UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE RELAÇÕES PÚBLICAS

JORGE FRANCISCO PUENTE ARNAO GALARRETA

A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NO FUTEBOL: ANÁLISE DE UMA PARTIDA ENTRE GRÊMIO E FLAMENGO

Santa Maria/RS 2013

JORGE FRANCISCO PUENTE ARNAO GALARRETA

A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NO FUTEBOL: ANÁLISE DE UMA PARTIDA ENTRE GRÊMIO E FLAMENGO

Monografia apresentada ao Componente Curricular TCCII do Curso de Relações Públicas do Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Maria, como requisito parcial para conclusão do curso.

Orientação: Professor Dr. Flavi Ferreira Lisboa Filho

Santa Maria/RS 2013

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas Curso de Relações Públicas

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia

A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NO FUTEBOL: ANÁLISE DE UMA PARTIDA ENTRE GRÊMIO E FLAMENGO

elaborada por Jorge Francisco Puente Arnao Galarreta

como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Públicas

Comissão Examinadora

Flavi Ferreira Lisboa Filho, Dr. (UFSM) (Orientador)

Isabel Padilha Guimarães, Dra. (UFSM)

Giane Vargas Escobar, Me. (UFSM)

Santa Maria, 2013

RESUMO

Este trabalho trata sobre a construção de identidades no futebol a partir da análise de um jogo entre Grêmio x Flamengo, pelo campeonato brasileiro de 2011. A partida envolve a volta do , ex-jogador do Grêmio e agora jogador do Flamengo, para Porto Alegre, local sede do Grêmio. Esta pesquisa pretende demonstrar como um evento esportivo, por meio do suporte televisivo, pode contribuir para modificar identidades que já são estruturadas e entender/refletir sobre as intencionalidades da emissora para que aconteça desta maneira. No contexto metodológico foi utilizada a Análise Textual combinada com o Circuito de Johnson dos Estudos Culturais através dos quais foi realizada a captação e verificação dos elementos simbólicos. Os resultados do trabalho evidenciam a partida colocando o Flamengo como uma equipe maior do que o Grêmio, passando a ideia que o Flamengo não conseguiu a vitória por deméritos do mesmo e não por mérito do time adversário. Neste jogo fica evidenciada a derrota do Ronaldinho e não a vitória do Grêmio. Palavras-Chave: Identidade; Futebol; Televisão

ABSTRACT

This work deals with the building of identities in football based on the analysis of a game between Grêmio and Flamengo in the Brazilian championship of 2011. The game involves the return of Ronaldinho, former player of Grêmio and current player of Flamengo, to Porto Alegre, location of Grêmio. The aim of this research is to demonstrate how a sport event, by means of television support, can contribute to modify established identities and to understand/think over the intention of the media to make it happen in this way. Within the methodological context, the Textual Analysis was used together with the Johnson Circuit of Cultural Studies to collect and verify the symbolic elements. The outcomes of the work prove that the game ranks Flamengo as a better team than Grêmio, conveying the idea that Flamengo did not win because of its own weaknesses and not because of the strengths of its opponent. This game shows that Ronaldinho was defeated rather than that Grêmio won. Key words: Identity, football, television.

Dedico este trabalho a minha família que sempre me incentivou a estudar e acreditou em mim e também a minha namorada que esteve sempre ao meu lado me dando apoio e amor.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me proporcionado tantas pessoas e momentos bons, que me deram força para sempre alcançar meus objetivos; A minha mãe, Maria Del Carmen, por ter dado tudo dela para me ver formado, me deu conselhos, apoio, carinho e sabedoria; Ao meu pai, Jorge, por ter me dado força e coragem como ele sempre teve; As minhas irmãs Sandra e Gabriela que me aconselharam e me deram apoio para que pudesse estudar e me formar; A minha namorada Mariana Henriques que foi a melhor pessoa que poderia ter encontrado para estar ao meu lado nestes 3 dos 4 anos de faculdade e que me ajudou de diversas maneiras para que eu pudesse concluir o meu TCC; Ao meu orientador Flavi Ferreira Lisboa Filho por ser um mentor, pelas orientações, pelos conselhos e pela paciência neste ano de parceria; A Carmen Regina Nogueira pelas correções no meu trabalho; Ao grupo de estudos sobre Estudos Culturais que me rendeu leituras importantes para a minha pesquisa; E a todos que, de alguma maneira, contribuíram direta ou indiretamente para que este trabalho fosse possível

SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...... 12 1. CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES...... 14 1.1 SOBRE IDENTIDADE ...... 14 1.2 IDENTIDADE GAÚCHA E GREMISTA ...... 17 1.3 IDENTIDADE CARIOCA E FLAMENGUISTA ...... 20 2. TRANSMISSÂO TELEVISIVA ESPORTIVA ...... 22 2.1 HISTÓRIA ...... 22 2.2 PECULIARIDADES DA TRANSMISSÃO TELEVISIVA (SOM/IMAGEM/NARRAÇÃO)...... 24 2.2.1 Som ...... 24 2.2.2 Imagem ...... 26 2.2.3 Narração ...... 28 2.3 ESPETÁCULO ...... 30 3. CAMINHO METODOLÓGICO ...... 33 3.1 ESTUDOS CULTURAIS E CIRCUITO DO JOHNSON ...... 34 3.1.1 Analise cultural ...... 35 3.1.2 Os estudos culturais e o circuito de Johnson ...... 36 3.2 ANÁLISE TEXTUAL E CATEGORIAS ...... 39 3.3 APROXIMAÇÃO COM O OBJETO ...... 42 4. ANÁLISE DA PARTIDA ...... 45 4.1 PRIMEIRA FASE ...... 45 4.1.1 Sujeitos e interações ...... 45 4.1.2 Textos Verbais ...... 47 4.1.3 História ...... 50 4.1.4 Cena ...... 52 4.2 SEGUNDA FASE ...... 59 4.2.1 Categorias ...... 59 4.2.2 Desvendando a partida ...... 61 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 72 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 74

9

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Linguagem do futebol do narrador ...... 46 Quadro 2 – Frases referentes ao jogador Ronaldinho...... 47 Quadro 3 – Citação de outros esportes pelo narrador...... 48 Quadro 4 – Exemplo de discurso analítico...... 48 Quadro 5 – Valorização do Ronaldinho pelo comentarista...... 49 Quadro 6 – Valorização do Flamengo pelo comentarista...... 49 Quadro 7 – Transcrição das imagens mostradas na transmissão nos melhores momentos do primeiro tempo...... 55 Quadro 8 – Transcrição das imagens mostradas na transmissão nos melhores momentos do segundo tempo...... 56 Quadro 9 – Manifestações da torcida no primeiro tempo da partida...... 57 Quadro 10 – Manifestações da torcida no segundo tempo da partida...... 57 Quadro 11 – Comentários do narrador e comentarista no primeiro tempo da partida...... 57 Quadro 12 – Comentário do narrador e comentarista no segundo tempo da partida...... 59 Quadro 13 – Comentário que valoriza o erro do Flamengo e não o gol do André Lima...... 64 Quadro 14 – Comentário enaltecendo o desempenho do Flamengo...... 64 Quadro 15 – Narração do chute do Ronaldinho e defesa do Victor...... 65 Quadro 16 – Narração do chute do Douglas e defesa do Felipe...... 65 Quadro 17 – Narração do chute do Thomas e defesa do Victor...... 66 Quadro 18 – Sobre o que é citado nos espaços vazios no primeiro tempo...... 67 Quadro 19 – Sobre o que é citado nos espaços vazios no segundo tempo...... 67 Quadro 20 – Comentário positivo sobre o Ronaldinho...... 68 Quadro 21 – Comentário positivo sobre o Flamengo...... 68

10

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Histórico da partida em relação a vitórias e gols...... 50 Gráfico 2 – maior tabu e maior jejum entre as duas equipes...... 50

11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Circuito da Cultura, conforme Johnson...... 37 Figura 2 - As partidas em que houve maior diferença de gols entre as equipes...... 51 Figura 3 – Modelo de posicionamento das câmeras em campo...... 53 Figura 4 – Vestimentas das duas equipes...... 62 Figura 5 – Ronaldinho sendo entrevistado no final da partida...... 63 Figura 6 – Falta cobrada por Ronaldinho, aos 2 minutos e 53 da partida. (06:30 do vídeo, em anexo)...... 65 Figura 7 – Chute do Douglas e defesa do Filipe...... 66 Figura 8 – Chute do Thomas e defesa do Victor...... 66 Figura 9 – Câmera focando Ronaldinho...... 68 Figura 10 – Cartaz 1 da torcida...... 69 Figura 11 – Cartaz 2 da torcida...... 69 Figura 12 – Cartaz 3 da torcida...... 70 Figura 13 – Cartaz 4 da torcida...... 70 Figura 14 – Cartaz 5 da torcida...... 71 Figura 15 – Cartaz 6 da torcida...... 71

12

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O futebol é um dos esportes mais assistidos e praticados no mundo. O Brasil é considerado o país do futebol, sendo este o seu esporte característico. Já se tornou uma tradição assistir aos jogos nas tardes de domingo e nas noites de quarta-feira1. Por esses motivos, é muito difícil encontrar alguém que não torça por algum clube de futebol em especial ou, pelo menos, pela Seleção Brasileira. É neste contexto que, muitas vezes, se assiste às partidas apenas com a emoção de torcedores, vibrando pela própria equipe, deixando passar despercebidos vários fatores inerentes às transmissões das partidas de futebol. Muitos entendem o esporte apenas como um jogo ou um entretenimento e não percebem que por detrás dele ou de sua transmissão, existe a construção de um evento, que considera fatos desde a escolha do narrador, da posição das câmeras, do modo como é narrado o jogo, tudo de forma a influenciar os telespectadores. Neste sentido, este trabalho busca mostrar as relações entre a mídia e o futebol, assim como os fatores que influenciam a transmissão de uma partida e, por conseqüência, a construção de identidades. Para este estudo foi selecionada a partida entre Grêmio e Flamengo, transmitida no dia 30 de outubro de 2011, válida pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro do mesmo ano. Para a realização deste esforço investigativo é necessário o entendimento das construções simbólicas presentes na transmissão televisiva de uma partida de futebol. Seja por meio de influências sociais, políticas, culturais ou econômicas, as transmissões televisivas carregam consigo significados relacionados à partida de futebol, que são repassadas e percebidas nos diferentes contextos da construção do evento. Através dos uniformes, da maneira de jogar, do posicionamento das câmeras, do modo de narrar a partida, entre outros elementos, é possível perceber que cada ação tem uma intencionalidade. A partir desta lógica buscam-se verificar quais são as construções identitárias criadas a partir da transmissão televisiva. Para dar conta deste propósito, utilizam-se os estudos da cultura para melhor compreensão das produções influenciadas pelas

1 As partidas do Campeonato Brasileiro são disputadas geralmente nas quartas-feiras e nos domingos.

13 ideias hegemônicas de quem produz ou para quem produz, com base em autores como Escosteguy (2007), Hall (2003) e Cevasco (2001). Foram realizados estudos dos conceitos de identidades, nas construções individuais das pessoas ou coletivas, para explicar quais são os valores passados pela transmissão e como eles possivelmente são recebidos pelos telespectadores. Temas, como: identidade brasileira, regional, gremista ou flamenguista são trazidos por meio dos autores Cuche (1999), Damo (2009) e Guazzelli (2000). Também foram coletadas informações referentes ao futebol e sua história, voltada para o Rio Grande do Sul e para o , por serem os Estados dos times analisados, através de Murray (2000), Tevah (2009) e Coutinho (2009). Informações sobre a transmissão televisiva e suas construções simbólicas, foram buscadas em Affini (2012), Lisboa Filho (2009), Savenhago (2011), Simões (2004) e Williams (2002). A análise do objeto se foi feita partir da metodologia da análise textual recomendada por Casetti e Chio (1999) combinado com o circuito da cultura de Johnson (1999). Neste sentido, o objeto caracteriza-se pelo jogo entre o Grêmio e Flamengo, válido pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2011 e transmitido pelo Premiere Futebol Clube2. Neste jogo, destaca-se a volta do Ronaldinho ao Estádio Olímpico (do Grêmio), o qual será a referência do jogo para o narrador da transmissão. Portanto, o objetivo principal deste trabalho é de demonstrar como um evento esportivo, por meio da transmissão televisiva, pode contribuir para a construção de identidades. Pretende também, compreender de que forma esta transmissão pode contribuir para modificar identidades que já são estruturadas e entender/refletir sobre as intencionalidades da emissora para que aconteça desta maneira.

2 O Premiere FC é um canal brasileiro de televisão em pay-per-view que transmite os principais Campeonatos Estaduais de futebol no Brasil, além do Campeonato Brasileiro da Série A e da Série B. Pertence a Globosat, e está presente na SKY, NET, Claro TV e na Vivo TV, além de algumas operadoras de fora do país, como a DirecTV e a Dish Network.

14

1. CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES

1.1 Sobre Identidade

Ao iniciar este trabalho faz-se necessário abordar o tema identidade especialmente a identidade gaúcha e carioca, como ela é construída e demonstrada na transmissão de uma partida de futebol. Para tanto, questiona-se: mas afinal, a identidade pode ser construída? E o que é identidade? Quando se fala sobre identidade, refere-se a uma fonte simbólica pessoal, gerada e construída pelo sujeito, a partir da sua história de vida e do local onde ele se encontra. “Entende-se por identidade a fonte de significado e experiência de um povo” (CASTELLS, 1999, p. 22). Ronsini (2004, p. 147) ao estudar a “identidade cultural de gringos e gaúchos” ressalta que a construção da identidade se dá através da oposição ou da negação e que ela é construída em termos das categorias binárias de pobres/ricos, rural/urbano, gaúcho/brasileiro ou italiano. Neste caso, “brasileiro” se traduz por aquilo que a sociedade sul-rio-grandense considera como o “outro”, ou seja, negros e índios, que não fazem parte do “imaginário sulista” (RONSINI, 2004, p. 142) e porque não dizer, não faz parte do imaginário nacional quando se trata do Estado do Rio Grande do Sul.

15

Trata-se do tema identidade como sendo a nossa maneira de ser, nossas características adquiridas, o que nos diferencia de um sujeito para outro. Esta identidade não é apenas pessoal, também existe dentro de um povo, de uma nação, de um movimento e de um clube de futebol. Ou seja, a construção da identidade está relacionada aos grupos que fazemos parte, grupos que também possuem identidades. A existência de diversas identidades já nos encaminha para uma resposta afirmativa em relação à construção de identidade. Segundo Castells (1999), é possível sim, construir identidades, por isto, cada pessoa constrói a sua. “Para um determinado indivíduo ou ainda um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas” (CASTELLS, 1999, p. 22). A construção de identidade não está apenas no individuo, mas no mundo em que ele está inserido, pois é este mundo que influenciará nas suas escolhas de comportamento e de identidade, ajudando-o a construir a sua própria história pessoal e tornando-se um sujeito.

