EDIÇÃO #03 (SETEMBRO 2018)

icou para trás mais um Vagos Metal Fest, que neste ano de 2018 viu a organização dar um novo passo em frente e apostar num formato composto por quatro dias e dois Fpalcos. Neste número especial do Appendix, poderão ler a nossa reportagem do festival e uma entrevista com o promotor Luís Salgado, onde é efectuado um balanço CONTEÚDOS desta edição. A Ultraje esteve atarefada 6 no Vagos Metal Fest e isso pode ver-se nas restantes páginas do Appendix, que apresentam entrevistas realizadas nos bastidores do festival e onde o destaque vai para Ratos de Porão. João Gordo fala à Ultraje com alguma mágoa, explicando as RATOS DE razões pelas quais a banda do Brasil não se sente motivada para gravar um novo disco de originais.

Numa conversa bem-disposta que pecou por ter sido interrompida a meio, Tony Foresta dos Municipal Waste teceu comentários PORÃO acerca da cena thrash e da recente tour norte-americana que fizeram em conjunto com os Exodus. Já os suíços Bölzer comen- A GRITAR FODA-SE DESDE 1981 taram a notoriedade que alcançaram com “Hero”, o longa-duração de estreia editado pela Iron Bonehead em 2016. O Vagos Metal Fest serviu também para FICHA TÉCNICA pormos à prova o nosso novo modelo de ULTRAJE APPENDIX negócios, que consiste em disponibilizar a Ultraje gratuitamente no formato físico. 8 INSTALAÇÕES: CORRESPONDÊNCIA: EDITORES Com todas as unidades entregues a leitores R. Gomes Freire, 383 Apartado 527 Joel Costa | [email protected] ávidos por conhecer as novidades que CC Garrett, Loja 31 EC Ovar Diogo Ferreira | [email protected] marcam este Verão, e depois de vermos BÖLZER 3880-127 Ovar 3880 Ovar revistas enroladas nos bolsos daqueles que DESIGN & PAGINAÇÃO ousavam aventurar-se no moshpit, temos a www.ultraje.pt | [email protected] Joel Costa & Cátia Cunha www.facebook.com/ultrajept esperança de que o público saiba reconhecer 4 CAPA Loja Online: www.shop.ultraje.pt que o valor de um produto não se traduz Fotografia: Clayton Clemente Edição/Design: Joel Costa pelo preço que apresenta. Para além dos DIRECÇÃO leitores, resta-nos também agradecer às MUNICIPAL WASTE 10 Joel Costa COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: bancas que distribuíram a revista! Cátia Cunha Diogo Ferreira, João Correia, Numa conversa rápida, Tony Foresta fala-nos sobre a tour Diogo Ferreira Joel Costa, Vânia Matos com Exodus e da cena thrash metal. VAGOS METAL FEST Editor 02 - APPENDIX #03 r. Pickles” é uma série de animação Sempre que tocamos com eles, influenciamo-nos uns aos outros, e posição do Top da Billboard na categoria “New Artist / Heatseekers”, criada pela dupla Will Carsola & Dave os Exodus dão sempre o seu melhor, todas as noites.» Para além de um sucesso reproduzido em tops semelhantes que indicava o quão Stewart para o Adult Swim, um canal dar voz aos Municipal Waste, Tony Foresta está também envolvido bem se estava a dar nas vendas. Questionámos Tony se tinham por assinatura norte-americano. Até aqui nos , uma banda em que se juntam ‘Landphil’ Hall recebido as notícias com surpresa, ao que o músico assente: «Se me nada demais, se não fosse pelo facto de (guitarrista dos Municipal Waste e ), o baixista Rob dissesses há quinze anos que esta quantidade da gente se iria impor- “Mo canal se ter unido aos Municipal Waste e aos Exodus para pro- Skotis (Hellbear) e ainda um duo saído dos Mammoth Grinder, Ryan tar connosco... Começámos a compor música para tocar nas caves mover a série na recente tour que teve lugar nos EUA e que recebeu Parrish e Mark Bronzino (baterista e guitarrista, respectivamente). das pessoas e fazer uma tour pela América, mas nunca pensámos como nome “Mr. Pickles Thrashtacular”, onde o público - para além Foresta fala sobre as dificuldades em manter ambos os projectos vivos chegar aqui. No fundo, continuamos a ser aqueles amigos que querem de desfrutar de uma boa dose de metal - teve ainda a oportunidade e de boa saúde: «Hoje estou em Portugal e amanhã vou para Itália», divertir-se com isto. Não sei se o conseguirei fazer por mais dez anos, de participar em actividades relacionadas com “Mr. Pickles”. Tony exemplifica.«Aguento-me com muito álcool. Também tenho comido até porque isto tem um impacto físico, mas logo se verá.» Foresta, vocalista da banda de Richmond, no Estado da Virginia, muitas cenouras ultimamente, tento dormir o máximo de tempo Neste momento, o músico era avisado que tinha de se preparar para explicou à Ultraje as razões por detrás desta parceria: «Somos muito possível... Álcool...» Depois de uma gargalhada, o músico acrescentou o concerto. Enquanto se arranjava, e antes de subir ao palco do Vagos bons amigos dos Exodus e dos tipos que criaram a série do “Mr. que «é necessario planear tudo com muita antecedência» e «ter a Metal Fest, o vocalista teceu um comentário sobre o revivalismo do Pickles”. É um programa muito popular nos EUA e os tipos que o certeza de que ambas as bandas estão activas». «É de doidos, com o thrash metal vivido na altura do aparecimento da banda: «No início produzem não só são grandes amigos nossos como até realizaram ‘Landphil’ a compor em ambas as bandas. É algo que nos deixa muito era algo que me incomodava, pois começaram todos a imitar-nos. o nosso vídeo para o tema “Unleash the Bastards” [presente no ocupados, mas é divertido. Prefiro fazer isto a ter um trabalho das Havia uma série de bandas a copiar a nossa imagem, o nosso estilo... álbum de 2006, “Hazardous Mutation”]. Basicamente foi um grupo nove às cinco. Mas atenção», justifica,«não estou a criticar ninguém! Era muito estranho», confessa. «Agora não, agora acho que é excelen- de amigos que se conhece há longa data que se juntou para fazer As pessoas fazem o que quer que as apaixone. Eu adoro música e te. Sinto que as pessoas de facto ouvem-nos. Há muitas bandas novas isto.» Para o frontman, as 13 datas da tour que arrancou em finais é isto que preciso de fazer para ganhar dinheiro. É preciso trabalhar a partir tudo e não acho que o thrash metal vá embora. Houve uma de Fevereiro de 2018 deixaram saudades: «Passou tão rápido», muito, especialmente para uma banda como a nossa em que não fase em que já não era fixe gostar de thrash e as pessoas olhavam-te comenta. «Divertimo-nos imenso mas parece que a tour só durou dois vendemos muitos discos, nem somos super importantes.» A Ultraje de lado se gostasses, mas acredito que agora veio para ficar.» dias. Passámos mesmo grandes momentos.» assinala o facto de os Municipal Waste terem um mercado grande nos Estados Unidos. «Safamo-nos bem», responde, «mas não é como se Se tivéssemos que enumerar possíveis parceiros para acompanhar fôssemos ricos ou algo do género. Temos contas para pagar, como os Municipal Waste na estrada, os Exodus - ainda que partilhem o o seguro... Bem, nós não temos seguro, mas queremos tê-lo um dia mesmo background de thrash metal - poderiam não ser o primeiro destes. [risos]» nome a ser sugerido, mas Foresta viu aqui a oportunidade de misturar o melhor de dois mundos: «É um par perfeito», justifica. Editado em 2017 pela Nuclear Blast, “Slime and Punishment” - o «Influenciámo-nos muito nos Exodus, não é novidade nenhuma. sexto e mais recente longa-duração da banda – estreou-se na terceira

04 - APPENDIX #03 conseguimos nenhuma, e isso não nos incentiva a gravar de Nicolás Maduro, gerando várias críticas entre os fãs um disco novo. Tenho umas coisas novas para lançar lá no venezuelanos que colocaram em causa as ideologias da Brasil, coisas que eu fiz. Participei em temas de Volkana, banda. «Nós temos um lema: Gritando “Foda-se” desde Krisiun, entre outras bandas, com uns amigos, mas não 81», diz-nos. «Sempre foi assim. Foda-se, andamos aqui incluímos Ratos porque o povo só quer ouvir música velha e a fazer o quê? Nós ganhamos dinheiro limpo enquanto os isso não nos dá incentivo algum. Não precisamos de ensaiar outros andavam lá na cidade deles a destilar ódio. Eu estou para tocar músicas velhas, pelo que nunca nos encontramos aqui a correr atrás das coisas, a fazer algo pela vida.» Houve para ensaiar.» ainda tempo para dar mais uma achega à política no Brasil: «Recuso-me a entrar na política, porque a política no Brasil é Pioneiros na América do Sul, os Ratos de Porão juntaram muito podre. No Brasil nada é possível, só é possível roubar. o melhor do punk com o metal, criando uma sonoridade Preferia escrever letras sobre campos, animais, amor e sobre muitas vezes imitada mas nunca igualada. «Como ouvimos coisas positivas. Mas não vou falar de política, não. A política músicas do mundo inteiro, temos influências de todo o já chateia e o Facebook está igual ao Orkut, onde a escória mundo», observa. «Eu acho que Ratos é o quê? Crust com fala mal dos outros.» influências de Exodus e daquele som da Bay Area. Ratos é único e não existe outra banda igual. Não é D.R.I., não é TERVEET KÄDET Corrosion of Conformity, também não é um metal meio punk inglês; é uma coisa única. Tem influência de grunge e dos Não há novo álbum de originais à vista mas há uma novi- anos 90. É uma mistura que não existe em mais nenhum dade boa o suficiente para aguçar o apetite dos fãs, pois os lugar pois lá no Brasil misturamos tudo. Ratos é algo único Ratos de Porão estão a planear a edição de um disco que irá que as pessoas não entendem, e pelo facto de eu cantar em homenagear a banda de punk finlandesa, Terveet Kädet.