640 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL os quaisresultados foram Alice SetúbaleAnnaHelena Hamilton H.Silva Carvalho e financiamento daFundação educadores egestores com iniciativa daFundaçãoTide de Estudos ePesquisas em Altenfelder, bemcomo aos Luciana Silva. Osrelatórios crítica dediversos colegas Fapesp. Otratamento dos 2011, passou acontar com Thomé daSilva colaborou a quemagradecemos, em Educação, Cultura eAção especial, aJoséFrancisco do Estado deSãoPaulo – Setúbal, emparceria com diferentes pesquisadores, desenvolvida peloCentro equipe depesquisadores Brant deCarvalho, Maria Neres. DanielWaldvogel no georreferenciamento Soares, MariadoCarmo Paulista, porJúlioMaria resultados depesquisa, realizado porFrederica contaram com aleitura Padilha eotrabalho de dados quantitativos foi debatidos emdistintos A investigação foi uma a FundaçãoItaúSocial Comunitária – Cenpec. de Amparo àPesquisa campo emSãoMiguel e oUnicef. Apartirde Este artigoapresenta de dados.Integram a Maria Alice Setúbal, coordenada por fóruns. SOCIAIS •EDUCAÇÃO DESIGUALDADES • EDUCACIONAIS DESIGUALDADES • METRÓPOLE mento domodeloinstitucional que orientaaorganizaçãoescolar. de desvantagem,apresentarem ascondiçõesnecessáriasparagarantirofunciona- gem desuasescolasnoquasemercado escolaroculto;edificuldades,dadaessaposição população escolaremestabelecimentosdeensinonelelocalizados; posiçãodedesvanta- reduzida ofertadematrículaeducaçãoinfantil;concentração esegregaçãodesua exerce pormeiodecincomecanismosarticulados:isolamento daescolanoterritório; cidas. Mostratambémqueoefeitonegativodoterritóriovulnerável sobreaescolase mais limitadatendeaserqualidadedasoportunidadeseducacionais poreleofere- maiores osníveisdevulnerabilidadesocialdoentornoestabelecimento deensino, da regiãolestedomunicípiodeSãoPaulo.Aanálisedosdados mostraque,quanto lógicos denaturezaquantitativaequalitativa,tendocomocampo umasubprefeitura dela, odesempenhodosestudantes.Ainvestigaçãoconjugou procedimentosmetodo- da vizinhançaescolaimpactamaofertaeducacionalquealiserealizae,pormeio consistiram em apreenderse e como desigualdades nos níveis de vulnerabilidade social do efeitodeterritóriosobreasoportunidadeseducacionais.Seusobjetivosespecíficos Este artigo apresenta resultados de pesquisa cujo objetivo geral foi explorar a hipótese RESUMO ANTÔNIO AUGUSTO GOMESBATISTA MAURÍCIO ÉRNICA VULNERÁVEL A VIZINHANÇA METRÓPOLE E A ESCOLA, A Outros Temas Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 641

MAURÍCIO ÉRNICA MAURÍCIO ANTÔNIO AUGUSTO GOMES BATISTA ANTÔNIO AUGUSTO CT

TRA

METROPOLIS’ SCHOOLS EDUCATIONAL EDUCATIONAL INEQUITIES • SOCIAL DISADVANTAGES •

ABS aimed at exploring the neighborhoodThis paper presents the results of a study effect level of social vulnerability hypothesis, grasping if and how inequalities in the education offeredof school’s neighborhoods impact both the by school and student’s research procedures were do this, quantitative and qualitative performance. To of the of . The results ofemployed to collect data in the outskirts the analysis showed that the higher the level of social vulnerability in the school’s createdwas the quality of the educational opportunities neighborhood, more limited by the school. Results also demonstrated that the negative effect of the vulnerable territory on the school happens through five articulated mechanisms: the school’s segregationpreschool enrollments; the of rates low the territory; the within isolation theof its intellectual population in the teaching establishments located therein; disadvantageous position occupied by schools localized in neighborhoods with high social vulnerability in the hidden educational quasi-market; and the school’s to offer given its unfavorable position, difficulties, the conditions needed to secure the institutional model of operation that guides school organization. NEIGHBORHOOD THE VULNERABLE THE VULNERABLE METROPOLIS, AND AND METROPOLIS, THE SCHOOL, THE THE THE SCHOOL, 642 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL R suas dimensões édenaturezametodológica. Enquantoestudos deins- educacional (BENAYED, POUPEAU, 2009;RIBEIRO,KOSLINSKI,2009a). dades escolaresassociadas àestratificaçãosocialeàscondiçõesdeoferta bilidade renovadadecompreensão daproduçãoereproduçãodedesigual- importa noentendimento daquestãoeducacionalofereceriaumapossi- do nosúltimosanos.Paramuitosdeles,ahipótese dequeoterritório do territórioexercemsobreasoportunidadeseducacionais vêmcrescen- duos (MAURIN, 2004). ficamente, oimpactodoterritóriosobreosdestinos escolaresdosindiví- dos habitantes”(MALOUTAS, 2011,p.288).Designam,ainda,maisespeci- ciais desuapopulaçãosobre“ascondiçõesvidae amobilidadesocial 2011) designamoimpactodolocalderesidênciaedas característicasso- ção” ou“deterritório”(MAURIN, 2004),“devizinhança”(MALOUTAS, de aumentarocapitalsocial(BOURDIEU,1997;KOWARICK, 2009). bairro demoradia;achanceounãoselecionarocírculorelaçõese ximidade dotrabalho;oprestígioouestigmaàsimplesenunciação de transporte, saneamento, hospitais,bibliotecas;amaior ou menor pro- dade ouoafastamentodebens,comoequipamentoseducativos,meios espacial. Dáaunsenegaoutrosbenefíciosdelocalização–proximi- caracterizam naorganizaçãodeseuespaço,sobaformasegregação trópoles objetivamereificamasdesigualdadessocioeconômicasque ICAS, EC ONÔMICAS ECULTURALMENTE A existência, porém,desseefeitoéobjeto dedebate.Uma Os estudos queabordam as consequências queascaracterísticas As expressões “efeito de lugar” (BOURDIEU, 1997), “de segrega- , masprofundamentedesiguais,asme- Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 643 MALOUTAS, 2011; MAURIN, 2004). Essa dificuldade tem tem 2004). Essa dificuldade 2011; MAURIN, MALOUTAS, KAZTMAN, RIBEIRO, 2008; RIBEIRO, KOSLINSKI, 2009a; KAZTMAN, RIBEIRO, 2008; RIBEIRO, KOSLINSKI, 2009a; Ao sintetizarem esse debate, Ribeiro e Koslinski (2009a) desta- esse debate, Ribeiro e Koslinski (2009a) Ao sintetizarem sobre a existência do Se a primeira dimensão da controvérsia Uma vez que as metrópoles da América hispânica e do Bra- piração etnográfica observam laços entre as características dos terri - dos características as laços entre observam etnográfica piração dados que priorizam pesquisas condições de escolarização, tórios e as das isolar a influência afirmam ser difícil quantitativa de natureza de outros do peso sobre a escolarização do território características - como os condicionan sociais e escolares, de trajetórias condicionantes tes da família (­ da quantitativas evidências a buscar pesquisadores alguns motivado os mecanis- de território e a procurar identificar existência do efeito 2008; RIBEIRO, 2010). BROCCOLICHI, (BEN AYED, mos que o produzem cam que a dificuldade de apreender por meios quantitativos o efeito de apreender por meios quantitativos cam que a dificuldade formas as lado, um de entre, desencontro do advir pode território de dos mecanismos ou território e, de outro, a natureza de caracterizar o um problema, em que produziriam seu efeito. Haveria processos sociais territoriais as classificações pois análise, de escala de lugar, primeiro de processos sociais que se- de nível macro impediriam a compreensão ainda, e meso-sociológicos. Haveria riam verificáveis em níveis micro mesmo, do fenômeno de demarcação um problema em segundo lugar, do território priorizariam o status pois as caracterizações quantitativas sendo que seu efeito se produziria socioeconômico de sua população, socio- natureza de primeira, uma dimensões: duas por prioritariamente so- e pelos modelos sociabilidade formas de pelas quer dizer, cultural, RIBEIRO, 2008; ALVES, 2005; al., et (TORRES território no vigentes ciais natureza de segunda, uma e por 2009), SANT’ANA, 2009b; KOSLINSKI, quantidade e qualidade dos serviços político-institucional, isto é, pela (TORRES et al., 2008). públicos existentes nesses territórios metodológica, a segunda é de natu- efeito de território é de natureza terri- o que de hipótese à favoráveis argumentos Os contextual. reza efeito teria incidência diferente de tório importa consideram que seu e do Estado sob análise (MALOUTAS, acordo com o perfil da sociedade em 2011). Dessa forma, o efeito de território seria mais significativo e realidades marcadas por uma grande desigualdade socioeconômica - educacional, por uma intensa segregação sociocultural e/ou por con de textos em que não se consolidou um Estado de Bem-Estar capaz universalizar direitos. sil são fortemente segregadas e a universalização de direitos, pouco por alguns pesquisa- consolidada, essa hipótese vem sendo invocada, dores, como um importante elemento para a compreensão de seus problemas educativos (TORRES et al., 2005; TORRES et al., 2008; ALVES et al., 2008; ­ SANT’ANA, 2009). Apesar disso, nem sempre se encontram evidências 2009). Apesar disso, nem sempre se encontram evidências SANT’ANA, empíricas que autorizariam o estabelecimento de relações explicativas 644 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL baseados nasestimativas da Os dadospopulacionaissão Fundação Seadepara 2007. (http://www.nossasaopaulo. Para consultar indicadores org.br/observatorio/index. da Rede Nossa São Paulo IPVS (http://www.seade. o Observatório Cidadão gov.br/projetos/ipvs/) e Vulnerabildiade Social– no território paulistano, ver oÍndice Paulista de de desigualdadesocial php). 