Universidade de S˜aoPaulo Instituto de Astronomia, Geof´ısicae CiˆenciasAtmosf´ericas Departamento de Astronomia

Raphael Alves Silva

Introdu¸c˜ao`aTeoria de Movimentos Ressonantes em Sistemas Planet´arios

S˜aoPaulo

Raphael Alves Silva

Introdu¸c˜ao`aTeoria de Movimentos Ressonantes em Sistemas Planet´arios

Disserta¸c˜aoapresentada ao Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geof´ısica e CiˆenciasAtmosf´ericasda Universidade de S˜aoPaulo como requisito parcial para a ob- ten¸c˜aodo t´ıtulode Mestre em Ciˆencias.

Area´ de Concentra¸c˜ao:Astronomia Orientador(a): Prof.a Dr.a Tatiana Alexan- drova Michtchenko. Vers˜aocorrigida. O original encontra-se dispon´ıvel na Unidade.

S˜aoPaulo

Aos meus pais

Agradecimentos

A Deus, primeiramente, por me dar a for¸capara continuar, e a sabedoria necess´aria para trilhar o caminho. A` minha fam´ılia,por todo o apoio dedicado diante das escolhas que tomei em minha vida, desde o in´ıciode minha trajet´oriaacadˆemica, quando trilhei os primeiros passos da carreira cient´ıfica.Por sempre terem acreditado em minha capacidade, e me estimulado a al¸carvˆoosmaiores. A` professora Tatiana A. Michtchenko, por haver aceitado assumir o papel de ser minha orientadora e, ao longo desses dois anos, pela paciˆencia,conselhos e aux´ıliosdurante o processo de desenvolvimento deste trabalho; por haver me indicado um caminho a tomar, nos momentos em que pensei haver chegado `abecos sem-sa´ıda. Aos professores Sylvio Ferraz-Mello e Ramachrisna Teixeira, por suas aulas, discuss˜oes e ensinamentos, vozes de sabedoria e experiˆenciae verdadeiras inspira¸c˜oespara a minha carreira acadˆemica. Aos colegas do IAG: Ronaldo e Douglas, com quem dividi o espa¸coda sala E-307, e que compartilharam comigo os questionamentos e discuss˜oesque permeiam a cabe¸cado jovem pesquisador, seja no que tange os assuntos concernentes `apesquisa que desenvolvemos, seja quanto a assuntos muito mais profundos, perpectivas de carreira e vida profissional. Ao Paulo Jackson, que me acolheu e me deu muitas dicas sobre o Mestrado no IAG. Ao Hugo e ao Eduardo, membros mais experientes do grupo de DinˆamicaOrbital, e que sempre se mostraram prontos a me auxiliar, no que fosse poss´ıvel. A` minha segunda fam´ılia,membros da Rep´ublicaTFP (Tradi¸c˜ao,Fam´ıliae Proprie- dade), pelo ‘amor, carinho e dedica¸c˜ao’,e por haverem compartilhado de minhas ang´ustias acerca de meu trabalho e das dificuldades inerentes, e diante disso, haverem me apoiado e me aconselhado, ao longo de madrugadas regadas a cervejas e risadas. Minha gratid˜ao aqui ´ededicada a Alda, Gustavo, Guilherme, Felipe e Irapuan. Ao IAG e seus funcion´arios,por contribuirem para o bom funcionamento da institui¸c˜ao, e para a manuten¸c˜aode um ambiente de trabalho agrad´avel.

Esta tese/disserta¸c˜aofoi escrita em LATEX com a classe IAGTESE, para teses e disserta¸c˜oesdo IAG. “O pensamento n˜aopassa de um clar˜aona noite; mas esse clar˜aorepresenta tudo.”

Henri Poincar´e(1854-1912)

“For it is the duty of an astronomer to compose the history of the celestial motions through careful and expert study.”

Nicolaus Copernicus (1473-1543)

Resumo

Neste trabalho, desenvolvemos um modelo anal´ıtico para o potencial perturbador de um problema de trˆescorpos coplanar, utilizando o formalismo hamiltoniano expressado atrav´esdas coordenadas canˆonicasde Jacobi. Consideramos um sistema de trˆesmassas pontuais, dentro de uma configura¸c˜aode ressonˆancia de movimentos m´ediosgeneralizada do tipo n1/n2 = (p + q)/p. Desenvolver um modelo anal´ıticose mostra vantajoso no sentido de possibilitar o melhor entendimento da dinˆamica dos fenˆomenos que caracterizam um determinado sistema, a identifica¸c˜aomais imediata das principais vari´aveis do problema, e a melhor caracteriza¸c˜ao dos comportamentos poss´ıveis em fun¸c˜aodestas ´ultimas. Aplicamos a metodologia cl´assicade expans˜oesem s´eriesde potˆencias das excentrici- dades e semi-eixos maiores. Usando expans˜oesem s´eriesde Taylor e Fourier, obtivemos a express˜aocompleta para o potencial perturbador, em fun¸c˜aodos elementos orbitais

λi, $i, ai, ei, i = 1, 2. Os termos de curto per´ıodo foram eliminados por simples inspe¸c˜ao visual, removendo as contribui¸c˜oesadvindas de argumentos que continham os ˆangulos r´apidos λ1 e λ2, exceto aqueles nos quais estavam contidos as combina¸c˜oescr´ıticas. Esse processo de m´edia‘manual’ reduziu o sistema a um problema de dois graus de liberdade. O comportamento da fun¸c˜aoanal´ıticadesenvolvida foi testado para o caso espec´ıfico de ressonˆancia3:1. Nossos resultados foram comparados com `aqueles gerados atrav´esde um modelo semi-anal´ıticooutro, o qual tamb´emcomputa um Hamiltoniano m´ediopara um sistema ressonante.

Abstract

In this work we develop an analytical model for the disturbing potential of the pla- nar Three-Body problem, using the Hamiltonian formalism expressed in canonical Jacobi coordinates. We consider a system of massive points in a general mean motion resonant configuration of the general type n1/n2 = (p + q)/p. The development of an analytical model is very important once it allows us to better understand the dynamical phenomena of a system, identifying the main variables and the possible regimes of motion that the system may assume. As a methodology, we apply the classical method of expansions in power series of eccentricities and semi-major axes. Through the application of Taylor and Fourier series expansions, we obtain the exact expression for the disturbing potential as a function of the orbital elements λi, $i, ai, ei, i = 1, 2. The short-period terms were eliminated by removing those terms whose arguments were depending at least on one of the fast angles λ1 and λ2, except for those which contain the critical combination of the fast angles. This average process allows us to reduce the system to a two-degree-of-freedom problem. The behavior of the obtained analytical function is tested for the specific case of a 3:1 MMR. We compare the results with a semi-analytical model, which also gives the averaged Hamiltonian of a resonant system - in Jacobi coordinates.

Lista de Figuras

2.1 Sistema exemplificando 4 corpos, com os vetores posi¸c˜aodados dentro de um sistema de coordenadas inercial arbitr´ariocom origem em S...... 29 2.2 Sistema de 4 corpos, com os vetores posi¸c˜aodados em coordenadas referen- ciadas ao baricentro B do sistema...... 31 2.3 Sistema de 4 corpos, com os vetores posi¸c˜aodados em coordenadas referen-

ciadas ao corpo de massa m0...... 35 2.4 Sistema de 4 corpos, com os vetores posi¸c˜aodados para um sistema de

coordenadas de Jacobi. O ponto B1 ´eo baricentro de m0 e m1. B2 ´eo

baricentro de m0, m1 e m2...... 38

3.1 Representa¸c˜aogr´aficado Problema de TrˆesCorpos, referenciado em um sistema inercial arbitr´ariode origem S...... 53 3.2 Representa¸c˜aogr´aficado sistema utilizando as coordenadas de Jacobi. O

ponto CM indica a posi¸c˜aodo centro de massa de m0 e m1; ψ ´eo ˆangulo

entre formado entre os vetores posi¸c˜aono sistema de Jacobi, r1 e r2; ri,j ´eo vetor de distˆanciaentre os repectivos corpos i e j. (Figura retirada da tese de Doutoramento de Eduardo A. Ines.) ...... 55

(j) 5.1 (a) Comportamento da s´eriedos coeficientes de Laplace b1/2(˜α), 0 ≤ j ≤ 5,

em termos do´ındice i; ε2 ∼ 1 eα ˜ = 0.48. Essas s´eries,que nada mais s˜aoque P 2i os somat´oriosnas f´ormulas dos coeficientes i Biα , aparecem para a parte direta do potencial perturbador. (b) Comportamento da fun¸c˜aoanal´ıtica dos coef. Laplace, em termos do parˆametro α, para distintos valores do ´ındice j...... 89 5.2 Curvas de < R > vs e2, para os valores de e1 conforme indicado. S˜aoto- mados diferentes intervalos para os coeficientes n, j e N. K e AM s˜ao

◦ ◦ constantes de movimento, σ1 = 90 , ∆$ = 0 . Em linha cont´ınua vermelha tem-se o compotamento do modelo semi-anal´ıticousado como padr˜ao.. . . 91

5.3 Curvas de ∂ < R > /∂e2 vs e2, tomadas para cada um dos casos de excen-

tricidades e1 indicados. O modelo anal´ıticofoi computado novamente para diferentes configura¸c˜oesde ordens em n, j e N. A linha vermelha cont´ınua novamente indica o comportamento utilizado como padr˜ao,neste caso, a curva derivada num´erica...... 93

5.4 Curvas de < R > vs e2, tomadas para e1 = 0.005. Os gr´aficosindicam os valores m´aximosde harmˆonicosconsiderados. A linha vermlha cont´ınua apresenta o comportamento do modelo padr˜ao semi-anal´ıtico...... 95

5.5 Curvas de < R > vs e2, tomadas para e1 = 0.4. Nesse caso, testamos diferentes configura¸c˜oespara as ordens de expans˜ao...... 96

5.6 Curvas de ∂ < R > /∂e2 vs e2, para e1 = 0.005...... 96

5.7 Curvas de ∂ < R > /∂e2 vs e2, para e1 = 0.005. Aqui, mostramos as configura¸c˜oesde ordem m´axima que podem ser adotadas, de maneira tal a obter-se a melhor correspondˆenciaposs´ıvel com a curva padr˜ao(vermelha cont´ınua)...... 97

5.8 Curvas de ∂ < R > /∂e2 vs e2, para e1 = 0.4...... 97

5.9 Curvas para a raz˜aoentre os parˆametrosexterno e interno, γext/γint, se- guindo a nota¸c˜aoque denominamos no Cap´ıtulo3, Se¸c˜ao(3.1.1)...... 98

5.10 Planos representativos (e1, e2) tomados dentro da ressonˆanciaexata 3/1,

para raz˜oesde massa m2/m2: (a)0.1, (b)0.5 e (c)1. Os valores positivos

(negativos) de e1 indicam que σ1 = 0 (π/2), enquanto que valores positivos

(negativos) de e2 significam ∆$ = 0 (π)...... 100

5.11 Planos representativos (e1, e2) tomados dentro da ressonˆanciaexata 3/1,

para a raz˜aode massa m2/m2 = 5. Os valores positivos (negativos) de e1

indicam que σ1 = 0 (π/2), enquanto que valores positivos (negativos) de e2 significam ∆$ = 0 (π)...... 101 5.12 Distribui¸c˜aodos pares planet´ariosem termos das raz˜oesde movimentos

m´edios n1/n2 e das maiores excetricidades entre os pares. Os s´ımbolos azuis determinam sistemas classificados (segundo nossa metodologia) em ressonˆanciasinteriores; s´ımbolos pretos representam ressonˆanciasexteriores. Os n´umerosidentificam cada sistema em acordo com a Tabela 5.1...... 103

5.13 Distribui¸c˜aodos pares planet´ariosem termos das raz˜oesde massas m2/m1 e das maiores excetricidades entre os pares. Os s´ımbolos azuis determinam sis- temas classificados em ressonˆanciasinteriores; s´ımbolos pretos representam ressonˆanciasexteriores. Os n´umerosidentificam cada sistema em acordo com a Tabela 5.1...... 104

A.1 Problema de trˆescorpos n˜ao-restrito. Os vetores r1 e r2 indicam as posi¸c˜oes

astrocˆentricas de m1 e m2, respectivamente; %2 ´eo vetor posi¸c˜aode m2 no sistema de Jacobi...... 117

Lista de Tabelas

5.1 Parˆametrosf´ısicosdos sistemas ´ariosem quase-ressonˆancia3:1. M designa a massa da estrela central, em unidades de massas solares; m ´ea massa dos planetas, em unidade de massas de J´upiter.Os semi-eixos a s˜ao dados em unidades atronˆomicasau. Os valores de a e de e foram obtidos ap´osa transforma¸c˜aodos elementos astrocˆentricos para elementos de Jacobi. 102

Sum´ario

1. Introdu¸c˜ao ...... 23 1.1 A Fun¸c˜aoPerturbadora ...... 23 1.2 Ressonˆanciasde Movimentos M´edios ...... 24

2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos ...... 27 2.1 Integrais de Movimento ...... 27 2.1.1 Referencial inercial arbitr´ario ...... 28 2.1.2 Referencial baricˆentrico ...... 31 2.1.3 Referencial astrocˆentrico ...... 34 2.1.4 Coordenadas de Jacobi ...... 38 2.2 Formalismo Hamiltoniano ...... 41 2.2.1 Princ´ıpiode Hamilton ...... 42 2.2.2 Transforma¸c˜oesCanˆonicas ...... 43 2.2.3 Teoria de Hamilton-Jacobi ...... 44 2.2.4 Movimentos Peri´odicos:Vari´aveis de Angulo-A¸c˜ao.ˆ ...... 45 2.3 Equa¸c˜oesde Hamilton para o problema de (N+1)-corpos ...... 47 2.3.1 Referencial Baricˆentrico ...... 47 2.4 Vari´aveis Canˆonicasde Jacobi ...... 47 2.5 Vari´aveis Canˆonicasde Poincar´e...... 49

3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador ...... 53 3.1 Expans˜aodo termo perturbador ...... 57 3.1.1 Condi¸c˜aode aproxima¸c˜aodo par: close approach ...... 57 3.1.2 Primeira expans˜aoem s´eriesde Taylor: ´orbitasquase coplanares . . 58 3.1.2.1 Termos de inclina¸c˜ao...... 59 3.1.3 Segunda expans˜aoem s´eriesde Taylor e expans˜aoem s´eriesde Fou- rier: ´orbitasquase circulares ...... 61 3.1.4 Coeficientes de Laplace ...... 62 3.1.5 Aproxima¸c˜aode ´orbitascoplanares ...... 64 3.1.6 Coeficientes de Hansen ...... 66 n,m 3.1.6.1 Derivadas dXk /de ...... 68 3.1.7 Operadores de Newcomb ...... 69 3.2 Desenvolvimento do termo indireto ...... 70 3.3 Longitudes m´edias ...... 71

4. Dinˆamicada Ressonˆancia ...... 73 4.1 Termos seculares ...... 75 4.2 Termos ressonantes ...... 76 4.2.1 Harmˆonicosressonantes ...... 77 4.3 Estudo te´orico da dinˆamica ...... 78 4.3.1 Evolu¸c˜aotemporal dos elementos ...... 80 4.4 Determina¸c˜aodo regime de ressonˆancia:o ˆanguloressonante ‘verdadeiro’ . 83

5. Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes ...... 87 5.1 An´alisede convergˆencia ...... 88 5.1.1 Modelo padr˜aode compara¸c˜ao...... 88 5.1.2 Coeficientes de Laplace ...... 88 5.1.3 Compara¸c˜aocom o modelo semi-anal´ıtico...... 90

5.1.3.1 Curvas Rm´edio vs e2 e ∂Rm´edio/∂e2 vs e2 ...... 90 5.1.3.2 Planos representativos ...... 98 5.2 Sistemas exoplanet´ariosem quase-ressonˆancia3:1 ...... 101

6. Conclus˜oese Perspectivas ...... 105

Referˆencias ...... 109 Apˆendice 115

A. Equa¸c˜oesde Movimento em Coordenadas de Jacobi para o Problema de TrˆesCorpos117

B. Express˜oesExpl´ıcitasdas Derivadas ...... 121

C. Transforma¸c˜aode Elementos Orbitais ...... 123 C.1 Equa¸c˜oespara o sistema astrocˆentrico ...... 123 C.2 Determina¸c˜aodas anomalias verdadeiras ...... 124 C.2.1 Expans˜oesel´ıpticas:fun¸c˜oesde Bessel ...... 125 C.2.2 Solu¸c˜oesiterativas da equa¸c˜aode Kepler ...... 126 C.3 Equa¸c˜oespara o sistema de Jacobi ...... 126 C.4 Transforma¸c˜aodos elementos orbitais: Astrocˆentrico para Jacobi ...... 127 C.5 Equa¸c˜oespara o sistema de Poincar´e ...... 128 C.6 Transforma¸c˜aodos elementos orbitais: Astrocˆentrico para Poincar´e . . . . 130

Cap´ıtulo 1

Introdu¸c˜ao

1.1 A Fun¸c˜aoPerturbadora

Embora as metodologias puramente num´ericasmostrem-se de importˆancia´ımparaos estudos de MecˆanicaCeleste, especialmente nesta era dos grandes clusters, capazes de executar extensas simula¸c˜oese integra¸c˜oesde ´orbitas,´eineg´avel o fato de que as abor- dagens anal´ıticase semi-anal´ıticassejam essenciais `aan´alisede v´ariosproblemas dessa ´area. De fato, os m´etodos anal´ıticos s˜aonecess´ariospara o profundo entendimento de diversos problema, bem como para a interpreta¸c˜aocorreta de resultados obtidos. A posse de uma expans˜aoanal´ıticada fun¸c˜aoperturbadora permite compreender melhor a origem de fenˆomenosdinˆamicoscaracter´ısticosde sistemas planet´arios, ao se ter em m˜aosa pos- sibilidade de uma melhor compreens˜aoda influˆencia dos termos que comp˜oema fun¸c˜ao sobre a dinˆamicado sistema em estudo. Desde os trabalhos originais de Hansen, Le Verrier e Tisserand (Hansen, 1838; Le Verrier, 1855; Tisserand, 1885) no s´eculoXIX, distintas abordagens da expans˜aoanal´ıtica da fun¸c˜aoperturbadora tˆemsido apresentadas na literatura, para os casos do problema de trˆescorpos restrito e n˜ao-restrito(Andoyer, 1923; Newcomb, 1895; Brown, 1932; Ferraz- Mello, 1987; Kamel, 1988; Yokoyama, 1994; Beaug´e,1996). Sobre a problem´aticadas trˆesmassas que interagem devido `agravita¸c˜ao,encontra- mos na literatura duas metodologias cl´assicasde computa¸c˜aoda fun¸c˜aoperturbadora. Tais metodologias diferem, sobretudo, na expans˜aoda parte principal da fun¸c˜ao,a saber,

Gm1m2/∆ (onde mi designa as massas dos corpos orbitantes, ∆ a distˆancia m´utuaen- tre eles, e G a constante universal de gravita¸c˜ao). Em uma dessas abordagens, utiliza-se expans˜oesem s´eriesde potˆenciasdas excentricidades e inclina¸c˜oes,atrav´esdas s´eriesde 24 Cap´ıtulo1. Introdu¸c˜ao

Taylor e s´eriesperi´odicasde Fourier: formalmente, essa metologia ´econhecida como ex- pans˜aode Laplace (Broucke e Smith, 1971; Ferraz-Mello, 1983; Laskar e Robutel, 1995; Klioner, 2000).

No segundo tipo de abordagem, a expans˜ao´efeita com rela¸c˜ao`araz˜ao α = a1/a2 dos semi-eixos maiores (o sub´ındice1 refere-se ao corpo de ´orbitainterna, e 2 `aquelede ´orbita externa), utilizando os polinˆomiosde Legendre. Na pr´atica, essas metodologias se diferenciam quanto ao raio de convergˆenciadas s´eries de potˆencias,bem como quanto a taxa na qual essa convergˆencia´eatingida. Devido a isso, os cen´ariosde aplicabilidade s˜aodistintos: expans˜oesutilizando os polinˆomiosde Legendre apresentam uma convergˆenciabastante lenta para valores moderados e altos de α, sendo mais aplicadas aos estudos de sistemas hier´arquicos,nos quais os corpos orbitantes apresentam semi-eixos bastante distantes. Em geral, tais sistemas ficam longe das principais ressonˆanciasde movimentos m´edios,casos em que se mostra mais adequado aplicar a expans˜aode Laplace. As maiores contribui¸c˜oes`aexpans˜aoda fun¸c˜aoperturbadora, utilizando os m´etodos citados, foram realizadas ao longo do s´eculoXIX (Hill, 1875; Tisserand, 1885). Trabalhos recentes que utilizam as expans˜oesde Legendre s˜aoencontrados em (Ford et al., 2000; Lee e Peale, 2003; Laskar e Bou´e,2010). A descoberta de novos sistemas planet´arios,dentro de configura¸c˜oesdinˆamicas que incluem fenˆomenoscomplexos como as ressonˆancias,inspiraram a revis˜aodas teorias de expans˜aodas perturba¸c˜oes.Apresentamos neste trabalho um estudo te´oricoinserido nesse contexto. Revisitamos o problema de trˆescorpos geral, e em seguida, adotamos a primeira simplifica¸c˜aoposs´ıvel, considerando o caso coplanar. Utilizando o formalismo hamiltoni- ano desenvolvido especificamente em coordenadas canˆonicas de Jacobi (e.g., (Ferraz-Mello et al., 2005)), realizamos a expans˜aodo potencial perturbador utilizando o m´etodo de Laplace.

1.2 Ressonˆanciasde Movimentos M´edios

A descoberta de um planeta orbitando uma estrela dentro da sequˆenciaprincipal revelou-se um dos maiores feitos da Astronomia no final de s´eculopassado (Mayor e Que- loz, 1995), e impulsionou o desenvolvimento cient´ıficoe tecnol´ogicoda ´area,atrav´esdo Se¸c˜ao 1.2. Ressonˆanciasde Movimentos M´edios 25 aperfei¸coamento de teorias e t´ecnicascapazes de viabilizar a detec¸c˜aode novos planetas extrasolares. Diante dos v´ariosquestionamentos acerca dos fenˆomenosf´ısicosque regem a dinˆamica dos corpos celestes, ´ede grande importˆanciaa caracteriza¸c˜aode diferentes sistemas pla- net´arios,quanto ao seu comportamento, mediante a obten¸c˜aoe o estudo dos parˆametros que determinam suas propriedades f´ısicas. Sistemas planet´arioscom mais de um planeta apresentam, em determinados casos, con- figura¸c˜oesorbitais ressonantes entre seus movimentos m´edios.Na literatura, tal fenˆomeno´e formalmente conhecido como Mean Motion Resonance (MMR), literalmente, ressonˆancia de movimentos m´edios. Nela, os per´ıodos orbitais dos planetas s˜aocomensur´aveis, i.e., obedecem uma rela¸c˜aode proporcionalidade do tipo T2/T1 = (p + q)/p,(p, q ∈ Z), 1 e 2 referindo-se ao planeta de ´orbitainterna e externa, respectivamente. Nesses casos, fala-se em uma rela¸c˜aode ressonˆanciado tipo p + q : p, onde q denota a ordem da ressonˆancia. No Sistema Solar, por exemplo, a maioria dos casos de MMR envolvem corpos menores, sat´elitesnaturais e aster´oides. Nos caso dos planetas, ´eposs´ıvel observar configura¸c˜oes quase-ressonantes: um exemplo ´eo sistema J´upiter-Saturno(Michtchenko e Ferraz-Mello, 2001), que se encontra em quase-ressonˆancia5:2. Nesse caso, os dois planetas gigantes n˜aoest˜aoenvolvidos diretamente em uma intera¸c˜aoressonante, mas mostram um modo oscilat´orioconhecido como ‘Grande Desigualdade’. A existˆenciade sistemas exoplanet´arioscaracterizados por comensurabilidades de mo- vimentos m´ediosabriu um novo cen´ariodentro do problema cl´assicode trˆescorpos. Entre muitos aspectos, ´einteressante mencionarmos o estudo de solu¸c˜oesde equil´ıbrio e de- termina¸c˜aode regi˜oesde estabilidade e caoticidade no espa¸code fases, para diferentes configura¸c˜oesde massas e condi¸c˜oesiniciais (Callegari et al., 2004; Michtchenko et al., 2006, 2008a; Beaug´eet al., 2007; Alves et al., 2016). Ao longo da evolu¸c˜aode um sistema, a proximidade a uma ressonˆanciapode tanto con- duzir a cen´ariosde estabilidades quanto de instabilidades. Deste ponto de vista, percebe-se a importˆanciaem se compreender melhor as caracter´ısticasdo fenˆomeno, a fim de expli- car/prever as circunstˆanciasde (in)estabilidade. Nos ´ultimosanos, muitos estudos foram desenvolvidos quanto `aquest˜aoda origem e estabilidade de sistemas ressonantes (Ferraz-Mello, 1987; Hadjidemetriou, 2002; Lee e Pe- ale, 2003; Beaug´ee Michtchenko, 2003). Em muitos deles, o foco manteve-se em encontrar 26 Cap´ıtulo1. Introdu¸c˜ao os dom´ıniosde condi¸c˜oesiniciais e param´etricosque caracterizam configura¸c˜oesdinˆamicas est´aveis. Uma vez que as detec¸c˜oesindiretas, em geral, n˜aoapresentam os parˆametros f´ısicos e orbitais precisos, tais estudos se mostram essenciais para a determina¸c˜aodos limites desses parˆametros. Embora a maioria dos trabalhos apresentados utilizem m´etodos num´ericos,tem havido um esfor¸cono intuito de desenvolver modelos anal´ıticospara o estudo de sistemas resso- nantes, no caso n˜ao-restrito(Holman e Murray, 1996; Murray et al., 2002; Lee e Peale, 2003; Beaug´ee Michtchenko, 2003), aplicando-se, por exemplo, as expans˜oesde Laplace da fun¸c˜aoperturbadora. O objetivo principal do presente trabalho ´edesenvolver uma expans˜aoanal´ıticapara o Hamiltonino de um problema de trˆescorpos coplanar, considerando uma configura¸c˜ao de ressonˆanciade movimentos m´ediosgeneralizada (p + q): p. Em seguida, aplicamos o modelo para o caso espec´ıficoda ressonˆanciade segunda ordem 3:1. Como um ´ultimocoment´ario,atentemos para o seguinte fato: o tratamento te´oricoque aqui desenvolvemos pode ser formalmente aplicado considerando tanto ´orbitasplanet´arias ressonantes, em torno de estrelas, quanto ´orbitasressonantes de sat´elitesem torno de planetas. Assim, abre-se a possibilidade para, futuramente, utilizar nossos estudos para comparar as diferen¸casentre a dinˆamicaressonante t´ıpica de sistemas planet´arios,e a dinˆamicade sat´elitescapturados - ou nas proximidades - de uma MMR. Cap´ıtulo 2

Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos

O conceito fundamental da Mecˆanica´eo de movimento: a varia¸c˜aoda posi¸c˜aoespacial de um objeto ou ponto material, em rela¸c˜aoa um dado referencial e no decorrer de um certo intervalo de tempo. Investigar as causas desse movimento ´ea proposta da Dinˆamica: fornecido um conjunto de corpos interagentes, descrever as for¸casque agem sobre cada um deles, relacionar a resultante `aacelera¸c˜aoe ent˜ao,determinar a lei de movimento para os corpos, correspondente `aquelereferencial. Nesse sentido, fica clara a importˆanciade se ter bem definida a ideia de referencial, ou sistema de referˆencia. Debru¸car-sesobre um problema dinˆamicopressup˜oeescolher o melhor referencial para tal problema. Nas se¸c˜aoa seguir, expomos o problema de (N+1)-corpos interagindo sob a a¸c˜ao do potencial gravitacional. A proposta ´edescrever, utilizando o formalismo newtoniano (princ´ıpiofundamental da dinˆamica),as leis de movimento para trˆescasos t´ıpicosde refe- rencial: inercial arbitr´ario,inercial baricˆentrico, e (n˜ao-inercial)astrocˆetrico. Em seguida, introduzimos o formalismo hamiltoniano, o qual ser´aadotado no desenvol- vimento metodol´ogicodo restante deste trabalho. Os conceitos fundamentais de vari´aveis canˆonicass˜aoapresentados nas ´ultimasse¸c˜oesdo cap´ıtulo.