«Eu português não absorvem. Se cantasse em inglês seria mais gravei as oito músicas do EP dos Terveet Kädet, o “Ääretön absorvido. Eu não sei falar inglês porque a minha geração Joulu” [originalmente editado em 1982]», partilha com a punk é uma geração muito selvagem. O Boka e o Juninho Ultraje. «Vou gravar tudo em português e lançá-lo. Não sei são mais jovens, falam inglês fluente, mas eu e o Jão somos quando mas é algo que vou fazer, é uma ideia minha. Enviei selvagens. Só não nos tornámos bandidos e traficantes por uma música ao Veli-Matti ‘Läjä’ Äijälä [vocalista] mas ele causa dos Ratos.» não respondeu. Vou lançar tudo igual: a capa vai ser igual, o logótipo vai ser igual - só que estará lá escrito Ratos de Porão Chegou a Internet e as vendas de discos começaram a sofrer -, as mesmas músicas, com quatro em cada lado, mas com um impacto negativo. Por outro lado, multiplicaram-se as ini- letras em português, mais actuais. E não lhe vou dizer nada, ciativas que surgiram na forma de plataformas de streaming, foda-se. É uma homenagem.» redes sociais, canais do YouTube ou revistas digitais, algo que João Gordo vê de forma positiva: «Creio que nunca houve Os dias dos Ratos de Porão ainda não chegaram ao fim. Há tanta divulgação. Vais ao Japão e é igual, vais à Indonésia muito mais para ser feito e resta apenas aguardar. Até lá, a é igual, na Rússia é igual, é tudo igual. Quem é metal, banda continuará a detonar na estrada. quem é punk, quem é grind, é tudo igual, e isso é muito bom. Não existe diferença. A Internet acabou por regularizar EST. 1981 temos mais de 15 anos de estrada e temos prazer em viajar juntos. (1987), foram criadas versões em inglês para os álbuns “Brasil” e tudo e há mais informação.» Contudo, a injustiça volta a Também fazemos o som juntos porque é difícil para nós ensaiarmos, “Anarkophobia”. Esta parceria com a Roadunner viria ainda a resultar passar-lhe diante dos olhos, acrescentando: «Mas é assim, Poucas bandas capturaram o espírito do Brasil como os Ratos de pois cada um mora num lugar muito distante, embora o Juninho na edição do longa-duração “Just Another Crime... in Massacreland” as bandas americanas têm um estatuto. Se os Ratos fossem Porão. Ao longo de quase quarenta anos de carreira, os brasileiros tenha um estúdio.» (1994), o primeiro com as letras pensadas para o inglês e sem que americanos, seriam uma banda mainstream.» começaram como uma banda incógnita do punk, com o clássico se fizesse acompanhar, como vinha sendo hábito, de uma alternativa “Crucificados Pelo Sistema” (1983), até estrelas do crossover João Gordo articulava um volume considerável de informações dispos- na língua-mãe. Depois disso, seguir-se-ia “Feijoada Acidente”, um POLÍTICA com “Brasil” (1989) e “Anarkophobia” (1991). As novidades tas em curtas frases que não tinham relação alguma entre si, entre registo dividido em duas versões (Brasil e Internacional) em que o discográficas não são muitas – João Gordo tem uma explicação elas o facto de estarem a planear gravar um novo disco ao vivo. A grupo daria uma nova roupagem a temas das suas bandas favoritas. O mundo viu Lula da Silva na prisão, a subida ao poder para tal – mas a máquina brasileira continua muito activa nos notícia é, por si só, razão suficiente para os fãs de Ratos de Porão se Só que os Ratos, habituados aos vastos oceanos de água salgada, de Michel Temer e a entrada de Jair Bolsonaro na corrida palcos, havendo finalizado umatour de nove datas na Ásia antes rejubilarem, ou não fosse o álbum “RDP Vivo”, editado em 1992, viam-se agora obrigados a nadar em águas doces, e em 1997 esta- presidencial. Com o Senado brasileiro sempre envolto em de os termos encontrado nos bastidores do Vagos Metal Fest. Num uma referência do género entre os apreciadores do estilo. Porém, a vam de volta ao Brasil e ao underground com “Carniceria Tropical”. escândalos de corrupção, quisemos saber o que João Gordo percurso onde os pontos altos excederam os baixos, a Ultraje pediu banda de São Paulo - que na sua página oficial do Facebook aponta «Cantar em inglês foi uma exigência da editora mas eu não domino sente acerca do estado políticio do seu Brasil: «É óbvio que ao vocalista João Gordo que fizesse uma retrospectiva da carreira como interesses a Física Quântica ou a Astrologia da Babilónia – não a língua», explica. «No meu tempo, eu e o Jão éramos pobres, então os media controlam o povo do Brasil. É óbvio para o mundo da banda, algo que reviveu com alguma surpresa: «Nunca esperámos edita um longa-duração desde 2014, altura em que “Século Sinistro” não tínhamos dinheiro para pagar um curso de inglês. Hoje em dia que o povo do Brasil é ignorante, é o povo mais burro e chegar tão longe com Ratos. Chegar tão longe foi uma vitória. Existe chegava após um longo jejum de oito anos, o tempo que o separou falo um inglês muito básico. Por viajarmos muito, aprendemos a desprezível do mundo. A herança do europeu é o racismo e a uma amizade muito grande entre nós os quatro. São três vegans e de “Homem Inimigo do Homem”. «Chegámos a uma conclusão: falar um inglês básico, só que na época viajámos completamente ignorância, e isso está lá no Brasil. O povo é racista, mesmo um carnívoro com açougue», diz-nos com uma gargalhada, fazendo tanto trabalho para gravar um disco novo para depois não o tocar ao “burros na língua”. Tipo os Sepultura... Os Sepultura explodiram sendo mestiço. O povo que se acha branco é mestiço; então, referência a Jão, guitarrista e fundador. João Gordo serve-se da sua vivo», diz-nos não escondendo a sua desmotivação. «Nós vemos pelo porque eles falavam inglês fluente e os Ratos não. Era punk burro. É no Brasil, as coisas estão a rumar em direcção ao fascismo piada para exemplificar o quão unido é o grupo:«Damo-nos muito povo pop do Brasil, que só lançam singles. Gravas catorze músicas essa a diferença.» No seguimento da conversa, João Gordo justificou com esse Bolsonaro. A Globo controla tudo, os media bem, e o Jão, quando viaja connosco, só come comida vegan.» O para tocar duas e isso é mau.» Em 1989, com o apoio do então também a falta de vontade em lançar novos discos: «Não estamos controlam tudo. Quem vai ganhar [as eleições] é o candidato vocalista desenvolve: «Respeitamos o Jão e ele respeita-nos. Foi baterista dos Sepultura, Iggor Cavalera, os Ratos de Porão juntavam- em nenhuma editora [grande] e ninguém nos quer porque cantamos da Rede Globo, dos media, que controla os idiotas. Como ele quem fundou Ratos, eu só entrei em 1983. É meu compadre e -se ao elenco de luxo da Roadrunner, que à data editava nomes como em português. Se os Ratos cantassem em inglês, acho que a abertura o brasileiro é muito burro... Coitado do brasileiro», diz com eu sou padrinho da filha dele. O Boka [baterista] entrou em 1991, os próprios Sepultura, Slayer ou King Diamond, contudo impunha-se a a nível mundial seria muito maior. A única editora [internacional] que algum sarcasmo à mistura. Relembrámos o vocalista sobre já está há muito tempo na banda. O Juninho [baixista] entrou em vontade de verem os brasileiros dar um passo em direcção à interna- aceitou trabalhar connosco foi a Alternative Tentacles - assim como a recente controvérsia que envolveu os Ratos de Porão, 2003, pelo que esta é a formação dos Ratos com mais duração. Já cionalização e disponibilizarem os seus registos na língua inglesa. A outra de Espanha -, mas pelo facto de cantarmos em português é aquando da sua participação num festival de música que par do que já havia sido feito com “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo” muito mais difícil conseguir uma editora. Tentámos este ano e não teve lugar na Venezuela e que foi promovido pelo governo

06 - APPENDIX #03 07 - APPENDIX #03 eclética e caótica do ponto de vista do ciclo de um herói, que pode ser encontrada em literatura antiga e dos continentes mais a sul. A norte tens as sagas, mas estas também existem no continente sul-americano. São tratados naturais dos povos, que abordam as leis naturais e o equilíbrio natural... [pausa] A pergunta é perfeita, pois “Hero” não se foca apenas na tradição indo-europeia, ainda que muita da sua imagética prove- nha daí. Trata-se de um fenómeno global e a essência da nossa música baseia-se nesse fenómeno.»