1 contribuindo porvezesparareforçar visões genéricassobreas regiões dagem de diferenças que se estabelecem dentro dessas circunscrições, tâncias, mastemseuslimites. Oprimeiroéquenãopermiteaabor- administração pública.Essa opçãopodeserválidaemcertascircuns- o fato de que eles são unidades criadas a partir das necessidades da como asmenoresunidades deanáliseterritorial,semproblematizar dam acidadeconsideramosdistritosoucircunscrições equivalentes zar asdiferençasexpressasnoterritóriourbano,os trabalhosqueabor- fim de definir as categorias para segmentar espacialmente e caracteri- territorial eoutraconcernenteànaturezadosdados. Usualmente,a gias principais,umarelativaàformadesegmentação eclassificação des decaracterizaçãodoefeitoterritóriopormeio deduasestraté- territorial dasdesigualdadessociais. nas metrópoles,emespecialcomaquelesinteressadosnaexpressão dos – sobretudobrasileiros–arespeitodasdesigualdadeseducacionais os principais processosde interpretação dosdadosdialogamcom estu- produziriam. A quarta e última parte, por fim, busca explicitar como parte volta-separaadiscussãodosmecanismosouprocessosqueo dos a respeito das evidências obtidas do efeito do território. A terceira senta seudesenhometodológicoeasegunda,osprincipaisresulta- investigação eparaissoseorganizaemquatropartes.Aprimeiraapre- que aliserealizae,pormeiodela,odesempenhodosestudantes. região estudadaimpactamaescolanelasituadaeofertaeducacional sigualdades nosníveisdevulnerabilidadesocialpresentesnointeriorda 2008). Seusobjetivosespecíficosconsistiramemapreenderseecomode- oferecidas pelaescola teressou àinvestigação voltar-separasuaaçãosobreasoportunidades e asoportunidades educacionais dosindivíduosquenelehabitam, in- po educacionaltendemasevoltarparasuaaçãosobre­ apresentam. Se,porém,osestudossobreoefeitodoterritórionocam- les, foioobjetivogeraldapesquisacujosprincipaisresultadosaquise para acompreensãodosproblemaseducacionaisnasgrandesmetrópo- qualidade devidamaisbaixosqueosdasáreascentrais domunicípio subprefeitura, comcercade400milhabitantes, tem indicadoresde da noextremoLestedomunicípiodeSãoPaulo.Demodogeral,essa A pesquisafoirealizadanasubprefeituradeSãoMiguelPaulista,situa­ METODOLOGIA nho dealunos( entre condiçõessocioeconômicasdeunidadesterritoriaiseodesempe- As escolhasmetodológicasprocuraramlidarcom as dificulda- Este artigotemporfinalidadeapresentarasconclusõesdessa Explorar ahipótesedoefeitodeterritório,modocontribuir SOARES etal., ­ que neleselocaliza(BENAYED, BROCCOLICHI, 2008). performance 1 . Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 645 2 e no município No Estado considera-se, de São Paulo, escolar, a matrícula para de 2 km, medido um raio pela pelo CEP declarado porém, Optou-se, família. entre dada a proximidade por um da região, as escolas o que permitiu menor, raio uma maior diferenciação elas e seu entorno. entre . 2 ensino Desse modo, ao se optar por estudar as desigualdades no interior optar por estudar as desigualdades Desse modo, ao se coleta- dados dos natureza à respeito diz estratégia segunda A dos territórios à população se referem quantitativos dados Os Os dados qualitativos foram produzidos por meio de uma pes- periféricas. Um segundo limite é que essas categorias tomam por equi - por tomam categorias é que essas limite segundo Um periféricas. a – sempre considerando diferentes, como realidades muito valentes paulistana –realidade mil habi- com mais de 400 do Grajaú, o distrito Por fim, 10 mil moradores. com cerca de o da Barra Funda, tantes, e dos que as fronteiras quando se observa limite se revela um terceiro tais como adequadas para identificar os territórios distritos não são a população quais relações sociais pelas das partir definem a se eles - por exemplo, a Ave significado ao espaço urbano; transforma e atribui de referência da e significada como um território nida Paulista, vivida em quatro distritos e três subprefeituras. cidade, está distribuída de uma região periférica – a da subprefeitura de São Miguel Paulista –, – a da subprefeitura de São de uma região periférica organizaram- considerada como um todo homogêneo, que costuma ser - aproxi se pretendem que territoriais unidades de partir dados a os -se das experiências cotidianas dos agen- mar ao máximo possível da escala o setor censitário como a menor tes locais. Para esse fim, considerou-se dos dados. A primeira vantagem é unidade territorial de classificação pois comparável, escala uma sempre tem urbano censitário setor o que de cerca de 300 domicílios. A ele é definido a partir do agrupamento em censitários setores agrupar os é possível que vantagem é segunda sobre informam que campo, de dados dos partir a maiores unidades os territórios em que vive. como a população delimita e define de natureza quantitativa quanto de dos. Articularam-se dados tanto natureza qualitativa. buscam assegurar direitos sociais e às recortados, aos equipamentos que os alunos escolas e as sendo que alunos, e seus das escolas características consideradas. Eles abrangem o foram as principais unidades de análise da subprefeitura, incluindo suas conjunto da população e do território Esses dados permitiram traçar um 61 escolas públicas e seus alunos. painel descritivo que revela a correlação entre as diferenças nos níveis Em- educacionais. diferenças as e território do social vulnerabilidade de e da exposição ao longo sejam apresentadas utilizadas variáveis bora as - análise dos dados, é importante destacar que a caracterização do territó de rio em torno das escolas foi feita a partir da média do Índice Paulista censitários tocados em um raio Social – VS – dos setores Vulnerabilidade de 1 km a partir de cada estabelecimento de ­ quisa de campo de inspiração etnográfica. Desenvolvida durante o ano Desenvolvida quisa de campo de inspiração etnográfica. das letivo de 2009, foi realizada em cinco escolas de ensino fundamental - diferen representar a modo de selecionadas municipal, e estadual redes tes casos de combinação de três fatores retidos pela análise de natureza da quantitativa: i. maior ou menor heterogeneidade ou homogeneidade 646 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL conforme ocaso, ou amédia isoladamente com osdados ou oAPdoúnico segmento de 2007, poisaté novembro de campo, pôde-seanalisar que rege asescolas, ambos do APdosdoissegmentos, si eaomodeloinstitucional cerca de40 unidades.Para amostras nãocoincidentes Com osdados dotrabalho outras. Esse procedimento a realidade decadaescola com baseeminformações escolas estabelecem entre sobre ofuncionamento de permitiu apreender alguns divulgados osmicrodados de escolas, cadaumacom Foram utilizadososdados processos oumecanismos relação àmédialocal,que e as condições degestão motivos. Primeiro porque é semelhante àmédiado de padronização doIdeb Optou-se poressa forma da Prova Brasil edoIdeb escolar decadaunidade. com implicaçõespara as interdependência queas do EF1(1ªa4ª)eEF2 o cálculodoAPdecada os segmentos doensino de 2011 nãohaviam sido município deSãoPaulo. formas desociabilidade unidade, consideramos, variações internas, com (5ª a8ª),teríamos duas gerais queatuam entre Segundo porque havia, as escolas equefazem de análisecomparativa região, sendoquenem em 2007, 61 escolas na de serem identificados referem àsrelações de todas ofereciam todos se fôssemos trabalhar Como severá, elesse permite identificaras tenha consequências ofertado pelaescola. das escolas pordois fundamental. Assim, mas quesãodifíceis com queoterritório da ediçãode2009. sobre qualidadeda oferta educacional, quantitativamente. 4 5 3 tendem asersuasnotasnoIdeb em queasescolasestãosituadasterritóriosvulneráveis, menores as escolasestãolocalizadas.Quantomaissãovulneráveis osterritórios de acordocomosníveisvulnerabilidadesocialdo territórioemque AP do território.O eixo verticalrepresenta o afastamento padronizado – de 1kmseuentorno.QuantomaioroIPVS, avulnerabilidade nível devulnerabilidadesocialdasescolas,medido peloIPVSdoraio territórios maisoumenosvulneráveis.Oeixohorizontal expressao ­Paulista deacordocomseudesempenhonoIdebe sualocalizaçãoem de ensino da esc Vulnerabilidade doentorno outra foiobtidaapartirdodesempenhodosalunosnaProvaBrasil. cacional. UmafoiobtidaapartirdodesempenhodasescolasnoIdeb; vulnerabilidade social doentorno da escolaeaqualidadeofertaedu - dades educacionaisporeleoferecidas. mento deensino,maislimitadatendeaserqualidadedasoportuni- maiores osníveisdevulnerabilidadesocialdoentornoestabeleci- la e as oportunidades educacionais oferecidas aos estudantes: quanto níveis devulnerabilidadesocialdoterritórioondeselocalizaaesco- Os dadosrevelamaexistênciadeumacorrelaçãoentrevariaçãodos AS EVIDÊNCIAS DOEFEITO DETERRITÓRIO das escolas,umprocedimentoquesereveloubastanteprodutivo lidação dasconclusõesdotrabalhocomosdiretoresecoordenadores e asprimeirasanálisesestruturadas,foiorganizadoumdebatedeva- administrativa da escola. Quando os resultados já estavam organizados to doensinofundamental,bemcomoosmembrosdaequipetécnicae zaram osdocentesdassériesfinaisdoprimeiroesegundosegmen- ção eaentrevista;foramrealizadosnavidacotidianadaescolapriori- escola; iii.melhoroupiordesempenhodasescolasnoIdeb. rais familiares;ii.maioroumenorvulnerabilidadesocialdoentornoda composição deseucorpodiscente,acordocomseusrecursoscultu- idêntico àmédia dasubprefeitura.Quando oIdebdeumaescola está ensino fundamental. O AP = 0 significa que a escola tem desempenho considerando odesempenho dasescolasnassériesiniciaisefinaisdo Miguel Paulista.Eleestá padronizado emunidadesdedesvio-padrão, 5 – do Ideb das escolas em relação à média da subprefeitura de São Os resultadosdoIdebdasescolasdeSãoMiguelPaulistavariam O gráfico mostra adistribuição das escolasde São Miguel Há duasevidênciasquerevelamacorrelaçãoentre os níveisde Os principaisprocedimentosdecoletaenvolveram aobserva- ola eIdebdoes t abelciment 4 , comoevidenciaográfico1.