2.1 Integrais de Movimento

N˜ao´eposs´ıvel trabalhar o movimento de um sistema de corpos, sem antes especificar um referencial, em rela¸c˜aoao qual tal sistema se move. Nas pr´oximassubse¸c˜oes,tratamos de apresentar o problema de (N+1)-massas que interagem dentro do potencial gravitacional. Utilizamos o formalismo de for¸canewtoniano, atrav´esda Lei da Gravita¸c˜aoUniversal. O 28 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos problema ´eapresentado em trˆessistemas de referˆencia. Em cada um deles, mostramos a conserva¸c˜aodas importantes quantidades que caracterizam o sistema: as integrais de movimento. Ao final, o conceito de um dos casos de referencial ´eutilizado para introduzir as coor- denadas de Jacobi (Duboshin, 1969).

2.1.1 Referencial inercial arbitr´ario

A solu¸c˜aoda equa¸c˜aode movimento de um corpo (princ´ıpiofundamental da dinˆamica),

dx¨ F~ = M dt somente ´ealcan¸c´avel, com sentido f´ısicoadequado, quando se utiliza massas inerciais em um sistema de referˆenciainercial. Por inercial entendemos um sistema isento de ace- lera¸c˜ao,i.e., que esteja im´ovel ou em movimento retil´ıneo uniforme. Em rela¸c˜aoa este referencial, qualquer massa pontual n˜aoestar´asob efeito de for¸casinerciais (ou pseudo- for¸cas) intr´ınsecas(por exemplo, a for¸cacentr´ıfugae a for¸ca de Coriolis). Nesta se¸c˜ao, fazemos men¸c˜aoa um referencial inercial arbitr´ario,sobre o qual localizamos um ponto qualquer S, e que ser´aa origem do sistema de coordenadas. Seja tomado, ent˜ao, o referencial inercial com origem no ponto S, e (N+1)-part´ıculas pontuais de massas mi nesse espa¸co. Denotaremos por ri (i = 0, 1, ...,N) os vetores de posi¸c˜aodos (N+1)-corpos em rela¸c˜aoao referencial, e pi = mir˙ i ser˜aoos respectivos momentos lineares. A Fig. 2.1 ilustra tal sistema, para o caso de 4 corpos. Da Lei de Gravita¸c˜aoUniversal derivamos a equa¸c˜aode movimento do i-´esimocorpo:

N X Gmimj m ¨r = − (r − r ), (2.1) i i ∆3 i j j=0;j6=i ij onde G vem a ser a constante de gravita¸c˜aouniversal e ∆ij = |ri − rj| s˜aoas distˆancias m´utuasentre os corpos i e j. Teoricamente, para uma solu¸c˜ao completa da Eq. (2.1), s˜aonecess´arias6(N+1) cons- tantes de integra¸c˜ao. Se somarmos sobre os ´ındices i em (2.1), teremos

N N N X X X Gmimj m ¨r = − (r − r ) = 0. (2.2) i i ∆3 i j i=0 i=0 j=i+1 ij Se¸c˜ao2.1. Integrais de Movimento 29

Figura 2.1: Sistema exemplificando 4 corpos, com os vetores posi¸c˜aodados dentro de um sistema de coordenadas inercial arbitr´ariocom origem em S.

Integrando uma vez a equa¸c˜aoanterior, vem que

N N X X mir˙i = pi = ~a, (2.3) i=0 i=0 onde ~a = (a1, a2, a3) ´eum vetor constante de integra¸c˜ao. A Eq. (2.3) determina a con- serva¸c˜aodo momento linear total P do sistema. Integrando novamente,

N X ~ miri = ~at + b, (2.4) i=0 ~ e b = (b1, b2, b3) ´etamb´emum vetor constante de integra¸c˜ao.A Eq. (2.4) fornece a equa¸c˜ao do movimento do baricentro RB do sistema. Do momento linear total P = const tˆem-se trˆesintegrais primeiras de movimento. Tomemos agora o seguinte produto vetorial:

N N N X X X Gmimj m r × ¨r = − r × (r − r ) = 0, i i i ∆3 i i j i=0 i=0 j=i+1 ij pois ri × rj = −rj × ri, e a somat´oria´etomada sobre todos os ´ındices.Mas

N N X d X dL m r × ¨r = m r × r˙ = = 0, (2.5) i i i dt i i i dt i=0 i=0 onde L ´eo momento angular total do sistema. L ´euma constante de movimento, e a Eq. (2.5) fornece mais trˆesintegrais do momento angular L = ~c, atrav´esdas trˆescomponentes 30 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos constantes desse vetor. Escrevendo as componentes vetorias retangulares:

N X mi[yiz˙i − ziy˙i] = c1 = Lx, i=0 N X mi[zix˙i − xiz˙i] = c2 = Ly, (2.6) i=0 N X mi[xiy˙i − yix˙i] = c3 = Lz. i=0 A energia potencial do sistema ´edefinida por

N N X X Gmimj U = − , (2.7) ∆ i=0 j>i ij e pode-se escrever

mi¨ri = −∇ri U, (2.8)

onde ∇ri ´eo operador gradiente dado por

∂ ∂ ˆ ∂ ∇ri = ˆı +ˆ + k . ∂xi ∂yi ∂zi

Tomamos o produto escalar r˙ i · (2.8), e somando sobre todos os ´ındices

N N X X dU m r˙ · ¨r = − r˙ · ∇ U = − . i i i i i dt i=0 i=0 Notando que d (r˙ · r˙) = 2r˙ · ¨r, dt ent˜ao, X 1 d X dU m r˙ · ¨r = m r˙ 2 = − . i i i 2 dt i i dt i i Integrando em t, ficamos com N 1 X m r˙ 2 + U = E. (2.9) 2 i i i=0 E ´euma constante de integra¸c˜aoescalar, e define a energia total do sistema. A Eq. (2.9)

´ea integral de energia. O termo quadr´aticoem r˙ i ´ea energia cin´etica T dos corpos (T ´e uma fun¸c˜aohomogˆeneadas velocidades):

N N 1 X 1 X T = m r˙ 2 = m (x ˙ 2 +y ˙2 +z ˙2). (2.10) 2 i i 2 i i i i i=0 i=0 Se¸c˜ao2.1. Integrais de Movimento 31

A energia, o baricentro, o momento linear e o momento angular constituem as dez integrais cl´assicasdo problemas de N-corpos (ou, neste caso, de (N+1)-corpos), dadas respectivamente pelas Eqs. (2.9), (2.4), (2.3) e (2.7). Resolver a Eq. (2.1) significa resolver 3(N+1) equa¸c˜oesdiferenciais de 2a ordem. Esse n´umeropode ser reduzido, com a escolha adequada de uma mudan¸cade referencial, utili- zando as integrais primeiras de movimento apresentadas.

2.1.2 Referencial baricˆentrico

Como mostrado anteriormente, o baricentro de um sistema de (N+1)-corpos tem sua equa¸c˜aode movimento satisfeita por uma fun¸c˜aolinear (movimento retil´ıneouniforme) (Eq. (2.4)). Um referencial centrado sobre este ponto espec´ıfico´e,portanto, inercial. Vejamos como ficam as integrais de movimento. Introduzimos os vetores de posi¸c˜aorelativos ao baricentro do sistema de (N+1)-corpos

Ri = ri − RB, (2.11) onde N 1 X R = m r (2.12) B M i i i=0 PN e M = j=0 mj ´ea massa total do sistema. A Fig. 2.2 ilustra o sistema.

Figura 2.2: Sistema de 4 corpos, com os vetores posi¸c˜aodados em coordenadas referenciadas ao baricentro B do sistema.

Facilmente, verifica-se que ri − rj = Ri − Rj (distˆanciasm´utuass˜aoconservadas, o que ¨ j´aera esperado, pois independem do referencial). Da Eq. (2.4), tiramos RB = 0. Uma vez 32 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos que tomamos o baricentro como origem do novo sistema de referˆencia, ´ef´acilperceber que ˙ RB = 0 e RB = 0, e tem-se

N N N X X X ˙ miri = miRi = 0; miRi = 0. (2.13) i=0 i=0 i=0 Separando o ´ındice0, reservado para o que se conhece por corpo central, ficaremos com a seguinte rela¸c˜ao N X mi R = − R . (2.14) 0 m i i=1 0 A equa¸c˜aodo movimento do i-´esimocorpo ser´adada ent˜aopor

N X Gmimj Gm0mi m R¨ = − (R − R ) − (R − R ). (2.15) i i ∆3 i j ∆3 i 0 j=1;j6=i ij 0i

Agora, usando Eq. (2.14), temos que

N N X mj mi X mj Ri − R0 = Ri + Rj = Ri + Ri + Rj. m0 m0 m0 j=1 j=1;j6=i

Multiplicando a igualdade por m0mi, ap´osalgumas manipula¸c˜oessimples, obt´em-se

N X m0mi(Ri − R0) = mi(m0 + mi)Ri + mimjRj. j=1;j6=i

Substituindo o resultado anterior em (2.15), obt´ema equa¸c˜aode movimento do i-´esimo corpo.

N  N  X Gmimj(Ri − Rj) Gmi X m R¨ = − − (m + m )R + m R , (2.16) i i ∆3 ∆3 0 i i j j j=1;j6=i ij i0 j=1;j6=i onde i = 1, 2, ..., N. Facilmente, pode-se mostrar que

N X 0 L = miri × r˙ i = LB + L , i=0

˙ 0 onde LB = MRB × RB ´econstante (verifica-se atrav´esde (2.4)), e L ´edado pela seguinte express˜ao: N N 0 X ˙ ˙ X ˙ L = miRi × (Ri + RB) + miRB × Ri = cte, (2.17) i=0 i=0 uma vez que a rela¸c˜aode conserva¸c˜aodo momento angular total L deve continuar sendo satisfeita. Se¸c˜ao2.1. Integrais de Movimento 33

Para o referencial centrado no baricentro do sistema, valem as rela¸c˜oes(2.13), de ma- neira que pode-se, neste sistema, escrever:

N 0 X ˙ L = miRi × Ri, (2.18) i=0 quantidade que vem a ser o momento angular total do sistema calculado em rela¸c˜aoao baricentro. A inercialidade do sistema nos garante a conserva¸c˜aodo momento angular respectivo, i.e., L0 = c~0, onde c~0 ´eum vetor constante. Usando Eq. (2.14) na equa¸c˜aoanterior, obteremos

" N N # N 0 1 X X ˙ X ˙ L = mjRj × mj0 Rj0 + miRi × Ri. (2.19) m0 j=1 j0=1 i=1 As componentes retangulares ser˜aodadas, portanto, pelas seguintes express˜oes:

" N N N N # N 1 X X ˙ X X ˙ X ˙ ˙ 0 mjYj mj0 Zj0 − mjZj mj0 Yj0 + mi(YiZi − ZiYi) = c1, m0 j=1 j0=1 j=1 j0=1 i=1 " N N N N # N 1 X X ˙ X X ˙ X ˙ ˙ 0 mjZj mj0 Xj0 − mjXj mj0 Zj0 + mi(ZiXi − XiZi) = c2, (2.20) m0 j=1 j0=1 j=1 j0=1 i=1 " N N N N # N 1 X X ˙ X X ˙ X ˙ ˙ 0 mjXj mj0 Yj0 − mjYj mj0 Xj0 + mi(XiYi − YiXi) = c3. m0 j=1 j0=1 j=1 j0=1 i=1 De maneira an´aloga`aanterior, podemos abrir a equa¸c˜aopara a energia cin´eticado sistema. Partindo da Eq.(2.10), temos

N N 1 X 1 X T = m r˙ 2 = m (R˙ + R˙ )2 2 i i 2 i B i i=0 i=0 N 1 X h i = m R˙ 2 + 2R˙ · R˙ + R˙ 2 2 i B B i i i=0 N N 1 1 X X = MR˙ 2 + m R˙ 2 + R˙ · m R˙ = T + T 0, (2.21) 2 B 2 i i B i i B i=0 i=0 1 ˙ 2 onde definimos TB = 2 MRB. No referencial baricˆentrico, usamos novamente a Eq.(2.13), e N 1 X T 0 = m R˙ 2 2 i i i=0 nada mais ´eque a energia cin´eticados (N+1)-corpos relativa `aorigem sobre o baricentro. Da Eq.(2.14), temos que

N N !2 X mj 1 X R˙ = − R˙ ⇒ R˙ 2 = m R˙ 0 m j 0 m2 j j j=1 0 0 j=1 34 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos

Substituindo na express˜aode T 0, vem que

N !2 N 1 X 1 X T 0 = m R˙ + m R˙ 2, (2.22) 2m j j 2 i i 0 j=1 i=1 e a integral de energia T 0 + U = E0 ´ev´alida,com U dada pela Eq.(2.7) e E0 sendo uma

0 constante que satisfaz E = E − TB. Vemos, de Eq.(2.15), que a escolha por tal sistema de referˆencian˜aoreduz o n´umerode equa¸c˜oesdiferencias a serem resolvidas: temos ainda 6(N+1) equa¸c˜oes,e continuamos com as dez integrais primeiras. As f´ormulas apresentadas para este caso de referencial podem ser de grande utilizadade para trabalhos de determina¸c˜aode ´orbitasa partir dos dados de velocidade radial, por exemplo. Al´emdisso, utilizar o centro de massa como referˆencia´eo fundamento por tr´asdas coordenadas de Jacobi, conforme veremos mais adiante.

2.1.3 Referencial astrocˆentrico

As equa¸c˜oesdo movimento podem ser facilmente reduzidas para 6N equa¸c˜oesse tomar- mos como origem do referencial um dos pr´oprioscorpos do sistema, o qual ser´achamado corpo central. Em Astronomia, este ´eo referencial naturalmente escolhido, chamado as- trocˆentrico. Introduzimos, ent˜ao,os vetores de posi¸c˜aoem rela¸c˜aoao corpo central, ao se escolher a origem do sistema sobre m0:

0 ri = ri − r0. (2.23)

A Fig. 2.3 apresenta a ilustra¸c˜aodo caso. Nesse caso, perde-se o car´aterinercial do sistema, uma vez que o movimento dos N- corpos estar´areferenciado ao corpo m0, que tamb´emtem movimento acelerado, segundo a Eq. (2.1) dado por N N X Gmj X Gmj ¨r = (r − r ) = r0 . (2.24) 0 ∆3 j 0 ∆3 j j=1 0j j=1 0j Agora, temos que

0 mi¨ri = mi(¨ri + ¨r0). A equa¸c˜aode movimento do i-´esimocorpo (i 6= 0) fica

N X Gmimj m ¨r0 = − (r0 − r0 ) − m ¨r = i i ∆3 i j i 0 j=0;j6=i ij N N Gmim0 X Gmimj X Gmimj = − r0 − (r0 − r0 ) − r0 , (2.25) r3 i ∆3 i j r3 j i j=1;j6=i ij j=1 j Se¸c˜ao2.1. Integrais de Movimento 35

Figura 2.3: Sistema de 4 corpos, com os vetores posi¸c˜aodados em coordenadas referenciadas ao corpo de massa m0.

onde introduzimos a distˆanciaastrocˆentrica ri = ∆0i. Na express˜aoanterior, o primeiro termo do lado direito representa a intera¸c˜aogravitacional entre a massa m0 e o i-´esimo corpo; o segundo termo determina as intera¸c˜oesentre este ´ultimoe os demais (N-1)- corpos, enquanto que o ´ultimo termo est´arelacionado `aacelera¸c˜aoda massa central m0. Se separarmos a contribui¸c˜aodo corpo i deste ´ultimotermo, podemos finalmente escrever

N  0 0 0  G(m0 + mi) X ri − rj rj ¨r0 = − r0 − Gm + . (2.26) i r3 i j ∆3 r3 i j=1;j6=i ij j

O primeiro termo da express˜aoacima tem a forma da equa¸c˜aode movimento para o problema de dois corpos: denota a intera¸c˜aogravitacional entre a i-´esimapart´ıculae o centro de for¸cade massa m0 + m1. O segundo termo trata-se do termo perturbativo do movimento do corpo, e ´edividido em duas partes: a primeira parte ´ea perturba¸c˜aodireta, devida `am´utua intera¸c˜aogravitacional entre o i-´esimocorpo e os (N-1)-corpos restantes; a segunda parte, a perturba¸c˜aoindireta, ´eresultante da a¸c˜aodas (N-1)-massas acelerando o corpo central. Sejam definidas as fun¸c˜oes

 0 0  1 ri · rj Rij = −G − 3 . (2.27) ∆ij rj Tem-se que  0  mj rj mj∇iRij = −G∇i − mj 3 ∆ij rj 36 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos e N N   N 0 X G X 1 X rj mj∇iRij = − mimj∇i − G mj 3 . mi ∆ij r j=1;j6=i j=1;j6=i j=1;j6=i j Combinando este ´ultimoresultado com Eq.(2.26), vem que

N G(m0 + mi) X ¨r0 = − r0 + m ∇ R . (2.28) i r3 i j i ij i j=1;j6=i

A Eq.(2.28) ´efundamental. Se os Rij forem nulos, fica-se com as equa¸c˜oesde movimento t´ıpicasdo problema de dois corpos. Os termos de Rij causam as perturba¸c˜oesno movimento do i-´esimocorpo: definem, assim, a quantidade f´ısicadenomida fun¸c˜aoperturbadora. O momento angular total do sistema pode ser escrito como

N N X X 0 0 L = miri × r˙ i = mi(r0 + ri) × (r˙ 0 + r˙ i). i=0 i=0

0 0 Da defini¸c˜aoadotada para as coordenadas, r0 = 0 = r˙ 0. Ent˜ao

N X 0 0 0 0 L = Mr0 × r˙ 0 + mi [r0 × r˙ i + ri × r˙ 0 + ri × r˙ i] i=1 N N X 0 X 0 0 = r0 × [Mr˙ 0 + mir˙ i] + miri × (r˙ 0 + r˙ i). i=1 i=1 A express˜ao anterior fornece o momento angular do sistema em termos das coordenadas astrocˆentricas e das respectivas velocidades astrocˆentricas. O primeiro termo em colchetes pode ser expandido, e encontraremos que

N N N X X 0 X 0 r˙ 0(m0 + mi) + mir˙ i = m0r˙ 0 + mi(r˙ 0 + r˙ i) = i=1 i=1 i=1 N N X X = m0r˙ 0 + mir˙ i = mir˙ i. i=1 i=0 Finalmente, ficamos com a seguinte express˜aopara o momento angular do sistema:

N N X X 0 0 L = r0 × mjr˙ j + mjrj × (r˙ 0 + r˙ j). (2.29) j=0 j=1

Agora, retomando o referencial baricˆentrico, valem as rela¸c˜oesdadas pela Eq.(2.13). O primeiro termo da express˜aoanterior ´enulo, e podemos calcular o momento angular em coordenadas astrocˆentricas utilizando a Eq.(2.19) para o momento angular no referencial baricˆentrico. Se¸c˜ao2.1. Integrais de Movimento 37

0 Uma vez que ri = Ri − R0, usando Eq.(2.14), ficamos com N N X X MR0 = − mjRj + mjR0 = j=1 j=1 N N X X 0 = − mj(Rj − R0) = − mjrj, j=1 j=1 e facilmente chega-se a N 1 X R = r0 − m r0 . (2.30) i i M j j j=1

Multiplicando a equa¸c˜aoanterior por mi, e somando sobre o ´ındice i, de 1 a N, vem que N " N N # N X 1 X X m0 X m R = M m r0 − (M − m ) m r0 = m r0 . i i M i i 0 j j M i i i=1 i=1 j=1 i=1 Substituindo as rela¸c˜oesobtidas anteriormente nos termos respectivos da Eq.(2.19), teremos " N N # 0 1 m0 X 0 m0 X 0 L = mjrj × mj0 r˙ j0 + m0 M M j=1 j0=1 N ( " N # " N #) X 1 X 1 X + m r0 − m r0 × r˙ 0 − m r˙ 0 . (2.31) i i M j j i M j j i=1 j=1 j=1 Se explicitarmos o produto vetorial, ap´osalgum algebrismo, teremos finalmente a express˜ao para o momento angular, utilizando somente as coordenadas astrocˆentricas N N N 1 X X X L0 = − m r0 × m r˙ 0 + m r0 × r˙ 0 . (2.32) M j j j j i j i j=1 j=1 i=1 Em termos das componentes retangulares, ficaremos com " N N N N # N 1 X X X X X L0 = − m y0 m z˙0 − m z0 y˙0 + m [y0 z˙0 − z0y˙0 ] = c0 , x M j j j j j j j i j i i j 1 j=1 j=1 j=1 j=1 i=1 " N N N N # N 1 X X X X X L0 = − m z0 m x˙0 − m x0 z˙0 + m [z0 x˙0 − x0 z˙0 ] = c0 , (2.33) y M j j j j j j j i j i i j 2 j=1 j=1 j=1 j=1 i=1 " N N N N # N 1 X X X X X L0 = − m x0 m y˙0 − m y0 x˙0 + m [x0 y˙0 − y0x˙0 ] = c0 . z M j j j j j j j i j i i j 3 j=1 j=1 j=1 j=1 i=1 A mesma considera¸c˜ao´efeita para calcular a energia cin´etica,e aplicamos as mesmas substitui¸c˜oesna Eq.(2.22). Ap´osalgum c´alculo,encontra-se

N !2 N 1 X 1 X 2 T 0 = − m r˙ 0 + m r˙0 , (2.34) 2M j j 2 i i j=1 i=1 e a integral de energia ´e E0 = T 0 + U. 38 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos

2.1.4 Coordenadas de Jacobi

Na teoria de dinˆamicade muitos corpos, as coordenadas de Jacobi s˜aofrequentemente utilizadas a fim de se obter uma formula¸c˜aomatem´aticamais simples (Duboshin, 1969), do ponto de vista da possibilidade de redu¸c˜aodo n´umerode graus de liberdade. Neste sistema, a posi¸c˜aoe velocidade do corpo 1 est˜aoreferenciadas `auma origem fixa no corpo 0; a partir disso, o i-´esimocorpo tem seus vetores posi¸c˜aoe velocidade tomados em rela¸c˜ao ao centro de massa dos (i − 1)-corpos anteriores. A figura abaixo ilustra a explica¸c˜ao,para o caso de 4 corpos.

Figura 2.4: Sistema de 4 corpos, com os vetores posi¸c˜aodados para um sistema de coordenadas de Jacobi.

O ponto B1 ´eo baricentro de m0 e m1. B2 ´eo baricentro de m0, m1 e m2.

Assim, partindo de um sistema de referˆenciainercial arbitr´ario,tomamos %i (i = 1, 2, ..., N) como o novo conjunto de vetores posi¸c˜ao,definidos da seguinte maneira:

%1 = r1 − r0, 1 %2 = r2 − (m0r0 + m1r1), σ1 1 %3 = r3 − (m0r0 + m1r1 + m2r2), (2.35) σ2 ... 1 %N = rN − (m0r0 + m1r1 + ... + mN−1rN−1). σN−1 onde introduzimos k X σk = mj. j=0 Se¸c˜ao2.1. Integrais de Movimento 39

De forma mais geral, podemos escrever

%k = rk − gk−1, (2.36)

onde gk−1 ´eo baricentro dos (k − 1)-corpos tomados anteriormente, de tal modo que

k X σkgk = mjrj. (2.37) j=0

Temos ent˜aoque k−1 1 X % = r − m r , (k = 1, 2, ..., N). (2.38) k k σ j j k−1 j=0 Algumas importantes rela¸c˜oesentre as coordenadas podem ser obtidas, e s˜aoexpostas a seguir (Duboshin, 1969).

Multiplicando a Eq.(2.38) por σk−1:

k−1 1 X % = m (r − r ). (2.39) k σ j k j k−1 j=0

Da Eq.(2.37), vem que

k k−1 X X σkgk − σk−1gk−1 = mjrj − mjrj = mkrk. (2.40) j=0 j=0

Usando que gk = rk+1 − %k+1, e mk = σk − σk−1 na express˜aoanterior, ap´osalguns c´alculos,encontraremos a rela¸c˜ao:

σk−1 rk+1 − rk = %k+1 − %k, (k = 0, 1, 2, ..., N). (2.41) σk

Somando sobre o ´ındice k, de 0 a i − 1, tem-se:

i−1 i−1 i−1 i−1 X X X X σk−1 rk+1 − rk = %k+1 − %k ⇒ σk k=0 k=0 k=0 k=1   σ0 σ1 σi−2 ⇒ ri − r0 = (%1 + %2 + ... + %i) − %1 + %2 + ... + %i−1 ⇒ σ1 σ2 σi−1 i−1 X mk ⇒ ri − r0 = %i + %k. (2.42) σk k=1

E´ poss´ıvel obter, da Eq.(2.42),

N X mk r0 = gN − %k, (2.43) σk k=1 40 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos e desse resultado, seguem

N X mk ri = %i + gN − %k, (2.44) σk k=i j−1 X mk rj − ri = %j − %i + %k, (j > i). (2.45) σk k=i Particularmente, se estabelecermos o baricentro como nosso sistema de referˆenciainer- cial, ent˜ao gN = 0 nas equa¸c˜oes acima. Agora, das Eqs.(2.36) e (2.40), vem que

mi%i = σigi − σigi−1, (2.46) e ficamos com

miri = σigi − σi−1gi−1, (2.47)

mi%i = σigi − σigi−1. (2.48)

Da Eq.(2.48), ap´osexaustivo algebrismo, ´eposs´ıvel chegar `aexpress˜aoa seguir

2 miσi−1 2 2 2 mir˙ i − %˙i = σig˙ i − σi−1g˙ i−1 ⇒ σi−1 N N X X miσi−1 ⇒ m r˙ 2 − %˙2 = σ g˙ 2 − σ g˙ 2. i i σ i N N 0 0 i=0 i=0 i−1 Novamente utilizando a ideia do referencial baricˆentrico, vem que

N N X 2 X 2 mir˙ i = µ˜i%˙i , (2.49) i=0 i=0 onde definimos a massa reduzida da formula¸c˜aode Jacobi:

miσi−1 µ˜i = . (2.50) σi

Em termos das coordenadas jacobianas, mostra-se muito complicado escrever expli- citamente a equa¸c˜aode movimento newtoniana para um corpo sob a a¸c˜aogravitacional de N massas. No ApˆendiceA, apresentamos as formas anal´ıticasdessas equa¸c˜oespara o problema de trˆescorpos. De maneira mais geral, temos que (Duboshin, 1969)

µ˜i%¨i = −∇%i U, (i = 1, 2, ..., N), (2.51) Se¸c˜ao2.2. Formalismo Hamiltoniano 41 onde U ´edada pela Eq.(2.7) e, para o c´alculodo gradiente, usamos Eq.(2.45) para rees- crever cada ∆ij em termos das quantidades %i. Se definimos, em termos de coordenadas retangulares, os vetores posi¸c˜ao %¨i = (ξi, ηi, ζi), ent˜aoo operador diferencial ´edado por

∂ ∂ ˆ ∂ ∇%i = ˆı +ˆ + k . (2.52) ∂ξi ∂ηi ∂ζi

O momento angular total do sistema ´eexpressado como

N N X X L = miri × r˙ i = m0r0 × r˙ 0 + miri × r˙ i = i=0 i=1 N N X mk X mk = MgN × g˙ N + m0 %k × %˙k + σk σk k=1 k=1 N N ! N ! X X mk X mk + mi %i − %k × %˙i − %˙k , (2.53) σk σk i=1 k=1 k=1 e ´eposs´ıvel escrever (Duboshin, 1969)

N X L = LB + µ˜i%i × %˙i. (2.54) i=1 Em coordenadas retangulares (ξ, η, ζ), reduzimos novamente ao referencial baricˆentrico, e ficamos com

N X ˙ 0 µ˜i(ηiζi − ζiη˙i) = c1, i=1 N X ˙ ˙ 0 µ˜i(ζiξi − ξiζi) = c2, (2.55) i=1 N X ˙ 0 µ˜i(ξiη˙i − ηiξi) = c3. i=1 Usando a igualdade estabelecida pela Eq.(2.49), pode-se expressar a energia cin´etica do sistema. N !2 N 1 1 X 1 X T = MR˙ 2 + T 0 = m R˙ + µ˜ %2. (2.56) 2 B 2M i i 2 i i i=0 i=1

2.2 Formalismo Hamiltoniano

Na se¸c˜aoanterior, apresentamos as integrais de energia e momento angular e as respec- tivas equa¸c˜oesde movimento para um problema de (N+1)-corpos, em diferentes sistemas de coordenadas, utilizando somente o formalismo newtoniano. Pode-se, tamb´em,optar 42 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos por outros tipos de formula¸c˜oesmatem´aticas,como Lagrange e Hamilton. Neste traba- lho, optamos pela aplica¸c˜aodo formalismo hamiltoniano. Introduziremos, a seguir, alguns conceitos importantes a esse respeito.

