A UTOPIA DEOLI ...JIIu\.VI A*

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José Murilo de Carvalho

outros não lhe chegavam a abalar o prestí­ . 2 Descida aos Infernos glO. A década de 30 foi ainda ma is generosa egundo Capistrano de Abrcu, OJiveira com Oliveira Viana. Logo após a revolução, Viana grassava ao [mal na década de de que Viana não participou, o interventor 20. Seu livro de estréia, Populações no estado do , Ali Parreiras, meridionais, tinha tido enorme êxito e cri· lhe pediu pareceres e quis nomeá·Jo prefei· tica quase unânime. Os livros seguintes, to de Saquarema. Em 1932 foi nomeado embora sem a mesma repercussão, tinham para a consultoria jurídica no Ministério do consolidado a fama do arredio Iluminense. Trabalho, onde se tornouo principal formu­ O coro de elogios vinha de vários quadran­ lador da política sindical e social do gover· tes ideológicos: de Agripino Grieco, no até 1940. Juarez Távora lhe pediu em Tristão de Ataíde e Taunay, assim como de 1933 um programa para os tenentes. O Par­ Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, tido Econômico também quis sua colabora­ Carneiro Leão. Vinha também, surpreen­ ção intelectual. Sua visibili,dade se reduziu dentementc, dc Monteiro Lobato, que um pouco, pois grande parte do trabalho era 1917, publicou, desde na Revista do Brasil, de gabinete e o que publicava era de natu­ vários capítulos dePopulações meridionais reza espacializada. Mas a inlluência políti­ 1920, e, em o próprio livro. Lobato - que, ca chegou ao auge. Oliveira Viana estava sob muitos aspectos poderia, ser considera­ nos céus. da um antípoda de Oliveira Viana - dizia de A década de 40 já apresentou situação seu editado que era "o grande orienlador de menos favorável. A saída do ministério e a 1 que o país precisava". As críticas de Astro· entrada para o Tribunal de Contas lhe per­ gildo Pereira, de Pereira da Silva e de raros mitiram voltar aos trabalhos sociológicos .

• A versâo preliminar deste trabalho foi .ptesall.da no semináriosobre OIivei,. Vima organiudo pelo Instituto de FiIOldi.e aêneiuumana H s da Unicamp mire 12 e 14 de:março de1991.

EslUdorlIis,óricos, Rio deJaneiro, vot.4, n. 7, 1991, p. 82·99 A lITQPIADE OUVEIRA VIANA 83

Mas a grande obra da década, Instituições de Capanema. É certo que ele não só parti­ pollticas brasileiras, só foi publicada em cipou do Estado Novo como também o 1949. O livro teve êxito, mas já não havia o justificou teoricamente. Mas é preciso en­ entusiasmo de antes. Oliveira Viana ficara tender que o espírito da época era muito marcado pela participação no governo Var­ menos liberal do que o de boje, o autorita­ gas, pelo apoio à ditadura de 1937. Nos rismo pairava no ar, da direita A esquerda. meios intelectuais de esquerda surgia uma Arazão mais importante para uma visita reação â sua obra que s6 faria crescer após desarmada é a inegável inlluência deOli­ sua morte em 1951. O regime militar agra­ veira Viana sobre quase todas as principais vou a reação, pois, para muitos, sua ideolo­ obras de sociologia política produzidas no gia fundava-se na visão de Brasil e na pro­ Brasil após a publicação de Popl/laç6es posta política do sociólogo fluminense. meridionais. Dele há ecos mesmo nos auto­ XingarOJiveira Viana tomou- se, então, um res que discordam de sua visão política. A dos esportes prediletos dos intelectuais de lista é grande: Gilberto Freyre, Sérgio esquerda ou mesmo liberais. Os rótulos Buarque, Nestor Duarte, Nelson Werneck acumularam-se: racista, elitista, estatista, Sodré, Victor Nunes Leal, Guerreiro Ramos corporativista, colonizado, nas críticas e Raymundo Faoro, para citar os mais no­ mais anaHticas; reacionário, quando a emo­ táveis. Até mesmo Caio Prado lhe reconbe­ ção tomava conta do crítico. Oliveira Viana cia o valor, ressalvando as críticas. Tal re­ foi mandado aos infernos? percussão indica a riqueza das análises de Nos infernos ele ainda se encontra, ape­ Oliveira Viana e justifica o esforço de revi­ sar de um ou outro ensaio tímido de rever a sitá-Ias. condenação. É lá que pretendo fazer-Ibe Lasl and least, bá o lado pessoal que a uma visita não diria amigável. mas desar­ mim me predispõe a uma análise menos mada. Depois da longa condenação, parece raivosa. Amigos e inimigos, todos coinci­ cbegado o tempo de um julgamento menos dem em afirmar queOliveira Viana era uma marcado por circunstâncias políticas passa· figura íntegra, totalmente dedicada ao tra­ das. Houve, sem dúvida, boas razões para a balbo e aos livros: nunca buscou posições condenação. O racismo e o apoio à ditadura de poder. De bábitos quase monásticos, fu­ foram pecados graves. Mas O julgamento gia do brilbo das exibições públicas, não não considerou as atenuantes. Racista era aceitava convites para conferências, recu­ quase todaa elite de sua �poca,embora nem sava empregos, como o de juiz do Supremo sempre o confessasse. Até mesmo a Cons­ Tribunal e não freqUentav" rodas literárias tituição de 1934, democraticamente elabo­ ou antecâmaras de palácios. Respondia aos rada, pregava a eugenia. AJém disso. o pró­ críticos nos livros seguintes ou nas reedi­ prio Oliveira Viana recuou das posições ções e mantinha uma postura de respeito mais radicais expostas em Evolução do po­ pelo debate intelectual. TIo perto do poder vo brasileiro. Mais ainda, em nenhum de por tanto tempo, e do poder arbitrário. nun­ seus livros de políticasocial o problema da ca disto tirou proveito em beneficio pes­ raça é mencionado, tomando-se irrelevante soal. Foi aquilo que acusava os brasileiros para a avaliação dessas obras. Quanto ao de não serem: um bomem público um re­ ", apoio à ditadura, foram muitos os intelec­ pública, posto que a sua maneira. tuais que aceitaram posições no governo e A visita lerá um objetivo preciso. Quero de quem não se cobra a adesão com tanto examinar três temas relativos a sua obn. rigor como de Oliveira Viana. Não se co­ Todos já foram, de uma maneira ou de brou de Carlos Drummond, de Mário de outra, objeto da atenção dos críticos: sua Andrade, de Sérgio Buarque, e nem mesmo concepção da natureza da investigação bis- 84 ESlllDOS J-USTÓRICOS- 1991n