o

3 . Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 647 6 o Ideb do Em 2007, era município de São Paulo de 4,5 no EF1 e 3,8 no EF2. da subprefeitura As escolas no Ideb 4,17 registraram no EF2. Segundo EF1 e 3,72 pelo feita a classificação Cidadão da Observatório São Paulo, Nossa Rede dados colocam esses de São a subprefeitura aquelas com Miguel entre do resultados os piores especialmente município, nas séries iniciais do ensino fundamental (http://www.nossasaopaulo. org.br/observatorio/index. php). 7 um por construir Optou-se o indicador que expressasse que diz mais capital cultural, dos recursos diretamente demandados pelo sistema selecionou-se Assim, escolar. de variáveis um conjunto no questionário presentes da Prova socioeconômico que informassem Brasil duas dimensões do sobre (BOURDIEU, capital cultural 2008; MOORE, 2008): e o o institucionalizado feitos, Nos testes objetivado. mais indicador foi esse das à captação sensível educacionais que variações o que foi o NSE tradicional, importante particularmente com dado que se trabalhava de apenas 61 um universo utilizar Preferiu-se escolas. “recursos a expressão se aborda porque culturais” aqui um grupo social que não detém parte em grande no rentável o capital cultural e no espaço mundo escolar social.

. 6 familiares estudam em escolas situadas nas familiares estudam em escolas situadas nas 7 unos A segunda evidência do efeito de território é dada pelo desem- O gráfico 1, além de mostrar que o nível de vulnerabilidade o nível de vulnerabilidade O gráfico 1, além de mostrar que áreas mais vulneráveis, o conjunto deles tende a ter desempenho pior áreas mais vulneráveis, o conjunto deles tende a ter desempenho pior - do que quando alunos desse mesmo grupo estudam em escolas locali zadas nas áreas menos vulneráveis. Por sua vez, alunos com maiores recursos culturais têm notas mais baixas quando estudam em escolas localizadas em territórios com alta vulnerabilidade social. l a e desempenho dos escola da do entorno Vulnerabilidade RASIL, 2007b). e Inep (BRASIL, 2004, 2007) Fundação Seade (SÃO PAULO, Fonte: de campo onde o trabalho as unidades escolares indicam no gráfico Obs.: Os quadrados foi realizado. foi GRÁFICO 1 GRÁFICO E IDEB/07 ESCOLA DA DO ENTORNO SOCIAL BILIDADE VULNERA situado abaixo da média da subprefeitura, recebe um valor negativo. valor negativo. um recebe da subprefeitura, da média abaixo situado positivo acima da média, Quando penho dos alunos. Crianças com os mesmos recursos culturais têm penho dos alunos. Crianças com os mesmos recursos culturais têm do social vulnerabilidade de nível o conforme diferentes desempenhos local em que se situa a escola em que estudam. Quando alunos com baixos recursos culturais social do território é uma variável importante para o entendimento importante para o entendimento social do território é uma variável identificar três grupos de escolas das diferenças entre escolas, permite social de seu entorno. Eles estão in- quanto ao nível de vulnerabilidade assim apresentados. As escolas situ- dicados pelas elipses e podem ser social, cujo IPVS é menor adas em territórios de baixa vulnerabilidade da média local, sendo que parte que 3,0, quase sempre têm Ideb acima entre dois e três desvios-padrão expressiva desse grupo tem resultados em territórios de média vulnerabili- da média local. As escolas situadas 3,0 e menor que 3,6, compõem um dade social, cujo IPVS é maior que porém, a maioria das esco- grupo com grande dispersão de resultados; média local. As escolas situadas em las desse grupo tem Ideb acima da social são aquelas cujo IPVS é maior territórios de alta vulnerabilidade abaixo da média local. que 3,6 e que quase sempre têm Ideb 648 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL seguintes níveis: abaixo do Resposta aoItem –TRI –e básico, básico, adequado metodologia, aTeoria da Para cadasérieavaliada, a mesmaescala(http:// Saeb –,doqualoIdebé parte, utilizamamesma e avançado. OSaresp e Paulo – Saresp –traduz do Rendimento Escolar os resultados daescala o Sistema deAvaliação o Sistema deAvaliação da Educação Básica – saresp.fde.sp.gov.br). de proficiências nos do Estado deSão 8 de LínguaPortuguesa2007 de quarta série pelo nível de proficiência alcançado na Prova Brasil Fontes: FundaçãoSeade (SÃOPAULO, 2004);Inep(BRASIL, 2007a; 2007b). RECURSOS CULTURAIS FAMILIARES NAPROVA BRASIL PROFICIÊNCIA EMLEITURADOS ALUNOS DE4ªSÉRIECOM MAISALTOS VULNERABILIDADE SOCIALDOENTORNO DA ESCOLA ENÍVELDE GRÁFICO 3 Fonte: FundaçãoSeade(SÃOPAULO, 2004);Inep (Brasil, 2007a; 2007b). RECURSOS CULTURAIS FAMILIARES NAPROVA BRASIL/2007 PROFICIÊNCIA EMLEITURADOS ALUNOS DE4ªSÉRIECOM BAIXOS VULNERABILIDADE SOCIALDOENTORNO DA ESCOLA ENÍVELDE GRÁFICO 2 vulnerabilidade socialdoentornodaescolaemqueestudam. Os gráficos2e3aseguirmostramdistribuiçãodosalunos 8 , relacionandoessavariávelaonívelde Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 649 9 os já se indicou, Como dos alunos resultados de categorizados foram as expectativas com acordo do de aprendizagem Nos dois gráficos, Saresp. porém, retiveram-se, apenas as expectativas extremas ou categorias e do básico” (“abaixo e avançado”), “adequado pois são as que ilustram melhor as diferenças destacar. que queremos elas há a categoria Entre cujos dados são “básico”, de difícil interpretação, que podem uma vez a melhoria indicar tanto ao nível relação com estagnação como inferior, aos relação com ou piora Assim, superiores. níveis as entre as diferenças das somas dos percentuais e 100% de cada cor barras da o percentual representam “básico”. categoria . 9 O gráfico 2 revela que, quando alunos com baixos recursos cul- que, quando alunos com baixos O gráfico 2 revela com o grupo de alunos com O gráfico 3 indica o que acontece Há, porém, uma diferença entre os dois gráficos. Enquanto o o Enquanto gráficos. os dois entre diferença porém, uma Há, turais familiares estudam nas escolas mais centrais da subprefeitura, subprefeitura, da centrais mais escolas nas familiares estudam turais 38% deles têm desempenho abaixo e com entorno menos vulnerável, conjunto total no se verifica que do aproximando se básico, quase do se observam os alunos com esse da população (33%). Contudo, quando de entorno mais vulnerável, mesmo perfil que estudam em escolas esse percentualdo eixo de profi- salta para 50%. No extremo oposto dos alunos têm desempenho abaixo ciências, tem-se que apenas 10% com entorno muito vulnerável, do básico quando estudam em escolas se observam os alunos com esse percentual que passa para 24% quando com entorno de vulnerabilidade mesmo perfil que estudam em escolas ao do conjunto dos alunos dessa mais baixa, percentual quase idêntico série (25%). pública da subprefeitura. Chama mais altos recursos culturais na rede esse perfil sociocultural com de- a atenção o percentual de alunos com estudam em escolas com entorno sempenho abaixo do básico, quando Esse percentual quase se aproxima de alta vulnerabilidade social: 41%. es- do verificado com os 50% de alunos com baixos recursos culturais em tudando nessas escolas. Contudo, quando esses alunos estudam escolas com entorno menos vulnerável, o percentual deles que têm se desempenho abaixo do básico cai para 19%, bastante inferior ao que en- verifica no conjunto da população da subprefeitura (33%) e do valor No contrado no grupo de alunos com maiores recursos culturais (38%). 