A construção de identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso (CASTELLS, 1999, p. 23)

É necessário não confundir este conceito de construção de identidade, para que não seja equivocado como um aprisionamento, como se dependesse do fato de estar inserido em um lugar para que a nossa identidade seja da mesma maneira daquele local. Somos livres para criar a nossa própria identidade, apenas sofremos fortes influências do meio que nos rodeia. “Todos esses materiais são processados pelos indivíduos [...] que reorganizam seu significado em função de tendências sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura social, bem como em sua visão de tempo/espaço” (CASTELLS, 1999, p. 23). Por outro lado, a influência causada pelas mídias e, principalmente, pela televisão é enorme e precisa ser revista para que os interesses privados das emissoras não enfraqueçam as identidades construídas e preservadas ao longo dos anos pelas entidades e/ou povos. Para reforçar esta ideia, pode-se citar o pensamento de Esteves (1999), sobre a necessidade de repensar o papel da mídia

16 na construção de identidades, pois, hoje, vive-se em uma sociedade midiatizada e de consumo. A análise de diversas questões relacionadas ao Rio Grande do Sul e ao Rio de Janeiro, como o povo, as cidades e clubes de futebol, muitas vezes, envolve também a análise de aspectos correlatos à identidade gaúcha e carioca, respectivamente. Inicialmente, devemos levar em conta que identidade é um conjunto de características que identificam determinado grupo social e servem como forma de reconhecimento e diferenciação, pois, “todo grupo é dotado de uma identidade que corresponde à sua definição social, definição que permite situá-lo no conjunto social” (CUCHE, 1999, p.177). Nesse sentido, pode-se dizer que as identidades se firmam através da diferença. “A identidade, pois, não é o oposto da diferença: a identidade depende da diferença” (LISBOA FILHO, 2009, p.68). Ou seja, diferenciam-se de outros povos e de outras culturas pelas nossas semelhanças, no modo de pensar, agir, falar, nas nossas representações simbólicas. Entretanto, deve-se levar em conta, que essas identidades não são normas fixas. Estão em constante mutação, são passíveis de sofrerem diversas influências e modificarem-se. Hall (1996) explica que, por serem advindas de um processo histórico, como tudo que se relaciona à história, estão em constante transformação. No mundo esportivo, pode-se falar dela relacionada ao futebol. De acordo com Damo (1998), desde o próprio modo brasileiro de jogar futebol, que apresenta alguns traços e marcas próprias, diferenciando-se, por exemplo, do futebol europeu. O primeiro, caracterizado pelo futebol arte, pelo dom de jogar bola, o espetáculo do futebol. O segundo, baseado na força, no coletivo, no competitivo. Além disso, dentro de um mesmo país, essas características podem variar de região para região, criando diferentes identidades. “Num país tão extenso geograficamente, socialmente estratificado e culturalmente diversificado, o futebol expressaria as diversidades regionais, as hierarquias sócio-econômicas e as diferenças étnicas e raciais” (DAMO, 1998, p.88). Neste contexto, não se deve falar sobre o futebol brasileiro, no singular, e sim, falar sobre os "futebóis" no plural, os diferentes estilos de futebol jogados em um mesmo país. Porém, mesmo que esta pesquisa possa ser vista por diversos vieses, como o sócio-econômico ou étnico, principalmente pelo fato do jogador Ronaldinho ser negro e ter vindo de uma família pobre, trata-se, principalmente, das

17 diversidades regionais e históricas que são predominantes na construção de identidades das duas equipes envolvidas na partida. A televisão, como um grande meio de comunicação, tem relação direta com a construção, fomentação, desconstrução e fortalecimento de identidade. O papel da mídia nesta relação com a identidade pode ser demonstrada principalmente no reforço de valores de uma identidade.

Um segundo patamar de análise diz respeito não à reação dos veículos a situações de risco aos valores formadores da identidade nacional, mas à sua atuação proativa no sentido de construir e modernizar esse conjunto de valores. Nesse aspecto, a atuação da mídia se dá, sobretudo, no sentido de reforçar os valores já existentes. (LINS, 2001, p.6)

Ou seja, se por um lado tem-se a liberdade de construir a nossa identidade, por meio de fonte de significados e experiências de um povo, também se sofre uma forte influência da sociedade midiatizada, que, não tem poder para nos dominar e nos persuadir sempre a pensar de alguma maneira específica, mas, tem poder para colocar em dúvida as nossas crenças e disseminar, em massa, a informação que esteja interessada.

Trata-se, portanto, de um processo ambíguo. Por um lado, confere-se ao sujeito a responsabilidade e a autonomia na construção de suas representações papéis sociais. Mas, ao mesmo tempo, por meio de uma enorme engrenagem cujo lugar central se daria através dos diversos meios de comunicação, estimula-o consumir não só para satisfazer necessidades primárias e marcar posições sociais: consumo passa a ser uma via pela qual o sujeito constrói a si mesmo (ENNE apud, FARIA, FERNANDES, 2007, p.4).

É por este motivo que será analisada a construção de identidade dos clubes de futebol Grêmio e Flamengo, em uma transmissão televisiva. Acredita-se ser a televisão um dos meios mais influentes, no que se refere aos esportes e a (des)construção de identidades.

1.2 Identidade Gaúcha e Gremista

Quando se pensa na identidade do povo gaúcho, analisada a partir de lendas, tradições, folclores, histórias de lutas e guerras, tem-se a representação do povo a

18 partir de um tipo social: o povo guerreiro, batalhador, trabalhador, orgulhoso, com princípios, ética, moral, um povo de garra, força. Nesse contexto, a mídia assume o importante papel de ser um dos principais meios de representação desta identidade gaúcha, que é projetada dos tipos míticos criados pela literatura e que residem no imaginário desta população. No caso da mídia, em especial da tevê, isso é feito através de programas locais e nacionais, sejam novelas, reportagens e até partidas de futebol. Dessa forma, ao afirmar que a identidade está diretamente relacionada com a história, também é válida a afirmação de que a identidade do futebol de uma determinada região também está relacionada à sua história. No caso do futebol gaúcho, ele é visto como um futebol de garra, força, que “dá o sangue” pelo seu time, é marcado pela rivalidade, pela “peleia”. Ou seja, muitas das características atribuídas ao povo gaúcho, também são atribuídas ao seu futebol. Além das características gerais do futebol, Damo (1998), relata que essa influência também recai sobre as torcidas. As manifestações são feitas baseadas no estereotipo do gaúcho altivo, valente e destemido, o centauro dos pampas. Essas revelações também são utilizadas e representadas pela e na mídia. O futebol gaúcho, devido a fatos como as imigrações e a proximidade geográfica com a região do Prata3, adquiriu singularidades muitas vezes mais européias do que brasileiras. Devido ao histórico de batalhas do Estado, muitas das conquistas dos times gaúchos transformam-se em verdadeiras epopéias, com forte apelo emocional, muito bem utilizado pelo maior Grupo de Comunicação do Sul do Brasil, o grupo RBS. Desta forma, é tarefa do narrador captar esses sentidos de gauchidade4, essas tendências tradicionais (listas) e adaptar o seu uso ao futebol, transformando os jogos em verdadeiras batalhas dos gaúchos.

Os times gaúchos possibilitam mostrar aos "outros" não apenas quem ou o que "somos", mas quão poderosos "nós somos". E é nessa complementaridade que reside a força do regionalismo e, mais especificamente, da parceria gauchismo-futebol. (DAMO, 1998, p. 100)

É possível dizer, que “o futebol gaúcho representa em grande medida os problemas que atingem outros segmentos gaúchos” (GUAZZELLI, 2009, p. 22). Em

3 Local palco de grandes conflitos que envolveram povos gaúchos. A região do Prata é a região que envolve a bacio do rio da Prata, nos países da Argentina e Uruguai, colonizados por espanhóis. 4 A escolha do termo gauchidade se dá por uma questão semântica. O sufixo "(i)dade"designa qualidade, característica inerente ao objeto que dela é portador. (LISBOA FILHO, 2009)

19 outras palavras, através dele, muitas vezes fica visível o sentimento existente em relação ao resto do Brasil. Sentimento esse, que também possui origens históricas: Revolução Farroupilha (1835-45), Guerra do Paraguai, Revolução Federalista (1893- 95), Coluna Prestes, Revolução de 30, "Legalidade" em 1961, além de outros conflitos que levam o gaúcho a ser conhecido como o “produto das guerras”. Existem também, problemas atuais do cotidiano que remetem a esta representação, como a seca, a pobreza, pouca industrialização, diminuição no incentivo da agricultura, entre outros. Junto a isso, na história do futebol, baseado também nas rivalidades políticas existentes e na forma de jogo praticado pelos gaúchos, o futebol do Estado foi sempre relegado a segundo ou terceiro plano no contexto brasileiro. Os jogadores do Rio Grande do Sul são estatisticamente menos convocados para a seleção brasileira do que de outros estados. De acordo com Guazzelli (2009), inicialmente Rio de Janeiro e São Paulo eram as grandes e únicas potencias esportivas, com o tempo, Minas Gerais entrou no rol dos grandes clubes. Pode-se fazer alusão desta relação à política do “café com leite”, marcada na República Velha do Brasil, na qual por meio de acordos políticos o presidente escolhido poderia ser apenas de São Paulo ou de Minas Gerais, gerando assim o monopólio econômico, demográfico e político. Em meio a estes fatos os clubes gaúchos também eram excluídos e deixados à parte do futebol brasileiro. Apenas em 1934, na Copa da Itália é que o primeiro jogador gaúcho foi convocado à seleção nacional. Outro fato interessante, que pode ser lembrado é sobre a Liga das Canelas Pretas, criada em Porto Alegre. Era um campeonato disputado “somente por time de jogadores negros que não eram aceitos em outras equipes” (JESUS, 1999, p. 150). Já que o Grêmio só passou a admitir em seus quadros, jogadores negros a partir da década de 1950. A partir dessas relações históricas, a identidade do Grêmio Foot-ball Porto Alegrense vai sendo criada. Primeiramente, a virilidade surge como característica predominante das equipes gaúchas. Segundo Guazzelli (1998), essa característica própria do futebol gaúcho poderia ser explicada a partir de duas constatações: a primeira que a população atribuía as qualidades do jogador gaúcho ao peão campeiro e, segundo, que a proximidade entre o Rio Grande do Sul e os países do

20

Prata tornavam o futebol gaúcho mais aguerrido, supostamente influenciado pela bravura e vigor destes países.

Não por acaso, três das cinco torcidas organizadas do Grêmio fazem, no próprio nome, referência a esses atributos. A Super Raça, a Garra Tricolor e a Força Azul demonstram que os gremistas, apesar da rivalidade Gre- Nal, partilham determinados traços da identidade colorada e vice-versa (DAMO, 1998, p.94).

A conotação “imortal” surgiu na criação do segundo hino da equipe do Grêmio, por Lupicínio Rodrigues, em 1953, e pode ser visualizado no trecho a seguir: “50 anos de glória, tens imortal tricolor”. A partir daquele momento o nome “imortal” seria reconhecido e lembrado pelos torcedores, adversários, narradores e comentaristas esportivos, nas partidas de futebol com viradas de épicas, conquistas de campeonatos e situações inusitadas no futebol.

1.3 Identidade Carioca e Flamenguista

A identidade do Clube de Regatas do Flamengo está diretamente ligada à carioca. Esta é conhecida pelas características que foram exaltadas ao longo dos anos e ficou marcada como identidade carioca. Esta singularidade carioca se confunde com a brasileira, visto que, ao longo do tempo, se atribuiu estas peculiaridades como sendo a do brasileiro. As particularidades exaltadas são a do carioca malandro, que gosta de festa, é feliz, tem preferência pelo samba. Características que podem ser vistas no personagem Zé Carioca, símbolo mundialmente conhecido, criado pela Walt Disney para identificar o Brasil. A identidade brasileira, que está totalmente relacionada à identidade carioca, é vista também no filme Rio5, no qual futebol, carnaval, samba, festas e a malandragem carioca fazem parte das características dos personagens brasileiros do filme.

Na maioria das vezes, o que se descobre e o que se escreve sobre o Rio de Janeiro é generalizado e tido como representativo de todo o Brasil, como se aquilo que se convencionou chamar de “identidade nacional brasileira” sempre se confundisse com os traços culturais da “cidade maravilhosa”, e vice-versa (GOLDENBERG, 2002, p. 11).

5 Produção cinematográfica internacional, lançada em 2011, produzida pela Century Fox e pela Blue Sky Studios.

21

Por ser um país muito grande, com inúmeras diversidades culturais principalmente, é difícil definir características únicas, conhecidas como brasileiras. Portanto, principalmente a mídia, leva a apropriação da identidade carioca como referência. Este discurso foi identificado e reforçado por autores, como Lilia Schwarcz (1995, p.10) que cita o samba e a malandragem carioca como características do brasileiro. “O samba passou por percursos variados até se transformar em ‘produto genuinamente nacional’”. O Zé Carioca é a visão estrangeira do brasileiro, com as características visualizadas na identidade carioca, tanto que o personagem leva no seu próprio nome o “carioca” simbolizando o Brasil.

[...] o malandro aparecia definido como um sujeito bem-humorado, bom de bola e de samba, carnavalesco zeloso. Por meio da versão "Zé Carioca" da malandragem, reintroduzia-se, nos anos 50, o modelo do "jeitinho" brasileiro, a concepção freyriana de que no Brasil tudo tende a amolecer e se adaptar (SCHWARCZ, 1995, p. 12).

A malandragem carioca aqui citada é percebida nos jogadores de futebol das equipes do Rio de Janeiro, exemplos como Romário, Garrincha, e Djalminha que são conhecidos por essa característica.

Boa parte de nossos heróis nacionais, apesar de pouco conformada aos modelos "politicamente corretos", ainda faz par com a "nata da malandragem carioca de outros Carnavais" e não traria nenhum constrangimento a ela. [...] Assim como os outros, Romário é mestre no convívio da malandragem e é um bom exemplo de como no Brasil os heróis mais queridos se afastam do modelo do bom-mocismo e da idolatria ao trabalho, matéria-prima básica na construção de muitos ídolos nacionais e estrangeiros (SCHWARCZ, 1995, p. 13).

Nesse contexto, percebe-se que essa identidade é levada para o futebol também, no qual se pode notar a identidade regional dentro dos próprios times de futebol. Segundo D’onofre, Barbosa e Fernandes (2009), o futebol é visto como fomentador da cultura brasileira e regional, onde a influência sobre a sociedade na maneira de pensar e agir, a partir do mundo da bola, se torna eminente. A identidade carioca levada até a identidade nacional tem uma grande semelhança com a identidade flamenguista, que se constituiu como o time do Brasil, um time nacionalista. A malandragem também faz parte da identidade brasileira,

22 desta forma, é representada também no futebol carioca, citada anteriormente, com jogadores como o Romário. Segundo Coutinho (2009), a partir dos anos 1930, na era Vargas, a eleição do novo presidente do Flamengo José Bastos Padilha lançou campanhas com a finalidade de unir a relação entre ser brasileiro e torcer pelo Flamengo, como se um fizesse parte do outro. Assim, entende-se a identidade flamenguista representada por uma equipe que realiza um apelo nacionalista, que preza pelo gingado no futebol (samba, capoeira) e pela malandragem dentro de campo.

2. TRANSMISSÂO TELEVISIVA ESPORTIVA

2.1 História

O futebol é um dos esportes mais populares no mundo, pois é praticado em centenas de países. Desse modo, fica difícil definir com exatidão a sua origem. Vestígios de jogos de bola foram encontrados por historiadores em diversas culturas, entretanto, o esporte não era jogado com as regras que existem hoje. O futebol tornou-se tão popular graças a seu jeito simples de jogar, que não requer outro material senão uma bola. Desde cedo jovens de vários cantos do mundo começam a praticar o esporte.

As origens do jogo são diversas. De acordo com Murray (2000), acredita-se que na China antiga, por volta de 3000 a.C, os militares chineses praticavam um jogo que lembra o futebol. O “esporte”, entretanto, fazia parte de um treino militar, e as bolas eram cabeças de inimigos. No Japão foi criado um esporte chamado Kemari, que era praticado por integrantes da corte do imperador japonês. Já por volta do século I a.C., os gregos criaram um jogo chamado Episkiros, que foi difundido para os romanos, quando esses invadiram a Grécia. O esporte também se espalhou para outros continentes. No México, os Maias praticavam um jogo chamado pok ta pok. Na idade média, militares praticavam o Soule ou Harpastum.

Na Itália Medieval surgiu um jogo denominado gioco del calcio. Por volta do século XVII o futebol chega à Inglaterra, onde ganhou regras diferentes e foi organizado e

23 sistematizado da maneira mais parecida com o que há hoje. Com regras claras e objetivas, o futebol começou a ser praticado por estudantes e filhos da nobreza inglesa. Aos poucos foi se popularizando.

