO Mata Atlântica Garrison, J. & Arbeláez, A.L. 1998. Plant endemism (chamada 35/2012) e pela bolsa de produtividade para in two forest in southern Bahia, Brazil. Biodiversity Amorim, AM (processo 306992/2012-4). A todos os and Conservation 7:311-322. taxonomistas que auxiliaram nas identificações das amostras. A todos os Biólogos e Técnicos do herbário CEPEC que ajudaram nos trabalhos de campo. Referências Bibliográficas

[1] Meira-Neto, J.A.J.; Martins, F.R. & Souza, A.L. 2005. Influência da cobertura e do solo na composição florística do sub-bosque em uma floresta estacional semidecidual em Viçosa, MG, Brasil. Acta Botanica Brasilica. 19(3). 473-486. [2] Toledo, M.; Poorter, L.; Peña-Claros, M.; Alarcón, A.; Balcázar, J.; Chuviña, J.; Leaño, C.; Licona, J.C.; Steege, H.T. & Bongers, F. 2011. Patterns and Determinants of Floristic Variation across Lowland Forests of Bolivia. Biotropica 43(4): 405–413. [3] Saporetti-Junior AW, Schaefer CEGR, Souza AL, Soares MP, Araujo DSD, Meira-Neto JAA (2012) Influence of Soil Physical Properties on Plants of the Mussununga Ecosystem, Brazil. Folia Geobotanica 47:29-39 [4] Gilliam, F.S.; Turril, N.L. & Adams, M.B. 1995. Herbaceous-Layer and Overstory Species in Clear- cut and Mature Central Appalachian Hardwood Forests. Ecological Applications, 5(4): 947-955. [5] Magnusson, W.E.; Lima, A.P.; Luizão, R.; Luizão, F.; Costa, F.R.C.; Castilho, C.V. & Kinupp, V.F. 2005. Rapeld: A modification of the Gentry method for

106 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

DIVERSIDADE ESTRUTURAL DA VEGETAÇÃO ARBÓREA EM ÁREA MADURA E RECENTE DA FLORESTA ATLÂNTICA

Maria Manuela Bandeira de Aguiar1,*, Pedro Henrique Tavares de França2, Monara da Mota Fonseca do Rêgo Barros3, Fabiane Carolyne Santos3, Elyda Marília Fonceca Passos2, Marcos Francisco Araujo Silva1, Ladivânia Medeiros do Nascimento4, Maria Jesus Nogueira Rodal5, Ana Carolina Borges Lins e Silva5,* 1 UFRPE, Programa de Pós Graduação em Ciências Florestais (Mestrado), Recife, PE; 2UFRPE, Graduação em Engenharia Florestal, Recife, PE; 3UFRPE, Graduação em Ciências Biológicas, Recife, PE; 4Jardim Botânico do Recife, PE; 5UFRPE, Departamento de Biologia, Recife, PE. * [email protected]

Introdução Resultados

Redução, fragmentação e degradação de habitats são as Até o momento, foram instaladas sete parcelas, sendo principais ameaças aos ecossistemas florestais, quatro na área madura e três na jovem. Dessas, foram resultantes das formas de uso do solo no entorno e amostradas três parcelas para árvores e cinco para interior dos remanescentes, que podem agir de forma regeneração. As densidades encontradas foram: na área combinada ou sinérgica1. Após perturbações, áreas madura – 839 ind./ ha com DAP>5cm, 6280 ind.ha-1 para abandonadas tornam-se florestas potenciais, que podem regeneração. Na área jovem, 1088 ind./ ha com demorar a se recuperar naturalmente ou até não DAP>5cm, 6506 ind./ha para regeneração. A riqueza na recuperar2, o que irá depender da intensidade da assembleia arbórea, até o momento, é de 77 espécies/ perturbação em relação à resistência e resiliência de morfoespécies na área madura e 52 na jovem, sendo seus constituintes3, da matriz da paisagem na qual a área Helicostylis tomentosa (Poepp. & Endl.) Rusby se encontra inserida, histórico do uso, intensidade e (Moraceae) e Eschweilera ovata (Cambess.) Mat. ex. periodicidade dos impactos e proximidade com outras Miers (Lecythidaceae) as espécies mais abundantes nas florestas não impactadas, influenciado a convergência duas seres, respectivamente. A análise do histórico da florística e estrutural. O módulo PPBio no Parque área encontra-se em processo de georrefenciamento e Estadual de Dois Irmãos (PEDI) abrange uma área antiga vetorização das imagens. Entrevistas foram feitas com com cobertura florestal madura e uma área de formação moradores locais, revelando que a área jovem foi mais recente, com cobertura jovem em regeneração, o utilizada para agricultura até cerca de 20 anos atrás, com que fornece um cenário ideal para estudos sobre uso de fogo em alguns trechos. O estudo da densidade recuperação florestal e convergência ecossistêmica. de trilhas será ainda iniciado. Metodologia Discussão

O PEDI compreende vegetação do tipo Floresta Nota-se já que os trechos jovens mais próximos à área Ombrófila Densa das Terras Baixas4 e está situado no madura já possuem cobertura arbórea expressiva, Recife, ocupando 1161 ha (384,42 ha de floresta madura sugerindo rápida convergência em estoque de biomassa, e 774 ha de floresta jovem). O clima é Tropical úmido mas baixa convergência florística. (As'), com precipitação média anual de 2460 mm. O relevo é ondulado com altitudes entre 30 e 100 m. Está Agradecimentos sendo realizado um levantamento do histórico da área À Capes, pela concessão da bolsa à primeira autora; ao jovem, por meio de entrevistas e fotografias aéreas de CNPq, pela bolsa aos segundo, terceiro (PIBIC) e nono 1969, 1975, 1982 e imagens de satélite de 2013, (PQ) autores e ao PET/ MEC/SESU, pela bolsa aos vetorizadas e incorporadas a um SIG. Foi instalado um quarto, quinto, sexto e décimo autores. módulo do PPBIO abrangendo quatro parcelas de 250m na área madura e seis parcelas na jovem. Nessas, são Referências Bibliográficas amostrados indivíduos com DAP ≥ 5 cm em faixas de 10 [1] TABARELLI, M.; GASCON, C. Lições da pesquisa sobre m (x2), DAP ≥ 10 cm em faixas de 20 m (x2) e fragmentação: aperfeiçoando políticas e diretrizes de regeneração na faixa sensível (1,5m), anotando-se os manejo para a conservação da biodiversidade. Megadiversidade, v. 1, n. 1, p. 181-188, 2005. diâmetros, alturas, coordenadas e feita coleta botânica. [2] AIDE, T.M. et al. Forest Regeneration in a Chronosequence of Serão obtidas fotos hemisféricas com lente fisheye 67-58 Tropical Abandoned Pastures: Implications for Restoration mm em todas as parcelas. A declividade foi obtida Ecology. Restoration Ecology, v. 8, n. 4, p. 328–338, 2000. [3] WHITFORD, W.G. et al. Using resistance and resilience através do clinômetro. Ao redor de cada parcela, será measurements for ‘fitness’ tests in ecosystem health. feito o levantamento de trilhas em um raio de 200 m do Journal of Environmental Management, v. 57, p. 21–29, centro da parcela. Serão obtidos parâmetros estruturais e 1999. [4] IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manuais de diversidade em cada parcela, para descrição e Técnicos em Geociências: Manual Técnico da Vegetação análises, visando à ordenação dos gradientes, utilizando- Brasileira, n.1, Rio de Janeiro, 2012. se matriz estrutural e de variáveis ambientais.

107 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ESTRUTURA ARBÓREA DE UM TRECHO DE MATA ATLÂNTICA NA RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ-RJ

Mariana de A. Iguatemy1*, Fernanda F.N. Almeida1,2, Pablo J.F.P. Rodrigues3, Massimo Bovini3, Haroldo C. de Lima3, Claudia F. Barros3 1Programa de Pesquisa em Biodiversidade PPBIO Mata Atlântica, 2Escola Nacional de Botânica Tropical, Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; 3Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; *[email protected]

Introdução Resultados

A Mata Atlântica cobria quase 100% do estado Rio de A partir dos resultados preliminares foi encontrado um Janeiro. Atualmente, o estado possui cerca de 900.000 total de 472 indivíduos. Destes 432 são indivíduos vivos e ha de florestas (19,6% do total de sua área) distribuídas 40 são indivíduos mortos em pé. Dos indivíduos vivos 408 de forma fragmentada1,2,3. Apesar disso, é possível são árvores, sendo que 22 (5,39%) destes apresentam encontrar uma elevada diversidade e endemismos de perfilhos e 24 (5,89) são palmeiras (22 Eutepe edulis). A diversos grupos animais e vegetais que tornam o estado área basal total amostrada nas duas faixas foi 27,23 do Rio de Janeiro estratégico para a conservação da m2.ha-1 e a média foi de 0,62. Considerando apenas a Mata Atlântica4,5. Apesar de se conhecer muito sobre a faixa 2 foram observados 702 ind.ha-1 e área basal de Mata Atlântica fluminense no que diz respeito à sua 31,6 m2.ha-1. A distribuição de diâmetros apresentou a estrutura, ocorrência de espécies e distribuição, o forma em J- reverso e seu valor médio foi de 24,55 cm e conhecimento integrado dos diferentes grupos mediana de 20,1 cm. Com relação ao estrato, as taxonômicos e seus padrões e processos em pesquisas emergentes foram representadas por 21,92%, o dossel de longo prazo ainda constitui um campo a ser explorado. por 40,54%, o sub-dossel por 37,24% e o sub-bosque por Nesse contexto, se iniciou o Programa de Pesquisa em 0,3. Biodiversidade da Mata Atlântica em que estão sendo instalados módulos de pesquisa para investigações Discussão integradas e longa duração no bioma. O trabalho teve A presença de Euterpe edulis, muito comum na Rebio como objetivo caracterizar a estrutura da comunidade de Tinguá foi expressiva considerando o critério de inclusão árvores de um trecho de Mata Atlântica de uma das avaliado (>10cm). Isto evidencia o bom estado de parcelas do módulo instalado na Reserva Biológica do preservação do local, sem a presença de exploradores Tinguá. que frequentemente são observados no interior da Metodologia reserva. A densidade média foi menor do que a observada em estudo anterior, em que se encontrou 831 A Reserva Biológica do Tinguá corresponde a uma área ind.m2 6. Entretanto, quando comparado estes valores de de aproximadamente 24.000,00 hectares, representando densidade e área basal por hectare com outras áreas da cerca de 8% das florestas protegidas no Estado, Mata Atlântica e florestas tropicais, os valores estão abrangendo 5 municípios. A área de estudo compreende próximos do que comumente é observado7,8. A um trecho de floresta ombrófila densa montana,A parcela distribuição diamétrica encontrada foi semelhante ao que amostrada faz parte do módulo do PPBio alocada sobre a ocorre em comunidades naturais (aspecto de J-reverso), reserva, que se encontra em gradiente altitudinal se que garante que o processo dinâmico florestal se iniciando a 200m e alcançando cerca de 1000 m de perpetue, com a morte de indivíduos grandes, geralmente altitude (Figura 1). A parcela é a 4500 que está a cerca por senescência, dando lugar ao desenvolvimento de de 960 m de altitude. Para amostragem foi seguido o indivíduos jovens9. A estratificação observada evidencia o protocolo de estrutura de vegetação para as faixas 2 e 3, grande porte dos indivíduos amostrados nesta parcela. A sem considerar a faixa sensível. Para isso, todos os partir destes resultados preliminares, já se tem o indivíduos com DAP> 10 cm devem ser marcados e indicativo de que o trecho de floresta observado está em medidos na faixa 2 e na faixa 3 todos os indivíduos com estado avançado de conservação. com DAP 30cm são amostrados. Os indivíduos estão em processo de coleta e identificação. O material que está Agradecimentos sendo coletado será incorporado no ramário do PPBio e Ào Cnpq pelo financiamento do projeto de pesquisa digitalizado. Aqueles que estiverem férteis serão PPBIO Mata Atlântica (núcleo sudeste) e bolsa ao incorporados ao herbário RB. As identificações estão primeiro e segundo autor. sendo realizadas com auxílio de bibliografia especializada, consulta a especialistas e comparação Referências Bibliográficas com material depositado em herbário. [1] Bergallo, H. de G.; Uzêda, M. C.; Fidalgo, E. C. C.; Alves, M. A. S.; Rocha, C. F. D.; Van Sluys, M.; Costa, T. C. C. da; Costa, M. B.;

108 Santos, M. A.; Cozzolino A. C. R. & Alencar, R. S. de. 2009. Conservação da biodiversidade da Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro: uma nova abordagem. In: Bergallo, H. de G.; Fidalgo, E. C. C.; Rocha, C. F. D.; Uzêda, M. C.; Costa, M. B.; Alves, M. A.; Van Sluys, M.; Santos, M. A.; Costa, T. C. C. da & Cozzolino, A. C. R. Estratégias e ações para a conservação da Biodiversidade no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Instituto Biomas. p. 23-32. [2] Fidalgo, E. C. C.; Uzêda, M. C.; Bergallo, H. de G.; Costa, T. C. & C. da; Abreu, M. B. 2009. Distribuição dos remanescentes vegetais no estado do Rio de Janeiro. In Bergallo, H. de G.; Fidalgo, E. C. C.; Rocha, C. F. D.; Uzêda, M. C.; Costa, M. B.; Alves, M. A.; Van Sluys, M.; Santos, M. A.; Costa, T. C. C. da & Cozzolino, A. C. R. Figura 1. Localização da Reserva Biológica do Tinguá e Estratégias e ações para a conservação da Biodiversidade no Estado do Rio de Janeiro. Rio de módulo Rapeld instalado. Janeiro: Instituto Biomas. p. 91-99. [3] SOS Mata Atlântica & INPE 2012. Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica – ano base 2011 [4] Rocha, C. F. D.; Bergallo, H. G.; Alves, M.A.S.; Van Sluys, M. 2003. A biodiversidade nos grandes remanescentes florestais do estado do Rio de Janeiro e nas restingas da Mata Atlântica. São Carlos; RIMA. [5] Jenkins, C. N. & Pimm, S. L. 2006. Definindo prioridades de conseração em um hotspot de biodiversidade global. In. Rocha, C. F. D.; Bergallo, H. G.; Van Sluys, M. & Alves, M.A.S. Biologia da Conservação: essências. São Carlos; RIMA. p. 41-52. [6] Melo, L.R. 2006. Efeitos de borda sobre a dinâmica e estrutura das comunidades de árvores na mata atlântica da Reserva Biológica do Tinguá-RJ. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. [7] Phillips, O.L.; Hall, P.; Gentry, A.H.; Sawyer, S.A. & Vásquez, R 1994. Dynamics and epecies richness of tropical rain forests. Ecology (91) 2805-2809. [8] Rodrigues, P.J.F.P. 2004. A vegetação da Reserva Biológica União e os efeitos de borda na Mata Atlântica fragmentada. Tese de Doutorado. Campos dos Goytacases, UENF. [9] Swaine, M.D.; Lieberman, D. & Putz, F.E., 1987. The dynamics of tree populations in tropical forest: a review. J. Trop. Ecol., 3:359-366

109 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

DIVERSIDADE FUNCIONAL NA FLORESTA ATLÂNTICA EM DIFERENTES ESTÁGIOS DE REGENERAÇÃO: PADRÕES E MECANISMOS

Pedro Henrique Albuquerque Sena1,*, Maria José de Holanda Leite2, Izabelle Silva Nascimento2, Paulo Henrique Pereira Gusmão3, Lidiane Almeida Pessoa3, Flávio Cristiano Saldanha Ferreira de Oliveira4, Ingrid Fontes Rodrigues da Silva5, Maria Amanda Menezes Silva6, Ana Carolina Borges Lins e Silva7, Thiago Gonçalves Souza7, Maria Jesus Nogueira Rodal7 1UFRPE, Programa de Pós Graduação em Ecologia, Recife, PE; 2UFRPE, Programa de Pós Graduação em Ciências Florestais, Recife, PE; 3UFRPE, Graduação em Ciências Biológicas, Recife, PE; 4UFRPE, Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental, Recife, PE; 5UFRPE, Graduação em Engenharia Florestal, Recife, PE, 6IFCE, Campus Quixadá, CE; UFRPE, Departamento de Biologia, Recife, PE. *[email protected]

Os atributos funcionais de plantas e animais serão Introdução relacionados à estrutura florestal e aos processos Atributos funcionais são características morfofisiológicas ecossistêmicos nas duas condições, madura e jovem. expressas individualmente no fenótipo1 e podem ser Serão processos avaliados: decomposição de matéria usados na previsão de respostas da diversidade em orgânica, processos edáficos, biomassa arbórea acima locais sob perturbação e seus efeitos em processos do solo e estoque de serapilheira. 2 ecossistêmicos . Tal aplicação é possível a partir da Resultados esperados classificação dos atributos em: atributos de resposta (habilidade do organismo de sobreviver em condições Os atributos funcionais coletados serão avaliados com adversas; e.g.: tamanho de semente) e atributos de efeito vistas a: 1) Calcular a diversidade funcional nos (afetam propriedades ecossistêmicas; e.g.: taxas de ambientes; 2) Identificar grupos de espécies com nitrogênio em folhas)1. Impactos derivados de pressões características aquisitivas e conservativas nas duas áreas bióticas, mudanças ambientais naturais e alterações por meio de analises multivariadas; 3) Analisar antrópicas alteram a distribuição dos atributos e, agindo complementaridade e redundância funcional; 4) Verificar de forma sinergética, podem ainda causar sua remoção se plantas com estratégias conservativas apresentam do sistema3. maior plasticidade quando comparadas com espécies A modificação na representatividade de tais atributos aquisitivas; 5) Analisar a influência das diferentes acaba por afetar a manutenção de processos condições nos atributos de resposta e serviços ecossistêmicos de longo prazo, agindo na estabilidade e ecossistêmicos relacionados; 6) Testar a influência da resiliência do ecossistema4. As implicações no qualidade do solo e da luminosidade na diversidade funcionamento ecossistêmico de ambientes em funcional de insetos herbívoros e plantas; e 7) Identificar modificação são causadas, especialmente, por meio da os principais atributos funcionais de plantas que perda de redundância de funções prestadas2. influenciam a estrutura funcional de insetos herbívoros. As informações obtidas terão papel fundamental no Metodologia entendimento de padrões e mecanismos de coexistência, O PEDI compreende vegetação do tipo Floresta além da previsão de atributos, grupos e interações entre Ombrófila Densa das Terras Baixas6 e está situado no espécies e serviços ecossistêmicos que serão afetados Recife, ocupando 1161 ha (384,42 ha de floresta madura em um cenário de substituição de florestas maduras por e 774 ha de floresta jovem). O clima é Tropical úmido secundárias. (As'), com precipitação média anual de 2460 mm. O Agradecimentos relevo é ondulado com altitudes entre 30 e 100 m. Foi instalado um módulo do PPBIO abrangendo quatro À Capes, pela concessão da bolsa a PHA Sena e MJH parcelas de 250m na área madura e seis parcelas na Leite; à FACEPE, pela bolsa a IS Nascimento; ao CNPq, jovem. Nessas, os atributos funcionais são coletados pela bolsa PQ a MJN Rodal, e ao PET/ MEC/SESU, pela para espécies de plantas com no mínimo cinco indivíduos bolsa a IFR Silva e ACB Lins e Silva. com DAP ≥ 5 cm, em parcelas selecionadas, nas duas condições. Referências Bibliográficas Os atributos investigados em plantas são: em folhas, área [1] VIOLLE, C. et al. 2007. Let the concept of trait be foliar específica, taxa fotossintética, massa seca e functional! Oikos. 116: 882-892. relação N/ P e tamanho/ forma da semente. [2] DÍAZ, S. et al. 2013. Functional traits, the phylogeny of Os insetos herbívoros serão categorizados em grupos function, and ecosystem service vulnerability. Ecology and Evolution. 3 (9): 2958-2975. funcionais após a realização das coletas, com devida [3] MOUILLOT, D. et al. 2008. A functional approach discussão com especialistas para classificar grupos que reveals community responses to disturbances. possuem características funcionais ecologicamente Trends in Ecology and Evolution. 28 (3): 167-177. importantes e comparáveis. [4] CARDINALE, B.J. et al. 2012. Biodiversity loss and its impact on humanity.Nature. 486: 59-67.