2.2.1 Princ´ıpiode Hamilton

Seja tomado um sistema definido por n coodenadas generalizadas qi (i = 1, 2, ..., n). Tem-se, em outras palavras, um sistema de n graus de liberdade. Seja T (q, q˙) a energia cin´eticadesse sistema, definida como uma fun¸c˜aodas velocidades generalizadasq ˙i (i = 1, 2, ..., n); e U(q, t) a energia potencial do sistema, independente das velocidades. Portanto, o sistema ´econservativo. O momento generalizado conjugado a coordenada qi ´edefinido como ∂T pi = , (2.57) ∂q˙i e o Hamiltoniano do sistema ´edado por

n X H = H(q, q,˙ t) = piq˙i − T (q, q˙) + U(q, t). (2.58) i=1 Segundo o princ´ıpiode Hamilton (Hamilton, 1834), a a¸c˜aodo sistema entre os instantes de tempo t1 e t2, definida pela integral

" n # Z t2 X A = piq˙i − H dt, (2.59) t1 i=0 ´eestacion´ariaperante varia¸c˜oesarbitr´ariasdas solu¸c˜oesentre os estados inicial e final. Equivalentemente, escreve-se δA = δ R t2 Ldt = 0, onde L = L(q, q,˙ t) ´ea fun¸c˜aoLagrange- t1 ana do sistema: n X L = T (q, q˙) − U(q, t) = piq˙i − H. (2.60) i=0 Aplicando as equa¸c˜oesde Euler-Lagrange (Lemos, 2007; Thornton e Marion, 2004) para resolver o problema variacional de (2.59), obtˆem-seas seguintes rela¸c˜oes:

∂H ∂H q˙i = , p˙i = − . (2.61) ∂pi ∂qi Essas equa¸c˜oess˜aoconhecidas como equa¸c˜oesde Hamilton, ou equa¸c˜oescanˆonicasde movimento, e formam um conjunto de 2n equa¸c˜oesdiferenciais de primeira ordem. As vari´aveis qi e pi s˜aodenominadas vari´aveiscanˆonicas, e qualquer sistema dinˆamicocapaz de ser caracterizado pela Eq.(2.61) ´echamado sistema hamiltoniano. Se¸c˜ao2.2. Formalismo Hamiltoniano 43

Se o sistema for autˆonomo,i.e., H n˜aodepende de t, e o potencial ´etal que as for¸cas generalizadas podem ser derivadas segundo fi = ∇iU(q), ent˜aoo Hamiltoniano equivale `a energia total do sistema.

2.2.2 Transforma¸c˜oesCanˆonicas

Quando o Hamiltoniano ´eindependente de uma ou mais vari´aveis canˆonicas,diz-se ent˜aoque tais vari´aveis s˜ao c´ıclicas, e a Eq.(2.61) implica que as respectivas vari´aveis conjugadas s˜aoconstantes de movimento. Pode-se, ent˜ao,pensar em alguma maneira de se construir um Hamiltoniano segundo tais caracter´ısticas,de forma a simplificar as equa¸c˜oesdo sistema e facilitar a obten¸c˜aode uma solu¸c˜aocompleta. Tal procedimento ´eposs´ıvel atrav´esda aplica¸c˜aode uma transforma¸c˜aocanˆonica: trata-se de uma transforma¸c˜aodo conjunto de coordenadas, de maneira tal que se pre- serve a forma canˆonicadas equa¸c˜oes,i.e., as equa¸c˜oesde Hamilton continuam v´alidaspara as novas coordenadas.

Se considerarmos uma mudan¸cadas vari´aveis canˆonicasoriginais (qi, pi) para um novo conjunto (Qi,Pi), dado em fun¸c˜aodo primeiro conjunto,

Qj = Qj(q, p, t), (2.62)

Pj = Pj(q, p, t), (2.63) tal transforma¸c˜aoser´adita canˆonicase

˙ ∂K ˙ ∂K Qj = , Pj = − (j = 1, 2, ..., n), (2.64) ∂Pj ∂Qj para alguma nova fun¸c˜ao K(Q, P ). Uma das importantes aplica¸c˜oesdeste conceito consiste em buscar uma transforma¸c˜ao na qual o novo Hamiltoniano dependa explicitamente apenas dos novos momentos Pi. Dessa forma, as equa¸c˜oesde Hamilton podem ser imediatamente integradas, uma vez que os novos momentos ser˜aoconstantes:

˙ ∂K Pj = − = 0 ⇒ Pj = const. ∂Qj ˙ ∂K Qj = ≡ Ωj(P ) = const ⇒ Qj(t) = Qj0 + Ωj(P )t. ∂Pj 44 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos

Equivalentemente, pode-se dizer que a transforma¸c˜aocanˆonicapreserva o Princ´ıpiode Hamiton. Assim, nas novas vari´aveis,

" n # Z t2 X ˙ δ PiQi − K(Q, P, t) dt = 0. t1 i=1 Comparando com (2.59), tem-se

" n n # Z t2 X X ˙ δ piq˙i − PiQi − (H − K) dt = 0. (2.65) t1 i=1 i=1 Resolvendo a ´ultimaequa¸c˜ao,encontra-se a solu¸c˜aopara a transforma¸c˜ao. Pode-se inserir, de fato, uma diferencial exata de uma fun¸c˜aoarbitr´aria S das vari´aveis consideradas, dentro do sinal de integra¸c˜ao,sem alterar-se o resultado. Uma vez que as 4n vari´aveis qi, pi,Qi,Pi n˜aos˜ao independentes, toma-se arbitrariamente 2n vari´aveis independentes para a fun¸c˜ao S. A partir de (2.65), obt´em-se:

" n n # X X dS = pidqi − PidQi − (H − K) dt. (2.66) i=1 i=1 A fun¸c˜ao S ´edenominada fun¸c˜aogeratriz da transforma¸c˜aocanˆonica. Escolhendo S = S(q, P ), da Eq.(2.66) obtˆem-seas equa¸c˜oesda transforma¸c˜aocanˆonicadas vari´aveis:

∂S ∂S pi = ,Qi = . (2.67) ∂qi ∂Pi

A rela¸c˜aoentre os Hamiltonianos antes e depois da transforma¸c˜ao´edada por

∂S K = H + . ∂t

Quando S independe do tempo, ent˜ao K = H, e a transforma¸c˜ao´edita conservativa.

2.2.3 Teoria de Hamilton-Jacobi

A id´eiaprincipal da teoria hamiltoniana ´e,dado um sistema dinˆamico,descrito por um Hamiltoniano espec´ıfico,por interm´ediode transforma¸c˜oescanˆonicasoperadas sobre as vari´aveis de estado desse sistema, obter um novo Hamiltoniano, mais simples que o primeiro. De maneira ideal, espera-se que a transforma¸c˜aocanˆonicaempregada seja capaz de fornecer um novo Hamiltoniano dependente somente um dos momentos, i.e, possuindo apenas um grau de liberdade. Se¸c˜ao2.2. Formalismo Hamiltoniano 45

Tomemos um sistema conservativo de n graus de liberdade. Seja o Hamiltoniano H(q, p) independente do tempo, e φ a transforma¸c˜aocanˆonicadefinida por (2.67), i.e. φ :(q, p) ⇒ (Q, P ). Busca-se um Hamiltoniano transformado K dependente somente de uma das novas vari´aveis canˆonicas.Assim:

K(Q, P ) = P1. (2.68)

Tem-se, ent˜ao,um novo sistema hamiltoniano trivial. A energia desse sistema ´edada por

E = P1, e a solu¸c˜aogeral ´e:

Q1 = t + α1,P1 = β1 = E,

Qµ = αµ,Pµ = βµ (µ = 2, 3, ..., n). (2.69)

onde αi, βi (i = 1, 2, ..., n) s˜aoconstantes de integra¸c˜ao. Arbitrariamente, impomos que φ define uma transforma¸c˜aoconservativa, e portanto

H(q, p) = K(Q, P ). (2.70)

Seja S(q, P ) a fun¸c˜aogeratriz da transforma¸c˜ao.Introduzindo (2.67) em (2.70), obtem-se a equa¸c˜aode Hamilton-Jacobi

 ∂S  H qi, = P1 = E (2.71) ∂qi

A equa¸c˜aoacima ´euma equa¸c˜aodiferencial parcial de primeiro grau nas n vari´aveis in- dependentes q1, q2, ..., qn, e E ´esomente um parˆametro. A solu¸c˜aode (2.71), S, deve ser uma fun¸c˜aode 2n vari´aveis. Nesse caso, os valores dos Pi s˜aotomados das respectivas constantes de integra¸c˜ao βi. Conhecida a solu¸c˜aocompleta S(q, P ), a solu¸c˜aopara o sistema dinˆamico´edada por

∂S(q, β) t + α1 = Q1 = , ∂β1 ∂S(q, β) αµ = Qµ = . (2.72) ∂βµ

2.2.4 Movimentos Peri´odicos:Vari´aveis de Angulo-A¸c˜aoˆ

Sistemas peri´odicosse mostram de grande importˆanciaem praticamente todos os ramos da F´ısica,e entre estes, destacamos a Mecˆanica Celeste. Problemas de dinˆamicaenvolvendo fenˆomenosde ressonˆancias˜aomodelados por meio de tais sistemas. 46 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos

Um sistema cujo Hamiltoniano n˜aodepende explicitamente do tempo ´echamado se- par´avel se, para o conjunto de coordenadas generalizadas (q1, q2, ..., qn), existe uma integral completa da equa¸c˜ao2.71 independente do tempo, tal que

S(q1, q2, ..., qn, β1, β2, ..., βn) = S1(q1, β1, β2, ..., βn) + ... + Sn(qn, β1, β2, ..., βn). (2.73)

No caso de um sistema separ´avel, temos que:

∂S pi = = fi(qi, β1, β2, ..., βn). (2.74) ∂qi

A equa¸c˜aoanterior vem a ser proje¸c˜aosobre o plano (qi, pi) do movimento que o sistema realiza no espa¸code fase. Um sistema separ´avel ´edito multiperi´odicose a proje¸c˜aodo movimento sobre cada plano (qi, pi) ´etal que satisafa¸cauma das seguintes condi¸c˜oes:

• a curva pi(qi, β) ´efechada, e qi oscila periodicamente entre dois limites definidos

qi,1 = ai e qi,2 = bi. A vari´avel qi pode ser tanto um ˆanguloou um uma distˆancia linear, e seu movimento caracter´ıstico´edenominado libra¸c˜ao;

• pi ´euma fun¸c˜aoperi´odicade qi, com per´ıdo qi,0, mas qi n˜ao´efun¸c˜aoperi´odica do tempo. Refere-se a este caso usualmente como rota¸c˜ao ou circula¸c˜ao.

A dinˆamicade sistemas multiperi´odicospode ser abordada atrav´esdas vari´aveis de a¸c˜aoe ˆangulo,com as quais ´eposs´ıvel calcular as frequˆenciast´ıpicasdo movimento. Tal advento foi introduzido originalmente por Delaunay na Astronomia. No caso de n graus de liberdade, as vari´aveis de a¸c˜aos˜aodefinidas da seguinte forma

1 I J = p dq , (2.75) i 2π i i com as integrais extendendo-se por um per´ıodo de libra¸c˜aoou de circula¸c˜ao.As a¸c˜oes Ji s˜aoidentificadas como os novos momentos Pi de uma dada transforma¸c˜aocanˆonica.

As vari´aveis canˆonicas conjugadas a Ji, chamadas de vari´aveis angulares ϕi, s˜aodadas por ∂S ϕi = . (2.76) ∂Ji Se¸c˜ao2.3. Equa¸c˜oesde Hamilton para o problema de (N+1)-corpos 47

2.3 Equa¸c˜oesde Hamilton para o problema de (N+1)-corpos

Nas duas subse¸c˜oesa seguir, apresentamos o problema de (N+1)-corpos na perspectiva do formalismo de Hamilton da Mecˆanica. Definimos as equa¸c˜oesde movimento somente para o referencial baricˆentrico.

2.3.1 Referencial Baricˆentrico

Denotemos por Xi (i = 0, 1, ..., N) os vetores de posi¸c˜aocom respeito a um referencial ˙ inercial (baricˆentrico), sendo pi = miXi os respectivos momentos (lineares) conjugados. O Hamiltoniano do sistema fornece a energia total (2.9), e ´eescrito como

N 2 N N 1 X p X X Gmimj H = i − (2.77) 2 m ∆ i=0 i i=0 j=i+1 ij Notamos, novamente, que H = H(X, p) ´eum sistema de ordem 6(N+1), ou, equiva- lentemente, de 3(N+1) graus de liberdade.

As vari´aveis Xi e pi s˜aocanˆonicas,e portanto satisfazem (2.61):

dXi pi = ∇pi H = , (2.78) dt mi N dpi X Gmimj = −∇ H = − (X − X ). (2.79) dt Xi ∆3 i j j=0,j6=i ij Atrav´esde (2.78) e (2.79), no lugar de 3(N+1) equa¸c˜oesdiferenciais de segunda or- dem em Xi, como em (2.4), tˆem-se6(N+1) equa¸c˜oesdiferenciais de primeira ordem, nas vari´aveis Xi e pi. E´ poss´ıvel reduzir o sistema para 3N graus de liberdade, utilizando as integrais de movimento cl´assicas(leis de conserva¸c˜aodos momentos, centro de massa e energia). De outro modo, ainda pode-se reduzir o n´umerode graus de liberdade para 3N adotando novas vari´aveis canˆonicas. Explicitamos abaixo duas abordagens cl´assicaspara o tratamento do problema de (N+1)-corpos.

2.4 Vari´aveis Canˆonicasde Jacobi

Em MecˆanicaCeleste, h´adois conjuntos especiais de vari´aveis, que s˜aocanˆonicase que, al´emdisso, permitem que o Hamiltoniano de um sistema de (N+1)-corpos seja reduzido a 3N graus de liberdade. 48 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos

O primeiro conjunto ´eobtido atrav´esdo conceito de transforma¸c˜oescanˆonicas,utili- zando as coordenadas de Jacobi. O segundo ´egerado por uma trasforma¸c˜aocanˆonica definida por Poincar´e(Laskar, 1991). J´aconhecemos a defini¸c˜aodas vari´aveis de Jacobi. Usando a nota¸c˜aoestabelecida anteriormente para as coordenadas do sistema inercial, de forma mais geral, tem-se:

k−1 1 X % = X − m X (2.80) k k σ j j k j=0

(k = 1, 2, ..., N ), onde k X σk = mj. j=0 A fim de completar o conjunto de vetores que descrevem a posi¸c˜aodos (N+1)-corpos, definimos: N 1 X % = m X (= 0). (2.81) 0 σ j j N j=0

Agora, h´aque se definir os novos momentos, conjugados `ascoordenadas %k. O conjunto de novos momentos ´edeterminado de maneira tal que a condi¸c˜aode canonicidade (2.66) seja PN obedecida, i.e., j=0(pjdXi − πjd%j) = 0, onde πj designa os novos momentos. Pode-se PN R tamb´empartir da fun¸c˜aogeratriz S(X, π) = i=0 %idπi. Os momentos originais podem ser obtidos da rela¸c˜ao pi = ∇Xi S(X, π) (Ferraz-Mello et al., 2005). Calculando os N+1 momentos, teremos:

m1π2 m1π3 m1πN m1π0 p1 = π1 − − − ... − + σ1 σ2 σN−1 σN m2π3 m2πN m2π0 p2 = π2 − − ... − + (2.82) σ2 σN−1 σN ...

m0π0 m0π2 m0π3 m0πN p0 = − π1 − − − .... − σN σ1 σ2 σN−1

Aplicando o resultado anterior na express˜aopara a energia cin´etica T, ap´osalgum exaustivo algebrismo, chega-se a

N π2 X π2 T = 0 + k , (2.83) 2σN 2˜µk k=1 Se¸c˜ao2.5. Vari´aveis Canˆonicasde Poincar´e 49

ondeµ ˜k ´ea massa reduzida da formula¸c˜aode Jacobi definida em (2.50). O Hamiltoniano do sistema ´edado ent˜aopor

2 N 2 N N π X π X X Gmimj H = 0 + k − . (2.84) 2σN 2˜µk ∆ij k=1 i=0 j>i

Sabemos de antem˜aoque ∆ij = |Xi − Xj|. Mas, de (2.45), percebe-se que ∆ij depende somente dos vetores %1, %2, ..., %N , isto ´e, %0 ´euma coordenada ignor´avel no Hamiltoniano

(portanto, c´ıclica). Sendo assim, π0 ´econstante. Temos ent˜ao: (i) pelas equa¸c˜oesde Hamilton

∂H π0 π˙ 0 = − = 0; %˙0 = ∇π0 H = (= const); (2.85) ∂%0 σN

(ii) assumindo π0 = 0 (podemos fazˆe-lo,pois π0 ´econstante), a redu¸c˜aodo Hamiltoni- ano ´eimediata N X π2 H = k + U. (2.86) ˜ k=1 2βk

Escrevemos agora o Hamiltoniano na forma H = H0 + H1, onde

N 2 ˜ ! X πk Gσkβk H0 = − , (2.87) ˜ ρk k=1 2βk N N N   X X mkmj X m0 σk−1 H1 = − G − Gmk − , (2.88) ∆kj ∆0k ρk k=1 j=k+1 k=1 onde ρk = |%k|.

As fun¸c˜oes H0 e H1 definem um sistema de 3N graus de liberdade nas vari´aveis canˆonicas(%k, πk), k = 1, 2, .., N.

Nas equa¸c˜oesanteriores, H0 define a parte n˜aoperturbada do Hamiltoniano, enquanto que H1 ´eo termo devido `asperturba¸c˜oes´ıntrinsecas do sistema.

2.5 Vari´aveis Canˆonicasde Poincar´e

Na formula¸c˜aode Poincar´e,as vari´aveis de posi¸c˜aos˜aodadas pelas coordenadas as- trocˆentricas do respectivo corpo, enquanto que os momentos conjugados s˜aoos mesmos da formula¸c˜aobaricˆentrica. Assim,

ri = Xi − X0, Πi = pi, (2.89) 50 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos

(i = 1, 2, ..., N). Uma vez que o sistema possui (N+1)-corpos, definimos o par de vari´aveis

N X r0 = X0, Π0 = pi. (2.90) i=0

PN PN Partindo da condi¸c˜ao i=0 pidXi = j=0 Πjdri, verifica-se a canonicidade das vari´aveis

(ri, Πj). Escrevendo o Hamiltoniano do sistema em termos das novas vari´aveis, teremos, para a energia cin´etica T : N 2 N 2 1 X p p0 · p0 1 X Π T = i = + i (2.91) 2 m 2m 2 m i=0 i 0 i=1 i PN Mas p0 = Π0 − i=1 Πi, e

N ! N ! X X p0 · p0 = Π0 − Πi · Π0 − Πi = i=1 i=1 N N N 2 X X X = Π0 − 2 Π0 · Πi + Πi · Πi = i=1 i=1 j=1 N N N N 2 X X 2 X X = Π0 − 2 Π0 · Πi + Πi + 2 Πi · Πj i=1 i=1 i=1 j=i+1

Finalmente, obt´em-se

N 2 2 N 2 N N N 1 X Π Π X Π X Π0 · Πi X X Πi · Πj T = i + 0 + i − + (2.92) 2 m 2m 2m m m i=1 i 0 i=1 0 i=1 0 i=1 j=i+1 0

A energia potencial:

N N N N N X X Gmimj X Gm0mj X X Gmimj U = − = − − , (2.93) ∆ ∆ ∆ i=0 j=i+1 ij j=1 0j i=1 j=i+1 ij onde ∆0j = |rj| = rj Observando as equa¸c˜oesanteriores, facilmente ´eposs´ıvel observar a redu¸c˜aodo n´umero de graus de liberdade. Verifica-se, principalmente, a ausˆenciada vari´avel r0, fato que implica Π0 constante, de (2.79). Das equa¸c˜oescanˆonicas de Hamilton:

N Π0 X Πi Π˙ = 0; r˙ = − (2.94) 0 0 m m 0 i=1 0

Como temos Π0 constante, arbitrariamente definimos o mesmo como nulo. Assim, o Hamil- toniano H passa a ser uma fun¸c˜aosomente das 2N vari´aveis (r1, r2, ..., rN , Π1, Π2, ..., ΠN ). Se¸c˜ao2.5. Vari´aveis Canˆonicasde Poincar´e 51

De fato, uma redu¸c˜aopara 3N graus de liberdade. (Por quest˜aode simplicidade, voltamos

`anota¸c˜ao pi, uma vez que, excluindo o ´ındice0, ´eequivalente `a Πi)

Escrevemos o Hamiltoniano do sistema como H = H0 + R, tal que

N  2 2  N  2  X p p Gmim0 X p µiβi H = i + i − = i − ; (2.95) 0 2m 2m r 2β r i=1 i 0 i i=1 i i

N N   X X Gmimj pi · pj R = − + , (2.96) ∆ m i=1 j=i+1 ij 0 onde m0mi µi = G(m0 + mi); βi = (2.97) m0 + mi

Na denomina¸c˜aoadotada, H0 vem a denotar a parte do Hamiltoniano livre de per- turba¸c˜oes,enquanto que R se mostra como o potencial que adv´emdas intera¸c˜oesentre os N corpos, ou seja, a parte perturbativa: o primeiro termo ´ereferente `aperturba¸c˜aodireta, e o segunda, `aparte indireta. 52 Cap´ıtulo2. Fundamenta¸c˜aoTe´oricado Problema de N-corpos Cap´ıtulo 3

O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador

O problema geral de 3 corpos da MecˆanicaCeleste consiste em determinar as posi¸c˜oes e velocidades ao longo do tempo de trˆesmassas pontuais interagindo gravitacionalmente.

Seja tomada, ent˜ao,a seguinte configura¸c˜ao:considere um sistema de massas pontuais m0, m1 e m2, cujas posi¸c˜oes s˜aodefinidas pelos respectivos vetores R0, R1 e R2, relativos a um referencial inercial com origem em um ponto S arbitr´ario,conforme apresentado na Fig. 3.1.

Figura 3.1: Representa¸c˜aogr´aficado Problema de TrˆesCorpos, referenciado em um sistema inercial arbitr´ariode origem S.

Da Lei de Gravita¸c˜aode Newton, temos as acelera¸c˜oesde cada corpo, no referencial 54 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador dado:   ¨ R1 − R0 R2 − R0 R0 = G m1 3 + m2 3 , |R1 − R0| |R2 − R0|   ¨ R0 − R1 R2 − R1 R1 = G m0 3 + m2 3 , (3.1) |R1 − R0| |R2 − R1|   ¨ R0 − R2 R1 − R2 R2 = G m0 3 + m1 3 . |R2 − R0| |R2 − R1|

Em nosso estudo, utilizaremos do formalismo hamiltoniano apresentado no cap´ıtulo anterior. Assim, o Hamiltoniano desse sistema ´eescrito como:

2 2 2 2 2 P P P X X Gmimj H = 0 + 1 + 2 − , (3.2) 2m 2m 2m ∆ 0 1 2 i=0 j>i ij

˙ onde ∆ij = |Ri − Rj|, e Pi = miRi s˜aoos momentos lineares conjugados aos vetores Ri.

O Hamiltoniano (3.2) possui 9 graus de liberdade (em coordenadas retangulares, Xi,Yi,Zi, i = 0, 1, 2). Sabemos que ´eposs´ıvel reduzir o n´umero de graus de liberdade para 3(N - 1) = 6, se introduzirmos uma mudan¸cade referencial. Considere-se, ent˜ao,um sistema de referˆenciaastrocˆentrico, fixado sobre o corpo de massa m0. Nesse caso:

0 0 R1 = R1 − R0, P1 = P1 − P0 (3.3)

0 0 R2 = R2 − R0, P2 = P2 − P0 (3.4)

0 0 No entanto, (Ri, Pi) como definidos anteriormente n˜aoconstituem um conjunto de 0 ˙ 0 vari´aveis canˆonicas.Se computarmos os colchetes de Poisson [Xi, Xj], i, j = 0, 1, 2, facil- 0 ˙ 0 0 ˙ 0 mente veremos que s˜aodiferentes de zero (analogamente para [Yi , Yj ] e [Zi, Zj]) (Lemos, 2007; Ferraz-Mello, 2007). Dois sistemas de coordenadas canˆonicas aparecem como alternativas (conforme j´adiscutiu- se no cap´ıtulo2): o sistema de coordenadas astrocˆentricas de Poicar´e,e o sistema de co- ordenadas de Jacobi. O estudo a seguir ´edesenvolvido utilizando a abordagem de Jacobi. As rela¸c˜oes que definem as novas coordenadas s˜aodadas por:

r0 = 0,

r1 = R1 − R0, (3.5)

m0R0 + m1R1 r2 = R2 − , m0 + m1 conforme esquematizado na Fig. 3.2 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador 55

Figura 3.2: Representa¸c˜aogr´aficado sistema utilizando as coordenadas de Jacobi. O ponto CM indica a posi¸c˜aodo centro de massa de m0 e m1; ψ ´eo ˆanguloentre formado entre os vetores posi¸c˜aono sistema de Jacobi, r1 e r2; ri,j ´eo vetor de distˆancia entre os repectivos corpos i e j. (Figura retirada da tese de Doutoramento de Eduardo A. Ines.)

Os respectivos momentos conjugados s˜aoobtidos atrav´esda aplica¸c˜aoda condi¸c˜ao canˆonica:

X X Pi dRi = pi dri ⇒ i i

⇒ P0 dR0 + P1 dR1 + P2 dR2 = p1 dR1 − p1 dR0 + p2 dR2 m0 m1 − p2 dR0 − p2 dR1 m0 + m1 m0 + m1

Fazendo a correspondˆenciaentre os termos que carregam os mesmos diferenciais de posi¸c˜ao, encontraremos as express˜oesfinais para os momentos:

p0 = 0, m0 m1 p1 = −P0 − P2 = P1 − P2, (3.6) m0 + m1 m0 + m1

p2 = P2

Aplicando as transforma¸c˜oespara as coordenadas de Jacobi dadas por (3.6) e (3.7) sobre o Hamiltoniano (3.2), obt´em-se

 2  2 1 m0 1 m1 1 2 H = p1 + p2 + p1 − p2 + p2 2m0 m0 + m1 2m1 m0 + m1 2m2 Gm m Gm m Gm m − 0 1 − 0 2 − 1 2 (3.7) r1 |R2 − R0| |R2 − R1|

Analisando a Fig.3.2, vemos que:

m1 R2 − R0 = r2 − x0 = r2 + r1, m0 + m1 m0 R2 − R1 = r2 − x1 = r2 − r1, m0 + m1 56 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador

m1 m0 onde definiu-se x0 = − r1 e x1 = r1 m0+m1 m0+m1 Podemos, assim, reescrever o termo de energia potencial do hamiltoniano em termos das vari´aveis de Jacobi. E´ poss´ıvel encarar esse problema como a superposi¸c˜aode dois sistemas dinˆamicosde dois corpos. O primeiro ´edado pela intera¸c˜aogravitacional entre as massas m0 e m1, e o segundo pela intera¸c˜aoentre a massa m2 e o centro de massa do sistema m0 + m1. Reescrevemos o Hamiltoniano (3.2) como

H = HKep + R, (3.8)

onde HKep denota a parte kepleriana de nosso problema, i.e., a parte n˜ao-perturbada. Trata-se, exatamente, da superposi¸c˜aodos dois problemas de dois corpos. R vem a ser o termo originado pela perturba¸c˜aom´utuaentre os sistemas. Temos que:

 2   2  (m0 + m1) p1 Gm0m1 (m0 + m1 + m2) p2 Gm2(m0 + m1) HKep = − + − , (3.9) m0m1 2 r1 m2(m0 + m1) 2 r2 | {z } | {z } H1 H2 onde H1 e H2 denotam os Hamiltonianos respectivos de cada ‘sistema’ de dois corpos. Utilizando os elementos osculadores que surgem da an´alisedo problema de dois corpos, escrevemos Gm0m1 Gm2(m0 + m1) HKep = − − . (3.10) 2a1 2a2

Aqui, ai (i = 1, 2) ´eo semi-eixo maior descrito pela ´orbitael´ıpticado i-´esimocorpo, em rela¸c˜aoao centro de for¸carespectivo (m0 para o corpo m1; e o centro de massa de m0 e m1 para a massa m2). A parte da perturba¸c˜ao´edada por:

Gm (m + m ) Gm m Gm m R = 2 0 1 − 1 2 − 0 2 (3.11) m0 m1 |r2| |r2 − r1| |r2 + r1| m0+m1 m0+m1 | {z } | {z } (I) (II)

Atendo-nos ao senso de posicionamento adotado (Jacobi), identificamos as partes do po- tencial perturbador da seguinte maneira: (I) designa a parte direta, enquanto que (II) vem a ser a parte indireta da perturba¸c˜ao.Definimos, respectivamente, RD e RI tais que

R = RD + RI . Se¸c˜ao3.1. Expans˜aodo termo perturbador 57

3.1 Expans˜aodo termo perturbador

O potencial perturbador ´euma fun¸c˜aoextremamente complicada. Ele n˜aoapresenta uma forma concisa quando o expressamos em termos de elementos orbitais, o que nos obriga a escrevˆe-loem s´eriesde potˆencias.Tais s´eriespodem vir a apresentar problemas quanto `a convergˆenciapara os pontos do espa¸code fase. Um dos principais entraves reside no fato de que o potencial gravitacional diverge no caso em que a distˆanciaentre o corpo considerado e o corpo perturbador tende a zero: neste caso, ocorre a intersec¸c˜aodas ´orbitas,e n˜aoh´a convergˆenciadas s´eries. E´ bem verdade que o conceito de convergˆenciapara as s´eriesde potˆencia, especialmente no caso das expans˜oesde Laplace, se trata de uma quest˜aomuito mais estrita do que a ‘simples’ n˜aointersec¸c˜aodas ´orbitas(Ferraz-Mello, 1994). J´amencionamos, na introdu¸c˜ao,diversas referˆenciasque aparecem na literatura, apre- sentando metodologias de expans˜aodo termo perturbador. No prosseguimento deste tra- balho, nos propomos a desenvolver um resultado cl´assicodo m´etodo de Laplace, atrav´es de expans˜oesem s´eriesde Fourier.