No ano de 1848, numa conferência em Cambridge, estabeleceu-se um único código de regras para o futebol. No ano de 1871 foi criada a figura do guarda-redes (goleiro) que seria o único que poderia colocar as mãos na bola e deveria ficar próximo ao gol para evitar a entrada da bola. Em 1875, foi estabelecida a regra do tempo de 90 minutos e em 1891 foi estabelecido o pênalti, para punir a falta dentro da área. Somente em 1907 foi estabelecida a regra do impedimento. (SILVA, 2005)

No Brasil, a história do futebol é mais recente. Segundo Murray (2000), em 1894, o estudante Charles Miller viajou para a Inglaterra, onde conheceu o jogo. Ao regressar, trouxe para o Brasil a primeira bola de futebol e algumas regras de sua prática. Murray (2000), também relata que o primeiro jogo de futebol no país aconteceu em 15 de abril de 1895, entre os funcionários de uma empresa em que Charles Miller trabalhava. O primeiro time a se formar no país foi o São Paulo Athletic, fundado em 13 de maio de 1898. Assim como na Inglaterra, inicialmente, o esporte era apenas praticado pela elite. Depois foi incorporado em inúmeras empresas, com o objetivo de criar integração entre os funcionários e, também, um vínculo maior em relação à empresa. “A vitória no Futebol aumentaria o orgulho do trabalhador pelo clube e pela empresa do qual fazia parte. O sentimento de integração poderia, assim, reduzir os conflitos no local de trabalho.” (ANTUNES, 1994, p. 106) Segundo Costa (1995), o futebol foi se popularizando devido a grande expansão da cidade na Revolução Industrial, havendo inúmeras imigrações. Este fato gerou falta de tradição e vínculos afetivos, das pessoas pela cidade, isto fez com que eles procurassem laços afetivos, emocionais e de identidade coletivo dentro do futebol. O primeiro jogo transmitido na televisão brasileira foi no dia 18 de setembro de 1950, pela extinta TV Tupi. Em 1955, a televisão mostraria um jogo de futebol ao vivo. O marco do futebol e da mídia no Brasil pode ser considerado o ano de 1956, quando a Record e TV Rio mostraram ao vivo, pela primeira vez, um jogo interestadual. “O sucesso da primeira transmissão interestadual de um jogo de

24 futebol e o aumento na venda de aparelhos estimularam as emissoras a investigar a tecnologia.” (SAVENHAGO, 2011, p. 26) A história do futebol no Brasil começa no fim do século XIX, entretanto, o esporte só começará a ser transmitido 30 anos depois. Desde então, a grande aliada das transmissões é a tecnologia. De acordo com Madrigal (2009) a primeira transmissão de um jogo de futebol no rádio brasileiro foi em 20 de fevereiro de 1932, por Nicolau Tuma. Em 1958, quando o Brasil conquistou o primeiro título mundial de futebol, e em 1962 quando foi bi campeão, as transmissões eram feitas através do rádio. Nos anos 70 as partidas das copas começaram a ser transmitidos pela televisão, em preto e branco. A partir do ano de 1974, na Copa da Alemanha Ocidental, as transmissões começaram a ser em cores. Com o passar dos anos, com a evolução tecnológica e a melhoria das câmeras, as transmissões ganharam qualidade. Já nos anos 2000, com o advento da internet, criou-se um novo modelo de transmissão esportiva, cada vez mais rápida, com mais imagens, mais repórteres e câmeras. A última inovação tecnológica foi a TV digital, criada em 2010. Com ela as imagens ficaram cada vez mais nítidas, em alta definição.

2.2 Peculiaridades da transmissão televisiva (Som/Imagem/Narração)

2.2.1 Som

As locuções esportivas televisivas, mesmo que poucos percebam, têm uma importância muito grande dentro do jogo, pois é a partir destas narrações que o jogo é contado. A importância dos narradores passa a ser observada desde a sua criação. Hoje, no Brasil, o fanatismo é tanto, que as pessoas costumam levar um rádio no estádio para ouvir a narração.

É interessante observar que o narrador do jogo logo caiu no gosto do povo brasileiro. Fascinou e se incorporou ao próprio jogo, permitindo retomar o

25

papel do contador de histórias, mantendo-o como relator das emoções, de dramas, alegrias, vitórias e derrotas (GUERRA, 2006, p.1).

Cada jogo é uma história, no qual ao mesmo tempo podem acontecer milhões de possibilidades diferentes, acontecem movimentos e situações que se repetem em quase todos os jogos, como: faltas, escanteios, gols, impedimentos e pênaltis. O futebol é um esporte narrado com muita emoção, devido ao seu público, aos fatos que acontecem dentro de campo, mas, principalmente, aqui no Brasil, devido a sua própria identidade. “Se o brasileiro é apaixonado pelo futebol, é impossível não transmitir emoção. É preciso animar o público de diferentes maneiras, até quando isso parece impossível” (WILLIAMS, 2002, p. 47). A cada partida, a cada frase dita, o narrador tem uma entonação diferente para o que é dito. Percebe-se que, na hora do jogo, quando acontece algum lance de perigo, ou de impacto, tem o seu tom de voz e a maneira de como é comentada a partida alterada, diferente do seu “jeito normal” de narrar. Este acontecimento se dá a partir da emoção passada nas narrações esportivas, característica dos locutores brasileiros.

[...] a entoação é a forma mais simples e natural de demonstrar a emoção. O brasileiro é mais inventivo, usando muitas metáforas e envolvendo-se intensamente com o ouvinte, que participa da sua fala em quase todos os momentos. (WILLIAMS, 2002, p. 5)

Outro marcador do propósito da emoção nas narrações, além da mudança de tom, pode ser visualizado no prolongamento das silabas tônicas em palavras como “falta” e “pênalti”. “A musicalidade e o ritmo veloz – mesmo quando a partida é disputada em ritmo lento – garantem uma emoção própria da narrativa e não do jogo em si”. (GUERRA, 2009, p.11) Para o referido autor, o locutor de futebol brasileiro faz do jogo um evento emocionante, a cada narração, coloca-se uma característica emotiva. Ela ainda compara esta narração com uma narração francesa, onde o locutor faz uma narração mais técnica, confundindo-se com um comentarista. “Às vezes, é sabido, o locutor exagera, seja em gritos, metáfora ou pormenores sem fim, mas a ‘cumplicidade emotiva’ faz parte do cenário e da relação entre o locutor e seu ouvinte” (WILLIAMS, 2002, p. 43). Há também uma interação com os ouvintes e os interlocutores, que são os repórteres dentro de campo e os comentaristas que ficam junto aos narradores nas

26 cabines de imprensa. Estes comentaristas são considerados como ouvintes- torcedores, dando como exemplo o telespectador que fica em casa assistindo o jogo.

Por causa dessa identificação com o ouvinte, não gostam de “esnobar” para pronunciar um nome difícil de um jogador estrangeiro. Pronunciam como se estivessem falando ou lendo esse nome em português. O importante é o ouvinte se sentir familiarizado e integrado em sua narração (WILLIAMS, 2002, p. 46).

Porém, em uma partida de futebol transmitida pela televisão, a locução é apenas 50% do jogo, os outros 50% são imagens, no qual os dois se unem e se misturam para mimetizar a partida de futebol em prol do espetáculo. “A linguagem do locutor na TV se ancora na imagem, é compartilhada pelo telespectador. Segundo o desempenho lingüístico do locutor, é possível observar a relação texto- imagem de sua narração” (WILLIAMS, 2002, p. 59).

2.2.2 Imagem

Quando se fala de imagem na televisão, fala-se principalmente, da estética. O visível na tela se torna uma das partes mais importantes na transmissão. O som e a imagem juntos criam as combinações necessárias para despertar atenção suficiente, para que os telespectadores continuem assistindo algum programa.

Como o esporte devia servir para controlar desejos corporais, suas conotações eróticas inerentes deviam ser também caladas. Hoje, essas têm permissão de aparecer à luz clara. O esporte contemporâneo é uma das esferas em que a relação intrínseca entre o estético e o erótico recebe permissão de manifestar-se (WELSCH, 2001, p. 145-146).

A imagem se torna um dos pontos mais importantes, colocando a televisão como um dos meios de comunicação mais utilizados e mais influentes que existem. Esta preferência acontece porque “sua hegemonia é por possuir uma comunicação muito mais rápida e diversificada de imagens, com um movimento muito mais dinâmico, mais ágil e mais trabalhado em detalhes” (CAMARGO, 1997). Quando falamos sobre a imagem em uma partida de futebol, a primeira coisa que podemos relacionar são as câmeras utilizadas para gravar e transmitir o espetáculo. ”Hoje as narrativas televisuais de futebol são construídas com o auxilio

27 múltiplas câmeras, mais de 20 em partidas importantes, colocadas em lugares dos mais diversos” (RIAL, 2002, p. 17). Por meio destas câmeras, há várias maneiras diferentes de ver a partida, isto é possível a partir dos planos existentes e utilizados nas transmissões esportivas televisivas.

Há uso de diferentes planos (geral, médio, de conjunto, americano, primeiro plano, primeiríssimo plano), recursos de edição, de câmera lenta, de repetição de sequências, de pianos inversos, sobreposição de imagens, e recursos da informática que permitem medir distâncias e calcular velocidades em instantes (RIAL, 2002, p.18).

Além disso, o timing em que as cenas são filmadas, cada personagem, cada sentimento expressado no rosto e cada ângulo colocado, fazem parte do roteiro criado na partida, pré-determinado, para narrar este jogo como se fosse o documentário de um espetáculo.

Não surpreende, portanto, a declaração recente de um dos produtores de programas de futebol do Canal Plus, importante canal francês, de que planejava a cobertura de um jogo como se fosse um filme ficção, elegendo personagens principais e secundários e momentos de maior ou menor dramaticidade (RIAL, 2002, p. 18).

A maneira como a partida é transmitida pelas câmeras, pode ser avaliada e comparada como era nos primeiros anos de transmissão esportiva, ficando visível, mais uma vez, os interesses privados das emissoras que transmitem os jogos na atualidade. Ou seja, antigamente os fins eram principalmente de transmitir a partida, como uma notícia, uma reportagem. Porém, atualmente, a transmissão esportiva televisiva procura criar uma história, parecida com um filme de ficção, com superação, alegria, tristeza e todos os aperitivos necessários que poderiam estar presentes para tornar a partida mais atraente, sendo finalmente, vendida para os patrocinadores.

A câmera hoje aproxima-se cada vez mais, liberando-se do campo de jogo para filmar os torcedores, a ligação entre o vestiário e o campo, o banco de reservas e os jogadores, e busca cada vez mais os detalhes. Sabe-se que esta aproximação da câmera, ou seja, a primazia dos primeiros planos ou planos de detalhe - que foi senão introduzida pelo menos consagrada pelo cinema norte-americano - tem como consequência uma maior carga emocional (RIAL, 2002, p. 18).

28

Portanto, a partir destes conceitos de imagem, é possível entender um pouco mais sobre o cenário e as cenas construídas na transmissão televisiva esportiva. A finalidade é entender, simbolicamente, o significado das imagens apresentadas na transmissão do Premiere FC, pela televisão.

2.2.3 Narração

Em um jogo de futebol, nenhuma frase é dita por acaso, o narrador tem a missão de transmitir a partida, contada como se fosse uma história, uma história de ação, emoção, conquistas ou desilusões. A narração tem características a cada frase como: reafirmar, julgar e criticar. Esta história contada, muitas vezes se confunde com o pensamento do torcedor. O locutor tem a missão de transmitir na TV o que o torcedor gostaria que fosse dito ou o que o telespectador está pensando no momento em que acontecem as ações dentro da partida.

Por causa de uma interação muito grande entre o ouvinte e o locutor, mediada pela televisão, muitas vezes, este quer falar as palavras de quem o ouve e não apenas narrar. Por isso, atos como “avaliar”, “advertir”, “animar” podem ser os mesmos atos que seriam executados pelo ouvinte, ao “torcer”. A voz do locutor passa a incorporar a “voz do ouvinte” (WILLIAMS, 2002, p. 92).

O Narrador é uma das figuras mais importantes, ele é o porta-voz do jogo, interpreta as imagens, recolhe objetos simbólicos e os traduz em palavras, quase tudo passa por ele. A principal tarefa do narrador é vender o jogo, fazê-lo interessante para os torcedores. Para isto, utiliza de temáticas específicas de cada partida, por exemplo: a troca de treinador, o jogador reserva substituindo o titular, o novo esquema de jogo, estréia de jogador, revanche, jogo decisivo, etc. Savenhago (2011) mostra uma reportagem sobre Galvão Bueno6, no qual ele se considera um vendedor de emoções. A partir disso, percebe-se o objetivo do narrador: a venda do espetáculo. Tornar o jogo atraente nem sempre é uma tarefa fácil, dependendo da qualidade dos times que estão em campo e como eles se comportam. Por isso é

6 É um narrador, radialista e apresentador esportivo brasileiro. Atualmente, Galvão trabalha para a Rede Globo. Ele é muito conhecido por narrar para brasileiros momentos relevantes do esporte nacional.

29 preciso envolver o torcedor, criar expectativas, utilizar recursos, fazer o possível para que o jogo se torne atraente.

O debate tem que bater. Não interessa o que se fala, mas o que se grita e o que não se deixa falar. A polêmica pela polêmica. Uma opinião abalizada, equilibrada, que tenta entender o outro lado, que dá margem ao pensamento contrário, que coloca fatos e deixa espaço para a opinião alheia, essa deve ser combatida. Não agrada. Não dá Ibope. Não dá. Chame os comerciais, anuncie uma enceradeira, de uma sacola de produtos quaisquer. É assim que se faz. É assim que hoje se paga (BETTING, 2005, p. 24).

Por outro lado, o improviso é a parte do espetáculo no qual se encaixa a partida de futebol em si. Cada jogo é uma história nova, com suas peculiaridades, pessoas, equipes e reações diferentes. Nesse momento, cabe à emissora que transmite alinhar a partida ao seu padrão de transmissão e contar a história da melhor maneira possível, para que o resultado esperado (um bom espetáculo) seja alcançado. As narrações mudam também de cidade para cidade, se no Rio Grande do Sul se utiliza a palavra “bagaço”, no Rio de Janeiro se utiliza a palavra “isolou”, ou seja, para cada estado uma linguagem, o mesmo é utilizado para marcar os lugares do campo, isto é visto geralmente nos jogos entre equipes da mesma região (campeonatos estaduais), fazendo desta narração, uma característica regionalista também. “Esta demarcação virtual é indispensável para a compreensão de narração esportiva, mas é preciso lembrar que os termos variam de acordo com a região”. (ABREU, 2001, p. 5) Assim, percebe-se que muitas vezes os narradores se confundem com os torcedores e, tentam beneficiar ou focar, direta ou indiretamente, seus comentários sobre uma das equipes. “Na transmissão de jogos de futebol, a maneira mais evidente de manifestar a subjetividade do locutor seria através da ‘torcida’ pessoal deste por um dos times em campo” (GASTALDO, 2001, p. 4). Essa preferência tende ser para o clube de maior dimensão entre os dois, quando é uma partida transmitida em nível nacional, pois esta equipe tem mais torcedores em relação à outra equipe e, portanto, um maior número de telespectadores. Isto já é uma característica do futebol atual, principalmente em relação aos times do RJ e SP e também aos dos outros estados.

30

Os índices de audiência pautam a cobertura e o enfoque turvo dos fatos. Logo, manda na mídia quem manda na arquibancada, mais que no campo. Flamengo e Corinthians são os senhores da imprensa. Eles jogam mais que os rivais porque tem mais torcida em campo e no sofá, no rádio e no carro. As torcidas mais numerosas dominam o noticiário. E os noticiaristas, não raro. Corinthians e Flamengo (e os demais grandes clubes de grande torcida) não são derrotados; eles é que perdem (BETTING, 2005, p. 28).

Desta maneira, podemos perceber que estas informações são relevantes no momento de analisar a partida entre o Grêmio e o Flamengo, sendo este último, considerado o maior clube do Brasil, por ter mais torcedores, já o Grêmio, um clube de menor expressão, por ser de fora do eixo Rio-SP.

2.3 Espetáculo

Antigamente, o futebol era visto de uma maneira totalmente diferente, os jogadores faziam parte de uma equipe por afinidade ou amor, as camisetas, calças e meias não tinham quase nenhum patrocinador e era visto como esporte, não como uma mercadoria. Porém, hoje, isto mudou e o futebol é um espetáculo, no qual o fim é o lucro.

O mundo ao mesmo tempo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido. E o mundo da mercadoria é assim mostrado como ele é, pois o seu movimento é idêntico ao afastamento dos homens entre si e face ao seu produto global. (DEBORD, 1997, p.23)

No mundo capitalista, onde o lucro é o fim comum e esperado, o jogo transmitido pela televisão passa a ser mais do que uma partida de futebol, transforma-se em uma mercadoria para quem a fornece. O futebol não é mais apenas um esporte, mas também um espetáculo. É necessário torná-lo um produto atraente, para que possa ser comercializado e “bem” patrocinado.