110 [5] INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 1992. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro. Manuais Técnicos em Geociências, 92p.

111 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

A ESTRUTURA DA COMUNIDADE DE LIANAS VARIA COM O AUMENTO DA ALTITUDE EM UMA FLORESTA NEOTROPICAL?

Thiago de Azevedo Amorim1,2,3*, Lucas Costa Monteiro Lopes1, Yago Mesquita da Silveira2, André Felippe Nunes-Freitas2, Bruno Henrique Pimentel Rosado1 1 Laboratório de Ecologia Vegetal, Departamento de Ecologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); 2 Laboratório de Ecologia Florestal e Biologia Vegetal, Departamento de Ciências Ambientais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); 3 –Departamento de Botânica, UFRRJ *[email protected]

com diâmetro do caule ≥ 1 cm a 1,3m de comprimento a Introdução partir do enraizamento (DAP) foram marcadas e medidas. Variações altitudinais tem sido descritas como bons Coletamos amostras para identificação das espécies. Nas modelos experimentais para avaliação da resposta das análises realizadas consideramos somente a identificação espécies à mudanças no clima1. Com aumento da altitude, à nível de família botânica. As plantas indeterminadas não ocorre um aumento da incidência solar e diminuição da foram incluídas nas análises. Calculamos a área basal de pressão atmosférica, aumentando a demanda evaporativa cada parcela, diâmetro médio dos indivíduos por parcela e do ar2. Já o lençol freático fica gradativamente mais o desvio padrão dos desvios por parcela. Também profundo devido ao aumento da declividade, que torna o contabilizamos a riqueza e a abundância de famílias por solo mais raso e rochoso. Esse conjunto de fatores tende parcela e calculamos o índice de diversidade de Shannon- a tornar uma área progressivamente mais seca à medida Weaver. Todas as variáveis atenderam as premissas de que se aumenta altitude. Com isso, é esperado que os normalidade e homogeneidade de variâncias. organismos dessa área respondam a essas modificações, Padronizamos as variáveis em unidades de desvio padrão no sentido de economizar água. As plantas trepadeiras (z-score) por se tratarem de dados com unidades distintas. lenhosas (lianas) são um importante componente das Para testar a hipótese, realizamos regressões lineares florestas tropicais, representando em torno de 25% da simples para as variáveis acima, tendo como variável riqueza vegetal lenhosa dessas florestas3. Participam preditora a altitude de cada parcela (α≤0,05). As análises 8 ativamente de processos ecossistêmicos como ciclagem foram conduzidas no programa R (R Core Team, 2013 ). 4,5 de nutrientes e estoque de biomassa , influenciam a Resultados dinâmica florestal, aumentando as taxas de mortalidades dos forófitos, contribuindo para formação de clareiras6. Amostramos um total de 704 indivíduos, pertencentes à Assim, compreender como as lianas respondem a 20 famílias botânicas ao longo das 10 parcelas variações ambientais é de suma importância dado a amostradas. As famílias mais abundantes foram: contribuição desse componente lenhoso para o Malpighiaceae (141), Apocynaceae (126) e Fabaceae (92) funcionamento das florestas tropicais, especialmente em (Figura 1). Somente a regressão entre a altitude e DAP um cenário de mudanças climáticas globais, em que se médio das parcelas apresentou relação significativa e espera que os ambientes se tornem mais secos, positiva (R²= 0,51; F= 8,23; gl= 8; p= 0,02;Tabela 1 e especialmente florestas montanas7. Florestas tropicais Figura 2). onde ocorre variação de altitude são locais adequados para realizar estudos de resposta de comunidade de plantas a seca, uma vez que pode simular em escala espacial relativamente pequena as variações ambientais previstas para as mudanças climáticas globais. Objetivo desse trabalho foi testar a influência da variação altitudinal sobre aspectos da estrutura de comunidade de lianas em uma florestal tropical. Nossa hipótese é de que o aumento da altitude reduza a riqueza, abundância, diversidade, além da redução variação do tamanho entre os indivíduos da comunidade. Metodologia

Realizamos a amostragem no município de Angra dos Figura 1: Abundância dos indivíduos de plantas Reis, Parque Estadual da Ilha Grande nas dez parcelas trepadeiras lenhosas por famílias nas parcelas PPBio permanentes instaladas no lado leste da Ilha pelo PPBio Mata Atlântica, llha Grande, Rio de Janeiro. Mata Atlântica. As parcelas do RAPELD compreendem 250 metros de comprimento e acompanham a curva de Tabela 1: Tabela 1: Resultado das regressões lineares nível da paisagem. A largura da parcela para a simples entre a altitude da parcela (m) e os parâmetros amostragem de lianas foi de 4 metros. Todas as lianas avaliados na comunidade de lianas nas parcelas PPBio

112 Mata Atlântica, llha Grande, RJ. DAP= diâmetro do caule a possível depreender que o provável mecanismo que 1,3m de comprimento do enraizamento. Graus de possa influenciar a variação estrutural da comunidade seja liberdade = 8. uma resposta à variação da disponibilidade de água em função da altitude. Neste sentido, análises funcionais Variável Resposta R² F p(<0,05) serão conduzidas para avaliar, não apenas as respostas <0,0 <0,0 das lianas à variação altitudinal, como também de que Número de Famílias 0,93 1 1 modo estas respostas afetam a estrutura da comunidade. Abundância 0,18 1,76 0,22 Área Basal (m²/ha) 0,32 3,84 0,09 Agradecimentos Diâmetro à Altura do 0,51 8,23 0,02 Agradecemos a equipe de funcionários do Centro de Peito (DAP[cm]) Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da Desvio Padrão do DAP 0,34 4,18 0,07 UERJ (CEADS) pelo apoio logístico nas atividades de (cm) campo. Índice de Shannon 0,04 0,33 0,58 Referências Bibliográficas [1]Sundqvist, M. K.; Sanders,N.J. & WardleAnnu, D. A. 2013. Community and Ecosystem Responses to Elevational Gradients: Processes, Mechanisms, and Insights for Global Change. Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics 44:261-280. [2]Leuschner, C. 2000. Are high elevations in tropical mountains arid environments for plants? Ecology 81(5):1425–1436 [3]Schnitzer, S. A. & Bongers, F. The ecology of lianas and their role in forests. Trends in Ecology & Evolution 17(5): 223-230, 2002. [4]Yong, T.; Kitching, R. L. & Min, C. 2012. Lianas as structural parasites: A re-evaluation. Chinese Science Bulletin 57(4): 307-312 [5]Schntizer, S. A. & Bongers, F. 2011. Increasing liana abundance and biomass in tropical forests: emerging patterns and puptative mechanisms. Ecology Letters Figura 2: Relação entre o diâmetro do caule a 1,3m de 14: 397-406 comprimento a partir do enraizamento (DAP) e a altitude [6]Schnitzer, S.A. & W.P. Carson. 2010. Lianas suppress das parcelas PPBio Mata Atlântica, llha Grande, Rio de tree regeneration and diversity in treefall gaps. Janeiro (R²= 0,51; F= 8,23; gl= 8; p= 0,02). Os valores são Ecology Letters 13: 849-857. apresentados em unidades de desvio padrão (“z-score”). [7]Rosado, B.P.; Joly, C.; Burgess, S.O.; Oliveira, R. Aidar, M.M. 2015. Changes in plant functional traits and Discussão water use in Atlantic rainforest: evidence of conservative water use in spatio-temporal scales. O padrão de riqueza e abundância das famílias Trees:1-15. [8]R Core Team, 2013. R: A language and environment for encontradas foi conforme ao que classicamente vem 9 statistical computing. R Foundation for Statistical sendo relatado para florestas neotropicais . Entre os Computing, Vienna. http://www.R-project.org/ . parâmetros estruturais e diversidade avaliados, somente o [9]Gentry, A. 1991. The distribution and evolution of DAP das lianas foi influenciado pela altitude. Mas, climbing plants. In: Putz, F. E. & Mooney, H. contrariamente a nossa hipótese, a relação foi positiva. A.(Orgs). The Biology of Vines. Cambrigde University Press, New York. Pp. 3-53. Este resultado pode estar relacionado ao histórico de [10]Santiago, A. M. A.; Guimarães, C.; Nogueira, I.; ocupação da Ilha, que ocorreu principalmente nas áreas Santos, M. S. & Sant'Ana. História da Ilha Grande e mais baixas, que são de mais fácil acesso. Essas áreas patrimônio cultural material e imaterial. In: M. Bastos mais intensamente ocupadas estão mais sujeitas a & C. H. Callado (orgs.). O Ambiente da Ilha Grande. distúrbios mais intensos, frequentes e recentes10. Já as Rio de Janeiro, UERJ/ CEADS, 2009. p. 299-370. [11]Alves, L.F.; Vieira, S. A.; Scaranello, M. A.; Camargo, áreas mais altas, são de mais difícil acesso. Deste modo, P. B.; Santos, F. M. A.; Joly, C. A. & Martinelli, L. A. a vegetação em áreas mais elevadas pode ter estado 2011. Forest structure and live aboveground biomass menos sujeita aos distúrbios antrópicos, permanecendo variation along an elevational gradient of tropical mais conservada, o que pode ter contribuído para o maior Atlantic moist forest (Brazil). Forest Ecology and – tamanho das lianas. Processos históricos apresentados Management 260(5): 679 691. [12]Alves, L. F.;Assis, M. A.;van Melis, J.; Barros, A. L. S.; aqui já foram elencados como os mais prováveis Vieira, S. A.; Martins, F. R.; Martinelli, L. A. & Joly C. responsáveis pelos maiores valores de DAP em maiores A. 2012. Variation in liana abundance and biomass altitudes em Florestas Ombrófilas Densas na região along an elevational gradient in the tropical Atlantic costeira do Sudeste brasileiro. No entanto, o estrato Forest (Brazil). Ecological Research 27(2): 323-332. envolvido era o arbóreo11. Contudo, em um trabalho realizado nas mesmas áreas de estudo12 só que desta vez abordando as lianas, os autores encontraram que os parâmetros estruturais da comunidade de lianas foram semelhantes ao que esperávamos encontrar na Ilha Grande (maiores valores indicativos de biomassa nas menores elevações). Deste modo, aparentemente, não é

113 I Simpósio da Rede PPBioMataAtlânticaRio de Janeiro,10-11 de Agosto de 2015

VARIAÇÕES INTER- E INTRAESPECÍFICAS NAS DIVERSIDADES FUNCIONAL E FILOGENÉTICA DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM TRÊS COMUNIDADES ECOLOGICAMENTE DISTINTAS DA MATA ATLÂNTICA

Verônica P. G. de Araujo1*, Helena de G. Bergallo1, Bruno H. P. Rosado2, Maja Kajin1 1Laboratório de Ecologia de Mamíferos - LEMA, Departamento de Ecologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; 2Laboratório de Ecologia Vegetal- LEV, Departamento de Ecologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ *[email protected]

Introdução ectoparasitos. É observada a condição reprodutiva através de caracteres externos e a idade dos marsupiais, Recentemente, estudos sobre montagem de comunidades através do padrão de erupção dentária. Para calcular a tem sido baseados nas diversidades filogenética e 1 diversidade funcional será utilizado o Índice de Dispersão funcional . Essas variáveis são melhores descritoras de Funcional (FDIS)7 e para analisar a diversidade padrões de coexistência, competição, produtividade e filogenética será utilizada uma listas de espécies com estabilidade do que a diversidade de espécies, pois base em uma superarvore8 e o programa Phylocom 4.1. descrevem o nicho das espécies, em termos de resposta e efeito, contemplando o grau de parentesco filogenético entre as mesmas2,3. Por exemplo, em ambientes com maior grau de severidade ambiental, as espécies que co- ocorrem podem ter características funcionais mais similares entre si, i.e. convergência funcional, em função de um maior grau de parentesco filogenético . Por outro lado, a interação entre organismos pode levar as espécies a um padrão de divergência funcional, em função da competição e a co-ocorrência de espécies menos aparentadas filogeneticamente4. Embora esta seja uma abordagem bastante comum no âmbito da Ecologia vegetal, muito pouco se sabe sobre a estruturação de comunidades animais e como características funcionais5 e filogenéticas auxiliam nesta caracterização. O objetivo geral deste trabalho é avaliar as diferenças nas Figura 1 - Áreas do estudo: Parque Estadual da Ilha Grande - diversidades funcionais e filogenéticas das comunidades PEIG, Parque Nacional da Serra dos Órgãos - PARNASO e de pequenos mamíferos em três áreas com Reserva Natural Vale - RNV. características ecologicamente distintas da Mata Atlântica.

Metodologia Resultados Esperados Em áreas mais conservadas as espécies co-ocorrentes As três áreas de estudo são: 1) Parque Estadual da Ilha tendem a apresentar maior grau de sobreposição entre as Grande, situada no município de Angra dos Reis, RJ; 2) diversidades funcionais e maior repulsão filogenética Parque Nacional da Serra dos Órgãos, localizado nos quando comparadas a áreas menos conservadas. Com municípios de Guapimirim e Teresópolis, RJ; 3) Reserva base nesta afirmação, espera-se que RNV apresente uma Natural Vale, localizada no município de Linhares, ES maior variação e maior grau de sobreposição entre as (figura 1). As localidades 1 e 2 são caracterizadas como diversidades funcionais e maior repulsão filogenética que mata perturbada com atividades de turismo e caça, ilha e o PARNASO. No PEIG haverá menor variação e grau de continente respectivamente. Já a área 3 representa uma sobreposição entre as diversidades funcionais e menor mata altamente preservada. As Comunidades de repulsão filogenética quando comparada com as outras pequenos mamíferos são amostradas nas três áreas de duas áreas. estudo utilizando armadilhas do tipo Sherman e Tomahawk. Nas áreas 1 e 3 a captura dos indivíduos está 6 sendo realizada através do método RAPELD . Os Agradecimentos animais capturados são marcados e pesados, são medidos o tamanho do corpo, cauda, cabeça e pata (com Ao CNPq 457458/2012-7, a FAPERJ E-26/110.284/20 e sem unha) e são coletadas fezes, sangue, pêlos e 10 e E-26/110/844/2013 pelo financiamento à pesquisa,

114 ao CEADS pelo transporte e alojamento para a realização dos trabalhos de campo, a toda equipe do Laboratório de Ecologia de Mamíferos - UERJ e do Laboratório de Vertebrados - UFRJ pela colaboração na coleta de dados e à Vale por disponibilizar a área para o estudo.

Referências Bibliográficas

[1] Flynn, D.F.B.; Mirotchnick, N.; Jain, M.; Palmer, M. I. & Naeem, S. 2011. Functional and phylogenetic diversity as predictors of biodiversity-ecosystem- function relationships. Ecology 92 (8), 1573-158.

[2] Lohbeck, M.; Poorter, L.; Paz, H.; Pla, L.; van Breugel, M.; Martínez-Ramos, M. & Bongers, F. 2012. Functional diversity changes during tropical forest succession. Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics 14, 89-96.

[3] Wang, X.; Swenson, N.G.; Wiegand, T.; Wolf, A.; Howe, R.; Lin, F.; Ye, J.; Yuan, Z.; Shi, S.; Bai, X.; Xing, D. & Hao, Z. 2013. Phylogenetic and functional diversity area relationships in two temperate forests. Ecography 36, 001-011.

[4] Webb, C.O. 2000. Exploring the phylogenetic structure of ecological communities: an example for rain forest trees. The American Naturalist 156 (2), 145-155.

[5] Blaum, N.; Mosner, E.; Schwager, M. & Jeltsch, F. 2011. How functional is functional – ecological groupings in terrestrial animal ecology: towards an animal functional type approach. Biodiversity and Conservation 20, 2333-2345.

[6] Magnusson, W.E.; Lima, A.P.; Luizão R.; Luizão F.; Costa, F.R.C.; Castilho, C.V. & Kinupp V.F. 2005. RAPELD: A modification of the gentry method for biodiversity surveys in long-term ecological research sites. Biota Neotropica 5 (2), 1-6.

[7] Laliberté, E. & Legendre, P. 2010. A distance-based framework for measuring functional diversity. Ecology 91(1), 299–305.

[8] Bininda-Emonds, O.R. P; Cardillo, M.; Jones, K.E.; MacPhee, R.D.E.; Beck, R.M.D.; Grenyer, R.; Price, S.A.; Vos, R.A.; Gittleman, J.L. & Purvis, A. 2007. The delayed rise of present-day mammals. Nature 446, 507-512.