3.1.1 Condi¸c˜aode aproxima¸c˜aodo par: close approach

Apresentamos, rapidamente, o crit´erioque aplicamos para garantir que os valores to- mados para os elementos orbitais de m1 e m2 n˜aoconduzissem a configura¸c˜oestais que ∆ = 0, atingindo a singularidade do potencial perturbador. Analisando a Fig. (3.2) e a express˜ao(3.11), percebe-se que estabelecer ∆ > 0 implica em se ter m0 |r2 − r1| > 0 (3.12) m0 + m1 Precisamente, a equa¸c˜aoacima equivale a  2 2 m0 2m0 r2 + r1 − r1 · r2 m0 + m1 m0 + m1

Simplificamos a nossa condi¸c˜aode n˜ao-singularidadepara

m0 |r2| > |r1| m0 + m1

O fator m0/(m0 + m1) ≤ 1, de forma que

m0 r1 ≤ r1 < r2 (3.13) m0 + m1 58 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador

Em termos dos valores absolutos dos vetores, queremos garantir que r2 > r1. Das leis cl´assicasde Kepler, sabemos que podemos escrever o m´odulodo vetor posi¸c˜aode uma ´orbitaplanet´ariacomo: a(1 − e2) r = , (3.14) 1 + e cos f onde f ´ea anomalia verdadeira dessa ´orbita. E´ f´acilperceber que o denominador da equa¸c˜aoacima varia dentro do intervalo 1 − e ≤ 1+e cos f ≤ 1+e. Para garantir que o dom´ınioconsiderado n˜aoinclua pontos que resultem em ∆ −→ 0, estabelecemos como crit´eriode verifica¸c˜ao:

2 2 a2(1 − e2) a1(1 − e1) γext = > = γint, (3.15) 1 + e2 1 − e1 no qual γint e γext designam quantidades que aqui denominamos de parˆametros interno e externo, respectivamente. A rela¸c˜ao(3.15) nada mais ´eque uma forma de garantir, ma- tematicamente, que o periastro caracter´ısticoda ´orbitaexterna seja maior que o apoastro da ´orbitainterna. A equa¸c˜ao(3.15) foi estabelecida como um crit´erio simples de verifica¸c˜aode poss´ıveis cen´ariosf´ısicos capazes de conduzir o problema ao caso (espec´ıfico)de singularidade ∆ =

0 (ou ' 0). Esclarecemos que os parˆametros γint e γext s˜aoquantidades cinem´aticas, e os argumentos utilizados para chegar `arela¸c˜ao(3.15) foram puramente geom´etricos. Na literatura, encontram-se textos que esclarecem, de maneira muito mais profunda, as confi¸c˜oesdinˆamicasde aproxima¸c˜aode ´orbitas,utilizando, entre outras ideias, o conceito das esferas de influˆenciade Hill (Chebotarev, 1967). Em (Ferraz-Mello, 1994), encontra-se um estudo mais elaborado e aprofundado acerca dos crit´eriosde convergˆenciapara a expans˜aode Laplace e da quest˜aoda singularidade da parte principal ∆−1 do potencial perturbador, problema que necessita tratar n˜aosomente o espa¸covetorial real, mas tamb´emo dom´ıniodos complexo C.

3.1.2 Primeira expans˜aoem s´eriesde Taylor: ´orbitasquase coplanares

Consideremos, a princ´ıpio,o termo principal da parte direta do potencial perturbador, ∆−1: 1 1 = . (3.16) m0 ∆ |r2 − r1| m0+m1 Neste primeiro passo, tratamos de expandir o potencial perturbador em torno de ´orbitas aproximadamente coplanares. Se¸c˜ao3.1. Expans˜aodo termo perturbador 59

Nas considera¸c˜oesabaixo, assumimos que r2 > r1: significa dizer que o corpo de massa m1 encontra-se numa ´orbitainterna, enquanto que m2 est´aem uma ´orbitaexterna. Temos que

   1/2 m0 m0 m0 |r2 − r1| = r2 − r1 · r2 − r1 m0 + m1 m0 + m1 m0 + m1 "  2 #1/2 2 m0 2 2m0 = r2 + r1 − r1 · r2 m0 + m1 m0 + m1

Tomamos r1·r2 = r1r2 cos ψ, onde ψ ´eo ˆanguloentre os dois vetores, conforme mostrado na Fig. 3.2. Definimos uma quantidade

Θ = cos ψ − cos(θ1 − θ2), (3.17)

onde θ1 = f1 + $1 e θ2 = f2 + $2 s˜aoas longitudes verdadeiras das massas m1 e m2, respectivamente; fi e $i,(i = 1, 2), designam a anomalia verdadeira e a longitude do pericentro. Reescrevemos

(  2 )−1/2 1 2 m0 2 2m0 = r2 + r1 − r1r2 [cos(θ1 − θ2) + Θ] (3.18) ∆ m0 + m1 m0 + m1

Para o prosseguimento desse desenvolvimento te´orico,definimos as seguintes quantida-

m1 m0 0 −1 des: = ε1, = ε2, ε1r1 = r e ε2r1 =r ˜1. Agora, expandimos a fun¸c˜ao ∆ m0+m1 m0+m1 1 em uma s´eriede Taylor em torno de Θ = 0 (isto equivale a expandir em torno de ´orbitas coplanares).

1 1 1 3 1 2 15 1 3 = − 3 r˜1r2Θ + 5 (˜r1r2Θ) − 7 (˜r1r2Θ) + ... ∆ ∆0 ∆0 2! ∆0 3! ∆0 ∞  i X (2i)! r˜1r2Θ 1 = , (3.19) (i!)2 2 ∆2i+1 i=0 0 onde

1 2 −1/2 = [˜r1 + r2 − 2˜r1r2 cos(θ1 − θ2)] (3.20) ∆0

3.1.2.1 Termos de inclina¸c˜ao

No desenvolvimento anterior, obtivemos uma expans˜aoem Taylor em torno de Θ = 0, admitindo que a inclina¸c˜aoentre os corpos ´esuficientemente baixa. Retornemos `a(3.17):

r · r cos ψ = 1 2 r1r2 60 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador

Tomemos o vetor r1. Temos que r1 = (x1, y1, z1), onde x1, y1 e z1 s˜aoas coordenadas cartesianas do corpo m1 com rela¸c˜aoa origem tomada em m0. De maneira an´aloga, x2, y2 e z2 s˜aoas coordenadas cartesianas de m2, agora com respeito ao centro de massa do bin´ario m0 + m1. Ent˜ao x x + y y + z z cos ψ = 1 2 1 2 1 2 . r1r2 Em termos de elementos orbitais:

x1 = cos Ω1 cos(ω1 + f1) − sin Ω1 sin(ω1 + f1) cos I1, r1 y1 = sin Ω1 cos(ω1 + f1) + cos Ω1 sin(ω1 + f1) cos I1, (3.21) r1 z1 = sin(ω1 + f1) sin I1, r1 onde ω1 ´eo argumento do pericentro, Ω1 ´ea longitude do nodo ascendente e I1 ´ea inclina¸c˜ao do plano orbital do corpo m1 relativo a um plano de referˆencia(arbitrariamente) definido.

Analogamente, obt´em-seas mesmas express˜oespara x2/r2, y2/r2 e z2/r2, com a devida modifica¸c˜aode identifica¸c˜aodas grandezas, com respeito `a´orbita externa.

Se assumimos que as inclina¸c˜oes I1, I2 das ´orbitass˜aoconsideravelmente pequenas, tomando sin Ii ' 0, i = 1, 2, vem que

cos ψ = [cos Ω1 cos(f1 + ω1) − sin Ω1 sin(f1 + ω1)][cos Ω2 cos(f2 + ω2) − sin Ω2 sin(f2 + ω2)]

+[sin Ω1 cos(f1 + ω1) + cos Ω1 sin(f1 + ω1)][sin Ω2 cos(f2 + ω2) + cos Ω2 sin(f2 + ω2)]

= cos(f1 + $1) cos(f2 + $2) + sin(f1 + $1) sin(f2 + $2)

Usando as defini¸c˜oesde θ1 e θ2, segue o resultado abaixo:

cos(θ1 − θ2) = cos θ1 cos θ2 + sin θ1θ2 = cos(f1 + $1) cos(f2 + $2)

+ sin(f1 + $1) sin(f2 + $2).

Ao constatarmos a igualdade entre as duas ´ultimasexpress˜oes, percebemos como, ao decidirmos expandir a fun¸c˜aoperturbadora em potˆenciasde Θ = cos ψ − cos(θ1 − θ2), estamos de fato aproximando o problema do caso coplanar (I1,I2 ' 0). Se, por outro lado, ignoramos tal aproxima¸c˜ao,e definimos as seguintes quantidades

I s = sin j , (3.22) j 2 I c = cos j , (3.23) j 2 Se¸c˜ao3.1. Expans˜aodo termo perturbador 61 ap´oslongo algebrismo, chegaremos `aexpress˜aodefinitiva para a quantidade Θ

2 2 Θ = 2s1s2c1c2 cos(f1 + $1 − f2 − $2 − Ω1 + Ω2) + (c1c2 − 1) cos(f1 + $1 − f2 − $2)

2 2 +s1s2 cos(f1 + $1 − f2 − $2 − 2Ω1 + 2Ω2) − 2s1s2c1c2 cos(f1 + $1 + f2 + $2 (3.24)

2 2 2 2 −Ω1 − Ω2) + c1s2 cos(f1 + $1 + f2 + $2 − 2Ω2) + c2s1 cos(f1 + $1 + f2 − 2Ω1)

Expandir a fun¸c˜aoperturbadora em potˆenciasde Θ significa expandir a mesma em potˆencias das inclina¸c˜oes.N˜ao´eo foco deste trabalho prosseguir tal an´alise.A express˜ao (3.24) pode ser aproveitada para estudos em trˆesdimens˜oes.

3.1.3 Segunda expans˜aoem s´eriesde Taylor e expans˜aoem s´eries de Fourier: ´orbitas quase circulares

−2i−1 Agora, expandimos ∆0 , definido em (3.20), em torno dos valores a1 e a2 definidos para os semi-eixos maiores das ´orbitas. Nesse caso, equivale a formalmente expandir ∆0 em torno de ´orbitasquase-circulares de raios a1 (ao redor da massa m0) e a2 (ao redor do baricentro de m0 e m1). Seja definida a quantidade

"  2 #1/2 2 r1 r1 2 1/2 Γ = 1 + ε2 − 2ε2 cos(θ1 − θ2) = (1 + x − 2x cos(θ1 − θ2)) , (3.25) r2 r2

−2i−1 tal que ∆0 = r2Γ. Expandindo a fun¸c˜aoΓ em uma s´eriede Taylor em torno da quantidade x0 = ε2α =α ˜, onde α = a1/a2,

  2   1 1 d 1 1 d 1 2 2i+1 = 2i+1 + 2i+1 |x=x0 (x − x0) + 2 2i+1 |x=x0 (x − x0) + ... Γ Γ0 dx Γ 2! dx Γ

p 2 2 e aqui definimos Γ0 = Γ |x=x0 = 1 + ε2α − 2ε2α cos(θ1 − θ2). Seja o operador diferencial d d D˜ = = (3.26) dx0 dα˜ e a diferen¸ca     r1 a1 a1 r1 a2 x − x0 = ε2 − = ε2 − 1 = ε2αδ r2 a2 a2 a1 r2 Temos ent˜aoque:   1 ˜ 1 2 ˜ 2 1 3 ˜ 3 1 2i+1 = 1 + ε2αδD + (ε2αδ) D + (ε2αδ) )D + ... 2i+1 (3.27) Γ 2! 3! Γ0 62 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador

Vemos que a quantidade Γ0 ´euma fun¸c˜aoperi´odicanas vari´aveis θ1 e θ2. Assim, a mesma pode ser expandida em s´eriesde senos e cossenos por meio do desenvolvimento de Fourier. Em geral, para um dado γ, tal que 0 < γ < 1, tem-se que (Laskar, 2005)

∞ ∞ 1 X 1 X (1 + γ2 − 2γ cos S)−s = b(k) cos kS = b(0) + b(k) cos kS, (3.28) 2 s 2 s s k=−∞ k=1

(k) onde bs s˜aoos coeficientes de Laplace (Brouwer e Clemence, 1961; Ferraz-Mello, 1983; Laskar e Robutel, 1995), dados pela expans˜aoda fun¸c˜aoperi´odicaem uma s´eriede Fourier de cossenos:

Z 2π (0) 1 2 −s bs (γ) = (1 + γ − 2γ cos S) dS, (3.29) π 0 Z 2π (k) 1 cos kS bs (γ) = ( 2 s dS (3.30) π 0 (1 + γ − 2γ cos S) Assim, ficamos com

∞ 1 1 (0) X (j) = b (˜α) + b (˜α) cos(j(θ − θ )), (3.31) Γ2i+1 2 (2i+1)/2 (2i+1)/2 1 2 0 j=1 e a expans˜aoresultante completa ´edada por

∞ n ∞ ! 1 X (ε2αδ) 1 (0) X (j) = D˜ n b (˜α) + b (˜α) cos(j(θ − θ )) (3.32) Γ2i+1 n! 2 (2i+1)/2 (2i+1)/2 1 2 n=0 j=1

Aplicando a expansˆaobinomial sobre a quantidade δ, vem que

 n n    n−k  n−k r1 a2 X n r1 a2 δn = − 1 = (−1)k (3.33) a1 r2 k a1 r2 k=0 onde n n! = k k!(n − k)! ´eo coeficiente binomial.

3.1.4 Coeficientes de Laplace

(k) Os coeficientes de Laplace bs (α) s˜aointroduzidos naturalmente como os coeficientes da s´eriede Laurent (Laskar e Robutel, 1995)

∞ 1 X (1 − αz)−s(1 − αz−1)−s = b(k)(α)zk (3.34) 2 s k=i∞ Se¸c˜ao3.1. Expans˜aodo termo perturbador 63

Anteriormente, os mesmos foram definidos como os coeficientes resultantes de uma ex- pans˜aoem s´eriesde Fourier de uma fun¸c˜aogeratriz espec´ıfica (equa¸c˜oes(3.29) e (3.30)). Al´emdessas express˜oes,os coeficientes de Laplace tamb´empodem ser relacionados `afun¸c˜ao hipergeom´etricade Gauss (Laskar e Robutel, 1995; S¨uliet al., 2004):

1 s(s + 1)...(s + k − 1) b(k)(α) = αk × 2 s k!  s(s + k) s(s + 1)(s + k)(s + k + 1)  × 1 + α2 + α4 + ... = 1(k + 1) 1 × 2(k + 1)(k + 2) s(s + 1)...(s + k − 1) = αkF (s, s + k, k + 1; α2), k!

F (a, b, c; z) designa a fun¸c˜aohipergeom´etricade argumento z. Para |z| < 1, ela ´edefinida pela s´eriede potˆencias ∞ n X (a)n(b)n z F (a, b, c; z) = , (3.35) (c) n! n=0 n onde (q)n ´eo s´ımbolo de Pochhammer, dado por  1, n = 0 (q)n = q(q + 1)...(q + n − 1) n > 0

Em (Laskar, 2005), ´eposs´ıvel encontrar express˜oespara os coeficientes generalizados (k) de Laplace bs,r (α), dados, em termos da fun¸c˜aohipergeom´etrica,por

1 s(s + 1)...(s + k − 1) b(k)(α) = αkF (r, s + k, k + 1; α2) para k ≥ 0, (3.36) 2 s,r k!

(k) (−k) e bs,r (α) = br,s (α) para k < 0. (3.37)

(k) k (k) Destacamos ainda uma importante propriedade desses coeficientes: bs (−α) = (−1) bs (α) (Laskar, 2005). (S¨uliet al., 2004) mostra que ´eposs´ıvel encontrar uma f´ormula expl´ıcitapara os coefi- cientes de Laplace e suas derivadas. Sejam Aj e Bi as seguintes quantidades:  1, j = 0, Aj = (3.38)  s(s+1)...(s+j−1)  j! , j > 0;  1, i = 0, Bi = (3.39) Qi−1 (s+k)(s+j+k)  k=0  Qi , i > 0. i! l=1(j+l) 64 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador

Ent˜ao,pode-se escrever: ∞ 1 X b(j)(α) = A αj B α2i (3.40) 2 s j i i=0 Derivando a equa¸c˜aoanterior em rela¸c˜aoa α, obt´em-sea express˜aoanal´ıticapara a n-´esimaderivada dos coeficientes de Laplace:

n ∞ d 1 X (j,n) bj(α) = A αj−n C B α2i, (3.41) dαn 2 s j i i i=0 onde l−1 (j,l) Y Ci = (2i + j − k) (3.42) k=0 Abaixo, algumas rela¸c˜oes´uteisentre os coeficientes de Laplace e suas derivadas (Laskar e Robutel, 1995; Murray e Dermott, 2000):

(−j) j bs = bs, (3.43)

(j) (j−1) (j) (j+1) Dbs = s(bs+1 − 2αbs+1 + bs+1 ), (3.44)

n (j) n−1 (j−1) n−1 (j) D bs = s(D bs+1 − 2αD bs+1

n−1 (j+1) n−2 j +D bs+1 − 2(n − 1)D bs+1), (3.45) onde n ≥ 2 na ´ultimaexpress˜ao,e D = d/dα ´eum operador diferencial.

3.1.5 Aproxima¸c˜aode ´orbitascoplanares

At´eaqui, em nosso estudo, realizamos a primeira expans˜aode ∆−1 em s´eriesde Taylor na vari´avel Θ, considerando uma rela¸c˜aoentre esta vari´avel e as pequenas inclina¸c˜oesdos planos orbitais das massas m1 e m2. Essa dependˆenciaem Θ est´aexpl´ıcitano termo da somat´oriade (3.19). Partiremos para uma particulariza¸c˜aono tratamento do problema, assumindo a con- figura¸c˜aona qual os corpos encontram-se em ´orbitascoplanares: Θ = 0, e portanto

ψ = θ1 − θ2 = f1 − f2 + ∆$, ∆$ = $1 − $2. Neste sentido, facilmente verifica-se que os termos para os quais i > 0 anulam-se em (3.19), restando somente o termo i = 0. Aplicando (3.32), considerando agora as ´orbitas coplanares, a expans˜aodo termo de distˆanciam´utuaentre as massas m1 e m2 fica dada Se¸c˜ao3.1. Expans˜aodo termo perturbador 65 por:

∞ n k    n−k  k−n−1 " 1 1 1 X X (−1) n n r1 r2 ˜ n 1 (0) = = (ε2α) D b1/2(˜α) ∆ r2Γ a2 n! k a1 a2 2 n=0 k=0 ∞ # X (j) + b1/2(˜α) cos jψ . (3.46) j=1 Agora, reescrevemos 1 cos jψ = [eijψ + e−ijψ], 2 √ onde i = −1 ´ea unidade imagin´aria. Lan¸camosm˜aodas expans˜aocl´assicade Fourier para o problema de dois corpos (Ferraz- Mello et al., 2006): ∞ r γ X eimf = Xγ,meikM . (3.47) a k k=−∞ γ,m As quantidades Xk s˜aoos coeficientes de Hansen, fun¸c˜oesda excentricidade do corpo or- bitante. Na equa¸c˜aoacima, M designa a anomalia m´edia.A mudan¸ca f → −f transforma γ,−m γ,m M → −M, de maneira tal que vale a rela¸c˜ao X−k = Xk . Facilmente ´eposs´ıvel chegar `asseguintes igualdades:

 r n−k  r k−n−1 ∞ ∞ 1 2 ij(f1−f2+∆$) X X n−k,j k−n−1,−j e = Xq1 (e1)Xq2 (e2) (3.48) a1 a2 q1=−∞ q2=−∞ ×ei(q1M1+q2M2+j∆$)  r n−k  r k−n−1 ∞ ∞ 1 2 −ij(f1−f2+∆$) X X n−k,−j k−n−1,j e = Xq1 (e1)Xq2 (e2)(3.49) a1 a2 q1=−∞ q2=−∞ ×ei(q1M1+q2M2−j∆$)

Considerando somente o somat´orioem j na expans˜aode (3.46), e tomando a parte real, tem-se

∞ " 1 X (j) X X b (˜α) Xn−k,j(e )Xk−n−1,−j(e ) cos(q M + q M + j∆$) 2 1/2 q1 1 q2 2 1 1 2 2 j=1 q1 q2 # X X n−k,−j k−n−1,j + Xq3 (e1)Xq4 (e2) cos(q3M3 + q4M4 − j∆$) . (3.50) q3 q4 Agora, a primeira parcela da parte direta do potencial perturbador ´eproporcional a

−1 r2 (verifique (3.11)), a qual, em termos dos coeficientes de Hansen, pode ser escrita como:

∞ " ∞ # 1 1  r −1 1 2 X −1,0 iq2M2 X −1,0 = = Xq2 (e2)e = 1 + Xq2 (e2) cos q2M2 (3.51) r2 a2 a2 a2 q2=−∞ q2=1 66 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador

Finalmente, temos a expans˜aocompleta para a parte direta:   " ∞ ∞ n ∞ k   Gm2 X −1,0 0 X X X (−1) n RD = (m0 + m1) 1 + Xq0 (e2) cos q2M2 − m1 a 2 n! k 2 0 n=0 q2=1 k=0 j=0 n   ∞ ∞ (ε2α) 1 X X × 1 − δ Xn−k,j(e )Xk−n−1,−j(e ) cos(q M + q M (3.52) 2 2 0,j q1 1 q2 2 1 1 2 2 q1=−∞ q2=−∞ ∞ ∞ ! # X X n−k,−j k−n−1,j ˜ (j) +j∆$) + Xq3 (e1)Xq4 (e2) cos(q3M1 + q4M2 − j∆$) Db1/2 . q3=−∞ q4=−∞

3.1.6 Coeficientes de Hansen

Os coeficientes de Hansen (Cefola, 1977) s˜aouma importante classe de fun¸c˜oes,frequen- temente utilizadas nos ˆambitos da MecˆanicaCeleste. S˜aodefinidos como os coeficientes de Fourier (Laskar, 2005) ∞ r n X eimf = Xn,m(e)eikM , (3.53) a k k=−∞ onde n, m e k s˜aointeiros positivos ou negativos, r ´eo m´odulodo raio vetor, a ´eo semi-eixo maior, e ´ea excentricidade, f a anomalia verdadeira e M a anomalia m´edia. Individualmente, tais coeficientes s˜aodados pela integral (Hughes, 1981)

Z 2π n n,m 1 r  Xk (e) = cos(mf − kM) dM. (3.54) 2π 0 a

n,m Particularmente, para k = 0, Xk (e) reduz-se a express˜oespolinomiais em e, 1/e, √ √ 1 − e2 e 1/ 1 − e2. Alguns resultados importantes da literatura (Laskar e Bou´e,2010), utilizados na implementa¸c˜aode nosso modelo, s˜aoapresentados a seguir. √ 1 − e2 − 1 X−1,0 = 1; X−1,1 = (3.55) 0 0 e e, para n ≥ 2, 2 ≤ m ≤ n

[(n−2−m)/2] 1 X (n − 2)! em+2l X−n,m = , (3.56) 0 (1 − e2)n−3/2 l!(m + l)!(n − 2 − m − 2l)! 2 l=0

−n,m X0 = 0, n ≥ 2, m ≥ n − 1. (3.57)

Para n ≥ 0 e 0 ≤ m ≤ n:

[n+1−m]/2 (n + 1 + m)! X (n + 1 − m)! em+2l Xn,m = (−1)m (3.58) 0 (n + 1)! l!(m + l)!(n + 1 − m − 2l)! 2 l=0 Se¸c˜ao3.1. Expans˜aodo termo perturbador 67

Nas express˜oesanteriores, [x] designa a parte inteira de x. As f´ormulas (3.55), (3.56), (3.57) e (3.58) s˜aode grande importˆancianeste trabalho: n,m todas foram implementadas em nosso modelo, a fim de se computar os coeficientes X0 −n,m (n ≥ 0) e Xk (n ≥ 2), 0 ≤ m ≤ n. Al´emdas express˜oesapresentadas anteriormente, encontramos na literatura outras for- mas de computa¸c˜aodos coeficientes de Hansen. Apresentamos a seguir duas metodologias que foram estudadas durante nossas atividades. (Breiter et al., 2004) apresentam as seguintes express˜oesrecursivas: e Xn,m = [(n + 1 − m)Xn,m+1 − (n + 1 + m)Xn,m−1], (3.59) 0 2m 0 0 2n + 1 n2 − j2 Xn,m = Xn−1,m − η2Xn−2,m, (3.60) 0 n + 1 0 n(n + 1) 0 √ onde η = 1 − e2. Neste caso, n˜aoh´arestri¸c˜oesquanto aos valores do ´ındice m. Toma-se como valores iniciais 1 3 3 X0,0 = 1,X1,0 = 1 + e2,X1,1 = − e, X2,0 = 1 + e2 0 0 2 0 2 0 2 Fora do arcabou¸code fun¸c˜oes anal´ıticas,pode-se tamb´emrecorrer ao m´etodos num´ericos de integra¸c˜ao.Para tanto, ao inv´esdo c´alculodireto da integral (3.54), ´eposs´ıvel utilizar as fun¸c˜oes de Cayley (Cayley, 1861; Ferraz-Mello, 2015), definidas como

Z 2π n (n) 1 a Es,r (e) = cos[sf + (r − s)M] dM. (3.61) 2π 0 r

(n) Se fazemos r − s = k, reescreve-se (3.61) como Es,s−k. Facilmente, vˆe-seque as fun¸c˜oes (n) −n,m de Cayley conectam-se com os coeficientes de Hansen atrav´esda rela¸c˜ao Em,m−k = Xk . A integral (3.61) ´efeita sobre a anomalia m´edia. Dentro dessas solu¸c˜oesaparecem expans˜oesem s´eriesde Taylor da solu¸c˜aoda equa¸c˜aode Kepler. Para evitar integra¸c˜oesque trabalhem resolvendo essa equa¸c˜ao,o que ´enumericamente dispendioso, pode-se integrar √ sobre as anomalias verdadeiras, via a express˜aocl´assica r2df = a2 1 − e2dM (da Silva Fernandes, 1996; Ferraz-Mello, 2013), e escreve-se