19% apenas que de proficiência, observa-se da tabela oposto extremo vulnerável muito escolas com entorno em alunos que estudam desses percentual que salta para têm desempenho adequado ou avançado, 39% quando se examina a parte desse grupo que estuda em escolas - com entorno de vulnerabilidade mais baixa, um valor acima do encon trado para o conjunto da população (25%). gráfico 2 representa apenas os alunos com baixos recursos culturais culturais baixos recursos os alunos com representa apenas gráfico 2 recur- alunos com maiores apenas os o gráfico 3 representa familiares, sempre gráficos, mostra nos dois A barra cinza-escuro, sos culturais. tem escolas cujo entorno que estudam em dos alunos o desempenho A barra cinza-claro social (maior que 3,6). alto grau de vulnerabilidade média vulnerabi- que estudam nas escolas com representa os alunos os alunos cujas 3,6). A barra cinza-médio representa lidade (entre 3 e (menor que 3). A territórios de baixa vulnerabilidade escolas estão em ela apresenta os re- serve de elemento comparativo; barra pontilhada à Prova os alunos da subprefeitura que responderam sultados de todos em que estudam e da localização da escola Brasil, independentemente de seu nível sociocultural 650 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL social. Demodosecundário, equipamentos deeducação social; esegurança pública. a realização deumdireito objetivo écontribuir para formal; cultura, esporte e os desegurança pública. ou doterceiro setor cujo lazer; saúde;assistência público-estatal, privada aos direitos civis,como Foram geocodificados equipamentos ligados social umainstituição equipamento daárea foram considerados Entende-se por 10 cobertura deequipamentosdaáreasocial visam agarantirdireitossociais.Osdadosdatabela 1mostramabaixa vados, háaindaumabaixacoberturadeequipamentos públicosque vulnerabilidade social,alémdehaver grandeescassezdeserviçospri- tir desuageocodificação,pôde-seobservarque,nosterritóriosalta equipamentos da área social e das escolas públicasno território. A par- melhores resultados. mite aelasummelhorfuncionamentoe,porextensão,obtençãode entorno menosvulnerávelacumulemvantagensrelativas,oqueper- fazem comqueasescolassituadasnasmaiscentraise qualidade. Comofacecorrespondente,essesmecanismosouprocessos restringem ascondiçõesderealizaçãoumaofertaeducacional de altavulnerabilidadesocialtendamaacumulardesvantagensque junto demecanismosouprocessosquefazemcomosterritórios ­variações naqualidadedaofertaeducacionaléproduzidaporumcon- riação nosníveisdevulnerabilidadesocialdoentornodaescolaeas renças nosrecursosculturaisdasfamílias. podem aprofundaroureduziraquelasquesãoproduzidaspelasdife- entorno daescola.Essasdesigualdadesproduzidaspelosistemaescolar tema escolarquepodemserexplicadasapartirdascaracterísticasdo culturais sinalizamaexistênciadedesigualdadesproduzidaspelosis- ções nodesempenhodeestudantescomomesmovolumerecursos recursos culturaisfamiliaressobreodesempenhodosalunos,asvaria- IPVS. Fontes: FundaçãoI BGE (2000);Fundação Seade(SÃOPAULO, 2011). SÃO MIGUELPAULISTA PORIPVS DOTERRITÓRIO (EM%) DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃOEDOS EQUIPAMENTOS DA ÁREASOCIALDE TABELA 1 A desigual distribuição deequipamentos sociais oferecidas pelasescolasnelesituadas. território vulnerável tende a restringirasoportunidadeseducacionais Apreenderam-se cincomecanismosouprocessospormeiodosquaiso A PRODUÇÃODOEFEITO DETERRITÓRIO População 2007 social Equipamentos daárea O primeirodosmecanismosdizrespeitoàdistribuição No itemseguinte,argumenta-sequeacorrelaçãoentreva- Embora esses dados não deixem de reforçar a importância dos 1 e2 35% 10% 3 36% 37% GRUPO IPVS 10 nosterritórioscomalto 4 24% 31% 5 e6 22% 7% TO 100% 100% A L Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 651 11 da educação a respeito Ver e de seus impactos infantil na escolarização, Campos et al. (2011).

. A tabela 2 apresenta dados a esse respeito, conside- 11 O segundo mecanismo ou processo é um desdobramento do O segundo mecanismo ou processo é um desdobramento do Observa-se que há um deslocamento entre a concentração dos dos entre a concentração deslocamento há um que Observa-se cinco e seis de vista que, nos territórios de níveis em Tendo respeito referem-se ao iso- Os dados mais contundentes a esse em educação infantil matrícula buição da distri A desigual rando apenas a matrícula em pré-escola. rando apenas a matrícula em pré-escola. primeiro e diz respeito à distribuição da oferta de educação infantil no no primeiro e diz respeito à distribuição da oferta de educação infantil - território. Os dados indicam que os territórios vulneráveis apresenta infantil, o educação matrícula na de oferta baixa uma 2007 em vam - que tende a reduzir as possibilidades de acesso das crianças que estu dam nas escolas situadas nessas áreas a uma importante condição para o sucesso escolar equipamentos sociais e a concentração da população em situação de situação de população em concentração da sociais e a equipamentos (IPVS 5 e 6), concentram-se situação extrema social. Na vulnerabilidade 7% dos e apenas de maior vulnerabilidade nas áreas 22% da população territórios residente nos ainda a população Se se inclui equipamentos. tem-se 53% da popu- quatro de vulnerabilidade social, a partir do nível lação e 31% dos equipamentos. de ensino funda- há quase exclusivamente escolas vulnerabilidade, ensino), Unidades da primeira etapa desse nível de mental (sobretudo o são as escolas que pode-se concluir Telecentros, e de Saúde Básicas para as famílias no público-estatal de referência grande equipamento O trabalho de cam- elas tendem a estar nele isoladas. território, e que social das problemas inerentes à vulnerabilidade po revelou que os nessas escolas, chamando-as a famílias e do território se manifestam tenham recursos para fazer frente a um posicionamento sem que elas realização de condições as bloquear por termina que o desafios, esses das atividades propriamente escolares. equipamentos da área social em lamento da escola em relação a outros - popu em que a naquelas por exemplo, como, emergenciais, situações na região e as escolas são usadas em lação é vitimada pelas enchentes dão se que conflitos que em aqueles são episódios Outros socorro. seu fora da de violência no escola acabam por repercutir em ocorrências de vingança ou de acertos de contas interior da escola, como em casos Porém, os educadores relatam ainda entre indivíduos ou grupos rivais. com alunos que vivem em situa- episódios de dificuldades para lidar pela precariedade das condições ções limite produzidas pela violência, a casos, esses todos Em lares. seus de habitabilidade de ou saúde de sem poder contar com o escola precisa lidar com essas necessidades, facilmente e estruturada bem públicos serviços de rede uma de apoio acessível. 652 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL http://www.nossasaopaulo. org.br/observatorio/index. Observatório Cidadãoda Rede Nossa SãoPaulo: Cf. osdadosdo php. 12 lista ébaixanoanoobservado,massegueopadrãodomunicípio *Estimativa Fonte: Inep(BRASIL, 2007a); FundaçãoIBGE(2000);Seade(SÃOPAULO, 2004;2011) DE 4-6ANOS NOTERRITÓRIOEMNÚMEROS ABSOL DISTRIBUIÇÃO DA MATRÍCULA DEPRÉ-ESCOLA EDA POPULAÇÃO TABELA 2 o desencontro entreosrecursosculturais dasfamíliaseacultura es- motivo, mais distantesdaculturaletrada edouniversoescolar. Assim, centram asfamíliascom menoresrecursosculturaisesão,poresse rais dasfamílias.Osterritórios demaiorvulnerabilidadesocialcon- escolares queseriamproduzidas pelasdiferençasnosrecursoscultu- til emespecial)contribui paraoaprofundamentodasdesigualdades presença dosequipamentossociaisnoterritório(e deeducaçãoinfan- vulnerabilidade social,ondehámaiorofertadevagas. maior quandosedeslocaparaasescolassituadas nas áreasdemenor pré-escola. Afamiliarizaçãocomesserepertório,portanto, tendeaser e códigosdaculturaescolarcujatransmissãoéuma dasfinalidadesda ao ambientecoletivodasaladeaulaeescolaorepertório desaberes ferir quedeveserumgrupopequeno,onãoé bastanteparalevar que realizarampré-escola;contudoosdadosdisponíveis permitemin- série inicialdasescolassituadasnosterritóriosdealtavulnerabilidade matrículas totalizam42%donúmerodecriançasquatroaseisanos. para uma população total de quase 15.000 crianças, caso em que as mas mesmoassimalcançamapenaspoucomaisde6.400matrículas Os númerosmelhoramseincluionível4devulnerabilidadesocial, apenas 5,1% das matrículas (656 matrículas) se localizam nessas áreas. (6587 pessoas)habitaosterritóriosdemaiorvulnerabilidadesocial, também constatarque,enquanto26,4%dapopulaçãode4a6anos nos territórioscommaiorvulnerabilidade.Emsegundolugar, pode-se de, mascorrespondeaapenascercade10%dapopulaçãoresidente número decriançasresidentesnaáreamaisbaixavulnerabilida- 2, pode-se,primeiramente,observarqueamatrículaéquaseigualao função dosníveisdevulnerabilidadesocialterritórios.Natabela las noterritórionãosegueopadrãodedistribuiçãodapopulaçãoem Porém, oqueosdadosevidenciaméadistribuiçãodasmatrícu- anos* População 4-6 pré-escola Matrículas em A taxabrutadematrículanapré-escolaemSãoMiguelPau- Em síntese,essesdoisprimeirosmecanismosindicam comoa Não foipossívelestimarcomprecisãoopercentualdealunosda 1 e2 1964 1769 4425 3 8213 GRUPO IPVS 4 8373 5817 5 e6 6587 656 UT TO OS –2007 24942 12862 A L Taxa brutade matrícula na pré-escola

51% 12 . Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 653 13 indicador foi Esse de o Índice com comparado por proposto Dissimilaridade do Centro Farley, Reynolds da de População de Estudos de Michigan, Universidade (http://enceladus.isr. EUA umich.edu/race/calculate. html). A semelhança entre de da ordem foi os índices 95%.

