Carlos Vale Ferraz O Portugal de um escritor da memória Entrevista e críticas de Agripina Carriço Vieira e Miguel Real PÁGINAS 14 A 17

Na morte de Bento da Cruz por Francisco Duarte Mangas PÁGINA 7

A poesia de Tomaz Kim JORNAL por Fernando J. B. Martinho PÁGINAS 17 E 18 DE LETRAS, ARTES E Encontros com Salazar IDEIAS Inédito de Albano Nogueira PÁGINAS 30 E 31

Ano XXXV * Número 1172 * De 2 a 15 de setembro de 2015 * Portugal (Cont.) €2,80 * Quinzenário * Diretor José Carlos de Vasconcelos Franz Kafka Um livro que ‘mudou’ a literatura Foi há cem anos que saiu A Metamorfose - uma das obras que mais influenciou os caminhos posteriores da literatura. Como se pode ler no Tema que lhe dedicamos, com um ensaio de Gonçalo Vilas-Boas e textos de A. M. Pires Cabral, António Vieira, Jorge Listopad e José Vialle Moutinho PÁGINAS 8 A 12 ESCULTURA DE MIGUEL BRANCO, A PARTIR DO UNIVERSO DE KAFKA A PARTIR DE MIGUEL BRANCO, ESCULTURA O que vem aí de Artes do Palco e Exposições As mais importantes novidades da rentrée em duas áreas fundamentais, com destaque para diversas (boas) estreias no teatro, com o Nacional D. Maria em evidência, e para uma antológica do famoso fotógrafo norte-americano Sam Shaw, mostra que em Cascais inicia uma digressão mundial PÁGINAS 6 A 11

MARILYN MONROE, FOTO DE SAM SHAW

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) jornaldeletras.sapo.pt * 2 a 15 de setembro de 2015 J 2 * destaque ›breve encontro‹

Miguel Abreu Contaminação cultural

Um credo, uma oratória inter-religiosa, com texto de José Tolentino Mendonça e direção musical do maestro italiano Mario Tronco, na Igreja de S. Domingos, abre a 10, o Todos - Caminhada de Culturas, o festival de interculturalidade, que decorre até 13, em Lisboa. Um festival “móvel”, iniciativa da Câmara Municipal, que passou três anos pelo Intendente, outros tantos no Poço dos Negros, e que na 7.ª edição mete os pés ao caminho do Campo Santana. Ao todo, 36 espetáculos de música, dança, novo circo, exposições, visitas guiadas para entrar num bairro, onde se misturam comunidades africanas, chinesas, de leste, numa geografia pontuada de antigas vilas operárias, conventos que se tornaram hospitais e que agora esperam outro futuro. Um lugar marcado pela “contaminação”, também de culturas, raiz do “imaginário” do Todos, como adianta ao JL o seu diretor, Miguel Abreu. Cesariny por Duarte Belo no Museu da Eletricidade Uma série de JL: O Campo Santana é o novo território do Todos: fotografias do poeta e pintor e da sua casa, na Rua Basílio Teles, em Porquê a escolha? Miguel Abreu: Com a mobilidade, a Lisboa, captadas pela lente do fotógrafo Duarte Belo, compõem a intenção é transmitir aos lisboetas o exposição Cersariny - Em casas como aquela, que valor da interculturalidade, evitando a ideia de bairros gueto de imigrantes. inaugura esta sexta-feira, 4, no Museu da Eletri- A cidade quer ser intercultural, abrir cidade. As fotografias, feitas aquando da atribui- as portas de todos os seus bairros às pessoas de todo o mundo. A escolha ção do Grande Prémio EDP - Artes Plásticas, em do Campo Santana tem a ver com o 2002, a Mário Cesariny (1923-2006), 'revelam' facto deste território ter uma série de edificados públicos, que vão ser os seus livros, quadros, manuscritos e objetos, numa mostra comis- transformados noutras realidades, sariada por António Gonçalves, e realizada pelo Museu da Eletricida- nomeadamente os hospitais, o Miguel de, Lisboa, em parceria com a Fundação Cupertino de Miranda, Vila Bombarda e o Desterro. É no fundo uma forma de chamar a atenção para esta zona, para que Nova de Famalicão. De terça a domingo, das 10 às 18. Entrada livre. também se possa discutir o que vai ser.

Em que sentido? O nosso trabalho é conviver com as pessoas, ouvir TEATRO LATINO- LISB-ON NO MEGAFEST LUMINA EM CASCAIS as suas histórias sobre os bairros e o que gostariam que -AMERICANO PAQUE EDUARDO VII NO INTENDENTE fossem. E fazemo-lo também com o olhar e as Mais de 40 artistas, oriundos produções dos artistas. Com a cultura é possível mudar A És Cena - 2ª Mostra Latino- O Lisb-On regressa ao Parque É já este sábado, 5, que de 15 países, vão iluminar as o social. Americana de Teatro leva as Eduardo VII, em Lisboa, com o Magafest volta à Casa ruas de Cascais durante o artes cénicas latino-america- dois dias de música eletróni- Independente, no Largo Lumina, Festival de Luz, que Que histórias ouviram no Campo Santana? nas a Lisboa, Oeiras e Leiria ca. Os Fandango, projeto que do Intendente, em Lisboa. decorre entre 11 e 13 de setem- É um território muito antigo e riquíssimo. E marcado pelo durante duas semanas. A mos- une Gabriel Gomes e Luís Até às duas horas da bro. As quatro estações do sangue, desde logo dos animais que para aqui vinham tra, organizada pela Casa da Varatojo, misturam guitarra manhã, o festival promete ano dão o mote a esta edição, para serem abatidos ou para os curros da primeira Praça América Latina, arranca hoje portuguesa, acordeão e “momentos de elogio à onde, ao longo do Percurso da de Touros que Lisboa teve, e dos homens que aqui foram com Vai Vem, uma produção eletrónica no palco do música”, com Minta & Luz, o público vai poder assistir mortos. Depois, os hospitais, toda uma carga simbólica de luso-colombiana, no Teatro da festival, este sábado, 5, às 15 The Brook Trout a dar a instalações multimédia, contaminação. Que também é de culturas, essa feliz. Foi Trindade, em Lisboa. ¡Evita, y e 30. Segue-se Mirror People início aos concertos, às 18. vídeo-projeções em grande por aí que construímos todo o imaginário e o programa yo! - Historia de dos Argentinas, que se faz acompanhar pela Francisca Cortesão (Minta) escala e esculturas interativas. deste Todos. de Sónia Belforte, está em cena Voyager Band, às 16 e 50. Mas e Mariana Ricardo (Brook O circuito é composto por no Teatro da Trindade, a 8, às é ao som do techno e house Trout) levam a guitarra, o quatros segmentos – as quatro E que destaca? 21 e 30, e no Teatro Miguel de Nina Kraviz que termina a ukelele e percussão para o estações da Luz - que, em se- Os espetáculos dos XY e dos NPTA. No jardim, em que Franco, em Leiria, a 10, às 22. primeira noite. No domingo, arranque da segunda edição quência, correspondem às es- os lagos acabam de ser limpos e restaurados, haverá O Da República Dominicana De é Rui Miguel Abreu, às 14. do Magafest. À noite, tações do ano – a Sagração da Curral, de Margarida Mestre, cantado por moradores, Lorca, de Elvira Taveras, a partir E um dos momentos mais Norberto Lobo repete a Primavera, a Noite de Verão, as e também o grande piquenique dos continentes. Nas de quatro obras de Federico aguardados, o concerto dos presença no festival, desta Folhas de Outono e a Viagem antigas enfermarias do Miguel Bombarda, vamos ter duas Garcia Lorca, dia 15, às 21 e 30, Jazzanova, domingo, às 17 e vez para um encontro com de Inverno. Quatro atmosferas exposições, uma delas dos anteriores festivais. É uma noTM Amélia Rey Colaço, em 20. A formação apresenta-se Carlos Bica, às 21. O duo distintas que contam com oportunidade de conhecer esses espaços. Nesse sentido, é Algés. A És Cena termina dia 19 com o cantor Paul Randolph leva o ritmo do jazz ao obras de artistas de 15 países, de destacar Lis+bú, de Madalena Victorino, um percurso em Algés, com Novas Diretrizes e promete fazer dançar ao festival, que termina ao com a exposição pela primeira pelo bairro com o público, de uma forma muito poética. JL em Tempo de Paz, de António som do soul, jazz e funk que som de Silcence is a Boy, às vez de obras da Austrália, MARIA LEONOR NUNES Terra. misturam na sua música 00h, e de Jibóia, à 1h. Turquia, Espanha e EUA.

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Festa do Avante! EDITORIAL Cante, Fausto e Fado JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS

O 'paleio' sobre futebol nas TVs

á aqui lembrei que durante muitos anos o JL seguiu a tendência, dominante nos media, de no verão ter sempre alguns temas que com ele e as férias se relacionam. Também acentuei que entretanto mudamos de critério. Por várias razões de que falei em uma apenas: a da chamada rentrée ocorrer cada vez mais cedo. Mas podia dizer, mais, que tais temas e abordagens vão cansando pela repetição – mesmo sem falar de certos tão imbecis como Jhabituais “questionários de verão” & similares. Por outro lado, há as efemérides. Que dão atualidade, e por isso pertinência jornalística, ao que assinalam, constituindo um ótimo ‘pre- texto’ para falar do que merece ser falado e sem elas não se falaria. Ora, havia várias que não queríamos deixar de assinalar, e aproveitamos ago- ra a oportunidade para o fazer. Assim, no que toca a centenários, nesta Fausto e António Chainho A música portuguesa em destaque na Festa do Avante! edição, com a sua grande competência Fernando J. B. Martinho escreve sobre Tomaz Kim. E, sobretudo, se fala de A Metamorfose, de Kafka, um que influenciou como poucos a evolução da literatura e a obra de grandes autores. O que a esse respeito escreveu Gabriel Garcia Marquez é disso ¶ O regresso de Fausto Bordalo O regresso de Fausto ao Entre os portugueses, sempre eloquente testemunho. E como mostram os textos de Gonçalo Vilas Boas Dias, o mestre guitarrista António Avante! é naturalmente motivo em destaque os inevitáveis Xutos e de quatro conhecidos ficcionistas que adiante publicamos. Chainho com muitos convidados, de destaque, sobretudo devido & Pontapés, o hiphop sofistica- Regressando ao facto da rentrée se iniciar cada vez mais cedo, hoje um especial de música para cinema e a ser cada vez mais raro ver o do de Capicua, a Brigada Victor damos uma primeira panorâmica de estreias, em Artes de Palco e uma homenagem ao cante alente- músico em palco. Fausto deverá Jara, Dead Combo, Marta Hugon, Exposições, no período de tempo abrangido por esta edição. Uma espe- jano, no ano em que foi consagrado incidir na trilogia Por este rio Janita Salomé, Paus, Quadrilha, cial chamada de atenção para o Teatro Nacional D. Maria, agora dirigido património imaterial da humani- acima, Crónicas da terra ardente Terrakota ou Expensive Soul com por Tiago Rodrigues, e para a antológica de fotos do famoso Sam Shaw dade são os grandes destaques da e Em busca das montanhas azuis. Tocá Rufar. De fora, ghrandes ex- que no Centro Cultural de Cascais iniciará uma digressão mundial. festa do Avante! que se realiza no António Chainho, que celebra 50 ppetativas para os Tabanka Djazz E quanto à rentrée televisiva? Que novidades haverá, em especial na próximo fim-de-semana, de 4 a 6 de anos de carreira, faz-se acompa- com Dany Silva, Eneida Marta, os programação da RTP, que passa a ter como primeiro responsável Nuno setembro, na Quinta da Atalaia , no nhar por Ana Bacalhau, Paulo de americanos Bubblegum Screw e Artur Silva, o talentoso criador das Produções Fictícias? Veremos. Para Seixal. A festa do Partido Comunista Carvalho, Hélder Moutinho, Raul The Last Internationale, o tributo já, nestas últimas semanas, o que Português, aberta a todos os públi- d'Oliveira e o Grupo Entnográfico a Pete Seger ou Grupo Artístico da dominou nas pantalhas, como co, junta música, cinema, teatro, de Serpa. No concerto inaugural, Mongólia Interior. no país, foi o futebol. Com as dança, artes plásticas, literatura, a Sinfonietta de Lisboa, dirigida O Avante! conta ainda com um televisões não só a refletirem, gastronomia, deporto, programação por Vasco Pearce de Azevedo, palco para novos valores, debates, Multiplicando-se como a ampliarem, essa estranha infantojuvenil, e intervenção cívica com António Rosado ao piano, teatro, cinema, uma feira do livro e realidade, contribuindo para que e política. interpreta êxiros da Sétima Arte, muito mais.J como cogumelos a ‘situação’ ainda seja pior do que “os programas não sem elas seria. Multiplicando-se como cogumelos os programas tanto de futebol mas não tanto de futebol mas sobre fu- Quem tem medo do Motel X? o mítico Roar, de Noel Marshall, considerado o mais sobre futebol tebol. Ou seja: programas que não periigoso filme alguma vez feito; e The Rocky Horror são transmissões de uma grande Picture Show, o clássico dos clássicos. Do fundo do baú competição, de grandes jogos, da cinemateca, o festival conseguiu descobrir mais verdadeiros espetáculos com nu- A ante-estreia de A Visita, de M. Night Shyamalan, na duas raridas do cinema português, próximas do género merosos espectadores (entre os quais muitas vezes me incluo), mas sim sessão de abertura, é um dos grandes destaques do Motel fantástico: A Caçada do Malhadeiro (1967), de Quirino programas, infindáveis programas, de paleio sobre futebol. Falar, falar, X, que decorre de 8 a 13 de setembro, no Cinema São Simões; e a produção luso-espanhola Sinal Vermelho, de falar, em geral sem dizer nada, a repetir sempre as mesmas coisas, como Jorge. É tempo de ter medo, muito medo, mas também Rafael Romero Marchent. O Motel X também tem uma não podia deixar de ser: o contrário de informação e de espetáculo. de perder alguns preconceitos em relação ao cinema secção infantil, com o sugestivo nome Lobo Mau, para de terror. O festival, que tem crescido ao longo dos que os mais pequenos não fiquem de fora. Quando no mundo e no país se passa tudo que se passa, e a um mês de anos, aposta numa programação eclética para mostrar eleições legislativas fundamentais para o nosso futuro, parece não haver a abrangência do género. Toda a atenção para a sessão temas mais atrativos, importantes, do que a transferência do treinador competitiva, onde realizadores portugueses são convi- Dia da Língua Romena Jorge Jesus do Benfica para o Sporting, as entradas e saídas de jogado- dados a experimentar o género, tendo havido agradáveis res destes dois clubes e do Porto, a luta entre eles, os primeiros jogos surpresas em edições anteriores. A secção principal do do campeonato, polémicas e “dramas” associados. Uma tristeza e uma festival chama-se Serviço de Quarto, inclui Burying the manifestação de um certo subdesenvolvimento, dizem alguns. Uma Ex, de Joe Dante; Extinction, de Miguel Angel Vivas; I O Instituto Cultural Romeno abre as portas amanhã, tremenda falta de imaginação, digo eu. Porque tais programas, além de Am Here, de Anders Morgenthaler; Scherzo Diabolico, 3, para celebrar o Dia da Língua Romena, na sua sede, serem muitos e muito longos, com alguma rara exceção a confirmar a de Adrián García Bogliano; Nina Forever, de Ben e Chris na Rua do Barão, em Alfama. A celebração inclui pales- regra são todos iguais, nos mesmos dias e às mesmas horas! Blane; ou Ghost Theater, de Hideo Nakata. tras e aulas que dão a conhecer a história e a cultura da Em que outro país existe algo de semelhante? E que pode explicar O realizador homenageado este ano é o sul-africano Roménia. Além de evocações a personalidades do país, uma coisa destas a não ser, creio, uma errónea noção de concorrência, Richard Stanley, conhecido não só pelas suas longas- o programa conta com aulas de culinária e minicursos competição e luta pelas audiências? E mesmo do mero ponto de vista -metragens (destacando-se Hardware), como também de língua romena. As atividades, de entrada livre, ar- das audiências, dá para acreditar que quem apresentasse, no mesmo pelos telediscos. Além de Hardware passa no festival rancam às 15 com a Professora Rodica Adriana Covaci, horário, outro tipo de programa, com o mínimo de qualidade e de Dust Devil. O Motel X presta igualmente homenagem ao rumo “À descoberta da Roménia Turística”, e terminam interesse, ficaria a perder? Pensar que sim é pensar que a maioria dos ator recentemente falecido Christopher Lee, exibindo ao final da tarde com o Professor Simion Doru Cristea e portugueses estão num estado que nem quero qualificar... Recuso-me a Eugenie, de Jess Franco. Em sessão especial, também os “Romenos que marcaram o mundo”. acreditar que estejam assim. Pelo menos até prova em contrário.J

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› breves‹ Até a um Rui Vieira Próximo Futuro POESIA-LUGAR, noite de performance e leitura de poemas a partir das obras De Um romance por dentro da pintura água por todos os lados, de Sónia Baptista, Elsewhere/Alhures, de Rui Pires Cabral, e Um concerto da Orquestra Fazer Fogo à Noite, de Rui Dias Monteiro, de Câmara Portuguesa (OCP), na próxima sexta-feira, 11, às 22, na Caixa Muito já se escreveu sobre a sua O que mais o seduziu nessa ‘perso- teatro da Argentina, do Chile e Económica Operária (R. Voz do Operário, luz, as suas sombras, o tenebrismo, nagem’? da Grécia, e um ciclo de curtas- 64), em Lisboa. As obras pertencem à cole- a sua vida boémia, trágica, no fio da O facto de pintar como queria, com metragens são alguns destaques ção 32 da editora não (edições). navalha, em múltiplos ensaios e bio- as modelos que escolhia sem medo da 7.ª e última edição do Próximo grafias. E não é de estranhar também de enfrentar a poderosa Igreja da Futuro, que se despede, de 4 SIMPÓSIO DEDICADO ÀS BAN- a tentação da literatura. Caravaggio, época. A forma como personificava a 15, na Fundação Calouste DAS FILARMÓNICAS, este fim-de-se- um dos génios da pintura de todos os as suas imagens divinas sem o brilho Gulbenkian. mana, 5 e 6, no Núcleo Documental de tempos, foi uma “verdadeira perso- que se exigia, a Virgem Maria como ‘Espírito Radical!’ é o título Partituras do Museu Nacional da Música, nagem literária”, como diz Rui Vieira. uma pessoa normal e não vestida do concerto que a OCP traz, a 4 Auditório Municipal Beatriz Costa, em Com conhecimento de causa. É que sumptuosamente como uma rainha. e 5, ao Grande Auditório, com o escritor ‘mergulhou’ no universo e E era um pintor que não alinhava peças de Iannis Xenakis e de Mafra. Integrado nas comemorações do na obra do pintor, trazendo-o à vida em grupos, simplesmente pintava e Louis Andriessen, dois criadores Dia Nacional das Bandas Filarmónicas (1 de contemporânea e iluminando ficcio- melhor que ninguém. Depois o seu “subversivos e provocadores”, setembro). nalmente o seu destino, no novo ro- lado boémio, a vida nas trevas e de e leitura de textos de Amílcar mance, O último rosto de Caravaggio, bordel em bordel. Cabral e Frantz Fanon. Um ANTÓNIO DA CUNHA TELLES é indi- de que se pré-publica um fragmento Rui Vieira espetáculo dirigido por Pedro cado pela Academia Portuguesa de Cinema do terceiro capítulo. Uma edição Onde encontrou a sua amante, Carneiro, e por ele também para representar o país na categoria Carreira Abysmo, que será lançada a 4, no Fillide, que também ‘toma’ como concebido em conjunto com dos Prémios Fénix. Festival Literário de Ovar. É o seu personagem. Porquê? António Pinto Ribeiro (o ideólogo quinto romance depois da estreia, E sempre houve muitos que só foram Quis precisamente que o livro se do Próximo Futuro), que deixa TRUTH HAS TO BE GIVEN IN em 2005, com Guardador de almas, a reconhecidos depois da morte. passasse dentro dos quadros de adivinhar o tom de ‘agitação’ da RIDDLES, do compositor e contrabai- que se seguiram A eternidade noutra Não só nas artes. Temos imensos Caravaggio, como tal escolhi um programação. Nos dias 5, 6 e 7, no xista João Hasselberg, sábado, 5, às 21, no noite, Vozes no escuro e No labirinto do exemplos de artistas hoje idolatrados conjunto, 12, em que a mulher é a Teatro Aberto, estreia a primeira Pequeno Auditório do CCB, em Lisboa. centauro. e considerados verdadeiros génios personagem principal. A tal mulher das cinco peças de teatro desta que viveram e morreram na miséria. que na tela é uma rainha mas que edição: El Loco y La Camisa, JL: O último rosto de Caravaggio na vida real é uma pobre mulher do da companhia independente ATLAS MONTREAL, performance de surgiu do amor à pintura? Por que escolheu Caravaggio? povo que vende o corpo (não esque- Banfield Teatro Ensamble, da Ana Borralho e João Galante, sexta e sábado, Rui Vieira: Sim, queria fazer um Primeiro pela obra, porque é um pintor cer que tudo se passa na transição Argentina. Seguem-se Vou Lá 11 e 12, em Montreal, Canadá. romance com a pintura que admiro. Mas também não consigo do século XVI para o XVII) ou um Visitar Pastores, uma encenação por tema. A pintura e um artista não dissociar da obra a personalidade e a corpo encontrado no rio Tibre que de Manuel Wiborg a partir da obra CORRER O FADO, de Daniel Cardoso, compreendido no seu vida que teve. Caravaggio é uma per- Caravaggio utilizou como modelo do escritor, antropólogo, poeta espetáculo de inauguração do Cineteatro D. tempo. sonagem literária por excelência. para a Morte da Virgem. J MLN e cineasta angolano Ruy Duarte João V, na Damaia, Amadora, sábado, 5, às 21 Carvalho (a 6, 7 e 8, no Anfiteatro e 30, e domingo, 6, às 16. ao ar livre). Chiflón, El Silencio del Carbón, uma releitura do conto FRAGMENTO Fillide, sabre na mão direita sem El Chiflón del Diablo, do chileno hesitar sobre a jugular, irrompe um Baldomero Lillo, pela companhia jorro quente de sangue do pescoço Silencio Blanco, que trabalha com Morreu O último rosto de Caravaggio que estico com a outra mão, para marionetas feitas de papel (de 9 António Gaio que a pele se alise e a lâmina não a 13, no Grande Auditório). Daí trema sobre a artéria, e tudo com o nome do outro espetáculo que Parti o dedo em criança, por isso parara, decidi malhar as ferraduras um prazer que não se esconde nos trazem para os mais novos, De não o consigo dobrar, de certeza substituídas da velha Miss Daisy, olhos, nos mamilos erectos de ex- Papel (a 12 e 13, no Anfiteatro). Da O cinema de animação está de que já te contei a história em casa de como é belo o barulho do bater o citação, continuo a insinuar-me ao Grécia, chega-nos A Circularidade luto. Morreu, no passado dia 21, meus avós, na quinta onde viviam, ferro, entranha-se, mesmo quando general assírio, sei porque o mato, do Quadrado, do célebre autor aos 90 anos, António Ferreira foi vendida quando morreram, ne- voltámos, vindos do hospital, a pri- morre pela salvação dos filhos de grego contemporâneo Dimitris Gaio, diretor do Cinanima há nhum dos filhos sabia cuidar dela, e meira coisa que pedi foi se me da- Israel, por mim, por todos, sei que Dimitriadis, numa encenação de três décadas. Apesar de não ter antes que se degradasse cultivavam vam as ferraduras, ainda as tenho, tem de morrer com o gosto amargo Dimitris Karantzas (a 14 e 15, no sido o seu fundador (o festival girassóis, tinha oito anos mas ainda deves lembrar-me para tas mostrar de nunca me ter possuído e com o Grande Auditório). existe há 35 anos), foi sob a me recordo de como após acabarem e quando me disse que gostaria de sentimento de que fui dele, quando Na Casa-Arquivo, uma sua direção que o Cinanima as aulas ansiava a aproximação das me pintar, depois de apontar o meu estudaram aquele quadro, os raios construção temporária no atingiu renome internacional, férias de meus pais, adivinhava a dedo igual ao de Fillide, lembrei-me x que fizeram mostraram uma jardim da Gulbenkian, decorre, tornando-se num dos principais viagem que aproximava a liberda- do meu avô, da quinta, eu, menina, primeira imagem de Judite com os de 4 a 11, um ciclo de curtas- festivais de cinema do género de das montanhas e do verde dos a esconder-me entre as pétalas seios nus, sempre pensei perceber metragens com filmes de Alfredo na Europa, transformando prados, o campo de girassóis é das dos girassóis, gostaria de a pintar, porque Caravaggio os quase escon- Jaar e de Los Carpinteros, entre Espinho, todos os novembros, a paisagens mais belas que existem, como Fillide, ou talvez Judite, a deu pela transparência de um véu, outros, para ver ao fim da tarde capital do Cinema de Animação. não sei se já viste algum, mas um incrível força e decisão dos seus uma velatura, era um génio a pintar em sessões de entrada livre. A Por ali passaram grandes nomes dia deves fazê-lo, até para percebe- gestos, a boca capaz das orações sensações, sentimentos, sabia 9, Viriato Soromenho-Marques, portugueses e estrangeiros, res o que te digo gostava de passear e preces mais íntimas e do desejo como Fillide se sentia, amavam-se Juan Marchena Fernandez e premiando realizadores como pelos carreiros a roçagar os caules, mais ardente há já muitos anos que durante as sessões de pintura, os Aurora Carapinha conversam Abi Feijó, Zepe, José Miguel escondida pelo sol das pétalas, o não via aquele quadro ao vivo, e seios eram os que há pouco beijara sobre ‘Pachamama, a Lei da Ribeiro, Pedro Serrazina ou avô tinha uma égua, um cavalo de deixa de ser um quadro, assume-se e se mantinham sedentos, o sangue Mãe-Terra’, aprovada a 21 de Regina Pessoa. Presidente da tiro que vivia para passear uma como um momento talvez fosse o dele que se junho de 2012 pelo senado Fundação Nascente, trabalhou charrete que me deixava pegar nas real que passámos a derramava por Fillide foi o boliviano para promover o como jornalista e bancário, e rédeas, e foi nessas férias quando testemunhar desde a nosso tempo, era o quadro desenvolvimento integral em teve um importante papel na tinha oito anos que um dia acordei primeira vez que se de que mais gostava, numa harmonia e equilíbrio com cidade, assumindo a vereação com um barulho novo, preparavam vê, e vi-o no Palazzo primeira versão estava a natureza. Ainda na Casa- da câmara, e a direção do ferraduras, ainda ouço o som do Barberini em Roma, despida, os seios nus, Arquivo, a 10, o concerto Hang in Sporting Clube de Espinho e malho a arredondar as arestas para na primeira incursão talvez nunca se tenha the Garden, de hang (handpan), da Associação Académica de se aconchegarem naqueles cascos que fiz a Itália para sentido minha, mas amá- instrumento artesanal que Espinho. - Em 2000, puplicou enormes e depois de ferrarem a todo o Caravaggio, vamo-nos sempre como produz o seu som através da o livro “História do Cinema égua, enquanto todos se distraíam Holofernes degola- se de uma iniciação se própria vibração, com o multi- Português de Animação – com umas bebidas que a avó pre- do por Judite, e eu, tratasse.J percussionista português contributos”. J Kabeção Rodrigues. J

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Prémio INCM/ Vasco Graça Moura

O Prémio INCM/Vasco Graça Moura presta homenagem à figura exemplar do cidadão, intelectual e an- tigo administrador da INCM, responsável pelo pelouro editorial. O galardão, de periodicidade anual, distinguirá obras inéditas nas áreas onde o autor se destacou, nomeadamente na Poesia, no Ensaio e na Tradução. Em 2015, na sua edição inaugural, serão admitidos a concurso trabalhos inéditos no domínio da Poesia, apresentados entre 15 de julho e 15 de setembro, avaliados pelo seguinte júri: José Tolentino de Mendonça, Jorge Reis-Sá e Pedro Mexia. Além do valor pecuniário de 5000 €, o Prémio contempla ainda a edição da obra vencedora numa cole- ção emblemática da INCM, criada na década de 1980 por Vasco Graça Moura – a coleção Plural. A obra ven- cedora e possíveis menções honrosas serão anunciadas até 30 de setembro deste ano. O Prémio INCM/Vasco Graça Moura dá continuidade à missão da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, enquanto editora pública, de promover e preservar a língua e a cultura portuguesas, valorizando o melhor da produção literária inédita.

hTTPS://www.INCM.PT/PORTAl/VGM_PREMIO.JSP www.fACEbOOk.COM/PREMIOVGM

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e primeiro romance de temática caboverdiana; ou então da Corsino Fortes e Arnaldo França coletânea de contos de António Aurélio Goncalves que França Duas grandes perdas para Cabo Verde oferece aos leitores através da obra Terra da Promissão. O curioso é que inúmeras coin- cidências ligam o épico Corsa ao decano França. Ambos detentores A 24 de julho foi Corsino Fortes que nos deixou, aos 82 anos, a 18 de A presença constante destes de uma admirável generosidade, agosto foi Arnaldo Amado, aos 89. Sobre Corsino já escreveu Guilherme autores foi-se fazendo cada vez foram, de forma vigorosa, revela- mais notada e notável nos jornais dores e mentores de novas vozes na d’Oliveira Martins na sua coluna, na última edição. Hoje, são ambos aqui e revistas literárias que foram literatura nacional. Falo por mim e animando o ambiente cultural tantos como eu que deles ouviram evocados por uma também escritora e militante cultural, além de jurista, do arquipélago e dos países a palavra decisiva para se lança- defensora dos Direitos Humanos e ex ministra da Educação de Cabo Verde falantes do português. É contudo rem na incontornável aventura com o advento do 25 de Abril e a da escrita. Guardo com especial proclamação da Independência carinho um dos “bilhetes” que o Vera Duarte Nacional que se dá a verdadeira dr. França me escreveu quando eu consagração desses escritores. tinha 20 e poucos anos em que ele Com o poema “Não há fonte que me incentivava a publicar, para não Em menos de um mês, a não beba da fronte deste homem” fazer como outros que procurando a nação cabo-verdiana assistiu, Corsino inicia a trajetória ascendente perfeição acabavam por não o fazer. consternada, ao falecimento que irá fazer dele o maior poeta Referia-se claramente a si próprio de dois dos seus mais lídimos épico cabo-verdiano. Data de 1974 pois foi, sem dúvida, a procura da representantes: Corsino Fortes e a publicação de Pão & Fonema que perfeição que o impediu de publicar Arnaldo França. Contudo, e com juntamente com Árvore & Tambor a sua obra poética, ficando-se pela a devida vénia, a morte nestes (1986) e Pedras de Sol & Substância colaboração constante em jornais e casos é apenas um mero pormenor (2001), constituem a trilogia A revistas. Ele foi, aliás, o fundador e pois, quer “Corsa de David” quer Cabeça Calva de Deus, obra angular mentor da revista literária Raízes, “Dick França” pertencem ao do edifício literário nacional, que que pontuou no ambiente cultural grupo daqueles que pela magia da conta a saga do povo caboverdiano, do arquipélago nos anos 70, 80 e 90 sua escrita e pelo impacto da sua da dominação à liberdade. do século passado. intervenção, se foram da lei da França, cultor de belíssimos Fortes e França também partici- morte libertando. Arnaldo França e Corsino Fortes ‘Ambos generosos, reveladores e sonetos, investe o fundamental param de alma e coração nos mais A fecunda plantação que ambos mentores de novas vozes na literatura nacional’ do seu talento de estudioso, diversos júris literários que, de for- fizeram nas letras cabo-verdianas, mormente enquanto docente ma competente e crítica, revelaram duradouramente irá permitir safras que também foi, na divulgação novas vozes. Corsino ficou conhe- abundantes para nutrir o universo de obras preciosas de autores cido por anunciar prémios para os cultural das ilhas. Vêm ambos de Depois foi o Boletim dos Alunos fulgurantes da poética que trilharia. caboverdianos, muitas delas outros, esquecendo-se comple- longe, dos tempos da magnífica do Liceu Gil Eanes, de um único mas Já França com a criação da revista esquecidas ou não conhecidas tamente de si. Foi assim imensa a aventura Claridosa em que tiveram memorável número, onde Corsino, Certeza deixava patenteado o gosto do grande público. Tal é o caso alegria da Academia Caboverdiana o privilégio de participar, embora já com o poema “Mindelo”, deixou pelo estudo e investigação literária de O escravo, de José Evaristo de Letras por ter podido, com no seu finalzinho. de forma impressiva as marcas que tanto o caracterizariam. de Almeida, publicado em 1856 o apoio do Banco Comercial do

É a partir dos anos 60 que, volume elabora sete propostas de juntamente com Bernard Dort, leitura original para os textos mais começa a renovar os estudos sobre “recalcitrantes” e destina assim Michel Corvin (1930-2015) teatro, lutando contra a supre- as suas derradeiras páginas a mais macia do texto. Na universidade, uma travessia das várias épocas Amar o teatro desalmadamente Michel Corvin evita qualquer do teatro, teimosamente adepto de ortodoxia: interessa-se por autores uma inesgotável conceção renova- marginais e escreve sobre Artaud, dora do mundo do teatro. Kleist, o movimento Dada, mas Deixa um percurso de rara den- também sobre Feydeau ou o teatro sidade que é difícil resumir. Tendo Figura destacada dos estudos sobre teatro, em França e não só, agora despa- de Boulevard. Apaixonou-se sido sua estudante no Institut pelas obras de Roland Dubillard, d’Études Théâtrales (Université recido, é aqui evocado pela encenadora, atriz, diretora do Festival Parfums Noëlle Renaude ou ainda Valère Paris 3 – Sorbonne Nouvelle) quero de Lisbonne, cofundadora da companhia Ca e La, de Paris, onde vive e é Novarina, a quem consagrou um sublinhar o empenho de Michel livro em 2012 (Marchons ensemble, Corvin na transmissão do saber, profª, investigadora e diretora de departamento na Universidade Paris Ouest Novarina). Em 2002 propõe a relei- sempre aberto ao debate, e aquela tura da obra teatral de Jean Genet sua maneira tão própria de falar com documentos raros ou inéditos, das coisas de teatro, mesclando a Graça dos Santos o palco. Como não tinha papas na nas míticas Editions de La Pleïade. exigência e o rigor com uma ironia língua, não hesitava em desarru- Prorrogando a sua reflexão sobre devastadora. O lançamento em 1991 mar os talheres ou em manchar as mutações das novas dramatur- do seu Dictionnaire encyclopédique Tinha 84 anos e não irá mais ao a toalha no festim do teatro, com gias, questiona a posição da figura du théâtre explica em parte que o teatro. “O mundo do teatro perde um estilo mordaz inconfundível, do “personagem-ator” na escrita apresentem como enciclopedista. É com o desaparecimento de Michel muito profundo e direto nas suas textual e cénica europeia (L’homme verdade que esta obra de referên- Corvin um incansável descobri- análises e observações. en trop: l’abhumanisme dans le théâ- cia, por vezes até simplesmente dor e autor de obras fundamentais O meio teatral não esperava tre contemporain, 2014). “À textes denominada “o Corvin”, será com- sobre a arte dramática”, declarou a tamanha desfeita, tendo-se habi- nouveaux, lecture nouvelle” (para pletada e atualizada até à ultima ministra da cultura francesa, Fleur tuado à enérgica atividade deste textos novos, leitura nova), dizia edição, em 2008, com um novo Pellerin, na sua homenagem após entusiasta que nunca cessou de ele, em julho passado, na apre- título (Dictionnaire encyclopédique o falecimento, a 20 de agosto, de partilhar o seu gosto pela história sentação do seu último livro, La du théâtre à travers le Monde), sinal Michel Corvin um dos maiores e mais originais e pela atualidade do teatro. Se bem Lecture innombrable des textes du da postura universal do teatrólogo especialistas franceses das artes que autor de uma vasta obra sobre théâtre contemporain, emblemático que deixa inacabado o projeto de cénicas. Professor universitário, a dramaturgia do século XX, a sua da postura singular dum estudioso lançar on line uma nova versão da investigador, ensaísta e historia- curiosidade insaciável e indepen- formas inovadoras deste século, que tentou perpetuamente encon- famosa enciclopédia. dor, foi um autêntico gourmet de dência de espírito fizeram dele informando-se sobre as novas trar novas perspetivas na aborda- Corvin demonstrou-me o seu tudo o que está relacionado com um espetador assíduo e atento às escritas e os jovens autores. gem da escrita dramática. Neste apego ao teatro português quando