1órica, suas fontes intelectuais e sua utopia interpretá-los, era necessário o recurso às política. No caso de sua epistemologia, ou ciências, particulannente às ciências so­ de sua meta-história, pretendo matizar o ciais. O conhecimento do p:assado exigia o ó cicntificismo positivista de que é acusado; conhecimento do presente. no que se refere às fontes de inspiração, Esta a(imtação aiuda poderia ser inter­ gostaria de ressaltar uma raiz brasileira até pretada como cientificista, na medida em agora não levada em conta; quanto à utopia, que admite a possibilidade de elaborar leis tcntarei distingui-lo de vlÍrios autores aos gerais para a história, da mesma natureza S quais é geralmente associado. das leis das ciências fisicas. Poderia reOetir uma concepção naturalista da história. Mas, na mesma conferência, Viana foi mais lon­ ge. A história exigiria uma "indução con­ jecturai", seria uma ciência conjecturaI. A meta-história de Oliveira Viana Embora Viana acrescentasse que deveria haver um esforço de reduzir o coeficiente Oliveira Viana insistia no caráter objeti­ subjetivo da conjectura, pode-se deduzir vo de suas análises, na ausência de prccoil­ que esta redução tinha seus limites, uma vez ceitos, de preocupação com escolas. Repe­ que o conhecimento histórico exigiria iden­ lia a receita de Rankc: ver os fatos corno tificação com o espírito do tempo presente eles realmente se deram, Queria fazer ciên­ e não dispensaria a ficção. A história devia cia com a objetividade dos sábios de Man­ ser escrita com o cérebro c com o coração. guillhos, isto é, com a objetividade das ciên­ Na verdade, concluía, era o lado de ficção, cias naturais (1923:40). A "objetividade" era o lado artístico, que conferia fascínio à apareceu mesmo no título de um de seus história. livros: Problemas de poillicaobjetivil. Mas O ponto foi reforçado na defesa contra estas declarações não devem ser levadas as críticas de Batista Pereira. Este crítico, muito a sério. Eram um tributo, talvez meio segundo ele, se teria apegado a minúcias e automático, ao cientificismo do século filigranas sem importância. Quem usasse XlX. Não é di!1cil mostrar que cle próprio microscópio para analisar sua obra não con­ não acreditava nisso. seguiria entendê-Ia. Pois, "eu não sou um Em várias ocasiôes deixou claro que sua puro historiógrafo (... ). Eu não sou um pes­ noçao de história era mais moderna do que quisadorde arquivos. Eu não sou um micro­ ' sugere este positivismo estreito. Insistiu grafista de história. Não sou, não quero ser, mais de uma vez que teorias e hipóteses uma autoridade de detalhes. ( ... ) tenho a eram indispensáveis ao conhecimento his­ paixão dos quadros geraiS"? Um livro co­ tórico. Na introdução de Populações meri­ mo O idealismo da Conslilllição, criticado dionais foi explícito quanto à contribuição por Batista Pereira, ncm mesmo poderia ser prestada ao historiador por várias áreas de considerado obra histórica. Era obra de pu­ conhecimento: a anlropogeografia, a antro­ blicista, de propagandista, de panfletário. possociologia, a psicofisiologia, a psicolo­ Fica aí evidente que Oliveira Viana estava gia coletiva c a ciência social. Foi ainda muito distante da prática historiográlica de mais explícito na conferência que pronun­ seus colegas do Instituto Histórico. ciou em 1924 ao ser recebido como sócio Além de depender de conjecturas, a his­ do Instituto Histórico e Geográfico. Afir­ tória não seria um exercício ocioso. Ela mou, então, que nâo bastavam os arquivos teria finalidade pragmática. Na confcrência c documenlos. Eles eram limitados, par­ 110 instituto, esta finalidade foi descrita co­ ciais c podiam ocultar o essencial. Para mo a busca do sentimento de nós mesmos, A lITOPlADE OUVEIRAVIANA 85

do fortalecimento do patriotismo. Em Evo­ que fosse (Viana, 1991:357-61). Tudo indi­ luçdo do povo brasileiro, no mesmo lugar ca que não quis ter o destino de Alberto em que insistia na objetividade, defmia a Torres. Apesar das críticas ao bacharelismo história como mestra da política, numa re­ e à nossa alienação mental, sucumbiu à ferência, que é uma redefinição, à história necessidade prática da citação. O que não 8 mestra da vida de Cícero. • impede, evidentemente, que em alguns ca­ Na produção de sua vasta obra, Oliveira sos, como o das teorias racistas, a influência Viana foi sem dúvida fiel a esta visão de estrangeira, especialmente as de Gustave história. Há muito nela de conjecrura, de Le Bon e Vacher de Lapouge, tenha sido preocupação política, de problemas do pre­ real. sente, de valores, de coração, ao lado do Pretendo argumentar que vários pontos extenso uso de teorias de vária natureza. Na centrais do pensamento de Oliveira Viana parte final deste trabálho irei em busca do enraizavam-se na tradição brasileira e não conteúdo desses valores. Na que vem a estrangeira. Ele mesmo reconhecia sua dí­ seguir tentarei mostrar que muitos deles se vida com alguns de seus pred�cessores. par­ enraizavam na tradição do pensamento po- ticulannente com Alberto Torres e Silvio lítico imperial. . Romero. Mas creio que deita raízes numa famOia intelectual que antecede de muito Silvio Romero e que tem longa descendên­ cia. Falo de uma linha de pensamento que começa com Paulino José Soares de Souza, As raízes de Oliveira Viana o visconde de Uruguai, passa por Silvio Romero e Alberto Torres, prossegue com Vários analistas salientaram a abundân­ Oliveira Viana e vai pelo menos até Guer· cia das referências a autores estrangeiros na reiro Ramos. Vou me deter em Uruguai, o obra de Oliveira Viana (Medeiros, 1974, patriarca da famOia, que Oliveira Viana c0- Vieira, 1976, Faria, 1977, Moraes, 1990). nhecia e citava, embora dele não se decla­ Mas aqui novamente é preciso ter cautela rasse seguidor. quando se trata de interpretar o sentido des- A sintonia de pensamento entre os dois • sas citações, de avaliar até que ponto elas autores é grande. Muitas das idéias de Oli­ representam influência real sobre seu pen­ veira Viana podem ser rastreadas em Uru­ samento. Os mesmos analistas já referidos guai. Para iniciar, lá está, em Uruguai, a chamaram a atenção para a maneira pecu­ preocupação com o estudo do Brasil. No liar que Oliveira Viana tinha de citar auto­ prefácio do Ensaio sobreO direÍlo adminis­ res. Freqüentemente, pinçava pedaços da trativo, principal obra de Uruguai, está dito: obra e desprezava outros, distorcendo o ('Tive muitas vezes ocasião de deplorar o '" - - pensamento do autor, numa indiCação dita desamor com que tratamos o que é nosso, do caráte inítrumental OUJ)l�smor itua. da deixando de estudá-lo, para somente ler l 9 cita ·0. A citação de estrangeiros como ri­ superficialmente e citar coisas alheia�". O tual de legitimação era, aliás, uma prática autor referia-se exatamente à experiência generalizada no Brasil. O próprio Oliveira liberal que, segundo ele, teria pecado por Viana a mencionou para explicar o êxito de excesso na c6pia de instituições estra�� - -- - ..- - Rui Barbosa e o fracassode Alberto Torres. ras como a federação, o Júri popular, e a '"- -- - O primeiro citava torrencialmente, osegun­ justiça eletiva. �ão era um provinciano, do se recusava a usar 110 bordão do autor pOIS dava grande importância à ex eriência estrangeiro". Ninguém no Brasil dava cré­ Antes de escrever o livro dito ao pensador nacional, por mais original pela Europa e examinara com cui- 86 ES11JOOSJ.USTÓRICOS -1991/7

dado a prática polftica e administrativa da euliberdade e opressão". Aqui havia um.,..!l Inglaterra e da França. De regresso, lera clara oposição entre a visão conservadora � - - também extensamente sobre os Estados _expressa por Uruguai e a visão li eral mais: Unidos. O que queria era um cuidadoso bem elaborada por Tavares Bastos. Segun­ ;::::::.:....das cond'lções ocaispara_ qu e a do Uruguai, os li erais julgavam que a