– IH – é igual a zero, temos uma escola cuja – IH – é igual a zero, temos uma escola cuja 13 cente orpo dis No eixo vertical desse gráfico, as escolas estão distribuídas de No eixo vertical desse gráfico, as escolas estão distribuídas de O terceiro mecanismo ou processo produtor do efeito de terri- ou processo produtor do efeito O terceiro mecanismo RASIL, 2007b). 2004); Inep (BRASIL, Fundação Seade (SÃO PAULO, Fontes: GRÁFICO 4 4 GRÁFICO DE GRAU PELO PAULISTA DE SÃO MIGUEL ESCOLAS BUIÇÃO DAS DISTRI DISCENTE E PELA VULNERABILIDADE DE SEU CORPO HETEROGENEIDADE VIZINHANÇA DE SUA composição da homogeneidade A forte l do c ura lt sociocu colar é reforçado pelo isolamento da escola no território e pelo déficit déficit pelo e território no da escola isolamento pelo reforçado é colar situação de em alta para as famílias de educação infantil de oferta vulnerabilidade. - distribuição dos alunos em função de seus recursos culturais familia res (K-Cult) é idêntica à distribuição do total de alunos da rede pública – é de São Miguel Paulista. Quando o Índice de Heterogeneidade – IH - positivo, a escola tende a concentrar alunos com maiores recursos cul turais, sendo 0,10 o ponto que separa esse grupo de escolas. Quando concentrar o Índice de Heterogeneidade é negativo, a escola tende a alunos com baixos recursos culturais, sendo -0,10 o ponto que separa acordo com o perfil sociocultural de seu corpo discente. Quando o Ín- acordo com o perfil sociocultural de seu corpo discente. Quando o dice de Heterogeneidade tório diz respeito, especificamente, ao entrecruzamento da questão so- questão da entrecruzamento ao especificamente, respeito, diz tório à inter- a questão educacional, ou, mais exatamente, cial urbana com pela análise da social pelas escolas. Ele se revela nalização da questão em vista a variação do corpo discente tendo composição sociocultural escolas. Como social do entorno dessas nos níveis de vulnerabilidade um corpo de meios vulneráveis tendem a apresentar padrão, as escolas aos baixos recur- homogêneo no que diz respeito discente fortemente de residência na vizinhança vulne- sos culturais familiares e ao local no gráfico 4. Esses dados forne- rável da escola, como se pode verificar dessa população é internalizado cem evidências de que o isolamento de alta vulnerabilidade social, nas pelas escolas situadas nos territórios isolamento escolar. quais passa a assumir a forma de 654 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL constituir como umcontinuumindiferenciado dele.Umadasconsequ - por internalizar asdinâmicassociais do território,terminando porse educação pré-escolar, asescolas situadasemmeiosvulneráveisacabam nos combaixosrecursossocioculturais quetendemanãoterrealizado equipamento socialdereferência noterritórioequeconcentramalu- vividos peloindivíduoemquestão. de superaçãodasdificuldades,oracomoexplicação paraosproblemas usado parajustificar, oraaimportância doesforçopessoalcomomeio butos deindivíduosdestacadosnocorpodiscente, oqueporvezesé rabilidade social,avulnerabilidadeesuasconsequências seriamatri- vez, nasescolasquenãoconcentramalunosemsituação dealtavulne- vividos pelaescola,sejamelesdisciplinaresouacadêmicos. Porsua discente”), oqueporvezeséusadocomoexplicação paraosproblemas seriam atributosdeumcoletivo(“oalunado”, “a clientela”, “ocorpo com baixos recursos culturais, a vulnerabilidade e suas consequên­ neráveis enasdemais.Emgeral,escolasqueconcentramalunos ciais semanifestamnointeriordasescolassituadasemmeiosmaisvul- educadores expressa as diferenças nas formas como os problemas so- corpo discente. número menordealunos,nãoseconfigurandocomoproblemas“do” em eventosrotineirosecotidianos,sejaporquetenderiamaafetarum se dariamcommenorfrequênciaintensidade,nãotransformando mais fácilgeri-los.Essadiluiçãoocorreria,sejaporqueessesproblemas mam que esses problemas existem, mas de modo mais diluído, sendo com perfil discente mais heterogêneo, os diretores entrevistados afir- tensamente porvezesemproporçõesdedifícilcontrole.Nasescolas concentrando dentrodesiosseusproblemas,quesemanifestamin- Elas sãoummicrocosmodoterritóriodealtavulnerabilidadesocial, no entornodaescola. crianças ejovenscombaixosrecursosculturaisfamiliaresresidentes rabilidade social tendema ter uma população discente composta de turais familiares;iii.asescolassituadasemterritóriosdealtavulne- discente heterogêneo,atendendoalunoscomdistintosperfissociocul- territórios commédiavulnerabilidadesocialtendematerumcorpo com maioresrecursosculturaisfamiliares;ii.asescolassituadasem regiões demenorvulnerabilidadesocialtendemaconcentraralunos 1km apartirdaescola,nosmesmosmoldesquenográfico1. Aqui, adotamosoIPVSmédiodossetoresabrangidosemumraiode comoníveldevulnerabilidadedoseuentorno.distribuídas de acordo esse grupo de escolas.Porsuavez,noeixohorizontal,asescolasestão Em síntese,umavezque estãoisoladas,quesãooprincipal Os dados de campo sugerem ainda que o próprio discurso dos As escolas desse terceiro grupo são fortemente homogêneas. Constatam-se trêssituaçõestípicas:i.asescolassituadasem cias Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 655 14 análises são Essas dados pelos reforçadas 2011 durante coletados desta etapa em outra um grupo pesquisa, com em moradoras de famílias de alta um microterritório social em vulnerabilidade Como São Miguel Paulista. afirma uma das mães região, dessa moradores os estigmas que internalizou a sua população: atribuídos tinha uma visão ruim “eu Z [por causa da da escola violência e indisciplina], que Daí eu entendi sabe? que não não é a escola que São as pessoas presta. que a escola frequentam Não é a escola não prestam. escola que ir pra em si. Tem estudar”. Essa e querer altas expectativas mãe tem senso educacionais, certo à em relação de distinção vizinhança e utiliza, dentre educativas, suas estratégias da práticas de evitação vizinhança.