115 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015 CONTROLE DO ESTOQUE DE PERIFÍTON EM UM RIO DE MATA ATLÂNTICA: OS PAPÉIS RELATIVOS DE NUTRIENTES, HERBÍVOROS E PREDADORES Christine Lourenço-Amorim1*, Vinicius Neres-Lima1, Timothy Peter Moulton1, Cristiano Yuji Sasada-Sato1, Priscila Oliveira-Cunha1, Eugenia Zandonà1, 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Departamento de Ecologia e Evolução, Laboratório de Ecologia de Rios e Córregos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; *[email protected]

nutrientes (SDN) compostos por copos com uma solução Introdução de Agar e nutrientes: enriquecimento de nitrogênio (N), O perifíton consiste no crescimento microfloral (algas, fósforo (P), ambos os nutrientes (N+P) e sem adição de fungos e bactérias) em superfícies aquáticas submersas, nutrientes (controle). Os nutrientes difundem através de e representa um importante recurso nas cadeias um filtro no topo, que serve de substrato para a alimentares, mesmo em rios de pequena ordem1. A colonização das algas (acessada através da leitura dos biomassa e a produtividade do perifíton pode ser valores de clorofila a). Para a avaliação dos efeitos controlada de maneira ascendente por fatores abióticos descendentes, colocamos os SDN em cercas elétricas (intensidade luminosa, correnteza, disponibilidade de que excluem consumidores. As exclusões elétricas foram nutrientes, substrato), por interações bióticas levando divididas em: forte (exclusão de toda a fauna aos efeitos descendentes (herbivoria e cascatas tróficas) predominante no sítio, i.e., exclusão dos camarões e pela interação deste dois2. No entanto, o conhecimento Macrobrachium olfersi - predadores - e dos das condições que determinam a contribuição relativa efemerópteros baetídeos - herbívoros), fraca (exclusão dos controles ascendentes e descendentes sobre o de M. olfersi, presença de efemerópteros) e controle (sem perifíton ainda é esparso3. Enquanto nos rios temperados eletricidade, presença de ambos os macroinvertebrados). a fonte de material alóctone é considerada a mais O experimento foi estruturado em três repetições (blocos) importante4, nos rios tropicais diversos estudos tem dos conjuntos das três cercas (forte, fraca e controle). mostrado o perifíton como principal fonte de carbono das Calculamos índices para estimar a diferença de cadeias alimentares tropicais1. Deste modo, é muito magnitude de resposta das algas para nutrientes, 2 importante que se entenda os potenciais fatores herbívoros e a interação . O delineamento experimental limitantes no crescimento das algas perifíticas em rios foi em parcelas divididas (split-plot design) com dois tropicais. Diversos estudos nos rios tem mostrado que os fatores ortogonais fixos, exclusão (main-plot, com três nutrientes, como nitrogênio e fósforo, podem limitar o níveis) e nutrientes (subplot, com quatro níveis). 5 crescimento de produtores primários . Em contrapartida, Resultados as forças descendentes podem ter um importante papel no controle da biomassa algal tanto diretamente através Os tratamentos N e N+P apresentaram valores de da herbivoria, quanto indiretamente através das cascatas clorofila a significativamente maiores que C e P, tróficas6. É possível a manipulação de ambos os indicando uma limitação de nitrogênio no sistema. O tipo controles ascendentes e descendentes para avaliar qual de exclusão elétrica não teve um efeito significativo na força é predominante no sistema2. Em alguns casos a quantidade de clorofila a, mas a cerca elétrica forte limitação nutricional pode variar como consequência da (exclusão de ambos os macroinvertebrados) apresentou herbivoria2, em outros um controle pode prevalecer sobre os maiores valores de clorofila, a cerca elétrica fraca o outro7. (ausência de M. olfersi combinada à presença de efemerópteros) apresentou os menores valores de Metodologia clorofila a e a cerca controle (presença de ambos os O trabalho foi conduzido num rio costeiro (Córrego da macroinvertebrados) apresentou quantidade Andorinha) localizado na Vila Dois Rios, Ilha Grande intermediária de clorofila a. Além disso, a resposta das (23°10.9890S, 44°12.0790W). O sítio estudado é algas ao enriquecimento nutricional sozinho foi conhecido por Mãe d’Água e apresenta à jusante uma significativamente diferente da resposta aos herbívoros série de cachoeiras que funcionam como barreira natural sozinhos e a resposta algal mais forte foi em relação à para as espécies de peixes predadores, mas não é um adição de nitrogênio. Os herbívoros apresentaram um obstáculo aos camarões anfídromos Macrobrachium pequeno efeito negativo no estoque algal. A presença 8 olfersi e Potimirim glabra , que é raro na área aonde o dos predadores teve um efeito positivo no perifíton, que experimento foi conduzido6. Os efemerópteros baetídeos, foi maior quando em conjunto com os nutrientes. juntamente com os camarões Macrobrachium olfersi, são comuns na área experimental6. Estudamos os efeitos Discussão ascendente e descendente em conjunto, através da O estoque de perifíton nesse sítio foi limitado limitação de nutrientes e da exclusão de consumidores, predominantemente por nitrogênio, na maior parte sendo no crescimento do perifíton por 15 dias. Para avaliar a controlado pelas forças ascendentes. Os efeitos limitação ascendente, usamos substratos de difusão de descendentes, diretos e indiretos através da cascata

116 trófica, não foram tão fortes quantos os ascendentes, Agradecimentos embora os herbívoros tenham apresentado um efeito Aos alunos que participaram da disciplina de Ecologia de negativo no estoque de perifíton. A presença dos Rios e Córregos da UERJ na Ilha Grande pela ajuda na consumidores modificou a resposta algal aos nutrientes, preparação do experimento. Ao Centro de Estudos com os herbívoros diminuindo o efeito da limitação Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS) nutricional e os predadores aumentando. A limitação pelo suporte logístico na Ilha Grande. Aos Drs. Enrich nutricional por nitrogênio tem sido detectada em diversos Prast e R. Pollery pelo uso das suas instalações sistemas temperados9 e tropicais2, tendo sido sugerida laboratoriais e os equipamentos. como a principal em sistemas aquáticos tropicais10. Em relação ao controle descendente no estoque perifítico, Referências Bibliográficas esperaríamos observar uma diminuição no estoque das [1] Brito E.F., Moulton T.P., Souza M.L. & Bunn S.E. (2006) Stable algas perifíticas quando na ausência dos predadores isotope analysis indicates microalgae as the predominant food (cerca fraca), o que poderia permitir um aumento da source of fauna in a coastal forest stream, south-east Brazil. atividade de herbivoria dos efemerópteros. Também Austral Ecology, 1, 623–633. esperaríamos um aumento da quantidade de clorofila a [2] Flecker A.S., Taylor B.W., Bernhardt E.S., Hood J.M., Cornwell quando os herbívoros eram excluídos (cerca fraca), W.K., Cassatt S.R. et al. (2002) Interactions between 6 como observado em estudos anteriores . Nossos herbivorous fishes and limiting nutrients in a tropical stream resultados não mostraram um efeito significativo da ecosystem. Ecology, 83, 1831–1844 exclusão de consumidores no estoque algal, sugerindo [3] Gruner D.S., Smith J.E., Seabloom E.W., Sandin S.A., Ngai que este controle é mais fraco que o ascendente. No J.T., Hillebrand H. et al. (2008) A cross-system synthesis of entanto, os índices de resposta algal mostraram que, consumer and nutrient resource control on producer biomass. quando os herbívoros estavam mais ativos (ausência do Ecology Letters, 11, 740–755. predador), a magnitude da resposta algal aos nutrientes [4] Vannote R.L., Minshall G.W., Cummins K.W., Sedell J.R. & e aos herbívoros eram significativamente diferentes. Cushing C.E. (1980) The river continuum concept. Canadian Enquanto nutrientes apresentaram um efeito positivo nas Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, 37, 130–137. algas, os herbívoros diminuíram a biomassa algal. Os [5] Carey R.O., Vellidis G., Lowrance R. & Pringle C.M. (2007) Do resultados de ANOVA mostraram uma falta de interação nutrients limit algal periphyton in small blackwater coastal plain entre o enriquecimento nutricional e a exclusão dos streams? Journal of the American Water Resources macroinvertebrados. No entanto, os índices de resposta Association, 43, 1–11. algal mostraram que, quando os predadores estavam [6] Moulton T.P., Souza M.L., Silveira R.M.L. & Krsulovic F.A.M. ausentes e os herbívoros mais abundantes, a magnitude (2004) Effects of ephemeropterans and shrimps on periphyton da resposta algal aos nutrientes não era a mesma. Em and sediments in a coastal stream (Atlantic forest, Rio de particular, quando os herbívoros estavam presentes, a Janeiro, Brazil). Journal of the North American Benthological limitação nutricional era menos forte do que quando eles Society, 23, 868–881. estavam ausentes. A presença dos predadores teve um [7] Hillebrand H. & Kahlert M. (2001) Effect of grazing and nutrient efeito positivo nas algas perifíticas à medida que, na sua supply on periphyton biomass and nutrient stoichiometry in presença, a resposta algal ao enriquecimento de habitats of different productivity. Limnology and nitrogênio foi maior que na sua ausência. A métrica de Oceanography, 46, 1881–1898. interação de Hedges’d (uma medida de efeito de [8] Moulton T.P., Souza M.L., Silveira R.M.L., Krsulovic F.A.M., tamanho baseada na biomassa de algas) em um artigo Silveira M.P., De Assis J.C.F. et al. (2010) Patterns of de metanálise mostrou um maior impacto de nutrientes periphyton are determined by cascading trophic relationships 11 na ausência de herbívoros que na sua presença . Outro in two neotropical streams. Marine and Freshwater Research, trabalho mostrou que a limitação nutricional no perifíton 61, 57–64. só foi evidente quando uma série de fatores (como luz, [9] Tank J.L. & Dodds W.K. (2003) Nutrient limitation of epilithic and nutrientes e herbivoria) eram manipulados, indicando epixylic biofilms in ten North American streams. Freshwater interação entre esses fatores na determinação do Biology, 48, 1031–1049. 2 estoque perifítico . A falta de interação entre o [10] Downing J.A., McClain M., Twilley R., Melack J.M., Elser J., enriquecimento nutricional e a exclusão de consumidores Rabalais N.N. et al. (1999) The impact of accelerating land- leva à interpretação de que nitrogênio é limitante no use change on the N-cycle of tropical aquatic ecosystems: sistema independente da composição da fauna current conditions and projected changes. Biogeochemistry, bentônica. Isto também sugere que os consumidores não 46, 109–148. aparentam ter preferências alimentares pelos diferentes [11] Hillebrand H. (2002) Top-down versus bottom-up control of táxons de algas perifíticas que podem crescer nos autotrophic biomass – a meta-analysis on experiments with diferentes tipos de tratamentos nutricionais. Outros periphyton. Journal of the North American Benthological estudos mostram o predomínio do controle descendente Society, 21, 349–369. em relação ao ascendente2, enquanto os nossos resultados mostraram que o perifíton no sítio estudado é limitado principalmente por nutrientes, em particular o nitrogênio. Sugerindo um predomínio das forças ascendentes em relação às descendentes.

117 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ESTIMATIVA DE ESTOQUE DE CARBONO EM ESPÉCIES DE MATA ATLÂNTICA NO PARQUE ESTADUAL DA ILHA GRANDE, RJ Indira L. Emérito1, Helena G. Bergallo2, Bruno H. P. Rosado2 1.Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Ecologia, Rio de Janeiro, 2. Departamento de Ecologia, UERJ, RJ [email protected] Resultados Introdução Os resultados demonstraram que 19 espécies possuem A Mata Atlântica, assim como todas as florestas tropicais, DAP superior a 18,40 cm. Destas, o maior estoque de caracteriza-se pela elevada taxa de produtividade primária carbono foi identificado para a espécie Piptadenia com armazenamento de grandes quantidades de carbono gonoacantha na biomassa viva acima do solo, fixadas principalmente no (Mart.) J.F. Macbr. (962.7 Mg ha-¹), seguida 1 Miconia cinnamomifolia tronco das árvores . O estoque de carbono na biomassa por (DC.) Naudin (443.7 Mg ha-¹) Annona cf. dolabripetala contribui significativamente para a diminuição da e Raddi (262.212 Mg ha-¹). Esse resultado é coerente com os maiores valores de DAP disponibilidade de gás carbônico (CO2) na atmosfera, principal gás causador do efeito estufa2. Contudo, encontrados nestas espécies, uma vez que o modelo atividades humanas que promovem a diminuição do utilizado considera a exponencial quadrática deste domínio florestal, como as queimadas, liberam grande parâmetro. parte do carbono imobilizado na vegetação à atmosfera. Dessa maneira, a biomassa vegetal em florestas tropicais Discussão desempenha um papel fundamental no balanço de carbono, principalmente sob a perspectiva de seu Os resultados encontrados neste trabalho demonstraram armazenamento, o que torna sua quantificação essencial consenso com os de7 que trata do estoque de carbono no para maior compreensão desta relação. Este trabalho teve estrato arbóreo de Mata Atlântica, em relação aos maiores como propósito contribuir com o incremento de dados e estoques encontrados para a espécie Piptadenia informações sobre a biomassa do estrato arbóreo da Mata gonoacantha. Neste sentido, os maiores valores de Atlântica e sua associação com estimativas de estoque de carbono encontrados para Piptadenia armazenamento de carbono, no Parque Estadual da Ilha gonoacantha, Miconia cinnamomifolia e Annona cf. Grande, RJ. dolabripetala representam estimativas com base na espécie. No entanto, quando multiplicamos o estoque de Metodologia carbono pelo numero de indivíduos encontrados para cada espécie avaliada, os maiores estoques de carbono Àrea de estudo: A Ilha Grande está localizada no passam a ser de Miconia cinnamomifolia (12 individuos), município de Angra do Reis na região sudoeste do Estado Piptadenia gonoacantha (2 indivíduos) e Lamanonia do Rio de Janeiro. Possui como cobertura vegetal o bioma ternata (11 indivíduos) o que confirma a importância da Mata Atlântica, englobando diferentes ecossistemas, com densidade populacional como reserva de carbono em o predomínio da Floresta Ombrófila Densa3. A florestas tropicais. Cada uma das espécies encontradas amostragem da vegetação foi realizada através do método para os maiores valores de estoque pertencem a de avaliação rápida para pesquisas ecológicas de longa diferentes famílias, tanto quando consideramos somente a duração (RAPELD) implementado pelo Programa de espécie quando consideramos a espécie multiplicada pelo Pesquisa em Biodiversidade (PPBio MA). Em uma parcela número de indivíduos, sendo Piptadenia gonoacantha, de um hectare, foram identificados todos os indivíduos Miconia cinnamomifolia, Annona cf. dolabripetala e arbóreos com diâmetro à altura do peito (DAP) maiores Lamanonia ternata pertencentes às famílias Fabaceae, que 10 cm, medidas as alturas (H) e coletadas amostras Melastomataceae, Annonaceae e Cunoniaceae para identificação. O valor de biomassa acima do solo foi respectivamente. calculado para as espécies que tiveram valor de DAP superior a 18,40 cm por ser o valor da mediana da série Agradecimentos de dados. Essa quantificação foi feita através da equação sugerida por¹ para Mata Atlântica, desenvolvida por4, onde Os recursos financeiros para a realização desta a biomassa = ρ X exp(α+ln(ρ X DBH2 H). Na equação, pesquisa foram possíveis devido ao CNPq (PPBio) DBH é o diâmetro (cm), H é a altura total (m), “ρ” é a 307781/2014-3 - Produtividade em Pesquisa – Início: densidade específica da madeira (g cm3) e α é -2,977. Os 25/02/2015 Helena Godoy de Bergallo/ 457458/2012-7 - valores de densidade da madeira foram obtidos por meio PPBio Rede Mata Atlântica – “Mata Atlântica: ações para de literatura. A quantidade de carbono estocado na integrar pesquisas e instituições” e FAPERJ (RAPELD) biomassa foi estimada através da multiplicação do fator E26 /201.267/ 2014- Pesquisas integradas com mamíferos 0,5, já que a biomassa seca contém em média 50% de na Mata Atlântica: estudos de caso com espécies massa representada pelo carbono4,5. endêmicas, ameaçadas e exóticas invasoras .

