Descrição da Imagem: quatro imagens longitudinais à esquerda da página: a primeira, o close de uma mão sobre um texto em braile; a segunda, o close das pernas de uma pessoa cadeirante com uma bola azul e amarela aos pés; a terceira, um rapaz com sindrome de down em pé, com uma pasta embaixo de um braço e uma xícara na outra mão e, a quarta, o dorso de uma pessoa cadeirante vista de lado com camisa social branca digitando algo.

SEMINÁRIO

Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva

PNEEPEI

Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência Câmara dos Deputados 55ª Legislatura - 4ª Sessão Legislativa Ordinária Sumário

INTRODUÇÃO 05 Separata do Seminário: POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA MESA DE ABERTURA 12 PNEEPEI Mesa 1 28 Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência PERSPECTIVA DE ESPECIALISTAS CPD/2018 Mesa 2 64 Presidente PERSPECTIVAS GOVERNAMENTAIS Deputada Mara Gabrilli

1º Vice-Presidente Mesa 3 92 Deputado Eduardo Barbosa PERSPECTIVAS DA SOCIEDADE CIVIL

2º Vice-Presidente ENCERRAMENTO 124 Deputado Diego Garcia

Secretária Executiva Raquel Ferreira de Carvalho Aldigueri

Fotógrafos Cleia Viana Vinícius Loures Acervo Câmara dos Deputados

Descrição da Imagem: Logotipo da CPD. Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência

INTRODUÇÃO A Deputada Mara Gabrilli apresentou, em 22 de maio de 2018, o Requerimento 171/2018 com a seguinte ementa: “Requer a realização de Audiência Pública na Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, para debatermos a revisão da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”. Citou, na justificativa ao Requerimento que “...o inciso inaugural do art. 206 da nossa Carga Magna, que elenca os princípios sobre os quais o ensino brasileiro deve ser ministrado, é justamente a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. O art. 208, inciso III da Carta Política reafir- ma que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação social, política, cultural e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os estudantes de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de dis- criminação. A Política Nacional de Educação Especial de 2008 mudou a visão da educação especial no nosso sistema de ensino, buscando garan- tir o acesso de todos os alunos ao ensino regular, formando professores para a inclusão e melhorando o acesso físico, transporte e mobiliário. Todavia, precisamos debater os impactos efetivos que tal política con- seguiu implementar e as necessárias mutações que porventura se façam necessárias, ouvindo os principais atores envolvidos com a educação in- clusiva no nosso País. Em face do exposto, Nobres Pares, solicito o apoio de todos para realização dessa audiência pública, que poderá subsidiar futuras medidas legislativas, bem como ações de políticas públicas”.

Em 5 de junho de 2018, a Deputada Rejane Dias apresentou, na Comissão de Educação – CE e na Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência - CPD , o Requerimento 467/2018 e 178/2018, de igual teor, que “Requer a realização de Audiência Pública Conjunta com a Comissão de Educação, para discutir a Política Nacional de Edu- 5 cação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – PNEEPEI”. São trechos do Requerimento: “...Trabalhar para atualizar a PNEEPEI pode ser um importante movimento, necessário para consolidar uma bem-su- cedida política pública. Neste sentido, é importante que o monitoramen- to e as consequentes propostas de aperfeiçoamento se pautem por amplo debate e em estudos e pesquisas que se debrucem sobre o processo de implantação da Política na última década. Assim, solicitamos o apoio dos nobres pares para realização do debate para que possamos colaborar na discussão de um Política de Educação Especial que efetivamente se paute pela inclusão nas escolas”.

Os Requerimentos foram aprovados pelos colegiados em 13 de ju- nho e em 06 de junho de 2018, respectivamente, com alterações e adita- mentos. O Deputado Eduardo Barbosa apresentou-se como co-autor ao Requerimento 171/2018 - CPD. Os Deputados Pedro Uczai, Ságuas Moraes, Angelim e Mandetta subscreveram o Requerimento 467/2018 - CE. Decidiram por ampliar a lista de convidados representantes e por converter a Audiência Pública em Seminário Conjunto das Comissões de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e da Comissão de Educação, com o tema: “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – PNEEPEI”

O Seminário ocorreu em 7 de novembro de 2018, no plenário 13 do Anexo II da Câmara dos Deputados.

O Evento foi organizado pela - CPD, em plenário equipado com tecnologias que conferem acessibilidade, como aro magnético, bluetooth e sistema FM para usuários de aparelhos auditivos. Utilizou-se, também, o serviço de intérpretes de LIBRAS.

Descrição da Imagem: Foto colorida em close das mãos e rosto de uma moça com deficiência visual tocando as mãos de um homem que faz a lingua brasileira de sinais - LIBRAS.

6 7 “Decidimos propor o seminário para debater um tema fundamental para o desenvolvimento de qualquer Nação: a Educação de qualidade para todos. O resultado foi excelente, com exposições e conteúdo muito rico e plural. Em 2017 o Brasil superou a meta do IDEB prevista para os anos iniciais do ensino fundamental. Porém, nos anos finais do funda- mental e no ensino médio, não conseguimos atingir as metas. Infelizmente, os dados apontam que 8 de cada 10 alunos que concluem o ensino fundamental não aprenderam o adequado em Matemática. Quando falamos de estudantes com alguma deficiência, as defasagens se aprofundam especialmente pela falta de aces- sibilidade e dos recursos pedagógicos necessários. O ministro da Educação, Rossieli Soares, afirmou que um dos desafios para elevarmos o Ibed diz respeito à formação adequada dos professores. Então imaginem o tamanho do desafio para a inclusão e a educação especial. A Lei Brasileira de Inclusão garantiu diversos suportes pedagógicos nas salas das escolas comuns, como a oferta de educação bilíngue para surdos, com a Libras como primeira língua; a adoção de medidas individualizadas; a formação e disponibilização de professores para o atendimento educacio- nal especializado; a oferta de profissionais de apoio escolar; entre outras garantias e direitos. Desejo, do fundo do meu coração, que ninguém mais seja mais furtado da convivência com a diversidade humana. As escolas não podem mais escolher, segregar, separar, mas é seu dever ensinar, incluir, conviver. Todos nós temos o dever de dedicar nossos melhores esforços para oferecer e garantir uma educação de quali- dade a todas as crianças e jovens brasileiros.”

Deputada Mara Gabrilli

Presidente da CPD Autora do Requerimento que viabilizou a realização Descrição da Imagem: Foto colorida da Deputada Mara Gabrilli , sorrindo, vista do Seminário lateralmente da cintura para cima. Ela usa vestido bege e cinza claro.

8 9 “O debate que se deu duran- “Este Seminário que discute a Re- te o Seminário Política Nacional visão da Política Nacional na Perspectiva de Educação Especial na Perspec- da Educação Inclusiva, é de suma impor- tiva da Educação Inclusiva”foi um tância para a Política Nacional de luta marco. Diante das divergências pela inclusão da pessoa com algum tipo apontadas sobre o processo de de deficiência nas escolas e universida- revisão da Política Nacional, nós des. Os gestores governamentais cada vez precisamos, a partir desse Seminá- mais se conscientizam dessa importância rio, superar a disputa de poder na e estão superando barreiras pouco a pou- Educação Especial e na Educação co e dando voz a essas pessoas que bus- Inclusiva.Todos nós estamos no cam por oportunidades para que possam mesmo barco, somos pessoas que desenvolver suas capacidades. Conseguir têm histórias de vida, contribui- reunir grandes especialistas nessa área ções, acúmulos de conhecimento, da Educação Especial, representada pelas experiência e sensibilidade. Somos Entidades da Sociedade Civil, juntamen- pessoas do bem”. te com o MEC e essa Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência Deputado Eduardo Barbosa – CPD, para discutir essa política com diálogo democrático a fim de achar Primeiro Vice-Presidente da CPD caminhos que possam melhor construir co-autor do Requerimento para realiza- essa política e tornar ela mais clara e pre- ção do Seminário cisa para todos que com ela trabalham e precisam, é um grande passo que estamos dando para essa grande causa e me sinto muito feliz por ter participado como uma das autoras desse grande seminário.”

Deputada Rejane Dias Membro Titular da CPD e da CE e autora do Requerimento para realização do Seminário

Descrição da Imagem: foto colorida, em primeiro plano, da Deputada Rejane Dias, sorrindo. Ela Descrição da Imagem: foto colorida do Deputado Eduardo Barbosa sentado à mesa e falando ao usa óculos com armação vermelha, blaser azul escuro sobre camiseta alaranjada com decote em microfone. Ele usa terno cinza claro sobre camisa social branca com gravata cinza com riscas em “ V ”. diagonal. 10 11 Descrição da Imagem: Foto colorida de três pessoas em uma mesa vistas de frente - à esquerda, o senhor Júlio César, representate da SECADI/MEC; ao centro o Deputado Eduardo Barbosa e, à direita, a Deputada Professora Dorinha Seabra Rezende. Ao fundo, atrás do Deputado Eduardo Barbosa, uma Bandeira do Brasil em um mastro.

EDUARDO BARBOSA Deputado Federal - 2ª Vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência

PROFESSORA DORINHA SEABRA REZENDE Deputada Federal - Titular da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência

JÚLIO CÉSAR MEIRELES DE FREITAS MESA DE ABERTURA Secretário de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão - SECADI/MEC

12 13 O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Declaro Sendo assim, essas duas Comissões responsáveis pelo tema se sen- abertos os trabalhos do presente seminário, convocado em razão da tiram na obrigação de provocarmos, neste ambiente, a primeira apresen- aprovação dos Requerimentos nºs 171, 195 e 178, de 2018, na Comissão tação e discussão daquilo proposto, para que possamos ter os subsídios de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, de autoria das De- necessários ao acompanhamento dessa consulta pública até o processo putadas Mara Gabrilli e Rejane Dias e do Deputado Eduardo Barbosa, conclusivo. Os Deputados proponentes contribuíram, convidando auto- e do Requerimento nº 467/2018, na Comissão de Educação, de autoria ridades e representantes de segmentos da sociedade, além do Ministério da Deputada Rejane Dias, para debater a Política Nacional de Educação da Educação, para que pudéssemos ter, nesse primeiro momento, essa Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva — PNEEPEI. discussão e esse debate. Sabemos que, como o documento está em con- Informo a todos os presentes que este plenário está equipado com sulta pública, nada está concluído, encerrado. Sendo assim, , tecnologia que confere acessibilidade, como aro magnético, bluetooth e através também da Câmara dos Deputados, promover uma contribuição sistema FM para usuários de aparelhos auditivos. Além disso, temos o para o texto proposto. serviço de intérpretes de LIBRAS. Agradeço a todas as autoridades que estão aqui e, principalmen- Este seminário será formado, além da Mesa de abertura, por três te, aos palestrantes que aceitaram de pronto o convite da Câmara dos Mesas de debates, que abordarão a perspectiva de especialistas do Go- Deputados. verno e da sociedade civil, e poderá ser acompanhado pela sala interati- Vou passar a palavra para a Deputada Professora Dorinha Seabra va do e-Democracia, no endereço edemocracia.camara.leg.br. Rezende, Vice-Presidente da Comissão de Educação, para também fazer Convido para compor a Mesa de abertura o Sr. Júlio César Meire- sua saudação. les de Freitas, Secretário de Educação Continuada, Alfabetização, Di- A SRA. PROFESSORA DORINHA SEABRA REZENDE (DEM - versidade e Inclusão — SECADI/MEC; a Deputada Professora Dorinha TO) - Boa tarde. Seabra Rezende, Vice-Presidente da Comissão de Educação. Quero falar da importância para a Comissão de Educação des- Estamos aguardando ainda as Deputadas Mara Gabrilli e Rejane se debate conjunto e, ao mesmo tempo, do acompanhamento que nós Dias, que também comporão a nossa Mesa de abertura. temos hoje das redes públicas de ensino, de todos os que lidam com Em primeiro lugar, eu quero agradecer a presença de todos os que o tema da educação especial, do processo de inclusão, do respeito no vieram até as nossas duas Comissões para participar deste seminário. atendimento. Estão aqui entre nós representantes de diversos segmentos: Ministério Infelizmente o nosso tempo será curto, tendo em vista a riqueza da Educação, órgãos representativos do Estado brasileiro, segmentos da das Mesas de debates. sociedade civil, pesquisadores, especialistas em educação especial. Isso Quero agradecer, desde já, aos palestrantes e dizer que a Comissão nos enriquece muito, fazendo com que este momento seja muito rico de Educação assumiu um compromisso inclusive em relação a vários para a Câmara dos Deputados e para ambas as Comissões. projetos que estão em andamento que tratam do tema da educação Como foi colocado, faremos um debate sobre a educação especial, especial. Gostaria que nós pudéssemos aprofundar o debate e que essa associando-se duas Comissões temáticas desta Casa, para podermos consulta pública pudesse contar com a participação de gestores, de aprofundar sobre a Política Nacional de Educação Especial, já que tí- pesquisadores, de usuários, das famílias que lidam e que precisam de um nhamos conhecimento — e ontem se concretizou — de que seria aberta atendimento com qualidade no âmbito da educação especial, do proces- — e está —, através do site do MEC, para consulta pública, a revisão da so de inclusão e, acima de tudo, precisam do respeito à diversidade desse Política Nacional de Educação Especial. atendimento. 14 15 Parabenizo-os e desejo que seja um dia de bastante trabalho para fazer uma apresentação. todos nós. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Muito A Comissão de Educação está à disposição para dar continuidade bem. deste debate. Concedo a palavra ao Sr. Secretário Júlio, que vai expor para nós a Parabenizo o Deputado Eduardo Barbosa pela condução dos proposta que está em consulta pública. trabalhos, e o Ministério da Educação, pela abertura de uma consulta O SR. JÚLIO CÉSAR MEIRELES DE FREITAS - Este momento, pública, que acredito vai ajudar principalmente na estruturação das polí- inicialmente, traz um pouco dessa trajetória histórica que foi construída ticas públicas de atendimento à pessoa com deficiência e no processo de desde 2016. educação. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Sr. Secre- Muito obrigada. (Pausa.) tário, só para o controle do nosso tempo, informo que V.Exa. tem 40 O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Obrigado, minutos. Deputada Professora Dorinha Seabra Rezende. O SR. JÚLIO CÉSAR MEIRELES DE FREITAS - Obrigado. Passo a palavra ao Secretário de Educação Continuada, Alfabeti- (Segue-se exibição de imagens.) zação, Diversidade e Inclusão — SECADI/MEC, Júlio César Meireles de O marco inicial dessa discussão é o início de 2016, quando a Freitas, para suas considerações e saudações iniciais. CECADI, em reunião com os dirigentes estaduais, pode trazer para uma O SR. JÚLIO CÉSAR MEIRELES DE FREITAS - Boa tarde. reunião nossa tudo aquilo que estava sendo discutido sobre a educação Quero cumprimentar o Deputado Eduardo Barbosa e a Deputada especial. Professora Dorinha Seabra Rezende e parabenizá-los por este momento Na reunião de dezembro de 2016, foram identificadas variadas for- e, ao mesmo tempo, agradecer-lhes o convite para que o Ministério da mas de se organizar a educação especial, inclusive divergentes da Política Educação pudesse estar aqui, fazendo, inicialmente, uma explanação de Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, tudo o que foi construído até o presente momento. que é de 2008. A consulta está aberta até o dia 21 de novembro, e nós esperamos Que tipo de divergências os dirigentes ali relataram? Relataram o enriquecimento produzido por todos os que estão aqui presentes, com que, do ponto de vista da educação especial, o AE, por exemplo, era mais uma audiência pública que está prevista para o dia 19, em parceria feito de distintas formas: no mesmo turno, alguns casos com monitores, com o Conselho Nacional de Educação. Queremos, assim, dar à Política outros sem monitores, destoando do que previa a política vigente, que Nacional de Educação Especial a atualização que tanto se almeja. determina que ele seja feito no contraturno e na sala multifuncional. A Obrigado. (Pausa.) partir de 2017, foram realizadas consultorias sobre a implementação da O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Muito política. Foram observadas as diferentes formas como os sistemas de or- obrigado, Sr. Secretário. ganizam para ofertar a educação especial, e os produtos geraram análises Vamos desfazer esta Mesa de abertura — não vejo aqui ainda as situacionais e proposições. Deputadas Rejane e Mara — para iniciarmos, de imediato, a primeira O trabalho da consultoria serviu para referendar a reunião an- Mesa proposta. terior, de 2016, onde, de fato, se consolidou que o AE é feito de forma Muito obrigado, Sr. Secretário. V.Exa. vai permanecer? distinta. A legislação, em alguns casos, é feita com base em política an- terior, em legislações antigas. E aí eu cito o Plano Nacional de Educação O SR. JÚLIO CÉSAR MEIRELES DE FREITAS - Eu gostaria de 16 17 anterior, de 2001 a 2011, por exemplo. contribuições para a construção do documento-base. Depois, em fevereiro, fizemos um workshop de discussão de temas Em agosto foi apresentada a proposta atualizada da política, com a da educação especial, onde foram discutidos temas identificados na con- participação da SECADI, na reunião ordinária do CONADE. sultoria, em especial para o público da educação especial e também para Na verdade, houve uma solicitação do CONADE, na reunião de os serviços e recursos especializados para esse público. São Paulo, para que a SECADI pudesse apresentar a política no Pleno do Em março deste ano fizemos uma reunião sobre o aprendizado CONADE, para os seus Conselheiros, e isso que aconteceu em agosto. ao longo da vida, que foi uma discussão de conceitos e experiências em Ainda em agosto, houve a apresentação da proposta atualizada da educação especial no Brasil e um debate apoiado na legislação nacional e política em uma reunião devolutiva para apresentação das contribuições internacional. consolidadas. Em abril fizemos reuniões interna e externa com o MEC para O Ministro fez a abertura dessa reunião, que teve a participação apresentação das linhas gerais visando à atualização da PNEEPEI. do CONSED, da UNDIME, de representantes da Secretaria Nacional de Internamente, participaram as secretarias e autarquias do Minis- Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, do CONADE e de tério da Educação, e, externamente, o Conselho Nacional de Secretários instituições representativas de grupos sociais. de Educação — CONSED, a União Nacional dos Dirigentes Municipais Em setembro e outubro ocorreu o período da elaboração da de Educação — UNDIME, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa plataforma online, da gravação de vídeos em LIBRAS e de providências com Deficiência — CONADE, o Ministério dos Direitos Humanos — administrativas, considerando que a nossa plataforma, que está em con- MDH, e instituições representativas de grupos sociais. Vale ressaltar que sulta pública, é totalmente acessível. mais de 25 instituições, além de 17 especialistas de renome, participa- Esse foi o espaço temporal da construção da plataforma, que se ram conosco da construção desse processo. consolidou ontem, às 18 horas, com a abertura da consulta pública. Hoje Em junho fizemos uma reunião em São Paulo para coleta de con- pela manhã, por exemplo, havia 70 usuários, ao mesmo tempo, dando tribuições, com a participação do CONSED, da UNDIME, de represen- suas contribuições, inclusive com contribuições do exterior. tantes da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Dito como foi o processo de construção da Política Nacional de Deficiência — SNDPD, do CONADE e de instituições representativas de Educação Especial até o presente momento, passo para as questões iden- grupos sociais. tificadas nessa trajetória a que eu acabei de me referir: Naquele momento, nós abrimos um formulário de contribuição Há hoje diferentes maneiras de organização da educação especial, para as instituições que estavam presentes e depois fizemos uma devolu- sendo que algumas inclusive divergem da PNEEPEI de 2008, conforme tiva para essas instituições, através de uma webconferência, relatando a o exemplo que já mencionei anteriormente; construção das contribuições delas naquele momento. Existem legislações estaduais e municipais inconsistentes e desto- Em junho ainda foi feita a coleta de contribuições das universi- antes da legislação nacional — essa é uma constatação; os marcos legais dades. Nesse caso, estou me referindo a 105 instituições, inseridos os nacionais mais recentes não estão contemplados na política, o que gera institutos federais e as universidades federais. uma inconsistência. Após a política vigente, houve outras legislações, Isso foi feito por meio de um formulário do Google, similar ao como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência — LBI, o fornecido às instituições da reunião de São Paulo, que também foi enca- Plano Nacional de Educação e a própria Convenção sobre os Direitos minhado aos Reitores, para que eles pudessem encaminhar aos grupos das Pessoas com Deficiência. O impedimento de natureza intelectual, de pesquisa especial de cada instituição superior, a fim de que dessem as 18 19 por exemplo, não está contemplado na política vigente; há divergências A taxa de evasão de estudantes nos anos iniciais da educação espe- relacionadas ao público atendido pela educação especial; há dificulda- cial é mais do que o dobro do que o índice da educação básica. Nos anos de no registro do aluno no censo escolar. Se eu cito que as legislações finais do ensino fundamental ela é de 8,9 contra 5,4 da educação básica; estaduais e municipais são inconsistentes e destoantes, isso quer dizer e no ensino médio é de 11,1, na educação especial e 11,2, na educação que esse público não está bem definido pelos sistemas. Porém, o censo básica, elas quase que se equiparam. do INEP trata a educação especial de acordo com a legislação vigente. Nós trazemos outro dado ainda do cenário que trata taxa de Por exemplo, ele não consegue classificar e marcar o aluno de acordo migração dos alunos da educação especial para a educação de jovens com sistemas que trazem disfunções, como o Transtorno de Déficit de e adultos. Nos anos iniciais, 1,8 dos alunos matriculados migram para Atenção e Hiperatividade — TDAH, porque não há essa possibilidade a educação de jovens e adultos, enquanto que os da educação básica no censo. apenas 0,3. Dos anos finais do ensino fundamental 2,8 contra 2,7 da Não há diretrizes claras relacionadas a resultados de aprendiza- educação básica e do ensino médio e da educação especial é de 1,9 e da gem. Nós vamos ver, daqui a pouco, um cenário que mostra ser incon- educação básica são 2,0. teste o crescimento do número de matrículas. Porém, do ponto de vista O cenário traz também o índice de distorção idade/conclusão en- da aprendizagem, faz-se necessário que se abra uma discussão na busca tre os estudantes da educação especial e os da educação básica, segundo de caminhos que de fato consolidem a inclusão. Não pode ser sinônimo as etapas de ensino. Esse índice é bem maior nos anos iniciais, em que a de inclusão somente o acesso, mas também a aprendizagem. O texto distorção/conclusão — e aí eu estou falando do ano de conclusão da eta- da política que está em discussão traz claramente o papel do sistema, pa do nível da modalidade — por exemplo, é de 35,1%, enquanto que na das escolas públicas, da educação básica, das instituições de ensino, da educação básica é 7,7%. dos anos finais são 32,2%, e da educação básica família, etc. 7,20% e do ensino médio 31,8% contra 10% da educação básica. Nesse eslaide nós trouxemos o cenário do ponto de vista da matrí- Ainda no cenário do ponto de vista da formação continuada dos cula. Os dados do censo de 2017 mostram 1 milhão e 66 mil matrículas professores que atuam na educação básica, o censo nos aponta que de estudantes da educação especial, sendo que 897 mil são aqueles que somente 5,4% dos professores que atuam na educação básica possuem estão em classes comuns e 170 mil os que estão em classes exclusivas. alguma formação para a educação especial. Os 94,6% não têm nenhuma Na série histórica de 1998 a 2017, houve um crescimento expo- formação. nencial. Isso precisa ser dito. Quando avançamos para fazer uma análise Quanto ao percentual de docentes que atuam no AEE — Atendi- do dado qualitativo — e vou falar um pouco da aprendizagem desses mento Educacional Especializado, no ambiente em educação especial, alunos, em comparação com os alunos da educação básica, a taxa de somente 43,5% têm alguma formação em educação especial e mais da aprovação desses alunos da educação especial, por exemplo, nos anos metade não tem nenhum tipo de formação em AEE. iniciais, é de em torno de 64,8 e da educação básica é de 90,3 Nos anos Percentual de estudantes da educação especial matriculados no finais do ensino fundamental é de 73,2, menor ainda. A taxa da edu- Atendimento da Educação Especializada. Com AEE, 37,6%; sem AEE, cação básica dos anos finais é de 80,9, e, no caso do ensino médio, elas 62,4%. meio que se equiparam. Do ponto de vista da repetência, os anos iniciais da educação especial apresentam uma taxa de 27,9, enquanto que da Apresentado este cenário, nós passaremos a nos reportar às razões educação básica é de 7,3. Nos anos finais do ensino fundamental, 15,1; para atualizarmos a política. da educação básica é de 11; no ensino médio é de 10,4 para a educação A primeira razão que se destaca, a partir dessa construção até o especial; e 10,5 da educação básica. presente momento, é o alinhamento com os marcos legais. Eu já me refe- 20 21 ri a isso anteriormente com a Convenção, com a LBI, com o PNE e com acessibilidade e desenvolvimento pleno dos estudantes; bilinguismo para a própria LDB. estudantes e usuários da Libras; e especificidade da educação especial Atualização do público apoiado pela educação especial para efeti- na educação escolar indígena, quilombola e comunidades itinerantes, var a educação inclusiva. É preciso definir o público. respeitando as culturas, especificidades linguísticas, ancestralidade e Organização dos serviços especializados. A atual política diz que suas terras. o AEE tem que ser no contraturno e em sala multifuncional. Faz-se Quero, a partir de agora, se possível, apresentar a plataforma aos necessário refletir e discutir sobre a flexibilidade dessas possibilidades. A senhores que ainda não tiveram muito acesso. pesquisa e a consultoria nas cinco regiões do País apontam as diferentes O nosso endereço é www.pnee.mec.gov.br. A plataforma da con- formas que se vêm fazendo o AEE e, ao mesmo tempo, chamam a aten- sulta pública sobre a atualização da Política Nacional de Educação Espe- ção para o item seguinte, que é a atenção às diversidades local e regional. cial está aberta desde ontem e ficará disponível a toda a sociedade até às Hoje mesmo nós discutíamos a questão do transporte escolar. Algumas 18 horas do dia 21 de novembro. Ela é totalmente acessível. vezes, o aluno, por alguma razão, tem dificuldade de acesso à escola no Nessa tela inicial de apresentação há também a versão em Libras. contraturno para poder assegurar o AEE. No final dela, há a opção "Ler íntegra o documento ou participar da Criação de diretrizes que visam a resultados de aprendizagem. O consulta pública". Quando você clica em "Participar da Consulta Públi- texto que está em discussão está na consulta pública e traz as diretrizes ca", aparecem as orientações gerais para quem vai ter acesso pela pri- para os sistemas de ensino, para as escolas da educação básica, para as meira vez. Basta confirmar que leu as orientações, clicar em "Avançar", instituições de ensino superior, para a família, dentre outros. e, em seguida, digitar o seu CPF. Se o cadastro ainda não foi feito, basta Orientação aos sistemas de ensino para estimular o desenvol- fazê-lo. Como já fiz o cadastro, imediatamente vai passar para a tela da vimento das ações inovadoras e coletivas; e delimitações de papéis e contribuição. responsabilidades. Como eu já fiz o cadastro, tenho acesso às Seções do Documento, Principais aspectos da proposta. conforme ele está estruturado. E você pode dar sua contribuição ao Mar- A proposta reafirma o princípio da educação inclusiva, a promo- co Legal; Finalidades e Objetivos; Estudantes Apoiados; Serviços e Re- ção de sistemas de apoio e a oferta de serviços e recursos aos estudantes, cursos Especializados. Em Cenário Atual, você pode observar que está a fim de que tenha seus direitos à aprendizagem assegurados. indicando "Acesse", porque nesta parte já vem consolidada a pesquisa de tudo que foi construído pelo censo, pela base de dados do INEP — Insti- Volto a dizer que o Ministério defende a discussão de uma atu- tuto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, etc. alização que, de fato, transcenda o acesso e crie condições para que a aprendizagem seja significativa e de qualidade, a fim de que aquele Dito isto, você escolhe com o que quer contribuir. Neste caso, cenário ali apresentado em algum outro momento possamos voltar aqui cliquei em Princípios, e o primeiro princípio é Educação como Direito e apresentar uma nova realidade. para Todos em um Sistema Educacional Inclusivo. Também está aces- sível. Em cada item haverá espaço para opinar sobre o tópico e haverá Fundamentos da proposta. as opções numa escala Likert, para poder dizer se você concorda ple- Educação como direito de todos em um sistema educacional namente, discorda plenamente, não concorda nem discorda. Se você inclusivo; aprendizado ao longo da vida; está como princípio inclusive a marcar "concordo plenamente" ou "nem concordo nem discordo" e con- escola acolhedora e inclusiva; respeito à liberdade de escolha do estu- firmar, ele já vai passar para a próxima etapa. Se você marcar "concordo dante e da família; família e escola responsável em diálogo constante; parcialmente", "discordo parcialmente", ele vai trazer o texto para você 22 23 fazer a justificativa. Como cristãos, Deus nos permita que construamos um documen- A plataforma permite que você copie esse texto que está acima to que possa atender aos anseios da comunidade, do público da educa- e faça o ajuste de acordo com o que entende como melhor redação ou ção especial. você pode construir outro texto que considere que pode ser mais bem Eu queria finalizar agradecendo, mais uma vez, ao Deputado interpretado. Então, há essas duas formas. Eduardo Barbosa, à Deputada Professora Dorinha Seabra Rezende, à Se você clicar "discordo parcialmente" e não der a sua contribui- Deputada Rejane Dias, à Deputada Mara Gabrilli, que são autores e ção, você não vai conseguir avançar. Você só vai conseguir avançar se coautores deste seminário. Quero agradecer de público a todas as insti- optar por "concordo plenamente" ou "não concordo nem discordo". tuições e entidades que contribuíram na construção até aqui, agradecer Qualquer outro tipo de alternativa vai pedir que você dê sua contribui- aos especialistas, à equipe do Ministério da Educação que, desde 2016, ção através da justificativa para alteração. tem construído conjuntamente com esses especialistas e com a socieda- A seguir, feita a contribuição, você vai enviá-la e, ao lado da letra de essa minuta de documento. "a", vai aparecer uma cor distinta, informando que para este item do Quero também agradecer à Profa. Ivana, que conduziu o processo Princípio você já deu a sua contribuição e aí ele vai para o passo seguin- até há pouco tempo — eu estou há pouco mais de 1 mês e meio à frente te, que seria o aprendizado ao longo da vida, em se tratando dessa parte da SECADI. Quero de público reconhecer o esforço e o trabalho dela e que está em discussão, que é o Princípio. de todos da equipe e da Profa. Patrícia, que é nossa Diretora, que tem Do lado esquerdo, há outras possibilidades dos serviços, do pú- conduzido o trabalho. blico, para que você faça sua contribuição. Ao mesmo tempo, depois de Eu me coloco à disposição, enquanto Secretário, e toda a nossa concluído, se você quiser editá-la, a página estará disponível até o dia 21. equipe nesse período de construção, para que possamos, sim, sair forta- No final, na situação de contribuição, que é aquela tela inicial, vão lecidos e vitoriosos nesse processo. aparecer como finalizadas todas as suas contribuições e sua participação No mais, obrigado a todos, boa tarde e bom seminário! (Palmas.) está concluída. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Muito A Catarina vai entrar com o perfil dela, porque ela já deu a contri- obrigado, Secretário. Agradeço a V.Sa. a presença e a apresentação, que buição e já concluiu, então, vai aparecer de forma melhor. No meu caso, já nos norteia aqui para os caminhos que se sucederão agora neste nosso o meu cadastro ainda está em processamento. seminário. Senhores, esta plataforma está à disposição da sociedade para que Quero registrar a presença de Nilce Costa, Secretária Executiva possamos entrar nesse novo ciclo de enriquecimento da proposta, já do Conselho Nacional de Secretários de Educação — CONSED; Maria que não é um documento acabado, mas precisa, sim, da contribuição Cecilia Motta, Presidente do CONSED; e Luciana Stoppa dos Santos, de cada um dos senhores que aqui se fazem presentes. Isso é necessário Presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. para que tenhamos, a partir dos seminários das próximas Mesas depois Dando continuidade aos trabalhos, nós vamos passar a palavra da nossa, todo enriquecimento e conhecimento de cada um dos mais para a Deputada Rejane Dias, que assume a coordenação do nosso semi- distintos segmentos e possamos continuar contando com a participação nário. Desfazemos, então, esta primeira Mesa. de vocês. Ajudem-nos nessa divulgação, o MEC está divulgando; di- vulgamos através de todas as possibilidades de comunicação que temos com Municípios, UNDIME, CONSED, para que possamos ter o máximo de contribuições. 24 25 Descrição da Imagem: Foto colorida vista do fundo da sala com o público e a mesa de abertura do Seminário à frente. Detalhe do intérprete de libras vestido de preto à esquerda da foto.