. 14 Desse modo, essas escolas reforçam o isolamento social e cul- social e reforçam o isolamento essas escolas Desse modo, locais que no depoimento de muitas mães Isso se revela ainda O quarto mecanismo ou processo produtor do efeito de territó- O quarto mecanismo ou processo Durante o trabalho de campo verificou-se a existência desse de meios escolas das s desvantagens mercado vulneráveis no quase A ências disso é que não conseguem superar esses padrões do entorno do entorno padrões esses superar conseguem é que não disso ências assegure o escolar que propriamente de um ambiente para a criação dos alunos. docente e a aprendizagem trabalho tural da população de sua vizinhança: reproduzem em seu interior os interior os em seu vizinhança: reproduzem população de sua tural da restringem as urbana e sociocultural e, ainda, padrões de segregação e de aprovei- interação com outros grupos sociais possibilidades de cultural possíveis no de desenvolvimento tamento das oportunidades em seu inte- a reproduzir, por essa razão, Tendem, território urbano. da população que territorial urbana e sociocultural a segregação rior, segregação, como os problemas decorrentes dessa atendem, bem como educativas. negativo que restringe as possibilidades um efeito de pares espe- “na rua”, a presença dos perigos existentes temem, na escola, pela “lei marcados pela violência ou cialmente padrões de convívio mães Essas drogas. de comércio o e uso o como bem forte”, mais do que ofereça proteção e cuidados demandam da escola uma ruptura sentem vulneráveis. Desse ponto de perante esses riscos aos quais se como extensões da rua e como es- vista, as escolas que são encaradas espaços evitados pelas próprias paços “mal frequentados” tornam-se aos riscos que querem evitar (SETU- famílias, por exporem seus filhos 2009) GARRAFA, 2009; LOMONACO, BAL, rio diz respeito às relações de interdependência que as unidades esco- rio diz respeito às relações de interdependência seja no interior das lares mantêm entre si, seja nos microterritórios, modo geral, verifica-se que a colabo- dependências administrativas. De que há uma forte relação de disputa ração entre as escolas é rarefeita e escassos no território, espe- entre as unidades escolares por recursos com características valorizadas cialmente por profissionais e alunos pelas escolas, caracterizando um quase-mercado escolar oculto (VAN KOSLINSKI, 2009). ZANTEN, 2005; COSTA, ­quase-mercado tanto tendo em vista os serviços educacionais quanto - tendo em vista o trabalho educacional. O primeiro é definido pela con corrência entre as famílias por matrículas em estabelecimentos que melhor atendam suas expectativas educacionais e pela concorrência ati- entre as escolas pelos alunos que melhor atendam suas exigências tudinais e acadêmicas. O segundo é definido pela concorrência entre de professores, coordenadores pedagógicos e diretores pelos postos trabalho em escolas que ocupam lugar de prestígio na hierarquia que de existe entre elas e pela concorrência entre as escolas na atração profissionais com afinidades com seus projetos. 656 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL de escolas privadas erecusa ético epolítico com aescola há profissionais engajadose comportamento indesejado. qualificados nessas escolas, dados, obtidospormeiode foram encontradas práticas entrevistas com secretários como abuscadematrícula vulnerabilidade social,bem quais possam trabalhar em docentes das61 escolas da dentre asmaisvulneráveis, esses profissionais nãosão exemplo, pelamatrícula de que inclusive assumem um Está emfase deconclusão subprefeitura, pormeiode É importante ressaltar que medidas socioeducativas); Oficial enoCenso Escolar. concursos deremoção de que sesalientaaquié bastante dificuldadepara majoritários eencontram lado dasfamílias, mesmo está aprofundando esses subprefeituras dacidade encontraram-se também pesquisa emandamento e asfamílias. Contudo, o de escolas dediferentes expulsão dealunoscom dados obtidosnoDiário “brancas” deseleção com olocaldemoradia, alunos (preferência, por série, com notasbaixas, encontrar pares com os concentram estudantes Na esfera discente edo estudantes transferidos proteção para osfilhos; compromisso defundo à matrícula de crianças com defasagem idade- uma pesquisasobre os de evitação deescolas de SãoPaulo) práticas observaram-se (e uma e queoferecem maior comportamento eem com histórico demau práticas “brancas” de em estabelecimentos melhor conceituados mal reputadas eque de territórios dealta de jovens de acordo do ladodasescolas, equipe. 16 15 17 tivo rabilidade socialnãopuderamsertestadasemumestudoquantita- as relaçõesentreoquase-mercadoevariaçõesnosníveisdevulne- que na concorrêncianoquasemercadodetrabalhoeducacional. concorrência noquase-mercadodeserviçoseducacionais,seja seja na giões de vulnerabilidade média e baixa tendem a estar em vantagem, estar emposiçãodedesvantagem,enquantoasescolassituadasre- estão localizadasemáreasdemaiorvulnerabilidadesocialtendema com umarotina quetendeàdispersão eàdesagregação,arotatividade pa doensino fundamentalémaisagudo. Comojávivemsobtensão e nelas, ainda, que o problema do absenteísmo docente na segunda eta- res, coordenadoresediretores pedemremoçãoparaoutrasescolas.É de profissionaisnãoconcursados. Acadafimdeano,váriosprofesso- postos detrabalhonãopreenchidos eacontarcomummaiornúmero administrativa oudiscente no “exteriorizam”seusproblemas,sejamelesligadosàesferadocente, buscar outrasinstituições.Dessemodoessesestabelecimentosdeensi- que pressionaaquelesnãoseadaptam–alunosoueducadoresa tamento, ao engajamento profissional e ao desempenho acadêmico, o conseguem maisfacilmenteimprimirexigênciasquantoaocompor- que seadaptammelhoraseumododefuncionamento.Porisso,elas além deatraíremalunoscommaioresrecursosculturaisfamiliarese facilmente oingressodeprofissionaismaisqualificadoseengajados, tórios devulnerabilidadesocialmédiaebaixaconseguematrairmais vantajosa nas relaçõesdeconcorrência,as escolas situadasem terri- gajados atrair emanterumquadroestáveldeprofissionais qualificadoseen- organizadas esituadas,emgeral,áreasdemenor vulnerabilidade. educacionais equebuscammatricularseusfilhos emescolasmelhor nhança dessasescolas,háaquelasquepossuemmaiores expectativas vivem noentornoimediatodaescola.Mesmoentre asfamíliasdavizi- ser atraenteparafamíliascommaioresrecursos culturais equenão vulnerabilidade social,tampoucoamatrículanessas escolastendea familiares. Dada sua localização em regiões periféricas e de grande como já se indicou, a concentrar alunos com baixos recursos culturais vantagem. cais de“decantação”dosdiversosproblemasdasescolasemposição bilidade acumulamdesvantagensetendemaseconsolidarcomolo- de temposeespaçosparaaaprendizagem. josa, conseguemmaisfacilmentedesenvolver umaboagestãointerna 15 . Contudo, foram muitas as evidências de que, por sua posição Esses dadosforamobtidosnotrabalhodecampoe,porisso, Nesse cenário de disputa por recursos escassos, as escolas que Em segundolugar, essasescolastêmmaioresdificuldades para Por suavez,asescolassituadasemterritóriosdealtavulnera- 17 . Elastendemaenfrentarmaiorrotatividadedequadros, ater As escolasdemeiosvulneráveistendem,emprimeirolugar, 16 . Comoconsequênciadessaposiçãovanta- Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 657

ola da esc titucional da o ins - os “proble essas escolas receberem medida, o fato de Em boa O quinto mecanismo ou processo produtor do efeito de territó- O quinto mecanismo ou processo programa institucional No caso da escola, a realização desse No que diz respeito aos alunos, o modelo institucional pres- preencher vulneráveis para de meios s escolas A e o model dos profissionais, os postos de trabalho não preenchidos e as faltas faltas e as preenchidos não trabalho postos de os profissionais, dos institu- as condições acabam por fragilizar de professores numerosas escola funcionar. para a cionais necessárias mas” das escolas em posição vantajosa na disputa por recursos faz com faz com por recursos vantajosa na disputa escolas em posição mas” das As escolas bem para o funcionamento das outras. que elas colaborem e assegurar melho- “exteriorizar” os seus problemas situadas podem o sistema escolar seu funcionamento sabendo que res condições para delas se transferem à matrícula aos alunos que vai garantir o direito não se adaptam. para os professores que nelas e postos de trabalho quais os problemas e dependem dessas outras nas Elas se beneficiam dessa inter- 1996). A reprodução concentram (YAIR, se decantam e se vulneráveis, meios de escolas das isolamento o reforça dependência de pais, alunos objetivo de estratégias de evitação que acabam sendo de escolher outro estabele- e profissionais que se veem em condições cimento. rio tem relação com a dimensão didático-pedagógica e se refere ao mo- rio tem relação com a dimensão didático-pedagógica A partir de Dubet (2002; 2008), delo institucional que orienta a escola. são modos relativamente estáveis e assume-se aqui que as instituições que são válidos em um determina- duradouros de organizar atividades aos indivíduos. As instituições, do espaço social e tendem a se impor programa institucional que atua in- para esse sociólogo, possuem um seus participantes em certa direção. tencionalmente para transformar pré-requisitos pelos alunos e pelos requer o cumprimento de alguns e pro- por alunos desenvolvem profissionais. A disputa que as escolas dessa necessidade de arregimentar fessores no quase mercado vem condições com as proximidade profissionais e públicos que têm maior es- de realização do seu programa. Por isso, as diferentes posições das - colas na concorrência por profissionais, alunos e recursos se expres sam em possibilidades de maior ou menor organização administrativa - e pedagógica. As escolas mais bem situadas nesse cenário de concor rência conseguem mais facilmente assegurar alunos e profissionais fun- melhor um lhes assegura que a esses requisitos, o atendem que cionamento. Nas escolas que decantam e concentram os problemas das outras escolas, esses pré-requisitos não são satisfeitos e o modelo institucional é levado ao limite