Muito mais que filmar as partidas, o que se discutia nos canais de televisão era como ir além disso, mostrando os bastidores dos clubes, como eles se preparavam para uma partida, informando estatísticas, quais os times que mais ganharam competições, quem eram os astros de cada equipe. Esperava-se atrair cada vez mais telespectadores promovendo rivalidades entre torcedores de uma equipe e outra, revestindo, dessa forma, o futebol com uma linguagem de espetáculo. (SAVENHAGO, 2011, p. 29)

31

A televisão passa a ser “dona” dos eventos esportivos, adequando os jogos à sua maneira, a fim de que possa transmitir os eventos nos horários que melhor se encaixem em sua programação. A união entre o futebol e a televisão é extremamente lucrativa para ambos os lados, pois se por um lado o esporte ganha visibilidade e força pela mídia que transmite o jogo para as massas, por outro, a televisão ganha com contratos elevados de patrocínios e diminuição de custos na programação, visto que, o cenário já está pronto e não gasta na produção do mesmo.

Agora, com o desenvolvimento de novas multimídias e da tecnologia de informação, os tecnoespetáculos têm, decisivamente, determinado os perfis e as trajetórias das sociedades e culturas contemporâneas, pelo menos nos países capitalistas avançados, ao mesmo tempo em que o espetáculo também se torna um fato marcante da globalização. (KELLNER, 2004, p.5)

Nesta partida entre Grêmio x Flamengo, especificamente, constata-se a necessidade que o canal Premiere FC tem de ser patrocinado, pois, por ser um canal fechado, necessita de patrocinadores e assinantes para continuar ativo. Estes itens podem ser decisivos para melhor entendimento das relações de interesse que acontecem nas transmissões esportivas.

Primeiramente, há hoje no setor duas formas de apropriação comercial de receitas: aquela que conta com um sistema de cobrança de tarifas para manter-se e a que depende inteiramente, para sua viabilidade financeira, do aporte de recursos decorrentes da publicidade No primeiro caso incluem-se, por exemplo, a televisão por assinatura, os serviços pagos de acesso à Internet e outros serviços diversos, por exemplo, a música ambiente (LINS, 2001, p.7).

Aqui entra o patrocínio esportivo. Este item é um dos grandes influenciadores do jogo, porém, não é o determinante. O patrocínio no futebol não é nada mais do que o exemplo concreto de que uma partida de futebol tornou-se um espetáculo comercializável. Em dias de jogos, os patrocinadores não compram o jogo em si das emissoras. Ao patrocinar um time eles não têm como saber se será um bom jogo ou não. Isso não depende deles. O que eles compram e têm direito é o privilegio de ter um espaço para divulgar a sua marca. As emissoras acabam por se tornar o meio de aproximação com o público.

32

O que elas vendem não é o programa em si, para o espectador, e sim o espaço na grade de programação para que o anunciante transmita a sua mensagem. Vendem, portanto, a possibilidade de contato entre o anunciante e um espectador (OSELAME apud CANNITO, 2010, p. 112)

Para que haja mais patrocinadores é necessário que as partidas realizadas sejam atraentes e que a audiência não diminua devido a um placar 0x0 ou porque a equipe do telespectador está perdendo. Por esse motivo, a transmissão deverá ser feita sob medidas premeditadas, conforme será visto a seguir, para que o telespectador assista a este espetáculo e os resultados do patrocínio esportivo surtam efeito. Este é o início de uma aproximação entre as empresas e os telespectadores (consumidores), a partir dos jogos de futebol, caminho no qual a mídia se torna a grande mediadora. A partir da espetacularização do futebol, com ajuda das transmissões esportivas, o evento torna-se uma forte ferramenta com poder de sedução e controle. Controle não só nas mensagens transmitidas pelas vozes do narrador e comentarista ou pelas vinhetas de propagandas, mas também nas imagens a serem mostradas, de um ou outro ângulo.

Ela “segue” e “cria” heróis do esporte, fazendo o futebol existir cada vez mais intensamente no dia a dia dos espectadores. Os locutores esportivos submetem-se à imagem e tem uma função especial na TV: eles unem pela imagem e pelo som, todo um país, ao transmitirem um feito esportivo de alguém ou de uma equipe nacional. (WILLIAMS, 2002, p. 30)

O que é passado na televisão, jogadores, juiz, torcida, técnico, etc. têm suma importância para o entendimento deste mundo oculto que acontece dentro de uma partida de futebol, pois é aqui que se realizam as interpretações da gestualidade delas.

O futebol pela televisão é modelo de aprendizagem social, além de imagens, projeta comportamentos, nos quais são realçados conteúdos simbólicos, associados às esferas ritual, espiritual e das crenças religiosas pertinentes ao universo popular, constituindo-se em um espetáculo público capaz de mobilizar sentimentos e emoções. (SIMÕES e CONCEIÇÃO, 2004, p. 3)

Esta representação ajuda a entender os objetivos das emissoras que, ao passar uma partida de futebol, tenta vender uma idéia de superação. “Um dos conceitos defendidos [...] é incentivar quem assiste não apenas a praticar esporte,

33 mas também que a vida é feita de superações de obstáculos conseguidas através de bastante disciplina” (PROCHNIK, 2010, p.12). Outra questão importante é a calendarização dos jogos, na qual a televisão tem um grande poder na escolha dos jogos, mesmo que indiretamente, já que ao organizar a tabela de jogos, as emissoras propõem ajustes para que estes jogos se encaixem nas suas programações. Todas estas afirmações são reforçadas por diferentes autores, que defendem a ideia da partida de futebol como um negócio lucrativo para as empresas. “A comercialização do espetáculo esportivo comprova que o objetivo do esporte de competição é o lucro, porque os organizadores e promotores se interessam, sobretudo pela rentabilidade econômica” (PRONI, 2002 p.1). Por último, o patrocínio esportivo acaba tornando a partida um outdoor ambulante, onde os uniformes são marcas, o campo está rodeado de placas publicitárias e a rede de televisão que transmite a partida também tem os patrocinadores das partidas, voltando à frase inicial, o futebol tornou-se um espetáculo. Assim, percebe-se a influência da televisão e das imagens mostradas para o entendimento e construção das partidas de futebol, na qual cada tomada da câmera mostra algo para ser “compreendido”, mesmo que subjetivamente e os fins, inicialmente, são determinados por quem patrocina, direta ou indiretamente, explicita ou implicitamente.

3. CAMINHO METODOLÓGICO

Para esta pesquisa utilizou-se a pesquisa qualitativa, descritiva e interpretativa. A partir da análise exploratória realizada anteriormente. É feita uma nova abordagem de forma extensiva para melhor entendimento do universo simbólico da transmissão televisiva em partidas de futebol. É importante ressaltar que este estudo é preferencialmente qualitativo, mas também traz como dados complementares algumas informações de caráter quantitativo, para que a pesquisa realizada possa ser desenvolvida com maior precisão no que se refere à análise.

34

3.1 Os estudos culturais e o circuito de Johnson

Inicialmente o conceito de cultura estava relacionado apenas a ideia de cuidado ou cultivo de um determinado produto, na época, a colheita e os animais. Com o passar do tempo, o conceito de cultura foi se ampliando. De acordo com Willians (2007) a partir do século XVI o conceito passa a englobar também o processo de desenvolvimento humano, que juntamente com a ideia de cultivo da terra e animais, será o conceito estabelecido de cultura. A partir do século XIX o termo cultura passou a ser diretamente associado ao comportamento humano. “Cultura – processo abstrato ou o produto de tal processo só passa a ser importante no final do S18 e não é comum antes de meado dos S 19.” (WILLIANS, 2007, p.118). No contexto francês, de acordo com o autor, a partir de meados do século XVIII o conceito de cultura, que também estava relacionado ao cultivo de plantas e animais, passa também a significar civilização, e desde então, a relação entre estes conceitos se tornou complicada, por vezes, ambígua. Entretanto, neste contexto, de cultura significando civilização, que também era difundido na Alemanha, Herder inovou ao desacreditar desses conceitos.

Argumentava que era necessário, no que consistia uma inovação decisiva, falar de “culturas” no plural: culturas específicas e variáveis de diferentes nações e períodos, mas também culturas específicas e variáveis dos grupos sociais e econômicos no interior de uma nação. Esse sentido desenvolveu-se amplamente no movimento romântico como alternativa ao ortodoxo e dominante “civilização” (WILLIANS, 2007, p.120).

Hoje, o termo cultura ainda continua de complexa conceituação e, baseado no autor, é possível identificar três categorias de uso além do cultivo de plantas e animais. Primeiramente pode ser entendido como um substantivo independente e abstrato que descreve um processo de desenvolvimento intelectual, espiritual e estético. Pode indicar também um modo geral ou específico de vida de um povo, uma comunidade, um período e por fim, pode ser entendido relacionado às obras práticas e atividades intelectuais e artísticas, possivelmente, a categoria mais utilizada. Pode-se dizer que “a complexidade, vale dizer, não está afinal na palavra mas nos problemas que as variações de uso indicam de maneira significativa” (WILLIANS, 2007, p.123). A complexidade do tema, acaba por fornecer conteúdo para diversas áreas de estudo, sendo uma delas, os Estudos Culturais.

35

A área dos Estudos Culturais teve início na Inglaterra, no fim dos anos 1950, com a modificação dos valores tradicionais da classe operária no pós-guerra. Seus três principais fundadores foram Raymond Williams, Edward Palmer Thompson e Richard Hoggart, fundador do Centro dos Estudos Culturais Contemporâneos (CCCS) em 1964. Hoje, os estudos culturais já se espalharam para outros continentes. A sua principal característica é ser de abrangência multidisciplinar, tendo como objetivo principal, interagir entre vários universos diferentes, a fim de estudar os aspectos culturais da sociedade. Pode-se dizer, de forma simplificada, que “os estudos culturais são um processo, uma espécie de alquimia para produzir conhecimento útil” (JOHNSON, 2006 p. 10). A importância de Hoggart, não está apenas na fundação do Centro, ele contribuiu com suas pesquisas para o melhor entendimento dos Estudos Culturais, “através da metodologia qualitativa, na medida em que seu foco de atenção recai sobre materiais culturais, antes desprezados, da cultura popular e dos mass media.” (ESCOSTEGUY, s/d, p. 139). Ainda, Escosteguy (s/d), mencionaa que “Esse trabalho inaugura o olhar de que no âmbito popular não existe apenas submissão, mas também resistência, o que, mais tarde, será recuperado pelos estudos de audiência dos meios massivos.” Thompson aparece como figura importante através da sua reconstrução da história da sociedade inglesa, sendo denominada a história “dos de baixo”, inserida dentro do contexto marxista. Entretanto, para Escosteguy (s/d) a contribuição de Williams é a que merece mais destaque, já que é ele que explica o impacto cultural dos meios massivos, com uma visão negativa da cultura popular e dos meios de comunicação. “Para ambos, Willians e Thompson, cultura era uma rede vivida de práticas e relações que constituíam a vida cotidiana, dentro da qual o papel do indivíduo estava em primeiro plano” (ESCOSTEGUY, s/d, p.2).

3.1.1 Análise cultural

Segundo Cevasco (2001), Raymond Willians acredita que a cultura é um patrimônio de todos, que engloba todos os modos de pensamento. No período pós guerra, cultura passa a ser entendida apenas como um “modo de vida”, devido ao

36 surgimento do “American way of life7”. Neste contexto, como forma de crítica ao capitalismo emergente, surge a New Left britânica8, que apoiada no marxismo liderava um movimento esquerdista na Inglaterra, em uma das sociedades mais conservadoras da Europa. Neste cenário, Willians desenvolve a sua teoria do materialismo cultural, que foi uma teoria inscrita no materialismo histórico, relacionando a questão da determinação econômica da cultura e da arte. O materialismo cultural entende que cultura está diretamente relacionada à produção, com seus processos e práticas e não pode ser entendida apenas como um objeto.

O que eu diria ter conseguido formular, mas necessariamente por esta via, é uma teoria da cultura como um processo produtivo (material e social) e das práticas específicas, as “artes”, como usos sociais de meios materiais de produção (da linguagem como consciência pratica às tecnologias específicas da escrita e de formas da escrita, passando pelos sistemas eletrônicos e mecânicos de comunicação). (WILLIANS apud CEVASCO, 2001, p. 116)

A análise cultural busca compreender as condições de existência da teoria e as partes que formam o objeto artístico. Utilizaremos os Estudos Culturais aliado à análise textual, pois não estamos considerando apenas a produção, mas também as relações culturais presentes e ausentes na partida selecionada para o estudo. Para Casetti e Chio (1999), os Estudos Culturais são fundamentais para a análise. Os estudos analisam a televisão, seu conteúdo, suas formas de expressão e recepção, levando em conta contextos sociais e culturais (LISBOA FILHO, 2009, p. 35).

3.1.2 Circuito da cultura de Johnson

Para realizar esta pesquisa, utilizou-se o protocolo de Johnson (1999), denominado circuito da cultura, o qual aborda, a partir de um esquema, um dos processos teórico-metodológicos existentes para analisar a produção e a recepção dos objetos culturais, abrangendo no seu diagrama: a produção, o texto, a recepção e as culturas vividas, conforme a imagem a seguir.

7 Modo de vida americano 8 Nova esquerda britânica

37

Figura 1: Circuito da Cultura, conforme Johnson Fonte: Adaptado de Johnson (1999, 35)

Na análise de produção, foi levado em conta o som e a imagem, desde o posicionamento das câmeras às narrações. Ao ser transmitido pela televisão, pode- se dividir a construção do espetáculo em três partes: o som, a imagem e a narração, as quais foram explicadas no capítulo dois. Os principais detalhes da transmissão esportiva televisiva tratam sobre as câmeras, as quais são posicionadas, geralmente, em locais convencionados, o modelo das falas e comentários do narrador e dos comentaristas, respectivamente, o tempo e motivo em que cada câmera foca algum detalhe do jogo. Acredita-se ser um dos principais pontos nesta transmissão, o trabalho do narrador, que transforma a partida em uma história falada, parecida com a de um rádio. Prestando atenção na relação político-econômica do canal PFC (Premiere Futebol Clube), pertencente à GLOBOSAT, fica clara a relação do jogo ser transmitido para os telespectadores, porém sendo realizada para os patrocinadores que pagam para ter as suas marcas expostas e visualizadas durante toda a transmissão da partida. Colocadas dentro do estádio, mesmo que o padrão brasileiro do posicionamento das câmeras seja utilizado por todas as redes, cada canal

38 transmissor tem as suas características. A do PFC é colocado no padrão Globo, que é conhecida por ser a transmissão de melhor qualidade e maior número de câmeras do Brasil. Já as narrações servem para contar a história e manter a atenção do telespectador, elas criam uma atmosfera de um filme onde tem a ação, suspense, romance (paixão pela equipe), drama e por último, o final feliz ou trágico. Os narradores e comentaristas são o suporte necessário para que as imagens transmitidas pela televisão tenham um sentido maior, pois é nas falas que entendemos sobre estatísticas, sobre o porquê de esta equipe estar ganhando e a outra não, porque apareceu a imagem de um jogador em específico, entre outros. A produção envolve principalmente a imagem, o som e o fim de transmitir a partida, diga-se de passagem, puramente econômicos, voltados sempre para uma narração regionalista, para o lugar onde está sendo transmitida a partida, e se for em rede nacional, o foco é a equipe de maior tradição e número de torcedores, ou seja, mais audiência, que resultam em patrocínios mais altos. Com relação ao texto, o universo simbólico representado na partida de futebol envolve muito mais do que um simples programa de entretenimento. Envolve identidades, interesses políticos, históricos, econômicos e hegemônicos. A partir desta análise pode-se comprovar a importância da transmissão esportiva e do estudo da mesma. Os elementos simbólicos puderam ser verificados a partir do som, no qual o locutor tenta passar a emoção do jogo e, algumas vezes, utiliza uma linguagem regional, porém, esta linguagem não é vista em jogos nacionais. Por último, a narração cria situações de dúvidas ou certezas, esvazia identidades e reforça fatos. Vale-se de frases que trazem consigo questões políticas, culturais e históricas. Na leitura, começamos a considerar a interpretação e a recepção. Relaciona- se com as práticas da recepção e a produção de sentidos (por parte do receptor). Para esta análise, procurou-se entender principalmente como é produzido o sentido da partida pela emissora de televisão, e como, possivelmente chegará ao telespectador. No que se refere às culturas vividas, foram consideradas principalmente as diferenças culturais entre RS e RJ, em que é possível perceber as diferenças de identidades gaúchas e cariocas, esta última frequentemente confundida com a

39 identidade brasileira. A partir destas relações culturais será possível entender como foi pensada a produção e até o que pode ter sido ignorado e ressaltado na partida. Por ser uma pesquisa que deve ser analisada com mais abrangência, optou- se por analisar de forma mais aprofundada as questões relacionadas à produção, o modo como a mídia trata a partida, deixando os temas ligados à recepção para um estudo posterior.

