Dramaturgia Em Trânsito
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Universidade de Brasília Instituto de Letras Departamento de Teoria Literária e Literaturas Programa de Pós-Graduação em Literatura e Práticas Sociais DRAMATURGIA EM TRÂNSITO: O TEATRO DE MARIA ADELAIDE AMARAL DA PÁGINA ÀS TELAS Laura Castro de Araujo Brasília, março de 2009 Universidade de Brasília Instituto de Letras Departamento de Teoria Literária e Literaturas Programa de Pós-Graduação em Literatura e Práticas Sociais Laura Castro de Araujo DRAMATURGIA EM TRÂNSITO: O TEATRO DE MARIA ADELAIDE AMARAL DA PÁGINA ÀS TELAS Orientador: Prof. Dr. André Luis Gomes Brasília, março de 2009 Laura Castro de Araujo DRAMATURGIA EM TRÂNSITO: O TEATRO DE MARIA ADELAIDE AMARAL DA PÁGINA ÀS TELAS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Literatura e Práticas Sociais do Departamento de Teoria Literária e Literaturas do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Literatura. Área de Concentração: Literatura e outras áreas do conhecimento. Orientador: Professor Doutor André Luis Gomes - (UnB-TEL) Comissão Examinadora: Professor Doutor André Luis Gomes (UnB-TEL) - Presidente. Professora Doutora Regina Dalcastagnè (UnB-TEL) - Membro. Professora Doutora Rita de Cássia de Almeida Castro (UnB-CEN) - Membro. Professora Doutora Cristina Stevens (UnB-TEL) - Suplente. Brasília, março de 2009 À Luiza, minha mãe e aos meus amigos Agradecimentos À Universidade de Brasília, para sempre palco dos meus sonhos de graduanda, das minhas mais ingênuas e apaixonadas certezas, dos meus castelos desfeitos, da minha juventude de chinelo de dedo e dos meus momentos mais sinceros de aprendizagem. À André Luís Gomes, o primeiro e maior incentivador deste trabalho, a quem serei eternamente grata por inúmeras razões, palavras e gestos, mas principalmente por ter trazido o teatro para minha vida, fato, sem dúvida, dos mais decisivos e mais maravilhosos para os meus caminhos desde então. À José Alfredo Araujo, meu pai, esse pedaço de mim guerreiro e liberto, que em suas quedas e levantes, e em tudo que a vida lhe trouxe e tirou, me mostrou, com uma esperança incorrigível nos olhos, que ainda que nos levem tudo, a sabedoria não nos podem arrancar. Aos meus amigos Pablo Xaud e Verônica Milane, que, ao longo desses dois anos, me arrancaram deste chão da academia, tantas vezes árido, e me levaram pra vastidão da vida lá fora, para dividirmos nossas percepções, fazendo brotar meus entendimentos mais viscerais e necessários sobre o mundo. A minha mãe, minha revisora preferida e a meu irmão, meu companheiro fiel. À Professora Regina Dalcastagnè, pela pesquisa “Personagens do romance brasileiro contemporâneo”, à Professora Cristina Stevens, pela disciplina Teoria e Crítica Feministas e ao Professor Adalberto Müller, pelas aulas de Teoria da Mídia e Literatura. À Maria Adelaide Amaral, pela entrevista concedida e pelos diálogos abertos. Aos colegas de sala de aula, de palco e de grupo de pesquisa. Sumário Resumo, 7 Abstract, 8 Introdução, 10 Capítulo I Maria Adelaide Amaral: a voz em cena, 16 Capítulo II Teatro: entre o texto e a cena, 38 Capítulo III Luísa: ecos e cacos, 53 Capítulo IV Tarsila, da tela às telas, 91 Conclusão, 128 Bibliografia, 134 Anexos Anexo I – Entrevista com Maria Adelaide Amaral, 144 Anexo II – Cronologia da autora, 149 Resumo Esta dissertação é um estudo sobre a dramaturgia de Maria Adelaide Amaral, analisada a partir dos trânsitos com a literatura e a produção teledramatúrgica da autora e pensada no contexto da autoria feminina na dramaturgia brasileira e na História do teatro brasileiro contemporâneo. O recorte analítico é formado pelas peças De Braços Abertos – fruto de um romance inacabado, lançado posteriormente com o título de Luísa, Quase Uma História de Amor – e Tarsila, que inspirou e foi adaptada para sua minissérie Um Só Coração, transmitida pela Rede Globo de Televisão. Palavras-chave: autoria feminina, dramaturgia brasileira, teatro brasileiro contemporâneo, intermidialidade. 7 Abstract This is a study about the dramaturgy of Maria Adelaide Amaral, that was analyzed considering the transit between her literature and television work and thought from the context of Brazilian female playwrights and the History of the Brazilian contemporary theatre. It analyses two of her plays: De Braços Abertos – wrote from an undone novel which was after published with the title Luísa, Quase Uma História de Amor – and Tarsila, that inspired and was adapted to the TV drama Um Só Coração, broadcasted by Globo Television. Keywords: Brazilian female playwrights, Brazilian contemporary theatre, intermediality. 