Endereço da apresentação

Júlio César Meireles de Freitas - Secretário de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão - Secadi/ MEC.

http://twixar.me/TZx3

26 27 1ª MESA Descrição da Imagem: foto colorida de uma senhora de cabelos claros curtos e lisos, branca, de óculos. MARIA APARECIDA CAMARANO Representante do Movimento Interfóruns de Edu- cação Infantil do Brasil - MIEIB

PERSPECTIVA Descrição da Imagem: foto colorida de uma senhora de cabelos castanhos escuros, lisos, na altura do queixo, branca e de óculos. DE ESPECIALISTAS ERENICE SOARES DE CARVALHO - Pesqui- sadora e Professora da Universidade Católica de Brasília

Descrição da Imagem: foto colorida de um homem de meia idade de cabelos lisos e curtos, levemente grisalhos, branco e de óculos. MIGUEL CHACON - Professor Assistente Doutor do Departamento de Educação Especial da Fa- Descrição da Imagem: foto colorida de uma senhora de cabelos culdade de Filosofia e Ciências - FFC, da Unesp/ castanhos curtos ondulados, branca, de óculos e brincos argola Maríia prateados. ROSITA EDLER CARVALHO Descrição da Imagem: foto colorida de um senhor de cabelos grisa- Professora, Doutora pela Universidade Federal do lhos, lisos, calvo, branco e de óculos. - UFRJ JOSÉ RAFAEL MIRANDA - Representante da Secretaria de Educação Con- Descrição da Imagem: foto colorida de uma mulher jovem de cabe- tinuada,, Alfabetização, Diversidaade e Inclusão los pretos lisos, branca. Secadi/MEC MEIRE CAVALCANTE - Pesquisadora do Labora- tório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferen- ça - Leped/ Unicamp

28 29 Descrição da Imagem: Foto colorida dos participantes da 1ª Mesa de Debates, da esquerda para a direita:Erenice Soares de Carvalho, Maria Aparecida Camarano, Rosita Edler Carvalho, Deputada Rejane Dias, Miguel Chacon, Meire Cavalcante e José Rafael Miranda. Detalhe da intérprete de libras, em pé e vestida de preto, entre a convidada Meire e o Senhor José Rafael, e um mastro com a Bandeira do Brasil atrás da Sra. Rosita Edler. A SRA. PRESIDENTE (Rejane Dias. PT - PI) - Quero agradecer a Fique à vontade. comunidade surda a presença. Sejam todos muito bem-vindos! A SRA. ROSITA EDLER CARVALHO - Boa tarde a todas e a to- Antes de iniciar as nossas palestras, eu quero cumprimentar a dos. Agradeço a oportunidade de estar aqui. Diretora de Educação e Cultura da Infância do Instituto Alana. Muito Na pessoa da Deputada Rejane, cumprimento a todos os compa- obrigada pela presença. nheiros da Mesa, assim como, na pessoa do Deputado Eduardo Barbo- Quero agradecer também a presença da Luciana, da Mônica, da sa, presente na audiência, cumprimento a todos os que estão aqui, em Márcia e da Thaís do Conselho Federal de Fonoaudiologia. especial as pessoas com as quais eu tenho tido mais contato. O primeiro tema que nós vamos discutir hoje, que é a primeira A elaboração de políticas constitui-se num processo coletivo mesa, é a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Edu- intencional de produção de ordem em instituições sociais, no interior cação Inclusiva. w das quais os indivíduos são formados. Quando as ações que a política Eu passo agora a palavra para a Sra. Rosita, professora, doutora propõe sob a forma de diretrizes de ação são tomadas pelo Estado e têm pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que disporá de 10 minutos. como objetivo atender diversos setores da sociedade civil, o documento A SRA. ROSITA EDLER CARVALHO - Quinze minutos, por é denominado política pública. Essas políticas públicas são elaboradas favor por especialistas na área focal à qual a política se destina juntamente A SRA. PRESIDENTE (Rejane Dias. PT - PI) - Está certo. Quinze com o apoio de organizações não governamentais e de empresas priva- minutos, 5 minutos a mais. das.

30 31 A política que o MEC/SECADI, departamento de políticas de edu- cluído foi disponibilizado por curto período de tempo, em outubro de cação especial, se dispõe a atualizar, estando o documento em consulta 2017, no site da Secretaria de Educação Especial, para conhecimento dos pública, pode ser considerada como uma política regulatória que vai leitores e eventuais sugestões, embora sem o caráter de consulta pública. atuar na área da educação brasileira com foco na educação especial. Dados obtidos pelos pesquisadores de diferentes instituições de Em 1988, a Constituição Brasileira, nossa Constituição Cidadã, no ensino superior que compunham o Observatório Nacional de Educação Capítulo II, sobre educação, cultura e desporto, assegura que o aten- Especial — ONEESP, da Universidade de São Carlos, evidenciam não só dimento educacional especializado aos portadores de deficiência deve a redução do número das referidas salas de recurso, como o decréscimo ocorrer principalmente na rede regular de ensino. da frequência dos alunos, além da precária formação dos professores Até hoje, o termo "preferencialmente" tem sido objeto de debates, especializados, que não constroem conhecimento sobre as especifici- pois os que são a favor da inclusão radical tomam, como foco, o local dades de aprendizagem de seus alunos, com diversas manifestações de de atendimento apenas as classes comuns do ensino regular e os que dificuldades, algumas decorrentes de deficiência, dos transtornos globais são mais moderados argumentam que o "preferencialmente" traduz, do desenvolvimento, dos transtornos específicos de aprendizagem e até no mínimo, duas opções, apontando as classes e escolas especiais e as das altas habilidades, superdotação. classes comuns como possíveis alternativas de escolha seja da família ou Na tal política de 2008, os alunos atendidos pela educação especial da própria pessoa. definidos como seu público-alvo são: os que apresentam deficiência, os O mundo humano envolve um vasto sistema de cooperação. Con- que têm transtornos globais do desenvolvimento e os com altas habilida- tudo, nem todas as formas de se operar junto são aceitáveis e, como tal, des, superdotação. merecem ser combatidas, como é o caso de um estudante estar incluído Quanto aos denominados no documento como transtornos numa sala comum e ficar marginalizado, num grupo à parte, com pouca funcionais específicos — incluam-se a dislexia, disortografia, disgrafia, ou nenhuma atenção da professora. discalculia, transtorno da atenção e hiperatividade —, a proposta é de A questão central em casos dessa natureza é ético-política, caben- que a educação especial atue de forma articulada com o ensino comum, do-nos questionar como construir uma ordem social justa e coerente orientando para as necessidades educacionais especiais desses alunos. com o processo de criar e partilhar valores cooperativos como bases Não há indicativos de como operacionalizar a tal articulação, assim para a formação do ser humano. como aparece no que respeita aos professores das turmas comuns com Muitas professoras e professores esperam que o atendimento das os das salas de recursos multifuncionais. necessidades especiais e específicas daquele aprendiz incluído seja ofere- Seria de esperar que esse grupo com transtornos de aprendizagem cido pela professora da sala de recursos multifuncionais, que o atende de também fosse considerado na política de 2008 como público-alvo do forma intermitente, duas ou três vezes por semana, por um período de atendimento educacional especializado, em conformidade com a De- hora e meia no máximo, e no contraturno do que ele frequenta a classe claração de Salamanca, por exemplo, que estabelece o princípio de que comum do ensino regular. as escolas do ensino regular devem educar e atender todos os alunos, Percorrendo os movimentos históricos, a política de 1994, a adotando o conceito de necessidades educacionais especiais e estimulan- primeira publicada, foi substituída por outra, aos 7 de janeiro de 2008, do as escolas a enfrentar o desafio de atender às necessidades singulares intitulada Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da de cada um. Educação Inclusiva, documento elaborado por um grupo de trabalho O atendimento educacional especializado nas salas de recursos nomeado por uma portaria ministerial em 2007. Foi um trabalho elabo- multifuncionais está presente nas primeiras diretrizes do documento rado em Brasília, nas dependências do próprio MEC, que depois de con- de 2008, desde o ensino fundamental, ganhando contornos próprios na

32 33 educação de jovens e adultos, e, no ensino superior, em que algum tem- para o desenvolvimento de competências socioemocionais. po depois foram denominados como núcleos de acessibilidade, a partir Desde a publicação da política de 2008, as salas de recursos forta- de 2010. leceram-se como locus preferencial do atendimento educacional espe- Há dois aspectos que merecem destaque, por serem objetos de cializado e como diretriz essencial para que a inclusão no ensino regular dúvidas e questionamentos totalmente não resolvidos até hoje. desse certo, o que não ocorreu como desejado e previsto, razão necessá- Um deles é: o atendimento não é substitutivo ao oferecido nas ria, embora não suficiente — mas há outras —, para revisão e atualiza- classes comuns, e sim complementar, para as pessoas com deficiência, e ção da política de 2008 sem que se perca o ideal da educação inclusiva suplementar, para as pessoas superdotadas, com altas habilidades. Não de direito e de fato. há referência a alunos precoces. Com o objetivo de estimular a adoção dessa diretriz política, o O atendimento nas salas de recursos multifuncionais diferencia- Governo Federal passou a considerar como dupla a matrícula do aluno se — esse é o item 2 — dos realizados na sala de aula comum, ficando que estivesse frequentando a classe comum do ensino regular e o atendi- claro, portanto, que as atividades não podem ter a natureza de reforço mento educacional especializado. Graças ao Programa Dinheiro Direto pedagógico. na Escola, o FUNDEB passou a direcionar tais recursos financeiros Apesar de constar da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- diretamente para as escolas nas quais estavam matriculados esses alunos. nal, o primeiro aspecto representou o fechamento de inúmeras classes e Pessoalmente, mais de 10 anos se passaram, e nesse ínterim a escolas especiais, principalmente as das ONGs. Foram meses de muitas Secretaria de Educação Especial no MEC foi extinta e absorvida pela discussões, que resultaram na orientação para que as escolas especiais Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade, Inclu- das ONGs se transformassem em centros de atendimento educacional são — SECADI. especializado para atender os alunos das escolas que não tivessem salas Além dos dados de pesquisas do ONEESP — Observatório Na- de recursos multifuncionais disponíveis na rede pública. cional de Educação Especial e dos trazidos do campo recentemente por O segundo aspecto que consta do texto — parece-me bastante per- consultores contratados pelo MEC, após a publicação de editais públi- tinente — está de acordo com as contribuições das neurociências para a cos, diferentemente do que ocorreu nas vezes anteriores, nós temos os aprendizagem humana, na medida em que valoriza as funções mentais resultados de pesquisas e estudos no campo desses consultores contra- superiores, como as funções executivas e as de autorregulação. Esses tados, depois da publicação e seleção por editais públicos, que incluíram deveriam ser os eixos vertebradores das práticas pedagógicas realizadas visitas a todos os Estados brasileiros e ao Distrito Federal para coleta de nas referidas classes e salas de recurso, pois, desenvolvendo-se redes dados e serviram como importantes subsídios para os consultores que neuronais, criam-se mecanismos corticais que favorecerão a motivação, tiveram a seu cargo organizar um conjunto de sugestões para elaboração o interesse para aprendizagem desse alunado e os processos associativos de um documento para a política atualizada, felizmente já colocada em geradores da construção de conhecimentos. consulta pública. Apesar de o MEC ter apresentado notas técnicas nas quais ficou Pessoalmente, acompanhei mais de perto os consultores respon- bem clara a importância do desenvolvimento das funções mentais su- sáveis pela Política Nacional de Educação Especial e participei de reu- periores, depoimentos de educadores que constam do volume 4 da série niões na SECADI/MEC, nas quais o foco foi o conteúdo do documento publicada pelo Observatório evidenciam que a prática pedagógica esteve e em especial qual o alunado da educação especial e as modalidades de bem mais próxima das que eram desenvolvidas nas classes comuns ou atendimento educacional a que fazem jus, consideradas as suas singula- nas classes especiais do que no desenvolvimento de redes neuronais que ridades. possam contribuir para a aprendizagem de conteúdos acadêmicos ou Dentre os argumentos favoráveis à sua inclusão como público-alvo 34 35 no atendimento especializado, oficializando o trabalho que já vem sendo ção, integrantes da classificação internacional de funcionalidade, inca- feito por inúmeros professores na sala de recurso, aponto: eles também pacidade e saúde, na sua versão para crianças e jovens. Tais aspectos não têm necessidades educacionais especiais; eles também necessitam de constam da política de 2008 e devem aparecer na versão atualizada. apoio; e mais, se eles não forem acolhidos pela educação especial, per- Como não conheço o seu texto ainda, proponho que estejamos manecerão como estão, isto é, marginalizados, porque no ensino regular, atentos para ver se estão inseridos na nova versão de modo que con- considerando que eles apresentam necessidades especiais e dificuldades temple o que a pós-modernidade nos tem oferecido, como os aspectos de aprendizagem, vão imediatamente no seu imaginário considerá-los supracitados. como público alvo da educação especial. Como as mudanças ocorrem vertiginosamente, proponho que Há um receio compreensível de que atendê-los poderá prejudicar a cada 10 anos a Política Nacional de Educação Especial seja revista e o alunado com deficiência, com manifestações do transtorno do espec- atualizada. tro do autismo e dos superdotados com altas habilidades e os precoces. Era só. Além de todas as argumentações que pude organizar, quero acres- Muito obrigada. (Palmas.) centar outras que justificam e explicam a atualização da política. Estas que vou apresentar eu considero como necessárias e suficientes. A SRA. PRESIDENTE (Rejane Dias. PT - PI) - Agradecemos mais O primeiro aspecto é a operacionalização sobre a forma de práti- uma vez a presença da Sra. Rosita, Professora Doutora da Universidade cas pedagógicas das contribuições das neurociências cognitivas para o Federal do Rio de Janeiro. Foi muito importante sua fala e sua contribui- processo ensino-aprendizagem. Não podemos perder o trem da história ção. e deixar de considerar o cérebro, que é o órgão da aprendizagem. A ope- Gostaria de agradecer a presença da Ester Alves Pacheco, Presiden- racionalização dessas práticas pedagógicas precisa ser explicitada não te da FENAPESTALOZZI — Federação Nacional das Associações Pes- necessariamente na política, mas em documentos de natureza pedagógi- talozzi, e do Presidente do CRPD — Comitê Brasileiro de Organizações ca que a ela se sucedam. Representativas das Pessoas com Deficiências. Outro aspecto necessário e suficiente é a valorização do desen- Lembro também a todas e a todos, para dar maior conforto ao volvimento das habilidades e competências socioemocionais, tema que público presente, que o Plenário 15 está equipado com transmissão ao consta das pautas das discussões de vários grupos de educadores. Além vivo e interpretação em LIBRAS. Os servidores da CPD orientarão os do desenvolvimento de habilidades e competências cognitivas, há todo senhores para o deslocamento. Estou vendo algumas pessoas em pé, e um esforço para o desenvolvimento de práticas que valorizem os aspec- nós queremos que vocês tenham mais conforto. tos não cognitivos, como é o caso das competências socioemocionais e Também lembro que o tempo é de 15 minutos, porque haverá mais que não constam do texto da política de 2008. duas Mesas. Sei que são vários os temas, muito importantes, cada fala Um outro aspecto necessário e suficiente é a questão da certifica- tem a sua relevância, mas sigo orientação da Mesa. ção em vez dos relatórios de terminalidade específica — termo ambíguo Passo a palavra à Sra. Meire Cavalcante, pesquisadora do Labora- e que até hoje permanece com tantas conceituações quantas foram as tório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença da Faculdade de pessoas consultadas para dizer o que pensam ser a terminalidade especí- Educação da Universidade Estadual de Campinas — UNICAMP. fica. A SRA. MEIRE CAVALCANTE - Boa tarde a todos. Outro aspecto é a avaliação da funcionalidade dos alunos. Bato na Queria agradecer à Deputada Rejane pela oportunidade, a todos os mesa para destacar a importância da avaliação da funcionalidade dos que estão presentes aqui e aos que estão nos assistindo ao vivo também. alunos tomando-se como base os componentes atividades e participa- Eu venho, em nome do LEPED, da parte da Profa. Maria Teresa 36 37 Eglér Mantoan. Sabidamente, ela dedicou a sua vida à pesquisa, ao de- não foi considerado para as análises que basearam essa proposta que senvolvimento de materiais de estudos, para que tenhamos uma edu- ontem foi à consulta pública. cação realmente para todos e para todas. Então, para mim é uma honra O que aconteceu? Nós soubemos dessa reunião, lançamos essa estar aqui representando a Profa. Maria Teresa. publicação, que também está disponível na Internet, no portal inclu- Constato, ouvindo a sua fala, Profa. Rosita, como eu gostaria de ter saoja.com.br, e esse material foi divulgado numa reunião que aconteceu tido a oportunidade de trocar ideias. Isso é importante. Entretanto, o no dia 16 de maio, aqui no Ministério da Educação, em Brasília. Nós nosso tempo é muito escasso, muita gente vai falar. Por isso, eu gostaria soubemos desse material e ficamos bastante preocupados com o que de falar especificamente de algumas coisas muito graves, no nosso en- apontavam aqueles eslaides. A partir dos eslaides, nós fizemos algumas tendimento, que têm a ver com o processo como tudo isso se deu. considerações e distribuímos amplamente esse material para divulgá-lo O Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença da e começarmos a discuti-lo. Está sendo proposta uma atualização? Em UNICAMP vem participando da construção, do estudo, da elaboração que bases? Qual é a base pedagógica, legal? Nós gostaríamos de saber. das políticas de educação inclusiva há muito tempo, muito antes de a po- Muito bem. Então nós fizemos essa publicação e mandamos um lítica nacional que ainda está em vigência ser concebida. O laboratório ofício para o Ministério da Educação, na figura da Profa. Ivana, que vem desenvolvendo seus estudos há muitas décadas, na verdade. Então, ainda estava à frente da SECADI, e perguntamos o motivo da reunião e é lamentável que o laboratório tenha sido impedido de participar de os critérios de escolha dos seus participantes. Solicitamos os fundamen- todo o processo de construção. tos para a nova redação da política e pedimos que fossem feitas novas Aproveito o momento para me dirigir ao Secretário, para que ele reuniões, para que nos apropriássemos do material que estava embasan- saiba como aconteceu tudo isso. Não faz sentido para o laboratório do aquilo e que pudéssemos também discutir. Nós queríamos participar discutir detalhes ou especificidades sobre os tópicos que vão ser apre- para contribuir, se fosse o caso. Nós gostaríamos de saber como estava sentados aqui, se nós pedimos, durante todo o processo, desde maio, que andando esse processo. O Ministério da Educação simplesmente não pudéssemos participar, e nós fomos impedidos. Então, a minha fala aqui respondeu a esse ofício, o que nós consideramos bastante preocupante, é para contar essa história. porque o laboratório tem legitimidade para solicitar a participação em Nós fizemos uma publicação em maio, a partir de um material que algo que é público, como qualquer outra entidade. E considerando que foi divulgado pelo Ministério da Educação. Eram alguns eslaides soltos, ele foi condutor de uma grande pesquisa nacional sobre o assunto, nós não era uma minuta, nem nada disso, mas falavam sobre uma ação de tínhamos toda a legitimidade para participar nessas reuniões. atualização da política nacional na qual estávamos muito envolvidos. À época, a única comunicação que o MEC se dignou a responder Deixo registrado também que o laboratório, junto com a Organização foi a um e-mail de uma das pessoas que nós conhecemos, porque foram dos Estados Ibero-Americanos — OEI e o Instituto de Pesquisa do Dis- muitos os ofícios, foram muitos os e-mails enviados solicitando a par- curso do Sujeito Coletivo, realizou uma pesquisa nacional, em 48 Muni- ticipação, e qual foi a resposta do Ministério da Educação a respeito da cípios. Foram mais de 3 mil entrevistas com professores de AEE, ges- reunião ocorrida em maio? " A DPE agradece o seu contato e informa tores de escolas, pais, familiares de crianças com e sem deficiência nas que foram apresentadas as linhas gerais para a atualização da política. escolas comuns, gestores da educação inclusiva dos Municípios-polo do Após a consolidação das contribuições dos participantes nas reuniões Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, que foi desconti- nos dias 13 e 16 de abril, um documento preliminar será colocado em nuado. Então, essa é uma pesquisa muito abrangente, que está publicada, consulta pública". Esse e-mail deixa muito claro que, depois daquela está na internet, A Escola e Suas Transformações, que buscava analisar reunião de abril, já ia para consulta pública. E a partir dessa informa- um percurso de 7 anos da política nacional. Esse material infelizmente ção, nós começamos a conversar com outras entidades, que também se

38 39 manifestaram pedindo para participar. Como se colocar em consulta inquérito, fomos procurar saber depois. Muito bem. E só por meio do pública sem discussão, sem nós podermos participar, já que nós estáva- Ministério Público Federal foi que nós conseguimos acesso aos docu- mos pedindo isso? mentos, às pesquisas. Nisso já se passaram 2 meses de pedidos: "Olha, O LEPED então solicitou, via Lei de Acesso à Informação, os do- queremos participar das reuniões, queremos ver os produtos, queremos cumentos, porque uma das coisas que constava daqueles eslaides é que entender quais são as bases epistemológicas, legais, pedagógicas que existia um diagnóstico. E nós queríamos ver esse diagnóstico, porque estão por trás da proposta". somos uma instituição de pesquisa. Se existe um diagnóstico, ele é um O que aconteceu? Na mesma época em que nós mandamos aquele produto de pesquisa, e nós gostaríamos de ter acesso a ele. ofício, a que o MEC não respondeu, outras instituições mandaram ofí- Infelizmente, o Ministério da Educação negou ao LEPED acesso cios também pedindo para participar. Então nós precisamos falar sobre aos produtos. O Prof. Miguel fez uma das consultorias, a Profa. Erenice, democracia, sobre o direito de acesso à coisa pública. Estamos numa e nós gostaríamos de ter acesso a esses produtos para entender as bases res publica, é coisa pública. Nós tivemos impedido o nosso direito de da alteração da política, para nós também podermos contribuir. Lembro participar. Mas isso não aconteceu somente com o LEPED. E eu passei a que nós estávamos sempre pedindo para participar das reuniões. ficar sabendo de que outras entidades mandaram ofícios, e também não E na resposta em que foi indeferido o nosso pedido de acesso a esse receberam resposta. A AMPID mandou um ofício. Eu mandei e-mail material, não só foi negado o acesso, como o MEC disse que não havia para quem preside a AMPID, que é a representação do Ministério Públi- um diagnóstico, que diagnóstico era um termo geral para impressões co que trata dos direitos das pessoas com deficiência, e a resposta deles dos consultores e da equipe. Ficamos a ver navios. foi: "O MEC não nos respondeu". O Dr. Alexandre foi quem respondeu. Está aqui a resposta. Nós entramos com um recurso em primeira Aí temos uma ONG que trabalha há muitos anos com a questão da instância, que foi indeferido; entramos com outro recurso, em segunda inclusão escolar, Mais Diferenças, que também não recebeu resposta. instância, que também foi indeferido. Diante dessas negativas, nós con- O MIEIB, que está aqui representado, também não recebeu respos- seguimos, por intermédio da Deputada Margarida Salomão, ser recebi- ta para o ofício, a CNTE não recebeu resposta. Enfim, há uma série de dos pelo Ministro. Só que nós não queríamos conversar com o Ministro, ofícios junto com o e-mail dos diretores dessas entidades, comprovando e sim participar das reuniões técnicas. Nós fomos até o Ministro, ele nos que o Ministério simplesmente ignorou os ofícios, nos quais — temos as recebeu e, na reunião — isso não tinha acontecido comigo em nenhuma cópias dos ofícios — era solicitada a participação nas reuniões técnicas. reunião — confiscaram nossos telefones celulares e ouviram... O Minis- Bom, como o MEC havia dito lá atrás que não ia ter reunião coisa tro chegou mais para o final da reunião, a Profa. Ivana ouviu os nossos nenhuma e que depois da reunião de abril com aquelas entidades especí- pedidos reiterados para participarmos do processo, e, um dia depois, o ficas já iria para consulta pública, o fato de o Ministério Público Federal recurso em segunda instância também foi indeferido. ter aberto um inquérito e ter pedido materiais provocou a mobilização Está aqui: a reunião foi no dia 21, e o indeferimento chegou, e vi- do Ministério da Educação para fazer algumas reuniões. Esses materiais mos no dia seguinte. eu vou deixar à disposição para quem quiser. Aquela primeira publicação que nós fizemos chegou ao Ministério Essas outras, então, não foram também convidadas. Uma das ins- Público Federal, e, a partir disso, o Ministério Público Federal, sem nós tituições — é inacreditável — que pediu para participar de uma dessas sabermos que isso estava acontecendo, abriu um inquérito para acompa- reuniões que começaram a ser organizadas após a nossa mobilização nhar o processo. Nós ficamos sabendo disso, inclusive, na reunião com o recebeu a resposta de que não poderia participar porque a sala era pe- Ministro, porque ele disse que nós tínhamos entrado com um processo quena. contra o Ministério da Educação. Nós nem sabíamos da existência do Dentro de uma reunião do CONSED, foi feita uma reunião para