Actualmente não é fácil criar um disco de metal mais maduro, inteligente e adulto. Recentemente, os Bölzer foram acusados nos websites do costume de ligações aos neofascismo/neonazismo. Quisemos saber o que pensa KzR dessa nova histeria colectiva que assola os Estados Unidos. «É importante que as pessoas sejam corrigidas quando começam a difamar outras pessoas, naturalmente. Quanto à pergunta, a resposta é simples. A culpa é da da política mundial. Os governos de política externa, como o dos Estados Unidos e os principais go- vernos da Europa Central, trabalham todos em conjunto e têm dois objectivos em mente: controlo e lucro.» Ou seja, o neoliberalismo parece fazer parte do problema. «Com certeza que sim! O neoliberalismo é a corrente que toda a gente gostaria de adoptar quando tudo falha. Acredito piamente que, actualmente, existe uma forma de retrocesso evolucionário em curso. A falta de educação académica, a proximidade da Internet e dos media online... O acesso a todas estas ferramentas e tecnologias complexas serve para oprimir a composição humana, pois mantém as pessoas entretidas com fait- -divers e afastam-nas dos verdadeiros problemas, como manteres a tua liberdade individual. No entanto, tudo isso está a falhar rotundamente. O neoliberalismo é um animal pequeno e encurralado que tenta defender-se de todas as mãos que se aproximam dele, algumas para lhe fazerem mal, mas outras para lhe darem uma oportunidade para o ensinarem. Tentar morder todas as mãos que se aproximam de ti é um erro. Claro que o assunto é muito mais complexo do que apenas isto, mas tendo em conta o tempo que temos para o deba- ter... Depois, o populismo também não ajuda – quando as pessoas se unem para culpar um único político por tudo o que acontece de errado à escala global, as coisas não estão bem. O populismo é o ponto de partida do fascismo. Em suma, queremos que o caminho dos Bölzer seja o mais afastado possível desses escândalos. Sou uma pessoa fortemente crítica de tudo o que é errado à esquerda e à direita, mas é importante que eu vinda dos Bölzer a Portugal era aguardada com se em certas coisas, como ouvir música, criar música, o trabalho não me torne apenas em mais um número circense.» expectativa, mas seria difícil de prever que, menos artístico em geral... São tudo coisas a que prestamos atenção. Claro que a fixação de KzR por Nietzsche ajudou a fazer de “Hero” de dois anos passados sobre a edição de “Hero”, Também é uma forma de exteriorizarmos, e quando tocamos ao o que ele é, um disco pessimista, mas também pragmático. Afinal, o disco que colocou Thierry Okoi Jones (KzR) vivo e tudo se enquadra na perfeição, com tanta energia a fluir o que é um herói se não uma forma de super-homem? «Descobri e Fabian Wyrsch (HzR) na boca do mundo, estes se e a obter resposta, geralmente as coisas correm bem, consegues Nietzsche com 16 ou 17 anos e o impacto foi tão profundo que, Aapresentassem em Portugal, ainda para mais num festival que, em- entregar-te à tempestade de energia. Debita-la para o público, que anos mais tarde, o filósofo influenciou a minha música. Trata-se de bora orientado pela pluralidade, raramente aposta em bandas de ta devolve e voltas a debitá-la – é um processo cíclico de obtenção uma personagem muito poderosa e que pode oferecer tanta coisa a nicho, mesmo que elas estejam a moldar o metal da forma como o e distribuição, sem dúvida.» tanta gente distinta... Principalmente nos tempos que correm. Não conhecemos. Bandas como os Bölzer, portanto. Em 2016, “Hero” estou a tentar passar a mensagem de Nietzsche na minha música, foi considerado amiúde o disco revelação do ano por parte da É necessário perceber o conceito de “Hero”. Trata-se de um disco mas foi o autor que me levou a adoptar o pensamento livre. Em imprensa especializada e não só. Por mais que odiemos perguntas que fala do passado distante, de mitologia, folclore e lendas; logo, suma, fez com que eu passasse a olhar para o meu redor de forma de algibeira, seria impensável não começarmos a entrevista per- de deuses e heróis. Todos estes temas estão associados a uma crítica. Admiro imenso a ciência, mas também me inclino para a guntando ao homem das 10 cordas como é que tem corrido a vida forma de comunicação vetusta, a tradição oral – os feitos heróicos parte metafísica, que ele tão bem representa.» pós “Hero”. «Na verdade, temos estado atarefadíssimos. O “Hero” e as lendas eram passadas oralmente de geração para geração deu-nos uma notoriedade invulgar e temos estado constantemente para que não desaparecessem. Foi um método tão marcante Porque “Hero” já saiu há quase dois anos, quisemos ainda saber na estrada a promovê-lo. Depois, é sempre muito divertido ir tocar que, em 2018, essa forma ainda é utilizada entre certos povos sobre planos futuros para o seu sucessor. «Estamos a compor às Américas – fomos lá já por três vezes e na última ocasião indígenas. KzR tem ascendência nigeriana e a Nigéria é um desses material novo e estamos muito satisfeitos com a orientação que tocámos tanto na América do Norte como na América do Sul.» países onde a tradição oral ainda tem tanta importância hoje em está a tomar. Queremos lançar algo mais pequeno inicialmente dia. De repente, tudo parecia indicar que “Hero” beneficiou da para depois lançarmos um álbum ou um número de mais alguns De facto, os Bölzer não têm feito outra coisa que não tocar ao herança cultural única de Jones. «Não, de maneira nenhuma. Não pequenos lançamentos. Ainda não temos a certeza, mas o novo vivo, mas é na performance em palco que os suíços mais se me identifico como sendo nigeriano, tenho um quarto dessa prove- trabalho é muito emocionante, é fresco e diferente do “Hero”. destacam – cada concerto é um atestado de intensidade sólida e niência. Claro que é uma parte importante de quem sou, mas não Continua a ser Bölzer, mas... Sei lá... Talvez um pouco mais constante, o que torna obrigatório vê-los actuar pelo menos uma me vejo como sendo nigeriano. Entendo onde queres chegar, e é negro? Ainda é cedo de mais para falar sobre isso, mas será um vez. A proveniência dessa intensidade tem uma explicação lógica. um excelente ponto, pois certos povos indígenas de África mantêm bom trabalho.» «Somos apenas pessoas muito dedicadas. Temos bastante interes- a tradição oral. A tradição oral presente em “Hero” é uma mistura

08 - APPENDIX #03 eles. Não sou grande fã de metalcore ou deathcore, mas acho que uma vez. Entretanto aproveita para expandir o pensamento, voltando Estado e a vossa não? Porquê? Achas que não tens valor? Acho que Whitechapel era importante. Acabou por, financeiramente, não correr a tocar no assunto que é o mercado e as escolhas que têm de ser tenho valor, e sei que tens valor também. A nossa luta não é entre assim tão bem.» feitas: «Sabemos aquilo que falamos uns dos outros… Uns são os nós. Já nem faz sentido a cena de vestires de preto, teres barba e Sexta-feira, 10 de Agosto, protagonizou a enchente devido a Vagos hipters, outros são os trves. O público acaba por ser um entrave a cabelo comprido – já chega, não vivemos antes do 25 de Abril de 74. receber Moonspell novamente e Cradle Of Filth pela primeira vez. ele mesmo. Quando começamos a atribuir rótulos para um mercado Queremos abrir-nos para o mundo, mas temos que nos abrir cá dentro «Moonspell acaba por ser um marco, sempre, principalmente nesta tão pequenino como o nosso é muito difícil construir alguma coisa, e também, senão o que nos vale abrir lá para fora e querer que venham zona. Um concerto deles é irrepreensível. Aliás, a falha que houve a verdade é que chegas lá fora e o rótulo nem sequer interessa. Isto cá pessoas se nem aceitamos as nossas diferenças em Portugal? [corte de electricidade] não teve a ver com Moonspell, teve a ver não é futebol, isto é música. Quando construímos o cartaz