da inviabilidade. uma fa- inicial com série eles ingressem na que por exemplo, supõe, tendo internalizado e já escrita com a língua preliminar miliaridade alguns modos de se comportar e se relacionar próprios das atividades 658 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL zagem encontra desafiosquedificilmente podemsersuperados. algumas escolas quenelasaboagestão dostemposeespaçosdeaprendi - posição, éporqueessesproblemas seconcentrame“decantam”em para aboagestãodostempos eespaçosdeaprendizagem.Emcontra- “externalizados” pelasescolas bemorganizadas,oqueabrepossibilidades prescindível aoseufuncionamento administrativoepedagógico,elessão professores ealunos.Comoos“problemas”abalam essa estabilidadeim- só pode serobtido com o cumprimento dessesrequisitosrelativos aos uma relativaestabilidadenomododefuncionamento daescola,oque tampouco quenãohajamuitasfaltaspordia. fundamental comoumtodo,equenãofaltemcom muitafrequênciae vidades deplanejamentocoletivo,preferência pensandooensino que oEF2possafuncionarbem,éprecisoeles seengajemnasati- se somamasexigênciasdomodeloescolarsobre os professores.Para fortes impedimentosàrealizaçãodeseutrabalho.Aessasdificuldades no EF1,osprofessoresdoEF2sãofrequentementeconfrontadoscom falso dequeumasériepré-requisitosdeveriamtersidoassegurados pouco comassalasetêmseutrabalhoorganizadosobopressuposto suas aulasestãodistribuídasemdoiseatétrêsperíodos.Comoficam Como senãobastasse,osprofessoresacumulamcargosenormalmente fica daraulasemváriassalaseparaumaquantidadegrandedealunos. ração eimpessoalidadedoEF2.Paraoprofessor, lecionarnoEF2signi- professores encarregadosdecadaumadelas. para lidaremcomafragmentaçãodasdisciplinaseosdiferentes tonomia intelectualnarelaçãocomossaberes,oqueseránecessário os anosiniciais,alunosdeverãoterdesenvolvido umarelativaau- de umlocalparaoutro.Essemodelopressupõetambémque,durante o registrodashorasemumrelógioouosdeslocamentospessoas ços etemposapartirdemarcadoresimpessoaiscomoosinalsonoro, atividades escolares,porexemplo,sabendoorganizar-senosseusespa- Espera-se que,noEF2,elejásejacapazdeagir noEF1. mentado, impessoalecomritmomaisaceleradodoque era cas mediações, com o ambiente geral da escola, que se torna mais frag- para oEF2,alunopassaaserelacionarmaisdiretamente,compou- antes erampersonificadosnoprofessor. Assim,natransiçãodoEF1 queles modos de agir, pensar e se relacionar no ambiente escolar que pressupõe queoalunojádeveráterinternalizadoeseapropriadoda- No segundosegmentodessemesmoníveldeensino(EF2),essemodelo dades, todosostempos,espaçosetodasasrotinasdavidaescolar. guirá comeletodososdiasdasemanaepersonificarátodasasativi- esse aluno será acompanhado por um professor de referência que se- escolares. Duranteoprimeirosegmentodoensinofundamental(EF1) Em suma, o funcionamento do modelo institucional pressupõe Em suma,ofuncionamentodomodeloinstitucional pressupõe Os professorestambémsãoafetadospelafragmentação,acele- autonomamente nas Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 659 18 deste Não é objetivo um balanço artigo fazer aprofundado bibliográfico a sobre dos estudos educacional nas questão metrópoles. Os estudos nutrem-se brasileiros produzidos dos debates em por investigações língua inglesa e francesa, Alguns desses sobretudo. serão internacionais estudos citados apenas na medida importantes em que forem dos a explicitação para que debatidos aspectos mais diretamente. . 18 à população habitante em territó- em habitante população à Ribeiro e Koslinski (2009a) destacam três grandes modos de in- (2009a) destacam três grandes Ribeiro e Koslinski Nesse caso, o debate norte-americano sobre a pobreza também se sobre a pobreza também se Nesse caso, o debate norte-americano Com essas considerações finais, pretende-se relacionar, com a litera- com relacionar, finais, pretende-se considerações Com essas as desi- propuseram para que aqui se as explicações tura existente, Serão considerados na pesquisa. educacionais encontradas gualdades à questão educacional recentes dedicados os trabalhos especialmente da sociologia Brasil, que buscam relacionar aportes metropolitana no da sociologia da educação urbana com aportes DISCUSSÃO rios de alta vulnerabilidade social. Essas interpretações estão baseadas rios de alta vulnerabilidade social. Essas interpretações estão baseadas faz sentir, pois se evocam as obras daqueles que procuraram renovar daqueles que procuraram renovar pois se evocam as obras faz sentir, priori- 2009, p. 39-45), (KOWARICK, esse debate a partir dos anos 1980 do produção pela responsáveis macrossociais estruturas as tanto zando os padrões sociais que se estabe- fenômeno da pobreza urbana, como como as relações entre eles e as lecem no interior desses grupos, bem Nessa abordagem, a ênfase camadas médias e superiores da sociedade. pela guetificação das populações recai sobre o isolamento produzido camadas nas vigoram que sociais padrões afastaria dos as que pobres, médias e superiores, das redes de relações sociais que permitem maior trânsito social e de bens e serviços disponíveis no espaço urbano, e que em casos extremos de vulnerabilidade, a desorganização favoreceria, da da vida social, o exacerbamento de uma cultura do individualismo, marginalidade e de atitudes antiescolares. Assim, partindo da premissa de que os padrões sociais vigentes nos grupos de socialização primária dos e nas interações mais próximas têm muita força sobre a formação - sujeitos, essa explicação prioriza o afastamento que vai se consolidan do entre esses padrões e a cultura demandada pela instituição escolar. Um terceiro modo de interpretar o efeito de território prioriza o lado serviços de e educacional oferta da terpretar o efeito de território. O primeiro enfatiza aspectos da deman- de território. O primeiro enfatiza terpretar o efeito no interior prioriza aspectos culturais desenvolvidos da educacional e social e remontando à hipótese da desorganização dos grupos pobres, dessa população. que se seguem à guetificação das carências culturais com a consoli- sustenta que essas áreas sofreriam Esse ponto de vista redes enfraquecimento das antissociais, o comportamentos dação de comunitários que poderiam for- sociais e a fragilidade dos mecanismos Esse da escola. coletiva em favor talecer comportamentos de eficácia da pobre- das teorias sobre a cultura modo de interpretar se aproxima nos anos 1960, enfatizando o desvio a partir dos EUA za desenvolvidas dessa população, bem como comportamental, as faltas e as ausências responsabilizando os indivíduos aspectos morais da população pobre, 2009, p. 34- que vivem (KOWARICK, nessas condições pela situação em o efeito de território, que os autores 39). O segundo modo de explicar - educacio demanda lado da também enfatiza o primeiro, ao preferem nal. 660 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL variações nos níveisdevulnerabilidade socialdosterritórios. correlações suficientemente fortesentre desigualdadeseducacionais e poles. Comoseverámais àfrente,essesestudosnãotêmencontrado volvem-se aspesquisassobre oquase-mercadoeducacionalemmetró- se abremparafora.Noquadro dapercepçãodessefenômeno,desen- ências sobreoseufuncionamento internoesobreomodocomoelas tre as escolas e a posição delas na hierarquia de prestígio têm consequ- tigação, derivadosdosdadosobtidospelotrabalho decampo. aqui não dão destaque para os demais aspectos explorados pela inves- produtores doefeitodeterritório.Contudo,osestudos discutidosaté três primeirosmecanismosouprocessossociais apreendidoscomo procedimentos explicativos predominantes foram mobilizadosnos permanência dosalunosnaescola. maior pontuaçãonacarreira,easdiferençasgarantiadotempode cação professoresmelhorcolocadosnosconcursosdeadmissãoecom políticas públicas.Torres etal.(2008)destacamadesigualdadenaalo- duzidas, também,peladistribuiçãodesigualderecursosestataispelas diferenças nos níveisde vulnerabilidade social dos territórios são pro- plicativa evidenciamqueasdesigualdadeseducacionaisassociadasàs enfatizadas naliteratura.Ostrabalhosqueseapoiamnessalinhaex- tendo emvistaasdiferençassociaisexpressasnoterritório,sãomenos escolaridade dospais. estudadas, seconsideradasindividualmente,comoraça,sexo,renda, que seriaproduzidopelascaracterísticasfamiliarestradicionalmente lativamente homogêneo(efeitodepares)quepotencializariaoefeito capital social familiar, haveria um efeito resultante desse coletivore- mogêneo noqueserefereaosrecursosculturaiseeconômicosao escolas situadas nessasregiõesconcentram alunos com um perfil ho- Sant’Ana (2009),Torres etal.(2005).Assim,especialmentequandoas Ribeiro eKoslinski(2009a),Kaztman(2008,cf.Introdução), território se evidenciam em trabalhos como os de Alves et al. (2008), turais dademandaquesãoinfluenciados peloisolamentosocialno diferenciado sobreoutroaspecto.Aênfaseosaspectossociocul- sobre otema,muitoemborapesoexplicativopossaincidirdemodo Pode-se dizerqueessaéasoluçãotempreponderadonostrabalhos zando asegundaeterceiraformadeinterpretaroefeitoterritório. os efeitosdoterritóriosobreaofertaedemandaeducacional,mobili- colar podeterimpactossobreodesempenhoescolardosestudantes. serviços quelhessãooferecidose,portanto,aqualidadedaofertaes- na hipótesedequeosindivíduossãoinfluenciados pelaqualidadedos Van Zanten(2006)mostraqueas relaçõesdeconcorrênciaen- Na investigação realizadaem São MiguelPaulista,essesdois As explicaçõesqueincidemsobreoladodaofertaeducacional, Em seutrabalho,RibeiroeKoslinski(2009a)procuramarticular Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 661 Estudando o caso do , Costa e Koslinski (2009) e (2009) e e Koslinski Costa Rio de Janeiro, caso do o Estudando crítica às po- escola-família, a literatura Enfatizando as relações (1996), a partir de pesquisa realizada em uma grande Gad Yair diálogo um manter podem quase-mercado sobre estudos Os Koslinski e Costa (2009) tomam como objeto de estudo os efeitos sobre sobre efeitos os estudo de objeto como tomam (2009) Costa e Koslinski são que alunos dos aprendizado o sobre e escolar funcionamento o da oferta tanto no lado que se estabelece pela concorrência produzidos tendam a educação, embora demanda por como