40 41 falar sobre essa alteração da política. O curioso é que, na reunião do Dando uma olhada por cima, temos um texto que traz de volta clas- CONSED, foram apresentadas as consultorias como algo que embasava ses e escolas especiais, que amplia de forma indiscriminada o público-al- a mudança da política, contrariando o que Ministério havia dito pela vo. Nós precisávamos ter discutido isso. Uma coisa que me chama muito Lei de Acesso à Informação, que não existia diagnóstico. Ou seja, tinha a atenção é a permissão de bebês de 0 a 3 anos. Quando não for possível diagnóstico ou não tinha? De repente, as consultorias passaram a ser ir para creches? Vamos fazer creches, ora! Quando não é possível ir para diagnóstico, e não tivemos tempo. São 24 os produtos. É muito material. creches? Queríamos também poder falar sobre eles e entender melhor. Não re- A consulta pública não é debate técnico. Nós fomos impedidos de cebemos convite para a reunião do dia 25, que aconteceu em São Paulo. fazer parte do debate técnico. Portanto, não estamos aqui, pelo LEPED, Também não recebemos convite para outras reuniões que aconteceram. para compactuar, para referendar e dizer: "Que bom que participamos Aconteceram mais duas reuniões. Depois dessa reunião de São Paulo, foi de um seminário!" Nós fomos impedidos de discutir. E isso é antidemo- feito um questionário on-line que foi mandado só para quem participou. crático, isso fere a nossa democracia, fere o nosso ofício, que é melhorar Ficamos sabendo desse questionário. Depois do questionário on-line, foi a escola para todos, é fazer que ela de fato seja inclusiva. Nós não somos feita uma sistematização. Aconteceu outra reunião só com quem partici- inimigos. E fomos impedidos de discutir, inclusive do ponto de vista pou. acadêmico. Eu acho que eu frustro um pouco a expectativa desta Mesa que tra- Aqui fica o registro que o LEPED não compactua com essa consulta ta com os especialistas, porque eu gostaria de ter podido conversar sobre pública, que foi feita dessa maneira, impedindo muitas pessoas interes- a perspectiva de qual é a fundamentação do atendimento educacional sadas de participarem da construção. especializado; por que estamos entendendo que a formação é escassa; Nós não estamos aqui para impedir nada, mas o fato de termos sido qual é o papel da sala de recursos multifuncionais. Eu queria estar discu- impedidos foi muito violento. tindo nesses níveis, nesses conteúdos, e não aqui em tão pouco tempo. O Obrigada. (Palmas.) que me restou aqui, em nome do LEPED e em nome das entidades que A SRA. PRESIDENTE (Rejane Dias. PT - PI) - Muito obrigada, não foram ouvidas, cujos ofícios não foram respondidos, foi usar esses Meire, pelas suas contribuições. 10 minutos, 15 minutos, para dizer que nós fomos impedidos de partici- Quero registrar a presença da Presidente da Associação Brasileira par. de Autismo — ABRA, Maria do Carmo Tourinho, e da Anna Beatriz Finalizo dizendo que não tivemos acesso ao texto da consulta pú- Leite, Assessora de Advocacy da APAE de São Paulo. blica, não tivemos acesso a entender qual foi essa proposição. A consulta Passo a palavra à Sra. Maria Aparecida Camarano, que representa o pública entrou no ar poucas horas antes de termos este encontro. Então, Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil, por 15 minutos. nem temos condições de falar mais profundamente sobre o assunto. Pro- A SRA. MARIA APARECIDA CAMARANO - Boa tarde a todas e a vavelmente o Prof. Miguel, a Profa. Erenice e a Profa. Rosita — ela ainda todos. não viu o texto, mas acompanhou mais de perto todas essas mudan- Eu gostaria de cumprimentar a Mesa em nome da Deputada Reja- ças — terão mais propriedade para dizer com o que concordam ou não ne Dias; as autoridades aqui presentes e todo o público que permanece concordam do texto. neste recinto. O fato é que uma representação da sociedade civil, uma parte im- Também gostaria de cumprimentar o Sr. Júlio César Meireles de portante da construção da educação inclusiva, por meio da academia, foi Freitas, Secretário da SECADI, do MEC. impedida de participar de todas as discussões, inclusive de ter acesso a O posicionamento público do MIEIB é a oportunidade que nós documentos que são públicos, que são as consultorias. estamos tendo neste seminário, promovido pela Comissão de Defesa

42 43 dos Direitos das Pessoas com Deficiência e pela Comissão de Educação, fica. na perspectiva de revisão da Política Nacional de Educação Especial na Ao referir-se ao público-alvo da educação especial, esse direito é Perspectiva da Educação Inclusiva. complementado pelo inciso III do art. 208, que assegura atendimento O Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil — MIEIB, educacional e especializado — AEE, preferencialmente na rede regular constituído por 26 fóruns estaduais e 1 fórum do Distrito Federal, é um de ensino, para todas/todos: bebês, crianças, jovens, adultos e idosos. movimento social de luta pelo direito à educação infantil pública gra- A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Edu- tuita, laica, inclusiva e de qualidade social, de caráter suprapartidário, cação Inclusiva aponta para mudanças significativas nos modos de se com respeito às especificidades da primeira etapa da educação básica, compreender a educação brasileira, ao enfocar o paradigma da educação compreendida como um dos direitos fundamentais das crianças de 0 a 6 inclusiva, reafirmando a importância de conceitos como democracia, anos de idade, de acordo com a Constituição Federal de 1988; o Estatuto diversidade, diferença em inclusão, alinhado aos movimentos de luta em da Criança e do Adolescente; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação defesa do direito à educação de todas as pessoas, incluindo o direito à Nacional; a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas educação dos estudantes e das estudantes com necessidades específicas, com Deficiência; as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação em escolas ou classes comuns do sistema regular de ensino. Infantil, de 2009; o Plano Nacional de Educação, Lei nº 13.005, de 2014; Na referida política, a educação especial passa a ser definida como e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146, modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modali- de 2015. dades; realiza o atendimento educacional especializado; disponibiliza O MIEIB torna público o seu posicionamento sobre a proposta de recursos e serviços e orienta, quanto a sua utilização, no processo de revisão da atual Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. da Educação Inclusiva. É importante ressaltar o aspecto de transversalidade assumido pela Os princípios que fundamentam as ações do MIEIB pautam-se na educação especial, tal como a definição de AEE, de caráter complemen- garantia do direito ao acesso às crianças aos sistemas públicos de educa- tar e suplementar ao processo de escolarização dos estudantes público- ção; no reconhecimento do direito constitucional das crianças de 0 a 6 -alvo da educação especial não substitutiva. anos de idade, independentemente de raça, idade, gênero, etnia, credo, Salientamos ainda que a política prevê que o AEE deve ser iniciado origem socioeconômica e cultural, dentre outros, ao atendimento em desde a educação infantil. Do nascimento aos 3 anos de idade, o aten- instituições públicas gratuitas e de qualidade; na destinação de recursos dimento educacional especializado se expressa por meio de serviços públicos específicos e adequados, imprescindíveis ao bom funciona- de estimulação precoce que objetivam otimizar o processo de desen- mento das instituições de educação infantil; na indissociabilidade entre volvimento e aprendizagem em interface com os serviços de saúde e cuidar e educar, visando ao bem-estar, crescimento e pleno desenvolvi- assistência social. Em todas as etapas e modalidades da educação básica, mento da criança; na implementação de políticas públicas que visem à o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o expansão e melhoria da qualidade do atendimento educacional, abran- desenvolvimento dos estudantes, constituindo oferta obrigatória dos gendo toda a faixa etária de 0 a 6 anos de idade; e na identificação da sistemas de ensino, e deve ser realizado no turno inverso ao da classe co- educação infantil enquanto campo intersetorial, interdisciplinar, multi- mum, na própria escola ou centro especializado que realize esse serviço dimensional e em permanente evolução. educacional. Esse posicionamento tem como referência a Constituição Federal, A esse respeito enfatiza-se a importância, também mencionada pela como marco legal da garantia do direito de todos e todas à educação, o política, de que os entes da Federação devem atribuir a intersetorialida- dever do Estado por sua plena efetivação, bem como a legislação especí- de, visando a acessibilidade arquitetônica aos atendimentos de saúde, à

44 45 promoção de ações de assistência social, trabalho e justiça. direito à educação infantil para as crianças de 0 a 6 anos de idade em Portanto, as ações conjuntas e complementares são necessárias. To- creches e pré-escolas, sobretudo para as crianças com deficiência. Por davia, o AEE deve ser ofertado pelos sistemas de educação, e não pelos isso, a revisão da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva sistemas de saúde ou de assistência social. da Educação Inclusiva deve considerar a necessidade de ampliação do O entendimento de que o AEE é atribuição dos sistemas de edu- acesso de bebês e crianças pequenas às instituições públicas gratuitas, cação é tão necessário que, posteriormente, o MEC publicou a Nota laicas, inclusivas e de qualidade social, tal como preconizado nas Di- Técnica nº 2. No contexto do referido documento, esse serviço deverá retrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil de 2009 e no ser ofertado no âmbito das instituições de educação infantil, com a Plano Nacional de Educação de 2014, com a garantia do atendimento valorização das brincadeiras e interações, eixos norteadores do currículo educacional especializado, respeitando as especificidades dessa primeira destinado às crianças de 0 a 6 anos de idade, com atenção especial aos etapa da educação básica. espaços e tempos organizados a partir da concepção de creches e pré- Mediante o exposto, o posicionamento do MIEIB em relação à revi- -escolas como espaços inclusivos; prevê ainda a sua inserção no projeto são da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educa- político-pedagógico de cada instituição educacional a ser implementado ção Inclusiva deve fundamentar-se nos seguintes princípios: concepção por meio da participação de toda a equipe escolar; não deverá ocorrer de educação especial como modalidade transversal e fundamentada na de modo substitutivo, promovendo a plena participação das crianças perspectiva inclusiva, sem que sua revisão represente retrocessos frente com deficiência; articular-se-á com as demais políticas intersetoriais e se a conquistas para o paradigma da Política Nacional de Educação Espe- vinculará aos demais serviços da educação especial. cial na Perspectiva da Educação Inclusiva; manutenção do atendimento Na referida nota técnica, afirma-se que a professora ou o professor educacional especializado, de caráter complementar e suplementar, responsável pela organização dos serviços deve atuar em parceria com jamais substitutivo, assegurando os processos de terminalidade; garantia os demais profissionais da instituição, com enfoque no trabalho cola- de que o atendimento educacional especializado para crianças de 0 a borativo com o profissional docente referência da turma, com o papel 6 anos de idade seja ofertado pelos sistemas de educação; organização de atuar na eliminação de barreiras existentes no contexto da educação do AEE na educação infantil, respeitando a especificidades das crianças infantil, realização de estudos de caso e parcerias com os demais pro- de 0 a 6 anos de idade matriculadas em creches e pré-escolas, consi- fissionais de creches e pré-escolas e mediadores na articulação de ações derando ainda a relevância de práticas pedagógicas fundamentadas na intersetoriais. indissociabilidade do educar e cuidar; ênfase no papel das brincadeiras e Cabe ainda abordar o tema do laudo médico, que, em algumas Uni- interações na organização do atendimento educacional especializado na dades da Federação, tem sido utilizado como condição para atendimen- educação infantil; orientações sobre a formação docente que articule as to no serviço de AEE, o que tem caracterizado rotulação, segregação e especificidades da educação infantil e da educação especial; definição de pouco investimento educacional na ampliação dos serviços de educação formas para a viabilização do AEE em creches e pré-escolas inclusivas, especial. pautadas na organização dos tempos, espaços e materiais que garantam De acordo com a Nota Técnica nº 4 do MEC, não se pode consi- a especificidade do trabalho pedagógico na educação infantil; a defini- derar imprescindível a apresentação de laudo médico, que é o diagnós- ção do público-alvo da educação especial não pode abrir precedentes tico clínico, por parte do aluno com deficiência, transtornos globais do para processos discursivos que estigmatizam bebês e crianças pequenas; desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação, uma vez que o AEE garantia da inexigibilidade de laudo médico — diagnóstico clínico — se caracteriza por atendimento pedagógico, e não clínico. para acesso ao serviço de AEE; ampliação da oferta da educação infantil Contudo, reconhecem-se os inúmeros desafios para efetivação do e do atendimento educacional especializado pela via direta em creches

46 47 e pré-escolas públicas, gratuitas, laicas, inclusivas, democráticas e de da Márcia Pereira, que são Diretoras do Movimento Orgulho Autista qualidade social; garantia da concepção do modelo social de deficiência Brasil, bem como registrar a presença da Marialva de Almeida, Reitora em detrimento do modelo médico na fundamentação das políticas de do Instituto Federal do Amapá, da Fabiana Oliveira, Coordenadora de educação especial; garantia de ações intersetoriais no sentido de comple- Educação e Ação Pedagógica da Federação Nacional das APAEs. mentar, e não substituir por AEE. Eu gostaria de fazer um lembrete sobre a questão do tempo, pois Na educação infantil, o AEE deve prever a participação das famí- temos ainda mais três expositores que irão falar nesta Mesa, e haverá lias como dimensão essencial do desenvolvimento pleno das crianças. ainda duas Mesas. Certo? Então peço que observem o tempo, para que Entretanto, compreende-se que qualquer revisão da Política Nacional de todos tenham igualdade no tempo para poderem se manifestar. Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva precisa dispor Passo a palavra à Sra. Erenice Soares de Carvalho, Pesquisadora e de financiamento público adequado de forma a garantir o acesso, a per- Professora da Universidade Católica de Brasília, que dispõe de 15 minu- manência e a qualidade dos processos de escolarização dos estudantes e tos para sua manifestação. das estudantes com necessidades específicas. A SRA. ERENICE SOARES DE CARVALHO - Estou preocupada e Para tanto, defende-se que serão necessárias ações que articulem di- sou rigorosa com o tempo. Então, eu vou ficar de olho naquele relógio, ferentes atores, movimento e entidades que atuem em defesa do direito para não ultrapassar o tempo que me foi dado. à educação, tais como: a revogação da Emenda Constitucional nº 95, de Eu queria começar agradecendo o convite e cumprimentando esta 2016, e a garantia do FUNDEB como fundo público permanente, con- Casa pela pertinência e pela tempestividade deste encontro. É muito templando toda a educação infantil pública. conveniente para todos que aguardavam este momento de consulta pú- Sem o financiamento adequado para viabilizar políticas educacio- blica que isso esteja sendo discutindo. nais, qualquer revisão de política pública poderá constituir-se em retro- Eu tenho uma visão diferente da Meire sobre consulta pública. Eu cesso no âmbito da efetivação do direito à educação no Brasil. não a vejo como um processo que impeça alguém de algo. Eu vejo a con- Se o texto submetido a consulta pública pelo MEC, com a proposta sulta pública como indutora de participação, inclusive coletiva, porque de revisão da atual Política Nacional de Educação Especial na Perspec- ela não se resume à resposta a um questionário. A consulta pública é o tiva da Educação Inclusiva não contemplar os princípios da educação momento de um processo que implica discussão e debate, mas que não é inclusiva desde a educação infantil, tal como o documento de 2008, caótico. É um debate em torno de uma proposta organizada. (Palmas.) correrá o risco de constituir-se em um retrocesso na garantia do direi- Muito obrigada. to à educação pelo público-alvo da educação especial, que, conforme Participei como consultora no Ministério e venho fazendo con- a atual Lei de Diretrizes e Bases, é constituído pelas estudantes e pelos sultoria há algumas décadas. Já ocupo a vaga privilegiada para idosos, estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e então já tenho uma caminhada boa, inclusive dentro da educação espe- altas habilidades/superdotação. cial. Eu queria deixar muito claro que o que nós fizemos na condição de Como diz a Profa. Rosita, nós não podemos perder o trem da consultores não foi uma impressão, até porque nossa experiência não história. E, ao não considerarmos uma educação infantil inclusiva, nós permite que tenhamos impressões de uma coisa tão importante como é estaremos, com certeza, perdendo esse trem. a educação como direito fundamental. Então, toda a nossa discussão no Muito obrigada. (Palmas.) Ministério da Educação... A SRA. PRESIDENTE (Rejane Dias. PT - PI) - Agradeço a partici- Eu agradeço, embora ninguém tenha me convidado, por ter partici- pação e a colaboração da Sra. Maria Aparecida Camarano. pado de uma seleção. Gratificou-me muito a oportunidade de participar Eu quero registrar e agradecer a presença da Viviane Guimarães e desses debates, entendendo que a formulação da política é um momento

48 49 do processo. — meu pai é promotor falecido —, frustrou-me muito o baixo retorno Não estou frustrada, Meire, nem desapontada com nada que foi da consulta que fizemos ao Ministério Público. E por que o consulta- feito até agora. A Mesa não está desapontada. Entendo que nós estamos mos? Porque sentimos uma certa judicialização da educação. Nós somos desafiados a, de maneira responsável, participar desse processo, que do professores. Então, temos um saber que foi um professor que construiu. meu ponto de vista está só a meio caminho. Ninguém formulou uma Então, do meu ponto de vista, não é legítimo que a Justiça entre nas es- política. Nós formulamos um documento indutor, para que todos pos- colas de uma maneira tão invasiva, tão pouco respeitosa. Eu não vi isso sam participar direcionados, e não dispersos. Então, em nenhum mo- só como consultora, antes eu já vinha vendo. mento eu vi, como consultora — e eu faço consultoria há muitos anos A Justiça e o Ministério Público defendem o melhor interesse, não —, tanto em organizações não governamentais, quanto em instituições só das crianças, mas também de qualquer cidadão. Então, se vai entrar públicas... em uma escola, respeite o saber pedagógico. Quem entende de educação Eu fui consultora da Secretaria da Educação por muitos anos e fui é professor! (Palmas.) consultora do MEC há muitos anos, comecei na década de 1990. Par- Muito obrigada. ticipei da formulação de uma política em 1994, com a Profa. Rosita. O que me parece emergencial neste momento? Já estou emociona- Naquele momento, não tínhamos o avanço democrático que temos hoje. da demais. Até esqueci o relógio. Peço, por favor, que alguém me dê um Pela primeira vez, estamos tendo a formulação de uma política que vai sinal quando terminar meu tempo. ter o escrutínio da sociedade. Isso é um privilégio. Eu entendo que esse é Muito bem, parece-me que temos que providenciar com a maior um presente do MEC à sociedade brasileira no aniversário de 30 anos da urgência uma política nacional de educação inclusiva no País. Nós não Constituição. temos. Temos uma política de educação especial na perspectiva da Eu gostaria de colocar aqui, dentro do tempo disponível, alguns educação inclusiva, que é um processo que ainda não examinamos. Nós pontos que se destacam como importantes para mim. O primeiro deles ainda não examinamos no Brasil o que é a educação inclusiva. Nós ainda é que me deu muita tristeza verificar o viés ideológico e político-par- não examinamos no Brasil o que é um sistema educacional inclusivo, tidário que permeou essas discussões do MEC. É um absurdo que não bem como não examinamos o que é educação e aprendizagem ao longo possamos ver a educação no olhar do educador, sob o olhar do educador da vida, que foi um ponto levantado pelo Deputado Eduardo Barbosa, e na expectativa da sociedade, em termos de educação. É um pecado. Eu quando interferiu na LDB para acrescentar o que apareceu como prin- sou uma pessoa religiosa e, diante de Deus, acho pecaminosa qualquer cípio nesse documento que está aí, subordinado à apreciação de todos posição que não seja voltada para o interesse das pessoas, para a edu- nós, à apreciação de todo brasileiro e de toda a academia. cação das pessoas que têm necessidades específicas e que têm direito a Eu trabalhei em laboratórios. Não se pode privilegiar um laborató- uma educação de boa qualidade. Qualquer coisa que fuja disso é irres- rio. São milhares de laboratórios nas academias do Brasil inteiro. Então, ponsável diante da sociedade e, no meu ponto de vista, fere os princí- a ideia é que agora possamos nos manifestar como laboratório, como pios religiosos de qualquer religião, porque o outro deve nos preocupar docente de ensino superior, como docente da educação básica, como demais. pais, como familiares — como eu sou — de pessoas com deficiência, Então, isto posto, agora eu vou falar de educação, porque é o que para que o superdotado tenha o seu espaço, o que foi negligenciado na vocês, certamente, esperam. Nós fizemos um trabalho de consultoria. política de 2008. Visitamos alguns lugares e ouvimos alguns agrupamentos. Foram 10 Então, quando faço críticas à política de 2008, é porque eu já venho meses de trabalho construindo informações. Ouvimos Ministério Públi- estudando muito. Estou na educação especial há tempo demais para co, encaminhamos instrumento ao Ministério Público. Da minha parte olhar de uma maneira superficial para as coisas. A política de 2008 é

50 51 restritiva quanto ao público alvo, porque, em relação às pessoas com inclusiva. Depois, estudando mais profundamente, eu vi que não se trata impedimento de natureza mental, ela privilegiou o autismo. E eu tenho de uma contradição ou ambiguidade no ordenamento jurídico, mas familiar autista. Não estou falando que não deve haver essa contempla- nas interpretações. O que está equivocado e ambíguo, no meu ponto de ção. Deve, foi pertinente, mas e os outros? vista, são as interpretações a partir do art. 208 da Constituição, que tem Nos impedimentos de natureza mental, nós temos situações — e a interpretações diversificadas. Profa. Rosita citou algumas — de grande agravamento, de dificuldades Como eu já era diretora do Ensino Especial, à época da Constitui- pessoais em todos os sentidos, não só da educação. Então, não tem, é ção, eu entendi o art. 208. Eu era gestora. Fui diretora aqui em Brasília uma restrição. Quando o AEE está restrito a um contraturno, ignora-se por 6 anos. Então, era meu dever cumprir a Constituição. Quando li que é no turno que estão as grandes dificuldades do estudante. Ele não o art. 208, claro, foi na compreensão existente na época, aquilo que o avança se não tiver apoio na hora da aula. (Palmas.) Constituinte estava querendo dizer. O Constituinte estava pautado em Muito obrigada. uma norma que era da década de 80, que foi o primeiro documento nor- Então, eu penso o seguinte: nós temos que estar atentos. Vejo um mativo do CENESP. Muita gente não tinha nascido ainda. Muito bem, público prejudicado pela política de 2008. A política está aí para garantir podem retomar e ler. Era diferente da interpretação que está na nossa direito assegurado pela lei, mas não está garantindo. Vamos ter humilda- — quero repetir — política de 2008, que restringiu o conceito de AEE. O de, vamos olhar e melhorar. Nunca entendi uma política, sem monitora- AEE deve ser prestado onde ele é necessário, no momento necessário e mento. Para a nossa faz 10 anos que ninguém olha. Eu chamo de "nossa no lugar necessário. política" porque ela é minha também. Eu sou uma cidadã brasileira. Por A contradição é muito cruel e perversa quando ela considera ilegal que ela não seria minha também? E eu não estou satisfeita com ela. e ilegítima uma escola especial para quem precisa dela, ou uma escola Falando como cidadã e como educadora, eu a apoio sim, integral- bilíngue, para quem a reivindica. (Palmas.) mente. Coloquei lá nos relatórios. Pena que você não tenha tido acesso Quem é que está reivindicando uma escola bilíngue? A comunidade a tempo, como você mesma disse, mas, pelo que eu saiba, estava dispo- surda. Tem alguém mais legitimado para responder? Não tem! (Palmas.) nível desde que foi escrita. Nós assinamos esses documentos, responde- Quem é que legitima uma classe bilíngue ou uma classe especial? O mos por eles. público que recebe o atendimento, aquele que legitimamente o demanda Eu, particularmente, indiquei revisão e atualização da política, para e sabe do que precisa. atender ao público-alvo que precisa dela, não no sentido restritivo, mas A nossa política está falhando em relação a três públicos específi- no sentido de ampliar o grupo de pessoas que precisam da atenção e do cos. Durante 6 anos, eu fui professora de crianças com deficiências múl- apoio da educação especial, ampliar a oportunidade de participação, tiplas, com autismo, deficiência física, deficiência intelectual — eram os porque não houve isso na elaboração da política. Eu tomei conhecimen- termos que utilizávamos. Quem me conhece aqui em Brasília sabe disso. to da política em uma revista do MEC. Eu gostaria muito de ter parti- A deficiência múltipla talvez seja a situação de deficiência que mais de- cipado, não pude, mas não me queixo. O momento não era apropriado. safia a criatividade, a qualificação docente, até a paciência, a tolerância, o O momento é agora. Nós não podemos ficar olhando para trás. Então, respeito, a dignidade da pessoa. Não conheço nenhum espaço onde isso vamos nos apropriar deste momento. é mais demandado. Eu agradeço a Deus a oportunidade de ter tido esse Outra coisa que me preocupa, como filha de juiz e promotor — pa- momento na minha vida, porque, em qualquer política que passe pelos pai foi juiz e promotor, ele me sensibilizou para as questões da Justiça —, meus olhos, eu sei quem é que precisa e por que. Eu conheço os meus é que eu fiz um artigo para uma revista científica denunciando a contra- alunos. dição no ordenamento jurídico brasileiro em relação à educação especial Então, eu diria para vocês que nós temos sim que participar desse

52 53 momento. Evidentemente, muita gente não concorda comigo. Graças a pela ONU como um país de economia emergente e possui um índice de Deus! Se nós pensássemos do mesmo jeito, não seríamos humanos. desenvolvimento, o IDH, de 0,699, o que é considerado elevado e nos Muito obrigada. coloca na posição 79 no ranking mundial, entre 188 países avaliados. Sou rigorosa em relação ao cumprimento de tempo. (Palmas.) Esses dados que eu estou trazendo têm impactos importantíssimos na A SRA. PRESIDENTE (Rejane Dias. PT - PI) - Muito bem. Para- implementação das políticas públicas educacionais no nosso País. Por béns à Sra. Erenice. quê? Porque esses dados todos definem o orçamento de aplicação. Não Mais uma vez, eu quero agradecer a participação e a colaboração da se faz política sem recurso, sem orçamento. Sra. Erenice Soares de Carvalho. Ao mesmo tempo, quero também agra- Uma coisa importante de pontuarmos é que o direito da criança à decer a presença da Sra. Maristela Batista de Oliveira Bento, Diretora da educação é proclamado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, primeira Escola Bilíngue Libras e Português Escrito, que é uma escola de 2009, e foi fortemente reconfirmado pela Declaração Mundial so- pública de Taguatinga, no Distrito Federal, com professores e alunos bre Educação para Todos. Segundo a Declaração, qualquer pessoa com surdos. Muito obrigada pela participação de vocês. (Palmas.) deficiência tem o direito de expressar os seus desejos com relação à sua Agora passo a palavra ao Sr. Miguel Chacon, Professor Doutor do educação tanto quanto estes possam ser realizados, e os pais possuem o Departamento de Educação Especial da Faculdade de Filosofia e Ciên- direito inerente de serem consultados sobre a forma de educação mais cias, da Universidade Estadual Paulista — UNESP, campus de Marília. apropriada às necessidades, circunstâncias e aspirações das suas crian- O senhor dispõe de 15 minutos. ças. Isso está na Declaração de Salamanca, de 1994. O SR. MIGUEL CHACON - Boa tarde a todos. Primeiramente eu Eu vou enfocar aqui duas questões que eu, como especialista, acho quero agradecer a Comissão organizadora pelo convite na pessoa do importantes: as questões da família e as questões das crianças precoces e Deputado Eduardo Barbosa, parabenizar a organização desse evento e dos estudantes com altas habilidades/superdotação. O que eu trago antes cumprimentar a Mesa, na pessoa da Deputada Rejane Dias. Eu espero de entrar na política? Eu trouxe um documento das Nações Unidas inti- trazer alguma contribuição. tulado Observações finais sobre o relatório inicial do Brasil, que se refere Eu não estou falando como consultor, embora tenha sido consultor. ao que o nosso País fez nos últimos anos na questão da acessibilidade às No momento em que me foi feito o convite, eu sugeri a eles que convi- pessoas com deficiência. O Comitê que avaliou o Brasil é um comitê in- dassem pessoas do MEC para falar sobre a atualização, uma vez que eu ternacional, supostamente isento de subjetividades, porque avalia todos tinha sido apenas o consultor. Aí, eles me convidaram para falar como os outros países e têm parâmetros para isso. técnico. Então, estou aqui na qualidade de técnico especialista na área Dentre os Princípios gerais e obrigações, eu quero apenas, neste da educação especial. Tenho especialização, mestrado, doutorado, pós- momento, trazer os de nºs 6 e 7, que dispõem o seguinte: doutorado aqui e no exterior, todos na área da educação especial. Faz 35 6. O Comitê está preocupado com a falta de uma estratégia coeren- anos que estou na área. Eu entrei na área por conta do nascimento na te e global, voltada para a deficiência, para implementar o modelo de nossa família de um menino com paralisia cerebral e me mantenho na direitos humanos de deficiência estabelecido pela Convenção (...). área até hoje, já em vias de aposentadoria. Então, é desse lugar que eu 7. O Comitê recomenda que o Estado Parte — o Brasil — desenvol- falo. Eu não sou representante do Departamento de Educação Especial va uma estratégia voltada para a deficiência para implementar o modelo da UNESP de Marília. Eu estou falando como pessoa Miguel Chacon, de direitos humanos de deficiência. O Comitê recomenda ainda que, em especialista da área. coordenação com as organizações de pessoas com deficiências, o Estado Eu trouxe alguns dados e começo dizendo o seguinte: o Brasil é Parte inicie uma revisão sistemática da legislação, políticas e programas hoje considerado um país industrializado. É classificado pelo FMI e existentes e, se necessário, ajuste-os de acordo com a Convenção. (...)

