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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Letras Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Frederico Rios Cury dos Santos A RETÓRICA DA GUERRA CULTURAL E O PARLAMENTO BRASILEIRO: a argumentação no impeachment de Dilma Rousseff Belo Horizonte 2019 Frederico Rios Cury dos Santos A RETÓRICA DA GUERRA CULTURAL E O PARLAMENTO BRASILEIRO: a argumentação no impeachment de Dilma Rousseff Versão final Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título de doutor. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Helcira Maria Rodrigues de Lima (UFMG) Supervisor de estágio sanduíche: Prof. Dr. Dominique Maingueneau (SORBONNE) Belo Horizonte 2019 Belo Horizonte 2019 AGRADECIMENTOS1 Ao prof. Alexandre Rui Grácio, da Universidade Coimbra, pelos ensinamentos em curso na UFMG sobre Argumentação. Ao prof. Christian Plantin, pelo curso sobre Argumentação, em Buenos Aires, e pelas ricas conversas durante evento de Retórica em Belo Horizonte e Ouro Preto. Ao prof. Dominique Maingueneau, por ter me supervisionado em estágio doutoral na Sorbonne e pelas dicas valiosas. À prof.ª Elisa Amorim, da UFMG, pelos comentários em banca de defesa de tese À prof.ª Gláucia Muniz Proença Lara, por ter me introduzido nos estudos discursivos na UFMG, na graduação. À prof.ª Helcira Maria Rodrigues de Lima, pela orientação, na UFMG, na iniciação científica e no doutorado; pelos ensinamentos de sempre e pela leitura atenta do trabalho. À prof.ª Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade, pela disciplina cursada na USP sobre teorias do Discurso, por ter me supervisionado em estágio docência e pelos enriquecedores comentários em banca de defesa de tese. À prof.ª Marianne Doury, pelas lições na Université Paris-Descartes e pela oportunidade que me concedeu de proferir uma palestra na instituição. À prof.ª Marie-Anne Paveau, pelos ensinamentos na Université Paris XIII. Ao prof. Otávio Soares Dulci (in memoriam), pela acolhida, confiança, gentileza e orientação no mestrado. 1 Em ordem alfabética. Parte a ser completada na versão final para publicação. Ao prof. Paulo Roberto Gonçalves Segundo, pela disciplina cursada sobre categorias de análise para o estudo do Texto e do Discurso, na USP. À prof.ª Rosalice Pinto, da Universidade Nova de Lisboa, pelos comentários em banca de defesa. À prof.ª Rossana Rocha Reis, pela orientação na USP. À prof.ª Virginie Guiraudon, pela supervisão de pesquisa na Sciences Po Paris. Ao prof. Wander Emediato, da UFMG, pelas importantes orientações durante exame de qualificação e durante a defesa de tese E também: À CAPES, pela oportunidade de ter realizado estágio sanduíche na França. Aos colegas pesquisadores da Associação de Pesquisadores Brasileiros na França; do Grupo Retórica e Argumentação da UFMG; e do Núcleo de Estudos de Análise Crítica do Discurso da USP, pelas ricas discussões. Aos que me são próximos, pelo apoio de sempre. “L’enfer, c’est les autres” (Jean-Paul Sartre, Huis Clos, 1944). Resumo A origem do termo “guerra cultural” é controversa. Foi nos Estados Unidos, no entanto, que a expressão se tornou popularizada, através da publicação de Culture Wars, de James Davison Hunter, em 1991. Tratava-se da descrição do embate entre duas visões de mundo antagônicas, uma conservadora, associada à direita política, e outra progressista, relacionada, predominantemente, às esquerdas, mas não só. A guerra cultural traz em seu bojo problemas de ordem social e moral que dizem respeito, por exemplo, à sexualidade, ao comportamento, à raça, à religiosidade etc., implicando ainda questões políticas e econômicas. Do ponto de vista da linguagem, pergunta-se: tendo em vista esses embates culturais na sociedade, existiria uma retórica que lhe seja peculiar? Seria possível pensar em algumas regularidades, ainda que essa guerra assuma contornos próprios em diferentes países e períodos históricos? Pergunta-se, também, no que diz respeito à votação do impeachment na Câmara dos Deputados: pode esse debate público conduzido no Parlamento ser considerado como imbuído de uma Retórica da Guerra Cultural? Em que medida os deputados levaram em consideração o auditório, aquilo que Charaudeau denomina de “instância cidadã”, para a consecução de suas estratégias argumentativas? Seria possível dizer que a retórica presenciada durante o rito é um reflexo de uma cultura política arraigada entre os brasileiros? Em que sentido se pode afirmar que a argumentação observada no impeachment contribuiu ou não para a manutenção das instituições democráticas? De que recursos argumentativos se valeram os atores políticos na defesa de seus pontos de vista? Para tentar responder a essas questões, esta pesquisa se utiliza, como corpus