estranhas• não opressão vinha sempre de cima, do gover­ - - , nao contra- no. Para os conservadores, ela podia vir de também de baixo, das parcialidades, das conhece a virulência com facções. No caso brasileiro, achava Uru­ que criticava o que chamava de idealismo guai, ela vinha principalmente de baixo. utópico de nossas elites políticas, o deslum­ ;:....:do tema da unidade nacional, a bramento com idéias estrangeiras, o anal fa­ da JiJieraaae (oi ã - betismo quando se tratava da realidade bra­ do regresso conser,­ sileira. Uruguai talvez tenha sido o primeiro :': "7.Mais centralização a levantar este tema que depois se tomou "s':ig="n"i"'fj::c::a::'v:'a, =p=:-a=ra�e�st�e:":'ponto �e vista, mais marca registrada de gente como Sílvio Ro­ controle sobre a violência e o arbítrio dos mero, Alberto Torres, Oliveira Viana e mandões locais. E vice-versa. Isto é, menos I Guerreiro Ramos. liberdade. Oliveira , Decorrência, ou talvez premissa, do Viana não concordava com a tese, como ponto acima, era a insistência de Uruguai adotava a interpretação de Uruguai para _"/ na importância dos usos, costumes, hábitos, este período da história brasileira, citando-o tradições, caráter nacional e educação cívi­ várias vezes. Uruguai e Vasconcelos, a ca de cada povo; era a ênfase na im ortân­ quem considerava estadistas de gênio, é que eia do momento histórico e das circunstân­ teriam sido os principais artíficesda centra­ cias sociais (Uruguai, 1960:353). Os povoS, lização, teriam, pelas leis do regresso, espe­ dizia, não têm a mesma tradição política, os cialmente peJa interpretação do ato adicio­ mesmos hábitos, não estão na mesma fase nal, matado o provincialismo e salvo a de desenvolvimento. Implantar instituições nação. Asinstituições liberais, alegava Oli­

de uns em outros podia ser desastroso, ou, veira Viana na esteira de Uruguai, tinham self- govern­ no mínimo, inócuo. Não• �gnificava isto gerado uma contrafacção do que as tradições fossem imóveis e imutá- ment americano: o domínio do caudilho. A veIS. E as p Iam a rimorar-se. Mas én­ centralização e seus instrumentos - o rei, o quan o fossem diferentes deviam ser trata­ Conselho de Estado, o Senado - eram a das como tais. De novo, está ar outro tema melhor garantia de liberdade em pars que só predileto de Oliveira Viana, que ele natural­ conhecia a política de clã. (1920, caps. xn mente abordou com aparato conceitual e XIII). muito mais desenvolvido: a culturologiá. Mas a ce.ntraliza ão odia ser excessi� Pode-se mesmo dizer que h um nítido viés e reudicial. Uruguai confessa que.as via­ cultural e em sua obra. rrnvro gens e os estudos que fez provocaram ver­ . sobre a nosso capitalis- dadeira revolução em suas idéias e l!zequ�­ mo (Viana, 1988), de que se poderia esperar no rever em parte o programa do regresso. uma análise mais atenta dos aspectos mate­ A experiência francesa mostrou-lhe uma riais de nossa civilização, é todo ele dedi­ istinção essencial entre centralização po­ ?' cado aos aspectos culturais e psicológicos. lítica e centralização administrativa. A pri- • Outro ponto de contato entre os dois meira era indispensável, a segunda muito autores está na concepção da relação entre prejudicial para os negócios locais. Da! • os pólos·ucentralização combinação ideal para o Brasil seria a cen- e descentralização" A UTOPIADE OUVErRAVlANA 87

tralização política com descentralização na época chamados também de sociais, de­ administrativa. O governo deveria ser dis­ viam ser universais e iguais para todos; os linguido da adminislração, fórmula fre­ direitos políticos deveriam variar de acordo qüenlemente repelida por Oliveira Viana, com a capacitação de cada um, pois deles . 10 que a adaptava a seu modelo de sociedade _d epen d·la a so b·reVIVenCla'· d a SaCIe d a d e. sindical e corporaliva: centralização polÍli­ De novo, estamos diante de uma das teses ca, descenlralização funcional (Viana, 1952 favoritas de Oliveira Viana, para quem os e 1938). direitos civis eram prioritários e condição Um desdobramento dessa tese é a con­ indispensável para o exercício dos direitos cepção do papel do Estado no processo políticos. Um dos erros dos políticos refor­ --, político de países como o Brasil. O Estado, mistas no Brasil era a ilusão de que a mera segundo Uruguai, longe de ser o inimigo introdução dos direitos políticos pudesse combatido pelos liberais, é o rincipal fator redundar em efetiva participação (Viana, de transfomlação política. Onde não há Ira­ 1930). Ao lê·lo, parece estarmos ouvindo aição dê self-gevernmem, cabe ao Eslado Uruguai repetir a observação d� Vergueiro desenvolvê-Ia. O Estado prolege a liberda- de que os problemas do Brasil provinham • de, cria o espírito púbJico, molda a nação.. do fato de terem as reformas políticas pre­ O Estado, poderíamos dizer, é o pedagogo cedido as reformas sociais. da liberdade, cabe a ele educar o povo para Eis uma lista respeitável de sintonias a participação na sociedade polílica (Uru­ entre os dois pensadores. Se nem sempre guai, 1960:405-12). A tradição colonial era reconhecida a procedência "uruguaia" portuguesa não preparara o povo para o de todas �ssas teses, não há d6vida de que auto-governo. O Estado é que devia assu­ Oliveira Viana conhecia bem o Ensaio e o mir a tarefa. Qualquer leitor de Oliveira citava com freqüência, especialmente Viana identificaráimediatamente aqui uma quando se tratava de interpretar a política de suas teses favoritas. imperial. Em suas constantes acusações ao Finalmenle, há em Uruguai oulra distin­ idealismo ulópico das elites, havia sempre ção que foi totalmenle adotada por Oliveira lugar para exceções, para os idealistas oro Viana. Falo da distinção entre �Jreilos poli- gânicos, entreos quais se incluia. Os nomes " .. ticos e direitos civis. Não se trata, natural- desses idealistas estão registrados em Po­ inente, de uma origmalidade de Uruguai. A pulaç6es meridionais, O idealismo da distinção já constava da Conslituição fran­ Constituiçllo e Problemas de organizaçdo cesa de 1791, que falava de cidadãos alivos e problemas de direçllo. São genle como e cidadãos passivos, os primeiros detento­ Olinda, Feij6, Paraná, Vasconcelos, Uru­ res dos direitos civis e polfticos, os segun­ guai, Euzébio, ltaboraí e Caxias. Com a dos apenas dos direitos civis. O importante exceção de Feij6, que, no entanto, era um em Uruguai é a ênfase nos direitos civis, na autoritário, temos aí a fina Oor do conser­ garantia das liberdades. O visconde diz ler vadorismo imperial, dos construtores da or� observado na França a possibilidade de dem monárquica. Oliveira Viana os cha­ convivência de um governo fortemente mava de conservadores autoritários, de cenlralizado com a plena garantia das liber­ reacionários audazes dotadosde uma quase dades dos cidadãos, de sua propriedade e de volúpia pela impopularidade (1952:133). sua proteção conlra o arbítrio do próprio Uruguai é o mais cilado pela razão de ler governo (Uruguai, 1960:417). Era esta uma sido o único a produzir obra sistemática . .!Ose d2 Iiberalismç franc� 1'ós- revolucio- Mas o visconde citava extensamente Vas­ • n:=: io, estilo de,Gu�, autor freqüente­ concelos, a quem considerava seu mestre ár :-: .!'o " mente::-;, citado por Uruguai. Os direitos civis, em política. Era uma famma polftica, uma ss ES11JDOSHlSTóRI ros - 1991/7

corrente de idéias de longa duração na his­ autoritarismo não é um fim em si, não é um tória brasileira. valor em si. Em todos eles há a - Poderlamos chamá-los de liberais con­ peJo liberalismo, especialmente em sua mo- servadores, utilizando a expressão que Vic­ dahdad'-:e-:a::n�gíO-saxônica.Nele esUria o mo­ tor Hugo empregou para caracterizar o li­ delo para o Brasil. Masjulgavam que para beralismo da Restauração, sintetizado na lá chegar, uma vez que nos faltavam tra