54 55 Só isso já justifica uma revisão da política neste momento. (Palmas.) Chamo a atenção ainda para a necessidade de se redesenhar e Nós temos, segundo esta Carta, até 2022 para responder às inúme- atualizar as salas de recursos projetadas, à época, para o AEE de estu- ras recomendações que o Comitê fez ao Brasil. São recomendações em dantes com impedimentos intelectuais, físicos e sensoriais. Não foram relação ao que eles não viram aqui dentro e que deveria já estar resolvi- desenhadas para as crianças intelectualmente precoces, tampouco para do e não está. os estudantes superdotados que também compõem o público-alvo da Eu gosto de pautar minha fala baseado em dados. Dando conti- educação especial. (Palmas.) nuidade, objeto de debate e análise neste seminário, a Política Nacional No entanto, como bem colocou a Susana Peres, que até há bem de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva pode ser pouco tempo foi Presidente do CONBRASD, apesar de incluir os alunos considerada um avanço, na medida em que se propõe a implementar o com altas habilidades no público da educação especial, assim como qua- sistema educativo inclusivo no Brasil, de maneira a assegurar aos estu- se todos os documentos educacionais elaborados pelo MEC, o conteúdo dantes que necessitam do apoio da educação especial acessibilidade e epistemológico desses documentos, se é que se pode chamar assim, foca- oportunidade de aprendizagem na escola regular, com direito ao AEE, liza apenas os alunos com deficiência, pelo que tampouco há, de fato, de ao atendimento educacional especializado, nas salas de recursos multi- alternativas de atendimento educacional especializado para os alunos funcionais. com altas habilidades/superdotação. A política é mais que isso. Ela não é apenas o AEE e a sala de re- A Declaração de Incheon — Educação 2030: rumo a uma educação cursos multifuncionais, mas basicamente ficou reduzida a isso. O AEE de qualidade inclusiva e equitativa e à educação ao longo da vida para deveria ser um direito de todo e qualquer estudante que dele necessitas- todos perseguirá, nos próximos 12 anos, o Objetivo de Desenvolvimento se. (Palmas.) Sustentável 4, que dispõe o seguinte: "Assegurar a educação inclusiva, No entanto, o AEE está circunscrito como direito dos estudantes equitativa e de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem considerados público-alvo da educação especial. Deve ser realizado no ao longo da vida para todos". contraturno e nas salas de recursos, mas as escolas se adequam às suas Se é para todos, mais uma vez, insisto que o apoio da educação próprias condições de oferta e às das famílias que usam esse serviço, ou especial deve ser oferecido a todos que dele necessitem, nem sempre aos seja, apenas 37,6% dos estudantes com direito ao AEE têm esse atendi- que a ele têm direito — embora muitos dos que têm direito a ele não ne- mento. Os outros 62,4% não recebem nenhum tipo de apoio. Estamos cessitem dele. Logo, circunscrevê-lo a um determinado público é sempre falando só de quem tem direito. Se formos ver, isso não é um problema polêmico, pois, ao assim fazer, ao mesmo tempo em que se inclui alguns, da política, mas da falta de recursos para implementar adequadamente exclui-se outros, e essa ação não converge com o que eu li do Objetivo aquilo que está na política. de Desenvolvimento Sustentável 4, ou seja, educação para todos. A prática profissional está nos mostrando que o modelo de AEE Então, temos um impasse que não pode ser resolvido simplesmente preconizado na política precisa ser redesenhado. Então, o modelo preci- com a alegação de falta de recurso. Se é direito, é de todos, e o recurso sa ser redesenhado. O AEE, apenas dentro de uma sala de recurso, não não pode ser um impedimento para que esses alunos tenham acesso ao está dando conta. Há muitas escolas, por exemplo, que não têm sala de apoio. recursos e que disponibilizam bibliotecas, pátios, outros lugares para Para atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4, a De- oferecer o AEE. Temos que pensar não que o multifuncional seja apenas claração de Incheon reafirma que "a educação é um bem público, um recurso, mas que multifuncionais sejam todos os espaços capazes de direito humano fundamental e a base que garante a efetivação de outros serem utilizados para oferecer apoio a todos os estudantes que precisam direitos" e que se concentrarão "esforços no acesso, na equidade e na do AEE. (Palmas.) inclusão, bem como na qualidade e nos resultados da aprendizagem, no

56 57 contexto de uma abordagem de educação ao longo da vida". debate. Esse Comitê demonstrou preocupação com várias coisas no Brasil, Passo agora rapidamente a palavra para o Sr. José Rafael Miranda, dentre elas, eu chamo atenção ao que ele lista nos pontos 22 e 23. representante da Secretaria de Educação, Alfabetização, Diversidade e O Comitê observa com preocupação que as áreas urbanas, a in- Inclusão — SECADI, do Ministério da Educação, por 15 minutos. fraestrutura de transportes e os serviços de informação e comunicação O SR. JOSÉ RAFAEL MIRANDA - Boa tarde a todos e a todas. abertos ao público não são totalmente acessíveis às pessoas com defi- É uma grande satisfação estar aqui. Cumprimento a Deputada Re- ciência, especialmente nas áreas remotas e rurais do Estado-parte. O jane Dias. Também tive a oportunidade de acompanhar todo o processo Comitê recomenda ao Estado que adote medidas eficientes para garantir no Estado do Piauí, há alguns anos, e de ver o trabalho maravilhoso que que as suas áreas construídas, a infraestrutura de transportes e os ser- V.Exa. tem desempenhado lá. viços de informação e comunicação abertos ao público sejam acessíveis Bom, após a fala de todos os meus antecessores aqui, acho que ficou para as pessoas com deficiência. bem claro o posicionamento de cada um, como consultores, como espe- Eu trabalho há 35 anos dando assessoria e desenvolvendo pesqui- cialistas, e o porquê de o Ministério da Educação estar compartilhando sas, também, com o meu grupo de pesquisa em educação e saúde de essa consulta pública. Quando nós chegamos ao Ministério da Educa- grupos especiais, cadastrado no CNPq, com escolas públicas estaduais e ção, 2 anos atrás, nós sentimos uma necessidade muito grande de saber municipais e particulares, e nós estamos muito longe de resolver a ques- como estava sendo implementada a política de 2008, e muitos Estados tão mais simples, que é a acessibilidade física — muito longe! e Municípios nos chamavam para pedir algumas informações, algumas Então, eu quero focar a atenção em dois pontos que eu considero consultorias técnicas. Muitos se sentiam desamparados, sentindo falta primordiais, que precisam ser atualizados na política. Caso seja mantido até mesmo da regulamentação da Política Nacional de Educação Espe- mesmo esse público que está aí circunscrito, um ponto é a alteração pro- cial. A vigente até hoje é a política de 2008. posta por mim e pela Profa. Soraia, com base naquilo que nós vimos em Nós começamos, então, a tentar encontrar alguns documentos na campo, sobre o público das altas habilidades/superdotação, incluindo as Diretoria de Políticas de Educação Especial. E, para a nossa surpresa, crianças com precocidade intelectual ou precocidade em outras áreas de nós não conseguimos encontrar um documento oficial sobre a polícia domínio. Não há na política nenhuma diretriz sobre isso. nacional. Nós encontrávamos notas técnicas, pareceres, que nos davam E há também a questão das famílias, que nem sequer são citadas na algum subsídio para atendermos as consultas e darmos algumas respos- política com alguma diretriz. Nos documentos oficiais, o envolvimento tas aos sistemas. Agora, quando vieram com essa questão da consulto- das famílias aparece como dever do Estado. Não são feitos trabalhos ria, nós chegamos a um determinado momento em que falamos: "Nós com as famílias. As famílias não são convidadas a participar do proces- precisamos saber como está a implementação da Política Nacional de so. A política precisa ter uma diretriz que inclua, que faça com que as Educação Especial no País, para ter um retrato de como essa política escolas chamem as famílias à responsabilidade, pois, afinal, é responsa- está andando". bilidade nossa, familiares de pessoas cegas, surdas, com algum impedi- Houve, então, a contratação de consultores nas mais diversas temá- mento físico, que se tenha isso como garantia. ticas, como atendimento educacional especializado; salas de recursos Eu teria mais algumas coisas a dizer, mas vou parar por aqui. multifuncionais; currículos; escolas especiais públicas e privadas; aten- Obrigado. (Palmas.) dimento educacional em ambiente hospitalar e domiciliar; estruturação A SRA. PRESIDENTE (Rejane Dias. PT - PI) - Infelizmente, já se e funcionamento dos sistemas públicos de ensino nas cinco regiões da passaram 15 minutos. Federação; e núcleos de acessibilidade nas instituições federais de educa- Muito obrigada, Miguel, pela sua importante participação neste ção superior e nos institutos federais de educação, ciência e tecnologia.

58 59 Todos nos cobravam uma resposta em relação a como estava a imple- no AEE. Além disso, vários outros aspectos foram colocados aqui. mentação da política e como o MEC ia se posicionar. De 2008 a 2016, permaneceu a mesma política. Nesse período, hou- A partir do resultado dessas consultorias, começamos a ter um ve uma grande oportunidade, mas ela se perdeu. A ideia era que hou- retrato da educação especial no Brasil. E, aí, como diz o próprio nome vesse um documento oficial da Política Nacional de Educação Especial, da SECADI, que é a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, publicado por meio de um decreto, mas isso não aconteceu. Ao mesmo Diversidade e Inclusão, nada mais justo do que trabalharmos dentro de tempo, também não houve oportunidade de se consultar a sociedade. um sistema educacional inclusivo, e não dentro de uma educação espe- Pela primeira vez, nós estamos consultando a sociedade, através de uma cial inclusiva, porque a educação especial faz parte de todo o sistema. consulta pública sobre educação especial. Nós estamos pensando no todo, como vimos todos aqui falando hoje. Já Acho que, neste momento, temos a oportunidade ímpar de dar aos estamos no século XXI, quando temos que pensar que todos têm direito pais, às pessoas com deficiência, às instituições o direito de expressar à escola. Mas, ao mesmo tempo, nós não podemos deixar de levar em a sua necessidade, a sua angústia. Esse documento não está finalizado, consideração a questão dos direitos e da liberdade do cidadão dentro acabado. Ele está em construção e assim vai continuar; não termina de uma democracia. Nós, enquanto Governo, enquanto Ministério da aqui. Ainda vai passar por uma audiência pública, no Conselho Nacio- Educação, temos que pensar no todo, nas políticas públicas. nal de Educação, e vai passar por um processo de finalização, com os Com relação à educação especial, existe uma convenção. Além dis- devidos encaminhamentos. so, existe a LBI. Mas não podemos nos esquecer de que há várias outras Neste momento, temos o sentimento de dever cumprido, como leis, decretos e portarias que também tratam da pessoa com deficiência, Ministério da Educação e SECADI, por termos feito a nossa tarefa, ou mesmo do portador de deficiência, com essa terminologia totalmente mostrando à sociedade o que lá encontramos quando chegamos, o que desatualizada. Em vários momentos, precisamos citar essas legislações, estamos deixando e o que precisa ser feito. para dar continuidade ao processo. Aqui ficai um alerta para se mexer Como bem disse o Prof. Chacon, o relatório da ONU trata da atua- na legislação quanto à terminologia. Outro exemplo é o Transtorno lização da política de 2008. Logicamente, nós não podemos desmerecer Global do Desenvolvimento, hoje denominado Transtorno do Espectro as políticas anteriores, inclusive a de 2008, mas precisamos dar continui- Autista. Aquela terminologia já está ultrapassada, mas em vários mo- dade a essas ações e aprimorá-las cada vez mais. mentos temos que citá-la, porque ainda está na legislação. Eu não vou me alongar mais, porque já estou passando da hora. Trazemos isso à tona, porque estamos finalizando um Governo Aqui ficam o meu agradecimento e o meu posicionamento. e queremos apresentar ao próximo o que nós encontramos e o que é Muito obrigado. (Palmas.) preciso ser feito, como proposta de atualização da Política Nacional de A SRA. PRESIDENTE (Rejane Dias. PT - PI) - Eu quero agrade- Educação Especial. cer, mais uma vez, a presença ao José Rafael. As suas contribuições são Como vocês devem ter percebido, o Secretário nos apresentou muito importantes. alguns eslaides mostrando a distorção entre idade e série e a questão da Estamos encerrando esta primeira Mesa. oferta do Atendimento Educacional Especializado — AEE. Precisamos Quero agradecer a participação aos nossos palestrantes e pedir que levantar isso. Não podemos fugir dessa responsabilidade. Como quere- se acomodem nos seus lugares, no plenário. mos um sistema educacional inclusivo, se não há o número devido de Passo a condução da próxima Mesa de debates para a Deputada professores capacitados, formados nas universidades e na própria edu- Mara Gabrilli, Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pesso- cação continuada? Ainda não demos conta de atender o sistema com o as com Deficiência.Mais uma vez, muito obrigada a todos. número mínimo de professores com educação especial e com formação Que Deus nos abençoe!

60 61 Descrição da Imagem: Foto colorida do público presente no Seminário, sendo cinco bancadas com cadeiras, estando convidados e Deputados sentados nas duas primeiras. À esquerda e ao fundo, em pé, mais ouvintes.

62 63 Descrição da Imagem: foto colorida de homem de cabelos curtos cacheados, pele negra, de óculos. 2ª MESA WALDIR MACIEIRA FILHO - Diretor da Região Norte da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público de Defesa dos Direitos dos Ido- sos com Deficiência - Ampid;

Descrição da Imagem: foto colorida de mulher de cabelos castanho- escuros na altura dos ombros e ondulados nas pontas, branca. EUGENIA AUGUSTA GONZAGA - Procuradora PERSPECTIVAS do Ministério Público Federal - MPF GOVERNAMENTAIS

Descrição da Imagem: foto colorida de homem de cabelos brancos, calvo, com deficiência visual e de óculos. ANTONIO MUNIZ DA SILVA - Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Conade

Descrição da Imagem: foto colorida de mulher de cabelos pretos Descrição da Imagem: foto colorida de mulher de cabelos claros, curtos, levemente ondulados, branca e de óculos. lisos, na altura do queixo, branca, de óculos escuros por ser pessoa SUELY CASTRO MENEZES com deficiência visual. Conselheira Nacional de Educação - CNE PATRÍCIA NEVES RAPOSO Representante da Secretaria de Educação Con- tinuada,, Alfabetização, Diversidaade e Inclusão Secadi/MEC Descrição da Imagem: foto colorida de mulher de cabelos claros, lisos, na altura dos ombros, branca e de óculos. ADRIANA BUYTENDORP Especialista em Educação Especial da SED/MS

64 65 Descrição da Imagem: Foto colorida dos participantes da 2ª Mesa de Debates, da esquerda para a direita: Patrícia Neves Raposo , Eugenia Augusta Gonzaga, Antonio Muniz Da Silva,. Dep. Mara Gabrilli, Adriana Buytendorp, Suely Castro Menezes e Waldir Macieira Filho. À esquerda, detalhe da intérprete de libras vestida de preto, em pé e, atrás do convidado Antônio Muniz, um mastro com a Bandeira do Brasil