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Atlântico, distinguir com o Prémio Vida e Obra 40º Aniversário da Independência este nosso admirá- Bento da Cruz (1925- 2015) vel confrade, ainda em vida. Intelectuais de fina estirpe, 06-08-18 21:15 homens de Estado de uma O escritor que cuidava a memória dimensão e honorabilidade acima de qualquer suspeita, cidadãos ativamente intervenientes na vida da urbe, Fortes e França, foram sem dúvida dois homens que engrandeceram a vida social Morreu no dia 25 de agosto, com 90 anos, o escritor, médico de profissão, – perdida nos matagais por pastores e política do seu país e ajudaram a enamorados, contrabandistas esquivos construir a estrada ascendente da que nos deixa 25 títulos de uma obra profundamente enraízada nas suas ou outros transumantes em fuga que nossa cultura de que tanto falava terras de Barroso, de dimensão nacional. A obra e o autor aqui evocados a roda do tempo amarfanhou – surge Amílcar Cabral. como uma das dádivas do escritor ao Enquanto a única obra publi- por outro escritor, e jornalista, seu amigo nosso tempo, às gerações vindouras. À cada de Arnaldo França, Notas Língua Portuguesa. sobre a poesia e ficção caboverdia- O diálogo vivo, musical, depurado nas, data de 1962, é um Corsino Francisco Duarte Mangas cadores, publicado em 1967, sendo Agora – dizia-me numa entrevista em (dir-se-ia de guião cinematográfico) finamente lírico e de uma insus- reeditado, várias vezes, a partir dos 1989 – “está adulterada, vulgarizaram irrompe como outro dos contributos tentável sensibilidade que nos lega anos oitenta. Como observara Urbano a chega. Antigamente era uma coisa do autor à nossa Literatura. É a fala em 2015 a sua última obra poética, Nos lançamentos dos seus livros no Tavares Rodrigues, no prefácio ao livro séria! Tinha um ritual próprio: os bois genuína do povo, um povo concre- Sinos do Silêncio, que vem inovar Porto, mesmo não sendo ele apresen- Contos do Gostofrio (1973), as origens eram da povoação, toda a gente da to – marcado pela penúria, acossado no panorama literário nacional tador televisivo ou personagem das do ruralismo de Bento da Cruz estão aldeia se empenhava no seu boi! Agora por senhores terrenos e temente a ao introduzir de forma triunfal os revistas cor de rosa, juntava peque- fundamentadas numa experiência não; os bois são particulares… pratica- Deus – que ao longo de séculos talhou haikais, género poético milenar de nas multidões. E era uma grande direta, “vivida e observada, no que mente só o dono do animal pode ficar a paisagem agreste. origem japonesa. Corsino, que era festa. Como nunca renegou a matriz concerne ao trabalho, ao amor, à emocionado e torcer pelo campeão”. Um povo, no entanto, capaz de um jovem de 82 anos e que contava camponesa, de andarilho silvestre, amizade, à ambição, às carência mais Admirava Camilo, um dos autores grandes gestos de humanidade mesmo viver até aos 92, como ele dizia, viu do homem bom rente à natureza, a duras, em suma à complexa maranha portugueses que lia “com prazer e com em situações adversas. A solidariedade ceifados pelo cancro dez preciosos festa terminava, altas horas da noite, das relações do homem com a natu- proveito”. Uma das suas última obras dos humildes, da pobre gente, será a anos cheios de projetos literários. com pão, vinho e presunto. Pão, reza e com os animais. Relações todas foi, precisamente, um ensaio sobre o mais sincera de todas. Apetece-me assim concluir vinho e presunto vindos da geografia elas fortemente sensualizadas e sobre autor de Amor de Perdição nas andan- Os livros de Bento da Cruz assegu- esta breve nota dizendo que a da infância. Do planalto do Gostofrio, as quais o autor se coíbe de lançar um ças pelo espaço imaginário de Bento da ram essa memória (matéria perecível) vida é realmente imprevisível: lugar real e imaginário onde se movem julgamento moral”. Cruz, publicado pela Âncora Editora do povo de Barroso. A dignidade do foi ainda antes de ontem (2013) todas as personagens da singular obra O romance Planalto em Chamas há dois anos – Camilo Castelo Branco povo dos grandes gestos de humani- que, com Corsino, criávamos a literária que nos deixa. (1963) marca a sua estreia. Da longa Por Terras de Barroso e Outros Lugares dade. O povo de Barroso que soube Academia Caboverdiana de Letras; Num gesto bíblico, Bento da Cruz carreira literária, sempre tolhida pelo assim se chama o livro, que assinalou acolher os “fugidos”, os refugiados, ontem mesmo (2014) com ele, quando saiu a primeira vez da aldeia ofício diário de médico, ficam mais os 50 anos de vida literário do autor. quando “os maus ventos” uivavam do impúnhamos a faixa de académico de Peirezes, Montalegre, rumo ao de 25 títulos, entre contos, roman- Bento Gonçalves da Cruz nasceu outro lado da fronteira. Uma memória a Arnaldo França; e hoje (2015) longe, rumo à grande cidade, antes da na aldeia de Peirezes, Montalegre, da Guerra Civil de Espanha, revivida entoamos todos um requiem à curva da estrada, que apaga a imagem em 1925. Faleceu na semana passada, ou reescrita do lado de cá, é outro dos memória de ambos. Que a terra primordial, não se voltou para a rever. aos 90 anos. Nos seus livros, vários legados aos homens do nosso tempo lhes seja leve!J Seguiu caminho, levava consigo, res- deles distinguidos, há, como afirmara e às gerações do porvir. Os dedos de guardado no lugar mais íntimo, esse Urbano, “incontestável denúncia uma mão chegam para contar os es- mundo amargo e maravilhoso. Inútil, da miséria, de todas as misérias, critores que, antes dele, ousaram atear pois, o olhar emocionado de quem de uma das mais frustes regiões do esse passado sangrento. O autor de me solicitou para redigir os se despede. Partiu para ser monge nosso país”. A grandeza do autor de Planalto em Chamas não temia a me- artigos sobre esta área nas várias beneditino, chegaria a noviço, mas O Retábulo das Virgens Loucas não se mória, ele conhecera, como já disse, reedições desta obra, e para trocaria a vida religiosa pela medici- fica, todavia, por esse “compromisso guerrilheiros rojos e outros “fugidos”. evocar a dramaturgia portuguesa na. A escrita, amante irregular (“só radical com a verdade”. Homens acossados pelos franquistas na sua Anthologie Critique Des escrevo aos fins-de-semana”), essa, Conheci Bento da Cruz há mais de e pelos fascistas portugueses, homens Auteurs Dramatiques Européens acompanhá-lo-ia sempre. 30 anos. O tempo. A serenidade do sem pátria, com os sonhos libertários (1945-2000). Devo-lhe também Na geografia da infância, a mes- tempo é cruel mão invisível, sempre impedidos, privados de quase de tudo. ter escrito sobre as artistas ma que Frei Bartolomeu dos Mártires espalha marcas por onde passa. Falo Essa memória, enfim, jamais portuguesas no Dictionnaire calcorreara em tempos remotos, havia Ao transportar para do tempo para lembrar a força maior poderia ser olvidada. E não foi. Bento universel das Créatrices, 2013, cujo de desenhar o espaço mítico, exíguo a nossa Literatura a do escritor, avesso à efémera claridade da Cruz, ao evocar a Guerra Civil de setor de teatro foi coordenado por e infinito, capaz de acolher a sua “ mediática, que alguns em vão tenta- Espanha, trouxe à claridade a dig- ele. obra ficcional. A partir das terras de heroica dignidade das ram empurrar para o silêncio. Ele foi nidade do seu povo. A dignidade em “Era um moderno, a sua refle- Barroso, Bento da Cruz devolve-nos, gentes da sua terra, nas um escritor do seu tempo. Do nosso tempos conturbados é um tesouro in- xão permanecia sempre intensa em O Lobo Guerrilheiro, a memória tempo. Parte substancial do tempo calculável: guardar silêncio, não de- em relação com o palco”, diz o da guerrilha galega antifranquista, décadas de 30 e 40 do mais negro do século XX português nunciar a presença de “bandoleiros” encenador Robert Cantarella, terminada a Guerra Civil de Espanha. século XX, distinguiu entra bruscamente na sua obra e (as autoridades portuguesas e os jor- com quem o inolvidável apai- Conheceu, muito novo, alguns dos perdurará, estou certo, nos tempos nais designavam assim os refugiados xonado de teatro tinha recente- “fugidos” à barbárie franquista, todos os portugueses que hão de vir. Porque, melhor do que de Espanha) era crime, e passagem mente perpetuado o seu prazer dar-lhe-ia mais tarde a claridade da que recusaram a ninguém, o autor de A Loba (Prémio certa pelas mãos dos torturadores da da prática atuando no Notre Faust sua escrita límpida, áspera e melodio- de Narrativa Galega e Portuguesa, Pide, da Rua do Heroísmo, no Porto. “série diabolique en cinq épisodes”. sa. Genuína como o pão, o vinho e o tirania. Bento da em 1999) cuidou a memória como E houve, por muitas aldeias barrosãs, “O seu falecimento era inconce- presunto oferecido aos leitores, tras- Cruz foi o escritor do matéria perecível. E na memória há homens e mulheres que não traíram: bível, pois ele encarnava a vida”, montanos e não só, como é evidente, palavras privadas de afeto. Precisam deram abrigo, pão, vinho e presunto declara o universitário Olivier que enchiam o salão nobre do Ateneu Barroso, um grande de respirar na página, porque a rapidez a esses companheiros transidos. Neveux. E pareciam incrédulos Comercial do Porto, ou outros auditó- escritor português do quotidiano padronizado as esquece Ao transportar para a nossa os rostos ainda bronzeados da rios mais amplos, nos lançamentos dos – e palavra esquecida nem lugar lhe é Literatura a heroica dignidade das pequena multidão de muitos dos livros. Momento de festa e de partilha destinado em língua morta. gentes da sua terra, nas décadas de representantes das várias áreas desse pequeno mundo que o candidato A obra de Bento da Cruz , sem 30 e 40 do século XX, Bento da Cruz relacionadas com as artes cénicas a monge haveria de perseverar a vida ces, biografia, crónicas, e trabalhos dúvida, dá abrigo de alguns dos nossos distinguiu todos os portugueses que em França que o acompanharam toda. etnográficos como O Boi do Povo, mais genuínos vocábulos – que em recusaram a tirania. E aqui reside no cemitério Père Lachaise. Aqui No espaço imaginário da narrativa editado em 2009 pela Associação dos lenta aluvião se dirigiam ao olvido outra originalidade do seu trabalho e ali, alguns dos jovens vindos de Benta da Cruz cabem as memórias Jornalistas e Homens de Letras do – renascidos, devolvidos à comuni- literário: voluntariamente localiza- de Cannes, da escola de artes dos guerrilheiros galegos ou o amor Porto. “Todos os meus livros falam dade falante, através de espantosas da, é certo, mas os sentimentos são ERAC, onde Corvin reatara com o entre mulheres. Como o da Zé e da das chegas de bois”, da luta entre dois personagens que são outras das me- apátridas. Bento da Cruz foi o escritor ensino, não conseguiam conter as Lua, duas personagens de Filhas de bois em campo aberto. “Era uma coisa mórias levantadas do chão. O paciente do Barroso, um grande escritor por- lágrimas. J Loth, um dos romances mais provo- muito característica do Barroso”. ofício de limpar e enxugar a palavra tuguês. J

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) jornaldeletras.sapo.pt * 2 a 15 de setembro de 2015 J 8 * tema › Os cem anos de A Metamorfose ‹

“Certa manhã, ao acordar de sonhos inquietos, Gregor Samsa viu-se transformado num gigantesco inseto”, assim começa A Metamorfose, de Franz Kafka, uma das ficções mais influentes da História da Literatura universal, publicada há cem anos, em outubro de 1915. Escrita no final de 1912, em apenas três semanas, quando o escritor checo (1883-1924) tinha 29 anos, seria uma das poucas que publicou em vida, numa revista literária. E tornar-se-ia uma das mais editadas de sempre, em todo o mundo, incluindo em Portugal. O JL evoca um século de A Metamorfose e a obra do autor, que se tornou um ‘monstro’ literário, referência fundamental de inúmeros escritores de várias gerações – por exemplo, Sartre, Camus e García Marquéz, entre tantos outros. Assim, publicamos um ensaio de um especialista do autor de O Processo, a quem dedicou a sua tese de doutoramento, o prof. de Letras da Un. do Porto Gonçalo Vilas-Boas; um texto do nosso colaborador de sempre Jorge Listopad, poeta, dramaturgo, encenador e também checo (e português); o testemunho sobre A Metamorfose, de Isabel Castro Silva, sua tradutora (e de outros títulos) para a Relógio d’Água; as opiniões de três escritores - A. M. Pires Cabral, António Vieira e José Viale Moutinho - sobre o legado kafkiano e possível 'presença' na sua escrita

acertar. Há sempre a “insegurança, mas também a entrega à variedade incompreensivelmente bela, sendo Kafka, um escritor eterno a concretização das esperanças, e especialmente de tais esperanças, o sempre inesperado, mas por isso mesmo o milagre sempre possível.” Kafka nunca apela à imobilidade, Gonçalo Vilas-Boas ‘des-espacializado’: também na essa é a morte de qualquer espe- casa dos pais, que habitava, o seu rança, e esta deve subsistir, mesmo quarto era um lugar de passagem, sabendo-se que é praticamente sendo frequentemente atraves- inatingível. No final do Diário, em sado pelos outros membros da 12.6.1923, escreve: “O único conso- família e empregados, facto que lo seria: acontecerá, quer tu queiras irá retomar de forma ficcional quer não. E o que tu queres ajuda em A Metamorfose. Pode dizer-se pouquíssimo. Mais do que consolo é que Kafka não tinha um espaço o seguinte: tu também tens armas” que fosse seu, também na grande (trad. Isabel Castro Oliveira, na cidade de Praga, de onde raramente Relógio D’Água). saiu e que está metaforicamen- Começou com pequenos textos, Há 100h anos era publicado na te presente em muitas das suas os únicos que publicou em vida, Alemanha o conto A Metamorfose, narrativas. mais uma vez por grande insis- de Franz Kafka, autor que nasceu, Além de marginalizado e tência de Max Brod. Aos poucos, em 1883, como cidadão austríaco, “desterritorializado”, Kafka era alguns textos foram crescendo em em Praga, onde viria a falecer, em também um homem inseguro. Cada direção à forma romanesca, mas o 1924, já com nacionalidade checa. tomada de decisão sua era acom- facto é que nunca acabou qualquer Pouco publicou em vida e pouco panhada por um forte sentimento romance. O Processo e O Castelo deveria ter chegado às nossas mãos, de culpa por ter traído a posição ficaram quase terminados. Brod uma vez que antes de morrer pediu contrária. Apenas na escrita se ordenou os capítulos e deu-lhes a a Max Brod que queimasse todos os sentia bem: escrever era para ele forma com que foram inicialmente seus manuscritos, o que o amigo uma obsessão. Isso obrigou-o a publicados, incluindo o expurgar não fez, permitindo assim que tomar decisões incómodas, que de algum dialeto de Praga. Só as Kafka se tornasse um dos grandes nunca deixaram de o perturbar. edições críticas restabeleceram a vultos da literatura de expressão Como exemplo, lembremo-nos língua original de Kafka, um ale- alemã e da literatura universal. das dificuldades que teve com as mão com marcas regionais. Quem é, então, Franz Kafka? sucessivas namoradas, com quem Tendo ‘conquistado’ a sua liber- Esquecendo a dimensão biografista, mantinha uma ampla correspon- dade de escrita, apesar de não ter facilmente acessível em muitas pá- dência (sobretudo com a primeira, conquistado o pai para ela, como se ginas da internet, vou centrar-me a alemã Felice Bauer). em alguns aspetos que marcam a Mas Kafka era um homem de sua escrita. Kafka foi um homem princípios absolutos, rejeitando triplamente solitário e margi- quaisquer soluções de compromis- nalizado: desde logo, no seio da so: ou casava e seria um marido e Franz Kafka Começou com pequenos textos, os únicos que publicou em vida própria família, pequeno-burgue- pai exemplar, portanto sem tempo Kafka foi um homem sa, com um pai comerciante pouco para se dedicar à escrita, ou então triplamente solitário e interessado na escrita do filho. dedicar-se-ia a esta por completo, “ Marginalizado também pela língua: tendo que renunciar a uma vida dúvidas prevalecem. a via a seguir, pois não há indica- marginalizado: no seio Praga, a sua cidade natal, pertencia familiar. “Tudo o que não é escrita A sua escrita é, pois, essen- ções: o ficar à espera, tal como o da própria família, pela ao Império Austro-Húngaro, mas a aborrece-me (…)”. Quase todo o cialmente, a ficcionalização das homem do campo face ao porteiro língua oficial, o alemão, era falada tempo livre era dedicado a escre- suas interrogações. Escreve sobre da lei que lhe barra o caminho no língua e pela religião apenas por 7% da população. Kafka ver. Exigia que a literatura tivesse a necessidade de questionar, mas texto “À entrada da lei” (que vai falava também checo, língua que uma força atuante: “Julgo que só se mostra a impossibilidade de nas também fazer parte do romance quase só escreveu em textos de deveriam ler livros que mordessem condições apresentadas chegar às O Processo), representa a morte, o Só encontra refúgio caráter profissional, na companhia e picassem (…) O livro tem de ser repostas. Em 24.7.1922 escreve ao não avançar. na literatura; a vida de seguros onde trabalhava. Por o machado para o mar gelado que amigo Robert Klopstock que a vida A escolha do caminho nunca é fim, foi também um marginalizado há em nós”, escreveu ele ao amigo é como o trajeto de um homem que segura, face a tantas possibilida- real nunca lhe é um no que respeita à religião: pertencia Oskar Pollack em 27.1.1904. Kafka percorre um caminho, que vai dar des, a certeza da decisão correta é porto seguro, já que à minoria judaica da cidade, maio- só encontra refúgio na literatura; a um segundo, depois a um terceiro praticamente nula, mas enquan- ritariamente cristã. a vida real nunca lhe é um porto e assim sucessivamente. Em cada to o homem avança há sempre as interrogações e as Sentia-se, assim, um homem seguro, já que as interrogações e as cruzamento terá que escolher qual a esperança de, por um acaso, dúvidas prevalecem

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pode ver no texto fictício "Carta ao de Karl Rossmann à procura de um Trata-se de um epílogo depois pai", continuou a escrever contos espaço que seja seu. Em Oklahoma, da morte inevitável de Gregor, que foram recebidos com estranhe- no circo, uma espécie de paraíso quando é restabelecida a ordem za. Como podemos lê-los? terrestre, onde todos são aceites após a expulsão do elemento não As leituras são construções consoante as suas aptidões, Karl conforme com a sociedade. Somos, de cada leitor, e, assim, haverá encontra, ou julga encontrar, uma assim, levados a ver a normalida- tantas atribuições de sentido como espécie de abrigo. É o fim de uma de no anormal, e tudo por culpa pessoas a abeirar-se dos textos. viagem e o início de outra, mas já das perspetivas reducionistas das A minha leitura também não é fora do texto. É, digamos, a exceção figuras e da total ausência de outras mais do que uma entre milhares. na obra “negativa” de Kafka. perspetivas. Lembre-se, a este propósito, o Olhemos ainda para a obra Mas porquê tanta negatividade, filósofo austríaco Ernst Fischer, centenária: A Metamorfose, escrita tanta ausência de esperança? Kafka que escreveu: “Na negação total a em 1912, mas só editada em 1915, escreve no aforismo 13: “Um resto que Kafka dá corpo, também está traduzida por Álvaro Gonçalves por de esperança continua, no entanto, escondida a negação da negação”. A Transformação, na edição 2004. a fazer acreditar que durante a Isto é: o percurso das figuras que Gregor Samsa acorda transformado transferência o senhor passará, por Kafka cria nas suas ficções, cor- num inseto. O leitor vê-o ao mes- acaso, no corredor, olhará para o respondendo a algumas questões mo tempo que a figura vai tendo prisioneiro e dirá: 'Esse aí não o que o autor se coloca a si próprio, consciência da sua nova e insólita levem outra vez para a prisão, fica é essencialmente negativo, e acaba condição. E talvez não perceba logo comigo.’” Kafka vai deixando muitas vezes com a morte. São porque é que Kafka e o seu grupo umas vagas portas de saída, quase percursos que levam à destruição, a de amigos riam aquando da leitura impercetíveis, dirigidas ao leitor, um “não sentido”. do conto: mas, de facto, o início é não às personagens. Estas são mo- Ao nível da superfície do texto muito irónico. É um início abso- vidas normalmente pela esperança não há, de facto, possibilidades luto, não há qualquer razão que de conseguirem os seus intentos. positivas. Mas Kafka diz que só justifique a metamorfose. Nunca os conseguem alcançar, fala da negatividade, porque só Atentemos no desenvolvimento: porque fazem sempre as escolhas conheceu esse lado da vida; o outro Kafka num retrato da pintora Manuela Bacelar as únicas preocupações do prota- erradas. A questão que se pode co- lado, o positivo, não lhe foi dado gonista são levantar-se, arrumar o locar é se poderiam, naquelas con- a conhecer. Reconhece que talvez material de que precisa para a via- dições, optar por outras soluções. ele exista, mas não sabe como lá gem (é vendedor de uma empresa Onde está, então, o sentido chegar. Mas quem tem a culpa? (tradução de Madalena Almeida, na do ramo têxtil). Olha para o relógio, das obras de Kafka? Poderemos E que culpa? Kafka não recorre a Ulmeiro). pensa no horário dos comboios - dizer que o sentido se encontra na narradores que saibam mais do que A aumentar a insegurança nos nem uma questão sobre o seu esta- impossibilidade de sentido, por as personagens, por isso limita- A sua escrita é, textos está também a estranheza do físico. Há, portanto, uma grande culpa das figuras. Elas são culpa- -se às perspetivas delas; e as suas relativamente aos espaços, que são, disparidade entre o que perceciona das, ainda que não saibam qual a personagens optam por caminhos essencialmente, a muitas vezes, estranhos. Pensemos e o seu pensamento. Não faz a acusação, como acontece com José aparentemente errados, pois não “ficcionalização das suas no tribunal, num sótão num bairro pergunta certa, seja ela qual for, e, K. Kafka constrói a impossibili- sabem procurar os verdadeiros. É esconso numa cidade sem nome; assim, também não pode agir con- dade de sentido através das muito sempre fora deles e não neles que interrogações. Escreve pensemos no edifício do banco sequentemente. Vamos seguindo faladas construções em ‘mas’: faz procuram as soluções, como o ca- sobre a necessidade de onde a personagem trabalha; ou a figura até à morte, e verificamos uma afirmação, o leitor agarra-se pelão de O Processo diz a José K., na questionar, mas mostra no sítio onde a figura será executa- que as suas atenções se centram a ela, e eis que surge, explicita ou catedral. O leitor negará a negação da. E podemos também imaginar quase exclusivamente na família, implicitamente um ‘mas’, pondo apresentada, como explica Fischer, a impossibilidade de o espaço da Colónia Penal. São no pai, na mãe, na irmã. em causa o terreno que o leitor negará, por falta de empatia e com- chegar às repostas espaços negativos, com exceção do Kafka escreve à namorada, já tinha assegurado como seu. O preensão, os trajetos das figuras. "Teatro de Oklahoma" do romance Felice Bauer, que acha o conto seguro torna-se irremediavelmente O leitor reconhece facilmente América, um espaço utópico na horrível e o fim inexplicável, um inseguro, fica o vazio e a impossibi- que as personagens não tomam as Não recorre a narradores longínqua América, mas alcançado final feliz escrito em contrassenso lidade de atingir um sentido. soluções adequadas. Quando José apenas depois de um trajeto longo relativamente às três outras partes. Vejamos algumas das mortes K. está no quarto do advogado, que saibam mais do que amigo do tio, prefere ir ter com a as personagens, por isso empregada Leni, apesar de naquele quarto estarem figuras importantes limita-se às perspetivas para o seu processo, e ele querer delas O encontro com Milena defender e provar a sua inocência. Mas o problema das figuras kafkia- nas é que não sabem formular O sentido das suas Jorge Listopad visível, em algo de fulminante que passou dum casal as verdadeiras questões, por isso para o outro, não sendo nenhum dos dois um verdadei- nunca poderão encontrar os ver- obras encontra-se ro casal, um fulminante desejo a acabar no vazio. dadeiros caminhos. Quando José na impossibilidade Este hotel, com um ar um tanto desleixado, onde Egon Beleza, diria um outro, que não essa beleza esma- K. é preso em casa, que questões é Schiele ficou toda a noite com a sua irmã Gertrude, é gada, destruída, a residir para sempre nessas coisas que ele coloca face a uma situação de sentido, por culpa claro que podia ser o mesmo onde Kafka uma vez, e só estranhas a que se chama arte, literatura, escultura, estranha, de invasão do seu espaço das figuras. Elas são uma vez, se encontrou com Milena. O que se passou pintura; mas, por amor de Deus, sem matéria real, sem por estranhos, num domingo? É culpadas, ainda que não nessa noite, também não se sabe. Falaram, amaram-se, modelo, sem repetição, sem China. preso e, simultaneamente, pode ou falaram e amaram-se ao mesmo tempo, sonhando Gostava de vos mostrar a fotografia desse pequeno ir trabalhar para o banco, o que é saibam qual a acusação com algo que não tinha nome ou já não tinha nome. O hotel; ao seu lado, ao lado dos caminhos-de-ferro, estranho. Qual a instância que o quarto de Kafka teria sido vizinho do quarto de Egon, havia um bebedouro onde dia e noite corria água, sem prende sem culpa formulada? futuro pintor, ou houve a mesma cama, a mesma ca- parar, sem parar. Sem parar. A água tinha fama, com Também no romance O Castelo: deira, a mesma mesa, o mesmo bengaleiro para o tren- o único senão de tanto servir para pessoas como para K. diverte-se com algumas das suas narrativas. Kafka apresen- ch coat de F. K.? Quantos anos passaram, até existir este animais. Dessas quatro personagens que apresentei raparigas da aldeia, perdendo, ta num aforismo uma das razões ninho de amor escondido na fronteira austro-checa? quem a bebeu? Não há quem responda. Estão todos os eventualmente, a oportunidade que justificam o falhanço humano: Em geral abandonado, ou apenas pronto para hospe- quatro mortos, o que em nada muda a história. de chegar mais perto daquilo que “Existem dois pecados mortais do dar os caixeiros-viajantes. É fácil decifrar o tempo que Falei da metamorfose do lugar dos dois aconteci- procura: a razão por que foi cha- Homem, de onde derivam todos os houve entre essas duas visitas estranhas, mas não sou mentos. As pessoas, no entanto, interessam-se mais mado ao Castelo, na sua atividade outros: a impaciência e a indolên- eu quem vai contar os anos ou anular os anos porque pela história do Castelo, do seu palco barroco, da sua de agrimensor, informação que cia. Foi por causa da impaciência prefiro o meu sonho, onde esses dois quartos foram cena, de certo modo única no mundo, perdida e às lhe é negada ao chegar à aldeia. que foram expulsos do Paraíso, é alugados para uma mesma noite. Lá fora havia a lua, vezes excecionalmente reencontrada para um espetá- Assim, o leitor vê-se obrigado a por causa da indolência que não a dama que influencia o sexo feminino por saber dele culo, para um modesto festival iniciado com fanfarras seguir a perspetiva dominante da voltam para lá. Mas talvez exis- como mais ninguém. ou outra qualquer abertura musical, tudo tocado em figura, apesar de perceber que ela ta apenas um pecado mortal: a Sim, Gertrude, mais tarde transformou-se em instrumentos de época. é errada. Face à impossibilidade de impaciência. Por causa da impa- Milena, ambas falando um pouco de checo, um pouco - O barroco é a minha política!, dizia o conde um caminho, partilha a inseguran- ciência foram expulsos, por causa de alemão, ambas com dificuldade em acreditar no Waldenstein. ça que o autor inscreve no subtexto da impaciência não voltam para lá”

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J KAFKA E A METAMORFOSE jornaldeletras.sapo.pt * 2 a 15 de setembro de 2015 1o * tema

presentes nos textos de Kafka: em bom filho, o trabalhador A Sentença, o filho suicida-se ati- diligente que suporta um rando-se da ponte sobre o rio, por emprego que não lhe agrada ordem do pai, fragilizado e acama- para poder sustentar a do, mas com muito poder sobre ele; família e até para pagar as em A Colónia Penal, o condenado é aulas de violino da irmã, morto ao ser-lhe inscrito na carne se vê reduzido à condição por uma máquina o motivo da de pária, a família, que até culpa, o que o impede se vir a saber então vivera às suas custas, qual a sua culpa; também o Artista como parasita do filho, ganha da Fome exerce a sua profissão com novo alento e rejuvenesce. grande radicalidade, à espera da O pai, regressando à vida verdadeira comida, aquela a que profissional, recupera a sua Gregor se refere em A Metamorfose: antiga autoridade; a mãe, “Seria ele um animal, se a música até então sempre achacada, o comovia tanto? Era como se se melhora da asma; a irmã lhe abrisse o caminho para um emprega-se numa loja e torna- alimento desconhecido por que se uma jovem adulta, bonita e tanto ansiava” (aqui na tradução de pragmática. Álvaro Gonçalves, em Os Contos, 1º A vitalidade da família volume, Assírio & Alvim, p. 164). acompanha o declínio de Veja-se, ainda, José K. que morre Gregor, alimentando-se dele, também desconhecendo a razão mas este declínio permite a do processo que lhe foi movido. O Gregor descobrir uma nova leitor terá que construir, a partir vocação. Ao ouvir a irmã a da sua insegurança, uma respos- tocar violino, Gregor, que ta ou melhor uma tentativa, que, sempre fora insensível à possivelmente, será sempre uma música, interroga-se: «Era não-resposta, uma dúvida. Kafka em 1913 O 1º, à esquerda, com Albert Eherenstein, Otto Pick e Lise Kaznelson, em Viena ele um animal se a música o Em conversa com Janouch, tocava assim? Era como se à Kafka terá dito: “Quanto mais uma sua frente visse o caminho inundação se alastra tanto mais para o alimento desconhecido baixas e turvas se tornam as águas. por que ansiava.» Nos Diários, na entrada A própria janela... de 19 de Janeiro de 1911, Kafka descreve uma situação semelhante que ele próprio viveu. Depois de um tio seu ter A sua escrita é muito feito pouco dos seus escritos, clara, morfológica e conclui: "A verdade, porém, “ Isabel Castro Silva a obra de Kafka tenha servido é que [eu] fora efetivamente sintaticamente muito de ilustração a teorias tão expulso da sociedade de um só simples. Mas o seu díspares como a psicanálise, golpe, a sentença do meu tio Numa carta de 1916 a teologia ou a política, é repetiu-se em mim com um significado é de uma dirigida ao editor Kurt legítimo pensar que as figuras significado quase mais real e, obscuridade quase Wolff, Kafka diz que os do pai castrador, de Deus e mesmo entre o sentimento de seus textos "O Fogueiro", "A do ditador, respetivamente, pertença a uma família, tive total: são as suas Metamorfose" e "A Sentença" não sejam mais do que uma visão do espaço frio do figuras que não sabem deverão ser publicados em derivações abstratas da nosso mundo, que caberia a conjunto, por existir entre experiência íntima e muito mim aquecer com um fogo que procurar a luz eles uma conexão secreta. concreta da vida em família, primeiro teria de procurar." Se As vicissitudes da I Guerra obsessivamente retratada por a expulsão da família e logo da Mundial impediriam a ele, e que esta, mais do que sociedade é para Kafka uma publicação do volume, mas qualquer putativa ideologia, condição prévia à possibilidade o título pensado por Kafka, seja o principal motivo de da arte, então a lenta procissão A revolução evapora-se e só fica a Os Filhos, permite deduzir identificação para o leitor. de Gregor ao longo do corredor, lama de uma nova burocracia. As que conexão seria aquela. No seu estudo da família, sujo de pó e cotão, fraco, algemas da Humanidade atormen- Os três textos, com efeito, Kafka está para lá do bem e do repugnante, ferido e esfomeado, tada são feitas de papel de chance- põem em cena uma luta entre mal. Interessa-lhe menos a ética na direção da música, pode laria”. pais e filhos, descrevendo – e por isso os seus textos nunca bem ser vista como um retrato A escrita de Kafka é muito implicitamente a família têm reconfortantes conclusões do artista enquanto jovem. clara, morfológica e sintaticamente como um campo de batalha, morais – e mais as relações de Nas suas aulas sobre literatura, muito simples. Mas o seu signifi- tanto mais perigoso quanto poder, com a sua declinação sob Nabokov sugere que, se Kafka cado é de uma obscuridade quase os afetos e as relações de a forma de força ou fraqueza das Capa da edição alemã soubesse mais de entomologia, total: são as suas figuras que não mútua dependência são personagens. Nisso aproxima-se de A Metamorfose Gregor teria percebido, dado o sabem procurar a luz. Será que nós muitas vezes as armas usadas de Nietzsche. Difere crucialmente tipo de escaravelho que era, que podemos agir de outro modo? Não pelos beligerantes. Nos três deste, porém, tornando-se tinha asas e poderia voar janela teremos nós coisas comuns com casos, de forma direta ou um anti-Nietzsche, porque o fora. É sempre bom relembrar aquelas personagens de Kafka? indireta, o filho sucumbe às seu interesse incide sempre aos alunos de literatura que têm As suas questões, à procura de um mãos do pai. sobre o elemento mais fraco, asas e podem fazer bom uso sentido para a vida e para a morte, Segundo Max Brod, na escorraçado, incompreendido, delas – e os mais inteligentes mantêm-se e com elas a obscuri- biografia que escreveu sobre patético, ínfimo, por vezes não esquecerão que são também dade das respostas, pelo menos de o amigo, Kafka pertence a até abjeto. N’A Metamorfose, Kafka está para lá escaravelhos. Mas, no mundo muitas das respostas que os leitores uma espécie de escritores, famosamente, o filho transforma- do bem e do mal. de Kafka, a história de Gregor darão. O vazio que cria é radical, os escritores infantis, que se num monstruoso inseto. “ Samsa, metamorfoseada em daí a dificuldade de muitos leitores, ficaram presos no primeiro Esta metamorfose é Interessa-lhe menos a literatura, é a própria janela mas também é aí que reside a sua conflito – o esforço vão de acompanhada por outra menos ética e mais as relações – uma janela que circulou universalidade. conquistar a fé da família dramática mas igualmente pelo mundo inteiro protegida Esta é uma leitura possível, entre –, que é a pré-formação de portentosa dos restantes de poder, com a sua apenas por duas capas, tantas outras diferentes, quiçá todos os conflitos da vida membros da família, que declinação sob a forma cativando leitor após leitor, mesmo opostas, mas também pos- que se lhe seguirão e que ilustra bem a organização da e que, um século volvido, síveis, uma vez que as narrativas ao mesmo tempo os inclui a família em jogos de poder. de força ou fraqueza continua a abrir para um kafkianas não se deixam fechar. J todos. Assim sendo, ainda que Quando Gregor Samsa, o das personagens mundo tão vasto. J

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J 2 a 15 de setembro de 2015 * jornaldeletras.sapo.pt KAFKA E A METAMORFOSE tema * 11

protagonista de La nausée, de Sartre, e os heróis autoprojetivos dos romances e contos de Clarice As portas para o desconhecido Lispector. Roquentin resiste à náu- sea até não poder mais evitá-la; os heróis de Clarice abandonam-se-lhe desde o início.

António Vieira aí, o macaco Rotpeter, capturado A figura da metamorfose outrora em África, conduz-nos a um habita muitos pontos da minha outro problema latente na escrita de escrita. No conto O golem dois Atento às portas que dão para Kafka: os limites do humano, a linha cabalistas2 procuram mudar o barro o desconhecido, Kafka queria que separa homem e não homem. em homem; no Leviathan dá-se como ilustração para a capa d’A Assim, a metamorfose de Rotpeter outra fatal metamorfose: Deus perde 1Metamorfose uma porta abrindo configura-se inversa da de Samsa: o jogo (de xadrez) do mundo com sobre fundo obscuro. Uma meta- enquanto o seu aspeto exterior Leviathan, e no banquete escatoló- morfose, inesperado termo de pas- permanece incólume, a vida interior gico prometido a multidão consome sagem, alerta-nos para as surpresas humaniza-se passo a passo; ao a Sua carne; n’O regresso do caçador do mundo, das quais a surpresa transgredir a fronteira da linguagem Gracchus retomo o conto inacabado de estar no mundo é o paradigma. olha-se como se fora um outro, de Kafka, a que Max Brod deu título. Permanecemos quase sempre dis- tornando-se psicólogo, antropólogo Trata-se da contra-metamorfo- traídos desta maravilha fundadora e enfim filósofo. se limite: Gracchus, morto, não e adiamos o inquérito sobre a nossa As metamorfoses contidas na encontra, na barca em que voga, a condição. A figura da metamorfose obra de Kafka influenciaram as filo- declinação propícia para chegar ao rouba-nos a serenidade enganosa e sofias e literaturas do estranhamen- espaço da morte e erra de porto em restitui-nos à surpresa de estar aí. to. Talvez que os exemplos literários porto: insuportável sorte, sentida As metamorfoses dos heróis mais óbvios sejam a náusea existen- como condenação suprema. de Kafka manifestam-se no início cial sentida por Antoine Roquentin, Também no romance Doutor das narrativas e surgem como uma Fausto a metamorfose advém quan- condenação; opõem-se às dos heróis Em 1916 A fotografia do passaporte do o Espírito negativo surge sob a de Ovídio, cuja metamorfose se forma de uma ave que, ao procurar opera no fim das narrativas míticas, Fausto, se transforma em homem. E com carácter de libertação (livra-os quando o pacto é celebrado Fausto de intrigas insolúveis, quase sempre a fala e a escrita: «Se digo alguma como os contos que acolhem em As metamorfoses sofre a sua própria mudança: fica amorosas, em que se prendem). coisa, logo ela perde pronta e defi- metamorfose avatares do narrador perplexo perante o espelho ao No Diário, a 20 de outubro de 1913 nitivamente sentido; se a escrevo, (toupeiras, cães e outros animais) contidas na obra reconhecer os traços juvenis que lhe Kafka, escreve: «Li A Metamorfose e perde-o também, mas pode adquirir projetam desejos e terrores do autor “de Kafka influenciaram tinham sido familiares. Esta rutura achei-a má. Talvez ande realmente um outro.» perante a vida e a literatura. Num separa-o do tempo comum das perdido.» A 3 de julho deixara uma Tanto o romance centrado na só caso, Relatório para uma acade- as filosofias e literaturas coisas e abre um hiato entre o seu nota sobre o seu modo de encarar personagem de Gregor Samsa mia, a transformação surge no fim: do estranhamento destino e o mundo envolvente.J

SETEMBRO, 2015

5 / 7 - 21:30 / 6 - 19:00 TEATRO ABERTO EL LOCO Y LA CAMISA (M/12) ENCENAÇÃO: NELSON VALENTE COMPAÑÍA BANFIELD TEATRO ENSAMBLE Legendado em português

6 / 7 / 8 - 21:30 ANFITEATRO AO AR LIVRE VOU LÁ VISITAR PASTORES (M/12)

© Vassilis Makris ENCENAÇÃO: MANUEL WIBORG A PARTIR DA OBRA DE RUY DUARTE DE CARVALHO

9 / 10 / 11 - 20:30 PALCO DO GRANDE AUDITÓRIO 12 / 13 - 16:00 CASA-ARQUIVO

A Circularidade do Quadrado A Circularidade do CHIFLÓN, EL SILENCIO DEL CARBÓN (M/6) ENCENAÇÃO: SANTIAGO TOBAR COMPAÑÍA SILENCIO BLANCO Teatro de Marionetas (sem texto)

14 / 15 - 21:00 GRANDE AUDITÓRIO A CIRCULARIDADE DO QUADRADO (M/16) FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN ENCENAÇÃO: DIMITRIS KARANTZAS A PARTIR DA OBRA DE DIMITRIS DIMITRIADIS Av. de Berna, 45A APOIOS HOTEL OFICIAL 1067-001 Lisboa Legendado em português (tradução de José António Costa Ideias) www.proximofuturo.gulbenkian.pt www.gulbenkian.pt

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dizer isto, mesmo de pensar isto, e esta frase é profundamente libertadora para mim como O corvo tutelar terá sido para Kafka, que, não obstante, também se limitou a registá-la num diário íntimo. Entre os meus livros, há um recente intitulado Regresso ao José Viale Moutinho seu quarto estava aberta, não Hotel Graben (Afrontamento), poderia recear a descoberta de onde figura Kafka como um escaravelho, de uma maldita personagem de um par de E as línguas das sete partidas barata em lugar do espírito do contos, tendo Viena como do mundo emudeceram porque lugar que imaginaria ali. E se me cenário. Isto de passar autores ali acabara um de nós, um dos perguntasse o que significava para protagonistas de ficções maiores escritores de sempre, então Kafka nos meus escritos, tal levou-me a outros nomes, entre um dos raros de quem se pode como hoje mo reclamam, limitar- os quais destacaria Camilo dizer que há uma literatura antes me-ia a fechar a porta, baixar Castelo Branco. E, no entanto, e outra depois. A metamorfose as pálpebras e abandonar-me às Kafka está sempre presente. operou-se quando a porta da minhas próprias experiências, Só não consigo mantê-lo antiga clínica do dr. Hoffmann desde as laborais às relações numa persistência em escrever se abriu para que entrássemos afetivas, às viagens, ao modo de sistematicamente um diário, a visitar o seu mais célebre me relacionar com os poderes, pois sempre que começo deslizo enfermo, que apenas se o uso do sarcasmo – ou de uma para a ficção e perco-me por encontrava para aqueles que o certa corrosão humorística -, a aí. É que um diário, sempre estimavam como coisa sua e, pelas tudo isso que só pode levar a um acreditei, serve sobretudo para discussões no autocarro, entre nós desfecho imprevisível. questionar, porém Kafka, entre havia um que outro neto daqueles Kafka admirava-se como os seus estranhos aforismos, tem misteriosos visitantes de Joseph era promovido na empresa um que diz, mais ou menos que ?? K. em determinada manhã da sua seguradora em que trabalhava antes não entendia a razão pela ?? trágica biografia. como advogado, a despeito das qual não consegui obter resposta “ Percebi que deveria deixar- suas frequentes faltas e baixas à sua pergunta, porém, então já ?? me guiar pelos impulsos, e estes por motivos de saúde. Que não lograva entender como podia ?? seriam determinados pelos predicados eram os seus, que fazer perguntas. No entanto, parágrafos kafkianos das minhas ele não entendia, para além da passara a não acreditar em nada, ?? leituras. «Mate-me! Mate-me ou literatura? No seu diário ele tão somente a não perguntar. XXXX será um assassino!» reclamara foi claro: «Tudo o que não seja E eu apercebo-me que isso é o e ameaçara Franz Kafka ao dr. literatura me aborrece, e eu suficiente para dispor a mesa de Klopstock no seu leito, num odeio-o.» Ora eu passei dezenas trabalho para a escrita. E por isso raivoso sussurro. A porta do de anos sem ter coragem de Franz Kafka com Felice Bauer A namorada, muito presente nos seus Diários escrevo sempre.J O avozinho checo

A. M. Pires Cabral Outras propostas de sequela foram-se sucessivamente auto- devorando e auto-regenerando Franz Kafka, claro está, não foi vezes sem conta. Pareceram-me o primeiro a declarar guerra ao sempre, nas diversas formas que real. Boa parte da literatura de assumiram, uma paupérrima todos os lugares e de todos os resposta ao protótipo kafkiano. tempos é, de uma forma ou outra, E eram-no, sem dúvida. Este isso mesmo: um afrontamento do reconhecimento continha-me real. Mas há muitas maneiras de em respeito e impedia-me de as o afrontar. Tomemos Jonathan publicar, mau grado recorrentes Swift, por exemplo. Para ele, tentações ocasionais. Mas, água como para muitos outros, o afron- mole em pedra dura, acabei tamento do real era uma espécie mesmo por dar forma definitiva de muleta que ajudava a impor a uma delas e publicá-la no meu uma fábula ou uma alegoria. Em Desenho de Kafka último livro de contos A navalha A Metamorfose, pela primeira vez, de Palaçoulo, já em 2015, com vemos o real desafiado porque o título de “O preço”. Também sim, sem propósitos didácticos. ali há uma transformação Digamos que é uma subversão inexplicável, cujo absurdo inocente do real (embora não falte a vítima e os que com ela quem o queira tresler), o absurdo interagem não têm remédio senão pelo absurdo — e por isso é que Pela primeira vez, aceitar com naturalidade e sem teve o tremendo efeito seminal vemos o real desafiado demasiadas perguntas. que teve. “ Foi, na sua pobreza, o mo- Por mim falo, que fui porque sim: é uma mento em que andei mais perto fulminado pela intrigante subversão inocente do (embora mesmo assim, é eviden- tragédia da família Samsa, te, a anos-luz de distância) da in- quando a li há 50 anos, e não real, o absurdo pelo quietante efabulação do avozinho descansei enquanto não produzi absurdo - e por isso checo. Peço desculpa por não ter uma sequela. No meu romance feito com “O preço” o mesmo que Sancirilo há uns arremedos disso. teve um tremendo fiz com diversas tentativas ante- Mas o resultado não me satisfez. efeito seminal riores: caixote do lixo.J