Z 2π n−2 (n) 1 a Es,s−k = cos[sf − kM] df. (3.62) 2π 0 r A raz˜ao a/r pode, ent˜ao,ser expressada em termos da anomalia verdadeira, atrav´esda equa¸c˜aoque define a elipse a(1 − e2) r = . (3.63) 1 + e cos f 68 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador

Escrevendo a anomalia m´ediaem fun¸c˜aoda anomalia excˆetrica u, fica-se com

M = u − e sin u, (3.64) que nada mais ´eque a equa¸c˜aode Kepler. Por fim, a anomalia excˆentrica pode ser escrita como fun¸c˜aoda anomalia verdadeira (Murray e Dermott, 2000) como

u r1 − e f  tan = tan . (3.65) 2 1 + e 2

A express˜aofinal para os coeficientes de Hansen ser´auma fun¸c˜aoda excentricidade e da anomalia verdadeira

Z 2π −n,m 1 1 n−2 Xk (e) = 2 n−3/2 (1 + e cos f) cos[mf − kM(u(f))] df. (3.66) 2π (1 − e ) 0 A equa¸c˜aoacima pode ser utilizada no desenvolvimentos dos m´etodos num´ericospara integra¸c˜ao(Press et al., 1993). Outros trabalhos importantes, e que tamb´emforam estudados ao longo do desenvol- vimento de nosso modelo, s˜aoencontrados em (Izsak et al., 1964; Giacaglia, 1987; Bra- nham, 1990; Laskar, 2005; Sadov, 2008). Neles, s˜aoapresentadas metodologias anal´ıticas e rela¸c˜oesrecursivas. n,m Para a computa¸c˜aode Xk , quando k > 0, utilizamos o m´etodo de von Zeipel-Andoyer (VZA) (Izsak et al., 1964; Cherniack, 1972; Hughes, 1981; Murray e Dermott, 2000), o qual expressa os coeficientes de Hansen como fun¸c˜oesdadas pela seguinte rela¸c˜ao

∞ n,m |m−k| X n,m 2σ Xk = e Yσ+ϕ,σ+χe , (3.67) σ=0

a,b onde ϕ = max(0, k − m) e χ = max(0, m − k). As quantidades Yc,d s˜aodenominados operadores de Newcomb (Chebotarev, 1967; Murray e Dermott, 2000).

n,m 3.1.6.1 Derivadas dXk /de

Desenvolver as equa¸c˜oesde movimento do sistema pressup˜oeresolver as equa¸c˜oes(2.61). Para tanto, ´enecess´ariodeterminar as respectivas derivadas parciais do Hamiltoniano, em rela¸c˜aoas vari´aveis independentes do problema. Tendo isto em mente, apresentamos abaixo as express˜oesutilizadas para as derivadas dos coeficientes de Hansen. Se¸c˜ao3.1. Expans˜aodo termo perturbador 69

n,m As derivadas dX0 /de foram calculadas diretamente das express˜oes(3.55) e (3.56), obtendo [(n−2−m)/2] d  3 2e X em+2l X−n,m = n − f + de 0 2 (1 − e2)n−1/2 n,l,m 2 l=0 [(n−2−m)/2] 1 X em+2l−1 f (m + 2l) , (3.68) 2(1 − e2)n−3/2 n,l,m 2 l=1 n ≥ 2, e [(n+1−m)/2] d (n + 1 + m)! X em+2l−1 Xn,m = (−1)n g (m + 2l) , (3.69) de 0 2(n + 1)! n,l,m 2 l=1 onde fn,l,m e gn,l,m designam os coeficientes de fatoriais que aparecem nas respectivas express˜oes,e em ambas as equa¸c˜oes,0 ≤ m ≤ n. Analogamente, derivando diretamente de (3.67), obtem-se  P∞ n,m 2σ−1  σ=1(2σ + |k − m|)Yσ+ι,σ+νe , se e = 0 e |k − m| = 0;  d n,m  X = e|k−m| P∞ (2σ + |k − m|)Y n,m e2σ (3.70) de k σ=1 σ+ι,σ+ν   n,m |k−m|−1  +|k − m|Yι,ν e , nos demais casos. Na f´ormula acima, ι =max(0, k − m) e ν =max(0, m − k).

3.1.7 Operadores de Newcomb

n,m A dependˆenciaem excentricidades dos coeficientes de Hansen Xk , k > 0, pode ser a,b explicitada em uma s´eriede potˆencias,com o aux´ıliodos operadores de Newcomb Yc,d , onde a, b, c e d s˜aovalores inteiros. Estes ´ultimos,por sua vez, podem ser calculados recursivamente (Hughes, 1981), utili- zando as seguintes equa¸c˜oes

a,b Y0,0 = 1, (3.71) a Y a,b = b − , (3.72) 1,0 2 para d = 0, a,b a,b+1 a,b+2 4cYc,0 = 2(2b − a)Yc−1,0 + (b − a)Yc−2,0 (3.73) e, para d 6= 0,

a,b a,b−1 a,b−2 a,b 4dYc,d = −2(2b + a)Yc,d−1 − (b + a)Yc,d−2 − (c − 5d + 4 + 4b + a)Yc−1,d−1 X 3/2 +2(c − d + b) (−1)j Y a,b . (3.74) j c−j,d−j j≥2 70 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador

a,b Ao utilizar-se as duas ´ultimas equa¸c˜oes,nota-se que Yc,d = 0 sempre que c ou d ´enegativo. a,b a,−b Al´emdisso, se d > c, ent˜aovale a rela¸c˜ao Yc,d = Yd,c . Isto adv´emdo fato de que a,b a,−b Xk = X−k .

3.2 Desenvolvimento do termo indireto

Na equa¸c˜ao(3.11), voltamos nossa aten¸c˜aopara a parte (II), o termo indireto do potencial perturbador. Fundamentalmente, trata-se de expandir a fun¸c˜ao    −1/2 1 1 1 2 r1 r1 = = 1 + ε + 2ε1 cos ψ . (3.75) p 2 2 1 r02 r2 + (ε1r1) + 2ε1r1r2 cos ψ r2 r2 r2 Em suma, o que fazemos ´eaplicar a mesma metodologia utilizada na expans˜aoda parte direta: expans˜aoem s´eriesde Taylor em torno de ´orbitasquase-circulares, seguida de expans˜aoem s´eriesde cossenos de Fourier, a qual nos conduzir´anovamente aos coeficientes de Laplace. h   i1/2 2 r1 r1 Chamaremos χ a quantidade 1 + ε + 2ε1 cos ψ , y = ε1(r1/r2) e y0 = ε1α. 1 r2 r2 A expans˜aofica:   1 0 1 2 02 1 3 03 1 = 1 + ε1αδD + (ε1αδ) D + (ε1αδ) D + ... (3.76) χ 2! 3! χ0

0 0 onde δ ´emesma quantidade que havia sido definida para a parte direta, α = ε1α, D = 0 02 0 1/2 d/dα , e χ0 = [1 + α + 2α cos ψ] . Novamente, temos uma fun¸c˜aoperi´odica em ψ, e pode-se expandir em s´eriesde Fourier. Fazemos a seguinte mudan¸cade vari´avel: α00 = −α0. Assim:

p 002 00 χ0 = 1 + α − 2α cos ψ.

Agora, utilizando a propriedade dos coeficientes de Laplace (Laskar, 2005) que garante

(k) k (k) que bs (−α) = (−1) bs (α), tem-se

∞ ∞ 1 1 (0) X (j) 1 (0) X (j) = b (α00) + b (α00) cos jψ = b (α0) + (−1)jb (α0) cos jψ (3.77) χ 2 1/2 1/2 2 1/2 1/2 0 j=1 j=1 e assim,

∞ n k    n−k  k−n " 1 X X (−1) n n r1 r2 0n 1 (0) 0 = (ε1α) D b1/2(α ) (3.78) χ n! k a1 a2 2 n=0 k=0 ∞ # X j (j) 0 + (−1) b1/2(α ) cos ψ . j=1 Se¸c˜ao 3.3. Longitudes m´edias 71

Utilizando os resultados deduzidos para a parte direta, obtemos a express˜aocompleta para a expans˜aoda parte indireta

∞ n ∞ k+j   n   ∞ ∞ Gm0m2 X X X (−1) n (ε1α) 1 X X n−k,j RI = − 1 − δ0,j Xq1 (e1) a2 n! k 2 2 n=0 k=0 j=0 q1=−∞ q2=−∞ ∞ ∞ k−n−1,−j X X n−k,−j k−n−1,j ×Xq2 (e2) cos(q1M1 + q2M2 + j∆$) + Xq3 (e1)Xq4 (e2) q3=−∞ q4=−∞ ! 0n (j) 0 × cos(q3M1 + q4M2 − j∆$) D b1/2(α ). (3.79)

3.3 Longitudes m´edias

´ E prefer´ıvel, ao inv´esdas anomalias m´edias Mi, trabalhar com as longitudes m´edias λi =

Mi +$i, i = 1, 2. Dessa maneira, o potencial perturbador ´edado em fun¸c˜aode argumentos que contˆem somente longitudes, o que significa que todos os ˆanguloss˜aotomados em rela¸c˜ao a mesma dire¸c˜aofixa. Assim:

cos(q1M1 − q2M2 + j∆$) = cos(q1λ1 − q2λ2 − q1$1 − q2$2 + j∆$),

cos(q1M1 − q2M2 − j∆$) = cos(q1λ1 − q2λ2 − q1$1 − q2$2 − j∆$).

Seja φ o argumento do cosseno que aparece na fun¸c˜aodo potencial perturbador, e que possui a forma geral

φ = g1λ1 + g2λ2 + g3$1 + g4$2 + g5Ω1 + g6Ω2. (3.80)

A condi¸c˜aosobre os coeficientes gi implica que seja satisfeita a seguinte rela¸c˜ao

6 X gi = 0. (3.81) i=1 A igualdade anterior ´eelementar no tratamento das expans˜oesdo potencial perturba- dor, se tratando de uma particularidade conhecida como propriedade de d’Alembert (ou caracter´ıstica de d’Alembert) (Murray e Dermott, 2000; Ferraz-Mello, 2007). 72 Cap´ıtulo3. O Problema de 3 Corpos - Expans˜aodo potencial perturbador Cap´ıtulo 4

Dinˆamicada Ressonˆancia

A fim de aplicarmos o formalismo hamiltoniano e os m´etodos da teoria canˆonicade perturba¸c˜oesno estudo de nosso problema, introduzimos os pares conjugados das vari´aveis de ˆangulo-a¸c˜ao,obtidos da solu¸c˜aoda equa¸c˜aode Hamilton-Jacobi para o problema de 2 corpos (caso planar) (Ferraz-Mello, 2007; Beaug´eet al., 2007)

m0m1 p √ M1,L1 = G(m0 + m1)a1 = β1 µ1a1; m0 + m1 m2(m0 + m1) p √ M2,L2 = G(m0 + m1 + m2)a2 = β2 µ2a2; m0 + m1 + m2 q 2 $1,G1 = L1 1 − e1; (4.1) q 2 $2,G2 = L2 1 − e2.

As express˜oes das a¸c˜oess˜aotamb´emchamadas vari´aveis modificadas de Delaunay. Pode-se mostrar que tal conjunto ´eobtido via transforma¸c˜aocanˆonicadas vari´aveis de Delaunay originais, tomadas para um sistema de referˆenciaque utiliza vari´aveis de Jacobi (Beaug´eet al., 2007). Como optamos por trabalhar utilizando somente vari´aveis angulares de longitude (ao inv´esdas anomalias) aplicamos uma transforma¸c˜aocanˆonica,de maneira tal a obter novas vari´aveis de ˆangulo-a¸c˜ao: √ λi; Li = βi µiai, (4.2) q 2 −$i; Li − Gi = Li(1 − 1 − ei ), (4.3) i = 1, 2.

Reescrevendo o termo kepleriano HKep em termos dessas vari´aveis, teremos

2 µ2β3 µ2β3 X µ2β3 H = − 1 1 − 2 2 = − i i (4.4) Kep 2L2 2L2 2L2 1 2 i=1 i 74 Cap´ıtulo4. Dinˆamicada Ressonˆancia

De maneira an´aloga,pode-se reescrever a parte do potencial perturbador como uma fun¸c˜ao R = R(Li,Gi; λi, $i) = RD + RI . Assim, inicialmente, temos um problema de quatro graus de liberdade: os quatro ˆangulos λ1,λ2, $1 e $2. O espa¸code fases, dado pelas vari´aveis de ˆanguloe o respectivo momento conjugado, possui portanto oito dimens˜oes. Com o intuito de investigar as contribui¸c˜oesde longo per´ıodo para a evolu¸c˜aodinˆamica do sistema, i.e., o movimento nos regimes secular e ressonante, os termos de curto per´ıodo (da ordem dos per´ıodos orbitais) foram removidos de R, tomando-se a m´ediaaritm´etica da perturba¸c˜aosobre os ˆangulosr´apidos λ1 e λ2. Na pr´atica,essa m´ediafoi tomada via inspe¸c˜aovisual, atrav´esda elimina¸c˜aodas contribui¸c˜oesao Hamiltoniano advindas de termos cujos argumentos dependessem das longitudes m´edias λi. Na literatura, tal metodologia ´ecomumente conhecida como “tesoura”, uma vez que, de fato, “cortam-se”os termos de curto-per´ıodo do Hamiltoniano. Na teoria canˆonicade perturba¸c˜oes,verifica-se que o m´etodo de “tesoura”coincide com a chamada m´ediaem primeira ordem em massa da teoria de s´eriesde Lie (Ferraz-Mello, 2007). Tomemos a parte direta do potencial perturbador. Separando as contribui¸c˜oesde dife- rentes regimes, ´eposs´ıvel escrever:

(sec) •RD - parte secular, em geral dada por termos que n˜aopossuem argumentos peri´odicos;

(lp) •RD - parte que cont´emargumentos de longo per´ıodo. Consideramos aqui os termos

que surgem ap´ostomar-se a m´ediasobre os ˆangulosr´apidos λ1eλ2, excluindo as combina¸c˜oescr´ıticas que caracterizam os casos ressonantes;

(cp) •RD - parte que cont´emtermos de curto per´ıodo em RD. Trata-se do conjunto de

todos os termos peri´odicosdependentes de ao menos um dos ˆangulosr´apidos(λ1, λ2),

e que n˜aoconstituem as combina¸c˜oescr´ıticas.Como temos que λi = nit + τ0,i, onde

ni ´eo movimento m´edioe τ0,i uma constante inicial, vemos que esses ˆangulosvariam

muito rapidamente, com per´ıodos que s˜aoda ordem dos per´ıodos orbitais T1 = 2π/n1

e T2 = 2π/n2, e por esse mtoivo, fala-se em ˆangulos r´apidosou ˆangulosde curto- per´ıodo (curto, quando comparados aos per´ıodos que caracterizam os demais modos de movimento t´ıpicosdo sistema); Se¸c˜ao 4.1. Termos seculares 75

(k) •RD - parte cr´ıtica, na qual temos o conjunto de termos peri´odicoscujos argumen- tos apresentam as combina¸c˜oescr´ıticasdos ˆangulosr´apidos,e que determinam as ressonˆancias.

As combina¸c˜oescr´ıticasque podem aparecer nos argumentos da perturba¸c˜aos˜aodadas na forma (p + q)λ2 − pλ1, e s˜aotais que d˜aoorigem aos pequenos divisores, quantidades definidas nominalmente pela rela¸c˜ao(p + q)n2 − pn1 ' 0. Os termos da pertuba¸c˜aoque podem gerar tais fatores s˜aoseparados, constituindo, portanto, o que denominamos de parte cr´ıtica. A m´ediatomada sobre os ˆangulosde curto per´ıodo fornece

Z 2π Z 2π (sec) (lp) 1 RD + RD = 2 RD dλ1 dλ2. (4.5) (2π) 0 0 Por simples inspe¸c˜aovisual, eliminamos as contribui¸c˜oesadvindas dos termos de curto per´ıodo, e separamos os termos cr´ıticose termos seculares e de longo-per´ıodo. Os termos nos quais o argumento depende somente de ∆$, ou que apresentem a combina¸c˜aocr´ıtica mencionada, saem como constantes em 4.5.

4.1 Termos seculares

Inclu´ımosnessa parte os termos que advˆem das contribui¸c˜oesde longo per´ıodo, junta- mente com os termos que s˜aotomados como constantes dentro do processo de integra¸c˜ao (4.5). Na parte secular, os argumentos do potencial perturbador n˜aodependem das longi- tudes m´edias.Ao calcular (4.5), facilmente verifica-se que os termos peri´odicosde (3.52) anulam-se na integra¸c˜ao,com excess˜ao`aquelescaracterizados por longos per´ıodos. S˜aoos termos para os quais qi = 0 (i = 1, 2, 3, 4) na equa¸c˜ao(3.52). Assim sendo,

 ∞ n ∞ k     (sec) Gm2 X X X (−1) n n 1 n−k,j RD = (m0 + m1) − m1 (ε2α) 1 − δ0,j X0 (e1) a2 n! k 2 n=0 k=0 j=0  k−n−1,j ˜ n (j) ×X0 (e2)D b1/2(˜α) cos j∆$ . (4.6)

Analogamente, a parte indireta secular fica

∞ n ∞ k+j     (sec) Gm0m2 X X X (−1) n n 1 n−k,j RI = − (ε1α) 1 − δ0,j X0 (e1) (4.7) a2 n! k 2 n=0 k=0 j=0 k−n−1,j 0n (j) 0 ×X0 (e2)D b1/2(α ) cos j∆$. 76 Cap´ıtulo4. Dinˆamicada Ressonˆancia

Nas equa¸c˜oesacima, vemos que a parte secular ´ereduzida a um problema unidimensi- onal, tendo por grau de liberdade a vari´avel ∆$ = $1 − $2. Em geral, j = 0 define o que chamamos, na se¸c˜aoanterior, de parte secular; para j > 0, tem-se a parte com argumentos de longo per´ıodo.

4.2 Termos ressonantes

No estudo das contribui¸c˜oesde longo per´ıodo do movimento do sistema, tomamos a m´edia do Hamiltoniano sobre as duas longitudes m´edias λ1 e λ2. Esse procedimento n˜ao´ev´alidoquando os corpos se movimentam com ´orbitasde per´ıodos comensur´aveis

(ou muito pr´oximasde uma dada comensurabilidade). Neste caso, λ1 e λ2 n˜aos˜aomais independentes, valendo a rela¸c˜ao T p + q 2 ' , (4.8) T1 p onde p e q s˜aovalores inteiros positivos. Sabemos que a m´ediasobre as longitudes ir´aeli- minar todos os termos cujo argumento depende de ao menos uma das longitudes, inclusive aqueles dentro do que denominamos combina¸c˜aocr´ıtica:(p + q)λ2 − pλ1. A comensura- bilidade dos per´ıodos orbitais ´edenominada ressonˆanciade movimentos m´edios(MMR - Mean Motion Resonance) (Michtchenko e Ferraz-Mello, 2001; Michtchenko et al., 2008a; Alves et al., 2016; Callegari et al., 2004). A integra¸c˜aodas equa¸c˜oesde movimento dos termos ressonantes (cr´ıticos)do Hamiltoniano introduzem nas solu¸c˜oesdo problema os chamados pequenos divisores (Ferraz-Mello, 2007), da forma pn1 − (p + q)n2 ' 0, os quais s˜aorespons´aveis por causar a divergˆenciadas solu¸c˜oes. A ressonˆancia ´enominalmente caracterizada pelos valores inteiros p e q. Mais especifi- camente, q denota a ordem da ressonˆancia.No desenvolvimento a seguir, apresentamos as express˜oesbuscando a generaliza¸c˜aodo fˆenomeno, ou seja, deixamos a ordem livre, com os resultados dados em termos de p e q. No fenˆomenode ressonˆancia,espera-se encontrar argumentos do potencial perturbador da forma gen´ericaΦ = (p + q)λ2 − pλ1 − g$1 − h$2, de tal forma que, satisfazendo a propriedade de d’Alembert,

p + q − p − g − h = 0 ⇒ g + h = q.

Analisando as express˜oesgerais do potencial perturbador, (3.52) e (3.79), percebe-se que os termos ressonantes aparecem para as combina¸c˜oescr´ıticas q1 = ±p e q2 = ∓(p + Se¸c˜ao4.2. Termos ressonantes 77

q). Ao abrirmos as somat´oriasem qi, considerando somente as combina¸c˜oesressonantes, teremos:

n−k,j k−n−1,−j n−k,j X−p (e1)Xp+q (e2) cos[(p + q)λ2 − pλ1 + p$1 − (p + q)$2 + j∆$] + Xp (e1)

k−n−1,−j n−k,−j k−n−1,j ×X−p−q (e2) cos[pλ1 − (p + q)λ2 − p$1 + (p + q)$2 + j∆$] + X−p (e1)Xp+q (e2)

n−k,−j k−n−1,j × cos[(p + q)λ2 − pλ1 + p$1 − (p + q)$2 − j∆$] + Xp (e1)X−p−q (e2) cos[(p + q)λ2

−pλ1 + p$1 − (p + q)$2 + j∆$]

n,m Usamos da propriedade de simetria dos coeficientes de Hansen, segundo a qual Xk = n,−m ´ X−k , juntamente com a paridade da fun¸c˜aocosseno. E poss´ıvel chegar a seguinte ex- press˜ao,mais contra´ıda,para as combina¸c˜oesressonantes:

n−k,j k−n−1,j 2(X−p (e1)X−p−q (e2) cos[(p + q)λ2 − pλ1 + p$1 − (p + q)$2 + j∆$] (4.9)

n−k,j k−n−1,j +Xp (e1)Xp+q (e2) cos[(p + q)λ2 − pλ1 + p$1 − (p + q)$2 − j∆$]).

Finalmente, as partes ressonantes direta e indireta do potencial perturbador s˜aoapre- sentadas abaixo: ∞ n k    (res) Gm1m2 X X (−1) n n n−k,0 k−n−1,0 RD = − (ε2α) Xp (e1)Xp+q (e2) cos[(p + q)λ2 − pλ1 a2 n! k n=0 k=0 ∞  ˜ n (0) X n−k,j k−n−1,j +p$1 − (p + q)$2]D b1/2(˜α) + X−p (e1)X−p−q (e2) cos[(p + q)λ2 − pλ1 j=1 n−k,j k−n−1,j +p$1 − (p + q)$2 + j∆$] + Xp (e1)Xp+q (e2) cos[(p + q)λ2 − pλ1 (4.10)   ˜ n (j) +p$1 − (p + q)$2 − j∆$] D b1/2(˜α) ;

∞ n k    (res) Gm0m2 X X (−1) n n n−k,0 k−n−1,0 RI = − (ε1α) Xp (e1)Xp+q (e2) cos[(p + q)λ2 − pλ1 a2 n! k n=0 k=0 ∞  0n (0) 0 X j n−k,j k−n−1,j +p$1 − (p + q)$2]D b1/2(α ) + (−1) X−p (e1)X−p−q (e2) cos[(p + q)λ2 − pλ1 j=1 n−k,j k−n−1,j +p$1 − (p + q)$2 + j∆$] + Xp (e1)Xp+q (e2) cos[(p + q)λ2 − pλ1 (4.11)   0n (j) 0 +p$1 − (p + q)$2 − j∆$] D b1/2(α ) .

4.2.1 Harmˆonicosressonantes

E´ f´acilenxergar que a combina¸c˜aocr´ıticageradora da ressonˆancia,e que d´aorigem aos pequenos divisores, ainda existe dentro do conjunto de seus m´ultiplosinteiros. Isto 78 Cap´ıtulo4. Dinˆamicada Ressonˆancia

´e: se pn1 − (p + q)n2 ' 0 ent˜ao N[pn1 − (p + q)n2] ' 0, N = 1, 2, 3, ...; e tais m´ultiplos dos pequenos divisores s˜aogerados pelos m´ultiplos da combina¸c˜aocr´ıtica, N[(p + q)λ2 − pλ1]. Denominaremos harmˆonicosressonantes de ordem N tais estruturas do argumento perturbador. Neste trabalho, mostraremos a necessidade de lev´a-losem considera¸c˜aoao se computar o Hamiltoniano. Uma vez que a regra de d’Alembert deve continuar sendo satisfeita, o argumento com- pleto da parte ressonante ´ereescrito como:

ϕ = N[(p + q)λ2 − pλ1 + p$1 − (p + q)$2] ± j∆$. (4.12)

O fator N ´eadicionado `aexpress˜aoressonante do potencial perturbador como um somat´orioque age sobre os argumentos dos cossenos e sobre os ´ındices inferiores dos coefi- cientes de Hansen (indicando, de fato, a influˆenciados harmˆonicossobre as potˆenciasdas excentricidades). Assim, por exemplo, a parte direta ´ereescrita como:

∞ n ∞ k   " (res) Gm1m2 X X X (−1) n n n−k,0 k−n1−1,0 RD = − (ε2α) XNp (e1)XN(p+q) (e2) (4.13) a2 n! k n=0 k=0 N=1 ∞ ˜ n (0) X n−k,j k−n−1,j × cos(N[(p + q)λ2 − pλ1 + p$1 − (p + q)$2])D b1/2(˜α) + X−Np (e1)X−N(p+q)(e2) j=1 n−k,j k−n−1,j × cos(N[(p + q)λ2 − pλ1 + p$1 − (p + q)$2] + j∆$) + XNp (e1)XN(p+q) (e2) ! # ˜ n (j) × cos(N[(p + q)λ2 − pλ1 + p$1 − (p + q)$2] − j∆$) D b1/2(˜α) , e analogamente obt´em-sea parte indireta contendo os termos harmˆonicos.

4.3 Estudo te´oricoda dinˆamica

Para a caracteriza¸c˜aoqualitativa da dinˆamicado problema, definimos o seguinte con- junto de vari´aveis canˆonicas

λ1,J1 = L1 + r(K1 + K2);

λ2,J2 = L2 − (1 + r)(K1 + K2);

(1 + r)λ2 − rλ1 − $1 = σ1,K1 = L1 − G1; (4.14)

(1 + r)λ2 − rλ1 − $2 = σ2,K2 = L2 − G2, onde r = p/q; σ1 e σ2 s˜aocomumente conhecidos como ˆangulosressonantes ou ˆangulos cr´ıticos. Introduzindo tais ˆangulos,os argumentos gen´ericosdo potencial perturbador Se¸c˜ao4.3. Estudo te´orico da dinˆamica 79

ressonante (p + q)λ2 − pλ1 + p$1 − (p + q)$2 ± j∆$ s˜aoreescritos como (p + q)σ1 + ((p + q) ± j)∆$. Redefinindo os argumentos ressonantes, em termos das novas quantidades, fica-se com

ϕ0 = qσ1 + (p + q)∆$, (4.15)

(j) ϕ1 = Nqσ1 + [N(p + q) + j]∆$, (4.16) (j) ϕ2 = Nqσ1 + [N(p + q) − j]∆$, (4.17) e reescrevemos a parte ressonante como

∞ n ∞ k   (res) Gm2 X X X (−1) n nh R = − α In,k,N (α, e1, e2; ε1, ε2) cos Nϕ0 (4.18) a2 n! k n=0 k=0 N=1 ∞ X (1) (j) (2) (j)i + Jn,k,N,j(α, e1, e2; ε1, ε2) cos ϕ1 + Jn,k,N,j(α, e1, e2; ε1, ε2) cos ϕ2 , j=1

(1) (2) ˜ onde In,k,N , Jn,k,N,j e Jn,k,j s˜aofun¸c˜oesdos elementos orbitais, atrav´esdos operadores D e D0 e dos coeficientes de Hansen, e s˜aodadas em termos dos ´ındices n, k, N e j, e dos parˆametros ε1 e ε2, atrav´esdas seguintes equa¸c˜oes:

h i n−k,0 k−n−1,0 n ˜ n (0) n 0n (0) 0 In,k,N = XNp (e1)XN(p+q) (e2) m1ε2 D b1/2(˜α) + m0ε1 D b1/2(α ) (4.19) h i (1) n−k,j k−n−1,j n ˜ n (j) j n 0n (j) 0 Jn,k,N,j = X−Np (e1)X−N(p+q)(e2) m1ε2 D b1/2(˜α) + (−1) m0ε1 D b1/2(α ) (4.20) h i (2) n−k,j k−n−1,j n ˜ n (j) j n 0n (j) 0 Jn,k,N,j = XNp (e1)XN(p+q) (e2) m1ε2 D b1/2(˜α) + (−1) m0ε1 D b1/2(α ) (4.21)

Notamos que o Hamiltoniano, escrito em termos das vari´aveis de ressonˆancia,n˜ao depender´aexplicitamente dos ˆangulosde curto per´ıodo λ1 e λ2. Consequentemente, as a¸c˜oesconjugadas a esses ˆanguloss˜aointegrais de movimento do sistema:

J1 = L1 + r(K1 + K2) = const,

J2 = L2 − (1 − r)(K1 + K2) = const. (4.22)

A combina¸c˜aolinear dessas duas integrais resulta ainda em uma constante

(1 + r)L1 + rL2 = (1 + r)J1 + rJ2 = K = const. (4.23) denominada parˆametro de espa¸camento (Michtchenko e Ferraz-Mello, 2001; Michtchenko et al., 2008a; Alves et al., 2016). K ´euma integral de movimento do sistema ressonante: 80 Cap´ıtulo4. Dinˆamicada Ressonˆancia

implica no fato de os semi-eixos maiores a1 e a2 oscilarem em anti-fase, e com amplitudes que s˜aoinversamente proporcionais `asmassas dos corpos orbitantes. Al´emdisso, temos tamb´emque

J1 + J2 = G1 + G2 = AM = const, (4.24) que ´eo momento angular total do sistema, tamb´emuma integral de movimento. Quando eliminamos os ˆangulosde curto per´ıodo, e escrevemos o potencial perturba- dor em termos dos ˆanguloscr´ıticos,percebemos que, de um problema inicial de quatro graus de liberdade (λ1, λ2, $1 e $2), reduziu-se o sistema a somente dois graus, com os outros dois graus vinculados atrav´esdas integrais K e AM. Isso implica que a estrutura do espa¸code fases ´edefinida, ent˜ao,por dois ˆangulosconjugados a duas a¸c˜oes(espa¸co quadridimensional).