• çipalidade, diz ele....,ue reside a f rça...dol< com sua m- nesta corrente esgotado o conteúdo As instituições municipais de sua obra? Certamente que não. Se são a liberdade ao alcance do povo. Sem muitos os pontos de contato,não são meno­ instituições municipais, um país poderá ter Os liberais conservado­ um governolivre, mas não terá o espirito da res eram exatamente isto,liberais conserva- liberdade (1960:405). Há aí ecos inconfun­ dores. Seu conservadorismonão eliminava díveis de Tocqueville, autor que Uruguai o liberalismo. Seu modelo de sociedade, ou estudou com cuidado quando, desiludido - . sua utopia polltlca, continuava sendo a so- com a política, pôs-se a refletir sobre os !,!edade1. eral e a polltica liber.!!. El�� problemas do país. Foi através de Tocque­ dem ser apropnãaamente chamados de au- ville que aprofundou o conhecimento da riÜrios instrumentais7na medlda em que experiência americana. Antes dela, soubera - . o autoritarismo para eles era apenas um apenas através das reformas liberais da Re­ meio que certas sociedades em determina­ gência, que lhe pareciam impróprias e ina­ das circunstfincias históricas tinham que dequadas para o país. É sintomático que empregar pao atingir o objetivo, a socieda­ Q1iveira Viana nunca cite Tocqueville, em­ de liberal plenamente desenvolvida.ll O bora certamenteconhecesse sua obra, nem A lITQPIA DE OIJVEIRAVIANA ••

que fosse através de l!ruguai.Os valores de punha obstáculos intransponíveis à consti­ Tocquevillc nao eram os seus. luifão de uma nação homogênea e podero­ sa. 3 Não se trata, é importante notar. de uma visão católico-ultramontana que teve e continua a ter seus adeptos no Brasil. É uma visão leiga da sociedade e da política, em­ A utopia de Oliveira Viana bora infonnada por valores ligados à tradi­ ção católica medieval. Quais seriam seus valores, sua utopia? Outra corrente poderosa que se enqua­ Onde estaria seu coração? Para dizê-lo de dra na mesma tradição é o positivismo or­ . . - . uma vez, parece-me que sua I1\splraçao VJ- todoxo. Exemplo típico é o livro de Aníbal nha do que se tornou comum chamar de Falcão, Conceito de civilização brasileira. iberismo . .9iberismo pode ser entelldidt?z O autor aceita o diagnóstico dos admirado­ negativamente, �no a recusa de aspectos res da cultura anglo-saxônica de que no centrais do que se convencionou chamar de Brasil inexiste a tradição de liberdade e de mun o mo erno. É3tlegação da sociedacJC iniciativa individual. Mas, à diferença de­ . utilitária indivi ualisla, da política contra� les, considera o fato auspicioso, pois, se­ tualista, do mercado como ordenador das gundo Com te, a sociedade do futuro seria relações econômicas. Positivamente, é um marcada pela predominância do sentimento ideal de sociedade fundada na cooperação, sobre a razão, da cooperação sobre o con­ na incorporação, no predomínio do interes­ Oito, do coletivo sobre o individua1. A lati­ se coletivo sobre o individual, na regulação nidade - ou o iberismo, pois tratava-se da das forças sociais em funçãode um objetivo herança ibérica - do Brasil nos colocava, comunitário. Este conceito de iberismo não segundo Falcão, na vanguarda da civiliza­ se distancia muito do que foi utilizado por ção, ao lado do país central, a França. Richard Morse em seu polêmico O espelho 9liveira Viana reconhecia explicita- de Próspero. Como ésabido, Morse postula a persistência de uma tradição cultural ibé­ te em seus textos • rica fundada no comunitarismo, em oposi­ com mais ção ao individualismo do Ocidente anglo­ trabalho e demo cracia social como base de saxônico. A Ibéria, e nós com ela, suas idéias sobre sindicalismo e previdên­ constilUirramos o que José Guilherme Mer­ cia social. A Rerllm novarum e a Quadra­ quior (1990) chamou com felicidade de o gesimo anno teriam sido os principais guias Outro Ocidente, uma alternativa ao Oci­ de sua atuação no Ministério do Trabalbo. dente nórdico que hoje parece monopolizar Em discurso feito em 1945 perante um con­ o conteMo da modernidade. gresso de católicos em Niterói, comentou Sugiro que o modelo de sociedade que um manifesto dos bispos em apoio à legis­ - orienta toda a obra de Oliveira Viana se lação trabalhista e afirmou que estudara � enquadra perfeitamente na visão ibérica d� todas as doutrinas sobre o assunto, con­ I inspiração católica. No pensamento politi­ cluindo que "a verdade está com a Igreja; a co brasileiro, o mais iJustre precursor desta sua doutrina é que está certa" (1951:81 e vertente talvez tenha sido José Bonifácio, 169). Insistiu no fato de haver total coinci­ cuja visão de Brasil enfatizava as idéias de dência entre a legislação brasileira e as en­ nação, bomogeneidade e solidariedade. Seu cíclicas sociais. abolicionismo, por exemplo, se tinha um pé -; É intrigante o fato de Oliveira Viana não no direito natural, assentava-se principal­ se referir aos mestres do pensamento cat6- mente na alegação de que a escravidão im- Iico da época, como um Júlio Maria e, .s- • - 90 ESruoosmsTóRICOS -1991/7

pccialmente, um Jackson de Figueiredo e truísmo e da predominância do sentimento seus seguidores do Centro Dom Vital. A sobre a razao. Irritava-o talvez ainda mais omissão estende-se aos pensadores euro­ o lado jacobino dos POSilivistas, donde a peus que eram fontes importantes do con­ referência à sua lógica em I inha reta. A idéia servadorismo católico brasileiro, como De de uma ditadura republicana não era com 4 Bonald, De Maistre e Maurras.1 A razão, certeza de extração católica,vinha da tradi­ . -- arece-me, é ue Oliveira Viana, como já ção romana combinada com a experiência ,