e quando Diferenças que nem são de etnia, são sociais e de gostos – tu gostas connosco.» A primeira falha eléctrica ocorreu logo no primeiro dia começamos a mandar os nomes cá para fora, estão à espera que seja de metal e há quem goste de reggae, e se calhar há aqui um ponto durante a recta final da prestação dos Orphaned Land, repetindo-se eu a decidir? Se eu decidisse não havia power metal nenhum. Ontem de convergência. Cultura é cultura. Esse problema não há-de demorar no dia seguinte em Moonspell e Cradle Of Filth. Todavia, Luís não se [11 de Agosto] tivemos um dia muito fraquinho; não foi aquilo que tanto tempo a ser resolvido, porque obviamente tudo se renova, escuda em nada: «Temos de assumir as culpas daquilo que acontece. estávamos à espera. Meti e Sonata Arctica. Pensámos que o mesmo a nível do metal em Portugal.» Não sou aquele tipo de pessoas que diz que foram os gajos da Vagos precisa disto. Na verdade ficou provado que não precisa. Mas empresa de som ou de luz. Não, fomos nós. Fizemos um plano para tendo em conta o passado, seria esta a sequência lógica. As bandas «Portugal é burocrático», reinicia Luís Salgado de modo a fazer uma dois palcos, chegámos ao final do dia e apercebemo-nos que não era foram boas e fizeram o trabalho delas, mas ontem foi fraco, talvez ponte com a linha de pensamento anterior. «Este ano fomos persegui- suficiente, porque as bandas têm de ter certas condições e não dava porque foi aquele dia que construímos na base do preconceito do que dos de uma maneira brutal. Tivemos sempre a polícia à porta antes de para os geradores que contratámos. Este terceiro ano é para acabar a havia aqui em Vagos. Vagos é o sítio e foi um erro meu pensar que abrirmos para verem se estava tudo ok – como sempre esteve. Mas licenciatura. Já trabalho há muitos anos em promoção, mas trabalhei tinha de acompanhar aquilo que aconteceu antes, mas não tenho. este ano sentiu-se uma pressão maior.» Perguntámos imediatamente sempre num aspecto underground. Tudo aquilo que fiz foi sempre um Hoje [12 de Agosto, com Suicidal Tendencies] foi um dia ganho e se se sentiu algum teor de sabotagem, mas Luís acha que não é caso nicho de mercado e o Vagos neste momento é massivo. Levo uma sexta-feira também [10 de Agosto, com Cradle Of Filth]. O dia que para tanto, transformando a situação num ponto-de-vista positivo: chapada como muita gente leva. No primeiro ano levei uma chapada, pensávamos ser mais confortável e que ia correr de uma maneira «Acaba por ser a validação de que nos estamos a tornar numa coisa a e há uma coisa de que eu gosto em Vagos que é o desafio. Podia ter segura [11 de Agosto, com Kamelot], não foi o que correu melhor. sério. O meu pai era agente da PSP e sempre fui muito ensinado a ter feito o primeiro ano sem grandes bandas – tinha tudo do meu lado, Até Orphaned Land [9 de Agosto] foi uma aposta muito mais ganha. aquilo que não gostava. Sempre fiz isso desde o primeiro ano; eu e [porque] as pessoas queriam que isto acontecesse e podia ter feito A nível de negócio, quinta-feira foi muito melhor do que sábado.» o meu irmão [Ivo]. Chateia-me mais a parte de ao terceiro ano ainda tudo às três pancadas. Esforçámo-nos.» não se terem apercebido disso. Se quisesse escapar a alguma coisa À medida que a conversa, que resultou em 40 minutos, se ia era no primeiro ano, não era no terceiro – era só estúpido fazer isso.» Ao longo da conversa torna-se evidente que, por mais que Luís desenvolvendo, também as perguntas se tornavam mais complexas Salgado e a sua equipa sejam a máquina do presente, as bases já ao ponto de querermos saber pormenores que podiam muito bem já Já no pedaço final da entrevista decidimos soltar as amarras de estavam implementadas previamente, mas sair de uma zona de estar fora da competência da Amazing Events. Perguntámos: tendo assuntos sérios e tornámos aquele pequeno convívio dentro de conforto que, para eles, é Lisboa e subir até um concelho com pouco a Câmara Municipal de Vagos como apoio principal, que é um órgão um contentor em algo mais suave, referindo dois detalhes que na mais de 20.000 habitantes pode ser um obstáculo. «Não é uma do Estado, e tendo em conta que se quer que o VMF seja um ícone perspectiva da Ultraje ficam retidas na memória ao longo daqueles coisa que seja difícil para nós, porque se sentes o apoio da entidade nacional, há conhecimento de que há algum interesse do Estado/Go- quatro dias de festa imparável: pais acompanhados por filhos de que basicamente licencia o festival [CM Vagos], obviamente que é verno sobre o que se está aqui a passar? Depois de uma pausa, Luís tenra idade e adolescentes com camisolas de, por exemplo, Sodom fácil», assegura. «Não é tão difícil como se chegarmos a um sítio responde: «A pergunta é bem feita, a minha resposta vai ser feia.» e Mayhem. É uma das vitórias do Vagos? «Não vou considerar uma onde nunca aconteceu nada deste género e apresentarmos algo novo. Venha de lá isso então – somos todos ouvidos. «Desde o primeiro vitória porque para mim não foi o suficiente», mostrando mais uma Aqui [em Vagos] não tenho que fazer esse trabalho – as portas não ano que a minha grande luta é abrir as portas do metal a coisas que vez que estagnação e esforço mínimo não fazem parte da ossada da foram abertas por mim. Não vou assumir os louros dessa conquista para mim são tão simples. Se fosse uma pessoa que trabalhasse Amazing Events. «Sou uma pessoa de bom trato e gosto de falar com para mim, isso já estava conquistado.» Contudo, interrompemos o numa empresa de marketing, até a nível estatal, e se olhasse para as pessoas, mas não gosto de dar a cara por alguma coisa. A verdade raciocínio do nosso entrevistado para sublinhar que, mesmo assim, um festival deste género com olhos de ver ia sempre perceber que há é que, no fundo, ao assumir este projecto tenho que assumir certas devem assumir a conquista de conseguirem prosseguir com uma pro- aqui algum valor. Aliás, isso para mim já nem é uma questão, já não coisas. [pausa] Sinceramente, aquilo que mais gostei no festival foi dução que já existia mas que de repente acabara. «A cena mais fixe é estamos a trabalhar no metal de há 20 anos. Tó Jó, os incêndios na ver os putos a brincar. Passo pelo recinto e vejo três putos a fazerem conseguirmos meter a nossa identidade. Podia ter continuado com 10 Noruega – já não estamos nesse filme. Vagos é o festival que tem castelos de areia – isso para mim é uma cena muito importante. Mais bandas por festival, mas não queria fazer isso. Se era para pegar no gerações dos 4 até aos idosos dos 80 anos [referência à campanha abertura para o metal do que isso não há. Podes estar a curtir uma projecto, [então] que fosse um bocadinho à minha maneira.» do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo]. Temos muita venda cena como Suicidal Tendencies e teres ali putos a brincar na areia.» nquanto ao fundo se ouvia o derradeiro concerto do Vagos produção tem três anos. Temos sempre de cometer uma loucura e que muitas vezes passa pelo desconhecimento geral sobre o que é para pessoal acima dos 60 anos, porque gostam de Helloween, Ora, esta resposta tinha claramente que resvalar para a campanha Metal Fest 2018 pela toada thrashy dos Rasgo, no backs- ainda não sei qual é a próxima, mas posso dizer que isso não passa organizar um evento massivo, tem forçosamente a ver com questões «Eu não criei isto. Peguei numa cena que já estava criada e, mesmo Sonata Arctica, Kamelot. O nível governamental é uma luta que temos em parceria com o Centro Comunitário da Gafanha do Carmo. Dias tage conversava-se com Luís Salgado, principal promotor por termos dois palcos nem não fazermos quatro dias, porque essas como, por exemplo, por que é que Converge e Ratos de Porão não que no futuro não seja eu, a pessoa que vier deverá ter a responsa- de ter, mas