4.3.1 Evolu¸c˜aotemporal dos elementos

A invariˆanciade K e de AM tem importantes consequˆenciassobre a evolu¸c˜aoorbital do sistema. J´amencionamos que, ap´osprocessar-se a m´edia,no conjunto de vari´aveis

(L1,L2,G1,G2) (ou de elementos (a1, a2, e1, e2)), somente duas s˜aoindependentes, e o problema ressonante planar possui assim dois graus de liberdade, com dois modos de movimento caracter´ısticos. Um deles ´edefinido como modo secular, e est´aassociado ao ˆangulosecular ∆$ (Michtchenko e Ferraz-Mello, 2001). O outro vem a ser o modo ressonante, caracterizado pela libra¸c˜aodo ˆanguloresso- nante. Pela defini¸c˜ao,∆$ = σ2 − σ1, o que significa que somente um dos ˆangulos cr´ıticos ´eindependente (o outro ´e,logicamente, definido pelo v´ınculo).Podemos nos referir, espe- cificamente, a um ˆanguloressonante verdadeiro do sistema (Alves et al., 2016). A quest˜ao a ser respondida, ent˜ao,´equal dos ˆanguloscr´ıticos desempenha esse papel. Trataremos mais sobre esse assunto na pr´oximasess˜ao. Por ora, atentamos para a evolu¸c˜aodinˆamicado sistema. Assumiremos, na formula¸c˜ao a seguir, (σ1, ∆$) como o conjunto de vari´aveis angulares independentes.

Em termos das a¸c˜oes cl´assicasde Delaunay, (L1,G1) formam o conjunto independente

(em termos de elementos, (a1, e1)). Os v´ınculosque fornecem a rela¸c˜aoentre os elementos Se¸c˜ao4.3. Estudo te´orico da dinˆamica 81 orbitais dependentes vˆempelas equa¸c˜oes(4.23) e (4.24).

2 [K − (1 + r)L1] a2 = 2 2 , (4.25) µ2r β2 s 2 (AM − G1) e2 = 1 − 2 . (4.26) L2 Utilizando a condi¸c˜aode canonicidade, derivamos as respectivas a¸c˜oesconjugadas `as vari´aveis angulares, obtendo (em termos somente de L1 e G1) as novas a¸c˜oesΛ1 e Λ2: K − L σ , Λ = K + K = 1 − AM; (4.27) 1 1 1 2 r K − (1 + r)L ∆$, Λ = K = G + 1 − AM. (4.28) 2 2 1 r As equa¸c˜oes de Hamilton fornecem a evolu¸c˜aotemporal das vari´aveis canˆonicas: dσ ∂ dΛ ∂ 1 = < H >, 1 = − < H >; dt ∂Λ1 dt ∂σ1 d∆$ ∂ dΛ ∂ = < H >, 2 = − < H > . (4.29) dt ∂Λ2 dt ∂∆$ Aplicamos, nos pr´oximosdesenvolvimentos, a seguinte propriedade: seja tomada uma

2 fun¸c˜ao f(y1, y2) deriv´avel qualquer, tal que f : R → R, e seja uma transforma¸c˜aoar- bitr´ariadefinida por

x1 = x1(y1, y2), (4.30)

x2 = x2(y1, y2), (4.31) tal que possamos escrever f(x1, x2) = f(x1(y1, y2), x2(y1, y2)). Tome-se a fun¸c˜aoinversa −1 g dessa transforma¸c˜ao, g(y) = x = g(y1(x1, x2), y2(x1, x2)), e agora, pode-se escrever f(x1, x2) = f ◦ g = f(g(y1, y2)). Derivando a fun¸c˜ao f em rela¸c˜aoa x1, obt´em-se: ∂f ∂f ∂y ∂f ∂y = 1 + 2 . ∂x1 ∂y1 ∂x1 ∂y2 ∂x1

Analogamente ocorre para as derivadas em rela¸c˜aoa x2. Seja definido, ent˜ao,um operador da deriva¸c˜aoinversa, ∂ X ∂yj ∂ = . ∂x ∂x ∂y i j i j

Temos, em nosso problema, Λ1 = Λ1(L1,G1) e Λ2 = Λ2(L1,G1). Escrevendo as ex- press˜oesinversas:

L1 = L1(Λ1, Λ2) = K − r(Λ1 + AM), (4.32)

G1 = G1(Λ1, Λ2) = K − r(Λ1 + AM) − Λ1 + Λ2. (4.33) 82 Cap´ıtulo4. Dinˆamicada Ressonˆancia

Aplicando a equa¸c˜aoobtida para a derivada da fun¸c˜aoinversa, teremos que ∂ ∂ ∂ = −r − (r + 1) , (4.34) ∂Λ1 ∂L1 ∂G1 ∂ ∂ = . (4.35) ∂Λ2 ∂G1 Agora, se utilizamos as defini¸c˜oesdas a¸c˜oesde Dalaunay, ´eposs´ıvel repetir os passos anteriores para obter as fun¸c˜oesinversas que nos fornecem os elementos independentes a1 = a1(L1,G1) e e1 = e1(L1,G1). As rela¸c˜oesentre os operadores de derivadas parciais s˜aodadas por

−1/2 2 "  2# ∂ 2L1 ∂ G1 G1 ∂ = 2 + 3 1 − , (4.36) ∂L1 µ1β1 ∂a1 L1 L1 ∂e1 "  2#−1/2 ∂ G1 G1 ∂ = − 2 1 − . (4.37) ∂G1 L1 L1 ∂e1 Computar as derivadas do Hamiltoniano m´ediotorna-se uma tarefa mais direta se operamos as derivadas em termos dos elementos orbitais, uma vez que < H > ´enaturalmentes escrito como fun¸c˜aodesses elementos. As express˜oesacima s˜aoaplicadas na determina¸c˜aoda evolu¸c˜aodas vari´aveis angulares. Voltando para as equa¸c˜oesde Hamilton, podemos reescrever a evolu¸c˜aotemporal das a¸c˜oescanˆonicas: dΛ 1 dL µ β rµ da 1 = − 1 = − 1 1 1 1 , (4.38) dt r dt 2r a1 dt dΛ dG (1 + r) dL 2 = 1 − 1 = dt dt r dt e L de β rµ q (1 + r) da = − 1 1 1 + 1 1 1 − e2 − 1 , (4.39) p 2 dt 2 a 1 r dt 1 − e1 1 e invertendo as rela¸c˜oesobtemos as express˜oespara a evolu¸c˜aotemporal dos elementos orbitais: da 2rr a ∂ 1 = 1 < H >, (4.40) dt β1 µ1 ∂σ1 p 2  q  de1 1 − e1 ∂ 2 ∂ = − √ − < H > −(r 1 − e1 + 1 + r) < H > . (4.41) dt e1β1 µ1a1 ∂∆$ ∂σ1 O mesmo tratamento que aplicamos anteriormente ´eadotado se optamos por tomar

(σ2, ∆$) como as vari´aveis angulares independentes, nesse caso levando em considera¸c˜ao as devidas altera¸c˜oesnas rela¸c˜oes(4.25) e (4.26), e as implica¸c˜oesem se tomar a2 e e2 como os novos elementos independentes. Se¸c˜ao4.4. Determina¸c˜aodo regime de ressonˆancia:o ˆanguloressonante ‘verdadeiro’ 83

4.4 Determina¸c˜aodo regime de ressonˆancia:o ˆangulo ressonante ‘verdadeiro’

Abordamos o conceito de ˆanguloressonante verdadeiro, conforme exposto em (Alves et al., 2016). Mencionamos que, para o problema ressonante planar, os dois graus de liber- dade possuem dois modos pr´opriosde movimento, um secular e outro ressonante, sendo este ´ultimocaracterizado pela libra¸c˜ao do ˆangulorespectivo, i.e., o ˆangulocr´ıticocarac- ter´ısticodesse modo. Da rela¸c˜aode v´ınculoentre as vari´aveis angulares, σ2 − σ1 = ∆$, tem-se que, enquanto o ˆanguloressonante descreve um movimento de libra¸c˜ao,o outro ˆangulocr´ıticoir´aapresentar um regime de circula¸c˜ao/oscila¸c˜ao, juntamente com o ˆangulo secular. Dependendo das condi¸c˜oesdinˆamicasque caracterizam o sistema, a libra¸c˜aopode ocorrer para o ˆangulointerno (σ1) ou para o ˆanguloexterno (σ2), e convencionou-se de- nominar os regimes de ressonˆanciainterior, para o primeiro caso, e ressonˆanciaexterior para o segundo (Michtchenko et al., 2008b). Com isso em mente, apresentamos nesta se¸c˜aouma metodologia elaborada para uma determina¸c˜ao“pr´evia”doregime de ressonˆanciade um sistema. N˜aofizemos uso, pro- priamente, do modelo de Hamiltoniano m´ediodesenvolvido neste trabalho. Mas utiliza- mos o mesmo conceito das expans˜oesem s´eriesde potˆencias, e aplicamos as quantidades matem´aticasapresentadas no cap´ıtuloanterior (a saber, os coeficientes de Hansen e de Laplace). Explicamos a ideia principal, invocando o caso-limite da dinˆamicade ressonˆanciapara o problema de trˆescorpos restrito. No caso de um asteroide cuja ´orbitaevolui dentro de um cen´ariode ressonˆanciacom J´upiter,o ˆanguloque libra ´eo ˆangulocr´ıticointerno (σ1). No entanto, para o caso de objetos localizados no cintur˜ao de Kuiper (transnetunianos), e que se encontram em ressonˆancia com Netuno, o ˆanguloressonante ´eo externo (σ2). Quando muda-se o panorama do sistema, trabalhando com intera¸c˜oesentre planetas de massas consider´aveis, a dinˆamicaapresenta consequˆenciasmais complexas (Michtchenko et al., 2008a,b): para um corpo externo mais massivo, a situa¸c˜ao´esimilar `aressonˆancia asteroidal, e o ˆangulointerno σ1 libra. Contudo, quando o corpo interno ´eo mais massivo, ambas as configura¸c˜oesressonantes s˜aoposs´ıveis. Levando em conta tais informa¸c˜oes,concebemos o seguinte recioc´ınio: determinar o ˆanguloressonante pressup˜oedeterminar qual das massas orbitantes sofre maior influˆencia 84 Cap´ıtulo4. Dinˆamicada Ressonˆancia em decorrˆenciadas perturba¸c˜oes. Ent˜ao,tomamos as equa¸c˜oesde movimento newtonianas, para o problema de trˆes corpos descrito em coordenadas de Jacobi. Tais equa¸c˜oesest˜aoexpostas no ApˆendiceA. Vamos utilizar os resultados ali derivados, mas considerando a nota¸c˜aoadotada at´eaqui.

As equa¸c˜oes de movimento para as massas m1 e m2 s˜ao,respectivamente,: r  m m  ¨ 1 ¨ 0 1 r1 + µ1 3 = F1, r2 +µ ˜2 3 + 3 r2 = F2, (4.42) r1 ∆02 ∆ onde definem-se as quantidadesµ ˜2 = G(m0 + m1 + m2)/(m0 + m1), ∆02 = |r2 + ε1r1|; F1 e F2 s˜aoos termos de acelera¸c˜aogerados pela perturba¸c˜ao:     Gm2 m0 m1 1 1 F1 = − 3 + 3 r1 + Gm2 3 − 3 r2, (4.43) m0 + m1 ∆ ∆02 ∆ ∆02  1 1  F2 = −µ˜2β1 3 − 3 r1. (4.44) ∆02 ∆

Podemos separar as parcelas advindas das intera¸c˜oesdiretas e indiretas, e tem-se F1 =

F1,d + F1,i e F2 = F2,d + F2,i, onde Gm r F = 2 (r − ε r ),F =µ ˜ β 1 ; (4.45) 1,d ∆3 2 2 1 2,d 2 1 ∆3 Gm2 r1 F1,i = − 3 (r2 + ε1r1),F2,i = −µ˜2β1 3 , (4.46) ∆02 ∆02 e os sub´ındices d e i significam direta e indireta, respectivamente. Nesse estudo mais simples, queremos comparar a intensidade das acelera¸c˜oesa que s˜ao submetidas as massas m1 e m2. Tomando o m´odulo de F1, por exemplo, vem que: 1 1 |F1| = Gm2 | 3 (r2 − 2r1) − 3 (r2 + 1r1) |= (4.47) ∆ ∆02  1 1 1 1  = Gm2 4 + 4 − 2 3 3 (r2 − ε2r1) · (r2 + ε1r1) ∆ ∆02 ∆ ∆02 Usamos os m´etodos explicados nas se¸c˜oesanteriores para expandir as express˜oes(4.43) e (4.44). Adotamos como primeira aproxima¸c˜aoexpandir somente a parte direta das equa¸c˜oes. Assim o fizemos pois esta parte do trabalho ´eapresentada apenas como um estudo preliminar, com a inten¸c˜aode averiguar uma (possibilidade de) aplicabilidade do modelo. Um estudo mais detalhado, no entanto, ´eessencial para atestar os resultados derivados daqui. Tomando o m´odulodas quantidades referidas, obtemos Gm µ˜ β |F | = 2 , |F | = 2 1 r (4.48) 1,d ∆2 2,d ∆3 1 Se¸c˜ao4.4. Determina¸c˜aodo regime de ressonˆancia:o ˆanguloressonante ‘verdadeiro’ 85

2 3 Ent˜ao,vemos que a tarefa consiste em expandir 1/∆ e r1/∆ . Utilizando resultados apresentados no cap´ıtuloanterior, sabemos que

∞ n " ∞ # 1 1 1 1 X (ε2αδ) 1 (0) X (j) = = D˜ n b (˜α) + b (˜α) cos ψ , (4.49) ∆ r Γ2i+1 r n! 2 (2i+1)/2 (2i+1)/2 2 2 n=0 j=1 onde ψ vem a ser o ˆanguloentre os vetores posi¸c˜ao r1 e r2, e i assume somente valores inteiros. Relembramos que Γ ´ea fun¸c˜aodefinida por (3.25). Aqui, adotamos a segunda aproxima¸c˜ao:sem o advento da demonstra¸c˜ao,utilizamo a rela¸c˜aode desigualdade: 1  1 2 < > ≤ < > , (4.50) ∆2 ∆ i.e., a m´ediado quadrado ´emenor ou no m´aximoigual ao quadrado da m´edia. Isso foi feito pois n˜aoh´acomo aplicar a expans˜aoem coeficientes de Laplace, com as f´ormulas apresentadas, no caso de ∆−2 (o expoente 2 implicaria em i = 1/2, o que n˜ao´eposs´ıvel, pois j´aafirmamos que i assume somente valores inteiros). Ent˜ao,repetindo resultados anteriores, ficamos com

( ∞ n k    n−k  k−n−1 " 1 1 X X (−1) n n r1 r2 ˜ n 1 (0) 2 = 2 α˜ D b1/2(˜α) (4.51) ∆ a n! k a1 a2 2 2 n=0 k=0 ∞ #)2 X (j) + b1/2(˜α) cos ψ . j=1

A expans˜aopara F2,d vem de forma mais direta:

∞ n k    n−k+1  k−n−3 " r1 a1 X X (−1) n n r1 r2 ˜ n 1 (0) 3 = 3 α˜ D b3/2(˜α) (4.52) ∆ a n! k a1 a2 2 2 n=0 k=0 ∞ # X (j) + b3/2(˜α) cos jψ j=1 m As quantidades (ri/ai) e cos ψ s˜aoexpandidas utilizando os coeficientes de Hansen.

Tomamos a m´ediasobre os ˆangulosde curto per´ıodo λ1 e λ2, e para o caso de < F1,d >, aplicamos a desigualdade assumida para as m´edias.Para ambas as perturba¸c˜oes,ficamos no final com express˜oesseparadas para os termos seculares e ressonantes, de maneira an´alogaao que hav´ıamosobtido para o potencial perturbador m´edio < R >. Nesta metodologia adotada, o regime de ressonˆancia´edeterminado da seguinte forma:

(sec) (res) (sec) (res) se | < F1,d > | = |F1,d + F1,d | > |F2,d + F2,d | = | < F2,d > | ⇒

⇒ σ1 ressonante; (4.53)

(sec) (res) (sec) (res) se | < F1,d > | = |F1,d + F1,d | < |F2,d + F2,d | = | < F2,d > | ⇒ σ2 ressonante 86 Cap´ıtulo4. Dinˆamicada Ressonˆancia Cap´ıtulo 5

Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes

Neste cap´ıtulo, apresentamos os testes de convergˆenciarealizados para a valida¸c˜ao do modelo anal´ıticoapresentado nos cap´ıtulosprecedentes. Ao final, apresentamos uma aplica¸c˜aopreliminar. O modelo proposto pelas equa¸c˜oes(4.6), (4.7) e (4.18) foi implementado em c´odigo Fortran 90. Realizaram-se testes quanto a convergˆenciadessas express˜oes,visto que se tratam de s´eries- teoricamente - infinitas. O principal padr˜ao utilizado na avalia¸c˜aodos resultados foi a compara¸c˜aoentre as computa¸c˜oesgeradas atrav´esdo modelo proposto e aquelas obtidas via modelo semi-anal´ıtico, o qual j´ahavia sido desenvolvido e validado pelo grupo de Astronomia Dinˆamicado Departamento de Astronomia do IAG. E´ necess´ario,antes de tudo, definir os parˆametrosf´ısicose as condi¸c˜oesiniciais para o problema. E´ de nosso interesse, em particular, o estudo de sistemas dentro ou pr´oximos`a ressonˆancia3:1. Isto significa estabelecer p + q = 3, onde p = 1 e q = 2, ou seja: tratamos de uma ressonˆanciade segunda ordem. Tendo em perspectiva aplica¸c˜oesao estudo do sistema de Plut˜aoe suas duas primeiras luas (Caronte e Styx), utilizou-se os seguintes valores de massas e semi-eixos: m0 = 1.3029· 22 10 kg e a1 = 19597 km, os quais vˆema ser os valores de massa de Plut˜aoe do semi- eixo da ´orbitade Caronte em rela¸c˜aoa Plut˜ao(Brozovi´cet al., 2015), respectivamente;

19 m1 = 1.5864 · 10 kg, valor que ´eequivalente a 1% da massa gravitacional do sat´elite

Caronte (Brozovi´cet al., 2015). O semi-eixo da ´orbitaexterna, a2, ´etomado de tal modo que se tenha o sistema, inicialmente, dentro da ressonˆanciaexata, i.e., n1/n2 = (p + q)/p

(= 3/1, neste caso). Em todos os testes aplicados, a raz˜aode massas m2/m1 foi mantida unit´aria,exceto nos casos em que indicamos outro valor. Utilizando a rela¸c˜ao(4.8), ´e 88 Cap´ıtulo5. Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes poss´ıvel chegar a seguinte equa¸c˜ao

" 2 #1/3 p + q µ2 a2 = a1 , p µ1 que determina o valor nominal para a2 dentro da ressonˆanciaexata (j´aexplicamos que, em nosso trabalho, chamamos ressonˆancia‘exata’ ao caso em que verifica-se a igualdade n1/n2 = (p + q)/p). Para o caso m2 = m1, e fazendo p = 1 e q = 2, obt´em-se a2 ' 40736 km.

5.1 An´alisede convergˆencia

5.1.1 Modelo padr˜aode compara¸c˜ao

Explicamos, em linhas gerais, o funcionamento do modelo semi-anal´ıticoque usamos como padr˜aode compara¸c˜aoneste trabalho. Nele, o Hamiltoniano m´edio´ecomputado tamb´emem c´odigoFortran, atrav´esde uma m´edianum´ericaefetuada sobre o ˆangulo sin´odico Q = (λ1 − λ2)/q (Beaug´ee Michtchenko, 2003; Michtchenko et al., 2006). As quantidades r/a s˜aoobtidas atrav´esda f´ormula r = a(1 − e cos u), onde u denota a ano- malia excˆentrica, que ´ecomputada atrav´esda solu¸c˜aoda equa¸c˜aode Kepler ( onde toma-se u0 = M como primeira aproxima¸c˜ao. As anomalias m´edias,nesse modelo, vˆematrav´esdas rela¸c˜oes

M1 = σ1 + (p + q)Q,

M2 = σ2 + pQ.

As anomalias verdadeiras s˜aoobtidas de " # r1 + e u f = 2 arctan tan . (5.1) 1 − e 2

As distˆanciasm´utuas∆ e r02 s˜aocalculadas atrav´esdas rela¸c˜oesvetorias envolvendo r1, r2 e o ˆangulo ψ = f1 + f2 − ∆$ (Cap. 3). Nas se¸c˜oesa seguir, analisamos a convergˆenciado modelo anal´ıtico, em termos dos ´ındices n, N e j, que caracterizam a expans˜aoapresentada nos cap´ıtulos anteriores.

5.1.2 Coeficientes de Laplace

Ao implementar as f´ormulas (3.40) e (3.41) para computa¸c˜aodos coeficientes de La- place, ´enecess´arioestabelecer um limite superior para o somat´oriono ´ındice i que aparece Se¸c˜ao5.1. An´alisede convergˆencia 89 no somat´oriodessas f´ormulas. Estudamos o comportamento da s´eriedeα ˜, para diferentes valores limites, conforme mostrado na figura abaixo.

(a) (b)

(j) Figura 5.1: (a) Comportamento da s´eriedos coeficientes de Laplace b1/2(˜α), 0 ≤ j ≤ 5, em termos do ´ındice i; ε2 ∼ 1 eα ˜ = 0.48. Essas s´eries,que nada mais s˜aoque os somat´oriosnas f´ormulas dos coeficientes P 2i i Biα , aparecem para a parte direta do potencial perturbador. (b) Comportamento da fun¸c˜aoanal´ıtica dos coef. Laplace, em termos do parˆametro α, para distintos valores do ´ındice j.

Na Fig. (5.1a), verifica-se um comportamento rapidamente convergente para a s´erie deα ˜, independentemente do ´ındice j do coeficiente calculado. Vemos que o desempenho da fun¸c˜aotorna-se est´avel para i ≥ 4. Para α0, espera-se um comportamento que seja, no m´ınimo,t˜aoest´avel quanto o mostrado acima, uma vez que α0 << α˜. (j) Na Fig. (5.1b), mostramos o comportamento dos coefientes b1/2(˜α) em fun¸c˜aoda raz˜ao α e para diferentes valores do ´ındice j. Pode-se perceber certa estabilidade nos valores da fun¸c˜ao,aparecendo um aumento abrupto somente quando α → 1, o que j´aera de certo (j) modo esperado, j´aque os b1/2 s˜aocoeficientes de expans˜oesem s´eriesde Fourier. Para o desenvolvimento do trabalho (e portanto, no prosseguimento do estudo aqui descrito), definiu-se imax = 10 para as s´eriesde c´alculo.De acordo com o gr´aficoda Fig. (5.1a), este parece ser um valor razo´avel para o ´ındicem´aximo de c´alculo. Em nossos estudos, averiguamos que a precis˜aocomputacional ´eatingida para imax = 20. 90 Cap´ıtulo5. Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes

5.1.3 Compara¸c˜aocom o modelo semi-anal´ıtico

5.1.3.1 Curvas Rm´edio vs e2 e ∂Rm´edio/∂e2 vs e2

Para compara¸c˜aoentre os desempenhos dos modelos anal´ıticoe semi-anal´ıtico, testou- se o comportamento das curvas < R > vs e2 e ∂ < R > /de2 vs e2, geradas por cada um dos modelos. Testes similares foram sugeridos em (Beaug´ee Michtchenko, 2003). Em nossa metodologia, tratamos os dados de duas maneiras distintas, quanto a esta parte de averigua¸c˜aoda convergˆencia. Tomamos os parˆametrosde massa e semi-eixos j´a estabelecidos como as condi¸c˜oesiniciais do sistema. As vari´aveis angulares foram definidas

◦ ◦ σ1 = 90 e ∆$ = 0 .

No primeiro caso de teste (o qual chamaremos T1), fixou-se e1 = 0.005 e e2 = 0.01. Para esses elementos orbitais, obtˆem-se K = 0.96423 e AM = 1.06042. Para os mesmos valores de K e AM, computou-se < R >= Rm´edio(e1, e2, σ1, ∆$) em fun¸c˜aode e2, dentro do intervalo 0 ≤ e2 ≤ 0.5. Em cada ponto (e2, < R >), os ˆangulosforam mantidos fixos nos valores mencionados, e1 tomado como um parˆametroconhecido, e os semi-eixos foram recalculados atrav´esdas rela¸c˜oes(4.23) e (4.24), em fun¸c˜aode e1 e e2:

2 " p 2 # 1 rAM − K 1 − e2 a1 = a1(e1, e2) = , (5.2) µ β2 p 2 p 2 1 1 r 1 − e1 − (1 + r) 1 − e2  2 1 K − (1 + r)L1(a1(e1, e2)) a2 = a2(e1, e2) = . (5.3) µ2 rβ2

Com K e AM invariantes ao longo das computa¸c˜oesde < R >, garantimos que o estudo ´efeito sobre um sistema caracterizado pelas mesmas constantes f´ısicas,i.e, tratamos sempre o mesmo sistema, submetido a diferentes condi¸c˜oesiniciais. No segundo caso de teste, permitiu-se que AM pudesse variar livremente, como fun¸c˜ao de e1 e e2, enquanto K foi mantido fixo, ao tomar-se a1 e a2 com valores ´unicos: a1 = 19.576 km e a2 ' 40.736 km. A excentricidade e2 foi novamente tomada dentro do intervalo [0, 0.5], e para cada ponto computamos < R > em fun¸c˜aode e2, novamente.

Em ambos os testes, e2 ´eo ´unicoelemento independente que varia: em nosso problema, e1, σ1 e ∆$ s˜aoconstantes dentro do dom´ınioda fun¸c˜ao < R >. Teste I: a Fig. (5.2) apresenta os resultados do comportamento do potencial pertur- bador, para o primeiro tipo de testes proposto (AM e K constantes ao longo das curvas).