118 Referências Bibliográficas

[1] Vieira, S.A.; Alves, L.F.; Aidar, M.; Araújo, L. S.; Baker, T.; Batista, J.L.F.; Campos, M.C.; Camargo, P.B.; Chave, J.; Delitti, W.B.C.; Higuchi, N.; Honorio, E.; Joly, C.A.; Keller, M.; Martinelli, L.A.; Mattos, E.A.; Metzker, T.; Phillips, O.; Santos, F.A.M.; Shimabukuro, M.T.; Silveira & M.; Trumbore, S.E.. Estimation of biomass and carbon stocks: the case of the Atlantic Forest. Biota Neotropica, v.8, n.2, p.21- 29, 2008. [2] Ramankutty, N., Gibbs, H. K., Achard, F., Defriess, R., Foley, J.A., & Houghton, R. A.: Challenges to estimating carbon emissions from tropical deforestation, Global Change Biol., 13, 51–66, 2007. [3] Araújo, D.S.D.;Oliveira, R.R.Reserva Biológica da Praia do Sul (Ilha Grande, Estado do Rio de Janeiro): lista preliminar da Flora. Acta Bot. Bras. 1(2):83-94, 1988. [4] Chave, J., Andalo, C., Brown, S., Cairns, M., Chambers, J.C., Eamus, D., Fölster, H., Fromard, F., Higuchi, N., Kira, T., Lescure, J., Nelson, B.W., Ogawa, H., Puig, H., Riéra, B. & Yamakura, T. 2005. Tree allometry and improved estimation of carbon stocks and balance in tropical forests. Oecologia 145:87-99. [5] Ribeiro, S. C. et al. Quantificação de biomassa e estimativa de estoque de carbono em uma capoeira da Zona da Mata Mineira. Revista Árvore, v. 34, p. 495-504, 2010. [6] Fukuda, M.; Iehara, T.; Matsumoto, M. Carbon stock estimates for sugi and hinoki forests in Japan. Forest ecology and management, v. 184, n. 1-3, p. 1- 16, 2003. [7] de Oliveira Gaspar, Ricardo, Vinícius Oliveira Castro, Renato, Vieira Del Peloso, Ricardo, Coelho de Souza, Felippe, Venâncio Martins, Sebastião. Análise Fitossociológica E Do Estoque De Carbono No Estrato Arbóreo De Um Fragmento De Floresta Estacional Semidecidual Ciência Florestal [online] 2014, 24 (Abril-Junio) : [Date of reference: 30 / junio / 2015] Available in ISSN 0103-9954

119 I Simpósio da Rede PPBioMataAtlântica Rio de Janeiro,10-11 de Agosto de 2015

A CONTRIBUIÇÃO DAS EPÍFITAS VASCULARES NA CICLAGEM DE NUTRIENTES NA FLORESTA ATLÂNTICA: A DISPONIBILIDADE DE NECROMASSA DE BROMÉLIAS NA ILHA GRANDE, RJ

Jessica Grama Mesquita1,*; André Felippe Nunes-Freitas1

1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ, Instituto de Florestas, Departamento de Ciências Ambientais; Laboratório de Ecologia Florestal e Biologia Vegetal, Seropédica, RJ. *[email protected]

Introdução Metodologia

A maior parte da transferência de nutrientes e de Área de estudo: O estudo será realizado no Parque energia da vegetação para os solos é representado pela Estadual da Ilha Grande (PEIG), localizado no município deposição, decomposição e mineralização da de Angra dos Reis, litoral sudoeste do estado do Rio de 1,2,3 serapilheira caída no solo das florestas , servindo Janeiro. A Ilha Grande possui área de cerca de 19.000 inclusive como uma medida da produtividade da ha, coberta por Floresta Ombrófila Densa Submontana 4 comunidade . A maior parte dos estudos foca e Montana14 em diferentes estágios de regeneração, principalmente na biomassa e composição nutricional além de manchas de manguezais e grandes áreas de da chamada serapilheira fina (folhas, galhos e partes restinga15. O clima da região é quente e úmido, com 2,4 reprodutivas) dos componentes arbustivo e arbóreo . temperatura média anual de 24°C, sem ocorrência de No entanto, componentes da comunidade vegetal que estação seca e podendo chegar a 4.500 mm anuais de contribuem com cerca de 50% da diversidade biológica pluviosidade16. O estudo será realizado em parcelas do 5,6,7 e da biomassa, como as epífitas vasculares , têm módulo Leste do RAPELD instalado no PEIG para sido negligenciados na maioria dos estudos. Para amostragem da biodiversidade. O módulo leste está ocuparem o espaço vertical e sobreviverem sobre o inserido na vertente ocidental da ilha, situado em áreas corpo de seus hospedeiros (na grande maioria das de Floresta Ombrófila Densa Submontana e Montana17. vezes esses hospedeiros são árvores, doravante Procedimento amostral: Para avaliarmos a produção chamados de forófitos), as epífitas desenvolveram de serapilheira total, serão alocados coletores de inúmeras adaptações para obter água e nutrientes, tais serapilheira 0,25 m2, confeccionados com tubos de PVC como os tanques de bromélias, tricomas foliares e fundo de tela de nylon. Estes coletores serão especializados em absorção, raízes com velame instalados em três parcelas de 1,0 ha alocadas no 5,8,9,10 etc. . Boa parte da fonte de nutrientes desses módulo oeste do RAPELD Ilha Grande. Mensalmente organismos é autóctone, sendo obtida a partir da todos os coletores serão vistoriados e toda a captura da serapilheira depositada pelas árvores serapilheira depositada será recolhida em sacos diretamente no corpo das epífitas ou acumulada na face plásticos de 100 L, que serão lacrados e levados ao 2,4 superior dos galhos e nas bifurcações . As epífitas laboratório para triagem. No laboratório, o material então produzem biomassa a partir desses nutrientes depositado será seco em estufa por 24h para se obter o que, posteriormente, será disponibilizada para os solos peso seco do material depositado. Todo o material será, quando estas se desprenderem de seus forófitos, sejam posteriormente, triado e separado nas seguintes 11,12,13 mortas ou ainda vivas . Apesar da importância das frações: matéria fina, galhos, folhas, material epífitas na redisponibilização de nutrientes para os reprodutivo (frutos e flores) e bromélias. Cada uma das solos das florestas, ainda são poucos os estudos que frações será então pesada em balança de precisão e avaliem sua contribuição para a manutenção da será avaliada a contribuição de cada uma das frações. necromassa e dos ciclos de nutrientes, em especial na Floresta Atlântica, que é caracterizada por apresentar Resultados esperados elevada diversidade e biomassa desse componente da Esperamos compreender a dinâmica da produção de diversidade vegetal. Dessa forma, o presente estudo serapilheira ao longo do gradiente ambiental existente visa avaliar a produção de serapilheira oriunda de na Ilha Grande, compreendendo a contribuição e o epífitas, utilizando como modelo de estudo as papel da serapilheira advinda de bromélias epífitas. Bromeliaceae da Mata Atlântica. Assim, visamos Além disso, como as parcelas estão distribuídas ao compreender e quantificar o aporte de biomassa e de longo de um gradiente ambiental, esperamos necromassa em um trecho de Floresta Atlântica compreender de que forma as mudanças no gradiente localizado na Ilha Grande, litoral sudoeste do estado do podem afetar a dinâmica e a contribuição da Rio de Janeiro, avaliando o volume e a dinâmica da serapilheira oriunda desse componente. produção desse tipo de serapilheira.

120 Agradecimentos

Ao Laboratório de Ecologia Florestal e Biologia Vegetal e ao PPBio Mata Atlântica pela possibilidade de realização deste estudo. Referências Bibliográficas [1] SANFORD, W. W. 1969. The distribution of epiphytic orchids in Nigeria in relation to each other and to geographic location and climate, type of vegetation and tree species. Journal of the Linnean Society, Biology 1: 247-285. [2] NADKARNI, N. & MATELSON, T.J. 1992. Biomass and nutriente dynamics of epiphytic litter-fall in a Neotropical montane forest, Costa Rica. Biotropica 24: 24-30. [3] VITAL, A.R.T., GUERRINI, I.A., FRANKEN, W.K. & FONSECA, R.C.B. 2004. Produção de serapilheira e ciclagem de nutrientes de uma floresta estacional semidecidual em zona ripária. Revista Árvore 28(6): 793- 800. [4] OLIVEIRA, R.R. 2004. Importância das bromélias epífitas na ciclagem de nutrientes da Floresta Atlântica. Acta Botânica Brasílica 18(4): 793-799. [5] BENZING, D.H. 1990. Bromeliads – Profile of na adaptative radiation. Cambridge University Press, Cambridge. 354p. [6] GENTRY, A.H. & DODSON, C.H. 1987. Diversity and biogeography pf neotropical vascular epiphytes. Annals of the Missouri Botanical Garden 74: 205-233. [7] GENTRY, A.H. & DODSON, C.H. 1987. Contribution of non trees to species richness of a tropical rain forest. Biotropica 19: 149-156. [8] BENZING, D.H. 1980. Biology of Bromeliads. Mad River Press, New York. 305p. [9] BENZING, D.H. 2008. Vascular epiphytes: general biology and related biota. Cambridge University Press, Cambridge. 376p. [10] BENZING, D.H. 2012. Air plants: epiphytes and aerial gardens. Cornell University Press, New York. 239p. [11] TANNER, E.V.J. 1980. Studies on the biomass and productivity in a series of montane rain forests in Jamaica. Journal of Ecology 68: 573-588. [12] SONGWE, N.C., FASEHUN, F.E. & OKALL, D.U. 1988. Litterfall and productivity in a tropical rain forest, Southern Bakundu Forest Reserve, Cameroon. Jornal of Tropical Ecology 4: 25-37. [13] VENEKLASS, E. 1991. Litterfall and nutriente fluxes in two montane tropical rain forests, Colombia. Journal of Tropical Ecology 7: 319-335. [14] VELOSO, H.P., RANGEL FILHO, A.L. & LIMA, J.C.A. 1991. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. Editora IBGE, Rio de Janeiro. [15] NUNES-FREITAS, A.F. & ROCHA, C.F.D. 2007. Spatial distribution by Canistropsis micros (E. MOrren ex Mez) Leme (Bromeliaceae: Bromelioideae) in the Atlantic rain fores in Ilha Grande, Southeastern Brazil. Brazilian Journal of Biology 67(3): 467-474. [16] OLIVEIRA, R.R. & COELHO NETTO, A.L. 2001. Captura de nutrientes atmosféricos pela vegetação na Ilha Grande, RJ. Pesquisa Botânica 51: 31-49. [17] PPBIO MATA ATLÂNTICA. 2015. Área de estudo. In http://www.ppbioma.com.br/site/

121 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

PRODUÇÃO SECUNDÁRIA DE MACROINVERTEBRADOS EM UM CÓRREGO DE MATA ATLÂNTICA

Joanna E. Mattos¹*, Vinicius Neres-Lima¹, Timothy P. Moulton¹ ¹ Departamento de Ecologia, IBRAG, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ. *[email protected] ausência total de Potimirim na presença de peixes e Introdução uma alta produção na ausência. Houve maior produção Estudos de produção secundária em córregos de Chironomidae na presença de peixes, sendo apresentam uma diversidade de questões ecológicas aproximadamente 10 vezes maior do que na ausência. que são fundamentais para o entendimento da estrutura O efeito de presença e ausência de peixes não foi trófica e fluxo de energia em ecossistemas aquáticos [1]. significativo para predadores e Baetidaes. Essas questões podem estar relacionadas com o aporte Discussão de material alóctone carreado pelo fluxo, distribuição de habitats e substratos, cobertura florestal, presença de Houve aumento da produção secundária ao longo do predadores. A comunidade de macroinvertebrados tem rio, com aumento de raspadores e coletores e sido bem utilizada para cálculos de produção diminuição de fragmentadores a jusante. A teoria de secundária, com a exigência de uma estimativa exata continuo de rio prevê que em cabeceiras animais de produção para se estimar o fluxo de energia [2]. O fragmentadores tem um importante papel no objetivo dessa pesquisa foi medir a produção processamento de folhas e galhos, devido ao maior secundária em um córrego de Mata Atlântica avaliando aporte de material alóctone. Ao longo do rio o fluxo se fatores que influenciam essa variável. torna maior e o sombreamento diminui e são esperados Metodologia animais coletores e raspadores [3]. O forte efeito de peixes na comunidade de Chironomidae ocorreu Nosso estudo foi realizado no córrego Andorinha, Ilha provavelmente pela ausência de Potimirim. A ausência Grande no Estado do Rio de Janeiro, Brasil (23°04′ to de Potimirim diminui a bioturbação e permite um maior 23°14′S e 44°05′ to 44°23′W). Escolhemos cinco pontos crescimento do perifiton. O espessamento do perifito de alta, media e baixa altitude ao longo do córrego. O proporciona mais habitats para Chironomidae. Isso rio apresenta uma cachoeira (Mãe d’Água) que serve mostra também que o aumento da produção de como barreira para os peixes a montante. Os pontos no Chironomidae na presença de peixes ocorre via rio Andorinha foram nomeados da seguinte forma: Val, ausência de Potimirim e não pela ausência de macro Jar, Cha são sombreados e abaixo da cachoeira os predadores, pois esses não sofreram diferença na pontos Lam e Cap que são mais abertos e próximos à produção com o efeito de peixes. Um estudo na mesma foz. Fizemos as coletas com surber, malha de 250 µm, área sobre os efeitos de camarões e Baetidaes sobre nos meses de agosto e setembro de 2013. As amostras perifiton corrobora com esses resultados [4]. foram armazenadas com álcool a 70% e posteriormente identificadas até o nível de taxonômico de família Em Agradecimentos cada ponto fizemos coletas de substrato (areia, pedra e Ao CNPq pela concessão da bolsa e ao Centro de folhiço) nos habitats de corredeira e poço. Para estimar Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável a produção aplicamos o método size-frequency. (CEADS – UERJ) pelo suporte logístico e hospedagem Resultados para o desenvolvimento da pesquisa.

A produção secundária anual da comunidade de Referências Bibliográficas macroinvertebrados aumentou ao longo do rio para [1] Benke, A.C. & Huryn, A.D. 2006. Secondary Production of todos os substratos e habitats. Encontramos maior Macroinvertebrates. Pages 691-710 in Hauer F. R.& Lamberti G.A, produção secundária anual nos pontos menos editors. Methods in Stream Ecology. Acadmic Press, New York 2007. sombreados, Lam 7486 mg.m-².ano-¹ e Cap 6902 mg.m- [2] Benke, A.C. & Huryn, A.D. 2010. Benthic invertebrate production- ².ano-¹. Nos pontos mais sombreados encontramos no facilitating answers to ecological riddles in freshwater ecosystems. Cha 5506 mg.m-².ano-¹, no Val 4546 mg.m-².ano-¹ e no Journal of the North American Benthological Society, 29(1):264-285. Jar 832 mg.m-².ano-¹. Quanto aos grupos funcionais de [3] Vannote, R. L., G. W. Minshall, K. W. Cummins, J. R. Sedell, and C. alimentação, a produção secundária de fragmentado foi E. Cushing. 1980. River Continuum Concept. Canadian Journal of maior nos pontos com menor porcentagem de abertura Fisheries and Aquatic Sciences 37:130-137. de canópia, diminuindo ao longo do rio. Coletores e [4] Moulton, T. P., M. L. Souza, T. L. Walter, and F. A. M. Krsulović. raspadores aumentaram com a abertura da canópia, 2009. Patterns of periphyton chlorophyll and dry mass in a neotropical sendo a maior produção nos sites menos sombreados. stream: a cheap and rapid analysis using a hand-held fluorometer. O efeito de peixe na produção secundária anual indicou Marine and Freshwater Research 60:224-233.

122 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

CICLAGEM DE NUTRIENTES EM FLORESTAS SECUNDÁRIAS DA MATA ATLÂNTICA: EFEITOS DA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E DO SOLO Jonas E. Bianchin1,*, Renato Marques2, Cilmar A. Dalmaso1 1 Programa de Pós-graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR; 2 Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR; *[email protected]

RNRC ocorrem várias classes de solos, desde Neossolos Introdução e Gleissolos nas áreas mais planas a Cambissolos e Argissolos nas áreas mais elevadas7. A ciclagem de nutrientes é um dos processos essenciais para a manutenção das florestas tropicais. Nesse processo, ocorre a deposição e decomposição da serapilheira, sendo que os nutrientes são liberados possibilitando o reaproveitamento pelas plantas1. Florestas em diferentes estágios de sucessão de uma mesma tipologia florestal apresentaram diferentes taxas de deposição de serapilheira2, pelo fato de a deposição de serapilheira ser diferenciada entre as áreas. Os parâmetros físico-químicos do solo são dependentes da vegetação existente sobre ele, pois a composição de espécies condiciona uma determinada deposição de serapilheira, e isso determina as características do processo de ciclagem de nutrientes. A atividade microbiana também é dependente do microclima formado Figura 1 – Área de estudo na RNRC em Antonina, PR. pela vegetação existente sobre o solo3. A mineralização e a humificação são correlacionadas com a atividade O solo nas parcelas será classificado até a quarta microbiana, que é influenciada, além do clima e da categoria do SiBCS8 ao longo do trabalho. A tipologia 4 vegetação, pela qualidade do solo . As propriedades florestal da área é a Floresta Ombrófila Densa, que é biológicas e bioquímicas do solo, como a atividade caracterizada por macro e mesofanefófitos, além de enzimática, a taxa de respiração, a diversidade e a lianas lenhosas e epífitas no seu sub-bosque, sendo, no biomassa microbiana, são indicadores sensíveis que entanto, os fatores ambientais marcantes, como podem ser utilizados no monitoramento de alterações 5 temperatura alta e precipitação bem distribuída ao longo ambientais de uma área . Diante disso, percebe-se a do ano, o que determina uma situação bioecológica importância da realização de pesquisas que elucidem as praticamente sem período seco9. Nas parcelas de estudo, relações entre a floresta e o solo. Assim, o objetivo ocorre a formação Submontana. A coleta de serapilheira principal desse trabalho é avaliar o efeito da vegetação e depositada será feita por meio de coletores circulares, do solo na ciclagem de nutrientes em áreas secundárias instalados sistematicamente ao lado do corredor central da Floresta Ombrófila Densa Submontana. das parcelas selecionadas. A coleta será feita com Metodologia periodicidade mensal, e a serapilheira será processada e analisada posteriormente. Para a serapilheira acumulada, A área de estudo está localizada na Reserva natural do as coletas serão feitas a cada trimestre (estação), em Rio Cachoeira (RNRC), de propriedade da Sociedade de subparcelas instaladas de modo transversal ao corredor Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental central (Figura 2). A serapilheira será separada em (SPVS), em Antonina, PR. Na RNRC, foi instalado um frações e posteriormente analisada. Por meio da módulo de parcelas conforme a metodologia RAPELD, diferença entre a serapilheira depositada e a acumulada, sendo implantadas 10 parcelas de 1 hectare cada. Para o será possível calcular a taxa de decomposição da estudo da serapilheira e parâmetros biológicos do solo, serapilheira. Será feita a classificação do solo das foram selecionadas 5 destas parcelas, de modo a parcelas por meio da abertura de perfis e coleta de abranger o maior gradiente de altitude (Figura 1). O clima amostras indeformadas para determinação da densidade, da região pode ser classificado como do tipo Cfa de além da coleta do solo para análise dos parâmetros Köeppen, descrito como subtropical úmido, físico-químicos (granulometria, densidade, análise mesotérmico6, com verões quentes, sem estação seca e química de rotina, entre outras) conforme protocolo do sem incidência de geadas. A precipitação é superior a PPBio. A coleta de solos para as análises microbiológicas 2000 mm anuais, portanto não há déficit hídrico. Na serão realizadas nas profundidades de 0-5 e 5-10 cm, sendo que os parâmetros biológicos analisados serão o

123 Carbono da biomassa microbiana (CBM), a Respiração parâmetros químicos e biológicos, espera-se que basal do solo (RBS); a Mineralização anaeróbia do apresentem variação em função da cobertura vegetal Nitrogênio e o Quociente metabólico (qCO2)10. Todos os existente na área. dados de serapilheira e solo serão correlacionados com os dados do inventário florestal, a fim de verificar a Agradecimentos influência da vegetação sobre a deposição e acumulação de serapilheira e sobre as características físico-químicas À Capes pela concessão da bolsa ao primeiro autor; ao e biológicas do solo. CNPq pelo apoio com o projeto PPBio; à SPVS pela cessão da área de estudo. Referências Bibliográficas