não é uma luta do Vagos, é uma luta nacional. Tens antes do VMF noticiava-se que dois idosos alemães tinham fugido de do festival, ao sabor de cigarros e tragos de uísque. Acabados loucuras já a cometemos. Vai acontecer alguma loucura de certeza.» tocam no mesmo dia de Suicidal Tendencies? Na verdade, há pacotes bilidade de estar a trabalhar para vários públicos», prontifica mais uma publicação [a Ultraje] – quantas publicações são apoiadas pelo um lar para irem ao Wacken Open Air. Por cá quis provar-se que os de nos instalar num dos muitos contentores que foram a casa de bandas e datas a cumprir, por isso as organizações têm de se reger nossos anciãos não precisam de fugir para lado nenhum, sendo que Edas bandas durante algumas horas, uma primeira pergunta era impe- Não só os dias e os palcos aumentaram como o resto do recinto pelas exigências exteriores e quase nunca pelos desejos internos. um grupo de utentes desse centro fora mesmo transportado, e vestido rativa: quais os primeiros pensamentos agora que o festival está a ter- se tornou mais amplo, ainda que com a mesma área. Tudo muito «Isso é muito fácil de explicar», atira o representante da Amazing a rigor, até à Quinta do Ega. «Tive um certo receio em fazer essa minar? «O primeiro pensamento – que já não é o primeiro e que me organizado e por secções – bancas de merch, beer garden e restante Events, levando a conversa para um caminho menos negocial e mais campanha, mas acho que é importante», admite. «Gosto muito da surgiu de forma natural ainda durante o dia de ontem [11 de Agosto, restauração –, o espaço para descanso e conversa na relva era a pessoal: «Aquilo que eu gostava que passasse para fora é que não minha avó, que tem 93 anos, e estava ali com eles e esperava que terceiro dia do VMF] – é que, obviamente, temos de tomar a estaca principal atracção para quem, por momentos, se afastava da zona dos me sinto como promotor especial. Sou um fã. Aprendi a gostar de eles estivessem a fazer aquilo por gosto. A minha preocupação não do metal em Portugal. Apercebi-me este ano, até pela falta de outros espectáculos musicais. Contudo, faltou algo que, nos últimos anos, power metal aqui. O primeiro ano em que faço Helloween [2016]… era eles estarem a ver se eu gostava, eu queria que eles estivessem festivais de relevo, que temos de assumir a nossa posição no mercado tem sido fortemente requisitado: refeições vegetarianas. «Este ano [pausa] Toda a gente conhece Helloween, mas eu não gostava. Mas mesmo a gostar. Não sei se gostaram ou não, ou se foi só mais uma nacional e também no mercado internacional, de certa maneira. tivemos alguns azares», confessa Luís Salgado. «Desde o primeiro adorei fazer Helloween! Ainda hoje, na minha carreira, foi do caralho! saída – curtia mesmo que eles estivessem ali a curtir. Não tive tempo Esse é o primeiro pensamento à bruta – é a responsabilidade de ano que tem sido referida a falta de comida vegetariana. Fiz o esforço No ano passado [2017], a mesma cena com Hammerfall. São para pesquisar ou perceber a situação das pessoas que vieram cá, mas continuar a fazer com que isto evolua.» O VMF deste 2018 decorreu para que um dos stands fosse só de comida vegetariana. Montaram e bandas que têm um cuidado especial.» tive tempo para estar com elas – às vezes damos mais valor a tentar durante quatro dias ao invés dos três e dois de anos anteriores e foi pagaram para estar ali, e essas pessoas eram de Monchique… Antes pesquisar aquilo que vem ter connosco do que realmente a viver. preenchido por dois palcos (Stairway e Vagos). «Criámos o primeiro do primeiro dia, a casa deles ardeu toda e para mim foi aquela onda A realidade pura e dura de quem ergue um evento como o Vagos Me- Usufruí do momento em que estive com pessoas que, obviamente, Vagos Metal Fest [2016] a três meses do acontecimento – já foi de que já ia levar com este filme todo. Foram os primeiros a chegar e tal Fest é esta: por mais gostos pessoais que se tenham, a promoção têm uma vida; olhei para cada uma delas e disse assim: ‘Que vivência uma certa loucura. No segundo ano [2017] passámos de dois para acabaram por ser os primeiros a sair. Chegaram na segunda-feira [6 tem de pensar no público e no mercado. «Sou dinâmico na parte de tiveste tu para chegar aqui e conseguires curtir isto?’ Vi que houve três dias, e foi a nossa loucura desse ano», recorda o promotor de de Agosto], montaram o stand deles e eu estava feliz porque estava a gostos musicais», retoma Luís Salgado. «Gostava de ter muitas mais momentos que foram honestos – não foi sempre, mas houve ali forma a chegar ao presente: «Este ano [2018], a loucura esticou-se oferecer ao público aquilo que queriam – escolhi aquelas pessoas qua- cenas. Confesso que ainda meto ali aquele toquezinho daquilo que uma honestidade e isso surgiu quando houve honestidade também um bocadinho mais e passámos de três dias e um palco para quatro se a dedo. Infelizmente, aquilo [o incêndio] foi horrível. Obviamente quero ver. No primeiro ano meti Tribulation – queria mesmo ver Tribu- da nossa parte, quando perceberam que nós queríamos que eles dias e dois palcos. [pausa] Em conversa com a equipa, o que estamos que ter este stand era importante, mas perante um drama destes… lation. Nem sempre acertamos. Este ano, os Attic foram uma banda estivessem cá.» a tentar fazer é pensar na próxima loucura. Sinceramente acho que [pausa] Devolvi-lhes logo o dinheiro na altura. Aconteceu, aconteceu. que eu achei que ia garantir um certo impacto… Foi boa, mas não em Portugal está a ser preciso levarem-se as cenas ao limite, porque, Preferia que não tivesse acontecido pelo festival, mas acima do é ‘aquela’ banda. Tribulation, para mim, foi mesmo ‘aquela’ banda. Depois o gravador desligou-se e Luís Salgado ainda foi para o palco obviamente, ao nível do que está a acontecer na Europa, nós estamos festival está a vida das pessoas. Tivemos outras opções mas para mim Do ano passado, quem é que posso referir? Batushka. Infelizmente com os Rasgo. Estava tudo quase, quase a terminar, mas não para um bocadinho atrás. Tentar acompanhar aquilo que está a acontecer não eram suficientes.» houve problemas: o voo atrasou-se, tocaram tarde e o setup deles todos… Havia DJ até às 5 da manhã para provar quem eram os [no resto da Europa] não é fácil, e hoje em dia com a Internet há era complicado. Mas para mim foi uma banda importante. Acho que verdadeiros resistentes e toda uma estrutura gigante para desmontar. sempre um nível de comparação. Esse nível de comparação, para Entre os dias 9 e 12 de Agosto passaram pela Quinta do Ega bandas Whitechapel era uma banda importante para trazer a Portugal. Aquele Que seja novamente montada em 2019. nós, acaba por ser um bocado injusto porque comparam-nos a coisas como Orphaned Land, Moonspell, Cradle Of Filth, Kamelot e Suicidal último dia [direccionado ao deathcore] foi a tentativa de chamar que já existem há muitos anos – para o bem e para o mal, a nossa Tendencies, entre dezenas de outras. A conversa entre o público, e os jovens, tentar que eles percebessem que há aqui um sítio para