observado, não era um ! ultramontano:. sua' revolucionária da França. Uma sociedade . 6 postura era leiga. Do catolicismo absorveu bem organizada na tradição do comunitª- • primeiro a VISão social de Lc Play, depois !ismo cristão deveria dispensar ditadores as encíclicas sociais e o pensamento do 9u mesmo uma excessiva dependência de cardeal Mercicr (a Carta de Malines). Isto iJldivíduos �m posição de oder. A ditadura é, republicana pod�ria cheirar-lhe a totalita­ rismo, regime que ele rçjeitav,a.assim como . . . . 1 refer otes a,9 rCJcltava o comunismo c q na�lsm...2. � � convivência das classes Uma forte característica ibérica da == católica..EIe lilava_ã orientação de Oliveira Viana era o horraana�laj):lbém nâo ses: "É, entretanto, a luta de classes não s6 uma das maiores forças de solidariedade com as nos povos ocidentais, como a melhor escola para a Comte deriva- da sua educação cívica e da sua cultura ra boa parte de sua doutrina das tradições política" (1920:180). Nesta linha de racio­ do catolicismo medieval e sua concepção cínio, a impossibilidade em que se achava da futura humanidade tinha traços do co­ a população pobre de enfrentar o poder do munitarismo cristão, pois era baseada no latifúndio seriauma das causas do pouco ou altruísmo, versão leiga do amor ao próximo nulo desenvolvimento entre nós do espírito

cristão. Oliveira. Viana falava dos positivis- público. -

. tas com respeito mas sem qualquer sim a- - p- Com base em tal diagnóstico, devia-se tia. Achava-os carregados de eletricidade esperar a receita de ampliação do conflito �egativa; não atraiam as pessoas, r�peliam� como instrumento de educação cívica, ou nas; suas regras e dogmas lembravam cilí­ pelo menos a sugestâo de maneiras de liber­ cios monacais e severos Batistas pregando tar as forças sociais de modo a tomá-Ias no deserto; eram dogmáticos, intolerantes e capazes de ação própria em defesa de seus agressivos; faltava-lhes o milk of IUlman direitos. Mas nada disso acontece. Pelo I kindness, indispensável à comoção das al- contrário, na segunda parte de Populações, mas (1925:119-26). Criticava a lógica jaco­ e em todas as outras obras, inclusive nas I bin� retilínea que os tomava irritantes. dedicadas aos problemas concretos de polí­ Irritava-o provavelmente a secura e im­ tica social e trabalhista, o que se vê é a pessoalidade dos ortodoxos que contradi- defesa de forte interferência do Estado co­ ziam as próprias teses positivistas do al- mo promotor do civismo e, particularmen- A IIfOPIA DE OUVElRAVIANA "

te, da paz social. Entre nós nâovalia a regra, ponto aparecia com clareza: .s�u, modçlo d� a formação do cidadão devia passar não sociedade não era o do ca italismo indus­ pelo conDito. mas por sua eliminação. pela trial. e verificava, ao final dos dolS volu- , = implantação de uma sociedade cooperativa, mes, que se pelo lado material e témico já o corporativismo sendo um meio para tal havia capitalismo no Brasil, especialmente fim. em São Paulo, pelo lado psicológico e cul- Não há a menor referência a uma possí­ tural, 'pela ainda vel diferença entre cidadãos fonnados por métodos tão opostos. Aqui Oliveira Viana cometeu outra incoerência gritante, de que se deu conta, mas que não reconheceu como que nossa tal. Um tema recorrente em sua obra era a pré-capitalista, que tanta no­ acusação idealismo, alienação, marginalis­ breza, justiça e dignidade espalhou na vida mo e ignorância das elites em relação à e nas tradições de nosso povo" sobreviveria realidade nacional, era a denúncia da mania ao avanço capitalista (Viana, 1988:197). de macaquear jdéias e instituições estran­ Quer dizer,  geiras. No entanto, quando ele próprio foi de t chamado a colaborar na fonnulação e im­ plementação da polftica social e sindical, mação um valor. Ao buscar clássicos da co iou abertamente a legislação estrangei- fiteratura para descrever a mentalidade ca­ I ra. O..gulliava-semesmo de que nossa legis­ pitalista, como Sombart e Weber, ele carre­ lação estivesse à altura da dos países mais gava nos tons negativos. O capitalismo era avançados. Prevendo a crítica de estar co­ a obsessão monetária, o mamonismo deli­ piando, argumentou que a industrialização rante, a submissão de tudo ao motivo do gerava problemas que eram universais, que lucro, a instrumentalização da inteligência se verificavamindependentemente das ca­ e da cultura. Contra esta mentalidade, sus­ racterísticas de cada-país, podendo, portan­ tentava, ainda prevaleciam, e deviam pre­ to, a legislação social ter caráter também valecer, os valores que marcaram nossa he­ \ universal. Desconsiderava que, neste caso, rança (e aqui não entrava distinção de classe a legislação só se aplicaria ao setor indus­ ou raça).Eram valores da sociedade pré-ca­ trial moderno,reconhecidamente minoritá­ pitalista, existentes também na sociedade rio no Brasil. Ela era, no entanto, destinada baseada no latifúndio: a nobreza, a mode­ também ao campo, embora a aplicação co­ ração, o desprendimento, a dignidade, a meçasse pelas cidades. Quanto à pró�ria lealdade. industrialização, ele argumentaria em seu Além da intluênciacatólica, revelava-se livro póstumo que ela possuía caracteristi­ aí o que me parece ter sido a outra fonte de cas que lhe retiravam parte da natureza inspiração de Oliveira Viana: as raízes ru­ , capitalista (1988:193-7). rais. O ruralismo se manifestava com seus Pode-se concluir que toda a sua análise .valores paternalistas, famil istas, pessoalis­ do latifúndio simplificador e eliminador do tas. Oliveira Viana orgulhava-se de ser fa­ contlito como responsável pela falta de ci­ zendeiro, de ter por trãs de si quatro gera­ vismo podia ser sociologicamente verda­ ções de fazendeiros. Nunca vendeu a deira, mas não era relevante para seus obje­ fazenda do Rio Seco, embora só lhe desse tivos políticos, porque o conceito de prejuízo, velho banguê decadente que era. - civism da boa sociedade, que ele tinba em Até o da vida usava a velha casa para • run mente não era o das sociedades anglo-saxô- receber amigos íntimos em jantares acom­ No livro óstumo cita'do acima, é panhados de Iqngas discussões. A fascina- l"nicas, • 92 ES1UDOSHlSTORlCOS -1991/7

ção por valores rurais transbordava de vá­ lores, não têm aparato erudito. Neles talvez rios textos. Um deles t. saudação a Alberto se revelasse com mais sinceridade o cora­ de Oliveira, feita quando foi recebido na ção do autor, neles talvez emergissem seus Academia Brasileira de Letras. Referiu-se valores mais caros. O que ar transparecia em tennos quase líricos a Saquarema, terra não destoava, aliás, do que se sabe da per­ natal de ambos. Exaltou tanto a patureza sonalidade de Oliveira Viana, um matuto \ quanto os valores da vida rural fluminense. !!!edioque raramente aceitava �nvitese.;: I Em estariam personifi­ ra palestras; que ao falarem público era cadas a tradição patriarcal, a nobreza, o quaseinaudlve1; que só por motivo dedoen­ 16 bom gosto. ça deixava o Rio de Janeiro, ou melhor, sua Não era apenas o chauvinismo flumi­ �sa de Niterói; que nunca saiu do país, nense que o movia. Em outro texto, escrito embora tivesse uma biblioteca internacio­ em 1918, quase simultaneamente a Popula- nal, que nunca fez parte dos cfrculos inte­ , çôes meridionais, ele descreveu com imen- lectuais do Rio, nem da vida mundana da

sa simpatia as pequenas comunidades mi- cidade. Um. exilado do mundo- rural deca-