[1] Pinto, C.B. & Marques, R. 2003. Aporte de nutrientes por frações da serapilheira em sucessão ecológica de um ecossistema da Floresta Atlântica. Floresta, 33(3):257-264. [2] Rocha, A.A. Deposição de fitomassa e nutrientes, acumulação e decomposição de serapilheira em três tipologias da Floresta Atlântica, Paranaguá, PR. Dissertação (Mestrado em Ciência do Solo) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006. 113 f. [3] Peña, M.L.P.; Marques, R.; Jahnel, M.C. & Anjos, A. 2005. Respiração microbiana como indicador da qualidade o solo em ecossistema florestal. Floresta, 35(1). [4] Andrae, F. Ecologia Florestal. Santa Maria: UFSM, 1978. 299 p. [5] Matsuoka, M.; Mendes, I.C. & Loureiro, M.F. 2003. Biomassa microbiana e atividade enzimática em solos sob vegetação nativa e sistemas agrícolas anuais e perenes na região de Primavera do Leste (MT). Revista Brasileira Ciência do Figura 2 – Metodologia de coleta de serapilheira Solo, 27(3):425-433. [6] IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Social. acumulada e solo para análises biológicas nas parcelas Zoneamento da Área de Proteção Ambiental de do PPBio em Antonina, PR. Guaraqueçaba. Curitiba: IPARDES, 2001. 150 p. [7] Ferretti, A.R. & Britez, R.M. 2006. Ecological restoration carbon sequestration and biodiversity conservation: The experience of the Society for Wildlife Research and Resultados Esperados Environmental Education (SPVS) in the Atlantic Rain Forest of Southern Brazil. Journal of Nature Conservation, 14:249- Até o momento, foram instalados os coletores de 259. serapilheira depositada e foram realizadas três coletas [8] Santos, H.G. et al. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2013. mensais, sendo que o material está em fase de triagem. [9] IBGE. Manual técnico da vegetação brasileira: sistema A partir de agora, serão feitas coletas estacionais de fitogeográfico, inventário das formações florestais e serapilheira acumulada e solo nas camadas superficiais, campestres, técnicas e manejo de coleções botânicas, procedimentos para mapeamentos. 2. ed. Rio de Janeiro: para as análises biológicas. Na sequência, serão IBGE; 2012. realizadas as coletas de solos para a análise dos [10] Müller, F.C. Parâmetros químicos e microbiológicos do solo parâmetros químicos, conforme o protocolo padrão do em áreas de restauração florestal na Reserva Natural Rio Cachoeira, Antonina, PR. Dissertação (Mestrado em PPBio. Será realizada também a abertura de dois perfis Ciência do Solo) – Universidade Federal do Paraná, de solo em cada parcela, para a classificação do solo e Curitiba, 2012. 66 f. para a coleta de amostras indeformadas e solo para as análises físicas. Com essa pesquisa, espera-se elucidar mais claramente como se dá o processo de deposição e decomposição de serapilheira em florestas secundárias, bem como avaliar o quanto a ciclagem de nutrientes influencia nas características físico-químicas e biológicas do solo. Os valores de serapilheira depositada e acumulada serão distintos entre as parcelas, devido à diferença na estrutura da vegetação em cada local. Além disso, espera-se encontrar variação na granulometria do solo entre as áreas, devido a fatores pedogenéticos. Quanto à densidade aparente do solo, não há um padrão claro de como esta propriedade se correlaciona com a vegetação, no entanto espera-se que aumente com a profundidade e tenda a diminuir com o aumento da idade da floresta. Com relação ao teor de carbono e nitrogênio, bem como a relação C:N, espera-se que esses parâmetros diminuam com o aumento da profundidade e o estoque de carbono e nitrogênio no solo aumente em florestas mais desenvolvidas. Quanto aos demais

124 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

EFEITOS DAS MUDANÇAS AMBIENTAIS SOBRE OS BANCOS DE Ruppia maritima E AS COMUNIDADES ASSOCIADAS NA LAGUNA ACARAÍ

Luciano Lorenzi1*, Tamires de Faria Cardoso1# 1Universidade da Região de Joinville - Univille, Departamento de Ciência Biológicas, Laboratório Bentologia, Joinville, SC, Brasil. #Estudante de Iniciação Científica do Curso de Ciências Biológicas – linha de formação Biologia Marinha - Univille *[email protected] Introdução variações de salinidade, temperatura, pH e oxigênio dissolvido em superfície e fundo da coluna d´água. Os Ruppia maritima Os bancos extensos de proveem dados serão analisados utilizando Análises de Variância valiosos recursos em águas costeiras rasas em todo o (Anovas) unifatoriais para testar a significância nas mundo, servindo de alimento e berçário para espécies de diferenças da cobertura, das biomassas superficial e pescados importantes para o comércio e a recreação. subterrânea e da densidade e composição dos Mudanças no nível do mar, na salinidade, na temperatura, organismos entre os bancos de gramíneas distribuídos ao nos níveis de CO2 atmosférico e de radiação UV, podem longo da laguna nas estações do ano. A Análise Canônica alterar a distribuição, a produtividade e a composição da de Correspondência será utilizada para verificar a relação comunidade de gramíneas marinhas. Por sua vez, das variações nos padrões de distribuição dos alterações potenciais na distribuição e na estrutura da organismos nos bancos ao longo das estações do ano comunidade de gramíneas marinhas podem influenciar com as variações dos parâmetros ambientais. diretamente a biota local e regional, a geomorfologia costeira e os ciclos biogeoquímicos. Em muitas partes do Resultados esperados mundo as gramas marinhas não são bem conhecidas, embora forneçam funções e serviços ecossistêmicos Os dados produzidos nesse trabalho serão utilizados para cruciais aos oceanos e às populações humanas costeiras. o monitoramentol desse bancos de gramíneas, com a Comparados com outros habitats marinhos onde perspectiva de realizar um trabalho de longo prazo e organismos fotossintetizantes são dominantes – tais como nessa perspectiva, relacionar essas variações com os costões rochosos, recifes biológicos e manguezais – eventos de perturbação por alterações no clima e as sabe-se pouco ainda sobre a biologia e a ecologia das ações antrópicas. gramíneas marinhas do Brasil. Apesar disso, os bancos de gramíneas do planeta estão reduzindo devido às Agradecimentos atividades antropogênicas, que potencializam os impactos À Univille e ao Programa de Pós-Graduação em Saúde e dos processos naturais. Estudos têm demonstrado que a Meio Ambiente (projeto ID 1671) pelo apoio financeiro. Ao R. maritima expansão dos bancos de anteriormente PPBioMa – Núcleo Sul/SC. À equipe gestora do Parque ocupados por espécies de gramas marítimas tais como Estadual Acaraí. Halophila decipiens, Posidonia sp., Zostera sp., Halodule wrightii, Syringodium filiforme decorrem de eventos de Referências Bibliográficas perturbação tais como furacões, alterações de salinidade e eventos meteorológicos extremos. O objetivo desse [1] CHO, H.J. & POIRRIER, M.A. Response of submerged aquatic vegetation (SAV) to the 1997-2001 El Niño Southern trabalho será determinar a variação espacial e temporal Oscillation shifts in Lake Pontchartrain, Louisiana. Estuaries, dos bancos de R. maritima e das comunidades 28(2): 215-225. 2005. associadas e as relações com as variações dos [2] JOHNSON, M.R.; WILLIAMS, S.L., LIEBERMAN, C.H. & KOLBAK, A. Changes in the abundance of the Zostera marina L. parâmetros ambientais. (eelgrass) and Ruppia maritime L. populations in San Diego, California, following an El Niño event. Estuaries, 26: 106-115. Metodologia 2003. [3] PALMER, M.W. Putting things in even better order: the No trabalho em campo serão determinadas as extensões advantages of canonical correspondence analysis. Ecology. dos bancos de R. maritima com a realização de 74(8):2215-2230. 1993. [4] SHORT, F.T. & NECKLES, H.A. The effects of global climate amostragens com intervalos trimestrais em transectos nos change on seagrasses. Aquatic Botany, 63: 169-196. 1999. bancos ao longo da laguna Acarai, com a determinação [5] SHORT, F.T.; KOCH, E.W.; CREED, J.C.; MAGALHÃES, da cobertura da vegetação, biomassa superficial e K.M.; FERNANDEZ, E. & GAECKLE, J.L. Seagrass Net monitoring across the Americas: case studies of seagrass subterrânea. Os padrões de distribuição e a densidade e decline. Marine Ecology, 27: 277-289. 2006. composição dos organismos associados serão realizados [6] UNDERWOOD, A.J. Experiments in ecology: their logical através da separação dos organismos presentes nas design and interpretation using analysis of variance. Cambridge fanerógamas e no sedimento dos bancos. No sedimento University Press, Cambridge. 1997. coletado serão determinadas as porcentagens de carbonato de cálcio e de matéria orgânica e os diâmetros dos grãos. Na coluna d´água serão determinadas as

125 I Simpósio da Rede PPBioMataAtlântica Rio de Janeiro,10-11 de Agosto de 2015

RELAÇÃO ENTRE DIVERSIDADE E O PROCESSO DE DECOMPOSIÇÃO NA MATA ATLÂNTICA

Ricardo A. C. de Oliveira1*, Márcia C. M. Marques1

Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Biológicas, Departamento de Botânica , Jardim das Américas - Laboratório de Ecologia Vegetal Curitiba, PR. *[email protected] causados pela interação entre tipos funcionais1,9. O Introdução objetivo do estudo é avaliar como as características Estudos que investigaram o efeito direto da diversidade funcionais das comunidades vegetais interagem com a vegetal em diversos processos ecossistêmicos variação nos fatores abióticos na determinação do encontraram uma relação positiva entre estes processo de decomposição de serapilheira processos e a diversidade1,2. Entre as diferentes (consequentemente, no processo de ciclagem de medidas de diversidade, a diversidade funcional tem carbono e nutrientes) na Mata Atlântica. Busca-se sido amplamente utilizada como uma das formas mais determinar a magnitude da influência dos fatores importantes para a compreensão das propriedades dos ambientais e da diversidade funcional sobre a dinâmica ecossistemas terrestres3. Esta pode ser composta por da decomposição de serapilheira em escala local. As atributos funcionais de efeito e de resposta ou por seguintes hipóteses serão testadas: (1) Quanto maior a atributos que possuem ambas as propriedades1,4,5. diversidade funcional da comunidade mais rápido será o Portanto, em comunidades naturais, a diversidade processo de decomposição da serapilheira, devido aos funcional é tanto uma variável que responde ao efeitos positivos da diversidade (i.e. ambiente quanto um fator que influencia o complementaridade, efeito de seleção). (2) A funcionamento do ecossistema, já que é um fator capaz decomposição da serapilheira terá relação positiva com de modificar o ambiente biótico e abiótico1,4,5. Os maior umidade do solo, menor incidência de luz, solos processos ecossistêmicos são favorecidos pela com menores restrições nutricionais e menores diversidade funcional através de dois mecanismos altitudes. (3) A diversidade funcional da comunidade principais. Pelo mecanismo de complementaridade terá maior poder explicativo na variação do processo de espera-se que em comunidades com maior diversidade decomposição de serapilheira do que os fatores ocorra uma maior partição ou complementaridade de abióticos isoladamente. nicho, permitindo o uso mais eficiente e completo de Metodologia recursos e, consequentemente, favorecendo diversos processos ecossistêmicos. Já pelo efeito de seleção, O estudo está sendo realizado em área de Mata comunidades mais diversas apresentam uma maior Atlântica na Reserva Natural do Rio Cachoeira, probabilidade de inclusão de algum atributo funcional Antonina, Paraná (25º19'15”S e 45º42'24” O, área total que resulte num desempenho superior às demais num 8600 ha). Nesta área foram instaladas parcelas determinado fator que pode afetar permanentes seguindo o método RAPELD. Para testar desproporcionalmente os processos ecossistêmicos6. A se a diversidade funcional da comunidade afeta decomposição em ecossistemas terrestres é controlada positivamente a decomposição da serapilheira foi tanto por efeitos abióticos quanto bióticos. A estrutura amostrada a comunidade de plantas associada a um física do solo, a luminosidade e a microtopografia experimento de decomposição de serapilheira. Cada afetam a umidade do solo e a disponibilidade de parcela foi subdividida em cinco segmentos de 50m. nutrientes do solo que, por sua vez, são positivamente Caracterização do gradiente ambiental: Ao longo do correlacionados com o processo de decomposição 6,7,8,9. corredor central foram tomadas medidas de declividade Já a composição física e química da serapilheira e do terreno, cobertura do dossel, características físicas e composição da comunidade de decompositores podem químicas do solo. Levantamento da vegetação: Em toda alterar qualitativamente o processo de decomposição7,9. extensão das dez parcelas foram coletados DAP e Todos esses fatores são influenciados direta ou altura das plantas da faixa de 1,5 m (indivíduos com indiretamente pela composição e estrutura da DAP>1cm). Levantamento de atributos funcionais de comunidade vegetal local3,6,9. Por exemplo, através da plantas: Para cada espécie amostrada foram coletadas alteração na quantidade e qualidade da serapilheira os seguintes atributos funcionais: conteúdo de matéria depositada, pode haver alteração na composição e seca foliar, área foliar específica, área foliar, altura atividade dos decompositores; já as diferenças na máxima, densidade da madeira. Decomposição: Sacos estrutura e funcionamento da floresta podem modificar para ensaios de decomposição (litterbags) foram as características microclimáticas, sendo que a variação construídos utilizando tela com malha de 2mm x 2mm. espaço-temporal da produção de serapilheira provoca Cada litterbag foi preenchido com substrato padrão um balanço dinâmico entre diversos fatores9. A composto por folhas de Alchornea triplinervia. Um total diversidade funcional altera a decomposição tanto por de 15 litterbags foram distribuídos em cada estação efeitos diretos causados pela presença de um experimental e coletados após 45, 90, 140, 180 e 240 determinado tipo funcional, quanto por efeitos indiretos dias. Através da diferença no peso nas diversas coletas

126 durante o transcorrer do tempo foi calculada a taxa de Discussão decomposição da serapilheira. A partir dos resultados obtidos até o momento mais a inclusão das características do gradiente ambiental, Resultados somada a definição da diversidade taxonômica e O levantamento da vegetação foi concluído, foram término da coleta da diversidade funcional será possível coletados 1354 indivíduos (5cm>DAP>1cm) e 371 concluir os principais fatores que influenciam o processo ecossistêmico avaliado. Permitindo a inferência e indivíduos (DAP>5cm), cada indivíduo recebeu uma extrapolação sobre como determinados fatores placa de identificação e teve localização, diâmetro e a avaliados no estudo (Diversidade funcional, altura (estimada) levantados. A identificação luminosidade, altitude, topografia, etc) atuam no taxonômica, a caracterização do gradiente ambiental e funcionamento ecossistêmico levantamento dos atributos funcionais ainda estão em fase de coleta. Agradecimentos O experimento de decomposição foi concluído, todos os À Capes pela concessão da bolsa ao primeiro autor; ao litterbags 750 foram coletados e pesados (peso seco) CNPq pelo financiamento da pesquisa através do PPBio em laboratório, análises laboratoriais para correção do Mata Atlântica e à SPVS, por permitir o estudo na peso das amostras estão em fase de implantação Uma Reserva do Cachoeira. visão geral do processo de decomposição é mostrada pela média de todas as dez parcelas (Figura 1). A Referências Bibliográficas variação da taxa de decomposição entre parcelas é [1] Gessner, M. O., Swan, C. M., Dang, C. K., McKie, B. G., mostrada na Figura 2. Bardgett, R. D., Wall, D. H., & Hättenschwiler, S. (2010). Diversity meets decomposition. Trends in Ecology & Evolution, 25(6), 372-380. [2] Dıaz,́ S., & Cabido, M. (2001). Vive la difference: plant functional diversity matters to ecosystem processes. Trends in Ecology & Evolution, 16(11), 646-655. [3] Westoby, M., & Wright, I. J. (2006). Land-plant ecology on the basis of functional traits. Trends in Ecology & Evolution, 21(5), 261-268. [4] Lavorel, S., & Garnier, E. (2002). Predicting changes in community composition and ecosystem functioning from plant traits: revisiting the Holy Grail. Functional Ecology, 16(5), 545- 556. [5] Pérez-Harguindeguy, N., Díaz, S., Garnier, E., Lavorel, S., Poorter, H., Jaureguiberry, P., ... & Cornelissen, J. H. C. (2013). New handbook for standardised measurement of plant functional traits worldwide. Australian Journal of Botany, 61(3), 167-234. [6] Hättenschwiler, S., Coq, S., Barantal, S., & Handa, I. T. (2010). Leaf traits and decomposition in tropical rainforests: revisiting some commonly held views and towards a new hypothesis. New Phytologist, 189(4), 950-965. [7]Cornwell, W. K., Cornelissen, J. H., Amatangelo, K., Dorrepaal, E., Eviner, V. T., Godoy, O., ... & Westoby, M. (2008). Plant species traits are the predominant control on litter decomposition rates within biomes worldwide. Ecology letters, 11(10), 1065-1071. Figura 1. [8] Ordoñez, J. C., Van Bodegom, P. M., Witte, J. P. M., Wright, I. J., Reich, P. B., & Aerts, R. (2009). A global study of relationships between leaf traits, climate and soil measures of nutrient fertility. Global Ecology and Biogeography, 18(2), 137- 149. [9] Scherer-Lorenzen, M. (2008). Functional diversity affects decomposition processes in experimental grasslands. Functional Ecology, 22(3), 547-555.

Figura 2.