(Pausa prolongada.) Público de Defesa dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência — A SRA. PRESIDENTE (Mara Gabrilli. PSDB - SP) - Boa tarde a AMPID (palmas); a Sra. Eugênia Augusta Gonzaga, Procuradora do Mi- todos! nistério Público Federal — MPF (palmas); o Sr. Antônio Muniz da Silva, Quero agradecer a todos vocês a presença. É uma honra poder Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiên- fazer a discussão de um tema tão importante para o desenvolvimento do cia — CONADE (palmas); e a Sra. Patrícia Neves Raposo, representante nosso País e ver a Casa cheia desse jeito, com tantos atores que têm todo da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e o interesse de melhorar a educação do nosso País! Inclusão — SECADI, do Ministério da Educação. (Palmas.) Eu quero convidar para tomar assento à mesa, nesta segunda Nós já vamos dar início ao debate. Mesa de debates, a Sra. Suely Castro Menezes, Conselheira do Conselho A Lei Brasileira de Inclusão trouxe muitas conquistas, e nós temos Nacional de Educação — CNE (palmas); a Sra. Adriana Buytendorp, que chancelá-las. São conquistas importantíssimas como a presença do especialista em educação especial da Secretaria de Educação de Mato assistente de vídeo escolar e o provimento de tecnologias assistivas ne- Grosso do Sul — SED-MS (palmas); o Sr. Waldir Macieira Filho, Diretor cessárias para todos os alunos poderem exercer a . E, aqui, nós da Região Norte da Associação Nacional dos Membros do Ministério fazemos até uma lembrança: hoje, um cego no ENEM — Exame Nacio- 66 67 nal do Ensino Médio não pode usar um computador! Então, nós temos embaixo do tapete determinadas questões que são relevantes nessa área. muita coisa para avançar. Nós estamos lidando com uma questão que envolve em torno de 15% da A Lei Brasileira de Inclusão valoriza muito, muito, a opinião, o população deste País. Não há mais como nós não nos importarmos ou sentimento da pessoa com deficiência e de sua família. É muito impor- não tentarmos mudar os cenários que aí estão. Precisamos, realmente, tante nós termos essa valorização. E é de extrema importância fazermos trazer para o debate esse grupo todo, que aproveito para cumprimentar, essa discussão, porque temos já um marco legal e precisamos avançar na de especialistas, de gestores da educação. altura e na qualidade em que todos nós aqui acreditamos. Aqui, hoje, nós temos a turma das secretarias de educação, dos Mais uma vez, eu agradeço a todos vocês por estarem presentes órgãos educacionais nacionais. Aliás, a Federação está praticamente toda neste debate. representada. Sem essa participação, sem essa tomada de decisão tam- Informo que cada um terá 10 minutos para falar. Como ainda tere- bém não é possível começar a fazer nada. mos mais uma Mesa, peço que tentemos respeitar esse tempo. Em verdade, a sociedade tem mudado muito rapidamente, mais ra- Eu passo a palavra à Sra. Suely Castro Menezes. pidamente do que nós gostaríamos. Às vezes, eu, que estou numa fase já de bisavó, fico pensando como é que foi isso. É tão rápido, não é? Hoje, A SRA. SUELY CASTRO MENEZES - Primeiro, uma boa-tarde o meu bisneto fala coisas que me assustam. A sociedade muda mais a todos! É uma alegria, uma honra e um privilégio poder compartilhar rápido do que pensamos. E essa sociedade, mudando, gera demandas este debate nesta tarde, em que se buscam soluções, se discute, se colo- que exigem que nós, que estamos nos órgãos normativos, repensemos as cam sentimentos e emoções de todas as pessoas que naturalmente lidam políticas que aí estão. Não há mais como fugir dessa questão. com a educação especial. A sociedade muda. E é só com essa demanda colocada no papel, Fomos convidadas para falar sobre perspectivas governamentais. como uma norma, como um decreto, como uma lei — seja qual for a Eu me coloco na posição do cargo que eu estou exercendo. Hoje, eu pre- ferramenta que tenha a ver com esta Casa —, que se pode traçar políti- sido o Conselho Estadual de Educação do Pará. Acho que já é a quarta cas, ações, planos de trabalho. Neles nós podemos nos apoiar e dar su- ou quinta gestão. E, nessa trajetória, nós compartilhamos com a socieda- porte legal e efetivo para transformar aquilo em orçamento, em decisões de educacional paraense todas as resoluções que falavam sobre a educa- políticas, em efetivas ações no chão da escola, no chão dos setores, das ção especial. Falo do lugar de Conselheira Nacional da Educação Básica entidades. que hoje participa como relatora da comissão que se prepara para a revisão das diretrizes da educação especial. É uma responsabilidade, mas Por isso, a nossa responsabilidade é muito grande. Ao pararmos também é uma honra e um privilégio, porque penso que não podemos para refletir, analisar, avaliar e mudar uma política, nós estamos nos pre- passar pelos lugares sem exercitar a possibilidade de mudar cenários, de parando para fazer uma revolução no País. Na verdade, estar no papel melhorar aquilo que nós, no chão da escola, passamos o tempo inteiro nem é o começo da história; é só a intenção. Depois que esse papel vai achando que não está tão bom. para a rua é que se começa a desenhar as verdadeiras questões das ações que devam ser tiradas. Eu penso que este é um momento importante que estamos viven- do. Não dá para mudar aquilo que não se viveu. Nós estamos vivendo 10 Então, essa é uma decisão política de todos nós. Não é uma decisão anos de uma política. E só porque vivemos 10 anos dessa política é que do político; é uma decisão política da escola, da família, da entidade. É nós podemos criticá-la, analisá-la, discuti-la, ver o que realmente pode- uma decisão política de todas as pessoas que estão envolvidas direta ou ria ser melhor e o que nós gostaríamos de introduzir. indiretamente com a educação especial. Penso que o mais importante é que não dá mais para colocarmos Penso que, hoje, aqui, nós devemos comemorar, sim, porque quem 68 69 aqui está é porque já tomou uma decisão política de estar aqui, de parti- tiramos coisas do lugar, pomos coisas no lugar, mudamos leis. cipar, de se envolver e de tomar as decisões que serão necessárias em seu No Pará — acho que o Waldir se lembra disso —, nós tínhamos âmbito. uma resolução chamada de Resolução 400, que tratava de educação Em 2008, foi publicado um documento com a política que estamos inclusiva. Ninguém ligava para a Resolução 400. Ela estava lá no papel, vivendo agora. Dez anos parecem pouco tempo. Mas, nesses 10 anos, a mas ninguém a cumpria. Ela não saía do papel. Aí, nós criamos outra sociedade mudou radicalmente. Mudou a sociedade, mudou a escola, resolução que dizia que a escola que não cumprisse a Resolução 400 não mudou a criança, mudou o jovem, mudou a família, mudou a tecnolo- seria regularizada. gia, mudou a forma de acesso a currículo, mudou todo o processo de Às vezes, você precisa usar uma expressão de força legal para poder entorno. E isso terminou criando um descompasso entre a política que fazer com que aquela norma que está lá seja cumprida. Aí, todo mundo está lá e o que nós vivemos no nosso dia a dia. Criou-se esse descompas- passou a cumpri-la, porque, se não cumprisse, a escola não seria lega- so também porque nós não nos preparamos. Nós achamos que é preciso lizada. Essas são políticas que não precisariam existir, se houvesse um mudar, mas não sabemos exatamente como. Achamos que é preciso conceito de inclusão entranhado nas pessoas. mudar, mas não temos o dinheiro que gostaríamos de ter. Achamos que Todo mundo aqui vai falar dessa política, mas eu quero falar de é preciso mudar, mas há muitas barreiras políticas a serem transpostas. pequenas coisas. Por exemplo, nós estamos discutindo sobre o aluno que Romper esse conceito, ou esses conceitos, é algo muito além daqui- entra na escola e é acolhido como aluno especial. Um vai para a classe lo para o que nós nos preparamos. Eu digo que educação inclusiva é um regular; o outro é designado como aluno especial para o AEE — Atendi- processo que ocorre de dentro para fora. Ele tem uma chave que só nós mento Educacional Especializado. podemos usar. Não adianta nós dizermos que a escola tem que ser inclu- Se o aluno que está na classe regular não receber um atendimento siva, que a família tem que ser inclusiva, que você tem que ser inclusivo mínimo especializado, nós estaremos produzindo mais deficiência. O ou eu tenho que ser inclusiva. Se nós não tivermos uma política, uma aluno fica defasado do grupo, desequilibra-se do grupo e termina au- cultura de inclusão compartilhada, associada, assumida efetivamente em mentando a sua deficiência. (Palmas.) cada passo, não conseguiremos sair do papel, como muitas coisas dessa política que nós não gostamos e está aí também não saíram inteiramente Então, nós precisamos ampliar o atendimento educacional da do papel. Muitas coisas se perderam no meio do caminho. escola como um todo, para que todos os alunos tenham atendimento especializado. Senão, aquele aluno que está com um professor não espe- Hoje, por exemplo, discute-se um pouco se a educação é que tem cializado termina sendo cada vez mais deficiente. que ser inclusiva ou se a educação especial é que precisa ser inclusiva. O conceito de inclusão, nesses últimos 10 anos, cresceu tanto que não cabe Tempo esgotado. Peço perdão à Mesa. Esqueci que não tinha 15 mais só na educação. Ele tem que sair caminhando pela sociedade como minutos, mas só 10 minutos. um todo. É um conceito de inclusão ampliado. E a educação especial Fechada essa política agora, após a consulta pública, faremos uma precisa se apropriar desse conceito de inclusão para poder dar condição audiência pública compartilhada entre SECADI e Conselho Nacional, de inclusão a esse aluno, a essa criança, a esse jovem, a essa pessoa que no dia 19, agora, no Conselho Estadual. Vai funcionar das 9 horas às 13 precisa ser tratada de uma forma diferente para poder oferecer condi- horas. Já vamos abrir, na segunda-feira, as inscrições on-line. Vocês te- ções de trabalho e efetivos resultados diferenciados. rão que se inscrever apenas por uma questão estruturante, porque nós só A mudança de paradigma é muito difícil. É muito mais difícil temos 200 lugares. De preferência, levem suas contribuições por escrito. mudar a mentalidade do que mudar qualquer outra coisa neste País. Nós Depois disso, a Comissão de Educação que vai rever as diretrizes... As nossas diretrizes são de 2009; elas estão defasadas, caducaram e não 70 71 estão sendo mais usadas. Nós vamos, então, fazer a revisão das diretrizes Diante disso, nós sempre lembramos e retomamos o lema que está de 2009, de acordo com essa política que vai ser trabalhada e aprovada posto na convenção: Nada sobre nós sem nós. (Palmas.) após as audiências públicas, após a consulta pública. E nós queremos, aqui, garantir, como representante das secretarias A participação de todos é fundamental. O momento é de protago- de educação, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação nismo. O momento é de parar de falar e começar a agir e oferecer contri- — UNDIME, que nós executemos esse processo. buições para que possamos melhorar efetivamente o nosso trabalho. Eu trabalho há 30 anos na educação especial. Saí do chão da escola, Obrigada. (Palmas.) como professora de crianças com deficiência intelectual, e construí a A SRA. PRESIDENTE (Mara Gabrilli. PSDB - SP) - Obrigada, Sra. minha carreira também com estudo. Suely. Então, esse processo é extremamente democrático. Nós precisa- Anuncio a presença da Carolina Sanchez, Diretora da Secretaria mos realmente reconhecer a importância deste momento na história do Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência — SNDPD; do Daniel nosso País. Reis, Presidente da Comissão de Direito das Pessoas com Deficiência Para isso, o CONSED tem algumas considerações. da Ordem dos Advogados do Guarujá; e da Daniela de Moura, Gerente Nós temos um avanço, sim, no que tange ao acesso à educação, Jurídica da Fundação Bradesco. mas lembramos que acesso não é matrícula. Nós precisamos discutir o Eu passo a palavra, agora, à Sra. Adriana Buytendorp. acesso à aprendizagem. Para isso, precisamos discutir os nossos serviços, A SRA. ADRIANA BUYTENDORP - Boa tarde a todos. Eu sou o atendimento educacional especializado, de que maneira ele está sendo a Profa. Adriana Buytendorp e estou aqui honradamente, falando em operacionalizado, a formação dos nossos professores, tanto inicial quan- nome do CONSED — Conselho Nacional de Secretários de Educação, to continuada, e a presença da educação básica neste debate. representando a nossa Presidente, a Profa. Maria Cecilia. Eu me lembro de uma fala do pesquisador italiano Nicola Cuomo, Parabenizo a Mesa, na pessoa da Deputa Mara Gabrilli, e o MEC, falecido há pouco tempo. Ele dizia que o fato de trabalharmos professo- aproveitando a presença da Patrícia na nossa Mesa. res bem formados didaticamente não significa que eles serão professores Quero registrar a importância deste momento como momento predispostos a trabalhar diante das deficiências. Nós precisamos muito democrático de debate. Eu sou coordenadora de educação especial no mais que isso, precisamos do engajamento. Estado de do Sul, conselheira de educação, e nós executa- Nós evoluímos muito. Hoje temos escolas que estão fazendo exce- mos a política pensada. Nós estamos vivenciando aquilo que precisamos lente trabalho, diante de gestores que reconhecem a importância da edu- discutir. E quais são os anseios? cação escolar inclusiva e todas as suas práticas, mas ainda precisamos Durante todo esse processo, nós temos sinalizado a importância evoluir mais. Aqui eu chamo a atenção para a importância do debate de, principalmente, reiterar o que está posto no Decreto 6.949, que no desse documento que está na consulta pública. nosso País tem força de emenda constitucional: a escuta das pessoas com Destaco também que é preciso ser vista a questão do financiamen- deficiência e sua família. to. Como o professor colocou aqui, nós não fazemos política pública Este é um momento extremamente oportuno. Por quê? Porque 10 sem financiamento. Nós precisamos de mais investimento na questão da anos se passaram. E 10 anos precisam servir para nós refletirmos como infraestrutura escolar. Com relação ao censo escolar, como nós podemos vem caminhando e como nós precisamos, sim, reafirmando aquilo que informar os outros atendimentos educacionais especializados que nós está dando certo, reconduzir aquilo que precisamos reconduzir. ofertamos, como, por exemplo, o intérprete de libras? 72 73 Quando nós não temos nenhum financiamento para esses servi- queremos rotular com um laudo para ter acesso ao serviço, eu não posso ços, os Estados e Municípios arcam totalmente com recursos próprios. emitir um laudo a quem realmente não tem deficiência, para que possa Isso gera dentro do Brasil uma dissonância na condução das políticas se beneficiar de um serviço que mais vai trazer prejuízos dentro do pró- públicas. Alguns Estados continuam com grandes projetos, como a prio contexto, já que não atenderá a necessidades específicas. implantação de Centros de Atendimento Clínico e Educacional, Núcleos Para isso, lembro mais uma vez a necessidade de a educação básica de Acessibilidade, Centros de Atendimento Psicossocial e outros que já discutir a questão dos distúrbios funcionais específicos, já que eles não não funcionam mais. Nós precisamos de uma melhora nesse contexto fazem parte do conjunto de deficiências. Nós precisamos fazer uma dis- para que tenhamos realmente políticas públicas consolidadas em âmbito cussão, na educação básica, sobre os serviços para este público. nacional. Para finalizar, quero dizer que é uma honra muito grande viver Não quero me estender, mas nós sempre precisamos debater mais este momento, ainda que seja paradoxal e controverso. Se não houver algumas questões. Por exemplo, eu sou polêmica em uma questão e, contradição, não há democracia, tampouco construção. Portanto, nós antes de ser polêmica, já vou me justificar: não fazemos apologia a laudo precisamos debater este assunto. médico, de maneira nenhuma, e nem a medicalização dos sujeitos. (Pal- Que estejamos abertos a escutar o que a sociedade brasileira e as mas.) pessoas com deficiência necessitam neste momento histórico! Ao mesmo tempo, quando nós estamos na execução desse contex- Muito obrigada. (Palmas.) to, precisamos chamar a atenção para a produção de deficiências escola- res com relatórios esvaziados de conceitos e sem nenhuma característica A SRA. PRESIDENTE (Mara Gabrilli. PSDB - SP) - Muito obriga- de deficiência que valide o fracasso escolar, mas que rotulam as nossas da, Sra. Adriana. crianças. Nós temos que tomar muito cuidado com isso. Anuncio a presença da Deputada Federal Tereza Nelma, eleita por Vou repetir uma fala de uma professora minha no mestrado, a . Espero que venha compor esta Comissão no ano que vem. (Pal- Profa. Alexandra Ayach: "Não vamos jogar fora a água do banho com a mas.) criança junto". A LBI traz dispositivo sobre a importância da avaliação Passo a palavra ao Sr. Waldir Macieira Filho. multiprofissional e biopsicossocial, e a intersetorialidade é fundamental O SR. WALDIR MACIEIRA FILHO - Boa tarde a todas e a todos. para isso. (Palmas.) Quero saudar, primeiramente, os Deputados propositores deste Nós não podemos correr o risco de identificar o que eu identifiquei seminário: as Deputadas Rejane Dias e Mara Gabrilli e o Deputado Edu- no Estado quando assumi a coordenação. Em 1 ano, nós tínhamos 4 mil ardo Barbosa. Saúdo as autoridades, especialistas e representantes das estudantes com deficiência intelectual; no outro ano, nós tínhamos 7 mil entidades e instituições de e para pessoas com deficiência aqui presentes. estudantes com deficiência intelectual, todos eles com apenas um relató- Acho importante que tenhamos momentos como este. rio que não dizia nada, validando a deficiência e o fracasso escolar. Quero congratular-me com os expositores, porque um seminá- Historicamente, quem viveu a educação especial sabe que não po- rio como este representa um momento democrático para discutirmos demos correr esse risco. Nós precisamos ter responsabilidade na condu- questões relevantes como a mudança ou revisão da política de educação ção das políticas públicas. especial, na perspectiva da educação inclusiva. Por isso, eu chamo a atenção para alguns pontos da política: o É interessante eu estar ao lado da Suely Menezes, com quem já 7.1.11 e o 7.5. É claro que não vamos discuti-los aqui, mas que tenhamos estive em proposições, como a da educação inclusiva no Estado do Pará, um olhar e uma escrita com muito cuidado. Da mesma forma que não que começou a partir da audiência pública organizada no Ministério 74 75 Público, tendo contado com o apoio, na época, da Suely à frente do Con- de produzir igualdade e justiça social. Assim, os direitos sociais são selho Estadual de Educação. Já manifestamos polos contrários, como direitos fundamentais do homem. Por esta razão, receberam proteção durante a discussão da ADI 5357, mas nossos embates sempre se deram especial, com o status de cláusulas pétreas. De acordo com o texto cons- de maneira saudável e construtiva. titucional, os direitos fundamentais não poderão sofrer modificações, Eu acho que nós temos de pensar como alguém que tem objetivos salvo para a ampliação da sua proteção. semelhantes, com algumas peculiaridades. No entanto, eu entendo que Nesta perspectiva, podemos dizer que se trata de direitos adqui- não podemos perder o viés da defesa e da garantia da autonomia e da ridos, que não comportam supressão, tampouco extinção, mas poderá independência da pessoa com deficiência. haver aperfeiçoamento. Inicio falando com a Profa. Erenice de Carvalho. Não sei qual foi Cito texto do nosso Ministro do STF, o jurista Alexandre de Mora- a relação dela com o pai, que era promotor. Imagino que tenha sido es, para não dizer que estou inventando coisas. Diz ele: excelente. Como promotor de Justiça, eu sempre preservei e respeitei os Direitos sociais são direitos fundamentais do homem, caracteri- professores. Aliás, a Profa. Suely é testemunha viva deste fato. A inter- zando-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obriga- venção do Ministério Público no Estado Democrático de Direito, diante tória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria dos problemas que vivemos no Brasil, é fundamental. Não me refiro ao das condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretização da combate à corrupção, mas à garantia da educação inclusiva, da merenda igualdade social. São consagrados como fundamentos do Estado Demo- escolar e, principalmente, de condições dignas, não só para o aluno, mas crático de Direito pelo art. 1º, IV, da Constituição Federal. também para o professor dentro da sala de aula. A realidade no Pará é Assim, considerando-se o princípio da proibição do retrocesso ainda precária: falta acessibilidade física básica nas escolas. social, tem-se a defesa contra medidas de natureza retrocessiva que têm É fundamental a presença do Ministério Público para garantir por objetivo a destruição ou a redução de direitos fundamentais so- esses direitos fundamentais na área da educação. Por falar neste aspecto, ciais, como a Política da Educação Especial na Perspectiva da Educação é importante frisar um ponto importante do paradigma da educação Inclusiva, que se baseou nos ditames constitucionais aqui já citados: os inclusiva — por causa do tempo, para não me perder, eu escrevi algu- arts. 23, 24, 205, 208, II, da Constituição Federal, bem como o art. 24 da mas palavras, porque eu falo muito. Considerando-se a polarização que convenção e as demais leis já expostas pelos debatedores que me antece- houve na eleição, trata-se de um paradigma do liberalismo, ocorrido deram. inicialmente na Inglaterra, nos Estados Unidos, no Canadá, em mea- Este processo educacional inclusivo, que se iniciou efetivamente dos da década de 60. Nesta perspectiva, a educação inclusiva é fruto do neste século no Brasil, superando o modelo anterior de integração, está aperfeiçoamento de documentos internacionais de garantia dos direitos alicerçado em princípios e regras constitucionais e não pode ser supe- humanos no mundo — lembremos que temos a convenção da ONU rado, como opina a Associação Nacional dos Membros do Ministério —, aperfeiçoamento abraçado pelo nosso ordenamento jurídico, com o Público de Defesa dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência — advento da nossa Constituição Federal, que ontem completou 30 anos. AMPID, nossa entidade, pela simples interpretação literal de artigos da Portanto, a inclusão educacional de segmentos vulneráveis, como LDB ou de decretos governamentais. É preciso que atentemos para isso. o segmento constituído de pessoas com deficiência, é considerada por Nem em tese se poderia justificar o afastamento destes ditames a partir nossa Carta Magna um direito social fundamental. Os direitos sociais de uma consulta virtual. fundamentais encontram-se consagrados no inciso IV do art. 1º do nos- A pergunta que faço a vocês é se esta revisão proposta pelo MEC, so texto constitucional, criados pelo legislador originário, com o condão com o aval de algumas entidades e instituições de e para as pessoas com 76 77 deficiência, causará retrocesso social na inclusão educacional de alunos cessidade de mais orientação, mais capacitação e cobrança de resultados com deficiência. Pergunto também se ela aperfeiçoará o documento à e fiscalização dos órgãos responsáveis, até mesmo do Mistério Público luz de novas normas inclusivas, preservando as bases do paradigma da Nacional. educação inclusiva e do princípio da igualdade. É isso que precisamos Estas falhas observadas se aplicam a um maior apoio, por exemplo, observar. à comunidade surda, aos alunos cegos e a alguns grupos de deficientes Se a revisão ou a mudança causarem alguma discriminação ou intelectuais que reclamam de melhor e mais efetivo atendimento educa- segregação de grupos ou pessoas com deficiência, por mais que sejam cional e disponibilidade de recursos pedagógicos acessíveis. setoriais, restringindo sua autonomia, independência e o direito funda- Desta forma, entendo que, se houver necessidade de revisar a mental à educação, aí sim poderemos ter algum retrocesso social que política para aperfeiçoá-la com base nos novos diplomas legais, como venha a justificar a adoção de medidas judiciais, extrajudiciais e admi- foi dito, ou nos avanços tecnológicos que temos por aí, que essa revisão nistrativas para a garantia do direito fundamental à educação e à auto- aconteça, após várias discussões democráticas como esta que estamos fa- nomia do aluno com deficiência, incluindo a declaração de sua inconsti- zendo aqui com os vários atores envolvidos, mas que ela preserve, acima tucionalidade. de tudo, o paradigma educacional inclusivo. Além disso, é preciso que essa pretensa revisão não viole o para- Por isso, não se justifica fazermos uma grande mudança numa digma inclusivo oferecido pela nossa Constituição Federal e reafirmado política, sem observarmos os ditames constitucionais e legais, bem como pela convenção da ONU, recepcionada como emenda constitucional, os impactos que podem acarretar possíveis retrocessos sociais. já que este paradigma, entendo, não é compatível com a ideia de mera Este é o nosso posicionamento. escolha entre escolas regulares ou especiais, ou seja, escolas exclusivas para alunos em categorias de deficiência. Classes ou escolas exclusivas Muito obrigado. (Palmas.) não devem ser ofertadas igualmente por mera escolha de gestores ou de A SRA. PRESIDENTE (Mara Gabrilli. PSDB - SP) - Waldir Macie- familiares. A impossibilidade de alguns alunos não estarem em classe re- ria, muito obrigada. gular corresponde a situações de exceção que, dessa forma, precisam ser Passo a palavra à Dra. Eugênia Augusta Gonzaga. analisadas, excepcionalmente, para, caso esgotados os meios inclusivos, A SRA. EUGÊNIA AUGUSTA GONZAGA - Muito obrigada, De- partirmos para as alternativas previstas no ordenamento jurídico brasi- putada Mara Gabrilli. Na pessoa de V.Exa., cumprimento os integrantes leiro, mas sempre com vista à possibilidade do seu retorno a instituições da Mesa, todos e todas, os demais Deputados e Deputadas presentes, os educacionais inclusivas. professores e as professoras. Quero agradecer especialmente ao Dr. Wal- Por fim, é claro, constatamos nas nossas práticas — é importante dir Macieira, colega promotor, que já fez a introdução mais árdua, no frisá-lo —, na defesa dos direitos das pessoas com deficiência, que o sentido de explicar a questão da legislação e da vedação de retrocessos. Governo Federal, por meio do MEC, os Estados e os Municípios, bem Minha fala será meio "túnel do tempo": estar aqui hoje representa como os conselhos gestores locais de educação e as entidades educacio- quase um déjà-vu. Nós já estivemos, em tantos outros momentos, com nais privadas têm falhado, em muitos aspectos, na efetivação plena desta a Profa. Rosita Carvalho, o Deputado Eduardo Barbosa, Moisés Bauer, política. Lenir Santos, Ana Cláudia, entre outros. Quando iniciei o trabalho com Porém, vejo que a não efetivação plena das garantias de inclusão este tema, aproximadamente em 2000, eu comecei porque havia uma re- educacional desses alunos muitas vezes ocorre pelo não comprometi- clamação constante das mães de crianças com deficiência de que as esco- mento dos agentes responsáveis pela sua aplicação, o que denota a ne- las comuns não aceitavam as matrículas dos seus filhos. Assim, eu quis

78 79 estudar o assunto para compreender por que as escolas não aceitavam as ro para os Municípios pobres, que até hoje não podem garantir o mesmo matrículas. A justificativa das escolas era porque não estavam prepara- padrão de qualidade de escola. das. Eu queria entender o seguinte: se a educação é direito da criança, a Erguendo o art. 211, chegamos ao Ministério da Educação, perante escola comum tem o direito de dizer que não está preparada? o Ministro Paulo Renato, em que ainda era Secretária de Educação Espe- Nós fomos avançando na legislação. Eu me lembro de ter conver- cial a Profa. Marilene Ribeiro. Sabem quais planos a União tinha para os sado com o Deputado Eduardo Barbosa, no gabinete — não sei se o Municípios? Financiamento de escolas especiais. Eu pensei: como assim? senhor se lembra. Eu perguntei: Deputado, a gente não tem nenhuma Se era para receber as crianças no ensino comum, se o ensino comum outra norma senão a Convenção de Salamanca, senão a Constituição, tinha que estar preparado, se tinha que ter ensino especial como apoio, que fala em AEE, mas fala genericamente, senão a LBI, que também não por que a única política da União, por meio da Secretaria de Educação é muito direta. Não existe nenhuma norma direta que garanta o direito Especial, estava caindo só na vala da escola especial? Por que não existia à criança com deficiência de estar na escola comum? Ele me respondeu uma escola para preparar o ensino comum? "Ah, isso é para o ensino que não existe. Eu pensei: então, nós precisamos de uma lei. fundamental." Um dia, lendo obstinadamente a Constituição, eu tive um clarão. Vamos lá com a maletinha na mão. A doutora disse que a judiciali- Quando na Constituição nós lemos que todos têm direito à educação, eu zação é um horror, mas direito nenhum pode ser afastado do Judiciário, li "todos", ou seja, as crianças com deficiência também! A palavra "to- e o Ministério Público existe para garantir direitos individuais indispo- dos" inclui as crianças com deficiência. Elas têm direito ao ensino básico, níveis. A educação de crianças com deficiência é um direito individual ao ensino superior, dentro das suas possibilidades. Elas têm direito a indisponível. Da nossa parte, nós entramos, sim, para garantir que o mais: têm direito a atendimento educacional especializado, conforme recurso deixasse de ir para a única via da educação especial e fosse o art. 208 da Constituição. Isso está na legislação brasileira desde 1988. para o ensino comum. Isso doeu muito, senhores, foi muito difícil. Nós Nós começamos a interpretar a legislação nesse sentido. recebemos habeas corpus orquestrados pelas APAEs. Foram mais de 3 As escolas e redes municipais continuavam todas dizendo: "Não mil habeas corpus — eu posso entrar no Guinness Book —, todos cópias estamos preparados. Aqui toda criança com deficiência vai para a APAE uns dos outros, com advogados pagos para nos falarem isso, passando ou para uma escola especial; ou o Município paga um ônibus para ela vergonha perante o Ministério Público Federal. ir para outro Município vizinho, onde há escola". Esta era a realidade Ninguém discutia comigo no Ministério Público Federal. Sabem que nós víamos desde os anos 90 e o início dos anos 2000. Então, nós por quê? Não era porque eu tinha razão, não. Discutiam porque eu tam- fomos checar se a escola tinha razão ou não de não dizer que não estava bém sou mãe. Alguns me colocavam numa posição de coitadinha: "Não preparada. Nós sabemos que a escola infantil e a escola fundamental, até vamos falar com ela, não vamos mexer com ela, porque ela também é mesmo a de ensino médio, são obrigação dos Municípios e Estados. Se mãe. Não sabemos o que ela está defendendo". Porém, quando eu ia aos eu era do Ministério Público Federal, o que poderia fazer em relação aos movimentos falar como mãe, eles falavam: "Quem essa mãe pensa que é Estados e Municípios? Nada. para conhecer lei?" Lendo um pouquinho mais a Constituição, deparei com o art. 211, Eu ficava numa situação em que não entendia o que estava de um que diz: "Em matéria educacional de equalização de oportunidades de lado e o que estava de outro. Foi uma luta muito grande, uma luta muito acesso e de qualidade de acesso ao ensino, a União tem dever suplemen- grata, porque nós realmente trabalhamos muito pela inclusão de todas tar e complementar". É por isso que existe o chamado FUNDEF, que as crianças. nada mais é do que uma maneira de a Constituição completar o dinhei- Falando no Nada sobre nós, sem nós, quero lembrar meu filho. 80 81 Ele tem síndrome de Down, hoje está com 19 anos e jamais aceitou um perguntam: "Para que mudar a política?" "Ah porque as escolas não são tratamento diferente, mesmo com toda a dificuldade que ele tem. Dói no acessíveis. Porque a sala especial não está isso, não está aquilo". Vamos meu coração! Ele foi autorizado, entre as adaptações razoáveis da esco- fazer acessibilidade. Vamos fazer um projeto. Vamos fazer! la, a escrever só com letra bastão. Para quem tem síndrome de Down, é Esperem só um pouquinho para eu terminar — a outra mesa teve muito difícil escrever com letra cursiva. Pois ele pegou um caderno de 15 minutos ou mais. Estou tentando falar em menos de 12 minutos. letra "cufísia" — ele não sabia nem falar a palavra cursiva — e, sozinho, Gente, eu não morro de amores pela política anterior! O que acon- ficava treinando a letra cursiva. Por quê? Esta era a letra que o incluía, tece é que, como eu estava falando no início sobre o art. 211 da Consti- que o colocava no patamar dos outros. Hoje ele passa por várias situa- tuição, a União não tinha nada orientando as escolas comuns. Nada! ções em que o currículo e a nota são adaptados. Há coisas que ele faz em que realmente há diferenças singulares. Isso é inclusão. Em 2006, quando a convenção da ONU foi aprovada, dizendo que é direito de toda criança o acesso ao sistema educacional inclusivo, o A finalidade da inclusão não é colocá-lo numa sala à parte até ele MEC fez o primeiro documento, que estabelecia: "Esta é a Política Na- conseguir fazer a letra "cufísia" ou aprender a falar a palavra cursiva, cional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva". coisa que talvez até hoje ele não saiba. Eu acho que é sintomático, 10 anos depois, a atual representação da Eu também aprendi que eles não são eternamente crianças. Fiquei União detectar, como disse que detectou, vários problemas. Eu acredito muito triste hoje, no início desta audiência, quando disseram que eles que ela tenha detectado. Mas, em vez de resolver o problema, fez outra são eternas crianças. Na APAE, também tive esta lição. Vocês sabiam política, mas sem a perspectiva da educação inclusiva, retirando a única que eu não atuava com pessoas com deficiência? Comecei a frequentar, coisa que diz que se está no caminho da Constituição. obstinadamente, congressos da APAE, porque entendia que era lá que eu ia aprender o que fazer, que eu ia saber o que fazer. Eles se recusaram Tudo bem. Nós podemos sentar, olhar o texto que saiu ontem e, como se não bastasse, saíram espalhando cartinhas dizendo que eu e analisar artigo por artigo. Quem conseguiu ler já viu que há artigo queria fechar a APAE. Tenho "trocentas" cartinhas no meu gabinete com retomando a escola especial, retomando a escolha dos pais e das mães. coisas horríveis sobre mim. Não era nada disso. Nós só queríamos apoio Muita gente quer isso. Porém, sabem em que residem nossos princípios? conjunto. (Palmas.) Para que a ditadura da maioria não prevaleça. Nós temos princípios para defender as minorias. Estamos aqui defendendo o direito das crianças Sabem qual foi a primeira lição que eu tive? Fui a um evento em com deficiência intelectual à escola comum. Como diz o Dr. Waldir, Goiás para receber uma homenagem e ganhei um lindo colar. Quem não sou eu que estou inventando. Peguem o julgado do Ministro Ed- me entregou o colar foi um rapaz com síndrome de Down autodefensor. son Fachin na ADI 5357, em que ele diz que a educação inclusiva não é Eu achei a coisa mais maravilhosa! Isso aconteceu há 15 anos. Peço que direito só do pai e da mãe. Aliás, não é direito do pai e da mãe, é direito guardem as devidas proporções. Ele me entregou o colar, e eu falei para da criança com deficiência e das outras crianças sem deficiência. Isso é um homem: "Ai, que gracinha!" E ele falou assim: "Eu também te achei educação. (Palmas.) uma gracinha". (Risos.) No momento em que nós frustrarmos o direito ao colorido da Gente, não há eterna criança! Hoje nós não estamos mais nem no escola, estaremos tirando a escola do seu papel final. Na sala ao lado, século da integração, nem no século da inclusão. Nós estamos no século Alexandre Frota está defendendo a escola sem partido, sem nada. É isso da plena capacidade civil. Isso está na convenção da ONU. (Palmas.) que os senhores querem? Não sei. Vamos votar? Nós vamos votar tudo, É disso que nós estamos falando. E nós continuamos aqui discu- ou vamos ter um Judiciário que diga que isso ou aquilo fere cláusulas tindo, perdendo nosso tempo, refazendo o que ainda está errado. Alguns pétreas? Até quando? (Palmas.) 82 83 Eu peço perdão por me exaltar, Deputada, mas toda essa situação é hediondo contra a vida. É uma situação dura. Aliás, eu sou palestrante realmente muito dramática. em presídios e sei quantas pessoas entram lá bem e saem bandidas. Por- Quero fazer um elogio e uma crítica à Deputada Mara Gabrilli. O tanto, a posição do Parlamentar não é fácil. Algumas escolhas precisam elogio é por causa da Lei Brasileira de Inclusão, pelo que ela fez neste ser feitas. País. Por causa dos Deputados que fizeram lobby para não se apoiar a Muito obrigada, Dra. Eugênia. convenção, com quórum de norma constitucional, a convenção da ONU Passo a palavra ao Sr. Antonio Muniz da Silva. quase não foi votada no Brasil. Mas, como o Congresso inteiro achou O SR. ANTONIO MUNIZ DA SILVA - Boa tarde a todas e a todos. esquisito os baluartes da deficiência defenderem isso, não passou. Isso Eu quero cumprimentar, representando os membros da Mesa, a aconteceu depois de 5 horas de discussão, nós sabemos muito bem. querida Deputada Mara Gabrilli, Senadora eleita por São Paulo. Que- Além disso, queriam pôr o Estatuto da Pessoa com Deficiência na gave- ro cumprimentar nossa querida Patrícia Neves Raposo, professora de ta, para voltar a tudo que os senhores estão querendo fazer voltar aqui pessoas com deficiência visual, como eu. Saúdo a querida Dra. Eugênia, agora. A Deputada Mara foi lá e disse: "Não! Nós temos que cumprir a com quem já estive em vários eventos e atividades. convenção". E ela foi cumprida. É por isso que nós temos uma LBI forte, uma LBI superior, sim, a estas normas que estão querendo implementar. Eu ouvi atentamente as manifestações da Mesa. Eu vou tentar não ser repetitivo e não usar os 10 minutos que me foram concedidos. Vou A única crítica que faço à Deputada é que S.Exa. votou a favor da ver se consigo. redução da maioridade penal, outra cláusula pétrea da Constituição. Por mais que muitos fiquem bravos e odeiem esta questão, nós precisamos Este é um assunto instigante. Eu queria muito falar sobre tudo. Eu de outro tipo de tratamento, e não da mudança de nome, uma vez que se venho de um processo de educação segregada. Sou jovem, mas fui aluno trata de uma cláusula pétrea. O Dr. Waldir já explicou isso. em colégio interno, na Paraíba. Depois, passei pela classe especial, no tempo da chamada educação integrada. Nós podemos ter nossas opiniões, mas temos uma Constituição, que é ainda mais cláusula pétrea do que nossa reles opinião. Sou professor e me sinto muito honrado em participar deste even- to, desta Mesa. Agradeço muito aos promotores do evento por terem me Perdoem-me. convidado, por terem convidado o Conselho Nacional dos Direitos da Muito obrigada, mais uma vez, pelo espaço. (Palmas.) Pessoa com Deficiência — CONADE, do qual tenho a honra de ser Pre- A SRA. PRESIDENTE (Mara Gabrilli. PSDB - SP) - Obrigada, Dra. sidente até o fim de dezembro. O CONADE já está em processo eleitoral: Eugênia. uma nova composição funcionará a partir de fevereiro de 2019. Lembro que este é um tema que diz respeito a todos nós. Trata-se Como eu disse, são muitas as coisas das quais queríamos falar, até de uma discussão muito difícil para nós. Quando o projeto da redução porque eu sou professor, trabalho no Centro de Apoio Pedagógico para da maioridade penal chegou a esta Casa, ele era de arrepiar: reduzia Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual, vizinho de um CAS, a maioridade penal em se tratando de qualquer crime. Se dois jovens Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento à Pessoa Surda — am- adolescentes resolvessem brigar na porta de uma boate, se um desse um bos funcionam no Centro de Atendimento Educacional Especializado soco no outro, iam os dois para a cadeia. Hoje, por conta das audiências do Recife — CAEER, nova nomenclatura de 2008 para cá. Os centros de custódia, nós sabemos que não é bem assim. ficam na cidade de Recife, onde moro. Eu tive uma participação forte nesta Casa durante a mudança de Eu sei muito bem das dificuldades por que passa a educação es- um projeto para outro. Eu me comprometi a ajudar na mudança. Eu re- pecial, conheço muito bem os descasos, tenho conhecimento dos equi- almente votei pela redução da maioridade penal, mas em caso de crime 84 85 pamentos que são caríssimos. Aliás, falando de pessoas cegas, muitas minhasse a minuta de consulta pública ao CONADE, antes de colocá-la impressoras Braille ainda se encontram encaixotadas Brasil afora. Em na Internet, para que pudéssemos discuti-la. , centenas delas estão encaixotadas. Cada equipamento cus- Ainda que o MEC a tivesse encaminhado, não teríamos discutido, ta, em média, 30 mil ou 40 mil reais. Sabemos de todas as dificuldades, porque não se disponibilizaram recursos — pasmem — para a realização mas o tempo não me permite, o lugar de onde estou falando também da reunião que aconteceria nos dias 15, 16 e 17 de outubro. O conselho não me permite emitir opinião a esse respeito. não se reuniu. Notem: o Conselho se reúne a cada 2 meses, o que já é Quero falar do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com um prejuízo enorme para a política da pessoa com deficiência. Enfim, Deficiência, criado pelo Decreto nº 3.298, de 1999. Portanto, Deputada não houve a reunião. e futura Senadora, no ano que vem o CONADE completa 20 anos. Ele é Temos conhecimento de que ontem foi lançada na Internet a um órgão de controle social e, especialmente nesses últimos 2 anos, vem consulta pública. Naturalmente, o conselho vai se debruçar sobre este sendo muito prejudicado pelo Ministério dos Direitos Humanos, por assunto. Pelo menos duas das cinco Comissões do Conselho haverão de meio da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que estudar este documento: a Comissão de Atos Normativos e a Comissão não respeita o status quo deste conselho. Isso é uma pena, é lamentável. de Políticas Públicas. A despeito disso, o conselho vem a todo custo, aos trancos e barrancos, Da posição em que estou aqui, não consigo ver a colega Maria do tentando desempenhar seu papel na questão do controle social. Carmo, Presidente da ABRA — Associação Brasileira de Autismo. Não Foi nesta condição que o conselho foi convidado, em dois momen- sei se ela está aqui. (Pausa.) tos, para participar da apresentação dos primeiros rascunhos, chame- Ela saiu. Eu não consegui enxergá-la. mos assim, de minutas do projeto, da consulta pública que foi ao ar ontem — está na Internet desde ontem. Ela é a Coordenadora da Comissão de Políticas Públicas. Certa- mente, estas Comissões haverão de analisar este documento. Na reunião O conselho participou de dois eventos e, no mês de agosto, o que esperamos aconteça de 3 a 7 de dezembro próximo, haveremos de CONADE teve o prazer e a satisfação de receber a visita da Secretaria de pautar este tema. Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão — SECA- DI/MEC e da Profa. Patrícia Raposo, Diretora de Políticas de Educação Nós lamentamos muito, Deputada, porque parece que a consulta Especial. Desculpe se eu me equivoquei no nome, professora. vai até o dia 21. Já ouvi uma colega da Mesa informar que no dia 19 ha- verá a audiência pública do Conselho Federal de Educação. Foi apresentado ao Conselho um material, e foi feita uma dis- cussão. Nós tivemos alguns prejuízos e algumas dificuldades com as De qualquer forma, eu faço um apelo ao MEC, em nome do CO- questões referentes aos intérpretes de Libras, diante dos problemas de NADE, para que ao menos aguarde um posicionamento formal deste um conselho ou órgão de controle social que não dispõe de um fundo conselho. Tal posicionamento só poderá sair mediante aprovação do nacional para a pessoa com deficiência. Nós sabemos que dois ou três Pleno do Conselho, formado por 38 membros: 19 da sociedade civil e 19 projetos tramitam nesta Casa do Povo, mas, infelizmente, ainda não do Governo. Assim, poderemos dizer que nós participamos deste pro- se chegou a um entendimento para a criação de um fundo nacional de cesso de revisão da consulta pública. apoio à pessoa com deficiência. Entendemos que é preciso haver uma consulta pública. É impor- O fato é que houve, sim, uma conversa no conselho. Evidentemen- tante esta revisão e esta discussão, especialmente por tudo o que disse- te, aqui eu não posso falar de conclusão alguma do que foi deliberado. A ram as pessoas que, de certo modo, não concordam com esta consulta. única conclusão que nós tiramos foi a de recomendar ao MEC que enca- Por isso, é fundamental que todos se posicionem, para que haja uma contribuição da sociedade como um todo neste processo. 86 87 Fica o nosso apelo para que aguardem o comunicado, as conclu- homens sobre as diretrizes que devem ser executadas pelas partes, por sões formais do CONADE sobre essa política, que certamente haverá de cada segmento, tanto do Governo Federal, quanto da sociedade, para discuti-la, mas só de 3 a 7 de dezembro, quando vai acontecer a última que esse direito se efetive. reunião ordinária desta gestão. Eu entendo também que todas as ques- A proposta, como eu disse, foi construída a partir de muitas de- tões referentes a essa consulta pública só vão entrar realmente em vigor mandas, ouvindo as pessoas que constituem esse público da educação — ou não vão, não sei, não sabemos o que vem — a partir da instalação especial hoje, e necessita ser revisada, por todas as razões aqui colocadas do novo Governo brasileiro, em 1º de janeiro. pelos especialistas e por outras pessoas, num movimento de avanço em Muito obrigado pelo convite. Nós nos colocamos ao inteiro dispor relação à legislação vigente, que também precisa ser alinhada como mar- dos senhores. (Palmas.) co legal nacional e internacional numa proposta que atualiza a política A SRA. PRESIDENTE (Mara Gabrilli. PSDB - SP) - Muito obriga- de educação especial no País. E é assim que temos. da, Presidente do CONADE, Antonio Muniz da Silva. Há muitas definições sobre educação inclusiva, mas nós ainda pre- Passo a palavra à Sra. Patrícia Neves Raposo. cisamos avançar no que, de fato, significa educação inclusiva. Ela deve A SRA. PATRÍCIA NEVES RAPOSO - Boa tarde a todos. ser entendida, primeiramente, como um princípio de qualquer política da educação brasileira aqui destacada. Ela é um princípio. Nós precisa- Primeiramente, quero parabenizar a organização deste evento mos caminhar nesse sentido e efetivar a educação inclusiva. Uma das pela Comissão de Educação e pela Comissão de Defesa dos Direitos das modalidades que temos no Brasil é a educação especial. Com a perspec- Pessoas com Deficiência da Câmara Federal do Brasil, dirigindo-me tiva de que deve atuar de forma integrada com todos os níveis, etapas e particularmente aos Deputados Mara Gabrilli, Rejane Dias e Eduardo modalidades de ensino — as demais modalidades —, ela precisa atuar Barbosa. Cumprimento também a Mesa, por meio da Deputada Mara com todo esse grupo de forma a atender um público especificado com Gabrilli, e todos os presentes. demandas educacionais que exigem serviços e recursos especializados De modo muito sintético, quero enfatizar a importância deste dentro de uma escola e em um sistema educacional inclusivo. momento histórico. Eu não tive a oportunidade — e não sei se todos a O que significa sistema educacional inclusivo? Há também mui- tiveram —, como num momento como este, de termos os Poderes da tas definições sobre isso. Há diferentes vieses teóricos que o definem. A República do Brasil discutindo o tema fundante de qualquer política nossa perspectiva é avançar na inclusão representada por matrículas, na educacional: o direito à educação. Isso é o que nos mobiliza, é o que nos inclusão que defenda a equidade, a educação e o aprendizado ao longo motiva, na minha opinião e na do Ministério da Educação. Esta discus- de toda a vida de um sujeito, ao longo da sua existência. Isso tem im- são e a proposta que o MEC colocou em consulta pública representam plicações tanto na dimensão formal da educação quanto na dimensão a organização de contribuições que vêm acontecendo, ao longo deste informal. É por isso que precisamos agregar contribuições de toda a so- último ano, depois de nossos estudos e pesquisas internos. ciedade, dos especialistas, daqueles que entendem que é preciso investir Há necessidade de conciliação das realidades com as finalidades da na pesquisa, na inovação, para que os estudantes da educação brasileira educação: o desenvolvimento integral do sujeito, a sua preparação para tenham, de fato, um processo de escolarização com sucesso e efetiva- o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho. Essa é a fi- mente possam fazer a trajetória escolar como qualquer aluno, e não ter nalidade da educação. E, quando discutimos o direito de todos — é claro as defasagens mostradas aqui pelo Secretário em relação a resultados de que estamos incluindo as pessoas que são o público da educação especial aprendizagem: maior repetência do aluno da educação especial, maior —, nós estamos dizendo que é preciso discutir, é preciso coletivamente evasão, menor promoção, maior migração para a Educação de Jovens e construir uma política que, segundo a Profa. Rosita, é uma ação entre Adultos — EJA. É preciso considerar todas as especificidades e, de fato, 88 89 agregar, e não criar situações que, por qualquer razão, se tornem impe- dimento para que o direito à educação seja efetivamente exercido por todas as pessoas no País. Eu quero deixar aqui o convite para que todos acessem a página do MEC e façam suas contribuições. Este é o momento de ouvir a socie- dade. O MEC viabilizou essa forma depois de ouvir muitos segmentos e as próprias pessoas com deficiência, seguindo o lema da convenção da ONU: Nada sobre nós sem nós. Não ouvimos só pessoas com defi- ciência, mas outros grupos públicos da educação especial, chamando a atenção da convenção principalmente a esta questão. Quero enfatizar que, há poucos dias, o Comitê de Monitoramento Endereço da apresentação da Convenção da ONU publicou um documento em que chama a aten- ção para a questão mais importante: "As pessoas com deficiência e seus Adriana Buytendorp - Especialista em Educação Especial da representantes legais não podem ser excluídos da discussão, da partici- Secretaria de Estado de Educação do - pação sobre qualquer política que lhes diga respeito". (Palmas.) SED/MS. Então, é nesse sentido que nós apresentamos esse convite para a http://twixar.me/kWx3 sociedade. O MEC está aberto para que as questões sejam de fato acres- centadas, criticadas, fundamentadas, a fim de que a política reflita a ne- cessidade das pessoas, de suas famílias e também dos sistemas de ensino. Estamos falando de uma política de educação especial. Eu agradeço mais uma vez o convite e me coloco à disposição, isto é, a Diretoria de Políticas de Educação Especial, do Ministério da Educa- ção, para esclarecer quaisquer dúvidas. (Palmas.) A SRA. PRESIDENTE (Mara Gabrilli. PSDB - SP) - Obrigada, Sra. Patrícia Neves Raposo. Neste momento, esta Mesa será desfeita. Eu agradeço a participa- ção dos nossos palestrantes e peço que se acomodem em seus lugares no plenário. Passo agora a condução da próxima Mesa de Debates ao Deputado Eduardo Barbosa.