• • • neuas em que vIVera por seiS meses por dente na cidade rande. -- - " motivo de doença. A alma mineira seria, Creio que tocamosaqui no ponto central segundo ele, feila do "bom metal antigo, o para o entendimento da obra e do pensa­ metal da nossa antiga simplicidade patriar­ mento de Oliveira Viana, um ponto que cal", Nela dominariam os valores domésti­ podeesclarecer o vínculo entrePopulaç6es cos patriarcais - o recato, a modéstia, a meridionais e os textos de política social e hospitalidade -, valores que lhe souberam também a aparente quebra de perspectiva à sensibilidade como ao paladar dosenten­ dentro de Populaç6es meridionais, além dedores os vinhos caros: "quanto mais an­ das contradiçõesjá apontadas. Começando tigos, tanto melhores no sabor, na limpidez, com Populaç6es, verifica-se neste texto no perfume". Era a "Minas do lume e do uma guinada no tralamento dos proprieú­ pão", título com que o artigo foi publicado rios rurais ao passannos da primeira e se­ na Revista do Brasil, em 1920. gunda partes para a terceira. Vale a pena citar outro texto referente à realidade rural ainda mais distante da flu­ são defmidos ca- 80 Evoluçl1o minense. Em comentário romance de mo aristocracia, em Mário Selte, O vigia da casa grande, ele do povo brasileiro à dolicocefalia germâni­ elogiou a descrição fma da "alma rude e ca): aristocracia audaciosa, altiva, em­ bela dos nossos caboclos rurais". O roman­ preendedora, artlfice da ocupação do terri­ ce teria mostrado que valores como nobre­ tório nacional, desdenhosa do poder za, cavalheirismo, fidelidade, bonra,justiça público. Esta simpatia deu margem a que e bondade não eram limitados à aristocra­ AstrogildoPereira intitulasse sua critica de cia, mas impregnavam também as classes 1929 de "Sociologia ou apologética?" plebtias. Surpreendentemente para muitos de seus leitores, confessava uma uinfInita ternura"pela gente humilde que mourejava A sombra nem sempre grata dos fazendei­ ros. E conclula: "toda a minha obra ( ...) roa, os grandes estadislas que tentavam for­ 17 respira uma íntima simpatia por eI3". jar uma nação a partir do arquiptlago lati­ Não há por que menosprezar esses tex­ fundiário que compunha a ex-colônia. ,Os tos. Por não terem pretensão cientifica, eles �ristocratasrurais passam a ser tratadosc0-

mo meros caudilhos territoriais,... resistentes são despojados, desarmados, não citam au- , - - A UTOPIA DE OUVElRA ViANA 93

à obra progressista da Coroa, que devem ser canos, estava claro que o federalismo.-.rçpu� domados em seus excessos de privatismo. blicano �ão se prestava à tarefa . Ao retirar Se estou correto na identificaç-ão de do centro o poder de arregimentação, ele mundo de valores de Ol iveira Viana, a rç- liberava a força desordenada do jogo dos \\ ' . viravolta é apenas aparcn�. q Estado cria interesses dos grupos, facções e clãs locais. a naçlo, estabelece o predomínio do úbli­ Era um mundo caótico que ameaçava a co sobre o privado, mas de f�ô$ao Itera própria integridade da nação. A situaçao valor�s fundamentais que pertencem à or­ agravava-se com o fato de terem surgido no de;.:m.:,rur: 1 patriarcal. Da posição de distan­ cenário político novas fo rç-as socia is que ciamento; === � em que hoje nos colocamos, po­ escapavam ao controle do mundo rural, co­ deríamos dizer que, para Oliveira Viana,..Q.. nu;> os industriais, operários e imigrantes. róprio Estado �ra patJ:iarcal e sua tutela Não me parece que Oliveira Viana lenha p • s,?bre a nação tinha a marca do poder fa mi-- desenvolvido uma idéia clara sobre a forma - l liar que buscava hannonizar a grande 31n1- que everia assumir a nova ordem, antes dS na brasileira sob sua autoridade. Na cabeça ocupar a posição, que lhe .2er'lI\l 110 Minis­ estã grande (a mnia, ou desti grande clã, tério do Tr

ção da Escravidão. Ol• iveira Viana Coi .inc- obscuros desse palriotismo civil, que é qua- quívoco ao colocar essa data como marco se tudo" (1921:21 e 25). Em O idealismo, un amcntal na história do país. Popula­ publicado pela primeira vez CIO 1924, des­ ções meridionais termina em 1888, exata- cria mesmo de soluções que fossem tenla­ mente porque o período posterior lhe pare­ das por meios exclusivamente pol íticos. O cia exigir estudo à parte. Em Pequenos problema nacional seria antes social e eco­ esrudos de psicologia social foi repetida a nômico e exigiria medidas como a difusão idéia do ugrande desmoronamento" que se da pequena propriedade (dara referência a teria produzido com a Abolição (1921 :79). Alberto To rres). O mesmo fo i dito em Evolllçdo do povo Em Problemas de política objetiva, de brasileiro: o golpe d. Abol ição desarra nj ou ,1930, as reformas pro )ostas de naJ!l- C . ) a aristocracia rural, que, a partir daí, ou reza puramente IIlstitucioual e >olítica. In- prosseguiu sua rota de decadência ou se sistia na re onna da Constituição de' 1891, dirigiu às cidades em busca de alternativas no sentido de devolver ao poder central a de vida. O corte devia parecer-Ihe.ter sido força que tinha no Império, talvez com a tão violento que nunca cbegou a escrever o criaç-ão de um quarto poder. Lembrava o livro sobre a República prometido em Po­ uso dos conselhos técnicos, já adotados em pulações, promessa reiterada em O ocaso outros países. As leis sociais s6 apareciam do Imp ério. aí para serem criticadas pelo modo como A Abolição, logo seguida da República, eram fe itas: sem consulta a patrões e operá- inaugurou um mundo novo em que a ordem rios, o que as fa dava ao fracasso por fa lLa imperial, politicamente centrali7..ada, mas da adesão moral do povo. Criticava também alicerçada em valores rurais, deixou de ter as soluçõcs sociais dadas pelo nazismo, condições de sobrevivência. Novo arranjo fa scismo e comunismo. Chegou mesmo a fa zia-se necessário para substituí- la. Para propor soluçõcs individualistas, o que con­ Oliveira Viana, como para muitos republi- tradizia tudo que escrevera antes e escreve· •