127 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DA RODOVIA BR-101 NOS MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE, NA RESERVA BIOLÓGICA DE SOORETAMA E RESERVA NATURAL VALE, ESPÍRITO SANTO

Aureo Banhos*1, Alexandre Rosa dos Santos1, Charles Gladstone Duca Soares2, Greiciane Gaburro Paneto1, Ana Carolina Srbek Araujo2, Helena de Godoy Bergallo3 1Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, ES; 2 Laboratório de Ecologia de Populações e Conservação, Universidade Vila Velha, Vila Velha, ES; 3 Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ *[email protected]

Introdução mamíferos serão monitorados. Esse monitoramento será realizado percorrendo o trecho de 25 km a pé e de carro. A Reserva Biológica de Sooretama (RBS) e a Reserva Natural Vale (RNV), no norte do Espírito Santo, formam o maior fragmento contínuo de Floresta de Tabuleiros no Corredor Central da Mata Atlântica, com aproximadamente 50 mil hectares. Na década de 1960, as reservas foram cortadas por um trecho de 25 km da rodovia BR-101, a revelia da legislação ambiental da época, fragmentando as populações e provocando uma alta mortandade de animais por atropelamento. Os impactos ambientais da BR-101 nas reservas até o momento foram pouco estudados e nos próximos anos está planejada a duplicação dessa rodovia. As estradas provocam uma série de impactos na biodiversidade. Na fauna de vertebrados, as estradas causam efeitos negativos na distribuição, riqueza, abundância, razão Figura. Mapa com o fragmento florestal da Reserva sexual, sobrevivência, movimentação, dispersão, na Biológica de Sooretama, a Reserva Natural Vale e os diversidade genética, estrutura populacional, fluxo gênico, pequenos fragmentos de seu entorno, em verde. A entre outros. Avaliar estes efeitos requer um grande rodovia BR-101 em azul e o trecho de 25 km em esforço de pesquisa, integrando o levantamento rápido da vermelho. Os três módulos RAPELD que estão sendo biodiversidade com monitoramento de longa duração. instalados, são representados pelo par de linhas paralelas Neste caso, se aplica o método do RAPELD. O objetivo pontilhadas. desse estudo é avaliar e monitorar os impactos desta rodovia BR-101 nos mamíferos de médio e grande porte Resultados Esperados nas RBS e RNV, utilizando módulos RAPELD. 1) Avaliação dos efeitos da rodovia BR-101 na Metodologia distribuição, movimentação, riqueza e abundância de mamíferos de grande e médio porte; O presente estudo está sendo desenvolvido ao longo de 2) Capacitação de dois alunos de mestrado e dois de um trecho de estrada de 25 km da rodovia BR-101 que graduação; faz interseção com a RBS e RNV, que se localiza no 3) Colaboração nas medidas de mitigação dos impactos Norte do Estado do Espírito Santo, nos municípios de da rodovia BR-101 na RBS e RNV; Linhares, Sooretama, Jaguaré e Vila Valério, entre as 4) Instalação da infraestrutura de três módulos RAPELD coordenadas geográficas de 18°49’ e 19°21’ S e 39°47’ e PPBio, que poderão ser utilizados em outros estudos de 40°21’ W. Dois módulos RAPELD estão sendo instalados avaliação e monitoramento da biodiversidade. na RBS e um na RNV, no entorno da rodovia BR-101 (Figura). O monitoramento dos mamíferos de médio e Agradecimentos grande porte nos módulos será realizado a partir de À FAPES pelo financiamento. À Reserva Biológica de janeiro de 2016, através de censo por transecção (busca Sooretama, ao Instituto Chico Mendes de Conservação da ativa) e armadilhas fotográficas. A estrutura da vegetação, Biodiversidade e à Reserva Natural Vale pelas os aspectos fisco-químico e níveis de metais pesados do autorizações de pesquisa. solo serão avaliados nas parcelas dos módulos. Os níveis de ruído também serão avaliados nos módulos com aparelhos decibelímetros. A travessia de mamíferos nos túneis de drenagem sob a rodovia será monitorada com armadilhas fotográficas. Além disso, os atropelamentos de

128 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

CARACTERÍSTICAS DA VISITAÇÃO NO PARQUE NACIONAL DE SÃO JOAQUIM (PNSJ) - SANTA CATARINA - BRASIL.

Michel Tadeu Rodrigues Nolasco de Omena1,*, Paulo Santi Cardoso da Silva¹, Marcos Benedito Schimalski2, Pedro Volkmer de Castilho2. 1 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio - Parque Nacional de São Joaquim, Urubici, SC; 2Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC - Centro de Ciências Agro Veterinárias de Lages, Lages, SC. *[email protected]

Introdução

As Áreas Protegidas Naturais (APN) são roteiros turísticos muito procurados no mundo inteiro, porém conciliar a proteção do patrimônio natural, histórico e/ou cultural, ao turismo é uma tarefa complicada para a gestão da área, principalmente de Parques Nacionais, que estão sempre associados a visitação intensa. Neste projeto realizou-se o monitoramento da visitação, num dos cenários mais belos do estado de Santa Catarina - Brasil, o Morro da Igreja, de onde se avista a Pedra Figura 1 - Vista da Pedra Furada a partir do mirante do Furada, monumento geológico, inserido no Parque Morro da Igreja (Foto: Marcelo Sabiá). Nacional de São Joaquim (PNSJ). Criado pelo Decreto Resultados 50.922 de 06 de julho de 1961, esta ÁPN no ano de 2013 foi a quarta mais visitada do país. Aproveitando a Os primeiros dados quantitativos obtidos, foram o instalação de uma portaria física na estrada de acesso número de visitantes, especificado no quadro 1. ao Morro da Igreja, observou-se o fluxo de veículos de visitantes na rodovia e após a análise de mais de dez mil Quadro 1 - Número de visitantes no PNSJ. Até horas efetivas de monitoramento, constatou-se seu 2009 2010 2011 2012 2013 perfil, destacando-se: quantidade, tempo de visitação e 07/2014 veículo usado. 71.579 66.309 71.320 110.819 139.743 57.288 A compreensão da distribuição e do fluxo de visitantes e os fatores que os influenciam, é particularmente Tão importante quanto saber a quantidade de visitantes importante para a gestão de uma área silvestre1. é identificar o meio de transporte que acessam ao Estes dados permitiram calcular a capacidade de carga mirante, já que o estacionamento é um limitador a do atrativo e os fatores que o influenciam. visitação.

Metodologia Quadro 2 - Percentual de visitantes por meio de transporte no PNSJ - Ano 2013. Este trabalho foi desenvolvido no PNSJ, que abrange os Micros / Motocicletas / Carros Ônibus Caminhões municípios catarinenses de Bom Jardim da Serra, Grão Vans Bicicletas Pará, Orleans e Urubici, mais especificamente na estrada de acesso ao mirante do Morro da Igreja (figura 85,66% 0,26% 0,68% 13,24% 0,16% 1). Os vigilantes do Parque foram treinados para anotar o número de visitantes que passam pela estrada geral Com as informações de horário de entrada e saída do para acessar o mirante, tipo do veículo utilizado, origem Parque, e descontando-se o tempo de deslocamento e horário de entrada e saída. Após novembro de 2013, o específico de cada tipo de veículo, entre a Portaria e o sistema foi alterado para um cadastro feito na sede do mirante, ida e volta. Obteve-se o tempo médio de PNSJ em Urubici, porém continuando a anotar o horário visitação de 29 minutos. de entrada e saída na Portaria. Foram também realizadas dez viagens para cada tipo de veículo Discussão diferente (carro, ônibus, micro-ônibus, vans, motocicletas A Lei Federal n° 9.985 de 18 de julho de 20002 e caminhões), com tempo monitorado, para descobrir-se estabelece que as áreas protegidas da categoria de o tempo médio de percurso entre a Portaria e o mirante, proteção integral, só podem permitir atividades de uso ida e volta. indireto, aquelas que não demandam extração de produtos vegetais ou interferências substanciais a

129 natureza. O turismo ecológico mesmo sendo uma [2] SNUC, Sistema Nacional de Unidades de atividade que cause, às vezes, algum impacto, é Conservação da Natureza. "Lei Federal n° 9.985 de considerado uma atividade de uso indireto. A forma 18/07/2000". Presidência da República. Brasília - DF - como é realizado, porém, pode provocar grandes danos, Brasil - 2000. alguns irreversíveis aos ecossistemas. [3] CESSFORD, Gordon & BURNS, Rob. “Monitoring Para eliminar ou minimizar os danos à natureza, é visitor numbers in New Zealand national parks and necessário conhecer o visitante usual da UC. A protected areas”. Science & Technical Publishing. quantidade destes é o primeiro item neste sentido. Saber Department of Conservation. Wellington, New Zealand - o exato número de visitantes é importantíssimo para a 2008. tomada de decisões 3. Percebe-se claramente um aumento de visitantes após 2011, acredita-se que isto seja reflexo da pavimentação da rodovia SC370, que dá acesso a estrada geral do Morro da Igreja, porém não se pode minimizar a influência da alta divulgação na qual a região foi exposta para o turismo nacional. Pode-se também verificar que os visitantes preferem acessar ao PNSJ com seus carros particulares, o índice destes veículos em relação ao total é muito expressivo, sendo assim, há que se considerar em futuros projetos de infraestrutura, elementos que atendam esta demanda, o que requer grandes alterações na paisagem, ou se analisar outras alternativas de acesso, priorizando o coletivo e evitando-se obras substanciais que resultariam numa alteração maior no local do mirante. A análise dos resultados contribuirá para a avaliação do fluxo de visitantes no atrativo, buscando-se soluções para evitar a situação da figura 2 e possibilitando uma análise mais detalhada. Estas informações permitirão ao gestor da área elaborar um programa de uso público, dentro do Plano de Manejo da Unidade que traga melhorias à qualidade da visitação, sem impactos significativos ao meio ambiente.

Figura 2 - Engarrafamento no Morro da Igreja. (Foto: Cacau Menezes - Jornal do Almoço RBSTV/SC) Agradecimentos

Ao programa de pós graduação em Engenharia Florestal do Centro de Ciências Agro Veterinárias de Lages - (CAV/UDESC), a direção do ICMBio e colaboradores locais do PNSJ. Referências Bibliográficas

[1] COLE, David N. & DANIEL, Terry C. - “The science of visitor management in parks and protected areas: from verbal reports to simulation models”. Journal for Nature Conservation. Tilburg, Netherlands - 2003.

130 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

COLEÇÕES BOTÂNICAS REFERENTE AO MÓDULO GUAXINDIBA/RJ DO PPBio MATA ATLÂNTICA NO HERBÁRIO DO CENTRO DE BIOCIÊNCIAS E BIOTECNOLOGIA DA UENF

Bianca Nunes dos Reis1*, Mariana Alves Faitanin1, Tatiane Pereira de Souza1, Glaziele Campbell da Silva3, Warlen S. da Costa3, Maura da Cunha3,4 & Marcelo Trindade Nascimento1,2

1 Laboratório de Ciências Ambientais, Centro de Biociências e Biotecnologia, UENF, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. 2Curador do Herbário HUENF. 3 Laboratório de Biologia Celular e Tecidual, Centro de Biociências e Biotecnologia, UENF, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. 4Curadora da Xiloteca. *[email protected]

Introdução HUENF possui em seu acervo uma boa coleção de exsicatas e madeiras provenientes do Módulo Guaxindiba As coleções botânicas, indispensáveis para o estudo da do PPBio Mata Atlântica que está localizado na Estação biodiversidade vegetal, oferecem um precioso acervo de Ecológica Estadual de Guaxindiba (EEEG), São Francisco plantas e de informações. Estas coleções documentam a do Itabapoana, RJ. Esta UC possui o maior remanescente existência de espécies em um determinado tempo e de Floresta Estacional Semidecidual de Terras Baixas de espaço; documentam informações da flora de áreas Tabuleiro (FEST) para o estado do Rio de Janeiro. Entre preservadas e de áreas hoje perturbadas; são as décadas de 60 e 90, teve sua área original reduzida imprescindíveis em pesquisas taxonômicas e filogenéticas devido ao desmatamento proveniente de atividades entre outras e essenciais na identificação de espécies [1]. agropecuárias e também pela comercialização de suas As coleções biológicas do Herbário da Universidade madeiras [2]. Diante do exposto, este trabalho teve por Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (HUENF) objetivo levantar o acervo científico do Herbário e da representam um importante recurso para pesquisa, ensino Xiloteca da UENF referente ao Módulo Guaxindiba. e extensão, incorporando testemunhos das pesquisas e experimentos realizados na Universidade. Estas coleções Metodologia fornecem um registro da biodiversidade regional, sendo fonte de informação para identificação e elaboração de Consultas ao banco de dados do HUENF foram realizadas inventários de espécies. Desde o ano de 1995, este para o levantamento das espécies vegetais amostradas na remanescente tem sido alvo de estudos realizados por Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba (EEEG) desde diversos pesquisadores e alunos da Universidade Estadual o ano de 1995, período que antecede a implantação das do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e o material parcelas permanentes localizadas no módulo RAPELD do testemunho de coletas botânicas tem sido incorporado no PPBio Mata Atlântica (Figura 1). Herbário UENF. O HUENF é formado por coleções Para Xiloteca, os dados amostrados foram baseados nos botânicas, xiloteca e palinoteca, oriundas das diferentes registrados já catalogados das lâminas permanentes do fisionomias ocorrentes no diversificado e quase acervo da Xiloteca. Todas as amostras da Xiloteca estão desconhecido mosaico vegetacional que é a região Norte sendo digitalizadas para posterior inclusão em uma página Fluminense. Este acervo botânico-científico se constitui para consulta aberta. num importante banco de informações, sendo o único na Resultados região. O seu valor científico é inestimável, visto ser base para qualquer trabalho na área da botânica, ecologia A coleção de exsicatas referente ao Módulo Guaxindiba vegetal e de agroecologia. Em nossa região não existe está representada por 13 % (1.225) dos exemplares nenhum outro Herbário e a coleção botânica do HUENF depositados no HUENF que, atualmente, é composto com pode ser considerada como uma fonte básica de aproximadamente 9500 registros. As famílias mais informações para todo e qualquer trabalho que envolva representativas em espécies para Guaxindiba foram: direta e indiretamente a pesquisa na área botânica. A Fabaceae (142), Meliaceae (80), Rutaceae (74), Xiloteca UENF "Dra. Cecília Gonçalves da Costa" é uma Sapotaceae (58) e Sapindaceae (41). Dentre estas, unidade de Coleção de Madeiras localizada junto herbário espécies em risco de extinção, como: Paratecoma peroba UENF e outras coleções botânicas. A coleção de (Record.) Kuhlm. (Bignoniaceae) e Melanoxylon brauna palinoteca está sendo iniciada e ainda não tem dados para Schott (Fabaceae) também são encontradas no acervo. Guaxindiba, Desta forma, o acervo do HUENF tem sido Atualmente, a xiloteca tem amostras de diversos referência para estudos na região contribuindo com remanescentes florestais do Rio de Janeiro. Esta coleção informações sobre a sua composição florística, e também catalogada na Xiloteca UENF está representada por de fragmentos florestais de seu entorno. Neste contexto, o tecidos lenhosos atuais conservados em bloco, tronco ou

131 preparação histológica de microscópio (expondo os três planos de corte) armazenada em um laminário. Tendo como proposta criar um catálogo com as espécies da EEGG aqui inventariadas e descritas macro e anatomicamente. Nosso acervo consta de 270 espécimes e um projeto de tese dentro do PPbio Mata Atlântica EEGG sobre dendroecologia de Paratecoma peroba (Bignoniaceae), muito explorada para recursos madeireiros e ameaçada de extinção, está em desenvolvimento. Discussão A relevância florística da EEEG é caracterizada segundo o ministério do meio ambiente (IN nº6, 23/09/08) por apresentarem espécies ameaçadas: Melanoxylon brauna Schott (brauna); Grazielodendron rio-docensis H.C. Lima; Couratari asterotricha Prance (sapucainha); Melanopsidium nigrum Colla; Trigoniodendron Figura 1 - Módulo RAPELD na EEEG. spiritusanctense E.F.Guim. & Miguel (milho cozido); Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand (breu, amescla cheirosa); Terminalia mameluco Pickel (goiabeira) Marlierea sucrei G.M.Barroso & Peixoto. Apresentam ainda espécies consideradas nobres devido ao seu valor comercial como a Paratecoma peroba (Record.) Kuhlm. (peroba amarela), Aspidosperma illustre (Vell.) Kuhlm. & Pirajá (peroba rosa), Melanoxylon brauna Schott (brauna); Myrocarpus frondosus Allemão (óleo vermelho) Cariniana legalis (Mart.) Kuntze (jequitibá rosa). Dentre estas, destaque-se a P. peroba e A. illustre que além de serem espécies utilizadas para fins comerciais são espécies raras encontradas na área de estudo. A relevância florística também é ressaltada pela nova ocorrência das espécies de Trichilia ramalhoi Rizzini e Psidium oligospermum Mart. ex. DC. para o estado do Rio de Janeiro [3]. Conclusão

As coleções botânicas da EEEG são importantes como fontes de informações básicas e fundamentais sobre a composição e riqueza da flora do Módulo Guaxindiba, sendo imprescindíveis para o desenvolvimento de estudos científicos e estratégias de conservação da flora da FEST do norte fluminense. Agradecimentos

À Faperj, CNPq, Capes, PPBio Mata Atlântica, INEA e a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro pelo apoio financeiro, infraestrutura e a concessão das licenças para a realização deste trabalho. Referências Bibliográficas

[1] Barbosa, M.R.V. & Peixoto, A.L. 2003. Coleções botânicas brasileiras: situação atual e perspectivas. In: Peixoto, A.L. (org.). Coleções biológicas de apoio ao inventário, uso sustentável e conservação da biodiversidade. Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. p.113-125. [2] Silva, G.; Nascimento, M. T. 2001. Fitossociologia de um remanescente de mata sobre tabuleiros no norte do Estado do Rio de Janeiro (Mata do Carvão). Revista Brasileira de Botânica 24(1): 51-62. [3] Abreu, K. M. P. Estrutura, florística e diversidade de fragmentos de floresta estacional semidecidual no norte- noroeste fluminense. Tese de doutorado em Ecologia e Recursos Naturais. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, 2013.