8 "Isso do romance gerar uma peça que gera um romance e suas variações só acontece porque sou basicamente uma autora de teatro." Maria Adelaide Amaral 9 Introdução Este trabalho tem sua gênese nas discussões e resultados de pesquisa do Grupo de Estudos em Dramaturgia e Crítica Teatral (GDCT), da Universidade de Brasília, sob a coordenação do Prof. Dr. André Luis Gomes, quando, ainda graduanda, manifestei o interesse em pesquisar sobre a autoria feminina na dramaturgia brasileira contemporânea. Primeiramente, a razão pela qual me debrucei sobre a dramaturgia publicada por autoras de teatro deveu-se ao fato de termos encontrado uma quantidade escassa de textos teatrais escritos por mulheres, muito aquém do número de publicações dedicadas ao teatro de dramaturgos. Esta constatação impulsionou não apenas a pesquisa, mas a motivação para cobrir uma área, dentro dos estudos teatrais, pouco estudada e valorizada. É importante frisar que já neste ponto da pesquisa, a dessemelhança entre a quantidade de peças de dramaturgas publicadas e o número de dramaturgas brasileiras que tinham seus textos montados foi um forte indicativo que nos levou a questionar como e por que se publica teatro e quais dramaturgas/os chegam, de fato, às prateleiras das livrarias. Isso porque o número de dramaturgas brasileiras contemporâneas em cena é muito maior do que o número de autoras com peças impressas em livro e, principalmente, distribuídas por editoras. 10 Sendo assim, desde já lamentamos não estarem incluídas nesta pesquisa muitas dramaturgas brasileiras, com produções expressivas no cenário contemporâneo, ao mesmo tempo em que nos valemos disso para discutir a maneira como a publicação do texto teatral1 e a formação do cânone estão relacionadas, tendo em vista que muitas autoras não possuem seus textos acessíveis e, por este motivo, dentre outros, correm o risco de estarem fadadas ao esquecimento em futuros estudos teatrais. A relevância dessa pesquisa, portanto, pode ser comprovada quando se estuda a trajetória das mulheres-autoras na história do teatro brasileiro. Se hoje ainda não há o devido reconhecimento às mulheres que atuam no campo da criação teatral, o que pode criar barreiras para que seus textos sejam encenados, num passado longínquo, especialmente dramaturgicamente, elas praticamente inexistiam nesta área. Há documentos que datam do século XVII que proibiam a existência de papéis femininos no teatro dos colégios, a fim de evitar a “excitação ao devaneio ou às paixões” da mocidade. Durante aquela época, já era notória uma espécie de “segregação moral das mulheres de teatro”, o que dificultou bastante o ingresso das mesmas nessa atividade. (LEITE: 1965, 12) Muito imbricada à evangelização da Igreja Católica no Brasil Colônia, quando a prática teatral começa a se popularizar entre comemorações religiosas, constam em relatos da época que as freiras eram responsáveis por performances no interior das igrejas, sendo essa, dentre outras tantas razões, aquela que motivou o clero a proibir espetáculos teatrais nos templos. Além disso, sendo o teatro mal visto pela Igreja, as mulheres desta época eram coagidas a não freqüentá-lo, sendo, portanto, em número bastante reduzido, aquelas que trabalhavam como atrizes, além do que, quando o faziam, eram tomadas como prostitutas, estigma, diga-se de passagem, que se perpetuou durante muito tempo no país. (SOUTO- MAIOR: 2001, 90-117) Na segunda metade do século XIX, no entanto, encontram-se registros de algumas autoras que se aventuraram na dramaturgia e a participação das mulheres no teatro brasileiro da época tornou-se mais ativa tanto como espectadoras e intérpretes, quanto 1 Usaremos o termo dramaturgia e texto teatral com o mesmo sentido, ou seja, para designar o texto escrito, na sua especificidade, anterior à encenação, não significando nem espetáculo, nem literatura. 11 dramaturgas. As primeiras delas eram estrangeiras, como as portuguesas Maria Velluti e Eugênia Câmara e a argentina Joana Paula Manso de Noronha, autoras respectivamente de A Viúva das Camélias (1859), Uma Entre Mil (1860) e A Família Moreu e Esmeralda (1851). A primeira brasileira a ter um texto encenado foi Maria Angélica Ribeiro. No entanto, apesar de ter escrito sua primeira peça em 1858, O Anjo sem Asas, somente após cinco anos e quinze peças escritas, uma delas sobe finalmente aos palcos: Gabriela, em 1863. Esse dado indica que a dificuldade em atuar como dramaturga não se restringia ao ato de escrever, ofício abertamente renegado às mulheres, que inclusive até 1827, não tinham o direito ao ensino primário no Brasil, mas também pela impossibilidade de fazer com que seus textos chegassem às mãos de pessoas efetivamente ligadas à prática teatral, que eram majoritariamente masculinas.2 (Idem, 144) Mesmo com percurso marcado por preconceitos e proibições, as mulheres conseguiram seu espaço no teatro a partir do século XX. Porém, a presença de atrizes no cenário teatral brasileiro