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© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) jornaldeletras.sapo.pt * 2 a 15 de setembro de 2015 J 14 * Letras Carlos Vale Ferraz História e Literatura, a um tempo só

Um novo romance, o nono, de um escritor, militar de carreira, 69 anos, que só se estreou aos 36, Isso implica, na sua perspetiva, ‘virar costas’ à UE? com uma das mais importantes ficções sobre a guerra colonial, a partir da sua própria experiência Sou um europeísta. No entanto, - e que a partir daí tem construído uma obra muito consistente e na qual a presença da nossa penso que Portugal terá que se separar desta Europa continental, ou História é uma constante. Aqui falamos com ele sobre A Estrada dos Silêncios, mas também sobre pelo menos estabelecer outro tipo Portugal, a Europa, a literatura. E sobre o livro a título excecional temos dois ‘olhares’ de dois de relações, e reaproximar-se dos seus aliados tradicionais. Digo-o com nossos críticos, Miguel Real e Agripina Carriço Vieira preocupação porque a rutura será do- lorosa, os laços que se estabeleceram entretanto são poderosíssimos, mas Carolina Freitas a felicidade perto do que andar pelo temos que nos preparar para isso. mundo a espanejar sem sentido. No fundo, o romance é uma reflexão A História do país está presente em sobre: para onde estamos a ir? onde toda a sua obra literária. Desta vez, vamos chegar? a trama leva-nos até às invasões napoleónicas. O que lhe interessou Essa reflexão é ‘despoletada’ pelo explorar? projeto de construção de uma Queria muito falar da influência das estrada que ligaria Portugal à Europa invasões francesas em Portugal, ain- e aos “benefícios do progresso” - da mais num momento em que o país isto no tempo da CEE. Como olha está de novo confinado ao seu espaço para Portugal na Europa de hoje? europeu. A partir de 1974, recebemos Com maisc ou menos esperança, Como diz o velho Afonso, os portu- meio milhão de pessoas vindas das desencantados ou nem tanto, para gueses são duas coisas: lusíadas, isto ex-colónias. E Portugal ainda está a Carlos Vale Ferraz os romances são é, homens do mar e da projeção; digerir a questão do fim do império. sempre reflexo do “olhar” do escri- e lusitanos, homens arreigados à Isso obriga-nos - a nós, portugue- tor. Dos seus “temores” e das suas terra. Atualmente, vivemos um mo- ses - a pensar como vamos conviver “expectativas” face ao mundo que o mento dramático: perdemos o mar com a diferença. Temos ideia que os rodeia. Um olhar de longo alcance, e ainda não nos rearrumámos em que chegam são os diferentes. Mas capaz de ler o passado e o presente terra. Do meu ponto de vista, tere- não. Temos diferenças em Portugal de forma a “iluminar” o futuro. Três mos que passar para uma situação que se vêm acumulando há centenas tempos que, nos seus livros, surgem muito parecida com a que vivemos de anos. Uma delas radica na enorme no mesmo plano, ou não fosse a no século XV, na dinastia de D. João quantidade de invasores franceses e História “ato contínuo”, diz. I e Filipa de Lencastre. Ou seja, uma ingleses que cá se ‘misturaram’ com A Estrada dos Silêncios, agora pequena Nação na ponta da Europa locais. Quis também falar sobre as saído, conta a história do projeto que terá que restabelecer alianças ‘fações’ que se foram formando. de construção de uma nova estra- atlânticas. Vamos ter que voltar da europeia e da resistência de um Como assim? homem, avesso aos “melhoramentos Houve portugueses pró-franceses, europeus”, que se recusa a aceitar as outros que foram pró-ingleses… ordens do Governo e dos tribunais Interessa-me a forma como os portu- que lhe expropriavam as terras por gueses gerem estes domínios. Nós onde passaria a via. Uma espécie de Neste romance quis nunca nos defendemos dos invasores; “David contra Golias” que fala do colocar a minha visão eles chegaram cá e a nossa resistên- Portugal e da Europa de hoje. Sem “ cia foi sempre feita a posteriori. De esquecer o dia de ontem e ‘desafian- dos portugueses, de forma ínvia. Neste romance, tal como do’ o que está por vir. Portugal e do mundo. nos anteriores, quis colocar a minha Coronel na reforma, um dos ‘ca- Carlos Vale Ferraz Estamos a andar muito depressa para sítio nenhum visão dos portugueses, de Portugal pitães de Abril’, Carlos Vale Ferraz, Um romance é o olhar e do mundo. Um romance é muita pseudónimo literário de Carlos que o autor tem da coisa, mas é fundamentalmente o Matos Gomes, 69 anos, estreou-se olhar que o autor tem da sociedade no romance com Nó Cego, em 1982, um dos pontos de partida para o crítica à insensatez e incompetência sociedade em que vive, em que vive; os seus temores e as e desde então publicou mais oito livro. A outra tem a ver com o que do imperador francês. os seus temores e as suas suas expectativas. romances - ASP, De Passo Trocado, Os Jean-François Revel escreveu na sua Lobos Não Usam Coleira, O Livro das Carta Aberta à Direita: olhando para Essa visão 'anti-imperialista' expectativas Neste caso, transmite um certo Maravilhas, Flamingos Dourados, A a História vemos que os que ficaram é-nos dada através da personagem desencanto... Mulher do Legionário e Basta-me Viver como grandes homens são, muitas principal, Francisco Afonso, que a Muito. Que está, em grande parte, - e a novela Soldadó. vezes, grandes crápulas. certa altura, diz: “Eu sou aquele que Nós, os portugueses, relacionado com as políticas deste ficou nas praias, resmungando”? transformamos os governo, mas não só. Jornal de Letras: A Estrada dos Em que sentido? Exatamente. Quis pôr um velho Silêncios põe em confronto Homens como Alexandre Magno, português a questionar-se como nossos desejos em Então? várias perspetivas sobre a ideia Júlio César ou Napoleão Bonaparte, o Velho do Restelo: o que fomos lá fantasias e, depois, não No rescaldo do 25 de Abril conhe- de progresso. É um tema que o que consideramos figuras respei- fazer? Daí a citação de Gil Vicente, sabemos como lidar ci um filósofo alemão, aqui em preocupa? táveis, protagonizaram grandes do Auto da Índia: “Fomos a Meca, Portugal, que dizia que os portugue- Carlos Vale Ferraz: Estamos a seguir movimentações. Mas nunca nos pelejámos e roubámos”. Ao fim e ao com a realidade ses eram o povo menos racionalista um caminho sem saída. Entendemos interrogamos o que é que essas cabo, todos os impérios são isto. Tem da Europa. Não por uma qualquer o progresso como um modo contínuo criaturas queriam: Fazer impérios a ver também com uma certa ideia incapacidade de raciocínio, mas e não temos qualquer considera- para quê? Andar a correr pela Europa de felicidade: Francisco Afonso tem a para o mar. Entretanto, estamos a por reunir duas características para ção pela ideia de finito. Sobretudo toda, como fez Napoleão, com que sua casa e entende que ali deve ficar, fazer uma paragem neste ‘porto de ele espantosas: por um lado, um no Ocidente. Essa inquietação foi intuito? O romance é também uma e que é mais importante descobrir abrigo’. absoluto ceticismo; e, por outro, uma

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J 2 a 15 de setembro de 2015 * jornaldeletras.sapo.pt ENTREVISTA, CRÍTICA letras * 15

permeabilidade ao que é do domínio dade fala-se sobretudo de viabilidade OS DIAS DA PROSA do fantástico, do assombroso, do económica. Deviam pôr-se questões maravilhoso. Ele dizia que isso fazia como: isto irá durar?; servirá para Miguel Real dos portugueses o povo da utopia. alguma coisa?; ajudar-nos-á a viver Ou seja: transformamos os nossos melhor? Por exemplo, se ganhar desejos em fantasias e, depois, não meia hora numa viagem de Lisboa sabemos como lidar com a realidade. para Nova Iorque, essa meia-hora Por isso, entendia que Portugal, no serve-me para quê? Ganhar meia- tempo do racionalismo capitalista, -hora num percurso de avião de seis teria muita dificuldade em encontrar horas tem gastos tremendos, é preci- o seu lugar. Também acho. É por isso so construir um equipamento com- que temos de criar rapidamente uma pletamente novo. Isso vale a pena? Metonímias do destino nova ‘utopia’, um novo ‘destino’. Essa questão do tempo também está Como disse, devíamos virar-nos para no romance: estamos a andar muito o mar. Tornarmo-nos mais lusíadas e depressa para sítio nenhum. de Portugal menos lusitanos. É a imagem que tem dos tempos que Voltemos ao romance: a tal nova correm? estrada, que consta de um plano da É. Aliás, presto homenagem a quem, CEE para “modernizar Portugal”, nestes tempos, ainda consegue implica o desaparecimento de uma pensar. Os romances são objetos de orventura com modo como Álvaro Manuel Machado sobre a operação militar desen- oliveira histórica. É a ideia de um reflexão e o meu drama enquanto es- exceção de Os trabalha a arte literária da memó- cadeada por Kaúlza de Arriaga no progresso ‘a todo o custo’ que está critor é, precisamente, se no mundo Lobos Não Usam ria, ancorando-a em três ou quatro Norte de Moçambique, mas também em causa? em que vivemos vale a pena produzir Coleira (1991), vivências da realidade individual. de Soldadó (1988), a história do povo Sim. Há uma lenda associada à ideias que quase ninguém vai ler. É toda a obra CVF trabalha a memória literária de miúdo analfabeto e rural forçado a Quinta do Monte Cimeiro: "A Oliveira o drama de muitas pessoas ligadas de Carlos Vale um outro modo, não menos nem sobreviver de armas na mão em de- dos Franceses". Reza a história que, à cultura. A Maria do Céu Guerra Ferraz (CVF) mais legítimo. O autor do incontor- fesa do Império, reconstrói literaria- debaixo dessa árvore, estão enter- dizia-me há pouco tempo que talvez é de cunho nável romance Nó Cego (1983) sobre mente a memória logrando confluir rados franceses mortos nas invasões não valesse a pena continuar a repre- memorialístico. a Guerra Colonial, concretamente os acontecimentos evocados pelas napoleónicas. Também falo de outra sentar. O Jorge Silva Melo vive uma A obra ora publicada, A Estrada dos personagens com os diversos senti- lenda, ligada à barragem de Cahora situação de permanente sobrevivên- Silêncios, não escapa a esta regra. Na dos histórico-políticos de Portugal. Bassa, em Moçambique: diz-se que cia, pessoal e da sua companhia. Ora, literatura,P a memória é historica- A memória é, aqui, eminente- a sua construção implicou afogar o uma sociedade que não é capaz de re- mente vital e esteticamente trans- mente coletiva e reprodutora dos deus do Kanyemba. Preocupa-me ceber as reflexões dos seus escritores bordante quando reconstrói a rea- rumos da História - e as personagens e artistas é uma sociedade doente. lidade, não segunda uma imitação A memória é aqui verdadeiras metonímias circuns- fiel, mas segundo o poder simbólico tanciais do destino de Portugal. Mas já pensou em parar de escrever? da evocação que permite recordar e coletiva e reprodutora Assim nos seus livros sobre a Guerra Tenho pensado nisso. O roman- recriar a pluralidade de significações “dos rumos da História Colonial; assim nos romances sobre ce tem ‘eficácia’ hoje em dia? sociais e imagéticas do passado, - e as personagens são África, Fala-me de África (2007); Literatura, para mim, Viabilidade económica, alguns inclusive o que não se viveu, mas, assim em O Livro das Maravilhas é uma análise do têm. Geralmente, aqueles cujas estando na lógica do acontecimen- verdadeiras metonímias (1999); assim em A Mulher do “ histórias são quase ofensivas da to, se poderia ter vivido. CVF é um circunstanciais do Legionário (2013), um dos seus presente e do passado inteligência das pessoas e dizem aos escritor da memória. melhores romances; assim neste A que nos possa ajudar a bons escritores que não vale a pena Recentemente, vimos aqui o destino de Portugal Estrada dos Silêncios, que segue em continuarem. Ou então que terão de viver melhor no futuro embarcar na ideia peregrina de dar aos leitores e espectadores aquilo que eles querem. Acredito que acabará NAS MARGENS DO TEXTO por acontecer: o dia A cultura também precisa de uma Agripina Carriço Vieira nova ‘utopia’? em que escritores, Do que se precisa é de apostar filósofos, historiadores na educação. O gosto de pensar educa-se. E não estamos a fazer voltarão a ser ouvidos isso. Organizámos uma sociedade esquizofrénica em que os pais não As memórias dos lugares têm tempo para os filhos; os pais e os Francisco Afonso tem filhos não têm tempo para si mesmos. a sua casa, em Vila de Alterar isto significa mudar os fun- damentos da sociedade. Acredito que Rei, e entende que ali acabará por acontecer: o dia em que deve ficar, e que é mais escritores, filósofos, historiadores A Estrada dos Silêncios vem registo límpido e escorreito, uma de Portugal, numa parte do vale do importante descobrir a voltarão a ser ouvidos. confirmar a mestria de contador aturada pesquisa historiográfica Tejo, mais especificamente num de histórias e da História do seu com uma ficção imaginativa. triângulo de terra delimitado pela felicidade perto do que Curiosamente, têm-se ouvido autor. Desde o seu primeiro livro, Desta vez o olhar do escritor cidade de Abrantes e pelas vilas de andar pelo mundo a críticas à excessiva ‘mediatização’ Nó Cego, um texto fundamental da dirige-se para acontecimentos Sardoal e Vila de Rei, com incur- de escritores mais novos. literatura da guerra colonial, Carlos ocorridos num território no centro sões por outros espaços, nomea- espanejar sem sentido A minha crítica é exatamente a Vale Ferraz tem-se debruçado damente África, trazidos para o contrária: a sociedade devia recorrer sobre alguns dos grandes aconte- entrecho pelo viés das recordações mais aos seus escritores e pensadores. cimentos que marca(ra)m a nossa de várias personagens. Nesse Não para estes tentarem vender os História coletiva, com particular espaço delimitado, defrontam- esta questão da perda de identidade. seus livros, mas por serem pessoas incidência no conflito armado -se personagens que encarnam Apesar dos vários níveis de desenvol- que refletem. Sobre o passado, o travado em África, em relação os dois grandes movimentos que vimento que os povos vão obtendo, presente e o futuro. ao qual foi não só um observador têm caracterizado a existência da há memórias e valores que se man- atento e crítico, mas também um humanidade: o apego às raízes e têm e devem ser respeitados. É também isso que procura em cada interessado ator. O livro que agora ao passado, perfilhado por aqueles novo livro? nos apresenta prende-nos desde que prezam o conservadorismo, ou Mesmo que esses projetos tragam Literatura, para mim, é uma análise as primeiras páginas, embrenhan- a atração pela mudança conotada outros ‘benefícios’? do presente e do passado que nos do-nos num entrecho sabiamente com a ideia de progresso. Para a ideologia dominante do neoli- possa ajudar a viver melhor no futu- arquitetado em que a ficção e a › Carlos Vale Ferraz Esta é a história da construção beralismo só existe a questão do lucro ro. Se fossemos capazes de aprender História se entrelaçam dando cor- A ESTRADA de uma nova via rápida que deveria e a lógica do ‘é preciso é fazer’. Hoje, com os erros e com os bons livros, po a uma narrativa surpreendente DOS SILÊNCIOS ligar Portugal à Europa, esbatendo quando se faz um estudo de viabili- seríamos pessoas felizes.J e cativante que combina, num Casa das Letras, 352 pp., 17,90 euros. desse modo o atraso do país em

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J LIVROS jornaldeletras.sapo.pt * 2 a 15 de setembro de 2015 16 * letras continuidade a oficina literária do do capitão, que finda em Francisco isso a impede, contra a justiça, o PALAVRA DE POESIA autor. Com a ação nos finais da dé- Afonso, e aqui termina definitiva- Estado, as Câmaras e, até, contra a cada de 80, fazendo jus ao trabalho mente (sem filhos), e a do sargento Europa, ou, melhor, contra a visão António Carlos Cortez da memória a um nível histórico, que desemboca na pessoa da juíza desenvolvimentista de Portugal encontra as suas raízes estruturais do Tribunal de Abrantes que analisa por ela apoiada. no início da Guerra Peninsular, nas o processo de expropriação do Entre todas, a personagem de consequentes Invasões Francesas Monte Cimeiro, Joana Secalha. Joana Secalha (JS) é a mais com- (1807 – 1810) e na rebelião dos povos Cruzam-se assim, nos finais pleta, embora o protagonismo vá do Sardoal, Vila de Rei e Abrantes da década de 1980, duas visões da inteiro para Francisco Afonso. JS Armando Silva contra os soldados franceses. história de Portugal, uma, que crê sintetiza, de certo modo, a vida dos Uma nova estrada, projetada com no progresso europeu e encara a portugueses universitários pós-25 Fundos Europeus e anunciada como adesão à Comunidade Europeia, de Abril de 1974. Maoísta, cultora Carvalho símbolo do Progresso, ligando esta em 1986, como motor da futura do amor livre, que pratica em vastas zona do interior à fronteira, é impe- felicidade desenvolvimentista dos orgias, torna-se senhora respeitável dida de ser construída pela aparen- portugueses; outra, que intenta res- na década de 80 com o cavaquismo, te teimosia de Francisco Afonso, peitar o passado e honrar os mor- pertencente às elites de Abrantes Lição de Coisas proprietário do Monte Cimeiro, cuja tos, já que, sob as raízes da oliveira, e arredores. Descendente do pri- herdade será amputada pela estrada, se encontram os ossos daqueles que mitivo Secail, tem a inspeção da em especial um morro com uma um dia, em 1807, vieram da Europa máquina do Estado pendente sobre oliveira centenária. revolucionária trazer o Progresso e a a sua decisão. Como decidirá? Porém, a aparente teimosia Razão Iluminista e provocaram uma Duas observações marginais. O poema escolhido para fixa «a água decepada». É um de Francisco Afonso revela-se de autêntica hecatombe bárbara em Uma: o espírito paganista africano a contracapa do mais eu curvado, «amanhecido e contornos históricos e de funda- Portugal, com violações e morti- tem lugar em quase todos os ro- recente livro de poesia de só» que enfrenta não apenas mentação dinástica (familiar) e cínios. mances de CVF, mas pensamos que Armando Silva Carvalho a certeza de tudo se escoar, reenvia para 250 anos antes, quando Os antigos caminhos de ca- aqui é exagerado ao atribuir a culpa (ASC)é sintomático: nele se mas a implacável constatação dois militares franceses, o capitão bras e carroças que Junot, Soul e de um afogamento a uma maldi- apresentam as coordenadas de que «É fácil retratar a Alfonse Barre e o sargento Jean Massena foram forçados a palmi- ção lançada pelo feiticeiro da tribo de A Sombra do Mar, conjunto degolação poética/ em tempos Secail desertam e não regressam a lhar, transformar-se-ão agora, por deslocada à força do seu território de 54 poemas onde se reflete de barbárie/ tecnológica» França. Os motivos para a deserção vida de dinheiro europeu, numa para a construção de Cabora Bassa. sobre problemas que a sua (p.8). Uma espécie de de ambos são profundamente dife- estrada reta e direta por onde os Trata-se de uma enxertia africana obra não tem cessado de alucinada visão dos dias rentes, o primeiro apaixona-se por novos invasores entrarão sem forçada, num romance que é todo questionar: a história, a procura compreender a «fala uma portuguesa de Abrantes (Ana impedimento. A própria fronteira ele escrito segundo a razão euro- memória, o tempo, o verso labiríntica» do quotidiano Mendonça), o segundo quer e tenta já não existe. O Portugal antigo e peia. Outra: sente-se por vezes a e, cada vez mais associado a vertiginoso, bárbaro, e que por diversas vezes mas não consegue tradicionalista de Francisco Afonso necessidade de uma revisão literária estes problemas, essa certeza justifica o isolamento a que retornar a Paris. está a morrer e a machadada final, do romance, pois há frases, embora maior, a da morte. Um ontem o poeta se entrega («Estou só Ambos dão origem a duas entende a personagem, será dada raras, demasiado ligeiras para serem e um hoje são fronteiras que entre estas mãos, a água e o dinastias familiares diferentes, a pela construção da estrada. Por consideradas literárias.J constantemente esse fazedor meu passado»). À mercê de das palavras pretende cruzar, «versos velhos», corre-se o como se a poesia pudesse ser o risco de ver o rosto no espelho passe de mágica de que todos das idades, reconhecendo- relação aos seus vizinhos europeus. e ouvir as suas razões, ciente de têm envolvido a sua família (o estamos necessitados em se, no fim, que dos versos se O projeto que traria modernidade e “estar envolvida numa intrincada antepassado de quem herdara o tempo de indigência. solta «a pobreza do corpo», progresso para esta região interior teia de velhos segredos locais”. apelido, a origem do património O livro, não por acaso, subvertendo, numa versão é interrompido pela vontade do O que ela não poderia imaginar familiar, o inexplicável distan- principia com um texto a hodierna, o tópico clássico proprietário da Quinta do Monte é que as razões desfiadas pelo ciamento do pai) e perceber a itálico, como se insinuando Cimeiro, Francisco Afonso, um velho proprietário trariam tão importância da velha oliveira uma voz em off, vinda de um velho culto e solitário, que outrora profundas consequências para a que se encontra no caminho da tempo antigo, invocando- desempenhara funções políticas no sua vida, levando-a a repensar via rápida. É-lhe apresentada se a época em que o sujeito governo do Estado Novo. A sua re- a própria identidade e sobretu- como “a oliveira do cemitério escreve: «Ó pálida manhã, cusa em ceder parte das suas terras do a relação, distante e fria, que dos franceses” por terem aí sido despe mais um dia das áscuas Num original realismo para que nelas passe a auto-estrada a ligava ao pai. Para Francisco enterrados os corpos de militares do sono/ e vagorosamente suportado por uma desencadeia um conflito com os Afonso, tudo o que de importante que se esconderam na quinta, vai procurar o pão,/ colher a “ defensores da construção da via pode pesar na resolução do caso Jean-Alphonse de la Barre, o tri- vaga rosa,/ junto à claridade linguagem que que será resolvido em tribunal. O remonta ao início do século XIX, savô de Francisco, Jean Secail, o do mar/ que ainda ressona» distende os versos, acaso fará recair em Joana Secalha, quando as tropas de Napoleão seu fiel amigo e tetravô de Joana, (p.7). Precisamente o tom a juíza da comarca de Abrantes, invadiram Portugal. ou ainda dos que por circunstân- de invocação acaba por ASC escreve com nascida em Vila de Rei, a espinhosa Durante o dia que passou cias várias aí faleceram. Debaixo aproximar este livro de precisão sobre tarefa de decidir o caso, que encara na quinta, na companhia de da oliveira estão as raízes de uma ASC de algumas estratégias como a oportunidade de lançar a Francisco, de Farah, a cigana que história familiar comum que discursivas que, por exemplo alguém que dentro sua carreira, comprometida por com ele vive, e de um cão sem irmanam o passado de Francisco em Alexandre Bissexto, de si já não é excessos cometidos no tempo da nome, Joana vai ouvir relatos de e Joana mas os distanciam no tinham servido o propósito faculdade, “uma antiga reputa- batalhas travadas, de alianças presente. de dar ao lirismo a prosa o mesmo ção que não lhe permitia agora políticas convocadas, de infâmias Em A Estrada dos Silêncios, que tantas vezes lhe falta, qualquer passo em falso. Por isso, cometidas, de amizades cria- Carlos Vale Ferraz esboça um chamando o chão de que encarou este caso com as maiores das, mas vai também descobrir magnífico e pungente retrato dos a prosa realista é feita. do ubi sunt («Há vinte anos tu cautelas”. a verdade sobre os silêncios que anos em que Portugal sofreu as Um chão que é, agora, «a eras diferente», escreve-se). A abertura para o mundo investidas das tropas napoleónicas, segunda cama dos velhos./ Num original realismo que a nova estrada representa, apresentando os vários e contradi- Que é palco duro e lúbrico suportado por uma linguagem signo e sinal de modernidade e tórios lados da luta. Ao questionar de imagens desbotadas/ que que distende os versos, progresso, vai paradoxalmente as marcas e as influências deixadas nem o acordar aprendem,/ aproximando-os do ato de desencadear uma catadupa de pelos invasores, sobretudo por que acenam a meia haste,/ narrar, ASC escreve, com memórias de tempos passados aqueles que abdicaram dessa con- trémulas, friorentas, a precisão, sobre alguém trazidas pelo velho proprietário Um magnífico e dição para se tornarem habitantes desfolhar, ridículas,/ os anos que, dentro de si, já não é o da quinta que, mesmo que disso pungente retrato dos desses locais, o romance traz para e as margaridas.» mesmo; escreve sobre essa não tenham consciência, conti- “ a discussão a sempre atual questão Não é este livro uma dor à portuguesa que em nuam a influenciar a existência anos em que Portugal da nossa identidade individual e reunião desbotada de Alexandre O’Neill serviu dos que agora habitam ou habi- sofreu as investidas das coletiva, realçando a sua natureza imagens, mas é, sem dúvida, para caracterizar um certo taram os espaços. Na tentativa de compósita e mesclada. Este é um palco duro onde, a meia pathos lusíada, feito de ironia compreender as razões que levam tropas napoleónicas, livro que nos desafia a olhar para haste, se vão desfolheando e desencanto: refere-se a Francisco Afonso a não aceitar apresentando os vários nós e para os espaços que pensa- – e folheando – as cenas da «dor no dedo grande do pé», a expropriação das suas terras, mos conhecer e assim apreender vida contemporânea de um a «chuva minúscula» que Joana Secalha aceita o convite que e contraditórios lados os silêncios de que são feitas as eu que, olhando a manhã, cai na boca; recordam-se lhe endereça de visitar a quinta da luta estradas da nossa existência.J ou com as mãos em concha, ainda as «estações do [seu]

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PALAVRA DE POESIA esplendor» e a adolescência, vivida entre «sexo e a crença, António Carlos Cortez / em arrebatado transporte», como lemos em «A Toalha do Tomaz Kim Banho». Assim, é de um universo de pobreza, de «pequeninas quebras do desejo», que Um poeta de tempos dramáticos este livro é feito. Os poemas servirão para medir «o esplendor em dissolução» e só a literatura pode exibia, por sua vez, o seguinte equilibrar os pratos da título: “Improviso com sugestões balança da vida: se do lado eliotianas”. de cá da existência – o hoje A leitura da poesia daquele feito de palavras «bruscas, que era, então, uma das estrelas insultuosas, impulsivas, em fulgurante ascensão da lírica delgadas como vimes» - o britânica, o anglo-galês Dylan mundo é ou está derrubado, Thomas, iniciou-a, certamente, é do lado de lá, do lado da ainda em Inglaterra o jovem ficção, pela possibilidade que poeta português, em luta consigo a criação literária faculta, mesmo e com a afinação da que o poeta pode olhar ainda sua voz, sedenta de voos de as «maçãs no escuro» de vertiginosa imaginação como Clarice Lispector, ou a maçã os que as coletâneas de Dylan inaugural de Sophia, «numa Thomas já disponíveis lhe podiam pausa em que a escrita/ proporcionar. O título do poema pode derrubar os cálices que serve de epígrafe a um dos da ambrosia na cozinha». seus livros mais emblemáticos, Fazendo com que o poeta Os quatro cavaleiros, de 1943, mastigue «o sumo das sílabas “And death shall have no dominion” solares», escrever é ainda (mais tarde, refira-se entre sobreviver, ou reviver. São parênteses, também objeto de inúmeros os efeitos citacionais uma réplica de M. S. Lourenço que percorrem os poemas em O desequilibrista, de 1960), deste volume, mas vale a e a glosa que fez de “The hand pena fixar, do poema «Fruta that signed a paper felled a city”, e Pequeno-Almoço», o eco num dos poemas da sua última de Fiama Hasse Pais Brandão, coletânea, Exercícios temporais, que comparece assim: de 1966, testemunham de modo «Porque há o sol sublime/ e insofismável o apreço em que a manhã ainda é um nome, tinha um autor que, num escrito disse outra poetisa,/ surgindo Tomaz Kim Um poeta marcado pela melhor poesia inglesa crítico de 1960, situou, a par de em colação». É desse poder da memória que se tecem esta linguagem, pejada daquela «música dourada» da poesia Nascido há cem anos, em 1915, e desaparecido em 1967, com apenas 51 escrita numa época que contrasta com a nossa: a época anos, foi poeta, prof. da Faculdade de Letras de Lisboa, ensaísta, tradutor, dos comentadores de futebol colaborador dos Cadernos de Poesia. Como tantos outros injustamente O turbado sentimento «de camisa aberta». esquecido, mesmo neste ano do centenário do nascimento, a sua figura agónico que domina Poder evocatório que “ não descarta a dimensão é recordada e a sua obra analisada neste ensaio de um seu ‘colega’ mais grande parte da sua política que os livros de ASC poesia não apaga a comportam, reincide-se agora novo, grande conhecedor e especialista da poesia desse período naquilo que poderíamos ver funda consciência como um programa poético Fernando J. B. Martinho social que lhe ditou iniciado nos anos 60: fazer Germânica da Faculdade de Letras terá encontrado nos seus própria da poesia, como em Campos, de Lisboa. escritos, nomeadamente na sua alguns dos melhores exercício naturalista, de Tal opção deixa perceber que poesia. poemas que, sob o observação, porém sem aquela Os anos de formação do poeta os interesses literários que o Ao título de um dos mais metafísica do heterónimo Tomaz Kim (pseudónimo de contacto com a cultura britânica conhecidos romances de Huxley, impacto da II Guerra que Armando Silva Carvallho Joaquim Fernandes Tomaz nele terá estimulado, claramente Point-Counter-Point, que irá Mundial, entre nós se rejeita. Contra o «lixo Monteiro-Grillo), cujo centenário prevaleceram sobre as eventuais estudar na sua dissertação de armazenado» do mundo, de nascimento se comemora este vantagens profissionais que licenciatura, de 1943, Aldous escreveram encontra-se o poeta, só, na ano, foram um tanto incomuns. a formação técnico-científica Huxley: some aspects of his novels, praça, deixando cair os seus Nascido no Lobito, em Angola, recebida em Londres lhe poderia alude um dos poemas do livro com versos profanos «práticos, em 2 de fevereiro de 1915, seria, trazer. Os anos passados em que se estreia em 1939, Em cada Eliot e Edith Sitwell, como um dos públicos», precários», assim no entanto, em Cape Town, na Inglaterra, num período da sua dia se morre…. O verso inaugural «grandes poetas da guerra». homenageando Herberto África do Sul, que iria iniciar os vida decisivo para a confirmação de um outro texto do mesmo livro, Não será mesmo, talvez, de e a própria poesia. Livro seus estudos primários, que viria a e solidificação de uma vocação «Ó cidade irreal!» (“Súplica”), excluir a hipótese de o apelido do escrito contra e sobre o concluir em Lisboa. Aqui, haveria literária, iriam revelar-se de trai, indubitavelmente, o poeta galês ter, de alguma forma, tempo que arrepia «a alma ele de realizar os estudos liceais, extrema importância para a conhecimento do mais marcante pesado na solução que Joaquim social» do poeta, só, no meio findos os quais rumaria, em 1933, direção que veio a dar à sua poema no percurso de então de Monteiro-Grillo encontrou para da praça e da vida. Livro, a Inglaterra, para frequentar um vida, quer em termos de carreira T.S. Eliot, The waste land, de 1922, a escolha do nome próprio do ao fim e ao cabo, sobre a Curso de Engenharia Mecânica na académica, quer em termos de cuja tradução, tudo leva a crer, pseudónimo que adotou para a sua «mesa defraudada pela Universidade de Londres. Quando, intervenção na cena literária Tomaz Kim terá efetuado, pelo criação poética, embora ele figure, técnica», a mesa humana, a na segunda metade dessa década, nacional, como poeta, ensaísta menos, em parte, pois os últimos como é sabido, no seu próprio da literatura e da arte; poesia se começam a adensar as ameaças e tradutor. É esse um período fascículos dos Cadernos de Poesia, nome civil. Seja como for, é óbvia da desesperança de não se de um novo conflito mundial, riquíssimo da literatura inglesa, nos anos 50, chegaram a anunciar a ressonância britânica do apelido poder escrever sobre a mesma regressa a Portugal, e acaba por e o trato íntimo que teve com a sua saída. Um dos cinco textos escolhido para o pseudónimo, matéria de Drummond: o inscrever-se, no ano letivo de a obra de vários dos seus nomes do poeta incluídos no fascículo 6 patente igualmente na grafia nada.J 1938-1939 na secção de Filologia mais representativos algum eco (II série ), de 1951, dos Cadernos, eleita. Também o grupo dos poetas

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dos thirties marcados por uma despedaçado”. Casais Monteiro, assinalar Mourão-Ferreira naquela moderna tocada por Deus como Mais que os “eventos” (embora «preocupação político-social», por seu turno, num nota dedicada que terá sido uma das primeiras interrogação. não de todo arredados, cf. o Auden, Louis MacNeice, Cecil Day ao segundo livro do poeta, Para a tentativas de abordagem geral da Há, por outro lado, no segundo magnífico Europa a ferros), o que, Lewis e Stephen Spender, terá nossa iniciação, de 1940, mas que sua obra então conhecida. livro de Tomaz Kim, um poema na 2ª fase da lírica de Tomaz Kim, sido objeto de uma atenta leitura inicia com considerações sobre Com exceção do primeiro, que alusivo e misterioso, como, predomina são os transes, os por parte do poeta português, a coletânea anterior, falará do foi edição de autor, os volumes recorrentemente, o são os textos humores, os tropismos, as tensões mas tal como eles, na evolução que nele se lhe afigura haver de que definem a primeira parte das primeiras recolhas, e daí a da consciência individual do por que passaram, também ele, “hermético”, ou que faça “lembrar da obra de Tomaz Kim foram estranheza que causaram junto poeta, frequentemente veiculados como refere no ensaio de 1960 a tradução”, tendo em conta o publicados sob a égide dos de alguns leitores, mesmo dos por um vocabulário afim do das acima citado, solicitado «pelas facto, conhecido do apertado meio Cadernos de Poesia, revista de que mais argutos, há um poema, filosofias da existência e que, do forças tantas vezes opostas do ‘seu literário português, de o poeta “ter foi, com Ruy Cinatti e José Blanc dizia eu, a que não falta um “tédio” e do “nada” já aflorados desenvolvimento pessoal e da sua certo anseio pacifista típico da em textos da primeira fase, se consciência social’», se interroga e poesia de guerra que não pode exprime, agora, num processo se mostra perplexo. deixar de se interrogar sobre o de inequívoca agudização, em Tal perplexidade estará, aliás, seu absurdo, em que prevalece termos de “náusea” e de “nojo”. em larga medida, na base do o preceito evangélico de O desgosto é não apenas, neste insanável pessimismo que o aceitação do “estranho”, do que contexto, o desgosto de si mesmo leva a proclamar no fecho de um eventualmente estará no outro e da própria poesia, mas também, poema que, sintomaticamente, lado da barricada, e que, com e sobretudo na coletânea de 1958, endereça à sua «geração»: “(O grande força persuasiva, reclama e em jeito satírico, o desgosto dos nosso exílio/ começou no ovário! a nossa incondicional adesão: protagonistas e dos lugares que )”, e que o afasta do neorrealismo “Em breve/ um estranho baterá à figuram a instituição literária. de que às vezes tem sido nossa porta.// Não lhe recusemos O pessimismo, que vem já dos aproximado. Isso não o impedirá a entrada…/ Ele nos trará o pão e começos do percurso do poeta, de subscrever, numa sequência a paz/ e nos dará de beber água ganha, aqui, melancólicos acentos poética incluída, sob o título de clara.// As suas mãos/ serão maneiristas num solilóquio que “Noturno para o poeta”, em Os frescas, leves e brandas…// Em traz inevitavelmente à memória quatro cavaleiros, uma das mais breve/ um estranho baterá à nossa o do Príncipe da Dinamarca ( sentidas elegias que ao destino porta/ e nós lhe morderemos a “[…]// Ah, se a morte vale a pena,/ trágico de Lorca se fizeram na Tomaz Kim Na Califórnia, em 1961, 1º da esqª, com Cristina e Vasco mão/ que nos acarinhará!// Não Nem os mortos o dizem!/ E mudos moderna lírica portuguesa. Assim Futscher Pereira, seu amigo, diplomata, que seria ministro dos Negócios lhe recusemos a entrada…”. são o pranto e o luto/ E a flor que como o turbado sentimento Estrangeiros num governo pós 25 de Abril – e, à dtª, Christine Marshall O ritmo do poema acabado dedos convencionais desfolham/ agónico que domina grande parte de citar assenta muito, como No mausoléu impessoal e réplica da sua poesia também não apaga de resto se observa em grande doutros.// […]”, ), ou vibrantes a funda “consciência social” que número de textos dos livros da acentos bíblicos que fazem do lhe ditou alguns dos melhores de Portugal, um dos fundadores primeira fase, num sábio jogo de autor do “poema” Exercícios poemas que, sob o impacto da e organizadores, na sua 1ª série, repetições, e não se afasta, na temporais, glosa pelo avesso do II Guerra Mundial, entre nós se entre 1940 e 1942. Esses cinco limpidez da linguagem utilizada, famoso título de Santo Inácio escreveram, num país que, afinal, Sem dificuldade caberá volumes refletem, de um modo do que G.M. Hopkins chamava o de Loyola, uma espécie de não conheceu a experiência geral, o dramático impacto que a “ritmo natural e nativo da fala”. O Eclesiastes moderno, bem ciente direta do conflito. Sirva de o poeta num florilégio iminência da II Guerra Mundial e, ritmo preponderante nos poemas da diversidade de tempos e das exemplo este magnífico texto “ depois, o deflagrar e a persistência dos dois livros da 2ª fase, Fauna contradições de que se compõe que ambicione recolher inserto igualmente naquele livro: do conflito tiveram no poeta, & flora, de 1958, eExercícios a efémera existência humana. “Antes da metralha e do medo a nossa lírica moderna que, de longe, e com crescente temporais, de 1966, pelo contrário, Registe-se, a finalizar, em e da morte…/ Antes dum corpo tocada por Deus como ansiedade, acompanha o que se complexifica-se de modo notório nota mais positiva, o “tempo” jovem, anónimo,/ apodrecer, interrogação passa nos “campos de batalha”. e corresponde, antes, ao que era, a dedicado ao amor, sem margem esquecido, à chuva…/ Ou singrar, É esta uma fase da sua poesia esse respeito, um dos mais fundos para dúvidas, no seu pleno boiando, nas águas mansas…/ em que assume especial relevo propósitos daquele precursor conseguimento, um dos grandes Ou se despedaçar contra o céu um dos elementos incluídos (os do modernismo britânico: o poemas de amor da moderna indiferente…// Antes do pavor Na 2ª fase da sua lírica “eventos”) na definição de poesia de acentuar que “a poesia não lírica portuguesa: e do pranto e da prece…/ Um o que predomina são os que um dia propôs: “A poesia é para ser lida apenas com os “Uma hora breve, uma só, meu adeus longo e triste/ aos poemas transes, os humores, é a revelação, pelo verbo, ‘da olhos” e que “o ouvido também amor, e/ Não importa a morte amontoados no fundo da gaveta/ essência individual dos seres, das participa” (“My verse is less to be absurda a rondar,/ Não importa, e a renúncia ao teu amor brando/ os tropismos, as coisas e dos eventos, isolados ou read than heard”), como lembra agora,/ Uma hora breve, uma só, e às noites calmas e ao sonho tensões da consciência relacionados uns com os outros’”. J. Monteiro-Grillo em ensaio que meu amor.// A fome a trair o sol inacabado…// Antes da morte A si mesmo se vê, em face da lhe dedicou em 1960, ano em desta cidade,/ O clamor em vaga sem-mistério…/ Um adeus longo individual do poeta devastação e do sofrimento que também defendeu tese de alastrando/ Não importam, agora. e triste/ à luta do que se não humano que a guerra traz, como doutoramento na Universidade de Não importa./ Não importa o ódio partilhou!». “o último da sétima geração”, Lisboa sobre o mesmo poeta. no olhar turvo./ Não importa, A abrir este mesmo livro, figura vivendo o “último dia”, que “é o Os dois volumes do que agora.// Uma hora breve, uma uma sequência intitulada “Para uma formação em grande parte do Êxodo”, e como testemunha consideramos ser a segunda fase da só, meu amor, e/ Não importa os companheiros de ontem”, inglesa”. da chegada dos Quatro Cavaleiros sua obra situam-se num período em a mentira torpe a corroer,/ Não que deixa em evidência, sob a Um crítico mais jovem, David do Apocalipse: “A fome, a peste, a que a carreira académica do poeta importa, agora,/ Uma hora sugestão de um velho topos, o “ubi Mourão-Ferreira, num ensaio dado guerra/ a morte!”. iniciada em 1947 alcança justíssimo breve, uma só, meu amor.// O sunt?”, a preocupação do sujeito à estampa na Távola Redonda, em O poeta que Jorge de reconhecimento institucional, que inverno longo a negar a colheita;/ relativamente ao que se passará, julho de 1954, em que se debruçava Sena retratou abalado por a morte precoce, em 24 de janeiro Cinzas, só, o lume apagado,/ Não em atrozes tempos de incerteza, sobre todos os livros de poesia pungente ‘amargura agnóstica’, de 1967, pouco antes de atingir os importam agora. Não importa./ com aqueles com quem criou laços de Tomaz Kim publicados até permanentemente oscilando 52 anos, veio, lamentavelmente Não importa a navalha que se afetivos nos seus anos de Londres: então, para além dos três que já entre a ‘descrença’ e o inabalável interromper. É este um período em abriu./ Não importa, agora.// «Companheiros das noites referimos, Dia da promissão, de desejo de acreditar, recorre, que o poeta, fiel continuador do Uma hora breve, uma só, meu nevoentas à beira do Tamisa/ onde 1945, salientará o que haveria de com frequência, ao metaforismo que há já de uma sólida tradição amor…/ Importa, sim, meu amor, estais agora?// […]». «adolescente» na primeira obra bíblico, e deixa no título de muitos modernista em termos nacionais importa sim,/ Agora, o que o teu Em cada dia se morre… apresenta do autor. A verdade é que o poeta dos seus poemas sinal angustiado e internacionais, faz acompanhar corpo promete/ Nesta hora breve, algumas fragilidades, comuns, de confirma, a partir do 2º volume de preces, súplicas ou ladainhas, a sua prática poética da tradução a última, meu amor,/ Antes da resto, em livros de estreia. José do que poderíamos considerar a sedentas de atendimento. A este de poetas ingleses e americanos noite, finda esta hora breve,/ Régio, poeta com um apurado primeira parte da sua obra poética, respeito, o de uma inquisitiva e (com maior incidência na 2ª metade Ser/ viscoso,/ negro,/ dilúvio “senso de arquitetura” nos seus encerrada com o livro de 1945, torturada consciência metafísica dos anos 40, no Diário Popular), desesperado!» J poemas, lamentará, em nota a promessa que nele entreviu, e religiosa, sempre com uma e de textos de doutrina crítica, crítica vinda a lume na presença apesar das restrições levantadas, pergunta nos lábios sobre “O de Shelley e T.S.Eliot, e de ampla (Agradeço ao engº. Miguel (nº 2, série II, ano XII. Fevereiro a argúcia crítica de José Régio, e que é a verdade?” e o sentido produção crítica e ensaística Monteiro Grillo a amável oferta de 1940 ), o caráter fragmentário se define como um artista cada da existência, sem dificuldade própria, que assina com o seu nome que, em tempos, me fez de diversas dos textos de Tomaz Kim, o que vez mais seguro dos meandros caberá o poeta num florilégio que civil, Joaquim Monteiro-Grillo ou J. publicações ensaísticas do seu neles enxerga de “um poema do seu ofício, como não deixou de ambicione recolher a nossa lírica Monteiro-Grillo. pai.)