132 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

GUIA ILUSTRADO COM BASE EM CARACTERES VEGETATIVOS PARA RECONHECIMENTO DAS ESPÉCIES ARBÓREAS EM PARCELA RAPELD NA RESERVA BIOLÓGICA (REBIO) TINGUÁ, RJ

Fernanda Felipe de Negreiros Almeida¹*, Massimo Bovini ² 1 Escola Nacional de Botânica Tropical, Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; 2Instituto de pesquisa Jardim botânico do Rio de Janeiro. Rua Pacheco Leão 915, 22460-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. *[email protected]

rápidos de pesquisas ecológicas de longa duração) Introdução propõe uma nova abordagem que amplia nossa O bioma Mata Atlântica encontra-se nos dias atuais capacidade de realizar inventários florísticos em larga 19,20 com sua extensão reduzida e fragmentada, chegando a escala . 11% do seu total original, muito destes fragmentos O objetivo deste trabalho é identificar espécies arbóreas possuem área reduzida e ausência de conectividade em uma parcela do módulo Rapeld, já implantada, na entre os mesmos¹. Apesar de todas as adversidades, Rebio do Tinguá, produzir um catálogo ilustrado dando apresenta alto grau de endemismo, sendo considerado ênfase a caracteres vegetativos e elaborar uma chave um hotspot em biodiversidade²,³. de identificação com os caracteres vegetativos das Apesar do crescente trabalho em pesquisa que vem espécies arbóreas encontradas. sendo realizados na Mata atlântica, ainda se Metodologia desconhecem muitos processos, sendo necessários mais estudos para que se conheça sua exuberante A área de estudo é a Reserva Biológica do Tinguá, foi diversidade 4. Ainda assim, mesmo diante de todo o criada pelo decreto nº 97.780 de 23 de maio de 1989, impacto que a mata atlântica sofreu ainda é possível possui uma extensão de 26.260 hectares, localizada encontrar espécies novas e até gêneros desconhecidos entre a latitude 22º 22’20’’S e 22º45’00”S, longitude para a ciência, dai a importância de trabalhos 43º40’00” W e 43º05’40”. Inserida no bioma mata exaustivos para se conhecer e identificar o que ainda atlântica, abrange as seguintes formações florestais, existe 5,6,7. sendo estas a Floresta ombrófila submontana, floresta Em regiões tropicais há dificuldade de se encontrar ombrófila densa Montana e floresta ombrófila densa indivíduos férteis 8. Com isso, para o conhecimento da altomontana. Apresenta temperatura anual média varia flora em escala regional tornam-se imprescindíveis de 13º C a 23º C, e a pluviosidade média varia entre guias de identificação que utilizem características 1500mm a 2600mm21. A Rebio Tinguá é circundada morfológicas vegetativas, como por exemplo, em pelos municípios de Miguel Pereira, Japeri, Petrópolis, 9,10,11,12. Sendo igualmente importante a elaboração de Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Queimados21,22. chaves de identificações de famílias botânicas ou da O presente trabalho propõe a identificar as espécies flora regional13,14 de forma que estas auxiliem na arbóreas em uma parcela de RAPELD (Inventários identificação do material botânico. rápidos de pesquisas ecológicas de longa duração) já Além disso, as chaves de identificação botânica e os implantada. A parcela na qual o estudo esta sendo feito, guias ilustrados são fortes difusores de conhecimento, possui 250 metros de comprimento ao longo de uma pôr serem de rápido e fácil acesso13,14. A elaboração de curva de nível e 40 metros de largura. Para coleta de um guia botânico parte da premissa de que as espécies material arbóreo foram considerados apenas os devem ser primeiramente coletadas e posteriormente indivíduos de diâmetro altura do peito (DAP) ≥ a 10 cm identificadas. Neste sentido é importante inicialmente de dentro da parcela. Após coleta, a amostra foi diferenciar as principais características de cada espécie herborizada passando assim pelo processo de estudada. Geralmente os guias ilustrados fornecem prensagem e secagem em uma estufa em 70º C informações sobre a flora e fauna ou podem estar durante dois dias. Após este procedimento o material restritos a determinados grupos taxonômicos em escala será identificado através de chaves de identificação, regional15,16,17,18. bibliografia específica, consulta a coleções botânicas e Atualmente existem diversos locais no Brasil onde se aos especialistas. desconhece a flora e muitos desses locais sofrem Com a identificação das espécies será construída uma supressão. Portanto, faz-se necessário conhecer a chave de identificação de estruturas vegetativas. Esta riqueza e a diversidade do Brasil de forma rápida e chave de identificação será confeccionada com base eficiente. Para isto a metodologia RAPELD (Inventários em características morfológicas selecionadas, sendo as seguintes estruturas a serem observadas nas plantas: raízes (quando expostas), tronco, ramos e folhas.

133 A elaboração do guia ilustrado será realizada a partir da baseada em caracteres vegetativos. Boiota Neotrop. v. 10, n.2. captura de imagens fotográficas do (ramo, folha, e [12] Marcon, T. R.; Temponi, L. G.; Gris, D.; Fortes, A.M.T. estruturas importantes que podem distinguir e 2013. Guia ilustrado de Leguminosae Juss. Arbóreas do diferenciar as espécies) e quando necessário, a Corredor de Biodiversidade Santa Maria – PR. Biota Neotrop., v. 13, no.3. ilustração da estrutura do material fresco. A captura da [13] Eltink, M., Ramos E., Torres, R. B., Tamashiro, J. Y., imagem será feita com máquina fotográfica profissional, Galembeck, E., Kimura, E. 2011. Chave de identificação e quando necessário o uso de recursos para de espécies do estrato arbóreo da Mata Atlântica em Ubatuba (SP), com base em caracteres vegetativos. melhoramento da imagem. Biota neotropical, v.11, no. 2. [14] Lima – Sprengel, C.; Rezende, A. A.2013. Sapindaceae do Resultados Esperados noroeste paulista: lista de espécies e chave de identificação baseada em caracteres vegetativos. Biota Foram marcados e coletados 481 indivíduos arbóreos, neotrop. v. 13, no. 2. sendo que os mesmos estão em processo de [15] Lima, A.P.; Magnusson, W.E.; Menin, M.; Erdtmann, L.K.; Rpdrigues, D.J.; Keller, C.; Hodl, W. 2006. Guia de Sapos identificação, após será formulada a chave de da Reserva Adolpho Ducke: Amazônia central. Manaus: identificação e o guia ilustrado com base nas Attema Design Editorial Ltda. 2ºed. 168 p. características morfológicas vegetativas das espécies [16] Lima, A.P.; Magnusson, W.E.; Menin, M.; Erdtmann, L.K.; Rpdrigues, D.J.; Keller, C.; Hodl, W. 2008. Guia de Sapos arbóreas. Este guia será um facilitador na identificação da Reserva Adolpho Ducke: Amazônia central. Manaus: em campo, de forma que possa facilitar e auxiliar em Attema Design Editorial Ltda. 2ºed. 177 p. futuros levantamentos, pesquisa de campo, gestores e [17] Zuquim, G.; Costa, F.R.C.; Prado, J. & Tuomisto, H. 2008. Guia de identificação das samambaias e licófitas da funcionários da Rebio Tinguá. REBIO Uatumã, Amazônia Central. Manaus: Áttema Design Editorial. 321 p. Agradecimentos [18] Vitt, L.J.; Magnusson, W.E.; Avila- Pires, T.C.S. & lima, A.P. 2008. Guia de lagartos da Reserva Adolpho Ducke, Ao CNPq pela concessão da bolsa a primeira autora; ao Amazônia Central. Manaus: Attema Design Editorial Ltda, projeto PPbio Mata Atlântica pelo financiamento das v.1, 176 p. [19] Magnusson, W.E; Braga-Neto R.; Pezzini, F.; Bergallo, excursões. Aos colaboradores de campo Adilson Pintor, F.B.H.; Penha, J.; Rodrigues, D.; Lima, L.M.V.A.; Ivo e Jorge Caruzo. Albernaz, A.L.; Hero, J.M.; Lawson, B.; Drucker, C.C.D.; Franklin, E.; Mendonça, F.; Costa, F.; Castley, G.G.G.; Referências Bibliográficas Zuanon, J.; Vale, J.; Luizão, J.L.C.S.R.; Cintra, R.; Barbosa, R.J.; Koblitz, A.L.R.V.; Cunha, C.N.; Pontes, [1] Ribeiro, M.C.; Metzger, J.P.; Martensen, A.C.; Ponzoni, F.J.; A.R.M. 2013. Biodiversidade e monitoramento ambiental Hirota, M.M. 2009.The Brazilian Atlantic Forest: How integrado. Santo André, SP. Áttema Editorial. much is left, and how is the remaining forest distributed? [20] Magnusson, W.E., et al. 2014. The importance of long- Implications for conservation. Biological conservation. v. term ecological monitoring. Biodiversity and integrated 142, n. 6, p. 1141-1153. environmental monitoring: a case for the RAPELD [2] Myers, N.; Mittermeier, R.A.; Mittermeier, C. G.; Fonseca, method. Biotropica, 46 (6): 772. G.A.B.; Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for [21] ICMBIO. 2007. ICMBIO (Instituto Chico Mendes de conservation priorities. Nature. v. 403. Conservação da Biodiversidade). ICMBIO vinculado ao [3] Carvalho, C.J.B. 2009. Padrões de endemismos e a Ministério do Meio Ambiente e integra o Sistema Nacional conservação da biodiversidade. Megadiversidade. v.5, n. do Meio Ambiente (Sisnama), Brasília, DF. Disponível 1. em: http://www.icmbio.gov.br [4] Giulietti, A.M.; Harley, R. M.; Queiroz, L.P.; Wanderley, [22] MMA/IBAMA. 2006. Barreto, C.G.; Ribeiro, A.A.F.; M.G.L.; Berg, C.V.D. 2005. Biodiversity and Cornacchia, G.; Barreto, J.C.A.; Rabuske, R. L.; Souza, Conservation of Plants in Brazil. Conservation Biology. p. E. D. Plano de manejo da Reserva Biológica di Tinguá – 632-639. v. 19, No. 3. RJ. Brasília. [5] Neto, S.J.S.; Ávila Jr., R.S. 2007. Uma nova espécie de Randia (Rubiaceae, Gardenieae) para o estado do Rio de Janeiro, Brasil. Rodriguésia 58(4); 739-742. [6] Neto, S.J.S.; Callado, C.H. 2008. A new species of Simira (Rubiaceae, Simireae) from Rio de Janeiro, Brazil. Novon: A journal for Botanical Nomenclature. 18(3): 387- 389. [7] Calazans, L.S.B.; Antas, N.G.; Sakuragui, C.M. 2015. Philodendron luisae (Araceae), a new species from Rio de Janeiro State, Brazil. Botanical Studies. 56:1. [8] Talora, D.C.; Morellato, P.C. 2000. Fenologia de espécies arbóreas em floresta de planície litorâneado sudeste do Brasil. Revta brasil. Bot., São Paulo, v.23, n.1, p. 13-26, mar [9] Ribeiro, J.E.L.; Hopkins, M.J.G.; Vicentini, A.; Sothers, C.; Costa, M.A.S.; Brito, J.M.; Souza, M.A.D.; Martins, L.H.P.; Lohmann, L.G.; Assuncao, P.A.C.L.; Pereira, E.C.; Silva, C.F.; Mesquita, M.R.; Procópio, L.C. 2002. Flora da Reserva Ducke. Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra-firme na Amazônia Central. Editora Inpa. [10] Costa, F.R.C; Espinelli, F.P.; Figueiredo, F.O.G. 2008. Guia de marantáceas da Reserva Ducke e da Reserva Biológica do Uatumã. Manaus: INPA. [11] Urbanetz, C.; Tamashiro, J.Y.; Kinoshita, L.S. 2010. Chave de identificação de espécies lenhosas de um trecho de Floresta Ombrófila Densa Atlântica, no sudeste do Brasil,

134 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

LEVANTAMENTO DAS COLEÇÕES COMPONENTES DA REDE PPBIOMA

Hugo Ricardo Secioso Santos1* e Helena de Godoy Bregallo1 PPBio-MA/1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - RJ; *[email protected]

Coleção Zoológica da UENF é aqui citada à parte, pois Introdução aparentemente é de caráter misto, guardando em seu Uma das propostas do PPBio, em seu “Componente acervo vertebrados, imagens e sons de animais, e Coleções”, é conhecer o estado atual das coleções amostras de DNA de fauna e flora. Apenas cinco biológicas que servem como repositório de material e coleções possuem exemplares - tipo (JBRJ, FFP, UERJ, seus dados, provenientes das pesquisas desenvolvidas UFRRJ e UFPR). Apesar da maioria ter representantes no Programa. Esta campanha integra o esforço atual de de diversos biomas, inclusive internacionais, grande parte diferentes esferas organizacionais, de integrar e desses acervos são bem representativos da disponibilizar informações de acervos biológicos na rede biodiversidade da Mata Atlântica. Recebem regularmente mundial de computadores, através de repositórios de visita ou solicitações de uso de seus dados por dados. Portanto, o objetivo desse trabalho é fazer um especialistas, pesquisadores e alunos em seus trabalhos inventário preliminar das coleções que estão associadas acadêmicos. Nesse contexto, o intercâmbio de material e aos núcleos regionais de pesquisa do PPBio - Mata a atualização de informações são consideráveis. Todas Atlântica. Esse levantamento visa angariar dados que as coleções possuem curador responsável. As coleções permitam propor ações e políticas para fomentar a do Jardim Botânico, do Herbário da FFP e da UFRRJ manutenção e ampliação desses acervos, a formação de contam com curadores substitutos em seu quadro. Os seu corpo técnico/especialista, e para o recursos financeiros para manutenção das coleções compartilhamento de suas informações na rede mundial provêm, em sua grande parte, de projetos dos curadores de computadores. a órgãos de fomento. Entretanto, em alguns casos os Departamentos acadêmicos e outras instâncias das Metodologia instituições de pesquisa também contribuem para este fim. Oito coleções são credenciadas junto ao CGEN como Para o inventário dos dados, um questionário Fiéis Depositarias do Patrimônio Genético, e 12 padronizado foi enviado aos curadores das coleções participaram do inventário preliminar sobre coleções biológicas componentes do PPBio-MA. As perguntas biológicas do Sistema de Informação sobre a versaram sobre as características do acervo, seu corpo Biodiversidade Brasileira (SiBBr/MCTI). Doze coleções técnico/especialista, informatização, cadastramento em possuem seus lotes catalogados em meio digital, e cinco órgãos oficiais, recursos para sua manutenção, dentre delas utilizam apenas este meio para registrá-los. Apenas outros. Foi enviado também um modelo de apresentação sete coleções têm seu acervo disponibilizado para de cada coleção (Fig.1). Esse modelo relaciona os dados consultas on-line, e cinco destas utilizam o Species link dos curadores e das coleções e, alternativamente, para essa disponibilização. Quanto aos programas de imagens relevantes do acervo. A apresentação de cada gerenciamento eletrônico utilizados, o mais freqüente coleção será incluída na página do PPBio-MA, servindo nesse levantamento foi o JABOT (com três citações); aos curadores como um espaço de divulgação de sua seguido pelo Speciesbase (duas citações) e pelo Brahms coleção. (três citações). Resultados Discussão Até o ano de 2015 responderam seis instituições As coleções integrantes dos Núcleos Regionais PPBIO - de pesquisa, e suas respectivas coleções: Jardim Mata Atlântica são de valor indiscutível, representando Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ): três coleções; expressivamente a biodiversidade desse bioma. Seus Universidade do Estado do Rio de Janeiro acervos são importantes para os programas de (UERJ/Campus Maracanã): uma coleção, e Faculdade de graduação e pós-graduação das instituições que as Formação de Professores (FFP): uma coleção; mantém, além de oferecerem dados para pesquisadores Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy de outras regiões e até países. Entretanto, encontram Ribeiro (UENF): quatro coleções; Universidade Federal dificuldades para obter recursos financeiros básicos para Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ): uma coleção; mantê-las: na maioria dos casos esses recursos são Universidade Federal do Paraná (UFPR): três coleções. providenciados pelo esforço dos próprios curadores. Dessas 13 coleções biológicas, oito são compostas por Outro anseio dos responsáveis pelas coleções é acervos botânicos (cinco herbários, duas xilotecas e um implantar e/ou manter a catalogação digital e banco de DNA) e quatro são zoológicas (duas coleções disponibilização on-line de seus acervos. Para isso é entomológicas, uma ictiológica e uma mastozoológica). A necessário, além de contar com recursos financeiros, ter

135 o amparo de políticas de gerenciamento, padronização e integração de dados, como é o caso da proposta do PPBIO-MA. Agradecimentos

HRSS agradece ao CNPq pela bolsa e HGB agradece a FAPERJ (E-26/103.016/2011) e ao CNPq (457458/2012-7 e 307715/2009-4) pelas bolsas e auxílios à pesquisa. Aos curadores de coleções: Ulisses Leite Gomes (UERJ); Marcelo Guerra Santos e Ana Angélica Monteiro de Barros (FFP); Neusa Tamaio e Rafaela Forzza (JBRJ), Leandro Rabello Monteiro, Carlos Ramon Ruiz-Miranda, Maria Cristina Gaglianone, Maura Da Cunha e Marcelo Trindade Nascimento (UENF); Marilena de Menezes Silva Conde e Thiago de Azevedo Amorim (UFRRJ); Luciane Marinoni, Fernando de Camargo Passos e Paulo Henrique Labiak Evangelista (UFPR).

136 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PARA PESQUISAS EM BIODIVERSIDADE

Hugo Ricardo Secioso Santos1* PPBio-MA/1Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - RJ; *[email protected] consulta aos documentos legais oficiais como leis, Introdução orientações técnicas, resoluções, dentre outros; 3- Ao iniciar suas pesquisas, é importante que os consulta a fontes bibliográficas e websites não oficiais, pesquisadores do Programa de Pesquisa em relacionados ao assunto; 4- consulta direta aos Biodiversidade verifiquem quais atividades relacionadas especialistas dos órgãos/sistemas ambientais oficiais. A ao projeto podem requerer autorizações dos órgãos estratégia de construção do conhecimento nos diferentes ambientais para sua execução. Entretanto, a grande capítulos seguiu três etapas: primeiro foi dada a quantidade de regulamentações pode confundir quem fundamentação legal e histórica para cada tema, para não está atualizado neste tema. Apesar do Brasil ter uma que o pesquisador se situe no universo que regulamenta legislação ambiental ampla e diversificada, carece de suas atividades. Em seqüência, foram apresentados os publicações de cunho prático que deixe o pesquisador termos de uso mais freqüente para cada grupo de seguro de ter contemplado as exigências das prolíficas atividades, e suas definições. Por último, a seção “como entidades ambientais. Visando preencher essa lacuna, o fazer para...” descreveu a prática para realizar cadastros presente trabalho tem como objetivos: apresentar uma e regularizar atividades. Neste último item, as orientações visão unificada das regulamentações dos diferentes foram acompanhadas por reproduções dos formulários órgãos ambientais, voltada para atividades de pesquisa eletrônicos dos órgãos oficiais, dando ao pesquisador científica em biodiversidade; orientar, de uma forma uma noção prévia do encadeamento dos processos de prática, o pesquisador a realizar e manter atualizados os cadastramento, solicitação e deferimento de seus cadastros junto aos órgãos reguladores, emitir autorizações. Todos os órgãos/sistemas envolvidos relatórios periódicos, pagar eventuais taxas ou pleitear consentiram com a reprodução de suas sua isenção, efetuar captura e/ou coleta de material imagens/formulários. biológico e demais atividades correlatas em campo, Resultados proceder ao intercâmbio nacional ou internacional de material biológico para fins de pesquisa; realizar O estudo resultou em uma obra de cerca de 150 páginas, atividades relacionadas ao “acesso ao patrimônio incluindo 27 figuras, uma tabela e dois anexos. Os temas genético” brasileiro; executar trabalhos de campo em principais são apresentados em cinco Capítulos: I - Do unidades de conservação, cavernas e demais cavidades Cadastro Técnico Federal; II – Do acesso ao patrimônio naturais; criar e registrar coleções biológicas, de acordo genético; III - Da coleta de material biológico; IV – Do com que preconiza a lei. trânsito de material biológico; V - Outras entidades regulatórias oficiais. O “Anexo I” referencia os 82 Metodologia documentos oficiais citados (12 Leis, duas Medidas Para nortear este estudo, foram eleitos os grupos de Provisórias, sete Decretos, 31 Instruções Normativas, 21 atividades mais comuns em pesquisas em Resoluções, cinco Portarias e quatro Orientações biodiversidade, a saber: I - atividades sujeitas ao Técnicas). O “Anexo II” apresenta uma tabela na qual o Cadastro Técnico Federal, como “Potencialmente pesquisador pode relacionar as atividades de pesquisa Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Ambientais”, e/ou mais comuns, com os órgãos de controle que as “Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental”; II - regulamentam. atividades relacionadas ao conceito de “acesso ao Discussão patrimônio genético”, e cadastramento de coleções como “fiéis depositárias do patrimônio genético”; III - A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro1 legalização e registro de trabalhos de campo, coleta ou previne: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando captura de material biológico para pesquisas; IV – que não a conhece”. Por outro lado, o interessado em atividades de intercâmbio nacional ou internacional de cumprir a legislação específica para pesquisa conta com material biológico, para fins de pesquisa; V - utilização poucos guias ou manuais oficiais para dirimir suas ética e humanitária de animais em pesquisas ou aulas; VI dúvidas. Por exemplo, a cartilha publicada pelo IBAMA – regularização do profissional junto aos respectivos sobre intercâmbio de material biológico (última versão em Conselhos Regionais. As exigências e requisitos 20092), o Manual do SISBIO (última versão em 20103), e necessários para o desenvolvimento lícito dessas o documento do CGEN, sobre “acesso ao patrimônio atividades foram obtidos por meio de: 1- consulta aos genético” (última versão em 20074), estão definitivamente websites dos seguintes órgãos/sistemas: IBAMA, CNPq, desatualizados, e são essencialmente direcionados ao IPHAN, CGEN, SISBIO, MAPA, CONCEA, CEMAVE/SNA, seu respectivo universo de competência. Portanto, a Conselho Federal de Biologia e CRBio-2; incluindo as proposta deste manual é pioneira, reunindo as exigências eventuais cartilhas explicativas desses órgãos; 2- dos órgãos ambientais oficiais em uma única obra,