3.2 A análise textual e suas categorias

De acordo com Hall (2003), os textos comportam diferentes significantes e leituras, entretanto, também apresentam “indicativos”, que são pontos de destaque na mensagem, que independentes da leitura feita eles estarão presentes e podem ser decodificados. Esses pontos, de acordo com o autor, só poderiam ser desvendados através da análise textual, o que justifica a escolha de método para este trabalho. De acordo com Casetti e Chio (1999), esta análise é um instrumento útil para compreender as realizações linguísticas e comunicativas, entender as construções textuais. Em sua análise utiliza-se, principalmente, de materiais simbólicos, que, a partir de determinados padrões visíveis de funcionamento, produzem efeitos de sentido, que estão colocados de forma implícita no texto. Portanto, na análise textual “no se enfocan solamente los contenidos de las trasmisiones sino los elementos linguísticos que las caracterizan, los materiales utilizados y los códigos que presiden <>.” (CASETTI e CHIO, 1999, p. 250). A partir da construção do texto, se pode valorizar elementos, objetos, comportamentos, situações ou deixa-los de lado. É possível destacar determinado tema ou pensamento de forma implícita ou explicita. Neste sentido, a análise textual auxilia na compreensão destes pontos, dando atenção aos elementos concretos do texto e interpretando seus significados e formas de enunciação. Para tal compreensão, a análise textual vale-se de um esquema de leitura, que, de acordo com Casetti e Chio (1999), é um dispositivo que serve para guiar a investigação. Este esquema de leitura pode ser feito de duas formas distintas. A primeira, simulando uma entrevista com o analista do texto e a segunda, utilizada neste trabalho, faz uma listagem dos pontos mais importantes do texto, fornecendo uma análise mais ampla. Este modo do esquema de leitura auxilia no entendimento

40 de como um determinado programa funciona, neste caso específico, uma partida de futebol. Para realizar este trabalho, inicialmente será construindo um mapa de temas, sugerido por Casetti e Chio (1999). O mesmo é organizado por temas que são organizados por afinidades, enumerando-os e descrevendo-os para compilação dos elementos presentes, conforme proposição a seguir.

1) Sujeitos e interações

a) Tempo: relação de tempo de transmissão entre uma equipe e outra. b) Espaço: o cenário da partida, desde as faixas, os torcedores e a publicidade. c) Comportamento dos sujeitos: tom de voz e sonoridade dos narradores e comentaristas. (proxêmica, fala formal/informal, repetitivo, torcedor/imparcial) d) Função dos sujeitos: o que o narrador e os comentaristas fazem na transmissão e qual é o fio condutor dos fatos da partida de futebol.

Com estas informações, acredita-se conseguir responder as perguntas relacionadas ao tempo e espaço, definindo o objetivo de ter um narrador, um comentarista e repórteres.

2) Textos verbais

a) Estilo de linguagem utilizada: português/estrangeiro, linguagem regional, fala correta ou incorreta. b) Conteúdo do discurso: referência a indivíduos (presentes na partida de futebol, ausentes, telespectadores, a emissora, outras emissoras, comentaristas, outros narradores e comentaristas, outras equipes de futebol, outros esportes, patrocinadores, marcas). Referente aos processos e situações temporais (tempo da partida, tempo psicológico, social, histórico). Referente a estruturas e colocações espaciais (aspectos sociais, culturais, históricos e políticos). c) Tratamento do discurso: irônico, paródico, sério ou dramático.

41

d) Valorização explicita/implícita: juízos de valor sobre os sujeitos identificados anteriormente.

A partir destes pontos, será possível identificar a construção de identidade, a partir da narração e formato da linguagem.

3) História

a) Da partida de futebol: Entre Grêmio x Flamengo. b) Da estrutura temporal da história: rivalidade construída nesta partida.

Na seção de história, será possível identificar a relação da partida entre estas duas equipes, não só na sua história individual, por ser apenas mais uma partida, mas também, identificar o que representa este confronto para as duas equipes na história do futebol.

4) Cena

a) Características das intervenções: posição das câmeras no campo e o movimento delas, som das torcidas, efeitos da produção. b) Controle dos espaços vazios: manifestações do narrador e/ou comentaristas nos momentos em que o jogo está parado.

Após o emprego do roteiro do esquema de leitura proposto por Casseti e Chio (1999), usado na primeira fase, será utilizado, na segunda fase, o Circuito da Cultura de Johnson para agrupar os itens do mapeamento e posteriormente analisá-los. A partir deste agrupamento será possível chegar às respostas para os questionamentos iniciais, através dos quais, será possível encontrar e expor as construções de identidade, criadas nas transmissões televisivas em uma partida de futebol.

42

3.3 Aproximação com o objeto

Para esta pesquisa exploratória, foram abordados alguns temas iniciais referentes ao objeto de pesquisa, os quais podem ser considerados como parte da pesquisa exploratória para o trabalho final. A primeira pesquisa baseia-se em um artigo realizado para o Intercom Sul 2012, que trata sobre o esvaziamento da identidade do Grêmio no jogo entre Grêmio x Flamengo, válido pelo campeonato brasileiro de 2011. O trabalho realizado neste artigo refere-se a uma análise sobre a partida de futebol entre a equipe de futebol Grêmio Football Porto-Alegrense e o Clube de Regatas Flamengo, em que se buscou verificar como se deu o tratamento da mídia em relação ao Grêmio, em especial a sua identidade. Primeiramente, procurou-se resgatar conceitos sobre identidade e identidade gaúcha, que refletem diretamente nos clubes de futebol do estado do Rio Grande do Sul. Após esta busca inicial, se pesquisou sobre a identidade do Grêmio, para entender como ela está relacionada à história gaúcha e também como ela é tratada na transmissão da partida em questão. Para analisar a partida de futebol, procurou-se entender de que maneira são realizadas as transmissões destes eventos esportivos, desde o posicionamento das câmeras, as falas dos narradores e a possível influência do patrocínio esportivo nestas partidas. Na análise da transmissão, utilizou-se de dois quadros comparativos, mostrando em porcentagens a quantidade de vezes que o narrador e/ou o comentarista falava sobre os times (excluindo a narração da partida). Os quadros estão divididos em primeiro tempo (no qual o Flamengo estava ganhando) e segundo tempo (quando o Grêmio virou o jogo). Por fim, discorre-se sobre a identidade do Grêmio neste jogo, a partir dos relatos realizados pela mídia nesta transmissão. A partir desta análise inicial, foi possível concluir que a mídia privilegia a equipe “maior”, ou seja, com mais torcedores, telespectadores, ou originária dos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, em seus comentários, seja direta ou indiretamente. Esta preferência, por São Paulo ou Rio de Janeiro, é histórica, e pode ser relacionada também a questões políticas brasileiras. A identidade do Grêmio Football Porto-Alegrense também tem ligação direta com a história do Rio Grande do Sul, identidade exaltada nas vitórias contra equipes de menor expressão e ignorada contra equipes “maiores”. Como se os times

43 grandes do Rio ou São Paulo dessem conta de apresentar uma identidade brasileira e não regional. Estas condições, de preferência televisiva, se tornam cada vez mais usuais e comuns aos olhos dos críticos e dos telespectadores, possivelmente causadas pela espetacularização do futebol. Pelo que se pode perceber a mídia cada vez mais se rende ao poder da hegemonia capitalista. A partir desta primeira análise, recorreu-se a um viés histórico, buscando encontrar algumas respostas sobre as identidades a partir da história regional dos clubes de futebol. Esta pesquisa foi realizada para ser apresentada em congresso de história e comunicação, onde o foco seria o território e a construção das identidades a partir do local. Tendo em vista que este estudo analisa as identidades das equipes de futebol e a sua relação com a história regional, tendo como objeto o Grêmio do Rio Grande do Sul e o Flamengo do Rio de Janeiro, considera-se as possíveis influencias históricas, construídas ao longo dos anos. Primeiramente, buscou-se embasamento teórico sobre identidade. A partir desta, pode-se refletir sobre as diferentes identidades existentes, até mesmo no futebol. Neste sentido, as identidades regionais são características de cada estado, que servem como meio de diferenciação entre as outras regiões e identidades. Posteriormente, analisamos a história dos Estados e suas identidades, pois a história de um local está sempre presente na sua identidade regional, seja gaúcha, paulista, carioca, etc. Partiu-se do pressuposto de que as identidades regionais norteiam as atitudes, crenças, valores e características das equipes de futebol do mesmo Estado, o que, por consequência, influencia na construção de identidades dentro dos clubes. A partir do levantamento acerca das histórias do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, confirma-se a influência destas para a construção das identidades regionais, que são refletidas nas identidades dos times Flamengo e do Grêmio. Cabe dizer que vários fatores políticos, culturais e históricos fazem parte da construção de identidade tanto das regiões como das equipes. É preciso estudar mais a fundo o passado de cada região para compreender os fatores que influenciaram na construção das identidades vistas neste trabalho. A partir da pesquisa pode-se comprovar com exemplos práticos que a mídia trabalha a sua transmissão de partidas de futebol, favorecendo a equipe do

44

Flamengo em relação às equipes de fora do eixo Rio de Janeiro e São Paulo, neste caso, o Grêmio. Por último, realizou-se um estudo, também transformado em artigo, sobre as características simbólicas existentes em uma partida de futebol, com referência mais uma vez ao jogo entre Grêmio x Flamengo de 2011. Este artigo foi trabalhado exclusivamente com uma análise empírica sobre as características simbólicas de uma transmissão televisiva. A metodologia abordada foi a da análise textual. A importância deste trabalho é a de apresentar resultados qualitativos que demonstrem o universo simbólico envolvido nas transmissões televisivas do futebol, deixando de lado as características quantitativas. “Nos interesa reconstruir la estructura y los procesos del objeto investigado en terminos cualitativos.” (CASETTI e CHIO, 1999, p. 250) Para esta análise, utilizou-se de uma ferramenta do análise textual: o esquema de leitura, que vem a ser “un dispositivo que sirve para <> la atención de la investigación.” (CASETTI e CHIO, 1999, p. 252) O esquema em questão se divide em duas fases, na qual a primeira serve para dividir em tópicos dos diversos segmentos e enumerá-los, construindo um mapa dos componentes do programa em questão. Em segundo lugar, escolhem-se os nós textuais mais importantes para serem analisados com maior cuidado. Foram organizados em três categorias diferentes: - o som: foi analisada a entonação, a maneira de narrar a partida de futebol dos locutores e o motivo dela ser daquela maneira; - a imagem: nesta categoria analisou-se o posicionamento das câmeras, o que é mostrado, por que e qual é a importância da imagem nas partidas; - a narração: por último, analisou-se o conteúdo das narrações, o que é dito e porque, de que maneira, qual é a origem e qual é o objetivo final nas frases dos narradores e comentaristas. Foi escolhida esta metodologia de trabalho porque permite avaliar os nós textuais de maneira mais adequada, pois os dados trazidos para este trabalho, nem sempre contemplam o tema em sua totalidade.

Como já foi dito, não há um modo de coletar, transcrever e codificar um conjunto de dados que seja “verdadeiro” com referencia ao texto original. A questão, então, é ser o mais explícito possível, a respeito dos recursos que foram empregados pelos vários modos de translação e simplificação. (ROSE, 2008, p. 344)

45

Para esta análise, utilizou-se também da ferramenta da transcrição para trabalhar, focando as frases ditas pelo narrador e o comentarista da partida, além das imagens colocadas pela televisão, com a finalidade de obter mais informações sobre o objeto analisado. “A finalidade da transcrição é gerar um conjunto de dados que se preste a uma análise cuidadosa e a uma codificação. Ela translada e simplifica a imagem complexa da tela.” (ROSE, 2008, p. 348). Com ajuda do material bibliográfico apresentado, foi possível demonstrar as respostas das inquietações para este trabalho, os quais servem para fazer a análise desta partida de futebol para a presente monografia. A partir desta primeira análise comprovou-se a importância da transmissão esportiva e do estudo da mesma. Verificamos os elementos simbólicos a partir do som, no qual o locutor tenta passar a emoção do jogo e, algumas vezes, utiliza uma linguagem regional, porém, esta linguagem não é vista em jogos nacionais. A imagem se faz de suma importância para a criação da história do jogo.

4. ANÁLISE DA PARTIDA

Neste item, foram criados quatro categorias base, a partir das classificações de esquema de leitura propostos por Casetti e Chio (1999). Após classificar estes itens, será introduzida a classificação do circuito de Johnson para analisar, de maneira estruturada, a partida.

4.1 Primeira fase

4.1.1 Sujeitos e interações a) Tempo: o tempo em que o narrador e os comentaristas ocupam para falar de cada equipe foram transcritas. Eles citam e/ou discutem sobre o Grêmio: 40% do tempo total e 60% o Flamengo. Esta classificação foi retirada de uma análise realizada anteriormente sobre o tempo desta partida, em Galarreta e Lisboa Filho (2012).

46 b) Espaço: Neste item, foi analisado o espaço da partida transmitida pela televisão, os patrocinadores envolvidos, tanto nas vestimentas/uniformes quanto nas placas publicitárias, também os torcedores e as faixas que são transmitidas pelas câmeras do canal Premiere FC. Primeiro foram captados os patrocinadores envolvidos no uniforme do Flamengo, sendo cinco grandes marcas: Gillete, Duracell, BMG, Brasil Brokers e Olympicus. Já no uniforme do Grêmio, as quatro marcas envolvidas são: Banrisul, Unimed, Topper e Tramontina. Percebe-se aqui, que as marcas que patrocinam o time do Flamengo são grandes marcas, conhecidas nacional e internacionalmente, enquanto que, as marcas patrocinadoras do time gaúcho, são marcas regionais. Tais questões já demonstram uma espécie de “maioridade” do time carioca, um time reconhecido internacionalmente, com grandes patrocinadores, grande nomes. Estas marcas valorizam o Flamengo como um time nacional. Enquanto o Grêmio, um time menor, não contaria com todo esse patrocínio “importante”. Por ser um time menor, possui patrocinadores de menor abrangência. Depois os patrocinadores colocados nas placas da partida, as placas identificadas pela câmera, são: Itaú, Petrobras, Brahma, Sadia, TAM, Vivo, Engov, Guaraná Antártica, SIL, CNA e Unimed. O uniforme do Grêmio é o tradicional, tricolor, predominando o azul. O do Flamengo é o tradicional rubro-negro, predominando o vermelho, e não o segundo uniforme utilizado em partidas onde o clube não é o mandante. Por último, as faixas dos torcedores dentro do estádio, mostradas na televisão, com as frases: “Pilantra”, “Mesmo que passem 100 anos nossos filhos te conhecerão como traíra”. c) Comportamentos dos sujeitos: É possível observar que a sonoridade do narrador é parecida com a de um locutor de rádio, porém, é um pouco mais pausada, com menos detalhes, característico de um narrador esportivo televisivo. Isto acontece, provavelmente, por ter as imagens para auxiliar o telespectador, diferente do que acontece no rádio, em que o ouvinte pode utilizar a sua imaginação a partir do som. O volume de voz do narrador depende dos momentos da partida, por exemplo, em momentos de destaque, o narrador aumenta o volume da sua voz, sejam eles: faltas violentas; chutes a gol; defesas difíceis do goleiro; aproximação

47 dos jogadores com a bola na área contrária; lançamentos da bola dos jogadores em direção à área contrária; gols. A fala não é utilizada de uma maneira sofisticada. Ela tenta levar a linguagem esportiva, aproximando-se do telespectador. O comentarista muitas vezes se torna um torcedor crítico da partida, pensa e discute como tal, mostra indignação, avalia e torce junto. Ao narrar a partida, tanto o locutor quanto o comentarista, utilizam-se de uma linguagem exclusiva do futebol, utilizando frases como:

Frase Tempo “Tocou de letra” “Fernando tenta a cobertura” 01:58 ’ – Primeiro tempo “Chamou pro pé direito” 19:11’ – Primeiro tempo “Brigou pela bola” 19:35’ – Primeiro tempo “Olha o André Lima, limpou bonito, é rede” 05:00’ – Segundo tempo “Uma caneta do André Lima” 05:10’ – Segundo tempo

Quadro 1: linguagem do futebol do narrador Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão d) Função dos sujeitos: Para esta partida de futebol, o narrador escolhido foi o gaúcho Marco de Vargas, conhecido por narrar jogos dos gaúchos nos canais TVCOM, SPORTV e PFC. A sua função é de narrar o que acontece na partida, aos olhos do torcedor, relacionando a partida a estatísticas ou dados do futebol. O comentarista também é gaúcho, o ex-jogador João Batista da Silva, mais conhecido como Batista, atual comentarista das partidas do campeonato gaúcho. A ele, cabe comentar a partida de maneira técnica e lógica, o porquê acontece cada lance e o que as equipes poderiam fazer para mudar a partida em seu favor ou manter o resultado. Os repórteres também são gaúchos, Débora de Oliveira e Julio Cesar Santos. A função deles na partida de futebol é de trazer notícias instantâneas e oportunas sobre o que está acontecendo no gramado e com os atores que fazem parte da partida, jogadores, torcida, juízes, dirigentes e técnicos. Além de entrevistá-los antes do início, no intervalo e/ou após o fim da partida.