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BANDA DESENHADA João Ramalho Santos Cegueiras

Dois livro fundamentais em banda desenhada, com algumas semelhan- ças mas também diferenças cruciais em termos de representatividade e tom destacam-se de entre as boas edições recentes. Se a visão da di- tadura norte-coreana do canadiano Guy Delisle em Pyongyang (Devir) não evita um cunho de visita turística em tom irónico, em O árabe do futuro, do francês Riad Sattouf (Teorema), temos um relato autobiográfico extenso (este 1º volume cobre os anos de 1978-84) de uma infância passada entre França, Líbia e Síria (e Argélia) realizado pelo filho de uma francesa do livro, distinguindo-se nesse aspeto e de um professor universitário sírio crítico de Persepolis, de Marjane formado em França, que quis voltar Satrapi. às origens para ajudar a promover Riad Sattouf não é (como, por o pan-arabismo (hoje “representa- exemplo, Joe Sacco) um jornalista que do”, dramaticamente, pelo Estado queira fazer sobressair conhecimen- Islâmico). tos de História global, ou interpretar O autor já tinha glosado a sua he- o que vive à luz de política geoestra- rança multicultural (Ma Circoncision, tégica. Por outro lado, não tem o peso de 2004) mas este é um trabalho com da miragem nostálgica e esperança outra dimensão. Claro que o tom da no futuro que alimenta Abdel-Razak. obra é reflexo de escolhas posteriores, Fora alguns momentos as experiên- dado a adolescência e toda a vida cias que encontra na Síria e na Líbia profissional terem sido passadas em são (até por oposição com estadias em França; de resto sem isso dificil- França) bem mais negativas do que mente O árabe do futuro existiria. E positivas, incluindo desorganização, é também evidente que, para além crueldade, sujidade, racismo, culto dos factos relatados, não se pode da personalidade, censura, corrup- esquecer que esta é a visão/memória ção e falta de tudo. E o autor pouco (atualizada) de uma criança, não contextualiza, explica ou desculpa, dissociável do enquadramento fami- apenas regista. Um retrato que o liar. Nunca seria pois uma narrativa seu excelente traço, mais versátil neutra (como não o é Pyongyang), e que o de Guy Delisle e muito eficaz há um protagonismo subterrâneo dos a traduzir exageradamente o cerne dois progenitores. Mais óbvio no caso realista numa base caricatural, torna do pai, Abdel-Razak, um poço imen- particularmente demolidor. so de contradições que não resolve, Como se disse, este é um testemu- porque delas não se apercebe. nho direto e enviesado. Mas neste 1º Oscilando entre a determinação volume tem o mérito preocupante de e a fanfarronice, entre o modernis- sinalizar que, independentemente de mo e o fascínio por ditadores fortes eventuais responsabilidades, pouco cujo papel messiânico considera terá mudado nos países árabes, a não inevitável (Muammar al-Gaddafi, ser para pior. A tentação para radi- Hafez el-Assad, Saddam Hussein), calizar e separar ainda mais pode ser Abdel-Razak é a personagem mais pois o que o futuro nos reserva. E não fascinante: tão desconfortável na só aos árabes.J Bretanha dos sogros, como no seio de uma família que desconfia das suas escolhas e evolução. Embora não seja especificamente focada, as angústias de adaptação aos países árabes de Clementine, a mãe de Sattouf, vêm à tona em situações breves, mas cruciais, que chegam e sobram para, com algum pudor, vincar uma men- sagem que é prolongada no percurso do próprio autor. Sem dominar a cultura ou a língua, e também por via dos cabelos loiros, sobre mãe e filho caem os piores insultos possíveis › Argumento e desenhos (“judeus”, desde logo), e, apesar de de Riad Sattouf algum esporádico carinho fami- O ÁRABE DO FUTURO liar, uma integração plena parece (SER JOVEM NO MÉDIO quimérica. E é por aí, no olhar apenas ORIENTE, 1978-1984) semi-interno, que se entende o tom Teorema, 160 pp., 19 euros

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Kandjimbo, Laura Cavalcante Padilha, Histórias e estórias de Angola Manuel Muanza, Pires Laranjeira e Francisco Soares; entrevistas com Ondjaki, Pepetela, Manuel Rui, Luandino Vieira, José Luís Mendonça e Carmo Neto; e testemunhos de mais duas dezenas e meias de autores, além Quando se comemoram os 40 anos da Santos, Carmo Neto, Dario de Melo, Fragata de uma bibliografia crítica selecionada. No Independência de Angola, a União dos de Morais, Henrique Abranches, Henrique editorial a este que é seguramente um dos Escritores Angolanos tem apoiado diversas Guerra, Isaquiel Cori, João Melo, João Tala, José maiores estudos sobre a literatura angolana › Vários Autores iniciativas editoriais no sentido de divulgar o Eduardo Agualusa, José Samwila Kakweji, Luís Margarida Gil dos Reis assegura: “A diversi- percurso literário desenvolvido nas últimas Fernando, Marta Santos, Ondjaki, Pepetela, ESTÓRIAS ALÉM ficação de temas, estilos e géneros cultivados décadas. Em Portugal, acabam de ser publica- Roderick Nehone e Sónia Gomes. DO TEMPO tem contribuído para que a literatura angola- dos dois volumes que cobre grande parte dos O segundo livro é, na verdade, uma Texto Editores, 296 pp, 17,90 euros na seja uma das literaturas mais consolidadas nomes que se têm destacado. Estórias Além revista, o número 19 da Textos e Pretextos, nos países africanos. (...) Falar de Angola é do Tempo é uma antologia de contos com “42 do Centro de Estudos Comparatistas da › Margarida Gil dos Reis (dir.) também contemplar esta diversidade (de lín- estórias contadas por escritores angolanos”, Faculdade de Letras da Universidade de TEXTOS & PRETEX-TOS: guas). Este volume tenta reunir essa polifonia, algumas já publicadas em anteriores livros in- Lisboa. A publicação dirigida por Margarida ANGOLA - POESIA através das vozes de cerca de 50 escritores e dividuais ou coletivos, outras inéditas. Sem in- Gil dos Reis faz uma radiografia da poesia E PROSA ensaístas, contemplando as suas diferenças, troduções ou notas biográficas, as ficções sur- e prosa do país, com vários ensaios e tes- Centro de Estudos Comparatistas da as suas memórias, as suas experiências de gem por ordem alfabética dos autores: Arnaldo temunhos. Textos de Inocência Mata, Luís Universidade de LIsboa, 220 pp, 10 euros vida”. J

FICÇÃO POESIA OUTROS em que o relâmpago atinge a têm sido adaptados sar-se como escamas torre do relógio, no popular filme ao cinema, este tem na minha pele. Isso Teatro Regresso ao Futuro, de Robert sido bem premia- denunciava-me Mais dois títulos da Peter Carey Zemeckis, que é um livro definidor do, sobretudo Pena como o autor dos coleção de teatro da As novas tecno- tanto para o escritor, quanto para Capital, o primeiro disparos. Eu sabia Imprensa Nacional logias associadas ao o narrador. Num jogo entre a bio- título da série, a que que deveria erguer / Casa da Moeda. crime é o mote do grafia e a imaginação, Ben Lerner se seguiu Nunca Me os braços e render- A primeira, de novo romance de projeta-se neste livro, falando de Encontrarão. O reencontro com -me, confiar a minha vida às leis António Torrado, Peter Carey, escritor um autor que após lançar o seu Charles Boxer é ditado pelo rapto que jurara cumprir, as leis que me evoca as eleições de australiano que tem primeiro romance vive uma crise. de seis crianças no espaço de 32 haviam devastado a família. Ou presidenciais de 1958, uma parte signifi- Numa consulta médica de rotina horas. Londres está em alerta má- podia entregar-me aos assassi- quando Humberto cativa da sua obra já é-lhe diagnosticado uma doença ximo, sobretudo porque são filhos nos”. Assim começa A Diretiva, o Delgado desafiou o publicada em Portugal, incluindo cardíaca potencialmente fatal. e filhas da elite internacional. A “thriller político eletrizante” de regime do Estado os livros que lhe valeram dois Agora, tem de redefinir prioridades pressão é constante e a polícia Matthew Quirk, autor já conhecido Novo. Sobre ela diz o Booker Prize. Aqui arma-se de e saber pedir ajuda. Só que a sua pôs todos os meios à disposição. dos leitores portugueses pela pu- autor: “Maio de 58 é um vírus para dar corda a uma in- melhor amiga também precisa de Para descobrir a identidade dos blicação do seu primeiro romance, uma peça histórica. O vestigação de contornos policiais, apoio: quer engravidar e anda à raptores, no entanto, vão ter de 500. À beira do seu casamento, título o diz, atraindo a mas que acima de tudo expõe um procura de um doador de esperma. recorrer ao famoso investigador. Mike Ford prepara-se para iniciar candidato a leitor que pouco (da degradação) da história Destinos cruzados num romance Com experiência familiar seme- um novo ciclo na sua vida. Olha até julgará que a alusão ao maio francês recente do seu país. Uma noite, cheio de referências à cultura e à lhante, Boxer terá de saber gerir com alguma nostalgia para a vida de 1968 não terá sido inocente. E alguém infiltrou-se nos sistemas de imagem, com várias fotografias a ansiedade dos pais e a mente de trabalho e luta que o conduziu não foi mesmo!”. Reclamando o segurança das prisões da Austrália inseridas no meio da narração. vingativa de quem exige o im- ao sucesso. Mas o aparecimento do direito ao anacronismo, António e conseguiu libertar todos os possível. Pelo meio, “um dos mais seu irmão atira-o para um mundo Torrado socorre-se de referências presos. O autor do crime auto-in- › Ben Lerner negros segredos escondidos pelas completamente oposto, feito de enigmáticas para fazer analogias e titula-se "Anjo do Senhor", dando 10:04 agências secretas”. corrupção e crime. Encurralado, convocar a memória dos espetadores logo pistas erradas às autoridades Tradução de Luís Rodrigues dos Santos, forçado a escolher, Ford entra no mais adultos. A segunda peça, de (é na verdade uma mulher). A sua Teorema, 288 pp, 19,90 euros › Robert Wilson carro. E nada será como dantes. “A Raul Malaquias Marques, venceu, história e as suas causas chamam a ROUBADOS porta de trás abriu-se. Eu esta- em 2014, o Grande Prémio de Teatro atenção, ao ponto de alguém con- Tradução de Dina Antunes e Paulo Rêgo, D. va inocente, mas vira o bastante Português promovido pela Sociedade tratar um jornalista, Felix Moore, Quixote, 464 pp, 18,90 euros para saber que a verdade já não Portuguesa de Autores e pelo Teatro recém condenado por difamação, Robert Wilson contava”. Aberto. Ao Vivo e em Direto é um para as contar. Um romance sobre Roubados é o terceiro livro da retrato dos nossos tempos modernos, as relações internacionais (as série Boxer, uma das mais popu- › Matthew Quirk feitos de notícias 24 sobre 24 horas prisões norte-americanas também lares do escritor Robert Wilson, Matthew Quirk A DIRETIVA e de muitas aparências. Um direto foram afetadas) e sobre o poder do que há muito escolheu Portugal “A política apertava o cerco. Eu Tradução de José Vieira de Lima, Porto televisivo sai fora de controlo, pondo ciberespaço. As personagens, no para viver. Se outros ciclos seus sentia o sangue dele a secar, a rete- Editora, 336 pp, 16,60 euros em causa a credibilidade da estação entanto, mantém-se bem hu- televisão. Conversas, discussões manas, moldadas com a força e a e reflexões numa redação, com a expressividade que Peter Carey nos justiça em pano de fundo. tem habituado. prio Padrão dos Descobrimentos A obra de Cottinelli Telmo e da EGEAC. Com o sugestivo › António Torrado › Peter Carey subtítulo de Os Arquitetos poe- MAIO DE 58 AMNÉSIA tas também são poetas, reúne IN/CM, 176 pp, 11,25 euros Tradução de Ana Falcão Bastos, Gradiva, 452 textos de José-Augusto França pp, 16 euros (sobre o homem), João Paulo › Raul Malaquis Marques Com uma exposição, um Martins (sobre o arquiteto), AO VIVO E EM DIRETO documentário e um catálogo, João Paulo Paiva Boléio (sobre IN/CM, 78 pp, 11,25 euros o Padrão dos Descobrimentos o autor de bandas desenhadas), Ben Lerner evoca a obra do seu constru- António-Pedro Vasconcelos Nascido em 1979, tor, Cottinelli Telmo, nome que (sobre o cinema), Margarida POESIA Ben Lerner formou a marcou a arte portuguesa da Acciaiuoli (sobre a exposição do sua ideia do mundo primeira metade do século XX, Mundo Português, da qual foi em plena década em particular na artquitetura, um dos grandes responsáveis) e María Gómez de 80 e isso nota- mas também não só. Múltiplas › Vários Autores de Vasco Rosa (sobre os seus es- -se muito nos seus facetas que estas três iniciativas COTTINELLI TELMO - critos). Profusamente ilustrado, Lara poemas, ficções e exploram. Depois da exposição, OS ARQUITETOS SÃO é um bom retrato de uma perso- “A poesia de Nó de Sombras, ensaios. Veja-se este em 2014, e do documentário re- POETAS TAMBÉM nalidade criativa, numa época como toda a poesia autêntica, 10:04 que foi finalista de vários centemente estreado chega agora EGEAC / Padrão dos central e convulsa da história reúne pensamento e beleza. prémios norte-americanos. Tem o catálogo, com edição do pró- Descobrimentos, 136 pp, XX euros portuguesa.J Está tocada pela graça. Quem como ideia base o momento exato ler este livro uma vez lê-lo-á

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muitas vezes. Esta linhas de elétrico, não é a poesia que ruas asfaltadas e se esgota em poucas túneis de metro, João Céu e Silva leituras”, diz Lauren camadas e camadas Mendinueta sobre de terra contam o livro de verso que as histórias de A guerra ainda por contar valeu a María Gómez quem por aqui Lara o Prémio Internacional de passou, viveu, morreu. Contam Poesia da Fundação Loewe para momentos, eras, séculos de Jovens Criadores. A pouca idade vivência de fenícios, romanos, da poeta, nascida em Bogotá, em muçulmanos, cristãos, uma 1989, é sublinhada pela poeta imensidão de gentes que nestas O psiquiatra surge como a personagem que permi- e ensaísta colombiana para colinas deixou a sua marca”. te ao protagonista, Afonso, reviver toda a sua vida frisar ainda mais a qualidade do Para ilustrar esta tese, comum a africana e explicar ao leitor, sem ser didático, uma livro.”É certo que a poeta ainda tantas cidades, e sobretudo para cronologia de vivências e de acontecimentos muito é jovem, mas a sua voz já é uma sublinhar o caráter singular de violenta. E é mais um amparo para o leitor do que voz antiga. (...) A sua é uma poesia Lisboa, Inês Ribeiro e Raquel para o protagonista. essencial, de palavras justas, de Policarpo dão a conhecer 15 sítios preocupações fundas. Três são os arqueológicos e monumentos Em que sentido? temas principais de Nó de Sombra: com muita história escondida. É que muito do que se conta no romance tam- o corpo, a alma e o desamor.” Além do discurso simples e bém perturba quem o lê. São vários milhares No total, são quatro dezenas de apelativo, dirigido a um público os militares que vieram com stress pós-trau- poemas agrupados em duas áreas: mais alargado, destacam-se mático e que recusaram tratar-se ou abrir-se à a que dá título ao conjunto e as informações históricas e família e amigos sobre a sua experiência. “Mover Cidades”. úteis, como horários. Entre João Céu e Silva outros capítulos, refiram-se Foi a partir dessa constatação que o seu › María Gómez Lara os dedicados ao Castelo de São protagonista tomou forma? NÓ DE SOMBRAS Jorge, Teatro Romano, Claustro Afonso nasce do meu confronto com o silêncio Tradução de Nuno Júdice, Glaciar, 88 pp, 11,66 da Sé de Lisboa, muralhas de D. Não quis escrever mais uma “fábula”, mas dos que lá fizeram guerra. euros Dinis e D. Fernando e Aqueduto acercar-se de um “retrato verdadeiro”, que, em de Águas Livres. seu entender, ainda é preciso fazer da guerra “A história do soldado esquecido” é o subtítulo colonial. Uma história “mal contada”, diz ao JL, do seu romance: contra o esquecimento? OUTROS › Inês Ribeiro e Raquel Policarpo que João Céu e Silva já abordou em vários traba- A quase totalidade dos militares que comba- SEGREDOS DE LISBOA lhos jornalísticos e agora retoma num romance teram em África foi traída por uma política A Esfera dos Livros, 238 pp, 16,50 euros intenso, Adeus, África. Um livro que surgiu da ultramarina condenada internacionalmente ao Italo Calvino ideia de preencher um “vazio literário” e de fracasso por J. F. Kennedy, por uma ilusão de Uma obra funda- resgatar ao silêncio e ao esquecimento os que império em Salazar e a inépcia de Caetano. O mental sobre muitas combateram. fim da guerra com o 25 de Abril de 1974 vem co- outras obras funda- Adolescentes Jornalista do Diário de Notícias, desde 1989, locar o pior ponto final na questão, mas remata mentais. No plano de Um dia, um jovem João Céu e Silva, 56 anos, tem várias obras de a traição pois os militares de Abril estavam reedições da obra de pediu a Danah investigação histórica e literária publicadas, no- dias antes a combater em África e dias depois Italo Calvino, antes Boyd: “Será que meadamente a série Uma longa viagem, sobre José da Revolução a descolonizar. O romance tenta na Teorema, agora pode dizer à minha Saramago, António Lobo Antunes, Manuel Alegre, explicar porque combateram. na D. Quixote, sai mãe que nem tudo Álvaro Cunhal e Miguel Torga. Em 2013, ganhou Porquê Ler os Clássicos, livro em o que se vive na o prémio Alves Redol, com A sereia muçulmana. Fez uma vasta pesquisa antes de escrever. que o escritor italiano se dá a co- internet é mau?” Adeus, África - A história do soldado esquecido Porquê essa necessidade? O jornalista é nhecer como leitor. São 35 ensaios A investigadora é o seu terceiro romance. Um “desafio”, como inseparável do escritor? sobre grandes nomes da literatura da Microsoft e prof.ª da sempre, já que o registo ficcional não é, confessa, Precisava de encontrar o tom daquela época universal, de Homero a Borges, Universidade de Nova Iorque aquele em que se sente mais “à-vontade”. Mas e das vivências dos portugueses em África. passando por Ovídio, Diderot, aceitou o desafio, mas em vez escritor e jornalista, realidade e ficção andam Também pormenores que tornassem o livro Dickens, Flaubert, Henry James de falar pessoalmente com a frequentemente ligados na sua escrita, no caso, verdadeiro e não mais uma fábula. ou Hemingway. Na introdução, progenitora do rapaz escreveu sobre um tempo da nossa História recente ainda Calvino adianta várias possibi- um livro sobre sobre “as vidas com muito por contar E o que o impressionou particularmente nesses lidades de definir um clássico, sociais dos adolescentes em testemunhos que recolheu? como esta: “Os clássicos são os rede”. Ao longo de oito anos de JL: O que essencialmente o interessou na guerra Que a História está muito mal contada. livros que nos chegam trazendo estudo, fez várias entrevistas e colonial, do ponto de vista literário? em si a marca das leituras que chegou a sete áreas principais, João Céu e Silva: A escolha de um tema para um A literatura portuguesa não tem ‘contado’ bem antecederam a nossa e atrás de si a que dão corpo a outros livro é sempre difícil. Inicialmente, queria fazer a história da Guerra Colonial? marca que deixaram na cultura ou tantos capítulos: Identidade, uma investigação sobre a Guerra Colonial por Não. Existem vários autores que trabalharam a nas culturas que atravessaram”. Privacidade, Dependência, achar que além de esquecida está por contar. guerra mas não de uma forma total. E nem são Ou esta: “Um clássico é uma obra Perigo, Bullying, Desigualdade Quarenta anos depois do seu fim as tentativas de muitos, sendo que por vezes se perderam em que provoca incessantemente uma e Literacia. “Os adolescentes a radiografar são poucas e, por norma, conotadas metáforas, sentimentos próprios e memórias de vaga de discursos críticos sobre si, acham atraentes os media sociais com algum perdão. No entanto, achei que seria um grupo, não executando o retrato completo do mas que continuamente se livra porque lhes permitem aceder aos maior desafio escrever um romance, até porque se que foi a Guerra Colonial. MARIA LEONOR NUNES deles”. Ou esta ainda: “É clássico seus amigos e lhes proporcionam pode sensibilizar mais leitores neste género. o que tiver tendência para relegar uma oportunidade de fazerem a atualidade para a categoria de parte de um mundo público mais Como primeiro se insinuou a ideia de Adeus, ruído de fundo, mas ao mesmo amplo, enquanto ainda se situam África? tempo não puder passar sem esse fisicamente nos seus quartos”, Em 2011 fiz uma série de entrevistas jornalísticas ruído de fundo”. sugere Danah Boyd. E acrescenta: com ex-combatentes e, por coincidência, escreve- “Os adolescentes querem aceder ra dois livros nos anos antes que se passavam no › Italo Calvino aos públicos para verem e serem início e no final da guerra –1961- O Ano que Mudou PORQUÊ LER OS CLÁSSICOS vistos, para conviver e para Portugal e 1975 - O Ano do Furacão Revolucionário. Tradução de José Colaço Barreiros, D. Quixote, terem a sensação de que têm a O que ouvi dos militares em ambos os casos não 288 pp, 15,90 euros liberdade de explorar um mundo inspirou logo o romance, mas deixou-me a pensar para além daquele fortemente e fez-me sentir que existia um vazio literário nesta limitado que é moldado pelos questão. Não usei essas pesquisas no romance, pais e a escola”. mas balizaram até onde eu poderia ir sem estar a Lisboa fantasiar. Garantem as autoras: “Passear › Danah Boyd pela Lisboa de hoje é passar sobre É COMPLICADO O seu narrador é um um psiquiatra: porque a › João Céu e Silva todo [um] passado desaparecido. Tradução de Artur Lopes Cardoso, Relógio questão da guerra colonial ainda é um fantasma, ADEUS, ÁFRICA Sob os nossos pés, debaixo das d’Água, 312 pp, 17 euros uma ferida aberta na sociedade portuguesa? Guerra & Paz, 317 pp, Ficha ficha ficha

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) jornaldeletras.sapo.pt * 2 a 15 de setembro de 2015 J 22 * artes

do no seu percurso, Miguel Borges, Isabel Abreu e Flávia Gusmão. Já em outubro, a 22, a Sala Estúdio Artes de palco irá receber um espetáculo de Ricardo Neves-Neves, com encenação de Sandra Faleiro, que vai evocar Vasco Santana, António Silva, Maria Matos Uma maré viva de clássicos e Beatriz Costa, entre a comédia e o musical, uma co-produção da Primeiros Sintomas.

PORTO COMUNITÁRIO E NOVAS Com setembro chegam as marés vivas, também na cultura. A grande onda no teatro é de DRAMATURGIAS No Teatro Nacional S. João (TNSJ), revisitação dos clássicos, a par de estreias com atenção especial ao universo feminino, como Uma dirigido por Nuno Carinhas, a Mulher Sem Importância, no Maria Matos, e Baile, no São Luiz. No D. Maria, a rentrée faz-se com temporada abre com a estreia de Turandot, do veneziano Carlo Gozzi, um simbólico fim-de-semana de entrada livre e três tragédias gregas, e em Guimarães o mês é a 24. Um espetáculo da companhia de celebração dos dez anos do Centro Cultural Vila Flor, enquanto se anuncia para 6 de outubro portuense Assédio, habitualmente empenhada em textos contem- a inauguração do novo espaço do Teatro Praga, na Rua das Gaivotas, 6, em Lisboa. Uma abertura porâneos, mas que revisita agora de temporada nas artes de palco marcada ainda por reposições como Hamlet, na Cornucópia e uma tragicomédia do séc. XVIII, que de resto foi a base da última em Almada, ou António e Maria, no Meridional. O JL antecipa alguns dos espetáculos que poderá ópera de Puccini. A encenação é de João Cardoso, a interpretação de ver neste arranque da estação. E também das exposições, com destaque para a retrospetiva do Beatriz Frutuoso, Bernardo Ribeiro, fotógrafo Sam Shaw, em Cascais Daniel Barros, Daniela Marques, Élio Ferreira, Joana Carvalho, Jorge Mota, Mariana Moriaty, Maria Teresa Maria Leonor Nunes Barbosa, Mário Santos, Miguel Ângelo, Paulo Calatré, Pedro Frias, Rafael Pereira, Rita Figueiredo, Rosa Quiroga, entre outros. Fica em cartaz até 11 de outubro. De 8 a 13, vão passar pelos palcos do TNSJ e do TECA, Teatro Carlos Alberto, grande parte dos espetácu- los do MEXE, Encontro Internacional de Arte e Comunidade, organizado pela Pele, com o propósito de dina- mizar e divulgar as práticas artísti- cas comunitárias e promover o seu Entrada livree no Teatro Nacional D. intercâmbio. Esta 3ª edição arranca Maria II (TNDMII), no fim-de-se- com a estreia de Cidadãos de Corpo mana de 11, 12 e 13, assinala o início Inteiro, de Patrícia Poção, um docu- da programação proposta pelo novo mentário sobre o processo de criação diretor artístico da Casa de Garrett, de MAPA, dirigido por Hugo Cruz, Tiago Rodrigues. Do programa envolvendo vários grupos de teatro de festas, destaca-se, a 12, uma comunitário portuenses, que estreou homenagem à atriz Eunice Muñoz, em 2014, no claustro do Mosteiro de que pisou aquelas tábuas incontáveis São Bento da Vitória. De Roterdão vezes. virá Meysara, a que se somam Dez Dentro e fora de portas, a anima- Mil Seres, resultado do trabalho da ção será garantida, com concertos coreógrafa Clara Andermatt com o de DJ na varanda do edifício para o grupo madeirense Dançando com a Largo de S. Domingos, uma Feira Diferença, e a estreia de Criaturas, a do Livro de Teatro, organizada pela partir de um conto de Dulce Maria livraria do TNDMII, na Praça do Cardoso, Este Azul que nos Cerca, Rossio, mais Teatro das Compras pelo grupo amador Os Barris, nas- em oito lojas da Baixa, com a leitura Baile no São Luiz Musical com Manuela Azevedo, Sara Carinhas, Ana Brandão, Carla Galvão (na foto) e Carla Maciel cido da Confraria de O Bando, em de textos de Joana Bértholo, Afonso Palmela. Cruz e João Tordo, conversas com os A 15 arrancam, por outro lado, protagonistas políticos, em colabora- as já tradicionais leituras encena- ção com a TSF, no Salão Nobre, onde onde estreia Coleção de Amantes, que abrir os cordões à bolsa, mas das no Mosteiro S. Bento da Vitória, se saberá também se É bom Mandar?, de Raquel André, que inaugura por certo valerá a pena, para ver com peças curtas de sete novos com Inês Barahona e Catarina um novo ciclo anual no TNDMII, o depois as três tragédias revisitadas e dramaturgos lusófonos: Alexandre Requeijo. Isto além de uma exposição "Recém-Nascidos", como facilmente reescritas por Tiago Rodrigues, to- Entrada livre Sarrazola, Ana Moreira, Luís Mário de partituras do teatro e a leitura se depreende dedicado a valores mando como fio condutor os Átridas, Lopes, Ricardo Neves-Neves, Rui encenada de Ricardo III, por Tónan emergentes. a família real ateniense, ao longo de no Teatro Nacional Catalão, Sónia Baptista, Tiago Quito, que mais adiante, a 15 de Nesta 1ª edição, além do espetá- várias épocas, para refletir contem- “ Patrício. A partir de 20 de outubro, o D. Maria II, assinala outubro, aí irá levar à cena o clássico culo sobre “encontros” da perfor- poraneamente sobre o exercício do dramaturgo ‘residente’ será o inglês de Shakespeare. mer, que, nos últimos dois anos, poder. É de tomar nota do calendário o início da Alan Ayckbourn. somou mais de sete dezenas de ren- de apresentações: Ifigénia a 11 e de 16 programação Ainda no Porto, no Teatro D. MARIA E TIAGO RODRIGUES, dez-vous em casa de desconhecidos, a 20 de setembro; Agamémnon, a 12 Municipal Rivoli, setembro é mês EM GRANDE também há encontros marcados com e de 23 a 27; Electra, a 13 e de 30 de proposta pelo de residência artística da coreó- Cenas que naturalmente não se Os Possessos, Silly Season e Terceira setembro a 4 de outubro. Sempre na novo diretor artístico grafa norte-americana Meg Stuart, pagam, mas também será à borla na Pessoa, três novíssimos projetos, Sala Garrett. Tiago Rodrigues dirige e de The Porto Sessions . A 18, a Sala Garrett, onde vão estrear três que vão apresentar as suas produ- um elenco em que aos atores resi- da Casa de Garrett, estreia da peça É Impossível Viver, peças, com base em três tragé- ções recentes, A Mentira, Panorama dentes João Grosso, José Neves, Lúcia Tiago Rodrigues, um projeto de Ana Luena, a partir dias gregas, Ifigénia, Agamémnon e Primeira Infância: um Fabulário, Maria, Manuel Coelho, Maria Amélia de Franz Kafka, com João Lagarto e Electra, de Eurípedes, Sófocles respetivamente. Matta e Paula Mora junta finalistas da que encena três e Sérgio Praia, no Auditório Isabel e Ésquilo, encenadas pelo próprio Para quem não conseguir entrar Escola Superior de Teatro e Cinema, das novas peças Alves Costa. E a 25, outra estreia, Tiago Rodrigues, e na Sala Estúdio, de graça nesse fim-de-semana, terá e alguns dos que o têm acompanha- Os Observadores de Pássaros, pela

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J 2 a 15 de setembro de 2015 * jornaldeletras.sapo.pt RENTRÉE artes * 23

Palmilha Dentada. No Teatro do seu trabalho. Por outro lado, vai Campo Alegre, haverá mais dança e estar aberto ao público um Centro Palcos Instáveis, com a Companhia de Documentação e Mediateca de Instável/Primeiras Obras. artes performativas e cinema. Com Em Serralves, o destaque vai lugar cativo na programação, Old para a 1ª edição de O Museu como School, com a curadoria de Susana performance, a 19 e 20, um ciclo Pomba e vários artistas convidados, que vai cruzar performance, música a 17 de out. A 22., vai estrear Me e artes visuais. A curadoria é de Siento Guajira, de Joana Barrios, que Cristina Grande, Ricardo Nicolau ficará até 7 de nov. E mais adiante, e Pedro Rocha. Participam nesta em dezembro, Santos e Pecadores, edição inaugural: Anastasia Ax, & de André Murraças. Algumas das Lars Siltberg, Isabel Carvalho, Alex muitas razões para descobrir este Cecchetti, Maria Hassabi, Kovacs/ novo espaço. O’Doherty, Musa Paradisíaca, New No Teatro Maria Matos (TMM), Roveta, Loreto Martinez Troncoso e por seu lado, a rentrée faz-se Vivo. Entretanto, na sala de projetos (muito bem) com Uma Mulher sem do Museu, de 30 de set. a 8 de out., Importância, de Oscar Wilde, pela será exibido o célebre documentário companhia Truta, a estrear a 10. Craneway Event (2009), da artista Com encenação de Joaquim Horta, Tacita Dean, sobre o coreógrafo nor- junta Lia Gama, Maria João Abreu e te-americano Merce Cunningham uma série de atrizes que integraram (1919–2009), um dos nomes projetos anteriores da companhia fundamentais da história da dança de Lisboa, numa reflexão sobre as contemporânea. classes sociais e as representações do feminino que o escritor britânico Uma Mulher sem Importância de Oscar Wilde Uma reflexão sobre as representações do feminino GUIMARÃES, DEZ ANOS DO fez a propósito da sociedade do seu CENTRO VILA FLOR tempo e que continua atual, como Setembro será mês de celebração assinala o encenador (ver caixa). no Centro Cultural Vila Flor, em De 2 a 8 de out., o TMM apresenta Guimarães, que faz dez anos. A abrir, Rimini Protokoll, Europa em Casa, Truta, no Maria Matos a 4 e 5, o tradicional Manta, com dois um espetáculo de casa em casa, em concertos nos jardins: Manel Cruz, 40 domicílios particulares, para Atual e contra a corrente com estação de serviço, e a cantau- refletir sobre a Europa. E o grande tora norte-americana Angel Olsen. acontecimento será por certo a re- Depois da música, a dança e o trospetiva do Projecto Teatral, de 22 teatro, honrando as linhas de força de out a 23 de dez. São 14 espetáculos Os estereótipos e os papéis sociais estão em causa Paula Diogo, Raul Oliveira, Rita Durão e Ruben habituais da programação do CCVF. da companhia, que percorrem quase na peça Uma Mulher sem Importância, de Oscar Tiago. “Gosto de ter grupos de trabalho hetero- A 12, estreia Pântano, de Miguel duas décadas de trabalho. Um ciclo Wilde, um clássico da literatura britânica, que géneos, com percursos e experiências diferentes Moreira, com a Útero, que tem sido em colaboração com a Culturgest, sobe agora à cena no Teatro Maria Matos, numa em que se misturem muitas maneiras de pensar o companhia convidada. Em palco vão onde vão decorrer algumas das produção da Truta. O feminino em palco num teatro”, diz o encenador. “Existe essa diversidade estar Romeu Runa, Catarina Félix e apresentações. texto que, segundo o encenador Joaquim Horta, é neste elenco e isso foi bom para o espetáculo que Francisco Camacho, num espetáculo No Grande Auditório da Culturgest, daqueles que dão ao ator um imenso “prazer”. O estamos a construir”. E recorre à própria peça para de dança que encerra um ciclo de já a 11 e 12 próximos, o palco é da prazer da palavra, da escrita dos diálogos, eivados sublinhar a importância dessa diversificação de cinco anos de trabalho desenvolvi- dança, com La Chance, uma proposta de uma profunda “ironia”, com o escritor a criticar vivências, de não “viver em grupinhos”, como um do em torno da ideia de paisagem de Loïc Touzé. No Pequeno Auditório, a sociedade londrina do seu tempo. “Critica a caminho para uma “sociedade melhor, que aceite e tomando a água e a luz, como a 12 e 13, E se Tudo Fosse Amarelo?, distinção das classes sociais, como os que têm mais as diferenças”. “Às vezes andamos a fazer as coisas elementos dramatúrgicos. Música ao dirigido pela coreógrafa Sílvia Real, poder não se preocupam com o modo como as suas cada um para seu lado e só temos a ganhar quando vivo de Carlos Zíngaro, luz de João numa criação também assinada por decisões podem afetar os outros”, salienta o ence- nos reunimos e partilhamos várias visões“. Garcia Miguel. Bruno Cochat, que implica um grupo nador. “Também aponta a divisão do mundo entre Uma ideia de “encontro” e de “união” porventu- Pantagruel, de François Rabelais, de crianças co-criadoras. E por homens e mulheres e é isso que tentamos explorar ra ao arrepio dos tempos que correm, mas que sem- com estreia a 17, no Jardim do certo um momento alto da rentrée na no espetáculo”. Isto porque “houve uma enorme pre foi orientadora do projeto da Truta, que aposta Centro, é a ‘cereja no topo do bolo’ Culturgest será House of Dance, uma evolução ao longo dos tempos, muitas coisas não também em espetáculos diversificados. “Não procu- do aniversário. Talvez não se cantem peça da dramaturga e encenadora são como eram na época de Wilde, mas apesar de se ramos afirmar-nos nesta ou naquela estética, neste os parabéns, mas haverá um jantar nova-iorquina Tina Satter, a 9, 10 e passarem de maneira diferente hoje, essas divisões ou naquele grupo. Queremos trabalhar com pessoas servido durante a representação. A 11 de out., no Ginásio da CGD (tam- continuam a existir”. diferentes e crescer a fazer teatro”, diz Horta. encenação é de Gonçalo Amorim, bém na Culturgest). Daí que na sua encenação Joaquim horta não A companhia surgiu há uma dúzia de anos em numa produção conjunta do Teatro De destacar ainda, na programa- tenha optado por uma transposição para o mun- Lisboa, funcionando com alguma intermitência, Experimental do Porto e do Teatro ção do TMM, os concertos de Lloyd do contemporâneo. Nem carece, de tal forma a com poucos espetáculos por ano. Neste caso com Oficina, a companhia residente do Cole, a 22, Rodrigo Amado Motion temática permanece “atual”. “Uma Mulher sem um grande elenco, o que a conjuntura pode não CCVF. A interpretação está a cargo Trio & Matthew Shipp, a 1 de out., Importância passa-se em Inglaterra, numa casa de aconselhar, mas esse é o caminho da Truta, “contra de Ivo Alexandre, a cenografia e os e da mítica Vashti Bunyan, a 27 de campo, e no cenário e no guarda-roupa, procurá- a corrente”, e em coletivo, já que não assenta numa figurinos são de Catarina Barros. out., que se apresentará também mos sobretudo que não fossem datados, porque a figura tutelar, mas numa direção artística dividi- Também em estreia absoluta na Culturgest Porto, a 31, enquan- peça tanto podia acontecer no séc. XIX como nos da por quatro: Joaquim Horta, Tónan Quito, Raul Festival, pela Mala Voadora, com to Camané vai estar na Culturgest dias de hoje”, explica. O que acentuou foi justa- Oliveira e Ruben Tiago, todos da mesma turma no encenação de Jorge Andrade, a 26, na Lisboa, a 24 e 25 próximos. mente a “intemporalidade”, mostrando como as Conservatório e que quando acabaram o curso, Fábrica Asa, Black Box. A cenografia questões da divisão, da discriminação de género decidiram fundar a associação. Um projeto que é de José Capela, a interpretação de ABRIR O BAILE NO SÃO LUIZ E são culturais. mantêm juntos, apesar de simultaneamente segui- Anabela Almeida, David Cabecinha, OUTRAS MÚSICAS Também pesou na escolha da peça a intenção de rem outros caminhos teatrais. Jorge Andrade e Maria Ana Filipe. A abrir a nova temporada no Teatro juntar várias atrizes anteriormente convidadas pela Uma Mulher sem Importância, que tem ce- Municipal São Luiz, também em Truta para os seus espetáculos. A interpretação é de nografia de Fernando Ribeiro, figurinos de José GAIVOTAS NO CÉU DE LISBOA Lisboa, Baile vai juntar em palco Cláudia Gaiolas, Joana Bárcia, José Mata, Lia Gama, António Tenente, desenho de luz de Daniel Worm A inaugurar a 6 de outubro, o Rua música, histórias, cinco intérpretes Maria João Abreu, Miguel Damião, Miguel Costa, D’Assumpção, está em cena de 10 a 19 de setembro. das Gaivotas 6 será um novo centro e uma banda. É uma criação das cultural em Lisboa. É o espaço do atrizes Carla Maciel e Sara Carinhas, Teatro Praga, na antiga escola das a que se juntam Ana Brandão, Carla Gaivotas, recuperada com projeto Galvão e a cantora Manuela Azevedo. E baile também haverá, de 2 a mandadora a marcar o compasso e António Mercado, de 17 a 27. O do Atelier Artéria, que irá ter uma A direção musical é de Paulo 4 de out., com Fica no Singelo, da tudo. espetáculo estreou em Coimbra n’O programação permanente de teatro, Furtado, a coreografia de Victor coreógrafa Clara Andermatt, criado No Teatro Estúdio Mário Teatrão, numa co-produção com o performance, leituras, oficinas, Hugo Pontes. Estreia a 9 e fica até 27 com base na música e na dança Viegas, a música será outra, com O Conservatório de Música local. E de exposições, festivais, acolhendo para marcar o compasso da dança no tradicional portuguesa, que acaba Contrabaixo, de Patrick Süskind, 14 a 18 de out. a estreia de Carta a também outras propostas artísticas feminino. É uma co-produção com o justamente com um convite ao pú- um monólogo com o ator António Uma Desconhecida, de Stefan Zweig, e grupos no desenvolvimento do Rivoli/Campo Alegre. blico para entrar na dança. Com uma Fonseca, dramaturgia e enc. de com adaptação, dramaturgia e en-