137 específica para atividades de pesquisa científica em biodiversidade. Seu conteúdo prático foi concebido através de mais de dez anos de atuação prática do autor como curador de coleções biológicas da UERJ, e representante dessa instituição perante os órgãos ambientais oficiais. Apesar de direcionada aos pesquisadores do PPBio, em particular ao PPBio - Mata Atlântica, essa obra pode vir a ser útil aos trabalhos de zoólogos, botânicos, ecólogos, oceanógrafos, veterinários, ou profissionais de outras áreas interessados nesta interface da legislação ambiental brasileira. Agradecimentos

Ao apoio da Sub-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da UERJ, Monica da Costa P. Lavalle Heilbron e à Direção do IBRAG/UERJ, em nome dos diretores Jorge José de Carvalho e Norma Albarello; à Dra. Helena de Godoy Bergallo (IBRAG/DECOL-UERJ; PPBio-MA) e ao CNPq pela bolsa; a Marcos Bastos (CEADS/UERJ), Ulisses leite Gomes (IBRAG/DZ-UERJ) e Cláudia Simões Gurgel (IBRAG/DBV-UERJ); Verônica das Neves Sant`Anna Ribeiro (SISA/DDA/AFA-RJ); Andréia de Oliveira Gerk, Luciana Pozzer e Lílian Ferro da Cunha (SFA/RJ); Jorge da Silva Vieira (VIGIAGRO/AI-RJ); Edylene Cristina da Silva Monteiro (IBAMA); Ana Paula Souza, Eliane Barros de Carvalho e Tainah Guimarães (SISBIO); Keila Moutinho e Carolina Borges (Conselho Regional de Biologia - 2ª Região, RJ). Referências Bibliográficas

[1] BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 set.1942. Seção 1, p. 13635 (Publicação Original). [2] Carvalho, R.; Valente, O. CITES - Cartilha acerca da importação e exportação de espécimes, material biológico, produtos e subprodutos da fauna silvestre brasileira e fauna silvestre exótica. 1. ed. Brasília-DF: Cofau/Ibama, 2009. 18 p. [3] Maia, O. B. Manual do Usuário - SISBIO. 3. ed. Brasília-DF: ICMBio, 2010: 63 p. [4] Ministério do Meio Ambiente - Departamento do Patrimônio Genético. Regras para o Acesso ao Patrimônio Genético e Conhecimento Tradicional Associado. Brasília-DF, 2007. 37 p.

138 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

ABELHAS DA COLEÇÃO DE ZOOLOGIA/UENF REFERENTES AO MÓDULO GUAXINDIBA/RJ DO PPBio MATA ATLÂNTICA

Maria Cristina Gaglianone1,3, Marcelita França Marques1, Mariana Scaramussa Deprá1, Willian Moura de Aguiar2 1 Laboratório de Ciências Ambientais, Centro de Biociências e Biotecnologia, Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil. 2Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS, BA. 3Curadora de Insetos da Coleção de Zoologia UENF.

Introdução abelhas existente na Coleção de Zoologia da UENF referente ao Módulo Guaxindiba do PPBio Mata Atlântica. As coleções científicas zoológicas são fonte imprescindível de informação e sua importância foi extensamente Metodologia reportada [1]. Entre os principais objetivos das coleções estão a representação da biodiversidade e o O levantamento das espécies existentes no acervo da embasamento para pesquisas em diversas áreas do Coleção de Zoologia da UENF foi feito através da consulta conhecimento. As coleções zoológicas podem subsidiar, ao banco de dados da coleção e banco de dados por exemplo, estudos taxonômicos, biogeográficos, específicos dos projetos realizados e das respectivas morfológicos e ecológicos. As coleções permitem também listagens resultantes em teses, dissertações e trabalhos de o monitoramento de alterações na biota em médio e longo monografia. As coletas foram realizadas com rede prazo, auxiliando na tomada de decisões relativas à entomológica diretamente sobre as flores, ou utilizando conservação ambiental. A Coleção de Zoologia da iscas odores ou ninhos-armadilha. O levantamento Universidade Estadual do Norte Fluminense representa abrangeu o período de 2004 a 2014, antes da implantação parte do patrimônio natural do estado do Rio de Janeiro, das parcelas permanentes do PPBio Mata Atlântica. resultante de pesquisas desenvolvidas na UENF. Apesar Resultados do caráter principalmente regional, o material depositado abrange as diversas fisionomias vegetais ocorrentes na O acervo possui 82 espécies de abelhas pertencentes a região sudeste do Brasil, mostrando-se importante fonte de quatro famílias (Apidae, Megachilidae, Halictidae e informações para fins de pesquisa científica e fins Andrenidae). Entretanto, o número de espécies existentes didáticos. O acervo de insetos polinizadores conta com na coleção para este módulo deve aumentar com a cerca de 15.000 espécimes das ordens Coleoptera, identificação das espécies dos gêneros Augochlora, Diptera e Hymenoptera, com ênfase em espécies que se Augochlorella e Dialictus que não está completa, devido à distribuem no norte e noroeste do estado do Rio de grande dificuldade e ausência de revisões taxonômicas. Janeiro. Neste grupo, estão as abelhas que correspondem Os gêneros com maior número de espécies são Centris aos principais polinizadores nos mais diversos (17), Epicharis (10), Euglossa (7) e Xylocopa (6). São ecossistemas. Como visitantes florais obrigatórios, as espécies solitárias, com comportamento de nidificação no abelhas utilizam recursos das flores para alimentação solo e em madeira (Xylocopa). Abelhas coletoras de óleos (pólen e néctar), para construção de ninhos (óleos e (Centris, Epicharis e Tetrapedia) e abelhas coletoras de resinas) e para comportamentos reprodutivos (fragrâncias fragrâncias (Euglossa, Eulaema e Eufriesea) foram as florais). O acervo de abelhas da Coleção de Zoologia da mais representadas na coleção. As primeiras são UENF conta com mais de 300 espécies, principalmente polinizadores exclusivos de plantas produtoras de óleos provenientes de levantamentos em áreas de vegetação florais, como Malpighiaceae. No segundo caso, somente nativa no norte e noroeste do estado do Rio de Janeiro e machos coletam fragrâncias em flores produtoras deste de estudos de polinizadores de plantas nativas e recurso, como as Orchidaceae. Espécies cortadoras de cultivadas, com importância para a região. Este acervo tem folhas (gênero Megachile) foram representadas por quatro sido referência para estudos científicos que visam analisar espécies. Estas abelhas utilizam fragmentos foliares para a comunidade de polinizadores e suas interações com as a construção das células de cria. Para abelhas coletoras plantas, analisar as comunidades sob diferentes condições de resina, as células de cria são construídas com ambientais, avaliar os efeitos da fragmentação florestal partículas de areia ou barro aglutinadas com resina floral sobre as comunidades de polinizadores, e estimar a existente em poucas espécies vegetais como Clusiaceae e importância da biota no sucesso reprodutivo das plantas. Dalechampia (Euphorbiaceae). As espécies sociais As abelhas na Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, nativas, apesar de ocorrerem em menor riqueza nas em São Francisco do Itabapoana, RJ, onde foi instalado o amostragens (6 espécies), têm papel importante na região, Módulo Guaxindiba do PPBio Mata Atlântica, têm sido pela grande abundância de abelhas forrageiras, estudadas desde 2004 quando os primeiros projetos de comportamento de recrutamento e grande amplitude de pesquisa com abelhas da UENF iniciaram na região. O nicho, com a utilização de recursos florais de diversas objetivo deste trabalho foi apresentar o acervo científico de espécies vegetais. A única espécie exótica é Apis

139 mellifera, que também possui comportamento social e grande amplitude de nicho trófico. Discussão A grande riqueza de espécies de grupos ecologicamente importantes, como as abelhas coletoras de óleos e abelhas coletoras de fragrâncias, indica a alta relevância da EEGuaxindiba para a manutenção de polinizadores na região. Abelhas dos gêneros Centris e Epicharis possuem fontes específicas de óleos florais [3], fontes preferenciais de néctar e pólen. Estas são em geral flores de quilha, como Leguminosae, ou de tubo floral longo, como Bignoniaceae. Estas abelhas são capazes de vibração para coleta de pólen, por isso suas flores preferidas muitas vezes possuem grãos de pólen secos e pequenos. Então, tipos florais distintos são utilizados para coleta de diferentes recursos, o que resulta na polinização de muitas espécies florestais importantes. As abelhas coletoras de fragrâncias, também são reconhecidamente importantes polinizadores em florestas, devido ao voos em longa distância e comportamento traplinning. O efeitos da fragmentação sobre estas abelhas foi detectado na região, com menor diversidade e abundância em fragmentos menores e mais isolados [3]. Além do seu papel na polinização de plantas nativas, as espécies de mamangavas do gênero Xylocopa registradas na floresta mostraram-se importantes polinizadores de plantas cultivadas, como o maracujá doce e o maracujá-amarelo cultivados no entorno da floresta [4,5]. Conclusão

A listagem inicial das espécies de abelhas com ocorrência na EEE Guaxindiba indica a presença de grupos ecológicos importantes e constitui uma base de informação relevante para os estudos do PPBio Mata Atlântica no módulo Guaxindiba. Agradecimentos

À Faperj, CNPq, Capes, PPBio Mata Atlântica, INEA e a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro pelo apoio financeiro, infraestrutura e a concessão das licenças para a realização deste trabalho. Referências Bibliográficas

[1] Marinoni, R.C. Os museus de história natural. Rev.Bras.Zoologia, 5(4): 621-622. 1988. [2] Gaglianone, M.C. Centridini em remanescentes de Mata Atlântica: diversidade e interações com flores. In Anais do Encontro sobre Abelhas 7: 335-340. 2006. [3] Aguiar, W.M. & Gaglianone, M.C. Euglossine bees communities in small forest fragments of the Atlantic Forest in southeastern Brazil. Rev.bras Entomologia, 56(2). 2011. [4] Benevides, C. R., Gaglianone, M. C., & Hoffmann, M. Visitantes florais do maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa Deg. Passifloraceae) em áreas de cultivo com diferentes proximidades a fragmentos florestais na região Norte Fluminense, RJ. Rev.bras.Entomologia, 53(3), 415- 421. 2009. [5] Gaglianone, M. C., Rocha, H. H. S., Benevides, C. R., Junqueira, C. N., & Augusto, S. C. (2010). Importância de Centridini (Apidae) na polinização de plantas de interesse agrícola: o maracujá-doce (Passiflora alata Curtis) como estudo de caso na região sudeste do Brasil. Oecol. Aust, 14(1), 152-164.

140 I Simpósio da Rede PPBio Mata Atlântica Rio de Janeiro, 10-11 de Agosto de 2015

LEVANTAMENTO, ORGANIZAÇÃO E DISPONIBILIZAÇÃO DOS DADOS FLORÍSTICOS DA RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ-RJ

Mariana de A. Iguatemy1*, Eliana Ramos1, Adalberto Augusto L. Santos1, Deborah Hottz1, Fernanda F.N. Almeida1,2, Pablo J.F.P. Rodrigues3, Massimo Bovini3, Claudia F. Barros3, Haroldo C. de Lima3 1Programa de Pesquisa em Biodiversidade PPBIO Mata Atlântica, 2Escola Nacional de Botânica Tropical, Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; 3Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ *[email protected]

Introdução procedentes de coleções de herbário e 200 registros A Reserva Biológica (Rebio) do Tinguá (Figura 1), com obtidos em outras fontes, principalmente da literatura. 1526 plantas estão distribuídas em 162 famílias, ca. de 26.000 ha de florestas em excelente estado de Estas 470 gêneros e 970 espécies que apresentam diferentes preservação é um dos remanescentes de Mata Atlântica 1,2 formas de vida. As plantas com registro em herbário mais representativo do estado do Rio de Janeiro . estão distribuídas em 158 famílias, 452 gêneros e 691 Possui importantes mananciais que abastecem parte da espécies. As famílias mais coletadas são Leguminosae, cidade do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense. Em Orchidaceae, Rubiaceae, Myrtaceae e Pipperaceae. seu entorno apresenta um dos trechos de malha urbana Entretanto, a família com maior riqueza foi Orchidaceae mais densa do Estado e abrange parte dos municípios de (Figura 2). O acúmulo de espécies encontradas na Rebio Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Miguel Pereira e aumentou consideravelmente a partir da década de 80, Petrópolis. Além disso, é atravessada por oleodutos e 3 momento em que são iniciadas as primeiras expedições gasodutos da PETROBRAS . do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e da Universidade O primeiro registro florístico da base que está sendo Federal Rural do Rio de Janeiro ao local (Figura 3). Até o trabalhada foi do ano de 1877, em que foi coletada um momento as formas de vida mais coletadas foram árvores espécime de Daphinopsis coricea Taub. por Glaziou. A (43,7%), seguidos de arvoretas (27,2%) e epífitas partir daí muitos foram os registros de espécies inseridos (11,4%). por pesquisadores que investigaram a região. Com isso, observou-se a necessidade de organização e Além da nomenclatura científica, para cada espécie sistematização dessa base. Neste estudo são foram ainda levantados dados sobre a distribuição apresentados os resultados obtidos durante o geográfica, habitat preferencial, nome popular, usos e levantamento de campo e de herbário pela equipe PPBio status de conservação. Mata Atlântica/JBRJ durante o período de 2012-2015, Discussão que teve como objetivo prioritário a organização e a disponibilização dos dados florísticos desta unidade de Esses dados estão possibilitando análises sobre a conservação. importância da área na conservação da diversidade florística da Mata Atlântica, bem como inferir estratégias Metodologia de proteção e de mitigação de impactos para serem utilizadas em áreas críticas para a conservação da A organização e sistematização do inventário das biodiversidade. Em futuro próximo, para atender as espécies priorizaram três fontes de informações: necessidades dos vários profissionais que realizam coleções botânicas dos herbários RBR, RB, R e GUA; pesquisas na área, os dados poderão ser acessados consulta as listas florísticas disponíveis em dissertações através de página na Internet. Os avanços no de mestrado, monografias de graduação, relatórios de conhecimento da flora local, proporcionados pela pesquisa e trabalhos clássicos de naturalistas viajantes integração dos dados florísticos obtidos nos vários do século XIX e expedições de campo. Os dados estudos realizados por diferentes autores na Serra do florísticos coligidos estão sendo incluídos em banco de Tinguá 3,4,5, mostraram que este modelo de estudo dados após a revisão nomenclatural dos táxons. poderá ser útil nesta e em outras unidades de As amostras botânicas procedentes das pesquisas conservação. atualmente em desenvolvimento na Rebio. Tinguá e no seu entorno, particularmente nas parcelas permanentes Agradecimentos do PPBio, ainda estão sendo identificadas e incorporadas Ào Cnpq pelo financiamento do projeto de pesquisa na base. As identificações estão sendo realizadas com PPBIO Mata Atlântica (núcleo sudeste) e as bolsas aos auxílio de bibliografia especializada, consulta a membros da equipe. especialistas e comparação com material depositado no herbário RB. Referências Bibliográficas Resultados [1] Icmbio 2015. Acesso em 29de junho de 2015. http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de- Até o momento foram obtidos 1526 registros de coletas conservacao/biomas-brasileiros/mata-atlantica/unidades-de botânicas realizadas na Rebio Tinguá. Destes 1326 são

141 conservacao-mata-atlantica/2143-rebio-do- tingua.html?highlight=WyJ0aW5ndVx1MDBlMSJd [2] JBRJ. 2002. Paisagem e flora da Reserva Biológica do Tinguá: subsídios ao monitoramento da vegetação. Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 45p. [3] Melo, L.R. 2006. Efeitos de borda sobre a dinâmica e estrutura das comunidades de árvores na mata atlântica da Reserva Biológica do Tinguá-RJ. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. [4] Braz, D. M.; Moura, M.V.L.P. & Simabukuro, E.A., 2004. Figura 3. Acúmulo de espécies encontradas ao longo dos Chave de identificação para espécies de Dicotiledôneas arbórea anos de estudos na Rebio Tinguá-RJ. Reserva Biológica do Tinguá, RJ, com base em caracteres vegetativos, Acta Botânica Brasilica 18(2): 225-240. [5] De Jesus, M. F. S. 2009. Análise dos efeitos de borda sobre a composição, dinâmica e estrutura da comunidade arbórea na Mata Atlântica da Reserva Biológica do Tinguá -RJ. Dissertação de Mestrado, Escola Nacional de Botânica Tropical, Rio de Janeiro.

Figura 1. Mapa da localização da Reserva Biológica do Tinguá no Estado do Rio de Janeiro. Fonte: IBAMA 2006.

Figura 2. Riqueza de espécies por famílias botânicas na Rebio Tinguá, RJ.

142