4.1.2 Textos Verbais

48 a) Estilo de linguagem utilizada: O idioma utilizado nesta partida é o português, não valorizando a linguagem regional, pois, o canal Premiere FC, um canal fechado que não é dividido por estados, tem abrangência nacional. Além disso, a partida é transmitida para todo o Brasil, por último, esta linguagem regional não é valorizada devido a estarem dentro de campo duas equipes de estados diferentes. b) Conteúdo do discurso: Nesta seção, analisou-se a presença ou a ausência de determinados indivíduos. Neste caso, cita-se como figura principal o Ronaldinho, sua atuação, seu desempenho, aspectos psicológicos, físicos, comportamentais, sua experiência em campo.

TEMPO Frases Pré- jogo “Muitas vaias para o Ronaldinho Gaúcho” (Marco) Pré-jogo “Pelo visto Ronaldo está sereno” (Marco) Primeiro “Já são 2 faltas cometidas pelo Grêmio no jogo, olha o toque de tempo letra do Ronaldinho, cheio de personalidade, debaixo de vaia 02:03’’ em Porto Alegre. Flamengo que veio ofensivo, busca ficar próximo dos líderes” (Marco) Segundo “E o torcedor extravasa também a sua alegria, Marco, porque tempo Ronaldinho foi bem no jogo, não foi brilhante, né, como muitas 42:02’’ vezes aconteceu, não foi brilhante, mas foi bem, criou situações.” (Batista)

Quadro 2: Frases referentes ao jogador Ronaldinho Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Também é analisado, nesta subcategoria, menções as demais emissoras, constatando-se que o narrador não faz menção a nenhuma outra atém do próprio PFC. Não são citadas as marcas dos espaços publicitários dentro do campo. Outras equipes de futebol são citadas quando aparece a informação de que elas fazem gols. O único esporte citado foi a luta de MMA que também passa no canal de esportes afiliada da mesma rede do Premiere FC, após uma falta do zagueiro do Flamengo no jogador do Grêmio.

TEMPO Frase Primeiro tempo - 14:28’’ “Isso é MMA hein, ô Batista?” (Marco)

Quadro 3: Citação de outros esportes pelo narrador Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

49

Nessa mesma subcategoria, ainda, analisam-se as questões relativas ao tempo da partida. O tempo é citado algumas vezes, quando o Flamengo está perdendo. O narrador diz que tem muito jogo ainda, faltando apenas 10 minutos para o fim. Os aspectos culturais e políticos são ignorados, apenas o histórico é lembrado sobre o retrospecto das partidas entre estas duas equipes. c) Tratamento do discurso: O discurso é sério, analítico e crítico, como pode ser comprovado pelo trecho da narração, destacado abaixo.

TEMPO COMENTÁRIO Primeiro “Pois é, Marco, no ataque até que ela chega, mas não com tempo 37:50’’ qualidade, pois o Grêmio não se soltou, está preso a marcação, a defesa na defesa, os jogadores do meio campo atacam pelo meio, onde é esperado pelo Grêmio...” (Batista)

Quadro 4: exemplo de discurso analítico. Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão d) Valorização explicita/implícita: O jogador Ronaldinho é valorizado a partida inteira, o único jogador a ser exaltado. A atuação da equipe do Flamengo também é exaltada, quando está ganhando e quando está perdendo.

TEMPO COMENTÁRIO Primeiro É e até agora tava olhando também o desempenho, tempo 40:35’’ cuidando bastante o desempenho do Ronaldinho, até pela vaia do torcedor, o comportamento até agora, o Ronaldinho não errou um passe, todos chegaram no lugar certo. (Batista)

Quadro 5: valorização do Ronaldinho pelo comentarista Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

TEMPO COMENTÁRIO Segundo “Uma situação realmente incrível né, Marco? [...] O tempo 40:00’’ Flamengo jogando bem, estava jogando bem o Flamengo, o jogo era muito bom de ambas as partes, estava em aberto, o Grêmio foi mais feliz, as individualidades foram que resolveram.” (Batista)

Quadro 6: valorização do Flamengo pelo comentarista Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

50

4.1.3 História a) Da partida de futebol: A história dos confrontos destas duas equipes no campeonato brasileiro começou em 1967, e até este ano, já são 56 partidas disputadas, sendo 16 vitórias para o Flamengo, 21 para o Grêmio e 19 empates.

Gráfico 1: histórico da partida em relação a vitórias e gols Fonte: futpedia.globo.com, 2011

Em questão de gols marcados, o Grêmio também leva vantagem, tendo marcado 71 gols, 11 a mais que o Flamengo, que marcou apenas 60.

Gráfico 2: maior tabu e maior jejum entre as duas equipes Fonte: futpedia.globo.com, 2011

51

A maior invencibilidade, número de partidas sem perder, também é do Grêmio, 13 partidas contra 5 do Flamengo. No número de partidas sem marcar gols, as duas equipes empatam, são 3 partidas para cada uma.

Figura 2: as partidas em que houve maior diferença de gols entre as equipes Fonte: futpedia.globo.com, 2011

Considerando resultados e diferença entre as duas equipes, constatou-se que no estádio do Flamengo, o mesmo fez 5x1 no Grêmio e em Porto Alegre conseguiu ganhar apenas por 1x0. Já o Grêmio fez 5x2 no seu estádio, e ganhou de 3x0 no Rio de Janeiro. b) Da estrutura temporal da história: A história desta partida e a importância dela, para os gremistas, principalmente, têm início no dia 16 de fevereiro de 1998, quando o jogador das categorias de base do Grêmio, Ronaldinho, assinou contrato profissional com o clube até o dia 15 de fevereiro de 2001. Este contrato selava o vínculo do jogador Ronaldinho com o clube gremista, porém, no ano 2000, o Grêmio, ao tentar renovar e aumentar o salário do jogador foi recusado pelo mesmo, dizendo que ele não queria renovação, pois dinheiro não era importante no momento. Com estas palavras, Ronaldinho assinou um pré-contrato com o clube francês Paris Saint-Germain, alegando que poderia sair sem custos para o seu novo clube, já que o contrato passado estava terminando, com isto, o Grêmio entrou em uma disputa judicial pelo jogador, e dando como resultado final, a perda do Grêmio pelo passe do Ronaldinho e pela multa rescisória. Após muitos anos afastado do clube, e sendo odiado pelos torcedores, Ronaldinho decidiu voltar em 2011, no momento em que estava acabando o seu

52 contrato com o Milan da Itália. Em setembro de 2010, o Grêmio entrou em contato com o jogador, o qual disse que tinha muita vontade de voltar a Porto Alegre e ao Grêmio. Porém, a história, que parecia resolvida, começou a se complicar. Em novembro, o Palmeiras entrou na briga pelo jogador, mas mesmo assim, o destino do Ronaldinho parecia ser o Grêmio. Já em dezembro, o Flamengo entrou na briga pelo jogador. A partir de janeiro, a negociação do Grêmio com Ronaldinho parecia estar enfraquecendo, por mais que o irmão e empresário do jogador, Assis, tivesse dado como certa a negociação e ter feito um brinde, em uma reunião com dirigentes e empresários gremistas, o próprio Assis negociava a ida do Ronaldinho para o Flamengo. Neste tempo de negociação, o Flamengo entrou em contato com os dirigentes do Milan, Galliani, um representante do clube italiano, revelou que o jogador Ronaldinho não jogaria mais pelo clube milanês e que estaria 99,9% acertado com o Flamengo. Depois de tantas divergentes situações, o Grêmio desiste da negociação com Ronaldinho, o Palmeiras também faz o mesmo, afirmando que o irmão fez um leilão pelo jogador, a partir destas decisões, o caminho fica livre para que o Flamengo contrate o jogador Ronaldinho. A partir deste segundo episódio negativo por parte do Ronaldinho, o Grêmio e os seus torcedores aumentaram a sua rivalidade com o jogador flamenguista e por este motivo, a sua volta para Porto Alegre, em uma partida contra o Grêmio teria um gosto especial para os gremistas. Já para o Flamengo, a partida tinha um peso no campeonato, a equipe lutava pelo título e por uma vaga na Libertadores da América. Com 52 pontos, o Flamengo ocupava o quinto lugar, 5 pontos a menos que o líder Vasco, a derrota para o Grêmio lhe custou o afastamento das primeira colocações, ficando a 6 pontos do líder e logo depois campeão do brasileirão, Corinthians.

4.1.4 Cena a) Característica das intervenções: Neste item, analisam-se as câmeras, o seu movimento e o som da torcida. Começando pelo posicionamento das câmeras, observa-se, segundo uma pesquisa prévia, que elas seguem um padrão brasileiro, e

53 neste caso ainda mais específico, um padrão Globo, que abrange todas as filiais da Rede Globo de televisão, sendo o Premiere FC, uma delas.

Figura 3 – Modelo de posicionamento das câmeras em campo Fonte: Adaptado de AFFINI e USHINOHAMA, 2010.

Posição das câmeras: Segundo o modelo ilustrado por Affini e Ushinohama (2010), as câmeras, padrão globo, são posicionadas em locais predeterminados. Duas câmeras fixas na linha central do campo (Figura 3 – itens 1 e 2), intercaladas, enquanto uma tenta mostrar a visão geral do jogo a outra os detalhes.Duas câmeras (Figura 3 – itens 3 e 4) são colocadas em alto, posicionadas exatamente no meio entre o gol e o meio de campo, responsáveis pelos lances de bola parada nessa região e linhas de impedimento. Três câmeras fixas (Figura 4 – itens 5, 6 e 7) nas laterais do campo ao nível do gramado.

Essas câmeras, na sua maioria das vezes, são utilizadas apenas quando o jogo está parado para mostrar detalhes das personagens (jogadores, juiz, técnicos) ou na forma de replays de jogadas, possibilitando ao telespectador outras informações para que ele forme idéias e crie expectativas a respeito da situação. (AFFINI e USHINOHAMA, 2010)

As câmeras móveis (Figura 3 – itens 8 e 9) localizadas sob uma grua atrás de cada goleira. Por último as câmeras diferenciais (Figura 3 – itens 10 e 11), que são

54 colocadas atrás do gol para mostrar as imagens que acontecem na linha do gol. Estas posições são padrões no futebol brasileiro, para que o telespectador identifique que está olhando para um estádio no qual irá acontecer um jogo de futebol. Está formado o cenário visual para o espetáculo. Após esta introdução do posicionamento das câmeras, passa-se a analisar o jogo em si. A partida foi dividida em cinco momentos: pré-jogo, primeiro tempo, intervalo, segundo tempo e pós-jogo. Assim, foram selecionados os diferentes momentos da mesma, para exemplificar como ela é transmitida.

Pré-jogo Já no começo da transmissão, observa-se a escalação das duas equipes, descrita pelo narrador, ao fundo, imagens ao vivo dos jogadores no gramado aquecendo e também o som da torcida do Grêmio cantando. O Narrador e o comentarista começam a falar sobre o Ronaldinho e o reencontro com o Grêmio, a partir das vaias da torcida no jogador. Nestes momentos, a câmera vai mostrando o Ronaldinho cumprimentando os funcionários do Grêmio e depois aquecendo.

Primeiro tempo A seguir, são transcritas as imagens dos diferentes momentos do primeiro tempo.

Tempo Acontecimento Imagem 02:52’ Falta cobrada pelo Ronaldinho O juiz marca falta contra o Grêmio, Ronaldinho na trave. chuta e alcança a trave, a torcida do Flamengo é mostrada cantando, replay da falta.

05:40’ Douglas chuta e o goleiro do Lance do chute, depois mostra o juiz marcando a Flamengo defende depois falta e a torcida do Grêmio gritando. jogador do Grêmio faz falta.

09:45’ Jogador do Grêmio tenta o Mostra o lance e depois a torcida do Grêmio, chute, mas o goleiro afasta focando um torcedor vestido de gaúcho com a antes. bandeira do Grêmio.

10:30 Lance do Deivid, quase Lance do Deivid e em seguida, o Ronaldinho marcando gol. aplaudindo.

55

12:35’ A bola é chutada pelo zagueiro Mostra o Ronaldinho gritando. do Flamengo para lateral.

14:00’ Falta forte do zagueiro do Mostra o lance da falta, o juiz dando cartão Flamengo no atacante do amarelo para o zagueiro do flamengo e o jogador Grêmio André Lima. André Lima caído no chão.

18:00’ Chute forte do Douglas na Mostra o replay do lance. entrada da área, goleiro do Flamengo espalma. 20:00’ Escanteio para o Flamengo. Mostra o lance e a torcida do Flamengo cantando.

21:00’ Escanteio para o Grêmio. Mostra a torcida do Flamengo roendo as unhas.

23:00’ Gol do Flamengo. 1x0 Mostra o gol e a torcida do Flamengo comemorando. 28:00’ Bola chutada para a lateral Mostra o lance e logo após, o torcedor do Grêmio pelo jogador do Flamengo. roendo as unhas.

30:00’ Falta no André Lima e jogo Mostra o lance e depois o replay do gol do parado por 30 segundos. Flamengo, comemorando junto com a torcida.

31:00’ Chute do Flamengo. Mostra o lance e a torcida do Flamengo. 35:00’ Gol do Flamengo 2x0 Mostra o gol e a torcida comemorando. 42:00’ Gol do Grêmio 2x1 Lance do gol do Grêmio e torcida comemorando. 45:00’ Chute do Douglas do Grêmio. Mostra o lance e depois a torcida do Grêmio.

Quadro 7: transcrição das imagens mostradas na transmissão nos melhores momentos do primeiro tempo Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Intervalo Apenas termina a partida, a câmera após passar ligeiramente pelos árbitros, se direciona até o Ronaldinho, esta imagem se repete, enquanto jogadores do Grêmio e do Flamengo são entrevistados na saída do gramado, até o momento em que o mesmo é entrevistado.

Segundo tempo No quadro que segue, são transcritas as imagens dos diferentes momentos do segundo tempo. Tempo Acontecimento Imagem

04:58’ Gol do Grêmio, 2x2 Gol do André Lima e comemoração do técnico do Grêmio, Celso Roth

56

10:00’ Falta para o Grêmio Mostra o replay do lance, a torcida do Grêmio próximo á área do comemorando e a torcedora do Flamengo Flamengo. preocupada. 29:58’ Escanteio para o Mostra o escanteio e a torcida do Flamengo na Flamengo. expectativa. 30:57’ Chute do Escudeiro para o Lance e depois a torcida do Flamengo comemorando Grêmio e defesa do goleiro a defesa do goleiro. do Flamengo. 34:50’ Gol do Grêmio 3x2. Lance do gol e comemoração da torcida do Grêmio. 38:36’ Faixa da torcida Em lance parado, a imagem mostra uma faixa da torcida do Grêmio dizendo: “mesmo que se passem 100 anos, nossos filhos te conhecerão como traíra.” 39:04’ Gol do Grêmio 4x2. Lance do gol. 43:00’ Torcida do Grêmio Enquanto o jogo continua, a imagem mostra a torcida comemorando. do Grêmio cantando. 43:56’ Torcedor do Flamengo Enquanto o jogo continua, a imagem mostra o torcedor sério. do Flamengo sério. 44:53’ Torcedor do Flamengo Jogo paralisado, a imagem mostra o torcedor do triste. Flamengo triste. 46:00’ Ronaldinho após chutar Imagem mostra o Ronaldinho decepcionado após para o gol. chutar para fora. 46:54’ Mostra a torcida do Em lance parado, a imagem mostra a torcida do Flamengo triste. Flamengo séria. 47:00’ Mostra a torcida do Grêmio Em lance parado, a imagem mostra a torcida do comemorando. Grêmio comemorando.

