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Nonada: Letras em Revista E-ISSN: 2176-9893 [email protected] Laureate International Universities Brasil Postingher Balzan, Carina Fior ERICO VERISSIMO – EDITOR: CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DO LIVRO NO BRASIL Nonada: Letras em Revista, vol. 1, núm. 26, 2016, pp. 94-104 Laureate International Universities Porto Alegre, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=512454190011 Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto Nonada, Porto Alegre, v.1, n.26, 1º Semestre 2016 – ISSN 2176-9893 94 ERICO VERISSIMO – EDITOR: CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DO LIVRO NO BRASIL ERICO VERISSIMO – EDITOR: CONTRIBUTIONS TO BOOK HISTORY IN BRAZIL Carina Fior Postingher Balzan1 Resumo: Além de escritor consagrado, Erico Verissimo realizou um dos mais consistentes projetos culturais concebidos no país em relação à difusão e circulação do livro enquanto editor da Livraria do Globo, em Porto Alegre, entre as décadas de 1930 e 1950, conduzindo o leitor a uma viagem através da literatura estrangeira. Este artigo pretende abordar as contribuições desse agente mediador literário para a História do Livro no Brasil a partir de uma pesquisa bibliográfica nas memórias do autor e de alguns estudos sobre a consolidação da Editora Globo no contexto cultural e comercial brasileiro na primeira metade do século XX, buscando também estabelecer um diálogo com a figura do editor dentro da História do Livro. Palavras-chave: Erico Verissimo, Editora Globo, história do livro. Abstract: In addition to acclaimed author, Erico Verissimo conducted one of the most consistent cultural projects designed in the country in relation to the dissemination and circulation of the book. As editor of the Globe Bookstore in Porto Alegre, between the 1930s and 1950s, he headed the reader on a journey by foreign literature. This text intends to approach the contributions of this literary mediator to Book History in Brazil from a literature search in the author's memories and some studies on the consolidation of Globo, a publishing house, in Brazil's cultural and commercial context in the first half of the XX century. This paper also seeks to establish a dialogue with the role of the editor within the Book History. Keywords: Erico Verissimo, Globo publisher house, Book History. Introdução Dentro da história cultural e comercial do livro no Brasil, merecem destaque pelo menos dois grandes projetos culturais: um, em São Paulo, dirigido por Monteiro Lobato na Revista do Brasil e na Companhia Editora Nacional, através da Biblioteca Pedagógica Brasileira, que monopolizou a produção de livros didáticos; outro, em Porto Alegre, encabeçado por Erico Verissimo, na Livraria do Globo, que no início da década de 1930 tornou-se nacionalmente conhecida pela divulgação de literatura estrangeira traduzida. Considerado um intelectual completo, escritor-editor-tradutor, Erico Verissimo realizou um dos mais consistentes projetos culturais em relação à difusão e circulação do livro no Brasil. Revelou-se um editor ousado e atento que conduziu o leitor brasileiro a uma viagem através da literatura estrangeira, principalmente a de língua inglesa. Inclusive, o destino da Livraria do Globo não seria o mesmo sem a participação de Erico Verissimo. A relação entre ele e a Livraria do Globo é tão estreita que é impossível dissociar a trajetória profissional do escritor dos serviços que prestou à Livraria, seja como funcionário, seja como colaborador. Sua estreia literária em alcance nacional, com o conto “Ladrão de Gado”, ocorreu na Revista do Globo, em 1929, cuja edição estava a cargo 1 Doutoranda do Programa de Doutorado em Letras UCS/UniRitter. Docente do IFRS-Campus Bento Gonçalves. E- mail: [email protected]. Nonada, Porto Alegre, v.1, n.26, 1º Semestre 2016 – ISSN 2176-9893 95 de Mansueto Bernardi. Em 1931, Erico tornou-se redator da Revista. Em seguida, foi secretário da Seção Editorial da Livraria do Globo e conselheiro editorial até o fim da vida. Este artigo aborda uma faceta de Erico Verissimo não tão conhecida do público leitor: as atividades que desempenhou como editor na Livraria do Globo e as contribuições desse agente mediador literário para a História do Livro no Brasil. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica nas memórias do autor (VERISSIMO, 1972) e em alguns estudos sobre a consolidação da Editora Globo2 no contexto cultural e comercial do país nas primeiras décadas do século XX (TORRESINI, 2004; TORRES, 2012; MARTINS FILHO; PAVÃO, 2003), buscando também estabelecer um diálogo com a figura do editor dentro da História do Livro (CHARTIER, 1999; HALLEWELL, 1985; DARNTON, 2010; ZILBERMAN; LAJOLO, 2003). A Editora Globo no comércio livreiro do Brasil no século XX As origens da Livraria do Globo remontam ao ano de 1883, com uma pequena papelaria e livraria, fundada por Laudelino Pinheiro Barcellos, na qual foi instalada uma oficina gráfica para realizar trabalhos sob encomenda. No entanto, o negócio