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cenação de Patrícia André e Sandra Perry, Luísa Cruz, Gracinda Nave, Barata Belo. Marco Delgado, Virgílio Castelo, A 23, na sala principal do São entre outros. Luiz, há mais música, com o pianista A partir de 17, sobe entretanto Filipe Pinto Ribeiro, que dá o tom do à cena, no Teatro do Bairro Alto, equinócio, com o concerto As Quatro Hamlet, de Shakespeare, uma Últimas Estações de Lisboa. Irá inter- co-produção da Cornucópia e da pretar, em estreia mundial, a peça de Companhia de Teatro de Almada, Eurico Carrapatoso que lhe dá nome, que estreou em julho, no Festival de e ainda As Quatro Estações de Buenos Almada. O espetáculo foi cria- Aires, de Astor Piazzolla, numa do a partir de uma tradução de versão para piano especialmente Sophia de Mello Breyner Andresen, criada por Marcelo Nisinman, e As com dramaturgia e enc. de Luís Quatro Estações, de Tchaikovsky. Miguel Cintra, assistente de enc. Verdadeiramente música para todas Rodrigo Francisco. É protagoni- as estações. zado por Guilherme Gomes. Fica E para todos os gostos, já que Em cartaz Hamlet pela Cornucópia e Companhia de Teatro de Almada e Mãe com Açucar do Teatro do Eléctrico na Cornucópia até 18 de Out., pela mesma sala vão passar, a 25, prosseguindo depois a sua carreira Márcia, com o concerto de apre- em Almada, no Teatro Municipal sentação do novo disco, Quarto Joaquim Benite, de 23 de out. a 15 de Crescente, a 26, a galega Uxía, Calderon, encenado por João Brás e Sofia Nicholson, de 30 de set. do Mundo, de Alexej Schipenko, pela novembro. com Meu Canto, e já em outubro Reis, com Lígia Roque, Cristóvão a 4 out. companhia de Teatro de Braga (CTB), No Teatro da Politécnica, os o pianista Filipe Raposo, a 9, com Campos e Joana de Verona. Em Palmela, na Quinta de Vale de a partir de amanhã, 3, e a 4, 5, 8, 9, Artistas Unidos, que amanhã, 3, Inquietude, a 21 a Brigada Victor Barris, O Bando irá estrear a 8 de out. 10 e 11, de novo no Theatro Circo, apresentam Frágil, de David Greig, Jara para celebrar os seus 40 anos, NOVAS CENAS EM VÁRIAS Abstenção, a partir do texto Cruzeiro, depois de ter estreado em julho. A enc. de Jorge Silva Melo, na Escola e a 31, no Jardim de Inverno, Pedro 'FRENTES' de Abel Neves, com dramaturgia, en- interpretação é de António Jorge, Sebastião da Gama, em Setúbal, Caldeira Cabral com a sua guitarra. O Projecto Ruínas também irá cenação e cenografia de João Brites, André Laires, Carlos Feio, Frederico acolhem no seu espaço o Teatro Uns dias antes, a 16 e 17, será a vez apresentar em estreia Impostor, apoio dramatúrgico de Miguel Jesus, Bustorff, Jaime Monsanto, João Mosca, para apresentar um ciclo da dança, com o solo Sem um tu não um espetáculo sobre o pequeno música de Jorge Salgueiro e interpre- Chelo, Rogério Boane, Rui Madeira, dedicado a escritores norte-ame- Pode Haver um eu, de Paulo Ribeiro, poder num pequeno escritório, uma tação de Guilherme Noronha, João Solange Sá e Sílvia Brito, a enc. e ricanos. Começa com Moby Dick, que o coreógrafo criou e interpre- reflexão pertinente sobre o mundo Neca, Juliana Pinho, Raul Atalaia, o espaço cénico do próprio Alexej a partir de Herman Melville, com ta, ‘inspirado’ pelo universo do das relações pessoais e laborais no Rita Brito e Sara de Castro. Schipenko. A Máquina do Mundo vai adaptação de Tiago Patrício, uma cineasta Ingmar Bergman. Quanto rescaldo das férias. Uma criação de E na Comuna, em Lisboa, no dar origem a um documentário, rea- criação de Pedro Mendes e Ruben ao teatro, outubro no S. Luiz trará, Francisco Campos, Mónica Garnel e próximo dia 10, retoma a sua carrei- lizado pela CTB em cooperação com Jacinto, de 3 a 5. Segue-se O Som a 27, Hamlet, pela Mala Voadora, Susana Nunes, de 9 a 12 de setem- ra, suspensa por doença de um dos a produtora alemã Nondual. e a Fúria, de William Faulkner, com encenação de Jorge Andrade, bro, na Ribeira, espaço Primeiros atores, Play Strindberg, de Friederich No Teatro Meridional, na rua do adaptado por Alexandre Sarrazola, a partir de um texto resultante de Sintomas, em Lisboa. Dürrenmatt, uma adaptação de A Açúcar, em Lisboa, de 7 a 27,está em com Ruben Chama, Catarina descrições de quem viu, como era E no Teatro do Bairro, dirigido por Dança da Morte, de Strindberg. João cena António e Maria, com inter- Correia, Filipe Araújo, João Cabral hábito na época, a estreia da peça António Pires, estão programadas Mota encena esta peça, que foi apre- pretação de Maria Rueff. É uma e Margarida Costa, entre outros, de de Shakespeare. A interpretação três peças ainda para setembro. Se sentada pela primeira vez no nosso incursão no universo de António 10 a 12. está a cargo de Anabela Almeida, eu não Fechar os Olhos, com texto e país dirigida por Jorge Listopad na Lobo Antunes, com dramaturgia de O Teatro do Eléctrico hoje, 2, Carla Bolito, Carlos António, David enc. de Miguel Graça e interpretação Casa da Comédia, em 1972, ano da Rui Cardoso Martins e enc. de Miguel leva a Linda-a-Velha, ao Auditório Cabecinha, David Pereira Bastos e de Bruno Ambrósio, Carolina Frias, fundação de A Comuna. Desta feita, Seabra. A cenografia é de Marta Lurdes Norberto, Mãe com Açúcar, João Vicente. Diana Sousa Lara, Diogo Dória, José em cena vão estar Maria do Céu Carreiras, a música de Rui Rebelo. uma criação de Rita Cruz, com Em novembro, no Teatro Mário Condessa, Madalena Almeida e Tiago Guerra, Carlos Paulo e Igor Sampaio. As Raposas, de Lillian Hellmann, Tânia Alves, construído a partir de Viegas, apresentar-se-á, a 19, É Lima, de 23 a 27; Lúcia Afogada, continuam no Teatro Aberto para testemunhos recolhidos num lar Impossível Viver, de Franz Kafka, enc. por Martim Pedroso, com DE VOLTA AOS PALCOS mais uma série de representações, de terceira idade, em Algés, onde a criação de Ana Luena. E a 26, Dalila Carmo e Duarte Grilo, de 4 a Algumas peças, de resto, estão de a partir de 11. Encenada por João recentemente estreou. Vai ficar até no São Luiz, Neva, do dramaturgo 13; e Antes/Depois, texto e enc. de volta ao palco para prosseguirem as Lourenço, tem cenografia de António 10, prosseguindo depois em digres- e encenador chileno Guillermo Lourenço Henriques, com Rui Luís suas carreiras. É o caso de A Máquina Casimiro e interpretação de João são. J Exposições Sam Shaw em Cascais, em início de ‘digressão’ mundial

“Pessoalmente, procuro menos, nada mais do que a mítica vão poder ser vistas no Centro encontrar”, afirmou um dia. fotografia de Marilyn Monroe Cultural de Cascais, a partir de “Encontrar o inesperado, o que com a saia esvoaçante sobre o 11 de setembro. Ao todo, duas está mesmo ao virar da esquina, respiradouro do Metro de Nova centenas, percorrendo os 60 o que está prestes a acontecer”. Iorque. anos de carreira do fotógrafo, Essa foi a “aventura visual”, de Essa é porventura a mais falecido em 1999, que além do Sam Shaw, o célebre fotógrafo famosa fotografia de Sam Shaw, universo de Hollywood, captou Sofia Areal Novas pinturas na Politécnica que fixou com a sua objetiva mas poder-se-ia acrescentar ao ainda o mundo do desporto ou quase todas as estrelas de cinema, icónico álbum a não menos mítica a vida quotidiana, em retrato ou artistas, escritores e intelectuais fotografia de Marlon Brando com fotojornalismo. A retrospetiva, do seu tempo. E só raramente a t-shirt branca rasgada, no filme apresentada no nosso país pela Nova Iorque, no Lower East acessível. Com a sua série How montou uma composição, fez Um Elétrico Chamado Desejo. São Fundação D. Luiz, inicia entre nós Side de Manhattan, começou a America Lives, em que fixou uma encenação, privilegiando essas imagens, e muitas outras, a sua digressão mundial. fotografar, depois de ter tentado os americanos comuns e como em regra a espontaneidade do algumas raramente vistas, que Foi na revista Collier, nos exprimir os seus dotes artísticos viviam, fez-se desde logo notar. retratado. Mas não há regra sem marcaram indelevelmente o anos 40 do século passado, que em esculturas feitas de alcatrão, Como fotojornalista andou pelo exceção. E que exceção. Nada imaginário de gerações que Sam Shaw, nado e criado em o material que lhe era mais interior dos Estados Unidos,

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J 2 a 15 de setembro de 2015 * jornaldeletras.sapo.pt RENTRÉE artes * 25

propostas: por exemplo, ama- ta sociedade dormente-doente) nhã, 3, na Galeria da Abysmo, em na construção desse porto-dese- Lisboa, abre uma exposição de jo”, escreve ainda o curador. “Mas pintura do norte-americano Lewis a verdade é que, como em tudo o Talma , 220 Volts, que fica só até que vale a pena, é fundamental 11. E a 17, inaugura-se no mesmo acordar os vivos para um futuro espaço uma mostra do trabalho de que seja mais do que a mera Luís Afonso, Bartoon 25, com tiras servidão. O desejo é aqui o sinal, e personagens o cartoon que há qual apito, que inicia este novo mais de duas décadas criou para o tempo, dando lugar ao sonho e à jornal Público. Já a 4, inaugura-se vontade de caminhar em sentido também A ONU em Imagens, uma diferente”. mostra na Cordoaria Nacional Entretanto, no Centro de que evoca os 70 anos das Nações Arte Moderna da Fundação Unidas. Gulbenkian, continua a exposição Acabada de abrir ao público, Olhos nos Olhos, o autorretrato anunciando a setembro, inaugu- e o retrato, na coleção do CAM, rou ontem, 1, na Perve Galeria, comissariada por Isabel Carlos, em Alfama, 7x5=1. Trata-se de até 26 de outubro. Tal como na uma equação que junta sete artis- sede da Fundação, a retrospetiva tas de cinco geografias, cujo pro- do pintor António Cruz (ler, sobre duto é “um arquipélago”, uma a primeira, Tema do JL de 22 de arte à escala global. Um “novo julho, e sobre a segunda, JL de 8 arquipélago que começa por ser do mesmo mês), e no Museu os visual, artístico, para almejar livros de artista, meia centena, ser social, comunitário, uno, alguns verdadeiramente raros, de indissociável lar dos povos” como Lourdes Castro. escreve o curador Carlos Cabral No Centro Internacional das Sam Shaw Marilyn Monroe, Alfred Nunes. E ao abrigo dessa “utopia”, Artes José de Guimarães, por Hitchcock, Marlon Brando e Marcel galeria João Esteves de Oliveira, apresentam-se obras de Alex da seu lado, até 26, pode-se ainda Duchamp pela lente do fotógrafo ao Chiado, em Lisboa. Nela se Silva (Cabo Verde) Benavidez descobrir Demasiado pouco, mostram os principais esquissos Bedoya (Argentina), Carlos Tardez demasiado tarde, de Vasco Araújo, do projeto que apresentou (Espanha), Choichi Nishikawa Suites Monumentais e Algumas no concurso para o Átrio do (Japão), Sérgio Santimano Variações, pinturas de José de fazendo reportagens sobre os Alhambra, incluídos num livro (Moçambique), Subodh Kerkar Guimarães. Isto além da mostra músicos de jazz de Nova Orleães, a lançar com todos os desenhos (India) e Rodrigo Bettencourt da permanente, redesenhada no os mineiros de carvão da Virgínia e um texto seu de reflexão sobre Câmara (Portugal). “Claro que final de julho com a integração ou o movimento dos direitos civis a importância do desenho na estes autores são apenas uma da obra de Pedro Valdês Cardoso, no Missouri. arquitetura. parcela ínfima dos que estão hoje Ártico: narrativa e fantasmática. A Nos anos 50 e 60, as suas Mas há mais e diversificadas labutando (nos subterrâneos des- redescobrir. J MARIA LEONOR NUNES fotografias fizeram numerosas capas das revistas Life e Look. Entretanto, no início da década de 50, começara a trabalhar na indústria cinematográfica e em 1961 produziu o seu primeiro filme, Noites de Paris, com Paul Newman e Sidney Poitier. Criou uma imagética própria, um estilo que marcaria não só a fotografia como o cinema da época. Sam Shaw 60 anos de fotografia, que vai estar patente ao público até 8 de novembro, será uma Pessoalmente, das exposições que por certo vai procuro encontrar marcar, com o seu glamour, a “ rentrée. Mas setembro caminhará o inesperado, o que por outras artes. está mesmo ao virar

OUTRAS MOSTRAS, NA da esquina, o que está MUDANÇA DA ESTAÇÃO prestes a acontecer Antes da antológica de Helena Sam Shaw Almeida, O meu Corpo é a Minha Obra, a Minha Obra é o meu Corpo, com meia centena de obras de pintura, desenho, Güreş, Sandi Hilal & Alessandro fotografia e vídeo que pontuam o Petti, Clara Ianni & Débora Maria percurso da artista, a inaugurar da Silva, Voluspa Jarpa, Edward a 16 de outubro, no Museu de Krasiński, Lilian L’Abbate Kelian, Serralves, e que promete ser Ana Lira, Virgínia de Medeiros, um dos acontecimentos da nova Cildo Meireles, Éder Oliveira e temporada, a 2 de outubro, Bruno Pacheco. também em Serralves, será Na mudança da estação, de apresentada uma seleção da 31ª destacar ainda, Que Grande Bienal de São Paulo. É a primeira Pouca-Vergonha (morde com todos vez que a Bienal ‘atravessa’ o os dentes que tens na língua), de Atlântico e no Porto vão poder Sofia Areal, que inaugura a 23, no ser vistas obras de artistas que átrio do Teatro da Politécnica, em estiveram presentes na edição Lisboa. Uma dezena de pinturas de 2014. Entre eles, Juan Pérez inéditas da artista para ver até Agirregoikoa, Yael Bartana, Anna 24 de outubro. E a 17 próximo, a Boghiguian, Johanna Calle, Tony inauguração de uma exposição Chakar, Danica Dakić, Nilbar do arqº Manuel Aires Mateus, na

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J FILMES, MÚSICA jornaldeletras.sapo.pt * 2 de setembro a 0 de mês de 2015 26 * artes

CINEMA O que torna a caracterização da personagem superior é a Manuel Halpern descrença no mal absoluto. Este horrendo ditador é humanizado através da relação terna que estabelece com o neto. Um avô empenhado, capaz de dar a vida O Presidente, pela criança. O homem cruel amacia-se ao longo da fuga de Mohsen Makhmalbaf e à medida que se confunde com o povo. Uma viagem dura e complexa, em que os A fuga do ditador fatores externos influenciam o interior, que chega ao seu cume quando, numa imagem cristã, o presidente lava as feridas dos pés de um ex- prisioneiro político. É aqui Mohsen Makhmalbaf é uma se fica por breves impressões O Presidente O ditador e o seu neto numa poderosa fábula sobre que, talvez ingenuamente, das mais persistentes vozes do curto prazo. Se podemos as Primaveras Árabes Makhmalbaf revela acreditar da luta contra a ditadura identificar Makhmalbaf com na redenção. Como a iraniana. Ele próprio foi preso um dos estropiados que no personagem diz: “Deixem a e torturado pela polícia política final regressam a casa, a sua democracia encarregar-se na sua juventude, com sequelas verdadeira voz será aquela que própria fuga do Presidente tanto imagens poderosas com outras dele”. Até porque, ao exemplo graves sobretudo nos pés, só se levanta contra a vingança faz lembrar Kadafi na Líbia, redundantes. Logo de início, das Primaveras Árabes, o recuperando a marcha após desmiolada e primária, como a surreal escapada de a introdução das personagens mundo da pós-revolução que várias operações. Já no exílio afirmando que violência gera Ceausescu através da Roménia. é forte, no pré-genérico, encontramos com a fuga do manteve-se empenhado na violência. Uma perspetiva Por outro lado, apesar de ser revelando um ditador que presidente repete os caminhos luta contra os excessos do difícil, mas necessária, uma filme denúncia, não é um resiste aos caprichos do neto de violência do anterior: é regime e na denúncia das reforçada pela autoridade de filme que envolva um perigo (numa conversa trivial - não um mundo cruel e indigno, constantes violações dos quem sofreu a ditadura na pele. semelhante aos realizados por lhe deixa comer um gelado), com execuções espontâneas, direitos humanos no país, não Contudo não nos deixemos Jafar Panahi ou Mohammad enquanto assina a condenação à à mercê do banditismo, em só através do seu cinema como confundir. O Presidente Rasoulofd no próprio Irão. E as morte de prisioneiros políticos que não há respeito pela vida também da sua extensa obra não é uma alegoria direta ameaças à vida de Makhmalbaf (incluindo um rapaz de 16 anos). humana. Só travando o ciclo de literária. O contexto pessoal à ditadura iraniana, mas parecem menos intensas com o E avança de seguida, com forte violência é que se pode aspirar ajuda a entender melhor este O antes uma metáfora sobre os recente entendimento entre o capacidade semiótica, para a construção de um país. Que a Presidente, filme de 2014 que só regimes ditatoriais em geral, Irão e os Estados Unidos. uma demonstração de poder: vida imite o cinema. JL agora se estreia em Portugal. Até particularmente os do Médio O Presidente, longe de faz ligar e desligar as luzes da porque a perspicácia do ativista Oriente. Mas não só. Facilmente ser uma obra prima, está cidade (uma brincadeira com o › O PRESIDENTE está numa visão mais global, se encontram possíveis construído num registo de neto), até ao dia em que as luzes de Mohsen Makhmalbaf, com Mikheil inteligente e eficaz que não inspirações noutras ditaduras: a fábula, em que convivem não se voltam a acender. Gomiashvili e Dachi Orvelashvili, 119 min

MÚSICA trabalho, sob a direção do jovem maestro Dinis Sousa, Manuela Paraíso desenvolvido em pouco tempo pela Orquestra XXI na criação e consolidação de uma unidade e um som deverá servir estas obras com uma interpretação Reencontrar Lacerda à altura. O programa está a ser apresentado em 5 concertos (2 de Setembro, às 21h, no Grande Auditório Gulbenkian; no dia seguinte, às 21h30, no Teatro das Figuras, em Faro; e a 4, A temporada da área clássica solista o premiado músico à mesma hora, no Cineteatro da Gulbenkian Música abre Horácio Ferreira (uma das Municipal de Serpa – para a 2 de setembro, uma vez 'Rising Stars' da European além dos já decorridos na Casa mais com a jovem formação Concert Hall Organisation para da Música e em Oliveira do Orquestra XXI, edificada em esta temporada). Bairro). J 2013 como resultado do 1º São escassas as prémio obtido no concurso oportunidades de ouvir “Ideias de Origem Portuguesa” em concerto as obras de Orquestra XXI A música de Francisco Lacerda na Gulbenkian OUTROS DESTAQUES da Fundação Gulbenkian. Na Francisco Lacerda, um dos sua 5ª digressão, a segunda poucos músicos portugueses › 5 de Set, 22h, Av. dos Aliados, deste ano, a orquestra que construíram carreira Porto: Orquestra Sinfónica do constituída por jovens internacional de relevo. importante, de grande beleza de intensa atividade como Porto CdM, dir. Pedro Neves. intérpretes residentes no Nascido nos Açores em e domínio técnico, se bem que maestro antes de, por razões Obras de Joly Braga Santos, Luís de Freitas Branco, Bizet, Falla e estrangeiro cumpre a tradição 1869, foi o primeiro aluno de pouco prolífera e injustamente de saúde, abandonar a carreira Dvořák. Entrada livre. de incluir nos programas música em Portugal a obter negligenciada. As influências internacional) e “Dans le Clair da “rentrée” obras de uma bolsa para Paris, onde do simbolismo e da música de Lune” (não datado) são › 6, 16h30, Igreja Paroquial de Nos- compositores nacionais: os estudou com Charles Widor popular açoriana e portuguesa andamentos lentos nostálgicos sa Sra. do Cabo, Linda-a-Velha: breves poemas sinfónicos e Vincent d’Indy, o qual teve são evidentes na sua produção, em que se combina aspetos V Ciclo de Órgão. Recital por Da- “Almourol” e “Dans le Clair de influência marcante na sua que, a par da de Luís de Freitas contemplativos e telúricos niel Oliveira. Obras de Pedro de Lune”, de Francisco Lacerda, trajetória como chefe de Branco, abriu caminho para e evidenciam um talento Araújo, Bach, Buxtehude, Pablo Bruna e outros. ombreiam com a Sinfonia orquestra. Apesar de ter sido o modernismo na música criador que beneficiou da nº 5 de Tchaikovsky e com a essa faceta do seu trabalho em Portugal. As duas peças imensa experiência enquanto › 15, 21h, Grande Auditório do orquestração por Luciano Berio a colocá-lo no mapa da cena incluídas neste programa da intérprete, a qual, ao mesmo CCB: Orquestra Metropolitana de da 1ª Sonata para Clarinete de musical europeia do primeiro Orquestra XXI, o referencial tempo, não lhe permitiu muito Lisboa, dir. Pedro Amaral. Obras Brahms, que vai ser tocada em quartel do século XX, Lacerda “Almourol” (composto em tempo para se desenvolver de Schumann, Berio e Brahms. estreia nacional, tendo como foi autor de uma obra musical 1926, um dos últimos anos na plenitude. O excelente

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J 2 a 15 de setembro de 2015 * jornaldeletras.sapo.pt EXPOSIÇÕES artes * 27

OLHARES uma Natureza em vias de extinção. É o que sentimos Rocha de Sousa na quadratura que começa, em cima, por uma espécie de simbiose, monstro que pende do céu, o núcleo a lembrar um dos nossos tão sonhados alienígenos, tentáculos em volta ou troncos ou lianas Matilde Marçal - o medo dos medos, uma natureza convulsiva (em baixo) fim de dia ou luz noturna, a infinita transfiguração das Transfigurações e Memórias coisa, imagens do universo sem sentido, vertigem de pequenos nadas que nos assaltam o olhar e não passam de sinais absurdos da memória em memórias. uma mais subtil sagração das memórias, embora pisando NÃO HÁ TEMPO NEM espaços sobrepostos do seu ESPAÇO PARA ACABAR imaginário em movimento, ESTA VIAGEM o olhar (em jeito de câmara) MM terá dito sobre o seu a convidar-nos a subir pelas trabalho que não tinha árvores pujantes, pairando coordenadas muito precisas acima das lamas telúricas, sobre questões de mobilidade tropicais, na aspiração do e mutações. Agora, contudo, céu como limite, horizonte julga-se dona de uma donde não se volta, a floresta linguagem pictórica feita de crispada, molhada e quente ambiguidades entre abstração onde mergulhamos para e representação. Primeiro a decididamente nos perdermos pintura, sempre a nascer e a — outros lugares, afinal, morrer, sob cantatas de um noutro continente pulsante, imaginário que apenas as julga atravessado por gritos musicais sentir atrás dos restos de um e murmúrios aquosos a lembrar mundo onde já não há tempo o fogo de mistura com a água nem espaço para acabar a da chuva tropical, ou caindo longa viagem por desertos e lenta, sem parar, lembrando amazónias em esquecimento. uma bela cena de algum filme O resto é espera de um último de Tarkovsky. olhar da última criança já Nunca MM sa lançou invisível. Curiosamente, parece tão dramaticamente na pintar e o excesso do fim como pintura, desde o que resta de acontece naquele filme em que sereno após o fio romântico os restos da civilização humana das florestas hirsutas, que desaparecem sob imensas se comparam com certos dunas florestais cravadas em Pinturas de Matilde Marçal Lugares desconhecidos lugares africanos. Mas estas tudo o que já existiu e já se talvez não sejam imagens desfez num lugar sem nome, o africanas genuínas, são infinito em volta. outras, porventura de certos "Transfigurações e Matilde Marçal (MM), pintora apresentação dos quadros cenários do hemisfério Norte, Memórias" abrangem que se formou na Escola desta exposição, ocorre-nos memória de tempos lendários, uma imensa galáxia de Superior de Belas Artes de referir encontros semelhantes terras enlameadas, quase metamorfoses, sobretudo Lisboa, trabalhou muito aos citados há pouco, sem bichos, nem mesmo através do apagamento dos no âmbito da redescoberta que passam dos lugares à homens, ou só lenhadores seres humanos como os dos processos plásticos paisagem, da paisagem aos e gente assim, emergindo conhecíamos e da libertação entre a pintura e a gravura, restos de certas vidas, destas, do fundo de pequenas casas mamutiana do que é próprio da seguindo de perto, mas na sua por vezes solitárias, ao lado feitas de madeira. Há uma terra primitiva. Entre passagens obliquidade individual, alguns periférico do mundo urbano ideia de areias endurecidas, podemos ainda recorrer (talvez) aspetos formais de Gil Teixeira cada vez mais hostil às esperas com marcas, sombras de água à memória dos últimos seres Lopes, artista e professor de um equilíbrio verdadeiro evaporada (tal como vemos na humanos mutantes: lembram cuja contribuição para o mas enlaçado na utopia e no pele do catálogo ou no chão da figuras do fantástico, “fora do desenvolvimento da gravura olhar do abismo. obra "Lugares Desconhecidos", tempo”, ao alto ou já jacentes, contemporânea portuguesa foi MM trabalha agora com um cenário sem nome, a Natureza olhados em plongé. O rumor sem dúvida muito importante. imaginário em movimento - desenhada através da cruz, da floresta contraria a morte Mas a sensibilidade feminina algo que o filme publicitando a luz ao centro, em baixo, dos corpos, mas em pintura e memorialista de MM tanto a atual exposição nos ajuda a luz ou cascata, terra à frente, podemos meditar o visível na a fez ousar o contorno de entender, através da perceção e em baixo). Isso não é nem maior das imobilidades, os certas simbologias agrestes do em cada pausa concetualmente de um duplo do sensível”. o paraíso nem o inferno, olhos presos a essa presença colega como desbravar espaços fixada a montante e a jusante Parece assim, segundo LSO, ninguém lá sobrou, (mas nós cujos sinais de fundo pertencem interiores ou lugares exteriores do espaço habitado pelo que Matilde terá escolhido uma suspeitamos das manchas, um às intempéries e ao império do de alguma lembrança magoada, nosso olhar. LSO começa nova ancoragem para cada nova rosto de mulher, figuras hirtas, tempo. certa balada oferecida a entes por aceitar a assombração pintura, afastando-se de uma escuras, pessoas plasmáticas desaparecidos e coisas simples, da paisagem, desta maneira anterior “convenção cultural”. ou fendas ou falsa perceção na › Matilde Marçal num estranho racord dessa muito nova na pintura da distância). TRANSFIGURAÇÕES E gente de outrora e de muitas artista. Neste sentido, MM OUTROS LUGARES NOUTRO Vemos duas peças MEMÓRIAS visitas campestres pela encosta tenderia entretanto ao recurso CONTINENTE assim (uma chamada da aldeia. de sucessivas “ocultações Talvez seja uma tese melancolicamente "Jardum Quando lemos um texto da sua filiação antiga,” cuidadosamente pensada para Botânico"), são cruzes ou, no Centro Cultural de Cascais, até 13 de como o de Luisa Soares sobretudo quando “ancorava salvar a pintora dos seus ritos segundo caso, a sequestro setembro. Das 10h às 18h. Encerra à de Oliveira (LSO), de a representação na construção pretéritos, empolgando-se com das plantas como visão de 2ª feira.

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J DISCOS jornaldeletras.sapo.pt * 2 a 15 de setembro de 2015 28 * artes

CLÁSSICA antes da abertura da Albânia à que há de mais evolutivo no A Europa de Béla Bartók democracia. jazz contemporâneo e seus Algo Papavrami apresenta aliás derivados, improvisados ou uma leitura impressionante, não. Mantendo sempre tudo essencialmente consciente das muitas perspe- ao nível do essencial (no duplo tivas que se cruzam na obra, sentido...). vienense reforçando a elegância das András linhas e o seu aspeto formal, tão › Eve Risser Schiff é um determinante em Bartók e neste DES PAS SUR LA NEIGE dos grandes concerto. O violinista - também Clean Feed, 2015 intérpretes e, o tradutor privilegiado de Ismail BRUNO BÈNARD GUEDES em particular, Kadaré, em França –, antigo um dos grandes discípulo de Pierre Amoyal e de POP intérpretes Viktoria Mullova, já dera provas de Schubert. em gravações anteriores, fosse Márcia Depois da integral para a nas Sonatas e Partitas, de Jo- Decca, que gravou nas décadas hann Sebastian Bach, nas Sona- crescente de 1980/1990, o pianista tem tas de Ysaÿe e nas transcrições Ao terceiro revisitado a obra para piano do que fez de Domenico Scarlatti, disco, Márcia compositor austríaco, e o que era fosse em Brahms, Paganini, concilia a excelente vai mais longe, ganha Saint-Saëns ou Chausson. Há fugacidade dimensão e profundidade. A quatro anos, apresentou um dos melódica de passagem dos anos conta e para O 2.º Concerto para violino de o convés de um navio, a entrar seus melhores discos, cruzando Dá enquanto melhor. Béla Bartók e o Concerto para em Nova Iorque, plausivelmente Bach – as suas próprias trans- apura a O novo disco inclui desde logo orquestra do compositor hún- no início da década de 1940, crições para violino da Fantasia sobriedade essa obra maior, a última sonata garo surgem a par, neste disco reforça o contexto da conceção e Fuga BWV 542 e da Suite BWV nos arranjos de Casulo. Quarto de Schubert – Sonata em si bemol da Filarmónica do Luxemburgo, das obras. Manos evidente – 822 –, com a Sonata para violino Crescente é o álbum crisálida, em maior, D.960 – uma enorme com o seu diretor musical, o mas não menos importante – a solo de Bartók. E tudo fazia que os momentos de luz alternam manifestação de vida, no instante maestro Emmanuel Krivine e própria condição de refugiado sentido. com uma suave melancolia, ao derradeiro, e a Sonata em Sol o violinista de origem albanesa do solista, Tedi Papavrami, Emmanuel Krivine, por mesmo tempo em que a arte maior, D.894, concluída três anos Tedi Papavrami. quando chega a França, com a seu lado, nome recorrente nas de construir canções aparece antes da morte do compositor, A escolha do programa não família, na década de 1980, anos temporadas Gulbenkian de cada vez mais aprumada. São marcada pela liberdade do será um acaso – de um lado, Música (e maestro com quem notáveis os arranjos de Dadi seu primeiro andamento, um o Concerto para Orquestra, Maria João Pires gravou Mozart Carvalho (produtor de Caetano, extraordinário “molto moderato e concebido nos Estados Uni- e Chopin), é determinante no entre outros) sempre discretos, e cantabile”. dos, em 1943, pelo compositor contexto, fazendo da Filarmó- servindo a voz de Márcia, dando- A par das duas grandes obras recém-imigrado, refugiado da nica do Luxemburgo a orquestra lhe espaço para as subtilezas do – das mais perfeitas, em forma violência nazi, na Europa; do ideal para a obra. No Concerto seu canto. O disco começa logo e conceção, como Schumann as outro, o Concerto para violi- para Orquestra, que reinventa a muito bem, com A Insatisfação, definiu –, András Schiff revisita no, estreado pouco antes do sua origem barroca, é também o primeiro single, construído a riqueza das “pequenas” peças início da II Guerra Mundial, Krivine que impõe a magia or- através de felizes harmonias. A de Schubert, como os “Moments em Amesterdão, em março de questral de Bartók. No conjun- letra é bem construída, falando musicaux” D.780, os quatro 1939, quando o humanismo de to, as duas obras são testemu- de um tema relativamente “Impromptus” D.935, a “Melodia Bartók já era de mais para o nhos que surgem intactos, na original. É daquelas canções húngara” D.817 e esse pequeno fascismo na Hungria. São duas › Béla Bartók sua força, no seu contexto, na que se ouvem em repeat (até diamante, o Allegretto D915. obras tardias do compositor. CONCERTO sua atualidade, 70 anos depois nos fartarmos), como acontecia E, de repente, tudo se passa na Não só duas das suas maiores PARA VIOLINO E do final da II Guerra Mundial. com Cabra Cega ou A Pele que essência das obras, no seu âmago, obras, mas também duas das CONCERTO PARA E da morte de Bartók, em Nova Há em Mim. Segue-se outro na sua natureza mais profunda. mais importantes da época. A ORQUESTRA Iorque, em setembro de 1945. dos temas fortes do disco, A Tudo é precisão, delicadeza, fotografia da capa, que sugere Alpha, 60’16” J M. A. G. Urgência. Marcado por uma sensibilidade, tudo é sobriedade, agradável linha de baixo, entre quando se chega tão perto do uma cadência irresistível que nos lugar mais íntimo e secreto de abre as portas do disco. Baixa a cada uma destas peças. história da meio dos mais incomplacentes séculos de erudição musical intensidade em Entre Nós, que Neste regresso à obra para música. Aliás, nevões, escala um cume para tecla, um piano funciona como um sucedâneo piano de Schubert, András de alguma montanhoso ainda mais elevado simultaneamente iconoclasta de A Pele que Há em Mim. A Schiff trabalhou os manuscritos inefável do que aquele que era o ponto de e sem passado, sem dogmas, partir daí o disco envolve- originais, preservados na expressão difícil superação da sua breve epifania criativa puríssima, nos num pop íntimo, com Biblioteca Nacional austríaca, sensorial discografia, o álbum “En corps”, capaz de reinventar tons, capaz ocasionais momentos de euforia. em Viena. E muniu-se de um sugada por publicado em 2012 pelo seu trio de forjar notas expandindo-lhes O disco é enriquecido pelas pianoforte da época, construído um buraco com Benjamin Duboc e Edward as fronteiras da sonância. Tal participações de Crioulo (em por Franz Brodmann, em 1820. negro referencial, passível de Perraud, e imaculadamente como o título insinua, tudo aqui Linha de Ferro), mas sobretudo “O teclado ideal” para Schubert, existir apenas numa galáxia representado em março do são pegadas desbravando novos Vinicius Cantuária, um dos mais diz o pianista, nas notas que revelada consideravelmente ano seguinte num inolvidável trilhos sinestésicos em paisagens notáveis escritores de canções acompanham o CD. “Há algo para lá da música - o foco está recital na Culturgest de Lisboa. enigmáticas, numa tour de force brasileiros da diáspora, em três essencialmente vienense”, algo praticamente todo na cabal "Des pas sur la neige" é a alma solitária e intimista de uma temas: A Urgência, Bem Amargo tão próximo do compositor, no imersão no som, num absoluto isolada e reducionista desse pesquisadora que não cessa de e Sem Igual. Quarto Crescente é “seu timbre, na sua suavidade pianístico rigorosamente disco, um tratado de leituras indagar, provocar, enfatizar um disco de canções pop com aveludada, no seu ‘cantabile’, na inaudito, na exploração radical exponencialmente infinitas o que de mais insondável há ingredientes de luxo. sua melancolia”. Nem mais. de milagres instrumentais sobre as afinidades entre no habitat eletroacústico, ritmicamente espartanos, natureza "biológica" e natureza como se investigando a › Márcia › András Schiff harmonicamente assimétricos, humana, protagonizado por um miríade de matizes de branco QUARTO CRESCENTE FRANZ SCHUBERT e no silêncio como matéria piano quase demasiado sensível inventariados no léxico Warner 2CD ECM New Series 147’03” prima e sustento anímico de no seu esplendor ontológico - inuíte: consegue ser original, MAG toda a narrativa sónica que se todos os pianos são idênticos atonal, espectral, assombrado, vai paulatinamente desvelando. no seu âmago, mas distintos na tétrico, industrial, austero, La chanson JAZZ Tudo acontece no prodigioso elo dinâmica organizacional do seu renitente, tenso, inusitado, de tempo e espaço da relação potencial, e é exatamente isso gracioso, orgânico, elíptico, de Adriana Absoluto pungentemente ficcional e que aqui se ouve: personalidade. especulativo, abstrato, poético, Adriana Queiroz tem formação desafiantemente dramática A personalidade múltipla, quase realista, cerebral, matemático, de bailarina e essa noção pianístico entre um piano e a monumental esquizóide, deste piano e da hipnótico, minimalista, performativa que torna as suas Menos é mais. Outra vez. verve composicional da artista sua mestra, que nos impelem imensamente complexo e livre, interpre-tações tão especiais, Aliás, como poucas vezes foi na sonora Eve Risser, que aqui, pelo a reequacionar mentalmente ou seja, um espelho fosco do mesmo quando o reportório