Foram adotados quatro valores para e1: 0.005, 0.05, 0.1 e 0.4. Em cada gr´afico,o resul- Se¸c˜ao5.1. An´alisede convergˆencia 91 tado obtido atrav´esdo m´etodo semi-anal´ıtico´emostrado em linha cont´ınua vermelha. Os demais pontos foram obtidos utilizando o modelo desenvolvido.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 5.2: Curvas de < R > vs e2, para os valores de e1 conforme indicado. S˜aotomados diferentes ◦ ◦ intervalos para os coeficientes n, j e N. K e AM s˜aoconstantes de movimento, σ1 = 90 , ∆$ = 0 . Em linha cont´ınua vermelha tem-se o compotamento do modelo semi-anal´ıticousado como padr˜ao.

Cada curva foi computada utilizando diferentes valores limites para os ´ındicesde so- mat´orios n (relacionado `aordem de expans˜aoem s´eriede Taylor), j (relacionado `aordem da expans˜aoem s´eriede Fourier) e N (relacionado `aordem do harmˆonicom´aximotomado). 92 Cap´ıtulo5. Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes

Analisando os resultados acima, ´eposs´ıvel perceber alguns pontos importantes: na Fig. (5.2 a), nota-se a diferen¸casens´ıvel em se tomar o primeiro harmˆonico(i.e, o harmˆonicode ordem N = 2), pois vemos uma mudan¸caconsider´avel no perfil da curva gerada analitica- mente, para N = 1 e N = 2. Conforme mais harmˆonicoss˜aotomados, a correspondˆencia entre os resultados anal´ıticoe semi-anal´ıticotorna-se mais evidente. O mesmo acontece para os demais casos, em (b), (c) e (d). Para os valores mais altos de e1 (Figs. (5.2 c) e (5.2 d)), a melhor convergˆenciafoi atingida para ordens n = 10, j = 10 e N = 10, nos casos em que a excentricidade interna . Para cada um dos gr´aficosmostrados na Fig.(5.2), computamos as derivadas ∂ < R >

/∂e2. No caso das curvas semi-anal´ıticas,tais derivadas foram calculadas numericamente, atrav´esde uma rotina de deriva¸c˜aoescrita no software Wolfram Mathematica, a qual utiliza m´etodos de interpola¸c˜aopara obter a derivada num´erica.Os resultados foram comparados com as computa¸c˜oesda derivada anal´ıticade nosso modelo, de forma an´alogaaos testes anteriores, e s˜aoapresentados na Fig.(5.3).

Uma vez que e1 e e2 s˜aoas vari´aveis independentes nesse problema, significa que

∂e1/∂e2 = 0. Derivar o potencial perturbador em rela¸c˜aoa e2 implica derivar implici- (j) (j) 0 tamente os coeficientes de Laplace b1/2(˜α) e b1/2(α ), al´emde derivar explicitamente os coeficientes de Hansen. As express˜oesutilizadas s˜aodadas abaixo.   dα 1 da1 da2 = 2 a2 − a1 ; (5.4) de2 a2 de2 de2 ∂ ˜ n (j) ˜ n+1 (j) dα D b1/2(˜α) = D b1/2(˜α)2 ; (5.5) ∂e2 de2 ∂ 0n (j) 0 n+1 (j) 0 dα D b1/2(α ) = D b1/2(α )1 , (5.6) ∂e2 de2 e ∂ai/∂e2, i = 1, 2, s˜aocalculadas de (5.2) e (5.3). As derivadas dos coeficientes de Hansen foram apresentadas na subse¸c˜ao 3.1.6 do cap´ıtulo 3. As express˜oescompletas para as derivadas ∂ < R > /∂e2, e que foram implementadas em nosso modelo, s˜aoapresentadas no ApˆendiceB. Se¸c˜ao5.1. An´alisede convergˆencia 93

(a) (b)

(c) (d)

Figura 5.3: Curvas de ∂ < R > /∂e2 vs e2, tomadas para cada um dos casos de excentricidades e1 indicados. O modelo anal´ıticofoi computado novamente para diferentes configura¸c˜oesde ordens em n, j e N. A linha vermelha cont´ınua novamente indica o comportamento utilizado como padr˜ao,neste caso, a curva derivada num´erica.

Vemos que n˜aoh´aum correspondˆenciaprecisa entre as curvas derivadas exatamente dos melhores modelos de “fitagem”para < R > (e que ocorre para ´ındicesiguais a 10) e a curva obtida por interpola¸c˜aonum´erica.Tomando-se ordens mais altas para os ´ındices, atestamos uma convergˆenciasatisfat´oriapara os casos de n = 20, j = 20 e N = 20. 94 Cap´ıtulo5. Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes

E´ interessante mencionar a concordˆanciaqualitativa entre as curvas derivadas em cada um dos casos (anal´ıticoe num´erico),no que concerne propriamente ao comportamento: percebe-se, em todos os casos apresentados, que os pontos cr´ıticose os pontos de inflex˜ao s˜aopraticamente coincidentes. Teste II: os resultados para o segundo teste s˜aoexpostos a seguir. Agora, os coeficientes de Laplace s˜aoconstantes ao longo de todas as curvas, sendo a raz˜ao α ' 0.481 e K' 0.964. Apresentamos os casos de excentricidade interna m´ınimoe m´aximoque vinham sendo considerados, e1 = 0.005 e e1 = 0.4, respectivamente. O resultado semi-anal´ıtico´e novamente indicado pela linha cont´ınua vermelha.

Para e1 = 0.005, vemos, da Fig.(5.4), que mesmo em casos nos quais N = 10, onde antes t´ınhamosuma boa correspondˆencia,os resultados anal´ıticosdivergem do semi-anal´ıtico, para e2 > 0.3. Para N = 15, os modelos se aproximam mais, e come¸cam a divergir em e2 > 0.4. Ainda nessa figura, com N = 20, os modelos divergem quando e2 > 0.45.

Na Fig. 5.5, temos as curvas para e1 = 0.4. Vemos que a divergˆencia entre os resultados anal´ıticose semi-anal´ıticopersiste, ocor- rendo em valores intermedi´arios de e2, nos casos de menor valor para N. Analisando ainda a Fig. 5.5, para N = 20, vemos que a coincidˆenciaentre os resultados ´erazoavelmente melhor, e as curvas anal´ıticasdivergem em e2 > 0.4. Fica claro que tomar ordens n > 20 n˜aogera melhores aspectos de convergˆenciados resultados.

De maneira an´alogaao que j´afoi apresentado, temos as derivadas em rela¸c˜aoa e2.

Agora, com α constante ao longo de toda a curva, e portanto ∂ai/∂e2 = 0. A Fig. 5.6 mostra os resultados para e1 = 0.005. Na Fig. 5.7, os resultados s˜aomostrados para computa¸c˜oesfeitas considerando o inter- valo 15 < N < 20. Averiguamos que, a partir de N = 17, as curvas apresentam satura¸c˜oes extremas, com tendˆenciade divergˆencias tanto para +∞ quanto −∞.

Para e1 = 0.4, mostramos o comportamento das curvas no caso de N = 15, e depois no intervalo 15 < N < 20, atrav´esda Fig.5.8. Em todos eles, as divergˆenciass˜aoevidentes, a partir de e2 = 0.3. Computar ordens mais altas em n, j ou N n˜aorevelou-se uma alternativa para melhorar tais comportamentos.

Uma quest˜ao´eaqui pontuada. Quando mantemos α constante, e tomamos e1 = 0.4, a condi¸c˜aode close approach (3.15) n˜ao´esatisfeita para e2 > 0.3275: i.e., nos casos acima desse valor, os parˆametrosinterno e externo apresentam valores muito pr´oximos,sendo Se¸c˜ao5.1. An´alisede convergˆencia 95

(a) (b)

(c) (d)

Figura 5.4: Curvas de < R > vs e2, tomadas para e1 = 0.005. Os gr´aficosindicam os valores m´aximos de harmˆonicosconsiderados. A linha vermlha cont´ınua apresenta o comportamento do modelo padr˜ao semi-anal´ıtico.

a raz˜ao γext/γint muito pr´oximade 1, nestes casos (γext e γint se referem aos parˆametros definidos (3.15)). O que supomos ´eque, em tais cen´arios,a distˆancia∆ entre os corpos orbitantes encontra-se em um dom´ıniode valores muito pr´oximoa singularidade, e o modelo n˜ao´esufucientemente satisfat´orio nessas regi˜oes.

No gr´aficoapresentado na Fig.5.9, mostramos a curva de γext/γint vs e2, dentro do 96 Cap´ıtulo5. Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes

(a) (b)

Figura 5.5: Curvas de < R > vs e2, tomadas para e1 = 0.4. Nesse caso, testamos diferentes configura¸c˜oes para as ordens de expans˜ao.

(a) (b)

Figura 5.6: Curvas de ∂ < R > /∂e2 vs e2, para e1 = 0.005.

intervalo 0 ≤ e2 ≤ 0.5, e para e1 = 0.005 e e1 = 0.4. Consideramos o comportamento para os dois casos de testes aplicados, conforme indicado pela legenda do gr´afico. E´ poss´ıvel notar que, para os testes T1, a raz˜ao entre os parˆametros´esempre maior que 1.5, para ambos os casos de excentricidade interna, e a condi¸c˜ao(3.15) ´esatisfeita. O Se¸c˜ao5.1. An´alisede convergˆencia 97

Figura 5.7: Curvas de ∂ < R > /∂e2 vs e2, para e1 = 0.005. Aqui, mostramos as configura¸c˜oesde ordem m´aximaque podem ser adotadas, de maneira tal a obter-se a melhor correspondˆenciaposs´ıvel com a curva padr˜ao(vermelha cont´ınua).

(a) (b)

Figura 5.8: Curvas de ∂ < R > /∂e2 vs e2, para e1 = 0.4. sistema f´ısicoconsiderado encontra-se distante das configura¸c˜oesque caracterizam singula- ridades. J´aem T2, percebe-se a queda cont´ınua da raz˜ao γext/γint, em ambas as situa¸c˜oes consideradas para e1. Quando e1 = 0.005, por exemplo, a raz˜aotorna-se muito pr´oximo de 1 para valores mais altos de e2. Para e1 = 0.4, a raz˜ao´eunit´ariaem e2 = 0.3275, e 98 Cap´ıtulo5. Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes

Figura 5.9: Curvas para a raz˜aoentre os parˆametrosexterno e interno, γext/γint, seguindo a nota¸c˜aoque denominamos no Cap´ıtulo3, Se¸c˜ao(3.1.1).

´emenor que 1 para valores superiores de e2. Tais fatos podem explicar as divergˆencias encontradas nas curvas de < R > e ∂< R >/∂e2.

5.1.3.2 Planos representativos

Sabemos que, juntamente com a energia total (m´edia) < H >, AM e K s˜aotamb´em quantidades invariantes do sistema, o qual tem a sua dinˆamicadeterminada por dois graus de liberdade. O espa¸code fases ´e,portanto, quadridimensional, dado por dois ˆangulos e duas a¸c˜oesindependentes. A estrutura desse espa¸co,embora possua quatro dimens˜oes (o que dificulta sua representa¸c˜aocompleta) pode ser estudada atrav´esda constru¸c˜aode superf´ıcies de se¸c˜ao. Para um dado conjunto de condi¸c˜oesiniciais fixadas, i.e., valores pr´e-estabelecidos de K e AM, o espa¸code fases pode ser visualizado, por exemplo, atrav´esdo plano representativo

◦ ◦ (e1, e2) de condi¸c˜oesiniciais: fixam-se os valores para o ˆangulocr´ıtico σ1 em 0 e 90 , e para o ˆangulosecular ∆$ em 0◦ e 180◦. Os semi-eixos maiores s˜aonovamente obtidos atrav´esdas equa¸c˜oes(5.2) e (5.3). Nas Figs. 5.10 e 5.11 ´eposs´ıvel comparar os resultados obtidos atrav´esde nosso modelo com os resultados gerados atrav´esda metodologia semi-anal´ıtica.Tais planos representati- vos foram constru´ıdos para as raz˜oesde massa m2/m1 = 0.1, 0.5, 1 e 5. O modelo anal´ıtico foi computado em ordens razo´aveis de expans˜oes,conforme verificou-se para os casos de Se¸c˜ao5.1. An´alisede convergˆencia 99 baixas excentricidades: n ∈ [0, 5], j ∈ [0, 5] e N ∈ [1, 5]. Os planos `aesquerda nas Figs. 5.10 e 5.11 foram obtidos utilizando o modelo semi- anal´ıtico,enquanto que `adireita est˜aoos resultados gerados por nosso modelo. A an´alise superficial dos gr´aficospermite perceber, em um primeiro momento, uma concordˆancia, principalmente qualitativa, entre os resultados obtidos por cada metodologia. Cada curva representa uma superf´ıcie equipotencial, e pode-se ver uma grande semelhan¸caentre o perfil das mesmas, para cada um dos casos. Os pontos vermelhos indicam os m´aximos globais de energia do sistema, para as condi¸c˜oesiniciais e parˆametrosconsiderados. Em cada um dos planos, esses pontos aparecem para valores bastante pr´oximos(visualmente) de (e1, e2), quando comparamos os casos de mesmas raz˜oes de massas. 100 Cap´ıtulo5. Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes

(a)

(b)

(c)

Figura 5.10: Planos representativos (e1, e2) tomados dentro da ressonˆanciaexata 3/1, para raz˜oes de massa m2/m2: (a)0.1, (b)0.5 e (c)1. Os valores positivos (negativos) de e1 indicam que σ1 = 0 (π/2), enquanto que valores positivos (negativos) de e2 significam ∆$ = 0 (π). Se¸c˜ao5.2. Sistemas exoplanet´ariosem quase-ressonˆancia3:1 101

(a)

Figura 5.11: Planos representativos (e1, e2) tomados dentro da ressonˆanciaexata 3/1, para a raz˜aode massa m2/m2 = 5. Os valores positivos (negativos) de e1 indicam que σ1 = 0 (π/2), enquanto que valores positivos (negativos) de e2 significam ∆$ = 0 (π).

5.2 Sistemas exoplanet´ariosem quase-ressonˆancia 3:1

Reservamos esta ´ultimase¸c˜aopara uma breve aplica¸c˜aote´oricade nosso modelo. To- mamos os dados dispon´ıveis na literatura para os sistemas planet´ariosque encontram-se em configura¸c˜oespr´oximas`aressonˆancias3:1 (considerou-se o intervalo 2.8 ≤ n1/n2 ≤ 3.2). Esses dados encontram-se dispon´ıveis em cat´alogos,e fornecem os valores estimados para as massas da estrela e dos pares planet´arios,e para os elementos orbitais (a, e, ω e Ω). Tamb´em´edado o tempo de passagem pelo periastro τ e per´ıodo orbital T , com os quais ´eposs´ıvel calcular o valor da anomalia m´edia. Todos os valores fornecidos para as grandezas orbitais s˜aoastrocˆentricos. Aplicar tais quantidades como parˆametrosem nosso modelo levaria a resultados sem qualquer sen- tido f´ısico,uma vez que modelamos o problema de trˆescorpos utilizando um referencial baricˆentrico de Jacobi. Foi necess´ario,portanto, realizar a transforma¸c˜aodos elemen- tos orbitais astrocˆetricospara elementos de Jacobi. Com tal finalidade, foi desenvolvida uma rotina de Fortran. As equa¸c˜oesutilizadas s˜aoapresentadas no ApˆendiceC desta disserta¸c˜ao. A tabela 5.1 apresenta os parˆametrosf´ısicosque caracterizam os sistemas exoplanet´arios considerados, ap´osa transforma¸c˜aodos elementos orbitais de um sistema astrocˆentrico para um sistema de coordenadas de Jacobi. A ordem de exposi¸c˜ao,em cada um dos 102 Cap´ıtulo5. Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes

Tabela 5.1 - Parˆametrosf´ısicosdos sistemas exoplanet´ariosem quase-ressonˆancia3:1. M designa a massa da estrela central, em unidades de massas solares; m ´ea massa dos planetas, em unidade de massas de J´upiter. Os semi-eixos a s˜aodados em unidades atronˆomicasau. Os valores de a e de e foram obtidos ap´osa transforma¸c˜aodos elementos astrocˆentricos para elementos de Jacobi. o N /Sistema M(M ) Pares m(MJ ) a(au) e T2/T1 1 - 55 Cnc 0.905 55 Cnc-b 0.802 0.113 0.004 3.0090 55 Cnc-c 0.165 0.236 0.067 2 - GJ 163 0.4 GJ 163-b 3.4·10−2 0.061 0.11 2.9702 GJ 163-c 2.2·10−2 0.125 0.10 3 - HD 10180 1.06 HD10180-c 4.2·10−2 0.064 0.077 2.8391 HD10180-d 3.8·10−2 0.129 0.143 3.0408 HD10180-e 8.0·10−2 0.270 0.065 4 - HD 60532 1.44 HD 60532-b 1.04 0.760 0.28 3.0016 HD 60532-c 2.46 1.581 0.021 5 - HD 7924 0.832 HD 7924-b 2.7·10−2 0.057 0.058 2.8337 HD 7924-c 2.5·10−2 0.113 0.098 6 - Kepler-1129 1.0·10−9 Kepler-1129-b 2.6·10−2 0.164 0.0 3.1445 Kepler-1129-c 2.3·10−2 0.353 0.00001 7 - Kepler-430 1.166 Kepler-430-b 3.3·10−2 0.225 0.0 3.0850 Kepler-430-c 1.3·10−2 0.476 0.00012 8 - Kepler-770 0.94 Kepler-770-c 6.0·10−3 0.025 0.0 2.8145 Kepler-770-d 9.0·10−3 0.050 0.00002 9 - TYC 1422-614-1 1.150 TYC 1422-614-1-b 2.5 0.700 0.06 2.7864 TYC 1422-614-1-c 10.0 1.386 0.047 Se¸c˜ao5.2. Sistemas exoplanet´ariosem quase-ressonˆancia3:1 103 pares, ´eplaneta interno-planeta externo, em todos os casos. Para o sistema HD 10180, por exemplo, temos trˆesplanetas: nesse caso, expomos primeiro a ressonˆanciaentre o par c-d, e em seguida, entre o par d-e. Uma vez com os respectivos valores de elementos no referencial de Jacobi, constru´ımos os gr´aficosa seguir: na Fig. 5.12 os pares planter´ariosaparecem distribu´ıdosem termos da raz˜aoentre os movimentos m´ediose das maiores excentricidades de cada par. A linha em destaque define a regi˜aode pontos dentro da ressonˆanciaexata 3:1. Utilizamos o crit´erio de determina¸c˜aodo regime de ressonˆancia,conforme apresentado na Se¸c˜ao4.4 do Cap´ıtulo 4, e classificamos cada sistema em ressonˆanciainterior ou exterior.

Figura 5.12: Distribui¸c˜aodos pares planet´ariosem termos das raz˜oesde movimentos m´edios n1/n2 e das maiores excetricidades entre os pares. Os s´ımbolos azuis determinam sistemas classificados (segundo nossa metodologia) em ressonˆanciasinteriores; s´ımbolos pretos representam ressonˆanciasexteriores. Os n´umeros identificam cada sistema em acordo com a Tabela 5.1.

Verificamos, por exemplo, que o sistema HD 60532 b-c encontra-se em configura¸c˜aode ressonˆanciainterior, em concordˆanciacom o que ´eapresentado em (Alves et al., 2016).

Na Fig. 5.13 a seguir, a distribui¸c˜ao´eapresentada para a raz˜ao de massas m2/m1 e a maior excentricidade entre os pares. Novamente, separamos os sistemas de acordo com os regimes de ressonˆancia. 104 Cap´ıtulo5. Testes de Convergˆenciae Aplica¸c˜oes

Figura 5.13: Distribui¸c˜aodos pares planet´ariosem termos das raz˜oesde massas m2/m1 e das maiores excetricidades entre os pares. Os s´ımbolos azuis determinam sistemas classificados em ressonˆanciasin- teriores; s´ımbolos pretos representam ressonˆanciasexteriores. Os n´umerosidentificam cada sistema em acordo com a Tabela 5.1.

Percebemos, na Fig. 5.13, que os sistemas em configura¸c˜oesde ressonˆanciainterna ocorrem para raz˜oes m2/m1 < 0.5. Entretanto, temos posse de poucos sistemas para garantir com assertividade tal afirma¸c˜ao,e um estudo mais aprofundado se faz necess´ario. Cap´ıtulo 6

Conclus˜oese Perspectivas

Neste trabalho, realizamos um estudo te´oricodo problema cl´assicode trˆescorpos, nos atendo ao caso planar. Iniciamos nossas atividades compreendendo o desenvolvimento das equa¸c˜oesde Newton dentro do problema de N-corpos, realizando as mudan¸casde referen- ciais (inercial arbitr´ario,inercial baricˆentrico e astrocˆentrico), e verificando a conserva¸c˜ao das constantes de movimento (10 integrais cl´assicas).Atestamos como a existˆenciade tais integrais tem papel crucial na redu¸c˜aodo n´umerode graus de liberdade do sistema. A mesma problem´atica foi abordada, utilizando as coordenadas de Jacobi. Ainda dentro desta primeira parte, introduzimos o formalismo hamiltoniano, o qual foi adotado no desenvolvimento fundamental deste trabalho. A compreens˜aoda teoria de Hamilton-Jacobi e das vari´aveis canˆonicas,bem como o entendimento das vari´aveis de ˆangulo-a¸c˜ao(que s˜aoque pares canˆonicosutilizados no estudo dos movimentos planet´arios), foram fatores de suma importˆanciaao longo das atividade de Mestrado. Finalmente, a primeira parte do trabalho foi conclu´ıdacom a constru¸c˜aodo Hamil- toniano de um sistema de (N+1)-corpos, primeiro para um referencial baricˆentrico, e em seguida, utilizando os dois tipos cl´assicosde vari´aveis canˆonicas:Jacobi e Poincar´e. De posse dos fundamentos b´asicospara o estudo de sistemas dinˆamicosdentro da MecˆanicaCeleste, iniciaram-se os trabalhos que compreendiam a parte principal do projeto. O cerne de nossas atividades consistiu, primeiramente, no pleno entendimento das metodologias mais conhecidas na literatura de expans˜aoda fun¸c˜aoperturbadora (ou, como preferimos dizer, potencial perturbador, no caso de se trabalhar com o Hamiltoniano ao inv´esdas for¸casnewtonianas), dentro das quais se destacam o m´etodo de expans˜oesde Laplace (o qual foi adotado aqui) e o m´etodo de expans˜oesem polinˆomiosde Legendre. Ambos os caminhos foram estudados. No entanto, ´esabido que as expans˜oesem coeficientes 106 Cap´ıtulo6. Conclus˜oese Perspectivas de Laplace s˜aomais adequadas ao estudo de sistemas dentro (ou pr´oximos)de ressonˆancias de movimentos m´edios,e assim justificamos a escolha por essa metodologia. As expans˜oesda parte principal do potencial perturbador foram realizadas utilizando m´etodos anal´ıticosde desenvolvimentos em s´eriesde potˆenciasdos elementos orbitais ai e ei (i = 1, 2), via expans˜oesem s´eriesde Taylor e Fourier. Foi necess´arioo completo entendimento dessa parte, diante do surgimento de trˆesnovas quantidades (bem conhecidas nos ˆambitos da MecˆanicaCeleste): os coeficientes de Laplace (k) n,m a,b bs (α), os coeficientes de Hansen Xk (e) e os operadorde de Newcomb Yc,d . A leitura de diversas bibliografias foi de fundamental importˆanciapara a compreens˜aodos m´etodos de computa¸c˜aodesses elementos. Obtivemos, primeiramente, duas express˜oesgerais para o potencial expandido: a parte direta RD e a parte indireta RI . Por crit´eriosdinˆamicosb´asicos,tais express˜oesgerais foram reduzidas via m´etodo das m´ediassobre os ˆangulosde curto per´ıodo (as anomalias m´edias M1 e M2 ou, equivalentemente, as longitudes m´edias λ1 e λ2). Tal m´ediafoi tomada, na pr´atica,como uma simples elimina¸c˜ao,por inspe¸c˜ao,dos termos de curto per´ıodo, dependentes de ao menos uma das longitudes m´edias,e que n˜aoenvolvessem combina¸c˜oes cr´ıticasdestas ´ultimas. Consideramos, teoricamente, o caso para uma MMR qualquer, tendo o argumento cr´ıticouma forma generalizada dada nominalmente por (p+q)λ2 −pλ1. Sendo assim, ao final de nosso desenvolvimento te´orico,o potencial perturbador estava (sec) dividido em quatro componentes, a saber: as partes direta secular RD e ressonante (res) (sec) (res) RD , e as an´alogasindiretas, RI e RI . Acreditamos que este talvez seja o tra¸comais sobressalente, i.e., o diferencial maior da expans˜aoobtida: temos em m˜aos,separadamente, cada uma das contribui¸c˜oesdinˆamicasao sistema, tanto no que se refere `asrela¸c˜oesde intera¸c˜aogravitacinal entre as massas (direta/indireta) quanto aos regimes `aque est˜ao submetidas (secular/ressonante). Al´em disso, nosso modelo est´aapto a tratar qualquer raz˜ao(p + q)/p de ressonˆanciade movimentos m´edios. Introduzimos as vari´aveis cl´assicasde Delaunay, adaptadas para o estudo de sistemas ressonantes. Das defini¸c˜oesdas a¸c˜oescl´assicas,foi poss´ıvel obter duas integrais de movi- mento para o problema, K e AM, as quais contribuiram para a redu¸c˜aodo n´umerode graus de liberdade do sistema, de inicialmente quatro graus para somente dois. As equa¸c˜oesde movimento de Hamilton foram derivadas, de maneira tal a obter explicitamente as rela¸c˜oes para as varia¸c˜oestemporais dos elementos orbitais ai e ei e das vari´aveis angulares, σi e Cap´ıtulo6. Conclus˜oese Perspectivas 107

∆$. Ao final, elaboramos um crit´erioanal´ıticosuperficial (uma primeira aproxima¸c˜ao, por assim dizer) para a determina¸c˜aodo ˆanguloressonante “verdadeiro”, mas deixamos claro, uma vez mais, a necessidade de estudos mais aprofundados nesta parte. A ´ultima parte de nosso estudo consistiu nos testes de convergˆenciado modelo, atrav´es da verifica¸c˜aodo comportamento qualitativo e quantitativo das curvas do Hamiltoniano em fun¸c˜aodas excentricidades, geradas pelo modelo te´orico aqui introduzido e comparadas com o modelo semi-anal´ıticodesenvolvido pelo Grupo de DinˆamicaOrbital do IAG. Os resultados obtidos foram considerados bastante satisfat´orios. Para o caso de uma ressonˆanciana raz˜ao3:1, as curvas de < R > vs e2 geradas analiticamente apresentaram comportamentos bastante similares com o modelo semi-anal´ıticopadr˜aoutilizado, em di- ferentes valores tomados para e1, e dentro de um intervalo razoavelmente extenso para a excentricidade do corpo externo, 0 ≤ e2 ≤ 0.5. As curvas das derivadas ∂< R >/∂e2, computadas analiticamente, apresentaram comportamentos qualitativos e quantitativos muito pr´oximosdas derivadas num´ericas,mostrando a mesma tendˆenciade convergˆencia e concavidade. A boa correspˆondenciaqualitativa entre os modelos foi atestada novamente atrav´esda confec¸c˜aodos planos representativos de condi¸c˜oesiniciais (e1, e2) tomados para diferentes raz˜oesde massa. Em todos os casos, nosso modelo reproduziu muito bem os resulta- dos esperados (semi-anal´ıtico),no que tange a simples inspe¸c˜ao visual das configura¸c˜oes apresentadas pelas curvas. Como esta ´ultimaetapa do trabalho tratava somente da compara¸c˜aoentre as solu¸c˜oes obtidas pelo modelo desenvolvido e o modelo padr˜ao,mais estudos acerca do espa¸code configura¸c˜oesdo sistema considerado n˜aoforam empregados. Na se¸c˜aofinal do cap´ıtulode resultados, realizamos um estudo b´asicode alguns siste- mas conhecidos da literatura, pr´oximosa ressonˆancianominal 3:1. Somente para aqueles sistemas de parˆametrosf´ısicosbem determinados, realizamos a transforma¸c˜aodos elemen- tos orbitais astrocˆentricos para o caso de um sistema de referˆenciade Jacobi, utilizando as equa¸c˜oesderivadas no ApˆenciceC deste trabalho. Constru´ımosos gr´aficosde n1/n2 vs emaior, e dos crit´erios te´oricosestabelecidos anteriormente, definimos os regimes de res- sonˆanciados pares (interna/externa). Os mesmos sistemas foram apresentados para um gr´aficode m2/m1 vs e2. Entendemos que o objetivo do trabalho foi bem contemplado: desenvolvemos uma 108 Cap´ıtulo6. Conclus˜oese Perspectivas ferramenta anal´ıtica,capaz de reproduzir de forma vi´avel e satisfat´oriao Hamiltoniano para longos per´ıodos de um sistema ressonante de trˆescorpos coplanar, utilizando-nos do conjunto canˆonicode vari´aveis de Jacobi. Ao final de nosso trabalho, vislumbramos algumas possibilidades de continuidade:

• Aplica¸c˜aode nosso modelo ao estudo da dinˆamicaressonante de sistemas aproxima- damente coplanares em quase-ressonˆanciasde movimentos m´edios.Por lidarmos com vari´aveis de Jacobi, abre-se a possibilidade para trabalhar com sistemas de estrelas bin´arias,por exemplo.