90 91 Descrição da Imagem: foto colorida de homem jovem com cabelos pretos curtos e lisos, barba e bigode aparados, branco. 3ª MESA ANDRÉ RIBEIRO REICHERT - Professor da Uni- versidade Federal de e Diretor de Políticas Educacionais e Linguísticas da Feneis

Descrição da Imagem: foto colorida de homem jovem com cabelos castanhos curtos e lisos, barba e bigode cerrados, usando óculos. PERSPECTIVAS RODRIGO HUBNER MENDES - Fundador e DA SOCIEDADE CIVIL Presidente do Instituto Rodrigo Mendes

Descrição da Imagem: foto colorida de uma mulher branca com cabelos claros, na altura dos ombros, repicados, levemente ondula- dos e volumosos. LENIR SANTOS - Presidente da Federação Bra- sileira das Associações de Síndrome de Down e Conselheira do Conselho Nacional de Saúde Descrição da Imagem: foto colorida de homem jovem, com cabelos castanhos curtos e lisos, rosto levemente arredondado, branco, com Descrição da Imagem: foto colorida de uma mulher com cabelos deficiência visual. escuros, lisos, na altura dos ombros, usando óculos. MOISES BAUER - Representante do Comitê CLAUDIA GRABOIS - Presidente da Comissão da Brasileiro de Organizações Representativas das Pessoa com Deficiência do Instituto Brasileiro de Pessoas com Deficiência - CRPD Direito de Família - IBDFAM

Descrição da Imagem: foto colorida de um senhor com cabelos brancos e lisos, calvo, usando bigode e óculos. Descrição da Imagem: foto colorida de uma mulher branca com JOSÉ TUROZI - Presidente da Federação Nacio- cabelos escuros, curtos, repicados e levemente ondulados, usando nal das Apaes óculos. IÊDES SOARES BRAGA - Representante da Se- cretaria de Educação Continuada,, Alfabetização, Diversidaade e Inclusão - Secadi/MEC