10 - APPENDIX #03 11 - APPENDIX #03 A diversidade faz parte da génese do VMF, e antes do black metal dos Prontamente, o frontman puxou da sua veia humorística para Mesmo tendo em conta que este era um dia mais dedicado ao power Invoke subiu ao palco o rock de Sandra Oliveira & Cia. sob a bandeira explicar que é assim que funcionam quando não estão a gostar metal, a organização decidiu introduzir o punk/crust dos importantes de Blame Zeus. Sempre coerentes nas suas prestações, o grupo da música, terminando-a abruptamente e pedindo que ninguém Simbiose que têm em Johnie, também dos Crise Total, a voz dos portuense aparenta querer continuar a evoluir – a sua comparência culpasse a organização por isso. Falhas destas não ocorreram mais últimos anos. O rodopio materializado em circlepits fez reviver o num festival como este é prova disso e que de receios não vive a nos dois dias seguintes. Mais à frente houve espaço na setlist para mesmo vigor sentido no dia anterior com Ratos de Porão – a poeira banda. Depois foi então a vez de os Invoke projectarem o seu “Bathory Aria” que, mais uma vez, fazia a banda revisitar o álbum não assentou um único bocadinho. Ainda no palco Vagos, chegava black metal melódico. Infelizmente, e para quem conhece o álbum “Cruelty and the Beast”. Este disco de 1998 comemora agora os a vez da maior banda portuguesa de folk metal: os Gwydion, “Somnium Paradox” (2017), a actuação do trio lisboeta não foi seus 20 anos e Dani Filth garantiu estar-se a trabalhar numa nova que têm em “Thirteen”, lançado pela Ultraje neste 2018, o mais assim tão melódica muito devido ao turbilhão sonoro que nem uma roupagem desse registo que deverá ver a luz do dia em 2019. Foi recente álbum. Como seria expectável, a banda lisboeta centrou-se vez se equilibrou. Frustrante será a palavra indicada para descrever os lembrado o ano de 1994 quando actuaram em Penafiel e uma série nesse trabalho, mas sem esquecer temas mais antigos como “Mead minutos que os Invoke passaram em palco ao observar-se o esforço de músicas foram dedicadas aos amigos Moonspell. A promoção a of Poetry”. A qualidade do som estava próxima do mau e isso que fizeram para darem o melhor que conseguiam sob tais condições. “Cryptoriana - The Seductiveness of Decay” (2017) desenvolveu-se transferiu-se para a banda que em certas alturas estava, como se diz De volta ao palco Stairway, a dança entre bandas portuguesas com os temas “Heartbreak and Seance” e “You Will Know The Lion na gíria, aos papéis em cima do palco. No entanto, a festa não foi ORPHANED LAND continuava com os Dollar Llama e o seu rock poderoso que está By His Claw” e o passado adorado por todas e por todos foi retirado estragada e originaram-se mais circlepits e uma wall of death. Muffy, por João Correia disponível em lançamentos como “Juggernaut” (2017). da sepultura através de “Nymphetamine”, “Her Ghost in the Fog”, frontwoman dos Karbonsoul, daria a sua contribuição na derradeira “From the Cradle to Enslave” ou “The Forest Whispers My Name”. “Thirteen Days”, repetindo assim a sua presença em palco após já o Sem qualquer tipo de desprimor em relação ao que já se tinha A conclusão do espectáculo, que ultrapassou os 90 minutos, não ter feito com Invoke. passado ao longo da tarde na Quinta do Ega, a verdade é que a aconteceu sob a forma de “Summer Dying Fast” ou “Queen of A surpresa vai sem qualquer dúvida para o duo suíço que dá pelo fasquia eleva-se a partir do momento em que a próxima contribuição Winter, Throned”, mas sim através da menos esperada “Born in a nome de Bölzer. Nunca é demais assinalar a diversidade dos pertence aos veteranos e lendários Ratos de Porão. Fazem Burial Gown”. cartazes do VMF e desta feita subiu ao palco Stairway uma avalanche punk/hardcore/metal desde início da década de 1980, orgulham-se de black/ atmosférico e ritualista protagonizado por um de cantar em português e adoram atravessar o Atlântico para, em Inevitavelmente ou não, parte do público abandonaria o recinto vocalista gigante munido de uma guitarra de 10 cordas e de um Portugal, vociferarem contra o capitalismo. O espírito punk estava após actuação dos Cradle Of Filth ignorando assim os germânicos delay vocal incomum mas muito bem inserido. Para muitos, este foi o ali, mesmo no coração da plateia, havendo circlepits infindáveis ao Attic. Banda muito menos conhecida das massas, o quinteto melhor concerto do terceiro dia do evento. sabor de temas como “Crucificados Pelo Sistema” e “Beber Até alemão apresentou-se com uma produção visual teatral (muito Morrer”. Escalados para tocar antes e não depois de Ratos de Porão, mais bonita e composta do que CoF) e debitou o seu heavy metal O departamento mais suave do Vagos Metal Fest foi seguidamente os Masterplan viram o seu voo atrasar-se, mas ainda chegaram altamente colado a King Diamond e Mercyful Fate, sendo esta aberto pelos melódicos Sonata Arctica que correm sempre riscos a tempo de apresentar o seu heavy/power metal melódico que abordagem de copy-paste o que mais dividiu os festivaleiros: se devido à evolução da sua discografia. Se por um lado há o power destoava claramente desta fase do festival. Contudo, isso não foi um para alguns esta era a maneira de se estar perto de algo a la King metal antigo, por outro os finlandeses têm certamente que recorrer ao obstáculo e o grupo de Roland Grapow creditou uma boa performance Diamond visto que o mítico vocalista não põe os pés em Portugal, catálogo mais próximo e mais meloso. Fizeram parte do alinhamento com tempo para revisitar Helloween em “The Time Of The Oath”. para outros não passava de uma imitação sem escrúpulos. músicas como a recente “Life” ou a famosa “Vodka”. Como era de esperar ao olhar para o cartaz, este penúltimo dia de festival não teria uma base certa, pois após a melodia quase pop de Sonata Arctica MOONSPELL por Vânia Matos seríamos lançados ao horror do black metal sinfónico dos cada vez mais influentesCarach Angren. Pela segunda vez em Portugal num só ano (actuaram no Porto e em Lisboa em Fevereiro passado com Svart Crown e Rotting Christ), os holandeses deram um concerto exemplar e com o melhor som de todo o festival. Do último álbum “Dance and Laughing Amongst the Rotten” (2017) ouviram-se faixas DIA 1 (9 DE AGOSTO) e groove talvez não se precisasse de uma banda mais cheesy, mas de 9 de Agosto. Ainda que coesos e com bom som na sua maioria como “Charlie” e “In de naam van de duivel”, não faltando a icónica O projecto estava mais do que lançado, mas o derradeiro sinal de que tudo reentraria nos carretos com a subida ao palco dos históricos (finalmente!), Diogo Santana (voz/guitarra) não se livrou de alguns “When Crows Tick on Windows” de “This Is No Fairytale” (2015). tudo estava pronto foi dado à imprensa pela hora de almoço do dia Theriomorphic. Acompanhados pelo mais recente EP “Of Fire and problemas técnicos, ouvindo-se mesmo um ‘foda-se’ furioso. Mas a Grandioso espectáculo com direito a decapitações de manequins, 9 de Agosto através de Luís Salgado, um dos principais promotores Light” (2018), a instituição do melodeath nacional comandada por Jó caminhar se faz o caminho e este foi um espectáculo que ficou na sangue e máscaras para além do corpsepaint. Muito bom! do Vagos Metal Fest. Contando ser o ano de maior sucesso do mostrou-se ao vivo mais agressiva do que em estúdio. Percorreram a memória. festival – que neste 2018 foi composto por quatro dias e dois palcos discografia, mas o público exultava com maior evidência sempre que –, as primeiras horas de festa foram comandadas pelos aveirenses eram tocados temas do fantástico “Enter the Mighty Theriomorphic” Para alguns, a loja podia já fechar com Analepsy, mas havia ainda veteranos Booby Trap, pelos conimbricenses Destroyers Of All e pelo (2005). tempo para o thrash alemão dos Dust Bolt (de volta a Portugal um hardcore old-school de Linda-A-Velha dos Trinta & Um. ano depois). Com pouco mais de 10 anos no activo, o jovem quarteto O principal destaque para o dia inaugural do Vagos Metal Fest de da Baviera tem sido tomado em boa conta pela imprensa e por todo Por mais que fosse mês de férias, não podemos esquecer que 9 de 2018 estava assente nos israelitas Orphaned Land que viram-se o lado onde passa. Num festival repleto de circlepits, foi com os Dust Agosto era ainda uma quinta-feira, mas a comunidade metal está a braços com a má qualidade de som que chegava até à plateia – Bolt – e já em hora adiantada – que se viram os mais impactantes. sempre a surpreender e no concerto de Booby Trap (no palco contudo, as coisas foram melhorando vagarosamente. Num concerto A loja fecharia mesmo com os tardios Impera, banda portuguesa de Stairway) já se concentravam centenas de festivaleiros que foram que apostou em promover o novo trabalho “Unsung Prophets & Dead groove moderno que não se mostrou rogada pela posição que tinha agraciados principalmente pela energia inequívoca do frontman Pedro Messiahs” (2018) – ouviu-se, por exemplo, “The Cave”, We Don de ocupar: a última actuação. Nota especial para a efusividade do Junqueiro que nunca quer saber se está a actuar para 50, 200 ou Not Resist” (em que o vocalista Kobi Farhi refere o fascismo que se vocalista Gustavo Reis quando muitos se calhar já queriam caminha. 