• A partir das teorias canˆonicasde perturba¸c˜ao,desenvolver um modelo anal´ıticode Segunda Ordem em massa para o problema planar.

• Extens˜aopara o caso tri-dimensional (aumentando o n´umerode graus de liberdade do problema). ReferˆenciasBibliogr´aficas

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Apˆendice A

Equa¸c˜oesde Movimento em Coordenadas de Jacobi para o Problema de TrˆesCorpos

A seguir, equacionamos o problema de trˆescorpos n˜ao-restrito,atrav´esdo formalismo newtoniano, utilizando a ideia do sistema de coordenadas de Jacobi.

Vamos partir do problema escrito para o sistema astrocˆentrico. Seja m0 a massa do corpo central, m1 e m2 as massas dos corpos orbitantes. Em rela¸c˜aoao corpo m0, definimos os vetores de posi¸c˜ao r1 e r2, conforme ilustrado a seguir.

Figura A.1: Problema de trˆescorpos n˜ao-restrito.Os vetores r1 e r2 indicam as posi¸c˜oesastrocˆentricas de m1 e m2, respectivamente; %2 ´eo vetor posi¸c˜aode m2 no sistema de Jacobi.

Na figura acima, ∆ representa a distˆanciaentre os corpos orbitantes: ∆ = |r2 − r1|.

Introduzimos os vetores posi¸c˜aoem coordenadas de Jacobi, %1 e %2. Pela defini¸c˜ao:

%1 = r1, %2 = r2 − ε1r1, (A.1) e definimos as quantidades ε1 = m1/(m0 +m1) e ε2 = m0/(m0 +m1). Invertendo as rela¸c˜oes acima, escrevemos os vetores astrocˆentricos em termos das coordenadas de Jacobi:

r1 = %1, r2 = %2 + ε1%1 (A.2) 118 Apˆendice A. Equa¸c˜oesde Movimento em Coordenadas de Jacobi para o Problema de TrˆesCorpos

Facilmente, vemos que ∆ = |%2 − ε2%1|.

Vamos escrever as equa¸c˜oesde movimento das massas m1 e m2, em coordenadas as- trocˆentricas. Temos que: r r − r r  ¨ 1 2 1 2 r1 + G(m0 + m1) 3 = Gm2 3 − 3 , (A.3) r1 ∆ r2 r r − r r  ¨ 2 1 2 1 r2 + G(m0 + m2) 3 = Gm1 3 − 3 (A.4) r2 ∆ r1 onde identificamos, no lado esquerdo, a parcela da acelera¸c˜aoque ´edevida ao movimento kepleriano (problema de dois corpos), e do lado direito da igualdade temos os termos perturbativos.

Agora, vamos reescrever as equa¸c˜oesanteriores, em termos dos vetores %i, e dos res- pectivos m´odulos ρi = |%i|, i = 1, 2. Para a massa m1, a transforma¸c˜aovem direta: % % − ε % % + ε %  ¨ 1 2 2 1 2 1 1 %1 + G(m0 + m1) 3 = Gm2 3 − 3 , (A.5) ρ1 ∆ ∆02 onde ∆02 = |r2|. No caso da massa m2, temos: % + ε % % − ε % %  ¨ ¨ 2 1 1 2 2 1 1 %2 + ε1%1 + G(m0 + m2) 3 = −Gm1 3 + 3 (A.6) ∆02 ∆ ρ1 Se abrimos todos os parˆenteses da equa¸c˜aoanterior, chegaremos `aseguinte express˜ao: Gm m  1 1  Gm m m m  ¨ 1 2 1 2 0 1 %2 + 3 − 3 %2 − 2 3 + 3 %1 + (A.7) m0 + m1 ∆ ∆02 (m0 + m1) ∆ ∆02     m0 + m2 m1 Gm1 m0 + m1 m0 G 3 + 3 %2 + 3 − 3 %1 = 0 ∆02 ∆ m0 + m1 ∆02 ∆

Separando os termos que multiplicam %1 daqueles que multiplicam %2, chega-se a: G(m + m + m ) m m  Gm m m + m + m  1 1  ¨ 0 1 2 1 0 0 1 0 1 2 %2 + 3 + 3 %2 + 3 − 3 %1 (A.8) m0 + m1 ∆ ∆02 m0 + m1 m0 + m1 ∆02 ∆ Se definimos as seguintes quantidades:

G(m0 + m1 + m2) µ1 = G(m0 + m1);µ ˜2 = , m0 + m1 m0m1 β1 = , m0 + m1 podemos, finalmente, escrever as equa¸c˜oesde movimento de Newton, em termos das coor- denadas de Jacobi: % Gm m m   1 1  ¨ 1 2 0 1 %1 + µ1 3 = − 3 + 3 %1 + Gm2 3 − 3 %2, (A.9) ρ1 m0 + m1 ∆ ∆02 ∆ ∆02  m m   1 1  ¨ 0 1 %2 +µ ˜2 3 + 3 %2 = −µ˜2β1 3 − 3 %1 (A.10) ∆02 ∆ ∆02 ∆ ApˆendiceA. Equa¸c˜oesde Movimento em Coordenadas de Jacobi para o Problema de TrˆesCorpos 119

Novamente, o lado esquerdo apresenta a parcela que reduz ao movimento kepleriano, e do lado direito tem-se os termos devidos `aperturba¸c˜ao. Se denominamos F1 e F2 as perturba¸c˜oessofridas por m1 e m2, respectivamente, ent˜ao:

%  m m  ¨ 1 ¨ 0 1 %1 + µ1 3 = F1, %2 +µ ˜2 3 + 3 %2 = F2 (A.11) ρ1 ∆02 ∆

Mais al´em,identificamos as partes direta e indireta das perturba¸c˜oes: F1 = F1,d + F1,i e

F2 = F2,d + F2,i.

Gm % F = 2 (% − ε % ); F =µ ˜ β 1 (A.12) 1,d ∆3 2 2 1 2,d 2 1 ∆3 Gm2 %1 F1,i = − 3 (%2 + ε1%1); F2,i = −µ˜2β1 3 (A.13) ∆02 ∆02 120 Apˆendice A. Equa¸c˜oesde Movimento em Coordenadas de Jacobi para o Problema de TrˆesCorpos Apˆendice B

Express˜oesExpl´ıcitasdas Derivadas

Apresentamos aqui as formas anal´ıticasexpl´ıcitasque foram utilizadas para o desen- volvimento das derivadas do potencial perturbador, conforme proposto atrav´esdos testes descritos no Cap´ıtulo4, e atrav´esdas quais obtivemos os resultados ali discutidos.

Trata-se de obter as derivadas parciais do Hamiltoniano m´edio < H > = Hm´edio(e1, e2, σ1, ∆$) em rela¸c˜aoa excentricidade externa, e2.

Primeiramente, apresentamos as derivadas impl´ıcitasde a1 e a2.

∂a 2 rAM − Kp1 − e2 re (Kp1 − e2 − rAM) 1 = − 2 1 2 (B.1) ∂e µ β2 p 2 p 2 3 p 2 2 1 1 (r 1 − e1 − (1 + r) 1 − e2) 1 − e1 ∂a ∂a ∂a 2 = 2 1 (B.2) ∂e2 ∂a1 ∂e2 r ∂a2 (1 + r)β1 µ1 = 2 [(1 + r)L1 − K] (B.3) ∂a1 µ2(rβ2) a1

A derivada do fator α:   ∂α 1 ∂a1 ∂a2 = 2 a2 − a1 (B.4) ∂e2 a2 ∂e2 ∂e2 (j) Os coeficientes de Laplace bs s˜aofun¸c˜oesde α tamb´em,bem como as n-´esimasderiva- das Dn. Em nosso problema, o fator α aparece multiplicado por uma constante κ. Temos ent˜ao:

(j) (j) ∂ n (j) ∂ ∂bs (κα) ∂ ∂bs (κα) ∂α n+1 (j) ∂α D bs (κα) = = κ = D bs (κα)κ (B.5) ∂e2 ∂e2 ∂(κα) ∂(κα) ∂(κα) ∂e2 ∂e2

Escrevemos a derivada do potencial perturbador como

∂ ∂ ∂ (sec) (res) (sec) res < R > = (RD + RI ) = (RD + RD + RI + RI ) (B.6) ∂e2 ∂e2 ∂e2 122 Apˆendice B. Express˜oesExpl´ıcitasdas Derivadas

Para a parte direta secular, tem-se:

k     ∂ (sec) Gm2(m0 + m1) ∂a2 Gm1m2 X (−1) n 1 RD = − 2 + 1 − δj,0 (B.7) ∂e2 a ∂e2 a2 n! k 2 2 n,k,j " 1 ∂a2 n n−k,j k−n−1 ˜ n (j) n n−1 n−k,j k−n−1,j × (ε2α) X0 (e1)X0 (e2)D b1/2(˜α) − nε2 α X0 (e1)X0 (e2) a2 ∂e2  # ˜ n (j) n n−k,j ∂ k−n−1,j n−k,j k−n−1,j ∂ ˜ n (j) ×D b1/2(˜α) +α ˜ X0 (e1) X0 (e2) + X0 (e1)X0 (e2) D b1/2(˜α) ∂e2 ∂e2 × cos j∆$

A parte indireta secular possui a forma an´alogaa anterior, com a presen¸cado fator (−1)j:

k+j     " n ∂ (sec) Gm0m2 X (−1) n 1 (ε1α) ∂a2 n−k,j RI = 1 − δj,0 X0 (e1) (B.8) ∂e2 a2 n! k 2 a2 ∂e2 n,k,j

k−n−1,j 0n (j) 0 n n−1 ∂α n−k,j k−n−1,j 0n (j) 0 0n n−k,j ×X0 (e2)D b1/2(α ) − nε1 α X0 (e1)X0 (e2)D b1/2(α ) + α X0 (e1) ∂e2 !# ∂ k−n−1,j 0n (j) 0 n−k,j k−n−1,j ∂ 0n (j) 0 X0 (e2)D b1/2(α ) + X0 (e1)X0 (e2) D b1/2(α ) cos j∆$ ∂e2 ∂e2

A derivada para o termo ressonante na parte direta ´edada por

k    n  " ∂ (res) Gm1m2 X (−1) n α˜ ∂a2 n n−1 ∂α n−k,0 k−n−1,j RD = − nε2 α XNp (e1)XN(p+q) (e2) (B.9) ∂e2 a2 n! k a2 ∂e2 ∂e2 N,n,k #   ˜ n (0) X n−k,j k−n−1 n−k,j k−n−1 ˜ n (j) ×D b1/2(˜α) cos ϕ0 + X−Np (e1)X−N(p+q)(e2) cos ϕ1 + XNp (e1)XN(p+q)(e2) cos ϕ2 D b1/2(˜α) j "  n n−k,j ∂ k−n−1,j ˜ n (0) n−k,j k−n−1,j ∂ ˜ n (0) −α˜ XNp (e1) XN(p+q) (e2)D b1/2(˜α) + XNp (e1)XN(p+q) (e2) D b1/2(˜α) cos Nϕ0 + ∂e2 ∂e2 (  X ∂ ∂ (j) Xn−k,j(e ) Xk−n−1,j (e ) cos ϕ + Xn−k,j(e ) Xk−n−1,j(e ) cos ϕ D˜ nb (˜α) + −Np 1 ∂e −N(p+q) 2 1 Np 1 ∂e N(p+q) 2 2 1/2 j 2 2   )#! n−k,j k−n−1,j n−k,j k−n−1,j ∂ ˜ n (j) X−Np (e1)X−N(p+q)(e2) cos ϕ1 + XNp (e1)XN(p+q) (e2) cos ϕ2 D b1/2(˜α) ∂e2

A parte indireta ´ean´aloga,com a presen¸cado fator (−1)j e do fator α0 ao inv´esdeα ˜. Apˆendice C

Transforma¸c˜aode Elementos Orbitais

Tomemos um sistema de trˆesmassa pontuais, m0, m1 e m2, sobre o mesmo plano orbital, interagindo atraves da a¸c˜aoda for¸cagravitacional. Assumiremos que conhecemos os elementos orbitais osculadores astrocˆentricos, definidos em rela¸c˜aoao corpo central m0: (A) (A) (A) (A) ai , ei ,Mi , $i , i = 1, 2. Queremos encontrar as rela¸c˜oesque expressam os elementos (J) (J) (P ) (P ) osculadores de Jacobi ai e ei , e de Poincar´e, ai e ei , como fun¸c˜oes dos primeiros elementos conhecidos. Dados os semi-eixos maiores e excentricidades, conhece-se portanto os movimentos m´edios n(A) i s (A) µi ni = ; µi = G(m0 + mi), (C.1) (A) 3 (ai )

(A) (A) e os per´ıodos orbitais, Ti = 2π/ni de cada corpo.

C.1 Equa¸c˜oespara o sistema astrocˆentrico

(A) (A) Sejam r1, r2 os vetores de posi¸c˜aoastrocˆentrica das respectivas massas, e f1 e f2 (A) as anomalias verdadeiras. A longitude verdadeira de cada corpo ´edada ent˜aopor li = (A) (A) fi + $i . No desenvolvimento a seguir, consideramos sempre um sistema referenciado ao corpo central m0. Para n˜aocarregar uma nota¸c˜aomuito pesada, nos permitimos n˜ao indicar o ´ındicesuperior (A) nos elementos. Em coordenadas retangulares, podemos escrever:

ri = ri[cos liˆı + sin liˆ], (C.2) ˙ vi = r˙ i =r ˙i[cos liˆı + sin liˆ] + rili[− sin liˆı + cos liˆ] (C.3) 124 Apˆendice C. Transforma¸c˜aode Elementos Orbitais

Do problema cl´assicode dois corpos, sabe-se que (Murray e Dermott, 2000)

2 ai(1 − ei ) ri = , (C.4) 1 + ei cos fi niai r˙i = ei sin fi (C.5) p 2 1 − ei ˙ ˙ Uma vez que consideramos os elementos osculadores das ´orbitas, li = d(fi +$i)/dt = fi ´edado por ˙ niai fi = (1 + ei cos fi) (C.6) p 2 ri 1 − ei Da f´ormula cl´assica vis viva, tem-se o modulo da velocidade orbital dos corpos   2 2 1 vi = µi + (C.7) ri ai

Abaixo, seguem alguns resultados necess´ariospara o desenvolvimento das transforma¸c˜oes:

r1 · r2 = r1r2 cos Φ, (C.8)

ri · vi = rir˙i, (C.9) ˙ r1 · v2 = r1r˙2 cos Φ + r1r2f2 sin Φ, (C.10) ˙ r2 · v1 = r2r˙1 cos Φ − r1r2f1 sin Φ, (C.11) ˙ ˙ ˙ ˙ v1 · v2 = (r ˙1r˙2 + r1r2f1f2) cos Φ + (r ˙1r2f2 − r1r˙2f1) sin Φ, (C.12)

onde Φ = l1 − l2 = f1 − f2 + ∆$.

C.2 Determina¸c˜aodas anomalias verdadeiras

Apresentamos dois caminhos poss´ıveis para o c´alculodas anomalias verdadeiras fi (de- termin´a-lasse faz necess´ario,conforme vemos nas equa¸c˜oesapresentadas acima). Ambas as abordagens podem facilmente ser implementadas em linguagens computacionais, e s˜ao resultados de diferentes maneiras de se trabalhar a equa¸c˜aode Kepler

M = E − e sin E, (C.13)

onde E denota a anomalia excˆentrica. Se¸c˜aoC.2. Determina¸c˜aodas anomalias verdadeiras 125

C.2.1 Expans˜oesel´ıpticas:fun¸c˜oesde Bessel

O primeiro m´etodo ´epuramente anal´ıtico. Se reescrevemos a equa¸c˜ao(C.2) como E − M = e sin E, vemos que E − M ´euma fun¸c˜aoperi´odica´ımpar,e pode portanto ser expandida em s´eriede senos de Fourier

∞ X e sin E = ck(e) sin kM, (C.14) k=1 onde os coeficientes de expans˜ao ck(e) s˜aodados por

2 Z π ck(e) = e sin E sin kM dM (C.15) π 0 Usando (C.2) para escrever d(e sin E) = d(E − M) e reescrevendo a integral, chega-se a seguinte rela¸c˜ao(Murray e Dermott, 2000):

2 Z π 2 ck(e) = cos(kE − ke sin E) dE = Jk(ke), (C.16) kπ 0 k onde 1 Z π Jk(ke) = cos(ke − ke sin E) dE (C.17) π 0 ´ea fun¸c˜aode Bessel de primeira esp´ecie(Bowman, 1958). Para m ≥ 0, ´eposs´ıvel tomar a seguinte forma anal´ıtica:

∞ X (−1)n x2n+m J (x) = (C.18) m n!(n + m)! 2 n=0 Pode-se ent˜aoreescrever a equa¸c˜aode Kepler, usando os ´ultimosresultados:

∞ X 1 E = M + 2 J (ke) sin kM (C.19) k k k=1 Em (Brouwer e Clemence, 1961) encontram-se as deriva¸c˜oesdas rela¸c˜oesabaixo:

∞ √ X 1 d sin f = 2 1 − e2 J (ke) sin kM (C.20) k de k k=1 ∞ 2(1 − e2) X cos f = −e + J (ke) cos kM (C.21) e k k=1 As equa¸c˜oesacima s˜aoexpress˜oesanal´ıticasque podem ser aplicadas nos resultados da se¸c˜aoanterior. 126 Apˆendice C. Transforma¸c˜aode Elementos Orbitais

C.2.2 Solu¸c˜oesiterativas da equa¸c˜aode Kepler

A equa¸c˜ao(C.2) ´euma equa¸c˜aotranscendental. Isto significa que ela n˜ao´epass´ıvel de ser expressa atrav´esde fun¸c˜oeselementares, pois n˜aopossui uma solu¸c˜aoexata: para obter suas ra´ızes,se faz necess´ariorecorrer ao c´alculonum´erico. Em (Murray e Dermott, 2000) ´eapresentado um m´etodo iterativo bastante simples para obter a solu¸c˜ao:

Ei+1 = M + e sin Ei i = 0, 1, ..., (C.22) onde toma-se E0 = M como a primeira aproxima¸c˜ao. As itera¸c˜oespodem ser realizadas at´eque um determinado crit´eriode precis˜aoseja satisfeito: por exemplo, que a diferen¸ca

δE = Ei+1 − Ei seja inferior a um limite previamente estabelecido. Conhecendo a anomalia excˆentrica E, pode-se determinar univocamente a anomalia verdadeira f, atrav´esde: f  r1 + e E  tan = tan (C.23) 2 1 − e 2 O m´odulodo raio vetor r ´econhecido atrav´esda rela¸c˜ao

r = a(1 − e cos E) (C.24)

As quantidadesr ˙ e f˙ podem ser obtidas aplicando os valores encontrados para f, dentro das respectivas equa¸c˜oesapresentadas na se¸c˜ao(C.1).

C.3 Equa¸c˜oespara o sistema de Jacobi

Sejam %1 e %2 os vetores de posi¸c˜aoastrocˆentrica das respectivas massas. Em termos das quantidades conhecidas, tem-se:

%1 = r1, %˙1 = v1; (C.25)

%2 = r2 − γr1, %˙2 = v2 − γv1; (C.26)

onde γ = m1/(m0 + m1) H´aque se ter aten¸c˜aoquando tratamos dos m´odulosdas quantidade acima. Temos que:

√ (J) p ρ1 = |%1| = %1 · %1 = r1 ⇒ ρ˙1 =r ˙1, v1 = |%˙1| = %˙1 · %˙1 = v1 (C.27) Se¸c˜aoC.4. Transforma¸c˜aodos elementos orbitais: Astrocˆentrico para Jacobi 127

Para obter as express˜oesda varia¸c˜ao temporal das segundas quantidades, atente-se:

 2 2 2 1/2 ρ2 = |%2| = r2 + γ r1 − 2γ%1 · %2 , (C.28) " dρ2 1 2 ρ˙2 = = r2r˙2 + γ r1r˙1 − γ[(r ˙1r2 + r1r˙2) cos Φ (C.29) dt ρ2 # ˙ ˙ −r1r2(f1 − f2) sin Φ] ,

e a velocidade d%2/dt

(J)  2 2 2 1/2 v2 = |%˙2| = v2 + γ v1 − 2γv1 · v2 (C.30)

Nas equa¸c˜oesanteriores, %1 · %2 = ρ1ρ2 cos ϑ, onde ϑ vem a ser o ˆangulo entre os vetores posi¸c˜ao %1 e %2. Em termos das quantidade conhecidas:

2 2 %1 · %2 = r1 · r2 − γr1 = r1r2 cos Φ − γr1 (C.31)

Algumas rela¸c˜oespertinentes ao problema:

%1 · %˙1 = r1 · v1 (C.32)

2 %2 · %˙2 = r2 · v2 − γ(r2 · v1 + r1 · v2) + γ r1 · v1 (C.33)

Obtivemos todas as rela¸c˜oesacima em termos de quantidades que assumimos serem conhecidas, atrav´esdas equa¸c˜oesdadas na se¸c˜aoC.1.

C.4 Transforma¸c˜ao dos elementos orbitais: Astrocˆentrico para Jacobi

Os semi-eixos maiores e excentricidades podem ser obtidos atrav´esdas rela¸c˜oescl´assicas do problema de dois corpos (Ferraz-Mello et al., 2005): µr a = , (C.34) 2µ − rw2 s  r 2 (r · w)2 e = 1 − + , (C.35) a µa onde usamos a velocidade definida no referencial de movimento kepleriano p w = w = |w|, (C.36) β e βi = Mmi/(M + mi), com M designando a massa do corpo central (o qual, atente-se, nem sempre ser´ao corpo m0, como podemos ver na formula¸c˜aojacobiana). O vetor p define o momento linear conjugado a coordenada r. 128 Apˆendice C. Transforma¸c˜aode Elementos Orbitais

No referencial de Jacobi, as rela¸c˜oesque definem os elemetos orbitais s˜aoreescritas como:

(J) µ˜iρi ai = 2 , µ˜i = Gσi; (C.37) 2˜µi − ρiwi v u !2 u ρ (% · w ) (J) t i i i ei = 1 − (J) + (J) ; (C.38) ai µ˜iai

i X σi = mi (C.39) k=0 Para as coordenadas de Jacobi, tem-se

(J) σk wk = πk, (C.40) mkσk−1 onde πk ´eo vetor momento conjugado `arespectiva coordenada %k. Na se¸c˜ao2.4 do cap´ıtulo 2, apresentamos as express˜oesque fornecem os momentos conjugados `ascoordenadas de Jacobi, em termos dos momentos dados em um referencial baricˆentrico inicial. Observando as rela¸c˜oes,´eposs´ıvel obter que (J) wk = %˙k (C.41) Temos, finalmente:

(J) (A) (J) (A) a1 = a1 , e1 = e1 ; (C.42) v u !2 µ˜ ρ u ρ (% · %˙ )2 (J) 2 2 (J) t 2 2 2 a2 = (J) , e2 = 1 − (J) + (J) (C.43) 2˜µ2 − ρ2w2 a2 µ˜2a2

C.5 Equa¸c˜oespara o sistema de Poincar´e

J´aconhecemos a formula¸c˜aode coordenadas de Poincar´e,na qual a posi¸c˜aodo i- ´esimocorpo ´eastrocˆentrica, enquanto o momento conjugado `arespectiva coordenada ´e baricˆentrico. Sejam ζ1 e ζ2 os vetores de posi¸c˜aoutilizando as coordenadas de Poincar´e,e os respectivos momentos conjugados definidos por Π1 e Π2.

ζ1 = r1, Π1 = P1; (C.44)

ζ2 = r2, Π2 = P2, (C.45) onde Pi = miVi ´eo momento no referencial baricˆentrico (Vi denota a velocidade ba- ricˆentrica do i-´esimocorpo). Vale, ent˜ao,a rela¸c˜ao

Π0 + Π1 + Π2 = 0 (C.46) Se¸c˜ao C.5. Equa¸c˜oespara o sistema de Poincar´e 129

Retomando as express˜oesderivadas para os momentos canˆonicosde Jacobi, apresenta- das na se¸c˜ao2.4 do cap´ıtulo2, ´ef´acilencontrar, de (2.4), que

P1 = π1 − γπ2, (C.47)

P2 = π2 (C.48)

Usando a defini¸c˜aode velocidade kepleriana, temos que π σ w(J) = %˙ = i , β˜ = i i i ˜ i βi miσi−1 Dos resultados derivados nas se¸c˜oesanteriores, obtemos π (m + m + m ) w(J) = 2 = 0 1 2 m V = v − γv (C.49) 2 ˜ 2 2 2 1 β2 m2(m0 + m1) e, em termos das velocidades astrocˆentricas, tem-se 1 V = [(m + m )v − m v ], (C.50) 2 M 0 1 2 1 1

M = m0 + m1 + m2. Fazendo analogamente para V1, chega-se a 1 V1 = [(m0M + m1m2)v1 − (m0 + m1)m2v2] (C.51) M(m0 + m1) Da rela¸c˜aode conserva¸c˜ao(C.46), facilmente tem-se 1 V0 = − (m1V1 + m2V2) (C.52) m0 No senso das coordenadas de Poincar´e, as defini¸c˜oesdas velocidades keplerianas ficam

(P ) m1 (P ) m2 w1 = V1, w2 = V2 (C.53) β1 β2 Os m´odulosdas velocidades baricˆentricas ser˜aodados por:  p 1 2 2 V1 = |V1| = V1 · V1 = (m0M + m1m2) v1 + (C.54) M(m0 + m1)  2 2 2 m2(m0 + m1) v2 − 2m2(m0M + m1m2)(m0 + m1)v1 · v2 ,

p 1   V = |V | = V · V = (m + m )2v2 + m2v2 − 2m (m + m )v · v (C.55) 2 2 2 2 M 0 1 2 1 1 1 0 1 1 2 Fornecemos abaixo alguns resultados ´uteis,em termos das quantidades conhecidas (as- trocˆentricas):  (P ) m1 m1 r1 · w1 = r1 · V1 = (m0M + m1m2)r1 · v1 (C.56) β1 Mβ1(m0 + m1)

−m2(m0 + m1)r1 · v2,  (P ) m2 m2 r2 · w2 = r2 · V2 = (m0 + m1)r2 · v2 − m1r2 · v1 (C.57) β2 Mβ2 130 Apˆendice C. Transforma¸c˜aode Elementos Orbitais

C.6 Transforma¸c˜aodos elementos orbitais: Astrocˆentrico para Poincar´e

Usando as express˜oesde (C.35), podemos calcular os elementos orbitais de Poincar´e (ou elementos astrocˆentricos canˆonicos(Ferraz-Mello et al., 2006)):

µ r µ β2r a(P ) = 1 1 = 1 1 1 , (C.58) 1 (P )2 2µ β2 − m2r V 2 2µ1 − r1w1 1 1 1 1 1 v u !2 (P ) u r (r · w )2 (P ) t 1 1 1 e1 = 1 − (P ) + (P ) , (C.59) a1 µ1a1 µ r µ β2r a(P ) = 2 2 = 2 2 2 , (C.60) 2 (P )2 2µ β2 − m2r V 2 2µ2 − r2w2 2 2 2 2 2 v u !2 (P ) u r (r · w )2 (P ) t 2 2 2 e2 = 1 − (P ) + (P ) (C.61) a2 µ2a2