de apoio, dos pronunciamentos realizados na Câmara dos Deputados do Brasil, quando da votação sobre a admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff, em 17 de abril de 2016, através de algumas categorias da Retórica, entendida no âmbito do discurso, da noção de gênero do discurso em Dominique Maingueneau, da ideia de contrato de comunicação do discurso político proposta por Patrick Charaudeau, bem como de noções de regras do debate e da argumentação no espaço democrático, propostas, por exemplo, por Angenot e Danblon. Tendo em vista os cerca de 500 pronunciamentos da Câmara dos Deputados, procurou- se, em um primeiro momento, categorizar os discursos de acordo, por exemplo, com a decisão (se “sim” ou “não” ao impeachment); com a menção ou não ao mérito do processo (o crime de responsabilidade); com a referência ou não à palavra “Deus” ou à própria religião; com a citação ou não da própria família, do curral eleitoral, da palavra “democracia”; com a expressão ou não do valor do igualitarismo; com o uso ou não da palavra “golpe”, entre outras constantes. Em seguida, são selecionados discursos representativos de cada uma dessas constantes, para, à luz dos referenciais teórico-metodológicos expostos acima, proceder-se ao tratamento do corpus. Chegou-se a uma tipificação de constantes que comporiam a chamada “Retórica da Guerra Cultural”. Do ponto de vista da importância do auditório, observou-se que ele, na figura do eleitorado, foi pedra angular na construção discursiva dos parlamentares, através da manifestação cada vez mais direta de um conservadorismo que seria próprio à cultura brasileira. Quanto às instituições democráticas, verificou-se que a forma como a argumentação foi empreendida no espaço público contribuiu para a corrosão das mesmas. Palavras-chave: Retórica. Guerra Cultural. Discurso. Democracia. Parlamento. Abstract The origin of the term "culture war" is controversial. It was in the United States, however, that the expression became popular through the publication of James Davison Hunter's Culture Wars in 1991. It was a description of the clash between two antagonistic worldviews, one conservative, associated with the right politics, and a progressive one, predominantly related to the left, but not only. The concept of culture wars bring with it social and moral problems that concern, for example, sexuality, behavior, race, religiosity, etc., as well as political and economic issues. From the point of view of language, one questions: given these cultural clashes in society, would there be a rhetoric peculiar to it? Would it be possible to think of some regularities, even if this war has its own contours in different countries and historical periods? One also questions, regarding the impeachment voting in the House of Deputies, if public debate conducted in Parliament can be seen as imbued with a Rhetoric of the Culture Wars. How did the deputies take into consideration the auditorium, what Charaudeau calls the “citizen instance”, to achieve their argumentative strategies? Could it be said that the rhetoric witnessed during the rite is a reflection of an entrenched political culture among Brazilians? In what sense can it be said that the argumentation observed in impeachment contributed or not to the maintenance of democratic institutions? What argumentative resources did the political actors use to defend their views? To try to answer these questions, this research uses, as a supporting corpus, the pronouncements adopted in the Brazilian Chamber of Deputies, when voting on the admissibility of Dilma Rousseff's impeachment, on April 17, 2016. One takes into consideration some categories of Rhetoric, understood in the context of discourse; categories of the notion of gender of discourse in Dominique Maingueneau; categories presumed from the idea of communication contract of political discourse proposed by Patrick Charaudeau, as well as notions of rules of debate and argumentation in the democratic space, proposed, for example, by Angenot and Danblon. In view of the approximate 500 pronouncements of the House of Deputies, it was firstly sought to categorize speeches according to, for example, the decision (whether “yes” or “no” to impeachment); according to mentioning or not the merits of the case (the crime of responsibility); according to the use of not of the word "God" or to religion itself; according to mentioning or not one’s family, the electoral corral, and the word “democracy”; according to mentioning or not the value of egalitarianism; according to mentioning or not the word “coup”, among other constants. Then, representative speeches of each of these constants are selected, so that, in the light of the theoretical-methodological references exposed