no lado da educativa a essa última dimensão. dar maior atenção escolas por famílias das busca a que mostra quase-mercado de líticas que melhor aten- e a busca das escolas por alunos de melhor reputação produzi- de comportamento e desempenho dam a suas expectativas de prestígio concentrarem escolas as de tendência a um lado, de riam, as de tendência a outro, de socioeconômico, nível maior com alunos nível menor com alunos concentrarem prestígio menor com escolas YAIR, 2006; ZANTEN, VAN KOSLINSKI, 2009; (COSTA, socioeconômico aprofundamento das desigualdades 1996). Assim, a resultante seria o as escolas, consolidando algumas no e da hierarquia de prestígio entre recursos culturais, que são evita- atendimento a alunos com menores dos pelas demais. entre as escolas não se cidade israelense, afirma que a concorrência escolas que ocupam posições pró- dá de modo global, mas sim entre as ligam. Ao estudar o que chama ximas na estrutura de relações que mostra que as escolas se distinguem de ecologia do mercado, o autor perfis. Entre escolas próximas no na hierarquia de prestígio e em seus concorrência; entre escolas distantes, especialmente mercado, haveria cooperação. haveria invertidas, quando estão em posições hierárquicas Pau- Miguel São em apreendeu se que ao semelhante modo de Assim, contribuem para o funcionamen- lista, as escolas com menor prestígio pois asseguram o direito à matrícula to das escolas de maior prestígio, em posição de vantagem no daqueles alunos evitados pelas escolas produziria interdependên- ­quase-mercado. A concorrência, portanto, cias e perfis de escolas que se reproduziriam a si mesmas, ao passo que se reproduziriam umas às outras, uma conclusão semelhante à que chegou estudando as escolas de São Miguel Paulista. profícuo com os trabalhos que mobilizam o conceito de efeito de pares - para estudar as diferenças educacionais. Muito embora não explici são as pesquisas, conceito de quase-mercado, um exemplo disso tem o para o caso (2010). de Soares et al. (2008) e Alves de , as Os autores mobilizam o conceito de efeito de pares para explicar do diferenças de desempenho de alunos, decorrentes da composição nível socioeconômico do corpo discente das escolas. Para explicar essa as composição socioeconômica, os autores levantam a hipótese de que educacionais mais intensos e com nível famílias com investimentos 662 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL escolas numareunião para a educadores dasdiferentes validação dos resultados. Trata-se deumdiálogo mantido entre os 19 colas, porque paraelasforamexteriorizados não possuimuitos problemasporque eles estãoforadela,em suas es- afirmam queelatempoucos problemas.Segundoesseseducadores, turais familiaresdamicrorregião, oseducadoresdasescolasvizinhas se mercado.Comoelaconcentra osalunoscommaioresrecursoscul- contra oefeitodeterritório pormeiodesuaposiçãofavorável noqua- essa escolaconseguiudesenvolver mecanismosdeproteçãoedefesa porém circundadoporumagrandeáreafavelizada. Aolongodosanos, de queestásituadanumpequenotrechourbanização maisantiga, espaços etemposdeaprendizagem. gue mais facilmentedesenvolver formas muito eficazes de gestão dos maiores recursosculturaisdaáreadealtavulnerabilidade, elaconse- cola seconsolidoucomoumaunidadequeatraiemantém alunoscom tendência seencontracomaposiçãodeseuIPVS.Ouseja,comoes- tre aposiçãoefetivadaescolanográficoeopontoemqueretade situadas nessepontodoeixodeIPVS,diferençaquepodeservistaen- acumula maisrecursosculturaisdoqueseriadeseesperardasescolas o gráfico4revelaqueessamesmaescolatemumcorpodiscente local (cf.Graf.1),configurando-secomoumanotávelexceção.Porém, ca situadaemáreadealtavulnerabilidadecomIdebacimadamédia destacada comoumquadrado,cujoIPVSépoucoacimade4,aúni- recursos parafazerfrenteaosdesafiosquelhessãoimpostos. tórios demaiorvulnerabilidadesocial,que,pordefinição,têmmenos a fazercomqueasdesvantagenseducacionaisseacumulemnosterri- uma gamavariadadeprocessosqueseinter-relacionametendem um modeloexplicativofechado,procurou-seevidenciaraquiquehá nos níveisdevulnerabilidadesocialdoterritório.Entretanto,maisque trutura doquase-mercadoescolarocultoserelacionacomasvariações entorno próximodasunidadesescolares. com unidadesterritoriaismuitoextensas,emvezdesepriorizaro ções comoterritórionãotenhamsidopercebidasporquesetrabalhou relação. Contudo,comoafirmamosautores,éprovávelqueessasrela- encontrados resultadossuficientesparasustentaraexistênciadessa em 121áreasespaciaisconsideradashomogêneas;nãoforam,porém, com adistribuiçãodasescolasnoterritóriode Belo Horizonte,dividido encontrados nasociedade(ALVES, 2010). reproduzindo nosistemapúblicodeensinopadrõesdesigualdade reputação ecomcorpodiscentedenívelsocioeconômicomaisalto, socioeconômico mais alto tenderiam a procurar escolas com melhor Trata-se aquideumaunidadeescolar comprestígionalocalida- Observando osgráficos1e4,pode-severqueaquartaescola Na investigação apresentadanesteartigo,percebe-sequeaes- Em Soaresetal.(2008),tentou-serelacionaressaexplicação 19 . Maurício Érnica e Antônio Augusto Gomes Batista Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 663 Esse caso, que parece ser uma exceção, na verdade, confirma a a confirma na verdade, exceção, ser uma parece caso, que Esse retomar nosso último pro- É desse ponto de vista que podemos indica que o colapso é de um modelo institucional em Tudo Desse modo, se o funcionamento do modelo institucional só se regularidade do fenômeno que se procurou mostrar. Esse entrecruza - Esse mostrar. que se procurou do fenômeno regularidade vul- de níveis nos variações as com escolar quase-mercado do mento demanda - dos requisitos se dá sob mediação do território nerabilidade para o de reunir condições Assim, na busca modelo escolar. dos pelo entre si relações modelo, as escolas estabelecem funcionamento desse mais vulnerá- e aquelas situadas nos meios de disputa e concorrência embora possa ha- nessas relações, muito veis estão em desvantagem que escapem do escolas em áreas vulneráveis excepcionalmente, ver, territórios menos pelo quase-mercado e escolas em efeito de território por alunos e profissionais. na concorrência vulneráveis desfavorecidas sugerem que contudo, os dados dessa investigação Como padrão geral, e não incenti- quase mercado – com certeza oculto a existência de um para que deliberadas – é um importante mecanismo vado por políticas o efeito de território se exerça. de território. A afirmação de que cesso/mecanismo produtor do efeito pressupõe alunos oriundos de fa- a organização da atividade educativa conhecida da sociologia da educação mílias com capital escolar é velha 2008). Partimos dessa tese para argumentar (BOURDIEU, PASSERON, a escola pressupõe um perfil que o modelo institucional que organiza à nova realidade da escola de aluno e professor e não está adequado conjugaram se que fatores dois de decorrente metropolitana pública da nova questão social urbana e a a partir dos anos 1990: a explosão fundamental. universalização do acesso no ensino e possibilidades de seu públi- franco desencontro com as necessidades seleciona alunos e profissionais com co real. Por isso, quando a escola e quando ela não é invadida afinidades com seu projeto institucional dos territórios pobres, pelas demandas e práticas desestabilizadoras mais desestruturadores, aí ela pare- quando ela “exterioriza” seus casos ins- ce reunir condições para sustentar o funcionamento desse modelo titucional. Entretanto, os pressupostos de que o modelo institucional é depende para se reproduzir começam a desaparecer quando a escola numerosa, podendo reunir mais de 1500 alunos predominantemente com baixos recursos culturais, quando se vê tomada pelas dinâmicas - dos territórios pobres, quando seus professores se veem sitiados e acos em sados pela violência do entorno e pela violência que se manifesta suas dependências, quando a escola sofre com uma alta rotatividade funcionar não pode institucional o modelo profissionais. Em suma, de decanta- de ponto em transforma a escola se quando adequadamente ção dos problemas das redes e do território. realiza com o custo da “externalização” de um público que não atende 664 Cadernos de Pesquisa v.42 n.146 p.640-666 maio/ago. 2012 A ESCOLA, A METRÓPOLE E A VIZINHANÇA VULNERÁVEL Sciences Sociales,Paris,n.180,p. 4-10, déc.2009. BEN AYED, C.;POUPEAU , F.Écoleségrégative, écolereproductive.ActesdelaRecherche em de scolarisation?RevueVilleÉcoleIntégrationDiversité , n.155,p.66-71,déc.2008. BEN AYED, C.;BROCCOLICHIS.Quelsliensentreréussitescolaire, inégalitéssocialesetlieu 296, 2010. estabelecimentos deensino.EstudosemAvaliaçãoEducacional , SãoPaulo,v. 21,n.46,p.271- ALVES, M.T. G.Dimensõesdoefeitodas escolas: explorandointeraçõesentrefamíliase de Janeiro:LetraCapital;Montevidéu:Ippes,2008.p.91-118. Segregação urbanaedesigualdadeseducacionaisemgrandescidades daAméricaLatina.Rio escolar noRiodeJaneiro.In:RIBEIRO,L.C.Q.;KAZTMANR.(Org.). A Cidadecontraaescola? 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Além disso:comonasmetrópolesas escolas incapazesdelhesassegurartantoproteçãocomocondições 2002), jáqueascriançasejovenspermanecemmatriculados,masem a formadeexclusãobranda(BOURDIEU,CHAMPAGNE, 1997;­ dução aprofundadadasdesigualdadessociais,porqueapresentadasob Costa eKoslinski(2009),Torres etal. de aprenderquesãoapresentadasnostrabalhosAlves etal.(2008) carga depreconceitossobreosalunoseadescrençaemsuacapacidade terísticas dapopulaçãoquedemandaescolarizaçãopúblicapodesera inadequação entreasexpectativasdomodeloinstitucionalecarac- vam asaltastaxasdereprovaçãoeevasão.Umadasexpressõesdessa num passadomuitorecente,altamenteexcludente,comoevidencia- para atenderoutropúblico,muitodiferentedaqueledehoje,equefoi, Esse modelofoiestruturadosoboutrascondiçõeshistórico-culturais, so dapopulaçãoaummodeloescolarquepodenãoseruniversalizável. cional, talvezentãosejaprudenteconcluirqueseuniversalizouoaces- aos pré-requisitosexigidosparaofuncionamentodomodeloinstitu- O queseprocuroumostraréparaalémdasgrandesdesi- O resultadoquesepodeesperardessaordemdecoisaséarepro- (2008). FREITAS,

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