92 93 Descrição da Imagem: Foto colorida dos participantes da 3ª Mesa de Debates - da esquerda para a direita: Rodrigo Hubner Mendes, Moises Bauer, Dep. Eduardo Barbosa, Lenir Santos, Claudia Grabois, José Turozi, André Ribeiro Reichert. Detalhe da intérprete de libras entre o Sr. Moisés Bauer e o Dep. Eduardo Barbosa, em pé e vestida de preto, e um mastro com a Bandeira do Brasil atrás dela.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Vamos dar do Conselho Nacional de Saúde; a Sra. Cláudia Grabois, Presidente da encaminhamento aos trabalhos, com a formação da nossa terceira Mesa Comissão da Pessoa com Deficiência do Instituto Brasileiro de Direito de Debates. de Família; e a Sra. Iêdes Soares Braga, representante da Secretaria de Convido de imediato para estar conosco o Sr. Moisés Bauer, Educação Continuada, Alfabetização Diversidade e Inclusão — SECA- representante do Comitê Brasileiro de Organizações Representativas DI-MEC. das Pessoas com Deficiência; o Sr. José Turozi, Presidente da Federação Em nome das duas Comissões, nós gostaríamos de agradecer a Nacional das APAEs; o Sr. André Ribeiro Reichewrt, professor da Uni- presença e a participação dos senhores durante este seminário. versidade Federal de Santa Catarina e Diretor de Políticas Educacionais Gostaria de fazer alguns esclarecimentos em relação à Mesa ante- e Linguísticas da Federação Nacional de Educação e Integração dos Sur- rior. Primeiro, quanto à criminalização das pessoas que negavam matrí- dos — FENEIS; o Sr. Rodrigo Hübner Mendes, fundador e Presidente culas nas escolas, isso já estava previsto na Lei nº 7.853, de 1989 — Lei do Instituto Rodrigo Mendes; a Sra. Lenir Santos, Presidente da Fede- da CORDE. Portanto, desde essa época, a lei da Coordenadoria Nacional ração Brasileira das Associações de Síndrome de Down e Conselheira para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência já fazia essa previ- 94 95 são. O que a Lei Brasileira de Inclusão — LBI fez foi aumentar a pena de educadores, gestores escolares e equipes de secretarias sobre essa temá- 1 a 4 anos para 2 a 5 anos. Assim, não procede o argumento de que não tica. É uma pena que não tenhamos tido o tempo necessário para fazer havia uma legislação que obrigava os educadores a aceitarem as pessoas uma análise mais cuidadosa do texto que foi apresentado. Então, não com deficiência nas escolas. vou entrar em detalhes sobre ele aqui, mas fazê-lo nos próximos dias. Segundo ponto relevante: quando a Convenção Internacional Talvez a maior contribuição que eu possa trazer para este semi- sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi votada na Câmara dos nário seja falar um pouquinho do que temos encontrado nessa nossa Deputados, eu fui designado Relator de plenário, inclusive indicado pela missão de descobrir o que existe de mais avançado como conteúdo que Liderança do Governo na época. Pela primeira vez, uma convenção de nos ajude a refletir o futuro que desejamos. direitos humanos estava sendo incorporada à Constituição brasileira e Em primeiro lugar, nós acreditamos que a revisão de uma políti- não havia um precedente de como fazê-la. Não havia uma definição do ca que já está completando 10 anos é uma proposta saudável. Sempre é rito de como incorporar essa Convenção à Constituição brasileira. bem-vinda a atitude de aprendermos com o que está acontecendo. Já há O debate estabelecido foi justamente no sentido de que a votação massa crítica suficiente para que possamos identificar eventuais ajustes deveria ser qualificada, porque para toda proposta de emenda à Cons- e melhorias. Mas pensamos que essa revisão precisa ser orientada pela tituição exige-se votação qualificada. Para que não houvesse nenhum busca de melhorias e de avanços, sempre tendo como grande balizador questionamento da incorporação da Convenção à Constituição, decidiu- aquilo que é, de fato, o melhor para as pessoas com deficiência, no sen- se que a votação seria qualificada. Era a primeira vez em que seria incor- tido de elas terem a chance de alcançar o seu melhor como seres huma- porada uma convenção de direitos humanos, como prevê a Constituição. nos, de obterem autonomia. Isso passa, necessariamente, pela garantia Por isso, a dúvida de como fazê-lo. Gostaria de deixar muito claro que desse direito de estar na escola, de interagir, de ser desafiado verdadeira- não houve impedimento. Houve a definição para que não houvesse mente para que essa autonomia possa ser alcançada. questionamento futuro na esfera judicial. Entendemos também que é fundamental, no momento em que Terceiro, quero dizer que nossa representatividade política se dá se faz qualquer tipo de análise, que nós tenhamos o discernimento e a na Câmara dos Deputados pela legitimidade das urnas. É dessa forma coragem de nos desprendermos do passado e de fazermos uma análise que nós exercemos nosso mantado. Gostaria de deixar muito claro que baseados no que é o mundo hoje, do que já está acontecendo na escola, não estamos aqui para fazer lobby, mas representando um segmento olhando também para aquilo que existe como diretriz internacional para que vota legitimamente nos seus representantes no Congresso Nacional. o futuro. Ou seja, é fundamental que não nos prendamos em um espe- (Palmas.) lho retrovisor, mas que olhemos, com detalhes, para as várias transfor- Concederei a palavra aos nossos convidados por 10 minutos. mações que já estão acontecendo nas escolas. E que possamos também Inicialmente, concedo a palavra ao Sr. Rodrigo Hubner Mendes, mirar para um futuro promissor, com aquela premissa que eu comentei: que nos solicitou que fizesse uso da palavra no primeiro momento. o que é, de fato, melhor para darmos às pessoas com deficiência a chance de conquistarem autonomia? O SR. RODRIGO HUBNER MENDES - Boa tarde. Então, ao longo dos últimos 8 anos, visitamos escolas de todas as Quero agradecer à Deputada Mara Gabrilli, ao Deputado Eduardo regiões do Brasil com esse olhar de entender o que percebemos como Barbosa e à Deputada Rejane Dias o convite. Cumprimento os presentes. transformação, buscando sistematizar essas experiências e transformá- Eu estou aqui representando um instituto que se dedica há mais de -las em fonte de inspiração, em fonte de referência para quem está na 15 anos a fazer pesquisa sobre o que existe de mais interessante no Brasil ponta, para quem está com esse desafio de acolher crianças e adolescen- e no mundo sobre educação inclusiva, além de oferecer formação para 96 97 tes com deficiência. Nesse sentido, já temos hoje uma biblioteca com apresentar aos senhores um vídeo de 4 minutos, que mostra trechos de centenas de casos que nos inspiram, que acho que servem como cami- 15 documentários que produzimos sobre escolas brasileiras e escolas nhos e apontam possibilidades reais para que a escola dê conta desse estrangeiras. Então, os senhores vão ter a chance de ouvir educadores e desafio da educação inclusiva. E olhamos um pouquinho para fora do gestores brasileiros, e algumas pessoas de fora, falando o que eles enxer- País também, para tentarmos entender o que pode, em outros países, gam como esse grande horizonte e como eles deram conta, em alguns nos servir como inspiração. casos ali, de criar um arranjo efetivamente inclusivo. Em 2012, eu tive a chance de participar de uma reunião da Agên- Vou, então, apresentar o vídeo. cia Europeia voltada para a educação inclusiva, organismo que congrega (Exibição de vídeo.) todos os países europeus e estabelece, para o continente todo, algumas Houve um problema técnico, mas deu para perceber um pou- diretrizes. Estavam presentes nesse encontro representantes de 18 países quinho o tom dessas falas. Tivemos a participação de uma educadora europeus, com o objetivo de aprender um com o outro. Eram países francesa apontando a importância da família; tivemos uma represen- muito contrastantes — a Europa é muito heterogênea —, e as situações tante do Ministério da Educação da Finlândia, país sempre citado como também eram bem particulares, em termos do contexto de inclusão referência para o mundo, em termos de qualidade de educação; tivermos que cada um vivia. Mas eu posso dizer que o que unia aquele grupo ali, um professor de Harvard dizendo como ele planeja as aulas, pensando o que existia como ponto de interseção e de convergência era a busca em diversificar estratégias; e muitos educadores brasileiros apontando muito genuína para melhorar os índices de participação de pessoas com práticas que viabilizaram, nos seus contextos, a educação inclusiva. deficiência nas escolas comuns. Então, todos ali estavam fazendo todo o esforço para que essa possibilidade de participação na escola comum Estamos já caminhando para o final do meu tempo. O que de- fosse, de fato, oferecida a esse segmento de cada um desses países. veria nos unir aqui hoje é essa busca por aquilo que acreditamos que possa ser uma perspectiva de autonomia para as pessoas. Não é trivial Eu conversei bastante com uma equipe de Portugal, representa- construir uma escola inclusiva. Enfrentamos ainda inúmeras dificul- da, à época, por três pessoas. Portugal já se destacava, naquela ocasião, dades. Tivemos avanços, mas precisamos melhorar muito, e estamos como um dos países mais avançados da Europa em relação a esse direito. aqui definindo o que vai acontecer com esse segmento nos próximos Mas eu me lembro de ver essas educadoras muito angustiadas, por terem anos. Temos a responsabilidade de sermos audaciosos, de assumirmos a consciência de que muitas crianças ainda estavam restritas, ainda riscos, de termos coragem de olhar para um futuro mais promissor. Isso participavam de ambientes em que a chance de serem desafiadas ao seu envolve questionarmos o que foi o passado e assumirmos juntos esse máximo não estava acontecendo, e elas queriam melhorar as estatísticas risco, trabalharmos juntos para que transformemos as escolas, ajudando, de inclusão. No ano passado, nós tivemos a chance de voltar para uma respeitando a opinião um do outro e, acho, abrindo um diálogo, de fato, conversa com essas educadoras. Nós estivemos em Portugal, em um honesto e capaz de ouvir a opinião do outro, e colocando acima de tudo seminário, e percebemos a alegria delas pela aprovação de uma lei — os esse direito. senhores devem ter acompanhado —, que entrou em vigência este ano, a qual, de fato, define a escola comum como grande norte para o futuro, Esta não é uma diretriz do Brasil. Há outra pergunta que está em como grande diretriz para se pensar no que é o melhor, em termos dessa jogo aqui: o que imaginamos como país? Uma nação que se fecha, que possibilidade, olhando para o futuro e sabendo que é um processo, que olha para o passado, que se rende a percepções que foram importantes nós precisamos conduzir isso respeitando a transformação e o tempo em outros momentos? Ou vamos nos juntar para olhar para o futuro que ela leva. e trabalhar para que isso mude, para que essas crianças e adolescentes tenham a chance de uma autonomia, sejam quais forem os apoios neces- Eu vou tomar a liberdade, quebrando um pouco o protocolo, de 98 99 sários que teremos de investir para que isso aconteça? lizamos a nossa união, estamos trabalhando nesse sentido, e o Comitê Essa é uma pergunta importante. Temos de parar de olhar só para tem posicionamento claro e unânime de ser totalmente favorável, sim, à o umbigo do Brasil. Mais de cem países assinaram a convenção da ONU atualização da política. e estão pensando juntos em como viabilizar este horizonte de longo Eu preciso fazer alguns resgates históricos importantes. Ouvi pes- prazo. Vamos seguir esse caminho, nos unirmos a esses países, ou vamos soas que participaram de outras Mesas fazerem menção à democracia, à perder essa chance? Essa é uma pergunta importante, e acho que deverí- falta de diálogo, e nós organizações de pessoas com deficiência sabemos amos nos juntar para construir esse futuro, de fato, inclusivo. muito bem o quanto já sofremos com essa falta de diálogo e com uma Obrigado. (Palmas.) democracia proforma. A política atualmente vigente não manteve um O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Obrigado, diálogo com as organizações de pessoas com deficiência, pelo menos Rodrigo, que, com sua sensatez e equilíbrio, trouxe para nós um rumo não da forma que entendíamos devida e adequada. Por outro lado, em fundamental daqui para frente, principalmente nos dias que teremos a 2012, na 3ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Defici- seguir. ência, o segmento das pessoas com deficiência, por meio dos delegados legitimamente eleitos nas etapas regionais, aprovou, com 70% dos votos, Passo a palavra ao Sr. Moisés Bauer, representante do Comitê Bra- proposta que contempla um modelo de educação especial diferente sileiro de Organizações Representativas das Pessoas com Deficiência. do que aí está. Em 2016, na 4ª Conferência, mais uma vez deliberação Antes, faço um registro importante. Está nos acompanhando pela similar foi aprovada. Isso é democracia. O que não é democracia é não Internet, desde o início da nossa audiência, de forma extremamente ser executado o que o segmento está deliberando. Não estou falando gratificante para todos nós, a querida Izabel Maior. (Palmas.) Viu, Izabel, aqui das sete entidades que compõem o CRPD, mas de todo o segmento como você é querida? Foi aplaudida aqui. de pessoas com deficiência, de trabalhadores dessa área que se elegeram O SR. MOISÉS BAUER - Boa tarde, senhoras e senhores. delegados nas etapas regionais das conferências e aprovaram esse enten- Quero inicialmente cumprimentar o Exmo. Deputado Eduardo dimento. Barbosa, as Deputadas Mara Gabrilli e Rejane Dias, que assinaram o Os surdos, que vão ter oportunidade de falar em seguida por meio requerimento para a realização deste seminário conjunto das Comis- do André, também apresentaram muitas reivindicações, constituíram sões de Educação e de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência. um grupo de trabalho dentro do MEC, apresentaram um relatório sobre Cumprimento todos os integrantes da Mesa que compartilham este como gostariam que fosse a educação das pessoas surdas, e isso não momento bastante importante com todos nós aqui. foi implementado. Isso tudo está documentado. A Convenção sobre os Coube-me falar pelo CRPD — Comitê Brasileiro de Organizações Direitos das Pessoas com Deficiência, no Artigo 3, Princípios Gerais, Representativas das Pessoas com Deficiência. Saúdo nossa Presidente, logo na alínea "a", trata da autonomia das pessoas com deficiência, da Ester Pacheco, e todas as sete organizações que compõem o Comitê. liberdade de escolha das pessoas com deficiência. É o Nada sobre nós Estamos trabalhando em conjunto. No Comitê Brasileiro há a represen- sem nós. Isso foi dito aqui. tação de todos os segmentos de deficiência. O Comitê está aberto para É meritório termos em mente outra situação bem importante. A agregar outras organizações. Temos conversado muito entre nós, diver- Dra. Eugênia está aqui ainda? (Pausa.) sos segmentos de pessoas com deficiência, sobre o tema da educação — Não. Eu gostaria de fazer uma ponderação especificamente sobre por sinal, esse talvez tenha sido o tema que mais nos uniu até agora. Nós a fala dela, porque eu admiro muito o trabalho, a luta dela. Acredito trabalhávamos antes em forma de fórum dessas entidades, e nos reuní- que muitas vezes nós estamos falando as mesmas coisas, mas de formas amos principalmente para apagar alguns incêndios. Agora nós forma- 100 101 diferentes. Eu não conheço ninguém das nossas organizações que seja esse mundo é imenso. Vocês sabem disso muito mais do que eu. Vamos contrário à educação inclusiva, porém eu conheço diversas pessoas — pensar que as escolas regulares, um dia — Deus queira —, vão conseguir talvez a Dra. Eugênia seja uma delas, pelo que eu às vezes compreendo atender com qualidade todas essas situações de deficiência. da sua fala — contrárias a escolas especiais. O que nós defendemos é Vou fazer um paralelo. Ele até pode ser grotesco, mas costumo justamente um modelo de educação inclusiva que comporte escolas fazê-lo. A Dra. Eugênia disse que a educação é um direito indisponível. especiais também. Por que não? (Palmas.) Concordo com ela. Digo que a saúde também é um direito indisponível. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Moisés, eu Vocês se tratariam de um câncer numa Unidade Básica de Saúde próxi- vou ser superindelicado, mas tenho uma questão operacional. mo às suas casas? Não, porque o câncer é uma patologia que exige alta Não há um Deputado para me render na Presidência, e regimen- complexidade. Há situações de deficiência que exigem alta complexida- talmente eu não posso deixar seguir a audiência sem a presença de um de de conhecimento técnico-pedagógico. Não podemos achar que o fato Deputado. Por isso, tenho que suspendê-la. Em 1 minuto e meio eu vou de entrarmos numa escola estamos aprendendo. Não podemos pensar ao plenário votar e volto correndo. Peço que me aguarde. Está suspenso isso. Não existe isso! Inclusão é efetiva educação, não é apenas acolhi- o seu tempo, e terá o restante dele. Desculpe-me, mas eu tenho que fazer mento na escola. Senão se trataria o câncer também numa Unidade isso. Básica de Saúde. Pode ser grotesco esse exemplo? Pode ser, mas entendo O SR. MOISÉS BAUER - Tudo bem. que precisamos considerar as diferentes situações de deficiência com muita profundidade. (A reunião é suspensa.) A política pública que está sendo desenhada está sendo desenhada O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Moisés da forma mais democrática possível. Respeito muito a instituição Minis- Bauer está com a palavra. tério Público. Inclusive, sou assessor jurídico do Ministério Público do O SR. MOISÉS BAUER - Eu dizia que não conheço ninguém que . Com todo o respeito aos Procuradores da República, seja contrário à educação inclusiva. Esse é o norte. Está no Artigo 24 da do Ministério Público Federal, não estou compreendendo a recomenda- nossa convenção. Esse mesmo artigo, no item 3, letra "c", cita, apenas ção que foi feita ao Ministério da Educação, para que não realize consul- exemplificativamente, na minha interpretação, que a educação de cegos, ta pública! Como assim? Isso não é democracia? (Palmas.) surdos-cegos e surdos deverá ser oferecida pelos meios adequados, em Uma coisa é uma recomendação para que não haja retrocesso. O.k. ambientes que lhes favoreçam seu melhor desenvolvimento acadêmico e Agora, não fazer consulta pública? Não, espere aí! Onde é que está fal- social. Para mim, isso está muito claro. Essa é uma possibilidade muito tando democracia aqui? Alguma coisa está errada. Nós falamos a mesma concreta de existirem, sim, escolas especiais. língua, mas me parece que temos conceitos diferentes. Quero também, muito inspirado e provocado pela fala da Dra. Eu- Eu ouvi a Profa. Meire Cavalcante lamentar a falta de diálogo, as gênia — já declarei aqui que a admiro muito —, dizer que não podemos portas fechadas no MEC. Vivemos isso muitas vezes, mas agora a con- pensar a educação inclusiva ou desrespeitar ou desconhecer a importân- sulta está aberta para todo mundo! Todo mundo vai poder participar. cia das escolas especiais tendo como parâmetro o filho da Dra. Eugênia, Vamos apresentar as contribuições, vamos fiscalizar, sim, para que a o Moisés, o Rodrigo e outros tantos que estão aqui. (Palmas.) política seja efetiva para todos. Todos! A educação é direito de todos, Precisamos pensar que as situações de deficiência são as mais di- como muito bem disse a Dra. Eugênia. Educação significa atendimento versas. No caso da cegueira, por exemplo, mesmo que todos sejam cegos pedagógico adequado às nossas realidades. totais, as pessoas têm tempos e processos de desenvolvimento diferen- Eu gostaria de encerrar deixando essa posição, que me parece estar tes. Se considerarmos a deficiência intelectual então, perceberemos que 102 103 bem clara. O Comitê Brasileiro de Organizações Representativas das a 3 anos, e pré-escolar, para crianças de 4 a 5 anos); ensino fundamental, Pessoas com Deficiência é composto pela Federação Nacional das Apaes, em sua maioria séries iniciais; oficinas de iniciação profissional; cursos cujo representante vai falar em seguida; pela Federação Nacional das As- de qualificação profissional; programa de inclusão no mundo do traba- sociações Pestalozzi; pela Organização Nacional de Cegos do Brasil; pela lho; educação de jovens e adultos; e implementação do projeto Educação Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos; pela Orga- ao Longo da Vida. Há também outras unidades educacionais, para oferta nização Nacional de Entidades de Deficientes Físicos no Brasil, a ONE- de Atendimento Educacional Especializado — AEE. DEF; pela Associação Brasileira de Autismo, a ABRA, e pelo Comitê As escolas especiais também agregam serviços especializados da Paralímpico Brasileiro. Essa é uma posição fechada, e nós a defendemos área de saúde, em especialidades médicas (neurologia, psiquiatria, pe- até o fim. diatria, ortopedia) e em outras formações (fisioterapia, fonoaudiologia, Muito obrigado. (Palmas.) terapia ocupacional, assistência social e psicologia. O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Muito Embora se preveja a adequação das ações à legislação educacional obrigado, Moisés. vigente, as escolas especiais e outros serviços essenciais foram excluídos Passo a palavra a José Turozi, Presidente da Federação Nacional dos documentos educacionais, mesmo sendo a opção das próprias pes- das Apaes. soas com deficiência e de suas famílias. Não constam na Política Nacio- O SR. JOSÉ TUROZI - Boa tarde a todos. Quero cumprimentar o nal de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva de 2008. Dr. Eduardo Barbosa, Deputado Federal, Mara Gabrilli e Rejane Dias, No ano passado, a pedido da comunidade, no Estado de , que são os autores dos requerimentos de realização deste evento. Cum- foi fundada a primeira APAE no Estado, na Capital, Boa Vista, que hoje primento toda a Mesa e os demais participantes. faz atendimento a mais de 300 pessoas com deficiências. Atende inclusi- A Federação Nacional das Apaes é uma rede de serviços que ve filhos de imigrantes da Venezuela. abrange hoje 2.186 APAEs no Brasil. A Rede APAE Brasil presta atendi- No dia 25 de outubro de 2018, por solicitação da comunidade, foi mento e assessoramento às pessoas com deficiência intelectual e múl- fundada outra APAE, em Oiapoque, no Estado do Amapá. tipla e atua na defesa dos direitos e da cidadania dessas pessoas, para Todas as APAEs no Brasil, incluindo-se essas mais recentes, foram que tenham qualidade de vida, autogestão, autodefensoria, autonomia e criadas por conta da omissão do Estado em implementar políticas públi- protagonismo. O serviço é organizado conforme os princípios e as dire- cas necessárias ao atendimento das pessoas com deficiência intelectual e trizes das políticas públicas, entre as quais estão as de assistência social, múltipla. educação e saúde e preparo para o mercado de trabalho. Somos o maior movimento comunitário das Américas. Tão A primeira APAE do Brasil surgiu em 1954, como um movimento somente nas diretorias e nos conselhos das APAEs, contamos com um de pais e amigos. Cresceu defendendo oportunidade educacional para contingente de mais de 50 mil voluntários. todos ao longo da vida, da idade precoce à adulta. Ao mesmo tempo, As APAEs não obrigam as famílias a matricularem seus filhos nas implementa ações afirmativas voltadas às pessoas em situação de enve- entidades para receberem atendimento. Ocorre que, por serem livres, lhecimento, garantindo-lhes vida digna com qualidade. por deterem direitos e deveres constitucionais quanto à atuação em Na área educacional, para a educação escolar, mantemos hoje es- defesa dos direitos de seus filhos, as famílias têm preferência pelo aten- colas especiais para mais de 200 mil pessoas com deficiências intelectu- dimento proporcionado por nossas instituições. ais e múltiplas, estudantes que recebem educação básica nestas etapas e Outras instituições surgiram no Brasil, tais como o Instituto Ben- modalidades: educação infantil (estimulação precoce, para crianças de 0 jamin Constant, em 1854; o Instituto Nacional de Educação de Surdos, 104 105 em 1857; e a Associação Pestalozzi, em 1926, na cidade de Canoas. A Não somos nichos de segregação, como já fomos tachados, mas primeira APAE do Brasil, como eu já disse, surgiu em 1954. sim de defesa de direitos. Não se pode, sob o pretexto da inclusão, des- Se somarmos todas as instituições filantrópicas no Brasil que pres- qualificar um trabalho de milhares de organizações não governamentais tam serviços de atendimento às pessoas com deficiências, veremos que do Brasil, algumas com mais de 1 século de existência, sempre atuando esse número não chega à metade dos 5.570 Municípios do País. na defesa dos direitos das pessoas com deficiências. Queremos propor uma reflexão e também fazer um questiona- A APAE é de livre escolha da família. Se uma família decidir ma- mento aos senhores: onde está a presença do Estado nos outros Muni- tricular seu filho em uma escola regular de sua cidade, no bairro onde cípios do Brasil? Quantas são as pessoas com deficiências nos outros vive, não será a APAE que irá impedir a sua liberdade de escolha. Talvez Estados do País onde não existe a presença de entidades filantrópicas isso não aconteça porque a rede pública não está em condições de fazer fazendo esse tipo de atendimento? Que tipo de deficiências possuem esse acolhimento e atendimento. Por isso, nada melhor que consultar as essas pessoas? famílias e as pessoas com deficiências. Nosso País não possui ainda uma estatística atualizada e real sobre Quero agora fazer a leitura de um texto da ONU: "No dia 3 de o número de pessoas com deficiência em todas as áreas, tampouco sobre outubro de 2018, o Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos das as questões de acessibilidade. Eu questiono: onde está o Ministério Pú- Pessoas com Deficiência publicou nova orientação legal que estabelece: blico? Onde está a fiscalização do Ministério Público? 'Pessoas com deficiência e suas organizações representativas devem par- Sempre fomos favoráveis à inclusão de pessoas com deficiências e ticipar de processos públicos de tomada de decisões sobre seus próprios fazemos isso há quase 64 anos, quer seja na área educacional, quer seja direitos humanos'". na área social, quer seja na área de capacitação de pessoas para o merca- "Nada sobre nós sem nós", como foi dito aqui, tem sido há tem- do de trabalho. pos um mote de movimentos de direitos para pessoas com deficiência. Quando se fala em inclusão, é preciso considerar os reais interes- Em seu comentário geral, o Comitê destaca que, "quando pessoas com ses das famílias e das pessoas com deficiências. A família e a pessoa com deficiências são consultadas, isto leva a leis, políticas e programas que deficiência é que devem decidir o melhor lugar para o atendimento. contribuem para sociedades e ambientes mais inclusivos". Inclusão se faz com responsabilidade e diálogo, e as pessoas com O comentário geral busca ser uma ferramenta vantajosa para deficiências e suas famílias não podem ser meras espectadoras das mu- fornecer recomendações concretas sobre como se comprometer com danças que afetarão seus direitos e liberdades fundamentais. (Palmas.) consultas com pessoas com deficiência, por meio de suas organizações representativas. Não é através da extinção das escolas especiais do Brasil que se irá garantir a verdadeira inclusão. Inclusão se constrói em conjunto, e a "Isto pode incluir desenvolvimento de informações acessíveis nossa Rede Apae Brasil quer estar junto com as famílias, com as comu- sobre processos de tomada de decisões, implementação de metodologias nidades e com os governos para que isso aconteça de forma responsável inclusivas e garantias de que organizações de pessoas com deficiência e democrática. tenham acesso a financiamentos nacionais e internacionais para funcio- namento", segundo o Comitê da ONU. As APAEs sempre atuaram na defesa das pessoas com deficiências. São favoráveis a sua inclusão social, educacional e profissional. Somos O comentário geral também define "organizações de pessoas com parceiros nesse processo, e é assim que queremos ser vistos e respeita- deficiência" e destaca que "respeito aos direitos de pessoas com deficiên- dos. cia, à liberdade de associação, assembleia pacífica e expressão é essencial para a participação e realização de consultas". 106 107 A Rede Apae, ao mesmo tempo em que cumprimenta os organi- questão educacional. zadores desta audiência pública, agradece a oportunidade de participar, Pediram que eu ficasse de pé, para que pudessem me ver melhor. manifestando-se favorável à atualização da Política Nacional de Educa- Verificando o meu tempo, vejo que eu preciso ser rápido no que tenho a ção Especial no Brasil. Consideramos uma iniciativa louvável e necessá- dizer aqui. A preocupação da FENEIS, a nossa luta de 30 anos, é o nosso ria da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade direito linguístico na área educacional e social, o das pessoas surdas. e Inclusão — SECADI do Ministério da Educação, que o faz mediante Quando trabalhamos nesses contextos educacionais e sociais, observa- avaliação das intercorrências evidenciadas. mos que, em comparação com outros países, nós somos o primeiro país A atualização da política de educação especial fortalecerá o com- que reconhece a língua de sinais como língua da pessoa surda, como promisso democrático do poder público com a implementação de meio de comunicação. Nós somos um país de ponta em se tratando de princípios e diretrizes já consolidados, beneficiando manifestações di- legislação que garante o reconhecimento linguístico da pessoa surda. versas para o atendimento das necessidades da população escolar na sua Nós temos cursos que trabalham essa questão, como o Letras Libras, o diversidade, sem restringir direitos. Pedagogia Bilíngue, mas o direito do surdo, em se tratando do acesso à A atualização da política de educação especial, de forma imedia- educação básica, sofre um atraso grande. ta, é uma medida justa, urgente e imprescindível, a fim de garantir a Uma questão que me deixa angustiado sobre a recomendação continuidade e o resgate de serviços essenciais, da educação escolar na do Ministério Público Federal é que a perspectiva jurídica tem uma modalidade educação especial também nas escolas especiais, e a oferta ambiguidade, porque a interpretação da lei é diferenciada, porque ela do atendimento educacional especializado. não vive a educação, ela não está presente. A Constituição, a convenção Um projeto social compatível com a democracia não pode ser co- garantem o nosso direito, mas o olhar do Ministério Público Federal é nivente com um modelo único de escolas ou de ideias. É aberto à parti- diferente. Ele não está presente no espaço escolar. Isso gera uma dis- cipação e às diferentes opiniões, em especial das pessoas com deficiência cussão séria. Nós não estamos restringindo a Constituição, nós estamos e suas famílias, dos profissionais e da sociedade em geral. buscando o nosso direito. Muito obrigado. (Palmas.) É uma pena que a Procuradora Eugênia não esteja aqui presente. É uma pena. Nós não somos contra a política educacional inclusiva. Ela O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Muito deveria estar aqui para acompanhar esta discussão. obrigado, José Turozi. A Federação Mundial de Surdos, filiada à ONU, faz recomenda- Passo a palavra a Andre Ribeiro Reichert, professor da Univer- ções, acompanha processos educacionais, políticas de educação inclusi- sidade Federal de Santa Catarina e Diretor de Políticas Educacionais e va. Esse processo é mundial. Há dificuldades encontradas pelos surdos Linguísticas da FENEIS. (Manifestação em LIBRAS.) no mundo em se tratando de política de educação inclusiva. Nós temos O SR. ANDRE RIBEIRO REICHERT (Tradução simultânea.) - Eu agora esse espaço para discutir esses entraves que a política educacional gostaria de parabenizar o Deputado Eduardo Barbosa, a Deputada Mara inclusiva traz. Gabrilli, a Deputada Rejane Dias, os colegas aqui presentes, o Moisés, o A Federação Mundial de Surdos faz recomendações — depois Rodrigo, o José, pelas suas exposições, que serviram de base para o que podemos encaminhar-lhes essas recomendações em torno da política eu tenho a dizer aqui hoje, como representante da FENEIS. Considero educacional inclusiva na perspectiva da educação dos surdos —, e nós os Municípios em que a APAE trabalha, os 5 milhões de surdos, esse tra- trazemos a questão da educação bilíngue para os surdos. A ideia de que balho sobre as famílias terem direito constitucional de escolha, a questão a educação bilíngue é uma educação que segrega é equivocada. Ela está de o direito linguístico das pessoas surdas também ser restringido nessa 108 109 dentro da perspectiva da educação inclusiva, porque se trata de uma Mas não foi o que aconteceu com o ENEM em LIBRAS. escola regular, uma escola aberta para todos. Essa escola atende pesso- O que nós precisamos compreender? O prejuízo está aí. A língua as surdas e ouvintes. Trata-se de uma questão linguística. Está prevista de sinais não está sendo respeitada na política da educação inclusiva, a como primeira língua a língua de sinais. É uma questão de acesso à lín- língua de sinais não está sendo a língua de instrução na política de edu- gua. Na educação bilíngue para surdos, a primeira língua seria a língua cação inclusiva. de sinais. Nós precisamos compreender essas questões quando se trata de Há 30 anos, a nossa federação vem buscando essa educação. Eu política. Nós precisamos rever essa política. O ENEM foi disponibilizado consegui concluir o doutorado porque tenho essa base linguística. Eu em LIBRAS, nós não podemos perder essa questão, mas, no proces- tenho dourado porque tenho uma base linguística. so educacional da política de inclusão, os surdos foram prejudicados. Quando a política da educação inclusiva fechou as escolas de Numa educação bilíngue em que a língua de instrução fosse a língua de surdos sem consulta — é interessante pensarmos nessa ideia de consul- sinais, o resultado no ENEM, com certeza, seria outro. ta, porque as escolas de surdos também foram fechadas —, não houve As pessoas dizem: "Ah, o surdo não tem domínio da língua es- senso crítico, não houve base para argumentos, houve opressão e um crita!" Não, não é questão de domínio da língua escrita, é questão de desrespeito à convenção. Nós temos o direito de buscar isso, nós viven- aprendizagem, de acesso a uma educação de qualidade, e esse acesso foi ciamos essa diversidade. Houve, sim, manipulação e controle sobre a restringido. Nós não tivemos esse acesso. Se nós tivéssemos o português educação de surdos. como segunda língua na educação bilíngue, teríamos condição melhor. Então, a educação bilíngue é uma educação regular dentro de um A questão da comunicação e do acesso à educação, portanto, foi prejudi- sistema inclusivo. É isso que nós precisamos entender. As crianças sur- cada. das precisam dos modelos dos professores surdos. Na educação infantil, Quanto àquela questão de se perder o trem da história, eu vou mu- as crianças surdas precisam de modelo. Eu, Andre, na educação infantil, dá-la um pouquinho. Vamos sair do trem e vamos para o mar, porque o até os 10 anos, não tive acesso a um professor surdo, e isso me fez falta, mar oferece um tempo maior. Vamos, cada um no seu barco, respeitar o foi difícil para mim. Eu não tive modelos. "Como será? Eu acho que tempo de cada um nesse mar, as suas diferenças, as suas especificidades, não vou ficar velho, porque não tive experiências com adultos surdos." e todo mundo estará se apoiando, e todo mundo estará dentro desse Quando eu me encontrei com um adulto surdo, eu falei: "Olhe, eu vou sistema educacional. (Manifestação na plateia.) ficar adulto também!" Imaginem quantos Municípios há no Brasil, A escola bilíngue é uma escola regular. O espaço linguístico é que quantas crianças surdas espalhadas pelo Brasil não têm um modelo de é diferente. surdos. Obrigado. (Palmas.) O ENEM em LIBRAS foi uma vitória para o povo surdo brasileiro. A SRA. PRESIDENTE (Mara Gabrilli. PSDB - SP) - Obrigada, Um direito nosso foi garantido por meio da língua de sinais. E por que Andre, pelas suas palavras. para a comunidade surda o resultado não foi positivo? Porque a escola inclusiva está com problemas, os surdos não estão tendo avanços na Tem a palavra Lenir Santos. escola inclusiva, na política da educação inclusiva. Se o resultado fosse A SRA. LENIR SANTOS - Boa tarde. Aliás, boa noite, porque já positivo, os surdos teriam um bom resultado no ENEM, nós poderíamos são 18 horas. dizer que a inclusão está tendo um bom resultado. (Manifestação na Queria iniciar agradecendo a oportunidade de estar aqui e para- plateia.) benizar a Deputada Mara, a Deputada Rejane e o Deputado Eduardo