94 ESlUDOSJnSTÓRICOS - 199111

20 ria depois. O ue dizia da década de - Estado caberia até mesmo forçar classes e �ma época de in eclS , sem fIS ionomia - categorias sociais a se organizarem, pois a ' pod ia aplicar-se a ele mesmo no que se organização seria a (mica maneira de se !Cre ria não ao diagnóstico, mas A receita exercer a cidadania no mundo moderno. ra os problemas do 1'!1s. ra a rase de Se antes a ênfase era nos direitos civis ta amento. ' como condição para o exercicio dos direitos A clareza na receita só parece ter surgido pollticos, agora os direitos sociais passa­ após a nomeação para a consultoria jurídica vam a ocupar o primeiro plano. Através da 1932 do Ministério do Trabalho, em Com incorporação do trabalhador e do patrão a compulsão que o caracterizava, passou a pela estrutura sindical e pela legislação so­ ler tudo sobre sindicalismo, corpotativis­ cial é que se criavam as condições para o mo, direito do trabalho, e direito social. exercício das liberdades civis e políticas. Muitos autores, antes ausentes, passaram a Operava-se completa inversão da seqüên­ povoar sua bibliografia. Alguns são ainda cia clássica da evol ução dos direitos como 30, hoje lidos e respeitados, como Gurvitcb, vista pOr Marshall. Antes- de Oliveira Sombart, Ta wney, Moreno, Mayo, G. Viana reclamava a mesma seqüência dos Fried.man, MacIver, To nnies, Sorokin, Ve­ países pioneiros da modernidade, isto é, blen, PerroU){ e Lasswell. Leu também ju­ direitos civis antes dos poHticos, sem falar ainda nos sociais. Agora, os sociaisé ristas e teóricos do corporativismo e as en­ 2ue se cíclicas sociais. Analisou'a experiência de tomavam pré-condição dos outros. 1 vários países europeus, dos Estados Unidos As novas concepções fo ram expostas e do Japão. emProblem as de direito corporativo, onde Oliveira Viana fez uma lúcida e convincel,l­ te defesa do novo direito social contra a A volta aopa s­ visão individualista tradicional. Seu princi­ ;;odo, ao patriarcalismorural, fo .i totalmente pal oponente era Wa ldemar Ferreira, pro­ abandonada. Conformou-se com o fato de fessor da Faculdade de Direito da USP e que o mundomoderno era o da indústria,do relator da Comissão de Justiça da Câmara. operariado, das classes sociais. A pergunta O debate girou em tomo do projeto de or­ agora era ganização da justiça do trabalho, redigido por comissão do Ministério. de que Oliveira Viana fIZ era parte. Contra o individualismo jurídico defendido por Wa ldemar Ferreira, essas assentado na idéia de contrato do Código a vantagem de poupar ao Civil, Oliveira Viana insistia em afinnar a país os dramas causados pela industriali.za­ natureza coletiva da realidade social mo­ ção capitalista, ainda incipiente, e de lan­ derna que pedia novos princípios de direito, çar- nos na direção de uma nova sociedade nova exegese, novos órgãos. novos proces­ hannoniosa t, segundo ele, democrática, sos, novos ritos, nova jurisprudência. Os pois envolveria, através de sindicatos e cor­ conflitos do trabalho, argumentava, eram porações, o grosso da populaçãona direção coletivos, exigiam convenções coletivas, política do país. A regência da orquestra sentenças coletivas com poder normativo. continuava sendo tarefa do Estado, com a Era dele, sem dúvida, a ostura moderna diferença de que agora sua açãoordenadora nesse e ate. e educadora Dão se exercia sobre os irre­ Olado político da nova visão foi exposto quietos clãs rurais, mas sobre os sindicatos, em Direito do trabalho e democracia so­ corporaçõese outrasorganizações civis. Ao cial, onde fo i defendida I política social do A lITOPIADE OUVEIRA VIANA 95

1937. governo em 1930 e refonnado em jamais cita. Havia no pensamento de Plínio Ficaram aí mais nítidos OS princípios orien­ Salgado alguns aspectos de que certamente tadores da política social concebida por não gostava: o totalitarismo,o apeloà m9- Oliveira Viana. Sua fonte era a doutrina !>i lização política, o culto,à liderança caris­ social da Igrej a. Desta doutrina se servia mática. AS críticas de Oliveira Viana ao especialmente para criticar o individualis­ tota Ilarismo eram freqüentes. Não rejeita­ mo, em cujo lugar colocava a pessoa, para va o individualismo liberal ao ponto de enfatizar a cooperação em contraposição ao pulverizá-lo no bojo do Estado. O conceito­

conflito,a justiça e o bem comum em con­ cbave era o de pss •soa, tirado da tradição trapo�ição à simples defesa de interesses católica, A pessoa é o indivíduo inserido individuais. As doutrinas corporativistas e nu�na rede de relações, um indivíduo que sindicalistas e omeClam a engen ada so­ mantém sua identidade, que deve ter seus cial e lítica moderna para im lementar direitos respeitados, Quanto à mobilização, valores ue não eram substancialmente IS­ embora, como vimos, a admirasse na for­ tintos dos que teriam revalecido na socie­ mação dos povos anglo-saxôn.ícos, ele a dade a rária do Império. Ó novo Estado ;;to aborrecia e nunca a propôs para o Brasil. deixa de ser ?gran e p�trjªrc,! benevolente ' velando sobre o bem-estar da nova grande de sua escala de valores: orga nização, 'o • • _ _ _ • fa mília brasileira. graça o, IUcorporaçao, cooperaçao, Sim, e A comparação com outros autores tam­ quanto mais melhor; mobilização, luta po- bém considerados autoritários ajuda a res­ lítica, conDito, não, pois eram forças desa­ saltar o específico da posição de Oliveira gregadoras como desagrega dores eram o Viana. Embora haja traços comuns ao pen­ latifúndio e o federalismo. Em sua utopia samento dos chamados autoritários das dé­ �ocial também não havia lugàr para lideran- cadas de 20 e 30, ponto tão bem desenvol­ ças carismáticas. Admirava, é certo,algun-s vido por Bolivar Lamounicr (Lamounier, estadistas do Império, os homens de mil. e 1977), há também importantes distinções. o papel do Imperador. Mas na fase social e A postura de Oliveira Viana não é, por trabalhista de sua obra, na rase utópica, os

exemplo, a mesma de Aze vedo Arnaral,um atores eram coletivos,• eram o governo, as -j declarado defensor do moderno capitalis­ corporações, os sindicatos. Seu ideal de mo. Em revisão sociedade era U,Dl corpo orgânicq que deve­ -- sua da história do Brasil, Azevedo Amaral adotava uma perspcct�va ria fu ncionar por conta própria, articulado inspirada na lei posilivista dos três estados por lideranças funcionais que o pcnneariam e valorizava tudo que apontasse para a so­ de alto a baixo. ciedade industrial moderna. ti- Ainda dentro do exercício comparativo, � parece-me que, além das origens rurais, do • banguê do Rio Seco, e da innuência católi- que seus ca, talvez o que mais afastou Oliveira Viana de corporativismo, eram tirados de muitos intelectuais seus contemporâ- -)( dos Estadoso.. Unidos. O autoritarismo para neos tenha sid