1000 pessoas – a sua entrega, e de toda a banda, é sempre leal. vive no Médio Oriente), “In Propaganda” ou “Like Orpheus” –, o Ouviram-se temas como “O Bom, o Mau e o Filho da Puta” ou grupo médio-oriental não esqueceu os êxitos “All Is One” e “Sapari”. DIA 2 (10 DE AGOSTO) um tributo final a Lemmy Kilmister com uma rendição da famosa Se a qualidade sonora tinha vindo a ser um entrave ao longo do dia, Anteriormente já Luís Salgado tinha assinalado junto da imprensa que “Ace Of Spades”. O palco Vagos seria seguidamente estreado pelos as coisas pioraram quando, mesmo antes da finalizadora “Norra El o segundo dia do VMF estava prestes a esgotar – o porquê era fácil Destroyers Of All, banda que pertence àquilo que chamamos Norra”, falhou a luz e o som pela primeira vez. Por sorte, Kobi Farhi de descortinar: Ratos de Porão, Moonspell e Cradle Of Filth estavam O palco Vagos estava destinado a receber a maior banda Todavia, a festança final seria promovida pelos cómicosSerrabulho de triunvirato conimbricense em que se inclui também Terror Empire preparava-se ainda para introduzir o tema e acabara-se por se usufruir entre as escolhas para 10 de Agosto. portuguesa de metal: os Moonspell. Com um concerto a incidir no que, entre o seu grindcore protagonizado por temas como “Quero e Tales for the Unspoken. Focados no EP “Into the Fire” (2013) e da recta final deste concerto em pleno. CARACH ANGREN álbum “1755” (2017) – testemunhámos composições como “Em Cagar e Não Posso”, arranjaram um espacinho para bandolim tocado por Vânia Matos no debutante longa-duração “Bleak Fragments” (2016), o quinteto Depois de em 2017 terem iniciado uma campanha humorística para Nome do Medo” ou “In Tremor Dei” –, os lobos nacionais fizeram por Sérgio Páscoa em “Pentilhoni Nu Culhoni” e para gaitas-de-foles aproveitou um festival de grandes dimensões para oferecer o tema poderem representar Paços de Ferreira em terras vaguenses, os In questão de ir ao passado ao reerguer faixas como “Opium” e e percussão regional que teve o seu maior highlight na rendição de “Break The Chains” que deverá fazer parte do segundo álbum que Vein garantiram o seu lugar como primeira actuação do segundo dia “Awake”. As falhas eléctricas voltaram e resultaram em desconforto “Thunderstruck” dos AC/DC. Como é mais do que óbvio, não faltou está em fase de preparação. Referir que a qualidade sonora embru- do maior festival metal do país. Logo se perdeu o medo em relação à e animosidade latente por parte da banda, o que abriu caminho mosh, nem as já famosas bóias e almofadas. Antes de Kamelot, o medo não estava instalado pelas possíveis lhada não ajudou muito à actuação. Após uma falsa partida que fora fraca afluência que pode existir durante a execução das primeiras ban- para Fernando Ribeiro lançar algumas farpas à organização. O falhas eléctricas, que como referido não mais aconteceram depois posteriormente tornada verdadeira quando Junqueiro (Booby Trap) das e cedo se percebeu que os In Vein têm bons fãs do seu death/ feitiço não se concretizou sob o luar – como talvez se pretendesse DIA 3 (11 DE AGOSTO) de sexta-feira, mas pela memória que muitas pessoas tinham do subiu à estrutura para anunciar a banda seguinte, o hardcore começa groove metal. Sabe-se ainda que estão a trabalhar no segundo álbum. –, mas ao pôr-do-sol, e num concerto curto ouviu-se ainda o hino O penúltimo dia do VMF ficou marcado por sonoridades mais melódi- concerto dado em Calvão em 2010. Nessa altura, já não a soar em Vagos através da presença dos Trinta & Um. Sem nunca Antes de podermos assistir às bandas ditas grandes, 10 de Agosto “Alma Mater”. Enquanto se preparava o cenário reservado para os cas se de cabeças-de-cartaz falarmos (Sonata Arctica e Kamelot), mas estava no potencial das suas capacidades e a performance sofreu esquecer o mote ‘hardcore de Linda-A-Velha’, o frontman Zé Goblin ficou marcado pelo grupo de idosos utentes do Centro Comunitário Cradle Of Filth, no palco Stairway actuavam os Converge que também pelo cancelamento inesperado dos franceses Dagoba que por isso. Porém, assumiu a posição de vocalista em arranjou um espacinho para mostrar o seu desagrado pelas touradas; da Gafanha do Carmo que veio picar ponto numa campanha em preencheram aquela hora com o seu hardcore raivoso. Com quase se viram paralisados devido à greve dos controladores aéreos. São, 2012 e toda a banda norte-americana está sob uma aura de sucesso. mais tarde neste concerto fez-se ouvir “O Cavalo Mata”. ANALEPSY resposta ao que tinha ocorrido na Alemanha aquando da fuga de um três décadas de carreira, o hardcore da banda norte-americana faz assim, a primeira confirmação para 2019. O grupo liderado pelo guitarrista continua power Num dia mais direccionado ao produto nacional, os InSammer por João Correia lar magicada por dois idosos com o intuito de irem ao Wacken Open parte da História Contemporânea e prova disso foram as incursões a metal mas cada vez mais progressivo, e prova disso é o último registo foram o primeiro colectivo internacional a actuar nesta edição Air. Devido à idade avançada, depressa se compreendeu que havia “The Dusk In Us”, álbum que data de 2017. A meio da tarde, o palco Stairway era reinaugurado com o heavy “” (2018). Com eles veio Lauren Hart, dos Once do Vagos Metal Fest. Empolgados pela stamina contagiante da Se a banda apetecível era Orphaned Land e a História tinha ficado a honestidade naquela presença mas também muito cansaço. Não se A enchente aconteceria então com Cradle Of Filth, grupo inglês metal dos luxemburgueses Lost In Pain que têm a particularidade Human, que justificou a sua presença ao colaborar em temas como frontwoman Viktorija Dola, sem esquecer a postura do gigante das cargo dos Theriomorphic, os Analepsy vieram à Quinta do Ega dizer livraram de tirar fotos com vários festivaleiros que se mostravam que tanto dá ao black metal de cariz melódico e gótico desde de ostentarem raízes portuguesas. Com três álbuns no currículo, a a inaugural “Phantom Divine (Shadow Empire)” ou mais tarde na rastas louras Dennis Davydenko, os suecos ofereceram aos presentes que há novo sangue. Catapultados para a Europa com o estreante agradados pela iniciativa. 1991. Abriram com “Gilded Cunt”, e mais adiante a banda de Dani vontade de estarem em solo português foi evidente. Ainda no mesmo famosíssima “March of Mephisto”. Num concerto cenicamente bem a nova vaga de metal alternativo que em muito bebe de bandas como “Atrocities from Beyond” (2017), o quarteto é a montra actual do Filth deparou-se com mais uma falha eléctrica quando recuperavam palco, os novatos espanhóis Wicked Inc. prosseguiram com o seu montado e musicalmente poderoso, o alinhamento contou ainda com Korn. Depois de três concertos delineados pelo crossover, hardcore death metal português e deu indubitavelmente o melhor concerto a vida da Condessa Báthory em “Beneath the Howling Stars”. heavy metal tradicional com laivos de . “Rule the World”, “The Great Pandemonium”, “End of Innocence”,

