Estudos Arqueológicos De Oeiras
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ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DE OEIRAS Volume 16 • 2008 CÂMARA MUNICIPAL DE OEIRAS 2008 3 ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DE OEIRAS Volume 16 • 2008 ISSN: O872-6O86 COORDENADOR E RESPONSÁVEL C IENTÍFI C O – João Luís Cardoso DESENHO E FOTOGRAFIA – Autores ou fontes assinaladas PRODUÇÃO – Gabinete de Comunicação / CMO CORRESPONDÊN C IA – Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras Fábrica da Pólvora de Barcarena Estrada das Fontainhas 2745-615 BARCARENA Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos Autores. Aceita-se permuta On prie l’échange Exchange wanted Tauschverkhr erwunscht ORIENTAÇÃO GRÁFI C A E REVISÃO DE PROVAS – João Luís Cardoso e Autores MONTAGE M , IM PRESSÃO E AC ABA M ENTO – Europress, Lda. – Tel. 218 444 340 DEPÓSITO LEGAL N.º 97312/96 4 Homenagem a Octávio da Veiga Ferreira Estudos Arqueológicos de Oeiras, 16, Oeiras, Câmara Municipal, 2008, p. 383-408 CORRESPONDÊNCIA SELEccIONADA ENVIADA A O. DA VEIga FERREIRA: CINQUENTA ANOS DE acTIVIDADE ARQUEOLÓGIca (1946-1995) João Luís Cardoso* A correspondência que a seguir se publica, respeita à que O. da Veiga Ferreira recebeu no decurso da sua profícua actividade científica. A importância e diversidade dos seus correspondentes, tanto nacionais como estrangeiros, bem como o interesse das temáticas tratadas, evidencia a relevância das investigações por si conduzidas no País e, por via delas, o prestígio que lhe adveio além-fronteiras. O precioso acervo, que agora se publica, constitui, por outro lado, importante fonte documental para o conhecimento dos condicionalismos que imperaram sobre a prática arqueológica em Portugal nas décadas de 1940 a 1960, e seus principais protagonistas, tanto a título individual como institucional. Dos investigadores representados no epistolário de O. da Veiga Ferreira, apenas se tinha anteriormente publi- cado as cartas que lhe foram enviadas por Abel Viana (CARDOSO, 2001/2002). Publica-se agora o extraordinário conjunto de postais, o qual pormenoriza a imagem já obtida pela leitura do acervo anterior, permitindo conhecer ao pormenor a actividade arqueológica desenvolvida por Abel Viana e O. da Veiga Ferreira entre a segunda metade da década de 1940 e os finais da década seguinte. *** *** *** As missivas publicadas resultaram de uma selecção, por autores, evitando-se a publicação de documentos des- providos de informações de índole arqueológica, tendo sido respeitada a grafia original da documentação. Palavras ilegíveis assinalam-se com (???). O conjunto assim constituído, integra sessenta e seis correspondentes, e foi organizado por ordem alfabética do primeiro nome próprio de cada autor e, depois, por ordem cronológica, publicando-se, por uma questão meto- dológica, os documentos não datados antes dos restantes. 1) A. de Amorim Girão foi Professor Catedrático de Geografia da U. de Coimbra; em 1921, publicou um estudo sobre os monumentos pré-históricos da região de Lafões. É sobre os testemunhos que então identificou que se refere a única missiva endereçada a Octávio da Veiga Ferreira, pondo em causa, de forma algo insólita, a atribuição a dólmen do monumento de Antelas, que declara ter então sido por si referenciado. Na verdade, Amorim Girão não só explorou parcialmente o monumento, em 1917, que então integra na categoria das “antelas”, diferente das “antas”, que considera sinónimo de “dólmenes”, como foi o primeiro a nele identificar pinturas:”as lajes, alisadas na face interna, apresentamuns vivos desenhos em xadrez, a ocre vermelho, estando a tinta per- * Professor Catedrático de Arqueologia e Pré-História da Universidade Aberta. Coordenador do Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (Câmara Municipal de Oeiras) 383 feitamente conservada, mesmo na parte mais directamente exposta à intempérie” (GIRÃO, 1921, p. 36). Ainda bem que a sua curiosidade não foi ao ponto de explorar integralmente este notável megálito, pois se assim fosse, certamente das célebres pinturas, já hoje nada deveria restar. 2) António García y Bellido, Catedrático de Arqueologia da Universidade Complutense de Madrid, foi espe- cialista do Período Romano, tendo desempenhado diversos cargos oficiais em instituições espanholas ligadas à Arqueologia. Em Portugal, fez parte da Academia Portuguesa da História e da Associação dos Arqueólogos Portugueses. A segunda e última das missivas, tem interesse por evidenciar a importância que, em Espanha, eram seguidas certas descobertas arqueológicas efectuadas em Portugal, no caso o célebre “oenochoe” tartéssico de bronze, de Torres Vedras, publicado por Octávio da Veiga Ferreira e L. Trindade, em 1965. 