o brasileiro, em oposição, pelo menos pro­ destruir o mundo rural tão caro a Olivein visória, ao internacional ou universal, que Viana. A mesma comparação talvez pudes- poderiamser facilmente subscritas por Oli­ se ser feita com Gilbertn Freyre. De novo, veira Viana , que tinha até mesmo seu totem há muito em comum entre osdois, inclusive animal, contrapartida do jabuti da antropo- a simpatia pelo mundo rural. • fagia e da anta verde-amarela. Sugeria, se- de 01 iveira Viãiia guindo Gregório de Matos, ue se injetasse um pouco de sangue de tatu as veias de 9ue era estética, mas, principa lmente, so­ legisladores (1930:47- nossos pensadores e cial.., Seu modernismo levava-o a desinte· 8). Quando dizia ainda que entre nós cultura ressar-se do poder político e concentrar-se era alienação, poderia ser confundido com nas relações sociais, incl usive as mais ínti­ um partidário da antropofagia vociferando mas, com uma irreverência que escandali­ contra o lado doutor de nossa cultura.19 zaria Oliveira Viana. Em que o modernismo o separava de Regresso dos infernossem trazer Olivei­ pensadores de quem, de outro modo, estaria ra Viana de volta, nem lá fuj em missão de muito mais próximo? Parece-me ue o tra­ Orfeu. Mas talvez tenha conseguido salien­ ço modernista detenninante da diferença tar aspectos importantes de seu pensamento oi o da cu rura, ou da retendida ru tura, que o colocam dentro de �ma tradição a um . com o passado. Aruptura era a marca regis­ �e mpo distinta e marcante de nossa cultura. , trada do modernismo, tanto em sua vertente Entre o liberalismo ortodoxo ou o america­ ãilfropofágica quanto na verde-amarela. nismo de Ta vares Bastos e o liberalismo Tra tava-se de derrubara construído,de des­ conseIVador ou o autoritarismo instrumen­ truir as tradições, os mitos oficiais e falsos, tal de Uruguai, há o iberismo, ou seia li o I! de refazer o Brasil a partir de uma visão nome que se lhe dê, de Oliveira Viana. A abstrata e romântica das raízes indígenas. pe rguntâa se fa zer é se este iberismo, pro­ f Alguns modernistas, se não todos, deixa­ fundamente antagônico à visão liberal, or­ I vam-se fascinar pela técnica do mundo mo­ todoxa ou conseIVadora, não tcm raízes derno,pelas máquinas, pelasinvenções, pe. mais profundas em nossa cultura, raízesque las grandes metrópoles. Nada disso atraía podem estar na base das dificuldades de Oliveira Sua visão de fu turo implantação de uma sociedade liberal. A pergunta é se o inferno a que condenamos

de romântico nela havia e o omantismo- Oliveira Viana em vez de ser o outro, como a Vida fa zendeira idealizada. em que havia queria Sartre, não é parte de nós mesmos. brancos e negr os ex-esmy.os,.(negros que eStâoquase totalmente ausentes na antropo-

fagia), mas..-- não índi.'1§.. . . A diferença bbica entre Oliveira Viana e Sérgio Buarque de Holanda pode estar aí. Notas Há muito em comum no diagnóstico que ambos fazem da sociedade brasileira: o pe­ 1. Cilado em To rres (1956:62) 2. A crílica de Aslrogildo Pereira (1979), so da famíl ia, das relações pessoa is, do publicada pela primeira vez em 1929, deu o tom ruralismo, e mesmo da nacio- de muitas das críticas posteriores . Centrava-se nal para a democracia. Mas em Populn ç&smeridionais e denunciava o viés do de classe dominante do autor. Batista Pereira (1931), publicou originalmente sua critica em 1927 nolomal doCommercio. Seu alvo era "O zação, exatamente as forças que idealismo da· Constituição" e fo calizava espe- . , A UfOPIA DE OUVEIRA VIANA 91

cialmenteO caráter arbitrário de muitas das afir­ 11. A exprf.5são ê de Wa nderley Guilherme mações de Oliveira Viana. dos Santos (1978). 3. A primeira critica mais virulenta veio de 12, A análise do pensamento dos oonselbei ­ Nelson We rneck Sodré (I961). Em livro anterior ros foi feita por Carvalho, 1988, capo 4. (1942), este autor elogiara a obra de Oliveira 13. Sobre a visão integradora de José Boni­ t Viana. Na mesma linha de denúncia do racismo fáào, veja Carvalho (1988). e da submissão ao pensamento colonialisia , em­ 14. Sobre o pensamento católicoreacionário, bora com maior erudição, está o artigo da Vanil­ especialmente o de Jaclcson de Figueiredo, con­ da Paiva (1978). A crítica mais extensa, objeto sulte-se Francisco Iglésias (1971). de um li':'fo inteiro, foi produzida por José Ho­ 15. Pode-se perguntarse a rejeiçãoao totali­ nório Rodrigues (1988). O titulo já indica o tarismo e a defesa do Estado Novo como regime sentimento deste autor em relação a Oliveira democrátiro não passavam de retórica autoritá­ Viana. Para ele o sociólogo fluminense fora nada ria. ou mesmo de cinismo. Não me pareceque a menos que o responsável intelectual pelos gol­ vida e a obra de Oliveira Viana autorizem tal pes de 1937 e de 1964 (p. 3). Vejam-se também interpretação. No que se refere a seus valores as críticas de Sérgio Buarque de Holanda (1979) polfticos. ele foi coerente e explícito durante e de Dante Moreira Leite (1969). A tese deste toda 8 vida, mesmo sabendo-os impopulares. último, que deu origem ao livro, é de 1954. 16. Vej a "Discurso do Sr. Oliveira Viana".

• anterior ao liv,ro de Sodré. pronunciado na Academia Brasileira de Letras 4. Não existe uma biografia satisfatória de em 20107/1940. Oliveira Viana. Na fa lta de coisa melhor, consul­ 17. Veja "O vigia da casa grande" te-se a obra de Vasconcelos To rres (1956). (19240:247). 5. Além dos críticos antes citados, consul- 18. Não é piC::ciSO salientar a importância • tem-se as obras mais recentes de Vieira (1976), desta proposta e de sua implementação para a Medeiros (1974), Lima e Cerqueira (1971), Fa­ fo rmação da cultura política do Brasil oontem­ ria (1977), Moraes (1990), Alves Filho (1977), porâneo. Ela está no centro do que vimos cha­ Gomes (1989). mando de iberismo. 6. Vej a "O valor pragmático do estudo do 19. Sobre as duas fases do modernismo, veja passado", discurso pronunciado quando de sua Eduardo Jardim de Moraes (1978). ieccpçãO no Instituto Histórico e Geográfico,em 11 de outubro de 1924. 7. Vej a ""Do ponto de vista de Sirius..... A aítica de Batista Pereira, publicada no mesmo jornal em 23/10/1927. tinha título idêntico ao da BibliografIa resposta, menos a reticência. A tréplicade Batis­ ta Pereira saiu em 15/11/1927. com o título de ""Apassagem de Sirius". 8. Vej a Evolução do povo brasileiro, 1. Obras ihOliveira Viana 1923:28. Lembre-se aqui também a famosa pro­ posta de Martius (1845) sobre como se deveria 1.1. Livros escrever a história do Brasil. Martius atribuía à' história o papel de mcstra do futuro e do presente ' 1920. Populações meridionais do BrasiL Pau­ e de instigadora do patriotisD;lo. listas, fluminenses, mineiros. São Paulo, 9. Veja Uruguai (1960:9). Privilegio aqui o Monteiro Lobato e Oa. Ensaio, que êa obra mais teórica de Urugua i. Os 1921. Pequenos estudos de psicologia social. Estudos práticos sobre a administraçDo das pro­ São Paulo. Monteiro Lobato e Cia. vín cias no Brasil, são um imenso repertório de 1923. Evolução dopovo brasileiro. São Paulo, evidências empíricas sobre problemas adminis­ Monteiro Lobato e eia. trativos. 1925. O caso do Império . São Paulo, Melhora­ 10. Sobre o liberalismo conservador francês mentos. da geração 1814- 1848, baseei-me no excelente 1927. O idea lismo da Constitu ição. Rio de Ja­ trabalho de Pierre RosanvalJon (1985). nei ro. Te rrd de Sol. 9. ES1lJDOSmsTÓRICOS - 199117

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