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é algo tão badalado e tem participado em concertos e discos de gasto como Fandango Jorge Palma, Rodrigo Leão, entre outros, a chanson teve um abrandamento de espetáculos. française. Luís Varatojo aproveitou a interrupção por Como alguém Um acordeão, uma guitarra tempo indefinido d’A Naifa. já disse, é Encontraram-se um destes dias no como se na e um mar de botões Clube Náutico e decidiram levar o projeto sua boca as palavras dançassem. para a frente. Foram trocando ideias E se não nos sentirmos num de sons e de conceitos. “Temos formas bailado enquanto ouvimos de trabalhar diferentes, o Luís parte da este Tempo, temos pelo menos guitarra e depois acrescenta a eletrónica, uma noção teatral de palco, eu parto da eletrónica e acrescento que tão bem encaixa nas O acordeonista do pop-rock português acordeão”, revela Gabriel Gomes. “É essa canções interpretadas. Tudo e um guitarrista de uma banda punk- diferença de métodos que ajuda o disco isto na brilhante companhia de rock convertido à guitarra portuguesa a ter registos tão variados”, admite Luís Filipe Raposo, um dos grandes juntam-se para fazer um inusitado álbum Varatojo. pianistas de jazz português, de eletrónica com elementos acústicos. A E é verdade que ao longo do álbum vão que enriquece de sobremaneira sinopse parece a descrição de um allien. surgindo ideias e conceito diferentes. O os arranjos, perdendo-se e Mas tudo isto é Fandango uma dança a mais ousado talvez seja Toa em que há reencontrando-se com a voz. dois, protagonizada por Gabriel Gomes uma passagem do compasso ternário O reportório foi construído e Luís Varatojo. Apesar da diversão (típico do vira e da música rural), para para concertos ao vivo e só eletrónica, trata-se música portuguesa. o quaternário (usado pela eletrónica e agora é editado em CD. Em “Então, como é que ouviste isto?” pop-rock em geral”. “As pessoas às vezes termos da sua seleção há uma Pergunta Gabriel Gomes, invertendo estranham, mas depois percebem o que certa variedade, mas sem a habitual lógica das entrevistas, estamos a fazer”, conta Gabriel Gomes. fugir demasiado ao óbvio: uma revelando talvez alguma insegurança Nada é deixado ao acaso. O álbum tem predominância de Jacques Brel, em relação à forma como o projeto será seis meses de intenso trabalho que se mas também com espaço para recebido. É natural: Fandango é um disco descobre nos pormenores, pelo que se Leo Ferré, Serge Gainsbourg, experimental, em que Varatojo e Gomes recomendam várias audições. O facto de Boris Vian, Charles Trenet, arriscaram caminhos, mas sem com isso se tratar de música instrumental e por Barbara, entre outros. perder a noção melódica das canções. isso menos vendável não os incomoda. São paisagens sonoras que evocam a “Este era o disco que tínhamos que › Adriana Queiroz, Filipe Raposo portugalidade, apesar de se alicerçarem fazer”, explica Luís Varatojo. O músico TEMPO também em ferramentas universais, que, na silhueta que acompanha o disco, Adriana Queiroz como o sintetizador Moog. No fundo, nada empunha a guitarra portuguesa em de assim tão surpreendente para quem pose punk-rock “Eu normalmente toco conhece bem a carreira de ambos. “Isto é sentado, mas neste disco há momentos Música o que têm feito ao longo do vosso percurso, em que me apetece tocar de pé”. Fica de pegar em elementos de raiz portuguesa qualquer forma consolidado o casamento de outros e levá-los para outros universos”, entre Varatojo e a guitarra portuguesa, Há sempre finalmente respondo. “Não me digas que mesmo bairro (Alvalade), mas fizeram depois de décadas a conviver com o peso um momento achas que isto é música tradicional, porque percursos paralelos tendo raramente se da guitarra elétrica. “Neste momento em que os eu não consigo ver…”, insiste Gabriel cruzado. Gabriel Gomes foi fundador tenho dois amores, a guitarra elétrica e escritores de Gomes. “Eu disse-te que tem qualquer da Sétima Legião e dos Madredeus, e o Moog”. Gabriel Gomes, que já se tinha canções se coisa de tradicional lá", contrapõe Luís colaborador de vários projetos. A solo, recusado a juntar o acordeão a batidas viram para Varatojo. E tem. A guitarra portuguesa, fundou o Projeto OM, em 1999, em que, eletrónicas, por considerá-lo artificial, a música o acordeão e um teledisco (Ritz), em que surpreendentemente, deixou de lado o aqui ganhou coragem e reafirma-se como dos outros, uma jovem bailarina passeia dançando acordeão para se dedicar à eletrónica. acordeonista:” A presença da guitarra revelando referências ou pelos hotspots de Lisboa ao ritmo da música Essa talvez seja a mais valiosa pista para portuguesa faz com que o acordeão não se admirações, é o que acontece de que sai dos headphones. Fandngo também entender a sua chegada ao Fandango. Luís sinta tão sozinho”. Não é contudo, como forma bela e surpreendente neste é isso: o compromisso entre a tradição e Varatojo, por seu lado, fundou os Peste fazem questão de realçar, um álbum de Sing into My Mouth, em que Iron modernidade urbana, algures entre as ruas & Sida, A Linha da Frente e, em 2004, A virtuosos que exibem os seus dotes. “Não & Wine se junta a , de Alfama e os prédios da Expo. Naifa, com João Aguardela, Mitó e Samuel gosto de discos construídos em função da de The , para “Esta é daquela música que se pode Palitos. Após a morte de Aguardela a exibição dos dotes dos instrumentistas”, revelar gostos e contragostos, em ouvir baixinho, no carro, como som de banda continuou, com a entrada de Sandra explica Luís Varatojo. toada acústica, neo-country e, fundo”, afirma Gabriel Gomes. “Ou então Baptista A Naifa, também num seguimento Este exercício de liberdade é por vezes, lo-fi. É o que acontece muito alto”, acrescenta Luís Varatojo, lógico dos projetos anteriores de bastante mais do que isso. Além de logo no tema de abertura, realçando a pulsação do ritmo. Eu nem lhes Aguardela, cruzou o fado com sonoridades um entendimento simples entre dois uma versão em tom baixo de digo que ouvi em volume médio para não elétricas e eletrónicas contemporâneas, compositores marcantes do pop português Native Melody, da fase tardia desiludir ninguém. Diga-se: igualmente em temas simultaneamente pop e é a perscrutação de novos caminhos para dos . Os músicos resulta A proposta de Fandango não se vanguardistas. São esses dois caminhos o acordeão, mas sobretudo para a guitarra revelam uma admoração por enquadra propriamente na categoria de que se cruzam agora de forma quase lógica. portuguesa, abrindo universos, tornando , fora do seu trabalho música de elevador, mas também não terá Só nos perguntamos como não aconteceu este Fandango num projeto único e com os Velvet Underground, grande carreira nas discotecas, embora isto antes. Foi a altura certa. Gabriel Gomes incomparável. dando nova vida a You Know alguns dos temas apelem instintivamente Agora preparam para montar este More Then I Know. Também ao ao movimento do corpo. É uma questão Fandango ao vivo. A festa de apresentação recentemente falecido mestre de seguir a batida e deixarmo-nos ir. “A é já amanhã, dia 3, no Teatro do Bairro, dos JJ Cale, numa arrevesada música de dança também muitas vezes não em Lisboa (consultar facebook da banda versão de Magnolia, com um é especialmente dançável”, diz Varatojo. para receber convite), a que se segue a pedal na voz. Mas vai por outros Claro, dançável é o vira do Minho, o atuação no festival Lisb-On - Jardins caminnhos, talvez ainda menos corridinho algarvio e o resto é conversa. Sonoros, dia 5. Mais à frente, uma esperados, como Straight and “Música para sardinhadas”, sugere Luís, digressão pelo país. O espetáculo inclui Narrow, dos Spiritualized; You realçando sempre que é importante estar uma componente multimédia com VJing Got to Give to Get, da sueca El atento aos pormenores. “Acabam por ser por Edgar Alberto que realizou também Perro del Mar; Bullet Proof Soul, canções, que é aquilo que nós sabemos o teledisco. Para ouvir e dançar sem de Sade Adu, com um arranjo que fazer”, acrescenta Gabriel Gomes, “e o que compromisso, etno-qualquer coisa mas o faz navegar por outras águas. dá gozo é ouvir as pessoas a cantarolar o longe de categorizações, Fandango é urze instrumental”. › Fandango que cresce no topo de um arranha-céus. › Iron and Wine & Ben Bridwell Gabriel Gomes e Luís Varatojo FANDANGO Ou o encontro casual de um acordeão e SING INTO MY MOUTH são duas figuras emblemáticas da Rastilho/ uma guitarra portuguesa a bordo de uma Black Cricket música portuguesa, que vivem no 66 pp, XX euros nave espacial.J MANUEL HALPERN MANUEL HALPERN

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Tribunal de Haia sobre a soberania dos enclaves ocupados, palavras Inédito de Salazar de admissão de que teria para ele sido extremamente penoso que alguma parte da nação houvesse sido perdida sob a sua Cinco encontros com Salazar (II) administração. Procurei em vão encontrá-las nos volumes dos seus Discursos e Notas Políticas, mas pode ser que figurem em jornais Dos ‘pretinhos’ à CEE... do tempo, que não consultei. Se as disse, porventura num, nele muito raro senão mesmo único freudiano lapsus linguae, poderá ter havido um mesmo assim improvável (e isso apenas pela Publicamos na última edição a primeira parte deste texto inédito do diplomata que terminou a sua negligência habitual) cuidado de carreira, já após o 25 de Abril, como embaixador em Londres, e que, como crítico e ensaísta, foi orwellianamente o apagar dos anais históricos. o mais jovem colaborador da famosa revista Presença, com Miguel Torga dirigiu outra, Manifesto, Mas então, a ser assim, isto é, a ter Salazar pronunciado as palavras etc. Sobre a sua personalidade e obra remetemos para aquela edição e para o que a tal respeito J. que com honesta dúvida julgo C. Vasconcelos escreve, salientando que este texto lhe foi dado por Albano Nogueira (1911-2006) poder atribuir-lhe, não revelará a sibilina frase que eu transmiti a quando com ele conversou para a entrevista/perfil que veio a lume noJL 838, de 13/11/2002. O Wellensky a lucidez dum homem diplomata, que antes de o ser chegou a estar três meses preso pela polícia política, foi escolhido de Estado que, consciente dum tempo histórico em fermentação, para 'intérprete' destes encontros do então presidente do Conselho, e ditador, pelo seu perfeito lançava ao seu interlocutor, domínio do inglês - e ao texto cuja publicação agora se conclui deu o título "Anotação marginais entusiasta e otimista quanto ao que estava erguendo na Federação, ao estudo duma personalidade fugidia" uma como que premonição dos ‘ventos de mudança’ que MacMillan, cerca de dois anos Albano Nogueira mais tarde, viria a detetar na metereologia político-social da África Austral? E, ao mesmo tempo, como que o lembrar alto a si mesmo que, nas mutações de que a sua ideia nacional viria a ser uma das vítimas e, entre estas, a que mais haveria de sofrer, ele poderia muito bem estar a entremostrar- se ao seu interlocutor na certeza de que tudo teria de fazer para deter o dilúvio, porventura na esperança que esse dilúvio, a ter Pouco maisp de um mês depois, de vir, viessse - après lui? Há que em 29 de novembro (a julgar não esquecer que de nada do que pelo livro de Franco Nogueira, no sobre Salazar se tem escrito surge a mesmo volume V, página 27), e imagem de que, no fundo do fundo ainda no forte de S. João do Estoril, de si mesmo, ele não fosse - um coube-me ser intérprete da longa homem só. conversa que Salazar teve com o Nas excelentes, embora primeiro-ministro da Federação lamentavelmente demasiado das Rodésias e da Niassalândia, sir breves (escritas como foram Roy Wellensky, um homem por O grupo da Presença Da esqª para a dtª, José Régio, João Gaspar Simões, Albano Nogueira, Fernando Lopes-Graça por alguém que, sobre grandes e Adolfo Casais Monteiro quem Franco Nogueira diz ele ter momentos, tanto poderia revelar), “particular apreço”. "Reminiscências do Portugal Foi, digamos, uma conversa de Ontem", com que abre o seu entre pessoas que se conhecem já o não era graças à vizinhança, (pois que até ali eu não fora mais volume de Correspondência com bem, que politicamente coincidem, à boa vontade e à boa vizinhança do que uma voz intermediária), Salazar, conta Marcello Mathias que pessoalmente se respeitam portuguesa: o pipeline. e então reconhecer-me, pois que um curiosíssimo e intrigante e se estimam. Quase posso dizer Ao terminar fez menção de até identificou a altura em que nos De nada do que sobre episódio que julgo de importância ter-se tratado de um encontro mais levantar-se, Salazar levantou-se, havíamos encontrado. recordar aqui. afetivo: o que haveria de essencial voltámo-nos os três para a porta, A frase de Salazar, que fielmente Salazar se tem escrito Numa altura, diz-nos Marcello a dizer, de politicamente a acertar, Wellensky à frente e eu no meio, reproduzo, pois que dela não mais “ Mathias, em que “se encontrava surge a imagem de que, fora já dito antes. E o que se passou Salazar portanto o último, em fila me esqueci, e que guardei para iminente o ataque da União Indiana só tem interesse, como detonador indiana, quando de trás este me mim e que só muito mais tarde fui no fundo do fundo de si a Goa”, teve ele a imaginativa de elementos que ajudam a penetrar tocou no braço e me disse estas revelando a um ou outro amigo, mesmo, ele não fosse - ideia, que expôs a Salazar na no caráter de Salazar, na parte final. palavras crípticas, provocatórias não sei eu, ainda hoje, nem como presença de Pedro Theotónio Satisfeito com o encontro, otimista ou exploratórias, em qualquer enquadrá-la no seu discurso nem um homem só Pereira, de que se resolvesse esse quanto ao que estava construindo caso espantosas: “Diga-lhe lá que como encaixá-la na sua firme problema - por referendo. Vale a na sua Federação para garantia é mais um brinquedo com que os atuação ulterior. pena ler, ou reler, essas páginas dum futuro que previa grandioso, pretinhos lá ficam para brincar”. Repare-se que isto se passava e das escaramuças fronteiriças no do volume (pp. 89-91), e por isso Wellensky quis terminar o encontro Mal transmiti o recado, perguntou- em fins de 1959, antes do ano seguinte e decorria já todos não entro nos argumentos para com uma girândola brilhante: tudo me: “Que é que ele disse?”; ao que desenvolvimento do processo os anos a questão do colonialismo tal aduzidos, que contemplavam ia bem no seu país, Salisbury, com respondi: “Não disse nada, senhor descolonizador africano em geral, português nas assembleias gerais lucidamente tanto a hipótese de os seus arranha-céus, era uma das presidente”. Ouviu, não ouviu, já distante ainda da não tão cedo das Nações Unidas. ganhá-lo como de perdê-lo; não grandes cidades da África Austral, que nos tinha atrás dele? Não sei. previsível eclosão dos conflitos Julgo ter em tempos lido, mas tínhamos ainda sido admitidos o problema da energia estava Mas sei que de imediato lhe lembrei nos territórios portugueses, sendo não sei onde nem quando, embora nas Nações Unidas, o que se resolvido com o Kariba e o que que tínhamos uns meses antes certo que permanecia latente o admita que fosse com relação ao verificou em dezembro de 1955, podia ser ainda necessário obter, almoçado juntos em New York, problema indiano desde a incursão caso de Goa naqueles dois anos e, partindo da certeza de que a o abastecimento de combustíveis, o que o fez voltar-se e fitar-me dos satiahgrais em Goa, em 1954, consecutivos ou com a sentença do ideia foi sugerida antes dessa data,

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julgo poder situá-la entre fins do Fui ainda uma vez mais servir de o recebesse com toda a urgência. do, depois de, como para qualquer - EFTA - lhe surgiu como primeiro semestre de 54 (foi em 15 intérprete a Salazar, então na resi- Veio logo a seguir e começou por outro país, ter obtido o respetivo alternativa conveniente: nada, de agosto desse ano a penetração dência na Rua da Imprensa, num seu dizer-me que me procurava, não agrément, representante junto das na sua instituição, interferiria dos satiahgrais), e o primeiro encontro com um senador norte-a- porque viesse a tratar de alguma Comunidades Europeias, que tal com a soberania dos Estados, semestre de 55 (foi em 15 de agosto mericano, que tinha sido, por certos questão do meu domínio funcional, era a designação dos embaixadores, estes mantinham irrestrita a sua que se verificaram as escaramuças toques extravagantes do seu vestir mas apenas porque eu era àquela sendo os dos próprios países mem- capacidade de livre e insuperável fronteiriças, nas quais morreram de homem do sul, muito popular, hora o funcionário hierarquicamente bros representantes permanentes. decisão - além de que o facto de cerca de uma dúzia e meia de embora pouco respeitado, mas que mais alto com quem podia entrar Era o nosso primeiro embaixador o principal parceiro ser o Reino indianos). A reação de Salazar, tal estava já na linha descendente da em contacto: não estavam nem o residente, já que o meu antecessor, Unido, nosso principal comprador, como a de Pedro Theotónio Pereira, sua aura. Era um homem ebuliente secretário-geral nem o diretor-geral e até aí único nosso representante, tornar quase imperativa a nossa foi de imediato espanto e surpresa. e emocional, radical nas suas posi- dos Negócios Políticos, além de que acumulava com as funções de repre- participação. Isto para já não O primeiro, no entanto, entendeu ções, que em Portugal se teriam por o ministro estava ausente do país. sentante junto da OECD, e que por falar dos efeitos políticos, ainda aludir à ideia em Conselho de direita extrema e ele exprimia em Vinha assim comunicar-me que isso residia em Paris, que só passivamente atuantes, Ministros desse mesmo dia. No dia torrente de palavreado: aquilo que certo indivíduo se tinha apresentado Quando as três Comunidades, de nos tornarmos parceiros de seguinte referiu a Marcello Mathias por cá temos como o tipo acabado na sua Embaixada a solicitar asilo então ainda diversificadas, foram politicamente tão afastados do o que ali se passara e nos é contado do fala-barato. político e que o seu Governo tinha já criadas (a Comunidade Económica regime português como os três por este do modo seguinte: Quase não deixou falar Salazar e decidido conceder-lho. do Carvão e do Aço - CECA -, escandinavos e a Áustria. «Expus ontem ao Conselho - este encontrou-se na situação de ter Na ausência do ministro, era o em abril de 51; a Comunidade O sucesso da EFTA, e até (é disse-me ele - as suas ideias de ser ele a explorar o que poderia presidente do Conselho que exercia Económica Europeia - CEE -, e a justo dizer-se) a posição que nela sobre a forma de resolver o caso dele esperar-se. E começou a fazer essas funções. Imediatamente tele- Comunidade Europeia de Energia íamos firmando, e para que muito de Goa. Mas dois ministros, dos contribuía o prestígio pessoal que ia mais importantes, levantaram as ganhando o ministro J. G. Correia de maiores objeções ao seu plano. Um Oliveira (este sempre a rodear-se de alegava que isso era contrário a colaboradores técnicos de primeira toda a nossa orientação seguida na água), foi dando tranquilidade a matéria e que era a de uma política Salazar, não apenas, é claro, pelo de força; outro, alegava que era sucesso em si (que para o país era inadmissível tal referência, porque muito), como também porque a aceitá-lo isso significava que esbatia perigos que poderiam ser igualmente o aceitaríamos quanto suscitado pela outra Comunidade. a Angola e Moçambique»”. E a Por todas estas razões, assim terminar, Salazar comentou: «Não muito sucintamente referidas, e perceberam nada»”. por outras menores que não vale a Destaco naturalmente as pena enunciar, Salazar continuava palavras finais: “Não perceberam a mostrar-se relutante a qualquer nada”. passo nosso em direção a Bruxelas e ao Luxemburgo, ainda mesmo na forma não comprometedora mas realista da nossa representação a nível diplomático. Admitira ele, em 1962, que se nomeasse um Salazar a AN, para representante, mas não residente; e acabou por aceder às solicitações das transmitir ao realidades que se nos apresentavam “ e fui então eu nomeado, por ter primeiro-ministro das Rodésias e da ocupado no Ministério as três mais altas posições de área económica, Niassalândia, sobre o por ter participado nas reuniões pipe-line construído ministeriais da EFTA e estar portanto familiarizado com a sua organização por Portugal: “Diga- e o seu funcionamento eficaz - e lhe lá que é mais um também porque, há cinco anos no Ministério, começava a ser brinquedo com que os Salazar em desenho de João Abel Manta imperativa a minha colocação no pretinhos lá ficam para estrangeiro. Alonguei-me um pouco no brincar” que precede, porque o realçar comentários, a esboçar reparos à fonei a dar-lhe conta da diligência. Atómica - EURATOM -, em março tudo isso esclarece a conversa política americana; e quando eu Ouviu, disse algumas palavras de 57, na fase heróica do arranque que então tive com Salazar, ainda Salazar sobre um começava a minha tradução, o naturais e que por isso não retive e, europeu, sob a inspiração pioneira mais uma vez no Forte de S. João opositor que pedira senador, vivaço e buliçoso, logo com calma mas muita veemência, de Adenauer, Gasperri, Schumann, do Estoril, conversa essa em que apreendia o que iria ouvir, não me que foi crescendo de virulência, Martino, Spaak, Halstein, e outros, tudo ficou praticamente dito com asilo político na deixava acabar e logo nos inundava acrescentou: “Pois que fique lá, e, à frente de todos, Jean Monet), a primeira frase que ele me dirigiu. embaixada da com a sua torrente verbal da sua que morra lá, que…” (e aqui juntou Salazar ficou muito apreensivo: - Mal nos tínhamos sentado, em concordância e do seu apoio. Quando uma palavra de fim do mundo, que defensor duma Sociedade de Estados tom de bonomia mas para desde Argentina: 'Pois que se foi embora e fiquei só com Salazar, me abstenho de repetir). Acabou, (e por isso se regozijara quando logo deixar claro o que para ele fique lá, que morra lá, este, vergado ao destempero do ordenando-me que comunicasse as Nações Unidas se organizaram representava a minha missão, mas que…' - e aqui juntou discurso mas não sem se sentir à polícia, o que fiz de seguida. O nessa base), a ideia de que estes, assumindo que eu não esperaria confortado pelo que ouvira, limitou- nome, que na altura me não disse nas Comunidades, se dispunham dele outra coisa, disse-me: “Bem, o uma palavra de fim se a dizer um “pois é, mas lá ninguém nada e não retive, era o de alguém a ver diminuída a soberania de senhor não vai para lá fazer nada”... do mundo, que me o ouve”, - o que não seria só uma conhecido na casa, pois que do cada um parecia-lhe eivada dos E logo encadeou a referência a lamentação por reconhecer tratar-se outro lado do fio me disseram: “Ai, maiores perigos, particularmente um visitante francês que recebera abstenho de repetir duma voz a clamar no deserto mas esse já de lá não sai”. para os pequenos Estados, como era no dia anterior, o qual lhe tinha dito era também a sensação de que, por Veio depois, no fim do verão de o nosso. Isto, para não falar já do uma coisa que em muito confirmara mais certo que fosse o discurso do 1964, o meu último encontro com quadro futuro de inserção dos países as suas preocupações. Dissera-lhe o Salazar a AN quando senador, a este faltaria estatura para o Salazar, - esse de ordem meramen- e territórios ultramarinos, antigas tal francês que a mocidade francesa este foi nomeado defender, quanto mais para o impor. te protocolar e em conformidade colónias e territórios ainda de alguns de hoje já se não bateria pela França, Tempos depois, quando, diretor- com a prática de os embaixadores, países membros, em que a nossa em defesa dela. “Estou muito representante de -geral dos Negócios Económicos e ao partirem para um novo posto, alegada especificidade poderia trazer preocupado. Muito preocupado”. Portugal junto da CEE: Consulares que era, me encontrava apresentarem pessoalmente os dificuldades. Não será preciso lembrar que havia já noite no meu gabinete, comu- seus cumprimentos de despedida Por isso a ideia, de inspiração já conflitos coloniais abertos e que “Bem, o senhor não vai nicaram-me que o encarregado de aos presidentes da República e do inglesa, que levou à Associação nós estávamos enviando para África para lá fazer nada”... negócios da Argentina, me pedia que Conselho. Eu havia sido nomea- Europeia de Comércio Livre grande parte da nossa juventude. JL

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J CRÓNICA, LIVROS jornaldeletras.sapo.pt * 2 a 15 de setembro de 2015 32 * ideias

Os 600 anos de Ceuta Cumpriram-se agora 600 A PAIXÃO GUILHERME D’OLIVEIRA MARTINS anos sobre a expedição e DAS IDEIAS a conquista de Ceuta, que marca o início da expansão portuguesa. Esta nova obra sobre o tema, da autoria de Luís Miguel Duarte, prof. da Faculdade de Letras do Porto, mostra-se consistente e dá uma boa visão crítica do Embaixada a Calígula acontecimento e das várias interpreta- ções que dele têm sido feitas, mormente das suas causas. O autor entende que a efeméride, mais do que para comemorar, é “um excelente pretexto para o evocar, mbaixada a Calígula é considerado na obra de obras de arte, as pessoas, as cidades, os costumes, nada passa indife- “para o repensar, para renovar as per- Agustina Bessa-Luís como um livro de viagens rente nesta reflexão crítica, de uma deambulação espantosa (como diria guntas ao passado, aproveitando algumas (Babel – Guimarães Ed., 2009). Aparentemente Alberto Vaz da Silva) onde o essencial se mistura com a vida. sugeridas pelas sombrias inquietações é-o, mas é muito mais. Trata-se da participação da A referência de Agustina a Fílon e a Calígula é intencional. Ao sair de do presente-futuro” e desse modo tentar escritora numa reunião que pretendia ser mais im- uma das sessões de Lourmarin diz: «A Europa revelava-se-nos duma compreendê-lo melhor. Como? Segundo portante do que foi. Agustina é sempre surpreen- maneira que se nos afigurava irreal, impalpável, algo abjeta na sua me- o editor, pela primeira vez se pretendendo dente. E assim construiu um livro que é a um tempo lancolia e na sua obstinada confissão; no grande sol de julho crepitava “descentrar o olhar de Portugal e procurar o relato de uma viagem e o acompanhamento, a terra, e as cigarras continuavam com o seu canto estrídulo e infatigá- ver este episódio em primeiro lugar a quase romanesco, de uma embaixada encarregada vel». E aqui está a chave da escolha do tema da Embaixada a Calígula. partir de dentro”, “sem fugir ao desafio de de tentar convencer um Imperador romano a assegurar os direitos do Quando a audiência foi concedida, após longa espera, percebeu-se que examinar a empresa pela ótica portu- povo judeu de Alexandria. o Imperador apenas desejava ser adorado como deus. Ridicularizado, guesa, nem à análise do protagonismo ETudo vem a propósito de um convite no âmbito do Congresso para a Fílon tem de retirar-se sem ser ouvido. Também Agustina percebeu que específico do infante D. Henrique”. Liberdade da Cultura, criado em 1950 em Berlim, tendo como presi- havia pouco interesse em ouvir «o excessivo sentimento do quotidiano À margem, de assinalar que este dentes de honra Benedetto Croce, John Dewey, Karl Jaspers, Jacques com que são vistos os problemas do espírito», confessando que «o sen- livro marca o regresso ao ativo da velha Maritain e Bertrand Russell. Estava em causa, no ano em que Agustina tido da mediocridade rege tudo isto». De algum modo, Lourmarin não e respeitada chancela Livros Horizonte, foi a primeira portuguesa a participar (1959), o empenhamento do poe- atingiu os seus objetivos e o que se lhe seguiu confirmou plenamente a com a qual Rogério Moura tantos bons ta Pierre Emmanuel em criar em Espanha uma Comissão que, dentro intuição de Agustina. «Termina o Encontro (…) numa atmosfera desen- títulos editou, mormente sobre História, do espírito do Congresso, contribuísse para freada de exaustão e de tédio». Ironicamente, chancela agora sob a responsabilidade de a democratização, o que obrigaria à ligação relativamente à Embaixada a Calígula, tudo Luciano Patrão. com intelectuais portugueses, para que a ação Agustina Bessa-Luís acabou do modo contrário ao esperável quanto tivesse relevância ibérica. Daí o encontro orga- ao resultado prático: «É então que Calígula é Luís Miguel Duarte nizado no castelo (com fantasmas e maldições) assassinado à saída de um teatro. O Senado CEUTA 1415 - SEISCENTOS de Lourmarin, em Bouches-du-Rhône, de 8 a pretende proclamar a República, mas Agripa, ANOS DEPOIS 12 de julho. que descobre o corpo de Caio e espalha o boato Livros Horizonte, 256 pp., 22 euros O nome de Agustina fora sugerido por de que ele ainda respira, consegue demorar os François Bondy, diretor da revista Preuves, acontecimentos; não contraria abertamente que tivera boas indicações a partir do tradutor os cônsules, mas influencia no sentido de ser alemão de Os Incuráveis. Só mais tarde, graças pedida a adesão de Cláudio aos princípios re- Entrevistas com a António Alçada Baptista e a João Bénard da publicanos, o que é, de certo modo, colocar o Mário Soares Costa, a comissão portuguesa se constitui- Senado numa situação difícil. Quando Cláudio ria. Entretanto, a comissão espanhola seria se resolve a aceitar o título de imperador, está Mais um livro que reúne envolvida em diversas vicissitudes políticas ganha a causa dos judeus». E eis como a vida

entrevistas de Mário Soares, bem típicas da guerra fria e da oposição ao OCHOA RUI política de Fílon tem um final épico, quando no caso quase inteiramente franquismo… E Agustina percebeu que algo não poderia ter sido um rotundo fracasso. sobre a política imedia- funcionava. Uma certa distância de Camilo José Há algo de semelhante em Lourmarin, ta, digamos, dos últimos Cela foi sintoma que levaria ao desinteresse Pierre Emmanuel é o primeiro a reconhecê-lo cinco anos e meio. De deste. Pedro Laín Entralgo presidia à delegação a Agustina: «Eu tive a alegria de a saudar entre facto, todas as conversas espanhola, José Maria Castellet era secretário Pode dizer-se que nós e lamento que a aridez de alguns assuntos são sobre a atualidade, e e Julián Marías, José Luís Aranguren e Luís Embaixada a Calígula, de não lhe tenha permitido abordá-los com a ele- das 11 entrevistas a primeira é de outubro Cano participavam. Dionísio Ridruejo, que não “ vação que desejaria e da qual a sua intervenção de 2009 - quando era chefe de Governo esteve em Lourmarin, estaria no epicentro da Agustina, é hoje um apelo nos deu ideia. Compreendi desde as primei- José Sócrates, o mesmo acontecendo com ação política, e mais tarde Tierno Galván e José para a compreensão das ras palavras que pronunciou no decurso do as duas seguintes, de 2010 - e a última Luís Sampedro incorporar-se-iam… primeiro dia, quais as perspetivas que desejaria de fevereiro de 2015. Note-se que não há Entre 30 de junho e 29 de julho desse ano fragilidades europeias, não abrir, e que eram as boas». E pode dizer-se entrevistas de 2011 e 2012, e que na última de 1959, o casal seguiu um percurso que saiu resolúveis com jogos formais. que Embaixada a Calígula é hoje um apelo para de 2010, ainda o atual primeiro-ministro do Porto, no célebre Volkswagen comprado a compreensão das fragilidades europeias, não era só lider do PSD, o ex Presidente da por Alberto Luís, passando por Ávila, Madrid, 'Não temos de facto liberdade, resolúveis com jogos formais. «Não temos de República considerava-o "uma pessoa Toledo, Aranjuez, Barcelona, Narbonne, Aix- a liberdade criámo-la', diz facto liberdade, a liberdade criamo-la» diz bem intencionada, embora (...) dema- en-Provence, Lourmarin, Les Baux, Antibes, Julian Marias. siado liberal". O título do livro é Mários Monte-Carlo, Milão, Pádua, Veneza, Arezzo, Julian Marias «Não me agrada regressar nem me agra- Soares - O homem que come, bebe e respira Roma, Florença, Nice, Carcassone, Vitória e dou partir». Agustina surpreende-nos da política, e a autora das entrevistas Ana Sá regresso à invicta… Em cada um destes pontos primeira à última linha. Sentimos, com ela, Lopes, jornalista do diário i, onde saíram. encontramos belos motivos para uma leitura a força das paisagens ou dos pormenores dos Ao lê-las agora, apesar do pouco tempo apaixonante. E Calígula, o estranho imperador, que «não era outra coisa hábitos gastronómicos, mas sobretudo a compreensão das conside- decorrido algumas parecem referir-se a senão um homem vulgar», desses «que matam com naturalidade, no rações de Dante ou de Stendhal, ou a pintura de Leonardo da Vinci factos já longínquos, que assim regressam palco onde vocifera uma vezes o bom senso, outras vezes o sentimenta- e a galeria dos Ofícios em Florença. E quando passa a fronteira no à atualidade, e fica-se a saber bem o que lismo da divinização», simboliza no livro o pano de fundo ou a figura- regresso: «É de noite quando Portugal, com o vento dos seus planaltos o talvez mais influente político português ção da Europa e do Ocidente como destino. E «não se pode sonhar mais e maninhos, nos oferece a visão duma pátria onde não circula vivalma pós 25 de Abril deles pensa, e o que pensa tremendo adversário e motivo mais urgente para uma embaixada». sob o céu crivado de estrelas». E fica a pergunta fundamental sobre de Passos Coelho, Cavaco Silva, etc. É Fílon de Alexandria que acompanha os passos de Agustina - «ad- o balanço desta longa peregrinação: «Era ver os tesouros, admirar mirável Fílon, feito companheiro de viagem e que deu sentido a muita as cidades, conhecer as civilizações, o que nós desejávamos? Não, Ana Sá Lopes obscura tristeza minha, a muitas agonias encobertas durante o tempo não era. Eu penso que não. Queria, em vez de vaguear pelas capitais MÁRIOS SOARES - O HOMEM da verificação e de encontro com o Ocidente». Mas numa tão difícil embandeiradas, viver num tempo limpo e sem exasperação, em que QUE COME, BEBE E RESPIRA embaixada vai haver outros companheiros decisivos, que ajudam ao eu pudesse ler os versos de Neruda sem me ocultar dos que têm o co- POLÍTICA espírito crítico: Montaigne, Stendhal, Dante, Savonarola, S. Francisco ração alvo demais: ou que eu pudesse entrar numa igreja sem que me Temas e Debates, 192 pp., 16,60 euros de Assis, artistas, reis, guerreiros. As paisagens, os monumentos, as chamem reacionária»…J

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) J 2 a 15 de setembro de 2015 * jornaldeletras.sapo.pt ESTANTE Ideias * 33

Nuno Severiano Teixeira ECOLOGIA VIRIATO SOROMENHO 'Desfraldar' os símbolos MARQUES

A pergunta Como é que um bocado de pano colorido se transforma numa bandeira? E um canto num hino? E como conseguem das nossas vidas ambos mobilizar tanta gente, tanta força, tanta paixão? Foi esta "curiosidade" e o "fascínio" sobre o 'funcionamento' dos símbolos que levou Nuno Severiano Teixeira a escrever Heróis do Mar. História dos Símbolos Nacionais. Doutorado á uma década atrás (na em História das Relações Internacionais pelo Instituto crónica de Ecologia da edição Universitário Europeu, em Florença, e agregado em Ciência do JL de 20 de julho de Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de 2005) já tínhamos falado da Lisboa, onde é professor catedrático e vice-reitor, é autor de importância de se estudarem obras de história militar, história das relações internacionas, as alterações climáticas neste história da construção europeia e política externa, segurança curto período de 12 mil anos que nos separa e defesa. Foi ministro da Defesa (2006/2009) e ministro da doH início da última era interglaciar (o nosso Administração Interna (2000/2002). Holocénico, que se encontra à beira de ser rebatizado como Antropocénico). Na altura, Jornal de Letras: Refere, na introdução, a ausência de citámos uma importante obra. (Brian Fagan, literatura sobre os símbolos nacionais na historiografia The Long Summer: How Climate Changed contemporânea e nas ciências sociais em Portugal. Essa foi Civilization, 2003). Fagan teve o mérito uma das motivações para escrever este livro? de nos mostrar como é que ao longo dos Nuno Severiano Teixeira: Sim. Existem trabalhos sobre o últimos milhares de anos, pequenas variações hino e a bandeira numa perspetiva tradicional - musicológica climáticas, mas ocorridas de forma abruta, e heráldica, respetivamente -, mas não tínhamos uma provocaram alterações muito sensíveis sobre o interpretação do ponto de vista da história política, sobre a curso da civilização humana. função social e política dos símbolos na construção da nação e Nuno Severiano Teixeira A democracia veio mudar a relação dos Fagan não foi o primeiro a penetrar do Estado-nação em Portugal. portugueses com a bandeira e o hino nacional nos campos da “história ambiental” e, em particular, da paleoclimatologia (o estudo A que se deve a ‘marginalidade’ do tema? dos climas do passado). Mas o sucesso da Não é um fenómeno apenas português, atravessa as ciências sua obra terá encorajado fortemente outros sociais de uma maneira geral. O estudo das nações, interessante que embora os símbolos e o seu significado investigadores. Esse é, certamente, o caso identidades nacionais e dos nacionalismos tem-se dividido, sejam os mesmos, a democracia veio mudar a relação dos de um recente estudo dado à estampa, da essencialmente, em duas abordagens. Uma que defende que portugueses com a bandeira e o hino nacional. responsabilidade de um grupo de cientistas a nação é algo de ancestral, que está para além do fundo da Escola Rosenstiel de Ciências do Mar e histórico. Outra que entende a nação como um fenómeno De que forma? da Atmosfera, da Universidade de Miami. moderno e uma construção política. Nenhuma delas atribuiu Em Portugal, como aliás acontece em muitos países da A equipa tem-se dedicado a reconstituir os grande importância ao papel dos símbolos na construção das Europa do Sul, o nacionalismo é formal. Ou seja, é o Estado padrões climáticos no Crescente Fértil -- o nações. Foi preciso aparecer uma terceira corrente. que o induz na sociedade. A bandeira é desfraldada nos berço das grandes civilizações, que vai do órgãos de soberania, impunhada nas paradas militares, etc. Irão e da Península Arábica, a leste, até às Qual? Sempre numa lógica de ‘cima para baixo’. Enquanto noutros costas orientais do Mediterrâneo e ao Egipto O etnosimbolismo, que considera que há, de facto, uma raiz países, como nos Estados Unidos e em muitos países da setentrional – ao longo dos últimos 13 mil ancestral sobre a qual assenta a nação (a língua, tradições, Europa do Norte, o nacionalismo é informal. Vem ‘debaixo’, anos. Os trabalhos de campo têm-se situado, mitos, uma história partilhada...), mas que é sobre essa base da sociedade civil. O hino ou as bandeiras aparecem essencialmente, no Lago Neor, no noroeste do comum que se dá a construção política moderna da nação e do espontaneamente em festas populares, na casa das pessoas... Irão. Estado-nação. Foi a partir desta linha teórica que começaram Isso não era comum em Portugal. É a democracia que assinala As conclusões provisórias mostram a surgir, nos anos 90 e sobretudo de 2000 para a frente, uma essa grande mudança. a existência de uma compreensível série de estudos sobre o papel dos símbolos na construção dos correspondência, sobretudo nos últimos 5 mil Estados-nações. Essencialmente, das bandeiras, dos hinos e Houve algum momento de viragem? anos, entre os períodos de seca e a instabilidade dos dias nacionais. Acontece já numa fase adiantada da democracia, e é, em política, assinalada, por exemplo, pela queda grande parte, fruto do desporto e da presença de atletas de dinastias, ou mesmo pelo declínio de Centra-se na bandeira e no hino de Portugal. O que explica portugueses em competições de massas. Quer no futebol, civilizações. Em 2004, Jared Diamond já tinha que, passado mais de um século, a 'forma' destes símbolos não quer nos jogos olímpicos. Sobretudo a partir do Euro 2004, trabalhado esse tema na sua obra Colapso, se tenha alterado? há, de facto, uma evolução muito rápida dessa relação. Não com exemplos de outras áreas do planeta, É verdade. Ambos atravessam o século XX e chegam até significa que tenha deixado de existir o nacionalismo formal, mostrando a importância da resposta dada aos aos nossos dias absolutamente intactos. Embora tenham evidentemente. Só que, em paralelo, surgiu o informal. desafios ambientais para a sobrevivência ou o origens diferentes. O hino é uma marcha patriótica, A sociedade civil apropriou-se dos simbolos: as pessoas crepúsculo das civilizações. nascida no clamor do Ultimato, que sofre um processo de começaram a vestir t-shirts e cachecóis com a bandeira, a Para nós, o alerta é duplo. Por um lado, republicanização. Quando se dá a Implantação da República, pô-la nas varandas, nos carros… mostra a fragilidade das construções culturais o hino é assumido de forma natural: a natureza patriótica humanas, sempre dependentes do suporte facilitou a sua legitimidade nacional. Com a bandeira, Os símbolos 'saíram para a rua'? vital dos ecossistemas. Depois, coloca-nos acontece justamente o contrário. Exatamente. A relação dos portugueses com a bandeira e o a interrogação fundamental: se pequenas hino que, até então, era de distância, reverência, solenidade, alterações climáticas bruscas, com impacto Em que sentido? passou a ser de proximidade e apropriação. Como costumo apenas regional, e não se traduzindo em Tem, em primeiro lugar, uma carga simbólica dizer, os símbolos nacionais eram de Portugal, agora mudanças significativas da temperatura fortemente republicana, dada pelo verde e pelo são também dos portugueses. JL CAROLINA FREITAS média global, produziram mudanças quase vermelho, e vai, a partir da República, procurar catastróficas, como será que, embarcados que a sua legitimidade nacional. É apenas no fim da estamos numa mudança climática brusca, República, sobretudo depois da intervenção de global e intensa (com variações da temperatura Portugal na I Guerra, quando as tropas portuguesas média que poderão atingir 3.ºC, ou mais, se batem em África e na Flandres sob a bandeira no final do século), iremos ser capazes de verde e vermeha, que esta ganha também › Nuno Severiano Teixeira organizar uma resposta solidária que evite legitimidade nacional. A partir daí, atravessam HERÓIS DO MAR um colapso global? É a pergunta das nossas os regimes da ditadura militar, do Estado Novo A Esfera dos Livros, 160 pp, 16,50 vidas.J e a democracia sem alterações. Mas é muito euros