3) António H. de Oliveira Marques foi ilustre Professor Catedrático de História da UNL. Grande amigo de Octávio da Veiga Ferreira, deve-se à sua iniciativa a contratação deste como docente da referida Universidade. A única carta conservada reporta-se ao artigo que Octávio da Veiga Ferreira publicou, em 1983, no livro de home- nagem dedicado a Oliveira Marques por ocasião dos seus 25 anos de labor científico, sobre cartas de arqueólogos e paleontólogos célebres, objecto do agradecimento do homenageado. 4) Ana Maria Muñoz Amilibia, que terminou a sua carreira científica como Catedrática de Pré-história da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), distinguiu-se, no meio arqueológico espanhol, pela sua dissertação de doutoramento sobre o Neolítico da Catalunha, publicada em 1965, trabalho que constituiu referência para os estudos desenvolvidos em Portugal por Octávio da Veiga Ferreira, revelando-se especialmente importante para o enquadramento cronológico-cultural dos espólios funerários daquela época. A única carta de correspondência evidencia a permuta de publicações entre ambos, aludindo-se ao referido trabalho, retribuído por Octávio da Veiga Ferreira com outros, entre os quais a importante Memória sobre o monumento da Praia das Maçãs (LEISNER, ZBYSZEWSKI & FERREIRA, 1961). 5) A. Nunes de Oliveira, Director-Geral do Património Cultural, endereçou uma única misiva a O. da Veiga Ferreira, a qual tem interesse, por documentar que, apesar de forte campanha contra este movida em 1975 por muitos dos que, em Portugal, se dedicavam à Arqueologia, o seu prestígio manteve-se intacto, ao ponto do órgão da tutela lhe ter dirigido convite para a leccionação do curso de prospecção arqueológica, que foi aceite. 6) A correspondência com Abel Viana agora publicada corresponde a 327 especímenes, na quase totalidade postais, que se somam ao acervo já dado a conhecer (CARDOSO, 2001/2002), representado por missivas de maior extensão. Ficaram ainda por publicar, dada a extensão ser incomportável com a natureza desta obra, alguns postais de menor relevância. O conjunto dado a conhecer reflecte de forma rigorosa – até pela quantidade – a natureza da relação estabelecida entre Octávio da Veiga Ferreira e Abel Viana. Desenvolve-se entre 21 de Agosto de 1947 e 15 de Dezembro de 1963, abarcando deste modo todo o percurso da colaboração entre ambos. Com efeito, o primeiro documento reporta-se às explorações arqueológicas conduzidas nas Caldas de Monchique, iniciadas por José Formosinho e Abel Viana, das quais os primeiros resultados vieram a lume na revista Ethnos, em 1942, a que se juntou, de seguida, O. da Veiga Ferreira., enquanto o último é um lacónico postal de Boas Festas Natalício, redigido cerca de dois meses antes do falecimento súbito de Abel Viana, ocorrido a 13 de Fevereiro de 1964. Pelo meio, desenvolve-se um manancial de informação, desde os mais importantes projectos de investigação que realizaram em conjunto – além das explorações arqueológicas das diversas necrópoles pré-históricas da região das Caldas de Monchique, avultam as explorações dos monumentos sepulcrais baixo alentejanos e das Beiras, a par de muitas outras informações sobre investigações arqueológicas respeitantes a outras épocas e lugares, que dão testemunho do vigor e ânimo que caracterizaram os mais de quinze anos de explorações arqueológicas realizadas em conjunto, com a comparticipação de outros amigos, amiúde referidos na correspondência como 384 Georges Zbyszewski, José Formosinho, Ruy Freire de Andrade, Albuquerque e Castro, Camarate França, Afonso do Paço e poucos mais. Tão grande produtividade, resultante de uma entrega total à investigação arqueológica, que apaixonava e irmanava ambos, só se explica por via de uma cumplicidade total; apesar da ascendência natural que Abel Viana detinha sobre Octávio da Veiga Ferreira, não só pela diferença de idades, mas sobretudo pelo superior nível de conhecimentos e maturidade cientifica que detinha. Tal ascendência era naturalmente reconhecida e aceite por O. da Veiga Ferreira, que acatava todos os inúmeros conselhos de Abel Viana, tratando-o por “Mestre” e, entre amigos, por “Tio Abel”. Algumas missivas denotam a profunda afeição que Abel Viana dedicava a Veiga Ferreira, ultrapassando, de longe, a mera consideração e cordialidade: é o que se deduz do postal de 17 de Janeiro de 1954 em que trata Octávio da Veiga Ferreira de “Pecten Caganifas” – alusão aos estudos sobre os Pectinídeos Miocénicos que este então desenvolvia – assinando, ele próprio, a missiva como “Paleoantropus bejensis”. O conjunto epistolar de Abel Viana que ora se publica é, também, uma importante fonte informativa sobre a prática, as metodologias, e os principais personagens da Arqueologia portuguesa do pós-guerra, até inícios da década de 1960, bem como as relações estabelecidas com arqueólogos além-fronteiras (especialmente espanhóis), completando, como se referiu atrás, o acervo epistolar publicado anteriormente, tanto