12 - APPENDIX #03 13 - APPENDIX #03 “Center of the Universe”, “Ravenlight”, “Amnesiac” ou “ Liar Liar”. para trás, do palco Vagos para o palco Stairway, onde o hardcore do punkish “The Art of Partying”. A partir daqui, os festivaleiros só podiam contar com peso desme- sul de Inglaterra estava prestes a soar através dos Feed the Rhino. Depois dos problemas eléctricos dos primeiros dois dias e do surado, ainda que os Enslaved tenham uma ala melódica. Com Menos incisivos do que as outras bandas do género que actuaram na cancelamento de Sinister e Dagoba, mais um contratempo havia de actuação agendada para o palco Stairway, os nórdicos tiveram um dos Quinta do Ega, estes ingleses dão um pouco a mão à ala mais melosa acontecer. Era a Lei de Murphy em acção. Desta feita, os instrumentos piores sons de todo o festival e a certa altura até Grutle Kjelsson ficou do hardcore, o que é prontamente posto abaixo quando malhas dos folkers Ensiferum tinham sido extraviados e o concerto dos sem o seu baixo. Mesmo assim, ouviu-se “Roots Of The Mountain”, pesadas entram em acção. Sem uma grande enchente na hora em finlandeses estava em vias de não acontecer – mas aconteceu. Em “Storm Son” (faixa pertencente ao álbum “E” de 2017) ou a que os Feed the Rhino tocaram, o frontman exibiu-se como um dos modo acústico, a banda do norte da Europa decidiu, como anterior- atmosférica “Svarte Vidder” que fora tocada pela primeira vez fora melhores de todo o festival ao descer do palco para organizar uma mente noutras ocasiões, tornar o negativo em positivo ao transforma- da Noruega – portanto nem tudo se perdeu… O encerramento da wall of death e posteriormente incitar a um jump da fuck up à Soulfly rem o seu metal em acústico. Resultado: algum desconforto da banda noite ficou ao cargo dosHolocausto Canibal, a banda portuguesa e Slipknot. renovado em paródia aceite pela plateia, muito acoustic moshpit e de grindcore/death metal mais bem-sucedida de sempre. No palco cerca de uma hora para limpar os ouvidos de toda a distorção que se Vagos, o som estava altíssimo para aquelas horas da noite mas, e A velha-guarda acorreu ao chamamento quando chegada a hora de fazia ouvir desde 9 de Agosto. por incrível que pareça, detalhado. O cansaço já era muito, mas os se assistir ao concerto de Ross the Boss, guitarrista norte- portuenses têm a sua fiel legião de fãs que aguentou até à última ao -americano que esteve nos Manowar entre 1980 e 1989. A atenção A banda esperada da noite, e para muitos de todo o festival, era som de composições como “Trucidada na Paragem” ou “Violada Pela era óbvia, mas os ânimos já estavam direccionados ao que viria Suicidal Tendencies. Lendários na forma como multiplicam o Motosserra”. com Municipal Waste e Suicidal Tendencies. Acompanhado por Mike crossover, os ST homenagearam o seu género com um concerto LePond (Symphony X) no baixo, Ross até tem um álbum com data ímpar. Qualquer membro deste colectivo é um bicho da música, mas é DIA 4 (12 DE AGOSTO) de 2018 – intitula-se “By Blood Sworn” –, mas o que se queria certinho que temos de sublinhar o mentor Mike Muir na forma como Ainda a tarde era uma criança quando já se via pelo recinto pessoal ouvir era Manowar. Pois bem, houve então lugar para “Blood of the projecta os seus sentimentos, tanto durante as músicas como nas en- vestido a rigor. E que vestimenta rigorosa é esta? E para quem? A res- Kings”, “Battle Hymns” e “Hail and Kill”. O vocalista Marc Lopes, que trelinhas, e o baterista Dave Lombardo (ex-Slayer) que parecia estar posta à segunda pergunta é Suicidal Tendencies. Quanto à primeira, o cumpriu bem a sua tarefa, seria brindado com uma patada vinda do nas suas sete quintas. “You Can’t Bring Me Down”, “War Inside My dress-code rege-se por lenço na cabeça, camisolas de mangas-cavas, público em crowdsurfing devido ao entusiasmo que evidenciou para Head” ou “I Saw Your Mommy” foram os temas mais memoráveis, calções e meias até ao joelho. O cenário estava montado para o estar perto das grades. mas não se ficou por aí… Em “Pledge of Allegiance”, meio Vagos último dia do VMF, mas até aos streeters ST ainda faltavam umas subiu para cima do palco (incluindo os Municipal Waste) que, em horas valentes. A escassos metros preparava-se um concerto histórico. Com 30 anos muito se acredita, tiveram o momento das suas vidas. Gritou-se “ST! de carreira, os Integrity, liderados pelo imprevisível Dwid Hellion, ST! ST!” sem cessar. Mais uma vez com abertura diária no palco Stairway, os nacionais davam o último concerto da digressão europeia. Pioneiros do punk- Stonerust foram os primeiros dos últimos. Groovados e modernos, a -hardcore que é trespassado por metal extremo, ficou a sensação que O Vagos Metal Fest podia acabar assim? Podia. Seria épico até. caracterização da banda também roça o stoner e o southern rock que parte do público não estava ciente da banda que estava a ver – e é Mas não! Os Memoriam, com ex-membros de Bolt Thrower e fica sempre marcada pela “Men & Pig”. No mesmo local, os galegos pena, porque este é realmente um projecto seminal. Dos muitos splits Benediction, ainda tinham tempo para actuar no palco Stairway e Dark Embrace preferiram falar em inglês e demonstraram grande que compõem a imensa discografia, os Integrity fizeram questão de trazer a Portugal o seu death metal bélico e old-school. Os problemas determinação para continuarem em palco, o que, devido a horários a relembrar o recente protagonizado com Krieg ao tocarem faixas como ainda não tinham terminado e parte desta prestação até aconteceu cumprir, se tornou impossível. Prometeram regressar a Portugal com o “Sons of Satan” (original dos Vermapyre), constituindo assim a ala sem baixista, mas o frontman Karl Willets vale por tudo e comandou o seu doom metal melódico. mais agressiva, e não omitiram as façanhas melódicas em temas pelotão como só a velha experiência sabe ditar. Em dois anos de exis- como “Jagged Visions of True Destiny” que reclama si um belo duelo tência têm já dois discos (2017 e 2018) na bagagem. E depois sim, Para colmatar a vaga deixada pelo cancelamento dos Sinister, foram de guitarras. o fim. Um fim agridoce, porque por um lado estava tudo de rastos, chamados a cumprir os Schammasch, da Suíça – assim, os seus Com o thrash metal dos Municipal Waste vieram os primeiros mas por outro ninguém queria que este Vagos acabasse. Os últimos compatriotas Bölzer não ficaram sozinhos no que a black metal pingos de chuva, mas não foi isso que fez parar o comboio – aliás, dos últimos foram os portugueses Rasgo que têm em “Ecos da Selva atmosférico diz respeito. Ameaçava chover – e choveu mesmo horas nada parou. Com o aparato de gente que se juntava o mais à Urbana” (2017) o primeiro e único álbum até à data e em “Homens mais tarde – e o Sol teimava em ficar atrás das nuvens. Por outras frente possível, foi distintivo que a maioria estava à espera deste ao Mar” o êxito thrash metal versus clássico. Quando a maioria dos palavras: cenário (quase) perfeito para uma banda como esta que, concerto. O vocalista Tony Foresta até estava com medo que o público festivaleiros já se tinha retirado ou se locomovia a arrastar os pés, os vestida a preceito, oferece rituais atmosféricos e vanguardistas a cada demonstrasse cansaço por este ser o último dia do festival, mas extremos sobreviventes foram mesmo os Rasgo, que não deixaram o música que emana. Entre os presentes pedia-se um sucessor para enganou-se. Para provar o seu engano, os circlepits não cessaram e, barco meter água, e os últimos presentes que aguentaram até ao fim “Triangle” (2016). a seu requisito, Vagos até teve direito a uma wave of death. É claro para ouvir uma versão da “Fucking Hostile” dos Pantera. que trouxeram o álbum “Slime and Punishment” (2017) à Quinta do Enquanto uns ainda estavam a chegar, outros andavam uns metros Ega, recuperando depois temas com pouco mais de 10 anos como a

SUICIDAL TENDENCIES por João Correia

14 - APPENDIX #03