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) jornaldeletras.sapo.pt * 2 a 15 de setembro de 2015 J 34 * debate-papo

PROPRIETÁRIA/EDITORA: Medipress Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. NPC 501 919 023 AUTOBIOGRAFIA VALTER HUGO MÃE Rua Calvet de Magalhães, nº 242 - 2770-022 Paço de Arcos Tel.: 214 544 000 - Fax: 214 435 319 email: [email protected] IMAGINÁRIA GERÊNCIA: Francisco Pinto Balsemão, Francisco Maria Balsemão, Pedro Norton, Paulo de Saldanha, José Freire, Luís Marques, Francisco Pedro Balsemão, Martim Avillez Figueiredo, Raul Carvalho Neves COMPOSIÇÃO DO CAPITAL DA ENTIDADE PROPRIETÁRIA: Capital Social €74.748,90; Impresa Publishing, SA - 100% Piano solo JORNAL DE LETRAS, ARTES E J IDEIAS

PUBLISHER: Pedro Camacho oncebi para mim uma solidão DIRETOR: José Carlos de Vasconcelos insanável. Tem que ver com a intensa perceção de um ser que estará sempre

inacabado, despreparado para a REDATORES E COLABORADORES PERMANENTES: Maria Leonor Nunes, plenitude e, de algum modo, para se Manuel Halpern, Luís Ricardo Duarte, Francisca Cunha Rêgo, Carolina Freitas, Afonso Cruz, Agripina Carriço Vieira, António Carlos Cortez, conhecer e ser, enfim, conhecido. Carlos Reis, Daniel Tércio, Eduardo Lourenço, Eduardo Paz Ferreira, Eugénio Lisboa, Fernando Guimarães, Guilherme d’Oliveira Martins, Estaremos todos nesta contingência. Gonçalo M. Tavares, Helder Macedo, Helena Simões, Jacinto Rego Somos um processo que não se define de Almeida, João Ramalho Santos, João Santos, Jorge Listopad, Lídia Jorge, Manuela Paraíso, Maria Emília Brederode Santos, Maria João senão pela ideia de processo em si. Fernandes, Maria Alzira Seixo, Maria Augusta Gonçalves, Miguel Intersetado, assemelhado, por vezes, mas de resultado Real, Ondjaki, Onésimo Teotónio de Almeida, Rocha de Sousa, Tiago Patrício, Valter Hugo Mãe e Viriato Soromenho-Marques invariavelmente único e abreviado, truncado, atabalhoado, OUTROS COLABORADORES: Alexandre Pastor, Álvaro Manuel apenas o possível. Machado, André Pinto, António Cândido Franco, Boaventura C Sousa Santos, Carlos Vaz Marques, Cláudia Galhós, Cristina Robalo Creio que me conforta a solidão que ausculto nas artes. Cordeiro, Gabriel Leite Mota, Gastão Cruz, Inês Pedrosa, João Abel Manta, João Caraça, João Medina, José-Augusto França, José Luís Gosto dos tristes. Não propriamente dos imobilizados, e Peixoto, João de Melo, João Ribeiro, Joaquim Francisco Coelho, José nunca dos apáticos, mas dos honestamente tristes, simples Manuel Mendes, José Sasportes, Lauro Moreira, Leonor Xavier, Luísa Lobão Moniz, Manuel Alegre, Margarida Fonseca Santos, Maria ou exuberantes. Talvez pressinta neles a mesma questão que do Carmo Vieira, Maria Fernanda Abreu, Maria José Rau, Miguel me coloco e que não prevejo responder. Como se me visse Carvalho, Marina Tavares Dias, Mário Avelar, Mário Cláudio, Mário de Carvalho, Mário Soares, Marcello Duarte Mathias, Nuno Júdice, irmanado ou justificado. Ricardo Araújo Pereira, Rui Canário, Rui Mário Gonçalves, Silvina A espaços, disciplino as melancolias. Desde logo, Pereira e Teolinda Gersão uso a casa em modo alegre, tudo é às cores e engraçado, PAGINAÇÃO: Patrícia Pereira SECRETÁRIA: Teresa Rodrigues igual a um barro de Barcelos. Também aproveito o sol, CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO: Gesco celebro muito a luz e quero amigos. Em algumas alturas, ‘O que estes migrantes fazem é valorizar uma Europa que nós, REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS COMERCIAIS: Rua Calvet de fujo das minhas canções favoritas e dos filmes. Preciso inevitavelmente, amamos com crescente ódio’ Magalhães, nº 242, 2770-022 Paço de Arcos - Tel.: 214 698 000 Fax: 214 698 500 - email: [email protected]. Delegação Norte: Rua de não fomentar o abandono nem a ciência do abandono. Conselheiro Costa Braga nº 502 - 4450-102 Matosinhos No entanto, porque - Tel.:22 043 7001 gosto dos tristes e da PUBLICIDADE: Tel.: 214 698 227 - Fax: 214 698 543 (Lisboa) capacidade criativa da solíssimo deste disco a fantasia de me contar as pessoas. A Tel.: 220 437 030 - Fax: 228 347 558 (Porto) tristeza, sou assídua e música passa a ser uma água dentro da minha casa e o alegre Pedro Fernandes (Diretor Comercial) [email protected]; Maria João Costa (Diretora Coordenadora) [email protected], Carlos ternamente capturado barro de Barcelos pode fazer de conta que é a cor das roupas Varão (Diretor), Luís Barata (contacto),Miguel Diniz (contacto); por uma beleza que, à Lembro-me do cidadão molhadas. José António Lopes, [email protected]. Delegação Norte: Ângela Almeida (Diretora Coordenadora) [email protected], Miguel minha sensibilidade, de ouro, aquele que É claro que contemplo a minha casa segura, bonita, e Aroso [email protected] (Contatos); Ilda Ribeiro (Assistente e celebra sobretudo meço a falha da humanidade. Pergunto-me sobre como Coordenadora de Materiais) [email protected] “é recebido com visto PUBLICIDADE ONLINE: [email protected] Tel.: 214 698 970 a solidão. Acontece pode o mar aqui ser de som, derramado a partir de um disco MARKETING: Mónica Balsemão (Diretora), Ana Paula Baltazar devido às obras de arte galante se comprar magnífico, e garantir-me uma tristeza que me protege, (Gestora de Produto) que são como troféus cheia de confortos e hipocrisias. E como pode ser que outras uma casa de 500 mil PRODUÇÃO: Raul das Neves (diretor), Manuel Parreira (assessor da emocionais, coisas de pessoas estejam no oposto de todos os direitos, de todas Direção de Produção), Manuel Fernandes (diretor adjunto), Pedro Guilhermino e Carlos Morais (Produtores) intensificar quem se as dignidades, perdendo a vida pelo sonho simples de não euros em Portugal, e CIRCULAÇÃO E ASSINATURAS: Pedro M. Fernandes (Diretor), José é, talvez sempre para terem de morrer. Pinheiro (Circulação), Helena Matoso (atendimento ao assinante); comparo-o ao pai que Atendimento ao Ponto de Venda: [email protected] Tel.: a utopia de se ser mais Lembro-me do cidadão de ouro, aquele que é recebido 707 200 350, 21 469 8801 (todos os dias úteis, das 9h às 19h) - Fax: 214 nitidamente qualquer chora com a sua filha com visto galante se comprar uma casa de 500 mil euros 698 501 email: [email protected] Aceda a www.assineja.pt coisa, nem que algo em Portugal, e comparo-o ao pai que chora com a sua ENVIO DE PEDIDOS: Medipress - Sociedade Jornalística e Editorial Lda. ao colo. Uma filha que, Remessa Livre 1120 - 2771-960 Paço de Arcos votado à desgraça. Se a filha ao colo. Uma filha que, aos olhos do sistema, não vale aos olhos do sistema, IMPRESSÃO: Lisgráfica - Casal de Sta. Leopoldina - 2745 Queluz de Baixo desgraça nos competir, por uma casa de 500 mil euros e não transforma o seu pai DISTRIBUIÇÃO: VASP - MLP, Media Logistics Park, Quinta do Grajal - acredito que exista uma em ouro. Não sei o que pensar e, sobretudo, o que fazer Venda Seca, 2739-511 Agualva-Cacém - Tel.: 214 337 000 não vale por uma casa Pontos de Venda: [email protected] - Tel.: 808 206 545 ínfima redenção na da revolta. Adoraria ter uma filha minha ao colo e, se a Fax: 808 206 133 cabal consciência disso, de 500 mil euros e não tivesse, não acreditaria nunca que a teria de ver flutuando TIRAGEM: 10 500 exemplares na quase naturalização no ondulado do mar. Todos os homens são do mesmo valor Registo na ERC com o nº 107 766 - Depósito Legal nº 11 745/86 transforma o seu pai Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou dessa evidência. que eu, exceto os homens que carregam uma filha ao colo. ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais Com 15 anos de atraso em ouro Esses são mais importantes porque precisam que o mundo “A Medipress não é responsável pelo conteúdo dos anúncios nem pela chega às minhas mãos, seja irrepreensível para estar à altura de um tão grande exatidão das características e propriedades dos produtos e/ou bens por meio do brilhante amor. anunciados. A respetiva veracidade e conformidade com a realidade, são da integral e exclusiva responsabilidade dos anunciantes e agências ou autor das imagens do encarte, Albuquerque Mendes, a A música irrepreensível de Terry Winter Owens não faz empresas publicitárias”. gravação que o pianista Francisco Monteiro fez de obras de senão elogiar os mortos, mantendo-os mortos. O milagre da Terry Winter Owens, sob o título de Exposed on the Cliffs arte é um depois da perda. Não devolve nada, apenas cria no PORTE PAGO of Heart. Numa semana em que não me saem da cabeça vazio uma ilusão. Por isso que ouvir música é aceitar uma os corpos afogados das crianças que procuraram chegar parte mínima da questão. A parte máxima não aconteceu Ligue já 214 698 801 Dias úteis: 9h às 19h | Sábados: 9h às 17h à Europa, ouço o solo de Francisco Monteiro como corpos na costa larga de Portugal. Os nossos barcos, nossos braços, Vá a www.assinejá.pt assinalados, um a um, em alto mar. Há um afastamento não alcançam. Mas o dilema do que decidir persiste. Assine o ou [email protected] em cada nota, como uma autonomia ou solidão, que parece O que estes migrantes fazem é valorizar uma Europa 1 ano 3 prestações x € 16,99* 30% desconto 2 anos 6 prestações x € 14,56* 40% desconto aludir à impossibilidade de absolutamente reunir. Cada peça que nós, inevitavelmente, amamos com crescente ódio. *Prestações mensais sem juros ,TAEG 0% é um mar de corpos dispersos, vistos com clareza mas sem Perplexos perante o que se passa, ofende-nos que a demasiado se tocarem ou jamais perspetivar tocarem-se. economia decida em cima da nossa cultura, do nosso Ouço música para entender as imagens ininteligíveis coração, declarando a impiedade perante quem solicita a das crianças. Um disco com 15 anos pode explicar-me a oportunidade de continuar vivo. Pelo caminho até aqui, espacialidade espiritual do que acontece agora. Como não é claro hoje, trocamos os amigos pelo medo, trocamos a aguento mais ver as imagens, faço o luto atribuindo ao piano humanidade pelo medo, trocamos o futuro pelo medo.J

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PRETEXTOS Helder Macedo O HOMEM DO LEME Ideologias MANUEL HALPERN Compra-me offline J fim das ideologias? A ideia era essa: capitalismo triunfante, globalização, democratização do Terceiro Mundo nem que fosse à porrada, eterno sossego. azer compras numa loja é algo No Ocidente já democrático, que está completamente fora os eleitores a terem uma ampla de moda. Para quê falar com escolha entre direita assumida e pessoas reais quando se pode ter direita dissimulada. Os bancos a a preciosa ajuda de um algorit- controlarem mesmo quando em descontrole. É certo que mo programado para adivinhar também havia (e há) alguns islamitas furiosos, mas isso todos os nossos interesses? As lojas físicas haveriaO de passar com umas bombitas terapêuticas e os estãoF a perder terreno, todas as estatísticas adequados subornos. o dizem: estima-se que o comércio mun- Vai daí, aparece o Syriza na Grécia, o Podemos em dial online ascenda em 2018 aos 2,5 triliões Espanha e o Scottish National Party (SNP) no Reino Unido de dólares, contra o trilião de 2013. E as a falarem na linguagem antiquada dessa coisa que deixou compras por telemóvel no primeiro trimes- de existir e que se chamava esquerda nos tempos do tre de 2015 ultrapassaram os 10 milhões. Já avozinho. E os jovens a entusiasmarem-se com a novidade. se sabe que as maiores lojas do mundo têm Não sabiam que era possível ser possível imaginarem existência apenas virtual, como é o caso do o futuro. A terem opiniões críticas sobre o presente. A Ebay, uma loja de lojas, que junta na mesma manifestarem-se. A votarem a favor do futuro imaginado. plataforma lojistas e particulares, produtos É certo que sem grande benefício na Grécia e ainda sem se novos e em segunda mão, do Carregado poder prever como vai ser na Espanha (em Portugal, por a Melbourne. No Ebay tanto é possível enquanto, nada de novo na frente ocidental), mas tendo já Jeremy Corbyn trouxe de novo um comprar uma lapiseira como uma avioneta. mudado a dinâmica política no Reino Unido. discurso ideológico para a política Da China compram-se lâmpadas LED por As eleições nacionais britânicas, depois do referendo “ menos de um euro com portes incluídos. sobre a independência da Escócia, marcaram o fim do britânica. E, como tinha acontecido Outro exemplo bem sucedido de loja on- Partido Trabalhista em versão “New Labour”. Que aliás na Escócia, as suas opções socialistas line é a Amazon, a maior livraria do mundo. não era assim tão novo e de trabalhista pouco tinha. O 'antiquadas' acordaram a juventude no Uma estratégia bem pensada que, hoje em programa abertamente socialista do SNP obliterou o Partido dia, ultrapassa largamente o espetro de uma Trabalhista na Escócia e, no resto do país, o eleitorado resto do país para um idealizado futuro livraria, albergando outras lojas e particu- preferiu ao seu capitalimo escondido com o rabo de fora o lares, vendendo de tudo um pouco, desde capitalismo de corpo inteiro do Partido Conservador. Como discos de vinil a pequenos eletrodomésticos. diz o provérbio mais retorcido que conheço, “mal por mal, Uma das estratégias básicas é a pescadinha antes justiça que misericórdia”. número de militantes trabalhistas subiu dramaticamente. de rabo na boca: se gostou deste também Mas o mais interessante é o que está a acontecer Ele a falar calmamente na renacionalização de serviços deve gostar daquele. Uma formatação de agora. O acidental Ed Miliband foi à vida donde nunca públicos como os caminhos de ferro e os correios, em gostos através de paradigmas estudados. Mas deveria ter vindo e está-se em processo de eleger um controlar os banqueiros, em cancelar a renovação do há outros meios mais subliminares, como a novo líder trabalhista. Segundo as regras do partido, submarino nuclear, em fortalecer o Serviço Nacional de publicidade endereçada. Se pesquisou uma uma candidatura tem de ser subscrita (o que não é o Saúde, na equiparação salarial de mulheres e homens, na fritadeira é natural que lhe apareçam ima- mesmo que apoiada) por um número razoável de colegas educação como um investimento nacional, na criação de gens de promoções de fritadeiras na próxima no Parlamento antes de poder ser votada não só pelos empregos como alternativa para a austeridade. No plano vez que entrar no Facebook. deputados trabalhistas mas também (novidade introduzida internacional, diz por exemplo que é necessário garantir O que se perde? Muito, claro está. O pelo dito Miliband) por militantes inscritos no partido. A a existência da Palestina para se garantir a existência de sorriso do vendedor. Aquela conversa meio intenção teria sido democratizar o processo e, sobretudo, Israel. E diz também que, como a invasão do Iraque foi dissimulada de quem nos está a tentar neutralizar os votos dos sindicatos (que aliás tinham lá ilegal (isso toda a gente já sabia, mas ele foi dos poucos que vender qualquer coisa sem darmos conta. O posto este Miliband e não o irmão). Com as segundas e votou contra), os responsáveis (implicitamente Tony Blair e contacto pessoal e a possibilidade expe- terceiras escolhas a contarem se não houver mais de 50% Bush Júnior) deveriam ser julgados. rimentar o produto antes de o comprar. de votos por nenhum candidato. Seja ou não seja eleito líder do Partido Trabalhista, venha Perdem-se também postos de trabalho. E De início, todos os candidatos vieram do mesmo saco ou não venha a ser primeiro-ministro, Jeremy Corbyn há uma inevitável desumanização ou desa- “New Labour”, devidamente subscritos por idênticos trouxe de novo um discurso ideológico para a política prendizagem do homem enquanto animal colegas. Todos eles e elas a debitarem mais ou menos britânica. E, tal como tinha acontecido na Escócia, as suas social. as mesmas sensaborias. Até que apareceu um fantasma opções socialistas “antiquadas” acordaram a juventude no O discurso dominante é o da convivência duma esquerda entretanto defunta a dizer que também resto do país para um idealizado futuro. Os colegas “New e complementaridade das duas platafor- queria ser candidato. Mas não tinha suficientes colegas a Labour” entraram em pânico e atacam-no cada vez mais mas, podendo o consumidor, mediante as subscrever a sua candidatura. E então, ou para se rirem raivosamente. Até já dizem que vão contestar a votação. necessidades e conforme as ocasiões, optar muito ou para fortalecerem as suas própras posições Se ele ganhar, é claro. Os conservadores esfregam as mãos pelo mais apropriado. Mas facto é que há “moderadas”, um número mínimo necessário de colegas contentes por acharem que ele é o rival que lhes convém. cada vez mais lojas a apostar nas vendas na decidiu subscrever a candidatura desse velho socialista Uns e outros a concordarem que, sendo ele o lider, os Internet e não consta que a Amazon preveja de além túmulo, embora desde logo declarando que trabalhistas nunca mais estarão no poder. E se calhar têm abrir livrarias de bairro (a Pixmania, gigante não o apoiavam e que era só para “alargar o debate”. razão. Os jovens de agora, para quem a ideologia socialista da eletrónica, fechou as suas lojas em Lisboa, Pois é, alargaram, e agora tudo indica que esse senhor à moda antiga é uma grande novidade, vão envelhecer e que serviam basicamente como pontos que ninguém sabia quem era vai ser o próximo líder talvez acabem por votar, quando for o tempo de votarem, de recolha). Neste admirável mundo novo trabalhista. Jeremy Corbyn. na indiferença instituída como normalidade política. Mas, aproximamo-nos do dia em que comprar um Vegetariano, barba branca, barriga de velho em corpo se assim for, também tanto faz que o partido que formar produto numa loja se tornará uma extrava- magro, não toca em álcool, anda de bicicleta, veste-se governo se chame Trabalhista ou Conservador. E talvez gância reservada a excêntricos e antiquados. mal, diz tudo o que pensa numa voz comedida, responde que, mal por mal, com Jeremy Corbyn como lider da Talvez o homem chegue então a uma over- claramente às perguntas, não faz ataques pessoais, enche oposição, se entenda um pouco melhor a diferença entre dose tecnológica e só depois sinta saudades e transborda as salas com apoiantes entusiásticos. O justiça e misericórdia.J de si próprio. J

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›Diário‹ que só descobri mais tarde e que 25 de agosto de 2015 * me devolvem o que tu foste, e Adormeci e acordei a pensar que reencontro-te (-me?,-nos?) nessas “April isn’t the cruelest month”, palavras que hoje, tanto anos tal como não “é Setembro o mês depois, já sei de cor: o do LJ, o da II do sangue”, versos a que regres- ou o do ZMS, por exemplo. so sempre em agosto, na noite demasiado longa de 24 para 25, A frase de que mais me lembro imaginando muitas vezes que é a da J.: é preciso deixares- talvez possa enganar a morte, -te enlouquecer um bocadinho. numa espécie de batota em que Escreveu-a no próprio dia ou seria capaz, à força de o desejar, talvez na de fazer desaparecer o dia do Maria Manuel Viana semana seguinte e é a memória calendário, recuando, como num mais vívida que tenho desses dias filme de ficção científica, para em que as imagens desapareceram essa data que ainda hoje não digo quase todas, os rostos indistintos, em voz alta. Sonhei muito, como Oito anos depois as palavras de conforto engolidas habitualmente, imagens confusas pelo silêncio devastador onde me de uns corredores inexistentes murei. Hoje, dói-me essa amnésia, numa escola onde nunca estive, não ter recordações, não saber o nos quais me perco, não conse- que fiz, o que disse, se disse ou se guindo nunca chegar a horas de tu lembrarias). Essa ideia recon- os prós, a outra para os contra; um fiz. Nem consigo imaginar-me ali, dar a aula, porque há sempre mais forta-me e faz-me sorrir, a mim telefonema de alguém que me per- nem ver-me de fora como se fora um labirinto, um pavilhão, longe também. gunta se sou fulana de tal, porque, uma personagem, uma outra pes- do edifício central, construído na Ainda de madrugada, pelas seis “seguramente por engano”, levei soa – não, nada. Só e sempre a véspera e cuja localização desco- da manhã, sento-me e tento orga- da ourivesaria de sicrana uns ócu- mesma sensação, a suspeita de nheço, corro aflita de sala em sala, nizar o meu caderninho, o diário los escuros que não me perten- que estávamos ali, de pé, ao sol, à atravesso aulas de outros colegas que prometi fazer para o JL: releio ciam, eu a responder que não vou porta das Galveias, para um en- que nem me veem, ao longe os as entradas, as frases, as anota- a essa ourivesaria desde o século contro com a eternidade. Como se rostos dos meus alunos a grita- ções, os comentários apontados na passado, que vivo numa outra ci- estivéssemos todos mortos e não o rem-me por aqui professora, mas 5ª, na 6ª, no sábado, no domingo, dade desde essa altura, e a pessoa soubéssemos. o aqui é muito distante, quanto até chegar a hoje, 3ª: o Tsipras do lado de lá a insistir, mas não é mais me esforço mais longínquo demitiu-se, 50 deputados aban- fulana, que foi x e y, mãe de e de, O primeiro presente que te fica, a angústia a suspender-me a donam o Syriza, pobre Grécia, casada com, e eu a articular uns dei foi um ramo de flores – mais respiração e acordo com a cam- pobres de nós que acreditámos sins sins, mas, porém, todavia, tarde, dirias que eu avançara painha que dita a minha falta, não que uma outra Europa era possí- contudo assegurava-lhe que não sobre a alcatifa vermelha como a haverá aula nesse dia, os alunos vel; as sondagens, as legislativas fora eu a ficar com os óculos, já Giulietta Masina num filme cujo acenam-me, até amanhã, pro- que se aproximam, o medo de que sem palavras que a convencessem título esqueceras e que esse filme fessora e de repente tu não estás nada mude no xadrez político, as e a pôr, por momentos, a absurda antecipava as palavras que anteci- para me sossegares e explicares, presidenciais, os pré-candidatos, hipótese de ter feito, num qual- pavam a minha entrada, naque- devagarinho, que foi um pesadelo, uma mulher de quem gosto e a ¶ quer estado de sonambulismo, os la estranha sensação de que as tu sabes que é recorrente, calma, quem declaro, publicamente, 400 kms que nos separam, antes palavras tinham ensaiado já o que calma, já passou. o meu apoio; o True Detective aca- Maria Manuel Viana, de a racionalidade me provar que iria acontecer. Antes, muito tempo Não entendias pesadelos, bou, ficou-me uma sensação de não era sequer temporalmente antes, quase 20 anos antes, man- angústias, enxaquecas e afir- orfandade (o Frank a cambalear 59 anos, escritora, possível; mais uma zanga com a daras-me, pelo correio, após um mavas, rindo, que nunca tiveras no deserto, assombrado por visões tradutora, professora gata que teima em caçar pombas breve encontro, um livro polico- nada disso e a tua permanente e fantasmas, um rasto de sangue do Ensino Secundário, no quintal, comigo aos berros a piado da Duras ainda não publica- boa disposição confirmava-o; a explicar-nos que não haverá chamar-lhe Assassina!, coisa que do em Portugal. A esses intervalos sorrias muito, adormecias quando mais Frank, nem Velcoro, nem durante 35 anos, a deixa indiferente porque lhe de tempo, entre os meus 17 anos querias, cinco ou dez minutos ou Woodrugh); na Figueira da Foz, deve soar a Afonsina, nome com em que nos cruzáramos pela pri- uma noite inteira, rigorosamente A História Secreta que se que foi batizada depois de ter sido meira vez até esse 1983 e, depois, de acordo com o que planearas. eterniza, 200 páginas a mais, e a em Castelo Branco, Afonso durante os meses em que até 2001, darias o nome de pausas Eu invejava essa capacidade que suspeita de já ter lido este livro, há onde foi vereadora da não percebi que era do sexo femi- absurdas nas nossas existências. me parecia mágica, entregares- uns 20 e tal anos, dada a sensação Cultura e coordenadora nino; imagens de verões passados Tal como tu me disseste um dia, -te ao sono tal como te entregavas de déjà lu - são-me familiares, as na Galiza, numa praia cujo nome é em palavras que te recordo, que às tarefas diárias, levantares-te personagens, embora não recorde do Gabinete para a esqueci, do hotel lembro-me, e te imagino, que te faço e refaço à e escreveres a crónica antes do o que lhes irá acontecer -, acabo-o Igualdade, e Lisboa, onde dos degraus até à piscina, e na Foz luz do adormecer. Palavras que pequeno-almoço, ires tomar café amanhã, quero muito começar o vive desde 2002. É autora do Arelho, naquele estranho hotel agora escrevo, e todas as outras logo de manhã com os jornais de Departamento de Especulações; com longos corredores que mais que laboriosamente apontei para onde te surgiam quase sempre as os refugiados que nos entram em de A Paixão de Ana B., ninguém atravessava, e de repente o diário-que-não-chegou-a-sê- ideias para os próximos textos, casa, rostos marcados pela fome, Dupla Vida de Mª João, tu regressas, mergulhas de novo -lo desaparecem, insignificantes, que anotavas num caderninho e o terror, uma réstia de esperança Damas, Ases e Valetes na água a queixares-te do calor destituídas do sentido último e do que ias riscando à medida que as que os mantém vivos, enquanto demasiado, ao mesmo tempo que primeiro, o da memória de ti que utilizavas ou por entretanto terem nós desviamos os olhos e conti- (com Ana Benavente), os sms das pessoas de quem gosta- continuas a sorrir na fotografia perdido interesse. Lias a tarde nuamos a jantar; Lampedusa que O Verão de todos os vas e que gostavam de ti começam eterna em que a tua felicidade é inteira e sublinhavas os livros e deixou de ser Giuseppe Tomasi a chegar: é assim todos os anos e tão palpável como a mão com que fazias comentários à margem – é e passou a quatro sílabas com a silêncios, Teoria dos eu comovo-me sempre. teclo estas letras, neste agosto possível, através dos livros lidos morte lá dentro, tal como as de limites e A geografia do que é, ao contrário do que dizem por ti, reconstituir o itinerário de Gevgelija são declinações de de- mundo Escrevem frases curtas, um os poetas, o mais cruel e o mais uma vida, ideológico, sentimen- sespero, cansaço, calor, fronteira beijo muito grande, estou sempre sangrento dos meses.J tal, literário, filosófico, só pelos para um mundo que acreditam aqui, conta comigo, gosto muito cruzamentos e referências anota- melhor, no “comboio da esperan- de ti, é um dia difícil mas sabes NR - A 25 de agosto de 2007 morreu, com dos. Às vezes, imagino um jovem ça”, e escrever esta última palavra uma viagem que me provoca um que estou contigo, e eu leio-as e 63 anos, Eduardo Prado Coelho (escri- leitor – tu preferirias uma jovem dói-me fisicamente, do mesmo ataque de pânico com suores frios teclo obrigada, eu sei, ele gostaria tor, ensaísta, crítico, prof. universitário, leitora – a percorrer as estantes modo que me atormenta o silêncio e o coração a bater descompas- de saber. Muitos são amigos teus colaborador do JL desde o nº 1), que foi o da biblioteca, a tirar um volume das crianças, a ausência de choro, sado, para ir buscar o meu filho de antes de mim, a M., a P., a II, a companheiro da autora durante anos, até ao acaso, começar a folheá-lo, gritos, soluços; fim-de-semana mais velho que chega por uns dias B., o V., outros contemporâneos à morte decidir sentar-se para continuar com duas amigas e a conversa, sempre demasiado breves; a difícil de nós dois, a J., a AB., a I., outros a ler, e a procurar os outros livros líquida e quase adolescente, até semana do mais novo, angustiado ainda que nem te conheceram, que mencionas, numa espécie de muito tarde; o Google maps que com uma decisão que tem de to- o CS que, pontualmente, me jogo, o solitário argelino talvez, estudo atentamente durante mar e eu a reconhecer-me inteira mensaja da Figueira onde estava em que o autor A leva a B e B a C horas para perceber como se vai na ansiedade dele e na folha onde nesse dia. E a AX, claro. Há textos (Ao Contrário de Penélope, como da Almirante Reis até Sete Rios, desenha duas colunas, uma para que releio, textos lindíssimos

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2 a 15 de setembro 2015 Entrada Livre

Teatro Nacional D. Maria II abre nova temporada a 11 de setembro com três dias de atividades de acesso gratuito

A LMADA C ALDASDA R AINHA E STORIL

Teatro Municipal Joaquim Benite Museu José Malhoa Casino Estoril Av. Prof. Egas Moniz. Tel.: 212 739 360 Parque D. Carlos i. Tel.: 262 831 984 Av. Dr. Stanley ho. Tel.: 214 667 700 5ª A SáB., DAS 19h àS 21h30; DOM., 3ª A DOM., DAS 10h àS 19h T A Noite das Mil Estrelas DAS 15h àS 19h30. EM DiAS DE ESPETáCuLO E Desenho, Pintura, De Filipe la Féria. interpretação A gALERiA ESTá ABERTA A PARTiR DAS 19h Escultura e Cerâmica dos de Alexandra, gonçalo Salgueiro, informações em E Vitapop www.estacaodasorquestras.pt Séculos XIX e XX em Portugal Pedro Bargado, Vanessa, Rui Andrade, Exposição de pintura de pedro Almeida. até 31 de dezembro David Ripado, entre outros. até 11 de outubro E Projeto MatrizMalhoa – 5ªE6ª, 21h30; SáB., àS 17hE21h30; DOM., àS 17h até 31 de outubro C ARNAXIDE Museu.Cidade.Arte A VEIRO até 28 de abril 2016 Auditório Municipal Ruy de Carvalho P Descobrir o Museu É VORA Cordas Românticas Teatro Aveirense Através dos Contos Tradicionais Pela Orquestra de Câmara R. de Belém Pará. Tel.: 234 379 800 Oficinas pedagógicas destinadas a Galeria da Casa de Burgos de Cascais e Oeiras. D XXI Estágio de Dança crianças dos 3 aos 5 anos. Marcação prévia. R. de Burgos, 5. Tel.: 266 769 450 Alexandra Calado – contralto. Direção artística: Vo’ Arte. até 31 de dezembro E A Possível História das Nikolay Lalov - direção. 1 a 5 de setembro Marionetas - Coleção e Obras de Sibelius, Respighi e Dvorák. D Play False C ASCAIS Investigação de Manuel Costa Dias 12 de setembro – 18h Conceito, coreografia e interpretação até 10 de setembro de António Cabrita e São Castro. Centro Cultural de Cascais 5 de setembro – 21h30 Museu de Évora L ISBOA Av. Rei humberto ii de itália. Tel.: 214 848 900 3ª A DOM., DAS 10h àS 18h Lg. Conde de Vila Flor. Tel.: 266 702 604 Museu de Aveiro 3ªADOM., DAS 10h àS 18h E Transfigurações e Memórias Centro Cultural de Belém Av. de Santa Joana. Tel.: 234 423 297 Exposição de artes plásticas de Matilde Marçal. E Coleções de Arqueologia Camerata da Orquestra 3ªADOM., DAS 10h àS 17h30 até 13 de setembro exposição permanente Sinfónica Juvenil E Reservas do Museu de Aveiro E Tesouros do Museu de Programa: A. Vivaldi, As Quatro Estações. até 31 de dezembro Évora - Curiosidade Natural 13 de setembro – 17h C ASTELO B RANCO exposição de longa duração Orquestra Metropolitana Teatro Aveirense E Mestria dos Ourives de Lisboa: Concerto Inaugural R. de Belém Pará. Tel.: 234 379 800 Cine-Teatro Avenida exposição de longa duração da Temporada 2015/2016 M Paulo de Carvalho e Banda Av. gen. humberto Delgado. Tel.: 272 349 560 E Nascido na República. Pedro Amaral – maestro. Amizade - Banda Sinfónica de Aveiro M Capicua 100 Anos do Museu de Évora Obras de R. Schumann, L. Berio, J. Brahms. 13 de setembro – 18h 11 de setembro – 21h30 até 4 de outubro 15 de setembro – 21h E Curiosidades de Museu de Francisco D. Frei Manuel do Cenáculo Fundação Calouste Gulbenkian B ATALHA Tavares Proença Júnior até 31 de dezembro Próximo Futuro: Espírito Radical Lg. Dr. José Lopes Dias. Tel.: 272 344 277 Mosteiro da Batalha Pela Orquestra de Câmara Portuguesa, M Ensemble João Roiz Fundação Eugénio de Almeida sob a direção de Pedro Carneiro. Lg. infante D. henrique. Tel.: 244 765 497 TODOS OS DiAS, DAS 9h àS 18h 12 de setembro – 21h30 Páteo de São Miguel. Tel.: 266 748 300 4 de setembro – 21h30 E O Museu a Haver 5 de setembro – 18h E Lugares de Oração no Mosteiro da Batalha Cine-Teatro Avenida até 6 de setembro até 4 de outubro Av. gen. humberto Delgado. Tel.: 272 349 560 P ORTO T Acredita! 2.0 Torre do Salvador Texto e encenação de David Correia. Tel. (info.): 266 769 450 Avenida dos Aliados B RAGA Produção Companhia VêSeTavias. E Reciclar, Reutilizar, Repensar 12 de setembro – 21h30 Concerto na Avenida Projeto de design Pela Banda Sinfónica Portuguesa. Museu D. Diogo de Sousa contemporâneo de Margarida Valente. 4 de setembro – 21h30 R. dos Bombeiros Voluntários. Tel.: 253 273 706 até 26 de setembro 3ªADOM., DAS 10h àS 17h30 C OIMBRA Primeira Avenida E No Museu Acontece 2014-2015 Pela Orquestra Sinfónica do Porto Casa até setembro Museu da Ciência - Laboratorio Chimico F ARO da Música, sob a direção de Pedro Neves. Lg. Marquês de Pombal. Tel.: 239 85 43 50 5 de setembro – 21h30 E Personagens Exposição de pintura sobre xisto inspirada nas 3ª DOM., DAS 10h àS 18h Teatro das Figuras máscaras e pinturas faciais do mundo, da autoria E Visões. O Interior do Olho Humano horta das Figuras, E. N. 125. Tel.: 289 888 100 S. JOÃODO ESTORIL de Teresa Ricca. até 4 de outubro D Formosa é a Ria 5 de setembro a 5 de outubro Conceção, direção e texto de Auditório Senhora da Boa Nova Museu Nacional de Filipa Rodriguez. interpretação Cordas Românticas Machado de Castro de Filipa Rodriguez e Jeannine Trévidic. RAGANÇA 12 de setembro – 11h e 16h Pela Orq. de Câmara de Cascais e Oeiras. B Lg. Dr. José Rodrigues. Tel.: 239 853 070 3ªADOM., DAS 10h àS 18h Alexandra Calado – contralto. M 5ª Digressão da Orquestra XXI Nikolay Lalov - direção. Centro de Arte Cont. Graça Morais E Escrita Íntima: Cartas e Desenhos Dinis Sousa - direção musical. Obras de Sibelius, Respighi e Dvorák. R. Abílio Beça, 105. Tel.: 273 302 410 Mostra de correspondência trocada horácio Ferreira - clarinete. 3ªADOM., DAS 10h àS 18h30 13 de setembro – 21h entre Arpad Szenes e Vieira da Silva, Obras de F. Lacerda, E Obras da Coleção António Cachola na sua maioria desenhos e cartas íntimas. J. Brahams e P. i. Tchaikovsky. até 6 de setembro até 17 de setembro 3 de setembro – 21h30