Quadro 8: transcrição das imagens mostradas na transmissão nos melhores momentos do segundo tempo Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Pós-Jogo Após a partida, a imagem mostra o juiz por alguns segundos, logo depois, os repórteres entrevistando, respectivamente os autores de gols e protagonistas da partida: Douglas (Grêmio), Ronaldinho (Flamengo) e Miralles (Grêmio).

Som da torcida A torcida que é ouvida predominantemente é a do Grêmio, ela vaia em três momentos em toda a partida: quando o jogador Ronaldinho está com a bola, quando o juiz marca falta contra o Grêmio e os passes errados dos jogadores do Grêmio quando estão perdendo por 2x0. Também há aplausos quando entra um novo jogador na equipe do Grêmio. Já as manifestações da torcida em relação ao jogo, além das músicas cantadas pela torcida do Grêmio, são:

57

TEMPO MANIFESTAÇÃO DA TORCIDA COMENTÁRIO 02:50’’ “Pilantra” Não há comentários sobre. 36:53’’ “Miralles” Narrador e comentarista falam sobre Miralles.

Quadro 9: Manifestações da torcida no primeiro tempo da partida. Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

TEMPO MANIFESTAÇÃO DA TORCIDA COMENTÁRIO 25:55’’ –. “Pilantra” Não há comentários sobre

31:34’’ – “Miralles” Narrador fala sobre Miralles.

42:29’’ – “Ah, eu sou Gaúcho” Não há comentários sobre

Quadro 10: Manifestações da torcida no segundo tempo da partida. Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Os momentos em que a torcida se manifesta e são citados pelo narrador são quando ela vaia ou quando chama pelo jogador do Grêmio Miralles, já as outras intervenções da torcida são ignoradas pelo narrador e pela equipe envolvida na partida. b) Controle dos espaços vazios: Aqui são transcritos os comentários do narrador e comentarista nos momentos em que a partida está paralisada, retirando desta análise os momentos de pausa em que o narrador apenas citava o fato acontecido anteriormente.

PRIMEIRO COMENTÁRIO TEMPO 01:01’’ “São 49 confrontos pelo campeonato brasileiro, total equilíbrio, 16 vitórias do Grêmio, 16 do Flamengo e 16 empates.” (Marco) 02:03’’ “Já são 2 faltas cometidas pelo Grêmio no jogo, olha o toque de letra do Ronaldinho, cheio de personalidade, debaixo de vaia em Porto Alegre. Flamengo que veio ofensivo, busca ficar próximo dos líderes” (Marco) 15:39’’ “O Grêmio tem bons batedores, até agora na competição o Grêmio tirou proveito em cobranças de faltas, oito gols dos 36 que o Grêmio marcou saiu em cobrança de falta.” (Marco)

58

15:45’’ “É, agora foi uma falta desnecessária, um perigo de gol desnecessário.” (Batista) 20:16’ “Olha o torcedor do Flamengo com peruca e óculos, bem característico.” (Marco) 21:32’’ “E o torcedor do Flamengo roendo as unhas.” (Marco) 29:55’’ “É bom, é um jogo limpo, duas entradas com força excessiva, mas nada que possa dizer que o jogo está sendo muito forte ou muito desleal, não, os jogadores estão correndo, estão procurando as melhores jogadas. O Flamengo no toque de bola tenta desmanchar a marcação que o Grêmio exerce dentro do Olímpico, e o Grêmio tem um sério problema, ele não identificou ainda essa sua dificuldade de atacar pelo meio, quando ele tem uma jogada muito forte, quando bem executada, dá muito certo, com o Julio Cesar pela esquerda.” (Batista) 31:40’’ “Olha o torcedor do Flamengo, atrás do goleiro do Grêmio” 37:50’’ “Pois é, Marco, no ataque até que ela chega, mas não com qualidade, pois o Grêmio não se soltou, está preso a marcação, a defesa na defesa, os jogadores do meio campo atacam pelo meio, onde é esperado pelo Grêmio...” (Batista) 40:25’’ “São seis escanteios do Flamengo no jogo, neste primeiro tempo.”(Marco)“ 40:43’’ É e até agora tava olhando também o desempenho, cuidando bastante o desempenho do Ronaldinho, até pela vaia do torcedor, o comportamento até agora, o Ronaldinho não errou um passe, todos chegaram no lugar certo. (Batista) 45:55’’ “O torcedor do Grêmio na expectativa (Marco)

Quadro 11: Comentários do narrador e comentarista no primeiro tempo da partida. Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

SEGUNDO COMENTÁRIO TEMPO 10:48’’ “Você viu aí, o sentimento, o nervosismo, a aflição da torcedora do Flamengo.” (Marco) 13:07’’ A gente vai mostrar pra você aquele lance em que Ronaldinho deu uma acalmada, uma conversada com Saimon, olha o sorriso do Ronaldinho batendo um papo com Saimon.” (Marco) 14:25’’ “E aí a expectativa do torcedor do Flamengo roendo as unhas” (Marco) 15:30’’ ‘Vamos mostrar os primeiros cinco colocados [...] o Flamengo agora é o quinto colocado” (Marco) 33:28’’ “E aqui o jogo Marco, continua muito bom, Flamengo quer vencer não ta contente e acomodado com este empate que

59

esta conseguindo contra o Grêmio e o Grêmio também joga pra frente, então é um jogo aberto, as situações acontecem a todo momento. O Flamengo só ta indo demais, muitas vezes jogadores estão se desprendendo, o Flamengo é um time ofensivo só que com os dois jogadores Airton e Renato Abreu no meio, os laterais estão indo ao mesmo tempo e aí fica um espaço muito grande para a cobertura do meio campo.” (Batista) 38:30’’ “Mesmo que se passem 100 anos, nossos filhos te conhecerão como traíra, diz o torcedor do Grêmio ao craque Ronaldinho Gaúcho. Aí o torcedor tricolor fazendo a festa na virada do Grêmio pra cima do Flamengo, mas tem jogo pela frente.” (Marco) 42:02’’ “E o torcedor extravasa também a sua alegria, Marco, porque Ronaldinho foi bem no jogo, não foi brilhante, né, como muitas vezes aconteceu, não foi brilhante, mas foi bem, criou situações.” (Batista) 43:00’’ “O torcedor do Grêmio extravasa depois da virada sobre o Flamengo, com o olímpico lotado em Porto Alegre”. 43:52’’ “Torcedor do Flamengo decepcionado com a vitória do Grêmio de virada, Flamengo abriu 2x0 e possibilitou a virada do Grêmio pra 4x2 no Estádio Olímpico.” (Marco)

Quadro 12: Comentário do narrador e comentarista no segundo tempo da partida. Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

4.2 Segunda fase

Na segunda fase, os pontos relevantes da pesquisa foram classificados por categorias, conforme o Circuito de Johnson (1999). Posteriormente, a partida foi analisada de maneira a interpretar os aspectos simbólicos presentes nela.

4.2.1 Categorias

PRODUÇÃO

- Espaço: O espaço se encontra nesta seção, pois ela é montada e pensada antes da partida estar acontecendo.

- Função dos sujeitos: Encontra-se na área de produção, pois é fato predeterminado pela emissora.

60

- Estilo da linguagem utilizada: é pré-determinada pela produção, que dita o modo como deve ser narrada a partida, por isto, está vinculada com a função dos sujeitos.

- Tratamento do discurso: também vinculado à escolha prévia do narrador, já que cada um tem a sua própria característica.

TEXTO

- Tempo: por ser percebido simbolicamente no decorrer da partida, o tempo, é o primeiro item a ser analisado. Pode-se classificar como integrante da categoria de texto, do circuito do Johnson.

- Comportamentos do sujeito: observa-se o volume de voz e a sonoridade do narrador. Também está relacionada a contextos simbólicos, por isso está neste item.

- Conteúdo do discurso: por ser construído e observado durante a partida, também se encaixa na categoria texto.

- Valorização implícita/explicita: esta valorização por parte dos sujeitos, também é simbólica e construída no decorrer da partida.

- Característica das intervenções: essas características podem ser classificadas, no Circuito de Johnson, na seção relacionada ao “texto”, já que, estão voltadas, principalmente, para valores simbólicos e predeterminados.

- Controle dos espaços vazios: também é construído no decorrer da partida.

LEITURA

- Da partida de futebol: pode-se classificar, a partir do Circuito de Johnson, a história da partida como integrante da “leitura”, já que, os números, sempre superiores, do Grêmio, poderiam causar alguma influência na narração – o que não aconteceu.

61

- Da estrutura temporal da história: estando relacionado às ideologias do jogo, contextos, interpretações e importância que a partida pode ter e como ela chegará até o telespectador, este item também pode se enquadra em “leituras”.

CULTURAS VIVIDAS

- Da estrutura temporal da história: está relacionado em como a televisão transmitiu a partida em relação ao que os torcedores esperavam.

4.2.2 Desvendando a partida

Produção: Acredita-se que a escolha dos sujeitos influência na narrativa da partida. Ao manter-se em uma linguagem global, o narrador se torna um elemento imparcial da partida, adquirindo respeito pelos telespectadores, independente da equipe que estes torçam. Este elemento facilita a empatia de quem está assistindo a partida pelo canal de transmissão, pois caso fosse o contrário, o torcedor poderia desligar a televisão ou procurar outro canal, que fosse mais imparcial ou que o discurso não prejudicasse a sua equipe. A linguagem utilizada é característica de cada narrador, como foi constatado na parte teórica. Já o tratamento do discurso é característico do narrador e do canal, que colocou-se como mais analítico e crítico do que irônico ou informativo. As placas publicitárias não são mencionadas na partida, portanto, não exercem influencia na construção de identidades. Já a vestimenta dos jogadores, reforça as suas identidades, as duas equipes estão com seus uniformes principais, (Figura 4) diferente do esperado, pelo menos para o Flamengo, que deveria estar com seu segundo uniforme, quando joga fora do seu estádio. Além de parecer que estão devidamente preparados para uma grande partida, também coincidentemente ou não, o Flamengo veste predominantemente a cor vermelha, semelhante a do Internacional, arquirrival do Grêmio.

62

Figura 4: Vestimentas das duas equipes Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Texto: No texto é possível perceber, primeiramente, a preferência da emissora pelo Flamengo, ao utilizar maior parte do seu tempo para comentar assuntos relacionados a este time, tanto quanto estava ganhando ou perdendo. Acreditamos que isto aconteça em função de o Flamengo ser considerado um clube do povo, do Brasil, tendo um maior número de torcedores, consequentemente, os torcedores que estão vendo a partida, também são flamenguistas em número maior. Por último, pelo fato do espetáculo ser em Porto Alegre, e não no Rio de Janeiro, diminuindo o número de torcedores do Flamengo no estádio e aumentando o número de telespectadores na televisão. O volume da voz e sonoridade do narrador são propositais para dar emoção à narração da partida.

Já no conteúdo do discurso, percebe-se que o programa se preocupa em exaltar o Ronaldinho na partida, como sendo o único protagonista do espetáculo. Mesmo que isto seja devido à importância que os torcedores do Grêmio deram ao Ronaldinho e por ser o craque do Flamengo, constata-se que o discurso começa a se tornar parcial no momento em que outros jogadores se destacam na partida e não são valorizados tanto quanto o Ronaldinho. Como exemplo, o jogador André

63

Lima, que marca dois gols e não é valorizado, pelo contrário, o comentarista Batista, trata os seus gols como erros dos zagueiros do Flamengo.

TEMPO COMENTÁRIO 42:59’’ “Agora deu uma bela virada pra cima do zagueiro, e o Primeiro tempo Wellington (jogador do Flamengo) fez uma coisa que zagueiro não pode fazer, virar as costas pra bola, ele entrou de costas pra bola, errou o bote e o André Lima faz um gol, o primeiro gol...” (Batista)

Quadro 13: Comentário que valoriza o erro do Flamengo e não o gol do André Lima Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Também no intervalo e no final da partida, o Ronaldinho é o jogador mostrado pelas câmeras e procurado para dar entrevista, dando menos ênfase aos jogadores que contribuíram para a vitória do Grêmio de virada em cima do Flamengo.

Figura 5: Ronaldinho sendo entrevistado no final da partida Fonte: elaborado pelo autor a partir do vídeo da partida

Com isto, o objetivo da emissora é enfatizar a importância do Ronaldinho para esta partida, ver a sua reação e opinião sobre a partida. Os fins desta escolha é manter o torcedor interessado na partida, tanto o flamenguista demonstrando o melhor jogador da sua equipe, quanto para o gremista que está vendo o Ronaldinho, considerado como “traíra” pelos torcedores do Grêmio. Na valorização do discurso, constata-se uma narração que enaltece a equipe do Flamengo, quando está ganhando por anular o Grêmio e quando está perdendo, por ter tido menos sorte, mesmo jogando bem.

64

TEMPO COMENTÁRIO 40:00’’ “Uma situação realmente incrível né, Marco? [...] O Flamengo Segundo tempo jogando bem, estava jogando bem o Flamengo, o jogo era muito bom de ambas as partes, estava em aberto, o Grêmio foi mais feliz, as individualidades foram que resolveram.” (Batista)

Quadro 14: comentário enaltecendo o desempenho do Flamengo Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Nas características das intervenções, analisou-se a imagem da televisão nos diferentes momentos da partida e observou-se que a prioridade da partida é sempre o Flamengo, como uma equipe melhor e com um jogador de mais qualidade – Ronaldinho - mostra também a torcida do Flamengo mais vezes, destacando as emoções dos torcedores e ignorando a do Grêmio. Nesta categoria também é possível entender uma das maneiras de construção da identidade da partida. Observa-se na narração da próxima imagem, que o narrador cita a cobrança de falta feita por Ronaldinho (Figura 6), aos 2 minutos e 53 do primeiro tempo da partida, exaltando apenas o nome dele, sendo que o goleiro defendeu e a bola tocou na trave, após o lance, o narrador continua citando o Ronaldinho apenas.

TEMPO COMENTÁRIO 02:53’’ “Olha o Ronaldinho concentrado, pé direito, Ronaldinho, na Primeiro tempo trave! E o Gilberto Silva tirou, Ronaldinho é trave em Porto Alegre, perna direita passou por André Lima, o Victor deu um tapinha, e a bola explodiu no travessão, a primeira grande chance foi do Flamengo.” (Marco)

Quadro 15: narração do chute do Ronaldinho e defesa do Victor Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

65

Figura 6: Falta cobrada por Ronaldinho, aos 2minutos e 53 da partida. (06:30 do vídeo, em anexo) Fonte: elaborado pelo autor a partir do vídeo da partida

Na narração desta imagem, o lance é semelhante, o jogador do Grêmio Douglas chuta a bola em direção ao gol e o goleiro do Flamengo Felipe espalma para frente. A diferença principal é a da narração, no qual o narrador cita o goleiro do Flamengo no lance e exalta-o, já ao citar o jogador do Grêmio que chutou a bola, o faz discretamente.

TEMPO COMENTÁRIO 05:27’’ “Aí o Douglas, Douglas finaliza...Felipe! [...] Uma bela Primeiro tempo finalização do Douglas nesse lance aí oh, pé esquerdo, bola com efeito, Felipe tirou, chance do Grêmio em Porto Alegre. Foi bem, mandou bem, mandou muito bem o Felipe.” (Marco)

Quadro 16: narração do chute do Douglas e defesa do Felipe. Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Para justificar os resultados, destaca-se outro ponto da partida, no qual o jogador do Flamengo Thomás chuta em direção ao gol, e o goleiro do Grêmio, Victor, faz uma defesa difícil (Figura, 7). Mesmo assim, o narrador ignora a dificuldade da defesa, cita o lance como um lance normal da partida.

66

TEMPO COMENTÁRIO 40:00’’ “Chute cruzado e o Victor pegou! Bateu de primeira o Thomás, Primeiro tempo Junior Cesar no fundo, inverteu o lance, e o Thomás chegou batendo e o Victor meteu para escanteio” (Marco)

Quadro 17: narração do chute do Thomas e defesa do Victor. Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Figura 7: Chute do Douglas e defesa do Filipe Fonte: elaborado pelo autor a partir do vídeo da partida

67

Figura 8: Chute do Thomás e defesa do Victor Fonte: elaborado pelo autor a partir do vídeo da partida

Nos espaços vazios, foi analisado o discurso do narrador e comentarista nos momentos em que a partida estava paralisada. A torcida do Flamengo é sempre mais comentada e valorizada, em relação a do Grêmio. Mesmo após a virada do Grêmio, em nenhum momento o narrador ou o comentarista destacam as palavras “força”, “raça” e “imortal”, geralmente utilizadas para fazer alusão à identidade do Grêmio, citadas quando ele está em campo. Pelo contrário, o comentarista elogia a atuação do jogador Ronaldinho e da equipe do Flamengo, dizendo que mesmo na derrota, a equipe jogou bem.