110 111 Barbosa por terem convocado esta audiência, em que podemos discutir mentar a escola para que ela possa de fato atender todas as necessidades esta questão tão relevante: a educação inclusiva. daquela pessoa, seja ela cega, seja ela deficiente intelectual, seja ela o que Eu sou Presidente da Federação Brasileira das Associações de for. Síndrome de Down e também sou Vice-Presidente e uma das fundado- Então, a escola, não a defendemos em hipótese alguma. O nosso ras da Fundação Síndrome de Down, que já tem mais de 33 anos. Tenho problema é quanto à revisão da política. Nós temos críticas de como foi uma filha com síndrome de Down que tem essa idade. feita a discussão. Tenho que dizer que a federação foi convidada. Inclusi- Não vou falar como educadora porque não sou, sou advogada. ve, estive em duas reuniões. Mas muitas entidades nos procuraram para Vou falar porque aqui se apresenta a perspectiva da sociedade. A propó- saber o que se passou, porque não tiveram oportunidade de ir. Ficaram sito, Andre acabou se fazendo presente. Foi importante que alguém com perguntando o que aconteceu. deficiência também tenha falado a respeito da educação inclusiva. Na reunião de São Paulo, as pessoas não podiam falar. A respeito Eu gostaria de poder também falar no lugar da minha filha. Quan- de questão tão relevante como essa, elas tinham que se pronunciar por do suas irmãs começaram a ir à escola — na época, enfrentamos aquela escrito. Eu acho que essa não é a forma de se discutir política de educa- luta que a Dra. Eugênia comentou, nas escolas comuns não se aceitavam ção no nosso País, ainda mais educação inclusiva, educação para pessoas as pessoas que tivessem alguma deficiência —, ela se recusava a ir a uma que têm deficiência. escola que não fosse a das irmãs. Ela queria estar no mesmo lugar, no Eu sei que o tempo é curtíssimo. Tenho 5 minutos. Fiz umas mesmo espaço. anotações aqui. Queria dizer que a Fundação Síndrome de Down tem 33 É isto que eu gostaria de defender aqui: a escola inclusiva. Não dá anos, atende 250 pessoas com deficiência, tanto com síndrome de Down para pensarmos que uma pessoa vai ser respeitada, vai respeitar a si pró- como com deficiência intelectual, tem mais de 150 pessoas trabalhando pria, vai ter autonomia, se, de imediato, ela não pode ir à escola confor- formalmente, com registro em carteira. Não há hoje uma pessoa que me vão as demais pessoas, não pode estar na mesma escola, no mesmo frequente a fundação para suprir outras necessidades, seja para fazer ambiente. A escola é que tem de se virar para resolver todas as dificulda- fisioterapia, seja para fazer fono — muitas atividades são realizadas lá des que tiver. Todos precisam ir à escola, e a escola precisa se preparar. dentro —, que esteja em escola especial. Nenhuma! Todas estão em Se a política não deu certo, nós precisamos ver se o que está escri- escola regular. A fundação dá apoio, junto com o professor, a mais de 50 to na política não está bem escrito, bem formulado, ou se a execução da escolas regulares no Município de Campinas, onde está situada. política é que não foi eficiente. Se o problema for a execução, nós não O que eu gostaria de dizer é que, se nós acreditamos que a defici- podemos mais perder tempo, temos que fazer com que essa execução dê ência é o resultado do encontro entre as características da pessoa e o seu certo e temos que promover todas essas mudanças necessárias no âmbi- meio social, devemos lutar o tempo todo para que esse meio seja o mais to da escola inclusiva. inclusivo possível e que possa, sim, inibir as diferenças, propiciando um Não defendemos — estou falando pela federação — escola espe- ambiente de convívio mais igualitário, não ressaltando as deficiências. cial. Não defendemos que volte a haver inúmeras escolas especiais no Nós temos que ressaltar, o tempo todo, o que a pessoa tem de igual ao nosso País. Isso aconteceu na época em que minha filha nasceu, há 33 outro, inclusive a sua dignidade de poder estar na escola. anos, e não conseguíamos colocá-la numa escola regular, que não a rece- Nós temos problemas operacionais, problemas executivos, proble- bia porque a escola não estava preparada, como disse a Eugênia. mas orçamentários, que não são poucos. Podemos até, na política, ter Que se prepare, que tenha condições de resolver essa situação e a falhas teóricas também. Por que não? Reformar é um verbo de movi- resolva! Isso é papel do Estado. O Estado tem que alocar recursos, fo- mento. Na realidade, a ideia é sempre progredir, ir para frente. Então, 112 113 nós devemos corrigir isso. autonomia, com responsabilidade e autodeterminação. A inclusão só Eu queria tomar como ponto de partida — vou ler aqui alguns se realizará através da própria inclusão. A pessoa tem que ser incluída, itens — elementos-chaves da inclusão: a dignidade de ser e de viver de tem que viver a inclusão, e não viver através de percursos separados da modo pleno dentro das suas características individuais, dos seus limites; realidade da vida. Não se prepara a pessoa para viver no mundo sem a o respeito aos direitos de cada um; e a consciência de que não é a defici- experiência de viver no mundo. Não haverá convívio e respeito às poten- ência que deve ser focalizada, mas, sim, a normalidade da vida. cialidades quando se segrega a pessoa com deficiência do mundo onde Dentro disso, qualquer revisão precisa respeitar os seguintes as- ela deve exercer sua cidadania. pectos. Os lugares devem sempre ser abertos para favorecer a aquisição A escola é um espaço necessário, inicial, inclusive para o apren- de competências para o desempenho de papéis em seus contextos nor- dizado da vida e do conhecimento. Também não se aprende a ser autô- mais de vida, reduzindo o risco da dependência assistencial, que ocorre nomo com teorias. Aprende-se a viver com autonomia vivendo, prati- muitas vezes dentro da escola especial. cando a autonomia com acertos e erros. Não podemos achar que vamos A política educacional deve ter como escopo, além do aprendiza- teorizar sobre isso. É preciso colocar a pessoa na experiência da vida. É do, a mudança do olhar da comunidade e do ambiente em que a pessoa igual ao que fazemos na fundação: as pessoas com Síndrome de Down vive, promovendo o alargamento social. Ninguém será respeitado como vão à fundação para aprender a trabalhar, e elas fazem estágios fora para pessoa e cidadão quando formado em espaço à parte. Já é, de imediato, aprender a trabalhar. Aprende-se a trabalhar trabalhando — não há apartado para fazer sua formação educacional. outra maneira. "A escola deve ser o local que permitirá o desfazimento do mito da A escola é o caminho e não o fim em si mesmo. Não se vai à es- pessoa com deficiência como detentora da Síndrome de Peter Pan". Isso cola para ficar sempre na escola, sempre criança. Isso é realmente uma é trecho de um livro do italiano Carlo Lepri, intitulado Quem eu seria diminuição da dignidade das pessoas. A escola tem que ter começo e se pudesse ser. Ele fala que um dos maiores estigmas das pessoas com fim. Ainda que o processo educacional seja eterno, a escola não pode se deficiência é não poder crescer, é ser uma eterna criança. A pessoa não eternizar na vida das pessoas. pode ser uma eterna criança, ela tem que ter vida adulta, independência, O que se aprende na escola é preciso ser exercido na vida. Vai-se autonomia. à escola para exercer na vida o que lá se aprende. Então, temos que ter A escola deve abandonar a visão de reparar, reabilitar, assistir — escola inclusiva, onde já se comece a aprender com o convívio. A pessoa a escola especial faz isso demais —, em favor de um compromisso de deficiente que não convive é pessoa deficiente para a vida — é isso o que incluir e de atuar para fazer eclodir o potencial de cada um. Por isso, a a gente pensa. Na perspectiva das pessoas com deficiência, temos que escola especial deve ser banida da sociedade, da vida das pessoas com combater e eliminar situações que reforçam a deficiência e não cola- deficiência, para que possamos relativizar a situação de deficiência e en- boram para a normalidade. Não podemos admitir, como falei, a eterna riquecer a todos. Quando você vai à escola, você enriquece o seu colega, assistência e a eterna infantilidade. pelos esforços de superação das dificuldades. Isso é um exercício, uma Não estou dizendo que a Fundação Síndrome de Down, as APAES experiência de vida, não uma teoria. Tem que se experimentar a inclu- e outras entidades tenham que fechar. Um dia, talvez — que bom se um são, a inclusão é viver a inclusão. dia a gente chegar lá! Por enquanto, a gente sabe que isso não é possível. Então, a escola não pode ser um lugar onde as pessoas ficarão por Mas as entidades têm o relevante papel de ajudar a sociedade a transpor toda a vida, sem o direito de viver a vida adulta. A escola é um lugar a barreira do aprisionamento, deixando a pessoa com deficiência ir e, de trânsito, onde se transita para o mundo aberto, com perspectivas de enquanto se fizer necessário, apoiá-las devidamente, para aprofundar a 114 115 maturidade exigida e requerida, inclusive pela vida adulta. Ela tem que receber as crianças das escolas comuns. Nós iniciamos um processo de ser adulta, tem que estar no mundo adulto. ressignificação de saberes e conteúdos. Nosso papel de sociedade civil é lutar pelos espaços abertos: esco- Quando eu assumi aquela gestão — estou fugindo da minha fala, la, trabalho, lazer e vida afetiva. Por isso não podemos admitir o retorno mas acho importante dizer isso, porque nós entramos nessa linha —, da escola especial, que vai fazer a exclusão das pessoas na sociedade. nós não tínhamos intérpretes de LIBRAS. Quando eu saí, nós tínhamos Era isso o que eu tinha a dizer. Obrigada. (Palmas.) 277 intérpretes e instrutores de LIBRAS, instrutores surdos. Era uma O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Obrigado, demanda da sociedade civil, e eu dizia para os pais e mães de pessoas Lenir. surdas: "Vocês têm que exigir, porque é um direito de vocês. Vocês têm que cobrar da gestão, porque é um direito de vocês." Agora vejo que não Eu passo a palavra à Cláudia Grabois, Presidente da Comissão da temos como dar um passo atrás. Pessoa com Deficiência do Instituto Brasileiro de Direito da Família. O art. 206 da Constituição fala em igualdade de condições para A SRA. CLAUDIA GRABOIS - Agradeço à Deputada Mara Ga- o acesso e a permanência. Então, pergunto: por que, passados 30 anos, brilli pelo convite. com uma Constituição já madura, nós ainda falamos em preparar Parabenizo a Mesa, o Deputado Eduardo Barbosa e a Deputada escolas, quando as escolas não podem se dar ao direito de já não estar Rejane Dias. preparadas? A política é federal, ela acontece em cima; a implementação Primeiro, eu gostaria de fazer um desabafo: não falemos em banir acontece nas redes municipais. Por que nós temos experiências positivas e varrer ninguém. Nós vivemos em um Estado Democrático de Direito, e negativas? Nós há vontade política em alguns lugares e não há em ou- não importa o tom que isso tenha nem para onde isso caminhe. Não tros. O que eu vejo que falta é monitoramento, fiscalização. Falta diálogo falemos nisso. É um risco muito grande, e nós não podemos ousar neste com as famílias, falta a oitiva, entender o sofrimento do pai e da mãe que momento falar em varrer ou banir ninguém. (Palmas.) foram discriminados desde o nascimento e seus porquês. Falta construir Isso me incomoda. Falar em varrer e banir pessoas me incomoda. em conjunto. Isso não é um processo democrático e me incomoda. Agora, não acho que será atualizando a política que isso vai acon- O Dr. Eduardo sabe que eu sou uma defensora árdua da educação tecer, eu acho será aprofundando a política, porque ela não é engessada, inclusiva como um direito inalienável e indisponível e um direito perso- ela dá a possibilidade de se promover o acesso e a permanência, com a nalíssimo da pessoa. É uma defesa que eu faço já há muitos anos. garantia de todos os recursos, conforme preconiza a convenção da ONU Eu poderia falar também do meu local de referência, que é o local ratificada com quórum qualificado. Isso eu acho muito relevante. O tra- da minha filha, mas eu nem saberia fazer isso dessa forma, porque as balho conjunto, a construção coletiva, o querer fazer um Brasil inclusivo pessoas com deficiência fazem parte de um mundo muito grande. A ex- tem que partir de todos nós, e não vejo como isso pode acontecer sem periência da minha filha não é experiência de outras pessoas. Então, eu partir da escola, sem partir da diversidade humana, da legitimação das parto do princípio de que, com o que eu pude oferecer a ela, ou com o diferenças. É preciso que as pessoas se validem, é preciso que façam que eu não ofereci, não posso fazer disso um paradigma. Por outro lado, sentido, é preciso que todas as pessoas sejam legitimadas, e é preciso que eu tenho que dizer também que eu acho que as APAES exercem um essa construção aconteça. papel fundamental em relação à educação de pessoas com deficiência. Eu vou repetir o que eu sempre disse nas redes em que fiz palestra: Quando fui gestora no Rio de Janeiro, eu enaltecia muito as di- eu acho que as instituições filantrópicas em geral têm um papel funda- retoras de escolas especiais, porque elas sabiam como ensinar, sabiam mental e os profissionais que nelas trabalham ficam gigantes dentro de 116 117 uma escola comum. E este é o meu sonho, é o que eu gostaria de ver na Brasil, sem essa rusga, sem essa questão de que fui eu que fiz, fui eu que educação inclusiva: o trabalho parceiro, a construção, porque, se existem falei, fui eu que coloquei isso. Vamos deixar de lado qualquer coisa pes- recursos disponíveis na escola especial, eles podem ficar disponíveis na soal em prol do bem comum, porque é isso o que manda a Constituição classe comum de uma escola regular — isso é fundamental. (Palmas.) Federal. Vamos validade e legitimar uns aos outros. (Palmas.) Por que não dialogarmos mais, por que não construirmos em Eu queria falar pouco mais sobre Direito, mas não vai ser possível. conjunto e aprofundarmos uma experiência que vem acontecendo desde Para concluir, eu queria pedir uma salva de palmas para a Sra. Maria 2008 e que em muitos lugares deu certo — onde não deu certo foi por Amélia Vampré, que nos deixou este ano. Eu estive com ela poucas falta de vontade política? Eu não me deparei com uma política engessa- vezes, mas sempre de uma forma muito acolhedora. Ela sabia que nós da. A Política Nacional de Educação Especial MEC 2008 não é engessa- tínhamos divergências, mas isso sempre foi muito positivo. (A oradora da, ela possibilita um trabalho aberto, ela possibilita um trabalho com as se emociona.) Ela era uma pessoa de muita luz, de muita garra e uma entidades. Não há nada, nada que diga, por exemplo, que não vá haver o pessoa de vanguarda. (Palmas.) Ela teve a sua vida, a sua luta com o filho bilinguismo. É possível com instrutores de LIBRAS surdos fazer escolas Ricardo, que se transformou em flor. Ela fez um jardim. Ela fez da sua onde haja mais alunos surdos em sala de aula que sejam bilíngues. vida um jardim e nos deixou a mensagem de que nós temos que avançar. Eu não vejo por que temos que ter esse empate sempre tão grande Nós não podemos parar no tempo, nós temos que avançar. em torno da construção da educação inclusiva, doutor Eduardo Barbosa. Estão, na convenção, o princípio do não retrocesso social, o princí- Eu sinto falta, nesse documento do MEC, de um estudo de direito com- pio da solidariedade, da Constituição Federal, e nós temos que assegurar parado e de práticas educacionais inclusivas em outros locais, porque o a todas as pessoas com deficiência que tenham uma vida em sociedade Brasil implementou à sua maneira, mas há experiências mundiais que adequada. são diferentes. Isso seria muito importante até para validar esse trabalho. Deixo, portanto, meu pedido de trabalho em conjunto e de uma De fato, eu só conheci esse documento ontem. Eu estou aqui em nome salva de palmas para Sra. Maria Amélia Vampré. do Instituto Brasileiro de Direito de Família, que tem institutos estadu- Muito obrigada. (Palmas.) ais no Brasil inteiro, e estou aqui também pela Associação Brasileira de Direito à Educação, que vem formando núcleos no Brasil inteiro, mas a O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Obriga- minha mensagem é sempre esta: vamos construir juntos e com, vamos do, Cláudia, pelas palavras, pelas reflexões e pela homenagem à Maria cumprir os preceitos constitucionais, assegurar a igualdade de condições Amélia Vampré. para o acesso e a permanência, assegurar a vida independente e a auto- O Memorial da Pessoa com Deficiência, em São Paulo, fez uma nomia, porque as crianças vão crescer, vão entrar no mundo e no mer- homenagem à Maria Amélia Vampré há 15 dias. Foi uma homenagem cado de trabalho ou, se não entram, elas têm que se sentir pertencendo à linda, e estive lá como grande amigo que fui dela em vida. Como o filho sociedade, e a sociedade é a sociedade de todos. dela, o Ricardo, era da minha idade, ela me considerava como um filho. Nós temos nossos marcos legais, supralegais, a Constituição Fede- O Ricardo estava lá e falou em nome da família. Foi realmente uma ral, temos a convenção e nós temos a LBI, que serviu como instrumento mensagem maravilhosa. A Federação Nacional das APAEs se fez presen- de regulamentação O que não podemos fazer é apagar o trabalho que foi te com sua representação. feito durante 10 anos. Se há críticas ao trabalho, se há críticas ao diálogo, Mais uma vez agradeço a menção à querida Maria Amélia, que foi então façamos agora diferente, mas não vamos agora demonizar nin- fundadora do Movimento das APAEs no Brasil. guém. Isso não. Todos juntos, com as filantrópicas, podemos construir Pois não, Lenir. uma educação inclusiva para todas as crianças, para todas as pessoas no 118 119 A SRA. LENIR SANTOS - Eu queria pedir desculpas por ter usado ser ouvidas. uma palavra que eu não deveria ter usado: "banir". Quero dizer que o A fala de cada um aqui é legítima porque representa a vivência, a que temos é um processo em que vamos cada vez mais aperfeiçoando a experiência e o lugar de onde a pessoa está falando. E, para a construção escola inclusiva, para que realmente possamos abrir mão completamente de um documento que retrate, que reflita de fato a realidade ou atenda à da escola especial, que não é o melhor espaço para as pessoas estarem. diversidade que temos no País, nós precisamos ouvir a todos. Peço desculpas — "banir" não foi a palavra adequada. No calor do O Ministério da Educação, além de ter conhecimento desses acha- momento, muitas vezes dizemos uma bobagem. (Palmas.) dos e de todos esses instrumentos legais, tem conhecimento dos resulta- O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Eu conhe- dos das conferências nacionais das pessoas com deficiência, aqui men- ço a Lenir há pouco tempo, mas já a conheço. Já tivemos aqui alguns cionadas, e tem conhecimento das informações contidas na Observação pega pra capar, mas nos acertamos rapidinho. (Risos.) nº 4, do Comitê de Direito das Nações Unidas, mencionada mais cedo Com a palavra a Sra. Iêdes Soares Braga, da Secretaria de Edu- pelo Miguel. E, ainda acolhendo esse lema da convenção, Nada sobre cação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão — SECADI/ nós sem nós, traz à sociedade brasileira a possibilidade de contribuir em MEC, encerrando esta mesa. momento tão importante da nossa história. A SRA. IÊDES SOARES BRAGA - Boa tarde a todos. Também é importante ressaltar que nós temos aproximadamen- Primeiramente, gostaria de cumprimentar os organizadores do te 170 mil matrículas de estudantes públicos da educação especial que seminário, a Deputada Rejane, a Deputada Mara Gabrilli, e o Deputado estão em classes ou instituições exclusivamente especializadas. Embora Eduardo Barbosa, bem como cumprimentar a Deputada Dorinha, que ainda não tenhamos um histórico da trajetória escolar desses estudantes, esteve conosco durante toda esta tarde. possivelmente muitos deles já estiveram na escola comum. Da mesma forma que muitos que já estiveram na escola ou classe especializada Quero cumprimentar a Mesa, em particular ao Deputado Eduardo também migraram para o ensino comum. Essa é a realidade atual do Barbosa, um histórico defensor dos direitos das pessoas com deficiência País, e nós precisamos dar voz aos 170 mil estudantes que estão nas — que fique claro que defensor dos direitos das pessoas com deficiência, escolas especializadas e aos quase 900 mil que estão nas escolas comuns, não de alguma instituição em particular. bem como às entidades e pessoas que representam esses alunos. Também quero aproveitar para cumprimentar todos os palestran- É com essa postura que o Ministério da Educação coloca à dispo- tes que estiveram conosco nesta tarde pela qualidade, pela riqueza das sição de vocês esse documento de consulta pública, para que o resultado exposições, feitas de forma respeitosa, embora com posições diferentes, desse trabalho corresponda efetivamente à necessidade de todo o nos- num debate feito de forma muito democrática. E eu tenho certeza que so público, uma vez que aquilo que é legítimo para comunidade surda isso impactou positivamente cada um de nós que aqui está representan- pode não ser legítimo para a comunidade dos portadores da síndrome do seja qual for a instituição. de Down. Nós temos uma infinidade de especificações e de particula- Quero ressaltar que esse documento que foi colocado para consul- ridades que nós precisamos ouvir. Nós não podemos ter, num país de ta pública ontem não é um documento do Ministério da Educação. Ape- dimensões continentais, um modelo único que digamos atender de fato nas quero reforçar o que, de certa forma, já foi colocado aqui hoje. Esse a necessidade de todos. (Palmas.) documento é fruto dos achados das consultorias, é fruto das contribui- Então, a proposta da equipe que está colocando esse documento ções de especialistas, é fruto das contribuições de pesquisas nacionais, é para consulta pública é que vocês estimulem, participem, critiquem, opi- fruto — foi mencionado aqui — do Observatório Nacional de Educação nem e façam valer de fato a posição de cada um, para que todas estejam Especial — ONEESP, e é fruto de algumas vozes que também precisam 120 121 representados nesse documento. Concluo aqui esta participação breve dizendo — não só porque componho hoje a equipe da SECADI — que esta é uma oportunidade única. Por ocasião da política anterior, nós não pudemos, por exemplo, participar por consulta pública. Não estou avaliando o momento, mas dizendo que devemos aproveitar esta oportunidade, pois, pela primeira vez, nós estamos vendo um documento da Política Nacional de Educa- ção Especial ser colocado à disposição de todos, que vão poder contri- buir. Ele deverá refletir o que virá das contribuições de vocês. Muito obrigada a todos. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Obrigado, Iêdes. Estamos caminhando para o final. Concedo a palavra à Sra. Depu- tada Professora Dorinha Seabra Rezende.

Descrição da Imagem: Foto colorida parcial da Mesa presidida pela Deputada Mara Gabrilli, que se encontra entre os convidados Antônio Muniz da Silva, à esquerda, e Adriana Buytendorp, à direita. Ao fundo, a intérprete de libras e o Assessor Renato, que segura o microfone para a Deputada Mara.

122 123 assim como no espaço da escola dita regular, que estão tendo condição. Os dois espaços precisam muito de apoio formal — faltam equipamen- tos, condições de trabalho e formação nos dois espaços. (Palmas.) ENCERRAMENTO Sou Relatora de vários projetos que tratam da questão do profis- sional intérprete dentro do espaço da escola. Gostei muito da fala do André sobre o direito que a ele foi garantido e que a muitos não é, por- que nós não temos uma escola inclusiva, e ela nunca vai estar pronta se A SRA. PROFESSORA DORINHA SEABRA REZENDE (DEM - não tivermos como desafio a formação e o enfrentamento. Agora, para TO) - Boa tarde a todos. eu respeitar o espaço da escola eu não preciso dizer "não" a outro espaço. Os espaços precisam ser fortalecidos e podem coexistir como políticas Eu me sinto em grande parte contemplada, principalmente pela públicas. (Palmas.) fala final. Eu não consigo compreender que, para eu respeitar um direito, eu tenha que escolher um único lado, porque não há só um lado. Eu me sinto confortável como Deputada e como educadora. Acho Fui Secretária de Educação do Estado do por quase 10 anos. que nós já temos muitos desafios no Brasil sem disputarmos entre nós. Na época, como Secretária, estabeleci um convênio de apoio com as Nós precisamos de mais recursos. Eu vejo muitas escolas sem estrutura APAEs, que continuo apoiando inclusive hoje, como Parlamentar. Ao física, sem qualidade, sem equipamento, sem informação. Poucos cursos mesmo tempo, acho que não houve Secretária que tenha passado pelo são oferecidos na área de licenciatura com atendimento de qualidade. Estado tendo deixado maior fortalecimento do espaço da escola, do pro- Então, eu acho que nós podemos garantir políticas públicas, recursos e cesso de formação na escola, da estruturação de um espaço educativo. E, ações que promovam espaço verdadeiramente de inclusão. Não é preciso com isso, não me senti tirando direito de A, nem de B, nem de C — as estar na escola regular ou na escola especializada para que haja inclu- realidades são diferentes. (Palmas.) são. É preciso incluir pessoas, dar-lhes cidadania, garantir seus direitos. (Palmas.) Fizemos na época um trabalho muito integrado entre as escolas e as APAEs, em cada cidade, para que a criança ou jovem que tivesse con- Estive aqui a tarde toda e permaneço à disposição. Nós vamos dição de fazer a inclusão contasse com uma parceria. Nós não disputa- continuar neste trabalho. Ainda entendo que nosso maior desafio é ga- mos gente, disputamos atendimento, para fazê-lo com mais qualidade. rantir o direito de escolha às pessoas. Tomara que nós tenhamos disputa, porque todos os espaços estão oferecendo trabalho de qualidade. Eu Acho que é um avanço a produção do documento. Ouvi gente acho que esse é o maior desafio. dizer que não foi consultado, mas o documento está aberto para con- sulta pública. Ou seja, é um documento em construção. Assim como Por fim, quero fazer um apelo: nós precisamos enxergar e ouvir a a Base Nacional Curricular, ele é um documento que está sendo cons- família. Além dos profissionais, também as famílias devem ser ouvidas truído. Acho que este é um momento em que não precisamos escolher sobre os espaços e alternativas de educação, também elas precisam de ou o preto, ou o vermelho, ou o branco, ou o azul. Podemos ter muitas ajuda. cores, sem que isso signifique que se esteja tirando direito de alguém. Ao Parabéns a todos que nos deram esta oportunidade de uma tarde contrário, é uma forma de construir condições para que o direito seja tão rica. exercido. Muito obrigada. (Palmas.) Nós temos muitas situações de crianças e jovens que estão no O SR. PRESIDENTE (Eduardo Barbosa. PSDB - MG) - Muito espaço da escola, da APAE Educadora e em outros espaços educativos, obrigado, Dorinha, pela sua participação, pela sua presença durante 124 125 todo o nosso seminário. Isso só reforça seu compromisso tem com a mim, já é uma conquista muito grande — que não caiu do céu, mas que educação. V.Exa. tem sido, na Câmara dos Deputados, uma referência foi fruto de muito trabalho, de muita luta, da construção de muitas leis, em toda a construção da política. Nós respeitamos muito a posições, a feita com a participação efetiva do meio acadêmico, da sociedade civil postura e o pensamento de V.Exa. e ficamos muito felizes porque conti- organizada e instituições. Creio que hoje podemos dizer que o Brasil nuará conosco na próxima legislatura. Isso para nós é muito bom. tem orgulho de ter uma legislação de ponta, construída graças à militân- Antes de passar a palavra para a Presidente da Comissão, a Depu- cia, que se operou de forma conjunta muitas vezes. tada Mara Gabrilli, que fará o encerramento formal, eu quero também O que nós temos como marco neste momento é tentar, a partir fazer os meus agradecimentos e tecer breves considerações. deste seminário, superar a disputa de poder na educação especial e na Em primeiro lugar, quero agradecer a toda equipe da SECADI e da educação inclusiva. Nós somos responsáveis por isso. Todos nós aqui Comissão da Pessoa com Deficiência do Instituto Brasileiro de Direito estamos no mesmo barco. (Palmas.) da Família, bem como da Comissão de Educação, que com esmero pre- Eu acho que são pessoas que têm história de vida, acúmulo de pararam este evento. Vocês sabem que, neste momento pós-eleição, nós conhecimento, experiência e sensibilidade, senão, nós não estaríamos estamos num processo bem tumultuado dentro da Câmara dos Depu- aqui debatendo. Agora é, mais do que nunca, hora de nos darmos as tados, mas, mesmo assim, garantimos esta discussão antes do término mãos, porque nós somos pessoas de bem. Eu acredito que todos nós que desta legislatura, porque entendemos ser fundamental que a Câmara estamos aqui somos pessoas de bem. (Palmas.) dos Deputados, dado o envolvimento dos tantos Deputados que aqui no Há coisas muito boas na Câmara dos Deputados. Pintam para a dia a dia defendem as questões da pessoa com deficiência, pudesse, por opinião pública que isto aqui é muito ruim. Isso é mentira. Quem vive meio de audiências públicas, levar para o País este debate que se inicia a aqui sabe que não é assim. Isto aqui é a cara da sociedade brasileira. O partir de um documento que será colocado para consulta pública. Nós que nós temos de bom e o que nós temos de ruim está aqui. Às vezes é da Câmara dos Deputados ficamos muito felizes por termos podido muito bom a gente se ver na Câmara, às vezes as pessoas não querem se promover este primeiro passo de discussão do documento. ver, por isso os ataques à representatividade política. Mas a Comissão No meu entendimento, foram mesas riquíssimas. Eu acho que, das de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência é um exemplo para muitas discussões realizadas neste Comissão — creio que a Deputada a Câmara dos Deputados. Nós temos aqui membros de todas as cores Professora Dorinha e as várias entidades aqui presentes devem concor- partidárias em convivência harmoniosa, respeitosa. A Deputada Mara dar comigo —, esta talvez tenha sido uma das mais serenas e com mais poderá confirmar que nunca impusemos um pensamento aqui. Nós conteúdo. No passado, tivemos aqui discussões passionais e não discus- discutimos, retiramos projetos da pauta e conversamos em particular até sões de mérito, que deveriam pautar o processo de formulação de leis. chegarmos ao consenso do que é possível no momento histórico. Eu quero dizer que tenho militância na área há 35 anos e tenho Esse é o papel do Legislativo. Podemos continuar sonhando com muito orgulho da minha história e da minha representatividade. Nesses perspectivas, e é bom que os sonhos não acabem, mas temos que enten- 35 anos, no Parlamento são 24 anos — irei para o meu sétimo mandato der que o Legislativo media as diferenças de concepção e constrói o que —, e só me enriqueci com os debates que aqui foram feitos em relação às é possível no momento histórico. É muito bom às vezes, nós vermos a questões das pessoas com deficiência. Eu sou de uma época em que nós inflamação, mas chega um momento em que o Congresso tem que me- não tínhamos condições de escolha: era imposto à pessoa com deficiên- diar as forças. Isso é democracia. cia o que se tinha. Então, o fato de já termos avançado, de hoje a pessoa Por causa disso mesmo, nós temos que estar muito unidos nos com deficiência transitar nos equipamentos públicos e sociais, isso, para processos que virão, já na Câmara diferente que nós vamos ter. Não se 126 127 preocupem com o Governo Federal. Para o Governo há amarras legais, ro setor e, principalmente às próprias pessoas deficientes — temos tido a fiscalização, instâncias jurídicas. O Congresso, sim, esse me preocupa, capacidade de transformar todas as pessoas. Lutamos muito pela con- porque aqui estamos hoje num processo que não conhecemos muito vivência no ambiente escolar para conseguirmos transformar, e trans- bem, não sabemos qual será o clima de debate a partir do ano que vem. formar para melhor. Eu acho que nós temos no Brasil essa função, que Por isso, sociedade civil e academia aqui presentes, especialistas, nós vai muito além de uma função no mundo das pessoas com deficiência. temos que nos ajuntar, porque os nossos argumentos é que, talvez, sejam Temos sempre que pensar em multiplicar. a contraposição a ideias retrógradas, que não surgirão da revisão de uma Eu queria fazer um pedido para a Patrícia Raposo e para a Iêdes. política, mas de propostas legislativas que poderão vir a ser exitosas. Aí, Temos aqui na Câmara o exemplo da Lei Brasileira de Inclusão, que é sim, nós poderemos perder o bonde da história. considerada o projeto mais democrático que já houve na Casa. Isso de- Essa era a ponderação que eu gostaria de fazer nestes minutos monstra que as pessoas com deficiência estão trazendo democracia e ci- finais desta reunião. dadania para o País. Então, eu queria estender, o mínimo que fosse, pelo Passo a Presidência dos trabalhos à Deputada — eleita Senadora menos até o final do mês, a consulta pública, porque é tão valorosa, é — Mara Gabrilli. (Palmas.) tão importante essa construção coletiva. Acho que a maior carteirada da A SRA. PRESIDENTE (Mara Gabrilli. PSDB - SP) - Vou falar da- Lei Brasileira de Inclusão é esta: ela foi construída pela sociedade civil. qui — não consigo chegar aí. Quando vamos tratar de regulamentação, de muitas coisas no Governo, é uma carteirada dizer assim: "Olha, esta lei não é uma lei qualquer; é O Deputado Eduardo me deixou emocionada. Sempre digo que uma lei que ficou tantos meses em consulta pública que é suprapartidá- ele é o defensor "jurássico" da causa. É muito confortante termos ele no ria". Parlamento, porque sabe nos aliviar das angústias. Além de esse ter sido o primeiro projeto de lei traduzido na ínte- Eu queria cumprimentar a Deputada Professora Dorinha, por gra na Língua Brasileira de Sinais, para surdos poderem contribuir, ain- quem não só eu, mas todos nós temos admiração, por seu discernimen- da foi feito um kit audiência pública, que nós distribuímos para Deputa- to, por sua clareza e por seu compromisso. dos de todos os partidos, para eles fazerem audiências nos seus Estados. O Deputado Eduardo falou de uma entre as várias virtudes desta Foi isso que construiu a lei. Então, olha que poder nós temos nas mãos Comissão: o compromisso. para a construção de políticas de qualidade! Eu posso dizer a vocês que houve um dia em que nós não tínha- Eu peço que nós consigamos estender, o mínimo que seja, para mos essa representatividade tão grande no Parlamento, e houve um dia não atrapalhar depois a análise do documento, esse prazo, para valori- em que não tínhamos política de governo voltada para as pessoas com zarmos cada contribuição, cada sugestão, de cada pessoa, porque essa é deficiências. Por isso presto minhas homenagens a todas as instituições realmente a parte bruta, mas que já vem, de certa forma, meio lapidada, aqui presentes, pois foram elas que construíram o que somos hoje. porque aqui temos muitas pessoas que vivem a causa ou interagem com Eu falava desta Comissão. Ela tem uma característica peculiar: ela. uma força muito grande, que vem da nossa própria diversidade. Essa Além de ter sido eleita Senadora este ano, eu também passo a força é tão grande que dá a esta Comissão poder perante as outras. Às representar, a partir do ano que vem — e acho que esta não é uma con- vezes não notamos, mas trata-se da força da pessoa com deficiência, de quista só minha, mas uma conquista nossa, uma conquista brasileira —, quem trabalha para transformar o País, não só a vida das pessoas com uma cadeira na Organização das Nações Unidas. Será a primeira vez que deficiência. Essa força é um verdadeiro diamante que temos nas mãos. nós teremos um representante na Comissão da ONU sobre os Direitos Nós — quando digo nós, refiro-me ao Legislativo, ao Governo, ao tercei- 128 129 das Pessoas com Deficiência. (Palmas.) Agradeço também a presença dos colegas Parlamentares, das autorida- Eu sou fruto disso. Eu sou fruto das instituições que há no Brasil des e dos demais presentes, que tanto contribuíram para o êxito deste ligadas à causa, que tanto construíram. Eu sou fruto do Eduardo, eu sou evento. fruto da Professora Dorinha. Eu sou fruto das brigas. A parte mais rica nessas discussões é quando conseguimos nos organizar para trazer as Está encerrado o Seminário. diferentes ideias, para que elas nos enriqueçam e para que nós cresça- mos e tenhamos uma concepção de mundo muito maior, que é o que acontece com a pessoa com deficiência. Nós só estamos multiplicando essa característica. Não existe uma pessoa com deficiência neste País que não precise ter determinação para sair de casa, que não precise ter disciplina para sair de casa, que não precise ter força de vislumbrar um futuro próximo para sair de casa, que não precise ter energia de superação para sair de casa. Muitas vezes, dizem: "Puxa, a pessoa com deficiência não está pre- parada para o mercado de trabalho!" Nós sabemos de todas as dificulda- des para estudar, para se qualificar, mas essas pessoas têm uma bagagem que pouquíssimas conseguem ter, porque só a possui quem adquire ou nasce com uma deficiência. O fato de termos conseguido trabalhar isso da forma que estamos trabalhamos aqui — nossa! — prova que são leões tanto as pessoas com deficiência quanto quem trabalha para a causa. Então, eu só tenho que agradecer por tudo que eu recebi por tra- balhar na causa, até por ter quebrado o meu pescoço e podido participar de tudo isto, porque hoje, se eu for olhar para traz, o que tenho é grati- dão. Isso é incrível. Eu termino aqui só dizendo: muito obrigada. (Palmas.) O SR. EDUARDO BARBOSA (PSDB - MG) - Quantas conquistas! Eu vou aproveitar para fazer um comercial aqui: a Lenir hoje está lançando o livro Sistema Único de Saúde — Comentários à Lei Orgânica da Saúde, 5ª Edição, revista e atualizada. Trata-se de uma obra da Lenir Santos e do Guido Ivan de Carvalho. O lançamento será às 19h30min, no Carpe Diem do Brasília Shopping. Quem quiser prestigiá-la apareça lá. (Palmas.) A SRA. PRESIDENTE (Mara Gabrilli. PSDB - SP) - Agradeço aos senhores convidados pela valiosa contribuição para a discussão do tema. 130 131 Descrição da Imagem: Foto colorida de participantes do Seminário - público e expositores; à direita e ao fundo, diversas pessoas em pé e, à esquerda, pessoas sentadas nas bancadas. Detalhe de uma câmera de filmagem sobre um tripé à direita da foto.

132 133 SECRETARIA EXECUTIVA DA COMISSÃO Raquel Aldigueri

EQUIPE DE APOIO TÉCNICO E ADMINISTRATIVO Alba Valéria Gomes de Paula Carmen Cecília Serra Severino Carrera da Silva Ziziane César de França e Silva “Nada sobre nós, sem nós” Lema da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência CNE Amanda Lorena Fonseca Sakayo

PRÓ-ADOLESCENTES Britney Dias Lucas Rodrigues Teodoro

“Agradecemos aos assessores dos gabinetes, das lideranças, bem como aos representantes da sociedade civil organizada e das instituições públicas e privadas que colaboraram com os trabalhos da Comissão durante o ano de 2018”

134 135 Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência - CPD

Câmara dos Deputados - Praça dos Três Poderes Anexo II, Ala A, Térreo, Sala 5 Brasília (DF) - 70160-900 Telefone: (61) 32166971 http://bit.ly/camara_cpd

Descrição da Imagem: Logotipo da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência - CPD. Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência

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