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FIGUEIRÓDOS VINHOS E Joaquim Veríssimo Serrão: E Próximo Futuro: Arte E Your Body is My Body - E As Plantas do Tempo dos Dinossáurios horácio Ferreira – clarinete. antepassados, quais os seus hábitos? Vamos uma Vida ao Serviço da História em Rede – Lugares-entre-lugares O Teu Corpo é o Meu Corpo exposição de longa duração obras de lacerda, brahms/berio, Tchaikovsky. conhecer as suas cabeleiras e bigodes e tentar E Allosaurus: um Dinossáurio, 2 de setembro – 21h ser como um deles. no fim, criamos uma Museu e Centro de Artes até 2 de outubro até 19 de novembro até 27 de setembro Dois Continentes M Próximo Futuro: máscara em papel...: um rei do século XV, de Figueiró dos Vinhos E “Onde os Nossos Livros E O Olhar do Colecionador MUDE - Museu do Design e da Moda até 13 de setembro até 31 de dezembro Hang in the Garden uma dama dos século XVIII, um português Av. José malhoa. Tel.: 236 552 195 se Acabam, Ali Começam os Seus...”: R. Augusta, 24 . Tel.: 218 88 6 117 com Kabeção rodrigues. ou um japonês da época dos Descobrimentos… 3ªADom., DAs 10h às 12h30 e DAs 14h às 18h O Japão em Fontes Documentais E Novo Banco Photo 2015 E A Aventura da Terra: 3ª A Dom., DAs 10h às 18h 10 de setembro – 18h30 oficinas para famílias com crianças E Os Caminhos do Naturalismo em dos Séculos XVI e XVII até 11 de outubro Um Planeta em Evolução E Tap Portugal: Imagem de um Povo a partir dos 6 anos. marcação prévia. Figueiró dos Vinhos. Casos e Mistérios até 15 de outubro até 31 de dezembro 2016 até 1 de novembro Museu da Música 20 de setembro até 30 de outubro Museu da Eletricidade Av. Brasília. Central Tejo. Museu Nacional do Azulejo estação do metropolitano alto dos moinhos. Centro Cultural de Belém Museu Nacional do Azulejo Museu de São Roque 3ª A Dom., DAs 10h às 18h r. madre de Deus, 4. Tel.: 218 100 340 r. João de Freitas branco. Tel.: 217 710 990 Pç. do Império. Tel.: 213 612 400 r. madre de Deus, 4. Tel.: 218 100 340 UARDA 2ªA6ª, DAs 8h às 20h; sáB., Lg., Trindade Coelho. Tel.: 213 235 444 E 1915, o Ano do Orpheu 3ªaDom., Das 10h às 18h M Um Músico, Um Mecenas 2015 G P Pintar um Azulejo! Dom. e FeRIADos, DAs 10h às 18h 2ª, DAs 14h às 19h; 3ª A Dom., DAs 10h até 20 de setembro E Azulejaria dos Séculos XV e XVI nuno m. cardoso e Duarte Pereira às 19h (seTemBRo); 2ª, DAs 14h às 18h; oficina de pintura, mediante marcação prévia. Museu da Guarda E Vis-à-Vis: Nuno Cera (2015) E Novos Artistas Fundação EDP 2015 exposição permanente martins interpretam “beethoven e 3ª A Dom., DAs 10h às 12h15 e DAs 13h30 18h até final de setembro R. General Alves Roçadas, 30. Tel.: 271 213 460 até 13 de setembro até 20 de setembro E Venha Conhecer o brahms” no Violoncelo lockey hill E De Roma Para Lisboa: de Guilhermina suggia (1800) e no P Peddy Paper no Museu 3ªADom., DAs 10h às 19h E Posto de Trabalho Maior Padrão do Mundo Um Álbum Para um Rei Magnânimo uma maneira divertida de explorar o museu E Arte Portuguesa dos Culturgest exposição de fotografia de Valter Vinagre. exposição permanente Piano de cauda bechstein (c. 1920). até 25 de outubro e o convento. mediante marcação prévia. R. Arco do Cego, 1. Tel.: 217 905 155 até 20 de setembro 5 de setembro – 18h Séculos XIX e XX: Retrato, E A Arte Interior. Siza Vieira até final de setembro Paisagem, Mobiliário e Escultura E Honey, I Rearranged e o Desenho de Objetos Museu Nacional de Arte Museu Nacional de Arte exposição permanente the Collection... by Artist: Museu do Oriente até 15 de novembro Contemporânea – Museu do Chiado Contemporânea – Museu do Chiado Museu Nacional do Traje E Museu da Guarda: Coleção de Armaria Cartazes da Coleção Lempert Av. Brasília, Doca de Alcântara. Tel.: 213 585 200 R. serpa Pinto, nº 4. Tel: 213 432 148 r. serpa Pinto, nº 4. Tel: 213 432 148 lg. Júlio castilho. Tel.: 217 567 620 até 31 de dezembro (capítulo 1 / 2.ª parte) 3ªADom., DAs 10h às 18h; 6ª, DAs 10h às 12h Museu Nacional do Teatro e da Dança 3ªADom., DAs 10h às 18h P Férias de verão no Parque E Namban – Retrospetiva de Cohen Fusé estrada do lumiar, 10. Tel.: 217 567 410 M Noites de Verão no MNAC - até 13 de setembro E Arte Portuguesa 1850-1975 Botânico do Monteiro-Mor até 27 de setembro 3ªaDom., Das 10h às 18h - Museu do Chiado: Bill Kouligas exposição permanente Destinado a crianças dos G UIMARÃES Fundação Arpad Szènes - Vieira da Silva E Peças de Teatro. As Coleções do Museu 4 de setembro – 19h30 E Hotel Globo de Mónica Miranda 3 aos 9 anos. marcação prévia. Pç. das Amoreiras, 58. Tel: 213 880 044 Museu Nacional de Arqueologia exposição permanente até 27 de setembro até 11 de setembro Centro Internacional 3ª A Dom.. DAs 10h às 18h; enCeRRA 2ª e FeRIADos Pç. do Império. Tel.: 213 620 000 E Tempos de Dança. Evocação Teatro Municipal de S. Luiz das Artes José de Guimarães E A Linha do Espaço E Sousa Lopes 1879-1944. Efeitos de Luz 3ª, DAs 14h às 18h; 4ªADom., DAs 10h às 18h do Estúdio - Escola de Dança r. antónio maria cardoso, 38. Tel.: 2132 57 650 até 8 de novembro Torre de Belém Tel. (info.): 253 424700 até 20 de setembro E O Tempo Resgatado ao Mar Clássica de Anna Mascolo M Baile ªA om às h às h até 6 de setembro Tel.: 213 620 034 3 D ., 10 19 E Echoes on the Wall: Oikonomia: até 30 de setembro criação de carla maciel e sara carinhas. ª a áb às h om às h P Há Piratas na Torre! E Demasiado Pouco, Demasiado Tarde Fundação Calouste Gulbenkian uma Questão de Confiança E Arte Copta e do Oriente Cristã 4 s , 21 ; D ., 17 30 9 a 20 de setembro oficina pedagógica dirigida a crianças mostra de trabalhos de Vasco Araújo. Av. de Berna, 45ª. Tel.: 213 880 044 até 21 de fevereiro 2016 até 6 de setembro Museu Nacional do Traje dos 3 aos 6 anos. marcação prévia. até 27 de setembro 2ª, 4ªADom.., DAs 10h às 18h E Narrativa de uma Coleção - Arte E Quem nos Escreve Desde a Serra lg. Júlio castilho. Tel.: 217 567 620 até 30 de setembro E Suites Monumentais E Próximo Futuro: Casa-Arquivo Portuguesa na Coleção da Secretaria até 27 de setembro 3ª, Das 14h às 18h; 4ªaDom., Das 10h às 18h Culturgest P Uma Aventura na Torre e Algumas Variações no Jardim Gulbenkian de Estado da Cultura (1960-1990) E A I Idade do Ferro no Sul E Sala dos Teares - Técnicas r. arco do cego, 1. Tel.: 217 905 155 Jogo de pistas dirigida a crianças mnAC – RUA CAPeLo P Férias de Verão na Culturgest exposição de pintura de José de Guimarães. até 27 de setembro de Portugal: Epigrafia e Cultura Teatro Nacional D. Maria II de Fiação, Tecelagem e Estampagem até 27 de setembro até 12 de junho 2016 laboratórios de espetáculos em fase criação. dos 6 aos 8 anos. marcação prévia. E António Cruz até 29 de novembro Pç. D. Pedro IV. Tel.: 213 250 800 exposição permanente Destinatários: Dos 6 aos 8 (crianças nascidas até 30 de setembro até 19 de outubro E Rui Toscano 4ªeDom., 30 mIn. anTes Do InícIo Dos E Traje do Século XVIII até 2008) e dos 9 aos 12 anos (crianças P À Descoberta da Torre de Belém Conjunto significativo de novos trabalhos Museu Nacional de Arte Antiga esPeTáculos Da sala GarreTT E Olhos nos Olhos: exposição permanente Jogo de pistas dirigida a crianças L EIRIA em torno da metáfora da contemplação, R. das Janelas Verdes. 213 912 800 nascidas até 2005). marcação prévia. O Retrato na Coleção do CAM E A Coleção de E Trajes dos Séculos dos 6 aos 13 anos. marcação prévia. da imagem tecnológica e dos seus dispositivos 3ªADom., DAs 10h às 18h até 4 de setembro até 19 de outubro Partituras do TNDMII XIX e XX (1800-2000) Teatro José Lúcio da Silva de investigação visual, prometendo ainda uma até 30 de setembro E X de Charrua E Josefa de Óbidos e a 11 de setembro a 31 de dezembro exposição permanente Av. heróis de Angola. Tel.: 244 834 117 experiência ambiguamente traduzida entre a sua Invenção do Barroco Português Mosteiro de Jerónimos P Enigma da Torre até 26 de outubro T Entrada Livre E Instalação da Artista Christina Vilas-Bôas Jogo de pistas dirigida a crianças D Sem Um Tu Não Pode Haver Um Eu dimensão estética e o sublime que em nós exerce até 6 de setembro Praça do Império. Tel.: 213 620 034 E Tensão e Liberdade. no fim de semana que marca a abertura até 13 de setembro Coreografia e interpretação de Paulo Ribeiro. o conhecimento produzido sobre o cosmos. P Animais do Rei dos 6 aos 13 anos. marcação prévia. E Obra Convidada: da temporada, o TnDm II realiza o 11 de setembro – 21h30 Tensión y Libertad. 10 de setembro a 15 de novembro E Coleção Anadia | Traje e Acessórios oficina pedagógica dirigida a crianças até 30 de setembro Adão e Eva, de Jan Gossaert evento Entrada Livre, onde o público Tension and Freedom até final de setembro dos 3 aos 6 anos. marcação prévia. até 6 de setembro terá acesso gratuito as inúmeras atividades. até 26 de outubro Museu Coleção Berardo até 30 de setembro Centro Cultural de Belém ISBOA E MNAA_Olhares Contemporâneos: são cinco espetáculos em estreia mundial L E Fantin Latour e CCB. Pç. Do Império. Tel.: 213 612 878 Palácio Nacional da Ajuda P Brincando no Mosteiro Pç. do Império. Tel.: 213 612 400 Residência Fundação EDP no MNAA nas duas salas do teatro e no espaço Manuel Botelho: Meeting Point 3ªADom., DAs 10h às 19h lg. da ajuda. Tel.: 213 620264 oficina pedagógica dirigida a crianças T Salvador Martinha: até 20 de setembro público à volta do edifício, assim como Teatro Carlos Alberto até 26 de outubro E Museu Coleção Berardo E Ricordo di Venezia. Vidros de dos 3 aos 6 anos. marcação prévia. Na Ponta da Língua R. das oliveiras, 43. 223 401 900 E Aqua: Faianças da Coleção do MNAA teatro para a infância, debates com E Todos os Livros 1900-1960 / 1960-2010 Murano da Casa Real Portuguesa até 30 de setembro Pequeno auDITórIo até 27 de setembro grandes personalidades da vida pública D MEXE – Encontro Internacional até 26 de outubro exposição de longa duração até 20 de novembro P Explorando o Mosteiro 12 de setembro – 21h de Arte e Comunidade: Dez Mil Seres E Luca Cambiaso e o portuguesa, exposições no interior do teatro, músicos e DJs na varanda do Jogo de pistas dirigida a crianças Coreografia de Clara Andermatt. seu Círculo. Desenhos Teatro Nacional D. Maria II Fundação Calouste Gulbenkian largo de s. Domingos, a primeira edição dos 6 aos 13 anos. marcação prévia. 9 de setembro – 21h até 18 de outubro Pç. D. Pedro IV. Tel.: 213 250 800 av. de berna, 45ª. Tel.: 213 880 044 da Feira do livro de Teatro organizada até 30 de setembro E A Coleção de Partituras do TNDM II P Mistérios da Pedra T Próximo Futuro: Fundação Calouste Gulbenkian Museu Nacional de Etnologia pela livraria do TnDm II na Praça do rossio, leituras públicas em diversos 11 de setembro a 31 de dezembro Jogo de pistas dirigida a crianças Vou Lá Visitar Pastores Av. de Berna, 45ª. Tel.: 213 880 044 Av. Ilha da madeira. Tel.: 213 041 160 espaços, lançamentos de livros e uma dos 6 aos 13 anos. marcação prévia. encenação de manuel Wiborg. A Próximo Futuro: Ciclo de Cinema 3ª, DAs 14h às 18h, 4ªADom., DAs 10h às 18h anFITeaTro ao ar lIVre grande homenagem à atriz eunice muñoz. Centro Cultural de Belém até 30 de setembro 4 a 11 de setembro E O Museu, Muitas Coisas 6, 7 e 8 de setembro – 21h30 11, 12 e 13 de setembro Pç. do Império. Tel.: 213 612 400 P Aventura no Mosteiro exposição permanente T Ifigénia, Agamémnon, Electra M Harmonie Prince Guillaume Jogo de pistas dirigida a crianças T Próximo Futuro: Arquivo Nacional Torre do Tombo E 10 Anos Depois: Objetos de Outros Pequeno auDITórIo Texto e encenação de Tiago rodrigues. dos 6 aos 8 anos. marcação prévia. Chiflón, El Silencio Del Carbón Al. da Universidade. Tel.: 217 811 500 Lugares. Doação Francisco Capelo Interpretação de ana água, ana Tang, 2 de setembro – 21h até 30 de setembro Teatro de marionetas pela 2ªA6ª, DAs 9h30 às 19h30; sáB., DAs 9h30 às 12h30 até 31 de outubro ana Valente, Flávia Gusmão, Isabel M João Hasselberg: Truth companhia silencio blanco. E Pena de Morte: da E Artes de Pesca: Pescadores, abreu, João Grosso, entre outros. Has To Be Given In Riddles Museu Nacional de Arte Antiga 9, 10 e 11 de setembro – 20h30 Justiça Punitiva à Justiça Corretiva Práticas, Objetos Instáveis coprodução TnDm II, Teatro Viriato. 5 de setembro – 21h r. das Janelas Verdes. 213 912 800 12 e 13 de setembro – 16h até 19 de setembro até 31 de outubro 4ª, às 19h; 5ªasáb., às 21h; Dom., às 16h M La liberazione di P Entre a Palavra e a Imagem: O Barroco. T Próximo Futuro: E Cartulários na Europa 11 de setembro a 4 de outubro Ruggiero dall’isola d’Alcina em relação com a exposição “Josefa de óbidos A Circularidade do Quadrado Medieval: Textos e Contextos Museu Nacional de T Colecção de Amantes Pelo huelgas ensemble, e a Invenção do barroco Português”, um encenação de Dimitris Karantzas. até 19 de setembro História Natural e da Ciência conceito e direção de raquel andré. ensemble officium e ludovice ensemble. percurso pela exposição permanente e a 14 e 15 de setembro – 21h R. da escola Politécnica, 56/58. Tel.: 213 9121 800 criação e espaço cénico de raquel Paul Van nevel - direção musical. capela das albertas dando a ver obras do Biblioteca Nacional de Portugal 3ªA6ª, DAs 10h às 17h; sáB. e Dom., DAs 11h às 18h andré e bernardo de almeida. 13 de setembro – 17h barroco português e europeu. marcação prévia. Maria Matos Teatro Municipal Campo Grande, 83. Tel.: 217 982 000 E Adaptações Botânicas Interpretação de raquel andré. 6 de setembro av. Frei miguel contreiras, 52. Tel.: 218 438 800 E Os Dois Últimos exposição de longa duração 4ª, às 19h30; 5ªasáb., Fundação Calouste Gulbenkian P Quem Sou Eu no Museu? T Uma Mulher sem Importância Grandes Publicistas: E Memória da Politécnica: Quatro às 21h30; Dom., às 16h av. de berna, 45ª. Tel.: 213 880 044 Vamos fazer uma viagem no tempo Produção Truta. 11 a 20 de setembro Sampaio Bruno e França Borges Museu D. Diogo de Sousa, em Braga Séculos de Educação, Ciência e Cultura M Orquestra XXI e perceber como se vivia antigamente. semana e sáb., às 21h30; Dom., às 18h30 até 11 de setembro exposição de longa duração Dinis sousa – maestro. como se vestiam e penteavam os nossos 10 a 19 de setembro (exceto 14 e 15)

© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1427333 - [email protected] - 172.17.21.101 (06-08-18 21:15) 0018_2015_agenda_cultural_MC_JL_1172_Agenda Cultural MC JL 29-07-2015 18:18 Página 2 0018_2015_agenda_cultural_MC_JL_1172_Agenda Cultural MC JL 29-07-2015 18:18 Página 3

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| Agenda Cultural | | Agenda Cultural | A audiovisual » C colóquios / conferências » D dança » E exposições » M música » MD multidisciplinares » NC novo circo » P pedagogia » T teatro A audiovisual » C colóquios / conferências » D dança » E exposições » M música » MD multidisciplinares » NC novo circo » P pedagogia » T teatro

FIGUEIRÓDOS VINHOS E Joaquim Veríssimo Serrão: E Próximo Futuro: Arte E Your Body is My Body - E As Plantas do Tempo dos Dinossáurios horácio Ferreira – clarinete. antepassados, quais os seus hábitos? Vamos uma Vida ao Serviço da História em Rede – Lugares-entre-lugares O Teu Corpo é o Meu Corpo exposição de longa duração obras de lacerda, brahms/berio, Tchaikovsky. conhecer as suas cabeleiras e bigodes e tentar E Allosaurus: um Dinossáurio, 2 de setembro – 21h ser como um deles. no fim, criamos uma Museu e Centro de Artes até 2 de outubro até 19 de novembro até 27 de setembro Dois Continentes M Próximo Futuro: máscara em papel...: um rei do século XV, de Figueiró dos Vinhos E “Onde os Nossos Livros E O Olhar do Colecionador MUDE - Museu do Design e da Moda até 13 de setembro até 31 de dezembro Hang in the Garden uma dama dos século XVIII, um português Av. José malhoa. Tel.: 236 552 195 se Acabam, Ali Começam os Seus...”: R. Augusta, 24 . Tel.: 218 88 6 117 com Kabeção rodrigues. ou um japonês da época dos Descobrimentos… 3ªADom., DAs 10h às 12h30 e DAs 14h às 18h O Japão em Fontes Documentais E Novo Banco Photo 2015 E A Aventura da Terra: 3ª A Dom., DAs 10h às 18h 10 de setembro – 18h30 oficinas para famílias com crianças E Os Caminhos do Naturalismo em dos Séculos XVI e XVII até 11 de outubro Um Planeta em Evolução E Tap Portugal: Imagem de um Povo a partir dos 6 anos. marcação prévia. Figueiró dos Vinhos. Casos e Mistérios até 15 de outubro até 31 de dezembro 2016 até 1 de novembro Museu da Música 20 de setembro até 30 de outubro Museu da Eletricidade Av. Brasília. Central Tejo. Museu Nacional do Azulejo estação do metropolitano alto dos moinhos. Centro Cultural de Belém Museu Nacional do Azulejo Museu de São Roque 3ª A Dom., DAs 10h às 18h r. madre de Deus, 4. Tel.: 218 100 340 r. João de Freitas branco. Tel.: 217 710 990 Pç. do Império. Tel.: 213 612 400 r. madre de Deus, 4. Tel.: 218 100 340 UARDA 2ªA6ª, DAs 8h às 20h; sáB., Lg., Trindade Coelho. Tel.: 213 235 444 E 1915, o Ano do Orpheu 3ªaDom., Das 10h às 18h M Um Músico, Um Mecenas 2015 G P Pintar um Azulejo! Dom. e FeRIADos, DAs 10h às 18h 2ª, DAs 14h às 19h; 3ª A Dom., DAs 10h até 20 de setembro E Azulejaria dos Séculos XV e XVI nuno m. cardoso e Duarte Pereira às 19h (seTemBRo); 2ª, DAs 14h às 18h; oficina de pintura, mediante marcação prévia. Museu da Guarda E Vis-à-Vis: Nuno Cera (2015) E Novos Artistas Fundação EDP 2015 exposição permanente martins interpretam “beethoven e 3ª A Dom., DAs 10h às 12h15 e DAs 13h30 18h até final de setembro R. General Alves Roçadas, 30. Tel.: 271 213 460 até 13 de setembro até 20 de setembro E Venha Conhecer o brahms” no Violoncelo lockey hill E De Roma Para Lisboa: de Guilhermina suggia (1800) e no P Peddy Paper no Museu 3ªADom., DAs 10h às 19h E Posto de Trabalho Maior Padrão do Mundo Um Álbum Para um Rei Magnânimo uma maneira divertida de explorar o museu E Arte Portuguesa dos Culturgest exposição de fotografia de Valter Vinagre. exposição permanente Piano de cauda bechstein (c. 1920). até 25 de outubro e o convento. mediante marcação prévia. R. Arco do Cego, 1. Tel.: 217 905 155 até 20 de setembro 5 de setembro – 18h Séculos XIX e XX: Retrato, E A Arte Interior. Siza Vieira até final de setembro Paisagem, Mobiliário e Escultura E Honey, I Rearranged e o Desenho de Objetos Museu Nacional de Arte Museu Nacional de Arte exposição permanente the Collection... by Artist: Museu do Oriente até 15 de novembro Contemporânea – Museu do Chiado Contemporânea – Museu do Chiado Museu Nacional do Traje E Museu da Guarda: Coleção de Armaria Cartazes da Coleção Lempert Av. Brasília, Doca de Alcântara. Tel.: 213 585 200 R. serpa Pinto, nº 4. Tel: 213 432 148 r. serpa Pinto, nº 4. Tel: 213 432 148 lg. Júlio castilho. Tel.: 217 567 620 até 31 de dezembro (capítulo 1 / 2.ª parte) 3ªADom., DAs 10h às 18h; 6ª, DAs 10h às 12h Museu Nacional do Teatro e da Dança 3ªADom., DAs 10h às 18h P Férias de verão no Parque E Namban – Retrospetiva de Cohen Fusé estrada do lumiar, 10. Tel.: 217 567 410 M Noites de Verão no MNAC - até 13 de setembro E Arte Portuguesa 1850-1975 Botânico do Monteiro-Mor até 27 de setembro 3ªaDom., Das 10h às 18h - Museu do Chiado: Bill Kouligas exposição permanente Destinado a crianças dos G UIMARÃES Fundação Arpad Szènes - Vieira da Silva E Peças de Teatro. As Coleções do Museu 4 de setembro – 19h30 E Hotel Globo de Mónica Miranda 3 aos 9 anos. marcação prévia. Pç. das Amoreiras, 58. Tel: 213 880 044 Museu Nacional de Arqueologia exposição permanente até 27 de setembro até 11 de setembro Centro Internacional 3ª A Dom.. DAs 10h às 18h; enCeRRA 2ª e FeRIADos Pç. do Império. Tel.: 213 620 000 E Tempos de Dança. Evocação Teatro Municipal de S. Luiz das Artes José de Guimarães E A Linha do Espaço E Sousa Lopes 1879-1944. Efeitos de Luz 3ª, DAs 14h às 18h; 4ªADom., DAs 10h às 18h do Estúdio - Escola de Dança r. antónio maria cardoso, 38. Tel.: 2132 57 650 até 8 de novembro Torre de Belém Tel. (info.): 253 424700 até 20 de setembro E O Tempo Resgatado ao Mar Clássica de Anna Mascolo M Baile ªA om às h às h até 6 de setembro Tel.: 213 620 034 3 D ., 10 19 E Echoes on the Wall: Oikonomia: até 30 de setembro criação de carla maciel e sara carinhas. ª a áb às h om às h P Há Piratas na Torre! E Demasiado Pouco, Demasiado Tarde Fundação Calouste Gulbenkian uma Questão de Confiança E Arte Copta e do Oriente Cristã 4 s , 21 ; D ., 17 30 9 a 20 de setembro oficina pedagógica dirigida a crianças mostra de trabalhos de Vasco Araújo. Av. de Berna, 45ª. Tel.: 213 880 044 até 21 de fevereiro 2016 até 6 de setembro Museu Nacional do Traje dos 3 aos 6 anos. marcação prévia. até 27 de setembro 2ª, 4ªADom.., DAs 10h às 18h E Narrativa de uma Coleção - Arte E Quem nos Escreve Desde a Serra lg. Júlio castilho. Tel.: 217 567 620 até 30 de setembro E Suites Monumentais E Próximo Futuro: Casa-Arquivo Portuguesa na Coleção da Secretaria até 27 de setembro 3ª, Das 14h às 18h; 4ªaDom., Das 10h às 18h Culturgest P Uma Aventura na Torre e Algumas Variações no Jardim Gulbenkian de Estado da Cultura (1960-1990) E A I Idade do Ferro no Sul E Sala dos Teares - Técnicas r. arco do cego, 1. Tel.: 217 905 155 Jogo de pistas dirigida a crianças mnAC – RUA CAPeLo P Férias de Verão na Culturgest exposição de pintura de José de Guimarães. até 27 de setembro de Portugal: Epigrafia e Cultura Teatro Nacional D. Maria II de Fiação, Tecelagem e Estampagem até 27 de setembro até 12 de junho 2016 laboratórios de espetáculos em fase criação. dos 6 aos 8 anos. marcação prévia. E António Cruz até 29 de novembro Pç. D. Pedro IV. Tel.: 213 250 800 exposição permanente Destinatários: Dos 6 aos 8 (crianças nascidas até 30 de setembro até 19 de outubro E Rui Toscano 4ªeDom., 30 mIn. anTes Do InícIo Dos E Traje do Século XVIII até 2008) e dos 9 aos 12 anos (crianças P À Descoberta da Torre de Belém Conjunto significativo de novos trabalhos Museu Nacional de Arte Antiga esPeTáculos Da sala GarreTT E Olhos nos Olhos: exposição permanente Jogo de pistas dirigida a crianças L EIRIA em torno da metáfora da contemplação, R. das Janelas Verdes. 213 912 800 nascidas até 2005). marcação prévia. O Retrato na Coleção do CAM E A Coleção de E Trajes dos Séculos dos 6 aos 13 anos. marcação prévia. da imagem tecnológica e dos seus dispositivos 3ªADom., DAs 10h às 18h até 4 de setembro até 19 de outubro Partituras do TNDMII XIX e XX (1800-2000) Teatro José Lúcio da Silva de investigação visual, prometendo ainda uma até 30 de setembro E X de Charrua E Josefa de Óbidos e a 11 de setembro a 31 de dezembro exposição permanente Av. heróis de Angola. Tel.: 244 834 117 experiência ambiguamente traduzida entre a sua Invenção do Barroco Português Mosteiro de Jerónimos P Enigma da Torre até 26 de outubro T Entrada Livre E Instalação da Artista Christina Vilas-Bôas Jogo de pistas dirigida a crianças D Sem Um Tu Não Pode Haver Um Eu dimensão estética e o sublime que em nós exerce até 6 de setembro Praça do Império. Tel.: 213 620 034 E Tensão e Liberdade. no fim de semana que marca a abertura até 13 de setembro Coreografia e interpretação de Paulo Ribeiro. o conhecimento produzido sobre o cosmos. P Animais do Rei dos 6 aos 13 anos. marcação prévia. E Obra Convidada: da temporada, o TnDm II realiza o 11 de setembro – 21h30 Tensión y Libertad. 10 de setembro a 15 de novembro E Coleção Anadia | Traje e Acessórios oficina pedagógica dirigida a crianças até 30 de setembro Adão e Eva, de Jan Gossaert evento Entrada Livre, onde o público Tension and Freedom até final de setembro dos 3 aos 6 anos. marcação prévia. até 6 de setembro terá acesso gratuito as inúmeras atividades. até 26 de outubro Museu Coleção Berardo até 30 de setembro Centro Cultural de Belém ISBOA E MNAA_Olhares Contemporâneos: são cinco espetáculos em estreia mundial L E Fantin Latour e CCB. Pç. Do Império. Tel.: 213 612 878 Palácio Nacional da Ajuda P Brincando no Mosteiro Pç. do Império. Tel.: 213 612 400 Residência Fundação EDP no MNAA nas duas salas do teatro e no espaço Manuel Botelho: Meeting Point 3ªADom., DAs 10h às 19h lg. da ajuda. Tel.: 213 620264 oficina pedagógica dirigida a crianças T Salvador Martinha: até 20 de setembro público à volta do edifício, assim como Teatro Carlos Alberto até 26 de outubro E Museu Coleção Berardo E Ricordo di Venezia. Vidros de dos 3 aos 6 anos. marcação prévia. Na Ponta da Língua R. das oliveiras, 43. 223 401 900 E Aqua: Faianças da Coleção do MNAA teatro para a infância, debates com E Todos os Livros 1900-1960 / 1960-2010 Murano da Casa Real Portuguesa até 30 de setembro Pequeno auDITórIo até 27 de setembro grandes personalidades da vida pública D MEXE – Encontro Internacional até 26 de outubro exposição de longa duração até 20 de novembro P Explorando o Mosteiro 12 de setembro – 21h de Arte e Comunidade: Dez Mil Seres E Luca Cambiaso e o portuguesa, exposições no interior do teatro, músicos e DJs na varanda do Jogo de pistas dirigida a crianças Coreografia de Clara Andermatt. seu Círculo. Desenhos Teatro Nacional D. Maria II Fundação Calouste Gulbenkian largo de s. Domingos, a primeira edição dos 6 aos 13 anos. marcação prévia. 9 de setembro – 21h até 18 de outubro Pç. D. Pedro IV. Tel.: 213 250 800 av. de berna, 45ª. Tel.: 213 880 044 da Feira do livro de Teatro organizada até 30 de setembro E A Coleção de Partituras do TNDM II P Mistérios da Pedra T Próximo Futuro: Fundação Calouste Gulbenkian Museu Nacional de Etnologia pela livraria do TnDm II na Praça do rossio, leituras públicas em diversos 11 de setembro a 31 de dezembro Jogo de pistas dirigida a crianças Vou Lá Visitar Pastores Av. de Berna, 45ª. Tel.: 213 880 044 Av. Ilha da madeira. Tel.: 213 041 160 espaços, lançamentos de livros e uma dos 6 aos 13 anos. marcação prévia. encenação de manuel Wiborg. A Próximo Futuro: Ciclo de Cinema 3ª, DAs 14h às 18h, 4ªADom., DAs 10h às 18h anFITeaTro ao ar lIVre grande homenagem à atriz eunice muñoz. Centro Cultural de Belém até 30 de setembro 4 a 11 de setembro E O Museu, Muitas Coisas 6, 7 e 8 de setembro – 21h30 11, 12 e 13 de setembro Pç. do Império. Tel.: 213 612 400 P Aventura no Mosteiro exposição permanente T Ifigénia, Agamémnon, Electra M Harmonie Prince Guillaume Jogo de pistas dirigida a crianças T Próximo Futuro: Arquivo Nacional Torre do Tombo E 10 Anos Depois: Objetos de Outros Pequeno auDITórIo Texto e encenação de Tiago rodrigues. dos 6 aos 8 anos. marcação prévia. Chiflón, El Silencio Del Carbón Al. da Universidade. Tel.: 217 811 500 Lugares. Doação Francisco Capelo Interpretação de ana água, ana Tang, 2 de setembro – 21h até 30 de setembro Teatro de marionetas pela 2ªA6ª, DAs 9h30 às 19h30; sáB., DAs 9h30 às 12h30 até 31 de outubro ana Valente, Flávia Gusmão, Isabel M João Hasselberg: Truth companhia silencio blanco. E Pena de Morte: da E Artes de Pesca: Pescadores, abreu, João Grosso, entre outros. Has To Be Given In Riddles Museu Nacional de Arte Antiga 9, 10 e 11 de setembro – 20h30 Justiça Punitiva à Justiça Corretiva Práticas, Objetos Instáveis coprodução TnDm II, Teatro Viriato. 5 de setembro – 21h r. das Janelas Verdes. 213 912 800 12 e 13 de setembro – 16h até 19 de setembro até 31 de outubro 4ª, às 19h; 5ªasáb., às 21h; Dom., às 16h M La liberazione di P Entre a Palavra e a Imagem: O Barroco. T Próximo Futuro: E Cartulários na Europa 11 de setembro a 4 de outubro Ruggiero dall’isola d’Alcina em relação com a exposição “Josefa de óbidos A Circularidade do Quadrado Medieval: Textos e Contextos Museu Nacional de T Colecção de Amantes Pelo huelgas ensemble, e a Invenção do barroco Português”, um encenação de Dimitris Karantzas. até 19 de setembro História Natural e da Ciência conceito e direção de raquel andré. ensemble officium e ludovice ensemble. percurso pela exposição permanente e a 14 e 15 de setembro – 21h R. da escola Politécnica, 56/58. Tel.: 213 9121 800 criação e espaço cénico de raquel Paul Van nevel - direção musical. capela das albertas dando a ver obras do Biblioteca Nacional de Portugal 3ªA6ª, DAs 10h às 17h; sáB. e Dom., DAs 11h às 18h andré e bernardo de almeida. 13 de setembro – 17h barroco português e europeu. marcação prévia. Maria Matos Teatro Municipal Campo Grande, 83. Tel.: 217 982 000 E Adaptações Botânicas Interpretação de raquel andré. 6 de setembro av. Frei miguel contreiras, 52. Tel.: 218 438 800 E Os Dois Últimos exposição de longa duração 4ª, às 19h30; 5ªasáb., Fundação Calouste Gulbenkian P Quem Sou Eu no Museu? T Uma Mulher sem Importância Grandes Publicistas: E Memória da Politécnica: Quatro às 21h30; Dom., às 16h av. de berna, 45ª. Tel.: 213 880 044 Vamos fazer uma viagem no tempo Produção Truta. 11 a 20 de setembro Sampaio Bruno e França Borges Museu D. Diogo de Sousa, em Braga Séculos de Educação, Ciência e Cultura M Orquestra XXI e perceber como se vivia antigamente. semana e sáb., às 21h30; Dom., às 18h30 até 11 de setembro exposição de longa duração Dinis sousa – maestro. como se vestiam e penteavam os nossos 10 a 19 de setembro (exceto 14 e 15)

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Teatro Aberto Teatro Carlos Alberto T MEXE – Encontro Internacional T os Lusíadas - Viagem Infinita Pç. Espanha. Tel.: 213 880 089 R. das oliveiras, 43. 223 401 900 de Arte e Comunidade: Adaptação de Paulo Campos dos Reis. T Próximo Futuro: El Loco y la Camisa C MEXE – Encontro Internacional MAPA – o Jogo da Cartografia Encenação e dramaturgia de Paulo Encenação de Nelson Valente. Produção de Arte e Comunidade: Encontro Criação coletiva. Direção de hugo Cruz. Campos dos Reis e Ricardo Soares. Compañía Banfield Teatro Ensamble. Internacional de reflexão sobre 13 de setembro - 21h interpretação de Ricardo Soares. SáB., Dom. E FERiADoS, àS 17h 5 e 7 de setembro – 21h30 Práticas Artísticas Comunitárias 6 de setembro – 19h até 20 de dezembro 9 e 10 de setembro S ã o J o ã o Teatro da Trindade Centro Comercial Cidade do Porto DA P E S q u E I r A T o M A r Lg. da Trindade, 7A. Tel.: 213 423 200 R. Gonçalo Sampaio 350. Tel.: 226 0065 85 T ÉS CENA - 2ª Mostra E Photos de um outro Porto: Porto Íntimo Núcleo Museológico do Vinho Convento de Cristo Latino-Americana de Teatro até 2 de setembro Tel. (info.): 254 310 190 igreja do Castelo Templário. Tel.: 249 313 481 2 a 19 de setembro E o Douro da Casa Alvão ToDoS oS DiAS, DAS 9h àS 18h30 Centro Português de Fotografia até 27 de dezembro E Erosão M A F r A Campo mártires da Pátria. Tel.: 222 076 310 Exposição de Rui horta Pereira, 3ªA6ª, DAS 10h àS 12h30 EDAS 14h àS que coloca em diálogo objetos obsoletos 18h; SáB., Dom. E FERiADoS, DAS 15h àS 19h S INES Palácio Nacional de Mafra com matérias nobres do Convento de Cristo. E Projeto 15 até 22 de novembro Tel.: 261 817 550 Exposição de fotografia de Centro de Artes de Sines M V Ciclo de Concertos a 6 Órgãos alunos do Departamento de R. Cândido dos Reis. Tel.: 269 860 080 6 de setembro - 16h Artes da imagem do ESmAE/iPP. ToDoS oS DiAS, DAS 14h àS 20h V ILA F r A N C A D E X I r A até 11 de outubro E IgNoTo N A z A r É E Fotografia - A Imagem em Processo Projeto expositivo de Carlos No e Pedro Museu do Neorealismo até 27 de setembro Valdez Vasconcelos repartido entre o Centro R. Alves Redol, 45. Tel.: 263 285 626 de Artes e o Centro Cultural Emmerico Nunes. 3ªA6ª, DAS 10h àS 19h; Museu Dr. Joaquim E Prémio Estação Imagem 2015 Viana do Castelo até 25 de outubro SáB., DAS 15h àS 22h; Dom., DAS 11h àS 18h Manso - Museu da Nazaré E Batalha Pelo Conteúdo: R. D. Fuas Roupinho – Sítio. Tel.: 262 562 801 até 27 de setembro Movimento Neorrealista Português 3ªADom., DAS 10h àS 17h30 S I N T r A A coleção museológica selecionada E Nazaré – um Percurso da sua História Fundação de Serralves integra um vasto conjunto de exposição de longa duração R. D. João de Castro, 210. Tel.: 226 156 500 quinta da regaleira documentos que sublinham não só E Nazaré – Mar, Pesca e Tradição 3ªA6ª, DAS 10h àS 13hEDAS14h àS 17h; Tel.: 219 106 656 SáB., Dom. E FERiADoS DAS 10h àS 19h a relevância cultural do neorrealismo exposição de longa duração D Narrativa Interior E Construções Em Trânsito: em Portugal, como algumas das suas Coreografia de Clara marchana. possíveis leituras no contexto internacional. Projeto Com Escolas 2014-2015 interpretação de ángela Diaz Quintela, Clara até 6 de setembro E Tudo Existe o que se P E S o D A r É g u A marchana, António Torres e Tiago Correia. Inventa é a Descrição: E Casa de Serralves: 6ªESáB., àS 19h Museu do Douro o Cliente Como Arquiteto até 31 de outubro Joaquim Namorado 100 anos R marquês de Pombal. Tel.: 254 310 190. até 6 de setembro M Saraus de Ópera Com Jantar até 20 de setembro 3ªADom., DAS 10h àS 13hEDAS14h30 àS 18h E Pode o Museu Ser um Jardim? - Com isabel moreira e Angelo martino. E Douro, Matéria e Espírito obras da Coleção de Serralves 6ªEDom. Museu Municipal exposição permanente até 13 de setembro até 27 de setembro – 20h30 de Vila Franca de Xira E o Douro da Casa Alvão E Yto Barrada: Salon Marocain M Fado na regaleira: Isabel Moreira R. Serpa Pinto, 65. Tel.: 263 280 350 até 27 de setembro até 20 de setembro SáB., àS 19h E A Arte no Concelho de E Douro, Lugar de um Encontro Feliz E Sob As Nuvens: até 26 de setembro Vila Franca de Xira – grandes obras Exposição de fotografias de António Barreto. SáB., àS 18h da Paranoia ao Sublime Digital até 25 de outubro até 28 de setembro 3 de outubro a 28 de novembro até 20 de setembro M Fénix E um realismo 13 e 27 de setembro – 18h30 V ILA N o V A P o N T A D E L g A D A Cosmopolita: o grupo T Vampíria KWY na Coleção de Serralves DE F o z C ô A Texto de Dionisio Jacob. Encenação de Paulo Museu Carlos Machado até 27 de setembro Convento de Sto André Cintrão. interpretação de Clemente Samba, Fábio Ferreira, Flávio Tomé, Joana Lobo, João Museu do Côa R. João moreira. Tel.: 296 202 930 Casa da Música R. do museu. Tel.: 279 768 260 Parreira, entre outros. Pela bYfurcação Teatro. 3ªA6ª, DAS 10h àS 12h30 EDAS 14h àS Av. da Boavista, 604-610. Tel.: 220 120 200 5ªE6ª, àS 21h30 E Douro, Matéria e Espírito 17h30; SáB. E Dom., DAS 14h àS 17h30 M giordano Bruno: até 25 de setembro Grande síntese temporal e geográfica E Natureza em Diálogo Ópera em 12 Cenas da Região Demarcada do Douro (RDD). até 18 de outubro T Frankenstein Pelo Remix Ensemble Casa da música exposição permanente E Canto da Maya Texto de Fernando Villas Boas. Encenação e Coro T&m. Direção musical de Peter de Sérgio moura Afonso. interpretação de até 31 de dezembro Rundel. Encenação de Antoine Gindt. Clemente Samba, Érica Rodrigues, Fábio V I S E u interpretação de Lionel Peintre, Jeff Ferreira, Gonçalo Lima, entre outros. martin, ivan Ludlow e Guilhem Terrail. o N T E D E o r SáB., àS 21h30 P S Museu Nacional grão Vasco 12 de setembro – 21h até 26 de setembro Adro da Sé. Tel.: 232 422 049 Centrum Sete Sóis Sete Luas M Brahms Trio T Peter Pan obras de W. A. mozart e L. Brahms. 3ª, DAS 14h àS 17h30; 4ªADom., Av. da Libertade 64-F. Encenação e adaptação de Paulo Cintrão. DAS 10h àS 12h30 EDAS 14h àS 17h30 15 de setembro – 19h30 E “Era uma vez...” o Pastel Conta interpretação de Clemente Samba, Érica E Inscrituras: Aquilino Exposição de pintura de Sandro Libertino. Rodrigues, Fábio Ferreira, Gonçalo Lima, Joana Teatro Carlos Alberto por Pedro Albuquerque até 19 de setembro Lobo, entre outros. Pela bYfurcação Teatro. mostra de desenhos a tinta da china R. das oliveiras, 43. 223 401 900 SáB., àS 16h; Dom., àS 11hE16h; T MEXE – Encontro Internacional sobre papel do artista Pedro albuquerque até 11 de outubro até 13 de setembro P o r T o de Arte e Comunidade: Criaturas T Macte Animo Encenação de João Neca. Coprodução Conceção e Coordenação de João Cruz Alves. Teatro Nacional São João Teatro dos Barris, Teatro o Bando. Texto original de João Cruz Alves, Paulo Pç. da Batalha. Tel.: 223 401 900 10 de setembro – 21h Campos dos Reis. interpretação de José A MEXE – Encontro T MEXE – Encontro Internacional henrique Neto, Susana Branco, Filipe Costa, Internacional de Arte e Comunidade: de Arte e Comunidade: Meysara Clara marchana, José Redondo, entre outros. Cidadãos de Corpo Inteiro Texto e direção de Jasmina ibrahimovic. SáB., àS 20h30 (ATÉ 26 DE SETEmBRo); Palácio Nacional da Ajuda. 1300-018 Lisboa Documentário realizado por Patrícia Poção. Produção Rotterdams Wijktheater (holanda). SáB., àS 19h30 (3 DE ouTRo A 12 DE DEzEmBRo) Tel.: 213 614 500 | Fax: 213 621 832 8 de setembro – 21h 11 de setembro -21h até 26 de setembro [email protected]

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