prosperou com José Bertaso que, de empregado, fez-se sócio da livraria e, com a morte do fundador, em 1919, tornou-se proprietário. Com a nomeação de Mansueto Bernardi para diretor do departamento de propaganda, ampliou-se o mercado da Livraria, apostando na publicação de alguns títulos traduzidos, principalmente da Itália, França e Espanha, o que tornou a editora conhecida nacionalmente. Pode-se dizer, assim, que a Livraria do Globo iniciou um programa editorial regular apenas em 1928. O processo de industrialização ocorrido no Brasil, no início do século XX, é fundamental para compreender a indústria cultural e de livros. De acordo com Torresini (1999), nessa época já existia uma indústria de livros no Brasil, cujas demandas provinham das exigências de um público leitor escasso e do ensino público e privado, que criava a necessidade de material didático. No entanto, essa indústria ainda dependia da Europa, de onde vinha grande parte das obras já impressas e prontas para a comercialização, mesmo de autores nacionais. Com o estabelecimento de acordos comerciais de proteção dos direitos autorais, o Brasil importava ficção traduzida de Portugal, limitada tanto em abrangência quanto em quantidade. Além disso, antes da Revolução de 1930, o consumo de livros era privilégio de uma elite localizada nos grandes centros como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Salvador, que lia na língua original autores franceses como René Bazin, Pierre Renôit, Anatole France e Mirabeau. (HALLEWELL, 1985) Com a crise econômica mundial, a situação foi alterada, principalmente para países como o Brasil, totalmente dependentes de exportação de produtos primários. As importações de livros caíram drasticamente, ocasionadas pelo aumento dos preços. Segundo Hallewell (1985), pela primeira vez, desde o início do século XIX, o livro brasileiro tornou-se competitivo em seu próprio mercado nacional. Isso significava a grande oportunidade para uma editora de ficção traduzida, e a Editora Globo soube aproveitá-la, mantendo-se proeminente nesse campo até os anos 1950. A partir da Revolução de 1930, instaurou-se um estilo de política que incluiu a participação das massas, estimulou a radiodifusão e o desenvolvimento do cinema, do disco, da imprensa e do livro. Assim, alguns livreiros destacaram-se no mercado editorial brasileiro, como Francisco Alves, no Rio de Janeiro, e Monteiro Lobato, em São Paulo, que aproveitou as condições favoráveis da industrialização para criar uma empresa dependente de capital, mão de obra e mercado local, 2 A Seção Editora da Livraria do Globo tornar-se-ia Editora Globo em 1956. Nonada, Porto Alegre, v.1, n.26, 1º Semestre 2016 – ISSN 2176-9893 96 influenciando o desenvolvimento de outras casas editoras, como a Brasiliense, a José Olympio, a Livraria Martins Editora e a Civilização Brasileira. A Editora Globo surgiu no fluxo dessas grandes editoras, com o diferencial de que sua sede localizava-se num estado periférico e geograficamente distante do centro de produção e consumo de livros no Brasil. (TORRESINI, 1999) Além disso, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, o Rio Grande do Sul projetou-se politicamente no cenário nacional. Em 1931, Mansueto Bernardi abandonou a atividade editorial e assumiu a direção da Casa da Moeda, no Rio de Janeiro. Com isso, Henrique Bertaso, filho do proprietário, assumiu o setor editorial, enquanto a direção da Revista foi entregue a Erico Verissimo, contratado por Bernardi antes de sair. A Editora Globo, até 1930, tinha uma produção limitada de livros de autores gaúchos e traduções. A parceria entre Henrique Bertaso e Erico Verissimo trouxe excelentes resultados, iniciando uma fase em que as traduções tornaram-se o carro chefe da empresa. O contato deles com revistas especializadas e intelectuais de prestígio, a participação em feiras e o suporte financeiro da Livraria do Globo aos projetos foram imprescindíveis para o sucesso do empreendimento. Em 1936, a empresa já ocupava um edifício de três andares e possuía 500 empregados. A oficina contava com vinte máquinas Linotipo, e a editora já havia produzido cerca de 500 títulos. (TORRESINI, 1999) O caráter comercial da produção da Globo era evidente no início dos trabalhos de edição. Bertaso consultava o Publishers’ Weekly americano para buscar possíveis best-sellers para a tradução em língua portuguesa, além de estabelecer contato com agentes literários nos Estados Unidos. Com isso, a maioria dos primeiros livros que alcançaram sucesso junto ao público foi do gênero policial, o preferido dos anglo-americanos à época. Não se pode negar que a própria preferência de Erico Verissimo pela literatura de língua inglesa também tenha contribuído para a intensa produção de traduções de autores anglo- americanos. Outra influência decisiva foi Hollywood que, durante as décadas de 1930 e 1940, produziu muitos filmes baseados em obras literárias. De qualquer forma, a influência de Erico Verissimo foi fundamental para que a programação da Globo no campo literário ganhasse qualidade.