TEMPO COMENTÁRIO Primeiro tempo - A torcida do Grêmio é citada apenas uma vez. - O Torcedor do Flamengo é citado três vezes - O Flamengo é citado três vezes, em duas destas, o Ronaldinho é citado e exaltado. - O Grêmio é citado três vezes, em dois destes momentos é criticado pelo seu desempenho na partida

Quadro 18: sobre o que é citado nos espaços vazios no primeiro tempo Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

TEMPO COMENTÁRIO Segundo tempo - A torcida do Flamengo é citada mais três vezes ao longo da partida. - A do Grêmio é citada três vezes, no final da partida, neste momento pela primeira vez, é lida uma faixa para o Ronaldinho da torcida do Grêmio. - O Flamengo e o Ronaldinho continuam sendo citados, que jogaram bem.

Quadro 19: sobre o que é citado nos espaços vazios no segundo tempo Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Leituras Aqui analisamos a história da partida de futebol entre as equipes, percebemos que o narrador não explora a história entre as equipes, apenas cita o retrospecto entre elas no início do jogo. Já na parte das leituras nos concentramos em como a partida é recebida pelos torcedores, a partir dos tópicos analisados anteriormente na produção e texto, percebemos que o objetivo é demonstrar que era a partida do

68

Ronaldinho e não do Grêmio x Flamengo. Na vitória e na derrota o Ronaldinho é exaltado e mostrado nas imagens.

Figura 9: Câmera focando Ronaldinho Fonte: elaborado pelo autor a partir do vídeo da partida

TEMPO COMENTÁRIO 42:02’’ “E o torcedor extravasa também a sua alegria, Marco, porque Segundo tempo Ronaldinho foi bem no jogo, não foi brilhante, né, como muitas vezes aconteceu, não foi brilhante, mas foi bem, criou situações.” (Batista)

Quadro 20: comentário positivo sobre o Ronaldinho Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

Provavelmente, a emissora pensando nos telespectador flamenguista, enaltece a equipe pelo seu desempenho, mesmo perdendo a partida, mais uma vez, deixando de lado o esforço da equipe gremista. Com isto, possivelmente, garante a satisfação dos assinantes flamenguistas no canal privado PFC.

TEMPO COMENTÁRIO 40:00’’ “Uma situação realmente incrível né, Marco? [...] O Flamengo Segundo tempo jogando bem, estava jogando bem o Flamengo, o jogo era muito bom de ambas as partes, estava em aberto, o Grêmio foi mais feliz, as individualidades foram que resolveram.” (Batista)

69

Quadro 21: comentário positivo sobre o Flamengo Fonte: elaborado pelo autor a partir da análise da transmissão

O fato do narrador não comentar sobre os gritos da torcida do Grêmio e nem mostrar os vários cartazes trazidos pelos torcedores (Figuras de 10 a 14) contribuiu para que esta partida fosse considerada como a “derrota do Ronaldinho para uma equipe menor que o Flamengo” e não a “vitória do Grêmio”, bem como para a identidade do Grêmio ser ignorada.

Figura 10: Cartaz 1 da torcida Fonte: Foto Arena, 2011

70

Figura 11: Cartaz 2 da torcida Fonte: UOL Esportes, 2011

Figura 11: Cartaz 3 da torcida Fonte: Foto Arena, 2011

71

Figura 12: Cartaz 4 da torcida Fonte: Foto Arena, 2011

Figura 13: Cartaz 5 da torcida Fonte: UOL Esportes, 2011

Figura 14: Cartaz 6 da torcida Fonte: UOL Esportes, 2011

Culturas Vividas

Em relação às culturas vividas, foi identificado principalmente as identidades das equipes. Pelo perfil analisado anteriormente, o narrador, comentarista e repórteres do Premiere FC desta partida são gaúchos e/ou trabalham nas

72 transmissões das equipes do sul, por isto, acreditamos que eles sabem das características identitárias do Grêmio como sendo uma equipe de “raça”, “força” e “imortalidade”, adjetivos ignorados na partida. Já a identidade do Flamengo, a qual é conhecida pela brasilidade, um clube do povo, o maior do Brasil, é resgatado e demonstrado simbolicamente ao longo da partida, como vimos nas classificações anteriores.

73

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve um caráter exploratório, o qual tentou demonstrar uma visão ampla sobre o objeto analisado. Desta maneira, os elementos relacionados nesta partida são considerados no âmbito da produção dos sentidos. Constata-se que é possível construir identidades a partir da história e das experiências vividas de um grupo/povo. Entretanto, pode-se construir também a identidade de uma equipe de futebol, como a do Grêmio e a do Flamengo, pela história dos clubes, dos seus estádios, dos seus jogadores, dos seus torcedores e até mesmo por sua localização geográfica. Esta construção se faz presente em cada partida de futebol, porém, os caminhos que a televisão engendra para transmissão das partidas nem sempre favorecem as equipes. O que, de certa forma, ficou evidenciado na partida analisada entre Grêmio x Flamengo, em que Ronaldinho Gaúcho voltava à Porto Alegre, e a torcida do Grêmio defendia que o jogador não era gaúcho e não poderia levar esta definição no seu nome. Através desta pesquisa pode-se perceber que o Flamengo é colocado como uma equipe maior e melhor dentro da partida (mesmo perdendo) e com melhores jogadores. Sobre esta identidade, pode-se verificar no capítulo um, ao considerar o Flamengo como uma equipe nacional, o clube do Brasil. Ao passo que ao Grêmio fica destinado o espaço do regional, do gaúcho. A televisão constrói um Flamengo maior que o Grêmio, o que pode ser visto no tempo que o narrador utiliza para falar das equipes, nas vezes em que a torcida do Flamengo é mostrada comparada a do Grêmio (mesmo tendo o Flamengo menos torcedores no estádio), além da maneira com que os lances da partida são narrados e comentados pela produção do programa Premiere FC. Esta preferência, talvez tenha raízes históricas e políticas, mas também econômicas, pois o Flamengo tem uma das maiores torcidas do Brasil. Nesta partida, o Grêmio é destituído da sua identidade, vista anteriormente como um clube aguerrido, imortal, valente, e colocado como um clube de menor expressão. Não são citadas as suas qualidades, mesmo após ter conseguido virar a partida depois de estar perdendo por 2x0.

74

Os cantos da torcida, exaltando o “ser gaúcho” são ignorados pelo narrador, as faixas colocadas no estádio sobre o Ronaldinho não são mostradas na televisão. Para exemplificar algumas sugerem que deve retirar o nome “Gaúcho”, pois ele não é merecedor de ser chamado assim, por ser considerado pela torcida como vendido, mercenário e sacana. Os cartazes (principalmente os não mostrados) e os cantos entoados pela torcida gremista deixam uma ideia sobre o que é ser gaúcho para eles e valores. A televisão não mostra esta visão da partida, apenas coloca o Grêmio como um adversário qualquer sobre o “clube da nação” Flamengo. Mesmo que, a televisão tenha tentado esvaziar os sentidos da identidade gremista para a partida, por tentar ser imparcial, o que não acontece, exalta-se o Flamengo diversas vezes na partida, assim como o Ronaldinho. Desta maneira, contribui para afirmar o Flamengo como um clube maior, mais importante e melhor do que o Grêmio. Portanto, a identidade construída da partida é, principalmente, como a derrota do Ronaldinho, jogador que pertence ao Flamengo, uma equipe que jogou bem, mas por falta de sorte não conseguiu vencer a partida, e além disso, acabou perdendo-a. Já a identidade do Grêmio foi construída como uma equipe de menor expressão que queria “vingar-se” do Ronaldinho por ter escolhido o Flamengo e não o Grêmio para ser o seu clube. Estas são as percepções que se sobressaem para os que acompanharam a partida pelo Premiere FC. Desta forma, fica evidente que a televisão, por meio de sua produção e seus recursos, pode (des)construir identidades, trazendo apenas os elementos que ela julga pertinente para o momento em si, mesmo que fique de fora aqueles constituídos ao longo dos anos pelas equipes. Ao término deste trabalho, sugere-se que o assunto possa ser explorado a partir de outras perspectivas, não só pelo viés comunicacional, mas também sociológico e histórico. Também se acredita que este mesmo objeto possa ser visto por diferentes olhares que poderão acrescentar outra percepção sobre o objeto, trazendo novas informações.

75

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, João Batista de. Metáforas, hipérboles e metonímias, uma jogada de efeito – o discurso do radiojornalismo esportivo. In: XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação, 2001, Campo Grande, MS.

AFFINI, Letícia Passos; USINOHAMA, Tatiana Zuardi. Futebol: Aspectos da linguagem audiovisual nas transmissões esportivas. In: Congresso de Ciências da Comunicação da Região Sudeste, XV, 2010. Vitória, ES, 2010.

ANDREATTA, Verena; CHIAVARI, Maria Pace; e REGO, Helena. O Rio de Janeiro e a sua orla: história, projetos e identidade carioca. Rio de Janeiro: SMU/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2009.

BETTING, Mauro. Pago para ver. In: BOAS, Sérgio VILLAS (Org.). Formação e informação esportiva - Jornalismo para iniciados e leigos. São Paulo: Summus, 2005.

CAMARGO, Vera Regina Toledo. A imagem televisiva e a cultura esportiva: um olhar sobre esta parceria. In: MATTOS, Sérgio (org.). A televisão e as políticas regionais de comunicação. São Paulo: INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação / GT Televisão, 1997.

CASETTI, Francesco; CHIO, Frederico di. Análisis de la televisión: instrumentos, métodos y prácticas de investigación. Barcelona: Paidós, 1999.

CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade: A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

CEVASCO, Maria Elisa. Para ler Raymond Williams. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

COSTA, André Lucirton. Organização Cordial: Ensaio de Cultura Organizacional do Grêmio Gaviões da Fiel. Revista de Administração de Empresas (FGV), São Paulo, v. 35, n. 6, p. 40-54, 1996.

COUTINHO, Renato Soares. Futebol e identidade nacional: O clube de regatas do Flamengo e o projeto de construção de uma nação. In: IV Congresso Internacional de História, 2009, Maringá, PR, 2009.

CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 1999.

DAMO, Arlei Sande. Ah! Eu Sou Gaúcho! O Nacional e o Regional no Futebol Brasileiro. Porto Alegre:UFRGS, 2009.

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. [1967].

76

D’ONOFRE, Dan Gabriel; BARBOSA, Juliana Gomes; FERNANDES Luciana. Futebol, o patrimônio imaterial da Cidade Maravilhosa: o carioca e sua fome de gol. Revista Itinerarium, Rio de Janeiro, v.2, 2009.

ESCOSTEGUY, Ana Carolina. Circuitos de cultura/ circuitos de comunicação: um protocolo analítico de integração da produção e da recepção. Comunicação Mídia e Consumo/ Escola Superior de Propaganda e Marketing. São Paulo, v. 4, n.11, p.115-135, nov.2007.

ESTEVES, João Pissarra. Os media e a questão da identidade. Sob as leituras pós-modernas do fim do sujeito. Universidade de Lisboa. mar. 1999. Disponível em: . Acesso em: 14 dez. 2012.

FARIA, Maria Cristina Brandão de; FERNANDES, Danúbia de Andrade. Representação da identidade negra na telenovela brasileira. E-Compós: Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação. Ago. 2007. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2012.

GASTALDO, Édison Luis. Narrando o fracasso: a locução esportiva na decisão da copa do mundo de 1998. In: XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação, 2001, Campo Grande, MS.

GALARRETA, Jorge Francisco Puente Arnao; LISBOA FILHO, Flavi Ferreira. O esvaziamento de identidade do Grêmio na transmissão televisiva entre Grêmio x Flamengo. In: XIII Congresso de Ciências da Comunicação da Região Sul, 2012, Chapecó, SC, 2012.

GOLDENBERG, Mirian et al. (Org.). Nu & vestido: dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro: Record, 2002. 411 p.

GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcelos. 500 anos de Brasil. 100 anos de futebol gaúcho: “construção da província de chuteiras”. Revista Anos 90, Porto Alegre, n. 13, julho, 2000.

GUERRA, Marcio de Oliveira. Rádio x Televisão: o jogo da narração. A imaginação entra em campo e seduz o torcedor. In: Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom, 4., 2004, Porto Alegre, RS.

GUERRA, Marcio de Oliveira. A transmissão esportiva: o jogo da narrativa. In: XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, 2009, Rio de Janeiro, RS.

Hall, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

JESUS, Gilmar Mascarenhas de. O futebol da canela preta: o negro e a modernidade em Porto Alegre. Anos 90. Porto Alegre, v.07, n.11, p.144-161, 1999.

77

LINS, Bernardo F. E. Radio e televisão como instrumentos de valorização da identidade nacional. Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Brasília, 2001.

LISBOA FILHO, Flavi Ferreira. Mídia Regional: gauchidade e formato televisual no Galpão Crioulo. 2009. 236 p. Tese, Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação, Universidade do Vale dos Sinos, São Leopoldo, 2009.

MADRIGAL, Daniel Baptista. Futebol narrado no rádio e na televisão: as vozes da paixão brasileira. 2009. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Universidade Anhembi Morumbi. São Paulo, 2009.

MURRAY, Bill. Uma história do futebol. São Paulo: Hedra, 2000.

OSELAME, Mariana Corsetti. Padrão globo de jornalismo esportivo. Porto Alegre: Famecos, 2010.

PROCHNIK, Luisa. O futebol na telinha: A relação entre o esporte mais popular do Brasil e a mídia. In: XV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. 2010, Vitória, ES

PRONI, M.W. Brohm e a organização capitalista do esporte. In: PRONI, M. W.; LUCENA, R. F. (orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas, SP: Editores Associados, 2002.

RIAL, Carmen.Televisäo, futebol e novos Ícones planetários: aliança consagrada nas copas do mundo. In: Motrivivéncia Ano X111, N4 18, p. 15-31 Marco/2002. Disponível em: Acesso em: 14/12/2012.

RONSINI, Veneza Mayora. Entre a capela e a caixa de abelhas: identidades culturais de gringos e gaúchos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

ROSE, Diana. Análise de imagens em movimento. In: BAUER, Martin W. GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

SAVENHAGO, Igor José Siquiri. Futebol na TV: evolução tecnológica e linguagem de espetáculo. Ribeirão Preto: Unisinos, 2011.

SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz.Complexo do Zé Carioca: notas sobre a identidade mestiça e malandra” In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, ano 10, n. 29. Caxambu, 1995.

SILVA, Sidnei Barbosa da. História do Futebol. Disponível em: Acesso em: 20 de Jan. 2013.

78

SIMÕES, Antonio Carlos. CONCEIÇÃO, Felix Marcelino. Gestos e expressões faciais de árbitro, atletas e torcedores em um estádio de futebol: uma análise das imagens transmitidas pela televisão. Revista brasileira de Educação Física e Esporte. v.18 n.4 São Paulo dez. 2004

TEVAH, Daniel. Grêmio: eterna paixão. Porto Alegre: Pallotti, 2009.

WELSCH, Wolgang. Esporte – visto esteticamente e mesmo como arte? In: ROSEFIELD, Denis (org.). Ética e Estética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

WILLIAMS, Ana Clotilde Thomé. Locução de futebol no Brasil e na França na XVI Copa do mundo: um cruzamento lingüístico-cultural de um evento discursivo. 2002. 331 p. Tese. Universidade de São Paulo, 2002. São Paulo, 2002.

IMAGENS

Foto Arena: http://www.fotoarena.com.br/busca/index/t/Gr%C3%AAmio+X+Flamengo+30-10- 2011/pag/2?ide=7143&pag=2&lb= (Acesso em: Janeiro 2012)

Esporte UOL: http://esporte.uol.com.br/album/futebol/2011/10/30/protestos-no-olimpico-contra- ronaldinho-gaucho.jhtm#fotoNav=4 (Acesso em: Janeiro 2012)

Futpedia: http://futpedia.globo.com/confronto/flamengo-x-gremio (Acesso em: Janeiro 2012)